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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PEDRAS: Análise tecnológica da indústria lítica do Sítio Veneza, Porto Velho, Rondônia. MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO LAURA NISINGA CABRAL PORTO VELHO, 2014

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PEDRAS:

Análise tecnológica da indústria lítica do Sítio Veneza,

Porto Velho, Rondônia.

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

LAURA NISINGA CABRAL

PORTO VELHO, 2014

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PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PEDRAS:

Análise tecnológica da indústria lítica do Sítio Veneza,

Porto Velho, Rondônia.

Laura Nisinga Cabral

Monografia apresentada ao Departamento de Arqueologia da Fundação

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Arqueologia

Orientadora: Profa. Ms. Valéria Cristina Ferreira e Silva

Porto Velho, Rondônia, Brasil

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA / DADOS DE DIREITOS AUTORAIS

Nisinga, Laura Cabral

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PEDRAS: Análise

tecnológica da indústria lítica do Sítio Veneza, Porto

Velho, Rondônia/ Laura Nisinga Cabral, Porto Velho, 2014.

Total de folhas: 77

Orientador: Valéria Cristina Ferreira e Silva

Monografia em arqueologia - Universidade Federal

de Rondônia, Porto Velho, 2014

1 Arqueologia, 2 Adorno, 3 Lítico, 4 Porto Velho

Ficha catalográfica elaborada por

Biblioteca Central da UNIR © 2014

Todos os direitos autorais reservados a Laura Nisinga Cabral. A reprodução de partes ou do todo deste

trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte.

Endereço: Campus BR 364, Km 9,5, Zona Rural, CEP: 76801-059 - Porto Velho – RO Fone: (69) 2182-2100

E-mail: [email protected]

__________________________________________________________________________________

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Fundação Universidade Federal de Rondônia

Departamento de Arqueologia

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS PEDRAS: Análise tecnológica

da indústria lítica do Sítio Veneza, Porto Velho, Rondônia.

Elaborada por

Laura Nisinga Cabral

Como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arqueologia

Comissão Examinadora

____________________________________

Valéria Cristina Ferreira e Silva

(Presidente/Orientadora)

_____________________________________

Silvana Zuse

(Professora Doutora da Universidade Federal de Rondônia)

_____________________________________

Juliana Rossato Santi

(Professora Doutora da Universidade Federal de Rondônia)

Porto Velho, 15 de dezembro de 2014

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Aos povos antigos, através de fragmentos,

ainda conseguimos ouvi-los.

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AGRADECIMENTOS

Não caberiam aqui a todos que eu gostaria de agradecer, reservo então este espaço às

pessoas que partilharam de algum modo este meu trajeto universitário.

Sou muito grata:

À Fundação Universidade Federal de Rondônia, representada pelo Departamento de

Arqueologia, por ter possibilitado essa vivencia. Ao PIBIC – PROPesq- pelo apoio na

pesquisa.

À Scientia Consultoria Científica, na figura de Renato Kipnis, pela retirada e guarda

do material, acessibilidade aos dados obtidos e presteza em cooperar com qualquer dúvida.

Ao Francisco pela imensa ajuda em resolver qualquer problema.

Aos professores: Ao querido professor André Penin (In Memorian), por ter estado

conosco, meu orientador póstumo; Juliana Rossato Santi, pela companhia, nos cafés, no

laboratório e pelos vários conselhos; Silvana Zuse, pela querida Amazônia eterna; Eduardo

Bespalez, pela colaboração e ideias; Carlos Zimpel, por não me fazer gostar de cerâmica;

Elisangela Oliveira pelas boas aulas, conversas e correções infinitas da bibliografia; Marcele

Pereira, pela alegria.

À minha orientadora, Valéria, por ter me adotado e entender a maior parte das minhas

confusões, por compartilhar o amor pelas “pedras”.

VOCÊS SEMPRE SERÃO MEUS PROFESSORES!!!

Aos meus amigos que estão nesta empreitada desde o começo do curso, e outros que

foram sendo adicionados pelo caminho, membros da minha família do coração: Eclésia

Nascimento, amiga de todas as horas; Alyne Rufino, companheira da minha casa e de líticos,

(Mesmo não admitindo!!); Cleiciane Noleto, diva eterna e parceira de laboratório; Emanuella

Oliveira, companheira de Lenine; Cássia Raíssa, amiga de verdade e parente; Ana Izabela

Bertolo, a nossa menina do IPHAN; Brena Barros, (Ôh pessoinha que sabe das coisas!); Igor

Moura, o chato mais legal que conheço; Odair Petri, (Odabear) pelos longos debates

filosóficos; Nilson Martins, pelas “viagens” que tivemos, Edileno Duran, pelas pirações e

inspirações; Rayane Noleto, pelas vindas em casa pelo cachorro-quente ; Aldineia Rodrigues

pela ajuda imensa na análise; Fernanda Maia, e Edclei Oliveira, amigos-irmãos de orientação.

Aos meus colegas de turma, 2010/2 e companheiros de curso que contribuíram para

construção do meu lado profissional.

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Aos meus irmãos de Belém: Nassandra Lima, Eric Pereira, Rafael Monte, Kássio

Marques, Rafael Malafaia, Marcelo Moraes e Bruno Neves.

Aos primeiros amigos que fiz nas terras rondonienses: Elizete Ramos, José Martins,

Irley Quintino, Glaide Valentina, Jeanes Ferreti, Alessandra Carneiro e Raquel Mota; e

Natália Sidrim, pelas várias risadas e sessões de cinema.

.

À MINHA FAMÍLIA:

Raimunda Barata e Joaquim Barata, pela compreensão; Rafaela Barata e Ivan Palheta,

pela ajuda nas várias horas de necessidade.

Mãe Rita de Cássia, por todo o trabalho que teve comigo, figura sem a qual não teria a

noção de mundo que tenho hoje; Pai Carlos Cabral, pelas longas conversas; Irmãs Joana e

Mariana, por estarmos longe e juntas ao mesmo tempo, pequenas porções do que eu sou; As

tias Adelina e Margareth e tio Oswaldo, pelo apoio a distancia; Aos meus sobrinhos Matheus,

Anna e Nathalia.

MAMUSKA: CONSEGUI!!!

Aos meus filhos: Flávia Camila e João Heitor, por compreenderem a minha ausência e

serem pequenas ilhas de segurança no caos cotidiano, extensões do meu amor (Desculpem a

falta da mãe!).

Ao meu companheiro Rafael, amigo, marido e vilão, que esteve presente (mesmo que

por telefone) nesta difícil e turbulenta jornada.

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“Enquanto todo mundo espera a cura do mal,

E a loucura finge que isso tudo é normal,

Eu finjo ter paciência.

E o mundo vai girando cada vez mais veloz,

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós,

Um pouco mais de paciência.” (Lenine)

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RESUMO

Este trabalho aborda a análise do material lítico do Sítio arqueológico Veneza, que se localizava na

margem esquerda do Rio Madeira a 7 km da cidade de Porto Velho. É um sítio arqueológico com

materiais líticos e cerâmicos associados. O material arqueológico lítico do Veneza é constituído

principalmente por lascas e fragmentos obtidos a partir de lascamento bipolar em quartzo (leitoso,

translúcido e hialino); e nódulos e fragmentos de laterita, trabalhados através de polimento. Tratamos

aqui das possibilidades interpretativas alcançadas neste sitio arqueológico

Palavras-chave: Arqueologia, Adorno, Lítico, Veneza, Porto Velho.

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ABSTRACT

This work approaches the analysis of lithic material from the archaeological site

Veneza, which located on the left bank of the Madeira River 7 km from the city of Porto

Velho. It's with archaeological lithic materials and associated ceramics. The lithic

archaeological material Veneza consists mainly of chips and fragments obtained from

chipping Bipolar quartz (milky, translucent and glassy); and nodules and laterite fragments,

worked by polishing. We treat here the achieved interpretative possibilities this archaeological

site.

Key-words: Archeology, adornment, lithic, Veneza, Porto Velho.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelo para área de corredeiras (TIZUKA, 2013). ..............................................................23

Figura 2 Localização do sítio arqueológico Veneza. A elipse indica a área do sítio, Google Earth

Fonte: COSTA, (2012) ......................................................................................................................24

Figura 3 Vistas do sítio arqueológico: A - Vista do topo do sítio sentido noroeste; B – vista do topo

para o norte; C – Vista do pântano ao norte, D – Vista para as corredeiras ao sul; e E – Vista dos

polidores da Área II (SCIENTIA, 2011) ............................................................................................25

Figura 4 Vista para o Rio Madeira (SCIENTIA, 2008 in: ZUSE, 2014) .............................................26

Figura 5 mapa de densidade de material, em marrom material cerâmico e azul material lítico

(SCIENTIA, 2011). ...........................................................................................................................26

Figura 6 Croqui: Em vermelho, sondagens com material arqueológico; em cinza, sondagens sem

material arqueológico; quadrados em amarelo localizam as unidades escavadas; o traço rosa indica o

perfil do barranco; círculos em azul indicam as áreas de coletas de superfície; as duas áreas de

concentração das feições de polimento encontram-se nos pedrais próximos ao rio (Croqui

esquemático). (SCIENTIA, 2011). ....................................................................................................27

Figura 7 Unidade N980 E937 (SCIENTIA, 2011). ............................................................................28

Figura 8 Unidades Contíguas (SCIENTIA, 2011). .............................................................................29

Figura 9 Unidade N1100 E883 (SCIENTIA, 2011)............................................................................30

Figura 10 Unidade 1040 E950 (SCIENTIA, 2011). ...........................................................................31

Figura 11 Unidade N960 E930 (SCIENTIA, 2011)............................................................................32

Figura 12 Coleta de superfície setor das mangueiras (SCIENTIA, 2011). ..........................................33

Figura 13 Perfil do Barranco (SCIENTIA, 2011). ..............................................................................33

Figura 14 Área I de polimento, seta amarela indica uma das rochas com alterações (SCIENTIA, 2011).

.........................................................................................................................................................34

Figura 15 Seta laranja: área de abrasão. Seta Vermelha: sulco polido longilíneo (SCIENTIA, 2011). .34

Figura 16 Área II na margem do Rio Madeira (SCIENTIA, 2011). ....................................................35

Figura 17 Tratamentos plásticos: inciso e exciso (A); inciso em linhas curvilíneas (B, C); inciso em

linhas paralelas (E, F, G); inciso composto (H, J) e em linhas entrecruzadas (H), serrungulado (K, L),

ponteado (M), inciso triangular (N), inciso e ponteado (O); inciso triangular (P), escovado (Q), inciso

em linhas horizontais e verticais (R), inciso e pintado (S, T, U, V, W, D), aplique zoomorfo (X);

roletado (Z), flanges ou bordas modeladas e aplique ou asa (Y); acanalado (AA) (Fotos: SCIENTIA,

2011, in: ZUSE, 2014). .....................................................................................................................36

Figura 18 Percussão direta, dura. (MERINO, 1994) Figura 19 Percussão indireta (MERINO, 1994)

Figura 20 Lascamento sobre bigorna (PROUS, 1996) ........................................................................42

Figura 21 Artefato VEN-2203-05 Unidade N1020 E903....................................................................58

Figura 22 VEN 406-01 – Unidade N960 E930...................................................................................64

Figura 23 Formas geométricas ..........................................................................................................65

Figura 24 Setas indicam as partes que apresentam abatimento do bordo ............................................66

Figura 25 Modo de como ocorre a fragmentação no lascamento bipolar (PROUS, 2010) ...................66

Figura 26 Peça VEN-208-62 - N980 E937.........................................................................................68

Figura 27 Peça VEN-208-63 - N980 E937.........................................................................................68

Figura 28 Artefatos e adornos polidos da Ilha de Santo Antônio (SCIENTIA, 2012 in ZUSE 2014) ...68

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Lista de gráficos

Gráfico 1 Matéria-prima total do Sítio Veneza ..................................................................................47

Gráfico 2 Total da natureza das transformações. ................................................................................48

Gráfico 3 Lascas por tipos matéria-prima ..........................................................................................49

Gráfico 4 Dimensão das lascas em quartzo - Sítio Veneza .................................................................49

Gráfico 5 Tipo de Vestígio – Sítio Veneza ........................................................................................50

Gráfico 6 Número de faces polidas das lateritas .................................................................................51

Gráfico 7 Dimensões das lateritas- Sítio Veneza, em mm ..................................................................52

Gráfico 8 Matéria-prima por nível das Unidades Contíguas ...............................................................53

Gráfico 9 Tipo de vestígio por nível da Unidade N980 E937 .............................................................54

Gráfico 10 Matéria-prima da Unidade N1001 E903 ...........................................................................55

Gráfico 11 Tipo de vestígio da Unidade N1001 E903 ........................................................................55

Gráfico 12 Tipo de vestígio Unidade N1100-E863 ............................................................................56

Gráfico 13 Tipo de Vestígio por nível Unidade N1100 E863 .............................................................57

Gráfico 14 Tipo de vestígio Unidade N1040 E950.............................................................................58

Gráfico 15 Unidade N1000 E950 ......................................................................................................59

Gráfico 16 N960 E883 ......................................................................................................................60

Gráfico 17 N960 E883 ......................................................................................................................60

Gráfico 18 Unidade N960 E883 ........................................................................................................61

Gráfico 19 Unidade N960 E883 ........................................................................................................61

Gráfico 20 Tipo de Vestígio com TPA - N968 E877 ..........................................................................62

Gráfico 21 Tipo de Vestígio sem TPA - N968 E877 ..........................................................................62

Gráfico 22 Matéria-prima com TPA- N968 E877 ..............................................................................63

Gráfico 23 Matéria-prima sem TPA- N968 E877 ...............................................................................63

Gráfico 24 Tipo de Vestígio - N960 E930 .........................................................................................64

Gráfico 25 Unidade N960 E930 ........................................................................................................65

Gráfico 26 Número de faces por densidade de matéria-prima ............................................................67

Lista de Tabela

Tabela 1 Material Lítico em grupos sem material cerâmicos. .............................................................20

Tabela 2 Material lítico associado à Grupos Cerâmicos. ....................................................................21

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 14

CAPITULO 1 ................................................................................................................................... 16

1 - Amazônia: Pesquisas Arqueológicas com o material lítico ........................................................... 16

1.2 - Estudos de líticos em Rondônia .................................................................................................19

CAPITULO 2 Sítio Arqueológico Veneza ......................................................................................... 23

2.1 - AS UNIDADES ........................................................................................................................ 27

2.2 - Materiais Arqueológicos ........................................................................................................... 35

2.2.1 Material Cerâmico ....................................................................................................................35

2.2.2 Material Lítico .........................................................................................................................37

CAPITULO 3 – Estudo do material lítico .......................................................................................... 38

3.1 - Técnicas.................................................................................................................................... 41

3.2 Procedimentos para a análises ..................................................................................................... 43

CAPITULO 4 ................................................................................................................................... 46

4.1 - Tratamento de dados ................................................................................................................. 46

4.1.1 Matéria-prima ..........................................................................................................................46

4.1.2 Natureza da transformação .......................................................................................................47

4.1.3 Tipo de Vestígio .......................................................................................................................50

4.1.4 Laterita.....................................................................................................................................50

4.2 - Análises dos resultados ............................................................................................................. 52

4.2.1 Unidades com embasamento granítico ......................................................................................52

4.2.2 Unidade N1100 E863 ...............................................................................................................56

4.2.3 Unidades do topo......................................................................................................................57

4.2.4 Unidades com vista para margem do rio, parte sul ....................................................................59

4.3 - Formas ...................................................................................................................................... 65

4.3.1 Formas em quartzo ...................................................................................................................65

4.3.2 Laterita.....................................................................................................................................67

CAPITULO 5 Considerações finais ................................................................................................... 69

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 71

ANEXOS.......................................................................................................................................... 75

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14

INTRODUÇÃO

No século XX, arqueólogos americanos determinaram que o povoamento das

Américas se deu através do estreito de Bering à 12.000 anos. Este modelo foi baseado na

análise e na datação de artefatos líticos conhecido como a Indústria de “Clovis”, cujas

características seriam de caçadores especializados em megafauna com pontas de flechas bem

acabadas e acanaladas. Desde então vários outros lugares tem sido estudados e vem

reivindicando o título de local mais antigo das Américas (PROUS, 1997). Outros modelos de

entrada do homem nas Américas estão levantando a hipótese de que estes se encontravam há

mais tempo até na Amazônia (BUENO, 2005).

O estudo das coleções líticas podem levantar perspectivas de quais foram as formas de

se apropriar de um meio natural e quais as prováveis escolhas feitas pelos grupos humanos.

Os trabalhos em lítico podem ter começado em um período muito recuado e não é a

introdução de novas tecnologias (cerâmica) que fazem outra tecnologia desaparecer. Ocorre

então a alteração das formas de como um determinado material é absorvido por um grupo

humano. Até hoje ainda utilizamos artefatos em rocha, panelas, facas, adornos. E este

caminho iniciou há muito tempo.

Entender como grupos humanos antigos puderam viver em uma determinada área é

uma das prerrogativas da arqueologia. E entender como se deu esta estadia na Amazônia é um

dos objetivos desta pesquisa.

O sítio arqueológico Veneza está implantado nas proximidades da cachoeira de Santo

Antônio, na cidade de Porto Velho, em uma planície de inundação (TIZUKA, 2013; ZUSE,

2014). É um sítio arqueológico cujos materiais identificados foram cerâmicos e líticos. Foram

resgatados pela empresa Scientia Consultoria Cientifica no projeto de salvamento

arqueológico da UHE Santo Antônio, no ano de 2008.

Os artefatos líticos encontrados foram analisados no âmbito do projeto de pesquisa “A

tecnologia lítica no contexto das ocupações pré-coloniais do Alto Rio Madeira (RO):

Persistência e Mudanças” com o sub-projeto “Análise tecnológica da indústria lítica do Sítio

do Veneza”, como atividade do PIBIC – CNPQ. Todos os dados aqui apresentados estão

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15

vinculados a este programa e já foram parcialmente apresentados no seminário PIBIC 2013-

2014.

No Capitulo 1 fez-se um levantamento do estudo de materiais líticos na Amazônia,

desde a antiguidade de sua presença até os estudos na área do Rio Madeira. No Capitulo 2

apresentamos o Sítio Arqueológico Veneza, as intervenções no sítio e os tipos de materiais já

analisados. No capitulo 3 discorremos sobre o trabalho em rocha, como se dá o pensamento

do trabalho e os estudos das técnicas. O Capitulo 4 é a discussão dos resultados obtidos

durante os anos de pesquisa. E o Capitulo 5 são as considerações finais.

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16

CAPITULO 1

1 - Amazônia: Pesquisas Arqueológicas com o material lítico

A arqueologia tem como uma de suas metas compreender a estrutura, funcionamento e

os processos de mudança de sociedades do passado, a partir do estudo dos restos materiais

produzidos, utilizados e descartados pelos indivíduos que compunham essas sociedades

(NEVES, 1995). Dentre os materiais passíveis de estudo das atividades dos grupos humanos,

estão os artefatos produzidos em rochas, conhecidos como artefatos líticos. Os artefatos líticos

podem ser de uma gama bem variada, estão presentes desde as tralhas de domésticas (LIMA,

1995) ao campo, do adorno do corpo à roça de coivara, do processamento de alimentos até à

guerra. Tais artefatos são fabricados através do trabalho de uma rocha bruta (lascamento,

picoteamento, polimento, perfuração, entre outros) onde lhe é retirado, desbastado, trabalhado

o suficiente para o uso.

No histórico de pesquisas arqueológicas no Brasil, o material lítico foi relegado ao

papel de coadjuvante por não se imaginar a antiguidade do povoamento das Américas ou por

simplesmente não ser o objeto de pesquisa. As primeiras teorias voltadas para a ocupação

amazônica foram formuladas por Julian Steward, na década de 40, com a hipótese sobre a

incapacidade do ambiente amazônico em fornecer subsídios suficientes para sustentar grupos

de populações grandes e sedentárias, sendo impossível viver na Amazônia de caça e coleta,

assim como a impossibilidade da existência de uma agricultura intensiva devido às limitações

ecológicas (determinismo ecológico).

A classificação presente no Handbook of. South American Indians, de 1940, divide os

grupos existentes na América do Sul em 4 categorias: Povos Marginais, Tribos da Floresta

Tropical, Circuncaribe e Andes. Os povos marginais seriam grupos nômades, familiares; as

tribos da Floresta Tropical seriam seminômades, ainda muito arraigados a crenças e

praticavam atividades de subsistência e mudando após a exaustão dos recursos; Cacicado,

embora o termo pertença a um grupo da região do Caribe foi amplamente e até hoje utilizado,

pressupõe grupos que tem certa rede de aldeias e uma liderança mais centralizada; Estado

seria representado pelos Incas, com obras de engenharia, domínio sobre outros grupos,

religião unificada e uma regência fortificada. (FAUSTO, 2010)

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17

Clifford Evans e Betty J. Meggers, influenciados pelas ideias de Steward de

determinismo ecológico (FAUSTO, 2010), vêm à Amazônia com essas premissas de que ela

seria uma área com potencial limitado para agricultura devido a suposta pobreza de nutrientes

no solo, que impediria o desenvolvimento cultural, como grandes períodos de seca e de chuva,

não permitindo assim que fossem sedentários (MEGGERS, 1990; 1999; MEGGERS E

MILLER, 2006; OLIVEIRA, 2007; ZIMPEL NETO, 2009). Para eles o sedentarismo seria

necessário para a “evolução” e complexidade cultural.

Através das correntes teóricas de Steward, o Programa Nacional de Pesquisas

Arqueológicas (PRONAPA) foi idealizado por Meggers, na década de 1960, cujo foco era os

grupos ceramistas1. O material lítico, quando foi considerado, simplesmente seguiu para a

catalogação e simples descrição, Schimtz (2007, p. 22). Algumas terminologias utilizadas

foram do Guia para o estudo das indústrias líticas na América do sul de Annette Laming-

Emperaire, em 19672. Apesar do foco do programa ser os grupos que possuíam a tecnologia

cerâmica, alguns se interessaram particularmente em catalogar os artefatos líticos, como,

Eurico Theófilo Miller, Igor Chmyz, Pedro Augusto Mentz Ribeiro. A Amazônia se mostrou

tão surpreendente que o Programa se desdobra, em 1977, no PRONAPABA, Programa

Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica. Com base nessas teorias as

evidências arqueológicas analisadas por arqueólogos do PRONAPABA, Meggers e Evans, na

década de 1970, entenderam que a grande quantidade de materiais arqueológicos estão

associada a pequenos grupos que estariam reocupando os mesmos espaços sucessivamente ao

longo de anos (MEGGERS, 1990; 1999; MEGGERS E MILLER, 2006; MILLER ET ALL,

1992).

Os complexos Líticos Lascados bem estudados são: os do centro do país, como

exemplo o material do Planalto Central marcado pela presença de raspadores plano-convexos,

Tradição Itaparica (BUENO, 2005; SCHMITZ, 2007) ; e ao sul, os complexos representados

pelas tradições Umbu e Humaitá, com pontas de flechas e raspadores plano-convexos (DIAS,

1994; SCHMITZ, 2007), e que hoje já possui uma nova percepção além da simplicidade da

análise somente funcional (DIAS, 1994; BUENO, 2007), . Na Amazônia as pesquisas com

1 Betty J. Meggers foi aluna de Steward e se propõe a estudar as rotas de migração e difusão na América do Sul.

Atentando para entender e classificar os grupos fabricantes de cerâmica. Inicialmente com trabalhos no Alto Rio

Purus (FAUSTO, 2010). 2 Guia para o Estudo das Indústrias Líticas da América do Sul. Manuais de arqueologia, Curitiba, Centro de

Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná, produzido com a proposta de adequação

dos termos para o estudo do material lítico nos sambaquis do sul do Brasil (SCHMITZ, 2007). Foi uma

primeira tentativa de unificar os termos empregados nas análises de materiais líticos e discutido no capitulo 2.

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18

materiais líticos tem sido ainda poucas, quando relacionada aos trabalhos com material

cerâmico.

Como datas antigas para o início da ocupação do homem que são anteriores 10.000

anos A.P na Amazônia temos: Abrigo do Sol, escavado por Miller, com datas de

19.400±1.100 e 14.470±140 A.P, e 10.405±100AP e 9370±70AP (MILLER, 1987); Pedra

Pintada, oeste do Pará, escavado por Roosevelt, com datas entre 11.200 e 10.000 AP

(ROOSEVELT et al., 1996).

E as datas para o início da ocupação do homem após-10.000 AP na Amazônia têm:

Sítio Dona Stela, Amazonas, escavado por Eduardo Neves, com datas de 7.400 AP (NEVES,

2006); Fase Itapipoca, com datas entre 8320±10 (beta 27015) e 6970 ±60 (beta 27013), Baixo

Rio Jamari, escavados por Miller (MILLER, 1992); Pedra Pintada, oeste do Pará, escavado

por Roosevelt, com datas entre 11.200 e 10.000 AP (ROOSEVELT et al., 1996); Complexo

Carajás, Serra dos Carajás, com mais de 8 sítios, escavados por diferentes equipes do Museu

Paraense Emílio Goeldi e pela Scientia Consultoria Científica, com datas entre 7040 e 9000

AP (MAGALHÃES, 2005; KIPNIS et al., 2005); Sítios Breu Branco 1 e Breu Branco 2,

sudeste do Pará, escavados pela Scientia Consultoria Científica, com datas entre 7.940 e 9.510

AP (CALDARELLI et al., 2005).

Já fora da Amazônia, porém em suas proximidades temos: Santa Elina, escavado por

Águeda e Dennis Vialou, com datas entre 23.320. 19.800 A.P (VIALOU, 2005); Miracema do

Tocantins 1, Capivara 5 e Lajeado 18, centro-norte do Tocantins, escavados por Bueno, com

datas entre 10.500 e 10.000 AP (BUENO, 2007); Complexo Lajeado, com 5 sítios, escavados

por Bueno, com datas entre 8980 e 9990 AP (BUENO, 2007).

Dados arqueológicos em outras partes do Brasil trazem datações radiocarbonicas de 40

mil anos, na região Nordeste do país, há 13 mil anos, na região Centro-Oeste, de uso de

artefatos em rocha (NEVES, 2006). Enquanto a cerâmica mais antiga é datada de 8 mil anos

aproximadamente, no estado do Pará, a cerâmica no sítio arqueológico Taperinha

(ROOSEVELT, 1995).

A indústria lítica da Pedra Pintada, em Monte Alegre – PA, associada a uma ocupação

compreendida entre 12-8.000 anos BP, apresenta artefatos bifaciais, em abrigo. 24 artefatos

formais foram identificados, dos quais 10 bifaciais e 14 unifaciais. As matérias-primas mais

utilizadas foram à calcedônia e o quartzo hialino, predomina o lascamento unipolar

combinado com a utilização da técnica de pressão (ROOSEVELT et al., 1996).

O sítio Dona Estela, no estado do Amazonas, estudado por Costa (2009), apresenta

uma grande quantidade de artefatos lascados. Com as datações entre 9.460 e 4.500 AP, este

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sítio se mostraria com duas ocupações. O grande diferencial deste sítio em relação aos

demais, na Amazônia, é a quantidade de instrumentos retocados: 46 lascas retocadas, 28

lâminas lascadas, 2 plano-convexos e 2 pontas de projetil (uma inteira e outra fragmentada)

encontrada. O que torna esse sítio arqueológico importante, além da datação e dos artefatos, é

que ele se encontra em um areal e não possui cerâmica.

Na Amazônia ainda há a busca pelo entendimento desta transição entre o período

Arcaico e Formativo. Faz-se necessário a ressalva de que não são períodos onde uma

tecnologia exclui a outra, mas sim caminham de modo a se complementarem.

1.2 - Estudos de líticos em Rondônia

Miller descreve uma profusão de povos na Amazônia, cercados pela suposta

dificuldade de habitar a região. Para Rondônia, os grupos mais antigos seriam os que

habitavam a região do Vale do Guaporé, na divisa entre Rondônia e o Mato Grosso, no

Abrigo do Sol (MILLER, 1987).

Nas pesquisas relativas à área de impacto da UHE Samuel, no médio e baixo Rio

Jamari – RO, Miller interpreta os dados arqueológicos como provenientes de sucessivas

reocupações, e por isso teriam um pacote estratigráfico profundo: até 6m de profundidade

para fase Itapipoca. Segundo o autor, seriam duas as fases mais antigas, Itapipoca e Pacatuba,

refugo de pequenos grupos nômades caçadores coletores pré-ceramistas que estariam

ocupando e reocupando sucessivamente ao longo do tempo determinados espaços ambientais,

enquanto a fase Massangana seria refugo de aldeamentos de grupos semissedentários3 e de

agricultura incipiente já estariam assentados sobre a terra preta, tendo essa mesma

interpretação para as fases dos grupos ceramistas (MILLER et all, 1992). Ainda segundo o

autor, tais “eventos”4 acontecem de forma muito semelhante nas outras regiões da bacia

hidrográfica do rio Madeira, então esse modelo de interpretação também poderia ser aplicado

para essa região.

Abaixo segue tabela 1 com as datações feitas ou estimadas por Miller (1987,1992 a)

para as evidencias arqueológicas no estado e o material encontrado, com os quais o autor

descreve como “aceramista” para Rondônia:

3 Para Miller os grupos semissedentários são aqueles que se mudam a cada temporada, concordando com as

colocações de Meggers, 1990, assim gerando, com seus detritos a terra preta. 4 O autor considera que um grupo é resultado da evolução cultural de outro.

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Tabela 1 Material Lítico em grupos sem material cerâmicos.

Complexo/Tradição Local Datações Material Arqueológico associado

Dourados Vale do Guaporé

Chapada dos

Parecis

14.700±195 AP

a 8.930±100

AP

Matéria-prima lítica de blocos

areníticos, caídos do próprio teto,

Basaltos, quartzos, quartzitos e

granito. Lascas, lâmina biface lascada, raspadores altos,

percutores.

Periquitos* Rio Madeira 12.000 A.P. a 13.000 A.P.**

Biface lanceolado, lascas e seixos de quartzito,

Itapipoca Rio Jamari 8320±10 AP e

6970±60 AP

Matérias-primas à calcedônia, o

quartzo, rochas cristalinas e basalto,

sendo os artefatos representados por raspadores laterais e terminais,

percutores, lascas com e sem

retoque e núcleos esgotados.

Pacatuba Rio Jamari 6.090±130 AP a 5210±70 AP

Lascas e percutores de quartzito e sílex, pedra bigorna, núcleos,

polidores manuais, toscas lâminas

de machados lascadas, micro lascas de quartzo, lajotas picoteadas com

depressões.

Massangana Rio Jamari 5.210±90 a

2.750±60 AP

Lascas e micro lascas de quartzo,

sendo ainda raros e pequenos os raspadores, pedra de bigorna,

pequenos pilões e mãos de pilão,

além de moedores impregnados de corante e pedras corantes (hematita)

e raras lâminas de machado

picotadas, lascadas, mal alisadas e pequenas.

Girau Rio Madeira 4.050 A.P.* Lascas e percutores, núcleos e

possíveis raspadores em quartzo e

sílex. *Material trazido por draga de mineração

**Datas estimadas pelo Autor

Na área do Rio Madeira, principalmente no trecho encachoeirado5 (conhecida por Alto

Médio Madeira), Miller (1992) define que os grupos desta região estariam produzindo a

cerâmica de Subtradição Jatuarana da Tradição Polícroma da Amazonia. Tal grupo possuiria a

cerâmica elaborada e bem decorada e sua indústria lítica seria marcada pelas laminas de

machados bem acabadas, simétricas e polidas, quadrangulares; contas cilíndricas ou ovoides

perfuradas (ver tabela 2).

5 Para Miller (1992, p.219) seria a área compreendida entre a Foz dos Rios Abunã e Jamari.

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Tabela 2 Material lítico associado à Grupos Cerâmicos.

Subtradição Jatuarana** Rio Madeira 2.730±75 AP. Sub-tradição Cerâmica cujos artefatos

líticos são: laminas de machados bem

acabadas, simétricas e polidas,

quadrangulares; contas cilíndricas ou

ovoides perfuradas em resina.

Tradição Jamari** Rio Jamari 2500±90 AP a

1723 d.C.

Laminas lascadas retangulares, mãos

de pilão cilíndrico, “martelos” com

gargalos, percutores, seixos retocados,

lascas, micro lascas e nódulos de

corantes de hematita.

**Grupos cerâmicos inclusos aqui por estarem próximos ou na área de análise do trabalho

Almeida (2013) teve como objetivo o estudo de sítios arqueológicos indicados como

pertencentes à Subtradição Jatuarana da Tradição Policroma da Amazônia. São cinco sítios

objetos de sua pesquisa e descreve o material lítico proveniente do Alto Rio Madeira

(principalmente os advindos do sítio Teotônio), o material lítico seria fragmentação causada

por lascamento bipolar, especialmente do quartzo, que em sua suposição poderia gerar lascas

para processamento de alimentos. Ainda há quebra-coquinhos, calibradores e seixos que

provavelmente teriam sido percutores. As matérias-primas seriam de aquisição local. A maior

parte do material encontrado está associada com a cerâmica policrômica, outra parte está

associada ao que Miller institui como pré-cerâmico ainda na terra preta.

Outros trabalhos estão revelando que a região do Alto Rio Madeira não haveria a

hegemonia populacional Jatuarana proposta por Miller, que associa esta cultura material aos

povos falantes do Tronco Linguístico TUPI. Zuse (2014) propõe que na área das cachoeiras a

diversidade cultural seria mais intensa e que o material pertencente aos portadores da

Subtradição Jatuarana seria mais recente e não tão representativos, diferenciando 5 conjuntos

tecnológicos. Discute, ainda, que as cerâmicas mais antigas na região acima das cachoeiras do

Rio Madeira está associado à presença de grupos de matriz cultural Arawak, e que a ocupação

dos portadores da Subtradição Jatuarana ocorreu de modo posterior.

Para Vander Velden (2010) o estado de Rondônia, que não teria exatamente fronteira

política atual, seria um local de grande interesse de pesquisas, tanto arqueológicas quanto

antropológicas, cujas discussões ainda estão no inicio. A região do Alto Madeira é para o

autor área com maior diversidade dos grupos indígenas falantes da língua Tupi. O autor

determina que a Grande Rondônia, geograficamente seria a região compreendida entre “...o

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noroeste do Mato Grosso, o sudeste do Amazonas e ainda o nordeste do Oriente boliviano –

ou seja, grosso modo, a área drenada pela bacia do alto rio Madeira e seus formadores –

Mamoré, Guaporé e Beni – e afluentes.”, de onde vários outros grupos humanos teriam sua

dispersão a partir desta região (VANDER VELDEN, 2010).

Urban (1992) declara que a diversidade de línguas faladas na Amazônia se deve a

sucessivas ocupações. E que os grupos teriam “dominado” o ambiente da planície baixa da

Amazônia em mais ou menos 3.000 anos atrás, chegando por levas através das cabeceiras dos

rios. Dados arqueológicos levantam hipóteses de uma chegada anterior ao indicado por

Urban. Heckenberger et all faz ressalvas sobre o uso de modelos linguísticos na arqueologia e

que, “...é importante reconhecer que havia um padrão dinâmico de movimentação

populacional na Amazônia pré-colonial, um fato que deve ser considerado pelos antropólogos

que atuam na região.” (HECKENBERGER et all, 1998,p. 13)

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CAPITULO 2 Sítio Arqueológico Veneza

O rio Madeira é o maior afluente da margem direita do rio Amazonas, tanto em

volume de água quanto em carga sedimentar, nasce no altiplano Andino, na Bolívia, com o rio

Beni e o Rio Guaporé, na Chapada dos Parecis. O trecho do rio que se encontra no estado de

Rondônia possui dezenove corredeiras, e três destas configuravam barreira natural ao homem,

elas eram as cachoeiras de Girau, Teotônio e Santo Antônio. O rio Madeira, sazonalmente,

inunda suas margens e após a cheia forma pequenas praias.

Tizuka (2013, p. 119) descreve que “o rio Madeira é um dos maiores rios do mundo

cuja evolução geomorfológica ainda é pouco estudada.”, e que “... seu traçado esteja

condicionado principalmente aos falhamentos, mas que seu regime e transporte de carga estão

certamente relacionados a uma mudança climática ocorrida do final do Pleistoceno,

coincidindo com o fim do Último Máximo Glacial (Last Glacial Maximum-LGM), entre

15000 e 8000 AP.”.

A área da cachoeira de Santo Antônio possui embasamentos graníticos pertencentes à

Suíte Intrusiva de Santo Antônio6. E nesta área, na margem esquerda, está implantado o Sítio

Arqueológico Veneza. Tizuka (2013, p. 25) propõe que “na margem esquerda a região é

caracterizada pelo domínio de superfícies de agradação, especialmente, de antigos terraços

fluviais do rio Madeira de idade pleistocênica podendo, até mesmo, registrar idades mais

antigas (pliocênica, correlatas possivelmente à Formação Rio Madeira7).”.

Figura 1 Modelo para área de corredeiras (TIZUKA, 2013).

6 A suíte ocorre na forma de batólito descontínuo que aflora de forma restrita na cachoeira de Santo Antônio e na

margem direita do rio Madeira, próximo da cachoeira. Contém três variedades de rochas graníticas com

evidências de interação com magmas máficos (QUADROS e RIZZOTTO, 2007 ) 7 Reúne os depósitos sedimentares resultantes da formação e evolução do leito ativo e planície de inundação do

rio Madeira, com a formação de sucessivos depósitos de barra de canal longitudinal e transversal, em pontal, de

diques marginais e planícies de inundação, que ocorrem nas margens do Rio Madeira e na Bacia de Abunã (QUADROS e RIZZOTTO, 2007 )

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O sítio arqueológico Veneza, localizava-se na margem esquerda do rio Madeira, a

aproximadamente de 7 km da cidade de Porto Velho e foi diretamente impactado pela

construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio. Sua coordenada referencial é DATUM 69

UTM 20L E0395116 / N9027398.

Figura 2 Localização do sítio arqueológico Veneza. A elipse indica a área do sítio, Google Earth Fonte: COSTA,

(2012)

Este sítio arqueológico foi cadastrado no IPHAN (RO-PV-13), em 1978, pelo

arqueólogo Eurico Theófilo Miller, que o definiu como sítio habitação, com forma elipsoidal

e filiação cultural pertencente à Subtradição Jatuarana da Tradição Policroma da Amazônia,

datada entre 2.730±75 a.P. à 1.723 d.C. 8, (MILLER, 1987).

Em 2008, no âmbito do projeto Arqueologia Preventiva nas Áreas de Intervenção da

UHE Santo Antônio, foram realizadas, pela Scientia Consultoria Científica, as pesquisas

arqueológicas no Alto rio Madeira, no Estado de Rondônia. Foram localizados nesta área um

total de 43 sítios arqueológicos com ocupação pré-colonial e 15 sítios arqueológicos

históricos. Dentre os quais estava o sítio Arqueológico Veneza. Estas intervenções geraram

três relatórios (de prospecção, de resgate e das feições de polimento e rupestre) e destes

materiais produziu-se dois PIBIC Costa (2011) e Nisinga (2014) e fez parte das pesquisas da

tese de doutoramento de Zuse (2014).

8 Esta é a datação atribuída para o sítio arqueológico Teotônio (MILLER, 1992), para Miller a presença de material denominado por ele de Jatuarana daria automaticamente as datada aproximadas na região.

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Figura 3 Vistas do sítio arqueológico: A - Vista do topo do sítio sentido noroeste; B – vista do topo para o norte;

C – Vista do pântano ao norte, D – Vista para as corredeiras ao sul; e E – Vista dos polidores da Área II

(SCIENTIA, 2011)

Ao norte, limitava-se com um pântano, e ao sul com o Rio Madeira. Nas corredeiras e

nos pedrais de granito, foram detectados registros tipo amolador-polidor (ou prováveis

registros rupestres) de formas alongadas e estreitas. Parte do sítio arqueológico provavelmente

ficava submersa durante as cheias do Rio Madeira (SCIENTIA, 2011).

O sítio Veneza possuía vista para o rio e de outros sítios arqueológicos. Dele se podia

ver as corredeiras, além do sítio Ilha Santo Antônio (também conhecido como Ilha do

Presídio) e o sítio do Brejo na margem direita. O sítio Garbin localizava-se a nordeste do sítio

Veneza e em porção mais alta cerca de 800 m de distância, e o sítio Campelo distava 500m a

sudoeste (COSTA, 2011). A contemporaneidade destes sítios foi comprovada por datações

A B

C

D E

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radiocarbônicas, porém, devido às perturbações do pacote arqueológico, a datação do sítio

Veneza não se mostrou confiável por dar uma data muito recente e fora do padrão para esse

tipo de procedimento, impedindo de se verificar a contemporaneidade com os demais sítios

citados.

Figura 4 Vista para o Rio Madeira (SCIENTIA, 2008 in: ZUSE, 2014)

Na fase de delimitação do sítio arqueológico foram feitos 174 furos de tradagem,

processo que utiliza a ferramenta boca-de-lobo para produzir um orifício onde de 20 em 20

cm pode se verificar a existência ou não de material arqueológico, e a partir destes dados

pode-se visualizaras áreas de mais densidade de materiais, tanto cerâmico quanto lítico.

Figura 5 mapa de densidade de material, em marrom material cerâmico e azul material lítico (SCIENTIA, 2011).

Após a delimitação das dimensões do sítio totalizando 204x340m, foram realizadas

escavações nas diversas áreas do sítio, em unidades de escavação de 1x1m, em de níveis

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artificiais de 10cm, além de serem realizadas coletas de materiais em superfície e a abertura

de um perfil no barranco próximo ao rio. As escavações totalizaram 16 m² em áreas pontuais

do sítio (SCIENTIA, 2011).

Figura 6 Croqui: Em vermelho, sondagens com material arqueológico; em cinza, sondagens sem

material arqueológico; quadrados em amarelo localizam as unidades escavadas; o traço rosa indica o perfil do

barranco; círculos em azul indicam as áreas de coletas de superfície; as duas áreas de concentração das feições

de polimento encontram-se nos pedrais próximos ao rio (Croqui esquemático). (SCIENTIA, 2011).

2.1 - AS UNIDADES9

Durante os trabalhos de campo foram abertas 16 unidades seguindo os interesses

revelados através dos gráficos de densidade produzidos na fase de delimitação. A metodologia

empregada foi a de níveis artificiais de 10 cm, denominados níveis, onde cada nível recebeu

9 Dados retirados a partir do Relatório de Campo da empresa Scientia Consultoria Científica, 2011.

N1040

E950

Unidades

Contíguas

N960

E930

N1001

E903

N1100

E 863

N1000

E950

N960

E883

N968

E877

N1020

E903

N980

E937

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uma ficha específica com as descrições, o conjunto das fichas de nível é responsável pela

descrição da unidade como um todo.

UNIDADES N960 E883 E N968 E877

As duas unidades tem aproximadamente o mesmo contexto e as mesmas

características. Unidades escavadas por causa da posição, por estar próxima do rio e sob as

mangueiras, e pela densidade de material arqueológico. Apresentou material cerâmico até 110

cm de profundidade e material lítico a é 130 cm. O tipo de solo começou a alterar

drasticamente a partir de 90 cm. Ambas contam com uma boa quantidade de material

arqueológico constituído por lateritas (argilosas), material constituído de grânulos de argila

que passou por um processo natural de petrificação utilizado para a raspagem de retirada de

pigmento e produção de artefatos do tipo adorno.

UNIDADE N980 E937

Unidade aberta por causa da Terra Preta, que chegou a 100 cm de profundidade. Nesta

unidade a quantidade de cerâmica foi menor do que a de fragmentos líticos. A escavação só

pode ir até 110 cm, pois um afloramento rochoso impediu a escavação. A Terra Preta foi

encontrada diretamente sobre a rocha, sem camada de intermediária estéril.

Figura 7 Unidade N980 E937 (SCIENTIA, 2011).

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UNIDADES N1019 E865, N1020 E864, N1020 E865, N1020 E866, N1020 E867, N1021

E865, N1021 E866

Escavado por estar próximo a um embasamento granítico, começou com a unidade

N1020 E865. Ao deparar com o que possivelmente seria uma feição a 50 cm houve o intuito

de expandir. Essas unidades estão em uma área mais elevada e por fim possuíam o

embasamento rochoso como “piso” das unidades. Em todas as unidades foi notado pelo

menos duas camadas de solo antrópico e a primeira camada possuía o embasamento granítico

no fundo.

Figura 8 Unidades Contíguas (SCIENTIA, 2011).

UNIDADE N1100 E863

Unidade com vista para o pântano e não apresentava camadas de Terra Preta. Pouca

densidade de material arqueológico encerrando em 90 cm. A escavação foi até 140 cm para

melhor visualizar as camadas.

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Figura 9 Unidade N1100 E883 (SCIENTIA, 2011).

UNIDADE N1040 E950

Unidade no ponto mais alto do sítio, na cerca divisória entre dois terrenos. Esta

unidade foi a mais profunda, chegando a 250 cm, e o material arqueológico foi encontrado até

190 cm.

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Figura 10 Unidade 1040 E950 (SCIENTIA, 2011).

UNIDADE N960 E930

Locada na porção mais central do sítio. A área tinha sofrido impacto pelos habitantes e

a superfície estava bem alterada. Foi uma das áreas com mais artefatos “diagnósticos”

cerâmicos, indo até 130 cm. A unidade teve a maior profundidade de Terra Preta que começa

a se encerrar junto com o material arqueológico.

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Figura 11 Unidade N960 E930 (SCIENTIA, 2011).

OUTRAS UNIDADES

N968 E877, N1000 E950, N1001 E903 e N1020 E903, foram unidades 4m². N968

E877 foi uma unidade setor centro-sul, as outras quadras foram abertas com o intuito de

aumentar a amostra do topo do sítio.

Outras coletas

Foram também feitas as coletas sistemáticas no setor das mangueiras. Onde a

metodologia empregada foi a de quadricular uma área e recolher os artefatos que estavam

dentro da quadrícula.

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Figura 12 Coleta de superfície setor das mangueiras (SCIENTIA, 2011).

Outra área que também teve intervenção foi o barranco. Essa área estava sendo

sucessivamente corroída pelo rio e de onde se pode ter uma visualização de um perfil mais

amplo. Neste perfil pode-se observar 8 camadas de solo, 3 camadas estéreis e 5 camadas

contendo material arqueológico.

Figura 13 Perfil do Barranco (SCIENTIA, 2011).

Feições de polimento e superfícies de abrasão

Nas proximidades do rio Madeira foi observada áreas de ocorrência de vestígios em

blocos de granito. Foram notados dois “tipos” de atividades nos blocos, superfícies de abrasão

e cortes em sulcos longilíneos. A equipe de campo separou em duas áreas, ambas nas

proximidades da margem do rio.

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A primeira área tinha vista para o rio, porém não está em contato direto com a água.

Possuía 20 feições de polimento, 18 sulcos longilíneos e 2 superfícies polidas. Com uma

variação de tamanho que vai de 26 cm a 132 cm, espessura de 1,6 cm a 0,9 cm e profundidade

de 1 cm a 0,2 cm.

Figura 14 Área I de polimento, seta amarela indica uma das rochas com alterações (SCIENTIA, 2011).

Figura 15 Seta laranja: área de abrasão. Seta Vermelha: sulco polido longilíneo (SCIENTIA, 2011).

A Área II estava na margem do rio Madeira, de lá se visualizava a ilha de Santo

Antônio e a outra margem. Haviam nos embasamentos graníticos 71 intervenções (68 sulcos

longilíneos e 3 superfície de abrasão), com comprimentos de 26 cm à 192 cm, larguras de 0,4

cm à 1,8 cm e a profundidade de 0,2 cm à 1,1 cm.

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Figura 16 Área II na margem do Rio Madeira (SCIENTIA, 2011).

Ambas as áreas estão em céu aberto, com o decorrer do dia as rochas se aquecem e

provavelmente não haveria cobertura natural para proteger quem estivesse no trabalho do

polimento. A Área II provavelmente ficaria inundada durante as cheias sazonais enquanto a

Área I não, podendo assim ser utilizadas de forma intercalada.

Não há evidencias de que o grupo humano que produziu as marcas nas rochas sejam

os mesmos que deixaram os artefatos aqui estudados. Porém como fazem parte do sítio

arqueológico, dificilmente um evento não seria perceptível pelo outro.

2.2 - Materiais Arqueológicos

No sítio arqueológico Veneza foi retirado 6.780 fragmentos de materiais

arqueológicos cerâmicos e líticos (provenientes das sondagens, unidades, coleta sistemática,

não sistemática e perfil no barranco).

2.2.1 Material Cerâmico

O material cerâmico analisado teve um total de 4.703 fragmentos, sendo 640

provenientes da delimitação do sítio, 1.019 das coletas de superfície sistemáticas e não

sistemáticas, 310 do perfil do barrando e 2.734 das unidades de escavação (ZUSE, 2014).

Esses fragmentos compõem uma coleção de bolotas de argila, fragmentos de vasilhas

cerâmicas e peças de objetos não identificados. A principal técnica de manufatura das vasilhas

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foi o acordelado, com incidência de modelado. Já o tratamento de superfície, alisado e polido,

e a decoração plástica mais usada foram incisos e escovados.

Figura 17 Tratamentos plásticos: inciso e exciso (A); inciso em linhas curvilíneas (B, C); inciso em linhas

paralelas (E, F, G); inciso composto (H, J) e em linhas entrecruzadas (H), serrungulado (K, L), ponteado (M),

inciso triangular (N), inciso e ponteado (O); inciso triangular (P), escovado (Q), inciso em linhas horizontais e

verticais (R), inciso e pintado (S, T, U, V, W, D), aplique zoomorfo (X); roletado (Z), flanges ou bordas

modeladas e aplique ou asa (Y); acanalado (AA) (Fotos: SCIENTIA, 2011, in: ZUSE, 2014).

E através de análises Costa (2011) chega à seguinte inferência sobre a decoração e a

diversidade de técnicas encontradas na região:

Nas cerâmicas do sítio Veneza ocorre bordas com diversidade tipológica

(extrovertida, direta, introvertida, direta inclinada externamente, direta inclinada

internamente, bordas com flange), bem como diversos tratamentos de superfície

(brunidura, alisamento, polimento), decorações com tratamentos plásticos (inciso,

exciso, dentado, ponteado, escovado, espatulado, acanalado) e pintura nas cores

vermelha e branca, também ocorre engobo associado a incisões e flanges com e sem

decoração. Em relação as funções das vasilhas do sítio Veneza com TPI e presença de

pés de urucurís, ocorrem formas semelhantes a tigelas rasas com diâmetro de 20 cm e

com fuligem na face externa (cozinhar), 8 assadores (beiju) com diâmetro de 58 cm

provavelmente utilizado no processamento de alimentos (mandioca).

Zuse (2014) considera que o Sítio Arqueológico Veneza é unicomponencial, com

material cerâmico de uma variedade grande de formas, além da diversidade de decorações

plásticas, que podem estabelecer uma relação com o material cerâmico de outros sítios e que

provavelmente tem cronologias próximas, com o Sítio Veneza tendo uma das ocupações

ceramistas mais antigas da área, associando o material deste sítio à ocupação por grupos que

produziriam à cerâmica Saladóide, relacionados aos grupos falantes à línguas Arawak.

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2.2.2 Material Lítico

O material lítico teve o total de 2.257 peças, 1.207 peças são provenientes das

unidades e são as analisadas neste trabalho. O material arqueológico foi higienizado e

numerado pelo laboratório de arqueologia da Scientia Consultoria, em Porto Velho.

Posteriormente levado ao laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Rondônia

para a análise.

O material arqueológico lítico do Veneza é constituído principalmente por quartzos,

leitosos e translúcidos, poucos hialinos; e uma grande quantidade de pequenos nódulos de

laterita, de coloração do amarelo até o vermelho mais escuro e de compactação das mais

variadas. As lascas unipolares e bipolares em quartzo leitoso, prováveis “pré-formas” de

adornos. Alguns núcleos de quartzos tem formação de seixos e placas de preenchimento do

granito. As lateritas apresentam formas e mais de um lado dos mesmos tem alteração, ou

polimento ou lascamento, levantado dúvidas sobre a utilização do material para apenas

retirada de corante. São encontradas também no sítio outras matérias-primas como hematitas,

silexitos, poucos arenitos e granitos (NISINGA, 2014).

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CAPITULO 3 – Estudo do material lítico

A discussão sobre a manufatura de artefatos sobre rocha está longe de ser simples.

Guidon (1996, 2002) discute diretamente contra os questionamentos sobre suas pesquisas no

Nordeste do Brasil, onde autores como Prous (1997) e Neves (2006) põem dúvidas sobre a

organização das fogueiras e dos artefatos líticos lascados são tão antigos e se são modificados

pelo ser humano. Prous (1997, p. 15) crê que “todos os supostos artefatos são seixos de uma

rocha local (quartzo e quartzito), que costumam cair da marquise do abrigo durante as

enxurradas ou serem jogados por macacos, desde uma altura de 80 m.”. Enquanto Guidon

(2002) mostra que ocorrem marcas de desgaste e que o trabalho realizado nas rochas do

Boqueirão da Pedra Furada possuem marcas de uso.

A complexidade de percepção sobre o que é natural e o que é antropicamente

modificado, nos instrumentos líticos tem um agravo maior, as especificidades do trabalho em

rocha, as escolhas de matéria-prima, função, partem de um conjunto de princípios técnicos,

cujos processos estão ligados à extensão de nossas necessidades.

Binford (1979) cunha os termos de expediência e curadoria, diferenciando os artefatos

que foram criados para suprir uma necessidade momentânea, expediente, e os que possuem

uma preparação mais elaborada, acurados.

O estudo da tecnologia lítica presume que o comportamento humano, que podemos

resgatar através dos fragmentos, é multifacetado e pouco previsível. O pensamento de como

surge um objeto pode ser estudados por diversas áreas, filósofos, antropólogos, historiadores,

arqueólogos, que buscam o entendimento sobre o comportamento de grupos humanos, através

de suas escolhas.

L’ objet technique (c’est-à-dire l´objet étudié comme aboutissement d´une chaîne

opératoire) est d´abord le fruit d´une connaissance abstraite conçue par le cerveau

humains; il est ensuite fabriqué au moyen d´un processus technique de réalisation qui

organise progressivement une matière inorganique et la finalize comme un

prolongement du corps humain vers le milieu extérieur. (GENESTE, 1991)

Geneste (1991) propõe que o objeto técnico é o fruto de um conhecimento abstrato

desenhado pelo cérebro humano; e é então fabricado usando um processo técnico de

percepção que gradualmente tomando um material inorgânico e finalizando como uma

extensão do corpo humano para o ambiente exterior.

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Quando tentamos categorizar os artefatos como instrumento Rabardel (1995) diz que,

o instrumento é uma entidade mista onde se acumulam aspectos materiais/simbólicos e os

padrões de uso.

En réalité, l’instrument est une entité mixte qui comprend d’une part, l’artefact

matériel ou symbolique et d’autre part, les schèmes d’utilisation, les représentations

qui font partie des compétences de l’utilisateur et sont nécessaires à l’utilisation de

l’artefact. (RABARDEL, 1995:64)

A primeira fase do processo envolve a formação, adaptação e adequando o artefato de

acordo com as necessidades e exigências da atividade local. As representações que estão

dentro das competências do utilizador e são necessárias a utilização do artefato, partindo

então de processos cognitivos. Rabardel ainda intui que para o instrumento tem que se ter

olhares multidisciplinares. Propondo que o termo artefato é mais apropriado para qualquer

objeto que foi modificado pelo homem.

Para Simondon (1969) toda invenção técnica deve ter por fim a resolução de

problemas efetivos que terminam em aprimoramentos nas máquinas ou nos objetos técnicos,

fazendo com que estes funcionem cada vez melhor. Este mesmo autor crê que as invenções

são construídas de forma coletiva e que esta construção ultrapassa os limites de espaço-tempo.

Na perspectiva tecnológica de análise, todo o material arqueológico é importante, e

“...visa reconstituir não só os processos e as modalidades de fabrico do equipamento de caça e

de uso doméstico das comunidades humanas do Passado, mas também o artesão, o indivíduo

que opera na matéria através do gesto.” (ALMEIDA et all, 2003, p. 299). Todos os passos da

cadeia operatória são importantes para o entendimento, assim como as escolhas do grupo, que

a transformam a matéria segundo sua própria tradição.

Leroi-Gourhan, um dos primeiros a sistematizar o estudo da tecnologia lítica, entendia

que a técnica de confecção de artefatos seguia uma determinada “evolução”10 e que estas

diferenças poderiam identificar os grupos os quais os artefatos pertenciam. Os processos da

cadeia operatória começariam na mente do indivíduo, sendo primeiramente idealizar o

artefato, assim partindo para a busca da matéria-prima e então executando as retiradas

necessárias até o acabamento final. A evolução da técnica estaria sempre indo em direção ao

aumento da eficácia, chamado pelo autor por funcionalidade melhor.

10 Partindo do entendimento que as técnicas para a manufatura dos instrumentos evoluem de forma não linear e

estão ligados às necessidades dos grupos. Sendo modificados ou abandonados (as técnicas) pelas experiências de acertos/erros.

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Viana (2005 p. 73) ressalta que “...É por meio desse conhecimento técnico que o

artesão, ao trabalhar um objeto técnico lítico, domina as leis físicas de fratura, bem como

busca constantemente os gestos necessários para um encadeamento de predeterminação.”.

Assim, compreende-se que, partindo do reconhecimento de esquemas e das cadeias

operatórias, bem como dos esquemas de função e funcionamento dos instrumentos, a

pesquisa arqueológica disporá de uma abordagem global, que permitirá uma melhor

compreensão dos comportamentos de subsistência dos grupos sociais e de suas

relações com o meio ambiente. (VIANA, 2005 p. 80).

E Fogaça e Boëda reinteram que:

Os métodos de investigação nas ciências humanas têm como material de estudo o

homem vivo, o seu discurso (tradição escrita ou oral) e o produto do que ele disse

ou fez. Empenhados em decodificar um mundo do passado do qual nada nos resta,

encontramo-nos, muito frequentemente, diante do desconhecido. E se, especialmente

para o período holocênico, podemos buscar apoio na etnohistória, esse apoio

limita-se à esfera de um objeto isolado. Nessa esfera, alguma analogia é sempre

possível, mas não ultrapassa tal limite, pois um objeto só existe e significa algo em

relação com outros objetos que constituem a cultura do grupo estudado. Assim, se

não pudermos conhecer o significado dos outros objetos, o objeto reconhecido terá

como sentido apenas sua própria existência. Despido de qualquer contextualização,

ele não é mais informativo no plano cognitivo. (FOGAÇA, BOËDA, 2006).

Fogaça e Boëda alertam para uma maior relação com outras disciplinas, já que as

indústrias líticas não são tão “tradicionais”, e que esse apoio poderia vir de disciplinas como a

etnologia. E assim como Dias (2007) e Mello (2007), alertam para o uso de somente artefatos

formais para caracterizar um grupo ou a vinculação de um único instrumento como sendo o

representativo de determinada cultura.

Os aportes teóricos utilizados para abordar o material lítico no Brasil, nas décadas de

1960 e 1970, foram poucos ou insuficientes, mal passaram por uma tipologia. Para Dias

(2007) “Compreender a tecnologia lítica como integrada aos sistemas tecnológicos de uma

sociedade permite situar a variabilidade observada como uma construção social resultante de

escolhas culturalmente determinadas.” Prerrogativa máxima do Processualismo, tornar a

arqueologia “mais científica”, seguindo o viés da multidisciplinaridade, principalmente da

Antropologia, tenta analisar principalmente os artefatos de forma a privilegiar os atributos

tecnológicos de manufatura. Dias segue “... Os sistemas tecnológicos são um recurso e um

produto de criação e manutenção de um ambiente natural e social, simbolicamente

construído...”. Dias repensa novas perspectivas de análise para os materiais líticos para o que

se constituiu como as “Tradições” Umbu e Humaitá na região sul do país.

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As analogias com estudos das mais diversas áreas podem ser um ganho quanto à busca

por novas explicações sobre os materiais arqueológicos. Um dos pontos de mais sensíveis é o

uso do material como modo de observar a “evolução” do gestual dos povos pretéritos. Outro

ponto complexo é o tipo de matéria prima encontrada no Brasil, são matrizes geológicas

diferentes, são escolhas grupais diferentes. A Europa, especialmente na França, a tradição do

estudo de artefatos em rocha lascada já tem bastante tempo de estudo, enquanto no Brasil

apenas estamos nos estágios inicias quanto à análise do material lítico.

As técnicas aplicadas tem ligação direta com o tipo de matéria-prima e o objetivo a ser

alcançado. Prous (1986/1990) separa as rochas em “frágeis” e “resistentes”. A rochas

“frágeis” seriam as são mais suscetíveis ao lascamento, quando golpeada. Exemplos de rochas

consideradas “frágeis” são o basalto, alguns quartzitos, o sílex, o quartzo, arenitos, que ao

lascarem formam bordas cortantes. A rochas consideradas “resistentes” são aquelas de difícil

lascamento, cujos golpes desprendem frações mínimas em forma de pó. Tais rochas são mais

suscetíveis ao picoteamento, polimento, perfuração ou serrar.

O que podemos elencar como trabalho em rocha são as técnicas desenvolvidas para o

desbaste são principalmente o lascamento, picoteamento e o polimento.

3.1 - Técnicas

Lascamento

Uma das técnicas utilizadas nos trabalhos em rocha é o lascamento. Onde se retira

porções de uma rocha golpeando-a com outra para a retirada de lascas. Os instrumentos

podem ser feitos a partir do uso das lascas ou do núcleo.

As técnicas de lascamento são definidas pela percussão, direta ou indireta, de uma

rocha (preferencialmente rocha, podendo ser também madeira ou chifre de animal) em outra

com o objetivo de desbastar até o ponto desejado. Os tipos de lascamentos podem gerar

estigmas diferenciados e podem ser realizados por diferentes motivos. Porém o objetivo geral,

quase sempre é criar uma superfície cortante.

O tipo de percussão está ligado diretamente à estrutura da matéria-prima. Matérias-

primas de ordem siliciosas tendem a fraturar de forma concoidal (ou conchoidal), formando

uma concha com a terminação em um gume cortante. Podem ser por percussão: Direta –

quando se golpeia a rocha diretamente com outro objeto formando um ângulo determinado

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para a retirada de uma lasca, (Quando se percute com outra rocha nomeia-se essa percussão

de Percussão Dura, quando se utiliza a madeira ou o chifre chama-se Percussão Mole);

Indireta – quando se utiliza um apoio para poder percutir e o golpe é desferido neste apoio;

Sobre Bigorna (ou Bipolar) – quando se utiliza outra superfície dura para apoiar o material a

ser lascado e bate-se na direção vertical em ângulo de 90º.

Figura 18 Percussão direta, dura. (MERINO, 1994) Figura 19 Percussão indireta (MERINO, 1994) Figura 20 Lascamento sobre bigorna (PROUS, 1996)

Alguns instrumentos são constituídos por mais de uma técnica (PROUS, 1986/1990).

Quando se deseja desbastar uma rocha, criar um artefato ou aproveitar uma superfície

cortante.

Quanto à técnica de lascamento sobre bigorna, Mourre (1996) propõe que o impacto

sobre a bigorna permite uma série de fragmentações previsíveis a partir de blocos adversos

devido à sua matéria-prima (quartzo), a forma dos blocos (seixos ovoide blocos sólidos que

não tenham cantos para o ataque) ou suas pequenas dimensões. Além do facto de ser

extremamente eficaz, ele tem a vantagem de ser muito fácil de aplicar.

O trabalho em quartzo é exemplificado por Mourre (ao tentar exemplificar a falta de

trabalhos mais detalhados sobre o lascamento em quartzo) “A ideia de que o quartzo é um

"material de substituição" empregado só "último recurso", quando a pedra que falta é uma

incômoda constante da literatura francesa arqueólogo.” Para o autor o termo "quartzo"

abrange só uma ampla gama de materiais qualificados na maioria das vezes considerados

como "Pobre" e produzindo apenas indústrias “brutas”.

Prous et all (2010) detalha que o lascamento sobre bigorna do quartzo ocorre em

grande parte do Brasil. E que a diferenciação de peças em um lascamento bipolar é de grande

dificuldade. Chamando a atenção para aquilo que pode ser um subproduto de uma ação sobre

a bigorna e também apresenta as características de um lascamento direto, principalmente no

lascamento de quartzo rochoso.

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Picoteamento

Prous (1986/1990) e Lamming-Emperaire (1967) descrevem que a técnica de

picoteamento é executada com a ajuda de um cinzel onde se retira poucas porções, da rocha a

ser trabalhada, em forma de pó, sucessivamente, ao empreender “marteladas”. É uma técnica

que retira pequenas porções. Tal técnica é realizada em rochas de difícil lascamento, para dar

acabamento, preparar para o polimento. Pode ser aplicado na formação de concavidades, cujo

lascamento e o polimento seriam de difícil execução.

Polimento

O polimento é realizado através da fricção constante entre o objeto que se quer

modificar e um bloco de rocha com um agente abrasivo e água. O agente abrasivo pode ser

areia ou seiva vegetal, rica em sílica. Prous (1986/1990, p.27) propõe que o polimento tem

apelo, além do funcional, estético.

Ambas as técnica de polimento quanto picoteamento são consideradas por Prous

(1986/1990) como recentes, tendo como datações de 10.000 a 6.000 anos a. P.. Porém ambas

as técnicas são comumente usadas na fabricação de gravuras rupestres. As gravuras rupestres

podem ser feitas em baixo relevo ou alto relevo, e algumas tem as duas técnicas empregadas.

A perfuração ocorre ao forçar uma ponta rochosa sobre a matéria-prima desejada e

girá-la para obter o furo com o auxilio de um abrasivo e água11. Pode-se observar dois tipos

gerias de perfuração: em v, quando se começa e termina a perfuração somente do mesmo

lado; e em x, onde se começa a perfurar de um lado e ao chegar à metade da peça continua-se

pelo outro lada até os furos ser encontrarem (PROUS, 1986/1990; p.24).

3.2 Procedimentos para a análises

Lamming-Emperaire (1967, p13.) entende que as análises consistem em evidenciar

características essenciais cujas combinações podem caracterizar tipos e subtipos de artefatos.

Para a autora “...definir uma cultura através de vestígios de pedra, algumas vezes muito

11 Muito semelhante ao polimento, o que diferencia é o tipo de movimento: para polir usa-se movimentos amplos; e para perfurar usa-se movimentos rotacionais.

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rudimentares, significa que, das formas de um objeto e de alguns detalhes perceptíveis

somente aos especialistas, poderão ser deduzidas informações coerentes sobre seu modo de

utilização e fabricação.”

Rodet & Alonso (2007) chamam a atenção para o uso do Guia proposto por Lamming-

Empareire, que apesar da formalidade do postulado e a preocupação com as terminologias,

não foi aplicado de forma sistemática, assim deixando que um mesmo artefato poderia ter

descrições diferentes ou uma mesma característica poderia ser aplicada em várias peças.

A chave de classificação aplicada neste trabalho visa contemplar os mais amplos

aspectos do material e é subdividida por atributos genéricos, atributos de lascamento e

Atributos dos Lateritas. Os autores utilizados para a confecção da ficha de análise foram

Lamming-Emperaire (1967), Leroi- Gourhan (1950, 1966), Prous (1986/90,1991), Tixier et al

(1980) e Vilhena Vialou (1986, 2001, 2006) e segue em anexo.

Os atributos genéricos são distribuídos em: matéria-prima, a qual atende a descrição

do tipo de rocha ou mineral do qual é feito o vestígio; natureza da transformação do vestígio,

se é lascamento, polimento, picoteamento; o estado de preservação, se está inteiro ou

fragmentado; Dimensões12, comprimento, largura e espessura; Suporte, tipo de formação

original de onde o vestígio pertencia podendo resolver a questão sobre as fontes regionais e

preferências; córtex, camada de alteração externa da rocha, que pode nos informar sobre as

etapas de lascamentos que se sucederam; alterações superficiais, que nos leva a descobrir os

processos sofridos com as ações do pós lascamento como queima, concreção ferruginosa,

pátina; Tipo de vestígio, que relaciona os tipos de vestígios encontrados, tipos de lascas, tipos

de núcleos, bigorna, almofariz, entre outro.

Os atributos de lascamento são elencados para auxiliar a interpretação dos diversos

tipos de lascamentos e suas consequências. São esses atributos: tipo de talão pode nos

desvendar técnicas específicas e as etapas do lascamento; angulo entre o talão e a face

externa; terminação da lasca pode esclarecer função e força necessária para realiza a retirada;

número de retiradas anteriores, expõe a possibilidade de uma cadeia de execução de

lascamento; direção de cicatrizes; tipo de núcleos elucida sobre o reaproveitamento ou

desperdício, forma de lascamento e artefato.

Os atributos para “Laterita” foram adicionados, devido à quantidade de materiais com

superfície de abrasão de matéria-prima “laterita”, que chamamos na chave de classificação

geral de Laterita (argilosa). Prous (1986/1990, p. 27) relata que atividades que envolvem a

12 Medido sempre em milímetros (mm)

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extração de pigmento como “moer ou raspar pigmento requer um tempo variável, em função

do grau de alteração da matéria prima.” Para o autor “alguns minutos de raspagem podem ser

suficientes para se obter pigmentos que cubram uma superfície de 1/2 metro quadrado.”

Os atributos analisados são: Número de faces, relacionadas ao número de faces

utilizadas; tipo de conservação, se, está fragmentada ou inteira; Tecnologia, sobre as etapas de

confecções; Estrias, sobre a direção das estrias; Qualidade, que refere ao tipo de Laterita

(argilosa) e os materiais agregados a eles.

Porém, no decorrer das análises, foi percebido que existe a possibilidade desses

materiais não serem somente corantes, devido ao numero de faces abrasadas, geralmente de

forma cônica ou triangular, e a diminuta dimensão das peças.

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CAPITULO 4

4.1 - Tratamento de dados

4.1.1 Matéria-prima

O material lítico analisado do sítio Arqueológico Veneza é preferencialmente

constituído de quartzo como matéria-prima para lascamento, conforme gráfico 1. Baseado nos

levantamentos geológico realizados na área: “Mapa geológico da área de influência indireta

do Santo Antônio” produzido no âmbito do Projeto Rio Madeira num convênio entre Furnas e

CPRM (2004), que a forma de aquisição, principalmente do quartzo, se dá através das

intrusões do granito ou seixos que estariam sendo trazidos pelo rio, cujas ocorrências tanto o

quartzo hialino quanto quartzo translucido e leitoso, sendo os quartzos leitosos e translúcidos

muito mais abundantes.

A segunda matéria-prima mais abundante são as lateritas, formações superficiais ou

sub superficiais ferruginosas e aluminosas endurecidas, compostas principalmente por óxidos

de ferro como hematita, goethita e gibbsita. Observou-se durante a análise que essas rochas

apresentam uma variação de textura e essa característica foi aproveitada pelos grupos

humanos, assim foram diferenciadas na ficha de análise os blocos de lateria mais

concrecionada da laterita mais argilosa,

A laterita mais avermelhada tem alta concentração de Hidróxido de ferro (Fe2O3), e os

pertencentes às unidades tem texturas e cores que variam entre o vermelho vinho ao amarelo.

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64; 5%

913; 76%

11; 1%7; 1%6; 1%

47; 4%

34; 3%

113; 9%

Matéria-prima - Sítio Veneza

Não identificada

Quartzo

Hematita

Arenito

Silexito

Ígnea Félsica

Ígnea Máfica

Laterita (argilosa)

Gráfico 1 Matéria-prima total do Sítio Veneza

Ocorrem no sítio arqueológico a presença de quartzos fumê e placas de óxidos de

ferro.

4.1.2 Natureza da transformação

A principal transformação observada foi a técnica de lascamento sobre bigorna, com

69% dos casos, conforme gráfico 2. Outras significantes transformações são constituídas por

20% de matérias-primas brutas/não identificado e o polimento com 8%.

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34; 3%

829; 69%

100; 8%

243; 20%

Natureza da transformação

Unipolar

Bipolar

Polimento

Outros

Gráfico 2 Total da natureza das transformações.

Quando nos referimos ao lascamento em quartzo, percebemos que 92% dos mesmos

são de quartzo leitoso provavelmente proveniente das áreas de preenchimento das rochas

graníticas abundantes dentro do próprio sítio arqueológico, o que também justificaria a

existência de fragmentos de rochas graníticas sem alterações nas unidades, incluindo alguns

fragmentos de quartzo com partes intrusas de granito. Prous (2010) revela que o lascamento

sobre bigorna forma uma grande quantidade de fragmentação.

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127; 92%

5; 4%

6; 4%

Lascas por matéria-prima - Sítio Veneza

Quartzo Leitoso

Quartzos translúcidos

Outros

Gráfico 3 Lascas por tipos matéria-prima

No gráfico 4 podemos perceber que as lascas em quartzo seguem um padrão de

tamanho, entre 10 e 35 mm de comprimento e 5 e 25 mm de largura.

Gráfico 4 Dimensão das lascas em quartzo - Sítio Veneza

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4.1.3 Tipo de Vestígio

Os tipos de vestígios mais comuns são os fragmentos de lascamentos, totalizando 755,

o que não causa estranheza, pois a técnica mais frequente foi o lascamento bipolar, cuja

técnica gera uma grande quantidade de fragmentos com poucas intervenções. As lateritas são

41 peças dos vestígios arqueológicos juntamente com as matérias-primas brutas.

755; 63%

62; 5%56; 5%

9; 1%4; 0%

95; 8%

41; 3%

59; 5%

20; 2%

95; 8%

Tipo de Vestígio - Sítio Veneza

Fragmentos

Lasca

Seixo Bruto

Seixo Frag

Material polido

Matéria-prima bruta

Placa

Lasca Bipolar

Nuclei/Núcleo bipolar

Laterita (argilosa)

Gráfico 5 Tipo de Vestígio – Sítio Veneza

4.1.4 Laterita

A categoria de laterita foi adicionada pela quantidade de “laterita” com textura mais

argilosa e superfície abrasada. A princípio foi considerado o polimento apena para a retirada

de pigmento. Porém conforme as análises avançavam foi percebido que havia, em algumas

peças, a preferencia por formas triangulares e/ou cilíndricas, com um trabalho mais esmerado.

Segundo gráfico 6 pode-se perceber que 30% das Laterita (argilosa) possuem mais de duas

faces polidas

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51

Gráfico 6 Número de faces polidas das lateritas

Outro ponto a ser destacado, e o que nos intrigou, foram as proporções das lateritas.

Certo padrão de metragem pode ser observado. A maior parte dos artefatos teriam as

dimensões entre 15 a 35 mm de comprimento e 10 a 25 mm de largura (gráfico 7).

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52

Gráfico 7 Dimensões das lateritas- Sítio Veneza, em mm

4.2 - Análises dos resultados

Nesta parte foram agrupadas as unidades pela proximidade e características

semelhantes. Unidades contendo embasamento granítico como “piso” foram agrupadas e

serão discutidas juntas, Unidades Contíguas, N1001 E903 e N980 E937. As unidades N1020

E903, N1000 E950 e N1040 E950 e estão plotadas no topo do sítio arqueológico e apresentam

camadas sedimentares similares e estão próximas. As unidades N968 E877, N960 E930 e

N960 E883 estavam nas proximidades do Rio Madeira, no setor centro-sul, e estariam

suscetíveis a prováveis cheias.

4.2.1 Unidades com embasamento granítico

Nas unidades com o embasamento granítico ao fundo (N1001 E903, N980-E937 e

unidades Contíguas) se encontravam no topo do sítio e seu solo classificado como Terra Preta

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53

Antrópica (TPA) 13 assumem todas as camadas. Este evento nos faz levantar as hipóteses de

que pode ter ocorrido ou a produção desta TPA in loco, ou a remoção deste solo de um ponto

ao outro (KERN, 2014). Outro ponto a ser destacado é que o material Arqueológico pode ser

encontrado até o fim do solo. Porém não há diferença entre os artefatos encontrados na maior

parte do sítio arqueológico, não caracterizando uma área de atividade específica.

Nas unidades contíguas foi percebido que o quartzo permaneceu até o fim das

unidades e sua quantidade foi superior à das demais matérias-primas.

Gráfico 8 Matéria-prima por nível das Unidades Contíguas

13 Para Kern (Apresentação), o termo Terra Preta designa a camada de ocupação humana em um sítio

arqueológico, afetada pela atividade antrópica.

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54

Na Unidade 980-937 o material cerâmico esteve presente até o nível 60-70, onde

desapareceu no nível seguinte, reaparecendo no nível 80-90, com cerâmica de características

diferentes. O material lítico aparece em todos os níveis (gráfico 8) com maior frequência que

o material cerâmico.

Gráfico 9 Tipo de vestígio por nível da Unidade N980 E937

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55

A unidade N1001 E903 apresentou pouco material (tanto cerâmico quanto lítico) e

encerrou com 70 cm de profundidade, após chegar ao embasamento granítico. O quartzo

representou quase metade dos fragmentos encontrados na unidade.

7; 9%

40; 49%

1; 1%

4; 5%

6; 7%

23; 28%

1; 1%

Matéria-prima - N1001 E903

Não identificado

Quartzo

Hematita

Arenito

Laterita

Igneas Félsicas

Igneas Máficas

Gráfico 10 Matéria-prima da Unidade N1001 E903

As rochas ígneas félsicas encontradas são granitos encontrados no sítio arqueológico.

A maior parte do material arqueológico encontrou-se nos níveis superficiais.

Gráfico 11 Tipo de vestígio da Unidade N1001 E903

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56

4.2.2 Unidade N1100 E863

Na unidade N1100-E863 não possui um horizonte de TPA, e foi a unidade onde a

diferença de material arqueológico pode ser notada. Nesta unidade o quartzo deixa de ser a

matéria-prima mais abundante, cedendo lugar ao laterita. E quando se trata do tipo de vestígio

encontrado, podemos observar que a preferência é maior para o polimento de mineral (gráfico

12).

Pode-se perceber (gráfico 13) que nos dois últimos níveis houve o aumento dos

materiais produzidos em laterita. E o total de material produzidos em quartzo é inferior à

40%. A cerâmica desta unidade se mostrou diferente e mais erodida (SCIENTIA, 2011).

Faz-se a ressalva de que esta é a única unidade sem a presença de TPA. Mais unidades

nesta área seriam necessárias para podermos associar, com uma margem de segurança, se

ocorre uma área de atividade diferenciada ou uma ocupação diferente das que ocorrem na

TPA.

1; 5%

7; 39%

2; 11%1; 6%

1; 6%

6; 33%

Total de Vestígios

Não identificado

Fragmentos

Seixo Bruto

Matéria-prima bruta

Placa

Laterita (argilosa)

Gráfico 12 Tipo de vestígio Unidade N1100-E863

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57

Gráfico 13 Tipo de Vestígio por nível Unidade N1100 E863

4.2.3 Unidades do topo

As unidades do topo são as que estariam na área mais elevada, são elas N1020 E903,

N1000 E950 e N1040 E950. A unidade N1040 E950 foi a primeira a ser escavada, conta com

uma feição e o material arqueológico foi encontrado até 110 cm. Percebe-se, no gráfico 14,

que há um aumento de quantidade de materiais do nível 50-60 até 80-90.

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Gráfico 14 Tipo de vestígio Unidade N1040 E950

A unidade N1020 E903 tem praticamente somente quartzo e laterita. A unidade tem

somente 4 níveis e 15 fragmentos líticos, um deles (laterita) possui 6 faces polidas (figura 21).

Figura 21 Artefato VEN-2203-05 Unidade N1020 E903

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A unidade N1000 E950 teve presença de material arqueológico até 80 cm de

profundidade. Apresentou principalmente a fragmentação de quartzo (gráfico 15).

47; 71%

3; 5%

3; 5%

1; 1%1; 1%

4; 6%

1; 1%1; 2%1; 2%

4; 6%

Tipo de Vestígio - N1000 E950

Frag. Lasc

Lasca

Seixo Bruto

Seixo Frag

Matéria-prima bruta

Placa

Lasca Bipolar

Frag Natural

Nuclei/Núcleo bipolar

Laterita

Gráfico 15 Unidade N1000 E950

4.2.4 Unidades com vista para margem do rio, parte sul

Estas três unidades poderiam ficar submersas nos períodos de cheia, unidades N960

E883, N960 E930 e N968 E877. Todas as três unidades apresentaram material arqueológico

ate 150 cm de profundidade e possuem praticamente a mesma quantidade de material lítico.

A unidade N960 E883, teve material arqueológico ate 150 cm de profundidade e a

terra preta começou a alterar no nível no nível 60-70. Numa comparação entre os níveis com e

sem TPA, ocorre uma discreta alteração, tendendo para uma diminuição da fragmentação do

quartzo e um aumento nos demais vestígios e há um aumento na diversidade de matérias-

primas fora da TPA (gráfico 16, 17, 18 e 19).

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60

34; 70%

2; 4%

1; 2%1; 2%

5; 10%

2; 4%

4; 8%

Tipo de Vestigio em niveis com TPA - N960 E883

frag. Lascam.

Lasca

Lasca Frag

Seixo Fragmentado

Matéria prima Bruta

Lasca Bipolar

Laterita

Gráfico 16 N960 E883

36; 61%

2; 4%

2; 3%1; 2%

6; 10%3; 5%

2; 3%

7; 12%

Tipo de Vestigio em niveis Sem TPA - N960 E883

frag. Lascam.

Lasca

Lasca Frag

Lasca- gume polido

Seixo Bruto

Matéria prima Bruta

Placa

Laterita

Gráfico 17 N960 E883

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39; 80%

3; 6%2; 4%2; 4%

3; 6%

Materia-prima com TPA - N960 E883

Quartzo

Laterita

Silexito

Igneas Máficas

Óxido de ferro

Gráfico 18 Unidade N960 E883

4; 7%

38; 65%

1; 2%

8; 14%4; 7%

2; 3%

1; 2%

Materia-prima sem TPA - N960 E883

Não identificado

Quartzo

Hematita

Laterita

Igneas Félsicas

Igneas Máficas

Laterita

Gráfico 19 Unidade N960 E883

Pudemos perceber, observando os gráficos 18 e 19, que existem diferenças na

variedade de matéria-prima. Os níveis sem TPA apresenta maior variedade de matérias-

primas bem como os tipos de vestígios encontrados (gráficos 16 e 17).

A unidade N968 E877 tem contexto similar à unidade N960 E883. Incluindo os níveis

onde a TPA se encerra. Há uma discreta alteração quanto ao tipo de vestígio (gráfico 20 e 21),

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ocorrendo uma leve diminuição da fragmentação do quartzo. Ao observar os gráficos de

matérias-primas (gráficos 22 e 23), percebemos que também ocorre a diminuição do quartzo.

37; 64%

1; 1%1; 2%

4; 7%

1; 2%1; 2%1; 2%1; 2%

2; 3%

9; 15%

Tipo de Vestígio com TPA - N968 E877

Frag. Lasc

Lasca

Núcleo

Seixo Bruto

Seixo Frag

Material polido

placa

Lasca Bipolar

Nuclei/Núcleo bipolar

Laterita

Gráfico 20 Tipo de Vestígio com TPA - N968 E877

33; 58%

5; 9%

2; 3%

1; 2%

9; 16%

1; 2%

6; 10%

Tipo de Vestígio sem TPA - N968 E877

Frag. Lasc

Lasca

Seixo Bruto

Seixo Frag

Matéria-prima bruta

Placa

Laterita

Gráfico 21 Tipo de Vestígio sem TPA - N968 E877

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4; 7%

42; 73%

9; 16%

1; 2%

1; 2%

Matéria-prima com TPA - N968 E877

Não Identificado

Quartzo

Laterita

Silexto

Ìgnea Felsica

Gráfico 22 Matéria-prima com TPA- N968 E877

2; 3%

38; 69%

1; 2%

13; 24%1; 2%

Matéria-prima sem TPA - N968 E877

Não Identificado

Quartzo

Arenito

Laterita

Silexto

Gráfico 23 Matéria-prima sem TPA- N968 E877

A unidade N960 E930 está em posição mais central. A TPA foi até 120 cm e após 3

níveis estéreis, ocorreu mais 3 fragmentos. Esta unidade apresentou um dos fragmentos de

forma esferoidal (figura 22).

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64

Figura 22 VEN 406-01 – Unidade N960 E930

A matéria-prima principal foi o quartzo, juntamente com a fragmentação de quartzo

fazendo 78% (143 fragmentos) dos vestígios encontrados (gráfico 24). Esta unidade

apresentou pouco material em laterita (gráfico 25).

1; 0%

143; 78%

4; 2%

15; 8%

1; 1%1; 1%

6; 3%9; 5%

2; 1%

2; 1%

Tipo de vestígio - N960 E930

Não identificado

Frag. Lasc

Lasca

Seixo Bruto

Seixo Frag

Material pol. Frag

Matéria-prima bruta

Lasca Bipolar

Nuclei/Núcleo bipolar

Laterita

Gráfico 24 Tipo de Vestígio - N960 E930

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14; 8%

160; 87%

1; 0%3; 2%1; 1%4; 2%

Matéria-prima - N960 E930

Não Identificado

Quartzo

Arenito

Laterita

Ìgnea Felsica

Ígnea Máfica

Gráfico 25 Unidade N960 E930

4.3 - Formas

4.3.1 Formas em quartzo

Algumas unidades apresentaram materiais que nos remeteu a algumas formas, estas

formas foram obtidas através do lascamento bipolar (figura 18) estas unidades foram N980

E937, N960 E930, e estão nas unidades mais próximas do rio e ao centro do sítio

Arqueológico, nos níveis iniciais, até 40 cm.

Figura 23 Formas geométricas

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66

As formas foram adquiridas através do lascamento bipolar e do abatimento dos bordos

de modo ao quartzo tomar a forma escolhida. Este abatimento seria o sucessivo golpeamento

de forma leve, a ponto de apenas fragmentar as partes desejadas e evitando maiores

fragmentações (figura 24, indicações de onde os bordos foram abatidos). Uma das

possibilidades do descarte destas peças seria que a matéria-prima não teria resistido o

suficiente para admitir os seguintes passos, talvez o polimento.

Figura 24 Setas indicam as partes que apresentam abatimento do bordo

O lascamento bipolar produz uma série se fragmentos, estes muitas vezes podem

possuir os estigmas de outras formas de lascamento (PROUS, 2010, p. 203). Estes

subprodutos seriam as lascas marginais (representando o número 1 na figura 25), a lasca

nucleiforme (número 2) e a lasca bipolar completa (numero 3). No caso dos artefatos do sítio,

seriam utilizadas as lascas nucleiformes.

Figura 25 Modo de como ocorre a fragmentação no lascamento bipolar (PROUS, 2010)

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67

4.3.2 Laterita

Pudemos notar que ocorreram algumas variações quanto à densidade da matéria-

prima, sua compactação. As densidades presentes seriam: 1. Material argiloso avermelhado

compacto; 2. Frações de areia e grânulos envoltos por um material argiloso avermelhado –

Agregados compactos; 3. Frações de areia e grânulos envoltos por um material areno argiloso

avermelhado – poroso; 6. Outros. Quanto mais compacto, mais faces polidas (gráfico 26).

Gráfico 26 Número de faces por densidade de matéria-prima

Nas lateritas que possuem sinais de abrasão (em várias faces), perceber que as formas

seguem um determinado padrão (triangular, cônico ou cilíndrico), o que nos levanta a

hipótese de que estes fragmentos não seriam somente para a retirada de pigmento, mas talvez

para alguma espécie de adorno corporal (figuras 26 e 27).

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Figura 26 Peça VEN-208-62 - N980 E937

Figura 27 Peça VEN-208-63 - N980 E937

Nas proximidades do Sítio Arqueológico Veneza aparecem adornos na Ilha de Santo

Antônio. Tais artefatos são similares, no quesito matéria-prima e forma, aos que o Sítio

Veneza possui (Figura 28).

Figura 28 Artefatos e adornos polidos da Ilha de Santo Antônio (SCIENTIA, 2012 in ZUSE 2014)

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69

CAPITULO 5 Considerações finais

A arqueologia é uma ciência que trabalha com fatos físicos, e suas implicações

teóricas são baseadas na premissa da materialidade. Poucos são os trabalhos em arqueologia

que visam tratar das expressões artísticas dos povos (excetuando os trabalhos sobre o registro

rupestre). Seja por abstrações de o indivíduo corporal estar fora das conjecturas obtidas

através das escavações ou por não poder ser inferido com determinada margem de certeza. A

forma de como adornar o corpo e as ferramentas necessárias para cumprir atividades estéticas

são difíceis de perceber.

Migliacio (2006) associa o material lítico encontrado no Pantanal do Mato Grosso com

uma indústria de adornos preferencialmente. Sendo analisadas pela autora 9.228 peças, de

rochas micro cristalinas (silexito, quartzo e calcedônia), arenitos, argilitos, Em seu trabalho

pode-se verificar a cadeia de fabrico dos adornos, do lascamento sobre bigorna às contas de

colar encontradas nos sepultamentos funerários, seus furadores e percutores. A autora pode

determinar que o material lítico esteve presente desde o material de uso cotidiano quanto dos

ritualísticos.

Para o Sítio Arqueológico Veneza, Miller determina que os vestígios fazem parte da

Subtradição Jatuarana, cujas características serias laminas bem acabadas, contas de colares, e

de cerâmica policroma atribuída aos povos falantes da língua Tupi.

Zuse (2014) propõe que a cerâmica encontrada neste local pertence aos grupos de

origem Arawak com a cerâmica do tipo Saladóide. E ao analisar o material cerâmico de

outros sítios na área pode levantar a hipótese de que o Sítio Veneza tenha uma das ocupações

mais antigas (embora a datação por C14 não tenha se mostrado no padrão) relacionando o

material cerâmico da ocupação mais antiga do Sítio Ilha de Santo Antônio e Sítio Garbin.

Inferimos, neste trabalho, que a maior parte das peças que foram identificadas como

artefatos líticos encontrados no Sítio arqueológico Veneza foram produzidos para serem

adornos. Tais afirmações só poderão ser efetivadas no caso de um maior estudo dos materiais

líticos nos outros sítios nas áreas próximas. Ainda permanecemos nas conjecturas, pois não

pudemos identificar um artefato “formal”, pois até o presente momento somente o Sítio Ilha

de Santo Antônio, no setor das urnas funerárias, possuem artefatos similares ao do Sítio

Veneza.

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70

Ao deparar com indústrias líticas para adornos percebemos que somente os corpos

podem conter algumas das melhores informações. Porém como se tratam de artefatos com

mais de 2000 anos AP, só há um lugar onde estes adornos estariam, em seus sepultamentos.

Embora o material lítico do sítio Veneza destoe completamente das propostas de Miller para

os artefatos líticos, devemos observar que o fato de não encontrarmos adornos “formais” ou

urnas funerárias, nos instiga a propor que este sítio arqueológico faria parte de um provável

sistema que envolveria outros sítios arqueológicos na região.

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71

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ANEXOS

Chave de classificação – Material Lítico

Identificação da peça

Coluna A – Sítio

Coluna B – Nºda peça

Coluna C – Unidade de escavação

Coluna D – Nível

Atributos Genéricos

Coluna E – Matéria-prima

0. Não identificado 8. Silexito

1. Quartzo Hialino 9. Quartizito

1.1. Quartzo translúcido 10. Xisto

2. Quartzo Leitoso 11. Gnaisse

3. Hematita/ Limonita 12. Rocha Ígnea Félsica

4. Arenito 13. Rocha Ígnea Máfica

5. Arenito Silicificado 14. Óxido de Ferro (concentração/pigmento)

6. Laterita (Material Argiloso avermelhado e compacto) 15. Laterita

7. Siltito 16. Outros

Coluna F – Natureza da Transformação

0. Não identificado 6. Polimento

1. Lascamento Unipolar 7. Picoteamento

2. Lascamento Bipolar 8. Polimento/Picoteamento

3. Lascamento/ Polimento 9. Bruto sem modificação (matéria-prima exógena)

4. Lascamento Uni e Bipolar 10. Bruto com modificação causada pelo uso

5. Fragmentação natural ou de Lascamento (Não identificável)

11. Fragmentação Térmica

Coluna G – Estado de Preservação

0. Não Identificado

1. Inteiro (para seixos, lascas e artefatos

2. Fragmentado

Coluna H – Dimensão máxima (mm)

Coluna I – Largura máxima (mm)

Coluna J – Espessura Máxima (mm)

Coluna K – Suporte

0. Sem informação

1. Bloco: suporte naturalmente anguloso, geralmente com córtex de intemperismo

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2. Cristal: apresenta córtex de cristal inalterado

3. Indefinido: quando o suporte é resultado de atividade prévia de lascamento, não apresentando córtex

4. Placa: quando a peça teve por matriz um fragmento de rocha sedimentar/ preenchimento de fratura

5. Seixo: quando o artefato foi elaborado sobre suporte naturalmente arredondado, com córtex de água

sem a conotação granulométrica da Geologia

6. Nódulo

Coluna L – Córtex

0. Não identificado 3. >50%

1. Ausente 4. Total

2. <50%

Coluna M – Outras alterações superficiais 0. Não Identificado 2. Pátina

1. Sinais de queima 3. Concreções (oxido de ferro)

Coluna N – Tipo de vestígio 0. Não Identificado 15. Placa Utilizada

1. Estilha 16. Seixo Bruto

2. Fragmento de lascamento/resíduo 17. Seixo Fragmentado

3. Fragmento de lasca 18. Seixo Utilizado (percutor)

4. Fragmento de lasca retocada 19. Material polido

5. Lasca 20. Material Polido fragmentado

6. Lasca fragmentada 21. Bigorna/ apoio (com orifícios ou estrias)

7. Lasca – gume polido 22. Almofariz/ Suporte (com superfície plana e/ou deprimida)

8. Lasca retocada 23. Matéria-prima Bruta

9. Lasca retocada fragmentada 24. Placa/ plano de fratura

10. Lasca siret 25. Lasca Bipolar

11. Lasca Térmica 26. Fragmentação natural

12. Lasca utilizada fragmentada 27. Núcleo Bipolar/ Nucleiforme

13. Núcleo 28. Corante Mineral

14. Núcleo retocado

Atributos de lascamento

Coluna O – Talão 0. Sem informação 6. Liso

1. Ausente 7. Linear

2. Cortical 8. Puntiforme

3. Diédrico 9. Asa

4. Facetado 10. Parcialmente ausente

5. Esmagado 11. Indefinido

Coluna P – Ângulo entre o talão e a face externa

Coluna Q – Terminação da lasca 0. Sem informação 4. Refletida

1. Em degrau 5. Retocada

2. Em gume 6. Plano de fratura (natura da rocha)

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3. Fratura

Coluna R – Número dos negativos de retiradas anteriores 0. Sem Informação 3. Três

1. Uma 4. Quatro ou mais

2. Duas 5. Nenhuma

Coluna S – Direção das cicatrizes (em relação ao eixo de debitagem) 0. Sem informação 3. →←Centrípetos

1. ↓↓ Paralelos 4. ↑↓Opostos

2. →↓ Ortogonais

Coluna T – Núcleos 0. Sem informação 4. Bipolar

1. Amorfo 5. Globular

2. Bifacial 6. Piramidal

3. Unifacial

Para Lateritas

O mesmo das colunas A à Coluna N: Atributos Genéricos

Atributos para Laterita

Coluna O – Número de faces utilizadas 1. Uma 4. Mais de três

2. Duas 5. Cilíndrico

3. Três

Coluna P – Tecnologia 0. Não identificada 2. Lascamento e abrasão

1. Abrasão 3. Outras

Coluna Q – Direção das estrias 0. Sem informação 2. Perpendiculares

1. Paralelas/ Subparalelas 3. Aleatórias

Coluna R - Qualidade 1. Material argiloso avermelhado compacto

2. Frações de areia e grânulos envoltos por um material argiloso avermelhado – Agregados compactos

3. Frações de areia e grânulos envoltos por um material areno argiloso avermelhado – poroso

4. Frações de seixo, areia e grânulos envoltos por um material argiloso avermelhado – agregados

compactos

5. Frações de seixo, areia e grânulos envoltos por um material areno argiloso avermelhado – Poroso

6. Outros