prata da casa - ataque beliz

1
PRATA DA CASA Do blues à embolada. Formada no Paranoá, a banda Ataque Beliz combina a poesia do rap com outros ritmos estrangeiros e nacionais A lista de influências musicais é ex- tensa.“Brasília é uma mistura. Cada in- tegrante da banda escutava em casa rit- mos diferentes, que se transformaram em referências”, explica o MC Alisson Melo, conhecido como Mulumba. E a banda é grande. Ao todo, são sete músi- cos. Tanta mistura encanta, mas tam- bém atrai críticas.“O rap surgiu para ser livre e ser misturado. Mas parece que chegou alguém e colocou um lacre. Se passar de tal ponto não é rap. Não faz muito sentido”, protesta Higo Melo, tam- bém MC do grupo. “Recebemos mais críticas negativas das pessoas do mun- do do rap do que do público em geral. Dizem que usamos rap como referên- cia, mas que não fazemos rap”, lamenta. Nas músicas, letras de protesto so- cial dividem espaço com rimas român- ticas. “É como a vida. Se fosse uma coi- sa só, seria monótono. Muitos músicos do rap insistem em falar só de tragé- dias. O bacana da música é passar uma coisa boa, de consciência social ou amor”, afirma Higo.A banda surgiu em 2001 com três integrantes. “Nós tínha- mos a mesma vontade de fazer música diferente. Em 2001 nos juntamos e nas- ceu o Ataque Beliz”, releembra Higo. O nome da banda surgiu de uma consul- ta a um dicionário antigo. “Encontra- mos a palavra beliz, que significa indiví- duo pensante”, conta Higo. Desde o início, a idéia do grupo era de ser grande, diferente dos grupos tra- dicionais de hip hop, que geralmente são compostos apenas pelo MC e pelo DJ. “O grupo chegou a ter 12 integran- tes. Mas isso dificultava os shows em outras cidades, as viagens. Além disso, os espaços destinados ao rap, em geral, só tem espaço para duas pessoas no palco”, explica Higo.Atualmente, o gru- po é composto por sete pessoas. Mas o Ataque Beliz faz apresentações no for- mato big band, com todos os integran- tes, ou apenas com os três MCs (Higo, Benjamim e Mulumba) e o DJ. DISCOGRAFIA O primeiro disco do grupo foi lança- do em 2009. O Reconceito compilou as músicas criadas pelo grupo durante os oito primeiros anos de existência. A mú- sica O giz e o fuzil venceu o festival na- cional RPB (Rap Popular Brasileiro), promovido pela Central Única das Fave- las (Cufa). No mesmo ano, o Ataque Be- liz dividiu o palco do Canecão, casa de shows do Rio de Janeiro, com Caetano Veloso, Dudu Nobre, Sandrá de Sá e Ha- ppin Hood na edição especial de 10 anos do Prêmio Hútuz. Em 2010, o dis- co Reconceito recebeu o prêmio Hip Hop Zumbi na categoria Melhor Álbum. Com participações de diversos no- mes do rap e do hip hop brasilienses co- mo Viela 17, Wlad Borges, Thiago Jame- lão e Elaine Dorea, o Ataque Beliz lançou o disco Veemente – O tema é amor.“É um CD temático de dia dos namora- dos”, explica Higo. O terceiro disco, To- que, Primeiras, Segundas e Outras In- tenções, está pronto para sair do forno. Já foram lançadas cinco músicas do ál- bum. O disco completo sai no fim deste ano. “É menos amorzinho do que o Vee- mente, mas também é romântico. É mais apimentado. A censura subiu para os 16 anos”,brinca Mulumba. MISTURA FINA O Giz e o Fuzil Com o giz posso escrever Com o fuzil posso atirar Com o giz pude entender Que com o fuzil devo matar Atiro pra me proteger de quem Mato por temer alguém Faço o mal pra fazer o bem Luto por mim e luto por 100 Vou atingindo quem também não tem nada Ganhar dinheiro mesmo de forma inadequada Peguei o relógio deixei o corpo na calçada Desse jeito saio andando enquanto provo a jaqueta furada Rasgada de um trabalhador Somos filhos desse meio e vivemos as custas dessa dor Vou dizer pra tu doutor O primeiro tiro quem disparou Quando o giz assinalou O povo genocidou. Seu conhecimento sempre assassinou. Os que dizem fazer parte desse país governado por ladrões Estratégia de negações na historia escrita com o giz. Mas a vida me traz recordações De como trataram nossas mães e pais. Por conta de dinheiro trucidaram nossos ideais Conhecimento sem direito das causas reais Nunca vai brotar paz do risco do giz Direito de conhecimento adquirimos com fuzis Queremos letras pra escrever Motivos pra não atirar Lembranças boas do viver E não números pra assinar. (Higo Melo, Alisson Melo e Anderson Rodrigues) Quer conferir o som do Ataque Beliz? A banda se apresenta na próxima quinta-feira (25/08), às 22h30 na Praça do Museu Nacional da República. O show faz parte da programação do Festival Internacional de Teatro de Brasília Cena Contemporânea.A entrada é gratuita. O próximo show é de graça TRIO CONDUZ OS VOCAIS DO GRUPO DE RAP TATIANA REIS/DIVULGAÇÃO 12 Š LAZER & CIA DF/21/08/2011

Upload: gabriella-furquim

Post on 06-Mar-2016

218 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Perfil do grupo de rap brasiliense

TRANSCRIPT

Page 1: Prata da Casa - Ataque Beliz

PRATA DA CASA

Do blues à embolada. Formada no Paranoá,a banda Ataque Beliz combina a poesia do rap

com outros ritmos estrangeiros e nacionais

A lista de influências musicais é ex-tensa. “Brasília é uma mistura. Cada in-tegrante da banda escutava em casa rit-mos diferentes, que se transformaramem referências”, explica o MC AlissonMelo, conhecido como Mulumba. E abanda é grande.Ao todo, são sete músi-cos. Tanta mistura encanta, mas tam-bém atrai críticas.“O rap surgiu para serlivre e ser misturado. Mas parece quechegou alguém e colocou um lacre. Sepassar de tal ponto não é rap. Não fazmuito sentido”,protesta Higo Melo,tam-bém MC do grupo. “Recebemos maiscríticas negativas das pessoas do mun-do do rap do que do público em geral.Dizem que usamos rap como referên-cia, mas que não fazemos rap”, lamenta.

Nas músicas, letras de protesto so-cial dividem espaço com rimas român-ticas.“É como a vida. Se fosse uma coi-sa só, seria monótono. Muitos músicosdo rap insistem em falar só de tragé-dias. O bacana da música é passar umacoisa boa, de consciência social ouamor”, afirma Higo. A banda surgiu em2001 com três integrantes. “Nós tínha-

mos a mesma vontade de fazer músicadiferente. Em 2001 nos juntamos e nas-ceu o Ataque Beliz”, releembra Higo. Onome da banda surgiu de uma consul-ta a um dicionário antigo. “Encontra-mos a palavra beliz, que significa indiví-duo pensante”, conta Higo.

Desde o início, a idéia do grupo erade ser grande, diferente dos grupos tra-dicionais de hip hop, que geralmentesão compostos apenas pelo MC e peloDJ. “O grupo chegou a ter 12 integran-tes. Mas isso dificultava os shows emoutras cidades, as viagens. Além disso,os espaços destinados ao rap, em geral,só tem espaço para duas pessoas nopalco”, explica Higo. Atualmente, o gru-po é composto por sete pessoas. Mas oAtaque Beliz faz apresentações no for-mato big band, com todos os integran-tes, ou apenas com os três MCs (Higo,Benjamim e Mulumba) e o DJ.

DISCOGRAFIAO primeiro disco do grupo foi lança-

do em 2009. O Reconceito compilou asmúsicas criadas pelo grupo durante os

oito primeiros anos de existência.A mú-sica O giz e o fuzil venceu o festival na-cional RPB (Rap Popular Brasileiro),promovido pela Central Única das Fave-las (Cufa). No mesmo ano, o Ataque Be-liz dividiu o palco do Canecão, casa deshows do Rio de Janeiro, com CaetanoVeloso, Dudu Nobre, Sandrá de Sá e Ha-ppin Hood na edição especial de 10anos do Prêmio Hútuz. Em 2010, o dis-co Reconceito recebeu o prêmio HipHop Zumbi na categoria Melhor Álbum.

Com participações de diversos no-mes do rap e do hip hop brasilienses co-mo Viela 17, Wlad Borges, Thiago Jame-lão e Elaine Dorea, o Ataque Beliz lançouo disco Veemente – O tema é amor. “Éum CD temático de dia dos namora-dos”, explica Higo. O terceiro disco, To-que, Primeiras, Segundas e Outras In-tenções, está pronto para sair do forno.Já foram lançadas cinco músicas do ál-bum. O disco completo sai no fim desteano.“É menos amorzinho do que o Vee-mente, mas também é romântico. Émais apimentado. A censura subiu paraos 16 anos”, brinca Mulumba.

MISTURA FINA O Giz e o FuzilCom o giz posso escreverCom o fuzil posso atirarCom o giz pude entenderQue com o fuzil devo matarAtiro pra me proteger de quemMato por temer alguémFaço o mal pra fazer o bemLuto por mim e luto por 100Vou atingindo quem tambémnão tem nadaGanhar dinheiro mesmode forma inadequadaPeguei o relógio deixei o corpo nacalçadaDesse jeito saio andando enquantoprovo a jaqueta furadaRasgada de um trabalhadorSomos filhos desse meio evivemos as custas dessa dorVou dizer pra tu doutorO primeiro tiro quem disparouQuando o giz assinalouO povo genocidou.Seu conhecimento sempreassassinou.Os que dizem fazer parte desse paísgovernado por ladrõesEstratégia de negações na historiaescrita com o giz.Mas a vida me traz recordaçõesDe como trataram nossasmães e pais.Por conta de dinheirotrucidaram nossos ideaisConhecimento sem direitodas causas reaisNunca vai brotar paz do risco do gizDireito de conhecimentoadquirimos com fuzis

Queremos letraspra escreverMotivos pranão atirarLembrançasboas do viverE não números

pra assinar.

(Higo Melo, AlissonMelo e Anderson

Rodrigues)

Quer conferir o som do Ataque Beliz? A banda se apresenta na próxima quinta-feira (25/08), às 22h30 na Praça do Museu Nacional daRepública. O show faz parte da programação do Festival Internacional de Teatro de Brasília Cena Contemporânea. A entrada é gratuita.

O próximoshow é de graça

TRIO CONDUZ OS VOCAISDO GRUPO DE RAP

TATI

AN

AR

EIS/

DIV

ULG

ÃO

12Š LAZER & CIA

DF/21/08/2011