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Práticas religiosas através de três cantos de Arandu Arakuaa Este trabalho é fruto das análises prévias de fontes que utilizo em minha dissertação de mestrado no PPGH-UDESC. A banda Arandu Arakuaa faz parte do movimento “Levante do Metal Nativo” (dentro do Heavy Metal Brasileiro) que é uma “união de bandas que escrevem sobre história do Brasil”, e através da análise de três canções (letra/melodia) e de performances em três vídeo-clipes, poderemos refletir alguns aspectos desta lógica social que não segmenta religião, música, trabalho, e etc. Além de ser uma comunicação de História do Tempo Presente, onde pesquiso meu próprio tempo, a mesma tem como reflexo diminuir o preconceito através da diversidade cultural/musical ao visibilizar as sociedades indígenas como atores de suas próprias experiências, evidenciando as apropriações e ressignificações, alterando suas cosmovisões com base na oralidade, indissociáveis das práticas religiosas. Palavras chave religiosidade indígena heavy metal história do tempo presente

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Práticas religiosas através de três cantos de Arandu Arakuaa

Este trabalho é fruto das análises prévias de fontes que utilizo em minha dissertação de

mestrado no PPGH-UDESC. A banda Arandu Arakuaa faz parte do movimento

“Levante do Metal Nativo” (dentro do Heavy Metal Brasileiro) que é uma “união de

bandas que escrevem sobre história do Brasil”, e através da análise de três canções

(letra/melodia) e de performances em três vídeo-clipes, poderemos refletir alguns

aspectos desta lógica social que não segmenta religião, música, trabalho, e etc. Além de

ser uma comunicação de História do Tempo Presente, onde pesquiso meu próprio

tempo, a mesma tem como reflexo diminuir o preconceito através da diversidade

cultural/musical ao visibilizar as sociedades indígenas como atores de suas próprias

experiências, evidenciando as apropriações e ressignificações, alterando suas

cosmovisões com base na oralidade, indissociáveis das práticas religiosas.

Palavras chave – religiosidade indígena – heavy metal – história do tempo presente

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Práticas religiosas através de três cantos de Arandu Arakuaa

Natasha Aleksandra Bramorski1

Desde a sua renovação em meados de 1970, a História do Tempo Presente muitas

vezes é tratada como objeto a ser analisado pelo/a historiador/a, e em outros, é o período

em que vivemos, a atualidade. Por ser um campo de disputa entre historiadores/as e,

consequentemente, muito debatido, é necessário ter as definições do que seria o

passado, o presente e o futuro atualmente em nossa sociedade, além dos marcos das

(então consideradas) grandes transformações sociais que variam de local para local

(sociedade para sociedade). Partindo destes parâmetros, teríamos uma História do

Tempo Presente a partir de um recorte temporal, ou através de questões (e/ou objetos)

de outros períodos, porém ainda “não resolvidos”. Um ponto de convergência, também

a distinção do que estava sendo produzido na historiografia até então, é que esta

História deve ser produzida por um/a historiador/a sobre seu próprio tempo, ele/a é

contemporâneo/a dos sujeitos estudados, e ao mesmo tempo pode ser uma testemunha.

No Brasil, por exemplo, se falarmos em recorte temporal, teremos histórias

produzidas sobre períodos pós 1945, igualmente na França, já na Alemanha seria pós

1918, e outras divergências ocorrem ao olharmos outras regiões do mundo. Mas, ao

falarmos sobre questões ainda “não resolvidas”, como por exemplo, a saúde das

mulheres negras na década de 2000-2010, provavelmente, nos depararemos com

questões que perpassam nossa sociedade desde a Idade Média/Brasil Colônia até os dias

atuais.

Um fator instigante é a variedade de fontes, para além dos documentos oficiais,

devido as tecnologias existentes, como imagens, canções, vídeos, e muitas vezes a

grande quantidade de material sobre os temas trabalhados, e também os diferentes

acervos, por exemplos, os blogs, sites e redes de relacionamentos.

Neste trabalho, analiso quatro produções da Arandu Arakuaa em formato de

vídeo-clipe2, que é a junção da música e do cinema, da imagem, som, texto e melodia. É

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina –

PPGH/UDESC. Orientada pela profa. Márcia Ramos de Oliveira.

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o desejo de extrapolar a canção, e ultrapassar as possibilidades dos filmes, de exprimir

ideias em um curto espaço de tempo, demonstrando sentidos, e possíveis interpretações

para as canções, para as bandas/cantores(as), e também para o período em que o vídeo é

lançado.

O cinema não é um assunto novo a ser debatido, nem analisado pelos

historiadores, inclusive autores brasileiros discutem como fazer uma análise social do

cinema desde a década de 1940, mas foi a partir de 1990 que se pensou na relação entre

emissão e recepção. Com as novidades tecnológicas os estudos sobre o assunto vêm em

um crescente. Maior a popularidade, maior o interesse.

Enquanto instituição, o cinema, e suas produções, que vamos estender também

para seus desdobramentos como o vídeo-clipe, acabam tendo elementos nacionais e

internacionais, sofrem alterações conforme o sistema econômico, o mesmo se relaciona

com as estruturas de dominação e resistência, ideologias e movimentos sociais, ele é

orgânico, está em movimento, e é imprescindível ter essa referência para análise.

Bordwell (2005) aborda que podemos estudar a narrativa cinematográfica como

uma representação (qual o conjunto de ideias exposto?), ou uma estrutura (abordagem

sintática), ou ato (forma de contar a história à um receptor). Outras questões para análise

trazidas por Lera (1997) que eu condenso aqui como produção, gênero, emissão,

recepção e contexto.

O vídeo-clipe foi lançado com o objetivo de empregar as equipes que faziam

filmes por mais tempo no ano, e criar um novo produto a ser consumido. Assim,

rapidamente tínhamos a MTV americana, cuja programação principal era apresentar

clipes durante 24 horas (sem parar), que foi espalhada pelo Ocidente através de filiais,

como a brasileira que aportou no ano de 1991 e, alterou muitas linguagens de programas

de televisão, rádio, propaganda e cinema nos demais canais, e também nos circuitos de

filmes alternativos brasileiros.

Pensando a nossa realidade atual, em 2016, a ferramenta mais utilizada para

compartilhar e publicar vídeos (filmes, propagandas, vídeo-clipes, lyrics vídeos, vídeos

caseiros, e etc.) é o Youtube, uma plataforma da/na internet onde o usuário faz um

cadastro com dados pessoais, construindo um perfil, e através deste consegue

2 Também pode ser chamado de clipe, clip, vídeo.

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postar/publicizar os seus próprios vídeos, comentar os vídeos de outros usuários,

compartilhar publicações que não são suas, além de se inscrever como espectadores

(seguidores) de outros perfis para acompanhar os conteúdos sempre que forem

atualizados.

As mídias especializadas, como por exemplo, complexos que uniam gravadoras

de discos, canais de televisão, escritórios de representação/marketing, e produtoras, por

muitos anos detinham o poder da maioria da produção e emissão de conteúdos

publicizados que alcançavam a maioria da população, porém, no Brasil a partir da

década de 1990, temos uma facilidade em acessar materiais tecnológicos de caráter

amador, e em meados de 2010 de caráter profissional, como máquinas filmadoras e

fotográficas, microfones, instrumentos musicais, computadores e, muitos acessórios

(placas de som e de vídeo, softwares, e etc.). O advento da internet foi como uma

injeção, alterando as formas de sociabilidades, e os pontos de fusão das informações,

tornando cada usuário um produtor, emissor, e espectador de conteúdos variados.

Esta alteração refletiu também no crescimento de produções independentes, pois

elas são gratuitas, e disponibilizam os conteúdos para a maior parte do mundo, ficam de

fora apenas os países que sofrem com ditaduras onde o acesso à internet é proibido ou

limitado.

A Arandu Arakuaa fez suas obras de forma independente e, para a divulgação

utilizam as ferramentas gratuitas de internet, sendo as principais o Facebook e o

Youtube. Para realizarem seus vídeo-clipes, chamaram o colega Caio Cortonesi, que por

ser neto de um proprietário de cinema, se envolveu com a arte de forma familiar, e

através de sua formação em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília em 2008,

conseguiu ser um profissional diversificado, o mesmo gerencia cinco perfis no

Facebook relacionados com suas áreas de atuação, são eles: @cortonesi3, o perfil

pessoal onde podemos conhecer um pouco deste profissional, que também é conhecido

como Caio Duarte (da banda Dynahead); @dynaheadband4, perfil da banda de Heavy

Metal do qual é vocalista e compositor utilizando o nome Caio Duarte;

3 https://www.facebook.com/cortonesi 4 https://www.facebook.com/dynaheadband

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@broadbandprod5, perfil do estúdio de gravação, do qual é proprietário e produtor

musical (setenta álbuns em sua carreira até agora); @procyonfilms6, produtora

cinematográfica, que além de dono, é roteirista, diretor e produtor cinematográfico e, o

@ifallart7, onde ele demonstra suas habilidades artística enquanto designer e músico, é

o seu álbum solo, sua sonoridade e expressão artística própria. Estes perfis têm como

língua base o inglês, o que já demonstra um contato com o mercado estrangeiro.

“Sabedoria do cosmos” ou “saber dos ciclos dos céus” é o significado de Arandu

Arakuaa, nome retirado do livro “A Terra dos Mil Povos – História Indígena do Brasil

Contada por um Índio” de Kaká Werá Jecupé, que remete à cosmovisão indígena.

Zândhio Aquino além de tocar guitarra, viola caipira, teclado, maracás e, fazer backing

vocal e alguns vocais nas canções, é o principal porta-voz e idealizador da banda. Ele,

desde cedo se percebeu entre as culturas indígenas e não-indígenas, pois passou a

infância na zona rural da região central do Estado do Tocantins, nas proximidades da

comunidade Salto Kripre (Terra Indígena Xerente) e, também da Terra Indígena Krahô.

Na adolescência teve “colegas de aula” indígenas, e os laços foram se estreitando, até

hoje ele freqüenta a Terra Indígena Xerente, o que aumentou a vontade de fazer algum

projeto artístico que se relacionasse com estas comunidades e culturas. Então, após

terminar a faculdade (Pedagogia) mudou-se para Brasília, e mais estabilizado, pode se

dedicar à música.8

A partir de 2008 ele começa a ter uma estrutura mais definida de como seria a sua

trajetória, sua sonoridade, mas foi complicado de encontrar parceiros para tocar Heavy

Metal com letras em tupi. E através de classificados de músicos na internet, em Outubro

de 2010, o guitarrista entra em contato com Nájila Cristina (vocal, maracás) que

prontamente aceitou o convite, e em janeiro de 2011, com Adriano Ferreira (bateria e

percussão) que passou a integrar a banda, e menos de um mês depois, o baterista

5 https://www.facebook.com/broadbandprod 6 https://www.facebook.com/procyonfilms 7 https://www.facebook.com/ifallart 8 https://fansaranduarakuaa.wordpress.com/category/zandhio-aquino/

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convidou o Saulo Lucena (contrabaixo/vocais de apoio/maracá) para a banda, já que

ambos tocavam juntos desde os tempos de moleques.9

Com esta estrutura, o som tomou corpo, e desde então, esta banda de Taguatinga

no Distrito Federal, lançou o EP-demo10 (homônimo) no Leste Europeu em 2012 (ver

ANEXO-1) pelo selo Depressive Illusions Records em tiragem limitada11. Segundo

Marcos Garcia do site Metal Samsara12, ao fazer uma crítica sobre este álbum, comenta

que a banda faz "Metal agressivo e intenso com ritmos indígenas brasileiros", as

temáticas são voltadas para histórias vividas e contadas pelos povos originários, assim

como, a língua utilizada para compor as letras, são em tupi antigo, a língua original do

Brasil. Esta obra foi produzida por Guilherme Peixoto no RS Estúdio, e contou com

reforço nos vocais femininos nas faixas em ‘Tupinambá’ e ‘e Moxy pe~e Supé

Anhangá’, da cantora Isa.

Em setembro de 2013, lançam o álbum de estréia, o primeiro full length - álbum

completo, contendo 13 faixas, nestas, as 4 do álbum anterior “repaginadas” -, intitulado

Kó Yby Oré, também de forma independente, mas agora produzido por Caio Duarte (ou

Caio Cortonesi) vocalista da banda Dynahead, dono e produtor musical do estúdio

Broadband Studio, pelo mesmo selo que o EP, a MS Metal Records. E em 2015, outro

full length, com a mesma parceria de Caio Duarte (gravação, produção e mixagem), o

álbum Wdê Nnãkrda esbanja criatividade, não somente sonora, pois a banda mistura

mais estilos que apenas o Heavy Metal Extremo, neste percebemos outras vertentes do

Rock, mas também, diferentes línguas originárias, ao todo são cinco canções em Akwẽ

Xerente13, três em Tupi14, duas em Xavante15 uma em Português16.

9 Segundo entrevista cedida para o site Heavy World em 28 de maio de 2015, os integrantes tem seus

trabalhos comuns: Adriano trabalha na área da saúde, o Saulo em Hipermercado, Nájila com Call Center

e o Zândhio com trabalhos em situações in loco vinculados a órgãos do governo.. Disponível

em:<http://heavyworld.com.br/noticias/arandu-arakuaa-confira-entrevista-exclusiva-com-a-banda/>.

Acesso em: 26 de jul. de 2016. 10 Formato de álbum com poucas faixas, este, por exemplo, tinha o registro de 4 canções: 01. Tupinambá,

02. Auê!, 03. Kunhâmuku’~i e 04. Moxy pe~e Supé Anhangá. 11 Sepulchral Voice Fanzine. Disponível em:<http://www.sepulchralvoicefanzine.com/2013/02/arandu-

arakuaa-primeira-demo-da-banda-e.html>. Acesso em: 26 de jul. de 2016. 12 http://metalsamsara.blogspot.com/2012/09/arandu-arakuaa-arandu-arakuaa-cd-demo.html 13 Watô Akwẽ (sou Indígena), Hêwaka Waktû (Nuvem Negra), Dasihâzumze (Brincadeira), Padi

(Tamanduá), Wawã (Anoitecer ) que é uma “música instrumental”. 14 Nhandugûasu (Aranha Grande), Nhanderú (Criador) e Sumarã (Inimigo). 15 Ĩwapru (Meu Sangue) e Ĩpredu (Ancião).

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Paralelo a esta trajetória de lançamentos, a banda participou e participa de eventos

variados, o que auxilia em sua divulgação para diferentes públicos. A mesma foi trilha

sonora do desfile da marca ErreNove na 7ª edição do Paraná Business Collection17 na

Federação das Indústrias do Estado do Paraná, se apresentaram em formato acústico no

Fórum Mundial de Direitos Humanos (ano de 2013)18, e foram convocados para grandes

festivais como Agosto de Rock (TO), Femme Festival (GO), Ferrock (DF), Porão do

Rock (DF) e THORHAMMERFEST (SP), por exemplo, destaco também, que em 14 de

Outubro de 2014, a Rádio Yande (a primeira rádio indígena online do Brasil) faz uma

matéria sobre a Arandu Arakuaa demonstrando que aprovam o trabalho da banda, e que

esta chama atenção para as causas indígenas. Hoje a rádio é considerada um dos

principais canais de comunicação entre as diferentes comunidades indígenas do Brasil e

América Latina, assim como, uma fonte para não-indígenas conhecerem sobre a luta

destes povos para com seus direitos, e suas culturas, pois são indígenas falando por eles

mesmos.19 Outro destaque é o convite para participarem da trilha sonora do

documentário sobre a trajetória do Cacique Nailton Muniz Pataxó, indígena de

descendência Tupinambá, a obra contempla e sua luta pela reconquista da Terra

Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu e como, a partir disto, tornou-se um

personagem de grande importância no movimento indígena do Brasil. A canção Watô

Akwẽ, que significa “Sou Indígena” no idioma Akwẽ Xerente, e está no último álbum da

16 Povo Vermelho. 17Arandu Arakuaa: música em trilha sonora de desfile de moda. Disponível

em:<http://whiplash.net/materias/news_833/166754-aranduarakuaa.html#ixzz4FXhnbXoi >. Acesso em:

26 de jul de 2016. Evento dia 9 de novembro de 2012. O Paraná Business Collection – o maior evento de

moda do sul do país – ganhou mais uma edição em 2012, e agora está em sintonia com as tendências de

cada estação. Com o tema “A moda de corpo inteiro”, o PBC coloca no centro das atenções os acessórios,

que contribuem na essência do visual e trazem refinamento estético. Nessa 7ª edição, além das onze

marcas que lançam coleções Inverno 2013 na passarela, o evento traz um showroom de negócios que vai

movimentar o mercado fashion com empresas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na

programação de eventos paralelos, o PBC traz palestras, oficinas e lançamentos de livros que

democratizam a cultura fashion com a participação de especialistas em estilo, criação, varejo, marketing,

que passam sua experiência a profissionais, ou estudantes, interessados nestas áreas. 18 Fórum Mundial de Direitos Humanos. Disponível

em:<http://www.ebc.com.br/cidadania/2013/12/forum-mundial-de-direitos-humanos-ja-tem-mais-de-dez-

mil-inscritos>. Acesso em: 26 de jul. de 2016. 19 Banda de Brasília faz metal em tupi para chamar atenção à causa indígena. Disponível

em:<http://radioyande.com/default.php?pagina=index.php&site_id=975&pagina_id=21862&tipo=post&p

ost_id=61>. Acesso em: 26 de jul. de 2016.

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banda (Wdê Nnãkrda – de 2015)20. Tanto a matéria, como a trilha sonora, ambos as

manifestações indicam que existe uma proximidade entre banda e Movimento Indígena.

E por isso, retornamos aos vídeo-clipes, pois a Arandu Arakuaa utiliza da

linguagem, da estética, dos povos indígenas, assim como, de elementos da música

tradicional brasileira (baião, catira, frevo, moda de viola…), também chamada de

regional e/ou muitas vezes folclóricas, para conseguir fazer suas canções, o que reflete

em sua performance, seja no palco, seja nos vídeos.

Ao todo, hoje no mês de Julho de 2016, são quatro clipes, os dois primeiros são

Gûyrá e Aruanãs, faixas do álbum Kó Yby Oré de 2013, e os dois últimos, são Hêwaka

Waktû e Ĩpredu do álbum Wdê Nnãkrda de 2015. Álbuns gravados, produzidos, e

mixados por Caio Cortonesi, assim como, todos os vídeos foram produzidos e dirigidos

pelo mesmo. Devido a estas características, e percebendo que as obras estabelecem

relações umas com as outras, fazendo parte de um conjunto, analiso com o auxílio das

metodologias de Sophie Cassagne (com o processo de analise de fontes), Martine Joly

(com suas definições de imagem), assim como, a de Paul Zumthor (para a compreensão

de performance) e Luiz Tatit (para a análise de melodia e letra, a canção). Para tal,

parto do canal (perfil da banda) no Youtube, que podemos considerar um acervo online

da banda, o mesmo funciona desde 09 de Outubro de 2011, e contém 3.611 inscritos

(seguidores/espectadores), e teve 238.963 visualizações no total. Os dados que trago

abaixo, foram todos revistos no dia 26 de Julho de 2016.

O clipe Gûyrá21 foi publicado em 8 de Julho de 2013, e hoje tem 63.729

visualizações, e dentre estas pessoas, 1.922 deixaram sua opinião dizendo que gostaram

("deram likes") e outras 29, deixaram sua opinião dizendo que não gostaram ("deram

dislikes"). A canção é a faixa número 12, é a penúltima do álbum, cuja letra aborda

sobre o sentimento de liberdade, materializada na figura de um pássaro (“gûyrá”), a

banda demonstra intimidade com cantos indígenas, que é a base melódica para esta

canção. Este vídeo tem grande importância por apresentar a banda em performance, e

20 Arandu Arakuaa: em trilha sonora de documentário indígena. Disponível

em:<http://whiplash.net/materias/news_795/236516-aranduarakuaa.html>. Acesso em: 26 de jul. de 2016. 21 Vídeo-clipe Gûyrá. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=OXvTZ_tqcYc. Acesso em: 20

de Jul. de 2016.

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tem como destaque o cenário escolhido para o vídeo foi o Recanto Morro da Capelinha,

localizado no Distrito Federal.22

O segundo, Aruanãs23, foi publicado em 4 de Junho de 2014, apresenta atualmente

números muito parecidos com o anterior, 60.820 visualizações, 1.769 likes e 38 dislikes.

O mesmo foi gravado na Chácara São Sebastião e Fazenda Capão Redondo em Águas

Lindas no Estado de Goiás. A canção é a segunda faixa das 13 (treze), e foi composta

entre 2002 e 2003 por Zândhio Aquino, e segundo o mesmo, em entrevista para o

website (consagrado do Heavy Metal) Whiplash24 onde comenta as faixas do álbum, diz

que a letra, cujo título significa “Espírito das Águas” aborda o mito de origem dos

(índios) Karajá que moravam no fundo do rio. Um jovem indígena, ao se interessar por

conhecer terra firme, encontrou uma passagem e, ficou fascinado pelas praias e riquezas

do Rio Araguaia. Depois disso, muitos Karajá subiram também. Anualmente na festa de

Aruanãs acredita-se que os espíritos de seus ancestrais aquáticos sobem até a superfície

para celebrar.25 Os Karajá se autodenominam Iny, que em sua língua de tronco Macro-

Jê (como os Javaé e Xambioá) significa “nós”. Os mesmos vivem na região do Rio

Araguaia com aproximadamente 4 (quatro) mil pessoas que englobam os Estados de

Tocantins, Mato Grosso e Goiás.

O álbum Kó Yby Ore (de 2013), todo em tupi antigo, tem como autor do conceito

gráfico (encarte e capa) Leandro Lestat, que contou com material fotográfico cedido por

Zândhio Aquino (guitarrista). As cores predominantes são vermelho, laranja, marrom,

azul e verde, ao fundo temos o olhar de um indígena (com os olhos compostos por uma

faixa em pintura vermelha), e logo a frente, no lado direito do álbum temos uma sombra

de outro indígena, aparenta ser mais velho, em silhueta vemos um cocar, colares de

miçangas e sementes, assim como pulseiras do mesmo material. Este faz o gesto como

22 Faixa-a-faixa com Arandu Arakuaa. Disponível em:< http://whiplash.net/materias/biografias/186452-

aranduarakuaa.html>. Acesso em: 19 de jul. de 2016. 23 Vídeo-clipe Aruanãs. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=L11HRPYon7o>. Acesso

em: 20 de Jul.de 2016. 24 Faixa-a-faixa com Arandu Arakuaa. Disponível em:< http://whiplash.net/materias/biografias/186452-

aranduarakuaa.html>. Acesso em: 19 de jul. de 2016. 25 Whiplash. Disponível em<whiplash.net>Acesso em 27 de janeiro de 2016.

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se estivesse apresentando o álbum para alguém, o corpo levemente inclinado e a mão

estendida, indico ver o Anexo 1. 26

O terceiro vídeo-clipe, Hêwaka Waktû27, publicado no dia 25 de Junho de 2015,

hoje apresenta 52.343 visualizações, 1.885 pessoas que declararam gostar, e apenas 30

não gostaram. A canção, cujo título significa “Nuvem Negra” (em Xerente) é a terceira

faixa do álbum, e foi escrita por Zãndhio e tem como cenários de vídeo o Santuário dos

Pajés localizado na Aldeia Bananal no Distrito Federal, cujas gravações foram efetuadas

no dia 19 de Abril de 2015 (data comemorativa ao Dia do Índio) em um ritual de

homenagem a um ano da morte de seu líder, Pajé Santxiê Tapuya no Recanto do Jacaré

também no Distrito Federal no dia 21 de Junho de 2015. Esta canção foi composta

(também) por Zândhio, ao visitar amigos na comunidade Salto Kripre (Tocantins), e

para ter um elemento diferente na melodia, utilizam a flauta Enawenê-nawê, cujo uso é

restrito para rituais do grupo Enawenê-nawê, como também de alguns povos do

Xingu.28

O último clipe, Ĩpredu29, mesmo publicado a pouco tempo, no dia 22 de Março de

2016, já demonstra certa popularidade com 10.903 visualizações, onde 739 pessoas

afirmam gostar, e 9 pessoas afirmam não gostar da obra. A nona faixa do álbum tem

“Ancião” como significado de seu título (em Xavante), e as gravações do vídeo foram

em Brasília, no Memorial dos Povos Indígenas (com participação de Ailton Krenak e

Álvaro Tukano, entre outraas lideranças), durante a cerimônia de encerramento da

Vigília Guarani Kaiowá e, no Córrego do Urubu.

Estes dois últimos são do álbum Wdê Nnãkrda (de 2015), cujo projeto gráfico

(encarte e capa) são de Natalie e Bianca Duarte. As irmãs também são as idealizadoras e

26 Arandu Arakuaa: disponibilizada arte da capa do debut álbum. Disponível

em:http://whiplash.net/materias/news_827/180482-aranduarakuaa.html#ixzz4FouiPocf. Acesso em: 26 de

jul. de 2016. 27 Vídeo-clipe Hêwaka Waktû . Disponível em< https://www.youtube.com/watch?v=aT6eLthDwUE>.

Acesso em: 20 de Jul. de 2016. 28 Arandu Arakuaa: exaltando a cultura indígena em novo vídeo clip Disponível

em:http://whiplash.net/materias/news_799/230753-aranduarakuaa.html#ixzz4FotjsBMd. Acesso em: 22

de jul. de 2016. 29 Vídeo-clipe Ĩpredu. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=ouOcLdgp-70>. Acesso em:

20 de Jul. de 2016.

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ilustradoras do projeto Brasil Fantástico30, que é sobre mitologia brasileira, e envolve

folclore brasileiro e cultura indígena. Em entrevista dada para o blog Pindorama

História, elas afirmam para fazerem suas ilustrações, utilizam da técnica “pintura

digital”, e que o projeto com as lendas brasileiras era para a conclusão do curso de Artes

na Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas ele acabou transbordando os limites

imaginados, hoje contendo mais de 200 lendas catalogadas (maioria indígenas), e em

breve, sairá um livro (ilustrações e lendas), entre outros produtos com parcerias

externas.

Álbum mais maduro, que demonstra uma maior imersão na cultura indígena como

um todo. A capa tem como destaque a figura de uma mulher, ela está centralizada,

iluminada e emoldurada pelo logotipo da banda e título do álbum. Ela aparece de corpo

inteiro, e tem o tamanho das árvores ao redor, seu corpo se parece muito com os corpos

reais de mulheres magras, os traços trazem curvas, fugindo dos traços de "mulheres

fantásticas", mulheres robotizadas e/ou heroínas da Marvel. É uma mulher possível.

Através das características físicas, como pintura e vestimentas, podemos dizer que é

uma indígena, e que não é norte-americana, pelo estilo de saiote ela provavelmente é

parte dos povos originários latino-americanos. Ela aparece de corpo inteiro, tem as

bochechas pintadas de vermelho, e seu tronco pintado com listras que se assemelham

com as ranhuras dos troncos de árvores, seios a mostra, cabelos longos, lisos e escuros,

com corte em diferentes camadas (incluindo franja), o saiote aparentemente feito com

vegetação, tipo uma palha, folhas secas/desidratadas. Seu corpo e rosto virados para a

frente, fazendo menção de caminhar. No fundo temos uma paisagem mais iluminada,

que indica que a mulher está entrando na mata, ao mesmo tempo em que cria uma

luminosidade por de trás desta. Ela caminha para dentro, do mais luminoso para o ponto

mais escuro, de uma vegetação mais aberta (acessível) para uma vegetação mais

fechada, o ato de embrenhar-se. A única figura que tem movimento é ela, e ao seu redor

surgem penas caindo potencializando este sentido de movimento. No lugar dos seus pés,

temos raízes, que se conectam com a terra e, plantas ao redor. Veja o Anexo 1.

Ao pesquisar pinturas de povos indígenas do Brasil, encontrei a imagem abaixo:

30 Interesse, entrar nos endereços: http://brasilfantastico.tumblr.com e

https://pindoramahistoria.wordpress.com/2015/02/13/brasil-fantastico-entrevista-com-bianca-duarte/

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Indígena do povo Kanela,31

Para mim, isso demonstra uma tentativa muito grande de trazer uma semelhança

com a realidade, temos o saiote, as pinturas como ranhuras e as bochechas pintadas de

vermelho. Conforme notícias encontradas o povo Kanela reside no estado do Amapá,

sua língua provavelmente é do tronco Xerente, já que o álbum tem seu título nesta

língua. O cenário tem sua aparência próxima a de jogos para vídeo-games e/ou

computadores, composto por uma floresta em tons de verde, os tons mais claros atrás, e

os tons mais escuros na frente. Dá a impressão de que estamos dentro da floresta.

Olhamos de dentro para fora.

O logotipo da banda está localizado no topo na imagem, bem centralizado, como

se estivesse no céu, junto a copa das árvores. Muitos poderiam associar com o mundo

das idéias, dos ideais. E a opção de não colocarem o título em maior destaque do que o

logo é instigante. Nos outros álbuns a cor para o logotipo era verde, em um degrade do

mais claro para o mais escuro. Aqui, ele vai de tons de verde para tons de vermelho. A

palavra Arandu está em verde, e a palavra Arakuaa está em vermelho, assim como as

penas que compõem a logo, a parte superior é verde, e a inferior é vermelha.

A cor vermelha é referente aos indígenas, inclusive a última faixa deste CD se

chama “Povos Vermelhos”. Com este terceiro álbum, a banda está se consolidando no

heavy metal, o terceiro disco é para sobreviventes, aqui apontam seu posicionamento,

31 Indígena do povo Kanela. Acesso em:<

http://br.radiovaticana.va/news/2016/04/15/vergonha_os_%C3%ADndios_est%C3%A3o_sendo_extermi

nados/1222912> 14 de jul. de 2016.

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sua transformação através da imersão e proposta. Estão se tornando indígenas em sua

alma. O título do álbum, Wdê Nnãkrda, está na parte inferior da capa, bem centralizado,

localiza-se no chão da imagem de fundo, junto às raízes. Seu significado é "tronco de

árvore", "enraizamento", origem, raiz, base no idioma Akwẽ Xerente32. O mesmo está

totalmente na cor vermelha. Mais uma menção ao enraizamento da banda com as

questões indígenas, é este sentido de pertencer também a uma cosmovisão indígena que

guia este trabalho. Como diz o ditado “Existem pessoas que tem sangue indígena nas

mãos, umas em suas veias, enquanto outras em sua alma”. A base do trabalho é esta

conexão entre banda-indígenas-natureza-cosmovisão.

As linguagem, e imagens, utilizada nas capas também são elementos do que

vimos tabém em seus vídeo-clipes. Vale lembrar que a banda (afirma quando

entrevistados pelo Blog “Povos indígenas do Brasil”) utiliza do diálogo com indígenas,

vídeos publicados na internet pelos mesmos, livros e, de dados tidos como oficiais sobre

as etnias indígenas como o Instituto Sócio Ambiental33 por terem dados mais acessíveis

para escreverem suas letras. Como sabemos, os estudos sobre indígenas é muito

escasso, sem contar que os poucos que existem, muitas vezes são preconceituosos.

Outro fator, é que em 2016 começamos a ver indígenas nas universidades, tudo reflexo

das políticas públicas voltadas para a educação indígena a partir de 1995, para que os

mesmos tenham suas vozes ouvidas.

As duas primeiras canções, Guyrá e Aruanãs, são na língua Tupi Antigo, esta foi a

mais popular até o século XVII no Brasil, tendo suas variações, inclusive a nheengatu,

língua desenvolvida pelos bandeirantes e demais exploradores do país, que para

conseguirem auxílio dos nativos (indígenas) tiveram que aprender algumas palavras de

suas diferentes línguas, e depois, sofreu diversas alterações com a exploração da mão de

obra de africanos escravizados trazidos para o Brasil, trazendo sua cultura. Desta forma,

o português tardou a ser nossa língua oficial, principalmente pois, muito tempo depois

abrigamos diferentes europeus fugidos das guerras, e é uma língua muito distinta da

32 Arqueologia Egípcia. Acesso em:< http://arqueologiaegipcia.com.br/aegipcia/tag/bianca-duarte-e-

natalie-duarte/>. 10 de jul. de 2016.

Zândhio: O próprio conceito do álbum. Wdê Nnãkrda (tronco de árvore no idioma Akwẽ Xerente), em

um sentido amplo seria origem, raiz, base, ancestralidade, conexão com a mãe terra. 33 Site do Instituto Socio Ambiental. Disponível em:<http://www.isa.com.br> Acesso em 27 de janeiro de

2016.

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falada em Portugual. Conforme a imersa, e o acesso alcançado pela banda através de

suas obras, temos uma diversidade maior de línguas cantadas.

Oralidade é o ato, prática, de verbalizar, de se comunicar utilizando expressões

corporais e sonoras (do corpo) para transmitir relatos de geração em geração

perpetuando memórias coletivas de um povo, comunidade, nação. É importante

estabelecer a diferença com a História Oral, que é uma metodologia de análise de

evidências orais, as obtidas através de entrevistas com pessoas vivas, pois muitos

pesquisadores acabam confundindo34.

Zumthor identifica diferentes formas das sociedades se relacionarem com a sua

oralidade. A Primária e Imediata seriam as comunidades sem a necessidade de escrita.

A oralidade é a sua estrutura de comunicação. Já as sociedades de Oralidade Mista,

utilizam a escrita como um suporte possível para armazenar a oralidade, e para auxiliar

em sua difusão. E a Oralidade Segunda, estabelece uma relação como uma simbiose

entre fala e escrita, já que a escrita pode trazer muitos elementos do falado para o papel,

e vice-versa.35 Somos muito mais orais do que imaginamos

A canção – junção entre letra e melodia – possibilita uma experiência maior, uma

relação mais profunda. E Schaffer, ao abordar paisagens sonoras percebemos a presença

da música em nosso cotidiano. Nossas primeiras experiências são através da audição e

com isso, partimos para as próximas, fala-voz-oralidade. Com a possibilidade de nos

filmar, e com as plataformas que armazenam e divulgam audiovisuais, tivemos um

crescimento de expressões de grupos, que até então eram traduzidos apenas por grupos

sociais de maior importância econômica-política, compartilhadas.36

O ato de contar algo em verso é muito antigo, e para as sociedades em que a

escrita está em segundo plano, a utiliza como metodologia para que a memorização da

História seja mais fácil, como artifícios poéticos, do mesmo modo em que a rima auxilia

também no ritmo.

34 GALVÃO, Ana Maria O.; BATISTA, Antônio A. G. Oralidade e escrita: uma revisão. In: Cadernos de

Pesquisa, v. 36, n. 128, maio/ago. 2006 35 GALVÃO, Ana Maria O.; BATISTA, Antônio A. G. Oralidade e escrita: uma revisão. In: Cadernos de

Pesquisa, v. 36, n. 128, maio/ago. 2006 36 SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. São Paulo: UNESP, 2011.

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Araújo, conta que cada sociedade define o conceito e a importância para a

oralidade, tradição e música conforme o espaço em sua cultura. Como vimos, nosso ato

de falar envolve elementos que em nossa sociedade definimos como musicais, porém

para sociedades sem escrita, ou com pouca importância da mesma, farão uso de suas

verbalizações com melodia, ritmo, rima e letra para transmitir histórias sobre passado,

mantendo assim, as memórias coletivas, muitos rituais, e consequentemente a

tradição.37

Não podemos pensar as tradições como algo fixo, as comunidades orais se

modificam, e estas podem alterar suas narrativas, seja através de sua forma, estrutura,

e/ou conteúdo. Por exemplo, os povos guaranis introduziram a viola em seus rituais, em

sua musicalidade.

Os historiadores/as por muito tempo quiseram negar, ignorar, as histórias dos

povos originários, colocaram estas a categoria de mito, de lendas. Hoje com a

aproximação com outras áreas, historiadores/as perceberam que a tradição oral é o

registro que temos de um Brasil muito anterior ao ano de 1500.

O pensar em música é um pensar em rede, em coletivos. É conectar com os outros

e consigo, com o meio onde vive. É transpor o tempo linear, é pensar em espiral, é

oralidade na prática.

Um elemento muito importante são os “cantos indígenas”, melodia de cantos

muito similares aos ouvidos em comunidades indígenas, apresenta uma proximidade

com a ancestralidade, com os “mais velhos”, com a tradição de transmitir oralmente os

valores de uma comunidade. A questão da ancestralidade é um tema muito trabalhado

por todas as bandas do Levante, as Pernambucanas se remetem muito ao caipira, a

Recife de outrora, que acabou urbanizada e descaracterizada pelo bem da urbanização e

distanciamento com a natureza.

A Floresta é o cenário principal destes vídeos, nos remete a conexão (ou o

reconectar) com a terra. Algo muito levantado pelas lideranças indígenas pela

proximidade com ONGs ou instituições relacionadas à ambientalistas, onde se

37 ARAÚJO, Samuel. Em busca da inocência perdida? Oralidade, tradição e música no novo milênio. In:

Músicas africanas e indígenas no Brasil.TUGNY, Rosângela Pereira de; QUEIROZ, Ruben Caixeta de.

Beolo Horizonte: UFMG, 2006.

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desenvolveu o discurso de que as terras indígenas são os locais onde a mata é

preservada, que o indígena é o humano responsável por protege-la, de que fazem parte

da terra, se reconhecem como mais um elemento da Mãe Terra (Pachamama), sendo

este discurso um catalisador da principal pauta do Movimento Indígena, a demarcação e

legalização das terras das muitas comunidades.

A vegetação do cerrado conta que a banda não é do meio urbano, Não se

identificam como tal, eles são parte do sertão brasileiro, do interior, do rural, eles estão

a margem, assim como, sua sonoridade Heavy Metal é Extrema e underground, com

elementos do trash, death, doom e black. O primeiro é conhecido como um dos estilos

mais antigos, fruto da mistura entre punk californiano (que depois gerou o hardcore) e

metal, este estilo fez a ruptura do Heavy Metal virtuoso com muitos solos de guitarra

intermináveis, traz consigo uma sonoridade mais urbana, crua e direta, a banda

Motorhead é a mais popular e antiga do estilo. O Death Metal é o trash mais agressivo,

mais rápido, mais pesado, aos poucos foi se distanciado de sua matriz e se tornou um

estilo próprio. O Doom Metal (também conhecido como Gothic Metal) tem como

principal elemento misturar vocais tidos com masculinos e femininos, é onde

encontramos as vocalistas mulheres. O estilo faz um diálogo entre a voz lírica (de

ópera) e o gutural, feita na garganta, muito rouca (voz que remete ao extremo, ao

underground, ao “Diabo”), o diálogo entre a Bela e a Fera, que na Arandu ambas as

vozes são feitas por Nájila (vocalista). O Black é o mais extremo, seja nas distorções de

vozes e instrumentos, seja nas temáticas, mas são muito populares por suas pinturas

corporais.38

Os elementos da natureza apresentados como portais, a água, ela limpa, conecta e

renova. Os elementos da natureza funcionam em conjunto, por exemplo, Tupã (criado

pelo criador (Nhanderu) também conhecido pelos seus poderes como trovão,

tempestades, chuva, nuvens e afins), teria como morada o Sol, o mesmo se apaixonou

por Jaci (ou Araci), cuja morada é a Lua, responsável pela comunicação entre os

humanos, eles se conheceram através das estrelas, demoraram anos para se encontrarem,

38 CAMPOY, Leonardo Carbonieri. Trevas sobre luz: o underground do Heavy Metal Extremo no Brasil.

SP: Alameda Casa Editorial, 2010.

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e no dia pós seu casamento, vieram para a terra para construírem os rios e os mares. E

grande parte da cultura dos povos originários do Brasil traz em suas histórias e

cerimoniais o Ciclo de Tupã (Tradição do Sonho, do Sol e da Lua), que é a base da

ciência dos Guaranis, cujo nome é “Arandu Arakuaa”, que significa “A Sabedoria dos

Movimentos do Céu”, que aborda as leis dos ciclos da Terra, do Céu e dos seres

humanos. 39

As histórias que muitas vezes chamamos de mitos também são apropriadas e

ressignificadas no cotidiano das bandas, isso acaba aparecendo em suas práticas e

reflete em seus acessórios e adornos corporais.

Em seus clipes, a Arandu utiliza muito de fibras naturais, principalmente nas cores

verde (referente a mata) e vermelha (referente ao “povo vermelho”, que seriam os

indígenas). Cada integrante tem um traço dentro das identidades existentes no Metal,

como Nájila (vocalista) utiliza animal print (estampas eu imitam peles de animais)

como cobras e onças, muito utilizados entre as mulheres headbangers, mas que também

referenciam os animais da mata, além de colares e pulseiras de sementes ou miçangas,

mechas verdes no cabelo – cabelos coloridos são muito populares dentro do rock- o que

aqui também pode indicar que aos poucos ela faz parte da natureza, brincos de penas e

pinturas no rosto. Zândhio (guitarrista) utiliza um visual mais clássico com os cabelos

compridos e lisos, corpo desnudo na parte superior, coturnos e calça de couro,

munhequeira de couro, tudo acrescido e potencializado com pintura nos braços e tronco,

colares de semente e miçangas, e saiote feito de fibras vegetais por cima da calça. Saulo

(baixista) é de um visual mais básico, frequentemente utilizado pelos fãs, ou

headbangers, no cotidiano, a camiseta preta (as mais populares tem a capa de álbuns de

bandas de Heavy Metal estampadas) e calça jeans lavagem escuras nos tons de azul e

preto. Já, Adriano (baterista) tem um visual bem urbano e esportivo, fazendo referência

ao gore, grind e splatter, cujas vestimentas integram a bermuda, cabelos moicanos ou

muito curto, e aos esportes radicais, muito relacionados aos estilos de vidas extremos,

não-normativos, como o próprio skate. As pinturas corporais também são utilizadas no

39 Sabedoria dos movimentos do Céu. Disponível

em:<https://pindoramahistoria.wordpress.com/2014/12/23/arandu-arakuaa-a-

sabedoria-dos-movimentos-do-ceu/>. Acesso em: 21 de jul. de 2016.

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Heavy Metal, principalmente no Black Metal, são conhecidas como corpse paint,

pinturas que imitam cadáveres, porém, a banda utiliza pinturas muito similares as dos

povos Akwe-Xerente.

Inclusive a banda fechou uma parceria com a Grife Thiago Paes na primeira turnê

da banda em 2013, após sua música ser utilizada na 7ª edição do Paraná Business

Collection. O empresário e estilista Thiago Paes, proprietário da marca, mora em

Curitiba a mais de sete anos, embora seja alagoano, seu estilo segue o militarismo

através das modelagens das peças, dos cortes retos, cujas cores predominantes sejam o

preto, o verde militar, o cru e, o marrom, formatando figurinos mais sóbrios. 40

Quanto aos instrumentos, para além das guitarras distorcidas, teclado, baixo e

bateria, utiliza-se uma diversidade de tambores, e chocalhos, como maracás, e outros

formados por uma seqüência de sementes amarradas nos tornozelo e antebraços, pau-de-

chuva, e flautas de diferentes comunidades indígenas como a já mencionada Enawenê-

nawê. O mais popular entre as bandas do movimento é a viola caipira, mesmo que

algumas não a tenha efetivamente enquanto um instrumento, utilizam muitos riffs

conhecidos de modas de viola, já outras preferem utiliza-la como um diferencial, mais

uma referência as identidades regionais que permeiam o “sertão brasileiro”, que

atravessa nosso país (extenso) de norte a sul, pois vemos a mesma brilhar nas melodias

de caipiras, caboclos, caiçaras, boiadeiros e tropeiros, do mesmo jeito que foi

“absorvida” (apropriada e resignificada) entre muitos povos indígenas latinos.

Conectando regionalismos, indígenas, ancestralidade, história do Brasil em prol

de chamar a atenção de questões das populações por muitos anos invisibilizadas por

serem consideradas subalternas, em prol de políticas de mudanças como lei 11.645/08 e

lei 9.639/03 ambas educacionais, e ações afirmativas para que essas populações tenham

seus direitos civis garantidos e possam ter suas próprias vozes ouvidas.

40 Arandu Arakuaa: confirmada parceria com a Grife Thiago Paes Disponível

em:http://whiplash.net/materias/news_824/186958-aranduarakuaa.html#ixzz4FovFvHVG. Acesso em: 01

de jun. de 2016.

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BIBLIOGRAFIA

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Fernão (org.). Teoria contemporânea de cinema. São Paulo: Senac, 2005.

CAMPOY, Leonardo Carbonieri. Trevas sobre luz: o underground do Heavy Metal Extremo no Brasil.

SP: Alameda Casa Editorial, 2010.

CASSAGNE, Sophie. Le commentaire de document iconographiue e histoire. Paris, 1996.

DOSSE, François. História do tempo presente e historiografia. Tempo e Argumento

:RevistadoPrograma de Pós­Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florian

ópolis ,v.4, n.1, 2012 Disponível em

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HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo

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JAUSS, Hans. Estética da recepção: colocações gerais. In: COSTA LIMA, Luiz. A leitura e o leitor:

textos de estética da recepção. São Paulo: PAZ E TERRA, 2002.

JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas, SP: Papirus, 1996.

LERA, J.M. Caparrós. Análisis crítico Del cine argumental. História, Antropologia y Fuentes Orales. Voz

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PINSKY, Carla Bassanezi; BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Fontes históricas. 2. ed. São Paulo:

Contexto, 2006;

PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tânia Regina de. O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto,

2009.

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ANEXOS

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Anexo – 1

01. Tupinambá

02. Auê!

03. Kunhâmuku’~i

04. Moxy pe~e Supé Anhangá

01. T-atá îasy-pe

02. Aruanãs

03. Kunhãmuku’i

04. A-kaî T-atá

05. O-îeruré

06. Tykyra

07. Tupinambá

08. îakaré ‘y-pe

09. Auê!

10. A-î-Kuab R-asy

11. Kaapora

12. Gûyrá

13. Moxy Pee Supé Anhangá

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01 Watô Akwẽ

02 Nhandugûasu

03 Hêwaka Waktû

04 Dasihâzumze

05 Padi

06 Wawã

07 Ĩwapru

08 Nhanderú

09 Ĩpredu

10 Sumarã

11 Povo Vermelho

Anexo – 2

GÛYRÁ (composição: Zândhio Aquino) - do álbum 'Kó Yby Oré' (2013)

Kûeî îasy

Kûeî îasy îub

Kûeî îasy

Îasy o-mosykyîé

Kûeî îasytatá

Kûeî îasytatá îub

Kûeî îasytatá

Berab ybaka-pe

O-nhan gûyrá

O-bebé gûyrá

O-byr ybyra-pe

O-nhan gûyrá

O-bebé gûyrá

O-bebé ybaka-pe

Xe r-oryb, nh~ur r-upi a-guatá

Aquela lua

Aquela lua amarela

Aquela lua

A lua foge

Aquelas estrelas

Aquelas estrelas amarelas

Aquelas estrelas

Brilham no céu

Corra pássaro

Voa pássaro

Erga-se na árvore

Corra pássaro

Voa pássaro

Voa no céu

Eu sou feliz, ando pelos campos

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A-î-potar ma'~e ybaka resé

Xe guainumbi, xe taperá un

Îandé îa-bebé eté

Xe arara oby, xe güiranheenguentá

Îandé îa-nhe'engar eté

O-'ar pytuna-ne

O-'ar pytuna-ne

Ybaka r-asapa

Ybaka s-oby

Nde r-eîá

T'a-só-ne! T'a-só-ne!

Ybytyra supé

T'a-só-ne! T'a-só-ne!

O-nhan gûyrá

O-bebé gûyrá

O-byr ybyra-pe

O-nhan gûyrá hooo

O-bebé gûyrá

O-bebé ybaka-pe

O-nhan gûyrá

Quero que olhes para o céu

Sou o beija flor, sou a andorinha preta

Nós voamos muito

Sou a arara azul, sou o pássaro cantador

Nós cantamos muito

Cairá a noite

Cairá a noite

Atravessando o céu

O céu está azul

Deixando-te

Ei de ir! Ei de ir!

Para as montanhas

Ei de ir! Ei de ir!

Corra pássaro

Voa pássaro

Erga-se na árvore

Corra pássaro

Voa pássaro

Voa no céu

Corra pássaro

ARUANÃS (composição: Zândhio Aquino) - do álbum 'Kó Yby Oré' (2013)

Abá o-ikó 'y pupé

Taba suí 'y pupé

Kunumim o-monhang r-apé

Kunumim o-monhang r-apé

Yby oby supé

Os índios moravam dentro do rio

Na aldeia dentro rio

O menino fez o caminho

O menino fez o caminho

Para a terra verde

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Arara kûara-pe

Kunumim o-monhang r-apé

Kunumim o-monhang r-apé

Yby oby supé

Arara kûara-pe

E-îori abá, e-îori abá , e-îori abá, poraseî ,

poraseî , poraseî aruanãs

E-îori abá, e-îori abá , e-îori abá, e-îrori o-

moeté aruanãs

E-îori abá, e-îori abá , e-îori abá, poraseî ,

poraseî , poraseî aruanãs

E-îori abá, e-îori abá , e-îori abá, e-îrori o-

moeté aruanãs

Abá o-ikó yby oby-pe

O-ikó o-esãî ka'a oby-pe

O-mo-eté aruanãs

O-mo-eté aruanãs

ka'a oby pupé

Arara kûara pupé

O-mo-eté aruanãs

O-mo-eté aruanãs

ka'a oby pupé

Arara kûara pupé

E-îrori e-îrori aruanãs

E-îrori e-îrori aruanãs

E-îrori e-îrori aruanãs

T-atá piririca îá

Para o buraco das araras

O menino fez o caminho

O menino fez o caminho

Para a terra verde

Para o buraco das araras

Venham homens, (...), dancem, (...),

dancem para aruanãs.

Venham homens, (...), venham louvem

aruanãs.

Venham homens, (...), dancem, (...),

dancem para aruanãs.

Venham homens, (...), venham louvem

aruanãs.

Os índios vivem na terra verde

Vivem alegres na mata verde

Louvem os aruanãs

Louvem os aruanãs

Dentro da mata verde

Dentro do buraco das araras

Louvem os aruanãs

Louvem os aruanãs

Dentro da mata verde

Dentro do buraco das araras

Venham, venham aruanãs

Venham, venham aruanãs

Venham, venham aruanãs!

Como faíscas de fogo

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E-îrori e-îrori aruanãs

E-îrori e-îrori aruanãs

E-îrori e-îrori aruanãs

T-atá piririca îá

Venham, venham aruanãs!

Venham, venham aruanãs!

Venham, venham aruanãs

Como faíscas de fogo

Hêwaka Waktû (composição: Zândhio Aquino) - do álbum Wdê Nnãkrda (2015)

Aiwi hêwaka, aiwi tã

Kâ hêmba, aiwi tã

Kãwa kbawê krêwi!

Rowahku, aiwi tã!

Hêwaka waktû wat kmãdâk

Wa-nõr~i to akw~e

Hêwaka waktû wat kmãdâk

Rowahku tet waipã

Hêwaka waktû wat kmãdâk

Arê wanõkrê kwaba

Watô akwẽ!

Kãwa kbawê krêwi

Rowahku, aiwi tã

Aiwi hêwaka, aiwi tã

Wa-nõr~i to akw~e

Aiwi hêwaka, aiwi tã

Arê wanõkrê kwaba

Aiwi hêwaka, aiwi tã

Rowahku, aiwi tã

Rowahku!

Vem nuvem, vem chuva

Espirito da água, vem chuva

Aproximem-se!

Vento, vem chuva!

Vi a nuvem negra

Nós somos indígenas

Vi a nuvem negra

O vento está soprando

Vi a nuvem negra

Vamos cantar

Eu sou indígena!

Aproximem-se

Vento, vem chuva

Vem nuvem, vem chuva

Nós somos indígenas

Vem nuvem, vem chuva

Vamos cantar

Vem nuvem, vem chuva

Vento, vem chuva

Vento!

Eu sou indígena!

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Watô akwẽ!

Ĩpredu (composição: Zândhio Aquino) - do álbum Wdê Nnãkrda (2015)

Robdzenawa ‘udu, wahã, bödöwa ‘ mãdö

Robdzenawa ‘udu,

wawaparowa’u’uwamreme

Wadza’remõö’a’a’u,

wamãdöbötödzatsidzé

Ĩtsimãiwena ~ihöimana, wahãti’ai’rá

Wa ~inhõ’re (Dzö, dzö, dzö )

Ĩpredu, e momõtedzaaimõ, e

momõtedzaaimõ

Ĩpredu, Itsiminha’re

Róbdzawi’wa, róptede’wa!

Impredu, en~ihaatsitsi, emãatsiwaihu’u

Ĩpredu, mõr~i ré, watitsã

Róbdzawi’wa, róptede’wa!

Ĩpredu, õhã mãdorö

Wanor~ihã, mawa’ dza’reni, te ti nhõ’re

Õ hã mãdorö, õ nor~i te ti ‘ru’ru,

õhãmãpetse ~ihödzé

Wanor~ihã, mawa’ dza’reni, te ti nhõ’re

Õ hã mãdorö, õ nor~i te ti ‘ru’ru,

~ihöibawarõrópö ~ihöimana

Wa ~inhõ’re (Dzö, dzö, dzö )

Acordei feliz, eu vejo o sol

Acordei feliz, ouço o barulho do vento

Vou para a cachoeira, vejo o por do sol

Sou livre, sou filho da terra

Eu canto! (maracá, maracá, maracá)

Ancião, onde está indo?

Ancião, sábio

Ele ama a natureza, ele protege a

natureza!

Ancião, como é seu nome? Diga-me.

Ancião, quando ele estava caminhando eu

o vi

Ele ama a natureza, ele protege a

natureza!

Ancião, ele está morto

Nós somos feridos, ele canta

Ele está morto, eles choram

Ele curou o doente

Nós somos feridos, ele canta

Ele está morto, eles choram, minha alma é

livre

Eu canto! (maracá, maracá, maracá)

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Ĩpredu, e momõtedzaaimõ, e

momõtedzaaimõ

Ĩpredu, en~ihaatsitsi, emãatsiwaihu’u

Ĩpredu, õhã mãdorö

Ancião, onde está indo?

Ancião, como é seu nome? Diga-me

Ancião, ele está morto