presidente da república encontra-se com homólogos ... · enfrenta "um conjunto de desafios...

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margem da 62ª sessão da Assembleia-geral das Nações Unidas o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, reuniu-se em separado, em Nova Iorque, com os seus homólogos africanos João Bernardo Vieira, da Guiné-Bissau, Dennis Sassou Nguesso do Congo-Brazzaville e Abdoulaye Wade do Senegal. Os encontros mantidos visaram analisar a coo- peração bilateral e a actual conjuntura mundial. Os presidentes John Kufuor do Gana, Laurent Gbagbo da Costa do Marfim, Umaru Musa Yar'dua da Nigéria e Joseph Kabila da RD Congo encontraram-se igualmente com o chefe de Estado angolano. José Eduardo dos Santos deixou Nova Iorque no mesmo dia, de regresso a Luanda, depois de ter participado na reunião de alto nível sobre as mudanças climáticas, e ter discursado na abertura da 62ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Na sua intervenção, Dos Santos defendeu o fim imediato do embargo económico, comercial e financeiro imposto desde 1962 pelos Estados Unidos da América a Cuba. O chefe de Estado indicou que este embargo ao país que visitou oficialmente, viola os princípios do Direito Internacional e os artigos 1 e 2 da Carta das Nações Unidas. Instou por isso a ONU a pronunciar-se a este respeito, em homenagem a um dos princípios da sua carta que estipula que toda e qualquer acção "deve ser resultado de debate e de decisão colectiva, excluindo o unilateralismo". À À Presidente da República encontra-se com homólogos africanos em Nova Iorque Pág. 12 Ministro Manuel Rabelais divulga realidade angolana em Lisboa Caetano de Sousa explica razões que não viabilizam voto no exterior Pág. 4 Angola no DocLisboa Pág. 11 Presidente da República encontra-se com homólogos africanos em Nova Iorque Jornal Trimestral de Actualidade Angolana Nº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007 Jornal Trimestral de Actualidade Angolana Nº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007 www.embaixadadeangola.org www.embaixadadeangola.org

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Page 1: Presidente da República encontra-se com homólogos ... · enfrenta "um conjunto de desafios resultantes da longa guerra que o assolou e recorreu ao crédito contra garan- tias reais

margem da 62ª sessão da Assembleia-geral dasNações Unidas o Presidente angolano, JoséEduardo dos Santos, reuniu-se em separado, em

Nova Iorque, com os seus homólogos africanos JoãoBernardo Vieira, da Guiné-Bissau, Dennis SassouNguesso do Congo-Brazzaville e Abdoulaye Wade doSenegal. Os encontros mantidos visaram analisar a coo-peração bilateral e a actual conjuntura mundial.Os presidentes John Kufuor do Gana, Laurent Gbagbo daCosta do Marfim, Umaru Musa Yar'dua da Nigéria e JosephKabila da RD Congo encontraram-se igualmente com ochefe de Estado angolano. José Eduardo dos Santos deixouNova Iorque no mesmo dia, de regresso a Luanda, depois

de ter participado na reunião de alto nível sobre asmudanças climáticas, e ter discursado na abertura da 62ªsessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.Na sua intervenção, Dos Santos defendeu o fim imediatodo embargo económico, comercial e financeiro impostodesde 1962 pelos Estados Unidos da América a Cuba.O chefe de Estado indicou que este embargo ao país quevisitou oficialmente, viola os princípios do DireitoInternacional e os artigos 1 e 2 da Carta das Nações Unidas.Instou por isso a ONU a pronunciar-se a este respeito, emhomenagem a um dos princípios da sua carta que estipulaque toda e qualquer acção "deve ser resultado de debate e dedecisão colectiva, excluindo o unilateralismo".

ÀÀ

Presidente da Repúblicaencontra-se com homólogos

africanos em Nova Iorque

Pág. 12

MinistroManuel Rabelaisdivulga realidade

angolana em Lisboa

Caetano de Sousaexplica razões que não

viabilizam votono exterior

Pág. 4

Angola no DocLisboa

Pág. 11

Presidente da Repúblicaencontra-se com homólogos

africanos em Nova Iorque

Jornal Trimestral de Actualidade AngolanaNº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007

Jornal Trimestral de Actualidade AngolanaNº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007 www.embaixadadeangola.orgwww.embaixadadeangola.org

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2 POLÍTICAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

o seu primeiro discurso num fórum da OPEP,José Eduardo dos Santos revelou ainda que aactual produção de petróleo de Angola é de

um milhão e setecentos mil barris por dia e que, no anode 2009, a produção angolana vai atingir os dois milhõesde barris por dia, um nível que se vai manter até 2012,apesar do início da produção em águas profundas só vira ocorrer em 2010. Com isso "Angola pretende partici-par, de modo construtivo e activo, com os outros mem-bros da OPEP, na formulação das decisões sobre oabastecimento de petróleo bruto a nível mundial, deforma que haja um equilíbrio entre os interesses dospaíses produtores e dos países consumidores, contribuin-do, também, para a estabilidade do seu preço".José Eduardo dos Santos solicitou o apoio da OPEPpara a reconstrução nacional que, como disse, está avali-ada em mais de 20 mil milhões de dólares. Criticou ofacto de "até hoje nenhum dos países que promoveram adestruição de Angola terem contribuído para a suareconstrução. Esses países apenas lhe cobram dívidas",disse José Eduardo dos Santos acrescentando que o paísenfrenta "um conjunto de desafios resultantes da longaguerra que o assolou e recorreu ao crédito contra garan-tias reais para ter fundos para a reconstrução", afirmou.O Chefe de Estado apontou a reinserção social, a desmi-nagem, o reassentamento da população deslocada, a con-strução e recuperação de serviços sociais e de infra-estru-turas como prioridade do Governo angolano. Os resulta-

dos da aposta do Governo no sector social, de acordocom o Chefe de Estado, somam-se, em 2006, na reabi-litação de 1 100 quilómetros de estradas e, até o final doano em curso, na recuperação de mais de 1 200quilómetros de estradas e 94 pontes. Foram construídas112 escolas primárias, sete escolas secundárias, quatrounidades hospitalares centrais e municipais e 32 postos ecentros de saúde, para além de outros empreendimentosno domínio da energia, água e habitação. Na referida

Cimeira o Presidente da República anunciou que em2008 serão construídos cerca de 40 institutos médiospolitécnicos. "Vamos assegurar que os benefícios dariqueza do petróleo sejam largamente partilhados e quea pobreza e a fome reduzidas e posteriormente banidas",garantiu.A Cimeira encerrou com a divulgação da "Declaração deRiade", na qual se reiterou o princípio de solidariedade ede defesa dos seus interesses. O documento consideraprioridade a contribuição dos países exportadores depetróleo no combate à pobreza e sublinha o compromis--so de solidariedade e apoio institucional aos países maispobres do planeta e de contributo para a protecção domeio ambiente. Os Chefes de Estado manifestaram asua disposição em contribuir para o equilíbrio e estabili-dade no mercado petrolífero, garantir o abastecimentoregular do crude, adoptar políticas não discriminatóriasnas relações comerciais e tornar disponível a energia atoda a gente.Refira-se que Angola tornou-se o 12º membro daOPEP desde Novembro de 2006, sendo esta terceiraCimeira em Riade a sua primeira participação emencontros ao mais alto nível. Desde 11 de Novembro de2006, Angola assume a vice-presidência da OPEP apóseleição realizada em Viena (Áustria), sede da Organi-zação.A cimeira da OPEP reflectiu sobre “economia global, nocontexto da globalização”, o “futuro do petróleo no pro-cesso global de energia”, os "mercados de petróleo e degás nas actuais condições e as futuras pesquisas", a "ener-gia e o meio ambiente - desafios e oportunidades" e ain-

O Presidente angolano, JoséEduardo dos Santos,- anunciouque Angola espera atingir, em2009, uma produção de cercade dois milhões de-barris/dia,com a entrada em acção demais campos de exploração.A revelação foi feita durantea terceira Cimeira de Chefesde Estado e de Governoda Organização dos PaísesExportadores de Petróleo(OPEP), decorrida a 18de Novembro, na capitalda Arábia Saudita (Riade).

NNPaís produzirá dois

milhões de barrisde petróleo por dia

Angola assume vice-presidência da OPEP

Momento da assinatura dos acordos

Presidente Dos Santos com veteranos de guerra cubanos

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À busca de consensos Depois de Cuba, o Presidente Eduardo dos Santos rumoupara Nova Iorque, onde participou na 62ª sessão daAssembleia Geral das Nações Unidas, e numa reunião dealto nível relativa às mudanças climáticas como desafioglobal. Aqui, o Presidente apelou para a necessidade de secontinuar a aprofundar o estudo e a análise da ameaça queconstitui o terrorismo e a busca de consensos cada vezmais alargados sobre respostas colectivas. "O Islão podecoexistir nas sociedades, de modo pacífico, com outroscredos religiosos", mas é preciso neutralizar o fanatismo eevitar a islamização do Estado, que contraria a consciên-cia jurídica moderna da Humanidade sobre o Estado se-cular, referiu o mais alto mandatário angolano.O Presidente Dos Santos adiantou que "é preciso, nanossa opinião, defender a diversidade cultural e tornarmais inclusivo e justo o processo de desenvolvimentopolítico, económico e social; apoiar e estimular todas asforças e movimentos que, nos países onde há predo-minância do islamismo, defendem a vida moderna, a se-paração do Estado da religião e os valores e privilégios dacultura universal, consagrada em convenções, cartas etratados internacionais".Adiantou que a globalização da economia deve ser regu-lada, de forma a mitigar as assimetrias entre o centro e aperiferia do sistema e assegurar as condições para que cadapessoa possa ter os meios necessários para a sua sobre-vivência e uma vida digna. Essa regulação deve cuidar,igualmente, das questões ambientais, advogou oPresidente angolano, para quem "há países que passarampor um rápido desenvolvimento industrial sem prestar adevida atenção à protecção do meio"."Outros estão agora numa empreitada idêntica, aumen-tando a produção do dióxido de carbono e agravando oefeito estufa", referiu, acrescentando "Apoiamos assim ainiciativa do senhor Secretário Geral, nesse sentido, cienteque os países que mais poluem o ambiente devem con-tribuir com mais recursos para a sua protecção". A agendaincluiu a discussão da necessidade de se pôr fim ao embar-go económico imposto pelos Estados Unidos contra

Cuba, tendo o Presidente José Eduardo dos Santos con-siderado imperioso o fim definitivo do embargo económi-co, comercial e financeiro a Cuba, pois é uma medida "queviola os princípios do direito internacional e os artigos 1ºe 2º da carta da ONU".Em Nova Iorque, José Eduardo dos Santos encontrou-sepela primeira vez com o presidente de França, Nicolas

Sarkozy, e reuniu-se em separado com os seus homólogosafricanos: João Bernardo Vieira, da Guiné-Bissau; DennisSassou Nguesso, do Congo-Brazzaville; e AbdoulayeWade, do Senegal.Os presidentes John Kufuor (Gana); Laurent Gbagbo(Costa do Marfim); Umaru Musa Yar'dua (Nigéria) eJoseph Kabila (RD Congo).

3POLÍTICAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

da sobre a "energia e o desenvolvimento sustentável".A 1ª Cimeira da OPEP teve lugar em 1975, em Argel,capital da Argélia, e a 2ª em 2000, em Caracas,Venezuela, um dos países fundadores da organização.À margem da terceira Cimeira da OPEP, José Eduardodos Santos reuniu-se com os seus homólogos da Nigéria,Umaru Musa Yar'Adua, e da Venezuela, Hugo Chavez,no Palácio Real, em Riade, onde os estadistas abordaramquestões de interesse bilateral e de âmbito internacional.

Intensificação e reforço da cooperaçãoA viagem do Presidente angolano a Riade fez parte deuma intensa digressão que incluiu Cuba e EstadosUnidos, onde participou na 62ª sessão da AssembleiaGeral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e numareunião de alto nível relativa às mudanças climáticascomo desafio global. O Presidente angolano visitouainda a Namíbia e Moçambique depois de, em Agosto,ter recebido em Angola o seu homologo brasileiro, Lulada Silva. Das conversações entre Angola e o Brasil resul-tou a assinatura de acordos nos mais variados domínios,com destaque para o protocolo de entendimento nodomínio das Finanças e outro complementar ao acordode cooperação económica, científica e técnica, visando aimplementação do projecto "Escola para Todos".Foi também rubricado um acordo entre a empresaangolana Sonangol e a brasileira Odebrecht, para o esta-belecimento de uma empresa para a produção de bioe-nergia em Malanje. Este projecto vai render cerca de 250milhões de dólares nos próximos cinco anos.

Agradecimento a Cuba Na capital cubana, Havana, onde se deslocou para umavisita de três dias, o Presidente José Eduardo dos Santosenalteceu o contributo dos internacionalistas cubanos nadefesa da integridade territorial de Angola. Para ele, as

intenções da visita eram a revisão dos moldes de coope-ração com Cuba, render homenagem àqueles que deramas suas vidas por Angola e saudar o povo cubano.Num encontro com veteranos de guerra que partici-param ao lado dos angolanos nas guerras contra invasõesestrangeiras, o Presidente manifestou-se satisfeito pelofacto de angolanos e cubanos terem estado "ombro aombro" na luta para a conquista da paz. "Foram os com-batentes cubanos que, ao lado de angolanos, namibianose sul-africanos, ajudaram a alterar o panorama políticona África Austral" sublinhou, agradecendo a FidelCastro, que considerou uma pessoa rara e um grandeamigo de Angola, que acompanhou Angola "emmomentos difíceis da história da humanidade, no tempoda guerra fria e numa altura em que a situação pareciadesesperante". No termo da deslocação a Cuba, foramassinados dez acordos de cooperação e memorandos de

entendimento, em Havana, com vista a reforçar asrelações económicas, comerciais e aprofundar a amizadee solidariedade entre os dois países e povos.A cerimónia decorreu no Palácio da Revolução, na pre-sença do vice-presidente do Concelho de Estado e doGoverno cubano, Raul Castro Ruz. Coube aos ministrosdas Relações Exteriores de Angola, João Miranda, e dosNegócios Estrangeiros de Cuba, Filipe Perez Roque,rubricarem o Protocolo de Cooperação Complementarao Convénio de Colaboração, que actualiza os marcosjurídicos assinados em 29 de Julho de 1976.Foram ainda assinados acordos de cooperação nodomínio das Obras Públicas, Energia, Ensino Superior eFormação de Quadros, assim como memorandos deentendimento sobre a Saúde, Alfabetização, Hotelaria eTurismo, Desporto e Educação Física.Com o acordo assumido no domínio da Saúde, Angoladeverá contar com o concurso de mais médicos cubanos,garantir a formação aos níveis de licenciatura, mestradose doutoramentos, estando em aberto o fornecimento demedicamentos produzidos naquele país, nomeadamentevacinas. No domínio das Obras Públicas, esperam-sebenefícios recíprocos em matérias de produção de mate-riais de construção, bem como o envio de angolanos aCuba para a formação em outros níveis e escolas deCuba.No que se refere a Energia e Águas, Angola espera dacooperação com Cuba a criação de programas para me-lhorar a prestação de serviços de fornecimento de ener-gia a população e a implementação de programas para amelhoria do abastecimento de água.Prevê-se trazer para Angola técnica para os projectos decaptação de água, tendo sido, nesse aspecto, assinado umcontrato com a empresa cubana Antex, para reabilitar emodernizar os sistemas de captação, distribuição eabastecimento de água a vila de Xangongo, no Cunene.

Depois de uma visita de dois dias à Namíbia, onde os dois Estados reafirmaram e consolidaram as "boas" relações bila-terais, o mais alto mandatário da Nação, que garantiu a realização das eleições legislativas em Angola, entre Maio eSetembro de 2008, esteve em Moçambique, numa visita considerada histórica pelas autoridades moçambicanas. No ter--ritório Índico, Eduardo dos Santos recebeu a chave da cidade de Maputo, e afirmou, que todos os angolanos que sedeslocquem a esta cidade para viver, trabalhar ou passear, contribuirão para o reforço da amizade entre os dois povos epara o desenvolvimento de Moçambique. Angola e Moçambique rubricaram nove acordos de cooperação bilateral nosdomínios da Ciência e Tecnologia, Geologia e Minas, Petróleos, Comunicação Social, Ensino Superior, Energia,Administração do Território, Pescas e Agricultura, e ainda um memorando de entendimento no domínio da ConstruçãoCivil e Obras Públicas.

Na despedida com Raúl Castro

Presidente José Eduardo dos Santos em Moçambique

JES confirma "legislativas" para 2008

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or recomendação da ComissãoNacional Eleitoral, a decisão dosangolanos residentes fora do país

não puderem votar nas próximas eleiçõeslegislativas de 2008 e presidenciais de2009, foi tomada em meados deste ano,quando o Conselho de Ministros, órgãocolegial do Governo de Unidade eReconciliação Nacional (GURN), apósuma discussão exaustiva anunciou nãoexistirem condições materiais, nem orga-nizativas que permitam aos angolanos noexterior exercer o seu direito de voto,num pronunciamento feito pelo ministroda Administração do território, VirgílioFontes Pereira, que é também coorde-nador da Comissão Interministerial parao Processo Eleitoral (CIPE).Falando à imprensa, o governante expli-cou que "se é verdade que algumascondições materiais podem ser reunidas,e houve um esforço muito grande daparte da CIPE, mandatada pelo governopara tal, o certo é que grande parte dessascondições materiais não podem, nestemomento, ser garantidas para que o reg-isto eleitoral se realize no exterior dopaís".Fontes Pereira acrescentara que das dis-cussões havidas com vários actores con-cluiu-se ser difícil que a ComissãoNacional Eleitoral (CNE) e os partidospolíticos concorrentes às eleiçõespudessem promover a supervisão e a fis-calização do processo em todos os paísesonde se encontram fixados os angolanos,em virtude do grau de dispersão dascomunidades angolanas por todo omundo.Na sequência desta decisão, e de pas-sagem por Portugal, em Julho deste ano,o presidente da Comissão NacionalEleitoral, Caetano de Sousa, reuniu-secom a comunidade angolana, ondeesclareceu aos presentes, as razões queestiveram na base da não possibilidade doexercício do direito de voto por parte doscidadãos angolanos residentes no exteriordo país. A referida reunião realizou-se nacidade do Porto, onde existe uma grandecomunidade angolana, e para onde con-vergiram muitas centenas de compatrio-tas angolanos residentes em quase todosos rincões do território português.Em Novembro, aproveitando a sua novapassagem por terras lusas, Caetano deSousa voltou a falar para os órgãos decomunicação social, nomeadamenterádios e jornal portugueses, com grandeaudiência junto da comunidade angolanaresidente em Portugal."É importante lembrar o grau incomen-surável das dificuldades dum processo deregistro eleitoral, sobretudo para um paísemergente de um longo conflito armadoe em fase de reconstrução nacional", disseCaetano de Sousa. Evocando esta razão,o também juiz do Tribunal Supremo deJustiça, não desperdiçou a ocasião paraesclarecer os motivos que levaram a insti-tuição que representa a recomendar aogoverno a tomar tal decisão.Segundo ele, razões meramente deordem técnica condicionam a vontade doGoverno em ver os angolanos residentesno exterior votar, acrescentando queneste acto eleitoral não será possível aparticipação dos angolanos no exterior,por a maioria das missões diplomáticas e

consulares angolanas no exterior do paísnão ter condições que permitam assegu-rar a participação inclusiva de todos.Perante este quadro, é importante referirque as dificuldades que os órgãos doEstado encarregue de tratar de questõesde natureza eleitoral enfrentam sãoinúmeras. Não se pode ignorar o facto detodo o processo eleitoral implicar a orga-nização de condições técnicas e humanas,num país completamente destruído peloconflito armado. Outro aspecto funda-mental dum processo desta envergaduratem a ver também com a necessidade dese conduzir acções de formação direc-cionada de todos os agentes deste proces--so, incluindo até os representantes dacomunicação social que cobrirão oprocesso, para que o mesmo não sejaprejudicado por erros que podem facil-mente ser evitados. Segundo as autori-dades angolanas, o próximo pleito elei-toral, marcará o início de uma normali-

dade constitucional, há muito condi-cionada pelos efeitos da guerra.“É vontade do Governo ver todos os fi-lhos de Angola exercer este direito fun-damental. Daí que tudo se fará para quese criem condições objectivas com vista ainclusão de todos, depois deste processoeleitoral”.

Qual é a génese da ComissãoNacional Eleitoral?A CNE é um órgão composto por onzemembros, designadamente: dois cidadãosindicados pelo Presidente da República,seis cidadãos designados pela AssembleiaNacional, por maioria absoluta dos de-putados em efectividade de funções, sobproposta dos partidos com assento parla-mentar, sendo três pelo partido ou coli-gação maioritário e três pelo demais par-tidos ou coligação de partidos, um juiz doTribunal Supremo eleito pelo Plenáriodo respectivo Tribunal, um representante

do Ministério da Administração doTerritório, um membro do ConselhoNacional de Comunicação Social, eleitopelos seus pares.É um órgão independente e participadoque tem a função de coordenar a exe-cução, condução e realização de todas asactividades e operações relativas àseleições, bem como a superintendência esupervisão dos actos de registo eleitoral.

O que faz a ComissãoInterministerial para o ProcessoEleitoral?A CIPE - Comissão Interministerialpara o Processo Eleitoral é um órgãoadministrativo que visa assegurar apreparação das condições técnico-mate-riais e administrativas para a organizaçãoe a realização das segundas eleições ge-rais em Angola, no quadro das respon-sabilidades próprias do Governo.

PP4 POLÍTICA

MWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

Falta de condições materiais e organizativas. São razões de ordem técnica, como por exemplo o facto

da maioria das missões diplomáticas e consulares no exterior não ter condições de assegurar a partici-

pação inclusiva de todos. Existem angolanos em quase todos os países do mundo, e há países onde há

um maior fluxo de angolanos, mas que seria uma medida discriminatória dar primazia a uns e não a

outros. De qualquer modo a Comissão Nacional Eleitoral recomendou ao governo que faça todos os

esforços com vista a criar condições materiais e técnicas em todas as representações diplomáticas e

consulares, para que nos próximos processos eleitorais os angolanos residentes no exterior possam

participar do seu direito inalienável ao exercício do voto.

Esclarecidas razões que não viabilizamvoto no exterior nas eleições

de 2008 e 2009

Quais são essas razões?Quais são essas razões?

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5ECONOMIAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

reabilitação dos Caminhos-de-Ferro de Angola é um dosgrandes desafios que o Go-

verno Central está a enfrentar visando orápido desenvolvimento económico dopaís e a melhoria de vida das populações.Com financiamentos do Fundo Inter-nacional da China (CIF, sigla inglesa),neste momento estão a ser realizadasobras de recuperação desta importantevia de comunicação que foi quase total-mente destruída durante o longo períodode guerra.São, no total, 2.532 quilómetros delinha-férrea. Uma rede que inclui oCaminho-de-Ferro de Luanda (CFL), oCaminho-de-Ferro de Benguela (CFB) eo Caminho-de-Ferro do Namibe (CFN).Em algumas zonas, os cidadãos já sevoltaram a habituar com o soar do apitodo comboio que há muito não se faziasentir por estas paragens.No CFL, por exemplo, já se pode obser-var a circulação do comboio desde aestação do Bungo - nas proximidades doPorto de Luanda - até ao município deViana e daí até à localidade da Baia, 35quilómetros a Leste da cidade. Da Baia àestação do Zenza do Itombe, provínciado Kwanza-Norte, também já estão con-cluídos os trabalhos.O projecto reabilitou ainda a linha-férreado desvio do Zenza ao Dondo, na mesmaprovíncia, numa extensão de 55quilómetros. Antes do final de 2007,poderão estar reabilitados mais 215quilómetros entre o Zenza e Cacuso, emais 57 quilómetros ente Cacuso eMalanje, perfazendo um total de 480quilómetros. Ao longo do curso estão aser erguidas ou reabilitadas 22 pontes,com um total de 680 metros.O CFB, com um percurso de 1308quilómetros que vai desde o Porto doLobito até ao município do Luau, naprovíncia do Moxico, tem conhecidotambém já várias intervenções visando oseu funcionamento para os próximostempos. Neste momento, mais de 230quilómetros de caminho estão prepara-dos para o projecto. Foram igualmentedemolidos 365 quilómetros de carril usa-dos no passado.Porém, existem ainda dificuldades decor--rentes da necessidade de se desminaralgumas áreas. Prevê-se que até ao finaldeste ano, cerca de 408 quilómetros entreo Bié e o Luena, capital do Moxico, este-jam livres de minas para facilitar os tra-balhos, e entrem em vigor as obras defundamento, pontes e túneis. Pretende-sedesenvolver, ainda este ano, os trabalhosde montagem da via-férrea.Quanto ao CFM, com uma extensão de747 quilómetros que vai do Porto doNamibe até à cidade de Menongue, ca-pital da província do Kuando Kubango,este troço contou já com a preparação decerca de 440 quilómetros de caminhofavorável para as obras, tendo sidodemolidos 214 quilómetros de carrilusado. O objectivo do projecto é que até

ao final de 2007 entrem em vigor asobras de fundamento, pontes e túneis, ese desenvolvam os trabalhos de mon-tagem da via-férrea.

Comboio volta a apitarna província de MalanjeO regresso do comboio à província deMalanje está agendado para breve, depoisda sua paralisação durante 13 anos devi-do ao conflito armado.A última fase das obras de recuperação emodernização do Caminho-de-Ferro deLuanda (CFL), a cargo do grupo empre-sarial chinês China Railway 20th Coo-peration, estão prestes a terminar.O mês de Novembro foi apontado pelo

Presidente da República, José Eduardodos Santos, como meta para a concretiza-ção deste grande feito, aquando da suavisita às terras da Palanca Negra este ano.Uma das principais linhas-férreas dopaís, o CFL, fundado, em 1888, comuma extensão de 480 quilómetros, co-meça o seu percurso na estação do Bungo(nas imediações do Porto de Luanda) etermina na cidade de Malanje. A suarecupe-ração inclui um desvio de 55quilómetros do Zenza do Itombe aoramal do Dondo, província do Kwanza-Norte (a 187 quilómetros de Luanda),onde o comboio, saído da capital do país,já pode chegar. A última fase com-preende a reabilitação de mais 215quilómetros entre o Zenza e Cacuso, e

mais 57 quilómetros ente Cacuso eMalanje. Ao longo do curso estão tam-bém a ser erguidas ou reabilitadas 22pontes, com um total de 680 metros.A primeira vez que o comboio apitounaquela província aconteceu há cemanos, isto é, em 1907, dezanove anosdepois da inauguração do CFL. Foram85 anos de circulação, até que o mesmofoi forçado a interromper o seu percurso.A esperança, agora, começa a renascer, eo regresso aos carris está para muitobreve, graças à parceria com a China, umpaís do oriente com uma civilizaçãomilenar e conhecido também pelos seustradicionais caminhos-de-ferro. A circu-lação no referido troço ferroviário vai serfeita sobre pontes, carris, balastros novose um sistema de comunicação moderno,com uma duração de cinco horas deviagem. Para o ministro dos Transportes,André Luís Brandão, a recuperação destee de outros caminhos-de-ferro nacionais(de Benguela e do Namibe) vai contri-buir para o desenvolvimento económicoe para o reassentamento de populaçõesdeslocadas, sobretudo nas zonas ondenão há circulação rodoviária.

Ex-militares encontramreinserção social nas obrasA recuperação do último segmento doCaminho-de-Ferro de Luanda em di-recção a Malanje está a contar com oconcurso de ex-militares desmobilizadosdas Forças Armadas Angolanas. Ao lon-go do percurso estão centenas de ex-mi-litares que, com os chineses, constituem aforça de trabalho que está participarneste projecto. Centenas de trabalha-dores ferroviários de todas as localidadespor onde o caminho-de-ferro passa vêem,neste trabalho, a sua esperança renovada.

A reabilitação dos Caminhos-de-ferro de Angolaé um dos grandes desafios que o Governo Centralestá a enfrentar visando o rápido desenvolvimento

económico do país e a melhoria de vida das populações

Mais de 2500 quilómetrosde linha-férrea

serão recuperados

AAVladimir Prata

MWANGOLÉ . Fotos R ICMÍDIA

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até à gestão do mesmo. Afinal a Associação já prestamuitos desses serviços de forma indirecta. Em Marçodurante um encontro de angolanos na diáspora com oministro angolano das Relações Exteriores, JoãoMiranda, na Universidade Lusófona em Lisboa para sediscutir esta e outras questões os representantes dosangolanos no Algarve estiveram presentes.Mário Castro, que é supervisor numa empresa de segu-rança em Albufeira, foi um dos angolanos que lá sedirigiu. Solicitou, com outros representantes da diáspora,além da dita abertura de um consulado de Angola noAlgarve, a tomada de acções no que toca a ter acesso aosserviços portugueses como a segurança social e sistemade saúde. Uma outra urgência é a regularização da situa-ção de milhares de adultos desprovidos de qualquer do-cumento de identificação: "há que resolver a situação dosilegais a quem é vedado o direito de cidadania",consciencializa Mário Castro.

A diáspora algarvia defendeu no encontro, o estabeleci-mento de um acordo de extradição em relação aosangolanos que se encontram presos em Portugal, paracumprirem o resto das suas penas no país de origem.Estes angolanos sentem saudades de Angola, aindamuito presente no seu coração e cabeça. Reúnem-se re-gularmente em torno de uma mesa de restaurante erecordam histórias da banda, não perdem o sotaque fes-tivo, os gestos alargados e fraternos, a gargalhada sonora.Bernardino Rodrigues e Manuel Baptista do núcleo deOlhão, o senhor Henrique Tenreiro de Benguela que fazas honras do café para convívio, Carlos Sousa Júnior,nascido em Porto Alexandre (hoje Tombua), com a suaexperiência de pesca aprendida no Namibe.Deparamo-nos com rostos e vozes de angolanos queescolheram o clima algarvio, a proximidade do mar, pararefazer a sua vida. Já cá vivem há muitos anos, unsdeixaram a "banda" logo após a independência, outros,há pouco mais de uma década, foram vindo em váriosmomentos dos conflitos da guerra civil. Angolanos bran-cos, negros e mestiços, para bem representar a multicul-turalidade do país. Em todos o desejo presente de regres--sar à terra onde nasceram. E se estes ventos de cresci-mento económico trouxerem oportunidades de trabalho,para muitos o regresso é certo.A Apalgar tem sido um bom ponto de encontro, não sópara a resolução de problemas como para o convívio eactividades culturais, mantendo viva a relação com ele-mentos da identidade cultural dos países de língua por-tuguesa. Fernando Rocha explica que já contam comuma equipa de futebol, um grupo de dança, organizaramum desfile de trajes e participaram no Carnaval deLoulé. Tratam das comemorações do dia de África (25de Maio), em Julho já vão para o 7ª ano do Festáfrica, emNovembro encerram as festividades da Independência deAngola, organizam debates e nunca esquecem a música.Muitos músicos e cantores angolanos já os vieram visitar.Não faltam os nomes sonantes: Waldemar Bastos,Neusa, Irmãos Verdade, D. Kikas, Bonga, CarlosLamartine e Paulo Flores. Momentos de descompressãoe alegria que fazem o contraponto com a vida difícil elutadora que todos levam. Calorosamente recebidos paraouvir as histórias de cada um e da associação, descobri-mos um imenso interesse pela cultura e acontecimentosangolanos e é positivo que no mapa do país se descen-tralizem os poderes e se tornem mais funcioais os meiosde fixação da cultura angolana, fazendo do Algarve umponto de referência incontornável.

6 SOCIEDADEMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

gostinho Costa aterra em Portugal em 1990,de Lisboa vai para Olhão e depois fixa-se emFaro. Tem formação em armador de ferro, pas-

-sou pelo inevitável trabalho nas obras e é agora projec-cionista de cinema em Faro, onde também trabalhoudurante dois anos na Companhia de Teatro, fazendo detudo um pouco.Este é um dos variados destinos de angolanos que seencontraram com o Mwangolé em Quarteira. Umacalorosa tarde passada ao sul, na Apalgar, Associação deAmizade dos Países de Língua Portuguesa no Algarve(Palop) no Algarve.Esta associação sem fins lucrativos mas que conta com oapoio da Câmara de Loulé e do Fundo Social Europeu,presta serviços em questões burocráticas, dá formação,especialmente em informática tendo restaurado o espaçodo piso inferior para aulas e desenvolve actividades re-creativas e culturais.Constituíram em 1999 a Associação com o objectivo depraticar actos de solidariedade entre os emigrantes dosPalops, sendo os sócios fundadores o Dr. ColaçoCanário (do corpo jurídico) e o Dr. Francisco Sales (daformação profissional).Podemos afirmar que a coisa anda sobre rodas principal-mente devido à persistência do seu presidente, FernandoRocha, que dedica grande parte da sua vida a APAL-GAR.."Chego a ir a Lisboa duas vezes por mês", desa-bafa. Ele acaba por desempenhar um papel de inter-mediário entre os angolanos e os serviços consulares:recolhe a documentação, ajuda o pessoal em tudo o querespeita a burocracia, e lá segue a caminho de Lisboa,rumo ao Consulado de Angola.A deslocação é cansativa e a distância do Consuladocontribui para dificuldades na resolução dos problemasdos angolanos no Algarve. Todos desejam que volte ahaver um consulado de Angola no Algarve (já houve até1992) uma vez que a comunidade na região já chega aos10 mil habitantes.A Apalgar dispõe-se a ajudar em todo o processo deabertura do Consulado, desde a recolha de assinaturas

Angolanos ao sul

A Sede da APALGAR

AMarta Rodrigues

MWANGOLÉ . Fotos R ICMÍDIA

A

Quarteira é a cidade Algarviaonde estão concentradosa maioria dos imigrantesangolanos.

muitos desejamregresso

Angolanos ao sulmuitos desejam

regresso

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os vinte anos, em 1981, veio do Lobito directa-mente para Faro, onde continuou a estudar.Quatro anos depois, ainda estudante, experimen-

tou os microfones, com a equipa de desporto da RádioRestauração, em Olhão. Eram os anos gloriosos das rádioslocais e ainda hoje o desporto, o relato ao vivo, se mantêmuma paixão. Nos estádios, além dos apoiantes dos doisclubes há sempre uma outra claque, a que apoia o Gastão.Esta experiência transformou-se desde o primeiro dia paraalgo que Gastão quereria fazer durante o resto da sua vida.Acabou por se profissionalizar como jornalista. Depois deefémeras passagens por outras rádios, e pela imprensa,

desembarcou no Rádio Clube do Sul, onde ainda hoje tra-balha e é cooperante, como jornalista e editor de informação.A seguir ao desporto, a música seria a segunda área deeleição. Teve um programa de música africana e actualmentetem na Rádio Clube do Sul, o programa "Saudade", domingode manhã, das 10 às 13 à hora de um debate na RDP África.Com o correr do tempo a informação foi suplantando as ou-tras áreas. Jornalista primeiro e mais tarde editor informati-vo, desde 2004 é também o correspondente da RádioRenascença no Algarve. Hoje Gastão é o repórter que estáem todo o lado, na abundância ou na ausência de infor-mações, dos incêndios de 2003 ao caso "Maddie". Comaudiência nacional e um enorme desgaste físico. Sócio fun-dador da Apalgar, e um entusiasta das associações africanasno Algarve, cujo trabalho divulga e promove. E, ausente deAngola desde os vinte anos, tem uma enorme curiosidade emvoltar para ver a terra e os amigos, já no próximo ano, espera.E quanto ao regresso definitivo, diz: “É uma porta que nuncaserá fechada”.

m pouco espalhados pelo território português, os angolanos, vão-seencontrando, aqui e acolá, com destaque para maiores concentraçõesurbanas como Lisboa e arredores. Porém, o Algarve, de Lagos até Faro,

passando por localidades como Portimão, Vilamoura, Loulé e Quarteira, Olhão,Boliqueime, São Brás de Alportel, é onde vamos encontrar um ambiente de tonstropicais, cuja população é em grande parte originária dos países africanos deexpressão portuguesa.Não é difícil encontrar pelas ruas destas povoações gente a falar crioulo de CaboVerde, da Guiné, de São Tomé, ou até mesmo escutar o doce e característicosotaque do falar português proveniente de Moçambique ou mesmo de Angola.Há 33 anos, o 25 de Abril e o desencontro político que degenerou em guerras ouconflitos nos territórios deixados por Portugal deram motivo à saída, exílio, afas-tamento, emigração, como resultado da insatisfação, insegurança ou até falta derealização profissional para muitas centenas de milhar de pessoas, entre as quaismuitos angolanos.Assim fazem parte integrante da população algarvia mais de uma dezena de mi-lhar de angolanos, dos que constam no registo mas outras estatísticas indicam quesão cerca de 15 mil os angolanos residentes ao longo da orla entre o Barlavento eSotavento algarvio. Muitos se dedicam ao desporto profissional como futebol eartes marciais; mas há angolanos jornalistas, empregados de hotelaria,empresários, autarcas, advogados, músicos, regentes agrícolas, engenheiros comespecialidades únicas, como Eduíno Carruela, engenheiro-químico, formado emInglaterra na área especial de engenharia de cimentos. Outros não menos realiza-dos a nível profissional, podemos encontrar nas pescas, como a Mutualista dePescadores de Quarteira, uma emblemática associação organizada a rigor porgente de Benguela habituada a estas coisas do mar, esperançados em largar as suasredes nos mares de Angola e poder exportar para a terra natal a sua experiência eaí obter naturalmente os mesmos resultados positivos que têm obtido nos maresalgarvios.Nas datas festivas os angolanos residentes no Algarve realizam eventos de altonível na organização, na pedagogia transmitida às populações locais que hoje, maisdo que nunca, aprendem a conhecer também os que vêm de outras paragens e re-

presentam novos valores para a multiculturalidade. Loulé, Quarteira, Portimão,Olhão e Faro costumam ser pontos de referência onde se disputam grandes ma-nifestações culturais e desportivas, onde o lazer de influência angolana é sem dúvi-da muito evidente. Em Quarteira, o incansável Fernando Rocha é fundador daassociação APALGAR, autarca da freguesia local, natural de Benguela e umangolano exemplar nas causas que defende, persistente e atento à realidade da mis-tura de culturas para a qual foi um dos primeiros a despertar. Rocha criou ligaçõesentre a Embaixada em Lisboa e a população angolana residente no Algarve, aju-dou a regularizar a situação de muitos angolanos que nem documentos tinham,sempre sem olhar a quem, cativando inclusivamente portugueses para a sua causae fazendo-se respeitar perante a comunidade.O Algarve precisa com urgência de uma representação consular, instituição queexistiu em tempos mas que porém, na época, não deu resultado, já que se transfor-mou de maneira natural num cantinho de Portugal que é dos mais angolanos,senão o mais angolanizado, com pessoas que querem ser descobertas e acarinhadaspela pátria sedentos e saudosos de sentir o calor da sua terra.Até os nascidos em Portugal, a segunda geração de angolanos algarvios, esperamansiosos um dia conhecer a terra, pois quase conhecem de tanto escutar dos pais eos mais velhos a contar.

7SOCIEDADEMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

…Um Algar vemais angolano

UU

Fernando RochaPresidente da Junta

de Freguesia de Quarteirae da APALGAR

Veladimir Romano

AA

Jorge Ramos

É a voz angolana na rádio algarvia, a voz doAlgarve na rádio portuguesa: Editor informativo

no Rádio Clube do Sul, correspondenteda Rádio Renascença no Sul, Gastão Nunes

é uma das figuras de maior destaquena comunidade angolana no Algarve.

A voz angolanada rádio algar via

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8 SOCIEDADEMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

realidade concreta do paísimpõe a urgência do estabelec-imento de uma política de pro-

tecção social que auxilie a redistribuiçãodos rendimentos, de forma a contribuirpara eliminar a precariedade e reduzir asconsequências sociais negativas de longosanos de guerra, ao mesmo tempo queajuda a gerar novos estímulos ao desen-volvimento.O Governo definiu como prioridade amodernização, normalização e organiza-ção do INSS (Instituto Nacional deSegurança Social) através de tecnologiasmodernas de informação e de gestão,bem como de valorização, motivação eformação dos recursos humanos doINSS.O Plano de Modernização eDesenvolvimento Institucional (PMDI)visa o estabelecimento de uma nova cul-tura organizacional e actua em todas asáreas do Instituto, abrangendo a identifi-cação, padronização, revisão e automati-zação dos processos, bem como a val-orização, motivação e formação do pes-soal do INSS assim como a melhoriacontínua no atendimento aos Cidadãos.Começando por bancarizar as contas detodos os pensionistas do Estado, o INSSpersegue a garantia de respeito e efectivaprotecção dos direitos dos trabalhadores.Para tal utiliza tecnologias de informaçãoavançadas na gestão e na documentaçãodas operações, segurança das infor-mações, controlos financeiros e análisesactuariais que afiancem a continuidadeda Protecção Social Obrigatória, propon-do o estabelecimento de uma políticaassente no princípio da solidariedadecom carácter comutativo.

Solidariedade de grupo

Em Angola, de acordo com a lei nº7 / 04de 15 de Outubro, a Protecção SocialObrigatória pressupõe a solidariedade degrupo de carácter comutativo e assentanuma lógica de seguro sendo financiadaatravés de contribuições de trabalhadorese das entidades empregadoras.O Instituto Nacional de SegurançaSocial, tem vindo a arrecadar desde 1992contribuições para o financiamento daProtecção Social Obrigatória dos con-tribuintes (entidades empregadoras e tra-balhadores) deste nível de protecçãosocial de cariz contributivo.Só beneficia das prestações e benefíciosdo INSS, quem de facto contribui, ou quetenha a densidade contributiva especifi-cada para as modalidades de prestaçõesgeridas pelo Instituto, designadamente,subsídio de maternidade, de aleitamento,abono de família, pensão de reforma porvelhice, invalidez, abono de velhice, pen-são de sobrevivência e subsídios pormorte e de funeral.Durante a vigência da lei nº 18 / 90 de 27de Outubro colheram-se experiências,

amadureceram-se ideias e surgiram novosdesafios que recomendam o aperfeiçoa-mento do actual sistema de SegurançaSocial em todas as suas vertentes.Tendo em conta o baixíssimo índice detrabalhadores inscritos, cerca de 2,7% dapopulação total e 5% da população eco-nomicamente activa, dos quais 45% estãoem Luanda, o Ministério da

Administração Pública, Emprego eSegurança Social (MAPESS) apostou naconsciencialização de que o Instituto,ainda desconhecido para muitos, consti-tui o único apoio que a população podeter para uma reforma na velhice, emeventuais infortúnios, bem como emmomentos significativos como o nasci-mento de filhos. Pretende-se dar a con-

hecer amplamente os custos, que emAngola ainda são mínimos, para que ostrabalhadores estejam incluídos nestaimportante rede social.

O INSS está nas18 províncias do país

A informatização é já um facto nasAgências do INSS de Benguela, Lobito,Cunene, Malange, Huíla, Bengo,Cabinda, Soyo, Namibe e Kwanza Sul.Estão em fase de informatização asadministrações da Lunda Norte, KwanzaNorte, Lunda Sul, Kuando Kubango,Moxico e Huambo.O MAPESS está a realizar, desde o iní-cio do ano, em Luanda e nas províncias,uma série de seminários técnicos sobre aProtecção Social Obrigatória, cujo objec-tivo é sensibilizar e divulgar as normas einstrumentos que a regulam junto dosrepresentantes do sector público, admi-nistrativo, empresarial e dos parceirossociais do Governo.A gestão contabilística e financeira, bemcomo os novos procedimentos que asempresas devem adoptar para seenquadrarem no novo "Sistema de Folhade Remunerações" a partir do site doInstituto (www.inss.gv.ao) são igual-mente temas a analisar no âmbito da dosseminários e campanhas do INSS.

AA

Protecção Socialobrigatória em Angola

Empregadores e trabalhadores têm acompanhado com interesse osseminários do MAPESS sobre a lei de Segurança Social em Angola.

A modernização das dependências do INSS nas 18 províncias do país tem sido uma prioridade

Textos Ricmídia

MWANGOLÉ . Fotos R ICMÍDIA

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9SOCIEDADEMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

Campanhasde sensibilização

A não identificação dos trabalhadoresnão ajuda a sua inclusão no mercado for-mal, assim como não permite umarelação formal com as empresas, o queinibe a acção fiscalizadora do Estado,considerando os altos índices de infor-malidade nas relações do trabalho, aausência e o desinteresse dos empre-gadores em se incluírem no sistema deprotecção social obrigatória. Estas ati-tudes são em muito motivadas pela faltade informação e da cultura empresarialexistente, o Ministério da AdministraçãoPública Emprego e Segurança Social estáa desenvolver um trabalho de sensibiliza-ção e reeducação da população e das enti-dades empregadoras angolanas.A preocupação da direcção do MAPESSe do INSS em fornecer informaçõesexplicando à população sobre os benefí-cios da inclusão dos trabalhadores nestarede de protecção, recorrendo aos jornais,rádios e televisão, constitui uma apostapara chegar de forma mais célere e direc-ta aos trabalhadores e empregadores detodo país. As campanhas estendem-seaos mais longínquos municípios deAngola e estabelecem um marco de cre-dibilidade e aceitabilidade das políticas emedidas estabelecidas.

Controle real

O Instituto Nacional de SegurançaSocial (INSS) tem controlados 521.930segurados e 65.832 pensionistas, cifra quepretende multiplicar nos próximos tem-pos com o aumento da prevenção e com-bate à evasão contributiva e vinculativadas empresas sujeitas à relação jurídico-laboral.O projecto de novas inscrições a decorrerem todo país, e de acordo com o DirectorExecutivo do Plano de Modernização doInstituto, Manuel Moreira de Jesus, pos--sibilitará a vinculação ao sistema per-mitindo ao INSS a criação e manutençãode uma base de dados actualizada.Os inscritos receberão os novos cartõesda Segurança Social. "Será possível aelaboração de novas bases de dados paraconstatação dos elementos necessáriospara a contribuição e posterior benefício,bem como o número real de pensionistas"- disse Manuel de Jesus, acrescentandoque o Instituto almeja fazer um levanta-mento dos empregadores sem qualquervínculo de inscrição ou registo, daquelesque têm contribuições em atraso, regu-larizar as dívidas provenientes dos atrasose do incumprimento da obrigação con-tributiva e ter maior controlo da fiscaliza-ção, bem como fornecer informações cor-rectas para o desenvolvimento de estudostécnicos de actualizações financeiras.Segundo o responsável, "serão atribuídoscartões às unidades empregadoras e aosempregados a partir do momento em quese inscrevem. As multas vão de três a seissalários com base no salário médio men-sal praticado pela empresa" referiu odirector do PMDI. As entidades empre-gadoras ou contribuintes que nãocumpram com a lei incorrem na práticade contravenções puníveis com as

seguintes multas: multa de 3 a 6 vezes osalário médio mensal praticado na em-presa para os que não cumprirem a obri-gação da inscrição. Os que não enviam afolha de remunerações ao INSS e a li-quidação da respectiva contribuição noprazo estabelecido, pagarão uma multaequivalente de 1 a 6 vezes o salário médiomensal praticado na empresa.A omissão da inscrição do trabalhador,assim como a não inclusão do mesmo nafolha de remunerações ou uma declar-ação fraudulenta constitui contravençãopunível com a multa de 3 a 6 vezes osalário médio mensal, a retenção indevi-da do valor relativo ao desconto da remu-neração do trabalhador, é punível com amulta de 4 a 6 vezes o salário médiomensal. O sistema de registo de remune-rações aplicará automaticamente asrespectivas multas pelo valor mínimo,sem necessidade de quaisquer formali-dades quando a liquidação do valor dacontribuição não ocorrer no prazo esta-belecido.

Novas inscrições e discussãosobre as contribuições

O MAPESS procedeu no início deOutubro ao lançamento de um programaque visa a nova inscrição de trabalhadorese empresas, prevendo registar mais de ummilhão e meio de trabalhadores deempresas públicas e privadas.O programa compreende a entrega erecepção de envelopes contendo um CDpara identificação e inscrição das empre-sas e empregados que desta forma serãointegrados no sistema de ProtecçãoSocial Obrigatória. Para este trabalho oINSS conta com uma vasta equipa e como apoio dos seus parceiros sociais,nomeadamente o Governo, o Banco dePoupança e Crédito, os Correios deAngola e o INEFOP (Instituto Nacionaldo Emprego e Formação Profissional).O processo de inscrição, cujo desafio foilançado no início de Outubro, regista jáuma grande adesão dos trabalhadores e

empresas que pretendem regularizar a suasituação. A inscrição abrange todo o tra-balhador e empresas privadas ou estatais,nos diferentes regimes contratuais ou sejacolaboradores eventuais, em part-time,ou efectivos. Desde que o empregadopossua vínculo contratual com a empresa,deve descontar para a Segurança Social.Os indivíduos com mais de um emprego,independentemente do vínculo laboralque possuam, deverão sofrer descontos(3%) em cada um dos seus salários, asse-gurando assim o futuro e de outros poisum dos seus proventos irá beneficiaralguém, daí a bandeira da solidariedadehasteada pelo INSS.Através das rádios, jornais, televisão, dis-tribuição de folhetos explicativos, e con-tando com os serviços de uma central deatendimento telefónico apta a respondertodas as perguntas dos trabalhadoressegurados pelo INSS, empregadores edemais interessados, o MAPESS pre-tende levantar o questionamento acercada obrigação de contribuir, fazendo comque os empregadores sejam directamentepressionados pelos trabalhadores e pelossindicatos.Por outro lado, o Instituto realizou emLuanda um Seminário Internacionalpara apresentar e discutir a actual situa-ção das pensões sociais obrigatórias, fo-mentar a troca de conhecimentos sobrealguns sistemas de segurança social nomundo bem como analisar propostas parao estabelecimento dos limites das pen-sões.Foram discutidos, com consultores dePortugal, Brasil e Espanha, responsáveisde empresas públicas e privadas, deorganismos da Direcção Central doEstado temas como "O regime jurídicodas prestações sociais", "A gestão dosregimes complementares", "As pensõesde reforma em Angola e a Sustentabili-dade Financeira da Protecção Socialobrigatória".

www.inss.gv.ao

Manuel de Jesus Moreira, director do PMDI ao microfone da repórterNikky Menezes da televisão pública de Angola

O programa compreende a entrega e recepção de envelopescontendo um CD para identificação e inscrição das empresas e empregados

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10 SOCIALMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

Embaixada de Angola festeja32 anos de independência

tenda do Centro Cultural de Belém foi o palco escolhido pelaEmbaixada de Angola em Portugal para assinalar os 32 anos daIndependência, tendo-se mais uma vez cumprido um programa deactividades sociais e culturais.

Na noite de 12 de Novembro, o CCB acolheu um cocktail seguido de um jantar detípica gastronomia angolana. Na ocasião, o embaixador de Angola em Portugal,Assunção dos Anjos, afirmou: "O país registou na sua história, várias etapas difí-ceis, felizmente ultrapassadas, como fruto do diálogo entre os próprios angolanos,pressupostos que possibilitam ao Governo construir um país baseado no respeitodas liberdades fundamentais, nomeadamente, a tolerância, o respeito à diferença, acriação de uma sociedade inclusiva, democrática e próspera para todos os filhos danação, de Cabinda ao Cunene, bem como a criação de um ambiente propício paraos investidores". Os artistas Yuri da Cunha, Mister Jack, Garimpeiros, BalettTradicional Kilandukilu e outras vozes da música angolana abrilhantaram a festa da

Independência. Ainda no quadro das celebrações, o jurista angolano JoaquimMarques de Oliveira procedeu ao lançamento, no Auditório da Fundação Cidadede Lisboa, da obra literária intitulada Subsídios para o Estudo da Delimitação eJurisdição dos Espaços Marítimos em Angola, resultante da sua tese de doutoramen-to. No mesmo âmbito, a escritora e antropóloga angolana, Rosa Melo, lançou aobra Homem é Homem, Mulher é Sapo, numa cerimónia que decorreu na LivrariaBulhosa, na capital portuguesa.No CCB exibiram-se quadros de artistas plásticos como Ana Silva, AntónioMagina, Dilia Samarth, Filomena Cosquenão, João Inglês e Verónica Castro.O pequeno auditório do CCB foi ainda palco de uma mostra denominada, "3ªMostra de Cinema Angolano" em que se exibiram dois filmes: O Ritmo do NgolaRitmos, que narra parte da história do agrupamento musical Ngola Ritmos, génesedo movimento nacionalista angolano, e um documentário dedicado aos povos dosul do país, Mucubal e Muchimba.

AA

Embaixada de Angola festeja32 anos de independência

Fotos Rute Matchabe

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11SOCIALMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

MinistroManuel Rabelaisdivulga realidade

angolanaem Lisboa

ministro da Comunicação Social, Manuel Rabelais, deu a conhecer em Lisboa, aos jorna-listas naturais de Angola a trabalharem em Portugal, a realidade económica, social epolítica, bem como o processo de reconstrução nacional em curso em Angola. Durante asua estada em Portugal, o governante angolano foi recebido pelo ministro dos Assuntos

Parlamentares, Augusto Santos Silva, com quem passou em revista o relacionamento entre os doispaíses no domínio da comunicação social.Acompanhado pelos directores-gerais dos órgãos de informação públicos e funcionários do seu Mi-nistério, Manuel Rabelais visitou o Gabinete para a Comunicação Social, que tem como missão coa-djuvar o governo no estabelecimento de políticas para o sector.A delegação manteve encontros com as administrações da RTP, RDP, Agência LUSA, centro proto-colar de formação de jornalistas e com a empresa Tobis, com os quais foram perspectivadas futuras for-mas de cooperação. Os jornalistas manifestaram a disponibilidade de colaborar com o Governo nodesenvolvimento da comunicação social no país. Para David Borges, este encontro vai ajudar a passarna imprensa portuguesa mais informações sobre Angola. "As preocupações dos jornalistas emPortugal vão no sentido de se criarem bases que permitam um melhor conhecimento da realidadeangolana, uma vez que na imprensa portuguesa, excluindo notícias sobre desgraça, fome, miséria,praticamente não há informação angolana". O jornalista acredita que tais encontros poderão permitirque haja mais sensibilidade por parte de quem dirige editorialmente a comunicação social portuguesa,no sentido de se reflectir mais, por exemplo, sobre o enorme crescimento económico de Angola.

OO

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verdade que Angola tem tradição cinematográficade documentário. Se na época colonial a atracçãopelo "exotismo" das paisagens, povos e costumes

pautava o registo das imagens gloriosas do império por-tuguês em África, também houve cinema de intervenção,desaguado na independência da República. Documentaris-tas entusiastas acompanhavam a mobilização popular, dia-gnosticavam a condição dos trabalhadores, as actividadespolíticas, as alfabetizações, as mobilizações da guerra.Fixaram-se na tela tradições e elegias aos povos de Angola,pois era necessário conhecer e dar a ver o novo país.Destaque-se dois filmes no pós-independência de RuyDuarte de Carvalho: Sou Angolano, Trabalho com Força(1975) e Uma Festa para Viver (1976). A partir de 1985 aactividade cinematográfica perde desastrosamente o vigor,acentua-se a degradação das infra-estruturas e a desmoti-vação de realizadores e técnicos no contexto de extremafragilidade do país, abalado por grandes carências. E o cine-ma desvanece até à sua quase total inexistência.Recentemente, depois de um longo marasmo, houve quemfalasse em renascimento do cinema angolano, na expectati-va de dinamização que o êxito internacional dos filmes deficção O Herói (2004) de Zezé Gamboa e Na Cidade Vazia(2006) de Maria João Ganga e o desfecho da longa-metragem O Comboio da Canhoca de Orlando Fortunatoalimentaram. No documentário surgiram obras sobre aLuanda actual, é o caso de Angola, Saudades de Quem TeAma do namibiano Richard Pakleppa, que tem trabalhadona África do Sul, e de Oxalá cresçam pitangas de Ondjaki eKiluanje Liberdade, onde se pressente uma sociedade enér-gica a tentar recuperar de traumas e conflitos com muita

ginástica e ironia para equilibrar-se no dia-a-dia.Porém, há todo um caminho de profissionalização a percor--rer na reivindicação de uma nova identidade cultural e daqual o documentário pode ser um óptimo veículo, pois umaidentidade nova exige novas imagens. E que essas imagensvenham de dentro, construindo o seu próprio discurso equestionamento. Apesar do cinema continuar a ser a artemais dispendiosa, a acessibilidade a novas tecnologias digi-tais tem possibilitado novos meios de produção, o que,esperemos, facilite o surgimento de novas gerações de rea-lizadores e técnicos nos países africanos.O mais importante agora é que se produzam filmes e serecolham imagens de tão apressadas mutações na sociedadeangolana: fixar o que existe, o que se passa, as vivências efrustrações, as entrelinhas das grandes negociações epromessas políticas. Pode ser que o cinema angolano dê o

salto, uma vez que já se está a discutir a lei que o vai regu-larizar e promover a produção nacional e que se tenta criarpúblicos, ou melhor, recuperar públicos pois as cidadesangolanas sempre foram povoadas por cinéfilos: em qual-quer cidade de província ficamos perplexos com a monu-mentalidade das salas de cinema, muitas ao ar livre.Claro que este florescimento de filmes e exibição só serápossível acompanhado pelo desenvolvimento de uma redede autores/realizadores/produtores, com interacção com astelevisões e entidades que apoiem o documentário de cria-ção. É também através de um bom circuito de divulgaçãoque o cinema pode ser motivado. A 8ª edição do DocLisboa,que decorreu em Lisboa nas instalações da Culturgest e ci-nemas S. Jorge e Londres, teve uma afluência de 30 mil pes--soas e exibiu cerca de 150 filmes, o que revela o crescenteinteresse pelo documentário em Portugal.

Angola no DocLisboarevisitação do documentário

O DocLisboa destacou Angolacom duas sessões especiais.A divulgação do documentárioangolano incentiva o conhecimentodas imagens e realidades de um paíscheio de histórias que a câmaraimortaliza. Foram muitos os curiososque assistiram a estas sessõese que debateram o cinema angolano.

ÉÉ

12 CULTURAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

Acaba de sair o filme Kuduro,Fogo no Museke, rodado emLuanda, do realizador por-tuguês Jorge António.Este trabalho surge na sendado sucesso do projecto ante-rior Angola-Histórias damusica popular já exibido naTPA, RTP e CFI Inter-nacional, e é a segunda parteda sua trilogia sobre músicapopular angolana.Kuduro, Fogo no Museke, de-bruça-se sobre o fenómenodo Kuduro em Angola econta com a participação deDog Murras, SeBem, TonyAmado, Puto Prata, Fofan-

dó, Noite & Dia, entre ou-tros. A estreia do filmedecorreu dia 6 de Dezembrona Cinemateca em Lisboa eno dia seguinte no Porto nocinema Passos Manuel.Este filme sairá também emDVD.Em Luanda, o Centro Cul-tural português irá dedicarem Janeiro uma semana àobra deste cineasta. Pode-remos ver ainda O Mira-douro da Lua (1993) e "OutrasFrases" (2003) documentáriosobre a coreógrafa e investi-gadora angolana Ana ClaraGuerra Marques.

Kuduro, Fogo no MusekeDVD O Miradouro da Lua

O filme O Miradouro da Lua, 1ªlonga- metragem co-produzidaentre Portugal e Angola realizadapor Jorge António foi finalmenteeditado em formato DVD. Rodadoem Angola em 1992 no período queantecedeu as primeiras eleições, ofilme conta com a participação detécnicos e actores angolanos, entreeles José Mena Abrantes, RobertoTalaia, Adelino Caracol, PauloXisto e SeBem (na altura com 14anos). O lançamento em Luandaestá previsto para o mês de Janeirode 2008.

Marta Rodrigues

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13CULTURAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

Em parceria com o IACAM (Ins-tituto Angolano de Cinema), Angolafoi parte das sessões especiais,exibindo-se filmes que marcaramuma época nestes 30 anos e percor--reram várias expressões culturais.Os angolanos da diáspora e oscuriosos pela cultura e históriaangolanas, que não são poucos, aí sedeslocaram para ver e comentar, e asensação de muitos era de umadescoberta.Presenciar a atmosfera de convívio naBicker dos anos 90 onde se empi-lhavam pratos de peixe frito, obri-gatórios para o consumo das cervejas,ouvir memórias de brancos angolanosque nunca saíram do sul do país ondeacumulam família e recordações,seguir os movimentos sincopados dosbailarinos da Companhia de DançaContemporânea de Angola ou aexplosão de alegria de um Carnavalpopular há muito reprimido, sãomomentos preciosos que só o cinemanos concede, nessa memória colectiva feita de histórias par-ticulares.Numa cópia restaurada, o filme etnográfico de António Olesobre o primeiro Carnaval após a independência, OCarnaval da Vitória (1978), transportou-nos para temposde grande emoção e esperança no futuro versados porAgostinho Neto em "Havemos de voltar". O entusiasmo napreparação dos grupos, a saída dos populares dos musse-ques e o desfile pela cidade convergem num Carnaval de li-bertação, cheio de dança e cores O sentido estético do artistaé notório pelo rigor dos planos, montagem e composiçãoplásticas.Mopiopio (1991) de Zézé Gamboa faz um retrato do quo-tidiano de Luanda através da música. Durante anos contur-bados de guerra e privações, a música e a farra nuncadeixaram de ser uma forte presença na vida dos angolanos.E é este lado caótico da cidade que, misturado com a músi-ca, ganha intensidade: as declarações de alguns loucos aquem pergunta como vai a vida e que música ouvem, parale-lamente às sonoridades de Filipe Mukenga, Nany, Jivago,Elias diá Kamuezo, compõem uma espécie de epifania docaos pela salvação que a música representa. Estes músicosprefazem um ponto de viragem na música angolana quenesta altura estava a abrir-se para novas sonoridades, saindodo nacional cancionetismo. André Mingas e Dom Caetanoreferem, no filme, a influência mútua da música brasileira ecubana, tão próximas em ritmo e sons. Aliás, o realizadorZézé Gamboa, aquando da apresentação, contou que lheperguntam várias vezes se viu o Buena Vista Social Club parafazer este filme, mas Mopiopio é anterior à incursão musicalpor Cuba de Win Wenders e Ry Cooder. Em Mopiopio ossinais datados dos recentes 90s em Luanda, nos cortes decabelo e nas camisas de enchumaços, nos passos de lambadaque os miúdos ensaiam, na diversão nocturna com recolherobrigatório, desvenda-se uma leitura mais transversal emque as dificuldades do quotidiano são ultrapassadas pelacatarse musical e a resistência do angolano.Rostov-Luanda (1997) de Abderrahmane Sissako, célebrerealizador de Bamako, dá corpo a uma viagem sentimental aAngola à procura de um colega dos tempos de estudante naex-União Soviética. Nessa deambulação, com a fotografiado amigo como ponto de partida, vai-se deparando comuma série de personagens que dão a conhecer as mais fabu-losas histórias. Todos analisam pormenorizadamente afotografia, fazem vários comentários para concluir depoisque não conhecem o misterioso Afonso.Entramos na intimidade vivencial de cada pessoa abordada,onde há espaço para estas tecerem considerações sobre ahistória do país através da sua experiência. Sissako filmacom uma subtileza e domínio formal muito comoventes.Depois de percorrer Angola sem sucesso, o narrador-autordescobre que o amigo nunca regressara a Angola e estava afi-nal em Berlim. Jorge António, que anunciou a estreia do seunovo filme (2ª parte da triologia sobre música angolana,

kuduro - Fogo no Musseque), repôs o Outras Frases (2003),que acompanha o percurso artístico da coreógrafa AnaClara Guerra Marques. É dificil não ficar fascinado pelapersistência e criatividade desta artista que aos 16 anostomou a dianteira da Escola de Dança e em 1991 formou aprofissional Companhia de Dança Contemporânea deAngola com a qual coreografou peças muito originais, intro-duzindo novas formas e conceitos de espectáculo.Percebemos como a dança pode ser um poderoso instru-mento de intervenção, e um trabalho interdisciplinar, comparticipação de escritores e artistas plásticos como ManuelRui Monteiro, Pepetela, J. Gumbe, Van-Dúnem e A. Ole,

para pensar a identidade an-golana. Assistimos através de ima-gens de arquivo a fragmentos deespectáculos como Mea Culpa;Palmas, Por Favor!; Neste País...;Agora não dá! 'Tou a Bumbar...que mostram o lado irreverente eas soluções criativas da estética dadança contemporânea, com a lin-guagem próxima da representaçãoteatral.Ou confrotamo-nos em “A Pro-pósito de Lueji”; “Imagem &Movimento” ou “Uma frase qual-quer... & Outras (frases)” com otrabalho de pesquisa sobre dançastradicionais e populares e es-tatuária de Angola, a partir dasquais Ana Clara recria nas peças.Na competição internacional, ofilme da realizadora egípcia JihanEl-iahri, intitulado Cuba, uneodyssée africaine, também nostrouxe um poderoso retrato dapresença dos militares cubanos

em Angola.Já António Escudeiro, em Adeus, até amanhã regressa, numregisto memorialístico, aos lugares de infância como Lobitoe Huambo, a sua geografia afectiva.O autor dedica-se a um retrato saudosista no reencontrocom a Angola actual sobreposta à Angola de há 30 anos.À noite as vozes calorosas de Kalaf e Nástio combinavamcom o ambiente intimista do cabaret Maxime onde a poesiade ambos, acompanhada por um contrabaixo, desfiava ver-sos a uma Lisboa que leva a cultura africana no peito, e gostade se rever e conhecer nas imagens do seu continente deculto.

O jornalista e antropólogo angolano AntónioTomás (Luanda, 1973) investigou a vida destegrande líder das lutas independentistas, e escreveuesta sóbria e apelativa biografia, que nos ajuda acompreender as acções e contradições da época deAmílcar Cabral. As estratégias de libertação daGuiné e Cabo Verde, desenhadas pelo dirigente doPAIGC, surgem-nos extremamente ligadas aosmovimentos de libertação dos restantes países sobjugo colonial português. O livro contribui para oconhecimento de um manacial de elementos e fac-tos que estão na origem e acompanham a formaçãodo nacionalismo dos países africanos. Ao longo dolivro deparamo-nos com muitos outros protago-nistas da luta anti-colonial, alguns angolanos comoMário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, Viriatoda Cruz, entre outros.Aconselha-se vivamente às novas gerações a leituradeste livro no qual descobrirão uma referência nohomem que pôs em prática a crença panafricanistae morreu sem ver consolidada a sua obra, mesesantes da auto-proclamação da Independência daGuiné.Cabral surge-nos como uma figura emblemáticanuma biografia trabalhada rigorosamente, bemdocumentada e imparcial, com uma linguagem vivae acessível. António Tomás trabalhou durantemuitos anos neste livro e o resultado é de congratu-lar. Tem colaborado em vários órgãos da imprensaangolana nomeadamente no Jornal de Angola eAngolense. Começou a sua carreira de jornalista daRádio Nacional de Angola (1991) e na AgênciaAngola Press, e mais tarde, a residir em Lisboa,escreveu para o jornal Público, onde assinou recen-sões criticas sobre literatura africana. Membro fun-dador do Grupo de Teatro Museu do Pau Preto, foi

autor e co-actor de peças representadas em Por-tugal e no estrangeiro, nomeadamente Museu doPau Preto e Cabral. Doutorando em antropologiapela Universidade de Columbia, em Nova Iorque,faz neste momento pesquisa em Angola, para umatese sob o tema: "os efeitos da dolarização no nívelde vidadas populações em Angola."

Amílcar Cabral, segundo António Tomás

Ana Isabel, organizadora do DocLisboae os realizadores António Ole e Zézé Gamboa

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14 TRIBUNA JURÍDICAMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

tema sob epígrafe que proponho abordar - o RegimeJurídico dos Estrangeiros na República de Angola - éactual e actuante, na medida em que estamos perante

um mundo cada vez mais globalizante - com as consequências benéfi-cas e funestas que este fenómeno acarreta - onde os fluxos migratóriosassumem uma importância de pendor mundial.O novo regime jurídico dos estrangeiros em Angola, vem confir-mar o que já foi afirmado por outros diplomas legais (v.g. Lei doInvestimento Privado e Lei sobre os Incentivos Fiscais eAduaneiros ao Investimento Privado), que Angola é neste momen-to um local bastante atractivo para quem deseja fazer investimen-tos.O que aqui pretendemos é apenas referir alguns aspectos que con-stituem a nosso entender, inovações da nova lei relativamente ao"Ancien Régime". A Lei nº 2/07, publicada no Diário da Repúblicade 31 de Agosto, sobre o Regime Jurídico dos Estrangeiros naRepública de Angola, que relativamente ao anterior regime, con-stante da Lei n.º 3/94, ora expressamente revogada, traz inúmerasinovações.Com um total de dez capítulos e 125 artigos, é notável a inovaçãona tipologia de vistos e entrada, contemplando além dos tradi-cionais, também os vistos diplomático, oficial e consular, bemcomo o visto de cortesia e o visto territorial.O diploma vem definir o regime geral dos cidadãos estrangeiros naRepública de Angola, sem prejuízo do que está estabelecido em leisespeciais e Acordos Bilaterais ou Tratados Internacionais de queAngola seja parte. Exclui-se porém do seu âmbito de aplicação osAgentes Diplomáticos, entidades equiparadas e respectivos famil-iares, que estão sujeitos às normas de direito internacional, desig-nadamente a Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticase consulares e os refugiados aos quais se aplica o disposto na Lei n.º8/90. O cidadão estrangeiro goza dos mesmos direitos e garantiase está sujeito aos mesmos deveres que os cidadãos angolanos, comexcepção dos direitos políticos e outros direitos e deveres a estesreservados por lei. A lei estabelece um conjunto de deveres a que ocidadão estrangeiro que pretenda permanecer em Angola estáadstrito, relativamente aos quais cumpre referir que são meramenteexemplificativos, na medida em que quanto a esta matéria vigora oprincípio da equiparação. Tendo em conta que, a interdição consti-tui matéria de peculiar importância, na medida em que mexe coma liberdade das pessoas, a lei fixa taxativamente os órgãos comcompetência para ordenar a interdição de entrada de cidadãosestrangeiros (Tribunais, Procuradoria Geral da República, DirecçãoNacional de Inspecção e Investigação das Actividades Económicas,Direcção Nacional de Investigação Criminal) Quanto aos vistos consulares, a lei fixa as seguintes categorias:trânsito, turismo, curta duração, ordinário, estudo, tratamentomédico, privilegiado, de trabalho, de permanência e de residência.No que tange aos tipos de vistos consulares inovadores constantesda lei, detenhamo-nos nos tipos de vistos (turismo, privilegiado, detrabalho e autorização de residência), que julgamos, são de peculiarimportância, sem retirar a utilidade dos demais, e porque relativa-mente a esses, a lei é clara e inequívoca. Uma das inovações doDiploma Legal é a introdução do visto de turismo, válido por umperíodo de 60 dias, para uma ou múltiplas entradas, permitido apermanência no país por um período de até 30 dias, e prorrogáveluma única vez por igual período, não permitindo ao seu titular afixação de residência nem o exercício de qualquer actividade remu-nerada. É também inovação a categoria do visto privilegiado con-cedido ao cidadão estrangeiro investidor, representante ou procu-rador de empresa estrangeira, que se destina a permitir a entradado seu titular em território nacional para fins de implementação,acompanhamento e execução da proposta de investimento aprova-do, nos termos da Lei de Investimento Privado.O visto privilegiado deverá ser utilizado volvidos 60 dias contadosda data da sua concessão e permite ao seu titular múltiplasentradas e uma permanência de até dois anos prorrogáveis poriguais períodos e poderá ainda, se entender, requerer autorizaçãode residência. Este tipo de visto poderá ser requerido no territórioangolano mediante apresentação de declaração emitida pela ANIP(Agência Nacional do Investimento Privado), e declaração feitapelo interessado, nos termos da qual, se sujeita a respeitar ecumprir as leis angolanas. Este tipo de visto pode adoptar quatrotipos, tendo em conta o montante do investimento, assim teremos:i. visto privilegiado do tipo A, quando o investimento for superiorao equivalente a 50 milhões de dólares, ou quando for feito na zona

C de investimento (nas províncias do Huambo, Bié, Moxico, KuandoKubango, Kunene, Namibe e Zaire); ii. visto privilegiado do tipo B,quando o investimento for inferior ao equivalente a USD 50 mil-hões e superior a USD 15 milhões; iii. Visto privilegiado do tipo Cquando o investimento for inferior ao equivalente em USD 15 mil-hões e superior a USD 5 milhões; iv. Visto privilegiado do tipo D,concedido ao investidor estrangeiro com investimento inferior aoequivalente a USD 5 milhões (importa referir que o montante doinvestimento deverá ser sempre superior a USD 100.000, atentoao facto de que é o montante mínimo para aprovação de um pro-jecto junto da ANIP).Aos titulares dos vistos privilegiados do tipo A e B, poderá seratribuído um cartão de residência do tipo B, válido por 3 anos ren-ováveis por iguais períodos de tempo, semelhante prerrogativa econcedida ao titular do visto privilegiado do tipo C, que poderáobter um cartão de residência temporária de tipo A, válido por umano renovável. A Lei presta também uma atenção especial aopotencial investidor, a quem poderá ser atribuído um visto de per-manência temporário, conforme o investimento, que deverá ser uti-lizado no prazo de 60 dias, permitindo ao seu titular múltiplasentradas. Os vistos de trabalho, ao contrário da anterior lei, estab-elecem-se alguns tipos de vistos: i. Visto de trabalho de tipo A, con-cedido para o exercício de actividade profissional ao serviço deinstituição ou empresa pública; ii. Visto de trabalho de tipo B, con-cedido para o exercício de actividade profissional independente, deprestação de serviços, dos desportos e cultura; iii. Visto de trabalhode tipo C, concedido para o exercício de actividade profissional anível do sector petrolífero, mineiro e construção civil; iv. Visto detrabalho do tipo D, concedido para o exercício de actividade profis-sional no sector do comércio, indústria, pescas, marítimo eaeronáutico; v. Visto de trabalho de tipo E, concedido para o exercí-cio de actividade no âmbito dos acordos de cooperação; vi. Visto detrabalho de tipo F, concedido para o exercício de actividade profis-sional em qualquer outro sector não previsto nas alíneas anteri-ores. Para a concessão de visto de trabalho, além das condiçõesgerais previstas por lei, o requerente deverá apresentar: i. Contratode trabalho ou contrato-promessa de trabalho; ii. Certificado dehabilitações literárias e profissionais; iii. Curriculum vitae; iv.Certificado de registo criminal emitido pelas autoridades do paísda residência habitual; v. Atestado médico do país e origem; vi.Parecer favorável do Ministério da Administração Pública,Emprego e Segurança Social para os casos de instituições ouempresas públicas ou do órgão de tutela da actividade nos casos deinstituições e empresas privadas; os vistos de trabalho devem serutilizados no prazo de 60 dias, permitindo múltiplas entradas epermanência até ao termo do contrato de trabalho, momento emque a instituição empregadora deverá comunicar à autoridadecompetente qualquer alteração na duração do contrato.O visto de trabalho permite ao titular apenas exercer a actividadeprofissional que justificou a sua concessão e habilita-o a dedicar-seexclusivamente ao serviço da entidade empregadora que orequereu; relativamente aos vistos de trabalho, ponderamos ser re-levante que no momento da regulamentação da lei se tivesse em

consideração os estrangeiros contratados em regime de outsourcing,ou das Agências de colocação/cedência temporária, na medida emque efectivamente os trabalhadores podem não trabalhar para aentidade que os contratou. O visto para fixação de residência é con-cedido ao cidadão estrangeiro que pretende fixar residência emAngola, deverá ser utilizado por um período de 60 dias, permite apermanência em Angola por um período de 120 dias, prorrogáveispor iguais períodos de tempo até decisão final do pedido de autor-ização de residência; durante este período o titular poderá exerceruma actividade profissional remunerada. Para concessão do vistode residência, pede-se os seguintes documentos: i. Declaração dointeressado comprometendo-se a respeitar e a cumprir as leisangolanas; ii. Comprovação da existência de meios de subsistênciae de condições de alojamento; iii. Confirmação dos objectivos pre-tendidos com a autorização de residência (para este efeito deveráapresentar extracto de conta bancária correspondente ao valor deUSD 15 000,00, salvo se for menor de idade ou de cidadãoestrangeiro cônjuge de cidadão angolano); iv. Comprovação daexistência de relações familiares com cidadãos nacionais ouestrangeiros residente legalmente no país, mediante declaraçãoassinada por estes; vi. Apresentação de certificado criminal emiti-do pelas autoridades do país de origem ou de residência habitual;vii. Apresentação de atestado médico emitido pelas autoridadessanitárias do país de origem; ix. Apresentação de termo de respon-sabilidade da pessoa que vai hospedar ou comprovativo de pro-priedade ou arrendamento de residência. Não obstante a apresen-tação dos documentos supra indicados, por razões ponderosaspodem ser solicitados outros documentos adicionais.Relativamente à autorização de residência stricto sensu, a lei dedicaum capítulo em que se considera autorização de residência, e pas-samos a citar "o acto que habilita o cidadão estrangeiro a residir naRepública de Angola, mediante atribuição de um título (…)".A autorização de residência deverá ser requerida pelo interessadoao Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), podendo incluircônjuge e filhos menores ou incapazes que se encontrem legal-mente a corgo do requerente.O SME, para apreciar o pedido de autorização de residência, deveatender aos seguintes critérios cumulativos: i. Estar o cidadãoestrangeiro presente no território nacional; ii. Possuir visto válidopara fixação de residência; iii. Não ter praticado actos que, se fos-sem conhecidos pelas autoridades angolanas, teriam obstado a suaentrada no país; iv. Não ter sido condenado em território nacionalem pena maior; v. Provar que possui meios de subsistência econdições de alojamento; vi. Haver interesse nacional na autoriza-ção da residência.Se autorizada a residência ao requerente poderá ser-lhe outorgadoum cartão de residente do tipo A, B ou Permanente, nas seguintescircunstâncias: o primeiro, será outorgado ao cidadão estrangeirocom autorização de permanência no País, é válido por um ano erenovável por igual período; o do tipo B será outorgado ao cidadãoestrangeiro residente no país há mais de 5 anos consecutivos, váli-do por três anos e renovável por igual período; o cartão de residên-cia permanente, será outorgado ao cidadão estrangeiro residenteno país há mais de 10 anos consecutivos, válido por 5 anos e re-novável por iguais períodos de tempo. Como não poderia deixar deser, a nova lei contém normas sancionatórias, classificando asinfracções em infracções migratórias e imigração ilegal.São infracções migratórias: i. a permanência ilegal; ii. A falta devisto de trabalho; iii. a falta de comunicação de alojamento; iv.O estrangeiro indocumentado; v. a falta de renovação do cartão deresidência; vi.A falta de actualização do cartão de residência; vii.O passageiro ou tripulante indocumentado; viii. A falta de comu-nicação de mudança de domicílio. Relativamente à imigração ilegal,são infracções: i. A promoção e auxílio á entrada ilegal; ii. A utiliza-ção de mão-de-obra-ilegal; iii. Emprego de estrangeiro illegal.Por último, a presente lei estatui que, enquanto não for regulamen-tada, aplicam-se as normas constantes do regulamento constantedo Decreto nº 48/94, de 25 de Novembro, em tudo o que não con-trarie o disposto na lei.Em guisa de conclusão, cumpre-nos referir que a Lei nº 2/07, de31 de Agosto, estatui uma multiplicidade de soluções e possibili-dades para o cidadão estrangeiro que por qualquer razão pretendadeslocar-se a Angola, assim como veio colmatar algumas lacunas,como sendo a insuficiência de abrangência da tipologia dos vistosde entrada para abarcar os vários fins e motivações.

Novo Regime Jurídicodos Estrangeiros

OO

Advogado Hélder Bruno da Gama Bento

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entrada da última jornada doGirabola, um dado curioso é queduas equipas (o Inter de Luanda

e o 1º de Agosto) jogaram com faixas decampeão encomendadas. Uma delas espera-va sagrar-se campeã, um caso inédito nofutebol nacional. Mas, no final do dia, o sor-riso caiu para o clube afecto à PolíciaNacional que tem o seu Estádio 22 deJunho implementado no bairro do RochaPinto. Bastou uma vitória de 2-0 ante umacessível Santos FC, confirmando um per-curso de 21 jogos consecutivos sem perder,depois de um começo com pé esquerdo.Nesse duro período, vivido pelo Inter nasseis primeiras jornadas do campeonato,muitos adeptos e certos comentaristasdesportivos não sugeriam outra coisa quenão fosse o afastamento do técnicobrasileiro Carlos Mozer, que em Angolainaugurava a sua carreira de treinador prin-cipal. Caricatamente, quer o estrelato por siatingido como jogador, no Flamengo,Marselha e Benfica, quer o facto de ter sido"adjunto" de José Mourinho, no União deLeiria e na equipa da Luz, chegaram a nãoconvencer os seus "adversários".Ao Mozer, que só não seguiu comMourinho para o FC do Porto por ter sidoquase visto como persona non grata porPinto da Costa, os adeptos angolanosenfurecidos pediam o regresso imediato àcapital lusa. Argumentavam que, enquantotreinador, Mozer não servia para nada, jun-tando o facto do brasileiro nunca antes tersido técnico principal. Daí todo o tipo decomentário deselegante.Um jornalista renomado, co-autor de umhistorial sobre o futebol angolano, quasedeixou cair por terra todos os créditosalcançados durante longos anos da sua car-reira. Além de defender a saída incondi-cional de Mozer, chegou a afirmar que obrasileiro escolhera a profissão errada. Paraele, a única solução para o Inter era lutarpara não descer, evitando que o seu moder-no estádio ficasse inutilizado, porque, e aspalavras são suas, "Mozer não sabe treinar".Era um nabo, em linguagem popularangolana. E não foi por acaso que duranteos festejos do título, Mozer tenha implicita-mente censurado a imprensa local.Foi emtom muito diplomático, porque tambémestava cons-ciente que a conquista do títulocaiu como que de um milagre se tratasse.Todos, incluindo a imprensa, a direcção doInter e até o próprio Mozer terão sido iludi-dos, pois, mesmo que se tenha visão de

águia, ninguém pode vir ao terreiro atrever-se e dizer que (sempre) acreditou na revira-volta dada pelos actuais campeões nacionaisneste Girabola, ultrapassando os entãodetentores do troféu, o 1º de Agosto.O clube das Forças Armadas Angolanas,que tentava o seu segundo título ininterru-pto, chegou a liderar o Girabola com umadiferença de 17 pontos até à última fase dacompetição, mas deixou-se transpor.O outro grande derrotado foi o Petro deLuanda, um eterno candidato que apostoumilhares de dólares para vencer o "Gira",incluindo para a contratação dos "mundia-listas" Akwá e João Ricardo. Os "petrolífe-ros", presididos por Lito, um antigo extremoesquerdo nos seus anos de glória do clube,tirou ainda do "estaleiro" atletas comoYamba Asha, que não disputou a Copa da

Alemanha, acusado de "doping", e PauloSilva, regressado das Arábias, "comprou"ainda alguns jogadores brasileiros e quasemetade da equipa do ASA e o seu ex-técni-co, Bernardino Pedroto. De nada valeu aaposta da direcção, pois nem sequer con-seguiram arrebatar a Taça de Angola, queteve uma finalíssima inédita: Benfica deLuanda/1º de Maio de Benguela.O único título que o Petro arrebatou foi ode melhor artilheiro, conquistado pelasegunda vez por Manucho Barros, o tal quepretende ingressar no Manchester United.Nos últimos anos, o clube do "eixo-viário",que tem em Jesus a sua maior estrela desempre, tem sido muito fustigado por falharredondamente na sua política de aquisiçãode reforços, quando até possui uma das me-lhores escolas de formação, jogadores estes

que se vêem apagados, depois de "empresta-dos".No futebol angolano, esta prática não éexclusiva do Petro de Luanda, situação quese reflecte na qualidade praticada na provamáxima do futebol angolano. Ainda assim,o Girabola deste ano voltou a ter umdespique interessante, exactamente porquesó se conheceu o campeão e o último"despromovido" (Académica do Soyo) naextrema jornada.Os outros relegados à "segundona" foram oAtlético do Namibe e o Juventude doMoxico. Igualmente, em mulheres. Era sinalde que alguma coisa estava a mudar, semque isso fosse prenúncio de subida de algu-ma qualidade no futebol praticado.É que o marketing dos jogos disputados emLuanda, entregue a uma promotora musi-cal, prometia muito.Além de oferecer prémios, também haviamúsica ao vivo.Por isso, no aspecto da qualidade, os afi-cionados carregarão ainda, se calhar, pormuitos mais anos, a viva memória dos ve-lhos e melhores tempos.É que, apesar de alguma valorização materi-al ou financeira de que os futebolistasangolanos da actualidade são bafejados, tar-dam a aparecer jogadores com dom de umJesus, Ndunguidi, Maluka, Vicy, Sarmento,Lufemba, Eduardo Machado, Julião,Arménio, Santinho, Santo António ouPedro Garcia, entre outros, isso sem se daro trabalho de recuarmos nos tempos deJoaquim Dinis.partidas de "cartaz", foi simpático ver entre amoldura humana centenas de mulheres.Era sinal de que alguma coisa estava amudar, sem que isso fosse prenúncio desubida de alguma qualidade no futebol pra-ticado. É que o marketing dos jogos dis-putados em Luanda, entregue a uma pro-motora musical, prometia muito.Além de oferecer prémios, também haviamúsica ao vivo.Por isso, no aspecto da qualidade, os afi-cionados carregarão ainda, se calhar, pormuitos mais anos, a viva me-mória dos ve-lhos e melhores tempos.É que, apesar de alguma valorização materi-al ou financeira de que os futebolistasangolanos da actualidade são bafejados, tar-dam a aparecer jogadores com dom de umJesus, Ndunguidi, Maluka, Vicy, Sarmento,Lufemba, Eduardo Machado, Julião,Arménio, Santinho, Santo António ouPedro Garcia, entre outros, isso sem se daro trabalho de recuarmos nos tempos deJoaquim Dinis.

ÀÀ

15DESPORTOMWANGOLÉ . Nº 6 - 2007

FUTEBOL

Paulo de Jesus . Em Luanda

MWANGOLÉ . Fotos R ICMÍDIA

Depois de um embaraçoso início de campeonato, com os óbvioscomentários que acusavam a direcção do clube de ter tirado "um

incapaz", Carlos Mozer, do desemprego em Portugal parao promover a técnico principal nas suas hostes, o Inter de Luanda

dá, pacientemente, a volta à situação e conquista o seu primeirotítulo. Modesto mas muito bem organizado em termos de

infra-estruturas (construiu o seu próprio estádio moderno), esteInter ainda não conseguiu fazer esquecer os velhos tempos, em que

pontificavam talentos como Mendinho, Raúl, Quinito, PedroAfonso, Mingo ou Tubia, comandados quase intercaladamente por

Semica ou por Joka Santinho. Era a década dos idos anos 80.Na altura, para se ser campeão era preciso transpor colossos como o

1º de Agosto, Petro de Luanda ou o 1º de Maio. Que o digam aTAAG (actual ASA), Progresso, Chela ou Ferroviário da Huíla! …

Girabola-2007

Inter de Luandafinalmente campeão!

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Jornal Trimestral de Actualidade AngolanaNº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007Jornal Trimestral de Actualidade AngolanaNº 6 - Setembro .Outubro . Novembro 2007

Ficha TécnicaEdição dos Serviços de Imprensa da Embaixada de Angola em Portugal

Avenida da República, 68 - 1069-213 Lisboa

Tel.: 217942244 - 217971736 - Fax: 217986405

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Produção: Ricmidia

Impressão: Mirandela, Artes Gráficas, S.A.

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Tiragem: 30.000 exemplares

Depósito Legal: 171.523/01

Ficha Técnica

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os balcões das diversas agên-cias que ali funcionam osserviços mais solicitados foram

os do Instituto Nacional de SegurançaSocial com 403 pedidos, da Conser-vatória do Registo Civil Automóvel com298 e da Direcção Nacional de Impostoscom 265 solicitações.Segundo a directora do Instituto, RosaMicolo, o SIAC funcionou com êxitodurante o período experimental de 15 deJulho a 15 de Agosto de 2007.Destinado a modernizar a administraçãopública, o SIAC é uma aposta do Go-verno angolano para tornar a adminis-tração pública mais célere e próxima doscidadãos, integrando num único espaçoum conjunto de serviços de interesse.A obtenção de documentos como o bi-lhete de identidade, título de proprie-dade, carta de condução e certificado deregisto criminal pode fazer-se neste novoespaço onde também se obtém infor-mações e se faz o encaminhamento deprocessos para diversos órgãos do Es-tado. Tutelado pelo Ministério daAdministração Pública, Emprego eSegurança Social (MAPESS), conta comuma unidade de serviços empresariaispúblicos e privados, dependências daEPAL e EDEL para cobranças do con-sumo de água e energia eléctrica, daENSA, da TAAG e dos Bancos doAfricano do Investimento e de Poupançae Crédito. Está igualmente a funcionarno recinto uma unidade de intermedia-ção de mão de obra, com indicações

sobre oferta e procura de força de traba-lho. O SIAC permite obter uma série dedocumentos num mesmo local, comobilhete de identidade que é necessáriopara a carta de condução, cartão de con-tribuinte, título de registo de propriedadee outros documentos igualmente indis-

pensáveis ao dia-a-dia dos cidadãosangolanos. O SIAC integra os serviçosdos principais Ministérios e órgãos dogoverno, nomeadamente aqueles que têmregistado um afluxo maior de solicitaçõese processos. As instalações do SIAC con-tam com diversas empresas privadas de

interesse do cidadão a exemplo das agên-cias de bancos para pagamento de taxas eemolumentos.De acordo com o Jornal de Angola, citan-do o ministro Pitra Neto do MAPESS, nasprovíncias onde a demanda dos serviçospúblicos justificar, serão criadas infra-estruturas com as mesma característicasdo SIAC caso a proposta apresentadapelo MAPESS seja aprovada pelo Go-verno.O Presidente da República, José Eduar-do dos Santos, inaugurou o SIAC, noinício do mês de Setembro, numa ce-rimónia assistida pelo Presidente daAssembleia Nacional, Roberto de Al-meida, o primeiro-ministro, Fernando daPiedade Dias dos Santos, membros dogoverno e altos funcionários do Estado.

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SIAC arrecadou 310 biliões deKwanzas em período experimental

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Responsáveis do INSS de Moçambique e Angolavisitam o SIAC

Agência de Emprego Agência do INSS no SIAC

Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão (SIAC),localizado em Talatona, Luanda Sul, arrecadou

no período de funcionamento experimental, entreJulho e Setembro, 310 biliões 850 mil e 770 kwanzascomo resultado do atendimento aos 16.289 cidadãos

que requereram serviços.