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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Vanusa dos Reis Coêlho Rodrigues REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE VENDAS: IDENTIFICANDO AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS À FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO VENDEDOR MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO SÃO PAULO 2015

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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Vanusa dos Reis Coêlho Rodrigues

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE VENDAS:

IDENTIFICANDO AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS À

FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO VENDEDOR

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

SÃO PAULO

2015

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Vanusa dos Reis Coêlho Rodrigues

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE VENDAS:

IDENTIFICANDO AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS À

FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO VENDEDOR

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência para a

obtenção do titulo de MESTRE em Educação:

Psicologia da Educação, PUCSP, sob

orientação da Profa. Dra. Clarilza Prado de

Sousa.

SÃO PAULO

2015

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

__________________________________

__________________________________

__________________________________

__________________________________

AGRADECIMENTOS

Agradeço

a Deus todas as oportunidades e realizações em minha vida. Esta é

mais uma da qual estou profundamente agradecida.

a professora Doutora Clarilza Prado de Sousa a orientação, o tempo

dispensado à leitura dos textos e a alegria que tanto nos cativa e nos motiva a

continuar.

aos professores Doutores Laurinda Ramalho de Almeida e José Roberto

Montes Heloani as valiosas observações quando do exame de qualificação que

me auxiliaram a agregar valor à redação final deste trabalho.

a professora Euricilda Prado Del Bel Beluz e a colega Karina Alves

Biasoli Stanich a enorme ajuda quando da preparação e processamento dos

dados no software ALCESTE.

ao meu marido Beto, todo o suporte e apoio durante todo o curso.

aos meus filhos Renan e Renato, meus príncipes, a compreensão e

aceitação de minha ausência em alguns momentos de nossa convivência

íntima. Durante todo o curso e na confecção desse trabalho, muitas foram as

horas em que fiquei ausente e poucas foram as queixas, mas jamais injustas.

ao meu irmão Velton, o auxílio nos momentos em que foram necessários

seus conhecimentos tecnológicos e na correção do abstract.

às colegas, em ordem alfabética: Carolina, Denise e Noiza a parceria e

companheirismo durante essa jornada. Sem vocês essa empreitada não teria

tido a mesma alegria. Valeu!

a todas as colegas de curso que me auxiliaram de uma forma ou de

outra, o meu abraço imenso e a mais profunda gratidão.

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo geral analisar as representações sociais dos profissionais de vendas sobre sua profissão e, como objetivo específico, identificar as competências que esses sujeitos consideram necessárias a sua formação profissional. Tendo em vista a importância cultural e a profundidade social dessa profissão, foi no âmbito da Teoria das Representações Sociais, que foram encontrados referenciais para buscar compreender, por exemplo, como valores, atitudes, conhecimentos e informações orientam a conduta destes profissionais. Esta pesquisa envolveu a elaboração de questões para a realização de entrevista semiestruturada com oito sujeitos, de dentro e fora do estado de São Paulo, que constituíram um grupo de vendedores cuja área de atuação envolvia desde vendedores responsáveis por ir em busca dos pedidos de compra, passando por vendedores que trabalham em lojas e vendedores de serviços. Para a análise dos dados utilizou-se o software ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d.um Ensemble de Segments de Texte), um programa de análise de dados textuais que tem como finalidade descobrir a informação contida em um texto. A partir dessa análise verificou-se que para os profissionais entrevistados a profissão de vendas traz satisfação e auto realização. Propicia alta empregabilidade por ser de ampla atuação na sociedade e necessária para as organizações, mas que, no entanto, não recebe o devido reconhecimento social. Para esse grupo, os vendedores de maior sucesso são os que falam pouco, ouvem mais e priorizam a satisfação, assim como, o estabelecimento de um relacionamento de confiança com o cliente, porém, para alcançar esse e outros diferenciais é necessário que o vendedor desenvolva suas competências através do aprendizado contínuo, surgindo a visão de um homem/trabalhador inovador, qualificado, atualizado que busca aprender continuamente para atender as demandas desta profissão que é marginalizada pela sociedade, fato com o qual os profissionais da área tem que lidar em sua prática diária. Palavras-chave: Representações Sociais. Profissional de Vendas. Educação

ABSTRACT

This work aims to analyze the social representations of the sales professionals, and as a specific goal, to identify the skills that these professionals consider necessary for their vocational training. Given the cultural importance and social depth of this profession, it was in the Theory of Social Representations, that references have been found to try to understand, for example, how values, attitudes, knowledge and information guide the conduct of these professionals. This research involved the preparation of questionnaires for conducting semi-structured interviews with eight subjects, from within and outside the state of Sao Paulo, who constituted a group of salesmen whose areas of expertise involved from vendors responsible for obtaining new purchase orders, through vendors working in shops and service vendors. To analyze the collected data we used the ALCESTE software (Analysis of the co-occurring lexemes within the simple statements of a text), a textual data analysis program that aims to discover the information contained in a text. From this analysis it was found that for the professionals interviewed the sales profession brings satisfaction and self-realization. By having a wide role in society and being essential for organizations, it provides high employability; but still it does not receive proper social recognition. For this group, the most successful salesmen are those who speak little, listen more and prioritize satisfaction, as well as the establishment of a trusting relationship with the customer. However, to achieve this and other advantages, it is necessary that the salesmen develop their skills through continuous learning, resulting in the vision of an innovative man/worker, qualified, updated and seeking to learn continuously to meet the demands of this profession that is marginalized by society, a fact with which the professionals have to deal in their practice daily. Key words: Social Representations . Sales professional. education

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Gráfico do ALCESTE da subdivisão do corpus em classes especificas

que tratam da imagem da profissão de

vendedor...................................................................................................................

Figura 2 – Gráficos do ALCESTE da repartição das UCES de cada classe e

numero de palavras analisadas por classe sobre a imagem da profissão de

vendedor...................................................................................................................

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Evolução das sociedades.......................................................................

Quadro 2 - Mudanças e competências/habilidades requeridas................................

Quadro 3 - A evolução da venda...............................................................................

Quadro 4- Traços que impressionam/Aborrecem nos vendedores...........................

Quadro 5 – Perfil dos entrevistados..........................................................................

Quadro 6 – Especificação da Entrevista...................................................................

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................

CAPÍTULO I – SOBRE O MUNDO DO TRABALHO ...............................................

CAPÍTULO II – SOBRE A PROFISSÃO DE VENDAS.......... ..................................

CAPÍTULO III – SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS..... .............................

CAPÍTULO IV – ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA... ......................

4.1 - O tema e o problema de pesquisa.............. ...................................................

4.2 - A população de pesquisa, os sujeitos particip antes e seu perfil...............

4.3 - Os instrumentos e os procedimentos da pesquis a.....................................

4.4 - O processo de aplicação do instrumento de pes quisa...............................

4.5 - Procedimentos de tratamento dos dados de pesq uisa...............................

CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA......... ...............................

5.1 - Aproveitamento do corpus e classificação................................... ...............

5.2 – Análise das Classes.......................... .............................................................

5.2.1 – Classe 1 – O perfil.........................................................................................

5.2.2 – Classe 2 – Os valores...................................................................................

5.2.3 – Classe 3 – O desempenho............................................................................

5.3 – Síntese analítica de todas as classes........ ..................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... .......................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................

ANEXOS...................................................................................................................

ANEXO A - As pr incipais teorias do pensamento administrativo e sua visão

de homem/trabalhador............................... .............................................................

ANEXO B - Escolas de Planejamento – A evolução do pensamento

Estratégico........................................ .......................................................................

ANEXO C - Entrevista piloto........................ ...........................................................

APÊNDICES.............................................................................................................

APÊNDICE A - Análise de Conteúdo................... ..................................................

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INTRODUÇÃO

Meu percurso acadêmico foi permeado por escolhas e decisões que

me levaram a atuar na área da Educação Organizacional. Iniciei minha

trajetória graduando-me em Ciências Contábeis, em Letras/Inglês e

especializando-me em Psicopedagogia Clinica e Institucional.

Após atuar durante 15 anos como Contadora no Banco Bamerindus

do Brasil, entrei na área da Educação, inicialmente, como professora de

Língua Portuguesa e Inglesa e, em seguida, como psicopedagoga clínica.

Com a crescente valorização da aprendizagem pelas organizações e

a preocupação em organizar e orientar o aprendizado, tanto individual

quanto coletivo dos colaboradores, fui convidada para atuar como

psicopedagoga assessora em uma empresa de médio porte. Não tive

dúvidas de que encontrava ali um desafio. Foi um desafio que aceitei, pois,

acreditei que daria certo.

Imersa nesse novo contexto, senti necessidade de mais estudo e

aperfeiçoamento na área, então, gradativamente fui investindo em meu

aprimoramento profissional. Cursei Gestão Estratégica de Recursos

Humanos, MBA com ênfase em Recursos Humanos, Executive Business

English em Londres/RU, Especialização em International Manegement and

Leadership na Fondazione CUOA/Itália, dentre outros cursos.

Durante esse percurso foi observado que com o advento da

globalização o papel do ser humano nas empresas vem passando por

transformações. O ser humano vem deixando para trás funções apenas

cumpridoras de padrões e procedimentos, envolvendo-se cada vez mais em

funções em que há a necessidade de multiplicação de conhecimentos que

tragam um diferencial competitivo para as organizações.

Deste modo, a aprendizagem passa a ser de importância capital para

a sobrevivência das empresas, já que amplia o conhecimento das pessoas,

desenvolve aptidões, melhora a performance, permite assumir novas

responsabilidades além de proporcionar satisfação pessoal.

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As organizações, associações de pessoas em torno de uma atividade

com fins específicos, mas, também, um ambiente educativo, mais do que

nunca valoriza a aprendizagem como estratégia de negócios tendo como

enfoque básico o alinhamento de objetivos educacionais e de negócio.

As empresas levam em consideração a educação em seu sentido

mais amplo como descreve Abbagnano:

Em geral, designa-se com esse termo a transmissão e o aprendizado das

técnicas culturais, que são as técnicas de uso, produção e comportamento,

mediante as quais um grupo de homens é capaz de satisfazer suas

necessidades, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e

biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado e

pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma

sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de

geração para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir

essa transmissão chama-se educação. Esse é o conceito generalizado de

educação que se tornou indispensável não só nas sociedades chamadas

civilizadas, mas também nas sociedades primitivas. (ABBAGNANO, 2000,

p.305-306).

Assim, a educação corporativa é uma forma de educação que não

está diretamente relacionada ao contexto escolar, sendo esta modalidade de

educação denominada Educação Não Formal.

Jacques Dellors (1998) esclarece que o conceito de educação em sua

forma mais ampla aparece como uma das chaves de ingresso ao século

XXI, ou seja, é a porta para o sucesso das pessoas na nova ordem

econômica mundial. Esta é a justificativa dos estrategistas empresariais para

a difusão da educação nas universidades corporativas, como um modelo de

projetos de educação continuada, considerando as aptidões estratégicas,

táticas e operacionais.

De acordo com Antonello et al (2011), a ampliação do conhecimento

organizacional está baseada na obtenção de conhecimentos pelos sujeitos.

Assim, considera-se “aprendizagem organizacional” a aquisição de novos e

contínuos conhecimentos que irão capacitar a empresa a criar práticas que a

ajudarão a alcançar seus objetivos de negócio. Essa aprendizagem pode

ocorrer dentro ou fora do contexto organizacional, de forma direta ou

indireta, e colabora para o sucesso da organização.

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Com a Educação Corporativa, as organizações buscam gerenciar não

somente seus recursos tangíveis, mas também os recursos intangíveis, ou

seja, o conhecimento das pessoas.

Para Meister, a Educação Corporativa é o:

guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e a educação de

funcionários, clientes e fornecedores, buscando otimizar as

estratégias organizacionais, além de um laboratório de

aprendizagem para a organização e um pólo de educação

permanente. (MEISTER, 1999, p. 8).

E, de acordo com Eboli (2002), a Educação corporativa busca formar

profissionais mais capacitados a solucionar problemas através do

conhecimento cognitivo.

A Educação Corporativa surgiu para ajudar a construir competências,

resolver a questão da capacitação, especialização e, em muitos casos, até

da formação dos profissionais, pois, vem sendo observado pelas

organizações uma defasagem na formação específica do profissional recém-

formado. Deste modo, a educação passou a receber atenção, não somente

das instituições de ensino, mas, também, das empresas, pois, os sistemas

educacionais são necessários para desenvolver o novo perfil de trabalhador

para a era do conhecimento, enfocando, além do conhecimento técnico e

instrumental, o desenvolvimento e construção de competências que para

Perrenoud (1999) significa aprender a identificar e a encontrar os

conhecimentos pertinentes de interferência para agir na prática.

Assim, de acordo com Rodrigues (2012), a Psicopedagogia

Institucional (quando ocorre dentro de uma empresa ou organização

denomina-se Psicopedagogia Organizacional) tem a ver com a criação de

formas de aprendizagem para os colaboradores da instituição,

considerando-se seus diferentes departamentos de atuação.

Sendo o aprendizado reconhecido pelas organizações como a

estratégia competitiva do momento, a psicopedagogia organizacional dá

ênfase a necessidade de aprendizagem constante dos colaboradores, seja

individual ou em grupo, como forma de dilatar as probabilidades de originar

os resultados para os quais foram empregados, através de novos padrões

de pensamento e aprendizagem contínua.

13

Há várias práticas utilizadas pela Educação Corporativa que podem

viabilizar a aprendizagem como palestras, workshops, cursos e etc. No

entanto, os cursos oferecidos dentro das empresas não são reconhecidos

pelo MEC, assim, a estratégia encontrada pelas organizações para

solucionar essa questão foi realizar parcerias com escolas, universidades

públicas e privadas que possuem autorização junto ao MEC, baseadas nas

seguintes normas em vigor: Ensino a distância – Decreto nº 2.494, de 1998,

e Portaria MEC nº 301, de 1998; Educação profissional – Decreto nº 2.208,

de 1997, Pós-graduação:Especialização – Resolução nº 12, de 1983;

Mestrado (mestrado profissional) – Portaria CAPES nº 80, de 1998.

Assim, foi no contexto organizacional que os questionamentos

apresentados nesse estudo surgiram, pois, ao atuar com profissionais da

área de vendas foi observado que alguns vendedores apresentavam

características diametralmente opostas ao que no senso comum pensamos

ser o perfil de um profissional de vendas. A compreensão deste cenário que

se apresenta como ambíguo parece evidenciar a construção no cotidiano de

uma realidade contraditória o que exige um suporte teórico que permita

desvelar a natureza desta representação.

Portanto, sendo esse um assunto que põe em debate as contradições

existentes entre os saberes do senso comum e do ambiente de negócios

sobre o profissional de vendas foi no âmbito da Psicologia Social e, mais

especificamente, na Teoria das Representações Sociais, que foram

encontrados referenciais para buscar compreender, por exemplo, como

valores, atitudes, conhecimentos e informações orientam a conduta destes

profissionais.

Por articular-se tanto com a vida coletiva de uma sociedade como

com os processos de constituição simbólica, nos quais os sujeitos sociais

lutam para dar sentido ao mundo, entendê-lo e nele encontrar seu lugar

através de uma identidade social, a Teoria das Representações Sociais

auxilia-nos a esclarecer o pensamento e os comportamentos desse grupo de

profissionais da área de vendas fornecendo-nos informações a respeito da

formação necessária à sua profissão, ou seja, com o auxilio dessa teoria

torna-se possível desvelar as representações sociais da profissão de

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vendedor, assim como, da formação especifica necessária a esses

profissionais.

Conforme Moscovici (1978), as representações sociais são um

conjunto de saberes do senso comum, instalados no cotidiano que

constroem uma imagem ou novo conceito, ou seja, são processos que nos

permitem conhecer, dar sentido ao mundo e estabelecer um processo de

comunicação, construindo assim uma realidade. Assim, o acesso a esse

conhecimento do senso comum será possibilitado pelo estudo das

representações sociais que fornece “a chave para entender a relação que

amarra o conhecimento à pessoa, a comunidade e aos modos de vida”.

(JOVCHELOVITCH, 2008, p. 21).

Buscando identificar as representações sociais desses profissionais

sobre a sua profissão de vendedor como uma possibilidade de compreender

sua inserção profissional, assim definiu-se o problema da pesquisa: Quais

representações sociais apresentam os profissionais de vendas sobre a

sua profissão?

Este problema é analisado considerando o seguinte objetivo geral :

• Analisar as representações sociais dos sujeitos sob re sua

profissão.

Tal objetivo geral identifica o seguinte objetivo específico:

• Identificar as competências que os sujeitos conside ram

necessários a sua formação profissional.

Deve-se ressaltar que formação aqui é entendida como um grupo de

normas, conhecimentos e atitudes que qualificam o profissional a

desempenhar com competitividade e competência uma profissão no

mercado de trabalho. E competência, de acordo com Esque e Gilbert (1995,

p. 46), seriam “comportamentos que auxiliam o profissional a superar

barreiras conhecidas para realizar os padrões de performance”, ou seja,

essa definição envolve o desenvolvimento de um conjunto de habilidades

que irão ajudar o profissional a ter sucesso no trabalho.

Para organizar as contribuições e reflexões baseadas no objetivo

descrito a dissertação está estruturada em capítulos, mais conclusões e

considerações finais. No capítulo I há a apresentação histórica das teorias

15

administrativas dando ênfase às mudanças e transformações ocorridas na

visão de homem durante esse percurso histórico. O capítulo II evidencia a

historicidade da profissão de vendas, assim como, as representações

formadas pelo senso comum durante sua trajetória histórica e no capitulo III

estão descritos os conceitos, características e demais particularidades da

teoria das Representações Sociais que fundamenta este estudo. Nos

capítulos seguintes estão os procedimentos metodológicos, análises e

conclusões desse trabalho.

Portanto, com este estudo, buscou-se descobrir pistas que não sejam

unicamente classificatórias, mas que permitam orientar o profissional de

vendas no exercício de sua profissão.

16

CAPÍTULO I

SOBRE O MUNDO DO TRABALHO

Os avanços tecnológicos produziram e vem produzindo grandes

impactos na sociedade demandando mudanças e, por conta dessas

mudanças, a sociedade sente necessidade de modificar seus conceitos e

concepções acerca do status quo.

No universo empresarial, com a velocidade das mudanças, o

diferencial tecnológico e a qualidade dos serviços passaram a ser um pré-

requisito para ser competitivo no mercado globalizado. A competitividade

baseia-se na capacidade de atender as necessidades e expectativas dos

clientes e é a habilidade que uma empresa possui de desenvolver e

implementar estratégias concorrentes que lhe permitam uma condição

privilegiada ante outras empresas, assim como, uma posição sustentável no

mercado.

Com o aumento da competitividade, as empresas têm implementado

mudanças, buscando criar novos produtos e serviços, pois, dentro desse

ambiente de concorrência global o cliente passa a ser muito disputado, pois,

de acordo com Las Casas (1993), atualmente o crescimento dos negócios é

amplamente influenciado pela busca da satisfação dos clientes através da

atuação do vendedor.

Historicamente falando as mudanças sempre ocorreram ao longo dos

anos. A Revolução industrial, por exemplo, iniciada na cidade de

Manchester, na Inglaterra, marcou a economia mundial durante o século XIX

e tornou-se corrente do pensamento capitalista na Europa. Foi neste período

que surgiu a necessidade de conduzir as organizações para resultados mais

eficientes e eficazes em seus processos e produtos.

De acordo com Ferreira (2013), a Revolução Industrial ocasionou à

economia daquele momento, dentre outras coisas, o desenvolvimento e

ampliação do mercado, a ampliação do capital na atividade produtiva, a

17

industrialização da produção, o aumento da produção e do consumo e a

mundialização da economia.

Do ponto de vista social, os resultados mais marcantes dessa

revolução foram a subordinação das diferentes constituições sociais à

dinâmica capitalista, o estimulo comercial, uma nova conformação social, o

acirramento das lutas de classes, o crescimento da população das cidades,

assim como, da proletarização e do assalariamento da força de trabalho.

Assim, a Revolução Industrial, foi um marco na história do mundo e

quase todos os aspectos do dia-a-dia daquela época receberam influências

desse processo, pois, a partir desse momento histórico introduziu-se um

novo cenário que alterou de maneira drástica toda a organização vigente na

época, substituindo a Sociedade Agrícola, cuja antecessora foi a Sociedade

Extrativista, por um novo tipo de organização baseada na Sociedade

Industrial que Peter Drucker avaliou da seguinte forma:

O homem do século XX, portanto, saiu de um ambiente essencialmente

rural para um ambiente – as grandes cidades e o trabalho com

conhecimento técnico – fabricado pelo homem. O agente dessa mudança

foi, evidentemente, a tecnologia. (DRUCKER, 2012, p.74).

A Sociedade Agrícola possuía como lastro de sustentação econômica

a terra, o trabalho escravo e o capital, sendo a Igreja o propulsor de

transformação da sociedade. Nessa sociedade o homem era diferenciado

pela força física com que era capaz de exercer suas atividades.

Já a Sociedade Industrial, iniciou-se com o invento da máquina a

vapor de James Watt, em 1776, possuía como lastro de sustentação

econômica os meios de transporte, a energia e a indústria tendo o Estado

como o meio de modificação da sociedade. Nessa sociedade, saber operar

máquinas e equipamentos, assim como, gerenciar e controlar eram um

importante diferencial.

Deste modo, da Sociedade Agrícola para a Sociedade Industrial

houve a transição de métodos de produção artesanais para a produção por

máquinas, assim como, as habilidades básicas requeridas pelo homem se

modificaram de acordo com as necessidades exigidas em cada período. As

necessidades dos novos consumidores em mercados cada vez mais

longínquos aumentou expressivamente a quantidade de vendedores,

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resultando no aumento da demanda pelo trabalho do vendedor alavancando

o desenvolvimento dessa profissão.

Mais tarde, na década de 40, com a invenção do primeiro

computador, iniciou-se a revolução da informação com a Sociedade

Industrial transformando-se na Sociedade da Informação e do

Conhecimento¹.

Neste período a venda tornou-se mais profissional, pois, os

consumidores, cansados da venda de alta pressão e da falta de informação

dos vendedores passaram a exigir maior conhecimento por parte dos

profissionais de vendas que deixaram de ser amadores para buscar a

profissionalização, assim, o termo profissionalização passou a ser

empregado para destacar a abordagem de orientação voltada para o cliente.

Neste processo evolutivo, saímos da Sociedade Agrícola para a

Sociedade Industrial e desta para a Sociedade do Conhecimento que se

baseia no conhecimento e em valores intangíveis.

Deste modo, com o avanço da automação dos processos, a partir do

uso cada vez mais coordenado da tecnologia, a sociedade começou a sentir

a necessidade de passar do modelo mecanicista² para um novo modelo que

contemple este cenário de mudanças intensas que vem ocorrendo dentro de

um curto período de tempo.

No quadro da página seguinte podemos verificar, sinteticamente, a

evolução das sociedades, ressaltando que o surgimento de uma nova

sociedade não provoca a total dissipação da anterior, mas sim, a

modificação de foco de poder e do relativo crescimento em valor, se

confrontada com as demais sociedades.

_____________________________________________________________

¹”Possui como pilares de sustentação a tecnologia de informação, a conectividade, a energia e, em especial, o conhecimento, tendo as empresas e redes de pessoas como agente de mudança ou de construção da sociedade”. (RODRIGUEZ, 2002, pág. 16). ²“Chama-se, em filosofia, 'mecanicismo' a doutrina segundo a qual toda a realidade, ou pelo menos toda a realidade natural, tem uma estrutura comparável à de uma máquina, de modo que se possa explicar à base de modelos de máquinas.” (FERRATER MORA, 2001, pág. 166).

19

Quadro 1: Evolução das Sociedades

SOCIEDADE

PILAR DE SUSTENTAÇÃO

AGENTE DE MUDANÇAS

Sociedade Extrativista Natureza - Suportado pela caça e pesca; - Produção artesanal a partir de pequenos grupos.

Sociedade Agrícola Terra - Suportado pela terra, escravos e capital; Produzir com a ajuda da natureza; - Igreja.

Sociedade Industrial Máquina - Mercado local e cativo; - Fronteira física; - Padronização, burocracia, rotina. - Governo

Sociedade da Informação Bits -Visão Sistêmica; - Mercado Global; - Fronteira digital; - Antiburocracia; - Empresas.

Sociedade do conhecimento Informação - Conhecimento; - Redes de Pessoas (valores intangíveis).

Fonte: Rodriguez (2002).

Logo, sendo a evolução da humanidade contínua e dinâmica, com o

advento da globalização, que foi impulsionada pelo desenvolvimento da

tecnologia da informação e das telecomunicações, adentramos em um

processo de transição buscando um novo modelo que demande uma revisão

na visão de mundo, de sociedade e de homem.

É nesse cenário que a concepção de homem tem passado por

transformações. No mundo empresarial, por exemplo, o ser humano vem

deixando para trás funções apenas cumpridoras de padrões e

procedimentos, envolvendo-se cada vez mais em funções em que é

necessária a multiplicação de conhecimentos que tragam um diferencial

competitivo para as organizações.

Neste processo, quando as máquinas passaram a executar as tarefas

repetitivas e aceitáveis de serem automatizadas, o homem assume um papel

de maior importância na sociedade: criar, planejar e inovar

permanentemente.

20

Um novo perfil de trabalho realizado pelo homem é, então, moldado,

pois, dentro desse contexto, precisaremos de indivíduos com atitudes muito

mais proativas, empenhadas e dispostas a novas ideias com aptidão para

reformular novos valores, estratégias, relações sociais e de trabalho.

Na Sociedade do Conhecimento o diferencial das empresas estará

nas pessoas que as compõe, ou seja, faz-se necessário reconhecer que o

homem e seu conhecimento podem fazer a diferença entre o sucesso ou

fracasso de uma organização.

Diante do exposto, podemos dizer que a partir das mudanças

desencadeadas pela Revolução Industrial houve a necessidade de estudos

que dessem conta dessas mudanças impostas às organizações. Deste

modo, no final do século XIX e início do século XX surgiram as primeiras

teorias administrativas em que cada vertente teórica carrega consigo uma

visão particular de mundo, sociedade e de homem expondo-nos como o

sujeito trabalhador foi constituído pelas organizações para atender as

necessidades de cada época. Assim, verificaremos a seguir algumas das

principais teorias e concepções do pensamento administrativo e como dentro

de cada abordagem, a visão de homem foi se modificando e desenvolvendo.

São elas:

� Teoria da Administração Científica ou Taylorismo

� Teoria Clássica

� Teoria Burocrática

� Teoria das Relações Humanas

� Teoria Estruturalista

� Teoria dos Sistemas ou Teoria Sistêmica

� Teoria Contingencial

� Desenvolvimento Organizacional (DO)

� Gestão da Qualidade

� Gestão do Conhecimento

� Gestão da Estratégia

As Teorias Administrativas oferecem diversas abordagens para a

administração das empresas. Todas ponderam sobre os acontecimentos

21

históricos, sociais, culturais, tecnológicos e econômicos do seu tempo, bem

como as dificuldades que afligiam as organizações.

Assim sendo, com a Revolução Industrial e consequente início da

Industrialização surge a Teoria da Administração Científica ou

Taylorismo principiada pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor, em 1903.

Essa teoria, que juntamente com a Teoria Clássica dominaria os primeiros

quarenta anos do século XX, baseia-se na aplicação de procedimentos da

ciência positiva, racional e metódica às questões administrativas,

objetivando obter a maior produtividade. Para o aumento da produtividade

essa teoria propunha dentre outras coisas:

� Dividir as atividades complexas em partes (método cartesiano)

a fim de facilitar a racionalização e a padronização;

� Procedimentos e princípios de racionalização das tarefas,

submetendo o funcionário ao comando de supervisores.

Assim, dentro dos princípios da administração cientifica de Taylor

estava o princípio do controle que consistia em controlar a atividade para

garantir que a mesma estivesse sendo executada de acordo com os

preceitos estabelecidos e dentro do plano antevisto.

Acompanhando as ideias do “taylorismo”, Henry Ford, em 1913, criou

para sua indústria de automóveis, um processo de fabricação de veículos

em massa. Esse sistema ficou conhecido como “fordismo” e de acordo com

Larangeira (1999), tratava-se de uma:

estratégia mais abrangente de organização da produção, que envolve

extensa mecanização como uso de máquinas, ferramentas especializadas,

linha de montagem, esteira rolante e crescente divisão de trabalho.

(LARANGEIRA, 1999, p.292).

No que diz respeito ao sujeito, a Teoria da Administração Científica ou

Taylorismo que desencadeou uma revolução no pensamento administrativo

e no universo industrial possuía uma visão estreita do homem trabalhador

como sendo aquele que prioriza o dinheiro, produzindo o máximo que pode

para obter um elevado salário e prémios de produtividade.

Essa teoria pressupõe que o homem é motivado unicamente pelo

lucro material ou pecuniário de onde nasce o termo homoeconomicus

(homem econômico).

22

Conforme Heloani (1991), nessa abordagem o homem era visto como

um recurso produtivo necessário e dimensionado às necessidades do

capital. Para o autor, essa escola, modelizava o inconsciente do operário

pela promessa de aumento na remuneração, mexendo com sua ambição e

cooperação individual no que diz respeito à melhoria dos processos

produtivos, conduzindo-os a um pensamento de prosperidade conjunta. De

fato, a intenção dos empregadores era de que, através das melhorias

produtivas e qualitativas de seus negócios, as vendas e os lucros

aumentassem, agregando maior valor ao capital do que ao trabalho.

Assim, o capitalismo obtinha do indivíduo o direito de utilizar sua força

de trabalho, objetivando obter uma maior eficácia econômica, expandindo os

lucros, assim como, depauperando e escravizando a classe trabalhadora.

Para o taylorismo/fordismo o operário deveria ser selecionado,

preparado e inserido na indústria, sob forte controle de sua atividade, tempo

e resultados a atingir. Seu conhecimento, sua experiência e seu ponto de

vista não seriam necessários e não deveriam ser levadas em conta.

Essa abordagem foi adotada como modelo de crescimento do

capitalismo e se disseminou pelo planeta, influenciando todos os ramos de

produção, sendo o responsável pela produção em massa dos mais diversos

produtos. No entanto, a organização do trabalho taylorista/fordista possuía

alguns pontos negativos como, por exemplo, trabalho repetitivo, falta de

visão global sobre as fases de produção e pouca qualificação do

trabalhador.

De acordo com Dejours (1987), as críticas a esse modo de produção

diziam respeito a exploração do corpo, as condições de higiene, de cansaço

e ausência de segurança, assim como, despersonalização do indivíduo.

Essas questões, depois de algum tempo geraram descontentamento junto

aos trabalhadores levando ao consequente questionamento da abordagem.

Quando a Primeira Guerra Mundial chegava ao seu período final e

Taylor desenvolvia a Teoria da Administração Cientifica na América do

Norte, aparecia na Europa com Henri Fayol, aquela que seria denominada

de Teoria Clássica da Administração e que, juntamente com o taylorismo,

buscava a eficiência nas corporações.

23

Essa teoria propõe a racionalização da composição administrativa e a

organização passou a ser compreendida como uma síntese dos vários

órgãos que compunha a sua estrutura.

Fayol preocupava-se com a administração da empresa enfatizando as

funções e operações no interior da mesma. Instituiu os princípios da boa

administração e o célebre ponto de vista sobre as funções do administrador:

organizar, planejar, coordenar, comandar e controlar. Essas funções são

necessárias para a gestão em todas as áreas de aplicação na organização e

gestão das pessoas dentro dela, sendo necessárias para atender ao

crescimento industrial do período, até a complexidade atual das

organizações.

Esses princípios propostos por Fayol foram adotados e aceitos até os

dias atuais, ou seja, são aplicados necessariamente para a organização de

qualquer estrutura corporativa, pois, através deles é possível distribuir,

ordenar e conduzir os recursos humanos e materiais das empresas.

De acordo com Ferreira (2013), nessa teoria o trabalhador surge

como um fator produtivo dentro da organização.

Diversos autores3 atribuem a essa teoria algumas críticas como, por

exemplo, o fato de não considerar individualidades do sujeito, possuir uma

concepção simplificada da organização formal, falta de tratamento

sistemático às relações informais e aos conflitos intraorganizacionais, assim

como, o mecanicismo da abordagem, dentre outros.

A Teoria Burocrática surgida por volta da década de 40, inspirada no

pensamento do economista e sociólogo Max Weber, procurava caracterizar

a instituição como estrutura totalmente formal fundamentada em critérios de

racionalidade e eficiência. Assim, a divisão do trabalho é adaptada aos fins

almejados, ou seja, à eficiência da organização.

No sistema burocrático, as atividades são atribuídas de forma

impessoal, isto é, as pessoas são vistas apenas como ocupantes de cargos

e de funções. A autoridade de cada trabalhador também é impessoal e

emana do cargo ocupado.

_____________________________________________________________ 3Kawasnicka (1991), Heloani (1994), Park (1997).

24

A burocracia institui os cargos conforme o princípio da hierarquia que

implica autoridade e subordinação nos diferentes escalões.

Em suas dimensões fundamentais alguns dos principais aspectos do

modelo burocrático são:

� Divisão do trabalho fundamentada na especialização;

� Hierarquia e autoridade claras;

� Normas e preceitos que delineiam direitos e deveres dos

trabalhadores;

� Impessoalidade nas relações interpessoais, dentre outros.

De acordo com Motta (1993), esse método de gestão administrativa

procurava afiançar uma eficiência produtiva, para atender ao crescimento

das organizações industriais daquele período.

Conforme Heloani (1996), dentre as críticas atribuídas a esta teoria

está a de discernir o operário apenas como engrenagem de uma máquina,

desconhecendo a intenção e o sentido de seu comportamento.

Heloani (1991), afirma ainda que essa forma de condução do sujeito

ocorria porque, nessa época, tinha-se uma visão do sujeito trabalhador como

indisciplinado, preguiçoso, sem pró-atividade e que deveria ser pago para

atuar e se comportar de modo preestabelecido, não permitindo que as

emoções interviessem em sua performance.

Assim, as teorias Cientifica, Clássica e Burocrática, que dentro da

Administração fazem parte da chamada abordagem tradicional ou clássica,

tem em comum o pensamento mecanicista e entendem a organização,

embora composta por pessoas, como uma máquina constituída para cumprir

tarefas.

Essas teorias valorizavam a racionalidade, trazendo uma percepção

de administração articulada à visão mecanicista, vendo o indivíduo

trabalhador como parte de uma máquina que deve “ajustar-se” aos objetivos

e padrões do capital.

De acordo com Ferreira (2013), desde a ideia de adestramento da

mão de obra do taylorismo, aos tempos produtivos provocados pela

produção fordista, à previsibilidade dos comportamentos e resultados

weberianos, o indivíduo era pensado de modo racional e econômico. Era

25

suficiente determinar as tarefas a serem produzidas e aumentar os salários

para que os trabalhadores tivessem a obrigação de produzir mais e melhor.

Os impactos dessas abordagens comprometiam sobretudo a saúde

do sujeito, pois, geravam cobranças fisiológicas da disciplina do seu corpo

até então ignoradas, notadamente relacionadas ao tempo e ritmo de

trabalho. Ao apartar o trabalho intelectual do trabalho manual, o taylorismo e

o fordismo neutralizavam a atividade mental dos sujeitos.

Deste modo, até então, o trabalhador era tratado de uma forma

mecânica e é com a intenção de modificar esse cenário que aparece a

Teoria das Relações Humanas.

A Teoria das Relações Humanas surgiu com o advento da Grande

Depressão4, de 1929, criada pela quebra da bolsa de valores de Nova

Iorque e suas ideias trouxeram esperança para a recuperação das

empresas.

Essa teoria surge da pesquisa conduzida por George Elton Mayo

constatando que a existência das relações humanas nas organizações era

um fator que influenciava as pessoas e seu comportamento a favor ou contra

os objetivos da empresa. Algumas características desse modelo são o

pensamento de que o homem é norteado tanto pelo social quanto pelos

processos de ordem biológica e de que o ser humano possui necessidades

de várias ordens como, por exemplo, segurança, afeição e etc.

A abordagem humanista dessa teoria contrariou vários postulados da

abordagem clássica de Fayol e da Administração Científica de Taylor. Deste

modo, com os novos estudos, a compreensão de homem mudou e, da

concepção de Homoeconomicus o trabalhador passou à concepção de

"homem social", assim como, o foco na estrutura e nas tarefas foi trocada

_____________________________________________________________ 4A Grande Depressão, também denominada de Crise de 1929, foi uma grande queda

econômica iniciada no ano de 1929 e que prosseguiu até a década de 1930, findando

apenas com a Segunda Guerra Mundial. É avaliada como a pior e a mais longa época de

recessão econômica do século XX. Este momento de depressão econômica originou altas

taxas de desemprego, quedas no PIB de diversos países, bem como enormes quedas na

produção industrial, valores de ações, e em praticamente todo registrador econômico pelo

mundo.

26

pelo foco nas pessoas. A partir de então iniciam-se reflexões sobre a

participação dos funcionários nas decisões da empresa e foram sendo

entendidas questões ligadas à afetividade humana.

Essa teoria é contra o formalismo e direciona o foco da administração

para as inter-relações dos grupos informais depositando na motivação a

esperança de fazer com que o sujeito trabalhe com o intuito de atingir os

objetivos da organização.

Essa abordagem se sobrepõe às anteriores porque trouxe às funções dos

gestores, a importância que eles deveriam dar as relações institucionais do

indivíduo em seu local de trabalho, ponderando como acontecem as

comunicações entre trabalhadores, grupos e gerência e também sobre as

condições de trabalho processos e técnicas conferidos ao trabalhador frente

aos resultados de sua produção.

Deste modo, com a evolução da Revolução Industrial e durante o

período em que surgiu a Teoria da Administração Científica ou Taylorismo,

as empresas concentraram seus esforços e recursos na produção. Era a

época em que tudo que era produzido era vendido e o mercado era do

vendedor. No entanto, entre 1915 e 1945 (durante a vigência das teorias

Clássica, das Relações Humanas e Burocrática), ou seja, no período da

primeira e segunda Guerra Mundial, toda a produção estava voltada para o

esforço de guerra. A economia desabou durante a Grande Depressão e os

negócios foram diminuídos, assim, apenas as companhias com vendedores

agressivos poderiam resistir à crise econômica.

Foi somente após 1945, ou seja, no pós-guerra que as organizações

passaram a investir em forças de vendas, começando a exigir um maior

profissionalismo por parte dos vendedores, sendo o processo de venda

orientado com base nas necessidades e desejos dos clientes.

Por volta da década de 50, a escola das Relações Humanas era

criticada pela sua densa oposição à Teoria Clássica (negava o que sua

antecessora preconizava), pela ênfase demasiada aos grupos informais,

dentre outros pontos.

Vale ressaltar que neste período os debates sobre a motivação

humana se intensificaram. A teoria da motivação de Abraham Maslow, por

27

exemplo, é uma das teorias que dá suporte àqueles que trabalham com a

psicologia organizacional.

De acordo com Robbins (2002), a hierarquia das necessidades

humanas elencadas pelo psicólogo Abraham Harold Maslow, parte da ideia

de que a motivação é gerada por um impulso no sentido de atender

necessidades que seriam as seguintes: necessidades fisiológicas, de

segurança, sociais, do ego e de auto-realização. Dentro dessa hierarquia as

necessidades de ordem mais baixas são as fisiológicas e as de ordem mais

alta são as de auto-realização.

De acordo com a teoria de Maslow (1970) a motivação eleva-se

através de vários graus de necessidades que precisam ser alcançados e

assim que forem satisfeitos o empenho de motivação se depositará na busca

de satisfação do nível imediatamente superior.

As necessidades fisiológicas são as mais urgentes e exigem uma

condição mínima de satisfação para a sobrevivência do homem. Alguns

exemplos de necessidades fisiológicas seriam a fome, sede, sono, abrigo e

etc.

As necessidades de segurança estão em um grau superior às

fisiológicas e incluem, por exemplo, segurança física, estabilidade, proteção

e etc.

As necessidades sociais ou de afiliação estão atreladas à carência

que o ser humano tem, por exemplo, de amor, participação em grupos

sociais e etc.

As necessidades de autoestima dizem respeito à valorização das

pessoas em relação a elas mesmas ou aos outros. A busca por poder, status

e prestígio, por exemplo, indicam o esforço de efetivação das necessidades

atreladas a este nível.

O nível superior e mais difícil de ser satisfeito totalmente é, segundo

Maslow, o das necessidades de auto realização. Neste nível está o desejo

do ser humano de atingir o seu potencial concretizando suas possibilidades.

De acordo com a teoria, uma pessoa somente seguirá em direção a

um nível superior de necessidades quando os níveis precedentes já

estiverem suficientemente satisfeitos.

28

Deste modo, nesta caminhada chegamos à Teoria Estruturalista

surgida por volta da década de 50, institui uma nova forma de pensar que

possuía o objetivo de analisar os fenômenos culturais em sentido amplo.

O Antropólogo belga Claude Lévy-Strauss introduziu o estruturalismo

nas Ciências Sociais que, na época, passou a ser o modelo de pensamento

utilizado em diversas áreas do conhecimento como, por exemplo,

Psicanálise, Sociologia, Antropologia, Economia, dentre outras. Foi um

movimento predominantemente europeu e, na Administração, a abordagem

estruturalista surge dos limites da Teoria Burocrática e decadência da Teoria

das Relações Humanas.

O Estruturalismo se ocupa com o todo e com a interdependência das

partes na construção do todo, portanto, de acordo com este pensamento, as

organizações são instituições interdependentes que possuem uma estrutura

interna e interatuam com outras organizações.

De um modo geral, o estruturalismo expandiu os estudos das

interações entre os grupos sociais, principiado pela Teoria das Relações

Humanas, para o das interações entre as organizações sociais. A Teoria

Estruturalista descreve que, para o alcance dos resultados é necessária a

existência de propósitos comuns estabelecidos entre organização e

trabalhadores, pois, somente nesse compartilhamento de objetivos é que

haverá o engajamento na realização dos processos.

Esse intercâmbio dos propósitos das pessoas e grupos acontecerá

dentro da corporação pela união das necessidades, conhecimentos,

experiências e motivações de cada indivíduo, com a mediação das relações

de cooperação, competição e conflitos, promovidos pelas políticas da

empresa.

De acordo com Mucchielli (1979) e Argyris (2000), para que ocorra o

resultado esperado é imprescindível a adesão dos trabalhadores a fatores

como conhecimento recíproco, confiança, incorporação dos objetivos e

apropriação das normas do grupo.

No processo de interação das pessoas nas empresas, Etzioni (1989),

propõe dois modos de implicação dos trabalhadores dentro das empresas. O

primeiro é o compromisso que seria a implicação positiva. O segundo a

29

alienação que seria a implicação negativa. Para esse autor, quando as

corporações estão saudáveis, denota que os sujeitos estão envolvidos mais

pelo compromisso. A alienação acontece quando a corporação trata as

pessoas e grupos como “ferramentas” produtivas, passivas, as quais, em

troca de remuneração, cumprem tarefas determinadas.

A visão de homem desta teoria é a de um ser participante de várias

organizações sejam elas: religiosas, penais, familiares, empresariais, etc.,

que para desempenhar seus diferentes papéis, necessita ter flexibilidade,

tolerância às frustrações, disposição para adiar as recompensas e firme

desejo de realização, além de ser resiliente e auto motivado, surgindo assim

o conceito de “homem organizacional”.

De acordo com Kawasnicka (1991), essa teoria avança em relação às

demais ao reconhecer a existência do conflito nas organizações, admitindo

que este é intrínseco aos grupos e às relações de produção. Conflitos geram

mudança.

No entanto, esta é uma teoria bastante crítica tendo seu foco muito

mais nos problemas das organizações do que em sua normalidade e, por

esse motivo, também é chamada de "teoria de crise".

Deste modo, contestando os moldes racionalistas antecedentes e

com inquietações mais sociais e psicológicas no relacionamento entre

empregador e empregado surgiram as teorias das Relações Humanas,

Estruturalista e Comportamental, buscando um maior approach das

necessidades e expectativas do sujeito nas organizações.

O aumento da importância do capital humano exigiu que os objetivos

dos trabalhadores fossem alinhados com os da empresa para a conservação

da capacidade competitiva da mesma. E, pensando na capacidade

competitiva, neste período inicia-se a propagação do Marketing como uma

ferramenta poderosa na área de vendas quando Theodore Levitt (1986) em

seu artigo intitulado “Miopia em Marketing”, mostrou o valor da satisfação do

cliente e modificou o universo dos negócios. Deste modo, a venda agressiva

foi substituída pela busca pela satisfação do cliente.

Destarte, a evolução da sociedade traz consigo uma série de

complexidades e problemas causados pela interação de diferentes fatores

30

que, nas décadas antecedentes não existiam. Tentando produzir uma teoria

aplicável dentro da nova realidade organizacional, e que leve em

consideração tanto os “prós” quanto os “contras” de uma organização surge

a Teoria dos Sistemas .

De acordo com Alvarez (1990), essa teoria foi proposta em 1937,

pelo biólogo Ludwig Von Bertalanfly, tendo seu ponto alto entre 1950 e 1968.

A Teoria dos Sistemas se opõe ao mecanicismo e entende as organizações

como uma estrutura integrada que envolve um subsistema social (pessoas)

e um subsistema técnico (tecnologias, máquinas e etc.).

Essa teoria fundamenta-se na acepção de que as empresas são

sistemas nos quais o “homem funcional” é um sujeito cujo comportamento é

o de executor de determinado papel e que se inter-relaciona com os demais

sujeitos, gerindo expectativas, assim como, fazendo ajustes aos outros

papéis que lhe são infligidos.

A Teoria dos Sistemas da Administração entende que sistema é um

conjunto de rudimentos, interagentes e interdependentes, cada qual com sua

função peculiar, que trabalham em sintonia para alcançar uma finalidade

comum. Assim, os sistemas sejam pessoas ou empresas, são considerados

como sistema abertos, mantendo um sucessivo e dinâmico intercâmbio com

o ambiente onde existem recursos para o incremento da atividade proposta

e consequentemente dos efeitos cobiçados.

Portanto, dentro dessa abordagem, os elementos fundamentais para

a realização dos desígnios da empresa são: a entrada, os processos e as

saídas, cada um recebendo influências do meio e desencadeando

mudanças que afetam o sistema como um todo.

A Teoria dos Sistemas ampliou a visão dos problemas

organizacionais opondo-se à abordagem do sistema fechado, Maximiano

(2000), descreve que a visão sistêmica completa e unifica teorias

especializadas através de seu novo ponto de vista permitindo interpretar e

solucionar as questões complexas.

Logo, buscando modelos de estruturas organizacionais mais eficazes

que relacionem variáveis ambientais e formas estruturais, a Administração

31

chegou à Teoria Contingencial ou Teoria da Contingência que marca o

aparecimento de um modelo orgânico nas empresas.

A Teoria da Contingência surgiu por meio de vários estudos

realizados na década de 1960 feitos para identificar qual o modelo de

estrutura organizacional para determinados tipos de empresas, porém, foi a

pesquisa dos professores Paul Lawrence e Jay Lorsch, da Harvard Business

School, sobre a confrontação entre organizações e ambiente que deu origem

a Teoria Contingencial.

Essa teoria baseia-se no pensamento da inexistência de um modelo

que se encaixe a todas as empresas e em todas as conjunturas, pois, as

transformações ocorrem constantemente nos sistemas, ou seja, não há nada

de absoluto nas organizações ou na Teoria Administrativa.

Há um crescente interesse pelas relações entre as corporações e

seus ambientes. O ponto de vista dominante é o de que as modificações nas

particularidades ambientais correspondem com alterações nas

particularidades corporativas o que elucida a eficácia organizacional.

A Teoria da Contingência ressalta que não há um melhor modo ou

maneira de administrar, pois, não existe um único modo de conduzir sempre

eficaz, assim como, diferentes modos de conduzir provocam diferentes

resultados. Deste modo, as decisões dependem sempre das circunstâncias

ou do ambiente.

Este modelo dotado de ampla flexibilidade, descentralização e

desburocratização é posto como alternativa para ambientes em contínua

mutação e condições inconstantes, opondo-se ao modelo mecanicista que

predomina em circunstâncias e ambientes relativamente constantes. Está

associada a participação do operário e aceita os fatores contingenciais que

intervêm nas empresas e nas relações funcionais.

A abordagem Contingencial defende um intercâmbio entre as diversas

teorias da Administração ao invés da aceitação de apenas uma como válida,

deste modo, essa teoria manifesta a disposição de absorver as premissas

das diferentes teorias no sentido de ampliar os horizontes e comprovar que

nada é absoluto.

32

A abordagem apresenta o conceito de “homem complexo" que age

como um sistema, buscando equilíbrio interno ante as questões do

ambiente. É orientado para o alcance de objetivos, está em contínuo

desenvolvimento e possui fatores de motivação com três forças basais:

expectativas, recompensas e a relação entre elas.

A Teoria da Contingência é eclética e interativa. Com esta teoria

ocorre um deslocamento de olhar para o que acontece fora da organização.

Ela supera a Teoria dos Sistemas porque, além de olhar os ambientes,

procura compreender como eles afetam as organizações.

Já a concepção do Desenvolvimento Organizacional (DO) , um

movimento também surgido na década de 60, é um conjunto de ideias a

respeito do homem, da organização e do ambiente, no sentido de promover

o crescimento e desenvolvimento da corporação.

Essa concepção não surgiu de apenas um autor, mas de um grupo de

cientistas sociais e consultores de empresas.

A DO visa a melhoria continua da organização, assim como, o bem

estar dos empregados. Busca entender os ambientes internos e externos,

definir que mudanças poderão ser concretizadas e quais serão os impactos

dessas mudanças, assim como, a junção das metas da organização com as

necessidades dos trabalhadores. Um programa de DO tem como objetivos a identificação dos sujeitos

com a organização, buscando a motivação, compromisso, compartilhamento

de metas comuns e o crescimento da lealdade. Prega o desenvolvimento do

espírito de equipe através da integração e interação dos trabalhadores e o

aperfeiçoamento da percepção comum sobre o cenário externo com o

objetivo de facilitar a adaptação da corporação.

Conforme Ferreira (2013), do final dos anos 60 até o início dos anos

80, as abordagens Contingencial, Sistêmica e do Desenvolvimento

Organizacional, trouxeram, das abordagens anteriores, os estudos

psicológicos sobre motivação, comportamento e seus efeitos nas

corporações. Adicionaram a seus estudos o entendimento das necessidades

e demandas oferecidas pelo ambiente externo, procurando, nesse cenário,

33

entender e evidenciar como acontecem internamente os processos de

mudança e adaptação das empresas.

De acordo com Maximiano (2000), nessas teorias, o indivíduo é visto

como um sistema complexo de valores, percepções, particularidades

pessoais e necessidades, atuando no sentido de manter sua estabilização

interna diante das questões oferecidas pelo ambiente externo. Um ser

humano que para dar conta das novas demandas da organização deve

assumir diversos papéis e responsabilidades, abraçando uma cultura de

aprendizado, participação e adaptação às necessidades da corporação.

Assim, dentro deste percurso, na década de 70, houve o

aparecimento de um novo sistema de produção conhecido como “toyotismo”

que adotou o sistema de “produção enxuta” que diminuía despesas e

garantia qualidade e eficiência em seu sistema produtivo.

Conforme Wood Jr. (1992), nos anos 50, Eiji Toyoda visitou algumas

fábricas norte-americanas com o objetivo de conhecer os processos

produtivos e constatou que o Japão, vivenciando um difícil período pós-

guerra, não conseguiria se adequar ao modelo industrial americano.

Anos mais tarde, Toyoda idealizou um sistema em que a produção

acontecesse de modo mais flexível, consequentemente, na década de 70 o

modelo japonês de produção, denominado toyotismo, foi inserido nas

fábricas de automóveis Toyota.

O toyotismo tem o objetivo de produzir exclusivamente o necessário,

diminuindo os estoques, fabricando em pequenos lotes, com alta qualidade,

trocando a uniformização pela diversificação e produtividade. Também

houveram mudanças nas relações de trabalho, pois, o funcionário agora

necessitava de maior qualificação, assim como, ser capaz de trabalhar em

várias funções.

O toyotismo que também ficou conhecido como Teoria da

Administração de Qualidade cuja ideia era propiciar as empresas

variabilidade de produtos e custos mais baixos, buscando para isso a

participação de todos os envolvidos com a organização objetivando a

satisfação do cliente externo.

34

Conforme Feigenbaum (1984), o toyotismo empenha-se em

desenvolver e melhorar a qualidade dos diversos grupos de uma

corporação, buscando dirigir a produção e os serviços aos coeficientes mais

econômicos da operação objetivando a satisfação do cliente. Para Heloani

(1991), é imprescindível ainda, enquadrar mais estreitamente sua produção

ideológica (vital para o seu funcionamento) que anseia e, em geral alcança,

tornar-se um lugar de produção de conceitos e valores.

Avançando em nosso percurso, chegamos aos meados dos anos 80,

momento em que as novas formas de organização e de gestão passaram a

solicitar uma consistente educação profissional dos trabalhadores. O

mercado de trabalho começa a demandar mais qualificação, assim como,

novas competências como inovação, criatividade, trabalho em equipe e

tomada de decisões.

Ao próprio vendedor, também na construção de sua profissão,

passou-se a exigir maiores conhecimentos e habilidades, pois de acordo

com Cobra (1994, p. 185), “o vendedor deixou de ser um tirador de pedidos

e passou a ser um agente desencadeador de negócios”.

O vendedor em sua atuação deve negociar, vender, prestar serviço,

assim como, propor soluções aos problemas do consumidor. Precisa

conhecer profundamente sua função, seu papel e seu produto.

A natureza complexa e inesperada dos novos cenários, muitas vezes,

associada à carência de conhecimentos necessários para a formulação de

estratégias impede a empresa de crescer. Pois, o diferencial de uma

corporação competitiva e sustentável está no conhecimento que possui, em

como utiliza esse conhecimento e a rapidez com que é capaz de aprender e

aplicar um novo conhecimento dirigido ao mercado e ao consumidor.

Com o advento da globalização, o conhecimento é gerado

continuamente e as corporações devem tirar proveito deste conhecimento

para estarem sempre atualizadas, pois, uma das molas mestras do mundo

globalizado é o conhecimento aplicado.

De acordo com Rodrigues (2012), a gestão de pessoas realizada

pelas corporações passa por modificações em todo o mundo, pois, as

organizações, neste ambiente competitivo, notaram com rapidez que sua

35

sobrevivência estava atrelada ao seu contínuo desenvolvimento e que este

desenvolvimento estava atrelado ao desenvolvimento de seu capital

intelectual, ou seja, as pessoas.

Deste modo, as organizações buscam incessantemente criar e

sustentar suas vantagens competitivas aperfeiçoando e atualizando seus

recursos para manterem-se atuantes no mercado.

O conhecimento humano cuja evolução acontece cada vez de modo

mais veloz se torna um fator de diferenciação para a aquisição de um maior

valor agregado, pois, o êxito de uma corporação já não pode mais ser

mensurado apenas por sua infraestrutura ou recursos que possui e controla,

mas, sobretudo, pela qualidade com que recupera e usa a informação

disponível no processo de tomada de decisão, pelo conhecimento de seus

colaboradores e pela competência de suas ações.

Na Gestão do Conhecimento , as pessoas com seu conhecimento,

auxiliadas pela tecnologia e pelos processos estruturados, permitindo a

sistematização e automatização do fluxo de informações e tarefas tornam-se

o modelo capaz de dirigir os esforços de uma corporação para o alcance de

seus objetivos estratégicos.

Dentro dessa concepção, a estratégia passa a ser um dos temas mais

debatidos, pesquisados e praticados tanto na academia quanto nas

organizações surgindo assim, a Gestão Estratégica.

Neste contexto, o significado de estratégia adquire a forma de um

processo de aprendizado contínuo do capital intelectual da corporação. Esse

processo deve enfocar, dentre outras coisas, o auto-desenvolvimento e uma

conduta proativa que estimule o pensamento reflexivo e estratégico. Por

conseguinte, nos dias de hoje, a aprendizagem é entendida pelas

organizações como uma necessidade fundamental para o desenvolvimento

de seu capital intelectual considerado como o principal diferencial

competitivo entre as corporações.

Conforme Rodrigues (2012), as corporações que valorizam a

aprendizagem passaram a ser vistas como ambientes onde os funcionários

expandem suas possibilidades de originar os resultados para os quais foram

36

contratados, por meio de novos modelos de pensamento e aprendizagem

contínua.

De acordo com Rodriguez (2002), no pensamento estratégico

planejar, produzir, buscar a satisfação do cliente, distribuir produtos e

serviços em mercados nacionais e internacionais promove a obtenção de

retorno crescente aos recursos aplicados, assim como, o aumento e a

prosperidade da qualidade de vida de seus cidadãos.

Deste modo, com o advento da Gestão do Conhecimento, assim

como, da Gestão Estratégica, surgem as Universidades Corporativas (UC),

uma estrutura cujo objetivo é implantar um sistema de educação moderno,

dinâmico, inovador e incentivador da criatividade tendo em vista à

aprendizagem contínua e permanente do capital intelectual da organização.

As empresas, por meio de sua estrutura de educação interna, as UCs,

buscam desenvolver as aptidões essenciais e humanas dos colaboradores e

investir no aprendizado contínuo, considerado uma estratégia necessária às

demandas do seu negócio.

As UCs, além de almejar o desenvolvimento pessoal e profissional de

seus colaboradores, procuram estudar como a aprendizagem individual

ocorre e como desenvolver ações para potencializar a capacidade de

aprender partindo do princípio de que a aprendizagem organizacional se

inicia com a aprendizagem individual.

As grandes organizações contam com as Universidades Corporativas

(UCs) para aperfeiçoar cada vez mais seu capital intelectual, que dentro da

Sociedade da Informação e do Conhecimento, são consideradas como

principal diferencial competitivo do mercado.

A educação e a qualificação da força de trabalho são consideradas a

fundamental vantagem competitiva do século XXI. Não há corporação que

se sustente competitivamente sem educação, pois, assim como a educação

é básica para o crescimento sustentável da nação, a educação corporativa é

um instrumento necessário a toda empresa que procura destacar-se e

sobreviver em um mercado cada dia mais competitivo.

Por conseguinte, as organizações de sucesso e longevas serão

aquelas que descobrirem como incentivar nas pessoas o compromisso com

37

a disposição para aprender em todos os níveis e em todos os setores das

corporações.

É dentro desse contexto de intensa concorrência e competição global

que o cliente passa a ser muito disputado. Logo, o processo de vendas

também é marcado pelas mudanças ocorridas no mercado, pois, o

crescimento dos negócios é largamente influenciado pela busca constante

de satisfação dos clientes através do trabalho do vendedor o que direciona

esses profissionais a algumas novas competências/habilidades como as

apontadas no quadro a seguir:

Quadro 2: Mudanças e competências/habilidades requeridas

MUDANÇA FORÇA DE VENDAS

Crescimento da concorrência Ênfase na confiança baseada na relação de longo prazo.

Maior ênfase no incremento da produtividade de vendas

Uso de tecnologia (computador, notebook, fax, correio eletrônico etc).

Fragmentação da base tradicional de clientes

Especialistas de vendas para cada tipo de cliente (segmentação).

Globalização da força de vendas Múltiplos canais de vendas: telemarketing, merchandising, venda eletrônica.

Padrão de qualidade para cada tipo de cliente

Time de vendas (esforço de toda a equipe), Remuneração com base na satisfação dos clientes e desempenho da equipe.

Demanda orientada para o cliente Time de vendas especializado para cada tipo de cliente. Mais treinamento de vendas.

Fonte: Adaptado de Cobra, (1994, p. 27).

Um exemplo prático dessas mudanças ocorridas na área de vendas é

a de que, na Sociedade Industrial, o preço de venda de um artigo era

decidido somando-se as despesas com os insumos mais as despesas

operacionais e acrescentando-se a estes a margem de lucro esperada, no

entanto, na Sociedade da Informação e do Conhecimento em que o mercado

é caracterizado pela elevada competição, torna-se necessário o

estabelecimento de um procedimento contrário ao utilizado no passado,

pois, o preço da venda é definido pelo mercado. Deste modo, é necessário

38

conhecer primeiro o preço que os clientes estão dispostos a pagar, para

então abater deste os custos dos insumos e as despesas operacionais. O

saldo remanescente será a margem de ganho a ser obtido.

Os clientes sempre foram importantes para qualquer organização que

se relaciona diretamente com o mercado, mas, na chamada era da

produção, por exemplo, anterior à 1930, a demanda pelos artigos

extrapolava a oferta, sem qualquer concorrência entre as organizações. Os

produtores tinham como foco os produtos, sem nenhuma inquietação com as

necessidades dos clientes. Ao vendedor tocava o papel de tirador de pedido.

Na era de vendas, após a queda da Bolsa de Valores de Nova York, em

1929, não haviam clientes regulares para comprar os artigos e a

concorrência tornou-se intensa entre os produtores. Ao vendedor tocava o

papel de criador de demanda pelos artigos aplicando técnicas de vendas

persuasivas. Na era do marketing, com o uso da filosofia do marketing cuja

ênfase era a satisfação das necessidades dos compradores, os vendedores

tinham o papel de solucionar os problemas do freguês. Eles buscavam

descobrir as necessidades dos clientes e evidenciavam como esses artigos

poderiam atendê-las. Na era da parceria, que começa posteriormente à

1990, os vendedores e os compradores entendem que é possível criar

estratégias com vantagens sobre a concorrência através de um trabalho em

conjunto.

De acordo com Weitz et al. (1995), as organizações buscam

relacionamentos de longo prazo com os fornecedores para desenvolvimento

de produtos que atendam às necessidades dos consumidores. O vendedor

torna-se um agregador de valor, aplicando-se no desenvolvimento de

soluções que aumentem a lucratividade das organizações.

Corroborando com esse pensamento, Wotruba (1991, apud, MIGUEL,

2004), afirma que as empresas com intensa dependência das vendas

progridem na medida em que ajustam suas ações de venda às demandas do

ambiente e do mercado em que atuam. Deste modo, o papel do vendedor

vem crescendo e se ampliando sem, no entanto, rejeitar seus estágios

antecedentes que são os seguintes:

39

� Provedor – Aceitar os pedidos conforme a oferta do fornecedor

e conveniência ao comprador;

� Persuasor – Convencer, a qualquer custo, o comprador a

comprar o produto;

� Prospector – Seleciona os compradores com a necessidade e

recursos para adquirir os produtos;

� Solucionador de problemas – Identifica o problema, os

transforma em necessidades e soluciona o problema;

� Procriador – Define o problema ou necessidade do comprador

por meio da colaboração comprador-vendedor. Cria ofertas

específicas que atendam à demanda do cliente.

Assim, de acordo com Wotruba (1991, apud, MIGUEL, 2004), cada

estágio é mais complexo que seu antecessor dado o tempo e aptidão

necessária para sua eficácia. Os dois últimos estágios demandam maior

foco nos clientes e maior potencialidade de vendas para afiançar a resposta

dos investimentos nos processos de vendas voltados para servi-los.

No estágio “procriador” o vendedor realiza ajustes quanto às ofertas

de produtos e negocia preços, condições de crédito, produz material

promocional de acordo com o ambiente do cliente e, ainda, controle de

estoque para atender as necessidades do freguês.

Para Weitz et al. (1995), a evolução da venda coincide com as

direções dadas aos vendedores nos distintos períodos da história de acordo

com o quadro a seguir:

40

Quadro 3: A evolução da venda

ERA PRODUÇÃO VENDAS MARKETING PARCERIA

Período Antes de 1930

1930-1960 1960-1990 Após 1990

Objetivo Realizar vendas

Realizar vendas

Satisfazer necessidades

Construir parcerias

Orientação Necessidades curto prazo vendedor

Necessidades curto prazo vendedor

Necessidades curto prazo vendedor

Necessidades longo prazo comprador e

vendedor Papel do Vendedor

Provedor Persuasor Solucionador de problemas

Criador de valor

Atividades do

Vendedor

Conseguir pedidos, entregar

mercadorias

Convencer comprador e

comprar

Igualar

ofertas com necessidades

comprador

Criar alternativas,

igualar necessidades

comprador com

capacidades do vendedor

Fonte: Adaptado de Weitz et al. (1995, p. 12)

Assim, ao final deste breve percurso verificamos que as mudanças

vão ocorrendo em consonância com as necessidades dos distintos períodos

da história e, tanto o processo de vendas, quanto o pensamento

administrativo, percorreram um longo caminho no decorrer do século XX até

chegar à era da Informação e do Conhecimento.

Notamos que para atender aos pressupostos do ambiente econômico

e social, cada teoria procurou acolher e superar as necessidades e

demandas de cada época. Sejam quais fossem os aspectos internos e

externos enfocados por cada abordagem, houve a necessidade de

qualificação e desenvolvimento dos profissionais no que diz respeito aos

conhecimentos, habilidades e comportamentos para que fosse possível

aguentar as demandas e carências impostas às corporações, ou seja, o

sujeito trabalhador foi sendo requisitado ao atendimento das novas

configurações organizacionais.

Através dessa breve perspectiva histórica pode-se verificar como

cada teoria enxergava o trabalhador desde a época de estabilidade e

previsibilidade das Teorias Científica, Clássica e Burocrática,

posteriormente, com as Teorias das Relações Humanas e Estruturalista cujo

41

momento era de desenvolvimento de preocupações mais sociais e

psicológicas nas relações entre patrão e trabalhador dando nova dimensão

as teorias anteriores, seguindo pelas teorias dos Sistemas, da Contingência

e do Desenvolvimento Organizacional com seus estudos motivacionais até

adentramos na gestão da Qualidade, do Conhecimento e da Estratégia.

Assim adentramos na era da Informação e do Conhecimento

intensamente influenciada pelos progressos científicos. Isso faz com que as

empresas vejam a gestão do conhecimento e do capital intelectual, ou seja,

os ativos intangíveis, como seu mais valioso patrimônio. Daí a abordagem

da era da Informação e do Conhecimento ser voltada para a aprendizagem

organizacional

Assim, a cada novo paradigma que surge novos padrões são

exigidos, conceitos se modificam e novas visões passam a existir em um

encadeamento de concepções em que as anteriores são condições

importantes, e talvez até imprescindíveis, para a edificação de novos

conceitos e modelos culturais, pois, até mesmo a centenária e pioneira

Teoria da Administração Cientifica, ainda é necessária na procura da

eficiência e produtividade para ajustar e alinhar as empresas aos padrões

universais de excelência.

No mundo corporativo a evolução do processo de administração

estratégica está relacionada ao compasso acelerado dessas transformações

que ocorrem em nossa sociedade. As empresas procuram invariavelmente

criar e sustentar suas vantagens competitivas aperfeiçoando e atualizando

seus recursos humanos para manterem-se ativas no mercado. E é no fluxo

dessa evolução que na era da Informação e do Conhecimento adentramos,

no que diz respeito ao planejamento organizacional, na era da Gestão

Estratégica e Competitiva.

Para esse novo paradigma de planejamento organizacional que

enfatiza a aprendizagem contínua e valoriza o conhecimento como agente

de mudança ou de construção da sociedade é importante o fato de a gestão

ser abordada como um processo de aprendizagem, tanto individual quanto

coletivo.

42

As escolas de planejamento anteriores à Escola da Gestão

Estratégica Competitiva que, de acordo com Rodrigues (2012), foram,

conforme sua evolução, absorvendo e complementando as antecedentes, de

forma a corrigir os aspectos que poderiam estar comprometendo o seu

conjunto são as seguintes:

� Escola do Planejamento Financeiro - anos 1950;

� Escola do Planejamento a Longo Prazo - anos 1960;

� Escola do Planejamento Estratégico - anos 1970;

� Escola da Administração Estratégica - anos 1980;

� Escola da Gestão Estratégica - anos 1990;

� Escola da Gestão Estratégica Competitiva - anos 2000.

Conforme análise de Lobato (2007), nos anos 50 temos a Escola do

planejamento Financeiro, cujo foco de suas preocupações estava no

controle financeiro empresarial. Essa escola enfatizava a administração por

objetivos (APO)5 desenvolvida por Peter Drucker e a organização, assim

como, a monitorização dos recursos eram feitos a partir das finalidades

desejadas.

Utilizava o enfoque top-down (de cima para baixo), ou seja, contava com

apenas um estrategista central (o executivo do topo da pirâmide

organizacional) que era o responsável por definir e demarcar o controle

financeiro. No entanto, Lobato (2007), destaca que essa escola era

extremamente formal e mecânica ao buscar a eficiência dos processos e

suscitava no executivo a inquietação excessiva em cumprir o orçamento.

Assim, essa inquietação embaraçava a disposição para empreender, pois,

as prioridades eram as ações mais operacionais.

Na década de 60, a Escola do Planejamento à Longo Prazo, passou a

preocupar-se com a projeção do futuro organizacional através de

indicadores passados e atuais. Nesse tipo de planejamento destacava-se,

segundo Lobato (2007), o preenchimento das lacunas existentes entre os

_____________________________________________________________ 5De acordo com Oliveira (2008), a APO é um processo que requer a identificação e

descrição precisas dos objetivos, monitorização e prazos para seu alcance. Tal processo

exige que gestor e funcionário concordem no que a administração pretende atingir no futuro

e que todos desempenharão as suas funções em função desses objetivos.

43

pontos da projeção ao cenário desejável. Desenvolvia-se a visão de futuro

mediante a preparação de cenários com modificações que seguiam

preceitos conhecidos de causa e efeito, porém, este tipo de raciocínio

esboçava o futuro, mas não previa descontinuidades.

Adentramos, nos anos 70, com a Escola do Planejamento Estratégico,

cuja preocupação principal era com a eficiência e eficácia das

determinações empresariais. Assim, a acepção de “estratégia”, a princípio

utilizada apenas em organizações militares, foi apropriado e utilizado pelo

mundo dos negócios, estando o seu desenvolvimento relacionado com a

cadência das transformações ocorridas na sociedade em geral e no mundo

empresarial em particular.

Antes de implementar uma estratégia essa escola ponderava o

ambiente interno da empresa analisando as forças e fraquezas, e avaliava o

ambiente externo analisando suas oportunidades e ameaças. Porém, faltava

foco na implementação das estratégias e, deste modo, chegamos aos anos

80 com a Escola da Administração Estratégica que valorizava, dentre outros

temas, a análise e implementação das estratégias. Ainda que acolhesse a

maioria das premissas desenvolvidas anteriormente, essa escola, de acordo

com Lobato (2007), demonstrou que a implementação de estratégias era tão

significativo quanto a sua formulação. Essa abordagem pondera que o cerne

da formulação de uma estratégia é relacionar a organização ao seu meio

ambiente. Tal escola afirma que o baixo custo e a diferenciação são os dois

tipos básicos de vantagem competitiva. Contudo, essa escola teve

dificuldades com a falta de trabalho sistêmico dos sujeitos, ou seja, no

entendimento do todo a partir de uma apreciação global das partes e do

intercâmbio entre elas, fazendo com que as forças internas e/ou externas,

operassem buscando compreender a influência das partes entre si e

permitindo ao gestor a visão da organização como um sistema pleno

originando ferramentas provedoras de resultados.

Já a Escola da gestão Estratégica, na década de 90, preocupou-se

em buscar a sintonia entre os ambientes interno e externo e prover a falta de

trabalho sistêmico da escola antecedente, porém, falhava no que diz

respeito ao alinhamento com a filosofia organizacional.

44

Assim, ingressamos, no século XXI, com a Escola da Gestão

Estratégica Competitiva que é, dentro dessa evolução, a forma mais

atualizada de pensar a corporação frente à dinamicidade das mudanças.

Para essa escola, a definição de estratégia assume o formato de um

processo de aprendizado contínuo no decorrer do tempo, pois, de acordo

com Rodrigues, nesta escola:

a estratégia competitiva dos dias de hoje é o aprendizado constante,

cujo diferencial competitivo está na capacidade de as pessoas

executarem rotinas físicas ou intelectuais de forma cada vez mais

veloz, com maior eficiência e eficácia. (RODRIGUES, 2012, p. 356-

362).

Portanto, o pensamento estratégico surgiu devido às mudanças cada

vez mais rápidas de um mundo globalizado, que levaram as organizações a

modificarem sua concepção acerca do status quo. As transformações por

que vem passando o mundo dos negócios levaram à valorização do homem

que com o seu conhecimento pode fazer a diferença entre uma organização

ter sucesso ou não.

E foi assim que nos anos 2000, alcançamos a era da Gestão

Estratégica e Competitiva. Nessa escola a habilidade de aprender e a

aprendizagem contínua tornaram-se agentes de mudança e de construção

da sociedade levando ao reconhecimento de que o diferencial das empresas

não estará em sua infraestrura, mas nas pessoas que as compõe que

tornam-se, deste modo, a maior estratégia competitiva de uma organização.

Deste modo, o desenvolvimento do processo administrativo também

está relacionado ao compasso acelerado das transformações que ocorrem

em nossa sociedade.

Diversos autores6 enfatizam e disseminam o modo como as

mudanças ocorridas na sociedade influenciam e impelem mudanças

organizacionais, algumas vezes de modo radical, afetando, especialmente,

as pessoas e o modo como o trabalho é realizado. Peter Drucker, por

exemplo, dizia o seguinte sobre as mudanças:

_____________________________________________________________ 6Naisbitt (1990), Drucker (1994;2012), Toffler (1973; 1980; 1996), Mota (1998).

45

Dentro e fora das organizações empresariais há um constante e

irreversível movimento de mudança. Aliás, as organizações

empresariais existem como agentes de mudanças nas sociedades

industriais e devem ser capazes de evoluir para adaptar-se a novas

condições e de inovar para mudar as condições. (DRUCKER, 2012,

p. 176).

As mudanças sempre ocorreram ao longo dos anos, no entanto, as

mudanças estão se tornando cada vez mais rápidas. Os lentos darão lugar

aos rápidos.

O mercado ficará nas mãos dos que conseguirem operar diferencialmente

nas dimensões: pessoas, processos e tecnologia, norteados por uma

estratégia diferenciada e suportada pelo conhecimento.

Assim, as pessoas com seu conhecimento tácito, a tecnologia com a

capacidade de armazenar conhecimentos e os processos estruturados

permitindo a sistematização e automatização do fluxo de informações e

tarefas, torna-se o modelo capaz de orientar os esforços de uma

organização para a obtenção dos seus próprios objetivos estratégicos. As

pessoas passaram a ser a fundamental dimensão de uma corporação.

Para isso a educação que antes era concebida apenas como uma das

etapas da vida passa a ser parte incessante, já que, com o processo de

inovação contínua, a obsolescência do conhecimento torna-se grande, logo,

organizar e orientar o aprendizado, tanto no nível individual quanto no

coletivo, e estimular a produção de conhecimentos capazes de criar

competências e gerar inovações deve ser uma preocupação urgente da

sociedade.

Deste modo, com o progresso da tecnologia e das técnicas

dominadas pelo homem, vivemos uma contradição: de um lado, o ser

humano busca continuamente mais conhecimento, inovação e mudanças, de

outro, o próprio ser humano procura segurança e constância que nunca é

alcançada pela própria particularidade humana de sempre buscar o novo. O

que gera, portanto, um ciclo infindável de mudanças cada vez mais rápidas,

assim como, contradições de interesses, intenções e direcionamento.

Portanto, sendo a mudança o único caminho deve-se dar especial atenção à

46

preservação do capital humano, que compõem o maior patrimônio da

organização.

As tendências aqui expostas deixam claro que dentro da Sociedade

da Informação e do Conhecimento, as pessoas são consideradas como o

principal diferencial competitivo do mercado, nos remetendo à importância e

à necessidade de se despertar em todas as pessoas, assim como, em todos

os planos funcionais a disposição para aprender.

O vendedor neste século XXI, por exemplo, precisará estar apto a

planejar, dirigir, controlar todas as ações da força de vendas em mercados

mutáveis e que demandam rápido aumento das vendas. Dentre as

qualificações exigidas ao novo perfil de vendedor estão inclusas, entre

outras coisas, saber avaliar custos e lucros, gerir o marketing de

relacionamento, assim como, o serviço ao cliente. A todas essas aptidões e

necessidades de conhecimento ainda se ajuntam outras em função das

demandas de cada tipo particular de negócio.

Enfim, para entender as necessidades de desenvolvimento dessa

função, deve-se estar atento aos desafios do mercado buscando harmonizar

um perfil de vendas compatibilizado com a acelerada transição de suas

necessidades específicas.

Portanto, essa busca pelo conhecimento irá desenvolver o novo perfil

de trabalhador focando, além do conhecimento técnico e instrumental, o

desenvolvimento de competências tendo em vista que a educação e a

qualificação do capital humano serão a estratégia competitiva fundamental

do século XXI. Lembrando que o desenvolvimento profissional não se limita

apenas a qualificar, mas, também, preocupar-se em ajudar a construir

competências profissionais técnicas e comportamentais para que os

trabalhadores possam realizar papéis muitos mais amplos e efetivos em seu

ambiente de trabalho.

A obtenção de conhecimento está vinculada ao processo de

aprendizagem e é muito mais do que acúmulo de dados e informações.

Ponderar a relação entre conhecimento e aprendizagem é também enfatizar

os diversos tipos de conhecimento necessários em situações de trabalho,

bem como a variedade de modos e níveis de aprendizagem, portanto, tais

47

questões deixam evidente a necessidade de articular os conhecimentos do

universo corporativo e da área educacional.

48

CAPÍTULO II

SOBRE A PROFISSÃO DE VENDAS

Como vimos anteriormente, vive-se em um cenário globalizado em

que organizações e profissionais buscam um diferencial de atuação com o

intuito de obter melhores condições no nicho de mercado em que operam e,

neste sentido, os profissionais de venda vivem um momento muito

importante.

A profissão de vendas possui uma dimensão histórica que remonta às

atividades humanas mais longínquas. É uma das mais antigas do mundo e

desde o momento em que o homem deixou as cavernas, na pré-história, na

busca por alimentos, passou a existir a necessidade da troca de mercadorias

que, conforme Cobra (1994) foi a primeira ação de comércio.

Cobra (1994) escreve que o comércio remonta a pré-história da

humanidade e evoluiu tornando-se um acontecimento mundial. Na

sociedade moderna é caracterizado por uma intensa interdependência e

interação entre indivíduos, grupos sociais, empresas e etc., onde as

permutas de bens e serviços são realizadas incessantemente.

O comércio é, na verdade, uma trama entre vendedores que

apresentam bens ou serviços e compradores que buscam esses bens ou

serviços. Sendo os produtos e serviços heterogêneos, utilizam-se algumas

categorizações que facilitam a sua comparação.

A classificação mais popular é a distinção entre os produtos como

bens (ou mercadorias) e serviços. Assim, bens ou mercadorias são os

produtos físicos palpáveis e concretos como, por exemplo, uma bolsa ou um

livro. Já os serviços são ações especializadas que indivíduos ou empresas

apresentam ao mercado de consumo. Podem admitir uma variedade de

predicados e de especializações como, por exemplo, médicos e professores

que comercializam seus respectivos serviços.

Outra classificação separa produtos concretos de produtos abstratos.

Produto concreto é fisicamente palpável como, por exemplo, um carro ou

49

uma casa e o produto abstrato não possui tangibilidade como, por exemplo,

o ensino ou a educação. O fato é que em qualquer atividade econômica,

bens e serviços estão conectados e dependem do intercâmbio entre

compradores e vendedores para que o sistema econômico funcione. Assim,

dentro desse contexto, o vendedor opera direta ou indiretamente, como elo

entre a produção e a distribuição de produtos ou serviços até o consumidor

final.

Para Ingram et al. (2008), a palavra vendedor não é em si muito

descritiva, pois, na ação de vender pode-se comercializar desde pregos até

aviões, assim como, professores e psicólogos comercializam seus serviços.

Deste modo, descreveremos nosso objeto de estudo como um grupo de

profissionais de vendas, de dentro e fora do estado de São Paulo. Neste

grupo haverá tanto profissionais que atuam em lojas, face a face com o

cliente, assim como, profissionais responsáveis por ir em busca dos pedidos

de compra via telefone, internet ou pessoalmente (conhecidos como

“tiradores de pedido”) e ainda, prestadores de serviços, ou seja, aqueles que

não vendem produtos concretos, mas sim serviços aos seus clientes.

A essa configuração se denomina “venda pessoal”, pois, a venda é

feita por um vendedor que pode realizá-la pessoalmente, pelo telefone ou

internet direcionando sua ação a um intermediário, cliente final, ou ainda, um

cliente em potencial.

A venda pessoal é uma ferramenta do composto de marketing7 que

Cobra (1994), considera de grande importância, pois, tem como

característica principal a comunicação direta entre o profissional de vendas e

seus compradores/clientes possibilitando à corporação reagir rapidamente

às necessidades do cliente, adaptando-se aos seus interesses e desejos e

tendo como resultado um maior número de vendas.

_____________________________________________________________ 7Os 4Ps (produto, preço, praça e promoção) ou composto de marketing concebidos, em

1960, por Jerome McCarthy resume os principais elementos que interferem nas decisões de

marketing. Esses elementos do composto de marketing interferem diretamente na venda,

pois, são atividades do marketing que tem como função mercadológica a comercialização

de bens e serviços (BASTA et al, 2006, p.33).

50

De acordo com Amôedo (2007), a expressão cliente se originou na

Roma antiga quando uma pessoa almejando algum tipo de ascensão

colocava-se sob a proteção de um patrício. Atualmente, a palavra pode

determinar o indivíduo que compra de um comerciante, que recorre a um

negociante, a um a um médico e etc.

Mais recentemente, com o surgimento das práticas direcionadas à

Gestão de Qualidade Total8, “cliente” passou a indicar todo indivíduo com

quem se tem relacionamento funcional seja dentro (cliente interno) ou fora

(cliente externo) da empresa.

O termo vendedor, de acordo com Cobra (1994), já existia na antiga

Grécia, assim como, a venda como atividade de câmbio. Na idade Média os

"vendedores" colhiam produtos no campo, vendiam nas cidades e voltavam

ao campo para comercializar os produtos manufaturados nas cidades.

Com o advento da Revolução Industrial, por conta da necessidade de

venda dos excedentes de produção, o comércio entre as cidades e países

progrediu e destacou o papel econômico do vendedor.

Ainda segundo Cobra (1994), até o início do século XIX, a atividade

de venda já estava bem demarcada na Inglaterra, mas não no Novo Mundo.

Foi após 1850, com o início da industrialização nos Estados Unidos, e até

mesmo no Brasil, que a função de vendedor obteve um crescimento

expressivo.

Com a inauguração das ferrovias no Brasil, o “caixeiro-viajante”9

ganhou proeminência, pois, com a precariedade das comunicações, esse

profissional começou a desempenhar o papel de irradiador de informações

para os lugares mais remotos.

Para Las Casas (1993), assim como no passado, esse profissional

continua oferecendo benefícios à sociedade como, por exemplo:

_____________________________________________________________ 8De acordo com Araújo (2006), a Gestão de Qualidade Total consiste numa estratégia de

administração orientada a criar consciência da qualidade em todos os processos

organizacionais. A Toyota, no Japão, foi a primeira organização a empregar esse conceito. 9caixeiro-viajante empregado que promove a venda dos produtos de um estabelecimento

comercial em localidades não compreendidas na praça desse estabelecimento.

(FERREIRA, 1988, p.116).

51

� Na economia: As relações de troca são essenciais para a economia,

deste modo, para que os produtos sejam comercializados é

necessário que haja uma atuação nesse sentido. Assim, quanto mais

vendas houverem, maior será a produção e, consequentemente,

maior será a oferta de produtos para os consumidores o que

desencadeará uma oferta maior de empregos, assim como, de

investimentos;

� No padrão de vida: Vendedores oferecem produtos que proporcionam

conforto e outros benefícios que facilitam a vida dos consumidores;

� Para o aperfeiçoamento dos produtos: por meio do contato entre

vendedores e clientes (que se queixam, elogiam ou oferecem

sugestões) é possível desenvolver produtos de melhor qualidade e

que atendam aos desejos dos compradores;

� Na manutenção da atividade empresarial: O departamento de vendas

desempenha papel fundamental na aquisição de receita, uma vez que

sem vendas não é possível captar recursos para satisfazer as

despesas.

O vendedor detém o cargo mais importante da estrutura comercial

(CASTRO E NEVES, 2008), pois, além dos benefícios já citados, há, ainda,

inúmeras outras tarefas exercidas por este profissional como a prospecção

de nova clientela e previsão de vendas, exame das necessidades dos

clientes, realização e consumação de negócios, dentre outros. Deste modo,

os vendedores servem de approach entre empresa e clientes e, sendo

assim, devem desenvolver diferentes aspectos comportamentais, pessoais e

de conhecimento que podem ter uma importância de maior ou menor

alcance de acordo com as particularidades da corporação.

Moreira et al (2008) também compartilha dessa afirmação sobre a

importância do profissional de vendas, e acrescenta que este profissional

fornece à empresa informações úteis para fundamentar e definir processos

como os de produção, concepção de novos produtos, controle de qualidade,

marketing de relacionamentos, dentre outros.

Com o passar do tempo o ofício de vendas foi se modificando e

profissionalizando cada vez mais. Em meados da década de 40, notou-se

52

uma mudança no perfil nos clientes que passaram a demandar maiores

informações sobre os produtos, forçando a especialização dos vendedores

que perceberam a necessidade de maior profissionalização (COBRA, 1994).

Assim, aprender mais sobre o que vendiam passou a ser necessário, pois,

desse profissionalismo dependeria o acréscimo das vendas e, por

conseguinte o seu sucesso profissional e pessoal.

No entanto, a concorrência cresceu, os canais de compra

diversificaram-se e o consumidor passou a exigir mais. O consumidor

passou a exigir melhores preços e qualidade nos atendimentos forçando os

vendedores a reavaliarem as margens de lucro, além de oferecer um

tratamento diferenciado aos clientes. A cultura do bom atendimento passou

a ser valorizada pelos vendedores, envolvendo não somente os homens de

vendas, mas também, funcionários e colaboradores da empresa.

É a partir dessa necessidade que surge, por exemplo, em 1960, o

composto de marketing (também denominado de 4Ps, composto

mercadológico ou ainda marketing mix) e, no ano de 2000, o CRM10 ou

abordagem da Gestão do Relacionamento com os Clientes, como forma de

tornar o produto mais atraente e a venda mais assertiva na busca da

satisfação do cliente.

Conforme Rodriguez (2002), para esta nova abordagem junto aos

clientes, o uso da tecnologia de informação é de fundamental importância,

pois, o sucesso é medido pela retenção e pelo desenvolvimento dos clientes

e não somente pelo total de “cotas” de venda atingidas ou pela quantidade e

valor de produtos ou serviços comercializados. O diferencial passa a ser a

inovação, a ênfase no cliente e em suas necessidades, com uma atuação

personalizada e focada no “freguês”.

Assim, com o surgimento de novas corporações e a concorrência

cada vez mais acirrada, a gestão do relacionamento com os clientes se torna

_____________________________________________________________ 10A Gestão do Relacionamento com os Clientes ou CRM cuja sigla foi retirada do inglês

Customer Relationship Management “É uma estratégia de negócios, voltada para o

atendimento e antecipação às necessidades e aos desejos dos clientes atuais e potenciais,

fazendo com que toda a empresa trabalhe orientada aos clientes”. (RODRIGUEZ. 2002, p.

258).

53

uma questão bem mais complexa. Isso porque necessita da gestão de

diversos processos e pessoas da organização, com uma enorme quantidade

de informações vindas das mais diversas fontes e formatos. Deste modo,

para auxiliar neste processo a empresa pode, ainda, lançar mão do modelo

das Cinco Forças Competitivas11 desenvolvido por Michael Porter.

Portanto, a partir da difusão de novas abordagens em vendas e

marketing o perfil do homem de vendas vai se alterando, passando de

“tirador de pedido” para “assessor de seus clientes”. Essa modificação no

papel do vendedor vem acontecendo pela necessidade de acompanhar as

sociedade e está fundamentada no conhecimento e uso de tecnologia.

A profissão mesmo sendo uma das mais antigas do mundo, continua

atual e longe da possibilidade de extinção pelas novidades tecnológicas, que

afeta tantas carreiras. A tecnologia afetou de modo positivo o profissional de

vendas, inserindo em seu oficio, por exemplo, o telefone celular, palm top,

envio de pedidos pela internet, sem falar na criação das lojas virtuais.

No entanto, Cobra (1994), assinala que a importância para economia

desse ofício, não costuma ser devidamente valorizada, pois, algumas vezes

o vendedor não é visto “com bons olhos” pela sociedade, pois, no senso

comum, há certo preconceito de que o profissional das vendas é “malandro”

e que através de sua “lábia” tem a intenção de ludibriar o cliente. Essa

postura retrata a cultura negativa construída durante os séculos sobre a

representação de vendedor.

O profissional de vendas convive, assim, com a crítica, a

desconfiança e a dúvida quanto à validade ética e moral de seus princípios e

práticas. Tais críticas, possuem raízes históricas, pois, de acordo com Star

(1989, p.148, apud D’ANGELO, 2003), Platão e Aristóteles, por exemplo,

definiam o profissional do comércio como "não amigáveis e inconfiáveis".

_____________________________________________________________ 11As Cinco Forças de Porter são: as ameaças de novos entrantes; o poder de negociação

dos fornecedores; o poder de negociação dos compradores; as ameaças de serviços

substitutos e a rivalidade entre as empresas existentes. De acordo com Ferrari (2005),

“Michael Porter desenvolveu a teoria das forças competitivas para avaliar e definir a escolha

estratégica mais adequada para gerar um diferencial competitivo sustentável e, que

proporcione melhores resultados e garanta a sustentabilidade da organização”.

54

Ainda conforme Star (1989, p.148, apud D’ANGELO, 2003), outros

intelectuais da Grécia antiga os denominavam de "trapaceiros" ou "fingidos".

Pode se supor que há muito séculos parece ter se desenvolvido certo

preconceito contra o vendedor, reforçado através dos tempos provavelmente

por esta categoria ter abrigado vagabundos e marginais conforme assinala

Cobra (1994), quando analisa a composição da classe de comerciantes da

Europa do século X.

Assim, desde tempos remotos o adjetivo “trapaceiro” parece ser um

termo presente no senso comum da sociedade ao se referirem ao

profissional de vendas por conta da falta de ética de alguns profissionais. De

acordo com o Dicionário Aurélio, ética é o:

“estudo dos juízos de apreciação referentes a conduta humana

suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja

relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”.

(FERREIRA, 1988, p.280).

Sobre a ética em vendas Amôedo escreve:

“Podemos considerar a ética em vendas como o conjunto de valores

construtivos, que levam o vendedor a se comportar de modo a

fortalecer sua credibilidade. Ou seja, vendas é igual a credibilidade”.

(AMÔEDO, 2007, p. 87).

Deste modo, entendemos que o antídoto para a falta de confiança é a

adotação, no processo de vendas, do comportamento ético que imprime

credibilidade tanto ao profissional quanto ao produto comercializado. No

entanto, alguns profissionais, entram em conflito com a ética, usando

recursos como a mentira e a manipulação. Conforme Amôedo (2007) a

mentira é um exemplo de falta de ética que pode acontecer a partir de

diversas nuances descritas a seguir:

� A mentira completa é antiética, além de ser ilegal;

� A meia verdade, mesmo tendo um fundo de verdade, nunca

será uma verdade inteira;

� A omissão é antiética e quando acentuada pode causar

prejuízos aos clientes;

� O exagero costuma prejudicar a confiabilidade do vendedor;

55

� A manipulação ilude, induz ou condiciona o cliente a fazer

(comprar) algo.

A falta de franqueza é um traço que compromete a imagem do

vendedor. Morgan (1996, apud MIGUEL, 2004), observa que em uma

pesquisa sobre o que mais irrita os consumidores em relação ao

comportamento dos vendedores, foi solicitado que as pessoas

enumerassem os três traços nos vendedores que mais os impressionavam e

os três traços que mais os aborreciam. Em termos percentuais, os

resultados da pesquisa foram organizados no Quadro 4, a seguir:

Quadro 4: Traços que Impressionam/Aborrecem nos vendedores

Traços que impressionam

%

Traços que aborrecem

%

Disposição em lutar pelo cliente 77 Falta de preparo 63

Atendimento do começo ao fim 75 Falta de continuidade 58

Conhecimento do mercado,

disposição a dividi-lo

46

Falta de conhecimento das

operações do cliente

55

Conhecimento dos produtos 38 Falta de interesse ou propósito 54

Diplomacia c/ os departamentos

Operacionais

23 Falta de marcar ou cumprir o

agendamento

49

Imaginação 21 Falta de conhecimento sobre os

produtos

43

Preparação para entrevistas 20 Superagressivo/arrogante 28

Educação Técnica 18 Falta de franqueza 26

Conhecimento das

necessidades do cliente

16 Ter o cliente como certo 23

Regularidade em visitas 5 Falta de cumprir promessas 22

Falta de criatividade 17

Falha no ouvir 15

Falta de conhecimento técnico 14

Fonte: Morgan (1996) apud Miguel (2004)

A observação do Quadro 4, indica que a falta de franqueza encontra-

se relacionada dentre os traços que mais irritam os clientes, assim, de

acordo com Alencastro (2010), uma negociação desonesta é pouco

56

produtiva, além de desperdiçar tempo e energia causando danos a relação

de confiança entre o vendedor e o cliente. Assim, quando o vendedor

trabalha com transparência, transmitindo as informações de que o

consumidor necessita, sem esconder dados indispensáveis à decisão de

compra cria-se uma fidelização do cliente, portanto, a confiabilidade é um

amplo diferencial competitivo.

De acordo com Amôedo (2007, p. 89), mais do que nunca a

sociedade busca e enfatiza a qualidade ética, ou seja, a “exigência ética

agora não é apenas por produtos ou serviços de qualidade, mas também

pela natureza ética”. Assim sendo, a ética deve estar presente em todos as

profissões, inclusive, na prática dos profissionais das vendas.

O ato da venda, de acordo com Arruda, Whitaker e Ramos (2003),

requer certa habilidade de persuasão, assim sendo, tanto a área de compra

quanto a de venda tornam-se vulneráveis aos atos antiéticos como, por

exemplo, a mentira, intriga de concorrentes, “doações” de comissão ao

comprador, manipulação, dentre outros. A influência do profissional de

vendas normalmente extrapola sua finalidade principal que é a de informar e

sugerir auxiliando o consumidor a identificar sua real necessidade, assim

como, o produto ou serviço que o irá satisfazer, porém, quando a atividade

de vendas deixa de lado sua função de informação, para apenas persuadir e

convencer as pessoas a adquirir determinados produtos ou serviços sua

credibilidade é maculada.

Ainda de acordo com Arruda, Whitaker e Ramos (2003), levando em

consideração de que a função do vendedor é a de informar e ofertar ao

cliente produtos e serviços úteis com boa qualidade e, ainda, de que a ética

não é exclusivamente uma questão de conveniência, mas também uma

condição imprescindível para a sobrevivência da sociedade pode-se dizer

que a venda norteada por preceitos morais conduz ao desenvolvimento do

homem e do bem comum, sustentando, honesta e eticamente uma

competitividade responsável.

Ao obedecer aos princípios já consagrados nas boas práticas

comerciais o vendedor agregará a imagem de confiança e honestidade à sua

57

função. De acordo com Alencastro (2010), as boas práticas comerciais são

as seguintes:

� Atuar sempre no âmbito da lei;

� Manter a qualidade do produto;

� Evitar produtos que oferecem perigo à saúde e à segurança

das pessoas ou ao meio ambiente;

� Proporcionar atendimento que leve em consideração os

melhores modelos comerciais (cortesia e boa vontade);

� Acatar a liberdade de escolha do comprador.

Com o uso das boas práticas comerciais, respeita-se o Código de

Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/1990), instrumento que tutela as

relações de consumo viabilizando dirimir conflitos existentes nessas

relações, incentivando o desenvolvimento de uma cultura que respeite os

interesses dos consumidores.

No que diz respeito à concorrência, espera-se o mesmo

comportamento ético do vendedor, pois, o vendedor que se relaciona

eticamente com seus concorrentes, imprime maior confiabilidade quando, ao

se referir ao concorrente ou aos produtos deste, assume uma postura

elegante e ponderada.

No entanto, o uso do comportamento ético com a concorrência não

necessariamente levará à uma melhor aceitação do produto em detrimento

ao produto da concorrência, no entanto, demonstra uma postura honesta e

justa de quem busca atender à necessidade real do comprador, principal

função do profissional de vendas, como afirmam Arruda, Whitaker e Ramos

(2003). Interessante a afirmação destes autores ao assinalar que uma

empresa preocupada com a ética, ao formar sua equipe de vendas, optará

por contratar o profissional convencido de que seu papel como vendedor

consiste em um serviço e não na mera operação de vendas. Essa visão

implica aptidão para pôr-se no lugar do comprador a fim de entendê-lo

melhor, validando sua tendência pessoal para concretizar a venda,

atendendo eticamente às expectativas do comprador e não agindo

exclusivamente em função de seu pagamento e/ou comissão.

58

Assim, a ética na área de vendas ocorre quando verificamos, por

exemplo, a veracidade das informações, a sinceridade sobre as restrições

dos produtos ou serviços, o respeito com a concorrência e, sobretudo, ao

principal papel da venda que é prover a real necessidade do consumidor em

relação ao objeto da venda ou da prestação de serviços.

O vendedor, como qualquer outro profissional, também possui

dificuldades no exercício de sua profissão e atuar em vendas implica

conviver, rotineiramente, com objeções que fazem parte da ação de vender.

Assim, a profissão de vendas não é diferente de outras profissões com seus

altos e baixos, assim como, exigindo muito investimento e dedicação.

Outro ponto a ser levado em consideração são as grandes mudanças

tecnológicas que provocaram inúmeras transformações no comércio global

exigindo novos modos de produção.

A dinamicidade das atividades comerciais é um dos fatores que

demandam maior e constante aperfeiçoamento dos profissionais de vendas,

pois, os avanços tecnológicos, além da constante cobrança dos

consumidores por qualidade nos produtos e serviços é uma constante na

vida deste profissional.

A lógica pós-fordista, por exemplo, que surgiu com o objetivo de

reverter a queda da receita e da produtividade após a crise do modo de

produção fordista provocou inúmeras mudanças no mundo dos negócios.

De acordo com Tavares:

Contrariamente à rigidez que caracterizava o taylorismo-fordismo,

as novas tecnologias buscam obter o máximo de flexibilidade no

que respeita a processos de produção, desenhos e produtos, bem

como a ocupação da força de trabalho. (TAVARES, 1993, p.41)

E de acordo com Harvey: Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, novos

mercados de trabalho, dos produtos e padrões. Caracteriza-se pelo

surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas

maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados

e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial,

tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas

mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre

setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um

59

vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem

como conjuntos industriais completamente novos em regiões até

então subdesenvolvidas. (HARVEY, 1992, p. 140).

Assim sendo, como visto no capítulo anterior, o fordismo é um

sistema de produção complementar ao taylorismo e tem como característica

fundamental a fabricação em massa. Já o sistema pós-fordista ou

neofordista comporta dentre outras características: os novos métodos de

produção baseados nas práticas flexíveis de trabalho, maior grau de

individualismo e diversidade social, dominância do consumo sobre a

produção, assim como, uma “polivalência” da mão de obra. Logo, essa

polivalência implica em privilegiar o trabalho em equipe, incentivando o

trabalhador e/ou o grupo a programar seu trabalho com autonomia,

desenvolver nos trabalhadores a aptidão de antecipar problemas e estimular

soluções criativas, assim como, mão de obra qualificada com atributos

multifuncionais.

No bojo deste novo sistema que é reproduzido em todos os setores

da economia e principalmente no setor terciário que corresponde às

atividades de comércio de bens à prestação de serviços, a dinâmica

concorrencial também acompanha um novo ritmo, pois, o eixo dessa

concorrência migrou do preço para os novos modelos de produtos

adaptados ao mercado consumidor, mercado este que se tornou imprevisível

e volúvel, necessitando de uma produção diferenciada e adequada ao novo

cenário.

Portanto passa a ser exigido do trabalhador maiores níveis de

criatividade e inovação, devendo ser capaz de trabalhar em equipe e ter

capacidade de aceitar novos riscos, ou seja, passa a ser exigido mais

iniciativa, conhecimento e responsabilidade por parte do trabalhador que

deve se responsabilizar pela sua saúde, mobilidade e emprego de seus

conhecimentos. Cada qual deve gerir seu capital humano ao longo de toda a

sua vida, sem deixar de investir em seus processos de formação e aquisição

de conhecimentos.

Com o pós-fordismo surgem equipamentos flexíveis cuja finalidade é

atender a um mercado diferenciado em quantidade e qualidade. Assim, de

60

acordo com Boddy, “À flexibilização na produção corresponde uma

flexibilização dos mercados de trabalho, das qualificações e das práticas

laborais” (BODDY, 1990, p. 46).

Portanto, os novos modelos que surgem têm como atributos básicos

um esforço constante para a melhoria simultânea da qualidade, dos custos e

dos serviços e ainda conservar-se próximo à clientela para perceber suas

necessidades e com isso ser capaz de satisfazê-las, além de cultivar a

proximidade com os fornecedores.

Esse novo modelo é assentado sob a base de sistemas eletrônicos

que flexibilizam o sistema produtivo das empresas com o intuito de atender

às diversas demandas de um mercado crescente, porém, seletivo e

exigente. Em uma estrutura de produção com essa nova conformação

tecnológica, correções e acertos podem ser arranjados rapidamente para

atender a diferentes demandas de serviços ou produtos.

Sob esta ótica, há a necessidade de desenvolver e aprimorar o

profissional de vendas proporcionando à organização elementos que

nortearão ações sistêmicas, assim como, benefícios aos clientes.

A atividade de vendas evoluiu e ainda vem evoluindo acompanhando

as mudanças que ocorrem na sociedade e no mundo. O profissional das

vendas necessita estar preparado para essas mudanças, otimizando,

constantemente suas competências para atuar em um mercado diferente e

complexo. Dentro desse contexto, há a necessidade permanente de

renovação e revitalização, pois, na Sociedade do Conhecimento, o ser

humano precisa se adaptar e mudar muito mais rapidamente.

O vendedor necessita desenvolver suas competências através do

aprendizado contínuo e necessário às demandas de sua profissão

almejando seu desenvolvimento pessoal e profissional o que nos leva a

questionar, dentre outras coisas, sobre quais seriam as competências

básicas necessárias à função de vendedor.

Competência para o trabalho, de acordo com Boyatzis (1982, p. 21), é

“uma característica subjacente de uma pessoa que pode ser um motivo,

traço, habilidade, aspecto da autoimagem ou papel social ou um corpo de

conhecimentos que ela usa”.

61

Todos os indivíduos possuem competências que advêm da somatória

de experiências, conhecimentos, habilidades, capacidades, valores,

motivações e outros atributos adquiridos no decorrer da vida. No trabalho, os

indivíduos usam um grande número de condutas e ações que se

transformam em produtos (bens e serviços) que são oferecidos ao mercado.

Em busca de maior competitividade, as organizações estão desenvolvendo

modelos de competências essenciais às funções, com a finalidade de

maximizar a performance de seus profissionais como, por exemplo, o

pessoal de vendas.

Esque e Gilbert (1995, p. 46), sugerem uma acepção de acordo com a

qual as competências seriam “comportamentos que auxiliam o profissional a

superar barreiras conhecidas para realizar os padrões de performance”.

Essa definição envolve o desenvolvimento de um conjunto de habilidades

que irão ajudar o funcionário a preparar-se para ter sucesso no trabalho.

Deste modo, o termo competência descreve a pessoa como bom ao

fazer algo, saber alguma coisa melhor que outros ou ser o primeiro em

determinado campo. Essa linha de pensamento tem como foco estratégico a

valorização das pessoas, pois, são estas que, dentro das organizações,

aprendem e adquirem novas competências, deste modo, explora-se tanto os

ativos tangíveis quanto os intangíveis da empresa tendo como objetivo

desenvolver novas capacidades.

Dentro deste objetivo, são desenvolvidos, em algumas organizações,

os projetos de Gestão de Competências, que formam a base para o

desenvolvimento de pessoas dentro da corporação, assim como, para as

Universidades Corporativas. Na Gestão por Competências, a partir das

finalidades estratégicas da organização são identificados os hiatos de

competências e, destes hiatos, são determinadas ações de capacitação que

podem ser desde um treinamento, curso, leitura de um texto, um estágio ou

a cumprimento de um determinado projeto.

Portanto, tendo em vista a importância cultural, profundidade social da

profissão de vendas justifica-se o estudo de suas representações sociais.

Deste modo, com o auxílio da teoria das Representações Sociais, busca-se

a compreensão de como se articula a representação acerca da profissão de

62

vendas pelos próprios profissionais de vendas, deixando evidente a ligação

entre o objeto de representação (neste caso a profissão de vendas), e um

determinado sujeito (os vendedores), indo ao encontro da afirmação de que

“toda representação é uma representação de alguém (o sujeito) e de alguma

coisa (o objeto)”. (SÁ, 1998, p. 53).

63

CAPÍTULO III

SOBRE A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

O conceito de Representação Social originou-se, em 1961, da tese do

psicólogo social Serge Moscovici, intitulada La Psychanalyse, son image et

son public (A Psicanálise, sua imagem e seu público).

Nesta pesquisa foi observado como um sistema de saber, a

psicanálise, se transformava na medida em que se deslocava de seu

contexto de produção e penetrava diferentes ambientes sociais.

Na primeira parte desta pesquisa Moscovici estudou as

representações de diferentes ambientes sociais sobre a psicanálise, por

meio de entrevista e análise de questionários. Já a segunda parte foi

dedicada à análise dos gêneros de comunicação típicos desses meios

sociais.

Este estudo centrou-se nas maneiras como a psicanálise é apropriada

e ressignificada por diferentes setores do público francês e buscava

responder o seguinte questionamento: O que acontece quando um tipo de

conhecimento (conhecimento científico) circula na estrutura social para além

de sua origem e contexto de produção? Ao final da pesquisa a resposta

encontrada foi: Este saber se transforma.

Explicar a diferença entre as formas de saber e a maneira como tais

formas se transformam foi um problema presente no trabalho de Serge

Moscovici e marca o surgimento da teoria das Representações Sociais para

a qual é fundamental saber como comunidades diferentes, em diferentes

contextos e com distintos modelos culturais edificam saberes no mundo.

De acordo com Moscovici (2012), as Representações Sociais versam

tanto sobre uma teoria quanto a um fenômeno. Enquanto teoria, oferece um

conjunto de conceitos articulados que procuram elucidar como os saberes

sociais são produzidos e modificados em ações de comunicação e troca

social. Enquanto fenômeno, diz respeito a um conjunto de regularidades

baseadas na experiência abrangendo as ideias, os valores e as ações das

64

comunidades humanas sobre componentes sociais específicos, bem como

sobre as ações sociais e comunicativas que os produzem e reproduzem.

A teoria das Representações Sociais é uma psicologia social dos

saberes, ou seja, uma teoria sobre como novos saberes são produzidos e

acomodados no tecido social, sendo que o termo “saber social” pode fazer

referência a qualquer conhecimento, e se interessa de maneira especial no

fenômeno das representações sociais que abrange os saberes produzidos

no dia a dia da comunidade.

Neste sentido essa teoria pertence a “fenomenologia da vida

cotidiana”, pois, preocupa-se em entender como indivíduos, comunidades e

instituições produzem saberes sobre si mesmos, sobre outros e sobre a

abundância de objetos sociais que lhes são importantes.

A teoria de Moscovici tenta restaurar o status epistemológico dos

saberes ligados a vida cotidiana e ao senso comum. Para Jovchelovitch “a

teoria das representações sociais deve ser entendida não apenas como uma

psicologia social dos saberes, mas também, como uma teoria sobre como

novos saberes são produzidos e acomodados no tecido social”

(JOVCHELOVITCH, 2011, p. 86), e para isso ela se apoia no conceito de

representação e no reconhecimento de que todo o conhecimento é ao

mesmo tempo simbólico e social.

De acordo com Jovchelovitch (2011), a teoria da Representações

Sociais é permeada basicamente por três questões:

1. Pelo papel do social na construção do conhecimento, ou seja,

essa teoria entende que antes de pensar em conhecer nós partimos da

pertença e não do conhecimento, pois, pertencemos a uma cultura, uma

sociedade, uma família, um tempo histórico e esta pertença configura o

conhecimento que erigimos desde o início. Os saberes não são sistemas

isolados, ou seja, todo saber está sujeito a um contexto e está arraigado em

um modo de vida.

2. Pelo papel da função simbólica na formação das

representações que retoma a dimensão construtiva das representações

simbólicas, sua capacidade de “fazer mundos” e o fato de que os sistemas

de saber não estão e, de fato, não devem estar aprisionados exclusivamente

65

ao universo empírico, pois, para Moscovici (2012), as representações sociais

são maneiras de construir o mundo.

3. Pela reabilitação do conhecimento do senso comum, ou seja,

no esforço para reabilitar o senso comum e recuperar a sabedoria dos

saberes cotidianos. De acordo com Jovchelovitch:

O estudo do senso comum foi sempre permeado por uma

atitude de desconfiança que sistematicamente o privou de

status epistemológico igualando-o frequentemente à

distorção, ao viés, ao erro e à ignorância.

(JOVCHELOVITCH, 2011, p. 93).

Deste modo, Moscovici defende a sabedoria do senso comum e sua

irredutibilidade a qualquer outro sistema de conhecimento. Portanto, em vez

de estudar como o senso comum se torna ciência, Moscovici tomou a

direção oposta e procurou compreender como a ciência se torna senso

comum, pois, para ele o cotidiano é uma forma poderosa de conhecimento.

É um tipo de conhecimento distinto do conhecimento cientifico e tecnológico,

no entanto, não é menos sábio nos aprendizados e questionamentos que ele

contém.

O senso comum é aqui compreendido na perspectiva apresentada por

Moscovici (2012), como construído em consenso de grupos, elaborado,

modificado e transformado historicamente, a partir do acesso que se tem ao

conhecimento cientifico, do contexto social em que se vive.

Para desenvolver a teoria das Representações Sociais, Moscovici

buscou referências nas obras de Émile Durkhein, Lucien Lévy-Bruhl, Jean

Piaget, Vigotski e Sigmund Freud.

Esses estudiosos concordaram que o desenvolvimento dos saberes é

social e que é a sociedade que confere a lógica aos sistemas de

conhecimento, além disso, esses pensadores, utilizaram o conceito de

representações coletivas de Durkheim para compreender como

comunidades humanas constroem mentalidades especificas que

compreendem visões de mundo e práticas ligadas ao cotidiano.

Conforme Jovchelovitch (2011), as Representações Coletivas de

Durkheim designavam um conjunto de crenças, sentimentos e ideias,

habituais, e homogeneamente compartilhadas, de uma comunidade, sendo

66

sua função primordial a transmissão da herança coletiva dos ancestrais que

adicionariam às experiências individuais tudo o que a sociedade somou de

sabedoria e ciência durante os anos.

A partir do conceito de Representações Coletivas de Durkheim,

Moscovici, pensou as representações como um modo particular de construir

conhecimento, assim como, uma forma de transmitir, entre os indivíduos,

conhecimentos obtidos. Dito de outro modo, as representações instituem

modos de vida e formas de comunicação entre os sujeitos, por isso, elas são

representações sociais.

A concepção de representações sociais desenvolvida por Serge

Moscovici assemelha-se ao conceito de representações coletivas

desenvolvido por Durkheim, no entanto, apesar da semelhança, não são a

mesma coisa, pois, para Moscovici, o modelo de sociedade pensado por

Durkheim era rigido e tradicional, e, no modelo pensado por Moscovici o

sujeito tem função ativa e autônoma no processo de construção da

sociedade da mesma forma que é criado por ela.

Outro pensador importante para o desenvolvimento da teoria das

Representações Sociais foi Levi-Bruhl que propôs que todas as

comunidades humanas, sejam elas primitivas ou modernas, apresentam

diferentes modalidades de pensar, assim como, existem diferentes tipos de

saber presentes em uma mesma sociedade.

De acordo com Jovchelovitch (2011), na opinião de Levi-Bruhl, os

indivíduos são influenciados pela sociedade da qual participam e, por esse

motivo, exprimem sentimentos comuns que o autor denomina de

representação. Para Levi-Bruhl, o que torna uma sociedade diferente da

outra não é o nível de inteligência de seus componentes, mas o tipo de

lógica da qual cada uma se utiliza para refletir sua realidade concreta.

Porém, de acordo com Jovchelovitch (2011), foi na obra de Piaget

que Moscovici encontrou a noção de representação de modo mais

elaborado. Das pesquisas desse autor, Moscovici utilizou a conceituação de

representação, a observação do senso-comum e a preocupação com

mudança e desenvolvimento.

67

No entanto, Moscovici diverge de Jean Piaget no que diz respeito a

preocupação com a mudança e o desenvolvimento, pois, para Piaget, o

desenvolvimento acontece de um estágio ao outro e através de um percurso

em que formas complexas substituem formas elementares. Moscovici não

partilha da ideia de um continuum progressivo, pois, como Levi-Bruhl,

Moscovici reconhece e compreende a multiplicidade da razão.

A teoria de Vigotski também não partilha da ideia do continuum

progressivo e pressupõe a coexistência ao invés de substituição, pois, para

Vigotski as mudanças sociais causam importantes modificações no

pensamento e seus processos.

Conforme Jovchelovitch (2011), a visão descontínua de

desenvolvimento de Vigotski e a visão de que as transformações qualitativas

no pensamento corresponderiam a diferentes condições societais e culturais,

ofereceram subsídios para Moscovici conceber uma psicologia social do

saber capaz de teorizar, por exemplo, sobre a diversidade dos sistemas de

saber correspondentes à diversidade de ambientes socioculturais da vida

humana, assim como, sobre a transformação do saber como um processo

complexo que vai além do evolucionismo linear.

Já na Psicanálise de Sigmund Freud, Moscovici encontrou recursos

para entender os processos inconsciente que configuram a produção dos

saberes sociais e uma visão de conhecimento que não tem medo de se

engajar com o psicológico propriamente dito.

Freud trouxe à tona os trabalhos da interiorização, os processos pelos

quais as representações passam da vida de todos para a vida de um e do

nível da consciência para o nível do inconsciente. Para o psicanalista, nossa

história permanece conosco, de maneira sublimada ou disfarçada, fazendo

sua aparição sempre que a psique percebe que e necessário recuperar algo.

Portanto, reconhecer a lógica e a verdade que pontos de vista específicos e

maneiras particulares de viver no mundo contem é um dos legados

fundamentais da teoria freudiana.

Para Moscovici (2012), é Freud quem esclarece o processo de

interiorização (do consciente para o inconsciente) que transforma o saber

coletivo em informação individual marcando o caráter do sujeito. O caráter

68

seria a expressão de teorias construidas pelas crianças, primeiramente no

seio da família e, sucessivamente, são substituídas por outras, à medida em

que as crianças expandem o universo de suas relações sociais.

Após esse breve histórico sobre a origem das Representações

Sociais, podemos dizer que essa teoria procura elucidar os fenômenos do

sujeito a partir de um ponto de vista coletivo, sem deixar de lado a

individualidade e têm como um de seus objetivos tornar familiar algo não

familiar, isto é, classificar, categorizar e nomear novos fatos e ideias com os

quais ainda não havíamos tido contato, permitindo assim, seu entendimento

e manipulação a partir de ideias, valores e teorias já existentes e introjetadas

por nós e acolhida pela sociedade, pois, para Moscovici:

As representações que fabricamos – de uma teoria

científica, de uma nação, de um objeto, etc. – são sempre o

resultado de um esforço constante de tornar real algo que é

incomum (não familiar), ou que nos dá um sentimento de

não familiaridade. Através delas, superamos o problema e o

integramos em nosso mundo mental e físico, que é, com

isso, enriquecido e transformado. Depois de uma série de

ajustamentos, o que estava longe, parece ao alcance de

nossa mão; o que era abstrato torna-se concreto e quase

normal (...) as imagens e ideias com as quais nós

compreendemos o não usual apenas trazem-nos de volta ao

que nós já conhecíamos e com o qual já estávamos

familiarizados. (MOSCOVICI, 2012, p.58).

O autor esclarece que as representações sociais se definem como um

conjunto de saberes do senso comum, construído no dia a dia, e que irão

orientar nossa conduta. Ao buscar entender o novo, o não-familiar,

conversamos com nossos conhecimentos e experiências já existentes e,

assim, enquadramos esse novo saber aos nossos saberes (valores,

cognições, afetividade) já vivenciados. Deste modo, podemos dizer que há

um contínuo processo dialético de construção de conhecimento em que

aderimos, inteiramente ou não, à novidade, que nos é proposta, de acordo

com o conhecimento e valores que já tínhamos. E a esse processo

Moscovici chama Ancoragem.

69

Dentro desse mesmo raciocínio, ao integrar esse novo, construímos

também, ao mesmo tempo, uma imagem, buscando tornar concreta essa

nova realidade, esse novo conceito ou noção abstrata, ou seja, atrelamos

um conceito a uma imagem, a uma ideia palpável e a esse outro processo

Moscovici (1978), denomina Objetivação.

Conforme Jodelet (2001), a objetivação é o processo no qual o sujeito

reabsorve os significados, consolidando-as, ou seja, constrói formalmente

um conhecimento, pelo sujeito.

De acordo com Moscovici (2012), esses dois processos, objetivação e

ancoragem são responsáveis pela constituição das representações sociais.

Ambos os processos (Objetivação e Ancoragem) se desenvolvem

conjuntamente dialogando com a realidade preexistente, procurando ora

aderir, ora rejeitar um novo conhecimento, uma nova imagem em um

processo incessante de construção, modificação, metamorfose, pois, de

acordo com Jodelet (2001), a objetivação não afiança a introdução orgânica

desse conhecimento. É a ancoragem, relacionando-se dialeticamente com a

objetivação, que avalizará essa inserção.

Cada sujeito vai constituindo um sistema de pensamento distinto e, ao

mesmo tempo, lógico com o sistema de pensamento da sociedade da qual

participa. Esse sistema é usado, tanto pelo sujeito quanto pelo grupo, como

referência para o intercâmbio positivo, ou negativo, com um novo objeto.

Portanto, as representações sociais constituem-se em um modo de

conhecimento subjetivo que só acontece no intercâmbio com "o outro" e no

mesmo momento em que esta interação se dá. São processos que nos

permitem conhecer, dar sentido ao mundo e estabelecer um modo de

comunicação, construindo assim uma realidade. Um fenômeno que

congrega os conhecimentos, linguagens, considerações, comportamentos,

imagens, de modo a aproximar em nosso universo o que se encontra

distante.

Sintetizando, as representações são sistemas de valores, ideias e

práticas com a função de estabelecer uma ordem que habilita os sujeitos a

se nortearem e dominarem o seu universo social, facilitando o diálogo entre

os participantes de um grupo por oferecer-lhes um código que nomeia e

70

classifica os diversos aspectos de seu universo, assim como, histórias

particulares e grupais.

Após a descrição de temas relacionados à construção, formação e

objetivos da teoria das Representações Sociais e sua contribuição à

construção e à compreensão das realidades sociais, a proposição dessa

dissertação consiste em desvelar quais são as representações construídas

pelos profissionais de vendas a respeito de sua profissão, ou seja, como a

enxergam e que visões, imagens, linguagens, oportunidades e valores

possuem acerca dessa profissão tendo em vista sua importância cultural e

profundidade social, além de identificar as competências que estes

profissionais consideram necessários a sua formação profissional.

As representações sociais são historicamente construídas e estão

profundamente interligadas a distintos grupos socioeconômicos, culturais e

étnicos de participação dos indivíduos, portanto, quando estamos falando de

representações sociais do profissional de vendas, partimos da premissa de

que são elaborações mentais erguidas socialmente, a partir da dinâmica que

se institui entre a ação psíquica do indivíduo (o vendedor) e o objeto do

conhecimento (profissão de vendas), relação que acontece na prática social

e histórica das sociedades e que se desenvolve pela linguagem.

Na medida em que os indivíduos sociais interagem num determinado

ambiente social, produzem saberes vindos das representações edificadas

acerca de si mesmos, do mundo e do “outro” e sendo o universo corporativo

um ambiente social promoverá a mediação e reprodução de representações

sobre o “ser vendedor”.

Neste processo de formação das representações sociais, os

profissionais de vendas incorporam imagens dessa profissão frente à

sociedade, assim como, na troca de informações e saberes profissionais e

pessoais. Logo, ao procurar analisar as representações sociais dos

vendedores sobre seu trabalho identificaremos, dentre outros fatores, os

sentidos que atribuem à sua pratica.

Deste modo, amparado na teoria das Representações Sociais, este

estudo auxiliará a desvelar as representações sociais da profissão de

vendas absorvendo os saberes científicos da teoria, mas também

71

incorporando o conhecimento consensual dos participantes deste estudo

para dar conta da realidade atual desta profissão.

Para tal, a teoria das Representações Sociais se servirá dos sistemas

de códigos e interpretações fornecidos pelo sujeito, associados à

experiência social e aos sentidos que este dá ao mundo social designando,

assim, uma forma de pensamento social. As representações construídas

neste grupo social, por exemplo, definirão para seus integrantes os objetivos

e os procedimentos específicos que devem cumprir na vida diária.

Lembrando que a Representação Social será estudada articulando dados

afetivos, mentais e sociais, assim como agregando, juntamente com a

cognição, a linguagem e a comunicação, as relações sociais que

comprometem as representações e a realidade fisica, social e ideal sobre a

qual elas interferirão.

Compreender as representações de vendedores sobre sua profissão

implica analisar o significado que dão à construção dos saberes de sua

função, identificar quais os saberes que privilegiam, atentar para o

significado que dão a sua prática. Tal análise permite ainda compreender o

conjunto de valores que poderiam ancorar à identidade de profissional de

vendas no contexto de sua profissão e desvelar como objetivam a ideia de

profissional que defendem como aquela praticada em seu espaço de

atuação.

É exatamente essa perspectiva de desvelar os saberes e os modos

de ser vendedor, constituído no senso comum pelo entrelaçamento dos

saberes do conhecimento científico e um conhecimento anterior advindo do

mundo corporativo que nos motiva a analisar o trabalho desse profissional

respaldado no referencial teórico das Representações Sociais.

72

CAPÍTULO IV

ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

O estudo das representações sociais de um objeto por um grupo

permite definir o significado que esse objeto assume no grupo. Portanto,

compreender como os profissionais de vendas representam a sua profissão

permite a análise de como esta profissão vem sendo constituída entre este

grupo de vendedores, assim como, identificar os conhecimentos que esses

profissionais acreditam serem necessários à sua formação, pois, devemos

ter em mente que são as representações sociais que orientam as práticas

sociais.

De acordo com Abric (1998), as Representações Sociais

correspondem a um sistema de interpretação da realidade que direciona as

relações do sujeito com seu meio. As Representações Sociais adquirem um

papel essencial nas relações e práticas sociais por entender e explicar a

realidade e, ainda, por guiar as condutas e práticas dos grupos.

Assim, o entendimento da teoria das Representações Sociais permite

esclarecer o pensamento e os comportamentos dos vendedores, ou seja,

como esses profissionais incorporam ideias, pensamentos, linguagens e

comportamentos específicos sobre sua profissão.

4.1 - O tema e o problema de pesquisa

Para Marques (2003, p.92), o tema da pesquisa é “a demarcação de

um campo especifico de desejos e esforços por conhecer e, por entender

nosso mundo e nele agir de maneira lúcida e consequente”, assim sendo, o

tema e o problema dessa pesquisa se inserem em meu mundo profissional

onde encontro desafios que me levam a dirigir esforços no sentido de

73

conhecer e entender o ambiente que me cerca para nele agir de modo lúcido

e consequente.

O tema desse estudo é Representações Sociais dos

profissionais de vendas sobre sua profissão , tema e problema que se

definem como campo específico de desejos e esforços para compreender

meu mundo profissional. Isso se traduz na seguinte questão de pesquisa:

Quais representações sociais possuem os profissiona is de

vendas sobre a sua profissão?

Levando-se em conta que a profissão de vendedor exerce um papel

significativo em vários âmbitos de nossa sociedade seja, cultural, social ou

econômico possibilitando com isso sua maior participação no processo de

desenvolvimento econômico, busca-se, nesse estudo, analisar as

representações sociais dos sujeitos sobre sua escolha profissional, o que

implica identificar os conhecimentos e valores que esses profissionais

acreditam ser necessários para garantir uma formação profissional

competente.

4.2 - A população de pesquisa, os sujeitos particip antes e seu perfil.

A demarcação de critérios para selecionar os sujeitos que irão

participar do universo de investigação é de suma importância, pois, intervém

na qualidade dos dados a partir dos quais será possível edificar a análise e

alcançar o entendimento do problema apresentado.

Referindo-se à constituição dos grupos, Potter e Litton (1985)

demonstram sua inquietação com questões não satisfatoriamente

esclarecidas, entre elas: que tamanho devem ter os grupos e qual o grau de

concordância necessária para que se possa afirmar estarmos diante de uma

representação social?

Para Veyne (1976, p.74) os sentidos ou significados sociais do

conhecimento não se prendem tanto à sua repartição entre várias pessoas,

e sim à questão de que “o pensamento de cada um deles é, de diversas

74

maneiras, marcado pelo fato de os outros pensarem da mesma forma sobre

algo” e para Jodelet (2001, p. 34) “Partilhar uma ideia ou uma linguagem é

também afirmar um vínculo social e uma identidade”.

Para buscar a identificação dessas representações sociais, foi

selecionado um grupo composto de oito sujeitos, de dentro e fora do estado

de São Paulo, que constituíram um grupo de vendedores cuja forma de

atuação envolve desde tiradores de pedido conceituados por Ingram et al.

(2008) como os responsáveis por ir em busca dos pedidos de compra,

passando por vendedores que trabalham em lojas, assim como, vendedores

de serviços, isto é, um grupo de profissionais que se definem por sua

atuação no mercado de trabalho.

Os sujeitos foram selecionados de acordo com sua performance na

empresa em que atuam, ou seja, foram selecionados os vendedores de

maior destaque em suas empresas de acordo com dados estatísticos da

empresa. Obedecendo este critério, foram escolhidos seis homens e duas

mulheres de diferentes empresas com o seguinte perfil:

Quadro 5: Perfil dos entrevistados

Sexo Idade Atuação Atacado/Varejo / Serviços

Estado Formação Acadêmica

Fem. 50 Utensílios de Cozinha

Varejo/Atacado Pará Ciências Contábeis

Fem. 22 Celulares Varejo Pará Fisioterapia Masc. 47 Gêneros

Alimentícios Atacado São

Paulo Ensino

Superior Incompleto

Masc. 24 Hortifrutigranjeiros Atacado São Paulo

Administração de Empresas

Masc. 25 Hortifrutigranjeiros Atacado São Paulo

Tecnólogo em Logística

Masc. 50 Hortifrutigranjeiros Atacado Mato Grosso

Engenheiro Elétrico

Masc. 38 Consultor de Negócios

Serviços Pará Administração de Empresas

Masc. 40 Consultor Comercial

Serviços São Paulo

Economia

Fonte: Elaborado pelo autor (2015)

A opção por esse grupo de vendedores permitiu comparar pontos de

vista e diferentes perspectivas da profissão de vendedor, ou seja, como a

ação cotidiana se incorpora nas representações sociais deste profissional.

75

4.3 - Os instrumentos e os procedimentos da pesquis a

Essa pesquisa traz um enfoque analítico comparativo porque

identificou, comparou e analisou as concepções dos sujeitos entrevistados

acerca de sua profissão, além de obter como resultado a identificação das

representações e conhecimentos que esses profissionais acreditam serem

necessários à sua formação. Assim, foram investigados os conhecimentos

construídos conjuntamente por vendedores de áreas de atuação distintas a

respeito das Representações Sociais, no que se refere à profissão de

vendedor.

Os instrumentos utilizados neste trabalho envolvem pesquisa

bibliográfica que comporte o aprofundamento conceitual sobre os temas

relacionados à Teoria das Representações Sociais, assim como, as Teorias

da Administração.

Esta pesquisa envolveu também a elaboração de questões para a

realização de entrevista semiestruturada. Escolheu-se a entrevista

semiestruturada por provocar, muitas vezes, no respondente, a explanação

de sua subjetividade, auxiliando deste modo a compreensão das

representações sociais na perspectiva do grupo, encontrando o que há de

comum como também as diversidades que os envolvem, permitindo analisar

as Representações Sociais desses profissionais. Assim, de acordo com

Manzini (2003), neste tipo de entrevista, existe a possibilidade de surgir

informações mais espontâneas através de respostas não condicionadas a

um modelo de alternativas.

Para a elaboração das perguntas da entrevista, foi organizado o

quadro a seguir, denominado “Quadro de Especificação da Entrevista”, que

traz os objetivos e as questões relacionadas à busca das informações

necessárias.

76

Quadro 6 – Quadro de Especificação da Entrevista

Objetivo Itens propostos Itens finais

Identificar a visão que o vendedor tem da sua profissão

Como você acha que o vendedor é visto pela sociedade?

Qual a importância da atividade de vendas para a sociedade?

Qual a função (o papel) do vendedor na sociedade?

Qual a importância do profissional de vendas para empresa em que atua?

Descreva qual era a sua visão sobre os vendedores antes de atuar na profissão.

E agora, atuando como vendedor, como você vê a profissão?

Quais os pontos positivos e negativos da profissão?

O que é ser vendedor para você?

Identificar quais as características do profissional de vendas

Quais as características que você acha mais importantes para exercer a profissão de vendedor?

O que você acha que caracteriza um vendedor de sucesso?

Na sua opinião, as qualidades de um bom vendedor são inatas ou podem ser

Quais as características que você acha mais importantes para exercer a profissão de vendedor?

Descreva para mim um vendedor de sucesso.

Em uma escala de 1 a 5 como você se classificaria

77

desenvolvidas?

Você acha que a profissão de vendas é atrativa? Quais características dessa profissão você acha mais atrativa?

em relação a este vendedor de sucesso?

O estaria faltando? Por que?

Como pensa alcançar? O que pretende fazer para isto.

Sobre a ética na profissão

Você acha que existem preconceitos ou distorções a respeito do profissional de vendas? Quais?

Você acha que a performance do vendedor deve ser avaliada única e exclusivamente pelo volume de vendas?

Como você acha que os outros veem sua profissão?

Quais os pontos positivos de sua profissão?

E os pontos negativos?

Como você acha que deve ser avaliado o desempenho/performance de um vendedor?

Identificar condições de atuação e de formação

Muitas empresas investem em programas de treinamento para vendedores. Você acha que essa necessidade se dá pela inexistência de um curso superior específico para formar vendedores?

Qual o nível necessário de conhecimento para um bom vendedor?

Que curso superior você acredita que seriam úteis aos profissionais de vendas?

Além de um curso superior, que outros cursos seriam úteis a profissão?

Se você tivesse que fazer um programa de capacitação de vendedores quais os pontos que deveriam ser enfatizados?

(Indagar sobre habilidades caso o entrevistado não responda)

78

Em que áreas de conhecimento você acha que os vendedores devem ter conhecimentos mais aprofundados?

Como você acha que o vendedor deve se preparar para ser um vendedor bem sucedido?

Qual a habilidade/competência você acha necessária para ser um vendedor de sucesso?

Quais os principais atributos encontrados nos melhores vendedores?

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

4.4 - O processo de aplicação do instrumento de pes quisa

Posteriormente à elaboração do “Quadro de Especificação da

Entrevista” foi realizada uma entrevista-piloto (ANEXO C) que teve como

objetivo o refinamento do instrumento, visando testar a comunicabilidade dos

itens da entrevista e assim aperfeiçoar o processo de coleta e análise dos

dados. Ainda, para fins de qualificação, foi feita uma breve Análise de

Conteúdo da entrevista-piloto que está apresentada no APÊNDICE A.

Após esses procedimentos que visaram o refinamento do instrumento,

assim como, a qualificação desse estudo, ocorreu a aplicação das

entrevistas. No período de janeiro de 2015, em viagem a trabalho a cidade

de Belém, no estado do Pará, e a cidade de Alta Floresta, no estado do Mato

Grosso, foram entrevistados quatro sujeitos: dois do sexo feminino e um do

79

sexo masculino, em Belém, e um, do sexo masculino, em Alta Floresta. Em

fevereiro de 2015 foram entrevistados quatro sujeitos, do sexo masculino, na

cidade de São Paulo.

Os sujeitos foram selecionados de acordo com seu desempenho na

área de vendas, ou seja, foram selecionados os vendedores de melhor

atuação em seu segmento de acordo com dados estatísticos da empresa.

Após esse procedimento (aplicação da entrevista), nos meses de

fevereiro e março houve a transcrição das entrevistas e a tabulação dos

dados.

4.5 - Procedimentos de tratamento dos dados de pesq uisa

Para análise dos dados obtidos na entrevista utilizou-se o software

ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d.um Ensemble de Segments de

Texte) criado pelo engenheiro e sociolinguista Max Reinert, para análise

quantitativa de dados textuais cujo objetivo é ofertar ao pesquisador uma

análise objetiva e quantitativa do teor manifesto na comunicação. Assim, de

um modo geral, o ALCESTE oferece ao usuário os destaques de palavras e

segmentos de texto sobre os quais o pesquisador fundamentará a sua

interpretação e, em seguida, trabalha de modo mais profundo com a

interpretação e hipóteses dos dados.

Este é um programa que vem sendo utilizado na área de Ciências

Humanas e empregado em estudos que envolvam a análise das

Representações Sociais.

De acordo com Camargo (2005), o processo de funcionamento

envolve quatro operações:

1. Leitura do texto e cálculo dos dicionários buscando a

identificação das unidades de contexto iniciais. É segmentado

em frases simples denominadas “unidades de contexto

elementar” (UCEs)e as palavras são organizadas em função de

suas raízes;

80

2. Cálculo das matrizes de dados e classificação das unidades de

contexto iniciais (UCIs) que são classificadas em função da

distribuição das formas reduzidas que exibem, por meio de

matrizes de frequência, produzindo uma “classificação

hierárquica descendente”. As classes de unidades de contexto

iniciais exibem vocabulário análogo entre si, porém, diferentes

das outras classes;

3. Descrição das classes de unidades de contexto iniciais,

proporcionando cálculos complementares para pesquisa de

classes, admitindo a descrição de cada uma delas;

4. São fornecidas às unidades de contexto iniciais mais

particularidades de cada classe. A interpretação dos dados se

inicia a partir da terceira operação.

A frequência de palavras, bem como, o qui-quadrado (khi²)12 da

relação entre as palavras contidas nos discursos desses profissionais

oferecem elementos sobre as características de uma representação social.

Portanto, é deste modo que o ALCESTE através dessa organização dos

dados possibilita a realização e análise das entrevistas permitindo desvelar

as características das representações sociais.

_________________________________________________________________________

12 O qui-quadrado (khi²) é uma variável utilizada pelo ALCESTE para medir a intensidade da presença estatística das palavras no corpus.

81

CAPÍTULO V

ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

A análise do discurso obtida através do ALCESTE nos permite

desvelar a partir das frases-respostas dos entrevistados, as representações

sociais sobre a profissão de vendas. Essa representação social é descrita

pela frequência de palavras contidas nos discursos desses profissionais que

demonstram a relação com o objeto.

Os discursos depois de classificados, processados e analisados,

permitem identificar como a profissão de vendedor é representada por esse

grupo.

De acordo com Reinert (1999), o ALCESTE examina, no texto, as

ressonâncias de sentido que se estabelecem de acordo com as ocorrências

de alguns termos, que aparecem reunidos no discurso. O programa define

numero e critério de separação de classes a partir do processamento do

corpus.

A apresentação da análise dos dados da pesquisa será feita a partir

dos resultados obtidos pelo software ALCESTE. Inicialmente será descrito o

aproveitamento do corpus, a classificação e repartição obtida para, em

seguida, apresentarmos a análise de cada classe e, por fim, realizar uma

síntese analítica de todas as classes.

5.1 - Aproveitamento do corpus e classificação

O processamento feito pelo software ALCESTE, a partir do corpus

indicado, trouxe como resultado um aproveitamento de 74% o que

caracterizou um bom aproveitamento gerando uma subdivisão de três

classes distintas. Essas classes estão expostas e nominadas conforme

82

termos mais evidentes da sua composição e assim classificadas pelo

pesquisador:

Classe 1 – O perfil

Classe 2 – Os valores

Classe 3 – O desempenho

Figura 1: Gráficos do ALCESTE da subdivisão do corpus em classes especificas que tratam da imagem da profissão de vendedor. Fonte: ALCESTE (2015)

83

Figura 2 : Gráficos do ALCESTE da repartição das UCES (unidades de contexto elementar) de cada classe e numero de palavras analisadas por classe sobre a imagem da profissão de vendedor. Fonte: ALCESTE (2015) 5.2 - Análise das Classes

5.2.1 - Classe 1 – O perfil

Essa classe representa 28% do total do corpus e descreve,

sobretudo, o perfil do profissional de vendas. Trata de aspectos da

subjetividade que os entrevistados indicam como necessários para exercer

com maestria a sua profissão. Assim, os aspectos ressaltados pelos

pesquisados nesse corpus são:

� Calma/Paciência;

� Aprender/Aprendizado contínuo;

� Auto realização;

84

� Pensamento sistêmico;

� Sensibilidade;

� Atuação como consultor.

De acordo com os entrevistados conseguem melhores resultados

aqueles profissionais que agregam outras qualificações a sua formação e

obtiverem maior experiência na função. A seguir veremos as frases

destacadas pelo software ALCESTE em cada um desses aspectos

apontados pelos entrevistados:

� Calma/Paciência

� O que eu estou fazendo é aprendendo a ter calma, a idade ajuda

naturalmente;

� Quando eu saio de casa, todos os dias eu digo, meus Deus me de

paciência hoje, principalmente dia de segunda-feira que sempre

aparecem problemas na loja, a gente tem que ir tentando esfriar a

cabeça;

� as características mais importantes para exercer a profissão de

vendedor, acho que são a paciência, não ter preconceito e tem que

ser honesto.

� Aprender/Aprendizado:

� É um efeito dominó, você vai aprendendo, aumentando a sua

experiência, aumentando a sua inteligência e isso pra mim é um

ganho imensurável. A mente aberta para mim é aprender mais e

sempre, é alimentar o cérebro. É ser mais inteligente. É exercício para

o cérebro. Eu penso em tudo o que eu faço como sendo um exercício

para o cérebro;

� eu estou aprendendo muito até porque, além da área de vendas eu

também faço parte da área administrativa da multinacional. Além de

vendedora, sou instrutora, mas eu tenho muita vontade, muita gana

de aprender, eu continuo lendo, eu adoro ler meus livros de vendas,

livros sobre a parte de relacionamento em vendas e agora estou

muito engajada nessa parte administrativa;

85

� eu acho que o ramo da empresa para a qual eu trabalho que é o de

hortifrutigranjeiros é um tesouro para quem quer exercitar a mente e

aprender, por conta da complexidade do tipo de venda e logística que

eu faço;

� se desenvolver, refletir, isso abre muito a mente e eu acho que isso é

o maior ganho na minha profissão. É uma coisa que eu sempre quis,

é aprender e ter uma mente muito aberta para todo esse aprendizado;

� É muito importante para a pessoa que quer ser vendedor ele estar

disposto a aprender, ter a humildade de aprender.

� Auto realização

� Eu sou suspeita para falar, porque eu me sinto tão bem, tão feliz, tão

auto realizada no meu trabalho, mas, assim, eu ainda tenho muita

vontade de aprender, de aprender cada vez mais, você esta

entendendo;

� Eu gosto de comparar a minha profissão com a do professor que

dizem ser uma profissão que não traz realização. Eu não concordo

com isso por que eu conheço muitos professores que se sentem

realizados. Como o professor, o vendedor possui suas dificuldades,

como a falta de reconhecimento, mas é totalmente incorreto dizer que

a profissão de vendedor não trás auto realização. Eu tenho quase

cinquenta anos e fui vendedor a minha vida inteira e digo para você

que me sinto muito realizado com a minha profissão;

� vendas é muito importante, lógico que pode ser usada também para

uma coisa que não é boa, mas o ponto principal é a satisfação de ver

as coisas acontecendo, ver o desenvolvimento que tem por trás,

cooperar para que o ser humano viva melhor, para que o ser humano

tenha mais prazer. Vender é isso, eu tenho muito prazer de atuar em

vendas por que depois de muitos anos eu também fui entendo o que

é atuar em vendas;

� eu vou ser muito sincera com você eu só tenho que agradecer essa

profissão que eu tenho.

86

� Pensamento Sistêmico 13

� O vendedor tem que pensar tanto na empresa que ele trabalha

quanto no cliente e conseguir ver ganho para a empresa, cliente e

também ganho para si próprio não somente financeiramente, mas

também, em outros sentidos;

� O vendedor de verdade, hoje entende que a integração ser humano é

uma coisa só: corpo, mente, espirito tem que ter uma junção entre o

consumidor, o planeta, a empresa tudo isso correndo ao mesmo

tempo.

� Sensibilidade

� dez por cento de administração, dez por cento de psicologia e vinte

por cento de conhecimento do mercado em que esse vendedor atua.

Não estou falando de um curso de graduação, de faculdade, e sim de

um curso para vendedores, pois, se você for sensível a uma

negociação, ao cliente e você conhecer bem o mercado,

automaticamente você será um bom vendedor;

� Talvez, para a área de vendas a psicologia fosse até mais importante

que a administração por causa da sensibilidade. Talvez se eu tivesse

feito uma faculdade de psicologia, ao invés de administração, eu

fosse um melhor vendedor;

� vou te dizer uma coisa, a minha formação acadêmica é em

administração, eu sou graduado em administração de empresas, mas

se eu fosse montar um curso para vendedores, esse curso teria que

ter sessenta por cento de motivação e quarenta por cento de técnicas

de se notar a sensibilidade.

________________________________________________________ 13De acordo com Senge (1990), que trata a aprendizagem organizacional como fonte principal de vantagem competitiva no futuro, há cinco disciplinas constantes de estudo e prática que levam ao aprendizado contínuo. São elas: domínio pessoal, modelos mentais, visão compartilhada, aprendizado em equipe e pensamento sistêmico. Para Senge o pensamento sistêmico, diz respeito tanto aos aspectos pessoais quanto profissionais do ser humano e desloca o seu olhar não somente para a pessoa isoladamente, mas, pondera também seu contexto e as relações aí instituídas.

87

� Atuação como consultor

� mente aberta seria ter uma boa visão de mercado e ajudar o cliente.

Seria como se o vendedor exercesse também o papel de consultor,

para mim é um pouco mais fácil atuar como assessor ou consultor por

que eu não sou somente um vendedor;

� mas um vendedor foi bem demais, ele superou totalmente as

expectativas e eles foram analisar melhor o porquê desse vendedor

ter sido melhor que os outros. Eles descobriram que era um vendedor

com perfil de consultor em um negócio em que eles não esperavam

que era tão necessária a consultoria. O lado consultor do vendedor é

muito importante.

5.2.2 - Classe 2 – Os valores

Essa classe representa 41% do total do corpus e diz respeito aos

valores que, para os entrevistados, o profissional de vendas deve ter ao

exercer a sua profissão. Além dos valores, nessa classe surgiram também

questões como ansiedade e omissão, características que permeiam a

profissão. Assim, as repartições obtidas nessa classe foram:

� Honestidade/Sinceridade

� Omissões

� Ansiedade

A seguir as frases destacadas em cada uma das repartições:

� Honestidade/Sinceridade

� o seu futuro cliente vai falar, poxa esse cara é bom, ele falou que o

produto dele em alguns aspectos é pior que o do concorrente, você

realmente quebra tudo;

� muitas vezes você tem um produto ruim para vender e o teu cliente, o

correto, o correto e o teu cliente saber disso;

� tem que ser sincero e honesto e também não pode falar mal do

concorrente por que se você fala mal do concorrente para todo mundo,

você deixa para o cliente a imagem de que você não e correto;

88

� você está querendo queimar o seu concorrente no mercado? Faça o seu

serviço e pronto. Não fale mal do concorrente nunca;

� É estranho, como é isso, você coloca tudo do seu produto, fala do

concorrente e, às vezes, ate coloca que o produto do concorrente e até

melhor do que o seu, quando você fala isso você realmente prepara o

ouvido do seu cliente, prepara o seu cliente;

� Eu acredito que hoje os maus vendedores são uma minoria, mas eles

fazem um estrago muito grande. Traço um paralelo com a consultoria

onde eu atuo hoje. Na consultoria só se vê o fruto dela depois que se

comprou e depois que está sendo entregue, então, precisa, quando for

necessário, ter a honestidade de falar: não vou conseguir fazer esse

trabalho. Pouquíssimos tem essa hombridade e isso é muito importante.

� Omissões

� É mais ou menos isso, são algumas omissões por que o cliente jamais

pode falar assim, você falou isso. E se você falou você tem que segurar

que falou. A omissão é isso, é você não falar algumas coisas que podem

ou vão acontecer no processo, mas, quando acontecer você vai assumir

e se acontecer você vai assumir;

� eu falo para minha equipe de vendas que as nossas mentiras são

algumas omissões;

� omitir é você deixar alguma coisa sem dizer, por que o que você diz você

tem que honrar e você tem que assumir, jamais alguém pode pegar você.

� Ansiedade

� A ansiedade tem um grau que precisa ser dominado, a ansiedade, a

frustração são coisas que rondam. O medo também ou o sentimento de

culpa, é muito importante, o vendedor perceber que ele está dentro disso.

5.2.3 - Classe 3 – O desempenho

Essa classe representa 31% do total do corpus e relata outro aspecto

da profissionalidade do vendedor. Ela agrega, nas falas dos entrevistados,

89

aspectos do reconhecimento social, assim como, as dificuldades da

profissão, aliados à necessidade das competências pessoais e profissionais

que um profissional de vendas deve ter para obter reconhecimento.

Portanto, nessa classe, tivemos a seguinte repartição:

� Conhecimento do produto

� Tratamento diferenciado ao cliente

� Avaliação do desempenho

� Dificuldades da profissão

� Falta de reconhecimento social

� Importância da Profissão

A seguir as frases destacadas em cada uma delas:

� Conhecimento do produto

� se ele não estiver totalmente informado e atualizado sobre o produto

que ele esta vendendo ele nunca vai ser um vendedor de sucesso;

� O vendedor precisa estar preparado pra conhecer o produto a fundo e

conhecer também o mercado;

� Se você vende objetos você tem que usar o que vende por que se

você usa você passa para o cliente que o seu produto é bom, que

você acredita e conhece o que vende;

� Em nosso caso especifico é necessário conhecer o produto desde o

plantio, saber quando é safra, quando que não é a safra. É isso ai que

falta pra mim. O aprender, o conhecer é o refinamento do vendedor.

� Tratamento diferenciado ao cliente

� um vendedor de sucesso precisa tratar o cliente de forma

diferenciada, conhecer o produto que vende conversar muito bem e

ser honesto;

� existe o cliente que é carrancudo, existe o cliente que e mais

simpático, existe o cliente que e mais exigente, existem vários tipos

de clientes e para cada tipo de cliente você tem que ter um tratamento

diferenciado.

90

� Avaliação do desempenho

� acho que o desempenho e a performance de um vendedor deve ser

avaliado pelos resultados que ele dá, pela qualidade com que ele

vende e pelo sentimento que o cliente tem desse vendedor;

� A avaliação do mundo é essa, quem vende mais, quem tem uma lábia

maior, quem vende o produto mais difícil, mas, na minha pequena

empresa, o melhor vendedor não é o que vende mais é o que tem a

melhor carteira de venda, que tem o melhor relacionamento com os

clientes;

� Na avaliação o resultado é a venda. O relacionamento também é uma

coisa importantíssima, Agora, é logico, você avalia uma venda que

seja honesta, uma venda em que a pessoa não subiu em cima de

outra, nem arrancou a venda de outro colega, tem que estudar o perfil

também daquele vendedor se é uma pessoa que tem um

relacionamento legal com os colegas de trabalho, com os clientes,

com o concorrente. Esse é um bom vendedor. Então, eu acho que um

vendedor tem que ser avaliado desse jeito;

� eu acho que um vendedor deve ser avaliado além do resultado, deve

ser pela desenvoltura dele em tratar com o cliente. O jogo de cintura

dele para resolver os problemas que acontecem e a capacidade de

absorver a informação do cliente, o cliente faz uma reclamação, ele

sentir a pancada, mas não rebater com uma porrada que nem eu

fazia antigamente.

� Dificuldades da profissão

� acho que o principal ponto negativo é que a gente tem que vender

tudo. Se for bom ou se for ruim, se for enganação, o que for, acho que

é isso, o vendedor não tem opção, tem que vender;

� eu acho que um dos principais pontos negativos da profissão de

vendas é lidar com as pessoas;

� ter que escutar muita coisa que a gente não deveria porque a gente

não tem culpa;

91

� É isso, o ponto negativo é que vai ter sempre um vendedor para fazer

a coisa certa ou a coisa errada;

� A gente enfrenta muitos obstáculos, desafios, corre-se riscos, porém,

enquanto as pessoas acham os desafios e obstáculos um ponto

negativo, para mim, sempre foram uma escada para uma

oportunidade;

� aconteceu esses dias um negócio desses comigo. A cliente ficou

brava porque eu disse que não tinha a peça para fazer o conserto

dela. A mulher ficou uma onça e começou a se alterar na loja.

� Falta de reconhecimento social

� Em minha opinião sincera a profissão de vendedor é muito mal vista.

As pessoas acham que o vendedor perturba e quer fazer a pessoa

comprar;

� Um cara que age dessa forma ele não é vendedor. Ele é ladrão,

estelionatário. Um cara desses tem que procurar outra profissão;

� infelizmente a sociedade ainda não valoriza como uma profissão que

traz realização, ou seja, a sociedade não valoriza da forma que

deveria valorizar. Eu acho que essa desvalorização se deve aos

vários tipos de vendedores e alguns vendedores não são bons

vendedores;

� eu acho que o vendedor não tem nenhum respeito. É uma profissão

pouco respeitada e às vezes, são os próprios vendedores que fazem

isso;

� eu acho que os outros veem o vendedor desse jeito, tudo mentiroso,

enganador, que só quer ganhar dinheiro, é assim que o pessoal vê.

Eu acho que as pessoas veem a profissão de vendedor desse jeito

porque a sociedade não tem uma noção clara de onde ela não

exerce;

� se ele não conseguir se impor de alguma forma, sem tratar mal o

cliente, ele acaba sendo esculachado pelo próprio cliente. Eu acho

que o maior ponto negativo é a forma como ele é visto pela sociedade

que no final das contas termina não sendo respeitado;

92

� É uma profissão marginalizada. É uma tristeza né? Existe a rejeição

natural ao vendedor, mas isso, naturalmente é causado pelo próprio

vendedor.

� Importância da Profissão

� sem os vendedores não ha troca, quase não há interação de cultura.

A profissão de vendas e importantíssima para a sociedade;

� Vendas nós temos desde há milhares de anos, o marketing surgiu por

causa das vendas, as vendas nos ajudaram a chegar onde estamos;

� A gente toca o comércio mundial, gira a economia no mundo, nós

fazemos girar o dinheiro. É isso. É uma profissão essencial.

5.3 – Síntese analítica de todas as classes

A análise dessas três classes indica que para os profissionais

consultados a profissão de vendas é uma carreira que traz satisfação e auto

realização. Propicia alta empregabilidade por ser de ampla atuação na

sociedade e necessária para as organizações, pois, de acordo com os

entrevistados, não faltará oportunidade de trabalho para o profissional que

possua caráter, educação, habilidades e ambição.

Outro aspecto da representação da profissão apresentada é a de que

o vendedor, para exercer com maestria sua profissão, necessita desenvolver

a calma, pensamento sistêmico, aprendizado contínuo, sensibilidade e

características de consultor. Este grupo acredita que os profissionais de

vendas possuidores de características de consultor conseguem, em sua

atuação, melhores resultados, ou seja, para o grupo estudado, o profissional

de vendas já não atuará somente vendendo produtos ou serviços, ele

oferecerá soluções e assessoria, pois, como consultor descobrirá o que o

cliente precisa e irá em busca das informações e produtos necessários para

93

poder oferecer a melhor solução e alcançar, consequentemente, a satisfação

de seu cliente.

Observa-se ainda que para os entrevistados há satisfação com a

profissão, mas também a necessidade de formação complementar para

sentirem-se preparados para as demandas às quais a profissão está sujeita,

ou seja, esses profissionais enxergam a necessidade de aprendizado

contínuo para estarem aptos ao mercado de trabalho como no trecho a

seguir: É muito importante para a pessoa que quer ser vendedor estar

disposto a aprender, ter a humildade de aprender.

Outro ponto da representação da profissão é a de que esta permite

intenso desenvolvimento pessoal e profissional, pois, o aprendizado e a

experiência adquiridos no dia a dia são incorporados e assimilados,

tornando-os melhores pessoal e profissionalmente.

A população estudada assinala também a importância da profissão

para a sociedade e destacam-na como uma profissão essencial para a

movimentação da economia e cultura no mundo, mas que, no entanto, não

recebe o devido reconhecimento social, sendo, marginalizada pela

sociedade como descrito no relato a seguir: É uma profissão marginalizada.

É uma tristeza né? Existe a rejeição natural ao vendedor. Foi destacado

também que esses profissionais lidam diariamente com a ansiedade e a

rejeição por conta dessa desvalorização social direcionada à profissão.

Observa-se que os sujeitos da pesquisa evidenciam o conflito entre,

por um lado, assumirem uma profissão desvalorizada cujos profissionais

sofrem a rejeição e preconceito e, por outro lado, reconhecerem a profissão

de vendedor como uma profissão de grande importância para a sociedade

como destacado no trecho a seguir: A gente toca o comércio mundial, gira a

economia no mundo, nós fazemos girar o dinheiro. É isso. É uma profissão

essencial.

De acordo com os sujeitos dessa pesquisa a rejeição existente se

deve ao uso de má fé por parte de alguns profissionais antiéticos que

imprimem à profissão de vendas a desconfiança e a dúvida quanto à

validade ética e moral de seus princípios e práticas. Para os entrevistados a

profissão de vendas, assim como outras profissões, possui profissionais

94

antiéticos ou pouco qualificados como apontado no trecho a seguir: Eu

acredito que hoje os maus vendedores são uma minoria, mas eles fazem um

estrago muito grande.

Com relação aos valores que esse profissional deve ter ao exercer a

sua profissão, a honestidade e a sinceridade foram amplamente citadas

pelos entrevistados que acreditam serem valores de fundamental

importância para a profissão.

Os entrevistados acreditam que a falta de franqueza é pouco

produtiva, além de desperdiçar tempo e energia causando danos a relação

de confiança entre o vendedor e o cliente, no entanto, quando o vendedor

trabalha com transparência, transmitindo as informações de que o

consumidor necessita cria-se uma fidelização do cliente, ou seja, a

confiabilidade é um amplo diferencial competitivo. Portanto, para o grupo

estudado, a ética não é exclusivamente uma questão de conveniência, mas

também uma condição imprescindível para obter um relacionamento longevo

com o cliente, pois, o vendedor agregará a imagem de confiança e

honestidade à sua função.

No que diz respeito à concorrência, os entrevistados afirmam que o

uso do comportamento ético com a concorrência não necessariamente

levará à uma melhor aceitação do produto em detrimento ao produto da

concorrência, no entanto, demonstrará uma postura honesta e justa de quem

busca atender à necessidade real do comprador, principal função do

profissional de vendas.

Foi levantada a questão do uso da omissão que, para esse grupo,

consistiria na indisponibilidade de algumas informações não relevantes ao

cliente. De acordo com os entrevistados a omissão seria utilizada em alguns

casos como, por exemplo, informações sobre logística, processos e

procedimentos complexos que na maioria das vezes não são relevantes ou

de interesse do cliente e que não afetariam a qualidade e prazos de entrega

do produto, assim como, a satisfação do cliente.

No que concerne a avaliação do desempenho os respondentes

acreditam que o vendedor deve ser avaliado além de seus resultados

financeiros. Na avaliação deve contar o relacionamento com o cliente

95

interno, externo e com o concorrente. Paradoxalmente, questões

relacionadas às relações humanas foram citadas como uma das dificuldades

da profissão.

Com relação às competências que os entrevistados acreditam serem

necessárias à sua formação profissional estão habilidades em relações

humanas, ouvir mais, falar menos, buscar constante informação sobre o

mercado, produto e necessidades do cliente, destacando o aprendizado

contínuo como uma necessidade para tornar-se competente na profissão, ou

seja, os entrevistados descreveram o conjunto de habilidades que, do seu

ponto de vista, são necessários à sua formação profissional. A esse conjunto

de habilidades denominamos competências. E competência, de acordo com

Esque e Gilbert (1995, p. 46), seriam “comportamentos que auxiliam o

profissional a superar barreiras conhecidas para realizar os padrões de

performance”, ou seja, essa definição envolve o desenvolvimento de um

conjunto de habilidades que irão ajudar o profissional a ter sucesso no

trabalho.

Para este grupo são imprescindíveis à formação de um vendedor

habilidades como calma/paciência, pensamento sistêmico, características de

consultor, conhecimento do produto, tratamento diferenciado ao cliente e

sensibilidade.

Neste ponto foi interessante observar que alguns entrevistados

sugeriram algum tipo de formação na área da Psicologia como um recurso

para desenvolver a sensibilidade e habilidade nas relações humanas como

verificado nos trechos a seguir:

� dez por cento de administração, dez por cento de psicologia e vinte

por cento de conhecimento do mercado em que esse vendedor atua.

Não estou falando de um curso de graduação, de faculdade, e sim de

um curso para vendedores, pois, se você for sensível a uma

negociação, ao cliente e você conhecer bem o mercado,

automaticamente você será um bom vendedor;

� Talvez, para a área de vendas a psicologia fosse até mais importante

que a administração por causa da sensibilidade. Talvez se eu tivesse

96

feito uma faculdade de psicologia, ao invés de administração, eu

fosse um melhor vendedor.

Outra questão levantada pelos entrevistados é a necessidade de

desenvolvimento do pensamento sistêmico que valoriza a interação entre as

partes de um todo e não cada parte isolada, assim, avaliar os

acontecimentos e suas possíveis implicações a fim de criar uma solução

única que possa contemplar as expectativas de todas as partes envolvidas

foi um ponto valorizado por este grupo de profissionais como evidenciado

nos trechos destacados pelo ALCESTE:

� O vendedor de verdade, hoje entende que a integração ser humano é

uma coisa só: corpo, mente, espirito tem que ter uma junção entre o

consumidor, o planeta, a empresa tudo isso correndo ao mesmo

tempo;

� O vendedor tem que pensar tanto na empresa que ele trabalha

quanto no cliente e conseguir ver ganho para a empresa, cliente e

também ganho para si próprio não somente financeiramente, mas

também, em outros sentidos.

Do ponto de vista do grupo estudado, para a formação de um

vendedor não bastam técnicas de vendas é preciso ter uma educação

constante e continuada que, no cenário atual, passou a ser uma

necessidade, pois, a qualificação demandada nos dias de hoje faz com que

a educação se estenda em processos que levem os indivíduos a procurarem

conhecer o mundo, os outros e a si mesmos.

Portanto, para este grupo de profissionais de vendas, é essencial

formar profissionais que estejam dispostos a aprender constante e

continuamente reunindo em seu perfil conhecimentos de natureza técnica,

mas também, disposições e valores que digam respeito à condição humana,

imprescindíveis à vida e à ação consciente e participativa na sociedade.

A fala dos entrevistados corresponde ao pensamento predominante

nas escolas do Conhecimento e da Gestão Estratégica e Competitiva

(capítulo 1). Nessas escolas a habilidade de aprender e a aprendizagem

contínua são agentes de mudança e de construção da sociedade levando ao

reconhecimento de que o diferencial das empresas não esta em sua

97

infraestrura, mas nas pessoas que as compõe que se tornam, deste modo, a

maior estratégia competitiva de uma organização.

Para essas escolas da teoria administrativa a aprendizagem contínua

é entendida como uma necessidade fundamental para o desenvolvimento do

homem trabalhador, assim como, um grande diferencial competitivo, pois, a

educação e a qualificação da força de trabalho são consideradas a

fundamental vantagem competitiva do século XXI.

Portanto, em consonância com o pensamento da escola da Gestão

Estratégica, assim como, da Gestão do Conhecimento, os entrevistados

assinalam para a valorização da aprendizagem como estratégia de

desenvolvimento do vendedor.

98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste estudo é chegado o momento de fazer um balanço dos

elementos estudados durante nosso percurso.

Entendendo que o estudo das características das representações

sociais de um objeto por um grupo possibilita revelar os significados que

esse objeto evoca no grupo, a teoria das Representações Sociais ofereceu

referenciais teóricos para este estudo cujo objetivo geral foi o de analisar as

representações sociais dos sujeitos sobre sua profissão, tendo como

objetivo específico, identificar as competências que os sujeitos consideram

necessários a sua formação profissional.

Iniciamos nosso percurso com o histórico das teorias da

administração em que foi verificada a visão de homem/profissional que cada

teoria apresenta. Em seguida verificamos a historicidade da profissão de

vendas para em seguida tratar do referencial teórico que deu suporte a esta

pesquisa: A teoria das Representações Sociais.

Com o intuito de buscar a identificação das características que

integram as representações sociais, foi efetuada entrevista semiestruturada

com oito sujeitos, de dentro e fora do estado de São Paulo, que constituíram

um grupo de vendedores cuja área de atuação envolvia desde tiradores de

pedido conceituados por Ingram et al. (2008) como os responsáveis por ir

em busca dos pedidos de compra, passando por vendedores que trabalham

em lojas e, ainda, vendedores de serviços, ou seja, um grupo de

profissionais com atuações e produtos distintos.

Para a elaboração das perguntas da entrevista, foi organizado um

quadro denominado “Quadro de Especificação da Entrevista”, contendo as

questões relacionadas à busca das informações necessárias para o alcance

dos objetivos do estudo. Após a elaboração do “Quadro de Especificação da

Entrevista” foi realizada uma entrevista-piloto que teve como objetivo o

refinamento do instrumento, assim como, servir de base de dados para a

análise de conteúdo apresentada quando da qualificação.

99

Quanto a análise dos dados, utilizou-se o software ALCESTE

(Analyse Lexicale par Contexte d’um Ensemble de Segments de Texte), um

programa de análise de dados textuais que tem a finalidade de descobrir aa

informações contidas no texto. Após o processamento das entrevistas pelo

software, obteve-se um aproveitamento de 74% de todas as palavras

analisadas dentro deste corpus o que caracterizou um bom aproveitamento

do material analisado.

A partir dessa análise verificou-se que para os profissionais

entrevistados a profissão de vendas é uma carreira que traz satisfação e

auto realização. Propicia alta empregabilidade por ser de ampla atuação na

sociedade e necessária para as organizações, pois, de acordo com os

entrevistados, não faltará oportunidade de trabalho para o profissional que

possua caráter, educação, habilidades e ambição.

Os entrevistados assinalaram a importância da profissão para a

sociedade e destacaram-na como uma profissão essencial para a

movimentação da economia e cultura no mundo, mas que, no entanto, não

recebe o devido reconhecimento social, sendo, inclusive, marginalizada pela

sociedade.

Para esse grupo, os vendedores de maior sucesso são os que falam

pouco, ouvem mais e priorizam a satisfação, assim como, o estabelecimento

de um relacionamento de confiança com o cliente, porém, para alcançar

esse e outros diferenciais é necessário que o vendedor desenvolva suas

competências através do aprendizado contínuo. Portanto, existe a

valorização da Educação para obter uma atuação profissional e ética

impecável surgindo a visão de um homem/trabalhador inovador, qualificado,

atualizado que busca aprender continuamente para atender as demandas

desta profissão que é marginalizada pela sociedade, fato com o qual esses

profissionais tem que lidar diariamente.

De um modo geral, para o grupo estudado, o vendedor deve ter

competências que digam respeito às relações humanas, mercado e produto

sendo que o aprendizado constante e contínuo é imperativo para tornar-se

competente em sua profissão.

100

Esse perfil de homem trabalhador é abordado pela teoria

administrativa na escola da Gestão Estratégica, assim como, na escola da

Gestão do Conhecimento que valorizam a aprendizagem contínua e

constante por entendê-la como uma necessidade fundamental para o

desenvolvimento do homem trabalhador, assim como, um grande diferencial

competitivo. Portanto, as representações do grupo estudado correspondem

ao pensamento predominante nessas escolas em que a habilidade de

aprender e a aprendizagem contínua são agentes de mudança e de

construção da sociedade.

Deste modo, conforme os entrevistados, para a formação de um

vendedor não bastam técnicas de vendas é preciso ter uma educação

constante e continuada que, no cenário atual, passou a ser uma

necessidade, pois, a qualificação demandada nos dias de hoje faz com que

a educação se estenda em processos que levem os indivíduos a procurarem

conhecer o mundo, os outros e a si mesmos, ajustando de modo flexível

quatro aprendizagens básicas, conforme o Relatório Delors (1998):

1. Aprender a conhecer (adquirir os instrumentos da apreensão)

2. Aprender a fazer (para poder agir sobre o meio que o envolve)

3. Aprender a viver juntos (a fim de participar e colaborar com

outros nas atividades humanas)

4. Aprender a ser (via essencial que integra as três precedentes).

Sendo “formação” aqui entendida como um grupo de normas e

conhecimentos que auxiliam a desenvolver o sujeito como cidadão para que

possa se qualificar e desempenhar com competitividade uma profissão no

mercado de trabalho entende-se ser essencial formar profissionais que

reúnam em seu perfil conhecimentos de natureza técnica, mas também,

habilidades e valores que digam respeito à condição humana,

imprescindíveis à vida e à ação consciente e participativa na sociedade.

Assim, por articular-se tanto com a vida coletiva de uma sociedade

como com os processos de constituição simbólica, nos quais os sujeitos

sociais lutam para dar sentido ao mundo, entende-lo e nele encontrar seu

lugar através de uma identidade social, a Teoria das Representações

Sociais permitiu-nos esclarecer o pensamento e os comportamentos desse

101

grupo de profissionais da área de vendas fornecendo-nos informações a

respeito da formação necessária à sua profissão, ou seja, com o auxilio

dessa teoria foi possível desvelar as representações sociais da profissão de

vendedor, assim como, da formação especifica necessária a esses

profissionais na visão desse grupo de vendedores.

102

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ANEXOS

ANEXO A – AS PRINCIPAIS TEORIAS DO PENSMENTO ADMINISTRATIVO E SUA VISÃO DE HOMEM/TRABALHADOR

Teorias Ênfase Características Visão de Homem/ trabalhador

Fatores de sucesso organizacional

Cie

ntifi

ca

Tar

efas

-Corrente iniciada por Taylor; -Considera a administração uma ciência aplicada na racionalização e no planejamento das atividades operacionais.

Homoeconomicus -Trabalhadores selecionados e adestrados; -Recurso produtivo (máquina); -não precisa pensar apenas fazer; -deve ser monitorado e controlado.

-Maior produtividade; -Maior salário; -Maior consumo; -Maior lucro e prosperidade.

Clá

ssic

a

Est

rutu

ra

Org

aniz

acio

nal

-Corrente iniciada por Fayol para o tratamento da administração como ciência na formatação e na estruturação das organizações.

- Trabalhador dedicado; -Eficiente; -Problemas pessoais devem ser resolvidos fora da empresa; -Controles formais de resultados.

- Direção equilibrada das funções e das pessoas que compõe a estrutura.

Bur

ocrá

tica

Est

rutu

ra F

orm

al -Corrente baseada nos

trabalhos de Max Weber; -Descreve as características do modelo burocrático de organização.

- Obediência formal ao cargo; - Trabalhador preguiçoso, indisciplinado e sem iniciativa.

-Previsibilidade de controles, resultados e ganhos.

Rel

açõe

s H

uman

as

Pes

soas

-Corrente iniciada com a experiência de Hawthorne; -Combatia os pressupostos clássicos através da ênfase nas pessoas e nas relações humanas.

-Homem social; -Grupos informais; -Pessoas com necessidades econômicas e sociais; -Possuem interesses e expectativas profissionais e pessoais.

-Conciliação dos objetivos econômicos (patrões) e sociais (trabalhador).

Est

rutu

ralis

ta

Est

rutu

ra, P

esso

as e

A

mbi

ente

s

-Corrente baseada na sociologia organizacional; -Procura consolidar e expandir os horizontes da administração.

-Homem Organizacional; -Grupos sociais; -Papéis individuais e coletivos nas organizações; -Personalização da tarefa ao trabalhador; -Comprometidos ou alienados.

-Equilíbrio entre os desenhos organizacionais e o comprometimento dos trabalhadores.

Sis

têm

ica

Am

bien

te E

xter

no

- Corrente baseada nos estudos do biólogo Ludwig Von Bertalanffy; - Entende as organizações como uma estrutura integrada que envolve um subsistema social (pessoas) e um subsistema técnico (tecnologias, máquinas e etc.).

-Homem funcional; - Trabalhador que assume vários papéis diferenciados na organização e sociedade; -Aspectos do ambiente afetam suas necessidades, expectativas e orçamento.

-Acompanhamento e adaptação da estrutura formal e informal as necessidades do ambiente.

Con

tinge

ncia

l

Am

bien

te e

Tec

nolo

gia

-Corrente mais recente e que parte do princípio de que a administração é relativa e situacional, isto é, depende de circunstâncias ambientais e tecnológicas da organização.

-Homem Complexo; - Trabalhador flexível, polivalente, responsável; -Capacitação do trabalhador para lidar com vários papéis.

-Capacidade de flexibilidade e reestruturação tecnológica frente a instabilidade ambiental.

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-Focaliza a organização como um todo; -Processos grupais; -Agentes de mudança; -Ênfase na solução de problemas; -Aprendizagem através de experiências; -Desenvolvimentos de equipes; -Enfoque interativo.

-Sistema social único que deve ser aculturado; -Conhecer e acreditar na cultura da empresa; -Trabalhador em constante aprendizagem.

- Criação de uma cultura organizacional na empresa que se adapte ás necessidades do Planejamento estratégico.

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esso

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-Satisfação do cliente como um dos objetivos principais durante todo o processo (da produção à venda); -Sistema de aperfeiçoamento contínuo; -Integração entre funcionários e setores da empresa; -Valorização do respeito ao trabalhador.

- Trabalhador polivalente, aculturado e participativo; -Equipes de trabalho; -Trabalhador cooptado físico e mentalmente.

-Racionalização dos custos, estruturas, flexibilização da produção e cultura participativa e qualitativa.

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as

- Crescimento da economia globalizada; -Rápidas mudanças econômicas e sociais; -Continuo ajuste às necessidades do cliente; -Habilidade de aprender; -Aprendizagem contínua torna-se agente de mudança e de construção da sociedade.

-Trabalhador inovador, criativo e autônomo; - Trabalhador qualificado, atualizado e informatizado, valorizado pela sua adaptação a essa cultura.

- Acompanhar as necessidades e desejos dos consumidores em custos e qualidade.

Est

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loba

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-Pensamento sistêmico; -Integração do planejamento e do controle; -Coordenação de todos os recursos para o objetivo/direção estratégica; -organização estratégica;

-Trabalhador comprometido e inovador; -Times de trabalho; -Trabalhador com autonomia controlada; -Empreendedor do seu trabalho.

- Adaptação global pela criação de valor e manutenção da lucratividade.

Fonte: Adaptado de Ferreira (2013).

ANEXO B – ESCOLAS DE PLANEJAMENTO: A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ESTRATÉGICO

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

SISTEMA DE VALORES

PROBLEMAS

Anos 50

Planejamento Financeiro

-Orçamento anual; -Controle Financeiro; -Administração por Objetivos (APO).

Cumprir orçamento

Miopia (disposição para empreender embaçada, pois, as prioridades eram as ações operacionais).

Anos 60

Planejamento de Longo Prazo

-Projeção de tendências; -Análise de lacunas; - Curva de experiência; -Estudo de cenários.

Projetar o futuro

Não prever descontinuidades

Anos 70 Planejamento Estratégico

- Pensamento estratégico; -Análise de mudanças no ambiente; -Análise dos recursos internos e das competências; -Alocação de recursos; -Foco na formulação.

Definir a estratégia

Faltar foco na implementação

Anos 80 Administração

Estratégica

- Análise da estrutura da Indústria; -Contexto econômico e competitivo; -Estratégias genéricas, Cadeia de valor; -Foco na análise e implementação; -Pesquisas/informações com base analítica.

Determinar a atratividade da indústria

Não trabalhar a abordagem sistêmica

Anos 90 Gestão

Estratégica

Pensamento sistêmico; -Integração do planejamento/controle; -Coordenação de recursos para o objetivo/direção estratégica; -organização estratégica; -Foco nos objetivos financeiros.

Buscar a sintonia com o ambiente interno e externo

Falta alinhamento com a filosofia organizacional

Anos 2000 Gestão

Estratégica e Competitiva

-Continuo ajuste às necessidades do cliente; -Aprendizagem contínua como agente de mudança.

As pessoas e sua capacidade de aprender são a maior estratégia competitiva de uma organização.

Dificuldade de acompanhar as rápidas mudanças

Fonte: Adaptado de LOBATO (2007)

ANEXO C – ENTREVISTA PILOTO

O que é ser vendedor para você? O que é ser vendedor? Vendedor é, pra mim, convencer uma pessoa de ficar com um produto que ela quer ou que ela não quer. A essência da venda, é essa. Quais as características que você acha mais importantes para exercer a profissão de vendedor? Inteligência, sensibilidade...um pouco de psicologia humana por que a gente precisa entender a pessoa do outro lado da mesa. Basicamente é isso, e isso geralmente vem com a gente, mas com os anos a gente vai desenvolvendo isso e vai ficando bastante aguçado a ponto de com dois, três minutos conversando assuntos que não tem a ver com a venda você percebe bastante a pessoa o que facilita muito na sua venda. Ok, me descreva um vendedor de sucesso. Bom, eu trabalhei a minha vida toda com venda, ou seja, eu tenho mais ou menos uns vinte e nove anos de venda e sucesso é o que... é você conseguir no período que você faz a venda ter o cliente pra você. Ter a confiança do cliente. Na verdade é isso. Você não só vende, por que às vezes você não vai conseguir vender naquele momento, mas, você vai desenvolvendo um relacionamento muito forte de confiança que é o objetivo principal você ter aquele cliente, aquela pessoa pra toda vida né? E aquela pessoa acreditar no que você fala. Essa é a venda correta, por que tem muita gente que vende só uma vez. O cliente percebe que não foi uma boa aquisição. Eu tenho um exemplo muito...bom, fechando é isso, é você conseguir a confiança do seu cliente. Muitas vezes você fala pro seu cliente não comprar o produto naquele momento, esperar, e ele vai acreditando em você e depois que ele acredita em você, ele praticamente segue o que você fala. E você realmente tem que ser uma pessoa séria, muito séria. Tenho um exemplo... você quer que eu dê um exemplo? Eu tenho um exemplo muito bacana que ilustra bem isso. Eu tive no meu banco falando com a gerente da minha conta e ela tentando me vender um consórcio de carro, um negócio hoje totalmente ruim, um negócio difícil de vender e eu disse pra ela o seguinte: “Olha, o que o pessoal te pediu pra vender é o negócio pior do mundo, por que é ruim de todos os aspectos. Primeiro, você não pega o veículo, segundo paga uma taxa de administração de quatorze por cento e ainda fica sem nada, esperando um sorteio. Isso não existe mais, isso é o pior negócio do mundo que te deram pra vender”. E a gerente insistiu um pouquinho comigo uma vez, duas vezes e ai eu falei: “Você quer que eu faça um negócio ruim?” Eu perguntei pra ela. “Você não é gerente da minha conta?” Ai ela falou: “Sim. Por isso que eu tô te oferecendo”. “Mas, você tá me oferecendo um negócio muito ruim”. Ai ela virou, parou um minuto e falou assim: “É. Pior que você tem razão”. Ai falei: “É, você tem que fazer o seu papel, tentar vender né?, mas é muito ruim. Você vai num banco financia um carro em três ou dois anos, pega o carro na mesma hora e daí a dois ou três anos você é dono do carro e gastou quatorze por cento só que você usufruiu bem. Então quer dizer, é um negócio praticamente falido né?” Ai ela falou: “É, pior é que é verdade”. Então, muitas vezes você tem um produto ruim pra vender e o teu cliente... o correto, o correto é o teu cliente saber disso. É isso o que eu penso. Você tendo a confiança... a não ser que você seja um vendedor de telemarketing,

ai você tem que vender e tem que vender. Só que ai é uma coisa sem futuro, é uma coisa assim momentânea, é uma venda um pouco diferente. É mais ou menos isso. Entendi, e como você acha que o vendedor consegue ganhar a confiança do cliente? Bom, falando a verdade, sem dúvida nenhuma. Eu tenho até uma preocupação que é a que eu passo para a minha equipe de venda que esse negócio de confiança é tão sério que as vezes pinta algumas possibilidades do cliente achar que o que você falou não é correto, então, mesmo quando você fala a verdade e pinta uma possibilidade dele achar que você mentiu ou omitiu a gente tem que ter a preocupação de se antecipar a isso, de tão sério que é o negócio. Você falou a verdade, mas por alguma circunstância essa verdade foi distorcida ou não aconteceu, o correto é você provar o porquê que não aconteceu e o porquê que cê falou aquilo. É uma preocupação realmente intensa por que ás vezes ser honesto não basta por que no dia a dia acontecem muitas coisas e mesmo você sendo honesto as vezes pode dar a impressão que você tentou enganar... ou não era aquilo que naquela época você falou pra ele não comprar por que o preço ia subir, então você tem que tá muito atento por que pra construir confiança é muito complicado e pra destruir é muito rápido, então você realmente tem que ter uma atenção especial porque, as vezes, apesar de você ser sempre honesto, as vezes, sempre fica algumas possibilidades ai que deixam transparecer...ou as vezes até pessoas mesmo fazem isso, fala: ó, o cara te falou isso... então você tem que tá muito atento as reações do seu cliente. Se ele não te ligou mais, alguma coisa aconteceu e você tem que realmente tá bem atento a isso. Em uma escala de um a cinco como você se classificaria em relação a este vendedor de sucesso? Olha, modéstia parte eu sou um bom vendedor, mas a gente nunca atinge durante a vida... você chega até setenta, oitenta anos fazendo a mesma coisa, mas eu acho que você nunca atinge a perfeição, eu acho que o ser humano foi feito pra ser imperfeito e se ele chega a perfeição de uma coisa ele fica neurótico e eu não quero ficar neurótico, então eu acho que você sempre tem alguma coisa pra melhorar e eu realmente durante esses anos tive essa busca assim naturalmente porque eu queria muito que os meus clientes fossem eternos, então eu procuro estar sempre melhorando. É uma coisa natural, é uma coisa que eu me cobro, é uma coisa que eu não preciso mais fazer, mas é uma coisa natural, muito natural e de zero a cinco, as vezes eu tenho... e como é que eu posso te dizer... eu não daria nenhuma nota pra mim. Eu daria nota por atuações, eu acho que oitenta por cento do tempo eu tenho atitudes nota cinco como vendedor e dez por cento nota quatro e dez por cento nota três, dez não, oito, e de vez em quando eu tenho uns dois, se eu falo alguma coisa ou então...eu erro, eu erro feio, mas como eu tenho um princípio de honestidade eu geralmente consigo consertar rapidamente pra cinco. E essa a essência do meu trabalho e a essência do meu conceito de vendas. Então, de um modo geral você se considera um vendedor... de sucesso. Ok, mas, nesses momentos em que você se deu uma pontuação mais baixa o que e staria faltando? Não é falta de entendimento sobre o que eu faço. São estados de espirito. Eu acho que isso ai influencia muito, por exemplo, se eu tô estressado, muito estressado, eu já sei hoje que eu não devo fazer uma ligação, que eu não devo fazer uma venda, não devo ter contato. Então são estados de

espirito. Eu tenho alguma coisa pra aprender com venda é logico, não é muita coisa, eu tenho que ter é uma evolução pequena, mas é estado de espirito. Se você for fazer alguma coisa irritado, você vai fazer besteira, então, o certo é você evitar, marcar pra outra hora e eu tenho um exemplo muito bom sobre isso que eu tirei nota dois. Eu tava extremamente irritado e recebi uma ligação de um outro vendedor da empresa e ele passou que um cliente de vinte anos tinha cancelado o pedido naquele momento e agente já tava carregando o produto e na verdade eu não fiquei irritado com o meu cliente, eu não tenho essa atitude de irritar com o cliente, mas eu tava muito mal, muito irritado e ai recebi a ligação e eu não consegui me segurar e ai eu peguei a ligação e liguei... pra quem? Liguei pro cliente. Pro responsável, pro gerente do cliente e fui muito mal, ai eu falei com ele de uma forma indevida, não ofendi, de maneira nenhuma, jamais, mas assim eu falei coisas que eu sou totalmente contra, entendeu, são coisas que eu prego, não ligar quando não estiver bem, se preparar pra ligação, ser honesto, entendeu, tentar ajudar, ser compreensivo e tentar dar a volta por cima. Eu fiz tudo ao contrário, eu fui cobrar do cliente aquela informação em cima da hora, eu fui um pouco áspero na ligação, eu desabafei, eu não fui... eu fui péssimo. No final da ligação eu tinha percebido que eu não deveria ter ligado, que eu fui mal. Em nenhum momento eu ofendi tá? E eu tinha toda razão do mundo de fazer aquela ligação, em síntese eu não tava errado na ligação, em nada que eu falei, talvez uma palavra, assim, mal colocada. Uma palavra mal colocada. Mas não deveria, no meu conceito de venda, jamais eu deveria ter ligado, ai depois, quando eu terminei a ligação, eu desliguei o telefone, eu falei: Errei. Isso acontece muito pouco porque a minha essência não é essa, então eu acho que o estado de espirito realmente é que atrapalha as pessoas em tudo. A gente há de convir que na vida isso é tudo, por isso, você tem que procurar a calma sempre. Então, como alcançar esse ponto que te falta em alguns mom entos? Ah, isso é qualidade de vida. Isso é o que todo mundo tem que procurar. E você já conseguiu isso? A estabilidade financeira dá isso pra gente, é uma coisa natural. Se você atinge níveis financeiros de situação de vida que lhe permite isso. Hoje a busca de todo mundo é por dinheiro, é por situação financeira estável, é pra chegar aos quarenta, cinquenta anos e você olhar e falar: Bom, eu vou trabalhar mais cinco ou dez anos e é, por isso, existe a aposentadoria né? Mas você não pode se aposentar hoje contando com a aposentadoria porque você vai voltar pra traz. Então você tem que construir ao longo da vida uma situação financeira forte. E o que dá tranquilidade pras pessoas, sem dúvida nenhuma, é a situação financeira. Por que ela realmente te deixa mais tranquilo, então eu acho que a situação financeira controlada. E lógico durante a tua vida você tem que ir construindo as coisas com bastante tranquilidade, senão chega a uma situação em que você consegue a tranquilidade da vida, mas, não conseguiu montar família, não tem filhos, as pessoas são meio distantes de você, não tem amigos. E, por isso que a tranquilidade tem que fazer parte disso. Entendi, e você tem planos para alcançar isso? Com certeza. Sem dúvida nenhuma. Eu até me classificaria da seguinte maneira: Eu quando tinha vinte anos, eu era um trator rodagem dupla, que tinha uma lâmina na frente e um triturador atrás, quatro por quatro, nenhum terreno me parava e ia passando por cima de

tudo. Extremamente eufórico, trabalhador, tinha uma energia maluca. Isso é bom, ter energia, ser forte, só que isso, depois que o trator passa você olha assim pra trás e você vê que o terreno ficou bom, ficou arado, que não te pararam, você não atolou, mas você vê que cortou algumas raízes de algumas plantas, cortou algumas arvores que as vezes vão demorar trinta anos pra nascer de novo, tem umas que morrem e que você poderia ter passado o trator com certo cuidado. Um trator menor, um trator que poderia ter encravado você descido concertado, então, conforme a gente vai evoluindo a gente vê que a gente poderia ter ido com menos força e com mais inteligência e isso é uma coisa da vida. Então, o que eu tô fazendo é aprendendo a ter calma, a idade ajuda naturalmente e realmente...hoje eu tenho quarenta e seis anos e fazendo um planejamento pra trabalhar no máximo mais nove anos, logicamente depois que eu parar...eu tenho filhos... tem gente que é um pouco hipócrita e diz: Não meus filhos vão fazer o que eles querem, eu vou deixá-los mais a vontade eu não sou assim não, eu na verdade deixo meus filhos a vontade, mas eu trilho pra eles me seguirem. Eu montei uma empresa com meu pai há mais de vinte e oito anos e eu realmente queria que eles seguissem isso. É logico que eu não forço eles, mas eu como bom vendedor (risos) tudo o que eu aprendi eu uso com os meus filhos sem dúvida nenhuma pra eles virem pro meu lado. Pra eles aprenderem...Eu quero que eles façam um intensivão o que eu aprendi em vinte anos eu quero que eles aprendam em oito, sete. Eu quero que eles me sigam sim. Eu tenho um já muito, até o pescoço comigo, tem vinte e três anos. Ele com vinte e três anos, eu comparando comigo, ele com vinte e três anos eu era mais ou menos equivalente a ele com trinta e três, então, ele já tá muito na minha frente. Tem um de quatorze anos que também tô do lado dele tal, acredito que ele deva ter a mesma evolução, até mais porque o jovem de hoje tá muito mais... muito melhor do que a gente, então o meu plano de vida é isso, cada vez ter mais tranquilidade passar isso pros meus filhos, pros funcionários da empresa ajudar o ser humano no geral, quem tá a fim eu me dedico mesmo a ajudar eu dou chance, eu ajudo por que a pessoa que tá a fim você tem que ajudar mesmo e daqui há mais ou menos nove ou dez anos, com cinquenta e cinco anos eu pretendo deixar de ser vendedor e ser um conselheiro da empresa só. Eu gosto muito de ajudar as pessoas, principalmente aquelas pessoas que eu olho assim...que eu vejo que tem muita energia, ai falo meu Deus do céu...que tem vontade. Eu colo nessa pessoa e tento passar pra ela tudo o que eu errei, eu tento passar pra ela não precisar passar, não perder tempo. Você falou que montou uma empresa com seu pai, ele também era vendedor? Sim, também. Meu pai trabalhou em banco quando era jovem, mas, deixou o banco para ser vendedor e foi vendedor até se aposentar. Ok. E como você acha que os outros veem sua profissão? Ah, a profissão de vendedor... nós podemos falar que é uma profissão marginalizada. É uma tristeza né? Todo mundo que recebe um vendedor...existe a rejeição natural ao vendedor, mas isso, naturalmente é causado pelo próprio vendedor né? Se a gente for analisar, oitenta, noventa por cento dos vendedores são chatos, as vezes, tem que vender um produto ruim. Eles têm que se virar nos trinta né? E ai acaba marginalizando, por exemplo, tem muitos que tem que vender produtos que não era nem pra ser vendido, não era nem pra ser inventado os produtos

que eles estão vendendo (risos), mas, alguém ta ganhando dinheiro e a linha de frente é o vendedor e tem vendedores muito bons, mas, muito bons. Pena que, as vezes, depois de dez anos alguns desses vendedores veem que ele enganou muita gente, que ele ta desgastado ou ta até sujo na praça, mas é assim mesmo, o mundo não é feito só de coisa boa, o mundo não é feito só de produto bons e é por isso. Mas o vendedor sofre realmente com a rejeição. Não é preciso ir muito longe, você chega em casa e recebe uma ligação e é da Vivo. Você fala: “Jesus!” Ai, “Boa tarde, eu sou da Nokia”...nossa senhora... “você tem um minuto?” Meu Deus... não tem, ninguém tem um minuto, pra vendedor não. É isso, e o mundo vive pela venda né? É se virar, tem que se virar. Acho que é assim, ele é muito mal visto. Quais os pontos positivos de sua profissão? Pontos positivos? A gente toca o comércio mundial, gira a economia no mundo, nós fazemos girar o dinheiro. É isso, é uma profissão essencial. Você monta uma fábrica, organiza tudo pra vender alguma coisa, então, é a essência do mundo, é o comércio, é a venda. Nós temos que vender o que é produzido. É isso, é essencial. E os pontos negativos? Negativos? Tirando a chatice, lógico né? A rejeição... sinceramente, assim, em um sentido mais amplo, eu não vejo dificuldade em vender produtos. Acho que o principal ponto negativo é que a gente tem que vender tudo. Se for bom ou se for ruim, se for enganação, o que for, então acho que é isso, o vendedor não tem opção, tem que vender. Por exemplo, se me contratem pra vender um isqueiro que é caro, mas daqui um tempo vai parar de funcionar. Eu posso não aceitar, mas vai ter alguém que vai fazer isso, então acho que é isso, você tem que fazer o negócio girar, as vezes você não vende uma coisa que seja boa, mas tem que ser vendida. É isso, o ponto negativo é que vai ter sempre uma pessoa pra fazer o certo ou o errado. Como você acha que deve ser avaliado o desempenho/performance de um vendedor? Bom, o mercado avalia por quem vende mais, quem dá mais lucro, quem tem a maior carteira de cobrança. A avaliação do mundo é essa, quem vende mais, quem tem uma lábia maior, quem vende o produto mais difícil. É isso. Eu não posso ir contra o mundo, então eu acho que é isso. Na minha empresa, na minha pequena empresa, eu tento pregar que pra mim o melhor vendedor não é o que vende mais é o que tem a carteira de venda, que tem o melhor relacionamento com os clientes que ele vende. Esse é o melhor vendedor pra mim, mas no mundo não é assim. O mundo não quer saber como você vende. Ele quer saber que você vendeu, só que pra mim o melhor vendedor é o que se relaciona melhor com o cliente. Se você tivesse que fazer um programa de capacitação de vendedores quais os pont os você acha que deveriam ser enfatizados? É uma coisa que eu venho falando aqui na entrevista né? É justamente na honestidade, por que geralmente um vendedor já vem com a fluência, é uma coisa natural, você fala: Pô você vai ser o meu vendedor. O cara fala bem, o cara coloca bem as palavras. É uma coisa natural, os vendedores são mais assim. Eu acho que seria isso, é conhecer o produto que ele vende, a fundo, conhecer o processo todinho de como é feito, transportado e passar a honestidade pro cliente, de tudo. Eu acho muito legal. Isso tem que fazer e eu falo muito pro meu pessoal que você só pode vender o que você conhece. Isso é básico. Por que? Por que você tem que saber como ele funciona, o porquê daquilo como ele foi

fabricado, quanto tempo dura, o que que tem no mercado, você tem que ser um senhor do que você vende, tanto do seu produto como do concorrente e procurar falar a verdade. Ai você fala: Pô, mas você coloca como você é o rei da honestidade de tudo e eu vou fazer uma pergunta pra mim mesmo que talvez seja interessante pra você: E quando você precisar mentir? Como é que você fica? Eu falo pra minha equipe de vendas que a nossa mentira são algumas omissões. Ah...estranho, como é isso? você coloca tudo do seu produto, fala do concorrente e, às vezes, até coloca que o produto do concorrente é até melhor do que o seu, quando você fala isso você realmente prepara o ouvido...o seu cliente, o seu futuro cliente vai falar: Pô esse cara é bom, ele falou que o produto dele em alguns aspectos é pior que o do concorrente, então você realmente quebra tudo. E aí, o que são algumas omissões? Se a tua empresa tem algumas falhas, o teu produto tem algumas falhas...só que uma empresa consciente trabalha em cima das falhas pra corrigir, o que que se faz, você trabalha em cima da tua falha e omite certas informações, por exemplo, você não vai falar que... na nossa empresa tem um histórico que a primeira venda geralmente dá problema, não que isso seja verdade, mas é histórico isso. Toda primeira venda nossa dá um problema, mas eu não posso falar isso né? Por mais que eu seja honesto. Então eu vou fazer de tudo pra que a primeira venda não dê problema né? Então, é mais ou menos isso, são algumas omissões por que o cliente jamais pode falar assim: “Você falou isso”. E se você falou você tem que segurar que falou. Então, omissão é isso, é você não falar algumas coisas, ás vezes, que vai acontecer no processo e quando acontecer você vai assumir e se acontecer você vai assumir. Por que existe o honesto cego e o honesto que omite algumas coisas que não são pertinentes, então, o vendedor honesto cego, coitado, é melhor nem sair de casa, fica lá dormindo. Omitir é você não falar pro cliente aquilo, é você deixar de falar alguma coisa, deixar alguma coisa sem dizer, por que o que você diz você tem que honrar e você tem que assumir, jamais alguém pode pegar você, então se você tiver que falar alguma coisa difícil, então é melhor não falar, então é mais ou menos isso ai. Ok. Você disse que falar bem e conhecer o produto são importantes. Há habilidades que talve z você ainda não tenha citado e que você ache importante enfatizar e m um programa de capacitação? Ah, é o que eu falei há algum tempo atrás ai, a pessoa tem que conhecer profundamente o que vende entendeu? Se não conhece e é uma pessoa boa, que fala bem, ela tem que ser preparada. Ser preparada pra conhecer o produto a fundo e conhecer o mercado. Falar bem é fundamental, mas tem que ter logicamente a inteligência. A inteligência é mais fundamental do que falar bem. Se você falar assim: Você quer uma pessoa inteligente ou quer uma pessoa que fala bem? Não, eu quero uma pessoa inteligente. Ai cê fala assim, mas todo mundo é inteligente. Ok, mas é a pessoa realmente inteligente, de fato, por que tem a pessoa inteligente pra viver. Agora tem as pessoas que são brilhantes. A pessoa que saca logo quando a pessoa tá terminando de falar, ás vezes, nem terminou de falar e ela já sabe, já saca, já tá com a resposta. A pessoa rápida, muito rápida. Essa pessoa jamais se dá mal, então é fundamental que cê perceba que aquela pessoa tem um algo a mais. Às vezes, fala bem, fala bem, mas não tem esse algo a mais. Não vai dar. Pô, mas se a pessoa não tem

conhecimento nenhum, não tem importância eu faço ela entender. O conhecimento que você fala é...? Do produto. E a inteligência? É o algo a mais, é a pessoa que tem uma energia, um algo a mais. Eu nunca dei muito valor pra QI, até não sei como funciona muito bem isso, mas podemos dizer assim, metaforicamente, que é a pessoa que tem o QI mais alto, pra vendas ela é excepcional, ela aprende, ela aprende... ela parece uma esponja, e quando ela se dedica àquilo ela fica espetacular. Então, é a capacidade de aprender rápido... e de sentir na conversa pra onde vai dar aquilo. Em pouco tempo ela percebe que aquela pessoa tá competindo, aí cê fica humilde. Aí aquela pessoa cresce e você, bem humilde, dá moral pra aquela pessoa. Aquela pessoa te acha a pessoa mais legal do mundo e ai ela fala: “Nossa!”. Muda tudo. Aí ela começa a aparecer e você diz: “Você sabe muito hein?”. Dá esse poder. A pessoa gosta disso de estar acima dos outros. Isso é um exemplo que eu tô te dando tá? O que que ela vai querer? Ela vai querer te ajudar porque você admirou ela, então é mais ou menos isso, percepção de pessoas. Ai você não precisa nem vender. Se vende sozinho. Aí aquela pessoa fala: “O que que eu posso fazer pra te ajudar”. E aí você humildemente cultuando aquela pessoa quando você vê ela tá comprando de você, as vezes sem precisar. Só por que você deu moral pra ela. É mais ou menos isso. Aí tem gente que gasta... só a inicial dele é cinco minutos falando, e tal, e tal, e tal... aí a pessoa tá abrindo a boca, “entendi, sei, sei”. A pessoa tá mandando sinais que ela não quer ouvir aquilo e a outra pessoa tá ali. A outra pessoa é tão tola que acha que tá falando bem pra caramba, mas o resultado é zero, por isso é que eu falo, a pessoa que é inteligente, que tem a melhor percepção vai ser melhor vendedor. Então você está me dizendo que a percepção é uma habilidade importante ? Isso, é olhar a feição da pessoa, você começa a falar e você vai perceber o que a pessoa quer ouvir, tem pessoas que ouve um pedaço e já (fez uma careta), aí você já sabe que com aquela pessoa você tem que falar pouco, ser objetivo. Aí você precisa achar um jeito de chamar a atenção daquela pessoa. Se você não chamar a atenção daquela pessoa, perdeu. Perdeu tempo, perdeu tudo. Você tem que falar o que a pessoa quer ouvir. Primeiro se ganha a pessoa, depois se vende o produto. Se você não ganhar a pessoa, você não vai vender o produto. Ainda mais na concorrência que tem hoje, é um negócio espetacular. E tem que terminar a reunião assim, a pessoa vai embora e o outro fala assim: Poxa, legal esse rapaz que veio aqui né? Que é o primeiro passo, porque produto todo mundo tem , preço todo mundo tem, você não consegue diferenciais hoje, por mais que você faça, quando uma empresa atinge um diferencial, em poucos meses ela é alcançada, quando a gente pula pra outro diferencial é alcançado, então hoje, a gente tem que continuar inovando, porém construir relacionamentos sólidos com o cliente, esse sim vai ser o grande diferencial por que na hora que o cliente seu falar: Olha os produtos são similares, mas compra daquele cara ali por que ele é honesto, é gente boa. É isso. Então você tem que trabalhar isso ai que é fundamental, ok?

APÊNDICES

APÊNDICE A – ANÁLISE DE CONTEÚDO

Para fins de qualificação foi feita uma breve Análise de Conteúdo da

entrevista aqui anexada (Anexo 3) . Deve-se ressaltar que, neste estudo,

pretende-se aplicar o software ALCESTE quando da análise das entrevistas

que se seguirão a essa.

Conforme Franco (2012), a Análise de Conteúdo “é um procedimento

de pesquisa que se situa em um delineamento mais amplo da teoria da

comunicação e tem como ponto de partida a mensagem”, logo, pode ser

definida como um procedimento de análise das comunicações, que tem

como objetivo a obtenção de indicadores que comportem a inferência de

informações relativas às condições de produção e recebimento das

mensagens, ou seja, neste método o pesquisador trabalha com palavras que

possibilitem a inferência de conhecimentos a partir da mensagem dos

enunciados.

De acordo com Franco (2012), a análise categorial é um dos

procedimentos utilizados neste método e os critérios de seleção das

categorias são determinados pelos temas que dizem respeito ao objeto de

pesquisa. Em nosso caso, as categorias foram definidas a priori e,

posteriormente, analisadas a partir da fala do sujeito entrevistado e o tema

“Profissão de Vendas” foi selecionado por estar inserido em nosso objetivo

de estudo.

A Análise de Conteúdo da entrevista aqui anexada foi realizada da

seguinte forma: Definiu-se, a priori, as categorias, ou melhor, pré-categorias

em função do objetivo deste estudo e, em seguida, definiu-se as Unidades

de Análise (Unidade de Registro e Unidade de Contexto).

Na pré-categoria “característica funcional” foram identificadas as

seguintes subcategorias: habilidades, aprendizado, relacionamento,

sucesso, visão de senso comum e visão de homem. Dentro da pré-categoria

“benefícios à sociedade” foram verificadas as subcategorias: objetivo da

venda e importância da profissão. Por fim, inseridas na pré-categoria

“dificuldades relativas ao exercício da profissão” encontramos ética como

subcategoria.

Essas pré-categorias e subcategorias encontram-se sistematizadas

no quadro a seguir:

Quadro: Pré-Categorias e subcategorias identificadas nos textos

Pré-Categorias Subcategorias Característica funcional Habilidades, aprendizado,

relacionamento, sucesso, visão de senso comum, visão de homem

Benefícios à sociedade Objetivo da venda, Importância da profissão

Dificuldades relativas ao exercício da profissão

Ética

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Foram consideradas como Unidades de Registro as palavras que

colaboram para o estabelecimento das categorias. E como Unidades de

Contexto foram destacados trechos de mensagem com o intuito de

identificar as palavras definidas como Unidades de Registro. Vejamos o

quadro a seguir:

Quadro: Quadro Unidade de Registro/Contexto

Unidade de Registro

Unidade de Contexto

“E sucesso... é você conseguir no período que você faz a venda ter o cliente pra você. Ter a confiança do cliente”.

Sucesso/Confiança

“Então você tem que tá muito atento por que pra construir confiança é muito complicado e pra destruir é muito rápido.”

Construir Confiança

“É uma preocupação realmente intensa por que ás vezes ser honesto não basta por que no dia a dia acontecem muitas coisas e mesmo você sendo honesto as vezes pode dar a impressão que você tentou enganar...”

Honesto

“Eu falo pra minha equipe de vendas que a nossa mentira são algumas omissões”.

Omissões

“Omitir é você deixar de falar alguma coisa, deixar alguma coisa sem dizer, por que o que você diz você tem que honrar e você tem que assumir, jamais alguém pode pegar você, então se você tiver que falar alguma coisa difícil, então é melhor não falar”.

Omitir

“Você vai desenvolvendo um relacionamento muito forte de confiança que é o objetivo principal [...]. É aquela pessoa acreditar no que você fala. Essa é a venda correta...”

Relacionamento

“o mercado avalia por quem vende mais, quem dá mais lucro, quem tem a maior carteira de cobrança. A avaliação do mundo é essa [...] quem tem uma lábia maior, quem vende o produto mais difícil [...] O mundo não quer saber como você vende. Ele quer saber que você vendeu, só que pra mim o melhor vendedor é o que se relaciona melhor com o cliente”.

Relacionamento

“Modéstia parte eu sou um bom vendedor [...] mas, eu acho que você sempre tem alguma coisa pra melhorar [...], então eu procuro estar sempre melhorando”

Melhorar (aprender)

“Tudo o que eu aprendi eu uso com os meus filhos [...]. Pra eles aprenderem...Eu quero que eles façam um intensivão, o que eu aprendi em vinte anos eu quero que eles aprendam em oito, sete”.

Aprender

Unidade de Registro

Unidade de Contexto

“é a pessoa que tem o QI mais alto, pra vendas ela é excepcional, ela aprende, ela aprende... ela parece uma esponja, e quando ela se dedica àquilo ela fica espetacular”.

Aprender

“nós podemos falar que é uma profissão marginalizada[...]existe a rejeição natural ao vendedor[...].Acho que é assim, ele é muito mal visto”.

Marginalizada

“O mundo vive pela venda [...]. A gente toca o comércio mundial, gira a economia no mundo, nós fazemos girar o dinheiro [...] É uma profissão essencial [...]. Nós temos que vender o que é produzido. É isso, é essencial”

Essencial

“geralmente um vendedor já vem com a fluência, é uma coisa natural [...]. O cara fala bem, o cara coloca bem as palavras [...] os vendedores são mais assim”.

Falar bem

“você não consegue diferenciais hoje [...] quando uma empresa atinge um diferencial, em poucos meses ela é alcançada, quando a gente pula pra outro diferencial é alcançado, então hoje, a gente tem que continuar inovando, porém construir relacionamentos sólidos com o cliente, esse sim vai ser o grande diferencial”

Diferencial/inovação

“Se você não ganhar a pessoa, você não vai vender o produto. Ainda mais na concorrência que tem hoje, é um negócio espetacular”.

Concorrência

Fonte: Elaborado pelo autor (2014)

Após essas providências tornou-se possível efetuar a análise das pré-

categorias.

Analisando a pré-categoria “característica funcional”, percebe-se que

o “falar bem” é uma das características ressaltadas pelo senso comum, ou

seja, uma representação edificada acerca de si mesmo, um saber

privilegiado. Vislumbra-se um processo de formação de representação social

em que esse profissional incorpora uma imagem de si mesmo e de sua

profissão frente à sociedade.

Nesta mesma pré-categoria fica evidente que o relacionamento com o

cliente é um fator importante para essa profissão. O sucesso parece ser

medido pela retenção e pelo desenvolvimento do relacionamento com os

clientes e não somente pelo total de “cotas” de venda atingidas ou pela

quantidade e valor de produtos ou serviços comercializados. O diferencial

parece estar no relacionamento com o cliente e em suas necessidades.

Sob esta ótica, o entrevistado parece valorizar a necessidade do

desenvolvimento de habilidades e competências através do aprendizado

contínuo e necessário às demandas de sua profissão, almejando seu

aprimoramento tanto pessoal quanto profissional que refletirá em benefício

próprio e dos clientes. Portanto, há uma valorização do aprendizado

contínuo, assim como, da rápida aplicação desse novo conhecimento, pois,

na sociedade atual, o conhecimento é gerado continuamente e esse

profissional deve tirar proveito deste conhecimento para estar sempre

atualizado e à frente da concorrência.

No que diz respeito à pré-categoria “benefícios à sociedade”,

verificamos que o vendedor detém um posto importante na estrutura

econômica e social mundial, pois, para que os produtos sejam

comercializados é necessário que haja a atuação deste profissional,

ressaltando que as relações de troca são essenciais tanto para a sociedade

quanto para o comércio no mundo. No entanto, ao analisarmos a pré-

categoria “dificuldades relativas ao exercício da profissão”, verificamos que a

importância desse ofício para economia, não costuma ser devidamente

valorizado, pois, algumas vezes o vendedor não é visto “com bons olhos”

pela sociedade.

Nota-se que o vendedor, como qualquer outro profissional, possui

dificuldades no exercício de sua profissão e atuar em vendas implica

conviver, rotineiramente, com objeções e rejeições que fazem parte da ação

de vender.

É possível inferir que no senso comum, há um conceito ou

preconceito de que o profissional das vendas é “malandro” e que através de

sua “lábia” tem a intenção de ludibriar o cliente fazendo com que esse

profissional conviva com a desconfiança e a dúvida da sociedade quanto à

validade ética e moral de seus princípios e práticas.

Podemos entender na fala do entrevistado que a falta de ética é um

traço que compromete a imagem do vendedor, causando danos a relação de

confiança entre esse profissional e seu cliente. Em contrapartida o uso do

comportamento ético demonstrará uma postura honesta e justa de quem

busca atender à necessidade real do comprador, principal função do

profissional de vendas.

Percebemos nesta questão uma elaboração mental erguida

socialmente, ancorada à identidade de profissional de vendas, no contexto

de sua profissão, representada socialmente e generaliza pela linguagem.

Resumindo, percebe-se que existe uma ênfase na confiança baseada

na relação de longo prazo. O cliente deve ser o ponto focal dos processos

de negócios e para isso é necessário que o vendedor desenvolva

continuamente suas habilidades e competências para obter uma atuação

profissional, e ética, impecável junto ao consumidor.