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PRIMEIRO CIO PÓS-PARTO DAS CABRAS E OVELHAS NO NORDESTE Prof. Adelmo Ferreira de Santana – Caprinocultura e Ovinocultura E-mail [email protected] Departamento de Produção Animal Escola de Medicina Veterinária Universidade Federal da Bahia CEP- 40.170-110 Salvador - Bahia Valdeane Dias Cerqueira - Acadêmica de Medicina Veterinária Monografia apresentada na disciplina Caprinocultura e Ovinocultura- segundo semestre de 2000 INTRODUÇÃO A reprodução é um fator importante na maximização da produção animal, uma vez que existe uma estreita relação entre o número de crias produzidas por fêmea por ano e a lucratividade do empreendimento. Dessa forma, um dos fatores de importância econômica em reprodução animal é a duração do anestro pós-parto. Pois, um intervalo pós-parto curto possibilita a duração do intervalo entre partos e, consequentemente, melhorando a eficiência reprodutiva do animal e a produtividade do sistema (Maia & Costa, 1998). Nos animais de produção, o período de anestro pós-parto pode ser definido como o período transcorrido do parto até a manifestação do primeiro estro fértil, ou seja, aquele em que uma nova concepção possa ocorrer (Hafez, 1995). Em regiões subtropicais e tropicais, o comportamento reprodutivo dos caprinos e ovinos é, predominantemente, da nutrição e da saúde impostas aos animais pelo homem (Simplicío & Santos, 1999). González-Stagnaro (1993), observou que nos trópicos, os pequenos ruminantes locais representam uma reserva genética importante devido a sua adaptação fisiológica, destacando a importância econômica de conservar e melhorar esse valor genético. Nesse contexto, ressalta-se que os caprinos adaptados ao Nordeste do Brasil e as raças ovinas deslanadas, comportam-se como poliéstricas contínuas isto é, apresentam estro e ovulam e por conseguinte, parem ao longo de todo o ano (Simplício & Santos, 1999).

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PRIMEIRO CIO PÓS-PARTO DAS CABRAS E OVELHAS NO NORDESTE

Prof. Adelmo Ferreira de Santana – Caprinocultura e Ovinocultura E-mail [email protected]

Departamento de Produção Animal

Escola de Medicina Veterinária

Universidade Federal da Bahia

CEP- 40.170-110 Salvador - Bahia

Valdeane Dias Cerqueira - Acadêmica de Medicina Veterinária

Monografia apresentada na disciplina Caprinocultura e Ovinocultura- segundo semestre de 2000

INTRODUÇÃO

A reprodução é um fator importante na maximização da produção animal, uma vez que existe uma estreita relação entre o número de crias produzidas por fêmea por ano e a lucratividade do empreendimento. Dessa forma, um dos fatores de importância econômica em reprodução animal é a duração do anestro pós-parto. Pois, um intervalo pós-parto curto possibilita a duração do intervalo entre partos e, consequentemente, melhorando a eficiência reprodutiva do animal e a produtividade do sistema (Maia & Costa, 1998).

Nos animais de produção, o período de anestro pós-parto pode ser definido como o período transcorrido do parto até a manifestação do primeiro estro fértil, ou seja, aquele em que uma nova concepção possa ocorrer (Hafez, 1995).

Em regiões subtropicais e tropicais, o comportamento reprodutivo dos caprinos e ovinos é, predominantemente, da nutrição e da saúde impostas aos animais pelo homem (Simplicío & Santos, 1999).

González-Stagnaro (1993), observou que nos trópicos, os pequenos ruminantes locais representam uma reserva genética importante devido a sua adaptação fisiológica, destacando a importância econômica de conservar e melhorar esse valor genético. Nesse contexto, ressalta-se que os caprinos adaptados ao Nordeste do Brasil e as raças ovinas deslanadas, comportam-se como poliéstricas contínuas isto é, apresentam estro e ovulam e por conseguinte, parem ao longo de todo o ano (Simplício & Santos, 1999).

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REVISÃO DE LITERATURA Comportamento reprodutivo das cabras e ovelhas

Taxa de ovulação

Em muitas raças de ovinos e caprinos, dois ou mais óvulos são liberados durante o cio. Em ambas as espécies, a taxa de ovulação aumenta com a idade e atinge um máximo dos 3 aos 6 anos, declinando gradualmente então.

Dentre os fatores ambientais que influem sobre a taxa de ovulação, a estação e o nível de nutrição são importantes. Geralmente, as taxas de ovulação são maiores no início da estação de monta do que mais tarde. O “flushing” ou aumento do nível de nutrição antes da cobertura, é praticado comumente em ovinos para aumentar a taxa de ovulação, porém fatores tais como tamanho corpóreo, peso, condição e genótipo também podem contribuir para o aumento da taxa de ovulação (Hafez, 1995).

Gestação

A duração normal da gestação para ambas as espécies é de cerca de 149 dias; a duração varia entre raças e indivíduos. Em ovinos, as raças de reprodução precoce e as raças altamente prolíficas tem períodos de gestação mais curtos do que as raças de lã de maturação lenta. Períodos individuais de gestação dentro de uma raça variam até em 13 dias. a duração da gestação para a maioria das raças de caprinos está dentro de 2 dias da média da espécie (Hafez, 1995).

O corpo lúteo da gestação persiste durante todo o período, porém as duas espécies diferem quanto à fonte de progesterona para a manutenção da gestação. A cabra é corpo lúteo dependente durante todo o período da prenhez, enquanto a ovelha a partir do 45o – 50o dia da prenhez depende da progesterona de origem placentária (Simplício & Santos, 1999).

Puerpério

As modificações que ocorrem no sistema reprodutivo durante o puerpério incluem involução uterina e retorno da atividade ovariana. Na ovelha, a involução uterina está completada aos 27 dias e precede o primeiro cio pós-parto. Não há informações sobre a cabra.

A primeira ovulação pós-parto em ovelhas que parem durante a estação de monta ocorre dentro de 20 dias e não está associada com cio evidente. Fatores outros que não a estação e que influem sobre o retorno da atividade ovariana incluem a amamentação, a raça, a nutrição e a temperatura ambiente (Hafez, 1995).

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Modificações do período pós-parto

Após o parto, o organismo sofre uma série de adaptações no sentido de restabelecer sua atividade reprodutiva. Dentre as modificações observadas durante o puerpério estão a involução do útero e da cérvice e a síntese e secreção de hormônios gonadotróficos, com consequente crescimento e maturação folicular, ovulação, formação de corpo lúteo e luteólise, caracterizando, dessa forma, o restabelecimento do sincronismo do eixo hipotálamo – hipófise – ovário – útero (Simplício, Andrioli e Machado, 1989).

O período pós-parto na cabra, é caracterizado por uma fase de anestro, durante a qual não ocorre atividade ovulatória e por um período de transição para a ciclicidade ovariana, no qual ocorrem estros anovulatórios, ciclos curtos e formação de corpo lúteo de vida curta.

O nível de progesterona circulante eleva-se a partir da Quinta semana após o parto, atingindo padrão de secreção semelhante ao do animal cíclico, a medida que os animais reassumem a ciclicidade ovariana normal (Maia & Costa, 1998). Simplício & Souza (1999), observaram em ovelhas, que a atividade ovariana no segundo estro clínico era maior que no primeiro, podendo este fato estar relacionado com o curto período transcorrido entre o parto e o primeiro estro clínico pós-parto. A involução uterina pode afetar, negativamente, o reinício da atividade ovariana durante o período do pós-parto. Fatores que influenciam no primeiro cio pós-parto

A duração do período de anestro pós-parto sofre a influência de fatores genéticos, de meio e de manejo, especialmente pré e pós-parto. Em função desses fatores, encontram-se na literatura informações discrepantes quanto ao período médio transcorrido entre o parto e o primeiro estro pós-parto na cabra (Simplício, Andrioli e Machado, 1989).

Suplementação alimentar

Segundo Simplício & Souza (1999), a carência nutricional durante os períodos pré e pós-parto tem sido apontada como o principal fator no retardamento da ocorrência do primeiro estro pós-parto, em ovelhas exploradas em regiões semi-áridas. E isso se deve, principalmente, à variação quali-quantitativa de forragem nas pastagens nativas, fato esse diretamente correlacionado com a precipitação pluvial e sua curva ao longo do ano.

As cabras paridas na época chuvosa assumem a atividade ovariana mais cedo do que aquelas paridas durante a época seca. Consequentemente, poderão produzir um maior número de crias por cabra/ano (Simplício, Andrioli e Machado, 1989).

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Após o parto, com a lactação, a demanda por energia e proteína atinge seu

ponto mais alto e, se estes, requerimentos não forem atendidos, um anestro por subnutrição superpor-se-á ao anestro fisiológico, retardando o reinício dos ciclos ovarianos (Leal & Reis, 1997).

Leal & Reis (1997), comprovaram com um experimento sobre efeito da complementação alimentar no pós-parto sobre o intervalo parto-primeiro estro de cabras sem raça definida, que as matrizes que receberam complementação alimentar apresentaram menor intervalo parto-primeiro estro (IPP). A influência do fator nutrição sobre a duração do IPP ficou evidenciada onde as porcentagens de cabras que entraram em estro, no período de 1 a 168 dias pós-parto, nos tratamentos que receberam complementação alimentar foram estatisticamente superiores ao valor observado no tratamento sem complementação alimentar.

Amamentação

A lactação e a amamentação tem sido descrita como fatores que influenciam na duração do anestro pós-parto, principalmente, por atuarem inibindo o crescimento dos folículos ovarianos e consequentemente, a ovulação, sendo que a intensidade da amamentação, em si, parece ser mais importante que a própria lactação.

Tem-se sugerido que o reflexo da sucção atua por via nervosa, aumentando os níveis sanguíneos de prolactina, que por sua vez, parecem inibir a liberação de gonadotrofinas hipofisária durante o anestro pós-parto. A inibição hipofisária está, positivamente, correlacionada com a intensidade da amamentação.

O controle da amamentação, possivelmente, diminuirá as constantes liberações de prolactina favorecendo, dessa forma o reinício da atividade ovariana (Simplício & Souza, 1999).

Maia & Costa (1998) comprovaram que, o intervalo médio do parto ao primeiro estro pós-parto era significativamente mais curto nas cabras que amamentaram suas crias apenas uma vez (30,0 ± 3,28 dias) ou duas vezes (33,09 ± 3,48 dias) ao dia, em comparação com aquelas em regime de amamentação contínua (46,44 ± 3,44 dias), demonstrando um efeito negativo da intensidade de amamentação sobre a atividade ovariana pós-parto, em cabras Canindé.

Simplício & Souza (1999) observaram em ovelhas, da raça Santa Inês, um intervalo médio entre o parto e o primeiro estro pós-parto de 40,70 ± 3,18 dias para animais que ficaram no grupo de amamentação contínua; e 28,30 ± 2,92 dias para os de amamentação controlada. Sendo que no grupo que recebeu tratamento de amamentação contínua, nesse primeiro estro 80% foi ovulatório e 20% não ovulatório, e no grupo da amamentação controlada 97% dos estros foram ovulatórios e 3,0% não ovulatórios.

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A atividade reprodutiva pós-parto nos pequenos ruminantes, em regiões tropicais, é afetada pela intensidade de amamentação e pelo estágio da lactação ou produção de leite. Dessa forma, as ovelhas secas devido a mortalidade de sua cria reiniciam rapidamente a atividade sexual pós-parto, havendo assim uma correlação positiva entre a idade de desmame e o intervalo parto-cio e parto-gestação (González – Stagnaro, 1993).

Condição corporal

A perda de peso e, consequentemente, da condição corporal é conhecida tanto na cabra quanto em outras espécies como reguladora do anestro lactacional, sendo a condição corporal altamente relacionada com o funcionamento fisiológico do sistema reprodutivo em bovinos e o escore de condição corporal ao parto e em vários estágios da lactação tem sido usado com sucesso para predizer o desempenho reprodutivo pós-parto de vacas (Maia, 1998).

A recuperação da condição corporal das fêmeas após a lactação é fundamental para melhorar a fertilidade ao parto e a prolificidade. Em ovelhas, para que as fêmeas apresentem estro durante a lactação, é importante que disponham de nutrientes suficientes, não só para restabelecer a atividade ovárica, como também para recuperar as perdas orgânicas decorrentes da prenhez anterior e principalmente, para manter a produção de leite (Simplício & Souza, 1999).

A duração do anestro pós-parto dependerá do manejo nutricional prévio e da condição corporal ao parto e está regulado pela época, estágio de lactação, número de crias amamentadas como também pela presença do macho (González – Stagnaro, 1993).

Maia (1998) observou o efeito da condição corporal e anestro pós-parto sobre o restabelecimento da atividade ovariana de cabras Canindé, e comprovou que todas as fêmeas manifestaram o primeiro estro pós-parto até 56 dias. Sendo que a condição corporal da fêmea ao parto e aos 28 dias pós-parto exerceu influência significativa sobre o anestro pós-parto. CONCLUSÃO

No Nordeste brasileiro, a caprino e ovinocultura representam uma alternativa na produção animal, e para que essa atividade se desenvolva, é necessário aumentar a produtividade com redução dos custos, se fazendo, dessa forma, necessário total conhecimento da reprodução desses animais.

Para se obter uma alta taxa de reprodução deve-se tentar aumentar o número de gestações por ano e diminuir, consequentemente, o intervalo entre partos. Diversos fatores influenciam no aparecimento do primeiro cio pós-parto

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dentre eles, a condição corporal da matriz após o parto, a amamentaçào e a complementação alimentar.

A avaliação da condição corporal pode ser usado como indicativo do desempenho reprodutivo futuro da fêmea, bem como, para orientar alterações no manejo nutricional. Quanto melhor a condição corporal após o parto, mais cedo se reestabelece a atividade ovariana.

A amamentação controlada favorece o reinício da atividade ovariana pós-parto, reduzindo o período de anestro e aumentando a incidência de estros ovulatórios neste período.

Através da complementação alimentar no pós-parto é possível diminuir o período de anestro e aumentar o número de animais que entram em estro.

Em regiões semi-áridas, como o Nordeste brasileiro, ao se buscar um intervalo entre partos de sete a oito meses, o início de uma nova estação de monta deve ocorrer preferencialemente entre 45 a 60 dias após o primeiro parto ter ocorrido no rebanho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GONZALEZ – STAGNARO, C. Comportamento Reprodutivo de Ovejas y Cabras

Tropicales. Revista Científica, FCV –Luz / Vol III, No 3, 1993, p.173-196; HAFEZ, E.S.E. Reprodução Animal. Ed. Manole, 6a edição, 1995, p.335-346; LEAL, T.M., REIS, J.C. Efeito da complementação alimentar no pós-parto sobre o

intervalo parto-primeiro estro de cabras sem raça definida (SRD). Anais... da XXXIV Reunião da SBZ, Juiz de Fora, 1997. p.358-360;

MAIA, M. Efeito da condição corporal e anestro pós-parto sobre o restabelecimento

da atividade ovariana de cabras Canindé. Ciência Veterinária dos Trópicos, Recife, v.1, n.2, 1998, p.94-98;

MAIA, M., COSTA, A.N., Estro e atividade ovariana pós-partoem cabras Canindé,

associados ao manejo da amamentação. Revista Brasileira de Reprodução Animal. v..22, n.1, 1998, p.35-43;

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SIMPLÍCIO, A.A., SANTOS, D.O. Manejo reprodutivo de caprinos e ovinos em

regiões tropicais. Anais... do IV Congresso Pernambucano de Med. Veterinária e V Seminário Nordestino de Caprino-Ovinocultura. Recife, 1999, p.141-144;

SIMPLÍCIO, A.A., SOUZA, P.H.F. Efeito da amamentação sobre o desempenho

reprodutivo pós-parto em ovelhas da raça Santa Inês. Ciência Veterinária dos Trópicos, Recife, v.2, n.2, 1999, p.115-124;

SIMPLÍCIO, A.A., ANDRIOLI, A., MACHADO, R. Comportamento reprodutivo pós-

parto em cabras sem raça definida mantidas em pastagem nativa no Nordeste do Brasil. Sobral: EMBRAPA – CNPC, Boletim de Pesquisa, n.14, 1989. 18p.