pragmÁtica da lÍngua portugues a - cchla.ufpb.br · letras | 12 pelo menos em parte, o problema...

LETRAS | 9 PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Upload: lamdien

Post on 29-Oct-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 9

PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Page 2: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 10

Page 3: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 11

PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

LUCIENNE C. ESPÍNDOLA

INTRODUÇÃO

Este capítulo objetiva situar a disciplina Pragmática nos estudos da linguagem e introduzir a

importância do usuário (interlocutor) e do contexto nas práticas de leitura e de produção de texto.

“Isso equivale a ir além do significado das palavras e da estrutura sintática e do valor de

verdade das sentenças para incluir os elementos contextuais que fazem com que o

significado, em uma acepção pragmática, dê conta de mais do que é explicitamente dito na

interação lingüística e torne possível a análise dos atos realizados por meio da linguagem.”

(MARCONDES, 2005, p. 27)

Para alguns filósofos o contexto e o usuário passaram a ser componentes imprescindíveis para a

construção do sentido. Assim, desponta a Pragmática no seio da Filosofia e alguns filósofos, e posteriormente,

linguistas, passaram a investigar como a linguagem pode dizer mais do que diz através da estrutura linguístico

discursiva, negando (opondo se) à concepção de linguagem que postulava ser a linguagem espelho do

pensamento. As teorias que serão abordadas aqui, desenvolvidas inicialmente no seio da Pragmática,

consideram, de alguma maneira, o usuário e o contexto nas interações verbais.

Dascal (1982) propõe duas origens para a Pragmática, sendo que a principal diferença entre as duas é

a concepção de Pragmática: subordinada à Linguística e, consequentemente, à Semiótica como uma

disciplina responsável pelo terceiro nível de análise linguística; ou oriunda dos escritos de Saussure (1916) –

como uma ciência autônoma.

A concepção moderna de uma disciplina com o nome de “pragmática” está intimamente

ligada à idéia de uma outra disciplina, com o nome de “semiótica” ou “semiologia”, que

surgiu por volta do início deste século. A semiótica ou semiologia tem, como se sabe, uma

dupla origem: os escritos de Charles Sanders Peirce e de Ferdinand de Saussure. De um modo

geral, ela pode ser caracterizada, segundo ambos, como a teoria geral dos sinais. A ela ficam

assim naturalmente subordinadas todas as disciplinas que se ocupam de um tipo particular de

sinais, como é o caso da lingüística. É a essa dupla origem da semiótica e à influência desigual

de seus fundadores sobre o desenvolvimento da lingüística contemporânea que [...] remonta,

Page 4: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 12

pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria

lingüística. (p.8)

A Pragmática, originária dos estudos de Peirce no final do século XIX, é concebida como um nível de

análise da linguística e tem como objeto “[...] o funcionamento de algo como signo envolve o signo, aquilo que

o signo representa e aquele para quem o signo representa algo.” (p.16) De acordo com Guimarães (1983), os

estudos pautados nessa fonte apontam três direções para a Pragmática.

Uma que considera o usuário somente para determinar a relação da linguagem com o mundo

(referência), outra que considera o usuário enquanto tal na sua relação com a linguagem. [...]

e uma terceira que se configura a partir da linguagem ordinária. (ibid., p. 16 17)

A primeira vertente, também denominada de pragmática indicial,

[...] subordina o usuário ao problema da referência.[...] Esse tipo de Pragmática seria do tipo

que teria como fonte o signo indicial de Pierce e um compromisso com a semântica lógica,

ocupando se, como esta, do problema da referência de proposições, ou seja, do valor de

verdade de proposições. (ibidem., p.17)

Filiados a essa vertente encontramos os filósofos Bar Hillel (1954), Stalnaker (1972) e os linguistas

Jakobson (1963) e Benveniste (1966). Saliente se que essa vertente, tradicionalmente conhecida como sendo

objeto da Semântica, por ter como objeto de pesquisa a referência, não será abordada neste espaço1.

A segunda vertente está centrada no intérprete (usuário da linguagem) e o uso que este faz da

linguagem. Ou seja, essa Pragmática “focaliza a necessidade de se considerar o usuário do signo formulado por

Peirce” (p.19); ou seja, como intérprete. Morris (1976) representa essa vertente.

A terceira vertente da Pragmática oriunda de Peirce é a que concebe o usuário como interlocutor. E

nessa vertente, Guimarães inclui: a Pragmática Conversacional Grice (1982 [1967]); A Pragmática Ilocucional

Austin (1990 [1962]) e Searle (1981 [1969], 2002 [1979]) e a Semântica da Enunciação – Ducrot (1972,

1987,1988) e Vogt (1980).

A segunda origem da Pragmática, proposta por Dascal (1982), são os escritos de Ferdinand de Saussure

(1916), que, ao estabelecer como objeto da Linguística a langue, deixou a parole para outras ciências, entre

1 Essas questões foram abordadas na disciplina de Semântica. Alguns conceitos, porém, serão retomados no momento em foremrequeridos.

Page 5: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

elas a Prag

perspectiva

Linguística.

Inde

novo olhar

contexto i

objeto de in

Nes

algumas da

Ilocucional

Grice(1982

teóricas pod

As

responder,

gmática, qu

a, a Pragmát

ependente d

sobre a língu

impulsiona,

nvestigação,

ste espaço,

as teorias d

Austin (1

[1967]); e

dem nos ser

linhas esco

de alguma fo

e tem com

tica passa a

da origem da

ua proposto

a partir da d

as variáveis

não há con

desenvolvida

1990 [1962]

a Semântica

úteis no pro

olhidas para

orma, às per

O que fa

As inte

acontec

Além da

element

suficien

Como é

RESUMO

de Peirceanálise d

de

LEITUR

GUIMARpragmátEstudos

mo objeto d

ter status

a Pragmática

pela Pragmá

década de l9

usuário e co

dições de s

s na terceir

) e Searle

a da Enuncia

ocesso de leit

esta abord

rguntas:

azemos quand

rações, atrav

cem assistema

a estrutura lin

tos (fatores)

te para se diz

é possível dize

O: A Pragmáe ou de Sauda Linguístiestudo). A

RA

RÃES, Eduardica, Revista9, 1983.

e investigaç

de ciência,

, se advinda

ática – a rela

970, pesquis

ontexto.

e ver todas

ra vertente

(1981 [1969

ação – Ducro

tura e produ

dagem, a p

do usamos a l

vés da moda

aticamente?

nguística utiliz

devem (prec

zer o que se p

r mais do que

tica tem, peussure. A prica (mas, pasegunda co

do R.J. Sobrdas Faculd

ção o uso d

não podend

dos escritos

ação dos usu

as na área d

as vertente

da Pragmá

9], 2002 [1

ot (1972, 198

ução de texto

partir dos s

inguagem? So

lidade falada

zada, na fala

cisam) ser co

retende em to

e está ‘literalm

elo menos,imeira colocra isso, a Lioncebe a Pra

re os caminades Integr

da língua p

do ser consi

s de Peirce o

ários com a

da Linguística

es da Pragm

tica oriunda

979]); a Pra

87,1988). Ac

os.

eus pressup

omente descr

a e da escrit

ou na escrita,

nsiderados?

odas as situaç

mente’ dito lin

duas origenca a Pragmánguística teagmática co

hos da pragadas de Ub

LETRAS | 1

elos interlo

iderada com

u os escritos

língua em u

a as quais in

mática, então

a de Peirce:

agmática Co

creditamos q

postos teóri

revemos o mu

ta, seguem a

, para se inte

O texto, fala

ções?

nguisticament

ns: advindaática comoerá de reveromo uma ci

gmática. Soeraba FIU

13

cutores. Ne

mo um nível

s de Saussure

m determina

ncluem, em

o selecionam

: A Pragmát

onversaciona

que essas lin

icos, procur

undo?

alguma regra

ragir, que out

do ou escrito

e?

dos escritoum nível der seu objetoência.

breBE, Série

essa

da

e, o

ado

seu

mos

tica

al

has

ram

ou

tros

o, é

oseo

Page 6: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 14

Este capítulo constitui se de uma introdução e quatro unidades:

1. Atos de Fala (Austin e Searle)

2. Implícitos linguísticos e pragmáticos: implicaturas conversacionais (Grice)

3. Implícitos linguísticos e pragmáticos: Atos de linguagem Indiretos (Austin/Searle)

4. Implícitos linguísticos e pragmáticos: Pressupostos e subentendidos (Ducrot)

Page 7: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

A te

interessar s

Aus

reflexões q

esse filósof

americanas

reunidas na

do grupo in

Speech Acts

a classificaç

Austin, foi d

Sali

funcioname

resulta de c

foi realizada

eoria dos ato

se pelo funci

stin, um dos

ue apresent

fo na unive

, cujo tema

a obra How

ntitulado Filo

s (1981 [196

ção dos atos

desenvolvido

ente se que

ento, necess

consulta às n

a em Harvard

OS A

os de fala – f

onamento d

A lingua

Todos o

Que out

representa

aremos aqu

ersidade de

central foi a

to Do Things

osofia Analíti

69]) e Express

s ilocucionár

o.

o texto que

ariamente, n

notas elabora

d, bem como

LEITURA

ARMENG121.

MARCONde Janeir

UN

ATOS D

filiada à Filos

a linguagem

agem é usada

os enunciados

tras ações, alé

ntes desse g

i estão prese

Oxford no

linguagem e

s with Word

ca, James Op

sion Meanin

rios e o conc

e nos revela

não constitu

adas pelo pró

o anotações

AS:

GAUD, Franç

NDES, Danilro: Jorge Za

NIDAD

DE FALA

sofia Analític

m ordinária (d

a somente par

podem ser su

ém de descrev

grupo, come

entes em cu

início da d

e os atos que

ds (1990 [196

pie Urmson.

g (2002 [197

ceito de ato

o ponto de

i cada confe

óprio Austin

para os curs

çoise. (2006

o. (2005) Aahar Editor.

DE I

A (AUST

ca – surge qu

do cotidiano)

ra fazer declar

ubmetidos à n

ver o mundo, r

eça suas inve

rsos intitula

década de 1

e ela nos per

62]), organiz

A obra de A

79]), e algun

indireto, qu

vista de Au

rência ipsis l

, utilizadas c

sos anteriore

6) A pragmá

A Pragmática

p.16 29.

TIN/SEA

uando um gr

), levantando

rações?

oção de verda

realizam se a

estigações n

dos Words a

1950 e mai

rmite realiza

zada postum

Austin (1962)

ns pontos ref

ue ficou ape

ustin sobre a

litteris, pois

como esboço

es.

ática. São P

a na filosof

LETRAS | 1

ARLE)

upo de filóso

o questões c

ade?

través da ling

na década de

and Deeds, m

is tarde em

r. Essas con

mamente por

) é retomada

formulados,

enas alinhava

a linguagem

o texto póst

o para cada c

aulo: Paráb

fia contemp

15

ofos começo

omo:

guagem?

e 1940, mas

ministrados

m universida

nferências es

r um integra

a por Searle

principalme

ado na obra

ordinária e

tumo publica

conferência q

bola. p. 99

porânea. Rio

ou a

s as

por

des

stão

nte

em

nte

de

seu

ado

que

o

Page 8: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 16

A primeira conferência inicia se com Austin ‘declarando’ que, por um tempo maior do que o

necessário, os gramáticos, através de critérios gramaticais, classificaram uma sentença como declarativa,

interrogativa, negativa, que expressa desejo, ordem ou concessão, enquanto que os filósofos acreditavam ter a

sentença a função de descrever ou declarar um fato.

Recentemente, porém, muitas das sentenças que antigamente teriam sido aceitas

indiscutivelmente como “declarações”, tanto por filósofos quanto por gramáticos, foram

examinadas com um novo rigor. Este exame surgiu ao menos em filosofia, de forma um tanto

indireta. De início, apareceu, nem sempre formulada sem deplorável dogmatismo, a

concepção segundo a qual toda declaração (factual) deveria ser “verificável”, o que levou à

concepção de que muitas “declarações” são apenas o que se poderia chamar de pseudo

declarações. (AUSTIN, 1990, p.22)

Nesse contexto, um grande número de sentenças seria considerado sem significado (vazias de

significado) se submetidas ao critério de verdade ou falsidade. A partir dessa constatação, Austin (1962)

propõe sua teoria dos atos de fala em que dizer nem sempre é somente ‘descrever’ e/ou declarar sobre o

mundo. Dizer, em muitas situações, é fazer; é realizar uma ação ao mesmo tempo em que se diz essa ação.

Nessa perspectiva, uma grande parte dos enunciados não passíveis de serem submetidos às condições de

verdade (valor de verdade) teriam seu significado explicado através do contexto em que desempenham um

determinado ‘ato’.

Eu aposto 10 reais com você que o Corinthians vai ser campeão.

Eu batizo este carro de Julião.

Eu declaro guerra ao cigarro.

Confiro-lhe o título de bacharel em Direito.

Eu o condeno a 1 ano de trabalhos comunitários.

Dou minha palavra como João chegará na hora estipulada.2

Austin, então, passa a investigar os enunciados que, para ele, não resistiam às condições de verdade,

enquanto atos de fala. E é concebendo a linguagem como forma de ação que, inicialmente, esse filósofo

separa os enunciados de uma língua em dois grandes grupos:

2 Exemplos adaptados de Levinson (2007. p. 290).

Page 9: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

Enu

de afirmaçõ

Enu

realizar o at

Par

verdadeiros

verificar qu

felicidade.

3 Encontramos

Caro apara m

unciados Con

ões.

unciados Per

to descrito p

rtindo, inicia

s nem falsos

uando esses

s a palavra con

luno, consmais esclar

nstatativos3:

O curso de Pr

rformativos:

pelo enunciad

Eu declaro en

almente, da

s por não se

enunciados

(A.1) Deve h

convencional

e, além disso

(A.2) as pess

específico inv

(B.1) O proce

(B.2) complet

nstatif com dua

sulte o Dicrecimento

: aqueles ato

ragmática está s

: aqueles cu

do.

ncerrada esta se

a tese de

prestarem a

não seriam

haver um proc

l e que inclua o

o, que

soas e as circu

vocado.

edimento tem de

to.

as traduções: co

cionário Eos sobre a

os que serve

sendo elaborado

uja realizaçã

essão. (enuncia

que os enu

a declarar o

m adequados

cedimento conv

proferimento d

nstâncias partic

e ser executado

onstatativo e co

scolar denoção de

em para des

o pela professor

o resulta em

do proferido pe

unciados pe

u descrever

s ou felizes,

vencionalmente

de certas palavr

culares, em cad

o por todos os pa

onstativo.

Filosofia (valor de v

crever o mu

ra Lucienne.

m um fazer;

elo síndico em u

erformativos

o mundo, A

os quais de

aceito, que a

as, por certas p

da caso, devem

articipantes, de

(http://wwverdade.

LETRAS | 1

undo, falam d

; dizer é sim

uma assembleia

s não pode

Austin propõ

enominou de

apresente um d

pessoas, e em ce

m ser adequada

e modo correto e

ww.defnar

17

de algo atra

multaneame

a de condomínio

eriam ser n

e critérios p

e condições

determinado ef

ertas circunstânc

as ao procedime

e

rede.com)

vés

nte

o)

nem

para

de

feito

cias;

ento

)

Page 10: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 18

( .1) Nos casos em que, com freqüência, o procedimento visa às pessoas com seus pensamentos e

sentimentos, ou visa à instauração de uma conduta correspondente por parte de alguns dos participantes,

então aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensamentos ou sentimentos,

e os participantes devem ter a intenção de se conduzirem de maneira adequada, e, além disso,

( .2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subseqüentemente. (AUSTIN, 1990, p. 131)

Austin previu que nem todos os atos de fala cumprem rigorosamente todas as condições de felicidade

(A, B ou ) e que o não cumprimento de algumas dessas condições não constitui violações de mesmo nível.

Para ele a violação de uma das condições do grupo A e B gera infelicidades do tipo falhas – a ação pretendida

pela enunciação performativa não se realiza de forma eficaz; e denomina abusos as infelicidades geradas pelas

violações das condições do grupo .

Consideremos a notícia abaixo.

Igreja proíbe padre casado de celebrar casamentos em Goiânia (GO)

Extraído de: Folha Online - 10 de Novembro de 2008

A Igreja Católica em Goiânia (GO) e em outras 26 cidades divulgou, na missa do último domingo, uma

carta da arquidiocese dizendo que Osiel Santos, 62, está demitido da função de padre desde maio e não

pode mais celebrar casamentos. Ele abandonou a batina há 20 anos para se casar, mas continuou exercendo

o sacerdócio.

O Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Goiânia decidiu nesta segunda-feira também invalidar os cerca

de 400 matrimônios celebrados por Santos depois de casado, que eram feitos em casas e clubes.

Os batizados, no entanto, ainda valem --apesar de terem sido feitos por quem comportou em "persistente

escândalo" e "gravíssima ofensa a Deus", segundo a carta assinada pelo arcebispo dom Washington Cruz,

que ainda será lida nas missas por duas semanas.

Em nota, a arquidiocese disse que nenhum outro sacramento recebido por meio de Santos terá validade e "o

fiel que o procurar com esse propósito torna-se cúmplice de seu ato irregular diante da igreja".

Disponível em:< http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja-proibe-padre-casado-de-celebrar-casamentos-em-goiania-go>. Acesso em: 01 jul. 2009.

(Texto adaptado)

Essa notícia publica um ritual social – o casamento religioso – que se realiza através de um ato

performativo em que o padre (na Igreja Católica) deveria estar investido da autoridade necessária para

proferir o enunciado “Eu vos declaro casados”. Esse enunciado é mais que um dizer, é um fazer, é tornar as

duas pessoas que ali estão, perante a igreja, casados. No entanto, de acordo com a notícia, em todos os atos

Page 11: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

(casamento

tinha autori

A c

casamentos

ou foram de

a um dos sa

do ato. Port

Nes

que a igreja

da violação

– o que car

citado filóso

Nes

cumpridas

também se

castidade. A

na Teoria d

( .1) també

Além

enunciados

ativas, indic

os) realizado

idade para re

condição (A.

s e outros sa

e forma inco

acramentos

tanto, tudo i

sse contexto

a pretende a

de (A2), abr

racteriza o ca

ofo.

ssa mesma n

as condiçõe

submeteu a

A quebra do

os Atos de F

m foram vio

m das condiç

performativ

cativas, de pr

s pelo padre

ealizar todos

1) foi satisf

acramentos f

ompleta (B1 e

realizados p

ndica que as

, de acordo c

dotar: anula

re espaço pa

asamento re

notícia, pode

es dos const

a um ritual p

voto de cast

Fala, às cond

oladas.

ções de felic

vos. Essas ca

rimeira pess

R

de

pr

co

e citado, hou

s os atos relig

feita, pois n

foram realiz

e 2). Também

pelo referido

s condições (

com Austin (

ar os casame

ara as anulaç

eligioso que

emos també

antes de ( .

performativo

tidade consti

dições const

cidade propo

racterísticas

oa, no prese

RESUMO: Auque postu

eclarar sobruma ação aropõe dois ao mundo, fuja realizaço ato descri

dos atos

uve violação

giosos que s

não há qualq

ados, muito

m não se tem

o padre ter s

( 1 e 2) tam

(1990 [1962]

entos realizad

ções. Com es

e não cumpr

m identifica

.1) e ( .2). O

o – a ordena

itui a quebra

antes de ( .2

ostas, Austin

s são resumid

ente simples.

ustin (1990ula que dizere o mundoao mesmo tatos de falafalam de algão resulta eto pelo enus performat

c

da condição

ão prerrogat

quer questio

menos que

m notícia de

e comportad

bém foram s

]), constata s

dos pelo refe

ssas observa

riu todas as c

r a violação

O padre qua

ação – em q

a da promess

2), sendo qu

elencou algu

das por Levin

.”.

[1962]) proer nem semo. Dizer, emtempo em qa: os constago através dem um fazeunciado. Partivos – seu ocondições d

o (A.2), uma

tivas dos sac

onamento q

os sacramen

alguém que

do inadequa

satisfeitas.

se uma falha

erido padre.

ações, verific

condições de

caracterizad

ando foi ord

que faz voto

sa observada

ue se pode in

umas caracte

nson (2007,

opõe sua teompre é somemuitas situ

que se diz etativos, quede afirmaçõer; dizer é simra verificar oobjetivo prie felicidade

LETRAS | 1

a vez que o p

cerdotes.

quanto aos

ntos não for

participou o

adamente ap

a, corrobora

Essa falha, e

camos um at

e felicidade

da como abu

denado pela

s de obediê

a pós ato, qu

nferir que as

erísticas ling

p. 294): “[...

oria dos atoente ‘descreuações, é faz

ssa ação. Ine servem paes; e os permultaneamo sucesso nmeiro proe.

19

padre não m

locais onde

ram executad

ou se subme

pós a realizaç

da pela posi

em decorrên

to performat

propostas p

uso: não for

Igreja Cató

ncia, pobrez

ue correspon

s constantes

guísticas para

] são senten

os de fala emever’ e/ouzer; é realiznicialmente,ara descrevrformativos

mente realizana realizaçãoopôs seis

mais

os

dos

teu

ção

ção

ncia

tivo

pelo

ram

lica

za e

nde,

s de

a os

nças

m

ar,ers

aro

Page 12: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 20

Considerando essas características, o enunciado abaixo, originalmente classificado como performativo,

ao ser reescrito com propriedades (gramaticais) linguísticas não previstas para os performativos, deixa de ser

um enunciado performativo; e os enunciados resultantes dessa reescritura são considerados como

pertencendo ao grupo dos constatativos.

EU DECLARO GUERRA AO CIGARRO.

Eu declarei guerra ao cigarro.

Guerra ao cigarro foi declarada por mim.

Ele declara guerra ao cigarro.

A reescritura do enunciado Eu declaro guerra ao cigarro., com mudança de voz verbal, de tempo e de

pessoa, mostra que os critérios funcionam com esse enunciado, saliente se, em um contexto em que o verbo

‘declarar’ esteja sendo utilizado para realizar a ação que a enunciação veicula. Ou seja, esse enunciado será

performativo, se, em uma assembleia de condomínio, o síndico, após consultar os condôminos e ter a

aprovação dos mesmos, para proibir que se fume nas dependências comuns do condomínio que administra,

disser: “Declaro guerra ao cigarro.”.

No entanto, em um contexto em que a enunciação de Eu declaro guerra ao cigarro. não esteja

realizando o ato de fala performativo, mas somente o relato de uma ação habitual, esse enunciado, mesmo

apresentando as características propostas por Austin, não pode ser considerado performativo.

Pensemos esse contexto: o proprietário de um bar, ao ser perguntado como tem sido a posição do seu

estabelecimento com relação ao cigarro, responde com o enunciado:

Eu declaro guerra ao cigarro.

Nesse contexto, o dono do estabelecimento não está, ao mesmo tempo, enunciando e realizando a

ação de declarar guerra. Constatamos somente a declaração de como tem sido sua atitude frente ao cigarro.

Esse exemplo revela que essas características elencadas por Austin mostraram se insuficientes para

caracterizar um enunciado performativo, pois há muitos outros enunciados com essas características que não

realizam uma ação ao serem proferidos; constituem simplesmente declarações, relatos etc.

Page 13: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 21

Eu compro pão na padaria do seu João.

Com essa constatação, ficou evidente que outros critérios mais seguros são necessários para

caracterizar um enunciado performativo que segue o padrão formal proposto pela teoria. Austin constatou

também que há outras formas de enunciados performativos que não seguem os padrões descritos acima:

“Culpado”, “Inocente”, porém permitem que sejam recuperadas as formas linguísticas equivalentes:“Eu o

declaro culpado”, “Eu o declaro inocente”. respectivamente.

Embora as características gramaticais tenham se mostrado pouco eficientes para dizer, com certeza, se

um enunciado é performativo ou não, de acordo com Austin, não devem ser abandonadas para identificar os

performativos explícitos, mas associadas ao critério lexical (alguns verbos apresentam a propriedade de

realizarem ações ao serem enunciados).

Nessa direção, outro critério foi apresentado, para distinguir os enunciados, no presente do indicativo

(em primeira pessoa), que realizam performativos dos que servem a outras funções: o uso das expressões “por

meio de”/ “por meio da presente”, para isolar os verbos performativos.

Utilizando se uma dessas expressões, para testar os enunciados Eu declaro guerra ao cigarro. e Eu

compro pão na padaria do seu João., teremos o seguinte resultado:

Eu, por meio da presente, declaro guerra ao cigarro.

Eu, por meio da presente, compro pão na padaria do seu João.

A expressão por meio da presente, nessas duas situações, foi produtiva para revelar que o verbo

“declarar”, no contexto de assembleia de um condomínio, é performativo enquanto que o verbo “comprar”

não é. No entanto, é um recurso que não será produtivo em outras situações em que se constata um ato

performativo não realizado pelas formas canônicas.

Essa constatação levou Austin (1990 [1962]) a propor enunciados performativos explícitos – aqueles

que se comportam conforme os critérios já estabelecidos anteriormente (sentenças ativas, indicativas, de

primeira pessoa, no presente simples),

Eu os declaro marido e mulher!

– e os enunciados performativos implícitos (ou primários) – aqueles realizados por outras formas linguísticas

que não seguem as normas dos explícitos.

Amanhã estarei no lugar combinado. (ato de promessa)

Segundo Levinson (2007),

Page 14: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 22

Dessa maneira, o que Austin sugere é que, na realidade, as performativas explícitas são

apenas maneiras relativamente especializadas de alguém ser inequívoco e específico a

respeito do ato que está executando ao falar. (p.296)

Os enunciados performativos implícitos, por sua vez, poderão ser realizados através de vários recursos

linguístico discursivos ou suprassegmentais: através do modo imperativo do verbo (Devolva o dinheiro! ao

invés de Eu ordeno que devolva o dinheiro.); advérbios (Você viajará amanhã sem falta!) em que a locução

adverbial sem falta aumenta a força do que fora enunciado; uso de certas partículas conectivas gera, de forma

sutil, o efeito de um performativo (portanto com a força de concluo que, contudo com a força de insisto que

etc.); recursos suprassegmentais (tom de voz, ênfase em determinado segmento do enunciado etc.); recursos

não verbais (gestos, sinais etc.) e as circunstâncias dos proferimentos.

As formas primitivas ou primárias dos proferimentos conservam [...] a “ambigüidade”, ou

“equívoco”, ou o “caráter vago” da linguagem primitiva. Tais formas não tornam explícita a

força exata do proferimento [...] Mas de certo modo, tais recursos são excessivamente ricos

em significado. Prestam se a equívocos e distinções errôneas e, além do mais, são utilizados

também para outros propósitos, como, por exemplo, a insinuação. O performativo explícito

exclui os equívocos e mantém a realização relativamente estável. (AUSTIN, 1990, p.69 e 72)

A constatação de que “as enunciações podem ser performativas sem estarem na forma normal das

performativas explícitas” (LEVINSON, 2007, p. 296) gerou dois desdobramentos: o abandono da dicotomia

entre performativos e constatativos e a adoção de uma teoria completa dos atos fala; e admissão de duas

categorias de atos de fala: o reconhecimento dos atos de fala diretos e dos indiretos, classificação que vai ser

abordada (revista) por Searle (1981 [1969], 2002 [1979]).

Nessa nova direção de investigação, Austin (1970 apud LEVINSON, 2007, p. 297 298) assim se

posiciona:

Além da questão, que foi muito estudada no passado e que diz respeito ao que certa

enunciação significa, há uma outra questão que diz respeito a qual era a força, como a

chamamos, da enunciação. Podemos ter absoluta clareza do que significa a frase “Feche a

porta” e ainda assim não ter clareza sobre a questão adicional de determinar se, quando

enunciada em determinada ocasião, foi uma ordem, um apelo ou sabe se lá o quê.

Searle (2002 [1979]) assim se posiciona sobre essa nova direção dada à Teoria dos Atos de Fala:

Page 15: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 23

A distinção original entre constativos e performativos pretendia ser uma distinção entre

emissões que consistem em dizer (constativos, enunciados, assertivos, etc.) e emissões que

consistem em fazer (promessas, apostas, advertências, etc.). [...] O principal tema da obra

madura de Austin, How to Do Things with words, é a falência dessa distinção. Assim como

dizer certas coisas é casar se (um “performativo”) e dizer certas coisas é fazer uma promessa

(outro “performativo”), dizer certas coisas é fazer um enunciado (supostamente um

“constativo”). [...] Qualquer emissão consistirá na realização de um ou mais atos

ilocucionários. (p.27)

E, para explicar como fazemos coisas ao enunciar sentenças, Austin (1990 [1962]) propõe a Teoria

Geral dos Atos de Fala, cujo objetivo é demonstrar que quando enunciamos, simultaneamente, realizamos três

atos:

1) Ato locucionário – é o ato de dizer algo; é o uso de uma sentença em determinada ocasião.

2) Ato ilocucionário – é o ato ao dizer algo, ou seja, ao proferir uma sentença (ato locucionário),

realizamos atos como informar, avisar, prevenir, acusar, prometer, descrever etc.

3) Ato perlocucionário – é o ato de produzir efeitos ou consequências no ouvinte/leitor; em outras

palavras, é o efeito que produzimos no leitor/ ouvinte ao realizar um ato ilocucionário; há

situações em que se pretende estar realizando um ato do tipo prevenir e pode se confundir o

outro ao invés de previni lo. Ao realizarmos um ato locucionário do tipo ordenar, informar,

prometer, declarar, encerrar, pode se produzir no leitor atos (perlocucionários) do tipo convencer,

intimidar, persuadir, surpreender, confundir etc.

Por exemplo, a sentença abaixo, mesmo não sendo do grupo das explicitamente performativas (por

não apresentar as características dessa classe),

Amanhã será o dia grande dia!

ao ser enunciada, seja em que contexto for, na modalidade falada4 ou na escrita, caracterizará um ato

locucionário, ou seja é o ato de dizer a sentença, de enunciá la. Esse ato poderá realizar, dependendo da

intenção do locutor e do contexto, um ato ilocucionário de advertir, comunicar, intimidar etc. alguém. Porém,

o interlocutor poderá, como efeito perlocucionário, sentir se intimidado, desafiado, amedrontado, irritado etc.

O interesse de Austin era explicitamente os atos ilocucionários, mais especificamente os verbos

performativos, no entanto, com a constatação de que todos os enunciados são utilizados com uma

4 A Teoria dos Atos de Fala, como o próprio nome diz, originalmente foi criada em função da modalidade falada; hoje sua aplicação foiampliada para a escrita.

Page 16: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 24

determinada força ilocucionária, a distinção entre atos performativos e constatativos foi revista, mas o

interesse pelos performativos explícitos foi mantido, inclusive com uma proposta de classificação para os

verbos ilocucionários (performativos).

Searle (2002 [1979]) revê essa classificação, adotando, como critério base para a sua classificação dos

usos da linguagem, o propósito ilocucionário5, como ele mesmo justifica:

Se adotamos o propósito ilocucionário como a noção básica para a classificação dos usos da

linguagem, há então um número bem limitado de coisas básicas que fazemos com a

linguagem: dizemos às pessoas como as coisas são, tentamos levá las a fazer coisas,

comprometemo nos a fazer coisas, expressamos nossos sentimentos e atitudes, e produzimos

mudanças por meio de nossas emissões. (p.46)

Searle (2002 [1979]) apresenta sua classificação dos atos ilocucionários, sendo que os primeiros quatro

atos (assertivos, diretivos, compromissivos e expressivos) foram assim classificados com base em algum(uns)

dos critérios: o propósito ilocucionário, a direção do ajuste (palavra mundo ou mundo palavra) as condições

de sinceridade expressas; por outro lado, as declarações não foram definidas utilizando nenhum desses

critérios, mas, segundo Searle (2002 [1979], p.25), por considerar que “em que o estado de coisas

representado na proposição expressa é realizado ou feito existir pelo dispositivo da força ilocucionária.”.

1) Assertivos – “O propósito dos membros da classe assertiva é o de comprometer o falante (em

diferentes graus) com o fato de algo ser o caso, com a verdade da proposição expressa. Todos os

membros da classe assertiva são avaliáveis na dimensão de avaliação que inclui o verdadeiro e o

falso.” (p.19) concluir, deduzir, gabar se, reclamar, constatar etc.

Situação1: em um contexto de sala de aula, o professor, ao analisar as atividades desenvolvidas por

um aluno durante o ano, assevera:

A partir de análise minuciosa do desempenho de x, concluo que x não tem condições de ser aprovado.

2) Diretivos – “Seu propósito ilocucionário consiste no fato de que são tentativas (em graus variáveis [...])

do falante levar o ouvinte a fazer algo. Podem ser “tentativas” muito tímidas, como quando o convido

5 De acordo com Marcondes (2005, p. 59), “A classificação das forças ilocucionárias e os critérios para isso são retomados eaprofundados em “A taxonomy of illocutionary forces” (in Expression and Meaning, Cambridge University Press, 1979) eposteriormente os sete componentes das forças ilocucionárias são apresentados em John Searle e Daniel Vanderveken, Foudations of

Illocucionary Logic (Cambridge University Press, 1985).”.

Page 17: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 25

a fazer algo ou sugiro que faça algo, ou podem ser tentativas muito veementes, como quando insisto

em que faça algo.” (p.21) pedir, convidar, mandar, suplicar, rogar.

Situação 2: em uma partida de futebol, um jogador comete uma falta cuja punição é a expulsão, então

o árbitro naturalmente ergue o cartão vermelho, ação que pode vir acompanhada de um dos

enunciados abaixo:

Convido-o a sair do campo!

Saia do campo!

3) Compromissivos – “Os compromissivos são [...] os atos ilocucionários cujo propósito é comprometer o

falante (também neste caso, em graus variáveis) com alguma linha futura de ação.” (p.22) prometer,

jurar.

Situação 3: em um cerimônia de colação de grau de cursos de graduação, um dos formandos faz o

juramento relativo à profissão escolhida:

Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivência humana. Juro fazer da justiça uma consequência normal e ... (juramento do curso de Direito)

4) Expressivos – “O propósito ilocucionário dessa classe é o de expressar um estado psicológico,

especificado na condição de sinceridade, a respeito de um estado de coisas, especificado no conteúdo

proposicional.” (p.23) agradecer, congratular, dar pêsames, dar boas vindas.

Situação 4: na volta para casa de uma viagem longa, Joana é recebida no aeroporto com uma faixa que

dizia:

Boas-vindas, Joana!

João, filho de Joana, não pôde ir à recepção por estar de plantão, então enviou uma mensagem para o

celular da mãe:

Page 18: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

5) Dec

me

suc

em

Situ

LETRAS | 26

clarações – “

mbros produ

edida garant

realizar o at

uação 5: em u

6

Mãe, desculp

“A caracterís

uz a corresp

te a correspo

to de designá

uma empres

Você está dem

pe a minha ausê

tica definido

pondência en

ondência en

á lo presiden

sa, após dese

mitido!

RESUMO

característuma senteisso, fico

caracterizapela

enunciaçõeEssas consentre per

atos fala; eatos de fala

ncia, a vejo mai

ora dessa cla

ntre o conte

ntre o conteú

nte, então vo

entendiment

O: Com o avanticas para os aença com as cu evidente quar um enunciateoria. Austines performativstatações geraformativos e cadmissão dea diretos e do

por

is tarde!

sse é que a r

údo proposi

údo proposic

ocê é o presi

to entre chef

nço em suas patos performacaracterísticasue outros critéado performatn (1990 [1962]vas que não saram dois desconstatativosduas categor

os indiretos, clSearle (1981

realização be

cional e a re

cional e o mu

dente; (p.26

fe e funcioná

pesquisas, prinativos, Austins propostas éérios mais segtivo que segu]) constatou teguem o padsdobramentose a adoção dias de atos delassificação qu[1969], 2002

em sucedida

ealidade, a r

undo: se sou

6)”.

ário, aquele

ncipalmente aconstata que,um ato perfoguros são necee o padrão foambém que hrão formal pros: o abandonoe uma teoriae fala: o reconue vai ser abo[1979]).

a de um de s

realização be

u bem suced

assevera:

ao investigar, nem semprermativo. Comessários paraormal propostohá outrasoposto por eleo da dicotomiacompleta dos

nhecimento doordada (revista

eus

em

dido

e,m

o

e.asosa)

Page 19: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

IMPLÍC

Freq

sobre o qu

porque há

fazermos ou

Para

ou em níve

coloca em

significação

Pau

sentido lite

para que o

que a intera

Para

inicialmente

quando ess

6 [...] l inférenc

pragmatiques,

CITOS

quentement

e está send

situações em

utras leituras

a chegarmos

l contextual

relação en

o”6. (SEARLE,

ul Grice (198

eral veicula,

falante diga

ação veicula.

a construir

e, estabelec

es princípios

ce se définit co

, afin de constr

LINGUCO

te, ao intera

o comunica

m que o con

s sem que um

s a uma das

(enunciação

unciados da

tradução no

82 [1967]), in

levanta a hi

mais do qu

.

a sua teo

e (propõe) o

s são violado

omme une opér

ruire une signifi

LEITURA

GRICE, Hmetodoló

http://ww_Lgica_e_

LEVINSOPaulo, M

UN

ÍSTICOONVERS

agirmos em s

do além do

ntexto nos p

ma se mostr

possíveis le

o). O termo i

ados, contex

ossa)

ntrigado com

pótese que

e está dito l

oria das im

os princípios

os, e as conse

ration logique d

cation. (SEARLE

AS:

erbert Paul. Lógicos da ling

ww.4shared._Conversao.h

N, Stephen Caryins Fontes

NIDAD

S E PRASACION

situações as

que está lit

permite uma

e predomina

eituras, recor

nferência se

xtuais, conv

m a possibili

direciona a

iteralmente

mplicaturas

s que regem

equências da

de mise em rela

E, apud BLANCH

Lógica e convgüística – v. Icom/file/133html.

C. (2007) Prags, p. 121 152

DE II

AGMÁTNAIS (G

s mais divers

teralmente d

a só leitura,

ante.

rremos a inf

erá entendid

vencionais e

idade de um

sua pesquis

e para que

conversacio

m (ou que de

a não obediê

ation de donné

HET, 1995, p.95

versação. In:IV: Pragmátic3960193/9db

gmática.(trad.

TICOS: RICE)

sas, ficamos

dito (linguist

mas outras

ferências em

o aqui “com

e pragmático

m enunciado

sa e teoria p

o ouvinte ca

onais, inferê

evem reger)

ência, (in)volu

ées énoncées, c

5)

DASCAL, M (1ca. Campinasbf8d81/H_P_G

. Luís Carlos B

LETRAS | 2

IMPLICA

com muitas

ticamente a

s vezes o co

m nível linguí

mo uma opera

os, visando

o comunicar

proposta: de

apte a inform

ências cont

uma conver

untária, a es

contextuelles, c

1982). Funda. Disponível eGrice_

Borges, Aniba

27

ATURAS

s interrogaç

tualizado). I

ntexto perm

ístico discurs

ação lógica q

construir u

mais do qu

eve haver re

mação adicio

extuais, Gr

rsação, com

sas ‘regras’.

conventionnelle

amentos

em:

al Mari). Ssão

S

ões

sso

mite

sivo

que

uma

e o

egra

onal

ice,

o e

es et

o

Page 20: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 28

A teoria proposta por Grice (1982 [1967]), no artigo “Logic and Conversation”, não usou a palavra

implícito, no entanto, hoje, pode se dizer que Grice, com a descrição das regras que regem (ou devem reger)

uma conversação e as consequências do não cumprimento dessas regras, ofereceu nos uma perspectiva para

‘olhar’ (investigar/compreender/descrever) os implícitos linguísticos e os pragmáticos: implicaturas

convencionais e não convencionais.

Para estabelecer (descrever) as regras que regem o diálogo, Grice parte da hipótese de que os

participantes de uma interação fazem esforços cooperativos; se não inicialmente, mas no decorrer da

interação esses esforços são verificados, caso contrário não há comunicação. Essa hipótese deu origem ao

princípio geral da conversação: o PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.

Além desse princípio, Grice (1982, p. 86 88) postula quatro categorias, com máximas e submáximas, as

quais devem ser cumpridas para que uma interação (conversação) seja bem sucedida.

I) Categoria da quantidade – “está relacionada com a quantidade de informação a ser fornecida e a ela

correspondem as seguintes máximas:

1. Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido (para o propósito corrente

da conversação).

2. Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido.”

II) Categoria da qualidade – encontramos a supermáxima: “Trate de fazer sua contribuição que seja

verdadeira.”, com duas máximas:

1. “Não diga o que você acredita ser falso.

2. Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada.”

III) Categoria da relação – a máxima proposta é: “Seja relevante”.

IV) Categoria do modo – refere se “a como o que é dito deve ser dito”. A super máxima é: “Seja claro”,

com várias máximas:

1. “Evite obscuridade de expressão.

2. Evite ambigüidades.

3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária).

4. Seja ordenado.”

Page 21: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 29

Essas quatro categorias, com suas supermáximas, máximas e submáximas, foram propostas, para, com

o princípio da cooperação, regerem um conversação (interação) bem sucedida. Então, para que se tenha uma

interação ‘feliz’ é preciso que essas categorias sejam observadas em toda interação. Sendo que a não

observância, de forma não intencional, de um desses preceitos poderá acarretar ruídos e mal entendidos.

Portanto, conhecer essas categorias que podem garantir uma interação satisfatória pode ser um

instrumento para o professor de língua materna utilizar tanto na produção quanto na correção de textos de

gêneros textuais os mais diversos. Com as devidas adequações ao gênero em questão, é possível utilizar essas

categorias como critérios concretos para ensinar a produzir textos e também avaliar textos produzidos em sala

de aula, como mostraremos posteriormente.

Primeiramente, nos deteremos no objetivo de Grice (1982 [1972]) – oferecer subsídios para

responder à pergunta: Como é possível dizer mais do que está ‘literalmente’ dito linguisticamente?, através da

quebra de, pelo menos, uma dessas categorias. Em outras palavras, o interesse do filósofo era verificar como,

respeitando o princípio da cooperação, mas quebrando uma dessas máximas, o locutor consegue dizer ao

interlocutor mais ou além do que está dito; e por outro lado, como o interlocutor consegue também ler mais

do que está dito na estrutura linguístico discursiva.

AS IMPLICATURAS

Inicialmente, Grice introduz o conceito de implicatura as informações implicitadas, propositalmente

pelo locutor (falante/escritor), com o objetivo de transmitir algo mais ao interlocutor (ouvinte/leitor).

Dois tipos de implicaturas são estabelecidos por Grice (1982): a implicatura convencional e a não

convencional (a implicatura conversacional):

Implicatura convencional – é uma inferência resultante do significado convencional das palavras.

Ele é um inglês; ele é, portanto, um bravo. (GRICE, 1982, p. 84.)

Nesse exemplo, constatamos que a inferência de que o fato de ser bravo é uma consequência de ser

inglês advém da presença do termo linguístico portanto. Ou seja, a inferência aqui não é estritamente

contextual, ela é possibilitada pela presença de um termo que tem como significado convencional introduzir

uma conclusão ou consequência.

Page 22: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 30

Implicatura não convencional (doravante implicatura conversacional) – “inicialmente ao menos, os

implicitados conversacionais não são parte do significado das expressões cujo uso os produz”. (GRICE, 1982,

p.103)

Embora tenha proposto dois tipos de implicaturas as quais correspondem, grosso modo, aos implícitos

linguísticos e aos pragmáticos, Grice estava interessado, como confessa, somente nas implicaturas

conversacionais advindas da quebra proposital de uma das máximas propostas por ele. Saliente se que, nas

condições estabelecidas por Grice, a quebra de uma das máximas acontece em um contexto em que o

princípio da cooperação está sendo observado pelos participantes.

Segundo Levinson (2007, p. 140), é possível derivar um padrão geral para o cálculo de uma

implicatura:

(i) “F disse que p

(ii) não há razão para pensar que F não está observando as máximas ou, pelo menos, o princípio

cooperativo

(iii) para que F diga que p esteja realmente observando as máximas do princípio cooperativo, F deve pensar

que q

(iv) F deve saber que é conhecimento mútuo que q deve ser suposto para que se considere que F está

cooperando

(v) F não fez nada para impedir que eu, o destinatário, pensasse que q

(vi) portanto, F pretende que eu pense que q e, ao dizer que p comunicou a implicatura q”

Nessas condições, Grice, segundo Levinson (2007), isola as cinco propriedades essenciais das

implicaturas conversacionais:

a) Canceláveis (ou anuláveis) – “uma inferência é anulável se é possível cancelá la acrescentando

algumas premissas adicionais às premissas originais.” (p.142) As implicaturas, de acordo com

Levinson, seriam semelhantes aos argumentos indutivos.

b) Não destacáveis – “Grice quer dizer que a implicatura está ligada ao conteúdo semântico do que é

dito, não à forma lingüística, e, portanto, as implicaturas não podem ser retiradas de um

enunciado simplesmente trocando as palavras do enunciado por sinônimos [...] com exceção das

que surgem através da máxima de modo.” (p. 144 145)

c) Calculáveis – “[...] deve ser possível construir um argumento, demonstrando que, a partir do

significado literal ou do sentido da enunciação, por um lado, e do princípio cooperativo e das

Page 23: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

d)

TEXTOS CO

Veja

das máxima

outra(s); ou

considerada

Máxima da

informação

quantidade

e a(s) intenç

máximas, p

cooperação

Não conve

lingüísticas.

OM QUEBR

amos, agora

as. É preciso

u muitas vez

a, naquele co

quantidade

, ou menos,

de informaç

ção(ões) do

or outro, se

o presumida.

encionais –

” (p. 145)

RAS DE MÁ

, situações d

o salientar q

zes a quebra

ontexto, a m

e: nos exemp

do que requ

ções conside

locutor.

gue se que u

” (p.145)

“[...] não

ÁXIMAS – I

de interação

ue, em muit

a de uma m

mais importan

plos abaixo,

uerido naque

erando o gên

RESUMO:

enunciahipótese

regra parque o o

EssaPRINCÍ

quatrocumprid

Grice ainda qual ge

um destinatá

fazem par

MPLICATU

o em que con

tas situaçõe

máxima é efe

nte.

constata se

ela situação.

nero textual,

: Paul Grice (do comunicae que direciora que o falanouvinte capte

hipótese deÍPIO DA COOcategorias, cas para queda investigara as implica

ário faria a i

rte do sign

URAS CONV

nstatamos a

s, a quebra

etuada para

a quebra da

. Respeitar a

, o objetivo d

(1982 [1967]ar mais do qona a sua pente diga maie a informaçãu origem aoPERAÇÃO. A

com máximauma interaços efeitos da

aturas conveprag

nferência em

ificado con

VERSACION

quebra, inte

de uma má

preservar o

máxima da

máxima de

da interação

), intrigado cue o sentidosquisa e teos do que estão adicionalprincípio ge

Além desse ps e submáxim

ção (conversaa quebra vol

ersacionais –gmático.

LETRAS | 3

m questão p

vencional d

NAIS

encional, de

xima acarre

outra máxim

quantidade

quantidade

o, o interlocu

com a possibo literal veicuria propostatá dito literalque a interaral da converincípio, Gricmas, as quaiação) seja beuntária dessum dos tipo

31

ara preserva

das express

uma (ou m

ta a quebra

ma, por ser e

por haver m

é saber dosa

utor, o conte

bilidade de uula, levanta a: deve havermente e paração veicula.ersação: oce postulous devem serem sucedidasas categoriaos de implícit

ar a

ões

ais)

de

esta

mais

ar a

exto

marra

.s,to

Page 24: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 32

E* Por que o senhor não estudou?

I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente era era era do Catolé do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui criado também como como se da famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

A resposta do informante, do corpus do VALPB7, apresenta informações que ultrapassam o conteúdo

esperado como resposta. No entanto, constata se que essas informações adicionais são apresentadas como

justificativa para a interrupção dos estudos. Então, a quebra da máxima da quantidade é consciente e com

objetivos os quais o informante espera sejam captados pelo entrevistador.

A) - João é um bom aluno?

B) - É o melhor jogador de futebol da escola.

Situemos a interação acima: João candidata se a uma bolsa no programa de bolsas da escola o qual

tem como requisitos, para seleção de alunos, o bom desempenho em sala de aula. A (presidente da comissão

de bolsas) faz a pergunta acima a B (professor de Matemática de João). Com a resposta dada por B, A precisa

fazer algumas inferências para chegar a uma possível leitura: B está sendo cooperativo quando disse que João

“É o melhor jogador de futebol da escola”; portanto A precisa inferir que B está dizendo mais do que está

literalmente expresso (p) e que B pretende que A identifique o que Grice chamou de q (a inferência implicitada

pela quebra da máxima). Uma das possíveis inferências, a partir do contexto descrito, é que João não é um

bom aluno, considerando os parâmetros exigidos para ser bolsista. Nessa interação, além da quebra da

máxima da quantidade, foram fornecidos menos informações do que se esperava, pode se dizer que há

também a quebra da máxima da relação, pois pode se pensar que a resposta dada por B não é relevante para

a pergunta feita por A.

O excesso de informações também afeta o critério de relevância, pois dizer mais do que é requerido

não é adequado, exceto se o objetivo é dizer mais do que é aparentemente dito.

As frases conhecidas como tautológicas também podem figurar como exemplos de textos que violam a

máxima da quantidade, sendo, por um lado, circulares, redundantes e, por outro, dizem menos do que

deveriam dizer, ou seja, são menos informativas do que o requerido.

7 Projeto de Variação Lingüística do Estado da Paraíba, coordenado pelo professor doutor Dermeval da Hora de Oliveira.

Page 25: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 33

Criança é Criança!

Guerra é guerra!

Surpresa inesperada!

Acabamento final!

Elo de ligação!

Os dois primeiros exemplos Criança é Criança! e Guerra é guerra! podem também aparecer em

contextos que estejam sendo utilizados para responder a perguntas do tipo Defina o que é ser criança? ou

Defina o termo guerra. Nesses dois contextos, desde que se suponha que o locutor desses enunciados esteja

sendo cooperativo, haverá a quebra da relevância cuja intenção caberá o interlocutor buscar identificar.

Nesses dois casos, teríamos a quebra de duas máximas: a da quantidade e a da relevância.

Máxima da qualidade: a quebra da supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.” faz

com que o interlocutor identifique no texto uma incoerência, caso não se ressalte que essa declaração

‘aparentemente falsa’ tem como objetivo, por parte do locutor, dizer algo mais, podendo fazer, inclusive, com

que surjam as ironias.

A – Você está horrível com esse vestido!

B - Eu também amo você!

Levinson (2007) faz o seguinte comentário para uma interação semelhante a essa:

Qualquer participante razoavelmente informado saberá que a enunciação de B é

escandalosamente falsa. Sendo assim, B não pode estar tentando enganar A. A única maneira

pela qual a suposição de que B está cooperando pode ser mantida é se interpretarmos que B

quer dizer algo um tanto diferente daquilo que efetivamente foi dito. Ao procurarmos por

uma proposição relacionada, mas cooperativa, que B pode estar pretendendo comunicar,

chegamos ao oposto, ou negação, do que B formulou[...]. (p.136)

No nosso exemplo, provavelmente B está querendo dizer a A: “Eu também odeio você!”. Mas para

que se possa chegar a essa inferência, conhecimentos partilhados e culturais precisam ser recuperados,

partindo inicialmente da suposição de que B está sendo cooperativo.

Page 26: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 34

Vejamos mais situações em que a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”

está sendo violada intencionalmente:

Um edifício estava pegando fogo, e todos corriam para a saída de emergência. Alguém pergunta: A - É um incêndio?

B - Não, é a minha mulher que está assando uma pizza!

O presidente Lula, ao ser perguntado por um jornalista:

A - O senhor acha que a CPI da Petrobrás vai terminar em pizza? Ele respondeu:

B - Todos eles são bons pizzaiolos. (15/07/09)

Nas duas interações acima, a primeira do gênero textual piada e a segunda fragmento de uma

entrevista feita por um repórter de televisão com o presidente Luís Inácio da Silva (Lula), constata se

que, mesmo em gêneros diferentes, há a quebra da máxima da qualidade, porém com objetivos

diferentes.

Na piada, a quebra da supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”

funciona como desencadeador (ativador) da ironia que gera o riso, pois a uma pergunta não

relevante cabe uma resposta também não verdadeira, que, por sua vez, também se caracteriza como

uma resposta não relevante. Essa característica permite observar que a quebra da máxima da

qualidade, nessa situação, também gera a quebra da máxima da relevância. Como já foi dito

anteriormente, há situações em que a quebra de uma máxima desencadeia a quebra de outra(s),

sendo que, às vezes, torna se difícil enquadrar a quebra em uma ou em outra categoria.

Na entrevista, constata se que houve também a quebra “Trate de fazer sua contribuição que

seja verdadeira.”, porém com objetivos diferentes daqueles que constatamos na piada. Nessa

entrevista, o presidente talvez por não ter condições de, com certeza, dar uma resposta para a

pergunta feita pelo repórter, resolve ironizar, aparentemente sendo irrelevante, porém poderá estar

dizendo que os parlamentares não são pizzaiolos, embora saiba se que, metaforicamente, as CPIs

terminam em ‘pizza’. Saliente se que, subsequentemente a esse episódio, ao ser questionado por

essa resposta, o presidente disse que não pretendia ofender ninguém. Nessa interação, como em

outras já mostradas, poder se ia apontar outra quebra de máxima, a da relevância, provando que

Page 27: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 35

quase sempre a não observância de uma máxima acarreta a de outra ou é consequência de outra

quebra.

Embora os dois textos pertençam a dois gêneros textuais diferentes, de acordo com Levinson

(2007, p. 136), “Se não houvesse nenhuma suposição subjacente de cooperação, os receptores das

ironias deveriam simplesmente ficar perplexos; nenhuma inferência poderia ser extraída.”.

Máxima da relação: nos textos abaixo, constata se a quebra da máxima “seja relevante”, porém ressaltando

que essa quebra é proposital, portanto o interlocutor precisa partir da presunção de que o locutor está sendo

cooperativo, então está dizendo algo a mais do que está dito ‘literalmente’ e cabe àquele buscar, através de

inferências, essa informação extra.

Inicialmente, apresento duas perguntas com as respectivas respostas de uma entrevista feita pela

Rede Globo de Televisão com o candidato a Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. À época da

entrevista, Lula era candidato ao segundo mandato à presidência do Brasil, por isso estava sendo questionado

sobre o escândalo do mensalão, colocado a público no seu primeiro mandato.

Fátima Bernardes: O senhor acha então que o senhor também errou, presidente, no caso dessas denúncias, o senhor também teria errado? O que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato?

Lula: Eu só poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Fátima, é que muitas vezes, ou por uma fé, ou quem sabe até porque estamos vivendo uma guerra política, as pessoas ousam dizer o seguinte: "olha, mas o presidente deveria saber de tudo". Ora, vamos ser francos, vamos ser honestos entre nós. Está cheio de famílias que têm problema dentro de casa e a familia não sabe. Está cheio de pai e mãe que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela imprensa, ou quando a policia prende. Como é que pode alguém querer que o presidente da República, embora tenha que assumir responsabilidade por todos os lados, saiba o que está acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo ligada ao Ministério da Agricultura. Como é que eu posso saber agora o que está acontecendo com os meus ministros que não estão aqui? (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

Fátima Bernardes: Mas o fato dele (Paulo Okamoto), de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, não pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder?

Lula: É um direito dele não querer quebrar o sigilo dele. É um direito de qualquer cidadão. Amanhã, isso pode estar acontecendo com você, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e nós vamos utilizar todos os mecanismos que o direito nos dá para que nós possamos nos defender. (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)

Analisando as respostas do presidenciável, à luz da máximas, constata se que as duas perguntas feitas

pela entrevistadora ficaram sem respostas adequadas para a situação, porém, partindo da presunção de que o

Page 28: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 36

locutor (Lula) estava sendo cooperativo, ou seja, que o candidato entendeu a pergunta, e que respondeu

dessa forma intencionalmente, cabe à entrevistadora, como aos ouvintes (leitores), buscar a informação extra

que estava sendo comunicada pelo candidato. Da forma como as perguntas foram respondidas, o

presidenciável não se comprometeu literalmente com o escândalo vivenciado pelo PT, porém deixou margem

para julgarem no culpado ou inocente.

Nesse contexto, a máxima “seja relevante” foi violada deliberadamente pelo locutor (candidato Lula)

por, sabermos, naquele contexto ter de agradar gregos (seu partido) e troianos (oposição ‘solidária’) e

principalmente não poder se comprometer perante seus milhões de eleitores que assistiam à entrevista.

Saliente se que a quebra que chama a atenção é a da relevância, no entanto, para quebrar essa, outra máxima

também foi quebrada: a da quantidade na primeira pergunta; na segunda, pode se constatar que a quebra da

máxima da relevância pode ter tido a função de preservar a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que

seja verdadeira.”.

A seguir apresentaremos a quebra da máxima “seja relevante” em charges, em que a quebra tem

função semântico discursiva diferente da constatada na entrevista anterior. O gênero textual charge tem a

função social de criticar situações cotidianas as mais diversas, através do humor gerado por vários recursos

linguístico discursivos. Apresentamos aqui algumas charges cujo recurso gerador do riso é a quebra da máxima

da relação.

(Disponível em: <http://www.humortadela.com.br>Acesso em: 04 jul. 2009)

Nessa charge, é abordado um tema do cotidiano, saliente se atemporal, e, para se chegar um

dos possíveis sentidos, é preciso que o leitor identifique:

Page 29: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 37

1) Os personagens ou os fatos a que o texto faz referência – na perspectiva polifônica, ostextos com os quais esse texto dialoga;

2) o contexto sócio histórico e/ou político e as circunstâncias em que o fato referenciadoaconteceu; ou seja, recuperação da enunciação;

3) os elementos lingüísticos, quando houver;4) as possíveis intenções do chargista, considerando o lugar de onde ele enuncia (se é

através de jornal, revista, ou sem vínculo com nenhum meio de comunicação, produçãoindependente). (ESPÍNDOLA, 2001, p. 110 111).

Após, serem recuperadas essas informações, constata se, na charge, que as palavras da mãe

não são adequadas à situação que o texto não verbal revela (mostra). Verifica se que o que é dito

pela mãe não é relevante para a situação em que se encontram mãe e filho.

Considerando o texto não verbal (ancoragem da charge), constata se que o chargista

apresenta dois personagens (mãe e filho) interagindo, porém a mãe dirigindo se ao filho com um

enunciado quase que absurdo para o contexto. Porém, como nos outros gêneros apresentados, os

leitores da charge precisam partir da presunção de que o chargista, ao apresentar esse diálogo

‘anormal’ em um lixão, está sendo cooperativo com seus leitores, portanto estaria, com esse texto,

veiculando uma informação extra, além do dito. A quebra da máxima ‘seja relevante’ leva o leitor a

buscar a intenção do locutor, aqui o chargista, que poderia ser uma crítica aos governantes, por

permitirem que pessoas tenham de recorrer ao lixão para sobreviverem. A quebra gera o riso, mas,

na charge, geralmente é uma forma de crítica.

Disponível em: <http://www2.uol.com.br/angeli/chargeangeli>. Acesso em: 05 jul. 2009.

Nessa charge, como já colocado anteriormente, também é preciso que sejam recuperados os

conhecimentos prévios necessários para que se possa fazer uma das leituras possíveis. A quebra da

Page 30: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 38

máxima da relevância novamente é utilizada aqui pelo locutor (chargista), agora na resposta dada

pelo entrevistado a um programa de televisão. Aparentemente, dir se ia que o entrevistado não

entendeu a pergunta do entrevistador, porém, essa inferência fica invalidada ao se recuperar nossa

história, principalmente, o período de ditadura por que os brasileiros passaram e a fase atual em que

a ditatura tem sido reconhecida pelos governantes.

A partir dessa constatação, resta ao leitor fazer suas inferências, considerando que o

personagem colocado no papel de entrevistado (provável ‘ator’ do período da ditadura por suas

características físicas), está sendo cooperativo na entrevista, portanto, se deu uma resposta

inadequada o fez com uma intenção. Nesse caso, é preciso buscar uma inferência que traduza essa

possível intenção.

A charge abaixo também é uma crítica, através do humor, utilizando se do recurso da quebra

da máxima da relevância. Constata se, no texto, uma resposta, aparentemente, inadequada à

pergunta feita pela pessoa que está sendo detida por um policial da Polícia Federal. O título da

charge faz referência a escândalo fiscal de uma empresa brasileira. Novamente, para se chegar à

informação extra que o locutor (chargista) pretende divulgar, é preciso partir da presunção de que

ele está sendo cooperativo e de que a quebra da máxima por um dos personagens da charge é

intencional.

Disponível em:http://www.chargeonline.com.br Acesso em: 05 de jul. 2009.

Page 31: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 39

É preciso salientar que a quebra da máxima da relação é feita deliberadamente, para, muitas vezes,

preservar a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”.

(A) - Que significa "pressuposição"?

(B) - Consulte uma obra de semântica.

(A) - Que horas são?

(B) - Já é tarde.

(A) - Você me ama?

(B) - Eu gosto de estar em sua companhia.

Nas três interações acima, constata se que todas as respostas não são, aparentemente, adequadas às

perguntas, porém percebe se que o locutor através dessa quebra (estratégia) está sendo cooperativo e

protege se para não ser acusado de não ter dito a verdade. Porém, constata se que, em cada uma das

situações, as informações intencionalmente veiculadas são as mais diversas, ficando a cargo dos interlocutores

(leitores) identificá las.

Máxima de modo: quebrar essa máxima significa não seguir um desses preceitos:

1. “Evite obscuridade de expressão.

2. Evite ambigüidades.

3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária).

4. Seja ordenado.”

Muitas vezes, quando constatamos a quebra de uma das três outras máximas, é em decorrência da

quebra de um dos preceitos da categoria do modo. Por exemplo, a quebra da máxima da quantidade, nos dois

exemplos tratados naquele espaço, está diretamente ligada ao fato de o informante não ter respeitado o

preceito “seja breve” na interação:

E* Por que o senhor não estudou?

I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente era era era do Catolé

Page 32: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 40

do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui criado também como como se da famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. (01.AFD.M)

A interação abaixo, por outro lado, cuja máxima da quantidade também foi quebrada por dizer menos

do que deveria ter dito para a situação, quebra, também, a máxima da relação.

A) - João é um bom aluno?

B) - É o melhor jogador de futebol da escola.

Submetendo as implicaturas conversacionais levantadas nos textos aos critérios propostos por Grice

(1982), é possível verificar que todas as quebras de máximas geradoras de implicaturas denominadas

conversacionais são: canceláveis, pois não estão previstas na significação das expressões que compõem a

estrutura linguística; não destacáveis, pois as implicaturas estão ligadas ao sentido e ao contexto, portanto

mudar a estrutura não as elimina; calculáveis, são calculadas, pois a partir da presunção de que o locutor está

sendo cooperativo, está dizendo algo através da quebra; portanto, cabe ao interlocutor calcular qual a

informação extra que lhe está sendo enviada; não convencionais, pois todas os exemplos de implicaturas

acima não estão previstos no significado convencional das expressões linguísticas.

AS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS E O ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTOS

A violação intencional das máximas conversacionais gera as implicaturas conversacionais privilegiadas

até aqui, as quais constituem um implícito pragmático. No entanto, a máximas propostas por Grice (1982)

também podem ser violadas não intencionalmente, por desconhecimento das regras de construção de um

texto de determinado gênero. Nesse contexto, quero fazer algumas ponderações sobre a quebra dessas

categorias, a qual gera um texto com determinada incoerência ou gera um ruído não intencional em uma

interação.

As máximas conversacionais de Grice, embora tenham sido pensadas para o contexto da conversação,

podem ser utilizadas para o ensino de produção textual, bem como critérios para a correção de textos,

considerando as características macro e micro do gênero a que o texto pertence.

Page 33: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 41

Para exemplificarmos esse possível uso da teoria, tomamos a proposta da primeira questão da prova

de redação do PSS 2009 da Universidade Federal da Paraíba, que apresentou a foto de um menino quebrando

pedra e o seguinte comando:

Imagine se no papel de um repórter que comparece ao local onde ocorreu o fato retratado.

Redija um texto para ser publicado no jornal em que você trabalha, noticiando esse fato. Para

tanto, observe as seguintes orientações:

• Siga a estrutura de uma notícia;

• Redija seu texto com, no mínimo, 12 linhas, e, no máximo, com 15 linhas;

• Use a norma padrão da língua escrita.

Observemos as máximas: de quantidade, qualidade, relação e modo no texto abaixo, considerando o

gênero que foi solicitado: uma notícia.

Se aplicarmos essas máximas, para verificarmos se esse texto atende ao mínimo que requer uma

interação escrita em forma de notícia, pode se, de forma bastante superficial neste espaço, fazer as seguintes

observações.

Para verificar se a máxima da quantidade é satisfeita, inicialmente, é preciso observar quais

informações são requeridas pelo gênero notícia, e consultando os livros da área, constatamos que alguns itens

precisam estar presentes: quem, onde, quando, o quê e como (se possível), os quais determinarão, inclusive, a

quantidade de informações. Constata se que os quatro primeiros itens aparecem no primeiro parágrafo,

mesmo que o quê esteja relatado de forma bastante superficial. No segundo parágrafo, esperava se um maior

detalhamento do fato noticiado, porém o que se encontra é um ponto de vista do redator sobre o assunto. O

nível informativo e de argumentividade, de acordo com gênero, poderia ser avaliado nessa máxima.

Page 34: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 42

A máxima da qualidade parece estar sendo satisfeita, pois o problema noticiado no texto advém de

outras notícias e reportagens veiculadas em meios de comunicação do estado. E, nesse ponto, é preciso

trabalhar com os alunos o fato de que há gêneros, por exemplo, a notícia, que requerem que os fatos

divulgados possam ser provados por aquele que os divulga. Ou seja, diga (escreva) “Não diga senão aquilo

para que você possa fornecer evidência adequada.”. Porém, a modalização é um recurso muito usado nesse

gênero quando não se tem todas as evidências de um fato que está sendo divulgado, ou não se tem a certeza

da autoria.

Não se constata nenhuma falta de relevância entre o que foi solicitado pelo enunciado da questão e o

que foi produzido pelo candidato. Teríamos aqui um caso de não relevância, caso o candidato escrevesse

sobre um outro assunto, diferente do solicitado.

Com relação à máxima do modo, é preciso aqui parar e verificar o texto, considerando a norma padrão

da língua portuguesa no que diz respeito aos elementos de coesão em nível macro e micro discursivo textual,

de acordo com as exigências do gênero solicitado.

Obviamente, as máximas serviriam de norte para o professor que trabalha com produção de texto em

sala de aula e não para comporem grades de correção de textos em concursos de grandes proporções. No

entanto, conhecer as máximas e as possibilidades de aplicação pode servir de subsídio para professores que

trabalham com leitura e escrita em todos os níveis de ensino.

Page 35: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

IM

Os

uma inform

Sea

Par

PLÍCITOLIN

atos de ling

mação totalm

rle (2002 [19

a esse autor

OS LINGNGUAG

guagem indir

mente diferen

979]) inicia a

Os casos m

quer signifi

significação

falante em

mais. [...] H

e também s

, quando se

[...] o de s

também qu

ato de fala

LEITU

signif

UN

GUÍSTICGEM IND

retos constit

nte, do que e

a abordagem

mais simples d

icar exata e li

o são tão sim

ite uma sente

Há também ca

significar uma

aborda os at

saber como é

uerer significa

indireto quan

URA: SEAficado. S

NIDAD

COS E PDIRETO

tuem outra

está dito na e

m sobre atos d

de significação

teralmente o

mples [...] Um

ença que que

asos em que o

a outra elocuç

tos de fala in

é possível pa

ar algo mais. [

ndo a sentenç

ARLE, JohSão Paul

DE III

PRAGMOS (AUS

forma de se

estrutura ling

de fala indire

o são aqueles

que diz. [...]

ma classe imp

er significar o

o falante emit

ção com conte

ndiretos, dois

ara o falante

...] saber com

a que ouve e

hn R.(20o: Marti

MÁTICOTIN/SEA

e dizer mais,

guístico disc

etos assim:

s em que o f

Mas notoriam

ortante de c

que diz, mas

te uma senten

eúdo proposic

s problemas

dizer uma c

mo é possível p

compreende

002) Expins Fonte

LETRAS | 4

OS: ATOARLE)

, ou em algu

cursiva do en

falante emite

mente, nem to

asos é a daq

s também qu

nça e quer sig

cional diferent

se apresent

coisa, querer

para o ouvinte

significa algo

ressão e

es. p. 47

43

OS DE

umas situaç

nunciado.

uma sentenç

odos os casos

queles em qu

er significar a

gnificar o que

te. (p. 47 48)

am:

significá la, m

e compreende

mais; (p.49)

e

7 79.

ões

ça e

s de

ue o

algo

diz,

mas

er o

Page 36: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 44

E para tentar responder (resolver) a esses dois problemas, Searle (2002 [1979]) identifica dois atos em

um ato indireto: um ato primário e um ato secundário. O primeiro (primário) seria a intenção que tem o

locutor com determinado enunciado, independente de estar explícito ou não; o segundo (secundário) é o ato

usado para realizar o primário, o sentido literal da sentença. E, para se entender e chegar ao ato primário

pretendido/realizado pela enunciação de x, Searle (2002), p. 53 54) apresenta uma breve reconstrução das

etapas, que, segundo ele, o ouvinte (leitor) realiza, mesmo que automaticamente, para derivar o ato primário

do secundário.

De acordo com Searle (2002), para se buscar o ato primário que está sendo realizado através de um

ato secundário, lança se mão de um processo inferencial que está descrito em 10 passos nessa obra.

E assim resume esse trabalho do interlocutor (leitor).

A estratégia inferencial é estabelecer, primeiramente, que o propósito ilocucionário primário

diverge do literal e, em segundo lugar, qual seja o propósito ilocucionário primário. [...] Esse

aparato inclui informações de base compartilhadas, uma teoria dos atos de fala e certos

princípios de conversação. (p.53)

Analisemos a situação a seguir, em que A recebe um convite para ir ao cinema e B responde,

aparentemente, de forma irrelevante.

A – Vamos ao cinema hoje à tarde?

B – Tenho de terminar o material de Pragmática para a EAD.

O locutor A faz um convite, em forma de ato direto, e sua proposta é rejeitada por B de forma indireta.

Então, como A entende que sua proposta está sendo rejeitada ou que a enunciação de B deve ser lida

(entendida) como uma rejeição? Searle (2002) diz que A, para chegar à leitura de que o enunciado de B é uma

rejeição ao seu convite, primeiro realizará realizar algumas etapas linguístico cognitivas, as quais resumirei a

seguir.

A sabe que, ao fazer um convite a B, este deverá aceitá lo ou não. A também sabe que B está sendo

cooperativo (princípio proposto por Grice), portanto sua resposta deve ser relevante. No entanto, ao observar

literalmente o que fora dito por B, A constata que a resposta esperada aceitação, recusa ou proposta para

discutir o convite – não é relevante para o convite feito. Mas, recuperando a presunção de que B está sendo

relevante, A precisa buscar o que está dito além do sentido literal expresso na sentença de B, portanto o

propósito ilocucionário (ato primário) de B é diferente do expresso literalmente (ato secundário). A partir

Page 37: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 45

dessa etapa, A buscará uma conclusão (inferência) probabilística enquanto propósito probabilístico de B. Essa

inferência só será possível considerando os aspectos já levantados e o que fora dito literalmente: Tenho de

terminar o material de Pragmática para a EAD. A partir desses dados, pode se concluir que terminar o

material e ir ao cinema constituem duas ações que não podem ser realizadas simultaneamente; aceitar a

proposta de A, tendo essa tarefa a ser, com certeza, realizada, caracterizaria uma incoerência de B.

Para Searle (2002), há uma incidência maior de atos indiretos no grupo dos diretivos, em função da

polidez, uma vez que, em nossa sociedade, é muito mais eficiente uma ordem camuflada de pedido do que de

forma literal.

A polidez é a mais proeminente das motivações para pedidos indiretos e certas formas

tendem naturalmente a tornar se os meios polidos convencionais de feitura de pedidos

indiretos. (p.81)

Assim, é muito mais, socialmente, simpático e aceitável pedir que se feche a porta através da forma

indireta “Você pode fechar a porta?”, do que a forma direta “Feche a porta!”. Os compromissivos também são,

em muitas situações, realizados através de formas indiretas, como os exemplos a seguir:

Posso levar você ao cinema?

Entregarei os dados a você na sua próxima visita.

Acrescento aos postulados de Searle (2002) que todos os atos ilocucionários podem ser realizados por

meio de um ato indireto; as condições enunciativas e o princípio da polidez é que determinarão se um ato

ilocucionário, quer seja assertivo, diretivo, compromissivo, expressivo ou declarativo, será realizado de forma

direta ou através de um ato indireto.

De acordo com Levinson (2007), serão considerados atos indiretos outros usos da linguagem que não

estejam em conformidade o que está previsto abaixo:

(i) As performativas explícitas têm a força que é nomeada pelo verbo performativo na oração matriz(ii) Ou então, os três tipos principais de sentenças em inglês, isto é, as imperativas, interrogativas e

declarativas, possuem as forças que a tradição associou a elas, a saber, ordenar (ou pedir), interrogar eafirmar, respectivamente (naturalmente, com a exceção das performativas explícitas, que estejam emformato declarativo). (p.335)

Page 38: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 46

Há pessoas que têm dificuldade de pedir desculpas utilizando a forma direta “Desculpe me”, mas

realizam o ato utilizando outras formas indiretas que surtem o mesmo efeito: “Eu não queria ter magoado

você!”. “Isso não vai se repetir!” (este pode ser classificado também como um compromissivo). Parece me que

até uma declaração pode ser feita de forma indireta, observe a seguinte situação.

O diretor de uma empresa, ao constatar que um dos funcionários responsáveis pela segurança da

empresa não estava cumprindo as normas de segurança, chamou o em seu escritório e o demitiu dizendo: “A

partir de hoje você não trabalha mais nesta empresa!”. Houve uma declaração com o propósito de demitir o

funcionário; o diretor tem a autoridade para realizar esse ato; o local era adequado; enfim as condições de

felicidade foram satisfeitas e o ato consumado. Porém, o propósito de demitir foi realizado através de um ato

indireto.

Os atos assertivos, pelo menos alguns, também poderão ser realizados através de atos indiretos. Por

exemplo, posso estar fazendo uma reclamação de forma indireta. Observe a situação. Contrato uma firma de

vigilância para a segurança de minha casa, não satisfeita com o desempenho dos funcionários destacados para

fazer a referida segurança, ligo para o diretor da firma e digo: “A firma não tem funcionários mais bem

treinados para me enviar?”. Nesse contexto, não estou querendo uma resposta à pergunta, mas estou

registrando que não estou satisfeita com o desempenho dos funcionários que têm vindo fazer a segurança da

minha casa. Assim, o ato ilocucionário primário que almejo, reclamação, está sendo realizado através de um

secundário, uma pergunta. O diretor, se perspicaz, tomará as devidas providências.

Uma outra situação que ilustra um ato assertivo realizado de forma indireta. Em um noticiário

televisivo, um repórter visita uma feira com objetivo de verificar um aumento de preços de frutas e verduras

que estaria sendo praticado a partir do dia da visita. Ao verificar que os preços praticados no dia visita não

eram os mesmos do dia anterior, estavam majorados, pergunta a um dos feirantes:

Repórter: Os preços hoje estão mais altos do que estavam ontem?

Feirante: Olha, os preços hoje não são os mesmos de ontem.

Nessa situação, constatamos que o feirante não disse declaradamente que os preços das frutas e

verduras aumentaram, recorre a uma declaração que, pelo contexto econômico em que vivemos, dificilmente

o ato indireto realizado pela asserção acima seria Os preços baixaram, mas Os preços subiram. Para o feirante

não é simpático assumir a majoração dos preços, então recorre a um ato indireto, que, sabe se, nessa

situação, pode ser negado, pois não há nenhuma marca linguística que deixe essa informação registrada na

Page 39: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 47

estrutura linguístico discursiva. Junto aos consumidores o feirante não foi antipático, assumindo, o aumento,

como também se preservou junto aos outros feirantes.

Uma última ilustração de interação em que um ato assertivo pode ter sido realizado através de um

ato indireto.

Em uma empresa, as pessoas que por lá ‘transitam’ realizando determinadas atividades agendam

previamente suas idas a essa empresa. Em determinada situação, duas funcionárias, ao verificarem se

determinado profissional estaria ou não na empresa em um horário X, constataram que havia uma marcação,

mas o profissional não estava no recinto. Nesse contexto, tiveram o seguinte diálogo:

A: Não fui quem agendou a vinda de fulano.

B: É, a letra está bem direitinha.

A: Você disse que minha letra é ruim?

B: Eu não disse nada.

Nessa, situação, sabe se que há um ato indireto, porque há uma informação partilhada entre A e B, A

diz ter uma letra ‘ruim’. Essa informação não só é de conhecimento de B, como também parece ser aceita

como verdadeira por B. Porém, B não assume declaramente, mas, por todas as informações, é possível inferir

que realmente B pretendeu dizer que a letra de A não é tão legível.

A partir da exposição dos atos indiretos e do princípio da polidez que permeia nossas relações

sociais, profissionais e pessoais, há uma tendência, pelo menos em nossa cultura, de usarmos, mais do que

imaginamos, atos secundários com propósitos de atos primários.

Transcrevo, aqui, uma lista de como pedir indiretamente para fechar a porta apresentada por

Levinson (2007, p.336 337).

Quero que voe feche a porta.

Eu ficaria muito grato se você fechasse a porta.

Você pode fechar a porta?

Por acaso, você tem como fechar a porta?

Você fecharia a porta?

Você não vai fechar a porta?

Page 40: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

Ou

LETRAS | 48

utras formas

8

Você se impo

Você estaria

Você devia fe

Poderia ser ú

Não seria me

Posso pedir-l

Você ficaria m

Sinto ter de d

Você se esque

Faça-nos um

Que tal um p

s linguísticas

Está muito fri

Na sua terra

A sua casa nã

RESUM

pragmsituaç

ortaria de fechar

disposto a fecha

echar a porta.

útil fechar a por

elhor você fecha

lhe que feche a

muito chateado

dizer-lhe para fe

ecer de fechar p

favor com a por

ouco menos de

ainda poder

io com a porta a

não se fecha a p

ão tem porta?

MO: Os atosmático conções uma in

estru

r a porta?

ar a porta?

rta.

ar a porta?

porta?

se eu lhe pediss

echar a porta.

porta?

rta, amor.

brisa?

riam ser acre

aberta!

porta?

de linguagenstituem ounformação tutura linguís

se que fechasse

escentadas, c

em indiretosutra forma dtotalmentestico discurs

a porta?

como:

s uma dasde dizer madiferente, dsiva do enu

s formas deis, ou em ado que estánciado.

e implícitolgumasdito na

Page 41: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

IMPLÍC

Os i

considerado

participante

contexto, o

Por

algumas sit

de element

do nível pra

Seg

CITOS L

implícitos at

os pragmáti

es do princí

que facilita

ém, nem to

uações, mes

to linguístico

agmático.

gundo Ducrot

LINGUÍSE SU

té então dest

cos, pois as

pio de coop

ao interlocu

odos os imp

smo que não

o presente ne

t (1987), pre

Dizer que

admitir X,

subentendi

processo, a

fala. (p.42)

LEITURA

Pontes.(

MOURAa questõ1999. (c

UN

STICOSUBENTE

tacados – im

s informaçõe

peração, do

tor identifica

plícitos são

o esteja afirm

essa estrutu

essuposto e s

pressuponho

sem por iss

ido, ao contrá

ao termino do

AS: DUCRO(p.13 43)

A, Heronideões de semcap. I)

NIDAD

S E PRAENDIDO

mplicaturas c

es extras (in

conhecimen

ar a intenção

estritament

mado na est

ra. O subent

subentendid

X, é dizer q

o dar lhe o

ário, diz respe

o qual deve s

OT, Oswald.

es M. (1999mântica e p

DE IV

GMÁTIOS (DUC

conversacion

nferências)

nto entre os

o do locutor

e pragmátic

trutura lingu

tendido, por

o são dois tip

ue pretendo

direito de p

eito à maneir

se descobrir a

(1987) O d

9) Significaragmática.

COS: PCROT)

nais e atos de

possíveis ad

s participant

com determ

cos, há uma

uístico discur

r outro lado,

pos de efeito

obrigar o de

rosseguir o d

ra pela qual e

a imagem qu

dizer e o d

ação e cont

. Florianóp

LETRAS | 4

PRESSUP

e linguagem

dvêm da ob

tes da intera

minado enunc

a categoria

rsiva, é recu

, parece ser

os de sentido

estinatário, p

diálogo a pro

esse sentido é

e pretendo lh

ito. Campi

texto: umapolis: Editor

49

POSTO

indiretos –

servação pe

ação, enfim

ciado.

deles que,

perado a pa

uma inferên

o:

or minha fala

opósito de X

é manifestado

he dar de mi

inas, SP:

a introduçãra Insular,

OS

são

elos

do

em

artir

ncia

a, a

X. O

o, o

nha

ão

Page 42: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 50

O PRESSUPOSTO É UM IMPLÍCITO LINGUÍSTICO OU PRAGMÁTICO?

Antes de começar uma possibilidade de resposta a essa pergunta, situo rapidamente as origens da

pressuposição, como também o lugar de onde abordarei o esse fenômeno.

A teoria da pressuposição surgiu na Filosofia, com duas correntes, segundo Koch (1987): o grupo que

concebe a pressuposição “em termos das condições de verdade das proposições, situando se, assim, no

campo na lógica (ou da semântica pura)” (p.50); e o grupo de filósofos que concebem “a pressuposição como

condição de emprego dos enunciados” (p.51).

Neste espaço, não abordarei a pressuposição em nenhuma das perspectivas da Filosofia, centrarei

minha abordagem na perspectiva de Ducrot (1987), salientando que a teoria desenvolvida por esse linguista

passou por várias etapas que não serão aqui abordadas, mas que poderão ser conhecidas com a leitura

sugerida.

Para responder à pergunta o pressuposto é um implícito linguístico ou pragmático? , tomamos a

seguinte situação.

O senhor x, porteiro de um condomínio, é acusado pelos condôminos de ter deixado o portão aberto

em determinado dia. O síndico, ao tomar conhecimento, chamou o porteiro para averiguar a ocorrência e

obteve deste a negação de que havia deixado o portão aberto. Depois de muita discussão com alguns

moradores que acusavam o porteiro, o síndico resolve dar por encerrada a conversa e se dirige ao porteiro

dizendo:

Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto!

Todos ficaram satisfeitos, inclusive, o porteiro, porém este não percebeu que estava sendo perdoado

por algo que alegava não ser o responsável. E a reunião foi encerrada.

Na fala do síndico há uma informação implicitada que só a recuperamos através de uma inferência,

porém essa informação é ‘ativada’ por um elemento linguístico: o mais. A presença desse termo registra essa

informação que não está no nível ‘superficial’: você deixou o portão aberto. Essa inferência só é possível ser

resgatada conhecendo se o funcionamento semântico discursivo da expressão mais e os implícitos linguísticos

que ficam registrados em nossos textos, os quais podem, em algumas situações, nos comprometer.

Analisemos agora o proferimento do síndico, à luz da teoria de Ducrot (1977, 1987), começando pela

definição do que seja um pressuposto. De acordo com o mesmo autor, “pressupor não é dizer o que o ouvinte

sabe ou o que se pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já

Page 43: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 51

soubesse”. (1977, p.77) Nessa concepção, “a pressuposição aparece como uma tática argumentativa” (1987, p.

40).

Nessa perspectiva, Ducrot (1987) diz que “[...] o pressuposto é apresentado como pertencendo ao

“nós”, enquanto o posto é reivindicado pelo “eu”, e o subentendido é repassado para o “tu”.”(p.20).

Retomando o proferimento do síndico, teríamos:

Posto: Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto!

Pressuposto: Você deixou o portão aberto!

Subentendido: Da próxima vez não haverá perdão! (uma das possíveis inferências)

O pressuposto aqui identificado caracteriza se como linguístico, porque é ativado por um termo

linguístico presente na estrutura discursiva do texto. Segundo Ducrot (1987), esse tipo de pressuposto

“pertence antes de tudo à frase: ele é transmitido da frase ao enunciado na medida em que deixa entender

que estão satisfeitas as condições de emprego da frase da qual ele é a realização.” (p.33), ou seja, o

pressuposto está inscrito na língua.

No proferimento em análise, a inferência você deixou o portão aberto é colocada com sendo

partilhada e aceita por todos os integrantes da interação, inclusive o porteiro. Porém, o que nos parece é que

o empregado não ‘captou’ essa informação que fora colocada pelo síndico de forma tática para levar aquele a

assumir a falha. Caso o porteiro tivesse contestado o pressuposto, a interação seria bloqueada, pois a

continuação da conversa deve ser encadeada ao posto e não ao pressuposto.

CRITÉRIOS PARA VERIFICAÇÃO DE UM PRESSUPOSTO E CONTEXTO

Os critérios clássicos propostos pelos filósofos são os da negação e da interrogação. De acordo com

esses critérios, uma frase que contenha um pressuposto (doravante pp.), se transformada em negativa ou

interrogativa, conservará a informação pressuposta.

No entanto, há frases (textos) que não admitem a negação (nosso exemplo) ou a interrogação.

Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto?

Submetida à interrogação, constatamos que a inferência que denominamos pressuposto Você deixou o

portão aberto! é mantida, confirmando a nossa hipótese. Ducrot não nega esses dois critérios, porém propõe

Page 44: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 52

um terceiro, que, segundo ele, é o mais importante, impondo, inclusive, “um certo modo de continuar o

discurso” (DUCROT, 1987, p. 40). O critério proposto é o do encadeamento, assim descrito.

Se uma frase pressupõe X, e um enunciado dessa frase é utilizado em um encadeamento

discursivo, por exemplo, quando se argumenta a partir dele, encadeia se com o que é posto e

não com o que é pressuposto. (p.37)

Além do fato de a negação não ser aplicável a todas as frases, tanto a negação quanto a interrogação

são aplicáveis, segundo Ducrot, às frases e não a enunciados. Só o critério do encadeamento vai ser adequado

para testar os pressupostos de frases que requeiram o contexto para determiná los. Tomemos o seguinte

enunciado que admite duas interpretações em dois contextos diferentes:

Posto: Esta manhã o café estava quente!

pp1: Agora o café está frio!

pp2: Em outras manhãs o café estava frio!

Aplicando os critérios da interrogação ou da negação, é impossível validar pressupostos do tipo Em

outras manhãs o café estava frio! e Agora o café está frio!, pois negando Esta manhã o café não estava

quente! e/ou interrogando Esta manhã o café estava quente? nenhum dos dois possíveis pressupostos

levantados é mantido.

Para validar um dos dois pressupostos acima, é preciso recuperar o contexto onde texto foi utilizado,

pois constatamos que cada pressuposto requer um contexto diferente. Valida se o pressuposto Agora o café

está frio!, se o texto Esta manhã o café estava quente! foi proferido por uma pessoa, em um dia à tarde, com a

possível intenção de reclamar do café que está tomando subentendido. E o encadeamento possível que

conserva e valida o pressuposto levantado poderia ser:

Esta manhã o café estava quente, mas nem sempre tudo é perfeito!

Observemos que o encadeamento é feito com o posto, que diz respeito ao fato de pela manhã o café

estar quente. Por outro lado, só é validado o pressuposto Em outras manhãs o café estava frio!, se o

enunciado Esta manhã o café estava quente! for proferido por alguém no final do café da manhã, com a

possível intenção de reclamar do café das manhãs anteriores – subentendido.

Page 45: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 53

Esse exemplo nos mostra que, nesse caso, os critérios clássicos não dariam conta dos diferentes

pressupostos dependendo da intenção do locutor, além da necessidade de (re)construir o contexto da

enunciação, uma vez que esses pressupostos não estão no nível da frase, linguisticamente marcados. Nesse

caso, constata se, segundo Moura (1999), que “a determinação do pressuposto depende do contexto (mais

precisamente, do repertório de conhecimentos compartilhados dos interlocutores)” (p.29). E, como então se

posiciona Ducrot (1987) “[...], há dois modos de definir a pressuposição, seja a nível do enunciado, seja a nível

da frase” (p.39).

O pressuposto de existência também requer o contexto para que o interlocutor verifique a referência

ativada pelo expressões definidas ou nomes próprios. Somente o contexto e o conhecimento partilhado entre

os participantes da interação validarão o contexto ativado por um desses elementos.

A Polícia Federal não fez a segurança das provas do ENEM após material deixar gráfica.

pp: Existe uma instituição chamada Polícia federal.

Lula brinca e já fala em “ganhar” a Olímpiada de inverno.

pp1: Existe um homem chamado Lula.(Presidente)

pp2: Existe uma competição chamada Olímpiada de inverno.

EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS QUE ATIVAM PRESSUPOSTOS

Apresentamos uma relação de expressões linguísticas (MOURA, 1999) – à qual acrescentamos outras

expressões que podem ativar pressupostos, salientando, porém, que nem todos os pressupostos são ativados

por expressões e mesmos os que são, em alguns casos, requerem a reconstrução da enunciação.

Descrições definidas – “São expressões que fazem uma certa descrição de um ser específico. Esses sintagmas

nominais (que, na terminologia de Frege (1978), indicam o sentido de um referente) servem para fazer a

referência, assim como os nomes próprios.” (MOURA, 1999, p.17)

Lula desconsidera custos para Rio-2016 e nega preterir problemas sociais.

Pp: Existe um homem que se chama Lula (presidente).

Page 46: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 54

Data do Enem 2009 deve ser anunciada na terça-feira.

pp: Existe um processo seletivo chamado Enem.

TA DOTA DO ENEM 2009 DEVE SER ANUNCIADA NA TERÇA FEIRA

DATA DO ENEM 2009 DEVE SER ANUNCIADA NA TERÇA FEIRA

Verbos factivos são os que precisam ser complementados pela enunciação de um fato (geralmente através

das orações subordinadas) e que revelam estados psicológicos.

Lamentamos não ter vagas.

pp: Não há vagas

Verbos implicativos – verbo em que a ação expressa por esse verbo pressupõe uma ação anterior.

João acordou às 7 horas.

pp: João estava dormindo antes desse horário.

Verbos de mudança de estado expressam uma ação que é a permanência ou a mudança de um estado

anterior.

Maria deixou de ir à praia.

pp: Maria antes ia à praia.

Maria continua uma linda mulher!

pp: Maria era bonita.

Iterativos elementos linguísticos que indicam que uma ação (pressuposta) já aconteceu anteriormente.

O preço da gasolina subiu novamente.

pp: O preço da gasolina já subiu antes.

Page 47: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 55

Expressões temporais elementos linguísticos que expressam a ideia de tempo e, ao mesmo tempo,

pressupõe uma ação acontecida anteriormente.

João agora está estudando.

pp: João antes não estudava.

João ainda estuda!

pp: João já estudava anteriormente.

Sentenças clivadas – “Elas têm a forma: (Não) foi o X que (oração). Semanticamente, a segunda oração

contém um fato pressuposto.” (MOURA, 1999, p. 21)

Não foi João que escondeu o livro.

pp: Alguém escondeu o livro.

Prefixo re : alguns verbos iniciados com o elemento RE ativam informação pressuposta. De acordo com

Bezerra (2004, p. 67), “[...] os verbos iniciados pelo elemento RE (reavaliar, reafirmar, renovar, reforçar, e

revelar) ativam pressupostos”.

João reafirmou sua inocência.

pp: João já afirmou sua inocência anteriormente.

Alguns conectores circunstanciais alguns conectores circunstanciais introduzem uma oração que pressupõe

uma informação: desde que, antes que, depois que, visto que etc.

João passará no vestibular desde que estude.

pp: João não estuda.

Alguns advérbios – o uso de alguns advérbios deixa registrada uma informação pressuposta: mais, também, já

(em alguns contextos) etc.

Page 48: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 56

FUNÇÃO DA PRESSUPOSIÇÃO NA INTERAÇÃO

A pressuposição exerce, pelo menos, três funções, na atividade linguística: funciona como elemento de

coerência e coesão, pelo fato de evitar a repetição no encadeamento discursivo, ao mesmo tempo em que faz

com que haja recorrência semântica; uma condição de progressão, que se dá via posto; por fim, aparece como

evidência, verdade óbvia que não pode ser questionada.

Essa não possibilidade de contestação se concretiza pelo fato de que a informação pressuposta é

colocada como sendo partilhada entre locutor e interlocutor, como sendo uma informação já conhecida; no

entanto, em muitas situações, como já mostramos neste capítulo, a informação é nova, de conhecimento

somente do locutor.

Nesse caso, pode se dizer que a pressuposição é uma forma de obrigar (persuadir) o interlocutor, com

meu discurso, a admitir o que está nele pressuposto, sem, contudo, permitir lhe que prossiga a interação em

cima do pressuposto. Ou melhor, utilizar se da pressuposição na construção discursiva é dispor de uma das

estratégias argumentativas de que a língua dispõe.

Ducrot (1987, 1988) coloca a pressuposição como um dos recursos da polifonia através do qual o

locutor do enunciado não se expressa nunca diretamente, mas põe em cena, no mesmo enunciado, um certo

número de personagens. Nessa perspectiva, o sentido do enunciado nasce da confrontação desses diferentes

sujeitos. O sentido do enunciado nada mais é do que o resultado das diferentes vozes que ali aparecem.

Esses personagens linguísticos dos quais fala Ducrot são o locutor – responsável linguístico pelo

discurso – e o enunciador “as origens dos diferentes pontos de vista que se apresentam no enunciado"

(Ducrot, 1988) – além do sujeito empírico (SE) produtor efetivo do discurso (não é objeto de investigação de

um linguista semanticista, segundo Ducrot), pois nem sempre locutor e sujeito empírico coincidem em um

discurso.

O locutor pode colocar em cena, no seu discurso, outros locutores ou enunciadores para com eles

dialogar (aprovando os, rechaçando os, assimilando se ou ficando indiferente a eles). Se recorrer à primeira

opção (locutores), estará utilizando a polifonia de locutores, se optar pela segunda possibilidade, a polifonia de

enunciadores – caso da pressuposição.

Independente da forma de polifonia utilizada em um discurso, é preciso buscar identificar a posição do

locutor – responsável linguístico pelo discurso em relação aos personagens linguísticos colocados em cena

(locutores ou enunciadores). De acordo com Ducrot (1988), as relações que o locutor pode estabelecer com os

personagens trazidos para o espaço discursivo são as seguintes: de aprovação, de negação, de assimilação

(identificação) ou de distanciamento.

Page 49: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

O f

explicitame

aprova o pr

pelo posto.

ponto de vi

Veja

Na

horas – de

(senso com

como se o

encadear o

UM FECHA

Eleg

muito do q

através de a

linguisticam

Cad

pode consti

aspecto evi

abordadas.

fato de apr

ente e utilizá

ressuposto (E

O termo id

sta.

amos o exem

perspectiva

responsabili

um). O locut

interlocutor

seu discurso

AMENTO N

gemos, nest

ue se diz, ou

atos indireto

mente: os pre

da uma das

ituir um curs

dencia a nec

ovar um po

lo como arg

E1) mas enca

entificar se

mplo:

Maria acordo pp: Maria es

da teoria da

idade do E2;

tor, responsá

r também o

o seguinte.

ECESSÁRIO

e espaço, os

u tem se a in

os: implicatur

essupostos.

Pragmáticas

so com carga

cessidade de

RESUMO

pressupo

a partirem outraimplicitaduma infe

onto de vis

gumento par

adeia com o

é utilizado n

ou às 9 horas!

tava dormindo

a polifonia, o

; 2) Maria es

ável pelo tex

aprovasse,

O

s implícitos

ntenção de d

ras conversa

s aqui abord

a horária sem

e leituras ext

O: Ducrot (osto: em algde elemenas, mesmoda, requerrência do n

ta trazido p

ra uma concl

posto (E2), a

na Teoria da

antes das 9 hor

o locutor põe

stava dormin

xto (discurso

mas assimil

linguísticos e

dizer, não é

acionais, sub

dadas superf

melhante a q

ras para que

(1977, 198gumas ocoto linguísticom um eo contextoível pragmá

para o espa

lusão r. É o c

assimilando

a Polifonia n

ras.

e em cena du

ndo antes da

o), aprova o p

a se (respon

e pragmático

dito de pel

entendidos;

ficialmente,

que dispomo

e se possa co

87, 1988) prrências, linco presenteelemento lio; o subent

ático. Este ú

aço discursiv

caso da press

se (identifica

o sentido de

uas informaç

as 9 horas –

pressuposto

nsabiliza se)

os, porque,

la forma dire

ou através d

somente co

os aqui para

onhecer um p

propõe doinguisticamee na estrutnguístico qtendido, poúltimo é um

LETRAS | 5

vo não sign

suposição em

ando se) a E

e assumir um

ções: 1) Mar

de responsa

(E1) e coloc

ao posto (E

nas interaç

eta, mas de

de informaçõ

om conceitos

abordar vári

pouco mais d

is tipos deente marcadtura linguísue ativa umor outro la

m tipo de ato

57

nifica assum

m que o locu

2 – responsá

m determina

ria acordou à

abilidade do

ca o no discu

E2), ao qual

ções cotidian

forma indire

ões implicita

s introdutór

ias teorias. E

das teorias a

e implícitosdo, recuperstico discursma informado, pareceo indireto.

mi lo

utor

ável

ado

às 9

o E1

urso

vai

nas,

eta,

das

ios,

Esse

aqui

s: o

radosiva;açãoser

Page 50: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 58

Além disso, não abordamos todas as linhas teóricas de base pragmática. Elegemos, entre as várias,

aquelas que nos parecem ser as mais produtivas no trabalho com a leitura e produção de textos pela natureza

do perfil do egresso do Curso de Letras. Portanto, para a leitura e a produção de textos, alguns caminhos

foram apontados os quais elegem, como fundamental, o interlocutor e o contexto, sem prescindir do

materialização linguístico discursiva.

REFERÊNCIAS

ARMENGAUD, Françoise. (1985) La pragmatique. Paris: Presses Universitaires de France.

_____. (2006) A pragmática. São Paulo: Parábola.

AUSTIN, J.L. (1962) How to things with words. Owford: Clarendon Press.

_____. (1990 [1962]) Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas.

BLANCHET, Philippe. (1995) La pragmatique: d’Austin à Goffman. Paris: Bertrand Lacoste.

CERVONI, Jean. (1989) A enunciação. São Paulo: Ática.

COSTA, Jorge Campos da. A teoria inferencial das implicaturas: descrição do modelo clássico de Grice. Disponível em: <

http://www.jcampos.com.br > . Acesso em: 13 jan.2009.

CUNHA, José Carlos. (1991) Pragmática lingüística e didática das línguas. Belém: Editora Universitária UFPA.

DASCAL, M (1982). Fundamentos metodológicos da lingüística – vol IV: Pragmática. Campinas.

DUCROT, Oswald. (1977) Princípios de semântica lingüística: dizer e não dizer. São Paulo: Cultrix.

_____. (1987) O dizer e o dito. Campinas, SP: Pontes.

_____. (1988) Polifonia y argumentacion. Universidade del Valle Cali.

ESPÍNDOLA, Lucienne. (2001) A charge no ensino de língua portuguesa. Letr@ Viv@, UFPB, v. l, n. 3, p. 107 116.

Page 51: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 59

GRICE, Herbert Paul. Lógica e conversação. In: DASCAL, M (1982). Fundamentos metodológicos da lingüística – v. IV:

Pragmática. Campinas.

GUIMARÃES, Eduardo R. J. Sobre os caminhos da pragmática. Sobre Pragmática, Revista das Faculdades Integradas de

Uberaba – FIUBE, Série Estudos – 9, 1983.

KERBRAT ORECCHIONI, Catherine. (2005) Os atos de linguagem no discurso: teoria e funcionamento. Tradução: Fernando

A de Almeida e Irnest Dias. Niterói/RJ: EDUFF.

KOCH, Ingedore. G. V. (1987) Argumentação e linguagem. 2ª ed. São Paulo: Cortez.

_____. (1982) A inter ação pela linguagem. São Paulo: Cortez.

LEVINSON, Stephen C. (1989) Pragmatics. 5ª ed. Cambridge: Cambridge University Press.

_____. (2007) Pragmática. (trad. Luís Carlos Borges, Aníbal Mari). São Paulo: Martins Fontes.

LIMA, José P. de L. (2007) Pragmática Lingüística. Lisboa: Editora Caminho.

MAINGUENEAU, Dominique. (1996) Pragmática para o discurso literário. São Paulo: Martins Fontes.

MARCONDES, Danilo. (2005) A Pragmática na filosofia contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

_____. Desfazendo mitos sobre a pragmática. (mimeo)

MOURA, Heronides M. (1999) Significação e contexto: uma introdução a questões de semântica e pragmática.

Florianópolis: Editora Insular.

MUSSALIN, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (2001) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras, v. 2. São Paulo:

Cortez.

RAJAGOPALAN, K. (org.). Cadernos de estudos lingüísticos 30, Campinas:IEL, 1996.

REYS, Graciela. (1990) La pragmática lingüística: el estudio del uso del lenguaje. Barcelona: Montesinos.

SEARLE, John R. (1984) Os actos de fala. Coimbra: Livraria Almedina.

_____. (2002) Expressão e significado. São Paulo: Martins Fontes.

SILVA, Joseli M.; ESPÍNDOLA, Lucienne. (orgs.) (2004) Argumentação na língua: da pressuposição aos topoi. João Pessoa:

Editora Universitária/UFPB.

ZANDWAIS, Ana. (org.) (2002) Relações entre pragmática e enunciação. Porto Alegre: Editora Sagra Luzatto.

http://www.defnarede.com

http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja proibe padre casado de celebrar casamentos em goiania go

Page 52: PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUES A - cchla.ufpb.br · LETRAS | 12 pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria lingüística. (p.8) A Pragmática,

LETRAS | 60

http://www.4shared.com/file/133960193/9dbf8d81/H_P_Grice__Lgica_e_Conversao.html.

http://www.humortadela.com.br

http://www.chargeonline.com.br