preparação e caracterização de materiais absorventes à
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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Programa de Pós-Graduação em Biocombustíveis
Wilker Tagner do Nascimento Mendes
Preparação e caracterização de materiais absorventes à
base de glicerol
Diamantina
2019
Wilker Tagner do Nascimento Mendes
Preparação e caracterização de materiais absorventes à
base de glicerol
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biocombustíveis UFJM/UFU, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Biocombustíveis.
Área de concentração: Produtos e coprodutos
Orientador: Dr. Juan Pedro Bretas Roa
Coorientador: Dr. Edivaldo dos Santos Filho
Diamantina, MG
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus pela força e sabedoria para superar todas
as dificuldades ao longo deste caminho.
A esta Universidade, seu corpo docente, direção e administração que possibilitaram esta
oportunidade que hoje tenho.
Ao meu orientador Prof. Dr. Juan Pedro Bretas Roa, pelo suporte, apoio, amizade e
incentivos nestes 10 anos de trabalho em conjunto. Obrigado Juan.
Ao meu coorientador Prof. Dr. Edivaldo dos Santos Filho, pelo apoio, sugestões e
disponibilidade.
A minha mãe, minha heroína, pelo amor, incentivo e apoio incondicional.
A minha noiva Lorena, pelo apoio nas horas difíceis, de desânimo e cansaço assim como
toda sua família pelo apoio ao longo desta caminhada.
E a todos os amigos e colegas que fizeram parte direta ou indiretamente da minha
formação, o meu muito obrigado.
“Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está
vendo e pensar uma coisa diferente”.
Roger Von Oech
RESUMO
A produção de materiais absorvedores de água tem uma grande possibilidade de aplicações em
diversos segmentos como os setores agrícola, industrial, energia, dentre outros. Neste trabalho
foram produzidos 6 (seis) novos materiais à base de caulim, ácido succínico e glicerina,
caracterizados por espectroscopia no infravermelho, difração de raios-X, testes gravimétricos e
testes simples de absorção de água. Os produtos obtidos apontam modificação da superfície do
caulim com grupos COOH terminais, quando tivemos a mistura contendo glicerina e a razão
molar de 1:1 (caulim: ácido succínico). Foi observado o aumento da quantidade de estruturas
orgânicas, provenientes da glicerina e grupos OH terminais, quando há reação entre glicerina e
o caulim nos sistemas com misturas sem ácido succínico. Em produtos de reação contendo
apenas glicerol e ácido succínico é possível identificar um início de processo de polimerização
entre a glicerina e o ácido succínico, como forma de aumentar a cadeia carbônica dos produtos
finais, observado em 30 e 180 minutos de reação. É possível ainda verificar que, na presença
de glicerina e ácido succínico no meio, são formadas novas ligações éster, aumento de grupos
orgânicos e de grupos OH. Nos testes de absorção de água, foi observado que os todos os
materiais produzidos são capazes de garantir a absorção de cerca de 10 g de água para cada
grama de material empregado, mesmo com o aumento da fase orgânica em todos os sistemas
estudados, inclusive na ausência de caulim. Foram formados filmes contendo amido e os
materiais desenvolvidos. Nesse tipo de aplicação foram obtidos materiais compósitos de matriz
polimérica com capacidade de absorção de água de até 55 gramas de água por grama de filme.
Esses resultados demonstram que os produtos obtidos podem ser utilizados de forma isolada ou
associados a outros materiais, por exemplo, o amido. Nos filmes de amido o aumento na
capacidade de absorção de água foi de 13,8 % usando 10 % m/m do produto contendo caulim,
ácido succínico e glicerina. Os materiais produzidos permitem sua utilização como agente de
absorção de água, agentes de liberação de água ou como intermediários em processos de
formação de novos materiais superabsorventes.
Palavras-chave: Biodiesel, Glicerina, Caulim, Ácido Succínico, Material Absorvente.
ABSTRACT
The production of water-absorbing materials has a great possibility of applications in several
sectors including agriculture, industry, energy, among others. This work presents 6 (six) new
materials based on kaolin, succinic acid and glycerin, characterized by infrared spectroscopy,
X-ray diffraction, gravimetric and simple water absorption tests. The products obtained indicate
the presence of terminal COOH groups at the kaolin surface when we had the mixture
containing glycerin and molar ratio of 1: 1 (kaolin: succinic acid). An increase in the amount
of organic structures from glycerin and OH terminal groups was observed when there is a
reaction between glycerin and kaolin in systems with mixtures without succinic acid. The
products of reactions containing only glycerol and succinic acid, there is possible to identify
the beginning of the polymerization process between glycerin and succinic acid, as a way to
increase the carbon chain of the final products, observed at 30 and 180 minutes of reaction. It
is also possible to verify in the presence of glycerin and succinic acid in the reaction media a
new ester bond are formed, an increasing of organic groups and OH groups. In the water
absorption tests, it was observed that all the produced materials are able to guarantee 10 g of
water absorption for each gram of material used, even with the increase of the organic phase in
all the studied systems, including the absence of kaolin. Films containing starch and the
developed materials were formed. In this type of application, polymeric matrix composite
materials were obtained showing water absorption capacity up to 55 grams of water per gram
of film. These results demonstrate that the products obtained can be used in isolation or
associated with other materials, for example, starch. In starch films, the increase in water
absorption capacity was 13.8 % using 10 % w/w of the product containing kaolin, succinic acid
and glycerin. The produced materials allow its use as a water absorption agent, water release
agents or as intermediates in the formation processes of new superabsorbent materials.
Keywords: Biodiesel, Glycerin, Kaolin, Succinic Acid, Absorbent Material.
Lista de Figuras
Figura 1: Estrutura de uma molécula de um triglicerídeo ..................................................................... 23
Figura 2: Estrutura química da glicerina ............................................................................................... 24
Figura 3: Reação de transesterificação de triglicerídeos ....................................................................... 25
Figura 4: Caulim calcinado ................................................................................................................... 26
Figura 5: Representação esquemática das folhas tetra e octaédrica, unidades estruturais dos
argilominerais e a estrutura da caulinita ................................................................................................ 27
Figura 6: Estrutura do ácido succínico .................................................................................................. 28
Figura 7: Substâncias que podem ser obtidas a partir do ácido succínico ............................................. 29
Figura 8: Estrutura montada para realizar a reação proposta ................................................................ 37
Figura 9: Esquema para filtração do produto reacional ........................................................................ 38
Figura 10: Separação e nomenclatura da parte retida e permeada ........................................................ 38
Figura 11: Estrutura montada para realizar a reação proposta com o Dean-Stark ................................ 41
Figura 12: Montagem da ponteira para filtração ................................................................................... 44
Figura 13: Montagem utilizada para o teste de absorção dos filmes ..................................................... 45
Figura 14: Caulim fornecido pela MBM (a) e ácido succínico utilizado no processo reacional (b) ..... 47
Figura 15: Produto reacional RS (a) e RF (b) ....................................................................................... 48
Figura 16: Espectro FTIR do caulim ..................................................................................................... 49
Figura 17: Espectro FTIR do ácido succínico ....................................................................................... 50
Figura 18: Espectro de FTIR do caulim e dos produtos reacionais RXF .............................................. 51
Figura 19: Espectro FTIR do ácido succínico e dos produtos reacionais RXS ..................................... 52
Figura 20: Produto reacional G1:1_30 (a) e G1:1_180 (b) ................................................................... 53
Figura 21: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 1 ...................................................... 54
Figura 22: Estrutura do caulim com os grupos terminais adicionados pelo processo reacional com
duração de 30 minutos (a) e 180 minutos (b) ........................................................................................ 56
Figura 23: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 2 ...................................................... 57
Figura 24: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 3 ...................................................... 58
Figura 25: Produto reacional DS4 (a), DS5 (b) e DS6 (c)..................................................................... 59
Figura 26: Espectros das amostras obtidas na Reação 3 ....................................................................... 59
Figura 27: Filmes obtidos no primeiro experimento ............................................................................ 61
Figura 28: Filmes DS1, DS5 e DS6 produzidos .................................................................................... 62
Figura 29: Material obtido a partir da tentativa de obtenção do Filme DS4 ......................................... 62
Lista de Tabelas
Tabela 1: Composição percentual do caulim ........................................................................................ 35
Tabela 2: Amostras produzidas na primeira reação: RS e RF ............................................................... 39
Tabela 3: Amostras produzidas na segunda reação: GY:Z_T ............................................................... 40
Tabela 4: Componentes utilizados na reação no Dean-Stark ................................................................ 41
Tabela 5: Componentes utilizados para a preparação dos filmes 1, 2, 3 e 4 ......................................... 42
Tabela 6: Componentes utilizados para a preparação dos filmes .......................................................... 43
Tabela 7: Números de onda específicas do caulim ............................................................................... 48
Tabela 8: Números de onda específicas do ácido succínico.................................................................. 49
Tabela 9: Resultados obtidos no teste de absorção de água pelo algodão ............................................. 63
Tabela 10: Resultados obtidos no teste de absorção das amostras ........................................................ 63
Tabela 11: Resultados do teste estatístico de Shapiro-Wilk e t de Student ........................................... 64
Tabela 12: Resultados obtidos no teste de absorção de água pelo papel de filtro ................................. 64
Tabela 13: Resultados obtidos no teste de absorção dos filmes ............................................................ 65
Tabela 14: Resultados obtidos no teste de absorção dos filmes DS ...................................................... 65
Tabela 15: Resultados do teste estatístico de Shapiro-Wilk e t de Student ........................................... 66
Lista de Abreviaturas e Símbolos
º – Graus
ºC – Graus Celsius
% – Porcentagem
Å – Angstrons
AGPI – Aparicio-Galán-Ferrell Index (Índice Aparicio-Galán-Ferrell)
α – Nível de significância
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
AS – Ácido Succínico
ATR – Attenuated Total Reflectance (Reflectância Total Atenuada)
BioMat – Centro de Avaliação e Desenvolvimento de Biomateriais
cm – Centímetro
FTIR –Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier
DRX – Difração de raios-X
GLI – Glicerina ou glicerol
GLP – Gás Liquefeito de Petróleo
kV – Kilovolts
kW – Kilowatts
λ – Comprimento de onda
LMMA – Laboratório Multiusuário de Microscopia Avançado
LPP-JEQUI – Laboratório de Pesquisa e Pós-graduação para o Vale do Jequitinhonha
M – Molar
mA – Miliampère
MBM – Minas Brasil Minérios
mL – Mililitro
MME – Ministério de Minas e Energia
Ø – Diâmetro
OH – Hidroxila
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo
PA – Padrão Analítico
PBS – Polibutileno de Succinato
PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
RF/RXF – Produto reacional F
RS/RXS – Produto reacional S
TG – Termogravimetria
θ – Ângulo da radiação incidente com o plano de átomos
UFVJM – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................23
2.1 Biodiesel ............................................................................................................................... 23
2.2 Glicerol ................................................................................................................................. 24
2.3 Caulim .................................................................................................................................. 25
2.4 Ácido Succínico .................................................................................................................... 28
3. JUSTIFICATIVA .........................................................................................................................31
4. OBJETIVOS .................................................................................................................................33
5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .....................................................................................35
5.1 Matéria prima ...................................................................................................................... 35
5.2 Técnicas analíticas ............................................................................................................... 35
5.3 Reação .................................................................................................................................. 36
5.3.1 Reação 1 ....................................................................................................................... 36
5.3.2 Reação 2 ....................................................................................................................... 39
5.3.3 Reação 3 ....................................................................................................................... 40
5.4 Produção de filmes .............................................................................................................. 42
5.4.1 Experimento 1 .............................................................................................................. 42
5.4.2 Experimento 2 .............................................................................................................. 42
5.5 Teste de absorção de água .................................................................................................. 43
5.6 Testes estatísticos ................................................................................................................. 45
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................47
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................67
8. PERSPECTIVAS PARA TRABALHOS FUTURO .................................................................69
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................71
21
1. INTRODUÇÃO’
As questões ambientais ganharam notoriedade no cenário mundial em meados dos
anos 90, sendo fortemente influenciadas pelo grande apelo de sustentabilidade. Um tema que
ganhou uma importância mundial foi a discussão em relação aos impactos causados pelas
atividades humanas e o comprometimento com a vida no planeta. Em 1992, foi estabelecido
um novo modelo de negociação e cooperação entre diversos países, este acordo ficou conhecido
como ECO-92 ou mesmo Conferência Rio 92. A partir deste acordo, os temas relacionados às
mudanças climáticas, proteção da flora, e fauna e ainda a possibilidade da sustentabilidade do
desenvolvimento, formam a agenda global de meio ambiente (TEIXEIRA, 2008).
Os combustíveis fósseis são, de longe, um dos principais compostos que contribuem
para a poluição do planeta e para as mudanças climáticas, sendo indispensável a busca por
novas formas de energia sustentáveis, a fim de diminuir a dependência desse tipo de
combustível. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
(2018) a produção de petróleo, no ano de 2017, em todo o mundo (incluindo os países-membros
da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e países não membros), foi de
92.649 mil barris/dia e o consumo em todo o mundo foi de 98.186 mil barris/dia. Estes dados
demonstram o quão grande é a dependência em relação a este combustível fóssil em todo o
planeta. Os principais combustíveis derivados do petróleo que são utilizados no Brasil são: a
gasolina, o diesel, o gás liquefeito de petróleo (GLP ou gás de cozinha), gasolina de aviação,
querosene de aviação e iluminante e combustível marítimo (Agência Nacional de Energia
Elétrica - ANEEL, 2008). Segundo a ANP (2019a) em 2018 foram produzidos 94.173.983 m³
destes combustíveis no Brasil, deste total 44,47% correspondem ao óleo diesel, 26,62%
correspondem à gasolina, 11,38% ao combustível marítimo, 10,71% ao GLP, 6,77% ao
querosene de aviação e iluminante e 0,05% à gasolina de aviação. A partir desses dados, pode-
se observar então um grande consumo de óleo diesel, sendo este o combustível mais produzido
no país. Este consumo está atrelado à grande dependência em relação à frota de caminhões para
se realizar o escoamento de mercadorias em todo o país, uma vez que as vias ferroviárias e
aquáticas não conseguem suprir toda a necessidade. A gasolina também tem um grande
destaque entre os combustíveis mais consumidos no Brasil, devido à grande frota de automóveis
e motocicletas que circulam todo dia no país.
Devido ao grande consumo de combustíveis fosseis e seus efeitos nocivos ao meio
ambiente, torna-se indispensável a necessidade da busca por mais combustíveis que possam
substituir os derivados de petróleo e que tenham como base a utilização de matéria orgânica
22
renovável (biomassa), ou seja, combustíveis que provenham de uma fonte de energia renovável,
limpa, biodegradável, não tóxica ao meio ambiente e economicamente viável (OLIVEIRA,
2015). Estes são chamados de biocombustíveis e podem substituir parcial ou totalmente os
combustíveis fósseis em motores de combustão interna ou em outras formas de geração de
energia (BRASIL, 1997). Os principais biocombustíveis líquidos mais produzidos no país são
o etanol e o biodiesel. O biodiesel, então, juntamente com o etanol obtido a partir da cana-de-
açúcar, são importantes ofertas para o segmento de biocombustíveis. No ano de 2018, segundo
o anuário estatístico 2019 da ANP, foram produzidos 5.350.036 m³ de biodiesel (ANP, 2019a).
Deste modo, surge o biodiesel como uma excelente alternativa para substituir total ou
parcialmente o diesel de petróleo. O biodiesel é um combustível composto basicamente por
grupos mono-alquil-ésteres provenientes de ácidos graxos de cadeia longa oriundos de óleos
vegetais, gordura animal ou até mesmo óleos residuais (FACCINI, 2008) e, por ser um produto
proveniente de uma fonte renovável e por ser biodegradável, vem ganhando destaque no cenário
mundial, onde em diversos acordos, como o acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, têm
discutido sobre a redução da emissão de poluentes na atmosfera e uma maior utilização do
biodiesel.
Durante o processo de obtenção do biodiesel, é formado outro produto, o glicerol
ou glicerina bruta. O Glicerol um coproduto da produção de biodiesel que representa 10% do
total de sua produção. Com a presença deste coproduto junto ao biodiesel, faz-se necessária a
separação dos compostos e um tratamento prévio do biodiesel para a obtenção de um
combustível com um teor de pureza mais elevado. Dentre os processos que visam maior
purificação do biodiesel, a lavagem é um dos processos mais importantes (RAMOS et al.,
2003).
Uma vez separado, este glicerol contém aproximadamente 80% de pureza, podendo
conter vestígios de óleos não reagidos, catalisador, álcoois e sais (MOTA e PESTANA, 2011),
sendo necessário um tratamento prévio para que ele seja disponibilizado no mercado sob a
forma de glicerina (MENDES e SERRA, 2012). O aumento da produção de biodiesel no país
está diretamente relacionado à produção em escala deste glicerol, tornando-se necessária a
busca por novas aplicações agregando valor a este glicerol (MOTA e PESTANA, 2011). A
utilização do glicerol, com ou sem tratamento prévio, como matéria-prima para o
desenvolvimento de novos materiais, constitui uma alternativa ao excedente disponível no
mercado.
23
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Biodiesel
O biodiesel é um combustível que pode ser obtido de diversas fontes de óleos e
gorduras, sendo os óleos suas principais matérias-primas. Os óleos vegetais são lipídeos que
são extraídos das plantas, podendo ser obtidos tanto das raízes quanto das folhas, mas sua
principal fonte são as sementes (eCYCLE, 2017). Os óleos vegetais podem ser obtidos de
diversas maneiras, sendo as mais utilizadas a extração via prensagem e a extração com solvente
orgânico. Existem diversas plantas hoje no Brasil e no mundo que são utilizadas para a produção
de óleo vegetal, como, por exemplo: soja, palma (dendê), girassol, colza (canola), algodão,
dentre outras. Estes óleos são compostos por triacilgliceróis (também chamado de
triglicerídeos), que nada mais são do que a união de três moléculas de ácidos graxos e uma
molécula de glicerol, podendo ela ser saturada (sem dupla ligação entre carbonos) ou insaturada
(com dupla ligação entre os carbonos) (KNOTHE et al., 2006). Devido à estrutura
exemplificada da molécula, ilustrada pela Figura 1, temos que a sua natureza é apolar, sendo
insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos de baixa polaridade.
Figura 1: Estrutura de uma molécula de um triglicerídeo
Fonte: Autor, 2019
No Brasil, foi criado em 2004 o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
(PNPB), uma ação importante para a inserção dos biocombustíveis derivados de óleos vegetais
e gorduras animais no mercado nacional (OLIVEIRA, 2015). Ele foi inserido na matriz
energética brasileira através da Lei 11.097 (BRASIL, 2005), sendo que esta prescrevia a adição
de 5% em volume de biodiesel ao diesel de petróleo. Esta quantidade de biodiesel adicionado
ao diesel foi alterada posteriormente através da Lei 13.033 (BRASIL, 2014), onde este
24
percentual passou a ser de 6% em julho de 2014 e 8% após 12 meses da promulgação desta lei.
No Art. 1º, inc. II desta Lei, estava previsto que em até 36 meses após a data de promulgação,
o percentual de biodiesel adicionado seria de 10%. Em 2016 foi redigida uma nova Lei, a 13.263
(BRASIL, 2016), onde passava a vigorar a adição de 10% de biodiesel ao diesel de petróleo. E
a partir de setembro de 2019 passou a ser adicionado 11% de biodiesel ao diesel de petróleo
(UBRABIO, 2019). A produção de biodiesel em 2019 foi de aproximadamente 5,9 mil m³
(ANP, 2019b).
2.2 Glicerol
Glicerina (C3H8O3) é o termo utilizado para o composto 1,2,3-propanotriol, um
álcool trihidroxilado que contém 95% de pureza. Já o termo glicerol aplica-se somente ao
composto químico impuro (MOTA e PESTANA, 2011). A estrutura molecular da glicerina é
apresentada pela Figura 2. A glicerina é um líquido, possui gosto adocicado, é inodoro, muito
viscoso e mais denso que a água (BEATRIZ, et al., 2011; UMPIERRE e MACHADO, 2013).
Uma grande quantidade de glicerina é demandada pelas indústrias alimentícia,
farmacêutica, de cosméticos, produtos de limpeza e ainda pela indústria de tabaco (VIEIRA e
D´ARCE, 2008). Contudo, as indústrias alimentícias e farmacêuticas não visam utilizar a
glicerina proveniente do biodiesel devido seu alto grau de impureza (PINHEIRO, CÉSAR e
BATALHA, 2010).
Figura 2: Estrutura química da glicerina
Fonte: Autor, 2019
Na produção de biodiesel, Figura 3, são gerados cerca de 10% em massa de glicerol.
O glicerol, é um coproduto da produção de biodiesel e contém aproximadamente 20% de
impurezas. Apesar das impurezas, o glicerol é considerado um subproduto de alto valor
agregado no mercado, entretanto sua utilização comercial está relacionada ao seu grau de pureza
(APOLINÁRIO, 2012).
25
Figura 3: Reação de transesterificação de triglicerídeos
Fonte: Autor, 2019
Devido ao aumento da produção de biodiesel no Brasil, a quantidade de glicerol
também aumentou, sendo que no ano de 2018 foram produzidos aproximadamente 440.000 m³
(ANP, 2019a), fazendo com que seu preço caia consideravelmente.
Este glicerol, produzido a partir do Biodiesel obtido por meio de processo de
catálise homogênea, utilizando base e um álcool de cadeia curta, para ser colocado no mercado
como um produto de alta pureza, mínimo 95% (MOTA e PESTANA, 2011; MOTA et al.,
2009), precisa passar por processos de destilação em condição de alto vácuo onde o álcool
utilizado no processo de transesterificação é extraído e posteriormente há um tratamento ácido
a fim de se retirar o catalisador utilizado na reação de transesterificação (MENDES e SERRA,
2012). Estes tratamentos acabam tornando o processo de purificação de glicerol oneroso,
dificultando sua utilização. A disponibilidade do Glicerol encoraja o desenvolvimento de novos
materiais que o tenham como parte de sua composição, o que apresentaria novas alternativas
de uso e consequentemente favorecem a cadeia produtiva tanto do glicerol, quanto do biodiesel.
2.3 Caulim
O termo caulim ou “China clay” é derivado da palavra chinesa kauling (colina alta).
É um mineral, ou um argilomineral, que possui coloração branca, Figura 4, e é basicamente
composto por caulinita (Al2O3.2SiO2.2H2O) além de sempre possuir outros minerais na forma
de impurezas, desde traços até a faixa de 40-50% em volume, como: areia, quartzo, mica,
feldspato, óxidos de ferro, titânio entre outros (BARATA, 2007). Sua composição química
teórica é de aproximadamente 39,50 % de Al2O3, 46,54% de SiO2 e 13,96% de H2O, entretanto,
são observadas pequenas variações (ARAÚJO et al., 2006). O caulim pertence ao grupo dos
26
aluminossilicatos hidratados. É um mineral abundante e disponível no território nacional, sendo
sua reserva estimada em 5,0 bilhões de toneladas. O volume de produção no Brasil foi de
1.810.000 toneladas no ano de 2015 (CAMPOS et al., 2016). A lavra de extração do caulim é
artesanal, a céu aberto e de acordo com as características do mineral a maior parte do caulim
extraído no Brasil é destinado à indústria do papel, seja para o enchimento (filler) ou cobertura
(coating). Outra parte é destinada à indústria de cerâmicas, cimento, borracha, plásticos, tintas
e refratários (MÁRTIRES, 2009).
Figura 4: Caulim calcinado
Fonte: Autor, 2019
Sua estrutura cristalina, apresentada pela Figura 5, é formada por um empilhamento
regular de camadas, onde cada camada é formada de uma folha de sílica tetraédrica (quatro
átomos de oxigênio ligados a um átomo de silício) e uma folha de alumina octaédrica (seis
átomos de oxigênio ligados a um átomo de alumínio), unidas através de um átomo de oxigênio,
possuindo um caráter fortemente polar. Estas camadas são ligadas através de ligações entre
hidrogênio e oxigênio, uma vez que existe um plano de grupos hidroxila em uma das faces da
camada e de um plano de átomos de oxigênio na outra camada adjacente (BRITO et al., 2013).
27
Figura 5: Representação esquemática das folhas tetra e octaédrica, unidades estruturais dos argilominerais e a
estrutura da caulinita
Fonte: CHENG et al., 2012 (adaptado)
O caulim já foi utilizado na indústria para a fabricação de artigos de porcelana há
séculos, mas a partir de 1920 teve início a sua aplicação na indústria de papel, seguida pelo uso
na indústria da borracha. A indústria do papel responsável pela utilização de 45 % da produção
mundial (BARATA, 2011).
Recentemente, o caulim passou a ser utilizado na industrialização de plásticos,
pesticidas, rações, produtos alimentícios, farmacêuticos, fertilizantes e outras variedades de
aplicações industriais. Na indústria de papel, o caulim é utilizado como material de enchimento
(carga) e pode ser utilizado para adição ou substituição das argilas plásticas (Minas Brasil
Minérios - MBM, 2018). Além das diversas aplicações na indústria, novas utilizações estão
sempre sendo discutidas.
A grande utilização do caulim se deve ao fato de ele ser quimicamente inerte em
diversos valores de pH, possuir coloração branca, ser macio e pouco abrasivo, apresentar baixa
28
condutividade de calor e de eletricidade e por ter seu custo relativamente baixo em comparação
a outros materiais (MÁRTIRES, 2009).
Existem alguns métodos de modificação da estrutura do caulim, como a
intercalação, que consiste nas moléculas orgânicas penetrarem nos interstícios que existem
entre as camadas dos cristais de caulinita (PAIVA, MONTE e FALCÃO, 2005). Outro
método é o processo de lixiviação do caulim com ácidos inorgânicos, que são utilizados a fim
de promoverem a separação das partículas do material, eliminar impurezas e aumentar sua
acidez de superfície (SALES, 2011). Existe também a calcinação, onde o caulim passa por um
tratamento térmico a altas temperaturas (PAIVA, TRIGUEIRO e MONTE, 2003).
2.4 Ácido Succínico
O ácido Succínico (AS), Figura 6, também conhecido como ácido butanodióico
(C4H6O4), é um composto sólido à temperatura ambiente e de coloração branca. Trata-se de um
ácido orgânico dicarboxílico que faz parte do metabolismo energético em células vegetais e
animais, fazendo parte do ciclo de Krebs, ou no ciclo do ácido nítrico, como um intermediário
produzido a partir do ácido alfa-cetoglutático (QUÍMICA NOVA INTERATIVA, 2019). Ele
possui uma gama de aplicações para a indústria e sua estrutura possui semelhanças ao ácido
maléico e o fumárico, entretanto, o que difere o ácido succínico desses compostos é sua cadeia
carbônica saturada (BEVILAQUA 2013).
Figura 6: Estrutura do ácido succínico
Fonte: Autor, 2019
No século XIX, foi descoberta em fósseis de resina de árvore uma substância ácida,
que ficou conhecida como âmbar. Era imaginado que esta resina possuía em sua estrutura entre
3 e 8% de ácido, e que este seria produzido através da fermentação promovida por
microrganismos. Com isso, este ácido recebeu o nome de ácido succínico, que vem do latim
succinum (âmbar). Este ácido é produzido através da fermentação de bactérias e leveduras ou
29
como um derivado do petróleo, sendo esta via menos utilizada (QUÍMICA NOVA
INTERATIVA, 2019).
O ácido succínico é utilizado como um precursor na produção de diferentes tipos
de ácidos carboxílicos e ésteres, e de diversos outros produtos, Figura 7. Devido ao crescimento
da demanda global por ele, estima-se que sua produção aumenta cerca de 10% a cada ano, e
estima-se que seu consumo anual seja de aproximadamente 30.000 toneladas (QUÍMICA
VERDE, 2019).
Figura 7: Substâncias que podem ser obtidas a partir do ácido succínico
Fonte: WERPY & PETERSEN, 2004 (adaptado)
As suas principais aplicações são na preparação de solventes, vernizes, perfumes,
na fabricação de tintas e corantes, plastificantes e poliésteres. Espera-se que a demanda por
ácido succínico aumente dentro dos próximos anos. Isto se deve ao aumento da produção de
bioplásticos (plásticos verdes), e outros intermediários químicos (solventes, poliuretanos e
plastificantes) (QUÍMICA VERDE, 2019).
Um bioplástico bastante promissor produzido a partir do ácido succínico é o
polibutileno de succinato (PBS). Ele é obtido via polimerização do ácido succínico juntamente
com o 1,4-butandiol (C4H10O2). Ele é um plástico biodegradável e que possui grande resistência
térmica e química (QUÍMICA NOVA INTERATIVA, 2019). O ácido succínico é utilizado na
indústria de alimentos na produção de refrigerantes, cervejas, entre outros produtos, servindo
30
como aromatizante e neutralizante. Na indústria farmacêutica, ele é utilizado para a preparação
de agentes de combate a úlcera, protetores de radiação e como suplemento nutricional
(QUÍMICA NOVA INTERATIVA, 2019).
Acredita-se que o consumo de suplementos a base de succinato amenizem os efeitos
da “ressaca”, uma vez que ativam a degradação do acetaldeído, um produto tóxico proveniente
da degradação do álcool. Alguns estudos apontam que o ácido succínico trabalha sobre o
sistema imune e neural, contribuindo para o aumento da concentração, consciência e reflexos
(QUÍMICA VERDE, 2019).
Alguns estudos demonstram a utilização do ácido succínico para a modificação de
alguns materiais. Como por exemplo na intercalação e funcionalização da brucita, descrito por
Wypuch e Arízaga (2005). Cruz et al. (2014), descreve o desenvolvimento de biofilmes de
amido utilizando como plastificantes diferentes ácidos carboxílicos. Tem-se também a
utilização do ácido succínico na síntese e caracterização de copolímeros de uréia (CASTRO,
2014).
31
3. JUSTIFICATIVA
Com a constante busca por novos produtos e tecnologias que prezem pela
sustentabilidade, a utilização do glicerol gerado durante o processo de produção
do biodiesel vem ganhando grande destaque. Sendo assim, a justificativa para este trabalho é
agregar valor ao glicerol gerado na produção do biodiesel, por meio do desenvolvimento de
novos materiais com capacidade de absorver água.
32
33
4. OBJETIVOS
O objetivo geral desse trabalho é produzir novos materiais com propriedades
absorventes a partir do glicerol proveniente do processo de produção de biodiesel e do mineral
caulim a fim de se obter materiais capazes de absorver água e que potencialmente possam ser
utilizados na purificação do biodiesel.
Os objetivos específicos são:
• Produzir novos materiais absorventes a partir de uma reação utilizando como
material de partida a glicerina e o caulim;
• Caracterizar os novos materiais produzidos.
34
35
5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
5.1 Matéria prima
O caulim utilizado para o procedimento experimental foi fornecido pela MBM
(Minas Brasil Minérios), uma mineradora situada na zona rural da cidade de Caraí, no Vale do
Mucuri, Minas Gerais. O caulim fornecido foi de um tipo específico para tintas, e integrou lote
único, com a seguinte composição, Tabela 1.
Tabela 1: Composição percentual do caulim
Componente Porcentagem na Amostra (%)
SiO2 46,30
Al2O3 38,70
Fe2O3 0,15
TiO2 0,06
Fonte: MBM, 2017
A partir da Tabela 1, pode-se considerar que o caulim fornecido pela MBM como
caulim puro. O Caulim puro tipicamente apresenta composição de SiO2 e Al2O3 de 46 e 40%,
respectivamente (DEWI et al., 2018).
5.2 Técnicas analíticas
Os experimentos laboratoriais e as análises de FTIR (espectroscopia de
infravermelho com transformada de Fourier) e DRX (Difração de raios-X) foram realizadas na
UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Para a realização dos
experimentos, foi utilizado o Laboratório de Pesquisa e Pós-graduação para o Vale do
Jequitinhonha (LPP-JEQUI), as análises de FTIR (espectroscopia de infravermelho com
transformada de Fourier) foram realizadas no Centro de Avaliação e Desenvolvimento de
Biomateriais (BioMat), localizado no campus I da UFVJM, em um equipamento Thermo
Scientific, modelo Nicolet 6700 acoplado a um módulo para reflectância total atenuada, ATR,
entre 4000 e 400 cm-1, janela de Germânio, 32 varreduras e resolução de 4 cm-1 e as análises de
DRX (Difração de raios-X) foram realizadas no Laboratório Multiusuário de Microscopia
Avançado (LMMA), localizado no campus JK da UFVJM, em um equipamento Shimadzu
XRD 6000 equipado com goniômetro de varredura vertical e tubo de cobre de 1,5 kW de
potência (λ Cu-kα =1,54060 Å), com monocromador, além de gerador de tensão e corrente
ajustados para 40 kV e 30 mA, respectivamente. Os registros foram feitos de 5º a 100º em 2θ
36
com velocidade de 1º por minuto e intervalo de 0,02º. Os dados foram analisados e tratados
computacionalmente.
5.3 Reação
A parte reacional do experimento foi composta pelo estudo de 3 processos
reacionais, apresentados como Reação 1, 2 e 3.
5.3.1 Reação 1
Foi preparada uma mistura entre o caulim e ácido succínico (Dinâmica Química
Contemporânea, 99,5% de pureza) na proporção molar de 4:1, sendo que em 10 g de mistura
existiam aproximadamente 6,96 g de caulim e 3,04 g de ácido succínico.
Foram conduzidas reações utilizando 10 g desta mistura caulim: ácido succínico
(4:1) em 100 mL de água destilada e catalisadas utilizando 1% m/m de ácido sulfúrico (Neon
Comercial, pureza entre 95 e 98%), em relação à massa total da mistura, nos tempos de 0, 30,
60, 90 e 180 minutos. Para o processo reacional, foi montado uma estrutura sob um tripé, com
uma manta de aquecimento, um balão de fundo redondo e uma condensador de bolas, Figura 8.
37
Figura 8: Estrutura montada para realizar a reação proposta
Fonte: Autor, 2019
Ao final, foram gerados 5 produtos denominados: R0, R1, R2, R3 e R4 de acordo
com o tempo reacional. Os processos foram feitos em duplicata e o produto foi filtrado a vácuo,
Figura 9. Depois de filtrado, foram separadas duas amostras. O filtrado recebeu a designação
S, e o retido, F, de acordo com a Figura 10.
38
Figura 9: Esquema para filtração do produto reacional
Fonte: SP Labor, 2019
Figura 10: Separação e nomenclatura da parte retida e permeada
Fonte: LVQ – UNESP, 2017 (adaptada)
As amostras produzidas estão representadas na Tabela 2 (a mistura realizada para o
processo reacional continha aproximadamente 10 g de material, sendo composta por 6,96 g de
caulim e 3,04 g de ácido succínico) com os tempos reacionais utilizados. Após o processo de
filtração da solução, as amostras F e S foram levadas a uma estufa e mantidas a 100 ºC por 24
39
horas a fim de se eliminar toda a água presente na amostra. Após as 24 horas, a massa de cada
placa foi determinada e seu valor anotado. Com as amostras secas, elas foram trituradas com o
auxílio de um almofariz e um pistilo e posteriormente separadas em pequenas quantidades para
caracterização.
Tabela 2: Amostras produzidas na primeira reação: RS e RF
Nome da Amostra Tempo Reacional (min)
R0S 0
R0F 0
R1S 30
R1F 30
R2S 60
R2F 60
R3S 90
R3F 90
R4S 180
R4F 180
Fonte: Autor, 2019
5.3.2 Reação 2
A segunda reação foi conduzida com 4 g de reagente (uma mistura de caulim:ácido
succínico na proporção molar 0:1, 1:1 e 1:0), 1 g de glicerina PA (Dinâmica Química
Contemporânea, 99,50%) e 1 mL de solução de H2SO4 1 mol L-1. A reação foi realizada em
dois intervalos de tempos, 30 e 180 minutos. Foi utilizada a mesma montagem para a realização
da reação 1. Os produtos obtidos são apresentados na Tabela 3. As amostras produzidas foram
nomeadas como GY:Z_T, onde Y corresponde a fração de caulim e Z a fração de ácido
succínico (podendo ser 1 ou 0) e T ao tempo reacional (30 e 180 minutos).
40
Tabela 3: Amostras produzidas na segunda reação: GY:Z_T
Nome da Amostra Tempo Reacional (min)
G1:1_30 30
G1:0_30 30
G0:1_30 30
G1:1_180 180
G1:0_180 180
G0:1_180 180
Fonte: Autor, 2019
5.3.3 Reação 3
A terceira reação foi realizada utilizando, caulim, ácido succínico, amido
(Anchieta) de grau alimentício e o material obtido na reação 2 a fim de se obter um novo
material. Foi utilizado sistema de refluxo e um Dean-Stark para descolocar o equilíbrio da
reação favorecendo a formação dos produtos. Esta montagem é apresentada pela Figura 11. O
solvente utilizado agora foi o diclorometano (CH2Cl2) (Alphatec, 99,50%) e a reação ocorreu
sob aquecimento durante 30 minutos, contados a partir do início do gotejamento do solvente no
balão. A reação foi realizada de três formas, a primeira reação contou com a preparação da
amostra G1:1_30 in situ, ou seja, foram adicionados o amido, caulim, ácido succínico, glicerina,
diclorometano e 2% m/m de solução ácida de H2SO4 1 mol L-1. A segunda reação, ocorreu
com a adição de amido, a amostra G1:1_30 preparada anteriormente e diclorometano. A terceira
reação ocorreu com a adição de amido, a amostra G1:1_180 e diclorometano. Após a reação, o
material foi colocado em placas de petri e seco em estufa por 24 horas. Deste experimento
foram obtidos três materiais que foram nomeados como DS4, DS5 e DS6, respectivamente. As
quantidades utilizadas para a preparação destas amostras são apresentadas na Tabela 4.
41
Tabela 4: Componentes utilizados na reação no Dean-Stark
Quantidades DS4 DS5 DS6
Amido (g) 0,9004 0,9000 0,9025
Caulim (g) 0,1744 - -
Ácido succínico (g) 0,3041 - -
Glicerina (g) 0,1051 - -
H2SO4 1 mol L-1(mL) 2 - -
G1:1_30 - 0,1074 -
G1:1_180 - - 0,1048
Diclorometano (mL) 100 100 100
Figura 11: Estrutura montada para realizar a reação proposta com o Dean-Stark
Fonte: Autor, 2019
42
5.4 Produção de filmes
Considerando possíveis formas de aplicação dos materiais produzidos, foram
testados a aplicação do material obtido sob uma forma de fácil aplicação e a fim de avaliar a
sua capacidade de absorção de água, foram preparados filmes.
Para a preparação dos filmes, foi utilizada a técnica de evaporação de solvente,
casting a partir dada metodologia descrita por Silva (2011), sendo feitas algumas alterações na
concentração dos componentes, no tempo reacional e temperatura de aquecimento.
Foram testadas diversas concentrações a fim de se obter um filme. Os componentes
foram adicionados em um balão e mantidos sob aquecimento a aproximadamente 95 °C por 15
minutos a fim de promover a gelatinização do amido. Após a gelatinização, a solução foi vertida
em uma placa de petri e seca por 24 horas em estufa sob aquecimento a 60 °C.
Os filmes foram produzidos em duas condições.
5.4.1 Experimento 1
Foram produzidos 4 filmes (nomeados de filme 1, filme 2, filme 3 e filme 4). Para
se obter estes filmes, foram utilizados amido de milho (Anchieta), glicerina PA (agente
plastificante) (Vetec Química Fina, 99,5%), água destilada e caulim (MBM) em diferentes
quantidades, conforme descritos na Tabela 5. O filme 1 não possuía caulim e foi utilizado como
padrão, os outros filmes possuíam caulim em sua composição sendo que o mesmo tinha sua
concentração variada (aproximadamente 15%, 50%, 100% em relação a massa de amido
utilizada).
Tabela 5: Componentes utilizados para a preparação dos filmes 1, 2, 3 e 4
Componente Filme 1 Filme 2 Filme 3 Filme 4
Amido (g) 1,2033 1,2063 1,2085 1,2064
Glicerina (g) 0,3735 0,3975 0,3610 0,3800
Caulim (g) - 0,2068 0,6029 1,2044
Água (mL) 40 40 40 40
Fonte: Autor, 2019
5.4.2 Experimento 2
Neste experimento, foram utilizados amido de milho (Anchieta), glicerina (atuando
como agente plastificante) (Vetec Química Fina, 99,5%), água destilada e os materiais obtidos
via reação com o deslocamento de equilíbrio (DS4, DS5 e DS6). Foram produzidos 4 filmes,
43
sendo o primeiro (filme DS1) sendo composto somente por amido e glicerina (utilizado como
padrão), o segundo (filme DS4) sendo composto por amido, glicerina e o produto DS4, o
terceiro (filme DS5) sendo composto por amido, glicerina e DS5, por fim o quarto (filme DS6)
sendo composto por amido, glicerina e DS6. Na Tabela 6 estão listadas as quantidades utilizadas
de cada um dos componentes dos filmes.
Tabela 6: Componentes utilizados para a preparação dos filmes
Componente Filme DS1 Filme DS4 Filme DS5 Filme DS6
Amido (g) 0, 6072 0,6043 0,6008 0,6104
Glicerina (g) 0,4489 0,4026 0,4126 0,4361
Água (mL) 20,0 20,0 20,0 20,0
DS4 (g) - 0,1005 - -
DS5 (g) - - 0,1069 -
DS6 (g) - - - 0,1015
Fonte: Autor, 2019
5.5 Teste de absorção de água
Após a produção das amostras contendo glicerina (GY:Z_T) e dos filmes de
amido, foram realizados testes em triplicata de absorção de água destes materiais, a fim de se
avaliar se eles seriam eficazes para a utilização como material filtrante do biodiesel.
Inicialmente, foi feita uma análise de porcentagem de absorção de água somente pelo algodão
e posteriormente, adicionada a amostra sob o mesmo. Os testes foram realizados utilizando uma
massa de algodão (aproximadamente 0,01 g), uma massa de água (aproximadamente 1,0 g) e
uma pequena quantidade de material produzido (aproximadamente 0,02 g). Foram montadas
colunas para a filtração com o auxílio de uma ponteira de micropipeta, como mostrado na Figura
12 (a). O algodão foi colocado no fundo da ponteira, sobre ele a amostra e foi adicionado a
massa de água e no final avaliada a quantidade retida. A coluna de filtração foi presa em uma
garra com o auxílio de um suporte universal, esta estrutura é apresentada na Figura 12 (b).
44
Figura 12: Montagem da ponteira para filtração
Fonte: Autor, 2019
Também foi realizado um teste de absorção de água com os filmes de amido
produzidos no laboratório. Entretanto, neste teste foi utilizado uma metodologia diferente.
Utilizou-se um funil de vidro liso, papel de filtro qualitativo (Unifil, com Ø = 9 cm) como
suporte para os filmes. Avaliou-se quanto somente o papel de filtro absorvia e descontou-se
este valor do valor da absorção com a presença da amostra. Os testes foram realizados utilizando
papel de filtro, um volume fixo de água (20 mL) e uma pequena quantidade de filme produzido
(aproximadamente 0,02 g). Foi colocado um funil de vidro com o papel de filtro dobrado, e
sobre ele adicionado a amostra de filme. Foi adicionado o volume de água sobre este sistema e
avaliado a massa absorvida do final. O sistema utilizado para esta filtração é apresentado na
Figura 13.
45
Figura 13: Montagem utilizada para o teste de absorção dos filmes
Fonte: Autor, 2019
5.6 Testes estatísticos
Após o teste de absorção de água, foi feito uma análise estatística dos resultados
obtidos. Para esta análise, foi utilizado o software R®, para comparar as médias de dois grupos
independentes (produtos com 30 e 180 minutos de reação). Para esta análise, inicialmente foi
aplicado o teste de Shapiro-Wilk. Este teste consiste em analisar a normalidade dos dados,
considerando que adotamos que a significância (α) foi de 0,05 (5%) e o nível de confiança (1 -
α) foi de 0,95 (95%). Inicialmente temos a hipótese nula (H0 = os dados seguem a normalidade)
e a hipótese alternativa (H1 = os dados não seguem uma normalidade), e iremos verificar se
existem argumentos para se rejeitar a hipótese nula. Realizado o teste de Shapiro-Wilk,
compara-se o p-valor com o nível de significância (α), se ele for maior que α não se rejeita H0,
caso ele seja menor, rejeita-se H0 (DUDLEY, 2015).
Quando se aceita H0, ou seja, os dados seguem a normalidade, podemos continuar
o teste estatístico. Agora é realizado o teste t de Student, que consiste em comparar as médias
entre os grupos (30 e 180 minutos de reação) e verificar se elas são estatisticamente iguais.
Adotamos que a significância (α) foi de 0,05 (5%) e o nível de confiança (1 - α) foi de 0,95
46
(95%). Inicialmente temos a hipótese nula (H0 = as médias µ1 e µ2 são iguais) e a hipótese
alternativa (H1 = as médias µ1 e µ2 não são iguais), e iremos verificar se existem argumentos
para se rejeitar a hipótese nula. Realizado o teste t de Student, compara-se o p-valor com o nível
de significância (α), se ele for maior que que α não se rejeita H0, caso ele seja menor, rejeita-
se H0 (ALVES, 2017).
47
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras obtidas com o primeiro experimento (caulim + ácido succínico + 1%
H2SO4 1 mol L-1) podem ser caracterizadas como materiais sólidos de cor branca, com
características distintas. Considerando as amostras RXS, sendo X o número relativo ao tempo
em que a reação ocorre (0, 30, 60, 90 e 180 min), apresentaram-se na forma de um filme
quebradiço, que após recolhido foi previamente triturado; enquanto as amostras RXF, sendo X
o número relativo ao tempo em que a reação ocorre (0, 30, 60, 90 e 180 min), apresentaram-se
na forma de pó branco. As amostras de caulim e do ácido succínico também são sólidos brancos,
como mostra a figura 14 (a) e (b), respectivamente.
Figura 14: Caulim fornecido pela MBM (a) e ácido succínico utilizado no processo reacional (b)
Fonte: Autor, 2019
Todas as amostras com designação S apresentam-se semelhantes visualmente ao
Ácido succínico, enquanto as amostras com designação F têm semelhança ao caulim, como
pode ser visto na Figura 15 (a) e (b), respectivamente. Como forma de verificar se a superfície
de ambos os compostos utilizados como precursores foram modificadas, esses produtos foram
submetidos à análise de infravermelho (FTIR).
48
Figura 15: Produto reacional RS (a) e RF (b)
Fonte: Autor, 2019
São observadas algumas bandas específicas no espectro obtido do caulim, elas estão
descritas na Tabela 7, e podem ser comparadas a outras literaturas. Também são observadas
algumas bandas específicas no espectro obtido do ácido succínico, elas estão descritas na Tabela
8, e podem ser comparadas a outras literaturas. São apresentados os espectros de FTIR do
caulim e do ácido succínico, Figuras 16 e 17, respectivamente.
Tabela 7: Números de onda específicas do caulim
Número de
onda Obtida
(cm-1)
Número de onda
(cm-1)
(SAIKIA, 2010)
Número de onda
(cm-1)
(DIKO, 2015)
Descrição
3689 3661 3689 Estiramento OH
3623 3624 3621 Estiramento OH
1626 1634 1642 Deformação flexão água
1022 1031 1023 Estiramento Si-O
915 915 912 Deformação OH
794 840 795 Deformação OH
683 693 690 Si-O
669 673 687 Si-O-Si
Fonte: Autor, 2019
49
Tabela 8: Números de onda específicas do ácido succínico
N°. de onda
Obtido
(cm-1)
N°. de onda
(cm-1)
(KRISHNAN, 2007)
N°. de onda
(cm-1) (MITRA, 2012)
Descrição
1675 1720 1692 Estiramento C=O (COOH)
1525 1552 - Estiramento antissimétrico (COO-)
1320 1396 1307 Estiramento simétrico (COO-)
2630 2650 2500-3300 Estiramento OH
2927 2932 2534-2635 Estiramento CH
Fonte: Autor, 2019
Figura 16: Espectro FTIR do caulim
Fonte: Autor, 2019
50
Figura 17: Espectro FTIR do ácido succínico
Fonte: Autor, 2019
Considerando a análise dos espectros dos diferentes produtos, estes foram
comparados tomando por base os valores normalizados das absorbâncias dos materiais, em
função da banda mais intensa de cada espectro.
Podemos observar grande semelhança entre os espectros das amostras RXF e do
caulim. Esse fato indica que o caulim ou sofreu alterações superficiais muito pequenas,
imperceptíveis pela grande presença das bandas Si-OH e Al-OH presentes no caulim, ou elas
não ocorreram. Nesse caso o FTIR não é capaz de apresentar informação confirmando a
mudança da superfície das partículas de caulim, Figura 18.
51
Figura 18: Espectro de FTIR do caulim e dos produtos reacionais RXF
Fonte: Autor, 2019
No estudo das amostras RXS, foram observadas bandas características do ácido
succínico em todos os produtos obtidos, especialmente pela banda característica da ligação C=O
presente em 1675 cm-1, Figura 19.
52
Figura 19: Espectro FTIR do ácido succínico e dos produtos reacionais RXS
Fonte: Autor, 2019
Entretanto, considerando a normalização dos espectros tomando a banda em 1675
cm-1 como referência, se observam aumentos relativos dos grupos:
C-H (2800-3000 cm-1): o aumento desta banda pode se dar devido à presença de
matéria orgânica e também possível início de polimerização do ácido succínico, podendo ser
evidenciado através da Figura 23, mostrando que houve modificação da superfície do ácido
succínico através da deformação das ligações do grupo CH com a diminuição (inexistência) da
banda próxima a 1525 cm-1.
O-H (3300-3600 cm-1): aumento na banda devido à presença de água e à
presença dos grupos Si-OH e Al-OH que são provenientes do caulim, mostrando assim que
houve a inserção do caulim na matriz do ácido succínico. Segundo Barbosa (2007), esta faixa
também está relacionada ao grupo carboxilato;
C-O-C (1000-1150 cm-1): o aumento desta banda indica início de polimerização
e pode levar ao alargamento da banda de carbonila (COO). Esta é uma banda típica de éteres
(PAVIA et al. 2010; BARBOSA, 2007);
C=O (1675 e 1700 cm-1): o aumento desta banda indica a formação de dímeros
(dimerização), onde estes fazem com que a força do estiramento da ligação C=O diminua sua
53
frequência para esta banda. Este processo de dimerização também é característico da
polimerização (KRISHNAN et al., 2007; MITRA et al., 2012; PAVIA et al. 2010).
As amostras obtidas com o segundo experimento, na presença de glicerina, podem
ser caracterizadas como materiais sólidos de aspecto ceroso, de coloração branca, com distintas
características. Considerando as amostras GY:Y_30, sendo Y o número relativo à fração dos
reagentes presentes no meio reacional (1:1, 1:0 e 0:1), apresentam-se na forma de um material
quebradiço e branco. As amostras GY:Y_180, sendo Y o número relativo à fração dos reagentes
presentes no meio reacional (1:1, 1:0 e 0:1), apresentam-se na forma de um material maleável
e de cor branca. Alguns dos materiais produzidos são apresentados pela Figura 20 (a) e (b).
Figura 20: Produto reacional G1:1_30 (a) e G1:1_180 (b)
Fonte: Autor, 2019
A fim de se confirmar a modificação da superfície destas amostras, GY:Y_30 e
GY:Y_180, elas foram submetidas à análise por Infravermelho (FTIR). Para se fazer as análises
dos espectros de FTIR, eles foram divididos em três séries. São elas: série 1 (G1:1_30,
G1:1_180, caulim, ácido succínico e glicerina), série 2 (G0:1_30, G0:1_180, ácido succínico e
glicerina) e série 3 (G1:0_30, G1:0_180, caulim e glicerina).
Ao observar os espectros da série 1, Figura 21 (a), podemos fazer algumas
afirmações de determinadas bandas.
54
Figura 21: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 1
Fonte: Autor, 2019
São elas:
3600 cm-1: Existem grupos Si-OH e Al-OH que ainda estão expostos (ou seja,
não reagiram) após 30 minutos de reação, mas ainda existe sua presença também após 180
minutos (SAIKIA e PARTHASARATHY, 2010; DIKO et al., 2015);
3500 cm-1: Pode-se observar que existem evidências da presença de grupos OH
provenientes da glicerina tanto em 30 como em 180 minutos, sendo mais evidente em 180
minutos;
1750 cm-1: Existe reação com a formação de grupos éster (aproximadamente em
1728 cm-1), possivelmente entre grupos COOH do ácido succínico e dos grupos OH da glicerina
(30 minutos). Com 180 minutos, ocorre a reação de grupos terminais formados por glicerina-
OH (GLI-OH) e com o ácido succínico (AS) mantendo os grupos COOH como grupos terminais
preferencialmente. Existem também os grupos Si-OH e Al-OH que reagem com a glicerina
(KRISHNAN et al., 2007; MITRA et al., 2012). Portanto, estão presentes os seguintes grupos
terminais dependendo do tempo reacional, como mostrados na Figura 22 (a) e (b).
1200 – 1000 cm-1: indicam a presença de ligações C-O, características do grupo
álcool primário e secundário da glicerina (PAVIA et al. 2010);
Observando os difratogramas da série 1, Figura 21 (b), o caulim apresenta picos
fortes entre 12,42º - 38,44º, e para os picos com 19,98º, 20,59º e 21,34º, temos que estes são
correspondentes aos planos (0,2,0), (1,1,0) e (1,1,1) do caulim a partir do cálculo de AGFI
(Aparicio-Galán-Ferrell Index) (APARICIO, 2006).
55
É observado que os materiais G1:1_30 e G1:1_180 mantiveram as características
cristalinas provenientes tanto do caulim como do ácido succínico. Observa-se em
aproximadamente 20º que a amostra G1:1_30 apresenta padrões de difração semelhantes aos
do ácido succínico e a amostra G1:1_180 padrões de difração mais semelhantes ao caulim. A
partir do difratograma do caulim, observa-se um pequeno deslocamento de aproximadamente
0,4º do pico em aproximadamente 24,8º nos difratogramas das amostras G1:1_30 e G1:1_180,
indicando que houve modificação na estrutura cristalina dos materiais sintetizados, mantendo
o carácter cristalino das amostras. Este descolamento está relacionado a modificação da
estrutura cristalina do material, diminuindo a distância interplanar relacionada à reflexão em
24,8°.
Em aproximadamente 26,4º é possível observar que o este pico que era existente
para o caulim e o ácido succínico, é presente para a amostra G:1:1_30, mas ele não aparece para
a amostra G1:1_180, confirmando então a modificação da estrutura cristalina da amostra. Para
as amostras desta série, temos um aumento da intensidade do pico em 31,56º e 31,76º
respectivamente, estes picos são característicos da amostra de ácido succínico.
A forte intensidade destes picos indica a presença de ácido succínico no material.
Com 30 minutos existe uma grande presença de ácido succínico no material e com 180 minutos,
ocorre o consumo deste ácido pela reação fazendo com que sua intensidade seja reduzida.
Estas modificações na estrutura interna do material são confirmadas através da
análise do FTIR, onde observa-se que as amostras da série 1 foram as que mais sofreram
alterações como a esterificação do ácido succínico juntamente com a glicerina e os produtos
obtidos possuindo características muitos distintas, com 30 minutos um material sólido e com
180 minutos um material ceroso. O aspecto ceroso é típico para sistemas que passam por
reações de polimerização, mas ainda se apresentam como oligômeros, cujas características não
se configuram como material polimérico, mas como um intermediário de um processo de
polimerização.
56
Figura 22: Estrutura do caulim com os grupos terminais adicionados pelo processo reacional com duração de 30 minutos (a) e 180 minutos (b)
Fonte: Autor, 2019
A partir dos espectros da série 2, Figura 23 (a), pode-se observar a existência de
uma forte banda em 1700 cm-1, sendo esta banda característica do ácido succínico. Ao passar
de 30 minutos da reação, observa-se que esta banda de 1700 cm-1 ainda é presente, mas também
se observa o surgimento de outra banda em 1750 cm-1. Esta segunda banda, é característica da
ligação C=O de éster, indicando assim que houve a reação com formação de ligações éster
provavelmente entre o As e a Glicerina. Com 180 minutos de reação, observa-se que a banda
em 1700 cm-1 se torna mais intensa, indicando que a presença de grupos carboxílicos derivados
do AS são mais frequentes, mas que ainda há grande presença de ésteres formados por ligações
entre a glicerina e o ácido succínico.
57
Figura 23: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 2
Fonte: Autor, 2019
Dessa forma pode-se verificar que o aumento do tempo reacional leva à formação
de grupos terminais carboxílicos enquanto tempos mais curtos sugerem que os grupos terminais
são hidroxilados.
Analisando o difratogramas da série 2, Figura 23 (b), observa-se que os materiais
G0:1_30 e G0:1_180 apresentam padrões de difração muito semelhantes aos do ácido
succínico, sendo que, em ambas as amostras se observa materiais com característica cristalina.
Há aumento de intensidade em aproximadamente 16,5º, para ambas as amostras, sendo mais
evidente para G0:1_180. Em aproximadamente 26,3º, é observado um aumento deste pico,
sendo mais evidente para a amostra G0:1_180. Observa-se um aumento do pico em
aproximadamente 31,9º para ambas as amostras sendo mais evidente para a amostra G0:1_180.
Mas para esta última, observa-se uma redução do pico em aproximadamente 32, 5º. As
modificações das estruturas internas da amostra G0:1_180 em comparação com os materiais de
partida, são evidências de que houve uma modificação no volume do material produzido e não
na superfície.
A partir dos espectros da série 3, Figura 24 (a), podemos afirmar que ocorreu reação
entre o caulim e a glicerina, devido à presença das bandas entre 900 e 1000 cm-1, que
correspondem a ligação CO de éter. Com esta reação, é esperado encontrar grupos CO do
caulim ligados à glicerina.
58
Figura 24: Espectros (a) e difratogramas de raios X (b) da Série 3
Fonte: Autor, 2019
Na faixa entre 3000 – 3600 cm-1 observa-se que existem grupos Si-OH e Al-OH
provenientes do caulim. Entretanto, ocorre a diminuição destas hidroxilas livres dependendo do
tempo reacional. Com o tempo de 30 minutos de reação, observamos a existência de banda mais
intensa em aproximadamente 3600 cm-1 correspondente a hidroxila livre do caulim. Com 180
minutos de reação, observa-se que estas hidroxilas livres diminuem e, concomitantemente,
ocorre o aumento das hidroxilas em ligação de hidrogênio em 3300 cm-1, característica da
glicerina. Com isso, verifica-se que existem grupos existem mais grupos Si-OH e Al-OH que
interagem com a glicerina. Esta interação se dá além da mistura física destes dois materiais por
também pela reação que acontece entre eles, aumentando o potencial de absorção de água
devido ao aumento dos grupos OH.
Analisando o difratogramas da série 3, figura 24 (b), observa-se que os materiais
G1:0_30 e G1:0_180 apresentam características muito semelhantes às do caulim, sendo que
ambas as amostras mantêm sua característica cristalina. É observado em aproximadamente
26,65º a redução deste pico para ambas as amostras, este fato evidência a modificação da
estrutura cristalina do caulim.
As amostras obtidas na reação 3, utilizando o deslocamento de equilíbrio para a
formação dos produtos, pela retirada da água do sistema, deram origem a um material sólido de
coloração branca sob a forma de fino pó. Estes materiais são apresentados pela Figura 25 (a),
(b) e (c).
59
Figura 25: Produto reacional DS4 (a), DS5 (b) e DS6 (c)
Fonte: Autor, 2019
Os materiais foram submetidos à análise por FTIR e seus espectros estão
apresentados na Figura 26.
Figura 26: Espectros das amostras obtidas na Reação 3
Fonte: Autor, 2019
60
Considerando os espectros de FTIR pode-se observar que estes materiais possuem
características muito semelhantes ao amido, que foi utilizado para obter este produto, assim
como dos outros materiais.
É possível verificar a presença da banda entre 1114 – 1136 cm-1, que é referente às
ligações C-O são provenientes tanto do caulim quanto do amido, da glicerina e do material
G1:1_30. Observa-se também o aumento da banda em 3076 - 3656 cm-1, banda referente às
ligações de hidroxila.
Dos filmes obtidos via casting no primeiro experimento, eles possuíam
características muito semelhantes entre si. O filme 1 possui uma característica diferente dos
demais, isto se deve ao fato deste filme não conter caulim. Os outros 3 filmes (filme 2, filme 3
e filme 4 são muitos semelhantes entre si apresentando o caulim disperso por todo o filme. Os
filmes 2 e 3 apresentam características muito semelhantes. A amostra 4 não formou um filme
semelhante aos outros, ele ficou muito quebradiço devido à grande presença de caulim em sua
composição. Estes filmes poder ser observados através da figura 27 (a), (b), (c) e (d),
respectivamente.
61
Figura 27: Filmes obtidos no primeiro experimento
Fonte: Autor, 2019
Dos filmes obtidos no segundo experimento, dois deles possuíam características
muito semelhantes entre si. Estes filmes foram o filme DS1, o filme DS5 e o filme DS6, como
pode ser observado através da Figura 28 (a), (b) e (c).
Entretanto, o processo para a produção do filme DS4, considerando a produção do
agente absorvedor in situ, verificou-se a formação de um produto pastoso e não um filme como
era esperado, Figura 29. Esse processo demonstra que na presença do catalisador ácido há
quebra das cadeias de amido, promovendo a formação de produtos de desidratação e diminuição
de ligações glicosídicas do Amido o que explica as características do produto obtido e a não
formação de filmes na presença de carga.
62
Figura 28: Filmes DS1, DS5 e DS6 produzidos
Fonte: Autor, 2019
Figura 29: Material obtido a partir da tentativa de obtenção do Filme DS4
Fonte: Autor, 2019
Após a preparação das amostras GY:Z_T, foram selecionados os materiais
produzidos para ser avaliada a capacidade de absorção de água devido às suas características.
Inicialmente foi realizado teste de absorção somente com algodão, Tabela 9 e depois foram
adicionadas as amostras sendo descontada a absorção de água relacionada ao algodão. Os
resultados do teste de absorção das amostras, realizados em triplicata, são apresentados na
Tabela 10 com desvio padrão de até 5%.
63
Tabela 9: Resultados obtidos no teste de absorção de água pelo algodão
Algodão
(g)
Água
início
(g)
Água
final
(g)
Massa
absorvida
(g)
Massa de água absorvida
por grama (g/g)
0,0102 1,0270 0,8979 0,1291 12,6
0,0102 1,0023 0,8720 0,1303 13,0
0,0106 1,0148 0,8536 0,1612 15,9
Média 0,0103 1,0147 0,8745 0,1402 13,8
Fonte: Autor, 2019
Tabela 10: Resultados obtidos no teste de absorção das amostras
Amostra Massa
(g)
Algodão
(g)
H2O
Início
(g)
H2O
Final
(g)
Massa
Absorvida (g)
H2O
Absorvida/Amostra
(g/g)
G1:1_30 0,0222 0,0105 1,0209 0,8112 0,2097 9,5 ± 0,9
G1:1_180 0,0221 0,0117 1,0127 0,7874 0,2254 10,2 ± 1,6
G1:0_30 0,0220 0,0109 1,0250 0,8004 0,2247 10,1 ± 2,3
G1:0_180 0,0242 0,0124 1,0272 0,7736 0,2536 10,4 ± 1,0
G0:1_30 0,0223 0,0109 1,0258 0,7888 0,2370 10,6 ± 2,0
G0:1_180 0,0214 0,0114 1,0244 0,7918 0,2326 10,9 ± 2,4
Fonte: Autor, 2019
Com o teste de absorção de água, pode-se concluir que o sistema contendo apenas
o algodão, reteve cerca de 13,5 ± 1,4 g de água/ g de algodão. Utilizando as amostras
produzidas, observou-se que todos os materiais produzidos foram capazes de absorver cerca de
10 g de água/ g de material, descontando-se o absorvido pelo algodão. Isto significa que, as
amostras são capazes de absorver cerca de 1000% a sua massa em água. A amostra que
apresentou melhor absorção foi a G0:1_180, que reteve cerca de 10,9 g da água/ g de material.
Dessa forma, podemos observar que todas as amostras são capazes de absorver água entre 950
e 1100% de sua massa.
A análise estatística realizada através do software R®, inicialmente através do teste
de Shapiro-Wilk, mostrou que todas as amostras (30 e 180 minutos) seguiam a normalidade.
Com o teste de Shapiro-Wilk realizado e a hipótese nula sendo aceita, realizou-se o teste de t
de Student que confirmou que as médias das amostras eram estatisticamente iguais, como pode
ser observado pela Tabela 11.
64
Tabela 11: Resultados do teste estatístico de Shapiro-Wilk e t de Student
Amostras Shapiro-Wilk
(p-valor)
t de Student
(p-valor)
G1:1_30 e G1:1_180 0,6966 e 0,2502 0,5552
G1:0_30 e G1:0_180 0,1521 e 0,4939 0,862
G0:1_30 e G0:1_180 0,9972 e 0,9907 0,8679
Fonte: Autor, 2019
Após a realização deste teste estatístico, conclui-se que o tempo reacional resulta
em diferentes mudanças estruturais nas amostras, mas estas mudanças não alteram a capacidade
de absorção do material uma vez que os valores de absorção são estatisticamente iguais.
Posteriormente, foi realizado um teste de absorção de água dos filmes de amido
produzidos no primeiro e no segundo experimento. Para os filmes do primeiro experimento,
avaliou-se quanto somente o papel de filtro absorvia, Tabela 12, e descontou-se este valor, os
resultados estão apresentados na Tabela 13. Como os testes foram realizados em triplicata, os
resultados apresentados são resultados de uma média aritmética simples dos dados obtidos e
com um desvio padrão de até 5%.
Tabela 12: Resultados obtidos no teste de absorção de água pelo papel de filtro
Papel de filtro
(g)
Papel úmido
(g)
Água total
(g)
Massa de água
absorvida por grama
(g/g)
0,4393 1,5323 1,0930 2,4880
0,4433 1,4893 1,0460 2,3596
0,4365 1,5954 1,0589 2,4259
Média 0,4397 1,5057 1,0660 2,4243
Fonte: Autor, 2019
65
Tabela 13: Resultados obtidos no teste de absorção dos filmes
Filme Massa
(g)
Papel
(g)
Papel úmido
(g)
Água total
(g)
H2O Absorvida/Amostra
(g/g)
Filme 1 0,0223 0,4438 1,6304 1,1866 6,4 ± 2,3
Filme 2 0,0228 0,4494 1,7101 1,2607 10,0 ± 0,9
Filme 3 0,0220 0,4508 1,7501 1,2993 9,9 ± 0,9
Filme 4 0,00223 0,4486 1,6370 1,1884 9,1 ± 0,9
Fonte: Autor, 2019
A partir do teste de absorção dos filmes produzidos a partir do amido, pode-se
observar que o material é capaz de absorver aproximadamente 11 g de água/g de material, ou
seja, 1100% a sua massa inicial.
Agora, fazendo o teste de absorção de água para os filmes obtidos no segundo
experimento, também se avaliou a quantidade de água retida somente pelo papel de filtro e
subtraiu-se este valor dos resultados, estes são apresentados na Tabela 14. Como os testes foram
realizados em triplicata, os resultados apresentados são resultados de uma média aritmética
simples dos dados obtidos e com um desvio padrão de até 5%.
Tabela 14: Resultados obtidos no teste de absorção dos filmes DS
Filme Massa
(g)
Papel
(g)
Papel úmido
(g)
Água total
(g)
H2O Absorvida/Amostra
(g/g)
Filme DS1 0,0224 0,4486 1,6525 1,1969 48,5 ± 1,3
Filme DS5 0,0251 0,4418 1,6865 1,1971 53,6 ± 4,2
Filme DS6 0,0217 0,4571 1,6061 1,1428 55,2 ± 0,7
Fonte: Autor, 2019
A interação entre o amido e caulim, ocorre de maneira sinérgica, melhorando as
propriedades dos produtos obtidos. A partir do teste de absorção de água, pode-se observar que
houve uma melhora significativa de absorção em relação ao filme DS1 (que só continha amido)
comparado ao filme DS6 (filme aditivado com o material produzido). Os filmes aditivados
foram capazes de absorver cerca 55,9 g de água/g de amostra, ou seja, um aumento real de
13,8% de capacidade de absorção de água comparado ao amido não aditivado, mostrando que
este material compósito de matriz polimérica promove ganhos em absorção de água utilizando-
se o amido. Esse resultado encoraja o uso destes materiais em outros compósito que tenham
como objetivo o aumento da capacidade de absorção de água. Estes materiais têm potencial
para serem utilizados de forma a auxiliar a operação em processos que demandem retirada de
66
água, como na remoção de água durante o processo de obtenção do biodiesel, na construção de
embalagens com características higroscópicas para uso na indústria alimentícia, dentre outros.
Foi realizado o teste estatístico t de Student para avaliar se existem diferenças entre
as médias de absorção dos filmes DS. Os resultados para este teste são apresentados na Tabela
15.
Tabela 15: Resultados do teste estatístico de Shapiro-Wilk e t de Student
Amostras t de Student
(p-valor)
Filme DS1 e Filme DS5 0,2604
Filme DS1 e Filme DS6 0,004224
Filme DS5 e Filme DS6 0,679
Fonte: Autor, 2019
Com a realização deste teste estatístico, conclui-se que não existem diferenças
significativas entre os filmes DS 1 e DS5 e nem para os filmes DS5 e DS6. Entretanto, existem
diferenças significativas entre os filmes DS1 e DS6. Isto demonstra que a adição do produto
DS6 ao amido proporcional um aumento no potencial de absorção do filme produzido.
67
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A glicerina é necessária para que sejam modificadas as superfícies do caulim e para induzir
reações ao ácido succínico no modelo experimental estudado. Com o catalisador utilizado foi
possível perceber a possível reação de dimerização do ácido succínico, possibilitando a
formação de cadeias aumentadas, considerando os grupos CH2 e a ligação COC presentes no
presente estudo.
Com a introdução de glicerina, podemos confirmar a existência de alterações na superfície
do caulim e do ácido succínico.
Para as amostras com razão molar de 1:1, através da análise de FTIR observam-se algumas
modificações nas superfícies do caulim e do ácido succínico, evidenciando a formação de
ligações éster (GLI-AS-GLI) para o tempo reacional de 30 minutos e para 180 minutos a
formação de grupos COOH terminais (GLI-AS). Existe também a presença de grupos Si-OH e
Al-OH que não reagiram com a glicerina. Com a análise dos difratogramas de raios-X,
observamos modificações na estrutura do caulim. Quando observamos o desaparecimento dos
picos entre 2θ = 19,96º - 21,35º (característicos do caulim) e o surgimento de um pico mais
forte em aproximadamente 2θ = 20º (característico do ácido succínico), para a amostra
G1:1_30, fica evidente que a glicerina presente no meio reacional, inicialmente reagiu
preferencialmente com o caulim, não apenas na superfície do material, mas também no bulk
(volume). Com a amostra G1:1_180, observa-se que este pico em 2θ = 20º reduz sua intensidade
assim como sua largura, ficando um pouco com a característica do caulim. Com isso, observa-
se o consumo do ácido succínico que até então estava em excesso no meio reacional. Este fato
fica comprovado pelos espectros de FTIR destas amostras, onde observa-se para o tempo de 30
minutos a diminuição dos picos referentes a hidroxila e posteriormente, em 180 minutos, estes
picos voltam a surgir.
Com as amostras de razão molar 0:1Pode-se observar a existências de ligações C=O de éster
e ácido carboxílico, sendo cada uma mais intensa para os tempos de 30 e 180 minutos,
respectivamente, podendo assim modular a superfície do material a ser produzido
Para a amostras com razão molar 1:0, apresentam interação entre o caulim e a glicerina
dependente do tempo reacional. Em tempos de 30 minutos de reação, existem mais grupos Si-
OH e Al-OH disponíveis e com 180 minutos observa-se uma diminuição destes grupos livres e
68
um aumento dos grupos Si-O-GLI-OH e Al-O-GLI-OH, comprovando assim a reação e a
modificação da superfície do caulim.
Os testes de absorção realizados nos produtos GY:Z_T apresentaram que os materiais são
absorvedores de água com capacidade da ordem de 10 g de água/g de material. Esse resultado
aponta a possibilidade de uso dos materiais produzidos como retentores de água em processos,
como numa possível utilização como material usado na purificação do biodiesel.
O teste de absorção dos produtos, filme DS1, filme DS5 e filme DS6, produzidos utilizando
o amido juntamente com os produtos DS1, DS5 e DS6, apresentou sistemas capazes de absorver
cerca 55,2 ± 0,7 g de água/g de material, o que caracteriza um aumento na capacidade de
absorção de água nos filmes de amido de 13,8% fazendo uso de 10% do produto que contém
amido, caulim e ácido succínico.
O fato destes materiais serem capazes de absorver água, proporciona os mesmos de serem
utilizados para a liberação controla de água no solo. O que permite a utilização deste produto
em ambientes com restrições hídricas.
Além de poderem ser utilizados como material absorvente de água em processos, estes
materiais apresentam grande potencial de aplicação para a produção de materiais absorventes
para usos, tal como setor agrícola, ou mesmo na produção de fraldas descartáveis e podem ser
utilizados como insumo o caulim independentemente do nível de alvura, considerando inclusive
o caulim que não pode ser utilizado na indústria de papel e celulose, além da glicerina coproduto
da produção de biodiesel.
69
8. PERSPECTIVAS PARA TRABALHOS FUTURO
Sugere-se para trabalhos futuros síntese e caracterização utilizando glicerina loira
proveniente do processo de obtenção do biodiesel e caulim com grandes teores de ferro.
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71
REFERÊNCIAS
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