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Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul Presidente: Deputado Iradir Pietroski (PTB) 1º Vice-Presidente : Deputado Ronaldo Zülke (PT) 2º Vice-Presidente: Deputado José Farret (PP) 1º Secretário: Deputado Elmar Schneider (PMDB) 2º Secretário: Deputado GERSON BURMANN (PDT) 3º Secretário: Deputado JOSÉ SPEROTTO (PFL) 4º Secretário: Deputado PAULO BUM (PSDB) Comissão Paz no Esporte Integrantes: Floriza dos Santos – PDT (Relatora) Edson Portilho – PT João Fischer - PP Fernando Záchia – PMDB Abílio Dos Santos – PTB

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Mesa Diretora da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

Presidente: Deputado Iradir Pietroski (PTB)

1º Vice-Presidente : Deputado Ronaldo Zülke (PT)

2º Vice-Presidente: Deputado José Farret (PP)

1º Secretário: Deputado Elmar Schneider (PMDB)

2º Secretário: Deputado GERSON BURMANN (PDT)

3º Secretário: Deputado JOSÉ SPEROTTO (PFL)

4º Secretário: Deputado PAULO BUM (PSDB)

Comissão Paz no EsporteIntegrantes:

Floriza dos Santos – PDT (Relatora)

Edson Portilho – PT

João Fischer - PP

Fernando Záchia – PMDB

Abílio Dos Santos – PTB

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SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................................05

Audiência Públicas realizadas

1.1 Audiência Pública - Os Episódios de Violência na Partida de Futebol entreInternacional e Fluminense, no Estádio Beira Rio (19/10/2005).....................06

1.2 Audiência Pública – A Não-Violência no Esporte (06/03/2006) .....................52

1.3 Audiência Pública – A Contribuição dos Cronistas Esportivos (Imprensa);Tratativa da Brigada Militar; Posicionamento das Torcidas Organizadas eDirigentes de Clubes.(13/03/2006).......................................................................75

Conclusões ........................................................................................................104

Ficha Técnica ....................................................................................................106

Agradecimentos ................................................................................................107

Anexos ...............................................................................................................108

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INTRODUÇÃO

O Relatório Final da Comissão de Representação Externa Paz no Esportetraz o relato, na íntegra, de todas as manifestações, opiniões, solicitações eencaminhamentos apresentados ao longo dos trabalhos deste órgão técnico daAssembléia Legislativa. Apresenta, também, a conclusão, com respectivosencaminhamentos.

O requerimento para instalação da Comissão, tendo assinatura de 39parlamentares, foi aprovado em plenário, com 28 parlamentares a favor e umcontra, no dia 16 de agosto de 2005.

Instalação da Comissão Paz no Esporte

O objetivo da Comissão foi o de apurar a violência que ocorre nascompetições esportivas e nos estádios de futebol, bem como construir mecanismospara que o poder público, dirigentes esportivos, clubes de futebol, equipes técnicase atletas possam garantir a tranqüilidade e o bem-estar do torcedor nascompetições.

Os trabalhos foram encerrados em 15 março, conforme Artigo 4º daResolução de Plenário Nº 2958, de 8 de dezembro de 2005.

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1.1 AUDIÊNCIA PÚBLICA - PAZ NO ESPORTEOS EPISÓDIOS DE VIOLÊNCIA NA PARTIDA DE FUTEBOL ENT RE

INTENACIONAL E FLUMINENSE, NO ESTÁDIO BEIRA RIO - 19/10/2005NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL – SA LA

PROF. DR. SALZANO VIEIRA DA CUNHA - 3º ANDAR

DEPUTADA MIRIAM MARRONIPRESIDENTE EM EXERCÍCIO DA COMISSÃO DE CIDADANIA EDIREITOS HUMANOS

O tema da sessão da Audiência Pública hoje nesta comissão foi umasolicitação da deputada Floriza dos Santos, que preside a Comissão deRepresentação Externa Paz no Esporte - comissão essa que se constitui nummomento muito importante.

Parabéns pela sua iniciativa, Deputada. Neste momento é importante que sediscuta a paz no esporte.

Para darmos início a essa Audiência Pública, passo à composição da mesa.

Convido o representante do Batalhão de Operações Especiais da BrigadaMilitar, Tenente-Coronel Jarbas Vanin; o Vice-Presidente do Sport ClubInternacional, Sr. Mário Sérgio Martins Silva; o Diretor de Segurança do GrêmioFoot-Ball Porto-Alegrense, Sr. Sidenir Bueno de Almeida; o Presidente da TorcidaOrganizada Super Fico, Sr. Marcelo Kripka; o Vice-Presidente da TorcidaOrganizada Camisa 12, do Inter, Sr. Miguel Sampaio Dagnino; o Comandante do 1ºBatalhão da Brigada Militar, Tenente-Coronel Isaias de Brito; o representante daFederação Gaúcha de Futebol, Sr. Luís Fernando Costa; o Comandante doPoliciamento da Capital, Coronel Edson Ferreira Alves.

Agradeço a presença de todos. Gostaria de, imediatamente, justificar-mepor ter que me retirar, pois represento a Assembléia Legislativa no I Seminário dePlanejamento Familiar Estadual, um tema com o qual tenho trabalhadointensamente. A Presidência desta Casa solicitou que fizesse a abertura desseseminário e, nesta condição, passo a Presidência dos trabalhos para a deputadaFloriza dos Santos, que é autora do requerimento e presidente da Comissão Paz noEsporte. Muito obrigada.

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DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

Deputada Floriza dos Santos coordena Audiência Paz no Esporte em conjunto com a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos

Bom-dia aos meus colegas deputados, aos convidados, bem como àimprensa, que se fazem presentes a essa reunião. Hoje é um dia especial, porqueestamos reunidos para conversar e chegar a um entendimento na busca de umasolução para a violência que estamos vendo acontecer no meio esportivo. Só assimconseguiremos, de uma vez por todas, a tão almejada paz no esporte.

O motivo da reunião de hoje é esclarecer o que houve de errado com opoliciamento feito no Estádio Beira-Rio, no jogo entre Internacional e Fluminense,acontecido no dia 2 de outubro passado. Temos várias autoridades competentespresentes para as devidas explicações. Com certeza, teremos várias perguntas erespostas, com as quais poderemos obter os esclarecimentos, que é a finalidadeprincipal da realização dessa Comissão de Representação Externa Paz no Esporte.

Passo, de imediato, a palavra ao Sr. Comandante do Policiamento daCapital, Coronel Edson Ferreira Alves. Por gentileza, a palavra está a suadisposição.

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EDSON FERREIRA ALVESCOMANDANTE DO POLICIAMENTO DA CAPITAL

Prezada Sra. Presidente dos trabalhos, deputada Floriza dos Santos; Srs.Deputados Estilac Xavier, Marquinho Lang e Álvaro Boéssio; Srs. Representantesdas torcidas das equipes; demais ouvintes:

Primeiramente, gostaria de cumprimentar a iniciativa desta Casa em trazerpara o debate e análise esse fato, qual seja, a ação das torcidas organizadas dosclubes de futebol no Rio Grande do Sul.

O fenômeno da globalização atinge a todo o setor social e temos notado,hoje em dia, as torcidas organizadas – não apenas pontualmente – adotando umcomportamento que leva à intranqüilidade a todos nós, pois é um fenômenonacional e global. Os integrantes de torcidas organizadas deveriam se reunir paraconfraternizar, incentivar suas equipes, buscar o lazer; porém, em determinadomomento, têm adotado uma postura de hostilidade entre si, como também com asdemais pessoas que ali foram para o divertimento e o lazer.

É extremamente importante fazermos uma avaliação para buscar as causasque levam as pessoas a adotarem esse comportamento. Nós, da Brigada Militar,temos absoluta certeza de que o fato de analisarmos os acontecimentos, o fato deenfrentarmos a realidade com que deparamos nos estádios no Rio Grande do Sul e,em Porto Alegre especificamente, e pelo fato de nos conhecermos, temos plenascondições de harmonizar essas relações.

A Brigada Militar, como representante do Estado, tem o papel de segurançapública; as instituições de futebol, como empresas, proporcionam lazer nacional; aspessoas e as famílias recorrem ao estádio de futebol, também com o intuito do seuentretenimento. Buscando o entendimento, buscando o diálogo, ao nosconhecermos, temos condições plenas de enfrentar o problema, analisar e buscar,portanto, a transformação desse lazer, desse momento público - que é o futebol -num momento aprazível, e não num momento de desgaste e de risco à integridadefísica de todos nós. É um compromisso de todos os presentes analisar, conversar arespeito do assunto e criar condições de tranqüilidade e de segurança no estádio defutebol.

Mais uma vez, cumprimento a iniciativa desta Casa por trazer este assuntoao debate. Acredito que seria este o primeiro momento até porque estouacompanhado do Tenente-Coronel Jarbas Vanin, que é o comandante do Batalhãode Operações Especiais, e do Tenente-Coronel Isaías de Brito - que comanda o 1ºBatalhão e, que tem em sua área de responsabilidade os dois maiores estádios defutebol de Porto Alegre. Neste primeiro momento, é esta a minha intervenção edepois vamos dar encaminhamento ao debate. Muito obrigado.

JARBAS VANIN

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TENENTE CORONEL DO BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA BRIGADA MILITAR

Sra. Deputada Floriza dos Santos; Srs. Deputados Estilac Xavier, MarquinhoLang e Álvaro Boéssio:

Nós, do comando do Batalhão de Operações Especiais, temos algumasconsiderações a fazer a respeito desses fatos, mas não dos fatos em si, mas,pontualmente do que aconteceu no estádio, porque, na verdade, esses fatos estãosob investigação. Seria muito leviano da minha parte tecer qualquer comentárioquando são objeto de investigação.

Gostaria de falar, em tese, a respeito de algumas considerações que épreciso fazer. Em primeiro lugar, gostaria de lhe dizer que, há dez anos, souinstrutor de Sociologia da Violência e da Criminalidade na Academia de PolíciaMilitar. Portanto, esse assunto, de certa forma, é foco dos meus estudos há váriosanos. Também sou instrutor internacional de direitos humanos pela Cruz Vermelhacom experiência internacional na área de formação de policiais voltados aos direitoshumanos.

O primeiro aspecto que deve ser entendido é a violência que acontece nosestádios de futebol. Estudos feitos em São Paulo e Rio de Janeiro nos mostram quelá isso já acontece desde a década de 80. Até a presente data, Sra. Deputada, háregistradas, 29 mortes de torcedores com idade entre 16 e 18 anos. Isso é um dado,uma constatação feita por investigação de sociólogos e psicólogos do Estado deSão Paulo. Posso fornecer até os autores desses estudos e matérias.

Então, isso reflete exatamente a violência do cotidiano das nossas grandescidades. O estádio de futebol, observando-o num universo micro, não é diferente doque é o nosso dia-a-dia na sociedade. Um outro detalhe importante que tem de ficarclaro é que essa violência e enfrentamento não acontece entre grupos rivais, masentre grupos que estão torcendo para o mesmo time.

Um outro dado interessante que temos que observar é quem são essestorcedores. Quais os motivos consideráveis do aumento dessa violência que, dadécada de 80 para cá, estamos observando? A violência entre as torcidasorganizadas não está desarticulada do aspecto social, econômico e cultural danossa sociedade. A violência, via de regra, é um elemento aglutinador e construtivodos agrupamentos dos torcedores. Existem palavras de ordem, existeminflamações, existem uma série de coisas que acontecem nos estádios.

Aqui não há estudos – eu, pelo menos, não conheço – talvez os dirigentesdos clubes saibam. Em São Paulo, a idade entre os jovens filiados às torcidasorganizadas gira em torno de 12 a 18 anos. Essa é a idade média dos jovensfiliados, segundo estudos feitos em São Paulo.

Quero trazer um relato feito por um membro da torcida do Palmeiras só para

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a senhora ter uma idéia de como se formam esses conceitos no nosso imaginário:Escolhemos o nome Mancha Verde com base no personagem Mancha Negra, deWalt Disney, que é uma figura meio bandida, meio tenebrosa. A gente precisa deuma figura ideal e de pessoas que estivessem a fim de mudar a história. Na época,a gente tinha de 13 a 14 anos de idade e já havíamos sofrido muito com outrastorcidas, então a gente começou com muita luta.

A violência verbal e física é uma realidade dentro dos estádios. Traduz-senos principais códigos e símbolos de agrupamentos de jovens em torno de torcidasorganizadas. Isso é uma realidade. No último jogo, vimos como as nossas policiaisfemininas foram tratadas pela torcida, tendo sido ofendidas na sua honra. Alguémvai dizer que isso é fruto do episódio anterior. Tudo bem, mas foram ofendidas, eisso é uma realidade de que não podemos descuidar.

O torcedor, no modelo organizado, não é mais um mero espectador, pois fazparte do próprio espetáculo. Ele incentiva, vibra, excita, toma atitudes. Na verdade,ele desencadeia processos dentro dos estádios de futebol. Não podemos deixarisso de lado, mas temos de entendê-lo.

Há um outro aspecto a ser considerado: a ordem dominante hoje da nossasociedade não quer reconhecer que a violência pode constituir formas de relaçõessociais. Essa é que é a grande verdade. Quando perdemos referências, a violênciapode ter esse significado. Podemos também dizer que todos os sócios de torcidasorganizadas são pessoas normais, que gostam do futebol, do barato promovidopelas torcidas e vão ao estádio exatamente para se divertir, mas também há umaspecto psicológico que deve ser considerado. Há um inconsciente coletivo e umapersonalidade única nesse torcedor. Deixam de ter a sua identidade e passam a tera identidade do coletivo. E a solidariedade que ocorre com esses grupos é umarealidade. Isso também pode ser um fator produtivo desse confronto e dessaviolência.

O Comandante do 2º Batalhão de Choque de São Paulo, num estudorecente feito por eles, afirmou que, na cidade de São Paulo, foi constatado que asagressões que ocorrem dentro dos estádios, via de regra, não é com cidadãosacima dos 40 anos, mas com pessoas de 18 anos, sendo a média de idade 16 anos.

Para terminar minha fala, há três aspectos que eu consideraria muitoimportantes: a violência entre a torcida, a juventude que está cada vez maisesvaziada da sua consciência social e coletiva e, o modelo de sociedade deconsumo instaurado no Brasil - que valoriza a individualidade, o banal e o vazio e, oprazer e a incitação gerados pela violência ou pelos confrontos agressivos.

Já disse no início que não ia falar sobre os motivos pelos quais ocorreu oúltimo confronto, mas se tem uma idéia de que foram utilizados objetos do próprioestádio de futebol, como forma de arma entre a própria torcida. Constatou-se queforam usadas pontas de ferro e lanças que são os divisores físicos do próprioestádio. Com um público de 50, 60, 40 mil pessoas, isso nos faz refletir sobrequanto os equipamentos de segurança que utilizamos nos nossos estádios, são

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efetivamente seguros e dão condições para um policiamento também seguro.

Não nego que possa ter havido excessos por parte da Polícia Militar, o quenunca se negou. Estamos apurando, mas também é preciso constatar de que háinsegurança no espaço físico do estádio.

A própria Lei do Estatuto de Defesa do Torcedor diz no art. 23, que aentidade responsável pela organização da competição apresentará ao MinistérioPúblico dos Estados e do Distrito Federal previamente a sua realização, os laudostécnicos expedidos pelos órgãos e autoridades competentes pela vistoria dascondições de segurança dos estádios a serem utilizados na competição.

Em relação a isso penso que precisa-se mais rigor na expedição desseslaudos, e esses laudos devem ser muito mais observados, principalmente pelasautoridades que têm responsabilidade com isso. É isso que queria registrar.

ISAÍAS DE BRITOTENENTE CORONEL, COMANDANTE DA POLÍCIA MILITAR

Bom dia, Srs. Deputados, senhoras e senhores.

Quero fazer um esclarecimento: o primeiro batalhão faz atividade depoliciamento na área externa dos estádios. Nosso contato com o evento se dá nomomento da chegada dos torcedores e após ao término do jogo.

Há, dentro da área do primeiro batalhão, o estádio Beira-Rio e o estádioOlímpico, que estão sob a nossa responsabilidade. Quanto ao contato que temoscom as torcidas, se dá principalmente antes do jogo.

O que temos observado nessa nossa atividade? É o elevado excesso deconsumo do álcool, antes destas partidas de futebol.

Na semana passada, tive a oportunidade de participar de um trabalho e dacriação de propostas com um promotor. Temos nos reunido com a direção dosclubes a fim de proibirem a venda de bebidas alcóolicas na parte interna dosestádios, bem como nas suas periferias.

O que se nota é que este consumo de bebidas, normalmente, eleva essastorcidas organizadas. O anonimato de algumas pessoas, não é na sua totalidade –não podemos dizer – utilizar esse anonimato de provocar desordens tanto antes doinício do jogo quanto ao final do jogo. É esse o registro que quero fazer.

Agradeço o convite de vocês. Muito obrigado.

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LUÍS FERNANDO COSTAREPRESENTANTE DA FEDERAÇÃO GAUCHA DE FUTEBOL

Saúdo a deputada Floriza dos Santos, demais deputados e componentes damesa.

Sou encarregado pelo Departamento Jurídico da Federação Gaúcha. AFederação - como todos os órgãos que participa dos eventos esportivos – preocupa-se com a segurança nos estádios. Para isso, temos tentado, dentro das nossaspossibilidades, ajudar e colaborar principalmente com os atributos da Brigada Militar,quando dos eventos esportivos.

Trago aqui, à guisa de exemplificação, um jogo que para nós foi o marco danossa gestão - ocorrido no mês de junho - , que foi o jogo entre Brasil e Paraguai,pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

Então, reunimos o Comando da Brigada Militar, responsável pelopoliciamento do evento, demais autoridades responsáveis, como: a EPTC (EmpresaPública de Transporte e Circulação), a SMIC (Secretaria Municipal da Produção,Indústria e Comércio) e o Procon.

Eu acompanhei isso diretamente e depois vi na imprensa, que o evento foium sucesso, sem qualquer problema. Parece-me que os eventos ocorridos dentrodos estádios de futebol - exceto essa competição internacional - também passampelas mãos da Federação Gaúcha de Futebol, na qualidade de filiada da CBF(Confederação Brasileira de Futebol). E o evento referente ao episódio ocorrido noBeira-Rio, era um evento nacional, uma competição esportiva de cunho nacional,campeonato brasileiro, no qual, efetivamente a Federação Gaúcha se incluiu noevento, como filiada da CBF e, procuramos ajudar e colaborar com a Brigada Militar.

No cumprimento, e parece-me que o Tenente-Coronel, ao meu lado, fezreferência ao Estatuto do Torcedor. Há de se ter presente que é uma legislaçãomoderna e nova, que paulatinamente está se procurando adequar. Não é fácil deaplicarmos – a meu juízo – esse Estatuto, uma legislação de primeiro mundo a umterceiro mundo e a uma cultura completamente diversa do primeiro mundo. Nestecontexto, estamos conseguindo - junto com os demais órgãos responsáveis -adequar a essa legislação.

Tenho a impressão que à contento. Acho que melhorias vão sendo feitas. Jáse vê notoriamente, nos estádios, e, na prática de segurança que isso está sendoalcançado. Friso novamente que, de forma gradativa, chegaremos talvez não àperfeição, mas a uma média satisfatória.

Então, a Federação Gaúcha, mais uma vez, coloca-se à disposição dosdemais órgãos na colaboração e na eficácia desses eventos. Muito obrigado.

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MÁRIO SÉRGIO MARTINS SILVAVICE-PRESIDENTE DO INTERNACIONAL

Sra. Presidente e demais deputados. Especialmente, ao meu colega deConselho, deputado Fernando Záchia, e senhores presentes.

O Internacional tem a mesma preocupação dos senhores em relação àstorcidas organizadas, mais precisamente em relação aos elementos das torcidasorganizadas.

Quando assumimos – e podemos falar na nossa gestão – já examinandofatos posteriores a isso, procuramos entender o que seria necessário fazer arespeito das torcidas organizadas, desde o episódio que ocorreu no Município deCaxias do Sul, no ano de 2002.

Entendemos que como em qualquer comunidade, bem como onde houverqualquer aglomeramento de pessoas, podem existir elementos que não estão dentrodo contexto. O Internacional tem obrigação de fiscalizar, assim como a BrigadaMilitar e como outros órgãos. Eu participei da reunião do Ministério Públicojuntamente do Coronel que me antecedeu.

Entendemos necessária a verificação de alguns fatos. Porém, discordo coma colocação do Tenente-Coronel, Jarbas Vanin, que não podemos aqui discutirtambém o que aconteceu no jogo Fluminense e Internacional, onde tivemos umcomportamento de elementos da nossa torcida - a torcida organizada doInternacional – a qual nós discordamos.

Mas, também temos de examinar qual foi a postura da Brigada Militar,naquele momento. Temos de examinar se aquilo foi independente da investigação.Temos de ver se naquele momento aquela postura foi a ideal, se aquilo nãocontribuiu decisivamente para os fatos que ocorreram.

Sabemos que onde há torcidas organizadas, onde há pessoas que vão emshows, pode acontecer o que aconteceu no Beira-Rio e em outros lugares outrasvezes. Estamos preocupados, fiscalizando. Nós, do Internacional, naquele momentoe no momento seguinte - que foi no outro dia - procuramos localizar onde estavamos problemas nas torcidas organizadas. Já posso afirmar para os senhores queexpulsamos ou pedimos que os diretores e os presidentes da torcidas organizadasdetectem quais eram os problemas, quais eram as pessoas das nossas torcidasorganizadas que causaram aquele transtorno.

Penso que com relação àquele episódio que aconteceu no Beira-Riopoderíamos estar lamentando coisas bem piores. Houve a participação deelementos e pessoas – não de todos – que deveriam estar ali para dar segurançanaquele momento.

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Penso que a Brigada Militar, como órgão de segurança nos estádios, devecoibir. Mas ali ela não fez só isso. Ela, além de coibir, atacou, agrediu – sabemosdisso –, usou de força desproporcional, se é que posso chamar assim.

Numa das reuniões das quais participei, alguém disse que havia os doislados. Afirmei e afirmo que nosso sentimento é o de que não existem dois lados.Existiu, sim, um comportamento inadequado da torcida, que devia ser, de plano,inibida pela Brigada Militar, com as técnicas que ela tem e que nós não temos - quea torcida organizada não tem. Deveria ter afastado os elementos que estavamperturbando.

Estamos aqui, Deputada presidente, para discutir também esse assunto,porque parece que foi para isso que fomos convidados. Esse é o interesse. Digo aosrepresentantes da Brigada Militar que sabemos que temos problemas com astorcidas organizadas e vamos combatê-los junto com a Brigada Militar, junto com oMinistério Público, junto com a Polícia Civil, junto com a Federação Gaúcha deFutebol, e com os Deputados. Mas tenho a lamentar bastante o comportamento daBrigada Militar naquele dia. Já tivemos oportunidade de registrar isso. O secretáriode Segurança Pública nos procurou no mesmo dia.

Estive, Deputada, no Hospital de Pronto-Socorro na mesma noite doincidente. Pelas imagens que foram passadas para aquele hospital, foi mandadobuscar pessoas em casa, médicos, enfermeiros, porque esperava-se muito maisgente para ser atendida. Temos que dar graças a Deus por só terem sido aquelaspessoas que precisaram de atendimento.

Sabemos que temos problemas com as nossas torcidas. Entendemos que émelhor tê-las conosco para podermos fiscalizá-las, afastar os maus elementos.Entendemos que as torcidas organizadas fazem parte do contexto do futebol.Temos a obrigação - como dirigentes - de afastar os maus elementos. Penso que aBrigada Militar tem obrigação de examinar internamente o que houve, examinaraquele comportamento.

Nós, como cidadãos – agora não falo como dirigente –, temos obrigação desaber o porquê de ter acontecido aquilo com a Brigada Militar naquele dia. É um fatopontual o que estamos discutindo. Não estou fugindo do problema e não fugirei doproblema das nossas torcidas, problema que sabemos que existe. Meu colega doGrêmio sabe que isso acontece. Estivemos presentes numa reunião e temos amesma opinião. Uma comunidade onde se reúnem pessoas, nem todas serão domesmo nível, pensando da mesma forma. Teremos elementos que vão denegrir aimagem dessa torcida, por exemplo, como no caso que estamos tratando. Sãoesses elementos que temos que afastar.

Naquele dia, nós, como torcedores, como diretores, como dirigentes,pensamos que temos que ter a segurança da Brigada Militar justamente naquelemomento em que precisávamos dela. É no momento em que ocorrem excessos,incidentes, que contamos com a nossa valorosa Brigada Militar, a qual aqui querofazer um elogio. São 168 anos de existência da Brigada Militar, conhecida no Brasil

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inteiro, exemplo de eficiência, mas aquele foi o dia não da corporação. Temos derepensar algumas coisas, como o comportamento das torcidas, e, também, asegurança que damos nos estádios. Muito obrigado.

DEPUTADO FERNANDO ZÁCHIAMEMBRO TITULAR DA COMISSÃO PAZ NO ESPORTE

Saúdo a deputada Floriza dos Santos; os deputados Jerônimo Goergen,Marquinho Lang e Álvaro Boéssio; e todos os convidados.

Deputado Estilac Xavier, vou-me ater à agenda da audiência pública destareunião conjunta da Comissão de Representação Externa e da Comissão deCidadania e Direitos Humanos. Tratarei dos acontecimentos ocorridos no EstádioBeira Rio, no dia 2 de outubro, no jogo do Internacional com o Fluminense, e dorelacionamento da Brigada Militar com as torcidas organizadas.

É oportuno que possamos fazer não só esta discussão, mas a reflexão darelação histórica das torcidas organizadas com a Brigada Militar. Sabemos – e o Dr.Mário Sérgio Martins Silva enfatizou – da excepcionalidade dos acontecimentos dodia 2 de outubro. Em outra oportunidade já me manifestei sobre esse assunto. Nãopodemos dizer que todas as torcidas organizadas têm um determinadocomportamento. É necessário separar os fatos e os conceitos de maneira muitoclara.

O Tenente-Coronel Jarbas Vanin se referia à relação documental sobre astorcidas organizadas de São Paulo, mas não podemos nem pensar em algumasemelhança. Com respeito ao Dr. Sidenir Bueno de Almeida, conheço as torcidas doInternacional e não há nenhuma semelhança. A história das torcidas gaúchasmostra, pontualmente com alguma exceção, comportamentos absolutamentediferentes com relação aos clubes, à Brigada Militar e à sociedade.

Movimentos em São Paulo comentavam que, na medida em que houveproibição da participação das torcidas organizadas no estádio, teria diminuído aviolência. Pode ter diminuído no estádio, mas não no entorno.

Aproveito, esta oportunidade, para cumprimentar os integrantes do 1ºBatalhão, que têm cada vez mais se preocupado em dar garantia, principalmentenos grandes clássicos - não somente dentro do estádio, mas no entorno. Não háconfusão, confronto ou relação de insegurança das torcidas com a sociedade. EmSão Paulo, fatos como esses ocorrem periodicamente, inclusive nos metrôs. Nestefinal de semana, foram registradas três mortes. E nós estamos a lamentar umamorte na história do futebol gaúcho.

A medida adotada em São Paulo foi importante, porque aquela cidadenecessitava de uma ação determinante. Encerraram a participação das torcidas,

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mas não diminuiu a violência. Tirou o foco de dentro do estádio, onde havia 35, 40mil pessoas que não tinham nada a ver e não podiam sofrer as conseqüências daviolência, mas transferiu para o entorno do campo, na estação do metrô.

No Rio Grande, felizmente, existe uma cultura de ambas as partes. Nãovamos falar dos 168 anos de história da Brigada Militar, mas ela efetivamente fazpoliciamento a partir de 1968. De tantos eventos em que a corporação nos dásegurança, não podemos pegar apenas um, onde houve excesso de quatro, seispraças, e responsabilizar todos que lá estavam.

Na relação com as torcidas, temos de ver o aspecto emocional, e o futebolse diferencia dos demais eventos, porque trabalha com a questão da paixão. Aquelejogo tinha um ingrediente emocionalmente negativo, porque a torcida doInternacional tinha recebido duas, três horas antes a notícia de uma decisãoabsolutamente equivocada do presidente do Superior Tribunal de JustiçaDesportiva. Isso fez com que o torcedor já fosse ao estádio com um preconceitocontra uma autoridade. Aquele juiz que tomou uma decisão que lesou o clubeestava revestido da figura de uma autoridade. E a primeira autoridade que otorcedor que está no estádio enxerga é o soldado da Brigada, que está fardado. Eleestá diante da torcida como uma autoridade. Então, a relação evidentemente já ficaprejudicada.

Honestamente, lamento essa relação entre violência e torcidas organizadas– estão aqui o Miguel Sampaio Dagnino e o Marcelo Kripka. Lembro-me de que hácerca de 10 anos, a Fico e a Camisa 12 eram um espetáculo a parte nos estádiosde futebol. Chegaram a ter quase mil participantes nos grandes jogos. Era umespetáculo bonito de se enxergar. Certamente deve ter ocorrido algum problemacom alguns maus elementos dentro das torcidas, muito bem identificados pelaBrigada, pela direção dos clubes, com a participação do Ministério Público, queforam excluídos. Mas, cada vez mais, foi-se criando um preconceito em relação àstorcidas, elas foram sendo responsabilizadas, como se fossem negativas numestádio de futebol. Hoje, elas não são mais espetáculo - com todo o respeito aoesforço que fazem. Hoje, vão ao estádio e torcem; antes, além de torcerem, tinhamessa característica de produzir um espetáculo bonito, positivo.

A sociedade no todo tem problemas, mas começaram a achar que aresponsabilidade pelos problemas era das torcidas organizadas e a criarem umconceito, inclusive os meios de comunicação – equivocadamente, aliás, porquehavia o exemplo de São Paulo – de que se havia confusão, as torcidas organizadasestavam envolvidas.

É oportuníssima a participação da comissão, para que, cada vez mais,possam aproximar-se a direção dos clubes, as torcidas e a Brigada Militar, que tema consciência dessa necessidade. O tenente-coronel Jarbas Vanin colocou comabsoluta correção que algumas estruturas dos estádios têm de ser repensadas,porque podem servir, no momento do confronto – e sempre existe a possibilidade doconfronto – de armas ou algo parecido.

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Quero também aqui discordar do que foi dito, que temos uma legislação dePrimeiro Mundo para uma torcida de Terceiro Mundo. Vejam o caso das torcidas naEuropa. A Inglaterra é um país do Primeiro Mundo, e as suas torcidas organizadassão um problema em qualquer parte do mundo, da mesma forma que as torcidas daHolanda, da Itália, etc. É que o futebol, repito, é eminentemente emocional.

A Brigada Militar, as direções dos clubes e nós, de um modo geral, quegostamos e participamos de futebol, temos de saber que estamos lidando com umpúblico diferenciado, emocionalmente envolvido, que vai ao estádio para extravasar,para torcer - o que o torna fragilizado em uma relação de confronto. É preciso cadavez mais conscientizar, e, repito, a torcida organizada conscientiza, desde que tenhauma relação sadia com a Brigada Militar e com a direção dos clubes. As duastorcidas que conheço do Internacional, a Camisa 12 e a Fico, sei que têm essarelação sadia com a direção do clube e com a Brigada Militar.

A torcida organizada tem, portanto, condições de conscientizar, de ser porta-voz em campanhas educativas, preventivas, desde que, evidentemente, a relaçãocom o seu cenário macro, com seu contexto, com a Brigada Militar e as direções,bem como com a própria federação, seja sadia e positiva. As torcidas organizadassão a essência do torcedor. Insisto nisso: é bonito, e sempre foi, ver a participaçãodas torcidas organizadas. O Sport Club Internacional parece-me que tem esse tipode relação de proximidade com elas, no sentido de, cada vez mais, fiscalizá-las paraque os maus elementos sejam depurados do processo.

Temos que fazer com que a Brigada também tenha essa relação cada vezmais intensa, e não dizer que é ela responsável pela relação, que não é verdade, emuito menos o são as torcidas organizadas daqui, só porque aquelas lá de SãoPaulo possuem uma conduta desequilibrada. Não vamos responsabilizar quem temconduta equilibrada por aqueles que não procedem dessa maneira.

Desculpem-me, pois agora terei que me ausentar, já que tenho quecomparecer a mais duas comissões que estão ocorrendo paralelamente com estaaqui, mas fiz questão de vir dar o meu depoimento, porque entendo da oportunidadeda realização dessa reunião, para que possamos fazer o aprofundamento dessadiscussão, com muita reflexão, a fim de contribuir com soluções.

MARCELO KRIPKAPRESIDENTE DA TORCIDA ORGANIZADA SUPER FICO

Bom-dia a todos os presentes.

Em primeiro lugar, gostaria de parabenizar a Assembléia Legislativa poressa iniciativa. Agradeço a oportunidade de aqui poder comparecer para esclareceralguns aspectos em virtude de tudo isso que vem ocorrendo.

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Parabenizo também os membros do Ministério Público e os representantesda imprensa que aqui se fazem presentes para abordar esse tema, haja vista sermuito importante, nesta hora, todos se fazerem representar nessa reunião na buscade uma solução para esses problemas.

O deputado Fernando Záchia, há pouco, referiu-se a respeito daproximidade das relações entre a direção dos clubes e das torcidas organizadas.Posso falar apenas pelo Inter. Há muito tempo, as relações de parceria e cobrançatem sido ótimas entre a direção do Internacional e as torcidas organizadas.

Há cerca de dois anos, nas três torcidas organizadas do Internacional, havia2.600 cadastrados. Foram feitos uma depuração, uma nova análise e um novoprocedimento de cadastramento. Hoje, não chegam nem a 800 pessoascadastradas, pois, como condição para o ingresso na torcida organizada, ocadastrado é obrigado a mostrar o comprovante de residência e a cópia deidentidade, tudo compilado em um CD, que é enviado para a Brigada Militar e oMinistério Público, para eventual análise, ou mesmo investigação e controle, senecessário for. Podemos dizer que, de 2002 até hoje, não houve nenhum problema,a não ser esse ocorrido recentemente no Beira-Rio, que foi um fato isolado.

Queria, antes de prosseguir, dar as minhas boas-vindas ao Tenente-CoronelJarbas Vanin, pois tenho certeza de que trata-se de uma pessoa com a qualestabeleceremos um diálogo muito bom. Meus cumprimentos, Tenente-CoronelVanin.

Gostaria de dar um dado a todos sobre a média de idade das torcidasorganizadas e grupos que vão ao futebol em geral. Por exemplo, na Super Fico, quetem quase 29 anos de existência e a qual pertenço já há 28 anos, essa média ficaacima dos 25 anos idade. Temos orgulho de ter, como integrantes da torcida,pessoas com 70 e até 80 e poucos anos, que viajaram recentemente conosco paraBuenos Aires e Rosário, e que estão, muitas vezes, lá em pé torcendo pelo clube.São sócias como nós e, quando parte de setores da imprensa pediram o seufechamento, choraram e emocionaram-se. Vocês não têm idéia o que significa fazerparte de uma torcida organizada.

Possuímos um núcleo, em Rio Grande, da Super Fico no qual há mais de120 pessoas devidamente cadastradas, inclusive, para o jogo de hoje estãodeslocando dois ônibus lotados para cá. Uma vez por mês esse grupo reúne-separa arrecadação de fundos destinada a instituições de caridade. Esse é o ladosocial das torcidas organizadas.

Tive a iniciativa, depois do jogo entre Paraná e Internacional, de ligar para onosso vice-presidente de Marketing para darmos início à campanha do agasalho.Imediatamente, ele falou com o Governador e com a Primeira-Dama, e oInternacional foi o primeiro a começar a campanha do agasalho, que foi um grandesucesso. Essa campanha contou com a coordenação do pessoal das organizadas,que, nos portões de acesso aos jogos, recolheram alimentos e agasalhos. Portanto,

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como referiu o deputado Fernando Záchia, esse é o lado emocional e assistencialdas torcidas organizadas que muita gente não nota.

Há dois anos, nos estádios, infelizmente temos restrições quanto ao materialque pode ser utilizado. Por exemplo, só conseguimos levar para os estádios trêsbandeiras com mastros. Até por uma proposta nossa, jogos em que se fazempresentes mais de 30 mil torcedores, procuramos não levar esse tipo de materialpara evitar quaisquer acidentes. Mais uma vez, ressalto isso ao Coronel Vanin, queestá repensando esse assunto e colocando-se à disposição para debatê-lo conosco.Isso é muito importante. Agora para quem quer dar um espetáculo, três bandeirasou nenhuma é muito pouco. Também são proibidos os balões e o papel picado.Realmente, não temos mais como dar espetáculos.

Temos essa restrição. Entendemos perfeitamente essa situação e estamosacatando essa recomendação de colocar três faixas apenas no estádio. Estamosatentos e dialogando sobre o assunto. Toda essa situação, portanto, tem que serexaminada e pensada. É muito fácil para um narrador de rádio pedir para terminarcom as organizadas, mas será que não será pior para todos?

Hoje, pelo menos, temos a capacidade de, um dia depois de um malsucedido evento, apontar pelas fotos quem estava participando da confusão. Nomomento em que terminarmos com as torcidas organizadas, teremos dificuldadesde apontar os responsáveis por esse tipo de coisa. Em São Paulo, houve êxito,durante esses dois anos, a partir dessa recomendação de não mais existir a torcidaorganizada? Não. Não adiantava nada, pois as brigas continuaram a existir. Hoje,todo o envolvimento é depurado, e as fichas cadastrais dos culpados são analisadasjunto às torcidas organizadas.

Creio que esse problema não é de tão fácil solução. Cito até umcomparativo que foi feito esses dias: para se eliminar um cachorro que tem pulgasnão se precisa eliminar o cachorro, mas sim tratar de retirar suas pulgas. É muitofácil então, como havia falado nosso vice-presidente, Dr. Mário Sérgio Martins Silva,depurar os fatos e retirar-se os elementos por meio de uma análise geral, e a nossaresponsabilidade, como torcidas organizadas, é muito grande nesse contexto.

Para não me alongar mais nesse assunto, pois há outros inscritos que irãose pronunciar, finalizo parabenizando aos deputados pela realização dessa reunião.Muito obrigado.

EDSON FERREIRA ALVESCHEFE DO COMANDO DE POLICIAMENTO DA CAPITAL

Solicitei a minha participação antecipadamente em razão de compromissosprévios que assumi. De maneira que, antes de retirar-me, gostaria de deixar algumacontribuição para refletirmos e avançarmos nesse encontro que considerarmos desuma importância.

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No Rio Grande do Sul, por ser um estado politizado em toda a suaamplitude, temos um relacionamento com as torcidas organizadas civilizado, quenos diferencia dos demais estados da Federação - o que nos levou aestabelecermos exceções que são terminantemente proibidas em outros estádios.Esse fato pontual ocorrido nos fará refletir, no sentido de incrementarmos aindamais um diálogo com as torcidas organizadas.

A Brigada Militar, historicamente, tem trabalhado com as torcidasorganizadas, tanto é que os incidentes são mínimos. Temos histórico de trabalhodesenvolvido que permite que entrem instrumentos de percussão para dentro dosestádios. Esse era um procedimento normal adotado. Vamos ter que o rever, poisuma soldado feminina do Batalhão de Operações Especiais foi atingida com umtambor, ocasionando uma lesão na cabeça, estando até agora sob observaçãomédica.

Se os fatos anteriores nos permitiam um convívio pacífico e harmônico, oque levou pontualmente a haver essa crise? Vamos ter que a avaliar também.Temos exemplos de torcidas organizadas, que não são as nossas e nem nos cabeaqui pronunciar o nome de seus clubes, promovedoras de situações muitoperigosas. Só, como exemplo, gostaria de relatar a vocês que, certa ocasião,tivemos de escoltar uma torcida daqui a Osório, sem parar os ônibus que asconduzia. Em Osório, outra unidade da Brigada Militar escoltava-a até SantaCatarina. Lá, a Polícia Militar levava-a, sem descer em nenhum restaurante, até adivisa com o Paraná e, depois, conduzia-a ao estado de destino.

Não é o nosso caso. Por isso, tivemos avanços. Esses avanços extrapolampor parte da Brigada Militar o relacionamento com as torcidas organizadas.Comemoramos oito anos aproximadamente sem termos arrastões, que, em outrosestados, têm ocorrido sistematicamente em todos os jogos, segundo informaçõesdas outras policias militares dos outros estados, com as quais, diga-se depassagem, mantemos um ótimo relacionamento. Neles, as torcidas organizadas enão-organizadas têm se agrupado e promovido tumultos e arrastões, comdestruições de vários ônibus ao final de cada jogo.

Hoje, contamos como conquista o trabalho realizado pela Brigada Militar,pois temos mantido uma conversa permanente com as torcidas. Não temos tidonenhum dano a qualquer empresa de ônibus em Porto Alegre. O Batalhão deOperações Especiais, quando entram as crianças nos estádios, com os seus pais,sob o patrocínio de empresas e da comunidade, identifica-as para o caso deperderem-se. Ocorrendo esse fato são imediatamente levadas aos seus pais, poistemos meios de comunicação atados em seus pulsos enquanto permaneceremdentro dos estádios de futebol.

Toda essa relação fez-nos avançar, como é o caso da permissão de entradados instrumentos de percussão dentro dos estádios. Agora, vamos reverpontualmente o que levou àquele enfrentamento ali. Temos que considerar asituação jurídica estabelecida pelos dirigentes da Justiça do futebol: o resultado do

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jogo, o encaminhamento do campeonato e o desenvolvimento dos demais jogosnaquele dia. Tudo isso contribuiu para que ocorresse pontualmente esseenfrentamento.

As pessoas, quando compõem uma massa organizada, têm o sentimento,primeiro, do anonimato e também, com a mesma intensidade, o sentimento deforça. Esse é o sentimento de quem participa de um grupo organizado aos moldesde uma torcida organizada. Daí a nossa preocupação de estarmos conversando efazendo-nos entender para que as pessoas tenham a compreensão de que, ali, éum local de convergirem as emoções; e não um local e momento para hostilidades.Houve um enfrentamento entre as pessoas que têm esse comportamento, deanonimato e força, maximizado pelo álcool e outros entorpecentes.

Estamos constatando essas circunstâncias presentes e, portanto, pedimosaos clubes e aos chefes de torcida que contribuam, porque, se formos fazer umabusca pessoal para inibir a entrada de entorpecentes, inviabilizaremos o jogo - jáque deve ser uma revista minuciosa. Dessa forma, os dirigentes das torcidas e osclubes de futebol têm que nos ajudar nessa fiscalização. As pessoas, então, têmesse comportamento, do anonimato e da força, maximizado, no final dos eventos,pelo efeito do tóxico e do álcool, que, por vezes, não é consumido dentro dosestádios de futebol.

Questiona-se, inclusive, não se vender a bebida alcoólica dentro do estádiode futebol. Constatamos, porém, que as pessoas já chegam ao estádioalcoolizadas, ou vindo de casa ou de outras localidades no entorno. Esse é umponto de reflexão e que queremos trazer aqui para o debate.

A Brigada considera o fato pontual. Estamos apurando excessos. Nãoadmitimos qualquer tipo de excesso, e a Brigada Militar não está aí para hostilizar atorcida ou qualquer cidadão que vá a um local para se divertir. O nosso objetivo épassarmos por qualquer evento social como anônimos. Esse é o nosso papel, e nãosermos protagonistas de agressão.

Não acredito – e tenho certeza que os senhores também não acreditam –que deixamos o nosso convívio familiar para cumprir escala e missão institucional dacorporação a fim de agredirmos ou hostilizarmos os cidadãos.

Houve excesso? Sim. As emoções ficam à flor da pele? Ficam, em todos osentornos psicológicos de massa que levam as pessoas a adotarem essecomportamento.

Tivemos dois momentos: um primeiro, que foi a agressão entre torcedores.A Brigada Militar quis evitar uma tragédia. Neste aspecto do atrito, por que agimosnesse conflito? Porque ele pode ter um efeito dominó e chegar a uma tragédia. Éfurtado um celular, ou alguém hostiliza uma pessoa. O grupo se volta contra aqueleindivíduo, e isso pode levar até ao exagero de um linchamento.

Então, quando detectamos o primeiro conflito, qual é o nosso papel? Evitar

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que ele se estenda, se dissemine e contamine os demais. É por isto que chegamoslá, para que as pessoas não se agridam.

Fomos, nesse primeiro momento, ao local e evitamos o pior, poisrecolhemos as pessoas envolvidas nesse fato do jogo entre Internacional eFluminense. Mas, quando retiramos as pessoas, a hostilidade daquele grupo sevoltou contra a nossa participação, e aí veio a agressão por meio de pedras, porexemplo.

Agora, vamos avaliar o segundo momento, que foi o retorno da BrigadaMilitar, o fato sobre o qual estamos fazendo a investigação e que é pontual.

Há um detalhe: o emprego de artefatos. O barulho que faz esse artefato quechamamos de efeito moral é que tira as pessoas do transe de agressão e de união.Foi empregada uma granada de gás lacrimogêneo, que sem dúvida é muito forte. Asprimeiras foram de efeito moral, que é essa fumaça que dá a sensação deisolamento à pessoa e o barulho que a traz para a realidade.

E se não tivéssemos feito o emprego desse artefato? Não estamosquestionando o número de artefatos empregados. Quanto ao avanço da tropa, éisso o que estamos avaliando. Mas, em algum momento, tínhamos que tirar aquelaspessoas daquele estado de agressão, porque chegaram ao ponto de arrancar oscorrimãos de metal. Temos um soldado que foi agredido na perna. O Hospital daBrigada e o Pronto-Socorro estavam cheios de policiais. Havia 11 policiais feridos.

Estas são reflexões, e este momento é oportuno para pensarmos sobre aquestão. Consideramos isso pontual, acreditamos no diálogo e que esse fato foi umexemplo. Felizmente, não chegamos ao limite de uma tragédia.

Acreditamos no diálogo – repito – e no incremento do entendimento com astorcidas. Não somos a favor da dissolução das torcidas ou da sua construção. Asociedade tem que se organizar. Ela tem a sua liberdade, e o papel da polícia éharmonizar o relacionamento no momento em que houver atrito. É só esse o seupapel, e não dizer se deve haver torcida organizada ou não.

Somos mediadores de conflito, e se houver 80 mil pessoas e não ocorrernenhum conflito, esta é uma sociedade politizada, pela qual torcemos. Mas para quehaja esse tipo de sociedade é preciso que ela seja organizada, culta, e deve haverentendimento e diálogo.

A Brigada Militar torce por isso, e não tememos a ocorrência de outros fatoscomo esse, pois estamos aí para o diálogo e estamos atentos para identificar, isso,sim, em todos os lados, na nossa sociedade heterogênea, os que não querem essaharmonia, mas o conflito. Esses, todos juntos, temos condições de identificar, depunir e banir. Esse é o nosso papel.

Agradeço pela oportunidade e peço escusas pelo fato de ter de me retirar.Muito obrigado.

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MIGUEL SAMPAIO DAGNINOVICE-PRESIDENTE DA TORCIDA ORGANIZADA CAMISA 12 DO INTE

Todos já falaram bastante, de forma que não irei repetir o que jámencionaram o Deputado Fernando Záchia, o Vice-Presidente Mário Sérgio MartinsSilva e o Presidente da Fico.

Quanto à questão sobre a qual falei duas semanas atrás, um problema quetemos, há uns três anos já tínhamos entrado em contato com a comissão e relatadoa falta do uso do nome na farda do policial militar.

O que acontece? Quando ocorre esse tipo de confusão não temos comoidentificar o policial envolvido. É colocado o colete por cima da farda, e esse coletetático não é obrigado a indicar o nome do policial, de forma que ele acaba ficandono anonimato. Se a gente chega no portão e faz uma queixa, eles perguntam onome do policial, e não temos como dizê-lo. Então, não pode acontecer nada.

Dou um exemplo para os senhores: ontem, fui parado numa blitz, algo bemdesagradável, e, quando acharam uma camiseta – que não era da torcidaorganizada, mas do Internacional –, um Sargento da Brigada Militar, do 9º batalhão,com o colete tático, perguntou-me se eu era daquele pessoal que gostava de baterem brigadiano. Infelizmente, não tenho como identificá-lo.

Se a Brigada Militar não investigar os fatos e não apurar logo osacontecimentos, isso vai continuar acontecendo.

Hoje, a torcida organizada perdeu a concessão do uso da bateria, dasbandeiras e do instrumento de sopro. O Coronel Alves falou que essa concessãonão é feita nos outros Estados. Não é bem assim, pois, hoje em dia, em todos osEstados grandes como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais não é proibido ouso desse material. Nesses Estados é onde acontecem muito mais mortes e brigasgeneralizadas, conforme vemos na televisão, e a torcida do Rio Grande do Sulacaba pagando por isso. Lá, com tudo isso eles têm essa liberação, inclusive dosfogos de artifício.

Outra questão que não foi mencionada e que não apareceu em nenhumaimagem de televisão é o momento em que a Brigada Militar entrou no meio datorcida para tentar conter uma confusão, um tumulto que já havia sido controlado.

O que ela fez? A Brigada Militar entrou - tinha cerca de 20 policiais - no meioda torcida, num estádio lotado. Entrou no miolo da torcida, num lugar onde a torcidafica concentrada e, simplesmente, abriu um clarão na base de empurrões ecacetadas. Quebrou material nosso, pisou em bandeiras, quebrando-as e continuouabrindo.

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Depois disso chegou o Major Jaques e pediu a retirada dos policiais. Ospoliciais juntaram-se numa linha e começaram a se retirar.

O que aconteceu? Como eles já haviam quebrado instrumentos, batido empessoas idosas e feito todo tipo de absurdos, o povão e alguns componentes datorcida revoltaram-se e foram para cima da Brigada Militar, em virtude docomportamento por eles demonstrado.

Só que essa primeira imagem da Brigada Militar não aparece – é o segundofato naquela ordem que foi listada. Acho que essa entrada da Brigada Militar - dojeito que entrou ali - deveria ser investigada.

Outra coisa que está acontecendo lá com a torcida, também, e eu gostariade falar. Foi apreendido no jogo, nesse que deu essa briga, todo nosso material depercussão. Ele foi quebrado na nossa frente sem a gente poder fazer nada. Essematerial foi apreendido. Foi levado para a sala de triagem do Internacional.Tentamos recuperar junto ao diretor de torcidas, no clube, mas disseram que nãoiriam devolver. A gente pediu um auto de apreensão desse material e estamos atéhoje esperando. Não sabemos o que apreenderam. Não temos nenhum retornodisso aí. Gostaríamos de aproveitar aqui e perguntar se alguns dos oficiais, aqui,sabem.

É isso, não tem por que ficar repetindo.

DEPUTADO ESTILAC XAVIERMEMBRO TITULAR DA COMISSÃO DE CIDADANIA E DIREITOSHUMANOS

Bom-dia, deputada Floriza dos Santos, coordenadora da Comissão Paz noEsporte, colegas deputados da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos,comandante do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar – BOE –,Coronel Jarbas Vanin; Comandante do 1º Batalhão, Coronel Isaias de Brito;dirigentes do Sport Clube Internacional; dirigentes da torcida; representantes daDefensoria Pública; representantes da Federação e assistência que veio a essaAudiência Pública.

Quando a comissão foi instalada, deputada Floriza dos Santos, os eventosno Beira-Rio não haviam acontecido, mas, evidentemente que se colocava nohorizonte uma preocupação com as outras situações já postas.

Tenho uma opinião sobre esse assunto. Primeiro, quero dizer que eu nãoconsidero um fato isolado, embora tenha lá que se entender o que cada um querdizer com fato isolado. Se isolado é um evento no tempo e no espaço geográfico,até pode ser, mas o que estamos falando aqui são de nexos causais e fluxos de

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informações, comunicação e orientação que determinam procedimentos. Com issoposso criar um elo de ligação entre as atitudes do Beira-Rio, os fatos que ocorreramem Sapiranga e outros tantos que eu aqui não vou enumerá-los, mas se fornecessário, farei.

Estive num debate na TVCOM, na segunda-feira posterior aos fatos, ondeparticiparam, também, o Comando do Estado Maior, o Coronel José Carlos deMoura, e o Deputado Marco Peixoto. Avaliamos esse assunto, dentre outros. Nestaocasião também tinha o enfoque da questão de Sapiranga.

Primeiro, lastreio-me na posição do ouvidor do Estado, Luiz Machado, quediz que não foi proporcional a ação da Brigada Militar naquele episódio.

Ainda, há a acusação ou denúncia de que a tropa foi que proporcionou osatos, ou seja, a uma provocação respondida pela tropa. Aí tem todas as questõesque foram faladas.

Eu, particularmente, acho, Marcelo Kripka, que o espetáculo do jogo é ojogo. Todo o resto são elementos que são colocados para motivação, para aestimulação subjetiva.

É evidente que se alguém falar que pode terminar com torcida organizadaestá indo contra a Constituição, porque a Constituição determina a livre organizaçãodas pessoas.

As pessoas só não podem se organizar para agir contra a ordem pública oucontra a lei. Evidente que tem regras que determinam, também, que as pessoas,quando estão organizadas, adquiram, primeiro, uma noção de força; segundo, umanoção de anonimato, como falaram aqui; terceiro, uma certa dissolução deresponsabilidade.

Isso pode induzir a pessoa incólume em proceder contra a ordem. Agora,todos que fizerem isso tem que responder. Para isso tem que cadastrar, tem queconhecer as pessoas, etc.

Acho isso absolutamente plausível num país democrático e civilizado. Osexcessos tem que ser punidos, e severamente. Acho um absurdo que um torcedornão possa levar à campo a bandeira, embora isso seja regra, porque as coisasaconteçam assim. Imagina um torcedor não poder levar sua bandeira, mas euentendo os motivos que levam a essa proibições.

A tropa e o comportamento da turba, ou seja, de uma multidão não podemser iguais e a reação não pode ser a mesma - na minha opinião.

A tropa é uma força organizada, disciplinada, com um comando único,armado e que tem treinamento para ação.

A turba é turba, vou classificar assim como um elemento não pejorativo,

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mas como um ação desorganizada ou coletiva que responde a ímpetos e reflexos.

A ofensa produzida à tropa não pode ser respondida da mesma forma comoresponde a turba em relação à ofensa, porque a tropa tem que estar preparada paraser ofendida - o que não significa dizer que tem que estar preparada para serapedrejada ou ter um policial desmoralizado ou ferido. Não é isso. Estou falando nacontinência subjetiva do homem que está à frente de uma turba.

Estou falando de um homem que está ali com noção de força armada,inclusive, e sob comando. Então, essa tropa tem que estar preparada, primeiro, paraque os homens não tenham ressentimento em relação ao cidadão.

Que a tropa não tenha uma baixa estima em relação àqueles que estão lá,porque ela esta trabalhando e podia estar com a família. Eles estão se divertindo ebebendo e a tropa, não, porque são coisas bem diversas. E ela não pode se revestirdo anonimato, também.

Por isso, Miguel Sampaio Dagnino, quando tu falas da identificação, éimportante.

O anonimato, na ação policial é garantida constitucionalmente somente emalguns casos, como por exemplo na força tarefa - que tem uma discussão e açõesde investigação da Polícia Judiciária. Isso é que garante, mas é legal, embora sepossa até discutir do ponto de vista constitucional alguns casos.

Então, o policial não é um anônimo, embora ele pertença a um corpofardado e organizado. Ele não pode ser um anônimo porque ele temresponsabilidade constitucional delegada pela Constituição, em nome do cidadãobrasileiro que lhe dá prerrogativas armadas em relação ao cidadão, portanto, maisrigor da lei tem que ter ele, no cumprimento. Tenho essa opinião.

A um policial armando, o escrito e rigoroso cumprimento da lei é maisexigível do que um cidadão isolado, pelas atribuições constitucionais.

Quero dizer que os fatos foram lamentáveis. Também tenho a opinião quehouve desproporcionalidade. Não posso me posicionar sobre quem começou oepisódio, porque não presenciei isso, só posso fazê-lo a partir das informações quetenho. Aí cada um tem a sua versão.

Penso que o que aconteceu, deputada Floriza dos Santos, deve servir paraum ensinamento. Eu acho. Tenho visto boa vontade. Conversei, ontem, longamentecom o Coronel Jarbas Vanin. Hoje, a disposição de vir o Comandante do Comandode Policiamento da Capital – CPC –, aqui na reunião, mostra vontade. A direção doInternacional está aqui, assim como o representante da Federação das Torcidas. ADefensoria Pública pode trazer para nós algumas outras luzes.

Eu me questiono, falei com o Coronel Isaias de Brito, ainda a pouco, que asociedade tem que pensar isso, mas sem eliminar a questão do lúdico, do jogo, etc.

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Fico imaginando: quando tem um jogo ou um espetáculo são cobradosingressos. Se é cobrado ingresso não é uma atividade de acesso público universal.Se o restrito é restrito, também não é pela limitação. Então fico a pensar como é quetodos pagamos para a segurança pública estar lá para um pequeno grupo poderassistir ou participar.

Não teria que haver um tipo de compensação, porque deslocar 500 homens,viaturas, animais, tudo isso é um custo social. Alguns podem dizer, isso está dentrodo jogo, está dentro da regra, é isso mesmo. Eu não sei se as regras não são tãoperpétuas e tão cristalizadas.

Eu acho que a federação e os times deveriam pensar nisso, porque toda vezque se deslocam 500 homens para o entorno de um estádio ou de um espetáculo -aqui vou generalizar, não estou falando especificamente no espetáculo de um ououtro público - esses 500 homens saíram de todo o resto da cidade e opoliciamento, evidentemente, baixa.

O policiamento interno, sendo uma área privada, será cabível para asegurança pública que está lá dentro? É uma pergunta, também, deputada. Estoufazendo questões sem dar respostas, porque acho que a comissão tem que trazerluzes ou informações, ou acumular em torno disso.

O que menos temos que ter é a força pública com a antipatia social. A forçapública tem que ter a solidariedade e o prestígio da população. Tem que terreconhecimento e sentir que quando está do lado de um soldado, de um praça, deum oficial, está em segurança.

No momento em que está lá dentro do estádio, homens ostensivamenteequipados com capacetes, uniformes, coletes táticos, todo um aparato numacircunstância subjetiva, inclusive desfavorável, como foi daquele jogo,evidentemente que é um barril de pólvora. O que não justifica nada. Quero dizer queé uma questão para pensarmos.

Acho que a tropa tem que ser melhor preparada. Aqui quem fala é quemnão conhece, estou dizendo assim, para ações defensivas.

A tropa tem que estar preparada para ofensiva quando é para atuar combandido armado, quadrilha, crime organizado.

Na ação do cidadão que extrapola a desproporcionalidade torna-se comoum efeito de covardia, inclusive. Dá uma imagem de ação contra pessoas que estãodesarmadas. Há crianças, mulheres, idosos - como se viu imagens - que por seremimagens podem ser indutoras de fatos muito mais negativas do que os fatosocorreram com quem estava no meio. A imagem seleciona, condiciona epotencializa.

Essa é a minha opinião. Talvez tenhamos que discutir com a Brigada Militar

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essa condução geral, mas eu registro que a presença aqui dos três comandantes éalvissareira à Defensoria Pública, à federação, porque tem direitos aí atingidos.

Acho que tem que haver um bom esclarecimento dos fatos e se tocar paranovas medidas, mas acho que tem que se pensar, sinceramente, nessa conduçãointerna nos clubes e como tratamos os aparatos. Parece-me que aí pode estar umprincípio de solução. No entanto, essa questão cabe também aos clubes. Sei que hádiscussão sobre esse assunto, pois envolveria custos, mas a sua importânciatranqüilizaria os dirigentes e as torcidas.

Não participo da comissão, mas como ela é oriunda da Comissão deCidadania e Direitos Humanos, toda vez que a reunião for realizada nestes horários,farei questão de participar, porque se trata da relação da força pública com asociedade, com os cidadãos.

DEPUTADO MARQUINHO LANGMEMBRO TITULAR DA COMISSÃO DE CIDADANIA E DIREITOSHUMANOS

Saúdo a deputada Floriza dos Santos; os deputados Nelson Härter e EstilacXavier; a representação do Internacional, do Grêmio, das torcidas organizadas, daDefensoria e da Federação; os comandantes Isaías Brito e Jarbas Vanin; e assenhoras e os senhores.

Sou colorado e brigadiano. Não estava na torcida, nem na tropa. Sãomomentos diferenciados. Quando fiquei por sete anos na ativa, sempre tive muitocuidado nas minhas atitudes, até porque recebi treinamento específico e fui muitobem treinado. Mas o policial é um ser humano como os torcedores.

A situação criada em torno desse jogo especificamente – estamosdebatendo esse jogo e essa situação –, fez com que pela parte da manhã osecretário de Estado da Justiça e da Segurança, José Otávio Germano, anunciassenuma emissora da Capital, preocupação com a partida que seria realizada entreInter e Fluminense, na parte da tarde. O Inter, que era o primeiro colocado antes dasituação criada, dos jogos terem sido cancelados e da necessidade de realização denovas partidas, caiu para o terceiro lugar.

Acompanhei a transmissão das rádios da Capital e a chegada dostorcedores ao estádio era preocupante. Assim como o Secretário já havia falado namanhã de hoje. E também com relação à segurança, de que aumentaria o efetivo eque teria um cuidado especial com os jogos e as situações que poderiam sercausadas durante ele.

Os torcedores estavam irritados com a situação criada e, escutando asrádios, deparei-me com uma situação e fiquei preocupado com o que estavaculminando para o jogo na parte da tarde: a reação, tanto por parte da torcida,

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quanto da Brigada Militar. Um dos posicionamentos que sempre tive e que coloqueina última reunião desta Comissão é que tinha certeza de que o Comando buscarialevantar os fatos e veria se houve excesso ou não da ação da Brigada Militar e dapolícia. Sei disso porque fui da tropa.

Quanto às reações da torcida e da Brigada Militar, sempre digo que a todaação cria-se uma reação. Por isso, esse confronto que houve deve ser analisadonas duas partes: tanto da torcida organizada quanto da Brigada Militar. Esseposicionamento, deputada Floriza dos Santos, e esse trabalho com relação a essarepresentação externa da pasta de esporte vai ser fundamental.

Com relação ao que foi falado antes sobre a identificação do policial, obrigadiano é totalmente identificado, mesmo não tendo a tarja do nome, porque eleé da segurança pública, bem como representação do Estado e está sempre sob umcomando. E toda a situação criada e a ação realizada pelo policial é sempre deconhecimento do comando e daqueles que estão à frente da tropa.

Mas a questão da identificação não é o problema, até porque os torcedorestambém não são identificados e, no confronto que há entre os movimentos sociais,como já foi colocado, não são identificadas as pessoas, especificamente.

Nós colocamos o trabalho desta Comissão, parabenizando V. Exa.,deputada Floriza dos Santos, por essa ação, que é ampla.

Quanto à questão de continuar ou não a torcida organizada, já foramcolocados aspectos da situação em São Paulo, onde acabaram com as torcidasorganizadas e não acabou a violência nos estádios.

Penso que, com um grupo mais identificado, é bem mais fácil apontaraqueles maus torcedores e não sou contra as torcidas organizadas, de formaalguma. Mas os excessos e, principalmente, essa situação de entrada de materialdentro dos estádios deve continuar como está, ou seja, com total restrição, porque,infelizmente, nós também temos entre os torcedores maus elementos.

Deputada Floriza dos Santos, estamos à disposição na realização dessetrabalho de representação externa. Aproveito para parabenizar V. Exa. porque,conforme mencionado antes, ela foi criada antes desses fatos, os quais, certamente,não serão os últimos. Teremos outras situações semelhantes, até porque somosseres humanos, tanto por parte da torcida quanto da Brigada Militar.

DEPUTADO NELSON HÄRTER

Saúdo a deputada Floriza dos Santos e os demais integrantes das duascomissões que estão trabalhando com a Paz no Esporte. Também querocumprimentar os representantes das torcidas organizadas e da Brigada Militar.

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O deputado Estilac Xavier falou sobre a cobrança dos ingressos nasrealizações de eventos particulares. Quero aproveitar a presença dosrepresentantes da Brigada Militar para perguntar qual o número de policiais que sãodeslocados nesses dias de jogos, que ocorrem normalmente aos sábados,domingos e quartas-feiras? Qual o número do efetivo da Brigada Militar em PortoAlegre? E o que isso significa no número do efetivo, ou seja, em termos dediminuição do efetivo, isso tem alguma implicação? Como é que a Brigada Militarfaz? Se ela tem um efetivo x, que não sei agora quantos policiais são, e, se sãoretirados para fazer segurança no estádio, como é que isso é feito? Como é feita asegurança normalmente no Município?

Após a manifestação do colega, surgiu esse questionamento. Emdeterminada ocasião, alguém falou-me que haveria um convênio com os clubes defutebol em termos de remuneração para o poder público. Na verdade, não sei seisso existe. E penso que o questionamento do deputado Estilac Xavier foi muitointeressante no sentido de ampliarmos essa discussão, porque vemos hoje apreocupação por parte da população, que gostaria de ter mais policiais na rua.

Vemos também as reivindicações das torcidas organizadas, que querem asegurança nos estádios, conforme mencionado anteriormente, preparada para essetipo de situação diferente da segurança normal, pois lá existe a emoção do jogo.Eles não são bandidos, são pessoas comuns. Sabemos que existe uma série depeculiaridades que a Brigada Militar é treinada, para as quais ela tem preparo. Mas,por outro lado, sabemos que a situação do dia-a-dia se agrava: a cada dia quepassa, são policiais, seres humanos que também têm suas famílias, suaspreocupações.

Uma série de questões estão em jogo. E como disse o deputado MarquinhoLang – não sabia disso – pela manhã já havia a preocupação com relação aosânimos desse jogo, especialmente neste dia. Nós, que gostamos de futebol esabemos do significado do esporte na nossa vida, o que pode ocorrer com umincidente nesse sentido?

Não sei se o senhor teria condições de me responder, ou, posteriormente,enviar-nos um documento que regulamente isso, pois gostaria de ter maisinformações a respeito dessa questão, porque não vim preparado para fazer essadiscussão. É importante, para podermos nos aprofundar no tema e buscaralternativas para equacionar essa questão da segurança pública.

JARBAS VANINTENENTE CORONEL - BOE

Havia uma lei sobre a remuneração ao Estado pelos clubes. Ela está sobjúdice há oito anos, em Brasília.

O que acontece é que todas as direções de clubes nos enviam uma

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projeção do número de ingressos que serão colocados à venda. E, em função dessenúmero de ingressos, fazemos nosso planejamento.

Temos um estreito relacionamento com os clubes, eles nos passam quantosingressos serão colocados à venda e a previsão de quantos não-pagantesingressarão no estádio, bem como os portões que serão abertos, ou seja,descrevem-nos todos os fatos.

Para que façamos esse trabalho, tendo dois grandes clubes em PortoAlegre, disputando dois campeonatos, o nosso efetivo de Porto Alegre, falando nocomando de policiamento da capital, temos de fazer um remanejo muito grande deefetivos. E esses efetivos, obviamente, são retirados do policiamento, o que é umdesgaste muito grande para o policiamento. Mas essa é uma realidade.

Nessa situação, o Estado lança mão de horas extras. Um policial militartrabalha num regime de 40 horas normais, e, para que ocorra essacomplementação, ele passa a trabalhar num regime de horas agregadas. Esse é umoutro problema que estamos discutindo, porque o Estado tem de aportar recursospara que possamos pagar.

Hoje a legislação prevê que o policial militar, como todo o trabalhador,trabalhe 40 horas. O que exceder a isso, “eu posso” – entre aspas –, num poder deimpério, lançar mão e fazer com que ele trabalhe mais horas. Mas para isso oEstado tem de remunerá-lo. Se o Estado não tiver condições de remunerá-lo, tenhode compensar as horas trabalhadas.

Realmente, há um desgaste de efetivo – essa é uma realidade, mas nãoestou dizendo que não vamos fazer isso. Nós lançamos mão de efetivos do própriopoliciamento. Neste jogo de hoje, que vai ter em média 50 mil pessoas, vamoslançar mão de toda a reserva que dispomos em Porto Alegre. Ninguém vai ter folga,do meu batalhão todos estarão lá, do Comandante ao último Soldado. Estarão lá obatalhão de operações especiais e toda a reserva dos pelotões de operaçõesespeciais de todas as unidades de Porto Alegre.

Com relação à denúncia feita pelo Miguel Sampaio Dagnino, quero dizer aele que ela está feita. Esse policial tem como ser identificado. Foi um equívoco falarque ele não pode ser identificado, porque, para estar naquele local, ele estavadevidamente escalado e, portanto, tem como ser identificado.

Quero te dizer que a denúncia está feita e que estás convidado a ir naCorregedoria da Brigada Militar para formalizarmos a denúncia. E, se tivesses mefalado, nas duas reuniões que nos encontramos sobre a questão dos instrumentos,poderia ter respondido, porque desconhecia o fato.

Mas estivemos juntos nas duas reuniões e não me passaste essainformação, pois poderia ter resolvido essa questão de uma forma bem maissimples.

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Não sei, deputado, se respondi a seus questionamentos?

DEPUTADO NELSON HÄRTER

O senhor sabe informar o número de policiais que são deslocados para osjogos?

JARBAS VANINTENTENTE CORONEL – BOE

Foi o que tentei lhe dizer. A federação nos manda a projeção de ingressos,e, a partir daí, fazemos o planejamento, ou seja, planejamos a partir desse públicoque vai estar presente.

DEPUTADO ESTILAC XAVIER

O senhor poderia nos dizer, em socorro da pergunta do deputado NelsonHärter, qual é o número do efetivo da capital e qual o número máximo que já foicolocado em ação? É só para termos idéia dos limites.

JARBAS VANINTENENTE CORONEL - BOE

No último jogo do Beira-Rio, tivemos, dentro do estádio e em volta dele, emtorno de 600 homens envolvidos no evento.

DEPUTADO NELSON HÄRTER

E o efetivo de Porto Alegre, qual é?

JARBAS VANINTENENTE CORONEL - BOE

O efetivo de Porto Alegre, deputado, está, aproximadamente, porque nãotenho condições de lhe dizer agora, porque fui pego de surpresa, em torno de 4 milhomens.

Mas deve ser feita uma consideração. A Brigada Militar também trabalha porforça-tarefa. Se tivermos que mobilizar o efetivo dos comandos regionais, temoscomo fazê-lo, como ocorre nos grandes eventos.

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Cito, como exemplo, o Fórum Social Mundial, onde pegamos toda a reservada Brigada Militar e trazemos para Porto Alegre. As polícias modernas, em todo omundo, trabalham dessa forma por economia de meios. Elas não têm maisreservas, elas são diluídas para que o Estado seja inteligente nesse lançamento.

Eu não tenho motivo para manter reserva, se as tenho em Caxias do Sul,Santa Maria, Pelotas e Passo Fundo. E, quando há, pontualmente em torno de trêsvezes por ano, eventos dessa magnitude, a Brigada Militar traz essas reservas paraPorto Alegre. Ela mobiliza, completa e, depois, devolve para fazer esses eventos. Éassim que funciona.

DEPUTADO NELSON HÄRTER

Pelo que entendi, os clubes pagavam essa contribuição, mas não sei se nãopagam mais; isso ajudaria o pagamento das horas extras dos homens, do efetivo?

JARBAS VANINTENENTE CORONEL - BOE

A impressão que tenho é que essa contribuição, como o deputado falou,seria para o ressarcimento do Estado daquilo que é privado. Estou falando por mim.Um evento esportivo, embora reúna pessoas, é um evento privado, pois se pagaingresso para entrar e há um custo alto para o Estado para fazer isso. Isso seria umressarcimento para o Estado. Não sou eu quem vou receber. É o ressarcimento dadespesa que o Estado despende para o pagamento das horas extras desseshomens.

DEPUTADO NELSON HÄRTER

Gostaria que, posteriormente, o senhor encaminhasse esse material paracá. Eu me coloco à sua disposição para receber essa legislação, ver a lei, asportarias e como esse cálculo é regulamentado. Gostaria de ter mais detalhesporque o momento é adequado para que façamos essa discussão.

Registro aqui o meu reconhecimento ao trabalho da Brigada Militar.Sabemos o quanto a Brigada Militar é importante para a segurança de todos nós,bem como conhecemos os problemas que ela enfrenta. Neste momento, eu mecoloco à disposição para tentar ver em que se pode colaborar no sentido de atéviabilizar uma legislação, porque parece que esse assunto nunca foi discutido comprofundidade nesta Casa. Este é o momento para aproveitar e até reunir os clubesporque isso não ocorre só aqui na capital. A abrangência desta lei vale para todosos clubes do Estado do Rio Grande do Sul.

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Até poderíamos, numa outra ocasião, Deputado Estilac Xavier, fazer umadiscussão a respeito desse tema porque, pelo que vi, ele envolve uma proporçãomuito grande de efetivo. Sabemos hoje qual é a deficiência de efetivo no nossoEstado. Por isso nos colocamos à disposição para contribuir e tentar encontrar umaalternativa para nos somarmos ao atendimento da segurança que toda a populaçãogaúcha pretende neste momento.

JARBAS VANINTENENTE CORONEL - BOE

Deputada, eu poderia fazer mais um esclarecimento? Quando iniciei aminha fala, falei, em tese, sobre as teorias que motivam as pessoas. Em momentonenhum, eu me coloquei contrário à torcida organizada. Muito pelo contrário, formeiopinião pessoal devido ao contato que tive com os clubes. Faz uma semana queestou comandando esse batalhão e já me inteirei do problema e tentei conhecertoda a legislação, ou seja, tudo que é possível conhecer.

Concluí que a torcida organizada aqui no nosso Estado tem mesmo umgrande diferencial e é ela que vai-nos servir de apoio para a paz nos estádios. Tiveum contato pessoal com os dirigentes das torcidas organizadas, tanto do Grêmioquanto do Inter, mas vou falar especificamente sobre os presidentes delas que mepassaram a idéia de serem pessoas muito interessadas, muito responsáveis, quetêm o maior interesse em mantê-las.

Agora vou falar sobre uma questão pessoal. Quando vou aos estádios – fuiao estádio do Grêmio assistir à partida e fui ao estádio do Internacional –, realmentenão há como desconsiderar as torcidas organizadas, mesmo eu sendo um técnico.Estando lá, fiquei cativado e muito emocionado com o que se passa no estádio. Issoé uma realidade que não podemos desconhecer.

Quero falar ao Vice-Presidente Mário Sérgio Martins Silva sobre a nossapreocupação: o senhor tem toda a razão quanto à afirmação que fez. Quando euquis dizer, em tese, que não falaria sobre o evento especificamente é por questãolegal. Não posso me manifestar e emitir palpite de mérito, porque, senão, ficoresponsabilizado porque o inquérito poderá apurar o contrário. Espero que o senhorcompreenda isso. Portanto, é uma questão de responsabilidade. É evidente quehouve excesso que o próprio Coronel Edson Ferreira Alves admite. Não podemosnegar isso porque as imagens são claras.

O Deputado Estilac Xavier e eu ficamos conversando por longas horas, poistive a honra de recebê-lo em meu gabinete. Ele vai inclusive fazer contato com anossa tropa e vai conversar com os nossos oficiais. Há um convite para ele dar umapalestra para o curso de aperfeiçoamento de oficiais. Isso é muito importante paraesclarecermos vários fatos e ouvirmos as opiniões.

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Também quero dizer que o policiamento tem uma grande dificuldade.Temos um problema sério que não podemos esquecer: 50 mil pessoas no estádio.Vamos fazer uma análise: o que podemos imaginar? Estou já imaginando oseguinte: quanto menos a presença de policiamento ostensivo lá dentro, acho que atorcida organizada e as pessoas podem-se organizar melhor. Temos de terpreocupação, como eu disse, porque temos crianças, homens, mulheres, portanto,temos pessoas como nós. Vivemos esse problema também. Eu também vou acampo de futebol. Também torço como qualquer outra pessoa que está aqui.

O que acontece? Se houver um incidente que tome proporções, temos deagir de pronto para que não tome uma proporção de algo que vá terminar em morteou em dano muito grave às pessoas. Essa é uma preocupação. Então, o momentodessa decisão é que quero que fique claro, é um momento muito crucial para ocomandante da operação. Se ele faz uma operação inadequada, e só tem ummomento para decidir, se decidir errado, bota a perder toda a operação. Isso é umarealidade.

Então, o que fiz? Tive um incidente, mas não vou dizer em que estádio, sótive um pequeno incidente pontual que constatamos no momento. Que decisãotomei? Arrisquei e mandei retirar o efetivo imediatamente, correndo um riscotremendo. Retirei o efetivo, e a torcida se apaziguou. Vou tirando conclusões arespeito disso.

O que aconteceu? O que quis dizer na minha fala, Sr. Presidente, é que nãopodemos esquecer que a torcida institucionalizada é solidária. Eu lhe falava issoontem. Sou um intruso lá dentro, e não posso negar essa realidade. Querendo ounão, mesmo sendo da segurança pública, sou um intruso para a torcida. Tenho deter cuidado, porque a torcida é solidária consigo. Dali a pouco, a torcida me vê comoum inimigo. Ela não pode me ver como inimigo, mas não adianta eu pedir que elame veja como inimigo, pois o fator é psicológico.

Se eu for estacionar o meu carro num local proibido, e um policial militarparar do meu lado ou um agente de trânsito, dizendo: Tira teu carro daqui, porque tunão podes ficar estacionado aqui. É evidente que, por ser um ser humano, vousentir raiva porque ele vai internalizar a figura do meu pai ou de alguma figura deautoridade que está me dizendo um não. Vou ter uma resposta para dar. Muitasvezes, vou ficar só com raiva, vou ficar bravo, como o Miguel Sampaio Dagnino foiparado e ficou ultrajado e tem toda a razão. Eu me coloco no seu lugar porque temtoda a razão.

Temos de tomar providências a respeito disso. Isso não pode ficar assim,porque não é coisa que um policial diga para um cidadão. Eu não concordo comisso, nem poderia concordar. Ele tem de ser profissional e, estamos em buscadisso. Mas, temos de corrigir esse problema, tomando atitudes, pegandodepoimentos e responsabilizando as pessoas. Essa é a grande verdade.

O Deputado Estilac Xavier fez uma colocação muito importante quandodisse que o episódio não é pontual. Não podemos analisá-lo tão friamente e dizer

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que é pontual. É muito simples: venho aqui e digo que ele é pontual. Não, ele não épontual porque, quando a força pública age com violência, temos de examinar,avaliar e responsabilizar.

Houve fatos, como falou o Deputado Marquinho Lang, que levaram a essatensão. Temos que buscar a distensão, conversando com as direções dos clubes,Coronel Sidenir Bueno de Almeida e Dr. Mário Sérgio Martins Silva, vejo que há uminteresse muito grande em buscar isso conosco que vamos buscar isso.

Em cada jogo, vamos discutir e aprender fatos novos. O Sr. Vice-Presidenteda Federação disse algo importante. Na verdade, criamos uma legislação – e eu lhepeço desculpas porque não quis colocar em momento nenhum a Federação –apenas fiz uma constatação. Às vezes, criam-se leis, o que é uma dificuldade para aimportância de um clube. Realmente, os clubes têm dificuldade de cumprir o queestá escrito aqui.

Por exemplo, eu gostaria de liberar os instrumentos, aliás, eu não proíbo osinstrumentos porque nem sou competente para isso. Apenas fizemos umadiscussão sobre o assunto. Vamos liberar isso no futuro, mas temos de entenderque estamos numa situação que realmente precisa voltar ao seu normal. Acho quetêm de levar o tambor, a corneta, a bandeira.

E mais: aqui foi dito que têm de levar as crianças. Eu levo o meu filho aoestádio de futebol, porque ele tem de torcer, tem que se socializar lá dentro. Ele temde aprender isso. E nós temos de buscar isso e, vamos buscar.

Vamos estabelecer alguns aspectos que são necessários para a segurançade todos nós. A Polícia Militar está lá para garantir a segurança. Ontem estivemosno jogo com o Internacional e fomos recebidos pela administração do Inter quandoficaram estabelecidas algumas coisas que vão acontecer.

Diante disso, o Internacional e o Grêmio fizeram algumas obras. Quero dizerde público aqui, Sra. Deputada, que foi muito importante a preocupação daadministração desses clubes. Não negamos isso. Admitimos isso. Eu disse quehavia problemas, mas também há uma preocupação muito grande dos clubes. Sesomos responsáveis, eles têm consciência da responsabilidade tanto penal quantocível da parte deles. Se houver algum dano a pessoas lá - tanto para nós quantopara o público - os clubes têm responsabilidade muito grande, porque o estatuto émuito severo com eles.

O esporte não pode ser inviabilizado por isso. Nós, da segurança pública,temos que ter consciência de que houve erros, excessos. Nós admitimos e vamoscorrigir essa situação, e tenho certeza que, com a postura de diálogo, conversandocom os clubes, efetivamente vamos voltar a ter anos e anos sem ter maisproblemas.

Pontualmente, um ou outro torcedor, um ou outro policial poder-se-áexceder. Mas o que não podemos admitir é que essas pessoas não sejam

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responsabilizadas.

Os torcedores poder-se-ão exceder, porque não há evento em que nãoretiramos algum deles – e aí entra um outro dado que muito me assusta, pois setrata de menores. E temos tudo registrado: são pessoas que fazem uso de drogas.Mas essa é uma realidade internacional, não é local, e temos de saber agir diantedela.

O Coronel Isaias de Brito referiu algo que temos de repensar e queconsidero ser o principal: a questão de uma legislação da venda de bebidasalcóolicas no entorno do estádio.

Dentro do estádio, esse não é o problema, porque há uma dificuldade muitogrande para o torcedor ir tomar uma cerveja. Ele consegue, no máximo, tomar umcopo de cerveja, e os ambulantes não transitam no horário do jogo, quando se estádesenrolando o espetáculo, porque a própria torcida não o permite. Ele tem umadificuldade muito grande para transitar. Mas o grande problema é o entorno docampo de futebol. Este é um grande problema, esta bebida alcóolica.

Para terminar, deputada, se me expressei mal no início, dando a entenderque tenho reservas com relação às torcidas organizadas, quero dizer que isso nãoocorre. Muito pelo contrário: pela impressão que me passaram, as torcidasorganizadas tanto do Grêmio quanto do Inter têm muito a contribuir, uma vez quefiscalizam e controlam.

Em um segundo momento, vamos discutir com a torcida organizada a formade ela poder nos auxiliar no início do evento, para que não precisemos atuar sem aparticipação ou sem a avaliação de algum de seus componentes.

Por exemplo, se está havendo um evento, mantemos contato direto com oMarcelo Kripka ou com o Miguel Sampaio Dagnino, que nos podem dizer: Olha,precisamos da intervenção da Brigada Militar. Avaliamos a situação por meio dascâmaras de televisão e da visão que estamos tendo, mas o parecer da torcidatambém é muito importante, porque dali a pouco podemos cometer algum equívocode avaliação, e isso, como disse, é perigoso. Se cometermos um equívoco,podemos criar um problema sério.

Na verdade, foi lastimável isso que aconteceu e, como disse o CoronelEdson Ferreira Alves, graças a Deus não temos que lamentar nenhum dano maior àvida de alguém, porque isso seria terrível tanto para o Rio Grande do Sul quantopara nós da Brigada Militar.

Não me sinto tranqüilo, sinto-me muito incomodado quando vejo minhainstituição atingida por esse episódio, porque ele atinge também a mim, e não negoa minha parcela de responsabilidade, na medida em que sou instrutor e comandantede batalhão.

Muito obrigado.

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LUIZ ANTÔNIO LOPESPRESIDENTE DO DEPARTAMENTO JURÍDICO DO INTERNACIONA L

Bom-dia às Sras. e aos Srs. Deputados e aos demais participantes damesa.

Vou procurar ser rápido, até porque estou falando depois de muita genteque tem mais facilidade. Posso deixar de falar muito do que já foi falado e possoconcluir com base no que os outros falaram.

Estou nesta diretoria do Internacional há quatro anos e, que me lembre,tivemos só dois episódios graves no Rio Grande do Sul – pelo menos queenvolvessem a minha área –, que foram, se não estou equivocado, um registradoem 2002 e, agora, esse último.

Embora não seja pontual o assunto, no Rio Grande do Sul graças a Deusessas situações ainda não são do dia-a-dia.

Naquele primeiro evento, que não envolveu torcida organizada doInternacional – isto tem de ser dito –, houve um conflito em Caxias; houve umabomba, foi algo individualizado, mas que tinha torcida organizada no meio. Dali, emcontato com a Brigada Militar – fizemos também um trabalho muito bom deidentificação de todos os torcedores, junto ao Ministério Público. Desde aquelaépoca temos todos cadastrados, sendo que esses disquetes são enviados para aBrigada e, acredito, também para a Polícia Civil.

Estamos cumprindo isso, a coisa foi bem nesse sentido. Quanto à BrigadaMilitar, evidentemente nesses quatro anos também só vi um episódio, que foi esteúltimo, porque naquele a Brigada não estava envolvida.

Então, eu acho que é muito bom porque os fatos ainda não nos atingem damesma forma como está acontecendo lá em cima. Olhando de maneira prática, esteúltimo episódio nos mostra que a Brigada Militar tem que continuar agindo damesma maneira, ou seja, investigar e fazer uma avaliação para saber em que pontoerrou.

Embora eu não faça parte das torcidas organizadas, mas do jurídico doInternacional, ainda assim, no dia seguinte ao episódio, assisti a todas as fitas dascâmaras internas e externas e cheguei à conclusão impressionante de que os maisviolentos naquela agressão não pertenciam às torcidas organizadas.

Ao fazermos a identificação daqueles que participaram das agressões, anossa idéia era de retirarmos os bagunceiros da torcida - o que realmenteaconteceu. Mas também verificamos que havia um número maior ou igual de

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torcedores que não pertenciam às torcidas organizadas, além disso, um dosparticipantes do episódio havia sido excluído da torcida há dois anos, por meio deum processo judicial. Ele estava sem o uniforme da torcida, mas como pagou aentrada, podia entrar.

Agora, junto com as torcidas, estamos identificando tantos os que são comoos que não são da torcida, para, a partir daí, fazer uma representação junto aoMinistério Público identificando com fotografias aqueles que criaram aquele episódiopara cima da Brigada Militar.

Neste ponto a lei nos favorece, posto que pode haver um processo legalcom a possibilidade de excluir esses torcedores do estádio. Eles terão que seapresentar na delegacia no dia e na hora do jogo. Esta é a única maneira possívelpara limpar isso aí. E vamos limpar, podem ter certeza.

Por meio do trabalho realizado em conjunto com a Brigada Militar e com aPolícia Civil, talvez possamos identificar aqueles que nós desconhecemos, mas queestão identificados por fotografias. A partir desse ponto acho que começamos atrabalhar certo.

Quanto ao problema das Brigadas nos estádios, discordo. Acho que nãopodemos trabalhar sem a Brigada nos estádios. Em vez de afastarmos a Brigadados estádios, temos que aproximar a Brigada dos torcedores. O trabalho que oCoronel está fazendo me parece certo.

No momento em que houver compatibilidade entre a torcida organizada e aBrigada Militar, haverá também com todos os demais torcedores. É muito mais fácil.Temos que aproximar este trabalho, o que já estamos fazendo, mas precisamosmais.

A minha idéia é esclarecer o excesso provocado pela Brigada, o queinegavelmente ocorreu. Há pouco, ouvindo o Deputado, tive uma noção do queaconteceu, sem ser técnico. Penso que houve excesso de cuidado porque estavaprevisto um clima de muita animosidade e isso tenha levado a tropa aimediatamente liquidar com qualquer outra possibilidade. Tecnicamente isso talvezseja correto, mas as bombas que servem para dispersar, criaram pânico.

O torcedor do Rio Grande do Sul não está acostumado, graças a Deus, comessas bombas. Muitas das pessoas foram feridas em função desse pânico.Contudo, a Brigada está fazendo o que precisa fazer e o Internacional também.Contamos com a colaboração.

Quando tivermos outro problema, vamos fazer a identificação de imediato eencaminhar para o Ministério Público para que o sujeito que participar de agressõesseja julgado e impedido de participar de outro jogo durante um ou dois anos. Porque isso se espalha.

Se tomarmos essa medidas com 10 ou 15 bagunceiros, a tendência é

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mudar. O que nós queremos é ir ao jogo para nos divertirmos, todo mundo vai lápara isso, se alguém vai para lá para fazer outra coisa, temos de excluí-lo desseespetáculo. Essa é a minha manifestação.

MARÍLIA APARECIDA OLIVEIRADEFENSORA PÚBLICA

Sra. Deputada, Deputados e demais presentes.

Agradeço pelo convite. A Defensoria Pública está atenta nesta questão.Designou dois defensores públicos para atender o cidadão que procura a DefensoriaPública em busca dos seus direitos para uma eventual ação de reparação de danosmorais, materiais, porque as pessoas foram – entende-se – ao estádio para assistira um espetáculo. Há pessoas que foram com seus filhos, a família inteira ao estádioe encontraram essa situação, totalmente desagradável.

Sobre o que o Deputado Estilac Xavier falou, fiquei ouvindo atentamente econsiderei muito pertinente se era da competência da Brigada Militar ou não deestar dentro dos estádios, para fazer esse trabalho.

Todas essas reflexões que aqui foram feitas, serão repassadas aos meusdois colegas, que foram designados para atender essas pessoas. A DefensoriaPública estará presente nesse caso. Muito obrigada.

SIDENIR BUENO DE ALMEIDADIRETOR DE SEGURANÇA DO GRÊMIO

Agradeço o convite da Sra. Deputada. Cumprimento a Deputada, os demaisDeputados desta Casa e as pessoas que estão nos ouvindo.

Quando recebemos o convite, era específico a um fato ocorrido no SportClube Internacional. Não podíamos nos furtar de estarmos aqui, porque o queocorreu lá, pode ocorrer também no Estádio do Grêmio.

Parabenizamos pela iniciativa. É necessário que se estabeleça um fórumpermanente de discussões para tirar definitivamente, ou minimizar a violência nosestádios de futebol.

Como dirigente dessa área a minha preocupação é muito grande.Realmente, em todo o evento, na sua antecipação, no seu planejamento, tentamosdimensionar como poderá se desenrolar, porque é uma expectativa apenas.

O futebol é momento. E estamos num momento do futebol muito fragilizadoem relação ao país como um todo. Refletem-se dentro do campo, envolvendo suastorcidas. Somos favoráveis às torcidas organizadas, trabalhamos no Grêmio para

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que estejam sempre sob controle e numa parceria, numa via de mão dupla, estamospermanentemente em contato para que em dia do jogo não aconteça nenhum fatodesagradável.

Estamos lidando com um comportamento de massa. O inconsciente coletivopredomina nesse momentos, por mais planejado que seja feito o evento. E nós, noGrêmio, temos a preocupação de, quando fazemos o planejamento, verificar tudo oque envolve o próximo jogo. Sempre convocamos as torcidas organizadas para queelas também estabeleçam os seus limites dentro do campo. O jogo envolveliberação e repressão.

O Deputado Estilac Xavier falou que “o espetáculo do jogo é o jogo”.

Eu discordo - no sentido que o jogo envolve muito mais do que os 90minutos da partida. Ele envolve desde a mídia, os dirigentes, os torcedores e opoder público. Não se pode dizer aqui que vamos fazer um espetáculo, semenvolver o poder público. Ele envolve as federações, as famílias dos atoresprincipais - que são os jogos.

O que queremos dizer é que como lidamos com a emoção, fica muito difícilde planejarmos, prevermos, executarmos e terminarmos com o sucesso.

Aqui, partilhamos da idéia de que a Brigada Militar não pode se afastar dosestádios. É preciso fazer uma discussão e ver exatamente quais são os seus limites.

Não podemos desconsiderar que quando vão 50 mil pessoas – como éesperado hoje no Beira-Rio, bem como uma expectativa de 40 mil para o Olímpico -no sábado - o poder público vai dizer que continuará a fazer o policiamento no altodo morro, na vila e no centro. Isso é um problema particular, não é?

O deslocamento de um número dessa magnitude envolve comércio, umasérie de pessoas e atividades que o poder público não pode virar as costas. Énecessário estudarmos melhor isso e ver quais os limites do poder público e quaisos limites do poder privado - que é o clube.

Se formos substituir Brigada Militar pelo policiamento interno privado épreciso levar em consideração de que não temos o poder de polícia para agir dentrodo Estado. Quem recolhe, quem diz que é infrator, quem fará a lavratura do atoilícito, é a Brigada Militar e não o poder privado.

Posso considerar privado uma festa na minha casa que contrato trêsseguranças; uma festa num clube, contrato cinco seguranças e pago para isso.Então, reunirei 50 ou 100 pessoas. Isso que é privado.

Aonde se reúne em torno de 50 mil pessoas, deixa de ser privado. Esta é aminha opinião. Estamos preocupados com isso. Não vamos aqui discutir no fato emsi até porque isso ocorreu no Internacional, mas distante dele.

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Entendemos a função da Brigada Militar e também entendemos uma coisaque é muito importante que não foi colocada que é a questão do estresse funcional.

A Brigada Militar pela falta de efetivo, tem que remanejar o seu efetivo e oseu efetivo vem sendo sobrecarregado –até de funções que, muitas vezes, não sãotarefas.

O batalhão de choque é sobrecarregado porque hoje atua no Beira-Rio;amanhã ele pode ser deslocado de madrugada devido a um evento no interior. Noretorno ele pode ser deslocado por um evento de um espetáculo musical.

Po isso temos de nos preocupar com o trabalhador da Brigada Militar queestá sobrecarregado. É minha opinião.

Foi dito aqui que vistoria nos estádios realmente deixa a desejar, isso éverdade. Os nossos estádios são antigos. A sua manutenção – por ser muito cara –os clubes, ao longo do tempo, foram deixando algumas coisas para depois. Odinheiro é curto.

Se fizerem – duas coisas no estádio de futebol – a vistoria rígida daquelepedregulho que está lá, um reboco que está soltando de uma ponta de um ferro, oude uma cadeira que está solta ou com parafuso frouxo, isso pode se tornar umaarma. Se for feita uma vistoria, não sai jogo. Se for feita uma vistoria nas pessoasque entram no estádio de futebol de acordo com a técnica, com todos os requisitos,não sai jogo de futebol. Não podemos desconhecer tudo isso e dizer simplesmenteque iremos terminar com as torcidas, pois isso acabará com a violência. Não, pelocontrário. As torcidas são instrumentos que precisam ser melhor avaliados,direcionados, para que venham a auxiliar. São instrumentos valiosos na contençãoda violência. O que ocorre é que cada uma das torcidas tem a sua banda podre.Elas sabem disso. Temos estado constantemente em contato com elas.

Na nossa avaliação, aquele que viajou e não se comportou não irá viajarmais. Estamos identificando quem está entrando nas torcidas de uma formaagressiva. Dessa maneira acho que poderemos chegar a um contento com acolaboração do poder público, dos clubes, das torcidas e da sociedade em geral. AAssembléia Legislativa tem um papel fundamental no sentido de viabilizar este localpara que se possa chegar a algumas conclusões.

Para terminar, falando pelo Grêmio, quero deixar bem claro que estamos àdisposição. Temos um contato muito próximo com a Brigada Militar. Ontem fizemoso planejamento do próximo jogo, conversamos com o batalhão e repassamos a elestodas as informações: qual a nossa expectativa de público, quantos ingressos foramvendidos, quantas bilheterias funcionarão, quantos portões serão abertos, quantascatracas estarão funcionando - porque a revista é feita por eles. Temos esse diálogopermanente para que não ocorra nenhum fato desagradável.

Somos humanos. A Brigada tem a sua capacitação, e acho que ela tem demelhorar mais ainda no seu treinamento, porque a tropa tem de estar preparada

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para sofrer agressão. Não que ela tenha de ser agredida, mas ela tem de ter essadimensão de ser agredida. Ela tem de saber até quando agüenta, em que momentoirá agir. O público desorganizado não tem essa dimensão de saber se pode agredir,parar ou quando avançar. A Brigada Militar tem de se preocupar realmente com aquestão de treinamento. Agradeço a atenção.

LUIS FERNANDO COSTADIRETOR JURÍDICO DA FEDERAÇÃO GAÚCHA DE FUTEBOL

Deputada, farei algumas ponderações. É uma pena que o DeputadoFernando Záchia não se faça presente, porque na realidade quero retificar – outalvez ratificar – o que tenha dito a respeito da legislação, que é eminentementeadiantada. Quando falei em terceiro mundo, não me referi em nenhum momento àspessoas, mormente às torcidas. Mas sim, na nossa estrutura de terceiro mundo,com a aplicação de uma legislação eminentemente moderna. Em primeiro lugar,faço essa constatação e essa retificação para que não fique nenhum mal entendidoe, em segundo lugar, no que diz respeito à participação da Federação a umaAudiência Pública que tivemos junto ao Ministério Público, a qual demaisautoridades também se fizeram presentes.

Farei uma exposição fática do que efetivamente acontece nos estádios defutebol. O tumulto às vezes não é generalizado, mas inicia por um e depois segeneraliza.

Hoje, o Estatuto do Torcedor, no seu art. 39, prevê que, identificado, otorcedor sofrerá sanções, afora sanções criminais, mas também pelo JuizadoCriminal, aquela de extirpá-lo do espetáculo e deixá-lo sem comparecer durante nãosei quanto tempo, devendo comparecer na hora do jogo junto à Delegacia dePolícia.

A posição da Federação naquele episódio foi da seguinte maneira aoMinistério Público, e isso também pode ser por iniciativa do Ministério Público. O quetem acontecido em São Paulo? Nos estádios de futebol de São Paulo tem seinstaurado um Juizado Especial Criminal dentro do estádio no dia do jogo. Ou seja,aquele torcedor identificado, na hora, é retirado do espetáculo e levado parajulgamento imediato, quando o fato ainda está candente. Isso é possível e é essa aproposição que a Federação faz.

Tenho a impressão de que é bastante viável agir dessa forma, coadunandotodas as expectativas e pretensões das autoridades. Trata-se de uma estruturapequena. E isso vai ajudar, porque se for retirado do jogo aquele elemento que estácomeçando o tumulto, não se disseminará um conflito maior.

No que tange à observação feita pelo Deputado Estilac Xavier, a respeito dapresença do Poder Público em estádios de futebol, explico que se trata de umaquestão legal. Vou iniciar pelo legal para depois trazer para o fato. Vou ler o art. 14do Estatuto do Torcedor: Sem prejuízo do disposto nos artigos 12 e 14 da lei nº

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8.078, de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor, emeventos esportivos, é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogoe de seus dirigentes, que deverão:

I – Solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicosde segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dostorcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventosesportivos.

É uma questão legal.

Faço uma outra ponderação: imaginemos o que teria acontecido em outrassituações, inclusive nessa ocorrida no Beira-Rio, se a Brigada Militar não estivessepresente. Estaríamos chorando a presença da Brigada Militar, pois osacontecimentos poderiam ter sido maiores.

Vou confirmar o que disse o Sr. Luiz Antônio Lopes. Endosso isso, pensoque houve excesso. Mas, em alguns eventos, é indispensável a presença daBrigada Militar nos estádios de futebol. Não me parece que no Rio Grande do Suleventos como o que ocorreu no Beira-Rio sejam comuns. Não. Foi uma exceção.

Deputado, a meu juízo, a Brigada Militar é imprescindível. A que custo? Nãosei, é uma questão a se discutir, não tenho dúvidas. Penso que deve se discutir,buscar a melhor maneira.

Pergunto: se a Brigada Militar, que é a entidade sabidamente preparadapara coibir e enfrentar esse tipo de conflito, já sofre problemas, o que pode se dizerde uma segurança particular, contratada pelos clubes, pela Federação? Sim, porqueos clubes, a Federação - por uma questão legal - já põem à disposição do torcedor,pelo Estatuto do Torcedor, as figuras dos orientadores. Esses profissionais orientamna localização do estádio, melhor comportamento, fazem algumas indicações.Agora, o poder discricionário de polícia é, até mesmo pela Constituição, exclusivo daPolícia Militar, da Brigada Militar.

Então, faço essas ponderações porque entendo que o tema éextremamente importante. Mais: penso que esse evento teve um caráterexcepcional. À frente da Federação, na coordenação dos grandes eventos, procuroum contato mais amiúde com a Brigada Militar e com os clubes – aquilo que forneceo estádio – e tenho impressão de que esse trabalho tem se dado de uma maneiramuito salutar.

Repito aqui: é difícil, estamos galgando. O Estatuto do Torcedor vai ter queser cumprido paulatinamente, sob pena de não termos mais jogos de futebol oucampeonatos. Se fôssemos cumprir à risca, hoje não teríamos condições. Não setem estrutura para isso - queira a Federação, queiram os clubes. É uma questãocultural.

Claro que o episódio tem que ser analisado e está sendo bem analisado.

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São muito importantes reuniões como esta. Agora, quero dizer, com a experiênciade alguns anos nesse ramo, que ocorreu uma exceção. Claro que tem que serextirpada, mas é exceção. No usual, tenho a impressão de que as condutas ficamdentro do adequado e do previsto.

JOSÉ CARLOS PEIXOTO DA SILVATORCEDOR

Bom-dia a todos. Sou Zé da Terreira em função da Terreira da Tribo, que éum espaço cultural de Porto Alegre - inclusive conhecido de muitos soldados daBrigada Militar. O espaço trabalha com teatro e música e é reconhecido também noresto do Brasil. Trabalhei durante 10 anos com a Terreira da Tribo. Participei demuito teatro de rua, percorrendo muitas ruas da Capital.

Vou dizer sem nenhuma demagogia: estou muito preocupado com os rumosda nossa humanidade. Estamos vivendo numa época bem complicada.

Por isto quis fazer esta intervenção: Por várias vezes passei por esta sala evi as pessoas debatendo. Isso me toca profundamente, pelas coisas quetestemunho em todos os âmbitos da sociedade, na rua, nos estádios, nos teatros.

Esta manifestação eu tinha passado sob a forma de bilhete para o DeputadoEstilac Xavier. Acho que o jargão que a imprensa usa, o vocabulário da imprensaconvocando os torcedores para o futebol, não é legal. Chama o jogo de guerra echama o adversário de inimigo. Isso é complicado.

Na realidade, com uma emoção frente a todos, a qual tenho que controlar,esse assunto remete a uma digressão muito grande. Sou um artista e trabalho como consciente e o inconsciente. Na verdade, tenho vontade de trabalhar com todas astemáticas relativas ao que está acontecendo no mundo, com este referendo queestá próximo, por exemplo, artisticamente. Não sou uma pessoa de palavradoutrinária. Todos os indivíduos têm a função artística, que é diferente, maisabrangente.

Seria interessante que também estivesse aqui o pessoal da imprensa, poishá essa questão de chamarem um jogo de futebol de guerra. Há a necessidadedisso? Também o Internacional chama o Grêmio de inimigo, e vice-versa.

É claro que as pessoas mais ilustradas culturalmente não tomam a palavrainimigo ao pé da letra. Nem acham que isso seja verdade. Temos umdistanciamento com relação a esses vocabulários. Mas o povo, o jovem, oadolescente que está chegando agora, acabam pensando que a palavra guerrasignifica guerra.

Vivemos numa sociedade extremamente competitiva, e os adolescentesprincipalmente – a adolescência é uma fase maravilhosa, e eu era colorado fanático

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nessa fase, quando gostava muito do Internacional, sendo que hoje o futebol não éo acontecimento mais importante da minha vida, mas o acompanho – estãoformando sua identidade.

Acho complicado um indivíduo investir sua emoção unicamente numapartida de futebol. Ele tem que ter cuidado com isso, porque a sociedade é muitocompetitiva. Os indivíduos constrõem a sua trajetória por meio da afirmação da suapersonalidade. De repente, as pessoas entram num estádio com coisas malresolvidas.

Então, a imprensa deveria estar aqui e deve rever o seu linguajar, para nãochamar um jogo de futebol de guerra e o adversário de inimigo.

É complicado, como aconteceu, o fato de que torcedores uruguaios, quesaíram de casa e foram ao aeroporto recepcionar jogadores da Austrália, tenhambatido neles, pois ia ocorrer um jogo de repescagem.

Imaginem eu saindo de casa, indo ao aeroporto Salgado Filho para esperarum jogador do Palmeiras e dar uma surra nele, para ele chegar quebrado no Beira-Rio! Exagerei um pouco.

Então, temos de realmente rever esses valores; senão, ficaremos comoaqueles bichinhos que vi num documentário, numa floresta, tipo ratos do banhado.Eles começaram a crescer muito. Eram mil e passaram a ser 1 milhão, depois 2milhões. Eles correram em direção ao precipício, porque algum desses ratos tinhade morrer – senão, eles iriam acabar. Será que a humanidade também estácorrendo em direção a um precipício e será que um de nós tem de morrer para ahumanidade sobreviver? Deixo essa pergunta no ar. Obrigado.

CLÁUDIO SOMACAL TORCEDOR DO INTERNACIONAL

Saúdo a Sra. Floriza dos Santos, Coordenadora da Comissão Paz noEsporte e, em seu nome, a todos os integrantes da mesa e aos demais deputados.

Inscrevi-me como torcedor para dizer que o esporte e o estádio fazem parteda humanidade, pois desde o tempo dos gregos há estádios, que é uma espécie decatarse principalmente das pessoas mais simples, humildes, que muitas vezes nãotêm acesso a espetáculos de teatro e outras artes, pois são muito mais caros.

Portanto, os estádios representam um direito do consumidor, porque otorcedor paga para assistir aos jogos, e funciona como uma válvula de escape àstensões sociais. Ainda bem que dispomos desses espaços coletivos onde aspessoas possam comparecer uma ou duas vezes por semana.

Não quero entrar no detalhe do episódio ocorrido no Estádio onde eu

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estava, mas, evidentemente, o uso de artefatos em ambiente fechado – como foi ouso das bombas e granadas. Entendo que poderia ter sido gerador de tensão eviolência muito maiores.

Não participo de torcida organizada, mas estava num espaço privado, sóque esses instrumentos atingiram colegas meus que estavam lá e não faziam partedo tumulto. Considerei que houve excesso nessa circunstância.

Chamo a atenção para outro instrumento, que foi utilizado pela força públicapara desagravar a situação do tumulto. Sabemos que a nossa centenária BrigadaMilitar presta um importante serviço à sociedade e ao Estado, mas, no domingoposterior ao episódio tivemos uma ação tática da Brigada Militar que, na minhaavaliação de torcedor, foi provocativa.

Vejam bem, há 20 anos temos a presença do gênero feminino na BrigadaMilitar e, no entanto, no domingo seguinte, após o episódio, sabendo que temossituações conflitivas da Brigada Militar no Estado e que precisamos superá-las, oque ela fez? Colocou o efetivo feminino diante da torcida no domingo seguinte, fatoque considerei como uma ação provocativa, pois temos a situação ordeira daBrigada Militar. Inclusive, uma brigadiana, não quis se identificar, me informou tersido usada, para se expor na frente para tentar forçar uma imagem.

Penso que esse tipo de ação tática deveria ter sido evitada. É apenas umaconstatação que quero realizar nesse registro, no momento em que esta Comissãose reúne para analisar a questão dos estádios, dos espaços que o cidadão e oconsumidor têm como seu direito para o lazer.

MIGUEL SAMPAIO DAGNINOVICE-PRESIDENTE DA TORCIDA ORGANIZADA CAMISA 12 DO INTER

É bem breve, porque todos temos de tomar algumas medidas e organizarcoisas antes do jogo.

Acredito que deva haver um esforço conjunto para melhorar a imagem daBrigada Militar em relação ao torcedor.

Penso que todos devam ter o seu nome na farda para demonstrar que estãodentro da lei, para que o torcedor enxergue nele um desenvolvedor – não seria bemessa a palavra. Mas penso que deva ser feito um trabalho a respeito disso.

O que acontece? Como o pessoal nos pergunta: O que aconteceu com abateria de vocês? A Brigada Militar nos proibiu. O que acontece com isso? Cria nacabeça do torcedor uma antipatia: Ele é um brigadiano, por que está fazendo isso?

Algumas coisas que são feitas não estão ajudando. Assim como no jogo dequarta-feira, realizado após o incidente do domingo, continuava a mesma coisa:

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policiais com colete tático sem o nome da farda. E sei coronel, que ali tem como vero modelo da viatura, o local onde foi a abordagem, sei como funciona, mas dentrodo estádio, não há como saber qual o soldado que estava ali ou qual o sargento,não há como ver.

Em Salvador, onde já fui, todo policial que trabalha dentro de um estádio – eisso é uma sugestão aos senhores – usa um colete branco por cima com o número,que é de identificação. Qualquer coisa que acontecer, a pessoa anota o número efaz a reclamação através dele, talvez isso poderia ser usado aqui.

A tropa de choque em Nova York, quando está em ação, tem um número nocapacete para, se for tirada alguma foto, identificam pelo capacete quem é apessoa.

DEPUTADO ESTILAC XAVIERMEMBRO TITULAR DA COMISSÃO DE CIDADANIA E DIREITOSHUMANOS

Estou insistindo demais na minha presença na reunião, porque ela éordinária da Comissão e porque o assunto me afeta como cidadão e não restrinjo aanálise desse fato ao fato em si, mas o insiro em uma opinião global que tenhosobre a ação da força pública.

Sei que um soldado e um comandante agem em situações limites: entre adecisão da omissão ou da ação que pode, eventualmente, caracterizar excesso.Isso vai muito da capacidade, do discernimento, do treinamento e da experiência dooficial que está no comando, inclusive experiência de ter participado eventossemelhantes. Mas é evidente que cada fato é novo, há situações inusitadas e nemtudo é possível de se prever.

Tenho conhecimento de que o comando tem de prestigiar a sua tropa e, éevidente que uma tropa escorraçada pode produzir um pensamento futuro: Bom, sea Brigada Militar ‘fugiu’ – entre aspas –, nós sempre podemos fazê-la fugir.

Considero isso situações limites e quero aqui deixar caracterizado, poiscreio que lá houve excesso.

Dentro do clube a ação precisa ser mais moderada e com menos aparato. OBOE, pelo que é, só pode entrar em situações de confronto muito graves, na minhaopinião, pois são homens preparados para isso, ou deveriam sê-lo.

O meu colega Marquinho Lang falou que o policial militar, por estar fardado,já está identificado, mas é evidente que, se posteriormente houver uma investigaçãohomem a homem questionando o que cada um fez, olhando os filmes, identificando

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alguns, através de um exaustivo trabalho podemos chegar aos responsáveis, se foium, dois ou três.

É evidente que a rapidez da ação na identificação permite que o conceitonão se espalhe para a instituição. Consegue-se identificar se foi o fulano ou osicrano. Aliás, fato que ocorreu aqui em Sapiranga, onde há 12 homens indiciadosnum inquérito militar e num inquérito civil – em números diferentes, é evidente –, e oMinistério Público teve dificuldade em identificar a ação de cada um, porque elesnão se encontravam identificados. É evidente que eles formaram uma versão quebeneficiava a todos.

Quando se fala de uma ação de um policial militar, a identificação tem a vercom essas facilidades, mas reconheço que a escala determina que estava lá opolicial e é possível saber quem era. Penso que há economia de tempo e exaustãocolocando pessoas, que não têm responsabilidade nenhuma a prestar depoimento.Aí entra um cidadão: Mas fizeste isso. E o outro responde: Não, eu não estava aqui,estava lá.

Bom, penso que a identificação é uma vontade do comando e acredito quepossa ser feita. Estão dizendo que é lei, então, a ilegalidade é flagrante.

Um clube poderia ser definido como uma instituição privada de interessepúblico. O Sr. Sidenir Bueno de Almeida falou que, quando se deslocam 100 mil ou200 mil pessoas, há um interesse público que envolve a vida da cidade – isso paramim está configurado, o senhor tem plena razão.

Tiramos ou não a Brigada Militar de dentro dos clubes? Os administradorestêm obrigação legal de convocá-la e, segundo a leitura feita pela Federação – tudoisso está correto. Mas, como cidadão, tudo isso tem um custo, que é distribuídosocialmente e, portanto, nem todos são os beneficiados. A tropa e a segurançapública não têm recursos.

Todos cobramos segurança pública, mas esta Assembléia Legislativa, pormaioria, em dezembro, retirou o fundo de segurança pública, que era um recurso. Eo lançou onde? No sistema integrado de administração do caixa chamado também,pejorativamente, de caixa único. E lá se foram os recursos da segurança.

O meu pronunciamento – aprofundando um pouquinho mais – é paraverificar que tipo de ressarcimento pode ter a segurança pública. Não sei se épertinente ou não, mas estou levantando essas questões para questionar. Tenhoabsoluta consciência de que a força pública precisa estar lá, assim como a EPTC,que é a empresa da vigilância e outros.

Creio que a tropa viva num estresse funcional, que tem relação com conflito– e esses dias falei com um grupo de integrantes do BOE, ali na Av. BentoGonçalves, quando do término da romaria da Nossa Senhora Aparecida, em que hámotocicletas e presenciei uma intervenção do BOE.

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Fiquei sabendo que um integrante do BOE havia sido agredido aqui nocentro, que estava no HPS, para onde me desloquei e com quem me solidarizei.Quando se fala das questões relacionadas da força policial, naquilo que é desviante,está na verdade, se prestigiando a força policial porque ela só terá o prestígio sociale a nossa manifestação positiva se for uma força legalmente atuante porque emtodos os processos temos de desviar aqueles que destoam.

Naquele momento, na Av. Bento Gonçalves, recebi vários depoimentos desoldados que diziam – e nem posso dizer que eram soldados porque o Sargento,identificamos pelas tarjas; o cabo, também, mas deviam ser soldados porque nãotinham nada nas mangas. Um deles usava colete tático e não estava identificado,mas tinha uma certa liderança e expressou uma opinião geral dizendo que se sentiuenvergonhado, humilhado por ser policial, porque as pessoas estavam olhando aBrigada Militar com mal estar.

Falei-lhe: olha, acho que estás errado, é ao contrário, tens de te sentirpertencente a uma instituição que é altamente relevante para a sociedade. Falei-lheda constituição das armas, da delegação de poderes, de tudo isso, e foi ali quemanifestei a disposição de visitar o Batalhão de Operações Especiais da BrigadaMilitar – BOE. Penso que há uma baixa auto-estima, o que resulta emressentimento.

Os ressentimentos e os conflitos que envolvem as questões de trabalho, desalário e tudo o mais que existe na vida, levam as pessoas a responder a estímulosviolentos que não deveriam ser respondidos porque deveriam estar preparados paraisso.

Sugiro, deputada Floriza dos Santos, que se adote a proposta do ator Zé daTerreira para que se traga aqui os comentaristas, para sabermos como eles tratam emotivam a preparação do jogo. Creio que seria um excelente momento para aComissão. Não vamos agora emascular um episódio que envolve torcidas eemoções. Reconheço tudo isso, mas acredito que poderíamos cumprir um papelimportante nesses eventos e seria de grande contribuição.

DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

Obrigada, Sr. Deputado. V. Exa. é sempre bem-vindo nesta Comissão.Agradeço a sua colaboração.

Agradeço também às autoridades da Brigada Militar; às federações e àsentidades aqui representadas; aos torcedores do Internacional, que colaboraramcom suas colocações; à imprensa, à Defensoria Pública, a esta Casa, quepossibilitou este importante encontro para todos nós.

Tudo o que aqui foi exposto foi muito oportuno, porque vamos levar emfrente esta Comissão de Representação Externa Paz no Esporte com a colaboração

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dos seus Deputados-Membros e dos demais deputados que manifestareminteresse.

As denúncias aqui apresentadas serão encaminhadas e discutidas junto aosórgãos competentes na busca de suas soluções.

1.2 AUDIÊNCIA PÚBLICA - PAZ NO ESPORTE A NÃO-VIOLÊNCIA NO ESPORTE – 06/03/2006

CÂMARA DE VEREADORES DE NOVO HAMBURGO

Deputada Floriza dá inicio à Audiência Pública

DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

Boa tarde a todos. Muito Obrigada pela presença de todos. Gostaria de fazeruma saudação, aos representantes aqui de entidades e também quero agorachamar as pessoas que vão compor a mesa oficial.

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Uma saudação muito especial ao senhor Presidente desta Casa, VereadorTeo Reichert.

Gostaria de chamar para compor a mesa, o senhor Comandante da BrigadaMilitar de São Leopoldo - Major Antônio Scussel, o Diretor do Grupo Editorial Sinos- Miguel Schmitz, o Departamento Estadual de Investigações Criminais - DoutorDelegado Heliomar Ataídes Franco, Senhor Presidente do Esporte Clube NovoHamburgo - Senhor Bruno Fehse.

Eu me sinto muito honrada em poder estar presente nesta tarde de hoje,trazendo da Assembléia Legislativa a Comissão Paz no Esporte. A AssembléiaLegislativa do Rio Grande do Sul, por meio da Comissão de Representação ExternaPaz no Esporte, sente-se muito honrada nesta Audiência no dia de hoje, aqui naCâmara de Vereadores de Novo Hamburgo.

Quero agradecer o empenho do nosso Presidente da casa, por oportunizarque a Comissão esteja presente nesta tarde de hoje. Muito Obrigada, senhor TeoReichert

A Comissão foi instalada no ano passado e pretende discutir caminhos queamenizem os incidentes da violência nas competições esportivas. Já promovemosuma importante discussão sobre os graves fatos ocorridos no estádio Beira Rio, napartida entre Internacional e Fluminense e, também já estivemos em visita aoMinistério Público Estadual , que vem propondo um termo de ajustamento deconduta para a atuação da Brigada Militar nos eventos esportivos.

Nossa pretensão é ouvir o que os clubes, federações, prefeituras, atletas,torcidas organizadas, órgãos de segurança e a imprensa, podem nos indicar paraque a paz volte a reinar no ambiente esportivo. Esse é o motivo para a reunião dehoje, iremos ouvir quem vive o dia-a-dia do esporte e da segurança.

Também teremos o relato do Grupo Editorial Sinos, sobre a campanhapromovida pela imprensa em prol da paz nas competições esportivas. Antes depassar a palavra aos palestrantes, gostaria de convidar a todos para assistirmos auma pequena reportagem, vinculada no programa Fantástico da Rede Globo.Esperamos que a matéria que vamos passar venha reforçar a importância delutarmos pela paz no esporte.

Quero agradecer também, a todas as entidades que aqui estão presentes -na tarde de hoje. É uma honra para mim estar aqui com todos vocês, parabuscarmos juntos, resolver ou, pelo menos tentar, começar a buscar esta paz tãodesejada que nós todos aqui precisamos, não somente aqui em Novo Hamburgo,mas em todos os estádios. Ontem, também ocorreu um fato muito triste, sobreracismo. Graças a Deus já estão tomando providências. Então, até ficamos maisaliviados, neste sentido porque tem pessoas também tomando providências quantoa isso. Vamos acompanhar então, uma reportagem, por gentileza.

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REPORTAGEM DO FANTÁSTICO

Realmente é lamentável tudo isso que nós assistimos e que vemacontecendo - dia após dia, nos jogos. São pessoas, as mães desesperadas emver seus filhos, parentes , amigos acontecendo tudo isso. Isso nos dá força, paraque nós possamos nós unir na busca pela paz no esporte. Afinal, a paz não começasó no esporte e sim nos nossos próprios lares.

Tem que haver essa conscientização. Quero aqui justificar a ausência - no diade hoje, nesta Comissão do nosso querido Vereador Renan Schaurich. Por outroscompromissos anteriormente assumidos, ele pede desculpas, mas não pôde estarpresente.

Quero registrar a honrosa presença do Terceiro Batalhão da Polícia Militar deNovo Hamburgo - Tenente Coronel Carlos Magno Schwantz Oliveira; o Diretor daSecretaria Municipal de Desporto de Novo Hamburgo, Vilmar Baum - representandoo Prefeito Foscarini - obrigada pela presença; o Colégio Santa Catarina -representado pela Senhora Gelsa Maria da Rosa; a Secretaria de Cultura de CampoBom - representada pela senhora Joice da Silva; a Assessora de Comunicação daPrefeitura de Estância Velha - Senhora Sandra Costa; representando a Reitoria daUnisinos – o Senhor Evandro Bier. Também, representando o curso de EducaçãoFísica da Feevale, professor Gustavo Sanfelice; Sociedade Ginástica de NovoHamburgo - representada pelo Diretor do Departamento de Handball, SenhorMarcos Bock; Senhora Angélica Nascimento, representando o Deputado EdsonPortilho; Senhora Elise Magali Scheidt, representando o Deputado João Fischer;Câmara de Vereadores de Esteio, representada pela senhora Juraci Suppi Nicheli.

Muito obrigada pela presença desses representes, que muito nos honram.Passamos agora a palavra ao nosso querido Presidente desta Casa, Vereador TeoReichert.

VEREADOR TEO REICHERTPRESIDENTE DA CÂMARA DE VEREADORES DE NOVO HAMBURGO

Em nome da Deputada Floriza dos Santos eu cumprimento todos osintegrantes da mesa, nosso Comandante Carlos Magno, pela sua presença, nossoDiretor de Desporto Vilmar - representando o Prefeito e o Senhor Antônio Mendesrepresentado, neste momento, o Diretor de Desporto. E eu acho que após estepequeno relato que vimos - pequeno mas, gravíssimo, eu tenho certeza que a nossaDiretoria de Desporto terá muito trabalho.

Olhando este filme, eu estava comentando com o nosso sempre prefeitoMiguel Schmitz: como é que uma pessoa dessas não é presa em flagrante? Eu acho

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que isso só não acontece no Brasil. É um flagrante e até penso que é culpa dopróprio repórter. Tinha que ser preso na hora.

Estamos vivendo um momento muito importante e fico bastante preocupadocom a questão da liberdade de imprensa - mas com a liberdade de dizer as coisas -livremente e ninguém é impune. A pessoa pode se identificar mas não é presa. Porque a partir desse fato não se faz uma averiguação total?

Eu quero dizer que é uma imensa satisfação, saúdo a todos. Damos boas-vindas em nome dessa Casa. Na história da humanidade, o esporte tem sido ogrande unificador dos povos que, no seu diferencial, Deputada Floriza, nas suascaracterísticas - se unem em torno de uma saudável disputa buscado alcançar oslouros da vitória. Nenhuma outra atividade - nem mesmo das artes - tem o poder deunificação que nem o esporte. Por isso, o esporte é tão valorizado em todo o mundoe, cada vez mais, é incentivado, inclusive como recurso de inclusão social junto aosmenos favorecidos.

Esporte é vida, é saúde, disciplina, companheirismo, amizade, é exercício deuma convivência fraterna e, esses são os valores que precisamos cultivar sempremais - se quisermos uma sociedade saudável e fraterna. No entanto, temosassistido o lamentável aumento da violência, práticas esportivas e até mesmo cenasde racismo entre os próprios colegas. São atitudes que precisam ser combatidaspela educação e pela divulgação de campanhas como estas que hoje estamosrealizando.

A Câmara de Vereadores - que reúne e simboliza todos os segmentos sociais- não poderia ficar alheia a estes fatos e, portanto, se soma à campanha contra aviolência no esporte. Que este trabalho de conscientização dos esportistas e dacomunidade em geral prospere e, prospere muito - abrindo mentes, abrindocorações para a paz que necessitamos. Contem conosco. Muito obrigado.

MIGUEL SCHMITZDIRETOR DE ASSUNTOS COMUNITÁRIOS – GRUPO EDITORIAL SINOS

Excelentíssima Senhora Deputada Floriza Rosa dos Santos - autora daproposição de criação da Comissão de Representação Externa, assinada por 39Deputados e, ao mesmo tempo, a Deputada Coordenadora da Comissão Paz noEsporte da Assembléia Legislativa.

Saudar aos representantes dos Deputados, João Fischer e Edson Portilho.Saudar nosso Prefeito de São José do Hortêncio – que também nos honra com suapresença. Saudar o ilustríssimo senhor Vereador Teo Reichert - que gentilmenteacolhe essa Comissão Paz no Esporte da Assembléia Legislativa.

A senhoras e senhores, presidentes de clubes, integrantes da mesa, TenenteCoronel Carlos Magno, esportistas, integrantes da imprensa. Inicialmente, devemos

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dizer da satisfação que estamos tendo e do privilégio, de certa forma, de poderestarmos aqui compartilhando idéias na busca de oferecer - quem sabe algunselementos ou subsídios adicionais para o maior brilho e maior êxito desta Comissãona busca tão importante da paz no esporte .

No dia 13 de maio de 2005, o Grupo Sinos lançou sua Campanha Paz noEsporte, em uma feliz iniciativa do nosso Presidente do Conselho de AdministraçãoMário Gusmão. Aliás, Mário Gusmão foi o autor da proposição junto à Unesco, naAssembléia realizada em Puebla, México em maio de 1997 e, aprovada pelaUnesco - que posteriormente a levou ao âmbito da organização das Nações Unidas.A ONU, em sua 56º Sessão Plenária, obteve aprovação unânime dos 186 paísesmembros - tendo sido promulgada e transformado o ano de 2000 como sendo o anointernacional da cultura da paz.

Essa idéia surgiu a partir da constatação de que a prática esportiva estavacada vez mais oportunizando o desenvolvimento de violência - tão tristemente vistaaqui - ferindo os princípios que o esporte é vida, confraternização, cultura, saúde,entretenimento e educação.

Mas não é só no nosso Estado - no Brasil - mas vemos isso, infelizmente, nomundo todo. O esporte, muitas vezes, ao invés de ser atrativo agregador daspessoas, servindo como elo de união, de entretenimento, muitas vezes torna-sepalco de cenas - às vezes patéticas, coma as cenas de violência que a própriaeducação condena.

Po exemplo, quando atletas e, pior ainda, profissionais atletas se agridem emprática anti-esportista, anti-humana - que tantas vezes envergonham o próprioesporte; quando os torcedores e integrantes das famosas torcidas organizadas -grande parte delas, com respaldo dos próprios clubes envolvidos – entram emconflito. Na verdade, todos sabemos que o esporte deve ser lazer ou profissão paraos atletas, mas deve ser o elo importante da união das famílias, da sociedade e dasnações.

Por isso buscamos tratar ao longo do ano de 2005 o tema paz no esporte,buscando o apoio das agremiações esportivas, das federações e de seus dirigentes- para que cada vez mais não só possamos contar com a adesão dos dirigentesesportivos mas, dos atletas, da sociedade - através dos esportistas e torcedores -para que possamos mais e mais ter o esporte como agregador da sociedade .

Em síntese, Senhora Deputada, ilustres integrantes, dirigentes de clubes, issofoi o que levou, certamente, o nosso Presidente Mário Gusmão a desenvolver eestimular o surgimento dessa campanha denominada Paz no Esporte, bem como aimportância e o valor que o Grupo Sinos por seus veículos: o Jornal NH , Jornal VSe o Jornal Diário de Canoas, ofereceram à sociedade como um todo, um vastomaterial editorial – comprobatório, não só da repercussão, em todas as nossasagremiações esportivas que acolheram a iniciativa.

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E mais agremiações passaram a acontecer - não só com o envolvimento declubes, profissionais da atividade esportiva, mas de clubes da nossa região comoum todo, voltadas para o esporte amador.

E, com muita alegria vimos, não só atletas, dirigentes, pessoas de bemengajadas na proposta mas, também de tomarmos conhecimento de que estaproposta chegou às salas escolares e grupos de estudantes ao longo do ano.Chegou, também a inúmeras escolas - não só daqui, mas da região que, tiveram aoportunidade de desenvolver suas idéias, conceitos e pensamentos a respeitodessa proposta.

Então é por tudo isto que nos animamos. Sim, a prosseguirmos nessa buscaincessante pela paz - que simbolicamente fizemos através da paz no esporte.Porém, na verdade e na realidade ela deve ser oponente integrante da vida de todosnós porque a violência , não somente acontece no seio esportivo, a violência estápresente em todos os lados, em todos os cantos com homicídio, assassinatosgrotescos e brutais, mesmo no nosso trânsito.

Hoje vemos ainda os acontecimentos do fim de semana onde dezenas depessoas tiveram a vida ceifada por um ato de violência, por um ato de imprudênciae, isso tudo leva e faz com que desenvolvamos mais e mais apelos em torno dacultura da paz simbolicamente traduzida no esporte , mas que se aplica no âmbitoda sociedade como um todo, em cada ser humano .

Quanto mais nós motivarmos a sociedade com apelos para a paz, maisestaremos construindo uma sociedade justa, uma sociedade com melhorespropósitos e uma sociedade em progresso e em desenvolvimento.

Eu vou me permitir, sinteticamente apresentar a idéia que motivou esta açãoe esta proposta de paz no esporte.

O Grupo Sinos lançou a campanha no dia 13 de maio de 2005 - tendo comoobjetivo o não à violência fora das atividades esportivas. Aqui vemos o encontro queaconteceu na sede do Grupo Sinos quando ali reunimos e, aqui esta o nosso amigoCarlos Magno, integrante da mesa. Este é o resultado desta reunião onde aexpressão dos dirigentes esportivos manifestam o princípio de união e unidade e, adisposição de desenvolver a prática de paz no esporte.

A iniciativa da proposta foi do Grupo Editorial Sinos, tendo como parceiros: aFederação Gaúcha de Futebol, o Clube XV de Novembro, o Esporte Clube NovoHamburgo, o Esporte Clube Ulbra, a Associação Sapucaiense de Futebol, aAssociação Esportiva Sapiranga e a Brigada Militar.

Dois dias após, nós estávamos na sede da Federação Gaúcha de Futebolindoçando e apoiando esta iniciativa. O nosso Bispo, igualmente, se manifestou, eeu até registrei a frase porque sabia que não apareceria onde, ele nacorrespondência manifesta: “Promover a paz , viver a paz é missão de cadacidadão.” Linda frase, sem dúvida, do nosso Bispo, apoiador da iniciativa.

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A violência verificada nos estádios, em especial, na prática do futebolenvolvendo torcidas - especialmente as torcidas organizadas e a própria violênciaentre atletas - é que originou esta campanha. A constatação de que em algunspaíses, em especial, na Espanha - os dirigentes dos clubes assistem às partidassentados lado-a-lado, na tribuna de honra, mostra que é possível o desenvolvimentoda prática esportista em clima de confraternização.

Hora vejam: não é só fato e notícia triste, que se vê na televisão. Nos veículosde comunicação, na imprensa escrita e assim por diante, vemos gestos e atitudesde muita solidariedade - não só dos dirigentes esportivos, como aqui se menciona,mas também por parte dos atletas.

É lógico que numa disputa acirrada, os ânimos se alteram, as marcações setornam mais fortes, não há dúvida nenhuma, Vereador Bassani. Vemos tantosgestos de solidariedade entre atletas que se sentem, quem sabe, arrependidos daforma como enfrentar uma jogada e buscam socorrer o companheiro adversário,buscando tirá-lo do chão, para onde ele, acidentalmente, foi jogado.

Aqui temos uma foto do Sapucaiense que entrou com a faixa paz no esporte,junto com uma quantidade significativa de crianças, possivelmente participantes desuas atividades esportivas. A primeira idéia é que o dirigente ou os dirigentes doclube anfitrião recebam os dirigentes do clube visitante – é um gesto de cordialidade- e recebam os atletas do time adversário. Isso serve para qualquer momento,qualquer lugar.

O time anfitrião, portando a faixa paz no esporte e o time visitante ingressamao mesmo tempo no campo ou na quadra esportiva, porque não se limita somenteao futebol - juntamente com os dirigentes, este com a camiseta paz no esporte, e ojuiz no meio das equipes para confraternizarem.

Aqui vemos o Esporte Clube Novo Hamburgo, lá na cidade de Joinville, paranão limitarmos as ações na nossa cidade, na nossa região - ela já chegou em outrospontos. O Esporte Clube Novo Hamburgo é que foi o portador da faixa paz noesporte em Joinville.

Outra ação: um casal de torcedores - previamente escolhidos pelo clube -levam e recebem um casal da torcida visitante, igualmente pré-selecionados. E, nocentro do gramado, neste momento confraternizam oferecendo a camiseta dacampanha num gesto de boas vindas. Então, não são só os dirigentes que estarãousando a camiseta, mas, simbolicamente esse casal local, ofertando e colocandocamisetas a um casal da equipe visitante, faz com que certamente a torcida absorvaeste gesto de solidariedade, de amizade, de confraternização.

Aqui para marcar, de maneira muito mais efetiva, se conseguiu fazer com quenaquele jogo da seleção brasileira com a seleção argentina - vencido pelo Brasil porquatro a um, lá no gigante da Beira Rio - também estivesse presente a faixa paz noesporte, que foi conseguida a sua colocação nos entendimentos havidos com a

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Federação Gaúcha de Futebol, com a CBF e também com a ação efetiva daSecretaria de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul.

Terminado a competição, o atleta de Campo Bom, o capitão do nosso XV deCampo Bom recebendo o troféu após o jogo pela disciplina que tiveram na disputaesportiva. Ele é extremamente simbólico e é concedido ao time que tiver menorpontuação - observados os seguintes critérios: cartão amarelo representa a perdade 5 pontos a cada cartão; o cartão vermelho, significa uma perda de 15 pontos porcartão; a expulsão da comissão técnica representa a eliminação pura, simples,sumária e perda do troféu.

Na hipótese de empate, em pontos, o desempate será feito pelo número defaltas cometidas. Persistindo o empate, o troféu será entregue à equipe vencedorada partida. Se ainda assim, o resultado continuar empatado, o troféu será ofertadoao capitão do time visitante.

Sugere-se a diminuição da venda de bebidas alcoólicas nos locais decompetição, porque, o ideal seria não termos bebidas alcoólicas nas praçasesportivas. O álcool é, muitas vezes, o fato gerador, da própria violência.

Outra questão também seria um maior efetivo de polícia, feminino , sepossível nos estádios - sempre que possível, evidentemente. Isso também inibe.Felizmente, hoje já temos juízas de futebol e, percebemos que quando a figurafeminina está como árbitro, parece existir mais respeito e mais disciplina por partedos torcedores.

Para esta campanha é possível citar uma série de materiais que poderiam serusados para a divulgação - cujos lay – outs, nós fornecemos. Então, a camiseta, aparte da frente, a parte do verso, a faixa paz no esporte, enfim, são instrumentosdisponíveis com ampla e total liberdade de utilizações e inúmeras agremiações eentidades passaram a utilizar. Nós fornecíamos de forma prazerosa – como aqualquer momento poderemos fornecer, basta solicitar que remetemos, via internet,por disquete, da maneira mais fácil e que possa estar ao alcance das agremiaçõesesportivas.

Por outro lado, registramos com muita alegria - aqui vemos a On Line querealizou um trabalho espetacular. Nós até tivemos a oportunidade de ir lá e ver, eassim, são tantas as demonstrações que surgiram espontaneamente que seriamuito difícil descrevermos todas, mas certamente, os efeitos serão, cada vez mais,perceptíveis.

Aqui, igualmente é uma demonstração da participação de estudantes noprojeto de Handboll social, da escola Borges de Medeiros. Aqui é de Pelotas onde oEsporte Clube Novo Hamburgo também, ao apresentar, fez exatamente aquilo quetemos estimulando e solicitando - aquela reunião no centro do gramado entre asequipes, inclusive, digamos assim, alternadamente, jogadores do Novo Hamburgo,com jogadores da equipe anfitriã. Mais uma demonstração aqui, das meninas doHandboll de Novo Hamburgo, portando a faixa paz no esporte.

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Em síntese o que nos leva a desenvolver esta campanha e, nós somos muitoreconhecidos, através da Deputada Floriza - o fato de ela ter levado ao âmbito daAssembléia Legislativa que teve o cuidado, a preocupação de criar esta ComissãoExterna que busca, exatamente maneiras de levarmos a cultura da paz no esporte.

Mas como referi anteriormente, nós desejamos ardentemente, de coração,que este sentimento de fraternidade e de paz tornem-se, mais e mais, umaconstante na vida de cada cidadão.

Muito obrigado, Deputada Floriza, por esta oportunidade - em nome do GrupoEditorial Sinos.

MAJOR ANTÔNIO SCUSSELCOMANDANTE DA BRIGADA MILITAR DE SÃO LEOPOLDO

Agradeço o convite da Deputada Floriza, para que nós relatássemos aqui aexperiência que desenvolvemos desde o início do ano passado em São Leopoldo -focalizando o tema paz, no âmbito geral, a partir de episódios que se deram naquelacidade envolvendo as denominadas torcidas organizadas.

Nós tivemos, no final do ano de 2004, um caso de homicídio em SãoLeopoldo, protagonizado por integrantes de torcidas organizadas e também ahistória da depredação da estação Unisinos, também promovida por torcidasorganizadas de São Leopoldo, representando clubes de âmbito estadual.

Com base nisso, nós temos sempre a idéia de que a questão da violência seencerra com a mera atuação policial. O evento de hoje, talvez venha a introduziruma nova cultura de tratamento, da chamada violência - que é um fenômeno

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presente na sociedade e que precisa ser tratado, também com a polícia, masfundamentalmente na questão da prevenção, é preciso um envolvimento de toda asociedade.

Com base nisso, as ações policiais, voltadas para repressão deste tipo decrime - este tipo de ação delituosa, tanto nós por parte da polícia ostensiva, quantoà polícia civil que é a primeira delegacia onde houve estes fatos, na época, chefiadopelo delegado Heliomar - inserimos uma série de ações que culminaram pelarepresentação de prisões preventivas por parte do delegado, e com a decretaçãodessas prisões preventivas por parte do Poder Judiciário que, posteriormente, vaitratar disso.

Mas a ação da Brigada Militar é uma ação de presença e de prevenção, sóque isto não basta. E por não bastar, desenvolvemos a partir da consulta quetivemos e da procura que foi feita - por um médico imbriata, da cidade de SãoLeopoldo, um médico que trata de adolescentes, e por ele também ser professor daUniversidade Estadual do Rio Grande do Sul e por sentir ele no consultório, umgrande número de jovens que o procuravam, que os pais o procuravam, em funçãodo envolvimento dos jovens com as torcidas organizadas - montamos um projeto, aoqual demos o nome de São Leopoldo quer Paz.

Este projeto foi tomando corpo à medida que nós desenvolvemos uma sériede ações que se traduziam em reuniões semanais - às quintas-feiras na sede donosso batalhão onde faziam parte a Promotoria da Infância e da Juventude; oConselho Tutelar; a Coordenadoria da Juventude do município, que é umaSecretaria; a Segunda Coordenaria de Ensino e Educação do Estado; a SecretariaMunicipal de Desenvolvimento Econômico e Social; a Secretaria Municipal de AçãoSocial, a Secretaria Municipal de Educação; o Projeto Guadalupe, o Projeto VivaSão Leopoldo e o Corpo de Bombeiros da Brigada Militar.

Esses órgãos se reuniram sistematicamente e ali, desenvolveu-se um projetoque culminou com um ciclo de palestras - porque achamos interessante que acidade de São Leopoldo fosse dividida em cinco grandes áreas. Nós levamosespecialistas para discutir esta questão da violência com temas distintos a seremdesenvolvidos em cada dia. O primeiro tema foi mudanças sociais e culturais einfluências no comportamento violento e anti-social dos jovens.

Foram dois especialistas, sociólogos que trataram desse tema para umpúblico na quadra do bairro Feitoria, de São Leopoldo. No segundo dia, discutimostemas, levando-se em consideração de que os nossos jovens, cada vez mais, seenvolvem com violência e atitudes anti-sociais. Já no terceiro, o tema foi a família, aescola - compreendendo, prevenindo e enfrentando a violência dos jovens. O quartotema foram as drogas - instrumentos que levam à corrupção e delinqüência.

Nós sabemos que as drogas - tanto as lícitas quanto as ilícitas - fazem partedesse fenômeno, integram esse fenômeno de forma preponderante. Trouxemos umdos maiores especialistas, o psiquiatra Sérgio de Paula Ramos, que desenvolveu osistema para um público grande, também na área central. E, no último dia, tratamos

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das conseqüências legais do envolvimento dos jovens com atos anti-sociais e deviolência, o qual foi um promotor de justiça criminal, com atuação em São Leopoldo.

Dessas reuniões saíram, então, a necessidade de instituirmos noenvolvimento de toda a sociedade de São Leopoldo - no maior número possível -que pudessem interagir e formar, portanto, uma corrente voltada para o controledesses fenômenos de violência e de atitudes anti-sociais. E, com isso, nósinstituímos um concurso que visava a elaboração de dois cartazes: um queretratasse a proibição de vendas de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos -nós sabemos que o ECA proíbe a venda para menores de 18 anos - e o outro queretratasse o perigo da associação das drogas; das drogas lícitas e das ilícitas, comarma e com a decorrência dessa associação perigosa de drogas e armas, comoresultado da violência.

Para nossa surpresa, recebemos mais de dois mil cartazes produzidos pelasescolas de São Leopoldo – a todas as escolas particulares, municipais, estaduais foiremetida a regulamentação do concurso e nós recebemos essa quantidadeexpressiva de cartazes e de sugestões do slogan definitivo.

Eu vou me permitir mostrar esse cartaz de um aluno da 8º série da EscolaCaíque Madezzate, na Feitoria. Ele produziu esse cartaz como uma associação àproibição de venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos. Este menino, de 14anos, produziu esse cartaz que recebeu a premiação instituída pela regulamentaçãodo concurso – onde contamos, inclusive com a colaboração de várias entidadesprivadas de São Leopoldo.

O segundo cartaz, que retrata a veiculação entre drogas e armas comofenômeno da violência, estiliza um olho humano, no qual estão refletidas umagarrafa e um copo simbolizando o consumo de bebida alcoólica e uma arma, comuma lágrima caindo. Ou seja, a conseqüência do consumo de bebida alcoólica, do

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porte de arma tendo nas pessoas a lamentação da perda e, já inserido nessescartazes o slogan definitivo - que foi criado por um grupo de alunos da EscolaMunicipal Castro Alves, em São Leopoldo: São Leopoldo pede paz, e você o que,que faz?

Retratando então, a necessidade de você o que, que faz?, do envolvimentode todos nós nessa questão da violência e esse concurso depois de premiado,foram impressos dois mil cartazes - mil de cada um - e espalhados pela cidade.Além disso, demos continuidade ao projeto instituindo caixas de sugestões queforam espalhadas por 20 supermercados e mercados maiores de São Leopoldo.Com essas caixinhas de sugestões encimadas pelos cartazes solicitando que aspessoas depositassem sugestões do que nós - como autoridade de políciaostensiva, do que a Polícia Civil como autoridade de policia judiciária, do que oMinistério Público, a Secretaria Municipal de Educação, do que os vários segmentosgovernamentais e de Estado - podem e devem fazer para a contenção dessefenômeno, cada vez maior da violência, envolvendo jovem, que são aqueles cotadospelos maiores, como atores, ou co-atores desse fenômeno de criminalidade.

Esse projeto ainda está em curso. Foi iniciado em março, do ano passado,porém nós, em função desse período de final de ano, suspendemos os trabalhos atéesta próxima quinta-feira - quando os mesmos serão retomados.

Outro aspecto a ser considerado é a questão da oferta - que nós precisamosreprimir, especialmente as drogas lícitas. Nós temos condições de reprimir a vendade bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Estamos trabalhando junto com aprefeitura municipal, o qual desenvolvemos ações periódicas e rotineiras. Nósprecisamos intervir com conscientização, que é também um papel de polícia, sim.

A Brigada desenvolve o PROERD - que é o Problema Educacional deResistência às Drogas que, só no segundo semestre do ano passado, formou 1.600jovens das quartas série das 62 escolas públicas - municipais e estaduais, de SãoLeopoldo. É um programa de conscientização e de multiplicação da necessidadedos jovens não aderirem a esse fenômeno de consumo de drogas e ao fenômenoda violência - que é uma questão, cada vez mais, presente na nossa sociedade.

Esse trabalho terá continuidade - com o envolvimento de todas as escolas -mas, também, como eu falei, esse trabalho de repressão imediata ao consumo dedrogas, ao consumo de bebidas alcoólicas, por esses jovens.

Acreditamos que este seja um passo importante a partir do momento em quetoda a sociedade se envolve. Nós sabemos que hoje um dos grandes problemasque remetem os jovens à criminalidade é o esfacelamento da célula familiar e, épreciso que o poder público esteja atento a isso e venha intervir na administraçãodesses conflitos que os envolvem. Essa consideração e ação do poder público emrelação a esses fatores é que acabam definindo a remessa dos jovens a essefenômeno - juntamente com ações integradas e com o papel preponderante daimprensa.

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Queremos aqui também, por parte de São Leopoldo, referir que em todas ascampanhas, houve a presença fundamental do Grupo Editorial Sinos - por meio doJornal VS, onde São Leopoldo, difunde, amplia campanhas e colhe no seio dasociedade, a sua aprovação integral.

Essa união é o que sinaliza o caminho para que possamos ter a pacificaçãodesses conflitos sociais que envolvem os jovens. Ninguém é um assaltante debanco sem antes ter sido um ladrão de galinha. E, o jovem que agride gratuitamenteo outro por causa de uma defesa da camisa de um time de futebol será, certamente,o futuro homicida de amanhã.

É preciso que todos os atores que se inserem nesse processo venham,venham interferir para que isso seja evitado. Me coloco à disposição se,eventualmente, pudermos retratar isso com todos os projetos. Nós estamos adisposição da senhora e de todos os presentes.

HELIOMAR ATAÍDES FRANCODEPARTAMENTO ESTADUAL DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS

Excelentíssima senhora Deputada Floriza dos Santos, excelentíssimossenhores integrantes dessa mesa de autoridades, já nominados anteriormente,senhoras e senhores que aqui se fazem presentes nessa jornada pela paz.

Há um ditado latino que diz: se queres a paz , prepara-te para guerra. E nãodeixa de ser uma grande verdade, em face do que nós deslumbramos nas cidadesde porte médio e médio grande, nas capitais, nos estádios de futebol, nas estaçõesde trem, nas ruas de maior movimentação à noite, nas saídas de boates e bares.Travam-se verdadeiras batalhas campais com indivíduos que se dizem integrantesde torcidas organizadas.

A grande maioria deles eram adolescentes e alguns adultos e pessoas deidade avançada, que tiveram contato com as torcidas organizadas e delas - ouforam expulsos, ou não se sentiram confortáveis e acabaram deixando-aespontaneamente. A verdade é que no ano de 2004, fizemos um trabalho delevantamento, identificação das ações dessas pessoas e não tínhamos uma soluçãopara apresentar para à comunidade.

Eles praticavam delitos de menor potencial, praticavam danos em bares,lesões corporais recíprocas, lesionavam pessoas que passavam nas grandesavenidas. Isso acabava virando um mero documento, um termo circunstanciado queera encaminhado para o Fórum, e lá, muitas vezes, eles nem compareciam paraprestar esclarecimentos, ou então eram menores de idade que, se quer poderiamser processados criminalmente.

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Com o passar do tempo, esses crimes foram agravando-se e passaram-se delesões, de ameaças e de roubos. Ou seja, eles agrediam os adversários para levardeles os tênis, a camiseta, o boné. Era como se fosse um troféu.

Quando os torcedores do Internacional e do Grêmio encontravam-senovamente em outra ocasião, os que foram lesados queriam a vingança e, assimisso foi virando, uma espécie de bola de neve onde culminou com a morte de umadolescente sobre os trilhos do trem, em São Leopoldo.

De posse desses dados - que nós já vínhamos coletando ao longo do tempo,e armazenando esses pequenos delitos - procuramos o Ministério Público e o PoderJudiciário local e convencemos as autoridades competentes de que ali, não haviatorcida organizada, mas sim, crime organizado. Eram quadrilhas, gangues que sereuniam com o pretexto de torcer para um time ou para outro - quase sempredepredando, roubando, matando.

Com a identificação desses indivíduos que foram levados ao promotor ePoder Judiciário de São Leopoldo, representamos pela decretação de suas prisõespreventivas. Estes, não eram indivíduos excluídos da sociedade e nemmarginalizados: eram pessoas que tinham família estabelecida, com renda razoável,porém que se dedicavam a esse tipo de atitude criminosa.

Fomos buscá-los em suas casas e levamos ao Presídio Central, porque oEstado não pode deixar a impressão da impunidade. As pessoas não podem acharque praticam os mais variados tipos de crimes - sejam eles de gravidade pequena,média ou grande. Isto tudo pode ficar assim mesmo: Vou para casa tranqüilo,amanhã eu me encontro de novo com o meu desafeto, dou um tiro nele ou umafacada e vou para casa dormir e ninguém vai atras de mim.

O Estado e as autoridades precisam ser sensibilizadas com esses projetos,como o do Major Scussel, como o da Deputada Floriza para que haja umasensibilização da população e, principalmente das autoridades, para que nãopermitam essas atividades criminosas, já que interferem na ordem pública dacidade.

É preciso uma ação enérgica, e também coordenada - no sentido que asfamílias entendam e passem para os seus integrantes um pouco mais de clarezanas condutas que devem manter com seus semelhantes. Também tem que existiruma ação forte de repressão àqueles pequenos grupos de pessoas que não sesensibilizam de forma alguma com as nossas palestras, a nossa dedicação além dotrabalho.

Eles precisam de uma resposta mais forte que em casa não estão tendoporque os pais são condescendentes, porque os pais já participaram desse tipo deatividade e não se importam com a conduta dos filhos, não dão limites e, quandotudo falha, vem a resposta do direito penal - porque a sociedade não pode seragredida constantemente por essas pessoas.

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Em São Leopoldo, nós conseguimos a responsabilização dos adultos,recolhemos adolescentes infratores e indiciamos pessoas que, mesmoindiretamente, colaboravam com as atividades destas gangues; pessoas quevendiam bebidas para esses adolescentes, pessoas que forneciam abrigo para queeles se escondessem depois da prática dos crimes, pessoas que incentivavam - dealguma forma - essa atividade ilícita que era praticada no seio da sociedade, nocentro de São Leopoldo.

Acredito que o resultado apareceu. Houve uma diminuição muito grandedessas ocorrências porém, com o passar do tempo, a tendência é que isso venha ase repetir. É necessário estarmos atentos, sensibilizarmos as autoridades locais etambém a população para que ela atue em conjunto com a autoridade. Se não vierao conhecimento da autoridade policial, os pequenos delitos que são praticados -sempre pelos mesmos indivíduos - nada poderá ser feito.

Então, há que se procurar as delegacias de polícia e levar aos seus titularesos nomes dessas pessoas e os fatos que vêm cometendo na sociedade – para queos mesmos consigam reunir elementos e convencer poder judiciário, que essaspessoas não podem circular livremente pelas ruas da cidade, pelos estádios defutebol, pelas estações de trem - causando danos e mortes.

Aqueles que se julgam livres dessa ação - porque não vão nos estádios defutebol - eu digo aos senhores, estão enganados porque esses indivíduosfreqüentam shows, eles circulam pelas estações de trem, ônibus, dentro dasgrandes cidades e à noite reúnem-se em determinados locais – ficando prontos paraa prática de novos fatos.

Têm que ser retirados, identificados e presos para que sintam que não háimpunidade em relação a essas condutas. Isso é a prova de que agem em bando ouquadrilha. É um crime autônomo, onde a punição se dá com a prisão de de algunsanos, uma prisão pesada.

É uma sugestão que fica, Deputada Floriza, para que procure as autoridadeslocais, das cidades onde se constatam este tipo de problema e se sensibilize osdelegados de polícia para que trabalhem no sentido de fazer uma investigação,comprovar a materialidade dos crimes, suas autorias e, representem também, oPoder Judiciário - para que os criminosos reiteradamente comprovados, sejamretirados do convívio social, mesmo que por algum tempo, para que haja essasensação de que, realmente o Estado está presente.

BRUNO FEHSEPRESIDENTE DO ESPORTE CLUBE NOVO HAMBURGO

Deputada Floriza, saudando-a, saúdo também as demais autoridades jánomeadas, autoridades que compõem a mesa junto conosco, e principalmente

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quero saudar os presidentes e representantes de clubes que se fazem presentes naCasa, assim como eu, estou representando o Novo Hamburgo.

Eu falo com muita propriedade sobre esta campanha da paz, porque euparticipei desde a primeira reunião, onde o Grupo Sinos convidou os clubes daregião para expor a idéia do projeto - porque naquela ocasião, ainda era uma idéia.Desde o primeiro contato, onde cada um dos itens dessa campanha foi discutida poraquelas pessoas que estavam presentes na ocasião.

E quando a gente fala da questão paz no esporte – como esse vídeo que foimostrado aqui antes - eu diria, se alguém tem alguma dúvida, sobre o motivo peloqual estamos aqui conversando - esse vídeo por si só já é auto explicativo. Elemostra a importância e a necessidade de discutirmos e refletirmos sobre o assunto.

Eu diria também que este problema são de pessoas que, se quer têmvínculos com o esporte, mas se utilizam dele para colocar sua raiva e os seusproblemas para fora. Eu acredito que estas pessoas sejam integrantes eparticipantes, sim. Através dos meus relatos, vocês vão entender o que eu estouquerendo dizer.

Tudo se inicia pelo exemplo e, nós dirigentes esportivos, temos o dever decuidar - não só do que falamos, mas das nossas atitudes no eventos nos quaisparticipamos. Eu me lembro que em outras ocasiões - anos atrás - era comum emtodos os jogos, um dirigente de cada clube fazer parte da casa mata, dentro docampo de jogo.

Hoje, isso é proibido porque, nós dirigentes, ainda na grande maioria, somospessoas não remuneradas - que prestamos o nosso tempo para a causa esporte.Então, muitas vezes, o dirigente, por estar ali por amor a causa, acabava não agindocom a razão, e sim com a emoção.

Há uns sete ou oito anos atrás, foi vedada a participação dos dirigentes naspraças desportivas. Temos uma reverberação muito grande em relação ao quedizemos ou fazemos representando os clubes. Temos que ter o cuidado de dar oexemplo em primeiro lugar - com relação à guerra contra o juiz no final do jogo oucom simples palavras que possamos dizer, acaba dando uma repercussão maior namídia, gerando uma maior violência com relação aos nossos torcedores.

Com relação ao Novo Hamburgo, estimulamos todas as torcidas organizadas,elas tem um canal direto e um representante, que é recebido pelo presidente doclube ou pela diretoria, no momento que assim desejar. Desta forma humilde,simples mas prática, nós temos a relação de todas as torcidas e estimulamos quecada uma delas tenha uma relação e um cadastro para que, eles mesmos, façamum seleção natural dos seus integrantes e componentes.

Ou seja, aquelas pessoas, aqueles baderneiros que, por determinada ocasiãotentam se infiltrar na torcida organizada, acabam sendo banidos da prática pelos

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demais integrantes, porque no momento que precisar fazer parte de um cadastro,terá seu nome, endereço e identidade relacionada ao clube.

E no final, eu diria o seguinte: as torcidas existem para servir ao clube e nãose servirem do clube. Nós estimulamos os torcedores a ajudarem ao clube e, sepossível tornarem-se sócios - pagando o ingresso, ou a mensalidade. Nós atépodemos estudar, juntamente ao presidente das torcidas, que esse torcedor tenhaparte do ingresso subsidiado ou de uma forma indireta, ajudar na entrada. Mas nãodando o ingresso gratuito para as torcidas organizadas, porque desta forma, ele vaiser obrigado a fazer parte de uma torcida no qual ele terá o seu cadastro junto aoclube.

Desta forma, vemos na prática, no dia-a-dia, as ocasiões em que um torcedordo clube - não membro de uma torcida organizada - se ele atira um copo nomomento de extravasar uma ofensa ao juiz, por exemplo. Nestes casos, o própriotorcedor acaba chamando a atenção dele para que ele não faça isso. Porque oclube pode ser penalizado, perdendo o mando de campo e ser prejudicado emações futuras.

Como foi o que aconteceu com o Juventude no final do ano passado, ondedeterminados torcedores tiveram atitudes racistas frente ao atleta Tinga, e o grandeprejudicado com isso acabou sendo o próprio Clube.

Eu encerro deixando esta mensagem. Às torcidas organizadas do NovoHamburgo, nós estimulamos que elas existem para servir ao clube e não seservirem do clube.

ESTELA SCHMITZ EQUIPE DE VÔLEI ON LINE ESPORTES

Boa tarde, em nome do Diretor da On Line, senhor Éverton Cury,agradecemos pelo convite e saudamos a senhora Deputada Floriza dos Santos, aComissão de Representação Externa Paz no Esporte e demais presentes.

Sobre o projeto Viva Vôlei: pertence à Confederação Brasileira de Vôlei e éum projeto social, apoiado pela Unesco - que a On Line adotou, em Novo Hamburgo- contando com o apoio de empresas privadas para que ele aconteça. O objetivodesse projeto é socializar e oportunizar a prática de vôlei ball para criançascarentes.

O nosso público, hoje, são as crianças da rede municipal de ensino, onde oprojeto oportuniza 1.600 vagas. A prefeitura de Novo Hamburgo adota 11 turmas -dando então oportunidade para 1.100 crianças. As outras turmas estão disponíveis.Este ano se pensa em tentar fazer uma parceria com o Estado do Rio Grande do

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Sul para que, estas outras 500 vagas possam ser aproveitadas por crianças da redeestadual.

Também conseguimos um parecer das diretoras das nossas escolasestaduais – que nos deixaram muito contentes. As crianças que participam deprojetos esportivos, no nosso caso o vôlei ball apresentaram na escola um melhorrendimento escolar. Elas apresentaram uma melhor disciplina, maior organizaçãopessoal com suas coisas, com seu material escolar, maior responsabilidade dentroda escola e também divulgaram o esporte no âmbito escolar. No recreio, o volei ballnunca era lembrado porém, hoje, ele é lembrado em todas as escolas.

A escola que não tem uma rede, a criança pede um corda, para que oprofessor de Educação Física possibilite que eles possam brincar de volei ball, nahora do recreio. Isso é um dos objetivos do Viva Vôlei: fazer com que o esporte sejadifundido, que ele chegue às crianças carentes e não só aos clubes particulares.

O Viva Vôlei - como projeto social - traz parceiros da enfermagem, que comalunos voluntários trabalham a higiene pessoal, fazem palestras sobre violência,drogas, apesar de nossa clientela ser pequena, mas sempre se consegue atender oassunto que seja oportuno para a criança - e isso nós deixamos até aberto.

As pessoas da nossa comunidade que queiram se engajar no Viva Vôlei, nosoferecendo esse tipo de atividade voluntária, sempre serão bem-vindos. Nós semprevamos abrir espaço para que possa ser trabalhado com o Viva Vôlei, assuntos deordem da saúde - que, para nós, é uma combinação, afinal, o esporte é saúde.

Temos exemplos de muita importância para colocar aqui. Não é objetivoprincipal de um projeto como o Viva Vôlei, buscar talentos, mas nós sabemos quetem muita criança que não tem oportunidade de ser descoberta. Aqui no Rio Grandedo Sul, nós temos um caso - que é a nossa Daiane dos Santos. Ela foi uma meninadescoberta em uma praça por uma professora de Educação Física que colocou oolho nela e disse: Opa, aqui tem alguém com talento! Levou a menina para o clubee, hoje nós temos a Daiane brilhando.

Da mesma forma, o “escadinha” que é o líbero da seleção brasileira, tambémfoi um menino humilde que saiu de uma vila e caiu nos olhos de alguém quecolocou ele no vôlei ball. Hoje, ele é o libero da Seleção Brasileira de Vôlei.

No final do ano, nós encaminhamos as crianças que demonstram um pouco maisde destaque para participar na Sociedade Ginástica, da peneira do vôlei ball. Nóstemos, hoje um menino – David - que começou no Viva Vôlei, passou na peneira daGinástica, conseguiu um apadrinhamento - porque na verdade a madrinha delepagou as mensalidades que o clube exigiu, porque ele não era sócio do clube. Hojeele recebeu uma bolsa na Fundação Evangélica para poder continuar jogando vôlei.Essas parcerias são importantes para que projetos como o Viva Vôlei e outrosesportes aconteçam no Estado do Rio Grande do Sul e, também, em todo Brasil.

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Eu acho que o esporte é disciplina, é saúde e desenvolve na criança outrosvalores também que entra junto com a paz no esporte. A criança que trabalha desdepequena o esporte, vai trabalhar o companheirismo, a amizade, a solidariedade e orespeito, porque tudo dentro do projeto é feito com muita disciplina e muita regra.

A aposta tem que ser nas nossas crianças. Projetos como esse precisam deapoio. Nós, do Viva Vôlei, estamos com dificuldade para manter o projeto,atendendo a esse número que ele se propõe - 1600 crianças por mês porque,realmente, sem parceiros fica complicado. O Estado do Rio Grande do Sul se pudercolaborar com o Projeto é muito importante.

O Viva Vôlei, em relação à paz no esporte é uma sementinha que se plantana criança. Aquele que viveu um projeto esportivo na infância, não vai se tornar umadulto agressivo quando ele for assistir ao jogo ou participar - como atleta - dealgum evento esportivo.

JORGE HANSENPRESIDENTE DA SOCIEDADE RECREATIVA E CULTURAL CHIMA RRÃO

Cumprimentando a Deputada Floriza, eu cumprimento os demaiscomponentes da mesa. Quero também cumprimentar o eterno e, sempre prefeitoMiguel Schmitz.

Eu sou presidente do Chimarrão, de Estância Velha. Muitos nos perguntam -por causa do futsall feminino - de onde surgiu essa palavra, chimarrão?. Então, nósvamos voltar há 30 anos atrás, quando uma turma de amigos se reunia ao final datarde, na alfaiataria e tomava chimarrão no final de tarde.

Nós ficamos de fazer uma partida de futebol lá, em Feitoria Nova, FeitoriaVelha, em Ivoti. Fomos jogar lá em Ivoti, mas na hora de saudar o time, ninguémsabia o nome. Daí chegou um colega nosso e disse que nós éramos daquela turmado chimarrão. E assim pegou o nome. Até hoje é Sociedade Esportiva CulturalChimarrão.

Nós viajamos pelo Brasil com o futsall feminino, chegamos lá em Tangará daSerra, em Fortaleza, Natal, Goiás - tudo com a nossa cuia de chimarrão. OChimarrão não é só futsall feminino: nós temos uma escolinha de futebolfuncionando para crianças de 8 a 5 anos, num total de 120 crianças. Eles tem feitoviagens, jogando na praia e torneios.

Nós estamos pensando em colocar um alojamento, também. Esse trabalhotambém é fundamental. Além disso, nós temos também a escolinha feminina - sob aresponsabilidade da Cátia Merline, nossa jogadora de futebol de salão -representante do Chimarrão, na Seleção Brasileira de Futebol de campo.

Aquelas meninas passam os dias treinando -inclusive está presente a nossadiretora de futsall feminino, Sandra Costa, representando a Prefeitura Municipal.

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Então, é um grupo de capacidade extraordinária, esse trabalho que nósdesenvolvemos. O Chimarrão tende a crescer. Nós temos muito orgulho do clube,assim como o Bruno Fehse fala, com orgulho do Novo Hamburgo.

Quero deixar uma mensagem final: a violência é o último recurso dosincompetentes. Então, vamos procurar ser competentes. O Chimarrão querparticipar de tudo que é evento - que realmente for levar a coisa para frente. Nósprecisamos acreditar em três coisas: em Deus - que é um Ser superior, que tudopode; segundo, acreditar no nosso semelhante - nossos companheiros de equipe,de trabalho, colegas e, em terceiro lugar, acreditar em nós, acreditar no nossopotencial, na nossa capacidade infinita de fazer as coisas bem feitas.

JURACI SUPPI NICHELEREPRESENTANDO A CÂMARA DE VEREADORES DE ESTEIO

Cumprimentando a Deputada Floriza, cumprimento a todos os componentesda mesa. Quero saudar a todos os participantes desse movimento que se inicia e,certamente, teremos outras oportunidades de nos encontrar.

Represento a Presidência da Câmara a qual assessoro. Sou, hoje - há seisanos - dirigente de um clube de futebol e também fui seis anos da Liga de FutebolEsteiense. Eu gostaria de fazer uma pergunta: gostaria de saber se alguém aqui fazparte do CODESINOS?. Algum município, alguma liga de futebol faz parte doCODESINOS?.

Deputada, eu sugiro que - para os próximos encontros sejam convidadosdirigentes do CODESINOS. CODESINOS é um Conselho de Disciplinas do Vale dosSinos, que foi criado em Sapucaia do Sul, a qual eu tenho a honra de ter participadodeste grupo de criação.

Esse comitê, foi criado para disciplinar o futebol amador começando emEsteio e Sapucaia. Hoje nós temos quase 40 municípios instalados neste Conselhoe quase 80 entidades. A cada súmula que parte de um jogo de futebol, que a ligajulga necessário, o julgamento ocorre pelo CODESINOS - porque cada liga tem suajunta disciplinar que julga os casos, os quais não compete à ela liga: que são oscasos de violência.

A atuação do CODESINOS é de suma importância. Eu tenho dados de Esteioe participo, ativamente, do futebol amador de lá. A violência dentro do campo defutebol do Ouro Veja - na qual eu presido e participo da Copa Paquetá, que é amaior Copa de futebol no estado do Rio Grande do Sul - a violência dentro do nossoclube diminuiu 90%. Faz três anos que nenhum atleta, em nenhuma categoria donosso clube é julgado pelo CODESINOS.

Agora vocês projetam isso para o futebol amador, onde nós lidamosdiretamente com drogas, álcool, marginal com prostituição - desde a parte do seu

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sub – 17 até o seu jogador de 50, 60 anos, no seu veterano e também dos seusdirigentes.

A coisa é complicada. Não é um fato que eu considero - não só isolado, o queaconteceu no Internacional, mas não é uma situação que podemos considerarconstante. Constante é aquilo que acontece em todos os nossos domingos em beirade campo. Isso é constante e deve ser tratado e discutido. Isso tem que ser reunidoa cada setor, a cada segmento, se não, nós vamos desculpar - minha deputada - euvalorizo demais o seu trabalho, pertenço a sua sigla, mas nós não podemos ficar àbeira de palestrantes e participantes. Nós temos que formar grupos de trabalho,convidar entidades que tratam realmente, desde a sua base.

Jogador punido pelo CODESINOS não joga em nenhuma entidade filiada aoCODESINOS - não interessa o município, a entidade - ele não joga. Se ele forpunido por dois meses, um ano, dois anos, ele não joga, nem aqui. Se em NovoHamburgo, tem entidades que participam, ele não joga. Ele fica fora, fica olhandopelo lado de fora da tela. Isso é muito ruim para quem gosta de futebol, para quemgosta de qualquer tipo de esportes.

A minha sugestão é essa, Deputada: que nós começamos a tratar as pazes.

EVANDRO BIERPROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNISINOS

Estou aqui representando o Reitor da Unisinos, Padre Marcelo. Pegando ogancho que a nossa colega falou a respeito das crianças que estavam aguardandocom materiais para atirar nas torcidas e houve uma rápida ação da Brigada, emalgum momento do nosso bate-papo foi comentado a respeito de educação, saúde,inclusão social, cultura, enfim, todas as questões que o desporto está envolvido.

Que educadores e professores físicos qualificados, possam - através doesporte - desenvolver todas as ações e todas as questões ligadas a ele comocultura e educação. A nossa colega da On Line - deu o exemplo da Daiane, que foidescoberta, não tinha oportunidade e, hoje é campeã mundial. Eu tive aoportunidade de acompanhar esse processo porque na época eu era gerente doclube onde a Daiane se formou.

Realmente, o desporto tem essa característica: eu diria que é, se não a única,uma das poucas atividades no mundo que consegue - para outras questões - sefocar para o esporte. A exemplo dos jogos Olímpicos, Copas do Mundo, onde aspessoas voltam todos os sentidos para aquela atividade, é a única atividade nomundo que pára a Guerra: é o futebol.

Nós temos ai os embaixadores do futebol Ronaldinho, Ronaldo Nasário - quefazem viagens nos países que estão sofrendo as dificuldades de uma guerra,

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exatamente para tentar mobilizar as pessoas que este não é o caminho. O caminhoé a saúde, é a paz.

Eu destaco, em especial, que o desporto seja encarado como uma formaeducativa, e sendo educativo, estimulado na sua formação básica e sua infância.

Obrigado.

DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

Bem, vamos para a finalização dos trabalhos. Sabemos que o problema nãovai ser resolvido da noite para o dia, mas não podemos ficar indiferentes ao queestá acontecendo diante de nós.

É preciso definir caminhos e mudanças. Os valores fundamentais inerentesao esporte é necessário para o desenvolvimento e para a paz. O respeito às regras,à cooperação, à solidariedade são vitais para a convivência harmoniosa de umpovo.

Entretanto, estamos vivenciando uma cultura de violência nas competiçõesesportivas, sendo cada vez mais freqüente, notícias nas rádios, jornais, televisão enos demais meios de comunicação envolvendo brigas -, tanto em campo entre osjogadores, quanto nas arquibancadas entre os torcedores – que, consequentementeacabam por atingir cidadãos comuns, crianças, famílias que buscam no esporte ummomento de lazer.

O adesivo paz no esporte, distribuído aqui hoje, tem como objetivoconscientizar e convidar à todos a integrarem a luta pela campanha paz no esporte.

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Adesivo da campanha Paz no Esporte

Quero agradecer a presença de todos os nossos palestrantes que foi deextrema importância. Se nós estamos todos juntos, vamos com certeza conseguir apaz no esporte.

Muito obrigada a todos vocês , mais uma vez.

1.3 AUDIÊNCIA PÚBLICA - PAZ NO ESPORTE

A CONTRIBUIÇÃO DOS CRONISTAS ESPORTIVOS (IMPRENSA);TRATATIVA DA BRIGADA MILITAR;

POSICIONAMENTO DAS TORCIDAS ORGANIZADAS E DIRIGENTE S DECLUBES - 13/03/2006

ASSEMBLÉIA LESGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - SALAPROF. DR. SALZANO VIEIRA DA CUNHA – 3 º ANDAR

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DEPUTADA FLORIZA DOSSANTOS RELATORA

Bom-dia, senhoras e senhores.

Muito obrigada a todos pela presença nesta manhã.

Convido a fazer parte da Mesa o presidente da Associação dos CronistasEsportivos do Rio Grande do Sul, Sr. José Aldo Pinheiro; o vice-presidente do SportClub Internacional, Sr. Mário Sérgio Martins da Silva; o vice-presidente do GrêmioFoot-Ball Porto Alegrense, Sr. Flávio Vaz Netto; o presidente da torcida organizadaCamisa 12, do Internacional, Sr. Miguel Sampaio Dagnino; a coordenadora doNúcleo de Mulheres Gremistas, Sra. Ângela Tavares; o presidente do Conselho deDesporto do Vale do Rio dos Sinos, Sr. Rauf Krieser.

Instalada em setembro do ano passado, a Comissão de RepresentaçãoExterna Paz no Esporte chega à sua última reunião ordinária com o sentimento dodever cumprido, pelo pouco tempo que tivemos em função da resolução da MesaDiretora desta Casa que reduziu o número de comissões externas e estipulou o mêsde março como prazo final dos trabalhos.

Acredito que a Comissão Paz no Esporte tenha conseguido levar este tematão importante para o debate com a sociedade e com os envolvidos no meioesportivo de nosso Estado.

Fizemos a discussão sobre os incidentes no Beira-Rio, na partida entre

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Internacional e Fluminense; visitamos o Ministério Público para levar nossapreocupação com a violência nos estádios; promovemos reunião em NovoHamburgo com os clubes daquela região, com a Brigada Militar, a Polícia Civil, astorcidas organizadas e o Grupo Editorial Sinos, empresa que adotou uma bemsucedida campanha pela paz no esporte, o que nos motivou a instalar estacomissão, que ora se encaminha para apresentar o seu relatório final.

Como disse anteriormente, a Comissão Paz no Esporte conclui os seustrabalhos com a audiência de hoje, mas a campanha pela paz continua e, comcerteza, estaremos todos muito atentos.

A cultura da violência não vai ser banida da noite para o dia, mas opiniões,informações e exemplos de clubes, torcidas e órgãos públicos certamente devemser olhados com muito maior atenção.

Existem muitas pessoas buscando a paz no esporte; existem muitas açõesque devem servir de exemplo, mas o caminho ainda é longo. No relatório finalvamos apontar meios para percorrê-lo.

Hoje, aqui, nesta audiência, certamente surgirão novas idéias, conceitos eformas de se combater a violência, que tanto assusta a família gaúcha e brasileira.

Convido também a fazer parte da Mesa o representante da Brigada Militar,Coronel Edson Ferreira Alves; e o vice-presidente do Esporte Clube NovoHamburgo, Sr. José Roberto Juchem.

Antes de passar a palavra aos nossos convidados, vamos assistir juntos aum pequeno vídeo vinculado ao programa Fantástico, da Rede Globo, sobretorcidas organizadas.

REPORTAGEM FANTÁSTICO

DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

É lamentável que tenhamos de assistir o que vimos aqui. Infelizmente tantaviolência continua acontecendo nos nossos estádios. Por isso reforço que acampanha Paz no Esporte não pode terminar quando houver o encerramento danossa comissão. Essa campanha como qualquer outra em busca da tranqüilidade,da paz do cidadão deve ser contínua. A colaboração de todos vocês é de extrema

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importância para o nosso trabalho.

Passo a palavra ao nosso convidado, Dr. José Aldo Pinheiro.

JOSÉ ALDO PINHEIROPRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS CRONISTAS ESPORTIVOS D O

RIOGRANDE DO SUL

Deputada Floriza dos Santos, autoridades presentes, servidores desta Casa:

Quero, em nome dos cronistas esportivos do Estado do Rio Grande do Sul,agradecer honrado o convite para participar desta audiência pública.

Suponho que tanto os representantes de clubes aqui presentes, algumasdas autoridades que não são iniciadas na atividade da segurança pública, assimcomo nós, cronistas esportivos, não temos uma compreensão exata de comocomeçou, porque se sustenta e nem de onde vai parar a violência no futebol,infelizmente. Gostaríamos de ter idéias conclusivas a respeito de tudo isso, daorigem dessa situação que se agrava a cada dia, para que pudéssemos contribuirpara encontrar a solução.

É verdade que, a cada dia que passa, se avoluma, também para oscronistas esportivos, o risco de serem atingidos por esse processo de violência nosestádios de futebol.

Vejo o olhar atento dos dirigentes dos nossos dois grandes clubes, do Dr.Flávio, representando o Grêmio e do representante do Internacional, porque talvezesteja nas mãos dos nossos maiores clubes um início de solução, ou pelo menos, aparcela maior de contribuição para a solução da questão da violência no futebol doRio Grande do Sul. Quando falamos de futebol neste estado, sem desmerecimentoaos demais clubes que possam estar aqui representados, estamo-nos referindo aouniverso que abrange todo o estado, pois esses dois clubes têm torcedores emtodas as cidades do Rio Grande do Sul.

O fato é que esses dois clubes têm torcida em todo o estado, e por elespode começar a procura da solução.

Nós, da imprensa, estamos enfrentando de maneira pontual, algunsepisódios de agressão contra colegas nossos, e não temos encontrado solução. Asnossas empresas e, no caso, falo da RBS e da rádio Gaúcha especificamente, queé onde trabalho, por vezes têm adotado medidas como usar veículos discretos, aexemplo do serviço de inteligência da polícia militar. As nossas unidades móveis nãoexibem logotipo, para que nossos profissionais possam chegar aos estádios nosjogos mais importantes da maneira mais discreta possível, evitando agressividadecom conseqüente danos aos veículos da empresa e, principalmente, agressão aosprofissionais, que é o que mais nos toca.

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Mas existe um outro tipo de violência sobre a qual quero falar. É a violênciaà consciência dos profissionais da crônica. Somos pressionados de maneira intensa,tanto implícita como explicitamente nas nossas consciências. Tentam tirar-nos aliberdade de manifestação, de exercitar livremente nossas idéias ao microfone. Issoestá ligado à própria liberdade da cidadania e da sociedade. Penso que talvez essaseja a forma mais grave de violência que nos têm vitimado nos últimos tempos.

Não gostaria de nominar, mas entendo que esse tipo de violência que épraticada contra a crônica é praticada contra a sociedade, sendo que esta comissãodeveria atentar a ela.

Para ilustrar, no último sábado, o nosso colega que atua de formaespecializada nas torcidas nos estádios, o repórter Luciano Périco, estava no pátiodo Estádio Olímpico para fazer o registro da manifestação saudável que é permitiraos torcedores que extravasem seus sentimentos de maneira civilizada, e foihostilizado por torcedores do Grêmio Porto-alegrense, os quais, no intuito deamedrontá-lo, ameaçaram-no fisicamente. Sentindo-se acuado, chegou ao ponto dereagir verbalmente e isso inibiu uma agressão que fatalmente seria física.

O Grêmio Porto-Alegrense tem no seu quadro de torcedores, uma dastorcidas que está na moda presentemente porque trás um efeito visual ao estádioque é televisivo, mas, a parte a postura de torcedor, essa torcida organizada, porvezes, têm um comportamento agressivo com relação à imprensa. Isso faz com queos cronistas esportivos sintam-se inibidos de manifestar qualquer tipo de opinião,porque se não é possível criticar, por que elogiar? O silêncio, a indiferença, porvezes acabam sendo o caminho.

Ainda que tentemos por meio da indiferença evitar que haja estímulo àviolência, inevitavelmente isso acaba acontecendo. Estou falando especificamenteno caso dessa torcida organizada do Grêmio, que não é organizada no sentidoformal; não possui um cadastro; o clube não a controla. É organizada no sentido emque fica em determinada localização, tem um site na Internet onde incita à violência,onde divulga hinos que são odes à violência. Tem uma posição dentro do estádiodefinida; tem um comportamento definido; tem uma cara.

Vou citar um contraponto e, talvez, possa até ser vítima de violência peloque vou dizer. O Internacional tem uma torcida que é o exemplo oposto. É umreflexo da cabeça que comanda essa torcida. Falo da Força IndependenteColorada, que está aqui representada pelo Marcelo Kripka. Ele possui muitos anosde atuação. Penso que deve estar próximo aos trinta anos de atividades à frentedessa torcida, que também por vezes foi motivo de deslizes ao longo da história,mas que recebeu um estímulo de seu líder no sentido oposto, mantendo umapostura civilizada, saudável, respeitosa em relação à imprensa e às demais torcidas.

Esse é talvez o comportamento que possa incitar a uma mudança. Oslíderes desses aglomerados humanos, pregando uma mentalidade nova decivilidade, de respeito, de confraternização saudável. Essa é a linha que deve seguir

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o futebol de modo geral. O esporte é uma busca de congraçamento, deconfraternização. Desejo manifestar a minha gratidão e a honra pelo convite deestar aqui.

Como sugestão e início de uma solução ou de continuidade de solução,parece-me importante que o Serviço de Inteligência da nossa Polícia Militar fizesseum trabalho preventivo de atuação para a identificação na origem dessescomportamentos: de como eles são preparados, industriados e de como sãoexecutados nos bastidores.

Não tenho conhecimento se o fato a seguir é confirmado: por exemplo, ástorcidas organizadas fazem uso dos ambulantes que andam nos estádios, e que sãocredenciados para vender bebidas – ingenuamente –, acabam circulando paradentro dos estádios bombas de fabricação caseira, drogas e bebidas alcoólicas.

Não quero, aqui, generalizar, pois os ambulantes merecem todo o carinho edesempenham uma atividade digna. Quem já não comprou um refrigerante ou umapipoca de um ambulante? Refiro-me às formas, os meios por onde são estimuladasessas condutas delituosas, ilícitas para inibir, a partir da origem, essescomportamentos.

De nossa parte, enquanto imprensa esportiva – e aí falo na condição depresidente da Associação – toda a atitude que tiver o sentido de estimular ocontrário, um comportamento saudável, nós, da imprensa temos o maior interesse.Não vou dizer que sejamos as primeiras vítimas, mas somos uma das grandesvítimas da violência no esporte e, nesse sentido, temos todo o interesse emcontribuir.

Quando disse aos colegas que hoje viria participar dessa Audiência Pública,perguntaram-me se iria colocar a minha cara aqui, se eu iria me expor, se eu nãoteria medo do risco? Eu disse que, como qualquer cidadão, temo a violência. Mas aviolência não ocorre apenas no futebol, ela pode se apresentar nas sinaleiras, emnossas casas, em qualquer lugar.

Também não podemos, enquanto homens representativos da sociedade,nos omitir. Nesse sentido, criei coragem para aqui estar e dizer o que estou dizendo,ao mesmo tempo em que solicito que sejam tomadas as providências. Não tenho apretensão de dizer que sejamos a única parte boa da sociedade, mas esta parte,que tem uma postura saudável, sociável, no nosso contexto do futebol, não pode seomitir, se encolher, ser indiferente a uma realidade que está nos abraçando – a daviolência.

Como sugestão, peço que os clubes se reúnam. Vem por aí, uma decisãode Campeonato Gaúcho envolvendo Inter. e Grêmio. Há cinco anos, não aconteceuma decisão do Campeonato Estadual entre as duas maiores torcidas.

Prestem atenção nos sites, prestem atenção nas conversas entre ostorcedores; Polícia Militar coloquem alguém inteligentemente na investigação para

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ver se não estão preparando confrontos entre os torcedores, para que nãovenhamos a chorar o leite derramado, com vidas humanas perdidas, por contadessa insanidade que vem se desenhando a cada dia no nosso futebol.

Muito obrigado, em nome dos cronistas esportivos do Rio Grande do Sul,pelo convite e oportunidade de aqui estar.

MIGUEL SAMPAIO DAGNINOVICE-PRESIDENTE DA TORCIDA ORGANIZADA CAMISA 12 DO INTER

Bom-dia a todos. Na última reunião que tivemos aqui, falei sobre algo queacontecia com pessoas da torcida, por serem presas por desacato e desobediênciae resistência.

Falarei sobre o fato que aconteceu ontem. Fui preso por desacato edesobediência. Sou o presidente da torcida, acompanhava o ônibus comoresponsável, quando encontramos uma blitz na entrada de Caxias do Sul.

Como sempre acontece, a Brigada Militar pára o ônibus na entrada dacidade, todo mundo desce, as pessoas são revistadas, as mochilas são revistadas,o ônibus também é revistado. Isso é de praxe, em qualquer lugar do Brasil issoacontece, para evitar que o torcedor leve alguma coisa para o estádio.

Chegamos à entrada da cidade, na RS-122, o pessoal desceu com as suasmochilas, me apresentei ao sargento que estava coordenando a operação, e ele mepediu cooperação.

Todos abriram as suas mochilas para serem revistadas, quando umsoldado, sem nome na farda, pois todos eles estavam de uniforme camuflado doBatalhão de Choque – apenas o sargento que comandava a operação tinha o nomena farda –, subiu. Juntamente com ele, um dirigente da torcida para acompanhar arevista interna do ônibus, a fim de preservar a imagem do policial militar que estárevistando, até para evitar que alguém diga que o policial plantou alguma coisa ládentro, ou que ele furtou alguma coisa. Tudo isso para preservar a imagem daBrigada Militar com a torcida.

Esse nosso diretor subiu, foi empurrado para fora do ônibus. Subi paraconversar com o soldado e ele me deu um pedal, um chute no peito, quando mesegurei na grade do ônibus com a mão esquerda; também levei várias cacetadas namão e no braço. Fui agarrado por trás, tocado no chão para fora do ônibus.

Os soldados que estavam lá fora não entenderam o que estavaacontecendo, mas viram que tinha um soldado batendo em mim e começaram a mebater. Estou com as costas, o braço todo marcado. Fui atirado no chão na frente detoda a torcida, e eles viram o seu presidente apanhando. Recebi um pega algemas,

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também batem com as algemas como se fossem um chicote na pessoa. Quandonão mais conseguia levantar as mãos para me defender, pois usei as mãos paranão levar cacetada na cara, quando baixei as mãos e viram que estava quasemorto, me viraram e me algemaram com a cara no chão, com a calça aberta, minhacalça arrebentou.

Fui levado para a viatura e deixado lá. O ônibus partiu e fui encaminhadopara um posto da Brigada Militar em Caxias do Sul. Nesse posto da Brigada, com acalça aberta, com as mãos para trás algemado, uma policial feminina me atendeu,ela estava fazendo Termo Circunstanciado. Nele foi relatado como se eu tivesseresistido e não tivesse deixado ser revistado o interior do ônibus. Disse a ela quenão assinaria o Termo, mas me disseram que deveria assinar para poder ir ao jogo.

Depois, me disseram que deveria ir para a delegacia. Fomos para adelegacia da Polícia Civil. de viatura. Nesse trajeto, quando fui entrar na viatura,tomei um chute nas costa e, dentro da viatura, tomei cotovelaços no peito, que sãocoisas que não marcam, e os três soldados que estavam comigo, camuflados, todoseles sem nome na farda, na viatura do choque, fomos até a Delegacia, fui colocadonuma outra sala. Todo este trajeto com as calças abertas, de cuecas, com a calçapendurada, chegando na Delegacia de Polícia Civil eles deram o depoimento deles,eu chegando lá o pessoal da Brigada Militar já havia “incendiado” o Inspetor dePolícia, consegui falar apenas algumas palavras do que tinha acontecido, nãoconsegui relatar tudo o que havia acontecido, a Polícia Civil me liberou, eu semnenhum tostão, porque as minhas coisas haviam ficado dentro do ônibus, semtelefone celular, sem cartão, sem nada, perdido, fardado de Internacional, durante ojogo Inter e Caxias, tive que pedir dinheiro emprestado para ir até o DML, chegandoao DML de Caxias do Sul, ninguém me avisou, é na UNISC, muito longe dadelegacia, chegando no DML, que não funciona no final de semana, me colocaramsó de sacanagem lá, fui receber o atendimento.

O que acontece é que, além disso, além de eles terem me forçado a assinaruma coisa que não aconteceu, eles forçaram o motorista do ônibus a testemunhar.O motorista deu o nome errado, o telefone errado, deu tudo errado porque eleestava morrendo de medo com o que ele viu. O motorista não quer nem mais viajar.Pegaram o telefone dele, hoje ligaram para ele, disseram que o nome que ele deuestava errado e querem que ele faça um depoimento a favor dos policiais.

Era isto o que eu tinha para relatar, porque na última reunião que tivemosaqui eu relatei todos estes fatos, do nome na farda, do desacato, desobediência eresistência, e não vejo melhorias. Em Porto Alegre eu até vejo, está melhorando arelação com o boy está melhorando, a relação com a Brigada na rua também, masno interior não vejo melhoras. Como é que vou falar para um componente meu, datorcida: respeita a Brigada Militar? Se o componente me viu apanhando de oitopoliciais, armados sem nome na farda, antes disso já estavam batendo no ônibuscom cassetete para o pessoal sair mais rápido.

Como é que vou falar para respeitar a Brigada Militar? Não tem como falar.Eu vou em reuniões, venho aqui, e quando eu estava no chão, falavam: tu que gosta

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de bater na Brigada Militar, a Camisa 12 gosta de bater na Brigada Militar. Eu jápropus várias vezes, talvez se a Assembléia ajudar, a melhorar esta imagem.

Eu sou uma pessoa que assiste o jogo na geral, na superior, na inferior, nãoestou na social e não estou nas cadeiras, e lá acontecem coisas diferentes. Nosnossos portões de entrada a revista é totalmente diferente no portão que entra atorcida organizada do que qualquer outro lugar, isto gera uma raiva do cara que vaipara o jogo, porque ele sai lá da casa dele, longe, porque ele mora numa vila, lá eleé desrespeitado, ele chega no estádio é desrespeitado, e não tem como mostrarque a Brigada Militar é uma autoridade. Porque ele está vendo tudo isto.

Sobre o que o José Aldo falou, sobre a imprensa, eu te respeito, mas muitagente na imprensa incendeia e fala: hoje é guerra, o jogo é não sei o que. A própriaZero Hora, eu lembro, uma capa de um grenal, são as duas torcidas, uma ao ladoda outra, faz uns 2 ou 3 anos, acho que isto não precisava, tem gente que nãoentende. Dizem que é guerra dentro de campo, mas tem gente que não entende,assim como tem muito jogador que faz coisas dentro de campo que incita o torcedorque está ali. Mas a parte da imprensa, tem muita gente que usa o microfone darádio e dos programas de tv para falar de torcidas organizadas, e quando a gentepede o direito de resposta para explicar o que acontece, não somos ouvidos. Aténão é o caso do teu órgão, que tem menos espaço para os cronistas, mas tipoórgãos menores falam, falam, falam, e a gente tenta espaço para melhorar a nossaimagem, para tentar falar, para tentar dar a nossa resposta a muita coisa queacontece e que a imprensa cria uma coisa gigante, e a gente não é ouvida. Isto queaparece na tv nós pagamos, pelo que acontece em São Paulo e Rio de Janeiro, e láé muito pior, lá morre torcedor, lá dá tiroteio. As torcidas organizadas do RioGrande do Sul pagam pelo que acontece no Rio e em São Paulo.

FLÁVIO VAZ NETTOVICE-PRESIDENTE DO GRÊMIO FOOT-BALL PORTO ALEGRENSE

Gostaria de cumprimentar a Deputada Floriza dos Santos e, ao fazê-lo,registrar a posição do Grêmio com relação a oportunidade por tratar-se de um tematão atual e tão relevante, que a Assembléia Legislativa nos dá, através destaComissão de Representação Externa, que promove este debate sob a suacompetente presidência. Cumprimentar o José Aldo Pinheiro, dizer da importânciado seu depoimento aqui, é um registro relevante na medida em que representa osagentes importantes que integram a prática esportiva do futebol no Rio Grande doSul. Cumprimentar o Presidente da Codesinos, Sr. Rauf Krieser, companheiro dejornada esportiva, o responsável por administrar um clube do tamanho doInternacional, Dr. Mário Sérgio Martins da Silva, temos nos encontrado com muitafreqüência, companheiro vice-presidente do Novo Hamburgo, que aqui representaeste clube com tanta atenção, e os representantes das torcidas aqui presentes, mepermitam que os cumprimente na figura da Ângela Tavares, companheiro lá doGrêmio, que tem feito um extraordinário trabalho, inclusive na conscientização de

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todos os torcedores no sentido de que se promova a paz nos estádios.

Escutei atentamente aqui as manifestações, e até acho que o Rio Grandedo Sul vive uma circunstância privilegiada se considerarmos o que se vê fora do RioGrande do Sul, notadamente em São Paulo e até no Rio de Janeiro, a saída doMaracanã é uma aventura a saída num jogo importante. Como se vê de forma muitoparticular na Inglaterra e em alguns pontos da Itália e da Espanha.

O meu primeiro registro é cumprimentar a Assembléia Legislativa por estainiciativa. O segundo é para dizer que de parte do Grêmio temos tido uma atençãoparticularíssima no que diz respeito à segurança interna e nos arredores do Grêmio,ainda dentro do nosso estádio, que é o onde nos compete, evidentemente,administrar.

Temos lá um sistema de monitoramento com TV, e com muita freqüência,quando verificado alguém do quadro social do Grêmio em alguma transgressão,aplica-se o estatuto, com punições severas. Isto tem sido feito de forma discreta,porque assim convém quando se trata de eventos de massa, mas sempre que severifica um excesso aqui ou ali, tem havido a intervenção direta e forte da Direção,como de resto, a Direção tem proporcionado a todos os que vão trabalhar noEstádio Olímpico, com a sua segurança privada, que lá é liderada por um coronelreformado da Brigada, o Coronel Sedenir, quero aqui cumprimentar o nossorepresentante da Brigada Militar, é importante a sua presença aqui, e eu que soutestemunha da ação da Brigada lá no Estádio Olímpico, muitas vezes em conflito,entre aspas, um conflito saudável, porque a Brigada às vezes age com excesso narevista, no acesso ao estádio, na revista às torcidas organizadas, porque é umaação preventiva importante.

Às vezes, achamos que até poderia não haver tanto rigor naquele momento,mas, no fim, sabemos que a motivação da Brigada Militar é saudável e visa preveniro que se vê aí, o que se viu naquele jogo do Internacional e também em outros fatosocorridos – eu não sabia desse evento, fiquei sabendo agora, com o relatório dorepresentante da torcida organizada do Internacional.

Nós temos tido essa cautela e penso que há uma responsabilidadeindelegável da direção dos clubes de futebol, no sentido de não se conseguir ter100% de controle das massas num evento de uma magnitude como se dá nosgrandes Estados, reunindo mais de 50 mil pessoas.

Nessa situação, por vezes, são importantes dois aspectos, há meu ver. Umdeles é gerar uma infra-estrutura eficiente de controle no sentido de minimizar apossibilidade dessas transgressões. Um segundo, em razão disso, seria agir comefetividade em cima desses excessos. E, em terceiro, ter uma interlocuçãopermanente com as torcidas organizadas.

E aquela torcida, como é o caso da Alma Castelhana, que foi citada porJosé Hugo Pinheiro, a qual não é uma torcida organizada, mas que se reúne porconvenção entre eles num determinado espaço do Estádio Olímpico. E é bom que

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ali seja, porque é uma forma que se tem de minimamente se controlar quem está lá.

Nós temos uma interlocução indicional com as torcidas organizadas,inclusive com a Alma Castelhana, porque ainda que não seja uma torcidaorganizada – e cresce a cada dia –, para nossa alegria, é uma torcida que dentro doestádio age diferente de todas, não vai até os jogadores, lá dentro não incita aviolência. Mas, evidentemente, como ocorre em qualquer evento de massa, porvezes, aqui ou ali, não da Alma Castelhana mas de todos, e não apenas do Grêmio,mas de todos os clubes, ocorrem excessos que não se podem atribuir àcoletividade, mas à individualidade daqueles que não têm um comportamentoadequado nesses momentos.

E nós também não podemos ignorar que estamos lidando com paixão. Apaixão mexe com a emoção das pessoas e é um componente que precisa serconsiderado, sobretudo quando os dirigentes têm a oportunidade, como agora setem aqui neste importante debate, nesta audiência pública, de formar a consciênciade que a paixão deve ser exercida para o bem. Ela não pode transcender os limitesdo bem, ainda que por vezes a tristeza, a frustração, os excessos aqui ou alipossam estar sendo cometidos, porque isso é próprio da vida humana, ninguém éperfeito, ninguém vai poder agir durante todo o tempo com absoluta correção. Todosnós temos, nos nossos momentos de muita adrenalina, a possibilidade de cometeraqui ou ali alguns excessos.

Mas o que quero deixar registrado hoje aqui, se é que é possível nestemomento dar uma contribuição, deputada Floriza dos Santos, em primeiro lugar, queos dirigentes não podem fugir da responsabilidade dessa interlocução. E nós, noGrêmio, vivemos de forma específica – a atual direção – com relação a algunssegmentos da torcida, notadamente a Alma Castelhana, quando assumimos, ofizemos num clima de hostilidade, não da Alma Castelhana para fora, mas da AlmaCastelhana para dentro do Grêmio. E nós tivemos a compreensão de que erapreciso ter uma interlocução, não apenas com eles, mas com todas as demais.

Nós temos uma relação institucional. Tem lá uma pessoa ligada àpresidência do clube, que o presidente Paulo Odone designou, Antônio DornelMaciel, que foi diretor-geral desta Casa, que é um interlocutor junto aos torcedores.O coronel Sidenir e o Maciel sistematicamente vão ao meio das torcidas, durante osjogos, para conversar, controlar e para que eles não se sintam vigiados, masprestigiados no sentido de que venham a campo torcer para o seu clube, mas quefiquem nos limites da torcida.

Para isso o Grêmio tem gerado condições de infra-estrutura eficientes emelhorado a cada momento. Temos segurança particular, como certamente têm osoutros clubes que têm essa perspectiva, essa orientação das direções.

De outro lado, temos uma Brigada Militar que, a despeito do que possaacontecer aqui ou ali, atribuo a excessos individuais. E eu posso interpretar assimpelo que vi do depoimento do torcedor do Internacional. Tenho a certeza de queesse excesso não deriva de orientação da Brigada Militar, ao contrário, lá no Grêmio

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o que assisto e testemunho é um rigor da Brigada Militar no sentido preventivo deevitar que entre bebida e gente alcoolizada. Ao ponto, às vezes, de não deixarentrar uma bandeira de dez ou doze metros sem nenhum pau, porque aquilo podelá dentro tapar a visão de alguém e gerar um conflito com situações como essa.

Deputada Floriza dos Santos, fica objetivamente a participação do Grêmioresumida a três pontos:

O primeiro deles é cumprimentar a Assembléia Legislativa por essa iniciativae a V. Exa. pela condução desses trabalhos.

O segundo ponto é informar que no Grêmio temos essa infra-estruturamontada.

O terceiro ponto é para estimular as direções que mantêm uma interlocuçãopermanente com esses grupos no sentido de poder, através do diálogo, minimizaros efeitos da violência nos estádios de futebol. Muito obrigado.

MÁRIO SÉRGIO MARTINS DA SILVAVICE-PRESIDENTE ESPORT CLUBE INTERNACIONAL

Nós é que agradecemos, deputada Floriza dos Santos, pela relevância eimportância desse fórum, do qual já havíamos participado, infelizmente depoisdaqueles lamentáveis fatos ocorridos no jogo entre Internacional e Fluminense.

Quero cumprimentar o Dr. José Aldo Pinheiro, excelente cronista epresidente da nossa associação; o Dr. Vaz Neto, esportista de primeira grandeza, oqual encontramos sempre. E hoje todos estamos emanados, unidos: somosadversários em campo e só no campo.

Falava daqueles lamentáveis fatos e quero dizer que depois do incidente,nós, do Internacional, diretores, vice-presidentes e presidentes notamos umamelhora.

Quero saudar o representante da Brigada Militar, com quem mantemosdiálogos constantes. Sempre procuramos, antes de grandes jogos, ou antes dosjogos que acontecem no Beira Rio, fazer reuniões pontuais, para ver o que podemosresolver. Afinal, deputada Floriza dos Santos, nós todos somos responsáveis: nósque compomos a mesa e as pessoas que nos assistem. Enfim, todos somosresponsáveis pelo que acontece.

O Dr. José Aldo Pinheiro tinha uma dúvida e essa dúvida também mepersegue, que é com relação à origem dos fatos. Penso, Dr. José Aldo Pinheiro, quea origem dos fatos não está somente no esporte, nós temos de examinar asociedade num todo com relação a isso, ou seja, o que acontece ao redor doesporte, o que aconteceu com o Miguel – e quero me solidarizar ao Miguel emnosso nome, pois ele sabe que tem todo o nosso apoio.

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Essa situação não se deve somente ao esporte. Quando abrimos os jornaisna segunda-feira e vamos ver o que aconteceu, quem apanhou, quem deixou deapanhar, penso que a Brigada Militar comete excessos. Nós temos de verificar o porque desses excessos, qual a origem, o por que dessa truculência, o por que dessaabordagem. Afinal, são cinco ou seis homens contra um. Por mais que seja ummarginal, e não é o caso, às vezes não acontece, ou seja, 99% deles não sãomarginais. E essa truculência da Brigada Militar contra nós, cidadãos?

Isso deve ser evitado de alguma forma, não sei como, coronel, mas temosde examinar essa situação com muita cautela. Já houve mortes, nos últimos trêsanos perdemos vidas de jovens por causa disso. Nada explica esse fato.

E no futebol, nos estádios, graças a esse diálogo que estamos mantendocom a Brigada Militar, o qual é muito importante, pois também somos responsáveispelo que acontece lá dentro – nós, diretores; nós, presidentes; a sociedade; oscronistas. E quero me associar ao que disse o Miguel em relação às chamadas daimprensa. Nós temos de ter cautela com relação a isso, pois a imprensa éformadora de opinião.

Os senhores da imprensa fazem o esporte junto conosco, e é de umaimportância muito grande que os tenhamos ao nosso lado. Penso que temos decombater a violência preventivamente, e uma chamada como essa, só a palavraguerra, não precisa dizer mais nada, ela já diz tudo. E aquele sujeito que sai da suacasa mal-intencionado vai realmente pegar esse mote dado pela imprensa e vaiusá-lo contra o seu irmão, contra o seu amigo que, naquele momento, está comoutra cor de clube.

São eles pessoas que se encontram no trabalho, na escola, são colegas,são vizinhos de carteira na escola, mas, naquele momento, são adversários dofutebol e deve continuar sendo assim.

Quanto às questões que ocorrem dentro dos estádios, quanto à revista,conforme colocado pelo Dr. Vaz Neto, acontece no Internacional, embora tenhaalguma resistência, eu a apoio, inclusive acho que também deva ser generalizada.

O Miguel colocou que a revista acontece mais num outro setor do clube,mas acho que deve ser generalizada e sem excesso, porém, com rigor, que nãohumilhe o cidadão, mas que tenha rigor.

Às vezes a revista se torna humilhante, mas não pode ser assim, temos queser respeitados, portanto, a revista tem que ter caráter rigoroso no sentido de seevitar que alguém entre no estádio portando algum artefato violento ou uma bomba.

Mas que isso não sirva de motivo para ultrapassar os direitos e seremcometidos excessos contra o cidadão, porque a humilhação não leva a nada, afinalestamos ali atravessando uma rampa com demais pessoas e às vezes excessossão cometidos piorando a situação ao invés de melhorá-la.

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Antes de excluir temos que integrar e lá no Internacional procuramosintegrar as nossas torcidas organizadas, antes de excluir, de punir, vamos saber oque está acontecendo, vamos reintegrar o cidadão, este é o nosso papel, deputada,assim como acontece no Grêmio, tenho certeza.

Como já participamos de alguns fóruns, acho de grande importância que eleseja permanente, não devendo ser encerrado com o relatório final, que é importante,mas devemos retornar a esse assunto sempre e não apenas quando ocorrem taisacontecimentos, como os que ocorrerem no ano passado, como o do Miguel, comoo que ocorreu no estádio do Juventude e no Grêmio, conforme relatado, onde oLuciano poderia ter sido agredido.

Acho que é importante o fórum, o Internacional sempre se colocará àdisposição.

Agora, quero deixar bem claro que o fórum, lá no Internacional, ocorresemanalmente, diariamente, procuramos integrar os nossos diretores, os nossosatletas, os nossos funcionários e chamar a atenção dos nossos torcedores quanto àimportância do esporte, pois vamos lá para o lazer.

A responsabilidade da imprensa é muito importante, por isso temos que terum cuidado para que isso forme uma opinião positiva sobre o espetáculo, que aspessoas possam ir ao estádio para torcer, vibrar e não para fazer guerra.

Há um pedido nosso, do Internacional, para que a imprensa, dada arelevância do seu papel, faça as chamadas necessárias para o esporte e não para aguerra de torcidas.

Deputada, sempre estaremos à disposição e sempre que formos chamados,aqui estaremos.

EDSON FERREIRA ALVESCORONEL BRIGADA MILITAR

A minha saudação à deputada estadual Floriza dos Santos, aos demaisconvidados, representantes das equipes, das torcidas, senhoras e senhores .

O papel Brigada Militar no estado como um todo é o de um mediador deconflitos, nós participamos na mediação num primeiro momento de todo e qualquerconflito social, essa é a doutrina.

Quando surge o conflito, o estado, num primeiro momento, através daBrigada Militar, se estabelece, mas eu convidaria os senhores a uma reflexão: o queleva ao conflito?

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Temos que tratar também do contributivo, os atores e os ânimos que levamao estabelecimento do conflito, assim iremos verificar que todos nós temos, de umamaneira geral, como contribuir para que os contributivos de tal conflito não ocorram.

Por isso, sentimo-nos obrigados a cumprimentar a iniciativa desta comissão,que ela não se encerre, que seja um trabalho contínuo de todos nós, avaliando oque está contribuindo para a violência, para o antagonismo que extrapola o esportee leva as pessoas a adotarem comportamento de guerra, de inimizade, é isso queestamos vendo.

No que diz respeito ao esporte, atualmente verificamos que as capitais docentro do país estão em situação mais delicada que a nossa, ou seja, a violênciaestá tomando proporções preocupantes.

A Brigada Militar, no Rio Grande do Sul, embora fatos isolados ocorram, nãose estabelece como elemento de protagonista da violência, não é este o nossoofício e nós, rigorosamente, cobramos e a sociedade sabe disso, não somos pagospara protagonizar a violência ou para promovê-la.

Atuamos dentro dos nossos estádios e em volta dele, porque nãoobservamos somente o que acontece dentro do estádio, como alguns contam, masem toda a área que cerca o estádio e fazendo um comparativo com as capitais docentro do país, verificamos que ainda nos encontramos em condições dedominarmos a situação.

Há fatores que são relevantes, como a politização que existe no estado doRio Grande do Sul, muitas famílias vão ao futebol, já que é um lazer do povobrasileiro e do gaúcho, principalmente, aqui, em Porto Alegre.

Nós ainda observamos que é possível, através do diálogo e doentendimento, encontrarmos soluções para a redução e controle dos problemas quetemos apontado.

O segmento social, a torcida, quando numerosa, tem que ter regras e oscomponentes desses segmentos devem se submeter às regras, aí já se começa umtrabalho de organização, não para hostilidade, mas uma organização voltada para olazer, para vibrar e torcer pelo seu time, levando energia para que a sua equipetenha sucesso.

Eu acredito que é um ponto importantíssimo. Nós temos regras, e essasregras serem cumpridas. Regras existem. Elas precisam ser cobradas e cumpridaspelos componentes das torcidas. A direção dos clubes também deve fazer umtrabalho de orientação, de fiscalização, de controle sobre as torcidas e seusintegrantes. Se esse trabalho ocorre de forma eficiente, certamente a mediação doconflito não será necessária.

Temos também o papel da imprensa, que é muito importante. A imprensa,no afã, na emoção e na tentativa de passar o sentimento que a pessoa que está

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narrando tem, muitas vezes incentiva, ou condena sumariamente, ou estabeleceantagonismo e hostilidade nas pessoas que estão ouvindo a transmissão. Temosconstatado isso. Isso se estabelece. Temos, determinados locais que, quando aBrigada Militar passa, a hostilidade é natural. O que acontecia antes?

Tivemos que rever a forma de policiamento. Antes, tínhamos o policiamentonormal, andando junto às pessoas. Quando havia um conflito, imediatamenteagíamos. Hoje, tivemos que mudar. Não podemos deixar o policial lá, porque ele énaturalmente hostilizado. O ideal não era, num grande evento, colocarmos 500homens trabalhando. Se houvesse harmonia – e acredito que tenhamos quetrabalhar para isso – com 100 homens faríamos o trabalho. Isso acontecerá a partirdo momento em que as pessoas tenham o seu norte definido e a consciência deque estão no estádio de futebol por lazer e não para brigar, para guerrear, ouhostilizar e sim para incentivar.

Acredito que isso se constrói. Não ganhamos a paz. Ela não vemgratuitamente. Ela é conseguida com o esforço de todos. A inteligência tem quetrabalhar. Fazemos esse trabalho, mas existe todo um grupo de atores que devemtrabalhar arduamente no sentido de estabelecermos a paz.

Estamos comemorando, há vários dias, não há depredações em ônibus, oque já chegou a ocorrer em Porto Alegre. Em todos os finais de jogos, havia até 10ônibus depredados pelas torcidas, seu time ganhando ou perdendo. Arrastões,também ocorriam nas imediações do estádio. Estamos comemorando a reduçãodrástica, desses dois eventos.

Queremos participar dessa busca pela paz e queremos contribuir com ela.Como disse no início, não somos promotores da violência. Somos mediadores deconflito. É esse , o papel que queremos.

Quando, ao final de cada evento, no relatório sumário que fazemos, nãofomos citados nem fomos procurados, comemoramos uma vitória. Temos quepassar de forma anônima, porque ali não é o lugar de a Brigada Militar aparecer. Ali,deve ocorrer um espetáculo esportivo, com a comunidade, com as pessoas que têmaquele espetáculo esportivo como lazer, confraternizando, com famílias, senhoras ecrianças presentes. Esse é o papel que devemos desempenhar. Queremos oanonimato. Quando aparecemos é porque o conflito já se estabeleceu. Muitasvezes, quem vai mediar um conflito se respinga, devido ao ânimo das pessoas.

O que acontecia antigamente é que quando havia uma movimentaçãorápida, chegávamos e o neutralizávamos. De um tempo para cá, quando surgia oconflito, nós imediatamente íamos a ele. Só que os promotores do conflito sevoltavam contra o policiamento. Estamos dando um tempo de quatro ou cincominutos para que ele se estabeleça. Por que ocorrem esses conflitos que têm umacerta incidência nas ditas torcidas organizadas? Porque dentro desses locais umsubtraiu o celular do outro, já com álcool ou até mesmo com drogas,potencializando as ações. Isso, gera naturalmente conflito.

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Podemos, muito bem controlar esses fatores a partir do momento doestabelecimento de regras, a partir do momento em que nos organizemos paraconduzir essas pessoas da forma correta. Eles necessitam de uma condução, semsombra de dúvida.

Acredito que, no Rio Grande do Sul, trabalhando juntos, não teremos omodelo que as capitais do centro do Brasil estão nos mostrando recentemente,como vimos nesse vídeo. Com o diálogo, com a conscientização das pessoas,teremos condições de fazer com que o futebol no Rio Grande do Sul seja única eexclusivamente um momento de lazer e não de guerra ou enfrentamento, ou umlocal de risco à integridade física das pessoas. Trabalhamos para isso.

JOSÉ ROBERTO JUCHEMPRESIDENTE DO ESPORTE CLUBE DE NOVO HAMBURGO

Agradeço, deputada, a nossa convocação. O Esporte Clube NovoHamburgo sente-se honrado em vir a esta Casa e participar desta comissão, dessetão importante debate que ora fazemos.

Aproveito a oportunidade e cumprimento também os colegas de direção doSport Club Internacional, do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, o coronel EdsonFerreira Alves. Quero fazer um cumprimento especial ao amigo Éverton Cury, quesei, é um grande torcedor do Novo Hamburgo. Já foi vice-presidente de futebol ehoje, brilhantemente, comanda o vôlei da On-line, que tanto nos orgulha, projetandoo Vale dos Sinos em todo o Brasil.

Quero me filiar à opinião dos senhores, com relação à manutenção dessacomissão porque, acredito que o trabalho de combate à violência no esporte ocorrea médio e longo prazo. Infelizmente, não conseguiremos resolver esse, tão graveproblema, do dia para a noite. Simplesmente, não se consegue uma soluçãoimediata porque, essa é uma questão cultural. Infelizmente, parece que a violênciaestá enraizada nas pessoas. Pessoas, de mal com a vida, vêm para o estádio defutebol com problemas e vêem no futebol um estopim para todos os seus problemasparticulares. Verificamos que, um grande público participa do espetáculo do futebole que, uma minoria se envolve com a violência.

Sinceramente, não saberia dizer o porquê de o torcedor se comportar assim.Há estudos sobre isso. Assistimos, há pouco tempo, uma reportagem do Fantásticona qual se indagava o motivo da violência sem se conseguir descobrir por quepessoas vão para o estádio com a intenção de agredir e até mesmo pretendendo amorte de outros, como foi dito aqui.

Quero acreditar que tudo vem de um exemplo. O exemplo que nós,dirigentes, temos que dar na condução do nosso trabalho à frente dos clubes, naforma como administramos o futebol, no dia-a-dia, na forma como, na imprensa,fazemos nossas declarações. É muito importante que tenhamos responsabilidade.

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O dirigente, ao usar a palavra, tem de cuidar para não incitar à violência.

Os jogadores, os atletas profissionais envolvidos com futebol, queprotagonizam o espetáculo dentro do campo, também têm responsabilidade. Ostorcedores, muitas vezes, espelham-se no atleta, no que acontece dentro do campo.Quando o atleta pratica violência em vez de cumprir a regra, essa conduta acaba setransferindo para as arquibancadas, o que é negativo.

Ainda ontem, tive a oportunidade de ver, minutos antes de iniciar a partidaentre Novo Hamburgo e São José, o juiz Fabrício reunir os jogadores no gramado efalar com eles por dois ou três minutos. Não constrangeu ninguém, o atleta éprofissional, vivencia o futebol há muitos anos, mas sempre tem que aprender. Vi osatletas atentos à explicação do juiz. A partida foi tranqüila, não houve violência,inclusive as duas torcidas ocupavam o mesmo espaço. Foi uma demonstração deque é possível a paz no futebol. O mesmo aconteceu no jogo do Grêmio, nosábado. O Leonardo Gaciba, antes de iniciar a partida, conversou com os jogadores.Esse exemplo tem de ser seguido.

Por três ou quatro anos convivo nas categorias de base do Novo Hamburgo,time que está hoje com 300 crianças. Tenho um menino de 12 anos que joganessas categorias, disputa a Liga da Encosta da Serra, Campeonato Metropolitanoe Campeonato Gaúcho. Vou nas partidas e em tudo que é campo de futebol, àsvezes, na várzea, em campos de péssimas condições. Tenho visto pais, dandomaus exemplos. As partidas iniciam e os pais vão para a cerca – e não são poucos,mas dezenas – e ali proferem toda a sorte de impropérios, ofensas. Fico olhando,pasmo, como o comportamento desses pais, mulheres, pessoas de bem, queconheço, instigando a violência, quando deveriam dar o exemplo.

Pergunto-me, que tipo de geração vamos formar com essa atitude? Emcampo, estão crianças de 12 anos , vendo os pais, dando mau exemplo. Éimportante, que todos, nos unamos nesse trabalho da paz no esporte para querealmente o esporte se torne um espetáculo de congraçamento, de união dasociedade e não de brigas e inimizades, como temos visto. Há muito o que fazer.

Eu, por exemplo, freqüento os estádios de Porto Alegre, tenho vindo aoBeira Rio e, lamentavelmente, vejo um grande número de torcedores consumindodrogas nas arquibancadas. A fumaça é geral, pelo cheiro sabemos que estãoconsumindo maconha, e não vemos a presença do brigadiano na torcida. Eles ficamno campo e, às vezes, em número muito reduzido nas arquibancadas.

O consumo de droga de maneira deliberada, à vontade, considero umaforma de violência. Como o coronel citou, vemos famílias, mulheres e criançasvoltando aos estádios de futebol, mas, paralelamente, observamos esse tipo decomportamento. Se a Brigada Militar tem dificuldade em fazer uma revista maisaprofundada no momento da entrada em campo, pois são milhares de torcedoreschegando ao estádio, a presença efetiva do brigadiano no meio da torcida se tornanecessária, inclusive para coibir esse tipo de comportamento e retirar do estádio osconsumidores de drogas. Ao mesmo tempo, é necessário reprimir imediatamente

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aqueles que instigam a violência.

Finalizo minha explanação, lembrando que, no segundo semestre teremosa Copa RS. Esta comissão de Paz no Esporte, poderia deixar agendada umapróxima reunião, na qual, debateríamos o que podemos, de concreto, fazer paramelhorar as condições do esporte como um todo. Quando falo em esporte, estoupraticamente falando do futebol, porque em outras modalidades, como no vôlei, nãovemos violência.

Há poucos dias, a On Line jogou com o Banespa em São Leopoldo, numginásio lotado, e houve uma convivência pacífica dos torcedores, sem problemaalgum. Pergunto-me , se é somente no futebol que vemos essa violência? E por quesomente no futebol? Será que esse esporte mexe tanto assim com a paixão,diferentemente de outros, que nos tornamos impotentes e não conseguimosresolver o problema?

É necessário darmos o exemplo, como o governador tem feito sempre. Noano passado e neste ano, S. Exa. reuniu os presidentes de clubes no PalácioPiratini, antes do início dos campeonatos. Precisamos fazer o mesmo com osrepresentantes de torcidas. Vamos ver, quem são os representantes das torcidasintegrantes do campeonato gaúcho e trazê-los, a convite, a Porto Alegre, dandoampla divulgação na mídia de que as torcidas estão imbuídas de um espíritodesportivo vindo aqui participar de um evento.

Acho importante o que o deputado faz. O presidente Chico Noveletto,também tem desempenhado um papel importante. Há muito tempo, não tínhamosum Gauchão de tão boa qualidade. Na minha opinião, estamos vivenciando umótimo campeonato.

Solicito, deputada, que esta comissão não encerre os trabalhos hoje, torne-se permanente e voltemos no segundo semestre. Podemos marcar uma data paracontinuar essa discussão até acharmos uma solução. Muito obrigado.

ÉVERTON CURYPRESIDENTE DA ON LINE ESPORTES

Saúdo a prezada deputada Floriza dos Santos e os demais integrantes daMesa.

Momentos como este são importantíssimos e nos dão a possibilidade demanifestar algumas opiniões que, evidentemente, têm o cunho de colaborar paraque a situação melhore.

Diante das manifestações aqui feitas, talvez eu esteja representando, nãoquero antagonizar, o lado bom do esporte. A On Line tem equipes de voleibol, de

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natação, de travessia, de triatlo, de aquatlo e de duatlo, e não enfrenta esse tipo deproblema.

Evidentemente que, alguém pode dizer que esses esportes nãoprotagonizam um contato físico, e o contato físico leva, às vezes, a umacaloramento nas relações, principalmente, no futebol de campo.

Fui vice-presidente do Esporte Clube Novo Hamburgo, quando dacampanha, que tivemos, para ingressar na primeira divisão, no campeonato gaúcho.De fato, vivenciamos no interior, situações bastante difíceis. Quando convivemoscom o voleibol, viajamos por diversos Estados com a nossa equipe e nãoencontramos essa hostilidade, nem de dirigentes, nem de torcedores, até porque háum respeito às normas específicas do jogo. O José Aldo tem acompanhadobastante transmitindo em nível nacional pela Sport TV pela RBS, TV Com e vemos ocomportamento que acontecem no ginásio.

Vejam bem, nos ginásios, muitas vezes, há muito mais público do que noscampos de futebol, principalmente quando fazemos a relação com o interior doEstado. Havia mais de 3 mil pessoas no estádio em São Leopoldo, quandovencemos o Banespa, havia uma participação extraordinária de público.

Por que acontecem essas coisas? Acredito que estamos diante de umproblema, que não é um problema localizado, nem brasileiro. Acontece no mundointeiro, porque o mundo está em conflito. O vice-presidente do Sport ClubInternacional falou muito bem, o problema não está só no esporte. Temos umproblema grave que é a banalização de princípios básicos de convívio, quebuscamos preservar muito no voleibol, na natação, nos outros esportes.

Temos um trabalho em Novo Hamburgo, juntamente com a ConfederaçãoBrasileira, é o maior centro Viva Volei do Brasil. São 125 centros no Brasil e nós, emNovo Hamburgo, temos o maior centro. Atendemos 1500 crianças, sendo que 1300são da rede municipal de ensino. Não contamos com o apoio do poder público. Opoder público, em Novo Hamburgo, apenas coloca as crianças à nossa disposição,na porta das instalações da On-line. Aí, é que entram alguns problemas. Temos detrabalhar com a base, hoje estamos atacando conseqüências.

Vejo nas manifestações dos senhores uma grande interrogação, o quevamos fazer? Evidentemente, temos de atacar a violência que existe. Já é aconseqüência. Temos de trabalhar a base, temos de ter mais pessoas envolvidas noesporte. Ontem, li numa revista de circulação nacional uma propaganda acerca dosjogos pan-americanos de 2007, que dizia o seguinte: O esporte nos ensina muitacoisa para a vida – é verdade – uma delas é a disciplina e a outra o respeito.

Se investirmos na base – nas crianças – ensinando-as o que é o esporte, avencer, saber por que se ganha, por que se perde, aprender a conviver com umaderrota, aprender a respeitar o adversário, oferecer a todas a possibilidade departicipar e criar uma cultura sadia de disputa, teremos retornos importantes logo.

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Temos de fazer dois trabalhos: primeiro uma divulgação sadia do esporte,que é cultura, lazer, educação. Isso faz com que tenhamos uma auto-estima emcrescimento sempre. Temos esse resultado com essas crianças da rede municipalde ensino. Vocês podem dizer o seguinte: Ah, mas vou levar o trabalho a pessoasde outro nível cultural. Não é verdade. Trabalhamos com crianças da rede municipalde ensino. Temos retorno. Todas as crianças que participam do projeto Viva Vôleitiveram melhoria de desempenho escolar, na disciplina, auto-estima recuperada.Tiveram, principalmente, cuidados com os horários de alimentação, de almoço, dedormir. Vejam bem, tudo isso forma a base.

Os clubes de futebol fazem trabalhos muito importantes com as categoriasde base, que poderiam ser ampliados. A On-line teve proposta de trazer eventos aoRio Grande do Sul, trouxemos a Copa América de voleibol. Havia 40 mil pessoasdentro do ginásio, nos cinco dias, sem nenhum registro junto à Brigada Militar. Opoliciamento no ginásio foi feito pela guarda municipal de São Leopoldo. A saídatranscorre tranqüila, quando jogamos com outras equipes, principalmente com asco-irmãs aqui do Estado, as torcidas adversárias vêm aos ginásios e convivempacificamente.

A partir daí, temos de perguntar o porquê. E os porquês estão nosexemplos, quando as equipes são anunciadas, há o aplauso, não há vaias aoadversário. Quando há um lance polêmico, e há reclamação o cartão amarelo daarbitragem no voleibol caminha rapidamente e os jogadores sabem que não podempassar disso. As torcidas apóiam muito, sem hostilizar o adversário, sem palavraspejorativas ou palavrões. Creio que esse exemplo positivo, pode-se seguir.

Acredito que o esporte contribui muito para formarmos cidadãos sadios, epoder talvez com outros esportes, que não só o futebol, passar bons exemplos, aOn-line está à disposição.

Temos convívio e contato permanente com a Confederação Brasileira deVoleibol. Participamos do campeonato gaúcho de basquetebol, representandoCaxias, também não há esse tipo de incidência. Também convivemos com aConfederação Brasileira de Basquete.

Colocamo-nos inteiramente à disposição, para que todos conheçam oprojeto da On-line. Não para divulgar a On-line, mas para divulgar como se fazesporte com tranqüilidade, paz e disciplina.

Muito obrigado pela oportunidade e nos colocamos à disposição paraauxiliar no que for possível. Como membros ativos de nossa comunidade e cidadãostemos de prestar serviço positivo, no sentido de auxiliar nossas comunidades. Muitoobrigado.

MARCELO KRIPKA

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Primeiramente, meus agradecimentos por, pela segunda vez, ter sidoconvidado para fazer parte desta qualificada mesa de debates.

O Sr. José Roberto Juchem, que lamentou que, a princípio, pararia por aqui,mas já temos a satisfação de saber que vai continuar esse ciclo de debates, queconsidero muito importante.

Na primeira reunião, reclamava que a imprensa especializada não haviasido convidada e, hoje, com satisfação, vejo que o Sr. José Aldo Pinheiro,presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio Grande do Sul está aquirepresentando a imprensa. Agradeço suas palavras, assim como às dos demaiscronistas e membros da sociedade, que acompanham nosso trabalho.

Teria muita coisa para falar, mas penso que cada um de nós e cadasegmento deveria tratar de resolver a sua parte sem fazer acusações porque aBrigada Militar tem a sua participação, as torcidas organizadas não são infalíveis,também têm sua parcela de culpa, assim como as direções dos clubes. Por isso,creio ser importante a consciência de cada um.

O Miguel relatou que o relacionamento nosso com o BOE, que faz opoliciamento dos estádios, melhorou 100% ultimamente. Temos travado um diálogo,quase que permanente, qualquer problema que aconteça me dirijo diretamente aele. Isso tem facilitado muito. Além do mais, o comando do policiamento da Capitaljá se colocou à disposição.

Temos um amplo apoio da direção do Internacional, do nosso departamentode segurança, que é incansável para resolver todos os tipos de problemas.

Acompanhamos, todos os jogos do nosso clube no Gauchão, e ocomportamento da polícia tem sido, no mínimo, o de um diálogo espetacular.

Ontem, em Caxias do Sul, foi um pouquinho difícil, as duas torcidas:Internacional e Caxias estavam convivendo muito bem em volta do estádio, e aBrigada Militar se posicionou, juntamente com seus cavalos, afastando a torcida doInter e obrigando-a a entrar no estádio de uma forma até um pouco abrupta. Foidiferente do que temos acompanhado.

Em Passo Fundo, o tratamento foi simplesmente espetacular. Colocamos onosso ônibus à disposição para vistoria.

Em Novo Hamburgo, o tratamento da Brigada Militar foi excelente. Apenaslamentamos o dia de ontem por algumas coisas que se viu. Não terminou muito bempara o Miguel.

Tenho a idéia de que a torcida não é representante do clube apenas noestádio – e faz quase 29 anos que estamos na Super FICO e primo pelo

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comportamento não somente dentro do estádio, penso que onde a torcida estiverela precisa representar bem o clube, seja em restaurante, seja no estádio, seja nascidades em que vai. Às vezes, não adianta os clubes trocarem um apoio durante osjogos e abrirem mão disso fora.

O Sr. José Aldo Ribeiro, relatou o comportamento da FICO e eu estive, hácerca de três semanas no Batalhão de Operações Especiais e constatei que emtoda história não havia uma reclamação contra a nossa torcida. Isso é muitasatisfação, porque obrigamos o nosso pessoal, durante a viagem, a se comportarcomo se estivesse torcendo no estádio, não é admitido nenhum tipo de violência,nenhum tipo de provocação, e qualquer deslize faz com que imediatamente aquelapessoa seja afastada e, dependendo do que provocou, sem direito de defesa.

Tudo isso, é muito importante porque contribui para a paz. Temos até deabrir mão – e falo do nosso caso em especial – de ter uma torcida um pouco maiorpara ter um controle maior, pois, como disse, o nosso controle não é somente noestádio, é no ônibus, no restaurante, nas cidades. O nosso clube é muito grande, eo Grêmio também, por isso penso que a preocupação com as torcidas organizadasnão deve se limitar ao estádio.

Estamos cumprindo – e o Mário Sérgio tem acompanhado isso – ocadastramento da torcida. Mês a mês ou de 40 em 40 dias é enviado um CD-ROMatualizado com todos dados ao Ministério Público e à Brigada Militar. O integrante,que cometer qualquer deslize é imediatamente retirado.

Penso, ser muito importante que esse cadastramento sirva para todas astorcidas para que haja um controle, pois, daqui a pouco alguém pode praticar umaindisciplina e simplesmente não ser de torcida organizada, não usar camiseta datorcida. Temos acompanhado esse tipo de indisciplina.

Ontem ainda vimos algumas indisciplinas de torcidas que parecem ser muitograndes no estádio, mas penso que a torcida grande é aquela que tem um bomcomportamento. Julgo muito mais a qualidade do que a quantidade.

Preocupa-me, também, o gre-nal que está se aproximando. Já fizemosalguns alertas no BOE, precisamos de algumas reuniões não para apontar algunspontos de conflitos no estádio ou fora dele, mas a partir da Grande Porto Alegre, doTrensurb, que é um problema muito grande, deslocamento de torcidas, etc.

Se não me engano, faz quase dois anos que não há gre-nal e estamosmuito preocupados com isso, nos sites das torcidas já está havendo provocações,ameaças e é muito grave se usar a imprensa para realizar certo tipo de agressão.

O José Aldo falou da agressão a um repórter no último sábado, e isso temacontecido há algum tempo. Há vários fatos de que temos conhecimento econsidero isso lamentável. Temos de cuidar muito da nossa parte, falei mais denossos erros, mas cada setor deve se conscientizar.

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As emissoras de televisão realizam as chamadas para o jogo colocando aparte bonita, as bandeiras das torcidas, mas também há coisas que as própriasemissoras criticam, que é a avalanche, mas são usadas como chamada. Não estáerrada a imprensa, como estamos errados em determinadas atitudes?

Em resumo, cada um deve cuidar de sua parte, daí será bem mais fácil umcontrole geral.

Faço um agradecimento especial à cobertura que a direção do Internacional,através do nosso vice-presidente Mário Sérgio Martins da Silva e do diretor desegurança, estão dando às torcidas organizadas.

Se, por ventura, viermos a falhar, temos de tomar uma atitude paramelhorar.

Era basicamente isso que tinha a dizer, coloco-me à disposição.

Deputada Floriza dos Santos, espero que continue com esse ciclo dedebates e que eu possa vir aqui mais vezes.

ÂNGELA TAVARESCOORDENADORA DO NÚCLEO DAS MULHERES GREMISTAS

Agradeço o convite da deputada Floriza dos Santos, em nome do Núcleo deMulheres Gremistas.

Cumprimento o nosso vice-presidente, Dr. Flávio Vaz Netto; os demaisdirigentes; os integrantes de torcidas e os representantes da imprensa.

Já se falou bastante, aqui, em relação às torcidas. No Núcleo de MulheresGremistas não há nenhuma integrante de torcida organizada. Geralmente ficamosnas sociais e nas cadeiras, mas temos uma preocupação muito grande com aviolência porque a idade das integrantes do Núcleo varia de 8 anos a 80 anos. Elasme telefonam dizendo que gostariam de participar do núcleo, de ir aos estádios eviajar para o interior.

Em relação à segurança, nunca tivemos problemas. Seja, em relação àsegurança no estádio Olímpico ou no interior .

Um fato que me chamou a atenção – normalmente organizo as viagens parao interior nos finais de semana – no último jogo que foi realizado, em Caxias,Grêmio e Juventude – claro existem casos isolados, como representantes da torcidaorganizada do Internacional que sofreu com o problema da Brigada Militar.Parabenizo, a Brigada Militar que nos acompanhou naquele jogo, na saída doestádio e teve uma agilidade, uma eficiência muito grande.

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Em determinado momento, na saída do jogo e nas ruas de Caxias, iriaacontecer um acidente grave, nós éramos o primeiro microônibus que estava atrásda Brigada Militar e depois vinham as torcidas organizadas – não viajamos com astorcidas organizadas, quando viajo, sempre organizo em separado. A BrigadaMilitar teve uma eficiência muito grande, num determinado momento, que viram edetectaram um incidente que iria acontecer. Parabenizo a Brigada Militar nessesentido.

Quero falar sobre um assunto que foi pouco mencionado e que tivemos omaior cuidado nos clubes. Falo em relação à venda de bebidas alcoólicas. Sei, quea proibição é impossível, mas acredito que se deve ter a diminuição porque, há oconsumo de cerveja e uísque. A bebida que tem o teor alcoólico, acredito que devaser reduzida.

Na semana passada, ouvi de uma pessoa que me disse o seguinte: - aqueleque vai ao estádio não se embebeda dentro do estádio, esse torcedor já chega aoestádio alcoolizado.

Acredito que, no momento em que o torcedor chega ao estádio, ele senta,levanta, torce, grita , vibra e o efeito do álcool vai diminuindo. Se a venda debebidas, no estádio, é liberada em grande quantidade, e tu começas a usar isso atendência será cada vez pior. Nunca tivemos incidente com isso. Uma vez, tive quechamar um brigadiano para resolver um problema que aconteceu comigo.

Em relação à violência, não no estádio Olímpico, mas já aconteceu uma vez,em 20 anos de ida aos estádios. Há seis anos, quando saí do estádio passei por umarrastão e tive objetos roubados. Só consegui chegar no estacionamento,acompanhada da Brigada Militar, fui a última a sair do estacionamento porque nãome deixaram sair devido eu ser da torcida adversária. Felizmente, ou infelizmente,só ocorreu comigo um incidente e as mulheres do núcleo também.

Então, sugiro que se diminua a venda de bebida alcoólica, já que aproibição é difícil. E que, além de colocar-mos seguranças e a Brigada Militar, sepudesse colocar também, pessoas neutras infiltradas nas torcidas organizadas,com o objetivo de se poder detectar, quem são as pessoas que incitam a violência.

Acredito, que vamos ao estádio para assistir a um espetáculo , um show defutebol, levamos crianças conosco. Cada vez mais, mulheres participam dos jogos.Acredito, que isso tem que ser levado em conta e revisto.

Há 150 integrantes do núcleo hoje, e este completará dois anos no mês demaio. Neste último ano, conseguimos em torno de 50% daquelas que, participamdo núcleo e que não iam ao estádio, ou iam esporadicamente. Hoje, elas vão com acerteza de que no estádio Olímpico, teremos essa segurança de que nos permiteassistir a um bom espetáculo, pelo menos, o que diz o núcleo de mulheresgremistas que não é uma torcida organizada e não fica perto da organizadatambém; não sei se isso interfere ou não.

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São essas duas sugestões em relação à bebida e se pudesse colocarpessoas neutras no meio da torcida organizada a fim de se identificar quem são osviolentos que estão fazendo isso no estádio. Obrigada, pelo convite.

MIGUEL SAMPAIO DAGNINOVICE-PRESIDENTE DA TORCIDA ORGANIZADA CAMISA 12 DO INTER

Existe turbas nos estádios Beira-Rio e no Olímpico, agora, que não diz queestão nas torcidas organizadas.

Todas as pessoas falam – assim como o coronel falou – teve um celularroubado na torcida organizada.

Eu nunca sei, se essas pessoas estão falando das torcidas organizadas deverdade, que tem o cadastro do Ministério Público, da Brigada Militar, que têm asconcessões por ter esse cadastro ou estão falando dessas turmas que estão sendocriadas.

Já sofremos muita perda de componentes, devido ao controle forte e essasturmas estão crescendo, elas estão torcendo no Beira-Rio. Já está grande a almaque o Sr. Pedro Ernesto criou. Essas turmas já estão grandes e não têm nenhumcontrole, não tem identificação, mas o dia em que acontecer qualquer coisa não hácomo punir.

Vejo a colega dizer que há organização, mas eu noto que há um preconceitomuito grande e que cresce. Também, vejo as turmas agirem dessa maneira sem ternenhum controle.

O Marcelo falou que acham legal fazer avalanche. Todo mundo reclama,mas a imagem é colocada e dizem que é bonito. É só isso. Que fique bem claro.

Eles mesmos não se intitulam torcida organizada, fazem o mesmo que onúcleo, dizem que não são torcida organizada, mas a alma e a turma que tem noBeira-Rio dizem que não são torcida organizada, mas fazem coisas muito ruins sóque na hora não querem ser caracterizados como torcida organizada.

Quem queima o filme e fica mal vista é a torcida organizada e não o pessoalque não se diz da torcida organizada. Muito obrigado

RAUF KRIESER

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Em primeiro lugar, parabenizo a deputada Floriza dos Santos por estainiciativa. Para mim, esta oportunidade nada mais é do que um aprendizado degrande valia.

No futebol menor que eu represento, o Varzeano ou a escolinha de futebol,não temos esse tipo de violência que ouvimos aqui e vimos nos jornais, televisão eestádios.

O nosso público é pequeno nos estádios, nossos campos são pequenos eos ginásios de esportes muitas vezes são bastante acanhados, salvo em algunsMunicípios.

Nós inibimos a violência no esporte que atuamos. Ela acontece dentro docampo, entre atletas e dirigentes e nas quadras de futsal e de areia. As agressõesse dão entre atletas, que não são profissionais, que usam o esporte como lazer,entre aspas, e ainda temos as agressões arbitrárias, o nosso maior problema.

Por meio de regulamentos, muito fortes o Codesinos tenta inibir a violência.Nós criamos um código disciplinar para os campeonatos ou torneios, que tantopodem ser de areia, de futsal e de futebol, enfim, para todas as modalidades.

O atleta que agride o adversário ou a arbitragem pode ser julgado e ter umapena superior a 60 dias. Esse atleta, passa também para uma listagem que correentre os filiados, ou seja, para as coodenadorias municipais de esporte, ligas defutebol, enfim, onde são organizados torneios ou campeonatos.

O atleta fica afastado das atividades durante uns 60 dias, não só dacompetição onde ocorreu o fato de agressão, mas também de todas filiadas, quesão em torno de 30.

Essas medidas nos ajudam bastante a inibir a violência. O atleta sabia quese brigasse naquele lugar poderia jogar em outro lugar, mas hoje não é maispossível isso porque há o Codesinos, uma entidade devidamente registrada, comregistro público.

Claro que não há como prevenir que o atleta dê um soco no árbitro ou noadversário, não tem como, mas pela divulgação que o Codesinos faz das puniçõesque ocorrem, o atleta pensa duas vezes antes de agredir alguém.

Da forma como ele for punido numa determinada modalidade, poderá serretirado de circulação por um determinado tempo. Temos atletas com três anos depunição, com um ano, 60 dias.

As entidades filiadas ao Codesinos, normalmente se dão bem. Mas tem osfuros. Às vezes, não há julgamento e deixam por isso mesmo porque, o atletasempre foi um cara legal e não querem a sua punição.

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Normalmente, não temos 100% de certeza de que estamos inibindo. Edeixaria a sugestão que façam cumprir sempre que necessário, não temosproblemas com a Brigada Militar de não ir ao estádio, porque também não temosgrandes tumultos, somos um povo reduzido, não vai muita torcida.

A imprensa tem nos dado boa assistência. O Codesinos tem conseguidocontrolar a situação da violência, mas deixo a sugestão para a deputada Floriza dosSantos no seguinte sentido: as escolinhas de esporte são muito importantes, porquevão aos pouquinhos mudando a mentalidade. Percebemos que, a geração deatletas provenientes de escolinhas tem um comportamento diferenciado daquelesque estão na faixa dos 30 anos, 40 anos ou mesmo que seja novo, nunca viu umaescolinha e vai para jogar seu futebol como lazer, mas na hora esquece do lazer etoma a sua cervejinha e começa a dar problemas.

Já não acontece com a grande maioria, quero dizer, não vou dizer 100%,mas quase todos os atletas que vêm de escolinhas têm outra mentalidade, temoutro modo de agir, é outro tratamento.

Trabalho bastante com escolinhas, organizo competições para escolinhas eé uma diferença enorme para os garotos que freqüentam escolinha.

O pai pode até ser mais agressivo, tudo bem, deixa ele fora da tela, deixaele brigar, mas aquele garoto vindo de uma escolinha com certeza, pelo menos amaioria, vem com outra mentalidade.

Meus parabéns a deputada Floriza dos Santos e toda a equipe por terorganizado essa Comissão preocupada com a paz no esporte. Muito obrigado.

DEPUTADA FLORIZA DOS SANTOSRELATORA

Quero agradecer a presença dos clubes, da Brigada Militar, das entidades,da imprensa, enfim de todos os presentes.

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Público prestigiou o evento e os palestrantes

Faremos o Relatório da Comissão de Representação Externa Paz noEsporte subsidiados nas diversas manifestações de todas as pessoas que usaram omicrofone ao longo dos seis meses de funcionamento dos nossos trabalhos. Esserelatório será entregue aos clubes, aos órgãos públicos, às federações, aos atletas,aos dirigentes da Brigada Militar. Para todos que de alguma forma possuem algumvínculo com o esporte.

Apresentaremos sugestões e caminhos com a certeza de que a paz noesporte começa em casa, passa pela escola e por toda a sociedade. A paz nosestádios será um reflexo da paz na comunidade, esse é o grande desafio.

Acredito que foi muito importante não só para mim como coordenadoradesta Comissão, mas para todos que aqui tiveram a oportunidade de escutar osrelatos dos participantes.

Reforço: vamos dar continuidade a esse trabalho tão importante em buscada paz.

Muito obrigada a todos.

Conclusão

Os trabalhos desenvolvidos pela Comissão de Representação Externa Paz noEsporte serviram para descortinar um tema alarmante, que parece crescer a cadaano. Antes acostumada a ver pela televisão, nos grandes centros urbanos de SãoPaulo e Rio de Janeiro, a sociedade gaúcha viu violência nos estádios e emambientes esportivos, entristecer também suas famílias.

O Rio Grande do Sul não ficou imune aos atos de selvageria, de depredação,de desrespeito às leis e aos adversários. Torcedor de outro time virou inimigo e oque era para ser diversão, virou campo de guerra. Ao propor uma Comissãoespecífica para tratar do tema, a Assembléia Legislativa gaúcha reforçou seupioneirismo. O debate, realizado tanto na sede do Parlamento gaúcho, como foradele, permitiu obter informações e conclusões, que ora apresentamos nesseRelatório Final.

Como conclusão, apresentamos os seguintes encaminhamentos e solicitações:1) É necessário que o Estado, através da Secretaria de Justiça e Segurança, adote

o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), proposto pelo Ministério PúblicoEstadual, no sentido de treinar e preparar melhor os policiais militares que atuamem grandes eventos esportivos. O despreparo dos policiais militares envolvidosno confronto com torcedores, na partida entre Internacional e Fluminense, peloCampeonato Brasileiro de 2005, mostra que é urgente a necessidade da

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corporação adotar treinamentos específicos, com auxílio de profissionais depsicologia e sociologia, aos seus integrantes.

2) Por pedido das torcidas organizadas, se faz necessário que a Brigada Militarmelhor identifique, na farda, o nome dos policiais. Isso precisa estar bem visível,até para que não ocorram injustiças. Afinal , não são todos, e sim alguns policiaisque costumam adotar procedimentos violentos em estádios.

3) Os clubes, as federações e os atletas precisam adotar procedimentos para acultura da paz. É notável a atitude dos dirigentes do Esporte Clube NovoHamburgo e do 15 de Novembro de Campo Bom, que acatando sugestão daCampanha Paz no Esporte, do Grupo Editorial Sinos, tenham assistido àspartidas sentados lado-a-lado, numa demonstração de civilidade e respeito.Também é notável a atitude dos dirigentes do Sapucaiense Futebol Clube, deSapucaia do Sul, que já receberam jogadores e torcedores adversários comboas-vindas, na entrada da cidade, inclusive saudando-os com fogos de artifício.Atitudes como estas podem parecer isoladas, mas são ótimos exemplos. Umacriança que vê uma ação deste gênero, certamente vai ser um adultoacostumado a respeitar as divergências, pois elas são saudáveis.

4) É preocupante a denúncia do presidente da Associação dos Cronistas EsportivosGaúchos (Aceg), José Aldo Pinheiro, de que os profissionais de imprensa queatuam na área esportiva estão sendo ameaçados no exercício de suasprofissões. A tentativa de agressão física a um repórter de rádio da Capital, porparte de uma grande torcida organizada, mostra que ainda estamos longe de vera paz reinar nos ambientes esportivos. Mas é necessário dar os primeirospassos.

5) Por outro lado, se faz necessário uma nova conduta dos editores, comentaristas,e repórteres responsáveis pela produção jornalística esportiva, no sentido deadotarem termos, frases, títulos e manchetes que não insuflem as torcidas. Citarum jogo como “Guerra”ou “Batalha”, acaba, inconscientemente, incitando para aviolência.

6) Os clubes, principalmente aqueles de maior torcida, precisam adotarprocedimentos de controle, fiscalização e punição dos torcedores das chamadasorganizadas. Os clubes deve ter o cadastro desses torcedores, para que facilitea localização daqueles envolvidos em delitos, brigas e depredações.

7) A Polícia Civil deve intensificar as investigações sobre a conduta de torcedoresenvolvidos em distúrbios. Na operação conduzida pelo delegado HeliomarFranco, nas cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo, acabou-se por prenderseis integrantes de torcidas organizadas de Grêmio e Internacional envolvidosem roubos e até homicídio. Como disse o delegado, na audiência realizada naCâmara de Vereadores de Novo Hamburgo, tratava-se de “bandidos” disfarçadosde torcedores, que numa brilhante ação da Polícia Civil, acabaram presos.

8) Por fim, os trabalhos da Comissão Paz no Esporte são apenas o início de umalonga discussão. A paz não vai reinar da noite para o dia, mas com normas,procedimentos, fiscalização, condutas apropriadas e educação, o ambiente noesporte voltará a ser saudável e alegre, como que ser.

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FICHA TÉCNICA

Apoio Técnico

Eunice Dörr - Coordenação

João Silvestre – Assessoria de Imprensa

Marcela Chaves da Silva – Correção

Renata Germano – Edição e Diagramação

Marcelo Antônio Machado – Assessoria Jurídica

Colaboração

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Ana Paula Bayer – Desenho Gráfico

Carmen Dora Faria – Assessoria do Evento

Élida Ramires – Assessoria do Evento

Fabiana Schneider – Assessoria do Evento

Fátima Fraga – Assessoria do Evento

AGRADECIMENTOS

Palestrantes

Imprensa

Clubes de Futebol

Ministério Público

Brigada Militar

Entidades voltadas ao Esporte

Grupo Editorial Sinos

Comissão de Cidadania e Direitos Humanos – AL

Departamento de Comissões Parlamentares – AL

Departamento de Taquigrafia – AL

Superintendência de Comunicação Social – AL

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Departamento de Relações Institucionais - AL

Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo – Senhor Teo Reichert

Gabinete da Deputada Floriza dos Santos

ANEXOS

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