primeira pauta nº 86

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Joinville oferece tratamento gratuito para obesidade Excesso de peso já afeta cerca de 10% da população mundial. Doença, que pode levar a morte, não escolhe idade. SAÚDE | PÁGINA 10 POLIANNA MORAES JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO BOM JESUS/IELUSC | JOINVILLE, ABRIL DE 2011 - EDIÇÃO 86 - GRATUITO O grupo Hospirrisos visita pacientes para levar aquilo que o tratamento médico não consegue, amor. ESPECIAL | PÁGINAS 4 E 5 PÁGINAS 8 E 9 Bibliófilos falam do amor pelo mundo dos livros Os apaixonados por bibliotecas contam como acontece o processo de construção dos acervos pessoais. CULTURA | PÁGINAS 14 E 15 Artistas das ruas levam arte e cores para o espaço urbano A técnica não é tão nova assim nos grandes centros, mas aos poucos o lambe começa a invadir paredes e muros da cidade. CULTURA | PÁGINA 13 Arena Joinville ainda é um sonho a se tornar realidade A promessa de um espaço multiuso parece esquecida. Seriam 12 meses de obras mas até agora já se passaram quase sete anos da inauguração e estádio ainda aguarda conclusão. ESPECIAL | PÁGINA 6 Sonda para auxílio no resgate em enchentes é desenvolvida em Jaraguá TECNOLOGIA | PÁGINA 12 Fora da lei: empresas buscam reduzir custos contratando estagiários EDUCAÇÃO | PÁGINA 11 Movimentos estudantis: ação conjunta além do ambiente de ensino POLÍTICA | PÁGINA 7 ENTREVISTA | PÁGINA 3 A iniciativa foi tomada por grupos de jovens sem nenhum objetivo além da derrubada do ditador” ALAN WOODS www.primeirapautaielusc.blogspot.com Tweets da revolução Terapia do riso

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Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Ielusc (Joinville/SC - Brasil)

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Page 1: Primeira Pauta nº 86

Joinville oferece tratamento gratuito para obesidadeExcesso de peso já afeta cerca de 10% da população mundial. Doença, que pode levar a morte, não escolhe idade.

SAÚDE | PÁGINA 10

POLIANNA MORAES

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DO BOM JESUS/IELUSC | JOINVILLE, ABRIL DE 2011 - EDIÇÃO 86 - GRATUITO

O grupo Hospirrisos visita pacientes para

levar aquilo que o tratamento médico não

consegue, amor.

ESPECIAL | PÁGINAS 4 E 5

PÁGINAS 8 E 9

Bibliófilos falam do amor pelo mundo dos livrosOs apaixonados por bibliotecas contam como acontece o processo de construção dos acervos pessoais.

CULTURA | PÁGINAS 14 E 15

Artistas das ruas levam arte e cores para o espaço urbano

A técnica não é tão nova assim nos grandes centros, mas aos poucos o lambe começa a invadir paredes e muros da cidade.

CULTURA | PÁGINA 13

Arena Joinville ainda é um sonho a se tornar realidade

A promessa de um espaço multiuso parece esquecida. Seriam 12 meses de obras mas até agora já se passaram quase sete anos da inauguração e estádio ainda aguarda conclusão.

ESPECIAL | PÁGINA 6

Sonda para auxílio no resgate em enchentes é desenvolvida em Jaraguá

TECNOLOGIA | PÁGINA 12

Fora da lei: empresas buscam reduzir custos contratando estagiários

EDUCAÇÃO | PÁGINA 11

Movimentos estudantis: ação conjunta além do ambiente de ensino

POLÍTICA | PÁGINA 7

ENTREVISTA | PÁGINA 3

A iniciativa foi tomada por grupos de jovens sem nenhum objetivo além da derrubada do ditador”

“ALAN WOODS

www.primeirapautaielusc.blogspot.com

Tweets darevolução

Terapia do riso

Page 2: Primeira Pauta nº 86

02 Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTA Opinião

DIRETOR GERAL DO BOM JESUS/IELUSC | Tito L. Lermen

COORDENADOR DO CURSO | Sílvio Melatti

DISCIPLINA | Jornal Laboratório II

PROFESSOR RESPONSÁVEL | Lucio Baggio

SECRETÁRIO DE REDAÇÃO | Eduardo Schmitz

DIAGRAMADORES | Aline Seitenfus, Emanoele Girardi, Francine Ribeiro e Ronaldo Santos

EDITOR GRÁFICO | Edinei Schimieguel Knop

EDITORES DE TEXTO | Augusta Gern (Saúde), Ariane Pereira (Educação), Daiana Constantino (Política), Fabiane Borges (Especial), Fernanda Rosa (Cultura), Gustavo Cidral (Entrevista), Jaqueline Dias (Reportagem fotográfica), Marlon de Souza (Entrevista e Especial) e Tiffani dos Santos (Tecnologia)

REPÓRTERES | Ana Paula da Silva, Bárbara Elice da Silva, Diego Porcincula, Gabriel Fronzi, Gustavo Cidral, Jaqueline de Mello, Jaqueline Dias, Lizandra Carpes da Silveira, Luísa Desiderá, Marlon de Souza, Matheus Mello, Mayara Silva, Neyfi Müller, Patrícia Schmauch,

Priscila Farias Carvalho

EDITORA DE FOTOGRAFIA | Jéssica Michels

FOTÓGRAFOS | Ana Luiza Abdala, Camilla Gonçalves, Polianna Moraes e Gisele Silveira

IMPRESSÃO | A Notícia

TIRAGEM | 3 mil exemplares

XXI Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo, MJDH - OAB/RS, 2004

Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - JornalismoAssociação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc

EDIÇÃO 86 - ABRIL 2011

Contato com a redaçãoRua Princesa Isabel, 438 - Centro - CEP 89201-270 - Joinville - SCTelefone: (47) 3026-8000 - Fax: (47) 3026-8090E-mail: [email protected]

Mundo: nosso liquidificador socialMedo, preocupação, comoção. A série de catás-

trofes naturais que assolam o Japão desde o dia 11 de março instiga o mundo. A teoria dos maias rela-cionada ao fim do mundo em 2012 não dá fôlego à mente de muitos, fazendo com que o rumo de nossa sociedade se torne uma incógnita. O bombardeio da imprensa com informações em tempo real das con-sequências das tragédias parece tor-nar tudo mais grandioso, e de forma nunca vista antes.

O fato do Japão ser uma potência, facilita o trabalho da mídia. No Haiti, por exemplo, onde um abalo sísmico de magnitude 7.0 matou quase 300 mil pessoas, a dificuldade de se relatar o fato foi perceptível. Inferior qualidade das imagens, dificuldade na captação de depoimento, deficiência no sistema de transporte e péssimas condições de alojamento. Após mais de um ano da tragédia haitiana, pouco se fala da situação atual do povo de lá, pouco se fala do que está sendo feito e o que falta fazer. Será que daqui a um ano a terra do sol nascente terá a mesma atenção dada do Haiti?

Paralelamente aos veículos de comunicação, a internet tem impulsionado o acesso à informação.

O serviço de microblog pôde narrar quase que ins-tantaneamente o terremoto no Japão. As ferramentas online expandem as barreiras do conhecimento, mas ainda são muito limitadas. O artigo do escritor ame-ricano Malcolm Gladwell apresenta um contraponto à importância social atrelada ao Twitter. Com o título “A Revolução Não Será Tuitada”, ele argumenta que

esse dispositivo é mais um recurso, mas sem a capacidade de fazer mu-danças na sociedade. Sem a organi-zação do povo nas suas entidades de base – diretórios estudantis, sindica-tos, associações de moradores – será possível galgar algum tipo de mudan-ça? Toda consciência de classe virá através dos bites e bytes da web?

“Como será o amanhã? Responda quem puder.” Esse trecho do famoso samba enredo de 1978 composto pela escola de samba União da Ilha ilustra bem o que estamos vivendo. Enquanto o futu-ro não chega, não teremos respostas claras e precisas sobre quais mudanças ocorrerão, e qual será a postura da mídia para noticiá-las. A imprensa está pronta para contar a história que escrevermos. Basta decidirmos como vamos escrevê-la.

editorial

Países sofrem um processo de transformação.

Do rico Japão ao esquecido Egito.

MUDANÇA

@twitter O que os fakes falam em 140 caracteres

@modofoker Não foi cancelada, ali na praça dos suiços ta rolando direto RT @OsmanLincoln Apresentação da Esquadrilha da Fumaça cancelada? Porque?

Sugira tweets para a coluna do Twitter no jornal Primeira Pauta. Sua opinião é muito importante!Siga: twitter.com/primeira_pauta

O perfil costuma interagir com pessoas ditas como conhecidas na cidade. Sejam virtuais ou de verdade.

foto-legenda

@FreitagAlive Essas non son aquelas tal de Xoão Paulo e Taniel? RT @deputadokennedy: O que acham desta dupla,http://twitpic.com/4civn9 @_SandroSilvaO “ex-prefeito” normalmente comenta tweets de boleiros e polí-ticos da cidade. Sempre com uma sotaque pem carracterristico.

@ieluscdadepre Você recebe um email da central de estágios. Um dos pré requisitos é domínio de Photoshoping.O perfil vive de tiradas sobre os acontecimentos do Bom Jesus/Ielusc. Boa parte do conteúdo são retuites.

@ViagemRuim É bom que vc saia de candidato a vereador. Verá o quanto gostam de vc (@roblenow live on http://twitcam.com/48u9y)Esse tweet está simpático. Os políticos de Joinville sofrem com críticas ácidas do @ViagemRuim, justas ou não.

@UdescDepressao #TiposdeUdesquiano A pessoa + feliz dentro de um campus da Udesc é um calouro q pensa “puxa,tô numa universidade pública”(via @jpmatiello )Foi um dos perfis pioneiros em Joinville tratando de locais depressivos. Aborda lendas e critica a instituição.

@FakeBender @FreitagAlive Quem moreu foi você camarrrrada! Eu, Nillllson Villllson Bender, ainda passo o AlencarrCelebridade “semi-póstuma” que tenta serrr um rrreferrência no web. Também é um “ex-prefeito” de Joinville.

O clima revolucionário foi contagiante inclusive entre os estudantes durante greve dos servidores públicos no município de Itapema. Tomara que as aulas de gramática consigam fazer o mesmo.

EDUARDO SCHMITZ

Page 3: Primeira Pauta nº 86

Em entrevista exclusiva para o Primeira Pauta, Alan Woods fala sobre as revoltas no Orien-te Médio e a situação política e econômica da Venezuela, país qual o teórico defende

porém, não se omite em fazer críticas.Woods é um marxista. Nasceu em 1944, na

cidade de Swansea, no País de Gales. Ainda na adolescência, ingressou na Juventude Socialista e conheceu as obras de Karl Marx. Logo ingressou na tendência Militante do Partido Trabalhista. Estudou russo na Univesrsidade de Sussex. Pas-sou ainda pela Universidade da Sofia na Bulgária e pela Universidade Estadual de Moscou, quando a cidade ainda era a capital da Revolução Russa e da hoje extinta União Soviética.

Nos últimos meses, tem se dedicado a organi-zar grupos políticos de esquerda, em vários países da América do Sul. Já passou pelo Uruguai, Ar-gentina e Bolívia. É um dos principais integran-tes e mentor da Corrente Marxista Internacional, uma espécie de secção política internacional, a qual a aqui no Brasil está vinculada à tendência interna do Partido dos Trabalhadores, Esquerda Marxista, com ativistas políticos em Joinville.

PRIMEIRA PAUTA - Como a instabilidade política pode abalar a economia mundial, e qual a alternativa para equilibrar o mercado do petróleo? Uma alta do petróleo está a caminho? ALAN WOODS - O preço do petróleo já subiu a 120 dólares o barril. É uma ameaça à recuperação eco-nômica mundial. Por outro lado, muitos governos árabes estão comprando estoques de comida para evitar uma explosão revolucionária, o que fará su-bir ainda mais o preço dos alimentos nos mercados internacionais. Além disso, a situação provoca uma insegurança no mercado e nas bolsas, o que pode conduzir a uma nova queda da economia mundial a qualquer momento, como em 1973.

PP - Há um partido de esquerda ou uma organização social marxista à frente das mobilizações populares na região?WOODS - Não. Todos os partidos políticos existentes estavam surpresos e não participaram na organização do movimento. A iniciativa foi tomada por peque-nos grupos de jovens radicalizados que não tinham um programa e nenhum objetivo além da derrota do ditador. O mais interessante é a consciência re-volucionária das massas no Egito e Tunísia, sem par-tido ou uma direção revolucionária.

PP - Países como a Venezuela e Brasil podem ajudar a equilibrar o mercado de petróleo nesta conjuntura?WOODS - Duvido muito. Em todo caso a Arábia Sau-dita tem enormes estoques e isto poderia fazer uma diferença. Mas a própria Arábia Saudita está ameaça-da por uma explosão revolucionária. Neste caso seria uma catástrofe para a economia mundial.

PP - A Venezuela tem tido avanços sociais, porém, uma crítica presente é a inflação alta. Como o senhor avalia a situação econômica do país?WOODS - A revolução venezuelana produziu con-quistas sociais na última década, mas agora se encon-tra num ponto de inflexão. O problema de fundo é que Chávez não expropriou a propriedade da oligar-quia, que tem em suas mãos setores tão importantes como os bancos, as terras e as indústrias. O resultado é uma situação econômica caótica, com a fuga de capitais e fechamento de empresas e inflação, o que está ameaçando o futuro da revolução. A solução é a expropriação total da oligarquia e a instalação de uma economia planificada socialista, sob o controle democrático da classe trabalhadora.

PP - O senhor acredita que é possível salvar o capita-lismo ou este sistema político e econômico está defini-tivamente com os dias contados?WOODS - Todo mundo deve saber que o sistema capitalista não funciona. Nos EUA e na Europa os bancos privados só continuam existindo graças a enormes subvenções do Estado com valores em bi-lhões de dólares. Isto provocou uma dívida sem pre-cedentes em toda a história, que não podem pagar. O capitalismo está em ruínas, no sentido mais literal da palavra, e querem que os pobres paguem a fatura.

PRIMEIRA PAUTA - O senhor se opõe ao ditador Mu-ammar Gaddafi, porém também é contra as operações da ONU?ALAN WOODS - Sou contra qualquer ditadura porém devemos nos perguntar se a intervenção militar dos imperialistas é um instrumento adequado na luta pela democracia. Creio que é evidente que países-como Grã-Betanha, França e EUA jamais podem defender a democracia, nem os interesses do povo árabe ou de qualquer outro. E faço outra pergunta: até que ponto esses elementos que compõem os cha-mados comitês revolucionários que falam em nome dos insurgentes tem legitimidade? São ex-ministros de Gadaffi. Temos que saber que interesses reais há por trás destes senhores.

03Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTAEntrevista | Alan Woods

“É um processo democrático-revolucionário no Oriente Médio”

Alan Woods faz sequência de palestras pela América do Sul

Marlon de Souza

MARLON DE [email protected]

A revolução venezuelana produziu conquistas sociais na

última década, mas agora se encontra

num ponto de inflexão... A solução

é a instalação de uma economia

planificada socialista

A intervenção militar na Líbia é um instrumento

adequado na luta pela

democracia?

Intelectual britânico marxista fala sobre a atual conjuntura econômica internacional

Page 4: Primeira Pauta nº 86

04 Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA Especial

“U ma pessoa pode mudar o mundo com 140 ca-

racteres”. Esta frase é atribuída a Jack Dorsey um dos criado-res do Twitter.

Ele teria dito poucos me-ses depois de ter inventado a tecnologia, em 2007. E está registrado no livro “140 Cha-racters: A Style Guide for the Short Form” , de Dom Sagolla,

publicado em 2009 ainda sem edição em português. Quando Dorsey fez esta afirmação não podia imaginar que os grandes efeitos desta revolução digital, ainda estavam por vir.

No Brasil, logo no início deste ano, os noticiários inter-nacionais dos principais veí-culos de comunicação - ainda em sobresaltos sem interpretar com domínio o que acontecera - foram tomados pela cober-

tura das revoltas populares do Egito, país do norte da África. Os manifestantes, em sua maioria eram jovens e os protestos foram convo-cados pela internet, através das redes sociais como o Twitter e o Facebook.

DA REVOLUÇÃO DIGITAL PARA AS RUASCairo. Dia 25 de janeiro.

Insurgência. Caos. Pessoas

perambulavam e corriam no meio da rua. Comércios fe-chados, vitrines de lojas estila-çados, museus saqueados. Dia 28, greve geral.

Aos gritos; palavras de or-dem. Insurgentes queriam a renúncia do ditador Hosni Mubarak, 82 anos, presidente egípicio no poder há 30 anos. E conseguiram. Na sexta-feira, dia 11 de fevereiro, depois do ditador declarar algumas vezes

à imprensa internacional de que não iria deixar o cargo e de propor aumento salarial para conter o levante, os ma-nifestantes não recuaram.

Milhares de manifestan-tes continuaram em vigília por todo o país, sobretudo na praça Tahir, principal cenário das manifestações. Mubarak renunciou.

DIVULGAÇÃO

Terra em transeApós décadas sem li-

berdade e relegados a míséria, povos de outras nações do norte da África e do Oriente Médio, ins-pirados no Egito; África, Mauritânia, Árgélia, Su-dão, Iêmen, Barein, Omã e Jordânia, realizaram uma série de levantes. Na Líbia, os rebeldes estabe-leceram uma guerra civil contra as forças armadas do dirigente do país Mu-ammar Gadaffi. O que le-vou inclusive há uma in-tervenção militar de uma colização internacional liderada por EUA, Ingla-terra e França. Na Túnísia onde acontecem manifes-tações populares, o Face-book e o Twitter também são usadas para à organi-zação dos insugentes.

Alguns analistas políti-cos consideram que a web foi determinante para a queda do regime do Egi-to e às rebeliões que se seguiram. O sociólogo Demétrio Magnoli tem outra opinião. Em recente

declaração no programa de entrevista Canal Li-vre, da TV Bandeirantes, observou que: “As redes sociais foram apenas um instrumento de comu-nicação. Poderia ter sido o telefone. O golpe final no regime de Mubarak foi uma greve conduzida pe-los sindicatos. Quer um instrumento político mais antigo que este?”, dispa-rou Magnoli.

AGITAÇÃO E PROPAGANDAO especialista em mí-

dias digitais, Tiago Fa-chini, professor de mídias digitais do Bom Jesus/ Ie-lusc, graduado em Comu-nicação para a Web e con-sultor da Web Analytcs, ressalta a impotância da internet no processo. “Vejo as redes sociais como um mecanismo de propagação de opinião e organização do povo do Egito. A faci-lidade de utilização destas ferramentas ajudaram nes-ta organização popular”, avalia Fachini.

Redes sociais são instrumentos para convocação e mobilização de insurgências no Oriente Médio

REVOLTAS CIBERNÉTICAS

Cyberguerrilha na luta democrática

Quem tem medo do Twitter? Protestos são convocados através de redes sociais como twitter e facebook

DIVULGAÇÃO

TEXTOS: Marlon de [email protected]

Page 5: Primeira Pauta nº 86

Depois da Prefeitura anun-ciar o reajuste da tarifa de ônibus em 10,87 %, no final de dezembro do ano passado, quando trabalhadores e estu-dantes ingressavam no perí-odo de férias, o Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville - grupo que reivindica solução para os problemas do trans-porte público – mobilizou a sociedade con-tra o ato do Poder Execu-tivo através da internet, so-bretudo, pelas redes sociais.

Logo após o novo preço das passagem co-meçar a vigorar, dia 5 de janei-ro, – passou de R$ 2,30 a ante-cipada e R$ 2,70 a embarcada, para R$ 2,55 (a antecipada) e R$ 2,90 (a embarcada) – o MPL chegou a realizar uma manifestação.

Os integrantes do MPL usam há tempo todas as mídias sociais para divulgarem à socie-dade suas ideias e seus ideais.

“Nas últimas manifestações a Internet teve um papel mais importante que nos outros anos, por uma razão simples, as escolas e universidades esta-vam em férias, logo tínhamos que arranjar outro jeito de mobilizar e a Internet entrou com um papel importante”, considera Miguel Neumann,

23 anos, estudan-te universitário, um dos dirigentes do movimento que utiliza nome fictício ao dar declarações públi-cas, “uma forma de me preservar”, afirma ele.

Já para Júlio Salvador, - nome fictício pelo mesmo mo-tivo -, 22 anos, universitário e também membro do MPL, o contato presencial com a po-pulação é mais importante do que via web. Para ele, as redes sociais são um complemento, um meio para chamar a socie-dade para uma ação concreta. “Achar que ‘tuitar’ duas vezes e chamar para manifestação

e pronto, tem 200 pessoas na praça da bandeira no dia se-guinte, seria bem legal, mas não é. Nós do MPL temos um ‘Trabalho de Base`, que é ir nas aulas das escolas e universi-dades e falar sobre nossas pro-postas. É fundamental, pois estamos trazendo uma discus-são consistente e nos tornan-do uma referência”, enfatiza o universitário. Salvador con-

sidera que, se os integrantes do movimento não fizessem uma articulação tradicional, os contatos via web não te-riam efeito. “Para o MPL ter se tornado uma referência na luta do transporte, foi muito importante mobilizar via In-ternet, pois as pessoas tinham

vagamente no seu imaginário coletivo que: ‘pô, aumenta a passagem, o pessoal do passe livre vai fazer algo...’”, enten-de? Se esse imaginário não ti-vesse sido criado, o que seria um recado na sua página de orkut? Só mais um recado, nada mais”, conclui.

MAYARA SILVA

FERRAMENTARedes sociais são um meio

para chamar a sociedade para

uma ação concreta

05Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTAEspecial

Quem tem medo do Twitter? Protestos são convocados através de redes sociais como twitter e facebook

Grupos locais utilizamweb para convocar sociedade

Em Joinville, o movimento Passe Livre, organizado por universitários, também é mobilizado por redes sociais

LEONARDO VICENTE

Ao fazermos uma arque-ologia textual, observamos que em cada época há um gênero literário vigente, for-mado por uma estética pró-pria para estabelecer uma comunicação eficiente com os leitores. Foi assim com os poemas épicos da Gré-cia Antiga, de Homero, no século VI AC, a densidade e o mimetismo de Aristó-teles, a poesia das canções de gesta do século XII, que compõem a literatura ver-nácula e influenciaram os escritos da era medieval. A dramaturgia de Shakespe-are nos séculos XV e XVII, os romances de Balzac que

descrevem a sociedade da Revolução Industrial.

E agora qual é a estética vigente? Será o texto curto e instantâneo de 140 caracte-res do Twitter?

LÉXICO E SEMÂNTICA DO TWITTERAinda procuram por esta

resposta. A sociedade con-temporânea está em transi-ção, e ela é líquida, de acor-do com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, ou seja, os conceitos se desolvem. O que se sabe é que a revolu-ção digital já influencia a estética literária há algumas décadas. No próximo dia 21

de abril será lançado o livro Tweets from Thahir (Tweets de Tahir- tradução livre), das ativistas políticas Nadia Idle e Alex Nunns pela editora OR Books. A narrativa da obra é construída a partir dos tweets que foram troca-dos pelas pessoas que partici-param das manifestações na praça Thahir – localizada no Cairo, capital do Egito - até a renúncia do ditador Hosni Mubarak, dia 11 de feverei-ro. A edição custará US$ 12 na versão impressa e US$ 10 na online. Ainda sem pre-visão para lançamento no Brasil. “(...)era o momento e a natureza generalizada

dos novos meios que torna-ram possível reconhecer o momento e para empurrá-lo para tal manifestação eficaz”, diz Ahdaf Soueif, no pre-fácio do livro publicado no New Yok Times.

No entanto, os entusias-mados com a suposta mor-te da semântica, das regras ortográficas e gramaticais, fiquem alerta. No livro “140 Characters: A Style Guide for the Short Form” - (“140 Caracteres: Um Guia de Estilo para a forma do parágrafo curto”- tra-dução livre), publicado em 2009 ainda sem edição em português -, Dom Sagolla

um dos criadores do Twitter, fala sobre os funda-mentos da escrita simplifi-cada: “concisão, clareza e as regras da gramática”.

“Tweets de Tahir”: A narrativa da revolução do Egito em 140 caracteres

conteúdo Informações exclusivas no portal eletrônico www.primeirapautaielusc.blogspot.com

DIVULGAÇÃO

Page 6: Primeira Pauta nº 86

Gabriel [email protected]

DIVULGAÇÃO

Pela primeira vez o Joinville Esporte Clube (Jec), 12 vezes campeão estadual,

estava se desvinculando das arquibancadas de madeira do estádio Ernesto Schlemm So-brinho, o popular “Ernestão”. Era a troca da tradição de um palco que viu 12 títulos esta-duais do JEC, por uma como-didade e uma utopia da pos-sível modernidade que seria o novo estádio. Faltavam dias para as eleições municipais e a primeira parte da obra, que foi distribuída em três etapas, havia sido concluída. Houve um frisson total por parte de mídia para a partida que inau-guraria o “melhor palco para a prática do futebol no sul do país”. Enfrentaram-se, na noi-te de 25 de setembro de 2004, um combinado de masters do Joinville Esporte Clube e da Seleção Brasileira. Quinze mil pessoas lotaram as dependên-cias da Arena Joinville.

Ali era realizado o sonho de muitos torcedores. A ma-quete do projeto fazia brilhar os olhos de gerações joinvi-lenses. Inaugurava-se a maior obra da cidade. Um espaço multiuso, com previsão de

lojas, salas comerciais, agên-cias bancárias e até um par-que público, anexo ao proje-to. Joinville estava entrando no hall das grandes praças para a prática desportiva do sul do país. Na época, Ale-xandre Brandão, o presiden-te da Promotur – Fundação Turística de Joinville, não ti-nha dúvidas sobre o retorno que o estádio daria a cidade. “Com este empreendimen-to, Joinville que já é um dos principais pólos de turismo do sul do país, terá mais um equipamento auxiliando na captação de turistas e gran-des eventos. Isso, com cer-teza, fruto de uma excelente

administração municipal e estadual”, garantiu. Tudo era bonito, tudo daria certo.

O sonho de muitos tor-cedores unia-se ao sonho de fortes e influentes homens de Joinville. Fez necessária a Are-na. O investimento total era de aproximados R$35 milhões. Na época uma bagatela de quinze empresas mostraram-se interessadas pelo projeto. No fim, apenas duas conseguiram concorrer com a documenta-ção em dia. A Engepasa Infras-trutura Ltda, empresa joinvi-lense, venceu a licitação contra a Cassol Pré-Moldados Ltda, de Curitiba. Antônio Carlos Polentini foi nominado o coor-

denador do projeto e de acordo com o prefeito Marco Tebaldi, a expectativa era que a parte ini-cial fosse completa com R$18 milhões. “Nessa primeira eta-pa, o governo do Estado inves-tiu R$10 milhões, a prefeitura R$5 milhões e o restante ficou salientado para ser arrecadado em campanhas”, garantiu o então prefeito que fez o plane-jamento de uma obra para 11 a 12 meses.

Logo no primeiro grande evento, uma notoriedade na-cional. O capitão do tetracam-peonato mundial da Seleção Brasileira foi o responsável pela solenidade da pedra fundamen-tal do estádio que teve cerimô-

nia conduzida pelo renomado jornalista esportivo, Milton Ne-ves. O estádio seria construído em uma área de 70 mil metros quadrados no bairro Bucarein. O centro Poliesportivo oferece-ria 15 mil lugares em sua pri-meira etapa. O projeto de uma Arena Multiuso, nos moldes do Amsterdã Arena, na Holanda e na Arena da Baixada, em Curi-tiba, abrigaria 30 mil pessoas. Havia ainda a expectativa que nos shows o publico pudesse ocupar o gramado e assim a capacidade total chegaria a 45 mil. Ai acabou o conto de fa-das. Voltamos para realidade. Ainda em 2004, teve início a maior crise do Joinville Esporte Clube. O JEC começou a cair em queda livre nas séries do campeonato brasileiro chegan-do a ficar sem calendário na-cional. Haviam construído um amplo estádio, que necessitava de conclusão, mas estavam sem o ator principal da peça teatral: o JEC. O time emperrou e, na-turalmente, a Arena emperrou também. As obras começaram a caminhar a passos lentos e, infelizmente, hoje, o estádio é algo inacabado.

O melhor estádio do Sul do país custaria cerca de R$35 milhões e ficaria pronto em até 12 meses

A promessa de uma arena multiuso

ESTÁDIO MUNICIPAL, DO MODELO AO REFUGO

Desenvolvido pelo Studio Delai Arquitetura., a imagem do

Projeto Arena Joinville mostra o que seria o maior Centro

Poliesportivo da região

MAIO

A paralisação das obrasJUNHO

O abandonoABRIL

A promessa

06 Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA Especial

Page 7: Primeira Pauta nº 86

07Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTAPolítica

Defender um ensino de qualidade e os interesses dos estu-dantes são as típicas

bandeiras levantadas por es-tudantes. No entanto, a atu-ação deles pode cercar outros universos. E, principalmen-te, quando há sintonia entre os sujeitos participantes, os efeitos ultrapassam camadas sociais.

Ex-integrante do Diretó-rio Acadêmico Cruz e Sousa (Dacs), no Bom Jesus/Ielusc, o jornalista Leonel Camasão, afirma que os movimentos estudantis são fundamentais para a formação política dos cidadãos, além de envolver os militantes na luta por outras causas sociais. “É um espaço privilegiado e necessário para aprender a lidar com a polí-tica”. Segundo ele, a partici-pação é bastante importante para os que sonham mudar

os rumos da sociedade.Logo ao terminar a facul-

dade, Camasão investiu na carreira política. Nas eleições passadas, ele lançou sua candi-datura a deputado federal pelo Partido Socialismo e Liberda-de (PSOL). Mas antes disso acontecer, ele participou de movimentos sociais: em 2003,

passou a atuar em um grupo na Escola de Ensino Médio Governador Celso Ramos e também no Movimento Passe Livres (MPL), de Joinville.

De lá para cá suas atua-ções sociais e políticas con-tinuaram. Atualmente, ele participa do movimento es-tudantil Contraponto, da As-

sociação Arco Iris, no movi-mento LGBT, e da oposição à atual gestão no Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC), além de fazer parte da direção estadual do PSOL.

Para a jornalista Franci-ne Hellmann, formada no Bom Jesus/Ielusc, participar de movimentos estudantis

faz aumentar o conhecimen-to político. “Aprendemos muito mais vivenciando as coisas do que teorizando”. Hoje ela atua no Juventu-de Marxista do Partido dos Trabalhadores (PT).

O estudante Marcus Vi-nícius Carvalheiro partici-pa do Dacs do Ielusc desde 2008. Com base na sua ex-periência, a que as faculda-des e escolas deveriam pro-porcionar integração entre comunidade e o ambiente universitário. “Infelizmente as faculdades e escolas não ajudam os estudantes a se integrarem com a comuni-dade como deveriam. Uma pessoa só pode debater com propriedade a partir do mo-mento que vivencia o fato”.

A importância do diretó-rio na vida do estudante foi fundamental para mobilizar outros estudantes e lutar pe-los direitos da população. “O Dacs serviu para reafirmar meu perfil político. Foi atra-vés dele que percebi que não preciso ser politiqueiro e, sim, político”. Agora, Mar-cus participa da nova gestão do DCE (Diretório Central dos Estudantes) do Ielusc e no MPL, que por sua vez também representa a Frente de Luta pelo Transporte Co-letivo Urbano.

DIEGO [email protected]

Para o que servem os movimentos estudantis?

PARTICIPAÇÃO

Segundo militantes, atuação coletiva contribui para a formação política

No Brasil, os movimen-tos estudantis existem geral-mente dentro das faculda-des, por meio da instituição de diretórios acadêmicos, e nas escolas, por intermé-dio da organização de grê-mios. A efetivação desses grupos também acontece formalmente com a cria-ção de atléticas esportivas, executivas de graduações e associações de cursos. Os movimentos estudantis são caracterizados, principal-mente, por integrar sim-patizantes com as mesmas ideias de assuntos voltados a política, esporte , religião,

cultura, além das próprias causas. E ainda mais: eles são considerados movimen-tos sociais da área da edu-cação, policlassistas e, cons-tantemente, renovadores.

Em Joinville, os dire-tórios e grêmios atuam em conjunto com outros mo-vimentos sociais, como por exemplo, o MPL – que luta por um sistema de transpor-te público fora da iniciativa privada e também pelo passe livre para todas as camadas da população. No começo desse ano, alunos do Bom Je-sus/Ielusc e de outras facul-dades, e também estudantes

do ensino fundamental e médio, protestaram contra o aumento da passagem de ônibus. No entanto, o va-

lor teve reajuste de R$ 2,33 para R$ 2,55 – aumento que acontece todos os anos.

Já dentro do âmbito acadêmico, os estudantes

atuam com mais frequên-cia. Por exemplo: acon-tece a mobilização pela federalização da Univille (Universidade da Região de Joinville) - instituição parceria do Bom Jesus/Ie-lusc. Os alunos lutam por essa causa há muito tempo, mas até agora não tiveram uma resposta definitiva. Por enquanto, seguem as conversas com a Câmara de Vereadores, Univille e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Representante da gestão do Dacs, Eduardo de Sou-za Rodrigues, observa que

os estudantes precisam par-ticipar mais dos diretórios acadêmicos. Porém, ele en-tende que a falta de tempo os impede de ter um envol-vimento mais efetivo. “O número de alunos é peque-no se comparado às outras universidades”, diz. O estu-dante de publicidade e pro-paganda fala que o diretório utiliza diversas ferramentas para atrair mais pessoas para a luta, como eventos de in-tegração, blog e murais pe-los corredores. “É necessário respeitar a individualidade para atrair mais pessoas para o movimento”, enfatiza.

Alunos trabalham em conjunto para organizar manifestações em prol de mudanças educacionais

Alunos têm participação dentro e fora do âmbito de ensino

Em 2010, o Dacs iniciou vários protestos por

melhores condições de ensino

IELUSC

CAMILLA GONÇALVES

Page 8: Primeira Pauta nº 86

08 Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA Especial

FOTOS: POLIANNA MORAES

SAÚDE

Estudantes de enfermagem são agentes da alegria em hospital de Joinville

Hospital também élugar de riso

CURIOSIDADEO site da organização Doutores da Alegria traz uma recomenda-

ção de uso: “A besteirologia deve ser aplicada diariamente até que o paciente não saiba mais como ficar triste.

É remédio para a vida toda.”

www.doutoresdaalegria.org.brCom peruca roxa e nariz vermelho, a estudante de enfermagem Jéssica Vargas dá vida à Quésia, uma agente da alegria

Page 9: Primeira Pauta nº 86

Despertador, banho, café, rua, sala de aula. Aula, aula. Rua, restaurante,

hospital. Pasta d’água, peru-ca e nariz vermelho. Assim a estudante de enfermagem Jéssica Vargas dá lugar à pa-lhacinha Quésia, assistente do Dr. Batata. Ela é uma das personagens do Hos-pirrisos: agentes da alegria, que realiza visitas a pacientes do Hospital Dona Helena, em Joinville. O projeto foi criado em 2006 em parceria com o curso de Enfermagem do Bom Jesus/Ielusc, Studio Escola de Atores e Programa Pró-Humano da unidade de saúde. O objetivo é ampliar o conhecimento clínico para além do corpo físico a partir da humanização do cuidado à pessoa hospitalizada.

O pioneiro dessa con-cepção é o médico norte-americano Hunter “Patch” Adams. Sua história foi contada no filme “O amor é contagioso”, de 1998, no qual o ator Robin Willians é o protagonista. Apesar de Patch Adams criticar a ma-neira como a história foi romanceada, sua mensagem foi entendida com clareza. O filme inspirou o surgimento de um novo conceito na área da saúde: a terapia do amor.

Em 1986, atores e palha-ços de Nova Iorque vestiram jalecos brancos e passaram a visitar crianças internadas. Surgia o Big Apple Circus Clown Care Unit. Em 1991, o Doutores da alegria leva a inusitada metodologia ao Hospital da Criança, em São Paulo. A capacidade de olhar a vida por novos ân-

gulos, própria do palhaço, transforma o ambiente e as relações.

A experiência de se rela-cionar com o enfermo por meio de atividades lúdicas é, para Jéssica, uma opor-tunidade de aplicar o que se aprende na faculdade: olhar o pacien-te como um ser completo, com sentimen-tos. O papel da palhacinha Quésia não é fa-zer graça, mas proporcionar conforto. Levar qualidade à vida, mesmo que ela acabe no dia seguinte. O riso pode ser uma boa forma de lidar com um problema.

Assim, também, concebe a coordenadora do programa Pró-Humano, Maria José Varela: “Não queremos tra-tar doentes com o riso, nós

desejamos trazer algum alen-to, minutos de alegria, a pos-sibilidade de esquecer a dor por um tempo”. Segundo a psicóloga, a importância para o paciente é subjetiva e total-mente individualizada, uma

vez que saúde é um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simples-mente ausência de doença ou enfermidade”,

definição dada pela Organi-zação Mundial da Saúde.

O desenvolvimento da abordagem bem humorada é oferecido aos agentes da alegria em oficinas de artes cênicas. A diretora do Stu-dio Escola de Atores, Fer-nanda Moreira, conta que o trabalho é baseado na arte da improvisação, porque cada momento é único. “Os vo-

luntários desenvolvem ações dramáticas relacionadas ao personagem que eles criam, sem falas fixas e textos pron-tos”, completa a atriz.

ALEGRAR PARA CUIDARDe acordo com a pro-

fessora e enfermeira Rosilda Veríssimo Silva, também co-ordenadora do Hospirrisos, “A sociedade em geral tem a noção de que a enfermagem se reduz à realização de téc-nicas, o que não é verdade. É apenas uma dimensão. O diálogo e a compreensão do outro são importantes para a individualização do cuidado e sistematização da assistên-cia”. Para lidar com pessoas fragilizadas não basta realizar o procedimento clínico.

Mas até que ponto essa proximidade é positiva para o voluntário? O diretor do Hospital Municipal São José, Tomio Tomita, acredita que projetos assistencialistas na área da saúde são voltados ao benefício do paciente, e o profissional em formação precisa dessa experiência, mesmo que dolorosa. É im-portante trabalhar o lado emocional. Para ele, “Se o estudante não lida com a perda, talvez não tenha per-fil para a profissão”. A rela-ção humana é fundamental para o sucesso do tratamen-to. É essencial haver troca de informações para o processo fluir.

Jéssica concorda: “Já saí de um quarto e chorei. O sofrimento existe, mas a gente aprende a sofrer de uma maneira diferente”. Para ela, doloroso mesmo é estar afastada do projeto por

causa de dois estágios. “Tal-vez seja essa a maior dificul-dade do voluntário, doar-se completamente”, lamenta a estudante. A coordenadora da UTI Neo-natal do Hos-pital Dona Helena, Maíra Rockenbach, participou da formação do Hospirrisos, e conta que foi muito difícil deixar o grupo quando con-cluiu a graduação. “O nariz de palhaço é a menor más-cara que existe, mas dá uma liberdade enorme para se aproximar da pessoa”, exalta a enfermeira.

A professora Rosilda fala da satisfação do enfermeiro em formação ao descobrir que o riso é permitido no hospital. “Os profissionais aguardam esse momento para liberar energias con-tidas, por lidar constante-mente com a morte”, com-plementa a enfermeira. O hospital não deve ser ape-nas um ambiente de dor e sofrimento, tanto para pacientes quanto profissio-nais da saúde.

09Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTAEspecial

Luísa Desiderá[email protected] lidar com

pessoasfragilizadas não basta

realizar apenas o procedimento clínico

TRATAMENTO

Projeto busca resultados científicosO Hospirrisos desenvolve uma pes-

quisa sobre os resultados do método. Há muitas histórias repletas de emoção e sentimentos, em que é evidente a tro-ca de amor. Como voluntários que se deixam abraçar por pais de recém-nasci-dos internados, ou pessoas que recebem alta, mas só deixam o hospital depois de

se despedirem dos agentes da alegria.Não há registro de quantos pacien-

tes são assistidos, o foco é na qualida-de do atendimento. A meta é concluir o estudo ainda este ano e evidenciar, cientificamente, qual a importância da humanização do cuidado à pessoa hos-pitalizada na recuperação de doenças.

Jéssica Vargasestudante de Enfermagem

“ O sofrimento existe, mas a gente aprende a sofrer de uma maneira diferente

Se o estudante não lida com a perda, talvez não tenha perfil para a profissão

“Tomio Tomita

diretor do Hospital São José

Jéssica encara o nariz de palhaçoantes de vestir a personagem

Page 10: Primeira Pauta nº 86

10 Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA Saúde

M édicos indicam que a obesi-dade mórbida é a doença do

século, tem sido chamada de epidemia global. Segun-do a pesquisa realizada pela Fundação Bill & Melin-da Gates e a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas últimas três décadas – de 1980 a 2008 – a obe-sidade dobrou no mundo, afetando hoje cerca de 205 milhões de homens (9,8%) e 297 milhões de mulhe-res (13,8%). O Brasil está na 19ª posição no ranking mundial da obesidade mas-culina e na 15ª posição no sexo feminino.

A obesidade é um pro-blema que não escolhe ida-de ou classe social, e pode levar a pessoa à morte. “Depois do tabagismo é a doença prevenível que mais mata no mundo”, afirma a técnica em enfermagem da Obesimor de Joinville, Nailza Fião. A Obesimor é o núcleo especializado em obesidade mórbida do Hos-pital Regional Hans Dieter Schmidt de Joinville, cre-denciado pelo SUS há qua-tro anos. É o único lugar da cidade que oferece todo e tratamento pré e pós-ope-ratório totalmente gratuito, inclusive cirurgias plásticas e prótese mamária.

O quadro de obesida-de mórbida se dá devido a vários fatores, como a ge-nética e problemas emocio-nais: ansiedade e depressão. “Muitas vezes um casamen-to que vai mal ou problemas financeiros fazem com que a pessoa se conforte comen-do compulsivamente”, diz o psicólogo da Obesimor, Gerson Hermes de Souza. É preciso conhecer o his-tórico de vida do paciente para iniciar o tratamento.

São indicadas ao proces-so pessoas com Índice de Massa Corpórea (IMC) de 35 a 40 e, se dentro de dois anos não conseguem elimi-nar peso, são indicados para

a cirurgia bariátrica. Já pa-cientes com IMC superior a 40 são indicados direta-mente para a cirurgia. (ver quadro abaixo)

Existem várias técnicas de cirurgia bariátrica, po-rém, a mais usada é a gas-troplastia: a transformação de um estômago grande para um pequeno e que diminui a absorção no in-testino. “É a técnica que o paciente tem melhor adap-tação no pós-operatório”, afirma o médico cirurgião Rui Celso Vieira.

Mas só a cirurgia não é suficiente. A endocrinolo-gista Tanise Balvedi Da-mas, diz que o paciente pós bariátrico pre-cisa de uma suplementa-ção polivita-mínica pro resto da vida. Sem esse complemento ali-mentar o paciente corre o risco de desnutrição. Segun-do Tanise, com a diminuição do estômago o organismo não absorve a quantidade de vitaminas suficientes.

Para conseguir todo esse tratamento gratuito, o pa-ciente deve fazer todos os encaminhamentos pelo

SUS. Primeiro é preci-so um diagnóstico de obesidade feito pelo clí-nico geral de um posto

de saúde e, em seguida o paciente recebe autorização para os cuidados na Obesi-mor.

Existe também uma as-sociação composta por pro-fissionais da área da saúde, voluntários e pacientes pós bariátricos. Ela realiza reu-niões todas as quintas-fei-

ras da terceira semana do mês, e são abertas ao públi-co. As reuniões acontecem na igreja Papa João XXIII, próxima à Pró Rim.

VALE A PENA EMAGRECEREm Joinville existem

1300 casos de obesidade mórbida registrados na Obesimor. “A cada semana atendemos dez novos casos encaminhados pelo posto de saúde, dando um total de quarenta pessoas por mês”, relata Nailza. Para a cirurgia não existe uma fila de espera, e sim de prepa-ração. O paciente precisa

ser liberado por todos os profissionais envolvidos, e mesmo depois da cirurgia o t r a t a m e n t o continua. “O paciente pre-cisa aprender

que fome é uma necessi-dade fisiológica e vontade de comer uma questão psi-cológica”, reforça Gerson. Em Joinville, 310 pacien-tes já fizeram a cirurgia.

“Eu tinha 116 quilos e agora estou com 57, fiz a cirurgia há quatro anos. Ti-nha diabetes, esporão, não queria mais sair de casa e me isolei, me sentia cons-trangida”, relata a paciente pós bariátrica Márcia Re-gina Antunes. Hoje Márcia tem qualidade de vida, faz exercícios físicos com pra-zer, alimenta-se bemww, é feliz e realizada. “Devo todo o sucesso da minha cirurgia aos meus cuidadores e agra-deço à Deus pela minha for-ça de vontade”, completa.Lizandra [email protected]

A Obesimor realiza palestras sobre a importância da reeducação alimentar para os pacientes

GISELE SILVEIRA

Obesidade: uma doença que mataEPIDEMIA

Mudança de hábitos pode ser a solução para o problema que atinge milhões de pessoas

Calcule seu Índice de Massa Corporal Para calcular basta di-

vidir seu peso, em quilo-gramas, pela sua altura ao quadrado, em metros. O resultado deve ser compa-rado com o da tabela IMC: IMC = peso ÷ altura²

Nas últimas três décadas a obesidade

dobrou no mundo, afetando mais

mulheres

ADVERTÊNCIA

Para IMC em adultosAbaixo do peso abaixo de 18,5

No peso normal entre 18,5 e 25

Acima do peso entre 25 e 30

Obeso acima de 30

TABELA IMC

Page 11: Primeira Pauta nº 86

Ele é o quebra-galho da empresa, sempre pronto para qual-quer situação. Ainda

não tem formação nem ex-periência para trabalhar efe-tivamente, mas serve muito bem para fazer todo o resto. A descrição acima é do esta-giário Oséias, um estudante de Publicidade que faz todo tipo de serviço na empre-sa em que trabalha. Oséias é apenas um personagem, criado pelo cartunista bra-sileiro Allan Sieber para pa-rodiar essa função tão banal que se tornou a do estágio. Mas ela representa a descri-ção real de muitos estudan-tes brasileiros.

Amabelle Cristine Ve-chter cursa o 2° ano de Te-rapia Ocupacional e foi con-tratada como estagiária, mas reconhece que não atua em sua área de estudos. Ela tra-balha no setor de compras de um órgão público, fun-ção que é mais voltada para a área de Administração. “Há algum tempo procuramos nossos direitos, como vale transporte, mas um estagiá-rio foi demitido por solicitar o seu”, denuncia. Ela ainda firma que quando alguém sofre um acidente fora do trabalho, que exija um afas-tamento de mais de 30 dias, o contrato é rescindido pela empresa. Como é o caso de Amabelle, quando a função exercida dentro do horário de estágio foge da área de

atuação do estudante, o em-pregador não tem por objeti-vo a aprendizagem do estagi-ário, e sim o uso da força de trabalho dele, caracterizando vínculo empregatício.

Desde o ano de 2008, os estagiários passaram a ter mais direitos perante a legis-lação. A antiga lei do estágio datava de 1977, e foi atuali-zada de acordo com as neces-sidades atuais dos estudan-tes, visto que passaram mais de trinta anos desde que a lei foi criada.

Segundo a lei nº 11.788, um estágio dentro dos novos formatos não deve possuir nenhum vínculo empregatí-cio com a empresa contratan-te. Isso quer dizer que um e s t a g i á r i o não tem os mesmos di-reitos de um funcionário, como 13º sa-lário, FGTS e aviso prévio. O advogado trabalhista Nilson Marcelino recomenda que, se houver algo que descumpra a lei na função que exerce, o estagi-ário deve entrar em contato com um advogado trabalhis-ta, que pode levar as reivin-dicações ao Poder Judiciário. Os motivos para que isso aconteça vão desde a realiza-ção de horas extras, passando pela não celebração do con-trato com a instituição de

ensino, pela não contratação do seguro de vida, pela in-compatibilidade entre a área de formação e as atividades desenvolvidas, até a ausência de supervisão efetiva voltada ao aproveitamento e desem-penho. Segundo ele, as ações relacionadas com estágio são crescentes na Justiça do Tra-balho de Joinville, e há um número considerável de de-cisões a favor do empregado, algo incomum para a catego-ria dos estagiários até então.

Segundo Luiz Carlos Uller, supervisor do CIEE (Centro de Integração Em-presa Escola) de Joinville, com a nova lei, houve mais entendimento sobre a condi-

ção do estágio. Mas por muitas vezes, os esta-giários não dão i m p o r t â n c i a aos reais direi-tos que pos-suem dentro de uma empresa, por diversos motivos. Uller

alerta sobre a ansiedade dos estudantes em querer traba-lhar, por exemplo: “Eles aca-bam firmando compromisso com uma empresa sem a in-tervenção de um agente de integração. Quando se dão conta que não fazem servi-ços de um estagiário e sim de um empregado, recorrem a nós com dúvidas, por isso é tão importante o plano de atividades e o termo de com-

promisso firmado entre as partes.” O supervisor fina-liza afirmando que só existe estágio com a aprovação da instituição de ensino que o estagiário estuda e um plano de atividades bem especificado. Do contrário, fica difícil requerer seus di-reitos, assim como manda a lei, e o estagiário acaba sendo mal pago para exer-cer uma função que não traz nenhum aprendizado dentro da formação dele.

OPORTUNIDADE Um estágio é um bom

caminho para conseguir uma colocação em gran-des companhias, mas só isso não é o suficiente. Ter fluência em pelo menos uma língua estrangeira e vivência no exterior tam-bém ajuda. Programas de intercâmbio geram ótimas experiências. O “Cidadão Global”, programa de in-

tercâmbio da Aiesec – orga-nização global formada por jovens que visa o desenvol-vimento do potencial de liderança – está com inscri-ções abertas. Nesse progra-ma, os intercambistas tra-balham em projetos sociais em países como China, Ín-dia, Colômbia e Rússia. O programa tem duração de seis a 12 semanas, e pode ser feito durante as férias. Os interessados devem se inscrever pelo hotsite cida-daoglobal.aiesec.org.br. É possível entrar em contato com a Aiesec pelo Twitter (@aiesecjoinville) e Face-book (facebook.com/aiese-cjoinville).

A Aiesec tem cerca de 2.500 membros no Brasil e está dividida em 33 escritó-rios locais. Está presente em universidades como Udesc, Unicamp, ITA e USP.Mayara [email protected]

A lei ainda é descumprida, e

muitos estagiários servem para

quebrar galho

EXPLORAÇÃO

11Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTAEducação

Estágio: aprendizado ou exploração?

LEGISLAÇÃO

Apesar das mudanças da nova lei do estágio, estudantes ainda exercem funções fora da área para ter um emprego

Page 12: Primeira Pauta nº 86

12 Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTA Tecnologia

Um dos melhores des-tinos para turismo, o estado de Santa Cata-rina tem demonstra-

do nos últimos anos paisagens de tragédias e destruição.

Em fevereiro deste ano, segundo a Defesa Civil de Jaraguá do Sul, o volume de chuva registrado apenas no dia 13, domingo, foi de 135 milímetros. De acordo com os técnicos, este é um volume exagerado, considerada uma precipitação acima do normal.

Trinta residências foram danificadas, uma destruída e cerca de 400 pessoas ficaram desalojadas e 16 desabrigadas. Poucos dias depois, choveu novamente e os danos aumen-taram. No mesmo mês, a De-

fesa Civil divulgou dados ge-rais das ocorrências em virtude das enxurradas: 194 casas fo-ram interditadas e 54 pessoas ficaram alojadas no abrigo do Parque Municipal de Eventos.

Porém, tragédias seme-lhantes a esta e como a de 2008, que somou mais de 100 vítimas fatais em enchentes e deslizamentos de terra, podem ser minimizadas. Iniciativas como a do Grupo Especialis-ta em Resgates de Alto Risco (GERAR), em procurar os alunos de Física do Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC) de Jaraguá do Sul, para a elaboração de dois equipa-mentos são um exemplo.

O diretor presidente do grupo GERAR, Paulo de

Almeida, destacou que os equipamentos de auxílio no salvamento de vítimas das chuvas só existem fora do Brasil, podendo ser importa-dos, mas o custo é elevado.

O projeto homenageou o grupo de força tarefa que trabalhou no resgate dos 44 mineiros soterrados no Chi-le, sendo intitulado Fênix.

O primeiro equipamento é uma sonda, inédita no Bra-sil, contendo uma câmera de busca e salvamento que pos-sibilita aos resgatistas visuali-zar entre escombros de uma estrutura colapsada possíveis vítimas. E o segundo equi-pamento é um veículo com controle remoto composto de uma câmera, permitindo

que seja verificado o interior de uma estrutura que esteja sob risco de desabamento.

Atualmente, o tempo para as buscas é de cerca de 30 minutos. As equipes de resgate e salvamento, em alguns casos, utilizam uma broca para adentrar os am-bientes colapsados. Com o recurso será possível veri-ficar os locais onde há pes-soas soterradas em apenas 30 segundos. Isso significa, que se hoje, se perde tempo explorando lugares sem víti-mas, com a sonda, a identi-ficação de mortos e feridos será mais rápida e eficaz.

A proposta do Fênix, então, seria desenvolver os dois ins-trumentos a partir de materiais alternativos e com tecnologia local, barateando o custo e tor-nando possível a sua aquisição.

De acordo com Élson Quil Cardozo, chefe do De-partamento de Ensino, Pes-quisa e Extensão do IF-SC, há uma diferença entre o Fênix e as outras iniciativas acadêmicas. Como foi esta-belecida uma parceria entre o instituto, GERAR, Asso-ciação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali) e Defesa Civil, não seria possí-vel a inclusão do projeto nos editais internos do IF-SC. Os integrantes recorreram aos ór-gãos públicos,mas não houve retorno financeiro por parte do Executivo. O apoio surgiu de um empresário da cidade, que preferiu não se identifi-car, doando 5 mil reais para a concretização dos primeiros passos do projeto Fênix.

Neyfi Mü[email protected]

Método atual, utilizado pelas equipes de salvamento, leva pelo menos 30 minutos para resgate

conteúdo Informações exclusivas no portal eletrônico www.primeirapautaielusc.blogspot.com

ARQUIVO GERAR

Cardoso mostra a sonda desenvolvida em parceria com o GERAR

TIFFANI DOS SANTOS

Incentivo vem de dentro do campusNa Universidade Federal

de Santa Catarina existe o Departamento de Inovação Tecnológica, responsável pela gestão da Propriedade Intelectual da instituição, ou seja, promove a proteção jurídica e a exploração eco-nômica das criações intelec-tuais e inovações que surgem

dentro da universidade. “A UFSC atua na negocia-

ção e redação dos convênios e contratos de transferência de tecnologia com empresas, ins-tituições de fomento, centros de pesquisa e outros. Além de proteger a criação acadêmica, procura negociar a produção do projeto com possíveis fi-

nanciadores”, explicou a co-laboradora da universidade, Kelli Bittencourt.

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) já concedeu duas patentes para projetos criados dentro da instituição, e há a solicita-ção de mais de 40 patentes no INPI aguardando aprovação.

Projeto acadêmico auxiliará buscasENCHENTES

Instrumentos serão utilizados pela defesa civil em Jaraguá do Sul para alcançar locais de difícil acesso

Page 13: Primeira Pauta nº 86

13Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTACultura

O centro da cida-de está ganhando, aos poucos, novas cores. Apesar de

marginalizadas, essas cores surpreendem nos becos sujos e escuros. Um exemplo é a praça Lauro Müller: no pré-dio abandonado em frente à biblioteca, estão expostas dezenas de expressões artís-ticas.

Este deslocamento artísti-co, das galerias para as ruas, tem característica intervencio-nista, ou seja, além de ir até o observador, também permite interação com o espaço que a cerca. No Brasil, essa prática ganhou força no final da dé-cada de 90, com o surgimen-to dos coletivos. O Coletivo Choque, por exemplo, sur-giu em São Paulo em 2003 e hoje organiza exposições com o trabalho dos artistas. Ge-ometrismo, releituras, fusão entre pintura e arquitetura, colagens, “scratchs” (desenhos feitos com ranhuras de instru-mentos cortantes sobre vidro pintado), são os tipos de tra-balhos apresentados, além das intervenções urbanas nas pa-redes externas da galeria.

Em Joinville também exis-te um Coletivo Chá, que dei-xa as ruas mais coloridas: qua-tro meninas e quatro projetos diferentes, todos utilizando o lambe. Algumas já eram amigas, outras se conheceram na faculdade de Publicidade e Propaganda. Atualmente, elas mantêm um blog (http://coletivocha.wordpress.com), já ministraram uma oficina

de lambe na Semana Acadê-mica de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc e recen-temente delinearam as ideias delas na parede de uma loja de roupas. Elas não divulgam os sobrenomes por segurança, para que não enquadrem esse trabalho como vandalismo e haja algum tipo de punição. Vem à tona o velho questio-namento: arte de rua é vanda-lismo ou arte?

A marca de Ana C., uma das integrantes, é a joaninha, que sempre acompanha to-

dos os lambes que ela faz. No projeto Vida no Concreto, ela promove uma reflexão sobre a humanidade e a igualda-de entre humanos e animais. “Em uma esquina, uma girafa chora. Em um caixa de luz, um bicho-preguiça sorri. É a capacidade de expressão que os animais encontram para lembrar [as pessoas] de que são vidas e que, assim sendo, merecem amor, humanidade e respeito”, explica Ana.

Com influências dos artis-tas Will Cotton, Daliena Edi-burg e Anna Bond, Fernan-da fez o projeto Goma. Cup cakes, balas, pirulitos, algodão doce e muitas cores aguçam e adoçam as ideias de quem está

no caminho óbvio do trabalho ou voltando para casa. “A ci-dade é feita de pequenas com-posições, de olhares inquietos, de desejos íntimos de fugir do óbvio”, analisa Fernanda.

Camila, através do projeto Camixxx, ilustra sentimentos, ideias e situações que viveu. Apesar da subjetividade e da escolha aleatória de temas, ela instiga a reflexão ao escrever frases retiradas de escritos ou letras de rap.

Marie, uma das primeiras do Coletivo Chá, desenha o projeto Aves. “Desde peque-na sempre fui muito ligada à natureza. Em especial, às aves. Observando e absor-vendo espécies presentes eu apenas averiguo as penas, as cores e os bicos desses bi-chos”, conta.

Aqui, a produção ainda é pouca. Em cidades maiores é impossível não se deparar com os pôsteres de lambe. Em Curitiba, a estudante de Publicidade e Propagan-da, Ana Maria Cândido diz que a intervenção ajuda em protestos como os do Movi-mento Passe Livre (MPL): “com o aumento da passa-gem, tiveram a ideia de pixar ‘R$ 2,50 é roubo’ nas faixas de pedestres”. Segundo ela, nos grandes centros urbanos ninguém costuma se olhar e conversar nas ruas. “Eu gos-to de deixar mensagens posi-tivas, ou protestos. Uso essa intervenção como forma de ser ouvida”, finaliza.BÁRBARA [email protected]

Em cidades maiores é

impossível não se deparar com os

pôsteres de lambe.

PRODUÇÃO

O colorido que invadeo espaço do cotidiano

FORA DOS MUSEUS

Sentimentos expressos em paredes, muros e caixas de luz enchem as ideias de quem passa apressado pelas ruas

“ Com o aumento da passagem, tiveram a ideia de pixar ‘R$ 2,50 é roubo’ nas

faixas de pedestres”

ANA MARIA CANDIDOestudante

“ A cidade é feita de pequenas

composições, de desejos íntimos de

fugir do óbvio”

FERNANDA estudante

Arte de rua não é institucionalizada e é uma forma de protesto

JAQUELINE MELLO

Page 14: Primeira Pauta nº 86

14 Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA Cultura

Magrinhos, mir-rados, gigantes, escritos num papel amarela-

do, cobertos pelo pó. Os mi-lhares de livros encontrados nas bibliotecas particulares de Joinville mesclam litera-tura, ciência e religião. Os apreciadores confessam que nunca chegaram a ler as co-leções por completo. “Mas bibliotecas se fazem de livros que ainda não se leu”, afirma o psiquiatra e bibliófilo Le-andro Prates de Lima, lem-brando as palavras do escri-tor italiano Umberto Eco.

Mais do que simples ob-jetos de decoração, os livros presentes no consultório de Lima fazem parte de uma co-leção de quase 3 mil títulos, composta principalmente por autores contemporâneos. Ele afirma a relação peculiar com os livros é herança do pai, e iniciou com a leitura de gibis como do Tio Patinhas e Bat-man. Foi também no final da infância que o jornalista Sílvio Melatti descobriu seu interesse sobre os livros – um exemplar de “Leis da Guerra

e armas nucleares” despertou sua atenção para a leitura, aos 14 anos de idade.

Logo na entrada da casa, uma escada com degraus cobertos de mármore leva à biblioteca com mais de 3 mil exemplares distribuídos em diversas prateleiras brancas. O cheiro dos livros antigos aliados ao som da música clássica e boa iluminação tor-na o ambiente aconchegante. Nas prateleiras, há literatura de todas as nacio-nalidades, - rus-sa, espanhola, inglesa, francesa – diários, poesia, biografias, histó-ria, coletâneas e um acervo riquís-simo sobre religião, todos meticulosamente separados de acordo com a língua origi-nal. Melatti considera as tra-duções repletas de diferenças antagônicas, especialmente nos textos vertidos ao portu-guês. “Tenho quatro tradu-ções diferentes de Hamlet. Elas variam muito de tradu-tor para tradutor”, explica.

Nas estantes da bibliote-ca, livros impressos do início do século – como “A qual-quer alma sensível”, datado de 1912 – mesclam-se a ou-tros nunca lidos, sequer fo-lheados, cujas páginas estão grudadas desde os anos 40 – como um exemplar “Grã-finos em São Paulo”, de Joel Silveira. Há ainda uma rarís-sima e inusitada edição de “Os Sertões”, monumento

litúrgico im-presso em 1936. Melatti garante que é dos romances que ele mais gosta, e que consegue a maioria dos e xe m p l a r e s

em sebos. “Quando vou a outras cidades, sempre visi-to as bibliotecas e os sebos”, conta.

É também nos sebos que o historiador Apolinário Ternes busca a maior parte dos seus livros. Do acer-vo com 4 mil exemplares, um dos maiores da cidade, hoje restam mil, segundo ele

“suficientes para ler o resto da vida” - os outros foram doados a instituições de en-sino e à biblioteca pública devido à falta de espaço do novo apartamento. Dentre os restantes, de clássicos da literatura a raros livros de arte e história.

O amontoado de livros junto as estatuetas de Buda podem ser encontrados pela casa toda. Apolinário garante que o gosto pela leitura flo-resceu na infância,durante o período que esteve no se-minário. Admirador de en-saios, biografias e livros de histórias com as mais inusi-tadas fotografias, Apolinário destaca os versos dos brasi-leiros Carlos Drummond de Andrade e as histórias de Machado de Assis. “É ideal para quem precisa aprender a escrever. A escrita é clara, limpa, inteligente”, afirma.

Sentado no sofá, ele re-vela características de um devorador de livros um tanto quanto incomum. Apolinário relê todos os livros duas ou mais vezes, e percebe muitos detalhes

que passam despercebidos. Considerando-se diferente da maioria dos leitores, faz intervalos na leitura dos li-vros. “Não leio adoidado. Gosto de assimilar as coi-sas, ficar alguns dias sem a leitura”, explica. Para ele, os livros tendem a se tornar objetos mais raros e refina-dos a cada ano que passa. “Especialmente os grandes clássicos”, enfatiza.

Melatti considera que atualmente há apelos au-diovisuais que desviam a atenção à leitura. “Ler é tarefa cada vez mais difí-cil”, comenta. E dá a dica para quem é fã da leitura. “Anuncie ao mundo o seu interesse por livros, esse é o primeiro passo”, declara. Segundo ele muitas pessoas se desfazem de livros esque-cidos ao perceber o interesse de outros pela leitura. Esse pode ser o primeiro passo para a formação de uma bi-blioteca.

Em Sebos encontram-se títulos diversos

com baixo preço e qualidade

PROCURA

Nas estantes dos bibliófilosApaixonados por bibliotecas falam da longa trajetória que é montar o acervo pessoal

PALAVRAS

Mas bibliotecas se fazem de livros que ainda não se leu”UMBERTO ECOescritor

“Ler é tarefa cada vez mais difícil” SÍLVIO MELATTI professor e jornalista

ANA LUIZA ABDALA

Ana Paula da [email protected]ícia Cristiane [email protected]

Page 15: Primeira Pauta nº 86

15Joinville - Abril 2011PRIMEIRA PAUTA

Os livros dormem a maior parte do tempo. Só despertam ao serem abertos, folheados e lidos. Afinal, são apenas arte, cultura, sabedo-ria, e visto que isso não se bebe ou come, poucas pes-soas o procuram. Entretan-to, a perda de livros e a falta de espaço ainda são os maio-res inimigos dos amantes da leitura. E o ciúme, um outro problema perspicaz.

Sílvio Melatti confes-sa que já perdeu vários li-vros raros em decorrência dos empréstimos a amigos. Ele lamenta não conse-guir carimbar ou marcar seus exemplares, mas não se sente dono deles. “Os livros não são meus, são dos autores. Apenas estão comigo”, comenta Melatti. Apolinário Ternes é outro ciumento convicto. Gosta de receber as pessoas, mos-trar os livros e falar sobre eles. Mas quando o assunto é empréstimo, torna-se um

bibliófilo possessivo: pre-fere comprar e presentear a emprestá-los a amigos. Em contraponto, a jorna-lista Simone Gehrke sente prazer em indicar e ceder os livros que gosta. Não se incomoda em carimbá-los e fazer rabiscos. Leitora as-sídua desde os 15 anos, já pensou, inclusive, em criar uma locadora de livros, como viu em São Paulo. “Isso se os livros digitais não fossem uma tendência tão forte”, relata.

O jornalista Rodrigo Schwarz possui 2 mil exem-plares em sua biblioteca, e sente orgulho, não fetiche por ela. No quesito conservação, procura deixá-los longe do pó. À medida que o acervo cresceu, não teve tempo nem paciência para uma melhor organização dos exemplares. Simone, no entanto, está iniciando a ordenação dos livros, que cresceram muito na última década.

Apolinário não vê problemas em mostrar sua biblioteca aos amigos. Mesmo assim é contra empréstimos

Leandro inciciou sua vida de leitor com gibis e incentivado por seu pai seu amor pelos livros cresceu

Sílvio Melatti gosta de títulos em diferentes idiomas porque acredita que se perde muito na tradução

Cuidado é fator essencial para conservação dos livros

Impresso x ComputadorConsiderado o susten-

táculo maior da cultura, o livro não está livre dos riscos trazidos pelas no-vas tecnologias ou novas tendências. Segundo da-dos do Observatório do Livro e da Leitura, pelo menos 3% dos leitores brasileiros são adeptos de mídias digitais (dados de 2010). Ainda não há nú-meros oficiais sobre a ven-da de conteúdo digital no Brasil, mas estima-se que cerca de sete milhões de habitantes baixem livros diariamente pela internet e, destes, a maioria é jo-vens de 14 a 17 anos. Se-gundo dados do site Tudo sobre leitura, há um esva-ziamento nas bibliotecas

de universidades, pois os alunos preferem pesqui-sar na internet, a buscar livros na biblioteca.

A questão é que as editoras não querem ser pegas de surpresa como a indústria da música, que foi engolfada pela pirataria e a distribuição gratuita de música pela web. Então o objetivo das editoras é criar livros mais interati-vos. Para as crianças, por exemplo, além de poder virar a página e colori-las com o mouse, os leitores podem ouvir músicas e a narração das historias. Em versões para iPads, os pequenos também podem tocar na tela do dispositivo e mover os personagens.

ZELO

FOTOS ANA LUIZA ABDALA

Cultura

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16 Joinville - Abril 2011 PRIMEIRA PAUTA Reportagem fotográfica

Cores, luz, sombra, formatos geométricos, desenhos abstratos, assinaturas. Estamos, sim, analisando uma obra de arte, mas que está longe dos silenciosos e pacatos corredores das galerias. O grafite está estampado nas paredes e muros das cidades para ser visto e comentado em meio ao barulho do trânsito caótico por qualquer um que passa.

Em Joinville, elas estão nos muros da Cidadela Cultural Antártica, no paredão em frente à biblioteca pública, no cercado do Lar Abdon Batista. Em meio a uma cidade industrializada e historicamente conservadora, as gravuras feitas com spray tentam ganhar espaço e mostrar que vão além da parte estética. Grafiteiro há quatro anos, Paulo Roberto Agostini, mostra através dos seus traços bem feitos que a intervenção urbana é uma forma de protesto. “Grafitar tem tudo a ver com protestar. A maioria dos trabalhos expressa conceitos agressivos e relacionados a problemas sociais ou vividos por cada artista. Os meus desenhos, às vezes criticam e outras vezes só querem passar beleza e alegria”, comenta o jovem de 22 anos.

TEXTO: JAQUELINE DIAS | FOTOS: JÉSSICA MICHELS

Os muros pintados com cores e protestos

“O menino que balançava”, por Paulo Pincel (paredão em frente ao prédio da Biblioteca Pública)

“A sociedade prega o bem, mas alimenta o mal”, por Paulo Pincel Pincel (paredão em frente ao prédio da Biblioteca Pública)

Fachada de uma loja de bijuterias da

rua 9 de março

Intrigando pensamentos de quem passa em frente ao Museu Sambaqui – Grafite por Paulo Pincel

“Reciclagem”, por Wesley So, um dos responsáveis pelo grafitismo joinvilense (paredão em frente ao prédio da Biblioteca Pública)