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PRÁTICAS LETRADAS ESCOLARES: O TRABALHO COM O GÊNERO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO NO ENSINO MÉDIO Zélia Silva Meira Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima ([email protected]) Glenda Hilnara Meira Feliciano Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima ([email protected]) Resumo: A prática de leitura e escrita é um dos principais problemas verificados nos alunos, nos diferentes níveis de escolarização, uma vez que corresponde a uma ação que perpassa todas as disciplinas e garante o acesso e a compressão dos diversos conteúdos. Tal constatação torna-se ainda mais preocupante quando pensamos que atividades como essa serão fundamentais para o sucesso dos alunos e o, consequente, ingresso destes no ensino superior. Diante disso, o presente estudo foi desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima, na disciplina de Língua Portuguesa, em parceria com outras disciplinas, visando propiciar o (re)conhecimento e a produção do gênero dissertativo-argumentativo, desenvolvendo a leitura, o posicionamento crítico, a argumentação e inserindo os estudantes em práticas letradas diferenciadas, formais e avaliativas, como o ENEM. Para tanto, sob temáticas sugeridas e debatidas, oportunizamos uma prática sistemática e processual de escrita do gênero, a fim de tornar os sujeitos produtores autônomos e reflexivos da linguagem, de modo a atender as exigências de critérios avaliados por sistemas externos, como o ENEM. Os resultados demonstraram evolução gradual dos discentes nas etapas de discussão em sala, produção e reescrita, compreendendo o caráter processual da escrita e a relação direta estabelecida com a leitura. Além disso, contribuiu para a formação crítica dos sujeitos, a melhoria do rendimento escolar e a diminuição da evasão. Palavras-chave: Práticas letradas, Gênero dissertativo-argumentativo, Escrita processual. INTRODUÇÃO

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PRÁTICAS LETRADAS ESCOLARES: O TRABALHO COM O

GÊNERO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO NO ENSINO MÉDIO

Zélia Silva Meira

Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima

([email protected])

Glenda Hilnara Meira Feliciano

Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima

([email protected])

Resumo: A prática de leitura e escrita é um dos principais problemas verificados nos alunos, nos

diferentes níveis de escolarização, uma vez que corresponde a uma ação que perpassa todas as

disciplinas e garante o acesso e a compressão dos diversos conteúdos. Tal constatação torna-se ainda

mais preocupante quando pensamos que atividades como essa serão fundamentais para o sucesso dos

alunos e o, consequente, ingresso destes no ensino superior. Diante disso, o presente estudo foi

desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima, na disciplina de Língua

Portuguesa, em parceria com outras disciplinas, visando propiciar o (re)conhecimento e a produção do

gênero dissertativo-argumentativo, desenvolvendo a leitura, o posicionamento crítico, a argumentação

e inserindo os estudantes em práticas letradas diferenciadas, formais e avaliativas, como o ENEM. Para

tanto, sob temáticas sugeridas e debatidas, oportunizamos uma prática sistemática e processual de escrita

do gênero, a fim de tornar os sujeitos produtores autônomos e reflexivos da linguagem, de modo a

atender as exigências de critérios avaliados por sistemas externos, como o ENEM. Os resultados

demonstraram evolução gradual dos discentes nas etapas de discussão em sala, produção e reescrita,

compreendendo o caráter processual da escrita e a relação direta estabelecida com a leitura. Além disso,

contribuiu para a formação crítica dos sujeitos, a melhoria do rendimento escolar e a diminuição da

evasão.

Palavras-chave: Práticas letradas, Gênero dissertativo-argumentativo, Escrita processual.

INTRODUÇÃO

A prática de leitura e escrita é um dos principais problemas que afetam nosso alunado,

tendo em vista que corresponde a uma ação que perpassa todas as disciplinas e garante o acesso

e a compressão dos diversos conteúdos, além de que é um desafio para formação de jovens, no

que diz respeito, não apenas aos aspectos gramaticais, mas à capacidade de interpretação a partir

da leitura, de significação dos recursos linguísticos e o consequente processo de escrita. A falta

de estímulo, o desinteresse e ausências de metodologias diferenciadas impedem que os alunos

percebam que dominam a linguagem, uma vez que ela está relacionada a todos os campos da

vida do indivíduo, pois é através dela que ele estabelece as comunicações, mas que apenas

precisa ser adaptada às diferentes situações.

Essa noção se reflete, pois, em outras disciplinas, como história, biologia e matemática,

já que todas elas se valem de atividades de leitura e escrita para significação dos conteúdos e

resolução de problemas. Além disso, saber posicionar-se, ter conhecimento de diferentes

assuntos e formular argumentos através de ideias coerentes são dificuldades recorrentes e

decorrentes dessa falta de leitura e prática escrita, que irão interferir na vida dos sujeitos, pois

formam a base de determinados gêneros textuais, como os cobrados em exames avaliativos,

como o ENEM.

O Exame Nacional do Ensino Médio é hoje uma das principais formas de ingresso em

instituições de ensino superior, objetivo da maioria dos jovens que cursam o ensino médio. Tal

avaliação exige dos candidatos competências e habilidades específicas que condigam com os

conhecimentos adquiridos ao longo de seu processo educacional. Trabalhando de maneira

interdisciplinar, o ENEM conta com, além das questões objetivas voltadas para as três áreas do

conhecimento (Linguagens, códigos e suas Tecnologias; Ciências Naturais e suas Tecnologias;

Ciências Humanas e suas Tecnologias; e Matemática), a produção de uma redação,

correspondente a cinquenta por cento da nota alcançada pelos candidatos.

Sabendo, portanto, que a escola é o espaço interativo de formação de leitores e

produtores proficientes da escrita e, com a finalidade de proporcionar o contato com gêneros

formais, como os exigidos em etapas avaliativas (e com os quais, muitas vezes, os alunos nunca

tiveram acesso) e o conhecimento amplo e aprofundado de temáticas atuais, o presente projeto

busca direcionar um trabalho com a escrita enquanto processo, permeada pela influência de

fatores externos, não subjugada à superficialidade e vinculada às circunstâncias reais de

produção.

Para tanto, inserir os jovens num contexto de letramento diferenciado é máxima

necessária para garantir êxito nas práticas comunicativas diversas produzidas cotidianamente,

como os vestibulares que dão acesso às universidades e cursos técnicos.

O presente estudo, portanto, desenvolveu-se com o interesse de propiciar o

(re)conhecimento e a produção do gênero dissertativo-argumentativo, desenvolvendo a leitura,

o posicionamento crítico, a argumentação e inserindo os estudantes em práticas letradas

diferenciadas, formais e avaliativas, como o ENEM.

Para tanto, buscamos proporcionar o contato com uma gama de gêneros textuais formais

e a produção sistemática e acompanhada do gênero, oportunizando ainda, debates e discussões

na formação de sujeitos críticos e solucionadores de problemas, fundamentados em argumentos

consistentes e capazes de dialogar sobre temáticas variadas. Desse modo, centramos a

aprendizagem no aluno, enquanto ativo no processo de construção de conhecimento, através de

uma metodologia dinâmica e de contato direto com o aluno e sua escrita.

Diante disso, fundamentamo-nos teoricamente nos conceitos de escrita enquanto

processo (SERCUNDES, 1998), na perspectiva das práticas letradas (BRAZÃO, 2008;

FELICIANO, 2014), dos gêneros textuais/discursivos e das competências e habilidades

exigidas no ENEM (FERREIRA, 2010).

METODOLOGIA

O trabalho aqui apresentado configura-se como um relato de experiência e foi

desenvolvido na Escola Estadual de Ensino Médio Nenzinha Cunha Lima (Campina Grande –

Paraíba). As ações foram realizadas junto a todas as turmas do ensino médio integrado da

escola. Assim, a proposta era inserir o primeiro ano, por estar em fase de transição e

necessitando ambientar-se com o gênero tão cobrado, e as últimas séries da educação básica,

segundos e terceiros, para apropriação das características e estrutura do texto em análise.

A metodologia utilizada corresponderá a ações sistemáticas e acompanhadas da prática

de produção escrita do texto dissertativo-argumentativo. Serão realizadas atividades de

discussão de texto, debate e estudo de temáticas sociais, visando a formação de sujeitos críticos

que mantenham um discurso fundamentado em argumentos consistentes.

As versões iniciais das produções escritas serão analisadas e avaliadas, de modo a

subsidiar trabalho com a escrita enquanto processo, uma vez que haverá uma sequencia de

reescritas, tendo em vista uma versão final escrita aprimorada. A partir, então, das dificuldades

apresentadas na escrita, desenvolveremos um estudo linguístico, significando os conteúdos de

língua portuguesa expostos.

ANÁLISE DOS DADOS

Tendo em vista os objetivos apontados no projeto e a real necessidade de envolver os

sujeitos em práticas letradas formais, o projeto iniciou-se com o planejamento das atividades

anuais da disciplina de Língua Portuguesa em parceria, ainda, com toda a área de Linguagens,

Códigos e suas Tecnologias. Dessa forma, elencamos possíveis temáticas a serem trabalhadas

mensalmente, em função de datas comemorativas, eventos nacionais, e necessidades e

responsabilidades sociais, buscando, assim, ampliar o conhecimento dos alunos sobre diversos

aspectos e trabalhar de maneira interdisciplinar. Além de proporcionar ao aluno uma ação

integrada, essa atividade daria suporte, diante do acréscimo de informações, às produções

escritas.

Assim sendo, estabelecemos os seguintes temas e suas respectivas abordagens:

TEMÁTICA ESCOLHIDA

POSSÍVEIS ABORDAGENS

50 anos do Golpe Militar

Liberdade de expressão;

Direitos humanos;

Segurança;

Protestos;

Mulher

O papel feminino na história;

A banalização da mulher;

Mercado de trabalho;

Violência doméstica;

Copa do Mundo no Brasil

Gastos X Investimento;

Turismo brasileiro;

Violência nos estádios;

Motivação para os jogos;

Cultura Nordestina

Preconceito;

Valorização;

Transformações;

Influência nordestina no

desenvolvimento do país. Quadro 1: Temáticas escolhidas para serem trabalhadas durante o 1º Semestre

Elencadas as temáticas, planejamos como a atividade seria desenvolvida, de forma que

envolvesse todo o alunado. Dessa forma, produzimos alguns materiais, como um banner e a

mala (que denominou o projeto de “Bagagem Cultural”), que ficaram expostos junto às

propostas na biblioteca da escola, a fim de instigar a curiosidade e o interesse dos alunos.

Figura 1: Banner e mala produzidos para o projeto

De posse desses materiais, a abertura do projeto foi feita para toda a escola, mostrando

a finalidade do projeto, a importância do trabalho com as temáticas atuais, como ele seria

desenvolvido e a indicação do local em que os alunos teriam acesso às propostas. Os alunos

foram agrupados no pátio da escola e, com auxilio dos materiais, a proposta do projeto foi

lançada, visando despertar nos alunos o interesse e a prática efetiva do texto escrito.

Na oportunidade foi lançada a primeira temática do projeto: “Liberdade de expressão: o

que mudou desde a censura de 64?”. O tema escolhido para introduzir o projeto, corresponde a

uma ação interdisciplinar com o projeto de outra professora da escola, “Semana da Leitura –

homenagem a Chico Buarque”, em que, relembrando os 50 anos do golpe militar, procura-se

estabelecer um diálogo sobre os acontecimentos da época e construir pontes com a atualidade.

Dessa forma, através de um trabalho interdisciplinar, a proposta foi trabalhada nas

diversas salas e disciplinas – Filosofia, Sociologia, História e Geografia –, dando suporte para

a produção dos textos, a formulação de argumentos e de uma proposta de solução. Percebemos,

pois, um interesse real dos alunos, que questionavam e procuravam novas propostas na

bagagem, sendo oportuno o desenvolvimento do projeto.

Além do tema geral “Ditadura”, a escolha, na sequência, também aconteceu de forma a

estabelecer relação com outras disciplinas. Como se desenvolvia na escola o projeto “Mulheres

na ciência” de uma professora de física, bem como a data de dia das mães comemoradas nesse

mês, o projeto estabeleceu discussões interessantes a respeito das abordagens temáticas

selecionadas, enriquecidas pela relação entre as disciplinas de língua portuguesa e física.

As propostas, conforme apresentadas aos alunos, eram disponibilizadas na biblioteca,

espaço de silêncio, propício para reflexões e de fácil acesso.

Figura 2: Aluna adquirindo propostas com a funcionária da biblioteca

Toda semana, uma nova proposta de redação era acrescentada às anteriores, de modo a

formar uma coletânea de sugestões, oportunizando, ainda, aos sujeitos retornar às temáticas e

textos anteriores. Além de propiciar a visita à biblioteca e, ocasionalmente, a pesquisa

bibliográfica para a escrita do texto, o projeto proporcionou também a prática sistemática, uma

vez que uma nova proposta de redação era lançada a cada semana.

Dessa maneira, após a entrega dos textos escritos, e entendendo a escrita enquanto

processo, os textos eram avaliados e retornavam à biblioteca para que os alunos tivessem acesso

aos pontos analisados e orientações em formato de bilhete para a atividade de reescrita.

As produções textuais iniciais, apesar de apresentarem substância de conteúdo, não

correspondiam ao gênero solicitado, aspecto já esperado. A apresentação do gênero de forma

teórica foi, portanto, feita a partir dos conhecimentos prévios dos alunos, não sendo interessante

propor modelos estáticos de produção do gênero, mas partir de suas próprias produções para a

construção coletiva do gênero dissertativo-argumentativo.

Dessa forma, construimos a ideia do gênero em estudo, destacando os elementos do

contexto de produção: funcionalidade, interlocutores, estrutura composicional prototípica,

conteúdo temático e recursos linguísticos característicos. Para tanto, fizemos a leitura de

exemplos do gênero e o comparamos com outros, a fim de assegurar a compressão dos alunos.

Concomitante a esse trabalho em sala de aula, a bagagem ia sendo alimentada por novas

propostas, de forma que os alunos podiam realizar na prática os conhecimentos que estavam

sendo construídos nas aulas.

Na sequência, sob a temática “Copa do mundo no Brasil”, a proposta tornou-se mais

próxima e facilitada pela relação dos alunos com o esporte e o discurso recorrente da mídia.

Assim, em sala de aula, realizamos a leitura coletiva da proposta e a realização de um debate

acerca das opiniões sobre a questão-tema, que se ampliou para discussões sobre a copa do

mundo no Brasil. Em círculos, os alunos apontaram argumentos que defendiam determinada

opinião, o que iria contribuir para construção da tesa na produção escrita.

Na sequência, os alunos produziam os textos em sala, com auxílio da professora,

observando as características do gênero dissertativo-argumentativo já estudadas e utilizando no

seu texto escrito os argumentos produzidos oralmente durante as discussões e debates. Além

disso, os alunos faziam pesquisas e trazer novas informações para o seu texto, enriquecendo-o.

Esse trabalho de orientação próximo ao aluno contribuiu bastante para o desenvolvimento de

uma escrita mais consistente, dando suporte à atividade e fazendo com que os alunos se

sentissem auxiliados na, tão temida, ação de escrever.

A cada nova semana, os alunos depositavam o texto escrito na bagagem e aguardavam

o seu retorno com as observações e encaminhamento para adequação do gênero e cumprimento

dos objetivos. A funcionária da biblioteca, então, selecionava as produções e as correções e

esperava a ida dos alunos em busca de seu texto corrigido.

Essas ações aconteceram sistematicamente durante todos os meses, de forma a subsidiar

um trabalho com a escrita processual.

Durante as correções, busquei selecionar trechos ilustrativos, para exemplificar os

principais e recorrentes problemas com relação aos aspectos micro e macroestruturais nos

textos, e levava para a sala, a fim de promover a estratégia de reescrita coletiva. Essa ação era

bastante proveitosa, pois oportunizava o reconhecimento das limitações daquele texto que

serviriam para a atividade escrita de qualquer um dos envolvidos.

Copiado no quadro, era feita a leitura, discutida coletivamente a qualidade do texto e a

sua possível nota, relacionando-a aos critérios de correção exigidos no ENEM. Em seguida, os

alunos apontavam os erros, que eram apagados e substituídos, transformando-se então em um

novo texto, a partir do já posto, com a contribuição de toda a turma.

Figura 3: Atividade de reescrita coletiva no quadro com os alunos

As ações de reescrita coletiva orientaram os alunos para a forma de analisar as

observações e de como transformá-la em mudança no texto, de fato. Nessa perspectiva,

auxiliou, ainda, nas reescritas individuais, buscando avanço dos problemas verificados na

avaliação.

Dessa forma, também foi possível identificar os problemas e desvios linguísticos

relacionando-os aos conteúdos propostos para o componente curricular Língua Portuguesa do

ensino médio. Aspectos ortográficos e de encadeamento das ideias foram os principais

problemas apontados e trabalhados em função das produções, aspecto que aproximou e

significou o conhecimento em construção.

Uniu-se, pois, à totalidade de discussões e ações promovidas no projeto, os aulões para

o Simulado. A situação específica, com aulas mais longas, objetivas, e o espaço do auditório,

com um número maior de alunos, onde se realizou, já transformou o universo da aula e buscou

orientar os alunos tanto para questões da língua exigidas nas questões de múltipla escolha e na

redação, quanto a uma postura amadurecida diante daquele contexto.

Para tanto, no que diz respeito à produção, compreendendo sua importância na nota final

do exame para os alunos, focamos nos aspectos relativos aos tipos de argumentos e nos

conectores possíveis, expondo a ideia que é construída com a utilização de determinado termo;

além da necessidade de problematizar e apresentar uma proposta de solução que respeite os

direitos humanos.

Os aulões subsidiaram, portanto, uma prática consciente de realização do Simulado

NCL, que aconteceu seguindo os moldes do ENEM. Trabalhando de forma interdisciplinar,

como propõe o próprio exame avaliativo do ensino médio, o simulado proporcionou aos alunos

envolvidos no projeto, um primeiro contato com uma prática letrada diferenciada das

vivenciadas por eles.

Conforme a metodologia que vinha sendo

desenvolvida, assim como compreendo o

simulado não como um produto acabado, mas espaço de reflexão para mudança de posturas, o

texto da redação recebia uma nota, seguindo os critérios do ENEM – norma culta, cumprimento

Figura 4: Simulado NCL

do gênero e da tipologia, seleção e organização das informações, coesão e proposta de solução

– e, novamente em sala de aula sob nossa orientação, eram reescritos e, muito provavelmente,

tinham essa nota melhorada.

Embora tal metodologia de reescrita não corresponda a do ENEM, como estamos

formando os sujeitos para essa prática, cabe a nós oferecer subsídios, conhecimento temático e

prática dessa redação. Desse modo, observamos, em relação à primeira versão, um avanço

significativo do gênero na segunda versão, que muitas vezes extrapola os aspectos pontuados

pelo professor e atinge a natureza reflexiva do aluno sobre sua própria produção. Tal didática

de ensino se repetiu, em função dos bons resultados alcançados.

Assim, selecionamos como temáticas para o segundo semestre: “Transformação social”,

“Preservação ambiental”, “Eleições” e “Juventude”, para serem trabalhadas e desenvolvidas na

mesma perspectiva dos primeiros meses.

Os melhores resultados do Simulado, correspondendo a etapas de culminância das ações

do projeto, foram apresentados em uma classificação, premiados e tinham suas redações

publicadas no mural da escola, tornando visível e servindo de incentivo para a produção dos

colegas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com a leitura e a escrita é algo complexo, que exige de professores e alunos

planejamento e abertura adequada para que se desenvolva e proporcione reais resultados. Nesse

sentido, buscamos reservar o espaço adequado para que práticas letradas fossem, de fato,

realizadas pelos alunos.

Na totalidade das ações, percebemos contribuições reais, resultado de um processo

escrito sistemático e orientado, de tal maneira que não era nosso interesse que o alunado

escrevesse uma redação por semana, mas oportunizar o contato com uma gama de discussões

temáticas, e estabelecer ações processuais de escrita, de forma que, em uma semana escrevesse

a primeira versão e na outra reescrevesse, com a intenção de melhorá-la seguindo os critérios

do ENEM e as competências e habilidades avaliadas.

Assim, mais do que preocupar-nos com a quantidade de textos produzidos, preocupamo-

nos com a qualidade das produções, visando uma melhora processual e o efetivo crescimento

do rendimento dos estudantes. As atividades aqui descritas, portanto, revelaram significativo

desenvolvimento dos discentes.

Os alunos demonstraram evolução gradual através das etapas de discussão em sala,

produção e reescrita, compreendendo o caráter processual da escrita e a relação direta

estabelecida com a leitura. Além disso, o contato com a prática letrada avaliativa formal do

Simulado representou uma ótima oportunidade de desenvolvimento escolar dos alunos, o

aprimoramento de suas capacidades e o reconhecimento de um trabalho diferenciado no ensino

médio.

Além disso, o projeto contribuiu para ações interdisciplinares na formação crítica dos

sujeitos, envolveu a escola como um todo e permitiu o contato também com os funcionários da

escola, transformando a instituição escolar em um trabalho conjunto com vistas à construção

do conhecimento de nosso alunado. O posicionamento crítico oral também ganha destaque

dentre os resultados alcançados, destacando o aumento no rendimento escolar, inclusive em

outras disciplinas, e a diminuição da evasão.

Assim, diante dos resultados positivos atestados na análise dos dados, observamos a

necessidade de dar sequência a esse trabalho, de forma que todos os alunos cheguem ao terceiro

ano do ensino médio, último nessa etapa de escolarização básica, seguros de sua prática escrita

e, assim, obtenham bons resultados no ENEM e ingressem no ensino superior.

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