press review page - clipquick · a vírus está num momento de reafirmação no mercado, apostando...
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Handmade Lovers
Há muitos anos,os socos eram um
calçado tipicamenteportuguês. Criados
por volta do séc.
XIII, deram origemà confraria dos
sapateiros deGuimarães, criada
em devoção a SantaMaria, que mais tardeviria a ser designada
por Irmandade deS. Crispim. Não só
neste local, mastambém na região
de Braga e Barcelos,predominava umaforte tendência no
sector da indústria do
calçado, associado à
curtimenta e peles.
m Portugal viviam-se tempos conturbados; a
reconquista do território português aos Mourosdeixou o país fragilizado e empobrecido, foramdoados muitos territórios ao clero e à nobreza,como recompensa pelas vitórias. O povo ia-se
sujeitando às condições possíveis e à sobrevivên-
cia. Tendo em conta uma conjuntura económico-
social e uma época já com alguma estabilidade e
onde, para trás, ficava a guerra e a privação maio-
res, as necessidades acabaram por emergir pelo
que se tornou imperioso apostar numa melhoria
dos padrões de vida gerais da população.Se no passado era comum o povo andar descalço, começou, a partir
de certa altura, a ser corrente, sobretudo em trabalhadores agrícolas,o uso de calçado como meio de proteção. Assim surgiram, feitos de
amieiro e um pouco de couro, os tamancos. Usu-almente designados por socos e taroucos, ficaram
celebremente conhecidos como o "calçado dos po-bres". O homem usava geralmente os tamancos e as
mulheres os socos.
Este tipo de calçado não se ficou só pelo Nortedo Pais e, a pouco e pouco, surgiram cada vez mais
pessoas a fabricá-lo por todo o território nacional,os célebres tamanqueiros. A titulo de curiosida-
de, os tamanqueiros não faziam os seus tamancos
iguais. De acordo com o local onde se habitava, o
tamanco era adaptado às circunstâncias. No litoral
os tamancos eram rasos, pelo facto de o terreno ser
relativamente mais plano e sem grandes oscilações;
no interior, porém, a biqueira arqueava devido às ir-
regularidades do solo. Nas serras bravas de Portugalacabava por ser "fabricado" ainda mais arqueado.
Com o início do século XX, este tipo de calçadoesteve na moda até às décadas de 60/70, altura em
que desapareceu quase por completo. Trinta anos de-
pois, três empreendedoras lembraram com saudade
os seus tempos de juventude e decidiram dar vida aos
tamancos, criando então a XUZ.
NUM SECTOR ONDE A EXIGÊNCIAE COMPETITIVIDADE SÃO ALTÍSSIMAS,É FUNDAMENTAL GANHARVANTAGENS E DISPONIBILIZAR ALGO
QUE OS OUTROS NÃO CONSIGAM
A Xuz iniciou-se no verão de 2008, quando três ami-
gas - Maria do Carmo Alvim, Rita Pinheiro Melo
e Filipa Lança Morais (que viria a sair do projeto)- com saudades de andar de socos, tal e qual como
nas suas infâncias, tiveram a ideia de recuperar a
tradição deste tipo de calçado apostando em versões
actuais. Este produto tipicamente português havia
desaparecido do mercado nacional e só podia ser en-contrado a nível internacional. Num espírito saudo-
sista, e com o apoio de pessoas que acreditaram queeste poderia ser um negócio de sucesso, decidiram
criar socos, botas, sandálias e sapatos com base nos
tamancos portugueses e totalmente produzidos de
forma artesanal. Assim foram à procura, em Portu-
gal, de pessoas que se dedicassem à arte de trabalhar
a madeira dos socos, tendo encontrado o "pauseiro"
em S. João da Madeira e o "tamanqueiro" em Barce-
los, que é quem molda as peles aos produtos. Estas
peças são consideradas únicas por serem confecio-nadas por artesãos e, também, porque cada modelo
tem apenas um número reduzido de pares e perten-cem a edições limitadas, de forma a tornarem-se o
mais exclusivos possível.Inicialmente, os produtos eram direcíonados
para mulheres na faixa etária dos 40 anos. Pos-
teriormente, através do feedback por parte dos
clientes, perceberam que o público-alvo estava a
alterar-se e que estes produtos eram também pro-
curados por faixas etárias mais jovens que apre-ciavam o conceito diferente e inovador do calçado.
Neste momento a marca não está só presente em
Portugal, tendo-se expandido para vários países como
Suécia, Finlândia, Holanda, Dinamarca, Noruega,Canadá e Espanha (neste último procura maior des-
taque) tendo como objetivo alargar o conceito para a
Alemanha, Inglaterra (objectivo assumido da empre-sa para 2013/2014) e Japão.
Por isso, quem disse que burro velho não aprende
línguas? Aprende, inova e cria! Foi assim que a XUZ
conseguiu reconstruir um conceito com mais de 700anos de uso. Com o mesmo espírito e vontade de ou-
trora, o objectivo da XUZ permanece fiel às origens,fazer peças únicas e 100% portuguesas!
Inovando e mantendo a tradição. É assim que a
XUZ procura afirmar-se no mercado nacional e a ní-vel internacional, Daí o nome XUZ estar associado a
"choose" de escolha e "shoes" de sapatos, composto
por palavras de origem inglesa, de forma a auxiliar
a entrada no mercado internacional. Inicialmente a
XUZ lançou no mercado 300 pares de sapatos e aca-
bou por produzir 800 pares. A receptividade tinhasido largamente superior à esperada, o que originouuma alteração nas ideias das suas criadoras e poten-ciou o seu crescente desenvolvimento.
A XUZ é, por definição, uma microempresa, sendo
que a sua facturação não chega a um milhão de euros.
Em concreto facturou, no ano de 2010, cerca de 550 mil
euros e tem neste momento, a seu cargo e em termos
directos, três pessoas. No ano de 2011 ganhou o prémio
de "Marca Revelação" pela GDS - International Event
for Shoes & Accessories - na cidade de Dusseldorf.
Será Portugal um país sem oportunidades? Desde 2001
que a economia cresce de forma anémica e que o paísatravessa sucessivas fases de maior ou menor crise e,
mais recentemente, de profunda recessão à qual não
consegue dar resposta. Inúmeros sectores têm vindo
a ressentir-se neste período e o sector da indústria do
calçado não foi excepção. Este fenómeno levou ao en-cerramento de fábricas, à redução do número de traba-lhadores e ao aumento do preço das matérias-primas.Como resposta à precária situação económica do país,
e em forma de prevenção e de incentivo à exportação,vários agentes do sector juntamente com a Associação
Portuguesa dos Industriais de Calçado - APICCAPS- associaram-se ao Programa COMPETE - ProgramaOperacional Fatoresde Competitividade - como forma
de promover a internacionalização, visto que Portugalé dos maiores produtores de calçado da União Euro-
peia e este é um dos produtos que mais contribui posi-tivamente para a criação de riqueza no país. Ao nível da
indústria, ou do cluster multi-indústria, o sector é dos
mais diversificados e abrange uma grande variedadede materiais que vai dos têxteis, plásticos, borrachas,
peles, couros e até, inclusive, às madeiras.
A XUZ possui três concorrentes com o mesmo
tipo de posicionamento estratégico e todos do sec-
tor de calçado inovador e criativo: a Fly London, a
Cubanas e a Vírus.A Fly London, portuguesa de origem e com a pro-
dução dos seus artigos em Portugal, está cada vezmais virada para o mercado internacional. O site
apresenta-se em inglês e tem opções de compra on-line, com especial destaque para Inglaterra e Ale-manha, o que revela a forte presença da marca noexterior. É uma empresa com 18 anos, que já conse-
guiu abrir o seu próprio espaço, não só em Portugalcomo noutros países. Em Portugal, possui espaçosfísicos próprios na Avenida da Liberdade e em Sintra.Ao contrário da XUZ, já tem implementada não só a
venda de calçado como de roupa, acessórios, óculos
e malas, tanto para o sector feminino como para o
masculino. Mas a força da marca continua a ser assandálias e as botas, que conduziram a Fly London à
ribalta e ao sucesso a nível internacional.A Cubanas destaca-se pelo seu modelo de negócio
peculiar, criado em 2005 e que conseguiu fazer nome
no sector a nível nacional. Está presente em 11 lojas
próprias e em dezenas de retalhistas, estando desde
2010 a apostar cada vez mais na internacionalizaçãoe na venda online. Para além do calçado para os dois
sexos e para crianças, produz ainda malas, o que vemdar força ao seu segmento mais forte, o feminino, res-
ponsável por cerca de 90% das vendas no ano 2010. Na
nova aposta a nível internacional, deve salientar-se a
consistência estratégica, o design e a novidade que a
marca trouxe ao sector, que foram reconhecidos através
da conquista de Prémios Inovação na Fileira do Calça
do, atribuídos pela GDS (International Event for Shoes
& Accessories) em 2011 na cidade de Dusseldorf.
Por fim, a marca Vírus Moda, representada por uma
empresa especialista em calçado feminino, pertencen-te à AS Calçado, que detém também a Chocolate Ne-
gro e a TOO by Vírus. A Vírus está num momento de
reafirmação no mercado, apostando num design ac-
tual, na qualidade dos materiais utilizados e no bem-estar. Tem vindo a marcar a sua presença no território
nacional, em lojas de destaque, e a reforçar cada vezmais a sua presença a nível internacional. Esta marcaé direcionada para uma mulher actual, moderna e que
compra sapatos por "Vírus", i.e., por vício, como dá a
entender a designação da própria marca, que não só se
preocupa com a moda e com a imagem, como também
procura conforto, equilíbrio e prazer no andar.
Apesar do contexto socio-económico que o paísatravessa, a crescente concorrência e a subida dos pre-ços das matérías-primas, a XUZ descobriu a sua opor-tunidade, uma vez que ninguém em Portugal tinhadesenvolvido um conceito similar a este. Actualmente
não existe uma concorrência directa pois nenhumaoutra marca faz socos desta forma. A XUZ conseguiu
expandir-se para outros mercados e aposta cada vezmais na internacionalização, sendo que neste sectoré fortemente incentivada a fazê-Io quer pelas associa-
ções, quer por programas desenvolvidos (COMPETE) .
Na colecção Primavera/Verão de 2012, com as sobras
provenientes da sua actividade core, o calçado, fez um
reaproveitamento e estreou-se com peças de vestuário
em pele e couro. Reveladora de uma boa comunica-
ção interna, criou uma relação de familiaridade, onde
conseguiu transmitir a nível exterior uma imagem de
proximidade com o cliente final, em que este se revê
na marca e procura acompanhar as suas novas tendên-cias. O facto de ser uma estrutura pequena e ágil pre-meia a qualidade e o tempo de resposta a nível logísti-
co. Todavia a cadeia de abastecimento é extensa, umavez que, sendo a estrutura interna mínima, verifica-se
que existem mais de 52 trabalhadores em regime de
outsourcing, dado que cada detalhe é realizado portrabalhadores especializados em cada função. Este
facto provoca uma relação de causa-efeito, i.e., se porum lado o produto final tem qualidade e pormeno-res de excelência, por outro, se um dos elementos da
cadeia entra em incumprimento, prejudicará o todo.
Exemplos desta complexidade sucederam no passado,
i.e., um dos fornecedores não conseguiu corresponderàs exigências, o que veio a obrigar a uma mudançarepentina e a algumas quebras na cadeia.
NA NOVA APOSTA A NÍVELINTERNACIONAL, DEVE SALIENTAR-SEA CONSISTÊNCIA ESTRATÉGICA,0 DESIGN E A NOVIDADE QUE AMARCA TROUXE AO SECTOR, QUEFORAM RECONHECIDOS ATRAVÉS DA
CONQUISTA DE PRÉMIOS INOVAÇÃONA FILEIRA DO CALÇADO
Analisando os valores da empresa (valores que são acola cultural da mesma) esta revela um certo grau de
diferenciação das demais presentes no mercado. A
nostalgia do passado, aliada à criatividade, revela forçae querer na história e cultura tradicional portuguesa,elementos que não se encontram facilmente incutidos,
e visíveis, hoje em dia noutras empresas. O facto de a
produção ser feita única e exclusivamente em Portugal
representa um forte gesto de patriotismo que devemos
louvar e saber ilustrar de forma exemplar, como provade que é possível triunfar em solo nacional.
Com a visão de se tornar uma empresa de referên-
cia no mercado internacional, desenvolve-se sempreà volta do mesmo conceito tradicionalista, calçadoinovador e único, com o objectivo de crescer, masevitando a massificação. A marca não prescinde do
seu status e da sua missão "tradicionalista nos mate-
Espera realmente a expansão, mas ambicionaestar presente em pontos-chave em vez de estardifundida por todo o tipo de lojas. Um exemplodisso mesmo é a rejeição de mais do que uma
loja que possa apresentar/representar os seus
produtos em vilas e pequenas cidades. É um
produto para ser vendido em apenas algumasboutiques, mantendo assim o posicionamentoideal, defendido e desejado. Até porque o preçopraticado, entre 70c a 2oo€, define um targetespecífico com características próprias e ali-nhado com o segmento médio/alto. Abdicam,ainda, de campanhas de marketing, utilizandoainda o circuito on-line, o word-of-mouth e as
feiras internacionais onde expõem as colecçõesa potenciais distribuidores.
Num sector onde a exigência e competitivida-de são altíssimas, é fundamental ganhar
vantagens, saber destacar-se e disponibi-lizar algo que os outros não consigam fa-
zer. Como mencionado, a maneira como
trabalham a pele e o couro para o calçado e o fabrico das
suas socas, é algo único e factor de destaque no mer-cado. Para além de possuir o seu core business como
vantagem, tem-se tornado sustentável na medida em
que as restantes concorrentes não conseguem copiar ou
imitar com a mesma qualidade. Esta dificuldade que se
encontra também se deve em muito a um factor que se
aponta como crítico para o sucesso: o know-how pre-sente quer no tamanqueiro, quer no pauzeiro.
Todas estas pessoas na cadeia de abastecimento, e
a criação dessa cadeia, com elementos exclusivos da
XUZ foram criando elos e pessoas especializadas com
profissões que se foram extinguindo e onde há óbviadificuldade em substituir por outros colaboradores,
mesmo se não directos, que façam trabalhos deste
teor. Assim, a experiência, o conhecimento e o saber-
fazer tornam-se factores-chave.
REVELADORA DE UMA BOA
COMUNICAÇÃO INTERNA, A XUZ CRIOUUMA RELAÇÃO DE FAMILIARIDADE,
ONDE CONSEGUIU TRANSMITIR ANÍVEL EXTERIOR UMA IMAGEM DE
PROXIMIDADE COM 0 CLIENTE FINAL
Actualmente interessa à XUZ cimentar a sua posiçãonos mercados emergentes. A sua expansão foi rápida,
pelo que deve verificar a receptividade em novos mer-cados, uma vez que cada país tem as suas características.
Não deverá, ainda, deixar de procurar novas oportuni-dades e/ou distribuidores, que, sem danificar o status da
marca, consigam contribuir para a alavancar.
Para que isto aconteça a XUZ deverá, como tem vin-do a fazer, abraçar uma estratégia de crescimento sus-
tentado por via orgânica em termos corporativos. Emtermos competitivos, a estratégia que se impõe é clara-
mente a de diferenciação. Todo este desenho estratégi-co deve desenvolver-se focado no core da empresa, mas
sem deixar de inovar ou criar novos produtos, isto é,
produzir de forma ponderada, e a título de experimen-tação, tal como acontece na colecção Primavera/Verão2012 com o lançamento de socas de homem e algumas
peças de roupa de mulher, novos produtos. Provavel-
mente aproveitando sobras de materiais e procurandonão desperdiçar matéria-prima, relançando assim uma
primeira abordagem, com poucos produtos e tentando
explorar a resposta do mercado aos mesmos.Foi com esta abordagem que a empresa conseguiu
alcançar o sucesso, tem tido a sua quota de mercado
garantida no nicho de clientes, o status definido, o
segmento escolhido relativamente estável e não deve-
rá abdicar deles em prol de outro tipo de estratégia.Para a expansão da marca será proveitosa a centra-
lização da atenção para o seu forte, o segmento femi-
nino, continuando a inovar e a criar novas tendências.
Possivelmente uma abordagem mais variada nos seg-mento masculino, ainda pouco explorado e talvez com
possibilidade de crescimento se se verificar ter sido
bem aceite. À experiência da presença de roupa nestaúltima colecção, espera-se pela resposta do mercado.
Uma aposta completamente nova pelo que as expec-tativas são elevadas.
Aproveitar o reconhecimento a nível internacional,tentando ganhar mais prestígio com a conquista de
mais prémios, de forma a conseguir captar cada vezmais países interessados por via da presença assídua
em feiras e acções below the line, tenderá, acredita a
XUZ, a conduzir a um maior escolha internacional e
a internacionalização.
Espera-se que a XUZ dê jus ao nome e consigavencer a batalha pela credibilidade e afirmação. Será
mais uma empresa a hastear a bandeira de Portugal,aquém e além fronteiras.