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PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
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PRAGMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
LUCIENNE C. ESPÍNDOLA
INTRODUÇÃO
Este capítulo objetiva situar a disciplina Pragmática nos estudos da linguagem e introduzir a
importância do usuário (interlocutor) e do contexto nas práticas de leitura e de produção de texto.
“Isso equivale a ir além do significado das palavras e da estrutura sintática e do valor de
verdade das sentenças para incluir os elementos contextuais que fazem com que o
significado, em uma acepção pragmática, dê conta de mais do que é explicitamente dito na
interação lingüística e torne possível a análise dos atos realizados por meio da linguagem.”
(MARCONDES, 2005, p. 27)
Para alguns filósofos o contexto e o usuário passaram a ser componentes imprescindíveis para a
construção do sentido. Assim, desponta a Pragmática no seio da Filosofia e alguns filósofos, e posteriormente,
linguistas, passaram a investigar como a linguagem pode dizer mais do que diz através da estrutura linguístico
discursiva, negando (opondo se) à concepção de linguagem que postulava ser a linguagem espelho do
pensamento. As teorias que serão abordadas aqui, desenvolvidas inicialmente no seio da Pragmática,
consideram, de alguma maneira, o usuário e o contexto nas interações verbais.
Dascal (1982) propõe duas origens para a Pragmática, sendo que a principal diferença entre as duas é
a concepção de Pragmática: subordinada à Linguística e, consequentemente, à Semiótica como uma
disciplina responsável pelo terceiro nível de análise linguística; ou oriunda dos escritos de Saussure (1916) –
como uma ciência autônoma.
A concepção moderna de uma disciplina com o nome de “pragmática” está intimamente
ligada à idéia de uma outra disciplina, com o nome de “semiótica” ou “semiologia”, que
surgiu por volta do início deste século. A semiótica ou semiologia tem, como se sabe, uma
dupla origem: os escritos de Charles Sanders Peirce e de Ferdinand de Saussure. De um modo
geral, ela pode ser caracterizada, segundo ambos, como a teoria geral dos sinais. A ela ficam
assim naturalmente subordinadas todas as disciplinas que se ocupam de um tipo particular de
sinais, como é o caso da lingüística. É a essa dupla origem da semiótica e à influência desigual
de seus fundadores sobre o desenvolvimento da lingüística contemporânea que [...] remonta,
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pelo menos em parte, o problema da inclusão de um componente pragmático na teoria
lingüística. (p.8)
A Pragmática, originária dos estudos de Peirce no final do século XIX, é concebida como um nível de
análise da linguística e tem como objeto “[...] o funcionamento de algo como signo envolve o signo, aquilo que
o signo representa e aquele para quem o signo representa algo.” (p.16) De acordo com Guimarães (1983), os
estudos pautados nessa fonte apontam três direções para a Pragmática.
Uma que considera o usuário somente para determinar a relação da linguagem com o mundo
(referência), outra que considera o usuário enquanto tal na sua relação com a linguagem. [...]
e uma terceira que se configura a partir da linguagem ordinária. (ibid., p. 16 17)
A primeira vertente, também denominada de pragmática indicial,
[...] subordina o usuário ao problema da referência.[...] Esse tipo de Pragmática seria do tipo
que teria como fonte o signo indicial de Pierce e um compromisso com a semântica lógica,
ocupando se, como esta, do problema da referência de proposições, ou seja, do valor de
verdade de proposições. (ibidem., p.17)
Filiados a essa vertente encontramos os filósofos Bar Hillel (1954), Stalnaker (1972) e os linguistas
Jakobson (1963) e Benveniste (1966). Saliente se que essa vertente, tradicionalmente conhecida como sendo
objeto da Semântica, por ter como objeto de pesquisa a referência, não será abordada neste espaço1.
A segunda vertente está centrada no intérprete (usuário da linguagem) e o uso que este faz da
linguagem. Ou seja, essa Pragmática “focaliza a necessidade de se considerar o usuário do signo formulado por
Peirce” (p.19); ou seja, como intérprete. Morris (1976) representa essa vertente.
A terceira vertente da Pragmática oriunda de Peirce é a que concebe o usuário como interlocutor. E
nessa vertente, Guimarães inclui: a Pragmática Conversacional Grice (1982 [1967]); A Pragmática Ilocucional
Austin (1990 [1962]) e Searle (1981 [1969], 2002 [1979]) e a Semântica da Enunciação – Ducrot (1972,
1987,1988) e Vogt (1980).
A segunda origem da Pragmática, proposta por Dascal (1982), são os escritos de Ferdinand de Saussure
(1916), que, ao estabelecer como objeto da Linguística a langue, deixou a parole para outras ciências, entre
1 Essas questões foram abordadas na disciplina de Semântica. Alguns conceitos, porém, serão retomados no momento em foremrequeridos.
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Este capítulo constitui se de uma introdução e quatro unidades:
1. Atos de Fala (Austin e Searle)
2. Implícitos linguísticos e pragmáticos: implicaturas conversacionais (Grice)
3. Implícitos linguísticos e pragmáticos: Atos de linguagem Indiretos (Austin/Searle)
4. Implícitos linguísticos e pragmáticos: Pressupostos e subentendidos (Ducrot)
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A primeira conferência inicia se com Austin ‘declarando’ que, por um tempo maior do que o
necessário, os gramáticos, através de critérios gramaticais, classificaram uma sentença como declarativa,
interrogativa, negativa, que expressa desejo, ordem ou concessão, enquanto que os filósofos acreditavam ter a
sentença a função de descrever ou declarar um fato.
Recentemente, porém, muitas das sentenças que antigamente teriam sido aceitas
indiscutivelmente como “declarações”, tanto por filósofos quanto por gramáticos, foram
examinadas com um novo rigor. Este exame surgiu ao menos em filosofia, de forma um tanto
indireta. De início, apareceu, nem sempre formulada sem deplorável dogmatismo, a
concepção segundo a qual toda declaração (factual) deveria ser “verificável”, o que levou à
concepção de que muitas “declarações” são apenas o que se poderia chamar de pseudo
declarações. (AUSTIN, 1990, p.22)
Nesse contexto, um grande número de sentenças seria considerado sem significado (vazias de
significado) se submetidas ao critério de verdade ou falsidade. A partir dessa constatação, Austin (1962)
propõe sua teoria dos atos de fala em que dizer nem sempre é somente ‘descrever’ e/ou declarar sobre o
mundo. Dizer, em muitas situações, é fazer; é realizar uma ação ao mesmo tempo em que se diz essa ação.
Nessa perspectiva, uma grande parte dos enunciados não passíveis de serem submetidos às condições de
verdade (valor de verdade) teriam seu significado explicado através do contexto em que desempenham um
determinado ‘ato’.
Eu aposto 10 reais com você que o Corinthians vai ser campeão.
Eu batizo este carro de Julião.
Eu declaro guerra ao cigarro.
Confiro-lhe o título de bacharel em Direito.
Eu o condeno a 1 ano de trabalhos comunitários.
Dou minha palavra como João chegará na hora estipulada.2
Austin, então, passa a investigar os enunciados que, para ele, não resistiam às condições de verdade,
enquanto atos de fala. E é concebendo a linguagem como forma de ação que, inicialmente, esse filósofo
separa os enunciados de uma língua em dois grandes grupos:
2 Exemplos adaptados de Levinson (2007. p. 290).
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( .1) Nos casos em que, com freqüência, o procedimento visa às pessoas com seus pensamentos e
sentimentos, ou visa à instauração de uma conduta correspondente por parte de alguns dos participantes,
então aquele que participa do procedimento, e o invoca deve de fato ter tais pensamentos ou sentimentos,
e os participantes devem ter a intenção de se conduzirem de maneira adequada, e, além disso,
( .2) devem realmente conduzir-se dessa maneira subseqüentemente. (AUSTIN, 1990, p. 131)
Austin previu que nem todos os atos de fala cumprem rigorosamente todas as condições de felicidade
(A, B ou ) e que o não cumprimento de algumas dessas condições não constitui violações de mesmo nível.
Para ele a violação de uma das condições do grupo A e B gera infelicidades do tipo falhas – a ação pretendida
pela enunciação performativa não se realiza de forma eficaz; e denomina abusos as infelicidades geradas pelas
violações das condições do grupo .
Consideremos a notícia abaixo.
Igreja proíbe padre casado de celebrar casamentos em Goiânia (GO)
Extraído de: Folha Online - 10 de Novembro de 2008
A Igreja Católica em Goiânia (GO) e em outras 26 cidades divulgou, na missa do último domingo, uma
carta da arquidiocese dizendo que Osiel Santos, 62, está demitido da função de padre desde maio e não
pode mais celebrar casamentos. Ele abandonou a batina há 20 anos para se casar, mas continuou exercendo
o sacerdócio.
O Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Goiânia decidiu nesta segunda-feira também invalidar os cerca
de 400 matrimônios celebrados por Santos depois de casado, que eram feitos em casas e clubes.
Os batizados, no entanto, ainda valem --apesar de terem sido feitos por quem comportou em "persistente
escândalo" e "gravíssima ofensa a Deus", segundo a carta assinada pelo arcebispo dom Washington Cruz,
que ainda será lida nas missas por duas semanas.
Em nota, a arquidiocese disse que nenhum outro sacramento recebido por meio de Santos terá validade e "o
fiel que o procurar com esse propósito torna-se cúmplice de seu ato irregular diante da igreja".
Disponível em:< http://www.jusbrasil.com.br/noticias/167660/igreja-proibe-padre-casado-de-celebrar-casamentos-em-goiania-go>. Acesso em: 01 jul. 2009.
(Texto adaptado)
Essa notícia publica um ritual social – o casamento religioso – que se realiza através de um ato
performativo em que o padre (na Igreja Católica) deveria estar investido da autoridade necessária para
proferir o enunciado “Eu vos declaro casados”. Esse enunciado é mais que um dizer, é um fazer, é tornar as
duas pessoas que ali estão, perante a igreja, casados. No entanto, de acordo com a notícia, em todos os atos
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Considerando essas características, o enunciado abaixo, originalmente classificado como performativo,
ao ser reescrito com propriedades (gramaticais) linguísticas não previstas para os performativos, deixa de ser
um enunciado performativo; e os enunciados resultantes dessa reescritura são considerados como
pertencendo ao grupo dos constatativos.
EU DECLARO GUERRA AO CIGARRO.
Eu declarei guerra ao cigarro.
Guerra ao cigarro foi declarada por mim.
Ele declara guerra ao cigarro.
A reescritura do enunciado Eu declaro guerra ao cigarro., com mudança de voz verbal, de tempo e de
pessoa, mostra que os critérios funcionam com esse enunciado, saliente se, em um contexto em que o verbo
‘declarar’ esteja sendo utilizado para realizar a ação que a enunciação veicula. Ou seja, esse enunciado será
performativo, se, em uma assembleia de condomínio, o síndico, após consultar os condôminos e ter a
aprovação dos mesmos, para proibir que se fume nas dependências comuns do condomínio que administra,
disser: “Declaro guerra ao cigarro.”.
No entanto, em um contexto em que a enunciação de Eu declaro guerra ao cigarro. não esteja
realizando o ato de fala performativo, mas somente o relato de uma ação habitual, esse enunciado, mesmo
apresentando as características propostas por Austin, não pode ser considerado performativo.
Pensemos esse contexto: o proprietário de um bar, ao ser perguntado como tem sido a posição do seu
estabelecimento com relação ao cigarro, responde com o enunciado:
Eu declaro guerra ao cigarro.
Nesse contexto, o dono do estabelecimento não está, ao mesmo tempo, enunciando e realizando a
ação de declarar guerra. Constatamos somente a declaração de como tem sido sua atitude frente ao cigarro.
Esse exemplo revela que essas características elencadas por Austin mostraram se insuficientes para
caracterizar um enunciado performativo, pois há muitos outros enunciados com essas características que não
realizam uma ação ao serem proferidos; constituem simplesmente declarações, relatos etc.
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Eu compro pão na padaria do seu João.
Com essa constatação, ficou evidente que outros critérios mais seguros são necessários para
caracterizar um enunciado performativo que segue o padrão formal proposto pela teoria. Austin constatou
também que há outras formas de enunciados performativos que não seguem os padrões descritos acima:
“Culpado”, “Inocente”, porém permitem que sejam recuperadas as formas linguísticas equivalentes:“Eu o
declaro culpado”, “Eu o declaro inocente”. respectivamente.
Embora as características gramaticais tenham se mostrado pouco eficientes para dizer, com certeza, se
um enunciado é performativo ou não, de acordo com Austin, não devem ser abandonadas para identificar os
performativos explícitos, mas associadas ao critério lexical (alguns verbos apresentam a propriedade de
realizarem ações ao serem enunciados).
Nessa direção, outro critério foi apresentado, para distinguir os enunciados, no presente do indicativo
(em primeira pessoa), que realizam performativos dos que servem a outras funções: o uso das expressões “por
meio de”/ “por meio da presente”, para isolar os verbos performativos.
Utilizando se uma dessas expressões, para testar os enunciados Eu declaro guerra ao cigarro. e Eu
compro pão na padaria do seu João., teremos o seguinte resultado:
Eu, por meio da presente, declaro guerra ao cigarro.
Eu, por meio da presente, compro pão na padaria do seu João.
A expressão por meio da presente, nessas duas situações, foi produtiva para revelar que o verbo
“declarar”, no contexto de assembleia de um condomínio, é performativo enquanto que o verbo “comprar”
não é. No entanto, é um recurso que não será produtivo em outras situações em que se constata um ato
performativo não realizado pelas formas canônicas.
Essa constatação levou Austin (1990 [1962]) a propor enunciados performativos explícitos – aqueles
que se comportam conforme os critérios já estabelecidos anteriormente (sentenças ativas, indicativas, de
primeira pessoa, no presente simples),
Eu os declaro marido e mulher!
– e os enunciados performativos implícitos (ou primários) – aqueles realizados por outras formas linguísticas
que não seguem as normas dos explícitos.
Amanhã estarei no lugar combinado. (ato de promessa)
Segundo Levinson (2007),
LETRAS | 22
Dessa maneira, o que Austin sugere é que, na realidade, as performativas explícitas são
apenas maneiras relativamente especializadas de alguém ser inequívoco e específico a
respeito do ato que está executando ao falar. (p.296)
Os enunciados performativos implícitos, por sua vez, poderão ser realizados através de vários recursos
linguístico discursivos ou suprassegmentais: através do modo imperativo do verbo (Devolva o dinheiro! ao
invés de Eu ordeno que devolva o dinheiro.); advérbios (Você viajará amanhã sem falta!) em que a locução
adverbial sem falta aumenta a força do que fora enunciado; uso de certas partículas conectivas gera, de forma
sutil, o efeito de um performativo (portanto com a força de concluo que, contudo com a força de insisto que
etc.); recursos suprassegmentais (tom de voz, ênfase em determinado segmento do enunciado etc.); recursos
não verbais (gestos, sinais etc.) e as circunstâncias dos proferimentos.
As formas primitivas ou primárias dos proferimentos conservam [...] a “ambigüidade”, ou
“equívoco”, ou o “caráter vago” da linguagem primitiva. Tais formas não tornam explícita a
força exata do proferimento [...] Mas de certo modo, tais recursos são excessivamente ricos
em significado. Prestam se a equívocos e distinções errôneas e, além do mais, são utilizados
também para outros propósitos, como, por exemplo, a insinuação. O performativo explícito
exclui os equívocos e mantém a realização relativamente estável. (AUSTIN, 1990, p.69 e 72)
A constatação de que “as enunciações podem ser performativas sem estarem na forma normal das
performativas explícitas” (LEVINSON, 2007, p. 296) gerou dois desdobramentos: o abandono da dicotomia
entre performativos e constatativos e a adoção de uma teoria completa dos atos fala; e admissão de duas
categorias de atos de fala: o reconhecimento dos atos de fala diretos e dos indiretos, classificação que vai ser
abordada (revista) por Searle (1981 [1969], 2002 [1979]).
Nessa nova direção de investigação, Austin (1970 apud LEVINSON, 2007, p. 297 298) assim se
posiciona:
Além da questão, que foi muito estudada no passado e que diz respeito ao que certa
enunciação significa, há uma outra questão que diz respeito a qual era a força, como a
chamamos, da enunciação. Podemos ter absoluta clareza do que significa a frase “Feche a
porta” e ainda assim não ter clareza sobre a questão adicional de determinar se, quando
enunciada em determinada ocasião, foi uma ordem, um apelo ou sabe se lá o quê.
Searle (2002 [1979]) assim se posiciona sobre essa nova direção dada à Teoria dos Atos de Fala:
LETRAS | 23
A distinção original entre constativos e performativos pretendia ser uma distinção entre
emissões que consistem em dizer (constativos, enunciados, assertivos, etc.) e emissões que
consistem em fazer (promessas, apostas, advertências, etc.). [...] O principal tema da obra
madura de Austin, How to Do Things with words, é a falência dessa distinção. Assim como
dizer certas coisas é casar se (um “performativo”) e dizer certas coisas é fazer uma promessa
(outro “performativo”), dizer certas coisas é fazer um enunciado (supostamente um
“constativo”). [...] Qualquer emissão consistirá na realização de um ou mais atos
ilocucionários. (p.27)
E, para explicar como fazemos coisas ao enunciar sentenças, Austin (1990 [1962]) propõe a Teoria
Geral dos Atos de Fala, cujo objetivo é demonstrar que quando enunciamos, simultaneamente, realizamos três
atos:
1) Ato locucionário – é o ato de dizer algo; é o uso de uma sentença em determinada ocasião.
2) Ato ilocucionário – é o ato ao dizer algo, ou seja, ao proferir uma sentença (ato locucionário),
realizamos atos como informar, avisar, prevenir, acusar, prometer, descrever etc.
3) Ato perlocucionário – é o ato de produzir efeitos ou consequências no ouvinte/leitor; em outras
palavras, é o efeito que produzimos no leitor/ ouvinte ao realizar um ato ilocucionário; há
situações em que se pretende estar realizando um ato do tipo prevenir e pode se confundir o
outro ao invés de previni lo. Ao realizarmos um ato locucionário do tipo ordenar, informar,
prometer, declarar, encerrar, pode se produzir no leitor atos (perlocucionários) do tipo convencer,
intimidar, persuadir, surpreender, confundir etc.
Por exemplo, a sentença abaixo, mesmo não sendo do grupo das explicitamente performativas (por
não apresentar as características dessa classe),
Amanhã será o dia grande dia!
ao ser enunciada, seja em que contexto for, na modalidade falada4 ou na escrita, caracterizará um ato
locucionário, ou seja é o ato de dizer a sentença, de enunciá la. Esse ato poderá realizar, dependendo da
intenção do locutor e do contexto, um ato ilocucionário de advertir, comunicar, intimidar etc. alguém. Porém,
o interlocutor poderá, como efeito perlocucionário, sentir se intimidado, desafiado, amedrontado, irritado etc.
O interesse de Austin era explicitamente os atos ilocucionários, mais especificamente os verbos
performativos, no entanto, com a constatação de que todos os enunciados são utilizados com uma
4 A Teoria dos Atos de Fala, como o próprio nome diz, originalmente foi criada em função da modalidade falada; hoje sua aplicação foiampliada para a escrita.
LETRAS | 24
determinada força ilocucionária, a distinção entre atos performativos e constatativos foi revista, mas o
interesse pelos performativos explícitos foi mantido, inclusive com uma proposta de classificação para os
verbos ilocucionários (performativos).
Searle (2002 [1979]) revê essa classificação, adotando, como critério base para a sua classificação dos
usos da linguagem, o propósito ilocucionário5, como ele mesmo justifica:
Se adotamos o propósito ilocucionário como a noção básica para a classificação dos usos da
linguagem, há então um número bem limitado de coisas básicas que fazemos com a
linguagem: dizemos às pessoas como as coisas são, tentamos levá las a fazer coisas,
comprometemo nos a fazer coisas, expressamos nossos sentimentos e atitudes, e produzimos
mudanças por meio de nossas emissões. (p.46)
Searle (2002 [1979]) apresenta sua classificação dos atos ilocucionários, sendo que os primeiros quatro
atos (assertivos, diretivos, compromissivos e expressivos) foram assim classificados com base em algum(uns)
dos critérios: o propósito ilocucionário, a direção do ajuste (palavra mundo ou mundo palavra) as condições
de sinceridade expressas; por outro lado, as declarações não foram definidas utilizando nenhum desses
critérios, mas, segundo Searle (2002 [1979], p.25), por considerar que “em que o estado de coisas
representado na proposição expressa é realizado ou feito existir pelo dispositivo da força ilocucionária.”.
1) Assertivos – “O propósito dos membros da classe assertiva é o de comprometer o falante (em
diferentes graus) com o fato de algo ser o caso, com a verdade da proposição expressa. Todos os
membros da classe assertiva são avaliáveis na dimensão de avaliação que inclui o verdadeiro e o
falso.” (p.19) concluir, deduzir, gabar se, reclamar, constatar etc.
Situação1: em um contexto de sala de aula, o professor, ao analisar as atividades desenvolvidas por
um aluno durante o ano, assevera:
A partir de análise minuciosa do desempenho de x, concluo que x não tem condições de ser aprovado.
2) Diretivos – “Seu propósito ilocucionário consiste no fato de que são tentativas (em graus variáveis [...])
do falante levar o ouvinte a fazer algo. Podem ser “tentativas” muito tímidas, como quando o convido
5 De acordo com Marcondes (2005, p. 59), “A classificação das forças ilocucionárias e os critérios para isso são retomados eaprofundados em “A taxonomy of illocutionary forces” (in Expression and Meaning, Cambridge University Press, 1979) eposteriormente os sete componentes das forças ilocucionárias são apresentados em John Searle e Daniel Vanderveken, Foudations of
Illocucionary Logic (Cambridge University Press, 1985).”.
LETRAS | 25
a fazer algo ou sugiro que faça algo, ou podem ser tentativas muito veementes, como quando insisto
em que faça algo.” (p.21) pedir, convidar, mandar, suplicar, rogar.
Situação 2: em uma partida de futebol, um jogador comete uma falta cuja punição é a expulsão, então
o árbitro naturalmente ergue o cartão vermelho, ação que pode vir acompanhada de um dos
enunciados abaixo:
Convido-o a sair do campo!
Saia do campo!
3) Compromissivos – “Os compromissivos são [...] os atos ilocucionários cujo propósito é comprometer o
falante (também neste caso, em graus variáveis) com alguma linha futura de ação.” (p.22) prometer,
jurar.
Situação 3: em um cerimônia de colação de grau de cursos de graduação, um dos formandos faz o
juramento relativo à profissão escolhida:
Juro acreditar no direito como a melhor forma para a convivência humana. Juro fazer da justiça uma consequência normal e ... (juramento do curso de Direito)
4) Expressivos – “O propósito ilocucionário dessa classe é o de expressar um estado psicológico,
especificado na condição de sinceridade, a respeito de um estado de coisas, especificado no conteúdo
proposicional.” (p.23) agradecer, congratular, dar pêsames, dar boas vindas.
Situação 4: na volta para casa de uma viagem longa, Joana é recebida no aeroporto com uma faixa que
dizia:
Boas-vindas, Joana!
João, filho de Joana, não pôde ir à recepção por estar de plantão, então enviou uma mensagem para o
celular da mãe:
5) Dec
me
suc
em
Situ
LETRAS | 26
clarações – “
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E, apud BLANCH
Lógica e convgüística – v. Icom/file/133html.
C. (2007) Prags, p. 121 152
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LETRAS | 2
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LETRAS | 28
A teoria proposta por Grice (1982 [1967]), no artigo “Logic and Conversation”, não usou a palavra
implícito, no entanto, hoje, pode se dizer que Grice, com a descrição das regras que regem (ou devem reger)
uma conversação e as consequências do não cumprimento dessas regras, ofereceu nos uma perspectiva para
‘olhar’ (investigar/compreender/descrever) os implícitos linguísticos e os pragmáticos: implicaturas
convencionais e não convencionais.
Para estabelecer (descrever) as regras que regem o diálogo, Grice parte da hipótese de que os
participantes de uma interação fazem esforços cooperativos; se não inicialmente, mas no decorrer da
interação esses esforços são verificados, caso contrário não há comunicação. Essa hipótese deu origem ao
princípio geral da conversação: o PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.
Além desse princípio, Grice (1982, p. 86 88) postula quatro categorias, com máximas e submáximas, as
quais devem ser cumpridas para que uma interação (conversação) seja bem sucedida.
I) Categoria da quantidade – “está relacionada com a quantidade de informação a ser fornecida e a ela
correspondem as seguintes máximas:
1. Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido (para o propósito corrente
da conversação).
2. Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido.”
II) Categoria da qualidade – encontramos a supermáxima: “Trate de fazer sua contribuição que seja
verdadeira.”, com duas máximas:
1. “Não diga o que você acredita ser falso.
2. Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada.”
III) Categoria da relação – a máxima proposta é: “Seja relevante”.
IV) Categoria do modo – refere se “a como o que é dito deve ser dito”. A super máxima é: “Seja claro”,
com várias máximas:
1. “Evite obscuridade de expressão.
2. Evite ambigüidades.
3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária).
4. Seja ordenado.”
LETRAS | 29
Essas quatro categorias, com suas supermáximas, máximas e submáximas, foram propostas, para, com
o princípio da cooperação, regerem um conversação (interação) bem sucedida. Então, para que se tenha uma
interação ‘feliz’ é preciso que essas categorias sejam observadas em toda interação. Sendo que a não
observância, de forma não intencional, de um desses preceitos poderá acarretar ruídos e mal entendidos.
Portanto, conhecer essas categorias que podem garantir uma interação satisfatória pode ser um
instrumento para o professor de língua materna utilizar tanto na produção quanto na correção de textos de
gêneros textuais os mais diversos. Com as devidas adequações ao gênero em questão, é possível utilizar essas
categorias como critérios concretos para ensinar a produzir textos e também avaliar textos produzidos em sala
de aula, como mostraremos posteriormente.
Primeiramente, nos deteremos no objetivo de Grice (1982 [1972]) – oferecer subsídios para
responder à pergunta: Como é possível dizer mais do que está ‘literalmente’ dito linguisticamente?, através da
quebra de, pelo menos, uma dessas categorias. Em outras palavras, o interesse do filósofo era verificar como,
respeitando o princípio da cooperação, mas quebrando uma dessas máximas, o locutor consegue dizer ao
interlocutor mais ou além do que está dito; e por outro lado, como o interlocutor consegue também ler mais
do que está dito na estrutura linguístico discursiva.
AS IMPLICATURAS
Inicialmente, Grice introduz o conceito de implicatura as informações implicitadas, propositalmente
pelo locutor (falante/escritor), com o objetivo de transmitir algo mais ao interlocutor (ouvinte/leitor).
Dois tipos de implicaturas são estabelecidos por Grice (1982): a implicatura convencional e a não
convencional (a implicatura conversacional):
Implicatura convencional – é uma inferência resultante do significado convencional das palavras.
Ele é um inglês; ele é, portanto, um bravo. (GRICE, 1982, p. 84.)
Nesse exemplo, constatamos que a inferência de que o fato de ser bravo é uma consequência de ser
inglês advém da presença do termo linguístico portanto. Ou seja, a inferência aqui não é estritamente
contextual, ela é possibilitada pela presença de um termo que tem como significado convencional introduzir
uma conclusão ou consequência.
LETRAS | 30
Implicatura não convencional (doravante implicatura conversacional) – “inicialmente ao menos, os
implicitados conversacionais não são parte do significado das expressões cujo uso os produz”. (GRICE, 1982,
p.103)
Embora tenha proposto dois tipos de implicaturas as quais correspondem, grosso modo, aos implícitos
linguísticos e aos pragmáticos, Grice estava interessado, como confessa, somente nas implicaturas
conversacionais advindas da quebra proposital de uma das máximas propostas por ele. Saliente se que, nas
condições estabelecidas por Grice, a quebra de uma das máximas acontece em um contexto em que o
princípio da cooperação está sendo observado pelos participantes.
Segundo Levinson (2007, p. 140), é possível derivar um padrão geral para o cálculo de uma
implicatura:
(i) “F disse que p
(ii) não há razão para pensar que F não está observando as máximas ou, pelo menos, o princípio
cooperativo
(iii) para que F diga que p esteja realmente observando as máximas do princípio cooperativo, F deve pensar
que q
(iv) F deve saber que é conhecimento mútuo que q deve ser suposto para que se considere que F está
cooperando
(v) F não fez nada para impedir que eu, o destinatário, pensasse que q
(vi) portanto, F pretende que eu pense que q e, ao dizer que p comunicou a implicatura q”
Nessas condições, Grice, segundo Levinson (2007), isola as cinco propriedades essenciais das
implicaturas conversacionais:
a) Canceláveis (ou anuláveis) – “uma inferência é anulável se é possível cancelá la acrescentando
algumas premissas adicionais às premissas originais.” (p.142) As implicaturas, de acordo com
Levinson, seriam semelhantes aos argumentos indutivos.
b) Não destacáveis – “Grice quer dizer que a implicatura está ligada ao conteúdo semântico do que é
dito, não à forma lingüística, e, portanto, as implicaturas não podem ser retiradas de um
enunciado simplesmente trocando as palavras do enunciado por sinônimos [...] com exceção das
que surgem através da máxima de modo.” (p. 144 145)
c) Calculáveis – “[...] deve ser possível construir um argumento, demonstrando que, a partir do
significado literal ou do sentido da enunciação, por um lado, e do princípio cooperativo e das
d)
TEXTOS CO
Veja
das máxima
outra(s); ou
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o salientar q
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e: nos exemp
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” (p.145)
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EssaPRINCÍ
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o em que con
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constata se
ela situação.
nero textual,
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hipótese deÍPIO DA COOcategorias, cas para queda investigara as implica
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Além desse ps e submáxim
ção (conversaa quebra vol
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LETRAS | 3
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vencional d
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encional, de
xima acarre
outra máxim
quantidade
quantidade
o, o interlocu
com a possibo literal veicuria propostatá dito literalque a interaral da converincípio, Gricmas, as quaiação) seja beuntária dessum dos tipo
31
ara preserva
das express
uma (ou m
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ma, por ser e
por haver m
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utor, o conte
bilidade de uula, levanta a: deve havermente e paração veicula.ersação: oce postulous devem serem sucedidasas categoriaos de implícit
ar a
ões
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esta
mais
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exto
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LETRAS | 32
E* Por que o senhor não estudou?
I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente era era era do Catolé do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui criado também como como se da famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. (01.AFD.M)
A resposta do informante, do corpus do VALPB7, apresenta informações que ultrapassam o conteúdo
esperado como resposta. No entanto, constata se que essas informações adicionais são apresentadas como
justificativa para a interrupção dos estudos. Então, a quebra da máxima da quantidade é consciente e com
objetivos os quais o informante espera sejam captados pelo entrevistador.
A) - João é um bom aluno?
B) - É o melhor jogador de futebol da escola.
Situemos a interação acima: João candidata se a uma bolsa no programa de bolsas da escola o qual
tem como requisitos, para seleção de alunos, o bom desempenho em sala de aula. A (presidente da comissão
de bolsas) faz a pergunta acima a B (professor de Matemática de João). Com a resposta dada por B, A precisa
fazer algumas inferências para chegar a uma possível leitura: B está sendo cooperativo quando disse que João
“É o melhor jogador de futebol da escola”; portanto A precisa inferir que B está dizendo mais do que está
literalmente expresso (p) e que B pretende que A identifique o que Grice chamou de q (a inferência implicitada
pela quebra da máxima). Uma das possíveis inferências, a partir do contexto descrito, é que João não é um
bom aluno, considerando os parâmetros exigidos para ser bolsista. Nessa interação, além da quebra da
máxima da quantidade, foram fornecidos menos informações do que se esperava, pode se dizer que há
também a quebra da máxima da relação, pois pode se pensar que a resposta dada por B não é relevante para
a pergunta feita por A.
O excesso de informações também afeta o critério de relevância, pois dizer mais do que é requerido
não é adequado, exceto se o objetivo é dizer mais do que é aparentemente dito.
As frases conhecidas como tautológicas também podem figurar como exemplos de textos que violam a
máxima da quantidade, sendo, por um lado, circulares, redundantes e, por outro, dizem menos do que
deveriam dizer, ou seja, são menos informativas do que o requerido.
7 Projeto de Variação Lingüística do Estado da Paraíba, coordenado pelo professor doutor Dermeval da Hora de Oliveira.
LETRAS | 33
Criança é Criança!
Guerra é guerra!
Surpresa inesperada!
Acabamento final!
Elo de ligação!
Os dois primeiros exemplos Criança é Criança! e Guerra é guerra! podem também aparecer em
contextos que estejam sendo utilizados para responder a perguntas do tipo Defina o que é ser criança? ou
Defina o termo guerra. Nesses dois contextos, desde que se suponha que o locutor desses enunciados esteja
sendo cooperativo, haverá a quebra da relevância cuja intenção caberá o interlocutor buscar identificar.
Nesses dois casos, teríamos a quebra de duas máximas: a da quantidade e a da relevância.
Máxima da qualidade: a quebra da supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.” faz
com que o interlocutor identifique no texto uma incoerência, caso não se ressalte que essa declaração
‘aparentemente falsa’ tem como objetivo, por parte do locutor, dizer algo mais, podendo fazer, inclusive, com
que surjam as ironias.
A – Você está horrível com esse vestido!
B - Eu também amo você!
Levinson (2007) faz o seguinte comentário para uma interação semelhante a essa:
Qualquer participante razoavelmente informado saberá que a enunciação de B é
escandalosamente falsa. Sendo assim, B não pode estar tentando enganar A. A única maneira
pela qual a suposição de que B está cooperando pode ser mantida é se interpretarmos que B
quer dizer algo um tanto diferente daquilo que efetivamente foi dito. Ao procurarmos por
uma proposição relacionada, mas cooperativa, que B pode estar pretendendo comunicar,
chegamos ao oposto, ou negação, do que B formulou[...]. (p.136)
No nosso exemplo, provavelmente B está querendo dizer a A: “Eu também odeio você!”. Mas para
que se possa chegar a essa inferência, conhecimentos partilhados e culturais precisam ser recuperados,
partindo inicialmente da suposição de que B está sendo cooperativo.
LETRAS | 34
Vejamos mais situações em que a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”
está sendo violada intencionalmente:
Um edifício estava pegando fogo, e todos corriam para a saída de emergência. Alguém pergunta: A - É um incêndio?
B - Não, é a minha mulher que está assando uma pizza!
O presidente Lula, ao ser perguntado por um jornalista:
A - O senhor acha que a CPI da Petrobrás vai terminar em pizza? Ele respondeu:
B - Todos eles são bons pizzaiolos. (15/07/09)
Nas duas interações acima, a primeira do gênero textual piada e a segunda fragmento de uma
entrevista feita por um repórter de televisão com o presidente Luís Inácio da Silva (Lula), constata se
que, mesmo em gêneros diferentes, há a quebra da máxima da qualidade, porém com objetivos
diferentes.
Na piada, a quebra da supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”
funciona como desencadeador (ativador) da ironia que gera o riso, pois a uma pergunta não
relevante cabe uma resposta também não verdadeira, que, por sua vez, também se caracteriza como
uma resposta não relevante. Essa característica permite observar que a quebra da máxima da
qualidade, nessa situação, também gera a quebra da máxima da relevância. Como já foi dito
anteriormente, há situações em que a quebra de uma máxima desencadeia a quebra de outra(s),
sendo que, às vezes, torna se difícil enquadrar a quebra em uma ou em outra categoria.
Na entrevista, constata se que houve também a quebra “Trate de fazer sua contribuição que
seja verdadeira.”, porém com objetivos diferentes daqueles que constatamos na piada. Nessa
entrevista, o presidente talvez por não ter condições de, com certeza, dar uma resposta para a
pergunta feita pelo repórter, resolve ironizar, aparentemente sendo irrelevante, porém poderá estar
dizendo que os parlamentares não são pizzaiolos, embora saiba se que, metaforicamente, as CPIs
terminam em ‘pizza’. Saliente se que, subsequentemente a esse episódio, ao ser questionado por
essa resposta, o presidente disse que não pretendia ofender ninguém. Nessa interação, como em
outras já mostradas, poder se ia apontar outra quebra de máxima, a da relevância, provando que
LETRAS | 35
quase sempre a não observância de uma máxima acarreta a de outra ou é consequência de outra
quebra.
Embora os dois textos pertençam a dois gêneros textuais diferentes, de acordo com Levinson
(2007, p. 136), “Se não houvesse nenhuma suposição subjacente de cooperação, os receptores das
ironias deveriam simplesmente ficar perplexos; nenhuma inferência poderia ser extraída.”.
Máxima da relação: nos textos abaixo, constata se a quebra da máxima “seja relevante”, porém ressaltando
que essa quebra é proposital, portanto o interlocutor precisa partir da presunção de que o locutor está sendo
cooperativo, então está dizendo algo a mais do que está dito ‘literalmente’ e cabe àquele buscar, através de
inferências, essa informação extra.
Inicialmente, apresento duas perguntas com as respectivas respostas de uma entrevista feita pela
Rede Globo de Televisão com o candidato a Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. À época da
entrevista, Lula era candidato ao segundo mandato à presidência do Brasil, por isso estava sendo questionado
sobre o escândalo do mensalão, colocado a público no seu primeiro mandato.
Fátima Bernardes: O senhor acha então que o senhor também errou, presidente, no caso dessas denúncias, o senhor também teria errado? O que o senhor poderia fazer de diferente no caso de um novo mandato?
Lula: Eu só poderia fazer diferente se eu soubesse antes. Eu soube depois que aconteceu. O dado concreto, Fátima, é que muitas vezes, ou por uma fé, ou quem sabe até porque estamos vivendo uma guerra política, as pessoas ousam dizer o seguinte: "olha, mas o presidente deveria saber de tudo". Ora, vamos ser francos, vamos ser honestos entre nós. Está cheio de famílias que têm problema dentro de casa e a familia não sabe. Está cheio de pai e mãe que ficam sabendo que o seu filho cometeu um delito pela imprensa, ou quando a policia prende. Como é que pode alguém querer que o presidente da República, embora tenha que assumir responsabilidade por todos os lados, saiba o que está acontecendo agora na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo ligada ao Ministério da Agricultura. Como é que eu posso saber agora o que está acontecendo com os meus ministros que não estão aqui? (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)
Fátima Bernardes: Mas o fato dele (Paulo Okamoto), de aliados dele, terem tentado tanto bloquear aquela quebra de sigilo, não pode levar o eleitor a pensar que havia algo a esconder?
Lula: É um direito dele não querer quebrar o sigilo dele. É um direito de qualquer cidadão. Amanhã, isso pode estar acontecendo com você, pode estar acontecendo comigo, pode estar acontecendo com o William e nós vamos utilizar todos os mecanismos que o direito nos dá para que nós possamos nos defender. (entrevista 10/08/06 na Rede Globo)
Analisando as respostas do presidenciável, à luz da máximas, constata se que as duas perguntas feitas
pela entrevistadora ficaram sem respostas adequadas para a situação, porém, partindo da presunção de que o
LETRAS | 36
locutor (Lula) estava sendo cooperativo, ou seja, que o candidato entendeu a pergunta, e que respondeu
dessa forma intencionalmente, cabe à entrevistadora, como aos ouvintes (leitores), buscar a informação extra
que estava sendo comunicada pelo candidato. Da forma como as perguntas foram respondidas, o
presidenciável não se comprometeu literalmente com o escândalo vivenciado pelo PT, porém deixou margem
para julgarem no culpado ou inocente.
Nesse contexto, a máxima “seja relevante” foi violada deliberadamente pelo locutor (candidato Lula)
por, sabermos, naquele contexto ter de agradar gregos (seu partido) e troianos (oposição ‘solidária’) e
principalmente não poder se comprometer perante seus milhões de eleitores que assistiam à entrevista.
Saliente se que a quebra que chama a atenção é a da relevância, no entanto, para quebrar essa, outra máxima
também foi quebrada: a da quantidade na primeira pergunta; na segunda, pode se constatar que a quebra da
máxima da relevância pode ter tido a função de preservar a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que
seja verdadeira.”.
A seguir apresentaremos a quebra da máxima “seja relevante” em charges, em que a quebra tem
função semântico discursiva diferente da constatada na entrevista anterior. O gênero textual charge tem a
função social de criticar situações cotidianas as mais diversas, através do humor gerado por vários recursos
linguístico discursivos. Apresentamos aqui algumas charges cujo recurso gerador do riso é a quebra da máxima
da relação.
(Disponível em: <http://www.humortadela.com.br>Acesso em: 04 jul. 2009)
Nessa charge, é abordado um tema do cotidiano, saliente se atemporal, e, para se chegar um
dos possíveis sentidos, é preciso que o leitor identifique:
LETRAS | 37
1) Os personagens ou os fatos a que o texto faz referência – na perspectiva polifônica, ostextos com os quais esse texto dialoga;
2) o contexto sócio histórico e/ou político e as circunstâncias em que o fato referenciadoaconteceu; ou seja, recuperação da enunciação;
3) os elementos lingüísticos, quando houver;4) as possíveis intenções do chargista, considerando o lugar de onde ele enuncia (se é
através de jornal, revista, ou sem vínculo com nenhum meio de comunicação, produçãoindependente). (ESPÍNDOLA, 2001, p. 110 111).
Após, serem recuperadas essas informações, constata se, na charge, que as palavras da mãe
não são adequadas à situação que o texto não verbal revela (mostra). Verifica se que o que é dito
pela mãe não é relevante para a situação em que se encontram mãe e filho.
Considerando o texto não verbal (ancoragem da charge), constata se que o chargista
apresenta dois personagens (mãe e filho) interagindo, porém a mãe dirigindo se ao filho com um
enunciado quase que absurdo para o contexto. Porém, como nos outros gêneros apresentados, os
leitores da charge precisam partir da presunção de que o chargista, ao apresentar esse diálogo
‘anormal’ em um lixão, está sendo cooperativo com seus leitores, portanto estaria, com esse texto,
veiculando uma informação extra, além do dito. A quebra da máxima ‘seja relevante’ leva o leitor a
buscar a intenção do locutor, aqui o chargista, que poderia ser uma crítica aos governantes, por
permitirem que pessoas tenham de recorrer ao lixão para sobreviverem. A quebra gera o riso, mas,
na charge, geralmente é uma forma de crítica.
Disponível em: <http://www2.uol.com.br/angeli/chargeangeli>. Acesso em: 05 jul. 2009.
Nessa charge, como já colocado anteriormente, também é preciso que sejam recuperados os
conhecimentos prévios necessários para que se possa fazer uma das leituras possíveis. A quebra da
LETRAS | 38
máxima da relevância novamente é utilizada aqui pelo locutor (chargista), agora na resposta dada
pelo entrevistado a um programa de televisão. Aparentemente, dir se ia que o entrevistado não
entendeu a pergunta do entrevistador, porém, essa inferência fica invalidada ao se recuperar nossa
história, principalmente, o período de ditadura por que os brasileiros passaram e a fase atual em que
a ditatura tem sido reconhecida pelos governantes.
A partir dessa constatação, resta ao leitor fazer suas inferências, considerando que o
personagem colocado no papel de entrevistado (provável ‘ator’ do período da ditadura por suas
características físicas), está sendo cooperativo na entrevista, portanto, se deu uma resposta
inadequada o fez com uma intenção. Nesse caso, é preciso buscar uma inferência que traduza essa
possível intenção.
A charge abaixo também é uma crítica, através do humor, utilizando se do recurso da quebra
da máxima da relevância. Constata se, no texto, uma resposta, aparentemente, inadequada à
pergunta feita pela pessoa que está sendo detida por um policial da Polícia Federal. O título da
charge faz referência a escândalo fiscal de uma empresa brasileira. Novamente, para se chegar à
informação extra que o locutor (chargista) pretende divulgar, é preciso partir da presunção de que
ele está sendo cooperativo e de que a quebra da máxima por um dos personagens da charge é
intencional.
Disponível em:http://www.chargeonline.com.br Acesso em: 05 de jul. 2009.
LETRAS | 39
É preciso salientar que a quebra da máxima da relação é feita deliberadamente, para, muitas vezes,
preservar a supermáxima “Trate de fazer sua contribuição que seja verdadeira.”.
(A) - Que significa "pressuposição"?
(B) - Consulte uma obra de semântica.
(A) - Que horas são?
(B) - Já é tarde.
(A) - Você me ama?
(B) - Eu gosto de estar em sua companhia.
Nas três interações acima, constata se que todas as respostas não são, aparentemente, adequadas às
perguntas, porém percebe se que o locutor através dessa quebra (estratégia) está sendo cooperativo e
protege se para não ser acusado de não ter dito a verdade. Porém, constata se que, em cada uma das
situações, as informações intencionalmente veiculadas são as mais diversas, ficando a cargo dos interlocutores
(leitores) identificá las.
Máxima de modo: quebrar essa máxima significa não seguir um desses preceitos:
1. “Evite obscuridade de expressão.
2. Evite ambigüidades.
3. Seja breve (evite prolixidade desnecessária).
4. Seja ordenado.”
Muitas vezes, quando constatamos a quebra de uma das três outras máximas, é em decorrência da
quebra de um dos preceitos da categoria do modo. Por exemplo, a quebra da máxima da quantidade, nos dois
exemplos tratados naquele espaço, está diretamente ligada ao fato de o informante não ter respeitado o
preceito “seja breve” na interação:
E* Por que o senhor não estudou?
I* É: :: num estudei porque num num de:u, sabe? Num quis, né? Num gostava mesmo, :: porque só só queria trabalhaO mesmo e brincaO :: e minha mãe era do interioO, ficô grávida de mim, né? :: aí veio pra cá. pa capital, né? A agente era era era do Catolé
LETRAS | 40
do Rocha. Aí: :: nasci, né? quando eu tinha nove anos ela morreu. :: Aí eu sô criado [PÓ-] fui criado também como como se da famüia mesmo{inint}onde eu moro lá. Gente muito boa lá, muito boa pa mim. (01.AFD.M)
A interação abaixo, por outro lado, cuja máxima da quantidade também foi quebrada por dizer menos
do que deveria ter dito para a situação, quebra, também, a máxima da relação.
A) - João é um bom aluno?
B) - É o melhor jogador de futebol da escola.
Submetendo as implicaturas conversacionais levantadas nos textos aos critérios propostos por Grice
(1982), é possível verificar que todas as quebras de máximas geradoras de implicaturas denominadas
conversacionais são: canceláveis, pois não estão previstas na significação das expressões que compõem a
estrutura linguística; não destacáveis, pois as implicaturas estão ligadas ao sentido e ao contexto, portanto
mudar a estrutura não as elimina; calculáveis, são calculadas, pois a partir da presunção de que o locutor está
sendo cooperativo, está dizendo algo através da quebra; portanto, cabe ao interlocutor calcular qual a
informação extra que lhe está sendo enviada; não convencionais, pois todas os exemplos de implicaturas
acima não estão previstos no significado convencional das expressões linguísticas.
AS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS E O ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTOS
A violação intencional das máximas conversacionais gera as implicaturas conversacionais privilegiadas
até aqui, as quais constituem um implícito pragmático. No entanto, a máximas propostas por Grice (1982)
também podem ser violadas não intencionalmente, por desconhecimento das regras de construção de um
texto de determinado gênero. Nesse contexto, quero fazer algumas ponderações sobre a quebra dessas
categorias, a qual gera um texto com determinada incoerência ou gera um ruído não intencional em uma
interação.
As máximas conversacionais de Grice, embora tenham sido pensadas para o contexto da conversação,
podem ser utilizadas para o ensino de produção textual, bem como critérios para a correção de textos,
considerando as características macro e micro do gênero a que o texto pertence.
LETRAS | 41
Para exemplificarmos esse possível uso da teoria, tomamos a proposta da primeira questão da prova
de redação do PSS 2009 da Universidade Federal da Paraíba, que apresentou a foto de um menino quebrando
pedra e o seguinte comando:
Imagine se no papel de um repórter que comparece ao local onde ocorreu o fato retratado.
Redija um texto para ser publicado no jornal em que você trabalha, noticiando esse fato. Para
tanto, observe as seguintes orientações:
• Siga a estrutura de uma notícia;
• Redija seu texto com, no mínimo, 12 linhas, e, no máximo, com 15 linhas;
• Use a norma padrão da língua escrita.
Observemos as máximas: de quantidade, qualidade, relação e modo no texto abaixo, considerando o
gênero que foi solicitado: uma notícia.
Se aplicarmos essas máximas, para verificarmos se esse texto atende ao mínimo que requer uma
interação escrita em forma de notícia, pode se, de forma bastante superficial neste espaço, fazer as seguintes
observações.
Para verificar se a máxima da quantidade é satisfeita, inicialmente, é preciso observar quais
informações são requeridas pelo gênero notícia, e consultando os livros da área, constatamos que alguns itens
precisam estar presentes: quem, onde, quando, o quê e como (se possível), os quais determinarão, inclusive, a
quantidade de informações. Constata se que os quatro primeiros itens aparecem no primeiro parágrafo,
mesmo que o quê esteja relatado de forma bastante superficial. No segundo parágrafo, esperava se um maior
detalhamento do fato noticiado, porém o que se encontra é um ponto de vista do redator sobre o assunto. O
nível informativo e de argumentividade, de acordo com gênero, poderia ser avaliado nessa máxima.
LETRAS | 42
A máxima da qualidade parece estar sendo satisfeita, pois o problema noticiado no texto advém de
outras notícias e reportagens veiculadas em meios de comunicação do estado. E, nesse ponto, é preciso
trabalhar com os alunos o fato de que há gêneros, por exemplo, a notícia, que requerem que os fatos
divulgados possam ser provados por aquele que os divulga. Ou seja, diga (escreva) “Não diga senão aquilo
para que você possa fornecer evidência adequada.”. Porém, a modalização é um recurso muito usado nesse
gênero quando não se tem todas as evidências de um fato que está sendo divulgado, ou não se tem a certeza
da autoria.
Não se constata nenhuma falta de relevância entre o que foi solicitado pelo enunciado da questão e o
que foi produzido pelo candidato. Teríamos aqui um caso de não relevância, caso o candidato escrevesse
sobre um outro assunto, diferente do solicitado.
Com relação à máxima do modo, é preciso aqui parar e verificar o texto, considerando a norma padrão
da língua portuguesa no que diz respeito aos elementos de coesão em nível macro e micro discursivo textual,
de acordo com as exigências do gênero solicitado.
Obviamente, as máximas serviriam de norte para o professor que trabalha com produção de texto em
sala de aula e não para comporem grades de correção de textos em concursos de grandes proporções. No
entanto, conhecer as máximas e as possibilidades de aplicação pode servir de subsídio para professores que
trabalham com leitura e escrita em todos os níveis de ensino.
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LETRAS | 44
E para tentar responder (resolver) a esses dois problemas, Searle (2002 [1979]) identifica dois atos em
um ato indireto: um ato primário e um ato secundário. O primeiro (primário) seria a intenção que tem o
locutor com determinado enunciado, independente de estar explícito ou não; o segundo (secundário) é o ato
usado para realizar o primário, o sentido literal da sentença. E, para se entender e chegar ao ato primário
pretendido/realizado pela enunciação de x, Searle (2002), p. 53 54) apresenta uma breve reconstrução das
etapas, que, segundo ele, o ouvinte (leitor) realiza, mesmo que automaticamente, para derivar o ato primário
do secundário.
De acordo com Searle (2002), para se buscar o ato primário que está sendo realizado através de um
ato secundário, lança se mão de um processo inferencial que está descrito em 10 passos nessa obra.
E assim resume esse trabalho do interlocutor (leitor).
A estratégia inferencial é estabelecer, primeiramente, que o propósito ilocucionário primário
diverge do literal e, em segundo lugar, qual seja o propósito ilocucionário primário. [...] Esse
aparato inclui informações de base compartilhadas, uma teoria dos atos de fala e certos
princípios de conversação. (p.53)
Analisemos a situação a seguir, em que A recebe um convite para ir ao cinema e B responde,
aparentemente, de forma irrelevante.
A – Vamos ao cinema hoje à tarde?
B – Tenho de terminar o material de Pragmática para a EAD.
O locutor A faz um convite, em forma de ato direto, e sua proposta é rejeitada por B de forma indireta.
Então, como A entende que sua proposta está sendo rejeitada ou que a enunciação de B deve ser lida
(entendida) como uma rejeição? Searle (2002) diz que A, para chegar à leitura de que o enunciado de B é uma
rejeição ao seu convite, primeiro realizará realizar algumas etapas linguístico cognitivas, as quais resumirei a
seguir.
A sabe que, ao fazer um convite a B, este deverá aceitá lo ou não. A também sabe que B está sendo
cooperativo (princípio proposto por Grice), portanto sua resposta deve ser relevante. No entanto, ao observar
literalmente o que fora dito por B, A constata que a resposta esperada aceitação, recusa ou proposta para
discutir o convite – não é relevante para o convite feito. Mas, recuperando a presunção de que B está sendo
relevante, A precisa buscar o que está dito além do sentido literal expresso na sentença de B, portanto o
propósito ilocucionário (ato primário) de B é diferente do expresso literalmente (ato secundário). A partir
LETRAS | 45
dessa etapa, A buscará uma conclusão (inferência) probabilística enquanto propósito probabilístico de B. Essa
inferência só será possível considerando os aspectos já levantados e o que fora dito literalmente: Tenho de
terminar o material de Pragmática para a EAD. A partir desses dados, pode se concluir que terminar o
material e ir ao cinema constituem duas ações que não podem ser realizadas simultaneamente; aceitar a
proposta de A, tendo essa tarefa a ser, com certeza, realizada, caracterizaria uma incoerência de B.
Para Searle (2002), há uma incidência maior de atos indiretos no grupo dos diretivos, em função da
polidez, uma vez que, em nossa sociedade, é muito mais eficiente uma ordem camuflada de pedido do que de
forma literal.
A polidez é a mais proeminente das motivações para pedidos indiretos e certas formas
tendem naturalmente a tornar se os meios polidos convencionais de feitura de pedidos
indiretos. (p.81)
Assim, é muito mais, socialmente, simpático e aceitável pedir que se feche a porta através da forma
indireta “Você pode fechar a porta?”, do que a forma direta “Feche a porta!”. Os compromissivos também são,
em muitas situações, realizados através de formas indiretas, como os exemplos a seguir:
Posso levar você ao cinema?
Entregarei os dados a você na sua próxima visita.
Acrescento aos postulados de Searle (2002) que todos os atos ilocucionários podem ser realizados por
meio de um ato indireto; as condições enunciativas e o princípio da polidez é que determinarão se um ato
ilocucionário, quer seja assertivo, diretivo, compromissivo, expressivo ou declarativo, será realizado de forma
direta ou através de um ato indireto.
De acordo com Levinson (2007), serão considerados atos indiretos outros usos da linguagem que não
estejam em conformidade o que está previsto abaixo:
(i) As performativas explícitas têm a força que é nomeada pelo verbo performativo na oração matriz(ii) Ou então, os três tipos principais de sentenças em inglês, isto é, as imperativas, interrogativas e
declarativas, possuem as forças que a tradição associou a elas, a saber, ordenar (ou pedir), interrogar eafirmar, respectivamente (naturalmente, com a exceção das performativas explícitas, que estejam emformato declarativo). (p.335)
LETRAS | 46
Há pessoas que têm dificuldade de pedir desculpas utilizando a forma direta “Desculpe me”, mas
realizam o ato utilizando outras formas indiretas que surtem o mesmo efeito: “Eu não queria ter magoado
você!”. “Isso não vai se repetir!” (este pode ser classificado também como um compromissivo). Parece me que
até uma declaração pode ser feita de forma indireta, observe a seguinte situação.
O diretor de uma empresa, ao constatar que um dos funcionários responsáveis pela segurança da
empresa não estava cumprindo as normas de segurança, chamou o em seu escritório e o demitiu dizendo: “A
partir de hoje você não trabalha mais nesta empresa!”. Houve uma declaração com o propósito de demitir o
funcionário; o diretor tem a autoridade para realizar esse ato; o local era adequado; enfim as condições de
felicidade foram satisfeitas e o ato consumado. Porém, o propósito de demitir foi realizado através de um ato
indireto.
Os atos assertivos, pelo menos alguns, também poderão ser realizados através de atos indiretos. Por
exemplo, posso estar fazendo uma reclamação de forma indireta. Observe a situação. Contrato uma firma de
vigilância para a segurança de minha casa, não satisfeita com o desempenho dos funcionários destacados para
fazer a referida segurança, ligo para o diretor da firma e digo: “A firma não tem funcionários mais bem
treinados para me enviar?”. Nesse contexto, não estou querendo uma resposta à pergunta, mas estou
registrando que não estou satisfeita com o desempenho dos funcionários que têm vindo fazer a segurança da
minha casa. Assim, o ato ilocucionário primário que almejo, reclamação, está sendo realizado através de um
secundário, uma pergunta. O diretor, se perspicaz, tomará as devidas providências.
Uma outra situação que ilustra um ato assertivo realizado de forma indireta. Em um noticiário
televisivo, um repórter visita uma feira com objetivo de verificar um aumento de preços de frutas e verduras
que estaria sendo praticado a partir do dia da visita. Ao verificar que os preços praticados no dia visita não
eram os mesmos do dia anterior, estavam majorados, pergunta a um dos feirantes:
Repórter: Os preços hoje estão mais altos do que estavam ontem?
Feirante: Olha, os preços hoje não são os mesmos de ontem.
Nessa situação, constatamos que o feirante não disse declaradamente que os preços das frutas e
verduras aumentaram, recorre a uma declaração que, pelo contexto econômico em que vivemos, dificilmente
o ato indireto realizado pela asserção acima seria Os preços baixaram, mas Os preços subiram. Para o feirante
não é simpático assumir a majoração dos preços, então recorre a um ato indireto, que, sabe se, nessa
situação, pode ser negado, pois não há nenhuma marca linguística que deixe essa informação registrada na
LETRAS | 47
estrutura linguístico discursiva. Junto aos consumidores o feirante não foi antipático, assumindo, o aumento,
como também se preservou junto aos outros feirantes.
Uma última ilustração de interação em que um ato assertivo pode ter sido realizado através de um
ato indireto.
Em uma empresa, as pessoas que por lá ‘transitam’ realizando determinadas atividades agendam
previamente suas idas a essa empresa. Em determinada situação, duas funcionárias, ao verificarem se
determinado profissional estaria ou não na empresa em um horário X, constataram que havia uma marcação,
mas o profissional não estava no recinto. Nesse contexto, tiveram o seguinte diálogo:
A: Não fui quem agendou a vinda de fulano.
B: É, a letra está bem direitinha.
A: Você disse que minha letra é ruim?
B: Eu não disse nada.
Nessa, situação, sabe se que há um ato indireto, porque há uma informação partilhada entre A e B, A
diz ter uma letra ‘ruim’. Essa informação não só é de conhecimento de B, como também parece ser aceita
como verdadeira por B. Porém, B não assume declaramente, mas, por todas as informações, é possível inferir
que realmente B pretendeu dizer que a letra de A não é tão legível.
A partir da exposição dos atos indiretos e do princípio da polidez que permeia nossas relações
sociais, profissionais e pessoais, há uma tendência, pelo menos em nossa cultura, de usarmos, mais do que
imaginamos, atos secundários com propósitos de atos primários.
Transcrevo, aqui, uma lista de como pedir indiretamente para fechar a porta apresentada por
Levinson (2007, p.336 337).
Quero que voe feche a porta.
Eu ficaria muito grato se você fechasse a porta.
Você pode fechar a porta?
Por acaso, você tem como fechar a porta?
Você fecharia a porta?
Você não vai fechar a porta?
Ou
LETRAS | 48
utras formas
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Você se impo
Você estaria
Você devia fe
Poderia ser ú
Não seria me
Posso pedir-l
Você ficaria m
Sinto ter de d
Você se esque
Faça-nos um
Que tal um p
s linguísticas
Está muito fri
Na sua terra
A sua casa nã
RESUM
pragmsituaç
ortaria de fechar
disposto a fecha
echar a porta.
útil fechar a por
elhor você fecha
lhe que feche a
muito chateado
dizer-lhe para fe
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favor com a por
ouco menos de
ainda poder
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ão tem porta?
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aberta!
porta?
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O PRESSUPOSTO É UM IMPLÍCITO LINGUÍSTICO OU PRAGMÁTICO?
Antes de começar uma possibilidade de resposta a essa pergunta, situo rapidamente as origens da
pressuposição, como também o lugar de onde abordarei o esse fenômeno.
A teoria da pressuposição surgiu na Filosofia, com duas correntes, segundo Koch (1987): o grupo que
concebe a pressuposição “em termos das condições de verdade das proposições, situando se, assim, no
campo na lógica (ou da semântica pura)” (p.50); e o grupo de filósofos que concebem “a pressuposição como
condição de emprego dos enunciados” (p.51).
Neste espaço, não abordarei a pressuposição em nenhuma das perspectivas da Filosofia, centrarei
minha abordagem na perspectiva de Ducrot (1987), salientando que a teoria desenvolvida por esse linguista
passou por várias etapas que não serão aqui abordadas, mas que poderão ser conhecidas com a leitura
sugerida.
Para responder à pergunta o pressuposto é um implícito linguístico ou pragmático? , tomamos a
seguinte situação.
O senhor x, porteiro de um condomínio, é acusado pelos condôminos de ter deixado o portão aberto
em determinado dia. O síndico, ao tomar conhecimento, chamou o porteiro para averiguar a ocorrência e
obteve deste a negação de que havia deixado o portão aberto. Depois de muita discussão com alguns
moradores que acusavam o porteiro, o síndico resolve dar por encerrada a conversa e se dirige ao porteiro
dizendo:
Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto!
Todos ficaram satisfeitos, inclusive, o porteiro, porém este não percebeu que estava sendo perdoado
por algo que alegava não ser o responsável. E a reunião foi encerrada.
Na fala do síndico há uma informação implicitada que só a recuperamos através de uma inferência,
porém essa informação é ‘ativada’ por um elemento linguístico: o mais. A presença desse termo registra essa
informação que não está no nível ‘superficial’: você deixou o portão aberto. Essa inferência só é possível ser
resgatada conhecendo se o funcionamento semântico discursivo da expressão mais e os implícitos linguísticos
que ficam registrados em nossos textos, os quais podem, em algumas situações, nos comprometer.
Analisemos agora o proferimento do síndico, à luz da teoria de Ducrot (1977, 1987), começando pela
definição do que seja um pressuposto. De acordo com o mesmo autor, “pressupor não é dizer o que o ouvinte
sabe ou o que se pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que ele já
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soubesse”. (1977, p.77) Nessa concepção, “a pressuposição aparece como uma tática argumentativa” (1987, p.
40).
Nessa perspectiva, Ducrot (1987) diz que “[...] o pressuposto é apresentado como pertencendo ao
“nós”, enquanto o posto é reivindicado pelo “eu”, e o subentendido é repassado para o “tu”.”(p.20).
Retomando o proferimento do síndico, teríamos:
Posto: Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto!
Pressuposto: Você deixou o portão aberto!
Subentendido: Da próxima vez não haverá perdão! (uma das possíveis inferências)
O pressuposto aqui identificado caracteriza se como linguístico, porque é ativado por um termo
linguístico presente na estrutura discursiva do texto. Segundo Ducrot (1987), esse tipo de pressuposto
“pertence antes de tudo à frase: ele é transmitido da frase ao enunciado na medida em que deixa entender
que estão satisfeitas as condições de emprego da frase da qual ele é a realização.” (p.33), ou seja, o
pressuposto está inscrito na língua.
No proferimento em análise, a inferência você deixou o portão aberto é colocada com sendo
partilhada e aceita por todos os integrantes da interação, inclusive o porteiro. Porém, o que nos parece é que
o empregado não ‘captou’ essa informação que fora colocada pelo síndico de forma tática para levar aquele a
assumir a falha. Caso o porteiro tivesse contestado o pressuposto, a interação seria bloqueada, pois a
continuação da conversa deve ser encadeada ao posto e não ao pressuposto.
CRITÉRIOS PARA VERIFICAÇÃO DE UM PRESSUPOSTO E CONTEXTO
Os critérios clássicos propostos pelos filósofos são os da negação e da interrogação. De acordo com
esses critérios, uma frase que contenha um pressuposto (doravante pp.), se transformada em negativa ou
interrogativa, conservará a informação pressuposta.
No entanto, há frases (textos) que não admitem a negação (nosso exemplo) ou a interrogação.
Episódio encerrado, mas você não deixa mais o portão aberto?
Submetida à interrogação, constatamos que a inferência que denominamos pressuposto Você deixou o
portão aberto! é mantida, confirmando a nossa hipótese. Ducrot não nega esses dois critérios, porém propõe
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um terceiro, que, segundo ele, é o mais importante, impondo, inclusive, “um certo modo de continuar o
discurso” (DUCROT, 1987, p. 40). O critério proposto é o do encadeamento, assim descrito.
Se uma frase pressupõe X, e um enunciado dessa frase é utilizado em um encadeamento
discursivo, por exemplo, quando se argumenta a partir dele, encadeia se com o que é posto e
não com o que é pressuposto. (p.37)
Além do fato de a negação não ser aplicável a todas as frases, tanto a negação quanto a interrogação
são aplicáveis, segundo Ducrot, às frases e não a enunciados. Só o critério do encadeamento vai ser adequado
para testar os pressupostos de frases que requeiram o contexto para determiná los. Tomemos o seguinte
enunciado que admite duas interpretações em dois contextos diferentes:
Posto: Esta manhã o café estava quente!
pp1: Agora o café está frio!
pp2: Em outras manhãs o café estava frio!
Aplicando os critérios da interrogação ou da negação, é impossível validar pressupostos do tipo Em
outras manhãs o café estava frio! e Agora o café está frio!, pois negando Esta manhã o café não estava
quente! e/ou interrogando Esta manhã o café estava quente? nenhum dos dois possíveis pressupostos
levantados é mantido.
Para validar um dos dois pressupostos acima, é preciso recuperar o contexto onde texto foi utilizado,
pois constatamos que cada pressuposto requer um contexto diferente. Valida se o pressuposto Agora o café
está frio!, se o texto Esta manhã o café estava quente! foi proferido por uma pessoa, em um dia à tarde, com a
possível intenção de reclamar do café que está tomando subentendido. E o encadeamento possível que
conserva e valida o pressuposto levantado poderia ser:
Esta manhã o café estava quente, mas nem sempre tudo é perfeito!
Observemos que o encadeamento é feito com o posto, que diz respeito ao fato de pela manhã o café
estar quente. Por outro lado, só é validado o pressuposto Em outras manhãs o café estava frio!, se o
enunciado Esta manhã o café estava quente! for proferido por alguém no final do café da manhã, com a
possível intenção de reclamar do café das manhãs anteriores – subentendido.
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Esse exemplo nos mostra que, nesse caso, os critérios clássicos não dariam conta dos diferentes
pressupostos dependendo da intenção do locutor, além da necessidade de (re)construir o contexto da
enunciação, uma vez que esses pressupostos não estão no nível da frase, linguisticamente marcados. Nesse
caso, constata se, segundo Moura (1999), que “a determinação do pressuposto depende do contexto (mais
precisamente, do repertório de conhecimentos compartilhados dos interlocutores)” (p.29). E, como então se
posiciona Ducrot (1987) “[...], há dois modos de definir a pressuposição, seja a nível do enunciado, seja a nível
da frase” (p.39).
O pressuposto de existência também requer o contexto para que o interlocutor verifique a referência
ativada pelo expressões definidas ou nomes próprios. Somente o contexto e o conhecimento partilhado entre
os participantes da interação validarão o contexto ativado por um desses elementos.
A Polícia Federal não fez a segurança das provas do ENEM após material deixar gráfica.
pp: Existe uma instituição chamada Polícia federal.
Lula brinca e já fala em “ganhar” a Olímpiada de inverno.
pp1: Existe um homem chamado Lula.(Presidente)
pp2: Existe uma competição chamada Olímpiada de inverno.
EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS QUE ATIVAM PRESSUPOSTOS
Apresentamos uma relação de expressões linguísticas (MOURA, 1999) – à qual acrescentamos outras
expressões que podem ativar pressupostos, salientando, porém, que nem todos os pressupostos são ativados
por expressões e mesmos os que são, em alguns casos, requerem a reconstrução da enunciação.
Descrições definidas – “São expressões que fazem uma certa descrição de um ser específico. Esses sintagmas
nominais (que, na terminologia de Frege (1978), indicam o sentido de um referente) servem para fazer a
referência, assim como os nomes próprios.” (MOURA, 1999, p.17)
Lula desconsidera custos para Rio-2016 e nega preterir problemas sociais.
Pp: Existe um homem que se chama Lula (presidente).
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Data do Enem 2009 deve ser anunciada na terça-feira.
pp: Existe um processo seletivo chamado Enem.
TA DOTA DO ENEM 2009 DEVE SER ANUNCIADA NA TERÇA FEIRA
DATA DO ENEM 2009 DEVE SER ANUNCIADA NA TERÇA FEIRA
Verbos factivos são os que precisam ser complementados pela enunciação de um fato (geralmente através
das orações subordinadas) e que revelam estados psicológicos.
Lamentamos não ter vagas.
pp: Não há vagas
Verbos implicativos – verbo em que a ação expressa por esse verbo pressupõe uma ação anterior.
João acordou às 7 horas.
pp: João estava dormindo antes desse horário.
Verbos de mudança de estado expressam uma ação que é a permanência ou a mudança de um estado
anterior.
Maria deixou de ir à praia.
pp: Maria antes ia à praia.
Maria continua uma linda mulher!
pp: Maria era bonita.
Iterativos elementos linguísticos que indicam que uma ação (pressuposta) já aconteceu anteriormente.
O preço da gasolina subiu novamente.
pp: O preço da gasolina já subiu antes.
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Expressões temporais elementos linguísticos que expressam a ideia de tempo e, ao mesmo tempo,
pressupõe uma ação acontecida anteriormente.
João agora está estudando.
pp: João antes não estudava.
João ainda estuda!
pp: João já estudava anteriormente.
Sentenças clivadas – “Elas têm a forma: (Não) foi o X que (oração). Semanticamente, a segunda oração
contém um fato pressuposto.” (MOURA, 1999, p. 21)
Não foi João que escondeu o livro.
pp: Alguém escondeu o livro.
Prefixo re : alguns verbos iniciados com o elemento RE ativam informação pressuposta. De acordo com
Bezerra (2004, p. 67), “[...] os verbos iniciados pelo elemento RE (reavaliar, reafirmar, renovar, reforçar, e
revelar) ativam pressupostos”.
João reafirmou sua inocência.
pp: João já afirmou sua inocência anteriormente.
Alguns conectores circunstanciais alguns conectores circunstanciais introduzem uma oração que pressupõe
uma informação: desde que, antes que, depois que, visto que etc.
João passará no vestibular desde que estude.
pp: João não estuda.
Alguns advérbios – o uso de alguns advérbios deixa registrada uma informação pressuposta: mais, também, já
(em alguns contextos) etc.
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FUNÇÃO DA PRESSUPOSIÇÃO NA INTERAÇÃO
A pressuposição exerce, pelo menos, três funções, na atividade linguística: funciona como elemento de
coerência e coesão, pelo fato de evitar a repetição no encadeamento discursivo, ao mesmo tempo em que faz
com que haja recorrência semântica; uma condição de progressão, que se dá via posto; por fim, aparece como
evidência, verdade óbvia que não pode ser questionada.
Essa não possibilidade de contestação se concretiza pelo fato de que a informação pressuposta é
colocada como sendo partilhada entre locutor e interlocutor, como sendo uma informação já conhecida; no
entanto, em muitas situações, como já mostramos neste capítulo, a informação é nova, de conhecimento
somente do locutor.
Nesse caso, pode se dizer que a pressuposição é uma forma de obrigar (persuadir) o interlocutor, com
meu discurso, a admitir o que está nele pressuposto, sem, contudo, permitir lhe que prossiga a interação em
cima do pressuposto. Ou melhor, utilizar se da pressuposição na construção discursiva é dispor de uma das
estratégias argumentativas de que a língua dispõe.
Ducrot (1987, 1988) coloca a pressuposição como um dos recursos da polifonia através do qual o
locutor do enunciado não se expressa nunca diretamente, mas põe em cena, no mesmo enunciado, um certo
número de personagens. Nessa perspectiva, o sentido do enunciado nasce da confrontação desses diferentes
sujeitos. O sentido do enunciado nada mais é do que o resultado das diferentes vozes que ali aparecem.
Esses personagens linguísticos dos quais fala Ducrot são o locutor – responsável linguístico pelo
discurso – e o enunciador “as origens dos diferentes pontos de vista que se apresentam no enunciado"
(Ducrot, 1988) – além do sujeito empírico (SE) produtor efetivo do discurso (não é objeto de investigação de
um linguista semanticista, segundo Ducrot), pois nem sempre locutor e sujeito empírico coincidem em um
discurso.
O locutor pode colocar em cena, no seu discurso, outros locutores ou enunciadores para com eles
dialogar (aprovando os, rechaçando os, assimilando se ou ficando indiferente a eles). Se recorrer à primeira
opção (locutores), estará utilizando a polifonia de locutores, se optar pela segunda possibilidade, a polifonia de
enunciadores – caso da pressuposição.
Independente da forma de polifonia utilizada em um discurso, é preciso buscar identificar a posição do
locutor – responsável linguístico pelo discurso em relação aos personagens linguísticos colocados em cena
(locutores ou enunciadores). De acordo com Ducrot (1988), as relações que o locutor pode estabelecer com os
personagens trazidos para o espaço discursivo são as seguintes: de aprovação, de negação, de assimilação
(identificação) ou de distanciamento.
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Além disso, não abordamos todas as linhas teóricas de base pragmática. Elegemos, entre as várias,
aquelas que nos parecem ser as mais produtivas no trabalho com a leitura e produção de textos pela natureza
do perfil do egresso do Curso de Letras. Portanto, para a leitura e a produção de textos, alguns caminhos
foram apontados os quais elegem, como fundamental, o interlocutor e o contexto, sem prescindir do
materialização linguístico discursiva.
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