primeiro reinado e regência

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B rasil, setembro de 1822. O 7 de setem bro terminava sem grandes traumas e conflitos. Não passou o país, pela con- vulsão das outras nações da América, que conquista- ram a liberdade depois de árduas lutas e conflitos in- ternos. Consumada a independência, o novo país tinha como tarefa inicial, concretizar a eleição dos deputa- dos, que participariam da Assembléia Nacional Cons- tituinte. Na verdade, a convocação já se dera em junho de 1822, servindo na época, como afronta às Cortes de Portugal. Entretanto, o tempo foi passan- do e D. Pedro não deflagrava o proces- so eleitoral, só consumando as eleições no começo de 1823, depois de uma “pe- quena pressão” dos políticos no Rio de Janeiro. Subentende-se da atitude de D. Pedro, que não havia muito interesse na realização das eleições, pois seu grande objetivo era se tornar imperador de perfil autoritário e implantar um “absolutismo tupiniquim” no Brasil. Após o início da Constituinte D. Pedro lembra- va aos eleitos que: “Dignos representantes da nação brasileira! É hoje o dia maior que o Brasil tem tido, dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao mundo que é Império e Império livre. Quão gran- de é o meu prazer, vendo junto representantes de qua- se todas as províncias, fazerem conhecer uma às ou- tras seus interesses, e sobre elas basearem uma justa e liberal Constituição que as reja... Eu, certo que a firmeza nos verdadeiros princípios constitucionais, que tem sido sancionados pela experiência, caracteriza cada um dos deputados, que compõem essa ilustre As- sembléia, espero que a Constituição que façais, me- reça minha imperial aceitação, seja tão imperial e tão justa, quanto apropriada à localidade e civiliza- ção do povo brasileiro.” 1 Como se pode observar, o príncipe enfatizava o desejo de se tornar imperador e condicionava a Consti- tuição à sua aprovação. A pressão contava com o apoio de José Bonifácio, que era depois de D. Pedro, a figura mais influente nos meios políticos. No entender de Bonifácio o príncipe deveria outorgar a Magna Carta, transformando a Assembléia em orgão consultivo. Para assegurar o controle do ante-projeto na mão dos con- servadores, escolheram para relator da Constituinte, Antônio Carlos Andrada que era irmão de José Bonifácio. Atuando como relator, Andrada controlou o ímpeto dos absolutistas, que desejavam poderes irrestritos para D. Pedro, mas também impediu as in- tenções mais radicais dos liberais, que defendiam ampla autonomia para as províncias e poder apenas simbólico para o príncipe. Porém, contrariando as expectativas os Andradas foram perdendo o controle da Assembléia. Dois fatores pesaram nessa mudança: de um lado a possibilidade de D. Pedro assumir o trono de Portugal, já que era o pre- tendente imediato em caso de morte de D. João, de outro, os portugueses ainda lutavam na Bahia, com o objetivo de neutralizar e reverter a independência. O ante-projeto da Constituição não teve nada de radical, mas surpreendentemente, apresentou algumas limitações à autoridade imperial. “Brasileiros! Salta aos olhos a negra perfídia, são patentes os reiterados perjúrios do Imperador, e está conhecida nossa ilusão ou engano em adotarmos um sistema de governo defeituoso em sua origem, e mais defeituoso em suas partes componentes...O sistema americano deve ser idêntico; desprezemos instituições oligárquicas, só cabidas na encarnecida Europa.” Manifesto da Confederação do Equador - 1824 Rua Direita no Rio de Janeiro. Quadro de 1830

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Conteúdo sobre Primeiro Reinado e Regência de autoria de Edgard Chaves

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Page 1: Primeiro Reinado e Regência

Brasil, setembro de 1822. O 7 de setembro terminava sem grandes traumas econflitos. Não passou o país, pela con-

vulsão das outras nações da América, que conquista-ram a liberdade depois de árduas lutas e conflitos in-ternos. Consumada a independência, o novo país tinhacomo tarefa inicial, concretizar a eleição dos deputa-dos, que participariam da Assembléia Nacional Cons-tituinte. Na verdade, a convocação já se dera em junhode 1822, servindo na época, comoafronta às Cortes de Portugal.

Entretanto, o tempo foi passan-do e D. Pedro não deflagrava o proces-so eleitoral, só consumando as eleiçõesno começo de 1823, depois de uma “pe-quena pressão” dos políticos no Rio deJaneiro. Subentende-se da atitude de D.Pedro, que não havia muito interesse narealização das eleições, pois seu grandeobjetivo era se tornar imperador de perfilautoritário e implantar um “absolutismotupiniquim” no Brasil.

Após o início da Constituinte D. Pedro lembra-va aos eleitos que: “Dignos representantes da naçãobrasileira! É hoje o dia maior que o Brasil tem tido,dia em que ele pela primeira vez começa a mostrarao mundo que é Império e Império livre. Quão gran-de é o meu prazer, vendo junto representantes de qua-se todas as províncias, fazerem conhecer uma às ou-tras seus interesses, e sobre elas basearem uma justae liberal Constituição que as reja... Eu, certo que afirmeza nos verdadeiros princípios constitucionais, quetem sido sancionados pela experiência, caracterizacada um dos deputados, que compõem essa ilustre As-sembléia, espero que a Constituição que façais, me-reça minha imperial aceitação, seja tão imperial etão justa, quanto apropriada à localidade e civiliza-ção do povo brasileiro.” 1

Como se pode observar, o príncipe enfatizava odesejo de se tornar imperador e condicionava a Consti-tuição à sua aprovação. A pressão contava com o apoiode José Bonifácio, que era depois de D. Pedro, a figuramais influente nos meios políticos. No entender deBonifácio o príncipe deveria outorgar a Magna Carta,transformando a Assembléia em orgão consultivo. Paraassegurar o controle do ante-projeto na mão dos con-servadores, escolheram para relator da Constituinte,Antônio Carlos Andrada que era irmão de JoséBonifácio.

Atuando como relator, Andrada controlou oímpeto dos absolutistas, que desejavam poderesirrestritos para D. Pedro, mas também impediu as in-tenções mais radicais dos liberais, que defendiam amplaautonomia para as províncias e poder apenas simbólicopara o príncipe.

Porém, contrariando as expectativas os Andradasforam perdendo o controle da Assembléia. Dois fatorespesaram nessa mudança: de um lado a possibilidade deD. Pedro assumir o trono de Portugal, já que era o pre-tendente imediato em caso de morte de D. João, deoutro, os portugueses ainda lutavam na Bahia, com oobjetivo de neutralizar e reverter a independência. Oante-projeto da Constituição não teve nada de radical,mas surpreendentemente, apresentou algumas limitaçõesà autoridade imperial.

“Brasileiros! Salta aos olhos anegra perfídia, são patentes osreiterados perjúrios doImperador, e está conhecidanossa ilusão ou engano emadotarmos um sistema degoverno defeituoso em suaorigem, e mais defeituoso emsuas partes componentes...Osistema americano deve seridêntico; desprezemosinstituições oligárquicas, sócabidas na encarnecidaEuropa.”

Manifesto daConfederação do Equador -

1824

Rua Direita noRio de Janeiro.Quadro de 1830

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Assegurava o caráter indissolúvel da Câmara, odireito de rejeição às leis injustas e o controle das for-ças armadas pelo Parlamento. Em relação a economia,garantia o fim das restrições mercantilistas e o términodos privilégios e mono-

pólios. Já era algu-ma coisa.! Mas pa-rava por aí. O per-fil liberal do rascu-nho constitucionalentrava em contra-dição com as incrí-veis restrições aovoto. Pelo ante-

projeto, só teriam direito a voto, os ci-dadãos com renda superior a 150

alqueires de mandioca (eleição para depu-tado) e renda superior a 250 alqueires (elei-ção para senador). Com isso, a grande mai-oria da população, estaria fora do processoeleitoral. Quanto aos negros, não se cogita-va a abolição, o que implicitamente os ex-cluía do voto.

O ante-projeto deixou o príncipe insatis-feito com a má condução dos Andradas, levando-o ademitir todo o ministério, onde havia grande influênciados Andradas. A situação inesperada, transformouBonifácio no grande líder da oposição. De acordo comLuiz Koshiba: “ele iniciou a organização da monar-quia, repudiando o absolutismo e ridicularizando aspretensões nobiliárquicas dos grandes proprietári-os. Por outro lado, segundo suas próprias palavras,“as esfarrapadas bandeiras da suja democracia”eram equivalentes ao absolutismo, que, na sua opinião,era “a pior das anarquias”.

Para completar colocou-se contra a escravidão.A propósito, escreveu certa vez que: “Todo cidadãoque ousa propor o estabelecimento do escravismo eda nobreza será imediatamente deportado”....Por es-sas razões, José Bonifácio desentendeu-se não só comos radicais mas também com a própria aristocraciarural do Centro-Sul, da qual era representante nopoder...Logo se chocou com o imperador, que termi-nou por se voltar contra ele. 2

O “partido português” aproveitou-se da confu-são para se aproximar ainda mais de D. Pedro. O prín-cipe, completamente perdido, se apegou a esse apoio.

Na verdade, era o único que lhe restava. Contudo,reagindo ao esquema acintoso, surgiram na imprensauma série de artigos criticando o autoritarismo de D.Pedro. No jornal A Sentinela, um autor anônimo es-creveu vários artigos com o pseudônimo de “brasilei-ro resoluto”. O artigo atacava os oficiais portuguesesque faziam parte do recém criado exército nacional.Misteriosamente o suposto autor dos artigos, o far-macêutico Davi Pamplona foi duramente espancadopelos soldados de D. Pedro.

ESTA NÃO É UMACONSTITUIÇÃODIGNA DE MIM!!

O Tempo da História

1822

INDEPENDÊNCIA

1823

DISSOLUÇÃODA

ASSEMBLÉIACONSTITUINTE

1824

CONSTITUIÇÃODA

MANDIOCA1824

CONFEDERAÇÃODO

EQUADOR

1831

ABDICAÇÃODE

D. PEDRO I

JoséBonifácioterminou por seafastar doimperador, depoisde uma série deatritosenvolvendo aAssembléiaConstituinte

“A atuação das elites bra-sileiras na independência e na

definição do perfil políticonacional partiu de uma estru-tura escravista oposta a umameta de ampliação dos direi-

tos populares”.Hélgio Trindade

Na gravura dapágina seguinte:“A aristocraciagarantiu oafastamento dapopulação dopoder graças àexigência de umarenda de 150alqueires demandioca”

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NOITE DA AGONIANOITE DA AGONIANOITE DA AGONIANOITE DA AGONIANOITE DA AGONIA

Na seqüência, em 12 de novembro de 1823 aAssembléia Constituinte se reuniu em caráter perma-nente, objetivando enfrentar D. Pedro, no que se tor-nou a Noite da Agonia. As tropas leais ao príncipeinvadiram o local destituindo a Assembléia. Vários de-putados foram presos e expulsos do país, dentre eleso polêmico José Bonifácio. A partir daí, D. Pedro abu-sou do autoritarismo, com apoio do partido portugu-ês, como já era de se esperar.

Visando neutralizar os descontentes, o prínci-pe nomeou uma comissão para redigir a Constituição.Meses depois, em março de 1824, ficou pronta a pri-meira Constituição da história do Brasil. Imposta porD. Pedro, foi na prática, outorgada pelo imperador. Naverdade, esses acontecimentos davam continuidadeao que tinha sido nossa tradicional e conservadoraindependência nacional.

A CONSTITUIÇÃOA CONSTITUIÇÃOA CONSTITUIÇÃOA CONSTITUIÇÃOA CONSTITUIÇÃO

A Constituição de 1824 era no mínimosurrealista. Combinou-se uma mistura de liberalismoeuropeu com despotismo da pior qualidade. No que serefere à democracia de fachada, era cópia da Constitui-ção francesa de 1791. Mas na essência, terminou sen-do uma das constituições mais autoritárias da Américaindependente. Tivemos a implantação da Monarquiahereditária combinada com o Poder Moderador, quegarantia poderes ilimitados ao imperador. O Senadoera vitalício, cabendo ao imperador a escolha dossenadores.

A eleição dos deputados e senadores manti-nha o critério utilizado no ante-projeto. Estavam exclu-ídas do voto, pessoas de pouca renda, mulheres, eobviamente escravos. A manutenção da escravidãocompletava a vergonha, pois o Brasil era o único paísindependente que mantinha a escravidão. Nesse as-pecto, a carta constitucional agradava plenamente aoslatifundiários e a elite conservadora. Já ospresidentes de província eram escolhidos di-retamente pelo imperador, anulando a possi-bilidade de eleições locais.

A Constituição premiou a Igreja Ca-tólica favorecendo-a com a implantação dosistema de Padroado. Esse regime obrigavao Estado a remunerar os bispos e padres,como se fossem funcionários públicos. Emcontrapartida, podia o imperador nomear osreligiosos de acordo com a sua conveniên-cia. O Padroado reafirmava séculos de influ-ência da Igreja, que se impôs no Brasil desdea vinda dos jesuítas em 1548. A sintonia como Estado, rendeu mais riquezas à Igreja e so-lidificou um padrão de comportamento ba-seado nos padrões católicos.

O autoritarismo foi concebido com a implanta-ção do inusitado Poder Moderador. Com ele o imperadorpoderia:

dissolver a Câmara dos Deputadosnomear os membros do Conselho de Estado.escolher os presidentes de províncianomear e destituir juízes e magistradoscontrolar pessoalmente toda a renda nacio-

nal.Configurava-se com o poder Moderador, uma

forma absurda de autoritarismo e rigoroso centralismo.Com ele o desejo de autonomia das elites regionais, foicoibido em nome de um absolutismo de roupagemtropical. Na opinião da historiadora Emília Viotti da Cos-ta: “a emancipação política realizada pelas categori-as dominantes interessadas em assegurar a preserva-ção da ordem estabelecida, cujo único objetivo eraromper o sistema colonial no que ele significava derestrição à liberdade decomércio e à autonomia ad-ministrativa, não ultrapas-saria os seus próprios limi-tes. A ordem econômica se-ria preservada e a escravi-dão mantida.

A nação indepen-dente continuaria subordi-nada à economia colonial,passando do domínio por-tuguês à tutela britânica. Afachada liberal construídapela elite europeizada ocul-tava a miséria e escravidãoda maioria dos habitantesdo país. Conquistar aemancipação definitiva danação, ampliar o significa-do dos princípios constitu-cionais seria tarefarelegada aos pósteros.” 3

Constituição de 1824

Senadoe

Câmara dosDeputados

Poder Legislativo

Conselhode

Estado

Poder Executivo Poder Judiciário

Poder Moderador Imperador

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As primeiras reações ao despotismo deD. Pedro I surgiram do Nordeste. Apesar da censura, vários jornais de Olinda

e Recife constantemente atacavam o imperador. Alémdisso, pressionavam os portugueses que haviam se li-gado ao partido de apoio ao governo imperial. Dentreesses jornais, destacavam-se o Sentinela da Liberdadena Guarita de Pernambuco, de Cipriano Barata e TifisPernambucano, de Frei Caneca. O eterno rebeldeCipriano, foi preso logo após ter escrito críticas radi-cais a D. Pedro I. Com a prisão de Cipriano Baratadestacou-se o Frei Caneca na articulação do movimen-to de contestação a D. Pedro.

Na verdade, as hostilidades ao poder central co-meçaram em 1817, quando os pernambucanos enfren-taram as tropas de D. João VI. Ao escolher um gover-no para a província à revelia dos interesses da elitepernambucana, D. Pedro acendeu o pavio da revolta edava continuidade à revolta pernambucana de 1817.Na seqüência os rebeldes derrubaram o presidente im-posto, substituindo-o por outro de perfil liberal. A re-cusa do imperador em aceitar a mudança, detonou omovimento em julho de 1824, chamado então de Confe-deração do Equador.

A revolta se alastrou pelas províncias do Nor-deste, incluindo Rio Grande do Norte, Paraíba e Cea-rá. Configurou-se então o caráter separatista da revol-ta, com o objetivo de criar um novo Estado que inclui-ria todas as províncias que participavam da revolta.Foi instituída, em agosto de 1824, a Assembléia Consti-tuinte, para discutir os termos do regime republicano,

como nova formade governo ado-tada pelos rebel-des

“Brasilei-ros! Salta aosolhos a negraperfídia, são pa-tentes os perjúri-os do imperador,e está conhecidaa nossa ilusão ouengano emadotarmos umsistema de gover-

no defeituoso em sua origem e mais defeituoso aindaem suas partes componentes. As constituições, as leise todas as instituições humanas são feitas para os

povos e não os povos para elas. Heis,pois,brasileiros,tratemos de constituir-nos de um modo análogo àsluzes do século em que vivemos; o sistema americanodeve ser idêntico; desprezemos as instituiçõesoligárquicas só cabidas na encarnecida Europa” 4

Durante dois meses a rebelião foi um sucessototal. Mas logo se revelaram os graves problemas, coma discórdia dos líderes da revolta. A forte adesão po-pular assustou a elite, que não aceitava a extinção dotráfico negreiro no porto do Recife. Quando chega-ram os reforços do Rio de Janeiro, atacando os rebel-des, o próprio Paes Andrade - um dos líderes da Con-federação do Equador - compactuou com as tropasinimigas Daí em diante, os rebeldes seriam lideradospelo Frei Caneca, que heroicamente lutou até a morte.

Em agosto, desembarcaram em Pernambuco,centenas de soldados sob o comandado do almiranteLord Cocrhane A ofensiva imperial realizada por terrae mar, não perdoou o que viu pela frente. Os soldadostinham ordens de “cortar o mal pela raiz”. Destacou-se no ataque o brigadeiro Lima e Silva, consideradopela história tradicional, como o grande pacificadorda revolta. A falta de apoio de outras províncias e aausência de conexão entre as que estavam na rebelião,pesou em favor dos vencedores que esmagaram a re-belião.

O bloqueio naval da região sufocou o grupo,que não teve como suportar a pressão, capitulando emnovembro de 1824. Depois dos últimos combates emOlinda, vários líderes foram presos, dentre eles o FreiCaneca. Todos foram condenados à pena de enforca-mento, sem chance de apelação. A morte do padrecarmelita repercutiu bastante, pois se conta que na horada execução os soldados se recusaram a enforcá-lo.Transformada a pena em fuzilamento, no momento daexecução houve o desmaio de alguns soldados. Ape-sar da vitória, a repressão ao movimento terminou pordesgastar ainda mais a imagem de D. Pedro, colocan-do-o como inimigo dos brasileiros.

A Confederaçãodo Equador

Impedir odesembarque dastropas lusitanasno porto de Recifefoi uma atitudeaprovada pelaelite agrária, que,no entanto, retirouseu apoio aosrebeldes quandoestes decidiramfechar o portotambém para odesembarque denavios negreiros.

A Junta dePernambucodiscutia amaneira maiseficaz dedefender asoberania dospovos.

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AGONIA DE UMAGONIA DE UMAGONIA DE UMAGONIA DE UMAGONIA DE UMIMPERADORIMPERADORIMPERADORIMPERADORIMPERADOR

O abismo entre o impe-rador e a nação, aumentou após a morte de D. João VIem Portugal. Em 1828, o trono português foi disputadopor D. Pedro I e seu primo D. Miguel. Este, mais emcondição de tomar o poder, desferiu um golpe em D.Pedro I, usurpando a monarquia “no grito”. No Brasil,o imperador organizou uma reação ao novo reiportuguês, despertando a suspeita da imprensa local.Os jornais denunciavam a intenção do imperadorrecolonizar o Brasil, com base no seu empenho de as-sumir o governo de Portugal. Logo depois, o climaficou insustentável com a morte do famoso jornalistaLibero Badaró. Nada foi rigorosamente provado, mashavia fortes indícios de conivência do imperador comos criminosos. Só restava a D. Pedro I, o precário apoiodo “partido português”.

Tentado reverter a situação o imperador fez umaviagem à Minas Gerais, onde esperava encontrar emOuro Preto, o amparo político que lhe faltava no Riode Janeiro. Lá o imperador fez papel de idiota, porqueem todas as janelas da cidade, havia enormes faixaspretas em sinal de luto pela morte de Libero Badaró.“Na igreja os sinos tocavam badaladas de marchafúnebre. Contra Minas Gerais, foco de oposição datotalidade dos políticos, o trono, segundo NelsonWerneck Sodré: não dispõe sequer dos elementos es-pecíficos para empregar a violência, porque as for-ças militares tendiam a cada dia que passava, a unir-se às forças populares, apressando o processo de de-terioração a que a situação estava submetida. Porisso, D. Pedro resolve fazer uso de seu suposto privi-légio para tentar influir politicamente, comparecen-do na província mineira com uma comitiva especial-mente organizada visando pacificá-la. Todavia a re-cepção é extremamente fria, e os mineiros, ao contrá-rio, preferem homenagear a memória de LiberoBadaró.” 5

Contribuía para a queda do imperador, asnotícias que chegavam da Europa, anunciando a

deposição do monarca francês Carlos X. Realmente,era hora de D. Pedro I fazer as malas e retornar às

terras lusitanas. Faltava só marcar o dia da viagem! Um“empurrãozinho” porém, não seria nada mal.! Foi o casoda confusão no Rio de Janeiro, quando o imperadorregressava após o fiasco em Minas Gerais. Um grupode portugueses intitulado Colunas do Trono, preparouuma grande recepção para a chegada de D. Pedro I. Nomeio das comemorações, um grande número de brasi-leiros resolveu estragar a festa, gerando uma grandeconfusão no episódio que foi chamado de Noite dasGarrafadas.

“Sentem-se, no amanhecer de 13, que há, queimandoa atmosfera, um mormaço de turbulência. Populares, aosgrupos, andam pelas ruas dando vivas à independência e àsoberania do Brasil.

Os portugueses estão recolhidos, silenciosos, quie-tos. Preparam-se, em surdina, para o bote inesperado que ahistória apelidou Noite das Garrafadas.

Ao escurecer, o quarteirão lusitano volta ao rumorfestivo da véspera. Mas, a gritaria contra os liberais, contrao Brasil e contra os brasileiros é mais forte, mais insistente emais insultuosa.

Os cabras (apelido dos brasileiros) irão de certo,interromper a festa, com ataque ao molde da noite anterior.

A cena de uma rua é, a um só tempo, a mesma de todoo quarteirão. Os pés de chumbo (portugueses) deixam que a

cabralhada se aproxime o mais possível. E, inesperadamen-te, de todas as varandas, de todas as janelas, chovem garrafasinteiras e aos pedaços sobre os invasores. O sangue espirra.testas, cabeças, canelas.

É o horrível. É o inverossímil.E a marotada, de cacete em punho, vai malhando,

malhando, como os garotos malham o Judas em sábado deAlelulia. E os corpos a cair Ensangüentados sobre cacos denavalhantes de garrafas.” 6

Acuado, D. Pedro I tentou ainda o respaldo dosmilitares, que na verdade, não apoiavam mais o gover-no. Prova disso, foi o protesto dos irmãos Lima e Silva,exigindo do imperador, uma posição definitiva quanto àrenúncia.

A preocupação das elitesbrasileiras em criar um Estado

nacional que evitasse a frag-mentação política da AméricaEspanhola foi prioritária so-bre a cosntrução de uma de-

mocracia liberal.Hélgio Trindade

De liberalismo aCorte brasileirasó assimilava aforma de cultura,como os hinospatrióticos queinspiraram D.Pedro I eEvaristo daVeiga a comporo Hino daIndependência.

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Nas ruas do Rio de Janeiro, a população insis-tentemente clamava pelo fim do I Reinado. Essas agita-ções despertaram a multidão, que de certa maneira, ha-via apoiado D. Pedro I, no processo de independência.A falta de opção, fez o imperador melancolicamenteassinar um decreto, autorizando a transferência do po-der ao filho de 5 anos de idade - D. Pedro II. Não eracom certeza o melhor caminho mas, pelo menos, permi-tia à elite governar o país até o guri completar 18 anosde idade. Por esse motivo, o período seguinte, teria onome de Regência.

Concordando com a análise de Maurício deAlbuquerque, podemos afirmar que: “O Primeiro Rei-nado, no quadro das transformações políticas da for-mação social brasileira, foi uma etapa de transiçãoentre o Estado Absolutista e o Liberal Parlamentar,cujas práticas se definiram e aperfeiçoaram no decur-so II Reinado. Representaram essas mudanças as difi-culdades da articula-ção de uma superestru-tura jurídico-política eideológica burguesa àestrutura econômicaonde os interessesescravistas ainda eramdeterminantes.

Dois conflitosprincipais subordinamoutras manifestaçõescontraditórias: a lutacontra a dominânciado colonialismo portu-guês e de seus vários re-presentantes e a manu-tenção da hegemoniainterna do Sudeste....Aabdicação de D. PedroI eliminou esse obstácu-lo à dominância daclasse produtora e ex-portadora escravista permitindo-lhe pelo exercíciodo poder econômico e político, impor-se internamen-te. O Primeiro Reinado, além da afirmação do Brasilcomo nação politicamente soberana”, deixou as ba-ses de sua organização interna dentro dos quadrosde sua estrutura monárquica.” 7

Apesar do alívio da renúncia de D. Pedro I, opáis viveria na década seguinte um momento muitoconturbado quando então se formou a Regência. Seestendendo até 1840, esse periodo se caracterizou porintensas disputas políticas entre os grupos políticoscom o objetivo de conseguir o poder. No geral houvepredominância dos conservadores, com destaque parao regente Feijó que foi uma figura marcante no período.

Além disso no período Regencial eclodiram vá-rias revoltas de caráter separatista e republicano. Elasrefletiram a profunda desigualdade regional e a contes-tação ao predomínio político de centro-sul. Tambémrefletiam a insatisfação das regiões que foram alijadasdo processo de independência.

Destacaram-se nesse contexto:

Cabanagem - Pará: Foi a mais popular dasrevoltas. Durante um período conseguiu unir amplossetores sociais. No final, houve o desentendimentoentre os rebeldes, pois a elite não aceitava o encami-nhamento popular da rebelião. Foi duramente reprimi-da, com 30 mil mortos.

Revolta dos Farrapos - Rio Grande do Sul:Em sua origem estava a insatisfação dos pecuaristasgaúchos que não aceitavam a redução de impostosconcedida ao charque importado dos países platinos.Foi a mais longa das revoltas e terminou com um acor-do entre os gaúchos e o governo central.

Balaiada no Maranhão: Se deu num mo-mento de crise da produção de algodão e se caracteri-zou por um grande desentendimento entre os rebeldes

Sabinada na Bahia: Foi a de menor teorseparatista e ficou restrita à cidade de Salvador. Mais

localizada na camadamédia da população.

Revolta dosMalês - Bahia: foia mais ampla e bemestrutura rebelião ur-bana de escravos dahistória brasileira.Muitos rebeldes erammuçulmanos e tinhampor objetivo extermi-nar os brancos e es-cravizar mulatos. Nãotinha caráter separa-tista e se voltava con-tra a escravidão.

A Regênciaterminou quando aprópria Câmara, em1840, aprovou a an-tecipação da maiori-

dade de D. Pedro II que pôde assumir a monarquiacom 15 anos de idade. Com isso começava o II Reina-do que se estendeu até a Proclamação da Repúblicaem 1889.

1 Discurso de D. Pedro na abertura da Consti-tuinte.

2 In. Koshiba, Luiz e Denise Pereira. Históriado Brasil. Editora Atual. Pág. 169.

3 In. Costa, Emília Viotti da. Brasil em Perspec-tiva. Texto e Consulta. Difel Editora. Pág. 125.

4 In. Manifesto da Confederação do Equa-dor.

5 In. Koshiba, Luiz. Op. Cit. Pág. 1816 In. Maranhão, Ricardo. Antônio Mendes e

Luiz Roncari. Brasil História. Texto e Consulta. Edito-ra Hucitec. Pág. 199/200.

7 In. Albuquerque, Manuel Maurício. Peque-na História da Formação Social Brasileira. Graal Edi-tora. Pág. 320/321.