por que carreiras polÍticas na esquerda e na direita

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Na descrição convencional, deputados são motivados por ambição estática ou progressiva, adotando estratégicas eficazes para a manutenção de sua cadeira ou mobilidade na hierarquia de postos políticos. Isto poderia significar, então, que padrões de carreiras políticas são homogêneos, com bases sociais, recursos eleitorais e trajetórias semelhantes, mesmo quando se trata de partidos ou famílias ideológicas diferentes? Os resultados desta pesquisa sugerem que não. Analisamos as variações observadas nos padrões de recrutamen- to legislativo, entre partidos de esquerda e de direita, em três países da América do Sul (Brasil, Chile e Uruguai), identificando elementos explica- tivos para dar conta das diferenças encontradas nas carreiras políticas de deputados eleitos. Este artigo pretende oferecer uma explicação dos diferentes padrões de recrutamento legislati- vo, elaborando modelos de bases sociais e carreira política de elites, baseados na articulação entre 1) mobilização de recursos políticos eleitorais indi- viduais ou partidários derivados da posição social, tendo em vista a ocupação profissional e a mobi- lização de recursos coletivos de organizações e associações sociais, e 2) existência de diferentes estratégias partidárias de seleção de candidatos, associadas aos recursos sociais dos candidatos, à posição ideológica e ao tempo de existência de cada organização partidária. Nesse sentido, a hipótese central que orien- ta a investigação supõe que diferenças obser- vadas nos padrões de carreira política possam ser explicadas pelas variações no perfil social e pelos recursos individuais dos candidatos eleitos por cada legenda partidária: os partidos à esquerda, de origem ideológica e mais longevos, recrutam suas bancadas predominantemente no setor pú- blico, na classe média assalariada, entre sindica- listas, lideranças associativas e lideranças de mo- POR QUE CARREIRAS POLÍTICAS NA ESQUERDA E NA DIREITA NÃO SÃO IGUAIS? Recrutamento legislativo em Brasil, Chile e Uruguai André Marenco Miguel Serna Artigo recebido em dezembro/2005 Aprovado em abril/2007 RBCS Vol. 22 nº. 64 junho/2007

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Page 1: POR QUE CARREIRAS POLÍTICAS NA ESQUERDA E NA DIREITA

Na descrição convencional, deputados sãomotivados por ambição estática ou progressiva,adotando estratégicas eficazes para a manutençãode sua cadeira ou mobilidade na hierarquia depostos políticos. Isto poderia significar, então, quepadrões de carreiras políticas são homogêneos,com bases sociais, recursos eleitorais e trajetóriassemelhantes, mesmo quando se trata de partidosou famílias ideológicas diferentes? Os resultadosdesta pesquisa sugerem que não. Analisamos asvariações observadas nos padrões de recrutamen-to legislativo, entre partidos de esquerda e dedireita, em três países da América do Sul (Brasil,Chile e Uruguai), identificando elementos explica-tivos para dar conta das diferenças encontradasnas carreiras políticas de deputados eleitos.

Este artigo pretende oferecer uma explicaçãodos diferentes padrões de recrutamento legislati-

vo, elaborando modelos de bases sociais e carreirapolítica de elites, baseados na articulação entre 1)mobilização de recursos políticos eleitorais indi-viduais ou partidários derivados da posição social,tendo em vista a ocupação profissional e a mobi-lização de recursos coletivos de organizações eassociações sociais, e 2) existência de diferentesestratégias partidárias de seleção de candidatos,associadas aos recursos sociais dos candidatos, àposição ideológica e ao tempo de existência decada organização partidária.

Nesse sentido, a hipótese central que orien-ta a investigação supõe que diferenças obser-vadas nos padrões de carreira política possam serexplicadas pelas variações no perfil social e pelosrecursos individuais dos candidatos eleitos porcada legenda partidária: os partidos à esquerda,de origem ideológica e mais longevos, recrutamsuas bancadas predominantemente no setor pú-blico, na classe média assalariada, entre sindica-listas, lideranças associativas e lideranças de mo-

POR QUE CARREIRAS POLÍTICAS NA ESQUERDA E NA DIREITA NÃO SÃO IGUAIS?Recrutamento legislativo em Brasil,Chile e Uruguai

André MarencoMiguel Serna

Artigo recebido em dezembro/2005Aprovado em abril/2007

RBCS Vol. 22 nº. 64 junho/2007

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vimentos sociais, os quais, por depender da estru-tura organizacional partidária e associativa paracompensar a carência de recursos eleitoraispróprios, terminam adotando estratégias baseadasem carreiras partidárias endógenas. No extremooposto, partidos conservadores apresentampadrões de recrutamento social mais elitista etradicional, compondo suas bancadas entre pro-prietários urbanos e rurais e profissionais liberaisdotados de recursos materiais e de reputação per-sonalizada, com menor dependência da estruturaorganizacional partidária, seguindo carreiras po-líticas laterais, descontínuas e com menos leal-dade à filiação partidária.

Este trabalho aproxima-se, portanto, dos im-portantes achados de Rodrigues (2002), que iden-tificou as diferentes bases sociais de recrutamentopartidário para o caso brasileiro, mas procura darum passo adiante, utilizando os recursos individu-ais provenientes da posição social como expli-cação para os diferentes padrões de carreira políti-ca encontrados. Da mesma forma, há umaconvergência com o trabalho de Power e Mochel(2006), igualmente preocupados em mostrar asdiferenças sociais no recrutamento partidário bra-sileiro. Contudo, enquanto Power e Mochelfixaram uma relação entre variáveis demográficasda constituency eleitoral (mensuradas pelo IDH) eindicadores da performance legislativa dos parla-mentares eleitos, este trabalho procurou isolar asconexões entre biografias sociais individuais epadrões de carreira política e partidária dos eleitos.

Para verificar esses fenômenos, analisou-se operfil dos deputados nacionais eleitos, utilizandométodos biográficos. A metodologia focaliza amedição de variáveis vinculadas a: 1) origemsocial, ocupação profissional; 2) redes sociais ecapital associativo; e 3) experiência e carreirapolítica (período de ingresso na carreira política,filiação e fidelidade partidária, cargos ocupados).O resultado oferece um quadro sobre as con-dições para o ingresso na elite política e comoesse acesso foi ampliado pela emergência de par-tidos de esquerda aos governos nacionais.

Os três países apresentam estruturas políticasdiferentes (federal no Brasil; unitária no Chile e noUruguai), sistemas partidários com configuraçõese tempo de existência também distintos (concen-trado/estável no Uruguai; fragmentado/estável no

Chile; fragmentado/recente no Brasil), regraseleitorais de representação proporcional com vari-ações de voto preferencial, sistemas presidencia-listas e estruturas sociais marcadas por grausdiscrepantes de desigualdades sociais.

O ponto de partida foi delimitar um momen-to comum aos três casos nacionais examinados,marcado pelo incremento da competição eleitorale da conquista de governos centrais por partidosou coalizões de esquerda – Ricardo Lagos no Chile,em 2000, Lula no Brasil em 2002 e Vazquez noUruguai em 2004. Destarte os distintos níveis deinstitucionalização dos sistemas partidários e dedesenvolvimento econômico e social dos países,podem-se identificar alguns traços comuns para aabordagem comparada aqui empreendida: a) trata-se de sistemas multipartidários sob a perspectivada competição eleitoral partidária e da alternânciade elencos políticos em cargos eletivos e de go-verno; b) há continuidade na institucionalizaçãodas regras de participação cidadã e na com-petição política pluralista em período pós-ditato-rial; c) os partidos têm sido agentes relevantes nosprocessos de mediação política de interesses e cli-vagens sociais; e d) a dimensão ideológica deesquerda e direita é relevante para a estruturaçãoe o posicionamento dos partidos políticos.

O eixo ideológico esquerda/direita é umadimensão relevante na organização do sistema edos partidos políticos dos três sistemas multipar-tidários focalizados nesta pesquisa. As decisõesque dizem respeito à delimitação da esquerda eda direita não estão isentas de dificuldades.Desde sua definição originária na Europa, pas-sando por múltiplas transformações históricasposteriores – principalmente depois de 1989 –, ostermos “esquerda” e “direita” têm significadopolissêmico, apresentando pelo menos duasdimensões diferentes, muitas vezes superpostasem seu sentido histórico. A primeira é espacial-situacional, uma vez que a polarização esquerda-direita definiu em forma dicotômica as posiçõesrelativas de cada ator dentro de um sistema políti-co historicamente determinado – com clivagenssociais e políticas diversas. A segunda é de ordemideológica, que concerne aos valores e às crençasde doutrinas políticas, podendo ser dividida entrecorrentes favoráveis ao igualitarismo e à mudançasocial (por exemplo, socialistas, comunistas,

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social-democratas etc.) e os partidários da liber-dade individual e da ordem social (como liberais,conservadores, entre outros).

Neste trabalho, consideraremos esquerdas edireitas realmente existentes e com representaçãonos sistemas partidários escolhidos e democraciasrecentes à luz do acervo da literatura acadêmicade cada país. Considerando a escala ideológicaesquerda/direita e a literatura especializada nostrês países, os principais partidos analisados1

podem ser apresentados na seguinte ordem:

• Partidos mais conservadores e de direita:2

Partido da Frente Liberal - PFL (atualDemocratas - DEM) e Partido ProgressistaBrasileiro (PPB), no Brasil; RenovaçãoNacional (RN) e União DemocráticaIndependente (UDI), no Chile.

• Partidos de centro: Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) e Partido doMovimento Democrático Brasileiro (PMDB),no Brasil; Partido Democrata Cristão (PDC),no Chile; Partido Colorado (PC) e PartidoNacional (PN), no Uruguai.3

• Partidos de esquerda: Partido dosTrabalhadores (PT), no Brasil; Partido pelaDemocracia (PPD) e Partido Socialista (PS),no Chile; e Frente Ampla (FA), no Uruguai.

Reiterando, parte-se de uma comparação sin-crônica (Bartolini, 1994), que isola um momentocomum aos três casos – o incremento na com-petição eleitoral e o acesso a governos centrais porpartidos ou coalizões de esquerda –, buscandoconsiderar os impactos sobre os padrões deseleção dos postos legislativos. Os problemasgeralmente associados a esse tipo de estratégiacomparativa (Sartori, 1994) puderam ser neutraliza-dos, uma vez que nos concentramos em um con-junto homogêneo de variáveis, derivadas da opera-cionalização do recrutamento social e de trajetóriaspolíticas, e da observação de um grupo específicode elites políticas – os parlamentares.

A técnica de coleta de dados foi baseada emmétodos biográficos, com base em biografias dosparlamentares nas páginas da Internet,4 publi-cações oficiais dos congressos, enquetes por e-

mail aos parlamentares e, em alguns casos, entre-vistas pessoais. A pesquisa empírica abrangeu aslegislaturas eleitas em 2002 no Brasil, 2001 noChile e 2004 no Uruguai. Desse modo, foramestudadas as biografias de 513 deputados bra-sileiros, 118 parlamentares chilenos e 98 deputa-dos uruguaios.

A seguir, analisamos as bases sociais derecrutamento legislativo dos principais partidosno três países, procurando isolar diferenças quan-to à origem social e profissional dos represen-tantes eleitos, à escolaridade e aos vínculos asso-ciativos. Na outra seção, procura-se identificar astrajetórias políticas, examinando as condições deingresso na carreira política, a durabilidade e aextensão temporal dos vínculos partidários. Porfim, busca-se isolar as conexões entre bases so-ciais e carreiras políticas, relacionando recursossociais (ou sua escassez) e adoção de diferentesmodelos de carreiras (individuais ou partidárias).Nessa perspectiva, partidos de esquerda apresen-tariam maior diversificação social na composiçãode seus eleitos, bem como vínculos partidáriosmais duráveis e prévios ao início da carreirapolítica. Em contraste, estruturas partidárias tradi-cionais recrutam seus candidatos com capitaleleitoral pessoal e carreiras construídas prévia eexternamente a vínculos partidários estáveis.

Composição social e representação de interesses

Analisar as posições sociais originárias dospolíticos contribui tanto para esclarecer as basessociais de recrutamento de dirigentes dos partidose da classe política, como para fazer uma aproxi-mação das relações entre a representação políticae a representação de grupos e categorias sociais.

O status ocupacional constitui uma variávelmuito relevante para comparar a origem e a clas-sificação das posições sociais das elites políticas.A posição social dos políticos no âmbito do tra-balho e da produção é tanto uma fonte de estra-tificação social no acesso à riqueza material e aobem-estar social, como uma fonte para a legiti-mação de classificações hierárquicas do capitalsocial. No percurso da coleta de dados empíricosforam identificadas 33 ocupações diferentes, queforam agrupadas em cinco classes (Tabela 1).

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A grande maioria das ocupações incide sobreas profissões universitárias, diferenciadas em doisgrupos. Um setor clássico, que inclui as denomi-nadas profissões liberais tradicionais, comdestaque para a área jurídica e de medicina. Asprofissões jurídicas (advogados, juizes, promo-tores etc.) são as mais tradicionais no campopolítico (Weber, 1984), devido à sua afinidade coma administração do aparelho estatal – são as maisfreqüentes nas três câmaras, embora com umaproporção bem menor na Câmara dos deputadosdo Uruguai. Logo em seguida, destacam-se osmédicos, que têm uma participação relevanteentre todos os parlamentares. Em menor peso,aparecem engenharia, arquitetura, agronomia eveterinária. Novamente, no caso do Uruguai, nãose encontram nem engenheiros nem arquitetos.

O segundo grupo compreende profissõesligadas ao ensino e às áreas humanas e sociais,considerando um amplo leque de disciplinas.Incorpora os professores, desde o ensino funda-mental até a universidade, os jornalistas e oscomunicadores no âmbito da cultura de massas.Além disso, podem-se identificar as profissões li-gadas às ciências econômicas (economia, con-tabilidade) e humanas (politólogos, psicologia,sociólogos).

Afora a classe de ocupações com ensinosuperior, aparecem as profissões vinculadas àorganização do capital e à produção. O grupoabrange os produtores rurais, os empresários, osdiretores de empresas e os comerciantes. Entreessas categorias, há, na Câmara brasileira, o dobrode produtores rurais, se compararmos com oChile e o Uruguai.

Outra classe ocupacional é formada pelofuncionalismo público. As categorias represen-tadas nesta classe têm uma participação significa-tiva entre os deputados brasileiros e uruguaios,mas muito pequena entre os chilenos.

Finalmente, identificamos um grupo ocupa-cional integrado pelas classes trabalhadoras (qua-lificadas e não-qualificadas). Porém, os traba-lhadores que foram eleitos deputados são umgrupo minoritário nas três câmaras nacionais.

Em suma, nesta pesquisa foram identificadoscinco tipos de profissão vinculados a distintasposições sociais, o que pode ser analisado combase em outras pesquisas comparadas sobre elites

parlamentares. O campo das profissões univer-sitárias liberais (jurídicas, médicas, tecnológicas eagrárias) é a maioria relativa (42%), confirmandoa condição de profissões mais tradicionais de re-crutamento parlamentar.5

Um outro grupo é constituído por profissõesrelacionadas com o capital e a produção, repre-sentando cerca de 18% dos parlamentares.6

A seguir, podem-se identificar dois gruposrelacionados a setores de classe média. De umlado, as profissões ligadas à educação e à comu-nicação e as profissões universitárias da área deciências humanas (17%). De outro, o segmentode funcionários públicos (10% dos deputados).7

O último grupo de ocupações são as classestrabalhadoras. Apesar dos avanços nos processosde democratização, esse tipo de categoria ocupa-cional tem uma representação minoritária nascâmaras de representantes (7% dos deputados).8

Em uma abordagem comparativa da profis-são de origem nas bancadas partidárias, pode-seencontrar padrões de recrutamento em grupos ecategorias sociais diferenciados segundo a po-sição política nos blocos ideológicos. Para simpli-ficar a leitura das tabelas que se seguem, os par-tidos serão apresentados e ordenados segundo asposições ideológicas.

Os partidos mais conservadores (PFL, PPB,PMDB) apresentam um padrão de recrutamentosocial baseado fundamentalmente nas profissõesuniversitárias liberais, nas categorias de pro-priedade e controle de empresas e nas categoriasde produção agro-industrial e comércio.9

No outro extremo, encontram-se os partidosde esquerda (PT, PPD, PS, Frente Ampla), comuma composição social de suas bancadas parla-mentares formada por profissionais das ciênciaseconômicas e de formação humanista, oriundosna grande maioria da classe média. Além disso,um outro campo de recrutamento clássico dessespartidos são as classes trabalhadoras (Serna, 2004,p. 227).

Em posições e recrutamentos mais pluriclas-sistas do ponto de vista da composição socialestão as bancadas dos partidos da SocialDemocracia Brasileira (PSDB), da Renovação Na-cional (RN), da União Democrática Independente(UDI), o Partido Democrata Cristão (PDC), o Par-tido Colorado (PC) e o Partido Nacional (PN).

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Esta pesquisa explorou uma outra dimensãodo recrutamento social e das carreiras políticas dosparlamentares, qual seja, a participação voluntáriana sociedade civil organizada. A mobilização derecursos associativos representa um tipo de capitalsocial que pode ser encontrado nas trajetórias deacesso ao poder político de dirigentes e represen-tantes partidários. Isso pode ser entendido comoum mecanismo de estabelecimento de redes sociaise organizações de representação coletiva ligada ainteresses e questões sociais. A distribuição e a pre-sença desse tipo de capital mudam conforme osdiferentes padrões de carreiras parlamentares (Ta-bela 2). Nas câmaras brasileira e chilena, 52% dosdeputados, antes de terem acesso à cadeira legis-lativa, registravam uma participação destacada emalgum tipo de associação coletiva. No Uruguai, 75%dos parlamentares mantinham uma participação emassociações, além da política institucional.

Os tipos de organização e de associaçãomais comuns são os movimentos e as agremia-

ções de estudantes (secundaristas e universi-tários), as associações de profissões universitáriase do campo intelectual, os sindicatos dos traba-lhadores e as organizações do capital, dos produ-tores rurais e dos comerciantes.

A participação em movimentos estudantisconstitui um mecanismo de socialização emexperiências de organização coletiva e recruta-mento político bastante significativo: 15% dosdeputados tiveram alguma participação destacadanesse setor.

Outro mecanismo de socialização e recruta-mento político são as associações ligadas ao campoda cultura – em colégios, universidades e acade-mias; na área do jornalismo e da imprensa; e ematividades artísticas de uma maneira geral. Cerca de12% dos deputados passaram por alguma dessasassociações antes de seu ingresso no Congresso.

A organização sindical das classes traba-lhadoras, consideradas num sentido amplo –desde os trabalhadores urbanos e rurais, privados

Tabela 1Bancadas Partidárias Segundo a Ocupação Profissional de Origem, em %*

(Brasil, Chile e Uruguai)

* Na seleção de bancadas partidárias, consideraram-se os partidos com mais do 5% de deputados em cada Câmara.

PFL (Brasil) 51,2% 29,8% 10,7% 3,6% 1,2% 3,6% 100,0%

PPB (Brasil) 32,6% 42,9% 14,3% 4,1% – 6,1% 100,0%

PMDB (Brasil) 43,8% 30,1% 11,0% 11,0% 1,4% 2,7% 100,0%

RN (Chile) 55,6% 16,7% 27,8% – – – 100,0%

UDI (Chile) 50,0% 12,5% 15,6% – 15,7% 6,2% 100,0%

PSDB (Brasil) 54,9% 14,1% 9,9% 14,1% 1,4% 5,6% 100,0%

PC (Uruguai) 60,0% 10,0% – 30,0% – – 100,0%

PDC (Chile) 72,7% 4,5% 18,2% – 4,5% – 100,0%

PN (Uruguai) 31,5% 20,0% 17,1% 20,0% 2,9% 8,6% 100,0%

PS (Chile) 20,0% – 80,0% – – – 100,0%

PPD (Chile) 49,0% – 45,0% – 9,8% 5,0% 100,0%

FA (Uruguai) 16,9% 13,2% 26,4% 1,9% 38,4% 3,8% 100,0%

PT (Brasil) 33,0% 6,6% 24,2% 19,8% 14,3% 2,2% 100,0%

Total (n=729) 42,1% 18,1% 17,2% 9,9% 7,4% 5,3% 100,0%

ProfissõesLiberais

(áreas jurídi-cas, da saúde,tecnológicase agrárias)

Comerciantes,Produtores

rurais eEmpresários

ProfissõesEconômicas,Sociais, de

Comunicaçãoe Professores

Funcionáriospúblicos Trabalhadores Outros Total

Ocupação

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e públicos, até as formas de organização do tra-balho não-capitalista (como as cooperativas) –,representa um tipo de participação coletiva para12% dos parlamentares.

Outro campo relevante na representação deinteresses coletivos são as organizações vincu-ladas ao capital e à produção. Esse espaço abran-ge associações não só de empresários, bancos,comerciantes e do setor de turismo, mas tambémde produtores rurais: 8% dos deputados pertenci-am a alguma associação desse tipo antes doingresso ao Congresso. No Chile, especifica-mente, os deputados apresentaram uma partici-pação muito baixa nesse âmbito.

Além desses quatro tipos principais de asso-ciação, no decorrer da pesquisa identificaram-sealgumas de menor representação, mas relacio-nadas a outros campos da sociedade civil organi-zada, envolvidos em temáticas mais contem-porâneas e novas questões sociais. Desdeassociações vinculadas a temas diversos, comoecologia, direitos humanos, juventude, gênero,família e bairros, até as mais tradicionais, como asesportivas, religiosas e culturais.

A análise comparativa, segundo os partidos,apresenta padrões diferenciados quanto ao uso eao tipo de capital associativo que aparecem nascarreiras políticas das elites parlamentares. Asbancadas de partidos mais conservadores, ao con-trário das de partidos de esquerda, registram umaproporção muito baixa de participação em asso-ciações coletivas.

Os deputados de partidos mais conser-vadores (PFL, PMDB, RN) revelam um uso muitoreduzido desse tipo de capital, uma vez que 60%de seus parlamentares não têm nenhuma partici-pação nessas associações.

No outro extremo, nas bancadas dos par-tidos de esquerda (PT, PS, PPD, FA), mais de 70%dos deputados participaram de algum tipo associ-ação coletiva antes de ingressar ao Congresso.

Tal resultado leva à hipótese de que os par-tidos ideológicos de esquerda utilizam muitosmais recursos coletivos e de identidade para cons-tituir bases sociais, ao passo que os partidos con-servadores baseiam-se sobretudo nos capitais enos recursos individuais de dirigentes políticos.

Os padrões de associação coletiva maispróximos dos partidos de esquerda incidem sobre

os movimentos estudantis, a organização das clas-ses trabalhadoras e as novas questões sociais (Ser-na, 2004). As bancadas do PT, do PS, do PPD e daFA apresentam essa conformação de redes sociaisna sociedade civil organizada.

As associações e as organizações coletivasrelacionadas com espaços de poder social rele-vante, tanto aquelas vinculadas ao capital e à pro-dução, como aquelas formadas no campo dasprofissões universitárias, não têm padrões dife-renciados por partidos políticos.

Um olhar comparado da composição deprofissões socioocupacionais entre os parla-mentares nas democracias do cone sul apresentaalguns traços comuns de pluralização das origenssociais com outros processos históricos de demo-cratização (Best e Cotta, 2000). Nesse sentido,salientamos uma participação mais limitada deempresários e produtores agropecuários, a ampli-ação da participação de profissionais liberais, fun-cionários públicos e camadas de setores médiosda sociedade, assim como uma participaçãominoritária do sindicalismo e de integrantes dasclasses populares.

Pode-se observar algumas mudanças emrelação às profissões que vivem “para a política”(no sentido de Max Weber). De um lado, aredução da participação de advogados e o ascen-so de médicos entre as profissões liberais; deoutro, a crescente relevância das profissões ligadasà educação e ao sindicalismo. Além do mais, éinteressante, numa época de crise do Estado deBem-estar Social, a emergência de redes associati-vas da sociedade civil dentro do sindicalismo, dosmovimentos estudantis, de áreas ligadas à culturae a novas questões sociais.

A análise comparada entre os Legislativosmostra alguns traços específicos de cada sistemapolítico. Na câmara brasileira, a comparaçãoentre blocos ideológicos apresenta diferenças nacomposição social muito claras de padrões par-tidários entre esquerda e direita. No caso chileno,existe uma ausência notória do funcionalismopúblico e uma participação reduzida do setorempresarial e produtor. Nesse sentido, e hipoteti-camente, esse fenômeno pode estar vinculado aprocessos endógenos de recrutamento da classepolítica (Salcedo, 2005), tanto quanto à reduçãodo papel de mediação de interesses no âmbito

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parlamentar. Entre os deputados uruguaios, cabeassinalar a reprodução um padrão histórico deprofissionalização com ampla inclusão de cate-gorias originárias de setores médios e da socie-dade civil organizada, ainda que a participaçãomais efetiva do sindicalismo apareça como umanovidade.

Para avançar na interpretação dos traçosmais típicos do recrutamento e da base social daselites segundo o bloco ideológico e os partidospolíticos, propomos um modelo de análise comdois padrões extremos: de um lado, uma com-posição social mais elitista e baseada nos recursosindividuais dos dirigentes; de outro, uma com-posição social mais pluralista e associativa na re-presentação de interesses sociais.

Para isso, construímos um índice somatóriosimples em torno de cinco dimensões básicas(Tabela 3). As duas primeiras variáveis dizemrespeito a profissões mais elitistas e tradicionais(profissões liberais de nível universitário e aque-

las vinculadas ao poder econômico). As duasseguintes tentam identificar um padrão mais plu-ralista, por meio da participação majoritária deprofissões representativas da classe média (pro-fessores, formações ligadas às ciências humanas esociais e funcionários públicos), de um lado, e, deoutro, da participação de trabalhadores. Alémdisso, a última variável concerne à participaçãode representação de redes e associações da socie-dade civil.

Em cada uma dessas variáveis foi atribuídovalor 1, quando a porcentagem de cada bancadapartidária, comparada com a média do conjuntodas três elites parlamentares em pauta, confirmaum padrão pluralista, e 0, quando corresponde aum recrutamento tradicional e socialmente elitista.A seguir, estabeleceu-se um índice somatório dascinco dimensões para cada um dos partidos. Pon-tuações baixas no índice (0 ou 1) significam quese está mais próximo de um padrão de recruta-mento social elitista e pontuações altas (4 ou 5),

Tabela 2Bancadas Partidárias Segundo a Participação Associativa, em %*

(Brasil, Chile e Uruguai)

* Não estão incluídas as associações com menos de 1% de representação.

PFL (Brasil) 64,3% 11,9% 7,1% 3,6% 1,2% 9,5% 1,2% 1,2% – 100,0%

PPB (Brasil) 44,9% 10,2% 12,2% 6,1% 12,2% 4,1% 2,0% 4,1% – 100,0%

PMDB(Brasil) 64,9% 10,8% – 4,1% 8,1% 6,8% 1,4% 2,7% – 100,0%

RN (Chile) 72,2% – – – 11,1% – – 11,1% 5,6% 100,0%

UDI (Chile) 53,1% – – 12,5% 31,3% 3,1% – – – 100,0%

PSDB (Brasil) 47,9% 9,9% – 2,8% 16,9% 16,9% 1,4% – 2,8% 100,0%

PC (Uruguai) 50,0% – – – 20,0% 10,0% – 10,0% – 100,0%

PDC (Chile) 45,5% – – 22,7% 18,2% 4,5% 4,5% 4,5% – 100,0%

PN (Uruguai) 30,6% – 8,3% 5,6% 33,3% 13,9% 2,8% – 2,8% 100,0%

PS (Chile) 10,0% – – 20,0% 60,0% – – – 10,0% 100,0%

PPD (Chile) 28,6% 4,8% – 9,5% 38,1% 19,0% – – – 100,0%

FA (Uruguai) 18,9% 1,9% 5,7% 37,7% 13,2% 9,4% – 1,9% 7,5% 100,0%

PT (Brasil) 16,5% – – 31,9% 17,6% 24,2% 2,2% – 7,7% 100,0%

Total (n=729) 44,9% 5,5% 2,9% 11,8% 15,2% 11,8% 2,1% 1,8% 2,9% 100,0%

Não

têm

Em

pre

sários

Pro

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Participação em associações

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mais próximo de um padrão de recrutamentosocial pluralista.

No primeiro caso, encontram-se os deputa-dos dos partidos da Frente Liberal, ProgressistaBrasileiro e do Movimento Democrático Brasileiro.As origens sociais desses políticos estão definidaspor uma composição baseada na incorporação decapital escolar superior, relacionado às profissõesuniversitárias liberais, e a maioria deles traba-lhavam no interior do mundo empresarial e daprodução. Além disso, suas carreiras políticasestão apoiadas em recursos individuais e no statussocial pessoal de seus candidatos.

No segundo, encontram-se as bancadas par-lamentares do Partido dos Trabalhadores, do Par-tido Pela Democracia, do Partido Socialista e daFrente Ampla, que apresentam um padrão opostoao primeiro caso. As bases sociais desses deputa-dos são mais inclusivas e pluralistas, menos mas-culinizadas, com um recrutamento escolar mais

aberto e uma formação superior relacionada aprofissões das ciências humanas, da educação eaquelas ligadas ao campo cultural, além de teruma participação maior de assalariados. Ademais,suas carreiras políticas baseiam-se na acumulaçãode recursos coletivos, por meio de uma conste-lação de redes sociais e enraizamento de suasbases sociais nas associações da sociedade civil,principalmente as representativas dos sindicatosde trabalhadores, dos grêmios estudantis e dasnovas questões sociais.

Um tipo de recrutamento social mais híbri-do, conformado por múltiplas posições de classe(elitistas e pluralistas), aparece representado pelasbancadas parlamentares da Social DemocraciaBrasileira, da Renovação Nacional, da UniãoDemocrática Independente, do Partido De-mocrata Cristão, do Partido Colorado e do PartidoNacional.

Tabela 3Bancadas Partidárias Segundo Padrões de Recrutamento Social

(Brasil, Chile e Uruguai)

Frente Liberal 0 0 0 0 0 0

Progressista Brasileiro 0 1 0 0 0 1

Movimento Democrático Brasileiro 0 0 1 0 0 1

Renovação Nacional 1 0 1 0 0 2

União Democrática Independente 1 0 0 1 0 2

Social Democracia Brasileira 1 0 1 0 0 2

Colorado 1 0 1 0 0 2

Democrata Cristão 1 0 1 0 0 2

Nacional 0 1 1 0 1 3

Socialista 1 1 1 0 1 4

Pela Democracia 1 1 1 1 1 5

Frente Ampla 1 1 1 1 1 5

Partido dos Trabalhadores 1 1 1 1 1 5

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Partidos Políticos

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POR QUE CARREIRAS POLÍTICAS... 101

Padrões de carreiras políticas

Nesta seção, analisaremos as modalidadesde ingresso e mobilidade na carreira política, apartir da identificação das condições de inícioda atividade política (idade e ano da primeiramilitância), do acesso a postos públicos(primeiro cargo ocupado e ano) e da importân-cia dos vínculos partidários (número médio departidos e intervalo temporal entre a filiaçãopartidária e o primeiro cargo ocupado).

Padrões de carreira tornam-se mais nítidosquando a reconstituição das trajetórias políticas épromovida considerando os partidos separada-mente, uma vez que as seqüências de carreiraestão associadas às oportunidades oferecidas den-tro de cada organização partidária, conforme suaestrutura hierárquica, centralização e controlesobre a seleção de candidaturas. Passo inicial con-sistiu em isolar o momento inicial da carreirapolítica, verificando a idade média da primeiramilitância partidária em cada uma das legendasexaminadas. A primeira militância partidária épreferível neste caso ao primeiro cargo públicoocupado por duas razões: em primeiro lugar,identifica um vínculo partidário que muitas vezespode ser tênue ou não existir quando o cargopúblico corresponde a funções burocráticas ou

administrativas; em segundo, e principalmente,controla o efeito provocado por ciclos autoritáriosocorridos em períodos distintos nos três casosestudados, assim como as diferenças no grau deeliminação da competição eleitoral. Enquanto noBrasil, os militares mantiveram partidos e eleiçõesregulares, embora limitadas à arena legislativa ouem Executivos de pequenos e médios municípios,no Uruguai e no Chile, o regime militar, maisrestritivo, proibiu o funcionamento dos partidos eeliminou o calendário eleitoral. Dessa forma,oportunidades para o acesso ao primeiro cargoestiveram restritas por limites institucionais, dife-rentemente do que ocorreu no Brasil, onde oingresso na carreira política institucional esteveaberto mesmo para políticos de oposição, aindaque restrito a níveis inferiores da hierarquia depostos públicos (ver Figura 1).

Tomando por referência a idade de 30 anoscomo um divisor para delimitar o ingresso pre-coce ou tardio na vida política, e considerando aprimeira militância partidária como critério paraidentificar tal momento, pode-se distinguir doispadrões diferentes: de um lado, os partidos FA,PS, PN, PC, PT e PDC são compostos por parla-mentares que iniciaram mais cedo suas trajetóriaspartidárias; de outro, sobretudo os partidos PPD,PSDB, RN, UDI e, em menor medida, PFL, PPB e

Figura 1Idade da Primeira Militância

(Brasil, Chile e Uruguai)

Idade

Partidos

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PMDB elegeram deputados cujo primeiro vínculopartidário ocorreu em um período mais tardio desuas vidas. O corte não chega a obedecer a umalinha demarcatória do tipo esquerda/dire i t a ,baseada em uma suposição que partidos demassa correspondam a um ativismo precoce emais ativo, uma vez que tanto o PPD (esquerda),como o PC e o PN (direita e centro, respectiva-mente) e o PDC (centro) apresentam lugares tro-cados nesta distribuição.

Em contrapartida, a idade de ingresso par-tidário não oferece uma informação conclusivaa c e rca da experiência política dos parlamentare s .Mudanças no padrão geracional de re c r u t a m e n t opartidário podem produzir bancadas com mem-b ros caracterizados por ativismo político pre c o c e ,mas, combinado a idades mais reduzidas, não cor-respondem a carreiras mais longas e estruturadas.Assim, além da idade da primeira militância, énecessário identificar o ano em que ocorreu tal ini-ciação partidária (Figura 2). Este pro c e d i m e n t opode revelar duas informações úteis acerca depadrões de carreira política existentes no interiorde cada partido: a primeira diz respeito ao tempodecorrido da primeira militância até o mandato le-gislativo atual, o que oferece uma medida daexperiência política e partidária de cada deputadonos três países analisados; a segunda re l a c i o n a - s eao período (ano) em que a primeira militânciao c o r reu, o que mostra as condições ou os cons-trangimentos impostos ao ativismo partidário. Ouseja, faz diferença o fato de o parlamentar ter atu-ado em períodos autoritários ou, inversamente, sobcondições mais favoráveis oferecidas por institui-ções democráticas, como liberdades civis e com-petição eleitoral. Provavelmente, vincular-se oum a n t e r-se vinculado a um partido sob contextoautoritário e re p ressivo pode ser revelador de uma

adesão mais sólida e durável, em virtude dos riscosque esta militância re p resenta, quando comparadoa uma filiação partidária exclusivamente em perío-dos democráticos.

A Figura 2 exibe a informação sobre o anoem que um deputado mediano dentro de cadabancada registrou sua primeira militância par-tidária. Mais uma vez, deputados eleitos pelospartidos FA, PS, PDC, PC e PT apresentam umpadrão de militância partidária mais prolongada,tendo sido submetidos ao teste de ativismo par-tidário iniciado ou continuado mesmo dentro deum contexto autoritário. Contudo, é necessáriofazer uma ressalva: parece haver uma diferençanos custos do ativismo partidário para as frentesamplas, os socialistas e os democrata-cristãos, emrelação aos riscos aos quais os deputados colo -rados e petistas tenham sido submetidos. Umdeputado mediano da FA e do PS chileno re-gistrou sua primeira militância partidária em con-texto pré-autoritário, tendo sido exposto aocolapso das antigas democracias, à implantação eposterior prolongamento dos respectivos regimesautoritários. Semelhante é o caso da Democracia-Cristã chilena, cujos parlamentares atravessarampelo menos oito anos de repressão militar. Nocaso de deputados colorados do PC uruguaio etambém de parlamentares do PT brasileiro, em-bora a militância partidária tenha se iniciadoainda sob instituições autoritárias, isto corres-ponde ao período final dos respectivos regimes,quando já tinha sido inaugurado o processo deliberalização e de negociação com as elites civis,e os custos para a exclusão e a repressão políticahaviam aumentado significativamente.

Em um extremo oposto, estão as bancadasdo PSDB, PPD e UDI, cuja composição refleteuma menor experiência política e trajetórias de-

Figura 2Ano da Primeira Militância

(Brasil, Chile e Uruguai)

1971 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1990 1993

PT PMDB PFL PSDB

PPB

PS PDC RN PPD UDI

FA PC PN

* Área cinza representa o período de redemocratização em cada país.

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POR QUE CARREIRAS POLÍTICAS... 103

senroladas exclusivamente sob condiçõesdemocráticas mais favoráveis, onde o custo damilitância partidária, pelo menos em termos depossibilidade de sofrer algum tipo de coerção físi-ca pelas instituições estatais, é muito baixo.Embora os deputados tanto do PSDB, como doPMDB, no Brasil, tenham vindo do antigo MDB –organização oposicionista durante o regimeautoritário –, eles não apresentavam em 2002 talgenealogia, revelando carreiras mais recentes, ini-ciadas após a redemocratização.

O primeiro cargo público constitui um ritosignificativo que oferece informação relevantenão só sobre as condições e os recursos dis-poníveis no início da carreira política, mas tam-bém sobre o grau de sua dependência em relaçãoàs organizações partidárias (Figura 3). Nossa in-terpretação indica que o início da carreira políticamediante cargos no poder Executivo implica emuma autonomia potencialmente maior em relaçãoaos partidos. Isto pode ocorrer por duas razões:1) pela retórica de conhecimento técnico queocupantes de postos administrativos alimentamcom freqüência, procurando insular-se em relaçãoà dinâmica eleitoral e aos militantes e dirigentesde carreira mais partidária; 2) quando se trata doinício de carreira mediante cargos eletivos no

Executivo, como prefeitos, intendentes e gover-nadores, isto sugere a posse de recursos políticospessoais (reputação personalizada construída forada carreira política, disponibilidade de recursosmateriais e financeiros), o que mostra que o indi-víduo se impôs às organizações partidárias defora para dentro, subvertendo suas prováveis hie-rarquias internas.

O Partido dos Trabalhadores, o PartidoSocialista e, em menor grau, a Frente Ampla apre-sentam os padrões mais nítidos de ingresso nacarreira política por meio de cadeiras legislativas,nacionais ou subnacionais. Dois partidos bra-sileiros de centro (PMDB e PSDB) apresentambancadas compostas majoritariamente por depu-tados com início de carreira por intermédio decargos legislativos. Um fator que pode explicaressa tendência está relacionado com o efeito dofederalismo e da extensão territorial existentes noBrasil: além de esferas governamentais e legislati-vas no plano federal e local (à semelhança deUruguai e Chile), o Brasil possui estruturas gover-namentais e assembléias legislativas estaduais(correspondendo a províncias em outros paísesda América Latina). Enquanto os partidos de opo-sição não tinham acesso a cargos executivosnacionais e estaduais durante o período au-

Figura 3Primeiro Cargo de Mandato Legislativo, em %

(Brasil, Chile e Uruguai)

Partidos

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toritário, as assembléias legislativas estaduais e ascâmaras municipais na maioria dos municípiosforam a escola de iniciação política e de carreirapara políticos de centro-esquerda até meados dosanos de 1980. Por fim, o partido direitista chileno(UDI) igualmente apresenta uma proporção ele-vada de parlamentares que iniciaram sua carreirapolítica por meio de cadeiras legislativas, pro-vavelmente associado ao período de domínio decargos executivos pela coalizão de centro-esquer-da Concertação.

A durabilidade dos vínculos de lealdade par-tidária pode ser estimada considerando o tempode filiação partidário médio (em anos) dentro decada partido. Intervalos temporais mais longossugerem lealdades mais fortes, bem como reve-lam a importância das organizações partidáriascomo estruturas de treinamento político dos qua-dros que são recrutados para carreiras políticas eas oportunidades para o incremento na coesãopartidária (Bowler, Farrell e Katz, 1999). Nestaperspectiva, a Frente Ampla (28 anos), o PartidoColorado (22 anos), o Partido Socialista, a Demo-cracia-Cristã (20) e o Partido Nacional (20 anos) ePartido dos Trabalhadores (19 anos) possuembancadas parlamentares formadas por deputadoscom mais anos de filiação partidária. Em con-traste, a Renovação Nacional (12 anos), o Partidopor la Democracia e o Partido ProgressistaBrasileiro (11 anos), o Partido do MovimentoDemocrático Brasileiro e o Partido da FrenteLiberal (9 anos), a União DemocráticaIndependente (8 anos) e Partido da Social-Democracia Brasileira (7 anos) apresentam osmenores valores médios referentes ao tempo defiliação partidária.

Evidências mais reveladoras acerca daimportância de partidos como recursos para oacesso e a continuidade de carreiras políticaspodem ser alcançadas isolando-se o tempo daúltima filiação partidária em relação ao primeirocargo público ocupado desde o início da trajetóriapolítica (Figura 4). Trata-se de fixar o intervalotemporal que separa duas datas importantes emuma carreira política: quando o deputado se filiouao seu partido atual e quando conquistou seuprimeiro posto (legislativo ou executivo). Esta fi-liação partidária poderá coincidir com a primeiramilitância, quando o deputado vinculou-se a um

partido, não mais se afastando dele, ou poderácorresponder ao partido pelo qual conquistou acadeira parlamentar, nas legislaturas em estudo. Otempo de filiação partidária prévia permite aferire comparar, assim, o espaço em que a atividadedentro de um partido constitui um requisito paracarreiras políticas bem-sucedidas, quando a dedi-cação por vários anos às tarefas organizativas e adeferência em relação às lideranças e às hierar-quias partidárias representam um investimentopolítico resgatável a médio ou longo prazo sob aforma de nominação de candidaturas e insumoseleitorais como suporte material e financeiro, ar-regimentação de apoios organizativos e eleitoradofiel. Em contraste, quando a última filiação par-tidária ocorre após o início da carreira política,pode-se inferir que o custo para defecções par-tidárias é mais reduzido, permitindo a transgres-são de fidelidades organizacionais prévias, semque isto afete as chances para a manutenção oumobilidade na carreira política.

Comparando a última filiação partidária como início da carreira política de deputados de par-tidos brasileiros, chilenos e uruguaios, podem-seseparar dois padrões nitidamente distintos. Parla-mentares que integram as bancadas do PT, do PS,do PDC, da FA, do PN e do PC apresentam ummodelo de carreiras políticas denominado en-dógeno. Há um intervalo temporal prévio sepa-rando a filiação partidária do acesso ao primeirocargo público, sugerindo que a seleção de can-didatos a postos políticos é dirigida para mem-bros com lealdades partidárias comprovadas porextensos intervalos temporais de militância par-tidária. Diferente é o caso dos partidos brasileirosPSDB, PMDB, PFL e PPB e dos chilenos PPD, RNe UDI, todos marcados por seqüências de carreirapolítica invertida, em que a filiação partidária éposterior ao início da trajetória pública. Isso podeser entendido como resultado de frágeis vínculospartidários originais, ou, ainda, como baixocusto de defecção em relação às organizaçõespolíticas de origem, uma vez que a importânciade sua estrutura (eleitores, suporte material efinanceiro, canvassers) pode ser marginal ousubstituível.

Finalmente, procurou-se fixar padrões decarreiras políticas agregando os requisitos que cor-respondem a um modelo de trajetórias políticas

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duráveis e profissionais, baseadas em recursoscoletivos e estruturas partidárias: início precoce damilitância partidária, o ano e o contexto desta pri-meira militância, a cadeira legislativa comoprimeiro cargo público, o tempo de filiação parti-dária superior a quinze anos e a filiação partidáriaantes do primeiro cargo público ocupado. Paraefeito de justaposição das diferentes dimensõesexaminadas e a configuração de padrões de car-reiras políticas, elaborou-se um escore, resultanteda agregação das informações anteriores, atribuin-do valor 1 quando o perfil partidário correspondiaao modelo acima, e 0, quando o tipo de carreiradistanciava-se do modelo. Dessa forma, o escoreagregado de cada partido corresponde a umanumeração de 0 a 5. Valores próximos a 0 equi-valem a padrões de recrutamento baseados emcapital político personalizado e 5, a carreiraspolíticas construídas em base a recursos par-tidários, experiência política e longas e estáveistrajetórias políticas (Tabela 4).

Três partidos apresentam um padrão nítidode carreiras políticas estáveis e baseadas emsuporte organizacional e partidário: Partido So-cialista, Frente Ampla e Partido dos Traba-lhadores. Seus parlamentares registram umaprimeira militância em idade jovem, inferior a 30

anos, e parte desse ativismo partidário, ao menos,foi cumprida sob instituições autoritárias, confir-mando um perfil de adesão mesmo em circuns-tâncias adversas e risco de repressão. O primeiroposto institucional ocupado corresponde a ca-deiras legislativas, sugerindo capital político deingresso mais modesto, assim como treinamentona arena eleitoral; seus deputados possuem filia-ções partidárias duráveis e, principalmente, umintervalo temporal prévio entre a filiação nestespartidos e o primeiro cargo público, o que revelaum padrão endógeno de carreira política, ou seja,eles são recrutados do interior das respectivasorganizações partidárias, ou, ainda, indica que oativismo partidário constitui um capital políticorelevante para impulsionar trajetórias políticasnessas organizações.

Com algumas variações, mas ainda próxi-mos, podem ser localizados os deputados dospartidos PDC, PN e PC. Para os democrata-cris-tãos chilenos e os colorados uruguaios, a adminis-tração central representou a base para o recruta-mento partidário. Mais distantes do modelo decarreiras partidárias encontram-se os partidos PFL,PPD e RN, com trajetórias políticas e militânciapartidária tardias, predomínio de cargos adminis-trativos ou postos executivos, reduzido tempo de

Figura 4Recrutamento Partidário Segundo Tempo de Filiação Partidária Antes do Primeiro Cargo

(Brasil, Chile e Uruguai)

Partidos

Anos

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filiação partidária e último registro partidário pos-terior ao início da carreira.

Após fixar a presença de dois padrões dis-tintos de carreiras políticas, procuramos umainterpretação capaz de explicar as diferençasencontradas. Um conventional wisdom consistiriaem relacionar as oportunidades estabelecidaspelas regras eleitorais com a composição de per-fis parlamentares produzidos a partir da com-petição eleitoral. Nessa perspectiva, Carey eShugart (1996) sugerem que, quando os votospreferenciais influenciam o rankeamento de can-didatos ou em colégios eleitorais de magnitudeelevada, será menor o controle partidário sobre aseleção de carreiras e maior a importância de re-putações personalizadas como capital eleitoral.Contudo, essa interpretação parece pouco satis-fatória nos casos aqui estudados. O Uruguai apre-senta um padrão mais homogêneo de predomíniode carreiras partidárias em seus três partidos rele-vantes. Por outro lado, a conexão deste fenômeno

com o sistema eleitoral não é evidente. Embora declassificação complexa, a fórmula uruguaia deeleições legislativas, baseadas no doble votosimultâneo, tem sido apresentada como uma varia-ção limite de voto preferencial (Rose, 2000; Norris,2004; Colomer, 2004), especialmente em eleiçõesacompanhadas por aumento no número de lemaspartidários. O Chile possui um sistema de listaaberta, ainda que a reduzida magnitude eleitoralchilena poderia corresponder à estrutura de opor-tunidades apresentada por Carey e Shugart comomais propícia para o controle partidário sobrenominações eleitorais. Nessa mesma direção, emoutro trabalho, Carey (2002) sugere que as cir-cunscrições binominais (two-member districts), aoinduzir negociações intracoalizões sobre a dis-tribuição das candidaturas, terminariam por incre-mentar a coesão de partidos e coalizões.10 O resul-tado, no entanto, apresenta discrepâncias quereforçam as dúvidas acerca de efeitos (necessaria-mente) uniformes que deveriam ser produzidos

Tabela 4Bancadas Partidárias Segundo Padrões de Carreira Política

(Brasil, Chile e Uruguai)

PFL 0 0 0 0 0 0

PPD 0 0 0 0 0 0

RN 0 1 0 0 0 1

PPB 0 0 1 0 0 1

UDI 0 0 1 0 0 1

PMDB 0 0 1 0 0 1

PSDB 0 0 1 0 0 1

PC 1 1 0 1 1 4

PN 1 0 0 1 1 3

PDC 1 1 0 1 1 4

PS 1 1 1 1 1 5

FA 1 1 1 1 1 5

PT 1 1 1 1 1 5

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Partidos Políticos

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por regras eleitorais: enquanto PS e PDC possuemperfis partidários de carreiras políticas, PPD, UDI,RN apresentam trajetórias que sugerem menorrelevância de partidos na manutenção de postospolíticos. Deslocando o foco da legislação elei-toral para as regras internas de seleção de candi-daturas legislativas, Navia (2004) apresenta umapossibilidade para a incorporação de diferençasinterpartidárias nos padrões chilenos de recruta-mento parlamentar. Seus achados identificam UDIe PPD como os partidos com processos mais cen-tralizados de seleção de candidaturas, ao passoque o PDC apresenta maior grau de democraciainterna e menor grau de controle exercido pelosdirigentes sobre a escolha de candidatos. O para-doxo, neste caso, é que a centralização decisóriados partidos PPD e UDI produz como resultadoperfis menos partidários de carreira política,enquanto a maior descentralização das escolhasentre democrata-cristãos gera candidatos cujastrajetórias políticas foram projetadas principal-mente dentro das fronteiras partidárias. Issomostra que o método da escolha de candidatospode não oferecer uma previsão adequada sobreos resultados, em termos de padrões endógenose perfis partidários de recrutamento legislativo.

Por fim, se os efeitos atribuídos ao sistemade lista aberta sugeridos por autores como Main-waring (1999) e Ames (2003) podem explicar ospadrões encontrados nos partidos brasileiros PFL,PSDB e PMDB, eles não permitem compreenderpor que sob a mesma regra de competiçãoeleitoral o PT produziu carreiras políticas forte-mente endógenas e partidárias, ou mesmo vari-ações intrapartidárias nos padrões de carreiraspolíticas (Marenco, 2001).

A Frente Ampla, o Partido Socialista, o Par-tido Democrata-Cristão, o Partido Nacional e oPartido Colorado, além de um padrão partidáriode carreiras políticas, possuem em comum sualongevidade temporal como organizações elei-torais. Todos já existiam nos períodos democráti-cos anteriores ao regime autoritário implantadono Uruguai e no Chile, sobreviveram aos ciclosrepressivos e reapresentaram-se como estruturaseleitorais, legislativas e governamentais a partirdas novas democracias. Em contrapartida, PPD,UDI, RN, PSDB, PMDB e PFL são organizaçõesformadas no final dos respectivos regimes au-

toritários, ou mesmo já sob as novas instituiçõesdemocráticas.

Há um efeito produzido pelo tempo sob aforma de maior institucionalização partidária: con-versão de reputações personalizadas em identi-dades partidárias, constituição de organizaçõespartidárias sólidas, acesso a recursos públicos e suaconversão em insumos eleitorais. Exceção paraesta explicação é caso do PT. Com formação data-da apenas no final do regime autoritário brasileiro(1980), portanto comparativamente mais tardia emrelação a organizações partidárias instituciona-lizadas, esse partido compensou tal defasagemtemporal com um padrão organizacional rígido,combinando expansão territorial por penetração(Panebianco, 1990) a partir de um núcleo originalbásico – e com isso neutralizando os efeitos cen-trífugos provocados pelo federalismo brasileiro –com uma expansão eleitoral inicialmente lenta, oque restringiu oportunidades de carreira pública econdicionou-as à formação de um capital par-tidário baseado em intenso ativismo associativo emilitância dentro do partido.

Conclusão

A finalidade desta pesquisa comparada foianalisar a composição e as trajetórias das elitesparlamentares para identificar padrões diferentesde recrutamento partidário segundo blocos ideo-lógicos nas câmaras de representantes no Brasil,no Chile e no Uruguai. A estratégia metodológicapriorizou dois aspectos: a) o recrutamento socialno campo das profissões ocupacionais e da par-ticipação em associações coletivas; e b) as car-reiras políticas, definidas desde a idade e o perío-do da primeira filiação partidária, até o momentode aceso ao primeiro cargo público e o tempo defiliação partidária (Figura 5).

Foram isolados dois tipos básicos de perfissociais. Um mais tradicional, encontrado nos par-tidos conservadores, que contempla formaçãoeducativa vinculada a profissões universitárias li-berais e presença maior de ocupações ligadas aomundo empresarial e da produção, apresentando,portanto, uma composição social mais elitista doponto de vista do status social e profissional.Outro mais inclusivo e pluralista, que aparece

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108 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 22 Nº. 64

entre parlamentares de esquerda, com umagrande proporção de profissões vinculadas asclasses médias – professores, profissões da áreade ciências humanas, funcionários públicos – euma participação maior de assalariados e inte-grantes de camadas populares.

Paralelamente, foram isolados dois tiposbásicos de carreiras políticas, conforme a im-portância de recursos organizacionais (associa-tivos e partidários). Os deputados dos partidosconservadores (PFL, PPB, PMDB, RN e UDI) têmcarreiras mais laterais, apoiadas em estruturasorganizativas mais flexíveis, partidos do tipocatch-all (Kircheimer, 1980) e com trajetórias par-tidárias iniciadas tardiamente e menos contínuas.As trajetórias dessas elites mostram a preferência

por recursos e capitais sociais individuais dos can-didatos para atingir o poder político em detri-mento do capital associativo.

No outro extremo ideológico, as carreiraspolíticas apóiam-se tanto em recursos coletivospara alcançar um maior capital social e político,como no estabelecimento de uma constelação deredes sociais e no enraizamento de suas basessociais de apoio. Essas novas elites políticas cons-tróem suas carreiras com base em longas tra-jetórias, iniciadas antes mesmo do início da rede-mocratização, e na fidelidade partidária, apoiadaem estruturas organizadas de tipo profissional-eleitoral (Panebianco, 1990). Os deputados dospartidos PT, PS e FA normalmente têm vínculoscom associações da sociedade civil, que repre-

Figura 5Seleção de Postos Legislativos

(Brasil, Chile e Uruguai)

Carreira política: 0 = individual; 5 = partidária

Base social: 0 = elitista; 5 = pluralista.

Carreiras políticas partidárias : (1) início precoce; (2) primeira militância antes da redemocratização; (3) primeiro cargo legis-

lativo; (4) filiação partidária antes do primeiro cargo; (5) mais de 15 anos de filiação partidária.

Base social pluralista : (1) empresários = baixo; (2) profissionais liberais = baixo; (3) professores, cientistas e funcionários públi-

cos = alto; (4) trabalhadores = alto; (5) capital associativo = alto.

bases sociais

carreiras políticas

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sentam interesses coletivos, como o sindicalismode trabalhadores e dos grêmios estudantis e orga-nizações que tratam de novas questões sociais.

Entre esses dois padrões extremos, há tra-jetórias híbridas. De um lado, observam-se umpadrão de profissionalização política e partidáriae seqüências políticas em partidos de origemsocial tradicional de seus quadros, como oPartido Democrata Cristão, o Partido Nacional eo Partido Colorado. Isso parece reforçar o efeitoexercido pela institucionalização partidária,medida pela longevidade temporal de cada orga-nização (especialmente dos partidos criadosantes dos governos autoritários), o que produziucarreiras longas, profissionais e endógenas. Deoutro lado, identificam-se trajetórias lateraisbaseadas em carreiras personalizadas de can-didatos de origem social mais modesta e recruta-mento pluralista, como, por exemplo, o PartidoPela Democracia.

A partir da perspectiva da composição socialdas elites, o ascenso das esquerdas expressa umnovo papel de “tribunos da plebe” (Serna, 2004,p. 226), com a ampliação da representação políti-ca de categorias e setores sociais subalternos e ainclusão de redes associativas da sociedade civilsobre novas e velhas questões sociais na arenapolítica.

Analisando mudanças longitudinais nos per-fis de ocupação de cadeiras legislativas no Brasil,Fabiano Santos (2000) sugeriu que eles poderiamestar associados à configuração institucional doslegislativos, na medida em que o estoque de prer-rogativas e recursos alocados por estas institui-ções poderiam afetar a atração e a aderência depolíticos movidos por ambições de carreira.Embora um estudo cross-national dos legislativosem pauta fuja ao escopo deste artigo, concor-damos que a relevância institucional dos postoslegislativos constitui uma variável promissora paraexplicar as estratégias de carreira pública em-preendidas por membros da elite política.

Os achados relativos às diferenças partidáriasna origem social dos deputados eleitos são simi-lares aos resultados encontrados por Rodrigues(2002) para o caso brasileiro, identificando basessociais de recrutamento distintas na escala ide-ológicas da direita para a esquerda. Este trabalhoprocurou encontrar os nexos entre as bases soci-

ais de recrutamento partidário e os padrões de car-reira política identificados entre os deputadoseleitos por cada legenda para os respectivos leg-islativos nacionais. Foi possível detectar a pre-sença de mecanismos do tipo increasing-returns(North, 1990), presentes nos modelos de seleçãopartidários, vinculando origens sociais e trajetóriasinstitucionais dos ocupantes de cadeiras legislati-vas, conforme cada bancada.

A formação de um sistema de lealdade insti-tucional resulta, para Panebianco (1990), do êxitodo núcleo dirigente em controlar zonas deincerteza e mobilizar, quando necessário, meca-nismos próprios de remuneração política, sejamidentidades coletivas, sejam recursos materiais oustatus. Zonas de incerteza podem ser compreendi-das como pontos críticos que, ao serem controla-dos, fornecem os meios para a construção deidentidades institucionais consistentes, como oacesso a recursos materiais, fontes de financia-mento e mecanismos de recrutamento e seleçãode candidatos a carreiras e postos políticos (Idem).

Carreiras são impulsionadas pela disponibi-lidade de recursos, como reputação pessoal, fon-tes de financiamento, experiência política, redesorganizativas, que permitem a seu portador con-vertê-los em suporte material, apoios e votos.Prestígio, posses e relações firmadas na vida pri-vada são, neste caso, meios mais eficazes para aarregimentação de recursos estratégicos. Detendorecursos próprios – como prestígio, renda erelações estabelecidas pela ocupação profissional,os candidatos não dependem do aval partidário,podendo ignorá-lo com menor risco para oingresso ou a continuidade em sua carreira. In-versamente, muitas vezes são os dirigentes par-tidários que necessitam da notoriedade empres-tada por seus nomes. Carreiras políticas são, comisso, mais rápidas e descontínuas, oferecendo o-portunidade para aspirantes com escassa oupequena experiência política.

Inversamente, candidatos desprovidos derecursos sociais e materiais próprios dependemda organização partidária para fornecer os meiosnecessários de ingresso e mobilidade nos postosinstitucionais, reforçando um padrão de seleçãoendógena (Dogan, 1999; Mastropaolo, 1990).Carreiras adquirem a forma de um cursus hono-rum (Gaxie, 1993), em que, ingressando nos

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110 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 22 Nº. 64

níveis mais inferiores da hierarquia institucional, otempo necessário para o aspirante percorrer, dosprimeiros postos até posições nacionais, é, emregra, mais longo. Com uma reduzida circulaçãoentre ocupantes de cargos, a progressão na hie-rarquia da carreira torna-se lenta. O postulantedeve esperar, prudentemente, que se ofereça umavaga, com poucas perspectivas de desafiar, comêxito, aos veteranos. Exatamente por dispor demenor volume de recursos eleitorais individuais,os candidatos são impelidos a trajetórias institu-cionais partidárias e à formação de lealdade orga-nizacional com as legendas responsáveis por seuingresso e sua mobilidade na carreira pública.

Para tanto, destaca-se a afirmação dos me-canismos partidários e representativos nas car-reiras das elites políticas em regimes democráti-cos. As trajetórias das novas elites políticas docampo das esquerdas mostram padrões de fili-ação partidária definidas, carreiras políticas dura-douras e acumulação de recursos políticos asso-ciativos e representativos.

Notas

1 Devido a motivos metodológicos do universo deestudo e das amostras partidárias, foram sele-cionados os partidos com maior representaçãoparlamentar, que tinham bancadas com mais de5% de cadeiras na câmara de deputados.

2 Usamos a expressão “partido conservador ou dedireita” porque várias pesquisas empíricasmostram a relutância dos políticos pertencentes aesses partidos a se auto-identificarem na escalaideológica como sendo de direita, em profundadiscrepância com a visão que têm deles seuscolegas não conservadores pertencentes a par-tidos da esquerda (Mainwaring, Meneguello,Power, 2000, p. 53). Destarte, a análise de suasposições e atitudes políticas coincidem com umdiscurso conservador.

3 Os partidos Colorado e Nacional são conhecidostambém como partidos tradicionais, com múlti-plas tendências políticas no interior, desde o cen-tro até posições mais conservadoras.

4 Ver sites www2.camara.gov.br; www.congreso.cle www.parlamento.gub.uy.

5 Segundo uma pesquisa comparada em dozedemocracias avançadas no ano de 1992, as profis-

sões jurídicas representavam 18% dos legis-ladores nas câmaras de deputados, as médicas,5%, e os engenheiros e arquitetos, 3% (Norris,1996, p. 189).

6 Na pesquisa de Norris, empresários e comer-ciantes formavam 17% dos legisladores, enquan-to produtores agropecuários, 3% (1996, p. 189).

7 Comparando com a pesquisa empreendida porNorris, cientistas sociais e econômicos, jornalistase professores representavam 21% dos legis-ladores. Além disso, 11% dos deputados eramfuncionários públicos, antes de atingir a cadeiralegislativa (1996, p. 189).

8 Os dados comparados verificam as mesmastendências. Na pesquisa de Norris (1996), osoperários compunham 4% dos deputados,enquanto os trabalhadores white collars repre-sentavam 3%.

9 Numa pesquisa sobre a composição social dosdeputados brasileiros (Rodrigues, 2002, pp. 64,66), segundo classificações de ocupações na le-gislatura prévia do ano de 1998, os resultados dasdiferenças nos padrões partidários são seme-lhantes à nossa pesquisa para o PPB, PFL, PMDB,PSDB e PT. Destarte, no caso do PMDB, classifi-cado como partido de centro, cabe assinalar queas diferenças com o estudo prévio não são nosresultados empíricos, mas na interpretação e naclassificação da composição do partido. Nas duaspesquisas, o PMDB aparece com uma partici-pação mais alta de empresários, profissionais li-berais e funcionários públicos. Em relação à com-posição social, o PMDB está mais perto dospartidos de direita. Isto pode ser explicado pelaparticipação maior de políticos conservadores emrelação ao outro partido de centro, o PSDB. Essaé uma questão que deverá ser aprofundada emfuturas pesquisas.

10 Vale ressalvar que a diferença com o casouruguaio pode ser explicada pelo método decoleta de dados, que, além das biografias, sebaseou em enquetes pessoais.

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POR QUE CARREIRAS POLÍ-TICAS NA ESQUERDA E NADIREITA NÃO SÃO IGUAIS?RECRUTAMENTO LEGISLATI-VO EM BRASIL, CHILE EURUGUAI

André MarencoMiguel Serna

Palavras-chave:Recrutamento legislativo, Carrei-ras políticas; Partidos; Eleições;Política comparada.

Este artigo pretende oferecer uma

explanação para diferentes padrões

de recrutamento legislativo, asso-

ciando modelos de carreiras políti-

cas, baseados em recursos personali-

zados ou partidários, às diferentes

estratégias partidárias de seleção dos

candidatos, de acordo com [1]

posição ideológica, [2] tempo da

existência de cada organização; e,

[3]mobilização de recursos sociais

individuais ou coletivos das organi-

zações e de associações sociais.

Nesta perspectiva, partidos de

esquerda apresentariam composição

social mais pluralista, bem como vín-

culos partidários mais duráveis e

prévios ao ingresso na carreira políti-

ca. Em contraste, estruturas tradi-

cionais recrutam seus candidatos

baseados em capital eleitoral pessoal

e carreiras construídas previamente

e fora das organizações partidárias.

Finalmente, a idade dos diferentes

partidos representa uma variável rel-

evante para a definição de padrões

das carreiras políticas: partidos dota-

dos de longevidade temporal seriam

mais capazes impor trajetórias endó-

genas a seus candidatos.

WHY LEFT AND RIGHT DONOT HAVE THE SAME POLITI-CAL CAREERS? LEGISLATIVERECRUITMENT IN BRAZIL,CHILE, AND URUGUAY

André MarencoMiguel Serna

KeywordsLegislative recruitment; Politicalcareers; Parties; Elections; Com-parative politics.

The article identifies models of

political careers to explain different

patterns of legislative recruitment.

The models examines different par-

tisan strategies of candidates selec-

tion, according to [1] ideological

position, [2] time of existence of

each party organization; and [3]

mobilization of individual resources

or collective social resources of

organizations and social associa-

tions.

In this perspective, left parties

would present further social plura-

lism in benches composition, as

well as more durable and previous

partisan bonds to the beginning of

the political career candidates. In

contrast, traditional partisan struc-

tures recruiting its candidates with

personal electoral capital and politi-

cal careers constructed previously

and out to the party bonds.

Futhermore, the time of existence of

each party is an important variable

to explain political careers pat-

terns. Longevities political parties

have the most endogenous partisan

recruitment of its candidates.

POURQUOI DES CARRIÈRESPOLITIQUES DE GAUCHE ETDE DROITE NE SONT-ELLESPAS EGALES? RECRUTEMENTLÉGISLATIF AU BRESIL, AUCHILI ET EN URUGUAY

André MarencoMiguel Serna

Mots-clésRecrutement législatif; Carrièrespolitiques; Partis; Élections; Poli-tique comparée.

Cet article prévoit pour offrir une

explication pour différents modèles

du recrutement législatif, associant

des modèles des carrières poli-

tiques, basés dans les ressources

personnalisées ou partisanes, à dif-

férentes stratégies partisanes de

choix de candidats, selon [1] posi-

tion idéologique, [2] temps de d'ex-

istence de chaque organisation de

partie; et, [3] mobilisation ressources

sociales de individuels ou collec-

tives des organismes et des associa-

tions sociales.

Dans cette perspective, les parties

de gauche présenteraient davantage

de pluralisme social met hors jeu

dedans la composition, aussi bien

que des liens partisans plus durables

et plus précédents au commence-

ment des carrières politiques des

candidats. En revanche, les struc-

tures partisanes traditionnelles recru-

tant ses candidats avec ressources

électorales personnelles, construites

précédemment et dehors aux partis.

Finalement, l'age d'existence des dif-

férentes partis représente une vari-

able importante pour la définition

des modèles de carrières : les partis

dotées de longévité temporelle sont

plus capables de imposer trajectoires

endogènes à ses candidats.