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PRÁTICAS FEMININAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: ANALISANDO IMAGENS DO MUNICÍPIO DE UBIRATÃ (DÉCADA DE 1970) Andrea Márcia de Souza, (IC, Fundação Araucária), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] Claudia Priori, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo abordar as práticas e papéis sociais desempenhados por mulheres no município de Ubitarã-Pr, no decorrer da década de 1970, e também analisar como elas são representadas socialmente, pela mídia fotográfica, durante o processo de consolidação do município. Mediante a análise de imagens, especialmente fotografias de mulheres, buscamos perceber como a imagem feminina foi construída, bem como os aspectos culturais, práticas e relações sociais que essas mulheres vivenciaram e que podem ser identificados nas imagens. As fotografias se constituem um recurso relevante para a história, pois carregam traços e testemunhos de um determinado período. É importante considerar também, que as imagens não demonstram o real, mas uma visão particular (a de quem fotografou), uma percepção de mundo que se altera no movimento do foco e depende também da representação que a pessoa fotografada quis deixar registrada. Desse modo, nosso objetivo foi analisar as imagens (fotografias), buscando perceber os espaços de atuação das mulheres, suas práticas sociais, bem como as representações e estereótipos retratados nas fotografias, fonte de nossa pesquisa para o recorte temporal proposto. Palavras-chave: Fotografias. Mulheres. Práticas Sociais. INTRODUÇÃO Compreender o papel das mulheres no contexto de consolidação do município de Ubiratã, na década de 1970, foi o que impulsionou nossa pesquisa, que tem como fonte, as fotografias nas quais elas são retratadas. Nosso objeto de estudo se insere na temática da história das mulheres e dos estudos de gênero, assim nosso trabalho consistiu na análise de imagens que representam práticas femininas, e as mesmas nos propiciaram perceber a participação efetivas das mulheres naquele processo. Constatamos nas fotografias selecionadas, traços que se atrelam a sentimentos e subjetividades, pois as mesmas são carregadas de impressões e representações sobre a forma de vida adotada pelas pessoas fotografadas em Ubiratã-PR, em meados da década de 1970. Assim essas fotografias obedeciam a uma objetividade para o fotógrafo, para o fotografado e ao mesmo tempo carrega vestígios culturais de um tempo. A década de 1970 foi de grande importância para a fotografia, pois a mesma é marcada pelas abordagens de história de vida e da valorização das fotografias como fontes históricas, sendo utilizadas como metodologia para acessar a realidade e também memórias construídas, o que segundo Leite, é conhecido como “realismo fotográfico”, assim, a “a fotografia pode ser uma reprodução de um recorte de alguma coisa existente, mas frequentemente é mais a reprodução do que o retratado em si, é a construção do que o fotógrafo deseja” (LEITE, 2006 p.143-144).

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PRÁTICAS FEMININAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS:

ANALISANDO IMAGENS DO MUNICÍPIO DE UBIRATÃ (DÉCADA DE 1970)

Andrea Márcia de Souza, (IC, Fundação Araucária), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

Claudia Priori, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo abordar as práticas e papéis sociais desempenhados por mulheres no município de Ubitarã-Pr, no decorrer da década de 1970, e também analisar como elas são representadas socialmente, pela mídia fotográfica, durante o processo de consolidação do município. Mediante a análise de imagens, especialmente fotografias de mulheres, buscamos perceber como a imagem feminina foi construída, bem como os aspectos culturais, práticas e relações sociais que essas mulheres vivenciaram e que podem ser identificados nas imagens. As fotografias se constituem um recurso relevante para a história, pois carregam traços e testemunhos de um determinado período. É importante considerar também, que as imagens não demonstram o real, mas uma visão particular (a de quem fotografou), uma percepção de mundo que se altera no movimento do foco e depende também da representação que a pessoa fotografada quis deixar registrada. Desse modo, nosso objetivo foi analisar as imagens (fotografias), buscando perceber os espaços de atuação das mulheres, suas práticas sociais, bem como as representações e estereótipos retratados nas fotografias, fonte de nossa pesquisa para o recorte temporal proposto. Palavras-chave: Fotografias. Mulheres. Práticas Sociais. INTRODUÇÃO

Compreender o papel das mulheres no contexto de consolidação do município de Ubiratã, na

década de 1970, foi o que impulsionou nossa pesquisa, que tem como fonte, as fotografias nas quais

elas são retratadas. Nosso objeto de estudo se insere na temática da história das mulheres e dos

estudos de gênero, assim nosso trabalho consistiu na análise de imagens que representam práticas

femininas, e as mesmas nos propiciaram perceber a participação efetivas das mulheres naquele

processo.

Constatamos nas fotografias selecionadas, traços que se atrelam a sentimentos e

subjetividades, pois as mesmas são carregadas de impressões e representações sobre a forma de vida

adotada pelas pessoas fotografadas em Ubiratã-PR, em meados da década de 1970. Assim essas

fotografias obedeciam a uma objetividade para o fotógrafo, para o fotografado e ao mesmo tempo

carrega vestígios culturais de um tempo.

A década de 1970 foi de grande importância para a fotografia, pois a mesma é marcada pelas abordagens de história de vida e da valorização das fotografias como fontes históricas, sendo utilizadas como metodologia para acessar a realidade e também memórias construídas, o que segundo Leite, é conhecido como “realismo fotográfico”, assim, a “a fotografia pode ser uma reprodução de um recorte de alguma coisa existente, mas frequentemente é mais a reprodução do que o retratado em si, é a construção do que o fotógrafo deseja” (LEITE, 2006 p.143-144).

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Nessa perspectiva diversos autores tais como, Leite (2006), Gralha (2010) e Kossoy (2002),

discorrem a respeito do real construído pelo fotógrafo e suas especificidades quanto à construção da

História. Quanto a isso, a autora a seguir afirma:

Nos interessa aqui chamar a atenção para o fato de que a ação de reproduzir frações do real não é um processo asséptico, passivo, pois o fotógrafo, seja ele amador ou profissional, atua sobre o real impregnado e sabedor dos códigos sociais, políticos, ideológicos, comerciais e estéticos. De outra forma, a “composição” da imagem produzida seria passível de não ser compreendida por sua clientela, ou seja, estaria fora do seu circuito social, de sua clientela (GRALHA, 2010 p.13).

Esta atenção dada às imagens para se contar a atuação das mulheres na história, deve-se ao

silenciamento de memórias femininas nos arquivos oficiais produzidos majoritariamente pela ótica e

interesses masculinos. Desse modo, a fotografia tem sido aliada da história das mulheres, pois ajuda a

escrever a história a contrapelo, trazendo outros olhares, vieses e interpretações. Assim, nosso objetivo

foi compreender e constatar as formas de participação feminina no período de colonização e

consolidação do município, e ainda, quais usos foram feitos de suas imagens, em uma sociedade que

estava vivenciando um processo de formação. Nesta perspectiva, a análise das fotografias de mulheres

tem se revelado muito pertinente para abordar o referido contexto.

No que tange à história das mulheres e aos estudos de gênero na década de 1970, algumas

autoras como Joan Scott (1992), Margareth Rago (2007), Cristina Bruschini (1994), têm sido

referências de grande importância para compreensão da temática, e também para a história das

mulheres e do gênero.

Joan Scott (1992) retrata a história das mulheres e do gênero como decorrente de uma série de

mudanças no decorrer do tempo, o que tem propiciado avanços significativos na perspectiva

historiográfica, especialmente a partir do fim da década de 1970 e 1980 com a adoção do gênero como

uma categoria de análise histórica.

No Brasil, os estudos relacionados à história das mulheres ganharam especial relevância nas

últimas décadas, e isso se justifica pelo fato de que por grande período da história, as mulheres foram

esquecidas do discurso e da produção historiográfica. Para Margareth Rago,

[...] as transformações na historiografia, articuladas à explosão do feminismo, a partir de fins da década de 1960, tiveram papel decisivo no processo em que as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da História, marcando a emergência da História das Mulheres (RAGO, 2007, p.90).

Cristina Bruschini (1994) discorre a respeito da mulher que se insere no mercado de trabalho,

em meados da década de 1970 até o século XXI:

A necessidade econômica, que se intensificou com a deterioração dos salários reais dos trabalhadores e que as obrigou a buscar uma complementação para a renda

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familiar é uma delas. Os dados referentes à década de 70 mostraram, porém, que não só as mulheres pobres entraram no mercado, mas também as mais instruídas e das camadas médias. Outras causas, portanto, também explicavam o novo comportamento feminino. A elevação, nos anos 70, das expectativas de consumo, face à proliferação de novos produtos e à grande promoção que deles se fez, redefiniu o conceito de necessidade econômica, não só para as famílias das camadas médias, mas também para as de renda mais baixa, entre as quais, embora a sobrevivência seja a questão crucial, passa a haver também um anseio de ampliar e diversificar a cesta de consumo. Trabalhar fora de casa para ajudar no orçamento doméstico adquire novas possibilidades de definição, que se expressam de maneiras diferentes em cada camada social, mas que só se viabilizam pela existência de emprego (BRUSCHINI,1994,p.179).

Nesse sentido compreendemos que a década de 1970, foi de grande relevância para a história

das mulheres, simbolizando o início do reconhecimento de seu trabalho, o que anteriormente era

novidade, nesse momento começa a virar rotina. Sair de casa, conquistar espaço no mercado de

trabalho e lutar por seu espaço, mostrando que elas são ativas, eficientes e conscientes da importância

de seu papel.

BREVE HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE UBIRATÃ/PR E DA HISTÓRIA DAS

MULHERES

O nome da cidade de Ubiratã é de origem tupi-guarani significando madeira dura. Antes disso

denominava-se Gleba Rio Verde, a qual foi adquirida em 1954, pela Sociedade Imobiliária Noroeste

do Paraná (SINOP), que executou o trabalho de colonização das terras1.

No dia 19 de fevereiro de 1956, foi lançada a pedra fundamental da "Vila Ubiratã" e assim a

SINOP, começou o trabalho de loteamento de terras de sua propriedade no Vale do Rio Piquiri, região

atual onde se encontra o município de Ubiratã. Em seguida, a colonizadora planejou todo o perímetro

urbano, e a partir daí, se iniciou o processo de vendas dos lotes, tanto rurais, quanto urbanos. O fluxo

migratório para a região aumentava gradativamente, devido à fertilidade do solo e o clima favorável.

De acordo com a Lei Estadual sob o n. º 3344/57, de 20 de setembro de 1957, Ubiratã passou a

ser reconhecido como Distrito Administrativo e Judiciário, no governo de Moisés Lupion, bem como

de demais representantes estaduais que incentivavam o desenvolvimento da região. Em 25 de julho de

1960, Ubiratã finalmente chegava à categoria de município, e no mês seguinte, por meio de votação

realizada no Diretório do Partido Social Democrático (PSD), foi eleito o primeiro prefeito interino do

1Em relação à origem do nome da cidade, bem como demais informações do histórico do município, podem ser consultadas na obra: SPERANÇA, Regina; CARVALHO, Selene Cotrim R.de. Ubiratã: história e memória. 1ª ed. Ubiratã: Edições do Autor, 2008.

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município. Em 04 de novembro de 1961, Ubiratã conquistava a sua emancipação político-

administrativa2.

A expansão da cidade foi ocorrendo de forma intensa a partir da década de 1960. Houve a

criação do Colégio Santo Antônio e a vinda das Irmãs do Santo Nome de Maria, da Alemanha, para

iniciar as atividades na escola. Com isso, as irmãs Johanita, Maria Editha e Maria Cervatina, iniciaram

sua tarefa de educar as crianças, filhos e filhas dos primeiros habitantes. A irmã Maria Johanita

dedicava-se à catequese e a irmã Maria Editha à tarefa de dirigir as tarefas escolares. Porém, as irmãs

não poderiam assumir o cargo de diretora, pois de origem alemã faltava também o atestado de

naturalização brasileiro. Em 1961, já com a naturalização, ampliou-se a pequena escola para 10 salas

de aula, que atendia do pré-primário até a última série do antigo primeiro grau. Ainda em 1961,

ocorreram novas disputas eleitorais, na qual é eleito Alberoni Bittencort.

A década de 1970 marcou Ubiratã por três acontecimentos: a concretização do projeto de

colonização da SINOP, a conquista da BR-369, e a criação da Cooperativa Agropecuária União Ltda

(COAGRU) 3.

Na conjuntura da solidificação do município de Ubiratã na década de 1980, percebemos um

destaque para o projeto pós-Sinop e a confirmação do agronegócio, que causaram o aumento da

mecanização agrícola, e na substituição do cultivo de algodão para o de soja, na década posterior, que

resultou em uma produção mais sólida economicamente. Em consequência das mudanças na estrutura

econômica agrícola, houve o êxodo da área rural para a urbana, já que as máquinas passaram a

substituir o trabalhador; ocorreu também nesse período a emigração para fora do país, pois um grande

número de pessoas saiu da cidade para morarem no Japão.

Fica claro na história de Ubiratã e demais municípios do mesmo porte, a intenção política de

seus governantes de desenvolverem a região, incentivando a agricultura, o agronegócio, a ampliação

das rodovias para o escoamento da produção, e também o estímulo ao processo de urbanização e

crescimento das atividades do comércio. Constata-se que a história deste município se confunde com

as ações e ideais dos primeiros habitantes, homens e mulheres, e também do projeto de expansão da

SINOP.

Contudo, nosso objetivo é averiguar a participação e experiências vividas pelas mulheres

daquela sociedade, seja nas profissões exercidas, na atuação em campanhas eleitorais, nos eventos

sociais, nos desfiles de “misses”, ou então, como acompanhantes de seus maridos, e ainda em outras

formas de inserção social.

2 Idem, Ibidem, 2008.

3 Idem, Ibidem, 2008.

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Ao abordarmos a presença e atuação das mulheres no processo de colonização de Ubiratã, via

análise imagética, partimos da perspectiva dos estudos de gênero, pois entendemos que as práticas

femininas e representações sociais acerca das mulheres são construções culturais e que diferem de um

contexto histórico para outro.

Roger Chartier (1990), ao abordar temas que remetem a compreensão das representações

sociais, demonstra que as ações dos indivíduos são direcionadas segundo os modelos sociais impostos,

levando em consideração que as representações indicam de que modo uma realidade é construída em

seu meio social (CHARTIER, 1990). Nesse mesmo sentido, David (2012), em trabalho intitulado

“Práticas e Representações sobre os Comportamentos Femininos”, afirma:

O conceito de representação, o qual não se desvincula das práticas sociais, está estritamente relacionado às relações de poder e dominação. No caso específico do estudo das mulheres por meio dos processos-crime, as representações sociais observadas nesta fonte indicam como parte da sociedade compreende os comportamentos femininos, segundo as representações dominantes de diferença entre os sexos e a proibição de determinadas atividades voltadas às questões sexuais para as mulheres. Considerando como adequado o trinômio mãe, esposa e dona-de-casa, o masculino impõe sua dominação sobre o feminino, demonstrando nas fontes processuais aquilo que se quer construir sobre as mulheres e sobre o seu papel em sociedade. Nesse crivo, é importante compreender as relações de gênero e suas complexidades, levando em consideração as categorias de gênero, classe, raça/etnia, dentre outras como a de geração (DAVID, 2012, p. 2).

Segundo a historiadora Joan Scott (1992), nas duas últimas décadas do século XX,

principalmente nos Estados Unidos, a história das mulheres alcançou uma maior visibilidade através

de documentos publicados e conferências internacionais.

A autora salienta que, as historiadoras das mulheres almejavam o reconhecimento como

intelectuais, pois estavam em busca do seu lugar no campo da história. Elas procuravam questionar e

desafiavam as regras já constituídas tanto na disciplina como também na produção do conhecimento,

no profissionalismo, na política, na construção da história que por séculos foi caracterizado pela

presença do homem branco e ocidental com sua suposta supremacia. Portanto, inúmeras dificuldades

cercavam a história das mulheres, pois para que elas mesmas relatassem no meio acadêmico

estadunidense suas vivências e atuações no processo histórico foi necessário encontrar “estratégias”

para essa inserção.

Ao defender novos cursos sobre as mulheres, diante um comitê curricular universitário em 1975, argumentei como exemplo que a história das mulheres era uma área recente de pesquisa, assim como os estudos da região ou das relações internacionais. Em parte, esse foi um artifício tático (uma jogada política) que tentava, em um contexto específico, separar os estudos das mulheres daqueles intimamente associados ao movimento feminista. Em parte, resultou da crença de que o acúmulo de bastante informação sobre as mulheres no passado, inevitavelmente atingiria sua integração na história padrão (SCOTT, 1992, p.81).

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Nesse período, a história das mulheres deu um grande passo, e reafirmou a “mulher” como

sujeito ativo, participante e portadora de uma história. Assim, era preciso pensar as diferenças

existentes entre os diversos grupos sociais e indivíduos, de forma a compreender as relações entre eles.

A apropriação do conceito gênero para teorizar a questão da diferença sexual, possibilitou

pensar as relações sociais na perspectiva de gênero e também refletir sobre as diferenças. Desse modo,

o gênero pode ser visto de duas formas: como algo meramente descritivo, como um conceito associado

ao estudo das coisas relativas às mulheres, e pode também ser estudado como uma categoria analítica

ao abordar as relações existentes entre os gêneros. A categoria gênero trouxe uma noção relacional

para os estudos históricos, preocupada em analisar a complexidade das relações de gênero, suas

construções e reproduções sociais que envolvem poder, política, cultura, diferenças socioculturais e

também com as articulações de gênero com outras categorias como raça, classe ou etnia.

O aprofundamento das discussões e a ampliação dos estudos de gênero permitiram analisar, de

modo mais rigoroso, a construção e reprodução da invisibilidade da mulher na escrita da história. Para

isso, a abordagem de gênero como categoria de análise histórica possibilitou a abertura de um leque de

novas possibilidades, inserindo-as como sujeitos históricos e também no discurso historiográfico.

Segundo Margareth Rago (2007), os estudos relacionados à história das mulheres ganharam

especial relevância nas últimas décadas, e isso se justifica pelo fato de que por grande período da

história, as mulheres terem sido esquecidas do discurso e da produção historiográfica. Para a autora,

[...] as transformações na historiografia, articuladas à explosão do feminismo, a partir de fins da década de 1960, tiveram papel decisivo no processo em que as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da História, marcando a emergência da História das Mulheres (RAGO, 2007, p.91).

Atualmente, com as mulheres se destacando em várias esferas da sociedade em âmbito

mundial, aguçou o interesse para os estudos de gênero. Diante disso, nossa pesquisa buscou trazer

contribuições para um campo de estudo que tem se consolidado nas últimas décadas, mas que ainda

possui algumas temáticas carentes de discussão e análise.

AS MULHERES UBIRATANENSES NA DÉCADA DE 1970

Os procedimentos metodológicos adotados nessa investigação compreendem algumas etapas.

Primeiro, realizamos uma coleta de fotografias do município de Ubiratã-Pr, desde o início da década

de 1970 até o ano de 1979. Um arsenal de fontes foi conseguido por meio do arquivo digital da

Biblioteca Municipal Cecília Meireles, fotografias de moradores em seus próprios álbuns pessoais e

jornais da referida década e também fotografias que foram coletadas pela Professora Terezinha Ficher

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que realizou durante o ano de 2012 e 2103 seu trabalho no Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE).

De antemão, constatamos que em sua maioria, as mulheres retratadas aparentavam ser donas-

de-casa, porém, a pesquisa foi nos mostrando que as mesmas exerceriam outros papéis perante a

sociedade que ali estava se consolidando. As fotografias por si, já mostram que suas funções são

diversas, e que não se resume apenas a mulheres solidificadas apenas ao lar, embora o fato de se ver

como ativa nas demais funções ainda era tímida, pois para elas a condição de sua remuneração ser

inferior a dos homens, ainda ocasionava uma omissão como ativa. Assim, constatamos que a mulher

ubiratanense, do referido período, passava por um processo de transformações nos padrões de

comportamento e nos valores relativos ao papel social da mulher.

De acordo com a análise de fotografias realizada no decorrer desta pesquisa constatamos que a

década de 1970 apresentou importantes mudanças tanto em nível nacional, quanto em nível estadual.

Ocorreram diversos eventos ao longo desse percurso, tais como eleições municipais, inauguração de

escolas, de estradas, entre outros. Cada acontecimento traz consigo diversos registros (fotografias) e

no que se refere às fotografias de mulheres, percebemos mais uma vez, uma escassez numérica, mas

que não desabona nossa análise, já que as imagens de mulheres retratadas nos permitiram recompor

traços de sua atuação social no processo de colonização do município de Ubiratã PR, como pode ser

averiguado na análise das imagens seguintes.

Analisando as fontes, constatamos uma participação da mulher ubiratanense na imprensa

local, e assim como no restante do país, a mulher era retratada de forma discreta, mas participante.

Dessa forma, ficou evidente que naquela sociedade, a realidade se assemelhava a nacional, a luta pelo

espaço feminino era constante. A imprensa local, salvo algumas exceções, visava a promoção da

mulher no âmbito social, as mesmas eram sujeitos da história, daquele município que consolidava sua

emancipação política.

A imprensa feminina brasileira assistiu ao nascimento das reivindicações da mulher, criou veículos próprios, mas nunca chegou ao grau da movimentação francesa, que propiciou até o aparecimento de um jornal diário feito por mulheres: La Fronde (BUITONI, 2009, p. 193).

Durante o levantamento de fotografias nos deparamos com uma pequena quantidade de

exemplares do Jornal “Vale do Piquiri”, referentes aos anos de 1978 e 1979, pois os demais impressos

da década de 1970 foram molhados em um incidente e foram descartados. Nos exemplares que

restaram, observamos que as mulheres estavam sempre presentes, tanto nas matérias, quanto nas

fotografias do período, sendo citadas e retratadas como participantes dos fatos ocorridos. Percebemos

também que na década de 1970, elas apareciam com maior força e participação na vida social e

política, não somente nos álbuns de famílias, mas também passaram a ocupar o mercado de trabalho,

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com novas profissões, como o caso das enfermeiras aplicando vacinas, costureiras em cursos de

aperfeiçoamento, e também aniversariantes recebendo carinhosos recados de parabéns.

Dos poucos exemplares de jornais encontrados no período, como já citado, podemos destacar

algumas colunas em que as mulheres apareciam:

Foto 1: Coluna de Aniversariantes

Fonte: Arquivo da biblioteca Municipal Cecília Meireles

Essas imagens fazem parte da coluna de aniversariantes, referentes ao domingo, trinta de

dezembro de 1979. A primeira fotografia faz referência ao aniversário de 16 anos de Luzia de Fatima

Domene, de família bem conhecida na cidade. Segundo relatos de moradores, a família Domene fora

proprietária de muitas terras e exerciam uma boa posição social. Pelo anúncio podemos subentender

que Luzia era uma jovem muito conhecida e bastante popular entre os amigos. Uma jovem que nos

remete a ideia de que a juventude ubiratanense, da década de 1970, assim como no restante do país,

faziam parte de grupos sociais onde, os jovens alegres se reuniam para festas e bailes comemorativos,

onde as mulheres e sua beleza estavam sempre presentes.

A segunda fotografia (à direita) também fora da mesma data da anterior, e está parabenizando

Lais Calcinone, interessante que não apresenta que idade Lais completava, mas usa o adjetivo

“garotinha”. Fica evidente que ambas as fotos trazem imagens de belas mulheres sendo

homenageadas, e além disso, eram mulheres oriundas de famílias que ocupavam uma posição social de

destaque no município. E ainda, reforça a impressão de que as mulheres, moças e meninas eram

participantes das festividades e também bem vistas por aquela sociedade.

Quanto ao enquadramento das duas fotografias, foram registradas de close, preto e branco e

em estilo porta retrato, que evidencia os traços das belas jovens.

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Foto 2: Entrega e Inauguração da Escola Pé de Galinha

Fonte: Arquivo da biblioteca Municipal Cecília Meireles

A fotografia é parte do Jornal Vale do Piquiri, do dia quatro de novembro de 1979, a mesma

está retratando o ato de inauguração da escola rural Pé de Galinha, sendo a escola na comunidade que

leva o mesmo nome.

A imagem traz um grande número de autoridades municipais, pais, professoras e alunos.

Todos posando para uma fotografia que serviria de registro daquele momento. Segundo relatos de

pessoas que viveram na comunidade e estudaram na escola,como visavam apenas atender a

necessidade da comunidade apenas uma turma multiseriada era suficiente para todas as crianças.

Meninos e meninas estão sem uniforme, e não conseguimos identificar a professora, pois há

um grande número de mulheres na fotografia, mas isso nos faz perceber que elas não se apresentavam

apenas ao lado dos seus esposos, para posar para fotografias, mas se agrupam entre si. Seria o

momento de perceber certa independência, quanto ao domínio dos maridos?

Foto 3: Entrega de certificados de alfabetização: final de curso do MOBRAL

Fonte: Arquivo da biblioteca Municipal Cecilia Meireles

A imagem é datada de quatro de novembro de 1979, e nos reporta à entrega dos certificados de

alfabetização para as mulheres que participaram das aulas naquele ano. As mulheres estão com

expressão de felicidade, exibindo seus certificados com orgulho, pois talvez significassem muito para

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elas, já que a partir da alfabetização, elas poderiam exercer outras funções, ingressar no mercado de

trabalho formal, não mais serem apenas donas de casa e trabalhar no campo.

Segundo relatos de algumas senhoras alfabetizadas pelo Mobral da época, ser alfabetizada era

ter novos horizontes, ver o mundo com outros olhos, ser independentes e não mais pedir para que

lessem para elas. Algumas falavam que poderiam ler a bíblia, as embalagens de produtos e

principalmente ajudar e incentivar seus filhos no processo de alfabetização.

Quanto ao enquadramento da imagem, trata se de um ângulo aberto e a iluminação é

abundante, para que possamos perceber todas as pessoas presentes na fotografia.

Foto 4: Primeiro curso de aperfeiçoamento de professoras da zona rural

Fonte: Arquivo da biblioteca Municipal Cecília Meireles

A imagem é datada de 04/11/1979, e está noticiando o primeiro curso de aperfeiçoamento para

professoras da zona rural, grande maioria de professores do município, já que segundo registros mais

de 60% da população residia no campo.

A importância desse curso de aperfeiçoamento está fortemente ligado a duas realidades, a

primeira relacionada à necessidade de novas práticas de ensino, levando em consideração que em

praticamente um mês estariam na década de 1980, e na mesma ocorreriam diversas mudanças no

sistema de ensino brasileiro. A segunda nos remete ao papel da mulher, perante a sociedade

ubiratanense, a importância de um curso de capacitação para mulheres, ou seja, que elas estavam

presentes no mercado de trabalho, já não era uma novidade, mas agora estavam investindo na sua

capacitação como professoras. Um espaço demarcado para elas, com trabalho e reconhecimento,

mesmo que tão ínfimos até então.

Na fotografia é perceptível que havia muitas professoras, pois as vestimentas revelam que se

trata de vários grupos sociais, todas com extrema atenção no que estava ocorrendo. A imagem em si

registrava o momento do curso e nenhuma das mulheres olhava para o fotógrafo. Era um registro

oficial do evento.

Além das fotografias de jornais, também analisamos algumas fotografias de acervos pessoais,

com as quais pudemos ter um contato direto com algumas pessoas retratadas ou com familiares das

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mesmas. Isso enriqueceu nossa pesquisa, já que pudemos ver além daquilo que a fotografia fala por si

só, o que propiciou uma soma na análise, ao ter acesso aos relatos dos proprietários das mesmas.

Foto 5: Registros de Fotografias Escolares

Fonte: Acervo Digital de Elizabeti Saran

A foto acima (5) é datada de 1970 e nos apresenta alunos e professora da Escola Santo

Antonio. As crianças estão uniformizadas e alinhadas, segundo relatos da proprietária da fotografia,

refere-se a fotografia anual de turma. E quanto à presença da professora, segue o padrão de uma

mulher que está presente no mercado de trabalho, exercendo principalmente a função do magistério. A

professora aparece no alto, à direita, e é a primeira fotografia em que aparece uma professora da escola

Santo Antonio sem as vestimentas de freira, pois na década anterior a escola tinha apenas irmãs

católicas.

Constatamos também nesta imagem, a mulher numa postura mais imponente perante aos

alunos, está numa posição superior na foto, olhando fixamente para o fotógrafo, com um leve sorriso.

Enquanto os alunos desviam o olhar para os lados, e suas expressões mostram timidez, pois tirar

fotografias não era uma situação comum na época. Outra característica é que as meninas aparentam

estar mais felizes e descontraídas, sorrindo naturalmente, já os meninos, em sua maioria, aparecem

mais sérios e com postura que mostra certa tensão, salvo dois ou três que também sorriem. Quanto ao

enquadramento dessa fotografia tem um plano amplo, em que não há apenas um foco de evidência,

mas sim um foco geral.

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Foto 6: Fotografia anual do Colégio Santo Antonio

Fonte: Acervo Digital da Biblioteca Municipal Cecília Meireles

A fotografia acima foi tirada no ano de 1976. Nos detalhes da fotografia percebemos que o

enquadramento tem seu foco amplo, sendo um registro de uma classe multiseriada, pois as crianças

têm tamanhos diferentes, com meninos e meninas, algumas ajoelhadas e outras em pé (visualização),

todas olham fixamente para a câmera.

Nota-se que a professora não está posando para a fotografia, mas sim organizando as crianças,

impondo autoridade, e assim mostrando ser autoridade entre as crianças, deixando evidente que estava

a serviço da ordem. A profissão de professora foi uma das primeiras ocupações estabelecidas no

município de Ubiratã, e ainda que a função do magistério fosse visto como obrigação e não como

profissional atuante em uma sociedade que precisava de educação, a mulher iniciava de forma tímida a

ganhar espaço na região e na história.

Diante disso, percebemos que a atuação e participação das mulheres, na sociedade

ubiratanense é retratada de forma discreta na imprensa local, que destaca principalmente sua presença

em espaços sociais tidos como femininos, ou seja, na educação, em momentos de formação ou no

desempenho da função. Constatamos assim, que isso reforça os estereótipos de gênero e os papéis

sociais atribuídos às mulheres ao longo da história. Nesse sentido, é evidente que as práticas e

representações femininas da maneira como são veiculadas na imprensa do munícipio, se assemelham a

outros contextos sociais em âmbito nacional, para o mesmo período. Todavia, é importante salientar,

que a partir dos anos 1960, como resultado de movimentos feministas e de mulheres, a luta por novos

espaços sociais e direitos, estava na ordem do dia para o gênero feminino, e isso refletirá na cidade de

Ubiratã, assim como em outros contextos.

CONSIDERAÇOES FINAIS

A pesquisa realizada no decorrer desta experiência de Iniciação Científica tem nos admitido

perceber práticas e representações sociais, intrínsecas nas imagens analisadas. Entendemos que o papel

desempenhado pela mulher da década de 1970 estava diretamente atrelado ao modo em que as

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imagens foram construídas, assim a intencionalidade dessa construção deixa traços claros de uma

sociedade em constante transformação social.

Nossa pesquisa proporcionou uma maior compreensão quanto às representações sociais acerca

das mulheres no processo de colonização e consolidação do município de Ubiratã, na década de 1970.

Através da análise imagética, nesse caso as fotografias de mulheres, constatamos a presença feminina

tanto na esfera privada quanto na esfera pública, atuando na vida política, religiosa, educacional e

também no mercado de trabalho formal ou informal.

Além disso, cabe ressaltar que tal discussão tem propiciado revelar um pouco da história do

município e da ação das mulheres no contexto estudado, contribuindo para preencher lacunas, pois

ainda é uma temática que requer maior atenção, especificamente no que tange à participação feminina

analisada a partir de fotografias do acervo municipal.

Pesquisar a história das mulheres possibilitou uma melhor compreensão do universo feminino

e suas lutas, sua trajetória no decorrer do processo de colonização de Ubiratã. Constatamos que as

mulheres foram pouco registradas, sendo pouco o uso de imagens relativas às mulheres, todavia, nas

poucas fotografias em que elas aparecem conseguimos recompor sua presença e participação social. A

análise imagética nos permitiu uma visão ampliada dessa categoria, onde cada traço registrado tem

muitas simbologias, e intencionalidade. A fotografia é muito mais que uma imagem capturada pela

câmera fotográfica, é um registro construído pelo fotógrafo, e não pode ser, simplesmente,

denominada como uma “ representação” do real.

Enfim, esperamos que nossa pesquisa tenha contribuído para uma visão mais ampliada das

práticas e representações femininas registrada em fotografias de determinada época. E que outros

estudos possam ser realizados posteriormente para ampliação e aprofundamento das questões tratadas

neste artigo.

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