presença dos insetos parisoschoenus obesulus e bolax sp. em uma população natural de macaúba...

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Presença dos insetos Parisoschoenus obesulus e Bolax sp. em uma população 1 natural de macaúba (Acrocomia aculeata) Acaiaca - MG, Brasil. 2 SEBASTIAN GIRALDO MONTOYA; SÉRGIO YOSHIMITSU MOTOIKE; HELOISA ROCHA 3 DO NASCIMENTO ; KACILDA NAOMI KUKI. 4 5 INTRODUÇÃO 6 A espécie Acrocomia aculeata é uma palmeira nativa das regiões neotropicais e comumente 7 habita áreas abertas e com alta incidência solar. Apesar de povoar regiões com solos arenosos e 8 baixo índice hídrico, desenvolve-se melhor em locais onde há solos férteis (Gray, 2005; Motta, 9 2002). A palmeira macaúba possui alto potencial para a extração de óleo combustível. Embora seja 10 considerada selvagem, a espécie, encontra-se em processo de domesticação. 11 Quando adulta a palmeira pode atingir até 15 m de altura e 50 cm de diâmetro. Nas axilas 12 das folhas pinadas e plumosas surgem as espatas florais que apresentam até 2 m de comprimento 13 quando maduras. Os frutos são esféricos ou ligeiramente achatados (2,5 – 5 cm de diâmetro externo 14 transversal), quando maduro composto por epicarpo quebradiço, mesocarpo fibroso, endocarpo 15 duro, fortemente aderido ao mesocarpo e a amêndoa oleaginosa embranquecida é comestível. 16 Durante a abertura das espatas florais da macaúba, insetos, principalmente do gênero 17 Coleóptera e Trigona, são frequentemente visualizados. Os insetos polinizadores participam 18 ativamente no sucesso reprodutivo das plantas e consequentemente da dispersão da espécie vegetal. 19 Entretanto, outros insetos, em seus mais variados estágios de desenvolvimento, são considerados 20 pragas por interferirem no crescimento dos frutos). Estes ataques, do ponto e vista filotécnico, 21 ocasionam consideráveis perdas econômicas, como observado em palmeiras de importância 22 econômica como o coco (Cocos nucifera), o dendê (Elaeis guinensses) e o açaí (Euterpe oleracea). 23 A identificação de insetos em plantas em processo de domesticação e promissoras como a macaúba, 24 permite estabelecer estratégias de controle às possíveis pragas, favorecendo a viabilidade produtiva 25 e econômica da espécie. Dentro deste contexto o objetivo do trabalho foi identificar a presença de 26 insetos em atividade nas plantas de macaúba, e que futuramente possam ser considerados pragas 27 para a cultura. 28 1 Doutorando do programa de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 29 2 Professor Adjunto do Departamento de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: motoike@ufv,br 30 3 Mestranda do programa de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 31 4 Doutorando do programa de Entomologia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 32 1

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Artigo publicado nos anais do Congresso Brasileiro de Macaúba, em 2013.

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Presença dos insetos Parisoschoenus obesulus e Bolax sp. em uma população 1

natural de macaúba (Acrocomia aculeata) Acaiaca - MG, Brasil. 2

SEBASTIAN GIRALDO MONTOYA; SÉRGIO YOSHIMITSU MOTOIKE; HELOISA ROCHA 3

DO NASCIMENTO; KACILDA NAOMI KUKI. 4

5

INTRODUÇÃO 6

A espécie Acrocomia aculeata é uma palmeira nativa das regiões neotropicais e comumente 7

habita áreas abertas e com alta incidência solar. Apesar de povoar regiões com solos arenosos e 8

baixo índice hídrico, desenvolve-se melhor em locais onde há solos férteis (Gray, 2005; Motta, 9

2002). A palmeira macaúba possui alto potencial para a extração de óleo combustível. Embora seja 10

considerada selvagem, a espécie, encontra-se em processo de domesticação. 11

Quando adulta a palmeira pode atingir até 15 m de altura e 50 cm de diâmetro. Nas axilas 12

das folhas pinadas e plumosas surgem as espatas florais que apresentam até 2 m de comprimento 13

quando maduras. Os frutos são esféricos ou ligeiramente achatados (2,5 – 5 cm de diâmetro externo 14

transversal), quando maduro composto por epicarpo quebradiço, mesocarpo fibroso, endocarpo 15

duro, fortemente aderido ao mesocarpo e a amêndoa oleaginosa embranquecida é comestível. 16

Durante a abertura das espatas florais da macaúba, insetos, principalmente do gênero 17

Coleóptera e Trigona, são frequentemente visualizados. Os insetos polinizadores participam 18

ativamente no sucesso reprodutivo das plantas e consequentemente da dispersão da espécie vegetal. 19

Entretanto, outros insetos, em seus mais variados estágios de desenvolvimento, são considerados 20

pragas por interferirem no crescimento dos frutos). Estes ataques, do ponto e vista filotécnico, 21

ocasionam consideráveis perdas econômicas, como observado em palmeiras de importância 22

econômica como o coco (Cocos nucifera), o dendê (Elaeis guinensses) e o açaí (Euterpe oleracea). 23

A identificação de insetos em plantas em processo de domesticação e promissoras como a macaúba, 24

permite estabelecer estratégias de controle às possíveis pragas, favorecendo a viabilidade produtiva 25

e econômica da espécie. Dentro deste contexto o objetivo do trabalho foi identificar a presença de 26

insetos em atividade nas plantas de macaúba, e que futuramente possam ser considerados pragas 27

para a cultura. 28

1 Doutorando do programa de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 29 2 Professor Adjunto do Departamento de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: motoike@ufv,br 30 3 Mestranda do programa de Fitotecnia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 31 4 Doutorando do programa de Entomologia – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 32

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5 Doutora em Botânica e Ecofisiologia, pesquisadora – UFV/ Viçosa. e-mail: [email protected] 33

MATERIAL E MÉTODOS 34

Os insetos da família coleóptera foram evidenciados durante o monitoramento em uma 35

população nativa de macaúba no município de Acaiaca, Minas Gerais, (Lat: 20° 21' 54'' Sul Lon: 36

43° 8' 12'' Oeste). 37

Indivíduos adultos de insetos pertencentes à ordem Coleóptera foram visualizados e 38

capturados nas inflorescências e nas folhas da palmeira macaúba e inseridos em frascos de vidro de 39

50 mL com algodão impregnado por acetona pura. Após o sacrifício, o material foi armazenado em 40

geladeira e posteriormente levado para o departamento de Entomologia da Universidade Federal de 41

Viçosa (UFV) onde se iniciou a identificação dos mesmos. 42

No referido trabalho, realizou-se a caracterização do desenvolvimento dos frutos de 43

macaúba, período que abrangeu a época de floração (dezembro 2011 – janeiro 2012), polinização e 44

crescimento dos frutos, quando foi possível registrar a atividade de P. obesulus e Bolax sp. 45

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RESULTADOS E DISCUSSÃO 47

No período de dezembro de 2011 e janeiro de 2012 foi observada a presença de coleópteros 48

nas inflorescências abertas e em frutos recém-formados de macaúba. Os indivíduos adultos 49

apresentavam atividade diurna, sendo mais ativos e abundantes entre as 8 h e 10 h da manhã. Os 50

insetos foram identificados como pertencentes à família Cuculionidae, espécie Parisoschoenus 51

obesulus (Figura 1d). A presença do inseto coincidiu com a observação de vários frutos recém-52

formados perfurados e abortados (Figura 1c). É possível que exista uma relação entre o inseto e o 53

abortamento dos frutos. 54

Parisoschoenus obesulus Casey (Coleóptera: Curculionidae) é também conhecido como 55

gorgulho dos frutos (Moura, et al., 2009). Segundo Bondar (1940a), o adulto de P. obesulus é de 56

cor castanho claro - avermelhado a castanho escuro ou preto, com o protorax frequentemente mais 57

claro do que o resto do corpo. É coberto por uma densa pilosidade fulvo doirada, sendo caduca no 58

dorso do protorax. Os élitros possuem oito estrias fundas longitudinais. Nos espaços intervalares 59

existem duas carreiras de pelos doirados que se unem posteriormente formando uma só fileira. P. 60

obesulus é muito frequente e nocivo à frutificação do coqueiro no Estado da Bahia, sendo seu ciclo 61

de desenvolvimento de 20 a 25 dias. Um dos problemas da cultura do coqueiro no Estado de São 62

Paulo é a baixa porcentagem de formação de frutos devida, entre outras causas, ao ataque de insetos 63

não identificados, sendo um deles o “gorgulho” (Curculionidae) (Tonet e Pelinson 1999). 64

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No mesmo período indivíduos adultos da ordem Coleóptera: Scarabaeidae (Figura 2a) 80

foram observados predando as folhas das palmeiras. Estes insetos foram identificados como 81

pertencentes ao gênero Bolax, espécie Bolax sp. As plantas afetadas foram severamente desfolhadas 82

podendo ser observado à exposição das nervuras (Figura 2b). 83

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Diferentes coleópteros herbívoros foram documentados. Kirk (1982) relataram dezesseis 96

espécies das famílias Cerambycidae, Chrysomelidae, Curculionidae e Scolytidae de uma 97

comunidade de trinta espécies de insetos associados à samambaia na Nova Guiné. Fonseca e 98

Fonseca (1986) evidenciaram a presença de adultos Bolax flavolineatus (Mann.) (Coleóptera: 99

Figura 1: (a) Flor feminina de macaúba perfurada por P. obesulus. (b) Perfuração na base das

sépalas e queda da flor feminina. (c) Frutos abortados de macaúba, duas semanas após abertura da

espata (d) P. obesulus perfurando frutos de macaúba com uma semana após abertura da espata.

Figura 2. (a) Indivíduos adultos de Bolax sp. na parte inferior dos folíolos de macaúba capturados neste estudo. (b) vista inferior de folha de macaúba, desfolhação causada por Bolax sp.

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Scarabaeidae) atacando as folhas da amoreira (Morus alba L.). Embora, em Vermont, EUA na 100

região Neotropical, relatos de Coleóptera ou outros insetos herbívoros são bastante raros. 101

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Este tipo de informação prevê problemas entomológicos que podem prejudicar a cultura da 103

macaúba. Altos índices de populações desses insetos podem determinar se a cultura será viável ou 104

não numa região específica. Igualmente, essas informações serão base para outras investigações 105

entomológicas e ecológicas na estimação da potencialidade desses indivíduos como pragas. 106

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REFÊRENCIAS 108

109

BONDAR, G. Insetos nocivos e moléstias do coqueiro (Cocos nucifera L.) no Brasil. Salvador, 110

Tipografia Naval, 156p. 1940a. 111

112

FONSECA, A.S. E T.C. FONSECA. A cultura da amoreira e criação do bicho da seda: 113

Sericicultura. São Paulo, Nobel, 246p. 1986. 114

GRAY, M. Palm and Cycad Societies of Australia. Disponível em: 115

<http://www.pacsoa.org.au/palms/Acrocomia/aculeata.html> Acesso em: 29 set 2013. 116

117

KIRK, A. Insects associated with bracken fern Pteridium aquilinum (Polypodiaceae) in Papua New 118

Guinea and their possible use in biological control. Acta Oecol. v. 3: 434-359 p. 1982. 119

MOTTA, P. E. F.; CURI N.; OLIVEIRA-FILHO, A. T.; GOME J. B. V. Ocorrência da macaúba 120

em Minas Gerais: relação com atributos climáticos, pedológicos e vegetacionais. Pesquisa 121

Agropecuária Brasileira. Brasilia. v. 37, n 7, 1023-1031. 2002. 122

MISSOURI BOTANICAL GARDEN. Acrocomia aculeata Disponível em: 123

<http.//www.mobot.mobot.org/cgi-bin/search> Acesso em: 16 out. 2005. 124

125

MOURA J, I, L.; FERREIRA, J, M, S.; SGRILLO R, B.; VALLE R. R.; ALMEIDA A. A. F.; 126

CIVIDANES, F, J.; DELABIE, J. H. C. Parisoschoenus obesulus Casey (Coleóptera: 127

Curculionidae) não É Praga de Frutos Novos do Coqueiro. Crop Protection. 2009. 128

129

TONET RM, PELINSON GJ. A situação da cultura do coqueiro no Estado de São Paulo. In: SÃO 130

JOSÉ AR, SOUZA IVB, MOURA JIL, REBOUÇAS TNH, editores. Coco: Produção e mercado. 131

Vitória da Conquista (Brasil): UESB. 222-238p. 1999. 132

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