poronga edição janeiro a março de 2013

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Informativo das Pastorais Sociais - Diocese de Santarém - Santarém - Pará Jornal Nº 06 - Março de 2013 Porongue mais... Porongando Págs. 4 e 5 Comissão Pastora da Terra Pág. 5 Lobão em pele de Cordeiro Pág. 7 Entrevista com Dom Flávio Pág. 3 Ir. Ronaldo Hein: uma vida dedicada à educação integral na fé O exercício da Cidadania Pág. 7 Oito décadas de vida. Dessas, 61 anos são de missão religiosa como Irmão da Congregação de Santa Cruz, vida esta dedicada ao serviço na educação de crianças e jovens, à doação aos mais necessitados. Irmão Ronaldo Hein tem uma inspiradora história de vida que une a serenidade à determinação e, principalmente, ao desejo de fazer o bem aos que mais precisam de cuidados. Em Santarém, a vida de Irmão Ronaldo sempre esteve ligada ao serviço à crianças e adolescentes. Desde que chegou às terras tapajônicas, em 1968, o religioso atuou como professor no Colégio Dom Amando, trabalhou na Catequese Escolar da Diocese, atendendo às comunidades escolares do serviço público, e criou a Pastoral do Menor, hoje reconhecida como uma das referências de sua atuação. Nesta entrevista, buscou-se olhar para a experiência de Irmão Ronaldo a partir da sua atenção à infância e à juventude, das iniciativas populares que o levaram a participar da organização da primeira greve de professores em Santarém e dos sonhos e projetos que alimentam a sua missão. R.R.: Irmão Ronaldo, como o senhor se sente Cruz é a nossa única esperança, então a cruz, hoje em Isso eu acho bonito, deixam Deus entrar na vida deles, e aí a vida deles começa a mudar. celebrando 61 anos de missão religiosa e os dia, é isso: caminhar junto com a juventude nessa confusão de valores e não desistir porque sabemos que R.R.: O trabalho com jovens e adolescentes de quase 81 anos de vida? Deus está conosco. Temos que fazer a nossa parte. famílias mais pobres sempre lhe atraiu no Bra- Ir. Ronaldo: Fico até bem admirado como Deus me R.R.: A maioria das pessoas conhece o Irmão sil, desde o Colégio Notre Dame, também dos acompanhou todo este tempo. A sociedade é meio com- plicada, mas eu consegui perseverar até hoje com a Ronaldo no trabalho da Pastoral do Menor, mas Irmãos de Santa Cruz, que fica em Campinas. O ajuda de muita gente, e eu me sinto bem. Passaram o senhor também participou do movimento que significa para o senhor essas ações? muito rápido esses anos. Eu sempre olhava os outros sindical dos professores de Santarém e ajudou Irmão Ronaldo: Meu desejo era atender mais os como os mais velhos, agora eu estou nesses mais a organizar a primeira greve da categoria, no pobres. A Congregação tem dois colégios, um em San- velhos. Mas, eu agradeço a Deus porque consegui per- início da década de 80. Conte um pouco essa tarém, o Dom Amando, e outro em Campinas, Colégio severar com a ajuda dEle e ser fiel à minha vocação. experiência. Notre Dame. Eles precisavam de professor de Física e Doei minha vida a Deus e eu agradeço a graça de perse- Matemática, e por isso eu vim (para o Brasil) para ser Irmão Ronaldo: Quando aceitei o convite de Dom verar. professor, e foi difícil para mim porque eu via tanta Tiago para me envolver nas escolas do governo (ativi- R.R.: Partilhe um pouco a experiência do seu gente pobre, e eu estava servindo para as famílias dades da Catequese Escolar), estava mais concentra- chamado para a vida religiosa, ainda na sua mais ricas. Mas, era minha missão, e eu me entrosei do no Colégio Dom Amando, de onde a Congregação juventude. me liberou. Eu fiquei feliz com isso porque fiz amiza- com as famílias e vi que também merecem atenção, e fiz amizades com médicos do Notre Dame. Então, eles Ir. Ronaldo: Lembro-me de minha família: cinco des com os professores das escolas do governo e vi as me ajudaram a atender os pobres que eram funcioná- irmãos, eu, mais três irmãs e um irmão. Nossos pais dificuldades que estavam passando. Então eu estava rios do colégio. Eu visitava as famílias desses funcio- eram bem fiéis a Deus. Íamos para a igreja sempre. Eu apoiando as suas lutas para uma vida mais digna, para nários nos finais de semana, e esses médicos me acom- tive esta graça de ser muito amado em família. Isso foi um salário melhor. Eu me envolvi na greve e Dom panhavam para ver onde poderiam ser uma ajuda. uma base boa para mim, para minha vocação. Um dia, Tiago também aceitou apoiar porque eu estava den- meu professor, um religioso, perguntou se eu já tinha tro, então ele confiava. E foi um grande sucesso. Levei R.R.: Para concluirmos nossa entrevista, existe pensado nisso (seguir uma vida religiosa), eu disse que ao Colégio Dom Amando e o Irmão José Ricardo, dire- algum novo projeto ou um novo sonho de Irmão já tinha pensado, mas que tinha outros planos. Eu tor, abriu espaço, e os professores decidiram apoiar a Ronaldo? estava namorando, pensava em família, trabalho, mas greve dos professores do governo naquela época. Foi Irmão Ronaldo: Estou com uma saúde razoável ele me aconselhou em, antes de partir para esses pla- uma experiência bem diferente para mim, mas eu ainda e tudo o que eu aprendi durante esta caminhada nos, dar uma chance para Deus. Então, achei pruden- gostei muito. eu quero compartilhar. Então, começou em 2010, por te o conselho, meus pais apoiaram. Eu fui fazer a expe- iniciativa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos riência e decidi ficar, e estou aqui até hoje. R.R.: É bem notório que as ações sociais moti- do Brasil) e, aqui em Santarém, pelo Ércio Santos, R.R.: Desde quando chegou ao Brasil, em 1965, coordenador da Pastoral da Comunicação, e outros vam a sua vida, como é o caso da Pastoral do o senhor já foi formador, professor de Física e educadores e agentes de pastoral, um trabalho nas Menor, que completa 25 anos em 2013. O que Matemática no ensino básico, sempre dedican- escolas do governo de prevenção ao uso de drogas. Foi significa esse trabalho na celebração de tantas lançado, mas por falta de recursos humanos, parou. do sua vida a crianças, adolescentes e jovens. décadas de vida e de missão religiosa? Eu tentei dar continuidade nas escolas com orienta- No contexto atual, como o senhor observa a Irmão Ronaldo: Este trabalho foi uma graça, um ção para a vida, um trabalho que fiz no colégio Álvaro formação desses grupos? dom que Deus me deu. Eu nem esperava isso. Dom Adolfo, de 80 a 85. Estou querendo trabalhar ainda Ir. Ronaldo: Realmente vivemos um contexto bem Tiago, novamente, pediu para eu fazer contato com as com os jovens para compartilhar essas orientações. diferente, porque o mundo tecnológico avançou mui- crianças e adolescentes da Praça da Matriz. Eles fica- Usar o que a sociedade oferece sim, mas não se escra- to. Chama-se pós-modernidade, onde a tendência é ram maravilhados que a igreja estava indo atrás deles vizar, usar com prudência. Tentar sempre lembrar deixar de lado a cultura tradicional que se aprende para saber como estavam e eu fiquei muito tocado com aquele trecho do Evangelho quando Jesus foi achado com os pais. Os jovens eram educados em família e, isso. Vendo a aceitação e a situação deles, senti que era no templo, foi obediente a Maria e a José. Cresceu em hoje, a tendência é deixar de lado esses valores e ado- e é essa minha missão: fazer com que as crianças e estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos tar os critérios e os valores da sociedade moderna. adolescentes sintam que têm valor, que são criados à homens. Estatura, o corpo, sabedoria, a mente, e a Isso, nós sabemos, leva a uma vida muito materialista, imagem e semelhança de Deus. Gostei muito desse graça de Deus, o espiritual. Essa é a metodologia do sem critérios para o comportamento humano. Os pais trabalho desde o início. Já vi muitos adolescentes que nosso fundador: educação integral na fé. também ficam muito desnorteados e não sabem lidar ficam conosco sete, oito, dez, onze... anos aqui na Pas- com isso. Na nossa Congregação, o nosso fundador toral, entram com seis, sete e saem com dezessete, sempre enfatizava a esperança. O nosso lema diz que a dezoito anos de idade. E como eles se transformam! Perspectivas da luta pelo reconhecimento dos territórios na amazônia. Pág. 8 Rosa Rodrigues

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Jornal das pastorais sociais da Diocese de Santarém Brasil PA. Amazônia, politica meio ambiente, história amazônica

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Page 1: Poronga edição Janeiro a Março de 2013

Informativo das Pastorais Sociais - Diocese de Santarém - Santarém - Pará

Jornal

Nº 06 - Março de 2013

Porongue mais...PorongandoPágs. 4 e 5

Comissão Pastora da TerraPág. 5

Lobão em pele de CordeiroPág. 7

Entrevista com Dom FlávioPág. 3

Ir. Ronaldo Hein:

uma vida dedicada à educação integral na fé

O exercício da Cidadania Pág. 7

Oito décadas de vida. Dessas, 61 anos são de missão religiosa como Irmão da Congregação de Santa Cruz, vida esta dedicada ao serviço na educação de crianças e jovens, à doação aos mais necessitados. Irmão Ronaldo Hein tem uma inspiradora história de vida que une a serenidade à determinação e, principalmente, ao desejo de fazer o bem aos que mais precisam de cuidados. Em Santarém, a vida de Irmão Ronaldo sempre esteve ligada ao serviço à crianças e adolescentes. Desde que chegou às terras tapajônicas, em 1968, o religioso atuou como professor no Colégio Dom Amando, trabalhou na Catequese Escolar da Diocese, atendendo às comunidades escolares do serviço público, e criou a Pastoral do Menor, hoje reconhecida como uma das referências de sua atuação.

Nesta entrevista, buscou-se olhar para a experiência de Irmão Ronaldo a partir

da sua atenção à infância e à juventude, das iniciativas populares que o levaram a

participar da organização da primeira greve de professores em Santarém e dos

sonhos e projetos que alimentam a sua missão.

R.R.: Irmão Ronaldo, como o senhor se sente Cruz é a nossa única esperança, então a cruz, hoje em Isso eu acho bonito, deixam Deus entrar na vida deles, e aí a vida deles começa a mudar.celebrando 61 anos de missão religiosa e os dia, é isso: caminhar junto com a juventude nessa

confusão de valores e não desistir porque sabemos que R.R.: O trabalho com jovens e adolescentes de quase 81 anos de vida?Deus está conosco. Temos que fazer a nossa parte. famílias mais pobres sempre lhe atraiu no Bra-Ir. Ronaldo: Fico até bem admirado como Deus me R.R.: A maioria das pessoas conhece o Irmão sil, desde o Colégio Notre Dame, também dos acompanhou todo este tempo. A sociedade é meio com-

plicada, mas eu consegui perseverar até hoje com a Ronaldo no trabalho da Pastoral do Menor, mas Irmãos de Santa Cruz, que fica em Campinas. O ajuda de muita gente, e eu me sinto bem. Passaram o senhor também participou do movimento que significa para o senhor essas ações?muito rápido esses anos. Eu sempre olhava os outros sindical dos professores de Santarém e ajudou Irmão Ronaldo: Meu desejo era atender mais os como os mais velhos, agora eu estou nesses mais a organizar a primeira greve da categoria, no pobres. A Congregação tem dois colégios, um em San-velhos. Mas, eu agradeço a Deus porque consegui per- início da década de 80. Conte um pouco essa tarém, o Dom Amando, e outro em Campinas, Colégio severar com a ajuda dEle e ser fiel à minha vocação. experiência. Notre Dame. Eles precisavam de professor de Física e Doei minha vida a Deus e eu agradeço a graça de perse- Matemática, e por isso eu vim (para o Brasil) para ser Irmão Ronaldo: Quando aceitei o convite de Dom verar. professor, e foi difícil para mim porque eu via tanta Tiago para me envolver nas escolas do governo (ativi-R.R.: Partilhe um pouco a experiência do seu gente pobre, e eu estava servindo para as famílias dades da Catequese Escolar), estava mais concentra-chamado para a vida religiosa, ainda na sua mais ricas. Mas, era minha missão, e eu me entrosei do no Colégio Dom Amando, de onde a Congregação juventude. me liberou. Eu fiquei feliz com isso porque fiz amiza- com as famílias e vi que também merecem atenção, e

fiz amizades com médicos do Notre Dame. Então, eles Ir. Ronaldo: Lembro-me de minha família: cinco des com os professores das escolas do governo e vi as me ajudaram a atender os pobres que eram funcioná-irmãos, eu, mais três irmãs e um irmão. Nossos pais dificuldades que estavam passando. Então eu estava rios do colégio. Eu visitava as famílias desses funcio-eram bem fiéis a Deus. Íamos para a igreja sempre. Eu apoiando as suas lutas para uma vida mais digna, para nários nos finais de semana, e esses médicos me acom-tive esta graça de ser muito amado em família. Isso foi um salário melhor. Eu me envolvi na greve e Dom panhavam para ver onde poderiam ser uma ajuda.uma base boa para mim, para minha vocação. Um dia, Tiago também aceitou apoiar porque eu estava den-

meu professor, um religioso, perguntou se eu já tinha tro, então ele confiava. E foi um grande sucesso. Levei R.R.: Para concluirmos nossa entrevista, existe pensado nisso (seguir uma vida religiosa), eu disse que ao Colégio Dom Amando e o Irmão José Ricardo, dire- algum novo projeto ou um novo sonho de Irmão já tinha pensado, mas que tinha outros planos. Eu tor, abriu espaço, e os professores decidiram apoiar a Ronaldo?estava namorando, pensava em família, trabalho, mas greve dos professores do governo naquela época. Foi Irmão Ronaldo: Estou com uma saúde razoável ele me aconselhou em, antes de partir para esses pla- uma experiência bem diferente para mim, mas eu ainda e tudo o que eu aprendi durante esta caminhada nos, dar uma chance para Deus. Então, achei pruden- gostei muito. eu quero compartilhar. Então, começou em 2010, por te o conselho, meus pais apoiaram. Eu fui fazer a expe- iniciativa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos riência e decidi ficar, e estou aqui até hoje. R.R.: É bem notório que as ações sociais moti- do Brasil) e, aqui em Santarém, pelo Ércio Santos, R.R.: Desde quando chegou ao Brasil, em 1965, coordenador da Pastoral da Comunicação, e outros vam a sua vida, como é o caso da Pastoral do o senhor já foi formador, professor de Física e educadores e agentes de pastoral, um trabalho nas Menor, que completa 25 anos em 2013. O que Matemática no ensino básico, sempre dedican- escolas do governo de prevenção ao uso de drogas. Foi significa esse trabalho na celebração de tantas

lançado, mas por falta de recursos humanos, parou. do sua vida a crianças, adolescentes e jovens. décadas de vida e de missão religiosa?Eu tentei dar continuidade nas escolas com orienta-No contexto atual, como o senhor observa a Irmão Ronaldo: Este trabalho foi uma graça, um ção para a vida, um trabalho que fiz no colégio Álvaro formação desses grupos? dom que Deus me deu. Eu nem esperava isso. Dom Adolfo, de 80 a 85. Estou querendo trabalhar ainda Ir. Ronaldo: Realmente vivemos um contexto bem Tiago, novamente, pediu para eu fazer contato com as com os jovens para compartilhar essas orientações. diferente, porque o mundo tecnológico avançou mui- crianças e adolescentes da Praça da Matriz. Eles fica-Usar o que a sociedade oferece sim, mas não se escra-to. Chama-se pós-modernidade, onde a tendência é ram maravilhados que a igreja estava indo atrás deles vizar, usar com prudência. Tentar sempre lembrar deixar de lado a cultura tradicional que se aprende para saber como estavam e eu fiquei muito tocado com aquele trecho do Evangelho quando Jesus foi achado com os pais. Os jovens eram educados em família e, isso. Vendo a aceitação e a situação deles, senti que era no templo, foi obediente a Maria e a José. Cresceu em hoje, a tendência é deixar de lado esses valores e ado- e é essa minha missão: fazer com que as crianças e estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos tar os critérios e os valores da sociedade moderna. adolescentes sintam que têm valor, que são criados à homens. Estatura, o corpo, sabedoria, a mente, e a Isso, nós sabemos, leva a uma vida muito materialista, imagem e semelhança de Deus. Gostei muito desse graça de Deus, o espiritual. Essa é a metodologia do sem critérios para o comportamento humano. Os pais trabalho desde o início. Já vi muitos adolescentes que nosso fundador: educação integral na fé. também ficam muito desnorteados e não sabem lidar ficam conosco sete, oito, dez, onze... anos aqui na Pas-

com isso. Na nossa Congregação, o nosso fundador toral, entram com seis, sete e saem com dezessete, sempre enfatizava a esperança. O nosso lema diz que a dezoito anos de idade. E como eles se transformam!

Perspectivas da luta pelo reconhecimentodos territórios na amazônia. Pág. 8

Rosa Rodrigues

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Informativo das Pastorais Sociais da Diocese de SantarémRua Floriano Peixoto, 634 | Altos | CEP: 68005-060

Santarém - ParáAs opiniões emitidas nos artigos desta publicação

são de inteira responsabilidade dos articulistas.

Diocese de Santarém, março/2013

EXPEDIENTE

Fone: (93) 3522-1777E-mail: [email protected]

Responsáveis: Pe. José Cortes, Valda Oliveira, Ir. Ronaldo Hein

Diagramação: Elivaldo Feitosa

Editorial

Pe. José Cortes

Nos últimos anos, a CPT Santarém vem acom- piuns e Tapajós, como já tinha acontecido na época panhando os conflitos provocados com a chegada dos conflitos. A intenção na verdade é deixar as de grileiros na Gleba Nova Olinda, município de terras livres para que o marcado se aproprie delas Santarém. A CPT fez inúmeras denúncias sobre a e de suas riquezas.situação às autoridades estaduais e federais, aler- Segundo Edward Luz o que existe é manipula-tando sobre o contínuo processo de violência con- ção identitária.tra o povo daquela região, chegando a ameaças e “Manipulação identitária é um dos fenômenos atentado contra a vida do segundo cacique Odair mais comuns, documentados e frequentes em toda José. história da humanidade. Ocorreu e ocorrerá toda

A CPT, juntamente com o Sindicato dos Traba- vez que um determinado Estado órgão dotado de lhadores Rurais de Santarém, Associações e comu- algum tipo de poder, estabelece critérios identitári-nidades do conjunto de Glebas Mamuru/Arapiuns os para punir ou beneficiar uma determinada popu-(área em que se encontra a Gleba Nova Olinda), lação. Sempre que há promessas reais ou fictícias elaborou e encaminhou, em 2008, ao Governo do de quaisquer benefícios para um determinado Estado, uma proposta de destinação das Glebas, grupo com tais e tais características, a tendência como forma de garantir aos moradores nativos humana lógica é reagir positivamente a este estí-suas terras. O Governo do Estado não aceitou a mulo, no sentido de amoldar-se para encaixar den-proposta e permitiu que grileiros, associados em tro daqueles parâmetros estabelecidos de modo a se cooperativas, permanecessem na Gleba para a tornar merecedor destes benefícios.exploração madeireira. Assim, a manipulação da identidade étnica vem

A exploração madeireira na Gleba chegou a um se tornando, apesar de perverso, um fenômeno nível vergonhoso de irregularidades e desrespeito cada vez mais frequente em todo território nacio-aos filhos nativos de toda a região do Arapiuns. nal. O caso das comunidades que só recentemente Indignados e cansados com o descaso do governo, passaram a se identificar como Boraris é um exem-decidiram fazer uma manifestação em uma das plo paradigmático a revelar de uma só vez, todas as comunidades do Rio Arapiuns, para chamar a aten- perversas inversões e corrupções deste esquema ção das autoridades para os crimes cometidos con- corrupto e corruptor de se obter benefícios estata-tra aquele povo. Isso foi amplamente divulgado na is de forma indevida.”Mídia em 1989. O senhor Edward deve ler os excertos que

A manifestação contou com populações indíge- publicamos na página 8 da palestra do Antropólo-nas, não indígenas, assentados do PAE Curuai e go Alfredo Wagner e entender que o que ele Resex Tapajós Arapiuns. Formaram então o “Mo- chama de “manipulação perversa” é a única ação vimento em Defesa da Vida e da Cultura do Arapi- possível para as comunidades manterem seus ter-uns”. O movimento decidiu impedir a passagem de ritórios e sua identidade cultural, longe daqueles balsas carregadas com madeiras vindas da Gleba que talvez paguem o salário ao senhor Edward e Nova Olinda e solicitou a presença de represen- que usurpam descaradamente os recursos natura-tantes do Governo do Estado e outras autoridades is da região com aval do governo. A auto identifi-para tratar do assunto. cação é uma ação legítima, ética e a única possível

O governo do Estado nunca admitiu nenhuma depois de 500 anos de negação da territorialidade e irregularidade na retirada da madeira e tão pouco da identidade étnica e cultural. Legítima, porque se propôs a encontrar uma saída a partir da pauta apoiada na Constituição Federal Brasileira e na dos moradores do Arapiuns. Convenção 169 da OIT assinada pelo governo Bra-

Em carta enviada à redação da GAZETA em sileiro em 2004, que tratam do assunto. Como 25.02.2013, o antropólogo Edward M. Luz criticou parece que o pesquisador desconhece o texto da e negou mais uma vez a existência de qualquer OIT, apresento para seu conhecimento e conheci-sociedade ou mesmo comunidade indígena no Ara- mento geral:

PARTE I - POLÍTICA GERAL

ARTIGO 1

A presente Convenção aplica-se a;

a) povos tribais em países independentes cujas condições sociais, culturais e econômicas os

distingam de outros segmentos da comunidade nacional e cuja situação seja regida, total

ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por uma legislação ou

regulações especiais;

b) povos em países independentes considerados indígenas pelo fato de descenderem de

populações que viviam no país ou região geográfica na qual o país estava inserido no

momento da sua conquista ou colonização ou do estabelecimento de suas fronteiras atuais

e que, independentemente de sua condição jurídica, mantêm algumas de suas próprias

instituições sociais, econômicas, culturais e políticas ou todas elas.

2. A auto identificação como indígena ou tribal deverá ser considerada um critério

fundamental para a definição dos grupos aos quais se aplicam as disposições da presente

Convenção.

Finalmente remeto o senhor Edward para o artigo, baseado no livro São e Salvo do Doutor Carlos

Arenz, publicado neste número do Poronga na página 6.

Enviado por seu superior, o Padre Antônio Vieira, chegou o Padre João Felipe Bettendorf, sj, e fundou a cidade de Santarém em 1661. Seu objetivo era a divulgação do evangelho entre os povos indígenas do Tapajós. Tempos depois, em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, Primeiro-Ministro de Dom José I, rei de Portugal. A Companhia de Jesus foi supressa no mundo inteiro em 1773 pela Bula Dominus ac Redenptor, do Papa Clemente XIV.

A restauração da Companhia de Jesus se deu em 07 de agosto de 1814. Mas, apenas em 1842, os jesuítas entraram novamente no Bra-sil, via Porto Alegre, vindos da Argentina.

A Companhia retornou provisoriamente a Santarém em 29 de fevereiro de 2012 (após ausência de 253 anos) com a chegada do Padre Nathan para ser Diretor Espiritual do Semi-nário São Pio X e Assessor da Pastoral Univer-sitária Diocesana. Em julho do mesmo ano, chegou Padre Adilson para oferecer seu servi-ço de assistência psicológica e espiritual na Diocese.

Com a chegada de Padre Gilberto, em feve-reiro de 2013, fundou-se uma comunidade definitiva com três padres. A comunidade jesuíta ficou estabelecida na casa paroquial no bairro Liberdade. A missão geral dos jesuítas em Santarém é oferecer retiros, formação e assessoria espiritual para toda a Diocese. Esta-mos vinculados com o SIES (Serviço Inaciano de Espiritualidade), presente em Manaus e Belém, que define sua missão assim: Ajudar as nossas igrejas e agentes pastorais a serem pessoas e comunidades de discernimento, dóce-is a ação do Espírito e capazes de perceber para onde sopra este mesmo Espírito em nossos dias; difundir e oferecer a experiência dos Exer-cícios Espirituais; contribuir para o resgate da riqueza da cultura e religiosidade amazôni-cas.

Especificamente, Padre Adilson assume como superior local e pároco em N. Sra. do Perpétuo Socorro, no bairro Liberdade. Padre Gilberto assume como vigário da comunidade Menino Jesus, no Mapiri. Além disso, eles estão disponíveis para orientar retiros e ofere-cer formação espiritual em toda a Diocese. Padre Nathan vai ficar com especial dedicação na formação da juventude. Ele continua apoi-ando no Seminário e animando a Pastoral Universitária Diocesana.

A Companhia de Jesus é uma ordem essen-cialmente missionária, quer dizer, pregadores itinerantes dedicados à evangelização dos povos. Sentindo-se parte de um mesmo corpo apostólico, os jesuítas desejam estar a serviço da Diocese de Santarém, sob a orientação de seu bispo Dom Flávio, com o objetivo de cola-borar na construção do Reino de Deus, inspi-rados no testemunho e carisma de seu funda-dor Santo Inácio de Loyola. A gente busca sempre em tudo amar e servir. Nosso lema é Ad maiorem Dei gloriam, “para a maior glória de Deus”.

Pe. Nathan Stone, sj

Jesuítasem Santarém

Pe. José Cortes

Page 3: Poronga edição Janeiro a Março de 2013

3Diocese de Santarém, março/2013

AS SURPRESASDE BENTO XVI

No dia 11 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI anunciou sua renúncia. Depois de 600 anos é o primeiro Papa a tomar tal decisão. O Papa SURPREENDEU a todos.

As SURPRESAS de Bento XVI são uma característica de seus oito anos de Pontificado.

Apontado como um “Papa de tran-sição, de passagem”, que viveria poucos anos, sai do pontificado com seus pés, e não carregado num cai-xão.

Apontado como “reacionário”, contrário ao social porque combateu os excessos da Teologia da Liberta-ção, fez da Caridade e do compromis-so social um dos temas mais impor-tantes de seu ensinamento. No dia 11 de novembro (exatamente 3 meses antes de renunciar), escrevia que “o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e expressão irrenunciável da sua própria essência”, repetindo o que já tinha escrito no número 25 de sua primeira carta encíclica: Deus caritas est.

Na mesma carta, afirmava: “A NATUREZA ÍNTIMA DA IGREJA exprime-se num tríplice dever: anún-cio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacra-mentos (leiturgia), serviço da cari-dade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não poden-do um ser separado dos outros” (Car-ta encíclica Deus caritas est, 25). E foi com este trecho que ele começou, também, o seu último documento, que trata das organizações sociais católicas.

Neste sentido da importância da caridade, ficou muito marcado em mim o discurso que ele fez aos Bis-pos do Brasil na Catedral da Sé, em São Paulo, no dia 11 de maio de 2007, falando sobre a catequese e a dimensão social: “Faz parte da cate-quese essencial também a educação às virtudes pessoais e sociais do cris-tão, como também a educação à res-ponsabilidade social”.

Por isso, ao terminar seu pontifi-cado, com sinceridade, dizemos: OBRIGADO, PAPA BENTO XVI PELAS SURPRESAS QUE NOS FEZ. Vamos acompanhá-lo com nossa oração e nosso carinho!

DOM FLÁVIO GIOVENALEBispo Diocesano de Santarém

Entrevista com

E. S.: Que impressões o senhor aprender. Nesse pouco tempo, o tem da região Oeste e da Diocese que já aprendeu?nesses três primeiros meses como Vi que as coisas estão bem melhor do que eu bispo de Santarém? pensava. Como disse antes, fiquei feliz quan-

do vi a qualidade das celebrações litúrgicas. Dom Flávio: primeira coisa: é uma região No campo social, percebi a diversidade e a muito viva. Impressiona-me as iniciativas, riqueza das experiências da Pastoral Social. a criatividade. A distância da capital (Be-No campo da formação, as semanas de mul-lém) suscitou nessa região do Tapajós uma tiplicadores, as escolas e os cursos bíblicos iniciativa de dizer “não vamos esperar eles em parceria com outras instituições e con-se mexerem, vamos nós nos mexer, vamos gregações. Outra coisa que aprendi foi reco-nós fazer a nossa história”. Segundo: aqui nhecer pessoas com muitas qualidades e em Santarém, especificamente, é uma cida-com vontade de acertar o trabalho pastoral, de que se respira uma juventude estudantil, de levar a obra pra frente. Sei que existem a presença de muitas universidades chama muitas experiências que ainda vou conhe-para cá muitos jovens de outras regiões e cer e aprender.municípios e até de outros estados. Então se

cria uma situação muito viva. Terceiro: em E. S.: Em relação aos problemas relação à Igreja, o que me impressionou foi a sociais, quais os que mais atingem qualidade da organização da Diocese de San- a população da região?tarém nos vários campos, inclusive no da

Uma das coisas percebidas são os contras-comunicação social, a qualidade das cele-tes. Em Santarém, por exemplo, existem brações litúrgicas, a participação do povo e belas ruas, mas logo em seguida estão aque-a organização para essa participação. São las quase intransitáveis que mais parecem impressões que me deixam com mais vonta-ramais ou travessões. Há uma preocupação de de ajudar a evangelização crescer.apenas com as ruas por onde passam os car-

E. S.: Ainda em relação à organi- ros. Outra coisa é o avanço do poder econô-zação, que imagem o senhor tinha mico através dos grandes projetos como o de da Diocese antes de assumi-la? E mineração e o agronegócio que prejudicam como ela está hoje? a vida na Amazônia. É preciso nos organi-

zar, porque sozinhos seremos atropelados, Quando estava em Abaetetuba, no meu ima-então o desafio é a organização social, e, no ginário Santarém sempre era “a Diocese”, nosso caso, alimentada pela fé, para enfren-não só do Oeste do Pará, mas uma diocese tarmos esse “monstro” que avança. muito importante de toda a Amazônia, até

pelo seu simbolismo desde a reunião dos E. S.: Quais as esperanças em bispos em 1972. E chegando aqui, vi que médio e longo prazo em relação à não é só fama, é realidade, e uma realidade Igreja particular de Santarém?bem melhor daquilo que podia imaginar.

A esperança de um crescimento da Igreja. E Existem várias pastorais bem estruturadas, a articulação talvez seja o grande desafio. há acompanhamento. Tem muitos leigos Temos iniciativas pastorais fantásticas, bem comprometidos e preparados, com mas pouco conhecidas, e somando as forças uma qualificação admirável. E vejo que o poderemos multiplicar os efeitos dessas desafio é não deixar parar. Se Deus nos deu iniciativas. Dois dedos quando se unem a graça de estarmos caminhando, então podem segurar um copo, uma garrafa, mas com o nosso trabalho vamos avançar na sozinhos, por mais fortes que sejam, não construção do seu Reino.seguram nada. Penso que a articulação seja

E. S.: Em sua primeira entrevista a maior contribuição para um futuro próxi-quando chegou a Santarém, o mo.senhor disse que tinha muito a

Ércio Santos

Page 4: Poronga edição Janeiro a Março de 2013

No dia 12 de janeiro de 2013, o colocado em prática pelas equipes mundo Silva (São José);coordenador da Pastoral Social de serviços e regiões pastorais. Foi • Maria da Conceição Silva Diocesana Pe. José Cortes, o agen- disponibilizado o plano para cada (Santo André);te Gilson Rego, da Comissão Pas- participante, que foi discutido, a

• Pedro da Silva (Nova Espe-toral da Terra – CPT, e Valdeci fim de trazer mais esclarecimento

rança); Oliveira, representando a Comis- para a construção do planejamen-

• Nelso Costa (Paricatuba). são Justiça e Paz – CJP, estiveram to da miniárea, dando destaque Com o objetivo de trabalhar a na comunidade de São José, aos projetos da prioridade 02 do

região 09 de Pastoral. Participa- capacitação e a organização do Plano de Pastoral – atividade: ram 24 lideranças representando Formação e reestruturação grupo recém-formado, ficou a as comunidades de São José, Paco- da Pastoral. proposta de um primeiro encon-val, Santo André, Nova Esperan- Depois de conhecer a proposta tro de formação para os dias 05 e ça e Paricatuba. do Plano Diocesano, as lideranças

06 de abril na comunidade de O encontro tinha o objetivo de presentes aprovaram a criação e Santana, iniciando com o almoço ajudar na construção de um plano formação do setor da Pastoral e terminando às 16h do dia pastoral na dimensão social, con- Social da Região 09, formada

forme proposto em encontro ante- 06.04.13. A proposta vai ser discu-por 02 membros de cada comuni-rior. Pe. José apresentou o Plano dade que integra a Região. O tida na semana de formação da Diocesano de Pastoral, que foi grupo ficou assim formado: Área, que acontece de 11 a 15 de construído com esforços de mui- • Evaldo Pimentel, Zenilson fevereiro em São José. A reunião tos e que passou por momentos de Araújo (Pacoval); terminou às 12h; em seguida, o discussão e aprovação para ser

• Maria Rizoneide Silva, Rai- almoço comunitário.

4 Diocese de Santarém, março/2013

Conselho Pastoral dos/as Pescadores/as – CPPCPP/Diocesano•Iniciou os trabalhos em 2013, aten-dendo uma solicitação das lideranças da Comunidade Membeca, região do Arapixuna, para iniciar um trabalho de assessoria na referida comunidade. Para início de conversa, o agente do CPP, nos dias 08, 09 de fevereiro, reu-niu com vinte e oito membros das orga-nizações locais e juntos fizeram um diagnóstico para analisar a realidade local nos campos social, econômico, político, cultural e religioso. Traçado o diagnóstico, ficou de voltarem a reu-nir para traçar um planejamento de trabalho para os anos 2013-2015.

CPP Regional Norte/Bam• No dia 04, o agente deste regional reuniu com os diretores do Movimen-to dos Pescadores do Baixo Amazonas – MOPEBAM – e da Colônia de Pesca-dores e Pescadoras Z-20, de Santarém, para discutir os principais problemas e traçarem estratégias de enfrenta-mento;

• Nos dias 16 e 17 de fevereiro, junta-mente com a Coordenação do Regio-nal Norte II, realizou em Santarém, especificamente na sede da Colônia Z-20, um encontro com mulheres pesca-doras do Baixo Amazonas. Este encontro teve como objetivo “Consoli-dar a organização das mulheres pesca-doras” no Baixo Amazonas e no Pará.

• 12 a 16 de março – O CPP Diocesano e do Baixo Amazonas participam da Reunião com Pescadores e Pescadoras do Movimento Nacional – MPP – e da Assembleia do CPP Nacional em Olin-da - PE.

Conselho das Pastorais SociaisNo dia 29 de janeiro de 2013, na sala da Cúria Diocesana, aconteceu a pri-meiro reunião do Conselho das Pasto-rais Sociais e contou com a participa-ção do Dom Flávio Giovenale, Bispo Diocesano. Participaram lideranças das seguintes Pastorais Sociais: Pas-toral Carcerária, Pastoral do Menor, Pastoral da Criança, Pas-toral da Pessoa Idosa, Pastoral da Saúde, Pastoral da Saúde Hos-pitalar, Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Conse-lho Pastoral dos Pescadores – CPP e Comissão Justiça e Paz – CJP.Dom Flávio escutou atentamente os relatos e fez algumas recomendações: muito está sendo feito, precisamos mudar algumas coisas, considerando os novos tempos, peçam os dons do Espírito Santo para continuar a cami-nhada. Concluiu com oração e bênção. Participaram 20 pessoas membros das Pastorais Sociais Diocesanas; o encontro encerrou às 12h.\

PJ realizada 6º Congresso Diocesano

Miniárea da Região 09 de Pastoral reorganiza Pastoral Social

Foi realizado entre os dias 22 a No sábado, dia 23, os participan- No dia 24, realizou-se a Assem-24 de fevereiro, o 6º Congresso da tes se dividiram em grupos para bleia da PJ, na qual foi construída Pastoral da Juventude. O trecho discutir os subtemas do congresso e aprovada uma Carta Aberta de acima é parte da Carta aberta de que foram: “Juventude e Cultu- compromissos, onde a PJ assume compromissos aprovada no último ra”, assessorada pelo Prof. Florên- seu empenho em:dia do congresso. O evento contou cio Vaz; “Juventude e Educação”, • Caminhar como igreja viva;com a participação de aproximada- com a participação do Prof. Márcio • Rearticular suas bases em mente 180 jovens das diversas pinto; “Juventude e Trabalho”, toda diocese;regiões de pastoral que formam a facilitado pelo Pe. José Boing. • Dialogar fraternalmente com diocese de Santarém, e discutiu o Pela parte da tarde, do dia 23, a as demais forças que trabalham tema “Juventude: Fé e Vida na discussão se deu em torno dos gran- com a juventude;

des projetos capitalistas na Amazô- • Sua opção pelos jovens empo-Amazônia”.nia e suas terríveis consequências brecidos e excluídos; A abertura ocorreu na tarde de para os povos, culturas e meio ambi- • A valorização e defesas de sexta-feira, dia 22 com um forte ente da região. Nesse momento, nossas culturas povos e natureza.momento de mística, seguido pela tivemos a colaboração do Pe. Edil- O congresso representou um participação do Bispo Diocesano berto Sena, que provocou a juven- grande e forte momento de cresci-Dom Flávio, que fez memória com tude a refletir nos grupos de base mento e amadurecimento na fé. A a juventude dos 50 anos do Concí-essas temáticas e se inserir nos caminhada continua!lio Vaticano II e de sua importân-processos de luta contra o monstro Caminhemos de mãos dadas cia para a Igreja.capital. O dia encerro com uma com a juventude que sonha e cons-Em seguida, o Prof. Aluísio Leal animada noite cultural. trói a Civilização do Amor!fez uma contextualização da Ama-

zônia enquanto colônia no sistema capitalista e alertou a juventude para a tomada de consciência sobre este processo.

O dia terminou com a palestra “Fé e Vida”, facilitada pelo jovem Thiago Rocha, que deixou claro que fé e vida estão em profundo diálogo na evangelização e na cons-trução do Reino de Deus.

“[...] queremos reafirmar nosso compromisso com a vida e com a evangelização da juventude em nossa diocese. [...] e fortalecer o nosso empenho em sermos a Força da Civilização do Amor.”

Coordenação do Congresso

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5Diocese de Santarém, março/2013

Comissão Pastoral da Terra – CPTMISSÃO organizações comunitárias e na lida com os Os principais frutos desse trabalho foram: a criação

conflitos provocados por madeireiros que do Fórum da Agricultura Familiar; a implantação Convocada pela memória subversiva do evangelho chegavam e cooptavam lideranças para a da Feira da Produção Familiar do Baixo Amazonas, da vida e da esperança, fiel ao Deus dos pobres, à exploração da madeira, causando danos à floresta e a FEPAM, que se tornou anual; e também a terra de Deus e aos pobres da terra, ouvindo o às estradas dos comunitários. realização de muitos cursos de capacitação para clamor que vem dos campos e florestas, seguindo a

agricultores. Esses movimentos foram fortes até prática da busca pela justiça de Jesus, a CPT quer Com a criação da Floresta Nacional (FLONA), as aproximadamente o ano de 2003. Mas, muitas ser uma presença solidária, profética, ecumênica, famílias ficaram subjugadas às regras impostas ações permaneceram posteriormente.fraterna e efetiva, que presta um serviço educativo pelo governo, que tentava a todo custo retirar todas

e transformador junto aos povos da terra e das as famílias que ali habitavam. As comunidades da Em 2006, a CPT faz um novo diagnóstico de águas, para estimular e reforçar seu protagonismo. margem direita do Tapajós, com apoio da CPT e do conflitos nos seis municípios da Diocese (Almeirim,

Sindicato, travaram uma árdua luta com o governo Prainha, Monte Alegre, Santarém, Belterra e ORIGEMpara que os mesmos permanecessem em suas casas, Aveiro – Mojuí ainda não era criado) e constatam-se A Comissão Pastoral da Terra nasceu em junho de desfrutando dos recursos que a floresta disponha os velhos atores de conflitos, só que agora surge o 1975, durante o I Encontro de Pastoral da para a subsistência de suas famílias. sojeiro, que, na mesma lógica dos fazendeiros e Amazônia, convocado pela CNBB e realizado em Em Monte Alegre, os causadores dos conflitos eram madeireiros, busca ocupar grandes áreas para o Goiânia (GO).os fazendeiros que pretendiam ocupar todas as monocultivo da soja. Com a Campanha da Os posseiros da Amazônia foram os primeiros a áreas para colocar búfalos. Tanto na terra firme Fraternidade de 2007, que teve como tema a receber a atenção da CPT. Rapidamente este (região do Paituna) como na várzea (região do Amazônia, a CPT teve grande oportunidade de serviço se estendeu a outras partes do Brasil.lago), os trabalhadores eram ameaçados. mostrar para o público urbano os diferentes tipos Na Diocese de Santarém, o primeiro relato de

de conflitos provocados pelo grande capital ao A criação da Reserva Extrativista Tapajós-atividade da CPT foi a promoção do I Encontro de homem do campo em nossa Diocese.Arapiuns foi uma luta em que a CPT teve sua Agricultores, realizado nos dias 18 e 19 de

parcela de contribuição. A Resex surgiu como Em 2010, a CPT divulga a Cartilha “Povos da dezembro de 1976, no Centro de Treinamento mecanismo legal de garantia da terra aos Floresta: resistência contra o grande capital no Emaús. Porém, foi na terceira Assembleia verdadeiros donos, pois empresas madeireiras se Baixo Amazonas”, na qual são apresentados os Diocesana, em 1989, que foi criada a prioridade apossavam de áreas de terra cada vez maiores no diversos atores do capital que promovem o conflito terra. Assim, foi planejada a organização da CPT Tapajós e Arapiuns. em nossa região e as áreas de atuação da CPT, assim com a criação de uma equipe em Santarém. Padre

como, as formas de resistência do povo contra a Na década de 90, a Diocese repensa sua prioridade Luiz Pinto convocou lideranças da Diocese, que rapina de suas terras e cultura.de luta pela terra ( assembleia de 1996) e amplia tiveram como primeira ação fazer um diagnóstico

para a fixação do agricultor na sua terra, ajudando Desde seu início até hoje, a CPT reafirma seu dos conflitos nas várias regiões da Diocese de a discutir as formas de produzir e preservar os caráter pastoral e promove, com vigor, o trabalho Santarém. Todo este trabalho foi feito em recursos naturais, já que as políticas públicas não de base junto aos povos da terra e das águas, como consonância com as Paróquias de cada região. chegavam até as famílias e a investida de convivência, promoção, apoio, acompanhamento e Neste momento, a CPT já se vinculava ao projeto fazendeiros e madeireiros para ocuparem a terra assessoria.diocesano, em parceria com a organização católica

Texto: Francisco Araújo e Gilson Regoera grande.Miseror. Assim, a CPT, Sindicatos e outras organizações, Em 1991 são realizados encontros de formação e

Decidimos não colocar os nomes dos diversos agentes não só de Santarém, mas de outros municípios do capacitação de trabalhadores, criação de e colabores da CPT para não cairmos no erro de

Baixo Amazonas, fizeram uma grande campanha associações comunitárias e outras demandas deixar de fora algum nome que, de alguma forma, pela permanência na terra, discutindo com provocadas pelos conflitos envolvendo madeireiros tenha contribuído para a construção desta história da

CPT em Santarém.agricultores, ajudando na criação de associações e e fazendeiros. Em algumas vicinais da BR-163, a Este breve resgate da história da CPT é apenas parte na implantação dos projetos de produção familiar. CPT teve papel importante no fortalecimento das da grande história da CPT em Santarém.

Pastoral da Criança“Eu sou a porta. Se alguém entra por mim, será salvo”

(Jo 10, 9).

Caros amigos da pastoral,Neste Ano da fé, temos muitos motivos para agradecer a

Deus pelos 30 anos da nossa querida Pastoral da Criança. Durante este ano, o Papa nos convida a ter o olhar em Jesus. O setor de Santarém vem motivando todos os ramos a terem um olhar e uma atenção especial sobre as Oficinas de Formação Contínua Integrada, ajudando, assim, os nossos líderes a serem uma presença de fé, que anima e motiva a missão da Pastoral da Criança nas suas comunidades, juntos às famílias, crianças e gestantes.

As oficinas de formação nos ensinam que, tendo humildade, poderemos ver além das aparências. Ver aquela pessoa humilde, simples, que passa por todo tipo de privação e, mesmo assim, mostra que é feliz. Tudo aquilo que nós ensinamos e aprendemos juntos é o que realmente conta para o nosso crescimento na Pastoral da Criança.

Colhermos felicidade quando se trabalha em benefício dos outros, ouvindo-os e ensinando-os.

Tudo o que já sabemos devemos partilhar. Quando nos dedicamos ao trabalho voluntário temos que vibrar, ter orgulho de ser voluntário, ter amor para dar!

Reze, peça sabedoria pra que sua missão dê frutos. Leia

muito a palavra de Deus, o jornal, o guia do líder. Informe-se,

cresça! Entregue-se nas mãos de Deus e seja feliz!

Saudações em Cristo.Ir. Graça, pela equipe do setor.

MARÇO ABRIL05. Reunião para planejar as atividades com 02. Reunião com o grupo acompanhado do

diretores e coordenadores da Colônia Z- Município de Aveiro20 (CPP) 04. Conselho das Pastorais Sociais

08. Posse do Conselho da RESEX Renascer 05 e 06. 1ª etapa curso formação equipe Pas-na Comunidade Santo Antônio, Rio toral Social – Santana, Região 09Tamuataí, Prainha (CPP) 12 a 14. Curso Políticas Públicas/ Instituto

12 a 16. Seminário – Sindicalismo e Castejon e Universidade Católica Pescadores, Olinda-PE de Brasília – UCB

15 e 16. Conselho Diocesano de Pastoral, 30. Assembleia em Santa Maria, PrainhaEmaús MAIO

25. Reunião com o grupo acompanhado de 18. 1ª etapa curso formação em Santa Luzia, Açaizal Eixo Forte

25 e 26. Retiro povo indígena – Salão da 22 a 26. Estudo sobre efeito estufa – Igreja Santo Antônio, Laguinho Arapiuns

27. Reunião com o grupo acompanhado da JUNHORegião do Ituqui, Santarém 21 a 23. Etapa final do Curso DH e Mediação

de Conflitos em Andrelândia, Aveiro

Agenda Pastoral

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Diocese de Santarém, março/2013

Igreja e Evangelização da Amazônia - Uma visão histórica - 4ª parteA partir do Livro São e Salvo de Carlos Arenz

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Pastoral Universitária DiocesanaNo passado 11 de novembro (2012), na casa de Emaús, realizou-se a Foi decidido na Assembleia, depois de muita conversação, priorizar a

primeira Assembleia da Pastoral Universitária na Diocese de Santarém. O formação e a comunicação como eixos de ação para 2013. Isso sem deixar de tema desse encontro foi O que é que vocês estão procurando? É a pergunta de lado outros eixos de ação possíveis, como espiritualidade, esporte, cultura, Jesus para os jovens no evangelho de João (1,38). Nosso objetivo foi diagnos- solidariedade e missão. O povo assistente optou pela formação porque ticar a realidade vivenciada pelos universitários de Santarém, para, como encontrou que é urgente saber como enfrentar seus desafios, ser informado Igreja, responder às suas necessidades. A ideia não é impor um modelo pasto- sobre a fé de maneira madura e sensata, para se encaminhar nesta etapa. A ral sobre nossos universitários, nem tampouco criar um grupo fechado nem partir da formação, a Pastoral Universitária da Diocese poderia priorizar competir com outros grupos, senão abrir um espaço acessível para todos, que outros eixos de ação no futuro. permita crescer na fé e vivenciar a missão. Nossa PU pretende acolher, Também, destacou-se a importância de formar vínculos com outras divulgar e facilitar as diversas iniciativas dos estudantes nos seus movimen- organizações da Pastoral Universitária, seja em Belém, Manaus ou na tos, instituições e paróquias. C N B B . R e c o m e n d o u - s e v i s i t a r o s i t e

Existem oito estabelecimentos de estudos superiores em Santarém, http://www.universitarioscristaos.com.br (CNBB). Daí a gente já tem rece-onde assistem mais de oito mil estudantes, muitos deles procedentes do inte- bido muito apoio. rior. Alguns estão morando fora da casa familiar pela primeira vez na vida. Conversamos sobre a importância de formar uma equipe de Coorde-Muitos têm formação na fé; outros não têm. Os participantes na Assembleia nação. Não seria uma liderança com afã de mandar, senão um organismo falaram do desafio de assumir a responsabilidade pela própria vida pela pri- representativo para servir. O tempo de serviço dos integrantes da equipe meira vez. Mencionaram, também, as tentações na vida universitária, e dos deve ser definido e limitado. Não seria um grupo fechado nem favorecido, questionamentos à fé ocasionados pelos mesmos estudos. Trata-se dum senão um grupo para animar a participação de todos. Sua missão não é de tempo para amadurecer. A Igreja deve acompanhar este processo. É uma limitar a ação autônoma dos empreendimentos existentes e futuros, senão oportunidade para ganhar muitos para Cristo. A CF 2013 chama a tomar a uma ajuda para motivar, comunicar e articular toda iniciativa boa em benefí-sério a evangelização da juventude. Esta Pastoral poderia ser um meio cio dos colegas.importante para alcançar esse objetivo. Marcamos a próxima Assembleia para domingo 03 de março, no

As pesquisas indicam que 62% dos jovens católicos abandonam sua fé Recanto de Cumaru. O dia iniciaria com oração e eucaristia. Durante a antes de terminar seus estudos universitários. Pode ser por desafios intelec- manhã, haverá formação sobre o tema desafios da fé para o estudante. Logo tuais. Eles chegam com uma catequese de criança que não aguenta a con- após o almoço, a deliberação: a ideia seria designar uma Coordenação Provi-frontação com as ciências seculares. As tentações próprias da juventude são sória para 2013. Os candidatos deveriam estar presentes para serem escolhi-fortes. Muitas vezes, o estudante sente que ele deve escolher entre ser bom dos por consenso da Assembleia. Esperamos contar com a assistência de Dom católico e participar plenamente da vida universitária. Estimamos que isso Flávio, para ele oficialmente dar missão a nossa Pastoral. seja uma falsa dicotomia. A Igreja poderia acompanhar melhor o processo Atividades planejadas para o primeiro semestre de 2013:para ajudar a aprofundar sua fé, mesmo adquirindo destrezas técnicas e inte- · uma celebração da Páscoa na tarde do dia domingo da Ressurreição;lectuais para melhor servir aos seus irmãos no mundo. · um encontro sobre ciência e fé em abril;

O tempo dos estudos universitários é o momento para ele descobrir · um retiro espiritual de 04 a 05 de maio no Seminário São Pio X;sua vocação, de responder à pergunta: para que Deus me enviou ao mundo? · mais outra Assembleia de formação no domingo 02 de junho. Não é um tempo para ele sentir-se abandonado pela sua Igreja, senão acom- Temos esperança de realizar mais alguma atividade esportiva ou panhado e apoiado de maneira especial. cultural. Enquanto se estabelece nossa Pastoral, queremos ter missa sema-

Os destinatários de uma Pastoral Universitária Diocesana são aos nal para a comunidade universitária nas sextas feiras. Contato: Padre Nat-estudantes. Mesmo a PU deve considerar aos acadêmicos e funcionários han Stone sj, (93) 92025910, [email protected]. como colaboradores permanentes na atenção pastoral do estudante. Para Contamos com o apoio da Igreja inteira para que esta missão seja cumprir sua missão, eles precisam de formação específica e acompanhamen- realidade. Nós nos encomendamos ao Espírito Santo para fazer a vontade do to direto. A PU não pretende ser para eles uma alternativa à participação nas Pai e, com Cristo, levar a Boa Nova aos mais afastados. paróquias e movimentos. Pastoral na universidade não é só ter um capelão para rezar nos grandes eventos. Trata-se de participar realmente na forma-ção integral dos estudantes.

O governo federal e as elites locais, ao inicia- A população que mais reflete na sua rem os projetos desenvolvimentistas na Amazô- história e cultura as mudanças ocorridas na nia Legal partiram de um suposto “vazio demo- região amazônica desde a chegada dos euro-gráfico”. Por isso, eles dispuseram livremente peus a partir do século XVII são os ribeiri-de terras já habitadas e trabalhadas no vasto nhos. São estes os habitantes das beiradas interior porque os seus “ocupantes” - vivendo do rio Amazonas e de seus afluentes cha-nestes lugares há gerações - não tiveram docu- mados pejorativamente de "caboclos".mentos comprovando a posse legal. Este fato Estes ribeirinhos são descendentes dos mostra a dissociação das populações locais fren- indígenas aldeados pelos primeiros missi-te à política econômica introduzida na regiãoa- onários. Após a expulsão desses, eles mazônica. foram integrados oficialmente à sociedade

O missiólogo Paulo Suess ressalta na sua colonial por razões econômicas, como análise da realidade sócio-econômica amazôni- mão-de-obra barata. Porém, não se identi-ca que a população local vive um subdesenvolvi- ficam como índios, mas brasileiros. Apesar desta “agressão colonialista visando mento exógeno, pois, embora praticassem uma Por viverem ao longo dos rios, que constituí- ao domínio do espaço amazônico” e ao “povoa-economia de subsistência há milênios, as popu- ram por muito tempo o único acesso à área imen- mento de colonização dirigida e de conquista lações da região foram sujeitas a interesses eco- sa da planície amazônica, os ribeirinhos servi- pelas armas”, seguidos por “sucessivas políticas nômicos alheios. ram especialmente durante a época colonial de ocupação utilizadas ora pelo Estado ora pela

As mudanças desencadeadas pelos esforços como coletores das drogas do sertão, pois conhe- religião”, a população ribeirinha conseguiu econômicos “de fora” alteraram, portanto, pro- ciam bem a selva. A exclusão social aumentou criar e manter um sistema cultural próprio.fundamente o quadro populacional interno, com a implantação das outras “frentes econômi- Este tem, basicamente, uma matriz indígena deixando-o sócio-cultural e etnicamente mais cas” (a borracha, a agropecuária, a exploração e, em conseqüência disso, está marcado pela complexo. A construção de estradas e pólos eco- mineral e energética) tornando –se categórica, adaptação integral da população ribeirinha a nômicos e a vinda de migrantes de outras seja em nível de participação nos projetos de seu habitat de rios e matas. Porém, no confronto regiões encerrou a fase do “isolamento físico” desenvolvimento seja em nível de benefícios constante com a cultura ocidental dominante, da Amazônia, significando ao mesmo tempo o provindos dos mesmos. surge uma problemática social específica, desa-fim do isolamento sóciocultural. fiando os ribeirinhos de raiz ameríndia.

Pe. Nathan Stone sj, assessor

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7Diocese de Santarém, março/2013

O regime imposto pela Ditadura Militar nos anos 60 Associativismo, Cooperativismo, etc. Retomar o - 70 forçou a classe trabalhadora a procurar novas Trabalho de Base e a Educação Popular como forma de formas de se organizar na tentativa de se opor ao repensar novas estratégias de enfretamento e exercer satânico regime ditatorial. Para isso, se fez necessário a verdadeira cidadania sem medo de ser cooptado/a por rever as forças (prós e contras), como trabalhar um influências de políticos demagogos, aproveitadores e enfrentamento que desse a certeza que seria possível sensacionalistas.mudar o rumo da história. E, assim, nasceu o trabalho Terceiro passo: ação ou ações a serem realizadas: de base, ou formação da consciência crítica: escolher o Instrumento Jurídico de

Primeiro passo: Trabalho de Base e Participação Popular necessário, e, de forma Educação Popular, com a finalidade de preparar os coletiva e organizada, procurar executá-lo. Isso trabalhadores/as das mais diferentes categorias e se chama DEMOCRACIA.credos, assim como suas organizações de classe para o Democracia não se realiza no texto constitucional enfrentamento. pendurado em prateleiras de bibliotecas bem

A educação é uma das maneiras de tornar comum organizadas, mas no contexto político que se fez um saber, uma ideia, uma crença... Tem a ver com constitucional, nas manifestações plurais de cada produção, transmissão e reprodução do conhecimento. povo. Pode existir imposta por um sistema centralizado de A Democracia exige, pois, a cidadania ativa, livre, poder como um recurso a mais de sua dominação. Mas, igualmente exercida pelos membros da cidade política pode ser uma construção coletiva, com participação co- e pluralista, a fim de que todos quantos dela responsável das pessoas envolvidas, que usa o participem possam pôr e expor a sua ação, a sua conhecimento como instrumento de libertação. Por vocação e a sua intenção política e social. Democracia é isso, o processo educativo é uma disputa de hegemonia um estado de participação.entre as classes para dar direção à sociedade no plano O exercício da soberania popular exige, contudo, um político, ideológico e cultural. conjunto de condições materiais, sociais e políticas,

Toda formação tem uma intencionalidade, explícita sem as quais não se chega à dignidade de cada um, nem ou oculta, a partir da perspectiva que dá rumo ao à dignidade social e política de toda a sociedade. conhecimento. A intencionalidade política da A dignidade da pessoa humana não pode ser obtida educação popular nasce da concepção de mundo e da para poucos ou para alguns. A fome de um ser humano opção ideológica que serve à classe trabalhadora deve indignar a todos. A dor de uma pessoa adoece a

Só o conhecimento liberta. Conhecimento é mais que sociedade. A dignidade é de um povo ou é de ninguém. informação, palestra, curso, leitura de livro – quem Não há classes ou categorias sociais dignas numa sabe como fazer, mas não faz, ainda não sabe. As sociedade em que a indignidade de outras prevaleçam. informações sobre como nadar são insuficientes para a A participação popular, enquanto princípio prática de nadar. Quem nunca fez, ainda que tenha constitucional, é o direito de participação política, de estudado como fazer, só sabe quando aplica as compartilhar a administração da coisa pública, opinar orientações conforme os grupos, lugares, ritmos e sobre as prioridades e fiscalizar a aplicação de recursos culturas concretas. públicos.

Segundo passo: conhecer as quatro dimensões do Para haver participação popular é necessário que os Trabalho de Base e da Educação Popular: Pedagogia, cidadãos sejam politizados: saibam o que querem ou do Metodologia, Operação e Mística. que precisam e conheçam aqueles que agirão a bem do

E que precisa ter: Um trabalho com raiz (base), interesse comum.ou seja, tenha começo, meio e fim, uma sementeira Caso contrário, a manipulação, a corrupção e o jogo permanente, organização e um povo de interesses acabam transformando a maioria da comprometido com a causa da luta. população numa massa de manobras, que agirá em

detrimento de seus próprios interesses e necessidadesHoje, diante do novo modelo de sociedade, dos avanços científicos e tecnológicos, das políticas Vamos conhecer a lguns dos pr inc ipais governamentais voltadas para a Amazônia, faz-se Instrumentos Jurídicos de Participação Popular? necessário rever os conceitos: Sindicalismo,

O exercício da cidadaniaManuel Roberto Santos

“Imagina-te como uma parteira. Acompanhas o nascimento de alguém, sem exibição ou espalhafato. Tua tarefa é facilitar o que está acontecendo. Se deves assumir o comando, faz isso de tal modo que auxilies a mãe e deixes que ela continue livre e

responsável. Quando nascer a criança, a mãe dirá com razão: nós três realizamos esse trabalho.”(Adapt. de Lao Tse, séc. V a C.)

Lei de Iniciativa Popular – LIP:É uma ferramenta que possibilita aos cidadãos a apresentação de propostas de normas para a vida em sociedade, para a criação de direitos, para a modificação de uma situação que cause prejuízos à coletividade ou a um determinado grupo.

Plebiscito:É uma consulta prévia à população em relação a determinada matéria que será posteriormente submetida ao Congresso Nacional.

Referendo :É um mecanismo de consulta popular para a confirmação ou rejeição de determinada lei, projeto de lei ou emenda constitucional.

Ação Civil Pública – ACP:A ação civil pública é o instrumento processual, previsto na Constituição Federal brasileira e em leis infraconstitucionais de que podem se valer o Ministério Público e outras entidades legitimadas para a defesa de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.

Abaixo Assinado – AA:É um tipo de solicitação coletiva feita em um documento para pedir algo de interesse comum a uma autoridade ou para manifestar apoio a alguém ou demonstrar queixa ou protesto coletivo.

Ato Público – AP

Audiência Pública – AP:Uma audiência pública é uma reunião pública informal. Todos na comunidade são convidados a comparecer, dar suas opiniões e ouvir as respostas de pessoas públicas.

Consulta Popular – CP

Lobão em pele de cordeiroA discussão foi ríspida no fim da tarde de quinta- federal precisa realizar os Estudos de Impacto em construir as usinas. Pouco se importa com os

feira, 22 de fevereiro, às portas do Palácio do Planalto, Ambiental (EIA). São mais de R$ 23 bilhões previstos indígenas, com a natureza, mas o Munduruku vai lutar mas o ministro da Secretaria Geral da Presidência da para erguer as usinas. Os empreendimentos constam no para proteger suas terras sagradas e a natureza”, disse República Gilberto Carvalho garantiu: “Ninguém vai balanço da segunda fase do Programa de Aceleração do na saída do encontro o cacique Arnaldo Kaba. falar de hidrelétrica, não. Ninguém vai enganar vocês. Crescimento (PAC 2). Razão de sobra para a grande *Se por um lado o tratado internacional obriga o país Eu não engano ninguém, eu falo as coisas com clareza, mobilização do Governo Federal ao redor da visita dos signatário a ouvir as comunidades afetadas por grandes esta é a minha preocupação. Vocês já foram enganados Munduruku à Capital Federal. empreendimentos, no caso do Brasil, desde 2004, por muito tempo, séculos”. No Ministério de Minas e Energia, as mentiras e outro a medida da AGU, com programação para entrar

“Vocês têm duas opções; uma delas é inteligente: é tentativas de enrolar a delegação, conforme os em vigor após a votação dos embargos declaratórios da dizer ok, nós vamos acompanhar, vamos exigir direitos Munduruku atestaram, chegou ao ponto do diretor de Terra Indígena Raposa Serra do Sol pelos ministros do nossos, vamos exigir preservação disso e disso e geração da Eletrobras Valter Luiz Cardeal de Souza Supremo Tribunal Federal (STF), permite a construção benefícios para nós. A outra é dizer não. Isso vai virar, dizer que das mil usinas hidrelétricas que existem no de empreendimentos hidrelétricos, entre outros, sem infelizmente, uma coisa muito triste, e vai prejudicar país, nenhuma afeta de forma negativa a vida de índios e consulta às comunidades. muito a todos, ao governo, mas também a vocês. A não-índios. Sem assinar, os indígenas foram embora. Durante hidrelétrica a gente não faz porque a gente quer, (mas) “Os discursos são lindos. Vocês se dizem nossos esta sexta-feira, 22, emissários do ministro ainda porque o país precisa”, disse o ministro Carvalho, às amigos e que nada de ruim vai acontecer, mas a realidade tentaram conseguir a assinatura de Arnaldo Kaba, portas do Palácio do Planalto, aos Munduruku. Nas é sempre diferente. Estive em Altamira (PA), na região cacique geral das 118 aldeias Munduruku – dispersas ao entrelinhas da fala, avisos bem conhecidos pelos da UHE Belo Monte. É prostituição, índios bêbados pela longo do rio Tapajós e Teles Pires, entre os estados do indígenas. rua, sem hospital e os parentes brigando entre si por Pará, Mato Grosso e Amazonas. Em vão. “O documento

Enquanto a regulamentação da Convenção 169 da conta do dinheiro que vocês distribuem. Não viemos não fala em educação, saúde, punição aos mandantes e Organização Internacional do Trabalho (OIT) se aqui para tratar de usina, mas do massacre da Polícia assassinos da Operação Eldorado, ressarcimento e mantém na alça de mira dos artigos da Portaria 303 da Federal contra nosso povo”, replicou Valdenir indenização”, destacou Walderilio, enquanto mostrava Advocacia Geral da União (AGU)*, o governo federal Munduruku. no mapa a localização das aldeias Munduruku e os locais segue, parafraseando a presidenta Dilma Rousseff, pretendidos para a construção de três usinas do Nesse momento, o ministro de Minas e Energia “energizado” para impor usinas hidrelétricas e Complexo Hidrelétrico do Tapajós. “Vê, nossas aldeias Edson Lobão já tinha saído do encontro, mas não sem barragens aos povos indígenas, entre outras vão pra debaixo d'água, além dos municípios, ou parte antes, assustado com a exigência dos indígenas para que comunidades tradicionais e populações. deles, de Jacareacanga (Alto Tapajós) e Itaituba (Médio ele ficasse na reunião, dizer que as usinas seriam

Tapajós). As comunidades ficam às margens do rio. Não As usinas do complexo do Tapajós têm prazos para os exemplos de respeito ao meio ambiente e aos povos vai ter escapatória”.leilões, com vencimento ainda para este ano, e o governo indígenas. “Ele (Lobão) é mentiroso. O interesse dele é

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Page 8: Poronga edição Janeiro a Março de 2013

8 Diocese de Santarém, março/2013

Perspectivas da luta pelo reconhecimento dos territórios na amazôniaEXCERTOS DA PALESTRA PROFERIDA Estou convidando vocês para

pensarem de uma maneira nova PELO PROFESSOR ALFREDO WAGNER NO tudo isso. Começar comparando. A SEMINÁRIO “AMAZÔNIA, DE QUEM É ESTE comparação é um elemento funda-TERRITÓRIO”? mental na educação política. Você só consegue pensar politicamente Existem diferentes maneiras de os grupos e quando você está comparando comunidades se organizarem. Existem diferentes diversas situações. Senão, você vai comunidades e diferentes identidades. Essas dife-perder as referências. Não podemos renças que são colocadas como lutas locais, são lutas ficar presos nas nossas circunstân-locais e não são. Na verdade é como o território é cias. A luta política é a luta do con-percebido de maneira diferenciada por um pescador, junto, à qual a tua luta está referi-ou por um indígena, por um atingido de barragem ou da. Senão, você fica isolado da luta. por um assentado. É percebido de maneira diferente E esse é o pior estágio. mas não impede uma interlocução entre um e outro.

Existe outro ponto, também, São formas organizativas diferentes.que complica muito a luta pelo ter- Não tenham medo da diferença. Isso é impor-ritório. Vou dar um exemplo: no tante. Tem que se constituir a igualdade com a per-Alto Juruá, depois de uma luta pela cepção dessas diferenças, senão não se consegue RESEX, hoje tem um grupo que lutar em conjunto. Por outro lado, essas diferenças

maioria das pessoas acha que é melhor ficar com o compactua com madeireiros, intro-não são só locais. A luta tem uma feição local, mas o que lhes é oferecido do que ficar sem nada. Isso passa duziu o gado; e tem outro grupo que não aceita o gado movimento é translocal. Uma associação é local, mas pela cabeça do povo. Isso deve ser conversado na nem o madeireiro. Então, dividiu ao meio. O grupo se reporta a outras associações. comunidade. É uma coisa política. Tem de ser con-que ficou mais fechado na parte florestada da No nosso caso, nós temos situações diferentes, versado. RESEX, eles se perceberam e são agora como indíge-temos casos em que os territórios foram reconheci-

Tem um outro lado da questão que é a criação nas. Eles lutaram como seringueiros até agora. Não dos e outros em que não foram reconhecidos, e não se das necessidades. As políticas governamentais dão conseguiram os objetivos e decidiram, daqui para a sabe se serão reconhecidos. Por exemplo, o território luz, acesso a fogão, geladeira, liquidificador... Isso é frente, ser índios. E dizem: vocês ficam como serin-aquático está perdendo a sua possibilidade de conso-produto de uma política dos últimos anos. Existe gueiros e nós vamos continuar como índios, porque lidação. Isto gera um discurso de incertezas.uma visão de que a necessidade tem de ser satisfeita, vocês estão criando gado e nós não queremos. Vocês A gente não sabe o que vai acontecer exatamen-e não leva em consideração a consciência da necessi-querem acordo com madeireiros, nós não aceitamos. te e isso gera incerteza e insegurança na população e dade que o próprio grupo tem. Aí é que entra a com-Então, isso é um enfraquecimento do modelo da nas lideranças; este discurso é promovido pelo gover-plicação com o território. A conquista do território RESEX? Não, isso é uma outra percepção de RESEX. no. Existe o discurso de incerteza, cheio de condicio-seria estratégica, fundamental para o futuro. Mas Para um grupo; o modelo enfraqueceu; para outro, nantes, dos próprios órgãos federais. A questão dos todo mundo está com a estratégia política de jogar no ele continuou a ter futuro. Tem um grupo que está indígenas tem um pouco essa característica.presente.passando de RESEX para terra indígena e o outro No caso dos Borari, me parece que é um pouco

O futuro é incerto, a incerteza está no futuro, permanece.isso. Não é só um território que não é reconhecido. É enquanto isso, no presente, vamos comprar o que Cada grupo tem uma estratégia de perceber uma identidade que não está sendo reconhecida tam-está dando. Por outro lado, certos bens de consumo como se pode proteger mais, no momento em que bém. Então, tem uma luta por reconhecimento de que antes não apareciam, por exemplo, roupas, ócu-está ameaçado de perder tudo. Esse é que é o drama, identidade, que é paralela à luta pelo reconhecimen-los, você começa a ter acesso a bens de consumo. porque antes sempre tinha recursos infinitos. Não to do território. Isso é diferente do caso do assentado Começa a criar-se aqui uma sociedade de massa. A deu para fazer a roça aqui, muda para ali... não dá ou pescador. Mas pode estabelecer uma relação uma política no Brasil, nos últimos 10 anos, abriu linhas para pescar nesse lado, vamos passar para aquele. com a outra.de crédito que estão permitindo às pessoas comprar Agora dá para mudar? Não dá mais para mudar com Esse discurso da incerteza apresenta uma tudo. Não importa quanto vou ficar devendo. Este essa facilidade. A gente já chegou quase no fim, no dimensão mais complicada ainda. Por exemplo, nal-início do consumo de massas é o prenúncio de uma último lago, na última beira. Se não é a última é a guns casos tem-se a visão de um antagonista externo, nova sociedade. No Brasil, todo mundo está com-penúltima. Porque para a frente já tem outra comu-bem caracterizado; mas, em outras situações, apare-prando, todo mundo está comendo melhor ou mais. nidade que está se debatendo. E antes você podia cem as comunidades divididas internamente. Aqui Também a população da Amazônia entra nesta cul-mudar. Mas, nos últimos 10 anos, está mais compli-entra outra sabedoria, que é política e sociológica: as tura de massas e de descaracterização cultural e sub-cado para mudar. Aqui temos um outro tipo de pro-lideranças vivem também a incerteza interna porque sequente fragilização dos territórios e das lutas.blema: esses recursos naturais, que eram considera-não sabem de onde pode vir o tiro. Não sabem se vem

Não estamos numa sociedade agrária como há dos mais abundantes e ilimitados, agora são limita-de dentro ou vem de fora. O inimigo não está só fora, 20 anos atrás. Não estamos mais. Manaus tem 2 dos e não são tão abundantes.ele está dentro. milhões de habitantes e um grau de criminalidade Essas lutas nunca são separadas, elas estão liga-avançadíssimo. Santarém em pouco tempo mudou e Outro problema que temos: a lei muda consoan-das à maneira como o estado intervém. Esta é outra muito. A Amazônia mudou. Essa mudança é muito te a pressão do mercado. Hoje se emite o título qui-agravante. O estado também aposta numa divisão. rápida Na impressão das pessoas estas coisas não lombola de propriedade definitiva frisando que o Ele precisa dividir o interesse para poder prevalecer estão acontecendo contra nós. Foi feito para nós pelo subsolo é da união e dizendo que a prioridade é para a o seu projeto. Se enfrenta a comunidade como um governo em que votamos. Só que se esqueceram de exploração mineral. O governo enfraquece os títulos todo é muito difícil. Então tem a cooptação de lide-nos perguntar se era isso que a gente queria. Esque-e enfraquece a consolidação do território pela comu-ranças. Tem apoio para alguns, que não é apoio para ceram de abrir uma discussão. nidade. E essa é a regra geral. Flexibilizar o direito todos. Isso é um fator que divide. Esse discurso de

Estamos no meio de uma passagem onde as coi-territorial é a lei do momento, a lei do mercado para incerteza é um discurso de divisão.sas estão ocorrendo depressa demais. Estamos perce-integrar as terras ao mercado. Existem processos diferenciados de territoriali-bendo que tem alguma coisa errada mas estamos O retorno das commodities exige que os títulos zação. Cada comunidade está territorializada de desautorizados a nos contrapor a essas coisas. Esta-sejam flexíveis. Não podemos ter títulos não negociá-forma diferente. Um pescador territorializa de mane-mos vivendo o grande obstáculo, promovido pelo veis em hipótese alguma. O código mineral vai dizer ira diferente de um assentado. Um assentado está governo e as forças que comandam este país que se que pode entrar na terra indígena e pode explorar esperando ser emancipado. O pescador está esperan-chama de homogeneização forçada e judiciali-minério. Esta é a proposta do novo código mineral. do ser reconhecido nessa nova forma. No caso do zação dos conflitos. Então, isso vai descaracterizar o território, porque o indígena é mais complicado ainda. Não é reconhecido

O STF é o altar da moralidade. Canonizamos o minério destrói a cobertura florestal, destrói a flores-como indígena e seu território, para o estado, não judiciário. E ele está sempre do outro lado, do lado do ta, destrói as águas. A Amazônia, hoje, não tem uma existe. Essa é a dificuldade de trabalhar com a ques-poder. Onde está o crime de pensar diferente? O judi-figura absoluta. Se for falar em reforma agrária, você tão do território. ciário foi canonizado, mas não democratizado. Hoje tem que falar levando em conta essa especificidade.Temos formas organizativas diferentes, temos assistimos aos atos de resistência criminalizados e Agora, como vamos conseguir preservar o terri-formas de luta diferente, temos uma divisão dentro todo mundo dizendo que você é “contra o progresso, é tório, a unidade social do grupo e transformar essa da comunidade que marca pontos diferentes, temos o contra o Brasil, quer que tudo fique na pobreza, como sociedade se não for mantendo os aspectos culturais? discurso da incerteza e temos o processo de territori-está...”. Estes diálogos impossíveis começam a con-Se eu não fizer isso, eu não mantenho e vem aí esse alização que é diferenciado. Esse exercício de dife-trolar nosso pensamento e nossa realidade.sentimento de insegurança, porque a cada dia nos rença tem que ser feito. Senão, não sabemos quem

sentimos mais fracos. Cada dia aparece menos gente somos. Só nos percebemos um face ao outro quando Alfredo Wagner Berno de Almeida para a luta, para a discussão. Não vamos ter mais entendemos a nossa diferença perante o outro. A Antropólogo, professor visitante da Universidade do Esta-uma luta homogênea. Isso pertence ao passado. A igualdade só é construída na percepção da diferença. do do Amazonas (UEA) e pesquisador do CNPq

(Mantivemos a linguagem oral da palestra).