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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP João Yanase A UTILIZAÇÃO DO TRANSFER PRICING NA FORMAÇÃO DE PREÇOS DE SERVIÇOS E PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS SÃO PAULO 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

João Yanase

A UTILIZAÇÃO DO TRANSFER PRICING NA FORMAÇÃO DE PREÇOS DE

SERVIÇOS E PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS

SÃO PAULO

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

João Yanase

A UTILIZAÇÃO DO TRANSFER PRICING NA FORMAÇÃO DE PREÇOS DE

SERVIÇOS E PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES

MESTRADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E FINANCEIRAS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em Ciências Contábeis e Financeiras,

sob orientação do Prof. Dr. Antonio Benedito Silva

Oliveira.

SÃO PAULO

2010

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2

Banca Examinadora

_________________________________

_________________________________

_________________________________

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Dedico essa pesquisa à minha querida esposa

Maria Iraci e aos nossos estimados filhos

Luciana e João Henrique.

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4

AGRADECIMENTOS

A Deus que, lá de cima, orienta-nos a todo instante sobre o caminho que devemos seguir, sem

essa orientação pouca coisa seríamos capazes de produzir.

Sim, a Deus que me enviou a esta passagem para que fizesse inúmeras amizades, amizades

essas que nunca deixaram de oferecer seus apoios para o meu crescimento pessoal, acadêmico

e profissional.

Sim, a Deus que me agraciou nesta passagem com três criaturas maravilhosas, Maria Iraci,

Luciana e João Henrique, minha companheira e nossos filhos que são a razão de nossa

existência, de nossa evolução e dedicação, sem o apoio deles, tudo seria mais difícil.

Sim, a Deus que no decorrer dessa vida acadêmica, colocou-me entre colegas e hoje amigos

que foram fundamentais na minha motivação e nos esclarecimentos acerca das pesquisas

realizadas.

Sim, a Deus que no decorrer dessa vida acadêmica, colocou-me em contato com os mais

ilustres Professores Doutores, que fizeram parte dessa jornada, sempre prontos para orientar e

esclarecer, principalmente com o apoio irrestrito nas dificuldades.

Agradecimentos especiais ao Prof. Doutor Roberto Fernandes dos Santos e à Profª. Dra.

Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos, coordenadores do Programa de Estudos Pós-

Graduados em Ciências Contábeis e Financeiras, pela calorosa acolhida na ocasião do

processo seletivo e, principalmente, pelo apoio incondicional oferecido durante essa jornada.

Agradecimentos especiais ao Prof. Doutor Antonio Benedito Silva Oliveira, na condição de

orientador que, com seu profundo conhecimento e muita paciência, participou de forma direta

e decisiva na condução desta dissertação.

Agradecimentos especiais ao apoio de todos que, direta e indiretamente, participaram desta

pesquisa, sem os quais maiores teriam sido as dificuldades.

Finalmente, agradeço a Deus, por mais esta conquista e pelo privilégio de poder dividi-la com

todos que julgarem útil esta obra.

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5

“Quando recebemos um ensinamento,

devemos receber como um valioso presente e

não como uma dura tarefa.

Eis aqui a diferença que transcende.”

Albert Einstein

14/03/1879 – 18/04/1955

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RESUMO

Por sua complexidade, organizações hospitalares necessitam de ferramentas de controle de

custos que ofereçam informações importantes para a tomada de decisões. A utilização do

preço de transferência “transfer pricing” na formação de preços de serviços e procedimentos

médico-hospitalares é uma dessas importantes ferramentas, pois evita que eventuais

ineficácias sejam incorporadas ao custo final desses produtos ou serviços. O preço de

transferência, diferentemente da composição tradicional de custos, requer do fornecedor

interno alta competitividade, pois, caso contrário, o cliente interno terá a opção de recorrer ao

mercado na busca de produtos ou serviços a preços e condições mais convidativos. O método

utilizado é a pesquisa bibliográfica e documental com proposição de exemplo, formulado com

dados obtidos em hospitais, clínicas e sites oficiais. A conclusão desta pesquisa é de que a

utilização do preço de transferência é perfeitamente viável desde que a organização hospitalar

seja estruturalmente descentralizada ou que passe por esse processo e, para o sucesso na

utilização desta ferramenta dentro de uma gestão saudável, é imprescindível o engajamento de

todo corpo de colaboradores, da direção aos mais modestos.

PALAVRAS-CHAVE: Transfer Pricing. Custo hospitalar. Controladoria. Custo de Serviços

e Procedimentos médico-hospitalares.

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7

ABSTRACT

Due to its complexity, hospital organizations need costs control tools that offer important

information for decision-making. The use of the Transfer Pricing in the medical services and

procedure prices formation is one of those important tools, because it avoids eventual

ineffectiveness from being incorporated to the final cost of those products or services. The

transfer price differently of the traditional composition of costs, requires from the internal

supplier hight competitiveness, otherwise the internal Client has the option to appeal to the

market to search better prices and conditions of products or services. The method utilized is

the bibliographical and documental research, with preposition of the example, about dates

obtained of the hospital, clinical and official sites. The conclusion of this research is that the

Transfer Price is perfectly viable on hospital organizations wich are structurally decentralized.

For the success in the utilization of this tool at heathy management, is indispensable the

commitment of all collaborators, from the ground up.

KEY WORDS: Transfer Pricing. Cost hospital. Controlling. Cost of goods and Services

medical.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Demonstrativo do ciclo operacional de uma organização hospitalar................ 50

Figura 2 – Esquema de sistema de custeio por atividade................................................... 78

Figura 3 – Esquema de métodos convencionais................................................................. 80

Figura 4 – Esquema do método de custeio ABC................................................................ 81

Figura 5 – Esquema de política de formação de preços..................................................... 85

Figura 6 – Comportamento da oferta e da procura............................................................. 86

Figura 7 – Enfoque mercadológico x enfoque financeiro.................................................. 88

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Número de segurados em relação ao tipo de contratação por plano, com data

base em março de 2010..................................................................................... 17

Quadro 2 – Classificação de hospitais quanto ao porte....................................................... 21

Quadro 3 – Panorama geral das desigualdades que existem entre os povos pelo mundo... 29

Quadro 4 – Número de leitos existentes em todos os hospitais do Brasil, data base em

2006................................................................................................................... 31

Quadro 5 – Distribuição de leitos em hospitais do Estado de São Paulo, data base em

2006................................................................................................................... 32

Quadro 6 – Número de estabelecimentos de saúde em todo Brasil, por especialidade,

com data base em 2006...................................................................................... 33

Quadro 7 – Relação dos principais equipamentos médico-hospitalares existentes no

Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, com data base em 2006............ 34

Quadro 8 – Esfera administrativa dos estabelecimentos de saúde no Brasil, de acordo

com dados obtidos junto ao Ministério da Saúde............................................. 35

Quadro 9 – Comparativo de preços praticados por tomador de serviços, em R$............... 46

Quadro 10 – Custeio integral, em R$................................................................................. 65

Quadro 11 – Custeio direto, em R$..................................................................................... 65

Quadro 12 – Custeio por atividade, em R$......................................................................... 66

Quadro 13 – Divisão das atividades realizadas em organizações hospitalares, quanto a

sua natureza.................................................................................................... 72

Quadro 14 – Exemplo de procedimentos, em R$................................................................ 93

Quadro 15 – Exemplo de rentabilidade, em R$.................................................................. 94

Quadro 16 – Exemplo de valor da prestação de serviços, em R$....................................... 95

Quadro 17 – Exemplo de valor da prestação de serviços, em R$....................................... 96

Quadro 18 – Custo independente variável, em R$.............................................................. 98

Quadro 19 – Margem de contribuição – Comprovação, em R$.......................................... 99

Quadro 20 – Contribuição operacional pretendida, em R$................................................. 102

Quadro 21 – Definição de critérios para rateios das despesas incorridas nas unidades de

apoio................................................................................................................ 105

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Quadro 22 – Definição de critérios para rateios das despesas incorridas nas unidades

administrativas................................................................................................. 105

Quadro 23 – Definição de critérios para rateios dos custos indiretos................................. 105

Quadro 24 – Valor dos investimentos realizados, em R$................................................... 106

Quadro 25 – Abreviaturas das denominações das unidades................................................ 107

Quadro 26 – Apuração do custo com pessoal por unidade, em R$..................................... 107

Quadro 27 – Apuração de consumo de materiais por unidade, em R$............................... 108

Quadro 28 – Apuração de custos e despesas gerais por unidade, em R$............................ 109

Quadro 29 – Demonstração dos custos indiretos, por item, em R$.................................... 109

Quadro 30 – Demonstração da produção da lavanderia, para cada unidade....................... 110

Quadro 31 – Apuração de número de contas fechadas, para cada unidade......................... 110

Quadro 32 – Relação de peso por refeição......................................................................... 111

Quadro 33 – Fornecimento de refeições para cada unidade, em termos físicos.................. 111

Quadro 34 – Apuração da produção por unidade, em termos físicos.................................. 112

Quadro 35 – Apuração da quantidade utilizada de material esterilizado, por unidade....... 113

Quadro 36 – Apuração dos gastos gerais e critério de rateio, por unidade......................... 114

Quadro 37.1 – Apuração do custo com pessoal, em R$...................................................... 114

Quadro 37.2 – Apuração do custo com materiais e medicamentos, em R$........................ 115

Quadro 37.3 – Apuração dos custos gerais, em R$............................................................. 115

Quadro 37.4 – Apuração dos custos diretos, em R$............................................................ 116

Quadro 37.5 – Apuração dos custos indiretos, em R$........................................................ 116

Quadro 37.6 – Apuração dos custos diretos (+) indiretos, em R$....................................... 117

Quadro 37.7 – Rateio das despesas dos centros de custos de apoio e administrativo e

respectiva absorção pelos centros de resultado. (alocação sequencial)........ 119

Quadro 37.8 – Alocação das despesas rateadas aos respectivos centros de resultado,

em R$............................................................................................................ 120

Quadro 37.9 – Custo e preço de venda para serviços e procedimentos, por unidade,

em R$............................................................................................................ 121

Quadro 37.10 – Apuração da receita bruta, em R$............................................................. 121

Quadro 37.11 – Resultado obtido em cada unidade de atendimento, em R$...................... 122

Quadro 38 – Simulação de preços praticados no mercado, em R$..................................... 123

Quadro 39 – Transferência recíproca dos custos e despesas entre unidades, em R$.......... 124

Quadro 40 – Comparação dos resultados encontrados, em R$........................................... 125

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC – Activity-Based Costing

ALA – Unidade de internação

AMB – Associação de Médicos do Brasil

ANS – Agência Nacional da Saúde Suplementar

CBHPM - Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos

CC. – Centro Cirúrgico

CFM – Conselho Federal de Medicina

CIEFAS - Comitê de Integração de Entidades Fechadas de Assistência à Saúde

CME – Central de Materiais Esterilizadas

MEC – Ministério da Educação

OMS – Organização Mundial de Saúde

SADT – Serviços Auxiliar de Diagnósticos e Terapêutica

SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística

SND – Serviço de Nutrição e Dietética

SPA – Sala Pós-anestesia

SUS – Sistema Único de Saúde

UCI – Unidade Coronariana Intensiva

UF – Unidades Funcionais

UTI – Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 14

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................. 25

1.1 Hospital......................................................................................................................... 25

1.1.1 Saúde em São Paulo.......................................................................................... 25

1.1.2 Saúde no mundo e no Brasil.............................................................................. 29

1.1.3 Conceitos e características das organizações hospitalares................................ 36

1.1.4 Organizações hospitalares sob o ponto de vista da Controladoria.................... 36

1.1.5 Atual estágio da gestão hospitalar no Brasil...................................................... 36

1.2 Contabilidade de Custos.......................................................................................... 38

1.2.1 Evolução histórica da Contabilidade de Custos................................................ 38

1.2.2 A Contabilidade de Custos evoluindo para a Contabilidade Gerencial............ 40

1.2.3 O significado da Contabilidade de Custos em empresas não industriais.......... 42

1.2.4 Terminologia em Contabilidade de Custos....................................................... 42

1.2.5 Custos: uma visão geral dos conceitos.............................................................. 43

1.2.6 Classificação dos custos.................................................................................... 44

1.2.6.1 A difícil separação, na prática, de custos e despesas............................. 44

1.3 A utilização da Contabilidade de Custos em organizações da saúde................... 45

1.3.1 Função controle................................................................................................. 45

1.3.2 Preço de venda................................................................................................... 47

1.3.3 Gerenciamento do resultado.............................................................................. 48

1.3.4 Planejamento das atividades.............................................................................. 48

1.3.5 Fluxo de formação de custos............................................................................. 48

1.4 Aspectos essenciais do cálculo de custos.................................................................50

1.4.1 Ciclo operacional............................................................................................... 50

1.4.2 Reposição integral dos insumos físicos............................................................. 51

1.4.3 Valor do dinheiro no tempo............................................................................... 53

1.4.4 Resultado........................................................................................................... 54

1.5 Bases conceituais de custos relevantes em organizações hospitalares................. 58

1.5.1 Considerações iniciais....................................................................................... 58

1.5.2 Custos diretos x indiretos.................................................................................. 58

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1.5.3 Custos variáveis x custos fixos.......................................................................... 60

1.5.4 Relação entre custos diretos x indiretos e variáveis x fixos.............................. 61

1.5.5 Implicações práticas na montagem do sistema.................................................. 62

1.5.6 Métodos de custeio e suas bases conceituais específicas.................................. 63

1.5.7 Inter-relacionamentos dos métodos................................................................... 68

2 APLICAÇÃO DO PREÇO DE TRANSFERÊNCIA “TRANSFER PRICING”

EM ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES................................................................. 70

2.1 Setorização................................................................................................................ 70

2.1.1 Unidades de negócio.......................................................................................... 70

2.1.2 Centros de custos............................................................................................... 73

2.1.2.1 Homogeneidade funcional..................................................................... 73

2.1.2.2 Unidade de responsabilidade................................................................. 73

2.1.3 Plano de centros de custos................................................................................. 74

2.2 Divisão por atividade................................................................................................ 77

2.2.1 Características gerais......................................................................................... 77

2.2.2 A operacionalização da divisão dos custos por atividades................................ 79

2.3 Formação de preços.................................................................................................. 83

2.4 Diferenciando preços de valores.............................................................................. 86

2.5 Os dois enfoques básicos na formação do preço de venda.................................... 87

2.6 Componentes que influenciam na formação de preço/valor................................ 88

2.7 Os objetivos da organização.................................................................................... 90

2.8 Estrutura de custos................................................................................................... 91

3 A UTILIZAÇÃO DO “TRANSFER PRICING” NA FORMAÇÃO DE PREÇOS

DE SERVIÇOS E PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES.................... 104

3.1 Sistema de gestão de custos hospitalares................................................................ 104

3.1.1 Apropriação por unidade de negócios............................................................... 104

3.1.2 Apuração no preço de transferência “transfer pricing”.................................... 125

CONCLUSÃO.................................................................................................................... 129

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 132

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14

INTRODUÇÃO

Este trabalho visa oferecer uma alternativa que é a utilização do preço de transferência

“transfer pricing” na formação de preços de serviços e procedimentos médico-hospitalares,

segundo a visão da controladoria.

De acordo com Ribeiro Filho (2005, p. 38):

O profissional da Controladoria Hospitalar é, antes de tudo, alguém que possui uma

visão sistêmica da entidade onde atua. Esta idéia tem, pelo menos, dois componentes

principais. Em primeiro lugar, é fundamental um forte compromisso com o nível de

excelência dos processos e resultados clínicos (visão da atividade-fim). Em segundo

lugar, uma perspectiva de atuação interdisciplinar para o sistema de informações

gerenciais, na medida em que cada serviço, no contexto de sua especialização,

deverá ter o seu resultado mensurado e reportado (visão da atividade de apoio

gerencial).

As atividades hospitalares notadamente constituem um dos setores mais complexos da

economia, por serem muito diversificadas. Esta complexidade é ratificada através de inúmeros

artigos publicados bem como de outros tantos materiais, como dissertações de mestrado em

pesquisas realizadas recentemente.

Entre artigos e dissertações, podemos citar:

a) “O grau de complexidade das organizações hospitalares [...]”, artigo apresentado nos

anais do XIV Congresso Brasileiro de Custos em 2007 por Edvalda Araujo Leal;

b) “Cumpre salientar que a delimitação da pesquisa em apenas um setor deve-se à

complexidade dos hospitais como um todo [...]”, artigo publicado na revista ABCustos

Associação Brasileira de Custos – v. IV, n. 3 – set.-dez. 2009 por Antonio Artur de

Souza et. al.;

c) “Entre as diversas organizações cuja presença caracteriza a sociedade moderna, uma

se sobressai pela complexidade das tarefas que a comunidade lhe impôs – O hospital

tem sido, e continua a ser, uma das mais complexas organizações existentes [...]”,

artigo apresentado nos anais do XV Congresso Brasileiro de Custos em 2008, sob o

título “Proposta de uma sistemática para apuração e análise de resultado para tomada

de decisão em hospitais”; por Katia Abbas et.al.

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15

d) “Os hospitais são organizações complexas que, em geral, prestam serviços de

diagnóstico, prevenção, tratamento, hospedagem, educação, pesquisa, entre outros

[...]”, artigo apresentado nos anais do XIV Congresso Brasileiro de Custos em 2007,

por Marcia Zanievicz da Silva et al.;

e) “O Hospital é tido como uma organização complexa em função de agregar um

conjunto de atividades dentro de sua estrutura, na geração de serviços [...]”.

Dissertação de Mestrado – Pascoal Marracini – FECAP/SP. 2002, p. 9;

f) “Nesta complexidade de atribuições, o hospital necessita [...]”. Dissertação de

Mestrado – Newton Shiozawa – FECAP/SP. 2005, p. 31.

Neste contexto, os controles financeiros e de custos, que são de vital importância,

ainda são relegados a um segundo plano, pois a cultura empresarial neste meio ainda é

insipiente, conforme inúmeros artigos publicados nos anais dos seguintes congressos, dentre

outros:

a) “A gestão hospitalar brasileira é considerada um dos setores mais defasados quanto à

utilização das ferramentas de gestão [...]”, artigo apresentado nos anais do Congresso

Brasileiro de Custos de 2007, por Edvalda Araujo Leal;

b) “No atual contexto da gestão financeira e de custos em organizações hospitalares, os

sistemas de informações (SI) utilizados para o controle e análise dos custos tem sido

um dos principais entraves para o gerenciamento e tomada de decisões [...]”, artigo

publicado na revista ABCustos Associações Brasileira de Custos – v. IV, n. 3 – set.-

dez. 2009, por Antonio Artur de Souza et al.;

c) “[...] ainda há poucas evidências empíricas a respeito das práticas de gestão de

preços, custos e margens de lucros por parte de instituições hospitalares [...]”, artigo

apresentado nos anais do 9º Congresso de Controladoria e Contabilidade da USP em

2009, por Reinaldo Rodrigues Camacho e Wellington Rocha;

d) “No Brasil, porém, não existem hospitais que cobrem taxas com embasamento técnico,

ou seja, os custos dos procedimentos são desconhecidos [...]”, artigo apresentado nos

anais do XV Congresso Brasileiro de Custos em 2008. Por Katia Abbas et.al.

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16

Este panorama tem como causa, principalmente, a falta de profissionais qualificados

que aliada a esta complexidade, constituem razões mais que suficientes para causar aflição a

qualquer gestor desta área.

É certo que sempre houve escassez de mão de obra especializada em administração

hospitalar, havendo poucas opções de curso de graduação. Em consulta ao site do MEC,

(Disponível em: <http://emec.mec.gov.br/>. Acesso em: 30 jun. 2010) verifica-se a existência

de nove cursos autorizados no Brasil, assim distribuídos: Rio Grande do Sul – 1 curso; Paraná

– 2 cursos; São Paulo – 4 cursos; Bahia – 1 curso e Pernambuco – 1 curso.

Com a gradativa profissionalização da gestão de hospitais, iniciando pela mudança na

postura de seus dirigentes, contratando profissionais no mercado e com investimento em

recursos humanos, aos poucos se criam núcleos de profissionais em administração hospitalar,

inclusive em cursos de pós-graduação. Por outro lado, atualmente, valorizam-se esses

profissionais que têm investido em suas formações.

No mundo globalizado de hoje, o mercado exige muita profissionalização e

qualificação, pois a concorrência é cada vez mais acirrada.

Uma organização hospitalar, dada a sua complexidade, tem uma gama diferenciada de

clientes, pois existem os clientes-pacientes; os médicos que, se não indicam diretamente (o

CFM não admite), sugerem aos seus pacientes quais os serviços que devem procurar e os

convênios médicos, que atualmente oferecem cobertura a mais de 43 milhões de brasileiros,

(de acordo com a ANS, são 43.196.168 em março de 2010. Disponível em:

<www.ans.gov.br/>. Acesso em: 20 ago. 2010) seja através das operadoras de planos de

saúde, das seguradoras, das empresas de autogestão, das cooperativas de médicos, das

administradoras de planos de saúde, das entidades de classe que mantêm apólices coletivas e

de pequenos grupos de interessados que formal ou informalmente se organizam e oferecem

aos que não possuem um plano de saúde uma tabela diferenciada em relação aos atendimentos

particulares, além dos planos individuais, estes, sob condições estabelecidas pela Agência

Nacional da Saúde Suplementar (ANS), quanto à cobertura das doenças, condições de

atendimento e, principalmente, quanto aos reajustes de preços.

Neste contexto, as operadoras bem como as cooperativas de médicos em geral mantêm

hospitais próprios nos principais centros em que atuam, pois a administração dos

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17

atendimentos a seus conveniados torna-se muito mais eficiente, com monitoramento on-line

da evolução do quadro dos segurados pacientes.

Este monitoramento é muito importante, pois na realidade monitoram-se os custos e

não a evolução do quadro do paciente, pois atualmente serviços médico-hospitalares são

encarados como um negócio, como outro qualquer, pois dependem disso para sua própria

sobrevivência.

Por outro lado, o prestador de serviços, no caso os hospitais, as clínicas, os

laboratórios e os médicos dependem cada vez mais dos atendimentos a clientes-pacientes que

mantêm convênio, quer sejam individuais, coletivos ou empresariais.

Atualmente há uma predominância de segurados empresariais em relação aos

individuais, conforme quadro abaixo:

Quadro 1 – Número de segurados em relação ao tipo de contratação por plano, com data base

em março de 2010

TIPO DE CONTRATAÇÃO DO PLANO NÚMERO DE SEGURADOS %

Individual ou Familiar 9.215.362 21,33

Coletivo Empresarial 24.035.576 55,64

Coletivo por Adesão 7.417.313 17,17

Coletivo não Identificado 51.694 0,12

Não Informado 2.476.223 5,74

TOTAL 43.196.168 100,00

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no site da ANS. Disponível em: <www.ans.gov.br>. Acesso em:

20 out. 2010.

De acordo com o IBGE, a população do Brasil é de 191.480.630 habitantes

(estimativas das populações residentes, em 01 de julho de 2009, publicado no DOU do dia 14

de agosto de 2.009. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 ago. 2010), portanto,

cerca de 148 milhões de pessoas dependem da saúde pública que, exceto para alguns serviços

pontuais, enfrentam grandes dificuldades para conseguir atendimento, chegando a enfrentar

filas absurdas, com agendamento para meses e até, em certos casos, anos de espera.

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Encontram-se também os cidadãos que podem arcar com altos custos cobrados na

condição de paciente particular e aqueles que mesmo não tendo essas condições, por não

terem um plano de saúde e não quererem sujeitar-se às condições de atendimento do SUS

chega a desfazer-se de bens materiais para arcar com esses custos.

Existem também hospitais filantrópicos, que de acordo com o artigo 3º, § 4º do

Decreto nº 4.327, de 08 de agosto de 2002, deverão ofertar ao gestor local do SUS, mediante

oficio protocolado, a prestação de todos os seus serviços no percentual mínimo de 60%, e

comprovar o mesmo percentual de internações realizadas no ano, medidas por paciente-dia.

Havendo impossibilidade declarada pelo gestor do SUS, na contratação dos serviços de saúde

da instituição no percentual mínimo de 60% de internação, deverá ela comprovar percentual

aplicado em gratuidade, observada a seguinte escala: a) 20% da sua receita bruta, se o

percentual do atendimento ao SUS for inferior a 30%; b) 10% da receita bruta, se o percentual

de atendimento ao SUS ficar entre 30% e 49,9%; e, c) 5% de sua receita bruta, se o percentual

de atendimento ao SUS ficar entre 50% e 59,9%. Em geral, essas instituições mantêm duas ou

mais unidades separadas fisicamente, com instalações equiparadas às dos melhores hospitais

do mundo, em contraste com as instalações muito modestas do SUS, que atendem a grande

massa da população brasileira.

As Santas Casas também exercem papel importante no atendimento médico,

principalmente à população mais necessitada, que mantém convênios com o SUS.

Objetivos da pesquisa

O objetivo dessa pesquisa é a proposição da utilização do preço de transferência

“transfer pricing”, na formação de preços de serviços e procedimentos médico-hospitalares,

especificamente para compor preços de venda, conforme exemplo a ser desenvolvido ao

longo dessa.

Preço de transferência vai muito além da utilização de um de seus métodos para

definição do preço que a unidade receptora arcará como seu custo dos bens e serviços

intermediários que adquirem ou tomam de outras unidades fornecedoras internas.

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A utilização do preço de transferência por si só não modifica em nada os resultados da

organização como um todo. A proposta é a utilização dessa poderosa ferramenta de forma

plena, com estrutura descentralizada, com atribuição de liberdade e responsabilidade aos

gestores, tanto da unidade operacional quanto de apoio ou administrativa, possibilitando

sempre às unidades receptoras o acompanhamento das condições comerciais que o mercado

ora esteja praticando.

Cabe às unidades fornecedoras a melhor composição de seus custos, pois assim, além

de fornecer bens ou serviços às unidades receptoras a preços competitivos, estarão essas

unidades apresentando desempenho favorável e consequentemente participando de forma

favorável nos resultados globais da organização.

O esforço de cada unidade será recompensado com seus resultados, também e

principalmente com relação aos resultados globais da organização.

Definição do problema da pesquisa

Para Marconi e Lakatos (2008, p. 161), “Problema é uma dificuldade, teórica ou

prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, para a qual se deve encontrar

uma solução.”

Conforme relatado na introdução desta pesquisa, organizações hospitalares carecem de

uma estruturação quando o assunto é custo de seus serviços e procedimentos. Cita-se entre

outras pesquisas:

a) “A gestão hospitalar brasileira é considerada um dos setores mais defasados quanto à

utilização das ferramentas de gestão [...]”, artigo apresentado nos anais do Congresso

Brasileiro de Custos de 2007, por Edvalda Araujo Leal;

b) “No atual contexto da gestão financeira e de custos em organizações hospitalares, os

sistemas de informações (SI) utilizados para o controle e análise dos custos têm sido

um dos principais entraves para o gerenciamento e tomada de decisões [...]”, artigo

publicado na revista ABCustos Associações Brasileira de Custos – v. IV, n. 3 – set.-

dez. 2009, por Antonio Artur de Souza et al.;

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Diante dessas evidências e, principalmente, em função da complexidade nas operações

de controles que as organizações hospitalares apresentam aliados à questão temporal pela qual

essas organizações passaram a encarar atividades da saúde com um negócio, surge a

necessidade de desenvolver ferramentas para a gestão e tomada de decisões.

Definição do tipo de pesquisa

Para estruturar a presente pesquisa a metodologia utilizada foi a da pesquisa

bibliográfica documental, com proposição de exemplo.

De acordo com o que definem Marconi e Lakatos (2008, p. 185): “A pesquisa

bibliográfica, ou fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação

ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,

monografias, teses, material cartográfico etc.”

Foram utilizados na presente pesquisa materiais já publicados, como artigos em anais

de congressos, tanto de contabilidade e controladoria como de custos, os mais recentes, bem

como de livros que abordam assuntos pertinentes, como custos, custos hospitalares,

controladoria, controladoria hospitalar, formação de preços e gestão de custos hospitalares,

entre outros.

Também foram de grande importância as contribuições oriundas das dissertações de

mestrado nas áreas de contabilidade, engenharia de produção, custos, gestão hospitalar e

tantas outras.

A leitura desses diversos materiais possibilitou a formação de uma ideia e a

formulação da presente proposta, inclusive com o desenvolvimento de um exemplo, que foi

concluído com evidências da importância da aplicação do tema proposto.

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Limitação da pesquisa

Tratando-se de uma pesquisa bibliográfica documental, com proposição de um

exemplo, cujos dados foram obtidos em hospitais, clínicas e sites oficiais, a proposta é a de

oferecer alternativas para a estruturação da área de custos, para conhecer a utilização da

ferramenta preço de transferência “transfer pricing” na formação de preços de serviços e

procedimentos médico-hospitalares.

Essa estrutura pode ser utilizada em hospitais de qualquer porte, pequeno, médio ou

grande.

Quadro 2 – Classificação de hospitais quanto ao porte

PORTE NÚMERO DE LEITOS

Pequeno Até 50

Médio Entre 51 a 150

Grande Entre 151 a 300

Extra Acima de 301

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em informações obtidas no site do Ministério da Saúde - portaria nº

2224/GM de 15/12/2002. Disponível em: <http://dtr.2001.saude.gov.br/>. Acesso em: 10 abr. 2010.

De acordo com Oliveira (2009, p. 283): “Preço de transferência é normalmente

conceituado como o preço pelo qual uma área de responsabilidade de uma organização

transfere seus produtos ou serviços a outra área da mesma organização”.

Segundo Anthony e Govindarajan (2006, p. 271):

O preço de transferência é o mecanismo de distribuição dessa receita. Ele não é

primordialmente um instrumento contábil; é um instrumento de atuação que motiva

os executivos a tomar as decisões corretas. [...] O princípio fundamental é o conceito

de que o preço de transferência deve ser similar ao preço que seria aplicado a

compradores externos, ou que seria pago a fornecedores externos.

Ainda de acordo com Anthony e Govindarajan (2006, p. 271):

Em princípio, um preço de transferência deve ser determinado de forma a cumprir os

seguintes objetivos: (1) Proporcionar a cada segmento a informação relevante

necessária para permitir avaliações entre incorrer em custo da empresa e obter

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receitas; (2) Induzir a decisões com congruência de objetivos – isto é, o sistema deve

ser projetado de forma que as decisões que aumentam os lucros da unidade

aumentem também os lucros da empresa; (3) Contribuir para a avaliação do

desempenho econômico de todos os centros de lucros, e (4) O sistema deve ser

simples de entender e fácil de administrar.

Ainda, de acordo com Pereira e Oliveira, coordenado por Catelli (2007, p. 392):

“Preço de transferência é definido como o valor pelo qual são transferidos bens e serviços

entre as atividades e áreas internas de uma organização”.

Esta forma apresenta vantagens em relação aos sistemas de custeamento tradicionais,

pois tem como principal característica a possibilidade de numa organização descentralizada

negociar preços de produtos ou serviços intermediários, comparando com o que se pratica no

mercado, com liberdade de passar a adquirir nesse mercado, se for o caso. Isso faz com que

cada centro seja cada vez mais eficiente e eficaz, pois sente o efeito da concorrência externa.

Com isso, na formação do preço final de seus produtos ou serviços eventuais, a ineficácia

deixa de existir ou pelo menos boa parte desta, contribuindo de forma positiva para os

resultados globais da organização.

Para Santos (2002, p. 4):

A decisão gerencial de divisionalizar se baseia em diversos fatores, tais como

diversidade de mercado, economias de escala e tamanho. [...] Duas características

essenciais das unidades de negócio são: independência operacional e acesso a

recursos e mercados. Uma unidade de negócio deve ser uma unidade operacional

independente, e seu gestor deve ter controle sobre todas ou a maioria de suas

decisões operacionais. Isso significa que ele deve ter considerável liberdade de ação

em determinar o volume de produção, métodos de operação, “mix” de produtos, e

assim por diante, sujeito somente às políticas mais amplas da corporação. Além

disso, gestores de unidades de negócio devem ser livres para comprar e vender em

mercados alternativos, tanto dentro como fora da companhia.

Ainda de acordo com Santos (2002, p. 3):

Visando a flexibilidade estratégica e a capacidade adaptativa de curto prazo quanto à

dinâmica evolutiva de seus mercados de atuação, muitas empresas de grande porte

têm optado por uma fragmentação organizacional e decisorial, através de sua

subdivisão em diversos segmentos operacionais, responsabilizados por resultados de

específicos produtos-mercados. Esse processo é denominado de divisionalização, e

os segmentos operacionais de unidades de negócio. [...] Uma unidade de negócio

pode ser tratada como se fosse uma entidade independente. Cabe ao gestor da

unidade de negócio desenvolver uma estratégia para seu particular negócio, achando

um nicho competitivo para ele [...]

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À medida que uma empresa expande sua estrutura, tanto operacional quanto de apoio,

acompanha o aumento na complexidade, tornando-se cada vez mais necessário criar um

sistema de informações capaz de fornecer dados à alta direção para tomada de decisões.

Tomar decisões tendo como base informações trazidas pelos escalões,

subsequentemente abaixo, pode em um dado momento não ser a melhor das opções, haja vista

existir uma enorme distância entre o operacional e o tomador de decisões.

Nestas circunstâncias, a descentralização deve ser um caminho natural, estruturando a

empresa em segmentos, tanto operacionais quanto de apoio, delegando aos gestores

responsabilidade e dando-lhes liberdade para a tomada de decisões, uma vez que por estarem

muito mais próximos dos clientes, sejam internos ou externos, conseguem visualizar os

problemas e, assim, podem escolher a melhor das opções em termos de decisão.

Numa estrutura descentralizada a tomada de decisão ocorre de forma muito mais

rápida e, uma vez que o gestor está muito próximo do problema, tende a ser muito mais

eficiente e eficaz.

De acordo com Anthony e Govindarajan (2006, p. 180):

Um centro de responsabilidade é uma unidade da organização sob supervisão de um

executivo responsável por suas atividades. [...] Um centro de responsabilidade existe

para cumprir uma ou mais finalidades; essas finalidades são seus objetivos. A

própria empresa tem metas, e a alta administração determina um conjunto de

estratégias para atingi-las. O objetivo dos centros de responsabilidade é ajudar a

implementar essas estratégias. Como a organização é o conjunto de seus centros de

responsabilidade, se as estratégias são sadias e se cada centro de responsabilidade

atinge seus objetivos, a própria empresa atinge suas metas.

Não é objetivo deste trabalho definir como é estruturada uma organização

descentralizada, pois inúmeras são as opções literárias. Assim, denomina-se no contexto

deste, considerando uma organização hospitalar constituída de: unidades de atendimento,

todas aquelas que geram receitas e por outro lado, evidentemente, incorrem em custos;

unidades de apoio, todas aquelas atividades que não geram receitas, mas que diretamente

contribuem para que isso ocorra nas unidades produtivas, como por exemplo: Serviço de

Nutrição e Dietética; Centro de Materiais Esterilizados, Farmácias, entre outras atividades;

unidades administrativas, todas aquelas atividades que além de não gerarem receitas, não

contribuem diretamente para a geração dessas receitas, como por exemplo: Segurança

Patrimonial, Manutenção Predial, Manutenção de Equipamentos Médico-Hospitalares,

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Faturamento, Recursos Humanos, entre outras, que embora não envolvidas direta ou

indiretamente na produção de receitas, são de fundamental importância, pois constituem o

complemento das atividades geradoras de receitas, possibilitando transformar custos e

despesas em receitas.

Uma organização descentralizada, com poderes e responsabilidades definidas, sugere

que cada responsável zele pela sua unidade de trabalho no sentido de ser cada vez mais eficaz,

não esquecendo jamais de que o resultado global da instituição é o mais importante.

Com essas medidas, os supridores de produtos e/ou de serviços intermediários são

obrigados a serem eficazes, tal como as empresas que atuam no mercado o são, e isto tem

como consequência a não transferência de ineficiência para segmentos posteriores na linha de

produção.

Estrutura da pesquisa

A presente pesquisa está estruturada conforme o desenvolvimento a seguir.

A introdução apresenta a definição do problema, suas justificativas, seus objetivos e a

metodologia utilizada na pesquisa.

O primeiro capítulo apresenta o que é uma organização hospitalar, sua evolução e o

atual estágio da gestão e suas perspectivas.

O segundo capítulo trata da estrutura de custos, conceitos e fundamentos e de que

forma uma gestão de custos bem estruturada pode colaborar para a tomada de decisões.

O terceiro capítulo se desenvolve em ambiente de aplicação de um exemplo teórico

com utilização de todos os conceitos e fundamentos então abordados.

E por último se apresenta a conclusão.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Hospital

De acordo com Holanda Ferreira (1974): “Hospital é um edifício onde se recolhem e

tratam doente”. Considerando que edifício é uma construção, um hospital é muito mais que

um simples edifício, pois atua em um dos mais complexos setores da economia moderna.

Hospital é uma organização destinada a oferecer cuidados médicos, tanto os de caráter

corretivo, de caráter preventivo, de caráter reabilitador, de pesquisa bem como de formação

de profissionais atuantes na área médica.

1.1.1 Saúde em São Paulo

“Saúde em São Paulo” é um texto extraído do Jornal O Estado de São Paulo, e

adaptado pelo autor, edição de 01 de janeiro de 2010, sob o título “Sociedade civil organizada

definiu surgimento de hospitais”, por Karina Toledo a respeito de um livro a ser lançado sob o

título 150 anos da Saúde em São Paulo, cuja autora é a historiadora Maria Lucia Mott.

De 1858 até 1958, o número de hospitais na cidade de São Paulo, passou de um para

cem, portanto, em um século, houve uma grande expansão para atender ao aumento

populacional acompanhado do crescimento da economia da região.

Até os meados do século XIX, essas instituições eram tidas como locais para abrigar

pobres e desclassificados, um lugar aonde as pessoas iam para morrer.

Outra função dos hospitais nesse período era isolar os portadores de doenças

contagiosas e os doentes mentais, para que não atrapalhassem a sociedade saudável e

produtiva.

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Em 1880 foi fundado o atual Instituto de Infectologia Emílio Ribas, que naquela época

não tinha um atendimento regular, pois só funcionava quando ocorria algum surto de

epidemias.

À medida que se tornava claro o papel dos hospitais, a sociedade civil, principalmente

os imigrantes recém-chegados à capital, começaram a se organizar em associações de auxílio

mútuo. A primeira delas foi a Beneficência Portuguesa, criada em 1859 com 168 sócios

portugueses.

Em 1878 foi fundado por colonos italianos o Hospital Humberto Primo, que funcionou

até 1993.

Em 1897 foi fundada a Associação Hospital Alemão, hoje o conhecido Hospital

Alemão Oswaldo Cruz.

Em 1921 foi fundada a Sociedade Beneficente de Senhoras, hoje Hospital Sírio

Libanês e mais recentemente o Hospital Santa Cruz, da colônia japonesa, entre outras

instituições como o Hospital Samaritano em 1894.

A partir do final do século XIX os hospitais passaram a ser atraentes às camadas mais

abastadas da sociedade e, graças à revolução na medicina promovida pela microbiologia, eles

haviam se transformado em locais de cura.

A cidade de São Paulo passava por uma profunda transformação. A população que em

1870 era de aproximadamente 30 mil, chegou a 240 mil na virada do século, e depois disso,

nossa história conta que nos últimos 100 anos, a população da Grande São Paulo passou para

a casa dos 22 milhões de habitantes.

No início do século XX novas atividades econômicas nasciam com a industrialização,

que não mais parou de crescer e ampliar suas atividades, gerando com isso outras atividades

com o crescimento do comércio e prestação de serviços. E para atender à crescente

diversidade da população, começaram a aparecer novos hospitais públicos, privados e

filantrópicos. Em 1894 surgiu a Associação Beneficente e Protetora das Mulheres

Desamparadas, a primeira maternidade paulista.

Em 1906 foi inaugurado o Sanatório Santa Catarina, este o primeiro hospital particular

em São Paulo.

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Em 1916 surgiu o Hospital de Crianças da Cruz Vermelha Brasileira, sendo a primeira

instituição pediátrica da América Latina e a terceira do mundo.

A partir da Revolução Industrial, verifica-se um rápido crescimento das cidades, que

concomitantemente vem agravando as condições de vida das classes menos favorecidas e,

sobretudo, os novos desenvolvimentos tecnológicos exigem um fluxo mais ordenado do

processo produtivo, requerendo cada vez mais mão de obra especializada.

A prática médica experimenta alterações profundas com novas descobertas no campo

do conhecimento científico. Os processos diagnósticos, terapêuticos e preventivos tornam

difícil, senão impossível, para os médicos trabalharem sem os modernos equipamentos e

recursos humanos gerais e especializados da medicina moderna, confinados em hospitais.

Os avanços das técnicas e tecnologias verificados na área da saúde, nos últimos

tempos, provocam a necessidade de alteração de comportamento dos profissionais da

medicina, enquanto profissão.

Há algumas décadas, médicos podiam transportar em uma maleta de mão todo aparato

necessário ao atendimento de pacientes, situação impossível nos dias de hoje. Profissionais

esses que gradativamente foram substituídos por profissionais ultraespecializados que têm,

entre si e seu objeto de trabalho, todo um conjunto altamente sofisticado, complexo e custoso

de recursos de diagnósticos e tratamentos. Esses novos equipamentos supõem amplas

unidades de produção, como garantia de sua lucratividade e controle. Hoje, hospitais são os

principais locais de trabalho, dada a facilidade que esses novos equipamentos proporcionam

aos médicos, como rapidez e confiabilidade nos resultados de exames e de terapêutica

necessária.

De acordo com notícias recentes, 20 organizações hospitalares da Capital de São Paulo

devem investir, em 2010, cerca de R$ 2 bilhões, com a ampliação do número de leitos, novos

serviços, novas terapias e novas instalações visando proporcionar cada vez mais conforto aos

pacientes e seus acompanhantes.

Apenas para dimensionar os custos para equipar um hospital, cada leito de uma suíte

de categoria mediana custa em torno de R$ 12 mil, cada leito de uma UTI custa em média R$

20 mil; a montagem de uma sala cirúrgica custa em média R$ 150 mil; um tomógrafo multi

slice de última geração custa em torno de R$ 900 mil; um equipamento de ressonância

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magnética de 1,5T custa em torno de R$ 2,6 milhões; um ecógrafo custa em torno de R$ 150

mil; um aparelho para Raios X custa em média R$ 100 mil, e assim por diante. Portanto,

qualquer investimento na área da saúde, devido à complexidade tanto dos equipamentos

quanto dos resultados esperados, são extremamente vultosos, e nem sempre são

acompanhados de uma análise de retorno sobre o investimento.

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1.1.2 Saúde no mundo e no Brasil

Quadro 3 – Panorama geral das desigualdades que existem entre os povos pelo mundo

PAÍS

POPULAÇÃO

EM MILHÕES

IDADE

MÉDIA

LEITO POR

10.000

HABITANTES

GASTO EM

SAÚDE

PER

CAPITA

USD

MORTALIDADE

INFANTIL POR

1.000 HAB.

EXPECTATIVA

DE VIDA

1990

2000

2006

ALEMANHA 83 42 83 2,548 4 75 78 80

ANGOLA 17 17 1 61 154 42 42 41

AUSTRÁLIA 21 37 40 2,097 5 77 80 82

BRASIL 189 27 26 367 19 67 70 72

CANADÁ 33 39 34 2,585 5 77 79 81

CHINA 1.328 33 22 144 20 68 71 73

CUBA 11 36 49 329 5 74 78 78

EUA 303 36 32 3,074 7 75 77 78

FINLÂNDIA 5 41 70 1,940 3 75 78 79

FRANÇA 61 39 73 2,833 4 77 79 81

ÍNDIA 1.152 24 ND 21 57 58 61 63

JAPÃO 128 43 141 2,067 3 79 81 83

RÚSSIA 143 37 97 404 10 69 65 66

SUÍÇA 7 40 57 2,598 4 77 80 82

Fonte: Elaborado pelo autor, com dados obtidos no site da Organização Mundial de Saúde. Disponível em:

<www.who.int>. Acesso em: 16 mar. 2010.

O quadro 3 demonstra que a população mundial envelhece a cada ano. Em muitos

desses países, a expectativa de vida aumentou em cerca de 5 anos no período de 16 anos

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analisados. Isso significa que a cada ano os gastos com saúde aumentam, pois há uma relação

direta entre idade avançada e volume de gastos com a saúde.

No quadro 3 também se verifica que países como os EUA, que mais gastam em saúde,

não apresentam o melhor desempenho em termos de mortalidade infantil e número de leitos

disponíveis à população. Há milhares de norte-americanos sem cobertura de seguro saúde,

situação que deve ser em parte resolvida com a aprovação recente da reforma na área da

saúde.

Em países como a Suíça, por exemplo, nenhum cidadão residente pode permanecer

sem ter contratado um plano de saúde, ele é obrigatório.

No Brasil, embora a saúde seja um direito do cidadão e um dever do Estado, isso não

ocorre, pois, conforme anteriormente relatado, cerca de 148 milhões de brasileiros dependem

da saúde pública, e o Estado não consegue sequer atendimento aos mais básicos dos cuidados

assistenciais.

Para uma melhor compreensão das dimensões em que o setor da saúde do Brasil se

encontra no momento, foram obtidos os dados do quadro a seguir junto ao site do Ministério

da Saúde.

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Quadro 4 – Número de leitos existentes em todos os hospitais do Brasil, data base em 2006

DESCRIÇÃO SUS NÃO SUS EXISTENTE

CIRÚRGICO 743 429 1.172

CLÍNICO 105.124 41.237 146.361

COMPLEMENTAR 25.006 12.928 37.934

OBSTÉTRICO 46.561 14.355 60.916

PEDRIÁTICO 52.290 11.688 63.978

OUTRAS ESPECIALIDADES 52.333 13.442 65.775

HOSPITAL DIA 4.721 3.212 7.933

TOTAL GERAL 361.991 136.160 498.151

DISTRIBUIÇÃO 73% 27% 100%

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no Ministério da Saúde. Disponível em:

<www.cnes.datasus.gov.br>. Acesso em: 19 mar. 2010.

Calculando o número de leito per capita, ratificam-se dados do quadro 2 da OMS, em

termos de números de leito para cada 10.000 habitantes aqui no Brasil.

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Quadro 5 – Distribuição de leitos em hospitais do Estado de São Paulo, data base em 2006

DESCRIÇÃO SUS NÃO SUS EXISTENTE

CIRÚRGICO 5.034 4.404 9.438

CLÍNICO 3.951 4.749 8.700

COMPLEMENTAR 2.601 1.978 4.579

OBSTÉTRICO 1.653 1.317 2.970

PEDIÁTRICO 1.723 1.114 2.837

OUTRAS ESPECIALIDADES 2.431 1.332 3.763

HOSPITAL DIA 546 458 1.004

TOTAL GERAL 17.939 15.352 33.291

DISTRIBUIÇÃO 54% 46% 100%

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no site da OMS. Disponível em: <www.cnes.datasus.gov.br>.

Acesso em: 19 mar. 2010.

Comparando a distribuição dos leitos constante do quadro 4 com os dados constantes

do quadro 5, verifica-se que no Estado de São Paulo o número de leitos disponíveis através do

SUS é menor, enquanto em termos de Brasil a distribuição é de 73% SUS e 27% não SUS, no

Estado de São Paulo, 54% é do SUS e 46% não SUS, portanto podemos inferir que os

paulistas dependem menos do SUS que em termos de Brasil.

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Quadro 6 – Número de estabelecimentos de saúde em todo Brasil, por especialidade, com data

base em 2006

DESCRIÇÃO

Nº DE ESTA-

BELECIMENTOS

DESCRIÇÃO

Nº DE ESTA-

BELECIMEN-

TOS

POSTO DE SAÚDE 12.032 CENTRO DE SAÚDE/

UNIDADE BÁSICA

30.270

POLICLÍNICA 4.455 HOSPITAL GERAL 5.286

HOSPITAL ESPECIALIZADO 1.244 UNIDADE MISTA 893

PRONTO-SOCORRO GERAL 638 PRONTO-SOCORRO

ESPECIALIZADO

157

CONSULTÓRIO ISOLADO 103.959 UNIDADE MÓVEL

FLUVIAL

24

CLÍNICA ESPECIALIZADA/

AMBUL. DE ESPECIALIDADE

28.531

UNIDADE DE APOIO

DIAGNOSE E TERAPIA –

SADT

16.094

UNIDADE MÓVEL

TERRESTRE

824

UNIDADE MÓVEL DE

NÍVEL PRÉ-HOSP.

URGÊNCIA/EMERGÊNCIA

419

FARMÁCIA 587 UNIDADE DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE

2.358

COOPERATIVA 262 CENTRO DE PARTO

NORMAL

24

HOSPITAL DIA – ISOLADO 374 CENTRAL DE

REGULAÇÃO DE

SERVIÇO DE SAÚDE

539

LABORATÓRIO CENTRAL DE

SAÚDE PÚBLICA-LACEN

64 SECRETARIA DA SAÚDE 1.760

CENTRO DE ATENÇÃO

HOMOTERAPIA/HEMATOLOG.

109 CENTRO DE ATENÇÃO

PSICOSSOCIAL

1.655

CENTRO DE APOIO À SAÚDE

DA FAMÍLIA

203 UNIDADE DE ATENÇÃO À

SAÚDE INDÍGENA

57

TOTAL GERAL 212.818

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no site da OMS. Disponível em: <www.cnes.datasus.gov.br>.

Acesso em: 19 mar. 2010.

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34

Quadro 7 – Relação dos principais equipamentos médico-hospitalares existentes no Brasil, de

acordo com o Ministério da Saúde, com data base em 2006

EQUIPAMENTO EXISTENTES EM USO

MAMÓGRAFO 4.028 3.907

RAIOS X 60.716 58.261

TOMÓGRAFO COMPUTADORIZADO 2.844 2.602

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 1.020 999

ULTRASSOM 24.303 23.502

ELETROCARDIÓGRAFO 29.570 27.692

ELETROENCEFALÓGRAFO 3.720 3.455

ENDOSCÓPIO 12.639 12.121

LAPAROSCÓPIO / VÍDEO 3.199 3.092

EQUIPAMENTO PARA HEMODIÁLISE 16.935 15.992

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no site da OMS. Disponível em: <www.cnes.datasus.gov.br>.

Acesso em: 19 mar. 2010.

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35

Quadro 8 – Esfera administrativa dos estabelecimentos de saúde no Brasil, de acordo com dados

obtidos junto ao Ministério da Saúde

DESCRIÇÃO TOTAL

ADMINISTRAÇÃO DIRETA DA SAÚDE (MS, SES e SMS) 59.398

ADMINISTRAÇÃO DIRETA DE OUTROS ÓRGÃOS (MEC, MEx..) 408

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA – AUTARQUIAS 269

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA – FUNDAÇÃO PÚBLICA 362

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA – EMPRESA PÚBLICA 217

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA – ORGANIZAÇÃO SOCIAL PÚBLICA 111

EMPRESA PRIVADA 143.975

FUNDAÇÃO PRIVADA 1.162

COOPERATIVA 527

SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO 2.187

ENTIDADE BENEFICENTE SEM FINS LUCRATIVOS 3.590

ECONOMIA MISTA 103

SINDICATO 519

TOTAL 212.819

Fonte: Elaborado pelo autor com dados obtidos no site do Ministério da Saúde. Disponível em:

<www.cnes.datasus.gov.br>. Acesso em: 19 mar. 2010.

Este é o cenário da estrutura na área da saúde no Brasil, na qual muitos recursos são

aplicados, necessitando cada vez mais de profissionais especializados para promover boa

gestão econômica, financeira e patrimonial, elevando o setor da saúde a patamares

comparáveis com outros setores de sucesso da economia brasileira.

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36

1.1.3 Conceitos e características das organizações hospitalares

Para Almeida (1983 apud ABBAS, 2001, p. 205), precursor dos estudos em

administração hospitalar no Brasil, hospital é:

Uma instituição destinada ao diagnóstico e tratamento de doentes internos e

externos; planejada e construída ou modernizada com orientação técnica; bem como

organizada e convenientemente administrada consoante padrões e normas

estabelecidas, oficial ou particular, com finalidades diversas; grande ou pequena;

custosa ou modesta para atender os ricos, os menos afortunados, os indigentes e

necessitados, recebendo doentes gratuitos ou contribuintes; servindo ao mesmo

tempo para prevenir contra a doença e promover a saúde, a prática, a pesquisa e o

ensino da medicina e da cirurgia, da enfermagem e da dietética, e das demais

especialidades afins.

1.1.4 Organizações hospitalares sob o ponto de vista da Controladoria

Ribeiro Filho (2005, p. 16) define:

Uma unidade hospitalar, agora concentrando os meios necessários para a produção

de diagnósticos, assume uma dimensão que implica, necessariamente,

gerenciamento que redunde na utilização eficaz dos recursos representados em

equipamentos, infra-estrutura e conhecimento técnico especializado. De fato, há

prestações de serviços técnicos e de apoio concomitantes e interdependentes,

visando ao benefício de um único doente. Cada instância prestadora desses serviços

cumpre execução de procedimentos, que implicam o consumo de recursos, ao

mesmo tempo em que devem agregar valor ao serviço final, que é percebido pelo

usuário/cliente. A operacionalização desse ambiente, de controle gerencial, no plano

concreto da estrutura de uma entidade hospitalar, deve viabilizar-se com a

implementação de uma unidade de controladoria.

1.1.5 Atual estágio da gestão hospitalar no Brasil

Ao longo dos séculos, o cenário econômico e social do Brasil vem apresentando

evolução considerável, notadamente no campo da tecnologia. Com a globalização, diminuiu a

distância entre os povos e, com isso, cada vez mais o mercado exige das organizações e de

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seus componentes eficácia não só no atendimento à demanda por produtos e/ou serviços de

qualidade como também com preços competitivos.

No contexto dessa evolução, seguramente um dos últimos setores a entender a

necessidade de encarar os gastos com a gestão econômica e financeira como sendo um

investimento e não meramente aumento de custos foi o setor da saúde.

Para uma eficaz gestão econômica, financeira e patrimonial de uma organização, o

conhecimento de seus custos reais é de fundamental importância. O preço de seus produtos é

determinado ou pelo mercado, ou pela concorrência, ou através de seus custos. Ainda que

esses preços não sejam determinados pelos seus custos, o conhecimento destes bem como de

sua estrutura é vital para a continuidade das organizações, pois a margem é a diferença entre

suas receitas e seus custos. Portanto, o nível dessa margem dependerá de seus custos e,

somente com conhecimento de suas estruturas, será possível melhorar o nível dessa margem.

A gestão eficaz de uma organização hospitalar não é diferente, pelo contrário, pela sua

complexidade estrutural, o planejamento e o controle ganham particular importância.

A profissionalização da administração hospitalar aqui no Brasil é coisa recente. Até

então, os hospitais eram exclusivamente administrados por médicos, cuja formação voltada ao

assistencialismo conflitava em certos momentos de tomada de decisões, que envolviam a

sustentabilidade da organização hospitalar como uma empresa, requerendo tratar uma

organização da saúde como “simplesmente um negócio”.

A era do empirismo na gestão hospitalar está com os seus dias contados. A utilização

de ferramentas, das mais modestas às mais complexas, é cada vez mais necessária e aos

poucos vem sendo introduzidas na administração das organizações hospitalares. Pode ser uma

simples planilha, sendo de conteúdo confiável, elaborada de acordo com conceitos de custos

que em tempo razoável é de grande importância, em comparação à total inexistência dessa

simples ferramenta.

Atualmente já se utilizam as mais diversas ferramentas, como planejamento

estratégico, planejamento financeiro, planejamento tributário, orçamentos, custos, fluxo de

caixa, que devido à complexidade das atividades operacionais e de controle das organizações

hospitalares têm sido implantadas de forma lenta. Porém, o passo importante já foi dado,

inclusive com muitos administradores hospitalares sendo formados a cada ano.

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38

À medida que o mercado vai empregando cada vez mais profissionais especializados

em administração hospitalar, as instituições de ensino vão respondendo oferecendo mais

vagas. Atualmente são nove cursos de administração hospitalar pelo Brasil que oferecem

vagas para futuros bacharéis, de acordo com site do MEC (Disponível em:

<http://emec.mec.gov.br/>. Acesso em: 30 jun. 2010).

1.2 Contabilidade de Custos

1.2.1 Evolução histórica da Contabilidade de Custos

O conhecimento histórico nos possibilita entender e interpretar com clareza os

acontecimentos presentes. Na ciência, como em todos os demais campos do conhecimento da

pesquisa, a compreensão perfeita de um assunto só é possível quando se possui uma noção

clara de seu desenvolvimento histórico.

De acordo com Martins E. (2003, p. 19):

para entender Contabilidade de Custos, necessário se faz entender a cronologia bem

como a utilização das expressões Contabilidade Financeira, Contabilidade de Custos

e Contabilidade Gerencial, entendendo a cronologia do aparecimento de cada uma

dessas expressões, torna-se uma tarefa mais fácil.

Até a Revolução Industrial, ocorrida na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra

que encerrou a transição entre o feudalismo e o capitalismo e que completou também o

movimento da revolução burguesa iniciada na mesma Inglaterra no século XVII, a

Contabilidade era basicamente a Contabilidade Financeira, que foi desenvolvida na Era

Mercantilista, portanto, estruturada para servir as empresas comerciais.

O resultado de cada período era apurado pela diferença entre o saldo inicial, mais as

aquisições do período e dessa quantidade descontava-se o saldo final, que era inventariado por

ocasião do levantamento do balanço. Os controles dos estoques eram feitos de forma

esporádica e não permanente. Assim, para a apuração do custo de todas as mercadorias

vendidas, bastava a utilização da clássica equação:

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39

Estoques Iniciais

(+) Compras

(-) Estoques Finais

(=) Custo das Mercadorias Vendidas

Das receitas brutas de vendas, descontavam-se as vendas canceladas, os abatimentos e

os impostos incidentes sobre essas vendas, obtendo-se assim a receita líquida de vendas que

confrontando com esses custos dessas mercadorias vendidas chegava-se no lucro bruto, lucro

esse necessário para absorver todas as despesas necessárias à manutenção de suas atividades,

durante o período. Daí o aparecimento da também clássica Demonstração de Resultados da

empresa comercial:

Receita Bruta de Vendas

(-) Dedução de Vendas

(=) Receita Líquida de Vendas XXXXXX

(-) Custo das Mercadorias Vendidas

Estoques Iniciais XXXXXXX

(+) Compras XXXXXXX

(-) Estoques Finais (XXXXXX) (XXXXXX)

(+) Lucro Bruto XXXXXXX

(-) Despesas

Comerciais (Vendas) XXXXXXX

Administrativas XXXXXXX

Financeiras XXXXXXX (XXXXXX)

Resultado Antes do Imposto de Renda XXXXXX

Na época da Revolução Industrial, as principais atividades das empresas estavam

concentradas no comércio enquanto a fabricação de alguns bens era feita por pessoas físicas,

que produziam algum tipo de artesanato. Assim, o conhecimento dos resultados das atividades

mercantis era relativamente simples, pois bastava confrontar os valores de compras com os

valores das receitas de vendas.

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40

Com a chegada da era industrial, atividades industriais foram cada vez mais se

fortalecendo e as operações tornavam-se mais complexas, exigindo controle mais apurado,

que recaía sobre atividades desenvolvidas pelos contadores. Para a apuração dos resultados e

o levantamento dos balanços, foi necessário desenvolver muitos controles.

Esses controles, não tão simples, utilizados na era mercantilista, pois, para saber o real

custo da produção de um certo bem, diversos fatores de produção passaram a estar presentes,

como: matéria-prima, mão de obra, horas máquinas e outros gastos de produção. A

dificuldade era, e é até o momento, de que forma agregá-los para obter senão o custo real,

pelo menos o mais próximo possível.

A partir da idéia utilizada para calcular os custos das atividades mercantis, ao longo do

tempo foi se desenvolvendo algum tipo de controle. Porém sempre houve grandes

dificuldades, pois, na atividade mercantil, fatores de produção como encargos financeiros,

depreciação de equipamentos em função do seu desgaste, remuneração aos proprietários pelo

capital investido, salários dos trabalhadores e outras despesas necessárias para que a atividade

operacional se tornasse possível, não eram incorporados ao custo dos produtos vendidos ou a

vender. Eles eram simplesmente considerados como despesas do exercício, situação que

distorcia a realidade em termos de resultado, pois esses fatores de produção que se

incorporam ao produto final não vendido devem ficar ativados e não considerados como

despesas do exercício.

1.2.2 A Contabilidade de Custos evoluindo para a Contabilidade Gerencial

A partir do momento em que os profissionais de Contabilidade sentiram necessidade

de desenvolver mecanismos contábeis que permitissem calcular o valor correto dos estoques,

e por conseguinte dos resultados, o foco principal desses profissionais ficou concentrado na

contabilidade de custos voltada exclusivamente para essa finalidade. Somente muito tempo

depois, a contabilidade de custos passou a ser utilizada com outras finalidades, principalmente

como ferramenta para tomada de decisão.

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41

A utilização da contabilidade de custos é muito recente, datando de não mais que

algumas décadas. Portanto, há muito ainda a desenvolver, e sempre partindo dos princípios

básicos de contabilidade, princípios esses rigorosamente observados no desenvolvimento da

Contabilidade de Custos para fins de avaliação de estoques bem como para saber com certo

rigor os custos das mercadorias vendidas. Por conseguinte, nesta fase ela não era utilizada

para oferecer elementos à Administração para tomada de decisões, o que aos poucos vem se

desenvolvendo, e hoje existe a certeza absoluta da importância da Contabilidade de Custos na

gestão das empresas.

O avanço da tecnologia da informação tem possibilitado e participado decisivamente

na evolução da Contabilidade de Custos, propiciando desenvolver ferramentas tanto para

controle quanto para fornecimento de informações para tomada de decisão. No que se referem

ao controle, informações são fornecidas e utilizadas para estabelecimento de padrões,

elaboração de orçamentos bem como no acompanhamento das atividades em relação ao

orçado, promovendo comparações, entre o orçado e o real.

Informações relevantes para tomada de decisões referem-se ao fornecimento de

informações sobre valores relevantes que dizem respeito à administração de recursos de curto

e de longo prazo, orientando a direção para a tomada de decisões quanto ao eventual

incremento na quantidade de certo produto, de retração de outro produto, ou mesmo de

eliminação de outros, bem como o lançamento de um novo produto e também para

administrar preços a serem praticados no mercado, requerendo, portanto, a Contabilidade de

Custos e o fornecimento de informações para a tomada de decisões gerenciais.

Do momento da estabilização da moeda em diante, a sociedade brasileira passou a ter

referência dos preços praticados no mercado, embora, ainda hoje, se encontrem situações em

que os preços de um mesmo produto se apresentam de forma discrepante, porém são

exceções.

Com o significativo aumento da competitividade que vem ocorrendo na maioria dos

mercados, sejam industriais, comerciais ou de serviços, os custos tornam-se altamente

relevantes quando da tomada de decisões em uma empresa. Isso ocorre, pois, devido à alta

competição existente, as empresas já não podem mais definir seus preços apenas de acordo

com os custos incorridos, e sim, também, com base nos preços praticados no mercado em que

atuam.

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42

Tomar decisões utilizando informações fornecidas pela Contabilidade de Custos,

principalmente com o emprego das modernas ferramentas que os Sistemas de Informações

atualmente podem propiciar, é o caminho a ser percorrido. Se o produto for rentável, deve-se

manter a sua produção, se o produto está em fase de crescimento no mercado, deve-se manter

ou aumentar a sua produção, e até mesmo extinguir produtos cuja rentabilidade seja negativa

e sem perspectivas de um futuro promissor.

1.2.3 O significado da Contabilidade de Custos em empresas não industriais

À medida que evolui a economia de um país, atividades como a financeira, o comércio

e serviços, principalmente aquelas voltadas para alta tecnologia, vão ganhando espaço e,

portanto, cada vez mais vão se tornando complexas.

A princípio, como geralmente essas empresas não dispõem de estoques de produtos

em elaboração ou produto de fabricação própria, a aplicação da Contabilidade de Custos sob o

ponto de vista de controle não faz sentido. Porém, com o passar dos tempos, com a descoberta

de que essas informações são altamente relevantes para a tomada de decisões, a Contabilidade

de Custos passa a cada momento por evolução significativa e a cada dia novas ferramentas

vão sendo descobertas e incorporadas aos conceitos já existentes. Exemplo dessa evolução é o

método ABC (Activity-Based Costing) com o qual aos poucos vão sendo desvendadas as

principais dificuldades. Hoje muitas empresas se utilizam dessa poderosa ferramenta para sua

gestão.

Atualmente até as empresas prestadoras de serviços se utilizam da Contabilidade de

Custos para avaliar custos dos serviços em andamento, notadamente para aqueles serviços que

em geral tenham um ciclo de produção que leva muito tempo para ser concluído.

1.2.4 Terminologia em Contabilidade de Custos

De acordo com Martins E. (2003, p. 24):

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43

a) Gasto – Compra de um produto ou serviço qualquer, que gera sacrifício

financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou

promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro);

b) Desembolso – Pagamento resultante da aquisição do bem ou serviço;

c) Investimento – Gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios

atribuíveis a futuros períodos;

d) Custo – Gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens

ou serviços;

e) Despesa – Bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para obtenção

de receitas;

f) Perda – Bem ou serviço consumidos de forma anormal ou involuntária.

De acordo com Bernardi (2009, p. 40):

a) Gastos – Tudo o que se desembolsa para atender às finalidades da empresa,

por meio de atividades de produção, administração e vendas, inclusive investimentos

nas mesmas, é gasto, do ponto de vista financeiro.

b) Custos – São bastos direcionados à produção de bens, portanto inerentes à

atividade de produzir, incluindo a produção em si e a administração da produção.

c) Despesas – São gastos inerentes à obtenção de receitas e administração da

empresa, portanto próprios das atividades de vendas e administração.

d) Investimentos – São gastos necessários às atividades da produção, da

administração e das vendas, que irão beneficiar períodos futuros, portanto ativos de

caráter permanentes e de longo prazo, que por meio de depreciação ou amortização

irão tornar-se custos ou despesas, dependendo da origem e natureza.

1.2.5 Custos: uma visão geral dos conceitos

Custo representa o valor dos bens e serviços consumidos na produção de outros bens

ou serviços.

Dessa forma, em uma organização hospitalar, pode-se entender como custos os gastos

incorridos para a obtenção de um serviço prestado como, por exemplo, o custo com

antibióticos para dar alta a um paciente com pneumonia.

Assim definido, parece fácil a tarefa de apurar um custo, pois exige, apenas, a

apuração de todos os recursos consumidos pela empresa e sua distribuição pelos produtos

fabricados. Ao se considerar, porém, a complexidade dos recursos aplicados pela empresa, a

existência de consumos indiretos para suporte (apoio) à produção, entre outros, percebemos

que essa ação não é nada simples.

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44

A apuração dos custos em organizações hospitalares é um trabalho extremamente

complexo, pois exige, entre outras condições, a perfeita delimitação dos centros de custos e

um eficiente sistema de informações gerenciais, como consequência direta da diversidade dos

serviços prestados. Em geral, nas organizações hospitalares, o controle de custos visa

fundamentalmente determinar e analisar o custo total dos serviços prestados a cada paciente,

levando-se em consideração a finalidade do sistema, a apuração e a análise de um hospital, ou

seja, o cômputo do custo de cada cliente e de cada tipo de serviço prestado.

1.2.6 Classificação dos custos

Segundo Martins E. (2003, p. 44), “pode-se classificar os custos com relação à sua

variabilidade (fixos e variáveis) e à sua facilidade de alocação com o produto ou serviço

(diretos e indiretos)”.

No que diz respeito à variabilidade, denominam-se custos variáveis todos aqueles que

variam na proporção direta com a quantidade produzida. Pode-se citar como exemplo, na

organização hospitalar, o número de exames realizados no serviço de radiologia,

medicamentos e materiais para atividades, entre outros. Os custos fixos, ao contrário,

permanecem inalterados, apesar da variação na quantidade produzida, como por exemplo, a

energia elétrica gasta com a iluminação do laboratório, a depreciação, o imposto predial,

dentre outros.

1.2.6.1 A difícil separação, na prática, de custos e despesas

De acordo com Martins E. (2003, p. 39), “Teoricamente é fácil: os gastos relativos ao

processo de produção são custos, e os relativos à administração, às vendas e aos

financiamentos são despesas”.

Na prática, entretanto, uma série de problemas aparece pelo fato de não ser possível a

separação de forma clara e objetiva. Por exemplo, é comum encontrarmos uma única

administração, sem a separação da que realmente pertence à produção; surge daí a prática de

se ratear o gasto geral da administração, parte para despesa e parte para custo, rateio esse

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45

sempre arbitrário, pela dificuldade prática de uma divisão científica. Normalmente a divisão é

feita em função da proporcionalidade entre número de pessoas na fábrica e fora dela, ou com

base nos demais gastos, ou simplesmente em porcentagem fixada pela Diretoria.

Portanto, considerando a decisão de promover rateio, algumas regras básicas podem

ser seguidas:

a) valores irrelevantes dentro dos gastos totais da empresa não devem ser rateados;

b) valores relevantes, porém repetitivos a cada período, que numa eventual divisão teriam

sua parte maior considerada como despesa, não devem também ser rateados, tornando-

se como despesa por seu montante integral;

c) valores cujo rateio é extremamente arbitrário devem ser evitados para apropriação ao

custo.

Em suma, só devem ser rateados e ter uma parte atribuída aos custos de produção e

outra às despesas do período os valores relevantes que visivelmente contêm ambos os

elementos e podem, por critérios não excessivamente arbitrários, ser divididos em dois

grupos.

1.3 A utilização da Contabilidade de Custos em organizações da saúde

1.3.1 Função controle

Parcela significativa do resultado, quando este existe, é reinvestida na própria

instituição. Segundo se tem observado pela vivência no ramo, esse valor, na maioria das

vezes, é fruto de uma série de acertos em diversas ações gerenciais, notadamente

fundamentadas num esforço profícuo de controle e redução de custos.

Porém, nem todas as organizações conseguem sucesso, por falta, principalmente, de

uma gestão competente, mergulhando em grandes dificuldades financeiras, por não disporem

de sistemas de controle. Devido às dificuldades, aceitam prestar serviços por valores abaixo

de seus custos, agravando cada vez mais a sua situação.

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46

Para os prestadores de serviços a pacientes através do serviço público, no caso do

SUS, esse controle deve ser ainda mais redobrado, dado o baixo valor de sua remuneração.

Para ilustrar, a seguir, um quadro comparativo de remuneração, considerando hospital de

médio porte e de média complexidade.

Quadro 9 – Comparativo de preços praticados por tomador de serviços, em R$

Serviço Particular Convênios SUS

Consulta - Clínico Geral 150,00 35,00 10,00

Raios X Seios da Face 85,00 17,00 7,32

Apendicectomia 8.000,00 3.500,00 414,62

Consulta – Cardiologista 250,00 35,00 10,00

Ultrassom – Abdômen Total 230,00 110,00 37,95

Mamografia 280,00 85,00 22,50

Hemograma 20,00 6,30 4,11

Tomografia – Crânio 600,00 191,00 97.44

Fonte: Elaborado pelo autor com base em informações obtidas junto a clínicas, hospitais e tabela do SUS.

Disponível em: <www.datasus.gov.br>. Acesso em: 7 abr. 2010.

O sucesso no gerenciamento dos custos, em todas as organizações, depende do real

engajamento de todas as áreas envolvidas e que são, geralmente, todos componentes da

organização. Isto vale principalmente em organizações hospitalares, dada a complexidade de

suas atividades.

Para conseguir controle eficaz na organização, pode-se lançar mão de diversas

ferramentas gerenciais como: a contabilidade, o detalhamento dos custos por áreas de

responsabilidades, o orçamento, o sistema de controle de materiais, o sistema de controle de

serviços internos executados, a documentação com dados de atendimentos aos pacientes, o

estabelecimento e a comparação com os padrões físicos por procedimentos, entre outros

controles.

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47

1.3.2 Preço de venda

Para aquelas organizações hospitalares que prestam serviços ao SUS, não há muito o

que fazer em termos de fixação de seus preços, dada a utilização de tabela já definida, sendo

que aqueles que não concordarem ou não puderem operar com a tabela, simplesmente deixam

de prestar esses serviços por descredenciamento. Esta situação deve ser cuidadosamente

analisada, pois um novo credenciamento pode demorar muito tempo, até anos em alguns

casos, quando não impossível.

Conforme se pode verificar no quadro 9, os preços médios praticados em hospitais

particulares da região da Grande São Paulo têm uma defasagem enorme entre as três

categorias de clientes pacientes. No entanto, para os clientes pacientes da categoria particular

deve-se fazer uma ressalva, em vista da pequena participação no número de atendimentos.

Em face das defasagens enumeradas acima, quanto mais dependente de atendimentos

ao SUS for a organização hospitalar, maiores são as suas dificuldades. Em razão disso, essas

organizações não podem oferecer aos usuários condições razoáveis de atendimento e

enfrentam grandes dificuldades, ocorrendo casos de falta de materiais básicos, como

esparadrapos, oxigênio e luvas, entre outros itens.

Recentemente, tem surgido com maior intensidade a figura do denominado “pacote”.

Consiste, realmente, na venda antecipada de certo volume de determinados

serviços/procedimentos, por parte de uma instituição de saúde para uma organização de plano

de saúde ou convênio.

O cálculo correto dos custos é, também neste caso, absolutamente vital, visto tratar-se

normalmente, de volumes significativos e muitas vezes periódicos, repetitivos.

Para que a instituição de saúde possa obter sucesso em seu desempenho econômico-

financeiro através da venda desses “pacotes”, é necessário ter um setor de custos com boa

estrutura, contando com pessoal bem formado, com boa estrutura de informática e,

principalmente, contar com informações de alta qualidade e com prazos razoáveis.

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48

1.3.3 Gerenciamento do resultado

As organizações hospitalares que contam com uma estrutura eficaz de custos podem

usufruir dessa condição e participar da tomada de decisões quanto à melhor composição dos

serviços a serem prestados, comparando os procedimentos versus clientes e direcionando em

seu agendamento aquela combinação que melhor resultado oferecer.

Também é possível sugerir ocupação por outros procedimentos quando setores

produtivos estiverem ociosos.

1.3.4 Planejamento das atividades

Em organizações hospitalares, o planejamento das atividades é representado pela

elaboração do orçamento econômico-financeiro, a partir da definição de políticas e diretrizes

para o período, deve contar com a participação dos responsáveis de cada área, como Unidades

de Tratamento Intensivo (UTI); Centro Cirúrgico; Unidades de Internação; Serviços de Apoio

a Diagnósticos e Terapêuticos (SADT); Pronto-socorro; Recursos Humanos; Tecnologia da

Informação; Suprimentos; Engenharia Hospitalar; Manutenção Predial; Utilidades;

Controladoria; Comercial; Financeiro, entre outros menores setores.

A contínua necessidade de modernização das instalações e equipamentos pressupõe o

estudo de viabilização dos investimentos, tarefa para a qual o sistema de custos pode e deve

contribuir de forma positiva.

1.3.5 Fluxo de formação dos custos

Organizações hospitalares, ao contrário do que pode à primeira vista parecer, mantêm

produtos em estoque, da mesma forma que organizações de outros segmentos.

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Materiais diretos, praticamente, todas as organizações mantêm em seus estoques,

como medicamentos, materiais cirúrgicos e materiais de curativos, que geralmente são

armazenados nas farmácias.

Materiais indiretos também são armazenados, como: produtos utilizados no Serviço de

Nutrição e Dietética (SND); materiais de expediente; produtos para higiene e limpeza;

produtos utilizados em lavanderias e materiais utilizados em manutenção, entre outros.

Também é comum encontrar estoques semi-processados ao término de certo período

nas organizações hospitalares.

O próprio paciente internado enquadra-se nessa categoria, sob o enfoque contábil, na

medida em que já agregou serviços e medicamentos, sem ainda ter-se transformado em

receita, o que normalmente só ocorre a partir da alta do paciente, ou em casos de longa

permanência, quando do fechamento administrativo da sua conta.

Exames laboratoriais em processamento (fase de cultura, por exemplo) constituem

outro exemplo de um estoque semi-elaborado.

A existência de estoque de serviços prontos elaborados é menos comum na área da

saúde (excetuadas as já mencionadas mercadorias na área de farmácia). Mesmo assim eles

podem ocorrer em certas circunstâncias como a existência de exames laboratoriais prontos e

ainda não retirados, por exemplo.

A avaliação correta desses estoques encontra apoio técnico, necessariamente, no

sistema de custos.

A apropriação dos custos dos bens imobilizados, de confecção própria, nas

dependências das organizações da saúde, constitui outra vinculação importante do custo com

a contabilidade.

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50

1.4 Aspectos essenciais do cálculo de custos

1.4.1 Ciclo operacional

Conforme Hoji (2004, p. 27) define que “O Ciclo operacional de uma empresa

industrial, inicia-se com a compra de matéria prima e encerra-se com o recebimento da

venda”.

Beulke e Bertó (2005, p. 26) definem que “Em cada empresa há um meio peculiar

onde se desenvolvem diversos fenômenos que acabam por caracterizar a geração de custos da

entidade e, por conseqüência, dos produtos ou serviços nela processados. É o ciclo

operacional”.

Destas duas definições, conclui-se que o ciclo operacional de uma organização

hospitalar é o somatório dos tempos, que tem seu início na aquisição dos medicamentos e/ou

dos materiais médico-hospitalares ou na contratação de serviços até o recebimento dos

valores.

Imobilizações CICLO DA FORMAÇÃO DA RECEITA

Pessoas

Medicamentos

Material Médico-

Hospitalar

Equipamentos

Fornecedores Custos Operacionais

Fretes Despesas Administrativas

Energia Prazos Desfavoráveis

-Tempo

Variáveis Prazos Favoráveis

-Padrão x Real (Perdas)

CICLO DA FORMAÇÃO DOS CUSTOS

Figura 1 - Demonstrativo do ciclo operacional de uma organização hospitalar Fonte: Beuke e Bertó (2005, p. 27), adaptado pelo autor.

P

Prazo

d

de

e

entre-

ga

Prazo

De

estocagem

no

almoxarifa-

do

C

Ciclo

d

de

P

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Fecha-

mento

de

Conta

de

Paciente

P

Prazo

de

R

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mento

A

Atrasos

d

de

Paga-

mentos

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51

Da mesma forma que ocorre em organizações comerciais, prestadoras de serviços ou

industriais, as organizações hospitalares também teu seu ciclo operacional, ciclo financeiro e

ciclo econômico. O ciclo econômico inicia-se com o recebimento dos principais insumos que

são os medicamentos e os materiais médico-hospitalares e encerra-se com o fechamento das

contas do paciente. Já o ciclo financeiro tem seu início com o primeiro desembolso e encerra-

se no momento do recebimento desses serviços prestados. O ciclo operacional de uma

organização hospitalar inicia-se com o recebimento dos insumos e termina no final do

processo, nesse caso, no recebimento pelos serviços prestados, sendo que quanto mais longo

for esse período, maior será sua necessidade de capital de giro.

No processo de análise de demonstrações financeiras utilizam-se índices de rotação de

estoques, prazos de pagamentos a fornecedores e prazos de recebimento dos clientes para

aferir o ciclo dessas fases e, assim, detectar as causas para eventuais problemas de liquidez e

capital de giro no âmbito consolidado da empresa.

Reconhecendo a relevância do problema capital de giro/financeiro na atividade

empresarial, o cálculo de custos procede à decomposição do ciclo em relação ao bem ou

serviço individualizado. Nesse sentido o cálculo dos custos deixa de retratar apenas uma série

de combinações e transformações numéricas (mediante agregação de custos das fases, por

exemplo), buscando preservar, no mais elevado sentido, a substância patrimonial da entidade.

Três são os aspectos essenciais presentes em todos os cálculos:

a) reposição integral dos insumos físicos;

b) valor do dinheiro no tempo;

c) resultado.

1.4.2 Reposição integral dos insumos físicos

Para atendimento dos pacientes que procuram serviços médicos, uma organização

hospitalar coloca à disposição uma estrutura de serviços representada por seus funcionários

inclusive e principalmente médicos e instalações que aciona a sua área específica de

suprimento de materiais e medicamentos, entre outros recursos ou fatores de produção.

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De acordo com as necessidades de cuidados, cada paciente, utiliza proporções variadas

das estruturas de serviços, nas mais diferentes fases de sua internação ou tratamento, bem

como requer a aplicação de medicamentos e/ou materiais médico-hospitalares de acordo com

a prescrição médica e a evolução de seu quadro clínico.

Desde o momento de sua chegada até sua alta, seja de imediato ou mesmo

permanecendo por algum tempo, que pode ser algumas horas, alguns dias, semanas, meses até

mesmo anos, a descrição feita caracteriza, para cada paciente, a ocorrência de um ciclo

operacional, ou até mais apropriadamente um ciclo de atendimento. Do ponto de vista de

cálculo de custos, interessa quantificar o volume de serviços aplicados, em termos de números

de diárias, horas de cirurgia, exames laboratoriais, horas de fisioterapia entre outros, assim

como o montante de materiais aplicados, por tipo de medicamentos. Cabe, a seguir,

transformar esses dados físicos não adicionáveis entre si numa expressão monetária

homogênea, o valor da moeda correspondente.

Esses dados são agregados ao prontuário de cada paciente, que o acompanha a cada

setor em que esse paciente é tratado e que, em seguida, são enviados ao setor de faturamento,

para efetivo fechamento da conta. Essas informações são de grande importância para a

organização, pois devem alimentar o banco de dados do setor de contabilidade de custos para

formação de médias históricas de cada incidência da moléstia.

Para elaboração da tabela de preços, os dados físicos são reunidos e traduzidos em

valores monetários e ponderados pelos correspondentes custos unitários atualizados para a

data do encerramento da conta, isto é, na emissão do documento de cobrança. Uma vez

aplicados insumos no atendimento a pacientes, cabe observar que a reposição dos insumos

deverá ser propiciada pela geração da conta, uma vez que se essa conta que acabou de ser

fechada não der condições para tal reposição, significa que ao longo do tempo haverá redução

gradativa da disponibilidade e da oferta de moeda.

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 29), “Um grande número de empresas que

atravessam dificuldades e depois até são desativados certamente tem na raiz do problema o

desconhecimento desse importante fato.”

O valor de reposição deve representar o custo de materiais ou serviços no período

médio de vigência de um determinado preço de materiais ou serviços.

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A sua obtenção pode ocorrer através de maneiras diferenciadas, a saber:

a) pesquisa junto às fontes de fornecimento de materiais ou serviços sobre os custos a

vigorar no período médio de vigência dos preços;

b) pesquisa em publicações (revistas, jornais, etc.) sobre a tendência dos valores de custo

para o período médio de vigência dos preços;

c) projeção dos custos históricos para o período médio de vigência dos preços, a partir

das sinalizações de evolução deles.

1.4.3 Valor do dinheiro no tempo

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 29):

Em termos de cronologia, há diferentes momentos de ocorrência para os

desembolsos e ingressos de valores envolvidos nas fases do ciclo operacional em

relação aos fatores empregados e ao recebimento dos clientes, de tal sorte que em

sua expressão meramente nominal os valores, principalmente em épocas de inflação

mais elevada, tendem a proporcionar uma visão distorcida quanto aos seus efeitos

reais no sentido do poder de compra.

O efeito da perda da capacidade de compra da moeda deverá ser considerado quando

da formulação da tabela de preços, quanto maior for o ciclo operacional, maior será a perda da

capacidade de compra da moeda, portanto, maior deverá ser o cuidado. Nas organizações

hospitalares o ciclo operacional se inicia no momento da aquisição dos materiais e

medicamentos (mat/med) e da contratação de mão de obra especializada, no caso,

profissionais da saúde, e encerra-se no momento da entrega da respectiva conta às fontes

pagadoras, que podem ser os convênios, os pacientes particulares, ou mesmo o SUS.

Ocorre que, no momento dessa entrega, excetuando-se o paciente particular, deverá

seguir um cronograma de entrega, e não promover a entrega simplesmente no momento de

seu fechamento.

Também ocorrem casos em que o paciente permanece por longo tempo numa

organização hospitalar, semanas, meses e até anos. Então, nesses casos, promove-se o

chamado “fechamento administrativo”, que é o fechamento parcial da conta do referido

paciente, com o objetivo de não deixar que a conta atinja valores extremamente elevados, e

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54

também para que a organização hospitalar possa receber este valor parcial, a fim de poder

repor seus insumos.

Em setores da economia em que o prazo de execução do trabalho tem duração muito

longa, é comum o recebimento de valores parciais, à medida que esse trabalho vai sendo

executado. Assim, além de garantir o recebimento total ao término da obra, viabiliza-se o seu

fluxo de caixa, situação oposta aos setores da economia em que o recebimento é praticamente

à vista, como nos casos de empresas de ônibus e supermercados.

1.4.4 Resultado

Não basta a organização hospitalar conseguir repor seus recursos materiais e humanos,

bem como a preservação do valor da moeda. É necessário que ela opere de tal forma que

sempre consiga reposição desses recursos através da manutenção do poder de compra dos

seus recebíveis.

Ocorre que, em todos os setores da economia, sempre houve e sempre haverá

necessidade de investimento, seja para modernização, seja para ampliação, seja para

relocalização ou para qualquer outra situação necessária à sua sobrevivência. Como conseguir

manter-se sempre atualizado e cada vez mais atuante no mercado? Somente com a obtenção

de bons resultados é possível criar essa condição.

Observamos que, atualmente, são raras as oportunidades em que um setor da economia

estabelece seu preço de venda, através da equação a seguir:

PREÇO DE VENDA = CUSTOS + MARGEM DESEJADA

Por diversos motivos, atualmente o preço de mercado de um produto e/ou serviço é

estabelecido pela seguinte equação:

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MARGEM OBTIDA = PREÇO DE VENDA - CUSTOS

Portanto, se o preço de venda está estabelecido pelo mercado, então, aumenta por

demais a importância na administração dos custos, com o objetivo de obter resultados

favoráveis. Este fator possibilitará a sobrevivência da organização hospitalar no mercado e,

em casos de resultados significativos em que estes forem retidos para reinvestimentos,

observaremos a expansão

Neste contexto, a administração dos custos passou a ser vital para a sobrevivência das

empresas, pois possibilita obter margens que dão sustentação à sobrevivência e à expansão

dessas organizações, considerando as realidades internas e externas de cada organização

hospitalar.

A adequada gestão do resultado pode na realidade ocorrer de várias formas, a saber:

Através de uma boa gestão de custos, mediante sua divisão inicial por atividade ou

área de responsabilidade. A partir dessa identificação, cabe, em conjunto com as áreas

de atuação, um planejamento e um controle de evolução dos custos no decorrer do

tempo. Um acompanhamento permanente por parte das áreas envolvidas tende a

funcionar como um instrumento de racionalização dos custos e, consequentemente, de

incremento do resultado. A existência de um orçamento adequado, com recursos

planejados por área de atuação, constitui o instrumento de aperfeiçoamento desse

controle;

A boa identificação e o acompanhamento da formação dos custos podem conduzir a

outro enfoque de gestão: a realização de determinadas atividades na própria instituição

ou a sua terceirização. Pode-se observar que esse procedimento é hoje bastante

frequente e comum em muitas instituições, para inúmeras atividades, como, por

exemplo, segurança, nutrição, lavanderia, costuras, higiene e limpeza, entre outras

tantas. A terceirização representa em muitos casos uma racionalização dos custos,

objetivando a melhoria dos resultados;

Organizações hospitalares, por sua complexidade, representam grandes desafios aos

gestores no sentido de utilizarem de forma eficaz o tempo e os espaços. Um paciente

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que ingressa na organização pode requerer disponibilidade imediata de recursos, como

sala cirúrgica, unidade de tratamento intensivo, unidade de internação, razão pela qual

a organização, em princípio deve manter certa reserva técnica para atendimento desses

casos imprevistos. Porém, nem só de atendimento emergencial vive uma organização

hospitalar. Há os chamados procedimentos eletivos, ou seja, cirurgias ou

procedimentos com dia e hora marcada. Portanto, nestes casos, a programação desses

espaços e tempos é perfeitamente administrável, disponibilizando cada um desses

recursos de forma subsequente aos atendimentos do paciente. O equilíbrio entre

pacientes emergenciais e programados são situações de que uma organização

hospitalar deve lançar mão, sempre, pois quanto melhor for a utilização dos espaços e

dos tempos, com certeza, melhores serão os resultados, não ignorando que sempre os

atendimentos devem propiciar resultados positivos às organizações;

Faz parte também deste contexto a racional estocagem de materiais e medicamentos,

mantidos sempre em níveis mínimos, dentro da segurança requerida. Há muitos casos

de materiais em consignação, principalmente as orteses e próteses, utilizados nas

cirurgias de joelho, por exemplo, cujas partes são inúmeras e de alto valor agregado.

Assim, o fornecedor deixa em consignação uma caixa contendo centenas de peças, e

os cirurgiões vão utilizando-as na medida da necessidade. Então, ao término desta

cirurgia, o fornecedor comparece, faz a conferência e fatura o que foi efetivamente

gasto, repondo as peças que foram utilizadas. O conceito do lote mínimo deve estar

sempre presente, para que não fiquem por muito tempo, materiais e medicamentos em

estoque, notadamente os de alto valor agregado;

De nada adianta para uma organização hospitalar primar por ótimos atendimentos aos

pacientes, oferecendo serviços médicos, de enfermagem e de hotelaria de primeira

qualidade, com boa margem, se o recebimento desses recursos não acontece de forma

natural, ou seja, dentro dos prazos e das condições estabelecidas entre as partes

contratantes. Uma boa gestão em suas contas a receber é de vital importância,

mantendo controle permanente e tomando providências sempre que ocorrer alguma

intercorrência no fluxo normal dos recebíveis. Não se pode ignorar a figura da glosa

nas contas a receber de uma organização hospitalar. Glosa são valores que as fontes

pagadoras questionam quanto às reais necessidades de utilização e aplicação àquele

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paciente, ou mesmo quanto ao tempo de permanência nas dependências do hospital.

Assim, as fontes pagadoras, descontam esse valor a título de glosa e pagam a

diferença. Essa glosa pode chegar a níveis preocupantes, de 1 a 20% do valor da

fatura. Os prestadores de serviços têm um prazo de cerca de 30 dias para aceitar ou

contestar essa glosa. No caso de contestação, promovem-se então os recursos da glosa

que são enviados novamente às fontes pagadoras, que por sua vez, têm mais 30 dias

para aceitar os recursos ou manter a glosa. Caso concordem com os recursos,

programam os pagamentos, geralmente nos mesmos prazos da fatura original. Se

mantiverem a glosa, ainda que parcial, novamente transferem os problemas aos

prestadores de serviços. Um controle rigoroso na qualidade de fechamento das contas

bem como no controle das contas a receber, inclusive dos recursos das glosas,

propiciam às organizações hospitalares um desempenho eficiente em suas contas a

receber;

Em organizações hospitalares também ocorre a sazonalidade, com quedas na procura

por serviços, geralmente nas viradas de ano e nos períodos das férias escolares. Assim,

pode-se programar algum tipo específico de atendimento, principalmente os chamados

procedimentos eletivos, como por exemplo, as cirurgias plásticas, com forte demanda

atualmente, ou outro tipo de procedimento em que a organização hospitalar seja

referência;

Quanto aos valores, é absolutamente importante, numa boa gestão de custos e

resultados, a sua adequada administração em termos de reposição. Isso implica um

permanente monitoramento, especialmente no que se refere aos materiais, visando o

imediato repasse de variações ocorridas nesses valores;

Uma boa gestão de custos participa diretamente na decisão quanto à aquisição ou

substituição de equipamentos médico-hospitalares, bem como na ampliação ou

relocalização das instalações. Deverá participar com seus estudos de viabilidade

econômica e financeira, obtendo informações seguras quanto ao aumento da demanda

e promovendo cálculos quanto ao retorno desses investimentos;

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58

Dentro do enfoque da análise de investimentos, sob a ótica de resultados, observa-se a

realização de convênios em conjunto com outras instituições, visando a ampliação dos

serviços com menores valores investidos. Trata-se, sem dúvida, de uma atitude correta

em termos de gestão. (BEULKE; BERTÓ, 2005).

1.5 Bases conceituais de custos relevantes em organizações hospitalares

1.5.1 Considerações iniciais

Embora as bases conceituais da Contabilidade de Custos sejam amplas, focaremos

neste trabalho apenas os aspectos conceituais pertinentes à montagem de um sistema de

formação de preços de produtos ou serviços em organizações hospitalares.

1.5.2 Custos diretos x indiretos

A identificação dos custos diretos ocorridos em um serviço ou procedimento é uma

das tarefas mais simples, pois basta verificar a aplicação/utilização de materiais e/ou

medicamentos e da mão de obra para que a tarefa esteja cumprida. Essa identificação confere

ao cálculo uma precisão completa dos custos envolvidos neste atendimento.

Embora seja ideal essa situação, o mesmo não ocorre sempre, pois existem situações

em que a complexidade aflora e a identificação dos custos diretos e indiretos não representa

tarefa das mais simples.

Podemos citar como exemplos clássicos de custos diretos no ramo da saúde, os

seguintes pontos:

a) consumo de medicamentos, orteses, próteses, etc.;

b) consumo de materiais médico-hospitalares, por conta do paciente/procedimento;

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c) consumo de gêneros alimentícios aplicados na elaboração das refeições

separadamente: café, almoço, lanche, jantar, ou pratos à la carte;

d) filmes usados na realização de um exame radiológico;

e) valor de comissões médicas vinculadas a cada exame, quando for o caso;

f) formação de custos financeiros relativos à concessão de prazos a convênios;

g) honorários médicos.

A vinculação desses custos com a conta do paciente é estabelecida através dos seus

montantes físicos correspondentes ao consumo, ou, mais propriamente, de insumos. Os

respectivos montantes físicos desses materiais são determinados com base em documentos

internos que circulam pela farmácia no ato de suas retiradas. Na sequência, essas informações

físicas são apontadas a débito da conta do paciente. Tais informações ainda podem ser

pesquisadas pela área de custos, para compor as estatísticas julgadas necessárias à formação

de médias. Ao consumo físico deve ser associado o valor em moeda corrente.

Quanto à formação de custos diretos de comissões, quando existentes, decorrem

normalmente da aplicação de percentuais, pactuados com os radiologistas, sobre o valor do

exame específico, ou em função de outras modalidades de prestação de serviços e

correspondentes profissionais.

Os custos diretos caracterizam-se, pois, pela possibilidade de sua especificação por

serviço prestado.

Num polo oposto, estão os custos indiretos, notabilizados pelas seguintes condições:

a) são custos comuns a diversos procedimentos e serviços;

b) não podem ser mensurados separadamente por item de serviços prestados;

c) apresentam maiores complexidades de cálculos, impondo uma série de processamentos

paralelos.

São exemplos típicos de custos indiretos, não somente em organizações hospitalares

como na maioria das organizações: energia elétrica, água, seguro, depreciação, materiais de

limpeza e higiene, custos administrativos em geral.

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60

A quantificação precisa do consumo de energia elétrica por procedimento executado é

prejudicada, uma vez que este é apurado com alguma dificuldade e por meio de hipótese, por

setor ou por atividade.

Na questão da mão de obra da enfermagem, o custo direto é o tempo que se gasta para

fazer um curativo. Por outro lado é considerado custo indireto quando da prestação de

serviços comuns a diversos pacientes.

A depreciação de determinados equipamentos de uso exclusivo a certo tipo de

exame/procedimento pode ser considerada como custo direto, como por exemplo, um

equipamento de litotripsia.

A identificação entre custos diretos e custos indiretos não ocorre de forma pacífica e

uniforme, geralmente vem revestida de muita polêmica e dúvidas. Cabe ao administrador de

custos usar o bom senso na condução dessas discussões. A ideia em transformar custos

indiretos em custos diretos, sempre que se apresentar uma oportunidade, não deve ser

descartada, pois, assim, a tarefa de apuração desses custos fica menos onerosa e conflitante.

1.5.3 Custos variáveis x custos fixos

Segundo Finkler e Ward (1999, p. 28), “Custo total consiste de custo fixo e custo

variável. Custo fixo não varia de acordo com volume de paciente atendido, custo variável, por

sua vez, varia de acordo com volume de paciente atendido”.

Custos variáveis são considerados como aqueles valores que se modificam em face do

volume de atividade: aumentando quando esta cresce e contraindo-se quando o atendimento

diminui. Entre os exemplos de custos variáveis estão: medicamentos e materiais médico-

hospitalares; consumo de gêneros alimentícios; consumo de filmes radiológicos e valores de

comissões médicas. Nos exemplos citados, quanto maior o número de pacientes atendidos

num determinado período, maior tende a ser o valor total gasto nessas rubricas. Em situação

de retração, o grau de ocupação da organização hospitalar tende a diminuir na mesma

proporção, em caráter linear.

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61

Constata-se, na prática, que um número significativo de situações típicas de custos

variáveis é detectado na própria composição dos custos diretos. Há vários casos, no entanto,

de custos diretos que não são variáveis, como, por exemplo, a já citada depreciação de certo

equipamento de uso específico. No caso, é possível ampliar o seu uso sem aumentar o seu

custo mensal, comprovando-se, deste modo, a sua imutabilidade, característica de um custo

fixo.

Custos como aluguel, manutenção de equipamentos, serviços de higiene e limpeza,

pessoal da administração, pessoal das áreas de enfermagem, de lavanderia, de segurança são

casos típicos de custos fixos, ou seja, não sofrem qualquer tipo de alteração face à variação na

taxa de ocupação de uma organização hospitalar.

1.5.4 Relação entre custos diretos x indiretos e variáveis x fixos

Em uma análise mais profunda quanto à natureza dos custos, nem sempre é possível

estabelecer um vínculo linear entre eles. Ou seja, nem todos os custos diretos são variáveis,

assim como nem todos os custos indiretos são fixos. A partir desta constatação, desenvolve-se

a seguinte subclassificação:

a) não proporcionais diretos dos procedimentos (direcionados específica e

individualmente para cada procedimento);

b) não proporcionais diretos das unidades de resultado (custos não direcionáveis ao

procedimento específico, mas a uma unidade comum a vários procedimentos);

c) não proporcionais indiretos gerais (custos que não se identificam nem com um

procedimento específico, nem com a unidade comum onde eles ocorrem).

A partir deste enfoque, é possível visualizar o seguinte esquema de inter-

relacionamentos:

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62

Diretos dos procedimentos

Custos proporcionais

Indiretos gerais

Diretos dos procedimentos

Custos não proporcionais Diretos das unidades de resultados

Indiretos gerais

Fonte: Beulke e Bertó (2005), adaptado pelo autor.

Essa configuração adapta melhor os custos não proporcionais, em termos de

apropriação, conforme já enfatizado.

Em toda a classificação, que de certa forma é específica para cada organização, é

sempre recomendável usar de bom senso, pois muitas vezes a fronteira entre uma e outra

situação (variável x fixo) não é tão clara, havendo sempre espaço para o arbitramento e

convencionalismo, especialmente naquelas circunstâncias menos relevantes em valores.

1.5.5 Implicações práticas na montagem do sistema

Segundo Beulke e Bertó (2005, p. 39), “Os custos comuns, habitualmente

classificados como indiretos, determinam a adoção de uma série de implicações práticas em

termos de montagem do sistema de custos [...]”

Embora os custos comuns sejam, em geral, indiretos em relação aos serviços prestados

(no sentido de sua impossibilidade de quantificação específica individualizada em cada um),

tais custos podem ser identificados por área de responsabilidade ou atividade. Com raras

exceções, como energia elétrica, que não apresenta condições normalmente de mensuração

específica por setor ou atividade, os demais custos e despesas indiretas, em sua maioria,

podem vir a ser considerados como comuns, em conformidade com o grau de

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63

responsabilidade do responsável pela área, ou seja, é possível estabelecer um vínculo entre

determinado custo ou despesa com a área ou atividade em que foram gerados ou repercutiram

do ponto de vista de sua responsabilização. Essa característica viabiliza a importante função

de controle dos custos e despesas.

A formação correta dos custos operacionais por área de responsabilidade ou atividade

constitui um estágio importante na implantação do sistema de custos.

O sistema de custos deve apurar e estar estruturado para calcular os custos de cada

setor ou atividades.

1.5.6 Métodos de custeio e suas bases conceituais específicas

Por definição, um método de custeio é um conjunto de procedimentos adotados numa

empresa para calcular algo, ou seja: os bens e serviços nela processados. Pode-se dizer que

um método constitui a metodologia aplicada ao desenvolvimento do cálculo de custos.

Na apreciação dos métodos de custeio, há uma forte interferência da categoria de

valores empregados, conduzindo a diferentes montantes em termos de custo unitário dos

serviços e procedimentos.

O método mais tradicional recebe a denominação de custeio integral ou custeio por

absorção, que tem como característica a apropriação integral de todos os custos, sejam diretos,

indiretos, fixos ou variáveis aos serviços, sendo necessário utilizar-se de critérios para rateios

dos custos indiretos e posterior alocação a determinados serviços.

Temos também o custeio direto ou custeio marginal, em que somente são apropriados

aos custos os itens que variam de acordo com o volume de produtos ou de serviços

produzidos.

Com a evolução dos tempos, mais recentemente surgiu um novo enfoque de cálculo, a

partir da própria mudança na estrutura dos custos das instituições. Trata-se do Sistema ABC

(Activity-Based Costing), ou seja, custeio por atividade. Dentro do contexto desse método,

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ocorre a divisão das organizações em unidades de negócio (cálculos de gestão própria de

custos e resultados).

O princípio básico desse método é tornar identificável o maior número possível de

custos proporcionais e não proporcionais através de direcionadores de custos (cost drivers)

específicos.

Assim, tanto os custos proporcionais como os não proporcionais recebem

direcionamentos em diversos níveis, a saber:

a) custos proporcionais diretos e custos não proporcionais diretos dos procedimentos;

b) custos proporcionais diretos e custos não proporcionais diretos das unidades de

negócio;

c) custos proporcionais indiretos e custos não proporcionais indiretos gerais.

Na concepção desse método, são as atividades que consomem recursos, e, por sua vez,

produtos e serviços consomem atividades.

Seguindo essa linha de raciocínio, as atividades são divididas entre as que agregam e

as que não agregam valores aos produtos e serviços. Esse conceito procura reduzir custos sem

diminuir valor.

Temos os quadros a seguir, considerando a existência das seguintes condições, de

acordo com cada método de custeio:

a) custos diretamente identificáveis com determinado produto ou serviço “A”: R$ 1.500;

b) custos indiretos (fixos) da organização no período: R$ 15.000. Desse montante, cabe

ao produto ou serviço “A” a incidência de 10%, de acordo com o rateio efetuado pela

organização;

c) preço do produto ou serviço “A”: R$ 3.500

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A seguir, desenvolve-se exemplo, considerando o método de custeio integral.

Quadro 10 – Custeio integral, em R$

A Custo direto do produto ou serviço “A” 1.500

B Parcela de rateio dos custos indiretos 1.500

C = A + B Custo Total 3.000

D Preço do produto ou serviço “A” 3.500

E = D – C Resultado 500

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 42), adaptado pelo autor.

No quadro 11 desenvolve-se exemplo, considerando o método de custeio direto.

Quadro 11 – Custeio direto, em R$

A

Custos proporcionais diretamente identificáveis com o produto ou

serviço “A”

1.500

B

Parcela de custos proporcionais indiretos apropriáveis ao produto

ou serviço “A” (variáveis)

750

C

Montante de custos da empresa, não proporcionais e não

diretamente identificáveis com o produto ou serviço “A”

14.250

D = A + B

Custo proporcional (variável) apropriado ao produto ou serviço “A”

2.250

E

Preço do serviço ou produto “A”

3.500

F = E – D

Margem de contribuição

1.250

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 42), adaptado pelo autor.

No quadro 12, desenvolve-se exemplo, considerando o método de custeio por

atividades – ABC.

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Quadro 12 – Custeio por atividade, em R$

A

Custos proporcionais, diretamente identificáveis com o produto ou

serviço “A”

1.500

B

Custos proporcionais, diretamente identificáveis com a unidade de

negócios que engloba o produto ou serviço “A”

2.700

C

Custos proporcionais, indiretos gerais

3.700

D

Custos não proporcionais (fixos) diretamente identificáveis com o

produto ou serviço “A”

1.000

E

Custos não proporcionais, diretamente identificáveis com a unidade

de negócio (que engloba o produto ou serviço “A”)

4.500

F

Custos não proporcionais indiretos gerais

4.800

G = (A + D)

Custo direto do produto ou serviço “A”

2.500

H

Preço do produto ou serviço “A”

3.500

I = H + G

Contribuição operacional

1.000

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 42), adaptado pelo autor.

O resultado unitário no contexto do custeio integral não é constante nos diversos

níveis de atividade, pois sofre influência dos custos fixos apropriados aos produtos ou

serviços. Estes tendem a ser relativamente estáveis no total, mas são inversamente variáveis

por unidade: reduzem quando a atividade aumenta; crescem unitariamente quando a atividade

se retrai. Esse é o maior problema do conceito “resultado unitário”, não servindo como

elemento aplicável no planejamento de resultado, em diferentes níveis da atividade.

No custeio direto, a margem de contribuição unitária tende a apresentar um

comportamento estável por unidade em diferentes níveis de atividade (supondo uma mesma

relação entre preço de venda e os custos variáveis). Essa característica é possibilitada em

função da diretriz de cálculo, segundo a qual o serviço deve ser responsabilizado pelos seus

custos variáveis, cabendo, no conjunto com outros itens, ser processada a recuperação dos

custos fixos totais da empresa e, após isto, a obtenção do resultado.

Desse modo, o primeiro nível de preocupação é a recuperação dos custos variáveis nos

procedimentos, sendo a “sobra”, após essa cobertura primária, um montante regulado pelas

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condições de competitividade no mercado. Como consequência, qualquer montante positivo

dessa sobra poderia ser encarado como um fator favorável. Isoladamente, essa sobra

individual não resolve o problema da empresa, mesmo se ela for expressiva. Cabe, ainda,

considerar o terceiro elemento fundamental desse equacionamento: o volume de atividade.

Com efeito, em face de certo montante de custos fixos comuns a diversos bens ou

serviços, que se constituem em custo de responsabilidade do período, o que deve, então, ser

maximizado é o alcance da contribuição total, de tal forma que o seu montante seja superior

aos custos fixos, para ser alcançado o resultado. Abaixo uma representação do que foi

comentado:

Preço de venda do procedimento (regulado, em tese, pelo mercado)

(-) Custos variáveis do procedimento (estáveis, relativamente)

(=) Margem de contribuição unitária (deve ser na pior das hipóteses, nula, de

preferência positiva)

(X) Volume físico de venda

(=) Contribuição total do procedimento

Assim, cada procedimento apresenta sua contribuição, que pode ser negativa, nula ou

positiva. Contribuição negativa representa prejuízo, a nula representa o equilíbrio e a positiva

representa contribuição efetiva, que em termos práticos contribuirá em parte para absorver os

custos e despesas fixas.

A contribuição operacional no contexto do custeio por atividade não é constante aos

diversos níveis de atividade, na medida em que esse método direciona também custos fixos

diretos aos produtos e serviços. Embora o foco principal do custeio por atividade esteja

centrado na gestão do processo e dos custos a ele inerentes, é condição mínima para a

existência de resultado que os serviços tenham um valor unitário maior do que o custo direto

apropriado, para permitir a obtenção de uma contribuição operacional positiva.

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68

1.5.7 Inter-relacionamentos dos métodos

A cobertura dos custos fixos depende de como serão direcionadas as vendas dos

produtos ou serviços que ofereçam melhor margem de contribuição, principalmente no que

diz respeito aos de maiores valores agregados. Quanto melhor este mix, mais rapidamente a

organização conseguirá resultados que igualem e superem esses custos e essas despesas fixas.

Numa organização hospitalar, da mesma forma, mediante a identificação desses

patamares sucessivos de desempenho, é possível, em consequência, orientar e direcionar a

otimização dos níveis de ocupação, bem como do uso de equipamentos e instalações.

No custeio direto, a não especificação de uma parcela de resultado por unidade não

significa despreocupação com o resultado para a organização. Na prática, o que se pretende é

liberar os serviços da responsabilidade exclusiva pelas porções de custos fixos, que

constituem custos comuns, portanto de todos. Transfere-se, assim, a sua recuperação para um

nível de maior liberdade: os itens de venda contribuem com o que podem para a recuperação

dos custos fixos, havendo a sua consolidação em torno da meta de geração máxima de

contribuição total através da participação da variável volume.

A determinação da margem de contribuição unitária é de vital importância para a

organização. Uma vez identificados os melhores produtos ou serviços, aqueles que

apresentarem melhor margem de contribuição unitária, todo esforço deve ser canalizado no

sentido de conseguir o melhor mix em termos de margem de contribuição total, que vai

absorver custos e despesas não direcionadas aos serviços ou produtos. Evidentemente, deve-se

sempre respeitar determinadas tendências de maior concentração de negócios em certos itens

que os usuários desejam. O objetivo final é obter o mix que proporcione atingir a contribuição

total necessária.

Enquanto no custeio direto a margem de contribuição resulta do confronto entre os

preços e os custos estritamente proporcionais ao volume, no custeio por atividades a

contribuição operacional decorre da contraposição do preço com todos os custos diretos

direcionáveis aos produtos e serviços, incluindo nestes os não proporcionais (fixos).

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Os três métodos de custeios (integral, direto e por atividades) apresentam diferenças

em suas proposições:

a) custeio integral: apropria todos os custos aos produtos ou serviços e tem como

parâmetro estabelecer seu preço em função do custo mais um resultado pretendido e

pode ser aplicado na situação em que a organização estabelece seu valor, por diversos

motivos, entre os quais, a referência de mercado, situação de monopólio ou de

oligopólio ou mesmo em produtos novos, sem referencial de preço no mercado;

b) custeio direto: apropria somente os custos diretos e indiretos estritamente

proporcionais e sua margem de contribuição decorrente constitui o limite mínimo

tolerável para viabilizar o produto ou serviço. Sistema voltado ao mercado, pois

considera o preço como uma função exclusiva dele e utiliza margem de contribuição

como fator de limite. É utilizado em situações de alta competitividade e para compor

mix de produtos ou serviços visando a otimização do resultado;

c) custeio por atividade: preocupa-se com a exata apropriação de todos os custos aos seus

respectivos destinos, tem foco mais relacionado com a exatidão do custeamento das

atividades e, por consequência dos produtos ou serviços. Trata-se da mais eficaz

ferramenta na gestão dos custos.

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70

2 APLICAÇÃO DO PREÇO DE TRANSFERÊNCIA “TRANSFER PRICING” EM

ORGANIZAÇÕES HOSPITALARES

2.1 Setorização

2.1.1 Unidades de negócio

À medida que as organizações se expandem, aumentam as dificuldades de controle,

tanto em níveis operacionais quanto em relação aos problemas administrativos.

As organizações hospitalares, de acordo com vários aspectos de complexidade já

abordados, apresentam enormes dificuldades no que se refere à sua gestão.

De acordo com a proposta de utilizar o “transfer pricing” na formação de preços de

serviços e procedimentos médico-hospitalares, situação em que a descentralização de poderes

é um princípio básico para sua possível implantação e manutenção com o sucesso esperado,

abarca-se essa condição no presente trabalho.

De acordo com Santos (2002, p. 3):

Uma solução está em descentralizar o processo decisório e as responsabilidades

operacionais, cujas principais vantagens seriam a de possibilitar respostas mais

rápidas e eficazes a problemas localizados (por estarem os gestores locais mais

próximos dos problemas a serem solucionados), e a de satisfazer a necessidade de

autonomia, uma poderosa ferramenta motivacional para os gestores de centros de

responsabilidade. A descentralização funcional envolve a subdivisão das atividades

da empresa em diversas funções baseadas na especialização.

Atribui-se essa descentralização, para cada unidade de negócio. Se for em locais onde

somente ocorrem custos são chamadas de “unidades de apoio e unidades administrativas” e

caso se localizem onde também são geradas receitas, podem ser chamadas de “unidades de

atendimentos”.

Para cada gestor dessas unidades de negócio, será atribuída liberdade e

responsabilidade e cada um deles deverá gerir seu centro como se fosse uma unidade

autônoma, buscando obter os melhores resultados possíveis jamais ignorando que os

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resultados globais da organização são mais importantes, e que todos devem administrar

visando o alcance das metas globais definidas pela alta direção.

Para dar suporte ao processo de descentralização de uma organização hospitalar,

apresenta-se a seguir um quadro contendo, de forma genérica, as atividades desenvolvidas.

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72

Quadro 13 – Divisão das atividades realizadas em organizações hospitalares, quanto a sua

natureza

Unidades de Atendimentos Unidades de Apoio Unidades Administrativas

Anestesiologia Ambulatório Almoxarifado

Bloco Cirúrgico Anatomopatológica Bens Móveis e Imóveis

Cardiologia Arquivo Médico Compras

Cirurgia Geral Imagem/Hemodinâmica Contas Médicas

Clínica Médica Laboratório Clínico Custos

Da Criança e do Adolescente Material Esterilizado Documentação e Comunicação

Dermatologia Processamento de Roupas Finanças

Doenças Infecciosas e Parasitárias Higiene e Limpeza

Endocrinologia Jurídico

Farmácia Manutenção/Conservação

Fisioterapia/Fonoaudiologia Pessoal

Gastroenterologia Transporte

Ginecologia Vigilância e Segurança

Onco-Hematologia

Hemoterapia

Nefrologia

Neurologia/Neurocirurgia

Nutrição e Dietética

Oftalmologia

Otorrinolaringologia

Perinatal

Pneumologia

Reumatologia

SPA

Saúde Mental

Traumatologia/Ortopedia

Urologia

UTI/UCI

Vascular

Fonte: Ribeiro Filho (2005, p. 52), adaptado pelo autor.

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73

2.1.2 Centros de custos

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 49):

Centro de custos é uma unidade operacional autônoma, distinta das demais, portanto

tem ele uma vida própria, abrangida por um conjunto dos seguintes fatores: área

circunscrita de abrangência, em termos de responsabilização; fonte geradora de

custos; identidade de objetivos comuns, favorecendo a convergência e sinergia no

alcance de suas metas; existência de unidade de mensuração específica,

relativamente ao montante processado nos centros diretos; etc. Cada centro é, pois,

um conjunto de situações homogêneas, tornando-o diferenciado de outro conjunto,

que é, por sua vez, uma nova célula, e assim por diante.

Segundo Martins E. (2003, p. 7): “Centro de Custos, portanto, é a unidade mínima de

acumulação de Custos Indiretos. Mas não necessariamente uma unidade administrativa, só

ocorrendo quando coincide com o próprio departamento”.

Na divisão da organização em pequenas células, denominadas de centros de custos,

devem ser levados em consideração os critérios técnicos e, principalmente, os objetivos de

cálculo de custos. Esses critérios podem ser:

a) homogeneidade funcional;

b) unidade de responsabilidade.

2.1.2.1 Homogeneidade funcional

Cada setor de atuação deve ser distintamente separado, não deve haver junção de

atividades que nada tenham em comum. Como exemplo, funcionalmente é impossível agregar

setor de mamografia com urologia. Neste caso, o bom senso diz que esses setores devem ser

mantidos separadamente.

2.1.2.2 Unidade de responsabilidade

O organograma de uma organização representa a estrutura hierárquica, com definição

dos níveis de comando, entre as várias atividades que compõem esta organização.

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74

O organograma, neste caso, é a principal fonte de referência para proceder à divisão

setorial pretendida, pois, a partir dessa divisão, fica evidente quais são as linhas hierárquicas

que este setor deve seguir. Por exemplo, dentro do organograma de organização hospitalar,

nos níveis superiores, vamos verificar a existência da diretoria clínica e, abaixo seguindo a

linha hierárquica temos o setor do centro cirúrgico, que é uma unidade autônoma quanto à sua

operacionalização, com liberdade e responsabilidade atribuída, porém a ela subordinada.

2.1.3 Plano de centros de custos

Segundo Mario (2008, p.120):

Plano de contas é o agrupamento ordenado de todas as contas que são utilizadas pela

contabilidade dentro de determinada empresa. Portanto, o elenco de contas

considerado é indispensável para os registros de todos os fatos contábeis.

Cada empresa, de acordo com suas atividades e seu tamanho (micro, pequeno,

médio ou grande), deve ter seu próprio plano de contas.

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 51):

O conjunto de centros forma o plano de centros de custos de uma organização. Este

varia de um hospital ou estabelecimento para outro, pois nem todos se destinam ao

mesmo tipo de atendimento (uns estão voltados para tratamentos mais

especializados, do câncer ou do coração; outra para área materno-infantil, e assim

por diante), além de haver diferenciação acentuada em termos de recursos

tecnológicos [...]

Definidas as setorizações, há a necessidade de atribuir denominação ao próprio setor,

bem como a todos os possíveis componentes. A este denominamos de plano de centros de

custos de uma organização.

Plano este que varia de organização hospitalar para organização hospitalar, pois nem

todas se destinam ao mesmo tipo de atendimento, já que, enquanto uma tem como

especialidade o atendimento a pessoas com problemas cardíacos, outra tem especialidade no

atendimento a pessoas com problemas neurológicos e uma terceira no atendimento geral, os

chamados hospitais gerais, e assim por diante.

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75

Diante desta realidade, torna-se impossível a estruturação de um plano de centros de

custos hospitalares como padrão, tal como ocorre nas demais atividades da economia. Mesmo

dentro de um mesmo setor, as empresas buscam adaptar um plano de centros de custos que

melhor retrate as atividades da organização.

Embora haja essa diversidade, bem como acontece com organizações de outros ramos

de atividades, os detalhes abaixo devem estar presentes na estruturação do plano de centros de

custos em organizações hospitalares:

a) dentro de uma organização hospitalar sempre acontece alteração em seu lay out, com

acréscimos, junções ou supressões, novos equipamentos, instalações, formas de

atendimento, reuniões de dois ou mais centros em um novo centro, requerendo do setor

de contabilidade de custos uma atenção permanente para promover estes ajustes em

função dessas mudanças. Caso contrário, a destinação das receitas, dos custos e das

despesas ficará totalmente distorcida;

b) a correta classificação dos itens que compõem cada setor é tarefa das mais complicadas

e importantes. Para isso, além do suporte técnico baseado nos critérios examinados,

deve haver uma sustentação acessória de outros fatores, como garantia de que todas as

atividades foram contempladas e nada, em consequência, foi omitido ou considerado

em duplicidade. A fase inicial de identificação dos centros de custos pode ser

executada através de visitas e do conhecimento das atividades nos locais, com uma

planta baixa da empresa. Feito esse reconhecimento e já na fase de definição do plano

de centros de custos, antes de sua oficialização, tanto é aconselhável uma discussão

prévia quanto às suas linhas mestras como é necessário montar, para cada centro, uma

descrição sucinta de seu conteúdo, na qual são discriminadas as principais atividades e

equipamentos nele enquadrados. Com isso, fica afastada a hipótese de classificações

errôneas, ao mesmo tempo em que é formado gradativamente o manual de consulta

para os usuários.

c) o passo seguinte é a codificação dos centros de custos que é uma prática habitual para

facilitar a sua identificação paralelamente à escolha de uma denominação usual e

conhecida para cada unidade;

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76

d) elaborado e codificado o plano de centros de custos, o mesmo será divulgado,

acompanhado da descrição sucinta do conteúdo de cada um. Nesse sentido é

recomendável a realização de reuniões com o objetivo de expor a abrangência do

sistema e o significado, uso e vinculação do plano de centros, criando assim, uma

expectativa favorável e o necessário espírito de colaboração, para as demais fases que

se seguem;

e) a classificação dos centros de custos em grupos de apoio, de parcerias, diretos, locados

e administrativos corresponde ao agrupamento usual dos custos quanto ao seu

relacionamento com os serviços e procedimentos executados. Os centros de apoio ou

auxiliares expressam a reunião de atividades-meio de prestação interna de serviços, de

um centro executante para centros beneficiados. Caldeira, gerador elétrico, serviço de

manutenção, entre outros, podem ser inseridos nesse grupo. Esses centros de apoio

podem ainda ser subdivididos em dois grupos:

centros de apoio geral: constituem centros que prestam serviços internos a todas

as áreas da organização, como por exemplo: higiene e limpeza, segurança

patrimonial, manutenção predial, recursos humanos, entre outros;

centros de apoio específico: constituem centros que prestam especificamente

serviços a determinados setores da atividade fim da empresa, como por

exemplo: Centro de Materiais Esterilizados (CME).

As atividades fins, que geram atendimentos, são representadas pelos centros diretos,

que em geral são as seguintes atividades: pronto-socorro; ambulatório; centro cirúrgico;

centro de tratamento intensivo; unidades de internação; laboratório de análises clínicas;

centros de diagnósticos médicos, centro ortopédico, entre outros.

Alguns setores apresentam situação muito particular, como, por exemplo, o serviço de

nutrição e dietética, que por fornecerem refeições a funcionários, pacientes e acompanhantes,

dificulta a definição, com precisão, do valor de cada refeição que deve ser considerado na

composição do valor das diárias.

As organizações hospitalares mantêm muitos centros locados a terceiros que aí

desenvolvem suas atividades, como, por exemplo, lanchonetes, estacionamento, laboratório

de análises clínicas, banco de sangue, agência bancária, lojas de conveniências, entre tantos

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outros que podem explorar essas áreas locadas. Essas áreas locadas, em geral, representam

receitas cujas margens de contribuição são importantíssimas e que, geralmente, são

classificadas como ganhos complementares.

2.2 Divisão por atividade

2.2.1 Características gerais

À medida que observamos a evolução nos controles, novas descobertas vão sendo

feitas, e, neste sentido, surgiu o custo baseado em atividade para prover os gestores com

informações mais detalhadas sobre as operações, com vistas nos modelos estratégicos das

organizações. Neste modelo, entende-se por atividade qualquer evento que consome recursos

numa organização.

A divisão dos custos por atividade fornece ao administrador uma clara imagem de

como procedimentos ou serviços geram receitas e/ou consomem custos.

Essa divisão assume especial importância em termos de uma apropriação mais exata

dos custos, quando:

a) a organização hospitalar utiliza muitos recursos indiretos na execução de suas

atividades;

b) a organização hospitalar tem grande diversidade de processos, serviços e

procedimentos.

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78

A partir dessas considerações, pode ser visualizado o seguinte esquema do sistema de

custos por atividade:

Ponto de vista

de custos

Ponto de

vista do

processo

Figura 2 – Esquema de sistema de custeio por atividade Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 54), adaptado pelo autor.

A análise da atividade permite identificar tanto as oportunidades de implementação

como as atividades não essenciais, passíveis de redução de custos.

A identificação dos custos por atividade visa apropriar a cada serviço ou procedimento

a quantidade mais justa dos recursos para a sua execução, com bases específicas de

apropriação desses custos para cada atividade. A partir dessa apropriação torna-se possível a

constatação mais precisa do resultado de cada serviço.

Segundo Martins E. (2003, p. 87):

O Custeio Baseado em Atividades, conhecido por ABC (Activity-Based Costing), é

um método de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas

pelo rateio arbitrário dos custos indiretos [...]

O ABC pode ser aplicado, também, aos custos diretos, principalmente à mão-de-

obra direta, e é recomendável que o seja; mas não haverá, neste caso, diferenças

significativas em relação aos chamados “sistemas tradicionais”. A diferença

fundamental está no tratamento dado aos custos indiretos.

Considerando as explicações feitas até o momento, podemos observar que o custeio

ABC (Activity-Based Costing) é composto por duas grandes fases:

a) primeiramente são determinados os custos para as atividades. Essa fase é denominada

custo do processo baseado em atividades. Entende-se como processo o conjunto de

RECURSOS

DIRECIONADORES

DE CUSTOS

ATIVIDADES

ANÁLISE DE

DESEMPENHO

DECISÕES

GERENCIAIS

SERVIÇOS/

PROCEDIMENTOS

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79

atividades necessárias à realização de um serviço ou procedimento para um

convênio/paciente;

b) a segunda fase consiste em apropriar os custos das atividades aos serviços ou

procedimentos. Essa fase é denominada custo do serviço ou procedimento baseado em

atividade.

O sistema de custeio por atividade visa no seu escopo aperfeiçoar a apropriação dos

custos, corrigindo certas imprecisões existentes nos sistemas convencionais, e pretende

estabelecer sinalizações corretas aos administradores em termos de direcionamento dos

esforços voltados à redução de custos.

2.2.2 A operacionalização da divisão dos custos por atividades

A divisão por atividade, conforme observado, constitui de alguma forma uma maior

otimização dos custos em termos de sua apropriação. Assim, a sua caracterização inicial parte

normalmente da identificação dos processos.

Dentro de cada processo ou centro, são então identificadas as várias atividades, que

podem ser separadas em dois grandes grupos:

a) atividades que agregam valor aos serviços ou procedimentos;

b) atividades que não agregam valor aos serviços ou procedimentos.

Entende-se por atividade que agrega valor aos serviços ou procedimentos aquela cujo

custo pode ser repassado ao preço em função da valorização deste.

Deve-se proceder normalmente à consecução da divisão a partir de negociações com

as próprias chefias dessas áreas de responsabilidade.

A seguir, apresenta-se o quadro esquemático que evidencia as diferenças básicas de

formação dos custos dos métodos convencionais e do método de custeio por atividade.

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80

RECURSOS RECURSOS RECURSOS

Figura 3 – Esquema de métodos convencionais Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 56), adaptado pelo autor.

APOIO

ADMINISTRATIVOS

PRODUTIVOS

CENTROS DE

APOIO

CENTROS

ADMINISTRATIVOS

CENTROS DA

ATIVIDADE FIM

SERVIÇOS/

PROCEDIMENTOS

CENTRO DA

ATIVIDADE FIM

INSUMOS OPERACIONAIS

01 03 02 22

21 20

10 11 12

10 11 12

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81

RECURSOS RECURSOS RECURSOS

INCIDÊNCIAS PARA

UNIDADES DE

NEGÓCIOS

INCIDÊNCIAS

GERAIS

ORGANIZAÇÃO

Figura 4 – Esquema do método de custeio ABC Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 57), adaptado pelo autor.

No primeiro esquema, os recursos dos setores de apoio, produtivos e administrativos

são inicialmente canalizados para os respectivos centros.

APOIO

ADMINISTRATIVOS

PRODUTIVOS

PROCESSOS DE

APOIO

PROCESSOS DA

ATIVIDADE FIM

PROCESSOS

ADMINISTRATIVOS

01 02 03 10 11 12 20 21 22

ATIVIDADES

APOIO

ATIVIDADES

DIRECIONAIS

ATIVIDADES

FIM

ATIVIDADES

INCIDÊNCIAS

GENÉRICAS

01 02 03 12 11 10 20 22 21

A

V

N

A

V

A

V

N

A

V

A

V

N

A

V

A

V

V

A

V

N

A

V

A

V

N

A

V

AV NAV

AV

NA

V

AV

NAV

N

A

V

DIRECIONADORES

DE CUSTOS

DIRECIONADORES

DE CUSTOS

DIRECIONADO

RES

DE CUSTOS

SERVIÇOS/PROCEDIMENTOS

a b c d e f g

UNIDADE DE

NEGÓCIOS UNIDADE DE

NEGÓCIOS

A B

ORGANIZAÇÃO

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82

Num segundo passo, os custos dos centros de apoio e centros administrativos são,

através de determinados critérios, rateados entre os centros produtivos. Esse rateio é

diferenciado em elementos e valores no custeio integral e no custeio direto.

Num terceiro passo, os custos atribuídos aos centros produtivos são apropriados aos

serviços ou procedimentos em conformidade com os insumos operacionais de cada um.

Já, no segundo esquema, ocorre um detalhamento maior.

Os recursos dos processos são canalizados para as atividades segundo o montante

utilizado em cada uma delas.

Existe uma diferenciação entre as atividades que agregam valores aos serviços ou

procedimentos e aquelas que não agregam esses valores. Essa divisão ocorre em todas as

atividades da empresa, tanto na atividade fim, como na atividade de apoio, na atividade da

administração, como também na atividade mercadológica.

Os recursos apropriados às atividades são divididos em:

a) custos variáveis diretos dos serviços ou procedimentos;

b) custos fixos diretos dos serviços ou procedimentos;

c) custos variáveis indiretos de incidência por unidade de negócio;

d) custos fixos indiretos de incidência por unidade de negócio;

e) custos fixos de incidência geral.

Como no método ABC, os serviços ou procedimentos consomem atividades e os

recursos utilizados por estas são repassadas a eles através de direcionadores e custos

específicos.

Todas as atividades são válidas neste contexto, inclusive as atividades de apoio e as

atividades administrativas.

Aqueles custos de incidência não direcionados são apropriados ou às unidades de

negócio ou à organização hospitalar como um todo, de acordo com suas características.

O principal elemento diferenciador entre os métodos tradicionais e o método ABC é

que enquanto nos tradicionais os rateios são baseados predominantemente em volumes, no

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83

método ABC as apropriações são efetuadas através de direcionadores específicos das

atividades aos serviços ou procedimentos.

O método de custeio ABC possibilita melhor gerenciamento das atividades da

organização hospitalar, pois são essas atividades, que são os eventos que as organizações

realizam, e que são claramente identificados, e por consequência podem ser adequadamente

avaliados.

Essas atividades sendo adequadamente avaliadas devem ser objeto de permanente

monitoração quanto à sua eficácia, promovendo alterações sempre que necessárias.

Para uma melhor avaliação das atividades, separam-se aquelas que agregam valores

daquelas que não agregam valores. Para as atividades que não agregam valores, deve-se

promover uma divisão, classificando segundo a ordem de influência na organização, para, em

casos de mudanças, melhor adequar em termos de gestão de custos.

2.3 Formação de preços

De acordo com Hoji (2004, p. 345):

A determinação do preço de venda é uma questão fundamental para a empresa. Se

ela praticar um preço muito alto inibirá a venda, e se o preço for muito baixo poderá

não cobrir os custos e despesas. Os resultados econômicos e financeiros favoráveis

dependem de um preço de venda adequado. No mundo globalizado, em muitos

ramos de negócios, os preços são impostos pelo mercado, e as empresas precisam se

ajustar para acompanhar os preços internacionais.

Segundo Bernardi (2009, p. 26):

No Brasil, particularidades ambientais fizeram com que a gestão empresarial

usualmente se distanciasse das teorias clássicas de administração, ou que as mesmas

se tornassem aparentemente inaplicáveis; eram, porém, aspectos específicos de

ajustes conjunturais, necessários à continuidade e sobrevivência temporal da

empresa, num ambiente comumente adverso e instável. Isso, no entanto, em hipótese

alguma, deve ser entendido e aceito como forma permanente de gerir.

Nas duas últimas décadas, o mercado brasileiro em geral vem impondo aos

empresários, necessidades de remover o paradigma de que o preço de venda é igual ao

somatório dos custos e despesas e certa margem desejada.

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84

Hoje, o mercado é quem dita os preços, portanto a equação passa a ter uma conotação

muito diversa daquela, passando para esta configuração: margem é igual ao preço de venda

menos os custos e despesas. Logo, o papel do controle dos custos e das despesas aumentou de

forma significativa, pois se não tem como controlar o preço de venda, a margem fica sujeita

aos custos e despesas.

De acordo com Bernardi (2009, p. 27):

A mudança do paradigma é significativa e profunda, pois, enquanto no modelo

anterior o preço era função de uma planificação interna, propiciando meros repasses,

no modelo atual ou tendencial o preço é arbitrado pelo mercado, levando em conta o

poder aquisitivo, valor do dinheiro, qualidade, alternativas de escolhas e utilidade.

Na empresa, isso significa repensar métodos de trabalho e gestão, planejando com

base na variável externa, ou seja, de fora para dentro, buscando seu retorno via

produtividade, redução de custos, eficiência, qualidade, o que significa repensar a

empresa estrategicamente quanto aos métodos de gestão.

Nessa nova realidade, se o preço é definido pelo mercado, por que então se preocupar

com a formação de preços? A taxa de retorno é a combinação de margem com giro. Assim,

muito mais do que em qualquer outra situação, conhecer detalhadamente a estrutura dos

custos e das despesas da empresa torna-se tarefa das mais importantes, pois, só assim, poderão

os gestores examinar cuidadosamente cada componente destes custos e destas despesas, bem

como a política de formação de preços e administrar de forma eficaz todas as variáveis

envolvidas na questão, de forma a conhecer exatamente seus limites de atuação, no que diz

respeito ao mercado, volumes e retornos possíveis, estabelecendo assim sua estratégia de

atuação.

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85

Nacional e Internacional

Figura 5 – Esquema de política de formação de preços Fonte: Bernardi (2009, p. 30), adaptado pelo autor.

Recursos Humanos

MERCADO

Custos

Industriais

Custos

Comerciais

Custo dos

Serviços

Concorrência

Compras Considerações

Ajustes/inflação/planilhas

Despesas

Finanças Planilhas

Ponto de

equilíbrio

Formação do

Preço de venda

Adm. de

Estoques

Marketing Capital

de giro

Mercado (preços)

Preço

de

Exportação

Preço de Transferência

Mercado interno

Preço à Vista

Preço a Prazo

Resultado

Econômico

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86

Para Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 221):

A Ciência econômica determina que a formação de preços dos bens e serviços

ocorre a partir das leis da oferta e da procura. Enquanto a oferta tentará vender um

certo bem praticando o maior preço de venda, a demanda optará por adquirir o

mesmo produto ao menor preço possível. Isso ocorre devido ao comportamento

existente nas próprias leis da oferta e da procura, as quais regem o mercado.

O gráfico a seguir representa o comportamento da oferta e da procura. A curva da

oferta tem comportamento crescente, pois varia de forma diretamente proporcional aos

preços. Por outro lado, a curva da demanda tem comportamento decrescente, pois varia de

forma inversamente proporcional aos preços.

Preços

Oferta

Preço Praticado

Demanda

Quantidade

Quantidade

Comercializada

Figura 6 – Comportamento da oferta e da procura Fonte: Dubois, Kulpa e Souza (2009, p. 220), adaptado pelo autor.

2.4 Diferenciando preços de valores

O valor de um bem ou serviço dependerá do quão útil esse bem ou serviço será para as

pessoas que o consomem. Por exemplo, para uma pessoa diabética dependente de insulina, a

insulina é muito valiosa, porém para outras pessoas que não são diabéticas, a insulina não tem

valor algum, e, se esse doente estiver numa crise por falta de insulina, poderá pagar um preço

ainda mais elevado, permanecendo indiferente às outras pessoas. Portanto, o preço é a

expressão quantitativa do valor de um bem ou serviço. Os produtos ou serviços disponíveis no

mercado têm um preço definido, que tem mais valor, menos valor ou valor nenhum,

dependendo da necessidade de cada consumidor.

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87

2.5 Os dois enfoques básicos na formação do preço de venda

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 172-173), o enfoque financeiro é:

Um dos mais fundamentais objetivos das organizações (e aí estão incluídas também

as instituições de saúde) é a manutenção de sua subsistência patrimonial. Nesse

sentido, a correta avaliação dos seus bens e serviços é um dos instrumentos básicos

para atingir esses objetivos. Essa avaliação deve necessariamente ocorrer de forma a

permitir a reposição real e integral dos fatores de produção [...]

Ainda de acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 172-173), o enfoque mercadológico é:

A formação do valor de um bem ou serviço deve, ao lado do enfoque financeiro,

possibilitar que ele atinja o local de uso em condições compatíveis de se ser

consumido pelos usuários. A busca do enfoque mercadológico está sempre

relacionada com a competitividade em comparação a outras alternativas existentes.

É assim imprescindível considerar que do lado externo da organização existe o

mercado, constituído de diversificadas pessoas, com variados hábitos e gostos e com

diferentes capacidades de aquisição dos bens e serviços.

Para a viabilidade do empreendimento, sempre é necessário satisfazer esses dois

enfoques, pois sem mercado não há sobrevivência e sem equilíbrio financeiro também não

haverá possibilidade de sobrevivência do empreendimento.

No caso de organizações hospitalares, essa condição, mais do que em qualquer outra

área, requer o equilíbrio financeiro, uma vez que o negócio dessas organizações é a saúde das

pessoas. Neste caso, as condições para um bom atendimento, tanto nas questões técnicas

como nas questões de apoio, são fundamentais.

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88

ENFOQUE MERCADOLÓGICO

Competitividade

PREÇO / VALOR

Manutenção da substância patrimonial

ENFOQUE FINANCEIRO

Figura 7 – Enfoque mercadológico x enfoque financeiro Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 173), adaptado pelo autor.

2.6 Componentes que influenciam na formação de preço/valor

Baseado em Beulke e Bertó (2005, p. 174), para a formação de preço de venda,

diversos componentes deverão ser observados com rigor, para que o sucesso do

empreendimento seja garantido. São eles:

a) Mercado - que tipo de concorrência; se há controle governamental; se há potencial a

ser explorado, etc.;

b) Como está estruturado o capital da empresa – se está endividada; se existe grupo de

investidores que a suprem de capital; como está a composição das dívidas da empresa;

etc.;

c) Quais são as características dos produtos ou serviços – se há sazonalidade; como se

comporta quanto a sua elasticidade; se há emprego de muita tecnologia; etc.;

d) Quanto às metas mercadológicas – se há preocupação quanto à imagem; se há

preocupação quanto à expansão; se há intenções de atuar em outras regiões; etc.;

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89

e) De que forma enxerga a situação macroeconômica – se entende que haverá retração

no mercado; se haverá crescimento; que influência teria uma eventual crise

internacional; como será a atuação do governo local; etc.;

f) Como está ou como será a estrutura de custos – qual a importância que deverá ser

dada às questões relacionadas a custos; gastos na área de custos são encarados como

despesas ou como investimentos; qual nível de recursos materiais, financeiros e

humanos são destinados às questões relacionadas com custos; etc.;

g) Quanto à capacidade instalada – há preocupação quanto à utilização da máxima

capacidade instalada; a taxa de ocupação é secundária, pois a satisfação dos

clientes/pacientes é mais importante; obter a máxima taxa de ocupação sem ignorar a

qualidade; etc.;

h) Quanto à relação entre clientes/pacientes e a prestadora de serviços – se há

demanda para os produtos e serviços oferecidos; de que forma é a remuneração pelos

produtos ou serviços prestados; quem serão os principais clientes;

i) Quanto à remuneração do capital investido – de que forma os investidores encaram

a sua relação com a empresa; esperam obter o máximo de dividendos no menor tempo

possível; há preocupação quanto à capitalização da empresa para obter maiores e

melhores dividendos no futuro; os investidores são os próprios administradores; etc.

De acordo com Beulke e Bertó (2005, p. 174):

Esses fatores influenciadores na formação do preço, naturalmente, são válidos não

apenas para as organizações em sentido amplo, mas também especificamente para as

instituições ligadas à saúde. Estas, embora tenham como objetivo principal o zelo

pela vida, obviamente não podem ignorar os princípios de preço/valor, visando a sua

própria sobrevivência no longo prazo. Dentre os fatores referidos, cinco são objeto

de um destaque especial:

1. Os objetivos da organização;

2. A estrutura de custos existente;

3. A ação governamental;

4. A situação de demanda dos produtos e serviços;

5. O posicionamento competitivo da organização.

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90

2.7 Os objetivos da organização

A definição clara dos objetivos da empresa é fundamental para estruturar os preços de

venda de um bem ou dos serviços de uma empresa, que podem ser os mais variados, em

termos de estabelecimento de índices de retorno, decorrentes do desenvolvimento da

atividade-fim.

De acordo com os objetivos definidos, torna-se natural a adoção de diferentes

procedimentos com relação aos preços para atendimento dos objetivos fixados. Estes

objetivos podem ser:

a) objetivo social, em que a preocupação é com relação à imagem de que a organização

pratica preços baixos, com o intuito de conquistar uma vasta gama de clientes, mesmo

que para isso pratique preços com níveis de retorno extremamente baixos. Assim, o

público sempre estará relacionando a organização com atendimentos a preços baixos;

b) objetivo de imagem alta que tem como finalidade praticar preços mais elevados para

conquistar uma parcela de clientes com maior poder aquisitivo, relacionando sempre

os altos preços praticados com qualidade e conforto. Para essa camada de usuários, o

valor de um produto ou de serviços está associado ao seguinte índice:

Utilidade (atributos)

Valor = --------------------------------------

Preço

Fórmula 1 – Cálculo do valor de um serviço ou procedimento Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 175), adaptado pelo autor.

A estratégia de preços mais elevados é diretamente proporcional ao maior índice

verificado nesta equação. O conceito de qualidade, embora muitas vezes um tanto subjetivo,

está neste caso associado à utilidade e qualidade de satisfação propiciada pelo bem ou serviço.

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91

2.8 Estrutura de custos

Não é possível falar em formação de preços sem antes conhecer os custos dos produtos

ou serviços, pois o custo deve sempre constituir o limite inferior do preço de venda. Qualquer

venda abaixo desse limite inferior tornará a operação deficitária, pois não poderá garantir a

reposição física dos custos, comprometendo seriamente a sobrevivência do empreendimento.

Utilizando-se do método de custeio integral, dentro do contexto, a fórmula genérica do

preço de venda o coloca como uma função exclusiva do custo, a saber:

Preço = Custo Total + Resultado

Neste método de custeio, todos os custos incorridos são de uma forma ou de outra

incorporados aos bens e serviços, visando a obtenção de um custo total.

Além dos custos diretos, que são identificados com facilidade, os custos indiretos são

de uma forma ou de outra a ela apropriados, por critérios convencionais ou por algum critério

de rateio.

O preço de venda, no caso, consiste na adição de uma margem sobre esses custos

totais, sendo que essa margem pode ser expressa de duas formas:

a) um montante de valor absoluto ($) ou;

b) uma incidência sobre o preço ou valor do serviço (rentabilidade expressa em

percentual ou índice sobre o valor de venda).

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92

1

PV = CI + R X ----------------------------------------

1 - (DFG + DTD + DDV)

Fórmula 2 – Cálculo do preço de venda com resultado em valor absoluto ($) Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 177), adaptado pelo autor.

1

PV = CI X ---------------------------------------------------

1 - (DGF + DTD + DDV + Rent.)

Fórmula 3 – Cálculo do preço de venda com rentabilidade (em percentual ou índice, sobre o

preço) Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 177), adaptado pelo autor.

Onde:

PV = Preço de venda (valor do serviço)

CI = Custo independente do preço (ou do serviço). Corresponde ao custo dos materiais

diretos utilizados para a produção de um bem ou prestação de um serviço + o custo

operacional (que identifica o montante de trabalho agregado) + as despesas

administrativas, tributárias, financeiras, de distribuição, não diretamente vinculadas ao

preço. Como a própria denominação indica, esses custos constituem valores

monetários absolutos, não relacionados com o preço de venda do bem ou valor do

serviço.

R = Resultado, expressa num valor monetário absoluto, independentemente do preço

de venda ou valor do bem ou serviço.

DFG = Índice de despesa financeira delimitado pelo ciclo operacional do bem ou

serviço e pelo mercado, para o financiamento do ativo circulante. O índice na presente

fórmula tradicional está atrelado ao preço de venda (valor do serviço).

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93

DTD = Índices de despesas tributárias diretas incidentes sobre o preço de venda (valor

do serviço). Integra este tópico, por exemplo, o Imposto sobre Serviços (ISS) ou o

PIS/COFINS, quando incidente sobre o valor do serviço.

DDV = Índices de despesas diretas de vendas, quando existentes. Integram este tópico

as comissões dos médicos, por exemplo, passíveis de ocorrências em determinados

tipos de serviços (exames radiológicos, etc.). Estão, também, diretamente vinculados

ao preço de venda (valor do serviço).

Rent. = Índice de rentabilidade sobre o valor de venda, ou prestação de serviços,

também vinculado diretamente ao preço de venda.

Exemplo prático:

Quadro 14 – Exemplo de procedimentos, em R$

Materiais diretos (medicamentos, etc.) 1.700

+ Custos Operacionais (cirurgia, internação, etc.) 1.500

+ Despesas Administrativas 300

= Custo independente do preço 3.500

DGF – 3% ou índice 0,03

DTD – 9% ou índice 0,09

DDV – 8% ou índice 0,08

Resultado pretendido: 500 Fonte: Beulke e Bertó (2005, p.178), adaptado pelo autor.

Aplicando a fórmula do cálculo do preço de venda com resultado em valor absoluto,

tem-se:

1

Preço de Venda = (R$ 3.500 + R$ 500) X ------------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08)

Preço de venda = R$ 4.000 X 1,25 Preço de venda = R$ 5.000

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94

Simulando uma situação em que no lugar de resultado em valor absoluto seja fixada

uma rentabilidade de 10% sobre o preço de venda, como meta, aplicando a fórmula, tem-

se:

1

Preço de Venda = R$ 3.500 X -------------------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08 + 0,10)

Preço de Venda = R$ 3.500 X 1,422857 Preço de Venda = R$ 5.000

Quadro 15 – Exemplo de rentabilidade, em R$

Preço de Venda 5.000

(-) DDV (8% s/PV) 400

(-) DTD (9% s/PV) 450

(-) DFG (3% s/PV) 150

(-) Custo Independente 3.500

= Resultado 500

Rentabilidade (s/PV) 10% Fonte: Beulke e Bertó (2005, p.178), adaptado pelo autor.

Nos dois exemplos anteriores, o preço do produto ou serviço não é conhecido. Os

preços são encontrados a partir de certa simulação, tanto em valores absolutos quanto em

percentuais, situação que não é comum nas atividades das organizações hospitalares, pois,

conforme já mencionado anteriormente, em geral, os preços são estabelecidos por órgãos

oficiais, no caso o SUS ou pelas empresas de medicina de grupo, com tabelas próprias já

definidas ou pelas tabelas formuladas pelas associações de classe, por exemplo: SIMPRO,

CBHPM, AMB, CIEFAS, etc. Portanto, a função do custo se torna demasiadamente

importante, pois, nesta situação, a margem dependerá de como estará composto o custo dos

produtos ou serviços médico-hospitalares.

Para ilustrar, supondo que o procedimento “X” tenha um valor de prestação já

estabelecido de alguma forma em R$ 4.200 tem-se:

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95

Quadro 16 – Exemplo de valor da prestação de serviços, em R$

Valor da Prestação de Serviços 4.200

(-) DDV (8% s/PV) 336

(-) DTD (9% s/PV) 378

(-) DFG (3% s/PV) 126

(-) Custo Independente do Preço 3.500

= Resultado (140)

Rentabilidade (3,3%)

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 179), adaptado pelo autor.

Observa-se que, neste caso, o resultado é negativo. Supondo que a prestadora de

serviços negocie com a tomadora de serviços um reajuste de 10% sobre o preço atualmente

em vigência, o novo preço passa a ser de: R$ 4.200 X 1,10 = R$ 4.620 apresentando assim a

seguinte situação:

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96

Quadro 17 – Exemplo de valor da prestação de serviços, em R$

Valor da Prestação de Serviços 4.620

(-) DDV (8% s/PV) 370

(-) DTD (9% s/PV) 416

(-) DFG (3% s/PV) 139

(-) Custo Independente do Preço 3.500

= Resultado 196

Rentabilidade 4,24%

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 179), adaptado pelo autor.

O sistema de custeio integral, de um lado, apresenta-se como uma solução

interessante, pois, de acordo com a metodologia, todos os custos e despesas, fixas e variáveis,

diretas e indiretas estão contemplados. Portanto, para efeito de visualização esse sistema leva

vantagens sobre os demais sistemas.

A possibilidade de comparação visual entre o preço de venda e a composição dos

custos e despesas possibilita ao gestor, de imediato, verificar o seu desempenho.

Porém, como na composição desses custos, rateiam-se os custos indiretos e as

despesas, significando que nesse processo há certa dose de arbitrariedade, pois no processo de

rateio os critérios nunca são totalmente justos. Por isso há o risco de obter uma composição de

custos de certo produto ou serviço médico-hospitalar com margem de erro, levando à tomada

de decisões que nem sempre são as mais interessantes sob o ponto de vista econômico e

financeiro, ou até mesmo social da organização hospitalar.

Para evitar esse risco, uma alternativa é a utilização do sistema de custeio marginal, no

qual são alocados somente os custos diretos a cada procedimento ou atendimento médico-

hospitalar, sendo que os demais custos são considerados estruturais, ou seja, pertencem à

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97

estrutura da organização, vinculados a um período de tempo, e não são apropriados aos

produtos ou serviços médico-hospitalares.

O resultado encontrado, diferentemente do sistema de custeio integral, afere o

resultado individual dos produtos ou serviços e passa a ser de margem de contribuição

individual dos produtos ou serviços médico-hospitalares.

Na situação em que o preço dos produtos ou serviços não é conhecido, seu cálculo

ocorre mediante prévio estabelecimento de uma margem de contribuição desejada como meta.

Essa margem pode ser estabelecida em valor absoluto ou então sob a forma de índice, no

caso, percentual.

1

PV = (CIV + MC) X -----------------------------------

1 – (DFG + DTD = DDV)

Fórmula 4 – Cálculo com margem de contribuição em valor absoluto Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 180), adaptado pelo autor.

Onde:

CIV = Custo independente variável (parcela diretamente relacionada com serviço

específico, em termos de materiais utilizados, serviços, etc.).

MC = Margem de contribuição em R$ (parcela com a qual cada serviço contribui para

a cobertura dos custos estruturais e para a formação do resultado da instituição).

Considerando as mesmas informações dos exemplos anteriores, teremos para cálculo

do sistema de custeio direto:

1

PV (valor do serviço) = ( R$ 2.600 + R$ 1.400) X -----------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08)

PV = R$ 4.000 X 1,25 R$ 5.000

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98

Quadro 18 – Custo independente variável, em R$

+ Materiais diretos (medicamentos, etc.) 1.700

+ Custos operacionais variáveis (supõe-se, no caso, que os

R$ 1.500 de custo operacional estejam constituídos de R$

900 de custos variáveis e R$ 600 de custos fixos

900

+ Despesas administrativas (não são apropriadas ao

serviço neste sistema por tratar-se de custo fixo)

---------

+ Custo independente variável (CIV) 2.600

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 181), adaptado pelo autor.

Cálculo com margem de contribuição em índice:

1

PV = CIV X ------------------------------------------------

1 – (DFG + DTD + DDV + Ind.Mg.)

Fórmula 5 – Margem de contribuição Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 181), adaptado pelo autor.

Onde:

Ind. Mg. = Índice de margem de contribuição com o qual cada serviço ajuda a cobrir o

custo estrutural e formar o resultado da instituição.

Neste caso, se a organização hospitalar desejar estabelecer um índice de margem de

contribuição como meta, este deverá ser de 0,28 (28% sobre o preço do serviço) para alcançar

o valor final de R$ 5000

1

PV (Valor do serviço) = R$ 2.600 X --------------------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08 + 0,28)

PV = R$ 2,600 X 1,9230769 PV = R$ 5.000

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99

Neste caso, o valor mínimo do serviço (limite absoluto inferior, para cobrir tão

somente o custo variável) deverá ser de:

1

PV = R$ 2.600 X ---------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08)

PV = R$ 2.600 X 1,25 PV = R$ 3.250

Quadro 19 – Margem de contribuição – Comprovação, em R$

Valor do Serviço 3.250

(-) DDV (8% s/PV) 260

(-) DTD (9% s/PV) 293

(-) DFG (3% s/PV) 98

(-) Custo Independente Variável 2.600

= Margem de Contribuição Zero

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p.182), adaptado pelo autor.

Confrontando os dois métodos de custeamento, o integral e o marginal, observa-se que

no custeio integral, mesmo com o preço de venda fixado em R$ 4.200, apresentava resultado

negativo. Somente com um reajuste de 10%, passando para R$ 4.620 é que o resultado passou

a ser positivo, no caso, em 4,24%.

Tomar decisão tão somente no método de custeio integral, neste caso, por exemplo,

descontinuar este serviço ou mesmo reduzir seu volume, pode ser um grande erro, pois, pelo

método de custeio marginal, o produto apresenta margem de contribuição positiva, que

contribuirá para absorver parte dos custos fixos e, após certo volume, passar a apresentar

resultados positivos.

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100

Conclui-se que o resultado de um serviço ou procedimento nem sempre se constitui

em um bom parâmetro para a avaliação de seu desempenho, uma vez que no método integral,

o rateio de certos custos fixos atribuído a este procedimento pode não ser real e, mesmo que

seja o mais próximo possível da realidade, a margem de contribuição positiva sempre estará

amortizando parte destes custos fixos.

O limite mínimo do preço de um produto ou serviço hospitalar é o seu custo variável,

pois abaixo deste, além de não contribuir para amortizar os custos fixos, ainda causa déficit

operacional, visto não cobrir sequer seus custos variáveis, os quais surgem exclusivamente em

função de sua realização.

Por natureza, organizações hospitalares têm elevados custos fixos, situação já

mencionada neste trabalho, que aliados à crescente informatização, abrem horizontes para

novas teorias na área de custos.

Neste contexto, surge o método de custeio ABC (Activity-Based Costing), cujo

principal objetivo está voltado à gestão interna dos custos, dentro de princípios da engenharia

do valor e da qualidade total.

De acordo com Falk (2008, p. 100):

A metodologia de elaboração de custos conhecida como Custos Baseados em

Atividades (Activity-Based Costing – ABC) não é uma alternativa nova de

Contabilidade de Custos para as organizações de saúde. Na realidade, é mais uma

nova abordagem ou enfoque de como observar a realização das atividades dentro da

instituição.

A crença é de que na metodologia ABC as atividades consomem recursos para

produzir um resultado, uma vez que cada paciente necessita de uma série de atividades para

seu tratamento e recuperação.

De acordo com Leal et al. em artigo publicado nos anais do XIV Congresso Brasileiro

de Custos de 2007:

O Sistema de Custeio Baseado em Atividades (ABC) vem encontrando grande

aplicabilidade na área de serviços, pois utiliza a análise de processos e de valor

agregado nas suas fases de implantação, facilitando a compreensão da organização e

de seus [...] Cita-se o exemplo de uma pesquisa realizada em hospitais de Nova

York que revelou a satisfação dos administradores hospitalares com a adoção do

sistema ABC, especialmente, pela possibilidade de identificar os custos, gerar

informações financeiras operacionais, promover o controle dos custos e permitir

uma melhor compreensão dos processos [...].

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101

No processo de apropriação dos custos aos produtos e serviços médico-hospitalares, o

custeio por atividades tem como preocupação principal direcionar a estes o maior número

possível de custos diretos. Para tanto, conta com a criação dos direcionadores de custos para

atividades e para os serviços.

Os demais custos que não são direcionados aos respectivos serviços são direcionados

às unidades de negócio ou considerados como custos gerais indiretos da organização.

Neste caso, o limite mínimo do preço é o custo direto do produto ou serviço médico-

hospitalar (composto de elementos fixos e variáveis). Este produto ou serviço apresenta uma

contribuição operacional, diferentemente da margem de contribuição ou do resultado.

Similarmente, como nos outros métodos de custeio, a Contribuição Operacional pode

ser estabelecida em valor absoluto ou em índices (percentual).

1

PV = (CID + CO) X -----------------------------------

1 – (DFG + DTD + DDV)

Fórmula 6 – Cálculo do preço de venda em percentual Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 184), adaptado pelo autor.

Onde:

CID = Custo independente direto (todos os custos independentes variáveis e fixos,

diretamente direcionados ao serviço).

CO = Contribuição operacional (parcela com a qual cada produto ajuda a contribuir na

cobertura dos custos indiretos da instituição e na formação do seu resultado).

Contribuição Operacional = Preço (valor do serviço) – Custo Direto do Serviço

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102

Quadro 20 – Contribuição operacional pretendida, em R$

+ Materiais diretos (medicamentos, etc.) 1.700

+ Custos operacionais diretos (supõe-se, no caso, que dos $

1.500,00 de custo operacional total, R$ 1.100 sejam

diretamente direcionáveis ao serviço)

1.100

+ Despesas administrativas (supõe-se que do total R$ 300

destas despesas, R$ 100 sejam direcionáveis ao serviço)

100

= Custo independente direto 2.900

DGF – 3% ou índice 0,03

DTD – 9% ou índice 0,09

DDV – 8% ou índice 0,08

Contribuição operacional pretendida 1.100

Fonte: Beulke e Bertó (2005, p. 184), adaptado pelo autor.

Aplicando a fórmula 6 anteriormente apresentada, tem-se:

1

Preço de venda = (R$ 2.900 + R$ 1.100) X ---------------------------------

1 – (0,03 + 0,09 + 0,08)

PV = R$ 4.000 X 1,25 R$ 5.000

Considerando que a contribuição operacional desejada seja de 22% sobre o preço do

produto ou serviço, tem-se, então:

1

Preço de Venda = R$ 2.900 X ---------------------------------------------

1 – (0,03 + 0,08 + 0,09 + 0,22)

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103

PV = R$ 2.900 X 1,7241379 PV = R$ 5.000

Observa-se que, aos poucos, as organizações hospitalares no Brasil passam a

preocupar-se com as questões de custos como instrumento de gestão e, por conseguinte, para

tomada de decisões.

A implantação de um sistema de custos normalmente é tarefa das mais áridas, em

termos de administração. Quando falamos em organizações hospitalares, essa dificuldade

aumenta de forma considerável, dada sua complexidade em termos de estrutura operacional.

De qualquer forma, dos mais modestos sistemas de custos aos mais sofisticados, com

investimentos de acordo com o orçamento de cada organização e adotando métodos de custeio

integral, direto ou ABC, observa-se que na composição do preço do produto ou serviço há

sempre a figura dos materiais diretos, da mão de obra direta e dos demais custos, sejam fixos

ou variáveis, sejam diretos ou indiretos. Verifica-se que não ocorre em momento algum a

preocupação quanto à composição destes custos.

Um levantamento feito em 2009 por uma equipe especializada em Gestão de Custos

em serviços de saúde (PLANISA Planejamento e Organização de Saúde) em São Paulo

constatou que das organizações hospitalares que adotam algum tipo de controle de custos,

99% utilizam o Método de Custeio por Absorção ou Custeio Pleno.

O custo para produzir ou realizar um procedimento é o mais adequado possível? De

um lado sempre haverá a necessidade da preocupação quanto à qualidade, tanto nos aspectos

técnicos, quanto nos aspectos de conforto ao paciente. Os equipamentos e instrumentos

médico-hospitalares deverão sempre atender às necessidades dos profissionais de saúde, e por

outro lado, também é necessária a preocupação com as instalações, de forma a oferecer ao

paciente e a seus acompanhantes conforto e bem-estar, pois quem procura uma organização

hospitalar deve ter algum problema de saúde e, portanto, sempre estará fragilizado, tanto no

aspecto físico quanto no aspecto psicológico. Daí a necessidade de oferecer o melhor

atendimento e conforto.

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104

3 A UTILIZAÇÃO DO “TRANSFER PRICING” NA FORMAÇÃO DE PREÇOS DE

SERVIÇOS E PROCEDIMENTOS MÉDICO-HOSPITALARES

A seguir, um exemplo de apuração de custos através do método de custeio integral

comparativamente com a utilização do “transfer pricing” em uma organização hospitalar,

evidenciando a repercussão em termos de resultados por unidade de negócio bem como em

termos globais da organização.

3.1 Sistema de gestão de custos hospitalares

3.1.1 Apropriação por unidade de negócios

Dentro de uma organização hospitalar, em geral, existem as seguintes unidades de

negócio:

a) Unidades de resultado ou unidades de atendimento: prestam serviços finais aos

pacientes e geram receitas. Ex.: Clínica Médica, Maternidade, Pronto-socorro,

Pediatria, Centro Cirúrgico, Unidade de Terapia Intensiva, Ambulatório, Laboratório

de Análises Clínicas, Serviços de Diagnósticos Médicos por Imagem, Unidades de

Internação, etc.;

b) Unidades de apoio: prestam serviços de apoio. Ex.: Serviço de Nutrição e Dietética,

Lavanderia, Central de Materiais Esterilizados, Banco de Sangue, Serviço de Arquivo

Médico e Estatística, etc.;

c) Unidades administrativas: prestam serviços de caráter administrativo. Ex.: Recursos

Humanos, Faturamento, Contabilidade, Administração, Manutenção, Vigilância,

Limpeza, Tesouraria, Custos, Jurídico, Compras, Suprimentos, etc.

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105

Os quadros 21, 22 e 23 indicam os critérios para rateios das despesas incorridas em

cada unidade de negócio, assim como para despesas indiretas incorridas na organização como

um todo, para apuração de custos pelo método de custeio integral.

O quadro abaixo mostra critérios de rateios utilizados no presente exemplo.

Quadro 21 – Definição de critérios para rateios das despesas incorridas nas unidades de apoio

SND Número de Refeições x Pesos

LAVANDERIA kg de Roupas Lavadas

CME Número de Peças Esterilizadas

Fonte: Elaborado pelo autor.

A seguir, o quadro mostra os critérios de rateio das despesas incorridas nas unidades

administrativas.

Quadro 22 – Definição de critérios para rateios das despesas incorridas nas unidades

administrativas DEPARTAMENTO DE PESSOAL Número de Funcionários

FATURAMENTO Número de Contas Fechadas

ADMINISTRAÇÃO Número de Funcionários

HIGIENE E LIMPEZA m2 de Área Física

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os custos indiretos são rateados segundo critérios definidos no quadro a seguir.

Quadro 23 – Definição de critérios para rateios dos custos indiretos ENERGIA ELÉTRICA % de consumo (cálculo/análise)

ÁGUA % de consumo (cálculo/análise)

TELEFONE Tarifador ou número de ramais

SEGUROS m2 - Área Física

MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO m 2

- Área Física

IMPOSTOS E TAXAS m 2

- Área Física

OUTROS CUSTOS INDIRETOS m 2

- Área Física

Fonte: Elaborado pelo autor.

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106

Para efeito de dimensionamento, o quadro a seguir indica exemplo de valores

investidos em algumas das unidades de uma organização hospitalar.

Quadro 24 – Valor dos investimentos realizados, em R$

Descrição Valor Investido

UNIDADE DE INTERNAÇÃO 100.000

HOSPITAL DIA 35.000

CENTRO CIRÚRGICO 250.000

AMBULATÓRIOS 25.000

LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS 360.000

ULTRASSONOGRAFIA 100.000

CENTRAL DE MATERIAIS ESTERILIZADOS 120.000

SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA 90.000

LAVANDERIA 110.000

LIMPEZA 36.000

FATURAMENTO 25.000

DEPARTAMENTO DE PESSOAL 25.000

ADMINISTRAÇÃO GERAL 220.000

SOMA 1.496.000

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para efeito da presente pesquisa, considerar-se-ão apenas as unidades constantes do

quadro 24 acima, visto que em geral as organizações hospitalares, dadas suas complexidades,

contam com um número elevado de unidades operacionais, de apoio e administrativas, o que

torna o desenvolvimento de um exemplo por demais extenso, com enormes quadros, que

acabam por inviabilizar a apresentação.

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107

Para facilitar a construção de quadros e tabelas, adotaremos as seguintes abreviaturas:

Quadro 25 – Abreviaturas das denominações das unidades

Unidades Abreviaturas

UNIDADE DE INTERNAÇÃO ALA

HOSPITAL DIA H.DAY

CENTRO CIRÚRGICO C.C

AMBULATÓRIOS AMB.

LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS LAB.

ULTRASSONOGRAFIA USG

CENTRAL DE MATERIAL ESTERILIZADO CME

SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E DIETÉTICA SND

LAVANDERIA LAV.

LIMPEZA LIMP.

FATURAMENTO FAT.

DEPARTAMENTO PESSOAL DP

ADMINISTRAÇÃO GERAL ADM.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro 26 apresenta valores de custos com pessoal com indicação por unidade em

termos de valores.

Quadro 26 – Apuração do custo com pessoal por unidade, em R$

Unidade Salário Encargos Beneficios SOMA

ALA 11.000 5.500 1.100 17.600

H.DAY 4.500 2.250 500 7.250

C.C. 18.000 9.000 1.800 28.800

AMB. 3.800 1.900 380 6.080

LAB. 22.000 11.000 2.500 35.500

USG 2.000 1.000 200 3.200

CME 3.500 1.750 400 5.650

SND 3.000 1.500 300 4.800

LAV. 2.500 1.250 250 4.000

LIMP. 6.000 3.000 650 9.650

FAT. 3.000 1.500 300 4.800

DP 3.000 1.500 300 4.800

ADM 10.000 5.000 1.100 16.100

SOMA 92.300 46.150 9.780 148.230

Fonte: Elaborado pelo autor.

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108

Abaixo, quadro indicativo dos consumos de medicamentos, materiais médico-

cirúrgicos, gases medicinais, gêneros alimentícios e outros materiais, consumidos em cada

unidade.

Quadro 27 – Apuração de consumo de materiais por unidade, em R$

Des-

cri-

cão

Medica-

mentos

Material

Médico

Cirúrgico

Gases

Medici

nais

Gêneros

Alimen

tícios

Material de

Escritório e

Impressos

Material

de

Limpeza

Outros

Materiais

SOMA

ALA 6.000 5.000 1.500 0 400 0 100 13.000

H.DAY 6.500 3.700 500 0 200 0 150 11.050

C.C 5.000 11.000 3. 000 0 550 0 150 19.700

AMB. 1.000 500 0 0 300 0 200 2.000

LAB. 7.000 200 0 0 500 0 100 7.800

USG 1.200 300 0 0 400 0 100 2.000

CME 0 0 0 0 300 0 250 550

SND 0 0 0 4.000 200 0 200 4.400

LAV. 0 0 0 0 300 500 250 1.050

LIMP. 0 0 0 0 500 1.500 100 2.100

FAT. 0 0 0 0 700 0 50 750

DP 0 0 0 0 800 0 100 900

ADM. 0 0 0 0 900 100 200 1.200

TOTAL 26.700 20.700 5.000 4.000 6.050 2.100 1.950 66.500

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro a seguir refere-se ao rateio das despesas gerais, por unidade.

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109

Quadro 28 – Apuração de custos e despesas gerais por unidade, em R$

Descrição

Serviços

de

Terceiros

Manutenção

E

Conservação

Depreciação

Telefone

SOMA

ALA 0 0 800 0 800

H.DAY 0 0 300 0 300

C.C 0 1.000 2.000 0 3.000

AMB. 0 0 200 0 200

LAB. 2.000 1.500 3.000 0 6.500

USG 0 0 800 0 800

CME 0 0 1000 0 1.000

SND 0 0 750 0 750

LAV. 0 0 900 0 900

LIMP. 0 0 300 0 300

FAT. 0 0 200 0 200

DP 2.000 0 200 0 2.200

ADM. 0 200 1.800 1.000 3.000

TOTAL 4.000 2.700 12.250 1.000 19.950

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro 29 refere-se aos valores dos custos indiretos, em termos globais.

Quadro 29 – Demonstração dos custos indiretos, por item, em R$

Item Valor

ENERGIA ELÉTRICA 5.000

ÁGUA/ESGOTO 4.000

TELEFONE 2.000

SEGUROS 3.000

MANUTENÇÃO 2.000

IMPOSTOS E TAXAS 1.000

OUTROS CUSTOS E DESPESAS 500

SOMA DOS CUSTOS INDIRETOS 17.500

Fonte: Elaborado pelo autor.

As atividades desenvolvidas na unidade de apoio “Lavanderia” são apresentadas a

seguir no quadro 30, mostrando a quantidade de roupas lavadas para cada unidade.

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110

Quadro 30 – Demonstração da produção da lavanderia, para cada unidade Unidades Quilos de Roupas Lavadas

ALA 1.800

H.DAY 900

C.C 3.000

AMB. 500

LAB. 400

USG 300

CME 0

SND 0

LAV. 0

LIMP. 0

FAT. 0

DP 0

ADM. 0

TOTAL DE ROUPAS LAVADAS 6.900

Fonte: Elaborado pelo autor.

As atividades desenvolvidas na unidade administrativa “Faturamento” são

apresentadas no quadro a seguir que mostra o número de contas fechadas para cada unidade.

Quadro 31 – Apuração de número de contas fechadas, para cada unidade

Unidades Número de Contas Fechadas

ALA 200

H.DAY 180

C.C 350

AMB. 110

LAB. 40

USG 20

CME 0

SND 0

LAV. 0

LIMP. 0

FAT. 0

DP 0

ADM. 0

TOTAL DE CONTAS FECHADAS 900

Fonte: Elaborado pelo autor.

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111

Com a finalidade de facilitar a alocação de despesas com refeições a cada unidade que

as consome, em vista de existir diferenças na composição de cada tipo de refeição, utiliza-se o

quadro abaixo com o objetivo de nivelar todos os tipos de refeição.

Quadro 32 – Relação de peso por refeição Tipo de Refeição Peso

COLAÇÃO 1

DESJEJUM 2

MAMADEIRA 2

LANCHE 3

JANTAR 6

ALMOÇO 7

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro abaixo apresenta o consumo de cada unidade já convertidos pelo quadro 32

acima.

Quadro 33 – Fornecimento de refeições para cada unidade, em termos físicos

Descrição

Colação

Desje-

jum

Lanche

Jantar

Almoço

TOTAL

Nº de

Refeições

X Pesos

ALA 300 260 240 230 250 1.280 4.670

H.DAY 0 120 360 80 120 680 2.640

C.C 0 0 0 0 210 210 1.470

AMB. 0 0 0 0 60 60 420

LAB. 0 0 200 0 200 400 2.000

USG 0 0 0 0 10 10 70

CME 0 0 0 0 120 120 840

SND 0 0 0 0 100 100 700

LAV. 0 0 0 0 50 50 350

LIMP. 0 0 0 0 40 40 280

FAT. 0 0 0 0 30 30 210

DP 0 0 0 0 10 10 70

ADM. 0 0 0 0 50 50 350

TOTAL GERAL 300 380 800 310 1.250 3.040 14.070

Fonte: Elaborado pelo autor.

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112

Com a finalidade de facilitar entendimentos quanto à terminologia utilizada para medir

a produção de cada unidade, utiliza-se o quadro 34 a seguir, que apresenta os respectivos

serviços e procedimentos.

Quadro 34 – Apuração da produção por unidade, em termos físicos

Descrição

Número de

Paciente/

Dia

Horas

de

Cirurgia

Horas

de

Ocupação

Número

de

Consultas

Número

de

Exames

UNIDADE DE INTERNAÇÃO 300

HOSPITAL DIA 2.200

CENTRO CIRÚRGICO 600

AMBULATÓRIOS 800

LAB. DE ANÁLISES CLÍNICAS 6.000

ULTRASSONOGRAFIA 200

Fonte: Elaborado pelo autor.

A unidade de apoio Central de Materiais Esterilizadas (CME) oferece apoio às

unidades que promovem atendimentos a clientes, fornecendo-lhes serviços de esterilização

dos instrumentais e materiais utilizados em cada unidade.

Ocorre que os materiais e os instrumentais não têm sempre o mesmo porte. Portanto,

há a necessidade de se utilizar uma tabela que possibilite um nivelamento com o objetivo de

facilitar a alocação dos custos incorridos pelas unidades que se utilizam de seus serviços.

Para tanto, o quadro 35 atende a essas necessidades.

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113

Quadro 35 – Apuração da quantidade utilizada de material esterilizado, por unidade

Descrição

Volumes

Quanti

dade

Total de

Volumes

X Pesos

Pequeno

Peso 1

Médio

Peso 2

Grande

Peso 3

ALA 90 5 0 95 100

H.DAY 170 30 5 205 245

C.C 400 250 80 730 1.140

AMB. 30 0 0 30 30

LAB. 100 0 0 100 100

USG 0 0 0 0 0

CME 0 0 0 0 0

SND 0 0 0 0 0

LAV. 0 0 0 0 0

LIMP. 0 0 0 0 0

FAT. 0 0 0 0 0

DP 0 0 0 0 0

ADM. 0 0 0 0 0

TOTAL GERAL 790 285 85 1.160 1.615

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os gastos gerais normalmente ocorrem de forma global, sendo alocados em uma conta

para a organização como um todo. Para possibilitar o rateio da forma mais justa possível,

realiza-se um levantamento dos recursos disponíveis à disposição de cada unidade e a

definição dos critérios de rateios.

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114

Quadro 36 – Apuração dos gastos gerais e critério de rateio, por unidade

Descrição

Área ocupada

Em M²

Número de

Ramais

Consumo de

Energia %

Consumo de

Água %

ALA 800 12 8 9

H.DAY 300 4 10 5

C.C 500 3 15 7

AMB. 400 8 5 3

LAB. 150 1 8 4

USG 30 1 5 1

CME 80 1 8 8

SND 150 1 12 18

LAV. 100 1 12 33

LIMP. 20 1 3 5

FAT. 150 1 2 1

DP 20 1 2 1

ADM. 50 5 10 5

TOTAL GERAL 2.750 40 100 100

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir do quadro a seguir, apresentam-se as informações necessárias para a

formulação do exemplo. No caso do quadro 37, os valores considerados no exemplo são os

que foram gastos em cada unidade.

Quadro 37.1 – Apuração do custo com pessoal, em R$

Unidade Salário Encargos Sociais Benefícios SOMA

ALA 11.000 5.500 1.100 17.600

H.DAY 4.500 2.250 500 7.250

C.C. 18.000 9.000 1.800 28.800

AMB. 3.800 1.900 380 6.080

LAB. 22.000 11.000 2.500 35.500

USG 2.000 1.000 200 3.200

CME 3.500 1.750 400 5.650

SND 3.000 1.500 300 4.800

LAV. 2.500 1.250 250 4.000

LIMP. 6.000 3.000 650 9.650

FAT. 3.000 1.500 300 4.800

DP. 3.000 1.500 300 4.800

ADM 10.000 5.000 1.100 16.100

SOMA 92.300 46.150 9.780 148.230

Fonte: Elaborado pelo autor.

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115

O quadro a seguir indica o custo apurado com materiais e medicamentos.

Quadro 37.2 – Apuração do custo com materiais e medicamentos, em R$

Unidade Medica Mat.Médico Gases Gênero Mat.Escr Material Outros

SOMA mentos Cirúrgico Medic. Aliment Impres. Limpeza Mater.

ALA 6.000 5.000 1.500 0 400 0 100 13.000

H.DAY 6.500 3.700 500 0 200 0 150 11.050

C.C. 5.000 11.000 3.000 0 550 0 150 19.700

AMB. 1.000 500 0 0 300 0 200 2.000

LAB. 7.000 200 0 0 500 0 100 7.800

USG 1.200 300 0 0 400 0 100 2.000

CME 0 0 0 0 300 0 250 550

SND. 0 0 0 4.000 200 0 200 4.400

LAV. 0 0 0 0 300 500 250 1.050

LIMP. 0 0 0 0 500 1.500 100 2.100

FAT. 0 0 0 0 700 0 50 750

DP. 0 0 0 0 800 0 100 900

ADM. 0 0 0 0 900 0 200 1.100

SOMA 26.700 20.700 5.000 4.000 6.050 2.000 1.950 66.400

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro a seguir mostra apuração dos custos gerais e sua composição.

Quadro 37.3 – Apuração dos custos gerais, em R$

Unidade

Serviços

de

Terceiros

Manutenção

e

Conservação Depreciação Telefone SOMA

ALA 0 0 800 0 800

H.DAY 0 0 300 0 300

C.C. 0 1.000 2.000 0 3.000

AMB. 0 0 200 0 200

LAB. 2.000 1.500 3.000 0 6.500

USG. 0 0 800 0 800

CME. 0 0 1.000 0 1.000

SND. 0 0 750 0 750

LAV. 0 0 900 0 900

LIMP. 0 0 300 0 300

FAT. 0 0 200 0 200

DP. 2.000 0 200 0 2.200

ADM. 0 200 1.800 1.000 3.000

SOMA 4.000 2.700 12.250 1.000 19.950

Fonte: Elaborado pelo autor.

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116

Quadro 37.4 – Apuração dos custos diretos, em R$

Unida

de Pessoal

Materiais/

Medicamentos Custos Gerais SOMA

ALA 17.600 13.000 800 31.400

H.DAY 7.250 11.050 300 18.600

C.C. 28.800 19.700 3.000 51.500

AMB. 6.080 2.000 200 8.280

LAB. 35.500 7.800 6.500 49.800

USG. 3.200 2.000 800 6.000

CME. 5.650 550 1.000 7.200

SND. 4.800 4.400 750 9.950

LAV. 4.000 1.050 900 5.950

LIMP. 9.650 2.100 300 12.050

FAT. 4.800 750 200 5.750

DP. 4.800 900 2.200 7.900

ADM. 16.100 1.100 3.000 20.200

SOMA 148.230 66.400 19.950 234.580

Fonte: Elaborado pelo autor

Em organizações hospitalares, sempre há incidência de custos indiretos. Assim, para o

presente exemplo, o quadro a seguir mostra esses custos indiretos.

Quadro 37.5 – Apuração dos custos indiretos, em R$

Unida

de

Energia

Elétrica Água Telefone Seguros

Manut./

Conserv.

Impostos

e Taxas

Outros

Custos

Indiretos

SOMA

ALA 400 360 600 873 582 291 145 3.251

H.DAY 500 200 200 327 218 109 55 1.609

C.C. 750 280 150 546 363 182 91 2.362

AMB. 250 120 400 436 291 145 73 1.715

LAB. 400 160 50 164 109 55 27 965

USG. 250 40 50 33 22 11 5 411

CME. 400 320 50 87 58 29 15 959

SND. 600 720 50 164 109 55 27 1.725

LAV. 600 1.320 50 109 73 36 18 2.206

LIMP. 150 200 50 21 15 7 4 447

FAT. 100 40 50 164 109 55 27 545

DP. 100 40 50 21 15 7 4 237

ADM. 500 200 250 55 36 18 9 1.068

SOMA 5.000 4.000 2.000 3.000 2.000 1.000 500 17.500

Fonte: Elaborado pelo autor.

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117

Os custos totais são compostos, em geral, pelos custos diretos e pelos custos indiretos.

O quadro a seguir foi elaborado para evidenciar estes custos totais para o presente exemplo.

Quadro 37.6 – Apuração dos custos diretos (+) indiretos, em R$

Unidades Custos Diretos Custos Indiretos SOMA

ALA 31.400 3.251 34.651

H.DAY 18.600 1.609 20.209

C.C. 51.500 2.362 53.862

AMB. 8.280 1.715 9.995

LAB. 49.800 965 50.765

USG. 6.000 411 6.411

CME. 7.200 959 8.159

SND. 9.950 1.725 11.675

LAV. 5.950 2.206 8.156

LIMP. 12.050 447 12.497

FAT. 5.750 545 6.295

DP. 7.900 237 8.137

ADM. 20.200 1.068 21.268

SOMA 234.580 17.500 252.080

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a mensuração dos custos, no caso desta pesquisa, em organizações hospitalares,

com a utilização do método de custeio por absorção plena, uma preocupação importante é

com referência aos “custos” gerados pelas unidades de apoio e pelas unidades administrativa,

uma vez que entre estas unidades ocorrem custos recíprocos e, de que forma os mesmos serão

distribuídos entre estas unidades bem como entre as unidades de atendimento.

Ao prestarem serviços às outras unidades e receberem serviços destas, tais unidades

geram custos que serão repassados às diferentes formas de atendimento aos pacientes.

Dois são os métodos utilizados para esta transferência: transferência de custos pelo

método dos degraus ou alocação sequencial e transferência de custos pelo método algébrico,

com resolução por meio da equação matricial.

De acordo com Hoji (2010, p. 391):

O método dos degraus (ou método progressivo) consiste em transferir os custos dos

departamentos de serviços entre os próprios departamentos de serviços de

departamentos de produção, passo a passo (em degraus), de forma que o

departamento que transferir o custo não mais o recebe. Utilize-se o critério “primeiro

o departamento que recebe menos transferência” (vários outros critérios podem ser

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118

adotados: primeiro o departamento que tiver a maior carga de custos próprios,

primeiro o departamento com maior carga após a primeira transferência etc.).

O método algébrico é o único que pode ser considerado científico, pois ele

reconhece a reciprocidade dos serviços prestados entre os próprios departamentos de

serviços.

Para o desenvolvimento do exemplo, o método utilizado é o progressivo ou

sequencial, cujo resultado está expresso no quadro 42, a seguir:

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119

Quadro 37.7 - Rateio das despesas dos centros de custos de apoio e administrativo e respectiva absorção pelos centros de resultado. (alocação

sequencial), em R$ Unidades Administrativas Unidades de Apoio Unidades de Atendimentos

Valores ADM DP FAT LIMP LAV SND CME ALA H.DAY C.C. AMB. LAB. USG

Custos Dir+Ind 21.368 8.137 6.295 12.497 8.156 11.675 7.799 34.651 20.209 52.862 9.995 50.765 6.411

ADM -21.368 427 641 3.205 1.068 1.068 855 3.205 1.068 4.274 855 4.274 427

DP -8.564 257 1.370 428 428 343 1.199 428 1.799 343 1.799 171

FAT -7.173 0 0 0 0 1.582 1.439 2.805 863 288 216

LIMP -17.702 683 1.024 512 5.463 2.049 3.414 2.732 1.024 171

LAV -10.336 0 0 2.687 1.344 4.444 723 620 517

SND -14.196 852 5.536 3.123 1.704 426 2.413 142

CME -10.360 622 1.554 7.356 207 622 0

TOTAL 0 0 0 0 0 0 0 54.945 31.214 78.658 16.144 61.805 8.055

Taxa de

Alocação ADM DP FAT LIMP LAV SND CME ALA H.DAY C.C. AMB. LAB. USG

ADM 0,02 0,03 0,15 0,05 0,05 0,04 0,15 0,05 0,20 0,04 0,20 0,02

DP 0,03 0,16 0,05 0,05 0,04 0,14 0,05 0,21 0,04 0,21 0,02

FAT 0,00 0,00 0,00 0,00 0,22 0,20 0,39 0,12 0,04 0,03

LIMP 0,04 0,06 0,03 0,32 0,12 0,20 0,16 0,06 0,01

LAV 0,00 0,00 0,26 0,13 0,43 0,07 0,06 0,05

SND 0,06 0,39 0,22 0,12 0,03 0,17 0,01

CME 0,06 0,15 0,71 0,02 0,06 0,00

Fonte: Elaborado pelo autor.

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120

O quadro a seguir mostra o total dos custos em cada unidade de resultado, a produção

realizada em cada unidade produtiva bem como o custo unitário de cada serviço ou

procedimento para o período.

Quadro 37.8 – Alocação das despesas rateadas aos respectivos centros de resultado, em R$

Unida

des

Custos

Diretos Despesas

Rateadas SOMA Nº de Aten Custo

Indicação da

Modalidade

e Indiretos dimento Unitário de Atendimento

ALA 34.651 20.295 54.946 300 183 Por Paciente/Dia

H.DAY 20.209 11.005 31.214 2.200 14 Por Hora de Ocupação

C.C. 53.862 25.795 79.657 600 133 Por Hora de Cirurgia

AMB. 9.995 6.149 16.144 800 20 Por Consulta

LAB. 50.765 11.039 61.804 6.000 10 Por Exame

USG. 6.411 1.644 8.055 200 40 Por Exame

Fonte: Elaborado pelo autor.

De posse das informações quanto ao custo unitário por modalidade de atendimento,

com a utilização do método de custeio por absorção plena, o passo seguinte é o cálculo do

preço de venda, bem como a simulação de resultado para cada unidade produtiva.

Para calcular o preço de venda, utiliza-se a seguinte fórmula:

1

PV = CIT X ---------------------------------------------------------------

1 – (DFG + DTD + DDV + Índice de Resultado)

Onde: PV = Preço de venda;

CIT = Custo independente total;

DFG = Índice de despesa financeira delimitado pelo ciclo operacional;

DTD = Índice de despesa tributária incidente sobre o preço de venda;

DDV = Índice de despesa direta de venda;

Índice de Resultado = Índice de resultado desejado.

Para a formulação do exemplo, utilizam-se os seguintes índices:

DFG = 3,77%

DTD = 10%

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121

DDV = 3%

Índice de Resultado = 20%

Aplicando a fórmula para cada serviço ou procedimento, considerando os respectivos

custos, obtém-se os seguintes valores de venda:

Quadro 37.9 – Custo e preço de venda para serviços e procedimentos, por unidade, em R$

Unidades Custo Preço de Venda Modalidade de Atendimento

ALA 183 289 Número de paciente/Dia

H.DAY 14 22 Hora de Ocupação

C.C. 133 210 Hora de Cirurgia

AMB. 20 32 Número de Consultas

LAB. 10 16 Número de Exames

USG 40 63 Número de Exames

Fonte: Elaborado pelo autor.

Considerando o volume de atendimento a clientes, conforme o enunciado do exemplo,

e os preços de venda, o quadro a seguir demonstra as receitas brutas obtidas pelas unidades.

Quadro 37.10 – Apuração da receita bruta, em R$

Unidades Preço de Venda Número de Atendimento Receita Bruta

ALA 289 300 86.700

H.DAY 22 2.200 48.400

C.C. 210 600 126.000

AMB. 32 800 25.600

LAB. 16 6.000 96.000

USG. 63 200 12.600

Fonte: Elaborado pelo autor.

Considerando os custos, os preços de venda assim como os volumes de atendimento

efetuados no período, o quadro a seguir mostra o resultado obtido em cada unidade de

atendimento a pacientes.

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122

Quadro 37.11 – Resultado obtido em cada unidade de atendimento, em R$

Unida- Receita DFG DTD DDV

Receita Custo

Resultado Resultado

des Bruta Líquida R$ %

ALA

86.700

3.269

8.670

2.601

72.160

54.946

17.214 19,85%

H.DAY

48.400

1.825

4.840

1.452

40.283

31.214

9.069 18,74%

C.C.

126.000

4.750

12.600

3.780

104.870

79.657

25.213 20,01%

AMB.

25.600 965

2.560 768

21.307

16.144

5.163 20,17%

LAB.

96.000

3.619

9.600 288

82.493

61.804

20.689 21,55%

USG

12.600 475

1.260 378

10.487 8.055

2.432 19,30%

SOMA

395.300

14.903

39.530

9.267

331.600

251.820

79.780 20,18%

Fonte: Elaborado pelo autor.

O método de custeio por absorção integral, em que além dos custos diretos a cada

serviço e/ou procedimento são alocados demais custos indiretos, inclusive das demais

unidades, as de apoio e as administrativas, possibilita a visualização dos resultados apenas das

unidades de atendimento, e, por conseguinte o resultado global da organização hospitalar.

A alternativa proposta na presente pesquisa, a da utilização do “transfer pricing”,

considerando os mesmos parâmetros já utilizados no custeio por absorção plena, possibilitará

a visualização de resultados de todas as unidades, tanto as de atendimento quanto as de apoio

e as administrativas, oferecendo assim informações importantes para tomada de decisão.

A utilização do “transfer pricing” para remunerar produtos e/ou serviços

intermediários oferece diversas alternativas quanto ao critério para definição deste preço, que

podem ser: (a) com base em custos; (b) com base em custos mais margens; (c) preço

arbitrado; (d) com base em investimentos realizados; (e) com base em preço de mercado; (f)

com base no custo de oportunidade.

Utilizando o critério de preço de mercado, o quadro a seguir simula valores praticados

no mercado.

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123

Quadro 38 – Simulação de preços praticados no mercado, em R$

Unidades Unidades de Medidas Preço de Mercado

ALA Paciente Dia 200

H.DAY Horas de Ocupação 15

C.C. Horas de Cirurgia 150

AMB. Número de Consultas 35

LAB. Número de Exames 10

USG Número de Exames 75

CME. Peças Esterilizadas (Equivalente) 6

SND Refeições Fornecidas (Equivalente) 2

LAV. kg de Roupas Lavadas 2

LIMP. m² Limpos 5

FAT. Número de Contas Fechadas 5

DP Número de Funcionários Administrados 30

ADM Número de Funcionários Lotados 150

Fonte: Elaborado pelo autor.

O quadro a seguir mostra as transferências recíprocas entre as unidades, sendo,

portanto, custos e despesas para o tomador dos serviços e receitas para os prestadores dos

respectivos serviços.

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124

Quadro 39 - Transferência recíproca dos custos e despesas entre unidades, em R$ Receitas→

ALA H.DAY C.C. AMB. LAB. USG CME SND LAV LIMP FAT DP ADM Custos/Desp ↓

ALA 0 0 0 0 0 0 550 9.340 3.240 12.375 1.000 420 2.100

H.DAY 0 0 0 0 0 0 1.348 5.280 1.620 1.350 900 150 750

C.C. 0 0 0 0 0 0 6.270 2.940 5.400 2.250 1.750 600 3.000

AMB 0 0 0 0 0 0 165 840 900 1.800 550 120 600

LAB 0 0 0 0 0 0 550 4.000 720 675 200 600 3.000

USG 0 0 0 0 0 0 0 140 540 135 100 60 300

CME 0 0 0 0 0 0 0 1.680 700 560 420 140 700

SND 0 0 0 0 0 0 0 1.400 0 675 0 150 750

LAV 0 0 0 0 0 0 0 700 0 450 0 150 750

LIMP 0 0 0 0 0 0 0 560 0 90 0 450 2.250

FAT 0 0 0 0 0 0 0 420 0 675 0 90 450

DP 0 0 0 0 0 0 0 140 0 90 0 60 300

ADM 0 0 0 0 0 0 0 700 0 225 0 60 750

Receitas p/Transf 0 0 0 0 0 0 8.883 28.140 13.120 21.350 4.920 3.050 15.700

Receitas Externas 86.700 48.400 126.000 25.600 96.000 12.600 0 0 0 0 0 0 0

A-Tot. Receitas 86.700 48.400 126.000 25.600 96.000 12.600 8.883 28.140 13.120 21.350 4.920 3.050 15.700

Custos p/Transf. 29.025 11.398 22.210 4.975 9.745 1.275 4.200 2.975 2.050 3.350 1.635 590 1.735

Custos Externos 34.651 20.209 53.862 9.995 50.765 6.411 8.159 11.675 8.156 12.497 6.295 8.137 21.368

B-Tot. Custos 63.676 31.607 76.072 14.970 60.510 7.686 12.359 14.650 10.206 15.847 7.930 8.727 23.103

Resultado (A-B) 23.024 16.793 49.928 10.630 35.490 4.914 - 3.476 13.490 2.914 5.503 - 3.010 - 5.677 - 7.403

Rentabilidade % 26,56% 34,70% 39,63% 41,52% 36,97% 39,00% -39,13% 47,94% 22,21% 25,78% -61,18% -186,13% -47,15%

Fonte: Elaborado pelo autor.

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125

De acordo com o quadro 48, observa-se o desempenho de todas as unidades que

compõem o universo pesquisado, com clara indicação das unidades que se apresentam de

forma superavitária bem como as decifitárias.

O quadro a seguir demonstra comparativamente resultados obtidos através dos dois

métodos utilizados.

Quadro 40 – Comparação dos resultados encontrados, em R$

Unidades

ABSORÇÃO PLENA TRANSFER PRICING

Receitas Custos e Resultado

Receitas Custos e Resultado

Despesas R$ Despesas R$

ALA 86.700 54.946 31.754 86.700 63.676 23.024

H.DAY 48.400 31.214 17.186 48.400 31.607 16.793

C.C. 126.000 79.657 46.343 126.000 76.072 49.928

AMB. 25.600 16.144 9.456 25.600 14.970 10.630

LAB. 96.000 61.804 34.196 96.000 60.510 35.490

USG 12.600 8.055 4.545 12.600 7.686 4.914

CME 0 0 0 8.883 11.999 - 3.116

SND 0 0 0 28.140 14.650 13.490

LAV 0 0 0 13.120 10.206 2.914

LIMP 0 0 0 21.350 15.847 5.503

FAT 0 0 0 4.920 7.930 - 3.010

DP 0 0 0 3.050 8.727 - 5.677

ADM 0 0 0 15.700 23.103 - 7.403

TOTAL 395.300 251.820 143.480 490.463 346.983 143.480

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.1.2 Apuração no preço de transferência “Transfer Pricing”

Por este modelo de apuração de custos, receitas e resultados, com sistema de absorção

integral, as unidades de apoio e administrativas transferem todos os seus custos às unidades

produtivas, de acordo com seu consumo de serviços dessas unidades de apoio e

administrativas.

Nota-se que todas as unidades produtivas obtiveram resultados positivos, cada qual

contribuindo para o resultado final da organização hospitalar, sendo este resultado global o

que realmente interessa em termos de gestão administrativa e financeira da organização.

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126

Uma organização hospitalar que adote a descentralização em sua estrutura operacional

e que utilize a ferramenta de preço de transferência “transfer pricing”, não apresenta

diferença em termos de resultado global, independentemente do critério adotado para fixação

desse preço para transferir serviços intermediários para as unidades produtivas.

Em termos de resultados globais, o que importa é a eliminação de eventuais ineficácias

que quaisquer das unidades possam ter em seus processos e, assim, a unidade consumidora de

serviços intermediários pode negociar esse preço de transferência, tomando como base preços

praticados no mercado.

De acordo com Catelli (2007, p. 91):

O modelo de decisão do administrador, do ponto de vista racional-econômico,

considera a otimização do resultado econômico da atividade sob sua

responsabilidade. A otimização do resultado econômico dá-se: (1) em nível de

processo de transformação de insumos em produtos e serviços (agregação de

valores) e (2) em nível de aproveitamento das oportunidades de ganhos pela

valorização de determinados tipos de ativos, proporcionados pelo mercado.

Portanto, com base em informações que o sistema de custeamento oferece, o gestor

tem elementos importantes para sua tomada de decisão quanto ao modelo de mensuração e

avaliação de resultados que passará utilizar e de que forma será sua tomada de decisão em

relação aos resultados obtidos, em termos de unidades e principalmente em relação ao

resultado global da organização.

Os critérios de fixação de preço de transferência de acordo com Santos (2002) podem

ser:

a) por arbitramento – imposição de preços de transferência por parte da direção

corporativa;

b) transferência pelo custo – custo corrente da data da transferência do produto ou serviço

intermediário, calculado a partir de valores à vista de compra dos insumos;

c) transferência pelo custo mais margem – utilizado quando não há mercado externo de

produto ou serviço intermediário ou, se eles existirem, o preço de transferência não

poderá superar os preços praticados pelos fornecedores externos;

d) transferência dual – consiste na existência de dois preços de transferência, um para a

unidade fornecedora e outro para a unidade compradora, ambos visando uma avaliação

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127

de desempenho econômico justo, bem como uma atuação das unidades envolvidas no

melhor interesse da companhia como um todo;

e) transferência pelo preço de mercado – consiste na adoção do preço praticado pelo

mercado para produtos ou serviços semelhantes;

f) transferência pelo custo de oportunidade – é a contribuição máxima para os seus

resultados, renunciada por ter optado pela produção e transferência interna do produto,

é o custo de oportunidade da unidade de negócio fornecedora.

Qualquer que seja o critério adotado o resultado global da organização hospitalar não

será afetado, e sim, somente o das unidades que passariam a ser unidades produtivas, pois

haverá neste caso, receitas que significam despesas para os usuários desses serviços internos

executados e fornecidos às outras unidades consumidoras desses serviços.

De acordo com Anthony e Govindarajan (2006, p. 273): “O princípio fundamental é o

conceito de que o preço de transferência deve ser similar ao preço que seria aplicado a

compradores externos, ou que seria pago a fornecedores externos”.

De acordo com Pereira e Oliveira co-participação em FIPECAFI, coordenado por

Catelli (2007, p. 392): “Preço de transferência é definido como o valor pelo qual são

transferidos bens e serviços entre as atividades e áreas internas de uma organização”.

Considerando que na adoção de um dos critérios para definir o preço de transferência,

o consumidor desse serviço interno possa ter como parâmetro o preço praticado no mercado,

inclusive com liberdade de recorrer a este mercado, caso as condições internas não favoreçam,

cria-se uma situação de concorrência, que por si só, já é um aspecto extremamente importante,

pois o prestador de serviços internos terá que reduzir seus custos e, se for o caso, contribuir de

forma significativa com os resultados globais da organização hospitalar.

Daí se verifica que com a transferência ou não dos custos totais das unidades de apoio

e administrativas não se altera o resultado global da organização hospitalar.

Diante das exposições discorridas ao longo da presente pesquisa, constata-se que a

utilização do “transfer pricing” somente trará resultados importantes para a organização

hospitalar, caso todas as unidades possam de uma forma ou de outra maximizar sua eficácia,

quer seja racionalizando processos, quer seja obtendo melhores condições na aquisição de

bens e serviços ou até mesmo passar por um processo de substituição da unidade produtora de

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128

bens e serviços internos, passando a contar com serviços de fornecedores externos. Até

mesmo as unidades que prestam serviços finais a pacientes, que não tenham seus serviços

utilizados por outras unidades, podem no processo de divisionalização da organização

hospitalar, passar por processo de melhoria em seus fluxos operacionais bem como revisando

sempre os insumos que utilizam, quer sejam de fornecedores internos, quer sejam de

fornecedores externos, negociando preços e condições de fornecimento, para daí obter o

melhor desempenho possível enquanto unidade produtiva, contribuindo assim para melhorar

os resultados globais da organização hospitalar.

Evidentemente desativar uma unidade dentro da organização hospitalar, deixando

ociosos o espaço e os equipamentos, eliminando somente os custos com mão de obra, em

geral, não é a melhor solução.

É interessante que haja utilização do espaço para outras atividades essenciais, assim

como a realocação do máximo dos equipamentos, principalmente daqueles de uso comum

entre as unidades, como computadores, móveis, ramais telefônicos, restando nesse caso,

somente dar destino aos equipamentos específicos.

Caso esses equipamentos específicos sejam obsoletos ou de pequeno valor, em geral, é

vantajoso destruí-los ou mesmo doá-los a outras organizações que deles necessitam.

Se a instalação daquela unidade foi feita com rigoroso planejamento, em geral, não

serão encontrados equipamentos valiosos que podem ter se tornado ociosos, porém, caso isso

tenha acontecido, a única alternativa seria a alienação dos mesmos para alguma outra

organização hospitalar e, com os recursos auferidos, investir em unidades que apresentem

maiores potencialidades objetivando atingir melhores resultados para a organização.

Em geral, como já exposto na presente pesquisa, equipamentos e até mesmo

instrumentais médico-hospitalares representam altos investimentos, o que sugere a

necessidade de um minucioso estudo quanto à viabilidade deste investimento, principalmente

em relação à taxa de retorno.

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129

CONCLUSÃO

Esta última etapa desta pesquisa tem por finalidade registrar as conclusões obtidas

neste estudo de pesquisa bibliográfica, bem como apresentar as recomendações e, por último,

sugerir temas para estudos futuros.

Este trabalho foi desenvolvido, sob a forma de pesquisa bibliográfica, documental,

com proposição de um exemplo, que teve como objetivo aplicar conceitos da área de

controladoria, visando oferecer aperfeiçoamento na gestão de custos em organizações

hospitalares.

Considerando os objetivos iniciais dessa pesquisa, convém ressaltar:

a) a importância de um sistema de custos bem estruturado para dar suporte aos gestores

para tomada de decisões;

b) a alternativa da utilização da ferramenta “transfer pricing” na formação de preços de

serviços e procedimentos médico-hospitalares.

Com referência aos sistemas de custos em organizações hospitalares, observamos

existirem materiais em maiores quantidades em artigos apresentados em anais de congressos

bem como em dissertações em relação a livros publicados, mesmo no exterior.

Em relação às publicações no mercado nacional, poucas são as obras, o que demonstra

serem recentes as preocupações dos gestores das organizações hospitalares em relação à sua

profissionalização.

Essa constatação é corroborada pelo pequeno número de instituições de ensino

destinados à formação de administradores hospitalares.

O que se nota atualmente no mercado de ensino é a expansão dos cursos de

especialização em administração hospitalar. Essas instituições são ligadas ou conveniadas

com organizações hospitalares e, por essa razão, especializam profissionais capacitados a

enfrentar os desafios que a complexidade das organizações hospitalares representa.

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130

De acordo com o levantamento feito por empresa especializada em consultoria de

organizações da saúde (Planisa), 98% das organizações hospitalares em São Paulo utilizam o

método de custeio por absorção.

Por outro lado, a maioria das pesquisas elaboradas e apresentadas através de

dissertações, enfoca a utilização do método de custeio por atividades ABC (Activity-Based

Costing), que apresenta uma proposta moderna, já que a identificação das despesas e custos

indiretos com a atividade é muito maior, eliminando, assim, muitos rateios feitos de forma

arbitrária, o que, acima de tudo, oferece riscos na metodologia da composição dos custos, que

em geral são utilizados para tomada de decisões.

A adoção de uma nova metodologia de trabalho, no caso a utilização do sistema de

custeio ABC em substituição ao tradicional sistema de custeio integral, geralmente cria

problemas, pois envolve mudanças, e como as organizações hospitalares são por demais

complexas, eventuais mudanças, em geral, são cercadas de muitas resistências.

Constata-se no mercado que muitas organizações hospitalares ainda não dispõem de

um sistema de apuração de custos, ainda que seja de forma bastante modesta, o que, somente

com o acirramento da concorrência e principalmente pela imposição de preços a serem

praticados pelos tomadores de serviços, no caso, as grandes seguradoras e as principais

operadoras de planos de saúde, fará com que elas se mobilizem para conhecer um pouco da

estrutura de seus custos.

O principal objetivo dessa pesquisa é oferecer uma alternativa com a utilização da

ferramenta denominada preço de transferência “Transfer Pricing”, ferramenta essa que surtirá

efeito somente se aplicada em ambiente totalmente descentralizado, organizado por unidade

produtiva, de apoio e administrativo, com liberdade e responsabilidade aos gestores, que terão

suas atividades sempre vigiadas quanto ao desempenho.

Nesse processo de gestão, as unidades consumidoras de serviços ou procedimentos

internos têm a liberdade de comparar custos oferecidos internamente com preços praticados

no mercado e, esse parâmetro servirá para definir o preço de transferência dos serviços ou

procedimentos internamente, ou então, terá liberdade de buscar melhores alternativas no

mercado.

Essa medida, em geral, provoca preocupações nos prestadores de serviços ou

procedimentos internos, que buscam maior eficácia em seus processos, racionalizando seus

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131

fluxos operacionais e administrativos, com o objetivo de reduzir seus custos sem sacrificar a

qualidade.

Qualquer que seja a posição tomada pelos consumidores e prestadores de serviços ou

procedimentos, o objetivo principal será o resultado final obtido pela organização hospitalar.

Evidentemente, o desempenho de cada gestor, para si, é muito importante, não

somente para contribuir com resultados melhores em termos globais, como também para que

a equipe seja constantemente estimulada a apresentar melhores resultados.

A simples transferência de custos das unidades de apoio e administrativa para

unidades produtivas, as que geram receitas externas, não modifica em nada os resultados

globais da organização hospitalar.

Isto ocorre porque o que é custo para uma unidade de apoio é, simplesmente, uma

prestação de serviços internos para outras unidades e se for adotado o critério de preço de

transferência, pelo preço de custo, será para esse produtor de serviço ou procedimento uma

receita, que nesse caso anula seus custos e seu resultado será igual a zero.

Neste processo de adquirir serviços ou procedimentos internos, os consumidores

desses serviços ou procedimentos estarão agregando em sua composição de custos aquele

valor pelo qual se remunera esse produtor interno, sem saber se o preço e a qualidade são os

melhores possíveis dentro da realidade da organização hospitalar.

Somente com a utilização efetiva da ferramenta de preço de transferência, com

estrutura descentralizada, com gestores conscientes de suas responsabilidades e liberdades,

em que os consumidores desses serviços ou procedimentos conhecem as condições que o

mercado pratica, é que os efeitos serão efetivos, com redução de custos, por racionalização de

seus processos e eliminação de situações que causem ineficácia, melhorando assim, seu custo

e também a qualidade dos serviços ou procedimentos internamente oferecidos.

Com essas medidas, os resultados globais da instituição hospitalar seguramente serão

melhores.

Como recomendação, essa pesquisa oferece a base para o desenvolvimento de um

sistema de custeio bem estruturado, utilizando o método de custeio ABC e a aplicação da

ferramenta “Transfer Pricing”, que será uma poderosa ferramenta para controle e gestão de

custos em organizações hospitalares.

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