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POPULAÇÕES E TERRITÓRIOS Miguel Padeiro Professor Auxiliar, Universidade de Coimbra 4. A transição demográfica

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  • POPULAÇÕES E TERRITÓRIOS

    Miguel Padeiro

    Professor Auxiliar, Universidade de Coimbra

    4. A transição demográfica

  • O modelo da transição demográfica

    • O que é um modelo?• Uma representação, normalmente simplificada, da realidade (seja

    objectiva, subjectiva, abstracta, material…)

    • Não é uma teoria: não explica, descreve apenas

  • O modelo da transição demográfica

    As origens do modeloWarren Thompson (1929) nota as alterações significativas das taxas de natalidade e de mortalidade no mundo

    O conceito de transição demográfica é popularizado a partir de 1945 por Kingsley Davis e Frank Notestein

    É na sua essência um modelo histórico baseado nos factos ocorridos na Europa e América do Norte entre os séculos XVIII e XX

  • Antes da transição demográfica

    Crescimento demográfico lento: +0,04%/ano:

    • 9 mil BCE: 3,56 milhões

    • 2 mil BCE: 72 milhões

    • Ano 0: 188 milhões

    • 500-1500: a população passa de 210 a 461 milhões

  • Antes da transição demográfica

    • Variabilidade da natalidade e da mortalidade• Inglaterra: 1 milhão em 1085, 5-7 milhões no início do século XIV,

    apenas 3 milhões em meados do século XV (crises de subsistência, guerras, epidemias)

    • Peste Negra

  • Antes da transição demográfica

    Esperança de vida por volta de 1200: 35-40 anos

    Por volta de 1300, a Europa encontra-se numa situação malthusiana: = uma situação demográfica e económica em que não se pode suportar mais população.

  • A Peste Negra

    Entra pela Sicília (1347), vinda de Ásia

    Estimativas: entre 25 e 40% da população europeia desaparece

  • A Peste Negra

    Várias ondas ao longo do século: 1347, 1360, 1371, 1381, 1388, 1398.

    Pouco mais de 300 anos depois, 70 mil pessoas morrem em Londres (1664-1665)

    PeríodoNúmero de

    casos (crises)

    1550-99 1 764

    1600-49 2 158

    1650-99 750

    1700-49 214

    1750-99 61

    1800-49 17

    Fonte: Biraben, 1975

  • A Peste Negra

    RenascimentoTerras mudam de donos

    Criatividade, descobertas

    Efeitos de longo prazo: diminuição da população (da mão-de-obra), subida dos salários, estimulação da inovação técnica, expedições marítimas, conquistas coloniais e acumulação de capitais, progressão do nível de vida

    200 anos

  • Pouco antes da transição demográfica

    • A alteração gradual do século XV• Europa (20% da população mundial)

    • Colónias britânicas enfrentam constantemente penúrias de mão-de-obra, levando à adopção da mecanização cada vez que é possível, com efeitos positivos na produtividade

    • Aumento da população, melhoria da educação e das condições de vida

    • Revolução científica, revolução industrial

    • Américas e África vêem a população diminuir com a escravatura e a difusão de doenças vindas de Europa

    • China (30% da população mundial)• Isolacionismo: interdição de expedições marítimas, Grande Muralha

    • Abundância de mão-de-obra, salários em estagnação ou diminuição, investimento e inovação técnica praticamente ausentes

  • Antes da transição demográfica

    • Mas as pessoas continuavam a viver mal. Por volta de 1600:• 1/3 dos bebés morrem no primeiro ano

    • 1/3 sobrevive até à idade da reprodução < 1 ano < 14 anos

  • Antes da transição demográfica

    • Crescimento demográfico lento• Produtividade da terra, aumentava muito

    lentamente, tal como a população. Os ganhos de produtividade transformavam-se em ganhos populacionais mas as condições de vida não melhoravam

    • As cidades perderiam 1/3 da população a cada geração, na ausência de migrações

    • Infanticídio e abandono muito frequentes na Europa. Milão 1840-1860: 1/3 dos filhos de casais casados eram deixados em em casas de expostos (onde a taxa de mortalidade rondava os 100%); mais de ½ dos filhos em classes operárias; quase todos os filhos ilegítimos

  • Antes da transição demográfica

    Contexto de violência constante

    • Guerras, epidemias, vulnerabilidade às condições climáticas• Violência em parte religiosa: 1531-

    1657, com resultado numa forte separação norte-sul católicos / protestantes

    • Ideia de família e visão da morte muito diferente do que é hoje

  • Antes da transição demográfica

    Tempos pré-científicosDesconhecimento da doença e do funcionamento do corpo

    Desinteresse em relação ao mundo real, peso da religião

    Higiene e saneamento ausentes

  • Início da transição demográfica

    A partir de 1700 aumenta de repente

    Em 200 anos a taxa de mortalidade diminui, e em resposta a de natalidade => transição demográfica => consequências demográficas

  • Início da transição demográfica

    • Século XVIII: Iluminismo• Discurso racional

    • A doença deixa de ser vista como castigo divino, já se pode explorar o corpo humano

    • Aparecimento de dados estatísticos

    • 1750: saneamento

    • 1790s: casas de banho

    • Vacinas (vacinação como prevenção: 1796)

    • Postura de melhoria dos sistemas existentes: do vapor (James Newcomen 1711) à pressão, sistemas de pistões, comboio (James Watt)

    • Política: muda o sistema hierárquico Deus / Rei / povo, impõe-se a ideia de democracia

  • A transição demográfica

    • Uma definição breve• A transição demográfica é a evolução de uma população, caracterizada

    pela passagem progressiva de um equilíbrio antigo marcado por elevadas taxas de natalidade e de mortalidade, para um equilíbrio novo marcado por baixas taxas de natalidade e de mortalidade.

    • Taxas de natalidade e de mortalidade

    𝑇𝑁 =𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑣𝑖𝑣𝑜𝑠

    𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙× 1000 𝑇𝑀 =

    𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 ó𝑏𝑖𝑡𝑜𝑠

    𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙× 1000

    Expressa em ‰ (por mil habitantes) Expressa em ‰ (por mil habitantes)

  • A transição demográfica

    • Do equilíbrio malthusiano antigo ao moderno• Antigo regime demográfico:

    Recursos

    agrícolas

    reduzidos

    Baixa

    esperança de

    vida

    Dificuldades,

    péssimas

    condições

    de vida

    Elevada mortalidade

    Fecundidade

    elevada, que garante

    +/- a substituição de

    gerações

  • A transição demográfica

    • Do equilíbrio malthusiano antigo ao moderno• Regime demográfico moderno (pós-transição): baixo nível de

    natalidade e de mortalidade.

    Nível de

    vida

    elevado

    Fecundidade

    baixa

    Mortalidade

    baixa

  • Fase 5Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4

    BaixaEm queda

    Em queda rápida Queda menos rápida

    Novo aumento

    BaixaBaixa

    Elevada

    Elevada

    ElevadaTaxa de natalidade

    Taxa de mortalidade

    Taxa de natalidade

    Taxa de

    mortalidade

    População

    total

    Taxas de

    natalidade e de

    mortalidade (por

    1000 hab. e por

    ano)

    ‰ Crescimento natural

    Crescimento natural Estável ou com

    ligeiro aumentoAumento muito

    rápido

    Aumento menos

    rápido

    Em diminuição e por

    fim estávelEstável ou ligeiro

    aumento

    Por mil

  • A transição demográfica

    • Forças e fraquezas do modelo• +++ Simplicidade do modelo

    • +++ Robustez: descreve com eficácia as observações recentes; raramente desmentido pela realidade

    • --- Diversidade das situações

    • --- Poder explicativo limitado

    • --- Dificuldade em projectar-se no futuro para os países que já sairam da transição

  • A transição demográfica

    • Difusão espacial• Difusão progressiva aos restantes países europeus. Começou na Europa

    NO (primeira diminuição 1700s), e estendeu-se ao continente europeu (100 anos depois), à América do Norte, à Austrália e Nova-Zelândia.

    • Difusão aos países em desenvolvimento

  • A transição demográfica

    • Causas explicativas: porque aconteceu a transição demográfica?• Diminuição da mortalidade => diminuição da

    fecundidade (adaptação das famílias)

    • Urbanização: aumento da população urbana

    • Desenvolvimento económico e alteração das profissões: para muitos, deixa de ser necessário ter filhos para ajudar no trabalho do campo

  • A