pontifÍcia universidade catÓlica de minas gerais … · compartilhar alegrias, angústias e...
TRANSCRIPT
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
Marina Camargos de Figueirêdo Neves
O SENTIDO DO SHOW: um estudo da projeção e percepção de uma marca
organizacional a partir de seu discurso
Belo Horizonte
2017
Marina Camargos de Figueirêdo Neves
O SENTIDO DO SHOW: um estudo da projeção e percepção de uma marca
organizacional a partir de seu discurso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Comunicação Social.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro
Almeida
Área de concentração: Interações Midiáticas
Linha de pesquisa: Midiatização e Processos de
Interação
Belo Horizonte
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Neves, Marina Camargos de Figueirêdo
N513s O sentido do show: um estudo da projeção e percepção de uma marca
organizacional a partir de seu discurso / Marina Camargos de Figueirêdo
Neves. Belo Horizonte, 2017.
114 f.:il.
Orientadora: Ana Luisa de Castro Almeida
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
1. Marca de produtos - Análise do discurso. 2. Simbolismo nas organizações. 3.
Percepção. 4. Significação (Psicologia). 5. Anúncios - Marca de produtos. I.
Almeida, Ana Luisa de Castro. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III. Título.
CDU: 658.45
Marina Camargos de Figueirêdo Neves
O SENTIDO DO SHOW: um estudo da projeção e percepção de uma marca
organizacional a partir de seu discurso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre
em Comunicação Social.
Área de concentração: Interações Midiáticas
Prof.ª Dr.ª Ana Luisa de Castro Almeida – PUC Minas (Orientadora)
Prof.ª Dr.ª Fábia Pereira Lima – UFMG (Banca Examinadora)
Prof.ª Dr.ª Ivone de Lourdes Oliveira – PUC Minas (Banca Examinadora)
Belo Horizonte, 20 de dezembro de 2017
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me iluminar e conceder saúde, força e sabedoria no decorrer
desta trajetória. A Nossa Senhora Desatadora dos Nós, colo maternal que me abrigou e
sustentou nos momentos de dificuldade.
À minha família pelo apoio incondicional. Ao meu pai, Amilcar, por nunca ter medido
esforços para me proporcionar uma educação de qualidade. Obrigada por me ensinar a
importância de saber o que busco a fim de alcançar os meus sonhos. À minha mãe, Maria
Izabel, por estar sempre ao meu lado. Obrigada pelo carinho, pelas orações, por sua infinita
dedicação, força e doação. Aos meus irmãos e irmãs, pelo companheirismo e amizade. Ana
Paula, Bruno, Rafael e Izabela, vocês são meus maiores exemplos. Obrigada pelos
ensinamentos, conselhos e proteção. Amo muito cada um de vocês! À Ana e ao Didi, pela
torcida e incentivo. Ao meu sobrinho Francisco, meu pequeno, pelos sorrisos e risadas
capazes de eliminar, em instantes, qualquer vestígio de tristeza ou desânimo.
À minha família do coração – Warlei, Gláucia e Carol – pela motivação, pelos
momentos de descontração e por todo o afeto que vocês têm por mim. Ao Pedro, meu melhor
amigo, pela parceria, compreensão e paciência ao longo desses cinco anos e meio de namoro.
Obrigada pelo amparo e pelas inúmeras leituras, sugestões e revisões, mesmo que suspeitas,
de cada linha que eu escrevia.
À minha orientadora, Ana Luisa, pela dedicação e sabedoria na condução deste
processo. Muito obrigada por contribuir para o meu amadurecimento pessoal e acadêmico. Às
professoras Ivone Oliveira e Fábia Lima por aceitarem fazer parte da banca de avaliação deste
trabalho. Obrigada pelas reflexões e ensinamentos valiosos no momento da qualificação. Aos
queridos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUC Minas,
em especial Dedé, Júlio, Teresinha e, mais uma vez, Ivone, pela competência e por
compartilharem seus conhecimentos. Admiro muito vocês! À Isana e Camila, pela presteza e
cuidados constantes.
Aos amigos da escola, da graduação e do mestrado. Especialmente às queridas Ale,
Bia, Juju, Sebba, Bruna, Amandinha, Pati e ao querido Marcos, por tornarem essa jornada
mais leve. À Quel, pela amizade inabalável e pela torcida sem fim. Às amigas Paulinha, Lê e
Taís e aos amigos Gabriel, Igor, Thiago e Luís, por estarem sempre por perto me dando
forças. À Jeane, um anjo na minha vida, pelo incentivo, carinho e ajuda infinita. À Carol, por
compartilhar alegrias, angústias e conquistas, resistindo bravamente ao meu humor
geminiano. Ao Wesley, pelo apoio e por me tranquilizar toda vez que o desespero batia, ou
seja, o tempo inteiro.
Às roomies Kamilla, Nara, Larissa e Natália, por partilharem experiências, sonhos,
momentos únicos e muitas ciladas. Vocês são os maiores presentes que a Rússia poderia ter
me dado! Um obrigada especial à Laris, dona de um coração tão lindo e imenso, capaz de
acolher o mundo. Que sorte a minha encontrar você, amorinha! Obrigada pelas contribuições
e por me ajudar a trilhar o caminho do mestrado com mais serenidade.
Ao Eduardo Valadares e Izabela Beirão, da Assessoria Elo.com, pela compreensão
durante todo o período do mestrado. Ao meu professor de francês e amigo, Marcos, pelos
conselhos, ensinamentos e incentivo. Tu es super! À Bela, melhor fisioterapeuta, pelas
conversas, orações e otimismo. À Angélica, pela dedicação em manter meu corpo e minha
mente saudáveis e equilibrados. À Débora, pela enorme gentileza de revisar todo o texto com
muito amor e atenção.
Por fim, àqueles que foram fundamentais para a concretização desta dissertação. Aos
entrevistados, pelas informações prestadas. À Vânia, subgerente da loja da Cacau Show do
BH Shopping, pela delicadeza de se aproximar e se colocar à disposição para ajudar. A toda a
equipe da loja da Cacau Show do Diamond Mall: Ivana, proprietária da franquia, Leidiane,
gerente, e aos funcionários Gustavo, Mirelli, Jéssica e Camila, pela acolhida e carinho. Ao
gerente de marketing Paulo Ceratti, por viabilizar o cumprimento da pesquisa no Boulevard
Shopping.
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo compreender de que modo a organização Cacau Show
constrói e projeta atributos associados à sua marca por meio de seus discursos e quais
associações são reconhecidas a partir do processo de construção de sentido dos sujeitos.
Iniciamos esse estudo apresentando a origem e ascensão histórica da marca. Em seguida,
discutimos os desafios da marca na sociedade contemporânea e sua importância nesse
contexto. Em um segundo momento, examinamos os processos de percepção e de construção
de sentido para melhor compreender a significação a partir dos discursos e símbolos. A
metodologia adotada consistiu em um Estudo de Caso da marca Cacau Show, no qual
analisamos o discurso e o posicionamento da organização. Avaliamos, por meio do Facebook
da marca, como se deu a projeção de enunciados durante a campanha de Páscoa do ano de
2017. Para verificar a percepção dos sujeitos, realizamos entrevistas em profundidade com
consumidores da marca. As análises do discurso e da percepção foram ancoradas no modelo
de personalidade de marca de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro e na
Hermenêutica de Profundidade. Os resultados buscaram evidenciar as lacunas entre o discurso
de uma marca organizacional e as percepções e construções de sentido dos sujeitos em relação
a ela. Além disso, o estudo contribui com discussões e reflexões sobre o processo de
construção simbólica de uma marca a partir da relação entre os lugares de produção,
reconhecimento e circulação de enunciados.
Palavras-chave: Marca organizacional. Personalidade de marca. Construção de sentido.
Percepção. Circulação.
ABSTRACT
The aim of this study was to understand how the organization Cacau Show builds and projects
brand-related features, by means of its discourse, and which association links are recognized
from the perspective of the subject’s meaning production process. Initially, an outline of the
brand’s foundation and development is presented; the limitations of the brand within the
present-day society and its associated importance are also discussed. Next, the perception
processes and the production of meaning perspective were evaluated in order to better
understand the meaning of the organization’s discourse and symbols. The methodology used
was a case study on the Cacau Show’s brand, in which the company’s Facebook profile and
advertisements during the 2017 Easter season’s campaign were evaluated. In addition, a series
of in-depth interviews were carried out so as to understand the public perception of the brand
by consumers. Discourse and perception analyses were based on Aaker’s (1997) brand
personality model adapted to the Brazilian context, and Depth Hermeneutics. The results of
this study highlight the gaps between the organization’s mission statement and its intended
discourse and the actual consumer’s perceptions towards the brand. Moreover, the study
contributes with an in-depth discussion and consideration about the brand’s process of
symbolic production stemming from the connection between production places, as well as the
recognition and the circulation of signifieds.
Key words: Organizational brand. Brand personality. Production of meaning perspective.
Perception. Circulation.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Estrutura da personalidade de marca proposta por Aaker (1997) ....................... 58
FIGURA 2 – Modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro.................................. 59
FIGURA 3 – Missão, Visão e Valores da Cacau Show ........................................................... 64
FIGURA 4 – Logotipo atual da Cacau Show ........................................................................... 65
FIGURA 5 – Primeiro logotipo da Cacau Show ...................................................................... 66
FIGURA 6 – Logotipo da Cacau Show lançado em 2010 ....................................................... 68
FIGURA 7 – Logotipo da Cacau Show lançado em 2012 ....................................................... 69
FIGURA 8 – Novo slogan da Cacau Show lançado em 2013 .................................................. 69
FIGURA 9 – Novo slogan da Cacau Show lançado no ano de 2014 ....................................... 70
FIGURA 10 – Postagem inaugural da campanha de Páscoa 2017 da Cacau Show ................. 71
FIGURA 11 – Anúncio publicado no dia 27 de março de 2017 .............................................. 73
FIGURA 12 – Anúncio postado no dia 07 de abril de 2017 .................................................... 74
FIGURA 13 – Anúncio divulgado no dia 16 de abril de 2017 ................................................. 76
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Valor total da marca (em dólares) para os cinco maiores setores de atividades
nos anos de 2008 e 2017 ........................................................................................................... 19
GRÁFICO 2 – Relação entre número de seguidores (em milhares) e mídias sociais da Cacau
Show ......................................................................................................................................... 62
GRÁFICO 3 – Mapa da personalidade da marca Cacau Show ................................................ 94
GRÁFICO 4 – Dimensões da personalidade da marca Cacau Show ....................................... 94
GRÁFICO 5 – Sexo dos entrevistados ................................................................................... 112
GRÁFICO 6 – Faixa etária dos entrevistados ........................................................................ 112
GRÁFICO 7 – Grau de instrução dos entrevistados............................................................... 113
GRÁFICO 8 – Estado civil dos entrevistados ........................................................................ 113
GRÁFICO 9 – Renda familiar mensal dos entrevistados ....................................................... 114
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Matriz da marca ................................................................................................ 32
QUADRO 2 – Corpus definido para análise ............................................................................ 63
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Médias dos traços e das dimensões de personalidade de marca analisados ...... 95
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 13
2 COMPREENDENDO A MARCA ..................................................................................... 16 2.1 Marca e sociedade: um olhar em retrospecto ................................................................ 20 2.2 Conceituando a marca contemporânea .......................................................................... 29 2.3 Personalidade de marca ................................................................................................... 37
3 PERCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO ............................................................ 42 3.1 Origem, conceitos e abordagens da percepção ............................................................... 43 3.1.1 Percepção à luz da abordagem semiótica ....................................................................... 48
3.2 Conceituando sentido ....................................................................................................... 50
4 A ANÁLISE DO SHOW ..................................................................................................... 56 4.1 Percurso metodológico ..................................................................................................... 56
4.2 Histórico da organização/marca Cacau Show ............................................................... 63 4.3 A projeção do show: o discurso de Páscoa da marca .................................................... 71 4.3.1 Descrição e análise dos anúncios .................................................................................... 71
4.3.2 Descrição e análise dos vídeos ........................................................................................ 77
4.4 Os sentidos do show: as percepções dos consumidores sobre a marca ........................ 86
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 97
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 101
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista ...................................................................... 109 APÊNDICE B – Descrição geral do corpus de análise da pesquisa ........................ 111
APÊNDICE C – Perfil dos entrevistados .................................................................. 112
13
1 INTRODUÇÃO
Cada um de nós, sujeitos sociais, busca construir sentidos para o complexo universo
de significados que nos circunda. Para tanto, nos embasamos em nossas próprias experiências,
crenças, valores, interesses, objetivos, em suma, em nossos repertórios individuais. A
produção de sentido é um processo de leitura, construção e validação de significados em
relação a um contexto específico, por parte dos sujeitos. Nesse movimento de decodificação
do mundo, no qual o indivíduo é relativamente autônomo para realizar escolhas e legitimar a
existência ou não de bens simbólicos, se situam as marcas.
Praticamente tudo à nossa volta recebe uma assinatura, desde as roupas que usamos e
os produtos que compramos, até as propagandas que assistimos na televisão. Alguns autores
conceituam “marca” como um nome, termo, desenho ou sinal cuja finalidade é identificar e
diferenciar produtos e serviços da concorrência. No entanto, uma abordagem menos funcional
e mercadológica entende marcas enquanto construções de sentido ou representações
simbólicas carregadas de significados produzidos por atos de interpretação e percepção de
sujeitos inseridos em determinada realidade. Nessa acepção, marcas só assumem tal condição
se validadas pelos sujeitos, ou seja, se revestidas de significados e valores. Logo, cabe ao
indivíduo dotar uma marca de sentido.
Na contemporaneidade, as marcas converteram-se em um fenômeno sociocultural
ubíquo e de grande importância. As marcas possibilitam a construção de universos simbólicos
que podem influenciar no processo de formação de identidade de determinado sujeito e sua
reconstituição. Nessa direção, por meio de determinada marca, o sujeito pode expressar a si
próprio, bem como estabelecer seu lugar, ou ainda, se posicionar no mundo.
A onipresença, complexidade e força do fenômeno marca no contexto contemporâneo
conduziram à escolha de tal tema para o presente estudo. Com o objetivo de entender esse
fenômeno, o segundo capítulo apresenta a origem e ascensão histórica da marca tendo em
vista a evolução da sociedade. Nessa perspectiva, busca-se compreender como a marca se
relaciona com a sociedade e as transformações de ambas – da marca na qualidade de simples
sinal de diferenciação de produtos até a marca no contexto atual, ou seja, da sociedade pré-
industrial à sociedade pós-industrial, denominada também de sociedade de consumo, ou
ainda, sociedade contemporânea. Na segunda parte desse mesmo capítulo, a investigação
recai, especificamente, sobre a marca contemporânea. A fim de sinalizar os desafios e a
importância da marca na atual conjuntura, a discussão traz as principais acepções do termo
“marca” conforme diversos autores, como Olins (2000; 2005), Gobé (2002), Cimatti (2006),
14
Perotto (2007), Perez (2004; 2010), Hatch e Schultz (2008), Batey (2010), Semprini (2010) e
Kornberger (2010). Por fim, nesse capítulo também apresentamos o estudo da personalidade
de marca, construto que ajuda no entendimento de como se dá o uso simbólico de marcas
pelos sujeitos e que será uma das bases metodológicas desta pesquisa.
O terceiro capítulo dedica-se ao exame dos conceitos percepção, sentido, significado,
produção, reconhecimento e circulação. Nessa direção, a princípio, apresenta-se uma visão
geral do tema percepção a partir de perspectivas mais profundas, como a da psicologia, até
abordagens instrumentais, como a do comportamento do consumidor. Tal deslocamento, que
começa em um extremo e chega a outro, visa alcançar a linha que melhor conversa com a
construção de sentido e que nos interessa examinar com mais cuidado, a saber, o enfoque
semiótico. Em seguida, são apontadas as diferenças entre as noções de significado, algo já
dado, estático, e sentido, o vir a ser. O capítulo ainda explora a questão da construção de
sentido, um processo que decorre das relações sociais e que irrompe no território da
circulação.
O estudo tem como objeto empírico de análise a marca Cacau Show. A escolha do
objeto se embasa nos resultados da pesquisa Top of Mind realizada no ano de 2015 pelo
Instituto DataFolha, que aponta a Cacau Show como a marca de chocolates finos mais
conhecida e lembrada em termos de lojas especializadas do Brasil por consumidores das
classes A, B e C, como atesta Oliveira (2015). Isto posto, essa pesquisa busca compreender de
que modo a organização Cacau Show constrói e projeta traços associados à sua marca por
meio de seu discurso e posicionamentos comunicacionais e quais associações são
reconhecidas a partir do processo de construção de sentido dos sujeitos.
O quarto capítulo apresenta o percurso metodológico adotado nesse estudo. A
estratégia de pesquisa consiste em um Estudo de Caso da marca Cacau Show. Para analisar o
discurso e o posicionamento da organização, avaliou-se, por meio do Facebook da marca,
como se deu a projeção de enunciados durante a campanha de Páscoa do ano de 2017. Para
verificar a percepção dos sujeitos, foram realizadas entrevistas em profundidade, do tipo
roteiro semiestruturado, com trinta consumidores da marca nas lojas da Cacau Show do BH
Shopping, Diamond Mall e Boulevard Shopping, em Belo Horizonte. As análises do discurso
e da percepção foram ancoradas no modelo de personalidade de marca de Aaker (1997)
adaptado ao contexto brasileiro e na Hermenêutica de Profundidade, referencial metodológico
proposto por Thompson (2002).
O quarto capítulo também expõe o histórico da organização e da marca Cacau Show,
assim como as análises das instâncias da produção e da recepção. A síntese de todo o trabalho
15
proposto e os principais achados da pesquisa se encontram no último capítulo, constituindo as
considerações finais. Os resultados buscam evidenciar os atributos de marca reconhecidos
pelos consumidores entrevistados e as lacunas ou gaps entre o discurso de uma marca
organizacional, além das percepções e construções de sentido dos sujeitos em relação a ela.
16
2 COMPREENDENDO A MARCA
A marca é um fenômeno atual de grande complexidade, importância e força. Olins
(2005) categoricamente afirma que “a marca é tudo”. De fato, das vestimentas que usamos às
bebidas que ingerimos, ou ainda, dos locais que frequentamos aos produtos e serviços que
utilizamos e compramos, praticamente tudo ao nosso redor recebe uma assinatura. Lemos
sobre marcas em jornais, revistas e internet, assistimos a inúmeras propagandas na televisão,
contemplamos outdoors e placas de publicidade em vias públicas, indícios que reforçam a
onipresença da marca no cenário contemporâneo. (CIMATTI, 2006; PEREZ, 2004).
Alguns autores conceituam marca como um “nome, logotipo ou uma marca registrada
denotando posse”. (BALMER; GRAY, 2003, p. 973, tradução nossa)1. Na perspectiva da
Associação Americana de Marketing, marca é “um nome, termo, símbolo, desenho, ou a
combinação destes elementos, cuja intenção é identificar bens e serviços de um vendedor ou
grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes”. (HATCH; SCHULTZ,
2008, p. 26, tradução nossa)2. De forma similar, Aaker (1998) define marca como um nome
e/ou símbolo diferenciado criado com o propósito de reconhecer bens e serviços de um grupo
de vendedores e distingui-los da concorrência. Portanto, para o autor, a marca sinaliza ao
consumidor a origem de determinado produto e garante proteção, ao cliente e ao fabricante,
contra concorrentes que disponibilizam um tipo de produto semelhante no mercado.
Segundo tais abordagens, o conceito de marca se limita a duas funções essenciais, a
identificação e a diferenciação, o que restringe seu amplo significado no cenário social
contemporâneo. São definições que esclarecem apenas a noção básica da marca, sem,
contudo, incluírem as dimensões simbólica e relacional associadas a ela. Igualmente,
perspectivas que entendem as marcas apenas na qualidade de diferenciais competitivos para
as organizações, ou ainda, enquanto sinais de procedência e de proteção em relação a
produtos idênticos também se mostram simplistas.
É pacífico que, na sociedade contemporânea, a marca é muito mais do que um sinal
distintivo. As definições unidirecionais e reducionistas de marca, próprias das
abordagens administrativas do marketing, que ainda demonstram acreditar no
controle organizacional sobre o mercado – o que inclui as pessoas, é bom que se
diga – estão absolutamente obsoletas. Nestas definições, a marca ainda surge como
caudatária do produto e não como símbolo complexo entorno do qual os vínculos de
sentido surgem, se fortalecem e crescem signicamente. Quando abordamos a marca
1 In its simplest sense a brand denotes a name, logotype or trademark denoting ownership.
2 For example, the American Marketing Association defined brand as “a name, term, symbol, or design, or
combination of these, which is intended to identify goods or services of one seller or group of sellers and to
differentiate them from those of competitors”.
17
a partir da perspectiva antropossemiótica, ou seja, a partir das pessoas e da produção
de sentido que constroem, o entendimento se amplia. (PEREZ, 2010).
Como sustenta Perez (2010), a marca representa mais do que um simples sinal
diferenciador traduzido por um nome, formato e cor. Do mesmo modo, a marca é mais do que
um produto disponível no mercado. Na contemporaneidade, o conceito de marca caminha
para além de enfoques mercadológicos exclusivos em seus aspectos tangíveis, tais como a
tonalidade e o design do logotipo, a sonoridade do nome da marca ou a aparência de produtos.
(HATCH; SCHULTZ, 2008; SEMPRINI, 2010).
Dessa maneira, um olhar menos funcional concebe marcas como um conjunto de
símbolos que carregam significados construídos por atos de interpretação e percepção de
indivíduos inseridos em determinado contexto sociocultural. As marcas contemporâneas são
dinâmicas, complexas, multifacetadas e emergem de processos interacionais. Nesse sentido,
uma definição mais atual de marca envolve, também, a construção de vínculos emocionais e
afetivos. (GOBÉ, 2002; HATCH; SCHULTZ, 2008; PEREZ; BAIRON, 2009).
A história da marca remonta ao período anterior à invenção da escrita. Naquela época,
assim como durante toda a Idade Antiga, a função da marca se limitava à nomeação,
identificação e diferenciação da propriedade de animais, utensílios e produtos. A marca era
desprovida de valor comercial. (LENCASTRE, 2007; PINHO, 1996). Na Idade Média, com
as guildas ou corporações de ofício, a marca passa a exercer um triplo papel: sinal de
autenticação de documentos, indicativo de posse de bens e prova de certificação da qualidade
de mercadorias. (DOMINGUES, 1984).
Já no fim da Idade Moderna, em virtude da Revolução Industrial, são criadas as
condições de expansão da marca. Surge a marca moderna e industrial, ancorada no universo
da produção e dos produtos. A marca contemporânea, tal como a compreendemos atualmente,
nasce somente a partir da Segunda Guerra Mundial, mais especificamente na segunda metade
do século XX. Essa marca, denominada também de pós-moderna, se apoia no universo dos
serviços, do consumo, e se firma como um dispositivo de construções de sentido na
sociedade. Nesse contexto, a dimensão da marca torna-se mais ampla e ela adquire uma noção
multirreferencial e multifacetada. (AQUINO et al., 1995; SEMPRINI, 2010).
Conforme assinala Semprini (2010), a história da marca se desdobra de forma
tumultuada, em meio a altos e baixos, marcada por fases de expansão e de retração. Se hoje a
marca ocupa um lugar central na vida dos indivíduos é porque passou por um processo de
evolução e por várias transformações ao longo do tempo, contraindo cada vez mais valor e
18
significância. Dessa forma, um olhar em retrospecto permite examinar que a marca nem
sempre esteve em uma posição de destaque tal como se verifica atualmente.
A marca ganha maior importância nas três últimas décadas, com a mudança de ênfase
do ativo tangível para o intangível. Como aponta Carril (2007, p. 41), “até meados da década
de 1980, a grande preocupação no mundo dos negócios era avaliar o ativo tangível”,
entendido como os bens físicos, materiais e palpáveis de uma empresa. Em pesquisa, Baruch
Lev (2001) verifica que até o ano de 1982, o valor de mercado das quinhentas maiores
companhias americanas era constituído de 62% de ativos tangíveis e 38% de intangíveis. Esse
cenário começa a se transformar e, como resultado, os ativos intangíveis adquirem relevância
somente a partir da década em questão, 1980, em virtude dos processos de fusão e aquisição
de corporações ocorridos em países da Europa e nos Estados Unidos. Nessa perspectiva, a
marca passa a representar um dos bens mais valiosos para as organizações, um diferencial
frente à concorrência, ao passo que o produto em si perde sua centralidade. Como
fundamento, a pesquisa de Lev (2001) demonstra que em 1992, a composição do valor de
mercado das empresas analisadas inverteu – 38% de ativos tangíveis e 62% de intangíveis.
Retomando o contexto de fusões, um episódio marcante que, inclusive, despertou a
atenção do universo acadêmico para o assunto, concerne à incorporação da empresa de
alimentos Kraft pela multinacional Philip Morris por dez bilhões de dólares. Carril (2007)
explica que à época, o patrimônio físico da empresa comprada estava avaliado em um bilhão
de dólares, ou seja, os nove bilhões adicionais correspondiam a bens intangíveis, como know-
how, marca, capital intelectual, posição no mercado etc.
No Brasil, um dos negócios marcantes que veio consolidar a importância do
intangível foi a aquisição da Kibon pela Unilever por 930 milhões de dólares à vista
em outubro de 1997. O impacto ocorreu pelo fato também de o patrimônio físico da
Kibon estar contabilizado por menos de 30% do preço de negociação. Na verdade a
compra se referiu não a uma fábrica de sorvetes, mas sim à marca Kibon. (CARRIL,
2007, p. 41).
Com a chegada do novo milênio, os ativos intangíveis passam a representar 85% do
valor de mercado de empresas e os tangíveis decrescem para 15%. (LEV, 2001). Tal quadro é
característico de empresas ligadas à tecnologia e informação, como Facebook, Instagram,
WhatsApp, entre outras. O relatório GIFT™3, desenvolvido pela consultoria Brand Finance
(2017a), revela que, atualmente, o valor dos ativos intangíveis do Facebook Inc., por
3 O relatório Global Intangible Finance Tracker (GIFT™) analisa anualmente como o valor dos ativos
intangíveis flutua nos mercados de ações de todo o mundo. O estudo destaca a importância dos ativos
intangíveis, como a marca, na impulsão do valor do negócio. (BRAND FINANCE, 2017a).
19
exemplo, equivale à aproximadamente 85% do valor total da empresa, avaliada em US$412
bilhões. Os dados apresentados por Lev (2001) e pelo relatório GIFT™ (2017a) confirmam a
ascensão do componente de maior destaque no que se refere ao conjunto de ativos intangíveis:
a marca.
Outro relatório, também elaborado pela Brand Finance (2017b), mostra que de 2008 a
2017, o valor total da marca aumentou em cinco grandes setores – tecnológico, bancário, de
telecomunicações, varejista e automobilístico –, como mostra o Gráfico 1.
Gráfico 1 - Valor total da marca (em dólares) para os cinco maiores setores de
atividades nos anos de 2008 e 2017
Fonte: Brand Finance (2017b, p. 12)
Para entender a expansão e as transfigurações da marca no decorrer dos séculos, faz-se
necessário compreender também as mudanças e o avanço da sociedade como um todo, desde
a sociedade pré-industrial e industrial até a sociedade pós-industrial. (SEMPRINI, 2010). Isto
posto, a primeira parte deste capítulo apresenta a origem e a ascensão histórica da marca
tendo em vista a evolução da sociedade. O objetivo é compreender como a marca se relaciona
com a sociedade e as transformações de ambas – da marca enquanto simples sinal de
diferenciação de produtos até a marca contemporânea e da sociedade pré-industrial à
sociedade contemporânea.
A segunda parte do capítulo examina a marca contemporânea, isto é, a marca na
qualidade de construção simbólica. Além disso, busca-se evidenciar as principais acepções do
20
termo “marca” segundo diversos teóricos e sinalizar a importância do fenômeno na atual
conjuntura. Por fim, a última parte deste capítulo visa explorar o construto personalidade de
marca, uma das bases metodológicas desta pesquisa, e os estudos sobre o tema. Em um
contexto onde imperam a competitividade, a fluidez, o dinamismo e a efemeridade, a
personalidade surge como um possível caminho para que a marca se sustente e seja capaz de
acompanhar e se adequar às novas tendências características da sociedade contemporânea.
2.1 Marca e sociedade: um olhar em retrospecto
A compreensão da marca na contemporaneidade decorre de um olhar em direção ao
passado, à sua origem e evolução no espaço social. Entre os sentidos do termo marca em
diferentes línguas, um deles nos conduz a uma prática antiga presente na humanidade, que em
inglês corresponde ao verbo to brand, cujo significado é, para um criador de gado, colocar um
sinal de ferro em brasa em seu animal com o intuito de distingui-lo dos outros rebanhos.
Sentido similar ao to brand é o da palavra norueguesa brandr, que em português equivale ao
verbo queimar. (CARRIL, 2007; LENCASTRE, 2007).
A história das marcas enquanto sinais distintivos de produtos e serviços remonta ao
período anterior à escrita, a Pré-História. Naquele tempo, a sociedade era primitiva, simples e
se baseava em atividades de subsistência, como caça, pesca, colheita de frutos, sementes e
raízes silvestres. Nesse contexto já era possível encontrar nas pinturas rupestres de 20 a 30 mil
anos atrás, assinaturas na forma de mãos impressas ou estilizadas que, certamente, apontam
para um sinal associável ao conceito de marca. As assinaturas da arte pré-histórica indicavam
a autoria de pinturas, obras, desenhos ou outro tipo de representação artística, bem como a
origem e excelência de produtos e a posse de animais e utensílios. (LENCASTRE, 2007).
Na Idade Antiga, por volta de 4.000 a.C., certos sinais já podem ser reconhecidos
como similares às marcas de comércio. Nesse período surgem as primeiras grandes
civilizações – os fenícios, gregos, hebreus, egípcios, persas, romanos etc. − e os impérios na
Europa e no Oriente Médio. A sociedade começa a se desenvolver. As comunidades ou tribos
da Pré-História crescem e se transformam em sociedades complexas, estruturadas em
camadas sociais. A escrita é inventada, os Estados são formados e o homem cria novas
técnicas para o cultivo da terra e criação de animais. Acompanhando essa evolução, a marca
também avança. (LENCASTRE, 2007; PAZZINATO; SENISE, 2002; PINHO, 1996).
21
Segundo Lencastre (2007), os mestres pedreiros4 ocultavam marcas nas pedras-chave
de suas criações arquitetônicas. Na mesma época também se torna comum entre escultores,
artesãos e oleiros a prática de assinarem suas obras como forma de identificação. Na Grécia
antiga, as cerâmicas ainda umedecidas e maleáveis recebiam a impressão de pequenos sinais
geométricos, sinalizando a autoria da peça. Do mesmo modo, no antigo Egito, fabricantes de
tijolos marcavam com símbolos seus próprios produtos a fim de que suas identidades fossem
reconhecidas. (LENCASTRE, 2007).
Outros sinais distintivos, tais como sinetes5, selos e siglas eram usados frequentemente
para assinalar animais, armas e objetos. Naquele tempo, a origem de produtos agrícolas ou
manufaturados era indicada por uma “marca”, sinal que funcionava como garantia da
qualidade e prestígio dessas mercadorias, como comprovam algumas denominações clássicas
– o vinho falerno, produzido na Campânia, região do sul da Itália, e o azeite de oliva de
Venafro. Além disso, à medida que ocorre o processo de sedentarização6 do comércio urbano,
aparecem as primeiras sinalizações que apontam para as marcas de estabelecimento. Como
explica Pinho (1996, p. 11), “para as populações largamente analfabetas da época, o uso de
pinturas revelou-se a melhor forma para identificar os comerciantes e as mercadorias que
vendiam”. Os comerciantes de vinho, por exemplo, exibiam na fachada de suas lojas a figura
de uma ânfora7, os açougues romanos eram identificados pelo desenho da pata traseira de um
boi, já os laticínios pela figura de uma vaca. (DOMINGUES, 1984; LENCASTRE, 2007;
PINHO, 1996).
Na Antiguidade, não havia qualquer tipo de proteção legal em relação às marcas,
assim como inexistiam formas de repressões penais contra imitadores do nome de marcas. Até
então, a marca não tinha o sentido comercial que veio a adquirir nos anos seguintes. Sua
função se restringia à identificação da propriedade de animais, utensílios e bens e à indicação
de um vínculo de pertencimento. (DOMINGUES, 1984; MORO, 2003).
Durante a Idade Média, do século V ao XV, a marca atravessa uma fase escura e de
alteração de estilo. A tradição de assinar obras de arte deixa de existir e isso obriga muitos
artistas a permanecerem no anonimato. Tal prática ressurge somente na Renascença, com o
pintor italiano Michelangelo Buonarroti e, depois, com o artista flamengo Peter Paul Rubens,
4 O mestre pedreiro era uma importante figura na época e, hoje, ele corresponderia a uma mistura de arquiteto e
engenheiro civil. (LENCASTRE, 2007). 5 Sinete é um objeto de metal usado como assinatura de um proprietário ou responsável por uma
associação/empresa para selar e autenticar cartas. (DICIONÁRIO..., 2017b). 6 A sedentarização é o processo por meio do qual um povo deixa de ser nômade e passa a ter uma habitação fixa
e um lugar próprio. Tal transição ocorre com o avanço das práticas agrícolas. (DICIONÁRIO..., 2011). 7 Ânforas são vasos antigos de, geralmente, duas alças e formato ovóide usados para conservar e transportar
líquidos e sementes. (DICIONÁRIO..., 2017a).
22
passando, inclusive, a influenciar na avaliação comercial de trabalhos artísticos. Em outras
palavras, a presença de assinatura naquilo que era produzido determinava seu valor de
mercado. (PEREZ, 2004).
Na Idade Média predomina o sistema feudal, baseado em uma economia
essencialmente agrária e autossuficiente, concentrada no feudo. O trabalho era regulado por
relações servis entre o senhor, proprietário da terra, e o servo, dependente do senhor e a quem
devia obrigações. A sociedade da época, designada medieval ou pré-industrial, considerando-
se o termo de Bell (1977), era rural, estamental e hierarquizada, estruturada segundo padrões
tradicionais de rotina e autoridade. Ademais, dividia-se em três ordens sociais, cada qual com
uma função bem definida – ao clero tangia rezar, aos membros da nobreza, lutar e aos servos,
trabalhar. (PAZZINATO; SENISE, 2002; BELL, 1977).
A vida medieval seguia o ritmo do tempo natural. Como consequência, toda atividade
exercida no interior do feudo era determinada pelo decurso dos dias, das estações do ano, e
variava de acordo com as intempéries da natureza. A baixa produtividade característica do
período, insuficiente para atender a demanda da população, era resultado tanto da
imprevisibilidade das ocorrências naturais, quanto do caráter ainda rudimentar das técnicas de
produção agrícola. Na organização feudal, o trabalho dos servos se centrava na força física e
destinava-se à subsistência da sociedade. Desse modo, produzia-se para o consumo local e
imediato, e não para a comercialização. (BELL, 1977).
Apesar de um modelo econômico fechado e autossuficiente como o que estrutura a
Idade Média, a marca conseguiu alcançar seu espaço dentro de vários feudos. Nesse sentido,
ao longo dessa época, alastra-se pela Europa a prática de expressar a identidade pessoal e
familiar por meio de representações simbólicas: os brasões. Esses sinais são, provavelmente,
os que mais se assemelham à marca moderna, no sentido mais estrito do termo. Nesse
período, paralelamente às marcas familiares, também surgem associações destinadas a
controlar a quantidade e assegurar a qualidade de produtos comercializados. As guildas, ou
ainda corporações de ofício, organizavam e regulamentavam o trabalho dos produtores
mediante a atribuição de punições àqueles que fabricassem produtos de qualidade inferior.
(LENCASTRE, 2007; PEREZ, 2004).
Domingues (1984) aponta para a tripla função exercida pela marca durante a Idade
Média: a de sinal de autenticação, certificação ou atribuição de documentos; ao caráter
aduaneiro ou fiscal; e a de sinal de propriedade. A primeira se refere ao surgimento de marcas
em documentos e correspondências atestando a autenticidade da firma que havia assinado
determinado manuscrito. As marcas de caráter aduaneiro/alfandegário ou fiscal eram
23
empregadas por entidades administrativas e certificavam a pureza, qualidade e composição de
certas mercadorias, como é o caso dos sinais nos metais preciosos. Como o próprio nome
indica, as marcas enquanto sinais de propriedade estão relacionadas à posse e diferenciação de
bens. No transporte marítimo britânico, por exemplo, a marcação e enumeração em artigos
visavam a identificação de seu proprietário, funcionando como comprovação da referida
propriedade em situações de naufrágio, pirataria ou qualquer outro acidente de navegação.
O período compreendido entre os séculos XV e XVIII, denominado Idade Moderna,
estabeleceu as precondições para o início do sistema capitalista. Essa época se caracteriza,
sobretudo, por uma série de mudanças na conformação da sociedade europeia ocidental. Em
outras palavras, a Idade Moderna denota uma era de transição: a passagem da sociedade
feudal, cuja forma de riqueza era a terra, para a sociedade capitalista, representada pela
riqueza móvel, o dinheiro. (AQUINO et al., 1995).
De forma gradual, houve aumento populacional, crescimento das cidades e
desenvolvimento comercial, o que possibilitou o surgimento das primeiras lojas varejistas. No
século XVI surgem as marcas registradas. As destilarias de uísque escocesas embarcavam
seus produtos em barris de madeira com o nome do fabricante gravado a fogo na parte
superior. A marca nos tonéis atestava a procedência da bebida e representava uma prevenção
contra a sua substituição por produtos de qualidade e preço inferiores. (PEREZ, 2004;
PINHO, 1996; TAVARES, 1998).
Tavares (1998) afirma que existem outros registros da utilização de marcas e cita o
ocorrido em 1476, ano em que foi inaugurada a primeira tipografia de Veneza pelos irmãos
Johann e Wendelin.
Sua produção notabilizou-se pela qualidade tipográfica – precisão e regularidade de
incisão, proporção entre os traços finos e grossos, exatidão de alinhamento e de
paginação. Com eles [irmãos Johann e Wendelin] surgiu um novo elemento: a
marca tipográfica. (TAVARES, 1998, p. 2, grifo nosso).
No século XVII, como explica Pinho (1996), as tabernas e pubs ingleses usavam de
símbolos pictoriais para criar associações com o nome do estabelecimento. O nome da taberna
Three Squirrels ou, em português, “Três Esquilos”, era reforçado com a gravura desses
animais, um hábito ainda presente nos dias atuais. No século seguinte, XVIII, o conceito de
“marca” evolui e o nome de figuras de animais, lugares e pessoas conhecidas passa a assumir,
em várias circunstâncias, os nomes dos fabricantes. O intuito era possibilitar a associação do
24
nome do produto com a marca, tornando-os de fácil memorização a fim de diferenciá-los da
concorrência. (TAVARES, 1998).
Quase no fim da Idade Moderna, a partir da segunda metade do século XVIII, ocorre o
advento da Revolução Industrial e é mais precisamente nesse momento que irrompem as
marcas modernas. A Revolução Industrial designa o período histórico durante o qual a
Inglaterra sofreu transformações, principalmente em termos econômicos e sociais. Em virtude
desse último acontecimento, tem fim a fase de transição do feudalismo para o capitalismo no
plano econômico e o início de um novo tempo, a era do capitalismo industrial e liberal.
(AQUINO et al., 1995). “Com a revolução industrial, que acarretou a menorização da
produção artesanal familiar e a generalização da produção de massa empresarial, criam-se as
condições de expansão da marca e as necessidades da sua regulamentação jurídica.”
(LENCASTRE, 2007, p. 37).
Nesse ínterim, a energia física foi substituída pela mecânica, a ferramenta pela
máquina e a manufatura deu lugar à fábrica no processo de produção capitalista. Essas
transformações, apesar de iniciadas na Inglaterra, assumiram um caráter revolucionário e se
propagaram em outros países, provocando impactos no mundo como um todo. Segundo
endossa Bell (1977), o universo se transfigurou, tornou-se racionalizado, cronometrado e
programado. O ritmo de vida passou a ser mecanicamente ajustado e os ofícios do homem
precisamente sincronizados ao tempo do maquinário das indústrias.
De modo geral, o advento da Revolução Industrial representa o processo de
mecanização da indústria. Por esse ângulo, a introdução das máquinas no processo produtivo
estimulou o aprimoramento técnico de equipamentos. Como consequência, a produção se
torna maior e mais rápida, em massa. Nesse contexto, a concepção de marca de comércio
evoluciona para a de marca de indústria e de comércio. Conforme elucida Pinho (1996, p. 13),
“com os bens sendo produzidos em grande variedade e quantidade, novos mercados
precisavam ser conquistados e assim apareceram os primeiros cartazes publicitários e
catálogos de compra, onde figuravam algumas marcas”. Graças ao sucesso das marcas
lançadas e divulgadas por intermédio da publicidade, no princípio do século XX, muitas
entidades oficiais e grupos econômicos se viram impulsionados a criar e difundir suas
próprias marcas. (PINHO, 1996).
A Revolução Industrial modifica substancialmente a forma de organização do trabalho
humano e anuncia uma nova sociedade, alicerçada em uma economia industrial. Em oposição
à sociedade feudal-mercantil, de base agrária, nasce a sociedade industrial, caracterizada pela
produção em larga escala. Tal sociedade, que se estende até a segunda metade do século XX,
25
se estrutura a partir de duas classes básicas − a burguesia dominante, proprietária dos meios
de produção, e o proletariado, camada social que dispõe apenas de sua força de trabalho.
Dessa relação entre classes surge o trabalho assalariado, traço essencial do sistema capitalista,
entendido como a venda de energia, de força de trabalho do proletário em troca de
remuneração para seu próprio sustento e para o consumo de bens. (AQUINO et al., 1995).
As transformações ocorridas no cenário econômico e social entre os séculos XV e
XVIII determinaram os novos movimentos da marca. Surge a marca moderna e industrial,
ancorada no universo da produção e dos produtos. Nessa época, mais especificamente no ano
de 1835, a marca é utilizada pioneiramente como elemento diferenciador de produtos, como é
o caso da marca de uísque Old Smuggler. Fundada por James & George Stodart, na Escócia,
essa marca era reconhecida por empregar um processo especial de destilação em sua linha de
bebidas. Por isso, se distinguia da concorrência. Além disso, a marca começa a ser
regulamentada. (PINHO, 1996; TAVARES, 1998).
Até a segunda metade do século XIX, o sistema capitalista se encontrava em plena
expansão. O vigoroso avanço tecnológico, somado à racionalização da produção nas
indústrias, suscitou a concentração de capitais e o desenvolvimento de um capitalismo
financeiro em substituição ao industrial. Nessa época surgem as grandes empresas e as
instituições financeiras monopolistas. Ademais são criadas as primeiras campanhas de
marketing de massa, com foco, sobretudo, na publicidade. (KLEIN, 2002).
Segundo De Masi (1999), ao longo da fase mais madura da sociedade industrial
surgem três fenômenos já preanunciando sua superação pela sociedade subsequente, a pós-
industrial ou contemporânea. O primeiro fenômeno se refere ao encontro gradativo entre os
países industriais, especialmente os Estados Unidos e a antiga União Soviética. O segundo
fenômeno consiste na expansão das classes médias na sociedade. A chamada nova burguesia,
ou classe média, surge com o desenvolvimento do capitalismo e passa a alterar a organização
dicotômica da sociedade, que se dividia entre a burguesia e o proletariado. O terceiro
fenômeno corresponde à propagação do consumo de massa e da sociedade de massa. Após a
Primeira Guerra Mundial, uma nova ordem social se instaura no mundo, sobretudo nos
Estados Unidos, em países da Europa e do Terceiro Mundo. A sociedade industrializada,
identificada como “de massa”, se caracteriza por um processo de produção e consumo de bens
e serviços em larga escala.
Esse último fenômeno de que fala De Masi (1999) é importante para a compreensão da
marca contemporânea, pois corresponde ao momento em que a marca se firma como uma
expressão da economia moderna, o que pode ser explicado em função da passagem da
26
sociedade industrial para a sociedade de consumo. As guerras e constantes crises ocorridas ao
longo do século XX transformaram o panorama mundial como um todo e anunciaram a
transição para uma nova era que perdura até hoje. A sociedade industrial cruza uma linha
divisória. A partir da Segunda Guerra Mundial vislumbra-se o surgimento de outra realidade,
a qual começa a ser teorizada cerca de vinte anos depois. A nova cena é designada
contemporaneidade, consoante a um tempo de possibilidades, de construções e reconstruções
de sentidos, de representações e simbolismos, de união entre tradições e inovações. (PINHO,
1996; ALMEIDA, 2005).
Nesse contexto, o padrão de configuração da sociedade se modifica. Para além de
industrial e pós-rural, a sociedade contemporânea admite outras denominações segundo o
ponto de vista de vários autores. Para Lipovetsky (2007) e Baudrillard (1995), por exemplo, a
nova sociedade recebe a denominação de sociedade de consumo. O termo, perpetuado por
Baudrillard (1995) no ano de 1970, é empregado para descrever a centralidade dos processos
de consumo na conformação das relações sociais e da sociedade. Na perspectiva do autor,
enquanto a sociedade da Idade Média se equilibrava em Deus, a nova sociedade se equilibra
no consumo e na sua denúncia. Tal sociedade se pauta ainda na abundância, gerada por meio
da multiplicação dos objetos, dos serviços e dos bens materiais. (BAUDRILLARD, 1995).
Lipovetsky (2007, p. 25) propõe um esquema da evolução da sociedade de consumo
fundado em três grandes estágios, que compreendem o nascimento dos mercados de massa, a
sociedade de consumo de massa e a sociedade do hiperconsumo. De acordo com o filósofo, a
nova sociedade funciona por hiperconsumo, isto é, pelo consumo elevado à superpotência. O
tempo atual, ainda sob a ótica do autor, se inscreve em uma cultura do excesso, do “sempre
mais e sempre novo”, do hiper – hipercapitalismo, hipertexto, hipermercado, hipercorpo,
hipermodernidade, hiperindividualismo etc., quer dizer, o prefixo hiper é usado em referência
à potencialização dos valores criados na Idade Moderna.
O primeiro ciclo da era do consumo tem início por volta dos anos 1880 e fim em 1945,
junto com a Segunda Guerra Mundial. Essa fase é marcada pelo desenvolvimento das
infraestruturas de transporte e de comunicação (estradas de ferro, telefone, telégrafo) que
permitiram, por sua vez, o crescimento dos grandes mercados nacionais e do comércio em
larga escala. Além disso, a criação da máquina de fabricação com processo contínuo eleva a
velocidade e a quantidade dos fluxos, uma invenção que abre caminho para a produção
padronizada e de massa. (LIPOVETSKY, 2007).
O segundo ciclo da economia de consumo se inicia em meados de 1950 e perdura até o
ano de 1970. Essa fase se caracteriza por um notável crescimento econômico e pelo aumento
27
do poder de compra da população em decorrência da melhoria das condições de vida ao longo
do período.
Há algo mais na sociedade de consumo além da rápida elevação do nível de vida
médio: a ambiência de estimulação dos desejos, a euforia publicitária, a imagem
luxuriante das férias, a sexualização dos signos e dos corpos. Eis um tipo de
sociedade que substitui a coerção pela sedução, o dever pelo hedonismo, a poupança
pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberação, as promessas do
futuro pelo presente. (LIPOVETSKY, 2007, p. 35).
De acordo com o filósofo, a fase II se mostra como “sociedade do desejo”, ou ainda
como “sociedade da abundância”, centrada em uma lógica econômica e técnica mais
quantitativa do que qualitativa. Nesse sentido, a sociedade de consumo de massa cria
necessidades artificiais nos sujeitos, impulsionando-os à compra compulsiva de objetos para
satisfação instantânea de suas vontades. Essa sociedade é sustentada por um modo de vida
concentrado no materialismo e no individualismo. (LIPOVETSKY, 2007).
O terceiro ciclo é identificado por Lipovetsky (2007, p. 41) como a era do
hiperconsumo, que se desdobra a partir do ano de 1970. Nesse estágio, o ato de consumir
passa a operar conforme uma “lógica desinstitucionalizada, subjetiva e emocional”. O
consumo se torna experiencial, tal qual intimizado, isto é, ligado aos gostos e critérios
próprios de cada sujeito, bem como relacionado às experiências afetivas, imaginárias e
sensoriais evocadas por um produto, marca ou publicidade. No período do hiperconsumo, os
sujeitos estão em busca da felicidade privada e de maior bem-estar subjetivo, por isso, o
consumo voltado para si próprio torna-se mais essencial do que o consumo direcionado para o
outro. “A fase III significa a nova relação emocional dos indivíduos com as mercadorias,
instituindo o primado do que se sente, a mudança da significação social e individual do
universo consumidor que acompanha o impulso de individualização de nossas sociedades.”
(LIPOVETSKY, 2007, p. 46).
Enquanto Lipovetsky (2007) propõe um esquema da evolução da sociedade de
consumo, Semprini (2010) se dedica ao exame da evolução da marca. O autor observa os
movimentos da marca a partir da segunda metade do século XX, após a passagem da
sociedade industrial para a contemporânea, com base em quatro fases que ele identifica como
sendo as principais.
A primeira fase tem início no ano de 1958 e perdura aproximadamente quinze anos,
até o ano de 1973. Nesse estágio, as marcas acompanham o progresso da sociedade de
consumo. A produção artesanal e o consumo local são substituídos pela produção e consumo
28
em massa. Nesse contexto, a marca se sobrepõe ao produto, instalando-se em espaços que lhe
são consagrados, os supermercados e hipermercados. Ao longo dessa fase inicial, a marca se
desenvolve sem dificuldades, mas permanece restrita às funções de nomeação, identificação e
diferenciação de produtos.
A segunda fase ocorre paralelamente aos choques petrolíferos de 1973 e 1977, período
de crises e desestabilização da economia mundial, e tem fim por volta do ano de 1980. Como
salienta Semprini (2010, p. 27), “assiste-se, sobretudo nessa época, a uma primeira retomada
do questionamento do problema da sociedade de consumo e ao surgimento de uma crítica às
necessidades do supérfluo que ela tende a provocar”. Nesse sentido, as indagações e os
comentários negativos têm como alvo a sociedade de consumo em geral, não necessariamente
as marcas, vistas ainda como um epifenômeno. Diante disso, as marcas vivem uma fase de
estagnação, de modo que sua função e significado continuam praticamente os mesmos.
A terceira fase começa na segunda metade da década de 1980, prolonga-se durante
quinze anos e termina com a queda da bolsa de valores de 2001-2002, quando se instaura uma
crise econômica em vários países industrializados. Esse estágio corresponde ao momento de
apogeu e de transformação da marca, tanto em relação às suas lógicas de funcionamento
quanto no tocante ao seu papel no mercado. O final do ano de 1980 se caracteriza por um
expressivo crescimento econômico, o qual coincide com o desenvolvimento da comunicação
publicitária.
Por um lado, com a desintegração do monopólio público do audiovisual, a oferta de
suportes de comunicação televisiva e de rádio aumenta consideravelmente. Por outro
lado, as empresas, em pleno crescimento, dispõem de verbas significativas e não
hesitam em investir em planos de comunicação. (SEMPRINI, 2010, p. 28).
Outra característica que se observa na terceira fase é a mudança na atitude do
consumidor. A comunicação publicitária restrita à simples transmissão de informações sobre
os atributos e benefícios de bens ou serviços já não era suficiente aos olhos do consumidor.
Pelo contrário, o consumidor ansiava por um algo a mais na comunicação da marca, um
discurso de natureza mais ampla, profunda, sedutora e espetacular, capaz de extrapolar a
realidade de um produto. Em outras palavras, ao consumidor não mais importa o apelo
comercial da marca, mas sua dimensão estética e atraente. (SEMPRINI, 2010).
De acordo com Semprini (2010, p. 32), as marcas aproximam-se do milênio em uma
situação paradoxal. “Por um lado, elas nunca foram tão poderosas e presentes, procuradas,
amadas, seguidas. [...] Por outro lado, esse poder ostentado é atravessado por múltiplas linhas
29
de fratura, que não deixarão de se manifestar no momento de inversão da conjuntura.” A
ubiquidade das marcas começa a saturar o espaço social e passa a ser alvo de críticas e
indagações por parte dos consumidores e do poder público. A ideia de democratização do
consumo sustentada pelas marcas não se concretiza e o acesso que deveria ser para todos,
permanece limitado a uma minoria de pessoas. (SEMPRINI, 2010).
A quarta e última fase da evolução da marca tem início na virada do século XXI.
Acontecimentos como a crise na bolsa de valores, com consequente recessão econômica, os
atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e a guerra do Iraque instauram um
clima de insegurança no mundo e de desconfiança quanto à eficácia do modelo do capitalismo
liberal. Nesse contexto, as marcas e as grandes corporações são postas em xeque e começam a
ser questionadas, como atesta a obra No Logo, da jornalista Naomi Klein (2002). Emerge o
movimento antiglobalização, o qual se opõe ao universo das marcas, do consumo e das
multinacionais que exploram o trabalhador. (KLEIN, 2002).
Na contemporaneidade, as marcas converteram-se em um fenômeno sociocultural
ubíquo, de grande valor e importância. Entender a marca contemporânea não é simples, pois
exige um olhar para além do prisma funcional. Em vista disso, a segunda parte deste capítulo
propõe o estudo da marca contemporânea, evidenciando as principais acepções do termo a
partir de diversas abordagens teóricas e sinalizando para o protagonismo da marca na atual
conjuntura.
2.2 Conceituando a marca contemporânea
Em um passado não muito longínquo, as marcas eram sinônimo de produtos
domésticos, tais como sabão, detergente, lã de aço etc., itens utilizados e substituídos
regularmente. “A marca era um símbolo de consistência.” (OLINS, 2005, p. 16). Nos dias
atuais, as marcas assumem papeis cada vez mais significativos em diversos âmbitos, seja na
política, cultura, economia, artes, moda, literatura ou esportes. Como sustenta Olins (2005), as
marcas alcançaram um “estatuto proeminente” e se transformaram, na contemporaneidade,
em um poderoso fenômeno social e cultural.
De modo geral, as marcas contemporâneas podem ser entendidas como um conjunto
de símbolos que carregam significados construídos por atos de interpretação e percepção de
indivíduos inseridos em determinado contexto ou realidade sociocultural. Tais símbolos se
caracterizam como dinâmicos, complexos, multifacetados e emergem de processos
interacionais. Nesse sentido, uma definição mais atual e, também, menos funcional do termo
30
“marca” envolve a construção de vínculos emocionais e afetivos com sujeitos. (HATCH;
SCHULTZ, 2008; PEREZ; BAIRON, 2009; GOBÉ, 2002).
Perez (2004) transporta a marca contemporânea para uma dimensão além da física,
situando-a nos universos perceptual e emocional. A autora conceitua a marca como uma
“conexão simbólica e afetiva estabelecida entre uma organização, sua oferta material,
intangível e aspiracional e as pessoas para as quais se destina”. (PEREZ, 2004, p. 10). A
definição de Perez (2004), apesar de abrangente, enfatiza a dimensão simbólica da marca e
busca relacionar as organizações, suas ofertas materiais, bem como imateriais, e os sujeitos.
Por esse ângulo, a marca é um vínculo essencialmente simbólico firmado entre a tríade
organização, oferta e indivíduo, ou ainda, uma conexão construída a partir de um processo de
interação. Logo, a marca revela-se como algo que é edificado, e não dado a priori.
Gobé (2002), identicamente, entende a marca como uma conexão de natureza
simbólica e, acima de tudo, emocional. O autor francês, inclusive, emprega o termo “marca
emocional” para designar a forte ligação que uma marca cria com os sujeitos nos níveis
pessoal e holístico. “Por emocional, quero dizer como uma marca se comunica com os
consumidores no nível dos sentidos e das emoções; como uma marca se aviva para as pessoas,
forjando uma conexão profunda e duradoura.” (GOBÉ, 2002, p. 19). Nessa lógica, a marca
pode ser entendida como um elo capaz de evocar emoções, sentimentos, memórias e
sensações nos indivíduos.
O publicitário e psicólogo Randazzo (1996) também destaca a dimensão sensorial da
marca, tal como os estudiosos Perez (2004) e Gobé (2002). Para o autor, a marca se configura
como uma entidade, ao mesmo tempo, física e perceptual. Por um lado, a marca representa
um produto e todos os seus aspectos tangíveis ou materiais, como embalagem, rótulo, design
e conteúdo. Por outro, a marca se mostra como uma entidade que existe no espaço
psicológico, na mente dos sujeitos consumidores. A soma dos atributos físicos e perceptuais
de uma marca dá origem ao que Randazzo (1996, p. 25) denomina de “mitologia latente do
produto”, um conjunto de percepções, crenças, experiências, impressões, sensações e
sentimentos associados a um produto.
Na visão do publicitário, a mitologia latente é importante porque corresponde a um
dos pilares da “mitologia da marca”, entendida como “[...] tudo aquilo que a marca representa
na mente do consumidor. É geralmente uma mistura de imagens, símbolos, sentimentos e
valores que resultam do inventário perceptual específico da marca, e que coletivamente
definem a marca na mente do consumidor”. (RANDAZZO, 1996, p. 26). Nessa direção, a
31
marca contemporânea se destaca por sua capacidade de construir discursos que atuam no
imaginário da sociedade.
Segundo Plummer (1985), qualquer marca pode ser descrita com base em três
dimensões: os atributos físicos, as características funcionais ou consequências do uso de uma
marca e a caracterização da marca ou sua personalidade. A definição do autor corrobora com
as concepções de Gobé (2002), Perez (2004) e Randazzo (1996), mas incorpora outro aspecto
característico da marca, sua personalidade. A primeira dimensão apontada por Plummer
(1985) consiste em elementos que podem ser observados de forma autônoma pelos sujeitos,
como cor, preço, design, embalagem, nome, logotipo de uma marca etc. Por sua vez, os
aspectos funcionais são aqueles percebidos explicitamente e que, não obstante, podem ter
utilidades externas ou efeitos internos na mente de indivíduos. Essa dimensão está associada
aos benefícios, promessas e valores transmitidos por uma marca, os quais são facilmente
identificados por sujeitos em decorrência do uso de certa marca. Por fim, a caracterização da
marca se refere à sua descrição por meio do emprego de adjetivos – uma marca pode ser
designada como extrovertida, original, jovem, moderna e exótica, por exemplo, da mesma
forma como as pessoas são caracterizadas. A partir da comunicação da personalidade de uma
marca, os indivíduos podem deliberar se esta marca é apropriada ou não, ou ainda, se ela está
em conformidade ou não com o seu próprio Eu, com sua autoidentidade.
Na perspectiva de Kornberger (2010), não existe uma concepção única de marca
firmada entre teóricos e pesquisadores do assunto. Por essa razão, diferentemente dos autores
supracitados, o pesquisador considera que as marcas podem ser compreendidas a partir de
quatro enfoques distintos: marcas como ferramentas de gestão, marcas na qualidade de
catalisadores corporativos, marcas enquanto signo e marcas como mídia. Enquanto Gobé
(2002), Perez (2004), Plummer (1985) e Randazzo (1996) propõem uma definição estrita para
o termo “marca”, evidenciando algumas de suas dimensões, Kornberger (2010) sugere quatro
caminhos possíveis, bem como divergentes, para o entendimento da marca. Nesse sentido, o
autor introduz novas acepções relativas à marca e complementa, então, os conceitos
apresentados anteriormente. Para simplificar o estudo do tema, Kornberger (2010) desenvolve
um mapa conceitual ou matriz da marca (Quadro 1), apresentando as principais teses,
questionamentos e teóricos de cada corrente de pensamento.
32
Quadro 1 – Matriz da marca
Foco na atividade
Foco na estrutura
Organização e
produção em nível
de análise
Tese: Marca como ferramenta de
gestão
Questão: Como nós podemos
usar a marca como uma
ferramenta de gestão próxima a
outras funções?
Teórico: David Aaker (1996)
Tese: Marcas como catalisadores
corporativos
Questão: Como nós podemos usar
a marca como um novo paradigma
para gerir organizações?
Teóricas: Mary Jo Hatch e Majken
Schultz (2008)
Sociedade e
consumo em nível
de análise
Tese: Marca como signo
Questão: Como as marcas
performam na qualidade de
signos, símbolos e ícones na
sociedade?
Teórico: Marcel Danesi (2006)
Tese: Marca como mídia
Questão: Como marcas enquanto
novas interfaces reestruturam a
interação entre stakeholders?
Teórica: Celia Lury (2004)
Fonte: Kornberger (2010, p. 31, tradução nossa)
A primeira abordagem, cujo teórico David Aaker é tido como referência, foca na
marca enquanto ferramenta estratégica de gestão organizacional. Nessa lógica, a marca é vista
como um bem que deve ser cuidadosamente construído, administrado e controlado, pois seu
valor passa a representar uma significativa quota das organizações. O objetivo dessa
perspectiva consiste em estabelecer o valor de uma marca, termo traduzido do inglês brand
equity, expressão equivalente a “um conjunto de ativos e passivos ligados a uma marca, seu
nome e seu símbolo, que se somam ou se subtraem do valor proporcionado por um produto ou
serviço para uma empresa e/ou para os consumidores dela”. (AAKER, 1998, p. 16). Tal
enfoque, reducionista e próprio do campo da administração, não dialoga com esta dissertação.
A segunda abordagem situa a marca no centro das organizações, na qualidade de
entidade integradora cuja função é gerir a cultura e a identidade de uma corporação. Para as
principais teóricas dessa linha de pensamento, Mary Jo Hatch e Majken Schultz, as marcas
organizacionais são simbolicamente criadas mediante atos de interpretações produzidos por
todas as forças atuantes em uma empresa, os chamados stakeholders. Segundo tal perspectiva,
a marca é composta por quatro elementos distintos:
33
a) visão estratégica, que consiste na ideia central que sustenta determinada organização e
no modo como a liderança quer que ela seja percebida;
b) cultura organizacional, que compreende os valores, crenças e comportamentos dos
empregados da empresa;
c) imagens externas à organização, que representam as impressões de investidores, mídia
ou consumidores em geral em relação à organização;
d) identidade de marca, que corresponde ao reflexo das percepções internas e externas à
organização. (KORNBERGER, 2010).
Assim como a primeira abordagem, a de Mary Jo Hatch e Majken Schultz também se
limita ao âmbito da organização e da produção. A abordagem da marca enquanto signo recebe
influência dos campos da linguística, filosofia e antropologia. O foco dessa análise,
contrariamente às duas abordagens anteriores, se encontra na sociedade de consumo, a qual é
fortemente criticada por ter tornado a aparência uma realidade e o autêntico uma ilusão. Nessa
perspectiva, a marca é resultado de uma transformação semiótica envolvendo uma commodity
ou um produto e suas associações. Além disso, tal enfoque reforça a capacidade da marca de
criar significados, bem como redes simbólicas que estruturam o mundo ao nosso redor.
(KORNBERGER, 2010). Por esse motivo, a marca como signo se refere à abordagem adotada
nesta pesquisa.
Nos estudos da marca enquanto mídia, o foco de análise também recai sobre a
sociedade de consumo. De acordo com a principal teórica dessa abordagem, Celia Lury, as
marcas são estruturas institucionalizadas que conectam a sociedade, as organizações e os
indivíduos. Na visão da autora, as marcas surgem por intermédio de suas redes de
relacionamento e correspondem a meios ou interfaces que organizam a economia de mercado,
proporcionando valores e significados a meros objetos ou produtos. (LURY apud
KORNBERGER, 2010).
Após apresentar o mapa conceitual já exposto, Kornberger (2010) elucida que a marca
opera, simultaneamente, como ferramenta de gestão, catalisador corporativo, signo e mídia.
Na visão do autor, a marca representa o resultado da soma desses quatro enfoques, mas
também se configura como algo além deles. Assim sendo, Kornberger (2010) entende a marca
como uma interface que liga e reorganiza duas esferas básicas, a da produção e a do consumo.
Inúmeras razões justificam porque os sujeitos compram marcas. O ponto principal está
ligado ao fato de que marcas emergem de significados e associações vinculadas a bens e
serviços. Os indivíduos não adquirem produtos somente pelo que são ou pelos atributos e
34
benefícios que oferecem, mas primordialmente pelo que significam. (HATCH; SCHULTZ,
2008). Segundo Batey (2010, p. 13), “o significado é o cerne do comportamento do
consumidor”, em outras palavras, a ação de um sujeito, o modo como ele se comporta é
resultado do seu envolvimento ativo no processo de produção de significados. Assim sendo,
cabe ao indivíduo, e não às organizações, dotar uma marca de sentido. Além disso, é da
competência do sujeito determinar o sucesso ou o fracasso de uma marca, pois como sustenta
Olins (2005), somos nós, consumidores da marca, que a controlamos. Logo, reforça-se que,
enquanto organizações criam identidades de marcas, sujeitos revestem-nas de significados e
valores.
Marcas assimilam e, simultaneamente, oferecem sentidos. Para Batey (2010) e Olins
(2005), mediante uma marca, os indivíduos podem definir a si próprios em termos de uma
linguagem compreensível, construir suas identidades e determinar o lugar que ocupam no
mundo. Como elucida Olins (2005, p. 16), “hoje em dia, as marcas implicam um grande
envolvimento e associação, são a demonstração exterior e visível de uma afiliação privada e
pessoal”, afiliação esta, entre um sujeito e uma marca, que se estabelece como característica
única de nosso tempo – um fenômeno cultural e sociológico – e que torna a marca imparável e
onipresente.
As marcas nos oferecem um espelho formidável, nos reenviam uma visão ora
charmosa, ora impiedosa de nós mesmos, de nossas escolhas, de nossos desejos. [...]
Enfim, as marcas nos oferecem um espelho no qual somos obrigados a nos olhar
tal como somos e não como gostaríamos de aparecer. (SEMPRINI, 2010, p. 25,
grifo nosso).
Ao longo do tempo, as marcas adquiriram importância para organizações ao redor do
mundo em razão de três fatores complexos e interrelacionados. O primeiro consiste no fato de
que frente a um contexto de intensa competição e busca pela atenção de consumidores, as
marcas surgem como dispositivos de diferenciação que tornam as decisões mais simples. O
segundo está relacionado à consistência, segurança e pertença que as marcas oferecem. O
terceiro fator, talvez o que transforma a marca em algo tão forte e poderoso, consiste na
empatia que criamos em relação a uma marca e na sua contribuição no momento de definir
estilos e expressar ou reforçar nossa própria condição de indivíduo. (OLINS, 2000).
O sociólogo e semioticista Andrea Semprini (2010, p. 96) define marca como “o
conjunto de discursos relativos a ela pela totalidade de sujeitos (individuais e coletivos)
envolvidos em sua construção”. Para o autor, a singularidade da marca reside no fato dessa ser
uma “instância semiótica, uma maneira de segmentar e de atribuir sentido de forma ordenada,
35
estruturada e voluntária”. Comparada com os conceitos de marca propostos por Gobé (2002),
Kornberger (2010), Perez (2004), Plummer (1985) e Randazzo (1996), a definição do
sociólogo se mostra menos estática na medida em que realça, acima de tudo, o aspecto
relacional da marca contemporânea. Diante disso, tal ponto de vista é o que melhor dialoga
com esta pesquisa.
O estudo de Semprini (2010) volta-se para a marca que ele denomina de pós-moderna,
sua lógica de funcionamento, elementos principais e evolução para além do âmbito comercial.
Nesse sentido, segundo o semioticista, a marca pós-moderna assume três dimensões-chave
estruturais: a natureza semiótica, a natureza relacional e a natureza evolutiva. A primeira
natureza da marca corresponde à sua capacidade de produzir e disseminar significados, seja
por meio de narrativas explícitas, devidamente estruturadas e ordenadas, como a comunicação
publicitária tradicional, seja através de outros atos discursivos, estabelecidos de maneira lenta
e gradual ao longo do tempo. É neste último ponto que reside a verdadeira natureza semiótica,
enunciadora de sentidos da marca.
Decorre dessa instância semiótica, a segunda natureza da marca, de caráter relacional,
que se subdivide em duas novas dimensões: a intersubjetiva e a contratual. A esfera
intersubjetiva compreende a marca enquanto resultado de um processo contínuo de troca e
negociação entre diversos protagonistas, agrupados em três pólos – o da produção, o da
recepção e o do contexto geral. O pólo da produção reúne “todas as instâncias que detêm, de
alguma forma, « um direito de enunciação fundamental » sobre as manifestações da marca”.
(SEMPRINI, 2010, p. 100). Esse corresponde, em geral, à empresa, aos consultores e
especialistas que pensam e desenvolvem o projeto de uma marca. O pólo da recepção admite
indivíduos, grupos e organizações que decodificam e interpretam o projeto sistematizado pela
dimensão da produção. O terceiro pólo, o do contexto geral, é onde se organiza o processo de
troca entre os âmbitos da produção e da recepção. Sobre esse ponto, Semprini (2010)
esclarece que o contexto atua como protagonista e parte integrante, não apenas como pano de
fundo, desse processo.
A dimensão contratual é um pacto ou vínculo aberto firmado entre a marca e seus
públicos e legitimado depois de certo período de tempo. Tal contrato é sustentado por uma
lógica de troca e compromisso que requer o reconhecimento, por parte dos destinatários, dos
valores funcionais e simbólicos das marcas. Essa noção de contrato implica uma noção de
fidelidade e confiança, de cumprimento das promessas expressas no projeto de marca. Por
outro lado, rupturas ou modificações contratuais podem acarretar em distanciamento e
rejeição dos destinatários em relação a uma marca. (SEMPRINI, 2010).
36
A dimensão relacional da marca pós-moderna, subdividida em componentes
intersubjetivos e contratuais, assinala para a centralidade que a lógica da troca, negociação,
ocupa no funcionamento da própria lógica da marca. Sob esse ponto de vista, Semprini (2010,
p. 107) compreende a marca como “[...] um lugar de encontro, um lugar de tradução, onde
expectativas e necessidades diferentes entram em contato, confrontam-se, dialogam e acabam,
às vezes, por estimular um contrato”. A marca, então, é um “terceiro lugar”, diferente do pólo
da produção e da recepção.
A natureza evolutiva é a terceira e última dimensão fundamental da marca pós-
moderna. Nessa perspectiva, a marca é uma entidade viva, dinâmica, instável e sensível,
capaz de se adaptar às contínuas evoluções dos contextos. A marca se situa no centro de um
sistema marcado por constantes movimentos, tensões e interações, onde desejos e opiniões de
protagonistas se renovam, tendências se alteram e o próprio cenário se transforma. Além
disso, as marcas estão submetidas ao fenômeno da “entropia tendencial”, isto é, a um estado
de transformação e desordem que as obriga a produzir novos significados constantemente, a
inovar e renovar o projeto de marca com a finalidade de se diferenciarem da concorrência.
(SEMPRINI, 2010, p. 110).
Enquanto discurso, a marca se torna um fator de relacionamento entre a organização e
seus interlocutores. Isso porque possibilita a construção de sentido e de novas realidades a
partir de trocas e relações entre as partes envolvidas nesse processo. A marca pós-moderna é
capaz de gerar mundos possíveis (SEMPRINI, 2010), ela representa um universo de
possibilidades na medida em que “cria significados sobre si mesma, para além do consumo de
produtos, ordenando a produção de sentidos”. (LIMA, 2008, p. 119).
Na visão de Perotto (2007), complementar à de Semprini (2010), a marca
contemporânea é um fenômeno essencialmente discursivo que atravessa diversos processos
sociais, principalmente econômicos, comunicacionais e de consumo. O autor explica que, a
partir de meados de 1980, a marca tornou-se um elemento central tanto nas práticas, quanto
nas comunicações das organizações em geral. Atualmente, a marca configura-se como um
ponto de articulação dos inúmeros processos de produção de sentido dos quais participa. Os
estudos de Perotto (2007) têm como ponto de partida a caracterização da marca
contemporânea na qualidade de fenômeno. Para tanto, o autor identifica quatro aspectos
essenciais relativos à marca: caracteriza-se como uma instituição social; é um fenômeno de
natureza discursiva; busca produzir um sentido e ser significativa; e constrói uma identidade.
(PEROTTO, 2007, p. 131-132).
37
O primeiro aspecto entende a marca como uma instituição social, ou melhor, como
“uma construção simbólica compartilhada, uma abstração, resultante de processos e
estratégias de objetivação e significação”. O segundo aspecto se refere à marca enquanto um
tipo de discurso único, o qual obedece a uma lógica própria. A marca como fenômeno
discursivo apreende conteúdos e se ajusta a qualquer domínio. O terceiro aspecto corresponde
aos objetivos da marca. Por ser uma ação planejada, toda marca visa produzir algum sentido e
ter um significado, “[...] atuando na dimensão simbólica da sociedade, interagindo com os
valores e sistemas ideológicos dos indivíduos e categorias sociais”. Essa perspectiva vai de
encontro ao pensamento de Semprini (2010), pois o autor sustenta que a finalidade central de
uma marca é propor um projeto de sentido aos sujeitos. O quarto aspecto considera a marca
como um sujeito que constrói socialmente sua identidade com base nas relações que
estabelece. Chaves, citado por Perotto (2007, p. 131), denomina esse último ponto de
“protagonismo do sujeito”, dado que os discursos de uma marca tendem a evidenciar o sujeito
comunicante por trás da fala, ao invés da mensagem que está sendo comunicada.
A marca contemporânea é definida de diversas maneiras, a partir do ponto de vista de
vários autores. De fato, como afirma Kornberger (2010), não existe uma acepção única de
marca que corresponda ao resultado de um consenso entre os estudiosos do tema. Igualmente,
não há uma conceituação passível de ser considerada mais correta do que a outra. Ressalta-se
que todas as perspectivas apresentadas ao longo desta seção do capítulo são fundamentais
para o entendimento da marca. Em outras palavras, são olhares distintos voltados para a
mesma direção, para o mesmo fenômeno: a marca contemporânea. No entanto, prioriza-se o
conceito de marca de Semprini (2010) para fundamentar e desenvolver o estudo em questão.
Em suma, a marca é uma conexão ou vínculo, um dispositivo, um fenômeno
sociocultural, uma interface, um discurso, uma entidade, um símbolo, uma mediação, um
signo, uma construção de sentido. A marca contemporânea reflete o contexto onde se insere,
por isso, é dinâmica, efêmera, fluida, bem como complexa. Nesse cenário, extremamente
competitivo, um dos elementos capaz de garantir sua sobrevivência e individualidade diz
respeito à construção de uma personalidade de marca bem definida.
2.3 Personalidade de marca
O vocábulo personalidade, conforme o dicionário Michaelis (1998), pode significar
“qualidade de pessoal; caráter essencial e exclusivo de uma pessoa; aquilo que a distingue de
outra; personagem”. Sob o ponto de vista da sociologia, personalidade se refere ao arcabouço
38
de costumes e práticas adquiridas por um sujeito no decorrer dos anos, durante a vida em
sociedade. Na ótica da psicologia, esse termo expressa algo dinâmico, duradouro e
relativamente estável ao longo do tempo. (AZOULAY; KAPFERER, 2003).
Segundo Cavallet-Mengarelli (2008), as primeiras pesquisas relativas à personalidade
de marca se apoiaram em estudos anteriores sobre a personalidade humana, sobretudo em
investigações e abordagens do campo da psicologia.
Existem mais de cinquenta acepções de personalidade; a intenção de encontrar aí
uma unidade esbarra na dificuldade de elaborar a unidade da própria psicologia,
além da diversidade de seus paradigmas e de seus métodos. Por isso, M. Huteau vê
nela (personalidade) uma noção geral e diferencial, que se pode tentar identificar
sem referência a uma ideologia ou a uma epistemologia particular (1985): é ‘a
unidade estável e individualizada de conjunto de condutas’. (DORON; PAROT,
1998, p. 585).
Clássica teoria a respeito da personalidade humana é a psicanálise de Freud. Na
perspectiva do médico vienense, a estrutura da personalidade é composta por três elementos:
id, ego e superego. Em linhas gerais, o id está ligado ao inconsciente e é orientado pelo
princípio do prazer; o ego se configura como o elemento de mediação entre o id e o superego,
sendo regido pelo princípio da realidade; o superego, por sua vez, atua como um juíz e se
pauta pelo princípio do dever. A título de exemplo, a tendência do id é determinar “vá, faça
ou satisfaça sua vontade”, a do superego é manifestar-se contrariamente “não vá, não faça
isso, pois é desnecessário ou não é o certo” e a do ego é estabelecer o equilíbrio entre esses
dois elementos, levantando questionamentos como “devo ou não fazer isso? Isso é, de fato,
necessário agora?”. (CAVALLET-MENGARELLI, 2008).
Além da psicanálise, outras abordagens psicológicas se mostraram fundamentais para
o entendimento do conceito de personalidade humana. O estudioso norte-americano Allport
(1937) concebe personalidade como a organização integrada e dinâmica de um conjunto de
aspectos emocionais e afetivos que determinam o comportamento, o modo de pensar e o
processo de adaptação de indivíduos inseridos em um ambiente. Já para Azoulay e Kapferer
(2003), “personalidade é um construto claramente diferente de aspectos cognitivos de uma
pessoa ou de suas competências e habilidades. É descrito por traços”, reconhecidos como
características que permitem diferenciar condutas e sujeitos. (AZOULAY; KAPFERER,
2003, p. 147, tradução nossa)8.
8 Personality is a clear construct different from cognitive aspects of the person, or from his or her skills and
abilities. It is described by traits.
39
Embora uma quantidade considerável de pesquisas tenha sido desenvolvida no âmbito
da personalidade humana, o conceito só é transportado e adaptado para outras áreas, como o
marketing, a partir dos anos cinquenta. Nessa época, a imagem e a personalidade de produtos
e marcas passam a despertar grande interesse em autores e profissionais do mercado, que já
admitiam a possibilidade de uma marca ser descrita por meio de gênero, idade ou posição
social. No entanto, é apenas no ano de 1997 que investigações e literaturas paralelas começam
a ser conduzidas de maneira mais progressiva, principalmente no que concerne à esfera do
comportamento do consumidor e do uso simbólico de marcas por sujeitos sociais. Além disso,
é preciso ressaltar que, ainda hoje, tais estudos não apresentam consenso, nem clareza
conceitual acerca da expressão personalidade de marca. (AAKER, 1997; AZOULAY;
KAPFERER, 2003; CAVALLET-MENGARELLI, 2008; MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
Martineau (1958), em um trabalho pioneiro envolvendo lojas de varejo, emprega a
palavra personalidade para se referir às dimensões imateriais que tornam um estabelecimento
comercial único, dito de outra forma, tal termo é usado para descrever o caráter ou os traços
peculiares de determinada loja. Assim sendo, o modo como um sujeito constrói a imagem de
uma loja decorre de sua percepção acerca das qualidades funcionais e atributos psicológicos
característicos daquele local. Ainda segundo o autor, o sujeito escolhe a loja cuja imagem e
personalidade mais se assemelham à sua. (PONTES; PARENTE, 2008).
Plummer (1985, p. 80) compreende a personalidade de marca enquanto um “conceito
estratégico” fundamental para a diferenciação de produtos e na comunicação e propaganda de
certa marca. Para o autor, a personalidade de marca se refere ao modo como uma marca é
caracterizada e, nesse sentido, pode desempenhar um papel chave no momento de escolha por
uma marca específica. Esses aspectos característicos de uma marca, em outras palavras, sua
personalidade, são resultado da comunicação de uma organização. Nesse processo, os sujeitos
selecionam as informações disponíveis sobre uma marca e geram imagens de si mesmos com
ela – “eu me vejo naquela marca, ou eu enxergo aquela marca em mim”. (PLUMMER, 1985,
p. 81).
Em 1997, a psicóloga Jennifer Aaker propõe uma nova conceitualização e um modelo
para a personalidade de marca do contexto americano. A autora define o construto como “o
conjunto de características humanas associadas a uma marca”. (AAKER, 1997, p. 347,
tradução nossa)9. Nesse sentido, em contraste com a função utilitária traduzida em atributos
de produtos, a personalidade de marca visa fornecer uma função primordialmente simbólica e
9 Brand personality is defined formally here as “the set of human characteristics associated with a brand”.
40
autoexpressiva aos sujeitos. Mediante o uso de uma marca, o indivíduo é capaz de expressar
seu próprio ser, um ser ideal ou dimensões específicas de si mesmo. A perspectiva de Aaker
se mostra a mais adequada para o exame do modo como os sujeitos percebem e constroem
sentidos acerca de determinada marca. Em razão disso, nesta pesquisa adota-se sua acepção, e
não a de outros estudiosos, relativa à personalidade de marca. Além disso, por meio do claro
construto definido pela autora é possível investigar e questionar a respeito dos efeitos e
influências de uma marca sobre os indivíduos, especialmente no que concerne à expressão e
definição de si próprios por meio de uma marca.
O uso simbólico de marcas é possível porque, frequentemente, indivíduos associam
determinada marca a traços de personalidade humana. Segundo Fleck, Michel e Zeitoun
(2014, p. 85), “[...] parece existir uma forte tendência das pessoas em antropomorfizar, isto é,
atribuir características humanas a coisas não-humanas”, movimento que pode ser justificado
pelo fato de que a antropomorfização representa um esforço por parte dos sujeitos em dar
sentido às abstrações e incertezas do mundo que os circunda. Ademais, Aaker (1997)
argumenta que consumidores podem, facilmente, pensar em marcas como se essas fossem
pessoas, celebridades ou figuras de destaque, no sentido de personificá-las.
A antropomorfização e a personificação são estratégias usadas por algumas
organizações e marcas com o propósito de criar atributos de personalidade relativamente
duradouros, estáveis e distintos. No caso da Coca-Cola, por exemplo, os traços de
personalidade que a identificam como ‘legal’, ‘americana’ e ‘real’ são duradouros, se
prolongam ao longo do tempo e a diferenciam das marcas concorrentes Pepsi e Dr. Pepper,
cada qual com seus próprios traços de personalidade. (AAKER, 1997). Na prática, de acordo
com Azoulay e Kapferer (2003), o auge da personificação de marcas ocorreu quando figuras
públicas começaram a representar e patrocinar marcas. Dessa forma, o uso de celebridades e
suas personalidades em anúncios, ou ainda, campanhas publicitárias, ajuda a sustentar o
posicionamento de uma marca, bem como a extrair simpatia dos sujeitos que se identificam
com ela. Apesar de similares, as estratégias de personificação e antropomorfização se
diferenciam conforme suas perspectivas, enquanto a primeira corresponde às características
da mensagem, ao que o enunciador quer expressar sobre a marca; a segunda se refere aos atos
de sujeitos em relação a uma marca. (FLECK; MICHEL; ZEITOUN, 2014).
Por meio das técnicas mencionadas acima, a marca se torna mais atraente. Os
indivíduos começam a criar associações afetivas com uma marca, aumentando assim a
consciência que eles têm em relação à ela, e passam a avaliá-la segundo critérios para além de
seus atributos funcionais, voltados à esfera do simbólico. Aaker (1997, p. 348) explica que
41
“[...] quanto maior a congruência entre características humanas que, consistentemente e
distintamente definem o ser atual ou ideal de um indivíduo e aquelas que descrevem a marca,
maior é a preferência pela marca”. Logo, imbuir uma marca de traços semelhantes aos
humanos ajuda na construção de um relacionamento entre marca e sujeitos que a consomem.
Nesse sentido, essas estratégias criam vínculos com os sujeitos consumidores, que passam a
ver a marca como um reflexo de si próprios, e, nessa lógica, de suas personalidades, valores,
estilos de vida, hábitos etc. Ao antropomorfizar ou personificar uma marca, o indivíduo passa
a reconhece-la como um ser humano e, por esse motivo, pode estabelecer relações, ou ainda,
interagir com ela.
Fleck, Michel e Zeitoun (2014) assinalam dois mecanismos diferentes que podem ser
usados para dotar uma marca de personalidade. O primeiro é personificar um produto, ou seja,
apresentá-lo ao público consumidor real ou potencial como um ser vivo, tal como faz a marca
de cereais Kellogg’s, representada pelo tigre Tony. O segundo mecanismo é vincular a
apresentação de uma marca a uma pessoa real. Nessa lógica, pessoas comuns, CEOs,
funcionários de empresas ou celebridades são capazes de dar um rosto humano, humanizar
determinada marca e, dessa forma, contribuir para a criação de sua personalidade na mente
dos indivíduos.
A personalidade de marca é uma representação da personalidade corporativa, isto é,
uma decorre da outra. Assim como uma identidade corporativa dita a identidade de marca,
paralelamente, uma personalidade corporativa aponta para a personalidade de marca. Nessa
direção, uma personalidade de marca, se bem estabelecida e coerente com a personalidade
corporativa, pode resultar na criação de fortes laços emocionais com os sujeitos, aumentando
seus níveis de lealdade, confiança e preferência por determinada marca. Por outro lado,
incoerências entre uma personalidade corporativa e sua correspondente personalidade de
marca geram gaps que logo são percebidos pelos indivíduos durante o processo de interação
com uma marca.
Como este estudo objetiva investigar as coerências e incoerências existentes entre o
discurso projetado pela organização Cacau Show e as percepções de determinado número de
consumidores em relação a essa marca, o próximo capítulo apresenta uma visão geral do tema
percepção a partir das abordagens da psicologia, do comportamento do consumidor e da
semiótica e examina a construção de sentido, um processo que deriva da dinâmica das
relações sociais.
42
3 PERCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DE SENTIDO
A primeira parte deste capítulo dedica-se, essencialmente, ao estudo da percepção e do
processo perceptivo, temas-chave para a investigação do problema desta pesquisa. Em geral, o
termo percepção é empregado de modo recorrente, porém indiscriminado, em trabalhos
acadêmicos e práticos de diversas áreas do conhecimento. Como atestam Bacha, Strehlau e
Romano (2006)10
, por vezes, o conceito de percepção não é utilizado em seu sentido estrito,
mas enquanto sinônimo de outras expressões, tais como sensação ou opinião.
Nessa direção, a princípio, faz-se necessário compreender o conceito de percepção –
da origem etimológica às definições mais usuais do termo. Em seguida, apresenta-se uma
visão geral do tema percepção a partir da perspectiva psicológica, de cunho mais profundo,
até a abordagem do comportamento do consumidor, de caráter linear e reducionista. Tal
deslocamento, que começa em um extremo e chega a outro, visa expor determinados aspectos
de cada enfoque11
a fim de alcançar a linha que melhor dialoga com esta pesquisa e que nos
interessa examinar com mais cuidado, a saber, a perspectiva semiótica.
Como sustenta Santaella (2012), o tema percepção sempre suscitou interesse em
estudiosos de diversas áreas do conhecimento. No entanto, somente há pouco, mais
especificamente ao longo das últimas três décadas, graças ao avanço das ciências cognitivas, é
que tal fenômeno começa a se destacar e ganhar nova força. De forma genérica, o processo
perceptivo denota o ato ou efeito de apreender, enxergar, observar algo. Perceber é, ainda,
captar ativamente, por meio de um conjunto de órgãos receptores de estímulos sensoriais,
determinada realidade ou objeto externo. (HOUAISS, 2002; SANTAELLA, 2012).
A percepção é o processo de interpretação e de atribuição de sentido sobre o mundo
que nos circunda. Em vista disso, a segunda parte deste capítulo pretende aprofundar a noção
de sentido, diferenciando-a, em um primeiro momento, da concepção de significado. O
sentido corresponde ao vir a ser e não é algo dado, preestabelecido e estático, “[...] mas é, sim,
algo que é constantemente produzido a partir de algo que foi produzido a partir de algo”.
(PINTO, 1996, p. 89). Por sua vez, o significado se refere à tudo aquilo que já está definido e
consolidado no mundo, é o já-dado.
10
Neste artigo, intitulado “Percepção: termo frequente, usos inconsequentes em pesquisa?”, os autores analisam
o modo como o termo percepção foi aplicado em artigos publicados nos anos de 2000 a 2005 nos anais do
Enanpad e teses disponibilizadas no site da Universidade de São Paulo. Ao examinarem os resultados, os autores
concluem que nenhum trabalho realizado ao longo do período em questão trata do fenômeno da percepção em
seu referencial teórico. Tal constatação reafirma a importância da construção desta seção para discutir o tema. 11
O objetivo aqui não é adentrar nessas abordagens, e sim oferecer um panorama geral (overview) acerca de
como cada uma aborda o tema percepção. Para a autora desta dissertação, os três enfoques são complementares e
ajudam no entendimento e reflexão sobre o fenômeno da percepção.
43
Após apontar as diferenças entre os termos significado e sentido, discute-se, em um
segundo momento, algumas definições de estudiosos acerca do que é a produção ou
construção de sentido. Spink e Medrado (2013), por exemplo, definem sentido como uma
construção social a partir da qual os sujeitos criam as condições para compreender e lidar com
a conjuntura, os acontecimentos e os fenômenos ao seu redor. Nessa perspectiva, a produção
de sentido corresponde a uma atividade cognitiva fruto de atos coletivos, de relações sociais, e
não de condutas individuais dos sujeitos.
Os sentidos são construídos nos processos de interação, nas conversações entre
sujeitos, ou seja, nas práticas sociais embasadas em trocas linguísticas ou no uso da
linguagem. De outro modo, o sentido decorre das relações sociais e irrompe no âmbito da
circulação, território marcado pela imprevisibilidade e assimetria dos processos de
comunicação. Por isso, também na segunda parte deste capítulo, busca-se compreender o
termo circulação.
3.1 Origem, conceitos e abordagens da percepção
Conforme o dicionário eletrônico Houaiss (2002), o termo percepção tem origem
etimológica no latim perceptĭo,ōnis e corresponde à capacidade de compreensão, ao ato ou
efeito de perceber, enxergar, ver, observar. No mesmo dicionário, existem ainda outras dez
definições para a palavra, entre elas: “faculdade complexa de apreender a realidade exterior
pela organização dos dados sensoriais; ato, operação ou representação intelectual instantânea,
aguda, intuitiva; sensação física interpretada através da experiência”. (HOUAISS, 2002).
Como destaca Santaella (2012, p. 1), “a questão da percepção sempre despertou
enorme interesse”, principalmente a partir do século XIX, devido às mudanças que o mundo
moderno instituiu sobre as “faculdades perceptivas e cognitivas” da espécie humana.
Coadjuvantes fundamentais dessas alterações têm sido as mídias tecno-visuais,
tecno-sonoras, corpo-técnicas, desde a fotografia e o gramofone até as complexas
urdiduras dos fluxos das linguagens hipermidiáticas que povoam as redes digitais
fixas e móveis de comunicação e que costumo chamar de linguagens líquidas.
(SANTAELLA, 2012, p. 1).
Devido ao surgimento das ciências cognitivas, em meados dos anos 1950, os estudos
acerca do tema começam a ganhar novo fôlego. Dessa maneira, irrompem várias teorias da
percepção e, em todas, predomina a tendência de sintetizar os processos perceptivos
exclusivamente ao sentido da visão. Segundo Santaella (2012), pesquisas empíricas centradas
44
na questão da percepção, realizadas durante o século XX, demonstraram que 75% da
percepção humana é visual, 20% corresponde à percepção sonora e os 5% restantes ao tato,
paladar e olfato. Tal constatação revela que o modo como o ser humano se orienta e sobrevive
no espaço depende, sobretudo, da visão. O predomínio de um sentido em detrimento de outros
pode ser creditado aos meios ou extensões que foram desenvolvidos ao longo dos anos, como
é o caso dos telescópios, microscópios, radares e aparelhos relacionados à fotografia;
tecnologias que operam na qualidade de extensões do sentido visual. (SANTAELLA, 2012;
BACHA; STREHLAU; ROMANO, 2006).
Com a redução dos estudos da percepção à visualidade, certos aspectos igualmente
importantes relacionados a esse tema, deixaram de ser investigados. Santaella (2012, p. 3)
explica que até o início do século passado, as teorias da percepção pareciam não ter interesse
“[...] em desvendar os processos cognitivos que estão por trás e que são responsáveis pelas
operações de reconhecimento, identificação, memória, previsibilidade, em síntese, habilidades
mais propriamente cognitivas” que esclarecem como e porquê fenômenos do mundo externo
conseguem ser compreendidos por nós, sujeitos. Tal quadro começa a se transformar somente
com a evolução e união das diversas ciências cognitivas, tais como a psicologia, as
neurociências, a linguística e a ciência computacional. (SANTAELLA, 2012; BACHA;
STREHLAU; ROMANO, 2006).
A percepção pode ser compreendida e explicada a partir de abordagens diversas.
Dentre os possíveis caminhos estão os enfoques do campo da psicologia, do comportamento
do consumidor e da semiótica, que serão brevemente expostos a seguir. Essas perspectivas
dedicam-se ao entendimento de como os sujeitos processam estímulos do mundo externo,
revestindo-os de uma linguagem compreensível, ou melhor, dotando-os de sentido.
Iniciamos pela abordagem da psicologia, na qual Schiffman (2004) apresenta, de
forma resumida, alguns dos principais enfoques do campo no que concerne à percepção. O
autor explica que essas abordagens são históricas, bem como contemporâneas, e que uma não
exclui a outra. A primeira perspectiva identificada pelo autor corresponde ao estruturalismo,
uma das correntes de pensamento mais antigas da psicologia experimental. O estruturalismo
foi fundado pelo psicólogo britânico Edward Titchener no final do século XIX e se propunha
ao exame da estrutura da percepção. Segundo o teórico inglês, a tarefa da psicologia consistia
em revelar os elementos mais simples e fundamentais da percepção, isto é, suas unidades
constituintes, ou ainda, sensações elementares. Assim sendo, para os estruturalistas, a
percepção é entendida como uma simples combinação de sensações individuais que podem
45
ser sintetizadas ou reduzidas em componentes mais básicos, os estímulos sensoriais, tais como
sons, sabores, odores e texturas. (SCHIFFMAN, 2004).
Como uma espécie de reação ao estruturalismo, por volta do ano de 1910, surge, na
Alemanha, uma segunda teoria acerca da percepção, a Psicologia da Gestalt. De acordo com
essa abordagem, a investigação estruturalista desconsiderava um importante aspecto da
percepção: a relação entre os estímulos. “[...] O enfoque gestalt destaca que as pessoas
percebem o ambiente segundo suas propriedades inerentemente organizacionais e relacionais
e que tendem a perceber formas holísticas, coerentes e significativas.” (SCHIFFMAN, 2004,
p. 8, tradução nossa)12
. Na visão gestáltica, o todo é diferente e maior do que a soma de suas
partes individuais. Em uma ilustração na qual figuram três pontos, por exemplo, o sujeito que
enxerga um triângulo está experienciando uma percepção gestalt. Nesse caso, o indivíduo não
percebe a soma de cada ponto particular, mas a relação entre esses elementos – trata-se da
percepção da forma ou do triângulo de modo integral e coerente. (SCHIFFMAN, 2004).
Desinente da doutrina empirista, a terceira abordagem, designada construtivista, surge
na segunda metade do século XX e enfatiza o papel ativo do sujeito no processo perceptivo.
Nessa lógica, o indivíduo, agente observador, constrói ou depreende percepções a partir da
interpretação de informações propiciadas pelo ambiente. Conforme tal enfoque, tudo aquilo
que o indivíduo percebe em determinado momento se refere a uma construção mental
fundamentada em suas estratégias cognitivas individuais, isto é, em suas experiências
passadas, inclinações, motivações, expectativas etc. Logo, a percepção é resultado da
interpretação de estímulos sensoriais externos. (SCHIFFMAN, 2004).
A abordagem da percepção direta, também conhecida como perspectiva ecológica, foi
desenvolvida pelo americano James J. Gibson, considerado um dos psicólogos mais
importantes do século XX no campo da percepção visual. Gibson, citado por Schiffman
(2004), afirma que os processos mentais internos desempenham funções inferiores ou até
mesmo nulas na percepção. Segundo esse ponto de vista, a percepção de um sujeito em
relação ao mundo físico envolve a apreensão direta de todas as informações significativas
presentes no ambiente. Santaella (2012) explica que o teórico Gibson parte de um axioma de
que os órgãos sensoriais, ou ainda, os sentidos operam na qualidade de janelas abertas para o
mundo exterior. Nessa medida, os cinco sentidos humanos se configuram como pontes,
passagens estabelecidas entre aquilo que está no mundo de fora e o que se encontra no mundo
12
[...] el enfoque gestalt destaca que las personas perciben el ambiente com respecto a sus propiedades de
organización y relación inherentes, y que tienden a percibir formas holísticas, coerentes y significativas.
46
interior. De modo geral, o viés ecológico realça o vínculo existente entre o organismo que
percebe e seu meio externo. (SCHIFFMAN, 2004; SANTAELLA, 2012).
O enfoque computacional se baseia no trabalho do neurocientista e psicólogo britânico
David Marr, citado por Bacha, Strehlau, Romano (2006), e abarca uma análise matemática
rigorosa acerca de determinados aspectos da percepção visual que resulta, sobretudo, do uso
de simulação computacional ou de inteligência artificial. Essa perspectiva concorda com a
ideia da percepção direta de Gibson, mas também admite que o observador necessita
processar ou extrair, de maneira simbólica, certas informações visuais do ambiente, como
suas bordas, linhas, contornos, formas, sombras, texturas etc. Segundo Schiffman (2004), o
enfoque computacional é um conceito recente e pouco adotado, possivelmente pelo fato de
demandar conhecimentos específicos de áreas além da psicologia, como a informática e a
matemática, por exemplo.
Outra abordagem identificada por Schiffman (2004) é a neurofisiológica, segundo a
qual fenômenos sensoriais, bem como perceptivos podem ser explicados a partir dos
mecanismos neurais e fisiológicos que sustentam as estruturas sensoriais. Na visão do autor,
essa perspectiva invoca uma forma de reducionismo, dado que restringe a compreensão de
formas complexas a processos biológicos e fisiológicos subjacentes. Em outras palavras, os
mecanismos neurofisiológicos, por si só, não são capazes de explicar a complexidade
existente entre a estimulação de um órgão sensorial e a experiência perceptiva.
A concepção da neurociência cognitiva estuda o desempenho do cérebro em atividades
humanas complexas como pensar e perceber. Esse enfoque, identificado como
multidisciplinar, surgiu recentemente e está intimamente associado à perspectiva geral da
neurofisiologia. Segundo a neurociência, os processos cognitivos complexos podem ser
compreendidos com base na observação da interação entre as redes neurais distribuídas nas
várias regiões do cérebro. (SCHIFFMAN, 2004).
De modo geral, a abordagem psicológica evidencia a complexidade do processo
perceptivo e, nesse sentido, apresenta um caráter mais aprofundado. Em direção oposta a tal
enfoque, se encontra a abordagem do comportamento do consumidor. Essa perspectiva estuda
os processos de tomada de decisão do sujeito, ou melhor, os atos individuais ou em grupo
envolvidos no momento de seleção, compra, uso ou descarte de produtos, objetos, ideias,
experiências para a satisfação de desejos e necessidades. Essa abordagem foca na dinâmica
interna dos consumidores ao longo do processo de consumo. (SOLOMON, 2008).
Para estudiosos do comportamento do consumidor, a percepção é entendida como um
processo que envolve a apreensão e o uso de sensações para interpretar o mundo à nossa
47
volta. Embora intimamente relacionadas, Batey (2010) sinaliza que a sensação e a percepção
desempenham papeis distintos, ainda que complementares, na forma como deciframos o
mundo que nos circunda. Nessa direção, sentir e perceber, apesar de diferentes em termos de
significado e função, na realidade, integram um mesmo processo, o de recepção e
decodificação de dados, elementos e informações.
Na visão de Batey (2010) e de Solomon (2008), a sensação corresponde à resposta
direta e imediata dos receptores sensoriais de um sujeito – olhos, ouvidos, boca, nariz e dedos
– a estímulos básicos como a luz, a cor, o som, os odores e a textura. A percepção, por sua
vez, se refere ao processo por meio do qual o sujeito seleciona, organiza e interpreta tais
estímulos sensoriais. Por conseguinte, “[...] os dados brutos das nossas sensações são
enviados ao cérebro para interpretação. O que adicionamos ou subtraímos dessas sensações
quando atribuímos um significado a elas dá o resultado do processo de percepção”. (BATEY,
2010, p. 98).
Segundo Solomon (2008), o processo perceptivo envolve três etapas fundamentais:
exposição, atenção e interpretação. Em primeiro lugar, o indivíduo é exposto a estímulos
sensoriais, mais especificamente imagens, sons, odores, sabores e texturas. Desses estímulos,
apenas um número reduzido é captado pelos receptores sensoriais do sujeito, também
chamados de órgãos dos sentidos, e, uma quantidade ainda menor, atrai sua atenção. Assim
sendo, o estágio da atenção ocorre quando determinado estímulo é, de fato, apreendido. Por
fim, tal estímulo é interpretado pelo sujeito. Batey (2010), por sua vez, acrescenta uma quarta
etapa após o estágio da interpretação, a resposta. Essa categoria se refere à atitude ou reação
do indivíduo perante um estímulo. Em outras palavras, representa a resposta de cada sujeito
em relação aos dados objetivos, já interpretados por ele. Nessa lógica, além de filtrar,
processar e atribuir significados a um estímulo, o sujeito também (re)age e atua sobre ele.
O significado de um estímulo é interpretado de forma subjetiva por cada indivíduo, de
acordo com suas vontades, valores, interesses e experiências particulares. A percepção é um
processo singular, próprio e característico de cada pessoa. Como afirma Batey (2010, p. 99),
Esse processo se caracteriza pela subjetividade. As interpretações e significados que
atribuímos aos estímulos sensoriais que recebemos emanam dos nossos esquemas –
isto é, o sistema de crenças e sentimentos que temos. Inevitavelmente haverá algum
tipo de influência cultural. Esses diagramas podem nos predispor a perceber alguns
estímulos de determinadas maneiras.
Em síntese, a abordagem do comportamento do consumidor se embasa em concepções
do marketing, o que a torna funcionalista. Em função disso, esse enfoque não dialoga com o
48
tema e com os objetivos deste estudo, servindo apenas como um complemento para a
compreensão da noção de percepção. Apresentadas as abordagens da psicologia e do
comportamento do consumidor sobre a percepção, a seguir, examinaremos a perspectiva
adotada nessa pesquisa, a semiótica. Tal enfoque conversa com a construção de sentido e, por
isso, fundamentará a análise das percepções dos consumidores em relação à marca Cacau
Show.
3.1.1 Percepção à luz da abordagem semiótica
A compreensão da teoria da percepção elaborada pelo filósofo e cientista americano
Charles Peirce só é possível quando a relacionamos com a semiótica, uma teoria dos signos e
da representação que se funda nos estudos da Lógica e se estende para os limites da cognição
e dos fenômenos. (SANTAELLA, 2012). De acordo com a concepção peirceana, não há
pensamento ou cognição, sem percepção. Nesse sentido, todo conhecimento que chega a um
sujeito, em dado momento, surge da percepção e é por ela constantemente transfigurado. “O
conhecimento começa na porta da percepção, e não a partir de algum pressuposto forjado pela
dúvida”, ou seja, nessa perspectiva, a percepção condiciona todas as formas de pensamentos
e, metaforicamente, se configura como uma porta de entrada para o conhecimento.
(SANTAELLA, 2012, p. 135). Perceber é notar algo externo a nós, é defrontar-se com algo.
Como destaca Santaella (2012), Peirce não deixou nenhum texto definitivo,
sistematizando sua teoria acerca da percepção. O tema aparece em vários de seus escritos e, à
primeira vista, aparenta estar inacabado e ser incoerente para estudiosos que não possuem um
entendimento mais profundo e global em relação às obras do autor. Dessa maneira, na
tentativa de completar e estruturar a teoria da percepção de Peirce, alguns intérpretes, como é
o caso da pesquisadora Santaella (2012), vêm desenvolvendo suas próprias ideias e hipóteses
a respeito desse assunto.
A teoria da percepção de Peirce se apoia em um caráter triádico, e não diádico, isto é,
restrito à dicotomia entre sujeito percebedor e objeto percebido. Dessa maneira, são três os
elementos básicos de toda percepção – percepto, percipuum e julgamento perceptivo. Em
linhas gerais, o percepto é aquilo que o indivíduo percebe, o percipuum corresponde ao
percepto já traduzido pelos sentidos e estruturas mentais e o juízo perceptivo representa a
interpretação, expressa aquilo que está sendo percebido. Tais elementos são interdependentes
e se manifestam simultaneamente no processo perceptivo. (SANTAELLA, 2012).
49
Santaella (2012) explica que nos registros de Peirce, o percepto é descrito de modo
ambíguo e contraditório. De um lado, o percepto é como um forasteiro, um componente
externo ao sujeito que chega de maneira impositiva até seus sentidos, sendo apreendido pela
consciência em um ato de percepção. Assim sendo, o percepto tem uma realidade própria, é
independente, ele existe do lado de fora e se impõe sobre cada indivíduo. De outro lado, o
percepto se refere a uma construção mental, a uma elaboração cognitiva do sujeito. Para
resolver a ambiguidade entre as duas acepções do percepto, o próprio Peirce, em um texto
escrito alguns anos depois, em 1903, propõe a criação de outro termo, percipuum, o qual
representaria a natureza, o lado mental do percepto. Portanto, o percepto estaria para a
primeira definição, enquanto que o percipuum estaria para a segunda. (SANTAELLA, 2012).
Nada podemos falar sobre o percepto a não ser pelo testemunho do julgamento de
percepção, exceto o fato de que nós sentimos o golpe do percepto, a reação dele
contra nós, assim como vemos seus conteúdos arranjados num objeto, em sua
totalidade – excetuando-se também, certamente, o que os psicólogos são capazes de
extrair inferencialmente. Mas, no momento em que fixamos nossa mente sobre ele e
pensamos a respeito de seu menor detalhe, é o julgamento perceptivo que nos diz o
que nós assim percebemos. Por essa e outras razões, proponho considerar o
percepto, tal como ele é imediatamente interpretado, no julgamento de percepção,
sob o nome percipuum. (PEIRCE, 1931, CP 7.643, tradução nossa)13
.
O percipuum se refere ao percepto, não o percepto em si, mas tal como ele é
interpretado ou traduzido logo que chega à mente de um indivíduo e passa a ser incorporado
ao seu processamento perceptivo. Em outras palavras, o percipuum é o modo como o percepto
mostra-se para o sujeito percebedor após ter sido filtrado pelos sentidos. Nessa perspectiva, o
percipuum desempenha o papel de mediador, de ponte, entre o mundo da linguagem – a
consciência, o cérebro, a mente do sujeito – e o mundo externo. Assim que o percepto, ou um
feixe de perceptos, atinge o aparelho sensório e cognitivo de um indivíduo, sua conversão em
percipuum pode se processar de três formas distintas: como mera qualidade de sentimento
vaga e imprecisa; enquanto um choque externo ou reação física e sensória abrupta; conforme
os esquemas mentais reguladores da ação perceptiva.
A última forma de tradução descrita acima corresponde a outro componente da
percepção, o julgamento ou juízo perceptivo. Tão logo o percipuum se apresenta aos sentidos,
ele é imediatamente assimilado nas malhas dos esquemas interpretativos de cada indivíduo.
13
We know nothing about the percept otherwise than by testimony of the perceptual judgment, excepting that we
feel the blow of it, the reaction of it against us, and we see the contents of it arranged into an object, in its
totality, -- excepting also, of course, what the psychologists are able to make out inferentially. But the moment
we fix our minds upon it and think the least thing about the percept, it is the perceptual judgment that tells us
what we so “perceive”. For this and other reasons, I propose to consider the percept as it is immediately
interpreted in the perceptual judgment, under the name of the “percipuum”.
50
“Assim, os juízos perceptivos são inferências lógicas, elementos generalizantes que fazem
com que o percipuum se acomode a esquemas mentais e interpretativos mais ou menos
habituais.” (SANTAELLA, 2010, p. 8). Desse modo, o julgamento perceptivo é aquele que
nos comunica instantaneamente o que está sendo percebido. A título de exemplo, o juízo
perceptivo revela que certo aroma sentido pertence a uma fragrância feminina ou que tal
objeto enxergado corresponde a uma cadeira.
A abordagem semiótica examina a correspondência entre estímulos externos e o
significado de signos. Trata-se de conceder sentido a um estímulo no momento em que esse
está sendo percebido. Em vista disso, a próxima seção deste capítulo examina o processo de
construção de sentido, destacando as diferenças entre os termos sentido e significado, e a
relação entre os lugares de produção, reconhecimento e circulação.
3.2 Conceituando sentido
A noção de sentido, por vezes, é confundida com a ideia de significado. Em vista
disso, em primeiro lugar, é necessário discernir e delimitar ambos os termos. Umberto Eco,
citado por Pinto (2008), compreende que o significado está para o dicionário, tal como o
sentido está para a enciclopédia. O dicionário é uma compilação completa ou parcial de
palavras ou unidades léxicas de uma língua e suas respectivas acepções, as quais se encontram
expostas e ordenadas de acordo com uma ordem convencionada, isto é, conforme uma ordem
alfabética, por exemplo. Desse modo, seguindo a analogia proposta por Eco, o significado é
tudo aquilo que já está definido e consolidado no mundo, é o “já-dado”. (PINTO, 2008).
Por outro lado, a enciclopédia reúne infinitos textos e vocábulos, cada qual com seus
significados. Embora opere de forma semelhante a um dicionário, Pinto (2008, p. 82) assinala
que “a única e essencial diferença é que a enciclopédia tenta imaginar os contextos em que os
significados são produzidos, de forma a dar subsídio para a futura interpretação dos signos.
Então, a enciclopédia funciona como uma instrução interpretativa”. Assim sendo, a
enciclopédia leva em conta o lugar específico, o contexto onde determinado sentido vai ser
produzido.
O sentido se refere ao tempo futuro, ao vir a ser, e não é algo dado ou preestabelecido,
muito menos linear. Segundo Pinto (1996, p. 89), o sentido “[...] nunca é uma relação estática
(isso é aquilo), mas é, sim, algo que é constantemente produzido a partir de algo que foi
produzido a partir de algo”, um processo que, na semiótica peirceana, recebe o nome de
semiose.
51
Por semiose entende-se, estritamente, a produção de sentido, processo infinito pelo
qual, através de sua relação com o objeto, o signo produz um interpretante que, por
sua vez, é um signo que produz um interpretante e assim por diante. (PINTO, 1995,
p. 49)14
.
Para Spink e Medrado (2013), a produção de sentido é uma forma de conhecimento
que se associa à perspectiva construcionista da Psicologia Social. O construcionismo social
corresponde a uma abordagem teórica que investiga o modo como os indivíduos descrevem,
percebem e explicam o mundo onde habitam. Tal enfoque rompe com a ideia de que o
conhecimento é um processo interno, algo que o sujeito tem pronto dentro de sua mente, e
passa a entendê-lo como um produto externo, construído coletivamente. Na ótica da produção
de sentido, o conhecimento pressupõe um posicionamento diante de acontecimentos e
interlocutores. Por esse ângulo, produzir sentido configura-se como “um processo de
negociação continuada de identidades sociais”. (SPINK; GIMENES, 1994, p. 150).
Com base nessa perspectiva, Spink e Medrado (2013, p. 22) definem sentido como
uma construção social, uma espécie de “empreendimento coletivo” e, nessa lógica, interativo
– pois leva em conta as dinâmicas das relações sociais estabelecidas histórica e culturalmente
ao longo dos anos – a partir do qual os sujeitos criam as condições para compreender e lidar
com a conjuntura, os acontecimentos e os fenômenos ao seu redor. Essa abordagem sinaliza
um importante aspecto acerca da produção de sentido, o fato de ser uma atividade cognitiva
fruto de atos coletivos, de relações sociais, e não de condutas individuais dos sujeitos.
(SPINK; MEDRADO, 2013, p. 22).
A produção de sentido [...] é uma prática social, dialógica, que implica a linguagem
em uso. A produção de sentido é tomada, portanto, como um fenômeno socio-
linguístico – uma vez que o uso da linguagem sustenta as práticas sociais geradoras
de sentido – e busca entender tanto as práticas discursivas que atravessam o
cotidiano (narrativas, argumentações e conversas, por exemplo), como os repertórios
utilizados nessas produções discursivas. (SPINK; MEDRADO, 2013, p. 23).
A definição acima pressupõe o entendimento de três conceitos básicos: prática social,
dialogismo e linguagem em uso. Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 21), conceituam o termo
prática enquanto “[...] modos rotinizados, ligados a espaços e tempos particulares, por meio
dos quais as pessoas aplicam recursos (materiais ou simbólicos) para agir conjuntamente no
14
A noção de semiose encontra-se assentada em uma relação triádica entre signo, objeto e interpretante. Para
Peirce (1977), signo é alguma coisa que representa algo para alguém sob certo aspecto ou capacidade. O signo
direciona-se a alguém, isto é, cria na mente de alguém um signo equivalente, ou possivelmente um signo mais
desenvolvido. Ao signo assim concebido é dado o nome de interpretante do primeiro signo. Além disso, o signo
representa alguma coisa, seu objeto. Portanto, na semiótica peirceana, o sentido é resultado de um processo de
produção ad infinitum de signos.
52
mundo”. Nessa lógica, a expressão prática social corresponde a uma forma de atividade, de
certa forma estável, que estrutura e sustenta a vida em comunidade. (FAIRCLOUGH, 2012).
Ainda de acordo com Fairclough (2012), toda prática equivale a uma articulação de
diversos elementos sociais, entre eles as atividades materiais, os objetos, os sujeitos e suas
relações sociais, os valores culturais e o discurso, sendo esse último apontado como o
componente mais importante das práticas sociais. O conceito de discurso, para Fairclough
(2001, p. 91), está ligado a “um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir
sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um modo de representação”.
Por esse ângulo, o discurso é um ato que envolve sujeitos em contextos de interação,
conversação, diálogo, ou ainda, indivíduos em relações dialógicas. O ponto de partida para a
compreensão da concepção de dialogia é o conceito de enunciado. O filósofo e pensador russo
Bakhtin (2003) descreve o termo enunciado como uma manifestação linguística que, ligada à
noção de vozes (diálogos e negociações), assume sua condição social. Sob o prisma
bakhtiniano, os enunciados são constituídos nas relações existentes entre sujeitos
interlocutores. (BAKHTIN, 2003; SPINK; MEDRADO, 2013).
Entender a produção de sentido como dialógica significa reconhecer que o sentido é
um processo construído a partir de situações de confrontamento de duas ou mais vozes, de
diversos enunciados e textos. Em suma, os sentidos são concebidos nos processos de
interação, nas conversações entre sujeitos, ou seja, nas práticas sociais embasadas em trocas
linguísticas ou no uso da linguagem. O sentido decorre da dinâmica das relações sociais.
(SPINK; MEDRADO, 2013).
Por fim, a noção de linguagem em uso se refere à linguagem na qualidade de uma
atividade, uma ação social. Nessa perspectiva, como sustenta Fausto Neto (2013, p. 45), o
significado de linguagem é muito mais complexo e ultrapassa a ideia de mero dispositivo,
“instrumento”, “estoque de signos” ou “frases feitas” como admitia a ótica funcionalista.
Contrariamente, a linguagem é ação, prática e produz efeitos.
Num movimento constante de argumentação [...], quando falamos, estamos
invariavelmente realizando ações – acusando, perguntando, justificando etc. –,
produzindo um jogo de posicionamentos com nossos interlocutores, tenhamos ou
não essa intenção. [...] Além disso, um enunciado não surge, magicamente, do nada.
Ele constitui uma unidade do ato de comunicação, um dos elos de uma corrente de
outros enunciados, complexamente organizados. Em outras palavras, ao produzir um
enunciado, o falante utiliza um sistema de linguagem e de enunciações preexistente,
posicionando-se em relação a ele. (SPINK; MEDRADO, p. 27).
53
Nessa lógica, o que os autores citados sugerem é que, no dia a dia, o sentido deriva do
uso de “repertórios interpretativos” intrínsecos a cada sujeito. De forma geral, repertórios
interpretativos se referem ao conjunto de termos que determinam as possibilidades de
interpretação de um sujeito em um dado contexto. Por meio desses repertórios, os indivíduos
produzem sentido e assumem posições frente ao mundo a sua volta. (SPINK; MEDRADO,
2013, p. 27).
Assim sendo, o sentido depende da escolha realizada por sujeitos com base em suas
próprias experiências, crenças, interesses, valores e metas frente ao complexo universo de
significados que os circunda. Ele é resultado de um processo de construção, decodificação e
validação de significados de uma realidade específica por parte dos indivíduos. “Em outras
palavras, sentido é o significado produzido dentro de um contexto.” (ALMEIDA; PAULA;
BASTOS, 2012, p. 89).
As escolhas dos sujeitos não são precisamente intencionais ou premeditadas. Os
sentidos são construídos a partir do caminho que o indivíduo, ele mesmo, decide trilhar. Por
conseguinte, o sentido depende dos interesses, conhecimentos e vivências particulares de cada
sujeito. (LIMA; BASTOS, 2012). Como afirma Pinto (2008, p. 83), o sentido diz respeito a
um rumo que a significação pode seguir “[...] dependendo das escolhas que o receptor fizer,
dependendo daquilo que o atinge ou que ele quer atingir. O sentido é aquilo que a escolha do
receptor vai, de certa forma, fazer para que os significados ou as significâncias circulem”.
Nessa direção, organizações ou marcas imprimem ideias, concebem significados, mas
cabe a cada sujeito construir e elaborar sentidos, validando assim a existência desses bens
simbólicos. As marcas são construções de sentido; representações fruto de processos de
decisão e legitimação de sujeitos em relação aos significados a sua volta. (ALMEIDA;
PAULA; BASTOS, 2012). Considerar a marca contemporânea como construção de sentido
significa entender que ela corresponde a um elemento de mediação15
entre organização,
sujeitos e contexto.
Para compreender a expressão “construção de sentido” e seu uso no campo da
comunicação no contexto organizacional, Paula (2010) recorre aos estudos da Linguística.
Segundo a autora, a construção de sentido é um conceito multirreferencial, ou seja, se
15
Segundo Silverstone (2005), a mediação é um movimento de circulação de significados que se deslocam de
uma fala a outra ou ainda, de um texto/discurso a outro. A marca contemporânea se situa na zona da circulação,
entendida como um novo lugar de construção, funcionamento e ajustamento de sentidos. (FAUSTO NETO,
2010).
54
encontra diretamente relacionado a aspectos complexos e heterogêneos que condicionam sua
compreensão e aplicação.
Entender a construção de sentido é percebê-la como processos historicamente
localizados e, portanto, condicionados por fatores sociais, políticos, econômicos,
culturais e educacionais que estruturam as regras, os hábitos e os modos de proceder
dos atores sociais que, por meio de práticas discursivas, entram em interação. Esses
atores em interação buscam estabelecer trocas simbólicas por meio do diálogo, da
negociação, da contestação e/ou da tomada de decisão, de modo a se posicionarem
socialmente, conforme seus interesses, preferências, expectativas e intenções.
(PAULA, 2010, p. 1).
Ainda conforme a autora, todo processo comunicativo é, necessariamente, constituído
por três instâncias: a produção, a circulação e a recepção. Nessa perspectiva, seja qual for o
contexto de interação, a comunicação parte de uma instância produtora que seleciona, edita e
evidencia tudo aquilo a que se quer conferir visibilidade. Tal visibilidade se manifesta na
instância da circulação, “onde ocorre uma disputa, por vezes estratégica, por espaços onde a
recepção possa consumir e apropriar-se de informações e produtos simbólicos que circulam
na esfera pública”. (PAULA, 2010, p. 1).
O processo comunicativo envolve, além das intencionalidades pré-definidas da
instância produtora, suas apropriações e ressignificações por parte da recepção. Dessa
maneira, o âmbito da produção não consegue prever as múltiplas interpretações e os novos
sentidos que serão concebidos pelo universo da recepção. De outro modo, não há garantia de
que o processo da recepção seja apreendido exatamente como conjecturado e fixado
inicialmente pela produção. (PAULA, 2010).
Nas articulações entre instâncias e no desenrolar do próprio processo social da
comunicação, há possibilidades múltiplas de inovação, tanto na produção, como na
circulação e, principalmente, nos modos de interpretar os produtos midiáticos.
Novos sentidos podem ser elaborados, novas interpretações acontecem conforme os
contextos da interação, bem como conforme as preferências, expectativas e
interesses dos receptores. (PAULA, 2010, p. 1).
Verón (2004, p. 51) adota os termos produção e “reconhecimento”, que equivale à
noção de recepção, para designar as duas instâncias do sistema produtivo de sentido. Para o
autor, uma “gramática/condição de produção ou de reconhecimento” tem a conformação de
“um conjunto complexo de regras, que descrevem operações. Tais operações são aquelas que
permitem definir ora as condições de produção, ora os resultados (numa outra produção
discursiva) de uma determinada leitura”. Dessa forma, Verón (2004) frisa que as condições de
produção e de recepção nunca são as mesmas, ou seja, há uma defasagem entre elas. Essa
55
diferença entre as instâncias de produção e recepção é chamada de circulação pelo teórico
argentino.
Fausto Neto (2013, p. 46), acompanhando a ideia defendida por Verón (2004), eleva o
conceito de circulação para um status de “protagonismo” mais complexo e avança para além
de uma perspectiva funcionalista. Nesse sentido, a circulação deixa de ser entendida apenas
como uma espécie de “zona automática” ou “uma plataforma” por onde deslocam-se
mensagens que, de um lado, são produzidas ou fabricadas por um indivíduo ou organização e,
de outro, recebidas passivamente por atores sociais, sem qualquer tipo de resistência ou
objeção. “Dissolve-se a existência de uma noção de equilíbrio entre atos de comunicação,
especialmente seus vínculos de simetricidade, na medida em que as intenções que os
engendram não são controláveis”. (FAUSTO NETO, 2010, p. 61).
Assim sendo, a concepção de circulação como mero local de trânsito ou “zona de
passagem” de sentidos de um extremo a outro, do emissor até o receptor, perde força em
detrimento da imprevisibilidade característica dos processos de comunicação.
Nestas condições, a circulação deixa de ser um conceito associado à defasagem, e é
aproximado ao de “pontos de articulação”. [...] Ou seja, a circulação – transformada
em lugar no qual produtores e receptores se encontram em “jogos complexos” de
oferta e de reconhecimento – é nomeada como dispositivo em que se realiza trabalho
de negociação e de apropriação de sentidos, regidos por divergências e, não por
linearidades. (FAUSTO NETO, 2010, p. 63).
É no âmbito da circulação que o sentido irrompe. Ou melhor, é no momento de relação
e de articulação entre as ofertas da produção e as estratégias de apropriação, leitura e
(res)significação da recepção que ocorre a construção de sentido. (FAUSTO NETO, 2010). A
teoria da percepção fundamentada na semiótica nos leva a buscar entender a construção de
sentido como um processo social em constante movimento por onde a marca se impõe como
uma representação de embates discursivos e simbólicos. Os conceitos e enfoques abordados
ao longo deste capítulo servem como embasamento teórico para aplicação e investigação da
proposta de sentido de uma marca. Dessa forma, o próximo capítulo objetiva apresentar o
percurso metodológico dessa pesquisa sob a ótica da semiótica e da construção de sentido.
56
4 A ANÁLISE DO SHOW
Este estudo tem como objetivo compreender de que modo a Cacau Show constrói e
projeta traços associados à sua marca por meio de seus discursos e posicionamentos
comunicacionais e como tais associações são percebidas pelos sujeitos em suas construções
de sentido. A pesquisa também procura identificar a personalidade da marca Cacau Show,
tanto a comunicada, quanto a percebida. Na tentativa de alcançar esses objetivos, foi
desenvolvido o percurso metodológico descrito a seguir.
Na sequência, examinamos a marca Cacau Show, introduzindo dados sobre a
organização, como número de lojas, missão, visão e valores, além de informações específicas
acerca da marca, entre elas seu posicionamento e logotipo. Além disso, explicitamos o
histórico da organização, desde a sua fundação, em 1988, e a evolução da logomarca e dos
slogans ao longo do tempo. Por último, apresentamos a análise do discurso da Cacau Show
durante sua campanha de Páscoa do ano de 2017 e investigamos as percepções dos
consumidores em relação à marca.
4.1 Percurso metodológico
Essa pesquisa compreendeu um Estudo de Caso da marca Cacau Show. A análise dos
discursos da organização considerou enunciados divulgados no Facebook oficial da Cacau
Show durante a campanha de Páscoa de 2017. Para examinar a percepção dos sujeitos foram
realizadas entrevistas individuais com consumidores da marca. As análises do discurso foram
ancoradas no modelo de personalidade de marca de Aaker (1997) adaptado ao contexto
brasileiro e na Hermenêutica de Profundidade (HP), referencial metodológico proposto por
Thompson (2002). Depois de expor resumidamente o percurso metodológico adotado nessa
pesquisa, faz-se necessário apresentá-lo de forma mais detalhada a seguir.
Conforme dito, a estratégia de pesquisa utilizada para analisar a marca Cacau Show
consistiu no Estudo de Caso Único. Segundo Yin (2001), o estudo de caso configura-se como
uma investigação empírica cuja finalidade é compreender o funcionamento de certo fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto da vida real. Essa estratégia se mostrou compatível
com a proposta dessa pesquisa de investigar em profundidade a marca contemporânea tal
como ela se manifesta − um fenômeno complexo e dinâmico.
A Hermenêutica de Profundidade, proposta por Thompson (2002), consiste em uma
metodologia da interpretação cujo ponto de partida se encontra na análise dos contextos
57
sociais e históricos dentro e por meio dos quais formas ou construções simbólicas16
são
produzidas e postas em circulação.
O estágio preliminar desse referencial metodológico se baseia na “hermenêutica da
vida quotidiana” ou na “interpretação da doxa”, isto é, na interpretação do modo como cada
indivíduo percebe a realidade ao seu redor – suas opiniões, crenças e entendimentos em
relação às práticas rotineiras. Segundo Thompson (2002, p. 363), esse “momento etnográfico”
reconstrói as formas simbólicas que são criadas e partilhadas pelos sujeitos no mundo social.
Desse modo, a interpretação da doxa analisa as formas simbólicas juntamente com os
contextos onde elas são produzidas e recebidas.
Para além desse estágio prévio, Thompson (2002) propõe três fases ou procedimentos
básicos relativos ao enfoque da Hermenêutica de Profundidade: a análise sócio-histórica, a
análise formal ou discursiva e a interpretação/reinterpretação, expostas brevemente adiante.
Ainda de acordo com o autor, cada estágio dessa tríplice análise deve ser visto como uma
dimensão analítica distinta, constituinte de um processo de interpretação mais amplo e
complexo.
A análise sócio-histórica, primeira fase da HP, visa “[...] reconstruir as condições
sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas”.
(THOMPSON, 2002, p. 366). Em outras palavras, esse procedimento busca resgatar as
circunstâncias típicas à volta de um objeto ou fenômeno simbólico. A análise formal ou
discursiva, segunda fase do enfoque da HP, concentra-se nos objetos e nas expressões,
entendidas também como construções simbólicas complexas que circulam nos campos
sociais. Esse tipo de análise considera a forma e o discurso, a conformação interna e as
características estruturais das formas simbólicas. A interpretação/reinterpretação, terceira fase
da HP, é construída com base nos resultados da análise sócio-histórica e da análise formal ou
discursiva. O processo de interpretação examina o “caráter transcendente” ou o “aspecto
referencial” das formas ou construções simbólicas, isto é, o que elas representam, a que se
referem e o que dizem ou expressam a respeito de algo. A interpretação, portanto, “implica
um movimento novo de pensamento, ela procede por síntese, por construção criativa de
possíveis significados”. (THOMPSON, 2002, p. 375). Para o autor, como as formas
simbólicas ou objetos pertencem a um campo pré-interpretado, a etapa de interpretação é, ao
mesmo tempo, uma reinterpretação. Por esse ângulo, “[...] estamos reinterpretando um campo
16
A expressão “formas simbólicas” se refere a uma ampla variedade de fenômenos ou de “construções
simbólicas significativas” que demandam uma interpretação, tais como ações, imagens, acontecimentos, gestos,
textos, rituais, obras de arte, manifestações verbais etc. (THOMPSON, 2002).
58
pré-interpretado; estamos projetando um significado possível que pode divergir do significado
construído pelos sujeitos que constituem o mundo sócio-histórico”. (THOMPSON, 2002, p.
376).
Em suma, a Hermenêutica de Profundidade evidencia o objeto de análise enquanto
uma construção simbólica que demanda interpretação. Nessa pesquisa, tal referencial
metodológico foi utilizado para analisar a marca contemporânea Cacau Show, reconhecida
como uma forma simbólica, e seus discursos a fim de evidenciar o sentido e as
(re)interpretações dos sujeitos.
Para a identificação dos atributos da personalidade da marca Cacau Show foi utilizado
o modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro. Em seu estudo, Aaker (1997) se
vale do conceito de personalidade tal como explorado na psicologia e o adapta à realidade
organizacional. (PONTES; PARENTE, 2008). Como resultado, a pesquisadora chega a cinco
grandes dimensões da personalidade de marca no contexto americano: Sinceridade,
Entusiasmo, Competência, Sofisticação e Robustez. Cada uma dessas dimensões é composta
por um determinado número de facetas e traços de personalidade, representados na Figura 1.
Figura 1 – Estrutura da personalidade de marca proposta por Aaker (1997)
Fonte: Muniz; Marchetti (2005, p. 6, traduzido pela autora)
O modelo de Aaker (1997), devido ao fato de ser considerado confiável, válido e
generalizável, é amplamente utilizado e aceito por teóricos de diversas áreas do
conhecimento. (PONTES; PARENTE, 2008). Como sustenta Cavallet-Mengarelli (2008), tal
estrutura possibilita o entendimento do uso simbólico de marcas em geral e indica “um grande
59
passo na geração de insights de quando e porque os consumidores compram marcas para
satisfazer propósitos de auto-expressão”. (CAVALLET-MENGARELLI, 2008, p. 56).
Apesar de generalizável, o modelo de Aaker (1997) deve ser ajustado e reconstruído
tendo em vista diferentes contextos. Melhor dizendo, como sustenta a autora, a estrutura da
personalidade de marca identificada no contexto americano pode não ser adequada para uma
outra conjuntura, necessitando ser adaptada. Diante disso, Aaker (1997) sugere a realização de
pesquisas adicionais em países distintos a fim de determinar se as dimensões da personalidade
de marca encontradas são estáveis ou comuns a outras culturas e por quê.
No Brasil, o modelo norte-americano foi adaptado por Muniz e Marchetti (2005),
como mostra a Figura 2.
Figura 2 – Modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro
Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos de Muniz e Marchetti (2005)
A primeira dimensão de personalidade de marca identificada pelos autores recebe o
nome Credibilidade e apresenta quatro facetas e doze traços. Marcas que refletem confiança,
estabilidade, seriedade, responsabilidade, entre outras qualidades, conseguem estabelecer
vínculos com seus consumidores. Um exemplo de marca que tipifica essa dimensão é a
Volkswagen por meio do slogan “você conhece, você confia”, criado em 1988. A segunda
dimensão, denominada Diversão, engloba as facetas Alegria, Energia e Empatia, cada uma
com seus traços. Marcas dotadas de qualidades como simpatia, informalidade e
60
espirituosidade se comunicam mais espontaneamente com seus consumidores, o que pode
gerar autoidentificação. A marca Havaianas, ao apostar no uso do bom humor em suas
campanhas publicitárias, é representante dessa dimensão. (MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
A terceira dimensão, Audácia, combina características de arrojo e modernidade, tendo
como exemplo a marca Nike, reconhecida por seu estilo inovador, jovem e ousado. A quarta
dimensão, definida como Sofisticação, reflete as facetas Elitismo e Estilo e os traços chique,
alta classe, elegante, sofisticada e glamorosa. De modo geral, marcas francesas, tais como
Prada, Chanel e Hermès, exemplificam bem essa dimensão – Chanel é sinônimo de elegância
e sofisticação; Prada e Hermès representam luxo, glamour, requinte. No estudo de Muniz e
Marchetti (2005), a dimensão Sofisticação foi detectada nas marcas Nokia e Motorola. Por
fim, a quinta dimensão, identificada como Sensibilidade, exprime traços de delicadeza,
feminilidade, romantismo e emoção. A marca Natura traduz essa dimensão cada vez que se
mostra preocupada com o meio ambiente e com o bem-estar das pessoas. Dessa forma, a
Natura consegue se aproximar, tocar e cultivar laços emocionais com seus consumidores.
(MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
As dimensões de Muniz e Marchetti (2005, p. 14) “[...] refletem alguns valores
culturais valorizados e presentes no contexto brasileiro que são carregados e transferidos às
marcas por meio de seus produtos, comunicação e comportamento geral”. Nessa pesquisa, o
modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro serviu de base para a identificação da
personalidade da marca Cacau Show, tanto a comunicada, quanto a percebida.
Para compreender como a Cacau Show é percebida pelos sujeitos em suas construções
de sentido, foram realizadas entrevistas em profundidade, com roteiro semiestruturado, com
trinta consumidores da marca, escolhidos de forma aleatória. A coleta de dados ocorreu no
final do mês de maio e início do mês de abril, antes da celebração da Páscoa, nas lojas da
Cacau Show do BH Shopping, Diamond Mall e Boulevard Shopping, em Belo Horizonte.
Com o intuito de identificar a percepção dos consumidores relativa à personalidade da
marca Cacau Show, foram selecionados previamente dezesseis traços de personalidade do
modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro. A escolha desses atributos foi
realizada após leitura preliminar do material divulgado pela Cacau Show em seu site
institucional e considerou a conformidade existente entre cada característica selecionada e o
discurso enunciado pela marca. Nessa perspectiva, da dimensão Credibilidade, foram
selecionados os traços Responsável, Confiável e Leal; da dimensão Diversão, os traços
Alegre, Informal e Simpática; da dimensão Audácia, os traços Ousada, Moderna, Criativa e
Jovem; da dimensão Sofisticação, os traços Alta Classe, Elegante e Sofisticada; e da dimensão
61
Sensibilidade, foram escolhidos os traços Feminina, Sensível e Romântica. Na entrevista foi
solicitado aos respondentes que classificassem as características utilizando a escala de Likert
de 1 a 7, sendo que 1 representava “não descreve em nada a marca” e 7 “descreve totalmente
a marca”. A escala de Likert permite verificar o grau de conformidade dos consumidores em
relação a cada um dos traços de personalidade de marca apresentados.
Para definir o corpus dessa investigação, fez-se necessário realizar uma pesquisa de
caráter exploratório com a finalidade de entender como a marca se posiciona nas redes sociais
digitais Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Nesse sentido, a princípio, mostrou-se
fundamental olhar para todo o processo de comunicação da Cacau Show. Essa etapa ajudou a
definir o recorte da pesquisa, justificando qual rede social digital foi escolhida para o presente
estudo e porquê. Além disso, tal estágio ajudou na definição do recorte temporal, constituído
pelo período da Páscoa de 2017. Essa escolha se justifica pela constatação de que a marca
explora mais suas estratégias de comunicação, principalmente, nos meses de abril/maio, na
Páscoa, e dezembro, no Natal, períodos em que as vendas de chocolate estão em alta.
Por meio da pesquisa exploratória foi possível levantar informações e dados
numéricos gerais de cada uma das redes sociais digitais da Cacau Show. O canal da Cacau
Show no YouTube foi criado no mês de março de 2010 e, atualmente, conta com mais de 89
milhões de visualizações, 27.687 inscritos e o total de 109 vídeos postados. No mesmo mês e
ano, a marca começa a participar do Twitter. Hoje, a conta da Cacau Show nessa mídia social
engloba 35,9 mil tweets, entre fotos, textos, links, e 231.466 seguidores. A página oficial da
Cacau Show no Facebook existe desde o mês de março de 2012 e é seguida por 9.275.091 fãs.
Já o Instagram da marca teve início em março de 2013 e, quatro anos após a primeira
publicação, o perfil conta com 832 posts e 1.207.804 milhão de seguidores17
.
Com base nesses dados numéricos, sintetizados no Gráfico 2, observou-se que a Cacau
Show é mais popular no Facebook, dado o elevado número de seguidores da página, e, por
esse motivo, tal rede social digital foi selecionada para esta pesquisa. Além disso, o Facebook
é uma plataforma que permite a publicação de textos midiáticos distintos, verbais e não
verbais, sem apresentar limitações rígidas de tempo ou espaço, como ocorre em outros
ambientes virtuais. No Twitter, por exemplo, o usuário dispõe de 140 caracteres para cada
postagem. Assim sendo, o Facebook se configura como uma mídia que permite uma maior
variedade de formatos de postagens.
17
Dados extraídos do YouTube, Twitter, Facebook e Instagram da marca Cacau Show no início do mês de
outubro de 2017.
62
Gráfico 2 – Relação entre número de seguidores (em milhares) e mídias sociais da Cacau
Show
Fonte: Elaborado pela autora
Entre os dias 9 de março e 16 de abril de 2017, a Cacau Show realizou sua campanha
de Páscoa. Durante esse período, a marca elaborou e divulgou um total de 83 postagens em
suas redes sociais digitais, sendo vinte e sete no Facebook, vinte e seis no Instagram, vinte e
sete no Twitter e três no YouTube. Após a realização dessa pesquisa de caráter exploratório,
definiu-se que o corpus de análise seria composto por 27 postagens, número total de
publicações divulgadas pela Cacau Show no período da Páscoa na mídia social Facebook.
Um maior aprofundamento sobre o corpus permitiu constatar que os enunciados
produzidos e transmitidos pela Cacau Show se dividem em dois grupos ou categorias
analíticas: a) postagens com conteúdos exclusivamente promocionais, ou seja, que
evidenciam os produtos, os preços e/ou as promoções; b) postagens com conteúdos mais
informativos, isto é, que fornecem elementos para a compreensão de como a Cacau Show
projeta atributos de sua marca, discurso ou posicionamento comunicacional. As dez
publicações do primeiro grupo, de cunho comercial, foram intencionalmente descartadas.
Nessa lógica, o corpus de análise passou, então, a ser composto por 17 postagens com
enunciados informativos, institucionais e até com alguns aspectos comerciais, mas não
exclusivos, como mostra o Apêndice B.
Das dezessete postagens, observou-se que as publicações dos dias 21/03, 27/03, 31/03,
07/04 e 11/04 obtiveram os maiores números de reações, compartilhamentos, comentários e
visualizações, no caso de vídeos. Em função disso, essas cinco postagens, juntamente com as
publicações dos dias 09/03 e 16/04, as quais correspondem, respectivamente, ao discurso
inicial e final sustentado pela Cacau Show em sua campanha de Páscoa de 2017, foram
63
selecionadas para a realização de uma análise em profundidade, com detalhamento do
material. Dessa forma, o corpus de análise integrou sete publicações, sendo 3 vídeos de trinta
segundos de duração e 4 anúncios institucionais, descritos, de modo resumido, no Quadro 2.
Quadro 2 – Corpus definido para análise
Anúncios
Data Breve descrição do material Número
de
reações
Número de
compartilhamentos
Número de
comentários
Views
09/03/17
Imagem e texto anunciando a
chegada da Páscoa e mostrando
alguns produtos da marca Cacau
Show para o período;
2.778
371
224
-
27/03/17
Imagem e texto divulgando toda a
linha Dreams para a Páscoa;
7.402
1.109
967
-
07/04/17
Imagem e texto anunciando
apenas o ovo Dreams sabor Petit
Gateau;
335.790
3.484
2.605
-
16/04/17
Imagem e texto desejando "Feliz
Páscoa".
2.658
167
167
-
Vídeos
Data Breve descrição do material Número
de
reações
Número de
compartilhamentos
Número de
comentários
Views
21/03/17
1° vídeo da campanha de Páscoa
da marca Cacau Show – Páscoa e
Dreams Bem Casado: o
casamento perfeito;
682.000
31.417
25.575
21.593.076
31/03/17
2° vídeo da campanha de Páscoa
da marca Cacau Show – O jeito
mais gostoso de aproveitar a
#PáscoaCacauShow é assim:
quanto mais ovos de chocolate,
melhor;
111.384
3.869
2.096
6.573.518
11/04/17
3° vídeo da campanha de Páscoa
da marca Cacau Show – Com
promoções assim, ninguém fica
de fora. Presenteie quem você
ama igual chocolate com Cacau
Show.
107.732
4.510
3.709
4.676.893
Fonte: Elaborado pela autora
Após apresentar a estratégia metodológica adotada nesse estudo, faz-se necessário
compreender melhor o objeto empírico, a marca Cacau Show.
4.2 Histórico da organização/marca Cacau Show
A Cacau Show é uma empresa brasileira do segmento de chocolates com sede em
Itapevi, no estado de São Paulo. Atualmente, a organização está presente em todo o Brasil, em
quase mil municípios, com mais de duas mil lojas em funcionamento e cinco fábricas ativas.
64
Sob a forma de Sociedade Limitada, a Cacau Show é considerada a maior rede de chocolates
finos do mundo em número de lojas18
e até o encerramento do ano de 2017 estima produzir
dezoito mil toneladas de chocolate e faturar aproximadamente três bilhões de reais. (COSTA,
2008; FERRARO, 2017). Nos relatórios de sustentabilidade desenvolvidos desde 2013, a
empresa se autodefine da seguinte maneira:
A Cacau Show não é apenas uma empresa que produz chocolates. Somos pessoas
apaixonadas pelo que fazemos. Isso se traduz tanto na qualidade de nossos produtos,
quanto na forma como fazemos chocolates. Tudo o que criamos tem um toque
humano, um carinho artesanal. Porque para a Cacau Show, cada chocolate é uma
expressão de cuidado, um momento de felicidade. (CACAU SHOW, 2017g).
Nesses documentos, assim como no site institucional, a organização também expressa
sua missão, visão e valores, apresentados na Figura 3. A missão revela a razão de ser da
Cacau Show, a visão aponta o objetivo da empresa, ou seja, onde ela está e até onde quer
chegar e os valores mostram os ideais e a ética que sustentam a empresa. A missão, a visão e
os valores determinam a identidade organizacional da Cacau Show.
Figura 3 – Missão, Visão e Valores da Cacau Show
Fonte: Cacau Show (2017h)
18
A Cacau Show recebeu esse título em 2008, quando superou a norte-americana Rocky Mountain Chocolate
Factory, franqueadora internacional localizada no sudoeste do Colorado. (COSTA, 2008).
65
A marca Cacau Show atual consiste em um monograma formado pelas iniciais CS,
como mostra a Figura 4. Esse logotipo foi lançado no mês de outubro de 2016 e apresenta
uma tipografia “mais orgânica”, de fácil identificação, leitura e memorização. As sete estrelas,
dispostas abaixo do nome Cacau Show, “trazem uma percepção de aval de especialista, de
alta qualidade”, de acordo com a empresa. (CACAU SHOW, 2017g, p. 55).
Figura 4 – Logotipo atual da Cacau Show
Fonte: Cacau Show (2017g, p. 55)
Para compreender melhor a Cacau Show é preciso fazer um retrospecto histórico,
tanto da organização, quanto da marca, destacando os principais fatos e as transformações de
ambas ao longo do tempo. A história da Cacau Show começa no ano de 1988, no bairro da
Casa Verde, em São Paulo, com Alexandre Tadeu da Costa. Na véspera da Páscoa daquele
ano, Alexandre, com então 17 anos, decidiu recuperar um catálogo antigo com o qual sua mãe
já havia trabalhado e deu início à comercialização de bombons e ovos de chocolate na
vizinhança. (COSTA, 2008).
Na primeira Páscoa de sua carreira, o fundador e presidente da Cacau Show vendeu 2
mil unidades de ovos de chocolate de 50g que, na realidade, não existiam, pois o fornecedor
não fabricava produtos com tal gramatura. Sem encontrar outro fornecedor para a extensa
encomenda, a solução identificada por Alexandre foi produzir, ele mesmo, com a ajuda de
dona Creusa Trentin, uma chocolateira artesanal, todos os ovos de Páscoa. (COSTA, 2008).
Após recorrer a um empréstimo com o tio, Alexandre conseguiu comprar os materiais
necessários para fabricar os pedidos. No terceiro dia de trabalho, a tarefa estava concluída e o
prazo de entrega acertado com os clientes havia sido cumprido. Ao contabilizar o total das
despesas depois de pagar a mão de obra de dona Creusa e de devolver ao tio o dinheiro
emprestado, ele obteve, ainda, um lucro de 100% com as vendas, o equivalente, à época, a
500 dólares. Com a experiência, Alexandre identificou um nicho de mercado pouco explorado
até então – o de chocolates artesanais – e, valendo-se desse ensejo, decidiu investir nisso.
Assim nascia a Cacau Show. (COSTA, 2008).
66
O primeiro logotipo da Cacau Show trazia o desenho de um cacau vestido de fraque e
gravata borboleta saindo de dentro de um chapéu de palha. Como pano de fundo do nome da
marca e da imagem do fruto do cacaueiro, uma espécie de mascote, estavam dispostas, de
modo aleatório, uma porção de estrelas, como revela a Figura 5. Essa versão já continha dois
elementos que apareceriam nos logotipos desenvolvidos posteriormente: o nome Cacau Show
e as estrelas. (COSTA, 2010).
Figura 5 – Primeiro logotipo da Cacau Show
Fonte: Costa (2010, p. 29)
Como visto, a marca acompanha o processo de ascensão da sociedade no decorrer dos
anos e também acompanha a própria história e evolução da empresa. As marcas, na pré-
história e na idade antiga, eram simples e engessadas, assim como a marca Cacau Show logo
que foi criada. O primeiro logotipo era sóbrio e meigo. Com as transformações ocorridas no
cenário socioeconômico ao longo do tempo, a marca converteu-se em um fenômeno
complexo, de grande valor e importância. Acompanhando essas mudanças, a marca Cacau
Show também avança, buscando elementos de modernização, seja na tipologia ou nos
símbolos, como veremos mais adiante. Um exemplo de tal progresso consiste na atribuição de
sentido às sete estrelas que compõem a marca. Alexandre Costa (2010) explica que no
primeiro logotipo, as estrelas eram apenas elementos estéticos do desenho, não carregavam
significados específicos. No entanto,
Com o passar do tempo e o amadurecimento da empresa, creio que fomos
criando significados para cada uma das estrelas. Significados que traduzem as
nossas maiores crenças: visão, disciplina, pés no chão, aprendizado, inovação,
valorização das pessoas e paixão. [...] No nosso logotipo, a estrela central é maior
67
que as outras. Eu diria que essa é a estrela que representa a paixão, pois tudo em
nossa vida gira e gravita em torno dela. A paixão nos faz acordar todos os dias
prontos para mais um longo expediente de trabalho e faz o nosso coração bater mais
forte diante de cada conquista. A paixão é, definitivamente, aquilo que nos move.
(COSTA, 2010, p. 19, grifo nosso).
As transfigurações da marca Cacau Show refletem o desenvolvimento da própria
organização no decorrer do tempo. Inicialmente, a Cacau Show instalou-se em uma sala de
apenas 12 m². Naquele espaço, Alexandre desenvolveu um novo produto, um bombom de
cereja ao licor coberto de chocolate, o Cerejão, uma invenção que se revelou como a saída
para ele continuar trabalhando o ano todo, não somente no período da Páscoa. Quando
completou 18 anos, Alexandre ganhou um fusca de presente dos pais, fato que agilizou o
processo de distribuição dos bombons e chocolates. Em pouco tempo, a sala de 12 m²
precisou ser trocada por uma maior, de 100 m². (COSTA, 2008).
Em 1990, com somente dois anos de funcionamento, a Cacau Show assinou seu
primeiro contrato com uma grande rede nacional de varejo, as Lojas Brasileiras19
, para quem
passou a fornecer chocolates. No mesmo ano, a empresa filiou-se à Associação Brasileira da
Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados. Naquela altura, o espaço de
100 m² já não comportava o escritório, nem a fábrica da Cacau Show, e um novo ambiente
precisou ser construído. O jornalista Lira Neto (2008) comenta quais foram os próximos
passos da organização:
Alexandre achou que era hora de dar maior visibilidade ao negócio,
associando-o a nomes conhecidos da mídia. Assim, passou a licenciar marcas de
algumas celebridades da televisão, o que proporcionou impulso imediato nas vendas.
Em 1996, vieram os ovos de Páscoa da Angélica, exatamente no ano em que a ex-
apresentadora de programas infantis do SBT assinava contrato com a Rede Globo.
Depois, a Cacau Show fecharia contrato para colocar no mercado uma linha
com o nome das apresentadoras Hebe Camargo e Eliana. (NETO, 2008, p. 152,
grifo nosso).
No ano de 1996, a Cacau Show também assinou contrato com um grande cliente, a
rede de lojas de departamento Mappin. Em virtude desse acordo, durante a Páscoa daquele
ano, os bombons e ovos de chocolate da marca despontaram no mercado, alcançando um
recorde histórico de vendas. Em 1998, quando a fábrica paulista Cacau Show completou sua
primeira década de existência, já produzia mensalmente cerca de trinta e cinco toneladas de
chocolate e contava com clientes em todo o país. A próxima etapa foi criar uma rede nacional
de distribuição própria da empresa.
19
As Lojas Brasileiras (Lobras) eram uma rede de lojas de departamentos e variedades de São Paulo. Suas
atividades encerraram no ano de 1999. (COSTA, 2008).
68
A primeira loja da Cacau Show foi inaugurada em 2001, dentro de um shopping de
Suzano, município paulista. Desde então, as lojas começaram a se multiplicar em progressão
geométrica. No final de 2002, primeiro ano do regime de franquia, a Cacau Show somava 18
pontos de venda padronizados com a marca. Mais um ano e o número sobe para 46, depois,
130. Em 2007, a Cacau Show registra 380 pontos de venda. Em 2008, a empresa se torna a
maior rede de lojas de chocolates finos do mundo e o presidente da Cacau Show publica seu
primeiro livro, intitulado “O Cacau é Show – Deliciosas Histórias do Mundo do Chocolate”.
Em 2009, a marca Cacau Show é eleita Top of Mind entre as lojas especializadas em
chocolates finos, conforme pesquisa realizada anualmente pelo Datafolha. (CACAU SHOW,
2014; COSTA, 2008).
Em 2010, a empresa alcança a marca de mil franquias em todos os estados brasileiros,
meta que levou a abertura de 120 lojas por ano, uma a cada três dias. Para comemorar a
evolução do negócio, Alexandre publica seu segundo livro, intitulado “Uma trufa e... 1000
lojas depois!”. (COSTA, 2010). Nesse mesmo ano, a Cacau Show lança um novo logotipo,
mais clean, de fundo branco e letras em marrom. Na nova versão, permanecem apenas sete
estrelas, distribuídas simetricamente sobre o nome da marca. O slogan “Um show de
chocolate”, o primeiro da marca, realçava a excelência dos chocolates da Cacau Show, como
mostra a Figura 6.
Figura 6 – Logotipo da Cacau Show lançado em 2010
Fonte: Cacau Show (2010)
Em 2011, a marca Cacau Show é eleita Top of Mind em lojas especializadas pelo
terceiro ano consecutivo, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. Além disso, tal estudo do
Datafolha revelou que a trufa da Cacau Show foi considerada a melhor do país. Em 2012, a
empresa conquistou outro reconhecimento: o Prêmio ABF Excelência em Franchising20
.
(CACAU SHOW, 2015). Nesse mesmo ano, uma nova versão do logotipo da Cacau Show foi
lançada. Nela, o nome da marca, as sete estrelas e o slogan “Um show de chocolate”
20
O prêmio da Associação Brasileira de Franchising (ABF) é concedido anualmente e destaca as redes de
franquia pela sua atuação, poder de marca, rentabilidade e suporte fornecido pela franqueadora. Em 2016, a
Cacau Show conquistou pela sétimo ano consecutivo tal selo de excelência. (CACAU SHOW, 2017g).
69
aparecem dentro do desenho estilizado de uma trufa de chocolate (Figura 7). Ocorre uma
inversão entre as cores do fundo e das letras e o formato do novo logotipo remete ao produto
carro-chefe da empresa. Além disso, a trufa alude à origem da empresa – após a Páscoa de
1988, Alexandre Costa decide dar continuidade ao negócio e cria seu primeiro produto, o
Cerejão, uma trufa de chocolate com licor de cereja.
Figura 7 – Logotipo da Cacau Show lançado em 2012
Fonte: Cacau Show (2012)
Em 2013, a Cacau Show completa vinte e cinco anos de história e Alexandre Costa
cria a holding Cacau Par. A nova sociedade inclui a própria Cacau Show e a Brigaderia, rede
especializada em brigadeiros e doces de São Paulo. A Cacau Show fechou o ano de 2013 com
1.540 lojas, distribuídas em 700 municípios de todos os estados brasileiros. (CACAU SHOW,
2014). Também nesse ano, a Cacau Show lançou um novo slogan, “Pra vida ficar mais
show”, como mostra a Figura 8. O logotipo apresentou formato, tipografia, cores e elementos
gráficos iguais ao anterior. Enquanto o slogan passado reforçava a excelência do chocolate da
Cacau Show, o novo destaca os momentos de felicidade, prazer e os sentimentos agradáveis
proporcionados pelos produtos da marca.
Figura 8 – Novo slogan da Cacau Show lançado em 2013
Fonte: Cacau Show (2013)
Em 2014, a Cacau Show foi reconhecida por sua forma de atuação nas redes sociais
digitais, sendo eleita a segunda maior Smart Storyteller do mundo pela Socialbakers21
, ou
21
A Socialbakers é uma empresa que acompanha, mensura e analisa o desempenho de organizações e marcas
presentes nas principais plataformas sociais digitais, incluindo Facebook, Twitter, YouTube, LinkedIn,
Instagram, Google+ e VK. (CACAU SHOW, 2016).
70
melhor, a segunda página com melhor engajamento em seu conteúdo no Facebook, atrás
somente da Lamborghini. A análise da Socialbakers foi realizada entre os meses de setembro
e novembro de 2014 e considerou mais de cem organizações e marcas nacionais e
internacionais. Na categoria de alimentos, a Cacau Show alcançou o quinto lugar entre as dez
maiores marcas nas redes sociais na Internet, contabilizando um total de 102 publicações em
sua fanpage e uma média de 13 mil interações entre usuários da rede. (CACAU SHOW,
2015). No mesmo ano, a marca apresentou ao público seu novo posicionamento de marca,
como evidencia a Figura 9. A assinatura “Carinho em cada pedacinho” não aparece no atual
monograma da Cacau Show, mas esse continua sendo o posicionamento da marca.
Figura 9 – Novo slogan da Cacau Show lançado no ano de 2014
Fonte: Cacau Show (2014a)
Em 2015, a Cacau Show superou a média de crescimento do franchising nacional.
Enquanto esse mercado cresceu 8% em número de unidades, a Cacau Show atingiu um
aumento de 12,7% em número de lojas, encerrando o ano com duas mil franquias. Nesse
mesmo período, a empresa teve um recorde de faturamento e um crescimento de 16% no
volume de caixas expedidas em relação ao mês de janeiro do ano de 2014. (CACAU SHOW,
2016).
No ano de 2016, a Cacau Show recebeu o prêmio “Marcas de Confiança”, da revista
Reader’s Digest, em parceria com o IBOPE Inteligência. Além disso, a empresa lançou um
novo modelo de loja, denominada premium, com foco em serviços. A primeira unidade a
apresentar o novo formato foi inaugurada no shopping Pátio Paulista, na cidade de São Paulo.
Juntamente com o modelo premium de loja, a Cacau Show lançou, nesse mesmo ano, uma
nova identidade visual, o monograma com as iniciais CS, como apresentado no início desta
seção. (CACAU SHOW, 2017g).
O retrospecto da Cacau Show possibilita o entendimento de como se deu a ascensão da
organização e da marca no decorrer dos anos. O atual logotipo traduz a fluidez, a vivacidade e
o dinamismo característicos da marca contemporânea. O monograma, ao combinar as letras C
e S, sintetizando o nome Cacau Show, forma um símbolo simples e de fácil leitura. Essa
71
evolução retrata uma marca que já se consolidou, mas que, ao mesmo tempo, é nova e precisa
ser repertoriada, bem como legitimada pelos sujeitos para que seja reconhecida.
4.3 A projeção do show: o discurso de Páscoa da marca
Como apresentado no percurso metodológico, selecionou-se para a análise do discurso
da organização um total de sete postagens, sendo três vídeos e quatro anúncios, publicadas na
página oficial do Facebook da Cacau Show durante os meses de março e abril de 2017,
período referente à Páscoa. O critério de escolha do corpus dessa pesquisa considerou a
postagem inaugural da campanha, bem como a final, e as cinco publicações com maiores
números de reações, compartilhamentos, comentários e visualizações. Para facilitar a leitura e
compreensão dos dados, a análise das publicações foi dividida em duas subseções. A primeira
examinou os anúncios postados nos dias 09/03, 27/03, 07/04 e 16/04 e a segunda explorou os
três vídeos da campanha de Páscoa da Cacau Show divulgados, respectivamente, nos dias
21/03, 31/03 e 11/04.
4.3.1 Descrição e análise dos anúncios
A campanha de Páscoa de 2017 da rede de chocolates finos Cacau Show teve início no
dia 09 de março, mais especificamente a um mês e sete dias da data de celebração cristã.
Nesse dia, a Cacau Show alterou a foto de capa de sua página do Facebook para uma imagem,
acompanhada de texto, sobre a proximidade da Páscoa e o lançamento de produtos para o
respectivo período, como mostra a Figura 10.
Figura 10 – Postagem inaugural da campanha de Páscoa 2017 da Cacau Show
Fonte: Cacau Show (2017a)
72
Segundo Semprini (2010), a primeira dimensão estrutural da marca contemporânea,
denominada natureza semiótica, corresponde à sua capacidade de produzir e disseminar
significados por meio de narrativas explícitas, bem como pertinentes e atraentes. Em seu
discurso inaugural de Páscoa, a Cacau Show buscou despertar a curiosidade e o interesse em
seus consumidores por intermédio do anúncio das principais novidades da marca para a
época, o ovo Dreams Bem-Casado e o ovo Chocomonstros. Na imagem, o fundo desfocado
permitiu a construção de uma narrativa objetiva, centrada em quatro produtos da Cacau Show
e na veiculação de conteúdo relativo ao universo da Páscoa, que já se aproximava.
Essa primeira postagem comunicou um dos conceitos fundamentais associados à
marca Cacau Show: a inovação. Como sustenta a empresa, “a inovação faz parte de nossa
essência. Gostamos de criar sabores, sensações que vão tornar um dia comum de uma pessoa
em uma experiência única e inigualável”. (CACAU SHOW, 2015, p. 10). De acordo com
Semprini (2010), outra dimensão-chave da marca contemporânea se refere a sua natureza
evolutiva. Por esse ângulo, as marcas se encontram submetidas ao fenômeno da “entropia
tendencial”, um estado de transformação e desordem que exige a produção constante de novos
significados.
Para se adaptar às contínuas evoluções, tanto do contexto, quanto do próprio
consumidor, a marca Cacau Show procura inovar e renovar seus produtos. A título de
exemplo, segundo a RP1 Comunicação Empresarial (2017)22
, a empresa desenvolveu 43
novos produtos somente para a Páscoa 2017. Tais dados salientam a natureza evolutiva da
marca Cacau Show. No anúncio publicado no dia 09/03, a organização apresentou dois dos
lançamentos para o período, os ovos Dreams Bem-Casado e Chocomonstros, identificados, no
texto, como as “novidades deliciosas”.
A Cacau Show se posiciona como uma marca “especialista, que oferece, com
proximidade e de forma autêntica e inovadora, produtos surpreendentes, que criam momentos
encantadores”. (CACAU SHOW, 2015, p. 32). Em síntese, ao postar imagem e texto
revelando os novos produtos elaborados pela marca para a Páscoa 2017, a Cacau Show
realçou traços de inovação e autenticidade presentes no DNA de sua marca. Nessa direção, a
criação de itens originais, diversificados e inusitados explicita o modo como a empresa deseja
se diferenciar no mercado.
No dia 27 de março, a Cacau Show publicou uma imagem, acompanhada de texto,
apresentando todos os ovos da linha Dreams para a Páscoa 2017. A postagem teve mais de 7
22
A RP1 Comunicação Empresarial é uma agência de São Paulo que presta serviço de Assessoria de Imprensa
para a Cacau Show.
73
mil reações, 1.109 compartilhamentos e 967 comentários. Inspirada em doces e sobremesas
famosas, a linha Dreams abrange os sabores Bem-Casado, Tradicional, Mil-Folhas,
Brigadeiro, Petit Gateau, Mousse de Maracujá e Trufado zero adição de açúcar, como revela a
Figura 11. No anúncio, os sabores citados aparecem ordenados da esquerda para a direita,
com destaque para o ovo de chocolate com casca recheada de brigadeiro, posicionado ao
centro. Os ovos Mousse de Maracujá e Bem-Casado foram lançados na Páscoa de 2017, ao
passo que os demais já faziam parte do portfólio de produtos da marca.
Figura 11 – Anúncio publicado no dia 27 de março de 2017
Fonte: Cacau Show (2017f)
De acordo com a diretora de comunicação da Cacau Show, Monica Ogawa, os ovos da
linha Dreams são os mais desejados pelos consumidores da marca. (OGAWA apud
BRANDÃO, 2017). O nome da linha, em português, significa “sonhos” e remete ao universo
das fantasias e da imaginação. Já no sentido figurado, o termo sonho se refere a um anseio, a
um desejo vivo e intenso, ou ainda, a algo especial. Para além do nome da linha, a marca
Cacau Show utiliza a expressão Dreams para construir discursos que atuam no imaginário dos
consumidores.
O ovo Dreams Brigadeiro, lançado no ano de 2012, representa a união de uma das
sobremesas mais populares e apreciadas no país com o símbolo tradicional da Páscoa. Na
imagem publicada no dia 27/03, esse produto apareceu em primeiro plano para gerar
familiaridade e criar um vínculo com os consumidores da marca, como certifica a própria
74
empresa. “Temos um público exigente que busca sempre por produtos de extrema qualidade
e, sendo especialistas em chocolate, conseguimos atender a essa demanda, além de criar uma
relação de confiança e proximidade com os consumidores.” (CACAU SHOW, 2017g, p. 52).
Na visão de Gobé (2002), a marca contemporânea pode ser entendida como uma
conexão de natureza simbólica e, acima de tudo emocional, ou ainda, como um elo capaz de
evocar emoções, sentimentos, memórias e sensações nos indivíduos. Nessa lógica, por meio
de um discurso centrado na linha Dreams, a marca Cacau Show tencionou estabelecer uma
forte ligação com seus consumidores nos níveis pessoal e holístico ao despertar, sobretudo,
sentimentos de desejo, alegria, bem-estar e prazer. “Temos como objetivo constante criar
sensações e sentimentos por meio de nossos produtos.” (CACAU SHOW, 2017g, p. 52).
O texto que acompanha a imagem – “Quem ama presenteia com ovos Dreams” –
enunciava a linha Dreams como o presente de Páscoa ideal, ou ainda, dos sonhos. A Cacau
Show utilizou a frase “quem ama” para demonstrar que presentear alguém próximo com um
produto da Cacau Show equivale a um ato de carinho, amor, afeto e cuidado, conceitos
fundamentais vinculados à marca. Para a empresa, “cada chocolate é uma expressão de
cuidado, um momento de felicidade”. (CACAU SHOW, 2017g, p. 4).
No dia 07 de abril, a Cacau Show divulgou uma imagem promovendo o ovo Dreams
Petit Gateau (Figura 12).
Figura 12 – Anúncio postado no dia 07 de abril de 2017
Fonte: Cacau Show (2017i)
75
O anúncio, à direita, mostra o ovo de chocolate dentro da caixa e em cima de uma
superfície. Em frente à caixa, o pequeno bolo com recheio cremoso que dá nome ao produto
da marca compõe a cena. À esquerda, na parte inferior se encontra o logotipo da Cacau Show
e, na superior, o texto: “Surpresas deliciosas #AmoIgualChocolate”. A postagem contou com
335.790 reações, 3.484 compartilhamentos e 2.605 comentários dos seguidores da marca no
Facebook.
Mediante a junção do substantivo feminino “surpresa” e do adjetivo “delicioso”, a
Cacau Show associou sua marca a uma situação ou momento de prazer e felicidade único e
inesperado. Nessa lógica, presentear uma pessoa com um ovo de Páscoa da Cacau Show, tal
como o Petit Gateau exibido na figura, significa surpreendê-la. Do mesmo modo, receber de
alguém um produto da marca representa ser surpreendido positivamente. No enunciado em
questão, a palavra surpresa foi empregada como sinônimo dos produtos da marca Cacau
Show, pois corresponde a um gesto de carinho, ternura e afeto entre indivíduos.
Plummer (1985) destaca que qualquer marca pode ser descrita a partir de três
dimensões: atributos físicos, atributos funcionais e personalidade. Essa última dimensão
corresponde ao modo como uma marca é caracterizada e, conforme o autor, representa um
conceito estratégico no que concerne à comunicação e diferenciação de produtos e marcas. Ao
empregar o adjetivo “deliciosa” no texto do anúncio, a Cacau Show projetou outro traço
associado à sua marca, o sabor agradável dos chocolates.
Um elemento de destaque da imagem é a #AmoIgualChocolate, lançada três dias antes
da publicação em análise, isto é, no dia 04 de abril. A Cacau Show adotou essa hashtag
próximo à data de celebração da Páscoa para gerar interações entre os consumidores da
marca. A empresa explicou que, durante a Páscoa 2017, “tudo que a gente adora é
#AmoIgualChocolate. Porque para nós, o chocolate é o jeito mais gostoso de expressar o que
sentimos”. Na postagem do dia 07 de abril, a frase “surpresas deliciosas” foi associada à
hashtag #AmoIgualChocolate. Nessa perspectiva, presentear alguém com chocolates ou com
as “surpresas deliciosas” da marca Cacau Show é uma forma de demonstrar sentimentos de
amor e amizade pelo outro.
Assim sendo, a Cacau Show, enquanto marca, busca construir vínculos emocionais e
afetivos com os sujeitos. Como sustentam Perez (2004), Gobé (2002), Hatch e Schultz (2008),
a marca contemporânea, sob um olhar menos funcional e mais simbólico, pode ser entendida
como uma conexão perceptual ou sensorial. Randazzo (1996) ainda acrescenta que uma
marca, para além de representar um produto e seus aspectos tangíveis, como embalagem e
design, se configura como uma entidade que existe na mente dos indivíduos. Para se fazer
76
presente no espaço psicológico dos sujeitos, a Cacau Show constrói discursos vinculando o
chocolate, que é a tradução dos produtos da marca, às sensações, emoções, momentos e
sentimentos bons que o doce e, consequentemente a marca Cacau Show, é capaz de
proporcionar.
Para concluir sua campanha de Páscoa de 2017, a Cacau Show publicou, no dia 16 de
abril, uma imagem, acompanhada de texto, desejando “Feliz Páscoa” aos consumidores da
marca, como mostra a Figura 13.
Figura 13 – Anúncio divulgado no dia 16 de abril de 2017
Fonte: Cacau Show (2017c)
O anúncio, simples e objetivo, frisou o discurso adotado pela marca Cacau Show
durante toda a sua campanha de Páscoa do ano de 2017. O fundo marrom possibilita uma
associação direta com o chocolate. Na figura, a letra “o” da palavra Páscoa foi substituída por
uma imagem do ovo Dreams Bem-Casado pela metade. Nesse sentido, a Cacau Show
destacou, novamente, seu principal lançamento para o período. O discurso centrado na
promoção do novo ovo da linha Dreams perdurou até o fim da campanha de Páscoa da marca.
Além disso, mais uma vez, a Cacau Show fez uso da hashtag #AmoIgualChocolate e reforçou
a ideia de que o chocolate é uma expressão de carinho, afeto e amor. Como mencionado
anteriormente, para a empresa, o ato de presentear o outro com chocolate significa manifestar
sentimentos.
77
Em três anúncios analisados, o logotipo da Cacau Show foi colocado em uma posição
de destaque, seja no canto inferior esquerdo ou no centro da imagem. Apesar disso, a
mensagem e os produtos da marca chamam mais atenção. Em todos os anúncios há uma
identidade entre os produtos, ou seja, semelhanças na apresentação dos principais elementos,
entre eles a tipografia, as cores e a composição.
Após a análise dos anúncios publicados no Facebook oficial da Cacau Show, a seguir,
examinaremos os três vídeos da campanha de Páscoa 2017 da marca, divulgados,
respectivamente, nos dias 21/03, 31/03 e 11/04. Ao final, apresentaremos as principais
considerações em relação ao modo como a Cacau Show construiu e projetou atributos
associados à sua marca.
4.3.2 Descrição e análise dos vídeos
No dia 21 de março, a Cacau Show começou a veicular em emissoras de televisão
abertas e fechadas, mídias impressas, on-line, out of home (OOH)23
e em suas redes sociais
digitais Facebook, Instagram, Twitter e YouTube, o primeiro filme da campanha de Páscoa do
ano de 2017. Somente no Facebook, a publicação contou com 682 mil reações, 31.417
compartilhamentos, 25.575 comentários e mais de 21 milhões de visualizações. Em entrevista,
a diretora de comunicação da Cacau Show, revelou o posicionamento e o tom adotados pela
marca nos vídeos da campanha de Páscoa.
A Páscoa é um momento muito especial para a família brasileira, que troca presentes
tão irresistíveis nessa data. O ovo Dreams é muito desejado por nossos
consumidores. Por isso, o filme principal destaca o lançamento dessa linha, o
ovo Dreams Bem-Casado. A casca tem três generosas camadas de recheio, que só a
Cacau Show consegue fazer. E para apresentar um produto tão especial, escolhemos
o casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, que trazem uma campanha divertida
e surpreendente em uma série de filmes nessa Páscoa. Eles também apresentam
outros sucessos da marca, como os ovos Clássicos, que são um excelente presente
por um preço muito competitivo. As peças da campanha mostram como a Cacau
Show é o destino ideal, com presentes deliciosos, de alta qualidade, com opções
para encantar a todos. (OGAWA apud BRANDÃO, 2017, grifo nosso).
Antes de descrever e analisar as cenas do vídeo Páscoa e Dreams Bem Casado: o
casamento perfeito, faz-se necessário entender por que a Cacau Show escolheu o casal
midiático Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank para a sua campanha de Páscoa do ano de
23
A mídia out of home (OOH) corresponde a um tipo de propaganda que atinge o indivíduo quando esse se
encontra fora de casa. Monitores dispostos ao ar livre ou instalados dentro de pontos de vendas são exemplos de
mídia OOH. (MÍDIA..., 2012).
78
2017. Jovens, bonitos e pais adotivos de Titi, criança africana de apenas quatro anos, os atores
representam o “casal perfeito que magnetiza fãs e publicitários”. (PESSOA; CERQUEIRA,
2017).
Como visto na discussão teórica sobre o conceito de personalidade de marca, a
personificação é uma estratégia empregada por organizações e marcas para criar atributos de
personalidade únicos e gerar reconhecimento nos consumidores. Com o intuito de apresentar
o novo ovo da linha Dreams, a Cacau Show elegeu as celebridades Bruno Gagliasso e
Giovanna Ewbank. O uso de tais personagens midiáticos ajudou na construção e sustentação
do discurso adotado pela marca durante toda a sua campanha de Páscoa. Como argumentam
as jornalistas da Veja Rio:
Casais bonitos, bem-sucedidos e famosos sempre atiçaram o imaginário do
público, que enxerga neles um ideal a ser seguido. Os atores Elizabeth Taylor e
Richard Burton encarnaram esse papel na vida real enquanto o casamento durou,
assim como, mais tarde, Brad Pitt e Angelina Jolie. Os cantores Jay Z e Beyoncé
ocupam essa posição hoje nos Estados Unidos, enquanto na Inglaterra David e
Victoria Beckham encarnam o modelo. Por aqui, Gagliasso e Giovanna formam,
junto com Luciano Huck e Angélica, Rodrigo Hilbert e Fernanda Lima e
Lázaro Ramos e Taís Araújo, o carismático e poderoso time dos astros e
estrelas do showbiz nacional casados entre si. “É o que chamamos de quarteto
mágico da propaganda. Eles funcionam bem separados, mas vão ainda melhor
juntos”, analisa o publicitário Nizan Guanaes. (PESSOA; CERQUEIRA, 2017, grifo
nosso).
De acordo com as jornalistas, Bruno e Giovanna simbolizam a perfeição. Os dois são
considerados bonitos, jovens, influentes, bem-sucedidos e, também, carismáticos. Em suma,
formam o par perfeito. Segundo o publicitário Washington Olivetto, os atores “personificam
os anseios contemporâneos, como ser livres de preconceitos, por exemplo. É o casal do nosso
tempo”. (OLIVETTO apud PESSOA; CERQUEIRA, 2017). Nesse sentido, a personalidade
da dupla, ou seja, o conjunto de características que define o casal Bruno e Giovanna, expresso
anteriormente, traduz parte da personalidade da marca Cacau Show. Em outras palavras, os
adjetivos usados constantemente pela mídia para caracterizar os atores refletem atributos que
podem ser associados à marca Cacau Show. Com base no modelo de Aaker (1997) adaptado
ao contexto brasileiro por Muniz e Marchetti (2005), foi possível identificar os traços de
personalidade simpatia, informalidade, jovialidade, romantismo, modernidade e sensibilidade
na marca Cacau Show.
Desenvolvido pela agência de publicidade Lew’Lara\TBWA, o filme Páscoa e
Dreams Bem Casado: o casamento perfeito – o primeiro de uma série de três – tem 30
segundos de duração e simula uma cerimônia de matrimonial inusitada entre os atores globais
79
Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. O objetivo do vídeo era apresentar ao público o ovo
Dreams Bem-Casado, como já dito, um dos principais lançamentos da Cacau Show para a
Páscoa 2017. O primeiro filme da série mostra o casal escolhendo produtos de Páscoa dentro
de uma loja da Cacau Show, quando, subitamente, se deparam com a grande novidade da
marca. Tal acontecimento desperta em ambos a vontade de renovar os votos de casamento. A
seguir, apresentamos a descrição e, posteriormente, a análise de cada cena do primeiro vídeo
da campanha de Páscoa da Cacau Show.
i. Apresentação do ovo Dreams Bem-Casado
Giovanna se depara com os ovos das linhas Clássicos e Dreams nas prateleiras da loja da
Cacau Show e, prontamente, exclama: “Môr, olha quanto presente de Páscoa delicioso!”.
Nessa hora, Bruno, que estava do lado oposto da loja apontando para uma caixa de chocolates
da marca e conversando com uma das funcionárias do estabelecimento, olha para a esposa e
começa a prestar atenção no que ela está falando. Giovanna, então, continua o diálogo com o
marido, “Ovo Clássico só trinta e nove e noventa”, quando, de repente, descobre e já começa
a tirar da prateleira um ovo específico da linha Dreams. Enquanto se dirige até Bruno, com o
ovo nas mãos, Giovanna completa, maravilhada: “Novo Dreams Bem-Casado com casca
recheada”. Bruno, que já estava caminhando em direção a ela para conferir o produto,
expressa admiração por meio da interjeição “Nossa” assim que se depara com o ovo Dreams
Bem-Casado. Nesse momento, o casal aparece um de frente para o outro, trocando olhares, e
Giovanna comenta: “Dá vontade de casar de novo, né?”. Bruno, de imediato, responde: “É pra
já, meu amor”. Em seguida, vira-se de costas e pisca um dos olhos para uma das funcionárias
da loja, que sorri para ele e acena com a cabeça em sinal afirmativo. Giovanna, sem entender
o que o marido estava planejando, solta a interjeição “Hã?”.
No filme Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito, o ovo Dreams Bem-
Casado desperta em Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank a vontade de renovar os votos
matrimoniais. O nome do novo produto da marca remete ao doce bem-casado ou casadinho,
de origem portuguesa. Segundo Galhardo (2016), o doce chegou ao Brasil na época da
colonização, durante os séculos XVI e XIX, e, sua receita tradicional, consiste na junção de
pão de ló e doce de leite. Inspirada no doce, a Cacau Show criou o novo item da linha
Dreams, um ovo de chocolate ao leite e branco com casca recheada sabor bem-casado, com
creme, cookies e doce de leite.
80
O bem-casado é um clássico presente na maioria das comemorações, principalmente
em cerimônias de casamento. O doce, geralmente oferecido ao final da festa, simboliza o
encontro de duas metades que se completam, ou seja, a união perfeita, como indica a cena 1
do filme Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito. Além disso, de acordo com a
tradição, o bem-casado traz sorte, prosperidade e felicidade, tanto aos recém-casados, quanto
aos convidados. No vídeo, o ovo da linha Dreams, assim como o doce bem-casado, representa
o encontro e a união entre Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Quanto a isso, é interessante
notar que o próprio casal projeta a imagem de bem-casados, adjetivo que, no singular, dá
nome ao novo produto da Cacau Show.
ii. Casal de atores renova votos de casamento
À medida que toca a marcha nupcial, a loja da Cacau Show se transforma em um altar de
igreja para a celebração do casamento de Bruno e Giovanna. Funcionários e clientes da Cacau
Show presentes na loja durante o episódio anterior, aparecem, ao fundo, ajudando a montar o
novo cenário improvisado. De um lado, uma cliente e uma funcionária empurram uma mesa
de madeira pequena com uma jarra de vidro cheia de rosas brancas, do outro, um cliente faz a
mesma coisa. Atrás do casal surge um arco de folhas e flores brancas e, além disso, a
intensidade da luz da loja começa a diminuir. Uma das funcionárias, sorrindo, coloca um arco
de flores rosas na cabeça da noiva, ao passo que uma outra, entrega-lhe o buquê de flores
brancas. Já Bruno aparece com um cravo no bolso da camisa.
Ao longo da segunda cena do filme, a loja da Cacau Show se transforma em uma
espécie de igreja para a celebração dessa união. Nesse momento, surgem vários elementos no
cenário, todos ligados ao universo do casamento, tais como flores, velas, altar e buquê. Para
acompanhar a mudança, ao fundo, toca a marcha nupcial em ritmo acelerado, outro elemento
típico desse tipo de cerimônia. Na cena, há predominância da cor branca, desde o traje dos
noivos até a decoração como um todo. O branco também remete a casamento e simboliza
pureza e inocência. A cena 2 do vídeo apresenta elementos ligados à religião e a valores
familiares e tradicionais.
81
iii. Desfecho do casamento
Com o altar improvisado pronto e os noivos a postos, a funcionária que desempenha o papel
de celebrante de casamento anuncia: “Eu vos declaro marido e mulher. Pode abrir o ovo”.
Nesse momento, a marcha nupcial é interrompida, o casal, que já ia se beijar, olha para a
funcionária e essa, com uma gargalhada, corrige a última informação: “Beijar a noiva”. Bruno
e Giovanna sorriem e se beijam.
Na terceira cena, no papel de celebrante de casamento, a funcionária da Cacau Show
declara Bruno e Giovanna marido e mulher, e, antes de finalizar a cerimônia com a clássica
sentença “pode beijar a noiva”, ela brinca dizendo que o casal pode “abrir o ovo”, se referindo
ao produto da linha Dreams sabor bem-casado que está nas mãos de Bruno. A cena 3 do filme
Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito evidencia um discurso mais
descontraído, divertido e ousado. Como sustenta a marca, “a Cacau Show não vende apenas
chocolates, mas, sim, verdadeiros momentos de felicidade”. (CACAU SHOW, 2017c, p. 33).
Assim sendo, o matrimônio inusitado entre os atores globais representa um momento de
felicidade. Ainda na terceira cena, Bruno e Giovanna selam a renovação de votos com um
beijo, uma demonstração de afeto e carinho.
iv. Imagens do doce bem casado, do casal e de outros produtos da Cacau Show
Em seguida, surgem outras cenas. A primeira mostra o doce bem-casado sendo finalizado e
confeitado com açúcar; a segunda exibe a casca recheada do ovo de chocolate Dreams sabor
bem-casado, com creme, cookies e doce de leite; a terceira revela o casal abraçado, segurando
pedaços do ovo nas mãos; e a quarta apresenta toda a linha Dreams Sobremesas da Cacau
Show, com o lançamento da marca em primeiro plano. Simultaneamente a tais cenas, um
locutor comunica: “Quem ama, dá ovos de Páscoa Cacau Show. Uma delícia de presente”.
Na cena 4, a Cacau Show reforçou ainda mais seu posicionamento de marca ao
mostrar o cuidado no preparo do doce e do ovo bem-casado. Junto às imagens, o narrador do
vídeo assegurava: “Quem ama, dá ovos de Páscoa Cacau Show. Uma delícia de presente”. A
sentença reiterou o discurso de afeto e carinho da marca, sublinhando a Cacau Show como a
melhor opção, e a mais saborosa, para presentear na Páscoa. Nesse sentido, quem estima e
82
gosta do outro, presenteia com chocolates da marca Cacau Show, tradução literal desse
cuidado, carinho e amor.
v. Saída dos noivos da loja da Cacau Show
Após a cerimônia, Bruno e Giovanna caminham em direção à saída da loja com sacolas da
Cacau Show nas mãos e, nesse ínterim, são saudados festivamente por clientes e funcionários
da Cacau Show, os convidados da solenidade. A saída dos noivos é acompanhada por uma
chuva de arroz.
Na última cena do filme Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito, a saída
dos recém-casados Bruno e Giovanna é acompanhada por uma chuva de arroz, tradição antiga
relacionada à prosperidade e fertilidade do casal. Neste ponto, mais uma vez, a Cacau Show
demonstrou um discurso ligado a valores tradicionais, familiares e religiosos. De modo geral,
o primeiro vídeo da campanha de Páscoa 2017 da Cacau Show buscou construir e projetar o
posicionamento da marca, enunciado como “Carinho em cada pedacinho”.
“Carinho em cada pedacinho” mostra cada sensação que um chocolate pode
proporcionar. Pedacinho é o cuidado e a sensação de cada gesto de carinho, de
proximidade entre as pessoas. Representa todo o cuidado da Cacau Show, no
preparo do chocolate, em cada embalagem, em cada loja. Cuidado em todos os
detalhes que formam a Cacau Show. (CACAU SHOW, 2015, p. 33).
Outro elemento de destaque no filme é o uso de uma linguagem coloquial e
descontraída nos diálogos entre o casal. A preposição “para” e o substantivo masculino
“amor”, por exemplo, são empregados nas formas sincopadas “pra” e “môr”. Mediante a
utilização de tal linguagem, a Cacau Show apresentou-se como uma marca extrovertida,
simples, moderna e informal. A projeção desses traços tencionou aproximar a marca de
consumidores mais jovens.
No dia 31 de março, a Cacau Show veiculou o segundo vídeo de sua campanha de
Páscoa de 2017. O filme, assim como o primeiro da série, tem 30 segundos de duração e
também é assinado pela agência de publicidade Lew’Lara\TBWA. Intitulado O jeito mais
gostoso de aproveitar a #PáscoaCacauShow é assim: quanto mais ovos de chocolate, melhor,
o vídeo mostra Bruno Gagliasso se deliciando com os chocolates da Cacau Show e Giovanna
Ewbank incrédula com a atitude do marido. Somente no Facebook, o filme contou com
111.384 reações, 3.869 compartilhamentos, 2.096 comentários e mais de 6 milhões de
83
visualizações. A seguir, apresentamos a descrição e, por fim, a análise geral do segundo filme
da campanha de Páscoa da Cacau Show.
i. Giovanna faz pergunta a Bruno
O filme começa com Giovanna Ewbank dizendo: “Gente, a Cacau Show está assim, cheinha
de ovos de Páscoa. E é cada presente, né amor?”. Logo que acaba de formular a pergunta, a
atriz olha para o marido e a câmera, que antes estava focando nela, volta-se para o ator.
ii. Bruno aparece comendo chocolates
Bruno Gagliasso aparece todo lambuzado de chocolate, comendo e segurando pedaços do ovo
Dreams Bem-Casado. Impossibilitado de falar, já que sua boca está cheia de chocolate, o ator
apenas responde “Uhum”, concordando com a pergunta retórica feita pela esposa. Incrédula
com a falta de educação do marido, que está falando de boca cheia, Giovanna chama sua
atenção.
iii. Giovanna pede desculpas e Bruno continua comendo chocolates
A câmera mira Giovanna novamente e ela comenta: “Gente, desculpa pelo Bruno”. A atriz
vira a cabeça novamente para olhar o marido. A câmera fixa em Bruno, que, mesmo com a
bronca da esposa, continua devorando chocolates e aparece ainda mais lambuzado do que a
cena anterior.
iv. Giovanna surge perplexa e Bruno fala de boca cheia
Giovanna aparece boquiaberta, completamente espantada com o comportamento do marido.
Ao fundo, Bruno pronuncia, de boca cheia, “Isso aqui...” e, quando a câmera volta a focar o
ator, ele completa a frase: “É muito bom!”.
v. Imagens de chocolates e anúncios de promoções de Páscoa da Cacau Show
Entram imagens do ovo Dreams com casca recheada sabor Brigadeiro e do casal protagonista
da campanha de Páscoa se divertindo ao “disputar” um pedaço do ovo Dreams Bem-Casado.
Ao mesmo tempo, um locutor comunica: “Quem aproveita a Páscoa Cacau Show, nunca sai
84
de mãos vazias. Ovos Clássicos apenas trinta e nove e noventa, linha Bytes duzentos gramas a
partir de vinte e nove e noventa. Cacau Show, carinho em cada pedacinho”. À medida que o
emissor fala sobre as linhas e seus respectivos preços, surgem imagens desses produtos na
tela. Em seguida, o ovo Dreams Brigadeiro é apresentado novamente, assim como Bruno
Gagliasso e Giovanna Ewbank, que aparecem comendo um pedaço do ovo Dreams Bem-
Casado. O vídeo termina com uma imagem da linha Dreams completa, com destaque para o
principal lançamento da marca para a Páscoa de 2017, o ovo sabor bem-casado.
O discurso da Cacau Show no vídeo O jeito mais gostoso de aproveitar a
#PáscoaCacauShow é assim: quanto mais ovos de chocolate, melhor, enfatizou a quantidade
e as opções de presente da marca para a Páscoa. Tal como no primeiro filme da campanha, a
Cacau Show utilizou um tom descontraído, divertido e informal. No segundo vídeo, Bruno
Gagliasso aparece devorando e desfrutando dos chocolates da Cacau Show, situação que o
impede de responder e conversar com sua esposa. Giovanna Ewbank, por sua vez, se mostra
incrédula com a atitude do marido e pede até mesmo desculpa para os consumidores da
marca.
As cenas do segundo filme reforçam o prazer e a satisfação de Bruno em degustar o
ovo Dreams sabor bem-casado. Nessa perspectiva, a Cacau Show construiu e projetou um
discurso centrado nos sentimentos e sensações que um dos produtos da marca provocou no
ator. O vídeo procurou frisar o objetivo e, também, o posicionamento adotado pela marca. Na
última cena, a Cacau Show comunicou outro atributo associado à sua marca, o preço. Esse
traço se encontra diretamente ligado ao propósito da Cacau Show de “democratizar o
chocolate de qualidade”. (CACAU SHOW, 2015, p. 67).
[...] Fornecemos acesso a todos os nossos consumidores que desejam presentear as
pessoas que gostam de produtos bem elaborados, desde sua composição até a
apresentação final em suas embalagens. Como temos este conceito, nossas faixas
de preço são elaboradas para todos os públicos. (CACAU SHOW, 2015, p. 67,
grifo nosso).
No dia 11 de abril, a Cacau Show veiculou o terceiro e último vídeo da campanha de
Páscoa do ano de 2017. O filme tem 30 segundos de duração e segue o formato das produções
anteriores assinadas pela Lew’Lara\TBWA. A publicação contou com 107.732 reações, 4.510
compartilhamentos, 3.709 comentários e 4.676.893 visualizações. Intitulado Com promoções
assim, ninguém fica de fora. Presenteie quem você ama igual chocolate com Cacau Show, o
vídeo mostra Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank escolhendo presentes de Páscoa da Cacau
85
Show para todos os seus familiares. A seguir, apresentamos a descrição e, na sequência, a
análise geral do terceiro vídeo da campanha de Páscoa 2017.
i. Bruno anuncia a proximidade da Páscoa
Bruno aparece andando dentro de uma loja da Cacau Show, dizendo: “Galera, falta muito
pouco para a Páscoa. Quem não comprou ovo para domingo, corre para a Cacau Show”.
ii. Casal seleciona presentes de Páscoa para integrantes da família
Giovanna entra em cena falando: “Hum, ó amor, já escolhi para o meu pai”. Antes de terminar
a fala, ela tira de uma das prateleiras um ovo da linha Clássicos. Bruno pergunta: “Do seu pai
é esse?”. Giovanna, tirando outro ovo da prateleira, continua: “Esse daqui é para a minha mãe,
porque ela gosta de cereja”. Nesse momento, Bruno também começa a escolher os presentes
de Páscoa para a família: “Esse daqui eu vou levar para a Jane”. Ao se deparar com o ovo
Chocomonstros, Bruno exclama: “Pra criança!”. Giovanna, por sua vez, comenta: “Olha que
máximo! As crianças vão adorar”. Bruno completa: “Olha esse aqui. Aperta o negocinho e ó,
quem quer chocolate?”.
iii. Pilha de chocolates cai no chão e os atores pedem desculpas pelo ocorrido
Giovanna tira mais um produto da prateleira e coloca em cima da pilha de ovos de Páscoa que
Bruno está segurando. Enquanto faz isso, ela declara: “Olha aqui, ah, eu pensei também da
gente pegar esse aqui que a gente leva...”. Antes de completar a frase, alguns produtos da
pilha caem no chão e Giovanna exclama: “Bruno, cuidado!”. Então, se dirigindo à funcionária
da loja da Cacau Show, ela completa: “Desculpa, moça”. Bruno responde: “Giovanna, não
tenho culpa, você está botando tudo aqui”. Em seguida, olhando para a funcionária da loja, o
ator reitera o pedido de desculpas da mulher: “Moça, perdão”.
iv. Anúncios de promoções de Páscoa da Cacau Show
O locutor do vídeo anuncia: “Na compra de um ovo Clássico por trinta e nove e noventa ou de
um ovo da linha Dreams, você pode levar um ovo da linha Bytes por apenas vinte e quatro e
noventa. Cacau Show, carinho em cada pedacinho”. No final do vídeo, Giovanna tira um ovo
86
de chocolate enorme da prateleira e coloca na pilha de produtos que Bruno já estava
segurando.
No filme Com promoções assim, ninguém fica de fora. Presenteie quem você ama
igual chocolate com Cacau Show, a Cacau Show construiu um discurso focado no ato
especial de presentear familiares e pessoas queridas na Páscoa. Bruno Gagliasso e Giovanna
Ewbank aparecem escolhendo produtos variados da marca para seus parentes. Nesse terceiro
vídeo, a Cacau Show, mais uma vez, evidenciou seu posicionamento de marca, “Carinho em
cada pedacinho”. O ato de presentear alguém com chocolates da marca é um sinal de amor,
cuidado e carinho.
Do ponto de vista de representação, segundo a mídia brasileira, Bruno e Giovanna,
formam o par perfeito e, também, constituem uma família perfeita. Como já mencionado, o
publicitário Washington Olivetto, por exemplo, sustenta que o casal personifica os anseios
contemporâneos. (OLIVETTO apud PESSOA; CERQUEIRA, 2017). No vídeo Com
promoções assim, ninguém fica de fora. Presenteie quem você ama igual chocolate com
Cacau Show, o uso do casal reforçou valores familiares e os rituais da Páscoa cristã, como
presentear com ovos de chocolate parentes, amigos e crianças.
Em seu discurso de Páscoa, a Cacau Show sublinhou, em diversos momentos,
atributos racionais e emocionais associados a sua marca. Inovação, romantismo, confiança,
cuidado, modernidade, informalidade, simpatia, qualidade e sensibilidade foram alguns dos
atributos projetados pela marca. A Cacau Show procurou, sobretudo, produzir sentido e ser
significativa para seus consumidores, apresentando-se como uma representação simbólica
viva e dinâmica. Nessa lógica, a marca investiu, para além do consumo de produtos, em um
enunciado centrado nas sensações e emoções despertadas pelo chocolate, ou seja, na criação
de “mundos possíveis”. (SEMPRINI, 2010).
4.4 Os sentidos do show: as percepções dos consumidores sobre a marca
Para investigar a percepção e as construções de sentido em relação à Cacau Show,
foram realizadas trinta entrevistas em profundidade, do tipo roteiro semiestruturado, com
consumidores da marca. A coleta de dados ocorreu no final do mês de maio e início do mês de
abril de 2017 nas lojas da Cacau Show do BH Shopping, Diamond Mall e Boulevard
Shopping, em Belo Horizonte. A análise desse material foi fundamental para o entendimento
do processo de reconhecimento da marca Cacau Show, bem como de sua personalidade.
87
O roteiro de entrevista era composto por sete perguntas (Apêndice A). A primeira
buscou identificar o grau de familiaridade dos entrevistados24
em relação à marca Cacau
Show. Para tanto, os consumidores foram indagados a respeito da frequência com que eles
compram produtos da marca. A segunda pergunta instigou os consumidores a pensarem sobre
o “por que optam pela Cacau Show” com o propósito de verificar os fatores determinantes na
escolha por essa marca, bem como os traços que a distinguem de marcas concorrentes
inseridas no mercado. O terceiro questionamento identificou as associações geradas pela
marca Cacau Show na mente de seus consumidores. Dessa forma, os entrevistados foram
convidados a pensar na marca de chocolates e a exprimir aquilo que vinha, naquele instante, à
sua memória ou consciência. A quarta pergunta do roteiro de entrevista investigou as
sensações e/ou sentimentos que a marca Cacau Show desperta nos consumidores.
O quinto questionamento procurou verificar se a Cacau Show causa algum tipo de
impacto em seus consumidores e examinou a possibilidade da marca ser especial, ter certa
importância para os entrevistados ou, ao contrário, corresponder apenas a mais um chocolate
entre muitos. A sexta pergunta do roteiro de entrevista – “Você viu alguma informação ou
assistiu alguma propaganda recente da Cacau Show? Se sim, o que? Qual sua opinião sobre o
que você viu/assistiu?” – tinha como objetivo, por um lado, avaliar a comunicação da marca
com seus consumidores e, por outro, examinar a opinião dos entrevistados em relação ao
discurso adotado pela Cacau Show. A sétima e última pergunta do roteiro de entrevista
solicitou aos respondentes que pensassem na Cacau Show como se ela fosse uma pessoa a fim
de identificar sua personalidade de marca.
No geral, os entrevistados compram produtos da marca Cacau Show de forma
moderada. Nesse sentido, os respondentes já conheciam ou possuíam certo grau de
familiaridade, mesmo que razoável, com a marca de chocolates em estudo. Classificamos
como “moderado” uma frequência de compra mensal. Além disso, mais de 30% dos
entrevistados disseram comprar produtos da marca com uma frequência semanal ou diária.
Em relação aos fatores determinantes na escolha pela Cacau Show, a maior parte dos
entrevistados considerou os aspectos funcionais associados à marca, tais como preço, sabor,
qualidade, variedade e relação custo-benefício. Plummer (1985) reconhece as características
funcionais como uma das dimensões da marca contemporânea. Para o autor, os indivíduos
24
Para preservar o direito à privacidade e identidade dos entrevistados, essa pesquisa não publica seus nomes.
Por isso, no lugar deles, foram adotados os termos “respondentes”, “entrevistados” e “consumidores”. Além
disso, apesar da amostra ter sido composta por homens e mulheres, optamos por referenciá-la de acordo com a
norma culta da língua portuguesa, na qual todo substantivo no plural e no masculino pode se referir a pessoas do
gênero masculino ou feminino.
88
percebem, de modo explícito, os benefícios, promessas e valores transmitidos por uma marca
em decorrência de seu uso. No caso da Cacau Show, os entrevistados optam pela marca por
reconhecerem, acima de tudo, seus atributos práticos.
Para três entrevistados, a Cacau Show oferece um produto específico que atende às
suas necessidades. O entrevistado 1, por exemplo, relatou que escolhe a Cacau Show por
causa do alto teor de cacau presente no chocolate da linha Bendito Cacao: “minha menina fala
que eu tenho que comer [chocolate com teor] acima de 70% e não tem nenhum nacional que
eu conheça que seja acima de 70%. É por isso que eu escolho o chocolate dessa marca”.
Igualmente, outros dois entrevistados afirmaram eleger a Cacau Show em virtude de um
produto em particular, porém da linha Truffon.
Além disso, de acordo com os consumidores, a Cacau Show oferece uma boa relação
custo-benefício, produtos variados e de qualidade e preço mais baixo, como indicam os
depoimentos a seguir:
Por causa da qualidade do produto e pela diversidade também. Eu gosto muito
(Entrevistado 4, grifo nosso).
Porque os produtos são de qualidade e têm um bom custo-benefício na minha
opinião (Entrevistado 30, grifo nosso).
Eu acho que a qualidade é boa e o preço é justo (Entrevistado 24, grifo nosso).
Mais barato que algumas marcas e tem qualidade (Entrevistado 17, grifo nosso).
Eu sempre compro [Cacau Show], gosto de dar de presente. Só compro aqui e tem
outro detalhe, é o melhor ovo [de Páscoa] da praça e não é tão caro. As pessoas
imaginam que aqui ficaria mais caro, mas não fica, pelo contrário. [...] Aqui fica
muito mais em conta. Eu tenho certeza disso, porque já fiz a comparação com
outros lugares. Eu não sou de olhar preço, mas com relação a Cacau Show eu
tenho certeza. É um produto de ótima qualidade e bom preço (Entrevistado 27,
grifo nosso).
Outro atributo muito destacado pelos entrevistados foi o sabor do chocolate. A título
de exemplo, o entrevistado 21 declarou que acha o chocolate da marca Cacau Show “[...]
diferenciado, mais cremoso, mais suave, ele é muito mais gostoso do que os outros”.
Conforme Olins (2000), as marcas adquiriram importância para as organizações em razão de
três fatores complexos. O primeiro consiste no fato de que frente a um cenário competitivo,
em busca da atenção dos consumidores, as marcas surgem como dispositivos diferenciadores
que tornam as decisões mais simples. Nessa perspectiva, a marca Cacau Show consegue se
destacar da concorrência, sobretudo, em função da qualidade, sabor, preço e custo-benefício
89
de seus produtos, como destacaram os entrevistados. O processo de escolha dos consumidores
se relaciona, primordialmente, à percepção dos propósitos funcionais da marca.
Olins (2000) elucida que o segundo fator se refere à consistência, segurança e pertença
que as marcas oferecem. Quanto a isso, foi possível observar que alguns entrevistados
reconheceram tais aspectos na marca Cacau Show. Nesses casos, a marca foi escolhida devido
à familiaridade e credibilidade e por gerar confiança nos consumidores:
É um chocolate muito conhecido pelo público, a gente sabe que é um chocolate de
confiança e os preços também são bons (Entrevistado 18, grifo nosso).
É uma marca famosa, fácil de encontrar, de qualidade reconhecida (Entrevistado
19, grifo nosso);
Ela [a Cacau Show] é muito falada na mídia, é conhecida. Na televisão passa
muita propaganda (Entrevistado 25, grifo nosso).
De acordo com Batey (2010), os indivíduos adquirem produtos, antes de tudo, pelo
que significam e não apenas pelos atributos funcionais que ofertam. Nessa lógica, a ação de
um sujeito é resultado de seu envolvimento ativo no processo de produção de sentidos de uma
marca. Os depoimentos dos entrevistados 18, 19 e 25, mostram que, de algum modo, tais
consumidores se envolveram com a marca Cacau Show, seja pela confiança projetada pela
marca ou pelo fato dela ser “famosa” ou “muito falada na mídia”.
Segundo Olins (2000), o terceiro fator referente à importância da marca para as
organizações consiste na empatia que os sujeitos criam em relação a esse bem simbólico. Essa
afinidade pode se estabelecer por meio de uma experiência de compra favorável, como
aconteceu com um número reduzido de entrevistados. Na opinião do entrevistado 13, por
exemplo, o atributo atendimento ao cliente foi o que mais se destacou: “primeiro, porque o
atendimento é nota dez ou mil e segundo, porque eu gosto de tudo”.
A marca contemporânea se mostra como uma entidade que existe no espaço
psicológico dos sujeitos. O publicitário Randazzo (1996) utiliza o termo “mitologia da marca”
para se referir a tudo aquilo que a marca representa na mente do consumidor: imagens,
sensações etc. Nas entrevistas, buscamos apreender essa “mitologia” ou essência da marca
Cacau Show por meio de perguntas que incluíam as associações e os sentimentos dos
consumidores relativos a ela.
Para a maioria dos entrevistados, a marca Cacau Show se associa, exclusivamente, ao
termo genérico “chocolate”, uma referência ao produto comercializado pela empresa. Outros
já qualificaram o chocolate da marca por meio do uso de substantivos, como “delícia”,
90
“qualidade”, ou de adjetivos, como “gostoso”, “saboroso” e “agradável”. Mais uma vez, o
chocolate e os produtos da marca foram relacionados a atributos funcionais, tais como
qualidade, sabor e preço, como atestam os depoimentos a seguir:
Delícia de chocolate. Chocolate gostoso, de boa qualidade também (Entrevistado
25, grifo nosso).
Um produto de ótima qualidade, com certeza (Entrevistado 27, grifo nosso).
Preço (Entrevistado 6, grifo nosso).
Tudo de bom, chocolate bom (Entrevistado 13, grifo nosso).
Em determinados casos, a marca despertou sensações, como “prazer” (Entrevistado 2);
criou impressões, como “engordar” (Entrevistados 4 e 10); e evocou boas lembranças:
Eu lembro da minha mãe, porque eu não sou daqui, sou de Rio Casca. Ela gosta
muito e em Rio Casca não tem loja [da Cacau Show]. A cidade mais próxima que
tem é Viçosa, então fica mais complicado para comprar. Minha mãe gosta e o que
ela gosta eu também gosto. Ela sempre compra para presentear. (Entrevistado
20, grifo nosso).
Por esse ângulo, a Cacau Show conseguiu, de certa forma, se conectar com esses
consumidores no nível dos sentidos e das emoções, ultrapassando a dimensão física ou os
aspectos tangíveis dos produtos da marca. Portanto, nesses casos, a Cacau Show existe no
espaço psicológico dos indivíduos, se firmando como uma “marca emocional” capaz de
estabelecer uma conexão mais profunda e duradoura com os consumidores. (GOBÉ, 2002).
Além da sensação de prazer, a marca Cacau Show despertou uma “sensação boa” e
outros sentimentos agradáveis, como “satisfação”, “alívio”, “conforto”, “alegria”, “amor”,
“felicidade”, “confiança” e “reciprocidade” nos consumidores. Essas palavras-chave, retiradas
das respostas dos entrevistados, salientam o modo positivo como a marca Cacau Show foi, em
um primeiro nível, percebida por seus consumidores. Por outro lado, três entrevistados
afirmaram que a Cacau Show não desperta qualquer tipo de sensação ou sentimento neles e
apenas um entrevistado vinculou à marca a um sentimento negativo, de “culpa”. Tais dados
revelam que a maior parte dos entrevistados reconhece os atributos projetados pela Cacau
Show por meio de seu discurso e posicionamento comunicacional. Em outras palavras, a
marca vincula-se, constantemente, aos conceitos prazer, felicidade e bem-estar, atributos que,
de fato, são percebidos por seus consumidores.
91
Outro aspecto considerado pela maioria dos entrevistados diz respeito ao impacto
causado pela Cacau Show. Segundo eles, a marca é diferenciada, seja pelo sabor ou qualidade
dos chocolates, atendimento ao cliente, design das embalagens, propaganda ou preço dos
produtos, como revelam as respostas adiante:
A propaganda, o design impactam. Há algo de especial na marca (Entrevistado 9,
grifo nosso).
A qualidade, o sabor dela é diferente. Impacta sim. Um exemplo é a Páscoa. Eu
preferi a Cacau Show do que outras marcas. O chocolate é menos enjoativo
(Entrevistado 22, grifo nosso).
É um bom atendimento e uma marca boa Ela é especial (Entrevistado 13, grifo
nosso).
Marca a gente, né? Quando a gente recebe um presente assim [da Cacau Show], a
gente sente satisfação em ter ele. Impacta a gente. Tem algo de especial na marca
sim (Entrevistado 28, grifo nosso).
É a minha preferida. O chocolate é bom e eu acho interessante que eles fazem umas
embalagens muito legais para presentear, algumas coisas vinculadas a algum
brinquedo, o que é interessante também (Entrevistado 24, grifo nosso).
Eu não sou muito adepto a chocolate. Eu compro mais para dar para os outros. Na
hora de dar um presente, impacta sim, eu prefiro a Cacau Show. [...] Tem algo
de especial, tanto que eu compro aqui. Eu acho de boa qualidade. (Entrevistado 27,
grifo nosso).
Impacta. É um bom chocolate, gostoso, me atende e tem um preço justo
(Entrevistado 6, grifo nosso).
Na opinião de dois entrevistados, a marca se tornou referência no que se refere a
chocolate. O entrevistado 30 declarou que “a Cacau Show virou referência. Vai ter Páscoa,
vai ter Natal, eu já penso em Cacau Show”. Compartilhando dessa ideia, o entrevistado 19
relatou: “é uma marca que é referência para mim por causa da qualidade”. Para os outros
entrevistados, a Cacau Show equivale a uma marca igual a outras existentes no mercado.
Nesse sentido, notou-se que certos atributos funcionais da marca, como o sabor, a qualidade e
a variedade dos produtos, apesar de serem reconhecidos pelos respondentes, não tornam a
Cacau Show única, especial, diferenciada.
No que concerne ao conhecimento e lembrança de informações relativas à marca, a
maior parte dos entrevistados negou ter assistido qualquer propaganda da Cacau Show na
época. Dois entrevistados recordaram de um filme sobre a linha laCreme25
, que teve como
25
Desenvolvido pela agência Lew’LaraTBWA, o filme começou a ser veiculado em mídias digitais, rádio, bem
como TV aberta e a cabo no mês de julho de 2016. O vídeo, intitulado LaCreme - Je T’Aime Demais, mostra
Olivier Anquier passeando por uma vila com uma barra de chocolate ao leite da linha laCreme nas mãos.
Quando o chef abre a embalagem e dá a primeira mordida, uma mulher abre a janela e suspira ao vê-lo
92
protagonista o chef e apresentador Olivier Anquier. O respondente 13 opinou positivamente
sobre a campanha e recordou, inclusive, o enredo do filme: “ah, aquela do laCreme. Adoro
aquela propaganda. Aquele homem lindo que as mulheres ficam apaixonadas pelo chocolate
dele, não por ele. Adoro a propaganda, acho muito bem bolada”. O entrevistado 15 também se
lembrou da campanha da linha laCreme: “lembro sim, a do laCreme, com o Olivier Anquier.
Como eu já conhecia o chocolate, a propaganda não me influenciou, porque eu já sabia que o
chocolate era muito bom. Mas achei legal. Gostei”. Os dois entrevistados se lembraram, com
detalhes, do produto anunciado, do conteúdo e do personagem principal da propaganda. A
estratégia de personificação usada pela Cacau Show na campanha da linha laCreme ajudou a
sustentar o posicionamento da marca, de especialista, e a extrair simpatia dos consumidores,
como expressou o respondente 13.
Além da propaganda da linha laCreme, alguns entrevistados afirmaram ter assistido à
propaganda intitulada Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito, veiculada
durante a Páscoa, com os atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Todos opinaram
positivamente em relação ao filme, como mostram os depoimentos abaixo:
Eu vi a dos ovos de Páscoa, com aquele casal. Achei interessante, convidativa. Eu
compraria os chocolates para presentear alguém, por exemplo (Entrevistado 18,
grifo nosso).
Eu até lembrei agora, enquanto estava aqui na fila da loja. Assisti a essa propaganda
do Bruno Gagliasso e da esposa, Giovanna. Achei bem agradável, bem legal.
Bonita, né? (Entrevistado 20, grifo nosso).
Sim, passa a propaganda dos ovos todo dia na Globo. É com aquele ator, esqueci o
nome dele, e a esposa. Muito boa a propaganda, criativa (Entrevistado 26, grifo
nosso).
Por sinal ontem ou anteontem eu vi na televisão uma propaganda. É do ovo, da
Páscoa, até com aquele ator... ele com aquela loira, um negócio do casamento.
Achei normal, padrão. Só me chamou atenção naquela hora que a vendedora fala ao
invés de “beijar a noiva”, “vamos abrir o ovo”. Eu achei interessante, chamativo,
porque não tinha chamado minha atenção. Quando ela falou eu vi alguma coisa de
diferente. (Entrevistado 27, grifo nosso).
Apenas 20% dos entrevistados recordaram da campanha de Páscoa da Cacau Show.
No geral, o casal escolhido para a propaganda, mais do que o próprio enredo e o produto
central do filme, foi o que despertou a atenção dos entrevistados. Além disso, somente o vídeo
saboreando o chocolate. Enquanto o protagonista caminha e degusta o chocolate, outras mulheres aparecerem
suspirando. No momento em que Anquier coloca o último pedaço de chocolate na boca, as mulheres percebem
que o laCreme acabou e fecham, ao mesmo tempo, suas janelas, mostrando que todos os suspiros eram, na
verdade, pelo chocolate. (OLIVIER..., 2017).
93
Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito foi lembrado pelos consumidores. Com
o intuito de entender melhor por que os respondentes acharam o vídeo “interessante” ou
“convidativo”, indagou-se sobre quais elementos específicos da propaganda mais se
destacaram, mas os consumidores não souberam responder. Dessa forma, o conhecimento dos
entrevistados relativo à campanha de Páscoa da Cacau Show não era muito aprofundado. Em
relação à personalidade projetada pelo casal, a qual traduz parte da personalidade da marca
Cacau Show, foi possível constatar que os consumidores reconheceram outros atributos,
distintos daqueles identificados na análise do discurso de Páscoa da organização. Dessa
maneira, os entrevistados perceberam os traços “criatividade”, “legal”, “agradável”, “bonito”,
“chamativo” e “convidativo”.
Para identificar a personalidade da marca em estudo foram selecionados previamente
dezesseis traços do modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro, como exposto na
metodologia. Os consumidores classificaram tais atributos utilizando uma escala de Likert de
sete pontos, sendo que 1 representava “não descreve em nada a marca Cacau Show” e 7
“descreve totalmente a marca”.
De acordo com o modelo de Muniz e Marchetti (2005), a personalidade de marca
apresenta cinco dimensões, treze facetas e trinta e oito traços. A primeira dimensão,
denominada Credibilidade, engloba quatro facetas e doze traços. A faceta Confiança contém
os traços Responsável, Segura, Séria, Confiável, Leal e Correta; a faceta Sucesso, os traços
Bem-sucedida e Respeitável; a faceta Estabilidade, os traços Consistente e Equilibrada; e a
faceta Determinação, os traços Confiante e Firme. (MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
A segunda dimensão da personalidade de marca, Diversão, é composta por três facetas
e dez traços. A faceta Alegria compreende os traços Bem humorada, Divertida e Alegre; a
faceta Energia, os traços Extrovertida, Festiva e Imaginativa; a faceta Empatia, os traços
Espirituosa, Simpática, Legal e Informal. A terceira dimensão, Audácia, inclui duas facetas e
seis traços. A faceta Arrojo abarca os traços Ousada, Criativa e Corajosa; e a faceta
Modernidade, os traços Moderna, Atualizada e Jovem. (MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
A quarta dimensão, Sofisticação, compreende duas facetas e cinco traços. A faceta
Elitismo engloba os traços Alta Classe e Chique; a faceta Estilo, os traços Elegante,
Glamorosa e Sofisticada. A quinta dimensão, Sensibilidade, abarca duas facetas e cinco
traços. A faceta Sensibilidade inclui os traços Delicada, Feminina e Sensível; a faceta
Emoção, os traços Romântica e Emotiva. (MUNIZ; MARCHETTI, 2005).
Para identificar a personalidade da marca Cacau Show foram selecionados
previamente os seguintes traços: Responsável, Confiável e Leal, da dimensão Credibilidade;
94
Alegre, Informal e Simpática, da dimensão Diversão; Ousada, Moderna, Criativa e Jovem, da
dimensão Audácia; Alta Classe, Elegante e Sofisticada, da dimensão Sofisticação; Feminina,
Sensível e Romântica, da dimensão Sensibilidade. O Gráfico 3 apresenta o mapa da
personalidade da marca Cacau Show, desenvolvido com base no resultado geral das
entrevistas, e a média de cada traço. Nele, é possível notar que as características confiável,
alegre e simpática, por exemplo, se destacaram mais.
Gráfico 3 – Mapa da personalidade da marca Cacau Show
Fonte: Elaborado pela autora
Para facilitar a leitura e análise dos dados, optou-se pela elaboração do Gráfico 4.
Gráfico 4 – Dimensões da personalidade da marca Cacau Show
Fonte: Elaborado pela autora
01234567
Responsável
Confiável
Leal
Alegre
Informal
Simpática
Ousada
Moderna
Criativa
Jovem
Alta Classe
Sofisticada
Elegante
Feminina
Sensível
Romântica
95
O novo mapa apresenta os resultados com base nas cinco dimensões da personalidade
de marca. As médias de cada dimensão e de seus respectivos traços foram sintetizadas na
Tabela 1.
Tabela 1 – Médias dos traços e das dimensões de personalidade de marca analisados
Traços Médias Dimensões Médias
Alegre
Simpática
Informal
6,13
6,20
5,40
Diversão
5,91
Ousada
Jovem
Moderna
Criativa
5,30
6,03
5,73
6,03
Audácia
5,78
Responsável
Confiável
Leal
5,57
6,00
5,47
Credibilidade
5,68
Alta Classe
Elegante
Sofisticada
5,37
5,67
5,60
Sofisticação
5,54
Feminina
Sensível
Romântica
5,10
5,30
5,67
Sensibilidade
5,36
Fonte: Elaborado pela autora
A dimensão Diversão teve a maior média, seguida da Audácia, Credibilidade,
Sofisticação e Sensibilidade. Nessa direção, a Diversão se mostrou a dimensão mais
reconhecida pelos consumidores da marca. Isso significa que os entrevistados percebem a
Cacau Show como uma marca, acima de tudo, alegre, simpática e informal. Em relação à
percepção de cada traço, para os consumidores, a marca se mostrou, em primeiro lugar,
Simpática, depois, Alegre e, por fim, Informal.
Nessa pesquisa, a dimensão Audácia englobou as características Ousada, Jovem,
Moderna e Criativa. Os resultados de cada traço revelaram que os atributos de marca
referentes à jovialidade e criatividade foram reconhecidos, na mesma intensidade, pelos
entrevistados. Já o traço ousadia não se sobressaiu muito, se comparado com os demais. A
dimensão Credibilidade envolveu os traços Responsável, Confiável e Leal. Nessa lógica, o
atributo confiança foi o mais percebido pelos respondentes.
A dimensão Sofisticação abarcou as características Alta Classe, Elegante e Sofisticada.
Por sua vez, a dimensão Sensibilidade incluiu as características Feminina, Sensível e
Romântica. A percepção dos sujeitos em relação a esses seis traços se revelou, nitidamente,
menor. As dimensões Sofisticação e Sensibilidade foram pouco reconhecidas na marca Cacau
Show. Todos os atributos citados apresentaram médias acima de cinco e, portanto, são
96
representações fortes da marca Cacau Show. Isso significa que a Cacau Show foi percebida
pelos consumidores como uma marca que reúne todos os traços analisados.
A percepção dos entrevistados sobre a Cacau Show indicou o reconhecimento,
sobretudo, de atributos físicos e funcionais relacionados à marca, tais como a qualidade, o
sabor, a variedade, o preço, a embalagem ou design dos produtos. No entanto, a marca
também despertou, no geral, sentimentos, sensações, lembranças e impressões positivas nos
consumidores. Atributos emocionais como confiança, felicidade, prazer e satisfação foram
citados por vários entrevistados. Além disso, todos os dezesseis atributos de personalidade de
marca previamente selecionados para análise foram fortemente reconhecidos. A dimensão
mais percebida na marca foi Diversão e o traço que mais se destacou foi Simpática. Portanto,
os entrevistados, de fato, identificaram e legitimaram o discurso e o posicionamento
comunicacional construído e projetado pela marca Cacau Show.
97
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa procurou compreender como a Cacau Show se posiciona e de que modo
os consumidores percebem os atributos da marca a partir do processo de construção de
sentidos. Tal busca nos levou a refletir sobre a relação entre os lugares de produção, recepção
ou reconhecimento e circulação, revelando as fissuras e as assimetrias próprias das dinâmicas
sociais.
A Cacau Show é uma marca contemporânea na medida em que se configura como
uma entidade viva e complexa, capaz de se adaptar às contínuas evoluções dos contextos.
Para além do nome, do design e das cores de um produto, sob um enfoque menos funcional
ou mercadológico e mais simbólico, as marcas correspondem a representações multifacetadas
entorno da qual percepções, interpretações e sentidos irrompem, se consolidam e circulam, em
um permanente processo de semiose.
No decorrer de toda a sua história, em nenhum momento, a marca esteve tão em
evidência como agora. Sobretudo nas últimas três décadas, a marca se transformou em um
fenômeno onipresente e de grande importância, que vem acompanhando as transformações da
sociedade como um todo. Nesse estudo, apresentamos os movimentos da marca Cacau Show
ao longo dos anos, indicando a evolução dos logotipos e dos slogans desde 1988, ano de
fundação da empresa, até 2017.
Esse olhar nos permitiu constatar que a marca Cacau Show avança de modo
concomitante à própria organização e sociedade. Em um período de 29 anos, a Cacau Show
remodelou seu logotipo quatro vezes e atualizou seu slogan três vezes. A última modificação
referente ao logotipo ocorreu recentemente, em 2016, quando a marca se transformou em um
monograma, símbolo simples, fluido e de fácil leitura por parte dos sujeitos. Desde 2010,
praticamente a cada um ou dois anos, a empresa moderniza sua marca, introduzindo novos
elementos discursivos e simbólicos. As mudanças contextuais exigem das marcas essa
renovação e produção constante de significados atualizados. De acordo com a fundamentação
teórica, as marcas são representações do nosso tempo e, por isso, acompanham tendências,
crenças e valores característicos do cenário contemporâneo.
Na era do hiperconsumo, como sugere Lipovetsky (2007), uma nova relação se
estabelece entre indivíduos e ofertas materiais. Por esse ângulo, o ato de consumir passa a
operar conforme uma lógica subjetiva e afetiva. Em meio a essa conjuntura complexa, as
organizações são continuamente desafiadas a construírem e projetarem uma marca, acima de
98
tudo, emocional, apta a se conectar com os indivíduos no nível dos sentidos, evocando
sentimentos, emoções, sensações e memórias.
Na pesquisa exploratória, ao examinarmos todo o processo de comunicação da Cacau
Show, observamos a existência de uma intencionalidade discursiva que revela uma marca
com foco na qualidade dos produtos, mas, ao mesmo tempo, uma marca centrada na
construção de discursos que atuam no imaginário da sociedade, procurando conferir clareza,
consistência, confiança e sentimentos de satisfação e pertença aos indivíduos que se
relacionam com ela. Nessa investigação de caráter exploratório, foi possível ainda
compreender o modo como a marca se posiciona nas mídias sociais, além de identificar os
meses de abril, maio e dezembro, respectivamente, Páscoa e Natal, como os períodos de
maior investimento da empresa em estratégias de comunicação.
A Cacau Show se projeta nas redes sociais digitais Facebook, Instagram, Twitter e
YouTube de forma ativa, apresentando, reiteradamente, em seus enunciados, aspectos
relativos à sua marca/produtos e, também, à visão, missão e valores da organização com o
objetivo de estabelecer vínculos simbólicos e emotivos com seus consumidores. Ademais, a
empresa se empenha em comunicar seu posicionamento de marca, traduzido como “Carinho
em cada pedacinho”, e procura se firmar como especialista em chocolate.
Entre os dias 9 de março e 16 de abril, a Cacau Show realizou sua campanha de
Páscoa do ano de 2017. Durante esse intervalo de tempo, a empresa trabalhou fortemente,
tanto nos vídeos, quanto nos anúncios publicados no Facebook, na divulgação dos ovos de
chocolate da linha Dreams, destacando o principal lançamento da marca para o período, o
Dreams sabor bem-casado. A representação dos produtos apareceu vinculada às ideias de
sonho, prazer, desejo, bem-estar que o chocolate, e, consequentemente, a marca Cacau Show
pode proporcionar. Para apresentar o novo ovo da linha Dreams, a Cacau Show escolheu o
casal midiático Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. Os atores, segundo a mídia brasileira,
representam a perfeição em todos os sentidos e personificam os anseios contemporâneos. O
uso de tais personagens ajudou na construção e sustentação de um enunciado centrado no
romantismo, no afeto, na felicidade e em valores familiares.
Em sua campanha de Páscoa, a marca Cacau Show, enquanto instância semiótica,
buscou produzir e disseminar significados de forma ordenada e estruturada. A análise do
discurso organizacional evidenciou conceitos de inovação, confiança, variedade, cuidado,
qualidade e autenticidade associados à marca. Além disso, a linguagem coloquial adotada nas
peças da campanha auxiliou na apresentação de uma marca informal, descontraída e moderna.
99
Outro aspecto dessa pesquisa foi entender como a marca Cacau Show é percebida
pelos consumidores. Como nenhum efeito de sentido é linear ou automático, para que uma
marca assuma a condição de um bem simbólico, ela precisa ser legitimada, bem como
revestida de significados e valores por sujeitos. Nessa perspectiva, enquanto a Cacau Show
imprime ideias e constrói discursos carregados de intencionalidades, cabe ao sujeito
consumidor, com base em seu repertório individual ou experiências e crenças assimiladas ao
longo da vida, interpretar e atribuir sentidos relativos a essa organização e marca.
O protagonismo do sujeito nesse processo de decodificação reforça a importância de
um estudo sobre o fenômeno marca que não se limita somente à organização, instância
produtora e enunciadora de discursos. Diante disso, essa pesquisa também englobou os
âmbitos da recepção e da circulação, local onde os sentidos irrompem, com o intuito de
constatar os ruídos ou gaps e os múltiplos efeitos de sentido produzidos nos jogos complexos
do processo comunicativo.
A percepção dos sujeitos sobre a Cacau Show indicou, principalmente, a assimilação
de atributos funcionais relativos à marca, entre eles a relação custo-benefício, a qualidade, o
sabor, o preço e a variedade dos produtos. Para além dos atributos racionais, verificou-se o
reconhecimento de atributos emocionais, tais como conhecimento, felicidade, confiança,
credibilidade, afeto, prazer e satisfação. A pesquisa qualitativa mostrou que a marca Cacau
Show existe, de fato, no espaço psicológico dos consumidores entrevistados, despertando
sentimentos/sensações agradáveis e boas lembranças.
Em relação aos atributos de personalidade de marca previamente selecionados a partir
do modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro, foi possível concluir que os
entrevistados reconheceram a Cacau Show como uma marca alegre, simpática, informal,
ousada, jovem, moderna, criativa, responsável, confiável, leal, alta classe, elegante,
sofisticada, feminina, sensível e romântica. Todos os dezesseis atributos de personalidade de
marca analisados foram fortemente reconhecidos pelos consumidores da Cacau Show.
Em um cenário onde impera a paridade de mercadorias e serviços, a personalidade de
marca se apresenta como um possível caminho para garantir a essência e singularidade de
uma marca perante diversos mercados e culturas. De acordo com a teoria, uma personalidade
de marca bem estabelecida e coerente com a personalidade corporativa, como é o caso da
Cacau Show, pode criar laços emocionais e afetivos com os sujeitos. A construção desses
vínculos aumentou a confiança, preferência e lealdade de alguns consumidores pela marca
Cacau Show.
100
Por outro lado, incoerências entre as personalidades corporativa e de marca formam
lacunas que distanciam os atributos comunicados dos percebidos. Com base nos achados da
pesquisa, notou-se que atributos ligados a valores familiares e às responsabilidades
socioambientais da empresa não foram reconhecidos pelos receptores. Tal atributo também
não se manifesta no modelo de Aaker (1997) adaptado ao contexto brasileiro, no entanto, faz
parte do discurso da marca Cacau Show.
A importância do fenômeno marca, sobretudo na contemporaneidade, era em que as
marcas valem mais do que os ativos tangíveis ou físicos de uma empresa, demanda novos
olhares e práticas das organizações. Nesse sentido, estudos sobre o tema possibilitam a
compreensão da marca enquanto construção social, e não apenas como um processo de
criação isolado da área de marketing ou da comunicação. Por isso, torna-se cada vez mais
imprescindível às organizações a elaboração de projetos de marca estruturados e consistentes
e, também, a realização de um trabalho de comunicação bem-feito, consoante aos desejos e
expectativas dos sujeitos contemporâneos.
Esse estudo se mostra relevante ao contribuir com uma reflexão sobre o processo de
construção simbólica de uma marca. Mais do que mero sinal, a marca contemporânea
atravessa complexos processos sociais atuando como um dispositivo ordenador de sentidos.
Entender a marca contemporânea significa compreender os avanços da sociedade, a relação
entre os lugares de produção, recepção e circulação, bem como as mudanças de
comportamento e de valores sociais ao longo do tempo. Espera-se que essa pesquisa sirva de
ensejo para novas discussões e estudos sobre a marca organizacional sob a perspectiva da
construção de sentido.
101
REFERÊNCIAS
AAKER, David A. O que é Brand Equity? In: AAKER, David A. Marcas - brand equity:
gerenciando o valor da marca. 10. ed. São Paulo: Negócio Editora, 1998. Cap. 1, p.1-34.
AAKER, Jennifer L. Dimensions of brand personality. Journal of Marketing Research, v.
34, n. 3, p. 347-356, ago. 1997.
ALLPORT, G. W. Defining personality. In: ALLPORT, G. W. Personality: a psychological
interpretation. New York: Henry Holt & Co., 1937.
ALMEIDA, Ana Luisa de Castro. A influência da identidade projetada na reputação da
organização. 2005. 361f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Centro
de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração.
ALMEIDA, Ana Luisa de Castro; PAULA, Carine Fonseca Caetano de; BASTOS, Fernanda
de Oliveira Silva. Identidade, imagem e reputação: processo de construção de sentido no
contexto das organizações. In: OLIVEIRA, Ivone de Lourdes; LIMA, Fábia Pereira (Org.).
Propostas conceituais para a comunicação no contexto organizacional. São Caetano do
Sul - SP: Difusão Editora, 2012. Cap. 4, p. 79-93.
AQUINO, Rubim Santos Leão et al. História das sociedades: das sociedades modernas às
sociedades atuais. 32. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1995.
A TRAJETÓRIA de Alexandre Costa, fundador da Cacau Show. [S.l.]: Sua Franquia, 07 ago.
2017. Disponível em: <https://www.suafranquia.com/noticias/alimentacao/2015/11/a-
trajetoria-de-alexandre-costa-fundador-da-cacau-show.html>. Acesso em: 06 out. 2017.
AZOULAY, Audrey; KAPFERER, Jean-Noël. Do brand personality scales really measure
brand personality? The Journal of Brand Management, v. 11, n. 2, p. 143-155, nov. 2003.
BACHA, Maria de Lourdes; STREHLAU, Vivian Iara; ROMANO, Ricardo. Percepção:
termo frequente, usos inconsequentes em pesquisa? In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 30, 2006,
Salvador-BA. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração, 2006. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/enanpad/2006/dwn/enanpad2006-mkta-1332.pdf>. Acesso em: 10
jan. 2017.
BAKHTIN, Mikhail. A estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BATEY, Mark. O significado da marca: como as marcas ganham vida na mente dos
consumidores. Rio de Janeiro: Best Business, 2010.
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1995.
BELL, Daniel. O advento da sociedade pós-industrial: uma tentativa de previsão social.
São Paulo: Cultrix, 1977.
BRAND FINANCE. Gift™ 2017 - Global Intangible Finance Tracker 2017: an annual
review of the world’s intangible value. 2017a. Disponível em:
102
<http://brandfinance.com/knowledge-centre/reports/global-intangible-finance-tracker-gift-
2017/>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRAND FINANCE. Global 500 2017: the annual report on the world’s most valuable
brands. 2017b. Disponível: <http://brandfinance.com/knowledge-centre/reports/brand-
finance-global-500-2017/>. Acesso em: 10 jul. 2017.
BRANDÃO, Thales. Cacau Show casa Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank em
campanha de Páscoa. [S.l.]: Cidade Marketing, 21 mar. 2017. Disponível em:
<http://www.cidademarketing.com.br/2009/n/23686/cacau-show-casa-bruno-gagliasso-e-
giovanna-ewbank-em-campanha-de-pscoa.html>. Acesso em: 17 out. 2017.
CACAU SHOW. A Páscoa está chegando com novidades deliciosas. [S.l.]: Facebook, 09
mar. 2017a. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.10150653993987535.399062.3485935775
34/10154733530817535/?type=3&theater>. Acesso em: 20 ago. 2017.
CACAU SHOW. Cacau Show: carinho em cada pedacinho. [S.l.]: Facebook, 30 abr. 2014a.
Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.426261747534.227459.348593577534/101
52169582207535/?type=3&theater>. Acesso em: 30 out. 2017.
CACAU SHOW. Cacau Show: pra vida ficar mais show. [S.l.]: Facebook, 01 mar. 2013.
Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.426261747534.227459.348593577534/101
51351299022535/?type=3&theater>. Acesso em: 30 out. 2017.
CACAU SHOW. Cacau Show: um show de chocolate. [S.l.]: Facebook, 10 mar. 2010.
Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.426261747534.227459.348593577534/351
427912534/?type=3&theater>. Acesso em: 30 out. 2017.
CACAU SHOW. Cacau Show: um show de chocolate. [S.l.]: Facebook, 30 mar. 2012.
Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.426261747534.227459.348593577534/101
50654300162535/?type=3&theater>. Acesso em: 30 out. 2017.
CACAU SHOW. Com promoções assim, ninguém fica de fora. Presenteie quem você
ama igual chocolate com Cacau Show. [S.l.]: Facebook, 11 abr. 2017b. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/videos/10154849026652535/>. Acesso em: 23 ago.
2017.
CACAU SHOW. Mostrar o nosso amor nesta data #AmoIgualChocolate: Feliz Páscoa.
[S.l.]: Facebook, 16 abr. 2017c. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.10150592720152535.390029.3485935775
34/10154855916122535/?type=3&theater>. Acesso em: 20 ago. 2017.
CACAU SHOW. O jeito mais gostoso de aproveitar a #PáscoaCacauShow é assim:
quanto mais ovos de chocolate, melhor. [S.l.]: Facebook, 31 mar. 2017d. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/videos/10154810990252535/>. Acesso em: 23 ago.
2017.
103
CACAU SHOW. Páscoa e Dreams Bem Casado: o casamento perfeito. [S.l.]: Facebook, 21
mar. 2017e. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/videos/10154777298287535/>. Acesso em: 23 ago.
2017.
CACAU SHOW. Quem ama presenteia com ovos Dreams. [S.l.]: Facebook, 27 mar. 2017f.
Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.10150592720152535.390029.3485935775
34/10154800651092535/?type=3&theater>. Acesso em: 20 ago. 2017.
CACAU SHOW. Relatório de sustentabilidade 2013. [S.l.]: Cacau Show, 2014b.
Disponível em:
<http://www.cacaushow.com.br/sites/all/themes/cacaushow/imgs/CS_rel_Sust_2013.pdf>.
Acesso em: 16 fev. 2017.
CACAU SHOW. Relatório de sustentabilidade 2014. [S.l.]: Cacau Show, 2015. Disponível
em:
<http://www.cacaushow.com.br/sites/all/themes/cacaushow/imgs/Relatorio_2014_agencia.pdf
>. Acesso em 16 fev. 2017.
CACAU SHOW. Relatório de sustentabilidade 2015. [S.l.]: Cacau Show, 2016. Disponível
em: <http://www.cacaushow.com.br/sites/all/themes/cacaushow/imgs/Relatorio_2015.pdf>.
Acesso em: 16 fev. 2017.
CACAU SHOW. Relatório de sustentabilidade 2016. [S.l.]: Cacau Show, 2017g.
Disponível em:
<http://www.cacaushow.com.br/sites/all/themes/cacaushow/imgs/Relatorio_2016.pdf>.
Acesso em: 16 fev. 2017.
CACAU SHOW. Sobre a Cacau Show. [S.l.]: Cacau Show, 2017h. Disponível em:
<http://www.cacaushow.com.br/sobreacacaushow>. Acesso em: 16 fev. 2017.
CACAU SHOW. Surpresas deliciosas #AmoIgualChocolate. [S.l.]: Facebook, 07 abr.
2017i. Disponível em:
<https://www.facebook.com/CacauShow/photos/a.10150592720152535.390029.3485935775
34/10154834799122535/?type=3&theater>. Acesso em: 20 ago. 2017.
CARRIL, Carmen. Qual a importância da marca na sociedade contemporânea? São
Paulo: Paulus, 2007.
CAVALLET-MENGARELLI, Ana Paula Raittz. Interações entre autoconceito e
personalidade de marca nas representações de consumo de adolescentes. 2008. 163f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Mestrado em Administração,
Curitiba.
CHOULIARAKI, L.; FAIRCLOUGH, N. Discourse in late modernity: rethinking critical
discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1999.
CIMATTI, Marcela de Castro Bastos. Semiótica da marca: análise da marca contemporânea
como fenômeno de linguagem. Revista Caligrama, São Paulo, v.2, n.1, 2006. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/caligrama/article/view/64598/67239>. Acesso em: 27 jun. 2016.
104
COSTA, Alexandre Tadeu da. O cacau é show. São Paulo: IPSIS, 2008.
COSTA, Alexandre Tadeu da. Uma trufa e... 1000 lojas depois! São Paulo: Alaúde, 2010.
DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial. 2. ed. São Paulo: SENAC, 1999.
DICIONÁRIO Informal. Sedentarização. In: DICIONÁRIO Informal. [S.l.]: Dicionário, 25
ago. 2011. Disponível em: <http://www.dicionarioinformal.com.br/sedentarização/>. Acesso
em: 14 out. 2017.
DICIONÁRIO Michaelis. Personalidade. In: DICIONÁRIO Michaelis. [S.l.]: Michaelis,
1998. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/Personalidade/>. Acesso em: 17 mar. 2016.
DICIONÁRIO Online de Português. Ânfora. In: DICIONÁRIO Online de Português. [S.l.]:
Dicionário, 2017a. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/anfora/> . Acesso em: 14 out.
2017.
DICIONÁRIO Português. Sinete. In: DICIONÁRIO Português. [S.l.]: Dicionário, 2017b.
Disponível em: <http://dicionarioportugues.org/pt/sinete>. Acesso em: 14 out. 2017.
DOMINGUES, Douglas Gabriel. Marcas e expressões de propaganda. Rio de Janeiro: Ed.
Forense, 1984.
DORON, Roland; PAROT, Françoise. Dicionário de psicologia. São Paulo: Ática, 1998.
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB, 2001.
FAIRCLOUGH, Norman. The dialectics of discourse. 2012. Disponível em:
<http://www.sfu.ca/cmns/courses/2012/801/1-
Readings/Fairclough%20Dialectics%20of%20Discourse%20Analysis.pdf>. Acesso em: 17
jun. 2017.
FAUSTO NETO, Antônio. Como as linguagens afetam e são afetadas na circulação? In:
BRAGA, J. Luiz; FERRERA, Jairo; FAUSTO NETO, Antônio; GOMES, Pedro G. 10
perguntas para a produção de conhecimento em comunicação. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2013, p.43-64.
FAUSTO NETO, Antônio. As bordas da circulação. Revista Alceu. Rio de Janeiro, v. 10, n.
20, p. 55-69, 2010.
FERRARO, Junior. “O impossível aqui é temporário”. Azul Magazine, São Paulo, n. 48, p.
72-76, abr. 2017.
FLECK, Nathalie; MICHEL, Geraldine; ZEITOUN, Valerie. Brand personification through
the use of spokespeople: an exploratory study of ordinary employees, CEOs and celebrities
featured in advertising. Psychology and Marketing, v. 31, n. 1, p. 84-92, jan. 2014.
Disponível em:
<https://www.academia.edu/6117170/Brand_Personification_through_the_Use_of_Spoke
speople_An_Exploratory_Study_of_Ordinary_Employees_CEOs_and_Celebrities_Featured_i
n_Advertising>. Acesso em: 15 mar. 2016.
105
GALHARDO, Carol. Descubra de onde veio a tradição do bem-casado. [S.l.]: Lejour, 13
set. 2016. Disponível em: <https://lejour.com.br/blog/descubra-de-onde-veio-a-tradicao-do-
bem-casado/>. Acesso em: 12 out. 2017.
GOBÉ, Marc. A emoção das marcas: conectando marcas às pessoas. Rio de Janeiro:
Campus, 2002.
GRAY, Edmund R.; BALMER, John M.T. Corporate brands: what are they? What of them?
European Journal of Marketing; [S.1.], v.37, n. 7/8, 2003.
HATCH, Mary Jo.; SCHULTZ, Majken. The value of brands. In: HATCH, Mary Jo.;
SCHULTZ, Majken. Taking brand initiative: how companies can align strategy, culture,
and identity through corporate branding. [S.1.]: Jossey-Bass A Wiley Imprint, 2008. Cap. 2,
p. 21-43.
HOUAISS, Antônio. Percepção. In: HOUAISS, Antônio. Percepção. Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. São Paulo: Editora Objetiva, 2002. CD-ROM.
KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro:
Record, 2002.
KORNBERGER, Martin. Making sense of brands. In: KORNBERGER, Martin. Brand
society: how brands transform management and lifestyle. United Kingdom: Cambridge
University Press, 2010. Cap 2, p. 24-48.
LENCASTRE, Paulo de. A marca: o sinal, a missão e a imagem. In: LENCASTRE, Paulo de.
O livro da marca. Lisboa: Dom Quixote, 2007. Cap. 1, p. 23-71.
LEV, Baruch. Intangibles: management, measurement, and reporting. Washington: The
Brookings Institute Press, 2001.
LIMA, Fábia. Possíveis contribuições do paradigma relacional para o estudo da Comunicação
no Contexto Organizacional. In: OLIVEIRA, Ivone de Lourdes; SOARES, Ana Thereza
Nogueira (Org.). Interfaces e tendências da comunicação no contexto das organizações.
São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2008. p. 109-127.
LIMA, Fábia Pereira; BASTOS, Fernanda de Oliveira Silva. Reflexões sobre o objeto da
comunicação no contexto organizacional. In: OLIVEIRA, Ivone de Lourdes; LIMA, Fábia
Pereira (Org.). Propostas conceituais para a comunicação no contexto organizacional. São
Caetano do Sul, SP: Difusão Editora; Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2012.
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
MARTINEAU, Pierre. The personality of the retail store. Harvard Business Review, vol. 36,
p. 47-55, 1958.
MÍDIA digital out of home. [S.l.]: Wikipedia, 21 out. 2012. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADdia_digital_out_of_home>. Acesso em: 17 out.
2017.
106
MORO, Maitê Cecília Fabbri. Origem das marcas. In: MORO, Maitê Cecília Fabbri. Direito
de marcas: abordagem das marcas notórias na Lei 9.279/1996 e nos acordos internacionais.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. Cap. 1, p. 23-28.
MUNIZ, Karlan Müller; MARCHETTI, Renato. Dimensões da personalidade de marca:
análise da adequação da escala de Aaker (1997) ao contexto brasileiro. In: ENCONTRO
ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO, 23., 2005, Brasília. Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enanpad2005-mkta-0933.pdf>. Acesso em: 20 out.
2016.
NETO, João de Lira Cavalcante. Com açúcar e com afeto: a fantástica história do rapaz que
vendia bombons de porta em porta e se tornou o dono da maior rede de lojas de chocolate
finos do mundo. In: COSTA, Alexandre Tadeu da. O cacau é show. São Paulo: IPSIS, 2008.
Cap. 5, p. 135-182.
OLINS, Wally. A marca. Lisboa: Editorial Verbo, 2005.
OLINS, Wally. How brands are taking over the corporation. In: SCHULTZ, Majken;
HATCH, Mary Jo.; LARSEN, Mogens Holten. The expressive organization: linking
identity, reputation, and the corporate brand. Oxford: Oxford University Press, 2000. Cap. 4,
p. 51-65.
OLIVEIRA, Roberto de. Cacau Show é a melhor loja de chocolate de SP, segundo Datafolha.
São Paulo, Folha de São Paulo, 25 out. 2015. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2015/10/1697859-cacau-show-e-a-melhor-loja-de-
chocolate-de-sp-segundo-datafolha.shtml>. Acesso em: 06 out. 2017.
OLIVIER Anquier ao som de ‘LaCreme, je t’aime’, por Cacau Show. [S.l.]: Clube de criação,
22 jul. 2016. Disponível em: <http://www.clubedecriacao.com.br/novo/olivier-anquier-ao-
som-de-lacreme-je-taime-por-cacau-show/>. Acesso em: 19 out. 2017.
PAULA, Carine Fonseca Caetano de. A construção de sentido no ambiente organizacional.
Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE), 2010. Disponível em:
<http://www.aberje.siteprofissional.com/acervo_colunas_ver.asp?ID_COLUNA=421&ID_C
OLUNISTA=15>. Acesso em: 9 nov. 2016.
PAZZINATO, Alceu L.; SENISE, Maria Helena V. História moderna e contemporânea.
14. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002.
PEIRCE, Charles Sanders. Collected papers of Charles Sanders Peirce. Edited by Charles
Hartshorne and Paul Weiss. Volume I. Principles of Philosophy. Cambridge Harvard
University Press, 1931.
PEREZ, Clotilde; BAIRON, Sergio. Imagem de marca: a recepção sígnica a partir do
interpretante peirceano. Revista Interamericana de Comunicação Midiática, Santa Maria,
v. 8, n. 15, p.145-159, jan./jun. 2009. Disponível em: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/animus/article/viewFile/6202/3699>. Acesso em: 08 fev. 2016.
PEREZ, Clotilde. Surgimento e expansão da marca. In: PEREZ, Clotilde. Signos da marca:
expressividade e sensorialidade. São Paulo: Thomson Learning, 2004. Cap. 1, p. 1-43.
107
PEREZ, Clotilde. Marca, interação de sentido. 2010. Disponível em: <http://comatitude.co
m.br/2010/11/23/marca-interacao-de-sentidos/>. Acesso em: 22 out. 2016.
PEROTTO, Evandro Renato. Olhando a marca pela sua enunciação: aproximações para uma
teoria da marca contemporânea. Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e
Relações Públicas (Organicom), São Paulo, v. 4, n. 7, p. 126-139, 2007.
PESSOA, Daniela; CERQUEIRA, Sofia. Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank fazem
milhões com negócios. Rio de Janeiro, Veja Rio, 2 jun. 2017. Disponível em:
<https://vejario.abril.com.br/cultura-lazer/bruno-gagliasso-e-giovanna-ewbank-fazem-
milhoes-com-negocios/>. Acesso em: 13 out. 2017.
PINHO, José Benedito. Evolução, natureza e funções da marca no composto de marketing. In:
PINHO, José Benedito. O poder das marcas. São Paulo: Summus, 1996. Cap. 1, p. 11-21.
PINTO, Julio. 1, 2, 3 da Semiótica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1995.
PINTO, Julio. Semiótica e informação. Perspectiva em Ciência da Informação, Belo
Horizonte, v.1, n. 1, p. 87-92, jan./jun. 1996.
PINTO, Julio. Comunicação organizacional ou comunicação no contexto das organizações?
In: OLIVEIRA, Ivone de Lourdes; SOARES, Ana T. Nogueira (Org.). Interfaces e
tendências da comunicação no contexto das organizações. São Caetano do Sul: Difusão,
2008, p. 81-89.
PLUMMER, J. How personality makes a difference. Journal of Advertising Research, v.
24, p. 27-31, dez./jan. 1985. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/97298843/How-
Personality-Makes-a-Difference-PLUMMER-2000#scribd>. Acesso em: 19 mar. 2016.
PONTES, Nícolas Gonçalves; PARENTE, Juracy Gomes. Personalidade de Marca: como se
mede? In: ENCONTRO NACIONAL DA ANPAD, 32, 2008, Rio de Janeiro-RJ. Anais... Rio
de Janeiro: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2008.
RANDAZZO, Sal. A criação de mitos na publicidade. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1996.
RP1 COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL. Cacau Show apresenta mais de 40 produtos
para a Páscoa 2017. [S.l.]: RP1, 7 fev. 2017. Disponível em:
<https://www.rp1.com.br/cacau-show-apresenta-mais-de-40-produtos-para-a-pascoa-2017/>.
Acesso em: 10 out. 2017.
SANTAELLA, Lucia. Percepção: fenomenologia, ecologia, semiótica. São Paulo: Cengage
Learning, 2012.
SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Estratégias semióticas da publicidade. São Paulo:
Cengage Learning, 2010.
SCHIFFMAN, Harvey Richard. Introducción a la sensación y la percepción. In:
SCHIFFMAN, Harvey Richard. Sensación y percepción: un enfoque integrador. 2004.
Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/6558215/Introduccion-a-La-Sensacion-y-
Percepcion>. Acesso em: 5 jan. 2017.
108
SEMPRINI, Andrea. A marca pós-moderna: poder e fragilidade da marca na sociedade
contemporânea. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010.
SOLOMON, Michael R. Comportamiento del consumidor. 7. ed. México: Pearson
Educación, 2008.
SPINK, Mary Jane P.; MEDRADO, Benedito. Produção de sentidos no cotidiano: uma
abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In: SPINK, Mary Jane
(Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e
metodológicas. Livro eletrônico. 2013. Disponível em:
<http://maryjanespink.blogspot.ru/2013/11/versao-virtual-do-livro-praticas.html>. Acesso em:
24 mar. 2016.
SPINK, Mary Jane Paris et al. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:
aproximações teóricas e metodológicas. Livro eletrônico. 2013. Disponível em:
<http://maryjanespink.blogspot.ru/2013/11/versao-virtual-do-livro-praticas.html>. Acesso em:
20 jun. 2017.
SPINK, Mary Jane Paris; GIMENES, Maria da Gloria G. Práticas Discursivas e produção de
sentido: apontamentos metodológicos para a análise de discursos sobre a saúde e a doença.
Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 149-171, dez. 1994. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/6951/8420>. Acesso em: 17 jun. 2017.
TAVARES, Mauro Calixta. Marca: evolução histórica e conceito. In: TAVARES, Mauro
Calixta. A força da marca: como construir e manter marcas fortes. São Paulo: Editora
Harbra, 1998. Cap. 1, p. 2-14.
THOMPSON, John B. A metodologia da interpretação. In: THOMPSON, John B. Ideologia e
cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação em massa.
Petrópolis: Editora Vozes, 2002. Cap. 6, p. 353-422.
VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2004.
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
2001. Disponível em: <http://lelivros.online/book/download-estudo-de-caso-planejamento-e-
metodos-robert-k-yin-em-epub-mobi-e-pdf/>. Acesso em: 08 dez. 2016.
109
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista
O objetivo da entrevista abaixo é investigar as percepções dos consumidores em relação à marca
Cacau Show. Essa pesquisa representa uma parte fundamental da dissertação que está sendo
desenvolvida pela aluna Marina Camargos de Figueirêdo Neves, do Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Comunicação Social da PUC Minas. Conto com a sua colaboração. Obrigada!
1. Com que frequência você compra produtos da Cacau Show?
2. Por que escolher a Cacau Show?
3. Ao pensar na marca Cacau Show, o que vem à sua mente?
4. Que sensação/sentimento a marca Cacau Show desperta em você?
5. Você acha que a marca Cacau Show o impacta de algum modo? Na sua opinião, ela é só mais um
chocolate entre muitos ou há algo de especial nela?
6. Você viu alguma informação ou assistiu alguma propaganda recente da Cacau Show? Se sim, o
que? Qual sua opinião sobre o que você viu/assistiu?
7. Pense na marca Cacau Show como se ela fosse uma pessoa. Em seguida, classifique as
características abaixo utilizando uma escala de 1 a 7, sendo que 1 não descreve em nada a marca e 7
descreve totalmente a marca.
Responsável (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Confiável (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Leal (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Alegre (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Informal (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Simpática (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Ousada (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Moderna (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Criativa (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Jovem (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Alta Classe (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Sofisticada (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Elegante (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Feminina (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Sensível (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Romântica (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
110
Perfil do entrevistado:
Nome (opcional): ________________________________________________________
Sexo:
( ) Masculino
( ) Feminino
Idade:
( ) 18 a 24 anos
( ) 25 a 29 anos
( ) 30 a 34 anos
( ) 35 a 44 anos
( ) 45 a 59 anos
( ) 60 ou mais
Grau de instrução:
( ) Somente alfabetizado
( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Superior Completo
( ) Pós-Graduação (Especialização, Mestrado e/ou Doutorado)
Estado Civil:
( ) Solteiro (a)
( ) Casado (a)
( ) Viúvo (a)
( ) Divorciado (a)
Renda familiar mensal (em salários mínimos):
( ) Até 1 salário mínimo – R$ 937,00
( ) De 1 a 2 salários mínimos – R$ 937,00 a R$ 1.874,00
( ) De 2 a 3 salários mínimos – R$ 1.874,00 a R$ 2.811,00
( ) De 3 a 5 salários mínimos – R$ 2.811,00 a R$ 4.685,00
( ) De 5 a 10 salários mínimos – R$ 4.685,00 a R$ 9.370,00
( ) De 10 a 20 salários mínimos – R$ 9.370,00 a R$ 18.740,00
( ) Acima de 20 salários mínimos – R$ 18.740,00
111
APÊNDICE B – Descrição geral do corpus de análise da pesquisa
Ordem Data Breve descrição do material Número de
reações
Número de
compartilhamentos
Número de
comentários
Número de
visualizações
1 09/03/2017 Imagem e texto anunciando a chegada da Páscoa e mostrando alguns
produtos da marca Cacau Show para o período;
2.778 371 224
2 20/03/2017 Imagem e texto do garoto-propaganda Olivier Anquier promovendo a
linha laCreme para a Páscoa;
6.118 741 399
3 21/03/2017 1° vídeo da campanha de Páscoa da Cacau Show – Páscoa e Dreams Bem
Casado: o casamento perfeito;
682.000 31.417 25.575 21.593.076
4 22/03/2017 Imagem do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank e texto
promovendo o ovo Dreams Bem-Casado, principal lançamento da marca
para a Páscoa;
5.552 813 409
5 22/03/2017 Imagem do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank anunciando o ovo
Dreams Bem-Casado;
2.354 310 122
6 23/03/2017 Vídeo de 15 segundos mostrando a cremosidade do chocolate laCreme; 5.664 1.074 449 120.079
7 27/03/2017 Imagem e texto divulgando toda a linha Dreams para a Páscoa; 7.402 1.109 967
8 29/03/2017 Vídeo ao vivo: Chocomonstros; 1.330 246 não aparece 19.177
9 31/03/2017 2° vídeo da campanha de Páscoa da Cacau Show – O jeito mais gostoso de
aproveitar a #PáscoaCacauShow é assim: quanto mais ovos de chocolate,
melhor;;
111.384 3.869 2.096 6.573.518
10 04/04/2017 Imagem do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank e texto
promovendo a hashtag #AmoIgualChocolate;
2.760 240 86
11 05/04/2017 Imagem e texto difundindo os ovos Dreams sabores Petit Gateau e Mil
Folhas;
4.054 477 183
12 07/04/2017 Imagem e texto anunciando apenas o ovo Dreams Petit Gateau; 335.790 3.484 2.605
13 10/04/2017 Imagem e texto promovendo apenas o ovo Dreams Mil Folhas; 3.239 500 210
14 11/04/2017 Foto do cantor Luan Santana divulgando a hashtag #AmoIgualChocolate; 1.629 1 112
15 11/04/2017 3° vídeo da campanha de Páscoa da Cacau Show – Com promoções assim,
ninguém fica de fora. Presenteie quem você ama igual chocolate com
Cacau Show;
107.732 4.510 3.709 4.676.893
16 15/04/2017 Imagem de ovos de chocolate da Cacau Show e texto sobre a contagem
regressiva para a Páscoa;
4.098 183 279
17 16/04/2017 Imagem e texto desejando "Feliz Páscoa". 2.658 167 167
Fonte: Elaborado pela autora com dados extraídos do Facebook da Cacau Show
112
APÊNDICE C – Perfil dos entrevistados
Com base nos dados coletados durante as entrevistas realizadas com consumidores da marca
Cacau Show no BH Shopping, Diamond Mall e Boulevard Shopping, em Belo Horizonte, foi
possível traçar o perfil dos respondentes quanto aos indicadores sexo, faixa etária, grau de
instrução, estado civil e renda familiar mensal, apresentados a seguir.
Do total de entrevistados, 63% eram do sexo feminino e 37% do sexo masculino (Gráfico 5).
Gráfico 5 – Sexo dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
Quanto à faixa etária, houve predomínio de consumidores entre 18 e 24 anos, representando
27% do total de entrevistados. Na sequência, consumidores de 30 a 34 anos e de 45 a 59 anos,
representando 20% cada. Os consumidores de 25 a 29 anos corresponderam a 17%; os de 60
anos ou mais, 10%; e os de 35 a 44 anos alcançaram 6% de representatividade, como sinaliza
o Gráfico 6.
Gráfico 6 – Faixa etária dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
37%
63%
27%
17%
20%
6%
20%
10%
18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 59 anos 60 ou mais
113
No que concerne ao grau de instrução, 37% dos respondentes afirmaram possuir pós-
graduação (especialização, mestrado e/ou doutorado). Na sequência, 23% disseram ter nível
superior incompleto; 20% médio completo; 10% superior completo; 7% médio incompleto e
3% fundamental completo, como mostra o Gráfico 7.
Gráfico 7 – Grau de instrução dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
Em relação ao estado civil dos entrevistados, 57% eram solteiros; 40% casados e apenas 3%
viúvos (Gráfico 8).
Gráfico 8 – Estado civil dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
No que se refere à renda familiar mensal, 30% dos entrevistados declararam receber de cinco
a dez salários mínimos; 20% de um a dois salários mínimos; 17% de três a cinco salários
mínimos; 17% revelaram renda superior a vinte salários mínimos; 7% de dois a três salários
mínimos; 7% de dez a vinte salários mínimos e 3% até um salário mínimo (Gráfico 9).
3%
7%
20%
23%
10%
37%
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior Incompleto
Ensino Superior Completo
Pós-Graduação
57%
40%
3%
Solteiro Casado Viúvo