preparação de canas e carretos

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ABRIL/MAIO 2014 10 ara quem pesca no mar, chegou ao fim um rigo- roso Inverno, que pou- cas oportunidades nos deixou para tentar a sorte, mantendo peixes e pescadores afastados das costas. Os pescadores de águas interiores, além do In- verno difícil, tiveram também de se debater com a inactivi- dade dos peixes que, devido ao frio, pouco se alimentaram. Pescar em qualquer dos dois casos foi mais uma questão de teimosia e de alguma necessi- dade urgente de sentir o ar na cara, do que uma decisão lógi- ca e racional. De qualquer forma, o bom tempo aproxima-se e há que preparar e sobretudo manter funcionais os equipamentos para que não surjam surpre- sas ou pescarias deixadas a meio, devido a falha do ma- terial. Aqui fica um conjunto de pequenas dicas para pro- longar a vida e a fiabilidade do nosso material de pesca. Cuidar dos nossos equipa- mentos não é uma perda de tempo, mas pode ser encara- do como um investimento e uma salutar ocupação para os dias meteorologicamente ainda instáveis… CANAS Trata-se de um dos componen- tes mais importantes da pesca, a par do carreto com que faz conjunto. Esperamos delas vá- rias coisas, de que muitas vezes nem temos percepção. Assim, uma cana tem de ter capacida- de para catapultar a montagem ou o artificial à distância que pretendemos e também per- mitir o deslizar da linha nos dois sentidos, sem lhe causar danos. Tem obrigatoriamente de servir de amortecedor às in- vestidas do peixe, não permi- tindo que a linha ceda; e deve também oferecer uma irrepre- ensível fixação do carreto, para que que não abane quando em esforço. Só para cumprir estes pon- tos, temos de verificar vários componentes. A primeira ac- ção a realizar é uma profun- da lavagem da vara e limpeza com água morna e detergente tipo loiça, para remover toda a sujidade. Nas zonas dos pas- sadores, uma escova de dentes fora de serviço permite-nos chegar a todos os pontos e limpar restos de algas, salitre e lixos. Depois de seca, toda a fibra (de vidro ou carbono) deve ser inspeccionada com cuidado para detecção de eventuais fissuras. Se algo for encontrado, deve ser reparado com uma gota de cola de dois componentes, tipo Araldite. Desta forma, consolida-se a estrutura fragilizada e impe- de-se que alastre e rasgue a fibra, destruindo-se de forma gratuita e definitiva a cana. Os passadores, pela missão que têm, devem estar limpos também, alinhados uns com os outros e intactos no seu in- terior, justamente onde se dá o contacto com a nossa linha. O passador que mais se dani- fica é o da ponteira, porque suporta ângulos agudos da linha, está mais exposto às ac- ções exteriores e, por isso, bate inadvertidamente em muitos sítios. É o primeiro a receber a linha molhada e com todos os detritos que se encontram na água, trazidos pelo fio. Poucas coisas nos incomodam mais que um carreto mal fixo na cana, que se move quando es- tamos a lutar com um peixe… Por isso, o porta-carretos não deve ser esquecido nesta nos- sa tarefa. Independentemente P Agora que o bom tempo se aproxima e há umas boas jornadas à vista, siga este guia útil para confirmar que, na hora H, o seu material está em condições óptimas. Cuidar dos nossos equipamentos não é uma perda de tempo, mas pode ser encarado como um inves- timento e uma salutar ocupação para os dias meteorologicamente ainda instáveis… INÍCIO DE TEMPORADA PREPARAÇÃO DE CANAS E CARRETOS TEXTO E IMAGENS Gomes Torres (www.guias-naturpesca.com) Nesta foto é possível ver a diferença antes e depois da limpeza com diluente. MANUTENÇÃO

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Guia de manutenção, por José Gomes Torres

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Page 1: Preparação de canas e carretos

ABRIL/MAIO 201410

ara quem pesca no mar, chegou ao fim um rigo-roso Inverno, que pou-

cas oportunidades nos deixou para tentar a sorte, mantendo peixes e pescadores afastados das costas. Os pescadores de águas interiores, além do In-verno difícil, tiveram também de se debater com a inactivi-dade dos peixes que, devido ao frio, pouco se alimentaram. Pescar em qualquer dos dois casos foi mais uma questão de teimosia e de alguma necessi-dade urgente de sentir o ar na cara, do que uma decisão lógi-ca e racional. De qualquer forma, o bom tempo aproxima-se e há que preparar e sobretudo manter funcionais os equipamentos para que não surjam surpre-sas ou pescarias deixadas a meio, devido a falha do ma-terial. Aqui fica um conjunto de pequenas dicas para pro-longar a vida e a fiabilidade do nosso material de pesca. Cuidar dos nossos equipa-mentos não é uma perda de tempo, mas pode ser encara-do como um investimento e uma salutar ocupação para os dias meteorologicamente ainda instáveis…

CANASTrata-se de um dos componen-tes mais importantes da pesca, a par do carreto com que faz conjunto. Esperamos delas vá-rias coisas, de que muitas vezes nem temos percepção. Assim, uma cana tem de ter capacida-de para catapultar a montagem ou o artificial à distância que pretendemos e também per-mitir o deslizar da linha nos dois sentidos, sem lhe causar

danos. Tem obrigatoriamente de servir de amortecedor às in-vestidas do peixe, não permi-tindo que a linha ceda; e deve também oferecer uma irrepre-ensível fixação do carreto, para que que não abane quando em esforço.Só para cumprir estes pon-tos, temos de verificar vários componentes. A primeira ac-ção a realizar é uma profun-da lavagem da vara e limpeza com água morna e detergente tipo loiça, para remover toda a sujidade. Nas zonas dos pas-sadores, uma escova de dentes fora de serviço permite-nos chegar a todos os pontos e limpar restos de algas, salitre e lixos. Depois de seca, toda a fibra (de vidro ou carbono) deve ser inspeccionada com cuidado para detecção de eventuais fissuras. Se algo for encontrado, deve ser reparado

com uma gota de cola de dois componentes, tipo Araldite. Desta forma, consolida-se a estrutura fragilizada e impe-de-se que alastre e rasgue a fibra, destruindo-se de forma gratuita e definitiva a cana. Os passadores, pela missão que têm, devem estar limpos também, alinhados uns com os outros e intactos no seu in-terior, justamente onde se dá o contacto com a nossa linha. O passador que mais se dani-fica é o da ponteira, porque

suporta ângulos agudos da linha, está mais exposto às ac-ções exteriores e, por isso, bate inadvertidamente em muitos sítios. É o primeiro a receber a linha molhada e com todos os detritos que se encontram na água, trazidos pelo fio. Poucas coisas nos incomodam mais que um carreto mal fixo na cana, que se move quando es-tamos a lutar com um peixe… Por isso, o porta-carretos não deve ser esquecido nesta nos-sa tarefa. Independentemente

PAgora que o bom tempo se aproxima e há umas boas jornadas à vista, siga este guia útil para confirmar que, na hora H, o seu material está em condições óptimas.

Cuidar dos nossos equipamentos não é uma perda de tempo, mas pode ser encarado como um inves-timento e uma salutar ocupação para os dias meteorologicamente ainda instáveis…

INÍCIO DE TEMPORADA PREPARAÇÃO DE CANAS E CARRETOS

TEXTO E IMAGENSGomes Torres (www.guias-naturpesca.com)

Nesta foto é possível ver a diferença antes e depois da limpeza com diluente.

MANUTENÇÃO

Page 2: Preparação de canas e carretos

11ABRIL/MAIO 2014

de ser de plástico e roscado ou metálico e roscados, deve ser bem limpo, com a já referida escova para limpeza de detritos e sobretudo areia, consideran-do que os últimos estão muito sujeitos à corrosão e devem ser alvo de lavagens e limpezas mais frequentes. Os de patim e fixação do carreto por mola em inox são mais resistentes à cor-rosão, mas devem ser limpos frequentemente também. Em qualquer um destes tipos de porta-carretos, mas em parti-cular nos metálicos e roscados, a aplicação deve ser mais gene-rosa e a tarefa deve terminar com uma ou duas vaporiza-ções spray de silicone. Assim, além da protecção extra contra a corrosão nos metálicos, con-segue-se a lubrificação das ros-

cas e uma maior facilidade em instalar e desinstalar o carreto. Por último, podemos apro-veitar e dar uma limpeza no punho que irá melhorar em muito o aspecto final do nosso trabalho de manutenção, em particular se as pegas forem de cortiça: Um pano branco embebido ligeiramente em

diluente celuloso e uma passa-gem rápida por toda a cortiça do punho faz com que desa-pareça aquele efeito escuro resultante da transpiração e sujidade das nossas mãos. Não se deve mergulhar nunca o pu-nho no solvente, sob pena de dissolver a cola e descolar os componentes do punho.

CARRETOSNo caso dos carretos, inde-pendentemente do género, temos em mãos um sistema mecânico, com grande evo-lução em particular nos últi-mos anos, que se tornou cada vez mais complexo e preciso. Possui alavancas, diversas ro-das dentadas, roletes, veios e um número cada vez maior de rolamentos. Como qual-

quer conjunto de peças em movimento, tem desgaste, inevitabilidade que apenas se consegue minimizar através da lubrificação periódica dos componentes. Nos carretos de mar, a situação torna-se mais delicada devido a dois factores verdadeiramente aniquilado-res de carretos: a areia e o sal.

O passador que mais se danifica é o da ponteira, porque suporta ângulos agudos da linha, está mais exposto às acções exteriores e, por isso, bate inadvertidamente em muitos sítios. É o primeiro a receber a linha molhada e com todos os detritos que se encontram na água, trazidos pelo fio

O spray de óleO de silicOne

É bastante fácil encontrar nas lojas de bricolagem

o spray de óleo de silicone. Normalmente, são

apresentados em pequenas embalagens, com

referência para diversas aplicações em que seja

necessário proceder a lubrificações gerais.

Ao contrário do óleo mineral, o spray de silicone,

além de proporcionar uma lubrificação mais

duradoira, não tem cheiro e não se torna

excessivamente gorduroso ao tacto, além de ter

características mais penetrantes, chegando aos

pontos mais afastados do exterior. Em caso de

emergência, cumpre as mesmas funções que

o óleo referido, podendo por isso fazer parte do

nosso equipamento diário de pesca.

Limpeza de passadores com uma escova de dentes reaproveitada Diluente celuloso e um pano de limpeza são suficientes para renovar os punhos das canas

MANUTENÇÃO

Óleo fino, spray de silicone e uma escova de dentes reaproveitada fazem parte do kit de manutenção para canas e carretos

Page 3: Preparação de canas e carretos

Se conseguimos manter a areia afastada ao apostarmos numa utilização muito cuidadosa, de forma que que não entre em contacto com o carreto, o mesmo já não iremos conse-guir com o sal, simplesmente porque este é transportado pela água, em cada volta de linha que recuperamos.Nos carretos usados em água salgada, apenas se deve lavar por imersão em água doce a bobine previamente retirada, para dissolver o sal que ficou entre as espiras da linha. Sub-meter todo o carreto a um mergulho ou um banho de água corrente não é um pro-cedimento recomendável nos dias de hoje, porque estes ar-tefactos são mais delicados do que eram nos tempos em que essa ideia era válida. Inúmeros rolamentos, molas e delicados mecanismos rapidamente se deterioram apenas com um

pingo de água que entre no seu mecanismo. Assim, devem ser limpos apenas com um pano molhado em água, em todo o seu exterior e, eventualmente, com um pequeno pincel para remoção de detritos ou areia, se necessário. Posto isto, e para finalizar, basta uma gota de óleo fino em cada um dos pontos mó-veis, facilmente acessíveis sem qualquer ferramenta: o rolete guia-fio, as articulações da asa de cesto, a pega da manivela e o veio junto ao corpo do car-reto depois de retirada a bobi-na. A bobina, depois de lava-da e bem seca ao ar, pode ser submetida a algumas vapori-zações de spray de silicone, o que vai aumentar a fluidez da linha nos próximos lançamen-tos, enquanto protege o metal da bobina contra a corrosão se esta for de alumínio ou qual-quer outra liga metálica.

Submeter todo o carreto a um mergulho ou um banho de água corrente não é um procedimento recomendável nos dias de hoje, porque estes artefactos são mais delicados do que eram nos tempos em que essa ideia era válida

Lubrificação das pegas das manivelasO excesso de óleo deve sempre ser limpo com papel absorvente

O guia-fio é um dos locais obrigatórios para lubrificar

As articulações da asa de cesto são pontos a não esquecer na lubrificação com óleo fino

MANUTENÇÃO