"por favor, sucesso!"

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14 15 mais de 3 mil léguas submarinas, o telefone ringe: de Brasília, capital federal, a ligação soa em algum endereço incerto de Tapes, bucólico recanto irrigado pela Lagoa dos Patos. Peço por Marco Antônio Figueiredo, vulgo “Fughetti Luz”. Trata-se do pioneiro homem, que, pode-se pon- tificar, desferiu para o Brasil a “palhetada fundamental” de um cancioneiro pop sul-rio-grandense. Dos versos “Ouça menina, essa nova música/ Que será sucesso durante um mês”, Por Favor, Sucesso virou fenômeno entre a magrinhagem setentista gaúcha. Composto em 1969, o hino do Liverpool leva assinatura do poeta Carlinhos Hartlieb, jovem agitador das concorridas Rodas de Som daquele tempo. Presentemente, Luz – cuja idade é mistério maior do que ele próprio – faz outro tipo de súplica: “Por favor, me deixem em paz!”. Calejado, antes mesmo que eu me identifique como repórter, o cantor adivinha o mote da prosa. Malfadado, o bate-papo deveria ser a respeito da profusão de bandas gaúchas que batem em retirada para tentar a sorte em São Paulo, centro econômico-cultural do país. Tal como o Liverpool fez ao pôr o pé na estrada rumo ao Rio de Janeiro 40 anos atrás – quando a fuga tinha no eixo Rio-São Paulo o des- tino mais cobiçado. Majestade que, de certa forma, os cariocas perderam. A Meca do rock, hoje, é São Paulo. Em seu intratável, mas divertido, azedume, Fughetti Luz reina ao telefone: “Não quero mais falar sobre o Liverpool, não”. A negativa só faz miti- ficar a reputação de punk por natureza do autor de hits como Olhai os Lírios do Campo, Bixo da Seda e Trem. Em 1964, ainda crooner do conjunto Flamboyant, Elis Re- gina também deu no pé. Do IAPI, em Porto Alegre, direto para o Rio de Janeiro. Atitude rock, sem dúvida. Ainda mais para uma mulher cuja arte estava recém começando a amadurecer naquele primeiro ano de chumbo. Bandas e artistas pop (Os Cleans, Os Brasas, Almôndegas, Hermes Aquino, Rosa Tattooada, Garotos da Rua – e muitos outros), em suas respectivas épocas, nem pestanejaram quando convidados a sair de Porto Alegre. E, nesse segundo decênio, nossos artesãos do pop, outra vez, estão na crista da onda. Na eleição dos melhores de 2010 feita pela revista Rolling Stone, três álbuns gaúchos aparecem no top 25: Fresno, Superguidis e – ora, veja só – Vitor Ramil. Afundado num sofá da casa da Pública, a conversa que levo com Pedro Metz, cantor e letrista, versa justamente sobre este ir ou não ir. Na capital paulista, o casarão onde os guris da banda residem, ensaiam e compõem, fica em meio à boemia da Vila Madalena. CARA, CORAGEM E ERVA DE CHIMARRÃO Mas o papo, assim como o rock de agora, muito pouco tem de novo. No gaulês Rio Grande do Sul, historicamente afeito a pelejas de toda sorte, o debate existe desde o dia em que cunharam a alquebrada insígnia “rock gaúcho”. Nos áureos anos 1980/1990 (boom do rock brasileiro, como gostam de chamar), muitas bandas gaúchas dançaram embaladas pelo suingado esquemão bancado pelas grandes gravadoras. Como destino, as selváticas plagas cariocas e paulistas. Cara, coragem e, no alforje, FAMA, ARTE E RECONHECIMENTO: QUE FENÔMENO LEVA BANDAS GAÚCHAS À PAULICEIA EM BUSCA DO DESVAIRADO SONHO ROCK-AND-ROLL? POR CRISTIANO BASTOS (DE SÃO PAULO, GOIÂNIA E BRASÍLIA – MENOS DE PORTO ALEGRE) JORNALISTA, COAUTOR DE GAULESES IRREDUTÍVEIS – CAUSOS E ATITUDES DO ROCK GAÚCHO A música 15 a erva de chimarrão. Grande parte dos retirantes, porém, como bons filhos à casa retornaram. Em 2001, confessa o frontmen da Bidê ou Balde, Carlinhos Carneiro, o conjunto passou por altos e baixos em sua estadia paulista. Dos mais aplaudidos da cena contemporânea do rock nacional, os guaibenses do Superguidis se apoderam da famosa frase de Dom Pedro II: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que ficamos!”, diz o guitarrista Lucas Pocamacha, parafraseando a História para justificar permanência em terra pampeana. Ainda. Em solo bandeirante, Pedro Metz ajeita um carreteiro – “só para não perder o costume”. Conta que a escolha por São Paulo foi, acima de tudo, profissional. O perfil macro da cidade pareceu ideal para as ambições criativas da Pública. Louros, inclusive, re- pousam na “estante de prêmios” dessa (Re)Pública, onde com alta rotatividade recebem visitas de congêneres paulistanos. Como os músicos das bandas Biônica e Rock Rocket. Entre os troféus, a estatueta arrebatada com o videoclipe de Casa Abandonada na edição de 2007 do Video Music Brasil. “Nos sentimos desafiados a tentar”, ressalta Metz, que arremata: “Não curtimos a situação cômoda que ficar no Rio Grande do Sul representa”. E logo se reconcilia: “Amamos Porto Alegre”. Parceiro de empreitada, o baixista Guilherme Almeida (filho do nativista Iraci Rocha) tam- bém discorre sobre o autoexílio. E fala por todos: “A escolha foi importantíssima em nossas vidas”. No caso dele, a brincadeira ainda tem rendido novos sons: além da Pública, Almeida anda enredado em projetos com Martin (guitarrista da banda de Pitty) e com Tita Lima – cantora paulistana que é acompanhada pelo guitarrista Guri Assis Brasil, outro integrante da Pública. Agora façamos o favor: o caso desfraldado pela banda porto-alegrense Fresno, estampado em todas as possíveis mídias, merece ser narrado. Em tempos que a indústria fonográfica agoniza em mortal concordata, a façanha conseguida por esses nativos da capital é um admirável triunfo. Autodefinida como “powerpop-rock-shoegaze” (decerto para espantar a alcunha 14 À FRENTE DA MODA Em 1969, guiados por Mimi Lessa (E) e Fughetti Luz (D), o Liverpool pavimentou a estrada dos retirantes gaúchos Imagem cedida por Nelio Rodrigues POR FAVOR, SUCESSO! POR FAVOR, SUCESSO! POR FAVOR, SUCESSO!

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Revista Aplauso.

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Page 1: "Por Favor, Sucesso!"

14 15

mais de 3 mil léguas submarinas, o telefone ringe:

de Brasília, capital federal, a ligação soa em algum

endereço incerto de Tapes, bucólico recanto irrigado

pela Lagoa dos Patos. Peço por Marco Antônio Figueiredo, vulgo

“Fughetti Luz”. Trata-se do pioneiro homem, que, pode-se pon-

tificar, desferiu para o Brasil a “palhetada fundamental” de um

cancioneiro pop sul-rio-grandense. Dos versos “Ouça menina,

essa nova música/ Que será sucesso durante um mês”, Por

Favor, Sucesso virou fenômeno entre a magrinhagem setentista

gaúcha. Composto em 1969, o hino do Liverpool leva assinatura

do poeta Carlinhos Hartlieb, jovem agitador das concorridas

Rodas de Som daquele tempo. Presentemente, Luz – cuja idade

é mistério maior do que ele próprio – faz outro tipo de súplica:

“Por favor, me deixem em paz!”. Calejado, antes mesmo que

eu me identifique como repórter, o cantor adivinha o mote da

prosa. Malfadado, o bate-papo deveria ser a respeito da profusão

de bandas gaúchas que batem em retirada para tentar a sorte

em São Paulo, centro econômico-cultural do país. Tal como o

Liverpool fez ao pôr o pé na estrada rumo ao Rio de Janeiro 40

anos atrás – quando a fuga tinha no eixo Rio-São Paulo o des-

tino mais cobiçado. Majestade que, de certa forma, os cariocas

perderam. A Meca do rock, hoje, é São Paulo. Em seu intratável,

mas divertido, azedume, Fughetti Luz reina ao telefone: “Não

quero mais falar sobre o Liverpool, não”. A negativa só faz miti-

ficar a reputação de punk por natureza do autor de hits como

Olhai os Lírios do Campo, Bixo da Seda e Trem.

Em 1964, ainda crooner do conjunto Flamboyant, Elis Re-

gina também deu no pé. Do IAPI, em Porto Alegre, direto para

o Rio de Janeiro. Atitude rock, sem dúvida. Ainda mais para

uma mulher cuja arte estava recém começando a amadurecer

naquele primeiro ano de chumbo. Bandas e artistas pop (Os

Cleans, Os Brasas, Almôndegas, Hermes Aquino, Rosa Tattooada,

Garotos da Rua – e muitos outros), em suas respectivas épocas,

nem pestanejaram quando convidados a sair de Porto Alegre.

E, nesse segundo decênio, nossos artesãos do pop, outra vez,

estão na crista da onda. Na eleição dos melhores de 2010 feita

pela revista Rolling Stone, três álbuns gaúchos aparecem no top

25: Fresno, Superguidis e – ora, veja só – Vitor Ramil. Afundado

num sofá da casa da Pública, a conversa que levo com Pedro

Metz, cantor e letrista, versa justamente sobre este ir ou não ir.

Na capital paulista, o casarão onde os guris da banda residem,

ensaiam e compõem, fica em meio à boemia da Vila Madalena.

CARA, CORAGEM E ERVA DE CHIMARRÃOMas o papo, assim como o rock de agora, muito pouco tem

de novo. No gaulês Rio Grande do Sul, historicamente afeito

a pelejas de toda sorte, o debate existe desde o dia em que

cunharam a alquebrada insígnia “rock gaúcho”. Nos áureos anos

1980/1990 (boom do rock brasileiro, como gostam de chamar),

muitas bandas gaúchas dançaram embaladas pelo suingado

esquemão bancado pelas grandes gravadoras. Como destino, as

selváticas plagas cariocas e paulistas. Cara, coragem e, no alforje,

FAMA, ARTE E RECONHECIMENTO: QUE FENÔMENO LEVA BANDAS GAÚCHAS À PAULICEIA EM BUSCA

DO DESVAIRADO SONHO ROCK-AND-ROLL?POR CRISTIANO BASTOS (DE SÃO PAULO, GOIÂNIA E BRASÍLIA – MENOS DE PORTO ALEGRE)

JORNALISTA, COAUTOR DE GAULESES IRREDUTÍVEIS – CAUSOS E ATITUDES DO ROCK GAÚCHO

A

música

15

a erva de chimarrão. Grande parte dos retirantes, porém, como

bons filhos à casa retornaram. Em 2001, confessa o frontmen

da Bidê ou Balde, Carlinhos Carneiro, o conjunto passou por altos

e baixos em sua estadia paulista. Dos mais aplaudidos da cena

contemporânea do rock nacional, os guaibenses do Superguidis

se apoderam da famosa frase de Dom Pedro II: “Se é para o bem

de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que ficamos!”,

diz o guitarrista Lucas Pocamacha, parafraseando a História para

justificar permanência em terra pampeana. Ainda.

Em solo bandeirante, Pedro Metz ajeita um carreteiro – “só

para não perder o costume”. Conta que a escolha por São Paulo

foi, acima de tudo, profissional. O perfil macro da cidade pareceu

ideal para as ambições criativas da Pública. Louros, inclusive, re-

pousam na “estante de prêmios” dessa (Re)Pública, onde com alta

rotatividade recebem visitas de congêneres paulistanos. Como

os músicos das bandas Biônica e Rock Rocket. Entre os troféus, a

estatueta arrebatada com o videoclipe de Casa Abandonada na

edição de 2007 do Video Music Brasil. “Nos sentimos desafiados

a tentar”, ressalta Metz, que arremata: “Não curtimos a situação

cômoda que ficar no Rio Grande do Sul representa”. E logo se

reconcilia: “Amamos Porto Alegre”. Parceiro de empreitada, o

baixista Guilherme Almeida (filho do nativista Iraci Rocha) tam-

bém discorre sobre o autoexílio. E fala por todos: “A escolha foi

importantíssima em nossas vidas”. No caso dele, a brincadeira

ainda tem rendido novos sons: além da Pública, Almeida anda

enredado em projetos com Martin (guitarrista da banda de Pitty)

e com Tita Lima – cantora paulistana que é acompanhada pelo

guitarrista Guri Assis Brasil, outro integrante da Pública.

Agora façamos o favor: o caso desfraldado pela banda

porto-alegrense Fresno, estampado em todas as possíveis mídias,

merece ser narrado. Em tempos que a indústria fonográfica

agoniza em mortal concordata, a façanha conseguida por esses

nativos da capital é um admirável triunfo. Autodefinida como

“powerpop-rock-shoegaze” (decerto para espantar a alcunha

14

À FRENTE DA MODA Em 1969, guiados por Mimi

Lessa (E) e Fughetti Luz (D), o Liverpool pavimentou a estrada

dos retirantes gaúchos

Imagem cedida por Nelio Rodrigues

POR FAVOR, SUCESSO!

POR FAVOR, SUCESSO!

POR FAVOR, SUCESSO!

Page 2: "Por Favor, Sucesso!"

16 1716

música

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de “emo”), a Fresno soube elevar seu cartaz para muito além

dos estertores do underground. Para “além das capitais”, como

cantou Humberto Gessinger. A partir do álbum Ciano, de 2006,

foram incontáveis as aparições da Fresno no meio televisivo.

Incalculável, também, é a miríade de downloads já realizados

de suas músicas. Filho de Camaquã, o baixista Rodrigo Tavares

revela que, no álbum seguinte, Redenção, abraçaram o pop

propositalmente. A jogada arrebatou uma fervorosa turba de

novos fãs, ainda mais ensandecidos. E, como sempre rezou a

missa do rock-and-roll, groupies, muitas groupies.

Simbolicamente, é possível orçar o sucesso da Fresno pelas

láureas que acabam empilhando a cada nova investida. Editado

pela Universal Music, Redenção foi Disco de Ouro. Ou seja: ven-

deu, pelo menos, 50 mil cópias. Para crescer o mito da fama, o

dourado prêmio foi pessoalmente entregue pelo produtor Rick

Bonadio – considerado uma espécie de Midas da manufatura

de rock no Brasil. A notoriedade rendeu à Fresno frutos como,

“QUANTAS BANDAS TENTARAM VIR PARA SÃO PAULO E QUEBRARAM A CARA? NA BOA, O SOM DA MAIORIA SERVE APENAS PARA TOCAR EM SEU PRÓPRIO ESTADO. E OLHE LÁ!”GORDO MIRANDA

por exemplo, a participação no programa Estúdio Coca-Cola

Zero, lado a lado com Chitãozinho e Xororó, astros oriundos da

dimensão nem tão paralela assim do gênero “popnejo”. O que

pode ser considerado, no mínimo, psicodélico. A cartada, cabe

lembrar, foi costurada pelo gaúcho Carlos Eduardo Miranda, o

popular “Gordo Miranda”. Miranda é outro mago do pop verde-

amarelo. No pretérito do sucesso, não esqueçamos, o produtor

também curtiu seus tempos de chinelagem. Em Porto Alegre,

integrou formações do Taranatiriça e do Urubu Rei, dirigiu o selo

Banguela (juntamente com os Titãs, e que revelou gente como

Os Raimundos) e fez fama nacional como jurado do programa

Ídolos, quando ainda era exibido pelo SBT. Tal como fazia em

Ídolos, Gordo Miranda não é de poupar neófitos, como deixou

bem claro em depoimento ao livro-reportagem Gauleses Ir-

redutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho, publicado em

2001. “Quantas bandas tentaram vir para São Paulo e quebraram

a cara? Na boa, o som da maioria serve apenas para tocar em

REPUBLICANOS A Pública foi esquadrinhar seu

lugar ao sol na capital paulista. Louros são colhidos no jardim de

casa. Lema: profissionalismo

HITS EM CASCATA O sucesso nacional da Fresno

não foi pedido a ninguém. Fórmula: imaginação, cortes

de cabelo e profusão de êxitos radiofônicos

Guilherme Thiesen Netto

Divulgação

É PRECISO DAR VAZÃO AOS SENTIMENTOS A Bidê pode até “desafinar”, mas o lema da banda justifica “falhas”: “Ame o rock”. Em 2011, os baldes derramarão outro grande álbum no mercado

Andr

é Ca

valh

eiro

Page 3: "Por Favor, Sucesso!"

18 19

música

18 19

seu próprio Estado. E olhe lá!”. No caso da Fresno, nada mau para

uma gurizada que, em 1999, se juntou para fazer suas versões

de hits do hardcore californiano no esquema “só por diversão”.

Há 12 anos, até o nome era outro: Democratas. Em verdade, o

pulo do gato da Fresno começou, mesmo, com os amadores

Democratas. Ou nem tão amadores assim, já que as canções

gravadas caseiramente se espalhavam (como nunca antes havia

acontecido na história do pop nacional) pelo infindável universo

da internet. O recurso: enviar mensagem. O meio: e-mail.

SOBRE CACHORROS E ELEFANTES A festa de lançamento de Gauleses..., em 2001, rolou no Café

Uranus, em São Paulo. As atrações roqueiras foram Cachorro

Grande e Bidê ou Balde. Maior que a curiosidade despertada

pela obra jornalística, o esperado frisson da noite era o show da

Cachorro Grande. A Bidê ou Balde, que não era marinheira de

primeira viagem na cidade, lançava o disco Outubro ou Nada!.

A performance da cachorrada assinalava o debute dos guris no

grandioso – e, então desconhecido – “campinho” que São Paulo

representava. “A Cachorro”, afiança o guitarrista Marcelo Gross,

“sempre lutou para ser uma banda nacional”. Há dez anos, a

jornalista paulistana Flavia Durante, editora do Blah Blah Blog,

resenhou em seu blog: “Estou ouvindo o MP3 deles [Cachorro

Grande] há um mês, sem parar. O mundo está precisando de

mais bandas assim”.

Editor do magazine eletrônico Urbanaque (urbanaque.com.

br), também colunista da revista Rolling Stone, Leonardo Dias

Pereira fala do cimo de sua experiência como produtor de shows.

A marca Urbanaque divulga e promove bandas de todo o Brasil.

Não há preconceito estético, muito menos territorial na proposta.

Na ótica de Leo, São Paulo possui a grande conveniência de ser “o”

polo cultural do Brasil. Que abarca nichos musicais com distintos

alcances de público. Mas, de fato, São Paulo é mesmo a mãe do

rock brasileiro? Se a banda atrai público fora de sua cidade ou

região, a mudança não é necessária, aposta ele. Interessante é

investir no que se pode chamar de temporadas paulistanas. “Pode

ser um fim de semana, uma semana, um mês: o legal é dar as

caras pro público paulistano”, sustenta Leo. Dos destaques do pop

2010, ele menciona os também sulistas do Nevilton. Naturais da

pequena Umuarama, no Paraná, o grupo ganhou recentemente

exposição privilegiada em importantes veículos da cena musical,

como Rolling Stones e MTV. “Rolam coisas muito legais ligadas

à cultura rock na metrópole paulista: casas de shows, revistas,

lojas de roupas. Um mundaréu de atrações. E a tendência é só

crescer”, reforça o editor-produtor.

ROMANTISMO & SARCASMO Para os Volantes, suas canções fazem sentido para o grande público. Em Porto Alegre, o jogo está praticamente ganho

CACHORRADA MEDONHA Desde sempre, a Cachorro Grande

lutou para ser uma banda nacional. Em São Paulo, a estreia foi em

2001: sucesso logo de cara

“SERÁ QUE OS CARAS DE RECIFE PENSAM NESSE TIPO DE QUESTÃO? NÃO DÁ PARA FUGIR: É UMA PROBLEMÁTICA BEM GAÚCHA” CARLOS MALTZ

ELEFANTISMO Para cuidar dos negócios da Pata de Elefante, o power trio montou QG em São Paulo, de onde Prego (D) governa o futuro de sua bem encaminhada carreira solo

Em Porto Alegre, pelo menos, o jogo da banda Volantes

está praticamente ganho. No ano passado, arremataram três

importantes categorias do Prêmio Açorianos de Música: melhor

disco, compositor (Arthur Teixeira) e revelação. Mas Arthur, que

também é o vocalista, assume: a banda nasceu com pretensões

nacionais. “Nossas canções podem fazer sentido para grandes

públicos”, aposta. O teste em São Paulo tem se revelado, no

mínimo, promissor. O single Ouça!, por exemplo, chegou à oitava

colocação no Top 10 da tradicional rádio Brasil2000. A estadia

rendeu, também, o clássico-e-obrigatório “rolê” de shows que

as bandas cumprem pelos inferninhos da cidade, como Studio

SP, Outs e Fun House. Gustavo “Prego” Telles, baterista do power

trio Pata de Elefante, está morando em São Paulo, desde 2004.

É lá que está montado o quartel-general de onde, além de gerir

os negócios da Pata, Prego governa o destino de sua bem en-

caminhada carreira solo. Com o álbum Do Seu Amor, Primeiro É

Você Quem Precisa, rebento romântico no qual canta e compõe,

Prego se anuncia como grata surpresa. Daniel Mossman e Gabriel

Guedes, seus elefânticos comparsas na Pata de Elefante, por sua

vez, estão constantemente no ir-e-vir dos aeroportos. Gustavo

Prego define a mudança para São Paulo como imperativa. “Foi

aqui que as coisas começaram a dar certo para nós. Fora o in-

egável: aqui é o centro econômico-cultural do país”.

NA ESTRADA, MUITO ALÉM DE SÃO PAULOSalto para a capital goiana, centro-oeste do Brasil. Vou

acompanhar a 16ª edição do Goiânia Noise Festival – o mais

importante encontro de rock independente do Brasil, ao lado

Divulgação

Divulgação

Danilo Christidis

Page 4: "Por Favor, Sucesso!"

20 21

do Abril por Rock, de Recife. Para variar, a Superguidis é a

festejada atração deste evento, cuja tônica não é outra

senão o som de guitarras em volume excruciante. Por aqui,

na terra do sertanejo, os Guidis não são novatos. Já pisaram

no chão vermelho-escarlate de Goiânia uma dúzia de vezes.

Eu mesmo, em três ou quatro oportunidades, presenciei a

catarse que é vê-los vazando suas agridoces microfonias

para deleite da juventude goiana, sempre faminta por rock.

Entre uma cerveja e outra, interpelo o guitarrista Andrio

Maquenzi no senegalês mormaço goiano. Com tamanho

reconhecimento, por que insistir com a capital gaúcha? “Eu

tenho uma vida plena em Porto Alegre, ainda que São Paulo

seja uma cidade legal. Há tanta gente lá que, certamente,

haverá nicho para a música de todo mundo.” Maquenzi

acredita que o fluxo do cenário independente está tão

descentralizado que não vale a pena mudar de mala e

cuia. Lucas Pocamacha, o outro guitarrista, explica-se: “Eu

tenho um assunto inacabado em Porto Alegre. Chama-se

Engenharia Elétrica. Se é para passar trabalho, prefiro ser

engenheiro”. Naquela noite, antes de subir ao palco (para

tocar acompanhado do Plebe Rude Phillipe Seabra, produtor

dos aclamados álbuns dos Guidis), Andrio Maquenzi sorri

LONGE DEMAIS DAS CAPITAIS Primeiro álbum dos Engenheiros do Hawaii foi Disco de Ouro. “Na época, nem Caetano Veloso tinha um”, conta Carlos Maltz

ante as atuais vitórias: “Está mais do que bom”.

Falando em engenharia, “essa é uma questão bem

gaúcha”, filosofa o ex, porém eterno, Engenheiro do Hawaii

Carlos Maltz. Ao inverso de Pocamacha, Maltz abandonou

a engenharia duas vezes: saiu da faculdade de Engenharia

para formar... os Engenheiros. Tempos depois, largou a

banda e se converteu em psicólogo junguiano e renomado

astrólogo em Brasília. Abancado à sua frente – como fosse

eu o entrevistado –, Maltz se sai com um sofisma pop-

gaudério da maior legitimidade: “Será que os caras de

Recife pensam nesse tipo de questão? Não dá pra fugir:

está encilhado em nossa história”. Os Engenheiros do Hawaii

tiveram – ainda tem – grande protagonismo na concepção

do modelo vigente. Nos anos 1990, é bom lembrar, eram,

de fato, a maior banda brasileira. É irônico pensar que a

estreia fonográfica do grupo foi seu eterno e hour concours

recalque: Longe Demais das Capitais. “Adorávamos dizer

que ficaríamos em Porto Alegre... Quando nos demos conta,

éramos uma banda do Brasil e nem sabíamos.” Mais insano

ainda é o fato de que ninguém avisou para todo o Brasil que

existia a tal questão gauchesca. “Eles nunca entenderiam,

mesmo”, completa o baterista-astrólogo.

POP OU POP Carneiro, da Bidê ou Balde: “Somos uma banda pop. Que se alimenta até de coisas nada pop, mas que enxerga viabilidade pop em tudo que gosta”.

“OS ARTISTAS GAÚCHOS NÃO SE EMPENHAM PARA AVANÇAR SOBRE O MERCADO NACIONAL. E NEM DEVERIAM: O RIO GRANDE DO SUL É GRANDE O SUFICIENTE” RICARDO ALEXANDRE

Carlinhos Carneiro conta que, na estrada de dez anos

da Bidê ou Balde, morar em São Paulo representou “vários

lances”. Em 2001, a banda rumou para o sudeste com tudo

financiado pela gravadora (a extinta Abril) e pelo produtor,

o faraó Manoel Poladian. Durante um ano, desfrutaram

benesses que geralmente são concedidas às bandas que

assinam com grandes gravadoras: casa, comida e assesso-

ria de imprensa pagas, por exemplo. Mas nem tudo eram

flores. Na época, discorre Carneiro, pintaram dificuldades

para transpor o jeito como a Bidê “fazia as coisas”. Poladian

até queria que os bidezes ficassem por mais tempo em

São Paulo. “Mas temíamos a tal da geladeira. Voltamos

praticamente fugidos.” Nesse aspecto, em especial, Carneiro

sempre se encantou com o jeito mineiro de ser. Ou seja:

“Entre estar ou não no eixo Rio-São Paulo, eles geralmente

preferem ficar em Minas”, lembra. Para o compositor Mar-

celo Birck (Graforréia, Prisão de Ventre), em qualquer lugar

do planeta a matemática que rege o mercado musical

é simples. Obrigatoriamente, quem quer trabalhar com

música autoral deve saber: “O mercado carece ser criado a

cada nova circunstância”. Não há regras, atalhos ou estra-

tégias. Gestão, no entanto, é fundamental. Em relação ao

música

Ana Volpe Divulgação / Monstro Discos

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RIFFS E MICROFONIAS Os guaibenses Superguidis estão léguas distantes de serem chamados “indies de apartamento”. Eles têm a cara da “juventude suburbana emergente”.

Page 5: "Por Favor, Sucesso!"

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centro do país, o Rio Grande do Sul, pondera Birck, ainda

oferece oportunidades muito embrionárias: “Para vencer o

amadorismo, há muito que se trilhar”.

VALOR DE PERMANECER À MARGEME São Paulo? Será que a megalópole deseja os artistas

gaúchos tal como eles a cobiçam? Na crítica do diretor de

redação da revista Época São Paulo, Ricardo Alexandre, o

mercado gaúcho é autossustentável. Alexandre (também

autor do hit literário Nem Vem Que não Tem – A Vida e o

Veneno de Wilson Simonal, Prêmio Jabuti de melhor biogra-

fia) não crê numa teoria de resistência paulista. O jornalista,

que já editou a revista Bizz, elenca algumas bandas que se

deram bem com o movimento vai-e-volta: Engenheiros, Ne-

nhum de Nós, Cachorro Grande, Júpiter Maçã, Wander. Para

ele, o “grande lance” é que, via de regra, os artistas gaúchos

não se empenham suficientemente para avançar sobre o

disparatado mercado nacional. “E nem deveriam”, apregoa,

para depois completar: “O mercado do Rio Grande do Sul é

grande o suficiente. Muito profissional e interessante. Falei

isso para o Julio Porto [ex-Ultramen] num show deles, no Bar

Opinião: ‘Tá vendo essa gatinha que veio te pedir autógrafo?

Se a gente estivesse em São Paulo, ela estaria num show

do Daniel!’. Por que uma Ultramen deixaria de tocar num

Opinião lotado para tocar num bar vazio em São Paulo? Por

que deixaria de prestigiar a Rádio Atlântida para ter de pagar

jabá para não (!) tocar na Mix FM? Sem chance”. “Sem tirar

nem pôr: é o que sempre pensei”, referenda Gustavo “Mini”

Bitencourt, guitarrista dos Walverdes. Encontro Mini, Patrick e

Embora “invisível”, uma integração extremamente profissional

afirma-se a cada temporada no panorama do rock independente

sul-americano. Ou seja, São Paulo não é a única ”estrada” para

as bandas trilharem. A música latina, enfim, movimenta-se para

transpor a fissura geocultural que aparta países da América do

Sul. Cambiando experiências e sonoridades, roqueiros argentinos,

uruguaios, brasileiros, colombianos e de outras plagas, também

ganharam o trânsito das Américas. Essa é a aposta do produtor

do festival El Mapa de Todos, o gaúcho Fernando Rosa, cuja entrevista pode ser conferida com exclusividade no site de APLAUSO (aplauso.com.br). A primeira edição do festival

aconteceu em Brasília, em 2008. A próxima será em Porto Alegre,

em abril. Rosa, que também edita o portal Senhor F (senhorf.

com.br), anuncia a presença de artistas oriundos de variadas

correntes musicais: “Do Peru, por exemplo, estamos trazendo

a banda Bareto. Na edição porto-alegrense, avançaremos até a

Venezuela com o grupo de surf-rockabilly Los Mentas”, revela, em

primeiríssima mão.

A “Urbanaque Apresenta”, encontros roqueiros promovidos

pelo pessoal do site paulistano Urbanaque (urbanaque.com.br),

sempre procurou em suas edições trazer bandas e artistas de fora

de São Paulo – e também do próprio rock, como conta o produtor

Leonardo Dias Pereira (em outra entrevista no site de APLAUSO). Antes de tudo isso, o “rock gaúcho” gozou, também,

de seus momentos de “pré-sucesso”. Lançado em fita K-7, Último

Verão, álbum de estreia de Julio Reny, apresentava o petit hit Cine

Marabá. A canção tocou bem nos primórdios da Ipanema FM, em

Porto Alegre, e, tanto quanto, na extinta Fluminense, a “maldita”,

que irradiava os “venenos” de Niterói, Rio de Janeiro. Cine

Marabá, aliás, é um dos fonogramas cedidos por Reny que estão

reunidos na compilação “Gauleses Irredutíveis merecem Aplauso”, com a qual a revista presenteia seus leitores. Editada em dois volumes, a coletânea traz surpresas de artistas

e bandas como Rosa Tattooada, Almôndegas, Pupilas Dilatadas,

Loomer, Júpiter, Os Replicantes, Irmãos Rocha e Lovecraft. Me

Deixa Desafinar, novo single powerpop da Bidê ou Balde, é o hit

certeiro da coletânea. Mimi Lessa, lendário guitarrista do Liverpool

e do Bixo da Seda, hoje radicado no Rio, liberou duas gemas: uma

delas é Por Favor, Sucesso, hino que dá nome a esta reportagem.

A outra é uma faixa inédita da banda carioca de Mimi, Orquestra

de Guitarras: “São quatro destruidoras guitarras”, avisa, de

antemão. O leitor poderá fazer o download gratuito de “Gauleses Irredutíveis merecem Aplauso” no site da revista. Os álbuns virtuais serão encartados com texto de

apresentação e informações sobre os fonogramas, tais como ficha

técnica e curiosidades que circundam as gravações. Os extras, que

virão em anexo nos discos, serão uma floreada iconografia de

Marcos – a poderosa tríade que forma os Walverdes – no bar

Outs, endereçado na Augusta, uma espécie de Osvaldo Aranha

em Porto Alegre, só que bem mais trash. A banda lança na

casa o recente Breakdance. Mini e eu discorremos sobre a

ponte, bem sólida, que musicalmente conecta Porto Alegre a

São Paulo. “Em Porto Alegre, o ‘mainstream local’ conta com

uma rede de rádios fortes, a RBS, e um consistente circuito

de shows no interior”. São equações assim que seguram as

bandas em sua cidade natal: sem abandonar suas vidas,

elas conseguem se estabelecer profissionalmente. “Parte do

sucesso do manguebeat”, considera Mini, “calhou porque os

caras precisavam vir para cá”, assinala. Caso contrário, a turma

de Chico Science e Fred04 minguaria em Recife.

E o rock de hoje: ainda carece de uma sonoridade

brasileiro-tradicional-pop-contemporânea? “De certa forma,

o Júpiter Maçã fez isso. E, embora ele não tenha estourado, A

Sétima Efervescência Intergalactica [primeiro lugar no rank-

ing Melhores do Rock Gaúcho, feito por APLAUSO em 2007]

é das peças fonográficas mais influentes registradas no final

do milênio”, rememora Mini. No Outs, apenas meia dúzia

de gatos pingados apareceram para prestigiar os Walverdes.

Metade eram gaúchos. Mas não faz mal: como de costume,

o desempenho do trio é perfeito para o que se propõe fazer.

“Não adianta ser a banda certa na hora e no local errados”,

filosofa o guitarrista, na friorenta madrugada paulistana, meio

embriagado com apenas uma caipirinha. Outra vez, sente-se

feliz por estar no seleto rol dos afortunados que, apesar de

todas as intempéries e independentemente de lugares, man-

tém sua fé no imortal elixir da juventude: o rock-and-roll.

WALVERDES: CONCISO E EFICIENTE Mini: “Se há 15 anos a gente

pudesse fazer turnês por nordeste, sudeste e centro-

oeste, iriam rir. Mas aconteceu”

fotos, imagens e velhos flyers das bandas.

Mas, voltando ao eixo São Paulo-Porto Alegre/Porto Alegre-

São Paulo, há muitas outras histórias de sucesso. Ou, pode-se

dizer, quase sucesso. Algumas ficaram só na promessa. O caso

mais misterioso é o do publicitário e músico Hermes Aquino. Hoje,

ele vive em Porto Alegre, onde tem uma empresa especializada

em fazer jingles. Hermes foge das entrevistas, bem ao “estilo

João Gilberto”. Eu mesmo tentei falar com o homem umas tantas

vezes – sem sucesso. Hermes Aquino, para quem não sabe, é

autor do hit Nuvem Passageira. Em 1976, a canção bombou com

a novela global O Casarão. Você Gosta?, parceria sua com Tom Zé,

por exemplo, foi gravada pelo Liverpool, e Planador, pela banda

paulista Os Brazões. Na Capitol, que lançou seu segundo LP, Santa

Maria, Hermes desentendeu-se com a gravadora.

Editado em 1990, o primeiro álbum da Rosa Tattooada,

homônimo, foi lançado pela gravadora Nova Idéia e a produção foi

do nenhum de nós Thedy Corrêa. O disco emplacou nacionalmente

a balada O Inferno Vai Ter Que Esperar, que tocou como água nas

rádios gaúchas e, por muito tempo, foi primeiro lugar em vários

playlists. O êxito rendeu à banda o “sonho” de abrir, em duas

turnês diferentes, shows feitos pelo Guns N’ Roses no Brasil.

De todas essas histórias, uma das que mais renderam foi a do

ex-Os Brasas Franco Scornovacca. Depois que a banda terminou,

Franco, em São Paulo, virou produtor e empresário musical – além

de pai do conhecido trio de irmãos que atendem pela sigla KLB.

Existe um que pouco – ou nada – é lembrado no Rio Grande

do Sul. Ele atende pela alcunha de Luís Vagner, o “Guitarreiro”.

Também saído do Os Brasas, em 1971, o guitarrista tocou no

álbum Vida e Obra de Johnny McCartney, de Gileno Azevedo.

Outra parceria de sucesso foi com o samba-roqueiro Bebeto. Em

1973, Vagner escreveu Camisa 10, cantada pelo sambista santista

Luiz Américo, que se tornou um hino futebolístico. Mas voltemos

ao rock. Em parceria com Tom Gomes, Luís Vagner fez uma das

mais sublimes letras do gênero no Brasil: Sílvia 20 Horas Domingo,

canção que o “príncipe” Ronnie Von imortalizou em seu cultuado

álbum psicodélico Ronnie Von nº 3. De poético primor pop, os

versos cantam: “Que alegria! Você estará comigo/Domingo que

vem/Ficaremos sorrindo/ Eu darei com carinho uma flor pra você/

Pra lembrar marquei na agenda/ Silvia, não esquecerei”. Mas a

vinheta que antecede tais versos comprova o quanto Vagner tem

(assim como todos os gaúchos?) de “sangue paulistano”. O trecho,

na verdade, é um reclame comercial: “Bar Pires, Bar Pires/Um bar

pra frente/Um bar que é quente/A onda na Augusta é comer e

beber/Só no bar Pires/Entre você também na onda do Bar Pires/

Comes e bebes bem cafonas no coração da Augusta”. Em Porto

Alegre, aliás, assim como na Augusta, tais coisas continuam

quentes até hoje – ao menos para o rock.

GAULESES DE SUCESSO

música

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