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PORTE PAGO Quinzenário /2 de Janeiro de /991 Ano XLVI/- N.O 1222 - Preço 20$00 Propriedade da Obra da Rua Obra de · Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes Fundador: Padre Américo Cinquenta e um anos NASCEU 51 anos. Ao longo de cada um, vamos dando conta do que é a Obra da Rua. Pai Américo, que lhe serviu de berço, identificou-se com ela a ponto de lhe dar o seu nome - Obra da Rua ou Obra do Padre Américo. Assim é conhecida no livro oficial dos registos. «A Obra da Rua não é o nome de um livro, mas sim a acção estuante de um sacerdote, que deliberadamente se quis tornar pobre, para mais profícuamente acudir ao Pobre , porquanto, no apostolado divino, a preocupação de dinheiro é embargo permanente» - escreveu Pai Amé- rico. Por isso, em cada ano que passa vai-se revelando, não pelos rela- tórios frios dos números, ·mas pela acção ora escondida ora dando mais nas vistas que a candeia é para colocar sobre o alqueire. A acção comunitária da Obra da Rua marca-a com o sinal do fer- mento que tem como limites da sua missão o levedar a massa toda. O dinamismo de que é portadora projecta-a para além dum grupo, dum estrato social ou cultural a fim de atingir o homem todo. Revela-se, deste modo, como o espaço de reconciliação da pessoa consigo mesma, com os outros e com Deus. É verdade. Afirmamo-lo a partir da experiência que colhemos diariamente na correspondên- cia que nos chega; no carinho manifestado de tantas e tão variadas maneiras; no encontro com a multidão de gente, ao longo do ano; na resposta pronta e espontânea aos apelos lançados. Pessoas de todas as idades e posições sociais, de formação e credo são apa- nhadas pela corrente de vida que circula na Obra da Rua. Por isso, o seu projecto não tem limites. No limiar de mais um ano de vida da Obra da Rua, poisamos o olhar nos seus ramos e suplicamos: Que as Casas do Gaiato sejam sempre e cada vez mais a Casa de família. Que todos, de dentro e de fora, entendam e ajudem. Cada um tome conta do lugar que lhe pertence. Surjam os apai- xonados: padres, senhoras e rapa- zes. A estes dizemos que não dei- xem morrer a generosidade, a valentia e a perseverança. sec- tores da vida das Casas do Gaiato que, por força da natureza da Obra da Rua, de vem ser oc upa- dos por eles, depois de feita a devida preparação. A estabilidade da Comunidade, com o seu cresci- mento equilibrado, passa por eles. A acção das Casas· do Gaiato junto dos rapazes seja continuada com novo impulso pela Associação dos Antigos Gaiatos. As caracterís- ticas de cada zona onde as Casas estão implantadas não sejam impe- dimento a uma visão universal da de modo a que todos os rapazes se sintam seus filhos e, entre si, se vejam como irmãos. Que os passos dados neste sentido sejam retomados até ao fun. Aos que mais se têm empenhado nesta tarefa que é, de verdade, da Obra da Rua, a nossa gratidão. Casa do Gaiato de Miranda do Corvo - berço da Obra da Rua. POBRES Muito se tem falado e escrito, em no ssos dias, dos Pobres. Só que não se lh es quer dar o nome próprio: Pobres. Em vez dele, os técnicos, os articulistas e outros dizem e escrevem Carenciados, desfavorecidos, etc. De tal modo ass im é que a palavra entra no discurso de circunstância como entra na acção do s que se dedicam a cuidar deles. 'Independentemente do que possam dizer as ciências humanas, a palavra Pobre não tem sub stituto com tanta riqueza co mo ela. Quer-me parecer que o espírito do século, como a moda, também anda metido ou quer intrometer-se em campo tão sagrado como é o Pobre. - Porque existem os Pobres de que as pessoas têm medo de falar? - Porque faltam os Pobres de coração. - Porquê tanta injustiça? - Porque. faltam os Pobres de co ração. - Porquê tantas famflias em bar- racas - famílias pobres? . - Porque faltam os Pobres de coração. - Porquê a palavra Pobre é humilh an te? - Porque não somos Pobres de coração. A experiência ainda muito viva, a que estamos a fazer nesta quadra de Natal, em que vou redigindo esta nota, leva-me a perguntar: Seri a possível este ambiente de acolhimento em que estamos me r- gulhados se os Pobres não exis- tissem? Será alguma vez possível huma- nizar a comunidade dos homens a não ser pela conversão do coração à Pobreza do Sermão da Montanha?· Então , porque temos medo de ser Cont inu a na página 3 Tantas crianças abandonadas com direito a beber a água viva nas Casas do Gaia to! Pobres? Continua na página 4

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PORTE PAGO Quinzenário • /2 de Janeiro de /991 • Ano XLVI/- N.O 1222 - Preço 20$00

Propriedade da Obra da Rua Obra de· Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes Fundador: Padre Américo

Cinquenta e um anos NASCEU há 51 anos. Ao longo de cada um, vamos dando conta do que é a Obra da Rua. Pai Américo, que lhe serviu de berço, identificou-se com ela a ponto de lhe dar o seu nome - Obra da Rua ou Obra do Padre Américo. Assim é conhecida no livro oficial dos registos.

«A Obra da Rua não é o nome de um livro, mas sim a acção estuante de um sacerdote, que deliberadamente se quis tornar pobre, para mais profícuamente acudir ao Pobre, porquanto, no apostolado divino, a preocupação de dinheiro é embargo permanente» - escreveu Pai Amé­rico. Por isso, em cada ano que passa vai-se revelando, não pelos rela­tórios frios dos números, ·mas pela acção ora escondida ora dando mais nas vistas que a candeia é para colocar sobre o alqueire.

A acção comunitária da Obra da Rua marca-a com o sinal do fer­mento que tem como limites da sua missão o levedar a massa toda. O dinamismo de que é portadora projecta-a para além dum grupo, dum estrato social ou cultural a fim de atingir o homem todo.

Revela-se, deste modo, como o espaço de reconciliação da pessoa consigo mesma, com os outros e com Deus. É verdade. Afirmamo-lo a partir da experiência que colhemos diariamente na correspondên­cia que nos chega; no carinho manifestado de tantas e tão variadas maneiras; no encontro com a multidão de gente, ao longo do ano; na resposta pronta e espontânea aos apelos lançados. Pessoas de todas as idades e posições sociais, de formação e credo ~iferentes, são apa­nhadas pela corrente de vida que circula na Obra da Rua. Por isso, o seu projecto não tem limites.

No limiar de mais um ano de vida da Obra da Rua, poisamos o olhar nos seus ramos e suplicamos:

Que as Casas do Gaiato sejam sempre e cada vez mais a Casa de família. Que todos, de dentro e de fora, entendam e ajudem.

Cada um tome conta do lugar que lhe pertence. Surjam os apai­xonados: padres, senhoras e rapa­zes. A estes dizemos que não dei­xem morrer a generosidade, a valentia e a perseverança. Há sec­tores da vida das Casas do Gaiato que, por força da natureza da Obra da Rua, devem ser ocupa­dos por eles, depois de feita a devida preparação. A estabilidade da Comunidade, com o seu cresci­mento equilibrado, passa por eles.

A acção das Casas · do Gaiato junto dos rapazes seja continuada com novo impulso pela Associação dos Antigos Gaiatos. As caracterís­ticas de cada zona onde as Casas estão implantadas não sejam impe­dimento a uma visão universal da Obra~ de modo a que todos os rapazes se sintam seus filhos e, entre si, se vejam como irmãos. Que os passos dados neste sentido sejam retomados até ao fun. Aos que mais se têm empenhado nesta tarefa que é, de verdade, da Obra da Rua, a nossa gratidão.

Casa do Gaiato de Miranda do Corvo - berço da Obra da Rua.

POBRES Muito se tem falado e escrito, em nossos dias, dos Pobres. Só que não se lhes quer dar o nome próprio:

Pobres. Em vez dele, os técnicos , os articulistas e outros dizem e escrevem Carenciados, desfavorecidos, etc. De tal modo assim é que a palavra entra no discurso de circunstância como entra na acção dos que se dedicam a cuidar deles.

'Independentemente do que possam dizer as ciências humanas, a palavra Pobre não tem substituto com tanta riqueza como ela. Quer-me parecer que o espírito do século, como a moda, também anda metido ou quer

intrometer-se em campo tão sagrado como é o Pobre.

- Porque existem os Pobres de que as pessoas têm medo de falar?

- Porque faltam os Pobres de coração.

- Porquê tanta injustiça? - Porque. faltam os Pobres de

coração. - Porquê tantas famflias em bar-

racas - famílias pobres? . - Porque faltam os Pobres de

coração. - Porquê a palavra Pobre é

humilhante? - Porque não somos Pobres de

coração. A experiência ainda muito viva,

a que estamos a fazer nesta quadra de Natal, em que vou redigindo esta nota, leva-me a perguntar:

Seria possível este ambiente de acolhimento em que estamos mer­gulhados se os Pobres não exis­tissem?

Será alguma vez possível huma­nizar a comunidade dos homens a não ser pela conversão do coração à Pobreza do Sermão da Montanha?·

Então, porque temos medo de ser

Continua na página 3 Tantas crianças abandonadas com direito a beber a água viva nas Casas do Gaiato! Pobres?

Continua na página 4

2/0 GAIATO

IDOSOS - Não deixa de ser curioso citar esta notícia da CEE:

«A pirâmide etária europeia começou a inverter-se. A diminuição da natali­dade e o crescimento da esperança de vida fazem com que a Comunidade conte actualmente com cerca de 100 mi­lhões de pessoas idosas.A Comissão Eu­ropeia decidiu propor aos Doze um plano de acção destinado a identificar estratégias e a encorajar a solidariedade entre gerações e a participação dos ido­sos na vida sócio-económica. Este pro­grama, dotado com 2,4 milhões de ecus (1 ECU = + ou - 180 Escudos) nos dois primeiros anos, recebeu recente­mente luz verde dos Doze.

Antes de mais, será efectuado um conjunto de estudos que permitam de­tectar tanto os problemas económicos colocados pelo envelhecimento da po­pulação (custos sociais, incidência no mercado de trabalho) , como os proble­mas práticos que se colocam diária­mente às pessoas idosas (alojamentos, transportes, turismo, cuidados médicos ao domicílio , etc . .. ). A Comissão exa­minará também as acções desenvolvidas nos vários Estados-membros para refor­çar a solidariedade entre as várias ge­rações (formação dos jovens) e desen­volver nov.os serviços para as pessoas idosas, como por exemplo, serviços ao domicílio de refeições, limpeza, com­pras ou de acompanhamento social.

As informações recolhidas serão cen­tralizadas num banco de dados a que de­verão ter acesso não só as autoridades públicas, mas também as organizações representantes dos idosos. Será assim possível estar permanentemente a par das acções desenvolvidas para estas pes­soas nos vários Estados-membros e tro­car informações sobre as iniciativas mais interessantes. O objectivo a longo prazo é a criação de uma verdadeira rede europeia de experiências inova­doras.»

PARTILHA - A reconstrução da «casa do Xai-Xai» vai com lentidão, mas caminha para o fim. O mestre d'obras pediu algo mais por conta eco­munica: «Andam lá , agora, o trolha e o electricista ... ".

Para esta obra recebemos cinco con­tos da assinante 23370, do Porto; dez, da assinante 29271; e mil , da assinante 4589. Viva o Porto!

A consoada de Natal, dos Pobres, não passou despercebida aos nossos leitores. Presenças: Assinante 35019, de Lisboa; assinante 26724, de Cantanhede: «basta :;ó uma referência n 'O GAIATO»; assi­nante 57663, do Furadouro, por inten­ção do filho; assinante 13093; da capi­tal: «já tive Natais muito pobres, depois de vir de Angola e como agora a situa­ção aliviou um pouco, desejo de todo o coração melhorar a ceia duma famí­lia» ; Maria Ermelinda, de Coimbra: assinante 14802, de Rana: «é pouco .. . ,

·mas sou viúva e vivo da minha re-forma».

Já que falamos da Viuvez, aqui temos alguns samaritanos dando a mão àque­las mães que tanto sofrem, pela falta dos seus maridos - que Deus levou: Assi­'!lante 27518, de Carregal do Sal ; assi­nante 9792, de Guimarães; e assinante 52736, de Aveiro, com cinco mil escu­dos: «Oferta de minha mãe, que é

pensionista, e gosta muito de ler O GAIATO. Foi através duma notícia --,da vossa Conferência- que .ficou in­formada de que as viúvas dos funcioná­rios públicos tinham direito a uma pen­são (isto já há anos). Então, sempre que fala nela, refere que a tem graças a uma notícia d'O GAIATO>>.

Das presenças mais habituais temos mil escudos, do Luso: «Como sou muito interesseira, peço orações por um irmão muito querido». 3 .500$00, de Santa Cruz do Douro, «para um Autoconstru­tor». Damos a mão a muitos deles! Dez mil , da assinante 20856, de Espinho: «2.0

semestre de 1990». Dois mil, de «Eu­-e-Ela>>, de Gondomar. Para E/a,boas melhoras! 500$00, · de Vilares (Vila Franca das Naves) . O habitual cheque , muito abonado, da assinante 31104, pe­dindo, «como sempre, que rezem por mim». O valor da Oração!

Assinante 13440, de Vila Nova de Gaia, cinco contos. O dobro , do assi­nante 4498. Vários donativos da assi­nante 7769, do Porto. 1500$00, da as­sinante 23387. Maria do Rosário·manda dois mil e outros mil de pessoa amiga. Sobras de contas com O GAIATO, do assinante 4452, «que se encontra para­lisado e com muita idade, mas dentro do possível qtufr continuar a contri­buir». Perseverança! Nove mil , do as-· sinante 24481, do Porto. 1500$00, da assinante 8527, de Silvalde: «Aqui, nesta (erra próspera, há imensas carên­cias; situações de verdadeira miséria. É a pobreza «moderna», diferente nas causas de há trinta, quarenta anos, mas mais difícil de combater. Sou vicentina; portanto conheço de perto as mais an­gustiosàs situações de tantos irmãos nossos, a quem nem sempre somos ca­pazes de valer do ponto de vista moral, a maior parte das vezes a causa da po­breza em que caíram». Muito bem! Mil, da assinante 9059, de Coimbra. Quatro vezes mais, dum companheiro da extinta Escola Comercial Mouzinho da Sil­veira, do Porto. Belos tempos! Dois contos, do assinante 21042, de Barce­los, «destinados ao mais urgente ou mais necessário». Idem, da assinante 7 186, de Albergaria-a-Velha: «Não sou rica; mas gostaria de ter uma casinha com quintal e o dinheiro não chega. Te­mos um andar pequenino, mas não gosto, pois toda a vida tive quintal para poder plantar flores . É triste viver sem um bocadinho de terra. Mas dou gra­ças a Deus, pois, assim, posso ajudar os Outros com os juros da moradia que não posso comprar». Assinante 28285, da capital, separa algo, nas contas com O GAIATO, «para ajudar alguma maior necessidade da Conferência do

RETALHOS DE VIDA

Santíssimo Nome de Jesus, de Paço de Sousa>>. 2500$00, de Chaves. E mais cinco, da assinante 5241 , de Peniche.

Em nome dos Pobres, muito obrigado. Retribuímos, com amizade, votos de

santo Ano Novo.

Júlio Mendes

MIRANDA DO CORVO AULAS - Após o primeiro período

de aulas, vieram as férias de Natal que todos ansiavam; mas, por outro lado, saíram também os resultados finais que para a maioria não foram muito bons! No entanto, com a força de vontade de cada um de nós, as dificuldades serão ultrapassadas e os resultados melhora­rão, se Deus q1;1iser.

JARDIM - Finalmente, o novo jar­dim está pr~nto. Neca deu, à sua maneira, um visual moderno e acolhe­dor. Está composto por uns lindos. pai­néis de azulejos representando cada Casa da Obra da Rua, a maior parte do espaço calcetado e rodeado de plantas e flores agradáveis à vista. Por fim, sobre um tronco de oliveira, um gaiato virado para o busto de Pai Américo.

BAPTISMO E PRIMEIRA COMU­NHÃO - Preparámos alguns rapazes para receberem um sacramento, a fim de se sentirem unidos a Deus, no dia do ani­versário da nossa Casa.

OBRAS - Neste momento estão para­das porque o pedreiro foi sujeito a uma intervenção cirúrgica. Esperamos que recupere depressa e desejamos-lhe as melhoras. Entretanto, estão a ser construí­das as arcas congeladoras bem precisas para manter ·os alimentos frescos.

TROPA - Foi mais um cumprir o serviço militar: o «Pinóquio», com des­tino a Santarém. Esperamos que goste da missão.

Desejo a todos um bom Ano.

RETIRO EM FÁTIMA - De 20 a 22 de Dezembro, um grupo de rapazes de Miranda do Corvo estiveram em Retiro, sob a orientação do Padre Basílio que abordou vários temas: o Concílio Vaticano ll e a vocação. Através deles tentámos descobrir quem somos, o nosso papel na sociedade, presente e futuro, e o nosso relacionamento com Jesus.

Quando se abordou Jesus, vimos que além de um ser humano como nós, deu a Sua vida por todos os homens e teste­munhou que nos devemos ajudar uns aos

«AMARANTE)) Chamo-me Lufs Miguel Mesquita

Rodrigues. Sou mais conhecid6, en­tre a malta, por <<Amarante».

Vivia no lugar de Vila Chã, em Amarante.

Quando a minha tia me pergun­tou se queria vir para a Casa do Gaiato, respondi logo: - Quero!

Agora, estou bem melhor no meu comportamento e no falar com as pessoas... Reconheço que já me emendei de muitas coisas, graças a Deus.

Quando for grande, desejarei ser mecânico.

Luís Miguel

outros com amor, isto é, «amai-vos uns aos outros como Eu vos amei». Depois, reflectimos sobre o Concílio Vaticano ll. Tendo sido convocado pelo Papa João XXlll, teve como objectivo renovar a Igreja, para haver maior participação dos cristãos: as Missas celebradas na língua do País respectivo, etc. Ficámos a per­ceber que todos somos chamados a trans­mitir a Palavra de Deus em qualquer lugar e a qualquer um.

Abordámos, também, a vocação em sentido lato. A missão que Deus nos deu para a pôr em prática. Finalmente, ouvi­mos uma gravação do discurso de João Paulo ll, em Portugal, em 1982, afir­mando que os jovens são a esperança do .futuro da humanidade; e, por isso, temos que pôr em prática a nossa vocação.

Concluímos com esta mensagem: Não . tenhamos medo de ser jovens, de ser cris­tãos. Somos o futuro e Jesus confia em nós.

Carlos Zé

TOJAL FESTA- Pelo Natal, os nossos rapa­

zes realizaram uma pequena récita, como já tínhamos anunciado. Foi um bom espectáculo! Daqui partiram ideias para urna Festa, durante o ano que ora começa.

ANIMAIS - Nasceu um par de vite­las, para dar alegria aos vaqueiros. Curio­samente, baptiZaram-nos imediatamente: Laranja e Limão!

Para alegria da malta, uma ovelha tam­bém deu à luz dois cordeirinhos e, para completar o cenário natalício, a pequena cadela teve três cãezinhos!

FUTEBOL - No dia de Nossa Senhora da Conceição, no mês passado, defrontámos um grupo de antigos gaia­tos, do Tojal . Apesar dos mvitos erros técnicos da nossa jovem equipa, empatá­mos 3-3.

Na semana seguinte, voltámos a jogar e tomámos a empatar 3-3.

OFICINAS - Estão todas a funcio­nar. Há momentos de grande aperto de serviço, mas, noutros, as máquinas estão paradas - por falta de trabalho.

Entre a vasta gama de leitores do Famoso, quem precisará de mandar exe­cutar serviços de tipografia, carpintaria ou serralharia? Estamos às ordens. Aguar­damos as vossas encomendas. Obrigado.

Luís Miguei Fontes

LAR DO PORTO CONFERÊNCIA DE S. FRAN­

CISCO DE ASSIS - No início do mês de Dezembro reunimos para que, juntos, pudéssemos encontrar a melhor maneira de distribuir as ofertas dos nossos Amigos.

IMPORTANTE Sempre que o Leitor escreva

para as nossas Casas - por mor d'O GAIATO ou de livros da &li­torial - faça o favor de indicar o número da assinatura e ó nome e endereço em que recebe as nossas edições.

12 de JANEIRO de 1991

Depois de muitas contas feitas conclui­mos que havia pouco pão para tantas bocas, visto estarmos a ajudar vinte famí­lias, todos os meses, e algumas que apa­recem avulso. Mas, como a boa vontade faz milagres, conseguimos que todos tivessem mais um mês de mercearia, brin­quedos para todas as crianças - que tan­tas são - e, ainda, cada vicentino levou três mjl escudos para lhes comprar uns miminhos.

Até aqui, tudo bem; mas, a partir de Janeiro, os pequenos continuarão a recla­mar o pão a que têm direito . ..

Ora, o Natal para o cristão é todos os dias. Por isso, e com a vossa generosi­dade, conseguiremos, no próximo ano, poder voltar a dizer: Missão cumprida, Senhor!

Campanha tenha o seu Pobre -Anónimo. «por alma dos seus mortOS>•, 1000$00; assinante 3359, 1.000$00; mais mil, da assinante 10770; Maria Luísa, 5.000$00; de Bemardete, 10.000$00; de Fiães, oito mil escudos; anónimo, 2000$00; Monte Gordo, «por alma do pai», 1000$00; 2500$00, de um anónimo; 2000$00, de Adelaide; anónima, 1000$00; anónimo, 7000$00; M. Silva, 500$00; assinante 14590 manda 1000$00; da sempre amiga Leonilde, 10.000$00 e, com muita amizade em Cristo, retribui­mos as suas palavras, sempre cheias de conteúdo.

Muito obrigado a todos.

Uma vicentina

PAÇO DE SOUSA AGRADECIMENTO - Muitas pes­

soas ofereceram valiosas prendas para que a nossa Comunidade - sobretudo os mais pequeninos - tivesse boas festas. Toda a gente gostou e apreciou a generosidade dos nossos Amigos.

CIRCO - O Governo Civil do Porto convidou os «Batatinhas» para assistirem a uma sessão de circo na vasta sala do Coliseu do Porto, já nossa familiar. Alguns foram na quarta, outros na quinta­-feira (26 e 27 de Dezembro).

ANO NOVO - É sempre uma festa muito agradável! Alguns rapazes foram à casa dos familiares; outros, ficaram por cá (a maior parte não tem família ou é, de facto, muito destroçada ... ).

Os meus votos: que todos tenham entrado com o pé direito em 1991.

CARAS NOVAS - Recebemos mais um irmão! Chama-se João Miguel. Tem onze anos. Frequenta a quarta-classe da Instrução Primária. Deus lhe dê um bom futuro.

DESPORTO - O nosso Grupo Des­portivo precisa de chuteiras e equipa­mento. Fica o recado para os nossos lei­tores, com um antecipado muito obrigado.

REGRESSO - Após oito meses de ausência ... o «Cebolinha» voltou ao seio da sua famíl ia - a Casa do Gaiato. Aliás, estava ansioso por regressar. Pois que daqui em diante tudo corra bem, são os nossos votos.

Artur

12 de JANEIRO de 1991

Cinquenta e um anos Continuação da página 1

Como pode haver acção se não houver agentes? Deixamos o apelo: Não se feche o coração de ninguém à voz do Senhor. E , agora, mais um pedaço de Pai Américo:

«A rua é o campo social onde mais eficazmente se pode trabalhar; ali , passam todas as modalidades da miséria e da perversão das almas.

O apóstolo das ruas descobre no porte dos viandantes tragédias de vida, exactamente como o artista enxerga beleza n~ caminhos onde os mais passam, sem darem fé de nada.

O apóstolo da rua é, ele mesmo, o inspirador, o criador, o realizador da sua arte. Às escondidas, como quem olha montras ou conversa des­cuidado, ele pinta quadros de beleza, na tela dos desabafos:- Ai,

padre, tire-me do mundo! Sim; na rua, há desabafos desta sorte. Cristo Jesus entrava nas casas e nas sinagogas, mas a sua acção princi- . pai era toda na rua, in loco cam­pestri. »

A Obra da Rua, tão desejada e amada, nasceu na rua: «Foi no Beco do Moreno . .. »

No ano que passou veio o Padre João Rosa que foi servir na Casa do Gaiato de Setúbal. Oxalá não demore a levantar a voz neste púl­pito- O GAIATO. Foi a prenda que a Mãe deu à sua filha, que a Obra da Rua não é órfã, tem mãe - a Mãe Igreja.

Sabemos doutros padres que estão a sofrer também as dores . dos Pobres. Motivo de muita esperança que queremos compartilhar.

•Enquanto assim acontecer, é sinal de que o Evangelho não é letra

A~~ocia~ão do~ Anti~o~ Gaiato~ do Norte

Salazar, que está perto a preparar a nossa Festa de Natal, faz-nos sinal que já tem ali. Vai buscar e chama o «Merendas». Começa a desembrulhar e diz que isto encaixa aqui e aquilo encaixa ali, etc, etc. «Merendas» olha e não mostra grande encanto. Vai assis­tindo à montagem. Junto a nós está a ManeJa, uma professora que trabalha com meninos difíceis e que diz «gostava conhecer melhor a Obra• ... Demos-lhe esta oportunidade.

morta; de que Jesus Cristo está no meio de nós; de que a Igreja é ver­dadeira.

Dois dias antes do Natal, fui dar uma volta pelos Pobres duma paró­quia. O pároco levou-me pela mão. Que felicidade quando temos estes cireneus! Ajudamo-nos. A Obra da Rua ajuda, cumprindo a sua voca­ção. O padre é ajudado a cumprir a sua. Tudo certo. Encontrámos uma faml1ia que vivia assim: num compartimento todo esburacado por cima, por baixo e pelos lados (não estou a exagerar, quem quiser ver, venha), vivia uma mulher que é mãe de 7 filhos, meninos e meninas. Todos amontoados. Não descansá­mos mais: nem ele nem eu. Come­çámos, naquela hora do dia, a sen­tir o frio e a miséria daquela gente na nossa casa e na nossa cama bem aconchegadas.

Espero voltar, dentro de dias, até que o problema esteja resolvido. E ficará. O padre da rua encontra na rua «todas as modalidades da misé­ria e da perversão das almas».

Se os padres são necessários para que a Obra viva e cresça, as senho­ras também o são. Sabem-no bem aquelas que vão passando pelas Casas do Gaiato e se vão. Há sem­pre quem fique. à espera e chore. Sim, chore até que chegue a hora da decisão. Não estranhem aquelas que nos conhecem, se descermos à rua e subirmos os degraus da sua casa ou do seu emprego e dissermos a alguma delas que, nesta hora, é prioritário que venha. Aqui fica o recado.

/

Que o problema da habitação seja agarrado pela raiz e se vá até onde for possível. Que em cada paróquia se crie um Fundo Social para a habi­tação, sobretudo onde mais se faz sentir a falta de casas. A Obra da Rua ajudará! Ele há tantas crianças

· abandonadas com direito a beber a água da vida nas Casas do Gaiato! Em Portugal, sim. A Obra da Rua, porém, com a sua vocação univer­sal, iluminada pela Fé e movida pela Caridade, sente que deve estar onde faz mais falta. Moçambique chama, de novo, por ela. Conhecemos a situação miserável a exigir socorro tão depressa quanto possível. A Igreja local pediu. O Estado, tam­bém: A Obra da Rua quer relançar lá a sua actividade interrompida por razões exclusivamente de ordem política, há cerca de 15 anos. Quem vai? Que muito em breve vos pos­samos dar a boa notícia.

Angola espera, também. Notícias recentes falam da preocupação dos governantes e da Igreja pelo regresso da Obra da Rua. Oh, quem dera que, na hora da reconstrução de nações devastadas pela guerra, a nossa Obra estivesse presente como sinal de reconciliação; como testemunho e ajuda na busca de valores que devem estar presentes numa sociedade nova. Compartilhamos convosco este projecto no aniversário da Obra da Rua.

E o Calvário? Que seja um lugar de esperança para os que não têm nada nem ninguém a que se agarra­rem. O Calvário é a expressão mais delicadá do Amor de Deus revelado através dos homens. Que sejamos sempre capazes de acolher este Amor ao longo deste ano. É um apelo.

Padre Manuel António

O GAIAT0/3

AGORA Abre, hoje, um casal, agora em

Santarém, que, não satisfeito com o muito que nos apoiava nos tem­pos de Benguela, envia um cheque «que gostava se destinasse à contru­ção de casa para os sem casa».

«É um sonho que temos há muito» - acrescentam - «e só. agora o podemos realizar, graças à venda de uma casa que nos coube em herança. Damos graças a Deus por isto e por ser neste momento em que o frio aperta. Obrigado pelo Evan­gelho vivido que nos traz sempre O GAIA TO. E graças ao Senhor que um dia o pôs no nosso caminho e tanto nos deu por seu intermédio».

A caridade opera uma inversão de sentido nos conceitos do mundo. Quem age animado por Ele, dá ... e agradece. Segue-se um sacerdote do Nordeste, com uma centena e a disponibilidade para prestar seus serviços aos nossos rapazes no domínio da orientação profissional.

Continuamos em Trás-os­-Montes. Constantim: «Li ontem todo o último número d 'O GAIATO que me encheu as medidas e como­veu até ao mais profundo desta minha alma desejosa, sim, de amar o único Amor- Deus».

A notícia de Setúbal fez-me vibrar e leva-me a contribuir com algo para a casa de três mil e qui­nhentos contos.

Não esqueço, de forma alguma, as duas Conferências Vicentinas. Peço para retirar dos duzentos e trinta contos o que entenderem e entreguem a cada uma delas.

E a causa da Santidade do Padre Américo - como vai? Pouco tenho ouvido falar dela em O GAIATO».

Tem razão! Mas também não

UMA FÚRIA LEGÍTIMA. Tanto lhe posso chamar •uma fúria legítima» como lhe poderia chamar «um brin­quedo estragado» . Sei é que gostava de saber e ser capaz de cativar-lhe o à-von­tade e a confiança para ouvir da boca dele qual ou quais os sentimentos que o levaram a reagir daquela maneira. A Enf~ Salazar tentava explicar-me: «Ele é assim. É uma criança muito difícil». Alheio a tais explicações, sempre fáceis (e banais!) , eu tentava auscultar-lhe o porquê mais profundo, esse porquê que é a expressão da nossa verdade no momento em que reagimos agressiva­mente com os outros (e, às vezes até connosco!. .. ) . .

O brinquedo não era novo. Tinha o cabo do elevador rebentado. Alguém ofereceu aquilo «para a Festa dos Gaia­tos». Enfermeira Salazar, que esteve na organização da Festa, seleccionou-o para o «Merendas• como prenda minha, para eu não ter que gastar. ManeJa senta-se, pacientemente, com o garoto e tenta consertar a avaria. Depressa a coisa ficou a funcionar. Daí a nada pas­sei pelo «Merendas• que, já com outros, fazia subir e descer alguns carrinhos que p'ráli havia. Pouco depois, o cabo volta a rebentar. Disparado como uma bala, «Merendas• vem onde eu era, pousa o brinquedo sobre a mesa e manda-me esta: «Pegue lá. Não presta .. ·" Maneta pega no brinquedo, diz que o leva para arranjar e depois lho traz. - Nao quero. Se mo traz eu parto-o todo. Faço-o aos bocadinhos. Assim ...

Tribuna de Coimbra havia muito que dizer. O pré-pro­cesso foi a Roma para o «nihil obs­tat» que veio há dias; bem mais cedo do que se esperava. Agora é a orga­

. nização do processo própriamente dito com a nomeação do Tribunal que há-de ouvir as testemunhas. Certamente, em breve, haverá algo já a dizer.

O protagonista desta história é, de novo, o «Merendas•. Naquele •almoço histórico• de que falei na quinzena pas­sada, na sua espontaneidade ainda não educada, perguntou pela prenda para ele -já que lhe aparecia assim na sua festa de anos ... Sorri. Expliquei que foi tudo à última hora, que não o conhecia, que não sabia o que ele queria e/ou preci­sava, que e que e que. Adiantei que, se não pedisse assim muito caro, eu teria muito gosto em lhe dar uma prenda. Com o mesmo à-vontade com que per­guntou pela prenda, disse logo: «Eu quero uma garagem daquelas em que os carros entram e depois sobem e se metem assim uns para um lado e outros para o outro•. Com os filhos já criados, os meus conhecimentos de brinquedos de crianças já não estãQ muito actuali­zados, mas logo me lembrei daquele brinquedo da Shell que muitos meninos receberam no dia de anos ou Festa de Natal das empresas. Pensei que a pre­tensão não era assim nada que eu não pudesse satisfazer e logo acrescentei: -Está bem. Diz aí à sra. Enfermeira onde é que ·isso se vende que ela compra-to e eu pago».

Hoje é , de novo, dia-de-venda do Famoso. Vou ao Lar e encontro o «Merendas». Pergunto pela prenda. Ao seu «ainda não tenho. ··"• a Enf~

Eu fiquei-me a remoer. Enfermeira Salazar e Manela tentavam explicar-lhe o que, penso, para ele estava mais que explicado: gozaram com ele . ..

Quando deixámos o Lar, à porta, o «Merendas•, que sempre nos seguia à distância, disse ainda: «Se mo traz eu parto-o todo .. ·"

( . .. ) Quem quiser explicar de outro jeito que explique. Eu explico-me assim: criámos naquela criança expec­tativas de um brinquedo novo. Demos­-lhe um velho. Ferimos o seu eu! E nin­guém gosta de ser ferido af nessa parte de nós - que é sempre, toda a vida, o melhor e o pior de nós.

Ai os erros que nós cometemos jul­gando que fazemos bem!

Abel Magalhães

• Prendas de Natal. Foram muitas e boas. Todos tivemos. Foram

variadas. Algumas, ao gosto de cada um. Um dos Amigos que veio trazer, desabafou: «É pena que o Natal para estas Casas não seja todos os meses>> .

Com a alegria destes dias também procurámos misturar a tristeza dos que sofrem. Visitámos alguns doen­tes. Procurámos dar alguma atenção aos que estão em guerra ou amea­çados por ela. Ligámos àqueles que não têm liberdade, nem pão, nem casa, nem nada. Acreditamos que Jesus Menino é irmão de todos os homens.

Uma das melhores prendas des- . tes dias foi a presença e ajuda de duas senhoras, na cozinha. Vêm muitas vezes, mas nestes dias sen­timos mais o calor de suas mãos e de seu coração. Outra prenda sabo­rosa: Uma família de Lion, França, com muitos presentes, que trouxe uma menina de mês e meio. Um menino Jesus pequenino.

A nossa mesa, nestes dias, tem sido cheiinha de coisas boas: comer feito

Descemos a Albergaria-a-Velha. É o Braz com muitas lembranças para vários destinos entre os quais Autoconstrução. Igualmente do Porto, a Elvira e o Higino.

Do mealheiro do Teatro Sá da Bandeira, 207.200$00. E mais mil, para a Conferência do Lar do Porto.

O Arnaldo, de Braga, com 250 contos. A Maria Manuela, de Gaia,

,. com cinquenta. O Joaquim, de • Estamos a acabar de celebrar os

Coimbra, que passou pela nossa

no nosso fogão; pão e broinhas cozi­dos no nosso forno; fLlhós fritas no tacho grande; um mundo de bolos­-rei comandados pelo do Humberto; chocolates que vieram de longe e de perto; abóboras-meninas de família vizinha;. um bolo grande, feito em pastelaria de V.N. de Famalicão; gar­rafas de vinho e champanhe; grades de sumos; duas caixas de bacalhau do <<Faz-me-rir>>; o Fernando veio de longe com cinquenta quilos de bolo. Mesa em festa de família.

nossos cinquenta anos, cheios de ma ·lhas q e 0 s nh Casa de Miranda do Corvo, dois, da ravt u e or operou e em muitas nos fez participantes . sua pensão de reforma antecipada, Tem-nos dado muitos ll)imos, «dando graças a Deus porque temos embora alguns também com gosto um teto, ai~da que bastante antigo, amargo. Bendito seja Ele. Vamos mas que nos abriga, o que não acon­celebrar os cinquenta e um, com a tece com muitos infelizes que nos Casa muito cheia e em obras. Com são apresentados pelo FamosO>>. esperança e confiança, apesar do o Mário, de Lisboa, com trinta. O desgaste da vida e dos anos. O «Zé dos Pobres», de Queluz, com Senhor vai na barca e é bom timo-neiro. É confiados no Seu Santís- dez. E a Maria José, de Tavira, com si mo Nome que vamos caminhando. duzentos e <<os bens que temqs devem Confiamos também nos homens de ser partilhados, por isso não espero boa vontade . E desejamos mais um agradecimento, a agradecida sou eU>>. Ano muito feliz. .

Padre Horácio Continua na página 4

(

Notas do Tempo • A quadra do Natal é tempo pro-

pício à expansão de sentimen­tos afectivos e nós fomos objecto de uma torrente deles. Bendito seja Deus! E digo torrente porquanto, implicando esta palavra uma noção de violência, nós a sentimos tam­bém na medida em que nos não achamos dignos de tanto. Nem falo da abundância dos dons, mas das legendas que quase sempre os acompanhavam, expressivas de uma amizade e de uma confiança que Deus nos ajude a merecer e nos dê forças para corresponder.

Na verdade é uma característica importante da Obra da Rua, esta componente da Família de fora, que reconhece, agradecida, o nosso esforço e o estímulo a viver em comunhão, ao sabor do Evangelho, de que o Famoso lhes é portador; e, por sua vez, nos alenta e com­pensa de semelhante reconheci­mento que só a largo prazo rece­bemos da Família de dentro, mas que, em cada momento, experimen­tamos do carinho e dedicação que tantos dos nossos antigos nos demonstram. Deus que bem conhece a nossa fragilidade, sabe como a há-de ir tonificando; e, mediante esta parte da Família, pro­videncia. A Ele todo o nosso lou­vor e acção de graças. Só Ele sabe quanto a continuidade da Obra da Rua é devida e o seu vigor explicá­vel por este ser ela Obra de todos, para todos, por todos quantos a conhecem e amam de verdade.

• Nos dias de hoje, vinte e cinco anos após o Vaticano II, cem

depois da Rerum Novarum, dói que ainda se procure solução de proble­mas de miséria passando uma carta

de mendigo. Infelizmente ainda assim acontece. E foi neste mês do Natal, que o «documento» e seu por­tador nos apareceu.

<<Para os devidos efeitos, declaro que F. é órfão de pai e · mãe e tem mais seis irmãos.»

F. é um homem de vinte e tantos anos, com aspecto de doente e, cer­tamente, problemas sérios que se não resolvem com um auxilio even­tual. Havia de ser a comunidade, que se supõe cristã, a assumir as carências de que sofre esta sua célula familiar e a procurar-lhe remédio. E se este excede a sua capacidade de resposta, a própria comunidade, representada por quem nela deve existir com missão sócio­-caritativa, bateria a outras portas em busca do auxílio necessário. Promover e alimentar a mendici­dade, isso é que não. Foi o recado que mandámos a quem assinou e carimbou o «documento», dizendo da nossa disponibilidade para aju­dar, mas uma ajuda concertada entre a comunidade e nós, que possa resolver alguma coisa, hoje, ama­nhã ... até não ser mais precisa.

Ficámos à espera. Continuamos esperando. Pior é que, provável­mente, continuam esperando F. e os seus irmãos.

«Cada freguesia cuide dos seus Pobres»- uma receita tão simples, tão evangélica, que Pai Américo formulou há quatro dezenas de anos e o Apóstolo S. Tiago há perto de dois mil anos quando escreveu que «a religião verdadeira consiste em visitar os órfãos e as viúvas». Tão simples, tão evangélica e ainda não chegou a esta e tantas comunidades que se supõem cristãs!

Padre Carlos

• Teve pontos altos e baixos este Natal. Aqui vos deixo.

Primeiro, o Jorge: Nhôra, aprendeu ele a dizer em

casa da senhora que o recolheu. Antes vivia numa pobre barraca sem luz e sem linguagem ... Quase não falava . Veio,- a seguir, para nossa Casa e em dois meses o botão, cercadinho de espinhos, abriu em rosa. O contacto com os outros, o· ambiente de família e sua própria ânsia de «Ser» fizeram o milagre.

E veio o Natal! O primeiro grupo que nos visitou ofereceu ao Jorge um relógio de plástico com pontei­ros brilhantes. Foi um sucesso! Mostrou-o a todos, em ar de triunfo. Tão feliz no gesto de mos­trar a sua riqueza!

No dia seguinte, a festa na escola. Ele exibindo sempre! A professora que lhe entregou um presentinho tinha seu filho ao colo. O nosso Jorge, num gesto de ternura, tirou o relógio e ofereceu-o ao menino!

Este gesto simples e amoroso fez­-me descer à profundidade do Presépio.

• É uma linda menina de dez anos de idade. Os pais separaram-se.

Como são família «bem» e de mui­tas posses, suas avós tomaram conta e, cada qual procura conquistar-lhe o coração. É uma corrida com brin­quedos, todas as vontades satisfeitas e mimos sem conta. Atendidos todos os seus passos, aprendeu a exigir batendo o pé ... Caprichos são ordens! Não se pode embaciar a linda boneca de cristal!

Há dias, uma das avós, ao assis­tir ao trabalho dum dos nossos rapa- . zes de doze anos, cuja ocupação é a dobragem e distribuição da roupa dos companheiros, abriu com mágoa o seu coração. E falou ... Falou de sua neta: De como ela deixa a roupa e os brinquedos espa­lhados pela casa. De como ela é egoísta e má.

PARTILHANDO Digo que é, também, este o

drama de tantos pais. Dar e fazer tudo aos filhos sem nada lhes exigir.

Quão diferente num casal amigo ... : Os filhos tratam de suas coisas e ajudam, todos os dias, os

Estamos sempre a tempo, porém, de regressarmos a novos caminhos, onde a ordem e a disciplina convivam com a tolerância e o amor.

Padre Telmo

pais no arranjo da casa e lavagem -------------­das louças . Como esta lição quoti­diana foi fácil passar ao sentido uni­versal do amor fraterno.

• Dar tudo o que o filho pretende e pede, não é educar. É mais

falta de senso, deseducar e, o mais grave, plantar na alma dos filhos a árvore do egoísmo. As raízes fun­das do imbondeiro rebentarão tudo.

Famílias que hoje carregam uma cruz pesada ...

Todos os dias o Principezinho varria o seu pequeno planeta ... Sabia o que aconteceria se uma só semente germinasse: As raízes tomariam c·onta.

Muitos pais não varrem. Antes, para cúmulo, plantam imbondeiros no coração dos filhos." Estes, ou viram costas e vão, ou roubam a paz do lar e tornam-se fonte de preocu­pações e dor.

Casal amigo confessou, e não se importa que o revele, a preocupa­ção com o comportamento de sua filha: Tem. hoje , quinze anos e aos doze, nos sábados. acordava por um despertador para assistir ao filme «pela noite dentro»- quase sempre de sexo e violência. Os pais sabiam, mas não tiveram forças para contra­riar a menina. Demitiram-se. Hoje, lamentam a demissão.

Oitenta por cento dos pais, educa­dores, escolas e instituições são unâ­nimes em concordar na demissão, quase colectiva, no acto e sistemas de educar. Muito grave ... A Juventude acu~a já a nossa incapacidade.

AGORA Continuação da página 3

Assim demos num instante uma volta a Portugal. E vamos continuá-la com a passagem dos habitualmente presen­tes nesta coluna.

M. M. por quarto vezes, com a sua «migalhinha>> para a Casa da Paz. M M-AL, com duzentos e o silêncio de sempre. J. P. R., com «uma pedra» de trinta. A Maria Isaura, com «a mensa­lidade» de 3.000$00. Com igual quan­tia o assinante 36037, de Aguiar da Beira, mais 5.000$00 de outra vez.

Guimarães pelas mãos de Fernando, quinhetos para a Casa Padre Cruz. A Dr? Felicidade, de Lisboa, sempre com vinte, o mesmo da Camila, de Erme­sinde. As <<três mosqueteiras>> da Força Aérea com a migalhinha habitual.

M + M, vinte; e M. L., trinta, «pequeninas areias>> referentes a Novembro e a Dezembro. Seis, da «Portuense qualquer>>. E quatro, da Lígia, de Fiães.

A oração que quase todos nos pedem como única moeda de troca, nós a dirigimos ao Senhor. Mas a mais vai ia está, com certeza, neste segredo humilde que é; afinal, mérito de cada um. Padre Carlos

POBRES Continuação da página 1

Não será porque com as nossas acções e omissões criamos o mundo dos pobres que nem sequer podem sê­-lo porque são miseráveis?

ENCONTROS

Não vamos substituir o nome; vamos, sim, restituir-lhe a dignidade que lhe pertence e que está na origem. Deus é Pobre porque deu tudo; e deu­-Se para que a humanidade partilhasse da Sua riqueza. Só o Pobre acolhe o dom do Pobre. Só o Pobre é capaz de amar. Só o Pobre é capaz de partilhar o que tem e o que é . o mundo neces­sita dos Pobres. Por isso, «tê-los-eis sempre ... ».

Nas suas visitas ao Barredo, Pai Américo encontrava-se com heróis e santos. Os Pobres olham e tratam assim os Pobres. Este é o caminho certo, único, da libertação. EM LISBOA

Encontramos, com demasiada frequência, situações de pobreza onde tudo falta ou tudo faltou. São, por vezes, gerações sucessivas que reproduzem a miséria. Homens, mulheres, crianças e jovens deixam­-se apanhar nas garras desta pobreza a que podemos chamar de crónica, sem perspectivas de uma saída. Actualmente faz parte dos nossos esquemas de pensamento a menta­lidade de que a pobreza e a miséria serão completamente erradicadas com o progresso económico. Não desconhecendo alguma verdade na afirmação, parece-me que ela esconde outra verdade: uma franja significativa da população encontra­-se incapaz de embarcar no tal com­boio do progresso.

Um caso tirado ao acaso e que parece significativo: Homem com 31 anos. Não fez sequer a terceira classe. Viveu até se juntar com a actual companheira numa barraca. Nem higiene, nem alimentação

convenientes, nem hábitos de traba­lho. Diz que gosta de trabalhar, mas não consegue contratos que ultra­passem os seis meses; é sempre des­pedido. A mulher, com 29 anos, frequentou a escola, de vez em quando, mal sabendo assinar o nome. Não consegue arranjar emprego. Horas de limpeza, tam­bém de vez em quando, mas é Jogo mandada embora. Até se juntar com o homem, aos 18 anos, viveu situa­ção idêntica à dele. Duas filhas. Uma, de flõve, e outra, de quatro anos. A mais velha não frequenta a escola porque não tem sítio certo para viver. Vivem, ora na pensão, quando têm trabalho, ora no vão das escadas, ora nesta ou naquela barraca, até alguém a reclamar. (É que os direitos à barraca reclamam-se como na sociedade das habitações humanas.)

Que fazer com uma situação assim? Como parar esta reprodução da pobreza? Por muito progresso que venha, estes casos ficarão sem­pre no apeadeiro sem poderem embarcar. Falta o capital inicial para se poderem lançar. É gente esfrangalhada interiormente, destro­çada, onde apenas existe o

sonho irrealista e inconsequente. Fui, com duas pessoas diferentes,

visitar casas semelhantes. Verifiquei também que houve atitudes e, cer­tamente, as consequências também

·serão diferentes. Num dos casos face ao caos geral,

foi o abrir da torneira discursiva. Falou de higiene, civilidade, educa­ção, moral, etc. Ouvi e perguntava­-me pela eficácia. Coisas naturais que a gente põe em prática e parece que nunca aprendeu, apareciam ali deslocadas. Não havia cabeça, cora­ção, sentimento capaz de apanhar aquilo tudo. Voltadas as costas tudo ficaria exactamente igual, apesar de durante todo o tempo ter havido um acenar de cabeça afirmativo e com­preensivo. O nosso mundo e o da pobreza-miséria são mundos com a comunicação bloqueada.

No outro caso deparei com o mesmo caos. Quem me acompa­nhava discursou. Começou um diá­logo: - Onde se pode pôr isto? Durante quase uma hora foi grande a movimentação. As coisas tiveram direito a um lugar, outras ficaram de cara lavada e, no fim, já havia espaço para nos sentarmos. De regresso,

ouvi o comentário: <<Faço isto várias vezes por semana. O progresso é muito lento. Não têm nem gosto nem vontade de saber. São como criancinhas a quem é preciso ensi­nar tudo. Dizem que é paterna­lismo. Não me interessa. Adopto um ou dois casos de cada vez e vou caminhando com eles».

Pensei nas comunidades cristãs. São o próximo destas situações de miséria-pobreza. Muito poderia ser feito se a comunidade adoptasse estas situações e se tornasse pai , mãe, irmão, irmã dos Pobres que vivem na sua área. Talvez assim houvesse a possibilidade de todos se poderem sentar à mesa da dignidade.

Padre Manuel Cristóvão

Parece-me que a mentalidade tec­nicista e ideológica esvazia e perverte o significado incómodo que o nome Pobre tem. Daí o arrumá-lo do dicio­nário da vida.

Duma vez, ao telefone, uma senhora muito aflita perguntou se eXistiam, de verdade, pobres em Portugal. Estava incomodada e perplexa corri o que se dizia de determinada zona do País. Não será o Pobre um aguilhão perma­nente a questionar a nossa vida? Esta senhora incomodar-se-ia tanto se em vez dos Pobres aparecessem os caren­ciaâos, desfavorecidos ... ?

Não troquemos o Livro pelos livros. Padre Manuel António

Director: Padre Manuel António - Chefe de Redacção: Júlio Mendes Redacção e Adm.: Coso do Gaiola- Poço de Souso- 4560 Penafiel- Tel. (055) 752285 Fofocar4>. e imp. olflel: Escolas Gráficos do Coso do Gaiato - Paço de Sousa - 4560 Penaflel - Cont. 500788898

Depósito Legal 11. 0 1239 Tiragem média, por edição, dura/l/e o mês de Dezembro: 74.333 exemplares.