pós produção - como a arte reprograma o mundo contemporâneo - nicolas bourriaud

57
Z n o ro o C COMO A ARTE REPROGRAMA a MUNDO CONTEMPORANEO > C o , C> , , o o C .0

Upload: analuz08

Post on 27-Dec-2015

173 views

Category:

Documents


42 download

TRANSCRIPT

Page 1: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

Zno~•rooC COMO A ARTE REPROGRAMA

~ a MUNDO CONTEMPORANEO

>Co

,C>•,,•ooC

.0

~

•••

Page 2: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

COMO A ARTE REPROGRAMAo MUNDO CONTEMPORANEO

POS-PRODUC;:AO

l

C InterpretJr as nOVJ:.mf~l.l~ .1rtisllC:JS em nos­

Sol epocJ,. Jbon:lJndo JS rclJ,ficSentre J cultun l' J obr.l emparticulJr Tod.1s essas pclticJs,embora muito dlfercnles em Ion­mos fonnais, recOrT\'m J formJSIii prodUZldJs. Elas lnsae\'\,m Jobra de Jrte num,} redc de signosC slgmfiCJlOOes, em vez de eon­siderii-Ia, como form.. aulonomaou oopnol!.o ponto de polrtldJ d.. obr.. e 0espac;o menul mutantc que J

Inlernet - ferrament.. central d..eTa da informalO'lO - abrlu p"'r..o pcns.:amenlo. Jpreendendo asformas de saber que gera. ASSlrn.e possh'el Oflcnlar-se no COlOScullurJ.\ em qu~' estolrnos mergu­lh..dos, dele deduzlndo no\'osmodus de produC;'lo.

£-,101 obr.l l' um prolong.lOlImlo

l' wmpll'ffil'nlo d~' f:::;ttiicll rda­dmhll, IJmb~m publieJdo pelJMJrtms Edll~IrJ. S~'u Iitulo, umI~'rmo I~xnico u......do no mundodol n', do (\O~'mJ l' \"id~'il, dl'~;g­

OJ " (onlunlO d~' IrJIJmento'>dJdo.. .I urn mJteriJI regi .. lrJdo:.I m"nIJg~'m, 0 J(r~~lmo de {,u·Ir.l" fonll'" n"UJl" ou ..unor,1 .. ,.IS kgendJ", 01" n'"'" "ff, 0.. cf~'i­

10" l·"plX1Ji...r("'.!,n..lu~,j"~ en­

Icnd...liil

Page 3: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

o I.e~ "'" tftl. Dijon. 2004o :lOO9.lroWtinf lalon lhnno U!b" SJo ~ulQ, fW:& ~ prelmlt~

suMARJo

Pu.~ £N",:I",A~At.:2TIuIs rOllb~NircrioI ~ Jt.wm

F'ltdui;iD NllCIn.lI ~ IkImo c..=.t.I'lo.b;Iolit~ s..w. s-wa.~&rifi::o ~ M,y.o..... l.W:l~ flr,o!rl:r~Jbono.i.>

~~z-.. ...koois>o Dmut Jl c.v.u.p

a.-~.u Si1:v

~1"'--"d<C"''''~ ... '''bU<~ioIOI'llOoNr•••..aN. do u.... SI'•••ooll)

o uso dos objetos ..._ .._ ..__._. 19

o uso do prodllto, de Dllchllmp a Jeff Koons •.,_..~__. 22

A feira de usados. forma domlnante da arlc dos

7

35

35

._.

o uso das fonnas _ ..~

Os anos 1980 e 0 naKimcnto da cultura OJ: pam um

comunismo das formas_

A forma como enredo: urn modo de utlliz.at30 do

mundo (Quando os enll!dos Sf.' tomam fonnas) . ..RukntTIr,wa,,¥_ _ 51

Pierre Hun;he 55

Dominique Gonzalez·Foc!rster 61

liam Gillick ::-========== ..M,Iurizio Cattebn _ _ 68Pierre Joseph: utllt Dnnoaaty 73

anos 1990 ~ _

Introdu~30 __,

01 mlo6 coo.~

1_,..... coU.... olaloa!ll<r.I ....,.clo~ .. h;/o ....... _ S+culoM 7tIO.!Ol

a....rn-L :-'looIooPl»-po<>Ib;'" .....,.....~.,.".o_l'>Ib_~",""""ltl<OI

Si«Ilot -.......J lo..t~0...0..."""".."" _Slo 1'",,1.> '-Uri;,... 2009.-lCcI«ioThdo, .. Ano.l

111111.. t:IripoI. I'\>ol p<o4u<tion..!SllS r.t4$-it635-II.'

Page 4: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

o usodo mundo 79Pfaymg tJ~world reprogramar as formas SOCialS ._. 79

Phlhppt" ParTCno &. -_. ---,_.- .. 85

Hl::chng. emprcgo e tempo lIvre -- --_.._ •.~. 89

Como habitar a (uHura global (A cstclka dcpois doMP3) __"_,__,,, .~ _ _~~-_.__ 97

A obra de :ule como superHde de ~tocagem dl' m(oT-

L"fRODU<;AO

~- - - -- ,-_ _ ~,

o .:IUIOI', t.'SS.:I cntklade juridlcaEde1:ISff\Ot' p65.prod~ _

_.__ . 9799

'0'.t. slmp1t's,osu IlUnmno p..oou;; oOnlS;

polS brol, II gtultIa:: rom tIns 0 quI' ','m qUi !itT fl'llo. U

Sluff !it ~n.,. ddll$."

SerGe Dancy

"'P6s-produ,50"': termo tee-nico usado no mundo dOl

televisao, do cmema e do video. Deslgna 0 conjunlo de

tratamentos dados a urn material rcg;istrado: a montagem,

o acrescimo de oulras (onles visuais ou sonoras, as legen­

das, as vozes off, os ('(CltOS espcci3is Como conjunto de

atividades hgadas ao mundo dos scrvi{OS Cdol reciclagcm,

a pOs.produ.;ao faz parle do setor terci5rio em oposH;ao ao

seier mdustrial ou agricola, que lida com a produ,50 das

malcrlas-primas.

Dcsde 0 com~ dos o1nos 1990, uma quantidade ca­

da vez maior de artistas vern interprclando, rcproduzindo,

rccxpondo ou utihzando produtos cullurais dlSponi\-eIS ou

Page 5: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

obras realizadas por tercciros. Essa arlc da p6s.produ~ao

coll'CSponde tanto a urna mulhpltc<l,ao da oferta culturalquanto - de forma mais indlrela - aancxiI,ao ao mundo da

artc dl' formas ;lIe cnlao ignoradas ou d('sprczadas. Pode­

sedlZcrquccssesarhstasquc lO5erem seu trabalho nodos

oulros rontnbuem pam abolir a distin,ao tradicional en­

tre produ(iio e consumo, cria,50 c c6pia, ready-made c abra

original Ja nao lidam com uma matena-prill/a. Pam cles,050 se lrata de clabor3r uma forma a p:1rtir de um material

brula, e SlID de trabalhar com obJctos atuais em C1rcula~o

no mercado cultural. iSla c, que /5 pOssuem umaJorma da­

d.1 pot outrem. Assim, as no¢es de originalidade (eslar na

ongem de-) e mesmo de cna\5.o (faze! a partir do nada)

esfumam-se nessa nova p;;usagem cultural, marcada pclas

figuras gemeils do OJ e do programador, cujas tarefas con­

51stem em selec10nar objelos culturais c mscri-]os em con­textos defimdos.

A Estetka relaciollol, que de ccrta mi1neiri1 se prolon­

8i1 ni1 presente obrn. descrevia i1 scnsibilidade colellva ni1

qual se inserem as novas fonnas da pratica artistica. Am­

b.:1s tomam como ponto de partidi1 0 cspa\O mental muti1n­Ie que a mternet, instrumento central di1 era da inform'l(;ii.o

em que mgressamos, abriu para 0 pensamenlo. Mas a Est£.I!CD relDaontd tral d •ava 0 aspcclo conViVial e mterativo des-sa re...ol~o (as - Irazoes ~ as quais os arllst<Js sc dcdic<Jma produzir modelos d . 1

e SOCia ldade para sercm inscridosna esfera mler-humana)•• f • enquanto a PtSs'produrao apreen-uc as orrnas de saber

geradas pelo surgimento da redc:

8 NICOlAS IIOlJRJuAuo9

em sum.;!, como se onentar no caos cultural e como dedu­

zir nm-os modos de produl;ii.o a p.utir dele. Dc fato, esur­

preendente que as ferramcntas malS usadas para produzlr

esses modclos rclaC'ion'IlS scjam obras ou cstrutur.:lS for­

mais ph.-existcntcs, como sc 0 mundo dos produtos cullu­

rais e das obras de arte constituissc urn eslrato .:Iutonomo

capaz de forneccr instrumentos de ligal;ii.o enlre os mdivf­

duos; como sc a mstaUr.:ll;ii.o de novas formas de social idadc

e uma \ocrdadC'I!a rnltca as formas de vida contcmporoineas

passa.ssem por uma ahtude dlfere-nte em rclal;ii.o 010 patri­

monio artfstico, pela produl;iio de novas rdllriks com a cui­

lura em geral I.' com a obra de arle em particular.

Algumas obras cmblcmiitici1s pcrmitem esbof;'ar os

contornos de uma tipologla da p6s-produl;iio.

Reprogramar obras existentes

No video Frrsli Accollci (1995). MIKe Kelley e Paul

McCarthy usam manequins e alorcs profisslOnals para as

performances de Vila AeconCl. Em 011t' RrooIII,ioll per MI­

'Iule (19%), RirknlTIravanija incorpora .i sua instalill;ao

~as de Olivicr Mosse\, Allan McCollum I.' Ken Lum, no

MaMA, cle ancxa uma constru"ao de Philip Johnson. con­vidando cnanl;as para dcscnhar Unlltled (Playtime). 1997.

Pierre Huyghe projeta um filme de Gordon Matta-Clark..

CO/lia21 IIItt'rstCt, nos mesmos locais em que foi rodado

(UglIt eo,deal Illtersect, 1991). Swetlana. Hegl'r c Plamcn

Dejanov, na sene Plrnty Objects of Des'", cxpOem em pla-

Page 6: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

Usar as imagens

Ulilizar a sociedadc como urn rcperl6rio de formas

Matthleu Laurette obtem ° rlX'mbolso dos produtosque consome utllizando sistemalicamenle os cupons ore­

recidos pelo marketmg ("Sua s.llisfac;.lo au seu dlnhciro de

volt3"') c, 3SSUll, drcula entre as brechas do sistema pro­

moclonal Quando produz 0 pilato de um game sl/ow 00­

bre 0 pnnciplo dil Iroca (£1 Gmt! tfllequi', 2000) ou monlil

urn banco olftJlore com os fundos arrecildados numa $C.

gundil bllhetena na entrada dos centros de Mle (LAurette

Bauk UIJIIIU;II'II, 1999), de est,5 Jogando com as form3s cco­

nornicas como $e fassem hnhas c corcs de urn quadro

11

NoAprrloda BienOlI de Venczade 1':193, Angela Bulloch

aprcscnta 0 vIdeo So/arlS, 0 filme de tiq'ao clentfticOl de

Andrei Tarkovski, substitumdo a Inlha sonora por seus

pr6prios dl,51ogos. 24 HOllr Psycho (1997) C uma obm dc

DougtOls Gordon que conslslc numa proJcc;50 do tong.l-me·

tragem de Alfn.'<1 HItchcock em baixa rotac;ao, de modo que

dOl se cslende 010 lange de 24 horas Kendell Geers Isola $C­

qi"lcncias de fitmcs conheddos (um esgar de Harvey KeItel

em Bad LtelllellQIlI Wlcio !r.>II/tiro), urna cena de 0 aor·cisla) e coloca as passagens em ClfCUlto fechado em suas

mstalac;Ocs de VIdeo, ou escolhe cenas de llroteios do rt!­

perlorlo cmematografico conlcmporfinco para projeta-Ias

em duas lelas frenle a frente (TW-SlJoot, 1998-99).

H3bitar eslilos e formas historicizo:adas

taformas mmlmahsl1l5 as obras dc arlc ou os objclos d"

&!sIgn que rompraram Jorge P.udo. em suas instala~Oc.'S,

manipulJ ~JS de AlvaT Aalto, Arne Jakobsen l' !SJmu

Noguchi.

FelIX Gonzalez-Torres utlhzava 0 \-ocabul5rio formi'llda Ollie mimmahst,} ou da anti(orma r~ificando-as,

m,lIS de Innta anos depols, segundo suas pr6pnas prcocu­~ poH't1cas. Esse mesmo glossario da arte rnmimalis­ta ecmpregado por Li3.m Gillick para uma arqueologia docJplt.:lhsmo; por Dominique Gonzalez-Foerster, para a cs­

fera da mtimldade; por Jorge Pardo, para urna problema­

bca do USO; poT Daniel Pflumm. para urn questionamcnto

da n~ao de produ<;ao. Sarah Morris utiliu a grade mo­demista em sua pmtura P'lra descrcvcr a 1lbstr;:l(;ao dos flu­xes econamicos. Em 1993. Maurizio Cattclan cxpOc SailS

tlfJl', UffiJ. tela que reproduz 0 famoso Z de Zorro no esti.

10 d3.S lacerac;Ocs de Lucio Fonlana. Xavier Veith'll' eXpOeLl Forti (1998), onde a rcitro marrom evoea Joseph Beuys

e Robert Morris, nurna eslrutura que fuz lembrar os /N"e­lrlfms de Solo. Angela Bulloch, Tobtas Rehberger CarstenN I . 'I \CO ai, SylVIe Fleury, John MIller e S)'dney Stucki, para CI-

tar i1penas ill,"" d,a i1plam cstrulul'3s e formas minima­Ilstas, pop au cone'l . •

CI uals as suas problemallcas pcssoaischegJndo a reproduzlr <:t>n i! . . '.1_ __,u nClas mleiras de oulms obras...., arte eJtlslentes.

10

Page 7: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

12 NICOLAS BOURRIAUD

lens Haaning lrnnsforma centros de aac em Jojas de im_

porta~ao·exporta~50 ou em oficinas dandcstinas; DanielPllumm apropria-se de logos de muJtinadonais e conferc

a eles vida pl.:istica pr6pria. $wctl,lna Heger l' PIa men Dc­jano\' tr.Jwlham em fodos os emprcgos possivcis para <ld­quirir ·objctos de desejo'" c v('ndem sua fou,-a de trilbalho

p.:lril a BMW durante todo 0 ana de 1999. Michel Majerus,

que inrorporou a h~cnica do S<lrnpleamento em sua proti­ca pkt6riro. cxplora a abundante mina visual da cmbala­gem publicitaria.

Rerorrer ~ mod.. c aos meios de (omunica~ao

As obras de V.lnessa Beecroft deri\'am de urn ceuza­mento entre a performance e 0 protocala da fotografia de

moda; remetem 11. forma da performance, mas nunca sc rc­duzem a cla. Syl..;e Fleury vincula sua produ"ao ao univer­

se glamourizado das tendencias aprcsentadas nas revistasfemmin.ls MQuand - h "

• 0 nao ten 0 uma Idcla clara da cor quevau usar em mlOhas obras", diz cIa, "'pego uma das novas

cores de Chanel~, John Miller realiza uma sene de qu',dros - I - ..

e lO:t.a al;oes a partir da estctiea dos estudios de jo­gos teleVlSlvos Wa 0 l' .. . ng uS<! celona lmagens publicadas naImprensa e Ihes d' I

. a vo ume, sob a forma de esculturas degessa pmtado.

Todas essas praf • .. lcas artlStleas, embora muito hetero-

geneas em termos formais co .rer a form ., ' mpartllham 0 falo de recor-

as I produzid~ £1. as mostram urn.. VOntade de

13

inscrever a obril de <Hte numa rede de signos e slgnifiea­

"oes, em vel'. de cOllsider.1-Ia como forma autoJ\oma au ori­

ginal. Nao S<! trata mals de fazer tabula rasa 0\1 de criar a

partir de urn milterial virgem, e sim de encontrar um mo­

do de insen;3.o nos imlmeros fluxes dil produo;3.o. "As eOI­

sas c os pcnsilmentosN

, cscreve Gilles Dcleuze, "crcscern

ou aumentam pclo meio, e caf que a genie tem de se insta­

IoU, csempre cste 0 ponto que eedc~1 A pergunl.1 artistica

nao em:us; ~o que fazer de novidade?", c sim: "0 que fa­

zer com isso?". nito em outros termos: como produl'.ir sln­

gularidadL'S, como e1aborar scnlidos a partir dcssa massa

caotica de oblctos, de nomes proprios e de refercncias que

eonstituem nosso cotidiano? Assirn, os arlislas aluais nao

compoem, mas programmll formas: em vez de transfigu­

rar um clemento brulo (a tela br.lncil, a argil ..), eles utili­

zam 0 dado. Evoluindo num universode produtos avenda,

de formas preexistentes, de sinais 1.1 emitidos, de prCdios la

construfdos, de itinerarios bahzados per seus desbrnvado­

res, eles nao considcram mais 0 campo artistico (e pederfa·

mos ilereseentar a televisiio, 0 cinema e a literntura) como

urn museu com obras que devcm ser dtadas ou "supera·

das", como pretcndia a Ideologia modernista do novo, mas

sim como uma lola eheia de ferramcntas para usar, esto·

ques de dados IXlrn manipular, reordenar e lan.,ar. Quando

Rirkrit Tiravanlja nos prop6e a experienci.. de uma estru·

lura formal ondc prepara pratos culin5rios, de nao est,i

1 Gill.,.. Dolcuu, """'1'"1,.,,. F.ri... tAo Minult, 1m, p. 219, [Ed. .".••• eo.,.'''_rW>. 'r.>d. r'<!Of T'.lII"'IN.r~ Rio <I~ ).n~It", F.di'o<> 3-1, 1m.)

Page 8: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

l' NICOLAs IIoURkLwo

fazendo uma pe-rformJncc. mas ulllizando a forma-per_

fomance Seu objetivo n50 {: queslionar os Ilmltcs dOl <ltfe;el(' ullhza farmas que scrviram nos anos 1960 p<Jra Inter_

ragar esses hmltes, mas rom a fin<alidade de produzir cfei­

tos lotalmen!{' dllerentes. TIravanija, ahas, cit.. vjrias ve;.:cs

a frase de Ludwig Wittgensteln° "'Nao procure 0 sIgnifica_do. procure 0 u5O".

AquJ,. 0 prefixo "'pOs'" n50 indica nenhuma ncga(ao,nenhuma sUperJ~50. mas designa uma zona de atividades.uma <1lttude. Os procechmentos aqUl lrarndos nao consis­

tern em produzlr imagens de lrnagcns - 0 que sena uma

postUi.1 maneirista - nem em lamentar que luda ",5 foi fel­to", e SlID em lnwntar protocolos de usc para os mOOos de

represcnla~jo e as cstruturas formalS eXlslcnles. Trata-se

de tomar todos os COOlgos da cullura, todas as formas con­cret'as da VIda cotidiana. tooas as obras do patrim6niomundla], e cotod-los em funcionamento. Aprender a usaras formas, como nos convidam os artlstas que seTiio aquiabordados -

, c, em pnmeiro lugar. saber tOllltlr posse deJas ehablta-las..

A pnihc.a do OJ, a ahVldade do internauta, a alUa{aodos artlstas da p6s-prod - _

U{ao supoem uma mesma figu-ra do sabel" que sc ( .

, araetenza pela Im'Cn-oao de itinerariesporenlreacultura Os It' -

- es saoSt'nlUmaldas que produzemanles de mOllS nada, ......cu . 'Toda obra P' rsos ongmals entre os signos.

resulta de urn ('nredobrc a cult.,..... que 0 artista prOleta so-•consnoerada como\"iI-que por sua \........ 0 quadro de uma n<trrati-

, .... prO)eta novos ",-,__ "enr..~ pasSlvelS, num

15

mO\"Imento sem lim 0 OJ aClOna a hlSl6na da mUSlca, co­

plilndolcolando Clrcultos sonores. relaClonando produtosgra\"ildos Os arlislas, por sua WZo habltam alivamenle asforma~ culturais e socials. 0 inlernaula cria seu prOpno SI­te ou l'OIll/, pagr, levade a consult..u constantcmentc as 1Il­

formal;'Oes oblidas, ele inwnt,l percursos que pede salvarem $Cus favontos e rcprocluzir avontade Quando procuraurn nome ou urn assunto num buscador, surge na tela urn..mfinldade de informa{'Oes said"s de urn labinnto de ron­COS de dados. 0 inlernauta Imagina conexOcs, rc1a-ooes e!;­

pedficas enlre siles dfsparcs. 0 sampleador. instrum('ntoque digitaliza sonoridildes mUSicalS, lolmbCm supOc umaattvidade p('rmanente; escular discos lorna-s(' urn trolbol­[ho ('ffi si que atenua ol fronteirol entre reccpr;ao e praticagcrando, assim, novas cartografias do saber. EsS.1 rccida­gcm de sons, imilgens ou formas implica uma nilwgar;iiomressante pclos meandros da hlst6ria cultural - navega­{50 que acaba se tornando 0 proprio tema da pr,Hica artls­tica. Pois nao ea ;ute. segundo Marcel Duchamp, "urn jogoentre toclos os homcns de toclas as cpocas""? A pOs-produ­{SO ea forma conlemporanea dcsse jogo.

Quando urn mUsICO faz uma digilahzar;;io sonora, desabe que sua contribUlr;50 podera ser rClomada e usada co­mo material de rose para uma nova composi{50. Para de,enormal que 0 tratamento sonoro aphcado ao audiO grava­do \"cnha a gerar, por sua \'CZo oulras interprclac;Ocs, e as­sim sUCCSSlvamentc. Com as musicas sampleadas. 0 tm/lo

represcnta .lpertas uma sahcncla numa cartografia movel

Page 9: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

multiplo. N.lo emais urn ponlo final: eum momento na ca­

dCla mfimla d,lS contnbul¢lcs

Ess."J cultura do usa lmphca uma profunda lransfor­

ma~ao no estatuto da obm de .ute Ultrapassando seu pOl­

pcllradlclonal como recept,ku[o da vis.io do arlista, <'Igom

cia funciana como um <'Igente <'Ilivo" uma dlslnbul~,10.urn

enrcdo rcsumJdo" uma grade que dls~ de aulonomra e

rnatenalidade em diversos graus, rom urna forma que pa­

de vanar dOl simples ldeia ale a escultura ou 0 quadro. Pas­

sando a ger;Jr comporlamcntos c potcnciais rcutlliz;ro;o~,

;J arte contr;Jdiz;J cullura ~passiva" ao opor mcrcadorias cconsumidores e no a/ivaI' as formas dentro das quais se de­

scnrola nosS<! vida cOlidlana, sob <'IS quais os objetos cui·

tumis se aprescnlam a nossa ;rpreciao;ao. E sc a criao;.io

artfstk<'l, hOJc. pudesse ser compi1rdda d um csporte cole­

Iivo, lange d;r mltologia d.issica do ~foI\O $Olitlino? "'Sao

os espectadoms que fazem OS quadros", dizia Marcel Du,

champ: a frase 56 adqulfI.· sentido quando;J rel;Jcionamos

com a intuil;ao duchampian;r sobre 0 surgimenlo de um;J

cultum do liS(), na qual 0 sentido nascc de uma rotabom­

o;.io, de uma negociil~o entre 0 arlisla e as pessoas que

"i1m obscrva-la. Por que 0 scnlido de uma obm nao hoi de

provir do uso que Ihe e dado, alem do S('ntido que Ihe e

conferido relo artlsta' t essa a acepvio daqullo que pode­

riamos nos ;JfrlSCJr a chamar de comwl/smo fomral.

16

Ele enlra numa cad("la. c sua signific<l{50 dcpcndc, em p.:lr­

Ie, da pos!{50 que ocup.1 nesse canjunto. Da mCSma form"numa s:ala de bate-pi'lpo on-lint', urna mensagcm adquirc

valor no momento em que e r('temada c comentada poc

outra pesS03. Assim.. a abra de arte conlcmporanea 050 SC

roIoca como h~rmino do "'processo criativo'" (urn ·produ_

to acabado" pronto para sec contcmplado), mas Como urn

local de manobras, urn portal urn gcrador de iltividades.

Brirotam-se os produtos, navega-se em redes de signos,

m5erCm-se suas formas em Iinhas cxistentes.

o que une todas as figuras dOl pr5tica artistica domundo C L'SS3 dissolUl;ao das frontciras entre consume

e p~u\ao "Mesmo que seja i1us6rio e ulaplco.... explicaDomImque Gonzalez-Foerster, "0 que Importa einlrodu­ZIr uma espeae de igualdade. e Supor que, entre mlm _

que estou na ongem de urn disposihm, de urn sistema _ c

o outro. as mesmas cClp3cidades e a possibiIidade de urna

~Ia~ao Iguahtana vao Ihe permilir organizar sua pr6priahlSt6na em rCS1'V'><:ta . h" .6 "

• . I'-~ a IS na que acaba de vcr, com suaspropna,s referCnc:ias"l. Nessa nova forma cullural que pode

ser dcsignada comocultura do uso ou cultura dOl allVldadea obra de arte fuflCtOna " '

COmo 0 leonina provisOno de umarede de elementos anlil"YYY\n.........

_.__ ·'~~''''~ldUOS" como urna narralivaque prUl<}(lga e remtern I

• '1't'C a as narrativas anteriores Cadaexposll;ao COnt&n cd .ser ansenda 'm d'

Oenr 0 de UIT\il Oulm; cadO! obm podC'

IVC'!'SOS P'~ "-oramns e scrvlr como enn.'!lo1. COl!. do e>'1Q1(.Io 0"".; •

"wtP........ (P.n., Mu....,doA"..~c.o.r..okl:.1<ttrw"~ I/wyg",", PJU.do <:Ido.dode P..... 1999, P. 82).

11

Page 10: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

o USO DOS OBjETOS

A dlfcren{,} entre os artistas que produzcm obras a

partir de obJctos jti produzidos c os arllslas que opec.lnl

ex Ili/ulo Ca mcsma que Karl M,mc, em A idi'Ologia II/emil,

aprcscnt.wa entre ~os Instrumcntos de produ~iio nalue.lis·

(o trabalho da terra, por cxcmplo) c "os mstrumcnt05 de

produ{iio cnados pela civlhz.a,.'io". No primclro caso, pros­segue M'lr)c.. os indivfduos est50 subordinad05 3 natureza.

No segundo, e1es Iidam com urn "produlo do lrabalho", IS­la e, com 0 COpltD./, mescla de lrabalho acumulado C lnslru·

mcntos de produ\So. Agor.l eles sO se "'ffianlem juntos I'd"

Iroca", comcrcio inter-humano encilmildo por urn Icrecleolerma, il moeda.

A nrlc do sccuJo xx descnvolvc-sc num esquema se­

mc1hanlc; cia mostra, .1mdil que t.udHlfficntc, os dCllos ciaRcvolu{ao Industrial Quando Marcel Durhamp, em 1914,

cxpOc urn portJ.-garrafJs c utihza como "'InSlrumcnto dc

produl;'ao" um obJcto f3bnClldo cm senc, ele tr.msporta 0

Page 11: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

o consumo, longe da pura passividade a que geralmen!c ereduzido, ex~uta uma quantidadc de operJ~Oes comp..1r5·

'leis a umil verdadcira "produ~5.o silendosa" e c1<1I1dest ina.

Usar um objeto C, neccssariamentc, intcrprcl-3-lo. Utili:tJr

urn produto C, as vczes, trair seu conccito; 0 ate de Icr, de

olhar uma obra de arle ou de asslstlr a urn filme signifita

lambcm saber contorn6-los: 0 uso curn aID de micropira­

taria, 0 grau zero da p6s-produ~3.0. Ao utilizar sua tdevl­

s50, seus livres, seus discos, 0 usu<irio da cultum cmprC'gaIOOa uma ret6rica de pr31kas e "ilrtimanhas" semelh;:mtc a

uma enuncia~50, a uma linguagcm muda possivC'] de clas­

sificar em seus c6digos e figums.

A partir dol lingua que [he e imposta (0 sist/'ulIl de

produl;30), 0 loculor constr6i suas [rases (os alos da vida

cotidiana), reapropdando-se, como rnicrebricolagens clan­

destinas, da ultima palavra na cadeia produtiva. A produ­

~30 torna-sC' "0 lexico de uma pr5tica", isto e, 0 mated;!l

intC'rrnediado a partir do qual se artlcularn no\'os enunciil­

dos, e n30 urn rC'sultado final. 0 irnportantC' C0 que fazc­

mas com os elementos anossa disposi~<1o. Dcssa milneira,

somos locat<irios dol culturJ, a sodedade c urn lC'xto cuja

regra lexical ea prOOul;<10, lei contornada de del/lro pelos

usuanos supostamente passives, por rneio d(' pr<ilicas de

p6s-prOOu~iio. Cada obra. sugere Cerleau, "e habit<ivel co­

mo urn ;!partamento alugado". Ao ouvir muska, ao [er um

livro, produzimos novas matthias, aproveitando diaria­

mente novos meios tccnicos para organizar essa produ~5.o:

zappers, videos, cornputadorcs, MP3, ferramentas de scle-

20 NICOLAs BOu"'"~","

processo capit<'llisla de produ(50 (tr.1balhar a pMtir do trll_OO/lro aClIIuulado) para a csfcra da arte, .10 meSmo t

empoinscrt'vcndo 0 papel do artista no mundo das ttOcas: dl"repent.:' rIc pal\'C'e urn comerci,mte, c\lje trabalho co .nSlsteem t~nsferir urn produto de urn local para Dutro.

Duchamp parte do principlO de que 0 consumo I.1m_bern eurn modo de prodUl;5.o, tal como Marx havi" c .• ... Scntoem sua l/llrodllfll0 il (r{fica dn eCQllomil1 poUt/ea: "0 consumotamlXm cimediatamenle produ(5.o, aSSlrn como, na natu_reza, 0 consumo dos elementos e das substancia, qu,' ., ' .mIcase produyio da planla-. Scm contar que "na nutri\ao, que cu.ma forma de consumo, 0 homcm produz seu corpo". As­Slm, urn produto sO sc loma realmente produto no ata do

consumo, pois, prossegue ele, "uma roupa apenas se tor­

n: uz:na roupa real no ato de vesti-Ia; uma casa desabitada

naa e de. fata uma casa~. Alem disso, ° consumo, ao criar

il. neressldade de uma. nova. produt;5.o, constitui ao mesmo

tempo°motor e 0 motivo dessa cria~5.o. Tal ea virtude pri-mordIal do rt!Qdy-mad I L._]

e; cs a= ecer urna equivalencia entreesc,_.olher e ~abricar, entre consurnJr e produzir. a que edi­

ICI! de acellar num m dd , un 0 governado pela ideologia crist5.

o es or~o (·Trabalha -do her6i ] _ ras com 0 suor de tua testa") ou pela

pro et5.no slakanovlsla.Em SCtI d •

"nsalO Arls defi' r -MlCheld C IlIre, mve"t/Oll dll qllotidiclI'

e erleau examma os 'sasuperficiedad ] p _movlmenlosocultossobaH_

up a rodu~ao-consumo, mos!rando queI. M"""l do c..r,~

[Ed. brb.. It I>o""'f.' .... ~n'4<}:i.... I'i........r.... it ..4<-1_narD, v-..~d4

j<Oli4""". orI" d.~"'" 1"'4.",9"Dltd"~,I'~n~ f-oli", 19811.

. l'lIrohTl ftonwa Alvn. Rio

!'OS·I'llODUcAo 21

Page 12: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

22 NICOLAS IlOURRIAl1l)

{.io, recomposi{iio, recorlc... Os artistas "POS-pm<1 Iu Ores~

sao os oper<'irios qualificados desS.l re.1propn<l{ao Cllitural.

o usa do peodula, de Duchamp a Jeff Koons

•Dc ~to, a apropna"iio ca prilnclra fase cia pas.pro_

dU\<lo: nao se trata mals dc f.lbrkar urn objcta, mas de es­

colher entre os objetos existentes e utilizar ou modificaf 0

item cscolhido segundo uma inten"ao especifica. Mtlrccl

Broodthacrs dlzia que, "desde Duchamp, a arHsta c0 au­

tor de urna dcfini,J:o~ que vern a substituir a defini"ao dos

objetos esculhidos. Mas 0 lema desle hvro n50 Ca hlst6ria

da apropria"iio (ainda por ser escrita), c apenas tomarcmos

alguns exemplos utels para a comprcens.io da artc mais

recente. Ass\l~, cmbora 0 proccdimenlo da apropria,,50

tenha suas ralZCS na Hist6ria, minha narrallv.l inicia-se

c~m 0 Iwrdy-madl!, que representa sua primeira manifesta­

,,'10 conceitualizada, pensada em rela,,50 ahistoria da arte.

~u~ndo Marcel Duchamp expoe urn objelo manufutura­

;mu:por~a-garrafu.s,urn urinol, uma pa de neve...) como

r I esptnto, ele desloca a problematica do processo cr;f1­roo, co OCando a enfasc -

nao em algurna habilidade manuale Slm no olhar do arl1sta b' 'ato de esco\l.' . so rc 0 obJcto. Ere afirma que 0

ller c suficlcnte ,\:, f dca, tal como 0 'd ...~ra un ar a opera"ao artfsti-

a 0 e fabncar .uma nova id(ila~ , pmtar ou cscuJpir: "atribuir

il um obJcto c .SoC modo Du h ,em Sl, uma produ"iio. Des-

, camp completil a d fi . -lnscrir urn objeto C nJ~ilO do terma: cdar e

num novo Cored '.p<-rsonagem numa . 0, consldera_to como urn

narmtlVa.

i'OS.PRODUo.O

Nos anos 1960, J principal difeTen(;<l entre 0 novo rca­Usmo europcll {' 0 pop amcric.lno reside na naiUTCl;l do

olhar sobre 0 consumo. Arman, Cesar au Daniel Spacr­

ri piHcccm fasclnados 1'('[0 ato de conSUlmr, c cXpOcm as

r('liquias desse g('510. PMil ell'S, 0 (anSUllla C urn feno­

mena abstralo, tlm mito cup lema invisfvcl c irrcdut(Yd

a quolqucr rcprcsenta<;Jo figurativ.l. InvcrsJIllCnle, An­

dy Warhol, Claes Oldenburg c ]amcs Rosenquist orien­

tam 0 olhilr para a compra, p,H;l 0 impulso visunl que lcv,'

urn indivfduo a adquirir tal ou tal produto: 0 objctivo de­

les, mais do que documentar urn fenomeno sociol6gi­

co, c explorar uma nOV<l materia iconogrMka. Porlanto,

des interrogam sobretudo a publicidadc e a mec.ill1ca da

frontalidade visual, ao passo que os europeus exploram

o mundo do consumo pdo filtra da grande metMora or­

g5nica, privilegiando mais 0 valor de uso do que 0 valor

de troca das coisas. Os novos re.1listas intercssam-sc mais

pelo usa impcssoal c coletivo das formas do que pdo uso

individual, como mostram admirawlmente os Irnbalhos

dos cartazistas Raymond Hains e Jacques de la VllIeglc' a

autor multiplo e an6nimo das lmagcns que eles rccolhem

e exp6em como obms t! a pr6pria cidadc. Ningucm conso­

me, "isso" se consomc. Daniel Spocrd mostra a poesia dos

restos de mesa, Arman revela a lirica dos depositos e la­

tas de lixo, Cesar eXpOe 0 autom6vel esmagado, chcg<lndo

ao termo de seu destino de vciculo. Acxcc,,50 de Martial

Raysse, 0 mais "americano" dos curopcus naquela epo­

Cil, csempre uma quest50 de mostr.lr 0 fim do processo de

Page 13: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

consumo reahzado por outrem. 0 novo rcalismo invcn.

tou, assim, uma espklC de p6s·produ~ao aD quadrado: 0tema c, scm duvida, 0 consumo, mas um Consumo reali_

uda de manCIT;) abstrala e geralmenle anonima, ao passo

que 0 pop explor.l os condicionamentos vlsuais (publicida.

de. embalagem) que arompanham 0 consumo de maSS<!Ao rccuperar objctos ja usados, as novos realistas sao os

primciros paisagislas do consuma, os autores d.,ls primci­

ras nolturezas-morlas dOl sociedade industrial.

Com a pop arl, por sua W2, a nO{ao de consumo cons­tituia urn tema. abstrato hgado aprodU';ao de massa, que sOvern a :Idqumr urn valor concreto, vinculando-se a dese­

jos individuals, no com~o dos anos 1980. Os artislas filia­

dos ao sunultlcumismo irao considerar a obra de arte como

uma "mercadoria absoluta" e a criar;ao, como urn simplessimulacro do ato de consumo. Compro. logo aisto. escrc­

w Barbara Kruger na epoca. Trala-se de mostrar 0 obJe­

to sob 0 angulo dOl eompulsao aquisitiva, do desejo. a meio

GlrnlnOO entre 0 inaeessl\'el e 0 disponivel. Essa e a ta~

refa do marketmg, que representa 0 verdadeiro tema das

obras simu!aoonistas. Assim. Haim Steinbach dispOe ob-)etos de produ"""o em -"--.. ,. ··d d.... ""'II.. au an 19u1 a es em prateleirasmlnlrnahstas e monoc ',' Shroma leas errie Levine exp6e c6-plaS de obras de Joo M· 6n Ir, Walker Evans au Edgar Degas.Jeff Koons cola anu •Gl bolas de ba noos. recupera lcones btsclJ ou colo-

Soquele nutuando.- .AshlPv 8 I.A__ "'" rec:lplent~lrnaculados.

-~ l(o..<:Imn faz urn aUImarcas dos prod o-retrato COrnposto por logo-

utos que ele usa em $CU cotidiano.

25

Para as slmul3cionlstas, a obr,} result.. de urn con­

tralo que estipub igu,}llmportancl3 30 consumidor e 30

artista forncccdor. Assim. Koons utlliza os objetos como

ronvectores de desejo, paiS 0 "'slstem3 capitalist,} oclden­

tal concebe 0 objeto como uma r«ompensa pclo trab.l­

Iho cx«ut3do ou pela reallz,}~ao alcam;,ada 1.. 1 Uma R'Z

acumu]ados, esses objetos definem a pl'rsonalldadc do

cu, realium e cxpflmem scus descjos'" Koons, Levine

e SteinbJch apresentam-sc como \'erdadciros interme~

diiinos, corrtlortS do dtMjo> cujos trabalhos represent;1m

simples simulacros, imagens nascldas de urn estudo de

mercado, e nao de Ollguma "necessidade mlerior", vOllor

mlnimo. a objeto de consumo corrente duplicOl-se em ou­

ITO, puramenle virtual, que designa urn "eslado inacessi­

vel"', uma falta Ueff Koons) 0 artista con50me 0 mundo

em lugar e em nome do espcclador. Ele displie os obJe­

tos em vltrines que neutralizam a no~ao de uso em favor

de urn,} especie de trot'a Interrompida em que 0 momen­

to da apresOItflfQO surge sacralizOldo. Ao utiJizarOl eslrutu­

ra gencnca das pratelelras ness,} epoca, Haim Steinbach

Insiste na presen~a domlnante delas em nossa universo

menial: olha·se apenOls 0 que cstfi bem expaslo, VOlle dlzer,

deseja-se apenOls 0 que edcscjado par outros, as objetos

que ele mstala em su3s prateleirOls de madeira e f6rmi·

ca foram "comprados ou juntados. dispostos. reunidos e

Z. Ann ColdslM -l<'lfJ:oonJ" In A F"""'cf""'" (tof~ MOCA.1989, nt11of;oj.

3. &."""..10 l.t'lI CQ""1ns of" dim (p.ri$. Cfn(n) Pumpldou. 1987).

Page 14: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

26

cnquanto malrizes formalS, suplantam a vitrme c a orgil­

nlza~o em pr.:Jtdclras.Por que 0 mcrcado se (ornau a refcrcncI3 ubfqUJ das

pr3tlcas aellS!lcas conlcmporancas? Em pr1ll1clro lugar,

porquc rcprt.~nla um3 forma colchva, um3 agtomcr3(ao

ca611Cil, borbulhantc c sempre r('nevada. que n50 dcpcndc

de um3 aulona mdlvidual urn Mercado Cfomlado por mul­hplas conlnbuH;Oc'S pcssoais. Dcpois, porqu(', no caso da

felr.! de COisaS usadas, Curn local onde SoC reofl,"alllz.1, bern

ou mill, a produ(ao do passado. Por fim, porque 0 mcrl'ildo

encarna e materializa fluxos e relal;6c$ humanas que tcn­

dem a sc d<.'SCnl'arnar com a mdustnahziu;50 do l'om~r{"lo

eo surglmento do comerclo eletrOmco. A fcira de usados,

portanto, e 0 lugar para onde convergem prodUIOS de v.i.ri ..s proced~nclas, aguardando novos usos A ve1ha m.1qui­

na de costura pode sc tornar uma mesa d,. cozinh.., urn

obJelo publldt.'irio de 1975 ou urn enfelte para a sal,) Nu­

rna hornenagem involuntanil il Marcel Duchamp, trala-sc

de atrlbuir "uma nova idei.:l'" a urn objcto. Urn item antes

utihzado de acordo com 0 conceito com q~fora prodUZI­

do encontm novas possIbilidades de usa nasbancas dc ar·

tlgOS de segunda milo.

Em 1996, Dan Cameron rclomou a aposi~50 de Clau·

de Uvi-Slrauss enlre a "cru· e a "cozido" como titulo de

uma de SUilS exposu;Ocs: de urn lada, artlstas que trans·

form3m m3tenais I,' os fornam IrrccanhL'Cfvcis (a cazida);

de oulro, os que prcservam 0 aspccto pr6prio desscs ma­

terials (0 cru). A forma-mercado e 0 lugar par excelcnaa

comparados. Ell'S pod(,nl ser mudados, arrumadosd"~ Ull1a

detenmnada manClra. e quando sao embalados Beam no-

\,;lmenle scp.1r3dos, (' sao 1'50 pcrmancnles quanto os ab.jetos que se comprarn numa loja...• 0 lema de Sua abca C0

que ocone em tOOa troea.

A feira de usados. forma dominante

da 3rte des ;toos 1990

warn Gillick exphca que, "nos anos 1980, uma grande

parte dOl produ(ao artistica parecla indlcar que os <trtislas

{aziam suas compras nas IOJils adl.'quadas. Agora, ecomo

se os novos artlStas tambem fizessem suas compras, mas

em IOlas madequilclas, em todos os tipos de 10jas"'J

Poderiamos represenlar a passagem da dcc3da de

1980 para a de 1990 camparando duas fOlografias: a pri­

meir.I rom uma Vltnne de 10].1, a segunda com uma. fel­

ra de usados au uma galena comerdal nurn aeroporto. De

Jeff Koons a Rirkrilliravanilil, de Haim Steinbach il Jason

Rhoades, urn sistema formal substituiu outro, e 0 mode.

10 \'1SUa1 domlnante parcce ser a (cira ao ar hvre, 0 bazar,o mercado aberto C.U.-- fA, ..

, .. ,,1l10 e emera e nomade de rnatcn<llSprecarios C "'"odutos d d' 'A..r' C 1\'Cfs.1S provemenClas. A TC('lcla.gem (um metodo' d -'I e is ISposl<;ao ca6tica (urna estetica),

27

Page 15: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

7 ld<m (","I<: of pip<'$. pik of (I,m"" pil< of pap". pll<: of fAbrk. aU,~lndu.Irial quanl ilks of Ib I"go. "j,

8./d<1n-

tamente - pelo menos no inicio - aos mercados populaR'S

dil California, suas inslalal;Oes s50 a imagcm cnlouquece"

dora dc urn mundo scm centro possi\'cL quc desmorona

por todos os lados sob 0 peso da prodUl;JO e d;l impossi­

bilid;ldc pr5tic;l de uma reciclagem. Ao visita-Ias. pressen,

timos que a tarda da arle n50 {> mais propor uma s;ntcsc

artificial entre elementos heterogcncos, c sim gcrJr -mJS­

sas criticas" formais, por melo dJS quais a estrutura fami­

liJr do mercado se transforma num imenso entreposto de

linhas de venda, e, nJ verdade, numa monstruosa cidade

do refugo. Seus trabalhos consistem em mJlerials c fena­

mentas, mas numa escala descomunal: "monte de C.IllOS,

monte de bral;adeirJs, monte de pJpcis, monte de lecidos,

tadas essas quantidades industrJais de coisas._'" Rhoades

adaptJ a junk fll;r Jmericana.'is dimensOcs de Los Angeles

por meio da experlentia, fundamentJI em sua obra, do uso

do Jutom6veL Quando lhe pediram pam justificar a e'Jolu·

l;JO de sua pel;a Perfrct World, el(' rcspond('u: "A vcrdadeim

grande mudanl;3 em meu novo trabalho e 0 carro". An­

dando em seu Chevrolet Caprice, ele eslllva Udentro e (ora

Ide siJ, dentro e fom da realidade"', ao passo que a compra

de uma Fermri modificou sua rc1a~50 com a cidadc c com

seu trabalho: "Dirigir do Jtelie ate varios lugares e diri·

gir fisicamente, cuma imensa energia, mas n50 {> mais urn

passeio sonhador como era Jntes...•. 0 espal;o da obra e 0

2$ ~ICOl.AS BOURR.lA\JI)

dessa cruez.a: uma instal<1~ao de ].lson Rhoades p, or C'xern_

plo, apres..?Tlla-Se como UlTla composh;ao unitaria farma

da por objetos que, mcsmo assim, mantcm sua au' ..onOmla

cxpressiva, como os quadros de Arcimboldo Em t. • ., . CTmos

formals, seu trabalho csta malS proximo ao de Rirkrit lira.

vanija do que pode pare(cr aprimeira vista- Untitled (P. cace~Ils), que TIravanija exe<:utou em 1999 tambcm s' . c aprc.senta como urna cxuberante exposi<,ao de elementos drs­pares, mostrando claramentc uma aversao aformata\aodadiversidade, visivel em todas as suas obras. Mas Timva_

nila organiza os multip[os elementos que comp6em suns

instalal;'Qes para ressaltar seu valor de usa, ao passo que

Rhoades apresenta objclos que pare-cern dotados de urna

logica autonoma, indifercntc ao ser humano. Perccbemos

~ma .ou v.irias linhas diretrizes, estruturas mutuamente

1mbncadas, mas sem que os atomos reunidos pero artis­

ta se ~glutinem plenamente num conjunto organico. Ca­

~a. objeto parece rcsistir asua unifica~ao dentro de uma

lma~m cc:erente, conlentando-se com sua fusao em sub­conluntos as vezes transplantados de uma estrutura para

ouhtra. 0 d0m.lnio de formas a que se refere Rhoades cvocaa cterogeneldade das b dtiv ancas e urn mercado e as re-spec-

as perambulal;Oes entr I _~as T\I><. e cas: c sobre as relat;6es entre

..-~so.as. entre mim em·ab6bora os, .~ eu pal, ou entre os tomates c a

. elJocs e as alga Ia terra a terra'" s, as a gas c 0 milho, 0 mllho e

. .. as cerc,,)s de a "_-,-_ rame ',Referindo_se explld.

6. 'h'. aboo..l r<1.>liolu~'~ bu... ,., -4>, .ps to 1""'>l'1<:. lik~ .... ~ndground '" tt.. 01 ' and~.,., It.. _ ... 1M my~ or tom..DeS to~noOn:bl""- <cnJ", fn I",,"~ ro.n to),tur f;.OIlnd 3nd , ....

,,",,11m do l-ta",b<,,~ (liarnbu' 1'''/'01 ....'101. <3t~1ogo d. u.rgo, OI:"gco,. 2000).

l'Os PRODUO\O 29

Page 16: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

31

30

CSPJ{O humano pcrrorrido a uma dCI('r~inadavc10Cidadcos objl.'lOS que suhsisfenl. portanto. om sao enormcs, ora Screduzcm 0.0 t.'lmanho do carro-habit.lculo que, ao PCrnu.nr seleoonar as (armas. descmpcnha 0 papeJ de urn Ins_trumento ohm.

o trabalho de Thomas Hlrschhom aprcscnta cspal;osde trocas e locais onde 0 indivfduQ p('rdc 0 contata com 0

SOClal e se Inousta num fundo abstmto: urn acroporlO In­

temaoonal \'ltnnes de grandes lojas de departamento, asede social de uma emprcsa- Em suas instaJal;~, as for­mas vagas do cotldmno cst50 embrulhadas em papel-alu.

mimo ou filme plaslico e, dessa maneira. uniformizad..s,

sSo pI'Ojctadas em monstruOS<1S formas-redes que prolife­r.1m tentacul.armente. Esse trabalho, parem, reencontra it

forma-mercado na rnedida em que introduz nesses locJlS

tiP1COS d.1 economia globalizada elementos de rcsistendac de mforma,,ao: panfletos politicos, recorles de arligos deJOffial te\-es, Irnagens rnidlatlcas_ a visltante que circulapeIos amblentes de Hirschhorn perrone com desconlortoum OTgamsmo abstrato, pastoso e caOtico. Ele pode identl­ficar os obJetos que cncontr.. - JornalS, produtos, vei'culos,ob,etos do cOlxhano -, mas sob a forma de cspectros vis­

cosos. como se um virus de computador tivesse assoladoo tspeticulo do rnundo para subslllui-Io por urn suced'S­neo ~nehcamenlc modificado. Esses produlos comquci­ros ~o 3pr~tados em estado larvar, como monstruosasmatn:zes Intercon.....~d

~".. as numa rede capllar que nao leva 3lugar algum _0 que H

L_ ,ern SI, JU eonslltui om comentano so-Ule a l"Conorrua

ros 1'RClOlI(I.O

Um mal-csl:.lr p3Tccido rerca as inSlala{Ocs de Ceo~­

ge Adeagbo, que apn.'$(!ntam uma imagem da recupera{aoeconOmIC3 afneana ao )ongo de urn lablrinlO de capas ,"('­)has de diSCOS, refugos ou rerorlt$ de lomals, que sao co­mo legendas de anota{Ocs pcssoalS de urn diano in~lmo,

trrup{ao da conscicncla humana nos reccssos da IlltsCnildos prodUIOS expostos.

Desde 0 final do skulo X\'IIl,. 0 termo "'mcrt'ado'" afas­IOU-5e de seu referenle f{SlCO e passou a dcsignar 0 pro­ccsso abslralo de (Offipm e venda No bazar, explu:a 0

economista MIchel Hcnochsbcrg. "3 transa{50 \'ai alem dosimphsmo SCC'O (' rroUClonista com que cia cf,mlaslada pe­

la modemidade...·, assumindo seu eslatuto onglOal de ne­gocla{50 enlre duas pessoas. 0 comcrcio c, .:lntes de matsnada, uma forma de rcla~50 humana, ou melhor, urn pre­lexlO para eriar uma rcta{50, Assim. tada Iransa{50 pode

ser defimda como "urn encontra de hlsl6rias, .:lfinidadcs,vontadcs, pressaes. chanlagens, condums, tensOcs"'.

A arle visa oonfcrir forma e peso aos m,IIS invisi\."Clsroressos. Quando paries intetras de nossa vida C.:lcm nil

~bslra{aO devido a mudan~a de escala da globaliza{iio,uando fun¢es roSICas de nosso cotidiano sao gradual­

~ente transformadas em produtos de consumo (incluid.1sas rcla¢es humanas, que se lomam urn ~"Crdadeira in­lerL'Ssc dOl industria), pilI'Cce muito 16gioo que os artisl.1sprocurcm IYmnf('rinllZAf essas fun{Oes c esses processos, C

9.Mo<htl Hftloo<;~,'k:u""'__.--_uk"J*r I"~rlt, Dr­nail. 1m r-1J9.

Page 17: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

32

estctica rcl<lc;onal - CUjil caracterlslica determinante c can·siderar 0 interdmbio humano como obielo esteltco em Sl

Com twrylilillg NTS20 (amos Minimal), Surasi Kusol·wong amontoa em bancas retangulares rnonocromaticas,com umil g<lmil dc tons vivos, milharcs de obietos fabri­cados na Tallandla: camiselas, buglgangas de plastico,cestas, bTlnquedos, utcnsflios dc cozinha etc. Os montescoloridos vao dlminuindo aos poucos (como as NpilhasNdeFelix Gonzalez-Torrcs), pois as visitantes da exposi~ao po­dem levar os objetos em troca de algum dinhciro. colocadoem grandcs urnas transparentes de vidro fume, que ('vo­cam explicitamente as cs<:ulturas de Robert MorrIs. 0 queo dlsposltivo de Kusolwong mostra daramentc C0 univer­se da transa~iio: a dissemina~iio dos produtos mullicolo­Tldos nas salas da ex.posi~50 e a substitui~iio progressivi1dos pacoles por moedas e notas, que ofereeem urna ima­gem conereta dJ. troca comerciaL Quando jens Haaningorganiza em Friburgo uma loia de produtos lmporlados daFr.mr;a, com prci;os c1J.ramente inferiorcs aos praticados naSUI(a, e1e tambem esta questionando os paradoxos de urn.)economia {alsamente "'globalizad-1" e atribuindo ao artistaurn pape! de contrabandista.

NICOlASil()~

devoh-er roncreludc ao que sc furta anossa vista ~

b" " "fi . . . N.,o Comoo jctos, 0 que sIgn! leana calf na armadilh,1 d ..'• a (Clflca

~ao, mas como suportcs de experiencias: a art -• _ C, ilO !('!'ltar

romper a 16glca do espctaculo, rcstitui-nos 0 mundo cexperiencia a set vivida. orno

Como 0 sistema cconomko nos priva pmg'o "."Sslvamcl).

Ie dessa cxpcriencia, cabc inventar modos de T'""prCSCntil_

~ao dessa realidade oiio vivida. Urna serie de p"'n'uras deSarah Morris, que mastra as fachadas das sedes d. _ . egran_~es multinaclonalS num estilo abstrato geomctrico, rcstitui

as marcas que parccem puramente imatcriais 0 lugar fisi­

co a que pertcnrem. Segundo a mesma logica, 0 !emil das

pinturas de Miltos Manetas ca internet, 0 parler da in for­

matic~, mas apresentada sob os trar;os dos objetos que nos

pernutem 0 acesso a cia: os computadares, num cenariodomestko. 0 atual succsso do mercado au do bazar entre

os artistas contemporaneos deriv3 da vontade de devolverurn carater pal""",-el I -,..- a essas re ar;oes humanas que a eco-nomlapOs-modcmaro "bolhnSlgna a a financeira Mas essarnesma i " .

rnatenahdade se revela fietkia, diz Michel He­nochsbcrg, na med-d

I a em que os dados que nos surgemComo os rnais abst tna' ra os - POT exempJo, os pre,os das male-

s-pnrnas au da e .do - nergla, grandes definidorcs do merca-

-sao, na realidade b' darbitra . ,0 Jeto e negocia,ocs muitas vczcsTlas.

Assirn, a obTa de art od _. • .formal qu e p e conslstlr num disposltivO

c gera relai;Oes eprocesso sod I r' ntrc pCSSQ.3s, ou nasc£.>r de urn

a - enOrncnoque aprcScntei com 0 nome de

1'Os·I'RODUCAO 33

Page 18: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

o uso DAS FORMAS

Sc urn l'Spt."Ctador 01(' diz. ~o filme <lue \1 niio

prcsta\';,1~, eu ~spond<):;,1 culpa i'! SU;;J..

pois 0 que voce fez p;,1ra tornar 0 difilogo born?

Jean-Luc Godard

Os ;mos 1980 e 0 nasdmento da cultura OJ:

para urn comunismo das formas

Durante os anos 1990, a democratiza~50 da Informa­tica e 0 surgimento do samp[eamento cdaram uma nova

p<lisagem cuhural, cUJ<lS figuras emblem5ticas sao os DIse os programadores. a remixador tornou-se mais impor­

t<lnte do que 0 instrumentista, a rave, mais exdtante do

que urn concerto. A suprcm<lda das culturas da apropria­

~50 e do novo tratamcnlo dado as formas gera uma moml:

as obras perlenccm a ladas, parafrascilndo Philippe Tho­

mas_ A arte conlemporanca lend" a aboJir J propricdade

Page 19: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

I A.-lin J.ppo'. CItY [)dim(. M.,...lN. V..~ 1m fffd. f'utJ,.Dmoil2001.

dils obras cXlslentes para "dC\'Olver patx<io avida oolldla­na", pn'Yllcglando a construl;ao de situa¢es \tlvtdas em \'Czda fabricac;ao de obras que ratlficam a dh'155.o entre atorese espeetadorcs da existencla. Para Guy Debord. Asger lorne GIl Wolman, os prinCIpals artffices da tI~oria do desvio,as cidadcs, os ediHclos e as obms clevem SN consideradoselementos dccor.3ti\'OS ou inSlrumcnlos ludu:os c f{'Sll·vos. Os situaciOnlstas pregam a pr.ihca dOl derlt'lI, tecnicade peroorrer varies ambientes urbanos como sc fassem 1$­

ludios cinematograficos. Essas silual;Ocs a ser conslruldas55.0 obras vlvldas, eRmeras e ImalerlalS, uma "arle da fugado tempo" rebclde .3 qualquer fixal;ao. A tarda des Sllua'cionistas conslste em erradlcar, com fcmmenlas lomadas,10 lexico modemo, a mcdiocridade de urn;) vida cotidlanaalienada, peranle a qual a obra de arte funciona como lelaau premio de consola~ao, pois nno representa nada alem damaterializa~ao de uma falla Como escreve Anselm lappe,"'e curioso obscrvar como a condena~ao sltuacionista daobm de arle se assemelha aconcc~ao psicanalftlca, quevi na obra a sublima~ao de urn descjo irrealizado""

o desvio sltuacionista n50 euma opl;'ao denlro de urnleque de temicas arti'slicas, mas conslste no linko modoposslwl de utihz.l~50 da arte - que representa <1pen<1s urnobst,kulo ii real;za~iio do projeto vanguardista. Todas asobras do passado, afirma Asgcr Jorn em seu ensaio Pl!illtllrc

ditollmh (PilltllntlfCStJiada) (1959), dc\'cm ser "'reln\'L'Slidas~

36

10 menos. a .....rturbJr css;1S antigas JU-das !ormas au. pc r-

rod" "r'l,rem05 nos dmgmdo para uma cullurarnp eOO;]>. &.1> _

...._.. t"tVn'Tlght em troc3 de urna gestao do di-que a..,.,.nuooa 0 ~-rJ

d ~., obras n.'fJ uma CSpCclC de es~o do co-rellO e acesso.... r-mUlllsma dllS fornI/IS'

Guy I);.>bord, em 1956, publica Mode d'emp/ol riu de-louT/lfml'Uf [Modo d~ liSt) do dcsvjo]:

A~~leclri.l e arti'sbca da humanidade, comourn toOO. dc\~ stf ublttada pa~ fins de propagandamihunle. I-I Todos os clemenlO$, tornados em qual­~ JugaL podem ser ob;etode OO\;'lubordagens. r JTudo pode str\ll £eo.,d/mte que sc pode NO 56 com­PI unu obra au Inlo.'gtJ.l' di\\'fSOS fragmcntos de obrasantigas numJ; nO'o'a <>bra. como tambem mudar 0 scn­hdo desses fr..1gmenlos e fillsifiCilr de lodas ilS milnel­ras aqwlo que os 1mb..'ds sc obstinam em chilmar deOtl~.

Com a IntemaoonaJ Jetnsta.. e depois a Inlernadoni11SltuaCJOnista. que Ihe suctdeu em 1958, surge assim umanova ~ao. 0 dt'SVlO artist1co. que pode ser descnto comoum usa politico do rtJJdy-tMdt r«lproco de Duchamp (quediw<l 0 exempJo de urn "Rembrandt usado como tabua depaSSJr roup,") Esh" " ". "'" reutllza~ao de elementos artisticospreelnstent~ numa nova unJdadc" Cuma das f('rramen-las que contribuem n.'ril _.1____ r- a supera~ao da atividade artlstica,U<.~ arte "5eparada"I .l__ e'Xerulada por produtores espccia-tZ.lI~ A Intemacional tu .SI aClOmsla prcconlZa 0 desvio

",,-"001"'.10 37

Page 20: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

15culos. e SlID malcn:I.IS de COnSlrU{j,o. Qualquer OJ hOle

trabalh3 a partir de pnndplos herJados da hislona das

v.lnguardas artisticas: desvlO, ready-111mit's rccfprocos OUajudados, desmatcrJilltza<;.io da otlvld3de.

Segundo 0 musico j:lpones Ken [Shll,

a hislOna di! mUSICI Itdmo ~ p.treeida com a cia mh:r­net Agora cada urn pode wmpor mllslC"JS ao infiMo~'liisKas que se dmdem cadit \~ m.:llS em dlrereo­

1('5 Gcncros. wnforme a pcrsollilhdade de (',10:13 urno mundo intelro ficari repleto de rnUsl('JS dlfelentes.pE."SsoalS, que scmprc Ir;'io insplrar oulras 1n3is. Tcnhocerleza de que agora n5.o \'5.0 parar de surglr 00\';)5

music3S'

39

Durante SC'U 5d, 0 DJ hda com dISCOS, 1510 e, produlOS.$cu trabalho consiste em mostrar scu Itiner.ino pcsso.1l 00universo musical (sua p/nylisl) e em encadear esscs elemen­los numa delermmada ordem, cuidando tanto do encadl'a­mento quanto da conslru,iio de urn arnbientll (c111 trabalha010 vivo sobrll a multidiio danr;ante e podl' reagir a 5CUS 010­vimentos). Ah~m disso, ele podc aglr fiSlcaml'nte sobrl' 0obJeto utilizado, praticando 0 scrntclllllg ou lanr;o1ndo maode todD urn repert6rio de a¢es (61tros, regulagl'm dos pa'

riimetros na mesa de mixagcm. acrCsomos sonoros etc.).o set do DJ assemelha·se a uma exposlr;iio de obJetos queMarcel Duchamp teria dllnominado "rrndy-madts ajuda-

l'O5·l~

odcs.'ID de obras pn.'C'Xistentcs ccomum hOJe em di.:l,

mas os artisLls I'l"C'OfTCffi.:l elc nao p,ml "desvalorizar a obra

de arte: e slm para uhllU-la. Asslm como as t&nicas da­

daistas foram usadas pelos surrealistas com uma finalidildeconsl:rutr.-a,. a ,ute atual manipula os proccchmentos sllUil­Cloruslas sem pli:teuclcr a aboUr;,ao lotal cia arte.. Notemos

que urn mista como Raymond Hams, geni3l praticanlc ciadem", e ll\Sllgador de uma mfimta rede de signos interco­ncclados, surge aqul como precursor. Hoje, os artistas pra­

tJcam a p6s-produr;ao como uma operar;ao ncutra, de somazero, 30 passo que os S1tuaclOnistas pretendiam corromper 0\"31or d.1 obra desvIa.l· _ .

....... au sqa. Investtr contra 0 capital cul-tul'3L A~30. dlZMw:hel de Ccrteau. curn capital a par­tir do qual os consumklor

• cs podem rcaJlzar urn conjunto deopel'3~ que os oonvertem em locatfinos da cullura,

Agora que as recentcs tC!ndcnclas musicals banaliza­ram a dcsVio, as obras de artc J.i nao sao conSldcradas obs-

38- pod;,> cxistir uma ",ute Si!UilC10_

au &."'SJp.ln~r Logo. naom uSO SllUacionisl3 da arlc, que passa

rusla~. mas 3p:-n:1S U- 0 RD.ltlilrl slir la Cl'mstrl/ctloll de SIll/a_

pot sua depn'CIol('.lO. rr - • • _Irons (Rr/a!6rwsobn'1l (Ouslmf/lodt'sltr/arJtsl, pubhcado porDebord l'm 1957, incenti":1 0 uSO das formas cultural$ eXIS­

tent~ "rontcstando·lhes qualqucr valor pr6prio~_ 0 dcsvio,

como Dclxud espl'cifka mJ,IS tarde em I.A Soc,IU dll s~ta­~ IA~,ro rsptliculo). "nao e uma negat;.5:o do csli­

lo. nw 0 e:st:tIo da nega('<io", definido por Asgcr Jom como·um,ogo dem-.xlodJ. CJ:p.1Cid.ldc de desvalonuu;ao".

Page 21: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

<0

005" [rtady-m4Jtos aidtdJ; prodUIOS rnais ou mcf'lOS "modifi.

('ados:, cup encadeamenlo produz uma dl/fJ1(iJo <'Specifica.Assim,. 0 t..'$!do de urn DJ I"('wla-se em sua capacidadc dehabitar urru rede a~rtJ (,l hlstOnil do som) e na 100ica queorganiZJ as lig<!{Qes entre os trechos que de junta. 0 dec­Fymg supOe uma cultura do usa das formas qu(' une 0 rap.a ttdllW e todos os seus dcnv:ldos posteriorcs

DJMarkthe45 King; "Eu niiorouboa musica toda de­k~ usa.1 Plst,) de bJtena. usa esse pequeno hip de (ulano,uso a hnha do leu baIXO. j.i que voce nao est;; mais inleres_SOldo mesmO·'.

aI''!: Clmpbell. 3h:iS, Kool Here. ,5 nos anos 1970prabcava uma esp&ie de samplc.1mento pnmitivo, 0 bunk.

ml, que ronsistJa em lsolar uma {rase musical e coloca-Iaem orCUlto (!.'Chado, transferindo-a de uma copia para ou­tra do mesmo dISCO em VIn"

CNtJJYlng e arte contcmpor.i.nea: as figuras sao - .I.1res. Simi

Ow:ndo 0 C'miS t...l~r da. J""" mesa de mlXagem cstii no

mew, os dOlS trechos locam juntos: Pi Hsenta uma en--~.- . erre uyghe apre4

....~ rom Joim C- -deAndyWa..k-r 0 lOlTloJuntocomumfilme

"Il). PJtd~ pem'-tdodl~~" u Pr-.,~I Ie conlrolar a veloeidade

.....u. -'0 nOUl • ~:fU1O de 0talkoutr Angela Bulloch ouglas Gordon. Toasting. rap.lillIS, de Andrei TarkOVSk~UbL:l a tnlha sonora do filme $0­

Cut- Alex Ba- - g grava Ircehos de

V1SaO; CandICe Breltz lsol PfOgramas de tele-a e rnonta fragrnentos curtos de

JS.ll~)o.n.......6w" L11r.. k.orp. 2llOO.

41

imagens. Playlists para seu proJeto comum ClI/emD Lzbt'l­If Bar Lmmgc (1996), Douglas Gordon propunha uma sele­

\.10 de filmcs censurados no lan\amenlo, enqu:anto Rirkril

Trravanija construfa urn quadro de convfvlo em torno des­sa programa\.1o.

Em nossa vida colidiana, 0 interstido que separa 3

produ\ao e 0 consumo se retr.1i a cada dia I:: passfvel pro­dUZlr uma obra musical scm saber toear uma unica nota,

utiJiz.ando os discos existcnles. Oc modo mais geral 0 con­

sumidor eus/om;ZJ1 e adapla os produlOS comprados asua

personalidade e as suas necessidadcs. 0 ZLlppmg tambCm

euma produ{ao, a timida produ\iio do tempo alienado do

lazer:. 0 dcdo na tecla, e csla construfda uma prograrna\clo_

Logo 0 Do il YOllrself atingirfi todas as camadas da produ­

\.10 cultural: os musicos do Coldcut vao lncluir em seu al­

bum Let 115 play (1997) urn CD-ROM que pcrmile remixaras faixas do disco_

. 0 consumidol em ex/ase des anes 1980 dcsapilrece

dlante de urn consumidor inteligente e potenaalmenle

su~rsl~;.ousuariOdas formas. A cullura OJ nega a opo­sl\ao bmana entre a cml1l0IJfifo do emissol e a pnlticipo(ifo

do lcct'pfoT, que cstevc no centro de muilos debates sabre a

arte modema 0 trabalho de um OJ consistc na concep\liode um encadeamento em que as obras dcshzam umas so­

bre~ outras, rcprcsentando ao mcsmo tempo um produto,

urn. mslrumento e urn suportc. Urn produtor eurn Simples

cmlSSOr para 0 produtor seguinle, c agora lodo artista sc

move numa rcdc de formils conliguas que se encaixam.ao

Page 22: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

42NICOlAS BoURRto.un

mfinito. 0 produto pode servir para fnzer uma bo ra,<lob

pode ,'Ollar a ser um objeto: instaura-se uma rot _ 1<\

termmada peJo uso dado as formas. illiilO, dc_

Angela Bulloch: "Quando Donald Judd fazia m6vetselescmpredlZJa algoassim:umaGldcira naoe urn '

• a escullu+

ra. porque so podemos vc-Ia quando estamos sent.dos ncla

A5$1I11. seu \';l\or funcional impede que cia SC)' um b" "o jClode

arre. mas eu acho que ISSO n50 tern ncohum scnhdo".A quahdadc de uma obra depende da Ir,)o'6 "ria que

descre-.-e na palSJ.gcm cultural. Ela ('Iabora um cncadea_mento entre {ormas, signos, imagcns.

Mike Ken?" em sua instalaliao Trsl room COI/lail/iug

multlpll! sllmulr kllown to elicit cllnasity alld mallipulator

rtSpOlI~ (1999), faz uma vcrdadeira arqucologia da cUltur~modemlsta 030 organizar a conflucncia de (cntes iconogra-ficas no " h

. mmlma ctcrogencas: as cenografias de Nogu-

C~I p~fira os bal6; de Martha Graham, ccrlas expericnciasClentl cas sobre • .

. as reat;Oes de cnanl;as a violencia na h~-\'e. as expen- d

enctas e Harlow sobre a VIda afetlva des ma­cacos. a performance 0 -dDutra de su ob • VI eo e a escultura mlnimalisla.

as ras. Fral1ltd & Fr: 'M""hon "Onnalow __ I amt Imature reproduc-

" wQl1mg ~I/'" built .... .nllltUrt rtpI'oducflon c____ y~ Mitt KLllty after "/If1-

""'<.'Vl stilt CQtltn " •Lu). reconstr6t e deeorn........ "P I Ifdt by Pro! K. H.

r~ 0 O!;o dos dMtown. em Los Angt'1cs. em d esqos" de Chl-

uas tnst<al,..... _ .como se a cscullura \IOI:JVa pop 1 ""vcs dlfercnles.

u ar e seu f\!Sdramenlo turiStlco (uma muret ~hvo enqua-

<I CCrcada detenct'Ssem a categonas dlStint~ De r grades) "pcr-

i1lo. aqu"j 0 t'Onjun!o

43

tambCm mesda umvcrsos estctleos hetcr~neos: 0 kitsch

sino-amerlcano, a estaluana budlSI<1 e cnsta. 0 spr<1Y de

tinta dos grafiteiros. as IOfr.h'Struturas lurlst1C1S. as es·culturas de Max Ernst e a arte mformal Com Frnmcll b

Fram,., Mik~ Kelley de(hca-se a "'transmltlr as formas qu('normalmenle servcm p.:tra represent-ar 0 amodo.... a figurar

a ronfusiio Visual 0 estado mforme da Imagl'm. "'010 mstabl­hdadc das culturas que sc entrcchocam", Esses cntrecho,

quest que reprcsentam a eXp<'ncocla rolld,ana do mor.ldordas Cldildes deste rom{'{o do sCculo XXI. reprcsenlam 10101­

bern 0 tema da obm de Kelley. Seu trabillho mostra 0 cn­sol ca6tico da cullum global. em <Iue entram a illlil e a billl(acu[turil. 0 Oriente e 0 Ocidenle, a arle e a nao-arle. uma

mfinldilde de registros lcQnlcos e de mados de produ~ao t\

dlvlsao do China/owlI w;sllirlS wdl, al~m de ObrigM a pen­sar seu cnquadramento como uma "'cntidade visual distin­ta~, mdlca mais genericamente 0 grande lema de KdJe}'"o aphque Ide/ourogel, isto~. a mancira como nossa cullu­r.l funClona por Iransplantes, cnxcrtos e dcscontcxtu.lhZil­\6CS. 0 enquadramenlo eao ml-'Smo t('mpe um Indlcador,um dedo que ilpenta 0 que se deve oJhar. e urn limIte queImpede que 0 obJeto enqu.ldrado cala na Inst.lbilidacle. nomformallsto e.. na vertlgem do "iIo-njrl'l'IIc;ado. dOlo cuJlura'"'sel\'agem'" As s'gnifiC3l;Oes ~o. em pnmeuo lugar. pro'duzidas por urn enquildramento SOCial Mtlllllllg IS co'l/u­sell sputIiJlity,fmmtd. dlz 0 titulo de urn texto de Kell!!)' quepoderfamos traduz,r por. lode s,snific3do ~ uma espaciah+dade vaga. ronfusa. m3S enquadrada_

Page 23: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

42 NICOlAS IlOlJRRlAun

mfinito. a produto pode scrvir para fazer lima obra b' a 0 ta

podc \'Olt,n a seT urn objclO: inSlaUT.:l-SC uma rot,,(,]o, de.lerminada pdo uso dado as formas.

Angela Bulloch: "'Quando Donald Judd fazia n,' ,OVCIS

ele semple diZI<1 algoassim: uma cadcira nao Cuma esc I' 'u u-ra. porquc s6 podcmos ve-lil quando cstamos sentados nela.

Assim,. seu valor fundon'll im~deque cIa scja urn objCIO dl:

arre, mas ell achoque isso nao tern nenhum sentido".

A quahdadc de urna obm depende da tmjel6ria que

dcscrt"\'e na paisagcm cultural. Ela elabora urn eneaclea_

mento cnlre farmas, signos, imagens.

~1ikc .Kcll~}', em sua instala\iio Test room cOIl/nil/illg

lJIultfpll! stmlllil know" /0 diCIt curiosity mId IIlGllipulnfory

rrsp,mses (1999), faz uma verdadeira arqucologia da cultura

modernista ao organizar a conflu~ncia de Fontes konog,'-ficas " h

no mInima cterogeneas: as cenografias de Nogu-

c~ p~ra os bales de Martha Graham, certas experienciascl.entLficas SObre as rea~OL'S de crian~as i'I violencia na te-ve, as expenencias de H [ b

ar ow so re a vida afetiva dos ma-cacos, a performance 'dO ' 0 VI eo 12' a escultura minimalist,]

utra de suas obras F d & F •t ~CI ,Tame Tame (MilllntuTe reprodllc-'::hm1;;::111 ~islllllg well'" built IJy Mike Kelley nfleT "mi­L ) ~c IOn Stwll slaT CQWTn" buill by Prof. K H

11 , rceonstr61 e decom~ ~p . . .natown, em Los An••_. 0 01;0. dos descjos" de Chi-

e ....~, em duas Instala _ .como se a escuhura VOllva I ~ocs dlferentes,

popu aT e seu respedramenlo turistico (uma muret.. CIl\'oenqua_

... cercada detenccssem a categonas dlstintas~ D f grades) "per-

l' ato, aqui 0 .CQnjUnto

tambcm mescla uniwrsos csteticos hetcrogcneos' 0 kitsch

sino·americano, a eslatuaria bu<hslJ. c crista, () spray de

tmta dos grafiteiros, as infra'Lostruluras turfstic..s, as es·culturas de Max Ernst e .. artc lllform..1. Com FMll/rd &

Fmme, Mike Kelley d('dica-se a "lransmitlr as formas que

normalmenle servern parJ represenlar 0 :Ilnodo", a figurJr

a confusao visual, 0 estado mforme da imagcm, ..... inSIJbi­

lidade das culturas que se entrechocam~.Ess('s el1trecho·

ques, que representam a experJencia cotidfana do morador

das cidades desle comc.;o do scculo XXI, represent.1m lam­

bern 0 tema da obra de Kelley. Seu trab.Jlho moslra 0 Cfl­

sol caolico da coltura global, em que enlram a alIa t" a b.lixa

cullura, 0 Oflente e 0 Ondentc, a artc e a n50-;ute, uma

infinidade de registros lcol1icos t" de modos de produ~50. A

divlsaO do Chma/own wlsMllg wdl, alcm de obrigar a pen­

sar seu enquadramento como uma Ncntidade Visual diSlin­

taN, indica mollS geneflCamente 0 gr.ll1de lema de Kt'Jlcy:

o aplique [df/oumge], isla C, a maneira como nossa cullu­

ra fundona por transplantes, enxerlos e dcsconlexluJliza·

,;Ocs.O enquJdramenlo Cao mC'Smo tempo urn lndicador,

um dedo que Jponta 0 que sc cleve olhar, e urn limile que

impede que 0 objClO enqu.1drado caia na instabllidade, no

informal, isto C, na vcrligcm do 1/I1o·,.fer.mdlldo, da cullura

Nselvagem". As significJ~6es 55.0, em priml'iro lugJr, pro·dUZldas por um enqulldramcnlo SOCIaL MfJ1l1il/g is COIl/II­

St'd simtialily, /rmllt'd, diz 0 titulo de urn texto de Kelley quepodcriamos lraduzir por: todo significado cumJ esp.Kiali­

dadL' vaga, confusa, lllas enquildradll_

Page 24: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

44

4 -A,t mlUf wn<:<,rI'I Il$('lf with th~ ,.~t bul,t II"eM' .ny notion 10 Ihc' TNllnlo qunllon. II ,lw.Y' turns th~ IN1 Into .I,t"<lc•• r~l'T""nl.tlon.and • <Q<IS'UU<:tion. Ilut .lso n ~I...,. 'lU",lon••boutli'le motl'.... 01 th.ll <OIUlIU<'Ilon:

conccpl;.3o do rcaL Ela scmpre transforma a realidade nu­

rna fachada, numa rcpresenta~iio,numa construl;iio. Mas

cla tambem indaga as motivos dessa constru~iio~·. E cs­

sas [azoes, esses molivos, se exprimcm I'm cnquadramcn~

los, em pcdl'Stais, em vitrines m('ntais. Ao r{'cortar formas

culturais au sodais (uma cstatua votiva, historias em qua­

drinhos, ccnarlos de lcatro, dcsenhos dc c!lan~as mallra­

tadas) e aplica-Ias num outro contexto, Kelley uliliza as

formas cnquanto ferramcntas cogmlivas, libcrtadas de seu

condidonamento original.

John Armleder manlpula fontcs igualmente hetero­

geneas: objctos em scric, indicadores eslilfslicos, obras

de arte, move!s... Poderlamos consider5-lo 0 prot6tipo

do artista p6s-modcrno, prindpalmentc por ter sido urn

dos pnmciros a entender a urg~nda de substituir a no­

~iio moderna de novldade par um conceito mais operado­

nOll. Afinal, explica ele, essa ideia de novidadc em <lpenas

urn estfmulo. Parece-Ihe inconcebfvcl "'ir 010 campo, parar

na frente de urn c.uvalho e dizer: mas co j5 vi isso!u. 0 fim

do lc10s modernista (as no¢cs de progresso e vanguarda)

abrc urn novo espa~o para 0 pensamento: agora cques­

tSo de ..llribuir urn valor positivo 0.0 remake, de articular

usas, rclaclonar formas, em IUS'lr dOl hcr6ica busca do inc­

d1to e do sublime que caractcrizava 0 moclernismo. Ad­

quinr objclos e dispO-los de uma cerm manelra: Armledcr

NICOlAS IlOURIUAUO

A altn cullum b.:lseia·sc numa ideoJogia do pedestal

e do enquadraffiento ou moldul1L 0 exato delincamenlo

dos objelos promovldos, eogastados denteo de categorins

e TegJdos por cOdigos de aprcsenta{.1o. A cullura POpular,

ao contr.ino, desenvolve-sc na exalta{.1o do mau gosto, da

transgrcssao, do descomcdimcnto - 0 que nao significa

que cla nao produzil seu proprio sistema de enqlladml1lclI_

los. 0 trabilllio d(' Kelley opera por curtos-circuitos entre

esses dais focos: 0 enquadramento cerr<ldo da cultura de

museu mesclando·se com a vagueza indistinta que ccrcaJ. cultura pop.

o aphque, geslo fundJ.dor do trabalho de Kelley, apa­ecce CQmo a figura principal da cullura contemporanea:

mcrusta~ da lconografia popular no sistema da gran­

d~ a~te, descontextuahu,ao do objclo em serie. transfe­rcnoa das obms do rCl"ll>rt' .

• p ono consagrado para contcxtostnVltllS- A arte do seeulo xx e d

_ uma arte a montagcm (a~ucessao das Imagens) e do aphque (a suPCrpos1~iio daslmagens)

Os Garbagt Drawings (988) de Mike Kelle

rexcmplo, partem dOl represemal;iio do r .y, ~em quadnnhos Pod _ lXQ nas h1slonas

. emos compara-Ios It se b.

ProducllOm. de Bertrand' _ ne f,all DisneyL4V1er, na qual os d

Culturas que formam 0 ""'no d f qua ros e ('S-.- e undodeumaa

Mickey no Museu de Arte Mod ventura def erna, publlcada em 194

trans ormam em obras re;lis M·l.- ... ~ 7, sc• 1M:' N:lley escrcvc

de~'C sc ocupar do rcal, mas ela quest' . ~A arlelona toda e qualquer

POs·rROOUV\O 45

Page 25: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

'6NICOlAS 1l()l!JUu.u.JO

rompara essa artc do shopping c do dISplay; Ique cs film

I'CJOrallVamenfe chamadO$ de clam 8 U fil ,~• • m I me class

BmscrC\'C-$e nurn delt.'rmin<ldo genera '0 b '\' angllc-biln_

sue, 0 filmc de horror au de a,iio) Como sub od• pr ulo 1>.1.

mlo, mas manlem a po5Slblhdadc de mlrodUZlf van<lntcs

denlro dcssa grade riglda que, ao mesmo tempo ••lh • r ~m que

e lmpoc lmlles, eo que the pcrmitc cxistir ':> JAI led - r"ilra Ohn

m ;:Of, locla a arte moderna ronstitul um •haOO genera fc-

c com que SC pode bnnear. tal como Don Sicg"l ]Pierre Mcl\,IIe, e hOJe John Woo Q _ c, ('.:tn·

t au uenhn Tarantinogos <lm de manJpular as con\'en~6es do fit .' _seus trab.1lh me IlOlr. Asslnl,

R" os mostram urn usa defasado das (ormas sgu""o urn pnnci d • c­Sl'its entre clem plO e.apresenl<l{30 que pm'llegla as fell-

cntos trivia IS e QUiros duma cadClfil de COli h b consl ern.dos senos:

n a so uma tela "ta, ~Ipiros de hnm alac p geomeltl('a abstra_tana 1.'lctnca_ 0 as ry oons nos Jados de uma gui­

de Armledl'c nos a ~o9S0austl'ro c rninimahsla das obmsnos rcflele os h - . •

a esse modl'TnJsmo dasse 8 EI c avoes Inltln5('COS. e exphca:

"LUIS X\ol. Mo.'u lrab.llho delona a SI pr6pno; lodJS as

jusllflcatw"s lconlan-IS sJo nt'gadas uu riweu1anz.ldaspela c,,,x'u(5o da obra'

No trabalho de Armll-der, os quadros abs!r.:ltos e m6­

vels p6s-Bauhaus.:lll reumdos sc transformam em elemen­

tos rftmicos, tal como 0 Sdcclor dos pnmelros tempos do

hlp-hop mixava dOls diSCOS com 0 cross IlIIler da mesa de

ffilXilgl'ffi "Uma pintura de Bernard Buffet sozmha 050 fi­ca mUlto bern, mas uma pmtura dc Bernard Buffet com um

Jan VCTcruysse fica uma coisa extraordln.lria'"

No infcio dos anos 1990, 0 tr.:lbalho de Armlcder ml­

t.:l-se para urn uso mais CxplfCllO da subcullura Globus cs·pclh.:ldos. ~osde Imltat;.lo como enfclle de jardlln, filml'S

de VIdeo classc B, a obra de aele torna-se 0 local de urn

scratching pcrm.:lnentc. Quando reloma ;IS esculturas em

pleXiglas feitas por lynda Benghs nos anos 1970, sobre urn

fundo op art pmtado em papel, ele opera como urn mlxa­

dor de rcalJdadcs. Quando superp5c uma poltrona e uma

ge[;ldeira (Bralldt Sl,r Rllt de Hissy) au dOiS perfumes (N 5

Slir SllII/lIIlIIr), Bl'rtrand Lavier cst.i enxl'rlando objctos

num qucstlonamenlo ludlco da categona Nescuhura"_ Seu

TV Pail/Illig (1986) moslra sell' pHlluras de Faulrier, La­

picquC', Dc Stae!. lewcnsbcrg. On Kawara, Yws KlelO e

lucio Fontana proJctadas em tC\'CS de tamanho igual ao da

obra onglOal.

5. Nio:olu Il<Juni.Mld ~ Ene T.....,.. ·(ftIrr'......~ John Anftk<dor-, Do<-­-..1I_'.rl., ....._I9'U.......

Page 26: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

48 NICOlAS 6OuRRiAL'D

No trabJ.lho de Lavic(, sao uS categorias, os gcncros c

os modos de represenml;ao que gcram as (armas, c n50 0U\vcrso. ASSlm, 0 cnquadramento fOlogr56co produz umn

esrultura. e nao uma folo. A id6ia de "'pintar urn piano'" re­

sulta num p13no recoberto de urn,] camada de pintura eJ(­pressiomsta. A VlSSo de uma vltrine de IOJiI pmtada COm

br,)nro-de-espanha gera uma pmtura abstrata. Bertrand

LaVler. que msso esti mUlto pro)umo de Armleder e ~hke

Kellel', lorna como material as catcgonas estabeletid:ls que

dehmltam nossa pe:rcep{ao da cullum. Armleder as consi­

<!era como subgeneros na c1asse B do modemlsmo; KelleydesconstrOt as figuras para confront<i-lascom as pr.itico15 dacultuta popubr; LaYler mostra como as proprias categorias

artisticas (a pU\tura, a escultura. a arquiletura. a fotogra­fu), tratadas lrorllcamente como bios lOeg;ivcis. procluzem

fonnas que constctuem sua cnbca mollS aguda.

Podemos pensar que essas est:rategJas de reabva,ao

ede d«pyrng das formas ViSualS representam uma rea,.1odl.ante <b!OII~ ~ .. ~ fl _

~-I'~.y,,,.....~, Ud In a.;ao de Ifnagens. 0 mun-do em saturado de MVoI - d

""l" os, Jol IZI3 Douglas Huebler nosanos 1960 - e acrescmta _ _

. va que nao quena produzir OlindamatS Se a prohf~ •

_.......... C.lOllca da produl;3o Jevava os ar­bstas C'Clr'IcertuaIS ~ desma I. la..l-_ ten.a lza.;ao dol obm de arte, ho-je e -,.,..,na nos olnlStas da...,(... _.. _ • _rruxa~edecombl • ~ p,uuu';.10cstratcgtasden30 emalSvivlda nat;oes de produtos. A superprodut;50

como um I"DbInna$l~tema cultural ,e sim como um cros.

,

,

,

I

A forma como enredo: um modo de Uliliz.a~Jio do mundo(Quando os enredos se (Omam formas)

Os artlstasda p6s-produ.;50 Innmtam novos usos paraas obras, inclulOdo as formas 5Onoras ou visualS do passadoem suas pr6prias oonstru~. Mas des tambem trabalhamnum novo rccorle das namllvas hlst6ricas e K1rol6gKas,IOscnndo scus elementos em enredos altemallvo$..

POlS a sociedade humana Ccslrulurada por narrati­vas, por enrcd05 ImalenalS mollS ou menos n?lVindl<:adosenquanto 1.11, que sc traduzem em manelrilS de VIYer, emrela¢es no trabalho ou no lazer, em IOStJl~ ou emidrologias. Os responsavcls pclas dccisbes l'C'OnomlcasPfOJetam ccnarios sobrc 0 mercado mundlal 0 poder po_litico elaborn prcvtSOcs c planc)Jmentos. Vi\-emos dentrodessas narratlvas. ASSlm. 0 emprego segue 0 enn:do da­do pela divisiio do mbalho; 0 casal helerossexual segueo enrcdo sexual domlOante; a televl$iio e 0 lurismo ofe­recem 0 enrcdo privdcgiado para 0 lazer. "Todos nOs ('S.

lamos presos no enredo do cap1talismo tardio"', esctC\~

Llam Gillick.Para 05artlstas que hOle contnbuem para 0 naSClmen­

to de uma culIunI da tJliuidadc, as lormas que nos (crcam saoas matenaliZ<l¢es desses enredos Ess.:is narrahvas "resu­midas" e embutldasem todosos produlOS (ulturais, e tam-

, ·w".rnll callYII withIn I""ocnunoplayOfl.lC capilal..tn- f'JCfn~1M",Qllkk "$cIrIw illlulto nunIJlllW~ Iht rcdtnlqucs ol'rr<VisiDn' "'.....:h ...¥'f.. 10.llow,,", molh·.lion t(>~·

Page 27: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

mdlscullWIS, mas como CSlruturolS prl'Canols quC' utlltz.amcomo ferramentas, produlcm esses cspa,os nilfT.1tl\'OS Sln­gulares que l':m sua .:lpresenlol'.lO n:lS ohras. E0 usa domundo que permlte cnar I'I0\'il5 nanallvas. 30 p;:iSSO quesua contempla,ao p;:iSSI\';l suhmete as produ\&'s hum3nasao cspclficulo cOmuntli'ino Nao eXISle. de urn lado, a cna­,ao \·iva e, de oulro, 0 peso morlO dOl hlsl6na das formas.os artlSI.:lS da p6s-produ,.lo n.lo eslabck'Cem uma dlfC'ren­{a de natureza entre seus trabathos e os Irnbalhosdos QU­

Iros. nem entre seus gcslos e os gl'Slos dos observadori!S

Nos Irabalhos de Pirne Hu}'ghC', Llarn Gillick, DomI­nIque Gonzalrz-Focrslcr. Jorge Pardo ou PhIlippe Patfeno,a obra de arte represenlil 0 lugar de uma negociJ'J.o en­tre reahdadc c fic{ao, narratlva e coment.irio Quem visllauma exposi,ao de Rlrkril Tiravalllj.l- U"/ll/ril (O"t' Rt'{.'O­

Ii/tioll per Minl/f,'), por excmplo - tern dificuldade em dIS­tinguir a fronleira entre ,1 produ{ao do arhsta e sua pr6priaprodu{ao. Urna b.:lncada com crepes. (('«ada por uma me­S<I invadlda pelos viSltantcs, ocupa 0 centro de urn labmntode bancos, coltfilogos, laJX"\.1nas; quadros e esculturas dosanos 1980 (David Diao, ~hchcJ VcrJux. Allan J\lcCollum )dao nlmo 010 esp~. Dlant(' d(' um.l obra que conSlste cs­scnci.llmenle no consumo de urn prOllo, e por melO dOl qualos visltantes, tal como 0 artl$la. sao kovOldos a cxc<ular gcs­tos cotidianos, onde termtna a coztnhil conde comC{a ;}

511'OS Ml.OOUc;.J.o

I

I

~m em nossa aOlbicnlC cotidlano, reproduzem cnredos

comumlanos m,ll$ OU mcnos impli"citos: i'\SSlm, urn cclu_

IJ.rou urna roup3.. uma vinhcta de urn program" de IclcVl_

s30 ou uma l0g0marca IOduzem a cerlos comportamentos

l' promo\'em \"Jlorcs colcllvos. VlsOcs de mundo. Os Irab.1_lhos de Liam Gllhd: queslionam a frontcua enlre fic{50 c

mforma~ redlstribuLnoo essas duas n~Oes a parhr deurn concello de tmrJo do ponto de vista socIal, Islo e: co­

mo n.io 56 a con/unto dos discursos de previsao c plilne­

Jolmenlocom que 0' universo socioeronomico mas tam~m

.:1S mdtistn.1Sdo lmaginano de Hollywood inventam 0 prc­

sentc ~A produ{ao de enredos eurn dos pnncipais coo1­

ponentes neccsstinos para m<lnlcr 0' nivcl de mobilid.:ldce de rem\'en{ao neressario para fornccer a aura de dina­

mlSmo dol thamad.:! econQffila de mcrcado.·~ as artistJs

da pOs'produ(3o uhhz.:tm c deroclificam cssas (ormas pa­ra produzlT linhas narrallVa5 divcrgentcs, relatos alterna­

lr.'05. Asslm como nosso mconsaente tenta, bem ou mal,escap.lr asuposta futahdade da histori.1 familiar par mcio

d " "'a PSlQN. lSC, a artc oonsclentiza os enredos coletivos e

propOe outws percursos dentro da reahdade, com a aJud,]... " "

propnas formas que malenahzam essas narrallvas im-pastas. Os amstas, 010 mampular as linhas esqucmfihcasdo enredo coIctl\"O 1St. ,- :.. _ _, , ao cons...era-las nao como fatos

Page 28: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

52 53

arfl'? Essa exposi~50 mOSlrJ c1aramente urna vontadc de, ,..,-n""'" v{nrolos entre a atividadc artistic« c 0 COn­,nven af ...... v.:>

Junto d.15 alh'ldades human;)$, com a constru~5.o de urn

~ narrahvo que cnCalX<l obms au cslruluras do co­

ttdi:mo dcntro de urna form3-enrcdo, 15.0 difcren!c da .:Jr­

tc tradlClOlUl quanta uma festa rave comparada il urn slur,»

d,nd.Os titulos dos tr3balhos de Rirkrit TiravaniJ<l semprc

\~m 3COmpanhados por esSol men~5.o entre parcntcscs: lots

of proplt. montes de genie A "gente- eurn dos romponcn­

tes dJ. exposit;50. Em vez de ncar olhando urn conjunlo deobjctos exposlOS asua aprecl<u;5.o, as PCSSOilS sao lcvadas

a arcular ease senm deles Assim. 0 scntido da exposi­(50 consbtut·se confonne cia eusada pelas pesS03S queromparerern. tal como uma reecII,) culinana s6 tern senti­doquando~executada por 3Jguem e, depois. i1predada pc­

los ronvxbdos. A obra fomKC umil trama narrativ3, urna

estrutura a partir dOl qual se forma urna realidade plastica:espal;OSdeslmados area!iul(.ao de fum.Ocs cotidlanas (ou­Vlr mUslca., romer. descansar. let, discutn), obras de arte,ob;etos. 0 vtsitante de uma exposl(.ao de Rirlmt Tiravani­}.:l. eco1ocado dtante do processo de conshtuic;ao do senll­do de sua propria vkla, por meio do processo paralelo (esernelhante) de C'OMhtUlc;io do sentido da obra Tal comourn dlfC~tor de CInema"'" _, ,Iravam}.:l. e altemadamentc ativo epass1\u, IfIC1tando os ato do . •res a a tar uma <ltItude cspeCl­fica., para depois deJxar

que ImprOVI$(!rn; pondo a mao narnas.sa,antesdcdewratra d .

S C$1 os restos ou urna simples

rL'Ccita. Assim, ele produz modos de SOClalidade em parteImprCVIs'veis. uma esl~t1ca reiliciollal que tern nol moblhda­de sua pnmeltol C01facteristicol Sua obra c (elta de barra­

cas precarias, de acampamenlos, de workshops, de Im/etose cncontros cfCmcros. 0 verdad"iro temol da obra de Tira­v;mlJa e0 nomadlsmo, e c por melo dol prob!cm5t1ca daviagem que conscguimos rcalmcntc enxergar seu univer­so (ormaL Em Madri, ell.' filma 0 trajclo entre 0 aNoportoeo Centro Rainha Sofia, onde particlpa de uma exposI­C;.10 (U"tttlra, pam Cuellos de Inranta /0 TorrepJ1l de arden '0Cos/ada to Reina Sofia, 1994) Para a Bienal de LYOIl, ele ex­pOe 0 autom6vel que Ihe permitlu chcg.lr ao museu (BOil

Voyage, MOIlSlmr Ackermallll, 1995) 01/ tile Road wI'h Jlt'W,

JtaW,Jieb. Sri and Moo (1998) consiste nurna vlagern de LosAngeles ate 0 local da eXp05IC;''io, na Filadclfia, com cincoestudanles da univcrsidade de Chiang MaL a 10ngo per­curso foi documentado em video, com fotos e urn diariode viagern na internet. O1prcscntado no Museu da Filadclfiaantes de resultar nurn catalogo em CD·ROM.

Tiravanila reconstitui tambCrn cstruturas arqulletonl­cas por onde passou, tal como 0 imigranle que faz a relac;Sodos locais que deixou: 0 3part3rnento de Lower East SIdereconstitufdo em Colonia; urn dos oito estudios do COlltert

shldw em Nova York,. que ele frcqiientava olnteriormentc(RtlltaTSQ/ stlldio II. 6); a galena Gavin Brown, transfor­rnada em Arnsterd5. num IOC31 de rcpetic;ao._ Seu traba­lho mostra-nos urn uniwrso fcilo de quartos de hotels,de rcstaurantcs, de IOJas, cares, locais de trabalho, pontos

Page 29: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

dl' cncontro (' acampamcntos (a barrac-a de Ci"t'f'/IJ de viii'.1993). Os tlPOS de esPJ~ propostos por Tiravanljol sSo osque fOrm3rn 0 cotidiano do Vla)anlc scm raizcs: todos sao

csp.1c;os publtcos, acXCC\ao de seu <lPJrtamenIO. CU}a for­ma 0 ,xompanha pelo estrangciro, como urn fantasma de

sua \'Jd.:l p;:assadaA ,ute de TIraVJOljil sempre m:lnlem uma re1;:1I;5.0 COm

a oferta ou aabcrtura de urn espa~. Ell' nos oferece as for­

mas de- sell passado, ~us mstruffil'ntos, e transforma os 10­

('.lIS de suas exposi¢CS em areas abertas a lodes, como em

sua pnmeira mostra nOV;:Horquina, quando convidav:l os

scm·tela para if tomar uma sop<! Podemos rdaclonnr 1.'SSa

OltitUde (e a Imagem resultantedo artlsta) com aqucla gene­fOSIdade lmediata d.1 cullum tillbndcsa. nOJ. qual os menges

bud1St1S 530 3mparados~ mcrnhcanCla mShtuclonal.Essa precariedade ocupa 0 centro do universo format

de Ruknt liravanqa; nad.l eduradouro, tudo emO\'lrnen+to- 0 lrajeto entre dols pontos cmais Importante do queo propno ponto, e os enrontros 550 malS pnvllcglados doque os mdlViduos postos em rontato. Os musicos de umaJQm ~iOfI, a cilentcla de urn cafe ou de urn rcstauranle,as cnan~as de urna CSCQla, 0 publico de urn espct6culo dernarioTlctes. os coTlvldados de urna rcfel~30' cornumdadeslemporanas que s50 organl2.adas e materiahl..adas por sua:;atlV'ld01des em estruturas que funclonam COmo alratores dehumamdJde. AD associar asn~ de comunidade e efe­mere. Tiravamp op6e-se a ld6a de uma Iden,·"-· . d

........1.' In IS·soIil1.,,1 au permanenlc nossa elma., nO$Sa cultura naaonal

5' NICOL.\S aoUll.lllAUO 55rQS-rROOUQ,O

J. • ......rsonalidadl' sao apenas oogagens qUl' le­n()55<l prupna r-

e 0 nomadc descnto na obm de TiravamJ;I CvamOS conOSCO·

. . 1""''''lfic3\Oes naClonalS, scxu:us au tnlxus. CI­alerglco;lS C ..~dadlio do esPill;O publico IntemaClonal. ell' apcnas sc cruzacom esS3S c1assifica{Oes por urn tempo determinado an­

tes de adotar uma nova idenndade: cle cuniWrSillmente

cotlCO Ell' conhece pcssoas de todos os genews. lat comonOS hgamos a dcsconhecidos durante uma vlilgem a lerrilS

distantes. Assim, podemos dizerquc urn dos modelos for­mals de seu tr;'lbalho e0 aeroporlo, esse local de trJnsiloonde ilS pcssoas v50 de loja em loja, de lIlforma~.io em in­formal;50, fazendo parte de microcomunidadcs rcunidas 3

espero de urn destino. As obros de TiravilOlj;'l sao os ilCCS­sarlos e os cenarios de urn enrcdo planetario, de urn rotci­fO m progress CUJo lema seria como habllar 0 mundo scm

rt'Sldir em IUS'lr algum?

Pi"~ Hllyglle

Se Tiravamja propOc ao publrco de suas exposil;'Ocsmodelos de narrativas posS[VCIS CUJas formas mesdllm II

arte e a vida colidlanil, Pierre Huyghe organiz.1 $CU lr:l­balho como um.:l crltlca as nilrrntiv.:ls-modelo qu(,.' nos sJopropostilS pela soclcdilde. As SItcoms, ~r e~~~plo, ofcre­cern a uma iludll~naa popular quadros Imagm.mos rom osquais de pod~ sc identificar $eus enredos sao cscritos apartir de um rolciro b.1siro chamadobfb/la, urn modele quedefine 0 carnlcr gcral da. a,.io e des personagcns c 0 qua·

Page 30: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

56 NICOlAS IlOlJRRLwo

dro em que dcwm sc mover 0 mundo dcscri!o po p'r leT_Te Hu)'ghc csustcntado por eslruturas narmtivas Ina'

IS Oumenos opressoras que tcm na sitcom arwnas uma , _r- 'Cr5;]O

mals branda, c a funtao da pratica artistica e adonar es­

sas estruturas para rc"'l.'lar sua l6gica coercitiva, antes deIl."COlod-13S adlSposl\.lO de urn publico capaz de se rca_

propriar dclas. Ess.:i VlsaO de mundo estti mUlto proxima

da teona de Michel FoUCilUl1 sohre a organiza,.lo do pod'r.uma -rntcropOlitIC3" reprodul.,. de dma a baiXO da escala

sooaJ. fic¢es ldeol6glcas qUe" prescrevcm modos de vida corganizam taotamentc 0 sistema de domimu;ao. Em 1996

Pierre Huyghe propOs fragmentos de roleiros de KUbric~Tab e Godard aos carnlldatos p:lr.l sua sel~ao de atores

(Mulhplt Sctnarfus). Urn In<i1viduo que Ie no palco 0 roteiro

de lOOt, u1fUlod~ llolSpll'fO apenas ampha urn processo

que pelcone a totahdadc de nossa vida social: nOs redla­

mos urn tecto escnlo nn oulro IU811f Eesse lexlo se chama

~logta.~rala-se.portanto, de aprender a se tomar 0 in-tetptete cntlco desses enredos ndo

• )Oga com eles e depoisconstrum~comechas de S1tua-;:30 que vern se sobrepor asnarratn.';1S Impostas 0 trabaltlO de P'de truer aluz • Icrre HUyghe preten-

esses rote1ros ImpholOS e. a partir deles in­\"entaroutrosquenostomanammaishvres:se..., -d d'-Pudessem . ~"C1 a o1OS

partle'par dOl elaboral;ao da "hi"", • d- I 101 a Sl'com

soaa, em Vel: de doofrar Suas hnhas, g;lnhari .tonamia e liberdade. am m.llS au-

Ao fotografar opeclrios no trabalho d '• • e epois ao ex

essa Imagem durante todo 0 pcriodo de co • pornstru.;ao nurn

571'()S·M-:ODU<;J.O

Irna do cnnleiro de obras (ClImllier Bar­Ildoor urbano ac

" I I 1994) cle L'Sta propondo uma imagcm dobls-Rocll« !Ollar, • . •

I mpo rcal: nunca se documenta a ah"ldadetraba1ho em c .

de operarios num canteuo de obras urbano, Cdcumgrupo

. """ntar50 vern duplica-Ia, como urn documen-aqUl a repr....... ~

. ,_ Pois a reprcscntat;50 mdireta, no trabalho declno ao "hv.

Huyghe, C 0 ponto central da falsificat;50 social' cle quer

devolver a palavra aos individuos, ao mesmo tempo mos­

trando 0 trabalho invisivel de dublagem em curso. Dubbing,urn video que rnostra atores sincronlzando a dublagem

de urn filme em frances, contribu' para rnostmr c1aramen­

te esse processo geral de cspohat;50: a timbre da \'Oz rc­

prcscnta e manifesta a smgularidade de uma palavra que

Cmlnimizada ou apagada pelos impemllvos dOl comumca­

t;ao g1obalizada. A legcnda contra a vcrsao onginal. Padro­

nizat;ao global dos c6digos. Essa ambit;ao faz Icmbrar a de

Jean-Luc Godard des Olnos de militancia, quando linha 0

projeto de rcfilmar 1...lJw Story e distnbuir camerasaos ope­

ranos das fiibricas para se contrapor.i imagem burguesa

do mundo, essa lmagem falsifkada que a burgucsla chama

de Mrellcxo do realM Como clc escrcveu "As vezcs a luta de

c1;lsscsea luta de uma imagem contra outra imagem e de urn

scm contra outro scm" AssifT\, Huy-ghc filZ urn filme so­bre Lucie Dolcne (Blallc/II: N~W Luei.., 199i), um.a cantorafmncesa cup, voz fOI utlliZilda pclos esludios Walt Disney

para a dublilgem do filme Bmllca d~ Nroc- elil pn'wnde rci­vindicar os dlrcltOS sobre sua voz Urn processo scrnelhan-te rcge sua vcrsao de Dos day uj/rnlfxm fUll apm-mldl de

Page 31: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

58 NICOl-AS 1IOl.JJUuA

elrinl (Um dia dL' cifo)) em que 0 hcr6 d un• . ' I 0 cpis6eho

ocaSI<JO leve $Cus ducilos comprados S ' que napor }'dncy Lfinalmcnte pOOc di.'SCmpcnhar sell pa 1 Umet,pc antes co fido por Al PaclllO: em ambos as casos '.. n 'SCa., os mdlVldupropnam.se de sua hlstona ou de seu trabalho > os rca_desfoIT';) da 6,,50. Todo 0 trabalho de Pier..... H ' '" 0 real s('

." uyghc al -resIde nesse mlersttcto que os scr'l."Ira I" • las.. r- ,a IrnCnl..ldo por scatlVlsmo (Om favor de uma dcmocracia d ~ u, os papl:lS SOCiais:dublagem xredublagem Esse retorno d fi . .a c,ao para a rca-tKiade ena bn.>chas noespcl-3culo ·A qu-'· • c.• ..... aD e 5.1lJ\:f se os

atores nao se tomaram mterpretes'" cscreve Hu h b• ygcsoreseus cartazes com trabalhadores ou lr.mscuntesno~ urbano f: . expostos

preo.so parar de mterpretar 0 mundoparon de desempenha I 'r 0 papc de figur.mtc numa n."1rbtu~~~ID~- r- fa

r· 1"'-'" e se lornae alor au co-roteins- 0D\O • .... mes-~nto as olxas de arte' quando Hu)'ghe refilma cadi!

cena \Ie urn filme de Hitchcock .pOe urn filme de W ou Pasolml, quando justa-G athol e Ulna entrevista sonora de John

IOrt\O, ISSO Slgnl6ca que leobras de\cs, e lhes"- _. e se consldera TtSpOnstfuel pclas

.....UI\"e a dlmensao dtocada outra \......._ e pactltura para ser

...... \Ie mstrumentornundo i1tual Jorge P rdo p.ara a compreens.'io doquando expIIQ ..... ,.. I..~ expi\'SSa uma idcla semelhante

"-'lOImullasCOlSasque SC\I trabalho rna rnals Intercssantes do

, s que suas obras sao "ra oIhar essas COIsas" H "'~A urn modelo pa-do \1)6'''' e Pardo

da IJtll1ld4dt as obras de i1rte do rntregam 010 mun-plrata (Mobilt TV. 1997) Passado. Com sua te~, .suas sessoes deou com a Criill;30 da AssocUition d escoIha do elenco

ts Ttmps libhts. HU}'ghe

59r6S 11lOl)llQO

(abnca

estrutur.JS que rompem a cadcia dOl interpretal;.Jo

en' favor de figuras da ahvldlldl!" dentro desses dlsposih­

vOS. a propria troca sc transforma em local de uso, e;\ for­

ma-enrcdo torna-SC uma posSlbilidade de wdefinn essa

hnha de separ.Jl;.JO entre lazer e lr.Jb.:1lho, dada pelo enredo

colctiVO.l-luyghe trabalha como um montador E"'a nO(:.1o

politlca fundamental"', cscrevc Jean-Luc Godard, ca mon·

tagcm umillmagem nunca estJ. sozinha, ela eXlstc apenas

sobre um fundo (a Ideotogia) ou relaclonada com J,S Ima­

gens: anleTlores ou posteTlorcs: Ao produziT iIIltJge/IS qlltfa/­fail/ 3 nossa compreens5o do Teal, Huyghe faz urn trabalho

politiCO: 010 contraTlo do que sc costuma pensaT, nao rsta­

mos saturados de Imagens:; estamos submehdos aescassez

de ceTtas: imagens, que tem de ser produZldas contra a om­sura. rreencher os espal;OS cm branco quc puntuam a lma­

gem ol1elal da comunidade.Rmmkt (1995) IS urn vfdeo filmado num Imm.·e1 pan­

slcnse que retoma. cena por cena. a i1C;SO e os dl.1l0g0s do

filme Janda lIIdtsereltJ, de Alfred Hitchcock. remterpretllda

por }O\ocns atores franceses no cen.1rio de urn biUTTo popu­

lar de Paris. 0 remake afirma a Idc;la de uma pnxluY)o de

modc1os remont.1WlS ao IOfiOito. de sinopses diSpOnfvcls

para a aC;ao cotldlana.As casas macabadas que comp<km 0 cenario de I.e;

inC/flits (1995), rcfilmagem de UcctlIam e UCCtlIml IGavlCtst passarmJ,os} de Pasohnl. represcntam "'um estado provl­

5Orio, urn tempo suspenso", vista que e5SilS construc;oes fi·cam desoc:upadas par.1 ~apar 3 Icglslac;,io fiscalltahana

Page 32: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

Em 1996, Pu::rrc Huyghe ofefcda aos visilanles dOl Cl(POSi.l;ao Tntffic urn passcio de onibus ate as docas de Bordeau

,"Durante a viagem noturna, os passageiros podiam aSsis_

tir a urn vidro que rnostmva 0 percurso que cslavam fa.

zenda, poreffi durante 0 dia. Essa dcfasagcm entre 0 dia

e OJ. nOlte, e tambem 0 Iigeiro dcscompasso entre 0 real e a

fi~o. deV1do <lOS SlOillS \'crmelhos e ao transito. introdu_

ziam uma dU"'lda na realidadc da cxperiencia: aSStm, a so­

brepo5l~o do tempo real e dOl filmagem gera urn polenclal

narrativo. Quando a Imagem se torna urn la~ que nos li­ga art"olhdade, urn gum esquem5tico da expenencia vivi­

da. 0 se:nbdo da ohm pro\-em de urn SIStema de dif~mlpzs:

d~ entre 0 dm~to C0 indireto; entre uma ~a de

Gordon Mattt.Clad:. ou urn fitmc de Warhol e a proj~ao

dessas obras pot Hu)"ghe; entre tn.'s vcrsc>es de urn mes­rna filme (;\.Uanhc); entre a unagem do trabalho e a reah­

dade desse tTaba}ho (B.:ubis-RDchtehOUQ11); entre 0 sentido

de uma £rase e~tJad~ (Dubbmg), entre urn momento

VlVldo e sua \-ers30 rotcinzada (Thmi' Mtmory). £ na dife­r~a que se <U a expe:rMhlaa humana. A arte e0 produtode uma distafItU..

AD refilmar todas as emu de urna pelicu1a. represen­ta-se outra COISa que nao est.,) na obraoriginal. Mostra-se 0

tempo decomdo eo sobretudo. mantfesta.se a capacidade decircular entre OS Signos. de hahrt.i·Ios. Ao ff:filrnar um gran­de dasslCO de Alfred HItchcock num conjunto habilacionalpanSlense. com atores desconheddos,. Huyghc expOe urnesqucleto de ac;iio despopdo de sua aura hoIlywoooiana,.

61~oouO\O od

!'OS. nrao da artt> como pr u-urna concen ,afirmllndo, ass

lm, laveis '10 infinito, roteiros dlspoRl·

'

So de modelos ren\od~ ,Po, que nao utihzar um filmc

~50 COtl Ian . ,",cis para a a melhor 0 trabalho dos operanos quede .1,50 para en:~~~o bern na frcnte de nossa Janela? E

constrocm

um I I palavras de Ucctlfacd e Uccelll-- confrontar as dpor que naO ~. de constru~OcsInacaba as,I' . com um ccndno

nJ de PaSO Int. t (? Por que n50 usar a artc paranuma periferia ilaliaM ~:~anter0 olh.u prcso as formasolhar 0 mundo, em Vl"Z

que ela pOe em rena'

Doml1uque Gonza/ez-FtxTSla

As Charnbres, os 1IOrne·mOfli~c os ambi~ntcs irnpres·. G zalez-Foersler as vezcs cho-

sionlstas de Dominique o~ d _"" os" ou "demasiado'"demaSla 0 In m

cam a crmea por ser r. ra domestlcaf ' cos· No entanlO, eJa explora a es e

.lImos en . . . " ,.nden-rob!ematlcas SOCialS rna

relaclonando·a com as P . tatura do queI mas 0 fato eque cIa trabalha malS na_ .es. . _ da ima m Suas inst.:llat;OCS hdam com

na composl~ao "ge~ de arte'" indizi\"Cis; usan­atm05feras, dimas; sensa m enquadra­do urn repcrt6rio de lm3gens vaporosas e:a Dianle de

ndo ainda postas em .mento - imagens se be 30 espectador 3 l.a.

d Gonz.alez-Focrster, caum3 ~a e I I ~, como sua relina tern, istum ~IS TX., IoUrefa de 3zer 3 m tilhad05 de $eur3t

" <llca ......r:mte os pande fazer 3 rntSturo u ,,- d precis<>R' (1998) 0 especla orEm seu curt3-melragem 'YO • . • d s-

dos prot3g0RlSta5, cup Iinclusive Im3gin3r os tr3~OS

Page 33: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

62

cussia ~lo telcfonc segue urn lr.welling no Jonga do rioque atraVl..'SS<.l QUIOlo, e as roslos nUllca apare<-em As fa_

chadas dos lm6--'Cls filmados num plano contfnuo nos dilo

oquadro dOl a,50. romosc a esfem da intimidadc. em tOOa

a sua obra. Si.' projCI3.SSC IIteralmcnlc em objctos comuns cquartos. lmagens·lembrant;a c plantas de casas. Ela n50 sehmib a rnostrar 0 mdlvfduo contcmporSnco sc dcbalcn_

do rom suas obsessOes intimas, elil aprescnta as cslTUlurascomplexas do cinema mental rom que esse mdividuQ daforma asua expcnencm, e 0 que chama de aulomolllagem,

que parte da conslJtl~o de uma ('\"olu\3o de nossos mo­

dos de VIda. POlS '".1 tecnologlla{aO dos Interiores"', diz dOl.

""transfonna a rela~o rom os sons e as Im<lgcns"', levande

o lnihviduo a se larnar uma mesa de montagem ou de mi­

lQgem. 0 programador de urn hom~ mcrL1lt', 0 habitante de

urna zona de rod.1gem h1nuQ permanente, a qual nao esenao sua pr6pna exisl~nCla.

"Tetefones. cds. filmes,. prograrnasdl! radiO I! televisao.mtenores audKJV1suais. atmosfern regl(!.1 pel.1s ondas....

Aqul tambem estamos diantl! dl! uma probll!m.i­OC.1 quI! COTnpafil 0 unl\~ do trabalho coda tlXTlOlo­

gt.l. esta considffada como uma fonte de r('Cncant.J.rnentodo cotxliano e como urn modo de prod~ de SI Seu tIa­

hllho C uma pili50lgem em que as maqulnas 51! tomaramobJetos apropn.ivcls, dorneshe.iveis.. DominIque Gonzalez_

Foerster mostra 0 fim da teentea como apal\!lho de Estado.sua pul~'enzaC;30 na vida cottdlana sob a forma de dl3riosintimas no cornputador. de cldi05-dcspertadort-s au de ca-

63

rOS l'l:OOlJ().O d estico nao represen-1 ospal;'o am 1

'Para e a, 0 ' • [=r princlpadlgll:U • -0 mas e 0 uo-

nleras

I de uma interlOnl.al;'a .' . d'os intimas.ta 0 sirnbo 0 mooos SOCli:US e os esC)

do confronto l.!ntrl! os ~ das e as imagens projetndas. Urna

entre as Imagcns-~~o interior domestiro fundona na

...vIe de proJC{ao. ° a rotetrlz.1{ao da VI-C:Sr-~ rratlva conSlllul umchaw da autona 'd m, psiqw:: rccriar 0 aparla-

as lambem I! u 993'da cotldian<l. m . W Fassbmder (RWF. 1 ~,Ramer ernermenta do cml!asta d' dcrora{ao dos anos 1970, urn

{oram mora lao aquartos que _ J '.,·,m Gonzalez-Foerster'd 0 por-do-so . ...." •parque pc~rn 0 a em v;3rios proJetas. como uma tecnicaullliza a pslcan;3!lsc. d nredos: diantl! de uma

mite 0 surgimento e novos e °

que per 1 ° ida 0 analisado !rabalha para re­realidade pessoa repnm • 0d plano do mcortSClentc,ronstltulr a narrativa de sua \'I a no . de romper-

lh pcrmite sc asscnhorear de Ilnagens,o que e _ yam Ela pedet3mentos e lormas que ale ent<lo Ihe escapa

~ ue dcscnhe a planta da casa emao vlslt3nte da CXposl'.lO q 0 _ I ttl Estherque morava quando cnanl;'a au sohCtta a sa_ens inlSn­SchIpper qUI! Ihe fom~a objctos e rerorda,ocs d~

cIa 0 local central das expencncias de Gonzalez,'. "(",'d ........ueletO.1 ehvo a-e0 quarto de dormir redUZI 0 a um --, _ 0 _

uns objetos e cores), cia matenaliza 0.110 mnemoOl~n~o

g 'm~s cstctlCO VlStO quc sua organlZa,110apenas emOClona... u • , •

I;3Stica. n3S instalac;Ocs. remctc a arte mlnlmahsta.P • romposto de ob,etos afctivos e plantasScu UnlVcrse,

• ~n do cinema expenmental e dos "om~a cores, aprmuma-"". , Jon~s Mekas. 0 trabalho de Gonzalez-Foerster.mOVlN .. u 0 •

d" PO' 'U3 homogencldadc. parC(:c ConstitUlrque surprC('n '" •

Page 34: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

N1COl.As~uma pdicula de formas domesticas sob

. rc il qualtam Irn3gens. EJa <'prescnta estruturas d . S<! prajt'.t Ol1esCInembr..tn\3s, locais c falas cotidianos Es ,Screven)

.(..,}.,; . sa peheulac .....,eto de urn trat"'mento mais ('boo d rnentill

• Til odoqucatnarratlYa. mas sufiC'lcntcmente abe I "'""r a para aealher 0 ..do espcctador, e ate para Ihe despc , VIVIc!O

• r ar a mem6nanuma sessao pslcanalitica. Sena 0 caso d" ' COmob Iho, • JanIe de sell ta de prnhcM Urn oIlwr fllItllQlIte, semclhante a m-

Iii J1utuantr com a qual 0 analist<l perm ttl.' que 0 n escu­lembra IlUXQ das

n(.lS sc C'Ooverla numit materia scnsivcp 0 .so de Dommi Go . Ufllver_

que nzalez-Foerster caractcriza_se !ado V<.l se por es·

go. ao mesma tempo intima e im...-" Ie livre que form r .:a ... austerevida ~ldiilna. a OS contomos de todas as narrativas dOl

Lam Gl1llck

o trab.1lho de Uam Gl1lickconJunto de estTat........- f apresenta-se como urn

..,. ....., tn onna~ ( "tazes. patnbs m, \ arqu....os. renas. car-

• • 'f05/~ essas obras pod "cenano de um 61 enam conshtUir 0

me 0I.l a redalOao dtras palavras. a narrattv e um rotelro. Em ou-

aemqueoon'tla por entre e ao redor -,__ SiS e Sua obrn circu-

~ elementosestes se hmltern a Ilustra.b Mas expostos. SCm quefunaona como um rotelro kin. c.ada um desscs objelos

--,~emfihco ""- d"proYenJentes de cam......... I I • ~~.., IT'I Icadores...-~ para e os do sabe ,~urb.:inlSmo. polftica ) Po' r .... rte. industria- . r mel() dos •cos que desempenham um ?apel f :rsonagens hlst6n_

u amental na HiSI6ria

65

rnesrno permaneccndo na sombra (Ibub, 0 vlce-preslden­Ie dOl Sony; Erasmus Darwm. 0 irmao Jibertano do tronco

da c\'01UlO50 das cspkiCSf Robert Mac Namara, S<'Creta­no da dcfesa duranle a guerra do Vicln5). GIllick elabo­ra instrumcntos de mvestigalOiio que deem mtehglbihdadcao nossa lempo_ Asslm. cle procurn dlssoln>r a fronll'l­

ra existenle entre os dlSPOSlh'o'OS narralivos da f~Jo c osda interpretalOao hlst6nca e lenla eslabclccl'r novas cone­xOcS entre documentjno e fiClOiio. A inluilO50 da obra de ar­Ie como mslrumcnlo de anahse dos l'nrooos Ihe pcmHlesubstitulr a SUCesso10 emplrica do histonador ("CIS 0 queacontc«!uj por narrallvas que oferecem cutras possibili­dades de pensar 0 mundo "'tu",l, outros enredos c modos de"'lOaO. 0 real. para ser vcrd",dClramenfe vislo e pcnS.1do. de­w se insenr em narrali\'as de fi~50. a obr.1 de arle-que m·Icgra folios SOCialS na fiqao de urn UnJ\'CrSO formal rocrente-. segundo Gillick. deve por sua vcz gerilr usos pOlenciaisdessc mundo. uma espCclC de logislicil mentill que favor('{'ca transformalOao. Adema.ls. t.:ll como as CJ(POSI~ de Rlr­knt liravanija.. asdc Uam Gillick supaem iI partklpa{ao dopublico. milS scm ostcnlalOao: sua obra ccomposlil por me­$ilS de negoclalOao. estranhas plataformas ilr di5(:us.qJo. ce­nas "auas. paJnBs de camzes. pranchctas. tclas. S<ilas deinformalOiio: eslruluras coletlVas. abcrtas - como as Qgorosconccbidas pclos urbamstas dos anos 1970. 1'cnto Inc('nll­vOIr as pcssoas a areilar que'" obrn de art.:' llprcscnlada nu­rna galena nao C II r~lu{50 de ldclas C objclos.... cscrevcde_ Quando sc manlcm a Ienda da ob~ de arlc como pro-

Page 35: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

66 NlCOl.AS~

blema resolvido, 0 que sc <lJuda a antqullar Ca a"ao d" olnd ••

,<{duo ou dos grupos na Histona. Sc as formas expO"'~ as pOr

U",m Gillick pareccm sc confundir com 0 (c"aria da Ia lC-na~ao cotidlana (logos. elementos de- arqui\'os burocr.iticos

e guiches.. salas de reuniiio. espa~ espccificos dol abslra_

1\50 ('CQnomica), os titulos c as narrahvas a que Temctern

('"ocam lnC{!rtezas, cngJJamentos possfvcis, dcdsoes a la­mar. SU<lS formas sempre pareccm em suspenso; clas Pl"('_

servam a amblgUldade entre 0 "acabado'" C0 "inacabado".

Em sua CXposll\.lO Erasmus is laft: ill Berli" (1996), todos oslados das paredes da galena Shipper & Krome fcram re­

robertos rom pinceladas visiwls de varias cores, mas a ca­

mada. de Imta se InterTompia OJ. mc.ia·altura. Nada emOllS

vlo!entamente estranho ao mundo mdustnal do que esse

estado de nao-acabamentQ. do que essas mesas fabrll:adas3.5 pressas ou esses trabalhos de pintuf.1 (Ibandon3dos an­les do final. Um objeto manufuturado nao pode Bear inaca­b3do.. 0 tarater "incompleto" das obms de Gillick Jevantauma questao para a memoria operaria; a partir de que mo.mento do dcscn\'olVimento do processo mdustri(ll a meC;l­

mza~5.o anula os 131timos lra~ de inlerven~5.o human(l?Qual 0 papel que desempenha a ;,ute modema nesse pro­resso? Os modos de od -pr u~o em massa anulam 0 objetoco.me cnredo para ronsolldar seu carater prCVisi\'et doml-n3\'CI, rotmeiro. t preclSO remtroduzir 0 lmp'-" I '

,,-~lslve, a Ln'certeza, 0 J08O" assun. ~rtas ~as de Liam Gilhck podemser rcahzadas per outras pe:ssoas na trad - f• ~ao UnClona_hstalIlaugurada par Moholy-Nagy t"sldt .....H

'-"', U~ U!Qlad

67

Ill/a n room with Coca-Cola pni"'<'il walls (1998) curn iI'lll/

drawing que deve scr pintado por va rios assistent~, de aoor­do com regras prcclsas: trala-sc de tcntarchegar. plIlceladaap6s pmcclada.. 3. cor do famoso rcfngerante segUlndo urnmesmo proc~so. pois ele eproduzldo ...m f5bricaslocais apartir do po fornccido pela Coca-Cola Company. Analoga·mente. quando fOl curador de uma cxposl~50. Gllhck pedlUa dezes5C1S artistas inglcscs que Ihe enVlassem mstru~

para que ele propno eXl,<ulasse pcssoalmcnle as pc(a5 flO

local (Ga/eric Gia Marcom, 1992).Os m;;Jler1<1is utilizados pro\'cm d<1 <1rquitctura da cm­

presa' plexigl<1s. a~o. cabos. madeira tratad<l ou 3tumfIllOrolondo. Ao conectar a estetica da arle minim<lhst3 ao If­

mido d~lgn das empr~as multln3C1onais. Uam Gillickfaz urn par31elo entre 0 modernismo universalista e a Rra­

gnllomics. entre 0 projeto de emancipa(iio das v.1nguMdllseo protocolo de nossa aliena(ii:o gcrilda por um3 cronomill"'moderna" Estruturas p3ralelas: a Black BoxdeTony Smithlorna-se em Gillick urn "Projected think lank" As mesasde documentos que apareciam n3S exposi~oes de arle con­ceituill organizadas por Seth Siegcl3ub 3gora SCf\'('m paraler fi~iio; a cscultura mlIllmalista lransforma-se ern ele­mento de urn ioso de papeis. A grade modernlSt3 denv.1­da da ulOPI(l da Bauh3us c do conslrutlVlsmo dep.-tra-secom SUil recuper3(iio politica. islO e. com 0 conjunto dosmotivos 3tra\'t.'is dos qU<lls 0 podcr economlco estabelco.'usua dommil(iio. Niio foram alunos da Bauh.1us que. na Sc­gunda Guerra Mundial conC'Cberam os bUllurs do fJmoso

Page 36: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

os69

NlCOfJ\S !lOUtH',.. '~un

Mum do Al/dlltlCO? Essa arqueologia d. ' 0 modernisl

Cil espeoalmcnte vlslvc! numa sen ~ d no fl.•. C C pC\as Te<lHz I

partIr de seu hvro L'Tle de In dlscussio1l Le .<1.( as <I," ' grand Ccntr d

col~erence (1997), fic~ilo que aprcscnta" C c_ urn gTUpO de Tef!)

xao sobre os grupos de' reflex50" CI' 'fi d c·. ....SSt lea as segundvocabul.5.rioformaldc Donaldjudd ino, I d 00, ~aa asnoteto eltrazcm titulos que rcmetcm a fllll,oes dcntro d • asd . 1: -D' e Urn qua­"ro cmpresana . lS("ussion island rcslgn,ltion platform"conference sen.'c:n"; "dIalogue platform"" d .'If" ' rno eratlOn~ at arm - A fenomenologtil, cara aos artistas do minima_hsmo, converte-se num m

. onstruoso bchaviorislllo [mrocrn-tlOO; a teona da Gestalt tfansforma_sc em p,o"cd'

bl .•~. 0 ~ lmentopu ICll.<l.flO. 5 trabalhos d(' Liam Gil" kAnd d

I Ie ,como os de Carl. re, malS 0 que esc ltu

, u ras, rcpresentam zonas c desCOl'lStituem a SJna!etica desS<! ." ',. d' s zonas, aqUl, e uma ques-ao e renunaar discur . ,

negOClaf, aC'O~lhar ,I: proJetar Imagens, falar, legislar,essas f ,dmglr, preparar alguma eoisa." Mas

ormas, que projetam enr d .que 0 observador l.'labo e os poSslvels, implicam

re outras formas para si mesmo.

lI.1allriZIO Cottelutl

Sans litre (1993)' anfl'co bIJ e rasgJda tres vez:S em

lf so re tela, 80 x 100 cm. A te-onnJdeZ n •

Z de lorro no cshlo de tu' F ,Uma referencia JOCIO ontana N

simples, JO mesmo tempo m" , - CSsa obra muitolnlma!LslJed

to, encontramos todas as fi I.' accsso imedia_Ih guras que com -

ode Cattelan' 0 desvio CJ', 1 poem 0 traba_TlCJ urJ de obras d

• 0 passado•

rOS.''RODlIcAO

a fabula nlor.Jlista e, sobrt'tudo, cs~ maneira insolente de

retotn<lt aD sistema de valores, nTrombando-o, 0 que con­

tinua a ser a principal carncteristica de seu cstilo (' conSlS­

te ('nl tomar as formns ao pc dOl letra. Enquanto a Incern\ao

de uma tela, para Fontann, eurn gcsto simb6lico c trans­

gressor, CaUelan aprcsenta-nos (>Sse ato em SUil ilcep<;50

mais corrente, 0 lisa de uma arma como 0 gcsto de urn jus­tlceiro de opcreta. 0 gesta de Fontana, vertical, abria-se

P.1ril 0 espac;o infinito, para 0 otimismo modernistn que

imaginava urn alcm-tela, urn sublime ao alcance da mao.

Sua relomada (em ziguezague) em Cattelan liln(a Fonlanil

ilO ridlculo ao classifid-fo junto com umil serie de televi­

siio de Walt Disney (20rro) praticilmente contempor,inca a

ell.'. 0 ziguezague e0 movimcnlo m.1is utihz.1do por Cat­

lelan: eurn movimento por essenci.1 comico, chapliniano,

que corresponde a um perJmbul.1r por entre as colsas. 0artista·skatista faz fintils, scu porte vacI!ante dcspcrta 0 ri­

so, milS ele circunda as formas que va/ rO(ando por dc·

volve-Ias i'l sua condi(iio de ccn5rio e acessOrios. SmlS litre

(1993) ecertamente uma obm progrilm5tica, do ponto de

vista da forma e do metodo: scm dlivida 0 zIguezague c

scu smal distintivo. Se ronsiderarmos as vririas "rctoma­

das" que cle reallza, percebercmos que 0 metodo Cscmpre

igual: a l.'Struturil formal parece famJliar, mas uma camada

de significao;3es aparece de maneira quasc ins/diosJ, pa-

ra subverter radical mente nossa percep{iio. As forma$ deMaurizio Ca!t('lnn nos mostram semprc elementos fami"

lI,lres reproduzidos, numa voz il/ off. em ancclotas crucis

Page 37: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

71

70NICOcu

" E ~ou 5.lrCastlcas. m MOil ollele, de Jam .,."~..ues I.J.!I, Urn h

observa uma lofoqueira dCjX'nando f orncm. urn rango En,-lOlIta 0 cacarc~JO da ;WC, e a pobrc m Ih . '10 e]{'

u Ctd5uffi Isusto, uchando que 0 frango Olcabou d . pu 0 det c ressu5Clta r

urn cl.mo pareddo que ('maM da 01'" . dd ~- ulorlaasob

C'-<IUclan. quando de ·faz uma ",.. I ro,~nop asha'" do hI no

Zarro em rima de urn Fontilna, quando ou . dod VlffiOS as Onp

as vermelhas na (rente de uma obr .,.a que eYOea Smith

au Kounelhs. quando pensamos nurn tumulo d 'Onf' lante de

urn on \(10 ao t'Shlo dos earl1mlOrJ..-s dos anos 1960 Qdo msta!a . uan·

urn !umento vivo numa galena nOva-lo Ulnasobumcmdelabrodecnst<1I(1993) . A .rq~ , e uma rcfercnclJ. indl_

rdJ. .lOSdo:zecavalosque]annis Kouncllis exnA.: IL'AttK"Oetn Roma.em 19 • r-~ nJ. ga ('na

. 69 Mas 0 tJlulo (WQrlllllg! Enter nIyour Own rtSk. Do not foucll do, tfi"" .log phs A....... ,w, 110 sl1tokmu 110 pllo-

h. , no '""'3'> IJIllttI: ) ;;"d. ._ d ' you Im'erte radicalmente 0 sentido

.. OUIa. espo,ando dbdl~ t I -;I e sua hlstoncidade c de sua sim.

a V1 iI lSta e remet:endo 'no 5enhdo malS -......~_., 'iI 010 SIStema d(' representa~o,

-~,... .....u ar do t('nno'I!Sp('lacu!obur'---o". 1 - 0 qu(' v('mos eurn

"""C ""'U a ta V1gll' •nos sao puramenle noh'..l ancla,. cuJos IiOlltes exter-

' .......IICOS 0 ammal ""- ~.sent-ado como be\eza ...-0 nao c <Ipr('-ou como nOVIdad

proposllt.lO pengosa . e. mas COmo umapara 0 publICO C

blem.itic:a par.l 0 ""Ierista A • extJ"emam('nte pro·<r refcrenaa y _

gr.llulta, e fica claro qu'" a "'l.JUnelhs n50 C. .. a arle P'O'Veraopal rn<itnz formal da obfa de rcprcsenta a prin.

_~ , MaunZIO Cal ._se H.,ere a composl,iio da, le....n no que. lmagens e;} d b

clal dos elementos ulUiy-mad 0 _ ISln U1ltao espa.lS. fato e que rara_

••....11," ele

"" ..-K'"I oblelOS em sene 01,1 a tecnologia Scu reglstro for-

uti 1z<Jmal comporta de prefercncl3 elementos naturalS OannlS

Kouncills. GIUseppe Pcnone) 01,1 antropoOl6rficos (CIUllo

Paoh"" Ahghlcro e Boetti). lao sao influencl3s, c me­

nos <linda homenagens .i arte po,,-era, I," sim uma espe.elC

de "'HO'" IInguistlca. alias. Oluito dISCTct-a, que ccflete uma

educ3ltJO visual itahanaErn 1968, Pier Paolo CalzoJ:Ir1 expOs SaliS litre (Ma­

fllla), mSlalati"ao onde aprcscnta urn dio albino amarrado

ii p<Jrede, num amblente com urn monte de terra e blocos

de gelo Lembramos rnalS urna vcz 0 cnat6rio de Calte/an,com c.1valos, Jumentos, dies, avestruzcs, pombos c esqul­

los Com a fCSS.1lva de que sellS ammais nJO simbohzamnada, n50 remetem a nenhum valor transcendente, e scconlenlam em cncamar tlpos, pcrsonagens 01,1 Sltlr.lc;Oes:o univcrso simbOhco dcscn\-olvldo pcla arte pm'era 01,1par Joseph Buys desmtegra-se na fabula caltl'lani.1na sob.l prcssiio de urn "'espirito maldoso'" detonador que opOcformas I.' contradi¢CS, I.' que rccusa ser habll.1do por qual·quer valor positi,,-o que scJ<l Essa manl'lra de \'oltar as for·mas rnodernlstas contra a ideologl.1 que Ihes deu ongem(contra a Ideologia moderna da emancipa,50, contra 0 su­

blime), mas tambCrn contra 0 melo artfstico e suas cren,as,demonstra n30 urn Clnlsrno vulgar, e sirn uma ferocidadecaricalural Algumas de SU35 exPOSI{Ocs podem lembrar,apnmelra VIStol, urn Michael Asher au urn Jon Kmght.. naffil'dida em que prelcndem r(,\'i'lar as estruturas ('(OnOffil-cas CSOCialS do sIStema da arle, enfocando 0 g;:Jlensta 01,1

Page 38: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

72'1<OW ""'""""'"

o CSp.1~ da CXPOS1~O_ Mas logo essa referenda COn...... t~'"I uill

d.i Jugar a uma outra lmprcssno, mnis difusa' uma v'" d.. r a.dcira pcrsomfica,50 da crrt:ica, que rcmete nao so" , (dar_rna da fabula. como veremos dcpois, mas tilmbCm a Uffia

Jutenhca \'Ontadc de prejudkar im, em 1993, CalleJan

rcahza uma~ que ocupa todo 0 espa{O da galena Mas­Simo de C:lTlo, em M1150, C 56 podl,' set Vista pcla vitrinc. 0arllsta acabJ. admllmdo: NEu tambcm queria bot'lr Massi­mo de Carlo para fora da galena durante urn mes."

&pinto maldoso, 0 espintodo clemo mau a/lltlo que sc

senta no fundo cia c1asse. Tem-se a impressao de que Cat­lel,m considern seu repert6no formal como um conjunto de

1l\'6ts de CIlSll e de figuras tmpostas, como uma especlCde programa csro1:l.r que 0 artisl<l-Cilbulador S(' diver­Ie transfonnando M\ togO de <:cna Urna de SUilS pnmet­ras~ Importantes, Edciollj ddI'obtigo (1991), conSlslc

em ll\'fos esrol;lfeS com ;l C;lpa e 0 titulo m()(:hficados porcnam;;ls, numa esp{'{Je de desfolT;l e 807...11;50 contra lodesos progrnmas. Quanto.los lecidos e cortmados da arle po_\"ern e dOl anlifonM des anos 1%0 e\..., Ih, .." e 5er..em._ pa-ra fuglr do Castello dl RMra, onde CSlava partiCIpando desua pnrrara COletlVil lmportanle, em 1992. '"Eu goslavad: olh~ar 0 que os outros artlstas fazlam, como reagiam .1sltua(;'ao. Esse trJbalho nao era a.....nas mn'"(6 "...~ .. " nco, era tam-hem urn lnstrumento: na noile antes do tIl.'rn

I5SQgt,lranspusa pncla e rugl.'"' A obra aprescntada era pura e slmplesmcn.te essa escada ImprtJV1sada, {etta de \en......c, d.."......" marra os lar­gada na fachada do castelo. Segundo 0 mesmo . '.pnnclplO,

73

""..--d 'e 0

ManifeslJ. II ern Lu);cmburgo, CaUeJan1998 ural' '

"" ' I vcira plantada num lmensa quadnlalero deCXl'5e urna 0 I

bs >rvador mais apressado podena pensar numterra. Urn 0 c

ke de Bcuys ou de Penone; ora, ao fim e ao cabo. essererna ..• d

_tal nao tern nenhuma partlclp;l(;'aonoscnll 0c1eJT1enIO\~o-

b 0'0 ser articular-sc em torno da smtaxc ofensl\'adao ra,a ..

desenvolvida pclo artista. culucar os limllcs ffS1COS e ideo·

16 icos dos individuos e das comunidades, lcstar as pasSI-S "dt"'"bihdades e. sobretudo, a padencia as ms I UI~.

felix Gonzalez·Torrcs ulilizaV3 urn repcrt6no fomlal

hlstoridzado para revelar os embasamenlos IdcolOgICOS epara constituir um novo alfabcto de luta contra as normassexuais. Jii Catlelan puxa as formas para oconflilo e para acomedi01: a provoca(;'ao de atntos com os operadoft.>sdosis­tema dol arte, com lrabalhos que envolvcm cada ...cz maisinromodos. cslorvos e entulhamento; a Te\'ela~.lo da co­media que suslenla as rela(;'Oes de fOfl;'a nesse sistema, como uso de grades narrnlivas que diio uma guinada burlcsca ahisl6ria da arte rccenle. Em suma, seu comporlilmcnto deartista consiste em oricnlar as (ormas pam a dehnquenda

Pi"" Jr>sqJh: Utile Democracy

Nossas vidas transcorrcm sabre urn (undo cilmbiiln­Ie de Imagen$, enlre fluxes de mfonnil(;'Ocs que en\'oh-ema vld.1 cotidlana.Toncbdas de Imagens sao fonnatadas co­mo produtos ou dCSlinadas a ...cnder outros obJelOS. ~rcu­lam volumes mad(;'OS de informa(;'Oes. 0 proJcto artisllCO

Page 39: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

75

74N'ICOi.As 8()

de l'lerr(: Joseph consisle em co I . l1RRv.uol.. n Crlr scnrdlIIente: nao sc trala de urn.... I 0 il esse.. encslma pes' ~ am_de uma pratka produtiva, sernl'lhant ,llI

aocritica, Csinl

n _...... eadcquurna u:ue. manta urn illncrario CI1l naVCft;,

• OU sUrfa oa 0"IOtcrntlvas dos vldcogames EI. S Sll1lulat;o($d . C Imta. em pri .

as condl~ de surg1mento fu' melro lugar,e nClonarnento d .

gens, partmdo do po$lulado d as Ulla_

d e que ilgora cstc uma imensa zona-imagem • . amos denlro

• e nao millS dlanl dgens: a arte nao eum cs t _ I e as Irna__ pc .leu 0 a rnais e Slm

CICIO de apllqlll.'... Joseph d • urn Cxer_. escnvoh'C uma reI - " .Instrumental COm as f .1\010 udlca e

onnas que ell.' manip Ira ou adJpta a novos u a, rompa_

dUSO$ estabcleccndo dh-crsos p

50S e reallVa¢es. Ass" • • races­base 1m, 0 mmunalismo Ihe serve COmo

para Cache cache killer (1991) Ata uma~ _ .. olrle abslrata SUSlen-

-r"-"l~O em forma de jogo d .fliscr Olll'at'mt d e PistolS (La c11~ Qil

de Delaunay o:~. II ~Qtt!urdispomb!e, 1993), eolS obmsaunZJo Nannuc - ..

nanos para nO\ a sao recldadas em ce-'as cenas do fUme e

PtTSlmnages il rlru:r E m que se movem seuslOaS qu.... (he mteres:

r~ 1992, ele chega a "refuzer" pc_

OJtlCICa, Richard P m CIO Fontana. Jasper Johns Helloflnee Essa '

lura nao demOTiSt InstrumentallZJt;ao dOl. cuI-• _ fa urna dcsenv It

t;ao a Hlst6na,. mUlto 10 0 ura qualquer em rela-d pe COntrfiOO' el f

e um comportamcnlo 1 a unda as condlt;Ocsd .. IVre numa

Ingldo POlS. em J...........h SOCledade de consumo--I" • a rCOClag ",

Imagcns COI1ShtUI a base d em .....s formas e dase uma mOlal .

modos de h,,1bitar 0 mundo So, e preclso inventarem r .. rer uma for

po ItlCa. dltadura Uma democ:raoa rna chama_sc,_____ 'IRversamCTII_ e. COn-

"" ""ou<AOpermanenle jogo dos pilpeis, a uma dlscussao In-

v~aaum ." .'"ogoclat;50. t 0 regime politiCO mills falanle, dlzJa

finlta, i.l

Hannah Arendt. Port<lnto, p'lli."Ce plena mente /6glco que

Pierre Joseph tenha cscolhido 0 titulo de Wt/e Dt!mocrocy

P'Jra designar 0 conjunto dos pcTSOllngms t!lUOS n n-.nllVor

pol cle conrebidos. Esses personagens, a pnmeiro dclcs

surgido em 1991, se aprcsentam como figurantes \.....stJn­

do uma p.1n6pha, '"mstalados'" na galeria au no muS("u co­

mo se fossem uma obra qualquer, na noile dOl aberlurOl; a

seguir, des serno substituidos par fotogmfias, simples m­

dicador que permite que seu futuro propnet.irio "'rc.ltivc·

i:I ~a avonlade. Esses personagens pro\"cm do imllgma­

no da mltologia, dos videogames, das hlstanaS em qua­

drinhos,. do cmema ou d:l pubhddade: 0 Super-Homem, a

Mulher-Gato, os LadrOes de cores da Kodak, um Jogador

de paill/ball, Gasparzinho, a repJici:lnte de Bladr RUIlIIU. As

vczcs. um levc toque macabro mtroduz uma defasagem 0

surfistil cst.i morlo, um personagem aC'ldentado cst.i rom

:I ci:lbct;i:I enfi:llxadOl, 0 chao i:lOS pes do Super-Homem es-

ta chelo de bltuci:l$ e de gamfns de cer...eja, 0 C.lUbOl eslS

de barco na terra_. Alguns sao .lpresenlados em seu verda­

delro po:ano de fundo: 0 azul que serve para as incrusta¢es

do video, manifeslando.lo mesmo li:!mpo sua Irreahdilde escu potencial de deslocamcnto sobre dlWrs05 fundO$, P3-fa infinitos enrcdos. Outros se apresentam romo os alon~s

de urn iogode po:a~ls lconogriifiros, clTCulando pelo museuou pelo espo:a(O de uma colctiva, ceTC3dos de outros obra$;scguindo Duchamp. que prelendla ~usar urn Rembr3ndt

Page 40: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

n

76l\'ICOLAsIIQ

<'Omo lima liibua de passar roup. J """"una, OSCph pi

sonagms num museu de <Jrlc mod anla S(>us ~r.C'Cnario. Seu trabalho bUSC'<l se Cfna COrWCrtido (1m

. mprc 0 horizontI!XpOSlrOoolllleoJleroit;op/lblico-a b d C de lima,oraCarlel

('lelta espttJal numa encen,Jt'ao '"nf'" orna-se Urn, ~ rntlVa, 0 r

rca\i\'at;ao da fig ula Cduplc' 1m..... P OCesSQ de. •..·se Igualment d

Wlf as obms junlo as qU<lis e... • e e reat!_"" msc:revcm as

e assim 0 unn'erso intciro ...... , personagens,.... ama Urn campo d

palco. urn tabuleiro. e Joge, Urn

Esse sistema tambem e Urn ro'Clo ..do ronvi\'lo intehgente entre os p. ~ pohtico: ('Ie fulab SUJCIIOS Cos (undh::~als cl~~~tivam. do convivio intcligcnte ('n~eS:

.........." c as VU'lil5 expost •l;ao dos icones. que carilctcn': a sua ild~ira~.'io.A rcahva_d'a->nn' essa galena de personagens-r~ 1\"'1$ em que consiste a little ~n

uma forma """'__ I fOCTQcy, representa-'-"';;'1\...1.1 mente demOCTiir-

n~ d~monstra~ n-~d . IC.1, sem dem.1gogiilh t.. r~"'" ilS. PIerre Joseph ".1mtar olS nalTat nos convlda a

was .1ntenores a .santemente olS formas nos, a rcfabrie.lr inccs-d que nos COnvi'm Aqu" fi.l arte emtroduzlr . I, a malidildc

o togo nos s tevitar que eta se petn6qu IS ~mas de represcnlilt;aO,alienante ao qual ad 1.', descolar as formas do fundo

l'Tem quando 5.50C'OIsas adqUJrldas. Urna let COnslderadas comopod . turn supcrAcial dos

ena sugerir que Joseph c . personagenstTetenlmento popular. 0 ufim arhSfa do meal, do cn-

ra, as gur.lS dos pefsonilgens dos q,,,, "hos OS COntos de fadas·fica nn e os h 6i '

tI que povoom es5,1 ..d--..... . .. er S de fictao den_A_ ~·"......racla n30

glr .... reahdade;- pelo COnlrano COnvldam a fu-, essas Imagrlls quI' faum

""."""""'"/ . (Ill do real nos lcvam, poT ncochc!c, a f.lzcr iI

11 npmll rU1g

d " gem de nossa rcahdadc, mas a parhr da fiC'{.1oapren IZii

d" POSltl\'O comp[cxo que regc os pcrsonngcns VIVOS,No IS-",-ho C,pido ou a fada funClonilm como lmilgensGaspa ... " ,

"t,das no sistema da diVisao do lrabalho: esscs sereslIl(n

ImOiginJTlos, cxplica joseph, obedcccm a "um programa

definido, comandado e imutavel', C seu cstatuto funclonal

n.30 cdlferente do de urn opecirio que trilbalha nurna lmha

de montag-em na Renault nem do de urn garr;om que pega

o pedido, scn"C 0 pmlo e traz a conta Esses personagcns

sao extrema mente tiplficados, sao retratos-robOs, Iron­gens pcrfcitamenle assoclildilS a urn personagem-modelo•

a uma funtao detcrmmada. 0 verdadeiro fundo mllologi­

co de onde brotilm ca Ideologia dil divisao do tr.lbOilho e da

padronizar;ao dos produtos. a ordem do Imagimino, rodifi·cada segundo 0 regime da produtao, afeta por Igual os en­

canildores c os supcr-herois. J\ fada Ilumrna COlsaS com SU.1

vannhil magle.1, 0 mccSnico de earroccri.1 aJusta c/ementos

em hnha: 0 trabalho eIgual por toda pilrtc. e Cesse mundo

de opcrar;Ocs imut.iwis e de possi\'cisdis~ em elr·

cuito fe<hado que dcscrc\'C Joseph - mundo euja safda po-

de ser mdicada pela lmagemAs imagens propostas por Joseph devcm ser vividas:

cumpre "propriar-se d('las, rNllv.i-las com SUOi inclusaoem no\'os conjuntos. Em oUlros termos. lraln-se de dcslo­car assignific3r;Ocs.lnfimas defasagcns crlam movimcntosimcnsos. por que \'oce aeha que ,,,ntos "rtlsf"s se cmpe­nham em rdazer, TC'COplar. dcsmontar c remonl", os com-

Page 41: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

7$ NICOlAS IlOURRlAliD

ponenlCS de noSSO mundo visunP Por que Plerre Huyghe

refilmJ. Hitchcock ou Pasohlll? Por que Philippe ParrcnoreronstJtUl urn,) lmha de montagem destmada '10 Inzer? 0

arllslJ. dt.."'\"C remantac ao maximo possivel dentro do ma­quma-rio ro1cIt\'O para produ:m urn t('mpo-l?Spa~ altl'rna_11\'0, Isio e, para (cJnlroduziro multlplo (' 0 passlvel denlro

do cirnnto fechado do SOClal Pierre Joseph.. COm 0 auxihode dlSpOSltt\'05 CJp;u:es de '"ahnglc C.lfetar seu local de cx­

pos~•. prop6e-nos ooJetos de expeflcnClil, produtos ali­\'OS, obras que sugerem 00...0$ mOOos de ilpreensao do reale I\O\'OS hpos de 1n\15hmenlo do mundo da aTtc. A nOs ca­be habltar a uJlIt Dtmocmcy.

o USO DO MUNDO

Todos os rontcidos 530 bons. ronlanlo que ndO

sqam InlcrprCIa~e que digam respellO 010 uso dohvro. mulbpbquem sell usa e fonnem uma

lingua dentro de sua lingua.

Gilles Deleuze

Playing tilt world: reprogramar as formas sociais

A exposi,iio p nao cmais 0 resultado de urn proces­so, seu "happy end" (parreno) eurn local de produt;ao Ne­

la, 0 artista coloc.1 ferramentas adisposit;ao do publico, lal

como, nos anos 1960, as mamfeslat;Oes de arte ronceitual

orgamzadas por Seth Slcgelaub prelendlam slmplcsmen­te colocar informat;Ocs adlsposlt;aO do visit.lnte Sempre

rccu5:lndo as fonnas acad&mlcas da exposit;ao, os arhstas

dos anos 1990 vlam 0 local da mostra como um cspat;O deconvfvlo, um palco aberto a meio camlnho entre cen.:irio,esh'idlO de cinemil e s.lla de documentat;<1o.

Page 42: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

so NICOlAS IIOUAAlAun81

Em 1989, OommKJu(' Gonzalez-r'OCJ'Ster, Bernard Jois­ten" Plerre Joseph (' Phlhppe Pam.>llO, em Ozone. propuse­ram uma CXpo51('"dO em (anna de "cslralos de m(orma,do·sobre.l CC'OIoglol politIC;]. 0 \'lsdanlc dNia p<'rrorrcro cspa­\0 de m3T1Ctrll que de mesmo fi.:l"SSe sua monlagcm VISU­al. AssIIl\ Qzoneaprt"'St'ntava-sc como urn esparo Ollcgi!lIicocode 0 Vlsltantc ideal sen.1 urn 310r - urn ator di'l mforma_

,30. No ana segum1c. em Nil:". a exposu;.io Lcs Alchersdu P:aradlS(' foi rt"ahzada como urn "filmc em tempo rcal";durante todo 0 pro)cto, Plel1'C Joseph, Philippe Pam:moc PhilIppe I\?mn ficam Morando na gal{'ria AIr de Paris,moblil3da rom obms de arte (de Angela Bulloch a HelmutNewton), engenhocas absurdas (urn trampolirn de ginas·tJca. uma caw de Coca que sc mcxe 30 ntmo dos CDs) eUII\.J se1e?o de videos, em que 05 Ires artist3$ SC movcmsegundo 05 hor.inos programados (aulas de mgles. vl5im de

urn pstOOlogo). Na nolle da <lbertura, 05 Vlsllanles hnham

de \~r Ulna camiset:l (CllX'ffiplar unlCO) que mostrava urnnome gminro (0Bern. Hello Especia'" G6hro-.), enquantoa reahzadora Manon Vemoux.. a partir desse logo de IdentJ­dadcs. podIa redlgU urn rotelro ern tempo real.

Em suma. urn processo de exposit;ao em tempo reoll,um motor de pesquisas em busca de scus conteudos. Quan­do Jorge Pardo rcahza PIer em Munster, em 1997, clc cons­tr6t urn ob)eto aparcnlemente funclona!. mas a funt;.io realdcsse pier de madel.ra e mdelermmada_ Pardo aprcscnta cs­truturas cotl(!Ianas. Instrumentos, m6ve1s l.im""'das mas.Ihes ' r- ,

nao atnbul funt;Oes prects.l$: CmUlto possiVel que cs-ses obJetos nao 5lm:Im para mula a que fazer numa cabana

aberta. no final de um pier' Fumar um Clgarro, como suge­re 0 dispenser fixado numa de suas p.uroes' a VlSllante­observador deve inventar fu~ e ca\'OUcar seu pnSpnorepcrt6rio de compoctamenlos. Arcahdade SOClal fomere aPardo urn conJunto de eslruturas uillilanas, que ele repro­gl'3ma em funt;.io de urn saber :Irlistlco (a compos~o) e deuma mem6riil das forrnils (a pintura modemlsta)

De Andrea Z,ttel a Philippe P.1treno. de C<lrsten Hol­Ier a Vanessa Beecroft, a gerat;.io de arllStas aqUl traladamescla arte conceitual e flOP art, antiforma e jllIlk art, mastambcm certos proccdimentos do deSign. do cinema, daeconomla e dol mdustria.: aqul C Impassivel dissodar asobras de scu pano de fundo social, os estllos e a Hisl6rill.

As ambl~, os rnetodos e os postulados ideoJ6glCOSdesses arlistas, porem, nao se dlstanClarn mUlto dos de urnDaniel Buren. urn Dan Graham au urn MKhael Asher devmte ou mnta anos atm. Eles mostram a mcsrnil vontadede dcsvendamento das estruturas invisiveis do apdratoIdeolOglco, desronslroern sistemasde representil{.lO e ado­tam uma definl{.lo da arte como "mformat;ao Visual" ca­paz de dcstrUlr 0 entrctenirnento Mas a gerat;.lo de DanielPflumm e Pierre Huyghe sc dJstingue das anteriores porurn aspecto essenClal: cia recusa qualquer metonimla. Sa­bemos que ess" figura de cstilo conslste em dcsignar umaCOISa por urn de scus elementos consillutivos (por exem·plo, dlzcr "os telhados~ para se referir a'"'C1dade->. AcriticaSOCial que faziam os artistas dil arte conCCllua!. portanto,p<1SSilVil pclo fillro de uma cnbca da lRShtult;ao: para mos­trar 0 funclOnamento do ronJunto da SOCle<bde. eles ex-

Page 43: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

rcntemente em galen;;!s, c1ubes e quaisqucr outras cstrutu­ra5 de difus3o, dcsde a camlscta atc os diSCOS que ronstamdo c;lla!ogo de seu r6tulo Elektro MUSIC Dept. Ele lambemfaz um VIdeo sobre urn produto mUlto espcclfico, sua pro­pna galena em Bcrlim (Nell, 1999), Dcssa forma, niio se

Irat;) de opor a galeria de arte (local da ·arle sepamdo",portanlo, mau) a urn cspa\O pubhco ideallZ<ldo como localdo ·bom olhar'" sabre a arle, 0 olhardos transcuntes. mgc­nuamcnte fetlchlZ<ldos 1.11 como antes se idealizava 0 "born

sclvagcm". A galeria eurn local como os demais, um ('S­

p;1l;0 1mbricado num mecanismo global urn acampamcn­to de base Indispcms;ivcl a qualquer cxpedl\iio. Urn c1ulx',uma cscola au uma rua niio s.'io lugares mdllorcs, s.'io Slm­plesmente outros lugares p.1ra moslrar a orle,

Em Lermos tTh1is gemIS, lomou-sc dificil con5lderarmoso corpo social como uma totahdade ocg;imca_ N6s 0 perce­bcmos como urn conJunlo de estruluras destaC'ih'Cls enlre SI,ii. scmelhonl;a dos corpos contemporiincos que gonh.lm vo­lume com protescs e podem ser modificados a,"ontadc Pa­mosartislas do final dosCculoxx. a SOCledade tornou·sc urncorpo dividido em lobb!.es. cotasou comunidades, c .10 mes­rna tempo um Imenso ca1310g0 dc tramos n.:matwas

o que se costuma chomor "realidadc" euma monta­gem Mos a monl<:lgem cm que vr.~mos serii a unica pos­sivel' A partir do mcsmo malerlal (0 cotldlano), podc-secriar dlfercntes vcrsOes da rcahdade. Asslm, a .:Irle con­tcmporiinca aprcsent>l-se como umo mes.1 de montagemaltCTn>ltiva que perturb,], reorganiz.a ou msere as formassocialS em enredos OriginalS. 0 artlsta dcsprogmma para

1 0 1""'.11 csnt.'Cifico em que sc descnrolavam SU<lSpO!,W,1ffi"'" r-" "d d"" <WC1mdo os prindplos de urn I/lntennliSfUQ (/11/1_allVl a ..... ~o-

Ii'trro de Lnspirat50 m3rxislJ. Por cxcmplo, Hans Haackedenunaa as mulrin;lOOf\3.1S ('\"ocanda 0 financiamcnto

da artc.: Michael .~shcr tr.lbalha sobre 0 conjunto arqui.!clomCO do museu ou da galeda de arlt:'i Gordon Matta­Clad:. perfuT,) 0 duo da gJ.leri3 Y\"on Lambert (Desccn­dmg Steps for &tan. 1977); Robert Barry dcdara fechada agalena ondc esta expondo (Closed Callery, 1969)

Enquanlo 0 local de- exposl~50 constituia urn melO emSI para os artlStas conccltuais, hoje ele sc tornou urn local deprod~ entre Olltros. Agor.:a n50 C tanto uma questaode analIsar ou cnticar esse cspa~, C Sirn de slwar SUil po­

S10;5.o dentm de SIstemas de produ{.1o mais amplos, com osqwlS Cpreaso ~tabelecer e codificar rcli1{Oes. Em 1991,P1erre Joseph enumera uma hsta intermin.i\'cl de i1\5es lie­galS au pengosas que (lColiem nos C'Cntros de art... (desde·ahrar em av16es"', como fez Chris Burden, atc "'fazer gra­6tes~, -destfulr 0 Im6ve\'" ou "trabalhar aos dommgos"),que os con\1!I1em num ·Iocal de slmula\ao de hberdades cde expenenaas v-.rtua\S- Urn modelo, urn laborat6rio, urnespa\O hidlCO: em todo casa, nunca 0 simbolo de coisa a\­guma, e mctlos ainda uma mctoni"mla.

t. 0 SOC1US, ou SCI,], a tot.1hdade dos canais que distn­buem e repercutem a mforma~o, que se lorna 0 \'Crdadei­ro local de~ para 0 Imaginano dos arlistas dess<lger~. 0 ~ntro de arte ou a galena S<io casas particula­res. mas fazem parte de urn conlunlo millS amplo: a pral;;)p(ibllca. Asslrn, Damel PDumm expOe seu trabalho lO(hfe-

S3

Page 44: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

..reptog,amar, sugcnndo que eXlslcm oulros usos po5Sl\'CISdolS t&mcas c fm'3,mentas anossa dlsposi{ao.

GillIan Weanng ~ Pierre HU)1;he l'Cahzam urn video apartir de sistl'm;l.s de cameros de V1gl1iinclil Christine Hilicn3 uma asenciil de \'Iagcns em Nov.l York que funcionaromo outrJ ag.}n(lil qualquer MIChilci Elmgrecn & Ing,nDr.1g5ct monlam uma galena de arl~ dent rode urn mu.scu

durante a ~'IJ.rufesta 2000, na Eslo..-ema. Alexander G)'Orfiutlhuas fomus do estlidlOOlJ do palco. Carslen Holler re­c:orre as expl'n.moas de laborat6no. a ponto claro em co­mum entre lodes esses artislas,. e mUitos oulros entre os

millS CTIJII\'OS da atualidade, consiste nessa capacidade de

utlhur as form.1S sociais existentcs.

Tochs as estruturas cultur.l.Is ou sockns. porlanto, rc­presenum apenas roup.1S que dewm ser \'CSlidas, objCIOSque de\"elTl set lestados e expenmentados, como fez Ahx

Lambert em Wtddlng Plea, obm que documenta seus cin­co Qs,unent05 seguldos no mesmo dia.. Malthllro Laurette

us:l como suporte de seu trnbalho os pequenos c1asslfica­

dos de pmal, os game shows, as ofertas de marketing. No.­\'tn Rawanch;ukul trnbalha sobre a rede dos taxIS como

outros dcsenham em rapel Fabricc Hybcrl,,)o montar suaempres.:J UR. dedara que quer "fazer urn usa artistico da

economla- joseph Gngelyexp6eas mensagense os peda­~ de P3pel rabtscados que usa para se comUnlco.r com osoutros devtdo asua surdez: ele rtprogramn umo. deficlenclafislCa como urn processo de produl;iio. Mostrando em SU(lSexpos;~Ocs a reJlldadc concrela de sua oomunJc<Jl;50 COtl­dlJ.n.1, Gnge.ly toma como suporte de seu trnbalho a csfera

,," """'""'"da intcrsubjchvldadc e dfi forma a seu um\-erso reJaclon~L

"OuvlmOS a voz" dos que 0 {"Cream; quanto ao (Irl!sta, poell:'gcndas n<:ls oonversas. Etc rcorganiz.a palavras humanas,fr.,gmcntos de discursos, tral;os l,.'SCntos das convcrS<lS, nu­

m" especie de samplci'lnlento de proxlmldadc, de ccologiadomestica. A nota por cscrilo f! uma forma socii'll a qual

n50 se da mUlta 3tenl;30, gCr.Jlmcntc dl'Stln3da 3 um usaprofissional ou domktko sccundario. No tr.Jbalho de Grl­gely. dOl percle $CU cstaluto 5ubalterno c adquire a dimen­

sao existendal de urn mslrumento de romuniea~50 vital;

mcluida em suas eomposl\Ocs, cia parlidpa de uma polifo­

ma nasddJ de urn dcsvio.Dessa mJneira, os objclOS soci.:lis, dcsdc as rou(XIs .:lte

as lnstitui~,passando pclas cstrutUfi1S mais hanais, naofieam mcrtes Inlroduzindo-se no unlVcrso fundonal, a .Jr­

te fCVl\"e esscs obJetos au rc\"ela sua in;)nidadc.

PhilIppe ParrellO 6'

A origmJlidadc do grupo General Idea, dcsde 0 infdodos i'lnos 1970, consistc em trJbalhar em fun\,lo di'l forma­tJl;aO socii'll: a emprcsa, a tcleVisao, JS rC!vistas, a publiclda­de. a fi~50_ Dlz Philippe PJrrcno:

A meu vcr, des fOfilm os pl'imell"OS a pensar a l"XJlOSl­o;:ao, n.1o mats em tcnnos de fonnas au obJct05. e Slm

como (onnMo. Formatos de repTCSC'ntayio, de JeHur..do mundo. A pcrgunt.. que sc roloc.. em ml'U Irab.11nopodl'ria scr a scgumle: quais 53.0 as ferr.lmcn!3S quepcrmill'm compreendcr 0 mundo'

Page 45: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

S6 NKX>LAs 1lOUJuu.wnotrabJ.lho de Parrcno parle do principia de qu

c a rCa_hdadc eestruturada como uma hn(>uagcm c de qu

Q, caar_Ie permit\," artu:ular cssa linguagem Ell," t.lrnbem m

OS!raque toda (ntiro social csta fadada ao fracasso c.."..... 0

' ..~ ar-hst,] sc rontente em sobrcpor Sua lingua iii lingua (<llada

pela autoridacll." Denunnar, fazer a ·cri"llc<1" do mund 'o.N;i:o sc denuncl" nada de fora; primciro epriXiso aSSUmIT,ou pelo menos cn\'crgar, a forma daquilo que se quer cri­

llear A muta¢o podc seT sub\'crsiva, mUlto mais do que

celtos dlSCUfSOS de oposl~ao fronm! que apcnas cnccnamgestos de subo.~o. t: exatamentc esse dcsafio .'is ahru­des cnlll:as eslabelecldas na arte conlemporiinca que leva

Parrcno a adolar uma postura oomparaveI it psicanalise 13­caniana. to mconSClcntc, dlZI", Ji'lcqucs Lacan, que Inter­

preta os smtomas e 0 fOlIo mUlto melhor do que 0 anaUsta

louIs Althusser de seu ponto de VlSt.1 maoosta, dlzla .11­

gopareoda. a \madeira cn1ica e uma crihca do real eXls~

lentc pclo propno real cXIstente Intcrpretar 0 mundo naobasta, e prcciso transforma_lo. ~ cssa opcrn~ao que tenta

PhiliPPe Parreno a parbr do campo das imagens. conslde­rando que elas desempenharn n.l reahdade 0 mcsmo pa_pel q~e os sinlomas desempenham no mconSCIente de urntndlVlduo. A pe.....·nta ........1 •

• 'D~ r~~ a por uma anahse freudlana ea segUlnte: como se organlZi1 0 desfilc des aconteclmen­tos numa Vida' Qual ea ordem em que SoC repetem' Parre­no tnterroga 0 real de manciTOl SCTnclhanle atTa\..t.. dtrabalho de I.............. . ..." e urn_ _~omuagcm das fonnas SOCialS e da explora­

"00 SISlemahca dosI~ qUl.' unem OS mdrviduos OSpes l.' as Imagens. • gru-

'--

87

Nilo por aCilSO cle incorporou a dlmensao da COlabo~

ra,,3.o como urn dos dxos pnncipals de sculrohalho; 0 In­

consciente, segundo Ucan. n50 CIndIVidual nem co!elivo,

('Ie eXlste apenas no entre-dols, no encontra, que e0 come­

~ de todas as narrativas. Constr6i-se urn sujelto "'Parreno

&.~ (&. Joseph, &. Caudan, &. GIllick. &. Holler, &. Huyghe.

poralembrar algumas dessas coI3boro~ocs)30 longo de ex­

posu;oes que multas vezes se aprescnl3m como modclos

relacionais em que sc negodam cc-prescm;as enlre dife­

renles protagonistas por melo da constru(iio de urn enre­

do. de umi1 ni1rrahvaAssim, no traoolho de Philippe Pi1rreno, gCr.'llmente

eo coment6rio que produz {ormas, e n3.o 0 inverso: des­

monta-se urn enn..>do pam rcconslrUlr novos cnrcdos, poisi1 mlerprela,,3.o do mundo curn sintomi1 entre oulros Em

scu video Ou (1997), urna cena aparenlemente banal (uma

mO'Oi1 tirnndo sua camiseti1 W31t Disney) YOU em busca dasrondl,,6es de seu surgimento. Assim dcsfilom ni1 telil, num

tongo rewind, os !ivros, filmes e discuss6cs que result"­ram na produ"ao de uma Imagem que dura i1pcnas trin­ti1 segundos. Aqui - como no processo psicanalfliro ou nasdiscussOes infindaveis do Ttllmud~ - (i 0 comentano queproduz narntivas. 0 artlsli1 n50 de\'(' tr.:msfenr il ningucmo cuidado de lcgendi1r suas Imogens, pois as legendas ttlm­bern sao lmagens, e assim ao Infinito.

Uma das pnmciras obras de Parrcno, No Mort' Rrallty(1991), 15 coIocava cssa probltmlatKa, ao hgar i1 ~50 deenredo e a n0'>50 de m3nlfesta{5o. Ern uma sequencia lr­real que mostTilV.l uma mamfcsla,,50 composta de cnan{as

Page 46: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

8SN1cou.s 8OuR.ltLwn

rom bandeirolas e cartazes, repclmdo 0 s/1'K>n "N_,')•.11 '0 m

re reality· '·chcga de rcahdadc·). A queshio e . o·ra COm qual

palavra de ordem. com quallegcnda dc:sfilam h' .• ole as una_gens' A mam(cstac;ao tern como finalidadc Plod .. UZIr urnaImagem colcliva quees~aC'enlinos poHticos P (

ara 0 ulu­roo A insl<JI,It;ao Spm-lz Bubbles (1997) compost

• . ' a por umanu\'cm de baloes chelOs de gas hclio imitando aq,"1 c.I- ' "CSlId_O('zmhos de hist6rias em qundrinhos ap',~• ... ....... COmo urnronjunto de "lOstrumentos de mam{estac;ao que pcrmilem

a cada urn CSoCre\'el S!;?us propnos slogallS C se singulan'~dentro do ",f

grupo e, portanto, dentro dOl imagem que serasua~I~·' Aqui. Phihppc Parreno opera no in­tet'S~que sep;1ra Imagem c legenda, trabalho e produto,produc;ao e oonsumo. Seus trabalhos, rcportagcns sobre ahberdadc individual. Icndem a :lbolir 0 espac;o que scparaa produC;.Jo dos obJetos e os seres humanos, 0 trabalho e 0

laze.r C~m Wtrktl.schell'Ctabll 0995), Parreno desloca a (or-ma dol linha de montag hem para os obblcs praticoldos aosdon\l~gos;: com 0 proJt"to '0 ghost, Just a shell (2000), inl­Cl<ldo JUruamente com Pierre H gh_ d uy e. cle compra os dlrel-•...." c uma JK'TSOllagetTl de -,la d ,-_ manga.. Ann Lee, e faz c:om que

1SC'OrTa so",e seu 0000 ded - personagem; num conJunto

e mtervem;oes rcunldas sob 0 n I L:Hreno fomere a Y"'t'$ I............ I U0 omm~ publIc. Par-

-""'1' fumoso Imltador francl'S tex-tos que de dedolmol Imitando a VOl. de I b 'Sylvester Stallone ate 0 papa. EsS<!s tr~~:~~~~C: desdesegundo as modalidadcs dOl vcntnloq,,, d l"'rnm

e a mascara: ao

jon ~lEN,"nudoPhI~P~",..... <wn I"'jl,~"'''~no"'..,....., ""264.

•89

c:olocar (ormas SOCl'US (0 IUJbby, 0 nO{loario dOl tele\'is.io ),Irna8'!ns (uma lembran{<l de in(SnCla. urn personagem demanga_) ou obJctes c:otldianos na posi{.Jo de revdar suasongens c !>Cus proccssos de fabnca(Olo, Pamno expOc 0

inconsciente da produc;ao humana e 0 e!CVOl arondll;,5o deurn milterial de constru~ao.

Hacking, emprego c tempo livre

As prnllcas de p6s-produ~.lo g;,>ram obras que qucs­tlon.:lm 0 uso das (ormas do trabalho. a que se torna 0

emprego, quando.:ls atlvldades prolissionals sao reprodu­zidas pclos arlislas? Wang Du dl"(Jara: "Eu tambCm quemscr urna midia Quero sero Jornahsla depois do Jornalista~

Ele realiza esculluras a partir de Imagens difundidas pdosmelOS de comunlC'ol{ao, reenquadrando-ils ou reproduzin­do-as fielmenlc na escollil e nos enquoldramentos originais.SUil Instalil{aO Strntfglc (II chambrc (1999) Cuma Imagemde dimensOes enonncs que obnga 0 vlSltlnte a atI1Jv'essarvarias toneladas de JOrnalS pubhcados durante 0 c:onnilode Kosovo, milS5a Informc encim3dol pelas efigics cscul­pldas de Bill Chnton e Bons YelISIn, por algumas outrnsfiguras em fotos da lmprensa da epoc<1 e urn enxame deaviOes de pape! A fOr{a do Irab3lho de Wang Du denVOIde sua capacidilde de dar [aslro as Imagens mais csquivas:de qU3ntilica aquila que quer fugir amatcnalidade, recu­pera a volume e 0 peso dos aconlCClmenlos, colore 3 maoas inforrna¢es geral$. Wang Du Ca wilda da informa(.loem leilao e por peso. Com sua Io,a de imagcns esculpJdas,

Page 47: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

90

arte, do design e do marketing pubhcltoino_ Sua produ~ao

IllSCrevc-se no mundo do trabalho, dupheando seu sistema.mas scm sc subordlllilr a scus resultados nem dcpcnder de

seus mctodos. 0 art Isla como fundonano·fantasma._Swetlana Heger & Plamen Delanov tinham resolvi­

do dc<i1car suas exPOSl\Ocs, durante urn ana. a uma rela­I;ao conlralual com a BMW; "1,'nderam.. entao, sua fOr{3 detrabalho, milS tambCm seu polencial de vislblhdilde (as ex­posil;Oes as quais foram convidados), assim criando urnsuportc "'pirala'" para a ,ndustria de aulom6....cis Folhetos.c.utazes, brochuras, novos veiculos e acess6nos: Heger &

Dejanov usaram, segundo 0 (ontexlo das cxposit;6es. 10­do 0 (onlunto de obielos e representat;6cs produ:ddas pe­III firma alcmii. Suas rcspedivils paginas nos catalogos deCXPOSl(i)cS coletivas tambCm foram ocupadas por propa­gilndas para a BMW.

Urn artista podc entregar dehberadamenle sua obraa uma marca' Maurizlo Caudan tinha sc contenlado comurn pape1 de intermediario, durante 0 Aperlo dol Blena! deVeneza, quando alugou seu csPJt;O de exposit;50 a urn..marca de cosmeticos. Essa pct;ol se chamoll'a "'Trabollholr IicholtO" (Lnoomre e WI bruno melt,e.", 1993) Heger & De­jol0OV, em SUol pnmeira eXp05l1;50 em Viena. fizernm exa­lamente a mcsmol roisa .10 fcchar a galent! durante todo 0pcrfodo d" cxp05lt;iio, pcrmllindo que 0 pes~1 saissc de(CriolS. 0 olssunto de seus trabalhos Ii 0 pr6pno trabalho;como 0 lazer de uns produz 0 cmprego de oUlros, comoo trabalho podc ser finolnclado por outros meies "Iem docapitalismo dassico. Com 0 proJeto BMW. eles mostrnrilm

NICOLAS~

ele 1O\"Cnla urn Olrtcsanato da romunica,.io que rep odr UZQ

lrabalho das agcnaa5 de Irnprcnsa. lembrando-nos der L.'<-b q"os lalos lamU\:m sao 0 Jctos que dcvt>mos rode'lr.

Pode-se dl'l'inir 0 metoda de trabalho de Wan D• sid. Su

com a cxpressao corpomlC Ia O'tumg, que n50 ccxalamcntcuma espiofUlgrm tmprf'SllrlaJ' Ccopiar. duphcar as cstruturasprofissionalS. mas lambCm esplona·las, St'glll.las.

Damel Ptlumm. quando trabalha a partir des logos de

grandes marcas rome AT&T, tambem excrre 0 mesmo off.

00 de urn l?SCnt6no de comUnlC;3t;ao. E1e '"'aliena c desfi­gura'" essas slglas. '"hbcranclo suas formas" em mmes de.1nUTl';:l(;~o. c:ujas tnlhas sonoras elc mz. Seu trabalho ;;lpro.Xlma·se tilmbCm ao de urn escritorio de design. quando ex­pOe, em calX<1S lummosas abstratas que cvoeam a hlst6nado modermsmo p1ctOrico, as foT1ll.lS Olmda identl6ciwis deuma marra de Sgua nuneral au de produtos alimcntares.Pflumm exphca; "'Tudo na pubhadade, desde 0 plane/a­mento ate a execu~ao, passando por todos os intermcdla­nos unagmiivets, Cuma solu~So concili:;lt6na e urn conJunlo.1bsolutamente Lncompreensi"vel de etapas de trabalho~l.

Sem esquecer 0 que ele chama de"o verdadeiro mlll"'; 0cllente. que loma.ll PUbllCldade uma ahvKiade subor<linlldae aillmada. que n50 pertIllte qualquer U'Io.....~iio. Ao "'dupli­car""' 0 tTabalhodas agencas de pubhodade com seus c1ipesplratas e suas Insignias abstratas, PfIumm produz objetosque parecem apltques num espa1;O fluhlame denvado da

91

Page 48: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

92NICOlAS 1lQ1JRRiAl1l)

romo 0 proprio trabalho pode ser fcmixad b". o,SOrCP0da Imagem oficml das rnarcas Qutra, 'm~l" n 0

• "oens, SUs ..porcm ap.uenlemcntc livles de quafqucr " pertas,

• • mperativQ ComcroaL Em ambos os casos, 0 mundo do tr"b Ih -fi ~ "a 0, ellJ"19urdS sao roorgaOlzadas por Beg" & D . as

cJanoy cab'de uma p6s-produ~~o. ' Jeta

Mas as rela\Ocs que Heger & DeJ'anayest b'lBM\ I a C ('«('mm

coma I' '\ ndotama[ormadeumcontrato do I"• , .. umn a lanc;aA pratlca de Daniel Pflumm, tot3lmentc selval". . .• oem, sllua-sca ~argt'm dos circuilos profisslonais, fora de qualquer re­lac;ao entre cIJentc e fornecedor 0 trabalho d pob, . cuummso_~" <l: m:ucas define urn rnunda onde 0 emprcgo naD seria

dlstnbUldo segundo a lei da ttoca e regido por cont t

~ue hgasS<'m .diferen~l.'S enticlades economicas, mas fi:r~:~ntrcgue ao ~vre.arbltnode cada urn, num polfach perma+

ne~te que nao :ldmite nenhum dom em troca. 0 trabalhoaSSlm redefinido ap,S' f "z.er . as rontelras que 0 St'param do Ia-co~:spe~~t~ ~ma ~arefa que ningucm Ihe pede aparcce

ropna e nto;ao do tempo livre As v .mItes sao transpost I . ezl'S, l'SSt's 1\-Ltam GIllick a res;t~d~~~P~I~S empr~, como notou

separa~o entre a ordem pro~ Es~mos dlante de umaCol, que fOI Lntciramcnte criad s;ona e a ordem domesti­1_]. Os gravadores, por CXCmaIre as cmprcsas de eletronica

p O,nosanos 1940-' ,_no campo profisslonal _ "" eXlst,am

, e as pessoas nao t d"p.1ra 0 que aquilo poderia sc en en lam bern

rVle na Vida dlaCla Sogou a fronteira entre 0 profissJonal d .' nyap:l-

e 0 omestJco~'

I

93

Em 1979, Rank Xerox im:lgina transpor 0 uni\"Crso do

escrit6rio para a interface grafica do computador, 0 que ge.

ra os "iconcs", a "lixeira", os "documentos" e a "area de tra·

balho"; dnco anos dcpois, Steve Jobs, fund:ldor da Apple,

re-toma esse sistema de apresentJ~ono Macintosh. A par­

tir dar, 0 tratamento do texto serS regido pelo protorolo for­

mal do setor terciano, e 0 imaginario do PC sera moldado e

colonizado pelo mundo do trabalho. HOje,:l gcneraliza(.'io

do home studio leva a economia artlstica a urn movllnento

Inverso: 0 mundo profissional ingressa no mundo domcs­

tico, pois a dlvisiio entre J:lzer e tmb:llho constilui urn obs·

taculo a figur:l do emprcgado exigid:l pel:l cmpCl'Sa,. :l de

alguem flcxlvcl c accsslvcl il qualquer momento.

1994: Rirkrit Tiravanija organiz:l urn "'espa(o de des­canso" - com poltronas, uma mesa de pcbolim, um<l obf<l

de Andy Warhol, um:l gcJadcim - p<lra que os artistas d<lexposi(iio "Surfaces de reparaflon", em Dijon, possam rc­laxar durante os preparativos do espetaculo. A abril, quedesaparece no mesmo momento em que e abertil <10 publi­co, e a lm:lgem invertida do tempo de trab<llho ilrtistico.

Em Pierre Huyghe, a oposi~ao entre a divcrs50 e <I ar­Ie rcsol\'C-se no. <ltividolde. Em ..-ex de sc definir pelo tra­balho (~o que voce fuz nol vid3?"), 0 indivfduo abordadoem SU<lS exposit;6cs constitui-se pda fonna como usa seutempo ("0 que voce faz da vida?~). EllIpse (1999) aprescnt<lo ator alem50 Bruno Ganz, que IfI.'m fazer urn engate en­tre duas ccnols de 0 Ilmigo ameru:aIlO, de Wim WcndeTS, fil·mlldo mais de vintc anos antes. Gam: dc~·e simplcsmcnlepcrcorrer urn triljeto apenils sugerido no filme de Wenders:

Page 49: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

N1CO/J.S 1lOull.Ru.uo

em outras p3.lavrns, prcencher uma eli..., \~. r · "'las qUi'lnd

aOOt C$ttJ lrabalhando, c quando eshi de ff" 0 01:f1,)S Se CSI

empn.-gado como ator em 0 Qmigo nt1lcnCatlo t. aVa

de tr.Jbalhar quando, 21 anos depols (az u ' efa parada, m engale Cntf

du.lS cmas do filme de- \-Vim \Venders? S • C_ Cf;1 que, afinal

chpsc nOlO ~ urn,) tmagem do lazer como me .' ilb.:i ? fa ncgatl\'O do

tra Iho Quando 0 tempo livre signifie, 'Iempo va.z.io'"

au tempo do consumo organizado nao sc"":' ., .u uma simples

passagem entre duas sequcnclas, urn v;uio'

Posters om) conSlStc numa sene de (Olos colo 'dque mostram urn mdlViduQ tlmn.-"ndo um bu-, n "d ,,- .. co na c.d-c;a a e r~ndo plantas numa prac;a public,). Mas exlS­

tc.ho]e urn espa~ [calmente pubhco? Esses atos isolados

fr.igCIS, dlzcm respello an~ao de responsabJlidadc: se h~um bur.!co na calc;ada, por que h5. de ser urn fundontirioda P~CfCltUl<1 a tampa-lo, c nao voce ou eu? Pretendcmopartdhar urn esparo sd ' comum, mas na realidade ell.' c gena por e~presas pnvada.s: estolmos cxcluidos desse cnredo­

somas V1umas dcssa legend 'des.fila sob agem errad~ menllrosa, que

as Irnagens da COmumdolde politic,]As Irnagens de Daniel Pilumm s~ Prod~tos d

m1croutop!a semelhanle na e urn,]narn afetadas pclas • qual a aferta e a demanda 5('­

deo tempo IN,. ~ruaahv.1slndWlduais, urn rnundo on-o-·~naotrabalho e -

onde 0 mbalho SC JUnta L __ • VlCe·\'eI'sa. Urn mundoao nuoang mfarmatlCO. $abe

que certos hadns entrarn nos discos . . masos StStemas de C!1TI .........,.., ngidos e deC'Cxhficam

... -... au mstmul;Oesde sub-l.'Cf'S30 .,.1,., par uma \'Ontade, vezes tambem narem remunerados ""fa aperf.........~ esperanc;a de sc-

_.,_r SCU$ slStCfnil$ de defcsa

9S

prllTieiro demonstram sua ~ap;lcidade de provocar danos,e depois oferecem seus SCfV1(OS pilra 0 orgamsmo que aCa­bou de ser atacado, 0 tratamento que POumm mfhge illmagem publica das multmaaonalS dcnv<l do mcsmo {'Spi­nto: 0 trabalho nao cmais remunerado por um cbente - aorontr;irio dOl pubhCldade -, mas c dlstnbUldo num arcultoparatelo que ofercre recursos financclros e uma VlSlhllidadl'lotalmente difcrenh!_ Swctlana Heger & P1amen Dejano\'

rolocam-se como falsos prcsladon.'S de SCf\~ para: a ('(0­

nemia real, enquanto Pl1umm f.:Jz uma chantagem visualsabre a ceonomia em que opera: romo paraSl1<i Os logossiio tornados como refcns, rerolocados em Iiberdade parcial,como umfreruxtre que os usu6nos podem apcrfel{Oar porconta propria. Heger & DeFlnov vcndem urn programa 10­

f~tado de virus aemprcsa da qual divulgam a lmagem, aopasso que pflumm pOe em circul:lC;ao im:lgens e, ao nlL'Smotempo, 0 piloto, 0 eM/solonte que permitI.' dupHc.i-/:ls.

Eslctica terdtina: retralo1mcnlO da produ,50 cuhurJl,construc;ao de pcrcursos dcnlro dos fluxes CXlstcntes; pro­duzir servil;OS, ltlnerarios, dentro dos protocolos cu/lur'us.Pl1umm dedica-se a "encoraJar 0 caos de uma m:lneira pro­dUllva"', EIe cmprega essa cxpn."SS.io para descrcvcr suasintervenc;aes em video nos c1ubcs techno, mas cia lambemse aplica .10 conJunto de scu trab.1Jho, que se apodera: dedeletes fonnals, de "restos de c6chgo" saidos da vida coil­diana em sua \"(!rsao mldl6tlC3" potra construir urn UOlvcr­so fonnal onde a grade modernisW se Junta aos jfash6 daCNN segundo urn plano coerente 0 de uma pir..ltaria gc­r.:ll dos signos.

Page 50: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

96 /'..'1CCl1J\S !lOUItJuAuu

Pflumm n.1Q sc content.. rom OJ Idem de piratana: cleronstrol monlagl'ns de grande riqucza fonnal. Suas obras

•de urn 5utH ronstrutivismo, s.io trab.llhadas 11;1 busca de

uma tcns.io entre a fonte ironogrMica (' a forma abstra_

ta. Aromplexidi!dc de suas refc.rencias (abstrac;Ocs histori.

cas, pop art, Iconogr3fia dos panflctos,. videochpcs, Cullura

cmpresanal) seguc ao lildo de urn grande dominic 1("Coieo:

it quahdadc d(' $Cus filmes esl5. mollS pr6xim<l da qualida­d~' vlgentc na industrli1 fonogr.ifica do que do nivel media

dos \ideos de am. Assim. 0 Irab;]lho de Damel Pilumm

It:present.l. por ora. urn dos l'Xcmplos rnalS ronclusivos docnronlro entre 0 Unl\"Crso da .ute e 0 unlVerso dol musica

techno. Sabc-sc que a Tedma NatiOIl tern 0 h5bito, f"z tem­po, de tTanspor logos fumosos para camISCtas: sao incoo­

taM..'is as \'erSOes d&i Coca-Cola au dOl Sony recheadas dernensagens subl.'et'SlYaS au de COrlVltes ao usa de maconha.Yi\~OS num mundo onde as formas cstiio indiscrimma­

damente disponiwls 01 todas as rnampu[a~Oes, para 0 bern

e para 0 moll. onde Sony e Damel Pflumm sc cruzam nurncspo1\O Solturado de leones e Imagens

o moe. tal como eprahcado por csscs artlstas, euma

atttude,. uma postura moral, mais do que uma reCl~ila_ A

pOs-p~utao do trabalho permite que 0 artista escape apostura IOterprctatlva. Em vez de sc dedlcar a comcntoirios

aihcos, delo'~-~ I?XpCnmentar E 1550 tambem que Gilles

Deleuzc pedlil. a pslCiln.1h.se- paron de IOterprctar os Slnto­mas e tentar arranJOS que nos con\'C1\ham.

,

I

I

,

aida HABITAR A CULTURA GLOBAL~ ESTETICA DEPOIS DO MPJ)

A obra de arte como superffcie de estocagem

de inforrna~ocs

A arte dos anos 1960. do pop.i arte minimalista c con­

ceitual, correspondc 010 apogcu da dupla formada pela pro­

du,ao industnal e peto consumo de rni'lssa. Os materials

utilizados na escultura minimalista (alumfnlo anodizado,

a~o, chapa galvanizada, plexiglas. ncon) remelcm .i I('(no­

logl3 industrial e, malS particularmcnrc, aarqUilctura das

f5bricas e dos depOsItos gigantes. A iconografia do pop, por

sua ve:z. remete acra do consumo, ao surgtmCnlo do su­

pcrmC'rcado e das novas formas de marketing associoJdas a

de: a frontalidade visual, a scrio1lizatiio, a i1bundiinciaA esll~tica contratual e admmistriltiva da artc COncel­

tual, de sua parte. marca os inklos do domInic da ccono­mia tcroaria E Importante notar que a .ule conreltual CcontemporiinC'a ao avan{O dccisivo das pesqUISJ.S em m-

Page 51: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

9S 99NICOlAs IJOlJRkJAlJI)

formalicJ no comlXO dos nllOS 1970: 5e 0 cornpu"dorsurg~

em 1975, C 0 Apple II em 1977, 0 primciro microprocessa_

dordatadc 1971. Neste rncsmonno, Stanley BroulVn expOe

arqUivos de metal contcndo as fkhas que documentam cre<:onstltucm seus ltincninos (40 steps a"d 1000 sterle) A

r~.e rt&. Language produzcm Index 01, urn conjunto de {jcharios

que se apresentam na forma de urn;] CSCultuTa minimalls_

tao On Kawara. com seu Sistema de registro em arqul\'OS

(seus encontros. suas "iagens. SUilS Iciluras) ja defimdo.

reahz.a em 1971 Ont' ,mIlIO" years, dez ficharios que man­tern uma contabiltdJde que vai mUlto alem das normas hu.

manas, apro:llamando-se assim das opcra~descomuoaisexJgK!as aos compuladores.

Essas obras mtroduzem na pcinca artistica a esIOC;l­gem de dldos, a andet dOl classificar;ao em fich<ls. a pr6pna~de '"arqul\"O'" a ;utc conceitual utI!iza 0 protorolo In­,. .".OI"IThlhco 3J"...."" em gesta~. pais os produtos em ques-

tao sO surgirao realmente em pubhco na dec.1d.1 seguinte_

Desde 0 final dos anos 1960, a emprcsa mM e .1 precur­

sora no domimo da imaterializ.a~ao:controlando na epoc.1

70% do mercado de computad~, a Internahonal Busi­ne:' Machine passa a se chamar IBM World Trode Corpo­ratiOn,. e de:scn\'oh.oe a pnmelfil estfillegia ddiberodamente

mU!hnaoonal. adaptada aC1Vlhza(.1o global que se aproxi­

~3. Em~resa fUgldl3, seu aparato produth,'o ehterolmenteilocahza\'~l,.como uma obra concelwal-.J' '. ,.

- . ,.." aparencla lSI-ca nao Importa mUllo, e que pede se matcri3lizar em qual-quer lugar Vma obra de Lawrence Weln"'~ pod

~" que e ser

II

I

p()S I'f:OOuQ.O

. d u nao c porqualquer urn, 050 reproduz 0 modoreahza aO ' ,. •

od ·0 de urna garrafa de Coca-Cola? A umca COlSilde pr U(;';1

porta ca f6rmula, e n.io 0 local oode ela se matena-que 1m 'hza nem a ldentidadc do executante.

Quanta 3 figura do saber anunciada pc/a 161-.,1, ela sc_n, Black Box (1963-1965) de Tony Smith. urn blo­('ncarn..

co opaco destinado a tratar urn real SOCial transformado

em bits, passando entre IIlplilS C OlltPlits. Em seu manual de

.1prescntal\:ao. cspeelfica-sc que a IBM 3750, 0 Big Brother

de silicio, permite que a empresa centralize, "'para os csl.1­

bclCClmentos numa mesilla rCgJao, todas as informa(Ocs

Indicando quem cntrou ou salU, em qU.11 C'drffdo da em­

prcsa, por qual porta c a que horas ..

o autor, ess~ entidade juridic.a

Um sJlat'l!ware nao tcm <:tutor, e sim nome propno, Aspr5ticas mUSlc<:tIS derivildas do 5.1mpk·amcnto tambemcontnbuir<:tm para deslrulr a figurn do aulor lut protlrQ,

atem de promo\oer sua dcsconstru~ao teOnea (a ·morlc doaulor"'. dlsSC("ada por Roland Barlhes e },.·lrchel Foucault)

Dlz Douglas Gordon:

Sou mUllo cehco quanta.1 no;;io d.. ilutoc;. c 6co (011'

ll"nlc l"m cstar em segundo plano nurn pro;cto como

24 Hour PsychD Hltchrock e 3 ligura doffilrlJ.nte D.1

m3mOl fonn.:l, em fi'Qlurt Film. dMdo a rcspons;\bih­dade com 0 l'l..bt'nt... d.... orqul'Slra Jilmes Conlon c rom

Page 52: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

10'

100NICOlAs flO

URJu.\Ul;lo MUska Bernard Hcrrmann I I A •

.. propnando.tl\.'Chos de filmes c music;). pod • nos de

cnamOS diZ\'rde fato, cnamos ready-mades tempo_ . que,

..,IS a partIr nil dObjCIOS rolidianos, e sim de ab",,,,,, q f 0 ,

tiC azcm po,de nossa cullum. Ie

o universo da Muska banalizou a explos:; d..0 0 proto­

colo da assinatura do autor, sobretudo com as white labels

esscs maxis de 4S roltll\Oes tfpicos da Cullura OJ, COm tira~gem limitada c em envelope an6nimo cScilp'ndo .

, ", aSSlm,ao controle da industria. 0 musico-programador, ao mu-

dar de nome a cada projeto, rcalizil 0 ideal do intclectual

co!etivo, e a maiaria dos DIs passui varios names de ilU­

tor. Mais do que uma pessoa fiska, urn nome agora dcsig­

na urn modo de aparecimento au de prodw;ao, umn hnha,

uma ficc;ao. £a mesma 16gica das rnultinadonais que aprc­

~ntam Iinhas de produtos como se fossem de crnpresasautonorn.)S confonno 'd . .- ... a na ureza e seus prOJctos, urn mu-s;co como Rom Size va; se c-hamar Br.'akbeat Era ou Re­

praze71t, assim como a Coca-Cola ou a VIvendi Universalpossuem urna duzia de '" d f 'rca.s I erentes, e 0 publiCO nemdcsconfia que Il!m a mcsma origem.

A ane dos anos 1980Cfltlcava as nOl;oes de autor ou

de assinalura, mas scm as abol' SIr. e comprar {' uma arte

a aSSLnalura do artista-corretor q", ', sc enCarregil das ven,

das mantem todo 0 seu valor; indus;\' .<

-. '(! <: a garanlla de umatransa~ao IUtr.lllva e bcm-fclta Aap ,

- rCS('nta"ao dos produ-

pOs_!'ROlJuc:A0

toS de consumo organrza-sc em figuras de estilo, e os as­

plradorcs de Jeff Koons distingucm-se ao primclro olhar

das pratelciras de Haim Steinbach, tal como duas rojas que

vendem os mesmos produtos se distingucm por seus mo­

dos cspedficos de disposi,iio dos artigos.

Entre os artistas que queslionaram dirctamcnte a no­

,50 de assinalura, estao Mike Bidlo, Elaine Sturiev.lllt e

Sherrie Levine, todos com trob.l1hos que se baseiam na

rcprodu,.lo de obras do passado, apesar de serem <lCSt'n­

volvidos com cstrah!gias multo divcrs.lS. Bidlo, ao expor a

cOpia idcntica de urn quadro de Warhol, d5 0 titulo Not DII­

c/lamp (Bicycle Wheel, 1913). Quando Sturtevant expoe a

copia de uma tela de Warhol, da mantcm 0 titulo origmal:

Dllc1lamp, coi" de elias/eM, 7967. J5 Levine suprime 0 titu­

lo para mencionar urna ddasagcm temporal: Ulllilled (Afler

Marcel Dllelsamp). Para esses Ires artistas, n30 S<' trala de

usar essas obras, mas de expo-las novarnenle, disp6-las

segundo princfpios pessoais, cada qual criando M uma no­

va idciaM para os objetos reproduzidos, segundo 0 prindpio

duchampiano do ready-lIlllde redproc() Mike Bidlo monta

um museu ideal, Elaine Sturtevant c1i1boril uma nilrraliva

reproduzindo obras que apresentam momentos de ruplura

na His!6na, ao passo que 0 Irabalho de copiSlJ de Sherrie

Levine, inspirJda nos IrJbalhos de Roland Darlhcs.. iltlrma

que a cultura c um palimpseslo infimto. Ao considerJr ca­da Iivro "feilo de CSC"rilas mlilliplas... saidas de varias cultu-

Page 53: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

102N1COI..AS~

ras c enlrclrodas no diiilogo. na par6dlOl no, COntCSlall.'io·'

B.lrlhes confe!"C ao l'SC'nlor urn csl'atulo de ,. •• fa ('lnSln, de

oper-.ldor Intertextual- 0 lugar t'inieo par<1 ande COm'crge

essa multlpliCldade de fontcs C0 cerebre do ]('ilo. •r pos-pro

dutar. No rom~ do serulo xx,. Pilul Vale')' ~ .r~nS<1va que

era possiw] escrever "urn,] hlSlona do cspfritocnquilnto

produz eu consomc a litt'ratura I.~l SCm que o. p'o .-- • nunCle

o nome de urn umeo escrilor'" Vista que as r'W><:cn...1'- 5 C'SCTc-

vcm lendo. (' produzem obms de arte enquanto obser"a_dorJs, 0 receptor toma-se a figur..l central da cultura _ emdetrimento do culto.:lo autor.

Desde os anos 1960, 3. n~o de ·obm aberta" (Urn.berto ~) opi>e-se 010 esquema dasslco de comumca,ao:ue supoe urn emlssar e urn receptor passivo. Todnvl:J, sc aobra aberta~. mle.ratlva au partiapntwa. como, por exem­

pto, urn happnllng de Allan Kaprow, atribUi uma rem am­

phtude ao rettptor, ela Ihe !'Cmute tao-somcnte reagir '10

lmpulso Imcial diJdo pdo cmlssor partielpar ecompletilr

o esquema proposto. Em outros termos, a "participar;5.o do

cspectador'" collSiste em rubncar 0 contrato cstctico que

o arusta se reserva 0 direlto de assmar ~ por isso que aobra aberla, para Pierre l' .. dcvy, am a continua prcsa no pa_radlgma hcrmcncutico·, VISto que 0 r«eptor C convidadoapen3s a "prcencher os brancos a --'h~__ • _ _ ' =--.... er entre os sentl-uu:. poss~'ris" Levy • _

• 0JXle ess.l~.loS<lft da intefilhvi'dade as lmensas posslbihdadcs oferl.ld.l~ ""I L.

~ r~ 0 C1uo:rcsp.lr;o:I. R.:>bf\d ","'11let. u h",w,.""., k l.r l4Io

IO"'-l&u.of\&l'.I~M_L&"'n\ri ....Sklr~~:- ~'l~"'" s.....1~ 1984, P. 66­1ft E4>t0t-. 20010 I a.. ....... 1m. ~101t1,,. foil

103

"0 ;lmbientc tccnocultural emergenle dl.'Spcrta 0 descnvol­

vimenl'O de novaS especies de arte, ignorando a scparar;5.o

enlrc emlssao c rccc~50, composlr;5o e mterprcta\ao"~.

Ec1etismo c p6s·produ{Jo

Com seu sistema muscol6gico c seus aparelhos hlst6­

nros. bern como com sua nccessidade de novos prodUIOS

e novos "amblentcs"', 0 mundo ocldenlal aCilbou por rceo­

nhccer como uma cullura em si ccrlas tradlr;Ot..'S que ate

entao se conslderava fadadas a des.apacccer no movimen­

to do modernlsmo mdustnal, ataboo por accll,u como <lr­

te aquila que em visto <lpcnas como folclore ou sc/VOIgcn<l

Lcmbremos que, pam urn cidad50 do corner;o desle sccu­

10, 01 hist6na dOl escullum as vezcs sallava da AntlgiiJdade

grega para 0 Renasarnento l' sc rcstnngla .1 names curo­

peus. Hail', ~ cullum global e uma gigantcsca anamncsc,

uma enorme ffilscigena{5.o, cujos principios de scl~,jo sao

muito dlffcels de identificar Como evitarque essa visiio Ie­

lesc6plca de culturas e estllos rcsuhe num edellsmo KItsch,num alexandrinismo cool que CXCIUI qu.:l!quer /ulgamento

cri"tico? Ceralmente, quallfica-se de edHlco urn gOSlo in­seguro ou scm cnlcrios, urn proccdimento inle!cctual.scm

coluna vcrtebr.ll. urn conjunlo de escolhas que niio sc fun­da em nenhuma VlsaO rocrcnte. A hnguag('m comum.,10

2 1""", 1..1'7. L 1~'riI't""'"" toU«l"'" 1\-.,., ~'" .RL~"""""f"" d~ ')f"'$J'"\.I DkouYnteJ"""" 1'191 ]A '~lt/rgbI<'Iotm'ni.. p ....""""vt..."",.,...,...... ,,<0<1_ ,"",Is P...,10 R.oo.u",",- SkI~ Looyol.o. 1991l.1

Page 54: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

101NlCOI.AS~

oonsidcrar pelorativo 0 lermo "cdellco'" na V\" d. . • r ildc Tilttf!.

ca a ldela de que eprL'<:ISO focar 0 rntc!\."'Ssc nu Im certa Ii

de artc, de Iilcralura ou de musica, do rontr.ino poas COlsas S('

perdcnam no btsclt, por 050 consegulT <lfirmar .Urna Iden

ltdc1dc JX'Ssool sufkll:~nlemenlc forte - ou, quando menos"r{'(Onhecivd. Esse carater vergonhoso do ('dellsmo <. .

I.: lnsc~

p.lr.h'e:l dOl ideia de que 0 mdlviduo cquivalc SOcialmcntc a

SUilS esrolhas cultu"ns;: sUpOc-se que eu sou 0 que leio, 0

que OU~, 0 que olho. Cad;;l urn de nos eidentificado COm

sua e5lrategta pessoal de consume d(' signos; 0 Iolsell fl,'­

presmb urn gostu de fora, uma esptX-IC de opiniiio difu­

sa e impessoal que substitui a cscolha mdividual. Assim,

nosso uRlvcrsosoclal em que 0 plor defeito ronsistina em

MO ser $1lUa\"el em tcrmos <!as normas eulturals, leva-nos

a nossa propna relfic'll;ao. St.."gundo essa visao da cullura,o que cada urn pode fazcr com 0 que consome nao tern im­

ponanaa alguma. om,. urn artlSt:l pode muito bern llSarum

folhetlm amencano lastlln.ivel para desenvolver urn proje-to lnteressa ti· I fn SS1mo. n ellzmente, C 0 Im-erso que ocorrecom maior freqiiencia.

o dlSCUrso antiecletKO tomou-se. portanto, urn dis­curso de ades5o, 0 dP<:Mn d

-I~ e uma cultul'il marcada combahus bern c1arO'lS, que deixam todas 3S suas produ';Oc5

~m organlz.ldO'ls. claramente identdidvelS sob tal ou ualratulo, smal de hga~ corn uma vlS3Q qcultura EI • ._. estereot:ipada da

- e esta Vlncu",do a consblul"30 do dd ~ lSCUrso mo-

ermsla, 1.11 como e aprescnlado .......los Ie, _".C r~ Xos kvncos de

lement Greenberg.. para quem a hlst6ria d _a artc conslllUl

105

uma narrativalinear, teleol6gica, dentro dOl qual cada obm

do pass.:ldo se define por sua rcla.;30 com as obras prcce­

denies e subscquenlcs. Segundo Greenberg. a hlSt6na dOl

arte modema consislc numa "'punfica.;ii.o'" progressiva dOl

pintura c da escu[tura Piet Mondrian explicJria, aSSlm,

que 0 neoplJstlcismo era a consequenCla logicJ - e a su­

prcssao - de lodJ a arte anteflor. Essa teona, que considera

a hlsl6na da arle como uma duplica.;.'io dJ pesqUISJ cientf­

fica, traz como cfcilo secund5rio a exclusiio dos parses n50

oc:idenlalS, considcrados "nao hisl6ncos'" ~ essa obscss.'io

pelo "'novo", criada poressa vlsiio dJ ilrtc histoncisia ettn­

tradJ no Ocidenle, que scrii 0 objClO de zombada de urn

dos grandes protagonistas do movimenlo Fluxus, George

Brecht, ao exphcar que emuito mids dlfidl ser 0 nono il fa­

zer alguma coisa do que ser 0 primeiro, polS agora euma

questao de aprender J olhJr bern.

Em Greenberg e na maioria das hist6rias dOl arte od­

dentill, il cultura eslii hgada aquelil monomaniil q\K' con$.!­

dera 0 edClismo (ou seja. qUillqu('r lentatlv,) de sair dessa

narr.ltiva purisla) urn pecado capllal. A Hisrona deve ler

urn sentido E esse scnlido dC\-e 5(' orgamzar numa narra­

tiva linear.Em HlstonSlltlOl1 all ill/Clition. Ie retour d·/I1l llIrl/X debat

IHls/onClZllpio Oil. II/tel1,iio; 0 n·tomo dc rl1ll vc/ho debilliL lex­to pubhcado em 1987, Y,-e-AI.l1n Bois faz uma analise cn­tiea da vcrsao p6s-modema do edetismo, l,ll como ele scm3nlfcslil nas oblOls d3S nco_expressionlstas europCias ouentre pinlorcs como Julian Schn3bcl c D.lVld Salle "E.ibcr-

Page 55: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

106 107

tados da hlst6ria, podcmos Teeoeref a cia como a uma cs­

pc..'cie de entrctcmmcnto, trata-Ia como urn espac;o de pum

Im..--sponsablhdade- a paThr de agora. luda tern p;.lra nOs a

mesma sigmfiC'J:(;'iio, 0 m~mo valor"',No rom~ dos anos 1980, a transvanguarda ddcn­

dia uma l6gK'il do bn<abraque. ao aplainar os valorcs cui·

tunus num3. 01"-~e de estilo intcrnacional que misturava

Chinco e BeU)'$, Pollock c Alberto 5.1vinio, numa tot<'ll ind,­

kre~a pclo ronteudo de seus trabalhos e por SUilS rcspec­m'3S~ hlstoocas. Nessa epoca.. Achille Bonito Olivaddendeu esses artlslas em nome de uma "idcologia dn!­

Cd do traidor",~ndo a qual 0 artista seria urn "nomadc"orrulando a\"(mlOlde entre todas as cpocas c cstilos, como

urn vagabundo Tev\r.1ndo os dep6sitos ptibhcos de lim p<l­fa pegaT alguma COI5a qualquer E ('X"ltamentc cstI.' 0 pro­blema. sob 0 pinccl de urn Jull."n Schnabel ou de urn EnzoCucchI. a hlSt6ria da ;ute aparecc como uma glganlesca Jala

de lao de fonnasocas. amputad3S de qualquer sigmficaS'aopropria em favor de urn culto ao artista - dcmiurgo·rccu­perador sob a figura tutelar de Picasso. Nesse V<:Isto em­

preendimento de t'elfica~So das formas, a metunorfose dosdeuses assemelhol-se a transfonnar;ao do museu imagtna.rio ern papel de parede. Uma tal olrtc da citar;ao. praUca­da pelos neofauvlstas, TC<onduz a HIst6ria a urn valor de

mercadoria. 'Estamos mUlto pr6xImos daquela "igualdade

de tudo. entre 0 bern C0 mal, 0 beto C0 fcio, 0 JnslgnificJn.

Ie e 0 camCleristico", que Flaulx-rl usou como lema de $eU

ulhmo romance, e cujo advcnlo dcspcrta\'a tanto rerelo em

seus $drrarlOs pollr BOlluard ct PtOlc1/ct_

Jcan-Franr;ois Lyolard nao suportava que confundls­

scm a rondi(iio p6s·modema, tal como elc ha"la leorizado,

rom a arte prclcnsamente pas-modermsl:! des anos ]980~

MistufOlT numa mesm3 superf'lCic os motlV05 noo ouhipcr-re.1hstas cos mot1\'Q5 abslfOllos, liricos ou OOncel­

tuals Cdlttr que tudo se equl\';lle ponJUC' rudo e born

pafOl consumir r J 0 qll(' csahel/ado pclo edctlsmosSo os h.1Dltos do leitor d(' 1'C\-1sta$,. as nt.'«'SSidadcs doCOI\SUmldor das lmagens Induslnais padrumLldas.. C0

cspfrito do cbenle dos slIpermercados'

Segundo Yvc-Alam Bois, apcnas a hlstonclZ<Jt;5.o das

Connas pode nos preservar do ClnLsmO e do nLvclamcnto

por baixo. Par.:l. L}'ol.:ircL 0 ec1etismo dCSVlil os .:artIstas daqucstao do ~inaprescnt.h·d~, que ele con$lder.1v.1 funda­mental par ser a g.:arantHi de uma "Iensao enlre 0 0110 deplnlar c a essenCla dol plnlura"; se os arllslas se cntrcgam.10 "cdellsmo do consumo", C'S1.io servmdo .105 mlcTCSSCSdo "mundo Iccnocicntffico e p6s·induslrial'" c faltando a

$CU dewr relire.

~ lt~,,·F,.~ohl.)'OI.ud lJpofIooo:>J"N urf"~ .u~ 'on... 1'."'"c.J,lh,I'u<lx ~<bllo,. 1m I" lOlL [O,w_.:.......qi.....:.:. II'" T......". eo.-u.o. 2....... UtNo4 Oom QIlhoDtt 19n1

Page 56: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

109lOS

Mas a Unlca contr<lposi,50 a esse I. ' cc etlsmoedetlsmo banahzador c consumidor ' eSSe

d'f' que prega uma .I cren,<1 OOlen em rclil(;50 aHist6na canula . :n­• \" d as lrnphca,0e5 po lhcas as obras, sera apcnas a visa d " .o anvlOlSt"a d

Greenberg ou uma vlS50 puramcntc !ll'to ' 'nClzanle da aIe? A cha\'(~ do d.lcma cncontra·sc nn IOsla' ,.• • ur<1,<lo de pro-cessos e prahC3s que nos permlte n.'SSJr dr- e uma cullurado consumo para umit CUllura da ativld d d 'a C, a passlVlda_de dlante do estoquc disponivel de signos para pr.itic d

respons3bthza,ao. Cada mdivfduo e amda ma'" dJS

'• • Col a aT-tlSta. vtsto que orcula entre os signos d"''''''~ -d. • ... ~ .. = conSl Cr.1T

respons.n-el pelas formJ.S e por seu funclOnamento social:o sUrglmenlo de um "consume cldad50" a'-'''<'' d_ _ ......... a cons-CJentlZ.1¢o ooIehva a respelto das condl\6es desumanas detrabalho na produc;ao de h~nis esportivos ou dos d- _tes «'O!6gkos ""gas

J>fO\'OCados por tal ou tal atividade indus-tnal f3z partedessa responsabtliza\5.o. 0 boicole 0 desvioa plrataria pe:rtence "rn a essa cultuTa da ativldade QuandoAllen Ruppersber •g COPI" nurna sene de telas 0 rrlmlo de~an Groy, de Oscar \\'tlde (197,0, ele adot.1 urn texto lite-rano e se con';ldera res • Ireescre...e_ ponsave par ele dlantc de todos: de

Quando louISe Lawler -gar de urn caVilla do expoe urn quadro vul-empreslado .....1a N~ntav ~rHenryStuliman e que Ihe foi

r~ nD '0'" RttCltlgAssccno moo de um fet d latum. colocando-oxc e spots lummosos cia olfirm

Ie 10005 que 0 reviV<lhsmo d.1 pmtura ' a peran­naquc1a P.v.ra (1978) , _que .1t1nge scu auge

~r~ um.1 converu;ao fifi'por tnlercs'ieS mercanlJ,. ar Clal msplrada

rOS I'RODUVW

Reescrevcr a modernidade ea tarefa hlstorica dcssc

corn«o do s6(u[0 XXI: niio partir novamcntc do zero nem

sc sen1ir sobrccarrcgado pclo acurnulo da Hlst6ria, mas in­

\'entanar c scleclOnar, utilizar e recarregar.Vamos dar urn saIto no tempo.;:1IC 2001: ascolagens do

artista dina marquesJakob Koldt ng reescrcwm os trabaIhos

de EI Lissitski ou de John Hearfield a parllr da realidade

SOCial contcmpor5nea Em seus videos ou fotos, Fatimah

Tuggar mescla os anunoos americanos dos anos 1950 com

cenasda VIda cotidiana africana, e Gumlla Khngberg war·gamZil os logos dos supermcrcados sueros em mandalas

emgmatlcas. Nils Norman e Sean Snyder montam c.1lo1lo­

gos de S1gnos urbanos e reescrevem a modermdade a p;:tr­

tir de sua vulganza,iio na hnguagcm arqUllclonica Essas

priiticas, cada qual asua maneira, afirmam a imporlanCla

de manter uma atividade diante da produ,ao ~ral Todosesses elementos sao utlhzaveis Nenhuma ImJgem publica

deve p;:tssar impune, em hip6tcse alguma: um logo perlen­

ce ao espa\O publ1co, pais esla nas ruas e consta nos ob/e­los que ulthUlmos. Esla em cursa uma guerra Juridica quecoloca os arltstas na hnha de frente. n('nhum slgno dC'\'C fi­

car Inerle, nenhuma Imagem deve Sf:' manler inloGkd Aarte reprcsenta um contrapoder Nao que ol larefa dos ar­tlstaS seja denunclar, mllitar ou relviOdicar: loeta artc Cen·gapda, qualquer que 5ep sua natureza ou finahdade. HOJcexislc um cmbalc cnlre as reprcscnlil~oesque cn\ulw aarte e a imagcm ofielal da reahdadc, difundida pdo dls­curso publicit5no, Iransmllida pclos mcios de comunica­~;:jo, orgamzada por urn;! idrologla 1./lm/lgM do ronsumo c

Page 57: Pós Produção - Como a Arte Reprograma o Mundo Contemporâneo - Nicolas Bourriaud

da concofrenda SOCial Em nossa vida cOlldiana, COnvivc_mos rom~, rcprcsenta\Oes e fannas que alimentarn

urn tmJgm.lno colchvo cujos conteudos sao ditados pdopoder. A 3rl(' aprcsenlll-nOS contr.l-lmagcns ?ianle dessaabstr.t('50 eoonomlca que dcsrcahu a ,..dol rohdlanil. armaabsoluta do podcr tccnomcrcantiL os arllslas reall'-am as

formas,. habltando-as, piratl."ando as propnl.'dades pnvadaseosropyngllts. 3S m.ll'cas c os prodUIOS, as (ormas museifi­cadas C.1$ asstnaturas de Jutor

Se essas "recargas" de farmas. CSSJ.S sel~ e reto­madas ho,e n.'Presentam uma questao importantC'. cpor­que elas ronvtdam a considerar 3 cullur;) mundial como

uma ('3uta de fcrramentls, como urn csPJ~ namlivoaberto. C 050 como urn relata uni'voro c uma gama de pro­dutos 3C'olb:Jdos.

Em vez de se 3Joelhar diantc das obms do passado,usa-las.

Como TIfiwamp. Lnscrevendo seu trab3.lho numa ar­qUllctura de Philip Johnson, como Pierre Huyghe refil­

m'lndo Pasohnl, pensar que as obms propOcm cnredos eque a artc e uma forma de usa do mundo, uma negod.u;5oinfimta entre pontos de VISta. Cabe a nOs, espectadorcs, ("C­

..'elar essas relac;Qes. Cabe a nOs Julgar as ohms de artc em

fu~50das rela~ que elas cnam dcntro do contexto es­pecifico em que se debatem. Pois a arte - e afinal nao vcJOOUtTa definu;ao que englobe todas as dcmalS _.! uma allVi­dade que conslSte em produzlr rela«les com 0 mundo, emmatenahzar de Um3 au outra forma suas rc1a«lcs com 0l..-mpo e 0 e:spa'>O.

110 NICOlAS IlOURRIAl/l)

NicolilS Bourriaud (Fr.Jnc;.1,1965). Escrilor, critico de arll',cUfador de vSrias cxposi­c;ocs e fundador da revisl.1Documents SlIr ['Art, C aulorde tcorias sabre a artc con­tcmpor5nea, explidl.1d'lS emseus tftulos: ForUles If/! uie ­L'arl moden/I? et ['illl'l?1ItiOIl dt'

soi c EsUtka rdadol/al, larn­bern publicado pela Martins.