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ÓRGÃO OFICIAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BARBACENA / MG - ANO XVIII - Nº 439 - 17 DE JULHO DE 2010 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Ousadia para desnudar pre conceitos Arte: Maristela Guedes

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5º Festival da Loucura ÓRGÃO OFICIAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BARBACENA / MG - ANO XVIII - Nº 439 - 17 DE JULHO DE 2010 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Ousadia para desnudarpreconceitos

Arte: Maristela Guedes

2 17 de JULHO de 2010 - Ano XVIII - Nº 439

5º Festival da Loucura

317 de JULHO de 2010 - Ano XVIII - Nº 439

5º Festival da Loucura

Prefeita Municipal: Danuza Bias Fortes; Secretário Municipal de Governo: Luciano José Sfredo; Superintendente de Comunicação: Marcelo Gonçalves; Coordenador de Jornalismo e Editor Responsável: Márcio Cleber (MG 22564/MTbRJ); Repórteres: Marina Passos e Marcos Faria; Fotógrafos: Júlio Batista e Antônio Feres; Diagramação: Paulo Lemos; Contatos: Rua Silva Jardim, 340 - Boa Morte - Barbacena - Minas Gerais - Tel.: (32) 3339-2035E-mail: [email protected] - www.barbacena.mg.gov.br

Órgão Oficial da Prefeitura Municipal de Barbacena / MG Ano XVIII - Nº 439 - 17 de julho de 2010

15 DE Julho - Quinta-FEiRa

Seminário técnico-Científico e Cultural local: hotel Senac Grogotó

09:00 - apresentação de trabalhos acadêmicos14:00 - abertura oficial do Seminário Científico 15:00 - PalestrasPedro Gabriel - Doutor em Medicina pela uSP, professor da uFRJ e Coordenador nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde

Marta Elizabeth - Mestre em Saúde Pública pela uFMG e Coordenadora Estadual de Saúde Mental de Minas Gerais

17:00 - abertura dos trabalhos do fórumMesa Redonda “Residências terapêuticas: 0 convívio na construção da cidadania”Convidados: adrianne Maria M. de oliveira – assistente social, técnica de referência de residência terapêutica – Barbacena; Vanilda Erika de Souza – Cuidadora de residência terapêutica; Simone Frichembruder – Psicóloga do Ministério da Saúde – Porto alegre

17:00 - Cortejo: Grupo trupgaia e grupo de Maracatu - Praça do Rosário

Seminário técnico-Científico e Culturallocal: hotel Senac Grogotó

19:00 - Palestra “o Espírito da lei 10.216 na visão de seu autor”Palestrante: Paulo Delgado - Sociólogo, Professor da uFJF, Deputado Federal e autor da lei 10.216 (lei antimanicomial)

20:00 - abertura do Buteko trem de Doido - Fernanda Santana (Prédio da Estação)20:00 - inauguração do Salão de arte (Prédio da Estação)20:00 - abertura da Parada do artesão nato (Prédio da Estação)21:30 - Espaço Cênico - Cia Reclame (Prédio da Estação)

22:00 - Palco Principal - Banda Cacharrel (Praça da Estação)

23:30 - Buteko trem de Doido - Fernanda Santana (Prédio da Estação)

PRoGRaMaÇÃo

As Residências Terapêuticas foram o tema que deu início ao ciclo de debates do Seminário Técnico-Científico e Cultural do Festival da Loucura. Na mesa de debates, estava a assistente social de residência terapêutica Adrianne de Oliveira, que mostrou como vem acontecendo o processo de inclusão, a mudança de paradigma, as conquistas alcan-çadas pelos moradores, a participação deles nos movimentos sociais; a cuidadora de residência terapêutica Vanilda de Souza, que relatou sobre o dia a dia dos moradores e como funciona todo seu trabalho.Também participou da mesa-redonda Simone Frischembruder, psicóloga do Mi-nistério da Saúde, de Porto Alegre.

Parte integrante da rede de serviços da nova política de saúde mental do Ministério da Saúde, instituídas pela Portaria/GM 106, de fevereiro de 2000, as Residências Terapêuticas são casas, locais de moradia, des-

tinadas a pessoas com transtornos mentais que permaneceram em longas internações psiquiátricas e ficaram impossibilitadas de retornar às suas famílias de origem. Inseri-das no âmbito do Sistema Único de Saúde -SUS, são centrais no processo de desins-titucionalização e reinserção social dos egressos dos hospitais psiquiátricos.

Tais casas são mantidas com recur-sos financeiros anteriormente destinados aos leitos psiquiátricos. Para cada mora-dor de hospital psiquiátrico transferido para a residência terapêutica, um igual

número de leitos psiquiátricos é descredenciado do SUS e os recur-sos financeiros são realocados para manutenção dos Serviços Resi-denciais Terapêuticos.

Em todo o território nacional existem mais de 470 residências tera-pêuticas. Barbacena tem atualmente 25 unidades que abrigam 160 mo-radores, que têm acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais. Cada morador recebe uma bolsa auxílio de R$ 320,00 depositada em sua própria conta e é ele mesmo quem administra o recurso, mas sem-pre com orientações. Numa residência pode morar de uma a oito pesso-as. A maioria delas têm o cuidador, profissional que fica na residência dando assistência aos moradores. Algumas, entretanto, não contam com a presença do cuidador, pois os moradores não necessitam, são mais in-dependentes. A média de idade dos moradores nas residências de Bar-bacena é de 60 anos.

Um outro tema que fez parte dos tra-balhos do Seminário foi a Lei Federal nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Uma lei que impôs um novo impulso, um novo ritmo no processo da reforma psiquiátrica no Brasil e que trouxe mais qualidade de vida para as pessoas com transtornos mentais, inclusive para aquelas internadas em hospitais psiqui-átricos. O autor da Lei, o deputado mineiro Paulo Delgado, foi quem ministrou a pales-tra no Seminário, mostrando a sua visão em relação à Lei.

No Parágrafo Único do Art. 2º fica cla-ro que as pessoas portadoras de transtornos mentais têm direito ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas neces-sidades. Têm também o direito de serem tra-tadas com humanidade e respeito, no interes-se exclusivo de beneficiar sua saúde, visan-do alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade. A lei assegura ainda proteção contra qualquer for-ma de abuso e exploração, garantia de sigilo nas informações prestadas, direito à presen-ça médica, em qualquer tempo, para escla-

recer a necessidade ou não de sua hospitali-zação involuntária. O portador de transtorno mental tem ainda o direito de receber o maior número de informações a respeito de sua do-ença e de seu tratamento; ser tratado em am-biente terapêutico pelos meios menos inva-sivos possíveis, preferencialmente, em servi-ços comunitários de saúde mental.

O Art. 3º ressalta que é responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da socie-dade e da família. De acordo com a lei, a in-ternação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. O “espírito da lei” é de que o tratamento vise, como finalidade permanente, a reinserção so-cial do paciente em seu meio, devendo o re-gime de internação ser estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa porta-dora de transtornos mentais, incluindo servi-ços médicos, de assistência social, psicológi-cos, ocupacionais, de lazer, e outros.

Pela primeira vez o Festival da Loucura abriu espaço para apresen-tações acadêmicas na área do Semi-nário Técnico-Científico e Cultural. O evento aconteceu na manhã de quinta-feira, dia 15, no Hotel Senac-Grogotó, antes mesmo da abertura oficial. Foram nove trabalhos inscri-tos, abrangendo produções científi-cas na área de psicologia, medicina, cultura e até mesmo analisando o próprio Festival. Para Sérgio Cardo-

so Ayres, coordenador do Seminá-rio, o novo espaço promete promo-ver o debate intelectual sobre temas variados, mas sempre tendo como fundo o Festival da Loucura. “Fica-mos surpresos com a qualidade das apresentações e com as variantes criadas pelos acadêmicos em suas análises, que colocaram o tema lou-cura como um referencial, mas utili-zaram bases teóricas de uma forma muito interessante”, disse ele.

Vivendo a liberdadeResidências TeRapêuTicas

O espírito da leina visão de seu autor

Trabalhos acadêmicos discutem temas ligados à loucura

Trabalhos apresentados

“A Loucura de Newton”, Jair Raso, médi-co e dramaturgo, Belo Horizonte;“Cenas, apenas”, Sandra Maciel, psicólo-ga, Cataguases;“Do Trem dos Doidos ao Memorial de Ro-sas: representações da loucura em Barba-cena”, Maria Cristina Rietra Marzano, te-rapeuta ocupacional, Tiradentes;“Desinstitucionalização: o morar e a inter-setorialidade”, Leandra Mara de Vilhena Melo Vidal, assistente social, Barbacena;“Luiz Alfredo: um registro - A imagem como testemunho e denúncia da loucura no tratamento psiquiátrico”, Sérgio Car-doso Ayres, arquiteto, Barbacena;“Museu da Loucura: antecedentes histó-ricos”, Édson Brandão, publicitário, Bar-bacena;“Que quadro pintamos a “loucura”?, Cás-sio de Barros Barreto, psicólogo, Barba-cena;“Voltando a ser - A contribuição das prá-ticas nos serviços substitutivos, para a re-construção identitária dos usuários”;Uyara Bráz Soares, psicóloga, Barbacena;“Avaliação da Qualidade de um Serviço de Saúde Mental na Perspectiva do Tra-balhador: Satisfação, Sobrecarga e Condi-ções de Trabalho dos Profissionais” - Um estudo a partir das escalas IMPACTO-BR e SATIS-BR, Kennya Rodrigues Nézio Azevedo, psicóloga, Barbacena.

Nas Residências Terapêuticas podem morar até oito pessoas, que se sustentam com uma bolsa auxílio de R$ 320,00

Há cinco anos, a cidade de Barbacena, que tem em sua bissecular história tantos episódios e personagens memoráveis, se despe de preconceitos e limites para convidar o Brasil inteiro, e talvez o mundo, a refletir sobre um tema que permane-ce um tabu para muita gente, mas que está na agenda da sociedade contemporânea.

Falar de loucura, para nós, não é somente relembrar fatos do passado, fartamente expostos ao julgamento da história. Nosso maior compromisso ao envidar esforços e recursos na realização deste Festival é pro-porcionar às pessoas um período de reflexão para que o portador de sofrimento mental, seus familiares e os profissionais de saúde envolvidos, exponham seus desafios, ouçam as idéias de grandes pesquisadores do tema, conquistem da sociedade a compreensão para seus an-seios e recebam, desta mesma sociedade, respeito, carinho e amor.

Falar de loucura, para nós, é quebrar paradigmas , é trazer um novo olhar sobre o por-tador de sofrimento mental.

Danuza Bias FortesPrefeita de Barbacena

preconceitos“A gente trabalha numa perspectiva de reinserção social. A gente dá a liberdade para a pessoa criar sua própria autonomia.”

Adriane Oliveira, assistente social, supervisora de residências terapêuticas

Fernanda Santana inaugurou na quinta-feira a sequência de apresentações no Buteko Trem de Doido

A realização do Festival da Loucura em nossa cidade regis-tra, de maneira inequívoca, a capacidade da cultura estigmatiza-da de nossa terra de “dar a volta por cima” de si mesma e se rein-ventar. Mesmo que seja a reboque da tendência científica que orienta para o trato socializado do paciente psiquiátrico, o Festi-val da Loucura caracteriza-se como um trunfo da cultura barba-cenense no sentido em que escancara em vias públicas e em me-sas redondas o tema tão controverso que por mais de um século arraigou-se em nossa tradição.

Mas não é simples. Colocar o “bloco” na rua e convidar toda a sociedade brasileira para vir a Barbacena participar do seminá-rio técnico-científico e das apresentações artísticas-culturais que rechearão quatro dias de intensa programação, depende, acima de tudo, do profissionalismo dos produtores do evento. O esme-ro e a determinação para que pudéssemos atingir o grau de ex-celência que a 5ª edição do Festival da Loucura proporcionará a seu público foram características basilares de sua formatação.

Somos convictos de que aquilo que existe de melhor em re-cursos humanos referente ao tema em questão estará aqui entre os dias 15 e 18 de julho. Personalidades como Paulo Gabriel, Martha Elizabeth, Paulo Amarante e Ariano Suassuna dispen-sam qualquer comentário. Somem-se a eles os diversos profis-sionais que, diuturnamente, trabalham face a face com pacientes

psiquiátricos e, por consequência, tornam-se doutores do inesti-mável laboratório humano que são as unidades de tratamento da saúde mental.

Em sua outra vertente – a artística-cultural – o 5° Fes-tival da Loucura também garante variado leque de oportunida-des para o público em geral. Além dos shows em praça pública, gratuitos, inúmeras apresentações artísticas – teatrais, musicais, circenses, oficinas - estarão ocorrendo ao longo dos quatro dias de Festival, com eventos que atenderão desde o público infantil - como é o caso do espetáculo Um Baú de Fundo, do Grupo Gi-ramundo - até a terceira idade que certamente vai se deleitar com a apresentação do duo Tangos e Tragédias.

Enfim, cabe aqui o nosso agradecimento a toda a equi-pe que esteve envolvida com a realização do 5° Festival da Lou-cura – Cenatur, Fundac e Demasp – e em especial à prefeita Da-nuza Bias Fortes que tem nos garantido a possibilidade de reali-zarmos ações como esta, beneficiando toda a população barba-cenense e fomentando a atividade turística em nosso município. A todos, muito obrigado!

Leonardo CarvalhoPresidente da Fundação Municipal de CulturaPresidente da Empresa Municipal de Turismo

Ousadia para desnudar

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5º Festival da Loucura

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5º Festival da Loucura

Seria apenas mais um crime, se não fossem os ingredientes do escân-dalo e a maneira como se desencadeou um dos mais psicóticos relaciona-mentos lésbicos de que se

tem notícia.Dizem que, na época,

o escândalo proporcionou um entretenimento mórbido

aos habitantes de Le Mans. A sociedade não falava em outra

coisa a não ser naquele crime ab-surdo e brutal, em que mãe e filha

foram, literalmente, esquartejadas.Conta-se que a cena foi aterradora.

Arrancaram os olhos das vítimas ainda vivas e, usando vários tipos de instrumentos

cortantes, mataram-nas impiedosamente, amas-saram-lhes os rostos e deixaram-nas com o sexo à mostra. Cortaram suas coxas e nádegas profundamen-te, ensanguentaram o corpo de uma com o sangue da outra e, ainda, salpicaram as paredes de sangue. Um verdadeiro ritual macabro, após o qual as irmãs teriam se banhado e deitado na cama nuas e abraçadas. Cons-ta, nos autos do julgamento, que teriam dito: “Agora está tudo limpo”.

Há quem afirme que mesmo tendo sido mostradas as imagens do crime, não foi possível explicar o seu enigma, ou seja, o motivo pelo qual as assassinas che-garam a tal ponto.

As irmãs Papin eram consideradas excelentes em-pregadas. E tinham hábito de passarem horas con-versando para relembrarem, sobretudo, os tempos de infância. Segundo um delegado da época, elas eram “meio malucas” e sentiam-se “perseguidas”. Sabe-se ainda que o pai foi um homem violento e alcoólatra e que teria violentado uma de suas filhas, para em segui-da as abandonar.

Comentou-se, na ocasião do crime, que as irmãs Papin procuravam ser as melhores empregadas possí-veis. Mas as patroas eram muito rígidas. Conta-se que as irmãs eram estranhas, misteriosas e costumavam, nos dias de descanso, trancafiarem-se em seu quarto onde permaneciam no mais absoluto silêncio. Aliás, o que se sabe é que o relacionamento entre as patroas e as empregadas era marcado por uma mudez descon-certante. Elas não se falavam.

O silêncio que as cercava não se configurou como algo de pouca importância ou um vazio sem sentido. Ao contrário, transformou-se em uma espécie de es-topim. Foi como se um curto-circuito das palavras guardadas em silêncio se transformasse na forma da mais vil das ações, o assassinato na sua mais violenta e cruel maneira de ocorrer.

um marco na psiquiatria forenseO crime das irmãs papin

PRoGRaMaÇÃo

16 DE Julho - SExta-FEiRa

Seminário técnico-Científico e Culturallocal: hotel Senac Grogotó09:00 - Mesa Redonda - “Centro de Convivência: a oficina como ressocialização, geração de renda e o mercado de trabalho”Convidados: Maria Beatriz armond Couto - Psicóloga, coordenadora do Centro de Convivência de Barbacena, referência técnica do Ponto de Cultura “arte em papel em sucata” e pós graduada em Recursos humanos; Rosemeire Silva - Coordenadora Municipal de Saúde Mental de Belo horizonte; Sílvia Maria Ferreira - Membro da associação dos usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais e usuária da rede de Saúde Mental de Belo horizonte; Daniel Rabello - Jornalista, mestrando em Comunicação Social da PuC - Minas, monitor da oficina de Comunicação dos Centros de Convivência Cézar Campos e Barreiro

13:30 - Palestra - “alguns comentários sobre o crime das irmãs Papin”Palestrante: Cyro Marcos da Silva - Juiz e psicanalista

14:30 - Mesa Redonda - “Políticas Públicas, Centro de atenção Psicossocial e a intersetorialidade”Convidados: luciane Fontes - Mestre em Psicologia/Psicanálise pelo CES/JF e Coordenadora do CaPS Municipal de Barbacena; Gilmara terra - Psicóloga do CaPS Municipal de Barbacena; Romina Magalhães - Psicanalista, Mestre em Psicanálise pela uFMG e Psicóloga Judicial do núcleo Supervisor do Pai-PJ tJMG.

17:00 - lançamento de livro“Significação da loucura e modos de convivência social com o louco: estudo de caso na cidade de Barbacena-MG”autora: izabel Christina Friche Passos e outros autores

18:00 - Espaço Cênico - Corpo de Baile do CEFEC (Prédio da Estação)19:00 - Buteko trem de Doido - Banda Balaio de Gato (Prédio da Estação)20:30 - Espaço Cênico - teatro na noite tudo & tal (Prédio da Estação)21:30 - Buteko trem de Doido - Banda Balaio de Gato (Prédio da Estação)22:30 - Palco Principal - tangos e tragédias (Praça da Estação)24:00 - ButeKo trem de doido - Baixos em Concerto (Prédio da Estação)

Um crime abalou a França em fevereiro de 1933. As irmãs Christine e Léa Papin assassinaram Madame Lencelin e sua filha, para quem trabalharam, como empregadas domésti-cas, durante sete anos. Na época do crime, elas tinham 28 e 21 anos. Christine era a mais velha.

O crime praticado pelas irmãs Christine e Léa Papin, em fevereiro de 1933, em Le Mans, na França, pelas horríveis circunstâncias do massacre, mobilizou

de diversas formas a opinião pública, provocando enormes inquietude e interesse. Diante do que estamos vendo na contemporaneidade, quando surgem

mais frequentemente crimes que também nos chocam muito, penso ser muito importante procurarmos condições mais criteriosas e cautelosas para fazermos

uma avaliação dos casos, quer como operadores do mundo jurídico, quer no ofício da escuta.

Cyro Marcos da SilvaJuiz e psicanalista

Reconstituído em filmes, peças e textos, o crime das irmãs Papin foi alvo de polêmicas e objeto das mais diversas interpretações. Alguns reivindicavam vingança; outros - os intelectuais marxistas e os surrealistas, por exemplo - as colocaram como heroínas ou vítimas da luta de classes. Nesse contexto, Lacan – que acabara de publicar sua tese – qualifica o crime de “paranóico”. Em dezembro de 1933 (dois meses depois do processo), Lacan publica na revista Le Minotaure, o artigo “Motivos do crime paranóico: o crime das irmãs Papin”.

cidadania para todosCidadania através da convivência, da arte e

da atividade coletiva. Esta é a melhor definição do Centro de Convivência que funciona no Ins-tituto Bom Pastor, em Barbacena, e que já se transformou numa das referências dos serviços substitutivos do setor de saúde mental. Com vá-rias oficinas, o centro recebe diariamente usu-ários do sistema de saúde mental e pessoas da comunidade. Nesta relação, que tem nas ativi-dades físicas e no trabalho manual seu ponto de aglutinação, a cidadania dos usuários é o objeti-vo que norteia todo o trabalho. Para Beatriz Ar-mond Couto, coordenadora do Centro de Con-vivência, a participação da comunidade é dos um dos diferenciais no projeto. “A convivên-cia entre a comunidade e os usuários de saúde mental é uma experiência harmoniosa e é fator importante na recuperação destes usuários, pois favorece a construção de laços sociais”, afirma ela.

Dentro do Seminário Científico do Festival da Loucura, a mesa-redonda “Centro de Con-vivência: a oficina como ressocialização, gera-ção de renda e o mercado de trabalho”, abor-dou a importância destes espaços. A discussão reuniu Maria Beatriz Armond Couto (psicólo-ga, coordenadora do Centro de Convivência e referência técnica do Ponto de Cultura), Rosi-meire Silva (coordenadora municipal de Saúde Mental de Belo Horizonte), Sílvia Maria Fer-reira (Associação dos Usuários de Saúde Men-tal de Minas Gerais e usuária) e Daniel Rabe-lo (jornalista e monitor do Centro de Convivên-cia Cezar Campos e Barreiro). “É importante ressaltar que a divisão do seminário por temas nas mesas-redondas ajudou muito na condução dos trabalhos. E um dos exemplos foi a discus-são sobre os espaços de socialização do sistema substitutivo”, disse Lúcia Barbosa, coordena-dora de Saúde Mental de Barbacena.

cenTRO de cOnViVência

O Centro de Convivência é um dispositivo público da rede de atenção substitutiva em saú-de mental, onde são oferecidos às pessoas com transtornos mentais, espaços de produção, so-ciabilidade, convívios e trocas. Tem como prin-

Espaço promove ressocialização dos usuários de saúde mental através de oficinas de arte

e contato com a comunidadecípio básico favorecer o processo de ressocia-lização, inserindo os participantes no convívio social, além de servir como um recurso comple-mentar ao tratamento do portador de sofrimento mental, contribuindo para a sua estabilização.

Foi criado em julho de 2003, quando Bar-bacena já contava na época com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), além de três resi-dências terapêuticas, tendo por objetivo atender prioritariamente os portadores de sofrimento mental, pessoas estas que haviam passado mui-tos anos internadas em hospitais psiquiátricos e que necessitavam naquele momento de um es-paço de circulação, convivência e produção. O local escolhido para o funcionamento foi o Ins-tituto Bom Pastor, onde naquela época funcio-navam algumas oficinas frequentadas apenas por pessoas da comunidade. Foi estabelecida uma parceria entre o Departamento Municipal de Saúde Pública e o Instituto Bom Pastor para a implantação do Centro de Convivência.

pÚBLicO aTendidO

Participam das atividades oferecidas pelo Centro de Convivência as pessoas encaminha-das pelos serviços de saúde mental do municí-pio (CAPS, Residências Terapêuticas, Hospital Dia Álcool e Drogas e Ambulatório de Saúde Mental). O Centro atende também pessoas en-caminhadas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, Escola Maria do Rosário, Associação dos Deficientes Físicos, Secretaria do Desenvolvimento Social e, eventualmente, pacientes internados na FHEMIG e em clínicas psiquiátricas particulares. O Centro de Convi-vência atende diariamente de 60 a 80 pessoas.

ciRcuLaÇÃO dOs usuÁRiOs

O usuário do serviço chega através de en-caminhamentos dos serviços de saúde mental ou por demanda espontânea. O serviço rece-be, acolhe e escuta as necessidades das pesso-as. O Centro de Convivência não é um servi-ço de permanência-dia, o usuário freqüenta as oficinas em horários determinados e escolhe as atividades que mais lhe interessam e agradam.

O tempo de permanência no serviço é determi-nado pelo usuário, que ao passar pelo Centro de Convivência acaba construindo novas pos-sibilidades de vida, muitos retomam os laços familiares e sociais, retornam ao trabalho e aos estudos. O serviço favorece a retomada com o mundo através da abertura de caminhos para se viver na cidade e as pessoas passam a inventar novos projetos de vida.

OFicinas

As oficinas servem com um recurso nos processos de singularização, de produção, de emancipação e de construção de cidadania na vida social dos portadores de sofrimento men-tal. O Centro de Convivência oferece diversas oficinas com atividades produtivas, recreativas e culturais em um ambiente que respeita a sin-gularidade de cada um, facilitando a constru-ção de laços sociais e favorecendo a inclusão social.

paRceRias

insTiTuTO BOM pasTOR: Institui-ção filantrópica sem fins lucrativos que tem como finalidade promover e incentivar pro-gramas e ações voltadas à promoção huma-na e social das pessoas excluídas do contex-to social, proporcionando-lhes o exercício pleno de cidadania. Esta parceria proporcio-nou a utilização da estrutura do Instituto e o aspecto institucional da Prefeitura Munici-pal no atendimento técnico aos usuários.

unipac: Parceria com o curso de psico-logia. Os estagiários desenvolvem ativida-des com os usuários do centro de convivên-

cia através da oficina de música, onde são confec-c i o n a d o s ins t rumen-tos musicais com sucata, composição de letra e mú-sica e da ofi-cina de jornal em que são discutidos di-versos temas e confeccio-nados bole-tins informa-tivos.

iFeT (Ins-tituto Fede-ral de Educa-ção Ciência e Tecnologia): Os alunos

do curso técnico de hospedagem desenvol-vem o projeto “Desloucar” com os usuários do Centro de Convivência, com o objetivo promover o bem-estar do portador de sofri-mento mental e minimizar o preconceito so-cial em relação a eles, proporcionando-lhes contato e integração social através do acesso ao lazer, recreação e cultura. As oficinas têm como objetivo desenvolver atividades gru-pais de socialização, expressão e inserção social, além de ampliar habilidades e desen-volver a criatividade, aumentando a autono-mia do portador do sofrimento mental e o inserindo socialmente.

Fundac (Fundação Municipal de Cultu-ra): Através da disponibilização de profes-sores do Conservatório de Música (violão, teclado, flauta e canto coral) para ministra-rem aulas no Centro de Convivência. Foi es-tabelecida também parceria na realização do projeto do Ponto de Cultura.

pOnTO de cuLTuRa

A Oficina de Arte em Papel e Sucata que funciona no Centro de Convivência foi sele-cionada em concurso estadual em 2009 e será um dos 100 novos pontos de cultura de Mi-nas Gerais. O projeto foi elaborado pelo Cen-tro de Convivência, Instituto Bom Pastor e Fundação Municipal de Cultura (FUNDAC). A escolha desta oficina se deu pela capaci-dade de envolver os usuários nos diversos níveis de dificuldade que ela apresenta para a confecção de seus produtos, além de criar uma consciência ecológica através da reutili-zação da sucata.

O projeto surgiu com a necessidade dos usuários do Centro de Convivência terem acesso a uma fonte alternativa de renda atra-vés do aumento da produção e da criação de novos pontos de comercialização dos produ-tos confeccionados na oficina, garantindo a geração de emprego e renda e posteriormen-te sua sustentabilidade. Além do aspecto eco-nômico do projeto, outro ganho é a recupera-ção da cidadania dos portadores de sofrimen-to mental e a sua reabilitação e reintegração na sociedade através da promoção da inclu-são social.

A FUNDAC está aguardando a liberação de recursos do governo estadual para dar iní-cio ao projeto e avançar ainda mais na fabri-cação dos produtos, gerando trabalho e renda para os usuários de saúde mental e para a co-munidade. “É grande a expectativa da comu-nidade barbacenense para o início dos traba-lhos, o que deve acontecer nos primeiros me-ses de 2011”, afirma Sérgio Cardoso Ayres, da Fundação Municipal de Cultura, ressal-tando a importância do projeto. “O Ponto de Cultura é uma conquista do município de Barbacena”.

A oficina como ressocialização, geração de renda e inserção no

mercado de trabalho foi tema de seminário técnico-científico e cultural

no Festival da Loucura

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5º Festival da Loucura

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5º Festival da Loucura

A relação de Barbacena com a psiquiatria começou em 1903, quando a cidade foi escolhida para receber o primeiro hospital psiquiátrico de Minas Gerais - o antigo Hospital Colônia, hoje um complexo hospitalar integrado à rede FHEMIG. Iniciou-se então uma história que continuou por décadas, quando milhares de pessoas foram internadas ali, fazendo com que o município passasse a ser conhecido como a Cidade dos Loucos.

As pessoas internadas sofriam de algum distúrbio mental ou, simplesmente, apresentavam um comportamento inaceitá-vel para o padrão conservador da época, como homossexuais ou mães solteiras, que eram despejados em Barbacena, para se-rem isolados da sociedade.

Essas pessoas passaram grande parte da sua vida sem qual-quer contato com o mundo, enjauladas como animais, submeti-das a tratamentos desumanos, a condições sanitárias inadequa-das e a todo tipo de tortura. Estima-se que 60 mil pessoas te-nham morrido, vítimas das condições precárias da instituição, que chegou a ser comparada a um campo de concentração pelo psiquiatra italiano Franco Basaglia, em 1979.

“À medida em que o Brasil foi se urbanizando, passou a ter uma dificuldade de lidar com seus loucos. A solução que exis-tia, até então, era a reclusão. Barbacena ficou muito marcada porque ganhou uma instituição que tinha a pretensão de fazer isso em larga escala”, conta Edson Brandão, que pesquisa a his-tória da loucura na cidade.

A princípio, isso funcionou de forma muito positiva, mas foi desandando ao longo do tempo e formando uma tragédia, por-que, quanto mais gente chegava, menos condições o hospital ti-nha de dar a elas um tratamento digno.

A história começou a mudar na década de 80, quando teve início no Brasil a luta antimanicomial. O movimento, idea-lizado por trabalhadores da área de saúde mental, previa o fim dos hospícios e a integração das pessoas com problemas mentais à sociedade. Aos poucos, Barbacena viu o cenário se transformar.

O hospital psiquiátrico continua lá. Mas não funciona mais como um hospício. Hoje, a unidade prioriza o atendimento ambu-latorial. Há também uma pequena emergência, chamada de Ser-viço de Internação de Agudos, com 30 leitos, para internações de curta duração e recuperação de usuários de drogas. “Tentamos evitar que a internação ultrapasse os 15 dias nesses leitos de agu-dos”, conta a diretora interina do hospital, Mônica Chartuni.

Ainda há pessoas internadas. São 215 pacientes de longa per-manência, que estão há anos no hospital. Mas a internação é dife-rente daquela do passado: a maior parte das pessoas vive em en-fermarias que parecem casas, no terreno do hospital, e o atendi-mento é feito de forma humanizada. Além disso, a proposta é que, aos poucos, elas sejam deslocadas para residências terapêuticas,

que são casas comuns, localizadas no meio da cidade, que com-portam de duas a oito pessoas.

O Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena tem uma histó-ria de 100 anos ao longo dos quais chegou a abrigar 5 mil pacien-tes. A mudança no paradigma de tratamento dos pacientes com problemas mentais nos últimos anos levou a cidade a reavaliar a própria história e a relação com a loucura. Hoje, Barbacena está disposta a refletir criticamente sobre a saúde mental.

“Uma parte da população aceita isso com muita naturalidade e até se orgulha porque temos uma história de superação para contar ao mundo. Não tivemos só o hospício com suas faces negativas, também tivemos, depois, todo o trabalho de grandes profissionais de saúde que conseguiram, em poucos anos, reverter essa situação. Hoje, somos um exemplo de uma cidade que absorve essa popula-ção marginalizada de forma muito eficien-te”, afirma o pesquisador Edson Brandão.

A loucura e as tragédias que ocorreram no antigo hospício são um pedaço da história de Barbacena. Uma história tem que ser contada e recontada, com aquela velha máxima de que, se todos conhecerem, isso não será repetido.

(Texto: Agência Brasil)

psiquiatria em Barbacena uma história de superação para contar ao mundo

O histórico prédio do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, antigo Hospital Colônia, é uma presença imponente

que remete a um passado que não é possível apagar Originalmente com uma área de 8 milhões de metros quadrados, o antigo Hospital Colônia era uma verdadeira

“cidade” dentro da cidade

Elza Campos e Marlene de Almeida, 63 anos, se conheceram ainda crianças, mas não é possível dizer que tiveram uma infância

comum. As duas cresceram no Hospício de Barbacena, internadas como loucas, com

centenas de outros pacientes. João Gonçalves, 49 anos, tam-bém cresceu no hospital.

Hoje, mesmo com problemas mentais, eles não estão mais inter-

nados no hospício. Há alguns anos, os três vivem em residências tera-

pêuticas na cidade mineira, com ou-tros ex-pacientes do hospital psiqui-átrico. Apesar disso, não conseguem se esquecer das décadas de abandono e dos maus-tratos sofridos dentro da

instituição.“A gente sofria muito. Os pa-

cientes ficavam nas celas, que ti-nham até rato. Tinha aquelas inje-ções grossas e a gente ficava impreg-

nado [sob efeito de drogas]. A gen-te não saía, ficava só lá no pátio. Tinha também os choques”, conta Elza Campos.

Hoje, Elza pode se deslocar so-zinha pela cidade. Ela relembra o sofrimento com um olhar distan-te, sentada num banco em frente ao hospital onde antigamente era man-tida presa e isolada. Em meio à en-trevista, puxa orgulhosa, de dentro da bolsa, duas toalhas de mesa com a imagem de frutas que ela mesma pintou.

Sentados ao lado de Elza, no banco em frente ao antigo hospí-cio, estão João e Marlene. Ex-pa-cientes da instituição, os dois par-tilham as mesmas memórias que

sua colega. Corpulento, João conta que che-gou a ficar preso, atrás das grades, dentro do hospício.

Já Marlene se lembra de uma interna que mordia os outros pacientes e mostra uma ci-catriz no braço direito.

A conversa sobre o passado no hospí-cio é rapidamente substituída pelas lem-branças mais recentes, que também são as mais felizes. Na década de 90, o hospício de Barbacena começou a se adequar às no-vas regras propostas pela reforma psiquiá-trica brasileira.

Tratamentos antigos como o eletrochoque e o isolamento de pacientes deram lugar a técnicas mais modernas e humanizadas. Aos poucos, as enfermarias foram transformadas em casas no terreno do hospital. Os portões da instituição foram abertos. Os internos ga-nharam o direito de circular pela cidade.

Em 1994, havia 600 pacientes internados no hospital. Hoje são apenas 215. Muitos fo-ram transferidos para as residências terapêu-ticas, casas comuns no meio da cidade, em que ex-pacientes vivem sob os cuidados do Estado. Ex-internos como João, Marlene e Elza começaram a fazer viagens e a conhe-cer cidades como Porto Alegre, São João Del Rei e Brasília.

João e Marlene, que são namorados, pla-nejam se casar. Por enquanto, Marlene ainda precisa visitar a casa de João nos finais de semana, mas, em breve, os dois poderão mo-rar em uma casa terapêutica só deles.

“A gente trabalha numa perspectiva de reinserção social. A gente dá a liberdade para a pessoa criar sua própria autonomia”, conta a assistente social Adriane Oliveira, que su-pervisiona algumas residências terapêuticas.

(Texto: Agência Brasil)

ex-pacientes relembram sofrimentos vividos em antigo hospício

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5º Festival da Loucura

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5º Festival da Loucura

PRoGRaMaÇÃo

Dia 17 DE Julho - SáBaDo

10:00 - Palestra técnico-Científico e Cultural“loucura, cultura e diversidade: novas perspectivas de ações sociais”Palestrante: Paulo amarante - Professor, doutor e pesquisador titular da Escola na-cional de Saúde Pública Sergio arouca, Fundação oswaldo Cruz – FioCRuZ (auditó-rio do Sindicato Rural de Barbacena – av. Bias Fortes, 56 - Centro)

14:00 - Espaço Cênico - a história do Rock - oficina com a Banda Ranier (Prédio da Estação)14:30 - hall da Estação - Coral Pirô Criô (Prédio da Estação)14:30 - atividades circenses - trupe Gaia (Praça da Estação)16:00 - Palestra técnico-Científico e Cultural - “a loucura na criação literária”Convidado Especial: ariano Suassuna (teatro da EPCaR)18:00 - Espaço Cênico - Espetáculo teatral Faces da loucura (Prédio da Estação)19:00 - Espetáculo infantil - Giramundo: “Baú de Fundo Fundo” (Praça da Estação)20:00 - Espaço Cênico - Espetáculo teatral Faces da loucura (Prédio da Estação)21:00 - Buteko trem de Doido - Banda take it Easy! (Prédio da Estação)22:00 - Espaço Cênico - teatro na noite tudo & tal (Prédio da Estação)23:00 - Palco Principal - Zeca Baleiro (Praça da Estação)00:30 - Buteko trem de Doido - Banda take it Easy! (Prédio da Estação)

18 DE Julho - DoMinGo

15:00 - Espaço Cênico - Cia Reclame (Prédio da Estação)16:00 - Espaço Cênico - Corpo de Baile do CEFEC (Prédio da Estação)16:30 - Palco - Banda Sheik loko (Praça da Estação)17:30 - Palco - Banda Pré Pagos (Praça da Estação)18:30 - Palco - Banda the Yellow Brick Road (Praça da Estação)19:30 - Espaço Cênico - Espetáculo teatral “Diário de um lou-co” (Prédio da Estação)20:30 - Buteko trem de Doido - Julia Possa (Prédio da Estação)20:30 – Palco Principal - Banda Ranier (Praça da Estação)23:30 – Buteko trem de Doido - Julia Possa (Prédio da Estação)

Salão de arte e Parada do artesão nato: aberto todos os dias das 18h às 24h.Participação do cartunista Cristóvão Villela, todos os dias à partir das 19:00h no Buteko trem de Doido (Praça da Estação)

As gerações mais no-vas podem ter uma noção do sofrimento que atingia os internos dos hospícios de Barbacena (a cidade chegou a ter sete institui-ções desse tipo) por meio de uma visita ao Museu da Loucura, inaugurado em 1996, nas dependências do Centro Hospitalar Psi-quiátrico de Barbacena.

Trata-se de um pe-queno museu, que reúne fotos, relatos e objetos que mostram como era o dia a dia dos internos de Barbacena. O último aparelho de eletrochoque usado em um paciente também está lá.

A coordenadora do Museu da Loucura, a pe-dagoga Lucimar Pereira, conta que o equipamento foi adotado até a década de 90. O aparelho deixou de ser usado depois que uma paciente morreu em decorrência de uma sessão de choques elétricos.

Também é possível ver as grades das celas que separavam os internos considerados mais agressivos e uma enorme seringa que era usada para aplicar medicamentos. Segundo Lucimar, a mesma agulha era usada em todas os pacientes, sem qualquer cuidado com a higiene.

No museu, os visitantes também conhecem a história de João Adão, o último a sofrer uma lo-botomia no hospital. O procedimento radical, que envolve uma cirurgia cerebral, transformava o homem em um “ser vegetativo”, conta Lucimar.

Nascida em Barbacena, a coordenadora do museu afirma que a inauguração do espaço, em 1996, causou um mal-estar na cidade. “Tínhamos um preconceito em relação ao hospital e aos doentes. Quando a gente via o azulão na rua, você logo identificava que era paciente, era doido do hospital. A gente tinha medo, tinha receio”, lembra a pedagoga.

Museu guarda memória de sofrimentono hospício de Barbacena

e maus-tratos

Inaugurado em 1996 e instalado no Torreão do antigo Hospital Colônia, hoje Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, o Museu apresenta em sete ambientes um pequeno mas contundente acervo de peças que revelam o cotidiano dos pacientes e algumas formas de tratamento. Além disso, o espaço dispõe de uma galeria para exposições temporárias e um auditório. Com mais de 600 visitas por mês, o museu tem o registro de visitantes ilustres como cineasta Walter Salles e o escritor Zuenir Ventura.

seRViÇO Aberto de domingo a domingo, de 8:00 às 12:00 e 13:00 às 18:00 horas.

Informações: (32) 3339 -1611

Museu da LoucuraBarbacena - Minas Gerais

Exercendo papel estratégico no con-junto de políticas públicas da reforma da psiquiatria, o Centro de Atenção Psicosso-cial - CAPS - porta de entrada de urgência e emergência na área da saúde mental, foi tema de uma das mesas redondas da pro-gramação de sexta-feira, dia 16, do Festival da Loucura.

O CAPS de Barbacena atende diaria-mente cerca de 75 pessoas. Quando os usu-ários chegam são encaminhados para uma equipe multidisciplinar e muitos deles fi-

cam durante o dia no CAPS e são envol-vidos em atividades terapêuticas, além de receberem todo o atendimento necessário para uma melhor qualidade de vida.

Muitos usuários são levados para o Centro de Convivência onde participam de diversas oficinas, como arte em tecido, arte em papel jornal e papel machê, dança de salão, crochê, culinária e várias outras. Eles são levados para o Centro de Convivência em um transporte do próprio CAPS.

Localizado no bairro Vilela, o CAPS

funciona 12 horas por dia e conta com uma equipe de profissionais composta por quatro psicólogos, quatro enfermeiros, duas assis-tentes sociais, cinco psiquiatras e 14 técni-cos de enfermagem. Desde o ano passado, funciona também aos sábados e domingos.

No CAPS acontecem oficinas tera-pêuticas, atendimento individual, orienta-ção familiar, assembleia dos usuários, que acontece uma vez por semana, e reunião com os familiares dos usuários, que ocor-rem duas vezes por mês.

Pelo segundo ano, o Semi-nário Técnico Científico e Cul-tural vem sendo palco para lan-çamento de livro com temas li-gados à loucura. O livro de lan-çamento deste ano é “Loucura e Sociedade – Discursos, práti-cas e significações sociais”, de Izabel Christina Friche Passos e que teve como colaboradores Maristela Nascimento Duarte, Mônica Soares da Fonseca Bea-to, Maria Aline Gomes Barboza, Marília Novais da Mara Macha-do, Daniela de Resende Londe, Lucimar Gonçalves de Souza Barros, Walderez Aparecida Sa-bino de Souza, Eric Gilliard Le-les e Magda Costa Araújo. Na apresentação de Izabel no Se-minário, na sexta-feira, dia 16, o foco principal são os estudos de caso na cidade de Barbacena

Inspirada pela perspectiva foucaultiana, a coletânea dialo-ga com as questões que marcam o atual contexto da reforma da psiquiatria em curso no Brasil

“Loucura, cultura e diversidade: novas perspectivas de ações sociais” é o tema da palestra técnico-científica e cultural que o professor Paulo Amarante apresenta neste sábado, às 10 horas, no

auditório do Sindicato Rural de Barbacena, abrindo a programação do terceiro dia do Festival da Loucura.

Atualmente, Paulo Amarante é professor/pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz,

líder do grupo de Pesquisas “Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental de Atenção

Psicossocial”. Também é o coordenador do Projeto Loucos pela Diversidade, do convênio entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Saúde, por meio da Fiocruz. Sua atuação acadêmica e

política é voltada para os seguintes temas: reforma psiquiátrica, saúde mental, epistemologia, filosofia da ciência, políticas públicas e políticas de saúde.

É graduado em Medicina pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia, especialista

em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ, mestre em Medicina Social pelo Instituto de Medicina Social da UERJ e doutor em Saúde

Pública pela Fundação Oswaldo Cruz.

Loucura, cultura e diversidade

caps: porta de entrada da saúde mental

Loucura e sociedade

desde o final da década de 1970. Seus autores, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Geais - UFGM - e da Univer-sidade Federal de São João del Rei - UFSJ -, apresentam os re-sultados de uma pesquisa etno-gráfica e comparativa realizada em Barbacena e Prados.

Transcrevendo os casos analisados, os texto que inte-gram o livro analisam o estado da arte sobre o tema da loucura entre nós, oferecem contribui-ções para as mudanças no cam-po da saúde mental e primam pelo cuidado metodológico no tratamento de questões carre-gadas de conflitos, sentimentos fortes e contraditórios, vividas por indivíduos, grupos e comu-nidades reais.

A riqueza do livro – e o pa-radoxo que essa riqueza encer-ra – está precisamente no fato de revelar como duas socieda-des, geograficamente próximas e globalmente herdeiras da mes-

ma tradição cultura, Barbacena e Prados, vizinhas nas Minas Ge-rais, foram levadas por um con-junto de fatores, ecológicos, de-mográficos, econômicos, socio-culturais e políticos, articulados em dois processos históricos di-vergentes, a elaborar, da loucura e de sua própria relação coletiva com ela, duas imagens diferentes e duas estra-tégias diferentes para lidar com essas repre-sentações. Em Prados, uma remanência pré-moderna de relações sociais mais próximas do modelo de comu-nidade, que favorecem a integração do louco como algo de si. Em Barbacena, uma im-pregnação hegemôni-ca do imaginário pela visão psiquiátricas da loucura, que cedo le-vou a um tratamento drasticamente segrega-

dor dos doentes, antes do atual movimento de superação deste dispositivo e de seus famigera-dos excessos. Um contraste afi-nal duradouro e contemporâneo, que permite a análise, por si só, ofereça subsídios às políticas públicas dirigidas aos sofrimen-to mental.

Discursos, práticas e significações sociais

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Poeta, dramaturgo e romancista, Ariano nasceu na Cidade da Paraiba (hoje João Pessoa), capital da Paraíba. Filho de Rita de Cássia Vilar e João Urbano Pessoa de Vaconcelos, Ariano viveu os primeiros anos de sua vida no Sítio Acauã, no sertão do estado da Paraíba. Aos três anos de idade, passou por um dos momentos mais com-plicados de sua vida com o assassinato de seu pai no Rio de Janeiro, por motivos políticos, durante a Revolução de 1930, o que obrigou sua mãe a levar toda a família a morar na cidade de Tapeorá, no Cariri Paraibano.

De 1933 a 1937, Ariano ainda em Taperoá, fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo ca-ráter de improvisação seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.

Em 1942, ainda criança, Ariano Suassuna muda-se para a cidade do Recife, no vizinho estado de Pernam-buco, onde passou a residir definitivamente. Estudou o antigo ensino ginasial e o antigo colegial. Concluiu seu estudo superior na em Direito na Faculdade de Direito do Recife, em 1964.

Ariano Suassuna estreou seus dons literários preco-cemente no dia 7 de outrubro de 1945, quando seu po-ema “Noturno” foi publicado em destaque no Jornal do Comércio, do Recife.

Na Faculdade de Direiro conheceu Hermilo Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de Per-nambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, “Uma mulher vestida de Sol”. Em 1948, sua peça “Cantam as harpas de Sião (ou O desertor de Princesa)” foi mon-tada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Segui-ram-se Auto de João da Cruz, de1950, que recebeu o Prêmio Martins Pena, o aclamado “Auto da Compade-cida”, de 1955, “O Santo e a Porca - O Casamento Sus-peitoso”, de 1957, “A Pena e a Lei”, de 1959, “A Farsa da Boa Preguiça”, de 1960, e “A Caseira e a Catarina”, de 1961.

Entre 1951 e 1952, volta a Taperoá, para curar-se de uma doença pulmonar. Lá escreveu e montou “Torturas de um coração”. Em seguida, retorna a Recife, onde, até 1956, dedica-se à advocacia e ao teatro. Em 1956, afas-ta-se da advocacia e se torna professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco.

Sua obras já foram traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês.

Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo da Escola de Samba Império Serrano, do Rio de Janeiro, e em 2008, da Mancha Verde, de São Paulo. É integrande da Academia Brasileira de Letras (ocupa a cadeira 33), da Academia Pernambucana de Letras (ocupa a caderia 18) e da Academia Paraibana de Letras (assumiu a ca-deira 35).

a irreverência de ariano suassuna no Festival da Loucura

em Barbacena

a verve e a voz de Zeca Baleiro na Praça da Estação

Obras selecionadas Uma mulher vestida de Sol (1947) Cantam as harpas de Sião ou O desertor de Princesa (1948) Os homens de barro (1949) Auto de João da Cruz (1950) Torturas de um coração (1951) O arco desolado (1952) O castigo da soberba (1953) O Rico Avarento (1954) Auto da Compadecida (1955) O casamento suspeitoso (1957) O Santo e a Porca (1957) O homem da vaca e o poder da fortuna (1958) A pena e a lei (1959) Farsa da boa preguiça (1960) A Caseira e a Caratina (1962) As conchambranças de Quaderna (1987) Fernando e Isaura (1956) - inédito até 1994

Romance A História de amor de Fernando e Isaura (1956) O Romance d’A Pedra do Reio e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) História d’O Rei Degolado nas caatingas do sertão /Ao sol da Onça Caetana (1976)

poesia O pasto incendiado (1945-1970) Ode (1955) Sonetos com mote alheio (1980) Sonetos de Albano Cervonegro (1985) Poemas (antologia) (1999)

Poeta e dramaturgo paraibano, idealizador do Movimento Armorial, profere palestra magna

neste sábado, no auditório da Epcar

Movimento armorialAriano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: múcis, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura entre outras expressões.

Com cinco discos de ouro, Zeca Baleiro, em onze anos de carreira fonográfica, fez 850 sho-ws que somados ultrapassam a marca de 1 milhão de pessoas que já o assistiram e cerca de 700 mil CD’s e 30 mil DVD’s vendidos.

O primeiro CD, “Por Onde Andará Stephen Fry?”, lançado em 97, ganhou impulso após a par-ticipação de Zeca no Acústico MTV da conhecida cantora Gal Costa. Compositor talentoso, de per-sonalidade, vozeirão, humor e verve afiados, des-de então o artista encanta as platéias onde quer que se apresente, conquistando público de todas as idades.

“Vô Imbolá”, de 99, veio consolidar o nome do cantor. Com figurino marcante, tornou-se o CD mais emblemático de Zeca que sintetiza a propos-ta de mistura de estilos e a ausência de rótulos pré-definidos.

Em “Líricas”, terceiro CD, Baleiro radicalizou na mudança de sonoridade e na concepção mais sóbria do show.

Considerado pela crítica como o seu melhor disco, lançado em 2002, “PetShopMundoCão” utiliza linguagem eletrônica e traz participações de artistas como o soulman Carlos Dafé , o mutan-te Arnaldo Batista e Elba Ramalho, entre outros.

Em 2003, Baleiro gravou em parceria com o compositor cearense, uma de suas muitas influ-ências, o CD Raimundo Fagner & Zeca Baleiro. Mostrado em curta temporada por capitais brasi-leiras, o show foi registrado em DVD pelo Mul-tishow durante temporada no Canecão, Rio de Ja-neiro.

“Baladas do Asfalto e Outros Blues”, quinto álbum solo, de 2005, traz um Zeca Baleiro maduro e com total domínio de seu ofício, melodias certei-

ras, arranjos elaborados e poesia em alta voltagem, tudo com leve toque “on the road”. Depois de passar por várias cida-des, o show ganhou registro em DVD.

Encerrando cada turnê com o registro dos shows, Zeca soma cinco DVD’s no ca-tálogo (fato inédito para um artista com 11 anos de carreira), além do DVD com Fag-ner: “PetShop MundoCão - A Ópera Infame Ao Vivo” e “Líricas”, gravados no Directv Music Hall, “Vô Imbolá”, primeiro show gra-vado ao vivo, em 2000, no Memorial da América Latina e lançado em 2005, ‘‘Baladas do Asfalto e Outros Blues’’, gravado no Teatro do Sesc Pi-nheiros/SP e lançado em 2006.

Com vocação para agregar gen-te de todas as tribos e gerações, o cantor criou um projeto espe-cial batizado de “Baile do Ba-leiro”, onde assume integral-mente o papel de aglutinador, fazendo a ponte entre tradição e modernidade, promovendo en-contros memoráveis com ído-los de outras gerações e apresen-tando novos talentos. O Baile, apresentado pela primeira vez em 2004, ganhou duas temporadas em SP, no Blen Blen em 2006 e no Carioca Club em 2007, além de pas-sar por várias ca-pitais, onde con-vidava artistas locais.

Hoje eu acordei Com uma vontade danada De mandar flores ao delegado, De bater na porta do vizinho E desejar bom dia, De beijar o português Da padaria...

Telegrama - Zeca Baleiro

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Tangos e Tragédiassexta-feira

Banda cacharrrelquinta-feira

g aler i a