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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUCSP EDUARDO KIOCHI NAKAMITI A QUESTÃO DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL Comunicação científica e de divulgação nas ciências da complexidade DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA SÃO PAULO 2.014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUCSP

EDUARDO KIOCHI NAKAMITI

A QUESTÃO DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL Comunicação científica e de divulgação nas ciências da complexidade

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

SÃO PAULO

2.014

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EDUARDO KIOCHI NAKAMITI

A QUESTÃO DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL Comunicação científica e de divulgação nas ciências da complexidade

DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Tese ap resentad a à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica sob orientação do Prof. Dr. Rogério da Costa Santos

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Banca Examinadora

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Esta tese tem muita influência e inspiração de um ser humano ímpar, que foi meu primeiro orientador: Professor Jorge Vieira de Albuquerque, a quem dedico este trabalho. Méritos e agradecimentos muito especiais também ao seu sucessor Professor Rogério da Costa Santos, que abnegadamente adotou, ajudou e me incentivou muito a terminá-la. Não posso deixar de citar, por fim, o incentivo e a colaboração na revisão de uma grande amiga, jornalista Ana Carolina Saito.

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A QUESTÃO DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL

Comunicação científica e de divulgação nas ciências da complexidade SUMÁRIO 1- Resumo..................................................................................................... 7 2- Abstract.................................................................................................... 8 3- Introdução................................................................................................ 9 4- Capítulo 1 Advento do pós-humanismo e do pós-humano................................. 16

1.1 - Introdução ao pós-humano e o pós-humanismo....................... 16

1.2 - Pós-humanismo / Pós-humano................................................ 20

5- Capítulo 2 A exponencialidade do nosso desenvolvimento .............................. 39

2.1 - O início de tudo...o big bang.................................................... 42

2.2 - O desenvolvimento das tecnologias e da ciência..................... 46

2.3 - Como foi nossa lenta evolução................................................. 49

2.4 - O século XX...a teoria da relatividade...................................... 51

2.5 - As 4 forças da natureza............................................................. 55

2.6 - A física das partículas............................................................... 58

2.7 - Teoria das cordas...................................................................... 61

2.8 - Computação quântica............................................................... 66

2.9 – Nanotecnologia........................................................................ 68

2.10 - Convergência tecnológica...................................................... 72

2.11 - A velocidade das descobertas científicas............................... 76

6- Capítulo 3

Imortalidade...................................................................................... 85

3.1 - Imortalidade segundo Kurzweil............................................... 86

3.2 - Imortalidade segundo “Os grandes Mistérios do Universo com

Morgan Freeman”......................................................................

95

7- Capítulo 4 Visão de Raymond Kurzweil............................................................

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4.1 - Quem é Ray Kurzweil.............................................................. 104

4.2 - O começo.................................................................................. 105

4.3 - O inventor/empreendedor......................................................... 106

4.4 - O escritor.................................................................................. 110

4.5 - A universidade da singularidade (SU)..................................... 112

4.6 – Singularidade........................................................................... 115

4.7 - Sua vida hoje............................................................................ 123

8- Capítulo 5 Análise das hipóteses.................................................................................. 126 9- Capítulo 6 Comentários e Conclusão............................................................................ 131 10- Referências.............................................................................................. 135

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A QUESTÃO DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL

Comunicação científica e de divulgação nas ciências da complexidade

RESUMO

O objeto desta pesquisa é estudar a divulgação nas mídias de massa e digital, em suas mais variadas formas de avanços científicos na esfera das relações homem-máquina. O trabalho visa discutir o descompasso entre as formas de comunicação e divulgação acadêmica, por um lado, e popular, por outro, que retratam o desenvolvimento do pós-humanismo e do homem pós-humano em sua busca pela permanência ou eternização. Nosso objetivo específico é avaliar, por meio da divulgação das descobertas das ciências da complexidade, esta forma de comunicação popular que está se faz presente nas mídias digitais, tal como a Internet e outras mídias de massa. Esse tipo de comunicação visa divulgar rapidamente os avanços tecnológicos, simplificar teorias complexas para o entendimento popular e, principalmente, divulgar teses e estudos controversos, normalmente vistos pela Academia com certo ceticismo. A mídia de massa se esforça em retratar a busca da permanência pelo homem, divulgando as descobertas tecnológicas que destacam o homem pós-humano como imortal. Mas para que esta revolução? Por que é necessário toda esta energia na divulgação popular? Será por causa da velocidade das descobertas? Nossa hipótese é de que isto se faz necessário para garantir as verbas de pesquisa em temáticas de conhecimento do público, mas ainda não desenvolvidas. Metodologicamente, utilizaremos como fontes, de um lado, a literatura acadêmica disponível, reconhecida pela Academia e, em especial, os artigos científicos da Scientific American. Para a divulgação na mídia de massa, utilizaremos a figura de Raymond Kurzweil como case exemplar, pois se trata de um cientista que se notabilizou com a divulgação popular da evolução tecnológica e de suas consequências, que resultarão numa Inteligência Artificial que suplantará a Inteligência Humana. Esta popularização da ciência está familiarizando o público com termos como cosmologia, nanotecnologia, buracos negro, quasar, bóson etc. Mostraremos como Ray Kurzweil possui todo o patrocínio e apoio para suas pesquisas, baseados nesta forma de divulgação. Também serão utilizados como fonte diversos sites de divulgação, bem como o programa da série televisiva de Morgan Freeman intitulada “Grandes mistérios do universo com Morgan Freeman”. Como fontes teóricas, usamos os trabalhos acadêmicos tradicionais de Lúcia Santaella, Donna Haraway, Neil Badmington, Robert Pepperell, Francisco Rudiger, Paula Sibilia e Raymond Kurzweil, Brian Greene, Miguel Nicolelis, Robert Freitas Júnior, Michio Kaku como fontes populares.

Palavras chave: cibernética, ciborgue, imortalidade, inteligência artificial, nanotecnologia, pós-humano, pós-humanismo.

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ABSTRACT

The object of this research is to study the spread in mass and digital media in its various forms, scientific advances in the field of human-machine relations. The paper aims to discuss the gap between the forms of academic communication and dissemination, on the one hand, and popular, on the other, that depict the development of post-humanism and post-human in their quest for permanence or immortalization. Our specific objective is to evaluate, through the dissemination of the findings of the sciences of complexity, this popular form of communication that is doing this in digital media such as the Internet and other mass media. This type of communication designed to rapidly disseminate technological advances, simplify complex theories to popular understanding, and especially disseminate theses and controversial studies, often viewed with skepticism by the Academy. The mass media tries to portray the quest for permanence by man, disseminating technological discoveries that highlight the post-human and immortal. But, what is the purpose of this revolution? Why do we need all this energy in popular magazines? Is it because of the speed of these new discoveries? Our hypothesis is that this is necessary to ensure the funding of research in matters of public knowledge, but not yet developed. Methodologically, we use as sources on the one hand, the available academic literature, recognized by the Academy and, in particular, science articles from Scientific American. For dissemination in the mass media, we use the figure of Raymond Kurzweil as an exemplary case, because it comes from a scientist who became famous with the popular dissemination of technological change and its consequences, which result in Artificial Intelligence that will supersede Human intelligence. Because this popularization of science, the public is familiar with terms such as cosmology, nanotechnology, black hole, quasar, boson etc. Show as Ray Kurzweil has every sponsorship and support for their research, based on this disclosure form. Also be used as a source of dissemination multiple sites, as well as the program of Morgan Freeman television series titled "Great mysteries of the universe with Morgan Freeman." As theoretical sources, we use the traditional academic work Lúcia Santaella, Donna Haraway, Neil Badminton, Robert Pepperell, Rudiger Francisco, Paula Sibilia and Raymond Kurzweil, Brian Greene, Miguel Nicolelis, Robert Freitas Júnior, Michio Kaku as popular sources. Key words: cybernetic, cyborg, immortality, artificial intelligence, nanotechnology, post-humanism.

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INTRODUÇÃO

A- Cenário

As previsões tecnológicas dos chamados “futurologistas” estão cada vez mais

ousadas e precisas, e, podemos verificar que a maioria delas se concretizou exatamente como

foi previsto, outras aconteceram em épocas diferentes, adiantadas ou postergadas e poucas

não aconteceram. Julio Verne, no passado, previu uma série de situações futuras, utilizando-se

da ficção científica. Hoje em dia, a ficção científica que serve principalmente de diletantismo

popular, é produzida com assessoria técnica de especialistas no assunto. Muitas das pesquisas

que estão em curso, pelos cientistas de vanguarda, servem de referência para um trabalho de

ficção bem elaborado.

No passado o homem concebeu vários projetos de sociedade. Agora esse tempo

passou. No horizonte da cibercultura e do pós-humanismo, pensa-se em projetos de mundo.

Nesses cenários, há pouco espaço para o humano. As fantasias e projeções são feitas no

sentido de criar uma realidade pós-humana.

Nessas condições, o sistema emergente, acompanhando e estimulando a automação

acelerada de linhas de projeto e produção, poderá aperfeiçoar-se num ritmo cada vez maior,

levando a superação do conceito de humanidade, para o conceito de pós-humanidade.

Uma afirmativa consensual é que a fusão GRN (Genética, Robótica e

Nanotecnologia), que trataremos no capítulo 2, proporcionará impactos cognitivos, sociais e

tecnológicos na organização do cotidiano do ser humano, quando atravessarmos um estágio

colossal de avanço científico num curtíssimo espaço de tempo.

Esta abrupta explosão de novas descobertas científicas, está abrindo a necessidade de

aparecerem pesquisadores de vanguarda, que estarão tratando de temas controversos,

Normalmente estes temas ainda não foram tratados pela academia com o rigor e a

responsabilidade necessários a merecer a credibilidade para entrar em textos e publicações

respeitados, e que passam por conselhos editoriais respeitados e abalizados.

Vale aqui, trazer a tona, o pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis: Quase sempre que um de meus artigos científicos retornava do processo de revisão obrigatória pelos pares, durante as últimas três décadas, tive de enfrentar a recomendação inevitável de que todos os trechos de pensamento especulativo sobre nossa capacidade de fazer a interface entre o cérebro e máquinas deveriam ser retirados. Com frequência, os outros neurocientistas que analisavam esses artigos antes da publicação não queriam considerar a noção de que a pesquisa poderia fornecer apoio aos mais ousados sonhos científicos no futuro. Durante

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essas reflexões dolorosas, eu fantasiava sobre o dia em que poderia resgatar essas ideias especulativas e liberá-las para os outros analisarem e contemplarem. Nosso progresso no laboratório indica que o momento da divulgação finalmente chegou. No decorrer desse confronto com a cultura ultraconservadora da academia, vários escritores e diretores de filmes de ficção científica especularam sem reservas e, às vezes, aceitaram com facilidade os excessos de sua imaginação fértil. Apenas durante 2009, duas megaproduções de Hollywood, Os substitutos e Avatar, retrataram o estereótipo de cientistas controlando, prejudicando, matando e conquistando as pessoas com feitiçaria tecnológica. Nesses filmes, as interfaces cérebro-máquina permitiram que os seres humanos vivessem, amassem e lutassem por procuração. Deixaram que seus avatares de corpo inteiro executassem o difícil trabalho de percorrer o Universo e, em alguns casos, de tentar aniquilar toda uma raça alienígena em nome de seus mestres humanos. Miguel A. L. Nicolelis, professor da cadeira Anne W. Deane de neurociência da Duke University e fundador do Duke's Center for Neuroengineering e do Instituto de Neurociências de Natal. Scientific Americam Brasil no. 111 (agosto de 2011, p. 34)

Assim como Miguel Nicolelis se manifestou no trecho acima – muitos outros

pesquisadores que estudam assuntos polêmicos, ou tem teses ufanistas ou mesmo pesquisam

assuntos controversos como o português João Marqueijo, autor do livro “Faster Than The

Speed of Light: The Story of a Scientific Speculation” ( 2003) e professor de Física Teórica

no Imperial College de Londres, onde foi durante três anos Research Fellow (investigador) da

Royal Society, que está trabalhando em sua teoria da variabilidade da velocidade da luz,

chocando um dogma que foi colocado por Einsten há décadas atrás –, existem centenas de

outros se confrontando com os puristas e tradicionalistas da academia, para poderem mostrar

seu trabalho, e serem patrocinados pelas verbas de pesquisas governamentais ou de fundações

de desenvolvimento científico.

Os cientistas e engenheiros são doutrinados para serem céticos, falar com cautela dos

objetivos de suas pesquisas atuais e raramente especular além da geração atual da busca

científica. Muitos deles têm o chamado “pessimismo científico”. Frequentemente, eles estão

imersos nas dificuldades e envolvidos nos intrincados detalhes de um desafio científico

contemporâneo que não conseguem enxergar as implicações do seu próprio trabalho a curto e

longo prazo, e os benefícios que poderiam trazer para outras pesquisas similares. Este

enfoque de precaução tem sua razão de existir quando as pesquisas se desenrolam por

gerações. Mas são absolutamente dispensáveis em benefícios para a sociedade, quando o

progresso científico se desenrola por somente alguns anos ou menos. Isto pode soar como

uma “Arqueologia do Futuro”, pois quando as conclusões se tornarem unanimes já fará parte

do passado e o tema a ser pesquisado já está em outro patamar.

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B- A Questão

Ao nos depararmos com pesquisas de vanguarda, aparecem temas polêmicos, que

causam muitas controvérsias. Vem então, a nossa mente, a seguinte questão:

“Com a sisudez e o conservadorismo da academia, necessários a credibilidade das

divulgações de resultados das pesquisas, como podem estar sobrevivendo estes pesquisadores

de temas polêmicos, já que as bolsas são escassas?”

C- As Hipóteses

Nós temos as seguintes hipóteses, que poderão responder o questionamento acima, e

é o objeto principal da nossa tese:

1- Alguns pesquisadores estão se auto financiando, e criando independência do seu

trabalho.

2- A verba de pesquisa pode vir do mercado privado altamente capitalista, que

vislumbra algum retorno financeiro advindo do resultado da mesma.

3- Tornando a pesquisa popular, de forma a obter apoio da população, o que

justificaria e pressionaria a continuidade da mesma.

D- Como trabalharemos esta nossa tese.

Falaremos sobre a “Imortalidade” porque é um tema dos mais controversos desta

entrada do século XXI. Colocaremos todo tratamento científico que puder ser pesquisado, na

tentativa de proporcionar alguma credibilidade. Evidentemente, não é o caso aqui,

mostrarmos se ela vai ou não ser possível acontecer, e se vai, de que forma, ou quando.

Trabalharemos o conceito de pós-humanismo e pós-humano no capítulo 1, que tem

ocupado bastante o meio acadêmico, substituindo os já desgastados termos pós-modernismo e

pós-moderno.

Mostraremos todo o desenvolvimento do conceito, e as suas ligações com o avanço da

ciência, que desenvolveu a cibernética e os ciborgues. O auge dos estudos deste conceito,

aconteceu no final da década de 1980 e início de 1990. O grande marco, ao nosso entender,

foi a definição do termo dada por Robert Pepperell em seu livro “The Post-human Condition”

de 1995, que será detalhado no referido capítulo.

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Nas referências que usaremos, vários autores trabalham a questão do pós-humanismo

enfatizando as tecnologias que estão nos levando muito próximos de uma espécie de simbiose

final entre homens e sua tecnologia, na formação de uma nova inteligência, ora mais humana

no topo, como hoje se verifica pontualmente, ora híbrida, ora artificial. Nesse cenário a

distinção clara entre inteligência humana ou das máquinas seria superada.

Faremos uma fusão com o lento desenvolvimento das descobertas científicas, quando

tivemos bilhões de anos desde o Big Bang, acelerando um pouco a partir do século dezenove e

com uma aceleração exponencial nesta entrada do século XXI. Aproveitando este histórico, a

intenção é mostrar a forma como isto foi divulgado à comunidade científica. Na sequência dos

fatos, os primeiros artigos, foram escritos de forma protocolar, de modo a garantir a

consistência, a credibilidade e a ética do trabalho. Não usaremos os artigos originais dos

cientistas pesquisadores e/ou descobridores, mas sim algo já bastante popularizado, mas que

tem a consistência e a credibilidade citadas acima, que são os artigos de uma revista científica

respeitada: a Scientific American (Sciam).

A Sciam, de uma forma bem tradicional, está publicando artigos de cunho de

divulgação, mas continua sendo uma referência no mundo científico. Nos primeiros artigos,

onde se permitiu um aprofundamento nas pesquisas dos dados, a linguagem é extremamente

conservadora, mas notamos que a partir do ano 2000, existe uma pequena tendência da

popularização dos seus artigos. Numa edição especial de número 25 de 2004, da Scientific

American Brasil, intitulada “Seu Futuro com Robôs – as máquinas inteligentes que Vão

Transformar o Mundo” encontramos um artigo de Ray Kurzweil, “A proximidade da União

Mente e Máquina” e também artigos de Hans Moravec e Bill Gates.

Apesar da tentativa de popularização da ciência, ela ainda mantém um conselho

editorial cujo editor chefe Mariette Di Christina, comanda mais de 20 editores especializados

em várias áreas da Ciência e mais de 40 conselheiros consultores para propor e/ou aprovar

artigos. Para acompanhar as novas possibilidades de mídia, possui site na Internet para blogs,

twiter e podcasts, e teve por um tempo, um programa na televisão, no canal PBS. (dados

obtidos no www.scientificamerican.com em 02/junho/2014)

A nova forma de divulgação científica que estamos apresentando neste trabalho, é

ainda mais popular que a atual Sciam, e encontra-se principalmente na internet e em outras

mídias digitais. Baseados nesta divulgação, periódicos de assuntos gerais, também são

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utilizados, e principalmente agora estamos vendo o uso da televisão a cabo, com vários canais

se especializando, tais como o Discovery Channel, com o Discovery Science.

O desenvolvimento científico da década de 1950, que embasou de certa forma o

nascimento do pós-humanismo, arraigou-se nos artigos acadêmicos com base humanista, e

hoje está plenamente integrado, abastecendo os relatos das ciências da complexidade.

Na entrada do século XXI em plena era do pós-humanismo, a comunicação científica

deverá se tornar menos burocrática e principalmente mais ousada, de outro modo, não

acompanhará a velocidade proporcionada pela fusão de Genética, Robótica e Nanotecnologia

(GRN) que é a convergência esperada nesta era do pós-humanismo.

Alguns cientistas estão se utilizando desta forma popular de divulgação, para estar

presente nas mídias digitais de alcance em massa como a internet, televisão, e pequenos

artigos em jornais e revistas não científicas, utilizada para divulgar avanços científicos e/ou

explicar teorias complexas simplificando então, o seu entendimento.

Não somente cientistas renomados como Ray Kurzweil, Michio Kaku, Stephen

Hawking, Miguel Nicolelis e outros, mas astros de cinema como Morgan Freeman que produz

e apresenta o programa “Grandes mistérios do universo com Morgan Freeman” estão

recontando a ciência de forma popular.

Mostraremos, também os avanços da ciência, sob a ótica desta nova forma de

comunicação, e de artigos na Sciam, conectando os com os argumentos de evolução do pós-

humano, e principalmente, buscar na obra de Ray Kurzweil, esta nova linguagem que está

popularizando a ciência.

A forma como ele divulga seu trabalho, por meio de seus livros, da internet, de suas

palestras e televisão, mostra uma agilidade e ao mesmo tempo, uma credibilidade baseada em

fatos originados de pesquisas reais e também de instituições que já fazem parte do nosso

cotidiano.

Isto está fazendo com que a ciência, aguce a curiosidade humana, a ponto de vários

programas de televisão serem baseados em questões complexas de cosmologia e

nanotecnologia, onde Big Bang, buracos negro, energia escura, quasar, bóson etc. são

palavras corriqueiras e familiares à grande massa.

E a comunicação como será afetada? Será que a esta nova forma de comunicação

científica das ciências da complexidade, nesta era do pós-humano, não deve ser uma fusão

com as formas de divulgação preconizada neste trabalho? Porque está crescendo

enormemente esta divulgação popular?

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Haveria uma forma da comunicação científica nos moldes atuais acadêmicos,

comedida, com toda formalidade e burocracia hoje necessária à credibilidade e aos padrões

éticos sobreviver às novas conquistas tecnológicas que acontecerão numa velocidade

singular?

Apresentaremos no capítulo 3, a discussão da imortalidade, um dos mais polêmicos

assuntos que derivam do pós-humanismo e do avanço das conquistas científicas GRN. Por

não ser um consenso entre acadêmicos, e não ter literatura tradicional a respeito, é tratada aqui

na forma de comunicação popular, através de um texto baseado nas teorias de Kurzweil e da

transcrição de um programa de Televisão “Os grandes mistérios do Universo com Morgan

Freeman” exibido no canal Discovery Science em dezembro de 2013.

Mostraremos a eterna busca da permanência pelo homem, utilizando se das modernas

descobertas tecnológicas que levam para uma discussão onde o homem pós-humano é em

vários textos, tratado como imortal. A imortalidade obtida por uma vida artificial é o

suprassumo da permanência humana. Evidentemente, não é o nosso caso aqui, defender uma

ou outra posição, mas sim mostrar o que está sendo apresentado sobre o assunto.

Mostraremos também as diversas expectativas que são preconizadas e esperadas para

o pós-humano. As principais teorias de alongamento da vida, derivam do desenvolvimento da

tecnologia GRN. Uma delas refere-se ao prolongamento da vida, eliminando doenças e

repondo através da nanotecnologia, os órgãos e funções do nosso corpo, destrinchando de vez

o DNA humano, permitindo, assim, a identificação e modificação dos genes do

envelhecimento, e principalmente preservando a memória e os sentimentos, através de

reposição de neurônios, que já está em desenvolvimento no MIT (Massachussetts Institute of

Technology). A outra, que está servindo de base para o trabalho da Google e de Ray

Kurzweil, é a engenharia reversa do cérebro, e a sua reconstrução através de inteligência

artificial, de modo a manter as características oriundas de sentimentos, sonhos, desejos e

percepções afetivas de um cérebro humano tradicional. Na verdade, na era da singularidade,

teremos um mix destas duas formas.

A imortalidade e essas teorias, que são formadas a partir de previsão de futurólogos,

não são totalmente aceitas pela academia, não somente pelos físicos das ciências exatas ou

biólogos das ciências do corpo, mas também pelos acadêmicos da filosofia, comunicação, ou

de outras áreas de maior complexidade. Por isso toda sua comunicação está sendo feita por

meio de divulgações alternativas, que Lúcia Santaella chamou de “Pós-humanismo Popular”.

Esta não aceitação ou a simples dúvida, advém do fato de que no pós-humanismo popular,

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existem certos cientistas que preconizam seus anseios, sem base científica, caso dos

extropianos.

Apresentaremos no capítulo 4, Raymond Kurzweil, seus conceitos, suas teorias, sua

forma de pensar o mundo e principalmente, suas obras, que o tornaram guru do presidente dos

EUA, Bill Clinton e de Bill Gates, fundador da Microsoft . Com todo este arsenal de produção

suas pesquisas são financiadas de várias formas, e por causa disto, outros cientistas estão

enveredando pelo mesmo caminho.

Falaremos de sua vertente empreendedora e criativa, suas pesquisas, passando pelo

sistema de reconhecimento ótico de caracteres (OCR), que escaneia e transforma imagens em

textos editáveis, a máquina leitora para cegos que lia e sintetizava em voz, os livros e textos e

máquinas de reconhecimento de padrões, entre outros.

Falaremos também do Kurzweil escritor, autor de 7 livros, 5 deles best-sellers na

América, e do seu inicio de pesquisas em inteligência artificial no MIT, e de como ele teve

que procurar algo além das bolsas científicas para trabalhar com suas teorias de vanguarda e

que ficaram controversas e incômodas dentro da academia.

Mostraremos sua redirecionada na busca do financiamento de suas pesquisas que

estavam limitadas dentro dos critérios acadêmicos vigentes, e que o levaram a desenvolver

projetos junto ao Google e a NASA, que culminou na criação da Universidade da

Singularidade, onde Larry Page o fundador do Google falou “Aqui é o lugar onde eu gostaria

de estudar” e a partir daí se tornou seu maior investidor, junto com a NASA e a Microsoft.

Mostraremos por fim, seu trabalho atual, como diretor técnico do Google; e porque se

tornou um empregado apesar de ser um empresário bem sucedido, dono de uma fortuna

considerável graças às suas empresas. A sustentabilidade de suas pesquisas, passaria pela

montagem de um enorme “data warehouse” que custaria uma fortuna, e não poderia ser

bancada por sua fortuna pessoal, e muito menos por verbas limitadas de pesquisas

acadêmicas, além do tempo que seria dispendido em seu desenvolvimento.

Analisaremos no capítulo 5, as hipóteses contidas nesta tese, e concluiremos que Ray

Kurzweil, através de divulgações populares de seu trabalho, proporcionou o despertar da

curiosidade do ser humano comum, permitindo o acesso a verbas de pesquisa ímpares,

necessárias ao seu trabalho. Esta nova forma de divulgação científica, está sendo seguida por

muitos dos cientistas que estão enxergando na divulgação popular de seu trabalho, a forma

mais eficaz de obtenção das verbas e recursos necessários a suas pesquisas.

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Capítulo 1

Advento do Pós-Humanismo e do Pós-Humano

1.1 - Introdução ao Pós-humano e ao Pós-humanismo

A questão do pós-humanismo vem sendo desenvolvida de maneira cada vez mais

assídua nos meios acadêmicos e pode se tornar um dos temas mais destacados no âmbito das

humanidades, em um futuro bem próximo.

Um grande evento em maio de 2012, realizado no Center for 21st Century Studies da

Universidade de Wisconsin-Milwaukee, reuniu pesquisadores do nível de Manuel de Landa,

Mark Hansen, Steven Shapiro, para discutir o tema “a virada não humana”. Este tema

abrange questões diversas do que pode acontecer no futuro do século XXI, onde se inclui o

pós-humanismo e o pós-humano. Pode ser a emergência de um novo paradigma intelectual.

O desenvolvimento exponencial das tecnologias genéticas, robóticas e nano, tem nos

levado a grandes indagações sobre quais seriam os limitantes da tecnologia e/ou da

humanidade, ou seja, até que ponto a tecnologia estará a serviço do homem e sob seu total

controle.

Desde os primórdios, quando de acordo com a teoria darwiniana, o planeta criou

condições de gerar vida no leste africano, e foi evoluindo desde nossos ancestrais ao ser atual,

o humano vive transformações em relação ao que se pode chamar de regulamentos ou

estatutos do projeto de um corpo. Entre um corpo biológico de carbono, que sustenta sua

estrutura e compleição e outro corpo cerebral e individual, que é consciente e pensa, é

possível constatar descobertas e invenções que transformaram a forma física e psíquica do

humano e sua relação no e com o mundo.

Nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer continuam a fazer parte das regras de

vida do ser humano em qualquer ponto de vista, desde religioso espiritual ao mais científico e

material. Contudo, e na medida em que este desenvolveu métodos e tecnologias sociais e

científicas capazes de modificar o seu “umwelt, ou seja, o meio em que vive, a si próprio e a

cultura de sua sociedade, instituiu-se uma intenção ou um direcionamento no sentido de

interferir e transformar o “natural”, através do “artificial”, o que conduziu a uma das questões

centrais do pensamento contemporâneo: o hibridismo humano/máquina.

O ciberespaço que emerge com as redes digitais de informação tem possibilitado um

pensar crítico não somente sobre o fazer e a cultura de uma forma geral, mas sobre o sujeito.

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De certa forma, isso é algo já perspectivado em produções do conhecimento

artístico/científico/cultural de outros períodos, quando anteviam experiências cuja finalidade

ia desde a diversão e substituição nas tarefas de realizar pequenas atividades humanas, até as

promessas de transformação no seu “umwelt”, indo ao extremo de preconizarem o abandono

de toda e qualquer forma tradicional e comum ao ser humano.

Nesse panorama, e seguindo-se a lógica de desenvolvimento tecnológico em termos do

que será necessário para sua realização, muitas dessas perspectivas possivelmente vão se

concretizar, prevendo como ponto focal uma espécie de simbiose final entre homens e sua

tecnologia, na formação de uma nova inteligência, ora mais humana no topo, como hoje já se

verifica pontualmente, ora híbrida, ora completamente artificial. Nesse cenário, a distinção

clara entre inteligência humana ou das máquinas seria superada.

No passado o homem concebeu vários projetos de sociedade. Agora esse tempo pode

ter passado. No horizonte da cibercultura, pensa-se em projetos de mundo. Nesses cenários,

há pouco ou nenhum lugar para o humano. As fantasias e projeções são feitas no sentido de

criar uma realidade pós-humana, como de resto já havia preconizado, ainda que noutros

termos, o filósofo Friedrich Nietzsche. Desde esta época, a humanidade está com uma

perspectiva de exaustão, e prenuncia se o advento de um novo tempo que passará a vigorar

numa condição de depois do humano. Nietzsche é o filósofo que preconiza o niilismo ou o

desprezo por si mesmo como a marca mais próxima do ente que chamamos homem. O

pensador afirma que o homem sempre esteve em questão, quando não enojado de si mesmo,

buscando ir para além de suas circunstâncias, através de figuras míticas, artísticas ou políticas.

Ele não renega ou pretende estar acima desta situação, mas aceita a com a convicção de

suspender toda negação ou má afirmação sobre a mesma. “O que há em nossa virtude se não

viveste o momento em que desprezastes o ser humano em vós por amor ao ser além-do-

humano” 1

A referência ao super-humano por Nietzsche sempre foi vista como uma condição

problemática, que não é a concepção atual de cientistas de peso que desejam experimentar

situações e colocações antes restritas ao universo ficcional.

Nessas condições, o sistema emergente, acompanhando e estimulando a automação

acelerada de linhas de projeto e produção, poderá aperfeiçoar-se num ritmo cada vez maior,

levando ao conceito de singularidade, ou superação do conceito de humanidade, para o

NIETZSCHE, Friedich. Fragmentos finais. Editora Universidade de Brasília, 2002. p.202.

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conceito mesmo de pós-humanidade como ilustrado por Lucia Santaella2 , com certeza a

autora que mais escreveu sobre o assunto, e possivelmente a maior autoridade brasileira em

pós-humanismo: “O potencial para as combinações entre vida artificial, robótica, redes neurais e manipulação genética é tamanho que nos leva a pensar que estamos nos aproximando de um tempo em que a distinção entre vida natural e artificial não terá mais onde se balizar. De fato, tudo parece indicar que muitas funções vitais serão replicáveis maquinicamente assim como muitas máquinas adquirirão qualidades vitais. O efeito conjunto de todos esses desenvolvimentos tem recebido o nome de pós-humanismo”.

Por outro lado, ressoando na obra de Francis Fukuyama, “Nosso futuro Pós-humano”

(2002), apregoou-se o fim dos processos históricos, num ponto de equilíbrio na

“superestrutura” econômica mundial, como seus reflexos nas estruturas “secundárias” da

dimensão humana. E mais, que esse momento seria o ápice da história humana. Capitalismo

liberal superando demais ideologias econômicas, visto como a solução final da governança

humana, como marco do fim da história pelo término de tensões dialéticas econômicas.

Trata-se de um exemplo de enfoque em que modelos são criados sobre as premissas

de simplificação e abstração, como convém a um modelo – mas tomados como descrição

completa da realizada, sendo o significado parcial generalizado, as implicações simplificadas

tomadas como completas e finais e a transmissão de ideias passa a ser um problema de

comunicação ideológico.

Novos horizontes se apresentam para os processos históricos e para a evolução

humana. Mas sua compreensão depende de procedimentos mais amplos de intelecção e

análise. O pós-humanismo levanta algumas dessas possibilidades e cabe serem analisadas e

metacriticadas à luz de premissas semióticas e comunicacionais, tentando-se entender seu

significado e implicações e, principalmente suas limitações conceituais, como um sistema que

veicula informações ideológicas com suas necessárias limitações, mas que podem ser

facilmente tomadas como transcrição da realidade.

Numa outra forma de se expressar, aparece neste cenário Raymond Kurzweil,

cientista e futurólogo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), descrevendo o

cotidiano de um futuro talvez não tão distante, quando o implante de neurônios estiver

plenamente viabilizado, conforme se depreende do seguinte texto3:

2 SANTAELLA, Lucia. Cultura e Artes do Pós-Humano: Da Cultura das Mídias à Cibercultura. Editora Paulus, 2003. p. 199. 3 KURZWEIL, Raymond. A era das máquinas espirituais. Editora Aleph, 2007. p.316.

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“O pensamento humano está se fundindo com o mundo da inteligência de máquina que a espécie humana inicialmente criou. A engenharia reversa do cérebro humano parece estar completa. As centenas de regiões especializadas foram totalmente escaneadas, analisadas e compreendidas. Análogos de máquinas são baseados nesses modelos humanos, que foram aprimorados e estendidos, juntamente com muitos novos algoritmos maciçamente paralelos. Esses aprimoramentos, combinados com as enormes vantagens na velocidade e na capacidade dos circuitos eletrônicos/fotônicos, fornecem vantagens substanciais para a inteligência baseada nas máquinas. As inteligências baseadas em máquinas derivadas inteiramente desses modelos estendidos de inteligência humana afirmam ser humanas, embora seus cérebros não sejam estruturados em processos celulares baseados em carbono, mas sim equivalentes eletrônicos e fotônicos. A maioria dessas inteligências não está vinculada a uma unidade de processamento computacional específica (isto é, peça de hardware). O número de humanos baseados em software excede em grande parte os que ainda utilizam computação baseada nos neurônios nativos”.

Apesar de se referir ao mesmo assunto, fazemos aqui uma distinção entre “pós-

humano” e “pós-humanismo”.

“Pós-humano” refere-se à condição humana propiciada pela situação vigente.

“Pós-humanismo” refere-se às discussões promovidas por esta situação.

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1.2 – Os Conceitos de Pós-humanismo e de Pós-humano

Nietzsche foi talvez o primeiro pensador a se referir com entusiasmo na necessidade

de tentar aperfeiçoar o humano, quando cravou o termo supra-humano. Talvez, não tenha se

referido a superar a espécie humana. Marcou-se muito esta sua referência, porém, foram

poucos os que o seguiram positivamente, apesar do sentimento vigente na era nacional-

socialista na Alemanha.

Atualmente, temos mais simpatizantes desta figura do supra-humano e, a partir dela,

surgiram os derivados que se concentravam não apenas no aperfeiçoamento intelectual, mas

também no desenvolvimento científico que trabalha no aperfeiçoamento natural do homem.

Existia, no período de Nietzsche, uma perspectiva de exaustão do ser humano e

esperava-se a chegada de um novo tempo, que ainda não se focava especificamente numa

eventual suplantação do humano.

Francisco Rüdiger, da PUC RS, escreveu:

“Nietzsche é o filósofo que se descobre parte de uma história, a qual pretende superar, notando que, talvez, a marca mais própria do ente que chamamos homem seja o niilismo ou o desprezo por si mesmo. O homem sempre esteve em questão, senão enojado de si mesmo, visto que busca ir para além de suas circunstâncias, através de figuras míticas, artísticas ou política. O pensador não renega ou pretende estar acima dessa situação, mas suspender toda resistência ou má consciência diante da mesma, aceitando-a positiva e afirmativamente.”4

O humano desprezado acima é aquele que deve ser assumido totalmente com toda

fatalidade. O filósofo refere-se ao super-humano não como um problema, mas com situações

cujas soluções decidirão seu futuro.

Nietzsche dizia que há uma linha ascendente para a espécie humana que é a linha da

criação política, artística, ética e institucional. A outra é a linha da sua rotinização,

nivelamento e padronização, que é a linha descendente. Para ele, o oposto da criação não é a

destruição, mas sim a mediocridade, a fossilização, a normatividade, o nivelamento.

Este homem é calculável, rotineiro, disciplinado, normal, programado: o homem do rebanho,

que é o que deseja e aceita de bom grado que o convertam em peça de engrenagem, parte

de uma máquina. O homem criativo, o opositor do homem de rebanho, está sujeito a riscos

que talvez nem mesmo ele queira correr. Ele mesmo - um homem de extrema criatividade -

dizia que tinha a necessidade de, em certos casos, ser um homem de rebanho. O homem

4 RUDIGER, F. Cibercultura e Pós-humanismo. EdiPUCRS, 2008. p.205.

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supra-humano tem que ser muito criativo. “Mesmo quando passou a explorá-la (a criatividade), o filósofo o fez de um modo que se horrorizaria com a maior parte das descrições de nosso futuro pós-humano, feitas pelos arautos da cibercultura. Segundo essas, com efeito, as máquinas se encarregarão de montar a civilização. Os computadores pessoais, por exemplo, nos dispensarão de escrever. Quem sabe, a musica de nossa preferencia será executada diretamente em nosso aparelho auditivo. Para Nietzsche, em tudo isso, o sentido imanente seria criticado por pretender nos liberar da prestação de provas. O conhecimento que desejarmos, seja do tipo que for, nos será dado por um implante em alguma terminação do córtex cerebral. Assim, poderá ser, por exemplo, que não precisemos mais trabalhar tanto nossa aparência, modelarmos o corpo e tentarmos ser encantadores, visto que nossos parceiros sexuais poderão ser adquiridos por encomenda, sob medida e em vários modelos. Ocorre que chegado tal tempo, para o qual muitos se inclinam, sobrará o que de próprio do humano, salvo as elites que, pervertidas até a medula, quiserem continuar quebrando a cabeça para atender os problemas dos outros?” (Ibid. pág.207)

Segundo Robert Pepperell, em seu “Manifesto do pós-humano” (1995), existem muitas

pessoas com desejo de experimentar situações extremas proporcionadas pelos progressos

tecnológicos da sociedade humana inventadas a partir de exercícios de ficção, progressos estes

que podem tornar a espécie humana redundante.

O termo pós-humano tem ganhado espaço nos meios intelectuais e acadêmicos nos

últimos tempos. Ele parece vir substituir, de certo modo, o já desgastado termo pós-moderno

e passou a tornar-se uma constante nos cadernos de cultura, nas discussões filosóficas e

socioculturais ditas de ponta.

Em 1922, James Joyce em sua obra “Ulisses”, já sugerira que nós somos um intervalo

entre duas eras, a pré e a pós-humana.

Em “The Science of Life” de 1927, Julian Huxley usou a expressão transhumanismo

num sentido de transcendência moral tão diferente da época quanto o era do “Homem de

Pequim”. A diferença seria na percepção de novas possibilidades da natureza humana sendo

que o homem continuaria homem.

Em 1929, James Bernal explorou o sentido dado por Joyce, sem, no entanto, ter usado

o termo em foco, mas preconizando que haverá no futuro um ser humano alterável, por meio

do progresso científico e tecnológico; e que este ser seria uma criatura estranha, monstruosa e

inumana.

Entre 1946 e 1953, aconteceram em Nova York dez conferências, chamadas de “Macy

Conference on Cybernetics”, promovidas pela Josiah Macy Foundation e que buscavam

formular um conceito central, que agrupasse as teorias da comunicação e controle, aplicado

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simultaneamente em animais, humanos e máquinas.

Estas conferências reuniram cientistas renomados de várias áreas do conhecimento que

estariam forjando um novo paradigma. Alguns trabalhos apresentados foram: Claude

Shannon, que contribuiu com teoria da informação; Warren McCulloch apresentou seu

modelo de funcionamento neural que mostrava como neurônios trabalham com sistemas de

processamento de informações; John von Neumann, com sua analogia dentre sistemas

biológicos e computadores processando código binário concebendo sua auto reprodução;

Norbert Weiner apresentou o paradigma da cibernética, mostrando sua larga implicação em

como desmistificar sua significância cósmica. Outros participantes, citados historicamente,

foram: Gregory Bateson, Heinz von Foerster, Kurt Lewin, Arturo Rosenblueth, Julian

Bigelow, Walter Pitts entre outros.

O resultado desta empreitada inovadora foi uma nova forma de se olhar a raça

humana, compreendida como entidade processadora de informações, similar às máquinas

inteligentes. Estava lançada a semente do pós-humano, com uma proposta de analogia entre o

funcionamento do orgânico com o maquínico.

A similaridade estava no conceito de feedback que as máquinas realizam, utilizando os

resultados do output como um novo input, e assim corrigia o processamento, ajustando sua

performance, visando a sua permanência. Com os humanos, existe a capacidade do organismo

de se manter estável no confronto com as vicissitudes do ambiente, chamado de homeostase.

Então, a síntese do orgânico e do maquínico sustenta-se no seguinte tripé: informação,

controle e comunicação, conceito base da cibernética.

Norbert Wiener, escreveu “Cybernetics: or control and communication in the animal

and machine”, em 1948, e editado pela MIT Press em 1965. Wiener era um matemático do

MIT e considerado o pai da cibernética. Ele observou que pegar um objeto, guiar um míssil,

administrar uma empresa, fazer o sangue circular em um corpo, tinha algo em comum, tudo

lhe parecia depender da transmissão de “informação”, ou seja, depender daquilo que os

engenheiros tinham começado a chamar de feedback; um conceito sugerido por Claude

Shannonn, dos Laboratórios Bell.

Wiener extraiu o nome “cibernética” do grego kybernetes significando “o homem que

dirige”: a essência de sua ideia pode ser descrita pela imagem do piloto de um barco a velas,

timoneando seu veículo que está aproximando-se das rochas. Recebe uma informação visual

sobre a posição do barco relativamente às rochas e ajusta o curso de acordo com essa

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informação. Estas informações acontecem durante todo o percurso, constantemente. Não é

apenas uma ocorrência pontual.

Este fenômeno é parte de um circuito de feedback, seu cérebro recebe um input do

ambiente, que informa a velocidade do vento, o tempo e a corrente, e envia, então, sinais para

que seus braços possam conduzir seu barco para longe do perigo.

Wiener percebeu que o modelo poderia ser aplicado a qualquer situação que

envolvesse o gerenciamento de um sistema complexo. Os seguidores de Wiener viram a

cibernética como uma ciência que explicaria o mundo como um conjunto de sistemas de

feedback, permitindo o controle racional de corpos, máquinas, fábricas, comunidades e

praticamente qualquer outra coisa. A cibernética prometia reduzir problemas “confusos”, em

campos tais como a economia, a política e talvez a moral, à condição de simples tarefas de

engenharia: uma coisa que se poderia resolver com um equacionamento lógico, usando-se

caso necessário, de alguma computação eletrônica, quando fosse mais complexo.

Em 1958, John von Neumann, em seu livro póstumo “The computer and the brain”,

preconizou que o progresso tecnológico provocará uma mudança radical no ser humano, e

assim chegaremos a um estágio em que ocorrerá alguma singularidade essencial à história da

raça humana e para além da qual os problemas humanos, tais como os conhecemos, não

poderão prosseguir sendo como tais. Foi a primeira vez que a expressão “singularidade” foi

utilizada no sentido de um evento histórico previsto para o futuro no qual a humanidade

atravessaria um estágio de colossal avanço tecnológico em um curtíssimo espaço de tempo.

Outro termo que faz parte desta história é o ciborgue. Esta palavra mais se adequaria a

uma história de ficção científica, mas ela teve origem em um rato de laboratório, um

programa experimental no Hospital Estadual de Rockland, Nova York, no final dos anos 1950.

Foi nosso primeiro ciborgue.

Implantou-se no corpo do rato uma pequena bomba osmótica que injetava doses

precisamente controladas de substâncias químicas que alteravam vários de seus parâmetros

fisiológicos.

Ele era parte animal, parte máquina. O rato de Rockland é um dos personagens

principais de um artigo intitulado “Ciborgues e espaço”, escrito por Manfred Clynes

(engenheiro) e Nathan Kline (psiquiatra), em 1960. Eles cunharam o termo ciborgue, [cyborg]

(neologismo advindo da combinação de cybernetic organism) para descrever o conceito de

um homem melhor adaptado aos rigores da viagem espacial. Clynes e Kline imaginavam um

futuro astronauta cujo coração seria controlado por injeções e anfetaminas e cujos pulmões

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seriam substituídos por uma “célula energética inversa”, alimentada por energia nuclear, ou

seja, um homem superdotado. Este conceito do ciborgue/homem superdotado era uma espécie

de sonho científico e militar, muito mais que uma mera pesquisa científica. Os militares

sonhavam com um “super homem/super soldado” para vencer as batalhas em que se

envolvessem. Este sonho os levou a dispender todo o seu orçamento de pesquisa e

desenvolvimento para perseguir com essa meta. Em meados de 1960, os ciborgues

representavam um grande negócio, com milhões de dólares gastos pela força aérea norte-

americana em projetos de construção de exoesqueletos, com braços e pernas robóticas

controladas pelo homem, com dispositivos de biofeedback e sistemas especializados.

Clynes e Kline profetizaram “uma nova e mais ampla dimensão para o espírito do

homem”. Porém, apesar de todo o dinheiro gasto com tal pesquisa, diga-se muito pressionada

à obtenção de resultados, que, por sua vez foram pífios, chegando-se à conclusão de o

ciborgue é um tipo de sonho bastante caro de ficção científica. Começaram-se então as

especulações metafísicas sobre evolução e fronteiras humanas.

Mas o sonho de melhorar a capacidade humana por meio de uma reprodução seletiva

ou de ampliar sua capacidade por meio de dispositivos artificiais, ou mesmo a de recuperação

de capacidades vitais, tem constituído agora o foco da comunidade científica. Doses de

insulina têm sido utilizadas para controlar os metabolismos dos diabéticos desde os anos 1920.

Uma máquina constituída de uma combinação de pulmão e coração foi utilizada para

controlar a circulação sanguínea de uma moça de 18 anos durante uma operação em 1953.

Um homem de 43 anos recebeu o primeiro implante de marca passo em 1958.

Nos anos 1970, a ideia de um ser humano superdotado voltou a baila com a série de

televisão “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, onde Steve Austin e sua companheira

Jamie Sommers, como a Mulher Biônica (com seus braços biônicos e seu ouvido biônico

supersensível), tinham se tornado heróis populares: seus superpoderes, fabricados sob medida,

podiam ser diretamente comprados tal como se compra um relógio digital. O ciborgue, que

até então era uma fantasia acadêmica, transformou-se em um assunto do horário nobre da TV.

Obviamente, robôs, autômatos e pessoas artificiais tinham feito parte da imaginação

ocidental desde pelo menos o Iluminismo. Um dos mais polêmicos exemplos foi o

Frankenstein de Mary Shelley, que foi construído a partir de corpos de defuntos e juntou-se

num monstro que foi ativado por uma carga elétrica muito forte.

O ciborgue do século XXI é muito diferente de seus ancestrais mecânicos. Sua

principal característica é a informação. Os ciborgues são máquinas de informação. Eles

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trazem dentro de si sistemas causais circulares, mecanismos autônomos de controle,

processamento de informação – são autômatos com uma autonomia embutida.

Os construtores de ciborgues estavam envolvidos na tarefa de tornar realidade as

ideias de Wiener. Para eles, o corpo era apenas um computador de carne, executando uma

coleção de sistemas de informação que se auto ajustavam em resposta aos outros sistemas e a

seu ambiente. Caso se quisesse construir um corpo melhor, tudo que se tinha a fazer era

melhorar os mecanismos de feedback ou conectar um outro sistema – um coração artificial,

um onisciente olho biônico. Não é por acaso que esse quadro estranhamente abstrato do corpo,

concebido como uma coleção de redes, assemelha-se bastante àquela outra rede de redes, a

internet; vieram, ambas, daquela mesma estufa da pesquisa militar da guerra fria.

O sonho de Wiener, de uma ciência universal da comunicação e do controle, apagou-

se com o decorrer dos anos. A cibernética deu origem a novas áreas, tais como as ciências

cognitivas, estimulando pesquisas valiosas em numerosos outros campos. Mas quase ninguém,

hoje, se auto intitula um “ciberneticista”. Alguns acreditam que o projeto de Wiener tornou-se

vítima da moda científica, seu financiamento sendo desperdiçado em vultosas e vistosas –

mas ao final irrelevantes – pesquisas sobre inteligência artificial. Outros pensam que a

cibernética foi eliminada pelo problema central dos mecanismos básicos de controle e de

comunicação nas máquinas, que, por sua vez, são significativamente diferentes daqueles que

existem nos animais, sendo que nenhum deles se assemelha aos mecanismos de controle e

comunicação existentes na sociedade.

Assim, a cibernética, que estava baseada em uma inspirada generalização, tornou-se

vítima da incapacidade para lidar com detalhes. Não importa qual dessas perspectivas é a

verdadeira (e, tal como ocorre com a maioria das histórias, a verdade é, provavelmente, uma

mistura de ambas), a cibernética deixou dois importantes resíduos culturais. O primeiro é sua

descrição do mundo como uma coleção de redes. O segundo é sua intuição de que não existe

uma distinção tão clara entre pessoas e máquinas como alguns gostariam de crer. Esses ainda

controversos conceitos estão no coração biônico do ciborgue, que está vivo e passando bem, e

se autoconstruindo em algum laboratório perto de nós.

Em 1965, D. S. Hallacy publicou o “Ciborgue — Evolução do super-homem”, que era

uma apresentação popularizada do fenômeno ciborgue na qual defendia a idéia de que uma

nova fronteira estava se abrindo através de uma ponte entre a mente e a matéria, entre o

espaço interno e o externo. Nessa ponte, o ciborgue aparecia como uma entidade reversível

precisamente porque era uma combinação entre o humano e a máquina.

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Em 1972, Robert Ettinger conferiu ao termo transhumano um significado vinculado à

ideia de uma nova singularidade, na obra “Do Homem ao Super-homem”, que levou à criação

de empresas de preservação de cadáveres, no sentido de que a tecnologia um dia superaria o

homem.

Atualmente, em resposta às pressões da sociedade, estão surgindo novas subjetividades e

novos tipos de corpos. Junto com o declínio da sociedade industrial e seus corpos disciplinados,

dóceis e úteis, o homem de rebanho como chamou Nietzsche, é possivel constatar a consequente

decadência da figura do autômato, do robô, do homem-máquina, uma imagem que alimentou

muitas ficções conforme citado anteriormente. Estas novas subjetividades estão propondo um

emblema inspirador de novas configurações, baseadas no ciborgue misto de organismo e

cibernética, que irá ultrapassar as barreiras das redes de poder contemporâneas focadas em

várias vertentes, tais como Donna Haraway, citada mais a frente, uma radical defensora do

pensamento político feminista.

O corpo humano parece ter perdido a sua definição clássica e a sua solidez. O sonho

renascentista da figura humana parece ter atingido seu ápice, ou simplesmente ficou obsoleto. Toda

grandiosidade e feitos dos humanos por vários séculos está chegando ao limite, baseado no conceito

do humano “humano”. Esse limite, contudo, começa a revelar uma membrana porosa, permeável

a novos conceitos que permitiriam transgredí-lo e ultrapassá-lo. De acordo com esta

perspectiva, na eminência da inquietante virada de século a humanidade se encontraria num

ponto de inflexão: no limiar da “pos-humanidade”. Na cultura grega, havia um mensageiro,

Hermes, filho de Zeus e Maia, que era o elo entre os deuses e o homem, que costumava ser

cultuado nos cruzamentos de caminhos, nas fronteiras e em outros espaços limítrofes. Talvez

seja a hora do aparecimento de um novo Hermes.

Os corpos contemporâneos se apresentam como sistemas de processamento de dados,

códigos, perfis cifrados, feixes de informação; uma certa coisa analógica inserida no mundo

digital.

O termo pós-humano (Posthuman) foi utilizado inicialmente pelo intelectual norte

americano Ihab Hassan em um artigo publicado em 1977, na Georgia Review intitulado

Prometeus as Performer: Toward a Posthumanist Culture, onde o autor acreditava que esse

neologismo deveria ser usado como uma imagem do ódio do homem por si mesmo. Estava aí

a influência filosófica de Nietzsche. “A forma humana — incluindo o desejo humano e todas as suas representações externas — pode estar mudando radicalmente e, portanto, deve ser revista (...) quinhentos anos de humanismo podem estar chegando

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ao fim, a medida que o humanismo se transforma em algo que deve sem desvios se chamar pós-humanismo” (HASSAN, 1977, p. 212).

O termo hibernou durante alguns anos e voltou fortalecido na década de 90, desta vez

adotado por filósofos, cientistas e artistas ligados ao avanço tecnológico e às proposições

de hibridização entre homem e máquina, carne e silício, no sentido de transposição da

ontologia tradicional, dos limites físicos e culturais que definiram historicamente o

conceito de humano.

O ciborgue dos anos 90 é uma criatura mais sofisticada do que seu ancestral dos anos

50 e, ao mesmo tempo, uma criatura mais doméstica. Juntas pélvicas artificiais, implantes de

tímpanos para os surdos, implantes de retina para os cegos e todo o tipo de cirurgia cosmética

fazem parte, hoje, do repertório médico. Sistemas de recuperação de informação on-line são

utilizados como próteses para memórias humanas limitadas. No mundo fechado da sofisticada

indústria da guerra, combinações ciborguianas de humanos e máquinas são utilizadas para

pilotar aeronaves militares – os tempos de resposta e os aparelhos sensórios de simples e

“puros” humanos são inadequados para as demandas do combate aéreo supersônico. Esses

arrepiantes ciborgues militares podem ser os anunciadores de um mundo novo mais estranho

do que qualquer outro dos que vivemos até agora

Em 1985, Donna Haraway lançou o “Manifesto Ciborgue: Ciência, Tecnologia e

Feminismo-socialista ao Final do Século XX”, no qual é proposta uma leitura progressista e

feminista do mito do ciborgue. Este neologismo foi apropriado por Haraway e ficou

notabilizado a partir deste manifesto. Bióloga de formação, de imediato, soube avaliar a

ruptura com as tradicionais categorias ideológicas e epistemológicas disparadas pelas

figurações do ciborgue, especialmente na sua violação das distinções entre ser humano,

animal e máquina. Afirmava que os ciborgues, de fato, existem. Exibem-se nas hibridações do

corpo com as próteses tecnológicas, também se projetam nas fabulações da imaginação e se

manifestam nos discursos da cultura e da ciência. Justo na mistura desses ingredientes

encontra-se o segredo do sucesso do manifesto. Lançou as bases para o desenvolvimento do

ciber-feminismo no campo dos estudos culturais. Haraway usa a figura do ciborgue como

uma metáfora carregada de ironia, com a intenção de fazer essa imagem funcionar como uma

blasfêmia contra o capitalismo patriarcal dominante.

A imagem do ciborgue carrega algo de monstruoso, a medida que implica o

derretimento das fronteiras entre humano e animal, entre gêneros, entre humano e maquínico,

natural e artificial, mente e corpo, físico e não físico. A autora toma partido dessas

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indeterminações como recurso imaginativo para construir seu argumento prazeroso, e mesmo

perverso, sobre uma ontologia de fronteiras transgredidas, fusões potentes, possibilidades

perigosas e sobre uma epistemologia que não teme identidades permanentemente parciais e

pontos de partida contraditórios. O alvo da transgressão, ao fim e ao cabo, é a constituição

histórica e social de gênero, raça e classe própria do patriarcado, colonialismo e capitalismo.

Como queria a autora, o texto contribuiu grandemente para redirecionar a cultura do

feminismo socialista. Desde então, a noção tanto metafórica quanto literal do ciborgue passou

a fazer parte dos estudos culturais de linha feminista. Formou-se, assim, uma comunidade

discursiva que passou a ser conhecida como uma das tendências do pós-humano crítico,

aproveitando-se da brecha aberta pelo ciborgue, na sua subversão de todos os tipos de

dualismos que deram subsídios às hierarquias dominadoras das sociedades patriarcais.

Com isso, entraram em cena os abundantes discursos sobre a crise das identidades

unas e a emergência do múltiplo, do instável, do volátil, livre das amarras das normas

institucionalizadas

Outra grande corrente do pós-humanismo começou a ganhar corpo com uma literatura

ficcional onde a tônica era a alienação do corpo carnal em dispositivos informáticos. Esta

corrente foi batizada de literatura “Cyberpunk”, que se originou com o marcante livro de

William Gibson (1984), chamado “Neuromancer”, onde neste mundo, o ciberespaço é uma

rede computacional global de informações chamada de “A matriz”. Os operadores podem

acessar essa rede através de fones de ouvido e de um terminal de computador, e é descrito

como: “Uma vez na matrix, os operadores podem voar para qualquer parte de um vasto sistema tridimensional de dados codificados em várias formas arquitetônicas, icônicas e coloridas dispostas sob eles como uma vasta metrópole. Nessa cidade de dados, qualquer documento está disponível, qualquer gravação é audível, e qualquer imagem, visível. Quando um local particular é selecionado, através de um zoom, é possível se mover para dentro da representação tridimensional dos dados a fim de escandir áreas particulares. Diferentes tipos de entidades inteligentes podem conviver no ciberespaço, desde representações simuladas dos próprios usuários até inteligências artificiais autônomas que tem seu habitat no ciberespaço”. (Apud FELINTO e SANTAELLA, 2012, p.31)

“Neuromancer” marca a passagem do modelo do ciborgue híbrido, dividido entre o

orgânico e o maquínico, para o ciborgue como simulação digital, de simples usuário plugado

no ciberespaço, até o limite dos avatares. A mente é desencarnada abandona o corpo para se

transformar e integrar em uma rede de fluxos de informações.

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A história de “Neuromancer” acontece em um futuro próximo, onde temos uma

sociedade caótica, governada por gangs de rua, corporações multinacionais e mercenários,

todos residindo em megacidades nas quais extrema pobreza e alta tecnologia usualmente

coexistem, mas todos com acesso à tecnologia, em que cada classe a utiliza de forma sempre

corrupta almejando o poder.

Em 1988, Hans Moravec, professor da Carnegie Mellon University, em seu livro

“Mind Children”, fala de um mundo pós-biológico da liberação de um corpo mortal: “Imagine

um cérebro em uma cuba, sustentado por máquinas de sobrevivência, conectado por

formidáveis laços eletrônicos a uma série de simulacros corporais em realidades virtuais e a

corpos de aluguel artificiais colocados em regiões remotas”.

Em 1989, Jean Claude Beaune, em seu estudo sobre autômatos “Philosophie des

milieux techniques”, falou de uma criatura viva dotada de uma inteligência semi-autômata ou

capacidade de adaptação, que chamou de autômato cibernético e informático.

Em 1990, Stelarc, um artista plástico australiano, no seu artigo “Prótese, robótica e

existência remota”, falava de estratégias pós-evolucionistas para reprojetar o corpo humano

biologicamente mal equipado para enfrentar seu novo ambiente extraterrestre, ao desenvolver

sua tese do corpo obsoleto:

“É hora de se perguntar se um corpo bípede, que respira, com visão binocular e um cérebro de 1.400 cm3 é uma forma biológica adequada. Ele não pode dar conta da quantidade, complexidade e qualidade de informações que acumulou; é intimado pela precisão, pela velocidade e pelo poder da tecnologia e esta biologicamente mal equipado para se defrontar com seu novo ambiente. O corpo é uma estrutura nem muito eficiente, nem muito durável. Com frequência ele funciona mal [...] Agora é o momento de reprojetar os humanos, torná-los mais compatíveis com suas máquinas” .

Gilles Deleuze viu um feixe de transformações sociopolíticas e econômicas no livro

“Conversações” em 1990, apresentado brevemente num post-scriptum. Estas transformações estariam

levando a formação de um novo tipo de sociedade que estaria sendo implantado gradativamente através

de um novo regime de poder-saber. Este conceito foi denominado “sociedade de controle”, onde

mecanismos informatizados estariam se transformando em novos mecanismos de dominação, que se

infiltraram nos aparelhos de normalização burocratizados e disciplinados para explodi-los visando a

criação de uma nova política de saber.

Estes dispositivos de saber, cada vez mais sutis e menos evidentes, provocam mudanças muito

rápidas na sociedade contemporânea. Os mesmos parecem ganhar uma eficiência que lhes permitem

exercer um controle total sobre as antigas técnicas disciplinares sofisticando-as, intensificando-as ou

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promovendo mudanças radicais. Isto significa que a velha lógica serial, analógica, fechada e

descontínua, está sendo substituída por modalidades digitais, fluídas, abertas, flexíveis e mutantes, que se

interagem velozmente no corpo social.

A lógica de funcionamento associada a estes novos dispositivos desconhece fronteiras, atravessa

os espaços e tempos, com uma constância dominadora, veloz e com resultados a curto prazo. Este novo

regime de poder-saber está ligada ao pós-industrial de cunho meramente capitalista.

Em 1993, Gareth Branyn mencionou a emergência de uma tecnomitologia que

consiste em formatar o corpo humano para ele responder as exigências de uma era pós-

humana, num artigo intitulado “The desire to be wired”.

Em 1996, Hayles afirmou que o pós-humano representa a construção de um corpo

como parte de um circuito integrado de informação e matéria que inclui componentes

humanos e não humanos, tanto chips de silício como tecidos orgânicos, bits de informação e

bits de carne e osso. Nesse sentido, podemos afirmar que o pós-humano pode ser considerado

mais que humano, ou seja transhumano.

“Este livro começa com um sonho roboticista que me pareceu um pesadelo. Eu estava lendo o livro de Hans Moravec: “Mind Children: The Future of Robot and Human Intelligence”, apreciando a variedade engenhosa de seus robôs, quando me deparei com a passagem, onde ele argumenta que em breve será possível transferir a consciência humana para um computador. Para ilustrar, ele inventa um cenário de fantasia no qual um cirurgião robô suga o cérebro humano em um tipo de lipoaspiração craniana, lendo as informações em cada camada molecular enquanto ele é retirado e transferindo as informações para um computador. No final da operação, a cavidade craniana está vazia, e o paciente, agora, está habitando o corpo metálico do computador, e desperta com a consciência dele exatamente como era antes. Como, perguntei a mim mesmo, era possível para alguém de notória inteligência como Moravec, acreditar que a mente pode ser separada do corpo? Mesmo admitindo que tal separação é possível, como poderia alguém pensar que a consciência num meio totalmente diferente permaneceria inalterada, como se não tivesse nenhuma ligação com a encarnação anterior?”5 “O pós-humano quer dizer realmente o fim da humanidade. Isto é um sinal, ao invés do fim do conceito do humano, uma nova conceituação que pode melhor ser aplicada a uma fração da humanidade que tem a saúde, a força e o prazer de para se auto definir um autônomo exercendo sua vontade através de sua escolha individual”(Ibid, p.286)

Hayles dirige suas discussões em três frentes:

(a) como a informação perdeu sua corporeidade ao ser conceitualizada

como uma entidade separada das formas materiais nas quais está enraizada;

5 HAYLES, K. N. How we became post-humans. Chicago: CUP, 1999. p. 1

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(b) como o ciborgue foi criado à maneira de um artefato tecnológico e

ícone cultural;

(c) como uma construção específica, chamada humano, está cedendo

passagem para uma construção distinta chamada pós-humano.

E. Thacker, em 2003, afirmou “a lógica do informacionalismo essencialista é a seguin-

te: a informação equivale ao corpo, o qual, por extensão, implica que a informação equivale a

biologia e/ou materialidade, o que conduz da contingencia do corpo biológico à emancipação

desse corpo por meio dos potenciais técnicos da informática” num artigo da revista Cultural

Critique. Queria dizer que a chave do pensamento do informacionalismo essencialista não

está na descorporificação, mas em algo mais perto das conversões de arquivos e da tradução

de dados.

Em 2002, E. L. Graham, no seu livro sobre Representações do pós-humano, considera

que a tecnologização da natureza, dos corpos e mentes humanas – a dificuldade de se definir

as fronteiras entre as espécies – complicou sobremaneira o que significa ser humano. Ela

prefere o termo “pós-humano” para caracterizar as novas tecnologias do século XXI do que os

termos “pós-biológico” e “condição pós-humana”.

Cary Wolfe, em seu livro “Philosofy and animal life” de 2008, busca encontrar novos

paradigmas teóricos para o pós-humanismo ao sugerir que a teoria dos sistemas precisa de

desconstrução, mas utilizando-se da mesma teoria dos sistemas.

Hoje o termo pós-humano é empregado de todas as formas que se queira descrever o

depois do humano, inclusive o nosso maquinístico.

Decerto, questionar sobre o natural e o artificial, o homem e a máquina, se tornou

lugar comum, pois já não explica ou responde a relação que é estabelecida entre o sujeito e o

meio e seus desdobramentos, aí incluídos a fé, ciência, conhecimento, e relações de poder –

vetores que também são atualizados no processo de conversão do mundo em bit e byte de

dados. Cabe, com isto, compreender a nova ecologia do pensamento que está sendo gestada,

de modo a não somente acompanhá-la em pensamento, mas em ações que contemplem a

relação de aprendizagem com base na (co)autoria e (co)participação entre novas entidades: o

sujeito do agora e o outro – as tecnologias da inteligência, na era ciber.

Não importa discutir o natural e o artificial, posto que se a natureza é ‘artificiável’ e o

artificial ‘naturalizável’, o mito do abismo intransponível entre o que é feito pela natureza e o

que é feito pelo homem, some. E, se as máquinas, antes pesadas e densas, rumam cada vez

mais numa direção em que se miniaturizam e se tornam mais capazes e humanizadas, o

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humano, por sua vez, trilha em direção a processos cada vez mais maquínicos, na medida em

que se tem um corpo/objeto receptor de tecnologias, e um corpo/sujeito psicologicamente

transformado por esses agenciamentos. Ou seja, uma condição de ser/estar pós-humano.

Muitos teóricos conceituam o pós-humano como a emergência ontológica relacionada

às proposições de hibridização entre homem e máquina ou carne e silício.

Os avanços gradativos da consciência através da conexão com dispositivos múltiplos e

à manipulação gradativa do DNA humano poderão resultar em mudanças drásticas na

estrutura biológica da espécie.

Termos semelhantes também são usados com essa mesma intenção, Hans Moravec

(1988) adotou o termo ex-humans, o artista e teórico inglês das redes telemáticas Roy Ascott

(2003) fala de uma era pós-biológica “vislumbrada por ele através dessa fusão entre carne e

silício e do mundo seco do silício com o mundo úmido do carbono – e da expansão da

consciência pela conexão em rede”.

Dessa mesma forma, acreditamos que a ligação planetária em rede cria uma mente

expandida pela somatória das inteligências conectadas

Com a emergência de uma era ciber, torna-se possível perceber a fusão de organismos

naturais e artificiais convivendo num mesmo espaço tempo por um lado, bem como a

convivência cotidiana e quase híbrida de ambientes paralelos como o da realidade real e o da

realidade virtual. Espaço, corpo e uma sequência de vetores de uma realidade real dão sinais

claros da existência de outras plataformas, fazendo com que as operações num futuro próximo

a sua construção sejam impulsionadas e ou mediadas por imagens virtuais.

Desde o surgimento do computador digital e do conceito de internet, o espaço tem

ganhado um novo status; e para a sua significação e sentido na contemporaneidade, também o

corpo e o operativo de todas as relações de troca. Desde as questões relacionadas com a

operacionalização de atividades diárias e rotineiras nos diversos setores da economia,

passando pelos processos comunicacionais e educacionais, até as questões mais filosóficas e

que remetem ao existencialismo pré-socrático do espaço, do corpo e da alma, religião e

conhecimento, o que se pode constatar é que os desdobramentos teóricos e reflexivos

contemporâneos convergem no sentido de compreender o humano dependente de tecnologia

científica como nunca foi presenciado na história da humanidade.

Nas últimas décadas, foi gerado mais conhecimento científico do que em toda a

história da raça humana. Quase diariamente, as manchetes proclamam novos avanços em

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computação, telecomunicações, biotecnologia e exploração do espaço. Estamos vivendo a era

da singularidade.

A revolução tecnológica que estamos atravessando indica com alguma segurança que

nossos estilos de vida serão fatalmente alterados, quando milhões de microchips forem

espalhados em todo canto de nosso ambiente, incorporados às paredes, aos móveis, aos nossos

aparelhos, nossa casa, nosso carro, penetrando na estrutura de nossas vidas, tornando-os

inteligentes.

Foi justamente no terreno sedimentado por esse tipo de ficção e pelas inquietações e

indagações nele presente que a expressão “pós-humano” gradativamente tomou corpo.

Expressões similares, tais como “autômata bioinformático”, “biomaquinal”, “pós-

biológico”, foram aparecendo cada vez mais assiduamente em publicações de arte e cultura

cibernéticas até que, em meados dos anos 1990 – todas elas consolidaram-se no caldo da

cibercultura emergente. O tema comum que as une encontra-se no hibridismo do humano com

algo maquínico-informático, que estende o humano para além de si. Assim, a condição pós-

humana diz respeito à natureza da virtualidade, genética, vida inorgânica, ciborgues,

inteligência distribuída, incorporando biologia, engenharia e sistemas de informação. Por isso

mesmo, os significados mais evidentes, que são costumeiramente associados à expressão

“pós-humano”, unem-se às inquietações acerca do destino biônico do corpo humano.

Os ufanistas da cibercultura o rezam como um sistema de informações, ora genético,

ora neuronal, mas sempre pensando em sua matematização maquinística.

Como o chamado ciborgue, a figura do pós-humano é ao mesmo tempo uma matriz ficcional

e um objetivo silencioso das políticas que estão se projetando como centrais em nosso futuro.

Noutros termos, constitui um campo de confronto e intervenção de ficções literárias, crenças

religiosas, estratégias militares, práticas de pesquisa, intervenções médicas, investimentos de

capital, experimentação política, etc. “O ciborgue é texto, máquina, corpo e metáfora —

teorizados e postos em prática em termos de comunicações.”7

O sentimento de que o processo de maquinização da vida social nos leva a

imaginar que haverá um salto de qualidade no ser humano. Este sentimento maquínico

não foge do conceito de ciborgue, que substituirá o humano obsoleto e imperfeito que,

com suas atitudes e construções, está decretando o final de uma era romântica e cheia

de emoções.

O ciborgue seria apenas o estágio intermediário de um processo evolutivo que pode

7 HARAWAY, Donna. Simians, cyborgs and women. NY Routeledge, 1991. p. 212.

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culminar no seu ápice, numa estrutura maquínica, para onde seriam transferidos a memória,

e o melhor dos sentimentos humanos. Este tipo de futurismo parece ficcional e delirante, mas

não deve ser desprezado, porque aquilo que um dia foi simples fantasia, mítica ou lendária,

pode se converter em realidade muito tempo depois, considerando a história evolutiva da

humanidade, como, por exemplo, o sonho humano de voar, que inspirou histórias e lendas que

foram desprezadas e a conquista do espaço, com o homem pousando na lua, e em condições de

atingir até outros planetas.

No passado, o homem trabalhava com vários projetos conceituais de sociedade.

Isto já está sendo suplantado pelo advento da cibercultura, que está levando o homem a

pensar em projetos de um mundo globalizado, mas com algumas influências locais, o que foi

cunhado de “glocal” por Paul Virílio em “A arte do motor” em 1996.

Usando outros termos, Nietzsche já preconizava um mundo sem humanos, mas com

uma realidade pós-humana.

Na sua obra “A Condição Pós-humana”, o artista inglês Robert Pepperell (1995)

afirma que a expressão “pós-humano” pode ser empregada em três sentidos:

(i) Em primeiro lugar, para marcar o fim do período de desenvolvimento

social conhecido como humanismo, de modo que pós-humano vem a significar “depois

do humanismo”;

(ii) Em segundo lugar, a expressão sinaliza o fato de que nossa visão do que

constitui o humano está passando por profundas transformações. O que significa sermos

humanos hoje não é mais pensado da mesma maneira em que era pensado

anteriormente; e

(iii) Em terceiro lugar, “pós-humano” refere-se a uma convergência geral

dos organismos com as tecnologias até o ponto de tornarem-se indistinguíveis. Para ele,

essas tecnologias pós-humanas são: realidade virtual (RV), comunicação global,

protética e nanotecnologia, redes neurais, algoritmos genéticos, manipulação genética e

vida artificial. Tudo isso junto deve representar uma nova era no desenvolvimento

humano, a era pós-humana.

Neste manifesto pós-humano, Pepperell afirma: “A máquina é nosso novo Deus, estamos nos afastando da noção do humano como entidade isolada e única, para abraçar uma concepção da existência na qual o humano está totalmente integrado com o ambiente em todas as suas manifestações (a natureza, a tecnologia e outros seres).”

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Segundo Pepperell, parece razoável confiar que isso possa ocorrer “sem colapsos”

e esperar que esta “inteligência artificial” em processo

de criação possa sentir excitação, embora tenha claro que “fica para ser

determinado em que grau isso tudo seria agradável”.

Foi o início de uma série de debates tecnoculturais que resultaram em importantes

artigos contemporâneos daquilo que hoje chamamos de pós-humanismo.

SANTAELLA e FELINTO, fazem em seu livro “O explorador de abismos – Vilém

Flusser e o pós-humanismo” 8 , uma classificação didática dos tipos de pós-humanismo

encontrados na literatura acadêmica.

Esta classificação e seus principais representantes são descritos a seguir:

a- O Pós-humano Cético - Manuel de Landa

b- O Pós-humano Apocalíptico - Paul Virilio, Peter Sloterdijik, Francis Fukuyama

c- O Pós-humano Popular - Hans Moravec, Willian Gibson, Max More (Extropia),

Ray Kurzweil, Marvin Minsk, Richard Dawkins

d- O Pós-humano crítico - Donna Haraway, Robert Peperell, Katherine Hayles,

Eugene Thacker, Elaine Graham, Cary Wolfe

O Cético “São os que ignoram ou desprezam o debate sobre o pós-humano. Para citar um exemplo representado por uma figura influente, esse é o caso de Manuel De Landa. Não obstante reivindique, com base em Deleuze e Guattari (De Landa, 2002), um realismo ontológico renovado, que poderia muito bem subsidiar filosoficamente as discussões sobre o pós-humano, descrê dessa expressão por considerá-la tola (De Landa, 2003)” (Apud FELINTO e SANTAELLA, 2012, p.35).

O apocalíptico

As versões apocalípticas incluem tendências cada vez mais atemorizadas diante da

ininterrupta expansão tecnológica.

Paul Virilio: “É preciso vasculhar o que está por trás, movendo esses temores. Muitas vezes, trata-se de uma visão, quase sempre inconsciente — e por isso mesmo mais forte — da integridade da natureza humana a que a tecnologia é estranha, forasteira. O vínculo entre ambas é artificial, imposto pela fúria capitalista. Embora na sua superficie de critica ao capitalismo o discurso seja

8 FELINTO, E.; SANTAELLA, L. O explorador de abismos: Vilém Flusser e o pós-humanismo. São Paulo: Paulus, 2012. p.35.

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convincente, seus pressupostos são duvidosos e merecem ser investigados com cuidado.” (Apud FELINTO e SANTAELLA, 2012, p.35).

Peter Sloterdjik: “A histeria antitecnólogica que toma conta de grande parte do mundo ocidental é um produto da decomposição da metafísica, pois essa histeria se agarra a falsas classificações de modo a se revoltar contra processos nos quais essas classificações estão superadas. O horror ao tecnológico é inversamente proporcional ao apego as velhas verdades metafisicas. Por isso, a histeria é reacionária, pois ela expressa o ressentimento de uma bivalência anacrônica que contrasta com uma polivalência que ela não pode entender” (2000, p. 5). (Apud FELINTO e SANTAELLA, 2012, p.36).

Francis Fukuyama: “Em seu livro “Nosso futuro pós-humano: as consequências da revolução biotecnológica” (2002), encontramos o exemplo paradigmático de uma visão apocalíptica concernente especificamente ao pós-humano. A defesa do autor de regulamentações para as ameaçadoras tecnologias genéticas, que irão alterar as bases materiais e biológicas da natureza humana, não consegue esconder seu firme apego a narrativa iluminista de uma essência humana inviolável. Nas palavras de Simon, “o retorno a natureza humana em Fukuyama fornece novos reforços para as barricadas humanistas esmigalhadas na mare alta da pós-humanidade” (2003, p. 2). Diante das apreensões inevitavelmente provocadas pelas tecnologias reprodutivas, vida artificial, biométrica, organismos geneticamente modificados, terapia genética, clonagem, pesquisas com células tronco, as versões apocalípticas tem pelo menos o mérito de um esforço crítico contumaz. (Ibid , 2012, p.35).

O popular Neil BADMINTON, em seu livro Posthumanism (2000), batizou de versões “populares” aquelas que derivam das concepções do ciborgue alimentadas nas ficções cyberpunk, as quais embutem um neocartesianismo mal disfarçado: a possível separação da mente em relação ao corpo humano obsoleto no qual se encarna, e o transporte do mental para suportes robóticos ou similares, tal como está exemplarmente tematizada na obra “Mind Children” de Hans Moravec (1988) e na trilogia Matrix, nitidamente inspirados em Neuromancer, de Gibson. O que Mind Children propõe é a lipossucção do cérebro, a leitura informacional de cada molécula e sua transferência para um computador. Tudo isso para ganhar a tão sonhada imortalidade dentro de um corpo seco, metálico, ascético, livre das fragilidades e vulnerabilidades do corpo úmido, de seus abjetos excrementos e, sobretudo, de seu destino mortal. A sistematização do trans-humanismo foi elaborada pelo movimento Extropy (Extropia), termo cunhado por Torn Bell. Antônimo de entropia, o movimento foi idealizado por Max More, e seus ideais encontram-se fartamente disseminados na Internet. Seus princípios foram explicitados por More (1998). Por extropia deve-se entender “a extensão da inteligência, informação, ordem, vitalidade e capacidade de aperfeiçoamento de um sistema. Extropianos são aqueles que procuram incrementar a extropia, e o extropianismo é a filosofia evolucionária trans-humanista da extropia”.

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A promulgação dos ideais do movimento não se limita ao seu lado mais popular. Cientistas e teóricos de renome, tais como Ray Kurzweil, Marvin Minsky e Richard Dawkins, também aderiram a essas ideias, trazendo a elas um pouco mais de credibilidade. O que une a todos é a crença de que progresso tecnológico necessariamente acarreta progresso para o humano. O paradoxo que a crença esconde e que, apesar das transformações, a espécie ainda manterá algo de sua essência imutável. (Ibid, p. 37-39)

O crítico

“Uma das mais relevantes ‘narrativas digitais' com que nos defrontamos hoje — uma narrativa que encontra nos temas da transcendência, do espiritualismo tecnológico, da informatização do real e da expectação futurista utópica alguns de seus elementos principais”. Todavia, ao tomar como base uma pesquisa cuidadosa realizada na internet, Felinto tem a precaução de distinguir entre um pós-humanismo semeado na internet versus um pós-humanismo critico. De fato, quando se trata de uma questão como essa, sujeita a todos os tipos de exacerbação, há que se separar o joio do trigo. Vem daí a necessidade de se estabelecer diferenças pertinentes no emaranhado que constitui o debate sobre o pós-humano. (Ibid. p. 39)

Dentre os autores que trataram o tema do pós-humano, Francisco Rudiger, em seu

livro “Cibercultura e Pós-humanismo” escreveu: “De todo modo, cremos que, exceto por uma mutação ontológica, associada ou não ao desenvolvimento científico e maquinístico, o futuro jamais será pós-humano se, respondendo a essa contextualização, a tecnologia não nos privar do que faz do pensamento um pensar; se, mesmo encaixado na máquina, o equipamento não for máquina de todo, e o pensamento continuar sendo imaginação criadora e, portanto, em última instância, irracional. Quem quer que lide com o terna chegará à hipótese de que o que nos distingue como humanos, mas também como pré ou pós-humanos, no sentido filosófico, mas, também, no da identidade histórica, para retomar o que foi dito antes, é, em suma, nossa capacidade de pensar e desenvolver uma criatividade irracional, ligada à experiência física do corpo e à interação simbólica (à comunicação) com outros entes semelhantes...” “O problema, portanto, não é a humanidade se tornar ciborgue, um organismo cibernético, eventualmente unificado, mas passível de desdobramento. O problema é ela perder sua condição primeira, a de entidade criadora em palavra e ação, na medida em que viermos a ser colonizados por próteses programáveis que desonerem radicalmente o corpo e, assim, desativem essas nossas faculdades, apenas concebíveis num quadro de interação conflituosa com o ambiente, incluindo-se aí outros organismos, sejam ou não maquinístico, mas desde que geradores de alguma indeterminação simbólica.” (RÜDIGER, 2008, p.220)

Paula Sibilia, uma pesquisadora argentina, radicada no Rio de Janeiro, em seu livro

“O Homem Pós-Orgânico – Corpo, subjetividade e tecnologias digitais” de 2002, afirma:

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“É nesse contexto que surge uma possibilidade inusitada: o corpo humano, em sua antiga configuração biológica, estaria se tornando ‘obsoleto’. Intimidados pelas pressões de um meio ambiente amalgamado com o artificio, os corpos contemporâneos não conseguem fugir das tiranias (e das delicias) do upgrade. Um novo imperativo é internalizado, num jogo espiralado que mistura prazeres, saberes e poderes: o desejo de atingir a compatibilidade total com o tecno-cosmos digitalizado. Para efetivar tal sonho é necessário recorrer a atualização tecnológica permanente: impõem-se, assim, os rituais do auto-upgrade cotidiano...”(p. 13) “Que tipo de saber é aquele que entende o corpo humano como uma configuração orgânica condenada a obsolescência, convertendo-o em um objeto da pós-evolução? Aqui sustentaremos, seguindo os estudos do sociólogo português Hermínio Martins, que se trata de uma tecno-ciência de vocação fáustica, cuja meta consiste em ultrapassar a condição humana. Por isso, nos saberes hegemônicos contemporâneos é possivel detectar certas tendências ‘neognósticas’, que rejeitam a organicidade e a materialidade do corpo humano para procurar na sua superação, um ideal ascético, artificial, virtual, imortal.” (p.42)

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CAPÍTULO 2

A EXPONENCIALIDADE DO NOSSO

DESENVOLVIMENTO

“A evolução tecnológica é essencialmente responsável para a alteração dos parâmetros da base da condição humana, tais como: a dimensão da população do mundo, a esperança de vida, níveis de educação, padrões de vida materiais, o tipo de trabalho, comunicação, cuidados com a saúde, guerra e os efeitos dos humanos sobre o ambiente natural. Outros aspectos da sociedade e nossas vidas individuais também são influenciados pela tecnologia, de muitas maneiras, diretas ou indiretas, como formas de governo, programas, relações humanas e nossos pontos de vista sobre a natureza humana, cosmologia e ética.”

Nick Bostrom, Diretor do Instituto do Futuro da Humanidade da Faculdade de Filosofia da Universidade de Oxford – Introdução do artigo: “Technological Revolutions: Ethics and Policy In The Dark”.

“Uma enorme avalanche de mudanças assolou a sociedade acidental durante os últimos 300 anos. Esta avalanche, longe de se esmaecer, está tomando mais vigor agora.”

Alvin Toffler, “Future Shock”, 1970.

Este capítulo tem a finalidade de mostrarmos a velocidade e aceleração do

desenvolvimento das descobertas científicas, desde o Big Bang a bilhões de anos atrás,

acelerando um pouco a partir do século XIX e com uma aceleração exponencial na entrada do

século XXI.

O grande exemplo do que queremos mostrar nesta tese, está representado pelo

Calendário Cósmico de Carl Sagan, que será mostrado no sub capítulo 2.2. Ele retrata muito

bem a curva de evolução exponencial que estamos vivendo, desde o início dos tempos. O que

não está mostrado é a exponencialidade da aceleração da velocidade das mudanças

tecnológicas atuais. O estágio de desenvolvimento atual e as descobertas que relatamos

servem de embasamento teórico para justificarmos os argumentos que levam o estudo do pós-

humanismo, em sua vertente tecnológica, que desaguam no assunto do título “A questão do

futurismo pós-humano e da vida artificial”, ou seja, a discussão da imortalidade.

Também serve para mostrarmos a forma de comunicação científica e de divulgação

nas ciências da complexidade, onde os assuntos que se tornaram consenso ou, pelo menos,

tiveram a aceitação da maioria dentre os pesquisadores, são tratados com o formalismo

acadêmico requerido nas divulgações de revistas científicas, e os mais atuais que pela

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velocidade de acontecimento não permitem a burocracia de análises por comitês editoriais e

outros, tornando-se quase que relatos jornalísticos.

Nesta viagem desde o lento desenvolvimento da formação do nosso universo, das

descobertas cosmológicas, depois, da vida até o ritmo vertiginoso que a ciência tem imposto

as novas descobertas, utilizando-se destas novas descobertas e conceitos para desenvolver

outras descobertas que estão fazendo a tecnologia avançar num ritmo alucinante, verificamos

o caráter exponencial dos acontecimentos que geram a divulgação científica mais informal,

sem fugir da fusão destas descobertas científicas com o conceito de pós-humanismo

puramente baseado na tecnologia.

No centro de tudo, ou mesmo na razão de se pesquisar novas descobertas científicas,

está a inserção da tecnologia dentro do humano, de forma a facilitar a estafante tarefa de

sobreviver. Esta luta pela permanência, em que nos colocamos como o mais recente estágio

na evolução darwiniana, nos faz acreditar que seremos o mais recente, o último, e o definitivo.

Mesmos os pós-humanistas mais céticos e conservadores, admitem que a partir do ciborgue,

pode haver um novo estágio nesta evolução. Os mais ufanistas acreditam numa simbiose

carbono/silício ou o que vier a sucedê-lo onde o que chamamos de homem pós- humano

vence a batalha pela permanência e de alguma forma se torna imortal.

Aproveitando este histórico, a intenção é mostrar a forma como isto foi divulgado à

comunidade científica. Na sequência dos fatos, os primeiros artigos foram escritos de forma

protocolar, de forma a garantir a consistência, a credibilidade e a ética do trabalho. Não

usaremos os artigos originais dos cientistas pesquisadores e/ou descobridores. Utilizaremos

algo já bastante popularizado, mas que tem a consistência e a credibilidade citadas acima, que

são os artigos de uma revista científica respeitada, a Scientific American (Sciam).

A revista fundada pelo inventor e editor Rufus M. Porter em 1845 como um jornal

semanal de quatro páginas, tinha como objetivo, a divulgação das novidades científicas

baseadas nos registros do U.S. Patent Office. Nasceu com o espírito de divulgação e de se

tornar uma revista de ciência popular. Tem uma longa história de levar informações

científicas mensalmente ao público em geral. Mais de 140 cientistas, laureados com o Prêmio

Nobel, escreveram ou têm escrito para a Sciam, muitos deles, descrevendo seu trabalho anos

antes do reconhecimento pelo Comitê do Prêmio Nobel. Nomes como Albert Einstein, Francis

Crick, Jonas Salk, Linus Pauling, John Kenneth Galbraith, Lester Thurow, Mitchell Kapor,

Michael Dertouzos, Nicholas Negroponte têm contribuído com artigos neste mais de cento e

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sessenta e nove anos de existência. Tem edições em 18 línguas estrangeiras, inclusive o

português brasileiro.

No capítulo anterior, fizemos uso de farta literatura disponível, pois retratamos o

advento do pós-humano. A forma como desenvolvemos o assunto é bastante formal, com

bastante citações, e com um formato de texto bem acadêmico e tradicional. À medida que

entramos no Século XXI, ficam mais escassos os materiais de pesquisa, e o texto mais e mais

se aproxima de um texto jornalístico, e uma boa explicação para isso foi dada por Miguel

Nicolelis na introdução.

Ainda assim, existe um farto material de pesquisa em revistas científicas, e elegemos

para utilizar os artigos da Scientific American (Sciam), citados no rodapé, sendo que alguns

trechos foram complementados por artigos de divulgação da internet.

Esta parte do capítulo que envolve os sub capítulos 2.1 ao 2.7 (Do Big Bang a Teoria

das Cordas), já está no formato de um material de divulgação científica, nos moldes da Sciam,

e com algumas inserções de estilo jornalístico. Do sub capítulo 2.8 ao 2.10 (Da computação a

Convergência Tecnológica), avança-se mais para esta forma de divulgação científica ágil, e

concisa e quase jornalística.

O último tópico 2.11 foi pesquisado inteiramente na internet, em artigos de magazines

populares e também de jornais e periódicos, porque ainda não interessaram aos conselhos

editoriais das revistas científicas e, portanto, não estão disponíveis. Outra razão é que estão

aparecendo muitos avanços científicos desenvolvidos por empresas privadas que focam no

seu negócio, ao contrário dos Centros Acadêmicos, que na maioria das vezes focam em

interesses comuns à humanidade, quando não desenvolvem um projeto dedicado sob

encomenda ou através de doações de instituições privadas com interesse específico.

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2.1 - O início de tudo...o BIG BANG

O modelo científico mais aceito para explicar por que o universo é da maneira como

conhecemos é a teoria do Big Bang, que descreve o seu desenvolvimento do momento

imediatamente posterior ao seu surgimento até os dias de hoje.

Com diversas previsões, muitas das quais puderam ser confirmadas por meio de

observações, a teoria tem a expansão como mais importante conceito. Embora seja visto por

muitos como o momento no qual toda a matéria e energia concentrada em um ponto ínfimo

explodiu, disparando-se matéria pelo espaço para o nascimento do universo, o Big Bang, na

realidade, explica a expansão do espaço em si, ou seja, tudo que estava contido dentro desse

espaço está se afastando cada vez mais.

No início do Big Bang, toda matéria, energia e espaço estavam comprimidos em uma

área de volume zero e densidade infinita, extremamente denso e quente. Como havia tanta

energia, a matéria, tal qual conhecemos, não podia surgir, mas o universo se expandiu

rapidamente, ou seja, foi ficando menos denso e se resfriando. Nesse processo de expansão,

iniciou-se a formação da matéria e a perda de energia da radiação. E o universo se formou, em

apenas alguns segundos, a partir de uma singularidade que se estendeu pelo espaço.

Como resultado tivemos a formação das quatro forças básicas do universo:

eletromagnetismo, interação nuclear forte, interação nuclear fraca e gravidade. Foi apenas

pouco depois de seu início que essas forças, até então unificadas no começo do Big Bang, se

separaram para a forma como se apresentam hoje.

A maneira como essas forças estiveram unidas, no entanto, ainda é um mistério para os

cientistas, tanto que muitos físicos e cosmólogos continuam trabalhando para desenvolver

a Teoria da Grande Unificação, que explicaria também de que forma elas se relacionam umas

com as outras.

A Universidade de Cambridge refere ao estudo desses momentos iniciais do Big Bang

como cosmologia quântica. Como o universo era tão pequeno, a física clássica ainda não era

aplicável, diferentemente da física quântica, a qual lida com a física em escala subatômica.

Mas o comportamento das partículas em escala quântica desafiam a compreensão que se tem

da física clássica. Nesse sentido, para descobrir mais informações sobre o funcionamento do

universo, os cientistas buscam a conexão entre a física quântica e a clássica.

Em t = 1 x 10-43 segundos, o universo era pequeno, denso e quente, com uma área

homogênea que abarcava uma região de apenas 1 x 10-33 centímetros – hoje, ele se estende

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por bilhões de anos-luz. Para os teóricos do Big Bang, durante essa fase, matéria e energia

eram inseparáveis e as quatro forças primárias do universo eram uma força única. A

temperatura desse universo era de 1 x 1032 graus Kelvin. Em frações de segundo, o universo

se expandiu rapidamente, em um processo chamado pelos cosmólogos de inflação, dobrando

de tamanho diversas vezes em menos de um segundo.

À medida que se expandia, o universo se resfriava e, em t = 1x 10-35 segundos, matéria

e energia se separaram. Neste momento, designado como bariogênese, em que a matéria

(bariônica) pode ser observada, o universo se encheu de quantidades quase iguais de matéria e

antimatéria. Embora a maioria das partículas e antipartículas tenham se aniquilado

mutuamente, algumas partículas sobreviveram e, mais tarde, se combinariam para formar toda

a matéria do universo.

A partir de t = 1 x 10-11 segundos, segue-se um período de cosmologia de partículas à

era quântica, fase que cientistas conseguem recriar em condições de laboratório por meio

de aceleradores de partículas, gerando dados observacionais sobre a provável configuração do

universo no momento. A força unificada se dividiu em seus componentes. Embora os fótons –

partícula elementar da força eletromagnética – fossem mais numerosos que as partículas de

matéria, o universo era denso demais para que a luz brilhasse em seu interior.

Do período da cosmologia padrão, iniciado 0,01 segundo depois do começo do Big

Bang em diante, os cientistas acreditam que dominavam razoavelmente bem a maneira pela

qual se desenvolveu o universo, que continuou a se expandir e a se resfriar. Formadas durante

a bariogênese, as partículas subatômicas começaram a se combinar dando origem a nêutrons e

prótons e que, passado o primeiro segundo, já eram capazes de formar os núcleos de

elementos leves como o hidrogênio (na forma do isótopo deutério), hélio e lítio, em um

processo conhecido como nucleossíntese. A densidade e temperatura ainda elevadas o

universo, no entanto, ainda não permitiam que os elétrons se unissem a esses núcleos para

formarem átomos estáveis.

Foram necessários 100 segundos para a temperatura do universo se resfriar para cerca

de um bilhão de graus Kelvin (um bilhão de graus Celsius), enquanto as partículas

subatômicas continuavam a se combinar. Em termos de massa, a distribuição dos elementos

era de cerca de 75% de núcleos de hidrogênio e 24% de núcleos de hélio (o 1% restante

consistia em outros elementos leves, como o lítio).

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A temperatura elevada do universo ainda impedia a ligação entre os núcleos e elétrons,

que colidiam com outras partículas subatômicas conhecidas como pósitrons, criando mais

fótons. Mas o universo ainda era denso demais para que a luz pudesse brilhar em seu interior.

Depois de cerca de 56 mil anos, ele havia se refrigerado a 9.000 graus Kelvin (8.726

graus Celsius), quando a densidade da distribuição de matéria do universo se equiparava à

densidade da radiação. Somente após mais 324 mil anos, o universo atingiu a expansão

suficiente para se refrigerar a 3.000 graus Kelvin (2.727 graus Celsius), para, enfim, prótons e

elétrons se combinarem e formarem átomos neutros de hidrogênio.

Foi neste momento, 380 mil anos após o evento inicial, o universo se tornou

transparente, permitindo que a luz pudesse brilhar através dele. O lugar foi ocupado pela

radiação que os humanos mais tarde identificariam como o a radiação cósmica de fundo em

micro ondas.

O processo de radiação e expansão do universo prosseguiu pelos 100 milhões de anos

seguintes aproximadamente, com diversas pequenas flutuações gravitacionais que fizeram

com que partículas de matéria formassem aglomerados. Com a gravidade levando os gases a

se contrair em bolsões apertados, eles se tornaram mais densos e mais quentes. E, a partir

desses bolsões, se formaram estrelas entre 100 e 200 milhões de anos depois da criação inicial

do universo.

As estrelas começaram a se aglomerar para formar galáxias e, com o tempo, algumas

se tornaram supernovas. A explosão das estrelas ejetava no universo matéria, que incluía todos

os elementos mais pesados que encontramos na natureza, todos eles, até o urânio). As

galáxias, por sua vez, uniam-se em aglomerados. Nosso sistema solar se formou, cerca de 4,6

bilhões de anos atrás.

Hoje, a temperatura do universo é de 2,725 graus Kelvin (-270 graus Celsius), ou seja,

apenas dois graus acima do zero absoluto. A seção homogênea do universo sobre a qual

podemos teorizar tem centenas de milhões de anos-luz (cada ano-luz é cerca de 1013 km).

Se vivemos em um universo fechado, chegará o momento em que ele se contrairá e se

fechará sobre si mesmo. Esse fenômeno é designado pelos cosmólogos como big crunch.

Alguns teóricos acreditam que o nosso universo é apenas o mais recente de uma série de

outros gerados em um ciclo de contração e expansão do espaço.

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Os dados contidos neste tópico foram obtidos na internet, em um artigo de Jonathan

Strickland 10.

Cientistas americanos revelaram, em 17/03/201411, a detecção inédita de ecos do Big

Bang. Trata-se de uma importante descoberta para entender as origens do universo.

A “primeira evidência direta da inflação cósmica” foi observada com um telescópio no

polo sul e foi anunciada por especialistas do Centro de Astrofísica (CfA) de Harvard-Smithsonian.

A existência destas ondulações de espaço-tempo, primeiro eco do Big Bang, demonstra a expansão

extremamente rápida do universo na primeira fração de segundo de sua existência, uma fase

conhecida como inflação cósmica, que já foi explicada acima.

As ondas gravitacionais foram detectadas pelo telescópio BICEP2 (Imagem de Fundo de

Polarização Cósmica Extragalática, na sigla em inglês), que fica no polo sul. O instrumento, que

escaneia o céu a partir dessa região, examina o que os cientistas chamam de micro-onda cósmica

de fundo, uma radiação extremamente fraca presente em todo o universo.

Modelos de computador previram um padrão espiral particular na radiação de fundo que

combinaria com o que seria esperado com a inflação do universo após o Big Bang.

A equipe não só encontrou o padrão, mas descobriu ser consideravelmente mais forte do

que o esperado. “Foi como procurar uma agulha no palheiro, e ao invés disso achar um pé de

cabra”, disse o co-líder do estudo Clem Pryke, da Universidade de Minnesota, em um comunicado.

Para o físico teórico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, o avanço “representa um novo

esclarecimento sobre algumas das questões mais fundamentais para saber o por que de nossa

existência e como o universo começou”.

10 STRICKLAND, Jonathan. How the Big Bang theory Works. How Stuff Works

(http://science.howstuffworks.com/dictionary/astronomy-terms/big-bang-theory.htm), 18/6/2008. Acessado em

28/02/14. 11CIENTISTAS DETECTAM pela primeira vez ecos diretos do Big Bang. Portal G1( http://g1.globo.com/ciencia-

e-saude/noticia/2014/03/cientistas-detectam-pela-primeira-vez-ecos-diretos-do-big-bang.html).

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2.2 - O desenvolvimento das tecnologias.

Desde o Big Bang, o universo permanece em constante evolução e continua

transformação, passando, em sequência, por processos físicos e químicos, a evolução

biológica até chegar a atual evolução tecnológica. Esta última, comparada as anteriores, segue

num ritmo exponencialmente acelerado, abrindo possibilidades quase ilimitadas, embora o

destino seja ainda desconhecido.

Mesmo com a continuidade da evolução biológica, ela ainda é muito lenta para atingir

sozinha os estágios da evolução pós-humana. É necessária a sua fusão com a evolução

tecnológica. A seleção técnica com projeto de engenharia pode agora substituir a seleção

natural com a tentativa e erro. E, com esta reengenharia, podemos mudar fundamentalmente o

modo como funciona nossa sociedade, levantando questões fundamentais da nossa identidade

e status moral como seres humanos.

Carl Sagan, astrônomo conceituado, popularizou o Calendário Cósmico 12 quatro

décadas atrás, para exemplificar a linha do tempo da evolução. Ele escreveu um cronograma

para o universo, começando com o Big Bang há 15 bilhões de anos atrás. Hoje, pensa-se que

tudo começou cerca de 13,7 bilhões de anos atrás, e continua-se a atualizar e a melhorar o

conhecimento da vida, do universo e tudo mais.

No Calendário Cósmico de Sagan, cada mês, representa pouco mais de um bilhão de

anos. O astrônomo datava os grandes eventos durante os primeiros 11 meses do ano (de

janeiro a novembro).

Tudo que estudamos na evolução biológica ocorreu a partir de 16 de dezembro quando

surgiram na terra os primeiros vermes.

Calendário cósmico: janeiro-novembro

01 de janeiro - Big Bang.

01 de maio - Forma-se a Via Láctea.

09 de setembro - Forma-se o sistema solar.

14 de setembro - Forma-se a Terra.

25 de setembro - As rochas mais antigas conhecidas na Terra.

02 de outubro - Vida na Terra.

09 de outubro - Fósseis mais velhos.

01 de novembro - Desenvolvimento de sexo.

SAGAN, Carl. The dragons of Eden: Speculations on the Evolution of Human Intelligence. New York, 1989.

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12 de novembro - Os mais antigos fósseis de plantas fotossintéticas.

15 de novembro - Os Eucariontes floresceram.

01 de dezembro - Se começa a formar a atmosfera de oxigênio.

17 de dezembro - Primeiros invertebrados.

18 de Dezembro - Primeiro plâncton oceânico.

19 de dezembro - Apareceram os peixes e os vertebrados.

20 de dezembro - Apareceram as plantas vasculares. As plantas começam a

colonização da terra.

21 de dezembro - Apareceram os insetos, os animais começam a colonização

da terra.

22 de dezembro - Apareceram os anfíbios e insetos alados.

23 de dezembro - Aparecem as árvores e répteis.

24 de Dezembro - Os dinossauros aparecem e dominam a Terra por 160

milhões de anos.

26 de dezembro - Primeiros mamíferos.

27 de dezembro - Primeiras aves, primeiras flores.

28 de dezembro - Extinção massiva do Cretáceo-Terciário, muitas formas de

vida morreram, incluindo os dinossauros.

29 de dezembro - Primeiras primatas.

30 de dezembro - A evolução do cérebro das primeiras primatas, hominídeos.

31 de Dezembro Hora 13.30.00 - Antepassados dos macacos e dos homens.

31 de Dezembro Hora 22.30.00 - Apareceram os primeiros humanos.

31 de Dezembro Hora 23.00.00 - Uso de ferramentas de pedra.

31 de Dezembro Hora 23.46.00 - A domesticação do fogo.

31 de Dezembro Hora 23.56.00 - O mais recente período glacial.

31 de Dezembro Hora 23.59.00 - Pintura rupestre na Europa.

31 de Dezembro Hora 23.59.20 - Agricultura.

31 de Dezembro Hora 23.59.35 - Civilização Neolítica

31 de Dezembro Hora 23.59.50: Fim da pré-história e o início da história,

as dinastias de Suméria, Ebla e Egito, a Astronomia.

31 de Dezembro Hora 23.59.51: Alfabeto, inventa-se a roda, Império acadiano.

31 de dezembro Hora 23.59.52: Código de Hamurabi (Babilônia), Reino Médio

do Egito.

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31 de Dezembro Hora 23.59.53: Metalurgia do Bronze, a Civilização

Micênica, Guerra de Troia, os olmecas

31 de Dezembro Hora 23.59.54: Metalurgia do Ferro, o Império Assírio, Reino

de Israel, fundação de Cartago.

31 de Dezembro Hora 23.59.55: O nascimento de Buda e Confúcio, a China

da Dinastia Qin, a Atenas de Péricles, o Estado da Índia de Asoka, as Sagradas

Escrituras Rig Veda foram concluídas.

31 de Dezembro Hora 23.59.56: A geometria euclidiana, a física

de Arquimedes, a astronomia de Ptolomeu, os Jogos Olímpicos gregos,

o Império Romano, nascimento de Cristo.

31 de Dezembro Hora 23.59.57: O nascimento de Maomé, o zero e

os decimais inventados em aritmética, Índia, Roma cai, as conquistas muçulmanas.

31 de Dezembro Hora 23.59.58: A civilização maia, a Dinastia Sung da China,

o Império Bizantino, invasão mongólica, as cruzadas.

31 de dezembro, Hora 23:59:59: Viagens do descobrimento de Europa e

da Dinastia Ming da China, Colombo chega a América, a Renascença na Europa.

31 de Dezembro Hora 24.00.00: Começo da cultura moderna, o

desenvolvimento da Ciência e tecnologia, a Revolução Francesa, a Primeira Guerra

Mundial, a Segunda Guerra Mundial, o Apollo XI chega à Lua, as naves espaciais a

exploração planetária, a busca de vida extraterrestre.

Aparentemente, no primeiro segundo do próximo ano, deduzimos que apareceram:

O desenvolvimento generalizado da ciência e da tecnologia;

O surgimento de uma cultura global;

Aquisição dos meios de autodestruição da espécie humana;

Primeiros passos na exploração planetária nave espacial;

Busca de inteligência extraterrestre;

O estudo do pós-humanismo e do pós-humano.

O Calendário Cósmico é uma excelente maneira de visualizar a aceleração das

mudanças e da evolução contínua do universo. O significado deste primeiro segundo do

próximo ano é que forma uma exponencial mais acentuada ainda, e que mais adiante

trataremos como singularidade.

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2.3 - Como foi nossa lenta evolução

Embora a revolução agrícola tenha começado há 12.000 anos, foi preciso esperar

6.000 anos para a invenção de três tecnologias intangíveis para nosso mundo moderno: a

escritura a partir do alfabeto, as matemáticas e a invenção do dinheiro. No princípio da

história da humanidade, o desenvolvimento das tecnologias físicas foi mais lento.

A humanidade aprendeu a produzir o ferro a cerca de 1.200 anos antes de Cristo.

Seguindo a classificação das sociedades pré-históricas pelo Sistema de Três Idades, a Idade do

Ferro é o último dos três principais períodos, sendo precedida pela Idade do Bronze, e a Idade

da Pedra.

Durante o período relativamente estável das civilizações grega e romana, surgiram

muitas tecnologias militares e civis, mas logo após o colapso de Roma vieram os ciclos

obscuros da Idade Medieval. Foram cerca de 800 anos de guerras, de pragas que estancaram,

pelo menos na Europa, as invenções de tecnologias notáveis.

Começou no século XV o desenvolvimento tecnológico exponencial que levou ao

ritmo frenético atual de inovações. O impulso foi dado, por volta de 1439, com a invenção de

Gutenberg, a impressão por tipos móveis. Amplamente considerada o evento mais importante

do período moderno, ela teve um papel fundamental no desenvolvimento da revolução

científica e lançou as bases materiais para a moderna economia baseada no conhecimento e

a disseminação da aprendizagem em massa. Isso permitiu que se conservassem os

conhecimentos adquiridos por cada geração, que se reproduziram a baixo custo para

beneficiar as gerações seguintes.

Nos séculos XVI e XVII, com o desenvolvimento da ciência da navegação, foi criada

a tecnologia naval necessária para a construção dos galeões. Já a invenção do telescópio

permitiu a observação do céu como guia e também para estudá-lo, enquanto os biólogos se

dedicavam ao corpo humano e os filósofos, às leis da física que regia o universo.

As descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico do século XVIII se

desencadearam de forma acelerada, dando início à revolução industrial que provocaria

modificações permanentes na sociedade ocidental. As zonas rurais foram trocadas pelas

cidades, que dominam hoje nossa economia e modo de vida.

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No século XIX, as novas tecnologias começaram a mudar a história e a promover o

progresso, a partir do aumento rápido da circulação de informações e do saber pela sociedade.

Serviram como base da guerra de inovações tecnológicas o advento da eletricidade, seguida

pelas invenções do telégrafo, o telefone, a máquina a vapor, os automóveis e a rádio.

Passaremos a partir do próximo item, a relatar e detalhar um pouco mais a divulgação

científica das descobertas que marcaram a época atual.

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2.4 - O século XX...A Teoria da Relatividade

Em um de seus cinco artigos publicados na revista “Annalen der Physik” em 1905, o

físico alemão Albert Einstein afirmou que tempo e espaço são relativos e estão profundamente

entrelaçados. Uma das ideias mais brilhante de todos os tempos, a Teoria da Relatividade é,

certamente, também uma das menos compreendidas.

Se tentarmos enxergar o tempo como uma espécie de lugar onde se caminha, mesmo

uma pessoa parada estaria se movendo, pelo menos, na dimensão do tempo. Como os

segundos estão passando, significa que a pessoa se desloca pelo tempo como se estivesse em

um trem que corre para o futuro em um ritmo constante.

Einstein, entretanto, também descobriu que esse “trem do tempo” pode ser acelerado

ou freado. Dessa forma, quando um corpo está em movimento, o tempo passa mais

lentamente para ele.

Como as velocidades que vivenciamos no dia-a-dia são muito pequenas, a diferença na

passagem do tempo é ínfima. Mas, se fosse possível passar um ano dentro de uma espaçonave

que se desloca a 1,07 bilhão de km/h e depois retornar para a terra, as pessoas que ficaram por

aqui estariam dez anos mais velhas. Do ponto de vista de quem se deslocou a tal velocidade, o

tempo passou dez vezes mais rápido para as pessoas que estavam praticamente paradas em

relação ao movimento da nave. Para estas, no entanto, foi o viajante que teve a experiência de

sentir o tempo passar mais devagar.

O tempo deixa de ser um valor universal e passa a ser relativo ao ponto de vista de

cada um. E, ainda segundo os estudos de Einstein, ele vai passando cada vez mais devagar até

que se atinja a velocidade da luz, de 1,08 bilhão de km/h (ou 300.000 km/seg) – o valor

máximo possível no universo, em que simplesmente deixa de passar. É como se a velocidade

do espaço retirasse tudo o que fosse possível da velocidade do tempo. No outro extremo, para

quem está parado, a velocidade está toda concentrada na dimensão do tempo.

Em 1905, Einstein concluiu ainda que matéria e energia estavam tão entrelaçadas

quanto espaço e tempo, em mais uma descoberta da relatividade. Pela equação E = m.c²

(energia = massa x a velocidade da luz ao quadrado), ele mostra que uma migalha de matéria

pode gerar uma quantidade absurda de energia – constatação que serviu de base para a

construção da bomba atômica. Por ser aplicável somente a corpos em movimento uniforme,

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algo inexistente no mundo real devido ao campo gravitacional, esta teoria foi chamada de

teoria da relatividade restrita.

Foi a partir de 1907 que Einstein começou a tentar ampliar a sua teoria a situações em

que um referencial se movesse de um modo arbitrário, acelerando, travando e mudando de

direção. E a sua percepção de que, para além da invariância da luz, havia uma outra

invariância que era a gravidade, poderia ser o ponto de partida para uma nova teoria que

estabelecesse uma ligação profunda entre um movimento acelerado e a força da gravidade.

Em outras palavras, uma pessoa em queda não sente nenhum campo gravitacional

pois, se largar um objeto, ele flutuará a seu lado. Por exemplo, um observador que está dentro

de uma sala e deixa cair uma pedra, e esta cai com uma aceleração constante, pode concluir

que isso se deve à força da gravidade. Essa sala, no entanto, pode estar num local em que não

existe nenhum campo gravitacional significativo – como uma nave espacial que acelera, no

espaço vazio, no sentido ascendente. Isso significa que a pedra podia de fato estar estacionária

e ter sido o chão que subiu até chegar a ela.

A constatação é que o observador não pode distinguir entre os dois casos, o que

significa dizer que um sistema de coordenadas uniformemente acelerado é localmente

equivalente a um campo gravitacional. Os dados acima foram extraídos da Scientific

American Brasil13

O alargamento do princípio da relatividade ao caso de movimentos uniformemente

acelerados se dá por volta de 1915, quando Einstein formula o princípio da equivalência: “a

equivalência física completa de um campo gravitacional e da aceleração correspondente de

um sistema referencial”. Este também se aplica a fenômenos óticos e, em geral, a todos os

fenômenos eletromagnéticos.

A partir daí, Einstein chegou às novas equações da gravitação, que mostravam como a

presença da matéria enrugava o espaço e o tempo e este enrugamento determinava o modo

como um objeto se movia no espaço-tempo: um espaço de quatro dimensões feito de um

material elástico que é deformado (encurvado) na presença da matéria.

A massa da terra encurva o espaço-tempo em seu entorno e isso faz com que tenhamos

tendência para cair em direção ao seu centro. O que chamamos de força da gravidade é apenas

13-STIX, Gary. Filhos da relatividade, In: Scientific American Brasil no. 29 de out/2004. p.

25-29.

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o fato da superfície da terra nos impedir de cair em queda-livre segundo a linha geodésica que

a curvatura do espaço-tempo nos impõe, resultado de estarmos submetidos a uma aceleração

física contínua causada pela resistência mecânica da superfície da terra. Temos a sensação de

peso pelo fato de a superfície da terra nos empurrar para cima.

Não possível para um observador dentro de um elevador que sobe com um movimento

acelerado dizer se está subindo ou se está sendo submetido a um campo gravitacional que o

puxa para baixo. O movimento ascendente do elevador vai fazer com que o raio que entrou

por um lado do elevador toque o outro lado um pouco mais abaixo. Segundo o princípio da

equivalência, o observador não deveria poder saber se isso resulta do movimento do elevador

ou da existência de um campo gravitacional que atrai a luz para baixo. Com isso, se concluiu

que um campo gravitacional também devia encurvar a trajetória da luz. 14

A gravidade real funciona da mesma forma. Assim como, por tanto curvar o espaço ao

seu redor, o sol mantém a terra em sua órbita, esta prende as pessoas ao chão ao criar sua

curvatura no espaço ao seu redor. Einstein também descobriu que, quanto maior a gravidade,

mais lento é o ritmo da passagem do tempo. Essa foi chamada por ele de “curvatura no tecido

espaço-tempo”.

A relatividade é aplicada, por exemplo, na calibragem dos satélites do GPS, que

orientam aviões e navios. Pela Relatividade Especial, sabe-se que a velocidade de 14 mil

km/h dos satélites faz seus relógios internos atrasarem 7 milionésimos de segundo por dia em

relação aos relógios da terra. Como estão a 20 mil km de altitude, entretanto, sentem menos a

gravidade e adiantam 45 milionésimos de segundo por dia. Considerando as duas variáveis,

dá um adiantamento de 38 milionésimos por dia, que precisa ser acertado no relógio do

satélite. Portanto, se não fosse pela teoria de Einstein, o sistema acumularia um erro de

localização de cerca de 10 quilômetros por dia.

Ao viajar pelo espaço a uma velocidade perto da velocidade da luz, uma pessoa terá a

percepção de as distâncias às outras estrelas e galáxias são menores do que para os demais na

terra. Quando regressar, verificará que o tempo terá passado, para ele, mais lentamente. Isso

14- MATSURA, Oscar. O que é a teoria da relatividade?. In: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-

e-a-teoria-da-relatividade Acesso em 20/Abril/2014

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corresponde ao chamado “paradoxo dos gêmeos”, isto é, se um dos gêmeos viajar, enquanto

outro aguarda seu regresso, eles teriam idades diferentes ao se encontrarem. 15

15-CAMPOS, T.O., Relatividade, In: http://tocampos.planetaclix.pt/astron/relat/relat.htm visto em 20 de abril de

2014.

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2.5 - As 4 forças da natureza

Os fenômenos do mundo material são descritos introduzindo-se uma variedade de

forças diferentes como a força peso, a força de atrito entre superfícies secas, a força de

viscosidade, a força normal, as forças elásticas de deformação dos corpos e a força

eletrostática, só para citar alguns exemplos. Contudo, descrevendo-se os fenômenos em

termos de seus componentes microscópicos básicos e suas interações mútuas, aquela

variedade de forças pode ser compreendida em termos de apenas quatro interações

fundamentais: a gravitacional, a nuclear fraca, a eletromagnética e a nuclear forte, que se

supõem, eram unificadas antes do Big Bang

A relação entre elas é apenas descrita em termos de intensidade, relativamente se

considerarmos a força nuclear forte como 1, a razão entre elas é :

Nuclear Forte (1); Eletromagnética (10-2); Nuclear Fraca (10-14); Gravitacional (10-37)

A FORÇA DA GRAVIDADE

A Gravidade é uma força de atração que atua entre absolutamente todas as partículas

no universo. É sempre atrativa, nunca repulsiva. Esta força junta à matéria, é responsável

pelo peso, por maçãs caírem das árvores, por manter a lua na sua órbita à volta da terra, os

planetas confinados nas suas órbitas à volta do sol, e por segurar galáxias em grupos.

A interação entre dois corpos de massas M e m separadas por uma distância r foi

estudada por Isaac Newton e expressa em forma de equação pela primeira vez em 1687 dada

pela força: F = G.M.m/r2 onde G = 6,674287x10-11 é denominada constante da gravitação

universal, e acredita-se que seja a mesma em qualquer parte do universo. Newton unificou as

mecânicas terrestre e celeste. Mais tarde, foi trabalhada por Einstein em sua Teoria da

Relatividade, que reuniu a geometria do espaço-tempo e a teoria da gravitação.

A FORÇA ELETROMAGNÉTICA

A força eletromagnética determina as maneiras em que partículas com carga elétrica

interagem umas com as outras, e com campos magnéticos. Esta força pode ser atrativa ou

repulsiva. Cargas elétricas com o mesmo sinal repelem-se; com sinais diferentes atraem-se. A

força eletromagnética segura os elétrons (cargas negativas) nas suas orbitais, à volta do núcleo

(carga positiva) do átomo.

A formulação clássica da força eletromagnética foi feita por James Clerk Maxwell. A

teoria clássica construída por Maxwell já era consistente com a teoria da relatividade especial

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de Einstein. O “casamento” desta teoria com a mecânica quântica, ou seja, a construção de

uma “Eletrodinâmica Quântica” foi realizada por grandes nomes da física tais como Feynman,

Tomonaga e Schwinger nos anos que compõem a década de 1940.

A FORÇA NUCLEAR FORTE

As forças fortes são aquelas responsáveis pelos fenômenos que ocorrem a curta

distância no interior do núcleo atômico. A estabilidade nuclear está associada à força forte. É

ela que mantém o núcleo unido evitando que os prótons que os constituem, por possuírem a

mesma carga elétrica, simplesmente sofram uma intensa repulsão e destruam o próprio átomo.

O trabalho pioneiro sobre as forças fortes foi realizado pelo físico japonês Hideki Yukawa em

1934 e descritas no “Proceedings of the Physical Mathematics Society of Japan”

A FORÇA NUCLEAR FRACA

As forças fracas são aquelas que explicam os processos de decaimento radiativo, tais

como o decaimento beta nuclear, o decaimento do pion, do muon e de várias outras partículas.

É interessante notar que esta força não era conhecida pela física clássica e que sua formulação

como teoria é estritamente quântica. A primeira teoria das interações fracas foi apresentada

por Fermi em 1933. Mais tarde ela foi aperfeiçoada por Lee, Yang, Feynman, Gell-Mann e

vários outros nos anos da década de 1950. Sua forma atual é devida a Glashow, Weinberg e

Salam, que a propuseram nos anos da década de 1960.

A UNIFICAÇÃO DAS FORÇAS

As quatro forças são distintas umas das outras e têm potências diferentes nas

temperaturas e energias que existem no universo do presente. Nas energias mais elevadas

obtidas com os aceleradores atuais de partículas, correspondentes a temperaturas de cerca de

1015 graus Kelvin, no entanto, as forças fraca e eletromagnética formam uma única força

eletrofraca. Segundo o que se chamam as Grandes Teorias Unificadas (Grand Unified

Theories - GUTs, em inglês), as forças forte e eletromagnética terão um comportamento de

uma força unificada em energias e temperaturas de cerca de um trilhão de vezes mais altas

ainda, o que está muito além da tecnologia presente na Terra.

Não foi alcançada ainda uma teoria completa (uma teoria de tudo, em inglês, “Theory

of Everything – TOE”) capaz de abranger todas as quatro forças. Mas muitos cientistas de

física acreditam que a níveis de energia ainda mais altos, a gravitação unir-se-á com as outras

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formando uma única super-força. Caso esta hipótese esteja correta, então, durante os

primeiros instantes do Big Bang, o universo era dominado pela super-força unificada. E,

conforme o universo expandiu e arrefeceu (e as energias das partículas diminuíram), as forças

separaram-se e adquiriram as suas identidades individuais.

Para tentarem explicar os estágios-chave na evolução do universo, os cosmólogos,

fundamentam-se no trabalho dos físicos que estudam partículas de alta energia. Como não há

na terra forma de se fazer experiências capazes de gerar as energias necessárias para testar

diretamente as Grandes Teorias Unificadas, os físicos que estudam partículas de alta energia

procuram observações cosmológicas para tentarem verificar a veracidade das suas teorias.

Todos os dados acima, foram obtidos na internet16

16-http://www.ufsm.br/gef/FNintr.htm Acesso em 10/11/2008 -http://www.fsc.ufsc.br/~canzian/particulas/texto1.html Acesso em 10/11/2008

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2.6 - A FÍSICA DAS PARTÍCULAS

Todas as partículas aqui citadas referem-se aos estados da energia-matéria possíveis em

todo o universo, mas na Terra e em todo seu espaço circundante não se comprovou a

existência de algumas partículas nas formas de matéria previstas pela Física de Partículas.

Um dos maiores esforços desta ciência foi a de catalogar e ordenar as partículas todas

que podem ser formadas nas mais diversas reações. Este trabalho ainda não está bem

completo, pois, apesar de já se ter criado o Standard Model (Modelo Standard ou Padrão),

ainda há falhas nas teorias e partículas por descobrir.

Assim, os físicos organizaram as partículas já descobertas, por exemplo, segundo as forças e

campos a que estão sujeitas e que as influenciam e segundo o seu spin (momento angular) ou

velocidade de rotação.

Classificação por forças a que estão sujeitas:

1- Hádrons (Férmions formados por quarks, interagindo pela força nuclear forte)

1.1- Bárions (Partículas pesadas constituídas por 3 quarks) 1.1.1- Estáveis 1.1.1.1 – Prótons 1.1.1.2 – Nêutrons 1.1.2 –Hipérions (Se degradam até formarem os nucleons) 1.1.2.1 - Sigma 1.1.2.2 - Xi 1.1.2.3 - Omega 1.1.2.4 – Lambda 1.2- Mésons (São bósons constituídos de um quark e um anti-quark) 1.2.1 – Pions 1.2.2 - Kaons

2- Léptons (Férmions sem estrutura interna, interagindo pela força nuclear fraca) 2.1 - Elétrons 2.2 - Muons 2.3 - Taons 2.4 - Neutrinos

Classificação por Spin

1- Férmions (obedecem ao princípio de exclusão de Pauli e têm spins representando

metade de um número inteiro multiplicado por uma constante h)

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1.1 - 1ª Categoria. 1.1.1 - Elétrons 1.1.2 - Neutrinos 1.1.3 - Quarks up 1.1.4 - Quarks down

1.2 - 2ª Categoria. 1.2.1 - Quarks Strange 1.2.2 - Quarks Charm 1.2.3 – Muons 1.2.4 - Muo-Neutrinos

1.3 - 3ª Categoria. 1.3.1 - Quarks Bottom 1.3.2 - Quarks Top 1.3.3 - Taus 1.3.4 -Tau-Neutrino

2- Bósons (Não são excludentes, podem existir em vários estados quântico-mecânico e têm spin igual a zero)

2.1 - Partículas W 2.2 - Partículas Z

2.3 - Fótons 2.4 – Gráviton

O BÓSON DE HIGGS

O Modelo Standard ou Padrão requer mais alguns dados para poder descrever

corretamente as massas dos quarks, dos léptons, e dos bósons W e Z.

Parece necessária a existência de um ou mais tipos de partículas e de mais um tipo de

interação. Esta interação tem pouco a ver com as interações entre as partículas, mas é

essencial para a explicação da criação da massa e da quebra de simetria (teoricamente

impossível) que implica a discrepância de valores de massa entre as partículas W (e Z) e os

fótons.

Esta partícula necessária associada a este campo é chamada “Bóson de Higgs”.

No Modelo padrão, o Bóson de Higgs é considerado como a partícula que proporciona

sua massa a todas as demais.

Ao tentar isolar os menores componentes da matéria, os físicos descobriram várias

séries de partículas elementares.

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Seis tipos de quarks, chamados “up”, “down”, “charm”, “strange”, “top” e “bottom”,

fazem parte dos componentes básicos ou “tijolos elementares” da matéria, como o elétron e

seus irmãos, o múon e o tau, e três tipos de neutrinos.

Estas 12 partículas interagem entre elas, por intermédio de mensageiros, chamados

bósons. Um deles é o fóton, que porta a radiação eletromagnética, e outro é o glúon, que

proporciona a coesão dos núcleos atômicos.

O fóton, que viaja à velocidade da luz, não tem massa. No entanto, nossa experiência

nos faz sentir a presença da matéria, composta por átomos e, portanto, também quarks e

elétrons.

Em 1964, por dedução, o físico britânico Peter Higgs postulou que existia o bóson que

hoje leva seu nome e que devia dar sua massa a outras partículas.

“A ideia é que existem partículas que se chocam permanentemente com bósons de

Higgs. Estes choques freiam seu movimento, que se torna mais lento, e dão a eles a aparência

de uma massa”, explica o físico e filósofo Etienne Klein.

O bóson de Higgs é chamado de “Partícula de Deus” por causa de um livro que teve o

título trocado. O Prêmio Nobel de Física Leon Lederman queria chamá-lo de “The Goddamn

Particle" (“a partícula maldita”), por ser difícil de encontrá-la. O editor tirou o termo “damn”

e colocou o título de “The God Particle”, já que temia que a palavra “maldita” fosse

considerada insultante.

Por fim, em julho de 2012, o Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN)

anunciou que acreditava tê-la encontrado.

Sua cautela inicial – podia tratar-se de outra partícula que não a formulada por Higgs –

foi abandonada em outubro de 2013, depois do anúncio da concessão do Nobel de Física aos

pais da descoberta. 17

17 http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2013/10/08/interna_internacional,457430/o

-boson-de-higgs-uma-particula-chave-para-a-fisica-fundamental.shtml acessado em

21/04/2014

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2.7 - Teoria das Cordas

Usamos aqui, um artigo publicado na Sciam por Nathan Jacob Berkovits 18 ,

condensando-o para tentar explicar esta teoria que vem desafiando os cientistas atualmente.

O sonho de todo físico é elaborar uma teoria única que englobe os quatro tipos de

força. Já se conseguiu uma teoria bem sucedida que unifica a força eletromagnética, a força

nuclear fraca e a força nuclear forte. Esta teoria é conhecida como Modelo Padrão. Entretanto,

não se trata de uma teoria que agrade aos físicos teóricos, por se tratar de uma verdadeira

colcha de retalhos. Ou seja, é um aglomerado de fórmulas e constantes que apesar de

predizerem com precisão o comportamento das partículas nos grandes aceleradores, ainda está

longe do sonho da unificação, principalmente, por não contemplar a força da gravidade. Esta

última é a mais rebelde de todas as forças, pois até hoje não se conseguiu elaborar uma teoria

quântica bem sucedida para explicá-la.

A “base” do modelo padrão é a teoria quântica da força eletromagnética. Porque a

teoria quântica de eletromagnetismo já foi testada (e verificada com a incrível precisão de

uma parte em um bilhão), a base do modelo padrão é extremamente sólida. As outras duas

forças no modelo padrão, a fraca e forte, são descritas usando generalizações dos conceitos

presentes na teoria quântica do eletromagnetismo. A grande maioria dos físicos acredita que a

estrutura básica do modelo padrão descreve corretamente a física subatômica. Posteriormente,

se surgirem discrepâncias entre o modelo padrão e experiências (ex.: neutrinos massivos),

será possível fazer modificações na mesma sem alterar a base.

Uma propriedade essencial do modelo padrão é que todas as partículas fundamentais

(ex.: elétron, fóton, quark etc.) são objetos pontuais. Porque a força entre duas partículas

depende inversamente da distância ao quadrado entre elas, a força diverge para o infinito

quando duas partículas pontuais se aproximam. Felizmente, no caso das três forças no modelo

padrão, este infinito é “curado” pelos efeitos quânticos. Mas no caso da força gravitacional, o

infinito persiste ainda depois de incluir os efeitos quânticos. Por esta razão não é possível

incluir a gravitação no modelo padrão sem alterar a base.

As tentativas de chegar à TOE começaram ainda na primeira metade do século XX.

Em 1919, o polaco Theodor Kaluza partiu das equações da relatividade geral e, desprezando

as massas e expandindo o problema a cinco dimensões (quatro espaciais e uma temporal), 18 Nathan Jacob Berkovits18 “Descobrindo a Teoria das Cordas” publicada na Scientific American Brasil, no. 20 de janeiro de 2004

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unificou os campos gravitacional e eletromagnético. Porém, para chegar a este resultado, teve

de anular arbitrariamente a dependência da quinta dimensão durante a demonstração. Ora, se

uma quinta dimensão não observável já levantava questões, o desaparecimento dela no

decorrer da demonstração foi o argumento final que levou a que esta teoria fosse ignorada

pela comunidade científica .

Em 1926, Oskar Klein resolveu o problema de Kaluza, propondo que uma das cinco

dimensões se dobrava sobre si própria, deixando de poder ser observada, sendo o raio de

curvatura da ordem dos m. Apesar de resolver certas questões em aberto (como a

quantificação da carga), esta retificação previa a existência de novas partículas de massas tão

grandes (da ordem da massa de Planck), que estava excluída a sua criação e, por isso, a sua

observação.

Por volta de 1940, as diferenças significativas entre os momentos magnéticos dos

prótons ou neutrons e dos elétrons levantaram algumas dúvidas sobre o caráter pontual das

partículas positiva e neutra do núcleo. Em 1943, Werner Heisenberg propõe que os prótons e

os neutrons sejam objetos extensos.

Numa época em que a mecânica quântica estava em plena expansão, estas ideias

caíram em (quase) total esquecimento. Em 1968, Gabriele Veneziano observou um estranho

fenômeno: grande parte das propriedades da força nuclear forte eram descritas pela função

beta de Euler, uma fórmula pouco conhecida, que tinha sido escrita pelo matemático

Leonhard Euler, 200 anos antes. Tal descoberta chamou a atenção da comunidade científica,

destacando-se três físicos (Yoichiro Nambu, Holger Nielsen e Leonard Susskind) que

demonstraram que as partículas elementares, consideradas como cordas, objetos a uma

dimensão, e não como pontos, eram perfeitamente descritas pela função beta de Euler. Nasceu

assim a Teoria de Cordas.

Percebeu se que a fórmula somente faria sentido se as partículas fossem interpretadas

como ressonâncias de uma corda vibrando. Cada ressonância diferente da corda

corresponderia a uma partícula fundamental específica, da mesma maneira que ressonâncias

diferentes de uma corda de violino correspondem a notas musicais diferentes. Investigando as

ressonâncias de uma corda fundamental, foi descoberto que uma das ressonâncias descreve a

partícula chamada “gráviton”, responsável pela força gravitacional. E outras ressonâncias da

corda descrevem partículas muito semelhantes aos elétrons, fótons e quarks do modelo

padrão. Além disso, as interações de objetos unidimensionais são mais suaves que as

interações de objetos pontuais, implicando que a força entre duas cordas não diverge para o

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infinito quando elas se aproximam. Então, existe a possibilidade de que a teoria de cordas

unifique o modelo padrão com a gravitação, sem enfrentar o problema dos infinitos quânticos.

Brian Greene, em seu livro “Universo Elegante”19, afirma que existem outras teorias

que também tentam unificar a gravitação com as outras forças.

A teoria de cordas está sendo “descoberta” e não “construída”, dessa forma, as

propriedades da teoria não podem ser ajustadas para coincidir com as propriedades desejadas.

Por exemplo, no caso em que os objetos fundamentais sejam pontuais, não existe

restrição sobre o número de dimensões do espaço-tempo do Universo. Mas a relatividade

restrita proíbe que dois pontos distintos troquem informação com velocidade superior à da

luz, o que pode causar uma contradição quando os dois pontos estão na mesma corda

fundamental. Para evitar esta contradição, é necessário que as cordas vibrem em dez

dimensões (nove dimensões de espaço e uma de tempo) em vez de quatro dimensões (três

dimensões de espaço e uma de tempo), que nos são familiares.

A exigência de dez dimensões representaria um problema sério para a teoria, a menos

que seis das dimensões fossem pequeníssimas. É preciso lembrar que a energia de uma onda

de luz é inversamente proporcional ao comprimento da onda, então, se as seis dimensões

forem pequeníssimas, seriam necessárias enormes quantidades de energia para observá-las. A

idéia de que nosso universo possa ter mais de quatro dimensões é antiga e, de fato, Einstein

utilizou-a para tentar unificar gravitação e eletromagnetismo. Existe a possibilidade de que

observações cosmológicas do universo jovem deem informações se o universo tem dimensões

adicionais ou não.

Outra descoberta dos idos de 1980 é que os infinitos quânticos que dificultam a

unificação de gravitação com o modelo padrão são eliminados somente se a teoria de cordas

tiver uma característica chamada supersimetria. As partículas da natureza são divididas em

dois tipos, bósons e férmions (vistos anteriormente), e a supersimetria implicaria numa

relação entre as massas dos bósons e as massas dos férmions.

Em 1980, Michael Green e John Schwarz ligaram melhor a Teoria de Cordas e a

Mecânica Quântica, demonstrando que a Teoria de Cordas abrange as quatro forças

fundamentais e toda a matéria existente. Nasceu então a Teoria das Supercordas, que junta a

Teoria das Cordas e a Supersimetria.

19 GREENE, Brian. O Universo Elegante - Supercordas, Dimensões Ocultas e a Busca da Teoria Definitiva. São

Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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Com a confirmação da existência do bóson de Higgs, podemos confirmar a

supersimetria, e por consequência, que a teoria de cordas descreve corretamente a unificação

de gravitação com o modelo padrão.

Em 1994, Edward Witten descobriu que todos os cinco tipos de supercordas estão

relacionados entre si por meio de simetrias chamadas “dualidades”, então eles são cinco

elementos da mesma descoberta. Dualidades são relações entre teorias aparentemente

diferentes, mas que descrevem a mesma física. Por exemplo, uma dualidade descoberta re-

laciona uma supercorda vibrando num espaço com tamanho R com outra supercorda vibrando

num espaço com tamanho 1/R. Esta dualidade se chama “simetria espelho”. Ela implica que

dois espaços diferentes podem descrever a mesma física.

Outra dualidade descoberta relaciona uma supercorda interagindo fortemente com

outra supercorda interagindo fracamente. Esta dualidade se chama “dualidade-S” e implica

que estados “livres” em uma supercorda estão relacionados com estados “ligados” em outra

supercorda. Os estados livres são mais fáceis de estudar que os estados ligados. Então

dualidade-S é útil para descrever um sistema complicado em termos de um sistema mais

simples. As posições dos estados ligados (ou “D-branas”) de uma supercorda são descritas por

matrizes em vez de números usuais. A multiplicação de matrizes depende da ordem de

multiplicação (“matrizes não comutam”), então as posições dos estados ligados na teoria de

supercordas formam um espaço “não-comutativo”.

Uma terceira dualidade descoberta por Juan Maldacena, físico argentino, relaciona

uma supercorda em D dimensões com uma teoria em D-1 dimensões. Esta dualidade está

baseada no princípio “holográfico”, que tem este nome porque um holograma é uma foto

bidimensional que carrega informação sobre o ambiente tridimensional de onde a foto foi

tirada. Uma aplicação importante deste princípio é descrever o interior de um buraco negro

em D dimensões em termos do horizonte do buraco negro em D-1 dimensões, que é útil para

entender a entropia associada a um buraco negro.

Além de serem relacionadas entre si, existe uma conjectura de que as cinco teorias de

supercordas também estão relacionadas com uma teoria, vivendo em onze dimensões,

chamada “teoria M”. A letra M no nome desta teoria foi escolhida pelo físico Edward Witten

para representar as palavras “mistério”, “mágica” ou “mãe”. Mais tarde foi sugerida que a

letra M também possa representar as palavras “matriz” ou “membrana”. A verdade é que

ainda não conhecemos todos os segredos da teoria M.

Hoje, a teoria de cordas é uma das áreas mais ativas da física teórica.

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Um esquecido sistema numérico inventado no século XIX pode fornecer a explicação

mais simples de por que o universo teria 10 dimensões.

Em 1958, três matemáticos provaram um fato incrível de que se suspeitava havia

décadas: qualquer álgebra de divisão deve ter uma dimensão (os números reais), duas

dimensões (os números complexos da forma a+b.i), quatro (quaternions na forma

a+b.i+c.j+dk , onde i,j e k são diferentes raízes quadradas de -1) ou oito (octônios )

Os números com oito dimensões, os octônios, têm assumido uma curiosa importância

na teoria de cordas. E, certamente, se a teoria de cordas for uma representação correta do

cosmo, eles podem explicar por que o universo tem um número surpreendente de dimensões.

Os octônios não seriam o primeiro pedaço da matemática pura mais tarde usada para

melhorar nosso entendimento do cosmos. Nem seria o primeiro sistema numérico alternativo

que mostraria ter usos práticos.

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2.8 - Computação Quântica

Computadores digitais são baseados em bits de informação que estão ou ligados ou

desligados – ou zero ou um. Os bits são organizados em estruturas grandes tais como

números, letras ou palavras que em última análise podem representar qualquer forma de

informação: texto, sons, figuras, imagens em movimento.

Já a base dos computadores quânticos são os qubits que essencialmente são zero e um

ao mesmo tempo. A posição, momentum ou outro estado de uma partícula fundamental

permanece indefinido até que decorrido o tempo de decoerência (tempo que um qubit

consegue manter seu estado coerente) aquela partícula “decide” onde ela está, onde ela esteve

e que propriedades possui. A esta capacidade de estar simultaneamente em vários estados

chama-se superposição, que é um dos mais específicos aspectos da mecânica quântica..

À medida que cada fóton atinge uma lâmina de vidro em um ângulo de 45 graus, por

exemplo, ele tem a escolha de viajar ou diretamente através do vidro ou refletir a partir do

vidro. Cada fóton, na verdade, tomará os dois caminhos até que um processo de observação

consciente força cada partícula decidir qual caminho irá tomar - comportamento que tem sido

extensivamente confirmado em numerosos experimentos contemporâneos.

Em um computador quântico, os qubits serão representados por uma propriedade

chamada de giro nuclear (nuclear spin) de elétrons individuais. Se configurados da maneira

correta, os elétrons não terão decidido a direção de seu giro nuclear (para cima ou para baixo)

e então estarão nos dois estados ao mesmo tempo. O processo de observação consciente do

estado do spin dos elétrons ou qualquer fenômeno subsequente dependente da determinação

destes estados causa a superposição a ser resolvida. Este processo de remoção da

superposição é chamado de decoerência quântica. Se não fosse pela decoerência quântica o

mundo em que vivemos seria verdadeiramente um lugar intrigante.

As séries de qubits representam simultaneamente cada solução possível para o

problema. Um simples qubit representa duas soluções possíveis. Dois qubits interligados

representam quatro soluções possíveis. Um computador quântico com 1.000 qubits representa

21000 (isto é aproximadamente igual a um número decimal consistindo de 1, seguido de 301

zeros) soluções simultâneas possíveis. A formulação do problema expressa como um teste a

ser aplicado às soluções possíveis é apresentado à string de qubits de maneira que os qubits se

tornam decoerentes (isto é, cada qubit altera de seu estado superposto 0-1 para um verdadeiro

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0 ou 1), deixando a séries de 0’s e 1’s que passaram no teste. Essencialmente todas as 21000

soluções possíveis foram testadas simultaneamente deixando somente a solução correta.

O processo de leitura da resposta através da decoerência quântica é obviamente a

chave da computação quântica.

Um exemplo comparativo entre o computador digital e o quântico mostra os códigos

de criptografia que são baseados na fatoração de grandes números. Fatorar um número com

várias centenas de bits é virtualmente impossível para qualquer computador digital mesmo se

tivéssemos bilhões de anos à disposição para esperar a resposta. Um computador quântico

pode testar cada combinação possível simultaneamente de fatores e quebrar o código em

menos do que um bilionésimo de um segundo (a comunicação do resultado para o observador

humano levaria um tempo maior). O teste aplicado pelo computador quântico durante a sua

passagem para o estado não superposto é muito simples: apenas multiplica um fator pelo

outro e se o resultado igualar ao código criptografado, então temos o problema solucionado.

Supõem-se que os computadores quânticos terão a habilidade para resolver problemas

que mesmo computadores digitais alinhados em paralelo são incapazes de resolver. Desde

maio de 2013, na SU (Singularity University – Universidade da Singularidade), o Google e a

NASA compartilham um computador quântico D-Wave instalado no Centro de Pesquisas

Ames, na Califórnia, buscando descobrir que aplicações podem rodar melhor do que nas

máquinas convencionais.

Richard Feynman, considerado o pai da nanotecnologia e ganhador do Prêmio Nobel

da Física, imortalizou algumas frases que se tornaram famosas, e até hoje são citadas em sites

da Internet. Uma delas, vista em http://kdfrases.com/autor/richard-feynman diz o seguinte “Se

você acha que entendeu alguma coisa sobre mecânica quântica, então é porque você não

entendeu nada.”

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2.9 - Nanotecnologia

Utilizamos para desenvolver este tema um artigo de internet de Kevin Bonsor e

Jonathan Strickland20.

O termo nanotecnologia foi introduzido em 1986 por Eric Drexler, quando ele

escreveu “Engines of Creation” (Motores da Criação). Antes disso, no entanto, Richard

Feynman, físico e futuro vencedor do Nobel, falou sobre o campo da miniaturização e como o

homem poderia criar dispositivos cada vez menores e mais poderosos. O tema foi abordado,

em 1959, quando deu uma palestra na American Physical Society chamada “There's Plenty of

Room at the Bottom” (Há muito espaço na Base).

Na última década, houve uma expansão da pesquisa científica sobre o tema, seguida

por inventores e corporações. No início de 2014, mais de 13 mil patentes foram registradas no

Escritório de Patentes dos EUA, que contém a palavra “nano”.

Por ser o primeiro ponto onde é possível montar algo, a nanoescala é considerada por

Horst Störmer, ganhador do prêmio Nobel, mais interessante que a escala atômica. Isso, pelo

menos, até começarmos a juntar os átomos e fazermos alguma coisa útil. A declaração foi

dada em 1998, em um seminário chamado “Small Wonders: The World of Nanoscience”

(Pequenas Maravilhas: O Mundo da Nanociência).

Como biólogos, químicos, físicos e engenheiros estão envolvidos no estudo de

substâncias à escala nanométrica, a nanotecnologia está rapidamente se tornando um campo

intermultidisciplinar. Para Störmer, no entanto, somente com o desenvolvimento de uma

linguagem comum para que essas diferentes disciplinas se comuniquem entre si, será

efetivamente ensinada a nanociência.

A nanoescala tem como um dos aspectos desafiadores o papel que a mecânica quântica

representa nela. Como as regras da mecânica quântica são muito diferentes da física clássica,

as substâncias à nanoescala podem, às vezes, contradizer o senso comum ao comportar-se de

forma errática. Não é possível andar até uma parede e imediatamente se teleportar para o

outro lado, mas à escala nanométrica um elétron pode – isso é chamado tunelamento de

elétrons. Substâncias que são isolantes podem se tornar semicondutoras quando reduzidas à

nanoescala. 20 Nanotecnologia por Kevin Bonsor e Jonathan Strickland em http://ciencia.hsw.uol.com.br/nanotecnologia6.htmAcessado em 18/04/2014

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Atualmente, duas estruturas de tamanho nanométrico de especial interesse foram

descobertas por cientistas. Uma delas são os nanofios, fios com um diâmetro de às vezes de 1

nanômetro, que poderão ser usados para construir transistores minúsculos para chips de

computador e outros dispositivos eletrônicos.

Outra estrutura são os nanotubos de carbono, que, nos últimos dois anos, têm ofuscado

os nanofios. Trata-se de um cilindro de átomos de carbono de tamanho nanométrico. Embora

todos sejam feitos de carbono, os nanotubos de carbono podem ser muito diferentes de uns

dos outros, dependendo de como se alinha os átomos individuais. Com a organização correta

de átomos, podem-se criar nanotubos de carbono centenas de vezes mais fortes que o aço,

porém seis vezes mais leves. Também podem ser semicondutores eficazes com o arranjo

correto de átomos. Cientistas ainda estão trabalhando na descoberta de formas de fazer dos

nanotubos de carbono uma opção para transistores em microprocessadores e outros

eletrônicos.

A nanotecnologia já existe no mercado, e está presente em muitos produtos comerciais

como protetor solar, vidro autolimpante, vestuário com proteção anti-UV, cobertura resistente

a arranhões, curativos antimicrobianos, tecidos resistentes a rugas, cosméticos de penetração

profunda, LCDs e outros. Também está nos microprocessadores Intel, a bio-nano baterias e

capacitores de apenas uns poucos nanômetros de espessura. Mas isso pode ser considerado

apenas a ponta do iceberg dos impactos da nanotecnologia no futuro.

Átomos e moléculas ficam juntos porque eles têm formas complementares que os

mantêm juntos, ou cargas que se atraem. Assim como com magnetos, um átomo carregado

positivamente vai grudar num átomo carregado negativamente. À medida que milhões desses

átomos forem colocados juntos por nanomáquinas, um produto específico começará a tomar

forma. O objetivo da manufatura molecular é manipular átomos individualmente e colocá-los

num padrão para produzir uma estrutura desejada.

O primeiro passo seria desenvolver máquinas nanoscópicas, chamadas montadoras,

que os cientistas podem programar para manipular átomos e moléculas à vontade. Mas só uma

máquina nanoscópica levaria milhões de anos para montar uma quantidade significativa de

material. Seriam necessários trilhões de montadores trabalhando juntos simultaneamente. Para

Eric Drexler, os montadores poderiam, primeiro, autorreplicar-se, construindo outros

montadores, resultando num crescimento exponencial até que fossem suficientes para

produzir objetos.

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O trabalho conjunto de montadores e replicadores poderia construir produtos

automaticamente, e eventualmente, substituir todos os métodos tradicionais de trabalho e

diminuir amplamente os custos de manufatura. Isso resultaria em mercadorias de consumo

abundantes, mais baratas e mais fortes. Finalmente, seria possível replicar, inclusive água e

alimentos, que teriam a sua escassez erradicada pelas nanomáquinas.

O maior impacto da nanotecnologia deve ser na indústria médica. Pacientes beberão

líquidos contendo nanorrobôs programados para atacar e reconstruir a estrutura molecular das

células do câncer e dos vírus. Há estudos de que os nanorrobôs poderiam atrasar ou reverter o

processo de envelhecimento, e a expectativa de vida poderia aumentar significativamente, ou

mesmo infinitamente. Os nanorrobôs também poderiam ser programados para realizar

cirurgias delicadas – como nanocirurgiões, eles trabalhariam num nível milhares de vezes

mais preciso que o mais afiado dos bisturis.

Ao trabalhar em uma escala tão pequena, um nanorrobô poderia operar sem deixar as

cicatrizes que uma cirurgia convencional deixa. Além disso, os nanorrobôs poderiam mudar

sua aparência física. Eles poderiam ser programados para realizar cirurgias cosméticas,

rearranjando seus átomos para mudar suas orelhas, seu nariz, sua cor de olho ou qualquer

outra característica física.

Para se atingir tal estágio, o desafio mais imediato na nanotecnologia é preciso

aprender mais sobre materiais e suas propriedades na nanoescala. Enquanto, universidades e

corporações de todo o mundo estão estudando rigorosamente como os átomos se encaixam

para formar grandes estruturas, estamos ainda aprendendo como a mecânica quântica impacta

as substâncias à nanoescala.

Há ainda a barreira técnica, fortemente relacionada à barreira do conhecimento. Temos

de encontrar formas de produzir em massa produtos de tamanho nanométrico como

transistores e nanofios.

É preciso ressaltar ainda algumas preocupações sociais sobre o uso da nanotecnologia,

que também pode permitir a criação de armas mais poderosas, letais e não letais. Uma das

preocupações de algumas organizações é que consigamos apenas examinar as implicações

éticas da nanotecnologia nos armamentos após a construção desses dispositivos.

É ético a nanotecnologia na medicina possibilitar que melhoremos fisicamente, mas,

na teoria, ela poderia nos tornar mais inteligentes, mais fortes e dar-nos outras possibilidades.

O que pode ser questionado é se devemos perseguir esses objetivos e podemos continuar nos

chamando de humanos, ou nos transformaríamos em trans-humanos. Como quase toda

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tecnologia pioneira, estaríamos criaríamos uma raça abastada de humanos modificados e uma

população mais pobre de pessoas inalteradas? Várias organizações estão encorajando os

nanocientistas a considerar agora essas implicações.

Além da alteração do corpo humano, outra questão levantada é a sua implicação no

mundo das finanças e da economia. Se a fabricação molecular se tornar uma realidade, o que

acontece com todos os empregos industriais?

A necessidade de responder a todas essas questões está em debate. Para alguns

especialistas, as preocupações com o trans-humano são muito prematuras. O certo é que

nanotecnologia vai continuar, definitivamente, a nos trazer impactos à medida que se aprende

mais sobre o seu enorme potencial.

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2.10 - Convergência Tecnológica

Não há unanimidade no conceito de singularidade como concebemos, entre os

cientistas. Futuristas e cientistas concordam que o aumento da taxa de mudança tecnológica,

isto é, a velocidade das transformações pós-humanas, estará crescendo com certeza. O ponto

de discordância, no entanto, refere-se à aceleração com que a velocidade das transformações

irá ocorrer: de forma constante, com crescimento linear ou com crescimento exponencial?

A expressão “novas tecnologias” é utilizada para englobar todos os desenvolvimentos

científicos que envolvam a engenharia genética, inteligência artificial e nanotecnologia. É

considerada inexorável a convergência destes ramos da ciência, sem a qual não haverá forma

possível de desenvolvimentos individuais. Sem denotação ainda exata desta convergência,

várias correntes científicas estão propondo significados diversos para a identificação do

agrupamento de tais tecnologias.

Em 2003, foi realizada a primeira conferência promovida pela NSF (National Science

Foundation) e pelo DOC (Departament of Commerce), intitulada “Improvement Human

Performance”. Daí surgiu o conceito de NBIC, que é a junção de Nanotecnologia,

Biotecnologia, tecnologia da Informação e ciência Cognitiva. Especialistas desses quatro

campos concordam sobre o potencial incrível de evolução tecnológica, que poderá ultrapassar

e direcionar a evolução biológica.

Em seu livro de 2005, “Radical Evolution - The Promise and Peril of Enhancing Our

Minds, Our Bodies -- and What It Means to Be Human”, o jornalista Joel Garreau usa GRIN,

de Genética, Robótica, Informação e Nano processos, enquanto o autor Douglas Mulhall em

Nosso Futuro Molecular usa GRAIN, de Genética, Robótica, Inteligência Artificial e

Nanotecnologia. Outra sigla que aparece em artigos científicos é o BANG de bits, átomos,

neurônios e genes.

Mas a sigla que adotaremos neste trabalho é GRN (genética, robótica e

nanotecnologia) , usada por Ray Kurzweil. Uma variante com a ordem das letras alteradas é

NRG, e é usada por alguns porque soa semelhante a “energia”.

Bill Gates, da Microsoft, em um artigo “Especulações sobre a primeira máquina

ultrainteligente”, afirmou que pesquisadores e empresas de biotecnologia vão estar no centro

do progresso da medicina, que devem apresentar avanços de “tirar o fôlego” nas próximas

duas décadas. Larry Ellison, da Oracle, rival de Bill Gates na indústria do software, concorda:

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“Se eu tivesse 21 anos de idade, eu provavelmente não iria entrar na área de computação. A

indústria da computação está prestes a tornar-se aborrecida. Eu iria para a engenharia

genética”.

O biólogo Craig Venter passou 10 anos (de 1990 a 2000), decodificando o genoma

humano, e agora ele está planejando criar novos genomas, criando formas completamente

novas de vida, a partir do zero. Venter fundou a empresa “Celera Genomics”, “The Institute

for Genomic Research e o “J. Craig Venter Institute”. Trabalha atualmente neste último, onde

desenvolve pesquisas acerca da criação de organismos biologicamente sintéticos .

Já o cientista e escritor Gregory Stock questiona “por que copiar as formas de vida,

quando podemos agora criar novas?”, em seu livro de 2002 “Redesigning Humans’: Taking

Charge of Our Own Heredity”

Com o controle da evolução biológica, questiona-se ainda por que não passar a vida à

base de silício ou muitas outras possibilidades, o que é permitido pela robótica e inteligência

artificial nos permitem fazer exatamente isso. O cientista Marvin Minsky, um dos pais da

inteligência artificial do MIT, escreveu um famoso artigo em 1994 “Robôs herdarão a

Terra?” na revista Scientific American, onde conclui que robôs herdarão a terra, mas eles

serão nossos filhos. “Nós devemos voltar nossas mentes para as mortes e as vidas de todas as

criaturas que nunca foram engajadas na batalha da evolução. Nosso trabalho é ver que todo

esse trabalho não deve acabar num lixo sem sentido”, completa.

Para o especialista em robótica Hans Moravec, autor de “Mind Children: The Future

of Robot and Human Intelligence” (1988) e “Robot: Mere Machine to transcend

mind” (1998), os robôs serão nossos descendentes legítimos e há várias maneiras explicadas

por ele de fazer upload de uma mente humana para um robô.

Um dos pioneiros em cibernética, Kevin Warwick vem implantando em seu próprio

corpo vários dispositivos de microchips. Em 2003, publicou um livro sobre suas

experiências: “I, Cyborg”. Sua citação mais famosa é a seguinte: “Eu nasci humano, mas este

foi um acidente do destino – apenas uma condição de tempo e lugar em que eu acredito que é

algo que temos o poder de mudar... O futuro está lá fora... Estou ansioso para ver o que ele

tem, que possa fazer algo com a minha vida. Eu quero ser um cyborg.”

Autores e pensadores sugerem que precisamos nos preparar para a realidade que vem

com a convergência tecnológica NBIC, incluindo a robótica e inteligência artificial.

Tal evolução tecnológica fará o homem transcender suas limitações biológicas e

tornar-se aquele que chamamos de pós-humano. Nessa transição para uma condição pós-

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humana, devemos nos preparar para a possibilidade de convivermos com várias formas de

vida altamente inteligentes e sensíveis.

Embora a evolução biológica através da seleção natural possa estar chegando ao fim, a

evolução tecnológica está apenas acelerando. A tecnologia começou, há alguns anos, a

mostrar domínio sobre os processos biológicos, mas agora está finalmente ultrapassando a

biologia como a ciência da vida.

O padrão de chips baseados em silício é apenas um meio intermediário para a eterna

vida inteligente no universo. Se o ser humano é a primeira espécie consciente de sua própria

evolução e limitação, os pós-humanos serão os humanos que transcenderem essas limitações.

Estes não dependerão apenas de sistemas baseados em carbono, mas também de silicone e

materiais que poderão ser desenvolvidos a partir da nanotecnologia.

A tendência de convergência GRN está extrapolando as fronteiras da academia. Ainda

há renomados pesquisadores ligados a grandes centros de pesquisa e universidades

tradicionais, detentores das verbas de financiamento científico, mas alguns pioneiros já estão

se ligando à iniciativa privada.

Empresas de tecnologia, que nasceram do boom da Informática e da Internet,

investiram incialmente em Inteligência Artificial e Robótica. Agora, começam a dar os

primeiros passos na convergência com a nanotecnologia e a genética, vislumbrando resultados

financeiros.

O principal exemplo talvez seja a Google, cuja maior contratação veio da área

acadêmica. Trata-se do seu atual diretor de tecnologia, Ray Kurzweil, sobre quem falaremos

com mais detalhes no capítulo 4. Adiantaremos somente que o trabalho de Kurzweil estará

focado no entendimento do cérebro humano, muito relacionado com seu mais recente livro

“How to Create a Mind: The Secret of Human Thought Revealed”. E o motor dessa pesquisa é

a convergência GRN.

Uma recente iniciativa da empresa foi o lançamento de uma companhia chamada

Calico, que será focada em saúde e desenvolvimento humano, através de pesquisas ligadas ao

envelhecimento humano. O CEO e fundador da Google, Larry Page, classifica a investida

como inovadora e ousada que pode mudar o futuro, inclusive prolongando nossas vidas. Pode

ser considerada, aliás, a mais ambiciosa proposta feita pela companhia até agora: seu objetivo

máximo é a imortalidade.

Ao apostar em projetos de longo-termo, o Google vai muito além do que outras

companhias fazem. Essa postura é reflexo da mentalidade de Page Larry, que sofre de doenças

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genéticas. Suas cordas vocais foram danificadas: uma é paralisada graças a uma doença rara e

a outra tem movimentos limitados depois de um resfriado intenso.

Mas o que levaria o Google a investir esforço e dinheiro em um projeto ambicioso

como a Calico, que tem a visão final da imortalidade?

Outras iniciativas já caminhavam no mesmo sentido, como a busca, por exemplo,

pelos chamados genes do envelhecimento. Desde 1992, a Academia Americana de

Antienvelhecimento desenvolve diversas pesquisas na área, que também são feitas pelas

universidades do mundo. Sem sucesso, empresas farmacêuticas também já tentaram entrar no

ramo.

A diferença do Google é que ela possui a estrutura necessária para enfrentar crises e

pesquisas a longo-termo, além de seu histórico de inovação e ambição para mudar o futuro.

Com a medicina cada vez mais próxima de uma ciência da informação, sendo possível coletar

uma quantidade enorme de dados do paciente, a capacidade da Google para tratar grandes

quantidades de informação lhe dá recursos necessários para investir nessa empreitada.

O projeto Calico é considerado uma ideia de Bill Maris, sócio da Google Ventures, que

era o gerente de portfólio de biotecnologia na Investor AB. Maris observou inúmeras

empresas todo focadas na cura ou minimização de várias doenças com o objetivo comum de

prolongar a vida e/ou melhorar a qualidade de vida. Mas nenhuma era focada na causa raiz da

doença e morte, ou seja, que as células do nosso corpo começam a falhar, em grande parte

devido à degradação dos nossos materiais genéticos. Com o genoma inteiro codificado, Maris

se perguntava se era possível realmente estudar as causas genéticas do envelhecimento e criar

drogas para resolvê-los.

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2.11 - A velocidade das descobertas científicas

Em pesquisas na Internet, fizemos um levantamento de um mês, em abril de 2014, das

novas descobertas e desenvolvimentos científicos no mundo, estritamente relacionados à

GRN, que foram divulgadas no site http://www.kurzweilai.net. Foram 33 divulgações, em

média, tivemos mais de uma por dia. Similares a este blog, existem muitos outros, o que torna

a quantidade de descobertas muito grande, e que nenhuma revista científica do porte da Sciam

teria condições de publicar, com todas as burocracias exigidas.

1- Chips simulando o cérebro humano processam informações ópticas de alta

velocidade

1º. de abril de 2014

Os pesquisadores da Universidade de Ghent criaram uma rede neural pequena de16

nós em um chip de fotônicos de silício, inspirado em como o cérebro humano funciona.

Notícia veiculada em -http://www.kurzweilai.net/high-speed-optical-information-

processing-on-chips-inspired-by-human-brain

2- Um “mini” coração' ajuda a circular o sangue venoso

1º. de abril de 2014

O pesquisador da George Washington University (GW) Narine Sarvazyan, Ph.D.,

inventou um novo órgão para ajudar a retornar o fluxo de sangue das veias com mal

funcionamento das válvulas.

-http://www.kurzweilai.net/a-mini-heart-to-help-return-venous-blood

3- Um “camundongo biônico” fez crescer um músculo auto regenerativo

2 de abril de 2014

Engenheiros biomédicos da Universidade Duke fizeram crescer músculos vivos que se

assemelham a coisa real. Contrai rápida e poderosamente, integra-se rapidamente em

camundongos e pela primeira vez, demonstra a capacidade de curar-se, tanto no interior do

laboratório como dentro do animal.

-http://www.kurzweilai.net/self-healing-engineered-muscle-grown-in-bionic-mouse

4- Um esquema de como construir um cérebro humano

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3 de abril de 2014

Pesquisadores do Instituto Allen para a ciência do cérebro criaram um plano

esquemático de como construir um cérebro humano com uma resolução anatômica sem

precedentes.

-http://www.kurzweilai.net/a-blueprint-for-how-to-build-a-human-brain

5- Primeiro roteiro abrangente dos cérebros dos mamíferos

3 de abril de 2014

Pesquisadores do Instituto Allen para a ciência do cérebro publicaram o Atlas de

conectividade cerebral de um camundongo, primeiro em grande escala, abrangente conjunto

de dados sobre como o cérebro de um mamífero é conectado, e descrito como ele é

naturalmente.

-http://www.kurzweilai.net/first-comprehensive-roadmap-of-the-mammalian-brain

6- Nanopartículas controladas magneticamente fazem células cancerígenas se auto-

destruírem

4 de abril de 2014

Pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, desenvolveram uma técnica para

usar nanopartículas controladas magneticamente para forçar as células do tumor para

"autodestruição." sem prejudicar os tecidos circundantes, como a radioterapia, e em tecidos de

outras partes do corpo, tal como acontece com a quimioterapia.

-http://www.kurzweilai.net/nanoparticles-that-cause-cancer-cells-to-self-destruct

7- Robôs virtuais ensinam a outro jogar videogames como Pac-Man e StarCraft

4 de abril de 2014

Pesquisadores na escola de engenharia elétrica e ciência da computação da

Universidade Estadual de Washington desenvolveram um método para permitir que um

computador dê conselhos e ensine habilidades para outro computador.

-http://www.kurzweilai.net/virtual-robots-teach-each-other-pac-man-and-starcraft-

video-games

8 - Esparadrapos eletrônicos adesivos para monitorar a saúde

7 de abril de 2014

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Engenheiros da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign e Northwestern

University desenvolveram adesivos macios e finos que esticam e movem-se juntamente com a

pele, usando chips comercialmente disponíveis, para monitoramento de saúde sofisticado e

sem fios.

-http://www.kurzweilai.net/stick-on-electronic-patches-for-health-monitoring

9 - Forçar as células cancerosas a devorar-se, bloqueando um sinal de proteína

9 de abril de 2014

Interferindo com uma única proteína e seu receptor cancerígeno, pode se transformar

esse mecanismo de resistência em canibalização auto letal. Pesquisadores do MD Anderson

Cancer Center da Universidade do Texas relatam na revista Cell Reports (acesso aberto).

-http://www.kurzweilai.net/forcing-cancer-cells-to-devour-themselves-by-blocking-a-

protein-signal

10- Regenerado um órgão vivo pela primeira vez

10 de abril de 2014

Uma equipe de cientistas da Universidade de Edimburgo, reconstruiu o timo (glândula

vascular) de um rato velho - a primeira regeneração de um órgão vivo. Após o tratamento, o

órgão regenerado tinha a estrutura similar ao de um rato jovem.

-http :/ / www.kurzweilai.net /-órgão vivo regenerado-para-primeiro-tempo

11 - Substituição de um gene defeituoso com uma seqüência correta para o tratamento

de doenças genéticas

10 de abril de 2014

Pesquisadores do MIT curaram ratos com uma doença rara do fígado causada por uma

única mutação genética; usando um novo gene criado com base da proteína da bactéria.

-http://www.kurzweilai.net/replacing-a-defective-gene-with-a-correct-sequence-to-

treat-genetic-disorders

12- Circuitos nanoelectrónicos que operam mais de 10.000 vezes mais rápido do que

os microprocessadores atuais

14 de abril de 2014

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Circuitos que operam a mais de 245 terahertz, 10.000 vezes mais rápido que o

microprocessador estado da arte atual, foi projetado e fabricado por pesquisadores

da Universidade Nacional de Cingapura e da Agência para a Ciência, Tecnologia e Pesquisa

(A * STAR).

-http://www.kurzweilai.net/nanoelectronic-circuits-that-operate-more-than-10000-

times-faster-than-current-microprocessors

13- Vaginas desenvolvidas em laboratório implantado em pacientes

14 de abril de 2014

Uma equipe de pesquisadores liderada por Anthony Atala, MD, diretor do Wake

Forest Baptist Medical Center Institute 's de Medicina Regenerativa, relatou na revista The

Lancet os primeiros receptores humanos dos órgãos vaginais cultivadas em laboratório, que

foram projetados com as suas próprias células.

- http://www.kurzweilai.net/laboratory-grown-vaginas-implanted-in-patients

14- Melhorar a conexão homem-robô

14 de Abril de 2014

Pesquisadores da University of British Columbia usaram um robô humano-amigável

chamado Charlie para estudar a simples tarefa de entregar um objeto para uma

pessoa. Pesquisas anteriores demonstraram que as pessoas têm dificuldade em descobrir

quando pegar e levar um objeto de um robô porque robôs não conseguem fornecer sinais não-

verbais apropriados.

- http://www.kurzweilai.net/eye-of-the-beholder-improving-the-human-robot-

connection

15- Modelo de tumor impresso em 3D permite o teste mais realista de como as células

cancerosas crescem e se espalham

15 Abril de 2014

Um grupo de pesquisadores da China e dos EUA criaram um modelo impresso em 3D

de um tumor cancerígeno para ajudar a descobrir novas drogas anti-câncer e entender melhor

como os tumores se desenvolvem, crescem e se espalham por todo o corpo.

- http://www.kurzweilai.net/3d-printed-tumor-model-allows-for-more-realistic-testing-

of-how-cancer-cells-grow-and-spread

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16- Materiais sintéticos transparentes podem proteger carros e pessoas

15 Abril de 2014

Pesquisadores do MIT analisaram as conchas de uma criatura do mar, o molusco

Placuna e sua placenta para determinar exatamente por que eles são tão resistentes à

penetração e danos - mesmo que eles sejam compostos por 99 por cento de calcita, um fraco,

mineral quebradiço.

-http://www.kurzweilai.net/bio-inspired-transparent-synthetic-materials-could-protect-

cars-and-people

17- Tomografia do cérebro funcionando prevê de forma confiável quais pacientes

vegetativos têm potencial para recuperar a consciência

17 de abril de 2014

A técnica de imagem funcional do cérebro conhecida como a tomografia por emissão

de pósitrons (PET) é uma ferramenta promissora para determinar quais os indivíduos com

graves danos cerebrais em estado vegetativo têm o potencial de recuperar a consciência, de

acordo com nova pesquisa publicada na revista The Lancet.

-http://www.kurzweilai.net/functional-brain-imaging-reliably-predicts-which-

vegetative-patients-have-potential-to-recover-consciousness

18- Foi produzida a nanomembrana mais fina possível

18 Abril de 2014

Pesquisadores da ETH Zurich, Empa, LG Electronics anunciaram ter criado a

nanomembrana mais fina possível. Feita de grafeno, é extremamente leve e poroso, e pode

levar a uma nova geração de roupa impermeável e de filtração ultra-rápida

-http :/ / www.kurzweilai.net / mais fino-possível-nanomembrane produzido

19- Um roteiro para a computação neuromórfica

22 de Abril de 2014

Engenheiros elétricos do Georgia Institute of Technology publicaram um roteiro que

detalha técnicas inovadoras que eles acreditam que poderia tornar possível construir um

computador neuromórfico (inspirado no cérebro) baseado em sua prática, minimizando as

necessidades de energia.

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-http://www.kurzweilai.net/neuromorphic-computing-roadmap-envisions-analog-path-

to-simulating-human-brain

20- Criação espontânea de célula em modelos de células artificiais

22 de Abril de 2014

Cientistas da Escola Internacional de Estudos Avançados (SISSA) de Triest disseram

ter dado o primeiro passo para a criação de células artificiais que funcionam reproduzindo

motilidade em seus modelos de computador, fazendo com que as "células" se dividam de

forma espontânea, sem a ação de forças externas

-http :/ / www.kurzweilai.net / criação espontânea de células-division-in-cell-modelos

artificiais

21- Construindo terapias celulares "inteligentes"

22 de abril de 2014

Uma equipe de biologia sintética da Northwestern criou uma nova tecnologia para

modificar as células humanas criando terapias programáveis que poderiam viajar pelo corpo e

seletivamente atacar o câncer e outros locais de doença.

-http :/ / / www.kurzweilai.net-terapias baseadas em células-edifício inteligente

22- Futuros chips podem operar em dimensões atômicas

23 de Abril de 2014

Em um esforço para encolher dispositivos eletrônicos para dimensões atômicas,

pesquisadores da Universidade de Cornell e do Brookhaven National Laboratory

demonstraram como mudar o óxido de metal de transição de um material a partir de um metal

para um isolante, tornando o material com menos de um nanômetro de espessura.

-http :/ / www.kurzweilai.net / futuros-chips-pode operar-at-dimensões atômicas

23- Éxcitons observados em ação pela primeira vez

23 de abril de 2014

Cientistas do MIT e da Universidade da Cidade de Nova Iorque têm imagens do

movimentos de éxcitons pela primeira vez. A partícula quântica chamada éxciton que é

responsável por transferir energia entre aparelhos como células solares, LEDs e circuitos

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semicondutores, é conhecida teoricamente há décadas, mas seu movimento nunca tinha sido

visto.

-http :/ / www.kurzweilai.net / excitons observou-em-ação-para-o-primeiro-tempo

24- Uma maneira rápida de medir o reparo do DNA

24 de Abril de 2014

Pesquisadores do MIT desenvolveram um teste que pode avaliar rapidamente diversos

sistemas de reparo do DNA, o que pode ajudar a determinar o risco de desenvolver câncer de

indivíduos e ajudar os médicos a prever como um determinado paciente irá responder às

drogas quimioterápicas.

-http :/ / www.kurzweilai.net / fast-forma-a-medida-de reparo do DNA

25- Menos de mielina encontrada em neocórtex: o futuro do cérebro?

24 de Abril de 2014

Neurocientistas de Harvard fizeram uma descoberta sobre a mielina que avança 160

anos de neuroanatomia em sua cabeça. Mielina é um material isolante essencial para a

transmissão de impulsos entre axions e células nervosas.

-http :/ / www.kurzweilai.net / menos mielina encontrado-em-neocórtex-o-futuro-da-

cérebro

26- Nanodispositivos DNA

25 de Abril de 2014

Cientistas do Instituto Wyss para Engenharia Biológica da Universidade de Harvard

construíram os primeiros nanodispositivos de DNA que sobrevivem as defesas imunitárias do

organismo. Isto permitirá que nanorobots de DNA diagnostiquem o câncer.

-http :/ / www.kurzweilai.net / camuflada-DNA-nanodispositivos

27- IBM inventa '3 D nanoprinter 'para objetos microscópicos

25 de Abril de 2014

Cientistas da IBM dizem ter inventado um pequeno “cinzel” manométrico, com uma

ponta de silício aquecido que cria padrões e estruturas em escala microscópica

- http://www.kurzweilai.net/ibm-invents-3d-nanoprinter-for-microscopic-objects

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28- Pulsos elétricos levando terapia genética pode restaurar a qualidade de audição

para os usuários de implante de labirinto

28 de Abril de 2014

Pesquisadores da UNSW Austrália usaram pulsos elétricos a partir de um implante de

labirinto para inserir a terapia genética em animais, renovando com sucesso nervos auditivos.

-http://www.kurzweilai.net/electric-pulses-for-delivering-gene-therapy-may-restore-

hearing-quality-for-cochear-implant-users

29- Camada de pele cultivadas a partir de células-tronco humanas poderia substituir

animais em testes de medicamentos e cosméticos

28 de Abril de 2014

Uma equipe internacional liderada por King’s College London e pelo Centro Médico

de Veteranos de San Francisco (SFVAMC) desenvolveu as primeiras epidermes cultivadas

em laboratório (a camada mais externa da pele) com uma barreira de permeabilidade

funcional semelhante à pele real.

-http://www.kurzweilai.net/skin-layer-grown-from-human-stem-cells-could-replace-

animals-in-drug-and-cosmetics-testing

30- Uma nova opção de desligar para neurônios

28 de Abril de 2014

Os cientistas do Howard Hughes Medical Institute (HHMI) descobriram uma maneira

de silenciar (desligar) neurônios individuais, usando optogenetics, que anteriormente só

poderia ligar neurônios.

-http :/ / www.kurzweilai.net / a-nova-off-switch-para-neurônios

31- Controlar as ondas cerebrais para ficar visualmente consciente

29 de abril de 2014

Pesquisadores do Instituto Beckman usaram uma nova técnica para determinar a forma

como o cérebro processa os estímulos externos que chegam (ou não chegam) à nossa

consciência.

-http :/ / www.kurzweilai.net / controle-ondas cerebrais-to-stay-visualmente-aware

32- O potencial do grafeno para reformular neurocirurgia

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29 de Abril de 2014

Grafeno pode levar a novas aplicações no diagnóstico e tratamento de doenças

neurológicas, de acordo com um relatório na edição de maio de Neurosurgery, jornal oficial

do Congresso de Cirurgiões Neurológicos. O documento também pode servir como uma

introdução geral às propriedades do grafeno e seus usos futuros.

- http://www.kurzweilai.net/graphenes-potential-to-reshape-neurosurgery

33- Como a sinapse se mantem estável quando se renovam suas proteínas

30 de abril de 2014

Pesquisadores do Max Planck Institute of Neurobiology em Martinsried conseguiram

explicar como a sinapse se mantem estável por longo período apesar de suas proteínas se

renovarem regularmente.

http://www.kurzweilai.net/how-a-synapse-stays-stable-when-its-proteins-are-renewed

Essa enxurrada de descobertas científicas que estão sendo divulgadas mostra a

exponencialidade das conquistas em relação ao tempo, e todas estas conquistas se convergem

no GNR, que, por sua vez, está beneficiando o ser humano, o transformando em Pós-humano.

É difícil acreditar que em uma ou duas décadas não haverá mudanças de grandes proporções,

que afetarão a humanidade.

Também, todas estas mais recentes descobertas são relatadas de forma jornalística,

porque este novo mundo que está surgindo de leitores ávidos por novidades científicas estão

exigindo mais e mais rapidez de divulgação. Mesmo entre os pesquisadores, esta divulgação é

importante, pois pode indicar caminhos alternativos de soluções, ou mesmo até evitar

dispêndio de recursos em experiências que já foram realizadas.

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CAPÍTULO 3

IMORTALIDADE

A imortalidade ainda é um assunto muito polêmico. Há sutis citações dos autores da

academia a respeito do tema, onde ainda é tratado com muito ceticismo, e a extremamente

forte convicção de alguns cientistas de vanguarda, capitaneados por Ray Kurzweil. Como este

tema ainda não é totalmente aceito pela comunidade científica, principalmente as áreas

acadêmicas de maior complexidade, não encontramos publicações nos moldes tradicionais da

divulgação científica que o aborde com detalhes necessários, apenas algumas referências

pequenas e não conclusivas.

Portanto, utilizamos, para trabalhar o tema, duas formas diferentes de comunicação

alternativa das conquistas científicas. Uma primeira parte, baseada nos conceitos de Ray

Kurzweil, encontrados em seus livros “A era das máquinas espirituais”, de 2007,

“Singularity is near” (2005) e “How to create a mind – The secret of human thougtht

revealed” (2014).21

A segunda parte é uma transcrição do programa “Os grandes mistérios do Universo

com Morgan Freeman” exibido em dezembro de 2013 pelo Canal Discovery Science de TV a

cabo. Neste caso, as imagens que esclarecem muitos dos conceitos são apenas relatadas no

texto. A mídia televisiva utilizada por Freeman consiste de diversos depoimentos de vários

cientistas, que utilizaram uma linguagem o mais popular possível, recorrendo a metáforas e

exemplos corriqueiros no intuito de se fazer compreender por um público de fora da

academia, mas que tem curiosidade pelos assuntos, e que, aos poucos, está se familiarizando

com os termos científicos.

21 KURZWEIL, R. A era das máquinas espirituais. Editora Aleph, 2007; Singularity is near. Nova

York: Vicking Penguin, 2005; How to create a mind – The secret of human thougtht revealed Nova

York: Vicking Penguin, 2014.

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3.1 - A Imortalidade segundo Kurzweil

Ray Kurzweil, em seu livro The Age of Spiritual Machines – When Computer Exceed

Human Intelligence, descreve a seguir o cotidiano de um futuro talvez não tão distante,

quando o implante de neurônios estiver plenamente viabilizado.

“O pensamento humano está se fundindo com o mundo da inteligência de máquina que a espécie humana inicialmente criou. A engenharia reversa do cérebro humano parece estar completa. As centenas de regiões especializadas foram totalmente escaneadas, analisadas e compreendidas. Análogos de máquinas são baseados nesses modelos humanos, que foram aprimorados e estendidos, juntamente com muitos novos algoritmos maciçamente paralelos. Esses aprimoramentos, combinados com as enormes vantagens na velocidade e na capacidade dos circuitos eletrônicos/fotônicos, fornecem vantagens substanciais para a inteligência baseada nas máquinas. As inteligências baseadas em máquinas derivadas inteiramente desses modelos estendidos de inteligência humana afirmam ser humanas, embora seus cérebros não sejam estruturados em processos celulares baseados em carbono, mas sim equivalentes eletrônicos e fotônicos. A maioria dessas inteligências não está vinculada a uma unidade de processamento computacional específica (isto é, peça de hardware). O número de humanos baseados em software excede em grande parte os que ainda utilizam computação baseada nos neurônios nativos.” (KURZWEIL 2000, p.316)

Seria esta a descrição da imortalidade, que foi preconizada por inúmeras pessoas,

incluindo profetas do passado, romancistas, filósofos e cientistas?

Escanear o cérebro humano para baixar seus dados é a finalidade dos estudos de

mapeamento em desenvolvimento que assistimos hoje. Este mapeamento envolve os locais,

interligações e conteúdo de todos os axônios, dendritos, vesículas pré-sinápticas,

concentrações de neurotransmissores e outros componentes neurais em todos os seus níveis.

Depois de mapeado, tudo isso pode ser recriado em um computador neural de capacidade

suficiente, incluindo o conteúdo da sua memória.

Para fazer isso, precisamos entender os processos cerebrais. A digitalização de um

cérebro com detalhes suficientes para copiá-lo pode parecer uma tarefa hercúlea, mas temos

que pensar que já fizemos a varredura do genoma humano, portanto é um desafio talvez mais

complexo, mas não impossível. Todas as tecnologias básicas existem hoje, mas não com a

velocidade, custo e abrangência necessários, mas estes atributos estão melhorando em ritmo

exponencial, e logo atingirão o nível necessário.

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Os aspectos de funcionamento computacional dos neurônios individualmente são

complicados, mas temos capacidade e condições de simulá-los com precisão. Citamos aqui

alguns exemplos de conquistas tecnológicas relacionados a implantes neurais, que foram

citados por Ray Kurzweil (2007, p. 178-180):

“O neurobiólogo Ted Berger e seus colegas na Hedco Neurociências e Engenharia, construíram circuitos integrados que correspondem precisamente às propriedades e ao processamento de informações de grupos de neurônios de animais. Os chips reproduzem exatamente as características digitais e analógicas dos neurônios analisados. O experimento envolve também clusters com centenas de neurônios. O professor Carver Mead e seus colegas do Instituto de Tecnologia da Califórnia também construíram circuitos integrados que emulam as características dos circuitos neurais dos mamíferos.”

Uma experiência recente no Instituto de Ciência Não Linear de San Diego demonstrou

o potencial de neurônios eletrônicos que conseguem emular precisamente os neurônios

biológicos. Cada neurônio atua de forma essencialmente imprevisível, por isso dizemos que

eles executam uma computação caótica. Quando uma rede de neurônios recebe um sinal de

input (do exterior ou de outras redes de neurônios), a sinalização entre eles parece ser

frenética e aleatória. Ao longo do tempo, geralmente uma fração de um segundo ou menos,

cessa a interação caótica dos neurônios, e emerge um padrão estável. Esse padrão representa a

“decisão” da rede neural. Se a rede neural está realizando uma tarefa de reconhecimento de

padrão (que, aliás, compreende mais de 95% da atividade no cérebro humano), então, o

padrão que surge estabilizado, é o padrão adequado, que está sendo procurado. A questão

abordada pelos pesquisadores de San Diego foi se os neurônios eletrônicos poderiam envolver

se nesta dança caótica juntamente com os biológicos. Eles prepararam uma rede de neurônios

artificiais que foi acoplada a uma rede de neurônios artificiais, criando uma única rede

híbrida. A performance desta rede híbrida foi a mesma de uma rede biológica, ou seja, uma

iteração caótica, seguida de um padrão emergente estável. Em suma, os neurônios biológicos

aceitaram seus pares eletrônicos, indicando que o modelo matemático projetado destes

neurônios era correto.

Existem projetos ao redor do mundo que estão tentando criar dispositivos não

biológicos para substituir com precisão a funcionalidade de redes de neurônios humanos.

Quando a capacidade dos computadores estiver suficiente para emular o cérebro

humano, projetos já em curso (como os que Ray está trabalhando junto com o Google) para

escanear o cérebro humano e recriá-lo artificialmente serão exponencialmente acelerados,

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tanto para entender o cérebro humano em geral, com seus reconhecimentos de padrões,

nuances, sentimentos, sonhos etc., bem como recriar artificialmente todos os detalhes de

comportamento humano. Isto deve acontecer antes do fim da terceira década do século XXI.

Mas, temos ainda uma grande dúvida: O cérebro humano é igual a um computador? A

resposta depende do que queremos dizer com a palavra “computador”. Certamente, o cérebro

usa métodos muito diferentes dos computadores contemporâneas convencionais. A maioria

dos computadores hoje são todos digitais e realizam uma operação (ou talvez algumas

operações) por vez, porém, em altíssima velocidade. Em contraste, o cérebro humano

combina métodos analógicos e digitais com a maioria dos cálculos realizados no domínio

analógico. O cérebro é massivamente paralelo, realizando na ordem de 100 trilhões de

cálculos ao mesmo tempo, mas em velocidades extremamente lentas.

No que se refere à questão digital versus analógico em computação, sabemos que a

computação digital pode ser funcionalmente equivalente a computação analógica (embora o

inverso não seja verdadeiro), então, podemos realizar todas as operações em um híbrido

digital — rede analógica em um computador totalmente digital. Por outro lado, há uma

vantagem técnica para circuitos analógicos, que faz a computação analógica ser milhares de

vezes mais eficiente. Uma computação analógica pode ser realizada por alguns poucos

transistores, ou, no caso de neurônios de mamíferos, processos eletroquímicos específicos. Já

uma computação digital requer milhares ou dezenas de milhares de transistores. Então, há

uma vantagem significativa de eficiência para emular métodos analógicos do cérebro.

O paralelismo maciço do cérebro humano é a chave para suas habilidades de

reconhecimento de padrão, que reflete a força do pensamento humano. Conforme discutido

acima, os neurônios de mamíferos se envolvem em uma dança caótica, e quando a rede neural

aprendeu bem suas lições, um padrão estável emergirá refletindo a decisão da rede. Não há

nenhuma razão para que nossas criações não funcionem usando os mesmos princípios das

redes neurais biológicas. A maioria dos projetos que está sendo desenvolvida no mundo usa

este princípio da computação caótica. Os chips neurais de Carver Mead, citado acima, usa

computação analógica simulada por uma computação digital, tornando os processamentos

altamente paralelos, para simular a rede biológica.

Como criamos redes neurais não biológicas, que podem simular as funções de dezenas

de redes neuronais, ou até mesmo do cérebro humano inteiro, podemos combinar as

qualidades do pensamento humano com certas vantagens da inteligência de máquina. Os

conhecimentos e habilidades existentes no cérebro humano, que detém inúmeros padrões de

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conexões interneuronais, concentrações de neurotransmissores e outros elementos neurais,

podem ser melhoradas com a introdução de redes artificiais. Embora seja notável a evolução

do cérebro humano através da seleção natural, até se tornar este órgão complexo e

maravilhoso que possuímos hoje, tem alguns aspectos extremamente ineficientes em sua

concepção. Os neurônios são muito volumosos e têm processamento pelo menos dez milhões

de vezes mais lento que os circuitos eletrônicos. Quando pudermos aumentar artificialmente

esta velocidade de processamento e memória com capacidade quase infinita, teremos uma

combinação maravilhosa.

O conhecimento adquirido com a engenharia reversa do cérebro humano estará

criando máquinas mais inteligentes que não são necessariamente modeladas em indivíduos

específicos. Isto geraria uma questão de identidade. Quando escanearmos o cérebro de alguém

e reinstalamos seus arquivos pessoais contidos na mente, para um meio adequado de

computação, a recém emergente “pessoa” terá a mesma personalidade, história e memória,

que a pessoa original. Interagir com a pessoa recém-instalada será o mesmo que interagir com

a pessoa original. A nova pessoa vai alegar ser a mesma pessoa velha e se lembrará de ter sido

essa pessoa. A nova pessoa terá todos os padrões de conhecimento, habilidade e personalidade

da original.

Será muito importante termos um corpo físico onde se aloja o cérebro. Muito dos

nossos pensamentos são dirigidos para o nosso corpo e sua sobrevivência, segurança,

nutrição, imagem, para não mencionar o afeto, sexualidade e reprodução. Muitos dos nossos

objetivos de vida têm a ver com os nossos corpos: protegê-los, proporcionar-lhes alimentação,

torna-los atraentes, fazê-los sentir bem, satisfazendo seus inumeráveis desejos e necessidades.

Alguns filósofos afirmam que uma inteligência humana de alto nível é impossível sem um

corpo. Portanto, este novo cérebro teria que ter um corpo, e logicamente de melhor qualidade

que o anterior. Uma mente desencarnada vai ficar deprimida rapidamente.

Em 2009, os cientistas Jack W. Szostak, Carol W. Greider e Elizabeth H. Blackburn

ganharam o Prêmio Nobel de Medicina por apresentarem um trabalho relevante sobre a causa

do envelhecimento das nossas células. Obviamente, vários fatores concorrem para a

degeneração celular, mas um dos fatores cruciais foi encontrado por eles – os “telômeros” dos

nossos cromossomos.

Quando a célula se divide para regenerar ou promover o crescimento de um tecido do

corpo, as extremidades dos cromossomos representadas exatamente pelos telômeros vão

sendo desgastadas sem que haja a reconstituição das partes que são progressivamente

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destruídas na medida em que as divisões celulares vão ocorrendo. Curiosamente, as células

cancerígenas que se dividem de forma desordenada conseguem reconstituir o telômero dos

seus cromossomos, porque nelas a enzima Telomerase atua na reconstituição dos telômeros

que são desgastados a cada divisão celular. Acontece que essas enzimas ativas nas células

cancerosas, infelizmente, são pouco produzidas nas células normais de um adulto. É

essencialmente a enzima telomerase que impede que o tumor cancerígeno seja destruído após

determinado crescimento, pois as células continuam sendo produzidas indefinidamente.

Algumas pesquisas com ratos mostraram que os grupos que possuíam mais

telomerases nas células viviam 50% mais do que os que possuem menos telomerases.

Entretanto, morriam posteriormente de câncer. Depois de algum tempo, os pesquisadores

conseguiram controlar a difusão das células cancerígenas em ratos viabilizando a pesquisa em

seres humanos.

Segundo o geneticista britânico Aubrey de Grey, da Universidade de Cambridge, se

for injetado periodicamente células-tronco em nosso corpo, elas passariam a produzir novas

células com o potencial total para multiplicações celulares, pois seus telômeros não estariam

desgastados. Com isso, os tecidos e consequentemente os orgãos seriam constantemente

renovados. “Faríamos um transplante periódico, e as células tronco seriam iguais às originais

do nosso corpo, só que novas em folhas”, afirma Grey. O organismo permaneceria sempre

jovem.

Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, o

pâncreas de alguns voluntários submetidos ao tratamento para diabetes mellitus, ao receber

células-tronco, respondeu sintetizando insulina e eles deixaram de ser dependentes de injeções

diárias. A proposta de transplantes de células-tronco de Grey, como se vê, não está longe da

realidade.

Atualmente, em 2014, cientistas de vários países acreditam que daqui a 30 ou 40 anos

não haverá expectativa de vida finita – para Aubrey de Grey, teremos um controle pleno sobre

o processo de envelhecimento, de tal modo, que as pessoas poderão viver indefinidamente.

Tal concepção não é mais considerada “Ciência marginal” como antigamente, pois não é

apenas especulativa, tanto que algumas pesquisas nesse campo já foram premiadas com o

Nobel.

Há também uma variedade de corpos que poderemos criar para nossas máquinas, não

somente a manutenção do corpo atual. Eles também podem criar para si mesmos: corpos

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construídos através de nanotecnologia, corpos virtuais (que só existem na realidade virtual) e

mesmo corpos compostos de um enxame de nano robôs (nanobots).

Um cenário comum será o cérebro biológico de uma pessoa estar intimamente ligado a

uma inteligência artificial. Neste caso, o corpo será o bom e velho corpo humano que estamos

familiarizados, porém bastante reforçado através da biotecnologia (melhoramento e

substituição dos genes) e, mais tarde, através da nanotecnologia.

Falamos anteriormente em computador neural, ou computador com capacidade para

simular o processamento massivamente paralelo do nosso cérebro. Em vez de ser um

dispositivo digital tipo ligado/desligado ou passa/não passa (como transistores) ou zero e um,

falamos no capítulo 2 de uma computação com uma nova concepção, chamada de

computação quântica. Computação quântica é computação usando o que é conhecido como

“qubits”, que assumem todas as combinações possíveis de soluções simultaneamente. Ou seja,

em vez de zero ou um, assumem todas as posições entre zero e um. Pode ser considerada uma

forma extrema de processamento paralelo (porque cada combinação de valores de qu bits é

testada simultaneamente). Já vimos também que a NASA e o Google possuem um protótipo

deste tipo de computador ainda não operacional. Mas o caminho já está delineado e o

computador neural será um computador quântico.

Outra tecnologia que está se desenvolvendo em todos os ramos da ciência é a

nanotecnologia. Consideremos vários exemplos desta tecnologia que criará os nanobots que

deverão ser utilizados no escaneamento e expansão do nosso cérebro. Os nanobots poderão

simular uma realidade virtual totalmente imersiva e convincente. Os nanobots se posicionam

próximos a cada conexão interneuronal com impulsos vindos de todos os nossos sentidos

(olhos, nariz, ouvidos, pele). Já dominamos a tecnologia eletrônica de se comunicar com os

neurônios em ambas as direções que não requer o contato físico direto com os neurônios.

Cientistas do Instituto Max Planck desenvolveram “transistores de neurônio” que podem

detectar o disparo de um neurônio nas proximidades, ou alternativamente, pode fazer um

neurônio próximo disparar ou parar. Isso equivale a comunicação bidirecional entre os

neurônios e os transistores de neurônio eletrônico. Os cientistas do Instituto demonstraram

sua invenção, controlando o movimento de uma sanguessuga através do seu computador. O

principal aspecto da realidade virtual baseado em nanobots que ainda não é viável é o

tamanho e o custo.

A tecnologia dos nanobots será capaz de expandir nossas mentes de praticamente

qualquer forma imaginável. Hoje, nossos cérebros são projetados para serem limitados.

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Mesmo que nós adicionemos padrões de conexões interneuronal e concentrações dos

neurotransmissores como uma parte normal do processo de aprendizagem, a capacidade total

atual do cérebro humano é altamente finita, restrita a meros 100 trilhões de conexões.

Implantes cerebrais baseados em massivamente distribuídos nanobots inteligentes, em última

análise, irão expandir nossa memória um trilhão de vezes e também melhorar enormemente

nossas sensações, padrão de reconhecimento e habilidades cognitivas. Os nanobots se

comunicando um com o outro através de uma rede local sem fios podem criar qualquer

conjunto de novas conexões neurais, podem quebrar as conexões existentes (suprimindo o

disparo neural), podem criar novas redes híbridas biológica-artificial, bem como adicionando

novas redes artificiais.

Usando os nanobots como extensores do nosso cérebro, teremos uma melhoria

significativa nos implantes neurais através de cirurgias, que estão começando a serem usados

hoje. Nanobots no futuro serão introduzidos sem cirurgia, essencialmente apenas por injeção

ou mesmo ingestão. Eles podem ser direcionados a sair, caso necessário, tornando o processo

completamente reversível. São programáveis e podem fornecer em um minuto uma realidade

virtual e uma variedade de extensões do cérebro no próximo. Eles podem alterar a sua

configuração e claramente podem alterar o seu software. Talvez, o mais importante é que eles

são massivamente distribuídos e, portanto, podem levar até bilhões ou trilhões de posições em

todo o cérebro, considerando que um implante neural cirúrgico só pode ser colocado em um

ou no máximo alguns locais.

Poderemos viver para sempre quando nosso cérebro absorver toda tecnologia

programada e se tornar completamente desenvolvido? A resposta depende do que entendemos

por viver e morrer. Considere o que nós fazemos hoje com nossos arquivos pessoais do

computador. Quando o trocamos por um modelo mais novo e menos obsoleto, não os jogamos

fora, não deletamos os arquivos contidos nele, procuramos sempre transferi-los para o novo

hardware. Embora estes nossos arquivos não precisem ser mantidos para sempre, a

longevidade deles é completamente independente do hardware que os processa. Eles vão

durar o tempo que for útil e necessário. Se eles forem importantes, passam de um hardware

para outro, até não mais ser necessário. Em se tratando dos arquivos pessoais armazenados na

nossa mente, quando o nosso hardware humano quebra, o software das nossas vidas morre

com ele. No entanto, isto não irá continuar a ser o caso quando tivermos meios de fazer

“backup”, armazenar e restaurar os milhares de trilhões de bytes de informação armazenada

em nossos cérebros.

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A longevidade de um arquivo cerebral não dependerá da vida útil de qualquer

hardware específico. Em última análise, os seres humanos baseados em software não

conviverão com as limitações dos seres humanos como nós os conhecemos hoje. Viverão

conectados na web, projetando corpos do tipo que eles precisarem ou quiserem, incluindo

corpos virtuais em diversas dimensões da realidade virtual, projetados holograficamente.

Um ser humano baseado em software será livre, portanto, das limitações de qualquer

tipo de pensamento fixo, burocrático, censurado ou restritivo. Hoje, cada um de nós está

confinado a meros 100 trilhões de conexões, porém, os seres humanos no final do século XXI

poderão aumentar sua capacidade de raciocínio, criatividade e memória sem limites. Nós

podemos considerar isto como uma forma de imortalidade, embora valha a pena salientar que

dados e informações, não necessariamente duram para sempre. Apesar de não depender do

hardware que o processa, a longevidade das informações depende da sua relevância, utilidade

e acessibilidade. Quem já tentou recuperar informações de uma mídia obsoleta de

armazenamento de dados (por exemplo, um rolo de fita magnética de um minicomputador da

década de 70) entende os desafios para manter os softwares saudáveis e viáveis. No entanto,

se formos diligentes e cuidadosos em manter nossos arquivos cerebrais, com backups

atualizados em formatos de mídia conveniente, uma forma de imortalidade pode ser

alcançada, pelo menos para os seres humanos, baseada em software. Nosso arquivo cerebral,

que contém nossa personalidade, habilidades, memórias, é perdido hoje quando o nosso

hardware biológico quebra. Quando pudermos acessar, armazenar e restaurar essas

informações, sua longevidade já não estará amarrado a um hardware permanente.

É esta forma de imortalidade para o ser humano que viverá para sempre? Em certo

sentido é, porque não somos apenas matéria física biológica. Restará apenas nosso padrão de

pensamento e energia mesmo que o corpo físico mude gradualmente. Portanto, será o padrão

de um software humano que sobreviverá e vai se desenvolver e mudar gradualmente. Essa

pessoa baseada em arquivo cerebral, que migra através dos vários substratos computacionais,

é quem sobreviverá a qualquer mídia.

Voltando às costumeiras questões de consciência, identidade, ética e religião,

questões estas que têm sido debatidas desde que a humanidade se conscientizou da

necessidade da sua permanência. Infelizmente, não discutiremos este tema empolgante. Porém

achamos que estaremos depois do século XXI. Estas questões não serão debates filosóficos,

mas serão confrontos com questões puramente materiais e práticas.

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Uma pergunta relacionada ao debate é “A morte é desejável?”. Nosso objetivo de vida

é evita-la constantemente, e dispendemos uma enorme quantidade de nosso esforço para tal.

Podemos fazer esforços extraordinários para atrasá-la e, muitas vezes, consideramos seu

acontecimento uma coisa terrível e trágica. Ainda nos parece difícil conviver sem a morte.

Consideramos que a morte é que dá significado às nossas vidas e por isso, damos importância

e valor ao tempo. O tempo poderia tornar-se sem sentido se não houvesse essa finitude.

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3.2 - Imortalidade segundo “Os grandes mistérios do Universo com Morgan

Freeman”

Esta série de programas, produzida e apresentada pelo ator Morgan Freeman, tem um

formato bastante inteligente, que mistura cenas do cotidiano, pequenas histórias de um

passado recente, desenhos animados, usados por pesquisadores renomados que se utilizam

desta mídia poderosa, que é a televisão, para simplificar assuntos científicos complexos e

facilitar o entendimento dos telespectadores. A temática desta nossa apresentação é “Podemos

viver eternamente?”22

Existe um roteiro determinado, que começa sempre com Morgan Freeman divagando

sobre a pauta do programa do dia. Faz sempre uma ligação entre esta pauta e cenas vividas

por ele em sua infância e adolescência. A narrativa, sempre linear e objetiva, normalmente se

utiliza de metáforas e comparativos populares para expor o tema. Evidentemente, seu clímax

não é conclusivo, mesmo porque o objetivo é divulgar e não defender uma tese.

A introdução ao assunto do programa é feita pelo próprio ator, utilizando-se de cenas

relacionadas com sua fala. Para mostrar a finitude da vida, é mostrada uma cena de areia

escorrendo através dos dedos de uma mão:

Morgan Freeman (MF): O fim da vida é uma realidade que nos atemoriza e motiva.

Agora a ciência de ponta embarca numa missão ousada para prolongar a vida humana. Uns

acham que a solução está na biologia outros que está no nosso cérebro. Outros alegam que a

mortalidade será o fim da humanidade e a morte será inevitável. Poderemos viver para

sempre?

As areias do tempo correm rapidamente, um lembrete que a vida é passageira.

(MF): Esta é a nossa realidade que nos faz ficar humildes. Mas e se a vida não tivesse

fim? Em apenas 200 anos atrás, a expectativa de vida era de 40 anos, e agora dobrou para

80. Avanços na física e na biologia poderão nos trazer a imortalidade?

Para reforçar o conceito de envelhecimento, ele mostra cenas da infância relembrando

um baú antigo dos avós, cheio de coisas gastas. Lembra que isto acontecerá com ele. Mas

pode ser que alguns que estão agora assistindo o programa, possam não ficar velhos.

22 PODEMOS VIVER ETERNAMENTE?. Grandes Mistérios do Universo com Morgan Freeman. Canal Discovery Science, 2 de dezembro de 2013. Programa de TV.

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É utilizado um recurso muito poderoso neste tipo de mídia, que é o depoimento de

pessoas com projeção no assunto, e consequentemente, garante sua credibilidade. Neste caso,

o primeiro cientista a aparecer é Michio Kaku (MK)apresentado como um físico teórico do

City College de New York é fascinado pelas grandes questões da ciência, como as leis que

decretam nossa morte ou o fim dos seres vivos.

(MK): O que rege a nossa vida é a 2ª. lei da termodinâmica, que diz que tudo

enferruja, tudo se desfaz, tudo se decompõe. Somos todos feitos de átomos e temos que

obedecer como tudo no universo a esta 2ª. lei da termodinâmica. Tudo no universo tem ordem

e passa para uma crescente desordem, e quando isto está feito, não tem como reverter. Este

processo de desordem chama se entropia.

Para explicar o conceito de entropia, MK coloca leite num copo de café. Esta mistura

faz aumentar a desordem, isto é, aumenta a entropia. Retirar o leite do copo misturado é

impossível. Talvez isto possa acontecer num outro mundo daqui a mesma idade do universo.

(MF): A 2ª. lei da termodinâmica é uma força constante e nada é imune ao poder da

entropia, nem mesmo as células do nosso corpo, e é por isso que envelhecemos e morremos.

Mas existe uma brecha na lei da entropia, existe uma forma de restabelecer a ordem a partir

da desordem.

Mais uma vez a exemplificação da entropia é feita com imagens. MK mostra uma

caixa com várias bolinhas de duas cores azuis e laranja. Elas estão arranjadas perfeitamente:

as azuis de um lado e as laranjas de outro. Imagine que cada bolinha representa um átomo.

(MK): Se eu aplicar a 2ª.lei da termodinâmica isto ira entrar em desordem

aumentando a entropia e virar um caos. Isto é, eu começo a vibrar a caixa e as bolas vão se

misturando. Mas eu posso reverter o processo injetando energia externa que seria a ação de

ficar separando as bolas com as mãos, fazendo voltar à configuração original. Mas isto

requer uma injeção constante, já que a caixa continua vibrando.

Por onde começaremos? Reverter a entropia numa caixa de bolas é menos

complicado que reverter no nosso corpo.

Outro pesquisador é apresentado e, para mostrar sua tese, novamente é utilizado o

recurso de imagens.

(MF): Valter Longo está em busca desta resposta, ele é professor de gerontologia da

universidade do Sul da Califórnia. Ele acha que o caminho para reverter a entropia do nosso

corpo está onde é mais quente. Muitas coisas começam cedo e morrem cedo.

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A cena mostra Valter dirigindo um automóvel. Ele estaciona o mesmo para mostrar

que o motor é a parte mais quente de um carro.

(VL): Todas as células do nosso corpo têm motores chamados de mitocôndrias que

são estruturas de membrana dupla, cuja função é fornecer energia. Mas, quando estas usinas

de energia ficam desgastadas nosso corpo começa a se deteriorar e envelhecer. Imagine as

condições destas células há centenas de mitocôndrias fornecendo energia para cada uma das

células do nosso corpo.

Valter acha que descobriu uma forma de reverter este processo e rejuvenescer as

mitocôndrias em organismos minúsculos. Ele ampliou a vida da mitocôndria existente em

levedura de cerveja e fermento de massas para 10 semanas.

(VL): Equivale a dez vezes a sua vida atual de seis dias. Pode não parecer muito

tempo, mas equivale a 800 anos da nossa vida humana. A longevidade da levedura ocorreu

quando dois genes, RAS 2 e SCH 9, foram removidos do seu DNA. Estas vias descobertas na

levedura, além de provocarem o envelhecimento, também danificavam o DNA e vários

sistemas diferentes dentro da célula.

Valter questiona se esta descoberta pode ser estendida a formas de vida mais

complexas. E começou a procurar os genes equivalentes em organismos muito maiores, como

os camundongos. Quando ele bloqueou estes dois genes, a vida deles dobrou. Isto é muito

animador porque se verificarmos a semelhança dos organismos humanos e dos ratos é mais de

90%. O rato vive 2 anos e nós podemos passar de 100 anos. Com apenas algumas

modificações no genoma, podemos passar de 2 anos para 100 anos.

MK: Nenhuma lei da física nos impede de prolongar nossa vida ou mesmo de

procurar a imortalidade. Existem organismos que são imortais, por exemplo, as células

cancerígenas e é por isso que elas nos matam, elas proliferam para sempre. Mesmo dentro

do nosso corpo existem células que vem se dividindo deste o início da vida na terra 3,5

bilhões de anos atrás.

Se pegarmos o genoma de milhões pessoas idosas e de milhões de pessoas jovens, o

que faremos em breve, e subtrairmos um do outro, descobriremos os genes que causam o

envelhecimento. Já identificamos mais de 60 genes envolvidos no envelhecimento. Mas a

questão agora é reprogramar uma pessoa que vive 100 anos para viver dois mil ou três mil

anos. A missão de manter nosso motor funcionando para sempre está começando agora.

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MF: Mesmo se nos mantivéssemos vivos por 100 anos ou mais, seremos todos muito

velhos... Existem cientistas que estão procurando não somente nos manter eternamente vivos,

mas nos mantermos eternamente jovens.

Pegue nossa expectativa de vida atual e multiplique por 5 ou 10 vezes. As alegrias do

verão durariam para sempre. Mas se quisermos ser imortais, temos que manter nosso corpo

eternamente jovem.

O terceiro cientista apresentado no programa é Albrey de Grey:

MF: Albrey de Grey é chamado de Matusalém moderno, ele acredita que as pessoas

que irão nascer agora vão viver mil anos ou mais e manter a juventude durante este tempo.

O cenário agora é um depósito de lixo, onde de Grey caminha procurando algo.

(AG): A chave é fazer uma faxina biológica, remover porcarias de dentro do nosso

corpo. Existem certos tipos de células de nosso corpo que só acumulam lixo. Certos tipos de

lixo se acumulam nestas células ou entre elas. Até o DNA que não é considerado lixo, se

acumula aleatoriamente. As células tem a tarefa final de eliminar o lixo, degradando-o, mas

às vezes elas se deparam com coisas estranhas, que nenhuma degradação funciona com elas,

e então este lixo é direcionado para o lisossomo que contém o organismo mais forte de

degradação da célula, mas, mesmo assim, ela pode não ser degradada, e ficar lá para

sempre.

Esta narrativa é ilustrada por um desenho animado destas células. Albrey acredita que

o acúmulo de lixo lisossomal é que causa o envelhecimento.

(AG): Então, temos que eliminar este acúmulo. Na natureza quem gosta de comer lixo

são bactérias, e podemos achar algumas que consigam eliminar este lixo.

Esta busca levou-o ao cemitério. Como o cemitério é um depósito de corpos

decompostos, devem existir ali, enzimas e genes que possam decompor aquilo que o

organismo não consegue decompor naturalmente. Podemos então colocar estas enzimas em

nossas células. Estes micróbios ainda não foram descobertos, mas, assim que isso acontecer,

serão a fonte da juventude. Segundo Albrey, existe 50% de chance de isto acontecer dentro de

25 anos.

Entra em cena um quarto cientista Chris Voigt, com uma outra teoria:

MF: O biólogo Chris Voigt está tentando montar um exército inteiro destes micróbios

usando peças existentes no nosso organismo. A Biologia Sintética é um ramo da biologia que

cria novas funções em coisas já existentes para funcionar como se deseja. Ele está

procurando os microrganismos corretos em toda a biologia para montar na Universidade da

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Califórnia estes devoradores de células malignas. Misturando biologia com engenharia

mecânica, busca organismos que possam identificar e destruir estas células malignas.

(CV): Precisamos de um organismo com um sensor e o encontramos nas clorofitas,

que têm sensibilidade à luz. Pegamos uma bactéria de um organismo que habita o intestino e

não está acostumado à luz, e introduzimos um sensor de luz extraída das algas. Em

laboratório, colônias destas bactérias equipadas com sensores de luz são capazes de marcar

(como fotografias) as bactérias alienígenas. Este é o primeiro passo para a criação de um

robô biológico programável que poderá procurar e destruir os organismos indesejáveis que

provocam as doenças. A aplicação disto é enorme. Estas bactérias podem ser ligadas e

desligadas. Isto pode ser o princípio de um computador que poderá ser programado com um

software que desejarmos. Um exército destes nano robôs biológicos pode ser injetado no

nosso organismo para identificar e destruir todas as bactérias inimigas.

MF: As pesquisas de Albrey e Chris ainda estão em fase inicial e levarão algumas

poucas décadas para estarem utilizáveis. Mas nós que vivemos hoje como poderemos usufruir

disso? Acabaremos descobrindo o segredo da imortalidade, mas como viveremos até lá?

Para responder a esta questão, é apresentado um quinto cientista, Greg Fahy:

MF: Greg Fahy é um crio biologista da 21th Century Medicine, que pode ter a solução

para isto. Está desenvolvendo um sistema criogênico que pode congelar os órgãos de pessoas

para serem reutilizados até séculos depois. Este processo não é fácil, pois quando

congelamos algo biológico, cria-se cristais de gelos entre as células e faz com que os as

mesmas se desagreguem e alteram suas funções, mesmo que elas estejam preservadas. A

solução desenvolvida por Greg foi chamada de vitrificação. Os fluídos do organismo que

poderiam formar os cristais de gelo são transformados em vidro biológico. Misturando

produtos químicos a estes líquidos, eles se vitrificam e não congelam mesmo numa

temperatura super baixa. A constatação foi feita em um rim de coelho, que recebeu injeções

de crio protetores através de seus vasos para impedir que o rim congele, e foi colocado numa

câmara para a vitrificação a -22 graus Celcius. Ele pôde ser reaproveitado depois,

funcionando perfeitamente. Por enquanto, o sistema funciona em órgãos sem complexidade e

não foi testado em um corpo inteiro. O grande desafio está no cérebro. Já foi testado, e a

técnica consegue preservar a parte material do mesmo. Existe, porém, uma indagação: e a

memória?

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MF: Estes métodos de imortalidade anteriores são bastante complexos, porque a ideia

é preservar o corpo. E se nós simplesmente conservarmos nossa essência? Isto é, se

digitalizarmos nossa mente, ela será preservada.

Olaf Sporns é um neuro cientista da Universidade de Indiana. Ele tenta decifrar a

rede emaranhada do nosso cérebro. O cérebro é como uma grande cidade com seus sistemas

de locomoção, as iterações sociais das pessoas, a logística de materiais. O cérebro é igual,

com milhões de neurônios interagindo entre si e é o mais sofisticado sistema do universo. Se

esticássemos todos os neurônios, daria a distância da Terra à Lua. Descobrir como passar

de sinapses e conexões, a sentimentos e memórias, é o grande desafio da ciência. Embora

estudemos o cérebro há vários séculos, ainda não temos um mapa completo de suas

conexões. Olaf está empenhado em construir este mapa, desenhando cada neurônio e cada

sinapse para formar o Conectoma. Ele está usando uma tecnologia de ponta chamada

difusão de imagem por ressonância magnética. Ele rastreia todas as conexões rastreando as

moléculas de água ao longo das vias neuronais. O que se desenha é o núcleo central de todas

as conexões cerebrais. Olaf afirma que é esta área que define nossa personalidade.

Observamos que algumas regiões estão mais conectadas do que outras e são mais

importantes. São chamadas de HUBs. Se o cérebro é igual uma cidade, os HUBs são

cruzamentos de grandes vias de tráfego. Se este cruzamento é interrompido, a cidade torna-

se um caos (São mostradas cenas do tráfego na cidade de Los Angeles). Todas as

informações convergem para estes HUBs e isto diferencia as várias regiões do cérebro.

Os cientistas da crio preservação também estão estudando o conectoma, pois isto

garantiria a reconstituição exata do cérebro congelado.

Olaf está quase descobrindo onde reside a consciência, o que todos os neurocientistas

ambicionam conhecer. Somente quando isto for descoberto, poderemos replicar o cérebro

para digitalizar os dados e transferir para uma máquina, possibilitando viver para sempre.

Olaf pensa que o córtex parietal medial que é um HUB localizado entre os dois hemisférios

do cérebro, é o local da nossa personalidade. Muitas conexões convergem para este HUB e

parece-nos que ele é o mais importante centro das conexões. Temos ainda muito que

pesquisar, mas estudando as conexões mais importantes, poderemos entender nossa

consciência. Temos que entender os bilhões de neurônios e trilhões de sinapses para fazer o

download para uma máquina. Tudo o que acontece na vida real, os sentimentos, a fala, a

gesticulação, a iteração de pessoas, são difíceis de acontecer num computador. Por

enquanto, Olag ainda está cético quanto a este download.

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MF: A forma de obter a mortalidade através de download do cérebro, talvez seja

complicada demais, mas deve haver uma forma de chegar a imortalidade mais fácil, não para

nós mas para seres artificiais que criarmos do nada.

A vida neste planeta levou 4 bilhões de anos para evoluir. Somos os mais recentes

nesta escala de evolução das espécies. Esperamos que sejamos os últimos. Mas nossa busca

pela imortalidade pode acabar num desastre, porque os primeiros seres imortais podem não

serem humanos, e eles poderão nos tornar extintos.

A vida complexa derivou se de algumas leis simples. O mesmo acontece com a

Inteligência Artificial. Se descobrirmos estas leis mais simples, poderemos criar vida

artificial que dure para sempre.

O físico de Oxford, Vladko Vedral, tenta entender como a inteligência pode emergir

de um sistema, que opera segundo algumas regras básicas. Por exemplo, o jogo de xadrez é

um jogo muito complexo, mas que é regido por algumas regras bem simples. São dezesseis

peças de cada lado e cada peça pode fazer duas ou três coisas. Podemos dizer o mesmo a

respeito da vida, que é regida por duas ou três regras simples que podem gerar diversos tipos

de padrões de comportamento no universo.

(VV): Em 1970, um matemático chamado John Conway tentou criar vida artificial a

partir de programas de computador. Ele chamou de jogo da vida, o jogo simula o nascimento

de vida artificial num campo bidimensional (É mostrado um tabuleiro com o posicionamento

das células). Há células mortas e vivas que fazem o jogo a partir de regras simples. Estas

regras são: numa grande grade, existe uma célula sozinha. Ao lado dela, aparece uma

vizinha, mas a célula original morre por causa da solidão, um vizinho é pouco. Para esta

mesma célula, colocamos cinco vizinhos ao lado, e ela morre por sufocamento. Um bom

exemplo então é uma célula com dois vizinhos, isto é muito bom e então ela sobrevive e

começa a se mover e a reproduzir. Se houver tempo suficiente, vários padrões de ocupação

irão aparecer a partir destas regras simples. É um bom exemplo de população que faz a

célula sobreviver. Se houver tempo suficiente, padrões mais complexos ainda surgirão destas

regras simples. John Conway tentou fazer a mesma coisa para criar a vida artificial, ele

partiu de duas ou três regras simples que deram origem a padrões complexos. Quão

complexos estes padrões têm que ser para tornar um ser vivo em imortal?

(MF): O cérebro humano é ainda muito mais poderoso que os computadores atuais.

Eles processam 1012 bits por segundo, enquanto nosso cérebro é milhões de vezes mais

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potentes que isto. É preciso um milhão de laptops para simular um cérebro. Os computadores

atuais não podem abrigar vida artificial. A solução é usar outro tipo diferente de

computador, o computador quântico. Este computador é a tecnologia de computação do

futuro. Ele é muito mais rápido que qualquer computador atual. Em vez de transistores, os

computadores quânticos computam usando átomos individualmente. Em vez de usar

combinação de zeros e uns para processar sim ou não, os computadores quânticos podem

processar zero e um ou qualquer número que exista entre eles. Ele usa o efeito chamado

superposição que permite que o átomo esteja em vários lugares simultaneamente. Esta

propriedade de superposição permite trabalhar com vários problemas simultaneamente

(processamento paralelo) igual ao nosso cérebro.

(VV): Um acorde de um instrumento corresponde a várias escalas ao mesmo tempo

em um só local. Portanto, o poder da computação quântica é ilimitado. Se armazena todos os

valores entre zero e um, chegamos num estágio que será possível armazenar muito mais

informações.

Volta ao programa, Michio Kaku:

Os humanos poderão abrir mão do seu sonho de imortalidade e criar uma vida

artificial eterna, mas como esta vida conviveria com a vida humana?

MK: Muitos pensam que as máquinas com inteligência artificial nos colocariam num

zoológico igual o que os humanos fazem com os animais atualmente. Mas estamos muito

distantes de ter dispositivos inteligentes, e por enquanto ainda não temos computadores

quânticos operando normalmente. Não podemos esquecer que apesar de todos os avanços

eles são máquinas, não tem iniciativa, sentimentos ou imaginação, e principalmente não

fazem uso da lógica. Vai levar muito tempo para que a máquina tenha um processo cognitivo

como os humanos.

MF: Sempre que pensamos em ciência e religião, vemos como assuntos separados.

Albert Einstein não acreditava nisto, ele dizia que a ciência sem religião é imperfeita; e a

religião sem ciência é cega. Talvez o segredo para se atingir a imortalidade passe pela fusão

da ciência com a religião em um computador cósmico.

Teoria exóticas também são exibidas e é o caso de Frank Tipler:

Frank Tipler um físico matemático da Tulane University em New Orleans, diz que

algo muito importante vai acontecer no processo de nossa evolução.

(FT): A humanidade, o universo e Deus se unirão e este momento é chamado de Ponto

Omega. Este ponto é o fim do universo, a humanidade vai adquirir conhecimentos e

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capacidades de computação infinitos e vai se expandir além da Terra, para todo o universo.

Em um determinado instante, acontecerá o colapso do universo, e toda matéria será

transformada em energia pura, que serão controladas pela energia dos humanos. Sabemos

que o universo está não somente em expansão, mas acelerando esta expansão. Se isto

acontecer infinitamente, a teoria do Ponto Omega será um tremendo disparate. Mas acontece

que a humanidade com a sua tremenda evolução, vai domar o universo, e esta expansão irá

parar. Se a expansão parar, o universo se reverte e começa a encolher até o BIG CRUNCH

onde tudo será transformado em energia pura. Os futuros seres humanos de energia pura e

inteligência infinita farão reconstituição da evolução humana através de um computador

cósmico. Todos os humanos serão trazidos de volta, com os mesmos corpos, como uma

ressurreição, e serão imortais.

As leis da Física sustentam esta imortalidade e, na verdade, precisam dela para

ocorrer. A 2ª. lei da termodinâmica diz que a complexidade do universo em seu nível mais

fundamental está aumentando sem limite e, neste caso, terá que existir vida para controlá-lo.

MF: Se a imortalidade virá daqui a bilhões de anos ou neste século, a conquista da

morte irá transformar nossa civilização, nossa forma de viver e de amar.

Daqui a 10 mil anos, talvez as pessoas sejam imortais, ou no mínimo com uma

expectativa de vida muito maior que a nossa. Mas não será somente nosso corpo que mudará.

O significado de ser humano também será diferente. Se pensarmos nos nossos valores

humanos, muitos deles advém do fato de sermos mortais. Nossos sentimentos por pessoas

queridas são mais intensos porque sabemos que elas morrerão um dia. Estes sentimentos

podem acabar se soubermos que a vida não é mais finita. Viver o agora perderá o sentido.

Como serão encarados instituições como casamento?

Muitos cientistas acreditam que viveremos para sempre, mas estaremos preparados

para conviver com as consequências disto?

A mitologia diz que os deuses invejam nossa mortalidade. A mortalidade é que faz

nossa vida ser interessante; a pressão do tempo para fazermos algo durante a vida faz valer a

sensação de viver. Apesar disso tudo, os humanos não deixam de sonhar com a imortalidade,

isto sim é um comportamento humano.

O encerramento dos programas da série é inconclusivo. São levantadas as

argumentações e cada espectador tira a sua própria conclusão, conforme são os formatos dos

documentários.

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CAPÍTULO 4

A VISÃO DE RAYMOND KURZWEIL

4.1 - Quem é Ray Kurzweil

Em 1993, quando tivemos o primeiro contato com um scanner que tinha embutido um

software de reconhecimento de caracteres (OCR), que transformava textos do tipo

fotográficos em textos editáveis, apareceu o nome de Ray Kurzweil, o seu inventor. Na época,

também, acompanhávamos certos desenvolvimentos científicos ligados à inteligência artificial

do MIT, principalmente do Media and Arts and Science Laboratory, e surgiu o respeitado

Professor Marvin Minsky traçando rasgados elogios a uma prata da casa, Raymond Kurzweil.

Foi aguçada a curiosidade de conhecermos mais a respeito deste inventor.

Tomamos contato com suas invenções, livros, suas previsões e, principalmente, de sua

forma de comunicação. Chamou-nos a atenção suas previsões futurológicas a respeito da

inteligência artificial, e de como ele conquistava a atenção do grande público, não cientista

sobre o assunto, fazendo seus livros serem best sellers na América.

Percebemos a utilização das mídias digitais em sua forma de comunicação e presença

constante em periódicos não científicos.

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4.2 - O começo...

Ray Kurzweil cresceu no bairro de Queens, Nova York. Ele nasceu em 12 de

fevereiro de 1948, filho de pais judeus que tinham escapado da Áustria pouco antes do início

da Segunda Guerra Mundial, ele foi exposto através do convívio dos vizinhos a uma

diversidade de crenças religiosas em sua educação.

Seu pai era um músico e compositor e sua mãe, uma artista gráfica. Seu tio,

engenheiro da Bell Labs, ensinou fundamentos de computação ao jovem Kurzweil. Em sua

juventude, ele era um ávido leitor de literatura de ficção científica. Em 1963, aos quinze anos,

ele escreveu seu primeiro programa de computador. Mais tarde, na escola, ele criou um

software de reconhecimento de padrões que analisou as obras de compositores clássicos, e

sintetizado suas próprias canções em estilos semelhantes. Em 1965, foi convidado para

aparecer no programa de televisão da rede CBS “I've Got a Secret - Eu tenho um segredo”,

tocando uma peça de piano que foi composta em um computador. Mais tarde, naquele ano, ele

ganhou o primeiro prêmio na Feira Internacional de Ciência pela invenção, foi reconhecido

pela Westinghouse Talent Search e foi pessoalmente parabenizado pelo presidente Lyndon B.

Johnson durante uma cerimônia na Casa Branca.

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4.3 - O Inventor/Empreendedor

Ray Kurzweil foi descrito como “o gênio inquieto” pelo The Wall Street Journal e “a

máquina do pensamento final” pela Forbes. Inc.. O magazine classificou-o entre os oito

principais empreendedores nos Estados Unidos, chamando-o de “o herdeiro legítimo de

Thomas Edison”. A PBS (rede de TV norte americana), por sua vez, escolheu Ray como um

dos 16 “revolucionários que fizeram a América”, juntamente com outros inventores dos

últimos dois séculos. Ele é considerado um dos maiores inventores, pensadores e futuristas do

mundo, com um histórico de mais de 30 anos de previsões precisas.

Em 1968, ainda estudante do MIT, Kurzweil fundou uma empresa que usava um

programa de computador para casar estudantes de ensino médio com universidades. Ele

comparava milhares de critérios sobre cada instituição de ensino com respostas de

questionários respondidos pelo próprio estudante. Aos vinte anos, ele vendeu a empresa para a

Harcourt, Brace & World por cem mil dólares mais royalties. Raymond recebeu o grau

de BS (Bachelor of Science) em ciência da computação e literatura em 1970.

Em 1974, Kurzweil fundou a empresa Kurzweil Computer Products, Inc. e liderou o

desenvolvimento do primeiro sistema de reconhecimento ótico de caracteres que reconhecia

texto escrito em qualquer fonte. Até então, os digitalizadores só conseguiam ler texto escrito

dum conjunto restrito de fontes. Ele decidiu que a melhor aplicação para essa tecnologia seria

a criação de uma maquina leitora, que permitisse a cegos entender textos escritos ao ouvir um

computador ler o texto. Entretanto, esse dispositivo exigia a criação de duas tecnologias, o

digitalizador CCD e o sintetizador de voz. Sob sua direção, o desenvolvimento de tais

tecnologias foi completado, e em 13 de janeiro de 1976 o produto foi apresentado durante

uma coletiva para a imprensa. Chamada Máquina Leitora de Kurzweil, a invenção o levou a

um maior reconhecimento. No dia do lançamento, após ouvir a demonstração, o

músico Stevie Wonder comprou a primeira versão de produção, começando uma amizade de

longa data com Kurzweil.

Em 1978, a empresa de Kurzweil começou a vender uma versão comercial de um

programa de computador de reconhecimento ótico de caracteres. A LexisNexis foi uma das

primeiras clientes, comprando o programa para digitalizar documentos impressos, formando

um dos primeiros bancos de dados digitais conhecidos. Dois anos mais tarde, Kurzweil vende

sua empresa para a Xerox, que tinha interesse em aumentar o comércio de sistemas de

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conversão de texto impresso em texto de computador. A Kurzweil Computer Products se

tornou a subsidiária da Xerox, anteriormente conhecida como Scansoft e, atualmente,

como Nuance Communications. Raymond atuou como consultor na empresa até 1995.

Sua próxima iniciativa na indústria foi na área de música eletrônica. Em 1982, após

um encontro com Stevie Wonder em que o músico lamentava dividir as capacidades e

qualidades de sintetizadores eletrônicos e instrumentos musicais tradicionais, Kurzweil se

inspirou para criar uma nova geração de sintetizadores capazes de imitar com precisão o som

de instrumentos reais. A Kurzweil Music Systems foi fundada no mesmo ano e, em 1984,

o Kurzweil K250 foi lançado. A máquina era capaz de imitar diversos instrumentos, e,

durante testes, músicos não conseguiam distinguir as diferenças do produto com um piano. A

empresa foi vendida para a coreana Young Chang em 1990. Assim como com a Xerox,

Kurzweil permaneceu como consultor por diversos anos.

Junto com a Kurzweil Music Systems, Ray Kurzweil criou a empresa Kurzweil

Applied Intelligence (KAI) para desenvolver sistemas comerciais de reconhecimento de fala.

Estreando em 1987, o primeiro produto foi o primeiro do mundo com amplo vocabulário,

permitindo aos usuários ditar ao computador por um microfone. Posteriormente, a empresa

combinou a tecnologia com sistemas especialistas de medicina para criar a linha de produtos

Kurzweil VoiceMed, atualmente conhecida por Clinical Reporter, que permite aos médicos

criar relatórios falando. A KAI é atualmente conhecida por Nuance.

Kurzweil também começou a Kurzweil Educational Systems em 1996 para

desenvolver novas tecnologias de reconhecimento de padrões para ajudar pessoas com

deficiências como cegueira e dislexia nos estudos.

Kurzweil é detentor do prêmio Lemelson-MIT de 500.000 dólares, como o maior

inovador do mundo. Em 1999, ele recebeu a Medalha Nacional de tecnologia, a honra da

nação, em tecnologia, do presidente Bill Clinton em uma cerimônia na Casa Branca.

Durante a década de 1990, Ray Kurzweil fundou a Medical Learning Company, cujos

produtos incluíam um programa educacional interativo para médicos e um programa de

simulação de paciente. Na mesma época, Kurzweil começou a KurzweilCyberArt.com, um

sítio web com programas de computador para ajudar na criação de arte.

E, em 2002, ele foi conduzido ao “Inventors Hall”, o hall da fama dos inventores,

estabelecido pelo gabinete de patentes dos Estados Unidos. Ele recebeu 20 doutorados

honorários e homenagem de três presidentes dos EUA.

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Em junho de 2005, Ray Kurzweil apresentou o K-NFB Reader, um dispositivo de

bolso que continha uma câmera digital e uma unidade computacional. Assim como a Máquina

Leitora de Kurzweil trinta anos antes, o K-NFB Reader foi desenvolvido para ajudar cegos ao

permitir a leitura através da voz de texto escrito. Essa nova máquina era portátil e coletava

texto através de imagens de uma câmera digital.

Em março de 2009, foi lançado, no Festival de Tribeca, um documentário

independente sobre Ray chamado Transcendent Man. Os cineastas Barry e Felicia Ptolemy o

seguiram, documentando sua turnê global de palestras. E, em junho de 2010, foi lançado,

no Festival de Breckenridge, um filme de autoria do próprio Ray Kurzweil, intitulado “The

Singularity is Near: A True Story About the Future”, baseado em partes de seu livro de

2005 The Singularity Is Near. Parcialmente fictício, ele entrevista vinte intelectuais,

como Marvin Minsky, e há narrativas que ilustram algumas das ideias.

Uma das suas previsões é que a vida humana poderá estender-se de forma quase

ilimitada a partir de 2036. Para isso, ele está utilizando uma série de artifícios para conseguir

prolongar a própria vida. Ele toma cerca de 200 suplementações de nutrientes por dia, atitude

à qual ele atribui os créditos por conseguir ótimos resultados em testes de idade.

Kurzweil tem 66 anos, mas consegue vários resultados superiores aos de pessoas mais

novas. Mesmo assim, ele não atribui a jovialidade apenas a isso. O executivo diz que a

“imortalidade é uma sequência de pontes” e que os suplementos são apenas uma dessas

estruturas. Outra delas seria a utilização de nanorrobôs, que podem melhorar funções do

sistema imunológico e ajudar no combate a doenças.

Isso também seria responsável por permitir que os humanos consigam permanecer

ativos por mais anos do que geralmente fariam. Todos esses sistemas integrados seriam

capazes de tornar maior a expectativa de vida dos seres humanos, permitindo que qualquer

pessoa pudesse “enganar a morte”, ou pelo menos adiá-la.

O empenho em relação à própria saúde é motivado por uma meta nobre: Kurzweil

quer chegar com vitalidade e clareza de raciocínio a 2029, ano em que ele acredita que a fusão

entre máquinas e homens estará completa.

A “singularidade” propagada por Kurzweil, em que a máquina será uma espécie de

continuação do homem, já está em curso. "Não será algo que começará automaticamente em

2029. É uma mudança que já está acontecendo", explica o cientista. Segundo ele, a relação

das pessoas com seus smartphones é um exemplo claro da tendência. “As pessoas já sentem

que esses aparelhos são uma extensão do seu cérebro, ainda que não estejam dentro de sua

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cabeça”, explica. “Na verdade, as informações do smartphone não estão nem dentro do

hardware; elas residem na nuvem, com uma capacidade exponencial de armazenamento em

relação ao cérebro humano.”

Outro projeto de Kurzweil que está relacionado a essas tentativas de tornar maior a

vida humana é o melhoramento das habilidades de processamento da linguagem natural por

parte das máquinas. Kurzweil afirma que isso vai permitir que os robôs consumam, leiam e

entendam as comunicações humanas. Ainda não há previsão de quando isso será aplicado

efetivamente.

Diferentemente de outros, não vemos limites para o desenvolvimento tecnológico. A

tecnologia supõe uma ruptura com a lenta evolução biológica e a entrada de um processo mais

rápido. Muitos cientistas têm uma perspectiva linear e veem o futuro como uma cópia

retocada do passado. Isso é um erro. Estamos em uma fase de crescimento exponencial em

que confluem a informática, a biotecnologia, a física quântica, a nanotecnologia... Este século

será equivalente a 20 mil anos de desenvolvimento linear.

Kurzweil tem uma visão “humanística” da tecnologia e defende que a evolução das

máquinas poderá ajudar a solucionar a escassez de água e comida nas regiões mais pobres do

mundo.

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4.4 - O Escritor

Kurzweil é autor de 7 livros, 5 dos quais foram best-sellers nacionais. Nestas suas

publicações, utilizou-se de uma forma de comunicação simples, direta e descomplicada, que

cativou o público.

O primeiro livro de Kurzweil foi publicado em 1990, “The Age of Intelligent

Machines”, uma obra não fictícia que discute a história da inteligência artificial e prevê

desenvolvimentos possíveis. Outros especialistas do campo também contribuíram

amplamente no trabalho através de ensaios.

Em seguida, foi publicado um livro sobre nutrição em 1993, “The 10% Solution for a

Healthy Life”, que argumenta que os altos níveis de gordura são a causa de diversos

problemas de saúde comuns nos Estados Unidos, e que cortar o total de calorias consumidas

para 10% do atual seria melhor índice para a maioria das pessoas.

Em 1998, foi publicado “The Age of Spiritual Machines”, em que Kurzweil foca na

elucidação de suas teorias sobre o futuro da tecnologia; O livro foi traduzido para 9 línguas,

inclusive o português.

Foi seguido por outro sobre saúde e nutrição, “Fantastic Voyage: Live Long Enough to

Live Forever”, coautorado por Terry Grossman, um médico e especialista em medicina

alternativa.

“The Singularity Is Near” foi publicado em 2005, best-seller do New York Times e o

livro mais vendido na Amazon na categoria ciência e filosofia. A singularidade é um conceito

criado nos anos 50 por John Von Newmann, um dos pais da cibernética, para se referir ao

impacto que o desenvolvimento tecnológico teria sobre o futuro. Também é um termo que,

em matemática, significa infinito. No livro, ele fala da mudança crucial e profunda que

representará a união das inteligências artificial e humana. Será uma ruptura na história. Prevê

também que em cinco décadas nascerá uma inteligência artificial tão humana que mudará a

civilização, pois alterará o conceito que temos de nós mesmos, da nossa relação com as

máquinas e do papel destas máquinas. A singularidade será detalhada no próximo tópico.

Acabou de lançar, em maio de 2014, seu novo livro, How to Create a Mind: The

Secret of Human Thought Revealed (Como Criar uma Mente: O Segredo do Pensamento

Humano revelado), que estava sendo preparado desde 2012. Neste livro, ele explica o

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funcionamento do cérebro. Explica que: “o mundo é hierárquico. Apenas os mamíferos têm

um neocórtex, e o neocórtex evoluiu para fornecer uma melhor compreensão da estrutura do

mundo, então você pode fazer um trabalho melhor de modificá-lo às suas necessidades e

resolver problemas dentro de um mundo hierárquico. Pensamos de uma maneira hierárquica.

Nossa primeira invenção foi a linguagem, e linguagem é hierárquica. A teoria por trás da

aprendizagem, que eu chamaria de hierarquia de aprendizagem, é que você tem um modelo

que reflete a hierarquia do fenômeno natural que está tentando aprender”.

O título não é nenhuma brincadeira. Kurzweil planeja até 2019 modelar um cérebro

digital com a ajuda de nanorrobôs e, para isso, conta com toda a estrutura do Google para

auxilia-lo.

Hoje ele mantém um site na Internet chamado KurzweilAI.net, onde publica

diariamente os avanços na ciência e tecnologia e que tem mais de 3 milhões de leitores novos

anualmente.

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4.5 - A Universidade da Singularidade (SU)

“Nossa missão é educar, inspirar e capacitar líderes para aplicar tecnologias exponenciais para enfrentar os grandes desafios da humanidade.” Missão da SU “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo você mesmo.” Peter Diamandis – Presidente da X-Prize Foundation “Singularity University is an opportunity to bring people from every conceivable walk of life with people that share a common aspiration that is to do better, to be better, and to make a positive impact on people's lives.” Gavin Newsom - California Lieutenant Governor

A Universidade da Singularidade (SU) foi fundada em 2009 por Ray Kurzweil que foi

seu primeiro Reitor, Salim Smail (ex-presidente da Yahoo) e Peter Diamandis (presidente

da X-Prize Foundation, que, aos 20 e poucos anos, criou a Universidade International Space,

que já formou uma geração inteira de cientistas da NASA). Tem o objetivo de reunir as

melhores mentes do mundo (alunos e professores) para formá-las nas mais diversas áreas

(nanotecnologia, genética etc...) com base no modelo exponencial da evolução tecnológica,

preparando-os para serem os futuros líderes mundiais como empreendedores e pensadores.

É um grande centro de pesquisa e conhecimento localizado no Centro de Pesquisa

Ames, da NASA, em Moffett Field, na Califórnia, a poucos quilômetros da sede do Google e

outras empresas de alta tecnologia; evidentemente financiado pela agência espacial americana

(NASA) e o Google, entre outros parceiros.

“Os desafios de nosso planeta são profundos”, disse Vint Cerf, vice-presidente do

Google. “Precisamos dos melhores corações e mentes trabalhando juntos por uma causa

única”, acrescentou.

A seleção dos estudantes é muito rigorosa, suas vagas são destinadas aos melhores

estudantes de graduação e pós-graduação do mundo. Começou com apenas 30 vagas, e em

2010 aumentou para 80, com mais de 2.000 candidatos interessados de todas as partes do

mundo. Em 2011, teve 2400 candidatos. A procura estava tão grande que a universidade

começou a promover minicursos “executivos” de 3 dias e de 10 dias.

O programa-padrão é de dez semanas de duração, presencial onde são dadas matérias

como biotecnologia e bioinformática, nanotecnologia, robótica, inteligência artificial,

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computação cognitiva, ciências físicas e espaciais, entre outras, ao custo de em torno de US$

25 mil por aluno. Os cursos de 3 dias saem por US$ 5 mil dólares.

A SU não parece uma universidade comum. Os cursos não são reconhecidos

oficialmente e não há estudantes tradicionais.

A Universidade Stanford pode ter sido o berço de mil “startups” (empresas iniciantes

de tecnologia em geral relacionadas a grupos empreendedores) do Vale do Silício e de

grandes inovações, mas a SU é criada à própria imagem do vale: altamente conectada em

rede, alimentada por um coquetel de filantrocapitalismo e dotada de uma consciência quase

mística de seu próprio destino. Ela é o “think tank” futurista de elite do Vale do Silício e seu

braço que se conecta com o mundo.

Mais da metade das pessoas que frequentam a SU hoje são pessoas que já fizeram

realmente coisas que tiveram impacto positivo sobre 1 bilhão de pessoas ou mais. Citamos

aqui, entre outros tantos, Vint Cerf, um dos pais da internet, que trabalhou no Arpanet,

antecessor da web, e hoje é o evangelista-chefe da internet no Google; Sebastian Thrun, o

homem que desenvolveu o carro que anda sozinho; Elon Musk, cofundador do sistema de

pagamentos on-line PayPal e da Tesla Motors, que inventou o carro elétrico e está trabalhando

numa nave para substituir os ônibus espaciais; Reid Hoffman, cofundador da rede social

LinkedIn; e Buzz Aldrin, astronauta celebridade, que foi o segundo homem a pisar na Lua.

Larry Page, o fundador do Google falou: “Aqui é onde eu gostaria de estar se fosse

estudante”.

Na SU também se aprende como os humanos podem se proteger das poderosas

inteligências artificiais que nos substituirão. Para Kurzweil, a Singularidade que se dará até

2045, trará conseqüências otimistas: derrotaremos a pobreza; o mundo será pura abundância;

não haverá doenças; viveremos para sempre… Os seguidores de Kurzweil não param de

crescer.

A primeira instrução que o aluno recebe ao iniciar um curso na SU vem do seu

cofundador da Peter Diamandis. Nossa tarefa, diz ele, é escolher “um dos grandes desafios da

humanidade”, por exemplo, a escassez de água potável. E então bolar uma ideia “que possa

impactar positivamente a vida de 1 bilhão de pessoas”.

Entre alguns projetos em curso na SU está o de Craig Venter para criar

biocombustíveis. Ele acredita que um acre (cerca de 4.000 m²) de algas microscópicas poderá

produzir 10 mil litros de óleo por ano – um milharal da mesma área rende 18 litros. Venter

acaba de receber US$ 300 milhões em investimento da Exxon para converter isso em

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realidade. Andrew Hessel, docente de biotecnologia da SU que quer criar tratamentos contra o

câncer com código aberto e distribuição livre, diz que a biologia é a próxima tecnologia

exponencial. O código genético vai se tornar “uma linguagem de programação”, afirma ele.

Estamos no início de transformações maciças: o bio-hacking do tipo “faça você mesmo” já

começou. “Os vírus estão chegando primeiro”, ele afirma. “Vírus são fáceis de fabricar.”

Vint Cerf , por sua vez, fala sobre a “internet das coisas”. No futuro próximo, afirma,

aparelhos vão conversar uns com os outros. “Você vai estar no supermercado e receberá uma

ligação da geladeira dizendo ‘não esqueça o molho marinara’.”

A tese de Diamandis é que em pouco tempo vamos ingressar num mundo “pós-

escassez”. Esqueça o esgotamento das reservas de petróleo. Quem vai precisar delas quando

temos “15 terawatts de energia do Sol chegando à Terra a cada 15 minutos”? O desafio é

apenas como atrelar essa energia. “E estamos cada vez melhores nisso”, diz ele.

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4.6 - Singularidade

Primeiramente, para definirmos o conceito de “Singularidade”, vamos explorar a

história da própria palavra. “Singularidade” é uma palavra que significa um evento único,

singular, com implicações únicas.

Os matemáticos têm se utilizado da palavra para descrever um valor muito grande, que

ultrapassa qualquer limitação finita. Isto pode ser verificado quando dividimos uma constante

por um número infinitamente pequeno que se aproxima de zero, e o resultado é um número

infinitamente grande. Na matemática, uma divisão por zero é considerada impossível e se diz

que o resultado é indefinido. No limite, podemos considerar o resultado como um número

infinito. Em uma função do tipo y = l / x , a medida que o valor de x se aproxima de zero, o

valor da função ( y ) atinge valores cada vez maiores. Dizemos que o valor de y ultrapassa

qualquer limite finito possível (se aproxima do infinito) quando o divisor x se aproxima de

zero.

Os astrofísicos também se utilizam da singularidade para descrever seus

fenômenos. Por exemplo, quando uma estrela massiva passa por uma explosão de supernova,

o seu remanescente finalmente colapsa para um ponto de volume zero e de aparentemente

infinita densidade, uma “singularidade” foi criada em seu centro. Até a luz é incapaz de

escapar da estrela depois que ela chegou a uma densidade infinita, chamamos este fenômeno

de buraco negro. Isto constitui-se uma ruptura no tecido do espaço-tempo. Dizemos que, a

medida que nos aproximamos do centro do buraco negro, a força da gravidade teoricamente

aumenta enormemente até chegar a infinito exatamente no seu centro.

Os cosmologistas especulam que o universo começou com uma singularidade. É a

teoria do Big Bang, que já descrevemos no capítulo 2.

O cientista John von Neumann, um dos criadores do computador, na década de 50,

fazia uso de duas palavras chaves “acelerado” e “singularidade” em suas apresentações, e que

seriam a base de uma previsão futura importante da ciência: “o sempre acelerado progresso da

tecnologia dá aparentemente a impressão de estarmos nos aproximando de alguma

singularidade essencial na história da raça humana onde os costumes humanos como os

conhecemos não poderão continuar”. Citava também uma “explosão de inteligência”

resultante de máquinas inteligentes que irão projetar sua próxima geração sem intervenção

humana.

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Vernor Vinge, um matemático e cientista de computação da San Diego State

University, escreveu sobre uma aproximação rápida de uma “singularidade tecnológica”, em

um artigo para a revista Omni em 1983 e também em um romance de ficção

científica, Marooned in realtime , em 1986.

Em 1988, em seu livro Mind Children, Hans Moravec, ao analisar o progresso da

robótica, chegou a uma conclusão semelhante à singularidade ao afirmar que as máquinas

seriam mais inteligentes que os humanos.

O livro de Ray Kurzweil de 1989, The age of intelligent machines , apresentou um

futuro dirigido inevitavelmente para máquinas muito superiores do que a inteligência humana

na primeira metade do século XXI.

Em 1993, Vinge apresentou um documento em um simpósio organizado pela NASA

em que descreveu a singularidade como um evento inevitável resultado principalmente pelo

advento de “entidades com maior inteligência que a humana”, previsto por ele como o

prenúncio de um fenômeno descontrolado.

Outro livro de Kurzweil de 1999, The age of spiritual machines: when the computers

exceed humana intelligence, descreveu uma cada vez maior conexão íntima entre a nossa

inteligência biológica e a inteligência artificial que estamos criando.

Hans Moravec, em seu livro Robot: mere machine to transcendente mind , também

publicado em 1999, descreve os robôs em 2040 como nossos “herdeiros evolutivos”,

máquinas que irão “crescer a partir de nós, aprender nossas habilidades, e compartilhar nossos

objetivos e valores, ...filhos de nossas mentes”.

A singularidade tem muitas faces. Ela representa uma fase de crescimento exponencial

quase vertical que ocorre quando a tecnologia parece estar se expandindo a uma velocidade

infinita. É claro, do ponto de vista matemático, não há nenhuma descontinuidade ou ruptura, e

as taxas de crescimento permanecem finitas, apesar de serem extraordinariamente grandes.

A ideia é que tecnologias de várias áreas evoluam cada vez mais aceleradamente, se

integrando e mudando rapidamente a realidade. Em um dado momento – a tal da

singularidade –, a curva da evolução ficaria tão vertical que ultrapassaria o limite do próprio

gráfico. É impossível saber o que viria depois. Esse momento está previsto para chegar entre

2020 e 2040, na opinião dos futuristas, entre eles, Ray Kurzweil.

Este ritmo das mudanças tecnológicas será tão rápido, e seu impacto tão profundo, que

a vida humana será irreversivelmente transformada. Esta época vai transformar os conceitos

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que acreditamos que dependem de nós para dar sentido às nossas vidas, de nossos modelos de

negócios, ou do ciclo de vida humana, incluindo a própria morte.

Essa evolução parece seguir uma lógica. Um dos primeiros a notar isso foi o

engenheiro Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, que formulou aquela que ficou

conhecida como a Lei de Moore. Segundo tal lei, o número de transistores em um mesmo

espaço (e por consequência a capacidade de processamento dos chips) dobra a cada 18 meses.

Ou seja, é uma progressão geométrica: cada vez o ritmo do avanço fica maior (se no primeiro

período de 18 meses a tal capacidade aumenta de 1 para 2, no vigésimo ela crescerá

absurdamente mais: de 524 288 para 1 048 576). Isso significa uma progressão absurda a

partir de um ponto cada vez mais tendendo ao infinito. Evidentemente, haverá uma transição

dos chips de silício para os quanta da computação quântica e, aí sim, teremos a singularidade

em ação. O processamento digital de zeros e uns simulados pelos transistores passará por uma

infinita capacidade quântica, usando todas as possibilidades entre zero e um.

Não é só na informática que os especialistas veem esse fenômeno. A nanotecnologia, a

genética e a robótica (GRN) têm evoluído em ritmo parecido, fornecendo umas às outras

ferramentas para progredirem ainda mais.

Compreender a singularidade vai mudar a nossa perspectiva sobre o significado do

nosso passado e as ramificações para o nosso futuro. Para entender verdadeiramente a

singularidade, é preciso mudar inerentemente a visão da vida em geral, e da própria vida

particular.

A ideia chave sobre os fundamentos da Singularidade é que o ritmo das mudanças

tecnológicas criadas pelo ser humano está acelerando e os seus poderes estão se expandindo

num ritmo exponencial. O crescimento exponencial é enganoso. Ele começa

imperceptivelmente e então explode com inesperada fúria.

Os aplicativos restritos criados para computadores estão ampliando gradualmente seu

desempenho e, graças ao Agentes Inteligentes Artificiais23, as tarefas antes restritas apenas a

humanos estão sendo executadas até com maior precisão por computadores. Por exemplo, os

computadores estão diagnosticando eletrocardiogramas e imagens de ressonância magnética,

controlando voos pelo piloto automático e ainda executando o pouso de aviões, controlando

com decisões táticas os armamentos inteligentes, tomando decisões financeiras e de crédito.

Embora nosso cérebro utilize um processamento paralelo correspondente a cem

trilhões de conexões interneurais operando simultaneamente para reconhecer rapidamente 23 NAKAMITI, E. K. “Agentes Inteligentes Artificiais” - Dissertação de mestrado em Comunicação e semiótica, 2009

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padrões sutis, o nosso processamento linear é milhões de vezes mais lento que os circuitos

eletrônicos contemporâneos. Com isso, processamos novas informações com capacidade

extremamente limitada comparada com um crescimento exponencial da base geral de

conhecimento humano. E, até o final do século XXI, a porção não-biológica de nossa

inteligência, será trilhões de vezes mais potente que uma inteligência humana.

Se por um lado o corpo humano biológico é extremamente frágil e sujeito a uma

infinidade de falhas ou doenças, a inteligência humana é, por vezes, brilhante, identificando

padrões sutis ou criando algo. Por outro lado, o pensamento humano é disperso, egoísta e

circunscrito a uma certa delimitação. A expectativa é de que a singularidade nos permita

transcender essas limitações, tanto de nossos corpos biológicos como dos cérebros, e ganhar

controle sobre os nossos destinos: seremos capazes de viver tanto quanto quisermos, ou seja,

de forma sutil, para sempre.

O momento atual é do estágio inicial para essa transição, em que uma aceleração de

paradigma – taxa na qual se mudam as abordagens técnicas de fundamentos – e o crescimento

exponencial da capacidade da tecnologia da informação começam a alcançar o “ponto de

inflexão da curva”. Neste ponto, a tendência exponencial se torna perceptível e, logo em

seguida, rapidamente explosiva. Antes da metade deste século, as taxas de crescimento da

tecnologia ainda serão finitas, mas tão extremamente vertiginosas que romperá os padrões

existentes na história humana.

A singularidade representará o ponto culminante da fusão entre nosso pensamento

biológico com a nossa existência tecnológica. O resultado será um mundo, embora ainda

humano, que transcende as nossas raízes biológicas. Na Pós-singularidade, não haverá

distinção entre homem e máquina ou entre a realidade física e a virtual, restando de humano

simplesmente o que é inerente a nossa espécie: a procura de desafios, de entender as

conquistas mentais e físicas do passado e procurar sempre ir além das limitações atuais.

No entanto, essa transição não resultaria na desconexão entre o humano e qualquer

característica tipicamente humana, mas sim no aprimoramento de certas capacidades. Como

sua inteligência não seria mais limitada, eles fariam com que a tecnologia os tornassem ainda

mais inteligentes, daí, novos padrões serão criados advindos das alterações de seus próprios

padrões atuais e processos de pensamento para permitir pensar ainda mais rápido. Com

cientistas um milhão de vezes mais inteligentes e um milhão de vezes mais rápidos, uma hora

cronológica seria equivalente a vários séculos de progresso, em termos de dias.

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Conforme o livro “Singularity is near - whem humans transcend biology”24, Kurzweil,

mostra todas as indicações de que estamos atualmente no ponto de inflexão da curva

exponencial que nos levará a grandes e rápidas descobertas que irão modificar o humano e a

humanidade. Esta singularidade, refere-se a um período futuro durante o qual o ritmo das mudanças tecnológicas será tão rápido, e seu impacto tão profundo, que a vida humana será irreversivelmente transformada. Embora nem utópico nem distópico, esta época vai transformar os conceitos que acreditamos que dependem de nós para dar sentido as nossas vidas, de nossos modelos de negócios, ou do ciclo de vida humana, incluindo a própria morte. Compreender a singularidade vai mudar a nossa perspectiva sobre o significado do nosso passado e as ramificações para o nosso futuro. Para entender verdadeiramente a singularidade, tem que mudar inerentemente a visão da vida em geral, e da própria vida particular. A inerente aceleração da taxa de evolução, onde a evolução tecnológica é uma continuação da evolução biológica; que chamamos de lei dos retornos acelerados não é uma unanimidade, e as consequências desta lei, não nos deixa inteiramente confortáveis e tampouco entendendo inteiramente as suas consequências. A ideia chave sobre os fundamentos da Singularidade é que o ritmo das mudanças tecnológicas criadas pelo ser humano está acelerando e os seus poderes estão se expandindo num ritmo exponencial. O Crescimento exponencial é enganoso. Ele começa imperceptivelmente e então explode com inesperada fúria. (KURZWEIL, 2005, p.22)

Também neste livro, encontramos os princípios que envolvem a Singularidade. Os

principais são citados abaixo:

A taxa de mudança de paradigmas (inovação tecnológica) está

acelerando agora e dobrando a cada década.

Para a tecnologia de informação, há um segundo nível de velocidade

de crescimento exponencial, ou seja, o crescimento exponencial da aceleração

desta velocidade. O motivo é que a tecnologia se torna mais rentável, e então

mais recursos são destinados ao seu avanço, por isso uma taxa de aceleração

exponencial aumenta ao longo do tempo. Por exemplo, a indústria de

computadores na década de 1940 consistiu de parcos projetos agora

historicamente importantes. Hoje, a receita total da indústria de computadores

é mais que um trilhão de dólares, de modo que os orçamentos de pesquisa e

desenvolvimento são incomparavelmente superiores.

O escaneamento do cérebro humano é uma dessas tecnologias que

evoluem de forma exponencial. A resolução temporal e espacial e a largura de

banda de escaneamento do cérebro estão dobrando a cada ano. Estamos

24 KURZWEIL, Ray. Singularity is near - whem humans transcend biology, New York, Viking, 2005

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apenas agora obtendo ferramentas suficientes para começar a uma profunda

engenharia reversa (decodificação) dos princípios de operação do cérebro

humano. Já temos modelos impressionantes de simulações de várias centenas

de regiões do cérebro. Em mais duas décadas, teremos uma compreensão

detalhada de como trabalham todas as partes do cérebro humano.

Talvez a mais importante habilidade não biológica seja o

compartilhamento de seus conhecimentos em altíssima velocidade, em relação

ao lento compartilhamento do conhecimento humano, através da linguagem.

Máquinas irão processar e comutar sinais com a velocidade da luz

(cerca de trezentos milhões de metros por segundo), em comparação com

cerca de uma centena de metrôs por segundo para os sinais eletroquímicos

utilizados pelos biológicos cérebros de mamíferos. Esta relação de velocidade

é de pelo menos 3.000.000 para 1.

A combinação dessas forças tradicionais (a capacidade de

reconhecimento de padrões da inteligência humana biológica e a velocidade,

capacidade de memória, precisão e conhecimentos e habilidades de

compartilhamento de competências das inteligências não-biológica) seria o

ideal.

Máquinas também irão se beneficiar do uso de circuitos moleculares

tridimensionais muito rápidos. Circuitos eletrônicos de hoje são mais de um

milhão de vezes mais rápido que do uma comutação eletroquímica usado nos

cérebro de mamíferos. Circuitos moleculares de amanhã serão baseados em

dispositivos tais como nanotubos, que são minúsculos cilindros de átomos de

carbono que medem cerca de dez átomos de largura e são quinhentas vezes

menores do que os transistores de silício de hoje. Uma vez que os sinais tem

menos distância para viajar, serão mais velozes e capazes de operar em

terahertz (trilhões de operações por segundo) muito mais rápido comparado

com os poucos gigahertz (bilhões de operações por segundo) de velocidade

dos chips atuais.

Este ciclo de melhoria iterativa alimenta seus próprios projetos de

concepção da inteligência da máquina e se tornará mais e mais rápido. Isto é

de fato exatamente o que é previsto pela fórmula da aceleração contínua da

taxa de mudança de paradigma. Uma das objeções levantadas para a

continuação da aceleração da mudança de paradigma é que ela se torna rápida

demais para os seres humanos acompanharem, e por isso não pode

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acontecer. No entanto, a mudança da inteligência biológica para inteligência

não-biológica permitirá continuar a tendência.

Nanobots vão interagir com os neurônios biológicos para estender

muito a experiência humana através da criação de realidade virtual no âmbito

do sistema nervoso.

Bilhões de nanobots nos capilares do cérebro também vai estender

muito a inteligência humana.

A capacidade humana de compreender e responder adequadamente a

emoção (chamada inteligência emocional) é uma das formas de inteligência

humana que serão compreendidos e dominados pelo futura inteligência da

máquina. Alguns de nossas respostas emocionais são ajustados para otimizar a

nossa inteligência no contexto de nosso limitado e frágil corpo

biológico. Máquinas do futuro inteligentes também terão “corpos” (por

exemplo, corpos virtuais em realidade virtual, ou projeções reais usando

foglets), a fim de interagir com o mundo, mas esses corpos projetados com

nanoengenharia serão muito mais capazes e duráveis que os corpos humanos

biológicos. Assim, algumas das respostas “emocionais” da futura inteligência

da máquina será redesenhada para refletir suas capacidades físicas avançados.

Em última análise, todo o universo vai se tornar saturado com a

nossa inteligência. Este é o destino do universo. Vamos determinar o nosso

próprio destino, em vez de vê-lo determinado pelas máquinas que regem a

mecânica celeste.

O ritmo do período que vai demorar o universo para se tornar

inteligente é uma medida que depende ou não da velocidade da luz que é um

limite imutável. Há indicações de possíveis exceções sutis (ou evasões) para

esse limite, o que, se existirem, uma grande inteligência de nossa civilização,

neste momento futuro será capaz de explorar. (Ibid, p.35 a 38)

É possível afirmar que, pelo menos com o nosso nível de conhecimento, a

singularidade é algo incompreensível. Mas é exatamente por não podermos olhar o passado e

seu horizonte de eventos e ver o sentido do que está por vir que chamamos essa transformação

da singularidade.

O mais importante, no entanto, é que a inteligência que vai surgir continuará a

representar uma civilização humana, mesmo que esta seja homem-máquina. Isso quer dizer

que máquinas futuras serão humanas, mesmo que elas não sejam biológicas.

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Trata-se do próximo passo na evolução, a próxima mudança de paradigma de alto

nível, que levará ao próximo nível de incertezas. Mas, embora a maior parte da inteligência da

nossa civilização acabe sendo não-biológica, isso não implica no fim da inteligência

biológica, mesmo porque as formas não-biológicas serão derivadas de um projeto biológico.

Existe o temor da eminência de termos formas de inteligência não-biológica superiores

à inteligência humana. Do ponto de vista biológico da humanidade, essas inteligências sobre-

humanas deverão ser nossos devotados servos, satisfazendo nossas necessidades e

desejos. Mas cumprindo os desejos de um legado biológico reverenciado, ocupará apenas uma

parte trivial do poder intelectual que a singularidade trará.

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4.7 - Sua vida hoje

Em 2012, Ray Kurzweil foi nomeado diretor de engenharia da Google, chefiando uma

equipe de desenvolvimento de inteligência e compreensão de linguagem natural. Quando a

Google anunciou em janeiro que se juntaria à empresa, muita gente se perguntou por que o

empresário financeiramente estabilizado, com patrimônio avaliado em mais de 20 milhões de

Euros, iria querer trabalhar para uma companhia de grande porte. Sua explicação foi que teve

uma reunião com Larry Page para falar sobre o seu novo livro “How to Create a Mind: The

Secret of Human Thought Revealed”, porque ele tinha lhe dado uma versão para avaliação.

Nesta ocasião, foi convidado a desenvolver suas pesquisas na empresa. Seu projeto

necessitava de um enorme banco de dados, e do que abrir uma nova empresa para desenvolve-

los, acertaram fazer este trabalho no Google, onde já existe esta base de dados e a

infraestrutura de computação. O ganho de tempo e dinheiro seriam enormes. Ninguém mais

que o Google poderia fornecer o tipo de recursos de que ele precisava para cumprir seu

trabalho de pesquisa e processamento. Desde sua adolescência, o inventor tem objetivo de

criar uma inteligência artificial verdadeira, pois em suas expectativas esta inteligência

atingiria o nível humano em 2029.

Agora, como diretor de engenharia do Google, ele está focado especificamente em

habilitar computadores para realmente entender e falar em linguagem natural. Está crescendo

rapidamente um ramo da Inteligência Artificial (AI) que tenta imitar o neocórtex humano para

reconhecer padrões de fala, imagens e outros dados. Kurzweil, eventualmente, quer ajudar a

criar um “amigo cibernético” que sabe o que você quer, antes de você fazer.

Em primeiro lugar, Kurzweil tem como foco fazer o “Google Now” competir com o

Siri da rival Apple, aplicativo de busca por comando de voz para iPhone e iPad. O Facebook,

por sua vez, acaba de anunciar uma interface de linguagem natural para seu serviço de busca

gráfica “Graph Search”. As iniciativas mostram que a o serviço de busca já está evoluindo em

relação as técnicas de busca atuais. O trabalho de Kurzweil não está relacionado diretamente à

publicidade, mas o mercado de marketing irá descobrir em breve o quão profundamente irá

mudar com a sua diretriz focado em máquinas cada vez mais inteligentes.

Tal diretriz está relacionada com o tema do seu novo livro “How to Create a Mind:

The Secret of Human Thought Revealed”. O que consiste em desenvolver métodos

hierárquicos especificamente destinados a entender a linguagem natural, extraindo o

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significado semântico. Isso significa, na verdade, desenvolver uma forma de representar e

modelar o conteúdo semântico de documentos para fazer um trabalho melhor de busca e

responder as perguntas. As consultas ao Google contam com uma percentagem grande e

crescente sob a forma de perguntas, que agora não podem ter uma complexidade indefinida

para eles. Mas ao modelar a linguagem de forma hierárquica, será possível fazer um trabalho

melhor de pesquisa para responder a perguntas, fazendo a modelagem real do que todas essas

bilhões de páginas da web estão tentando dizer.

Para Kurzweil, o Google passar a compreender textos na internet da mesma forma

como humanos seria o mesmo que dar consciência a um computador. E, segundo o autor das

pesquisas, isso deve acontecer por volta de 2029. A partir daí, as máquinas não serão

complexas apenas logicamente, mas emocionalmente, podendo entender qualquer outro

sentimento humano.

Isso exigirá avanços tanto de software quanto de hardware. Para Kurzweil, no caso dos

programas para computadores, estamos mais adiantados, em parte, pelos avanços no estudo

do cérebro humano. Hoje podemos analisar um cérebro vivo e ter acesso às conexões

individuais que ele realiza em tempo real. Além disso, também progrediu o entendimento de

como o neocórtex funciona, que é a região cerebral responsável pelos nossos pensamentos.

A partir disso, métodos biológicos podem ser emulados em computadores. E esses

modelos inspirados pelo cérebro humano combinados com hardwares avançados e as

pesquisas realizadas na área da inteligência artificial das últimas décadas, permitirá, dentro de

algumas décadas, segundo Kurzweil, fazer com que computadores se comportem como seres

humanos.

“Apenas 15. É esse o número de anos que terá de esperar para poder ter um

relacionamento amoroso com um robô”, disse Kurzweil. A declaração foi dada quando as

salas de cinema exibiam o filme “Her”, de Spike Jonze, vencedor de um Oscar para melhor

argumento original.

Protagonizado pelo ator Joaquin Phoenix, o filme se desenrola numa Los Angeles do

próximo futuro e conta a história de um homem que apaixona-se pela voz (de Scarlett

Johansson) do sistema operacional do seu computador. O enredo tem sido analisado como

uma projeção futurista dos relacionamentos amorosos, que pode ser entendida como a busca

do ser humano pela perfeição.

Esta trajetória de conquistas espetaculares de Ray Kurzweil está servindo de modelo

para outros pesquisadores popularizarem suas pesquisas, fazendo-as serem entendidas pelo

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grande público e, com isso, conseguirem patrocínios para seus caros trabalhos. As verbas

oficiais de pesquisa, liberadas por governos ou fundações de cunho científico, são limitadas e

a formalidade de se habilitar a consegui-las são extremamente dificultosas, burocráticas e

conservadoras.

A contratação de Kurzweil pelo Google, para desenvolver sua pesquisa de copiar e

criar uma inteligência artificial baseada no nosso cérebro, podendo utilizar os dados do

imenso “Data Warehouse” da companhia, é o sonho de todo pesquisador. Não haveria verba

de pesquisa, nem própria, nem patrocinada por entidades capitalistas, para criar algo deste

tamanho, crucial para o desenvolvimento e entendimentos dos padrões de comportamento

humano.

Muitas vezes, as verbas necessárias não são desta ordem de grandeza, mas a

burocracia impede a velocidade necessária de desenvolvimento, nesta era do Pós-humano em

que, além de correr o risco de se obsoletar o resultado, não contribuiriam para a sua utilização

por outros pesquisadores.

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CAPÍTULO 5

ANÁLISE DAS HIPÓTESES

Apresentamos aqui, nossa análise das hipóteses que levantamos ao responder o

questionamento desta tese : “Com a sisudez e o conservadorismo da academia, necessários a

credibilidade das divulgações de resultados das pesquisas, como podem estar sobrevivendo

estes pesquisadores de temas polêmicos, já que as bolsas são escassas?”

Foram três as hipóteses, enumeradas a seguir:

1- Alguns pesquisadores estão se auto financiando, e criando independência do seu

trabalho.

2- A verba de pesquisa pode vir do mercado privado altamente capitalista, que

vislumbra algum retorno financeiro advindo do resultado da mesma.

3- Tornando a pesquisa popular, de forma a obter apoio da população, o que

justificaria e pressionaria a continuidade da mesma.

No decorrer da nossa pesquisa, percebemos que a maioria dos pesquisadores que

trabalham com temas polêmicos, está usando a hipótese 3, de torná-la popular, para conseguir

chamar a atenção, com ações de marketing criativas, e provocar discussões, de maneira que

órgãos de fomento, possam justificar a destinação de verbas para o tema.

Por outro lado, a aceleração exponencial da tecnologia, que está mudando a forma de

divulgação, está ajudando a discussão dos temas, pois a participação de uma número cada vez

maior de pessoas, está atraindo pessoas com todos os níveis de formação científica,

interagindo com a elite científica.

Nosso trabalho, portanto, apoiou sua pesquisa nesta terceira hipótese, que nos pareceu

a mais interessante e a mais perseguida pelos pesquisadores.

Também o fato de tornar popular a pesquisa, com ações de marketing, podem

desaguar na hipótese 2, ou até em alguns casos se tivermos um pesquisador empreendedor,

utilizar-se da hipótese 1.

Passamos então a analisar as três hipóteses com base neste nosso trabalho.

Hipótese 1 : Alguns pesquisadores estão se auto financiando, e criando

independência do seu trabalho

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Este caminho foi trilhado por Ray Kurzweil, quando utilizava as receitas de suas

empresas para pesquisar a Inteligência Artificial, que foi mostrado na página 106.

Ele se aproveitava também dos direitos autorais obtidos com seu best-sellers, citados

na página 110.

O grande salto de suas autofinanciadas pesquisas, foi a criação da Universidade da

Singularidade (S.U.) página 112. Quando foi seu primeiro reitor, poderia se dedicar aos seus

estudos e ao mesmo tempo, trabalhar o seu lado empreendedor.

Hipótese 2 : A verba de pesquisa pode vir do mercado privado altamente

capitalista, que vislumbra algum retorno financeiro advindo do resultado da

mesma.

Não trabalhamos muito com esta hipótese nesta tese, mas citamos alguns como Craig

Venter , que recebeu 300 milhões de dólares da Exxon para criar biocombustíveis através de

algas microscópicas , na página 113.

Outra citação foi o projeto Calico, que quer retardar o envelhecimento, descrito na

página 74.

Hipótese 3 : Tornando a pesquisa popular, de forma a obter apoio da população,

o que justificaria e pressionaria a continuidade da mesma.

Esta hipótese, foi a mais trabalhada nesta tese, pois além de mostrar como está

acontecendo a popularização da divulgação científica, transformando as quase que em relatos

jornalísticos, ilustramos a corrida pela obtenção de verbas de pesquisa, com argumentos de

pressão popular, em busca de certas respostas.

Utilizamos formas diferentes de relato do tema imortalidade, misturando textos

conforme a tradição da academia e as outras formas que estão atingindo a mídia de massa.

Todo nosso capítulo 1 – Advento do Pós-humanismo e do Pós- humano, foi escrito

conforme normas acadêmicas, onde procuramos fundamentar nossos resultados de pesquisa,

com citações de autores consagrados. Houve uma certa facilidade nesta pesquisa por

identificarmos uma farta literatura e também pelo fato de a pesquisa cobrir algumas décadas

(De 1920 até os dias de hoje- a primeira década do século XXI).

Já o capítulo 2, foi predominantemente baseado em artigos do Sciam, analisados e

aprovados por um conselho editorial rigoroso, que preservou a credibilidade e a ética,

aparando os excessos e ufanismos futurológicos. Isto se tornou possível porque o

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desenvolvimento tecnológico estava a uma velocidade possível de acompanhar. Para os

eventos científicos mais atuais, e principalmente a partir de 2014, tipicamente entrelaçados na

base GRN, utilizamos principalmente a internet como fonte de pesquisa, porque a literatura

tradicional ainda não está disponibilizada. Existe nesta parte do texto algo muito próximo de

um conteúdo jornalístico, evidentemente com credibilidade, mas que ainda não foi para

publicação tradicional, devido à grande velocidade e quantidade em que estão aparecendo.

Estas pesquisas de internet usam colunas científicas de blogs de centros de pesquisas ou como

mostramos no tópico “A velocidade das descobertas científicas”, onde apresentamos a

compilação das novas descobertas relacionadas a GRN, que foram divulgadas durante o mês

de abril de 2014 no site http://www.kurzweilai.net.

No capítulo 3 – Imortalidade, utilizamos um ponto de vista de Ray Kurzweil, presente

em seus livros de futurologia onde a imortalidade é defendida como consequência da

evolução tecnológica. Evidentemente, utilizamos aqui uma linguagem própria desenvolvida

por Kurzweil, que mistura hipóteses, afirmações e crenças próprias.

Mostramos também um exemplo de comunicação e divulgação científica totalmente

alheio ao meio acadêmico, onde se utiliza a maior mídia de comunicação em massa que é a

televisão. Nesta forma de apresentação, as imagens são a principal ferramenta, utilizadas em

conjunto com comparações e metáforas para tornar didática a apresentação de assuntos

científicos complexos. Mostramos o programa “Os grandes Mistérios do Universo com

Morgan Freeman”, onde a imortalidade é apresentada com o título “Podemos viver para

sempre?”. Selecionamos alguns trechos para ilustrar o uso desta linguagem:

As imagens mostram Michio Kaku, físico teórico do City College de New York, e um

dos coautores da Teoria das Cordas, explicando a entropia. Ele coloca leite num copo de café.

Esta mistura faz aumentar a desordem isto é aumenta a entropia. Retirar o leite do copo

misturado é impossível. Mostra também uma caixa com várias bolinhas de duas cores azuis e

laranja. Elas estão arranjadas perfeitamente: as azuis de um lado e as laranjas de outro.

Imagine que cada bolinha representa um átomo. Se eu aplicar a 2ª.lei da termodinâmica isto

ira entrar em desordem aumentando a entropia e virar um caos. Isto é, eu começo a vibrar a

caixa e as bolas vão se misturando. Mas eu posso reverter o processo injetando energia

externa que seria a ação de ficar separando as bolas com as mãos fazendo voltar à

configuração original. No entanto, isto requer uma injeção constante, já que a caixa continua

vibrando.

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Outro exemplo é utilizado pelo físico de Oxford, Vladko Vedral, que tenta mostrar

como a inteligência pode emergir de um sistema, que opera segundo algumas poucas regras

básicas. Cita o jogo de xadrez, que é um jogo muito complexo, mas que é regido por algumas

regras bem simples. São dezesseis peças de cada lado e cada peça pode fazer dois ou três

movimentos. Podemos dizer o mesmo a respeito da vida, que é regida por duas ou três regras

simples que podem gerar diversos tipos de padrões de comportamento no universo.

Nesta linha de divulgação popular, o próprio Michio Kaku tem programas na

televisão, tais como “A física do impossível” e “Como funciona o Universo”, e o não menos

famoso Stephen Hawking tem o programa “O mundo futurista de Stephen Hawking”. Até o

português João Marqueijo usa de um programa especial “O Big Bang de João Marqueijo”

para defender sua controversa teoria da variabilidade da velocidade luz.

As palestras no YOUTUBE estão cada vez mais sofisticadas devido a esta

popularização da ciência. Esta nova forma de divulgação de avanços científicos realmente tem

origem nesta necessidade de velocidade de comunicação e na barreira criada pela academia

para assuntos controversos.

Mas principalmente, mostramos que não é somente a velocidade e a quantidade do

desenvolvimento científico que está transformando a divulgação científica, em uma

linguagem quase jornalística, utilizando se das mídias digitais mais populares.

Mostramos que por trás desta forma de divulgação que atinge a grande massa está a

sobrevivência dos cientistas que se utilizam dela. Eles estão buscando e obtendo apoio

popular, de forma a aguçar a curiosidade da massa e facilitar o desenvolvimento de pesquisas

muitas vezes polêmicas, e que talvez não despertem o interesse da sisuda e formal academia

e/ou menos ainda das enormes verbas de pesquisas das fundações; sem contar ainda as

pesquisas das grandes empresas de cunho tecnológico envolvidas no GRN, que buscam o

retorno dos investimentos através do lucro imediato.

Vemos nesta popularização o despertar da curiosidade do cidadão comum para estes

assuntos científicos, cada vez mais arregimentando audiência e formando de alguma forma

um nicho de espectadores, que começam a formar determinadas correntes de pensamento e

opiniões. Este embasamento popular faz com que certos trabalhos científicos fiquem

conhecidos e como consequência a obtenção das raras e procuradas verbas de pesquisa.

Um contrato publicado no Diário Oficial da União em 28 de julho de 2014, mostra exatamente o efeito do marketing e da pressão popular que citamos aqui. Trata-se de uma verba de 247,5 milhões de reais que o MEC (Ministério da Educação e Cultura) está concedendo ao Instituto de Ensino e Pesquisa Alberto Santos Dumont (IEPASD), uma

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organização social ligada ao neurocientista Miguel Nicolelis para desenvolver na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), o “Campus do Cérebro”, ambicioso projeto de simulação das ondas cerebrais para comandar dispositivos eletromecânicos. Este projeto é um dos mais polêmicos, e está provocando muitas discussões no meio acadêmico, porque além do tema ser extremamente complexo, o montante é mais do que um quarto de toda verba de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), incluindo aí, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), principal agência de fomento à pesquisa do governo federal. Ele foi assinado exatamente duas semanas após o término da Copa do Mundo de futebol, realizada no Brasil, evento no qual Nicolelis na cerimônia de abertura, fez a demonstração de um exoesqueleto controlado pelo cérebro. Este evento tornou se uma imensa ação de marketing, e chamou a atenção da sociedade civil do mundo inteiro, o que tornou o projeto altamente popular e justificável .

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CAPÍTULO 6

COMENTÁRIOS E CONCLUSÃO

Ao abordarmos o tema pós-humanismo e imortalidade neste trabalho: “A QUESTÃO

DO FUTURISMO PÓS-HUMANO E DA VIDA ARTIFICIAL”, sabíamos perfeitamente da

polêmica que esta questão traz à tona nesta entrada do século XXI.

O tradicionalismo, a postura conservadora e ética dos grandes pesquisadores das

ciências da complexidade não deixam espaço para futurismos vanguardistas que os cientistas

mais arrojados vêm pregando.

A imortalidade obtida através da inteligência artificial é um assunto que causa bastante

discussão exatamente porque a capacidade de reconhecimento de padrões, a emoção, a

criatividade e a surpreendente forma de fazer o inesperado, típica do ser humano, não condiz

com um cérebro artificial programado e construído conforme padrões pré-estabelecidos.

Mesmo alguns movimentos de vanguarda como a “virada não humana”, que foi tema

de um grande evento em maio de 2012, realizado no Center for 21st Century Studies da

Universidade de Wisconsin-Milwaukee, reunindo pesquisadores do nível de Manuel de

Landa, Mark Hansen e Steven Shapiro para discutir questões diversas do que pode acontecer

no futuro do século XXI, onde se inclui o pós-humanismo e o pós-humano, não abalam a

sisudez dos pensadores tradicionais.

Ainda as correntes de pensamento classificadas por Lucia Santaella: O cético (como

Manuel de Landa), o apocalíptico (como Paul Virilio, Peter Sloterdijik e Francis Fukuyama),

o popular (como Hans Moravec, Willian Gibson, Ray Kurzweil, Marvin Minsk e Richard

Dawkins) e o crítico (como Donna Haraway, Robert Peperell, Katherine Hayles, Eugene

Thacker, Elaine Graham e Cary Wolfe) se confrontam cortesmente, sem que haja uma

interpretação comum para a imortalidade.

Acreditamos que quando o tema deixar de ser controverso, estaremos a caminho de

um novo paradigma intelectual.

Robert Pepperell afirma que “a máquina é nosso novo Deus, e que o humano não

estará mais como entidade isolada e única, e sim integrado a elas” e que isso pode ocorrer

“sem colapsos” e espera que esta “inteligência artificial” em processo

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de criação possa sentir excitação, embora tenha claro que “fica para ser

determinado em que grau isso tudo seria agradável”.

Toda a história do Pós-humanismo baseia-se no ciborgue, que foi o rato de Rockland,

parte animal, parte máquina que tinha uma pequena bomba osmótica que injetava doses

precisas e controladas de substâncias químicas que alteravam vários de seus parâmetros

fisiológicos.

Este mesmo ciborgue, adotado por Donna Haraway, fez Hans Moravec prever a

possível separação da mente em relação ao corpo humano obsoleto no qual se encarna, e o

transporte do mental para suportes robóticos ou similares.

Ray Kurzweil, Marvin Minsky e Richard Dawkins também aderiram a essas ideias,

cada uma a seu modo, mas o que une a todos é a crença de que o progresso tecnológico

necessariamente acarreta progresso para o humano.

No caso de Kurzweil, a fusão homem-máquina é tida como inevitável e

incontestável; e o resultado disto seria a imortalidade.

Imortalidade não é um sonho nada novo e já começou a sair dos planos esotéricos para

os científicos. Já existem buscas pelos chamados genes do envelhecimento. Temos a

Academia Americana de Antienvelhecimento desde 1992, diversas pesquisas na área também

são feitas pelas universidades do mundo.

No intuito de se liberar de pré-conceitos arraigados em certos nichos de pesquisa,

Kurzweil utilizou de uma estratégia diferente para financiar suas pesquisas e

consequentemente sua liberdade. A popularização de suas pesquisas.

A trajetória de conquistas espetaculares de Ray Kurzweil, relatadas no capítulo 4, está

servindo de modelo para os pesquisadores de vanguarda popularizarem suas pesquisas e

consequentemente garantir a continuidade de seus trabalhos conseguindo patrocínios vultosos

para seus, muitas vezes, dispendiosos projetos.

As verbas oficiais de pesquisa, liberadas por governos ou fundações de cunho

científico são limitadas e a formalidade de se habilitar a consegui-las são extremamente

dificultosas, burocráticas e conservadoras, além do fato principal, ligado à velocidade de

obtenção de resultados, que como foi citado por Nicolelis, converteriam-se em “arqueologia

do futuro”.

O modelo adotado por Kurzweil, de auto financiamento, no início dos seus trabalhos,

funciona perfeitamente até um determinado limite. Este limite pode ser somente o econômico,

e neste caso, pode se eliminar este óbice, desenvolvendo trabalhos em paralelo que possam

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gerar recursos obtidos pela comercialização destes trabalhos paralelos. As invenções de

Kurzweil, principalmente as que estão relacionadas à recuperação das capacidades humanas,

relatadas no capítulo 4, tais como o scanner CCD, o reconhecimento óptico de omni-fonte de

caracteres (OCR), a máquina de leitura labial para cegos, o sintetizador de voz para texto

comercial, o sintetizador de música capaz de recriar o piano de cauda e outros instrumentos de

orquestra, e o reconhecimento de voz com grande vocabulário, patrocinaram suas pesquisas.

Infelizmente não são todos os pesquisadores que tem um currículum igual ao de

Kurzweil:

O The Wall Street Journal o descreveu como “o gênio inquieto” e a Forbes Inc. de “a

máquina do pensamento final”, classificando-o entre os 8 principais empreendedores nos

Estados Unidos, chamando-o de “o herdeiro legítimo de Thomas Edison” e a PBS (rede de

TV norte americana) escolheu Ray como um dos 16 “revolucionários que fez a América”

juntamente com outros inventores dos últimos dois séculos. Teve em Stevie Wonder um

divulgador ferrenho de seu trabalho, por causa da máquina leitora para cegos, e é conselheiro

de Bill Gates e foi de Bill Clinton quando presidente dos EUA. Ganhou o prêmio Lemelson-

MIT de 500.000 dólares, como o maior inovador do mundo, e foi laureado com a Medalha

Nacional de Tecnologia, a honra da nação, em tecnologia. Foi conduzido ao “Inventors Hall”

o hall da fama dos inventores, estabelecido pelo gabinete de patentes dos EUA. Ele recebeu

20 doutorados honorários e homenagem de três presidentes dos EUA. Foi também

personagem de um documentário independente chamado Transcendent Man. Os cineastas

Barry e Felicia Ptolemy o seguiram, documentando sua turnê global de palestras. E, em junho

de 2010, foi lançado, no Festival de Breckenridge, um filme de autoria do próprio Ray

Kurzweil, intitulado “The Singularity is Near: A True Story About the Future”, baseado em

partes de seu livro de 2005 “The Singularity Is Near”. Foi um dos fundadores da

Universidade da Singularidade (SU) e foi seu primeiro reitor.

Além de utilizar-se das redes sociais, mantem várias páginas no Facebook, tem

também seu site www.kurzweilai.net e várias palestras na TED, e entrevistas no YOUTUBE.

Viaja constantemente dando palestras em centros de ciência ao redor do mundo, e além deste

nível de exposição que usa para divulgar seu trabalho, mantém um carisma pessoal ao

medicar-se constantemente com vitaminas que o fazem manter-se jovem.

A popularização dos trabalhos de Kurzweil proporcionou-lhe uma renda enorme, com

a comercialização de seus livros, palestras e filmes. Esta vertente pode e está sendo utilizada

por muitos cientistas, como por exemplo Michio Kaku, um dos coautores da Teoria das

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Cordas, que se popularizou na televisão e escreveu 19 livros. Além desta renda originada da

literatura, existe a garantia de sempre ter acesso a verbas de pesquisa, mesmo para temas

controversos.

Por outro lado, existe a limitação de tempo e recursos tecnológicos e, neste caso, a

popularização das pesquisas na velocidade que estamos prescrevendo nesta tese auxilia na

divulgação, de forma que elas possam ser acessadas por aqueles que tem estas limitações. Isto

pode ser um fator determinante numa continuidade de trabalho, pois é possível identificar que

determinados caminhos a serem trilhados já o foram por outros, sem resultados.

No caso de Kurzweil, sua pesquisa necessitava a criação de um enorme “Data

Warehouse” para compilar os padrões humanos e permitir que os mesmos pudessem ser

copiados artificialmente. Seu trabalho atual está descrito em seu mais recente livro “How to

create a mind – the secret of human thought revealed” que antes de sua publicação foi

divulgado como “How the Mind Works and How to Build One” (Como a mente trabalha e

como construir uma).

Mesmo utilizando-se de sua capacidade de obtenção de verbas de pesquisa e de

fortuna pessoal, estimada em mais de 60 milhões de dólares, mesmo que se utilizasse de um

batalhão de assistentes, não haveria tempo suficiente para construir este gigantesco banco de

dados. O maior banco de dados do planeta e que contém o que Kurzweil necessitava é o

coração dos negócios do Google. Já havia uma aproximação entre Kurzweil e Larry Page

(fundador do Google) no empreendimento de ambos, a Universidade da Singularidade.

A contratação de Kurzweil pelo Google para desenvolver um sistema de busca

“natural” foi o ponto comum para a continuidade do seu trabalho em busca da criação de uma

inteligência artificial baseada no nosso cérebro, que nos proporcionaria a imortalidade.

O Google, apesar de tudo, nunca tentou algo tão ambicioso como a imortalidade, aliás,

nenhuma grande companhia o fez. Sendo assim, podemos nos perguntar por que a Google

estaria investindo tanto esforço e dinheiro em algo assim? A resposta parece ser bem simples:

Porque se ela não o fizer, quem o fará?

É certo que não são todos os cientistas que têm a capacidade de Kurzweil, mas esta

inspiração e o modelo estão sendo seguidos pela maioria daqueles que dependem de verba

para suas pesquisas.

Recentemente, em 07 de outubro de 2014, Stephen Hawking, criou um perfil no

Facebook, e hoje se pesquisarmos, encontraremos uma grande quantidade de cientistas

divulgando seus trabalhos nestes canais alternativos.

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REFERÊNCIAS

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-CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2000

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REVISTA SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL No. 6 – Novembro/2002 - Controlando robôs com a mente - Miguel A. L. Nicolelis e John K.

Chapin.

No. 20 - Janeiro/2004 – Descobrindo a teoria das cordas – Nathan Jacob Berkovits

O futuro de uma teoria descoberta – Brian Greene

No. 25 - Junho/2004 – Um robô em cada casa – Bill Gates

A Ascensão dos Robôs – Hans Moravec

A proximidade da União Mente e Máquina – Ray Kurzweil

No. 26 - Julho/2004 - À procura de um universo unificado – Steven Weinberg

A nova face da teoria das cordas – Michael J. Duff

Buracos Negros e o paradoxo da informação – Leonard Susskind

Regras para um Mundo Quântico Complexo – Michael A. Nielsen

No. 29 - Outubro/2004 - Legado da Relatividade – Gary Stix

Panorama da teoria das cordas – Raphael Bousso e Joseph Polchinsky

No. 31- Dezembro/2004 – O horizonte da revolução da física das partículas – Chris Quigg

Possibilidade de Imortalidade – Gerd Kempermann

No. 56 - Janeiro/2007 - Em busca do código neural.- Miguel A. L. Nicolelis e Sidarta Ribeiro

No. 100 - Setembro/2010 – Bem vindo ao futuro –Os redesenhos do homem – Beny Schmidt

No. 102 - Novembro/2010 – A impossibilidade de uma teoria do tudo – Stephen Hawking e

Leonard Mlodinov

Viver sem morrer - Acary Bulle Oliveira

No. 111 - Agosto/2011 - Mente fora do corpo - Miguel A. L. Nicolelis

No. 133 - Junho/2013 – Meu chefe o Robô – David Bourne

No. 141 - Fevereiro/2014 – Simulando uma célula viva – Markus W. Covert

No. 143 – Abril/2014 – O novo século do cérebro – Rafael Yuste e George M. Church

No. 144 – Maio/2014 – A revolução do RNA – Christine Gorman e Dina Fine Maron

Edição Especial no. 58 – maio/2014 – NEUROCIENCIA 2 –

- Luz para controlar o cérebro – Karl Deisseroth

- A linguagem do cérebro – Terry Sejnowski e Tobi Delbruck

- Projeto do Cérebro Humano – Henry Markram

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