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CADERNO DE QUESTÕES I N C L U I MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE PRINCIPAIS JULGADOS do STF e do STJ COMENTADOS Julgados de 2019 • Abrange os informativos 928- 963 STF e 639-661 STJ • Atualizações disponíveis no site até 31.12.2020 www.dizerodireito.com.br 2020

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Page 1: PRINCIPAIS JULGADOS STF e do STJ - Editora Juspodivm...30/04/2009. Vale ressaltar, contudo, que a não recepção da Lei de Imprensa não exime os seus agentes (profissionais da imprensa)

CADERNO DE QUESTÕES

INCLUI

MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE

PRINCIPAIS JULGADOS do STF e do STJ COMENTADOS

Julgados de 2019 •  Abrange os informativos 928-963 STF e 639-661 STJ

•  Atualizações disponíveis no site até 31.12.2020

www.dizerodireito.com.br

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Principais Julgados do STF e STJ comentados 2019 › 37

Direito Constitucional

1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

1.1. LIBERDADE DE EXPRESSÃO

É possível que o magistrado condene o autor da ofensa a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra

Imagine a seguinte situação hipotética:

João publicou um livro contendo acusações contra Pedro (magistrado que estava, na época, como Presidente de um Tribunal) de ter praticado atos espúrios no exercício de suas funções.

Pedro ajuizou ação contra João (autor do livro) e contra a editora que o publicou pedindo que os réus fossem condenados a:

• pagar indenização por danos morais decorrentes da publicação da obra;

• publicar o inteiro teor da decisão condenatória e da petição inicial nas futuras edições do livro e em revista de grande circulação.

Contestação

Os requeridos contestaram a demanda alegando que:

1) não houve ato ilícito, considerando que a publicação da obra estava amparada no direito constitucional à liberdade de expressão;

2) o pedido para publicação da sentença condenatória não tem fundamento legal, conside-rando que essa possibilidade estava prevista no art. 75 da Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67):

§ Art. 75. A publicação da sentença cível ou criminal, transitada em julgado, na íntegra, será decretada pela autoridade competente, a pedido da parte prejudicada, em jornal, periódico ou através de órgão de radiodifusão de real circulação, ou expressão, às expensas da parte vencida ou condenada.

Ocorre que o STF, no julgamento da ADPF 130-DF, considerou que a Lei de Imprensa não foi recepcionada pela CF/88. Logo, o pedido do autor para publicação da sentença condenatória não teria substrato jurídico.

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O STJ concordou com os pedidos do autor?

SIM.

Respeito aos direitos da personalidade

De fato, o STF decidiu que a Lei de Imprensa, em sua inteireza, não foi recepcionada pela CF/88, sendo, portanto, inválida: STF. Plenário. ADPF 130, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 30/04/2009.

Vale ressaltar, contudo, que a não recepção da Lei de Imprensa não exime os seus agentes (profissionais da imprensa) de observar as regras civis para o exercício dessa atividade, de-vendo respeitar os direitos da personalidade, que abarcam o nome, a honra e a intimidade.

Além disso, estão também sujeitos às normas que tratam sobre a responsabilidade civil, previstas nos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil.

Elementos de ponderação para a tensão entre liberdade de expressão e os direitos da personalidade

O STJ estabeleceu, para situações de conflito entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade, os seguintes elementos de ponderação:

a) o compromisso ético com a informação verossímil;

b) a preservação dos chamados direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e

c) a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi).

Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 801.109/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/6/2012.

Liberdade de expressão não é absoluta

A regra geral é a liberdade de informação. Entretanto, não se trata de liberdade absoluta. Seu exercício encontra limites no dever de respeito aos demais direitos e garantias fundamentais também protegidos:

N (...) 3. Os direitos à informação e à livre manifestação do pensamento não possuem caráter absoluto, encontrando limites em outros direitos e garantias constitucionais que visam à concretização da dignidade da pessoa humana.

4. No desempenho da função jornalística, as empresas de comunicação não podem descurar de seu compromisso com a veracidade dos fatos ou assumir uma postura injuriosa ou difamatória ao divulgar fatos que possam macular a integridade moral do indivíduo. (...)

STJ. 3ª Turma. REsp 1.567.988/PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/11/2018.

Narrativa de fatos verídicos ou verossímeis

Em princípio, não configuram ato ilícito as publicações que narrem fatos verídicos ou veros-símeis, mesmo que tais opiniões sejam severas, irônicas ou impiedosas.

Essa conclusão se mostra ainda mais forte em se tratando notícias ou críticas envolvendo a atividade profissional de figuras públicas que exerçam cargos estatais, gerindo interesses da coletividade.

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Portanto, a assunção de cargos públicos, como a presidência de um Tribunal, torna o sujeito uma pessoa pública, cujos atos estão sujeitos a maior exposição e mais suscetíveis à mitigação dos direitos de personalidade.

No entanto, mesmo em tais hipóteses, a liberdade também não será absoluta.

Assim, se ficar demonstrado, no caso concreto, que o autor da obra não teve compromisso ético com a informação verdadeira, violou direitos da personalidade e fez críticas com nítido propósito de difamar, injuriar ou caluniar a pessoa atingida, estará plenamente configurado o ato ilícito capaz de ensejar a condenação ao pagamento de indenização por danos morais.

Publicação da decisão judicial e da petição inicial

Conforme já vimos, a Lei de Imprensa não mais subsiste em nosso ordenamento jurídico, não tendo sido recepcionada pela CF/88. Por consequência, de fato, não é mais válida a previsão do art. 75 da Lei nº 5.250/67, que possibilitava a publicação da sentença cível ou criminal, transitada em julgado, na íntegra, a pedido da parte prejudicada, em jornal, periódico ou através de órgão de radiodifusão de real circulação, ou expressão, às expensas da parte vencida ou condenada.

Contudo, apesar disso, ainda existe fundamento constitucional e legal para que o juiz deter-mine ao jornal, revista ou editora a divulgação da íntegra da sentença que o condenar em danos morais. A isso se chama “direito de retratação e de esclarecimento da verdade”.

Fundamentos do direito de retração e de esclarecimento da verdade

Os direitos ao esclarecimento da verdade, à retificação da informação inverídica ou à re-tratação não foram banidos do ordenamento jurídico brasileiro com a declaração de não recepção da Lei de Imprensa.

Tais direitos continuaram existindo com amparo em outros dispositivos da legislação civil vigente.

Desse modo, ainda existem dispositivos que autorizam esses direitos. E quais seriam eles? Que dispositivos o magistrado pode utilizar para fundamentar essa imposição? Arts. 927 e 944 do Código Civil:

§ Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obri-gado a repará-lo.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

O art. 927 do Código Civil impõe àquele que, cometendo ato ilícito, causar dano a outrem, a obrigação de repará-lo, ao passo que o art. 944 do mesmo diploma legal determina que a indenização seja medida pela extensão do dano. Isso significa que a principal função da indenização é promover a reparação da vítima, anulando, ao máximo, os efeitos do dano.

Especificamente sobre o dano moral, oportuno relembrar que ele decorre de um dever jurídico geral de abstenção assumido por toda a coletividade perante o seu titular: o dever de não violar os direitos inerentes à sua personalidade. Trata-se, pois, de regra primacial e elementar do convívio em sociedade, cuja violação sujeita o agente às sanções jurídicas, dentre as quais a reparação.

Assim, violado esse dever de abstenção, ocasionando a ofensa à honra e à imagem do re-corrente, cabe a ele a pretensão de restaurar o seu direito. Por sua vez, a jurisdição deve dispor de meios para garantir a pacificação social, o que inclui afastar ou mitigar os efeitos nefastos do dano.

Por isso, a reparação deve ser buscada de forma ampla, admitindo não só a pecúnia, mas tam-bém a reparação in natura, nos casos em que ela se mostrar proporcional, possível e adequada.

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Nessa linha de raciocínio, tal entendimento foi cristalizado no Enunciado 589 da VII Jornada de Direito Civil: “a compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatri-monial, sendo admitida a reparação in natura, na forma de retratação pública ou outro meio.”

O CC/2002 determina que a pessoa que causar dano a outrem fica obrigada a repará-lo.

Quando o juiz condena o jornal/revista a publicar em suas páginas, na íntegra, a sentença condenatória, isso configura uma forma de reparação específica da honra do autor.

A reparação dos danos morais com pagamento de dinheiro é apenas uma compensação pelo sofrimento causado à vítima. No entanto, a publicação da sentença que condena o jornal/revista é um modo de divulgar, para a coletividade, que a honra daquela pessoa deve ser respeitada e que o órgão de imprensa praticou um ato ilícito.

Em suma, a divulgação da sentença condenatória é considerada como uma forma de repa-ração específica do dano moral.

Desse modo, é possível que sentença condenatória determine a sua divulgação nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a ofensa à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa.

Em suma:

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

Não é censura

Vale ressaltar, por fim, que não se trata de censura ou controle prévio dos meios de comuni-cação social e da liberdade de expressão, pois não se está impondo nenhuma proibição de comercialização da obra literária, nem mesmo se determinando que as edições até então produzidas sejam recolhidas ou destruídas, o que seria de todo contrário ao ordenamento jurídico.

Direito de retração x direito de resposta

Oportuno ressaltar, ainda, que o direito de publicação da sentença não pode ser confundido com o direito de resposta.

1.2. LIBERDADE RELIGIOSA

É constitucional lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz africana

Religiões de matriz africana

É muito comum hoje em dia se falar em “religiões de matriz africana”.

Religiões de matriz africana é uma nomenclatura utilizada para designar as religiões que tiveram origem ou buscaram inspiração nas religiões tradicionais africanas.

A história das religiões de matriz africana está diretamente relacionada com a escravidão no Brasil, quando escravos negros chegaram ao país vindos da África e trouxeram seu idioma, conhecimentos, tradições e religiões.

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Os adeptos dessas religiões sempre sofreram com o preconceito de muitas pessoas com relação às suas práticas religiosas.

Podemos citar os seguintes exemplos de religiões de matriz africana: Candomblé‎, Cabula, Catimbó, Umbanda, Quimbanda, Xambá e Omolocô.

Animais em cultos de religiões de matriz africana

Algumas religiões de matriz africana realizam sacrifício de animais em seus cultos. É o caso, por exemplo, do Candomblé. A Umbanda, por outro lado, não concorda com essa prática.

Os rituais variam de acordo com o grupo religioso. No entanto, em linhas gerais, acontece mais ou menos o seguinte: é escolhido um animal para ser morto no ritual (geralmente ga-linhas, patos, bodes, carneiros, bois). Depois de morto por um líder religioso que tem essa função (axogum), algumas partes do animal são colocadas em locais específicos para serem oferecidos à divindade religiosa (orixá). O sangue pode ser utilizado para sacramentar ima-gens. A carne é preparada para servir como refeição e o couro, algumas vezes empregado na confecção de atabaques.

Existe uma premissa que é defendida e adotada pela maioria dos terreiros: o animal utilizado no sacrifício deve ser morto de forma rápida com o objetivo de não causar dor.

Assim, as lideranças religiosas defendem que não há maus-tratos e condenam praticantes que deixam animais feridos, mas ainda vivos em encruzilhadas.

Lei estadual prevendo a possibilidade de sacrifício ritual de animais em cultos

O caput do art. 2º da Lei estadual nº 11.915/2003, do Rio Grande do Sul, proíbe uma lista de condutas que são consideradas maus-tratos de animais. O parágrafo único deste artigo, no entanto, prevê que tais vedações não se aplicam para o sacrifício de animais em rituais de cultos de religiões de matriz africana.

Veja a redação do dispositivo legal:

§ Art. 2º É vedado:

I – ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de ex-periência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência;

II – manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade;

III – obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força;

IV – não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo;

V – exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados por responsável legal;

VI – enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrorizem;

VII – sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela Orga-nização Mundial da Saúde – OMS -, nos programas de profilaxia da raiva.

Parágrafo único. Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana. (Incluído pela Lei nº 12.131/2004)

ADI

O Ministério Público do Rio Grande do Sul ingressou com ADI no TJ/RS alegando que esse parágrafo único seria inconstitucional tanto sob o ponto de vista formal como material.

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Sob o aspecto formal, a lei teria violado a competência da União para legislar sobre direito penal (art. 22, I, da CF/88). Isso porque este art. 2º, parágrafo único, da Lei estadual teria criado uma causa excludente de ilicitude para afastar a incidência de crime ambiental.

Além disso, haveria inconstitucionalidade material pela violação ao art. 19, I, da CF/88 con-siderando que a lei estadual somente permitiu o sacrifício de animais nos cultos de matriz africana, deixando de fora da regra os cultos de outras religiões:

§ Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o fun-cionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

A questão chegou até o STF que respondeu ao seguinte questionamento: essa lei é constitucional?

SIM.

Lei estadual não tratou sobre direito penal

A Lei do Estado do Rio Grande do Sul não tratou sobre matéria penal.

A Lei nº 11.915/2003, do RS, instituiu o Código Estadual de Proteção aos Animais, ou seja, um diploma que estabelece regras de proteção à fauna, define conceitos e afasta a prática de determinadas condutas.

Não há, portanto, nenhuma matéria criminal envolvida, razão pela qual não houve usurpação de competência da União.

O parágrafo único do art. 2º da Lei prevê uma hipótese de exclusão de responsabilidade ad-ministrativa na hipótese de abate de animais em cultos religiosos, que em nada se relaciona com a excludente de ilicitude penal. Em nenhum momento a lei estadual fala em crime ou na sua exclusão.

Lei estadual não violou competência da União para editar normas gerais de proteção ao meio ambiente

A competência para legislar sobre proteção da fauna e do meio ambiente em geral é concor-rente, estando dividida entre a União, Estados, DF e Municípios (art. 24, VI c/c art. 30, I, da CF/88).

Logo, compete à União editar normas gerais sobre o tema, cabendo ao Estado suplementar essa legislação federal (art. 22, § 2º). Vale ressaltar que a norma editada pelo Estado não con-traria aquilo que está previsto nas normas gerais da União, sob pena de ser inconstitucional.

No caso concreto, o STF considerou que o art. 2º, parágrafo único, da Lei gaúcha não ofendeu a competência da União para editar normas gerais de proteção do meio ambiente. Isso porque não existe lei federal tratando sobre o sacrifício de animais com finalidade religiosa. Logo, a lei estadual, ao tratar sobre o tema, não infringiu normas gerais da União.

A Lei de Crimes Ambientais (Lei federal nº 9.605/98) foi editada para tutelar a fauna silves-tre, especialmente em atividades de caça. Ela não tratou, nem mesmo indiretamente, sobre imolação de animais em custos religiosos. Logo, percebe-se uma omissão da União em editar normas gerais sobre esse tema específico (sacrifício de animais em rituais religiosos).

A omissão da União na edição de normas gerais faz com que o Estado-membro tenha liberdade para estabelecer regras a respeito, observado o § 3º do art. 24 da CF/88:

§ Art. 24 (...)

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

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Vale ressaltar que, apesar de não ter força de lei ordinária, o Ministério da Agricultura possui a Instrução Normativa nº 3, de 17 de janeiro de 2000, que regulamenta os métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue. Em seu artigo 11.3, o regulamento expressamente prevê que “é facultado o sacrifício de animais de acordo com preceitos religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa que os requeria ou ao comércio internacional com países que façam essa exigência, sempre atendidos os métodos de contenção dos animais.”

Liberdade de culto e de liturgia

A discussão em foco envolve a exegese de normas fundamentais, estando relacionada com o exercício da liberdade de culto e de liturgia.

A religião desempenha papel importante em vários aspectos da vida da comunidade, tendo recebido especial proteção do legislador constituinte:

§ Art. 5º (...)

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Patrimônio cultural imaterial

A prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são “patrimônio cultural imaterial”, na forma do disposto no Artigo 2, item 2, alínea “c”, da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco.

Além disso, como dispõe o texto constitucional, elas constituem os modos de criar, fazer e viver de diversas comunidades religiosas e se confundem com a própria expressão de sua identidade.

Vale ressaltar que o Estado brasileiro tem o dever de proteger as “manifestações das cultu-ras populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215, § 1º).

Não há violação ao princípio da laicidade

O princípio da laicidade significa dizer que o Estado brasileiro é laico (secular ou não-con-fessional), ou seja, não existe nele uma religião oficial (art. 19, I, da CF/88). Assim, por força deste princípio, o Estado não pode estar associado a nenhuma religião, nem sob a forma de proteção, nem de perseguição. Há, portanto, uma separação formal entre Igreja e Estado.

O STF entendeu que, ao contrário do que alegou o MP/RS, a referida lei não viola o princípio da laicidade.

A proteção legal às religiões de matriz africana não representa um privilégio, mas sim um mecanismo de assegurar a liberdade religiosa, mantida a laicidade do Estado.

Desse modo, a lei gaúcha, na verdade, está de acordo com o princípio da laicidade. Isso porque a laicidade do Estado proíbe que haja o menosprezo ou a supressão de rituais, especialmente no caso de religiões minoritárias que poderiam ser subjugadas pelo Estado.

Não há violação ao princípio da igualdade

A CF promete uma sociedade livre de preconceitos, entre os quais, o religioso.

A cultura afro-brasileira merece maior atenção do Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de preconceito estrutural.

A proibição do sacrifício de animais em seus cultos negaria a própria essência da pluralidade cultural, com a consequente imposição de determinada visão de mundo.

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Ao se conferir uma proteção aos cultos de religiões historicamente estigmatizadas, o legis-lador não ofende o princípio da igualdade. Ao contrário, materializa esse princípio diante do preconceito histórico sofrido.

Não há violação ao art. 225 da CF/88

O legislador, ao admitir a prática de imolação (sacrifício), não violou o dever constitucional de amparo aos animais, estampado no art. 225, § 1º, VII, da CF/88:

§ Art. 225 (...)

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

(...)

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Isso porque se deve evitar que a tutela de um valor constitucional relevante (meio ambiente) aniquile o exercício de um direito fundamental (liberdade de culto), revelando-se despropor-cional impedir todo e qualquer sacrifício religioso quando diariamente a população consome carnes de várias espécies.

Além disso, deve-se reforçar o argumento de que os animais sacrificados nestes cultos são abatidos de forma rápida, mediante degola, de sorte que a realização dos rituais religiosos com estes animais não se amolda ao art. 225, § 1º, VII, que proíbe práticas cruéis com animais.

Em suma:

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.

STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 28/3/2019 (repercussão geral) (Info 935).

1.3. TRANSPORTE GRATUITO E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

O STJ não pode determinar que as companhias aéreas ofereçam transporte gratuito para pessoas com deficiência com base em um exercício hermenêutico da Lei nº 8.899/94

Passe livre às pessoas com deficiência em transporte coletivo

A Lei nº 8.899/94 previu que as pessoas com deficiência possuem direito à gratuidade no transporte coletivo interestadual:

§ Art. 1º É concedido passe livre às pessoas portadoras de deficiência, comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual.

Art. 2º O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de noventa dias a contar de sua publicação.

Essa Lei é constitucional ou viola o princípio da livre iniciativa?

É constitucional, conforme já decidiu o STF:

N (...) 3. Em 30.3.2007, o Brasil assinou, na sede das Organizações das Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como seu Protocolo

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Facultativo, comprometendo-se a implementar medidas para dar efetividade ao que foi ajustado.

4. A Lei n. 8.899/94 é parte das políticas públicas para inserir os portadores de necessi-dades especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a humanização das relações sociais, em cumprimento aos fundamentos da República de cidadania e dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela definição de meios para que eles sejam alcançados. (...)

STF. Plenário. ADI 2649, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 08/05/2008.

Regulamentação

Essa Lei foi regulamentada pela Portaria Interministerial nº 003/2001, que, no entanto, res-tringiu bastante a abrangência do benefício. Destaco aqui dois pontos da Portaria:

• afirmou que as empresas de transporte coletivo interestadual estão obrigadas a fornecer apenas 2 assentos gratuitos para as pessoas com deficiência; e

• previu a gratuidade somente para os transportes rodoviário, ferroviário e aquaviário, ou seja, omitiu da regulamentação o transporte aéreo. Veja:

§ Art. 1º Disciplinar a concessão do Passe Livre às pessoas portadoras de deficiência, comprovadamente carentes, no sistema de transporte coletivo interestadual, nos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário.

Art. 2º Aos portadores do Passe Livre serão reservados 2 (dois) assentos em cada veículo ou embarcação do serviço convencional de transporte interestadual de passageiros.

(...)

ACP

O Ministério Público ajuizou ação civil pública pedindo que as companhias de transporte aéreo fossem condenadas a também garantir passe livre às pessoas com deficiência com-provadamente hipossuficientes.

Em 1ª instância o pedido foi julgado procedente, mas a sentença foi reformada pelo Tribunal.

Diante disso, o MP interpôs recurso especial.

O STJ acolheu o pedido feito pelo MP?

NÃO. O STJ entendeu que não é seu papel interferir nesta temática:

O STJ não possui competência constitucional para ampliar os modais de transporte in-terestadual submetidos ao regime da gratuidade prevista na Lei nº 8.899/94 e nos atos normativos secundários que a regulamentam.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.590-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Discricionariedade reservada ao legislador

O Poder Judiciário não deve intervir no campo da discricionariedade reservada ao legislador, não podendo estender, com base em um esforço interpretativo, a gratuidade reservada às pessoas com deficiência para o transporte aéreo.

Isso porque não compete ao Poder Judiciário, a pretexto da defesa de direitos fundamentais que dependem de detida regulamentação, legislar positivamente, ampliando benefícios a determinado grupo sem previsão expressa do método de custeio, onerando indiretamente os usuários pagantes até o ente federativo competente assumir o encargo, máxime em se

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tratando do transporte aéreo, permeado de peculiaridades a exigir uma abordagem mais específica da gratuidade.

Na hipótese de se verificar omissão legislativa, incumbe ao interessado legitimado lançar mão dos remédios constitucionais disponíveis para suprir a inatividade legislativa.

Não há a indicação da origem dos recursos

A atividade criativa do órgão judicante ganha contornos dramáticos em se tratando da con-secução de políticas públicas, isto é, de natureza prestacional, especialmente quando não determinada a origem dos recursos para a sua execução, como é o caso do transporte aéreo gratuito na atual conjuntura da legislação.

Com efeito, por mais tentadora e necessária a aplicabilidade imediata dos direitos funda-mentais para lhes resguardar a eficácia máxima, sobretudo porque fundados na dignidade da pessoa humana, não há como se esquecer que o papel constitucional do STJ é o de intérprete da legislação federal.

No caso concreto, não se extrai do sistema normativo regra capaz de vincular diretamente os prestadores de serviços de transportes aéreos à disponibilização de assento gratuito para pessoas com deficiência hipossuficientes, bem como para seu eventual acompanhante, sem a contraprestação devida.

Omissão voluntária

O sistema infraconstitucional leva a crer que a propalada omissão legislativa foi voluntária, ou melhor, contemplou hipótese de silêncio eloquente.

A discussão para saber se os motivos desse silêncio são legítimos ou não é outra. No entanto, o certo é que houve uma intenção deliberada do legislador.

Posteriormente à Lei nº 8.899/94, foram editadas outras leis destinadas à proteção dos indi-víduos acometidos por deficiência. Porém, todas elas foram silentes a respeito da matéria discutida nestes autos, ou seja, nenhuma delas conferiu gratuidade em transporte aéreo.

Legislação posterior também não conferiu gratuidade

A própria Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, tratado do qual o Brasil foi signatário e incorporou à ordem jurídica nacional em conformidade com o procedimento legislativo reservado às emendas constitucionais (art. 5º, § 3º, da CF), prevê que as pessoas com deficiência possuem direito à mobilidade, mas sem exigir que haja gratuidade.

Posteriormente, sobreveio o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que novamente silenciou sobre o tema da gratuidade do transporte.

Portanto, admitir a extensão do benefício da gratuidade do transporte coletivo interestadual à pessoa com deficiência, acrescentando o modal aéreo por meio do exercício hermenêutico, implicaria na criação de direito em contraposição à vontade do legislador.

Deste modo, não parece adequada a criação da prerrogativa por analogia ou interpretação extensiva, como sugerem os representantes do parquet, porquanto deficitárias as normas existentes para normatizar o modal aéreo.

1.4. TRANSPORTE GRATUITO E IDOSOS

Transporte gratuito para idosos

O “transporte” é classificado como direito social, estando garantido pelo caput do art. 6º da CF/88:

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MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE

PRINCIPAISJULGADOSdo STF e do STJCOMENTADOS

Julgados de 2019

2020

CADERNO DE QUESTÕES

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DIREITO CONSTITUCIONAL 5

DIREITO CONSTITUCIONAL

Assinale C (certo) ou E (errado) para as afirmações abaixo:

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

1) O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. ( ) C

2) É inconstitucional lei estadual que permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana. ( ) E

3) É concedido passe livre às pessoas portadoras de deficiência, comprova-damente carentes, no sistema de transporte aéreo. ( ) E

4) O STJ não possui competência constitucional para ampliar os modais de transporte interestadual submetidos ao regime da gratuidade, prevista na Lei nº 8.899/94 e nos atos normativos secundários que a regulamentam. ( ) C

5) (Juiz TJDF 2014 CESPE) Lei federal que imponha passe livre para deficientes físicos comprovadamente carentes a empresas prestadoras de serviço de transporte interestadual fere o princípio da livre iniciativa. ( ) E

6) A reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos, prevista no art. 40, I, do Es-tatuto do Idoso, não se limita ao valor das passagens, abrangendo eventuais custos relacionados diretamente com o transporte, em que se incluem as tarifas de pedágio e de utilização dos terminais. ( ) C

7) (MP/MS 2015) De acordo com o art. 230, § 2º, da Constituição Federal, aos maiores de sessenta anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. ( ) E

8) O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais, salvo em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido de registro

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PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E DO STJ • CADERNO DE QUESTÕES6

do medicamento, quando preenchidos três requisitos: a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medica-mentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. ( ) E

9) A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, em qualquer caso, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. ( ) E

10) A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. ( ) C

11) É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pe-dido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando preenchidos três requisitos: a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrar-raras); b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. ( ) C

12) As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa poderão ser propostas em face da União, dos Estados e dos Muni-cípios, conjunta ou isoladamente. ( ) E

13) Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são soli-dariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde e, diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as re-gras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro. ( ) C

14) (Promotor MPE GO 2016 banca própria) Considerando o disposto na Lei Federal nº 8.008/90, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, são vedados, em todas as esferas de gestão do SUS, o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou cirúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. ( ) C

15) É permitido o trabalho da gestante ou da lactante em atividades insalubres, desde que apresente atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que autorize o trabalho. ( ) E

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DIREITO CONSTITUCIONAL 7

16) Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa de autoriza-ção prévia de autoridades sanitária e ambiental e comprovação científica da eficácia da medida. ( ) C

17) Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participa-ção ou registro de curso de formação ou reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a existência de inquérito ou ação penal não transitada em julgado. ( ) C

DIREITOS POLÍTICOS

18) Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam reajustes automáticos. ( ) C

19) (PGM Cuiabá FCC 2014) Salvo nos casos previstos na Constituição Federal e em Lei Complementar, não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser subs-tituído por decisão judicial. ( ) E

20) A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, não se aplica no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. ( ) E

21) (DPE/RS 2011 FCC) É possível a cassação dos direitos políticos sempre que ocorrer a condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. ( ) E

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

22) Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata. ( ) C

23) (Juiz Federal TRF3 2018) É inadmissível o ajuizamento de ADI ou ADPF contra lei ou ato normativo revogado ou de eficácia exaurida, diante da perda do objeto. ( ) E

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PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E DO STJ • CADERNO DE QUESTÕES8

24) É cabível ADI contra decreto presidencial que, com fundamento no art. 84, VI, “a”, da CF/88, extingue colegiados da Administração Pública federal. ( ) C

25) O fato de uma lei possuir destinatários determináveis retira seu caráter abstrato e geral, fazendo com que não pode ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade. ( ) E

26) O fato de a lei ter sido aplicada em casos concretos, com decisões transitadas em julgado, em nada interfere na possibilidade dessa mesma norma ser analisada, abstratamente, em sede de ação direta de inconstitucionalidade. ( ) C

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

27) É inconstitucional lei estadual que discipline a arrecadação das receitas oriundas da exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica e de recursos minerais, inclusive petróleo e gás natural. ( ) C

28) É inconstitucional lei estadual que discipline a fiscalização e o controle das receitas oriundas da exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica e de recursos minerais, inclusive petróleo e gás natural. ( ) E

29) Vulnera a competência legislativa da União para legislar sobre telecomu-nicações a lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços de televisão a cabo, por satélite ou digital, a fornecerem previamente ao con-sumidor informações sobre a identificação dos profissionais que prestarão serviços na sua residência. ( ) E

30) É inconstitucional lei estadual que discipline as obrigações contratuais rela-tivas a seguros de veículos e regras de registro, desmonte e comercialização de veículos sinistrados. ( ) C

31) É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha ao DETRAN a obrigação de publicar, no diário oficial e na internet, a relação de cada um dos veículos sinistrados, seus respectivos dados, com destinação para os que sofreram desmonte e/ou comercialização das peças e partes. ( ) E

32) É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a cancelarem a multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o vínculo empregatício após a adesão do contrato. ( ) C

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DIREITO CONSTITUCIONAL 9

33) É constitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo, para o exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores do Estado. ( ) E

34) É constitucional lei estadual que isenta entidades filantrópicas de recolher as taxas de retribuição autoral arrecadadas pelo ECAD. ( ) E

35) A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o gover-nador e o vice-governador do Estado ausentarem-se, em qualquer tempo, do território nacional mostra-se compatível com os postulados da simetria e da separação dos Poderes. ( ) E

36) São constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e Senadores. ( ) C

37) É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva e as medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra Deputado Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu mandato. ( ) C

38) No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado individual de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os parâmetros fixados pelo legislador federal. ( ) C

39) A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência. ( ) C

40) (MP/RR 2017 CESPE) Normas que tratem de regime monetário, quando forem inseridas em contratos particulares, não serão atingidas por leis posteriores que disponham de maneira diversa. ( ) E

41) É constitucional lei municipal que estabelece que os supermercados e hipermercados do Município ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores pessoal suficiente no setor de caixas, de forma que a espera na fila para o atendimento seja de, no máximo, 15 minutos. ( ) C

42) (Juiz Federal TRF2 2018) A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo Banco Central e pela Secretaria do Tesouro Nacional. ( ) E

43) (Juiz Federal TRF3 2018) Cabe ao Conselho Monetário Nacional exercer a competência constitucional para emitir moeda em nome da União. ( ) E

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PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E DO STJ • CADERNO DE QUESTÕES10

44) É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias cobrem “taxa” de religação no caso de corte de fornecimento de energia por atraso no pagamento. ( ) C

45) Nos termos expressos da Constituição Federal, é vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada. ( ) C

46) É formalmente e materialmente inconstitucional lei municipal que auto-riza o Poder Executivo Municipal a conceder a exploração do Serviço de Radiodifusão Comunitária no âmbito do território do Município. ( ) E

47) É constitucional lei estadual que confira à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) competência para controlar os serviços jurídicos e para fazer a re-presentação judicial de empresas públicas e sociedades de economia mista, inclusive com a possibilidade de avocação de processos e litígios judiciais dessas estatais. ( ) E

PROCESSO LEGISLATIVO

48) A Constituição Estadual não pode ampliar as hipóteses de reserva de lei complementar, ou seja, não pode criar outras hipóteses em que é exigida lei complementar, além daquelas que já são previstas na Constituição Federal. ( ) C

MEDIDAS PROVISÓRIAS

49) Se for editada medida provisória revogando lei que está sendo questionada por meio de ADI, esta ação poderá ser julgada enquanto a medida provisória não for votada. ( ) C

50) (MP/PR 2019) É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. ( ) C

51) É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de eficácia

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DIREITO CONSTITUCIONAL 11

exaurida por decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional dentro do prazo estabelecido pela Constituição Federal. ( ) C

TRIBUNAL DE CONTAS

52) É inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de iniciativa parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE. ( ) C

53) O Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar os recursos decorrentes do Fundo Constitucional do Distrito Federal. ( ) E

54) O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, é aplicado para a atuação do TCU em processo de tomada de contas. ( ) E

55) TCU possui competência para determinar que BNDES suspenda paga-mentos que estão sendo realizados com base em contrato de confissão de dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas. ( ) C

PODER JUDICIÁRIO

56) Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não tem direito de continuar recebendo a verba de substituição pelo fato de estar na Titularidade da unidade judiciária. ( ) C

57) É inconstitucional lei estadual, de origem parlamentar, que discipline a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual. ( ) C

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

58) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou-se no sentido da impossibilidade de revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos atos e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela Corte. ( ) C

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PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E DO STJ • CADERNO DE QUESTÕES12

ADVOCACIA PÚBLICA

59) É inconstitucional emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre as competências da Procuradoria Geral do Estado. ( ) C

60) É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que a Procuradoria Geral do Estado ficará responsável pelas atividades de re-presentação judicial e de consultoria jurídica apenas “do Poder Executivo”. ( ) C

61) É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de Procurador--Geral da universidade estadual. ( ) C

62) (MP/PR 2019) Não havendo lei municipal que defina obrigação de pequeno valor para efeito de não submissão ao regime de pagamento por precatório, os Tribunais de Justiça poderão regulamentar o tema por meio de resolução. ( ) E

63) (MP/BA 2018) O juízo de pronúncia é, essencialmente, um juízo de ad-missibilidade, no qual vigora o princípio in dubio pro reo. ( ) E

MINISTÉRIO PÚBLICO

64) O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). ( ) C

COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO

65) (Juiz Federal TRF3) As CPIs podem, sem a necessidade de intervenção judicial, por decisão fundamentada, determinar quebra de sigilo fiscal, bancário e de dados. ( ) C

66) (Juiz TJ/MT 2018 VUNESP) Com base no seu poder geral de cautela, as CPIs podem decretar a indisponibilidade de bens do indiciado. ( ) E

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67) (Juiz TJ/MT 2018 VUNESP) As CPIs têm poderes para impor medida ju-dicial determinando a proibição do indiciado deixar o território nacional. ( ) E

68) (Juiz TJ/MT 2018 VUNESP) A decretação de prisão pelas CPIs somente se admite no caso de crime em estado de flagrância. ( ) C

69) (MPU 2018 CESPE) As CPI podem ser criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, e detêm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. ( ) C

70) (PGM Manaus 2018 CESPE) As CPI instauradas no âmbito do Congresso Nacional podem determinar o bloqueio dos bens de um investigado. ( ) E

71) (PGM Manaus 2018 CESPE) A quebra de sigilo bancário e fiscal são me-didas compreendidas na esfera de competência das CPI instauradas pelo Congresso Nacional. ( ) C

72) (PGM Manaus 2018 CESPE) As CPI instauradas pelos poderes legislati-vos municipais possuem poderes investigativos próprios das autoridades judiciais. ( ) E

DEFENSORIA PÚBLICA

73) Reconhecida a inexistência de profissionais concursados em número sufi-ciente para atender toda a população do DF, os critérios indicados pelo Con-selho Superior da Defensoria Pública do DF para a alocação e distribuição dos Defensores Públicos (locais de maior concentração populacional e de maior demanda, faixa salarial familiar até 5 salários mínimos) revestem-se de razoabilidade. ( ) C

74) Quando a Defensoria Pública atua como custos vulnerabilis, a sua partici-pação processual ocorre como representante da parte em juízo. ( ) E

75) Para o STJ, a intervenção da Defensoria Pública como custos vulnerabilis é o mesmo que amicus curiae. ( ) E

OUTROS TEMAS

76) É inconstitucional resolução do Senado que autoriza que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios transfiram a cobrança de suas dívidas ativas a instituições financeiras. ( ) C

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PRINCIPAIS JULGADOS DO STF E DO STJ • CADERNO DE QUESTÕES14

GABARITO DIREITO CONSTITUCIONAL

1 – C 2 – E 3 – E 4 – C 5 – E 6 – C 7 – E 8 – E

9 – E 10 – C 11 – C 12 – E 13 – C 14 – C 15 – E 16 – C

17 – C 18 – C 19 – E 20 – E 21 – E 22 – C 23 – E 24 – C

25 – E 26 – C 27 – C 28 – E 29 – E 30 – C 31 – E 32 – C

33 – E 34 – E 35 – E 36 – C 37 – C 38 – C 39 – C 40 – E

41 – C 42 – E 43 – E 44 – C 45 – C 46 – E 47 – E 48 – C

49 – C 50 – C 51 – C 52 – C 53 – E 54 – E 55 – C 56 – C

57 – C 58 – C 59 – C 60 – C 61 – C 62 – E 63 – E 64 – C

65 – C 66 – E 67 – E 68 – C 69 – C 70 – E 71 – C 72 – E

73 – C 74 – E 75 – E 76 – C

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