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Pesquisa em Recepção na América Latina: perspectivas teórico- metodológicas Autoria Denise Cogo Professora titular do Programa de Pos-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil, onde coordena o grupo de pesquisa Mídia e Multiculturalismo. Conteúdo Abstract 1. Gênese em torno de uma presença 2. Teorias e ideários – (re) visitando alguns marcos conceituais 2.1. Recepção midiática, consumo e cidadania 2.2. Mediações e midiatização 3. Itinerários metodológicos da Pesquisa em Recepção na América Latina 3.1. Experimentação, multi e transmetodologia nas pesquisas de recepção 4. Interrogantes e perspectivas em torno da pesquisa em recepção na América Latina 4.1. (Re) configuração da experiência da nação e das identidades nacionais e suas incidências no modo de pesquisar a recepção 4.2. Reordenação tecnológica e intersecções entre produção e recepção 4.3. Heterogeneidade de cenários e transformações da família como universo da recepção 4.4. Movimentos sociais e a cidadania: estudos de recepção em tempos de redes 4.5. Memória e imaginário e suas repercussões nas metodologias aplicadas à recepção 4.6. Educação para comunicação e cidadania comunicativa nos estudos de recepção 5. Pesquisa em recepção e compromisso político com a comunicação na América Latina 6. Bibliografia relacionada ABSTRACT "Fui apresentada pela primeira vez a Jesus Martín-Barbero no ano de 1991 durante o meu primeiro ano como estudante de mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA- USP). Li e debati alguns de seus artigos e, especialmente, a versão em espanhol de sua principal obra - De los medios a las mediaciones - editada em 1987 pela editora Gustavo Gili. Os textos haviam sido introduzidos como bibliografia de um seminário sobre estudos comunicacionais latino-americanos e disponibilizados aos alunos através de fotocópias." […] 1. GÊNESE EM TORNO DE UMA PRESENÇA Fui apresentada pela primeira vez a Jesus Martín-Barbero no ano de 1991 durante o meu primeiro ano como estudante de mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Li e debati alguns de seus artigos e, especialmente, a versão em espanhol de sua principal obra - De los medios a las mediaciones - editada em 1987 pela editora Gustavo Gili. Os textos haviam sido introduzidos como bibliografia de um seminário sobre estudos comunicacionais latino-americanos e disponibilizados aos alunos através de fotocópias. No final do mesmo ano, pude reencontrar com Martín-Barbero, dessa vez, presencialmente, na condição de integrante da platéia de um seminário acadêmico organizado na USP sobre estudos de recepção na América Latina. Compartilhei desse seminário com professores e estudantes que, como eu, se alinhavam ao pensamento do autor, e, principalmente, se definiam como pesquisadores que se vinculavam à perspectiva do que viria a ser conhecido como estudos culturais latino-americanos, vertente em que aparecem situados, atualmente, os chamados estudos de audiência ou estudos de recepção . No meu caso, a comunicação dos movimentos sociais brasileiros, mais especificamente a produção e recepção das rádios comunitárias de alto-falantes (COGO, 1998), era o que Lições do portal ISSN 2014-0576

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Pesquisa em Recepção na América Latina: perspectivas teórico-metodológicas

Autoria

Denise Cogo Professora titular do Programa de Pos-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos,em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil, onde coordena o grupo de pesquisa Mídia e Multiculturalismo.

Conteúdo

Abstract

1. Gênese em torno de uma presença

2. Teorias e ideários – (re) visitando alguns marcos conceituais

2.1. Recepção midiática, consumo e cidadania

2.2. Mediações e midiatização

3. Itinerários metodológicos da Pesquisa em Recepção na América Latina

3.1. Experimentação, multi e transmetodologia nas pesquisas de recepção

4. Interrogantes e perspectivas em torno da pesquisa em recepção na América Latina

4.1. (Re) configuração da experiência da nação e das identidades nacionais e suas incidências no modo de pesquisar a recepção

4.2. Reordenação tecnológica e intersecções entre produção e recepção

4.3. Heterogeneidade de cenários e transformações da família como universo da recepção

4.4. Movimentos sociais e a cidadania: estudos de recepção em tempos de redes

4.5. Memória e imaginário e suas repercussões nas metodologias aplicadas à recepção

4.6. Educação para comunicação e cidadania comunicativa nos estudos de recepção

5. Pesquisa em recepção e compromisso político com a comunicação na América Latina

6. Bibliografia relacionada

ABSTRACT

"Fui apresentada pela primeira vez a Jesus Martín-Barbero no ano de 1991 durante o meu primeiro anocomo estudante de mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Li e debati alguns de seus artigos e, especialmente, a versão em espanhol de sua principal obra -De los medios a las mediaciones - editada em 1987 pela editora Gustavo Gili. Os textos haviam sidointroduzidos como bibliografia de um seminário sobre estudos comunicacionais latino-americanos edisponibilizados aos alunos através de fotocópias." […]

1. GÊNESE EM TORNO DE UMA PRESENÇA

Fui apresentada pela primeira vez a Jesus Martín-Barbero no ano de 1991 durante o meu primeiro ano como estudante de mestradona Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Li e debati alguns de seus artigos e, especialmente, aversão em espanhol de sua principal obra - De los medios a las mediaciones - editada em 1987 pela editora Gustavo Gili. Os textoshaviam sido introduzidos como bibliografia de um seminário sobre estudos comunicacionais latino-americanos e disponibilizados aosalunos através de fotocópias.

No final do mesmo ano, pude reencontrar com Martín-Barbero, dessa vez, presencialmente, na condição de integrante da platéia deum seminário acadêmico organizado na USP sobre estudos de recepção na América Latina. Compartilhei desse seminário comprofessores e estudantes que, como eu, se alinhavam ao pensamento do autor, e, principalmente, se definiam como pesquisadoresque se vinculavam à perspectiva do que viria a ser conhecido como estudos culturais latino-americanos, vertente em que aparecemsituados, atualmente, os chamados estudos de audiência ou estudos de recepção . No meu caso, a comunicação dos movimentossociais brasileiros, mais especificamente a produção e recepção das rádios comunitárias de alto-falantes (COGO, 1998), era o que

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motivava esses primeiros (re) encontros com o pensamento de Jesus Martín-Barbero e que convergiram para minha posteriorvinculação aos estudos culturais latino-americanos e sua vertente da pesquisa em recepção.

Em uma época marcada pela escassez de oferta de formação em mestrado e doutorado em comunicação no Brasil e pela aindahegemônica formação de pesquisadores brasileiros em matrizes da sociologia funcionalista norte-americana e da semiologia francesaem universidades estrangeiras, os estudos culturais latino-americanos encontram acolhida favorável entre aqueles pesquisadores quetinham como foco o estudo das práticas de comunicação alternativa e popular dos movimentos sociais e a preocupação com osprocessos de democratização dos meios de comunicação na América Latina. E também entre aqueles acadêmicos que, a partir daUniversidade, se empenhavam em manter um compromisso político e social através da pesquisa aplicada no âmbito de projetos comoo de Leitura Crítica da Comunicação, da União Cristã Brasileira de Comunicação (UCBC). Convertida em objeto de estudo científico por conta dos próprios processos recentes de democratização de muitos países latino-americanos, a pesquisa em comunicação alternativa e popular passa a abrigar algumas das principais inquietações que convergiamcom a proposta de Martín-Barbero de deslocamento do chamado mediacentrismo e a construção de um pensamento desde acomunicação e a partir da comunicação como processo. A aposta na insuficiência do instrumentalismo para o entendimento dacomplexidade dos processos comunicacionais latino-americanos leva o autor a mudar o lugar da pergunta para propor umainvestigação que toma como ponto de partida a cultura, as mediações e os sujeitos a partir a pluralidade das práticas de comunicaçãoe matrizes culturais que conformam os movimentos sociais.

Em muitos dos contextos acadêmicos da América Latina, já se produzia, desde os anos 60 e 70, uma reflexão sobre a comunicaçãoque podia ser reconhecida como efetivamente latino-americana na medida em que as condições estruturais de desigualdade nodesenvolvimento do continente passavam a ser consideradas e incorporadas à análise dos meios. Ao lado de pesquisadores comoMaria Cristina Mata, Rosa Maria Alfaro, Luis Ramiro Beltrán, Mario Kaplún e Néstor García Canclini, Jesus Martín-Barbero vaioferecer um conjunto de reflexões para dar continuidade, em alguns casos, consolidar e, em outros mesmo, abrir caminho e legitimarpossibilidades de um pensamento científico latino-americano autônomo e comprometido politicamente na perspectiva de contribuir àtransformação dos sistemas comunicacionais e midiáticos desiguais em vigor na América Latina.

Entre os pesquisadores da comunicação alternativa e popular, essas idéias chegam, ainda, para fortalecer iniciativas metodológicasconcretas de experimentação de modalidades de ciência participativa, como a pesquisa participante, a pesquisa ação e a pesquisamilitante em diferentes contextos latino-americanos. Era um ambiente que já favorecia, em realidade, a apropriação crítica do queMartín-Barbero defendia como modos de abordagem teórica e metodológica que atendessem às especificidades dos processoshistóricos latino-americanos e ao mesmo tempo permitissem superar ou pelo menos relativizar os desencontros entre ciência e mundovivido. O autor nos instava a um tipo de compromisso político com a produção do conhecimento científico que, produzido a partir derealidades sociocomunicacionais concretas, fosse capaz de incidir, intervir e alterar as lógicas de desigualdade social predominantesnos países latino-americanos. Mas um compromisso de construção de ciência que fosse, contudo, desvinculado da reprodução develhos esquemas ideológicos, como os marxistas ortodoxos.

Além da comunicação alternativa e popular, as mesmas reflexões de Martín-Barbero vão ser inspiradoras de pesquisas sobrerecepção dos meios de comunicação, possibilitando aos investigadores contornar as limitações impostas pelas chamadas pesquisasde efeitos e de usos e gratificações. No Brasil, essas reflexões se somam, no final dos anos 80, à publicação de alguns dos estudosinaugurais de recepção midiática nas áreas da comunicação e da antropologia. Em comunicação, destaca-se o estudo de CarlosEduardo Lins da Silva (1985) sobre a recepção por trabalhadores do Jornal Nacional, telejornal de maior audiência no Brasil,produzido e exibido pela Rede Globo. E, no âmbito da antropologia, a pesquisa de Ondina Fachel Leal (1986) sobre a recepção datelenovela entre famílias de diferentes estratos sociais. Ambos estudos têm em comum uma preocupação que vai ser convergenteentre várias outras pesquisas de recepção latino-americanas: a necessidade de compreensão do universo das classes populares nainteração com os meios de comunicação, especialmente a televisão.

Dois posicionamentos ou modos de abordagem, ambos inspirados na vertente teórica dos estudos culturais, demarcam odesenvolvimento das pesquisas de recepção na América Latina: (1) as pesquisas que buscam estudar a recepção a partir deprocessos socioculturais e comunicacionais em que não estão necessariamente implicados os meios de comunicação e (2) aspesquisas que se voltam à análise da recepção dos meios de comunicação ou às práticas de recepção midiática. [1] De los medios a las mediaciones fue editado en Brasil en portugués en 1997.

[2] El seminario fue organizado por el grupo de investigación coordinado por Mauro Wilton de Sousa, profesor e investigador de ECA-USP, dando origenposteriormente a una de las primeras obras de referencia de los estudios de recepción latinoamericanos en Brasil. Véase SOUSA, 1994.

[3] Optamos por el término “estudios de recepción” y no “estudios de audiencia”, atendiendo al hecho de que ésta es la denominación que se haconsolidado en Brasil y en la mayoría de los países latinoamericanos.

[4] Hasta el inicio de la década de los 90, había cinco Maestrías universitarias y Doctorados en el área de comunicación, concentrados en las regionesdel sureste y centro-oeste de Brasil. En 2008 los cursos de postgrado en comunicación en sentido estricto – Maestrías universitarias y Doctorado- eranun total de 33, autorizados por CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior), del Ministerio de Educación de Brasil.

[5] Otros proyectos similares en el ámbito de la educación en comunicación que se desarrollaron en América Latina en esa época fueron: PLAN DENI,en Uruguay; “Pedagogía de la Comunicación”, en Costa Rica; y CENECA, en Chile.

[6] Para ampliar información, véase el trabajo de la investigadora brasileña Berger (2001).

[7] Desde el campo de la educación -y más concretamente de la educación en comunicación-, Paulo Freire se constituyó en esa época en unareferencia en el área de los estudios sobre comunicación alternativa y popular. Véase Freire (1989) y Lima (1981).

[8] Acerca de la ciencia participativa, véase Cogo (2007b), Mata (1981) y Thiollent (1988).

2. TEORIAS E IDEÁRIOS – (RE) VISITANDO ALGUNS MARCOS CONCEITUAIS

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A comunicação e a cultura, o popular e o massivo se associam a outras duas perspectivas – a do cotidiano e das mediações - paraconformarem alguns dos principais eixos conceituais que constituem a trajetória de desenvolvimento dos estudos de recepção naAmérica Latina. “A comunicação se tornou questão de mediações mais do que de meios, questão de cultura e, portanto, não só deconhecimentos, senão de re-conhecimento” (MARTIN-BARBERO, 1987) sintetiza uma das principais premissas em torno da qual searticulam diferentes contribuições de autores latino-americanos que, no âmbito dos estudos recepção, se empenham em pensar acomunicação no marco do processo das culturas.

Sem negligenciarem os riscos implicados pela polissemia do termo cultura, autores como Néstor García Canclini, Jorge Gonzaléz e opróprio Martín-Barbero, tratam de enfatizar a cultura como um processo plural, instável, ambíguo, conflitivo e complexo que sedinamiza essencialmente no cotidiano. Como alternativa à superação do enfoque tecnicista que tende a reduzir a comunicação acanais, códigos e mensagem e informação, esses autores convergem no entendimento da comunicação como modos de inserção nomeio ambiente cultural a partir de elementos e valores ligados à vida cotidiana.

A concepção de cotidiano como mera descrição de ações e repetição de comportamentos dá lugar a uma compreensão que comportafundamentalmente o envolvimento de distintas dimensões como o inconsciente, o desejo e o prazer. O cotidiano, por ser o lugar dedinamização da cultura, é rotina, mas igualmente um espaço que inclui conflito e ao mesmo tempo resistência; espaço não apenas dereprodução, mas igualmente de produção. A proposição habermasiana de mundo da vida como espaço potencial de desenvolvimentode lógicas alternativas à razão instrumental e à razão fatalista é assumida por Martín-Barbero como possibilidade concreta deprodução, por parte dos sujeitos, de uma ética orientada por uma ação comunicativa de exercício de cidadania no âmbito da cultura eem confronto, muitas vezes, às lógicas e poderes do Estado e das instituições. O cotidiano é o lugar em que também a política assumeoutra configuração deixando de ser entendida apenas relacionada ao macro universo formal das instituições para ser compreendidanos micros contextos (bairro, casa, rua, etc.)

É preciso se preocupar menos com o que se extingue do que com o que se transforma, é o que postula García Canclini para nosoferecer um ponto de vista em torno de outras das premissas fundamentais das interfaces entre comunicação e cultura nos estudos derecepção: as inter-relações entre popular e massivo. Através do exemplo das reconfigurações do artesanato mexicano quando seconverte em produto de consumo turístico, o autor nos conduz a entender que se, na constituição do massivo, é central a presença dopopular, também na realidade cotidiana do popular as apropriações e usos do massivo são fundamentais. (GARCÍA CANCLINI, 1982,1996)

A forte presença do popular na constituição do massivo se torna um traço preponderante na conformação das sociedadescontemporâneas, não podendo, inclusive, ser reduzido ao que se passa em/ou pelos meios de comunicação de massa. As relaçõesentre essas duas instâncias – o popular e o massivo -, mas não a indistinção entre elas, se definem por um fluxo contínuo de sentidos,valores e bens culturais que se transformam em hegemônicos conforme a presença de atores e situações históricas, as combinaçõesdo poder e os modos de produção.

O processo de naturalização do popular nos impede, muitas vezes, de apreendê-lo ao mesmo tempo em que as tramas,entrelaçamentos, ambigüidades e conflitos que o configuram constituem em desafios à sua compreensão. A necessidade de busca dovalor do popular por sua representatividade sociocultural e não por sua beleza e autenticidade é o que sugere Martín-Barbero quandopensa o popular pela sua capacidade de materializar e expressar a maneira de viver e de pensar das classes subalternas, os seusmodos de sobrevivência assim como suas estratégias de seleção e reorganização de referentes das culturas hegemônicas a fim deintegrá-los e fundi-los à sua memória histórica. (MARTÍN-BARBERO, 1987)

No âmbito das inter-relações entre popular e massivo, pode ser pensado outro princípio conceitual fundador dos estudos de recepção– o de hibridismo ou de culturas híbridas – desenvolvido em uma das principais obras de Néstor García Canclini (1996). Princípio quevai atribuir contornos distintos e (re) orientar o próprio emprego da noção de identidades culturais ou de heterogeneidade cultural,igualmente primordial nas pesquisas de recepção latino-americanas.

Afirmar a hibridação, conforme sugere García Canclini (1996), supõe romper com as tradicionais divisões do mundo da cultura (como otradicional, o moderno, o culto, o popular, o massivo), implicando em uma visão mais complexa das relações entre tradição emodernidade. Se o culto ao tradicional não é apagado pela industrialização dos bens simbólicos, a cultura popular moderna, por suavez, é interpretada nos museus, na política, no mercado e, porque não agregar hoje, pelas tecnologias da comunicação, seentrelaçando com as tradições populares em processos de hibridização.

As culturas urbanas, as migrações, os processos simbólicos da juventude e o mercado informal são apontadas pelo autor como asprincipais dinâmicas socioculturais que geram e incrementam os processos de hibridizações culturais. A noção de hibridismo colabora,ainda, para conformar a própria concepção de latino-americanidade quando percebida como uma experiência cultural heterogênea emque confluem contribuições dos países mediterrâneos da Europa, do indígena americano e das migrações africanas assim comointerações com o mundo anglófono e com as culturas européias e asiáticas. Ou, ainda, quando essa latino-americanidade é vistacomo uma tarefa inconclusa que pode ser entendida desde as combinações das experiências transnacionais das migrações, daprodução cultural e da dívida externa dos países latino-americanos. (GARCÍA CANCLINI, 2002)

Os excessos e riscos no emprego da noção de culturas híbridas têm sido, contudo, objeto permanente de controvérsias e críticas entreos pesquisadores da recepção na América Latina. As críticas dirigem-se, por exemplo, à pretensão unificadora e à indistinção analíticaque cercam, muitas vezes, o emprego do conceito de hibridização na análise de experiências culturais diferenciadas e heterogêneas.Apontam, ainda, para os riscos de que seu uso possa pressupor uma fácil integração e fusão de culturas sem que seja dado suficientepeso às contradições e assimetrias que atravessam as fusões culturais. Ou, por fim, de que, na utilização do conceito de hibridismo emanálises da cultura, deixem de ser suficientemente considerados aqueles processos que não se deixam hibridizar.

Ao dialogar com essas críticas, o próprio García Canclini (2005) lembra que uma das dificuldades na atribuição de poder explicativo aoconceito de culturas híbridas é principalmente o fato de seu uso estar limitado especialmente à descrição de mesclas culturais. Nessaperspectiva, propõe que o estudo dos processos de hibridação na América Latina seja situado em relações estruturais de causalidadee que seja dotado de capacidade hermenêutica para a interpretação das relações de sentido que se reconstroem nas mesclasculturais.

Próxima conceitualmente ao hibridismo, a mestiçagem é outra noção que aparece em Martín-Barbero deslocada de seu sentidoestritamente racial e étnico para colaborar na compreensão do contexto de constituição cultural latino-americana. O autor postula quea miscigenação não é um elemento a mais na história de constituição da América Latina, mas uma questão central que influencia a

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psicologia, a linguagem, os processos de recepção, as formas de comunicação e os valores éticos. [9] Traducción propia.

[10] Sobre la perspectiva habermasiana en la obra de Martín-Barbero, pueden consultarse las reflexiones de Maldonado (1999).

[11] Estas relaciones abordadas por Martín-Barbero también aparecen tratadas en Maldonado (1999).

[12] Esa perspectiva conceptual de la obra de Martín-Barbero es retomada por Maldonado (1999).

2.1. RECEPÇÃO MIDIÁTICA, CONSUMO E CIDADANIA

O conjunto de premissas anteriores vai fundamentar igualmente os esforços dos estudiosos de recepção em compreender como osmeios de comunicação de massa se converteram nos grandes mediadores das interações coletivas. Ou, ainda, de como as mídias setransformam, de forma crescente, em espaços onde “não apenas se reproduzem ideologias, mas também se faz e se refaz a culturadas maiorias, não somente se comercializam formatos, mas recriam-se as narrativas nas quais se entrelaça o imaginário mercantilcom a memória coletiva”. (Martín Barbero, 2005, p. 63).

Os estudos de recepção midiática passam a se desenvolver em diferentes países da América Latina, se intensificando especialmentea partir do final dos anos 80 e se centrando principalmente na relação entre televisão e audiência. Como premissa essencial dessavertente, está percepção de que, embora os processos midiáticos intervenham fundamentalmente na constituição e na conformaçãodas interações, memórias e imaginários sociais, os indivíduos são sujeitos ativos em todo o processo de comunicação, conferindousos específicos aos conteúdos (e sentidos) oferecidos pelas mídias.

Não há garantia, portanto, de que os sentidos propostos por produtores dos meios de comunicação sejam aqueles a seremapropriados pela recepção uma vez que são permanentemente negociados com base nas experiências e práticas individuais ecoletivas dos receptores. Nesse sentido, a investigação em recepção ajuda a revelar, ainda, as contradições e conflitos no interior dasindústrias culturais e das instituições comunicativas "onde coexistem diversos projetos que lutam por dominar e entram em conflito” eque, portanto, “a emissão é em grande parte resultante de sua resolução." (CREEL, OROZCO, 1996, p. 208).

O consumo entendido como o conjunto dos processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos de produtosmidiáticos vai ser um dos eixos conceituais orientadores das pesquisas de recepção que assumem como foco os meios decomunicação. O consumo não mais abordado unicamente em sua dimensão de posse individual de objetos ou de reprodução deforças econômicas, mas concebido também e principalmente como produção de sentidos e espaço de luta e ação sociais que não seesgota na posse dos objetos, mas forma parte de um conjunto de interações socioculturais complexas.

Deslocado de uma perspectiva exclusivamente reprodutivista, o consumo aparece articulado à experiência de cidadania nopensamento de García Canclini para se investir também de um caráter de distinção e solidariedade e conformar uma dinâmica deapropriação coletiva de bens culturais e comunicacionais que podem ser geradores de ações políticas de cidadania. Na obra intituladaConsumidores e cidadãos (2001), o autor elenca alguns requisitos de ação política como condição para que seja viabilizada essaarticulação do consumo com o exercício reflexivo da cidadania.

Um primeiro diz respeito à necessidade dos consumidores poderem contar com uma oferta vasta e diversificada de bens e mensagensrepresentativos da variedade internacional dos mercados que seja de fácil e eqüitativo acesso para as maiorias. Um segundo fazreferência ao acesso a uma informação multidirecional e confiável a respeito da qualidade dos produtos e do exercício efetivo de seucontrole por parte dos consumidores. Como um terceiro requisito, García Canclini menciona a exigência de participação democráticados principais setores da sociedade civil nas decisões de ordem material, simbólica, jurídica e política que envolve o universo doconsumo que inclui desde, por exemplo, o controle da qualidade dos alimentos até as concessões de freqüências de rádio e televisão.

Esse esforço específico de García Canclini em articular consumo e cidadania foi especialmente polêmico na apropriação de sua obraConsumidores e cidadãos por pesquisadores latino-americanos da comunicação. Houve, por um lado, os que enxergaram umoportuno e produtivo deslocamento da perspectiva econômico-reprodutivista predominante em análises culturais que, no campo dosestudos comunicacionais, tendem a subvalorizar a atividade simbólica dos receptores ou consumidores. Por outro lado, se situaramaqueles críticos que preferiram alertar para os riscos de apropriações excessivamente otimistas que podem diluir os conflitos erelações desiguais que cercam as dinâmicas de consumo nas sociedades contemporâneas.

Posteriormente, o conceito vai ganhar outros contornos, especialmente a partir da abordagem em torno da chamada cidadaniacomunicativa proposta pela pesquisadora Maria Cristina Mata (2006) para a compreensão das dinâmicas de democratização doacesso, gestão e participação nos processos de apropriação e usos dos recursos comunicacionais por parte da sociedade. [13] Traducción propia.

[14] Es necesario recordar que la noción de consumo apenas ha sido considerada como centro de interés en los estudios sobre medios decomunicación. En cambio, sí aparece desarrollada de modo más amplio en investigaciones sobre producción cultural.

[15] Especialmente del capítulo titulado “O consumo serve para pensar” (pp. 76-94);

[16] Otro tratamiento interesante del vínculo entre los estudios de recepción mediática y los procesos de ciudadanía podemos encontrarlo en el trabajodel investigador brasileño Mauro Wilton de Sousa (2006).

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2.2. MEDIAÇÕES E MIDIATIZAÇÃO

Os usos ou as lógicas (plurais) dos usos é outra noção que, no contexto dos estudos culturais latino-americanos, possibilita atribuirespecificidade e distinguir a recepção midiática das vertentes dos usos e gratificações, (re) situando as interações comunicacionaisdos receptores no marco da cultura sem restringi-las a mensagens em circulação e a efeitos e reações. Trata-se, conforme sintetizaMartín-Barbero (1987, p. 240), de pensar a recepção “no espaço dos conflitos que a cultura articula, das mestiçagens que a tecem edas anacronias que as sustenta e, em última instância, do modo em que trabalha a hegemonia e a resistência que a mobiliza, doresgate, portanto, dos modos de apropriação e réplica das classes subalternas”. Em De los medios a las mediaciones, as lógicas dosusos aparecem estreitamente relacionadas às lógicas de produção na medida em que o autor propõe uma pesquisa de televisão queagregue o estudo das instâncias e dispositivos concretos da estrutura e dinâmica da produção televisiva.

Para articular produção e recepção midiáticas, o autor propõe tomar como ponto de partida as mediações entendida como “lugares deonde provêm as constrições que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão” (MARTÍNBARBERO, 1987, p. 233). Embora tenham a recepção televisiva como alvo, as mediações sistematizadas por Martin-Barbero têm sidoempregadas pelos pesquisadores da recepção para a compreensão das interações específicas com outros meios de comunicação ouaos processos mediáticos de modo mais amplo no contexto da América Latina.

Uma primeira mediação - a cotidianidade familiar – faz referência à família como unidade básica de audiência e como um dos espaçoschaves de interação com a televisão. A cotidianidade permite o deslocamento de uma concepção reprodutivista que marca a reflexãosociológica sobre a família para resgatá-la como mediação social e lugar primordial de reconhecimento. Como espaço de conflito epoder, mas também e principalmente de afeto, reconhecimento e solidariedade, a família se conforma como instância em que atelevisão opera a partir de dois dispositivos: a simulação de contato e a retórica do direto.

Por temporalidade social, Martín Barbero entende uma segunda mediação definida como o tempo ritual e rotineiro em que a televisãose organiza e se inscreve no cotidiano, especialmente familiar, dos receptores, materializando-se em uma programação ancorada narentabilidade e no palimpsesto, esse último termo cunhado pelo autor para evocar o cruzamento de um entramado de gêneros etempos de cada programa ou texto televisivo. O gênero passa a ser concebido como uma estratégia de comunicabilidade que, desdeuma perspectiva cultural e não meramente literária ou classificatória, se situa entre a lógica do sistema produtivo da televisão e aslógicas de usos das audiências. São basicamente as regras do gênero que configuram os formatos em que se ancora oreconhecimento cultural no universo da recepção. Fundada nessa noção de gênero, vale destacar, se desenvolvem uma série deinvestigações dedicadas à recepção da telenovela na América Latina.

O gênero constitui-se, ainda, uma das principais experiências ativadoras da competência cultural, terceira mediação enunciada porMartín-Barbero que colabora para incorporar a reflexão de que a pluralidade das lógicas de usos da recepção não se esgota na classesocial, exigindo a aproximação com outras noções como a de habitus, de Bourdieu. Alguns pesquisadores buscaram avançar naapropriação da concepção de habitus e experimentaram percebê-la como esquemas mais flexíveis e híbridos, não rigidamentedefinidos apenas pela posição do agente na estrutura social, mas passíveis de alteração na trajetória dos indivíduos especialmente apartir de diferentes processos de hibridação das culturas.

Como mediação, a competência cultural dos grupos sociais provém não apenas das modalidades de educação formal relacionadas àclasse, mas deriva igualmente de suas experiências socioculturais vinculadas às etnias, às culturas regionais, aos “dialetos” locais e àsdistintas mestiçagens urbanas. As próprias experiências com os meios de comunicação se convertem em instâncias dedesenvolvimento de competências culturais específicas por parte dos receptores.

Guillermo Orozco Gómez é um segundo autor que, no contexto latino-americano, vai se debruçar sobre a noção de mediações noesforço de proporcionar uma operacionalização metodológica do conceito oferecido por Martín-Barbero. O pesquisador mexicanoformula uma tipologia das mediações que resulta de sua experiência de pesquisa empírica, grande parte delas orientadas à aplicaçãoem projetos de educação para a comunicação, especialmente aqueles dirigidos à televisão.

O autor vai entender a mediação, em consonância com Martín-Barbero, como a instância cultural desde a qual os receptoresproduzem e se apropriam dos significados e sentidos, cunhando o termo televidência para se referir ao processo complexo deinteração entre audiência e televisão. As mediações não provêm unicamente dos meios, dos gêneros de programas e das mensagens,senão de fontes diversas - internas e externas - anteriores e posteriores ao processo de recepção - assim como das experiênciasindividuais e coletivas dos próprios sujeitos integrantes da audiência. Como decorrência da própria trajetória investigadora de OrozcoGómez, distintas tipologias de mediação vão ser formuladas e reformuladas em suas especificidades no marco na noção ampla doque o autor denomina de mediações múltiplas. (OROZCO GÓMEZ, 1993).

Com primeira delas, a mediação individual é aquela que emerge do indivíduo como sujeito cognitivo e emotivo e ao mesmo tempo desuas experiências como sujeito social integrante de uma cultura. Incluem-se, no âmbito dessa mediação, experiências identitáriasrelacionadas ao gênero, à geração, à etnicidade, dentre outras, que concorrem para os processos de interação dos televidentes comos meios de comunicação.

Por sua vez, a mediação situacional é aquela que indica como o receptor se encontra no momento da recepção das mensagens:sozinho ou acompanhado, com a atenção concentrada na tela ou realizando outras atividades paralelas, tecendo comentários outrocando constantemente de canal, etc. Todas essas situações condicionam o processo de recepção, o qual será mais individual oumais coletivo, influindo na interação da audiência com o meio televisivo. Na perspectiva da família como o principal contexto derecepção, Orozco Goméz constata, ainda, que a “política da sala” pode se tornar uma importante mediação situacional tendo em vistaque os valores e padrões familiares podem incidir na interação direta dos receptores com a televisão. As mediações situacionaispodem ser úteis igualmente para revelar ao investigador as estruturas de poder intrínsecas às relações familiares que se materializam,por exemplo, nas negociações e relações hierárquicas entre membros da família acerca da escolha dos programas de TV.

A mediação institucional – como uma terceira instância de mediações - deriva dos vínculos dos receptores com diferentes instituiçõessociais como a família, a escola, o trabalho, o bairro, o partido político, o sindicato, a igreja e, inclusive, os próprios meios decomunicação. As mediações institucionais constituem-se nos cenários onde se desenrolam os processo de recepção e onde se dão asmúltiplas apropriações da televisão, no momento ou posteriormente ao ato da recepção. Os valores e as normas institucionaisconcorrem igualmente para definir pautas e modos de (re) apropriação das ofertas televisivas pelos receptores.

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A mediação videotecnológica é uma quarta e última mediação que diz respeito aos mecanismos próprios e específicos da televisãocomo meio eletrônico para construir seus textos e se dirigir à audiência. Assumindo a perspectiva de Martín-Barbero, Orozco Gómezdefine os gêneros televisivos como uma das principais estratégias culturais que, no marco desses mecanismos próprios da tecnologia,promovem uma inscrição específica da TV no universo da recepção. O alto grau de verossimilhança e representacionalismo da TVcomo meio eletrônico audiovisual reforça a eficácia da mediação videotecnológica.

A multiplicidade de fontes de mediações presentes no processo de recepção, a possibilidade de distintas articulação e combinaçõesentre elas, assim como a exigência de propor hierarquizações que estabeleçam o peso diferenciado das mediações em situaçõesempíricas concretas, são algumas dos desafios às pesquisas de recepção que, na América Latina, têm adotado a tipologia propostapor Orozco Gómez. Conforme sintetiza o próprio autor, "às vezes, um tipo de mediação ou uma combinação delas predomina. Àsvezes, algumas mediações se reforçam mutuamente, por exemplo, quando escola e família têm muito em comum e participam deobjetivos educativos similares, ou quando TV e família compartilham percepções do mundo e aspirações sociais." (Orozco, 1991, p.55).

Configurados por elementos históricos, sociais, políticos e culturais relacionadas ao cotidiano das culturas, os processos de mediaçãoprecisam ser compreendidos, ainda, em articulação estreita com os processos de midiatização – concebidos como constructos ematerialidades técnicas. Para a compreensão crítica da produção de sentidos da recepção, essa articulação vem exigindo dospesquisadores um esforço de apropriação e refinamento do conceito de midiatização e de processos midiáticos entendidos comoaquelas dinâmicas de transformação que intervêm na constituição e conformação de relações e interações sociais que resultam dacrescente e preponderante presença dos meios de comunicação na vida cotidiana. Trata-se da necessidade de reconhecimento ecompreensão de que as mídias operam, de forma crescente, como racionalidade produtora e organizadora de sentidos e, dessa forma,como instância configuradora da realidade social. (MATA, 1999). [17] Algunos ejemplos de investigaciones sobre la recepción centrada en el contexto familiar son: Barrios (1992), Guadarrama Rico (1998), y Jacks yCapparelli (2006).

[18] Sobre la simulación del contacto y la retórica del directo, véase Martín-Barbero (1987).

[19] Entre otros, González (1998), Bonin (2002), Lopes (2002), Marques (2004) y Fuenzalida (2007).

[20] Un ejemplo de este tipo de trabajos sobre la competencia cultural es el estudio sobre identidad étnica y recepción televisiva de la investigadorabrasileña Jiani Bonin (2006a).

[21] Traducción propia.

[22] Para profundizar en esta perspectiva, véase Maldonado (2002).

3. ITINERÁRIOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA EM RECEPÇÃO NA AMÉRICA LATINA

Ver, estar com e escrever Winkin, 1998) são os três pilares de uma combinação que vai definir a etnografia como principal posturaepistemológica e metodológica legada pela antropologia aos estudos de recepção. Como sensibilidade que exige a imersãosistemática, a convivência prolongada e a observação detalhada no campo da pesquisa, a etnografia é adotada como método quepossibilita captar, no espaço e tempo cotidianos dos sujeitos receptores, as suas interações com os meios de comunicação da mesmaforma que elaborar uma descrição densa de caráter interpretativo e reflexivo. É o que Martín-Barbero concebe com um “ver com agente” na perspectiva de capturar o momento da recepção para poder identificar e confrontar as diversas modalidades de usos e ascompetências culturais ativadas no cotidiano dos receptores.

Via perspectiva etnográfica, os estudos de recepção vão se inscrever especialmente ao âmbito da pesquisa qualitativa emcomunicação, conduzindo os investigadores a priorizarem a observação aliada às narrativas e relatos dos sujeitos receptores quepermitam aprofundar a compreensão sobre as experiências individuais e coletivas de consumo e usos dos meios de comunicação. Nomarco da história oral, técnicas como a história de vida, a entrevista em profundidade - aberta ou semidirigida - e o grupo de discussãoou grupo focal compõem os principais recursos empregados pelos pesquisadores da recepção.

Muitas das investigações qualitativas de recepção podem vir, ainda, antecedidas por etapas de pesquisa exploratória de campovisando a uma aproximação preliminar com a realidade empírica escolhida. A observação com registros em diários de campo e aaplicação de questionários têm colaborado, em etapas iniciais de muitas pesquisas, para afinar a construção do problema e o desenhodo objeto de investigação ou definir e aportar referências concretas para a composição da amostra de sujeitos ou para a escolha emodos de aplicação dos métodos e técnicas de pesquisa. [23] Recordemos que eso no excluye el uso de técnicas de carácter cuantitativo y que también es posible la combinación de técnicas cuantitativas ycualitativas.

3.1. EXPERIMENTAÇÃO, MULTI E TRANSMETODOLOGIA NAS PESQUISAS DE RECEPÇÃO

A utilização de procedimentos e técnicas herdados das ciências sociais vão abrir caminho a uma maior liberdade para a criação, fusãoe experimentação de outros tipos de abordagens metodológicas adequadas às múltiplas realidades das interações entre recepção emeios de comunicação no contexto latino-americano. A história de vida midiática, a história de vida familiar, os vídeos e áudio fórunsou ainda os diários onde receptores registram suas visitas a websites da Internet são algumas técnicas que vão sendo experimentadas

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pelos pesquisadores na perspectiva, inclusive, de atender às especificidades de incorporação de novas realidades comunicacionais etecnológicas ao cotidiano latino-americano, como é o caso da introdução do computador. A etnografia virtual ou a chamadanetnografia é outro exemplo de postura metodológica mais ampla que tem sido adotada pelos pesquisadores com vistas a capturarcom maior profundidade e rigor a intersecção cada vez mais crescente dos papéis entre produtores e receptores. (HINE, 2004, SÁ,2002)

Derivada dessa presença privilegiada da etnografia aos estudos de recepção, a ênfase excessiva em uma perspectiva culturalista éum aspecto crítico que tem mobilizado os pesquisadores em torno dos riscos de se deixarem conduzir por uma radicalização daautonomia da cultura em relação aos processos sociais. Relacionado à dimensão micro que assumem as pesquisas em recepção naAmérica Latina , esse aspecto tem ajudado a vislumbrar, desde uma perspectiva metodológica, a necessidade de uma presença maisefetiva da economia política ou pelo menos da consideração dos macros contextos sociopolíticos, culturais e econômicos nasinvestigações latino-americanas. Sem, contudo, perder de vista que a dimensão micro dos estudos culturais tem se apresentadotambém como uma alternativa de resistência às metas-narrativas e aos marcos científicos totalizantes na medida em que tempermitido capturar a diversidade e complexidade de situações locais e particulares de recepção.

Outro aspecto crítico relacionado às estratégias metodológicas desenvolvidas pelos pesquisadores de recepção latino-americanos dizrespeito a um certo uso reiterativo das mediações como modelo aplicativo que, ao conduzir a uma escassa inventividade metodológicanos estudos realizados, pouco vem colaborando para o avanço teórico e empírico das pesquisas de recepção realizadas na AméricaLatina nas últimas décadas.

Desde o ponto de vista da metodologia, alguns pesquisadores latino-americanos têm chamado atenção, ainda, para um certoesgotamento de desenhos metodológicos de pesquisa em recepção que têm se centrado em constatar a capacidade interpretativa dasaudiências através de um “dar voz” e celebrar o poder dos receptores. Uma subvalorização das relações de poder e do caráter políticodos processos comunicacionais nas investigações em recepção latino-americanas parecem dificultar a produção de investigações quepartam de demandas sociais concretas capazes de gerar um conhecimento aplicado no campo da democratização da comunicaçãonas sociedades.

No enfrentamento dessas críticas, alguns pesquisadores têm se empenhado em formular e experimentar posicionamentosmetodológicos fundamentados em uma multidimensionalidade, como através, por exemplo, da combinação de várias modalidades demétodos e técnicas de pesquisa qualitativa no marco da denominada estratégia multimetodológica. Diferentes composições entretécnicas permitem relativizar alguns de seus limites, estabelecer relações de complementaridade ou de sobreposições entre elas comvistas à exploração mais aprofundada de distintas perspectivas e a busca de ambigüidades e contradições das realidadespesquisadas.

De um ponto de vista epistemológico, alguns pesquisadores da comunicação têm sugerido, ainda, para a investigação em recepção, atransmetodologia como uma concepção de pesquisa crítica que se ancore em fundamentação teórica e experimentação metodológicacapazes de potencializar a construção de pensamentos e estratégias de confluências transdisciplinares. Conforme sintetizaMaldonado (2002, p. 13) um método mestiço que “misture cosmovisões, sistemas, modelos, procedimentos, lógicas,operacionalizações, tecnologias, explorações, vivências, experiências e processos de construção de conhecimento concretos”.

O dimensionamento e complexidade dos desenhos das pesquisas em recepção com exigência de imersões prolongadas em campo ede um tratamento de uma profusão de dados empíricos, têm requerido, ainda, investimentos materiais e humanos para aoperacionalização de pesquisas em universidades e em outros contextos de desenvolvimento de investigação científica. A escassapresença de uma cultura de pesquisa empírica crítica e aplicada no campo das ciências humanas na América Latina, vemdemandando um incremento de recursos e ao mesmo tempo uma postura investigadora diferenciada por parte dos pesquisadores quebuscam filiação com os estudos de recepção. O que aponta para a necessidade do deslocamento da produção individual doconhecimento que caracteriza a cultura acadêmica para a construção de ambientes cooperativos de conhecimento materializados emgrupos de pesquisa e em ações específicas de aproximação entre ciência e sociedade com vistas à aplicação dos conhecimentoscientíficos produzidos. [24] No podemos dejar de mencionar las críticas, en el ámbito de los Estudios Culturales en América Latina, sobre la falta de rigor y la excesivapermisividad que se produjo en el transvase de la etnografía, procedente del campo de la antropología, hacia la comunicación.

[25] De hecho, ésta es una característica generalizada en el área de los estudios de recepción.

[26] Esta perspectiva se encuentra, especialmente, en algunos trabajos relacionados con la educación para la comunicación.

[27] Véase Bonin (2006a).

[28] Traducción propia.

4. INTERROGANTES E PERSPECTIVAS EM TORNO DA PESQUISA EM RECEPÇÃO NA AMÉRICA LATINA

O debate acerca dos limites e possibilidades dos estudos de recepção tem mobilizado, nas últimas décadas, os pesquisadores latino-americanos a oferecerem elementos prospectivos capazes de suscitar esforços em assumir os estudos de recepção “mais como ummodo ou muitos modos de investigar e menos como uma moda”, segundo nos sugere Orozco Gómez (2003) . As reconfigurações danoção de recepção têm sido tributárias e ao mesmo tempo provocadoras de novas indagações que se produzem quando associedades contemporâneas se tornam cada vez mais inter-relacionadas sociopolítica, econômica, cultural e comunicacionalmente. Aseguir, aparecem sistematizados brevemente alguns desses cenários prospectivos que vêm sendo delineados no marco da trajetóriateórico-metodológica da pesquisa em recepção, principalmente a da recepção midiática, na América Latina. [29] Otro balance crítico puede encontrarse en Saintout (2006).

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4.1. (RE) CONFIGURAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DA NAÇÃO E DAS IDENTIDADES NACIONAIS E SUAS INCIDÊNCIAS NO

MODO DE PESQUISAR A RECEPÇÃO

A intensificação dos processos de transnacionalização nas últimas décadas nos convida a refletir sobre a incidência nas pesquisas derecepção latino-americanas do chamado nacionalismo metodológico. Embora o nacional se mantenha ainda como uma dimensãoconformadora das práticas sociais, a produção do conhecimento científico já não pode operar ou se ancorar em um territóriodelimitado, como o estado-nação, se consideramos que as práticas sociais se tornam cada vez mais interdependentes e sedesenrolam em uma esfera transnacional como resultado da própria expansão das tecnologias da comunicação. O autor alemão UlrichBeck nos propõe o cosmopolitismo metodológico como alternativa para que se possa produzir conhecimento a partir de um olhar quecontemple a intersecção dos diferentes territórios materiais e simbólicos que conformam a experiência humana. “A ciência social é aempresa coletiva de uma comunidade de investigação internacional” .(Beck, 2005:108)

4.2. REORDENAÇÃO TECNOLÓGICA E INTERSECÇÕES ENTRE PRODUÇÃO E RECEPÇÃO

Os processos de estruturação, gestão, produção e circulação das tecnologias da comunicação encontram-se cada vez maisinterconectados e transnacionalizados, incidindo fundamentalmente nas ofertas de consumo e modalidades e usos por parte darecepção. Dos próprios estudos de recepção, vale lembrar, herdamos a concepção de que o desenvolvimento das tecnologias assimcomo das próprias competências por parte dos receptores altera as experiências e percepções relacionadas aos meios decomunicação. Somos audiências cada vez mais transnacionais que, de modo crescente, nos expomos mais a fluxos que a produtos oua gêneros e a programas; que nos encarregamos de construir espaços híbridos de comunicação como resultado do pertencimento adiferentes territórios físicos e simbólicos. Caracterizados pela pluralidade, fluidez e transitoriedade, esses territórios geram tambémcompetências e padrões de acesso diferenciados e assimétricos de apropriação e uso das tecnologias da comunicação nacontemporaneidade.

Tecnologias como o computador e espaços comunicacionais, como a Internet, recolocam mais seriamente a necessidade de superar oetapismo (produção-mensagem-recepção) que reduz o proceso de comunicação ao esquema emissor-mensagem-receptor. Uma dasagendas pendentes dos estudos recepção consiste justamente no esforço de podermos abranger o estudo do processocomunicacional como um todo. As fronteiras cada vez mais difusas entre os emissores e receptores nos processos produtivos dessastecnologias nos vão exigindo a reinvenção de abordagens metodológicas que colaborem para capturar o que ocorre ou mesmo comopode ser definida a própria “recepção” ou as inter-relações que nela possam se dar (a produção comunitária de literatura na Internet,as modalidades de usos dos blogs e sites, a Internet como espaço de uso, consumo, criação e compra e venda de música, etc.)

De certa maneira, essas abordagens já vêm sendo experimentadas por pesquisadores através, por exemplo, de abordagens como ada etnografia virtual e a da netnografia referidas anteriormente. As possibilidades de manejo das tecnologias digitais, como no âmbitoda chamada “pirataria”, fazem circular e, em grande medida, vem favorecendo a experimentação no âmbito da produção, em certosentido, também a democratização da produção cultural e comunicacional, conformando novas modalidades e temporalidades deinteração no cotidiano da recepção que merecem ser estudados na sua relação com as próprias lógicas contemporâneas de produção,distribuição e rentabilidade do mercado de produção cultural.

Embora siga sendo relevante no cotidiano das “maiorias latino-americanas”, a própria televisão se converteu em uma tecnologia quepassou por reconfigurações profundas nos últimos anos por conta, dentre outros, da introdução da televisão a cabo e da TV digital ede sua integração ao computador. O que vêm também alterando substancialmente os modos e rotinas de recepção e impondo pautasdiferenciadas de compreensão aos pesquisadores. [30] A modo de ejemplo, el periódico “Folha de São Paulo”(16/02/2008) informó que el filme brasileño Tropa de Elite, vencedor del Oso de Oro a laMejor Película en el Festival de Berlín 2008, antes de ser estrenado en Brasil el 5 de octubre de 2007 ya era uno de los filmes más comentados en lahistoria del cine del país a causa del número inédito de copias piratas. Se estimaron un total de 11,5 millones de copias piratas vendidas. Fue lapelícula brasileña más vista del 2007, cerrando el año con 1,9 millones de espectadores en salas de cine. [Disponible aquí. Acceso: 16/02/2008]

4.3. HETEROGENEIDADE DE CENÁRIOS E TRANSFORMAÇÕES DA FAMÍLIA COMO UNIVERSO DA RECEPÇÃO

O universo doméstico e familiar, antes espaço prioritário de recepção e de observação etnográfica das audiências, se converte demodo crescente em mais um de uma variedade de cenários de recepção que despontam para serem entendidos em suasespecificidades conformadoras de outras rotinas cotidianas de consumo e usos. A necessidade de compreensão das distintassituacionalidades e ambientes de televidência vem sendo introduzida por estudiosos da recepção na América Latina na perspectiva decapturarem os novos espaços de recepção televisiva que transcendem o doméstico (os bares, as lojas, as transportes públicos, etc.), eonde se rearticulam as relações entre público e privado. Outro exemplo são as pesquisas que se voltam ao estudo dos chamadoslocutórios, telecentros ou cibercafés que se vão se consolidando como espaço transnacionais de apropriação da Internet e tambémcomo ambientes de interação comunicacional entre migrantes, estrangeiros e turistas.

As próprias transformações na conformação da família como instituição e como lugar de construção de vínculos, afetos,sociabilidades, conduzem à incorporação do debate sobre o funcionamento dos processos de reestruturação das lógicas familiarescontemporâneas. Por um lado, essas transformações estão relacionadas às crescentes mudanças nos modelos de família com a

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convivência de tradicionais famílias nucleares com famílias monoparentais (chefiada por um único integrante como o pai, a mãe ou aavó), ou formadas por homossexuais.

Por outro lado, tais reconfigurações fazem referência às chamadas famílias transnacionais que, como fruto de processos delocalização territorial dispersa entre seus membros, que derivam, por exemplo, das migrações, vêm demandando dos integrantes dasfamílias, a reconstrução de vínculos e sentimentos de unidade. Nesse último caso, as tecnologias da comunicação, como a Internet,ocupam lugar fundamental como recurso para articular a dispersão, manter, fortalecer e (re) criar os laços afetivos, as interações emrede e os sentidos de pertencimento e unidade. Essas duas transformações exigem um deslocamento de nossas percepções depesquisadores, não raramente ancoradas em uma perspectiva ocidental que tem tratado de afirmar a família como sinônimo de lar, degestão e de participação na vida diária a partir da convivência em um espaço doméstico comum. [31] Alejandro Grimson (Argentina) y Fabrício Silveira (Brasil) son dos investigadores que se han dedicado a desarrollar estudios desde estaperspectiva. Véase Grimson y Varela (1999), y Silveira (2004).

[32] Véase Cogo et al(2008).

[33] Sobre família transnacional, véase Byceson y Vuorela (2002).

4.4. MOVIMENTOS SOCIAIS E A CIDADANIA: ESTUDOS DE RECEPÇÃO EM TEMPOS DE REDES

Outros dois eixos centrais nas teorias de recepção latino-americanas – os movimentos sociais e a cidadania - assumem configuraçõestambém diferenciadas a partir dessas reordenações dos cenários de produção e recepção midiáticas. No marco das mobilizaçõessociais, como distinguir o consumo reflexivo ou “que serve para pensar” em um tempo marcado por interconexões em rede? Noâmbito do chamado ativismo global, como se configurariam as novas ações políticas, que se organizam apesar da dispersãogeográfica dos atores, como as chamadas convocatórias relâmpagos através da Internet? No campo da produção cultural e frente aoincremento da “pirataria”, como se (re) conceitua a autoria gerada pela criação e reprodução em grande escala? Como estariam sendogestadas competências individuais e coletivas entre os sujeitos-receptores que possibilitam apropriação das tecnologias e aconstituição de espaços de intervenção ou interação cidadãs?

As modalidades de cidadania intercultural, cosmopolita e comunicativa adquirem especial relevância para pensar essas questões(COGO, 2007, MATA, 2006 ), assim como segue vigente também o desafio de assumir o sujeito e a cultura como pontos de partidapara a compreensão dos processos comunicacionais que não podem ser reduzidos a uma materialidade tecnológica. Essas novasdinâmicas implicam igualmente em não perder de vista a premissa dos próprios estudos de recepção na América Latina de que oconsumo segue marcado por múltiplas de temporalidades como fruto das específicas condições de desenvolvimento da modernidadelatino-americana. Com isso, nos referimos tanto à coexistência e à complementaridade de usos das tecnologias da comunicação comoàs diferenciações materiais e temporais no acesso, apropriações e competências para esses usos.

4.5. MEMÓRIA E IMAGINÁRIO E SUAS REPERCUSSÕES NAS METODOLOGIAS APLICADAS À RECEPÇÃO

Como duas dimensões inter-relacionadas das interações entre meios de comunicação e recepção, a memória e o imagináriointeressam igualmente pelas repercussões que assumem especialmente nos processos metodológicos da recepção. A partir dessasduas dimensões, os teóricos da recepção na América Latina têm buscado entender como as mídias se convertem em cenárioscotidianos de reconhecimento social na medida em que se encarregam de construir, expressar, oferecer e selecionar imagináriossociais relacionados a modos de ser, a expectativas, a desejos, a temores, a esperanças que aparecem (re) construídos pela memória.Um exemplo são os imaginários de modernidade e progresso associado à Europa e do europeu que se desenvolvem e (re) atualizampermanentemente na história latino-americana e aparecem discutidos em pesquisas de recepção desenvolvidas em nosso contexto.No que se refere à memória, as especificidades temporais e espaciais para as quais convergem tanto os processos midiáticos comoas dinâmicas sociais em âmbito transnacional concorrem, de forma decisiva, para produzir processos específicos de seleção e fixaçãoda memória acerca dos imaginários construídos pelos meios de comunicação.

Os usos das entrevistas e histórias de vida por pesquisadores da recepção têm ajudado a evidenciar na maior ou menor dificuldade dealguns entrevistados em lembrarem, seja de nomes de emissoras ou programas consumidos, seja de episódios recentes específicosreferentes aos objetos que pesquisamos. Ou mesmo de localizarem a procedência de determinados textos ou produtos midiáticos deque são consumidores, sobretudo aqueles que circulam no contexto da Internet. Assumem relevância igualmente as dificuldades demuitos receptores em distinguirem memórias ancoradas em experiências com as tecnologias da comunicação com aquelas nãofundadas em uma materialidade midiática, como resultado do próprio entrelaçamento dessas duas instâncias comunicacionais –midiático e não midiático - na conformação dos imaginários sociais em seu cotidiano. [34] Un ejemplo de análisis de esa (re)actualización puede encontrarse en la investigación sobre medios de comunicación y migraciones transnacionalesde latino-americanos y europeos en Cogo, Gutiérrez y Huertas Bailén (2008).

[35] Sobre memoria y recepción, destacan los estudios de Bonin (2004 y 2006b). La perspectiva está presente también en el estudio mencionadoanteriormente de Cogo, Gutiérrez y Huertas Bailén (2008).

4.6. EDUCAÇÃO PARA COMUNICAÇÃO E CIDADANIA COMUNICATIVA NOS ESTUDOS DE RECEPÇÃO

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A ampliação da agenda de trabalho dos projetos de educação relacionados aos meios de comunicação, denominada educação para acomunicação, seria um último cenário prospectivo que também convida à novas incursões críticas e criativas no âmbito da pesquisaem recepção na América Latina. Há pelo menos três décadas, esses projetos vêm se constituindo em espaços concretos de reflexãosobre os processos comunicacionais e midiáticos voltados ao desenvolvimento de propostas de cidadania comunicativa em contextossocioeducativos (de caráter formal e não formal) na América Latina. Podem ser, portanto, reconhecidos, desde essa vertente, como osprincipais espaços capazes de propiciar interlocuções permanentes que possam alimentar a produção de um conhecimento científicocomprometido, inclusivo e aplicado no campo dos estudos de recepção.

5. PESQUISA EM RECEPÇÃO E COMPROMISSO POLÍTICO COM A COMUNICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA

“Crítica, perplexa, de intervenção, a pesquisa já foi assim na América Latina” . O sugestivo titulo de um artigo da pesquisadorabrasileira Christa Berger (1999) instiga a retomar o que não aflige unicamente os pesquisadores de recepção, mas o conjunto depesquisadores latino-americanos da comunicação que se alinham ao entendimento legado pelos teóricos da recepção em torno docaráter político e de aplicabilidade social do conhecimento científico.

É o que podemos postular como uma sensibilidade diferenciada capaz de construir estratégias de articulação entre ciência esociedade na consonância do que o cientista social português Boaventura de Sousa Santos (2004) nomeia como ecologia de saberespara definir a possibilidade de uma reorientação solidária entre a universidade, como lugar de produção do conhecimento científico, ea sociedade. E ao mesmo tempo como uma ecologia que se constitua como alternativa de resgate na confiança epistemológica naciência.

No marco dos estudos comunicacionais latino-americanos, resulta indispensável superar, por um lado, o teoricismo e a abstração e,por outro, o denuncismo desmobilizador que marcaram e seguem marcando os estudos comunicacionais latino-americanos. Trata-sede um requisito indispensável para o desenvolvimento de uma ciência crítica, concreta e propositiva que possa orientar a (re) invençãodo caráter político e do compromisso social dos estudos de recepção no contexto da América Latina.

Em um espaço, como o latino-americano, que ainda se caracteriza pelas desigualdades sociais e a exclusão, parece imprescindíveldemandar das pesquisas esse alinhamento a fim de que possam contribuir efetivamente para uma comunicação cidadã que possacontribuir efetivamente para a democratização dos processos e meios de comunicação.

Por essa perspectiva, e a partir dos novos cenários políticos, econômicos, socioculturais e comunicativo-midiáticos discutidosanteriormente, torna-se oportuno (re) situarmos a recepção, como esse lugar produtivo e político para pensar a realidade latino-americana desde as interfaces entre comunicação e cultura. Os avanços nos processos de democratização da comunicação dassociedades latino-americanas, assim como o longo caminho investigativo já trilhado pelos pesquisadores da recepção, permanecedemandando o que já apontavam as reflexões de Jesus Martín-Barbero em torno do reducionismo que implica o etapismo para acompreensão dos processos de comunicação em diferentes contextos latino-americanos. Ou seja, a premissa de que a recepção nãoé uma simples etapa do processo, mas um novo lugar desde onde compreender os processos da comunicação em sua integralidade.

“Os estudos de recepção, ao se transformarem em modismo, esqueceram também que a comunicação é um processo, reduzindo oproblema da comunicação à audiência” (Berger, 2001: 269). Segue atual, portanto, a postura epistemológica expressa em De losmedios a las mediaciones quando Martín-Barbero nos instiga a avançar tateando, prudentemente, para aceder sem mapa ou somentecom um mapa noturno na perspectiva de indagar sobre as brechas, o consumo e o prazer, advertindo, a partir de Laclau, que ahistoricidade do social é mais profunda que aquilo que nossos instrumentos teóricos nos permitem pensar e nossas estratégiaspolíticas conduzir. [36] Traducción propia.

[37] Traducción propia.

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