por uma questão de amor

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Após presenciar a morte de seu irmão mais velho em um trágico acidente, Lorena vive um luto que parece nunca ter fim. Um sofrimento que só é mais suportável com a ajuda de seu melhor amigo, Daniel. Após passar para a Faculdade de Medicina na UFRJ, Lorena encara essa oportunidade como uma forma de sair de Angra dos Reis e tentar deixar o passado para trás. Na Cidade Maravilhosa, se apaixona perdidamente e esse amor proibido chega para transformar sua vida. Ela descobrirá que também existem consequências para quem escolhe amar. Por uma questão de amor é um romance cheio de aventuras, suspense e que o levará a conhecer os extremos do amor verdadeiro que nos leva a lugares inimagináveis.

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São Paulo, 2014

Por uma questãode amor

Beatriz Cortes

até onde voCê ir ia por amor?

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Page 4: Por uma questão de amor

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

Dados internacionais de catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Copyright © 2014 Beatriz Cortes

Coordenação Editorial Silvia Segóvia

Diagramação Desenho Editorial / Felipe Siqueira

Capa Monalisa Morato

Preparação de texto Andrea Bassoto

Revisão Mary Ferrarini

2014Impresso no BrasIl

prInted In BrazIl

dIreItos cedIdos para esta edIção à

novo século edItora

CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11o andarBloco A – Conjunto 1111 – CEP 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – SP

Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br

[email protected]

Silva, Beatriz Cortes da

Por uma questão de amor : até onde você irá por

amor? / Beatriz Cortes. -- Barueri, SP : Novo

Século Editora, 2014.

1. Ficção brasileira I. Título.

14-06810 CDD-869.93

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Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

Dados internacionais de catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Copyright © 2014 Beatriz Cortes

Coordenação Editorial Silvia Segóvia

Diagramação Desenho Editorial / Felipe Siqueira

Capa Monalisa Morato

Preparação de texto Andrea Bassoto

Revisão Mary Ferrarini

2014Impresso no BrasIl

prInted In BrazIl

dIreItos cedIdos para esta edIção à

novo século edItora

CEA – Centro Empresarial Araguaia II Alameda Araguaia, 2190 – 11o andarBloco A – Conjunto 1111 – CEP 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – SP

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“... a gente conseguiu e ainda consegue supe-rar todas as dificuldades e desafios porque o amor fala mais alto no fim das contas.”

William Shakespeare

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, porque tenho plena convicção de que não estaria vivendo nada do que vivo hoje sem Sua permissão. Tudo o que faço, tudo o que sou e tudo o que tenho pertence a Ele.

À Editora Novo Século pela confiança, e toda sua equipe pelo apoio e pelo trabalho incrível que está sendo realizado comigo.

À minha família. Nada que eu dissesse poderia demonstrar o quanto vocês são importantes na realização de mais esse sonho. Não sou nada sem vocês.

À amiga e fotógrafa Isabela Ferreira, à amiga e beta Fran, e aos amigos que estiveram do meu lado e sempre me serviram de inspiração.

Um agradecimento especial para as seguintes pessoas: a autora Adriana Brazil, que recebeu de braços abertos meu convite para prefaciar o livro e ainda ajudou com o título; ao beta e amigo que tanto amo Pablo Ruben pela força e por ter ouvido todas as minhas ideias no decorrer do trabalho; as amigas escritoras do Trilhando Páginas, que se tornaram uma família para mim e que, sempre que preciso de ajuda com os textos, corro até elas; a autora e blogueira Daniele Nhasser pela primeira resenha positiva e linda.

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E, finalmente, a todos os meus leitores, que tornaram isso possível, sem os quais não teria chegado até aqui. Escrevo para vocês, e espero que minhas palavras aqui em mais este livro arrebatem seus corações e que se apaixonem, assim como eu, por esta história tão especial.

Um grande beijo!

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PREFÁCIO

A vida é feita de escolhas. Sempre foi. Os caminhos são postos diante de nós e é pura ilusão pensar que não existe uma saída ou até mesmo uma escolha. Seria tão bom se todos escolhessem aquilo que traz a paz. Foi uma das lições que este livro me deixou.

Por uma questão de amor traz em suas linhas um romance juvenil, carregado de vida. Adolescentes, jovens, senhores e senhoras se sentirão confortáveis ao passear pelo mundo que Beatriz Cortes criou e, se permi-tirem, poderão concluir que esse mundo não está tão distante de nós. As entrelinhas nos fazem refletir sobre algumas das mais profundas lições da vida: a perda. O ser humano não foi preparado para perder, mas faz parte do inevitável ciclo da nossa existência. De uma maneira carregada de sensibilidade, a autora nos leva ao caminho do recomeço, mostrando-nos que escolher o que é certo ainda é o melhor a se fazer.

Não duvido de que muitas pessoas vão se achar na suavidade da nar-rativa, no dia a dia dos personagens, nos sentimentos da protagonista Lorena, sentindo seu próprio coração pulsar junto ao dela. Provavelmen-te, verá a emoção se transformar numa lágrima discreta ao virar a próxi-ma página e certamente entenderá que todas as escolhas − ou mesmo as

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razões − terminam em apenas uma, naquela que o coração escolhe. Por-que a vida é uma descoberta, porque a vida sempre vale a pena, às vezes por motivos grandiosos, às vezes por pessoas especiais ou simplesmente por uma questão de amor.

Adriana BrazilAutora da série Foi assim que te amei

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PRÓLOGO

Quando se perde uma pessoa querida a dor passa a morar em nós. Tudo gira em torno daquele sentimento opressivo que parece nunca mais acabar. Alguns dizem que nos acostumamos com ela. Eu digo que ela se alastra de uma forma tão intensa que sempre notaremos sua presença ali. A verdade é que passamos a fingir que está tudo bem, que essa dor ador-meceu em nosso peito, que não lembramos com tanta regularidade dos acontecimentos. Apenas fingimos. E ela permanece ali, fincada dentro de nós, como se fosse bem-vinda.

O luto é necessário, porém, ele nunca chega ao fim para algumas pessoas. Acabamos transferindo aquele sentimento para tudo o que faze-mos. Não é difícil notar a dor. É como se ela viesse gravada em nossa testa. E deixa bem claro que ficará ali para sempre, sentada na poltrona com o controle remoto, vendo nossa vida passar.

Lembro-me de poucas coisas sobre aquela noite, como estar gritando para que meu irmão escutasse o que eu dizia, já que o vento batia feroz-mente contra a moto em que estávamos em alta velocidade. Lembro-me do som de sua risada, um farol alto em nossa direção e, logo depois, da luz forte do hospital. No mais, não me recordo de muita coisa. Com o

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tempo e esforço mental alguns flashes apareceram em minha memória sobre aquela noite. Mas o que eu jamais vou esquecer é algo que nunca sairá do meu coração, que nunca vou recuperar, não será igual, não doerá menos. A maior perda de todas: meu irmão.

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VIDA NOVA

Minhas noites eram seguidas por pesadelos constantes. Acordava vá-rias vezes chorando ou gritando pelo nome do meu irmão Matteus. Pen-sar nele doía minha alma e me fazia perder a vontade de viver, pois a vontade de estar junto dele era avassaladora.

Três anos haviam se passado, mesmo que a dor em meu peito gritas-se que não era tanto tempo assim. Em meio a mais um pesadelo, desper-tei ao ouvir o despertador do celular, chamando-me para a minha nova vida. Nova, pois a divido entre antes e depois da morte do meu irmão. Conforme o tempo foi passando, imaginei que meu irmão não gostaria de me ver trancada em um quarto para o resto de minha vida. Já estava com 19 anos, idade que ele tinha quando morreu e, sim, eu precisava fa-zer algo do qual ele se orgulharia se estivesse vivo.

Era a última semana em minha cidade natal. Havia passado para a facul-dade de Medicina da UFRJ – depois de muito esforço e dedicação, já que passava dias trancada no quarto, estudar virou um hobby – e teria de me mudar para o Rio de Janeiro. Já havia escolhido o alojamento no campus e

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conheceria minha colega de quarto na próxima semana. Teria duas semanas para me acostumar com a rotina da cidade grande antes do início das aulas, e eu decidi que deveria passar um tempo lá. Morei a vida inteira em Angra dos Reis, que não é uma cidade tão pequena, mas, se comparada ao Rio, torna-se um nada. Angra é magnífica e é onde praticamente minha família inteira vive. E é aqui que as lembranças do meu irmão sempre estarão presen-tes. Por isso, era mais do que necessária essa minha ida para a faculdade.

Abri meus olhos tentando distrair meus pensamentos. Meu quarto esta-va quente e escuro, pois costumava dormir de porta e janelas fechadas, mas as sombras me ajudavam a distinguir os móveis tão familiares. Peguei o celu-lar na mesinha branca ao lado da cama e vi a hora. Levantei, tomei um banho gelado por causa do calor insuportável do verão, coloquei um short jeans e uma camiseta e desci para tomar café. Meu pai havia saído para trabalhar, minha mãe estava tirando a mesa e me encarou com seus olhos amendoados.

– Não me esperam mais para tomar café? – perguntei, tentando man-ter a calma.

– Nunca sabemos que horas você vai descer, Lorena – minha mãe respondeu rispidamente.

Há algum tempo, notei que não me esperavam mais para as refeições e, no fundo, isso me chateava, pois sequer entendia o real motivo. Talvez eu lembrasse demais meu irmão. Mas o que mais me incomodava era o fato de que em poucos dias não conviveria tanto com eles mais e, ainda assim, mantinham distância. Peguei um achocolatado na geladeira e subi novamente para o quarto. Desde que o Matt se fora, meu relacionamento com meus pais se tornara vazio e penoso. Odiavam falar sobre esse as-sunto e nunca me explicaram a razão. Sei que a dor da perda de um filho é algo inenarrável, mas este não era o único motivo. Eu tinha a impressão de que eles escondiam alguma coisa de mim.

Após a morte do meu irmão, nosso relacionamento mudara da água para o vinho. O Matt e eu éramos superprotegidos e meus pais sempre tive-

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ram um medo constante de que algo pudesse acontecer com a gente. Mas não posso voltar atrás e evitar tudo o que aconteceu naquela noite. Acho que meus pais não entendem isso. Até o próprio relacionamento deles dois ficou um pouco frio. Eles sempre foram muito unidos e nem preciso falar sobre a história louca da forma como se conheceram, sobre como minha mãe supe-rou um trauma enorme na vida dela, como papai foi importante, como o amor deles resistiu a tudo etc. Algo que, se não tivesse acontecido dentro da minha casa, eu não acreditaria se me contassem. Era uma história de filme mesmo e que eles sempre nos contaram, porém, desde que Matt se fora, pa-rece que haviam se esquecido dela. As coisas ficaram diferentes e distantes entre todos nós. Inclusive entre os dois.

Meu celular tocou. Vi o nome do Dani na tela. Daniel era ansioso demais para esperar minha ligação.

– Por que você não sabe esperar eu te ligar? – resmunguei ao atender.– Porque você sempre demora demais! – ele soltou. – Já está pronta?

Posso passar aí para te pegar?– Pode. Meu café da manhã foi sozinha no meu quarto, como sem-

pre. Vou te esperar aqui na frente.– Ok! Chego em cinco minutos, se nada entrar na minha frente! Beijos.Daniel era incrivelmente lindo e fácil de amar. Era meu melhor amigo

desde os dez anos, quando uma garota da turma dele colou chiclete no meu cabelo. Ele era mais velho que a gente, empurrou-a e me deu uma tesoura pequena para que eu pudesse reparar o estrago. Desde então, crescemos jun-tos e sempre fomos cúmplices. Eu, ele e Matt nos divertíamos muito. E quan-do Matt se foi, ele sentiu o mesmo que eu, a perda foi a mesma. E, se não fosse ele, não sei o que eu teria feito para lidar com todos os sentimentos confusos e dolorosos que ficaram cravados em mim. Ele sempre esteve do meu lado e não me permitiu desistir por um segundo sequer.

Nos primeiros dias sem Matt, quando eu não parava de chorar e mal conseguia me sustentar de pé, ele praticamente se mudou para minha casa e esteve o tempo todo segurando minha mão. As minhas colegas de escola

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ou de qualquer outro lugar eram fissuradas nele. Viviam duvidando do nosso relacionamento de amizade e não acreditavam muito no fato de eu nunca ter tido algo com ele, pois ele certamente tinha uma beleza notável. Seus cabelos claros combinavam com seus olhos verde-musgo e deixavam qualquer garota com as pernas bambas. Eu já havia me acostumado tanto que até conseguia ver seus defeitos físicos. Óbvio que as qualidades eram muito maiores. Daniel era mais lindo ainda por dentro. Tinha aquele jeito sincero e simpático, com um sorriso perfeito, alegre e bem-humorado. O garoto perfeito. Bem, digamos que tive sorte. Ele é o meu melhor amigo.

Quando cheguei à porta de casa, ele já estava lá. Sinceramente, não ti-nha como não me sentir protegida perto dele. Com um e oitenta de altura, aquele cheiro familiar que me remetia a incríveis lembranças de nosso pas-sado e um abraço aconchegante, ele desceu do carro e me envolveu em seus braços fortes, enquanto eu espremia meu rosto em seu peito satisfeita.

– Sempre pontual! – falei quando nos soltamos.– Sempre! Como foi sua noite? – disse, abrindo a porta do carro para

mim. Ele vivia repetindo este gesto só porque eu implicava com ele di-zendo que ele deveria treinar comigo para acertar quando encontrasse alguém especial.

– O de sempre: pesadelos, gritos. E, para completar, não me espera-ram para o café da manhã novamente – falei com pesar.

– Seus pais ainda sofrem muito com tudo, Lô! – disse Daniel arran-cando com o carro.

– Hoje faz três anos, Dani. E eles ainda me tratam como se eu fosse uma criança de dez anos que não pode saber a verdade! Eles me escon-dem algo sobre a morte do meu irmão. Sei que eles estão me privando disso. Conheço meus pais – expliquei novamente, pois já havia repetido isso várias vezes para ele.

– Relaxa! Semana que vem será vida nova! – mudou de assunto. – Você vai adorar a faculdade! Bom, está com a lista aí?

Assenti com a cabeça

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– Vamos comprar tudo o que for necessário hoje.Seguimos em direção ao centro. Precisávamos comprar alguns mate-

riais para o início das aulas. Daniel e eu passamos a manhã inteira enfiados em lojas, livrarias, armarinhos. Ele fazendo piadas – como a roupa de on-cinha menor que a própria mulher que a vestia – e eu sempre me esquivan-do para não fazer comentários inúteis. Em uma das lojas ele disse que o cabelo da vendedora parecia com a juba de um leão e que ela andava feito um pato. As analogias criativas dele me faziam rir, mesmo que sentisse necessidade de parecer imune àquelas piadas. Depois que terminamos de comprar o que precisávamos, como cadernos, marcadores, livros de anato-mia etc., sentamos em um restaurante na beira da praia para almoçar.

– Tudo nesta cidade me lembra o Matt. É tão triste! E a última vez que viemos aqui com ele? Vocês fizeram uma aposta ridícula de quem conseguiria não tomar um toco de uma turista loira e gostosona... Foi tão engraçado! – sorri com a lembrança.

– Lembro sim! E me recordo que ele foi o primeiro a levar um.Sorrimos. Era tão fácil lembrar do Matt. A saudade doía ainda mais.– Mas, enfim, vamos falar de coisas que não vão nos deixar tristes. O

Matt iria gostar de nos ver felizes. Conte-me como seus pais estão em rela-ção a sua nova moradia? – ele sempre tentando mudar o foco da conversa.

– Aparentemente estão odiando isso, mesmo que tentem disfarçar. Mi-nha mãe tem medo até quando vou à esquina comprar um lanche qualquer. Quando fomos escolher o alojamento, deixaram tudo por minha conta: os móveis, o lugar, tudo. Parece que querem ignorar a “loucura” que acham que estou fazendo. Não deram palpite em nada. Talvez depois que eu sair de casa eles entendam que cresci. Ou talvez isso sirva para que eles voltem a viver a vida deles e esqueçam um pouco da minha. Eles sabem que não posso perder uma oportunidade dessas – soltei, frustrada.

Daniel me encarava parecendo entender meus sentimentos. E isso era bom.– Não fale assim, Lô. São seus pais. Perder um filho não é algo que

eles vão esquecer com facilidade, e perder outro seria insuportável. Só

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estão sendo pais. Cuidando de você. E eles fazem isso muito bem, não acha? Bom, a verdade é que estou louco pra saber quem será sua amiga de quarto. Vai que ela me interessa...

Dei um soco no braço dele e ele sorriu.– Acho bom você sossegar. Espero me dar bem com a tal amiga. Vai

ser difícil aguentar os anos da faculdade com alguém irritante. E eu ainda não conheço o seu também... Qual o nome dele, mesmo?

– Nicholas. E o sobrenome é “Mantenha distância”. Não quero você namorando na faculdade – ele avisou irritado.

– Nem eu quero namorar na faculdade, querido. Agora, se eu não posso, você também não pode – alertei, piscando um dos olhos.

– Namorar eu não digo, agora algumas coisas sempre tem de ter. – mostrou a língua para mim e eu o chutei por debaixo da mesa.

Jogamos conversa fora por um longo tempo. Nem percebíamos o passar das horas quando estávamos juntos. Tínhamos uma sintonia e tanto. Quando entramos no carro dele para irmos embora, o celular dele tocou. Era o tal amigo de quarto, Nicholas. Daniel havia chama-do o amigo para nossa festinha de despedida no fim da semana. Ele viria do Rio para a festa e voltaria depois com Daniel. Não estava mui-to conformada com a ideia, pois achava que nossa comemoração de-veria ter o mínimo de pessoas possível, o que incluía que as pessoas também deveriam ser bem próximas a mim, e o amigo do Daniel era um desconhecido até então.

– Eu te falei que não quero muita gente nisso, Dani – resmunguei quando ele desligou.

– É só o Nic, Lorena, não tem problema algum. É bom que você já vai se enturmando. Apenas isso, ok? Nada mais – explicou, sem tirar os olhos da pista.

– Eu sei. Se eu chegar e encontrar mais que trinta pessoas, juro que dou meia-volta e vou para casa dormir.

– Fique tranquila. Você vai gostar.

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– Já te disse, também, que não quero ninguém bêbado, não é? – con-tinuei com os avisos.

– Já, já sim. Já anotei tudinho. Você é bem chata – disse, tirando sarro da minha cara.

– Não sou chata, só não quero levar ninguém choramingando para casa depois – deixei claro.

Eu nunca havia presenciado o Daniel bêbado, porém recusava as li-gações dele de madrugada quando achava que isso era algum indício de que algo parecido estava acontecendo.

Quando chegamos à minha casa Daniel não quis entrar, dizendo que tinha muitas coisas para resolver. Não quis me falar o que era, dizendo ser surpresa para mim. Eu subi correndo antes que minha mãe visse a quantidade de sacolas que eu estava carregando, certa de que ela falaria mais do que o necessário.

O restante da semana passou voando. Mais rápido do que eu esperava. Era minha última noite em Angra, e viajaria cedo para o Rio. A festinha que o Daniel planejou estava me deixando com dor de cabeça, pois nada tirava da minha mente que teria mais gente lá do que achava necessário. Às nove em ponto ele veio me buscar. Eu me sentia gelada por conta da ansiedade, e a chuva que estava caindo não ajudava a melhorar. Entrei no carro bom-bardeando-o com perguntas sobre as pessoas que estariam na festa. Disse que era surpresa e que já estávamos chegando. Óbvio, ele me fez esperar!

– Lorena, algum problema em ter convidado aquele seu primeiro na-moradinho? O meio vesguinho? – ele implicou.

– O quê?! – gritei, apavorada.Daniel caiu na gargalhada e me encarou com os olhos estreitos de

tanto sorrir.– Estou brincando! Sei que você tem pavor dele. Não fiz isso! – levan-

tou as duas mãos e logo voltou-as para o volante.– Realmente tenho pavor. Ele tentou me beijar à força. Mas, enfim,

ele nem era vesgo, Daniel! Não sei de onde você tirou isso... – argumentei e ele teve outra crise de risos por causa da minha reação.

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Cheguei à festa e logo reparei que o Dani tinha sido bem fiel à sua palavra comigo. Tinha bastante gente, porém, só pessoas que eu conhe-cia ou, pelo menos, que eu já havia visto um dia ou tido algum contato. O amigo dele não pôde ir. E por um lado fiquei agradecida. A noite es-tava muito agradável e, apesar de eu rejeitar todas as bebidas que me ofereciam, estava conseguindo me divertir. Quando a festa já estava prestes a acabar, sentei-me do lado de fora da casa do Daniel e parei para pensar em quantos momentos ainda teríamos juntos, quanta coisa havia acontecido naquele quintal, quantas vezes havíamos passado ho-ras rindo e conversando, quantas lágrimas, quantas brigas... O futuro é tão incerto...

A voz conhecida de Daniel, sentando-se ao meu lado, me puxou para longe dos meus devaneios. Ele estava com uma calça jeans clara, que marcava demais, na minha opinião, uma camisa de mangas curtas verde e aquele cabelo claro desalinhado.

– O que faz dormindo aqui fora? – brincou.– Não estou dormindo, só pensando – continuei olhando para a Lua

à minha frente.– A festa não está boa? Podia jurar que estava gostando... – Daniel

pareceu decepcionado.– E estou. Só precisei tomar um ar. Estava pensando... Será que va-

mos ser assim para sempre?– Assim como? – indagou.– Amigos, cúmplices, irmãos. Eu não consigo me lembrar mais de

nenhum momento importante em que você não estivesse junto. Tenho medo de perder isso. – meus olhos começaram a arder e eu segurei, pois não queria chorar ali.

– Lorena, eu já não te disse que jamais vou te abandonar? Vou cum-prir minha palavra... – respondeu, com um dos braços em meus ombros.

– O Matt dizia o mesmo – comentei tristemente.Daniel respirou fundo.

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– Esse sentimentalismo todo é porque você vai embora de Angra? Eu já estudo lá há algum tempo e não fiquei desse jeito quando fui! – debochou.

Daniel tinha o dom de mandar assuntos difíceis para o espaço sem me deixar brava.

– Não, seu bobo. É difícil deixar tudo para trás...– Eu vou estar com você a apenas alguns blocos de distância. Pelo

amor de Deus, sem drama – esnobou.– Você tem razão. Vai ser mais fácil do que eu penso. Assim espero.

– respondi, juntando a pouca esperança que ainda tinha.– Agora vamos voltar para sua festa de despedida, que ainda não ter-

minou – ele disse, puxando-me pelo braço.Daniel exigia muito de mim, às vezes. Contudo, seu interesse por

meu futuro me fazia amá-lo ainda mais.

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