portaria mpf - suspensão pmcmv catalão
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS
3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA EXMO(A). SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA 7ª VARA DA SEÇÃO
JUDICIÁRIA DO ESTADO DE GOIÁS
AUTOS: 41172-39.2014.4.01.3500
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL , pelo Procurador da República
que esta subscreve, em exercício na Procurador ia da República em Goiás, no
uso das suas atr ibuições const itucionais e legais, vem, à presença de V. Exa.,
promover:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA LIMINAR
em face da:
UNIÃO FEDERAL , pessoa jurídica de direito públ ico interno, que
deve ser citada na pessoa do seu representante judicial, o Procurador-Chefe da
União em Goiás, com endereço na Rua 82, esquina com 83, nº 179, 12º andar -
Ed. Funasa - Praça Cívica, Setor Sul, CEP nº 74083-010, Goiânia/GO;
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF) , inst i tuição f inanceira
const ituída sob a forma de empresa públ ica federal, pessoa jurídica de direito
pr ivado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 00.360.305/0001-04, cuja
Superintendência Regional em Goiás situa-se na Rua 11, nº 250, 5º andar,
Setor Central, Goiânia/GO, CEP nº 74.015-170; e
Página 1 / 13Av. Olinda, Quadra G, Lote 2, Setor Park Lozandes, CEP 74884-120, Goiânia - GO
Fone: (62) 3243-5300 – homepage : h t t p : / /www.prgo.mpf .mp.br
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA
MUNICÍPIO DE CATALÃO , pessoa jurídica de direito público
interna, que deve ser citado na pessoa do seu representante judicial, o Prefeito
do Município, com endereço na Rua Nassin Agel, n° 505, CEP: 75701-903 – Catalão/GO .
1 – INTRÓITO
Esta ação civi l pública tem suporte nos elementos acostados ao
inquérito civi l ( IC) nº 1.18.000.002580/2013-11, instaurado nesta Procuradoria
da República, visando apurar irregularidades na execução do Programa Minha
Casa Minha Vida - PMCMV, no Município de Catalão /GO (anexo 1).
Com efeito, esta demanda tem por objet ivo lograr provimento
judic ial que assegure a suspensão do PMCMV no Município de Catalão/GO ,
até comprovação de que o ente municipal tenha adequado o programa federal
de habitação aos ditames legais correspondentes .
2 – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL
A f ixação da competência da Just iça Federal no caso em tela
decorre da natureza jurídica da ocupante do polo passivo da presente
demanda. Assim, a Const itu ição Federal adotou, ao lado de outros, o cr itér io
intuitu personae para a f ixação dessa competência.
Logo, colimando-se, pela presente demanda, suspensão de
Programa habitacional federa l a cargo da União , Caixa e Município, exsurge a
competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento do pleito,
com base na Const itu ição Federal, art igo 109, inciso I .
Além do mais, a só presença do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
no polo at ivo é causa bastante da competência deste Juízo 1 .
3 – LEGITIMIDADE PASSIVA
De acordo com a Lei federal nº 11.977, de 7 de julho de 2009, a
União , por intermédio do Ministério das Cidades , edita os regulamentos para 1 CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS PROPOSTAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. CONSUMIDOR. CONTINÊNCIA ENTRE AS AÇÕES. POSSIBILIDADE DE PROVIMENTOS JURISDICIONAIS CONFLITANTES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A presença do Ministério Público federal, órgão da União, na relação jurídica processual como autor faz competente a Justiça Federal para o processo e julgamento da ação (competência 'ratione personae') consoante o art. 109, inciso I, da CF/88.(...) (CC 112.137/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 01/12/2010)
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a operacionalização, gestão e execução do PMCMV. Publica, pois, arcabouço
normativo material e formal a ser observado, por Estados, Distr i to Federal e
Municípios.
Conforme a Lei federal nº 11.977/2009, bem como a Portar ia do
Ministér io das Cidades n° 595/2013, a gestão operacional do PMCMV é
executada pela Caixa . Fr isa-se que, caso o Município não cumpra os preceitos
do PMCMV, caberá a Caixa impedir novas contratações ( i tem 9.3 da Portar ia n°
595/2013).
O Município fora contemplado com o PMCMV, tendo a obrigação de
executá-lo de acordo com os seus regramentos, a f im de promover a adequada
seleção dos beneficiár ios, f iscalização do processo selet ivo , publ icidade dos
cadastros e entre outras atr ibuições.
Logo, não se pode fugir da inferência de que se correlacionam os
deveres-poderes da União, Caixa e Município, de prover, de forma apropriada,
a implementação, execução e f iscal ização do Programa Minha Casa, Minha
Vida - PMCMV. Do que se def lui a legitimidade passiva dos corréus.
4 – LEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Mirando a efet iva proteção dos direitos assegurados ao cidadão, a
Const ituição Federal, art igo 127, estabelece que o Ministér io Público é
inst i tu ição permanente, essencial à função jur isdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrát ico e dos interesses sociais e individuais indisponíveis , entre quais se classif icam o direito à moradia , ao teor da Carta Magna, art igos 6º .
Dispõe, ainda, a Carta Magna, art igo 129, incisos II e I I I , que são
funções inst itucionais do Ministér io Públ ico: a) zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia ; e b) promover o inquérito civi l e a ação civi l públ ica, para a proteção
do patr imônio público e social, do meio ambiente e de outros direitos difusos e coletivos .
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Por sua vez, prescreve a Lei Complementar federal nº 75/93, art igo
6º, incisos VII, alíneas “a” e “d”, que dispõe sobre a organização, as
atr ibuições e o estatuto do Ministér io Público da União, que compete a essa
inst ituição promover o inquérito civil e a ação civil pública para a defesa : a)
dos direitos constitucionais ; b) e de outros interesses individuais indisponíveis , homogêneos, sociais, difusos e colet ivos.
Portanto, é insof ismável a legitimidade ad causam do Ministér io
Públ ico Federal para manejar esta ação civi l pública, voltada para a
concretização do direito fundamental à moradia da população.
5 – MÉRITO
5.1 – FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO MATERIAL
5.1.1 – DEVER-PODER DE AGIR NA ESCORREITA EXECUÇÃO DO “PROGRAMA MINHA CASA , MINHA VIDA – PMCMV” , CONSOANTE A PRINCIPIOLOGIA ATINENTE À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As ações e os programas que compõem o PMCMV são
regulamentados e discipl inados pelo Poder Execut ivo federal, conforme
disposto nos art igos 3º, § 3º; 8º e 15 da Lei nº 11.977/2009, especif icamente
pelo Ministér io das Cidades, a quem o legislador conferiu a competência de
gerir e regulamentar os seus subprogramas, conforme art igos 10 e 17 da
mencionada lei, bem assim art igos 11 e 16 do Decreto nº 7.499/99.
Por conseguinte, cabe ao Ministér io das Cidades, enquanto órgão
da União, estabelecer regras, condições e parâmetros de prior ização para
implantação de empreendimentos (art igos 4º e 6º do Decreto 7.499/2011);
regular, por meio de termo de adesão, a part icipação dos outros entes
federados no PMCMV; estabelecer os cr itér ios de elegibi l idade e seleção dos
beneficiár ios do programa; e, por óbvio, acompanhar, avaliar e fiscalizar o desempenho desta polít ica pública de habitação .
Nessa perspect iva, a f im de assegurar a constitucionalidade e legalidade da execução do PMCMV, nos termos preconizados nos sobreditos
princípios e regras , cabe precipuamente à Caixa Econômica Federal velar
pelo efetivo cumprimento das normas que regulamentam o indigitado Página 4 /13
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Programa , conforme Lei federal nº 11.977/09, regulamentada pelo Decreto nº
7.499/11, Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publicada no DOU,
Seção 1, de 20 de dezembro de 2013 .
Por conseguinte, é incabível qualquer subterfúgio explícito ou sub-
reptício capaz de afastar, l ic itamente, a competência do Ministér io das Cidades
e da Caixa para assegurar, mediante providências formais e materiais ,
administrat ivas e judic iais, enf im, todas as medidas em direito admit idas, que o
Município cumpra efet ivamente as normas que regulamentam o mesmo.
5.1.2 – OBRIGATORIEDADE CONSTITUCIONAL DE PUBLICAÇÃO DOS ATOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O princípio da publicidade é o que confere certeza às condutas estatais e segurança aos administrados , pois tem como desiderato assegurar
transparência na gestão pública .
Com efeito, o princípio da publicidade – aplicado a todos os
órgãos e ent idades do Poder Público – fundamenta a necessidade de
transparência da atuação do Estado , que deve prestar informações aos cidadãos sobre fatos, decisões e contratos, como forma de garant ir a
segurança jurídica dos membros da colet ividade quanto aos seus direitos. O sigilo no âmbito administrativo é medida excepcional , aplicável somente se
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, consoante preconiza
art igo 5º, inciso XXXIII , c/c art igo 37, caput , ambos da Carta da Repúbl ica.
Logo, a exigência da publicidade impede o exercício clandestino e arbitrário das atividades administrativas custeadas pelos recursos públicos vinculados à sat isfação do bem comum, impondo a publ icação como
requisito de eficácia , moralidade e exequibilidade dos atos administrat ivos,
especialmente daqueles que gerem efeitos jurídicos para além dos órgãos e
ent idades que os emit iram.
Consequentemente, no Estado Brasile iro, a publicidade traduz-se
em dever jurídico dos agentes , entidades e órgãos de qualquer esfera administrativa ( federal, estadual ou municipal), no desempenho de atividade centralizada e descentralizada (autarquias e fundações públicas, empresas
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estatais, como sociedades de economia mista, empresas públicas e empresas
com part icipação acionár ia estatal, na prestação de serviços públicos ou na
exploração de at ividade econômica).
Especialmente sobre o PMCMV, a Portar ia nº 595, de 18 de
dezembro de 2013, publ icada no DOU, Seção 1, de 20 de dezembro de 2013,
dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação permanente do cadastro e da identificação dos inscritos em meios f ísicos e digitais:
2.4 O cadastro de candidatos a benef ic iár ios, contendo a ident if icação dos inscr i tos, deverá estar permanentemente disponível para consulta pela população , por meios físicos e eletrônicos . 2.4.1 A divulgação em forma não eletrônica deverá ser real izada por meio da disponibi l ização dos dados em meio f ís ico, af ixado em local apropriado nas sedes dos governos do Distr i to Federal , estados, municíp ios e ent idades organizadoras, bem como na Câmara de Vereadores do municíp io e Câmara Distr i ta l do Distr i to Federal . 2.4.1.1 Quando a quant idade de inscr i tos inviabi l izar a af ixação da re lação em meio f ís ico, poderá ser promovida forma al ternat iva de disponibi l ização do cadastro, f ranqueada a consulta por qualquer interessado de forma permanente. 2.4.2 A divulgação em forma eletrônica deverá ser real izada nos respect ivos sí tios eletrônicos dos governos do Distr i to Federal , estados, municíp ios e ent idades organizadoras, quando existentes. (gr ife i)
De tal forma, os atos administrat ivos do Programa devem ser
dotados, para garant ir a ef icácia, da devida divulgação e publicidade . A
ausência de medidas que assegur em aos cidadãos o acesso às informações,
causando insegurança jurídica na população, revelam que o procedimento não atinge sua finalidade primária , qual seja, atender a um fim público , que consiste em satisfazer, em caráter geral e especial os interesses da coletividade . Imprescindível que as medidas implementadas pelo poder público
busquem sempre o resultado da ação que melhor promova o interesse público primário , observando ao longo do processo os princípios e regras inerentes à Administração Pública .
5.1.3 – NOTÍCIAS DE VIOLAÇÃO DE NORMAS DO “PROGRAMA MINHA CASA , MINHA VIDA – PMCMV” NO MUNICÍPIO
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Instaurou-se nesta Procuradoria da República, a part ir da
recomendação nº 134, de 13 de novembro de 2013, o inquérito civ i l n°
1.18.000.002580/2013-11, tendo em vista a necessidade de adequação e proporcionalidade de medidas aptas a obstar que i licitudes maculem a execução do PMCMV, especialmente sobre a realização de processo claro,
objet ivo, democrát ico e republ icano para a seleção dos possíveis benef iciár ios;
e f iscalização do cumprimento das regras que regem o Programa .
Em atendimento às requisições do MPF, o Município encaminhou
informações das quais se infere i l ícitos e má execução do PMCMV no Município .
Ademais, apura-se, nesse inquérito, e, também, cert i f icado através
do site da prefeitura (http:/ /www.catalao.go.gov.br/ ), a não execução do item
2.4 da Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publicada no DOU, Seção
1, de 20 de dezembro de 2013, supramencionado. Assim verif icado pela
ausência de publicação permanente dos dados do Programa , notadamente
sobre cadastro e benef ic iados .
Em tudo, v isualiza-se, pois, a falta de transparência e publicidade dos critérios e do processo de seleção dos candidatos ; e a ineficiência administrativa .
Vale dizer, portanto, que o poder de selecionar os candidatos vem sendo util izado de forma il ícita pelo Município . Essa conduta i l ícita
merece pronto rechaço do ordenamento jurídico, devendo ser corr ig ido
imediatamente.
A f im de impedir o prosseguimento i l ícito da execução do
Programa, visto as inadequações constatadas, expediu-se recomendações ao
Ministér io das Cidades e à Caixa, para a devida suspensão do Programa até
comprovação de que o ente municipal adequ asse o PMCMV aos ditames legais,
necessar iamente acerca das exigências de publ icidade, responsabi l idade e
f iscal ização (recomendações n°s 138 e 139, de 13/5/2014).
Insta salientar que as recomendações foram expedida s no mês de
maio do ano de 2014. Assim, apesar de extenso lapso temporal, perfazendo 5 Página 7 /13
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(cinco) meses, em ofício datado de 9/10/2014, o Ministér io das Cidades relatou
que está analisando a manifestação do Município e, se cert i f icar
descumprimento da legis lação , solic itará regularização, bem assim determinará
a suspensão de novas contratações até conclusão das adequações.
Sem embargo, resta ponderar que, para verif icar, por exemplo, a
falta de publicidade exigida no item 2.4 da Portar ia nº 595/2013, faz-se
necessário apenas conferir o site da prefeitura. No entanto, o Ministér io das
Cidades, após 5 (cinco) meses que o MPF not iciou as irregularidades, mantém
o Programa com desordem, notório descumprimento das normas
correspondentes, e, ainda, viabi l izando o exercício clandest ino e arbitrár io d o
Município ao executar o PMCMV sem a devida public idade.
A CAIXA, através de resposta desconexa, ressaltou que a) não
existe provas de irregularidades no Programa; b) não cabe a CAIXA realizar a
f iscalização, posto não ser órgão de controle; e c) acerca da recomendação, a
CAIXA “se vê impossibi l i tada de aceitá- la”.
6 – FUNDAMENTOS DA TUTELA INIBITÓRIA
Bem verdade, é patente que a presente demanda é verdadeira
tutela inibitór ia, imanente ao Estado de Direito e garant ida pelo art igo 5º, inciso
XXXV, da Const itu ição Federal de 1988:
“Art . 5º ( . . . )
XXXV - a le i não exclu irá da apreciação do Poder Judic iár io lesão ou ameaça a dire i to;
(…). ”
Nesse sent ido, os ensinamentos de Luiz Guilherme Marinoni ,
verbis :
“A tute la prevent iva é imanente ao Estado de Dire i to e está garant ida pelo art igo 5º, XXXV, da Const i tu ição da Repúbl ica, razão pela qual é completamente desnecessária uma expressa previsão inf raconst i tucional para a propositura da ação in ib i tór ia. Al iás, nem poderia ser de outra forma. ”2
2 MARINONI , Lu i z Gu i lherme . A Tu te la In i b i tó r ia . 2 .ed . São Pau lo : Ed i t o ra Rev is ta dos Tr ibuna is , 2000, p . 47 .
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Nessa l inha de raciocínio, pode-se perceber que o Const ituinte
estabeleceu importante preceito, de modo a possibi l i tar ao Poder Judic iár io a
prevenção dos i l ícitos que lhe são dado conhecimento.
Densif icando a tutela inibitór ia , o Código de Processo Civi l :
“Art . 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o ju iz concederá a tute la específ ica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prát ico equivalente ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 1º A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tute la específ ica ou a obtenção do resultado prát ico correspondente. ( Inclu ído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 2º A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art . 287). ( Inclu ído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994).”
In casu , tem-se que o prosseguimento errôneo e i l ícito do PMCMV,
fer irá fatalmente o direito à moradia afeto aos mais necessitados , impondo-se
que o Poder Judic iár io atue prevent ivamente para coibir tal i l ic i tude.
7 – ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
Visando a efet ividade da tutela in ibitór ia e, consequentemente, da
prestação jur isdicional, há o permissivo do Código de Processo Civi l que cuida
da antecipação de tutela, l i t ter is :
Art . 461 (. . . )§ 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justif icado receio de ineficácia do provimento final , é l íc i to ao ju iz conceder a tute la l iminarmente ou mediante just i f icação prévia, c i tado o réu. A medida l iminar poderá ser revogada ou modif icada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. ( Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 4º O ju iz poderá, na hipótese do parágrafo anter ior ou na sentença, impor multa d iár ia ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suf ic iente ou compatíve l com a obrigação, f ixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito. ( Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)§ 5º Para a efet ivação da tute la específ ica ou a obtenção do resultado prát ico equivalente, poderá o ju iz, de of íc io ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, ta is como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de at ividade nociva, se necessário
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com requisição de força pol ic ia l . (Redação dada pela Lei nº 10.444, de 7.5.2002).
7.1 – RELEVANTE FUNDAMENTO DESTA DEMANDA
Pois bem, in casu, tal pressuposto advém das evidências já
coletadas de que ausência de public idade inerente ao Programa, acoberta,
cada vez mais, fraudes no cadastro e manipulação na seleção de benefic iár ios,
conforme já extensamente debat ido anteriormente.
Assim sendo, somente com o provimento antecipatório aqui
requerido é que será possível suspender a cont inuação dos i l ícitos aqui
descritos.
7.2 - RISCO DE INEFICÁCIA DO PROVIMENTO FINAL
Há urgente necessidade de se suspender o Programa, impedindo que seja ocasionado il ícito irreparável à população , bem assim o
descumprimento da legis lação correlata. Transparece, pois, que não é
consentânea com a ordem jurídica pátr ia uma tutela jurisdicional demorada ,
que imponha desrespeito aos ditames const itucionais, e prorrogue no tempo os
efeitos da decisão. Uma tutela jur isdic ional que se realizasse dessa forma não
seria, contudo, tempest iva, sendo i legítima e injusta , noutras palavras, seria a
negação de si mesma.
8 – PRETENSÕES DESTA DEMANDA
Pelo exposto, forçoso reconhecer, a existência de irregularidades na execução do PMCMV, perpetradas pelo Ministério das Cidades , Caixa e o Município , mormente a falta de transparência e publicidade dos critérios e do processo de seleção dos candidatos ; a ineficiência administrativa ; e a ausência de realização de processo claro , objetivo , democrático e republicano para a seleção dos possíveis benef ic iados pelo mencionado
Programa de habitação.
Por outra banda, impende proclamar a omissão antijurídica dos
corréus, concernentemente à ausência de controle , f iscalização e zelo pelo efetivo cumprimento das normas que regem o PMCMV pelo sobredito ente
federado aderente, caracterizando-se vício de inconstitucionalidade e Página 10 /13
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i legalidade dos respect ivos atos decorrentes do refer ido Programa, correlatos
ao Município.
Forte nesses argumentos , extremam-se o relevante fundamento desta demanda e o risco de ineficácia do provimento final , pelo que é imprescindível suspender o PMCMV, inclusive mediante antecipação l iminar da tutela jurisdicional pretendida.
9 – PEDIDOS
Posto isso, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL pede a V. Exa.:
9.1 – DECISÃO LIMINAR ANTECIPATÓRIA DE PARTE DAS PRETENSÕES DE MÉRITO
9.1.1 - ordene à União , através do Ministério das Cidades , e à
Caixa que suspendam a execução do PMCMV no Município de Catalão/GO ,
especialmente sobre novas contratações, até comprovação de que o ente
municipal tenha adequado o Programa federal de habitação aos princípios constitucionais , legislação correlata e, especialmente, item 2.4 e seguintes
da Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publicada no DOU, Seção 1,
de 20 de dezembro de 2013;
9.1.2 – ordene ao Município de Catalão , que tome as
providências ao seu cargo , necessárias e adequadas , a f im de que sejam
observados e cumpridos rigorosamente os princípios constitucionais , bem
como os ditames legais referentes ao PMCMV, especialmente item 2.4 e
seguintes da Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publ icada no DOU,
Seção 1, de 20 de dezembro de 2013;
9.1.3 – ordene à União, através do Ministér io das Cidades, que
apure as condutas comissivas ou omissivas antijurídicas que tenham
caracterizado descumprimento das normas impostos pelo PMCMV, empreenda
todas as providências formais e materiais , administrativas e judiciais , ao
seu cargo, com o desiderato de corr ig ir a i l ic i tude;
9.1.4 – comine multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais)
aos corréus, no caso de retardamento das medidas acima pugnadas, i tens:
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“9.1.1”, “9.1.2” e “9.1.3”; e
9.1.5 - comine multa diária pessoal , no valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais) , aos agentes públ icos dos corréus, no caso de retardamento das
medidas postuladas nos itens “9.1.1”, “9.1.2” e “9.1.3” , retro.
9.2 – JULGAMENTO DEFINITIVO
9.2.1 - ordene à União , através do Ministério das Cidades , e à
Caixa que suspendam a execução do PMCMV no Município de Catalão/GO ,
especialmente sobre novas contratações, até comprovação de que o ente
municipal tenha adequado o Programa federal de habitação aos princípios constitucionais , legislação correlata e, especialmente, i tem 2.4 e seguintes
da Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publicada no DOU, Seção 1,
de 20 de dezembro de 2013 ;
9.2.2 – ordene ao Município de Catalão , que tome as
providências ao seu cargo , necessárias e adequadas , a f im de que sejam
observados e cumpridos rigorosamente os princípios constitucionais , bem
como os ditames legais referentes ao PMCMV, especialmente item 2.4 e
seguintes da Portar ia nº 595, de 18 de dezembro de 2013, publicada no DOU,
Seção 1, de 20 de dezembro de 2013;
9.2.3 – ordene à União, através do Ministér io das Cidades, que
apure as condutas comissivas ou omissivas antijurídicas que tenham
caracterizado descumprimento das normas impostos pelo PMCMV, empreenda
todas as providências formais e materiais , administrativas e judiciais , ao
seu cargo, com o desiderato de corr igir a i l ic i tude;
9.2.4 – comine multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais)
aos corréus, no caso de retardamento das medidas acima pugnadas, i tens:
“9.2.1”, “9.2.2” e “9.2.3”;
9.2.5 – comine multa diária pessoal , no valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais) , aos agentes públ icos dos corréus, no caso de retardamento das
medidas postuladas nos itens “9.2.1”, “9.2.2” e “9.2.3” , retro; e
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA
9.2.6 – destarte, confirme os efeitos do provimento de antecipação da tutela concedido nos termos do tópico retro, “ 9.1”, convolando-
os def init ivos.
10 – REQUERIMENTOS
Requer, ainda, a V. Exa.:
10.1 – determine a citação da União, Caixa e Município de Catalão ,
por intermédio dos seus representantes legais, para contestar esta demanda;
10.2– assegure a int imação pessoal do Ministér io Público Federal
de todos os atos e fases do processo engendrado por esta ação;
10.3 – condene aos corréus ao pagamento das verbas decorrentes
dos ônus sucumbenciais;
10.4 – juntada de cópia dos autos do inquérito civi l n°
1.18.000.002580/2013-11 ao processo decorrente desta ação.
11 – PROVAS
Provar-se-á o alegado por todos os meios de provas em direito
admit idas.
12 – VALOR DA CAUSA
Atribui-se à presente causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais).
Goiânia, de outubro de 2014.
AILTON BENEDITO DE SOUZA
Procurador da República
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