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p. 197-241 * Advogados do BNDES. Agradecimentos aos estagiários João Henrique Bandei- ra e Aline Fernandes da Silva. Este artigo é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES. Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) Aline de Melo Brandão Daniela Baccas Gabriel Rebello Esteves Areal Marcelo Ribeiro de Sá Martins Mariana Guimarães Lima Rodrigo Souza Pinto de Brito Thássio Gonçalves Ferreira * Resumo O presente artigo objetiva consolidar os principais aspectos da le- gislação que regulamentou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), bem como identificar eventuais dúvidas e conclusões iniciais que possam impactar o trabalho operacional do BNDES, em especial com os recursos do Fundo Amazônia. Dessa forma, abordam-se os aspectos gerais relativos ao CAR, ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e ao Programa de Regularização Ambiental (PRA); as princi- pais regras estabelecidas pelo Código Florestal para a regularização do passivo ambiental dos imóveis rurais; os prazos para a inscrição no CAR e a efetivação desse cadastro nos estados da Amazônia; e os regimes especiais do CAR. Conclui-se, destacando-se, dentre outros aspectos, que o grande desafio do CAR no Brasil parece ser sua fase de validação pelos órgãos ambientais competentes.

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Page 1: Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro ... · Cadastramento Ambiental Rural. Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). Programa de Regularização Ambiental (PRA)

p. 197-241

* Advogados do BNDES. Agradecimentos aos estagiários João Henrique Bandei-ra e Aline Fernandes da Silva. Este artigo é de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do BNDES.

Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Aline de Melo Brandão Daniela Baccas Gabriel Rebello Esteves Areal Marcelo Ribeiro de Sá Martins Mariana Guimarães Lima Rodrigo Souza Pinto de Brito Thássio Gonçalves Ferreira*

Resumo

O presente artigo objetiva consolidar os principais aspectos da le-gislação que regulamentou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), bem como identificar eventuais dúvidas e conclusões iniciais que possam impactar o trabalho operacional do BNDES, em especial com os recursos do Fundo Amazônia. Dessa forma, abordam-se os aspectos gerais relativos ao CAR, ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e ao Programa de Regularização Ambiental (PRA); as princi-pais regras estabelecidas pelo Código Florestal para a regularização do passivo ambiental dos imóveis rurais; os prazos para a inscrição no CAR e a efetivação desse cadastro nos estados da Amazônia; e os regimes especiais do CAR. Conclui-se, destacando-se, dentre outros aspectos, que o grande desafio do CAR no Brasil parece ser sua fase de validação pelos órgãos ambientais competentes.

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Palavras-chave

Cadastramento Ambiental Rural. Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). Programa de Regularização Ambiental (PRA). Regu-larização do Passivo Ambiental. Código Florestal.

Abstract

The objective of this work is to consolidate the main aspects of the Rural Environmental Registry (CAR) legislation, as well as identify questions and initial conclusions that may affect the operational work of the Brazilian Development Bank (BNDES), especially in relation to resources from the Amazon Fund. In this sense, the work exposes general aspects of the CAR, the Rural Environmental Registry System (SICAR) and Environmental Adjustment Program (PRA); the main rules established by the Forest Code for the settlement of environmental liabilities in rural properties; deadlines for registration in the CAR and the implementation of the CAR in the Amazon states; and the special CAR regimes. And, in conclusion, highlights that the biggest challenge the CAR faces in Brazil seems to be the validation by the competent environmental authorities.

Keywords

Rural Environmental Registry (CAR). Rural Environmental Registry System (SICAR). Environmental Adjustment Program (PRA). Environmental Adjustment. Forest Code.

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199Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Introdução

O objetivo deste trabalho é consolidar os principais aspectos da legislação que regulamentou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), bem como identificar, em sua decorrência, eventuais dúvidas e conclusões iniciais que possam impactar o trabalho operacional do BNDES, em especial com recursos do Fundo Amazônia, conside-rando que o apoio financeiro a projetos do CAR é objeto da carteira do Departamento de Gestão do Fundo Amazônia (AMA/DEFAM), em função das prioridades do biênio 2015-2016, disciplinadas pelo Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa).

Além do interesse específico do Fundo Amazônia, o tema ganha relevância especial para o BNDES porque, após 31 de dezembro de 2017, as instituições financeiras só poderão conceder crédito agrí-cola, em qualquer de suas modalidades, para proprietários de imó-veis rurais que estejam inscritos no CAR – artigo 78-A, do Código Florestal (BRASIL, 2012b). Tal prazo poderá ser prorrogado por um ano por ato do chefe do Poder Executivo, nos termos do artigo 29, parágrafo 3º, do Código Florestal.1

Para fins do presente trabalho, a nova regulamentação com-preende as seguintes normas:

i) Código Florestal (Lei 12.651, de 25 de maio de 2012);

ii) Decreto 7.830, de 17 de outubro de 2012;2

1 O artigo 41 da Instrução Normativa 2/2014, do Ministério do Meio Ambiente, especifica que a mera inscrição é suficiente para efeitos de cumprimento do artigo 78-A do Código Florestal (BRASIL, 2014b). O artigo 78-A foi alterado pela Lei 13.295, de 14 de junho de 2016 (originalmente, o prazo-limite previsto no Código Florestal era até 28 de maio de 2017).

2 “Dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural, estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização Am-biental, de que trata a Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, e dá outras providên-cias” (BRASIL, 2012a).

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iii) Decreto 8.235, de 5 de maio de 2014;3

iv) Instrução Normativa 2, de 5 de maio de 2014, expedida pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA);4 e

v) Instrução Normativa 12, de 6 de agosto de 2014, expedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).5

Destaca-se, ainda, que, uma vez que tal legislação é bastante re-cente e sua aplicação incipiente no país, não há qualquer pretensão no presente trabalho de esgotamento ou elaboração de hipóteses conclusivas em relação ao tema. O objetivo principal, ao contrário, é, sobretudo, suscitar algumas discussões que possibilitem, ao mes-mo tempo, um conhecimento preliminar e geral acerca do conteúdo das novas normas em vigor e reflexões sobre sua aplicação.

Na primeira seção, expõem-se aspectos gerais relativos ao Ca-dastro Ambiental Rural (CAR), ao Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) e ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), tais como, conceito, objetivos e seus respectivos efeitos. Na segunda seção, são abordadas as principais regras estabelecidas pelo Código Florestal para a regularização do passivo ambiental dos imóveis ru-rais; entre outros temas, são explicitadas as regras legais diferencia-das estabelecidas para a recomposição ambiental em pequenas pro-

3 “Estabelece normas gerais complementares aos Programas de Regularização Ambiental dos Estados e do Distrito Federal, de que trata o Decreto 7.830, de 17 de outubro de 2012, institui o Programa Mais Ambiente Brasil, e dá outras providências” (BRASIL, 2014a).

4 “Dispõe sobre os procedimentos para a integração, execução e compatibiliza-ção do Sistema de Cadastro Ambiental Rural – SICAR e define os procedimen-tos gerais do Cadastro Ambiental Rural – CAR” (BRASIL, 2014b).

5 Dispõe sobre “os procedimentos relativos ao requerimento de suspensão de apli-cação de sanções decorrentes de infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em áreas de preservação permanente, de reserva legal e de uso restrito, e de declaração de conversão da sanção pecu-niária em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente”, nos termos do § 5º do artigo 59 do Código Florestal (BRASIL, 2014c).

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priedades rurais e nas áreas rurais consolidadas. Na terceira seção, são indicados os prazos para a inscrição no CAR e a efetivação des-se cadastro nos estados da Amazônia. Na quarta seção, o foco são os regimes especiais do CAR. Por fim, expõem-se as conclusões.

Cadastro Ambiental Rural: conceito, abrangência, escopo e natureza

O CAR é um registro público eletrônico,6 obrigatório para todos os imóveis rurais, que tem por finalidade integrar as informações ambientais referentes à situação das áreas de preservação perma-nente (APP),7 das áreas de reserva legal,8 das florestas e dos rema-nescentes de vegetação nativa, das áreas de uso restrito9 e das áreas consolidadas10 das propriedades e posses rurais do país. Instituído legalmente pelo Código Florestal no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima) e implantado por meio

6 Artigo 29, caput, do Código Florestal e artigo 2º, II, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

7 Área de preservação permanente é “a área protegida, coberta ou não por ve-getação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações huma-nas” – artigo 3º, inciso II, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

8 Área “localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada conforme o artigo 12 [do Código Florestal], com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conserva-ção da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa” – artigo 3º, inciso III, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

9 As áreas de uso restrito foram criadas pelos artigos 10 e 11 do Código Florestal e constituem dois tipos diferentes de áreas, os pantanais e as planícies pantaneiras e as áreas de inclinação entre 25º e 45º, possuindo algumas restrições quanto a sua utilização, nos termos do que estabelece o referido código (BRASIL, 2012b).

10 Área rural consolidada é “a área de imóvel rural com ocupação antrópica pre-existente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio” – artigo 3º, inciso IV, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

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da Instrução Normativa 2/2014, do MMA, o CAR consiste em uma base de dados estratégica para o controle, o monitoramento, o com-bate ao desmatamento e o planejamento ambiental e econômico.11

Nos termos do artigo 2º, inciso I, dessa instrução normativa, para os efeitos do CAR, “imóvel rural” é o prédio rústico de área contí-nua, qualquer que seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial, conforme o disposto no inciso I do artigo 4º da Lei 8.629/1993 – Lei da Reforma Agrária (BRASIL, 2014b). Vale destacar que a Instrução Normativa conceitua, ainda, expressamen-te o que entende por pequenas (até quatro módulos fiscais), médias (de quatro a 15 módulos fiscais) e grandes propriedades (acima de 15 módulos fiscais), conceitos igualmente depreendidos da Lei da Reforma Agrária.

Nesse sentido, fica claro que o conceito legal de “imóvel rural”, in-clusive para fins do CAR, prioriza a destinação do imóvel e não a sua localização. Nessa linha, imóveis rurais que tenham seu perímetro lo-calizado em zona urbana com destinação rural devem providenciar a sua inscrição regular no CAR pelo proprietário ou possuidor rural, nos termos do artigo 35 da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b).

O artigo 29, parágrafo 1º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e o artigo 5º, caput, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a), por sua vez, estabelecem que a inscrição do imóvel no CAR deve ser realiza-da, preferencialmente, no órgão ambiental municipal ou estadual e consiste nas seguintes exigências ao proprietário ou possuidor rural:

i) identificação do proprietário ou possuidor;

ii) comprovação da propriedade ou posse; e

iii) identificação do imóvel por meio de planta e memorial descri-tivo indicando as coordenadas geográficas com, pelo menos, um ponto de amarração do perímetro do imóvel, contendo

11 Artigo 29, caput, do Código Florestal.

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a localização de suas informações ambientais (remanescen-tes de vegetação nativa, áreas de preservação permanente, áreas consolidadas, áreas de uso restrito e, caso exista, a reserva legal).

Vale mencionar que, apesar de a lei prever a inscrição do CAR no órgão ambiental municipal, na prática, principalmente em se tra-tando de municípios localizados no bioma Amazônia, o desenvol-vimento de sistemas municipais próprios de CAR não se vislumbra como usual. O que ocorre, muitas vezes, é a mobilização e o auxílio técnico do município, em especial, a pequenos proprietários rurais, para realizarem sua inscrição no sistema de CAR do estado. De qualquer forma, como a realidade dos municípios no Brasil é muito heterogênea, é importante ter em mente que a lei possibilita a referi-da inscrição também no órgão ambiental municipal, caso existente.

O CAR não se confunde com a regularização fundiária, estando voltado, essencialmente, à regularização ambiental do imóvel rural. Nesse sentido, vale lembrar que o Código Florestal expressamen-te menciona que o CAR não constitui título de propriedade nem tampouco elimina a necessidade de cumprimento do artigo 2º da Lei 10.267/200112 – que trata do Cadastro Nacional de Imóveis Ru-rais13 (CNIR) –, no sentido de os proprietários ou possuidores obser-varem certas obrigações, tais como a de manter as informações de

12 Artigo 29, parágrafo 2º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).13 O cadastro, criado pela Lei 10.267/2001, “altera dispositivos das Leis 4.947, de 6

de abril de 1966, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 6.739, de 5 de dezembro de 1979, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e dá outras providências” (BRASIL, 2001). Possui o objetivo de proceder à unifica-ção dos registros cadastrais comuns às instituições federais, estaduais e muni-cipais. Ademais, visa aumentar a confiabilidade das informações do meio rural, conferir maior consistência aos dados fundiários e potencializar as ações de ca-ráter fiscal, ambiental, de desenvolvimento rural e de reforma agrária. Sua base comum de informações é gerenciada conjuntamente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pela Secretaria da Receita Federal. Constitui, assim, uma base de dados fundiária rural de âmbito nacional.

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tal cadastro atualizadas, bem como respeitar a área mínima defini-da para o módulo do imóvel em caso de eventual desmembramento. Diferentemente do CAR e apesar da possibilidade de servir a outros fins, o CNIR é um cadastro fundiário que tem como finalidades principais a regularização fundiária e a arrecadação tributária sobre os imóveis rurais no país. Algumas dificuldades ainda precisam ser superadas, tais como investimento insuficiente para ações de geor-referenciamento e inconsistências nas matrículas dos imóveis rurais ou sua duplicidade. É possível que esses aspectos também possam ser entraves para a efetividade do CAR.

É importante informar, ainda, que o CAR também não se con-funde com o licenciamento ambiental das atividades realizadas no imóvel rural. O CAR é condição obrigatória para a adesão ao PRA, conforme será mais bem detalhado adiante. Com ele, haverá o ma-peamento da propriedade, constituindo antecedente lógico, portanto, para as ações de recomposição do passivo ambiental, acaso existen-te, no imóvel rural. Nesse sentido, o CAR não isenta o proprietário ou possuidor rural de submeter ao procedimento de licenciamento ambiental eventuais atividades utilizadoras de recursos naturais que venha a desenvolver em seu imóvel rural e que sejam, efetiva ou po-tencialmente, poluidoras ou capazes, de qualquer forma, de causar degradação ambiental.

É interessante notar que, nos termos do artigo 6º do Decre-to 7.830/2012, o CAR possui natureza declaratória e permanente, sendo as informações prestadas de responsabilidade do declarante, que responde por sanções penais e administrativas em caso de de-claração falsa, enganosa ou omissa (BRASIL, 2012a). Mais adiante, o artigo 7º, parágrafo 2º, do mesmo decreto estabelece, por sua vez, que, enquanto não houver manifestação do órgão ambiental acerca de pendências ou inconsistências nos dados fornecidos, a inscri-ção no CAR será considerada efetivada para todos os efeitos da lei (BRASIL, 2012a). Tal inscrição deverá ser comprovada pelo pro-

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prietário ou possuidor rural por meio de recibo emitido pelo Sicar, a ser abordado no próximo item.

Numa interpretação preliminar, pode-se, portanto, inferir pela natureza jurídica declaratória do CAR, haja vista que sua inscrição se concretiza, nos termos anteriormente mencionados, com a sim-ples inserção de dados no sistema, de forma unilateral, pelo decla-rante proprietário ou possuidor rural e com a emissão de um recibo do Sicar, expedido pelo órgão ambiental competente.

Por outro lado, pode-se observar um caráter de permanência do CAR. Esse aspecto não tem a ver com a imutabilidade da inscrição, já que existe, inclusive, a obrigatoriedade de atualização periódica das informações declaradas sempre que houver alteração na nature-za dominial ou possessória do imóvel.14 Diz respeito, sobretudo, ao fato de que os dados inseridos no Sicar permanecem inalterados no sistema enquanto não houver nenhuma nova inserção.

Além de possibilitar o planejamento ambiental e econômico do uso e ocupação do imóvel rural, a inscrição no CAR, acompanhada de compromisso de regularização ambiental, quando for o caso, é pré-requisito para acesso à emissão das Cotas de Reserva Ambien-tal15 e aos benefícios previstos nos programas de regularização am-biental, conforme o item “Programa de Regularização Ambiental, Termo de Compromisso e Projeto de Recomposição de Áreas De-gradadas e Alteradas”, deste artigo.16

14 Artigo 6º, parágrafo 3º, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).15 A Cota de Reserva Ambiental é um título nominativo representativo de área

com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação, emitido me-diante requerimento do proprietário, após inclusão do imóvel no CAR e laudo comprobatório emitido pelo órgão ambiental competente ou entidade creden-ciada – artigo 44 e parágrafo 1º do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

16 Artigo 59, parágrafo 1º, da Lei 12.651/2012 (BRASIL, 2012b).

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Sistema de Cadastro Ambiental Rural

O Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) é o sistema eletrôni-co de âmbito nacional de gerenciamento de informações ambientais dos imóveis rurais, sob a responsabilidade do MMA.17 Em outras palavras, é o sistema responsável por receber, gerenciar e integrar os dados gerados pelo CAR de cada um dos imóveis cadastrados no país.18

Caso o ente federativo não disponha de sistema próprio para o cadastramento dos imóveis rurais, poderá utilizar o módulo de CAR, disponível no Sicar, por meio de cooperação com o MMA, podendo, ainda, desenvolver módulos complementares para atender a peculiaridades locais, desde que compatíveis com o Sicar e ob-servados determinados parâmetros técnicos definidos pelo governo federal – artigo 3º, parágrafos 2º e 3º, do Decreto 7.830/2012 e arti-go 5º da Instrução Normativa 2/2014.19

É interessante notar que o Decreto 7.830/2012, em relação a esse tema, cita expressamente o artigo 8º, inciso VIII, e o artigo 9º, inciso VIII, da Lei Complementar 140/2011,20 uma vez que esses dispositi-vos estabelecem a obrigatoriedade de comunicação de dados entre

17 Artigo 2º, inciso I, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).18 Os objetivos do Sicar encontram-se arrolados no artigo 3º do Decreto 7.830/2012

(BRASIL, 2012a).19 Os sistemas de CAR desenvolvidos pelos entes federados deverão: (i) atender aos

critérios de inscrição disponíveis no sítio eletrônico <http://www.car.gov.br>; (ii) observar as condições de integração das bases de dados no sistema; e (iii) obser-var os Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico (e-PING), constan-tes da Portaria SLTI/MP 5, de 14 de julho de 2005 (BRASIL, 2012a; 2014b).

20 Essa lei complementar “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do artigo 23 da Constituição Federal, para a coope-ração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao com-bate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora” (BRASIL, 2011).

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os sistemas de informação ambiental dos diferentes entes federa-tivos (União, estados e municípios). Tais normas vão ao encontro, portanto, da consolidação de um sistema de comunicação integrado de informações ambientais que englobe todo o país.

Enfatiza-se, portanto, que a inscrição no CAR poderá ser rea-lizada tanto pelos estados quanto pelos municípios, que, inclusive, poderão ter sistemas próprios de CAR, desde que compatíveis e in-tegrados com o Sicar, conforme informado anteriormente.

Programa de Regularização Ambiental, Termo de Compromisso e Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas

O Código Florestal estabelece, em seu artigo 59, a obrigatorieda-de de implantação, pela União, estados e Distrito Federal, de pro-gramas de regularização ambiental de posses e propriedades rurais com o fim de adequá-las às obrigações nele previstas (BRASIL, 2012b). Ainda no que se refere à regulamentação do PRA, o referi-do código prevê prazo para que a União estabeleça normas gerais, cabendo aos estados e Distrito Federal editar normas de caráter es-pecífico, levando em conta suas peculiaridades locais – artigo 59, parágrafo 1º (BRASIL, 2012b).

As normas gerais mencionadas foram editadas pelo Decre-to 7.830/2012, que foi complementado pelo Decreto 8.235/2014.

Um primeiro destaque a ser realizado é que o PRA somente pode ser instituído pela União e estados, excluindo-se os municípios.

De acordo com o artigo 9º do Decreto 7.830/2012, o PRA con-siste em um conjunto de ações ou iniciativas a serem desenvolvidas por proprietários e posseiros rurais com o objetivo de adequar e promover a regularização ambiental de seus imóveis com vistas ao cumprimento do disposto na legislação ambiental (BRASIL, 2012a).

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Nesse mesmo contexto, vale mencionar que o Decreto 8.235/2014 institui, em seus artigos 13 a 15, o Programa Mais Ambiente Brasil, que deverá apoiar os programas de regularização ambiental dos es-tados e Distrito Federal e desenvolver, prioritariamente, ações nas áreas de educação ambiental, assistência técnica, extensão rural, ca-pacitação de gestores públicos e produção e distribuição de mudas (BRASIL, 2014a). A coordenação desse programa, as despesas com a execução das suas atividades, bem como suas ações, correrão por conta das dotações orçamentárias consignadas anualmente no orça-mento do MMA.

Nos termos do artigo 2º, inciso XV, do Decreto 7.830/2012, por “regularização ambiental” deve-se compreender as atividades de-senvolvidas e implementadas no imóvel rural que visem atender ao disposto na legislação ambiental e, de forma prioritária, à manuten-ção e recuperação de APPs, áreas de reserva legal e de uso restrito, e à compensação da reserva legal, quando couber (BRASIL, 2012a).

A regularização ambiental de que trata o PRA restringe-se21 à regularização das APPs, das áreas de reserva legal e de uso restrito degradadas ou alteradas e pode ser efetivada pelos seguintes meios: recuperação, recomposição, regeneração ou compensação (esta últi-ma, restrita às áreas de reserva legal, conforme as opções previstas no parágrafo 5º, do artigo 66 do Código Florestal).

É relevante distinguir brevemente esses conceitos e separá-los de outros semelhantes, mas que com eles não se confundem.

Área degradada é aquela que se encontra alterada em função de impacto antrópico, sem capacidade de regeneração natural, en-quanto a área alterada é a que, após o impacto, ainda mantém capa cidade de regeneração natural – artigo 2º, incisos V e VI, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

21 Artigo 2º do Decreto 8.235/2014 (BRASIL, 2014a).

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A recuperação configura-se, nos termos do artigo 2º, inciso XIII, da Lei 9.985/2000,22 como a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original (BRASIL, 2000). Assemelha-se, portanto, ao conceito de recomposição que seria, nos termos do artigo 2º, inciso VIII, do Decreto 7.830/2012, a restituição de ecossistema ou de comunidade biológica nativa degradada ou al-terada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original (BRASIL, 2012a); na prática, os dois conceitos parecem ser empregados de forma indistinta.

Já a área regenerada é conceituada como “a vegetação resul-tante dos processos naturais de sucessão, após supressão total ou parcial da vegetação primária por ações antrópicas ou causas natu-rais, podendo ocorrer árvores remanescentes da vegetação primá-ria”. Tal conceito está previsto no artigo 2º, inciso II, da Resolução Conama 10/1993.23 A regeneração é, portanto, parte do ciclo de cres-cimento da floresta e refere-se às fases iniciais de seu estabeleci-mento e desenvolvimento (GAMA; BOTELHO; BENTES-GAMA, 2002). Vislumbra-se, como exemplo dessa atividade, o ato de cercar determinada área degradada sem nenhum outro tipo de intervenção para que a vegetação possa crescer naturalmente.

Interessante notar que a regularização ambiental exigida pelo Có-digo Florestal não menciona a restauração, que vem a ser a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada ao mais próximo possível da sua condição original – artigo 2º, in ci so XIV, Lei 9.985/2000 (BRASIL, 2000). Tendo em vista os meios de regu-larização ambiental que menciona, exige tão somente a restituição da área degradada ou alterada a uma condição não degradada.

22 Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá ou-tras providências.

23 Essa resolução estabelece os parâmetros básicos para análise dos estágios de sucessão de Mata Atlântica (BRASIL, 1993).

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Por fim, a compensação consiste em possibilidade de regulari-zação ambiental conferida ao proprietário ou possuidor rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de reserva legal inferior aos limites estabelecidos no artigo 12 do Código Florestal. Vale des-tacar que a compensação restringe-se às áreas de reserva legal, o que significa que a APP não pode ser objeto de compensação. O parágrafo 5º do artigo 66 do Código Florestal estabelece os meios possíveis de compensação, afirmando ainda que esta deve ser prece-dida de inscrição no CAR. Já no parágrafo seguinte do mesmo dis-positivo, o Código Florestal dispõe que as áreas a serem utilizadas para compensação deverão:

i) ser equivalentes em tamanho à área a ser compensada;

ii) estar localizadas no mesmo bioma;

iii) se fora do estado, estar localizada em área identificada como prioritária pela União ou estados (BRASIL, 2012b).

São instrumentos do PRA:24

i) o CAR;

ii) o Termo de Compromisso;

iii) o Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas (Prada); e

iv) as CRAs, quando couber.

A seguir, uma breve descrição desses conceitos.

Ressalte-se, primeiramente, que a inscrição do imóvel rural no CAR é condição obrigatória para a adesão do proprietário ou possuidor rural ao PRA, nos termos do artigo 59, parágrafo 2º, da Lei 12.651/2012 (BRASIL, 2012b).

Em conformidade com o artigo 2º, inciso III, do Decreto 7.830/2012, Termo de Compromisso é o documento formal de adesão ao PRA

24 Artigo 9º, parágrafo único, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

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211Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

que contenha, no mínimo, os compromissos de manter, recuperar ou recompor as APPs, as áreas de reserva legal e de uso restrito do imóvel rural ou, ainda, de compensar áreas de reserva legal (BRASIL, 2012a). O Termo de Compromisso constituirá um título executivo extrajudicial,25 nos termos do artigo 59, parágrafo 3º, do Código Florestal.

O Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas, por sua vez, é o instrumento de planejamento das ações de recom-posição, que contém metodologias, cronograma e insumos – arti-go 2º, inciso XVII, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a). Trata--se de uma ferramenta elaborada individualmente, de acordo com as especificidades de cada propriedade, tendo como norte o PRA do respectivo estado. Basicamente, as obrigações contidas no Ter-mo de Compromisso ficam refletidas no Prada elaborado para a recomposição da propriedade em questão. Além disso, as ativida-des contidas nesse projeto deverão ser concluídas de acordo com o cronograma previsto no Termo de Compromisso – artigo 16 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

Ao tratar do tema, o Decreto 8.235/2014 determina que o Ter-mo de Compromisso deverá conter obrigatoriamente a descrição de proposta simplificada do proprietário ou possuidor que vise à re-composição, recuperação, regeneração ou compensação das APPs, áreas de reserva legal e de uso restrito (BRASIL, 2014a). Entende--se, portanto, que essa proposta deverá incluir uma descrição sim-plificada do Prada, sendo esse último o projeto técnico final para a regularização do passivo ambiental. É importante destacar que tal proposta pode ser apresentada independentemente da contratação de técnico responsável.26

25 Trata-se de instrumento jurídico que pode ser imediatamente executado judicial-mente, caso haja descumprimento das obrigações nele previstas (BRASIL, 2012b).

26 Artigo 5º, parágrafo 2º, do Decreto 8.235/2014 (BRASIL, 2014a).

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212 Revista do BNDES 45, junho 2016

Em linhas gerais, o fluxo de procedimento de adesão ao PRA é o seguinte:

i) o proprietário ou possuidor solicita a inscrição do imóvel ru-ral no CAR ao órgão de meio ambiente competente;

ii) uma vez identificado passivo ambiental a ser regularizado em sua propriedade ou posse, poderá aderir ou não ao PRA.

Realizada a adesão, ele firmará um Termo de Compromisso obri gando-se à regularização ambiental do imóvel, a qual poderá ocorrer mediante recuperação, recomposição, regeneração ou com-pensação (no caso das áreas de reserva legal), nos termos técnicos especificados no Prada.

O fluxo de adesão ao PRA pode ser sistematizado conforme ilus-tra a Figura 1.

Figura 1

Fluxo de adesão ao PRA

Inscrição no

CAR

Identificação do

passivo

ambiental

Adesão ao

PRA

Assinatura

do Termo de

Compromisso

Recomposição

do passivo

observando

tecnicamente

o Prada

Fonte: Elaboração própria.

Embora a inscrição no CAR seja obrigatória para todas as pro-priedades e posses rurais, a regularização ambiental por meio da adesão ao PRA é facultativa.27 Como forma de estimular tal adesão, a legislação estabeleceu diversos benefícios para aqueles que assim procederem, a saber:

27 Artigo 3º, parágrafo 2º, do Decreto 8.235/2014 (BRASIL, 2014a).

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213Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

i) impossibilidade de autuação por infrações cometidas antes de 22 de julho de 200828 relativas à supressão irregular de ve-getação em APP, área de reserva legal e áreas de uso restrito, enquanto estiver sendo cumprido o Termo de Compromis-so – artigo 59, parágrafo 4º, da Lei 12.651/2012 e artigo 12 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a);

ii) suspensão das sanções decorrentes das infrações comentadas no item anterior e conversão das multas, caso cumpridas as obriga-ções do PRA e do Termo de Compromisso, em serviços de pre-servação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambien-te – artigo 59, parágrafo 5º, da Lei 12.651/2012 e artigo 13, caput e parágrafo único, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a);29

iii) suspensão da punibilidade dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/1998,30 enquanto o Termo de Com-

28 A data mencionada refere-se ao dia da edição do Decreto 6.514, de 22 de ju-lho de 2008, que “dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências” (BRASIL, 2008), regulamentando a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998).

29 Em outras palavras, a multa anteriormente aplicada será convertida em servi-ços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, os quais se consideram prestados mediante o cumprimento das obrigações cons-tantes do Termo de Compromisso firmado pelo proprietário ou possuidor rural para fins de regularização ambiental de sua propriedade.

30 Conhecida como Lei de Crimes Ambientais, dispõe sobre as sanções penais e ad-ministrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Os artigos citados são: (i) artigo 38: “Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção”; (ii) artigo 39: “Cortar árvo-res em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da auto-ridade competente”; e (iii) artigo 48: “Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação” (BRASIL, 1998). Vale ressaltar que, ao prever a suspensão da punibilidade dos crimes ambientais previstos nos arti-gos 38, 39 e 48 da lei em questão, o Código Florestal não menciona o artigo 38-A, que se refere à destruição ou danificação de vegetação primária ou secundária, em estágios médio e avançado de regeneração, no bioma Mata Atlântica.

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214 Revista do BNDES 45, junho 2016

promisso estiver sendo cumprido – artigo 60, Lei 12.651/2012

(BRASIL, 2012b).

A Instrução Normativa 12/2014, editada pelo Ibama, regulamen-

ta os procedimentos relativos ao pedido de suspensão de aplicação

de sanções decorrentes de infrações cometidas antes de 22 de julho

de 2008 e dispõe, ainda, acerca da declaração de conversão da mul-

ta aplicada em serviços de preservação, melhoria e recuperação da

qualidade do meio ambiente, conforme autoriza o Código Florestal

(BRASIL, 2014c).

Nos termos da Instrução Normativa 12/2014, o proprietário ou pos-

suidor rural deverá firmar um Termo de Compromisso ambiental com

o órgão competente, devendo requerer ao Ibama, nos termos do artigo

4º, a suspensão de eventuais multas aplicadas pelo órgão decorrentes

de infrações anteriores a 22 de julho de 2008 (BRASIL, 2014c). Desse

modo, fica claro que a suspensão em questão não é automática e tem

que ser solicitada ao órgão ambiental pertinente.

Outra observação relevante é que a referida instrução normativa

apenas trata das infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008,

ou seja, infrações ambientais em áreas consolidadas. Da mesma for-

ma, ao falar em suspensão de aplicação de sanções decorrente da

adesão ao PRA e assinatura do Termo de Compromisso, a lei e os

decretos regulamentadores são específicos em tratar da regulariza-

ção de áreas consolidadas.

Nesse sentido, parece, a princípio, que tal mecanismo legal de

suspensão e conversão de multas é específico às infrações ambien-

tais cometidas antes de 22 de julho de 2008 – artigos 59 e 60 do Có-

digo Florestal (BRASIL, 2012b). Uma conclusão possível, portanto,

é a de que os desmatamentos ocorridos após 22 de julho de 2008

pelo possuidor ou proprietário rural encontram-se fora das benesses

legais anteriormente comentadas.

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215Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Por outro lado, pela análise da legislação sob exame e também por uma questão de razoabilidade, é possível concluir que, no que diz respeito à regularização do passivo ambiental do imóvel rural, o PRA e o Termo de Compromisso abrangem a propriedade ou posse rural, incluindo os desmatamentos anteriores e posteriores à data mencionada.

Nesse sentido, a pergunta que parece permear essa discussão é: o que acontece com os desmatamentos ocorridos após 22 de julho de 2008?

Apesar de a legislação não ser tão clara em relação ao tema, o artigo 60 do Código Florestal estabelece a suspensão da punibilida-de dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), sem distinguir entre as infrações cometidas antes ou depois de 22 de julho de 2008, para os proprietários ou pos-suidores rurais que firmarem Termo de Compromisso com o órgão competente com vistas à regularização ambiental da sua propriedade ou posse, enquanto o compromisso estiver sendo cumprido.

Por sua vez, o artigo 9º, parágrafo 1º, do Decreto 8.235/2014, é expresso ao afirmar que, apesar da suspensão das sanções adminis-trativas no decorrer do cumprimento do Termo de Compromisso, as infrações cometidas posteriormente a 22 de julho de 2008 ainda são passíveis de aplicação das penalidades administrativas cabíveis (BRASIL, 2014a).

Parece, a princípio, que o tratamento dado pela lei nas esferas criminal e administrativa é distinto. Como o CAR e a recomposi-ção do passivo são obrigatórios de acordo com a legislação, ainda é possível considerar que a suspensão da punibilidade criminal con-figura um estímulo para aquele que desmatou depois de 22 de julho de 2008 também aderir ao PRA, a despeito de não poder obter a suspensão das penalidades por infrações administrativas cometidas posteriormente a tal data.

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216 Revista do BNDES 45, junho 2016

Outra possível interpretação da norma seria a de que, para as infrações cometidas após 22 de julho de 2008, não haveria qualquer suspensão, seja na esfera penal, seja na esfera administrativa.

Vale destacar que as conclusões acima são baseadas em possí-veis interpretações da norma. Como, porém, a aplicação do código é relativamente recente, ainda não há clareza sobre o tema.

Regularização do passivo ambiental

Reserva legal

A delimitação da reserva legal está prevista no artigo 12 do Código Florestal,31 estabelecendo os percentuais mínimos a serem observa-dos em relação à área total do imóvel rural.

Nos termos do artigo 17, caput, do Código Florestal, a área de re-serva legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, tendo tal obrigação natureza real, na medida em que é trans-mitida ao sucessor em caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural (BRASIL, 2012b). Significa dizer que, ainda que o antigo proprietário tenha sido o causador das infrações ambientais, responderá por elas o novo proprietário em caso de transmissão do domínio, já que se trata de uma obrigação inerente ao imóvel.

Conforme o artigo 66 do Código Florestal, o proprietário ou pos-suidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área

31 Os percentuais mínimos relativos à reserva legal na área do imóvel são: (i) quan do localizado na Amazônia Legal: (a) 80%, para imóveis situados em área de florestas; (b) 35%, no imóvel situado em área de cerrado; (c) 20%, no imóvel situado em campos gerais; e (ii) 20%, quando localizado nas demais regiões do país (BRASIL, 2012b).

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217Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

de reserva legal em extensão inferior aos limites estabelecidos na lei, deverá regularizar a sua situação independentemente de ade-são ao PRA, podendo adotar as seguintes opções, isolada ou de forma conjunta, em relação à área de reserva legal: (i) recompô-la; (ii) permitir a regeneração natural da vegetação; (iii) compensá-la (BRASIL, 2012b).

Dessa forma, o que é obrigatório ao proprietário rural é a regula-rização ambiental do passivo do imóvel, e não a adesão ao PRA. No entanto, conforme já exposto, anteriormente, somente poderá dispor dos benefícios de inaplicabilidade de infrações administrativas ou suspensão das multas se realizar a adesão.

Destaque-se que, nos casos em que a reserva legal já tenha sido averbada na matrícula do imóvel e essa averbação possibilite a iden-tificação do perímetro e a sua localização, tais informações não se-rão exigidas do proprietário. Nos casos de posse, a mesma dispensa é aplicável aos imóveis para os quais já exista Termo de Compro-misso firmado e disponha igualmente das referidas informações.

O Código Florestal dispõe que os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que realizaram supressão de vegetação nativa, respeitando os percentuais de reserva legal previstos pela legisla-ção em vigor, à época em que ocorreu a supressão, são dispensados de promover a recomposição, compensação ou regeneração para os percentuais exigidos na lei atualmente em vigor.32 Vale lembrar, po-rém, que, em relação ao Código Florestal anterior, não houve qual-quer alteração no que se refere aos percentuais antes estabelecidos para a reserva legal.33

32 Artigo 68 do Código Florestal (BRASIL, 2012b).33 Tais percentuais foram estabelecidos no Código Florestal anterior, por meio da

Medida Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, revogada pela Lei 12.651, de 2012.

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218 Revista do BNDES 45, junho 2016

O artigo 17, parágrafo 3º, do código, por sua vez, determina a imediata suspensão das atividades em áreas de reserva legal des-matadas irregularmente após 22 de julho de 2008, sendo certo que o processo de recomposição dessas áreas deverá ser iniciado em até dois anos, contados da publicação da referida lei – ocorrida em 28 de maio de 2012 – e finalizados nos prazos estabelecidos no PRA – parágrafo 4º do mesmo dispositivo (BRASIL, 2012b). Tais prazos constarão, portanto, dos PRAs que, por sua vez, estarão estabele-cidos nos termos de compromisso firmados pelo proprietário rural com o órgão ambiental competente, conforme determinou o Progra-ma Tocantins Legal (artigo 7º, parágrafo 1º, da Lei Estadual 2.713, de 9 de maio de 2013).

O artigo 66, parágrafo 2º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e o Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a) – artigo 16, parágrafo 1º – determinam que a recomposição da reserva legal deverá atender aos critérios estipulados pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e ser concluída em até vinte anos, abran-gendo, a cada dois anos, no mínimo, um décimo da área total neces-sária à sua complementação.

O artigo 16, parágrafo 2º, do Decreto 7.830/2012, dispõe que é facultado ao proprietário ou possuidor do imóvel rural o uso alter-nativo do solo34 da área necessária à recomposição ou regeneração da reserva legal, resguardada a área da parcela mínima definida no Termo de Compromisso que já tenha sido ou que esteja sendo re-composta ou regenerada, devendo adotar boas práticas agronômicas com vistas à conservação do solo e da água (BRASIL, 2012a).

34 Entende-se por uso alternativo do solo a substituição de vegetação nativa e for-mações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuá-rias, industriais, de geração e transmissão de energia, mineração e de transpor-te, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana – artigo 3º, inciso VI, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

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219Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

A recomposição das áreas de reserva legal poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas e exóticas, em sistema agroflorestal (SAF), observados os seguintes parâmetros:

i) o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies nativas de ocorrência regional; e

ii) a área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder 50% da área total a ser recuperada.35

O proprietário ou possuidor de imóvel rural que optar por recom-por a reserva legal com utilização do plantio intercalado de espécies exóticas ou frutíferas terá direito à sua exploração econômica.36

Em relação à recomposição de reserva legal, observa-se, portan-to, a permissão do plantio de sistemas agroflorestais com espécies exóticas em até 50% da área a ser recomposta.

Ademais, vale destacar que a exploração econômica da reser-va legal depende de aprovação prévia do órgão competente do Sisnama – artigo 17, parágrafo 1º, do Código Florestal –, sendo que, nos termos do artigo 23 do código, a exploração florestal even tual sem propósito comercial, para consumo próprio no imó-vel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas serem previamente declarados a motivação e o volume da exploração ao órgão ambiental – limitado anualmente a vinte me-tros cúbicos (BRASIL, 2012b).

Por sua vez, as hipóteses de compensação da reserva legal são:

i) aquisição de Cota de Reserva Ambiental;

ii) arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou reserva legal;

35 Artigo 66, parágrafo 3º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e artigo 18 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

36 Parágrafo único do artigo 18 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

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220 Revista do BNDES 45, junho 2016

iii) doação ao poder público de área localizada no interior de uni-dade de conservação de domínio público pendente de regula-rização fundiária; e

iv) cadastramento de outra área equivalente e excedente à reserva legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma – ar-tigo 66, parágrafo 5º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

Por fim, considera-se relevante lembrar que, nos termos do arti-go 21 do Código Florestal, é livre a coleta de produtos florestais não madeireiros, tais como frutos, cipós, folhas e sementes, observados determinados parâmetros técnicos estabelecidos pela lei, sendo cer-to que o artigo 24 do código amplia a abrangência desse dispositivo às demais áreas localizadas fora da reserva legal (BRASIL, 2012b).

Áreas de preservação permanente

O Código Florestal delimita as áreas de preservação permanente dos artigos 4º ao 6º e estabelece obrigações de recomposição, ao possuidor ou ocupante, a qualquer título, de área onde tenha ocorrido supressão de vegetação sem autorização legal – artigo 7º do Código Florestal (BRASIL, 2012b). Tais obrigações possuem natureza real, tal como as de reserva legal, na medida em que são transmitidas ao sucessor, em caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.

O Código Florestal, em seu artigo 61-A, autoriza, exclusivamen-te, a continuidade de atividades agrossilvipastoris,37 de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de

37 São as atividades desenvolvidas em conjunto ou isoladamente, relativas à agri-cultura, à aquicultura, à pecuária, à silvicultura e demais formas de exploração e manejo da fauna e da flora, destinadas ao uso econômico, à preservação e à conservação dos recursos naturais renováveis – artigo 2º, inciso II, da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b).

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221Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

2008 (BRASIL, 2012b). Os parágrafos 1º a 7º desse artigo, por sua vez, estabelecem diferentes obrigações de recomposição, em metra-gens distintas, a depender do tamanho da área dos imóveis rurais38 (BRASIL, 2012b).

No caso de supressões de APPs não autorizadas, posteriores a 22 de julho de 2008 (artigo 7º, parágrafo 3º, do Código Florestal), fica vedada a concessão de novas autorizações de supressão enquanto não cumprida a obrigação de recomposição (BRASIL, 2012b).

O parágrafo 13 do artigo 61-A do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e o artigo 19 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a) deter-minam que a recomposição das APPs poderá ser feita, isolada ou conjuntamente, pelos seguintes métodos:

i) condução de regeneração natural de espécies nativas;

ii) plantio de espécies nativas;

iii) plantio de espécies nativas conjugado com a condução da re-generação natural de espécies nativas; e

iv) especificamente para pequenas propriedades ou posses rurais familiares, a utilização de sistemas agroflorestais, isto é, o plantio intercalado de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas de ocorrência regional, conforme visto anteriormente, em até 50% da área total a ser recomposta.

Uma observação em relação à recomposição de APPs consiste no fato de que, diferentemente da recomposição das áreas de re-serva legal, a utilização de sistemas agroflorestais só é possível em áreas ou imóveis a que se refere o artigo 3º, inciso V, do caput do Código Florestal – aquela propriedade explorada mediante o traba-

38 Por exemplo, o parágrafo 1º do artigo 61-A do Código Florestal estabelece que, para imóveis rurais com área de até um módulo fiscal, será obrigatória a re-composição das respectivas faixas marginais em cinco metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d’água (BRASIL, 2012b).

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lho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no artigo 3º da Lei 11.326, de 24 de julho de 200639 (BRASIL, 2012b).

É relevante notar, portanto, que o conceito legal do Código Flores-tal de propriedade ou posse rural familiar traz em si alguns requisitos estabelecidos pela Lei da Agricultura Familiar (Lei 11.326/2006), os quais consistem não apenas no limite do tamanho da propriedade ou posse rural, mas, sobretudo, na forma de sua exploração econômica, que, no caso, deve ser familiar.

No entanto, a forma familiar da exploração econômica do imóvel deixa de ser essencial na caracterização da pequena propriedade ou posse rural, na medida em que o parágrafo único do artigo 3º do Có-digo Florestal equipara-a – para fins de aplicação da lei, aos imóveis de até quatro módulos fiscais que realizam atividades agrossilvipas-toris –, a terras indígenas demarcadas e àquelas tituladas a povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território (BRASIL, 2012b).

No que se refere a pequenas propriedades ou posses rurais fami-liares, é relevante mencionar, ainda, que o Código Florestal permite que atividades de recuperação, inclusive por meio de sistemas agro-florestais, possam ser realizadas sem a necessidade de autorização do órgão ambiental; para tanto, devem ser cumpridos os requisitos da lei (ser pequena propriedade ou posse rural e ter a inscrição no CAR) previamente à atividade e encaminhada simples declaração ao órgão

39 São requisitos estabelecidos pelo artigo 3º da Lei 11.326/2006: (i) ter o imóvel até quatro módulos fiscais; (ii) utilizar predominantemente mão de obra familiar nas atividades de seu estabelecimento ou empreendimento; (iii) ter percentual de renda mínimo familiar originado de atividades econômicas de seu empreendi-mento ou estabelecimento, na forma definida pelo Poder Executivo; e (iv) dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família (BRASIL, 2006).

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223Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

ambiental competente, em conformidade com o disposto no artigo 52 do código (BRASIL, 2012b). Isso porque a implantação de sistema agroflorestal na pequena propriedade rural é considerada atividade eventual ou de baixo impacto ambiental, conforme definição no ar-tigo 3º, inciso X, alínea “j”40 do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

Além disso, na manutenção da área de reserva legal nas peque-nas propriedades e posses rurais familiares poderão ser computa-dos os plantios de árvores frutíferas, ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas da região em sistemas agro-flo res tais – artigo 54 do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

Outro comentário relevante é que as regras de recomposição ambiental do Código Florestal referem-se apenas às áreas conso-lidadas, tanto de APP quanto de reserva legal (artigos 61-A e 66) (BRASIL, 2012b). No entanto, o Decreto 7.830/2012 trata da recom-posição das APPs e reservas legais de uma forma geral (artigos 18 e 19), não inovando em relação ao código no que se refere às áreas consolidadas (BRASIL, 2012a).

Prazos

Com a entrada em vigor do novo Código Florestal, foram estabe-lecidos prazos para que a União, os estados e o Distrito Federal implantem os Programas de Regularização Ambiental e para que os proprietários solicitem a sua inscrição no CAR e façam sua adesão ao programa.

40 São exemplos, entre outras, de atividades consideradas eventuais ou de baixo impacto ambiental, a abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d`água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável e à implantação de instala-ções para a captação e condução de água e efluentes tratados (BRASIL, 2012b).

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No que tange ao prazo para requerer a inscrição da propriedade no CAR, a legislação estabelece ser de um ano, contado da data de implantação do cadastro, a qual ocorreu com a publicação da Instrução Normativa 2/2014, no dia 6 de maio de 2014, podendo ser prorrogado, uma única vez, por igual período, por ato do chefe do Poder Exe cutivo.41 Por meio da Portaria 100, de 4 de maio de 2015, a ministra do Meio Ambiente prorrogou, por mais um ano, a contar de 5 de maio de 2015, o prazo de inscrição no CAR.42 Recentemente, foi publicada a Lei 13.295, de 14 de junho de 2016, que alterou o ar-tigo 29, parágrafo 3º, do Código Florestal e estabeleceu novo prazo para o requerimento de inscrição da propriedade rural no CAR. Esse prazo termina em 31 de dezembro de 2017, admitindo-se ainda sua prorrogação por mais um ano por ato do chefe do Poder Executivo.

Quanto aos Programas de Regularização Ambiental, a União teve o prazo de 180 dias, contados da data de publicação do Código Florestal (28 de maio de 2012),43 para editar as normas de caráter ge-ral que regulamentam os programas. Esse prazo foi cumprido com a edição do Decreto 7.830/2012, em 18 de outubro de 2012, tendo sido editadas normas gerais complementares por meio do Decre-to 8.235/2014, conforme já explicitado. O Código Florestal estabele-ceu, ainda, o prazo de um ano, contado da sua publicação, para que a União, os estados e o Distrito Federal implantassem os seus res-pectivos PRAs, tendo sido prevista a possibilidade de prorrogação, por igual período, por meio de ato do chefe do Poder Executivo.44

41 Artigo 29, parágrafo 3º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) c/c artigo 6º, parágrafos 2º e 21, ambos do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a) e artigo 64 da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b).

42 O Decreto 8.439, de 29 de abril de 2015, delegou expressa, e especificamente, competência à ministra do Meio Ambiente para a prorrogação do prazo de ins-crição do interessado no CAR (BRASIL, 2015).

43 Ver artigo 59, parágrafo 1º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).44 Artigo 59, caput, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e artigo 10 do Decreto

7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

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225Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Com relação à implantação do PRA, o Quadro 1 consolida, até junho de 2016, a situação dos estados da Amazônia.

Quadro 1

O PRA nos estados da Amazônia

Não possui PRA Possui, mas o

ato é anterior ao

Código Florestal

Possui, e o ato

é posterior ao

Código Florestal

Acre X

Amapá X

Amazonas X

Maranhão X

Mato Grosso X

Pará X

Rondônia X

Roraima X

Tocantins X

Fonte: Elaboração própria.

Nesse sentido, entre os estados citados no quadro que ainda não implantaram seus respectivos PRAs, destaca-se que, com exceção do Pará, não se tem conhecimento – leve-se em conta a dificuldade de acesso a informações em alguns estados da Amazônia – de qualquer ato emanado pela chefia do Poder Executivo estadual prorrogando o prazo para a implantação do programa. Dessa forma, conclui-se que diversos estados da Amazônia Legal encontram-se, na data base mencionada, em situação de não conformidade perante tal obrigação.

Vale dizer que o artigo 59, parágrafo 4º, do Código Florestal estabelece que, no período ocorrido entre a publicação da lei e a implantação do PRA pelos estados, o proprietário ou possuidor ru-ral não pode ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008 relativas à supressão irregular de vegetação nativa em APPs, áreas de reservas legais e de uso restrito (BRASIL, 2012b). No entanto, com relação à suspensão das sanções já aplicadas e da

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punibilidade dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei de Crimes Ambientais, no que se refere a tais infrações, o Código Flo-restal condiciona tais benesses à assinatura do Termo de Compro-misso, conforme dispõem os artigos 59, parágrafo 5º, e 60 do código (BRASIL, 2012b).

Nesse sentido, o atraso dos estados na implementação de seus respectivos PRAs parece restringir o acesso dos proprietários ou possuidores rurais aos benefícios concedidos pelos citados artigos do Código Florestal.

Finalmente, o prazo para que o interessado faça sua adesão ao PRA é de um ano, contado a partir da implantação do programa, prazo esse prorrogável uma única vez, por igual período, por ato do chefe do Poder Executivo.45 Portanto, para aqueles entes federativos que ainda não implementaram o PRA em seus territórios, o prazo de adesão dos proprietários sequer se iniciou.

A Figura 2 representa, graficamente, a linha do tempo dos pra-zos explicitados.

Figura 2

Linha do Tempo do CAR

28.5.2012 CódigoFlorestal

28.11.2012180 dias após o Código

28.5.20131 ano após o Código

28.5.2014 2 anos após o Código

31.12.2017

Implantação do PRA Implantação do PRA

Inscrição no CAR

Prazo em curso

Prazo descumprido

Prazo cumprido Prazo original

Prazo prorrogado

Normas gerais do PRA

Fonte: Elaboração própria.

45 Artigo 59, parágrafo 2º, do Código Florestal (BRASIL, 2012b) e artigo 11 do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2012a).

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227Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Procedimentos específicos

Os procedimentos gerais relativos à inscrição no CAR estão dispos-tos nos artigos 13 a 40 da Instrução Normativa 2/2014, abordando, entre outras regras, aquelas sobre requisitos e formas de apresenta-ção das informações necessárias à inscrição no CAR, bem como ca-sos específicos que possam gerar dúvidas ao usuário. Com relação a esses casos, destacam-se as seguintes regras:

i) Os proprietários ou possuidores de imóveis rurais que dis-põem de mais de uma propriedade ou posse em área contínua deverão realizar uma única inscrição para tais imóveis – arti-go 32 da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b). Em relação a tal regra, vale comentar que ela tem por objetivo evitar o fracionamento de imóveis rurais, prática frequente-mente utilizada para burlar normas tributárias e ambientais.

ii) Quando o imóvel rural tiver seu perímetro localizado em mais de um ente federado, a inscrição no CAR deverá ser rea-lizada naquele ente que possua maior percentual da área do imóvel em hectare – artigo 33 da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b).

iii) Quando o perímetro do imóvel rural se situar em zona de transição de biomas na Amazônia Legal, a definição dos ín-dices de reserva legal levará em conta a tipologia de vege-tação, caracterizada nos mapas fitogeográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – artigo 34 da Instrução Normativa 2/2014 (BRASIL, 2014b).

Regimes especiais do Cadastro Ambiental Rural

Além dos procedimentos gerais para a inscrição no CAR, a Ins-trução Normativa 2/2014 traz algumas regras específicas estabele-

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228 Revista do BNDES 45, junho 2016

cendo tratamento diferenciado para determinados imóveis, seja pela condição especial do proprietário ou possuidor rural, seja pela loca-lização específica do imóvel.

Pequena propriedade ou posse rural familiar

Segundo o artigo 55 do Código Florestal, a inscrição no CAR dos imóveis a que se refere o inciso V do artigo 3º, isto é, os imóveis classificados como pequenas propriedades ou posses rurais fami-liares, nos termos do artigo 3º da Lei 11.326/2006 (Lei da Agricul-tura Familiar), observarão procedimento simplificado no qual será obrigatória apenas a apresentação dos documentos mencionados nos incisos I e II do parágrafo 1º do artigo 29 do Código Flores-tal (identificação do proprietário ou possuidor rural e comprova-ção da propriedade ou posse) e de croqui indicando o perímetro do imóvel, as APPs e os remanescentes que formam a reserva legal (BRASIL, 2012b).

Nos termos do artigo 2º, inciso X, do Decreto 7.830/2012, “cro-qui” é a representação gráfica simplificada da situação geográfica do imóvel rural, com base em imagem de satélite georreferenciada disponibilizada por meio do Sicar e que deve incluir os remanes-centes de vegetação nativa, as servidões, as APPs, as áreas de uso restrito, as áreas consolidadas e a localização das áreas de reserva legal (BRASIL, 2012a).

Assim, vale ressaltar que, em relação às demais propriedades (médias e grandes), o artigo 29, parágrafo 1º, inciso III, do Código Florestal exige, além da identificação do proprietário ou possuidor rural e da comprovação da propriedade ou posse, a especificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, com indicação das coordenadas geográficas com, pelo menos, um ponto de amarração do perímetro do imóvel (BRASIL, 2012b).

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229Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Conforme já explicitado neste estudo, o artigo 3º, parágrafo úni-co, do Código Florestal, por sua vez, estabelece o mesmo tratamen-to às propriedades ou posses rurais de até quatro módulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastoris e às terras indígenas demarcadas e áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território (BRASIL, 2012b). O arti-go 8º, parágrafo 3º, do Decreto 7.830/2012 e o artigo 14 da Instrução Normativa 2/2014 trazem disposições semelhantes.

Segundo, ainda, o artigo 53 do Código Florestal, para o registro no CAR da reserva legal nos imóveis a que se refere o artigo 3º, inciso V, o proprietário ou possuidor rural apresentará os dados identificando a área proposta de reserva, cabendo aos órgãos ambientais competentes ou à instituição por eles habilitada realizar a captação das respecti-vas coordenadas geográficas (BRASIL, 2012b). O registro da reserva legal para tais imóveis é, ainda, gratuito, devendo o poder público prestar apoio técnico e jurídico (parágrafo único do citado artigo).

Ademais, com relação a tais imóveis, o poder público esta dual deverá prestar apoio técnico para a recomposição da vegetação da reserva legal – artigo 54, parágrafo único, do Código Florestal (BRASIL, 2012b).

Por fim, vale ressaltar que o procedimento simplificado do CAR encontra-se definido na Instrução Normativa 2/2014, confor-me disposto no artigo 55 do Código Florestal e no artigo 8º do Decreto 7.830/2012.

Assentamentos de reforma agrária

Os imóveis de projetos de assentamentos de reforma agrária estão incluídos no conceito de pequena propriedade ou posse rural fami-liar trazido pelo Código Florestal, conforme exposto anteriormente, beneficiando-se de igual tratamento estabelecido a tais imóveis.

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A Instrução Normativa 2/2014, porém, traz algumas regras espe-ciais para a realização do CAR nos assentamentos rurais, em virtu-de de suas especificidades (artigos 52 a 57 da instrução normativa).

Em primeiro lugar, destaca-se que a responsabilidade pela ins-crição no CAR em assentamentos é do órgão fundiário competente, sendo que o procedimento de inscrição deverá ser realizado, ini-cialmente, mediante registro do perímetro do assentamento e, em seguida, dos lotes individualizados, quando couber, sem prejuízo das demais informações requeridas para o CAR, estabelecidas no artigo 29 do Código Florestal (BRASIL, 2014b).

O registro do perímetro, por sua vez, deverá estar acompanhado de planilha digital produzida pelo órgão fundiário competente com a relação de beneficiários do assentamento, a qual poderá sofrer atua lizações, exclusões e inserções (BRASIL, 2014b).

A inscrição individualizada dos lotes poderá ser feita com supor-te do órgão fundiário, nos termos do artigo 8º do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2014b).

Para a inscrição dos assentamentos, deverá ser utilizado, pre-ferencialmente, aplicativo próprio disponibilizado pelo MMA, es-pecífico para imóveis rurais em assentamentos de reforma agrária (BRASIL, 2014b).

Nos termos do artigo 12, parágrafo 1º, do Código Florestal, será considerada a área do imóvel antes do fracionamento para fins de aferição do percentual da reserva legal46 (BRASIL, 2014b).

Para fins de cadastramento do perímetro do assentamento, o cál-culo da faixa marginal de recomposição de APPs, ao longo ou no

46 Para os assentamentos criados antes de 22 de julho de 2008, a reserva legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente nessa data; para os assentamentos criados após 22 de julho de 2008, deverão ser observados os percentuais definidos no artigo 12 do Código Florestal – artigo 54, inciso II, da Instrução Normativa 02/2014 (BRASIL, 2014b).

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231Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

entorno de cursos d’água, lagos e lagoas naturais, vai se dar em função da fração ideal média do assentamento (BRASIL, 2014b).

Identificado o passivo ambiental referente à reserva legal, à APP e a áreas de uso restrito, o cumprimento do Código Florestal será feito mediante adesão ao PRA, sendo que:

a) no caso de assentamentos com reserva legal coletiva, o órgão fundiário será solidário, juntamente com o assentado, com relação à obrigação de regularização da reserva legal; e

b) quando a reserva legal estiver localizada no interior do lote, a obrigação será cumprida pelo assentado com apoio do órgão fundiário (BRASIL, 2014b).

Em qualquer das duas hipóteses, porém, a assinatura do Termo de Compromisso com o órgão ambiental competente para a adesão ao PRA ocorrerá de forma solidária pelo beneficiário (assentado) e pelo órgão fundiário competente – artigo 57 da Instrução Norma-tiva 2/2014 (BRASIL, 2014b) e artigo 5º, parágrafo 5º, do Decre-to 8.235/2014 (BRASIL, 2014a).

Não obstante, restam dúvidas quanto à responsabilidade soli-dária do órgão fundiário em relação à regularização dos passivos ambientais identificados. Isso porque, apesar da distinção realizada pela norma com relação à reserva coletiva e àquela existente no in-terior dos lotes (obrigação solidária com o assentado, no primeiro caso, e apenas desse último, no segundo), o artigo 57 da Instrução Normativa 2/2014 dispõe que a assinatura do Termo de Compromis-so para fins de regularização ambiental dos assentamentos ocorre-rá, de forma “solidária”, pelo órgão fundiário e pelo assentado, em qualquer dos casos (BRASIL, 2014b).

Numa interpretação sistemática da norma, parece que o termo “solidária” foi utilizado de forma não técnica pela instrução norma-tiva, devendo ser compreendido como uma assinatura conjunta do órgão fundiário com o assentado, sem implicar, necessariamente,

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responsabilidade solidária do ente governamental no caso dos as-sentamentos já individualizados.

Apesar de o foco deste estudo não ser o procedimento de licencia-mento ambiental, vale mencionar a Resolução 458/2013, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que trata dos procedimen-tos de licenciamento ambiental nos referidos assentamentos. Nesse sentido, destaca-se o artigo 2º, inciso IV, e o artigo 3º, parágrafo 3º, sendo que esse último dispensa o licenciamento ambiental para as atividades eventuais ou de baixo impacto, nas quais estão incluídas algumas ações, entre as quais, a exploração agroflorestal sustentável e o plantio de espécies nativas47 (BRASIL, 2013). Esse ponto se torna especialmente importante para efeitos de estímulo à recuperação e recomposição ambiental dos assentamentos de reforma agrária.

Povos e comunidades tradicionais

A mesma observação realizada no item anterior aplica-se aos imó-veis ocupados por povos e comunidades tradicionais, na medida em que, conforme exposto anteriormente, o artigo 3º, parágrafo único, do Código Florestal equipara as áreas ocupadas por povos e comu-nidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território48 às pequenas propriedades ou posses rurais familiares, inclusive para efeitos de regularização ambiental (BRASIL, 2012b).

No entanto, algumas regras específicas, expostas brevemente a seguir, aplicam-se a tais imóveis (artigos 58 a 60 da Instrução Normativa 2/2014).

47 Além disso, essa resolução traz para as atividades agrossilvipastoris e de infraes-trutura nos referidos assentamentos o procedimento simplificado de licenciamento.

48 Povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social e que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhe-cimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição – artigo 3º, inciso I, do Decreto 6.040/2007 (BRASIL, 2007).

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233Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Destaque-se que as áreas e terras concedidas ou tituladas a po-vos ou comunidades tradicionais deverão ser inscritas no CAR pelo órgão ou instituição competente pela sua gestão ou por entidade re-presentativa proprietária ou concessionária dos imóveis rurais, apli-cando-se o procedimento simplificado do CAR a tais imóveis, nos termos do artigo 8º, parágrafo 3º, do Decreto 7.830/2012 (BRASIL, 2014b). Um exemplo são as comunidades quilombolas que tenham seu território coletivo demarcado e titulado. É competente, portan-to, para a referida inscrição, uma associação que eventualmente re-presente tais comunidades.

No caso de identificação de passivo ambiental, o cumprimento do Código Florestal deve ocorrer solidariamente com a instituição competente ou a entidade representativa da comunidade tradicional (BRASIL, 2014b).

O Termo de Compromisso, por sua vez, deverá ser firmado entre o órgão ambiental competente e a entidade representativa (BRASIL, 2014b). Tal previsão encontra-se também respaldada no artigo 5º, parágrafo 4º, do Decreto 8.235/2014.

Com relação às terras indígenas, segundo o artigo 59 da Instru-ção Normativa 2/2014, consideram-se inscritas no CAR as terras in-dígenas que compõem a base de dados do Sicar indicadas pela Fun-dação Nacional do Índio (Funai) (BRASIL, 2014b). Nesse sentido, ao que parece, haverá apenas uma indicação pela Funai das terras indígenas existentes e seus respectivos limites territoriais, sem um procedimento específico de inscrição no CAR.

Da mesma forma que as áreas explicitadas no item anterior, para efeito de inscrição no CAR e eventuais passivos ambientais existentes em terras indígenas demarcadas, serão considerados como critérios de regularização ambiental os dispositivos adotados para a pequena pro-priedade ou posse rural da agricultura familiar, previstos nos artigos 61-A, 61-B e 61-C do Código Florestal, com os benefícios e obrigações estabelecidos para imóveis rurais de até quatro módulos fiscais.

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É interessante destacar, por fim, que, ao mencionar o uso coleti-vo do seu território pela comunidade tradicional, a legislação parece redundante, pois é da natureza desse tipo de comunidade a utiliza-ção coletiva do espaço e dos recursos naturais nele presentes como forma de sua reprodução econômica, social e cultural, entre outras. Nesse sentido, parece que a sistemática descrita nesse item inclui não apenas comunidades e povos que possuem, por lei, a titulação coletiva da terra, mas também as comunidades tradicionais, em ge-ral, o que inclui ribeirinhos e demais comunidades locais que se enquadrem no conceito de comunidade tradicional.

Unidades de conservação

Com relação ao CAR das unidades de conservação (UC), regula-mentado nos artigos 61 e 62 da Instrução Normativa 2/2014, a ins-crição de propriedade ou posse rural que esteja, total ou parcialmen-te localizada no interior de uma UC, nos termos da Lei 9.885/2000,49 deverá ser realizada regularmente pelo proprietário ou possuidor ru-ral nos termos do artigo 29 do Código Florestal50 (BRASIL, 2014b).

49 Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e dá outras providências (BRASIL, 2000).

50 Em dezembro de 2014, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversida-de (ICMBio) editou a Instrução Normativa 11/2014, que estabelece procedimentos de elaboração, análise e execução de Projetos de Recuperação de Área Degradada ou Perturbada (PRAD) em unidades de conservação federais (ICMBio, 2014). Tal instrução normativa parece não se aplicar à sistemática do CAR, uma vez que o projeto previsto na referida norma é apresentado pelo responsável pela recupera-ção, mediante intimação do ICMBio, após homologação de um auto de infração. Todavia, como a implantação do CAR em unidades de conservação ainda não está sistematizada, cabe destacar que poderão ser observados, de forma análoga, os critérios relativos à recuperação de área degradada constantes da Instrução Normativa 11/2014 na elaboração, na análise e no acompanhamento de projetos relativos a imóveis localizados dentro de unidades de conservação federais.

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235Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Duas questões parecem merecer relevo acerca do Cadastro Am-biental Rural em UCs.

Em primeiro lugar, parece forçoso concluir que a norma trata de UCs de uso sustentável, na medida em que somente essa modalida-de de UC permite a compatibilização do uso sustentável de parcela dos recursos naturais existentes com a conservação da natureza, o que é vedado nas UCs de proteção integral, que permitem apenas o uso indireto dos recursos naturais existentes – artigo 7º, parágra-fos 1º e 2º, da Lei 9.885/2000 (BRASIL, 2000).

As UCs de uso sustentável, por sua vez, dividem-se em:

1. área de proteção ambiental;

2. área de relevante interesse ecológico;

3. floresta nacional;

4. reserva extrativista;

5. reserva de fauna;

6. reserva de desenvolvimento sustentável; e

7. reserva particular do patrimônio natural.

Feita essa primeira consideração, a próxima questão diz respei-to às UCs vis-à-vis a nova regulamentação do CAR: com relação às comunidades e povos tradicionais presentes em UCs, que norma se aplica?

Em uma rápida análise, pode-se interpretar que, detectando--se uma comunidade tradicional em uma UC, soa mais adequada a aplicação da sistemática descrita nesse item, tendo em vista que pode haver um conflito de interesses (social versus ambiental) que, a princípio, deveria ser mediado pelo órgão gestor da unidade. No entanto, vale dizer que essa é apenas uma interpretação possível, já que a legislação não aborda tal questão.

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Conclusão

Há muitas questões em aberto na legislação examinada neste traba-lho, e outras inconsistências e aperfeiçoamentos das normas prova-velmente surgirão ao longo da implantação prática do CAR e dos problemas concretos a serem enfrentados no dia a dia pelos opera-dores do Sicar.

Não se pode deixar de reconhecer, por outro lado, que a ferra-menta do CAR apresenta-se como mecanismo inovador de controle e regularização ambiental, antes inexistente, principalmente em re-giões de grande vazio fundiário, como é o caso da Amazônia Legal. A ideia de se ter um banco de dados nacional integrado composto por todos os imóveis rurais do país com a sua situação ambiental mapeada e endereçada é, de forma indubitável, poderoso instru-mento de política pública sob vários aspectos, em especial no com-bate e na redução do desmatamento.

A simplificação de procedimentos e o estabelecimento de tra-tamento especial a pequenos proprietários rurais, povos e comu-nidades tradicionais, incluindo assentados da reforma agrária, por outro lado, estabelecem condições diferenciadas que possibilitam, de forma concreta, a inclusão desse público-alvo mais fragilizado na política do CAR.

Segundo dados do Serviço Florestal Brasileiro, a média nacional hoje é de aproximadamente 81,69% de áreas já inscritas no CAR (o percentual é calculado com base na área passível de cadastro).51

Não obstante o dado oficial e o esforço dos estados da Amazônia Legal, quase todos inclusive já apoiados financeiramente pelo Fun-do Amazônia por meio de projetos específicos, o fato é que ainda há muito a ser realizado para que os estados consigam cumprir com as

51 Dados extraídos de Serviço Florestal Brasileiro (2016).

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237Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

metas e prazos previstos na legislação para a implantação do CAR, em especial no que se refere a pequenos proprietários rurais, comu-nidades tradicionais e assentados da reforma agrária.

Da mesma forma, outro grande desafio que se vislumbra parece ser a fase de validação do CAR pelos órgãos ambientais competen-tes, uma vez que tal etapa demandará quantitativo expressivo não apenas de pessoal para ir a campo a fim de realizar a checagem das informações inseridas (conforme já explicitado, a fase de inscrição é meramente declaratória), mas também de estrutura adequada e consistente para receber e dar tratamento aos dados recebidos (noti-ficações, autuações, entre outros aspectos).

Por fim, como informação adicional, vale mencionar que há al-gumas ações judiciais propostas em face do Código Florestal que podem impactar, ainda que de forma indireta, o CAR: Ações Di-retas de Inconstitucionalidade 4.901, 4.902, 4.903 e 4.937. Nessas ações, questiona-se a constitucionalidade dos artigos 59 e seguintes do Código, que tratam dos PRAs, para os quais a adesão ao CAR é condição obrigatória, conforme já exposto ao longo deste estudo.

No entanto, vale ressaltar que, apesar de propostas em 2013, tais ações ainda se encontram nas suas fases iniciais de tramitação, sem apreciação das medidas liminares.

Referências

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238 Revista do BNDES 45, junho 2016

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______. Lei 11.326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes

para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e

Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em: <http://www.

planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11326.htm>. Acesso

em: 18 mar. 2016.

______. Decreto 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política

Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm>. Acesso em: 18 mar. 2016.

______. Decreto 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações

e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo

administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm>. Acesso em: 18 mar. 2016.

Page 43: Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro ... · Cadastramento Ambiental Rural. Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar). Programa de Regularização Ambiental (PRA)

239Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

______. Lei Complementar 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas,

nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art.

23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados,

o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes

do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens

naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição

em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e

da flora; e altera a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm>. Acesso

em: 18 mar. 2016.

______. Decreto 7.830, de 17 de outubro de 2012a. Dispõe sobre o

Sistema de Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural,

estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização

Ambiental, de que trata a Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

Ato2011-2014/2012/Decreto/D7830.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016.

______. Lei 12.651, de 25 de maio de 2012b. Dispõe sobre a proteção da

vegetação nativa; altera as Leis 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de

19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga

as Leis 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989,

e a Medida Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016.

______. Resolução 458, de 16 de julho de 2013. Estabelece os parâmetros

básicos para análise dos estágios de sucessão de Mata Atlântica.

Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res13/

Resol458.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2016.

______. Decreto 8.235, de 5 de maio de 2014a. Estabelece normas

gerais complementares aos Programas de Regularização Ambiental dos

Estados e do Distrito Federal, de que trata o Decreto 7.830, de 17 de

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240 Revista do BNDES 45, junho 2016

outubro de 2012, institui o Programa Mais Ambiente Brasil, e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

Ato2011-2014/2014/Decreto/D8235.htm>. Acesso em: 14 mar. 2016.

______. Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa 2/MMA, de

6 de maio de 2014b. Dispõe sobre os procedimentos para a integração,

execução e compatibilização do Sistema de Cadastro Ambiental Rural

(Sicar) e define os procedimentos gerais do Cadastro Ambiental Rural

(CAR). Disponível em: <http://www.car.gov.br/leis/IN_CAR.pdf>.

Acesso em: 14 mar. 2016.

______. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis. Instrução Normativa 12, de 6 de agosto de 2014c.

Disponível em: <http://www.lex.com.br/legis_25811222_INSTRUCAO_

NORMATIVA_N_12_DE_6_DE_AGOSTO_DE_2014.aspx>.

Acesso em: 14 mar. 2016.

______. Decreto 8.439, de 29 de abril de 2015. Delega competência

ao Ministro de Estado do Meio Ambiente para a prática dos atos que

especifica. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_

Ato2015-2018/2015/Decreto/D8439.htm>. Acesso em: 18 mar. 2016.

______. Lei 13.295, de 14 de junho de 2016. Altera a Lei 12.096,

de 24 de novembro de 2009, a Lei 12.844, de 19 de julho de 2013, a

Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, e a Lei 10.177, de 12 de janeiro de

2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2016/Lei/L13295.htm>. Acesso em: 20 jun. 2016.

GAMA, J. R. V.; BOTELHO, S. A.; BENTES-GAMA, M. M.

Composição florística e estrutural da regeneração natural de floresta

secundária de várzea baixa no estuário amazônico. Revista Árvore,

Viçosa (MG), v. 26, n. 5, p. 559-66, 2002.

ICMBIO – INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO

DA BIODIVERSIDADE. Instrução Normativa ICMBIO 11, de 11 de

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241Principais aspectos da nova regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

dezembro de 2014. Estabelece procedimentos para elaboração, análise,

aprovação e acompanhamento da execução de Projeto de Recuperação

de Área Degradada ou Perturbada (PRAD), para fins de cumprimento da

legislação ambiental. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/cepsul/

images/stories/legislacao/Instrucao_normativa/2014/in_icmbio_11_2014_

estabelece_procedimentos_prad.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2016.

SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO. Números do Cadastro

Ambiental Rural. Brasília: 2016. Disponível em: <http://www.florestal.

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Acesso em: 20 jun. 2016.