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    Mrc ia Chuva

    Por uma histria da noo de

    patrimnio cultural no Brasil

    (...) Esses homens! Todos puxavam o mundo

    para si, para concertar o consertado. Mas cada um

    s v e entende a coisa dum seu modo.

    Guimares Rosa. Grande serto veredas.

    Neste artigo, proponho uma viagem

    prospectiva sobre a possibilidade de pensarnovos paradigmas para a preservao dopatrimnio cultural, que efetivamenteoperem com uma noo de patrimniocultural integradora. Para isso, precisocomear por uma trilha retrospectiva, a fimde compreender os motivos e os sentidosda diviso, nas aes atuais de preservaono Brasil, entre a materialidade e a

    imaterialidade do patrimnio cultural.A noo de patrimnio cultural

    categoria-chave para a orientao daspolticas pblicas de preservao cultural historicamente constituda e tem setransformado no tempo. No Brasil, assingularidades da trajetria de formaodo campo de patrimnio levaram a umaconfigurao dicotmica dessa categoria,

    dividida entre material e imaterial. No h,hoje, vozes dissonantes em torno do consensode que se trata de uma falsa diviso, numaaparente unanimidade sobre o assunto.No entanto, na medida em que a referidadiviso tem levado reestruturao dasinstituies de patrimnio que passam a se

    estruturar a partir dessa distino da naturezados objetos, organizando-se em setoresde patrimnio material e imaterial bemcomo proposio de projetos e aes que areforam, apresento algumas consideraessobre a histria dessa diviso, para estimular

    o desenvolvimento e a proposio de projetosintegrados e integradores da noo depatrimnio cultural.1Ao focar especialmentedeterminados aspectos que se consagraramem verses oficiais da histria da preservaodo patrimnio cultural no Brasil, esperolevantar algumas pistas que possam nos levar aoutras leituras possveis e ao aprofundamentodas pesquisas sobre o assunto.

    Em 1980, a primeira verso oficial sobrea histria da preservao do patrimniocultural no Brasil foi publicada pela Secretariado Patrimnio Histrico e ArtsticoNacional e Fundao Nacional Pr-Memria(Sphan/PrMemria), intituladaProteo erevitalizao do patrimnio cultural no Brasil:

    uma trajetria. Nessa obra, delineava-seuma trajetria das aes de preservao

    1.Alguns poucos projetos foram desenvolvidos no Iphan,at o momento, com essa preocupao desde a publicaodo decreto n 3.551/2000, que institui o Registro de BensCulturais de Natureza Imaterial. Dentre eles, podemos citar oprojeto Rotas da Alforria: trajetria das populaes afrodescendentesna regio de Cachoeira (Iphan, 2008), desenvolvido na Copedoc/Iphan e o projeto desenvolvido pela Superintendncia Regionaldo Iphan em So Paulo sobre o Bairro do Bom Retiro na capitalpaulistana (Scifoni, 2007).

    Procisso da Glria nFesta da Boa Morte, Cachoeira (BA) evideo carter indivisvel dpatrimnio culturalFoto: Renata Gonalves, Projeto Rotas da AlforriaCopedoc/Iphan

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    que remontava ao sculo XVIII, ao referir-se s intenes do ento governador dePernambuco d. Lus Pereira Freire deAndrade2de preservar construes deixadaspelos holandeses no Recife. Esta versooficial tambm introduziu uma periodizao

    que se tornou consagrada, organizando emduas grandes fases a trajetria institucional:a fase heroicae a fase moderna.3A partir dela,tambm, foi disseminada a ideia de que oanteprojeto apresentado, em 1936, por Mriode Andrade a pedido do ento ministro daEducao e Sade, Gustavo Capanema, paraa organizao de um servio voltado para a

    preservao do patrimnio, no qual propea criao do Span (Servio do PatrimnioArtstico Nacional), havia sido matricialpara a consolidao do texto do decreto-lei 25/1937, proposto no ano seguinte porRodrigo Melo Franco de Andrade.

    No entanto, no depoimento da muselogaLygia Martins Costa, que atuou no Iphan apartir dos anos 50, esse papel atribudo a

    Mrio de Andrade fica bastante relativizado:

    (...) a minha gerao no v o Mrio de

    Andrade como a gerao de vocs. Quando entrei

    para o Patrimnio, no falvamos do Mrio de

    Andrade como autor do projeto de criao do

    Sphan, pois o plano que ele fez, em 1936, a

    pedido do ministro Capanema, no foi realmente

    signicativo para o Patrimnio. (...) No se trata

    de um projeto do Mrio de Andrade. As ideias

    2.A referida publicao reproduz trecho da car ta encaminhadapelo governador de Pernambuco ao ento vice-rei do Estado doBrasil, d. Andr de Melo e Castro, conde de Galveias, datada de5 de abril de 1742, sem indicao da localizao da fonte.3.Para uma crtica a essa periodizao, reproduzidaamplamente na literatura sobre o tema, bem como referidapublicao de 1980, ver Chuva (2009).

    do Mrio de Andrade sobre arte popular, sobre

    antropologia foram um elemento enriquecedor para

    o projeto. Mas tudo o mais veio do Dr. Rodrigo e

    da equipe dele (Prudente de Moraes Neto e Afonso

    Arinos trabalharam com ele antes da formao

    da equipe de arquitetos). Grande contribuio de

    Mrio de Andrade para o patrimnio foi ter-nos

    trazido o Lus Saia (...)4

    Desse modo, a insistente recorrncia figura de Mrio de Andrade como fundadordas prticas de preservao cultural no Brasilpareceu estratgica: ela empresta forte cargasimblica e concede legitimidade a todos

    que pleiteiam parte de sua herana, apesarda distncia j constituda no tempo, demais de 50 anos da sua morte. No entanto,essa memria histrica5tem obscurecido astenses que historicamente caracterizaram ocampo do patrimnio cultural. Sem dvida,a verso oficial de 1980 foi produzida numcerto contexto de lutas, as quais devemser compreendidas, de modo a ultrapassar

    o anacronismo que, para demonstrar apertinncia da filiao com Mrio de Andradena constituio dessa trajetria, forjou umalinha de continuidade histrica, obscurecendoa complexidade e os antagonismos presentes

    4. Entrevista publicada na Revista do Patrimnio Histricoe Artstico Nacional, n 31/2005. Lus Saia, formadoem engenharia e arquitetura pela Escola Politcnica daUniversidade de So Paulo, integrou a equipe de Mrio

    de Andrade no Departamento de Cultura de So Paulo,participando das viagens para realizao de inventrioetnogrfico de manifestaes culturais ao Nordeste brasileiro.Em seguida, foi indicado por Mrio de Andrade para ocupar achefia da Representao Regional do Sphan em So Paulo.5.Na concepo aqui adotada, a memria histrica umaperiodizao construda a posterioridos fatos em anlise, queleva ao ocultamento de disputas, dos diferentes projetos e dasincertezas do contexto histrico analisado, sendo que a prpriaproduo historiogrfica aceita tais periodizaes sem crtica(ver Vesentini, 1997).

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    naquele mbito poltico. Embora sejainegvel a influncia do poeta para aquelagerao de intelectuais, necessrio chamara ateno para os danos tico-polticoscausados pela adoo de uma viso histricaessencialmente cronolgica e linear, bem

    como suas consequncias para as formulaesdas polticas pblicas por ela subsidiadas.

    Um ano antes de sua morte, em 1944,Mrio de Andrade lembrava a Rodrigo M.F. de Andrade seu orgulho de ser brasileiro.6E mais, sua honra em fazer parte daquelesprivilegiados sujeitos histricos que, comoagentes do poder pblico, inventaram o

    Brasil. Minha inteno, aqui, no realizarmais um estudo a respeito de Mrio deAndrade, o que h em profuso, comenfoques e perspectivas as mais variadas.Mas, antes, colocar em evidncia aspectosdas polticas pblicas para o campo dopatrimnio cultural no Brasil a partir daconstruo histrica da noo de patrimnio,distanciando-se da concepo de uma linha

    de continuidade em que bens culturais dediferentes naturezas e tipos foram sendoagregados a essa categoria, segundo a qualpraticamente tudo pode ser patrimonializado.Quero sugerir a complexidade desseprocesso, fortemente inserido no campopoltico e tambm acadmico-cientfico,considerando que a partir dos anos 30,enquanto as aes de preservao do

    patrimnio eram introduzidas no mbitodas polticas pblicas, concomitantemente,ia se constituindo uma srie de novoscampos de conhecimento, fruto de divisese especializaes e de lutas por autonomia,

    6.Carta de 10/2/44, reproduzida em Andrade (1981:187).

    com a criao das primeiras universidadesbrasileiras, como a Universidade de So Paulo(USP), em So Paulo, ou a Universidade doDistrito Federal (UDF), no Rio de Janeiro.

    Nesse percurso de construo, hdiferentes concepes de patrimnio em

    jogo, em campos de ao que se cruzam(ou no) na trajetria histrico-polticadessas concepes, com a demarcao dequestes e a constituio de temas tornadosclssicos em cada um desses campos, ata estabilizao de nichos e a consolidaode vises hegemnicas, inclusive com aseparao de categorias por cada um deles.

    Quero dizer com isso que, embora diferentesgrupos estivessem preocupados em conhecere preservar a cultura brasileira e em construiruma identidade nacional (Vilhena, 1997;Chuva, 2009; Bomeny, 1994), as relaesentre eles apontaram para tenses e disputasque, ao longo do tempo, definiriam as noesapropriadas pelas reas de conhecimento quese estruturavam, tornando-se aparentemente

    nativas a tais campos. Bom exemplo so asassociaes correntes feitas entre patrimniohistrico e artstico e arquitetura, culturapopular e antropologia.

    A h e r a n a d e M r i o d e

    A n d r a d e : t r a j e t r i a s

    b i f u r c a d a s

    Figura mpar nos campos intelectuale literrio brasileiros, Mrio de Andradeintroduziu ideias fecundas acerca da culturabrasileira e das polticas pblicas para a suapreservao, as quais se tornaram balizasque inspiraram o pensamento brasileiro em

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    certos domnios da cultura tanto aquele queconstitui o patrimnio histrico e artsticonacional com bens materiais (arquitetnicos;objetos de arte; conjuntos urbanos), quantoaquele que se interessava pelas prticas

    cotidianas ou extraordinrias, celebraes eritos, manifestaes de arte. Seu idealismo,sua produo intelectual e sua capacidade deexecuo apesar da morte prematura, em1945 legaram aos brasileiros um vastssimoterritrio semeado por seu pensamentocriativo, cheio de paixo e vivacidade, queno envelheceu com o tempo.

    sabido que, nos anos 30, Mrio

    de Andrade encarnou o papel de agentedo poder pblico para a promoo dacultura brasileira, lanando tanto as basespara a ao do Estado na preservao dopatrimnio artstico no Brasil, quanto parao conhecimento do folclore brasileiro quedenominava tambm de cultura popular,

    no julgando pertinente essa distino.Suas viagens em misso ao Nordeste,seguidas da ao no Departamento deCultura da Prefeitura de So Paulo, foramas suas principais fontes de experincia

    para a construo de uma metodologia deconhecimento da cultura brasileira de cartercientco,7que subsidiaria a criao, em 1947,da Comisso Nacional de Folclore,8e paraa formulao das suas concepes de arte,cultura e patrimnio, que fundamentariam oanteprojetopara a criao do Span.9

    7.De acordo com Vilhena (1997), o carter cientco termo

    adotado na poca era considerado necessrio s novaspesquisas para se distinguirem dos textos literrios quepredominavam nos estudos folclricos at ento.8.A Comisso Nacional de Folclore (CNF) foi criada em1947, sendo uma das comisses temticas do InstitutoBrasileiro de Educao, Cincia e Cultura (IBECC),organizada no Ministrio das Relaes Exteriores (MRE) paraser representante brasileira na Unesco (Cf. Vilhena, 1997).9.Sobre o sentido de arte pensado por Mrio de Andradecomo categoria mais abrangente ao propor a criao do Span,ver Chagas (2003).

    Mrio de Andrade tomando banho de rio na Praia do Chapu Virado, em Belm (PA), 1927.Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Rio de Janeiro

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    Mas a diversidade de posies dosvrios intelectuais que fizeram parte daadministrao do governo Vargas no podeser ignorada e talvez seja possvel afirmar,conforme Silvana Rubino (2002:153), que,

    no mbito do patrimnio cultural, nohouve o monoplio dos modernistas. Talveztenha sido deles, contudo, o monoplioda verso dos fatos, das publicaes,da ocupao do espao intelectual. Asdiferenas presentes na gnese dessaspolticas perduraram e o que no coubeno Sphan virou, dcadas depois, Funarte(Rubino, 2002:152).

    Mrio de Andrade apontava para umaconcepo integral da cultura, na qualconcebia patrimnio em todas as vertentese naturezas, sendo que o Estado deveriaestar pronto para uma atuao integradora.Embora originados da mesma matrizandradiana e no mesmo contexto poltico-

    cultural brasileiro de um nacionalismo nomeramente retrico, mas constitudo empoltica de Estado pelo governo Vargas oscampos do patrimnio e do folclore tiveramsuas trajetrias apartadas na origem.

    Ao que tudo indica, o (re)encontrodesses dois caminhos vai se dar somentena atualidade, incorporados, inclusive, emtermos institucionais dentro do Iphan, frutodo surpreendente gigantismo alcanado pelocampo do patrimnio cultural brasileiro.

    A expanso desse campo tem abarcadoum universo muito amplo de agentessociais, de bens e prticas culturais passveis

    de se tornarem patrimnio, bem comopromovido uma srie de consequnciassociais, polticas e administrativas relativas sua gesto, tanto relacionada aos bens denatureza material, com sua proteo, quantoaos bens de natureza imaterial, com aspolticas de salvaguarda. Esse campo tem se

    Feira em Ferro Veloso (AL), registrada por Mrio de Andrade.Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Rio de Janeiro

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    tornado, progressivamente, multidisciplinar,o que pode ampliar as possibilidades dedilogo em busca de novos consensos. Soboutro ngulo, essa multidisciplinaridadetem colocado em evidncia tambm umcampo de batalhas, onde diversas reas de

    conhecimento encontram-se em disputapelo predomnio no campo do patrimnio.Com vistas reserva de mercado detrabalho ou prestgio, essas disputas podemlevar at mesmo a prticas corporativas oua um isolacionismo prejudicial finalidadeda preservao do patrimnio cultural.Nesse caso, o consenso em torno da

    multidisciplinaridade que caracteriza ocampo todos reconhecem que nenhumarea de conhecimento capaz de darconta de todos os aspectos que envolvemo trabalho com o patrimnio cultural dificulta um olhar mais atento para as lutasde representao travadas entre diferentessetores e reas, em busca desse domnio.

    Na atualidade, a rea do patrimnio

    engloba um conjunto significativo de questesde ordem poltica, de relaes de poder,de campos de fora e mbitos do social.Anteriormente alheio a essa prtica, hoje opatrimnio toma em considerao questesrelativas propriedade intelectual, ao meioambiente, aos direitos culturais, aos direitosdifusos, ao direito autoral, ao impacto culturalcausados pelos grandes empreendimentos,

    alm dos temas j tradicionais, como aquelesque envolvem questes de urbanismo euso do solo, expanses urbanas sobre reashistricas decadentes, questo habitacionalem reas histricas urbanas e, principalmente,os limites que o tombamento impe propriedade privada.

    A noo de patrimnio cultural tornou-se malevel e ampla, capaz de agregarvalores, vises de mundo e aes polticasnem sempre harmoniosas ou coerentesentre si. Por isso, refletir sobre a heranaintelectual de Mrio de Andrade, partilhadahoje por grupos com diferentes vises demundo, coloca especialmente em focoo prestgio que ele empresta para a aopoltica, em que suas ideias so atualizadase apropriadas em contextos especficose reconfiguradas em novas criaes. Namaioria das introdues de artigos ouapresentaes de publicaes que abordam

    a histria da constituio do campo dopatrimnio imaterial no Brasil, no somenteaquelas de carter oficial, mas tambmtrabalhos de vis mais acadmico,10Mriode Andrade apresentado como mentor efundador de um novo tempo. Inicialmente,ento, gostaramos de analisar como se deua diviso entre esses dois campos de ao daspolticas pblicas: o do patrimnio e o do

    folclore, que estavam unidos no pensamentode Mrio de Andrade.

    O m b i t o d o p a t r i m n i o

    Para Antnio Gilberto Ramos Nogueira(2005:50), a experincia e o aprendizado

    10. Isso pode ser verificado na maioria dos artigos que tratam doassunto. A reproduo dessa ideia pode ser vista em publicaesrecentes (Cf. Chagas e Abreu, 2003; Lima F., Eckert e Beltro,2007); na Revista do Patrimnio Histrico e Artstico Nacionaln32/2006; na Revista Tempo Brasileiron 147, 2001. E tambm, emdiversos textos oficiais, tais como os encontrados em Iphan (2003e 2006), alm da publicao disseminadora dessa ideia, tratadaanteriormente (Iphan, 1980). O mesmo se repete na exposiode motivos para o encaminhamento do decreto n 3.551/2000, jcitado, como ser visto adiante.

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    das viagens realizadas por Mrio de Andrademostram que, em sua tentativa de construoda nao, o passado seria uma matria-primaa ser resgatada como referencial. No umpassado que no existe mais, mas justamente aexistncia, nesse imenso Brasil, de diferentes

    temporalidades, encontradas por ele em suasmisses ao interior do Brasil, distante de SoPaulo ou das grandes cidades; distante daselites e da sua erudio europeia e bastanteprximo do popular, encontrado no prpriotecido social, a ser apreendido por meio doque vem do olhar, do escutar, do saborear,do conversar. Nicolau Sevcenko (1992)

    analisa de modo brilhante o surgimento domoderno como um valor positivo, durante osanos 20, e a sua progressiva vinculao coma ideia do popular associada quilo que autenticamente brasileiro. Sobre o popular,lugar da redescoberta do Brasil, foi feitoimenso esforo de pesquisa e se construiu,pela primeira vez, segundo o autor, o vnculoentre distino social, sofisticao, passado

    colonial e raiz popular.11

    No curto perodo de 1936 a 1938, Mriode Andrade organizou a Misso de PesquisasFolclricas, no Departamento de Cultura domunicpio de So Paulo; busca etnogrficaem que realizou seu maior investimentono sentido de um inventrio da culturabrasileira. Mrio de Andrade estruturou, apartir do poder poltico local, um projeto

    de conhecimento e construo da naobrasileira. Nesse projeto, tinha a perspectiva

    11. Para Sevcenko (1992), a pea de Afonso Arinos O contratadorde diamantes, encenada em 1919 em So Paulo, foi matricial nesseprocesso. Ver tambm, o estudo desenvolvido por Carla Costa Dias(2005) sobre a formao da coleo regional do Museu Nacionalpara uma anlise mais detida sobre as noes de popular, osertanejo e o folclore em construo naquele contexto histrico.

    de um tratamento integral da cultura cujatrilha seria traada na experincia, nametodologia de inventrio, nas tcnicas deregistro, na noo de arte com que trabalhava.

    Com o desmonte do Departamentoe o consequente afastamento de Mrio de

    Andrade, o recm-criado rgo federal depatrimnio o Sphan no tomou parasi aquelas funes de carter nacional,curiosamente exercidas por um departamentomunicipal, ainda que Mrio de Andradetenha tentado, sem sucesso, que o Ministrioda Educao e Sade as incorporasse.12Naconjuntura poltica do Estado Novo, foi, sem

    dvida, graas forte amizade entre Mrio deAndrade e Rodrigo Melo Franco de Andradeque o primeiro conseguiu, depois de algunsanos no Rio de Janeiro, ser abrigado no Sphancomo funcionrio da Representao Regionaldo Servio em So Paulo, sob a direode seu amigo e discpulo nas misses depesquisa folclrica, o arquiteto Lus Saia(Chuva, 2009).

    At aquele momento, poder-se-iaimaginar a existncia de um pensamentointegrado em torno de um mesmo projeto,tendo em conta a apresentao de RodrigoMelo Franco de Andrade (1937:4) noprimeiro nmero da Revista do Sphan, aolamentar que o presente nmero desde logose ressente de grandes falhas, versando quasetodo sobre monumentos arquitetnicos,

    como se o patrimnio histrico e artsticonacional consistisse principalmente nesses.

    12. Lus Rodolfo Vilhena (1997) e Antnio Gilberto RamosNogueira (2005) advertem que Mrio de Andrade insistiu,sem sucesso, com o ministro Gustavo Capanema para queincorporasse ao Ministrio da Educao e Sade as funes atento exercidas pelo Departamento de So Paulo.

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    Contudo, o entendimento de patrimniocultural de Mrio de Andrade era bastantediferente, e at mesmo antagnico, doentendimento do grupo de intelectuaisintegrado rede de Capanema e RodrigoMelo Franco de Andrade e que se tornou

    hegemnico no Sphan. Para Mrio deAndrade, a cultura brasileira deveria serapreendida como uma totalidade coesa,ainda que constituda pela mais ampladiversidade de prticas possvel. Umaunidade cultural amalgamada pela diferena,que escapava, nessa perspectiva, a qualquertipo de regionalismo (Andrade, 1981).

    Assim, o folclore, as tradies popularesdas vrias localidades brasileiras foram porele valorizadas como partes constitutivasda prpria nacionalidade. Para Mrio deAndrade, a identidade nacional seria umasntese de diferentes costumes e formas deexpresso, resultado de suas preocupaesacerca do folclore.13Ao elaborar umapoltica de preservao em seu anteprojeto,

    ela enfatiza sua perspectiva etnogrfica,especialmente o que chamava de etnografiapopular: o povo brasileiro em seus costumese usanas e tradies folclricas, pertencendo prpria vida imediata, ativa e intrnseca doBrasil.14Percebe-se, portanto, uma inflexopoltica e tambm conceitual no Sphan emrelao ao projeto de Mrio de Andradenaquele momento (Nogueira).

    Em relao ao conjunto de prticasimplementadas pelo Sphan e consagradas

    13.Seu trabalho serviria de inspirao ao que posteriormentefoi realizado pela Comisso Nacional do Folclore CNF. Para oassunto ver Vilhena (1997).14.Carta de Mrio de Andrade a Rodrigo M. F. de Andraade,em 29/7/1936, publicada em Andrade (1981:61).

    pelo instituto do tombamento nos seusprimeiros anos de existncia, pode-se afirmarque a arte popular, ainda que enunciada,15no foi incorporada s prticas de proteonem ao rol de bens culturais passveis dese tornarem patrimnio. frente desse

    processo, vimos os arquitetos a um s tempose profissionalizarem, com autonomia emrelao formao em engenharia e belas-artes, e dominarem o campo do patrimniocomo especialistas, sob a liderana intelectualdo arquiteto Lucio Costa (Chuva, 2009).Essa vertente esteve assentada nas tesessobre as trs raas formadoras da sociedade

    brasileira, graas noo de civilizaomaterial introduzida por Afonso Arinosde Melo Franco, que percebia no brancoportugus a maior influncia, em razo damaior perenidade dos materiais utilizadosnos processos construtivos, e na presenado negro africano e do ndio autctoneinfluncias de menor envergadura.16Essaperspectiva justificava o predomnio da

    proteo de bens materiais, especialmentearquitetnicos, relativos ao perodo colonial.

    15.Conforme apontado em Chuva (2009), Rodrigo M.F. de Andrade delimitou, como objetivo da linha editorialdo Servio, as questes gerais e especficas da formao edesenvolvimento das artes plsticas no Brasil, assim comoos estudos sobre materiais de nossa arqueologia, de nossaetnografia, de nossa arte popular, de nossas artes aplicadase dos monumentos vinculados nossa histria (Andrade,1937). Alm disso, vale lembrar que um dos quatro livros

    do Tombo criados pelo decreto-lei n. 25/1937, destinado sartes aplicadas, o Livro de Tombo Arqueolgico, Etnogrficoe Paisagstico, foi inaugurado com a inscrio dos objetosde magia negra apreendidos pela polcia na poca (Maggie,1992; Silva, 2002).16.Afonso Arinos de Melo Franco, primo de Rodrigo MeloFranco de Andrade, ministrou para os funcionrios do Sphanum curso de formao sobre a civilizao material brasileira,que se tornou um livro intitulado Desenvolvimento da civilizaomaterial no Brasil (Franco, 1944). Para o assunto, ver Chuva(2009) e Teixeira (2009).

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    Tombamentos exemplares realizados nos anos iniciais do Iphan: acidade de Ouro Preto como referncia mxima do barroco brasileiro,tombada pelo Sphan em 1938 e a Igreja So Francisco de Assis,na Pampulha em Belo Horizonte (MG), tombada pelo Iphan em1948, projeto de Oscar Niemeyer, como exemplar representativo daarquitetura moderna brasileira, considerada legtima herdeira daarquitetura colonial.Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Rio de Janeiro

    O Span de Mrio de Andrade no tevelugar naquele contexto, e a proposta de uma

    etnografia da cultura uma metodologia deinventrio e conhecimento para documentartudo aquilo que fosse compreendido comopatrimnio cultural no ir se efetivar dentrodo Sphan, mas somente em outra agncia doEstado, posteriormente, tendo sido apartadado ento campo do patrimnio cultural.

    O m b i t o d o f o l c l o r e

    Os estudos de Mrio de Andradeapontavam para registros etnogrficoscondizentes com a produo intelectual

    de sua poca, que experimentava suaprimeira fase de institucionalizao com acriao da USP e a presena de uma sriede intelectuais estrangeiros e brasileiros.17Segundo Vilhena (1997), contudo, namedida em que as cincias sociais seinstitucionalizavam no Brasil, dava-se,progressivamente um afastamento datemtica folclorista no campo acadmico.

    Na administrao pblica, odistanciamento entre as vertentes dopatrimnio e do folclore tornou-se evidentecom a criao da Comisso Nacional doFolclore, em 1947, no Ministrio dasRelaes Exteriores (MRE), por umgrupo de intelectuais que almejava oreconhecimento do folclore como sabercientfico. Eles ramificaram o movimento

    em comisses estaduais, promoveramcongressos e viabilizaram, em 1958, acriao da Campanha de Defesa do FolcloreBrasileiro (CDFB), vinculada ao Ministrioda Educao e Cultura (MEC), criado em1953, por Getlio Vargas, ao qual ficouvinculada tambm a Dphan (Diretoria doPatrimnio Histrico e Artstico Nacional,antigo Sphan). Segundo Vilhena (1997), aCDFB foi o momento auge dos estudos dofolclore brasileiro, pelo menos at 1964,

    17. H muitos estudos sobre o assunto, que destacam opapel de Dina Lvi-Strauss, esposa de Claude Lvi-Strauss,na formao de etnlogos, dentre eles o prprio Mrio deAndrade, com quem teve contato estreito (Vilhena, 1997;Peixoto, 1998, dentre outros).

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    quando nova inflexo vai ocorrer em funodo regime militar instalado.

    Manteve-se, naquele contexto, umasignificativa distncia entre os grupos deintelectuais envolvidos com as duas esferas deao do MEC. No campo do folclore, nomes

    como Ceclia Meirelles e Renato Almeidamarcaram a trajetria intelectual desse campo.Como se pode verificar, no havia representantesda Dphan nas reunies da Comisso Nacional doFolclore, nem representantes desta no ConselhoConsultivo da Dphan.

    Ao estudar as redes de folcloristasconectados Comisso, Vilhena (1997) afirma

    que a formao da nao era um problemafundamental tambm daqueles intelectuais queapostaram em um modelo de institucionalizaovinculado estreitamente ao Estado e elegeramtemas de investigao presentes, sob outrongulo, nos trabalhos de sociologia e nosestudos de comunidades. Com estratgiasde poder semelhantes quelas adotadas pelaDphan, Renato Almeida preocupava-se em

    envolver colaboradores locais numa rede desolidariedade em torno da causa.

    Sob a gide dos relatos de fundao doBrasil a partir dos trs grupos formadores

    (o branco portugus, o negro, o ndio),buscava-se um objeto que sintetizasse essastrs matrizes. Ao mesmo tempo em queempreendiam estudos do folclore, cujostemas privilegiados variaram da poesiapopular para a msica, para os folguedos,

    empreendiam aes para a disseminao dofolclore nas escolas.

    Essa rede de intelectuais, que concebeuum projeto e assumiu uma misso voltadapara a descoberta da originalidade dacultura mestia, preocupava-se tambmcom o destino das tradies nascentes,em funo do desenvolvimento econmico

    descontrolado em um pas subdesenvolvido.Como veremos a seguir, nos anos 70,novas divises em relao concepointegradora de Mrio de Andrade acercade patrimnio e cultura foram colocadasem jogo, em funo de uma srie defenmenos histricos que se relacionamno tanto com a constituio do campo dascincias sociais, mas principalmente com as

    tomadas de posio dos agentes do poderinstitucionalizado naquele momento, inclusiveem funo das viradas polticas sofridas noBrasil, com o golpe militar em 1964.

    sta da cidade de OlindaE), includa na Lista detrimnio Mundial da

    nesco em 1982. Foto: Pedrobo, 1981. Acervo: Arquivontral do Iphan, seo RioJaneiro

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    Po l t i c a c u l t u r a l g l o b a l

    Em termos internacionais, a inserodo campo do patrimnio cultural em escalaglobal, que vinha se constituindo desde o finalda 2 Guerra Mundial, alcanou seu pice com

    a aprovao final da Conveno do PatrimnioMundial Cultural e Natural, de 1972, quevinha sendo desenhada desde a dcada anterior(Leal, 2008), na Assemblia Geral da Unesco.

    Para Eric Hobsbawm (1993), as dcadasde 1970 e 1980, por ele denominados de asdcadas de crise do capitalismo, marcaramum novo tipo de concorrncia em termos

    globais. Associado a outros fatores estruturais,o advento da tecnologia promoveu um severoenfraquecimento dos Estados e a expansofantstica do poder transnacional do capital aignorar as fronteiras nacionais. Novos valores eclivagens foram sendo constitudos a partir dessecontexto, e esmaeceram a ideia de nao emfavor do fortalecimento de recortes identitriosde outras naturezas, como por exemplo,

    religiosa, tnica, ideolgica, de gnero etc.Novas concorrncias se instalaram, portanto, e aidentidade nacional foi reconfigurada, sofrendotransformaes significativas. nessa conjunturaque ocorre a ampliao da noo de patrimniocultural, em que novos objetos, bens e prticaspassam a ser includos ou a concorrer para setornarem patrimnio cultural. De um modogeral, tal ampliao tem sido explicada em

    funo da guinada antropolgica no mbito dascincias sociais, a partir da qual a cultura passoua ser observada como processo, e as relaescotidianas tornaram-se objetos de investigao.

    No Brasil, os estudos de Srgio Miceli sobrepoltica cultural so ainda importante ponto departida para se compreender aquele que teria

    sido o primeiro plano oficial abrangente emcondies de nortear a presena governamentalna rea da cultura, a chamada Poltica Nacionalde Cultura (Miceli, 1984:57), de 1975, durantea gesto de Ney Braga no Ministrio da Educaoe Cultura, que inseriu o domnio da culturaentre as metas da poltica de desenvolvimentosocial do perodo.18Ainda que nos tempos deGetlio Vargas enormes investimentos tenhamsido feitos no campo cultural, esse foi o primeirodocumento que formalizou um conjunto dediretrizes e previu colaboraes intersetoriais,envolvendo parceiros histricos em projetosculturais pontuais, como o Ministrio das

    Relaes Exteriores e o Ministrio da Justia,alm de considerar a participao dos outrosnveis do poder pblico.

    Nessa nova poltica, foram germinadasideias relacionadas diversidade e pluralidadecultural da sociedade brasileira, integrando osPlanos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs),formulados na ditadura militar, especialmente,a partir do governo do general Ernesto Geisel.

    Na leitura de Miceli (1984), os dois rgos doMEC que atuavam na preservao da cultura o Iphan e a CDFB sofreram transformaessignificativas nesse novo contexto. Ao analisaraquele momento da formulao de uma polticanacional de cultura, que promoveu a coesodas inmeras aes dispersas em diferentesagncias do Estado, Miceli compreendeu queo campo cultural encontrava-se dividido em

    duas frentes: uma executivae outrapatrimonial.A frente executivafoi formada com a criao

    18.A respeito da Poltica Nacional de Cultura, ver artigo deLcia Lippi de Oliveira (2007); sobre o Conselho Federal deCultura, de 1971 a 1974, ver artigo de Lia Calabre (2006);sobre a poltica cultural da Funarte, ver artigo de IsauraBotelho (2000).

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    da Fundao Nacional de Arte (Funarte), em1975.19Nela foram incorporados os projetosrelacionados ao folclore e cultura popular,por meio da criao do Instituto Nacional doFolclore (INF),20substituindo a CDFB.

    A frentepatrimonialera monopolizada

    pelo Iphan, cuja ao voltava-se,principalmente, para a restaurao de bensarquitetnicos, que consumia a maior partedos recursos institucionais, ainda que novasperspectivas tenham sido abertas ao longo dosanos 70, na gesto de Renato Soeiro.21

    19.Funarte criada pela lei n 6.312, de 16 de dezembrode 1975, com a atribuio de formular, coordenar e executarprogramas no mbito da produo cultural, tendo, sob sua

    responsabilidade, o Instituto Nacional de Artes Plsticas; oInstituto Nacional de Msica e, a partir de 1978, o InstitutoNacional de Folclore.20. O Centro Nacional de Cultura Popular, vinculado aoIphan na atualidade, o herdeiro dessas instituies. Paracompreenso das transformaes sofridas pela instituio aolongo do tempo ver Iphan (2006).21.Sobre a gesto de Renato Soeiro na presidncia do Iphan ver

    Jlia Wagner Pereira (2009). Para pensar sobre as estratgiasde aproximao do Iphan com a Unesco, na gesto de RenatoSoeiro, ver Cludia Leal (2008).

    Uma terceira frente relacionada valorizao da cultura tambm foi formuladanaquele contexto, fora, entretanto, docircuito de poder institucional do MEC. Essafrente se organizou com a criao do CentroNacional de Referncia Cultural (CNRC),

    no Ministrio da Indstria e Comrcio,sob a liderana do renomado designerpernambucano Alosio Magalhes.

    O CNRC no trabalhava com a noode patrimnio cultural, mas sim de bemcultural; nem com a ideia de folclore, masde cultura popular. Em confronto com aperspectiva do folclore da CDFB, tambmse colocava reticente com relao prtica

    de preservao do patrimnio histrico eartstico conduzida pelo Iphan.

    Com significativa autonomia no incio desuas atividades, a experincia do CNRC trouxeos produtores agentes da cultura para oprocesso de reconhecimento e valorizao daprtica cultural e buscou estratgias para a sua

    Forte Coimbra margem direita do rio Paraguai, na cidade de Corumb (MS). Tombamento realizado pelo Iphan na dcada de 1970. Foto: EdgarJacintho, 1975. Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Rio de Janeiro

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    salvaguarda, aproximando a cultura do vis dodesenvolvimento econmico e do mercado(Fonseca, 1997).

    O CNRC propunha uma associao entrecultura e desenvolvimento que se coadunavaaos parmetros fornecidos pelos PNDs, que

    por sua vez propunham uma desconcentraoda riqueza do pas no Centro-Sul e uma maiorassistncia s regies Norte e Nordeste,visando ao seu desenvolvimento. SegundoMiceli (1984), num momento de crise,em que corria o risco de ver os projetosdo CNRC ficarem sem continuidade,Alosio Magalhes conseguiu articular-se

    politicamente e assumir a presidncia doIphan, para onde levaria os projetos e toda aequipe do CNRC.22Transformando o riscoem oportunidade de se fortalecer em termospolticos, ele ocupou estrategicamente ocomando da frente patrimonial, naquelemomento, mais enfraquecida, dando-lhenovo flego. Com a criao da FundaoNacional Pr-Memria, Alosio Magalhes

    promoveu ainda a incorporao de vriosoutros rgos da esfera da cultura que seencontravam em condies bastante precriasnaquele momento,23o que proporcionaria ocrescimento e a requalificao significativosdo setor cultural, cujos resultados severificariam na dcada de 1980. Ao que tudo

    22.

    Nessa reforma, o Programa das Cidades Histricas (PCH),tambm originrio de setores econmicos e de planejamento,foi, da mesma forma, levado para o campo poltico da cultura,por meio de sua incorporao ao Iphan (SantAnna, 1995).23.A Fundao Nacional Pr-Memria foi criada emsua gesto, como brao executivo do antigo Iphan, agoraSubsecretaria do Ministrio da Educao (Sphan). A Fundaoincorporou uma enorme gama de instituies de cultura, comoa Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas-Artes, oMuseu Histrico Nacional, centralizando ento o processo demodernizao dessas unidades nos anos 1980.

    indica, a chamada fase moderna da trajetriada preservao no Brasil, quando se operoua fuso entre Iphan e CNRC originando aSphan/Pr-Memria, nasceu exatamente deuma brecha encontrada por Alosio Magalhesna estrutura de poder do Estado brasileiro.

    Considerando esses aspectos, tornam-semais compreensveis os motivos que levarama tais escolhas, pois apesar das crticas feitas folclorizao da cultura popular, evidente que ofoco das aes do CNRC o aproximava bem maisda frente executivada cultura tendo em vistaos estudos desenvolvidos pela CDFB, seguidapelo INF do que da frentepatrimonial. Alm

    disso, uma srie de reformulaes conceituaisno campo do folclore vinha se concretizando emrazo das crticas oriundas do mbito acadmicodesde a dcada de 1950. Dessa forma, vinha seprocessando uma aproximao progressiva daviso matricial de Mrio de Andrade, em queno haveria distines marcadas entre folclore ecultura popular, mas que vinha constituda, sim,pela diversidade de expresses culturais.

    Por um novo p a r a d i g m a

    d a p r e s e r v a o d o

    p a t r i m n i o c u l t u r a l

    Esse panorama do campo cultural dofinal dos anos 70 ainda tem muitas lacunas aserem preenchidas.

    No contexto da poca, vrias estratgiasforam adotadas para dar sentido reformainstitucional que se promovia com a junodo CNRC ao Iphan e no queles que seapresentavam como herdeiros de Mrio deAndrade e que formularam polticas paraa cultura popular, agora ligados Funarte.

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    Dentre essas estratgias, foi necessrio forjarum elo entre as diferentes frentes de aodo Estado que, historicamente, estiveramapartadas. O elo encontrado foi a prpriafigura de Mrio de Andrade.

    Para a consagrao dessa verso que

    institui um histrico capaz de forjar umalinha de continuidade evolutiva para a noode patrimnio cultural, foi lanada pela Sphana publicao de 1980, citada anteriormente,com uma primeira verso oficial da trajetriada preservao do patrimnio cultural noBrasil, que tinha como ponto de chegada,naquele momento, a incorporao do CNRC

    ao Iphan. Com essa reestruturao, o campodo patrimnio absorveu tenses para seuinterior, tornando-se a arena privilegiadade conflitos onde se confrontaram posiese vises de patrimnio diversas, por vezesantagnicas, que passaram a concorrertambm por hegemonia e por recursos.

    Ainda que mudanas significativas tenhamsido sentidas na ao institucional nos anos 80

    como apontou Fonseca (1997) em sua anlisedos processos de tombamento desse perodo,24sem dvida, com a morte prematura deAlosio Magalhes, permaneceu inconcluso umprojeto poltico que comeou a germinar nobojo dessa ampliao do campo cultural. Projetoeste que pressupunha uma viso integral dacultura, como preconizara Mrio de Andrade.Assim, continuaram apartadas as frentes de

    ao poltica relacionadas cultura popular eao patrimnio, com seus universos prprios dequestes, tenses e interesses em jogo.

    24.Abordando a ao institucional sobre as cidades histricasno perodo em apreo, ver a dissertao de Mrcia Sant'Anna(1995) sobre os conceitos de cidade monumento e cidadedocumento.

    Casa da Dona Neni. Casaro de madeira que abrigou os primeirosimigrantes italianos que chegaram em Antnio Prado (RS), tombadopelo Iphan na dcada de 1980.Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Riode Janeiro

    Cidade de Laguna (SC), tombada pelo Iphan na dcada de 1980

    Acervo: Arquivo Central do Iphan, seo Rio de Janeiro

    Foi tambm nesse contexto quea perspectiva ampliada de patrimniocultural marcou um lugar vitorioso coma Constituio Federal de 1988. Tendoacompanhado o processo de ampliao do

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    campo do patrimnio que se deu em todoo mundo ocidental, o texto constitucionalconsolidou uma noo ampla e plural daidentidade brasileira, trazendo para a cenajurdico-poltica a noo de bens culturais denatureza imaterial.25

    Na dcada de 1990, o resultado doGrupo de Trabalho do Patrimnio Imateriale da Comisso de assessoramento ao Grupode Trabalho criados pelo Ministrioda Cultura26com a tarefa de elaboraode uma nova legislao que atendesses especificidades da preservao dopatrimnio imaterial, conforme determinava

    a Constituio se concretizaria em 4 deagosto de 2000, com a assinatura do decreton 3.551, que instituiu o Registro de BensNatureza Imaterial e criou o ProgramaNacional de Patrimnio Imaterial. EssePrograma, inicialmente vinculado aoMinistrio da Cultura, foi transferido em2003 para o Iphan, que absorveu todas asatribuies relativas ao patrimnio imaterial.27

    No encaminhamento ao ministro daCultura, de 9 de setembro de 1999, aComisso assim tratava o assunto:

    25.L-se, no artigo 216 da Constituio Brasileira: Constituempatrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material ouimaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadoresde referncia identidade, ao, memria dos diferentesgrupos formadores da sociedade brasileira (...).26.A Comisso foi criada pela portaria n 37 de 4 de maro de1998, com a finalidade de estabelecimento de critrios, normas

    e formas de acautelamento do patrimnio imaterial brasileiro,e o Grupo de Trabalho, cuja finalidade era dar assessoramento referida Comisso, foi criado pela portaria n 229, de 6de julho de 1998, ambas assinadas pelo ministro da CulturaFrancisco Weffort (Iphan, 2003). Sobre a composio dos doisgrupos citados ver tambm Iphan (2003).27.Interessante frente de pesquisa a ser desenvolvida investigar as correlaes entre o grupo responsvel pelo lobbynaConstituinte para formulao do captulo da Cultura e o grupoque tomar a frente, a partir de 1997, das novas diretrizesprevistas internacionalmente para o campo do patrimnio.

    Acreditamos ser essa a melhor maneira para

    capitalizar o grande consenso que existe hoje em

    dia em torno da importncia dos bens imateriais,

    para nosso patrimniocultural. Um consenso quese forja na pregao da Mrio de Andrade, Cmara

    Cascudo e Alosio Magalhes e de tantos outros

    lderes e intelectuais(Iphan, 2003:72).

    Por sua vez, o Grupo de Trabalhoque subsidiou a elaborao do decreto, aoapresentar seu relatrio final, afirmava queem funo do enorme problema em se

    estabelecer dispositivos de proteo para

    equacionar questes especcas que o uso ea comercializao desses produtos envolve

    (...) optou-se por iniciar um trabalho de

    identicao, inventrio, registro e conhecimento

    do patrimnio imaterial de relevncia nacional

    antes(Iphan, 2003:19).

    semelhana das proposies de Mriode Andrade e tambm da tradicional poltica

    de patrimnio do Estado brasileiro, manteve-se a preocupao em atribuir um valornacional s manifestaes culturais passveisde registro. Nesse contexto, isso significoupensar e agir politicamente em relao identidade cultural brasileira, cujo valorprimordial destacado sua diversidade.

    O marco de 1980, portanto, significativopara se compreender as dificuldades atuais

    para se construir uma noo de patrimniocultural integral, pois embora sejam evidentesos avanos no sentido da preservao de bensculturais de natureza imaterial, a origemartificial, em termos conceituais, da unificaodesses universos distintos material eimaterial , no momento de juno do CNRC

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    e Iphan, tem impedido a identificao, commaior clareza, das diferenas de postura que seapresentam ainda hoje.

    Talvez a opo pela perpetuao damemria histricaque estabelece uma linhade continuidade dos anos 30 at hoje, por

    meio da atualizao do mito fundador deMrio de Andrade, venha obscurecendo osantagonismos e dificultando a percepodas diferentes apropriaes da noo depatrimnio cultural presentes na atualidade,assim como a proposio de projetosque articulem efetivamente uma noointegradora do patrimnio cultural.

    preciso investigar com maiorprofundidade as inflexes sofridas ao longodessa trajetria e os recortes temporais quepropusemos como rupturas nesse processo,visando tirar da obscuridade aspectos atento delegados a um segundo plano pelaviso hegemnica acerca dessa trajetria. Suasnuances foram obscurecidas por no se terdado luz a momentos e fatos que buscamos

    destacar aqui. O esforo em desconstruiressa memria histrica vem ao encontro danecessidade de se problematizar a noo depatrimnio cultural por meio de uma efetivainvestigao da sua trajetria histrica, tendoem vista seu papel na configurao do campo

    e das polticas de preservao cultural.A diviso entre patrimnio material e

    imaterial , conceitualmente, enganosa, postoque qualquer interveno na materialidadede um bem cultural provocar modificaesna sua imaterialidade. Alm disso, essa divisoartificial implica uma poltica institucional quepromove uma distribuio desigual de recursos.

    A unanimidade meramente retrica emtorno do mito fundador de Mrio de Andrade,bem como da ideia de um patrimnio culturalno divisvel no tem se revelado o melhorcaminho formulao de novos paradigmaspara a ao de preservao do patrimniocultural, condizentes com as questes colocadasna agenda contempornea. Nesse caminho,demarcamos alguns passos j dados e que

    neleira moldandonela de barro comcuia. Goiabeiras (ES)imeiro Registro detrimnio Imaterial nategoria de saberes,alizado pelo Iphanto: Mrcio Viannaervo: DAF/Iphan, Braslia

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    podem ser pistas para melhor se desenhar umaperspectiva integradora do patrimnio cultural:

    1) Os valores identificados nos bensculturais, visando a sua patrimonializao, soatribudos pelos homens e, portanto, no sopermanentes, tampouco so intrnsecos aos

    objetos ou bens de qualquer natureza. Logo,os processos de patrimonializao de qualquertipo de bem cultural de qualquer naturezadevem colocar em destaque os sentidos e ossignificados atribudos ao bem pelos gruposde identidade relacionados a ele. Contudo,os instrumentos a serem adotados para suaefetiva proteo ou salvaguarda podem

    variar e serem aprimorados de acordo com anatureza e o tipo do bem cultural.2) Os sujeitos produtores de sentidos so

    vrios, diferenciados e deveriam ser confrontadosem fruns de discusso. Nas aes de proteoe salvaguarda, os sujeitos a que nos referimosso aqueles cujas relaes estabelecidas comos bens culturais os tornam constituintes econstitudos por tais bens, numa dialtica

    construo de identidades por meio de eloscomuns ao grupo. Por haver uma concorrnciapara a atribuio de valores por grupos que sediferenciam por interesses diversos, as polticaspblicas de patrimnio precisam, portanto,explicitar quem so os sujeitos que esto sendoprivilegiados, para que no se tornem polticaslobistas. A ttulo de exemplo, podemos pensarnos processos degentricao,28que ocorrem,

    28.O termo gentrificao a verso do inglsgentrication,utilizado para denominar uma espcie de enobrecimento(gentry) de reas histricas decadentes ou deterioradas, por meioda implementao de projetos urbanos de reforma visando asua requalificao, nos quais as populaes nativas so expulsasdireta ou indiretamente, por meio de desapropriaes ou poroptarem pela venda do seu imvel inserido na referida reavalorizada. Para o assunto ver Zukin (2000) e Tamaso (2006).

    com frequncia, em stios urbanos tombadoscomo patrimnio cultural. A percepo da cidadeapenas como patrimnio cultural material induza um entendimento limitado dos moradores eusurios cujos modos de vida esto vinculadosquele espao. Se esta populao for expulsa do

    stio tombado, cabe perguntar o que exatamentese pretendia preservar naquele amontoado depedra e cal.

    A noo de referncia cultural,formulada nos anos 70, foi fundamental paraa incluso dos grupos sociais como sujeitos noprocesso de seleo do patrimnio cultural.Sem perd-la de vista, outras noes, como

    a de paisagem cultural, tm se tornadoimportantes nesse processo. Originariamentelanada pela Unesco, a categoria de paisagemcultural talvez seja, hoje, um dos principaispassos dados no sentido da superao dafalsa dicotomia entre patrimnio materiale imaterial, pela nfase na relao entre ohomem e o meio, especialmente se associada noo de lugar, no como uma categoria de

    patrimnio imaterial, mas como um dos elospertinentes para constituir um patrimniocultural integral.29

    Como procurei apontar aqui, a noode patrimnio cultural no desinteressada.E, por isso mesmo, no se trata dedescobrir uma noo verdadeira, pois ela

    29.

    No Brasil, a categoria de paisagem cultural ainda nose constituiu em um instrumento de gesto do patrimniocultural, no gerando consequncias normativas ou legaiscom sua aplicao. Para refletir sobre a noo de paisagemcultural e patrimnio ver Ribeiro (2007). Vale a pena um maiorinvestimento no sentido de se incluir a noo de diversidadecultural dentre as categorias que podem operacionalizar umanoo de patrimnio cultural integral, desde que pensadade modo ampliado e no somente relacionada s prticasrecorrentemente classificadas como chamado patrimnioimaterial. Sobre essa categoria, ver Oliveira (2004).

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    no nica. Trata-se de explicitar a nooem uso e as divises que ela provoca,considerando as lutas de representaoque remetem a diferentes apropriaesdessa mesma noo. O objetivo, com isso, dar transparncia s polticas pblicas eorientar os processos de patrimonializaoe salvaguarda de bens culturais em termosque os sujeitos atuantes desses processosestejam claramente identificados.

    Estabelecer novos paradigmas paraa preservao do patrimnio cultural,enfrentando verdadeiramente a construode uma noo de patrimnio cultural

    integral, exigir que as pistas aquiapontadas, por vezes provocadoras,sejam consideradas e problematizadas,estimulando investigaes de maior flegosobre a poltica cultural brasileira e osuperlativo dimensionamento do campodo patrimnio cultural nos dias de hoje,tornado lugar estratgico das polticas deEstado. A perspectiva histrica um dos

    caminhos para esse exerccio.

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  • 7/26/2019 Por_uma_historia_da_nocao_de_patrimonio.pdf

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