primeiro reinado

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HISTÓRIA Editora Exato 24 1º REINADO – GOVERNO DE D. PEDRO I 1. RECONHECIMENTO EXTERNO DA INDE- PENDÊNCIA Um problema sério que o Brasil enfrentou foi o do reconhecimento externo da sua independência. Os governos latino-americanos retardaram o reconhecimento, desconfiados das intenções do go- verno monárquico brasileiro, já que a monarquia - modelo europeu - era um regime político incompatí- vel com o regime republicano adotado em todos os países americanos independentes. Por outro lado, questionavam a soberania do Brasil sobre a Província Cisplatina (atual Uruguai) e a insistência de D. Pedro I em manter esse domínio. Por sua vez, os Estados Unidos e as principais potências européias buscavam ganhar tempo para ti- rar o máximo proveito econômico do reconhecimento da independência brasileira. Os Estados Unidos foram o primeiro país a re- conhecer o Brasil como independente, em 1824. A- pesar de o reconhecimento ser um ato de coerência com a Doutrina Monroe (“A América para os ameri- canos”), o que o governo norte-americano realmente pretendia era ampliar sua ação nos mercados interna- cionais. O Brasil poderia ser um grande aliado na consolidação de um bloco comercial antieuropeu. A hegemonia comercial no continente era, portanto, a pretensão fundamental dos norte-americanos. A Inglaterra, mais interessada no reconheci- mento, dadas as vantagens comerciais alcançadas com os tratados de 1810, agilizou sua diplomacia pa- ra convencer Portugal, por sua vez, das vantagens que poderia tirar com o reconhecimento. Seguindo os planos ingleses, D. João VI reconheceu a indepen- dência brasileira em 1825, porém exigiu o pagamento de 2 milhões de libras e o título honorário de impera- dor do Brasil. 2. A CONSTITUINTE Convocada, pela primeira vez, em junho de 1822, a Assembléia Constituinte reuniu-se, finalmen- te, em maio de 1823. De um lado, o Partido Português, composto por uma elite de funcionários públicos, militares que na maioria haviam pertencido ao antigo exército por- tuguês e, principalmente, comerciantes lusitanos; de outro, o Partido Brasileiro, dominado por fazendei- ros. O Partido Português buscava impor sua influ- ência para que a Constituição defendesse os interes- ses recolonizadores das Cortes; a aristocracia agrária do Partido Brasileiro pretendia impor sua hegemonia política sobre o bloco português. As disputas seriam acirradas. No Partido Brasileiro, existiam duas alas: a ala democrata, que defendia a autonomia das províncias (federalismo), e a ala aristocrata, que pretendia a ins- talação de uma monarquia centralista. A ala aristocra- ta era liderada pelo antidemocrata José Bonifácio, cujo objetivo era que o poder político emanasse prin- cipalmente de suas mãos. É dele a frase: “Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica democracia”. D. Pedro I, que não admitia a limitação dos seus poderes, decretou a dissolução da Assembléia constituinte (12 de novembro de 1823). Os constitu- intes passaram a noite deliberando se resistiam ou não à medida. Esse episódio ficou conhecido como Noite da Agonia. O imperador em pessoa comandou as forças militares que o apoiavam no cerco ao prédio da Assembléia. Vários deputados foram presos e os irmãos Andrada desterrados. 3. A CONSTITUIÇÃO DE 1824 Em linhas gerais, a Constituição outorgada em 1824 - que vigorou até a proclamação da república em 1889 - estabelecia o seguinte: Monarquia constitucional e hereditária; Regime unitário de governo, ou seja, quase todos os poderes político-administrativos concentravam-se nas mãos do governo cen- tral. Os governos das províncias tinham au- tonomia mínima. União entre a Igreja e o Estado, sendo a re- ligião católica a oficial; era o sistema de “padroado”. Voto censitário e eleições indiretas, ou seja, as eleições seriam em dois graus (Paróquia e Província), sendo eleitos primeiro alguns representantes (eleitores) que escolheriam os deputados e senadores em cada provín- cia. Para votar nos eleitores, era necessário ter uma renda líquida anual de 100 mil réis; para ser um deles, era preciso ganhar 200 mil réis; para ser deputado, 400 mil réis; e Senador, 800 mil réis. Existência de quatro poderes: o Moderador, pessoal e exclusivo do imperador, que po- deria intervir sempre que houvesse confli- tos entre os demais poderes, determinando qual deles tinha razão. No exercício do Po- der Moderador, o imperador nomeava os senadores, convocava a Assembléia Geral (Congresso) para reuniões extraordinárias,

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HISTÓRIA

Editora Exato 24

1º REINADO – GOVERNO DE D. PEDRO I 1. RECONHECIMENTO EXTERNO DA INDE-

PENDÊNCIA

Um problema sério que o Brasil enfrentou foi o do reconhecimento externo da sua independência.

Os governos latino-americanos retardaram o reconhecimento, desconfiados das intenções do go-verno monárquico brasileiro, já que a monarquia - modelo europeu - era um regime político incompatí-vel com o regime republicano adotado em todos os países americanos independentes. Por outro lado, questionavam a soberania do Brasil sobre a Província Cisplatina (atual Uruguai) e a insistência de D. Pedro I em manter esse domínio.

Por sua vez, os Estados Unidos e as principais potências européias buscavam ganhar tempo para ti-rar o máximo proveito econômico do reconhecimento da independência brasileira.

Os Estados Unidos foram o primeiro país a re-conhecer o Brasil como independente, em 1824. A-pesar de o reconhecimento ser um ato de coerência com a Doutrina Monroe (“A América para os ameri-canos”), o que o governo norte-americano realmente pretendia era ampliar sua ação nos mercados interna-cionais. O Brasil poderia ser um grande aliado na consolidação de um bloco comercial antieuropeu. A hegemonia comercial no continente era, portanto, a pretensão fundamental dos norte-americanos.

A Inglaterra, mais interessada no reconheci-mento, dadas as vantagens comerciais alcançadas com os tratados de 1810, agilizou sua diplomacia pa-ra convencer Portugal, por sua vez, das vantagens que poderia tirar com o reconhecimento. Seguindo os planos ingleses, D. João VI reconheceu a indepen-dência brasileira em 1825, porém exigiu o pagamento de 2 milhões de libras e o título honorário de impera-dor do Brasil.

2. A CONSTITUINTE

Convocada, pela primeira vez, em junho de 1822, a Assembléia Constituinte reuniu-se, finalmen-te, em maio de 1823.

De um lado, o Partido Português, composto por uma elite de funcionários públicos, militares que na maioria haviam pertencido ao antigo exército por-tuguês e, principalmente, comerciantes lusitanos; de outro, o Partido Brasileiro, dominado por fazendei-ros.

O Partido Português buscava impor sua influ-ência para que a Constituição defendesse os interes-ses recolonizadores das Cortes; a aristocracia agrária do Partido Brasileiro pretendia impor sua hegemonia

política sobre o bloco português. As disputas seriam acirradas.

No Partido Brasileiro, existiam duas alas: a ala democrata, que defendia a autonomia das províncias (federalismo), e a ala aristocrata, que pretendia a ins-talação de uma monarquia centralista. A ala aristocra-ta era liderada pelo antidemocrata José Bonifácio, cujo objetivo era que o poder político emanasse prin-cipalmente de suas mãos. É dele a frase: “Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica democracia”.

D. Pedro I, que não admitia a limitação dos seus poderes, decretou a dissolução da Assembléia constituinte (12 de novembro de 1823). Os constitu-intes passaram a noite deliberando se resistiam ou não à medida. Esse episódio ficou conhecido como Noite da Agonia. O imperador em pessoa comandou as forças militares que o apoiavam no cerco ao prédio da Assembléia. Vários deputados foram presos e os irmãos Andrada desterrados.

3. A CONSTITUIÇÃO DE 1824

Em linhas gerais, a Constituição outorgada em 1824 - que vigorou até a proclamação da república em 1889 - estabelecia o seguinte:

� Monarquia constitucional e hereditária; � Regime unitário de governo, ou seja, quase

todos os poderes político-administrativos concentravam-se nas mãos do governo cen-tral. Os governos das províncias tinham au-tonomia mínima.

� União entre a Igreja e o Estado, sendo a re-ligião católica a oficial; era o sistema de “padroado”.

� Voto censitário e eleições indiretas, ou seja, as eleições seriam em dois graus (Paróquia e Província), sendo eleitos primeiro alguns representantes (eleitores) que escolheriam os deputados e senadores em cada provín-cia. Para votar nos eleitores, era necessário ter uma renda líquida anual de 100 mil réis; para ser um deles, era preciso ganhar 200 mil réis; para ser deputado, 400 mil réis; e Senador, 800 mil réis.

� Existência de quatro poderes: o Moderador, pessoal e exclusivo do imperador, que po-deria intervir sempre que houvesse confli-tos entre os demais poderes, determinando qual deles tinha razão. No exercício do Po-der Moderador, o imperador nomeava os senadores, convocava a Assembléia Geral (Congresso) para reuniões extraordinárias,

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sancionava decretos e resolução da Assem-bléia, dissolvia a Câmara dos Deputados, convocando novas eleições, suspendia ma-gistrados. Era assessorado no exercício des-se poder pelo Conselho de Estado, cujos membros eram por ele mesmo nomeados. Outros poderes eram: o Executivo, também exercido pelo imperador e seus ministros; o legislativo, entregue à Assembléia Geral, composta de Câmara de Deputados e Sena-do Vitalício e o Judiciário, exercido pelo tribunais provinciais e pelo Supremo Tri-bunal de justiça

� Eram excluídos do direito de voto as mu-lheres, os solteiros com menos de 25 anos, os empregados domésticos e os membros do clero. Não podiam ser eleitores de pro-víncia os escravos libertos, e proibia-se a eleição dos não católicos para os cargos de deputado e senador.

Em resumo, os eleitores eram uma porcenta-gem insignificante da população, o que transformava as eleições em pouco mais de uma comédia. Comple-tava-se, assim, o caráter fundamental: liberal na apa-rência, conservadora no conteúdo, autocrática no funcionamento.

4. A ABDICAÇÃO

No período entre 1824 e 1831, o Brasil regis-trou um clima de crise política quase permanente. Es-sa situação provocou o progressivo desgaste da imagem de D. Pedro I e do Partido português que o apoiava culminando finalmente com a abdicação do Imperador, em abril de 1831.

Paralelamente à crise política, o Primeiro Rei-nado foi um período em que a crise econômico-financeira do país atingiu níveis seríssimos, pois as principais exportações brasileiras enfrentavam con-corrência internacional. O açúcar brasileiro concorria com o cubano e o jamaicano, além do açúcar de be-terraba; o algodão e o arroz concorriam com a produ-ção norte americana; o tabaco estava prejudicado pelos obstáculos criados pela Inglaterra ao tráfico ne-greiro; o couro concorria com a produção platina; o café ainda não tinha peso comercial para equilibrar nossa balança de pagamentos, apesar de ser lavoura em expansão. Além disso, havia outras dificuldades de ordem financeira. A maioria dos produtos impor-tados vinha da Inglaterra e estes pagavam uma tarifa muito baixa, sendo assim, a arrecadação era mínima nessa área.

A fim de obter recursos, o Estado então recor-ria a empréstimos externos, a juros altos, o que con-corria para o aumento de déficit público, além de partir para emissão ampla de papel moeda, acentuan-do-se assim a alta de preços.

Na tentativa de conciliar as rebeliões, o impe-rador ainda colocou um ministério mais liberal, que, entretanto, pouco depois foi substituído por um mi-nistério de tendências absolutistas: o Ministério dos Marqueses.

Esse fato desencadeou protestos das tropas e do povo do Rio de Janeiro, que exigia a readmissão do ministério brasileiro. Sentindo-se sem apoio, D. Pedro optou pela abdicação a 7 de abril de 1831. Es-tava, então, rompido o último elo entre Brasil e Por-tugal.

ESTUDO DIRIGIDO

1 Defina os interesses dos partidos brasileiro e por-tuguês no Brasil.

2 Cite três princípios da Constituição de 1824.

3 Caracterize a crise econômica no I reinado.

EXERCÍCIOS

1 A economia brasileira na primeira metade do sé-culo XIX, teve como aspecto marcante: a) Oferecer grandes estímulos às atividades co-

merciais e, especialmente, às indústrias urba-nas.

b) Esforçar-se no sentido de eliminar a importa-ção de produtos agrícolas.

c) Centralizar sua produção em torno da pequena propriedade e da grande indústria.

d) Dar continuidade a uma estrutura colonial, a-gora dependente do comércio externo com a Inglaterra.

2 “D. Pedro de Alcântara foi oficialmente reconhe-cido como Imperador do Brasil em outubro 1822, embora sua coroação só ocorresse em 1º de de-zembro do mesmo ano. Era o início do Primeiro Reinado do Império Brasileiro. O nosso Império, embora não apresente condições que o identifique com o conceito tradicional de Império, foi mol-dado segundo o modelo Napoleônico: uma mo-narquia centralizada, mas constitucional”. A respeito da Independência do Brasil, é válido concluir que: a) as camadas senhoriais, defensores do libera-

lismo político, pretendiam não apenas a eman-cipação política, mas a alteração das estruturas econômicas.

b) o liberalismo defendido pela aristocracia rural apoiava a emancipação dos escravos.

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c) a Independência Brasileira se caracterizou por ter sido um processo revolucionário com a par-ticipação popular.

d) a Independência Brasileira foi um arranjo polí-tico que preservou a Monarquia como forma de governo e também os privilégios da classe proprietária.

3 A Inglaterra atuou em favor do Brasil para a ob-tenção do reconhecimento da Independência, mas exigia em troca a extinção: a) dos contratos comerciais com os países da San-

ta Aliança. b) da escravatura. c) do Pacto Colonial com a França. d) do acordo comercial de 1810.

4 São características da Constituição de 1824: a) O sufrágio universal direto e o estabelecimento

do regime federativo do Brasil. b) A divisão tripartida dos poderes e a abolição

do Conselho de Estado. c) As eleições indiretas e censitárias e a nomea-

ção dos presidentes das Províncias pelo Poder Executivo.

d) A extinção do regime do padroado e o direito de voto dos alforriados.

GABARITO

Estudo Dirigido

1 Autonomia das províncias e centralização políti-ca.

2 Padroado, Voto Censitário e Poder Moderador.

3 Crise desencadeada pela concorrência comercial enfrentada pelos latifundiários produtores de açú-car.

Exercícios

1 D

2 D

3 B

4 C