pontifícia faculdade de teologia nossa senhora da...
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Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção
MARCELO ALVARES MATIAS
A evangelização no grande centro urbano Uma análise da ação evangelizadora na cidade de São Paulo a partir do 8º
Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (2001-2002)
Apresentação da dissertação como exigência para obtenção do título de Mestre em Teologia com concentração em Missiologia à banca examinadora da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção sob a orientação do Prof. Dr. Pe. Ney de Souza.
São Paulo - 2006
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Aprovação
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dedico este estudo aos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo
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a Deus Pai, que me deu a vida, a Deus Filho, que me chamou, a Deus Espírito Santo, que me iluminou e a todos aqueles que de alguma forma contribuiram para este estudo.
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SIGLAS E ABREVIAÇÕES
CAP Coordenação Arquidiocesana de Pastoral
CEBs Comunidades Eclesiais de Base
CERIS Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais
CIC Código de Direito Canônico
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CPP Conselho Pastoral Paroquial
CRP Conselho Regional de Pastoral
CSP Conselho Setorial de Pastoral
Fasc. Fascículo
FEBEM Fundação Estadual do Bem Estar do Menor
GS Constituição Pastoral Gaudium et Spes
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA Instituto de Pesquisa Aplicada
OA Octogésima Adveniens
ONG Organização Não Governamental
PAESP Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo
PAMP Projeto de Ação Missionária Permanente
PMSP Prefeitura do Município de São Paulo
PPA Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo
PRNM Projeto Rumo ao Novo Milênio
SAS Secretaria da Assistência Social
SD Conferência de Santo Domingo
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
I . CAPÍTULO: A CIDADE, DESAFIO À EVANGELIZAÇÃO 16
1. A urbanização brasileira 22
1.1. Alguns aspectos da urbanização brasileira 23
2. A cidade 27
2.1. A metropolização 28
2.2. O espaço público e o privado 39
2.3. Pobreza e miséria nos centros urbanos 43
3. Alguns aspectos da realidade paulistana 47
3.1. Dados estatísticos recentes da metrópole paulistana 49
3.2. A violência na cidade de São Paulo 49
3.3. O emuralhamento da vida social nos grandes centros urbanos 53
3.4. O individualismo na cidade 56
3.5. A política da mobilidade na cidade de São Paulo 58
3.6. Participação popular na cidade 60
4. A pessoa urbana e a religião 67
4.l. A fé na cidade 68
4.2. O pluralismo religioso na vida urbana 72
4.3. Outros desafios da cidade para a ação da Igreja 75
7
II. CAPÍTULO: A MISSÃO DE EVANGELIZAR OS GRANDES CENTROS
URBANOS HOJE 78
1. A missão de evangelizar 82
1.1. Serviço 84
1.2. Diálogo 86
1.3. Anúncio 87
1.4. Testemunho de comunhão 89
2. A finalidade da evangelização 92
3. Conteúdos da evangelização 93
4. Critérios e sinais de evangelização 94
5. Os agentes evangelizadores 98
5.1. Formação dos agentes evangelizadores 100
6. Os leigos na evangelização 101
7. Os Movimentos e as Associações na evangelização 106
8. Proclamação do Evangelho na cidade 107
8.1. Implantar o Reino de Deus na cidade 109
8.2. Riqueza, pobreza e profecia na ação evangelizadora 112
8.2.1. Inclusão de Deus, inclusão do homem 116
8.3. Outros desafios para a evangelização nos grandes centros 118
8.4. O Evangelho deve penetrar nos grandes centros de decisão 120
8.5. Reflexões bíblico-teológicas sobre a evangelização na cidade 122
8.6. Comunidades Eclesiais de Base 124
8
III. CAPÍTULO: ELABORAÇÃO, ESTUDOS, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DO 8º
PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO 130
1. Elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 135 2. Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo 139
2.1. Objetivo da pesquisa 141
2.1.1. Objetivos específicos 142
2.2. Metodologia da pesquisa 142
2.2.1. Questionário da pesquisa 143
2.2.1.1. Elaboração do questionário 143
2.2.1.2. Treinamento dos pesquisadores 144
2.2.1.3. Aplicação da pesquisa 144
2.2.1.4. Período de realização da pesquisa 144
2.2.1.5. Amostra da pesquisa 145
2.2.1.6.Observações sobre a aplicação da pesquisa 146
2.3.Conceitos e definições 147
2.3.1. Arquidiocese o que é 147
2.3.2. Região Episcopal o que é 148
2.3.3. Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.)o que é 148
2.3.4. Setor o que é 148
2.3.5. Conselho Setorial de Pastoral (C.S.P.) o que é 149
2.3.6. Paróquia o que é 149
2.3.7. Conselho Paroquial de Pastoral (C.P.P.) o que é 150
2.3.8. Pastoral o que é 150
2.3.9. Associação de fiéis o que é 151
9
2.3.10. Movimento de apostolado leigo o que é 151
2.3.11. Leigo o que é 151
2.3.12. Leiga consagrada o que é 152
2.3.13. Religioso(a) o que é 152
2.4. Apresentação e análise dos resultados da pesquisa 153
2.4.1. Estrutura organizacional da pastoral da Arquidiocese de São Paulo 154
2.4.1.1. Instâncias pesquisadas da organização pastoral 155
2.4.1.2. Região episcopal a qual pertencem os pesquisados 155
2.4.1.3. Análise da estrutura organizacional da pastoral 156
2.4.1.4. Perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo 157
2.4.1.5. Idade dos pesquisados 157
2.4.1.6. Atuação pastoral dos pesquisados 157
2.4.1.7. Análise do perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo 158
2.4.2. Centralização econômica na Cúria Arquidiocesana 161
2.4.2.1. Análise da centralização econômica na Cúria Arquidiocesana 161
2.4.3. Conhecimento, elaboração, atuação e avaliação Plano de Pastoral 163
2.4.3.1. Conhecimento do Plano de Pastoral por Região Episcopal 163
2.4.3.2. Conhecimento do Plano por instância da organização pastoral 164
2.4.3.3. Conhecimento do Plano por atuação pastoral 164
2.4.3.4. Participação dos pesquisados na Igreja no período de 2000-2002 165
2.4.3.5. Participação na elaboração 8º Plano de Pastoral 165
2.4.3.6. Estudos do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 165
2.4.3.7. Participação no processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral 166
2.4.3.8. Responsabilidade pelo desconhecimento do Plano de Pastoral 166
10
2.4.3.9. Análise do conhecimento, participação e desconhecimento do Plano 167
2.4.4. Igreja profética na cidade de São Paulo 170
2.4.4.1. Profetismo da Igreja para os pesquisados 170
2.4.4.2. Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo 170
2.4.4.3. Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade 171
2.4.4.4. Ações que sinalizam a ação evangelizadora na cidade de São Paulo 171
2.4.4.5. Análise das ações proféticas, conhecimento da realidade e Plano 172
2.4.4.6. Solidariedade e transformação junto aos marginalizados e excluídos 176
2.4.4.7. Análise das ações solidárias e transformadoras junto aos excluídos 177
2.4.5. Dificuldades para evangelizar na cidade de São Paulo 179
2.4.5.1. Dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização da cidade 179
2.4.5.2. Análise das dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização 180
2.4.6. Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 183
2.4.6.1. Análise das ações de renovação, anuncio e testemunho Jesus Cristo 184
2.4.7. Notas 186
2.4.7.1. Sobre os Conselhos Paroquiais de Pastoral 186
2.4.7.2. Sobre os Conselhos Setoriais de Pastoral 187
2.4.7.3. Sobre os Conselhos Regionais de Pastoral 187
2.4.7.4. Sobre as coordenações dos Movimentos de Apostolado Leigo 188
2.4.7.5. Sobre as coordenações das Pastorais em nível arquidiocesano 188
2.4.7.6. Sobre as coordenações das Associações de fiéis 189
CONCLUSÃO 190
APÊNDICE 199
ANEXO 239
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA 241
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INTRODUÇÃO
Falar de grandes cidades é falar de perigo, de medo, criminalidade, anonimato,
trânsito. Falar de grandes cidades é falar de oportunidades, cultura, lazer, multiplicidade
religiosa, criatividade. Na cidade, o homem tem a oportunidade de mostrar sua capacidade
ilimitada, dominando o espaço e o tempo. Ali, o espetáculo da vida acontece, seja na mansão
ou debaixo do viaduto. A cidade enigmática que fascina e atrai não é inventada nem nasce da
noite para o dia. É construída pela necessidade do homem, com a sabedoria divina. As cidades
crescem porque fascinam e atraem as pessoas para garantir a vida de seus habitantes, mas
precisam ser repensadas, para garantir não somente a sobrevivência, mas a convivência e
qualidade de vida.
Cidade supõe planejamento. O homem tem capacidade para organizar o espaço em que
vive. Quando há uma aglomeração exagerada de pessoas num espaço, o planejamento e a
organização tornam-se mais difíceis. Cidade supõe geometria, cálculos, beleza, jardim,
pessoas, espaço. A “urbanidade” da cidade moderna pode ser encarada como uma forma de as
pessoas se relacionarem de modo cada vez mais individualizado, livre, escolhido. Esse “modo
de relacionamento” não está preso a um ambiente físico, mas à forma que as relações sociais,
fundadas na atividade econômica assumem. A cidade é um espaço social. Ela é um conjunto
de relações sociais que ocorrem “dentro” de um espaço físico, geográfico. São as relações
sociais que dão forma ao espaço físico. Isso acontece não somente quanto à ocupação, a
disposição espacial, o valor comercial, mas também quanto ao valor simbólico. Morar em
uma determinada rua ou bairro obedece a buscas humanas fundamentais, como ser alguém,
afirmar sua própria identidade e seu valor como pessoa. Na cidade, há espaços ricos e pobres,
há espaços sagrados e profanos, há espaços vazios e espaços completamente ocupados, há
espaços de trabalho e de lazer. Falar de cidade é falar de relações sociais, de certa concepção
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do que constitui o “humano do homem”. Esse humano pode ser afirmado ou negado nas
relações sociais. E, assim também pode ser valorizado ou desprezado na cidade.
No decorrer do primeiro capítulo deste estudo, será apresentado em linhas gerais o
urbanismo no Brasil e a cidade de São Paulo com seus desafios, na qual a Arquidiocese de
São Paulo atua através das seis Regiões Episcopais, setores pastorais, paróquias, comunidades
eclesiais de base, pastorais, associações, movimentos de apostolado leigo, vicariatos, escolas
católicas com inúmeros leigos, leigas, religiosos, religiosas, bispos, arcebispo e padres. O
texto busca analisar a cidade como desafio à evangelização, a partir de algumas características
da vida do homem urbano quanto a espacialidade, uso e conceitos dos espaços urbanos
privados e públicos. São apresentados alguns aspectos da urbanização brasileira e a
metropolização das cidades no Brasil, com ênfase na cidade de São Paulo. O estudo apresenta
alguns dados estatísticos da realidade paulistana e a miséria presente na quarta maior cidade
do mundo. A violência cada dia mais acentuada que provoca o medo nas pessoas faz com que
estas se “emuralhem” para a vida social.
O individualismo característico da sociedade moderna também é um dos assuntos
abordados neste estudo, visto que é uma das dificuldades para que o Evangelho seja
anunciado. A cidade de São Paulo, como tantas outras do Brasil, sofre com muitas
dificuldades para a locomoção das pessoas, que o autor apresenta não só como dificuldade
para a ação evangelizadora, mas como dificuldade para a convivência das pessoas. Embora o
individualismo esteja presente nas comunidades urbanas, ainda há significativo número de
pessoas e grupos que se mobilizam para garantir que o “Estatuto da Cidade” seja colocado em
prática, assim como os direitos básicos dos cidadãos sejam praticados por todos. Há vários
estudos que apontam o crescimento da religiosidade nas pessoas urbanas e o relacionamento
destas com a religião bastante plural que viceja hoje nas cidades modernas. Nesse contexto, o
presente trabalho pergunta: que possibilidades têm a igreja para cumprir a sua missão de
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evangelizar nos grandes centros urbanos? Uma resposta que o autor tenta construir nesta
dissertação a partir de diversos estudos já realizados e que focam, prioritariamente, a cidade
de São Paulo, vista aqui como síntese perfeita dos problemas característicos dos grandes
centros urbanos. Não são apresentados aqui, evidentemente, todos os aspectos da cidade, mas
algumas referências paulistanas que ajudarão a nortear a análise da ação evangelizadora da
Igreja de São Paulo nos anos de 2001-2002, quando esteve em vigência o 8º Plano de Pastoral
da Arquidiocese de São Paulo.
A Igreja tem hoje o grande desafio de evangelizar nos grandes centros urbanos. No
segundo capítulo deste estudo, o autor abordará as quatro exigências da evangelização:
serviço, diálogo, anúncio e testemunho de comunhão, aprofundando, ainda, a explicação
sobre de que consiste a evangelização, a finalidade, os conteúdos, os critérios e os sinais da
ação evangelizadora, descrevendo também o trabalho dos agentes evangelizadores e a
formação para a evangelização.
O mesmo texto destaca como a missão dos leigos e dos movimentos de apostolado e
associações de fiéis proclama o Evangelho na cidade onde a Igreja sempre e cada vez mais
busca penetrar com os ensinamentos evangélicos para implantar o Reino de Deus,
denunciando as injustiças que afastam as pessoas de seus direitos. Incluir Deus é incluir o
homem. Algumas reflexões bíblico-teológicas também são apresentadas para compreender a
missão de evangelizar nas grandes cidades, assim como a missão e as características das
Comunidades Eclesiais de Base aqui vistas, como uma forma de a Igreja cumprir sua missão
evangelizadora. Integra ainda o segundo capítulo uma análise sobre a ação da Igreja com seus
missionários e missionárias em meio à pobreza e contradições na cidade moderna, assim
como do papel do missionário e seu profetismo em São Paulo diante dos apelos de uma
cidade que cresce a cada dia e torna seus habitantes sedentos de respostas religiosas.
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No terceiro capítulo, através de Pesquisa sobre a Ação Evangelizadora da Igreja na
cidade de São Paulo (PAESP), realizada na Arquidiocese, o autor se propõe a verificar o
trabalho evangelizador da Igreja de São Paulo na cidade junto aos evangelizadores que
compõem os Conselhos Regionais de Pastoral, Conselhos Setoriais de Pastoral, Coordenações
de Associações de fiéis, de Movimentos de Apostolado Leigo e das Pastorais em nível
arquidiocesano. A partir dessa observação, o trabalho pretende conhecer o perfil dos agentes
evangelizadores na Igreja de São Paulo, saber quais são as dificuldades para evangelizar na
cidade e quais sinais indicam que a cidade está sendo evangelizada. O pesquisador realizou
um levantamento e chegou a conclusões que podem ajudar a entender a caminhada da
evangelização na cidade de São Paulo. A pesquisa atingiu 1.305 pessoas envolvidas no
processo evangelizador e estes dados serviram de instrumentos para análise do objeto de
estudo: o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo no período de 2001-2002.
O pesquisador também realizou entrevista com o Monsenhor Sérgio Conrado,
responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral em 2000, quando o 8º Plano de
Pastoral da Arquidiocese de São Paulo foi elaborado e, com Monsenhor Tarcísio Justino Loro
atual responsável pelo Secretariado. Estas entrevistas fizeram parte do trabalho aqui
apresentado e constam no Apêndice deste trabalho.
Os evangelizadores dos grandes centros urbanos – bispos, padres, diáconos, religiosos,
religiosas, leigos e leigas – deveriam dar testemunho de santidade e ardor missionário, como
pede a sociedade atual, para que suas palavras sejam críveis. O exemplo do cristão de fé firme
e profunda formação pode transformar as cidades a partir dos ensinamentos evangélicos e do
compromisso na construção de uma sociedade mais justa, humana e fraterna, consciente de
sua missão evangelizadora e, capacitado para enfrentar os problemas com a violência,
corrupção, miséria, exclusão, pluralismo religioso e com respeito à diversidade cultural,
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sempre com o coração atento e solidário, aberto aos problemas da crescente pobreza e
exclusão, fazendo de sua vida e da sua ação uma evangélica opção preferencial pelos pobres.
O dialogar com o povo de Deus e o diálogo com Ele ajudam a responder a suas ânsias,
inquietudes e a animá-los na esperança em nome de Jesus Cristo evangelizador e de seu
Evangelho, de vida e salvação: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em
abundância”(Jo 10, 10).
16
I. CAPITULO: A CIDADE, DESAFIO À EVANGELIZAÇÃO
Quando falamos em grande cidade, a primeira imagem que vem a mente é a de caos,
de desordem e de confusão. A busca irracional da sobrevivência a qualquer custo e a
associação com o crime, a violência, a insegurança e o medo são imediatas. Um cenário que
trás novos desafios para a Igreja, enquanto espaço de atuação com obstáculos e contornos
específicos. “Hoje, a imagem da missão ad gentes talvez esteja mudando: lugares
privilegiados deveriam ser as grandes cidades, onde surgem novos costumes e modelos de
vida, novas formas de cultura e comunicação que, depois, influem na população”.1
Para realizar uma ação, seja ela evangelizadora ou governamental, em uma grande
cidade, antes de tudo é recomendável elencar e estudar os diferentes aspectos a ela
relacionados, como sua história, geografia, arquitetura, entre outros. “Uma pastoral urbana
que atinja as suas finalidades requer diagnósticos precisos e sistemáticos, análises globais e
setoriais, projeções, integrando fatores seculares e religiosos”.2
Neste contexto, o desenvolvimento de um Plano de Pastoral deve levar em conta a
diversidade e fragmentaridade da cidade, considerando os elementos que a compõem,
sobrepõem e até contrapõem.
Ao mesmo tempo e apesar do peso dos fatores coletivos, o indivíduo, no seu conjunto,
precisa ser valorizado no sentido de sua unidade, pois é ele que forma a diversidade de
culturas. “A Igreja intervém na vida individual dos habitantes da cidade para oferecer-lhes a
Palavra e os Sacramentos que modificam a vida e amparam no caminho para Deus”.3 Nesse
sentido, ação da Igreja deve favorecer a integração das pessoas na cidade.
1 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 37 b. Encíclicas do Papa João Paulo II. São Paulo LTr, 1996. 2 WANDERLEY, L. E. W. Pastoral Urbana: sujeitos e estruturas. In: ANTONIAZZI, A.; CALIMAN, C. (orgs.). A presença da Igreja na cidade. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 51. 3 MARTINI, C. M. Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade. São Paulo: Loyola, 1992. p. 23.
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Não há dúvidas, que, pela série de recursos e oportunidades que concentra, a cidade é
um lugar bom para se viver, entretanto, como os direitos não são garantidos para todas as
pessoas, a cidade não é um lugar bom de se viver para todas as pessoas. Num grande centro
urbano, por ser um aglomerado de pessoas, proporciona convivência; é o lugar do encontro,
embora ali as pessoas também possam viver no anonimato, o que facilita fenômenos como o
isolamento e a criminalidade.
Quanto maior for a cidade, mais significativas serão as dificuldades de administração e
a quantidade de recursos financeiros para fazê-la funcionar. Igualmente maiores são as
dificuldades para incluir todos os cidadãos como beneficiários de direitos civis e os idosos, as
crianças e os portadores de necessidades especiais são os mais prejudicados.
As cidades grandes dos países em desenvolvimento são cidades da proibição. Paga-se
por ter feito uma contravenção. Há quantidade significativa de anúncios sobre a proibição e
pouco investimento na educação das pessoas para melhorar a qualidade de vida e a convívio.
Por todo lado se lê “proibido”. Mas não se diz por que é proibido, nem se explicam os
benefícios ao indivíduo, ao coletivo e à cidade de atitudes como respeito à sinalização do
trânsito e a natureza. Na verdade, ninguém aprende a cuidar do verde da cidade com multas.
Cuidar do verde tem que ser aprendido. A cidade é toda pavimentada, a terra, o verde
não tem vez. Todos querem terra pra construir, pra pisar, mas tem que ser pavimentada. Na
cidade terra é sujeira. As pessoas da roça que são obrigadas a mudar para cidade sofrem para
se adaptar a este contexto, mas perseveram porque acreditam numa possibilidade de
oportunidade. Oportunidade de ser feliz, ganhar o pão, ter casa, escola, vida digna para a
família. Para poucas pessoas simples, entretanto, as cidades grandes hoje conseguem oferecer
chances de realizar seus sonhos.
Todos estes motivos, o anúncio do Evangelho nos grandes centros urbanos exige uma
metodologia, um programa, uma linguagem, uma ação estudada e planejada, constantemente
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avaliada e sempre estimulada pelo magistério e, sobretudo, pelos desafios cada vez mais
crescentes.
Na tentativa de trazer para a prática as Conclusões da Conferência de Puebla, a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) diz que a pastoral urbana, precisa
questionar a realidade da grande cidade e os incentivos à sua crescente expansão, uma vez que
a própria vida na grande cidade constitui especial desafio à vivência cristã. Uma ação pastoral
deve partir da consideração da realidade estrutural, própria da cidade, que funciona como uma
realidade orgânica; de outro modo será difícil evangelizar o homem urbano.4
Os grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, enfrentam um crescimento
desordenado que traz problemas com o trânsito, a violência, falta de moradia, saúde,
educação, emprego, entre outros. Aglomeração de pessoas, de casas é o que se vê por diversos
bairros da cidade. A indústria automobilística mudou a cidade de São Paulo. A transporte
coletivo que é insuficiente e precário em São Paulo obriga as pessoas irem ao trabalho, escola
ou qualquer outra atividade de carro. A pessoa que enfrenta o trânsito para chegar ao seu
destino também enfrenta outro transtorno para estacionar o carro, principalmente no centro
expandido da cidade. O rodízio tentou resolver a questão, mas muitas pessoas compraram um
segundo carro, mais antigo, o que em alguns aspectos agravou o problema do trânsito com o
número de carros quebrados e mais poluição.
As cidades vivem em constante mudança. O espaço é modificado pelas necessidades
das pessoas. Onde antigamente havia um cinema hoje há uma Igreja Evangélica ou Bingo. Os
shoppings centers também são responsáveis por uma grande mudança no comércio, nas ruas e
no trânsito. A paisagem urbana é modificada com novos anúncios, novas indicações. Roteiros
são alterados, itinerários das linhas de ônibus são modificados para atender aquele novo
“templo”, seja de fé ou de consumo. Com a instalação de um Shopping Center, símbolo da
4 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Subsídios para Puebla. (Documentos da CNBB n. 13) 104. São Paulo: Paulinas, 1978.
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modernidade, os comerciantes vizinhos, às vezes instalados há anos naquele espaço, tem que
se reorganizar, mudar de ramo, calcular estratégias para conseguir sobreviver ou,
simplesmente, fecham suas portas.
A poluição visual torna a cidade mais feia a cada dia, com grande número de outdoors,
placas nas calçadas, cavaletes com propagandas, faixas e pichações. Há um desrespeito
crescente ao cidadão em tempo de campanha eleitoral, quando todos os postes recebem
banners, cartazes e faixas de candidatos que prometem administrar e, ironicamente, cuidar da
cidade.
A violência é um desafio à parte, tanto para governantes quanto para evangelizadores,
pois – espaço – acompanhada da droga vai ocupando os espaços públicos e expulsados os
cidadãos. As praças são um exemplo claro desta situação. Algumas delas, completamente
abandonadas pelo poder público viram espaço da criminalidade e são “administradas” pelos
bandidos dia e noite, tornando-se ponto de encontro para venda, troca de mercadorias e uso de
entorpecentes. A praça perde a condição de lugar de convívio, pois os moradores ficam com
medo e deixam de freqüentá-la.
A função social da praça muitas vezes é cumprida pelas esquinas, onde jovens e
crianças se encontram para conversar e conviver. Afinal, quando a cidade não oferece espaço
para o encontro, para a conversa, para a convivência, as pessoas os criam, mesmo que não
sejam os mais adequados e tragam transtornos aos moradores mais próximos. Isso ocorre em
parte, porque as praças perderam sua condição de “lugar”, que o dicionário Aurélio define
como espaço ocupado.5 Dessa forma, a praça que não é ocupada pelos moradores próximos
deixa de ser um “lugar” e torna-se somente mais uma “área”, facilmente invadida pelo mato
ou usuários de drogas.
5 HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário Aurélio da língua Portuguesa. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
20
Mesmo com esse tipo de dificuldade, a cidade busca resistir como lugar da
convivência, mesmo que seja via cibernética. Várias pessoas se organizam em comunidades
na internet, embora essas comunidades fujam ao padrão de territorialidade, de espaço, de
lugar. Se na cidade real é fácil conseguir o anonimato, muito mais é na comunidade virtual.
“Para muitos se torna o lugar para o desbordo sexual”.6
Muita informação, muitos dados são oferecidos aos cidadãos, porém pouco
conhecimento. Há uma certa padronização nos conteúdos oferecidos pela mídia aos que lêem,
assistem ou acessam os meios de comunicação. Os grupos infinitos de pessoas que se
constituem na cidade devem traduzir toda carga de informação e transformá-la em
conhecimento. A Igreja, como responsável por tantas comunidades na cidade, tem ajudado e
deve cada dia mais oferecer leitura crítica sobre a realidade urbana e elaborar propostas
exeqüíveis para humanizar a cidade, torna-la bela e de todos. “A cidade conta com cristãos
engajados em diferentes atividades. Dessa forma criam espaço para a discussão responsável,
aberta, plural sobre o papel da Igreja na sociedade brasileira em mudanças, na busca de
solução para as desigualdades e os conflitos sociais existentes”.7
O respeito ao espaço público deve ser ensinado. O respeito pela praça, pelas vias
públicas, pelas calçadas, pelos direitos, pela democracia, pelos idosos, pelos portadores de
necessidades especiais, pelo trânsito, pelo verde, pelos rios é um processo educativo. Tem que
ser aprendido na família, na igreja, na escola, na televisão, no rádio, na internet, no outdoor.
Todos devemos aprender que o espaço público não pode tornar-se privado. Ele deve ser
sempre salvaguardado para que todos possam utilizá-lo.
O cidadão poderia receber melhor educação para reconhecer o seu espaço, o espaço
privado e valorizar, cuidar, respeitar o espaço que é comum a todos. Na cidade de São Paulo,
6 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade: o impacto sobre a fé e sob o impacto da fé. São Paulo: Loyola, 2001. p. 46. 7 SANTA ANA, J. de. Economia e política. In: SILVA, A. A.(org.). América Latina: 500 anos de evangelização. Reflexões Teológico-pastorais. São Paulo: Paulinas. 1990. p. 157.
21
há várias iniciativas de valorização da cidade, iniciativas de ONGs que em parceria com a
Prefeitura do Município tem avançado nas discussões e cuidados do espaço urbano. Podemos
citar o “Movimento Viva o Centro”, a “Paulista Viva” com suas contradições que se
contrapõem entre o cuidar do espaço público e o torná-lo privado. Há casos de grupos que
tomam conta do espaço e o faz seu, o que de certa forma deixa de ser público. Há uma perda
da noção do espaço público e do espaço privado que precisam ser recuperados. São conceitos
e atitudes que precisam ser aprendidos.
O cidadão urbano que vive atribulado com o trabalho, o trânsito, a velocidade da vida
na cidade que, nos dias de tempo livre, muitas vezes não sabe o que fazer, para onde ir. As
dificuldades financeiras também não lhes dão muitas possibilidades. È contraditório, mas o
Shopping é a opção mais comum para ocupar o tempo livre daqueles que não tem dinheiro,
andar por ele, ver vitrines, paquerar são atitudes consideradas como lazer e diversão.
O lixo é um dos grandes problemas das grandes cidades. A quantidade de lixo
produzida por dia é muito grande. Na cidade de São Paulo os aterros sanitários estão
esgotados. A quantidade de lixo que não é lixo também é muito grande, mas como não há
coleta seletiva, o que poderia ser reciclado vira lixo, salvo a coleta feita por homens e
mulheres que moram na rua e outros moradores da cidade que estão desempregados. São
muitas pessoas: são homens, mulheres e crianças, famílias inteiras que vivem do lixo
produzido na cidade. Estes homens e mulheres são as pessoas mais ecológicas da cidade, pois
recolhem tudo que a sociedade descartou como lixo e transformam em vida, transformam em
sobrevivência. A cidade fica mais limpa e, muito lixo que seria levado aos córregos são
recolhidos evitando enchentes e sofrimento dos cidadãos.
Na cidade há diversas ONGs que trabalham com a reciclagem de material. Pessoas que
formam cooperativas para recolher, armazenar, vender ou reciclar o material coletado. A
Igreja é uma grande incentivadora e motivadora da coleta seletiva e reciclagem de material. A
22
Região Episcopal Belém da Arquidiocese de São Paulo há algum tempo ajudou na
organização de uma entidade que tem o nome de “Sapoecológico”, na região do Jardim
Sapopemba. Esta ONG incentiva a separação do material: vidro, alumínio, papel e plástico.
Recolhem o material selecionado, armazenam e vendem. Há também uma ONG que faz
reciclagem de papel. Como gesto concreto da Campanha da Fraternidade de 1999 sobre o
desemprego, a Região Belém apoiou a fundação de uma entidade chamada “Chico Mendes”
no Pró Morar Rio Claro, Parque São Rafael e financiou parte da construção de um centro para
armazenamento e reciclagem de material. Hoje a entidade tem vários cooperados que tiram
dali seu sustento. O lixo hospitalar é outro problema muito grande para a cidade. O esgoto é
outro assunto difícil e muito complicado que as administrações públicas “não querem”
resolver.
Sonhar com uma cidade mais humana é direito e dever de todos que a habitam. Sonhar
com as crianças brincando tranqüilamente nas ruas da cidade. Sonhar com acesso aos direitos
básicos para todas as pessoas. Sonhar com a liberdade na cidade. Sonhar com a valorização
dos idosos, da natureza, do espaço público, sonhar com uma cidade limpa, humana e fraterna.
Sonhar para desafiar o novo. Mudar os paradigmas da administração pública. Construir uma
nova cidade, com valores que respeite cada indivíduo e o seu conjunto.
1. A urbanização brasileira
A história da urbanização brasileira está relacionada a alguns marcos históricos da
nossa sociedade. O Brasil deixou o século XIX com aproximadamente 10% da população nas
cidades. Somente a partir da virada do século XX é que o processo de urbanização da
sociedade brasileira começa a realmente se consolidar. Isso se dá com a emergência do
trabalho livre em 1888 com a abolição da escravidão, com a Proclamação da República em
23
1889 e com uma indústria ainda incipiente que se desenrola na esteira das atividades ligadas à
cafeicultura e às necessidades básicas do mercado interno. A privatização da terra em 1850
também é um marco histórico importante para compreender a urbanização brasileira e o
surgimento dos problemas nas cidades.8
1.1. Alguns aspectos da urbanização brasileira
A industrialização no Brasil, que início a partir de 1930 e vai até o fim da Segunda Guerra
Mundial, constitui um caminho de avanço relativo de iniciativas e de fortalecimento do
mercado interno nacional, com grande desenvolvimento das forças produtivas e diversificação
de mercadorias, assalariamento crescente e modernização da sociedade. Em 1950, o processo
de industrialização entra em nova etapa. O país passa a produzir bens duráveis e até bens de
produção. Com a produção de bens de consumo há uma profunda mudança nos hábitos das
pessoas e do espaço que estas ocupam. A arquiteta e urbanista Ermínia Maricato diz que além
dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrônicos, o automóvel, produzido por esta grande
indústria fordista, a partir dos anos 50, iria promover mudanças significativas no modo de
vida dos consumidores (que inicialmente eram restritos às faixas de maior renda) e também na
habitação e nas cidades. Houve mudanças desde a ocupação do solo urbano até o interior da
moradia, a transformação foi profunda, o que não significa que tenha sido homogeneamente
moderna.9
Em 1940, a população urbana era 26,3% do total. Em 2000, passou a 81,2%. Este
crescimento se mostra mais impressionante ainda se lembrarmos os números absolutos: em
1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 milhões de habitantes e, em 2000, eram
8 SANTOS, W.G. dos. Razões da desordem. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. p. 49 9 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 19.
24
aproximadamente 138 milhões. Constatamos, portanto, que em sessenta anos os
assentamentos urbanos foram ampliados de forma a abrigar mais de 125 milhões de pessoas.10
Esses dados são ainda mais dramáticos quando se analisam exclusivamente as grandes
cidades. Dos 169.544.443 de habitantes brasileiros em 2000, aproximadamente 30% moravam
em nove metrópoles. Duas delas estão entre as maiores cidades do mundo, Rio de Janeiro
(10,7 milhões de habitantes) e São Paulo (16,7 milhões). Um total de 13 cidades tem mais de
um milhão de habitantes.11
O Brasil, por séculos, foi considerado um país essencialmente agrícola. “O urbanismo
é condição moderníssima de nossa evolução social. Toda a nossa história é a história de um
povo agrícola, é uma história e sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a
nossa raça e se elaboram as forças étnicas de nossa civilização”. 12
O fator demográfico era considerado primordial para transformar o Brasil rural num
Brasil urbano, mas o processo de urbanização vem acompanhado de problemas para os
governantes das cidades e mais ainda para seus habitantes. “Em 1998, 55% dos domicílios do
país não tinham acesso à água potável. Destes, 11,4% eram urbanos”.13 No Brasil, a
urbanização caracteriza-se por um processo de metropolização, evidenciado pelo “inchaço”
das chamadas regiões metropolitanas.
O inchamento das cidades que não desenvolveram suficientemente sua
capacidade produtiva para atender com emprego a população migrante que
acaba relegada ao terciário informal, “a desarticulação da rede urbana com a
formação de mega-pólos “desproporcionalmente grandes”, o “tecido urbano
10 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios 2001: Síntese e indicadores. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. p. 28. 11 FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÁLISE DE DADOS. O estado dos municípios 2000-2002: Índice Paulista de Responsabilidade Social, Versão 2004. São Paulo: SEADE, 2004. p. 13. 12 SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993. p. 17. 13 SECRETARIA ESPECIAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Diagnóstico dos Serviços de água e Esgotos. Brasília: 1998. Mimeografado.
25
truncado” são teses e conceitos que não disfarçam a matriz em relação ao
qual o desvio é apontado. 14
A dimensão demográfica da urbanização brasileira pode ser detectada em vários
estudos realizados pela ONU em dezembro de 1974.15
A cidade deve oferecer infra-estrutura e serviços para seus habitantes. Rede de água,
esgotos, transporte público, coleta de lixo, varrição de rua, iluminação pública, escolas de
qualidade, posto de saúde e hospitais que funcionem, creches, praças são algumas das
necessidades das pessoas que precisam ser atendidas pela municipalidade para que seja
considerada terra urbana. O contrário disso é aglomeração de pessoas e moradias. Terra
urbanizada é um elemento-chave da política urbana, habitacional e vida na cidade.
As grandes cidades são detentoras de infinitos problemas que dificultam a convivência
e vida saudável de seus habitantes. A poluição do ar, a poluição visual, a poluição sonora são
alguns dos itens do grande elenco de dificuldades enfrentados pelos moradores dos grandes
centros urbanos. A poluição sonora é particularmente preocupante em áreas tropicais e
pobres, como no Brasil, onde as populações estão mais desprotegidas, inclusive porque o
isolamento dos imóveis é frágil. A falta de arborização, que seria uma barreira acústica, e a
prioridade ao transporte individual motorizado são os principais causadores de ruído urbano
vindo dos céus, outro dos problemas crescentes em São Paulo, é agravado pelo tráfego
acentuado de helicópteros e pela falta de normas de controle.
14 PAMPLONA, T. A apoteose dos contrastes. Relatório de Pesquisa. São Paulo: FAUUSP, 2000. p. 57. 15 FARIA, V. E. Cinqüenta anos de urbanização no Brasil. Tendências e perspectivas-Estudos. São Paulo: Estudos CEBRAP, n. 29, p. 112-116, [mar.] 1991.
26
No fundo, as grandes cidades brasileiras são reflexos de uma sociedade contraditória e
fragmentada, conseqüência da desigualdade social. Ao lado de pessoas que exibem os mais
caros carros importados, aparelhos eletrônicos de última geração e moram em mansões,
vivem pessoas que não tem o que comer, o que vestir e nem onde morar. Ao lado de quem
esbanja em festas, restaurantes e roupas estão pessoas sem atendimento médico e hospitalar,
freqüentam escolas sem professores e em péssimas condições de educar e de contribuir para a
transformação da sociedade.
As periferias das grandes cidades são os lugares que mais crescem e, com estes, os
problemas causados pela ausência de infra-estrutura para seus habitantes. Há tempos a Igreja
no Brasil alerta para as necessidades e carências das pessoas que moram nessas regiões.
A periferia, como fenômeno de marginalização, salta aos olhos. E esta
periferia tende a crescer, mais como “inchação” que por integração orgânica,
como conseqüência de um processo seletivo de industrialização, e de um
processo global de mudança, baseado na concentração de poder
econômico.16
A Arquidiocese de São Paulo, impulsionada pelo então Arcebispo, Dom Paulo
Evaristo Arns, nos anos 70 e 80 trabalhou num grande projeto chamado “Operação Periferia”.
16 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 11. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1979.
27
Houve uma grande adesão de toda a Igreja e os resultados são vistos hoje pela
quantidade de Comunidades Eclesiais de Base e entidades sociais constituídas nestas
localidades. Não vamos aqui aprofundar este período e este trabalho da Igreja de São Paulo.
2. A cidade
A palavra “cidade” sintetiza o interesse da população. “Cidade é a expressão palpável
da necessidade humana de contato, comunicação, organização e troca, numa determinada
circunstância físico-social e num contexto histórico”.17 A palavra cidade vem do latim
“civitas”. Designava as cidades-estados, unidades de exercício do poder, desde séculos antes
de Cristo. A palavra cidade deu origem a termos como cidadão e cidadania. O exercício da
cidadania é fundamental no município, deve ser estimulado para pessoas e entidades.18
Uma série de conceitos vinculam a idéia de cidade: urbanização, civilização,
modernidade, mercado, política (polis), civilidade. A própria semântica expressa, na
dualidade de termos – urbs/civitas (latim); city/town (inglês); cité/ville (francês) com
mudanças expressivas de significação – a multiplicidade de abordagens e de ângulos de visão
da cidade como um todo ou de aspectos do fenômeno urbano.19
Como a cidade foi criada pelo homem por necessidade de sobrevivência, esta deve ser
para o homem um lugar de vida. O teólogo João Batista Libânio diz, utilizando imagens
geométricas, que o ser humano começou seu movimento cultural linearmente. Caçava os
animais e colhia os frutos existentes para sua subsistência em determinado lugar. Terminado
essa faina, prosseguia o caminho em frente. E assim por diante. Descrevia uma linha segundo
as sinuosidades do relevo geográfico. Quando o ser humano deixa sua vida nômade de coletor
17 COSTA, L. Registros de uma vivência. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1998. p. 277. 18 CENEVIVA, W. Cinco anos do Estatuto da cidade. Folha de São Paulo. 21 de janeiro 2005. Caderno C. p. 2. 19 BENEDETTI, L. R. Cidade e condição humana. Revista Vida Pastoral. São Paulo, Paulus, n. 225, p. 3, [jul./ago.] 2002.
28
e caçador, já não conseguindo superar as limitações da natureza, sedentariza-se, construindo
cidades.20
J. Bronowski, comenta que “após um milhão de anos de andanças, o homem chega à
escolha crucial: abandonar o nomadismo e tornar-se aldeão”.21 Vários estudiosos apontam a
data do início da agrupação de pessoas como sendo também o início da vida urbana. “O
homem começou a viver em cidades há cerca de 5.500 anos”.22
2.1. A metropolização
O crescimento das cidades na sociedade moderna não tem limites. O processo de
urbanização se apresenta como uma máquina de produzir favelas e agredir o meio ambiente.
O número de imóveis ilegais na maior parte das grandes cidades é tão grande que se pode
afirmar que “a regra se tornou exceção e a exceção regra”. A cidade legal (cuja produção é
hegemônica e capitalista) caminha para ser, cada vez mais, espaço da minoria.23
O processo de urbanização, cada dia mais acelerado tem raízes na industrialização,
pois aí estão as oportunidades de emprego que a agricultura não oferece à população. Porém,
o crescimento das cidades é desproporcional à urbanização e do aumento da oferta de serviços
e equipamentos requisitados pelos habitantes. “Bem ou mal, de algum modo, improvisado ou
não, 138 milhões de habitantes moram em cidades”.24
A maioria das grandes cidades no Brasil é construída de forma ilegal, sem a
participação dos governos, sem recursos técnicos e financeiros adequados e proporcionais ao
20 LIBANIO, J.B. As Lógicas da cidade. p.27. 21 BRONOWSKI, J. A escalada do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1979. p. 60. 22 SJORBERG, G. Origem e evolução das cidades. In: DAVIS, K. Cidades a urbanização da humanidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. p. 36. 23 SCHWARZ, R. As idéias fora do lugar: Estudos CEBRAP. p 3. São Paulo: Cebrap, 1993. p. 57. 24 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 16.
29
grande contingente de pessoas que se instalam, por necessidade e falta de opção, nas encostas,
na beira dos córregos, em áreas de mananciais. Na cidade de São Paulo é grande o número de
moradias construídas em áreas de risco ou de proteção ambiental. Na “cidade ilegal”, os
serviços oferecidos à população são precários ou simplesmente não existem.
A “cidade ilegal” é fruto do loteamento de terrenos clandestinos destinados aos
trabalhadores de baixo salário, do mercado informal e ao grande contingente de
desempregados. A ilegalidade da cidade está presente nas zonas periféricas e também nas
centrais, onde estão localizadas as favelas. Enfim, não seria leviano afirmar que se trata de
fruto da desigualdade social da sociedade brasileira.
Os indicadores de moradias urbanas construídas a partir da invasão de terras
mostram que a invasão, espontânea ou organizada, é uma alternativa
habitacional que faz parte da estrutura de habitação no Brasil. Nesse sentido,
apesar de ilegal, ela é institucional: é funcional para a economia
(barateamento da força de trabalho) e também para o mercado imobiliário
privado, e é ainda funcional para orientação dos investimentos públicos
dirigidos pela lógica da extração concentrada e privatista da renda fundiária
[...] A ilegalidade é tolerada porque é válvula de escape para o mercado
imobiliário altamente especulativo.25
São desastrosas as conseqüências da cidade ilegal para a população em geral:
enchentes, desmoronamentos, incêndios. A cada dia, esses acontecimentos são mais
freqüentes, sobretudo nas metrópoles, devido ao mau uso do solo urbano e a clandestinidade a
que as pessoas são submetidas na cidade.
25 BONDUK, N. (org.). Habitat: Contribuição para um plano de ação brasileiro. São Paulo: Nobel, 1996. p. 82.
30
As cidades grandes vivem uma crise e carecem de planos e planejamentos para que
possam ser mais humanizadas, transformando-se em espaços de convivência e de igualdade
de direitos, apesar da diversidade de interesses e condições dos cidadãos que nelas habitam.
Por exemplo: nas favelas, além das dificuldades com esgoto, água, luz e telefonia, há também
problemas com a limpeza, coleta de lixo, varrição, iluminação. Esse descaso não se dá
somente nas favelas também é enfrentado por grande parte dos bairros periféricos da cidade,
que são considerados “legais”.
Na cidade “oficial”, isto é, para alguns bairros privilegiados, existe outro padrão de
manutenção: as ruas são varridas com mais freqüência, a iluminação é melhor, o policiamento
existe, há praças e jardins cuidados. Basta uma volta pela cidade para ver a olho nu os sinais
de contradição, de exclusão social, de apartação social que uma sociedade desigual propõe,
impõe e mantém. São conflitos sociais visíveis que a sociedade brasileira ignora ou
simplesmente não reconhece sua existência.
Os serviços de infra-estrutura são sempre garantidos aos moradores dos bairros de
classe alta, enquanto que para os moradores dos bairros da periferia não são assegurados, o
que ocasiona muitos outros problemas de saúde, segurança, educação, emprego, mortalidade
infantil e criminalidade. Em centros como a cidade de São Paulo, há uma separação entre a
cidade que é o centro de negócios ou os bairros de casas luxuosas e a cidade periférica onde
moram os pobres.
Existe ainda a necessidade de reconhecer as diferenças existentes entre a cidade da
noite e a cidade do dia. A cidade do dia é aquela do comércio, dos negócios, do trabalho e a
cidade da noite é aquela da moradia, do descanso, da televisão, do lazer, da comunidade.
Podemos lembrar de uma terceira separação, que é entre a cidade da semana - cheia de
congestionamentos, ônibus superlotados, aulas, filas, creches, consultas médicas - e a cidade
do fim de semana, da cidade “vazia”, sem trânsito, da rua que vira lugar de lavar o carro, da
31
feira, dos cuidados com a beleza do corpo. Nos finais de semana, sobretudo nos feriados
prolongados e durante as férias de verão há um verdadeiro esvaziamento da cidade.
A Igreja de São Paulo, há anos tem colocado a moradia como prioridade. O 5º Plano
de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (1987-1990) já destacou este tema e o 6º Plano
(1991-1994), e o 7º Plano (1995-1998) também apresentaram a grande dificuldade em se
obter uma moradia como prioridade para ação da Igreja. Algumas Paróquias, devido a sua
localização, tem atenção e maior compromisso com esta realidade. A urbanização de favelas é
um dos “gritos” da Pastoral da Moradia da Arquidiocese de São Paulo. Legalização dos
bairros, luta por água, luz, saneamento básico, equipamentos de saúde, escolas e creches são
lutas do povo nas quais vários padres, religiosas, leigos e leigas se inserem para apoiar,
mobilizar e conquistar os direitos básicos da vida de uma pessoa.
Se formos buscar elementos jurídicos para garantir os direitos básicos das pessoas na
cidade, encontraremos leis e mais leis que protegem a cidade e seus habitantes. O Estatuto da
Cidade; Lei Nacional que reconhece o direito às cidades sustentáveis como um dos direitos
fundamentais da pessoa humana; As Diretrizes Gerais da Política Urbana que garantem a
formulação e implementação da políticas urbanas de interesse comum sobre o interesse
individual de propriedade e O Plano Diretor que é exigência constitucional para municípios
com mais de vinte mil habitantes são alguns exemplos das Leis que deveriam garantir e
proteger a vida dos habitantes urbanos.26
Como regulamentadora dos Artigos 182 e 183 da Constituição, em seu parágrafo
único do Capítulo I “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso
da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos
bem como do equilíbrio ambiental”.27
26 FORUM REGIONAL DE REFORMA URBANA. Reconhecimento do direito à cidade. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_carta_implementação&pg=1. Acesso em: 09 de fevereiro de 2006, 10:15:21. 27 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 103.
32
O Estatuto da Cidade também não decepciona em garantias jurídicas para que a cidade
seja de todos. Há regulamentação das leis, há os Planos Diretores para cada cidade, Fóruns
para Reforma Urbana e outras organizações que buscam soluções para os problemas das
grandes aglomerações urbanas, que são diversas, múltiplas, e que a cada dia apresenta uma
nova perspectiva, com mudanças na paisagem, perdas, conquistas. A cidade é um processo
contínuo de transformações. E, apesar de todas as aparentes garantias legais muitas
necessidades dos habitantes urbanos ainda não saíram do papel. A Igreja e a sociedade devem
continuar lutando para que todas as normas em benefício da vida da cidade sejam colocadas
em prática.
A paisagem urbana é sempre dinâmica, pois a sociedade é dinâmica e o espaço da
cidade é transformado para atender as necessidades criadas. Cada pessoa, cada sociedade é
que define no seu tempo o espaço que escolheu ou que escolheram para viver. O homem
manipula este espaço ou então é manipulado por ele. O homem cria, transforma, destrói,
constrói o espaço segundo as suas necessidades. Ele tem liberdade para isto, porém, precisa de
normas para que a memória, cultura e o direito de todos sejam salvaguardados. O geógrafo
Milton Santos diz que as cidades são formadas a partir do comportamento demográfico.
As explicações do fenômeno de urbanização variam. Todas, porém, giram
em torno de fatores como o comportamento demográfico, o grau de
modernização e de organização dos transportes, o nível de industrialização,
os tipos de atividades e relações que mantém com os grupos sociais
envolvidos, criação e retenção local do valor adicionado, a capacidade local
de guardar uma maior ou menor parcela de mais-valia gerada, o grau de
distribuição da renda entre os produtores, os efeitos diretos ou indiretos da
modernização sobre a política, a sociedade, a cultura e a ideologia.28
28 SANTOS, M. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 37.
33
O ser humano cria o seu próprio ambiente, transforma a natureza, faz dela sua cultura.
Desde há muito tempo o ser humano vem adaptando a ordem das coisas e adaptando-se as
coisas já ordenadas para garantir a sua sobrevivência. “Há um espaço de consumo, mas há
simultaneamente um consumo de espaço, ou seja, o espaço também é propriamente um objeto
de consumo. As relações espaciais estão presentes no modo de produção e o espaço atua,
simultaneamente, como produtor e como produto, como relação e como objeto”.29
Nestes cinco mil e quinhentos anos de agrupamento de pessoas em cidades, o conceito
de “casa” variou consideravelmente. Todas as pessoas querem ou precisam de um lugar que
seja seu, onde possam guardar suas coisas, preservar sua vida, cultivar a sua privacidade.
Hoje, a casa, sobretudo nas grandes cidades, deixou de ser o lugar das relações interpessoais
de seus membros para tornar-se mero lugar de pernoite e espaço aberto para todas as
influências externas: rádio, televisão e, cada dia mais, a internet. Nos grandes centros urbanos,
por exemplo, a cozinha tornou-se um espaço pequeno, pois, quase não é usada devido à
comodidade oferecida pelos fast foods e delyveris, enquanto a televisão ganhou bastante
espaço na sala, nos quartos, na cozinha e até nos banheiros. A casa tornou-se lugar para
dormir, assistir televisão e “conversar”, mas não com aquelas que estão dentro da mesma casa
e sim com aquelas que estão em outros extremos da cidade, em outras cidades e em outros
países, compondo as comunidades virtuais. “O efeito mais grave da cultura virtual sobre a fé é
a sua descomunitarização. Nada substitui a presença física”.30
Os levantamentos demográficos demonstram que as pessoas continuam buscando as
cidades para trabalhar, morar e viver. “Há 60 anos, 30% dos habitantes do país, que então
29 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p. 28. 30 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 135.
34
tinha 41 milhões, estavam na cidade e 70% no campo. Agora é mais que o inverso: 80% na
cidade e 20 % no campo. Este é o novo Brasil desafiador”.31
No Brasil são mais de cinco mil e quinhentas cidades, sejam grandes centros urbanos
ou pequenos aglomerados de três mil pessoas. Embora as cidades não ofereçam casa para
todas as pessoas que nelas queiram fixar-se, há novos habitantes a cada dia, mesmo que seja
para viver nas ruas. Na cidade de São Paulo há mais de dez mil pessoas vivendo nesta
situação.
Desta foram, as cidades vão se transformando cada vez mais em aglomerados de
pessoas e carecendo de um redimensionamento para poder crescer e ao mesmo tempo oferecer
melhor qualidade de vida, respondendo a problemas como o tráfego, a poluição, a densidade
populacional e a concentração de atividades urbanas, e tornam os espaços cada vez mais
restritos.
Morar na periferia, na maioria das cidades brasileiras é o destino da população mais
pobre. Existem bairros surgindo dia após dia, muitos destes nas chamadas zonas rurais, longe
do centro e conseqüentemente, sem receber muita atenção pelo poder público. São esquecidos
porque não são vistos, estão escondidos. Populações inteiras ocupam áreas de encostas, de
preservação ambiental, áreas sem a mínima infra-estrutura. Esses novos moradores não
dispõem de serviços sociais ou só podem utilizá-los precariamente, ainda que pagando altos
impostos.
O transporte é caro e ruim, além de demorado. A mobilidade das pessoas na cidade de
São Paulo, em vez de ser um direito, torna-se um verdadeiro castigo. Em decorrência da
privatização destes serviços as linhas de transportes coletivos que dão lucro funcionam
razoavelmente bem, mas aquelas que não são rentáveis estão fadadas ao descaso da
fiscalização pública. De fato, o problema é agravado pelo fato de as cidades terem
31 ISTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contagem da população. Vol. I. Rio de Janeiro: 1996. p. 52.
35
privilegiado, a partir dos anos setenta o transporte individual e também porque o
planejamento do transporte urbano coletivo tem sido fortemente influenciado pela lógica e
pelos interesses dos empresários do transporte.
Os bairros periféricos das cidades são extremamente carentes de serviços e bens que
possam assegurar a possibilidade de sair da situação de pobreza. Há grupos constituídos por
toda periferia da cidade que lutam democraticamente por melhores condições de vida. As
Comunidades Eclesiais de Base tiveram e ainda tem grande responsabilidade na organização
destes grupos, batalham por moradia, saúde, transporte, escolas, creches, água, luz e outras
necessidades básicas do ser humano.32
Na cidade, além da distância geográfica, aqueles que vivem na periferia também
sentem uma “distância política” muito grande. Morar na periferia significa distanciar-se dos
seus efetivos direitos e das instâncias de poder. Vale lembrar que na periferia está a grande
porcentagem dos analfabetos. A dificuldade de acesso à informação também é um fator
importante que desfavorece essa população.
Nesta “cidade periférica” os pobres carecem de saúde, de educação, de transporte, de
moradia, de cultura e de lazer. “As condições existentes nesta ou naquela região determinam
essa desigualdade no valor de cada pessoa, tais distorções contribuem para que o homem
passe literalmente a valer em função do lugar onde vive. Essas distorções devem ser
corrigidas, em nome da cidadania”.33
O espaço geográfico separa aqueles que tem poder de consumo e aqueles que não tem
tal poder. Na cidade, apesar de dividirem o mesmo espaço, as relações sociais são desiguais.
32 CIPOLINI, P. C. Como verificar a veracidade da Igreja nas CEBs? Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 193, [mar.] 1989. p. 305. 33 SANTOS, M. O Espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. p. 112.
36
De um lado, estão aqueles que são proprietários dos bens de produção, e do outro,
aqueles que são portadores da força de trabalho. Há vários geógrafos e urbanistas, como
Milton Santos, Paulo César da Costa Gomes, Ermínia Maricato, Maria Adélia A. de Souza,
que nos ajudam a perceber esta divisão vivida pelos moradores da cidade. Uma divisão que a
Igreja deve conhecer e ajudar a combater, por meio dos ensinamentos evangélicos.
Na cidade há uma grande delimitação de territórios. Um fenômeno que se torna
primordial compreender, antes de qualquer intervenção.
O território é, pois, neste sentido, parte da extensão física do espaço,
mobilizada como elemento decisivo no estabelecimento de um poder. Ele é
assim uma parcela de um terreno utilizada como forma de expressão do
controle sobre outrem. Por meio deste controle é possível a imposição das
regras de acesso, de circulação e a normatização de usos, de atitudes e
comportamentos sobre este espaço. Este controle do território é a expressão
de um poder, ou seja, ele é aquilo que está em jogo em grande parte das
disputas sociais, aí incluídas aquelas que disputam um direito à cidade.
Finalmente, a territorialidade é vista aqui como o conjunto de estratégias, de
ações, utilizadas para estabelecer este poder, mantê-lo ou reforça-lo. 34
A população de menor poder aquisitivo, sobretudo aquela que paga aluguel para ter
sua moradia é a que mais migra dentro da cidade. O mesmo ocorre com os moradores das
favelas, expulsos eventualmente pela reintegração de posse pelo proprietário ou simplesmente
para dar vazão ao crescimento da cidade e de seus equipamentos urbanos, como avenidas,
praças e viadutos. Outras vezes, o fogo acidental ou provocado é causa destas migrações nas
favelas.
34 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 12.
37
O espaço urbano é ocupado em função das classes sociais em que se divide a
sociedade. As razões econômicas definem onde habitarão aqueles moradores. Quem tem
dinheiro, mora em bairros próximos ao centro ou planejados para abrigar residências de
médio ou alto padrão. Para quem não tem poder econômico, os bairros distantes e as regiões
centrais mais degradadas surgem como solução, como acontece em São Paulo, onde quem
dispõe de melhores condições financeiras não deseja morar no centro, mas sim, próximo dele,
uma vez que o centro histórico da cidade de São Paulo está deteriorado.
De modo geral, o espaço urbano moderno nas grandes cidades se caracteriza pela
perda dos centros, ou então, por um pluricentrismo simultâneo: são centros de compras,
centros financeiros, centro de lazer. Nas grandes cidades, há diversos centros que se formam
no entroncamento de bairros. Ali existem algumas ruas que concentram lojas, bancos, casas
de lazer e serviços diversos, mas a Igreja nem sempre faz parte destes centros.
Entretanto, há cidades do interior em que ainda se conserva a Igreja num lugar alto,
bem visível, como “o lugar da religião”. Há uma praça e, geralmente, ao redor deste espaço se
desenvolveu o comércio. Essas cidades são chamadas de tricêntricas, ou seja, a praça, a
moradia e a igreja. “A grande cidade desfaz essa lógica. Embaralha fisicamente os centros e
transforma radicalmente os espaços. Ela é policêntrica. Quanto mais se avança a tecnologia,
mais os centros se confundem”.35
Na origem das cidades tricêntricas, a religião exercia claramente o papel normativo.
Nelas, os espaços são de alguma forma delimitados e respeitados. Porém, nas grandes cidades
hoje já não há nenhum espaço absolutamente delimitado. Convém aqui apresentar uma outra
visão de território, na perspectiva da Assistência Social:
35 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 31.
38
Os espaços territoriais são crivados pela significação simbólica e
interpretados pelos sujeitos por meio dos símbolos que lhes dão significados.
Onde eu posso ou não posso transitar. [...] Ser conhecido é sinal de
reconhecimento e, portanto, a certeza de que o outro, “apesar de todas as
injustiças”, não fará com ele atrocidades que faz com outras pessoas.36
De fato muitas coisas podem acontecer no mesmo espaço. Um espaço onde antes era
sala de cinema pode ser transformado num templo religioso. Um grande estacionamento de
veículos pode acolher uma multidão para a missa. O estádio de futebol cede lugar para shows,
comícios, cultos religiosos. No templo religioso católico, o presbitério, espaço antes exclusivo
do padre, hoje é ocupado pelos leigos e leigas com função ou não nas celebrações.
A cidade movimenta-se a partir dos interesses das pessoas. Os interessados nas
cidades são os moradores, os comerciantes, os empresários, o poder público, as igrejas. O
mundo urbano é pluriespacial e regido pelos desejos e escolhas das pessoas, seja de quem
escolhe a cidade para nela viver ou para viver dela.
Não é comum encontrar pessoas que realmente amam a cidade, que cuidam dela
desinteressadamente. Muitos querem aquilo que ela oferece: liberdade e oportunidade de
ganhar o pão e, na maioria das vezes, o lucro. “As chaves do urbanismo estão nas quatro
funções: habitar, trabalhar, recrear (nas horas livres), circular”. 37
Uma das grandes dificuldades de viver na cidade e administrar a cidade são as
diferentes concepções de espaços. Há espaços públicos que não são coletivos e espaços
coletivos que são privados.
36 BAIERL, L. F. Medo social: da violência visível ao invisível da violência. São Paulo: Cortez, 2004. p. 203. 37 SOUZA, M.A. A. de. Governo Urbano. São Paulo: Nobel, 1988. p. 69.
39
No próximo item, apontaremos algumas dificuldades de compreensão e respeito pelos
espaços que geram transtornos no convívio urbano.
2.2. Espaço Público e Espaço Privado
O espaço público é simultaneamente o lugar onde os problemas se
apresentam, tomam forma, ganham dimensão pública e, simultaneamente
são resolvidos, ou são despertados para a busca de soluções. Um dos maiores
problemas de nossa cidade foi o de haver transformado o público, ou seja, as
pessoas, em passivos expectadores. Segundo alguns críticos mais radicais, as
sociedades modernas, apesar de proclamarem os valores da consciência
individual e da democracia, estão completamente parasitadas pelo
corporativismo e pela propaganda, e nunca chegam de fato a construir um
espaço público, como aquele idealizado pelo pensamento liberal moderno. 38
Há uma forma largamente utilizada para definição de “público” como aquilo que não é
privado. Porém, esta definição parece não ser muito apropriada, pois existem outras
definições para o espaço, como por exemplo, comum e coletivo. Há quem defina o espaço
público como aquele de livre acesso às pessoas, mas esse pressuposto também não confere um
status público ao espaço.
Vários espaços, como os equipamentos de serviços administrados pelo governo são
como públicos, porém seu acesso não é livre: hospitais, áreas militares, administrativas,
escolas, todos estes espaços não possuem como regra um acesso aberto a todos e nem por isso
perdem sua qualidade de locais públicos. Hoje no Brasil, a idéia de coisa pública se confunde,
em grande medida, como algo de baixa qualidade ou de uso exclusivo das camadas populares.
38 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 161.
40
A mesma desvalorização ocorre com o espaço público uma vez que o acesso é livre, e a
freqüência majoritária é composta de elementos que tem origem nessas camadas populares.
Assim, vários espaços públicos se transformam cada vez mais numa espécie de
passarela para mendicância, prostituição, comércio ambulante de mercadorias baratas ou
contrabandeadas ou até roubadas. Isso acontece no centro da cidade e em diversos bairros da
periferia. “O encolhimento do espaço público corresponde a um recuo da cidadania”.39 È
necessário ter em mente que as práticas sociais não são independentes de uma organização
espacial e evangelizar neste contexto implica redefinir seus conceitos de atuação,
compreender as dimensões físicas dos espaços onde se que atuar, abrir-se para a dimensão
simbólica dos grupos que aí se reúnem, residem ou freqüentam.
Os processos descritos acima indicam a importância da organização espacial na
constituição e nas dinâmicas sociais da cidade. Para evangelizar na cidade é imprescindível o
conhecimento da sua organização social e conseqüentemente, de suas dinâmicas.
Fisicamente, o espaço público é, antes de qualquer coisa, o lugar, praça, rua, shopping,
praia, qualquer tipo de espaço, onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso de qualquer
tipo de pessoa. È justamente nestes espaços que se desenrolam as cenas públicas, compostas
por uma multiplicidade de manifestações que variam bastante entre grupos, roupas,
indivíduos, famílias, acessórios, comportamento entre outros elementos. O estudo do uso dos
sinais serve, na área da comunicação, para falar dessas interações entre a topologia do espaço,
o percurso dos usuários e os signos inscritos nesse espaço. Este estudo é muito utilizado nas
programações dos supermercados, estações do metrô, aeroportos, de acordo com o tipo de
pessoas que freqüentam estes espaços.40 São elementos que podem ser incorporados aos
estudos dos espaços para melhor entender e definir as dinâmicas sociais, sobretudo aquelas
que se desenvolvem nos espaços públicos. Apropriar-se desses elementos da comunicação
39 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 188. 40 LIBANIO, J. B. As lógicas da cidade. p. 34-40.
41
poderia ser uma estratégia moderna e eficiente para uma efetiva ação evangelizadora na
cidade.
Hoje a idéia de público parece corresponder freqüentemente à idéia de uma pessoa
posta diante de imagens e discursos espetaculares. Ele pode também se associar à concepção
de uma multidão passiva, incapaz de reagir criticamente, prisioneira de uma cotidianidade
niveladora. O espaço público foi, nesse sentido, em grande parte parasitado pela ação
demagógica dos governantes, por uma mídia criticamente dócil e pela “passividade” da
massa, tudo isso resultando na transformação de toda uma discussão social em um espetáculo.
O desafio é, portanto, o de retomar o espaço público como lugar de uma participação ativa,
normatizada e refunda-la como espaço da política.41
A invasão dos espaços públicos cada dia avança mais, com exemplos: como o uso de
barreiras em pequenas vias públicas sem saída, com seguranças particulares; guaritas que
controlam a entrada e saída de pessoas e carros; condomínios clandestinos; ocupações em
áreas de reserva, abertura de janelas sobre paredes “cegas”; muros em área de recuo;
caminhão que estacionam para vender seus produtos apresentando suas promoções por meio
de microfones em níveis altíssimos; pequenos comerciantes que colocam sobre as calçadas
mercadorias e bancas; bares que estabelecem uma projeção sobre a calçada e passam a utilizar
a mesma como extensão física do seu estabelecimento; caçambas são instaladas por dias nas
ruas da cidade e muito mais.
Os camelôs ocupam a calçada da rua através de toalhas no chão, onde espalham seus
produtos e bancas são instaladas para vender seus produtos, dificultando a passagem de
pedestres. Há neste caso uma estratégia de ocupação que começa sempre pelo uso de um
pequeno espaço, que vai se ampliando gradativamente, transformando-se em verdadeiros
assentamentos permanentes. Os terrenos são bastante disputados e sobre eles são
41 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 161.
42
estabelecidos verdadeiros controles dos “proprietários”, que passam muitas vezes como
legítimos locadores e passam a recolher os frutos do “aluguéis”. Isto acontece também com os
guardadores de carros, que fazem das vias públicas terrenos particulares e sobre estes exercem
poder de cobrar pelo direito de estacionar. Em vários lugares da cidade até as calçadas são
tomadas e destinadas ao estacionamento de veículos. A primeira vista, parecem que todos
ganham: os guardadores, ao se apropriarem e ao explorarem uma área pública; e os
motoristas, por conseguirem burlar a lei e garantir seus interesses imediatos. Na verdade,
todos perdem, pois a cidadania recua. O livre acesso pressupõe a não exclusividade de
ninguém ou de nenhum uso diferente daqueles que são os de interesse comum, mas na prática
o que ocorre é a transformação desses espaços públicos em privados. Essa transformação, ou
melhor, invasão do espaço público, muitas vezes é garantida pela intimidação.
A cidade é hoje concebida como fragmentada, soma de parcelas mais ou menos
independentes, havendo uma multiplicação de espaços que são comuns, mas não públicos; há
um confinamento dos terrenos de sociabilidade e diversas formas de nos extrairmos dos
espaços públicos, como os telefones celulares e fones de ouvido. Além disso, os modelos de
lugares se redefiniram: shopping centers, ruas fechadas, paredes “cegas” permitem que
qualquer pessoa consiga, mesmo num espaço público, sentir-se fora dele. Quando fala ao
telefone celular com alguém num espaço público, o interlocutor não está “presente” naquele
espaço. Ele sai de uma situação pública para uma situação particular. O mesmo se dá quando
alguém se desliga de todas as outras pessoas presentes no espaço e seu interlocutor é o
walkman.
Cidade e civilização, duas palavras de raízes comuns, nas quais podemos ver projetos
associados, mas que são construções históricas e justamente por isso estão sujeitas a
alterações. As categorias podem permanecer, mas as formas que associam a elas estão sempre
em profunda transformação.
43
2. 3. Pobreza e miséria nos centros urbanos
As cidades crescem desordenadamente, tornando-se “cada dia mais difícil oferecer
serviços básicos de alimentação, hospitais, escolas, exacerbando-se assim a marginalização
social, cultural e econômica. O aumento dos que buscam o trabalho foi mais rápido do que a
capacidade de dar emprego do próprio sistema econômico atual”.42
O crescimento urbano está muito ligado a exclusão social. Com o surgimento do
trabalho livre na sociedade brasileira, as cidades ganharam novos habitantes e com eles nova
dimensão, iniciando aí também o problema da habitação. Hoje estes problemas ainda estão
presentes nas cidades, sobretudo nas grandes cidades. Joaquim Nabuco já havia previsto que o
peso do escravismo estaria presente, na sociedade brasileira, muito após sua abolição.43
“Segundo estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33% dos
pobres brasileiros se concentram, no Sudeste, predominantemente nas metrópoles”.44 Na
Região Metropolitana de São Paulo em 2001, havia 1,3 milhão de pessoas vivendo em
domicílios com renda familiar per capta inferior a um quarto de salário mínimo (300 mil
famílias, aproximadamente) e 2,8 milhões de pessoas com renda per capta inferior a meio
salário mínimo, conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada
pelo IBGE.45
Os grandes centros urbanos apresentam realidades bastante diferentes entre si. No caso
de São Paulo não podemos falar de uma única cidade. As realidades são múltiplas. A cidade
está dividida administrativamente em 96 distritos. Podemos constatar pelo Censo 2000 que os
42 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 71. São Paulo: Paulinas, 1979. 43 MARICATO, E. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. p. 22. 44 INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil. Brasília: IPEA, 1999. p. 22. 45 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade São Paulo. Vol. 4. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 11.
44
distritos mais centrais estão sofrendo uma queda de população, enquanto os mais periféricos
recebem todo dia novos habitantes, conforme pode-se observar no anexo (página 237).
O Mapa da Exclusão Social, elaborado pela Professora Aldaíza Spozati, mostra
disparidade das condições de vida entre os distritos, comparando índices e estabelecendo
notas de exclusão/inclusão social a partir de padrões básicos de cidadania. Na cidade os
direitos da população estão ou não garantidos pelo espaço onde estas estão localizadas. Pelo
mapa percebemos que os distritos periféricos são os que apresentam maior grau de exclusão,
pois não oferecem a população os equipamentos públicos de saúde, creche, escolas e outros
serviços. O bairro habitado e o estado de pobreza do morador formam, desse modo as
condições objetivas que levam à exclusão social.
A dimensão territorial deve, assim, ser considerada um dos aspectos
constitutivos da vulnerabilidade social – na medida em que o contexto pode
ter impacto, positivo ou negativo sobre as situações de fragilidade sócio-
econômicas existentes nas famílias. O acúmulo de certas situações de risco
em determinadas áreas, por exemplo, é um aspecto que pode contribuir para
a reprodução do ciclo de pobreza ou para o agravamento de situações de
privação propriamente econômicas. A existência de serviços públicos de
atenção nas proximidades dessas áreas, por outro lado, pode contribuir para
amenizar tais situações.46
A Igreja de São Paulo, que se faz presente em todos os bairros da cidade, seja com
suas Paróquias e Comunidades Eclesiais de Base, muitas vezes constituem entidades que
amenizam esta situação de exclusão, oferecendo creches, cursos profissionalizantes ou
46 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 58.
45
alfabetização de jovens e adultos, cursos de cidadania, além de tantas outras iniciativas para
reduzir a segregação que a sociedade impõe aos habitantes da cidade. A Igreja católica
presente na cidade tem se preocupado com a sua ação profética em São Paulo.
O crescimento acelerado da cidade de São Paulo não destoa do que ocorre em outras
partes do mundo. “São Paulo é a quarta maior cidade do mundo. Estamos atrás apenas de
Tóquio, cidade do México e Bombaim. A nossa população é de mais ou menos 10.406.166
habitantes que se distribui em 1525 Km². Estima-se que no ano de 2010 teremos uma
população de 11.400.000 habitantes”.47
O grande desenvolvimento das cidades e da morfologia urbana é o fenômeno que
melhor caracteriza a nossa civilização contemporânea. Nestes últimos cinqüenta anos, uma
população mundialmente rural converteu-se em urbana. Hoje todas as nações industrializadas
são altamente urbanizadas e, em todo mundo, indiscriminadamente, o processo de
urbanização é acelerado. “Torna-se evidente que em breve o mundo estará completamente
urbanizado”. 48 A urbanização e o crescimento das cidades acorrem conjuntamente, o que
ocasiona grandes desafios para a vida da pessoa urbana.
A região rural brasileira expulsa os pobres e trabalhadores do campo. As causas são
distintas, mas dentre elas sobressaem principalmente, a pobreza e o subdesenvolvimento das
zonas rurais, onde frequentemente faltam os serviços públicos, comunicação, estruturas
educacionais e comunitárias. A agricultura está cada vez mais capitalizada. Além disso, a
cidade, apresentada amiúde pelos meios de comunicação social como lugar de diversão e
bem-estar, exerce uma especial atração sobre o povo simples.49
47 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo: Dados sobre a cidade. São Paulo: Loyola, 2002. p. 09. 48 PIQUET, R.; RIBEIRO, A. C. T. (orgs.). Brasil Território de desigualdade: Descaminhos da modernização. Rio de Janeiro: J. Z. Ed. Fund. J. Bonifácio, 1991. p. 14. 49 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 21. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1999.
46
Os pobres expulsos da zona rural migram para os espaços urbanos, sobretudo para as
grandes regiões metropolitanas. Em contrapartida a industria se desenvolve nas cidades com
número insuficiente de empregos. As cidades grandes estão mais “inchadas” a cada dia e seus
habitantes são submetidos à má remuneração, subemprego ou desocupação dos trabalhadores.
Os problemas urbanos existem apenas por falta de racionalidade e
honestidade do governo ou dos cidadãos. A racionalidade seria alcançada
através de estudos sistemáticos sérios e tão científicos quanto possível, que
dessecaríamos os problemas, indicando-lhes a melhor solução. Desse modo,
a mera ignorância da realidade dos fatos a ser superada através de análise
sistemática seria a causa básica do estado caótico das cidades. 50
No Brasil, nos períodos mais recentes a pobreza está associada ao processo de
urbanização, cuja concentração acontece, sobretudo, nas grandes cidades, que se tornam pólos
de pobreza. A grande cidade é o lugar com mais força para atrair os pobres, ainda que em
muitas vezes em condições subumanas. O grande centro urbano, por sua complexidade, torna-
se criadora de pobreza, tanto pelo modelo sócio-econômico implantado no país, como por sua
organização espacial. A estrutura física das cidades grandes “oferece” as periferias para os
pobres habitarem. As periferias e cortiços tornam os pobres cada vez mais pobres, pois aí
enfrentam os desafios da metrópole: o transporte, o saneamento básico, a poluição, os lixões,
a violência, as drogas, o desemprego, a ausência de equipamentos públicos de educação,
saúde e lazer. “No Distrito de Marsilac, zona sul da cidade de São Paulo, 99,66% dos
domicílios não tem esgoto”.51
50 CAMPOS FILHO, C. M. Cidades Brasileiras: seu controle ou caos. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1992. p. 5. 51 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da Vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. Vol. 3. São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2004. p. 24
47
A exclusão social é a cada dia mais agressiva e gritante. Está escancarada a olhos
vistos pela cidade inteira. Os documentos eclesiásticos lembram que “é missão da Igreja
procurar as causas da marginalização, evitando concentrações desumanas, causadas por
imperialismos gananciosos. Denunciar a posse concentrada dos meios de produção, como
instrumentos de marginalização”.52
As metrópoles não conseguem suportar a massa desempregada, a população de rua,
gerando os crimes, os seqüestros, a prostituição. Os governos são incapazes de gerenciar os
grandes centros brasileiros, degradados no seu nível de vida.53 A violência e a insegurança
nestes grandes centros são conseqüências da escassez ou ausência de certos equipamentos e
serviços que poderiam interferir diretamente na qualidade de vida da população. São Paulo é
o caso mais agudo dos problemas urbanos das grandes cidades brasileiras.54
3. Alguns aspectos da realidade paulistana
A cidade de São Paulo apresenta-se em muitos aspectos de forma ambígua. Mostra-se ao
mundo como a quarta maior cidade, situa-se no oitavo colocado entre os países capitalistas em
termos de Produto Interno Bruto (PIB), perto de 400 bilhões de dólares. São mais de dois
milhões e meio de trabalhadores na indústria (este número representa um terço da população
ativa dos paulistanos).
São Paulo é a grande metrópole industrial do Terceiro Mundo. Em São Paulo está
concentrada a importância nas atividades de serviços que respondem às necessidades do
52 CNBB. Subsídios para Puebla. (Documentos da CNBB n. 13) 105. 53 A segregação social está presente também na zona central da cidade. No dia 02 de agosto a Folha de São Paulo noticiou que ao lado do Shopping Tatuapé na zona leste de São Paulo, duas pequenas casas azuis chamam a atenção, esta casinhas, com pouco mais de um metro e meio de altura, feitas de madeira, poderiam ser confundidas com uma casa de boneca ou com uma casa para cães, mas o local, porém abriga três crianças de rua. O Secretario Municipal da Assistência Social do Município de São Paulo, Sr. Floriano Pesaro mandou que aquelas casas e crianças fossem retiradas daquele local. Aquela situação representava a situação em que estão vivendo muitas crianças da cidade. 54 SANTOS, M. A urbanização brasileira. p. 95-97.
48
Estado, do País e de relações internacionais que faz a verdadeira metrópole brasileira, do
Mercosul e do mundo. A cidade de São Paulo é formada pelo agrupamento de onze milhões
de pessoas. Junto com as outras cidades que formam a região metropolitana de São Paulo são
cerca de dezenove milhões de habitantes. A cidade de São Paulo é um grande centro de
irradiação cultural: a grande universidade pública USP e diversas faculdades privadas.
Recentemente, foi inaugurada o Campus Leste da USP, um sinal de que a população
periférica tem encontrado maior acesso à universidade pública. Mais da metade das pesquisas
científicas são realizadas na cidade de São Paulo. Também a publicação de revistas científicas
em sua grande proporção acontece na cidade. 55
A ambigüidade está do outro lado da rua na cidade de São Paulo. Um milhão e duzentas
mil pessoas vivem nas favelas da cidade, isto é, 11,12% da população paulistana. A cidade de
São Paulo possui 2018 favelas espalhadas por toda a cidade. Aproximadamente dez mil
pessoas vivem nas ruas da cidade.56
A paisagem urbana é uma fotografia da situação em que vive o Brasil, possuidor de um
dos piores títulos mundiais: o sexto colocado no ranking dos países com maior desigualdade
social, depois da Venezuela, Paraguai, Serra Leoa, Lesoto e Namíbia.57
A cidade de São vive uma expansão vertiginosa, ocupando áreas de mananciais, das
Represas Billings e Guarapiranga. Grande parte da mata da zona leste já não existe mais.Ao
lado oeste já emenda com Jundiaí e quase junta-se à cidade de Campinas, o que alguns
urbanistas estão chamando de “macrometrópole”.
55 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Relatório Quinquenal 1995-1999. 2000. p. 25. 56 cf. FUNDAÇÃO SISTEMA ESTADUAL DE ANÀLISE DE DADOS. O estado dos municípios 2000-2002: Índice Paulista de Responsabilidade Social, Versão 2004. São Paulo: SEADE, 2004. p. 21. 57 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS. Informe sobre desenvolvimento da ONU. Disponível em: www.pnud.org.br/pobreza. Acesso em 26 de janeiro de 2006, 17:56:05.
49
3.1. Dados estatísticos recentes da metrópole paulistana58 População estimada em julho/2005 10.927.985Eleitores 7.771.503Área territorial 1.523 Km²Área territorial da Arquidiocese de São Paulo 636 Km²Estabelecimentos de saúde l.769Ensino médio fundamental –matrículas/2004 l.576.594Crianças com mais de sete anos fora da escola 46.156Nascidos vivos/dia 600Mortes/dia 250Casamentos 2002 51.117Separações judiciais 2002 6.095Agências Bancárias 1.931Salas de cinema 235Bibliotecas 362Estádios de futebol 13Veículos (frota) 4.174.000Estações de metrô 52Corredores de Ônibus 08Terminais Municipais de ônibus 19Favelas 2.018Moradores em favela 1.160.590Domicílios em área de risco 36.106População sem rendimento 10,43%
A Arquidiocese de São Paulo ocupa aproximadamente um terço do total do Município e
tem uma população estimada de 5.718.000 habitantes perfazendo uma densidade demográfica
de 9.021 hab/Km².
3.2. A violência na cidade de São Paulo
“Inimigos da violência
Guerrilheiros da paz...Armados de consciência Está havendo muita injustiça neste mundo cão
O futuro da nação...Está em nossas mãos A discriminação e o preconceito
Opressão no social no social...Não é direito”. (grupo de rap do Jardim Santo André, 2002)
58 cf. IBGE, FGV, FUNDAÇÃO SEADE, IPEA.
50
Temos assistido o crescimento da violência, que coincide com a ascensão do poder da
droga, com a avassaladora onda de corrupção dos órgãos policiais e com a vergonhosa
impunidade dos criminosos. Vale lembrar aqui que a impunidade não se dá somente aos
criminosos das favelas, do tráfico de drogas; a impunidade perpassa os escalões dos governos,
dos partidos políticos, da polícia e da vida social.
Segundo pesquisa de 1999 do Programa de Aprimoramento das Informações da
Mortalidade no Município de São Paulo (PRO-AIM), organismo público municipal que
registra as causas de morte na capital paulistana, as áreas mais violentas são aquelas em
predomina uma conjunção de determinados indicadores: baixa renda, baixa taxa de
escolaridade, maior proporção de negros entre os moradores, maior taxa de desemprego,
maior número de moradores em favelas e piores condições de moradia e urbanísticas.59
São Paulo é uma cidade que cresce desproporcionalmente e produz muitas desigualdades
sociais ou pelo menos não consegue criar estruturas que diminuam essa desigualdade a
números aceitáveis para a convivência humana.
Os índices da criminalidade na cidade de São Paulo são alarmantes há muito tempo.
Durante toda a década de 1990, as taxas de homicídio paulistanas estiveram entre as mais
altas do mundo. Em São Paulo, no período de 1998 a 2000, foram registrados 8.309
homicídios envolvendo pessoas de 15 a 29 anos – fazendo desta a principal causa de morte
entre este grupo etário.60
A Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), do governo do estado tem
notícia animadora para a capital paulistana que em 1999 registrou 6.638 assassinatos e, em
59 DRUMOND Jr., M. Homicídios e desigualdades sociais na cidade de São Paulo: uma visão epidemiológica. São Paulo: PRO-AIM, 1999. p. 34. 60 SECRETARIA MUNICIPAL DE ASSITÊNCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população da cidade de São Paulo. Vol. 4. p. 30.
51
2004, foram 3.944, redução de 40,6%.61 A redução do número de assassinatos se deu pelos
investimentos em segurança pública e pelo crescimento do número de Organizações Não
Governamentais que oferecem alternativas econômicas e de lazer à população de baixa renda.
Pelo menos 130 ONGs atuam nas regiões mais pobres de São Paulo. Montam cursos
profissionalizantes, oficinas para crianças e adolescentes, centros de convivência para idosos e
creches onde as mães podem deixar seus filhos enquanto trabalham. “Sem uma parceria
efetiva com a comunidade, o governo pode fazer muito pouco”, reconhece o secretário de
Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho.62 Os bairros com mais motivos
para comemorar são justamente aqueles que, nos anos 1990, sofreram os piores índices de
criminalidade. No Jardim Ângela, as mortes vêm caindo ano a ano. Em 1996, foram
registrados ali 385 assassinatos. Em 2004, 172. É uma queda de 55 %. Vale lembrar do
trabalho executado naquela região pelo padre irlandês Jaime Crowe, responsável pela
Paróquia Santos Mártires. É uma prova que não adianta ficar somente rezando para o
problema desaparecer. Os crimes só diminuem após um longo trabalho com a população.
A violência urbana é bastante complexa e exige ações integradas do governo, da igreja e
de todos da sociedade. Também são grandes os obstáculos a serem enfrentados. A causas da
violência devem ser estudadas, compreendidas e combatidas.
Nesta “onda” de violência do contexto urbano, o homem perde sua humanidade e volta a
sua raiz violenta de animal. Os seres humanos nas cidades superpopulosas se tornam mais
agressivos, os jovens se juntam em grupos para viver e formam grupos a partir dos seus
interesses. Estes grupos nem sempre são formados com princípios éticos e morais; neles os
valores da pessoa humana se perdem e tornam-se violentos e preconceituosos.
61 PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Governador e secretário anunciam queda de homicídios na Capital. Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/home/noticia.aspx?cod_noiticia=2802. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 12:58:15. 62 PORTAL DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Governador e secretário anunciam queda de homicídios na Capital. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 12:58:15.
52
A vida urbana está brutalizando as pessoas, desumanizando-as. Muitas pessoas sentem-se
mais como objetos que sujeitos na cidade. Para as pessoas que trabalham o dia inteiro, o
grande desejo é chegar em casa e dormir, nada de participar de uma conversa familiar, ver os
vizinhos, se interessar pelos problemas do bairro. Muitos pais não têm paciência para saber do
dia dos filhos.
Quanto mais a cidade cresce, mais a violência é protegida pelo anonimato. Em muitos
casos, o bairro sabe quem é o criminoso, mas o medo da impunidade daquele e a perseguição
levam ao silêncio. A socióloga Luzia Fátima Baierl, com pesquisa científica em Santo André
–SP faz constatação da violência visível ao invisível da violência.
Instala-se uma ambigüidade: medo da violência e medo de denunciar a
violência, pois há um risco real, potencial e imaginário de sermos a próxima
vítima...Esse conjunto de sentimentos – medo, insegurança, impotência – vai
conformando um novo tipo de cidadão, ou melhor, um subcidadão. Uma
nova cultura vai se forjando a partir de valores, normas e regras tecidas nos
espaços privados e não como respostas às necessidades públicas e
decorrentes delas.63
É a polícia envolvida no mundo do crime. Aqueles que deveriam proteger causam medo e
insegurança. “A violência urbana e a criminalidade criam um clima de medo”.64
A cidade é também o lugar da solidão. Qualquer pessoa pode caminhar horas na cidade e
não encontrar realmente com ninguém. O trabalho, a polícia e religião, sobretudo o
pentecostalismo, são ainda força de contenção da violência nos grandes centros urbanos. As
igrejas ainda conseguem colocar valores éticos, morais e cristãos. Nem sempre estes valores
63 BAIERL, L. F. Medo social. p. 64. 64 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71) 51. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2003.
53
vem pela educação consciente, na maioria das pregações vem pelo medo de um Deus
castigador.
3.3. O emuralhamento da vida social nos grandes centros urbanos
Uma leitura rápida dos jornais revela o lado perverso da sociedade. São várias notícias
associadas ao crime, ao roubo, assassinatos, seqüestros, rebeliões em presídios e FEBEMs,
mortes violentas. Não raras vezes estas notícias sempre são manchetes de jornais e em alguns
canais de televisão, desencadeando um medo crescente na sociedade. “A população à sua
maneira, reage às formas de violência buscando, via de regra, alternativas na esfera do
privado”.65 A violência, nas suas múltiplas faces, introduz conceitos e modos de vida na
realidade urbana. Lipovetski analisa o comportamento humano na sociedade atual a partir
daquilo que a sociedade oferece para viver isoladamente.
O indivíduo não obrigatoriamente contribui para o reconhecimento da
alteridade. Ele pode, e esta parece se uma das tendências que se afirmam
hoje, ter um caráter hedonista e narcísico. Percebemos de diversas maneiras
que o dito homem moderno dispõe de variados recursos pra transforma-se
em invisível e, portanto, inacessível para o contato social.66
Um dos sintomas mais flagrantes desse mundo fechado e egocêntrico foi difundido
pela moda do walkman, símbolo da recusa de estabelecer contatos ou manifestação de desejo
de permanecer distante das situações do dia a dia. Há uma série de equipamentos eletrônicos e
serviços difundidos que facilitam o confinamento social: serviços bancários, de compras, de
65 BAIERL, L. F. Medo Social. p. 25. 66LIPOVETSKY, G. Espace privé, espace public à l’age post-moderne in Citoyenneté et urbanité. Paris: Esprit., 1991. p. 18
54
comunicação, de entrega em domicílio, de telefonia, redes de televisão com ofertas de
diversos canais, internet, videocassetes, DVDs entre outros, que penetram em grande parte
das sociedades metropolitanas. Todos eles são transformados rapidamente em equipamentos e
serviços básicos dos domicílios e são adquiridos até pelos baixos extratos das classes médias
urbanas. O “mundo” chega até as pessoas sem que elas tenham sequer que sair de casa.
Segundo o Instituto de Políticas Públicas Florestan Fernandes a percepção da violência
pela população é um dos mais importantes de seus efeitos: 57% dos paulistanos sentem que a
violência afeta a cidade como um todo, enquanto 19% sentem que ela exerce impacto sobre o
bairro onde moram e 13% sobre suas famílias. Ou seja, o fantasma da violência afeta
principalmente a convivência urbana e impessoal – e assim se produz o enclausuramento das
classes média e alta, em seus condomínios fechados e shopping-centers, abandonando
progressivamente o espaço das ruas ou privatizando-as, por meio de vigilância ostensiva. O
espaço público significa para a população cada vez o espaço da blindagem, do perigo, do
abandono. Assim, a violência acaba contribuindo para o esgarçamento do tecido urbano-
social.67 Aqui se reafirma o estudo de Luzia Fátima Baier sobre a violência visível e o
invisível da violência, apresentado no item 3.2 sobre a violência neste estudo.
A violência incide e desqualifica as áreas desfavorecidas, principalmente a periferia.
“O risco de morrer assassinado no Jardim Ângela (94 homicídios para cada grupo de 100 mil
habitantes) é 34 vezes maior do que para um morador do privilegiado distrito de Moema (2,8
para cada 100 mil habitantes)”.68
Na cidade de São Paulo, a especulação imobiliária incentiva o “enclausuramento” das
pessoas. Com a promessa de segurança e tranqüilidade o mercado imobiliário vende a idéia de
ter cinema, ginástica, salão de beleza e tantos outros serviços sem sair do condomínio.
67 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo. p. 18. 68 SEMINÁRIO DA CARIDADE. Conhecendo São Paulo. p. 18.
55
As pessoas têm a “neura” de segurança e, em vez de exigir que os problemas da cidade
sejam resolvidos, retiram essa responsabilidade do poder público, passam a viver em espaços
privados e satisfazem seus desejos individualmente. Nestes casos o indivíduo ganha, mas o
cidadão perde.
Repletos de equipamentos de lazer e serviços, prédios em São Paulo em número cada vez
maior permitem o “encasulamento” – termos criado pelos executivos do mercado imobiliário
e criticada por sociólogos e urbanistas que vêem neste isolamento, uma diminuição do senso
de comunidade. A cidade é o lugar onde os diferentes se encontram. Quem deixa de participar
da vida comunitária proposta pela rua, pela cidade como um todo, torna-se cada vez mais
auto-referente. É o “emuralhamento” da pessoa, em que a sensação é de que os problemas da
sociedade não são seus e nem a atingem.
Os edifícios onde moram as pessoas das classes média e alta são fechados, guardados e
vigiados. Na paisagem urbana paulistana, vemos vários prédios construídos com paredes
“cegas” ou com pequenas janelas sobre a fachada, que demonstram um nítido desinteresse
pela abertura para a rua e o convívio social. O uso do transporte particular é quase regra para
aqueles que tem condições de ter um carro. A saída dos veículos se dá por meio de portões
automáticos dos interiores da casa. Dessa forma, ao sair para a rua já estão devidamente
protegidos do relacionamento social.
As grandes cidades, com o crescimento do transporte particular, precisa aumentar
continuamente as ruas e avenidas para a circulação dos carros, em prejuízo assim dos outros
possíveis usos dos espaços públicos.
O medo da violência altera a estrutura arquitetônica da cidade. Verdadeiras prisões são
construídas para proteção das pessoas e defesa do patrimônio. Muitos equipamentos
eletrônicos de segurança de alta tecnologia são instalados nas casas e há uma blindagem de
56
carros cada vez mais progressiva. A indústria de vendas de seguros para bens e de vida tem
futuro a cada dia mais promissor.
A segurança privada também tem na violência da cidade a causa do seu crescimento. “Na
cidade de São Paulo, os trabalhadores desse setor correspondem a 150 mil homens, o que
representa três vezes o efetivo da Polícia Civil e Militar”. 69 Enquanto a população rica da
cidade “garante” a segurança de seu patrimônio e proteção de sua vida destas formas, “a
população mais empobrecida, moradora das favelas, cortiços e bairros periféricos da cidade
dá certa cobertura aos grupos organizados e quadrilhas vinculadas ao mundo da contravenção
e o tráfico de drogas em troca de segurança e proteção”.70
3.4. O individualismo na cidade
Na sociedade tradicional, predomina a comunidade rural, relativamente auto-
suficiente, onde as atividades econômicas, políticas, religiosas, de lazer, são realizadas
juntamente, num espaço restrito, familiar e são relações primárias porque são vizinhas. A vida
das pessoas é determinada pela tradição, apoiada e controlada pela comunidade rural. Na
sociedade moderna urbana, a atividade humana tende a dividir em áreas autônomas:
economia, política, ciência, lazer, religião e, as pessoas não estão mais ligadas a uma
comunidade (no sentido tradicional), mas articulam sua vida com diversos ambientes,
multiplicando seus relacionamentos e relações secundárias pela função que exercem. Neste
espaço complexo, abre-se a possibilidade tanto do indivíduo (o indivíduo vive suas relações,
tendo como centro a si mesmo) quanto da adesão no novo tipo de comunidade (religiosa ou
não) que dá apoio ao indivíduo e, às vezes, o controla e absorve completamente.71
69 BAIERL. L. F. Medo social. p. 71. 70 BAIERL, L. F. Medo social. p. 62. 71 TRACY, D. Dar nome ao presente. Concilum. Petrópolis: Vozes, n. 227, [jan.] 1990. p. 71.
57
Na cidade as pessoas convivem com o medo: medo de assaltos, roubos, seqüestros,
desemprego, abandono. Esses medos estão cada dia mais desagregando as pessoas, quebrando
vínculos familiares, comunitários e sociais. Uma sociedade mais segregada está sendo
construída. Há distanciamento das pessoas e uma reafirmação de preconceitos e estereótipos.
A vida das pessoas na cidade é construída a partir desses e de tantos outros conflitos e
contradições. “A cidade moderna favorece o contato com uma pluralidade de experiências e
expressões culturais, multiplicando as possibilidades de escolha do indivíduo”. 72 O indivíduo
busca a sua satisfação pessoal e de seus desejos. Busca sempre a paz interior através de
terapias, cura de males, bênçãos especiais, “descarrego”, sucesso na vida e nos negócios,
como prometida pela “teologia da prosperidade”. Neste contexto, a religião é bastante
procurada. O indivíduo busca algo que lhe interessa em uma, em duas e em várias igrejas. São
buscas emocionais que não completam seus desejos, não lhe satisfazem.
O Magistério Eclesial tem feito grande esforço, sobretudo no século XX, para ler a
realidade social à luz do Evangelho e oferecer de forma cada vez mais concreta e orgânica seu
contributo social para a solução da questão social, que hoje está ampliada à escala planetária.
Essa vertente ético-social é uma dimensão imprescindível do testemunho cristão. Na Carta
Apostólica Novo Millennio Ineunte, o Papa João Paulo II alerta para o risco de alimentar uma
espiritualidade individualista e intimista. “Deve-se rejeitar a tentação de uma espiritualidade
intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a
lógica da encarnação e, em última análise, com a própria tensão escatológica do
cristianismo”.73
72 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. 37. 73 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 52. 2 ed. São Paulo: Paulus e Vozes, 2001.
58
3.5. A política da mobilidade na cidade de São Paulo
O homem urbano não deveria ser fixado a um único território na cidade. Ele tem direito ao
transporte e movimentação pela cidade e tudo que ela oferece. A pessoa mora num lugar,
trabalha em outro, estuda em um terceiro e ainda tem o seu sagrado direito ao lazer, que pode
ser realizado em um outro lugar da cidade. O Estado deve assegurar esse direito aos
habitantes da cidade. Estudos realizados pela Secretaria da Assistência Social do Município
de São Paulo apontaram que as pessoas que moram nos lugares periféricos da cidade e
desprovidos de equipamentos públicos e infra-estrutura básica são os que estão mais
vulneráveis às drogas, ao desemprego, ao aborto, à gravidez precoce e à morte.
O Estado tem um papel destacado na produção desse tipo de distribuição
espacial. A atuação estatal no ambiente construído, por meio de
investimentos em infra-estrutura e/ou outros equipamento públicos, gera
valorização de certas áreas e desvalorização de outras, fazendo com a
população menos favorecida não possa arcar com os custos das benfeitorias
e seja obrigada a se deslocar para outras regiões, geralmente mais distantes,
desprovidas de infra-estrutura básica e equipamentos públicos, aumentando,
desse modo, seus gastos com transporte sua exposição a variados tipos de
risco.74
Na cidade de São Paulo, o transporte público é precário é muito caro, o que não o
torna um direito de todas as pessoas que nela moram. As pessoas encontram muitas
dificuldades de mobilidade na cidade.
74 SECRETARIA DA ASSISTENCIA SOCIAL. Mapa da vulnerabilidade social da população na cidade de São Paulo. Vol. 4. p. 12.
59
Alguns avanços estão sendo dados, porém a cidade está muito aquém de oferecer
transporte digno aos seus habitantes. A segregação social pode ser agravada ou amenizada por
quem consegue menor ou maior mobilidade espacial na cidade. As pessoas, às vezes, estão
tão segregadas em determinados espaços que estes funcionam como estímulos negativos,
reproduzindo mecanismos de exclusão social. O Estado tem poder, com a implantação de
mecanismos que facilitem a mobilidade das pessoas na cidade, de combater essas situações de
segregação sócio-espacial.
Em outras palavras, podemos chamar de democratização do acesso à cidade com tudo
que ela oferece, aos pobres de forma especial, o acesso aos equipamentos públicos de saúde,
educação, lazer, trabalho e convivência.
Com a implantação do Bilhete Único, em 2004, e os novos corredores exclusivos de
ônibus, milhões de paulistanos que utilizam o transporte coletivo para se deslocar na cidade
tiveram uma sensível melhora na qualidade de vida. O Bilhete único permite que uma pessoa
use por um período de duas horas, mais de uma condução (ônibus ou microônibus) para se
deslocar pela cidade. Esta é uma conquista importante na perspectiva da ampliação do direito
à cidade, pois, possibilita, com menos dificuldades, chegar até um amigo, fazer compras,
chegar ao hospital ou participar do culto religioso. Os novos corredores de ônibus, na prática,
priorizam o transporte coletivo, diminuindo o espaço de circulação dos automóveis nas
avenidas e reduzem significativamente o tempo de viagem dos usuários do transporte
coletivo. Depois de longa espera e grande luta, sente-se uma pequena mas sensível
valorização do transporte coletivo na cidade de São Paulo. Apesar desta e de outras iniciativas
isoladas, sente-se uma falta de vontade política e disposição para enfrentar a política pró-
automóvel em todo o país. 75
75 SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTES. São Paulo Interligado: O plano de transporte público urbano em implantação na gestão de 2001-2004. São Paulo: Prefeitura do Município de São Paulo, 2004. p. 5-7, 87-97.
60
As calçadas de nossa cidade também estão em péssimo estado de conservação. Os
cidadãos que enfrentam as maiores dificuldades são as pessoas com deficiência e com
mobilidade reduzida. Em algumas ruas não há calçadas. Em várias ruas as calçadas são cheias
de desníveis, pois cada morador sente-se no direito de garantir a passagem do seu carro.
Nestas ruas uma pessoa com mobilidade reduzida não consegue enfrentar os obstáculos, por
isto, muitos idosos não andam pelas calçadas, preferem andar pelas ruas, pois tem medo dos
buracos e desníveis que estas apresentam. Outras pessoas não freqüentam as atividades
religiosas no período noturno, pois temem cair devido ao perigo que as calçadas apresentam e
a má iluminação das ruas.
A cidade também convive com grande número de mortos e feridos no trânsito,
envolvendo principalmente pedestres e motoqueiros. Muitas ruas e avenidas da cidade não
oferecem a faixa de pedestre. Estes, aliás, igualmente precisam ser educados para respeitar as
leis, para sua própria segurança.
A crise de mobilidade na cidade de São Paulo requer ações conjuntas e contínuas para
garantir uma mobilidade sustentável e cidadã, onde o direito ao transporte coletivo de
qualidade e ambientalmente sustentável, assim como a paz no trânsito, sejam políticas que
nenhum partido político ou governante possa negligenciar.
3.6. Participação popular na cidade
Os assuntos do interesse de todos devem ser decididos com a participação da
população, que é a principal interessada. Mas há dificuldade tanto da parte dos governantes
quanto da população em conseguir que esta participação cidadã aconteça. As Conferências, os
Conselhos de Gestão, os Fóruns em níveis municipal, estadual ou federal são meios que os
61
movimentos sociais encontram para garantir a participação popular nas decisões que atingem
a vida do povo.
A participação ativa de homens e mulheres que defendem os direitos comuns, na
forma da democracia direta, nos conselhos, congressos, conferências, audiências, referendos,
são conquistas importantes para o avanço da democracia e para a construção de uma
sociedade menos desigual e injusta no Brasil. Estes são os espaços onde se garantem, com
muito diálogo e insistência, as políticas públicas no país.
Nos dias 15 e 16 de julho de 2005, foi realizado o X Encontro do Fórum Nacional de
Reforma Urbana na cidade de São Paulo, com a participação de 450 pessoas oriundas de 22
estados do país. Este Encontro apresentou propostas para serem discutidas e aprovadas nas
Conferências Municipais, Estaduais e Nacional das Cidades. Uma das propostas tiradas deste
Encontro é que os Estados e Municípios assinassem a Carta Mundial do Direito à Cidade de
modo que aderindo desta forma a campanha internacional para o reconhecimento do Direito à
Cidade como um direito fundamental do ser humano e estabelecendo o compromisso dos
governos nacionais com a implementação do direito à cidade.76 A citação deste exemplo é
para mostrar a participação popular num espaço de defesa das ações e medidas em
desenvolvimento para a política nacional urbana.
As sociedades modernas dependem das cidades para sobreviver. É preciso sempre e
cada vez mais organizá-las para que sejam lugares de convivência e de vida. “A cidade é uma
forma necessária a um certo gênero de associação humana, e suas mudanças morfológicas são
condições para que esta associação se transforme”. 77
76 FORUM DA REFORMA URBANA. Diretrizes do Fórum Nacional de Reforma urbana. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_transporte. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 15:37:15. 77 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 19.
62
Há uma grande dificuldade em conquistar pessoas para participar de uma associação,
movimento ou culto religioso. A resposta ao convite é quase sempre negativa. As pessoas
dizem não ter tempo ou cansadas demais, embora haja provas do contrário.
A partir da década de oitenta, pode-se perceber um esforço generalizado,
envolvendo inclusive instância como a UNESCO e a ONU, no sentido de
promover e viabilizar meios de participação popular, por meio da
institucionalização de canais e órgãos que incentivem e promovam a sua
prática, partindo do princípio de que a sociedade civil, como um todo amplo
e indiferenciado, encontra dificuldades para manifestar-se, tornando
necessário o desenvolvimento de práticas que incentivem, ou pelo pelos não
impeçam, o indivíduo e os grupos de exercerem seus direitos, assumindo a
responsabilidade à manifestação, ou até a gerência, de seus interesses diretos
num processo de ampliação da consciência política e social.78
A cidade engole as pessoas e poucas se sentem responsáveis por ela. Nem percebem
que nela estão concentradas quase todas as obras humanas, que nela se unem milhares - em
São Paulo, milhões - de obras humanas. A vida das pessoas na cidade é marcada de
desencontros, mas não somente disso. Também consiste em encontros e compromissos
pessoais e coletivos para defender direitos particulares e conquistar melhor qualidade de vida
urbana.
78 GUTIERRES, L. G. Porque é tão difícil participar? São Paulo: Paulus, 2004. p. 08.
63
Apesar do individualismo, há movimentos sociais que se articulam em favor
de causas mais amplas que a classe ou o interesse local. Assim, a luta contra
as discriminações, a promoção dos direitos das mulheres, a preservação do
meio ambiente, a defesa dos direitos de culturas e etnias específicas tem se
revelado como causas capazes de mobilizar grande número de pessoas. A
busca da justiça social e de um “outro mundo possível” reúne uma
extraordinária e variada adesão de grupos e movimentos. Este fenômeno
manifesta uma consciência planetária e a percepção de que fazemos parte de
uma única família universal.79
A vida urbana permite muitos contatos, nos trens, ônibus, comércio, ruas, praças,
lugares de lazer, porém o medo e a velocidade da vida na cidade não permitem que este tipo
de relação se concretize. Então, o relacionamento entre as pessoas na maioria das vezes se
resume a uma convivência de duas ou três famílias, alguns amigos que se reúnem para beber
ou jogar.
È bastante comum pessoas se organizarem, para num momento específico, participar
com ajuda concreta a uma pessoa ou uma família: sepultamento, concretagem de laje. Como
isso não acontece, a qualidade de vida dos cidadãos também não é garantida. A cidadania não
está colocada em pauta nos encontros das pessoas no seu dia-a-dia.
Indivíduos sujam as vias e prédios públicos, buzinam e aceleram seus carros e
motocicletas, sem nenhuma percepção de que estão em espaços públicos. As ruas tornam-se
espaços de todos e de ninguém. Tranqüilamente jogam aquilo que não serve mais na rua e
também nos rios da cidade.
79 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 53.
64
Há um misto de falta de consciência do espaço público e uma sensação de
superioridade em que cada um se coloca, como se pensasse “alguém inferior a mim irá
limpar”.
A manutenção da limpeza pública é para muitas pessoas responsabilidade somente do
governo municipal. Há necessidade de distinguir morador e cidadão. O morador é aquele que
na cidade garante sobre o seu espaço, a sua sobrevivência. Cidadão é aquele indivíduo que
mora na cidade e ativamente respeita e conquista o direito de outros habitantes.80
Infelizmente a falta de consciência na organização e manutenção do espaço público
causa grandes sofrimentos a todos. Os papéis de sorvete, balas, casca de banana, latas de
refrigerantes, “bitucas” de cigarros e muitos outros objetos que são atiradas pelos transeuntes,
pedestres, motoristas de carros particulares ou coletivos, causam entupimento de bueiros e
“bocas de lobo”, ocasionam enchentes, engarrafamentos, transbordamento dos rios, quedas de
barracos, transtornos na vida familiar, na saúde e nas relações comerciais.
No geral temos a impressão de que os países ricos gozam de maior ordem e
são mais limpos dos que os países pobres. Onde há mais riqueza, há mais
instrução, mais limpeza e organização. Onde há miséria social, o modelo
cultural está mais próximo da natureza e, portanto, deteriora-se mais
facilmente.81
As cidades estão cada vez mais sujas, o problema da limpeza urbana é muito sério.
Uma questão que não pode ser resolvida com apelos à boa educação dos cidadãos ou à
eficácia dos serviços públicos de limpeza. Estes são indispensáveis, porém, como o aumento
do consumo, também aumentou a produção de lixo. Tudo aquilo que o consumidor comprou e
80 WANDERLEY, L. E. W. Pastoral urbana: sujeitos e estruturas. p.52. 81 DELLA PERGOLA, G. Viver a cidade: orientações sobre os problemas urbanos. São Paulo: Paulinas, 2000. p. 77.
65
não é constitutivo do produto - embalagens, apresentação do produto, as partes descartáveis -
torna-se excesso. “A sociedade da produção transforma-se naquela do consumo e esta se
transforma na sociedade do lixo urbano”. 82 O gerenciamento da cidade é um dos desafios
mais palpáveis da questão urbana.
O problema urbano e a urbanização devem ser colocados como tema central
da preocupação da sociedade nos partidos políticos, nos sindicatos, nas
universidades, nas associações de todo gênero, pois a colocação correta da
questão urbana poderá evitar que os problemas urbanos não coloquem em
questão toda a sociedade.83
O governo das grandes cidades é preocupação dos partidos políticos sérios, dos
presidentes, governadores, prefeitos e dos cidadãos. No campo do planejamento e gestão das
cidades foi da maior importância a inclusão dos artigos 182 e 183 na Constituição de 1988,
que tratam da política urbana.
A aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001; a criação do Ministério das Cidades
pelo governo Lula, bem como a formação do Conselho Nacional das Cidades, todas
iniciativas tomadas em 2003, foram frutos das lutas e pressões populares de muitos atores
durante décadas, com destaque para o Movimento Nacional pela Reforma Urbana.84
82 DELLA PERGOLA, G. Viver a cidade. p. 76. 83 SOUZA, M. A. A. de. Governo Urbano. p. 11. 84 FORUM NACIONAL DE REFORMA URBANA. Reconhecimento do direito à cidade. Disponível em: http://www.forumreformaurbana.org.br/conteudo.asp?cat=fnru_carta_implementação&pag=l. Acesso em 09 de fevereiro de 2006, 17:05:16.
66
As lutas, as carências, a vida que é deteriorada nos grandes centros urbanos
manifestam a impotência em gerenciar as cidades. Os governos que se propõem a construir
uma cidade participativa e democrática criam, valorizam e ampliam os conselhos populares.
A questão da participação atravessou todo o século XX e invade o atual
como algo correto, simples e, de certa forma, até uma expectativa natural.
Espera-se que as pessoas sejam consultadas, dentro de limites, antes que se
tome qualquer decisão política ou até mesmo administrativa. È o que se
espera de alguém atual, democrático e justo. 85
Há várias iniciativas de governo para gerenciar melhor as cidades, como por exemplo,
as cidades de Campinas, Santo André, Porto Alegre e, a própria cidade de São Paulo,
governada pela prefeita petista Marta Suplicy (2001-2004). Na gestão da prefeita foram
criados o Orçamento Participativo, o Conselho do Idoso, Conselho de Moradia,
implementados os Conselhos de Saúde, valorizados os Conselhos Tutelares, a elaboração do
Plano Diretor contou com a participação de moradores, comerciantes e, é claro, com a
manipulação dos empresários das grandes construtoras. O Plano Diretor regerá as construções
na cidade de São Paulo nos próximos vinte anos. A prefeita Marta Suplicy criou em junho de
2001, pela Lei 13.165 a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, pois a cidade de São
Paulo está inserida no contexto mundial pelo seu porte, estrutura e desafios.86
Ressalta-se que a questão urbana é, antes de tudo, uma questão estratégica. A cidade, a
região metropolitana, cada vez mais se insere num contexto mundial. À medida que o capital
85 GUTIERRES, L. G. Porque é tão difícil participar? p. 09. 86 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo cria a Secretaria Municipal de Relações Internacionais. Disponível em: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/relacoes_internacionais/organizacao/0001. Acesso em 03 de agosto de 2001, 13:15:25.
67
se internacionaliza, os espaços também se internacionalizam. Atenção, contudo, à
internacionalização perversa, à geopolítica do grande capital. 87
Viver na cidade é um desafio que está presente na vida dos cidadãos, do governo e da
igreja. A cidade de São Paulo é o pólo regional, do estado e do país na economia, na cultura e
no poder político. Bastante degradada, é verdade: favelas, cortiços, condomínios fechados,
policiamento de quarteirão, poluição visual que fere o olhar daqueles que apreciam a beleza.
Viver na cidade de São Paulo é uma oportunidade de ser feliz, de ganhar a vida, de obter
conhecimento e cultura. Viver na cidade de São Paulo é estar inserido no mundo.
4. A pessoa urbana e a religião
A vida na cultura urbana debilita as pessoas, deixando-as inseguras e angustiadas. As
pessoas se esgotam e por vezes não sabem o que são nem o que fazem. Há uma grande busca
de tranqüilidade, paz, equilíbrio interior, sentido, valor e identidade. Vem uma certa
insatisfação e as pessoas buscam de alguma maneira sufocá-las nos infinitos recursos de
diversão que o mercado oferece.
Nas cidades, as religiões pós-modernas são atividades de iniciação por meio das quais
o corpo atinge a sua maior perfeição. As igrejas oferecem práticas de auto-ajuda, exercícios
físicos e mentais, recursos milenares das antigas religiões orientais agora oferecidas ao
ocidente. Buscar a perfeição da vida corporal é entrar com fé e abandono num mundo de
forças mágicas. É estar relacionado com as energias do universo e com a Totalidade. Esses
exercícios tornaram-se religiosos.88
87 SOUZA, M. A. A. de. Governo Urbano. p. 9. 88 COMBLIN, J. Desafios da Igreja na cidade atual. Revista Vida Pastoral. São Paulo, n. 225, p. 8-15, [jul./ago.] 2002. p. 11.
68
As igrejas sofrem hoje, na cidade, a grande tentação de usar o marketing para
evangelizar. Esse recurso de despertar nas pessoas o desejo é usado por diversas
denominações religiosas para conquistar adeptos. De fato, algumas igrejas que usam,
principalmente a televisão, tem conseguido o seu objetivo. As pessoas são conquistadas, mas
não são evangelizadas.
O motor de toda motivação, atividade, relação humana será o prazer, e ao redor da
felicidade giram as outras instituições. Toda instituição será mais valorizada se defender mais
o indivíduo na realização do seu prazer e gozo.89
4.1. A fé na cidade
A cultura urbana não exclui a religião, mas sim a religião hierarquizada. As religiões
que hoje triunfam são aquelas introduzidas por pessoas com grande capacidade de lidar com a
religião e lidar com as pessoas. Podemos, como exemplo, citar o Bispo Edir Macedo, da
Igreja Universal do Reino de Deus; a Bispa Sonia Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo; o
Pastor R. Soares da Igreja da Graça; o Padre Marcelo Rossi, da Igreja Católica Apostólica
Romana.
A cultura em que vivemos é uma cultura de mercado e nela ganham aqueles que
competem, aqueles que sabem vender o seu produto, mas, antes, despertam as pessoas para a
necessidade do produto, que é o chamado marketing.
Percebe-se hoje que o conhecimento religioso é pouco esclarecido e há diversas
maneiras de viver a fé, a religião e a relação com as outras pessoas. Diante de tantas
dificuldades que a cidade apresenta às pessoas, a vida religiosa toma formas sincréticas.
89 BRIGHENTI, A. Reconstruindo a esperança: como planejar a ação da Igreja em tempos de mudança. São Paulo: Paulus, 2000. p. 151.
69
As devoções têm caráter sentimentalista. Deus é aprendido como Deus
providente e solucionador de casos, o último recurso do pobre. Deus, nos
meios mais urbanizados e intelectualizados, se reduz a um conceito distante,
nocional, objeto de manipulações, desvinculado da realidade.90
A Igreja enfrenta obstáculos sérios no trabalho evangelizador. É necessário continuar
descobrindo formas criativas de comunhão eclesial para evangelizar a cidade. Há uma
acirrada competição entre as igrejas. Na cidade onde tudo se vende, as igrejas também tentam
vender a fé. “A Palavra de Deus, o batismo e a eucaristia são vistas em função do consumo de
bens religiosos, com pouco significado para a vida das pessoas”.91
O mercado não pode impor, tem que seduzir, convencer. Nesta cultura pós-moderna, a
religião também entra no mercado como um outro produto qualquer da sociedade. Evangelho
é compromisso, porém, as pessoas não querem mais um compromisso religioso, elas querem a
satisfação de seus desejos. A maior procura que as igrejas recebem é por saúde e
prosperidade.
Várias lideranças religiosas sabem despertar nos telespectadores, ouvintes ou
participantes a busca dos seus produtos porque conhecem as necessidades dos seus “fiéis”.
“Deus te espera para realizar em você um grande milagre”, era a chamada, do Pastor R.
Soares na emissora de televisão Rede Gospel para convidar o povo para o seu culto. Aí os
agentes trabalham duro, às vezes mais como atores de palco, que organizam programas de
televisão em seus templos, empregam a alma e fazem da música e gestos um verdadeiro
“serviço” ao Deus Javé. Como a massa urbana não consegue resolver as situações criadas pela
nova cultura, aqueles que necessitam vão ao encontro das manifestações religiosas que
atendem as suas necessidades: íntimas, físicas, morais e espirituais. “Se a cidade é um
90 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22). 38. 91 COMISSÃO DE MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO DO CMI. Missão e evangelização: um guia para estudo e discussão numa perspectiva ecumênica. São Bernardo do Campo: Metodista, 1985. p. 107.
70
espetáculo; como interessar os habitantes por uma religião que não oferece nenhum
espetáculo e também não oferece nenhuma participação no espetáculo? A religião que
oferecer o melhor espetáculo há de vencer um dia”.92
Há grande busca de respostas para as necessidades. Estas respostas não podem
demorar, na cidade não há tempo para esperar. O teólogo Marcelo de Barros diz que nos
últimos trinta anos, surgiram Igrejas neopentecostais e movimentos religiosos independentes
que desenvolveram uma teologia no progresso econômico, ligado a milagres e à intervenção
de Deus. Pregam uma espiritualidade de resultados imediatos. Não se confunda, no entanto,
essa onda de espiritualismo neoliberal com Igrejas pentecostais clássicas, como Assembléia
de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja de Cristo e outras que estão inseridas nas
periferias urbanas desde a década de 50.93
Nos cultos destas Igrejas neopentecostais, por sugestão, as pessoas são “curadas”da
dor de ouvido, da dor na perna, do “aperto no coração”. A Bispa Sônia leva as pessoas a
acreditar que, por participar de um culto na “sua” igreja, o fiel prosperará. As pessoas nesta ou
naquela igreja vão buscando a realização das suas necessidades. Várias igrejas vendem a
ilusão de que a felicidade está nos bens materiais, na prosperidade. Vendem muito porque
existe um mercado bastante desejoso de comprar seus produtos. Todos esses “milagres” são
pagos, e muito bem pagos pelo “dízimo” de cada fiel.
Na religiosidade moderna, a verdade já não tem mais grande valor, o que importa é
satisfação pessoal. Pe. José Comblin fala do homem hedonista na sociedade moderna e das
igrejas que tendem erroneamente satisfazer os seus desejos, o que não é nada evangelizador.
92 COMBLIN, J. Viver na cidade, pistas para uma pastoral urbana. São Paulo: Paulus, 1996. p. 42. 93 BARROS, M. Procura-se Deus nas metrópoles do novo milênio. Revista Vida Pastoral. São Paulo: Paulus, n. 224, p. 18-25, [mai./jun.], 2002.
71
A religião da cristandade invoca sempre a verdade como argumento
definitivo. No sistema de mercado, a verdade não conta. O importante é a
utilidade, a capacidade de gerar satisfação. Não se compra um objeto porque
é verdadeiro, mas porque é útil, agradável e dá satisfação.94
Os cristãos urbanos precisam tomar parte da vida da cidade, dos seus problemas, dos
seus desafios e comprometer-se em transformá-los. È quase impossível ser cristão sozinho.
Há necessidade de formação de pequenas comunidades, onde se possa partilhar a fé, levantar
os problemas e ação concreta no dia a dia para, junto com outros grupos, ONGs e governos,
solucionar os problemas que afetam todos, especialmente o mais pobres. O diálogo com a
sociedade na cidade é o testemunho do cristão vivendo plenamente o Evangelho.
È verdade que a consciência religiosa do cristão cada dia se torna menos
comprometida com o Evangelho. Cada dia as pessoas estão mais religiosas e menos
evangélicas. Mais produtos religiosos são vendidos em nome da fé. Há uma mistura muito
grande dos valores desta ou daquela religião. São objetos que ao adquiri-los imagina resolver
todos os conflitos existenciais. Há uma fé que aquele objeto lhe trará a felicidade e a
compreensão de todas as coisas. È muito comum nas casas encontrar no mesmo altar santos
de devoção (os mais encontrados são: São Judas Tadeu, Santo Expedito, Santa Edwirges e
Santa Rita de Cássia), um pote com uma cabeça de alho e sal grosso.
Ainda na sala da casa, em cima da mesinha ou estante, vemos três elefantes virados
com a parte traseira para a porta de entrada da casa. São objetos da igreja católica, da
umbanda, do espiritismo que se misturam, sinal da mistura de elementos religiosas das
pessoas que ali moram. Mais coragem, decisão e comprometimento são necessários para
evangelizar a cidade.
94 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 44.
72
Na cidade grande a religião modifica a função. Responde preferencialmente
às necessidades e aspirações de indivíduos. Cumpre papel compensatório
para tantas carências existenciais. Satisfaz às buscas pessoais de consolo,
conforto espiritual, realização afetiva. Por isso, nela proliferam as
denominações religiosas que mais se acomodam a tantas exigências.95
4.2. O pluralismo religioso na vida urbana
A religião quer responder as necessidades das pessoas e a grande necessidade do
homem urbano é falar dos seus problemas, angústias, insatisfações, dúvidas e crenças. Ele
sente-se só nesta cidade de milhões de habitantes. Precisa encontrar alguém que o ouça.
Precisa falar, desabafar. Precisar confiar em alguém. È desejoso de confiar-se a alguém.
As Igrejas Pentecostais tem conseguido, neste mercado religioso urbano, um grande
número de pessoas pelos serviços que oferece aos fiéis. Através dos “obreiros” muitas pessoas
são ouvidas, aconselhadas, “acompanhadas espiritualmente”. Há uma descentralização dos
serviços e uma ruptura na hierarquização religiosa.96
A Igreja Católica ainda não conseguiu preparar leigos e leigas para esta missão porque
não conseguiu descentralizar o poder. Ainda é centralizadora dos sacramentos, das bênçãos,
das orientações, do poder. A cidade moderna policêntrica reage negativamente aos
centralismos religiosos. “Longo caminho, porém, temos ainda a percorrer para superar o
clericalismo subjacente na mentalidade parte dos leigos e parte do clero”.97
95 LIBÂNIO, J. B. As lógicas da cidade. p.54. 96 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. São Paulo, 2004. p. 13. 97 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 64.
73
Como na hierarquia da Igreja católica o descentralismo não acontece, na prática dos
cristãos isso se dá de forma gradativa e muito livre. Cada pessoa de fé considera-se, em certo
aspecto, um centro irradiador de fé dentro de determinada autonomia. Há leigos e leigas que
vivem a sua fé no trabalho, na família, com os vizinhos. “A ação dos leigos é indispensável
para que a Igreja possa ser considerada realmente constituída, viva e operante em todos os
setores, tornando-se plenamente sinal da presença de Cristo entre os homens”.98
A cidade também influencia na modificação da natureza do espaço da religião. O
espaço da religião não é somente o templo, não é somente o lugar fixo. Como a cidade é
dinâmica, a religiosidade acontece no fluxo da cidade. Esta dinamicidade favorece o
pluralismo religioso. Constantemente aparecem novas igrejas na paisagem da cidade.
Como as igrejas conhecem pouco a cidade e seus desafios, seus pastores e padres
conservam e agem no mundo urbano com mentalidade rural. Apesar do pluralismo religioso e
de certa secularização da cidade, subsistem ainda muitos espaços rurais dentro dela. O risco
da pastoral é concentrar-se neles, esquecendo-se que está dentro do mundo urbano. Continuar
ainda com uma pastoral rural seja por causa de um clero de mentalidade rural, seja por que
ainda se dirige aos resquícios do antigo mundo rural.99
A resposta da pastoral para os desafios da cidade não deve ser a de arrebanhar fiéis
para a Igreja, mas de propor uma mensagem de conversão para as pessoas. Isto somente
acontecerá quando os pastores estiverem inseridos na vida da cidade. As pessoas
comprometem-se com o Evangelho de Jesus Cristo e com a cidade na medida dos seus
pastores.
As comunidades devem pensar a catequese como um processo de iniciação à fé e à
vida comunitária. A fé cristã com o seu realismo pode ajudar as pessoas a superarem as
98JOÃO PAULO II. Discurso aos bispos dos Regionais Nordeste 1 e Nordeste 4. São Paulo: Paulinas, 2002. p. 28. 99 COMBLIN, J. Evolução da Pastoral Urbana. In: PINHEIRO, E.(coord.). Pastoral Urbana. São Paulo: Paulinas, 1980. p.34.
74
ilusões da grande cidade. A pastoral no grande centro urbano conseguirá maior referencial
pela participação na comunidade eclesial e a vivência das pessoas em comunidades menores.
Sem referências seguras, o cristão urbano tem mais dificuldades em manter firme a sua
fé, pois a cidade oferece muitas propostas religiosas e a pessoa pode compor a sua própria
vida religiosa com muitos elementos sincréticos100, o que não é religião, muito menos fé.
A religiosidade é uma dimensão humana, antropológica. A fé surge depois
da religiosidade. A religiosidade já existe, depois dela vem a fé. A religião
organiza as práticas religiosas, formata e estrutura. A fé é diferente. A fé
supõe que exista um Transcendente, enquanto a religião não. Esse
transcendente se manifesta e nos diz que é e convida a nos comprometermos
com Ele. A fé pede compromissos e conversão e pode ser organizada pela
religião e práticas religiosas.101
A nova sensibilidade da cidade moderna pede uma percepção diferente da presença de
Deus. A espiritualidade das pessoas das grandes cidades já não se impõe tanto de fora, brota
da própria interioridade. Isso leva a descobrir na própria cidade os sinais da presença de Deus
fora do âmbito eclesiástico e cultivá-lo como sinais de esperança. Teologicamente, à luz do
mistério da Encarnação, todo espaço pode tornar-se sinal da “presença de Deus”.102
100 Sincretismo se configura quando uma religião básica incorpora elementos de outras tradições. 101 LIBANIO, J. B. A religião no início do milênio. São Paulo: Loyola, 2002. p. 37. 102 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 155-165.
75
“A nova cultura não exclui a religião, muito pelo contrário, mas exclui uma religião
hierarquizada em tudo depende de uma casta que reproduz por si mesma, sem nenhuma
interferência do povo”.103 A fé cristã tem uma dimensão de comunidade, de celebração
daqueles que crêem, especialmente na Liturgia Eucarística, que não tem sentido de ser
lançada ao grande público pela mídia.
4.3. Outros desafios da cidade para ação da Igreja
A cidade é sedutora, pois nela há um sentimento de autonomia, individualidade e
liberdade que contrasta com a cultura rural, às vezes intolerante. Para quem conhece a vida na
cidade, ainda que pela televisão, fica difícil aceitar o tipo de trabalho, a fadiga do dia a dia e
os limites morais impostos a quem vive na roça, dificultando a convivência, sobretudo com os
jovens.
As pessoas na cidade julgam que podem construir a própria vida, a própria liberdade. Na
cidade tudo parece possível. A cidade representa o lugar de fantasias, sonhos e desejos. “Na
grande cidade ele se torna um “anônimo”, nos momentos em que ele assim o queira,
restringindo ou ampliando seu círculo de relacionamentos, porque também se desloca de um
lugar para outro no espaço urbano”.104 Para lembrar um outro conceito da vida na cidade,
citamos, “O ar da cidade liberta”.105
Várias ciências podem ajudar a Igreja a descobrir os caminhos para a evangelização nos
centros urbanos. A Psicologia, a Geografia Humana, o Urbanismo, a Sociologia, entre outras
são disciplinas que conhecem parte do mistério da vida humana às quais a Teologia deveria
recorrer para ampliar os seus conhecimentos e tornar sua ação mais eficaz nas cidades.
103 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. p.17. 104 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 14. 105 CARACCIOLO, A. Dalla cittá preindustriale alla cittá del capitalismo. Bologna: Il Molino, 1975. p. 64.
76
“O mundo eclesiástico conhece pouco essa literatura, freqüenta pouco as escolas de
urbanismo ou da sociologia urbana. Muitos pastoralistas ainda permanecem na fase da
improvisação, pensado que a espontaneidade pode substituir a ciência ou que a teologia, por si
só, pode gerar todas respostas pastorais”.106
Vivemos numa concentração física de pessoas, porém, não sabemos quem são nossos
vizinhos, quem mora em cima ou quem mora em baixo, e nem queremos saber para garantir a
nossa privacidade. Existem pessoas que moram a vida inteira na mesma casa e não conhecem
os seus vizinhos. Passam o dia inteiro no trabalho. Á noite, a tarefas domésticas ocupam o
resto do tempo e os laços de amizade e responsabilidade pelos que estão próximos não
acontecem. È comum encontrarmos pessoas que nem ficam sabendo das dificuldades do
vizinho, das alegrias ou até mesmo da sua morte.
Na verdade, pode-se afirmar que a cidade é uma ilustre desconhecida por seus habitantes.
É vista como uma aglomeração urbana, uma série de lugares. Pouquíssimos lugares são
realmente conhecidos. Há pessoas que nasceram e vivem na cidade de São Paulo e não
conhecem quase nada além de seu bairro e alguns “centros” mais próximos à sua casa. “Na
grande cidade, há cidadãos de diversas origens ou classes, desde que, farto de recursos, pode
utilizar a metrópole toda, até o que, por falta de meios, somente a utiliza parcialmente, como
se fosse uma pequena cidade, uma cidade local”.107
Em São Paulo, fica difícil acreditar que muitas pessoas não conhecem a Praça da Sé e
a Catedral, mas isto acontece. Não conhecem o centro histórico da cidade e muitos outros
lugares da cidade que são referências para o país. Há pessoas que não conhecem a Avenida
Paulista, o maior centro econômico da América Latina, o metro quadrado mais caro da
América do Sul.
106 COMBLIN, J. Os desafios da cidade no século XXI. p. 12. 107 SANTOS, M. O espaço do cidadão. p. 112.
77
A solidariedade, que é própria no mundo rural, na cidade aparece como ações
esporádicas, muitas vezes para alívio de consciência. Dificilmente o homem urbano consegue
manter relacionamento de boa vizinhança com grande número de pessoas que moram
próximas. O cidadão urbano arruma desculpa para não ser solidário. O medo de colaborar
para o “vício” de algum pedinte ou o “perigo” de contribuir para a acomodação das pessoas
são alguns dos motivos apresentados e devido aos quais a solidariedade tem dificuldade de se
concretizar entre os moradores urbanos.
Na cidade não há muitas pessoas que são capazes de passar horas em conversas. As
visitas familiares ou entre amigos acontecem na mesma velocidade da cidade, são rápidas. Às
vezes preferimos um telefonema ou um e-mail. As cidades estão configuradas de tal forma a
dificultar o relacionamento com os outros. As ruas visam o fluir de veículos e não o contato
das pessoas. Os idosos encontram grande dificuldade em atravessar avenidas largas e
movimentadas, com motoristas nem sempre atentos aos pedestres. Múltiplos são, assim os
fatores que dificultam a ação evangelizadora na cidade.
78
II. CAPITULO: A MISSÃO DE EVANGELIZAR OS GRANDES CENTROS URBANOS HOJE
Neste capítulo, são apresentados alguns conceitos, métodos e significados definidos
pelo magistério, pela Teologia e utilizados pela Igreja na ação evangelizadora. Os grandes
centros urbanos são os grandes desafios para a Igreja hoje. Evangelizar nas grandes cidades
requer agentes evangelizadores, conhecimento da realidade, métodos, dinamicidade e abertura
para a ação do Espírito Santo. Como no capítulo anterior, recorremos a outras ciências que
contribuem para a ação evangelizadora, como a antropologia, a geografia humana, a
psicologia, a arquitetura e urbanismo e a sociologia.
O cristão está em São Paulo inserido numa realidade desafiadora para sua vivência
cristã. Todo o dia se depara com situações adversas que exigem dele um testemunho que
prove sua fé e seguimento de Jesus Cristo. A atitude cristã é, necessariamente, empenho
perseverante pela transformação da sociedade rumo à realização dos autênticos valores
humanos e invocação constante, como na oração de Jesus, da vida do reino.108
Falar em missão hoje é falar em diálogo com outras religiões, é falar em inculturação,
é falar de ecumenismo. Ninguém consegue realizar a missão somente por aventura pessoal,
solitária e individualmente. Aquele que parte em missão está sempre ligado a uma
comunidade eclesial. É preciso nela reconhecer os valores do Reino e testemunhá-lo
concretamente na sociedade. O discernimento e testemunho comunitário daquele que sai em
missão edifica a comunidade, amadurece a Igreja e a faz mais completa. Todos os batizados
são convocados a sair em missão. A pluralidade urbana deve sempre ser motivos para a
itinerância do missionário nas grandes cidades. Trabalhos com grupos específicos são
desafios que a cidade impõe para a missão nos dias de hoje.
108 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. São Paulo: Paulinas, 1995.
79
“O fim da evangelização é o mistério trinitário. Isso significa que o Reino na sua
plenitude ‘Deus tudo em todos’ é o caminho da prática missionária”. 109 Por isso, sendo o
projeto missionário o que está na base da evangelização, o missionário deve percorrer um
longo caminho para o coração de Deus. Dom Hélder Câmara escreveu: “Missão é partir,
caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha em nosso eu. È
parar de dar voltas ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da
vida”.110 Missão é não nos deixarmos envolver num ativismo que faz, de novo, da nossa vida
o centro de tudo. Missão é permitir que Deus dirija a nossa vida que certamente nos levará a
um serviço maior. O missionário não inventa a missão e nem é protagonista, somente Deus o
é. Como se diz na língua latina a missão é de Deus (Missio Dei).111
Muitas experiências missionárias não foram escritas. Assim como os discípulos
escutaram Jesus e colocaram seus ensinamentos em prática e somente mais tarde essa prática
foi escrita, principalmente para inspirar nossas ações atuais, muitas ações missionárias
também não são conhecidas. Hoje temos uma possibilidade bastante grande de comunicação:
internet, computador, data show, papel, telefone, site, caneta, filmadoras e máquinas
fotográficas. Mesmo com tantos recursos, não há grande preocupação em registrar as ações de
missionários e missionárias. São projetos evangelizadores, missão efetiva da Igreja, que
acontecem no cotidiano que ficam no anonimato, mas que fazem sem dúvida diferença na
construção do Reino de Deus. Isto se dá porque a missão é obra do Espírito, que inicia na
pessoa a ação evangelizadora. A pessoa do missionário é somente um instrumento da ação, do
protagonismo de Deus na missão evangelizadora. “É o Espírito que impele a ir sempre mais
além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas,
até chegar a uma missão verdadeiramente universal”.112
109 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. São Paulo: Paulinas, 2001. p. 29. 110 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 57. 111 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 28. 112 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 25.
80
Para incentivar, e sustentar a missionariedade da Igreja, o magistério reúne
experiências missionárias e aprova textos, documentos que orientam as comunidades e seus
agentes no trabalho de evangelização. Recentemente, os Bispos do Estado de São Paulo
aprovaram na 25ª Assembléia das Igrejas Particulares do Regional Sul I o Projeto de Ação
Missionária Permanente (PAMP), em que D. Nelson Westrupp, presidente do Conselho
Episcopal Regional Sul I da CNBB, pede: “Ninguém se exclua da missão permanente de levar
e espalhar as sementes do verbo por todos os ambientes e culturas”.113 O documento trás um
estudo antropológico das necessidades religiosas presentes na cultura urbana, como a sêde de
felicidade, a necessidade de uma experiência imediata de Deus, a expectativa de salvação
como cura e outros anseios das pessoas que podem produzir uma religião instrumental e
individualista.
O PAMP surgiu da reação dos bispos diante dos dados apresentados pelo Atlas da
Filiação Religiosa aos participantes da 41ª Assembléia Geral da CNBB em Itaici (30 de abril a
09 de maio de 2003), quando ficaram impressionados com as mudanças no mapa religioso do
Brasil. De acordo com o Censo referente ao período de 1991 a 2000, o número de católicos
diminuiu de 83,3% para 73,9% perfazendo 125,5 milhões em números absolutos.
Representando 26,4 milhões de pessoas. O número dos que se declararam sem religião
também aumentou de 4,7% para 7,4%, atingindo um total de 12,5 milhões.114
O PAMP descreve também a metodologia utilizada pelos pentecostais, como
linguagem simples, acolhida, descentralização do espaço do culto, doação de bíblias, escolas
dominicais ou bíblicas, grandes caminhadas e concentrações, uso abundante da Sagrada
Escritura, farto emprego da gestualidade, sugerindo que também a Igreja Católica no Estado
113 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. São Paulo, 2004. p. 01 114 JACOB, C. R.; HEES, D. R.; WANIEZ P.; BRUSTLEIN V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Loyola e PUC, 2003. p. 16.
81
de São Paulo utilize dessa linguagem para reconquistar os adeptos perdidos.115 Mas também
alerta que “antes de desenvolver atividades missionárias, é necessário que a nossa vida se
torne uma vida em missão”.116 Também é o que propõe as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora do Brasil. “A experiência oferecida deve ir além da ‘comunidade emocional’,
que satisfaz os sentimentos, mas que não chega a uma experiência autêntica da fé e do
compromisso”.117
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2003-2006)
sublinham a importância da missão na cidade. A cidade hoje não é só um espaço social, onde
a maior parte da população se concentra. È também uma nova civilização, um novo modo de
viver. As diversas pastorais, associações de leigos e leigas, os movimentos de apostolado e
vicariatos são tentativas de evangelizar as pessoas nos espaços onde vivem. Daí a necessidade
de compreender a Paróquia como uma “comunidade de comunidades”, como Igreja em estado
de missão.
Até o Concílio Vaticano II, prevalecia ainda a visão tradicional que fazia das
“missões” uma parte marginal da Igreja. O principal era a cristandade tradicional. Pequena
parte dos recursos da Igreja estava destinada a evangelizar os povos situados fora dos limites
da cristandade. Essa atividade estava reservada a institutos específicos de homens e de
mulheres e não atingia a vida das dioceses ou das paróquias.
115 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 13. 116 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 28. 117 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB m. 71). 87.
82
Essas mandavam algumas ajudas financeiras, mas a atenção dada às missões era muito
secundária. A obra missionária consistia em reproduzir em todos os territórios do mundo a
estrutura do catolicismo europeu. A idéia era salvar almas.118
1. A missão de evangelizar
Antes do Concílio Vaticano II, a palavra “missão” referia-se tanto à tarefa para a qual
o missionário era enviado quanto ao território ao qual o enviavam. Missão referia-se ao
processo de enviar e indicava um movimento global.119 Com o Papa Paulo VI também se
amplia o conceito de evangelização: “Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as
parcelas da humanidade, em qualquer meio ou latitude, e pelo seu influxo transformá-las a
partir de dentro e tornar nova a própria humanidade”.120 “Eis que faço novas todas as coisas”
(Ap 21,5).
A ampliação do sentido da missão é talvez indicada pelo uso freqüente do termo
“evangelização”. Apesar de serem muitas vezes usados no mesmo sentido, os dois termos não
são sinônimos: “missão” pode significar “enviar”, enquanto “evangelização” não pode. Ao
contrário, cultura evangelizadora indica um processo.121 O sentido de missão se especifica
melhor como missão ad gentes, para pessoas que ainda não ouviram o evangelho e, missão ad
extra como sendo missão estrangeira. 122
A Igreja precisa ser evangelizada mesmo quando evangeliza.123 Quanto mais a Igreja
ouve a palavra, mais é o seu testemunho profético. A Igreja como símbolo do sacramento de
118 COMBLIM, J. As sete palavras-chave do Concílio Vaticano II. Revista Vida Pastoral. São Paulo: Paulus, n. 243, [jul./ago] 2005. p. 21. 119 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. São Paulo: Loyola, 2000. p. 6. 120 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 18. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997. 121 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 7. 122 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 41. 123 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 15.
83
Reino de Deus, pelo ato de ouvir e proclamar, não deve ser um transmissor mecânico de uma
mensagem, mas sempre testemunhar o que proclama. A índole da Igreja é missionária. Não se
pode interpretar missão como atividades missionárias. A teologia sempre ensinou que a
missão teve origem no mandato de Cristo “Ide, pois, e fazei discípulos meus todos o s povos,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o
que eu vos mandei” (Mt, 28-29).124 O Decreto Ad Gentes afirma que a Igreja é por sua
natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e missão do Espírito Santo,
segundo o desígnio de Deus Pai.125 Missão é expressão do desígnio salvífico de Deus, é a
manifestação pública da história da salvação.
Evangelizar é continuar na história a ação, a prática, a ação salvífica de Jesus de
Nazaré, Filho de Deus. Não se trata de comunicar conteúdos doutrinais, que também são
importantes e necessários, mas trata-se de viver uma vida, trata-se não só de confessar a Jesus,
mas de continuar na história do mundo a história salvífica de Jesus, onde a morte do homem
velho e a ressurreição do homem novo, dentro da dinâmica do mistério pascal, se alternam
dialeticamente.126
O progresso da reflexão no Magistério e na consciência da Igreja levou a destacar o
tema da evangelização como o que melhor exprimia a própria missão da Igreja.127 O Papa
Paulo VI, porém, já alertava que nenhuma definição parcial e fragmentária chegará a dar a
razão da realidade rica complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com risco de
empobrecer e até mesmo de mutilar. É impossível captá-la se não se procurar abranger com
uma visão de conjunto todos os seus elementos essenciais.128 “Missão é chamada à conversão,
124 COMPÊNDIO DO VATICANO II.Lumen Gentium 17. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 125 COMPÊNDIO DO VATICANO II. Ad Gentes 2. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 126 LORSCHEIDER, A. A VI Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 209, [mar.] 1993. p. 23. 127 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n.77). 47. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1998. 128 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 17.
84
exortação à mudança, convite para realizar o Reinado de Deus, estímulo para entrar no
dinamismo criativo da ação de Deus no mundo, tornando todas as coisas novas”.129
No Brasil, temos a visão da evangelização amplamente desenvolvidas nas “Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora”, fruto da Assembléia da CNBB de 1995. Salienta quatro
pontos fundamentais, para a evangelização inculturada: serviço, diálogo, anúncio e
testemunho de comunhão, que correspondem aos quatro termos-chave do Novo Testamento:
diakonia, diálogos, kerigma, koinonia.130 Destacaremos agora cada uma destas exigências na
perspectiva da compreensão da evangelização.
1.1. Serviço
Evangelizar é fazer o que Jesus Cristo fez, quando mostrou na sinagoga que veio para
“evangelizar” os pobres (cf. Lc 4,18-19). Ele nos desafia a dar testemunho autêntico de
pobreza evangélica em nosso estilo de vida e em nossas estruturas eclesiais, tal qual Ele fez.
Descobrir nos rostos sofredores dos pobres o rosto do Senhor (Mt 25,31-46) é algo que
desafia todos os cristãos a uma profunda conversão pessoal e eclesial.131 Para sublinhar este
aspecto, Jesus aproximou-se, sobretudo, daqueles que eram marginalizados pela sociedade,
dando-lhes preferência, ao anunciar a Boa Nova. No início do seu ministério, proclama: fui
enviado a anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18).132
129 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 12. 130 CNBB. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n. 77) 50. 131 CONCLUSÕES DE SANTO DOMINGO 178. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1992. 132 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 14.
85
Privilegiar o serviço fraterno aos mais pobres entre os pobres e ajudar as instituições
que cuidam deles: os deficientes, enfermos, idosos solitários, crianças abandonadas, presos,
portadores dos vírus HIV e todos aqueles que requerem a proximidade misericordiosa do
“bom samaritano”. Promover a participação social junto ao Estado, pleiteando leis que
defendam os direitos dos pobres.133
A Igreja pode ser diaconia na cidade através de serviço aos excluídos e marginalizados
da sociedade. Quando ouve o grito e vê as dores dos marginalizados, a Igreja deve seguir o
exemplo do mestre divino, realizando a sua missão (Lc 4, 16-20). A Igreja torna-se profética
numa sociedade surda e cega, que considera os pobres lixo e estorvo que ameaça o progresso
da cidade pós-moderna, e denunciando a política excludente do neoliberalismo.134 Na
sociedade pós-moderna, a Igreja não pode prescindir dos “grandes anseios das camadas
populacionais que estão ligados à busca dos sentido da vida e, ao mesmo tempo, à defesa da
vida, sobretudo quando ela é machucada e ferida”.135
Toda comunidade eclesial deve existir para o serviço aos outros. Esta é a sua
missão. A missão eclesial deriva seu sentido da missão de Cristo: trazer vida
e vida em abundância (Jo 10,10). Se o encontro com o evangelho não
133 SD 180. 134 Neoliberalismo: sistema apoiado numa concepção economicista do homem, considera o lucro e as leis de mercado como parâmetros absolutos com prejuízo da dignidade e do respeito da pessoa e do povo. Por vezes este sistema transformou-se numa justificação ideológica de algumas atitudes e modos de agir no campo social e político que provam a marginalização dos mais fracos. De fato, os pobres são sempre mais numerosos, vítimas de determinadas políticas e estruturas freqüentemente injustas. cf. JOÃO PAULO II. Ecclesia in America. p. 72. 135 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL: Santas Missões Populares: Um jeito novo de evangelizar, hoje. Brasília: Pontifícias Obras Missionárias, 1998. p. 6.
86
potenciar acrescentamento de significação, expansão da dinâmica da vida, e
aprofundamento das relações sociais até a expansão suprema da relação que
é aquela com Deus, nada se terá logrado.136
l.2. Diálogo
O diálogo é uma exigência da evangelização que compreende o diálogo interno, o
ecumenismo, o diálogo inter-religioso, o diálogo com os não crentes.137 O anúncio do
Evangelho deve ser dinâmico e aberto a todas as culturas, cidades e nações. Há necessidade
de abertura para o diálogo com as culturas pluralistas do mundo urbano: imprensa, artistas,
políticos, intelectuais, cientistas, formadores de opinião, entre outros agentes urbanos. É
preciso enfrentar o desafio de humanizar os seres humanos urbanos, inculturar o Evangelho
neste mundo de conquistas modernas das cidades grandes sempre no respeito a outras crenças
ou não crenças. A mensagem cristã deve estar sempre fiel ao Evangelho e jamais alheia às
realidades humanas concretas, caso contrário perderia o sentido. O diálogo com as outras
religiões nasce da certeza que o Espírito Santo opera também nelas e nas diversas culturas
humanas.138
O diálogo é constitutivo da missão. Diálogo no seio da Igreja, entre as diversas
pastorais, associações, movimentos, paróquias, setores e regiões. Diálogo dos bispos com os
sacerdotes, com os leigos e leigas, com as religiosas. O diálogo é testemunho de missão. O
diálogo é testemunho na evangelização. Somente uma Igreja que dialoga entre si é capaz de
dialogar com outras denominações eclesiais e com outras religiões. Simultaneamente, o
diálogo com os governantes e tantos outros poderes constituídos na cidade é essencial para a
136 BOFF, L. Nova evangelização: perspectiva dos oprimidos. 2 ed. Fortaleza: Vozes,1990. p. 100. 137 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil 1991-1994. (Documentos da CNBB n. 45). 96. São Paulo, Paulinas, 1991. 138 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 169.
87
ação evangelizadora no mundo urbano. “Porque não temos aqui cidade permanente, mas
estamos a procura da cidade que está por vir”. (Hb 13, 14).
Neste novo milênio, a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte apresenta o grande
desafio do diálogo inter-religioso pelo qual temos que continuar empenhando-nos, segundo a
linha traçada pelo Concílio Vaticano II na Declaração sobre as relações da Igreja com as
religiões não–cristãs Nostra Aetate. “O diálogo não pode ser fundado sobre a indiferença
religiosa e nós, cristãos, temos a obrigação de realiza-lo, dando testemunho completo da
esperança que há em nós (cf.1 Pd 3,15)”. A Carta também aponta que a igreja não pode ter
receio de ofender a identidade de outrem, nem pode anunciar Jesus Cristo como uma simples
opinião que pode ser negociada com membros de outras religiões. “Para nós ao contrário é
graça que nos enche de alegria, é notícia que temos o dever de anunciar. O diálogo inter-
religioso não pode de forma alguma substituir o anúncio, mas permanece orientado para o
anúncio. Por outro lado, o dever missionário não nos impede de entrar no diálogo
intimamente dispostos a ouvir”.139
1.3. Anúncio
“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15) soa aos
ouvidos de todos os cristãos que entenderam o Batismo e tentam responder ao chamado que
Deus lhes faz, principalmente nos grandes centros urbanos.
O primeiro anúncio é o fundamento que provoca conversão e cresce graças à
catequese, fração do pão e oração. Aos poucos, os ensinamentos dados aos apóstolos se
espalham e, por meio destas testemunhas, formam os primeiros cristãos. O primeiro anúncio
deve ser feito, portanto, com o objetivo imediato de levar o homem a ter a experiência
139 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 56.
88
inquietante e encantadora na vivência comunitária da fé em Jesus. O anúncio está sempre
fundamentado na pessoa de Jesus Cristo. Toda ação evangelizadora deve ser centrada sempre
na pessoa de Jesus Ressuscitado. A Palavra de Deus deve ser anunciada e comunicada a todos
os homens nas culturas presentes na sociedade. A Palavra de Jesus esteve sempre ligada a
uma ação sua. Na dimensão profética e missionária da ação evangelizadora, Palavra e ação
são indissociáveis. Na dinâmica da comunhão e participação, como membros do Povo de
Deus, os participantes e co-responsáveis da missão da Igreja devem sempre pela Palavra
anunciar e denunciar, visando a transformação da realidade de uma sociedade que é marcada
por injustiças e sofrimento. 140
O anúncio de Jesus Cristo não pode ser resumido em aulas, cursos, “cursinhos”,
palestras, quase sempre em função dos sacramentos. O anúncio explícito de Jesus Cristo e de
sua mensagem exige uma pedagogia. Deve atingir o homem em sua situação e conduzi-lo,
sem prender-se a etapas cronológicas, mas progressivamente, à plena maturidade da fé. De
fato, num ambiente não evangelizado, a atuação do cristão pode começar pela simples
presença, por um testemunho silencioso de solidariedade que vai crescendo num empenho
ativo pela justiça e a libertação, num testemunho de oração e de caridade fraterna, para
culminar no anúncio explícito e pleno da riqueza da mensagem evangélica.141 A Igreja vem
perscrutando os sinais dos tempos e está generosamente disposta a evangelizar, a fim de
contribuir para a construção de uma sociedade nova, mais justa e mais fraterna, que é uma
clamorosa exigência dos nossos povos.142
140 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 150-152. São Paulo: Paulinas, 1979. 141 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Igreja: comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, na política e na cultura. (Documentos da CNBB n. 40). 70. 6 ed. São Paulo: Paulinas, 1989. 142 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 12.
89
A CNBB afirma que a posição correta do cristão é aquela que une o esforço de
compreensão racional dos acontecimentos com a firme esperança no Senhor da história e na
presença já atuante do Reino de Deus. A atitude cristã é, necessariamente, empenho
perseverante pela transformação da sociedade rumo à realização dos autênticos valores
humanos e invocação constante, como na oração de Jesus, da vinda do Reino.143
Pelo kerigma a Igreja comunica a Palavra, o Plano e a vontade de Deus. “Os
evangelizadores se preocupam demais com as doutrinas, diz também que existe uma
incoerência entre aquilo que o evangelizador prega e aquilo que ele faz. Essa linguagem é
inadequada e faz com que o kerigma não atinja a pessoa”.144
1.4. Testemunho de comunhão
Na cidade, todos são chamados a participar do Reino de Deus, mesmo aqueles que
professam a fé em outras Igrejas ou são de outras religiões. Para evangelizar, é necessário
compreender e respeitar o pluralismo religioso formado pelas diversas raças e culturas do
mundo urbano. Jesus na Parábola do Banquete (Lc 14,1-24) coloca para a Igreja este
imperativo: convidar todos para a festa.
Ao convidar as pessoas para participar deste grande banquete, a Igreja deve
estar consciente de que ela não pode realizar esta tarefa sozinha. Há também
outras comunidades e instituições que estão comprometidas com o anúncio
143 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. 144 BELTRAMI, A. Comunicação, cultura e evangelização. In: SUESS, P. Culturas e evangelização: São Paulo, Loyola, 1991.
90
do Reino que contribuem para fazê-lo mais perceptível aos que vivem nas
cidades. Para evangelizar é necessário ter testemunho de comunhão.145
O grande ministério ou serviço que a Igreja presta ao mundo e aos homens que nele
habitam é a evangelização, que se faz com fatos e palavras no anúncio da Boa Nova de que
Reino de Deus, reino de justiça e de paz, chega aos homens em Jesus Cristo. A Igreja
converte-se a cada dia à palavra da verdade. Segue pelos caminhos da história a Cristo
encarnado, morto e ressuscitado e faz-se seguidora do Evangelho para transmiti-los aos
homens em plena fidelidade.
A igreja evangeliza, em primeiro lugar, mediante o testemunho global de sua vida.
Assim, na fidelidade à sua condição de sacramento, trata-se de ser mais e mais um sinal
transparente ou modelo vivo de comunhão e amor em Cristo que anuncia e se esforça por
realizar. A pedagogia da encarnação nos ensina que os homens necessitam de modelos
preclaros que os guiem.146
Ao anunciar e acolher o Evangelho na força do Espírito, a Igreja torna-se comunidade
evangelizada e, precisamente por isso, faz-se serva dos homens. Nela os fiéis participam da
missão de servir a pessoa e a sociedade.147 É no ambiente de convívio comunitário que o
evangelizador é acompanhado e amadurece dentro de um processo gradativo e progressivo. É
na comunidade cristã que o evangelizador viverá a koinonia, ou seja, a vivência comunitária
da fé. A comunidade é o centro para a formação dos evangelizadores, a fim de que possam
exercer eficazmente a missão de evangelizar a cidade.
145 CASTRO, C. P. de. Os desafios do mundo urbano à Pastoral da Igreja. Pastoralia. Madrid: ano XVI, [mai.] 1995. p. 30. 146 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 679, 349 e 272. 147 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici: Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo 36. 10 ed. São Paulo: Paulinas, 2001.
91
É necessário reconhecer todo cristão como sujeito da evangelização, favorecendo o
acolhimento e a participação, estimulando o encontro com a Palavra de Deus e a celebração
vital dos sacramentos. É preciso conhecer as diversas dimensões da pessoa humana e da
família, acompanhar e orientar a experiência espiritual, o empenho na sociedade, a educação,
as associações de fiéis. A dinamização das paróquias em rede de comunidades favorece a
participação e o diálogo das CEBs e dos movimentos eclesiais, na busca da comunhão
fraterna.148
As comunidades descentralizam e articulam as atividades e os ministérios. Por isso,
são espaços excelentes para a experiência comunitária. “Cada batizado é construtor da Igreja,
e não deve ser submisso nem infantil. Deve ser sujeito e cidadão em seu grupo e na sua
pastoral. Com democracia e respeito pelos companheiros e em comunhão com padres, irmãs e
bispos. [...] Queremos construir uma Igreja dos pobres, com os pobres e para os pobres”.149
O evangelizador que vive a fé em comunidade, prepara-se e sai em missão na cidade
testemunhando sua vida cristã na Igreja e no mundo, sendo “luz, sal e fermento na massa”.150
“Como exemplo de koinonia está a partilha para o discernimento espiritual, pelo qual se
tomam decisões nos conselhos pastorais, nas dioceses, paróquias e comunidades.Quando
leigos, juntamente com pastores e religiosos, são convocados para expressar suas posições,
opiniões, a comunhão eclesial cresce”.151
148 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61) 169. 149 ALTEMEYER JUNIOR, F. Elementos para uma nova compreensão da atuação da Igreja Católica na cidade de São Paulo. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.). A Igreja de São Paulo: Paulinas, 2005. p. 512. 150 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 51. 151 ALMEIDA, L. M. Comunhão e participação no povo de Deus. In: ERNANE, J. E. (org.). O Sínodo e os leigos. São Paulo: Loyola, 1998. p. 47.
92
2. A finalidade da evangelização
Para o Papa Paulo VI, “a evangelização tem como finalidade transformar a partir de
dentro e tornar nova a própria humanidade”.152 È através de Jesus Cristo que se renovam as
relações dos homens com Deus, com os outros homens e com toda a criação. Assim, o
anúncio do Evangelho na cidade contribui para a transformação interior das pessoas de boa
vontade, que tem o coração aberto ao Espírito Santo. Aos poucos, a ação evangelizadora vai
chegando aos homens de boa vontade e este conseqüentemente, transformando a sociedade.
O objetivo de toda evangelização é o seguimento de Cristo. É significativo como o
Evangelho de Marcos, após a proclamação sintética da Boa Nova do Evangelho por Jesus,
coloca a vocação dos primeiros discípulos: “Vinde em meu seguimento e eu vos farei
pescadores de homens” (Mc 1, 17). Esse seguimento dará à vida das criaturas humanas outra
visão: outros critérios de julgar, outros valores, outros centros de interesse, outras fontes
inspiradoras e outro modelo de vida. Serão os critérios, os valores, os interesses, os modelos
de vida do Reino de Jesus.153
A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente a mudança interior. O mais
exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da
mensagem que proclama, ela procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e
coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes
são próprios. Estratos da humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de
pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores, mas
de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os
valores que contam, os centros de interesses, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e
os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contrastes com a Palavra de Deus e
152 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 18. 153 LORSCHEIDER, A. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. p. 23.
93
com o desígnio da salvação.154 Ao exemplo do mestre, a tarefa de evangelizar constitui a
missão essencial da Igreja. “O termo evangelização, por isso mesmo, expressa a missão global
da Igreja”.155
3. Conteúdos da evangelização
Evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho, de maneira simples e direta, de
Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Dar testemunho de que no seu Filho amou
o mundo; de que no seu Verbo Encarnado Ele deu o ser a todas as coisas e chamou os homens
para a vida eterna. Esta atestação de Deus proporcionará, para muitos, talvez o Deus
desconhecido (cf. At 17, 22-23), que eles adoram sem lhe dar um nome, ou que eles procuram
por força de um apelo secreto do coração quando fazem a experiência da vacuidade de todos
os ídolos. Mas ela é plenamente evangelizadora, ao manifestar que, para o homem, o Criador
já não é uma potência anônima e longínqua: ele é o Pai.156
A Encíclica Evangelli Nuntiandi salienta a necessária ligação com a promoção
humana. Entre evangelização e promoção humana, desenvolvimento, libertação, existe de fato
laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser
evangelizado não é um ser abstrato, mas sim um ser condicionado pelo conjunto dos
problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca
dissociar o plano da criação do plano da redenção, um e outro abrangerem as situações bem
concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela
154 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 19. 155 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Rumo ao novo milênio: projeto de evangelização da Igreja no Brasil em preparação ao grande jubileu de 2000. (Documentos da CNBB n. 56). 61.3 ed. São Paulo: Paulinas, 1996. 156 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 26.
94
origem eminente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia, realmente,
proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e autêntico
progresso do homem? Nós próprios tivemos o cuidado de salientar isto mesmo ao recordar
que é impossível aceitar que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas
extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, no que se refere à justiça, à
libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso porventura acontecesse, seria
ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que se encontra em
necessidade.157
4. Critérios e sinais de evangelização
Todos os que formam o Povo de Deus - bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos e
leigas - são evangelizadores. E, para serem bons evangelizadores, todos eles necessitam de
uma sã consciência social, importância do conhecimento da Doutrina Social da Igreja, de um
sentido evangélico crítico face à realidade, de um profundo senso de justiça, solidariedade,
pobreza evangélica, do amor evangélico, sem ódio, sem rejeição de qualquer setor social,
embora privilegiando os mais pobres, sem julgar, sem condenar, nem apelar para a violência,
vivendo o mais pleno e radicalmente possível o seu Batismo: conversão total ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo, mergulhados no seio trinitário, na vida íntima divina: “Se alguém me
ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará e a ele viveremos e nele estabeleceremos
morada” (Jo 14,23).158
Hoje, a renovação da consciência eclesial e da responsabilidade missionária do povo
de Deus, que se expressa exemplarmente nas orientações do Concílio Vaticano II, amplia os
sujeitos eclesiais da missão, passando da missão de alguns para a missão de todos. O desafio
157 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 31. 158 LORSCHEIDER, A. A IV Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Santo Domingo. p. 24.
95
para a Igreja está em despertar cada batizado e cada comunidade eclesial para essa
responsabilidade primeira e intransferível.159
O evangelizador participa da fé e da missão da Igreja que o envia. Necessita de
critérios e sinais que permitam discernir o que corresponde de fato à fé e à missão da Igreja,
isto é, à vontade de seu Senhor. “Cada um considere como constrói, pois ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que foi lançado, que é Jesus Cristo” (1Cor 3, 10-11). “Portanto,
assim como acolhestes a Cristo Jesus, o Senhor, continuai a guiar-vos por ele. Arraigai-vos
nele e edificais-vos sobre ele, perseverai na fé que vos foi ensinada e transbordai em ações de
graça” (Cl 2, 6-7). “Evangelizar não é para quem quer que seja, um ato individual e isolado,
mas profundamente eclesial, a ser exercido em união com a missão da Igreja e em nome da
mesma”.160
Num mundo saturado pela propaganda e por informações de toda espécie, percorrido
por discursos e apelidos religiosos variados e, no mais das vezes, contraditórios; num mundo
cansado de tantos mestres, o evangelizador hoje deve ser, antes de mais nada, testemunha.
Será “pelo testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de
desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo” (EN 44), que ele há de evangeliza-
lo.161 Face à responsabilidade da evangelização, a Igreja Católica abre-se para um diálogo de
comunhão, procurando área de participação para o anúncio universal da salvação.162
Para evangelizar é necessário conhecer a realidade, preparar o terreno, desvendar
mistérios da complexa realidade social, cultural, econômica e religiosa da cidade onde a
semente do Evangelho será semeada. O evangelizador deve ir ao encontro dos trabalhadores.
Frei Betto diz que, à medida que os trabalhadores compreendem a ligação da fé e da vida, da
Bíblia e da História, do modo de agir de Jesus e do seu modo é que a Boa Nova se encarna em
159 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 102. 160 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 60. 161 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54) 111. 162 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 370, 371 , 1097.
96
seus projetos e eles ampliam a solidariedade de classe e fazem a inserção na esfera da
eclesialidade.163
O desafio da ação evangelizadora fica mais evidente quando o agente conhece os
obstáculos que a realidade apresenta e se dispõe a compreendê-los e enfrentá-los na
semeadura da Boa Nova. Conhecendo a realidade do terreno a ser semeado (no nosso caso, as
características da vida urbana), certamente a colheita será abundante. “A posição correta do
cristão é aquela que une o esforço de compreensão racional dos acontecimentos com a firme
esperança no Senhor da História e da presença já atuante do Reino de Deus”.164
O mandato de Jesus não é apenas anunciar e ensinar. Ele espera que seus discípulos
suscitem outros discípulos e irmãos e entrem na comunhão fraterna com os mensageiros do
Evangelho.165 O evangelizador precisa ter uma espiritualidade encarnada. Todos os cristãos
têm a tarefa de se unirem uns aos outros para construir uma sociedade cada vez mais humana
e fraterna. É necessário juntar forças até mesmo com aquele que tudo reclama. A
solidariedade é princípio em toda ação evangelizadora. Ninguém pode ser insensível ao
clamor do pobre, diz a Conferência de Puebla, nas palavras de Jesus: “Cada vez que o fizestes
a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes”.166
Na cidade, as pessoas vivem cheias de problemas, com a auto-estima muito baixa. Na
ação evangelizadora, é preciso lembrar e ser presença na vida das pessoas além das
celebrações comunitárias. As pessoas querem e precisam ser ouvidas. O indivíduo urbano
precisa ser escutado. Ele é vítima da solidão, sente a necessidade de desabafar. A igreja
católica precisa despertar agentes para o serviço de escuta. As igrejas pentecostais e os centros
espíritas conquistam muitos adeptos através deste serviço, atendendo e ouvindo cada pessoa
163 FREI BETTO. Notas de uma pastoral operária. In: BEOZZO, J. O. et al. Vida clamor e esperança. São Paulo: Loyola, 1992. p. 353. 164 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 114. 165 CNBB. Igreja comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura. (Documentos da CNBB n. 40) 31. 166 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 1134.
97
individualmente. Este serviço de acolhida e escuta leva esperança à pessoa que se sente
solitária e desesperada na agitação da cidade. O atendimento “personalizado” é indispensável
para ação evangelizadora nos grandes centros urbanos.
Tudo isto deve ser feito gratuitamente, sem esperar nada em troca. A Igreja deve
realizar este serviço aos homens urbanos sem esperar que estes venham fazer parte do “seu”
redil. Este serviço cristão é para a humanização da cidade.
5. Os agentes evangelizadores
A comunhão eclesial é como a comunhão de um corpo orgânico, onde cada membro
tem a sua função. A Igreja é caracterizada por uma presença simultânea de diversidade e
complementaridade de vocações, de condição de vida, de ministérios, de carismas e
responsabilidades. Cada um exercendo a sua função, de acordo com os próprios meios e
carismas, contribui para a edificação do corpo de Cristo, a Igreja. E é claro que todo corpo
possui uma alma que a vivifica. “Na Igreja o Espírito Santo é que renova cada um, sempre
presente na cabeça dos membros, unindo o corpo inteiro, possibilitando a comunhão e
levando a verdade total e na forma do Evangelho”.167
Na sociedade atual, o testemunho do evangelizador é uma exigência para a sua ação. O
evangelizador precisa conhecer e ter discernimento sobre as verdades essenciais e centrais da
fé. Precisa ter conhecimento da linguagem e da realidade em que pretende atuar. O Espírito
acompanha e assiste os missionários. Porém, ninguém está dispensado da preparação para a
missão. As comunidades, paróquias, setores, regiões e dioceses devem oferecer oportunidades
adequadas de formação para seus evangelizadores. Na Igreja de São Paulo, cresce sempre
mais o número de Escolas da Fé, Escolas da Palavra, Cursos de Teologia para Leigos e
167 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 20.
98
também há grande incentivo para o curso de Teologia para Leigos na Faculdade de Teologia
no Colégio Marillac. Mas a CNBB diz que nada substitui a experiência do Deus vivo, no
encontro com Cristo, alimentando-se constantemente pela escuta da Palavra de Deus, tanto no
livro da Escritura quanto no livro da vida; pela participação na eucaristia e demais
celebrações; pela oração generosa e abertura a Deus e à sua presença na realidade humana;
pelo abandono ao Espírito que precede a ação do evangelizador, assiste-o cotidianamente
confortando nas dificuldades e mesmo nos fracassos; enfim, pela doação de si mesmo nos
serviço aos demais.168
Para isso é preciso renovar o entusiasmo para ampliar e qualificar a ação missionária
da Igreja, à medida que cada um assumir como prioritária a ação aos outros, para que se
aproximem do seu Senhor. E assim, com fervor missionário, assumir e colocar em prática as
três grandes metas da evangelização: promoção da dignidade da pessoa; renovação da
comunidade, a partir da família; e participação na construção de uma sociedade justa e
solidária.169 O missionário tem uma função na missão evangelizadora e esta nunca pode ser
esquecida:
O missionário não é alguém que dá alguma coisa que o outro não tem, mas
alguém que transmite um chamado de Deus e facilita a resposta do povo,
provocando desse modo o crescimento na experiência de Deus. È essa a
função de um profeta. Ele é portador da palavra de Deus. A palavra tem
poder para efetuar crescimento e transformação. 170
168 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos CNBB n. 61). 115. 169 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007: Queremos ver Jesus, caminho, verdade e vida. (Documentos da CNBB n. 72). 10. 4 ed. São Paulo: Paulinas, 2004. 170 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 16.
99
A missão do cristão é participação na missão divina, continuando a missão de Jesus.
Sua meta é o Reino de Deus e a Igreja deve ser o seu símbolo e sua serva. No processo de
evangelização no grande centro urbano, a igreja deve atuar nos centros fixos: igrejas, centros
comunitários, capelas e nas infinitas fronteiras abertas: hospitais, FEBEMs, cadeias, escolas e
tantos outros.
Através de diversas pastorais, associações e movimentos, a Igreja de São Paulo se
organiza para ser fiel seguidora de Jesus, para cumprir a missão deixada por Ele aos seus
seguidores. Porém, encontra dificuldades para ser presença nos presídios, hospitais, favelas,
cortiços, mas continua caminhando para construir uma cultura missionária.
Os projetos missionários não nascem do dia para a noite e nem da mente criativa de
um desocupado. Os projetos missionários nascem da prática missionária na realidade em que
se vive, na realidade em que se atua. Os missionários não precisam conhecer tudo sobre o
diálogo, o ecumenismo, a Bíblia, a Igreja, a Teologia e realidade sócio-econômica. É
necessário ter o espírito aberto para o dinamismo de Deus. È no caminho da missão que se
aprende e se ensina.
5.1. Formação dos agentes evangelizadores
A formação dos evangelizadores tem como centro e fonte de dinamismo o mistério de
Cristo e exige principalmente capacidade de “dar conta da própria esperança”. Para cumprir
esta meta, há necessidade de uma formação adequada quanto os conteúdos fundamentais da fé
e da moral católica, que permita aos evangelizadores conhecer a realidade, sem aceitar o puro
empirismo ou as falsas certezas. Capacidade de comunicar, tanto em nível pessoal como
através dos meios sempre mais numerosos que a cultura atual põe à disposição, é uma
qualidade cada vez mais importante para os evangelizadores, que também obtém mais sucesso
100
quando tem a capacidade de avaliar e mudar, para medir os efeitos da ação evangelizadora e
orientar os rumos, quando oportuno.171 Todos os batizados, seguidores de Jesus
evangelizador, são chamados a tornarem-se por sua vez evangelizadores.172
A Igreja deve contar com a orientação de especialistas experientes, valer dos meios
adequados; criar adequados organismos de estudo e pesquisa e realizar maiores investimentos
na formação das lideranças.173
Os documentos Lumen Gentium e Puebla apontam que os conteúdos de uma formação
adequada devem se realizar em diversos níveis relacionados entre si. Deve ser, com efeito,
uma formação humano-bíblico-teológica, espiritual (espiritualidade encarnada na vida) e
vivenciada como experiência de Deus e solidariedade com os irmãos.174
A articulação é uma necessidade para estabelecer uma efetiva comunicação entre os
interlocutores que permita o intercâmbio de informações e, eventualmente, através do diálogo,
a elaboração de um consenso. È necessário criar a “rede”, para evitar falhas desnecessárias,
como por exemplo: visão estreita das responsabilidades da missão; acúmulo de trabalhos em
poucos agentes; repetição e desperdício, por um lado, e tarefas não cumpridas, por outro;
preocupação com o imediato, em prejuízo do importante. Do ponto de vista teológico e
eclesial, a articulação é, também, um testemunho de comunhão e participação.175
171 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 292 172 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 293. 173 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54) 294. 174 COMPÊNDIO VATICANO II. Lumen Gentium 40-41, 45. 175 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n. 54). 296.
101
6. Os leigos na evangelização
Não há dúvida de que a tarefa de promover a justiça e a paz, de prestar solidariedade e
serviço aos irmãos, especialmente aos mais necessitados, é uma responsabilidade dos cristãos
empenhados na economia, na política, nas relações internacionais, no sindicato, nas
organizações assistenciais, nos movimentos populares, nas pastorais sociais.176 O Concílio
Vaticano II tinha consciência disto, tanto é que na Constituição Lumen Gentium afirma que,
na tarefa de impregnar do espírito de Cristo no mundo e fazer que “atinja mais eficazmente o
seu fim na justiça, na caridade e na paz, compete aos leigos a principal responsabilidade” e
reconhece que os leigos são chamados de modo especial a tornar presente e operante a Igreja
“naqueles lugares e circunstâncias onde ela só por meio deles pode vir a ser sal da terra”. A
todos os leigos, portanto, incumbe o preclaro ônus de trabalhar para que o plano divino de
salvação atinja todos os lugares da terra. Conseqüentemente sejam-lhes dadas amplas
oportunidades para que também eles participem ativamente na obra salvífica da Igreja, de
acordo com suas forças e as necessidades dos tempos. 177
Os leigos são congregados no Povo de Deus e constituídos num só corpo de Cristo,
sob uma só cabeça. O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvífica da
Igreja. O leigo com sua formação especial no mundo e na sociedade têm diante de si uma
grande tarefa evangelizadora no presente e no futuro de nosso continente.
Os leigos têm se empenhado na participação das instâncias políticas a fim de
garanti a construção de um mundo novo, conforme o Projeto de Deus: são
176 CNBB. Missão e ministérios dos leigos e leigas cristãos. (Estudos da CNBB n. 77). 56. 177 COMPÊNDIO VATICANO II. Lumen Gentium 36b e 33.
102
conselheiros ativos dos Conselhos paritários do Município de São Paulo, tais
como os Conselhos do Idoso, da Criança e do Adolescente, do Meio
Ambiente, do Negro, da Mulher, dos Portadores de Necessidades Especiais,
entre outros [...] Os leigos começam a assumir, de forma mais explícita, sua
participação na vida política da cidade, partidária ou não, e lançam-se como
opções novas para a governabilidade com ética e justiça. 178
Por outro lado, o Espírito Santo está suscitando hoje na Igreja uma diversidade de
ministérios, também exercidos por leigos, capazes de rejuvenescer e reforçar o dinamismo
evangelizador da Igreja. Assim, a presença dos leigos em ações evangelizadoras é ampla e
continua crescendo. A Conferência de Puebla tomou consciência da necessidade dos leigos na
missão evangelizadora diante do seu testemunho e dedicação cristã na sociedade para a
promoção da justiça entre os povos.
Desde o princípio, houve na igreja diversidade de ministérios, cuja finalidade é a
evangelização. Os escritos do Novo Testamento revelam a vitalidade da Igreja, que se
manifestou em múltiplos serviços. O apóstolo Paulo menciona, entre outros, os seguintes: a
profecia, a diaconia, o ensino, a exortação, o dar esmolas, o presidir, o exercício da
misericórdia (Rm 12,6-8); e em outros contextos fala de ministérios como as palavras da
sabedoria, do discernimento de espírito e alguns outros (1Cor 12, 8-11; Ef 4, 11-12; 1Ts
5.12s; Fl 1,1). Em outros textos, descrevem-se igualmente vários ministérios.179
A primeira missão e imediata tarefa dos leigos não é instituição e o desenvolvimento
da comunidade eclesial – esse é o papel específico dos Pastores –, mas sim pôr em prática
todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, porém já presentes e operantes, nas
coisas do mundo.
178 SILVA, E. G. O. Os leigos na cidade contemporânea. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.). A Igreja de São Paulo. Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 297. 179 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 857-858, 777, 680.
103
O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e
complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das
ciências e das artes, da vida internacional, dos “mass media” e, ainda, outras realidades
abertas para a evangelização, como seja o amor, a família, a educação das crianças e dos
adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quanto mais leigos houver impregnados
do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas
mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a
sua capacidade cristã muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem
nada perder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão
transcendente para o além, não raro desconhecido, se virão a encontrar ao serviço da
edificação do Reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo.180
Em todos os casos, o leigo deverá buscar e promover o bem comum, na defesa da
dignidade do homem e dos mais fracos e necessitados, na construção da paz, da justiça, na
criação de estruturas mais justas e fraternas.181 Por sua índole secular, os leigos, são chamados
a santificar-se no mundo e “eles têm que se santificar na normal vida profissional e social”.182
No Decreto Ad Gentes e no Documento de Puebla, os bispos afirmam que a principal
missão dos leigos é “dar testemunho de Cristo pelo exemplo e pela palavra, na família, no seu
ambiente social e no âmbito da profissão” e de constituir a Igreja como comunidade de fé,
oração, de caridade fraterna, mas é no mundo que o leigo encontra seu campo específico de
ação. Pelo testemunho de sua vida, por sua palavra oportuna e sua ação concreta, o leigo tem
a responsabilidade de ordenar as realidades temporais para pô-las ao serviço da instauração do
180 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 70. 181 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 792. 182 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 17.
104
Reino de Deus.183 Esta missão provém do Batismo e da Confirmação que os incorporam a
Cristo e os tornam membro da Igreja, juntamente com seus irmãos leigos e com os Pastores.
Os protagonistas da evangelização devem estar sempre como novo ardor missionário,
lembrando as palavras de Jesus: “Eu vim para trazer fogo à terra, e como gostaria que já
estivesse aceso” (Lc 12,49). A Igreja não se acha deveras consolidada, não vive plenamente,
não é um perfeito sinal de Cristo entre os homens se aí não existe um laicato de verdadeira
expressão que trabalhe com a hierarquia. Porque o Evangelho não pode ser fixado na índole,
na vida e no trabalho de um povo, sem a ativa presença dos leigos.
Por isso, desde a fundação da Igreja, tem-se o máximo cuidado em constituir um
laicato cristão maduro. Os ministros da Igreja valorizem o operoso apostolado dos leigos.
Formem leigos que, membros de Cristo, estejam conscientes de sua responsabilidade no
mistério de Cristo. Introduzam-nos métodos práticos e assistam-nos nas dificuldades.184
Para todos os obreiros da evangelização é necessária uma preparação séria; e é
necessária de modo muito particular para aqueles que se dedicam ao ministério da Palavra.
Animado pela convicção, incessantemente aprofundada, da nobreza e da riqueza da
Palavra de Deus, aqueles que têm a missão de transmitir devem dedicar a maior atenção à
dignidade, à precisão e adaptação da sua linguagem.185
A Conferência de Puebla diz que para formar os leigos e dar-lhes sólido apoio em sua
vida e ação, procurará incorporá-los às organizações e movimentos apostólicos e potenciará
todos os seus instrumentos de formação, de modo particular os que são próprios do campo da
cultura. Somente assim se obterá um laicato amadurecido e evangelizador.186
183 cf. COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes 21; CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 786-793, 777, 827-828, 524-530; JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici 29. 184 cf. COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Ad Gentes 21 e 22. 185 PAULO VI. Evangelii Nuntiandi 73. 186 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 155.
105
Nesse contexto, parece oportuno que a Igreja ajude os leigos na busca de uma
espiritualidade autenticamente evangélica e missionária, que supera o mero devocionismo,
para sustentá-los em sua atuação humana e cristã e na família, no trabalho, na sociedade e na
vida cotidiana e nas diversas formas de apostolado e evangelização. A espiritualidade dos
leigos alimenta-se nas fontes de toda espiritualidade cristã: a Palavra, a Liturgia, a Comunhão
Eclesial, mas ela procura especialmente a união da fé com a vida. Os leigos encontram-se em
lugar central no diálogo entre Deus e o mundo. Daí a união com Deus, a oração, a vivência
comunitária e o compromisso no mundo, como serviço, diálogo, anúncio, revestem-se para os
leigos de um acento especial.187 Uma formação que é gradual e permanente.
Os lugares educativos da família, da comunidade eclesial, conselhos pastorais,
coordenações e conselhos diocesanos de leigos são a fonte e a origem de todo o apostolado da
Igreja que é Cristo, enviado do Pai. Sendo assim, é evidente que a fecundidade do apostolado
dos leigos depende de sua união vital com Cristo, segundo a palavra do Senhor: “Aquele que
permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer” (Jo
15,5).188
7. Os Movimentos e as Associações na evangelização
A missão compete a todos os cristãos, a todas as dioceses e paróquias, instituições e
associações eclesiais. 189 Os movimentos eclesiais trazem contribuições de seu próprio
carisma, integram-se nas Igrejas Particulares e devem assumir a evangélica opção preferencial
pelos pobres, devem valorizar a fé como experiência pessoal, sem esquecer a dimensão
187 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 318. 188 COMPÊNDIO VATICANO II. Decreto Apostolicam Actuositatem 4. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 189 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 2.
106
comunitária e social, devem cuidar da formação de seus membros, pondo sua organização à
serviço da evangelização.190
As associações e movimentos vivem um grande momento na Igreja.
Atingem, principalmente, o homem imbuído do espírito da modernidade e
do secularismo. Várias associações e movimentos têm a capacidade de
despertar a fé quase extinta de tais homens, levando-os a reencontrar o
Cristo. Disse também que a espiritualidade de certas associações ou
movimentos, por vezes, leva mais a responder às aspirações pessoais do que
a problemas concretos da vida social. Trata-se de uma espiritualidade
intimista, sem nenhuma interpelação no que se refere à transformação da
própria vida social dos homens no espírito de Jesus Cristo.191
Por ocasião da visita ad limina Apotolorum, em 2001, o Papa João Paulo II no
discurso aos bispos do Paraná, reafirmou a importância dos movimentos de apostolado leigo
para a Igreja: a presença dos movimentos apostólicos, numerosos e dinâmicos, quando atuam
“em plena sintonia eclesial e obediência às diretrizes autorizadas dos pastores” (NMI, n.46),
tem dado particular ajuda à Pastoral diocesana; sua ação pode ser, em muitos casos,
determinante para contribuir para este processo permanente de conversão, que é próprio da
evangelização, e conseguir assim uma sociedade mais justa e reconciliada com Deus. Por isso,
o apostolado leigo vem assumindo uma importância determinante para aproximar Deus de
tantos homens e mulheres, pois é o ambiente que lhes é familiar, no trabalho, no lar e na
190 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002. (Documentos da CNBB n. 61). 289. 191 No Sínodo dos Bispos de 1987, que trata sobre os leigos, D. Aloísio Lorscheider, falando em nome da CNBB no dia 04 de setembro. In: PINHEIRO, J. E. (org.). O Sínodo e os leigos. São Paulo: Loyola, 1988. p. 39.
107
sociedade em geral, onde o papel do leigo se torna imprescindível e, muitas vezes,
insubstituível.192
8. Proclamação do Evangelho na cidade
Teóricos têm apontado, ao longo do tempo, algumas das formas mais apropriadas para
que a Igreja testemunhe o Evangelho nas grandes cidades. “O testemunho pode ser dado pela
palavra, mas é principalmente uma atitude de vida, muitas vezes silenciosa. O mundo de hoje
escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os
mestres, é porque eles são testemunhas”.193
Esse testemunho pode assumir diversos aspectos. Um ato de solidariedade ou de
serviço, uma atitude de diálogo, uma declaração franca da própria fé, o exemplo de uma vida
fraterna e inspirada pelo amor: tudo isso é testemunho194, que pode chegar à máxima
expressão na doação da própria vida.195
Mas, para colocar em prática esse testemunho, parece ser recomendável que a Igreja
desafie permanentemente a si mesma e, depois, a sociedade paulistana a mudar suas atitudes,
conceitos e preconceitos. E, inclusive, o modo de organização. A própria Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil reconhece que a organização da Igreja está muito dependente
do padre e da paróquia.
192 JOÃO PAULO II. Palavra de João Paulo II aos Bispos do Brasil. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2003. p. 15. 193 PAULO VI. Evangelli Nuntiandi 41. 194 No novo testamento, testemunho é martyría ou martýrion (martírio). 195 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 18.
108
Ora, o número de padres não tem crescido no mesmo ritmo da população. Em 1970,
havia um padre para 7100 habitantes; em 1990, um padre para 10.100 habitantes. Desde
então, a proporção padres/habitantes se mantém estável.196
Entretanto, paradoxalmente, nem sempre a instituição assume uma postura mais aberta
ao diálogo com os leigos. A atitude da igreja muitas vezes se mostra centralizadora e a
sociedade moderna rejeita centralismos. “As abordagens e atitudes de autoridade da Igreja
realmente não permitem às Igrejas locais se transformar e ser elas mesmas”.197 “O caminho
missionário é, propriamente, um incentivo para que a Igreja e as comunidades se
descentralizem pela misericórdia. O lugar da Igreja missionária é o ferido do caminho e o
marginalizado na sociedade”.198
Se a Igreja ficar parada, institucionalizada, se ela não sair, certamente não encontrará
ninguém pelo caminho. A Igreja não pode ficar esperando que as pessoas venham ao seu
encontro. A missão não pode ser fixa a um lugar, sobretudo na cidade que é dinâmica, que
nunca pára, que nunca dorme. “A missão, por princípio, é movimento e deslocamento para as
fronteiras”.199 Quando tudo parecer muito seguro na ação evangelizadora, é bom atentar-se
para que não caia no comodismo e venha a morrer. A Igreja, quando sai de si mesma, mostra
sinais de sua maturidade. Em outras palavras, a Igreja nunca pode permanecer fechada,
esperando seus fiéis amadurecerem para sair em missão.
196 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2003-2006. (Documentos da CNBB n. 71). 43. 197 AMALADOSS. M. Missão e inculturação. p. 32. 198 PALEARI, G. Espiritualidade e Missão. p. 99. 199 PALEARI, G. Espiritualidade e Missão. p. 112.
109
O caminho é de mão-dupla. Quando sai para a missão, ela cresce; quando volta da
missão, ela amadurece. O fruto é uma Igreja sempre missionária, nos passos de Jesus e seus
discípulos. O sujeito da evangelização na cidade não é o missionário isoladamente, é toda a
Igreja, de forma especial a comunidade à qual ele pertence e o envia.
8.1. Implantar o Reino de Deus na cidade
Alguns projetos de missão contemporâneos consistem em “implantar a Igreja”. Dessa
maneira, houve uma progressiva identificação entre o Reino, Jesus e a Igreja. “Jesus não só
proclama o Reino, mas também o realiza em sua vida, morte e ressurreição. Portanto, Jesus é
o Reino em pessoa. Assim, o convite, “crede no Evangelho” transforma-se em “crede em
Jesus”. Jesus fundou a Igreja. Por meio da pregação do ministério sacramental, a Igreja
continua a obra de Jesus. Ela é a realização visível do Reino no mundo. Assim, proclamar o
Reino hoje é proclamar a Igreja. “Implantar a Igreja, equivale a instituir o Reino”. Em alguns
projetos missionários há uma série de identificações onde deveria haver somente relações. “O
Reino de Deus não é território nem povo”.200
A Igreja é portadora da mensagem que transforma a vida das pessoas, o Evangelho de
Cristo. “Há necessidade de um conhecimento melhor e pessoal de Jesus e de sua missão. Esse
conhecimento não é simples informação, mas deve ser traduzido numa experiência íntima e
mobilizadora, num encontro que dê sentido à vida das pessoas”.201
Não é bom para a Igreja que haja uma total identificação do Reino com a Igreja.
Quando isso acontece, fatalmente há uma rejeição do Reino, ou seja, da própria Igreja. O
Reino de Deus comporta um universo bem mais amplo do que o conquistado pela Igreja. O
Reino de Deus deve ser entendido como a situação do “já e ainda não”. A Arquidiocese de
200 AMALADOSS, M. Missão e inculturação. p. 48. 201 CNBB. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007. (Documentos da CNBB n. 72). 10.
110
São Paulo se coloca em missão na cidade com o propósito de testemunhar e promover os
valores do Evangelho e transformar a cidade no Reino de Deus. Reino de liberdade,
solidariedade e justiça. Todos os batizados são chamados a colaborar na edificação do Reino.
As pessoas devem se organizar em equipes, grupos, entidades, associações,
movimentos para melhor cumprir esta missão. Todos são chamados a semear as sementes da
justiça, do diálogo, do respeito às diferenças e a praticar os ensinamentos do Cristo. “Cada
comunidade eclesial deve ser um espaço propício a esse encontro, um lugar onde as pessoas
experimentam o amor de Jesus em ação”.202 Da mesma forma, o Reino de Deus e sua ação
não se limitam ao grupo das pessoas que participam ou formam a Igreja. A Igreja nunca
substitui o Reino.
O Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro.
Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino
que está presente na história humana e o transforma. Construir o Reino quer
dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. É certo
que a Igreja não é o fim em si mesma, uma vez que se ordena ao Reino de
Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento [...]. A Igreja está efetiva e
concretamente a serviço do Reino. A Igreja serve ainda ao Reino, fundando
comunidades, constituindo Igrejas particulares, levando-as ao
amadurecimento da fé e da caridade, na abertura aos outros, no serviço à
pessoa e à sociedade, na compreensão e estima das instituições humanas203 .
Transformar a sociedade a partir dos valores evangélicos. Este é o objetivo da Igreja.
O imperativo “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mc 12,
30-31) conduz os cristãos aos cuidados especiais com os pobres e oprimidos, promovendo a
202 CNBB. Projeto Nacional de Evangelização 2004-2007. (Documentos da CNBB n. 72). 10. 203 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 15, 18 e 20.
111
justiça. Todos são chamados a mudar os corações e, conseqüentemente, as estruturas que
causam as injustiças, a dor e o sofrimento das pessoas. Aos poucos, as comunidades cristãs
vão aprendendo com o Cristo que, sem justiça, não há amor. A prática de Jesus que os
Evangelhos relatam motiva os cristãos e cristãs ao exercício do amor, da justiça e da
solidariedade. Cristo (Lc 4,18-19) sentava-se com os pobres e excluídos, não fazia acepção de
pessoas - comia também com os pecadores (Mc 2,15-17). É isso que Jesus espera dos seus
seguidores: dar de comer a quem está com fome, vestir o nu, visitar os doentes e os que estão
na prisão (Mt 25,31-46).
Os sinais dos tempos apontam para a importância de um novo tipo de ação política,
que valorize a iniciativa popular, de grupos e de comunidades que se dispõem a “pôr a mão na
massa” em iniciativas concretas, para responder às necessidades reais do povo sofrido. O Papa
Paulo VI diz que “para os fiéis leigos, o empenho político é uma expressão qualificada e
exigente do empenho cristão a serviço dos outros”.204
Trata-se de incentivar e apoiar o protagonismo social e político dos diversos grupos e
comunidades, no campo e na cidade, para que usem a criatividade e empreguem a fantasia da
caridade para enfrentar os problemas concretos e, a partir de atividades em andamento,
provocar o envolvimento da administração pública.205
8.2. Riqueza, pobreza e profecia da ação evangelizadora
O fosso entre ricos e pobres continua a crescer. Os governos perdem credibilidade,
devido a tantos escândalos de corrupção em nosso país. Podemos dizer que a moralidade
204 PAULO VI. Octogésima Adveniens 46. Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997. 205 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Evangelização e missão profética. (Documentos da CNBB n. 80). São Paulo: Paulinas, 2005. p. 65.
112
pública está em crise. O mundo necessita de profecias, precisa de profetas que falem em nome
de Deus, pessoas que defendam os direitos dos pobres em nome de Deus.206
A cidade também precisa de profetas. A Igreja precisa de profetas. Pessoas que vivam
o presente da história, os limites, os sofrimentos e anseios de todas as pessoas, especialmente
dos mais pobres e excluídos da sociedade, para que assim a Igreja continue sendo a porta-voz
dos injustiçados e dos oprimidos. A discriminação, o não diálogo, a violência, a morte sempre
incomodarão os cristãos. A solidariedade, a fraternidade, a justiça e o diálogo, em
contraponto, serão o anúncio e testemunho dos enviados à evangelização.
Vinte e seis anos se passaram desde a reunião dos Bispos na cidade de Puebla
(México), porém aquela mesma realidade de extrema pobreza generalizada pela América
Latina que perpassou todo o encontro e inspirou suas decisões continua existindo. O
documento final daquele encontro já dizia que essa realidade representava feições
concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras do Cristo, o Senhor:
feições de crianças golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer; crianças abandonadas e
exploradas de nossas cidades; feições de jovens desorientados e frustrados nas zonas rurais e
urbanas; feições de indígenas e afro-americanos vivendo segregados e em situações
desumanas; feições de camponeses que vivem relegados em quase todo o continente, sem
terra, submetidos à enganação e exploração; feições de operários mal remunerados e sem
condições de se organizarem para defender seus direitos; feições de subempregados e
desempregados, causa das crises econômicas e dos modelos desenvolvimentistas que os
submetem a frios cálculos econômicos; feições de marginalizados e amontoados das nossas
cidades; feições de anciãos cada dia mais numerosos colocados à margem, pois já não
produzem mais.207
206 CNBB. Evangelização e missão profética da Igreja. (Documentos da CNBB n. 80). p. 73s. 207 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 31-39.
113
Este convite a uma ação profética está presente nos documentos da Igreja e também na
atuação concreta das organizações eclesiais para garantir o direito dos pobres da cidade:
A igreja, na sua totalidade e universalidade, tem uma missão a realizar. O
magistério, através de seus documentos, não deixa dúvida sobre a dimensão
evangélica e eclesial de todo serviço aos pobres e excluídos. Reconhece
ainda que a parceria e colaboração com outras forças e organizações da
sociedade civil, bem como o poder político, são um meio e um instrumento
privilegiado para garantir os direitos pessoais e coletivos da população. 208
Os destinatários da união das forças da igreja, poderes públicos e Organizações Não-
Governamentais são todos aqueles que necessitam que seus direitos básicos sejam garantidos,
a começar pelas crianças, adolescentes, jovens, famílias, portadores de necessidades especiais,
doentes, sem teto, negros, presidiários, vítimas de abusos sexuais.
Através da organização, estrutura e dinâmica pode-se assegurar o funcionamento dos
serviços públicos e garanti-los aos cidadãos. “As relações entre a Igreja Católica e as ações
sociais na cidade de São Paulo são genéticas, já que datam da fundação do Colégio
Piratininga pelos Jesuítas”.209
“Do ponto de vista da solidariedade e do serviço aos pobres e excluídos, existe um
apelo para que se renovem as práticas da caridade e da assistência social”.210 As novas
situações de pobreza e sofrimento exigem a criação de novas iniciativas de economia
solidária, de auto-ajuda, de promoção e de transformação social.
208 MEZZARI, A. A. Ação e Propostas das Entidades Comunitárias conveniadas com a SAS da PMSP. In: SEMINÁRIO DA CARIDADE. Presença da Igreja na cidade de São Paulo: Loyola, 2002. p. 90. 209 SPOSATI, A. Um pacto para o terceiro milênio. In: Seminário da Caridade. Presença da Igreja na cidade de São Paulo: Loyola, 2002. p. 71. 210 CNBB. Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas. (Documentos da CNBB n. 72) 133.
114
As novas formas de atuação têm suscitado um grande número de voluntários na
Pastoral da Criança, na Pastoral do Menor, na Pastoral da Saúde, na Pastoral Carcerária, na
recuperação dos dependentes químicos e marginalizados. Merece destaque a dedicação de
muitas pessoas nas inúmeras obras sociais.211
O missionário deve seguir sempre o caminho da misericórdia. Jesus teve compaixão
daquela mulher, mãe de um único filho, no povoado de Naim (Lc 7, 11-l7). Ali ele sente uma
compaixão e diz para a mãe desesperada: “Mulher, não chores”. Jesus ressuscita o filho
porque assume o sofrimento humano até as últimas conseqüências. Os Evangelhos
apresentam a compaixão de Jesus em diversos outros textos e situações de sofrimento das
pessoas, como por exemplo, na parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32). Ter compaixão é
justamente isto: carregar sobre si o sofrimento, as ansiedades e as limitações humanas. Ter
compaixão é agir junto àqueles que estão esquecidos na sociedade. O missionário deve sentir
compaixão das pessoas que sofrem e deve sustentá-las na esperança e na conquista dos seus
direitos. Na Arquidiocese de São Paulo há tantos missionários e missionárias que através das
pastorais sociais, dos movimentos sociais, acompanham, sofrem, lutam e conquistam
dignidade de vida junto a tantos irmãos e irmãs excluídos da sociedade.212
O missionário é aquele que é capaz de ensinar e de aprender com aquele outro a quem
teve a oportunidade de encontrar. Ensinar e aprender estão sempre juntos. Quem aconselha
também deve estar aberto para receber conselhos. Quem dá é também capaz de receber. Uma
pessoa, por mais capaz que seja, não consegue evangelizar se não for capaz de ouvir, dialogar,
sentir o que o outro sente, como fez Jesus. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo
Jesus: Ele tinha a condição divina e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se
apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a
211 MEZZARI, A. A. Ação e Propostas das Entidades Comunitárias conveniadas com a SAS da PMSP. p.88. 212 PALEARI, G. Espiritualidade e missão. p. 83.
115
semelhança humana. E, achado em figura de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte,
e morte de cruz” (Fl 2,5-8).
É o caminho da pobreza que levará o missionário a percorrer o caminho dos pobres e
dos despossuídos. Pisar firme na favela e nos cortiços exige grande esforço e dom. Despojar-
se de tudo é grande sinal de testemunho e solidariedade. Interiorizar o sofrimento do outro é
uma capacidade daquele que realmente foi chamado para a missão.
Mesmo numa época como a nossa, em que temos tantos recursos e comodidades, o
anúncio do Evangelho se faz muito difícil. Hoje, a sociedade, de forma especial algumas
empresas especializadas, apresentam vários recursos para o anúncio do Evangelho: filmes,
slides, data show, cartazes, painéis, outdoors, rádios, canais de televisão. Estes recursos falam
de Deus e de seu Reino, falam de Jesus e seus ensinamentos, mas nenhum destes recursos,
nem todos juntos são capazes de convencer, se os testemunhos da Igreja e dos
evangelizadores não forem significativos sinais de que Deus é realmente Pai de todos, ama a
todos e está com todos. “Eu vi a opressão do meu povo, ouvi suas queixas contra os
opressores, conheço seus sofrimentos, por isso desci para libertá-lo” (Ex, 3,7). Sem isto, serão
apenas palavras, filmes e imagens bonitas que a tecnologia apresenta, que impressionam e
emocionam, mas não chamam.
O conhecimento da doutrina, da vida sacramental, da Palavra de Deus é muito
importante para a ação do missionário. Porém, se a humildade lhe faltar, poderá dizer coisas
belas, apresentar o céu, mas não será capaz de fazer crentes a Deus, porque faltou com o
testemunho. O evangelizador conseguirá anunciar Deus e seu Reino se participar da vida do
povo a quem foi destinado a evangelizar. É necessário fazer parte do sonho de um mundo
novo. Há de ter sensibilidade para avançar e recuar em suas idéias para que os evangelizandos
possam encantar-se com o desejo de Deus e comprometerem-se com o seu Reino de justiça,
de paz e de liberdade.
116
8.2.1. Inclusão de Deus, inclusão do homem
Segundo a nossa fé, Deus nos confiou este mundo como administradores, não para
construirmos modernas torres de Babel, torres de hegemonia comunicativa que sufocam a
comunicação por meio de versões filtradas de informação, nem torres pós-modernas de
marfim e de anti-comunicação, mas “redes de comunidades” que partilham a palavra e os
bens. Esta comunicação diferenciada e transparente, que supera esquemas maniqueístas do
tipo sim/não, branco/preto, verdade/mentira, inclui sempre o “terceiro” como possibilidade
mediadora e necessidade complementar. Na dialética da autonomia das realidades terrestres,
só conseguiremos superar as dificuldades, tornando Deus o terceiro incluído. A exclusão
silenciosa de Deus deste mundo, sua degradação, a insignificância social e a substituição de
sua lei do amor pela lei do mercado parecem a vingança tardia pela expulsão da humanidade
do paraíso. Esta exclusão de Deus reflete-se na dissolução dos laços de lealdade,
responsabilidade e solidariedade sociais pela “livre concorrência” e pela competitividade do
mercado. A exclusão de Deus é a causa profunda da exclusão social. Se não se relacionam os
“dois excluídos”, Deus e os pobres, e não combatemos as “duas exclusões”, somos como
sanitaristas que combatem apenas as bactérias, sem cuidar da imunidade das pessoas. Cuidar
da imunidade significa cuidar dos pressupostos éticos do bem comum e reconhecer os limites
do discurso meramente antropológico e conceitual-científico, incapaz de sozinho decifrar os
enigmas da realidade humana. 213
A inclusão de Deus tem uma incidência muito concreta sobre a vida humana, como
também a exclusão social determina a “imagem de Deus”. A resposta pastoral à exclusão
cuida teologicamente da ecologia humana, como trata da exclusão de Deus
antropologicamente. A articulação destes dois níveis – do “religioso” e do “social” – exige
213 SUESS, P. Perspectivas pastorais em vista do Terceiro Milênio. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 224, [dez.] 1996. p. 856.
117
propostas além de um “tratamento sintomatológico” de remédios caritativos ou devocionais.
O culto a Deus que esquece dos excluídos trata Deus como um “sintoma”, socialmente não
relevante, e não como “causa”. A Pastoral em defesa da vida envolve a imagem de Deus, já
que todo homem é criatura à sua imagem. Torna-se apropriado, portanto, avaliar toda ação
pastoral questionando-se se está a serviço da inclusão participativa de Deus na vida da
humanidade.
Vencer a exclusão não é apenas um desafio técnico; é um imperativo ético, moral e
espiritual. Não depende só de mudanças no comportamento individual, por mais importantes e
indispensáveis que sejam. São necessárias decisões e políticas públicas em âmbito nacional e
internacional. Superar a exclusão é um desafio para cada pessoa e para todos os grupos e
entidades. Na raiz das transformações encontram-se os profundos valores humanos e
evangélicos tão importantes como a indignação diante da injustiça e da miséria, o
inconformismo que não teme ir à contramão das ideologias predominantes, afirmando a
justiça, a compaixão, a reciprocidade e a solidariedade.214
8.3. Mais desafios para a evangelização nos grandes centros urbanos
O individualismo crescente é um grande desafio à fé. Para superá-lo a religião, a Igreja
age nas cidades, na sociedade e nas pessoas, buscando superar esta crise que afeta a vida da
humanidade e, conseqüentemente, o projeto de Deus.
Enquanto criatura, o homem experimenta muitas inquietações, sente-se ilimitado nos
seus desejos. Com efeito, no próprio homem muitos elementos lutam entre si. O homem
atraído por muitas solicitações, é ao mesmo tempo obrigado a escolher entre elas renunciando
a algumas. Pior ainda: enfermo e pecador, não raro faz o que não quer, não fazendo o que
214 CNBB. Evangelização e missão profética. (Documentos da CNBB n. 80). p. 85.
118
desejaria. O homem sofre uma divisão em si mesmo, da qual se originam tanta e tamanhas
discórdias na sociedade. Muitos homens, pelo materialismo tentam encontrar respostas nas
propostas que o mundo lhes oferece. Outros esperam uma verdadeira e plena libertação
somente pelo esforço humano. Estão persuadidos de que o futuro reino do homem sobre a
terra haverá de satisfazer todos os desejos do seu coração. Diante da evolução do mundo
atual, muitas são as indagações feitas: O que é o homem? Qual o significado da dor, do
sofrimento, da morte? Para que aquelas vitórias adquiridas com tanto custo?215
Ser libertados da miséria, encontrar com mais segurança a subsistência, a saúde, um
emprego estável, ter maior participação nas responsabilidades, excluindo qualquer opressão e
situação que ofendam a sua dignidade de homens; ter maior instrução; numa palavra, realizar,
conhecer e possuir mais, para ser mais: tal é a inspiração dos homens hoje, quando um grande
número está condenado a viver em condições que tornam ilusório este legítimo desejo.216
Pode-se observar na encíclica Populorum Progressio a preocupação do Sumo
Pontífice em evangelizar todas as criaturas nas realidades onde vivem em perspectiva de
“Nova terra e novo céu” (Is 65, 17-21; Ap 21,1). Nesta Encíclica, ele faz apelos insistentes a
uma ação organizada para o desenvolvimento integral do homem e da solidariedade entre os
povos.
As cidades pós-modernas são particularmente sensíveis à autonomia do homem e,
conseqüentemente, ao direito e ao dever, de assumir a vida e a história. De qualquer forma,
não é mais a sociedade que lhes impõe uma única visão de mundo. O indivíduo tem que
construir sua identidade, fazendo escolhas, valorizando experiências, ligando-se a grupos ou
comunidades caracterizadas por uma visão de mundo, por uma tradição e por uma cultura.
A cidade tem poder de atrair pessoas de todos os lugares. Os grandes centros ou os
multi centros das metrópoles, as torres, periferias, distritos industriais, ruas, avenidas e vias
215 COMPÊNDIO DO VATICANO II. Gaudium et epes 10. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 216 PAULO VI. Populorum Progressio 6. Documento de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.
119
expressas recobrem o solo urbano. São Paulo atrai pessoas das cidades e do campo. “As
incontáveis luzes fascinam pessoas de todas as idades”.217
A cidade que consegue atrair as pessoas, mas não proporciona o relacionamento
fraterno entre elas. No seio da sociedade industrial, a urbanização transforma os modos de
viver e as estruturas habituais da existência: a família, vizinhança e os próprios moldes da
comunidade cristã. O homem experimenta, assim, uma nova forma de solidão, não já frente a
uma natureza hostil, que ele levou séculos a dominar, mas no meio da multidão anônima que
o rodeia e onde ele se sente como um estranho.218
Construir a cidade, lugar de existência dos homens e das suas comunidades
ampliadas, criar novos modos de vizinhança e de relações, descortinar uma
aplicação original da justiça social, assumir, enfim, o encargo deste futuro
coletivo que se preanuncia difícil, é uma tarefa em que os cristãos devem
participar.219
8.4. O Evangelho deve penetrar nos centros de decisão
Há necessidade de fazer com que a força do Evangelho penetre até o centro de
decisão, “às fontes inspiradoras e aos modelos de vida social e política” (EN 19). A partir da
pessoa chamada à comunhão com Deus e com os homens, o Evangelho deve penetrar em seu
coração, em suas experiências e modelos de vida, em sua cultura e ambientes, para fazer uma
humanidade nova com homens novos e caminharem todos na direção de uma maneira de ser,
julgar, viver e conviver. Este é um serviço que a todos nos obriga.220
217 PAULY, E. L. Cidadania e pastoral urbana. São Leopoldo: Sinodal, 1995. p. 160. 218 PAULO VI. Octogésima Adveniens 10. Documentos de Paulo VI. Paulus, 1997. 219 PAULO VI. Octogésima Adveniens 12. 220 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 345 e 350.
120
A Igreja pode contribuir eficazmente na transformação da sociedade, com uma maior
presença de leigos cristãos qualificados que, pela sua educação familiar, escolar e
comunitária, promovam os valores como a verdade, a honestidade, a laboriosidade e o serviço
ao bem comum. Para conseguir este objetivo, bem como para iluminar todos os homens de
boa vontade, desejosos de acabar com todos os males derivados da corrupção, é preciso
difundir em larga escala os ensinamentos de Jesus Cristo e os ensinamentos da Igreja contidos
nos documentos do magistério. Os cristãos assim formados contribuirão significativamente
para a solução dos problemas da cidade, esforçando-se por levar à prática os ensinamentos
evangélicos em todos os aspectos que afetam a vida, influenciando aqueles que a
governam.221
A política partidarista é o campo próprio dos leigos (GS 43). Corresponde à sua
constituição leiga constituir e organizar partidos políticos, com ideologia e estratégia
adequada para alcançar seus legítimos fins.222 A América necessita de cristãos em grau de
assumir cargos de dirigentes na sociedade. É urgente formar homens e mulheres capazes de
influir, segundo a própria vocação, na vida pública, orientando-a para o bem comum. No
exercício da política, considerada no seu sentido mais nobre e autêntico de administração do
bem comum, aqueles podem encontrar o caminho da própria santificação.223
A Igreja deve favorecer o amadurecimento da fé e oferecer ao leigo uma
espiritualidade que seja capaz de dar ao mundo cristãos com vocação para a
santidade, sólidos na fé, seguros na doutrina proposta pelo magistério
autêntico, firmes e ativos na Igreja, fundados numa densa vida espiritual
[ ... ] perseverantes no testemunho e ação evangélicos, coerentes e
denotados em seus compromissos temporais, constantes promotores da paz e
221 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 60. 222 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 524. 223 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 44.
121
de justiça contra toda violência e opressão, penetrantes no discernimento
crítico das situações e ideologias à luz dos ensinamentos sociais da Igreja,
confiados na esperança do Senhor.224
O estado de direito é a condição necessária para estabelecer uma autêntica democracia.
Com efeito, não há democracia autêntica e estável sem justiça social. Por isso, é necessário
que a Igreja dê maior atenção na formação das consciências, prepare os dirigentes sociais para
a vida pública em todos os níveis, promova a educação cívica, a observância da lei e dos
direitos humanos e dedique um maior esforço para a formação ética da classe política.225
8.5. Reflexões bíblíco-teológicas sobre a evangelização na cidade
Nos primeiros séculos de sua existência, a Igreja “havia erigido estruturas
essencialmente urbanas”.226 A Igreja nasceu e viveu nas cidades. Então, pode-se perguntar:
Por que ainda é tão rural? Por que não evoluiu na sua dinâmica para trabalhar com as
sociedades urbanas? Não fez ela parte da vida da sociedade? Foi sempre uma instituição à
parte? Faltam conhecimentos para lidar com a cultura urbana?
A presença da Igreja nas cidades requer uma mudança do agir rural para um agir
verdadeiramente urbano. A Igreja precisa adaptar-se ao novo estilo de vida dos tempos
modernos presentes nas metrópoles. A Igreja tem que traçar caminhos e critérios baseados na
experiência e na imaginação.227
Para evangelizar as cidades pós-modernas é necessário existir originalidade e uma
ação planejada para as novas realidades urbanas. Uma autêntica ação evangelizadora na
224 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 799. 225 JOÃO PAULO II. Ecclesia in America 56. 226 COMBLIN, J. Teologia da Cidade. Paulinas: São Paulo, 1991. p 14. 227 CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA 441.
122
cidade exige formação integral e permanente de seus membros. A falta de participação mais
ativa dos leigos na sociedade e no governo da cidade se dá pela falta de formação mais
profunda e contínua sobre a Palavra de Deus, o Magistério da Igreja, a Doutrina Social da
Igreja e sobre a interiorização da fé.228
Os desafios da modernidade e do secularismo exigem que os agentes de pastoral:
leigos(as), religiosos(as), padres e bispos sejam abertos, competentes e qualificados para
trabalhar na cidade. Para não se fechar em si mesma, a Igreja tem que investir e valorizar os
diversos ministérios, tanto nas suas ações internas quanto nas ações externas, para melhor
entender o homem urbano, dialogar com a sociedade, participar e interferir na organização da
vida na cidade, para que seja mais humana, fraterna e justa. 229
Para que os projetos missionários, as pastorais, as associações de fiéis, os movimentos
de apostolado leigos e toda estrutura organizacional da Igreja estejam cada vez mais
comprometidos com a cidade, avançando no anúncio da Boa Nova, parece recomendável que
a linguagem e os símbolos da cultura urbana sejam incorporados aos valores autênticos do
Evangelho.
Tendo em vista a pastoral urbana, uma questão maior se situa em termos de
se saber quem são os sujeitos construtores da sociedade, os protagonistas
ativos nas diversas esferas do social, as alianças necessárias, o denominador
comum de interesses que somam mais forças. E, por outra parte, a que
eticamente deve ser dirigido o desempenho e as políticas públicas, a quem se
deve dar prioridade nas atividades considerando os recursos humanos e
materiais e emergenciais.230
228 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. Cittá del Vaticano: Librería Editrice Vaticana, 1985. p. 127. 229 CNBB. Diretrizes Gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998. (Documentos da CNBB n.54.)140. 230 WANDERLEY, L. E. W. A presença da Igreja na cidade. p. 56.
123
8.6. Comunidades Eclesiais de Base É grande a contribuição das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) no processo
evangelizador do Brasil nas últimas décadas. Destacam-se entre essas contribuições a
descoberta de novas formas de evangelização que se complementam às já existentes; uma
consciência mais explicita do que significam os sacramentos para o cristão e a comunidade; a
criação de comunidades que refletem os acontecimentos da igreja universal nessa determinada
Igreja particular; a presença da Igreja na luta pela justiça social; a inculturação, o pluralismo
cultural e seus desdobramentos na evangelização; uma compreensão mais ampla e profunda
do que seja espiritualidade; o desenvolvimento da vida e da consciência comunitária; o papel
dos leigos e a participação das mulheres na vida da Igreja231; o reconhecimento da dignidade e
dos direitos das etnias oprimidas; uma leitura da Bíblia onde exegese e teologia sirvam ao
encontro vivo e familiar com a Palavra232; a presença da Igreja junto aos pobres; a co-
responsabilidade na Igreja; os ministérios leigos; o desenvolvimento do espírito crítico na
Igreja e na sociedade233; as relações entre Reino de Deus e Igreja, entre Reino de Deus e
história do povo brasileiro; a questão ecológica.
Trata-se de grupos de cristãos, em nível familiar ou de ambientes restritos,
que se encontram para a oração, para a leitura da Sagrada Escritura, a
catequese, para a partilha dos problemas humanos e eclesiais em vista de um
compromisso comum. Elas são um sinal da vitalidade da Igreja, instrumento
231 PINHEIRO, J. E. Evolução do Apostolado Leigo no Brasil a partir do Concílio Vaticano II. In: CNBB. Leigos e participação na Igreja: Reflexão sobre a caminhada da Igreja no Brasil (Estudos da CNBB n. 45). São Paulo: Paulinas, 1986. p. 79. 232 MESTERS, C. Círculos Bíblicos. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 72. 233 cf. GUIMARÃES, A. R. Comunidades de base no Brasil: uma nova maneira de ser Igreja. Petrópolis: Vozes, 1978. p. 196-215.
124
de formação e evangelização, um ponto de partida válido para uma nova
sociedade, fundada na “civilização do amor”.234
Essas afirmações ajudam a compreender e incentivar a formação de Comunidades
Eclesiais de Base nos grandes centros urbanos. As CEBs são uma resposta para os desafios
urbanos. A organização das pessoas em comunidades que rezam, discutem os problemas
como a violência, a falta da creche, a escola sem professores, a rua que não tem asfalto, entre
outros temas, são meios de enfrentar as dificuldades de viver na cidade, principalmente da
cidade periférica, esquecida ou ignorada pela administração pública.
As CEBs são um meio de viver a fé nas megalópoles. As Comunidades Eclesiais de
Base fazem a sintonia da fé com a vida, movidas pelo Espírito Santo. Os problemas do bairro,
das pessoas, os problemas daquela parte da cidade são temas da oração, da reza e da ação. Um
jeito novo de transmitir a fé, uma leitura da Sagrada Escritura a partir da realidade do jovem,
do desempregado, da mulher, do negro, dos marginalizados, dos idosos, dos excluídos da
sociedade são importantes na construção de valores e conquista de dignidade de vida. “As
CEBs constituem lugar de conscientização do pobre da periferia numa reflexão sobre os
problemas da sua vida à luz do Evangelho, para tomar decisões que levam à ação”.235
A Arquidiocese de São Paulo forma um número de 428 Comunidades Eclesiais de
Base espalhadas pelas seis regiões episcopais, sendo: 141 na Região Belém, 140 na Região
Brasilândia, 50 na Região Ipiranga, 30 na Região Lapa, 47 na Região Santana e 20 na Região
Sé. É nas CEBs que os ministérios leigos são mais valorizados. Um dos motivos é a
dificuldade do padre ou religiosa ser presença constante em todas as CEBs. A Arquidiocese
de São Paulo possui paróquias com até dezesseis Comunidades Eclesiais de Base, como é o
caso da Paróquia São Mateus Apóstolo, na Região Episcopal Belém. Nessas Comunidades, os
234 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 51. 235 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana.(Estudos da CNBB n. 22). 31.
125
leigos – e em maior número as leigas – pela dinâmica do serviço, exercem a função de
presidir a Celebração da Palavra, de ministrar os Sacramentos do Matrimônio e do Batismo.
Pela “ignorância” dos fiéis, ainda se ouve: “Eu gostei muito da ´missa` daquela mulher”. O
grande número de comunidades em um território paroquial e a escassez de sacerdotes
impossibilita a Celebração Eucarística em todas as Comunidades todos os domingos. Há
Comunidades Eclesiais de Base que têm Missa somente um domingo por mês. Para alimentar
a fé dos fiéis, leigos e leigas e religiosas presidem a Celebração da Palavra nos outros
domingos do mês. Por isso, é preciso sempre valorizar a formação dos leigos e leigas, dar-lhes
o devido e merecido preparo para continuar a obra de Cristo e manter a fé sempre viva e
atuante. Inculturar a liturgia e a linguagem pastoral é uma tarefa constante para os agentes de
pastoral que querem se inserir nas comunidades e fomentar a experiência de Deus
misericordioso em suas vidas. As CEBs buscam a integração entre fé e vida, ética e mística,
acentuando a participação sócio-política como exigência intrínseca da fé. No plano da liturgia,
celebram ou tentam celebrar o mistério pascal e a vida da comunidade e das pessoas. Talvez
seja mais correto falar em celebrações onde se faz a inserção da vida, com seus eventos
corriqueiros ou extraordinários, no mistério pascal de Cristo.236
Devido à pobreza dos moradores dos bairros periféricos, onde geralmente estão as
CEBs, encontra-se muitas dificuldades na construção do espaço para a missa ou Celebração
da Palavra. Muitos desses bairros são ocupações clandestinas, são loteamentos feitos por
alguém que se diz dono, demarca o terreno e vende. Nesta situação, não há nenhuma
segurança quanto à escritura; as pessoas tornam-se donas e nunca proprietárias. Pela
“clandestinidade” do loteamento, há morosidade na implantação dos serviços básicos de água,
esgoto, luz, asfalto, que só são garantidos em épocas de eleição, quando candidatos
oportunistas “lembram” daquela população, aliás, daqueles eleitores.
236 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório para missas com grupos populares. (Documentos da CNBB n. 11) 2-3. São Paulo: Paulinas, 1977.
126
Algumas Paróquias já constituídas e relativamente bem localizadas dão uma “ajuda”
para aquelas comunidades da periferia que escolheram. Com muita doação da comunidade
local e a doação em dinheiro de outras Paróquias, muitas vezes o espaço comunitário
lentamente é construído. As crianças podem ser reunidas para a catequese, os pais têm lugar
para batizar seus filhos, têm espaço para a festa. O terreno onde é construído o centro
comunitário ou a igreja nestes bairros clandestinos está na mesma situação de todos os
moradores, na ilegalidade. A Igreja ocupa o espaço que é comprado de vendedores que não
são donos, logo, também a Mitra não será a proprietária, será somente a dona do terreno e da
construção. Na Região Episcopal Belém, esta situação acontece em algumas comunidades,
entre as quais citamos: Nossa Senhora das Flores (Paróquia Santo André Apostolo),
Comunidade Santa Edwirges e Nossa Senhora do Carmo (Paróquia São Miguel).237
O conceito de ajuda financeira das Paróquias mais favorecidas para com as
comunidades das periferias poderia ser encarado como investimento. A anúncio da mensagem
do Evangelho se faz através da partilha de recursos também. A Rádio 9 de Julho diz “quem
contribui para a pregação do Evangelho tem merecimento de pregador”. Várias Paróquias na
Arquidiocese de São Paulo colaboram com o anúncio de Jesus Cristo e sua mensagem através
de investimentos, contribuições financeiras que possibilitam a construção de centros
comunitários e igrejas para que as pessoas desses bairros possam se reunir, receber os
ensinamentos bíblicos e doutrinais e celebrar a vida.
Essas atitudes enriquecem grandemente sacerdotes, religiosos(as) e leigos(as). É
importante aprofundar a reflexão teológica e pastoral sobre a solidariedade com as
comunidades necessitadas, definir os tipos de ajuda com projetos concretos, escolher, formar
237 CONSELHO REGIONAL DE ASSUNTOS ECONÔMICOS. Ata da reunião. Região Episcopal Belém. 14 de julho de 2003.
127
e acompanhar os agentes evangelizadores. É necessário abrir-se à reciprocidade na ajuda
fraterna.238
A construção de uma Igreja representa para os moradores de um bairro clandestino
uma certa segurança, uma certa proteção de permanência no local. Imaginam que a Prefeitura
terá mais dificuldades em destruir as casas porque no meio delas está a “casa de Deus”, a
capelinha, ou em outros lugares, a igreja. Ultimamente, as Comunidades Eclesiais de Base
que têm surgido na cidade estão localizadas nestes bairros de ocupação clandestina. São
comunidades pequenas que, aos poucos, vão ganhando força, reunindo pessoas, promovendo
a catequese, celebrações e batizados. A luta pelos direitos básicos à vida urbana é sempre
tema presente nas orações e ações da comunidade presente.
Nas CEBs, os pobres e oprimidos vão criando uma nova linguagem, uma nova
simbologia, novos cantos e orações, nova maneira de ler a Bíblia ou de refletir sobre a fé:
criam novos ministérios, novos serviços e novas formas de compromisso na comunidade. Isto
não se dá certamente em um dia, pois no início o povo repete somente aquilo que escutou,
mas se a participação criativa se mantiver por anos, então o povo começa a criar a partir da
sua realidade cultural.239
As CEBs significam a construção de uma Igreja viva, mais do que a multiplicação de
estruturas materiais, onde cresce a experiência de novas relações interpessoais na fé, o
aprofundamento da Palavra de Deus, a participação na Eucaristia, a comunhão com os
pastores da Igreja particular e o maior compromisso com a justiça. Sem dúvida, o surgimento
das CEBs ajudou a Igreja a descobrir o potencial evangelizador dos pobres. De forma especial
nas Comunidades Eclesiais de Base, os leigos(as) são convocados a participar de forma
238 CNBB. Comunhão e missão na evangelização dos povos, no mundo do trabalho, da política e da cultura. (Documentos da CNBB n. 40) 125. 239 RICHARD, P. Evangelização da Cultura. In. SUESS, P. (org.). Culturas e Evangelização. São Paulo: Loyola, 1991. p. 228.
128
solidária nos movimentos e organizações populares.240 As necessidades fazem a Igreja dar
continuidade ao profetismo social, fomentando as pastorais sociais nas paróquias e
comunidades.
240 COSTA, A. A. Os ministérios leigos: contribuição histórico-teológica na formação e acompanhamento dos ministérios leigos. Santa Maria: Biblos, 2003. p. 179.
129
III. CAPÍTULO: ELABORAÇÃO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO DO 8º PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO
A missão da Igreja de São Paulo é fazer com que o único objetivo do Evangelho
continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade eclesial. Sendo
assim, não se trata de inventar um “novo programa”. O programa já existe: é o mesmo desde
sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no
próprio Cristo, que devemos conhecer, amar e imitar para viver a vida trinitária e com ele
transformar a história alcançando a plenitude da Jerusalém celeste. È um programa que não
muda com a evolução dos tempos e mudanças culturais, embora se levem em conta o tempo e
cultura para o diálogo verdadeiro e uma comunicação eficaz.241
Preocupada em garantir o cumprimento da missão da Igreja a Arquidiocese de São
Paulo realizou continuamente o processo de elaboração do 8º Plano de Pastoral. No Encontro
Arquidiocesano realizado no dia 05 de agosto de 2000, no Colégio Marillac com as equipes
de coordenação de setor, vicariatos, pastorais, associações e movimentos. O Pe. Júlio
Lancellotti, convidado para assessorar o encontro, expressou sua visão da conjuntura social,
política e econômica da cidade. A grande pergunta era “como ser Igreja no novo milênio?”, a
qual ele considerou que inicialmente se devia perguntar “onde ser igreja no novo milênio?”.
Questão à qual ele respondeu: “é na cidade, pois não somos Igreja para nós mesmos. A Igreja
está na cidade, nos seus serviços, nas suas lágrimas, nos seus desafios. São Paulo é uma
cidade moderna, em transformação, que se prepara para as eleições, que busca nova
correlação de forças na administração”.242
241 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 29. 242 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000.
130
O assessor colocou à assembléia vários questionamentos sobre a cidade e seus desafios
pastorais. Lembrou a situação das delegacias abarrotadas, do grande número de
desempregados na cidade, a situação da juventude, o problema das drogas. Questionou sobre
a presença da igreja, das comunidades, na luta por moradia digna.
Estamos vivendo um pasmo pastoral, que a alguns tem causado muita dor.
Outros nem o percebem, e há os que se alegram com ele. As Paróquias não
se bastam a si mesmas. Evangelizar é sentir a caminhada com todos os que
sofrem [...] Qual o espaço que a Igreja ocupa na cidade? Como
evangelizadores, precisamos ter sagacidade, inteligência e coragem para
enfrentar os grandes problemas da cidade, para que Sodoma, Gomorra e
Nínive não se levantem contra nós. A nova cidade que nós queremos
construir, não sozinhos, mas com o povo, que espera de nós uma resposta. A
cidade nos chama, pede de nós que sejamos crucificados, para sermos
ressuscitados. 243
A cidade não pode, pois, ser concebida como uma forma que se produz simplesmente
pela contigüidade das moradias ou pelo simples adensamento populacional; ela é, antes de
qualquer coisa, um tipo de associação entre as pessoas, associação esta que é uma forma física
e um conteúdo.244
O encontro do dia 05 de agosto também contou com a assessoria do Mons. Sérgio
Conrado do secretariado Arquidiocesano de Pastoral, que expressou sua visão sobre a ação da
igreja na cidade dizendo: “Não há dúvida de que a Igreja em São Paulo, através das
Comunidades, Pastorais, Associações, Organismos e outros seguimentos, bem como sua
globalidade e por seus responsáveis maiores, tem buscado evangelizar a cidade. Não é uma
243 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 244 GOMES, P. C. da C. A condição urbana. p. 19.
131
Igreja estática, inerte. A Igreja de São Paulo dá respostas a muitos desafios e continua
oferecendo seus serviços para o bem de toda a população”. Ele também comentou o processo
de transição da Igreja de São Paulo, a mudança de Arcebispo, a saída gradativa dos Bispos
auxiliares e nomeação de outros, as Regiões Episcopais sob a jurisdição de Vigários
Episcopais e a centralização administrativa da Mitra Arquidiocesana. Mudanças na estrutura
que aconteciam para intensificar ainda mais o objetivo primordial da Igreja que é evangelizar,
ser fiel ao plano de Deus, ir ao encontro do ser humano em sua situação concreta, procurando
encarnar o Evangelho na cidade. “Isto nós continuaremos a fazer”, disse o Mons. Sérgio
Conrado que também afirmou que o sentimento era de falta de um modo mais global na ação,
que era necessário uma rede de relações que aglutinassem as forças vivas da igreja. A
expectativa de mudança e a vivência das novas estruturas naquele momento implantadas pelo
novo Arcebispo, D. Cláudio Hummes, deixavam a todos perplexos, o que na visão do
assessor, Mons. Sérgio Conrado, era natural.
Mas essa situação, de alguma forma, está atingindo a ação evangelizadora
eclesial, senão no âmbito das paróquias e comunidades, certamente na
Arquidiocese como um todo, propiciando uma certa inércia com
justificativas nem sempre à luz da fé [...] A urgência da evangelização, hoje,
vem ao encontro de nossa situação arquidiocesana e, mais do que em outras
épocas, nos vemos absorvidos e solicitados pela complexidade de novos
contextos.245
Aquele encontro que contava com mais de 200 participantes também ouviu D. Gil
Antonio Moreira, bispo auxiliar para a Arquidiocese de São Paulo, que afirmou que as
colocações feitas por Mons. Júlio Lancellotti e por Mons Sérgio Conrado abordavam
245 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000.
132
problemas sérios e situações negativas que preocupavam a todos. “Essa abordagem realista
revela, por outro lado, a maturidade dos membros presentes a esta assembléia”. Ele disse
ainda que a situação social e eclesial deveria servir como estímulo para a busca da realização
da obra que não é nossa, não é do arcebispo, mas sim de Jesus Cristo. Também convidou a
assembléia à unidade: “Sem unidade não há Igreja. Os problemas da cidade são sérios e
sempre crescentes [...] Somos chamados para dar frutos e não apenas para analisar
problemas”.246
Naquele mesmo encontro decidiu-se elaborar um Plano de Pastoral para Arquidiocese
de São Paulo, levando em conta o Projeto da CNBB: “Ser Igreja no novo Milênio”. A
Coordenação Arquidiocesana de Pastoral faria os devidos encaminhamentos para elaboração
desse Plano. Mons. Sérgio Conrado definiu como Plano de Pastoral: “Instrumento que
promove a integração da Arquidiocese, delineia o seu rosto e se concretiza nas Regiões”,
disse ainda que era “necessário a unidade da Arquidiocese, sobretudo considerando que está
difícil unir as forças dentro da Igreja. O esforço pela unidade deve começar nas Paróquias. É
sempre preciso quebrar o orgulho e a vaidade”.
Plano é o registro das decisões tomadas pelo grupo que esteve
envolvido no processo de planejamento. Planejamento é um processo
de tomada de decisões. Processo significa uma série de ações, de
reuniões, discussões, reflexões e decisões envolvendo todos os
participantes do grupo, do setor ou do serviço que se planeja. È pensar
antes, durante e depois da ação.247
246 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 247 ORFANO, G. Técnicas de planejamento pastoral. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 23.
133
Diversas pessoas se manifestaram no momento da Palavra livre, algumas expressaram
o descontentamento com a ausência de D. Cláudio Hummes dizendo que a Arquidiocese não
estava completa e isto era desanimador.
O ano de 2000 era o Ano do Jubileu, por isso diversas categorias tiveram seus
momentos específicos de encontros e celebrações para comemorar os dois mil anos do
nascimento de Jesus. Os encarcerados foi um destes grupos: D. Paulo Evaristo Arns, D.
Cláudio Hummes, D. Gil Antonio Moreira, Mons. Walter Caldeira estiveram no Carandirú,
Penitência Feminina, Penitenciária do Estado, Casa de Detenção das Mulheres para ouvi-los e
celebrar com eles e elas a esperança. Os jovens da Arquidiocese de São Paulo também
tiveram o seu momento de celebração no Ginásio do Corinthians, com muitos outros jovens
da Província Eclesiástica de São Paulo no dia 20 de agosto.248
O ano 2000, ano do Jubileu, também foi marcado pelo Plebiscito da Dívida Externa.
“... era precisamente o tempo em que a comunidade se comprometia em restaurar a justiça e a
solidariedade nas relações entre as pessoas, inclusive restituindo-lhes os bens dos quais
tinham sido privadas”.249
Várias Organizações Não Governamentais, Igrejas, Partidos Políticos realizaram, de
02 a 07 de setembro, em todo o Brasil, uma consulta popular sobre o pagamento ou não da
dívida externa e sobre a necessidade de uma auditoria pública com relação a esta mesma
dívida. O número de pessoas que compareceu às urnas para dar a sua opinião foi grande. No
Brasil 5.287.267 pessoas disseram que o País não deveria continuar pagando a dívida externa
sem realizar uma auditoria pública desta dívida, como previsto na Constituição de 1988. A
participação da Arquidiocese foi bastante grande na divulgação e organização do Plebiscito. A
248 cf. SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 05 de agosto de 2000. 249 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 14.
134
manifestação popular mostrou um Brasil cidadão e comprovou a capacidade de articulação
dos grupos envolvidos.250
1. Elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo
O 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo foi elaborado com a participação
da Comunidade, Paróquias, Setores, Pastorais, Associações, Movimentos e Vicariatos que se
dispuseram a responder as perguntas elaboradas pelo Secretariado, com a colaboração da
Coordenação Arquidiocesana de Pastoral. Inicialmente foi elaborado o Instrumento de
Trabalho n.1 com diversas perguntas sobre a ação da igreja, orientadas pelas quatro
exigências evangélicas para a evangelização das Diretrizes da CNBB: Testemunho
Comunitário “A vida comunitária, alimentada pela Palavra e pelos Sacramentos, que ser
testemunho para ‘que o mundo creia’” (PRNM n. 110); Diálogo “A Igreja dialoga com o
mundo, com as diferentes culturas e religiões, com as outras Igreja cristãs, e incentiva o
diálogo em suas próprias comunidades” (PRNM n. 138); Anúncio “O esforço missionário tem
como objetivo principal a aproximação dos que estão afastados da fé e das práticas
comunitárias” (PRNM n. 146) e Serviço “A ação sócio-transformadora está direcionada a toda
a sociedade, com atenção prioritária ao mais pobres” (PRNM n. 134).251
O levantamento feito pelo Secretariado de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo à
partir do Instrumento n. 1 que continha seis páginas, incluindo a proposta de calendário para
2001, resultou no Instrumento de Trabalho n. 2, com vinte e seis páginas, cotando com quatro
páginas de proposta de calendário para 2001. Este documento é a síntese do levantamento
realizado pelas equipes já mencionadas. Foi este o instrumento de trabalho das 230 pessoas
250 JORNAL O SÃO PAULO. Plebiscito sobre a Dívida Externa revela um Brasil cidadão. 20 de setembro de 2000. p. 11. 251 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Instrumento de Trabalho n. 1 da CAP. 17 de agosto de 2000.
135
que participaram da Assembléia Arquidiocesana realizada no Colégio Marillac no dia 21 de
outubro de 2000 quando foi elaborado o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo
para os anos de 2001-2002. Este Instrumento de Trabalho foi uma forma de levar as
preocupações da Igreja com a cidade e a sua missão de evangelizá-la até as mais diversas
comunidades católicas da Arquidiocese. “A pastoral urbana exige a participação efetiva do
povo na tomada de decisões relativas à própria ação pastoral, de modo que o planejamento
não seja execução de diretrizes vindas de cima e de fora da comunidade cristã, mas
coordenação do esforço conjunto de todos”.252
De agosto, dia 05, quando foi decidido em Assembléia pela elaboração do 8º Plano até
21 de outubro, quando foi aprovado em Assembléia o novo texto do objetivo do Plano, houve
reuniões da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral onde o novo Plano era assunto principal.
Houve uma reunião extraordinária da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral (CAP)
com D. Cláudio Hummes, onde este manifestou seu desejo de um objetivo mais abrangente
para o Plano, pois “há forças vivas da Igreja e da sociedade que não se sentem convocadas.
Realizam grandes trabalhos, mas não se sentem incluídas”.253 Nesta mesma reunião o
arcebispo sugeriu que a Assembléia já marcada para elaboração do Plano fosse somente o
início de sua elaboração e, só defini-lo meio ano depois. Mons. Sérgio Conrado concluiu e
destacou o grande anseio da Assembléia realizada no dia 05 de agosto de “termos algo que
aglutine as forças da Arquidiocese. É preciso descobrir novas atividades, segundo as
necessidades; é preciso aproveitar os frutos do jubileu”.254
No dia 21 de outubro foi aprovado pelos presentes na Assembléia Arquidiocesana o 8º
Plano de Pastoral para a Arquidiocese de São Paulo com duração de dois anos coincidindo
com o término do Projeto “Ser Igreja no Novo Milênio” da CNBB e das Diretrizes Gerais da
252 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 35. 253 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 01 de setembro de 2000. 254 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 01 de setembro de 2000.
136
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Antes da aprovação, houve várias intervenções,
dentre as quais destaca-se a colocação de D. Cláudio Hummes: “Eu não quero ser bispo de um
lado só desta Arquidiocese”255, e sugeriu que ao se afirmar a necessidade da renovação das
comunidades, se ficasse explicito, no texto do Objetivo do Plano, como concretizá-la seja pela
catequese, pela ação missionária, pela pastoral sacramental, pela liturgia, afirmando que desta
forma toda a igreja se sentiria motivada a trabalhar e afirmou que “O compromisso social é
fundamental para a Igreja de São Paulo, mas a realidade interna da Igreja tem que ser
trabalhada, porque temos que dar razões de nosso serviço no campo social”.256
È nas Igrejas locais que se pode estabelecer as linhas pragmáticas concretas
– objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização de agentes, busca
dos meios necessários – que permitam levar o anúncio de Cristo às pessoas,
plasmar as comunidades, permear em profundidade a sociedade e a cultura
por meio do testemunho dos valores evangélicos.257
A Assembléia Arquidiocesana é uma forma de participação conjunta de leigos e da
hierarquia nas decisões da Igreja, para tornar palpável a proposta de co-responsabilidade do
Povo de Deus. A Assembléia Arquidiocesana é um organismo de decisão que ilumina e anima
a caminhada evangelizadora da Igreja em São Paulo. As pessoas presentes nesta Assembléia
foram divididas em grupos para estudar o Instrumento de Trabalho n. 2, reformulando,
excluindo, acrescentando propostas. O resultado dos trabalhos em grupo, levado depois para o
plenário sofreu novas discussões, intervenções e enfim, houve votação.
A formulação do Objetivo Geral foi bastante discutida e “decidiu-se por indicar ações
que explicitassem a necessidade da renovação das comunidades e pela manutenção das
255 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 21 de outubro de 2000. 256 SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL. Ata da CAP. 26 de setembro de 2000. 257 JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte 29.
137
prioridades: trabalho, moradia, saúde e educação, que caracterizaram o propósito de dar
respostas aos clamores do povo. No centro do Objetivo, figura o anúncio e o testemunho de
Jesus Cristo e sua mensagem”.258
A Arquidiocese de São Paulo traçou o 8º Plano de Pastoral o Objetivo da Ação
Pastoral da Igreja de São Paulo para os anos de 2001-2002, coincidindo com o término do
projeto da CNBB “Ser Igreja no novo milênio”. Após questionamentos, sugestões, correções e
alterações, as prioridades pastorais permanecem e a assembléia compõe o objetivo do Plano:
Evangelizar a cidade de São Paulo, através da Pastoral Urbana, renovando a
vida das Comunidades Eclesiais, anunciando e testemunhando Jesus Cristo,
com ardor missionário, ouvindo e respondendo, com uma ação solidária e
transformadora, aos clamores do povo, especialmente dos marginalizados e
dos excluídos do mundo do trabalho, da saúde, da moradia e da educação.259
Para o Monsenhor Sérgio Conrado o 8º Plano tem características da pós-modernidade
e “é um texto que procura, antes de mais nada, mostrar a situação da Igreja na cidade [...] e
faz com que a religião ultrapasse os limites das paróquias [...] pois, não há um atendimento
espiritual localizado à pessoa, que tem muito mais liberdade em girar pela cidade”.260
258 JORNAL O SÃO PAULO. Arquidiocese de São Paulo já tem seu Plano Pastoral para o biênio 2001-2002. 25 de outubro de 2000. p. 12. 259 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo. São Paulo: Loyola, 2001. p. 39. 260 CONRADO, S. Entrevista com o secretário arquidiocesano de pastoral de 2000. Apêndice III Entrevista 1. 09 de junho de 2005. p. 228.
138
2. Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo
A Pesquisa sobre a Ação Evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo (PAESP),
nasceu da necessidade de mensurar a ação da Arquidiocese de São Paulo na evangelização da
cidade de São Paulo.
A Arquidiocese de São Paulo está inserida na estrutura organizacional da Igreja
Católica Apostólica Romana, sua missão está em parte da cidade de São Paulo que conta com
população aproximada de 10.435.546 habitantes e em uma base territorial de 1.522,99
quilômetros quadrados, excetuando as regiões que compõem as dioceses de Santo Amaro,
Campo Limpo e São Miguel Paulista e pequena parte da cidade que faz parte da Diocese de
Osasco. Extraindo os habitantes e base territorial dessas quatro Dioceses, Santo Amaro, São
Miguel Paulista e Osasco, a Arquidiocese de São Paulo tem sob sua responsabilidade o
pastoreio de 5.717.343 habitantes, dentro de uma área geográfica de 635,55 quilômetros
quadrados,261 sendo que destes 68 % são católicos262, correspondente a 3.887.793 pessoas.
Dentro desta conjuntura e ainda considerando as complexidades decorrentes de uma
metrópole como São Paulo, como transporte, segurança, educação, saúde e condições sociais,
a Pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo se apresenta como
um instrumento fundamental para indicar as dificuldades encontradas pelos agentes de
pastorais da Arquidiocese para evangelizar a cidade, bem como se apresenta como uma
ferramenta para avaliação da atual estrutura organizacional da Arquidiocese, das ações da
Igreja que evangelizam São Paulo, sobre o profetismo da Igreja, solidariedade, renovação das
261 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. 9º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo 2004-2007. Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, 2004. p. 17. 262 JACOB, C. R.; HEES, D. R.; WANIEZ, P.; BRUSTLEIN, V. Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Loyola e PUC, 2003. p. 16.
139
comunidades e principalmente para a produção de informações que possam subsidiar a análise
do alcance e efetividade do Plano de Pastoral da Arquidiocese.
A pesquisa sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo (PAESP)
teve sua concepção dentro dos princípios de originalidade e aplicabilidade.
Originalidade porque não consta na Arquidiocese um estudo que contemple a pesquisa
do conhecimento sobre determinado assunto onde o interlocutor manifesta-se
individualmente, diretamente com o pesquisador. As pesquisas na Arquidiocese de São Paulo
são feitas através de formulários que são enviados aos párocos ou administradores paroquiais
e aos coordenadores de Associações, Movimentos e Pastorais. Estes formulários são
respondidos, de modo geral, sobre o que o grupo decide e não sobre o que cada pessoa pensa.
Aplicabilidade porque fornecerá elementos, informações e indicadores ao corpo de
agentes de pastoral da Arquidiocese de São Paulo para subsidiar decisões e novas ações
evangelizadoras na cidade de São Paulo.
As opções feitas para a construção desta pesquisa, e o relatório de seus primeiros
resultados estão apresentados no texto que se segue. As tabelas e gráficos que foram bastante
utilizados para análise da pesquisa estão anexados no final do trabalho. Em algum momento
se levantam suspeitas sobre a adequação de algumas opções tomadas pelo questionário. Entre
estas aparece se a questão da proporcionalidade da amostra estaria respeitando a diferença
entre o número de setores, de paróquias, em cada uma das seis regiões episcopais e o mesmo
se dá sobre a proporcionalidade de pastorais, associações de fiéis e movimentos de apostolado
leigo na Arquidiocese de São Paulo; ou mesmo se o total da amostra pesquisada seria
suficiente para resultados satisfatórios frente ao quantitativo absoluto de fiéis católicos no
território da cidade de São Paulo que compreende a Arquidiocese de São Paulo. Estas
questões são, entretanto, respondidas satisfatoriamente pelos fundamentos da estatística como
ciência. A PAESP se apresenta como uma fotografia de uma área, em busca de compreender
140
um campo mais amplo. As conclusões a serem tiradas, de modo geral, passam
necessariamente por tais limites. No entanto, as tendências mais significativas foram
utilizadas para verificar a ação da Igreja na Arquidiocese de São Paulo.
Optou-se por fazer primeiro a constatação dos dados e em seguida a análise dos
mesmos seguindo o método científico utilizado pelo Prof. Dr. Pe. Márcio Fabri dos Anjos na
Pesquisa “Novas Gerações e Vida Religiosa” e também utilizado pelo IBGE na “Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 2001 – Síntese de Indicadores” utilizados como
referência e fundamentação de afirmações feitas neste estudo.
Como em todas as pesquisas, de modo geral, será sempre possível explorar
posteriormente aspectos específicos não contemplados nesta análise. As tabelas e os gráficos
em anexo são básicos e poderão ser enriquecidos por outros, na medida em que surgirem as
demandas para obtenção de outros resultados.
Há um amplo horizonte de interrogações que se insere na presente pesquisa. A
PAESP, obviamente, não pretende responder a todas as questões sobre a ação evangelizadora
da Igreja na cidade de São Paulo. Para se tornar viável, a pesquisa se restringe à verificação de
alguns dados apenas, dentro do imenso horizonte da ação da Arquidiocese de São Paulo
através de seus evangelizadores. Uma grande falha na pesquisa, foi não verificar a origem dos
pesquisados, dado importante para contribuir no perfil dos evangelizadores da Arquidiocese
de São Paulo, visto que este trabalho estuda as questões urbanas.
2.l. Objetivo da Pesquisa
A realização desta pesquisa tem como objetivo geral conhecer as dificuldades
encontradas no anúncio do Evangelho na cidade e as ações da Igreja que evangelizam a
141
cidade de São Paulo, visando a adoção de estratégias para anunciar Jesus Cristo, tornando a
Igreja de São Paulo mais missionária.
2.1.1. Objetivos específicos
• Traçar um perfil dos agentes evangelizadores da Arquidiocese a partir da
idade, sexo e conhecimento do Plano de Pastoral.
• Produzir informações para subsidiar medidas preventivas e corretivas nas ações
pastorais nos diversos níveis de organização da Igreja em face da grande área
geográfica da Arquidiocese e do número populacional.
• Identificar as dificuldades que os evangelizadores encontram ao realizar seu
trabalho na cidade de São Paulo: avenidas largas e movimentadas, a falta de
transporte, violência, má iluminação pública com vista, a dialogar com o poder
público e adotar gestões mais efetivas para melhor viver na cidade.
• Iniciar uma base história de concretividade da execução do Plano de Pastoral
da Arquidiocese de São Paulo. A partir desta pesquisa possibilitar a análise,
acompanhamento e avaliação do atual Plano de Pastoral, com pesquisa por
amostra, para ter novos indicadores e novas ações na evangelização da cidade.
2.2. Metodologia da Pesquisa
A metodologia aplicada na pesquisa foi definida pelo conhecimento que o pesquisador
tem da Arquidiocese de São Paulo e das leituras realizadas para esta dissertação: definição das
perguntas, escolha dos grupos, agendamento, treinamento dos pesquisadores, aplicação da
pesquisa, tabulação das respostas, constatação e análise dos dados.
142
2.2.l. Questionário da Pesquisa
O questionário de pesquisa utilizado está dividido em cinco blocos:
• Estrutura organizacional da Arquidiocese de São Paulo, perfil dos
evangelizadores na cidade de São Paulo e centralização econômica na
Cúria Arquidiocesana;
• Estudo de conhecimento, elaboração, atuação e avaliação do 8ª Plano
de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo;
• Ações da Igreja como sinal de que a Arquidiocese de São Paulo está
evangelizando a cidade de São Paulo;
• Indicação das principais dificuldades para evangelizar a cidade de São
Paulo;
• A Igreja de São Paulo nas ações solidárias e transformadoras e nas
ações de renovação das comunidades.
2.2.l.1. Elaboração do questionário
As perguntas foram elaboradas pelo pesquisador depois dos seguintes passos:
• Aplicação de uma pesquisa com perguntas dissertativas em três
Conselhos Paroquiais;
• Reformulação das perguntas e adequação das respostas apresentadas
pelos grupos, ponderação e adequação de termos. Finalmente a
pesquisa constou de quinze perguntas, sendo: quatro de múltipla
escolha, uma dissertativa e dez sim ou não.
143
2.2.l.2. Treinamento dos pesquisadores
O pesquisador treinou doze pessoas que contribuíram na aplicação da pesquisa. Este
treino foi realizado em grupo, primeiramente os colaboradores fizeram o papel de pesquisados
e depois tiveram a oportunidade de aplicar a pesquisa juntamente ao pesquisador.
2.2.l.3. Aplicação da pesquisa
Previamente agendada pelo pesquisador (autor desta dissertação), com o coordenador
do grupo, o pesquisador se apresentava, distribuía caneta e folha com as perguntas para todos
os participantes da reunião, fazia a leitura de cada pergunta e cada um respondia
individualmente, num momento coletivo, as perguntas apresentadas. O pesquisador mostrava
o documento em estudo (8º Plano de Pastoral) para que os participantes pudessem dele se
recordar. A pesquisa em cada grupo durou em média quinze minutos.
2.2.l.4. Período de realização da pesquisa
A PAESP foi realizada no período de cinqüenta dias, do dia 11 outubro a 28 de
novembro de 2005. No início do mês de outubro o aluno começou a telefonar para os
coordenadores das regiões episcopais, setores, pastorais, associações e movimentos, assim
como para os párocos ou administradores paroquiais com o objetivo de pedir permissão para
aplicar a pesquisa com o grupo de sua responsabilidade. As pesquisas foram realizadas pela
manhã, pela tarde e noite, de acordo com a reunião ordinária de cada grupo da Arquidiocese
de São Paulo.
144
2.2.1.5. Amostra da Pesquisa.
Para dimensionamento da Amostragem da Pesquisa considerou-se a estrutura
organizacional da Arquidiocese de São Paulo dentro da sua divisão geográfica na cidade, com
o objetivo de dar a devida e necessária representatividade e confiabilidade.
Os grupos escolhidos foram: Conselhos Regionais de Pastoral (C.R.P), Conselhos
Setoriais de Pastoral (C.S.P.), Conselhos Paroquiais de Pastoral (C.P.P), Coordenações
Arquidiocesanas de Movimentos, Coordenações Arquidiocesanas de Pastorais, Coordenações
Arquidiocesanas de Associações. Estes grupos foram escolhidos por possuírem um caráter
definido quanto a reuniões, periodicidade e estrutura.
INSTÂNCIA (Organismo Pastoral da
Arquidiocese de São Paulo)
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
AMOSTRA PERCENTUAL DA AMOSTRA
Conselho Regional de Pastoral 06 04 66,67% Conselho Setorial de Pastoral 45 13 28,89% Conselho Paroquial de Pastoral 280 22 7,86% Associação em nível arquidiocesano
20 04 20,00%
Movimento em nível arquidiocesano
16 07 43,75%
Pastoral em nível arquidiocesano 34 15 44,12%
Para aplicação da pesquisa em nível regional foram escolhidas as seis Regiões
Episcopais, porém somente quatro possibilitaram a PAESP no Conselho Regional de Pastoral.
Em princípio seriam dois Conselhos Setoriais de cada Região Episcopal, mas na prática a
pesquisa foi realizada: em três regiões dois setores; em duas regiões três setores; e em uma
Região um setor. Foram realizadas pesquisas em quatro Conselhos Paroquiais de Pastoral de
quatro regiões e em três Conselhos Paroquiais de Pastoral de duas regiões episcopais.
145
O grupo das Associações, Movimentos e Pastorais em nível Arquidiocesano a serem
pesquisados foi definido pelo pesquisador a partir do Guia da Arquidiocese de São Paulo.263
2.2.1.6. Observações sobre a aplicação da pesquisa
• Foram escolhidos os grupos das Associações, Movimentos e Pastorais em nível
Arquidiocesano que tinham atuação em mais de duas regiões episcopais.
Alguns responsáveis dificultaram a realização da pesquisa e a mesma não foi
realizada. Das 20 Associações e dos 16 Movimentos citados no Guia da
Arquidiocese alguns existem somente em uma paróquia ou numa região
episcopal. Também entre 34 Pastorais elencadas pelo “Guia” alguns são
organismos ou equipes de serviço. A Igreja de São Paulo não possui um
documento descrevendo quais as pastorais, associações e movimentos com
atuação em nível arquidiocesano.
• O pesquisador seguiu o mesmo critério em toda a Arquidiocese de São Paulo
para realizar a pesquisa.
• Quanto ao agendamento da pesquisa com os grupos, algumas dificuldades
foram apresentadas por alguns responsáveis, como, por exemplo, que era final
de ano e seu grupo não mais se reuniria em 2005 ou que não dispunha de um
tempo (quinze minutos) para ceder durante a reunião para aplicação da
pesquisa. Alguns padres coordenadores não permitiram a aplicação da
pesquisa, dizendo “não quero me comprometer”, um coordenador de setor
disse “se eu permitir a pesquisa os padres vão ficar bravos comigo”.
263 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Grandes atividades em âmbito arquidiocesano. São Paulo: Secretariado Arquidiocesano de Pastoral. São Paulo, 2005. p. 180-189.
146
• Em uma Região Episcopal o coordenador regional de Pastoral disse que
durante o ano de 2005 não foi realizada reunião do Conselho Regional de
Pastoral, as reuniões eram somente com os padres. Mais de um padre falou,
“não adianta se reunir com os leigos, quem decide são os padres”.
• O pesquisador foi muito bem ouvido e de certa forma, convidado a aplicar a
pesquisa por coordenadores leigos ou leigas e padres que o conheciam. Dentre
as pastorais sociais o caminho foi mais fácil.
• O aluno e seus pesquisadores foram, em todos os grupos pesquisados, muito
bem acolhidos e realizaram o trabalho como estava programado. Várias
pessoas que responderam a pesquisa pediram uma devolutiva, o que foi
prometido pelos pesquisadores e será cumprido.
2.3. Conceitos e definições
Aqui são apresentados alguns conceitos e definições importantes e que se relacionam
com os resultados específicos da pesquisa: Arquidiocese, Região Episcopal, Setor, Paróquia,
Pastoral, Associação e Movimento de Apostolado Leigo.
2.3.1. Arquidiocese o que é
A diocese é uma porção do povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a
cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo-se ela a seu pastor e, pelo Evangelho e
pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja Particular, na qual está
verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica. 264
264 CODIGO DE DIRETO CANONICO. Cân. 369. 7 ed. São Paulo: Loyola, 1984.
147
2.3.2. Região Episcopal o que é
Pode-se dizer que a estrutura administrativa e pastoral de uma região episcopal, em
linhas gerais, é semelhante a uma diocese. É uma porção do Povo de Deus, dirigida pelo
Vigário Episcopal, com seu presbitério. Tem todos os elementos para ser ou tornar-se uma
diocese, falta-lhe, porém, independência e personalidade jurídica própria. A região episcopal é
interligada com a sede metropolitana em cujo território ela se situa, e depende da mesma ou
lhe é confiada.265
2.3.3 Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.) o que é
Em cada Diocese, enquanto a situação pastoral aconselhar, seja constituído o conselho
pastoral, ao qual compete, sob a autoridade do Bispo, examinar, avaliar as atividades pastorais
na diocese e propor conclusões práticas sobre elas. O conselho pastoral consta de fiéis em
plena comunhão com a Igreja católica, clérigos, membros de institutos de vida consagrada, ou
principalmente leigos designados de acordo com o modo indicado pelo bispo diocesano.266
2.3.4. Setor o que é
Setor é uma porção da Arquidiocese de São Paulo, definida por critérios geográficos e/
ou ambientais, com seus pastores, ministros, religiosos(as) e leigos(as), co-responsáveis pelo
anúncio e testemunho da Palavra de Deus e a realização orgânica da Pastoral, capaz de atuar
265 CHANCELARIA DO ARCEBISPADO. Arquidiocese de São Paulo, histórico (José Albanez). p. 55. 266 CIC. Cân. 511 e 512.
148
em todos os campos com eficiência e participação crescentes.267 O setor se dá pelo
agrupamento de paróquias para dinamizar, animar e organizar os trabalhos de evangelização
nas Regiões Episcopais da Arquidiocese de São Paulo.
2.3.5. Conselho Setorial de Pastoral (C.S.P.) o que é
Órgão que reúne os membros da coordenação setorial composta por, um presbítero,
dois ou mais leigos e uma religiosa atuante na pastoral e outros membros que representam as
equipes pastorais de cada paróquia que constitui o setor, para animação, dinamização e
organização dos trabalhos de evangelização naquela porção do Povo de Deus da Arquidiocese
de São Paulo.
2.3.6. Paróquia o que é
Paróquia é uma determinada comunidade de fiéis, constituída estavelmente na Igreja
particular, e seu cuidado pastoral é confiado ao pároco como a seu sucessor próprio, sob a
autoridade do Bispo diocesano. Paróquia provém do grego para-oikia, ou seja, aquilo que se
encontra perto ou ao redor de casa (supõe-se “do Senhor”, ou se já da Igreja). A organização
paroquial começou a surgir no século IV, mas sua estrutura definitiva só se deu no Concílio
de Trento. 268
267 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Diretório da Coordenação de Setor. São Paulo, 1993. p. 03. 268 CIC. Cân. 515.
149
2.3.7. Conselho Paroquial de Pastoral (C.P.P.) o que é
Órgão de consulta e ajuda aos párocos no campo das atividades apostólicas da
Paróquia em sintonia com a Arquidiocese. Instância que reúne os agentes evangelizadores da
Paróquia ou representantes dos grupos pastorais com o pároco para em conjunto discernir,
propor, avaliar e encaminhar a ação evangelizadora proposta pela diocese. Favorece a
participação dos leigos e leigas não somente nas tarefas, mas também nas decisões pastorais
da Paróquia.
Seja constituído em cada paróquia, o conselho pastoral, presidido pelo pároco, no qual
os fiéis ajudem a promover a ação pastoral, juntamente com os que participam do cuidado
pastoral em virtude do próprio ofício.269
2.3.8. Pastoral o que é
Pastoral é o agir da Igreja no mundo.270 Pastoral está ligada com a raiz “pastor”. A
Pastoral está sempre comprometida com os dois protagonistas da salvação, Deus e o homem,
e por isso adquire um “caráter estático-dinâmico”. Responsável diante de Deus e da sua
absoluta e válida Revelação, a pastoral deve estar ao mesmo tempo a serviço do homem, na
sua concreta situação histórica. O “estilo da época”, requerido pelo elemento dinâmico da
pastoral, pressupõe uma compreensão “pastoral” do tempo. 271 “A pastoral se entende como
uma presença de Igreja, dentro do conflito, ao lado dos oprimidos e pobres, em vista de sua
libertação”.272
269 CIC. Cân. 536. 270 LIBANIO. J. B. O que é pastoral. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.12. 271 FRIEIS, H. Dicionário de Teologia. Vol. IV. São Paulo: Loyola, 1970. 272 LIBANIO. J. B. O que é pastoral. p. 120.
150
2.3.9. Associação de fiéis leigos o que é
Na igreja existem associações, distintas dos institutos de vida apostólica, nas quais os
fiéis, clérigos ou leigos, ou conjuntamente clérigos e leigos, se empenham mediante esforço
comum, por alimentar uma vida mais perfeita e promover o culto público, a doutrina cristã ou
outras obras de apostolado, isto é, iniciativas de evangelização, exercícios de obra de piedade
ou caridade, e animação da ordem temporal com espírito cristão.273
2.3.10. Movimento de Apostolado Leigo o que é
Grupos que se fortalecem na sociedade moderna para favorecer a entrada do
catolicismo na classe média urbana. Tem uma mentalidade de mudança da sociedade e não de
transformação. Não se preocupam em ter uma reflexão e não tem uma síntese eclesial. A
orientação destes grupos é internacional, sua ação independe das orientações da igreja local.
Tem força de convencimento e conseguem atrair a juventude. Para estes grupos o amor é uma
experiência individual.
2.3.11. Leigo(a) o que é
Leigo vem do grego laïkos (aquele que pertence ao povo ou provém dele: não oficial,
civil, comum). Leigo é aquele que não pertence ao clero.274 Leigos e leigas são homens e
mulheres co-responsáveis pela missão da Igreja que juntamente com os ministros ordenados,
273 CIC. Cân. 298. 274 LACOSTE, J.Y. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004.
151
religiosos e religiosas, protagonizam a nova evangelização, vivendo o Evangelho, servindo a
pessoa e sociedade, transformando a sociedade pela vivência profética.275
2.3.12. Leiga consagrada o que é
A essas formas de vida consagrada se acrescenta a ordem das virgens que, emitindo o
santo propósito de seguir a Cristo mais de perto, são consagradas a Deus, pelo Bispo
diocesano, de acordo com o rito litúrgico, aprovado, misticamente desposadas com Cristo,
Filho de Deus, e dedicadas ao serviço da Igreja.276 A vida das leigas consagradas a Deus a
serviço da Igreja particular está previsto nos termos do Decreto da Sagrada Congregação para
o Culto Divino sob o número 600/70. Na Arquidiocese de São Paulo são vinte e nove leigas
consagradas e oito candidatas à consagração.
2.3.13. Religioso(a) o que é
A vida consagrada pela profissão dos conselhos evangélicos é uma forma estável de
viver, pela qual os fiéis, seguindo mais de perto a Cristo, sob a ação do Espírito Santo,
consagra-se totalmente a Deus, sumamente amado, para assim, dedicados especialmente à sua
honra, à construção da Igreja e à salvação do mundo, alcançarem a perfeição da caridade no
serviço do Reino de Deus e, transformados em sinal preclaro na Igreja, preanunciarem a
glória celeste. Homens e mulheres assumem livremente essa forma de vida nos institutos de
vida consagrada, canonicamente erigidos, os fiéis que por meio de votos professam os
275 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Missão e ministérios dos leigos e leigas.(Documentos da CNBB n. 62) 104-ll0. São Paulo: Paulinas, 1999. 276 CIC. Cân. 604.
152
conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência e, pela caridade à qual esses votos
conduzem, unem-se, de modo especial, à Igreja e seu mistério.277
2.4. Apresentação e análise dos resultados da Pesquisa
São apresentados os dados coletados na pesquisa extraídos da tabulação em forma de
tabelas e gráficos que se encontram anexados no final deste trabalho. De posse dos resultados,
o autor da pesquisa faz uma análise dos dados, apresentando dessa forma, o perfil dos
evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo, as ações que sinalizam a ação evangelizadora
na cidade, as dificuldades encontradas pelos agentes, os grupos com os quais a Igreja é
solidária e tem ações transformadoras e como se dá a renovação das comunidades eclesiais.
As opções tomadas para a presente pesquisa inserem-se dentro do contexto amplo
mencionado acima. Optou-se por questões de múltipla escolha, afirmativa e negativa, e
dissertativa, a serem respondidas pessoalmente pelos participantes e para não ocupar muito
tempo das reuniões dos grupos pesquisados. A opção favoreceu a coleta de informações que
são apresentadas a seguir. Para facilitar a compreensão da PAESP e análise dos dados foi feita
a seguinte divisão:
• Estrutura organizacional da ação evangelizadora e perfil dos evangelizadores:
Instâncias da ação evangelizadora,
Pertencimento dos agentes evangelizadores por região episcopal,
Idade dos pesquisados,
Atuação/sexo dos evangelizadores pesquisados
• Centralização da administração econômica na Cúria arquidiocesana
• Conhecimento do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo:
277 CIC. Cân. 573.
153
Conhecimento do Plano,
Participação dos evangelizadores na Igreja de São Paulo em 2000-2002,
Participação na elaboração, estudos e avaliação do 8º Plano de Pastoral,
Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral,
• Igreja profética na cidade de São Paulo:
Profetismo da Igreja de São Paulo para os pesquisados,
Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo,
Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade,
Ações da Igreja que sinalizam a evangelização,
Solidariedade e ações transformadoras,
• Dificuldades para a evangelização na cidade
• Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo
2.4.1. Estrutura organizacional da pastoral e perfil dos evangelizadores
A PAESP buscou atingir os níveis da organização da Arquidiocese de São Paulo mais
significativos. Para que a ação evangelizadora se desenvolva é necessário que se tenha uma
organização administrativa e pastoral. Para coleta de informações o pesquisador foi às
instâncias que coordenam as ações da Igreja na cidade de São Paulo.
154
2.4.1.1. Instâncias pesquisadas da organização evangelizadora
INSTÂNCIAS GRUPOS PARTICIPANTES Coordenação Regional de Pastoral 04 143 Coordenação Setorial de Pastoral 13 284 Coordenação Paroquial de Pastoral 22 551 Associação em nível arquidiocesano 04 48 Movimento em nível arquidiocesano 07 100 Pastoral em nível arquidiocesano 15 179
TOTAL 65 1305
Os números apresentados acima são a amostra pesquisada de toda a estrutura
organizacional da pastoral da Arquidiocese de São Paulo já mencionado no item 2.3.1.5. deste
estudo.
2.4.1.2. Região Episcopal a qual pertencem pesquisados
REGIÕES PESQUISADOS PERCENTUAL Belém 284 21,8 Brasilândia 201 15,4 Ipiranga 233 17,9 Lapa 93 7,1 Santana 163 12,5 Sé 323 24,8
Subtotal 1297 99,4 Brancos 8 0,6
Total 1305 100
Cabe observar que este quesito pedia para que as pessoas identificassem a região a
qual pertenciam, porém muitas pessoas não responderam a este item. Em algumas folhas foi o
pesquisador quem assinalou a qual Região Episcopal o pesquisado pertencia, pois ele (o
pesquisador) sabia em que Região estava, isto para o caso dos Conselhos Regionais, setoriais
155
e paroquiais, o que não pôde ser feito nas pesquisas realizadas com as coordenações
arquidiocesanas das pastorais, das associações e dos movimentos de apostolado leigo, por isso
oito pessoas não foram identificadas a qual região pertenciam (Tabela B). Deparamo-nos
também com um possível engano quando constatamos o número da Região Episcopal Sé, esta
apresenta o maior número de pessoas pesquisadas (323 pessoas), algumas pessoas podem ter
confundido Região a que pertence com o local onde estava sendo realizada a pesquisa, pois
quase todas as pesquisas realizadas com as coordenações de pastorais, associações e
movimentos de apostolado leigo ocorreram em reuniões acontecidas nos limites da Região
Episcopal Sé .
2.4.1.3. Análise da estrutura organizacional pastoral
Analisando os resultados da pesquisa para os itens acima demonstrados, instâncias
pastorais, aliado à Região Episcopal, podemos concluir que a estrutura organizacional da
Arquidiocese de São Paulo atende de forma satisfatória todos os requisitos conceituais
aplicados nas organizações de mercado e grupos,278 visto que está formalmente representada e
com abrangência territorial , dividida regionalmente, o que permite a participação de todos os
membros (Tabela A): bispos, padres, religiosos(as), leigos(as ), nos processos de trabalho,
delineada de forma a atingir a missão da Igreja, evangelizar e anunciar Jesus Cristo à toda
porção do povo de Deus da cidade de São Paulo.
278 STONER, J. A. F. Estrutura Organizacional: Forma pela qual as atividades de uma organização são divididas, organizadas e coordenadas. Rio de Janeiro: PHB, 1992. p. 230.
156
2.4.1.4. Perfil dos evangelizadores quanto à idade e sexo
A PAESP perguntou a idade dos evangelizadores e obteve informações importantes
para análise do perfil dos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo. Quanto ao sexo a
pesquisa não perguntou diretamente, porém pela pergunta sobre a atuação pastoral chegou-se
aos resultados que são apresentados a seguir.
2.4.1.5. Idade dos pesquisados
A faixa etária com maior presença nos conselhos e coordenações de grupos na
Arquidiocese de São Paulo está entre as pessoas que têm entre 46 e 55 anos, 27,51% . O
grupo que vem em seguida é das pessoas entre 56 e 65 anos representando 22,30%. O grupo
que tem menor presença nos conselhos e coordenações de grupos é o grupo dos jovens,
pessoas de até 25 anos de idade representam 6,82%. Quase metade, 49,81% das pessoas que
compõem os conselhos e coordenações de grupos na Arquidiocese de São Paulo está na faixa
dos 46 aos 65 anos de idade. (Tabela C).
2.4.1.6. Atuação pastoral dos pesquisados
A pesquisa obteve a informação sobre a condição hierárquica das pessoas que
participam das coordenações de pastorais, associações de fiéis, movimentos de apostolado
leigo e dos membros dos conselhos pastorais de região, setor e paróquia. A pergunta sobre a
atuação pastoral revela esta informação, assim como o sexo dos pesquisados.
Pela pesquisa observamos maior presença das leigas com 51,7% nos conselhos e
coordenações de grupos (Tabela D).
157
Do total dos homens (494, bispos, padres, religiosos e leigos) presentes nestas
instâncias de decisões e encaminhamentos dos trabalhos pastorais na Arquidiocese de São
Paulo, 138 (10,6%) são bispos, padres e religiosos e 356 (27,3 %) são leigos (Tabela D).
2.4.1.7. Análise do perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo
O perfil dos agentes evangelizadores e lideranças da Arquidiocese constantes dos
resultados da pesquisa, nos itens 2.4.1.5 – Faixa Etária e 2.4.1.6 – Atuação Pastoral, retrata a
participação nas comunidades, dando desta forma a devida e necessária representatividade de
todos os fiéis das comunidades, com condições e poderes para examinar, avaliar as atividades
pastorais na diocese e propor conclusões práticas sobre elas.
Esta conclusão pode ser constatada pela própria vivência nas comunidades, onde a
participação nos movimentos, celebrações, a presença de leigas é muito maior que a de leigos,
inclusive, mensurado por este pesquisador, na qualidade de Pároco, que realizou pesquisa
junto a sua comunidade, aplicada nas missas de um final de semana, encontrando quase que a
mesma proporção, 30,4 % de homens e 63,6 % de mulheres. O mesmo para a faixa etária, que
tiveram praticamente o mesmo resultado, excetuando os jovens na faixa de 01 a 25 anos que
tiveram 14,2% de presença na comunidade e apenas 6,82% de representatividade nos
conselhos.
Pode-se concluir que a representatividade nas diversas esferas e fóruns, promovidos de
forma sistemática pela Arquidiocese de São Paulo, assegura a participação de toda a
comunidade e a co-responsabilidade pelo anúncio e testemunho da Palavra de Deus .
Uma outra análise que os resultados permitem é a menor presença dos leigos com
27,3% (Tabela D) proporcional à participação dos homens em nossas comunidades, missas e
grupos evangelizadores. Esta situação pode justificar-se a diversos fatores, por exemplo: não
158
se sentem chamados pela Igreja, o peso da função mantenedora do lar. Esta última
caracterizada pela dificuldade de o trabalhador, chefe de família se deslocar para o trabalho,
trabalhar, deslocar-se novamente para sua residência o desmotiva à estar presente nas reuniões
e mesmo assumir compromissos com a missão evangelizadora. É sabido que o transito, o
transporte coletivo desgasta sensivelmente o potencial do ser humano. Outro motivo pela não
participação dos homens que tem peso significativo dentro do contexto das dificuldades de
evangelizar em São Paulo, onde o homem, geralmente chefe de família, responsável pela
manutenção da casa, tem que trabalhar na maioria das vezes em locais distantes de sua
moradia, o que o faz perder três horas ou mais das nove horas de trabalho diário, decorrentes
de trânsito, transporte coletivo cheios e inadequados durante toda a semana, dificultando a sua
participação nos movimentos e celebrações noturnas e aos domingos procuram fazer coisas
que “aparentemente os livram deste stress”, concorridos com os meios de comunicação de
massas , jogos de futebol , clubes e outros, há ainda outros motivos que devem ser mais
estudados.
Outro aspecto a ser destacado e estudado, apesar da pesquisa não retratar este fato, até
porque não fazia parte deste objeto de estudo, é sobre a presença das mulheres na Igreja com
51,7%. É necessário analisar se esta presença corresponde também nas tomadas de decisões e
encaminhamentos de trabalhos ou é somente presença física. As mulheres têm de fato poder
na igreja na qual é maioria? São elas ouvintes ou tem direito a falar e são ouvidas? “O
problema da participação das mulheres na vida da Igreja é de importância primordial para a
vida e o futuro da nossa Igreja. O movimento de promoção das mulheres representa um fato
que assinala a evolução atual, um sinal dos tempos”.279 A Igreja apresenta abertura para o
trabalho da mulher e a presença significativa das mulheres na Igreja abre pistas concretas para
reconhecer o seu contributo cristão nos debates vitais da sociedade como paz, bioética,
279 PINHEIRO, J. E. (org.).O Sínodo e os leigos. p. 76.
159
família, aborto, violência. É importante reconhecer, incentivar e animar a participação plena
da mulher na comunidade eclesial. Sua presença, às vezes silenciosa, é conseqüência dos
obstáculos canônicos que ainda bloqueiam seu acesso a diversos serviços e ministérios
eclesiais e sociais. As mulheres estão conquistando espaços e assumindo ministérios
anteriormente ocupados pelos homens: ministério da Palavra, do Sacramento do Batismo, do
Sacramento do Matrimônio, da coordenação, da organização popular, sem deixar aqueles que
sempre assumiram como visitar os doentes, catequizar, cantar, cuidar das alfaias. Elas
constituem a maioria dos membros da Igreja e têm papel essencial na evangelização da
cidade. “Hoje, sobretudo, é indispensável e decisivo seu papel no anúncio e transmissão da
mensagem de Cristo, especialmente no que se refere à promoção e defesa da vida”.280
Nesta mesma linha, apesar da pesquisa não retratar este fato, cabe a reflexão quanto à
efetividade da participação dos leigos e leigas (79 %), em relação aos bispos, padres e
religiosos (10,6%). A condição hierárquica os coloca acima de todos no discurso, de alguma
forma têm o poder econômico em suas mãos, além do tempo e prestígio que gozam nas
reuniões e celebrações. Em suas falas representam mais de uma pessoa, representam muitas
vezes, uma paróquia, um grupo, uma região. “O patriarcalismo é ainda particularmente forte,
uma vez que o poder se encontra concentrado na mão dos homens celibatários; neste contexto,
o espaço das mulheres é estruturalmente limitado e as possibilidades de mudança – que
certamente existem – são inevitavelmente mais lentas”.281
As questões levantadas sobre o perfil dos agentes evangelizadores da Arquidiocese de
São Paulo pretendem suscitar um diálogo e contribuir para uma compreensão mais ampla da
280 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. p. 202. 281 ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações e vida religiosa: Pesquisa e análises prospectivas sobre Vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004. p. 71.
160
ação da Igreja na cidade de São Paulo e situá-la no contexto atual de profundas
transformações sociais que vivemos hoje.
2.4.2. Centralização econômica na Cúria Arquidiocesana
Sobre a pergunta: Houve mudança na atuação pastoral da Igreja de São Paulo a partir
da centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana?
769 (58,9%) pessoas disseram que não têm conhecimento sobre a centralização. 406
pessoas disseram que houve mudança na ação pastoral. Destas pessoas, 218, disseram que as
mudanças foram positivas (Tabela E e E1).
Na tabela sobre a centralização (Tabela G) ‘por instância’ constata-se que o grupo das
Pastorais em nível arquidiocesano foi o que mais sentiu a centralização administrativa da
Arquidiocese de São Paulo na Cúria Metropolitana, pois 60% das pessoas deste grupo
disseram que houve mudanças na ação pastoral e que estas mudanças foram negativas.
Podemos também constatar que as Coordenações de Movimentos em nível arquidiocesano e
os Conselhos Paroquiais de Pastoral são os grupos que apontaram com maior porcentagem
que a centralização foi positiva, 77,78% e 75,61% respectivamente.
2.4.2.1. Análise da centralização econômica na Cúria Arquidiocesana
Aqui devemos analisar que o não conhecimento da centralização é o mais importante.
As mudanças acontecem na organização estrutural da Igreja e as pessoas atuantes não tomam
conhecimento. Sinal de que ainda não é a expressão de uma Igreja que pratica a comunhão e
prioriza a participação. “Decididamente, a Igreja precisa ser comunhão-participação para que
possa ser sinal e instrumento na formação do Povo à imagem da Trindade Santa. Com
161
urgência a Igreja precisa lutar por uma ética comunitária, de solidariedade, partilha, em
oposição à ética individualista, liberal, onde o império da liberdade individual se exerce sem
atenção aos direitos dos outros, ao bem comum”.282
Há ainda uma dúvida sobre o real conhecimento da centralização da administração
econômica, pois somente entre os leigos e leigas o número de respostas positivas sobre a
centralização foi maior. Acreditamos que as várias pessoas que participaram da pesquisa não
conheciam a centralização, mas afirmaram conhecer e também afirmaram que esta foi
positiva.
A centralização buscou uma maior partilha, mas é claro que tudo isso criou
um descontentamento de um lado e alegrias de outro, de fato, a gente é mais
habituado a cuidar do próprio, do que é meu e não estamos habituados a
partilhar os recursos, então a centralização teve como objetivo fundamental a
partilha dos recursos, então, a Arquidiocese passa a ter maior força e mais
capacidade de partilhar os bens em dinheiro.283
A Igreja profeticamente precisa ser comunidade. É urgente sua conversão para a
partilha. Para a intensa comunhão, participação, em vivo clima de amor, verdade e justiça. “A
Igreja precisa ter credibilidade, senão como falar dos erros na sociedade, se ela continua
permitindo abusos: não partilha de bens; esmagamentos da liberdade; decisões extremamente
centralizadas, centralizadoras”.284
282 BERNARDINO. A.S. Cultura urbana emergente e urbanização. In: SUESS, P. (org.) Culturas e evangelização. São Paulo: Loyola, 1991. p. 233. 283 LORO, T. J. Entrevista com o secretário arquidiocesano de pastoral. Apêndice III Entrevista 2. 21 de junho de 2005. p. 235. 284 BERNARDINO, A.S. Cultura urbana emergente e urbanização. p. 233.
162
2.4.3. Conhecimento, elaboração, atuação e avaliação do Plano de Pastoral
Em oito itens que se seguem são apresentados dados sobre o 8º Plano de Pastoral da
Arquidiocese de São Paulo e em seguida uma análise desses resultados obtidos na PAESP. O
conhecimento do Plano de Pastoral é apresentado por Região Episcopal, estância pastoral e
por atuação dos agentes.
2.4.3.1. Conhecimento do Plano de Pastoral por Região Episcopal
Das 1264 pessoas pesquisadas, que responderam a pergunta sobre a participação nos
trabalhos da igreja durante o período de 2000-2002, 876 (Tabela L) disseram que
participavam da igreja naquele período, porém, somente 431, 33% conheciam o 8º Plano de
Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela H). O plano não chegou ao conhecimento das
pessoas que compõem os conselhos e coordenações de grupos. Deduzimos, portanto, que as
pessoas nas bases, catequistas, ministros, agentes de pastoral das paróquias, comunidades,
pastorais, associações e movimentos também não conheceram o documento que quis nortear
as ações da Igreja na cidade de São Paulo.
Podemos perceber pelo quadro que segue que o 8º Plano de Pastoral foi mais
divulgado na Região Episcopal Ipiranga, seguida pela Região Belém. Das pessoas que
responderam a pergunta 40,44% conheciam o plano no Ipiranga e 39,42% na Região Belém.
A Região que apresentou menor número de pessoas que conheciam o plano foi a Região
Episcopal Lapa, apenas 25% das pessoas que responderam a pergunta conheciam o Plano
(Tabela I).
Segundo informação do coordenador regional da Região Episcopal Lapa não teve
durante ano 2005 nenhuma reunião do Conselho Regional de Pastoral (C.R.P.) o que
163
comumente nas outras regiões acontece mensalmente ou bimestralmente. Nesta Região
também encontramos bastante dificuldade para encontrar um setor com reunião, para que se
pudesse aplicar a pesquisa.
2.4.3.2. Conhecimento do Plano por instância da organização evangelizadora
Pelos dados apresentados na pesquisa percebemos que o Plano é mais conhecido entre
as pessoas que participam do Conselho Regional de Pastoral com 57,78% e menos conhecido
nos pelas pessoas que compõem os Conselhos Paroquiais de Pastoral com 23,63%. Já entre as
Associações, Movimentos e Pastorais em nível arquidiocesano constatamos que o Plano foi
mais conhecido entre as pessoas que fazem parte das Pastorais com 44,38% (Tabela J).
2.4.3.3. Conhecimento do Plano por atuação pastoral
Analisando os dados por atuação sobre o conhecimento do Plano, constatamos que o
84,4% dos padres que responderam a pergunta disseram que o Plano era conhecido (Tabela
K). O menor grupo que respondeu ter conhecimento do Plano foi o das leigas, somente
27,74% afirmou conhecer o Plano. O grupo dos religiosos que aparece com 15,38% com
conhecimento do Plano é justificado porque não participavam das atividades da Igreja em São
Paulo naquele período. Entre os religiosos há muitas mudanças, transferências de uma
Diocese para outra.
Dois Bispos responderam a pesquisa, destes, apenas um conhecia o Plano, o outro não
pois na época da vigência do Plano ainda não estava na Arquidiocese de São Paulo.
164
2.4.3.4. Participação dos pesquisados na Igreja no período de 2000-2002
67,1% das pessoas que responderam a pergunta disseram que eram atuantes na Igreja
durante o período de 2000-2002 (Tabela L), período em que o 8º Plano de Pastoral esteve em
vigência. Deste número 62,5% não conheciam o plano (Tabela H), 86,2% disseram que não
participaram ou são se lembravam de ter participado da elaboração do plano (Tabela N),
74,8% não estudou ou não lembra de ter estudado (Tabela O) e 85,1% não lembra ou não
participou do processo e avaliação do plano (Tabela P).
2.4.3.5. Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral
Das 1267 pessoas que responderam a pergunta 1.125, ou seja, 86,2% disseram que não
participaram ou não lembram de ter participado do processo de elaboração do 8º Plano de
Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela N). Destas pessoas 876 participaram dos
trabalhos da Igreja em São Paulo nos anos de 2000-2002, período em que o Plano foi
elaborado, executado e avaliado.
2.4.3.6. Estudos do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo
Das pessoas que responderam a pergunta sobre o estudo do 8º Plano de Pastoral da
Arquidiocese de São Paulo 74,8% disseram que não haviam estudado ou não se lembravam de
ter estudado (Tabela O). As instâncias onde estudaram o Plano foram apresentadas assim:
Paróquia, Região, Setor, Coordenação da Pastoral, Associação e Movimento e outras
instâncias. Somente 293 pessoas disseram em que instância estudou o Plano (Tabela O1).
165
2.4.3.7. Participação no processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral
Das 1260 pessoas que responderam a pergunta sobre o processo de avaliação do 8º
Plano de Pastoral somente 150 (11,5%) disseram que participaram do processo (Tabela P).
Das pessoas que compõem as coordenações de pastorais, associações e movimentos e
dos conselhos de regionais, setoriais e paroquiais, 73,6% disseram que não participaram do
processo de avaliação do Plano.
Chama a atenção, o fato de 150 pessoas não se lembrarem se participaram ou não do
processo, pois isto aconteceu no segundo semestre de 2003, apenas dois anos antes da
realização da pesquisa.
2.4.3.8. Responsabilidade pelo desconhecimento do Plano de Pastoral
Sobre a pergunta do motivo pelo qual o pesquisado que é atuante nos trabalhos da
igreja e não participa dos trabalhos de elaboração, estudos e avaliação do Plano de Pastoral da
Arquidiocese de São Paulo, está a consciência da pessoa, pois o maior número de pessoas
(660) responderam que elas mesmas são responsáveis pelo desconhecimento do Plano.
A pesquisa aponta que para 238 pessoas os padres são responsáveis pelo
desconhecimento do Plano de Pastoral. Ainda há um grupo de 61 pessoas, que são atuantes na
Igreja de São Paulo, pois, são participantes das reuniões de conselhos ou coordenações,
disseram que o Plano de Pastoral não tem importância para os trabalhos de evangelização na
cidade (Tabela Q).
166
2.4.3.9. Análise do conhecimento, participação e desconhecimento do Plano
Analisando os resultados da pesquisa apresentados nos itens 2.4.3.1 ao 2.4.3.8,
relativos ao 8ª Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, em suas diversas fases:
conhecimento, elaboração, participação e avaliação, que mostra números bastante
significativos de desconhecimento, da não participação seja na elaboração ou na avaliação,
demonstra de forma contundente que a Arquidiocese de São Paulo não conseguiu envolver as
pessoas comprometidas com a evangelização no processo de coleta de informações sobre a
realidade da cidade e da igreja em suas diversas instâncias pastorais, nos estudos das diretrizes
da ação evangelizadora e tão pouco no processo de avaliação dos trabalhos de três anos de
anúncio do Evangelho de Jesus Cristo na cidade de São Paulo. Podemos concluir que o fato
da Arquidiocese de São Paulo contar com uma boa estrutura organizacional e com um ótimo
processo de participação da comunidade nos diversos Conselhos e Coordenações para
examinar, avaliar as atividades pastorais na arquidiocese e propor conclusões práticas sobre
elas, não são suficientes para garantir o sucesso de um Plano de Pastoral.
O Plano de Pastoral tem definido diretrizes para a ação evangelizadora emanadas pela
Arquidiocese de São Paulo, porém não conta com diversas variáveis necessárias a um Plano,
como divulgação, estabelecimento de etapas, metas, cronograma das atividades, constante
processo de avaliação, enfim, caracterizado pela falta de estratégia para atingir o seu objetivo.
“Estratégia é o programa geral para consecução dos objetivos de uma organização e, portanto
para o desempenho de sua missão”.285
285 STONER, J. A. F. Estrutura organizacional. p. 70.
167
Neste contexto, cabe analisar que o bom conteúdo do plano de pastoral no processo de
evangelização da cidade, sozinho não atinge seu objetivo, requerendo o uso de técnicas
administrativas e profissionais com formação específica nesta área, o que não é o caso de
bispos, padres, religiosos(as), até porque, o seu preparo acadêmico e enfoque maior é a
evangelização e o anúncio de Jesus Cristo, principalmente em uma cidade com tão grande
número populacional e territorial como o que compreende a Arquidiocese de São Paulo.
Outro enfoque a ser analisado para o “insucesso” do 8ª Plano de Pastoral é que para
atender as novas exigências de uma diaconia é preciso preparar as lideranças. As hierarquias
organizacionais são em geral monoculturais e obstaculizam o fluxo de informações,
comunicação, cooperação e participação. As informações são selecionadas entre os de cima e
os de baixo, entre os de dentro e os de fora. Essas atitudes geralmente geram um clima de
desconfiança e de alinhamento ideológico meramente formal. Percebe-se na Igreja excesso de
atividades institucionais (reuniões sem pauta, encontros “urgentes”) desnecessárias, porque
não contribuem para aumentar a qualidade do serviço em torno das prioridades estabelecidas.
O desconhecimento do Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo por parte dos
agentes evangelizadores, apesar da maioria das pessoas que responderam a pesquisa
assumirem para si a responsabilidade, deve-se a um conjunto de fatores: excesso de trabalho
dos agentes, desconexão do trabalho “paroquial” com as atividades regionais e
arquidiocesanas, priorização dos trabalhos de manutenção da paróquia em detrimento das
ações evangelizadoras, engavetamento de convites para encontros e assembléias, despreparo
dos representantes paroquiais e setoriais que participam das reuniões setoriais, regionais e
arquidiocesanas. Percebe-se em muitos casos que a organização pastoral da Arquidiocese de
São Paulo se desenvolve no geral pelos padres. O papel profético que a Igreja, hoje mais do
que nunca, deve desempenhar, se choca com as estruturas seculares que impedem mudanças
radicais, urgentes e indispensáveis. Valorizar, permitir e apoiar os leigos para que assumam
168
funções de coordenação, animação e articulação das ações evangelizadoras fazem crescer sua
consciência ministerial. Uma maior cooperação entre os agentes evangelizadores, inclusive a
circulação dos agentes, a troca de experiências pastorais e a partilha de bens são atitudes que
muito podem ajudar no avanço do anúncio do Evangelho na cidade de São Paulo. Nenhum
grupo pode encerrar-se em si mesmo, nenhum agente poder encerrar seu conhecimento e ação
em si mesmo. Partilhar, cooperar e superar a tentação de que a ação da “sua” pastoral,
paróquia, movimento ou associação basta, podem redefinir a ação evangelizadora da
Arquidiocese de São Paulo na cidade de São Paulo.286
Por último, dentro do princípio da oportunidade, cabe lembrar que toda a igreja precisa
se envolver no processo de planejamento pastoral, verdadeiramente participativo fazendo da
ação pastoral um conjunto de ações que evangelizam. Para fundamentar lembramos do que
disse o Papa Paulo VI no 10º aniversário do CELAM.
Na obra pastoral não se pode andar às cegas: o apóstolo não é alguém que
corre incerto ou se bate contra o ar (cf. 1 Cor 9,26); evita hoje a acomodação
e o perigo do empirismo. Uma sábia planificação, portanto, pode oferecer
também à Igreja um meio eficaz e o incentivo para o trabalho [...] A
planificação impõe opções e comporta renúncias mesmo do que, às vezes,
seria o melhor; e a concentração de esforços, intensiva e extensiva, nos
objetivos essenciais, obriga a deixar realizações que, embora belas, sejam
limitadas ou supérfluas.287
286 PONTIFICIA COMISIÓN PARA AMÉRICA LATINA. Los evangelizadores. p. 183. 287 BERNARDINO, A. S. Cultura urbana emergente e evangelização. p. 233.
169
2.4.4. Igreja profética na cidade de São Paulo
Aqui são apresentados os dados obtidos pela PAESP com relação: ao profetismo da
Igreja nas ações de denúncias de injustiças e anúncio da justiça; o conhecimento da realidade
da cidade por parte da Igreja para garantir ações profundas na evangelização; a importância
do Plano de Pastoral para a ação; e também as ações que sinalizam que São Paulo está sendo
evangelizada.
2.4.4.1. Profetismo da igreja para os evangelizadores
Para 965 pessoas (73,9%) das 1227 que responderam a pergunta, a Igreja de São Paulo
tem sido profética nas denúncias das injustiças e no anúncio de uma sociedade humana
fraterna e justa (Tabela R). Para 262 pessoas a Igreja de São Paulo não tem cumprido sua
missão profética. Por atuação pastoral (Tabela S) as leigas aparecem como o maior número
de pessoas que reconhecem o profetismo da Igreja de São Paulo.
2.4.4.2. Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo
Em geral as pessoas acreditam que a Igreja de São Paulo conhece a realidade ou pelo
menos tem conhecimento parcial da cidade em que atua. Das 1271 pessoas que responderam a
questão 689 disseram que a Igreja conhece a cidade de São Paulo e 524 disseram que a Igreja
tem conhecimento parcial da realidade, somente 58, isto é 4,4% das pessoas que responderam
a questão disseram que a Igreja não conhece a realidade em que atua. (Tabela T).
170
2.4.4.3. Importância do Plano de Pastoral para a evangelização da cidade
O Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo é importante para o trabalho de
evangelização da cidade, responderam 1150 pessoas das 1174 que responderam a questão,
correspondente a 97,95 % dos pesquisados. (Tabela U).
2.4.4.4. Ações que sinalizam a ação evangelizadora na cidade de São Paulo
Das 1305 pessoas que responderam a pesquisa 982 (Tabela V) disseram que as
pastorais e os serviços, incluindo a catequese, a crisma, o batismo, a pastoral vocacional, a
pastoral da saúde e dos enfermos e o trabalho com a juventude são as ações que mais
sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. Em segundo lugar, com 945
pessoas, estão os Meios de Comunicação (Rádio 9 de Julho, Jornal O São Paulo).
As Pastorais Sociais ficaram em terceiro lugar como ações da igreja que sinalizam a
evangelização na cidade. 915 pessoas acreditam que o trabalho da Pastoral da Criança, da
Pastoral Carcerária, com o Povo da Rua, da Pastoral Afro, Pastoral da Moradia, Pastoral do
Mundo do Trabalho, Pastoral da Terceira Idade, Grupo Fé e Política, e Pastoral do Migrante
são sinais de que a Igreja está evangelizando a cidade de São Paulo. 893 pessoas apontaram
que as visitas às residências, aos hospitais, aos presídios e às escolas são ações da Igreja que
sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. Apenas 343 pessoas
responderam que a participação política é uma ação da Igreja que evangeliza a cidade.
171
2.4.4.5. Análise das ações proféticas, conhecimento da realidade e Plano.
Analisando os resultados do item acima 2.4.4.1 – Igreja Profética, podemos concluir
que a Igreja de São Paulo está cumprindo a sua missão, denunciando as injustiças e
anunciando uma sociedade humana, fraterna e justa, destacando que os agentes de pastoral
acreditam, na sua maioria, que a Igreja de São Paulo está de acordo com os princípios
evangélicos, pois há coerência com a pergunta sobre as ações solidárias e transformadoras da
Igreja diante dos marginalizados e excluídos da sociedade, onde 77,1% dos pesquisados
disseram que a Igreja é solidária com os marginalizados e excluídos e tem ações que
transformam a sociedade (Tabela W). “A dimensão profética instiga o crente a se envolver na
sociedade por amor a seu próximo”.288
Para o resultado do item 2.4.4.2.- Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo,
a análise fica prejudicada, pois em geral as pessoas acreditam que a Igreja de São Paulo
conhece a realidade ou pelo menos tem conhecimento parcial da cidade em que atua, mas por
outro lado a grande maioria as pessoas pesquisadas afirmaram não conhecer o Plano de
Pastoral da Arquidiocese de São Paulo (Tabela H). Se não conhecem o Plano da Igreja, que é
o documento que orienta as ações da Igreja, ou melhor, as ações das pessoas que responderam
esta pesquisa, como podem afirmar que a Igreja conhece, mesmo que seja parcialmente, a
realidade da cidade complexa que é São Paulo? Para os pesquisados quem é a Igreja que
conhece a realidade da cidade?
Situação semelhante encontra-se no resultado do item 2.4.4.3. - Importância do
Plano de Pastoral para a evangelização da cidade, pois 97,95 % dos pesquisados afirmaram
que o Plano é importante para evangelização da cidade, porém 62,5% disseram que não
conheciam o documento e também um bom número de pessoas assumiram para si a
288 BOSCH, D. J. Missão transformadora: Mudanças de paradigma na Teologia da Missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 482.’’
172
responsabilidade de não o conhecerem (Tabela Q). Se o Plano é importante para os trabalhos
de evangelização da cidade, como os agentes de evangelizadores da Arquidiocese de São
Paulo nortearam seus trabalhos para evangelizar a cidade de São Paulo durante os anos de
2000-2002, se não conheciam o Plano de Pastoral? Ou a cidade não foi evangelizada?
Analisando o resultado do item 2.4.4.4. (Tabela V) - ações que sinalizam a ação
evangelizadora da Igreja em São Paulo, cabe destacar:
• Os meios de comunicação, apontado em segundo lugar pelos pesquisados,
como ação que sinaliza que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade, logo após das
pastorais e serviços, como não poderia deixar de ser, o maior sinal de evangelização. Os
meios de comunicação apresentados são os de propriedade da Arquidiocese de São Paulo,
mas certamente estão neste número outros meios de comunicação da Igreja que não são da
Arquidiocese, como a Rádio Milícia da Imaculada, bastante ouvida na zona leste, a Rede Vida
de Televisão, a TV Canção Nova e outros meios, sobretudo rádios, onde tem programas com
padres. A missa na TV é um dos programas religiosos que parece suscitar maior interesse dos
católicos. Entretanto, há críticas feitas por estudiosos católicos quanto a esse tipo de
programação na TV, pelo fato que não permite a formação de uma comunidade no sentido
tradicional. Outra crítica é a ausência da sacramentalidade.289 A pesquisa aponta a
importância de se investir nestes meios de comunicação para avançar na evangelização da
cidade. Usar os meios de comunicação para mostrar, apoiar e animar a caminhada do povo.
“O uso dos meios de comunicação é para realimentar a comunicação e perpetuar a
participação. Precisamos valorizar os profissionais da comunicação e os agentes dessa
pastoral. Com eles poderemos melhorar o resultado da evangelização”. 290
289 CENTRO DE ESTATÍSTICA RELIGIOSA E INVESTIGAÇÕES SOCIAIS. Desafios do catolicismo na cidade: Pesquisa em regiões metropolitanas brasileiras. São Paulo: Paulus, 2002. p. 141. 290 BELTRAMI, A. Comunicação, cultura e evangelização. p. 77.
173
• As visitas missionárias também merecem destaque, pois 893 pessoas
apontaram que as visitas às residências, aos hospitais, aos presídios e às escolas são ações da
Igreja que sinalizam que a Igreja de São Paulo está evangelizando a cidade. O Regional Sul I
da CNBB tem apontado caminhos e despertado para a presença da Igreja nos diversos espaços
da cidade. Isto se deu depois da constatação dos dados apresentados pelo IBGE no Censo
2000 sobre a diminuição dos católicos em 9,4% em relação ao Censo 1990.291
• As Pastorais Sociais que receberam a indicação de 915 pessoas como sinal de
que ação da Igreja que evangeliza a cidade de São Paulo reflete a ação da pastoral da criança,
do menor, carcerária, do povo da rua, afro, indigenista, da moradia, da mulher marginalizada,
do mundo do trabalho, da terceira idade, dos migrantes e do grupo fé e política da
Arquidiocese de São Paulo. Essas pastorais constituem a melhor expressão da teologia da
libertação. Elas exprimem o compromisso da Igreja no Brasil com situações, problemas e
desafios emergentes. Em regra geral, essas pastorais brotam do encontro entre evangelização,
realidade social e modernidade. É missão da Igreja evangelizar a totalidade da existência
humana, sem deixar de fora qualquer de suas dimensões.
A organização e atuação das pastorais sociais contribuem para fazer surgir
novos projetos políticos que levem em conta a opinião do povo e uma
participação que vai além do ato de votar nas eleições. Os
cristãos participam do rumo da nação, com as demais pessoas de boa
vontade, tendo como base um perene e consistente instrumento, que é a
doutrina social da Igreja [...] As pastorais sociais da Igreja vislumbram o
horizonte de um novo processo civilizatório, em que se valorize o que é
humano, transcendental e ecológico. 292
291 CONSELHO EPISCOPAL REGIONAL SUL I. Projeto de Ação Missionária Permanente. p. 2. 292 STRINGHINI, P. L. As pastorais sociais no contexto da ação da Igreja. In: VILHENA, M. A. e PASSOS, J. D. (orgs.) A Igreja de São Paulo. Presença católica na história da cidade. São Paulo: Paulinas, 2005. p. 549.
174
Através destas pastorais a Arquidiocese de São Paulo não apenas exerce o seu papel
crítico e profético, mas, sobretudo influencia positivamente, contribuindo e possibilitando
caminhos ou modelos alternativos mais condizentes com a dignidade humana e com a
vocação do homem em Cristo. “Elas têm o mérito de buscar responder a desafios da
modernidade e da realidade social, constituindo-se numa das formas mais eficazes de
presença da Igreja no mundo”.293
• Outra questão que merece uma maior reflexão, é que ainda há uma distancia
entre a Igreja e a política. Apenas 343 pessoas responderam que a participação política é uma
ação da Igreja que evangeliza a cidade. Com tantos escândalos, corrupção, decepções na vida
dos políticos do país que fazem com que cada vez mais haja um recuo da igreja e seus
membros na vida política e na administração pública. (Tabela V). Uma tentativa de decifrar o
enigma da relação entre evangelização e política é a distinção entre dois mandatos diferentes,
o espiritual e o social. O primeiro se refere à incumbência de anunciar a boa nova da salvação
através de Jesus Cristo; o segundo conclama os cristãos a participarem responsavelmente da
sociedade humana, incluindo o trabalho em prol do bem-estar humano e da justiça, pois, “não
há espaço para um evangelho que seja indiferente às necessidades do homem integral ou do
homem global”.294
2.4.4.6. Solidariedade e transformação junto aos marginalizados e excluídos
A missão da Igreja é anunciar a Boa Notícia de Jesus Cristo a todas as pessoas. Em
grande parte da cidade de São Paulo a Arquidiocese de São Paulo é a responsável por esta
missão.
293 CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1991-1994. (Documentos da CNBB n. 45) 216. São Paulo, Paulinas, 1991. 294 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 484.
175
A PAESP perguntou aos evangelizadores sobre as ações solidárias da Igreja e sobre as
ações transformadoras junto aos excluídos e marginalizados da cidade de São Paulo.
Das pessoas que responderam a pergunta, 77,1% disseram que a igreja de São Paulo
tem ações solidárias e transformadoras diante dos clamores do povo marginalizado e excluído
(Tabela X).
Mais da metade das 1006 pessoas que disseram sim apontaram o grupo de
marginalizado e excluído para com os quais a Igreja de São Paulo é solidária e tem ações
transformadoras (Tabela X 1). A pastoral da Moradia da Arquidiocese de São Paulo e o apoio
da Igreja aos Movimentos Populares de Moradia foram reconhecidos por 540 pessoas que
responderam a pergunta. Em seguida foi lembrado o trabalho da Igreja junto ao
marginalizados e excluídos da saúde. O terceiro grupo apontado como aquele que recebe as
ações solidárias e transformadoras da Igreja de São Paulo é o grupo dos marginalizados e
excluídos do mundo do trabalho e em seguida aparece o grupo dos marginalizados excluídos
da educação.
Um grupo de 256 pessoas assinalou que a Igreja é solidária e tem ações
transformadoras junto a outras pessoas. As pessoas ou grupos mencionados foram
encarcerados, população de rua (incluindo as crianças), indígenas, pessoas deficientes,
prostitutas, refugiados e dependentes químicos.
2.4.4.7. Análise das ações solidárias e transformadoras junto aos excluídos
A Arquidiocese de São Paulo possui grupos de pessoas: leigos, leigas, religiosos,
religiosas, padres e bispos que mantêm trabalhos assistenciais, promocionais e
transformadores nas diversas paróquias. São creches, trabalhos com adolescentes, com
moradores de rua, com prostitutas, com dependentes químicos, com famílias sem moradia,
176
desempregados, alfabetização de jovens e adultos, luta por melhores e mais postos de saúde e
hospitais, luta por transporte, doação de alimentos, roupas, remédios entre outros. São
diversas entidades sociais ligadas a Igreja que realizam trabalhos com grande número de
pessoas nos três níveis da caridade: assistencial, promocional e transformador. O Seminário
da Caridade realizado pela Arquidiocese de São Paulo e as outras dioceses que estão no
território do município de São Paulo: Diocese de São Miguel Paulista, Diocese de Santo
Amaro, Diocese de Campo Limpo e Diocese de Osasco apresentaram muitos dados
importantes sobre a ação solidária e transformadora da Igreja na cidade.295
Desde o Concílio Vaticano II a Igreja se compromete com a vida econômica, política e
cultural para encontrar a sua plenitude na eternidade. Não há evangelização sem
solidariedade; não existe solidariedade cristã que não implique compartilhar o conhecimento
do reino que é a promessa de Deus aos pobres da terra. Ocorre aqui um duplo teste de
credibilidade: uma proclamação que não exiba as promessas de justiça do reino aos pobres da
terra caricaturiza o evangelho, mas uma participação cristã nas lutas por justiça que não
aponte para as promessas do reino também torna caricatural a compreensão cristã de
justiça.296
A vida de cada pessoa se faz de interação e conteúdo, pois, é real e concreta, situada
em todas as suas dimensões, porque ela é o lugar da experiência, humana sem dúvida, mas
também de Deus – com suas limitações e contradições – que é lugar onde nossa experiência é
posta à prova e onde nossa opção de vida e de sentido é testada, para comprovar se é
autêntica, se é consistente, se tem resistência. Por isso, a vida é o único lugar da integração da
pessoa. À medida que a enfrentamos se manifesta qual é o princípio unificador da existência
295 cf. SEMINÁRIO DA CARIDADE. Presença da Igreja na cidade de São Paulo. p. 7. 296 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 488.
177
da pessoa. A vida não só nos põe a prova, mas nela se comprova e se verifica, se faz verdade,
a qualidade do nosso seguimento de Jesus.297
Na medida em que as pessoas vão conhecendo melhor a realidade social da
comunidade vão se tornando mais sensíveis aos problemas que atingem as pessoas no dia a
dia. Sempre há uma pessoa na comunidade eclesial mais sensível aos problemas enfrentados
pela sociedade e esta sensibilidade é capaz de seduzir outras pessoas que se comprometam
com a causa da justiça e dos direitos básicos do homem. O “serviço aos irmãos” brota
necessariamente desta adesão; não como uma “causa” exterior, mas como algo inerente a
identificação da própria vida com a vida de Jesus. A realidade em questão é a mesma quando
se trata de lutar pela “causa” dos pobres ou de servi-los em nome de Jesus e do Evangelho.
Mas as motivações são diferentes de estar presentes na realidade: lutando por uma
sociedade justa, resistindo a todos os embates ou, tantas vezes, como mostra a história,
capitulando e desistindo, quando a “causa” parece perdida e sem futuro. Identificar a própria
vida com a vida e o destino dos pobres é mais do que uma “causa” e não se pode confundir
com o fazer.298
Num olhar mais abrangente sobre as ações solidárias da Igreja e as ações que
transformam a vida das pessoas marginalizadas e excluídas, o serviço aos irmãos pobres é
testemunho do cristão na vivência dos ensinamentos evangélicos na cidade de São Paulo.
Interessante notar que se por um lado percebemos na sociedade em geral uma perda de
valores religiosos, encontramos um resgate de valores humanos e sociais. Há na sociedade,
independente das religiões, movimentos sociais e de solidariedade.
297 PALÁCIO, C. Novas gerações e o futuro da Vida Religiosa. In: ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações e vida religiosa: Pesquisa e análises prospectivas sobre a vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004 p. 159 298 PALÁCIO, C. Novas gerações e o futuro da Vida Religiosa. p. 145.
178
2.4.5. Dificuldades para evangelizar na cidade de São Paulo
A PAESP perguntou aos agentes evangelizadores quais são as maiores dificuldades
para evangelizar na cidade de São Paulo. Os itens que seguem mostram os dados obtidos e faz
uma análise dessas dificuldades.
2.4.5.1. Dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização da cidade
Violência Distância Medo Despreparo dos agentes
Falta de Comunicação Desemprego
803 355 619 625 585 412
Poucos Recursos
Desigual- dade Social
Comodismo das pessoas
Individua- lismo
Centralização de Poder
Crescimento de outras Igrejas
429 453 969 707 394 503
Falta de Incentivo
Número reduzido de leigos
Estrutura Paroquial
Dificuldade de constituir comunidade Consumismo Outros
431 825 339 510 460 129
2.4.5.2. Análise das dificuldades encontradas pelos agentes na evangelização
O comodismo das pessoas aparece em primeiro lugar (969 pessoas) entre as
dificuldades encontradas pelas pessoas que responderam a pesquisa para evangelizar a cidade.
O comodismo é uma das maiores dificuldades encontradas pelos agentes evangelizadores; é
uma resposta de quem efetivamente vivencia, constata e partilha tal situação. É interessante
notar que a maior dificuldade encontrada para evangelizar na cidade é atribuída à dimensão
pessoal.
179
Percebe-se que o comodismo das pessoas, apresentado como dificuldade para
evangelizar a cidade, não está somente entre aqueles que não vão às missas. O comodismo
está presente também entre padres, religiosos(as), leigos e leigas que ministram os
sacramentos, ou catequizam aqueles que procuram as suas igrejas.
O número reduzido de leigas e leigos comprometidos com os trabalhos da Igreja
também recebeu votos expressivos, 825 pessoas acreditam que se houvesse maior número de
leigos e leigas, a cidade estaria mais evangelizada. “Sem dúvida, a escassez de sacerdotes foi
uma bela ocasião para a Igreja recuperar um de seus elementos estruturais, os ministérios
leigos”.299 O número reduzido das leigas e leigos comprometidos com os trabalhos da igreja
aparece de forma expressiva (TabelaW) como dificuldade para evangelizar na cidade de São
Paulo, isso sinal de que os leigos estão assumindo sua missão. Ainda que a presença das
leigas e leigos, sobretudo daqueles que questionam as estruturas da Igreja, não seja aceita em
muitas paróquias e outros grupos eclesiais, não se pode negar sua atuação em muitos setores
da organização estrutural e pastoral da Arquidiocese de São Paulo. A sociedade globalizada
exige também uma diversificação e surgimento de novos ministérios. É um apelo e uma
tendência para que a Igreja assuma a sua missão evangelizadora, reconheça e valorize a
missão dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade.
A violência e o medo também são dificuldades apresentadas para o trabalho do
evangelizador, 803 e 609 respectivamente (Tabela W). A violência urbana é um fenômeno
complexo. A violência parece ser, entre os problemas que atingem atualmente os moradores
de São Paulo, um dos que são capazes de suscitar as maiores paixões e de revelar preconceitos
e ódios sobre os quais se costuma calar em outros contextos. È um problema que dificulta a
convivência entre as pessoas como já foi mencionado no primeiro capítulo deste estudo. O
medo da violência tem mudado a paisagem da cidade. Os muros, as grades subiram em toda a
299 DALLA COSTA, A .A. Os ministérios leigos. p. 177
180
cidade. As trancas e sistemas de alarme se multiplicaram. Os moradores saem menos à rua,
evitam caminhos e lugares escuros ou “desertos”. Nos edifícios residenciais e comerciais há
necessidade de identificação, apresentação de documentos e tiram-se fotos na entrada da
pessoa. A criminalidade está estampada nas manchetes dos jornais e são aberturas dos
noticiários televisivos. “O remédio para a violência é mais violência. Essa alternativa é
defendida por várias figuras públicas, difundidas diariamente em programas de rádio e
televisão de grande audiência, transformada em programa político por candidatos a postos
eletivos”.300
A estrutura paroquial foi o item que menos votos teve (339 pessoas). As pessoas
acreditam na estrutura paroquial? Estão tão presos a ela que ainda não tomaram consciência
disto? Entendem que evangelizar a cidade não consiste em ficar com as igrejas de portas
abertas e igrejas lotadas nos horários de missa? A renovação paroquial subentende a decisão
do pároco, o conhecimento da realidade, o emprego das potencialidades da paróquia, uma
renovação planejada e continuada e, sem dúvida o protagonismo dos leigos.
A estrutura paroquial, embora ainda válida, vem revelando inadequação para
evangelizar esses grandes centros urbanos, onde os meios de comunicação
social exercem grande influência, freqüentemente conflitante com a
mensagem do Evangelho, e superam em eficácia o magistério da Igreja.301
Num mundo globalizado tal como o que vivemos atualmente, o que parece se destacar
é o fato de que as referências não são mais estabelecidas e fixas, mas encontramo-nos frente a
uma multiplicidade sempre maior de modelos, concepções, apelos, veiculados principalmente
pelos diversos canais da mídia, com um intenso bombardeio de informações, motivações e
300 BRANT, V. C. (coord.). São Paulo trabalhar e viver. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 167. 301 CNBB. Pistas para uma pastoral urbana. (Estudos da CNBB n. 22) 37.
181
estímulos. Se, anteriormente, éramos orientados via tradição das instituições (família, religião
e escola, quando a ela se tinha acesso), constatamos, em nossos dias, a imensa gama de
material, apelos, propagandas, comportamentos disponíveis para o encantamento e consumo
e, porque não dizer, para o exercício de sua escolha.302
O individualismo (707 pessoas) também merece uma nota de análise, visto que se
apresenta como uma das dificuldades para a ação evangelizadora em São Paulo. Na sociedade
pós-moderna, há uma crise de ideologias. A liberdade de escolha pressupõe ampla gama de
alternativas, ou seja, o pluralismo. Nos últimos anos, sobretudo nas grandes cidades, há uma
ampla possibilidade de escolhas individuais que contribuem para sufocar ou esvaziar o
impulso para mudar a cidade inteira. O indivíduo hoje pensa, antes de tudo, em mudar a si
mesmo ou em realizar o mais amplamente possível seus objetivos pessoais. Na verdade, a
sociedade garante liberdade meramente na esfera do privado.
No plano privado, a liberdade proposta e permitida, até incentivada pela sociedade
de hoje, é ilimitada e sem ética. O indivíduo é apresentado como senhor absoluto de si
mesmo e de seus atos, pelo menos até quando não queira mudar a “ordem” social capitalista.
O processo de que se serve a sociedade de consumo para criar a ilusão da liberdade ilimitada
do indivíduo é complexo. Hoje a comunicação instantânea, em tempo real (on line), com o
mundo inteiro, permite ao indivíduo prescindir da proximidade física. Há uma espécie de
desenraizamento e “desterritorialização” das relações sociais, econômicas, culturais e
religiosas.303
302 CARDIERI, E. Juventude e Vida Religiosa: Enfoques educacionais. In: ANJOS, M. F. dos. (org.). Novas gerações: Pesquisa e análises prospectivas sobre Vida Religiosa no Brasil. 2 ed. Aparecida: Santuário, 2004. p. 117. 303 ANTONIAZZI, A. Perspectivas pastorais a partir da pesquisa. In: CENTRO DE ESTATÍSTICA RELIGIOSA E INVESTIGAÇÕES SOCIAIS. Desafios do catolicismo na cidade: Pesquisa em regiões metropolitanas. São Paulo: Paulus, 2002. p. 258.
182
2.4.6. Renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo
Para 638 pessoas a ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo é ação que
renova a vida das comunidades eclesiais, anuncia e testemunha Jesus Cristo na cidade. Para
597 pessoas esta ação da igreja se dá parcialmente. Apenas 2% das pessoas pesquisadas
disseram que a ação da Igreja de São Paulo não é ação que renova a vida das comunidades.
(Tabela Y).
Das 1260 que responderam apontando sim ou parcialmente para ação da igreja quanto
à renovação das comunidades, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 957 pessoas assinalaram
a Liturgia como sinal mais visível da ação da Igreja na evangelização da cidade. (Tabela Y1).
Os trabalhos sociais realizados pela Arquidiocese de São Paulo apresentam-se em
segundo lugar com 780 pessoas que disseram que esta ação da Igreja renova, anuncia e
testemunha Jesus Cristo na cidade.
Os cursos Bíblicos, Escola da Fé, Teologia para Leigos vem em seguida com 736
pessoas que acreditam que com eles a Igreja se renova.
2.4.6.1. Análise das ações de renovação, anúncio e testemunho Jesus Cristo
O apoio espiritual às pessoas foi o item da pergunta menos lembrado como ação da
Igreja (464 pessoas). Há aqui uma pergunta: o item foi menos assinalado porque é menos
importante, ou porque a Igreja de São Paulo tem pouco trabalho de apoio espiritual às pessoas
e nem é reconhecido? Aquilo que é visto é mais lembrado, pois o item Liturgia (Missas e
Celebrações da Palavra) é vivido e visto em todas as Paróquias e Comunidades, inclusive em
lugares públicos e na televisão.
183
Total ou parcialmente a pesquisa mostra que a Igreja de São Paulo renova-se nas suas
comunidades, anunciam e testemunham Jesus Cristo na cidade de São Paulo. Uma ação deve
completar a outra, todas estas ações e outras são importantes para que a cidade se torne cada
dia mais humana, fraterna, justa, cristã.
Não há dicotomia entre a palavra falada e a palavra que se faz visível na vida do povo
de Deus. Os homens olharão ao escutarem, e o que eles virem deve estar em consonância com
o que ouvem. Há tempos em que nossa comunicação pode se dar apenas por atitudes e ações,
e há outros em que a palavra falada estará só: mas precisamos repudiar como demoníaca a
tentativa de colocar uma cunha entre evangelização e a preocupação social. 304 A
evangelização não se faz só de atividades, mas de testemunho de vida, porque, na verdade, “a
participação na missão universal não se reduz a algumas atividades particulares, é sinal da
maturidade da fé e de uma vida cristã que produz frutos”.305
O apoio espiritual às pessoas, item da pergunta menos lembrado como ação da Igreja,
merece ser estudado mais profundamente, pois uma das grandes buscas das pessoas urbanas é
o apoio espiritual. Os párocos sabem muito bem disto.
Muitas pessoas procuram as igrejas para serem escutadas e receberem orientações
espirituais para continuarem sua vida. São pessoas que buscam partilhar sua vida e seus
dilemas existenciais, familiares e sociais. É fundamental que a Igreja não se furte desta
responsabilidade e seja promotora de partilha e escuta. “Escutar é obviamente algo que vai
além da possibilidade auditiva de cada um. Escutar no sentido aqui discutido, significa a
disponibilidade permanente por parte do sujeito que escuta, para abertura à fala do outro, ao
gesto do outro, às diferenças do outro”.306
304 BOSCH, D. J. Missão transformadora. p. 486. 305 JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio 77. 306 FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. p. 133.
184
Para renovação da comunidade há necessidade de uma autêntica solidariedade entre as
diversas comunidades eclesiais. A capacidade de construir a unidade na promoção dos
diferentes carismas, no respeito a sensibilidades e pontos de vista variados, articulando-os no
enfrentamento de necessidades, problemas e desafios. “A fé em Jesus Cristo e na pertença à
sua Igreja, formam o suporte para a comunidade, o vigor que a envolve na totalidade e em
cada um de seus membros, conduzindo-os à participação, à comunhão e à co-
responsabilidade”.307
A Igreja mais do que nunca, precisa se reformular na cidade, em permanente
evangelização. A pastoral de atendimento e o trabalho de manutenção e conservação da
Igreja, na cidade, só se tornam viáveis se estiverem combinados com a evangelização que
desafia a realidade de violência, medo, insegurança e injustiças. Os conceitos antigos de
evangelização devem combinar com as novas necessidades do homem urbano para que a
Igreja continue sua missão. Esta constante reformulação da Igreja e dos agentes
evangelizadores só acontece quando há uma grande paixão pelo Evangelho. Há necessidade
de superar de forma democrática, os limites impostos pelos agentes coordenadores de grupos
de evangelizadores, para conquistar novos afetos e simpatias e o apoio de maior número de
pessoas, para ampliar o modelo de evangelização urbana praticado na Arquidiocese de São
Paulo a partir das deliberações das assembléias arquidiocesanas, regionais, setoriais,
paroquiais e demais organismos da estrutura pastoral.
2.4.7. Notas
A PAESP coletou informações sobre a Arquidiocese de São Paulo. São dados que
revelam a força da Igreja na cidade de São Paulo. Este trabalho se limita a fazer algumas
307 OLIVEIRA, P. A. R. Comunidade Igreja e poder. Revista Eclesiástica Brasileira. Petrópolis: Vozes, Fasc. 186, [jun.] 1987. p. 302.
185
análises destas informações, outras são necessárias e urgentes para que a missão de
evangelizar a cidade seja atingida com eficácia neste nosso tempo.
2.4.7.1. Sobre os Conselhos Paroquiais de Pastoral
Foram 22 Conselhos Paroquiais de Pastoral em que foi realizada a PAESP com
conselhos compostos de 09 a 58 pessoas, incluindo o padre. Quais são os critérios observados
em cada paróquia para compor o Conselho Pastoral Paroquial? As nove pessoas reunidas
naquele conselho representam o todo pastoral daquela paróquia? A mesma pergunta é feita
sobre a Paróquia que reúne 58 pessoas? São todas as lideranças da paróquia?
A Arquidiocese de São Paulo não tem orientações claras para as paróquias sobre a
formação, periodicidade e missão dos Conselhos Paroquiais de Pastoral. A constituição do
Conselho acontece segundo a visão de cada pároco ou administrador paroquial. Por quanto
tempo cada membro deve permanecer no Conselho? Sabemos que em algumas paróquias
estas funções são vitalícias o que trás um prejuízo pastoral para a Paróquia e
conseqüentemente no anúncio do Evangelho na cidade, pois os agentes de pastoral depois de
algum tempo se cansam, se frustram, desanimam e acabam achando que tudo está bom. A
Igreja volta-se para suas atividades rotineiras, paroquiais, se esquecendo da sua grande
missão: anunciar Jesus Cristo a todos os povos.
2.4.7.2. Sobre os Conselhos Setoriais de Pastoral
Entre os treze setores pesquisados, encontrou-se reunidos de 10 a 52 pessoas para a
realização do Conselho Setorial de Pastoral. Na Arquidiocese de São Paulo há setores com
maior e com menor número de paróquias o que resulta no número de pessoas. Encontramos
186
reunião do Conselho Setorial com 09 padres e apenas um leigo, que tinha a função de
secretariar a reunião. Em geral os conselhos setoriais se reúnem para refletir as propostas
pastorais encaminhadas pelo Conselho de Pastoral de cada Região e isto acontece
mensalmente. A Arquidiocese de São Paulo tem documentos que pautam orientações para a
organização dos Conselhos setoriais quanto a sua composição, periodicidade, manutenção e
missão.308
2.4.7.3. Sobre os Conselhos Regionais de Pastoral
Quanto às regiões episcopais conseguimos realizar a pesquisa em quatro, uma região
não reuniu o Conselho Regional de Pastoral (C.R.P) nenhuma vez durante o ano de 2005 e em
outra, o bispo disse que não haveria possibilidade, pois teria assembléia regional e que não
dispunha de tempo para que a pesquisa fosse realizada, embora o padre coordenador de
pastoral dissesse que haveria possibilidade de “arrumar” tempo, pois a pesquisa poderia
ajudar trabalhos futuros daquela região.
2.4.7.4. Sobre as coordenações dos Movimentos de Apostolado Leigo
Foram 07 grupos de Movimentos pesquisados. Tivemos facilidade de encontrar os
responsáveis por estes grupos e igual agilidade para agendar nossa presença em suas reuniões
para realizar a pesquisa. São grupos organizados, inclusive com pessoas liberadas pelo
movimento para realizar tais trabalhos. Há movimentos que têm boa formação intelectual e
também espiritual, mas com pouco sentido de comunhão eclesial, sobretudo, com pouco
sentido de inserção na Igreja de São Paulo.
308 ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Diretório da coordenação de setor. p. 4.
187
2.4.7.5. Sobre as coordenações das Pastorais em nível arquidiocesano
Quanto as Pastorais em nível Arquidiocesano a pesquisa foi realizada em 15 grupos.
Neste nível encontramos as Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo. São grupos que
carregam a incumbência de manter viva a luta pelos direitos básicos: à vida, saúde, moradia,
educação, trabalho. Grupos em que o pesquisador encontrou facilidade em realizar a pesquisa,
pois vários responsáveis eram conhecidos seus. As pastorais específicas são hoje o mais
eloqüente testemunho da Igreja que, nos grandes centros urbanos, compreendem o sentido
histórico da irrupção do Reino e aos poucos vai se comprometendo e levando a outros a se
comprometerem na tarefa de edificá-lo através das conquistas do dia-a-dia, que melhoram e
transformam a vida dos filhos mais sofridos de Deus. A força das Pastorais com grupos
específicos de marginalizados e excluídos da cidade, é reconhecida, embora não seja por
todos, animada e incentivada na Igreja de São Paulo.
2.4.7.6. Sobre as coordenações das Associações de fiéis
Entre as Associações de Apostolado leigo quatro grupos foram pesquisados. Há varias
associações na Arquidiocese de São Paulo, mas poucas têm trabalho em grande extensão, a
maioria são grupos pequenos que são conhecidos somente em uma região ou paróquia.
188
CONCLUSÃO
Hoje há uma grande busca da felicidade. Apesar de todo o individualismo presente nas
pessoas há comunidades que se unem para conquistar a felicidade. São práticas individuais
vividas dentro de instituições onde as pessoas se encontram e se estimulam mutuamente. São
realidades praticadas em diversas igrejas, sobretudo nas igrejas pentecostais, em comunidades
virtuais, grupos diversos de gênero musical, cinema, jogos, valorização do corpo e da beleza,
uso de entorpecentes. De forma geral, a sociedade exige que todas as pessoas estejam sempre
felizes.
Estamos vivendo numa sociedade de mercado, onde tudo é vendido. O marketing tem
função fundamental neste mercado. Assim, a religião entra hoje na sociedade também como
um produto que é vendido e, não pode ser imposta, tem que seduzir. Seduzem aquelas que
usam o marketing para descobrir o que as pessoas desejam comprar, o que elas precisam, o
que as satisfaz. A regra do mercado é a competição: ganha aquela que tem “produto” bom e
sabe apresentá-lo às pessoas, isto é, seduzi-las. A religião, se quiser ser “vendida” tem que
atender as regras do mercado: seduzir e satisfazer o “cliente”.
Para muitas pessoas, a felicidade está em conquistar bens, bom emprego, dinheiro. As
pessoas fazem até promessas para atingir seus objetivos: é a Teologia da Prosperidade. Porém,
para a Igreja que acredita no Evangelho e que sempre teve como conceito de religião o
compromisso não aceita as regras do mercado e prefere continuar evangelizando através do
anúncio explícito de Jesus Cristo com visitas missionárias às casas das pessoas, diálogo com
outras religiões e do crescente ecumenismo, presente já em diversas igrejas na pluralidade da
cidade. Exercendo o serviço aos mais sofridos e injustiçados - os sem teto, os encarcerados,
pessoas que vivem nas ruas, menores infratores, desempregados, indígenas, mulheres
marginalizadas - e do testemunho de comunhão que acontece no cotidiano dos cristãos
189
urbanos em que se dá a valorização das pessoas e dos diversos grupos que trabalham para
construir uma sociedade mais justa, solidária e humana. Por isso, a Igreja se organiza, se
mobiliza, convoca e se reúne para decisões pastorais que venham de encontros às
necessidades do povo e para o fiel cumprimento de sua missão evangelizadora.
A Igreja de São Paulo enfrenta os problemas sofridos também em outras dioceses,
onde, de modo geral as assembléias de planejamento pastoral pecam por excesso de idealismo
ou irrealismo. São falas, reflexões, exposições para um mundo ideal que não existe. Isso
porque se pensa em uma Igreja ideal, que também não existe. Há uma distância muito grande
entre a Igreja apresentada nos documentos eclesiásticos, nos planos de pastoral e a Igreja real,
que tem ação através dos agentes evangelizadores.
Ao propor os planos de pastoral, as coordenações, conselhos e pessoas “delegadas”
são impulsionados por grande beleza espiritual e motivações que não levam em consideração
outros argumentos e reflexões sobre o homem e sua vida na realidade urbana. Muitas dessas
reflexões são produzidas pelo clero, que vive em realidade bastante diferente da vivida pelo
povo sofrido, carente dos direitos básicos à vida. Por isso, o que é planificado ou planejado,
na realidade não atende às expectativas dos agentes evangelizadores e muito menos das
outras pessoas que os recebem, vêem e julgam as ações da Igreja.
Os bispos e os padres não têm conhecimento de toda a realidade que envolve a vida da
pessoa paulistana em seus aspectos humano-afetivos, existenciais, econômicos, culturais ou,
sociais e devem ser despertados para valorizar as ciências sociais, que muito contribuirão para
decifrar a sociedade, clarear a visão e responder a muitas das dificuldades encontradas pelos
agentes evangelizadores na cidade de São Paulo, para que a ação evangelizadora seja eficaz e
atinja a todos, transformando a sociedade.
Na ação da Igreja no dia-a-dia, as diretrizes pastorais defendidas com tanta convicção
nas reuniões e assembléias pastorais simplesmente não têm poder sobre a ação dos
190
evangelizadores e desaparecem, enquanto outras diretrizes e princípios mais urgentes,
concretos e necessários, entram na pauta das reuniões dos conselhos e coordenações pastorais
da Arquidiocese de São Paulo.
O 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, objeto deste estudo, apresenta o
objetivo da ação pastoral em dois pólos: o da evangelização e o da solidariedade. O pólo da
evangelização define o que é: evangelizar, renovar as comunidades eclesiais e anunciar e
testemunhar Jesus Cristo com ardor missionário. O pólo da solidariedade reflete: a
necessidade de ouvir e responder aos clamores do povo marginalizado e excluído da
sociedade na cidade de São Paulo.
O 8º Plano de Pastoral apresenta fundamentação bíblica e teológica, pois há inserção
de textos bíblicos que justificam a ação proposta pelo Plano com reflexões teológicas
contundentes, trazendo sempre preocupações da realidade da cidade de São Paulo e seus
desafios. São apresentadas ações que “responderiam” aos apelos da sociedade, de forma
especial aos clamores do povo marginalizado e excluído do mundo do trabalho, da saúde, da
moradia e da educação. O documento informa a população de cada região episcopal sobre sua
área geográfica correspondente, apresenta a estrutura organizacional da Arquidiocese de São
Paulo - regiões episcopais, setores, paróquias e Comunidades Eclesiais de Base – e também o
número de padres, religiosos e religiosas presentes na Arquidiocese de São Paulo. O texto não
traz informações sobre: as Pastorais em nível arquidiocesano, os Movimentos de Apostolado
leigo, as Associações de fiéis, os organismos e os serviços que tem trabalhos evangelizadores
na Igreja de São Paulo. Da mesma forma, também não faz referência aos leigos, não sugere
quantos estão comprometidos na evangelização na cidade de São Paulo e nem impulsiona
para o seu protagonismo.
Há a necessidade dos evangelizadores da Arquidiocese de São Paulo tomarem parte de
modo cada vez mais nas atividades sociais, para buscar uma sociedade alternativa àquela
191
proposta pelo sistema neoliberal, que exclui Deus e o homem. Uma tarefa que significa
alimentar sempre a esperança do povo, constituindo pequenas comunidades, para que as
pessoas possam se conhecer, aprofundar, conviver e vivenciar os ensinamentos evangélicos na
sociedade. Para isso, é necessário investir na formação de muitos agentes evangelizadores e,
isso só será possível com a valorização dos leigos e leigas e com a co-responsabilidade em
decisões e encaminhamentos hoje reservados quase que exclusivamente ao clero. Enfim, é
desejável enxergar além daquilo que se vê da porta da Igreja, superar os limites paroquiais e
“avançar para águas mais profundas”, influir na administração da cidade, seja no nível
governamental ou através do testemunho de milhares de homens e mulheres que trabalham,
lutam e constroem esta cidade.
A Igreja necessita dar testemunho cristão na sociedade urbana e, ela tem autoridade
para isto, através da presença que tem em toda a cidade e, da comunhão e da participação que
pode proporcionar às pessoas com agentes mais acolhedores, serviçais, ativos e
comprometidos com a missão de anunciar a Boa Notícia, Jesus Cristo a todas as pessoas.
Desta forma, poderá promover a cidadania, agir e interagir em todos os espaços urbanos, não
com a atitude de manipular ou monopolizar os discursos, mas de contribuir com ensinamentos
evangélicos para o crescimento humano das pessoas urbanas.
Várias CEBs e pastorais sociais muito tem colaborado na luta por melhores condições
de vida na cidade. Proteção à natureza, luta por direitos básicos como saúde, moradia,
educação, direitos humanos, transporte e, não discriminação das pessoas são algumas das
participações da Igreja na conquista de dignidade para os moradores da cidade de São Paulo.
Existe aí um amadurecimento da consciência social, da fé e das formas concretas que ela
assume. São dimensões da vida social que se impõem às comunidades cristãs de fora para
dentro, questionam a fé e são concretizadas na solidariedade e em manifestações pela
transformação social.
192
O individualismo apontado na PAESP como uma das dificuldades que o evangelizador
encontra para sua ação, está presente também nos diversos grupos que se formam na
Arquidiocese de São Paulo. Há nestes grupos preocupação em cumprir os “seus” objetivos e
atividades, o que dificulta encontrar tempo e despertar pessoas para o compromisso com o
Plano de Pastoral e suas diretrizes.
Permanece, portanto, o desafio de articular toda a estrutura organizacional da
evangelização para dinamizar os trabalhos exercidos com zelo e sabedoria, que perdem sua
força diante da imensidão da cidade e dos desafios que ela apresenta. A unidade da prática
evangelizadora está ameaçada por fenômenos vividos pelas pessoas que agem em nome da
Igreja e que trazem, é claro, características da pessoa urbana, entre elas destacando-se o
individualismo.
A pessoa urbana tem o poder e é capaz de definir o que é importante para si, assim
como o que é importante realizar dentro de uma imensa possibilidade de ações e o jeito como
deve agir na Igreja. Sua fé permite estas atitudes e ela age, assim, sem dramas de consciência.
No passado, a comunidade eclesial era o mesmo lugar da moradia, o território onde
estava localizada a sede paroquial. Hoje, esta não é mais a principal característica da
comunidade. A dimensão social da Igreja hoje está ligada ao “sentir se bem” e, independente
do local onde a pessoa mora. O mundo em que as pessoas convivem não coincide mais com o
território. Há na realidade urbana dos grandes centros uma agrupação de pessoas que sugere
mudanças na estrutura organizacional da Igreja. Mas a comunhão eclesial não está
prejudicada por estas circunstâncias, pois a comunhão é medida pelos atos de fé e pelo
testemunho cristão na sociedade.
Em nossas sedes paroquiais e CEBs, participam dos sacramentos e de outras
atividades litúrgicas ou pastorais pessoas que já residiram naquele território paroquial, mas
agora moram em lugares distantes. Entretanto, preferem continuar freqüentando aquela
193
comunidade simplesmente porque ali se sentem bem. Ao mesmo tempo, há pessoas que não
se “identificam” com o padre ou com pessoas daquela comunidade eclesial e decidem migrar
para outras paróquias, onde se sentem acolhidas e valorizadas e, encontram o “seu” espaço.
Além disso, como temos visto nos estudos do CERIS, um trânsito não somente entre as
comunidades católicas, mas igualmente uma migração muito grande para outras igrejas e
religiões, o que é mais grave.
Embora a Arquidiocese de São Paulo tenha acompanhado a crescente urbanização pela
qual a cidade de São Paulo tem passado nas últimas décadas, ainda permanece um ranço rural.
No imaginário dos agentes evangelizadores, talvez ainda exista uma comunidade rural. As
atividades são pensadas para grupos restritos de pessoas que vivem em locais próximos. No
meio urbano, há enorme possibilidade de comunicação, mas ainda há comunidades que tem
vida isolada, independentemente de toda organização pastoral proposta pela Arquidiocese.
Nos centros urbanos, não há mais fronteiras claras que delimitam territórios.
Para o efetivo cumprimento da missão evangelizadora, a comunicação entre os
membros da Igreja poderia tornar-se uma multiplicidade de ligações com diversas expressões
ou instâncias eclesiais, possibilitar a constituição de pequenas comunidades com formação e
compromissos, onde se poderá viver uma eclesialidade rica e profunda, articulada com toda a
Igreja arquidiocesana em sua diversidade. Alguns estudiosos chamam esta possibilidade de
vivência da fé nos grandes centros urbanos de “rede de comunidades”.
Há atualmente um enfraquecimento da política, do interesse de participação nas
funções públicas e pelo bem comum. Cada um procura e defende o interesse do seu grupo. A
sociedade apresenta hoje para o cristianismo, o grande desafio de reconstruir a solidariedade e
a responsabilidade pelo bem comum e público.
A Arquidiocese de São Paulo, por meio das pastorais sociais, vem tentando promover
a justiça e salvaguardar o direito comum a todas as pessoas. Agentes evangelizadores se
194
organizam em grupos pastorais para lutar pela moradia, atendimento médico e hospitalar,
educação e outras políticas públicas que contribuam para promover e conquistar a dignidade
das pessoas na cidade de São Paulo. Caminhos são percorridos por diversas lideranças,
inclusive na esfera política, como meio de condução para o Cristo e seu Evangelho. Diversos
grupos evangelizadores estão inseridos na problemática da cidade, na ânsia de levantar os
“derrubados” pelo sistema que fere a dignidade da pessoa e subtrai seus direitos.
A Igreja de São Paulo tem descoberto que não constitui espaço separado do mundo,
mas é parte da história da cidade e constrói história a partir de sua inserção na vida das
pessoas, no governo, enfim, na vida pública da cidade. Para isso, é indispensável conhecer a
realidade e buscar estratégias nas ações com a pedagogia que brota da fé.
Há ainda um longo caminho a ser percorrido na transformação das relações entre
clérigos e o laicato na Arquidiocese de São Paulo. Laicato este que se apresenta muito passivo
em relação à vida eclesial e à ação evangelizadora. A PAESP trouxe dados que revelam a
necessidade de uma participação mais ativa dos leigos nas assembléias arquidiocesanas, nos
planejamentos das ações evangelizadoras e nas outras instâncias de decisão das comunidades
eclesiais, assim como nos encaminhamentos das propostas, apesar de grande presença nos
serviços propostos pela Igreja.
Embora o Código de Direito Canônico determine a criação obrigatória de conselhos
diocesanos e paroquiais para consultas nas decisões, sejam elas administrativas ou pastorais,
ainda há na Igreja de São Paulo paróquias que não constituíram tal conselho. Um fato
constatado pelo pesquisador durante a tentativa de agendamento de reuniões do Conselho
Paroquial para realização da PAESP. Cabe ressaltar que as decisões arbitrárias de clérigos,
que sozinhos decidem a vida pastoral de uma paróquia, empobrecem o potencial
evangelizador não somente de um território, mas de uma porção muito grande da sociedade,
pois quando os leigos não contribuem com suas reflexões teológicas e idéias na elaboração
195
das diretrizes da ação, perde-se o poder de influir na vida pública da cidade, exatamente onde
os leigos inseridos todos os dias: trabalho, escola, governo, lazer, cultura.
Nas CEBs, os leigos são mais valorizados e tem mais oportunidades para exercer o seu
ministério, primeiro pela própria identidade destas e depois, pelo fato de que o grande número
de comunidades em uma paróquia limita o padre em sua capacidade de interferir em todas
decisões e ações. Deve-se levar em consideração o excesso de trabalho dos párocos e
administradores paroquiais, que tem seu tempo tomado por tarefas rotineiras, freqüentemente
administrativas, e por inúmeras reuniões com os diversos grupos pastorais existentes na
Paróquia. Assim, sobrecarregados e esgotados pelo excesso de tarefas, tem dificuldade para
inovar e, deste modo ajudar a paróquia a obter sucesso em sua missão de evangelizar.
Pensar a reorganização das paróquias no sentido de descentralizar responsabilidades,
conquistar novos ânimos para a ação evangelizadora e chegar às pessoas que não freqüentam
nossas liturgias, suscitando a confiança das pessoas com encanto e, testemunhar na vida
pública o Evangelho de Jesus com atitudes de uma vida verdadeiramente cristã. Estes devem
ser alguns dos caminhos que a Igreja poderia trilhar para adaptar-se às condições objetivas da
sociedade urbana. Há uma necessidade de despertar a consciência para o “coletivo” em cada
fiel, respeitando a sua individualidade através da Palavra, dos Sacramentos, da formação e do
testemunho comunitário. É sempre bom lembrar que as múltiplas experiências na ação
evangelizadora têm várias formas de se apresentar e muitas maneiras de serem vistas pelos
observadores. Inovar e ousar arriscar-se a experimentar novas experiências pastorais é uma
forma de oxigenar a atuação da Igreja nas cidades de grande porte.
A estrutura organizacional da Arquidiocese de São Paulo, no que diz respeito à ação
pastoral, é enorme e tem capacidade para atingir toda a cidade, visto que está presente através
das paróquias e Comunidades Eclesiais de Base em todo o território que a compreende, ao
lado das ações em diversos setores da sociedade por meio de pastorais, associações de fiéis e
196
movimentos de apostolado leigo, além de outros organismos, equipamentos e serviços que
não foram abordados neste estudo, mas que tem grande penetração na sociedade paulistana,
como: a Rádio 9 de Julho, o Jornal O São Paulo, escolas e faculdades católicas, hospitais de
congregações religiosas, entre outros. Um comprometimento maior de toda a estrutura eclesial
presente na Arquidiocese de São Paulo, com toda a tecnologia disponível no mercado,
sobretudo na área da comunicação, acarretaria em resultados jamais vistos e ampliaria o
espaço – concreto ou virtual – da evangelização.
197
APÊNDICE I - Pesquisa de Campo – Questionário 201 II - Pesquisa de campo – Tabelas e Gráficos 203 l. Estrutura organizacional e perfil dos evangelizadores 203 1.1. Tabela A – Instância da organização pastoral da Arquidiocese 203 1.2. Tabela B – Região episcopal a qual pertencem os evangelizadores 204 1.3. Perfil dos evangelizadores quanto à idade e sexo 205 1.3.1. Tabela C – Idade dos pesquisados 205 1.3.2. Tabela D – Atuação dos agentes evangelizadores pesquisados 206 2. Centralização administrativa na Cúria arquidiocesana 207 2.1. Tabela E – Mudanças na ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo 207
2.1.1. Tabela El – Mudanças positivas ou negativas 207 2.2. Tabela F – Mudanças na ação evangelizadora por atuação pastoral 208 2.3. Tabela G – Mudanças na evangelização por instância evangelizadora 209 3. Conhecimento do 8º Plano de Pastoral 210 3.1. Tabela H – Conhecimento do 8º Plano de Pastoral pelos pesquisados 210 3.2. Tabela I – Conhecimento do 8º Plano por Região Episcopal 211 3.3. Tabela J – Conhecimento do 8º Plano por instância evangelizadora 212 3.4. Tabela K – Conhecimento do 8º Plano por condição hierárquica 213 3.5. Participação dos evangelizadores em 2000-2002 214 3.5.1. Tabela L – Participação dos pesquisados na vigência do 8º Plano 214 3.5.2. Tabela M – Participação na evangelização em 2000-2002 por atuação 215 3.6. Participação na elaboração, estudos e avaliação do 8º Plano 216 3.6.1. Tabela N – Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral 216 3.7. Tabela O – Participação nos estudos do 8º Plano de Pastoral 217
198
3.7.1. Tabela Ol – Estudos do 8º Plano em nível 217 3.8. Tabela P – Participação na avaliação do 8º Plano 218 3.9. Tabela Q – Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral 219 4. Igreja Profética na cidade de São Paulo 220 4.1. Tabela R – Profetismo da Igreja para os pesquisados 220 4.2. Tabela S – Profetismo da Igreja por atuação pastoral 221 4.3. Tabela T – Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo 222 4.4. Tabela U – Importância do Plano para os agentes evangelizadores 223 4.5. Tabela V – Ações da Igreja que sinalizam a evangelização 224 4.6. Solidariedade e ações transformadoras 225 4.6.1. Tabela X – A Igreja de São Paulo é solidária e tem ações transformadoras 225 4.6.1.l. Tabela X1 – Com quais grupos de marginalizados e excluídos 225 5. Tabela W - Dificuldades para a evangelizar a cidade de São Paulo 226 6. Renovação das comunidades 227 6.1. Tabela Y - Renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo 227 6.1.1. Tabela Y1 – Sinais de renovação, anúncio de testemunho de Jesus Cristo 227 III – Entrevistas 228 1. Entrevista com Monsenhor Sérgio Conrado 228 2. Entrevista com Monsenhor Tarcísio Justino Loro 232
199
I - Pesquisa de campo - Questionário Dissertação de Mestrado em Teologia (Missiologia) de: Marcelo Álvares Matias Pesquisa realizada em: ____/____/2005. Região Episcopal:__________________ Já respondeu esta pesquisa em outra instância? ( ) Sim ( ) Não Idade:______ Instância: Atuação Pastoral: Conselho Paroquial de Pastoral ( ) Bispo ( ) Conselho Setorial de Pastoral ( ) Padre ( ) Conselho Regional de Pastoral ( ) Religioso ( ) Associação em nível arquidiocesano ( ) Religiosa ( ) Movimento em nível arquidiocesano ( ) Leigo ( ) Pastoral em nível arquidiocesano ( ) Leiga ( ) Leiga consagrada ( )
1. Conhece o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo ( 2001- 2002)?
( ) Sim ( ) Não 2. Participava dos trabalhos da Igreja de São Paulo (Pastoral/Movimento/Associação, Comunidade,
Paróquia, Setor ou Região) na evangelização da cidade no período de 2000 - 2002? ( ) Sim ( )Não
3. Participou da elaboração do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro
4. Estudou o 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro
Se estudou, foi em nível: ( )paroquial ( )setorial ( )regional ( )pastoral/assoc./mov. ( )Outros 5. Participou do processo de avaliação do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não lembro
6. Se você é atuante na Igreja de São Paulo e não participa da elaboração, estudos, e avaliação do Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo isso se deve a que/quem? ( ) ao padre ( ) ao bispo/arcebispo ( ) a você mesmo ( ) ao Secretariado Arquidiocesano de Pastoral ( ) a Coordenação Regional de Pastoral ( ) a Coordenação Setorial de Pastoral ( ) a Coordenação Arquidiocesana da pastoral/associação/movimento que você participa ( ) para a sua comunidade/grupo/pastoral/associação/movimento o Plano de Pastoral da Arquidiocese
não tem importância para os trabalhos de evangelização na cidade
7. A Igreja de São Paulo tem sido profética nas denúncias de injustiças e no anúncio de uma sociedade humana, fraterna e justa? ( ) Sim ( ) Não
8. No seu entendimento a Igreja de São Paulo tem conhecimento da realidade da cidade de São
Paulo? ( ) Sim ( ) Não ( ) Tem conhecimento parcial
9. O Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo é importante para o trabalho de evangelização
da cidade? ( ) Sim ( ) Não
10. Houve mudança na ação pastoral da Igreja de São Paulo a partir da centralização da
administração econômica na Cúria Arquidiocesana? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento da centralização administrativa
Se houve mudanças, estas foram: ( ) Positivas ( ) Negativas
200
11. Quais ações da Igreja você aponta como sinais de que a Arquidiocese de São Paulo está evangelizando a cidade de São Paulo? ( ) Missas em lugares públicos ( ) Visitas missionárias (Residências, Hospitais, Presídios, Escolas...) ( ) Meios de Comunicação da Igreja (Rádio 9 de Julho, Jornal “O São Paulo”...) ( ) Distribuição de panfletos (Finados, Semana Santa, N. S. Aparecida....) ( ) Presença e apoio aos Movimentos Populares (Saúde, Moradia, Educação, Transporte...) ( ) Diálogo com outras igrejas e religiões ( ) Formação dos leigos e leigas ( ) Participação política
( ) Pastorais e Serviços (Catequese, Crisma, Batismo, Vocacional, Saúde e Enfermos, Juventude, Familiar, Missionária, CLASP, Cáritas, COMIAR, ...) ( ) Pastorais Sociais (da Criança, do Menor, Carcerária, do Povo da Rua, Afro, Indigenista, Moradia, Mulher Marginalizada, Mundo do Trabalho, 3ª Idade, Fé e Política, Migrantes ...) ( ) Associações e Movimentos de Apostolado Leigo (Focolari, Legião de Maria, Damas da Caridade, Fraternidade Cristã de Deficientes, Movimento de Schoenstatt, E.C.C., Apostolado da Oração, Renovação Carismática, Sociedade São Vicente de Paulo...)
( ) Outros______________________________________________________________________ 12. Quais são as maiores dificuldades para evangelizar a cidade?
( ) Violência/insegurança social ( ) Distância/meios de transporte ( ) Medo ( ) Despreparo dos agentes de pastoral (bispos, leigos(as), religiosas(os), padres) ( ) Falta de comunicação na estrutura da Igreja ( ) Desemprego ( ) Poucos recursos financeiros da Igreja ( ) Desigualdade social ( ) Comodismo das pessoas ( ) Individualismo ( ) Centralização de poder na hierarquia da Igreja ( ) Crescimento de outras igrejas cristãs ( ) Falta de um efetivo incentivo/testemunho vocacional ( ) Número reduzido de leigos(as) comprometidos(as) com os trabalhos da igreja ( ) A estrutura paroquial/priorização das atividades paroquiais ( ) Dificuldade em constituir pequenas comunidades e grupos de vivência ( ) Consumismo/cultura do descartável ( ) Outros______________________________________________________________________
13. A Igreja de São Paulo tem ações solidárias e transformadoras diante dos clamores do povo marginalizado e excluído? ( )Sim ( )Não
Se a sua resposta for afirmativa, assinale com quais grupos de marginalizados e excluídos. ( )do mundo do trabalho ( )da saúde ( )da moradia ( )da educação ( )outros
14. A ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo é ação que renova a vida das comunidades
eclesiais, anuncia e testemunha Jesus Cristo na cidade? ( )Sim ( )Não ( )Parcialmente Se você respondeu sim ou parcialmente, isto se dá: ( ) pela Liturgia (Missas e Celebrações da Palavra) ( ) pelos Sacramentos ( ) pelos trabalhos sociais ( ) pelo apoio espiritual as pessoas ( ) pela acolhida ( ) pela oração ( ) pela valorização dos leigos e leigas ( ) pela solidariedade ( ) pelos cursos: Bíblicos, Teologia para Leigos, Escolas da Fé.... ( )outros_________________________________________________________
15. Deseja comentar algo mais sobre a ação evangelizadora da Igreja na cidade de São Paulo?
201
II – Pesquisa de campo - Tabelas e Gráficos
1. Estrutura organizacional e perfil dos evangelizadores
1.1. Tabela A
Instância da organização pastoral da Arquidiocese
INSTÂNCIAS PESQUISADOS PERCENTUAL % VALIDA VÁLIDOS CPP 551 42,2 42,2 CSP 284 21,8 21,8 CRP 143 11 11 ASSOCIAÇÃO 48 3,7 3,7 MOVIMENTOS 100 7,7 7,7 PASTORAIS 179 13,7 13,7 TOTAL 1305 100 100
GRÁFICO A
0
10
20
30
40
50
CPP
CSP
CR
P
ASS
OC
IAÇ
ÃO
MO
VIM
EN
TO
S
PAST
OR
AIS
202
1.2. Tabela B
Região Episcopal a qual pertencem os evangelizadores
REGIÕES PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS BELÉM 284 21,8 21,9 BRASILÂNDIA 201 15,4 15,5 IPIRANGA 233 17,9 18 LAPA 93 7,1 7.2 SANTANA 163 12,5 12.6 SÉ 323 24,8 24,9 TOTAL 1297 99,4 100BRANCOS 8 0,6 TOTAL
GRÁFICO B
0
10
20
30
BE
LÉ
M
BR
ASI
LÂ
ND
IA
IPIR
AN
GA
LA
PA
SAN
TA
NA SÉ
203
1.3. Perfil dos evangelizadores quanto a idade e sexo
1.3.1.Tabela C
Idade dos pesquisados
FAIXA ETÁRIA PESQUISADOS % 01 A 25 ANOS 89 6,8226 A 35 ANOS 97 7,4336 A 45 ANOS 227 17,3946 A 55 ANOS 359 27,5156 A 65 ANOS 291 22,30ACIMA DE 66 ANOS 191 14,64BRANCOS 51 3,91 TOTAL 1305 100.00
GRÁFICO C
050
100150200250300350400
01 A
25
AN
OS
26 A
35
AN
OS
36 A
45
AN
OS
46 A
55
AN
OS
56 A
65
AN
OS
AC
IMA
DE
66
AN
OS
BR
AN
CO
S
204
1.3.2.Tabela D
Atuação dos agentes evangelizadores pesquisados
ATUAÇÃO PESQUISADOS PERCENTUAL % VÁLIDOS VÁLIDOS BISPO 2 0,2 0,2 PADRE 123 9,4 10,1 RELIGIOSO 13 1 1,1 RELIGIOSA 42 3,2 3,4 LEIGO 356 27,3 29,1 LEIGA 675 51,7 55,2 LEIGA CONSAGRADA 11 0,8 0,9 TOTAL 1222 93,6 100 BRANCOS 83 6,4 TOTAL 1305 100
GRÁFICO D
0
10
20
30
40
50
60
BIS
PO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
205
2. Centralização administrativa na Cúria arquidiocesana
2.1. Tabela E
Mudanças na ação evangelizadora da Arquidiocese de São Paulo
PESQUISADOS PERCENTUAL % VÁLIDAVÁLIDOS SIM 406 31,1 32,6 NÃO 71 5,4 5,7 NÃO TEM CONHEC. 769 58,9 61,7 TOTAL 1246 95,5 100BRANCOS 59 4,5 TOTAL 1305 100
2.1.1. Tabela E1 – Mudanças positivas ou negativas
POSITIVAS NEGATIVAS VÁLIDOS 218 138BRANCOS 1087 1167
GRÁFICO E
010203040506070
SIM NÃO NÃO TEMCONHEC.
GRÁFICO E1
0
50
100
150
200
250
POSITIVAS NEGATIVAS
206
2.2. Tabela F
Mudanças na ação evangelizadora por atuação pastoral
POSITIVAS NEGATIVAS TOTAL BISBO 1 1 2PADRE 22 47 69RELIGIOSO 1 3 4RELIGIOSA 4 11 15LEIGO 58 25 83LEIGA 117 44 161LEIGA CONSAGRADA 2 2 4 TOTAL 205 133 338
GRÁFICO F
020406080
100120140
BIS
BO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
POSITIVASNEGATIVAS
207
2.3.Tabela G
Mudanças na evangelização por instância evangelizadora
POSITIVA % NEGATIVA % TOTAL INSTÂNCIA CPP 93 75,61 30 24,39 123 CSP 51 67,11 25 32,89 76 CRP 26 46,43 30 53,57 56 ASSOCIAÇÃO 8 44,44 10 55,56 18 MOVIMENTO 14 77,78 4 22,22 18 PASTORAL 26 40,00 39 60,00 65 TOTAL 218 61,24 138 38,76 356
GRÁFICO G
0102030405060708090
100
CPP
CSP
CR
P
ASS
OC
IAÇ
ÃO
MO
VIM
EN
TO
PAST
OR
AL
POSITIVANEGATIVA
208
3. Conhecimento do 8º Plano de Pastoral
3.1. Tabela H
Conhecimento do 8º Plano de Pastoral pelos pesquisados
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 431 33 34,6 NÃO 815 62,5 65,4 TOTAL 1246 95,5 100 BRANCOS 59 4,5 TOTAL 1305 100
GRÁFICO H
010
2030
4050
6070
SIM NÃO
209
3.2. Tabela I
Conhecimento do 8º Plano por Região Episcopal
CONHECE 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTALBELÉM 108 39,42 166 60,58 274BRASILÂNDIA 63 33,33 126 66,67 189IPIRANGA 91 40,44 134 59,56 225LAPA 22 25,00 66 75,00 88SANTANA 61 38,85 96 61,15 157SÉ 85 27,87 220 72,13 305 TOTAL 430 34,73 65,27 1238
TABELA I
0
50
100
150
200
250
BE
LÉ
M
BR
ASI
LÂ
ND
IA
IPIR
AN
GA
LA
PA
SAN
TA
NA SÉ
SIMNÃO
210
3.3. Tabela J
Conhecimento do 8º Plano por instância evangelizadora
CONHECE O 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL CONSELHO PAROQUIAL DE PASTORAL
125 26,63 404 76,37 529
CONSELHO SETORIAL DE PASTORAL
109 41,44 154 58,56 263
CONSELHO REGIONAL DE PASTORAL
78 57,78 57 42,22 135
ASSOCIAÇÃO EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO
15 33,33 30 66,67 45
MOVIMENTO EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO
25 26,04 71 73,96 96
PASTORAL EM NÍVEL ARQUIDIOCESANO
79 44,38 99 55,62 178
TOTAL 431 34,59 815 65,41 1246
GRÁFICO J
050
100150200250300350400450
Con
selh
oPa
roqu
ial d
ePa
stor
al
Con
selh
oR
egio
nal d
ePa
stor
al
Mov
imen
to e
mN
ível
Arq
uidi
oces
ano
SIM NÃO
211
3.4. Tabela K
Conhecimento do 8º Plano por condição hierárquica
CONHECE O 8º PLANO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL BISPO 1 50,00 1 50,00 2PADRE 103 84,43 19 15,57 122RELIGIOSO 2 15,38 11 84,62 13RELIGIOSA 20 52,63 18 47,37 38LEIGO 102 29,39 245 70,61 347LEIGA 177 27,74 461 72,26 638LEIGA CONSAGRADA 6 54,55 5 45,45 11 TOTAL 411 35,10 760 64,90 1171
GRÁFICO K
050
100150200250300350400450500
BIS
PO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
SIMNÃO
212
3.5. Participação dos evangelizadores em 2000-2002
3.5.1. Tabela L
Participação dos pesquisados na vigência do 8º Plano
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 876 67,1 69,3 NÃO 388 29,7 30,7 TOTAL 1264 96,9 100 BRANCOS 41 3,1 TOTAL 1305 100
GRÁFICO L
01020304050607080
SIM NÃO
213
3.5.2 Tabela M
Participação na evangelização em 2000-2002 por atuação
PARTICIPAÇÃO SIM SIM% NÃO NÃO% TOTAL ATUAÇÃO BISPO 1 50,00 1 50,00 2 PADRE 95 77,87 27 22,13 122 RELIGIOSO 6 46,15 7 53,85 13 RELIGIOSA 27 64,29 15 35,71 42 LEIGO 230 66,67 115 33,33 345 LEIGA 460 70,34 194 29,66 654 LEIGA CONSAGRADA 10 90,91 1 9,09 11 TOTAL 829 69,72 360 30,28 1189
GRÁFICO M
0102030405060708090
100
BIS
PO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
SIM %NÃO%
214
3.6. Participação na elaboração, estudos e avaliação do Plano
3.6.1. Tabela N
Participação na elaboração do 8º Plano de Pastoral
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 142 10,9 11,2 NÃO 983 75,3 77,6 NÃO LEMBRO 142 10,9 11,2 TOTAL 1297 97,1 100 BRANCOS 38 2,9 1305 100
GRÁFICO N
0
10
20
30
40
50
60
70
80
SIM NÃO NÃO LEMBRO
215
3.7. Tabela O
Participação nos estudos do 8º Plano de Pastoral
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA
VÁLIDOS SIM 293 22,5 23,1 NÃO 846 64,8 66,7 NÃO LEMBRO 130 10 10,2 TOTAL 1269 97,2 100
BRANCOS 36 2,8
TOTAL 1305 100
3.7.1. Tabela O1 – Estudos do 8º Plano de Pastoral em nível
PAROQUIAL SETORIAL REGIONAL PAST/ASSOC OUTROS VÁLIDOS 119 75 76 46 34
GRÁFICO O
0
10
20
30
40
50
60
70
SIM NÃO NÃO LEMBRO
GRÁFICO O1
0
40
80
120
160
PAR
OQ
UIA
L
SETO
RIA
L
REG
ION
AL
PAST
/ASS
OC
OU
TRO
S
216
3.8. Tabela P
Participação na avaliação do 8º Plano
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA
VÁLIDOS SIM 150 11,5 11,9 NÃO 960 73,6 76,2 NÃO LEMBRO 150 11,5 11,9 TOTAL 1260 96,6 100
BRANCOS 45 3,4
TOTAL 1305 100
GRÁFICO P
0
10
20
30
40
50
60
70
80
SIM NÃO NÃO LEMBRO
217
3.9. Tabela Q
Responsabilidade pelo não conhecimento do Plano de Pastoral
PADRES BISPOS SECRE. ARQUID.
CRP CSP COORD. ARQUID.
VOCÊ MESMO
SEM IMPORTÂNCIA PARA A COMUNIDADE
Válidos 238 69 660 67 110 107 111 61Brancos 1067 1236 645 1238 1195 1198 1194 1244
GRÁFICO Q
0
100
200
300
400
500
600
700
PAD
RE
S
VO
CÊ
ME
SMO
CR
P
CO
OR
D.
AR
QU
ID.
218
4. Igreja profética na cidade de São Paulo
4.1. Tabela R
Profetismo da Igreja para os pesquisados
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA
VÁLIDOS SIM 965 73,9 78,6 NÃO 262 20,1 21,4 TOTAL 1227 94 100 BRANCOS 78 6 TOTAL 1305 100
GRÁFICO R
0
10
20
30
40
50
60
70
80
SIM NÃO
219
4.2. Tabela S
Profetismo da Igreja por atuação pastoral
IGREJA PROFÉTICA SIM NÃO TOTAL
BISPO 2 2 PADRE 84 29 113 RELIGIOSO 9 4 13 RELIGIOSA 36 5 41 LEIGO 273 69 342 LEIGA 492 135 627 LEIGA CONSAGRADA 3 5 8
TOTAL 899 247 1146
GRÁFICO S
0100200300400500600
BIS
PO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
SIMNÃO
220
4.3. Tabela T
Conhecimento da realidade da cidade de São Paulo
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA
VÁLIDOS SIM 689 52,8 54,2 NÃO 58 4,4 4,6 PARCIAL 524 40,2 41,2 TOTAL 1271 97,4 100 BRANCOS 34 2,6 TOTAL 1305 100
GRÁFICO T
0
10
20
30
40
50
60
SIM NÃO PARCIAL
221
4.4. Tabela U
Importância do Plano para os agentes evangelizadores
O PPA É IMPORTANTE PARA
EVANGELIZAR A CIDADE SIM NÃO TOTAL
BISPO 2 2 PADRE 116 4 120 RELIGIOSO 13 13 RELIGIOSA 42 42 LEIGO 335 9 144 LEIGA 632 11 643 LEIGA CONSAGRADA 10 10 TOTAL 1150 24 1174
GRÁFICO U
0
100
200
300
400
500
600
700
BIS
PO
PAD
RE
RE
LIG
IOSO
RE
LIG
IOSA
LE
IGO
LE
IGA
LE
IGA
CO
NSA
GR
AD
A
SIMNÃO
222
4.5. Tabela V
Ações da Igreja que sinalizam a evangelização
MISSAS EM LUGARES PÚBLICOS
VISITAS MISSIONÁRIAS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
DISTRIBUIÇÃO DE PANFLETOS
VÁLIDOS 624 893 945 496 BRANCOS 681 412 360 809
MOVIMENTOS
POPULARES DIÁLOGO OUTRAS IGREJAS
FORMAÇÃO DE LEIGOS
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
VÁLIDOS 608 665 809 343 BRANCOS 697 640 496 962
PASTORAIS E
SERVIÇOS PASTORAIS SOCIAIS
ASSOCIAÇÕES MOVIMENTOS
OUTROS
VÁLIDOS 982 915 849 150 BRANCOS 323 390 456 1155
GRÁFICO V
0
200
400
600
800
1000
1200
Miss
as e
m lu
gare
s p...
Mov
imen
tos p
opul
ares
Past
orai
s Soc
iais
Out
ros
223
4.6. Solidariedade e ações transformadoras
4.6.1. Tabela X
A Igreja de São Paulo é solidária e tem ações transformadoras
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA SIM 1006 77,1 84,3VÁLIDOS NÃO 188 14,4 15,7 TOTAL 1194 91,5 100BRANCOS 111 8,5 TOTAL 1305 100
4.6.1.1. Tabela X1
Com quais grupos de marginalizados e excluídos
TRABALHO SAÚDE MORADIA EDUCAÇÃO OUTROS VÁLIDOS 430 506 540 341 256 BRANCOS 875 799 765 964 1049
GRÁFICO X
0102030405060708090
SIM NÃO
GRÁFICO X1
0100200300400500600
TRABALHO
MORADIA
OUTROS
224
5. Tabela W
Dificuldades para evangelizar a cidade de São Paulo
Violência Distância Medo Despreparo
dos agentes Falta de comunicação
Desemprego
VÁLIDOS 803 355 619 625 585 412BRANCOS 502 950 686 680 720 893 Poucos
recursos da Igreja
Desigual-dade social
Comodismo das pessoas
Individua-lismo
Centralização de poder
Crescimento de outras Igrejas
VÁLIDOS 429 453 969 707 394 503BRANCOS 876 852 336 598 911 802 Falta de
incentivo vocacioanal
Número reduzido de leigos
Estrutura Paroquial
Dificuldade em constituir novas comunidades
Consumismo Outros
VÁLIDOS 431 825 339 510 460 129BRANCOS 874 480 966 795 845 1176
GRÁFICO W
0
200
400
600
800
1000
1200
Med
o
Desp
repa
ro d
os A
gent
es
Dese
mpr
ego
Pouc
os re
curs
os d
a Igr
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Falta
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tivo
Estr
utur
a Par
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al
Dific
ulda
de em
cons
titui
r n...
Cons
umism
oO
utro
s
225
6. Renovação das comunidades
6.1. Tabela Y - Renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo
PESQUISADOS PERCENTUAL %VÁLIDA VÁLIDOS SIM 638 48,9 50,6
NÃO 25 1,9 2 PARCIAL 597 45,7 47,4 TOTAL 1260 96,6 100
BRANCOS 45 3,4 TOTAL 1305 100
6.1.1. Tabela Y1 - Sinais de renovação, anúncio e testemunho de Jesus Cristo
LITURGIA SACRAMENTO TRABALHOS SOCIAIS
APOIO ESPIRITUAL
ACOLHIDA
VÁLIDOS 957 658 780 464 522BRANCOS 348 647 525 841 783
ORAÇÃO VALORIZAÇÃO SOLIDARIEDADE CURSOS OUTROS
VÁLIDOS 637 580 568 736 90BRANCOS 668 725 737 569 1215
GRÁFICO Y
0
10
20
30
40
50
60
SIM NÃO PARCIAL
GRÁFICO Y1
0200400600800
10001200
LITU
RGIA
SACR
AMEN
TOTR
AB. S
OCI
AIS
APO
IO E
SP...
ACO
LHID
A
SOLI
DARI
...
CURS
OS
OUTR
OS
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III – Entrevistas l. Entrevista com Monsenhor Sérgio Conrado Pe. Marcelo: O que o Senhor pensa, em linhas gerais, sobre 8º Plano de Pastoral? Mons. Sérgio Conrado: Olha, o 8º Plano de Pastoral, ele foi pensado, numa fase de transição. A aposentadoria de Dom Paulo Evaristo e a chegada de Dom Cláudio Hummes. Então já, anteriormente, se estava numa em espécie de expectativa, quando a Santa Sé aceitou a aposentadoria do nosso Cardeal Dom Paulo. Então, me lembro bem que, os agentes de pastoral ficaram numa situação um tanto incomoda: “Vamos continuar?..... Vamos esperar,o que é que vem por ai? O que Dom Cláudio vai querer?........”; agora, não se sabia que era Dom Cláudio. O que o novo Arcebispo vai querer? Então, me lembro bem que seja no secretariado, seja nas coordenações de pastorais das regiões, se falava muito que a igreja tinha que continuar, que não podia parar, né. Então, o 8º Plano de Pastoral surgiu exatamente numa situação: de um lado de uma expectativa e do outro de uma necessidade da igreja caminhar, não parar, - né? - e o valor do plano, exatamente, foi conjugar essas duas, digamos, questões, uma expectativa de um lado e a igreja de caminhar sem ainda saber que Arcebispo que viria. Pe. Marcelo: Tem Fundamentação Teológica e Bíblica o texto do 8º Plano? Mons. Sérgio Conrado: Ah....sem duvidas, porque todo Plano antes mesmo do processo e planejamento isso tem que estar em baseado Bíblico e Teologicamente e na própria situação, e ao se pensar num planejamento se deve pensar:
• Na Situação atual em que a igreja vive em que está inserida • A Situação que se quer projetar, a mudança de situação, e em terceiro • A estratégia, a maneira, o modo, a mediação que vai se usar para esta mudança de
situação, de uma situação tal, para uma situação melhor. Então, o Planejamento e conseqüentemente o plano pastoral se tornam, e sobre tudo o plano, uma mediação muito importante para que seja possível essa passagem de uma situação tal para uma situação diferente. Ninguém vai fazer planejamento ou elaborar um plano se não quer melhorar. Então, o plano em si foi, em vista de tomar a situação na época, na situação de despedida de um Arcebispo e chegada de outro, pegar todos os elementos bíblicos, teológicos, e realmente trabalhar para que a igreja pudesse caminhar ainda mais, né, e sobretudo, a questão da evangelização: qualquer plano, qualquer planejamento, tem que visar a evangelização, a evangelização é plenamente bíblica, não é mesmo? Pe. Marcelo: Teológica também. Mons. Sérgio Conrado: É claro, sem dúvida, quer dizer toda a referência não só bíblica, mas também a telógica, por exemplo: na questão solidariedade, os dois pólos da ação pastoral da evangelização e a solidariedade, então, aspectos bíblicos, aspectos teológicos e naturalmente aspectos pastorais. Pe. Marcelo: O texto 8º Plano ele apresenta características da pós-modernidade? É um texto que ajuda a compreender esta realidade pós-moderna que nós vivemos ele fala essa linguagem? Mons. Sérgio Conrado: Ah.....sem duvidas, porque, é um texto, que procura, antes de mais nada, mostrar a situação da igreja na cidade. E, para mostrar a situação da igreja na cidade em vista, num plano de pastoral, é preciso analisar a situação, o contexto que......... o contexto hoje é urbano e sobretudo, tendo em vista a pastoral urbana. Então, o ... por exemplo, a......as questões, por exemplo, urbanas do mundo do trabalho, da saúde, moradia, educação, mesmo a
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questão da solidariedade um dos pólos da ação pastoral. Isso tudo entra na medida em que por exemplo: a solidariedade vem contra o que? Contra o individualismo, que é uma característica da pós-modernidade. Quer dizer a solidariedade como uma alternativa diante do egoísmo, da falta de identidade das pessoas. Então, que sem duvidas o plano mostra aspectos da pós-modernidade, seja no plano religioso, seja no plano civil. Por que veja, no plano religioso também a pós-modernidade faz com que a religião ultrapasse o limites de paróquias, os limites de comunidades, quer dizer, localizados geograficamente. Hoje numa cidade a pessoa mora em um canto e participa numa comunidade em outro, se diverte no outro, então, não há muito mais essa...,é.... digamos..... atendimento espiritual localizado à pessoa, que tem muito mais liberdade em girar pela cidade. Pe. Marcelo: Não é territorial? Mons. Sérgio Conrado: Não é territorial, tanto, para a igreja responder cada vez melhor as exigências de hoje, da pós-modernidade, ela tem que buscar alternativas nesse sentido, de criar novos núcleos de aquecimento da fé, de formação, fora das paróquias. Pe. Marcelo: O texto do 8º Plano ele tem conceitos urbanos, sim e não? E quais? Quais as características que o texto apresenta, que são características, da realidade urbana? Mons. Sérgio Conrado: Sem dúvida, é... por exemplo, quando fala da evangelização da cidade, né então,...- o que é evangelizar - mas dentro de um contexto urbano. Então, o plano, dentro do objetivo do plano, fala: que é evangelizar a cidade de São Paulo através da Pastoral Urbana. Então, ao tratar da pastoral urbana, sem dúvida aparecem aí elementos, por exemplo, a complexidade da cidade. Não é? Toda questão, por exemplo, da desvalorização da pessoa. No urbano, a máquina tem muito valor, e os números se sobrepõem à identidade da pessoa, criando anonimato. A questão do isolamento. São elementos que estão aí, presentes no plano, que denotam, não só a preocupação da igreja em evangelizar, mas sobretudo, evangelizar dentro de um contexto próprio. Pe. Marcelo: O objetivo do Plano contempla em palavras, contempla em conceitos, a opção preferencial pelos pobres? Mons. Sérgio Conrado: Ah! Sem dúvida. Porque, quando fala, por exemplo, “evangelizar a cidade, através da pastoral urbana renovando a vida das comunidades anunciando Jesus ouvindo e respondendo com ação solidária e transformadora aos clamores do povo”. Quando se fala de clamores do povo seguramente os pobres, os excluídos, estão como exemplo e depois o objetivo continua “ especialmente os clamores dos marginalizados e dos excluídos” . Então, aí você tem uma abrangência tremenda dos pobres necessitados e especifica mais,” excluídos do mundo do trabalho, da saúde, da moradia, e da educação”. Então sem duvida o 8º Plano contempla no seu próprio objetivo, que dizer, não apenas com palavras e termos mas depois também no caderno de atividades, vai contemplar ações que correspondem a esses enunciados de opção preferencial pelos pobres. Pe. Marcelo: Numa palestra, estes dias na PUC, com o Professor Pe. Comblin ele disse “Que a igreja no Brasil esqueceu os pobres, que hoje a sua opção não é preferencial – a ação dela não é preferencialmente para aos pobres, dos pobres”. O senhor concorda com aquela afirmação? Eu estava lá, ouvi isso do professor. O senhor acha que, realmente, no Brasil, a igreja não faz mais a opção preferencial pelos pobres? Mons. Sérgio Conrado: Não. Eu acho que é um tanto exagerada a afirmação do nosso irmão José Comblin. O que, a meu ver, hoje na igreja do Brasil, faz falta, que nós tínhamos em décadas passadas, são profetas, são pessoas que realmente, como no Antigo Testamento,
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alertavam e levavam a população a perceberem sua situação e uma situação desejável a se atingir. Então, o que eu acho falta hoje na igreja do Brasil, não é a opção. A opção existe e nós temos aí toda a ação da igreja nas dioceses, através da pastoral social e tantas outras atividades. O que eu acho que falta é alguns pólos de atração, que mantenham a questão social, a questão dos pobres sempre na berlinda. Então é isso que eu acho falta, mas eu não diria que a Igreja mudou a sua opção. Pe. Marcelo: Em Janeiro de 2001 houve uma centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana de São Paulo. Esta posição da arquidiocese modificou a caminhada pastoral na cidade de São Paulo? Mons. Sérgio Conrado: Não. Pe. Marcelo: Por que? Mons. Sérgio Conrado: Porque a pastoral continuou. O que ao meu ver o que aconteceu foi mais uma regulamentação, quer dizer, a pastoral teve que ser repensada também em termos financeiros de uma maneira mais global, que todo mundo sabe que as regiões durante muito tempo por questões realmente de ação, Dom Paulo e os bispos auxiliares, as regiões quase que foram se tornando um tanto autônomas e a gente sabe que o dinheiro dá autonomia, então cada região era autônoma na captação e também na gestão do próprio dinheiro Então havia uma certa disparidade entre as regiões. Não é? Com a centralização essa diferença terminou, por que? Pastoralmente falando cada região tem que apresentar o seu balancete, então mesmo na ação pastoral se impediu que muitas ações fossem intempestivamente realizadas, porque a região tinha dinheiro, perdendo um pouco o conjunto da arquidiocese. Eu acredito que, financeiramente a Arquidiocese ganhou um pouco mais o sentido de se sentir Arquidiocese, claro que pastoralmente houve uma certa limitação devido realmente aos gastos que as próprias regiões têm que fazer mediante a um orçamento e depois uma prestação de contas, não é ?- e mais ainda, por exemplo cada região tem uma porcentagem a colocar na caixa comum por mês. Não é? É esse o trabalho das paróquias que dão a sua contribuição, então eu acho que nesse sentido melhorou um pouco mais, também a questão eqüitativa, paróquias mais poderosas estão dando mais do que aquelas que podem menos antes era discriminadamente 10% todas as paróquias, hoje não, hoje há uma diferenciação entre as paróquias. Pe. Marcelo: Antes da centralização da economia na arquidiocese de São Paulo as regiões conseguiam comprar alguns terrenos na periferia para investir na evangelização, construindo centros comunitários, facilitando a vida das comunidades que vão surgindo a partir das ocupações ou das moradias populares dos núcleos habitacionais. Hoje as regiões não conseguem mais fazer isto. O senhor concorda que isto é fruto da centralização? Mons. Sérgio Conrado: Seguramente, agora claro que isso tem que ser pensado no conjunto, colégio episcopal com os vigários episcopais e tal que devem realmente criar um fundo para suprir essas necessidades que são importantes, por exemplo, aquisição de terrenos ou mesmo na questão da ajuda da construção de comunidades de igrejas, mas sobre tudo na aquisição de terrenos, que a população quando tem um terreno aí se esforça, mesmo que demora um pouco, mas se constrói. Então eu em algumas reuniões já ouvi realmente essa preocupação e por outro lado por parte do cardeal e dos bispos também uma busca de solução ou alternativa para esta questão dos terrenos, mais porque também Adveniat e Miserior hoje são muito mais voltadas para o leste Europeu, África do que propriamente para América Latina, que já recebeu muito, que infelizmente muitos aplicaram mal essa ajuda tanto da Miserior como da Adveniat
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Pe. Marcelo: Mons. Senhor Sergio Conrado, o senhor fez parte, estava a frente da elaboração do 8º Plano de Pastoral em 2000. Plano que teve duração de três anos. Ele consta 2001 e 2002, mas na verdade ele foi até 2003, quando foi elaborado o 9o. plano.” O Sr. tem mais alguma coisa a dizer sobre o 8º Plano de Pastoral da arquidiocese de São Paulo? Mons. Sérgio Conrado: Olha, eu digo o seguinte: cada plano tem o rosto da Igreja que está caminhando, então, nós não podemos dizer que tal plano foi melhor ou foi pior, porque é o retrato da caminhada da Igreja. Então claro, que há um crescendo, não há dúvidas que planejamento pastoral é necessário, plano é necessário, para que se realmente vá se criando cada vez mais o espírito da colegialidade, mas nós temos isso como exemplo em alguns planos anteriores um pouco mais a ousadia, talvez exatamente porque a questão do urbanismo, a pós-modernidade estava mais em voga, estava aparecendo mais, então agora, por exemplo com o 9º Plano já se supõe algumas coisas sabidas e etc, então é um outro tipo de plano, mas que cada plano, ao meu ver tem o seu valor, porque retrata a Igreja naquele momento. E o importante é o processo de planejamento. O plano ele se diversifica porque é o conjunto das atividades, mas o espírito evangelizador, a busca de uma Igreja que responda cada vez mais ao contexto que ela está vivendo, então, esse é o planejamento, é o processo de planejamento que não tem fim.
• Entrevista realizada no dia 09 de junho de 2005.
• Prof. Dr. Monsenhor Sérgio Conrado foi responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral de fevereiro de 1985 a Maio de 2002.
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2. Entrevista com Monsenhor Tarcísio Justino Loro
Pe. Marcelo: Mons. Tarcísio, o senhor tem uma explanação geral do 8º Plano de Pastoral, antes das três perguntas oficiais? Mons. Tarcísio: Oi, em primeiro lugar o 8º Plano Pastoral é a soma de diversos artigos, de diversas pessoas, e por isso já de inicio nós vamos encontrar uma dificuldade de relacionar um tema com outro. A verdade é que o 8º Plano apresenta quatro partes e outros temas. De fato cada autor do tema proposto trabalhou praticamente segundo sua ótica, segunda sua visão. Não houve nenhum momento de busca de uma certa convergência de linha de pastoral, de pensamento, não houve nenhuma..., nenhum acerto prévio do que se queria fazer. Eu mesmo fiquei encarregado de escrever o texto que fala sobre as comunidades: renovando a vida das comunidades eclesiais; e de fato, apenas tive um pedido por telefone, redigi essa parte, que podia ser muito mais aprofundado se eu tivesse conversado com todos os outros membros que elaboraram o 8º Plano de Pastoral. Mas apesar disso o 8º Plano de Pastoral, ele segue os moldes planos, - não é? - Coloca toda a descrição das arquidioceses, setores, das regiões, dados estatísticos aproximados da realidade, isso ajuda bastante. Mas o que eu não percebi no 8º plano de pastoral é a relação entre esses dados e os textos escritos. Na verdade eles não retornam, apenas uma descrição da realidade, mas não é uma descrição em função do 8º plano de pastoral. Então, a impressão que temos é de que os dados serviram apenas para mostrar a cidade, enfim, suas preocupações, a população, mostrar áreas, quantidades de setores, comunidades, santuários, etc, etc. Mas de fato, o 8º plano deveria ter buscado, nesses dados, uma inspiração maior para redação dos textos que depois aparecem. O 2º ponto que me parece assim importante para nossa reflexão é de que apesar de se buscar dois pontos fundamentais da ação pastoral, conforme Dom Cláudio coloca, a questão da solidariedade, e a questão da evangelização, a questão do anúncio, apesar de insistir sobre esses dois pólos da evangelização, de fato, o que se refere ao anúncio, propriamente dito, a evangelização, não aparece bastante desenvolvida aqui nesse texto. É um texto bastante limitado que se refere a ação missionária da igreja. Ao contrário encontramos um desenvolvimento maior no que se refere a solidariedade. Na verdade o que encontramos aqui, as prioridades da ação pastoral segundo a tradição dos planos da igreja de São Paulo. A questão da moradia, questão do trabalho, da saúde, da educação então são prioridades que aparecem praticamente em todos os planos de pastoral, desde que Dom Paulo assumiu como o arcebispo da arquidiocese, já antes aparecia, mas esses temas que predominam neste texto, parece que se volta mais para serviço do que tanto para o anúncio propriamente dito de Jesus Cristo. Então acredito que esse seja um dos pontos que deviam merecer atenção. Comparando o 8 º Plano com o 9º plano, nós vamos ver de fato o 9º plano deu um salto bastante significativo no que significa evangelizar – né - já como proposta criar uma cultura missionária nas comunidades, agentes de pastoral em toda a cidade. Pe. Marcelo: Mons. Tarcísio, o texto do 8º Plano de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo tem fundamentação teológica e bíblica? Mons. Tarcísio: Bom, é claro que se você pegar o plano cada página tem lá a sua citação bíblica, há uma tentativa de se recuperar, frases, chavões da sagrada escritura, por outro lado, não basta colocar de forma contígua um texto da sagrada escritura e depois frases ou explicações pastorais. De fato acho que no que se refere, por exemplo, ao serviço, deveria aprofundar mais a questão teológica do serviço e buscar na sagrada escritura os textos que confirmam isso, como por exemplo, quando Jesus Cristo fala “ Eu vim para servir não para ser servido” portanto toda essa parte teológica do serviço em volta da sagrada escritura sem dúvida nenhuma muitos textos – né - , muitos textos poderiam dar, digamos assim, ao
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documento, ao 8º plano de pastoral maior profundidade, poderia ter ajudado mais nessa compreensão da missão da igreja a partir da própria palavra de Deus inserida e analisada pelo próprio texto. Mas o texto tem muitas citações, diria que não é um texto que ignora a sagrada escritura e nem bem poderia ignorar, mas acredito que faltou um pouco este desenvolvimento entre a palavra de Deus e a proposta concreta da arquidiocese. Pe. Marcelo: O texto do 8º Plano tem características da pós-modernidade? Mons. Tarcísio: Bom, de fato falta aqui um capítulo que pudesse descrever as características da pós-modernidade e quando aparece uma outra frase, assim, mas a pós-modernidade, ela está digamos assim dispersa pelo texto, não há uma apresentação digamos sistemática das características pós-modernidade que de fato isso é a minha maneira de ver muito importante, e, além disso, não só as características da pós-modernidade, as características da pós-modernidade que incidem mais na grande cidade, na megalópole, na metrópole, no qual são essas características e essas características que deveriam preocupar ou, mais, digamos assim os pastores, os bispos, os padres, os agentes de pastoral e assim por diante. Então, quando no capítulo que fala pastoral urbana, de fato fala sobre os desafios da cidade, mas, não apresenta que os desafios da cidade incorporam também características da pós-modernidade, quer dizer, a pós-modernidade, ela somada aos desafios próprios da cidade é que são os grandes desafios da própria evangelização, né? Como por exemplo, a questão do individualismo, do secularismo, então a própria questão da busca do sagrado que é uma característica da pós-modernidade, outra grande característica do próprio subjetivismo, então, de que maneira esses elementos podem impedir uma ação pastoral ou uma evangelização quando a gente prega também uma doutrina que tem corpo, digamos assim, formado já há séculos, de que maneira essa visão subjetiva, essa visão personalista vai agora combinar com uma posição da própria igreja que é uma posição já secular. Então o “creio”, por exemplo, com a influencia da subjetividade, como orientar as pessoas a aderir um código que ultrapasse a dimensão pessoal. Então, parece que na pós-modernidade tudo é subjetivado, - né – tudo é subjetivado, mas a igreja..., a igreja não destrói a subjetividade, só que ela tem mais do que apenas uma proposta subjetiva, ela tem uma proposta de um código já doutrinal, código já estabelecido e por isso é um problema sério para a igreja aproximar uma doutrina como o “creio”, como alguns aspectos da dogmática com uma sociedade subjetiva que se acha no direito de criticar tudo, de analisar tudo, de subjetivar tudo. Então, esses aspectos com isso apenas estou dando um exemplo de fato aqui não aparece, parece que o texto, ele ignora esse grande desafio da cidade ligado esse desafio aos desafios da pós-modernidade, então acho que faltou um pouco uma reflexão mais profunda sobre isso, quando fala por exemplo, sobre a questão do mundo no trabalho, eu tenho a impressão que há uma visão, eu diria uma visão ainda mecânica e quase rural do trabalho quando que de fato deveríamos pensar no trabalho num mundo globalizado e outras dimensões do trabalho, no processo técnico científico da cidade grande, tipo de trabalho, de que maneira agora eu vou evangelizar todo esse campo, também a moradia, a moradia relacionada com o trabalho, então, por exemplo, a pessoa mora num lugar trabalha no outro, então, essa moradia se torna um lugar pesado e assim tantos outros textos que aqui são apresentados, o próprio tema da educação, etc. Tudo isso deveria ser analisado na ótica da pós-modernidade, na ótica dos desafios da cidade não apenas apresentar o desafio mas apresentar as causas dos desafios e mostrar a evolução que aconteceu a partir da Globalização da cidade grande com relação ao trabalho, moradia, assim por diante. Pe. Marcelo: O texto tem conceitos urbanos? Mons. Tarcísio: Não vou dizer que ele esteja totalmente isento de conceitos urbanos porque de fato a igreja de São Paulo, ela tem uma tradição urbana, de refletir sobre a cidade enquanto tal, ela tem isso, ela vai levando isso para frente e ela apresenta uns problemas, desafios da
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cidade, mas eu diria que ainda não, esses conceitos não estão atualizados. Se nós formos buscar, por exemplo, a geografia humana ela vai citar muitos conceitos atuais sobre a cidade como, por exemplo, a questão dos fixos, dos fluxos, o conceito de território. A cidade no fundo no fundo ela esta dividida com colcha de retalhos, cada retalhozinho é um território da concentração do poder, então tudo isso não está presente neste texto, não está presente nesse texto, e esse texto aqui, ele tem apenas quatro anos e esse conceitos novos de pós-modernidade e de cidade são conceitos já dessa ultima década, talvez dessas últimas duas décadas e por isso que eu diria a você que deixa muito a desejar no que se refere a conceitos urbanos. A cidade ela tem características novas e cada dia explode novos elementos urbanos e a gente precisaria sempre estar atentos, por exemplo, a questão da internet traz sem dúvida nenhuma muitas novidades, inclusive o homem, o pai que saía para trabalhar, com internet, agora ele volta para casa e o trabalho, muitas vezes acontece em casa. Existe muitos executivos que não vão mais ao trabalho no sentido de locomoção espacial, mas eles fazem o trabalho em casa, então veja como há uma mudança na estrutura do trabalho até mesmo uma mudança, uma interferência na vida familiar, imagine o pai dentro de casa, agora se torna um quase desconforto para a família, porque de fato, a mulher, a mãe, habituada a gerir a sua casa durante o dia praticamente sozinha, agora, de repente seu marido ali vai, enfim, vai pedir um café, vai criar algumas exigências, o almoço tem que sair tal hora, etc., etc., determinado silêncio, as crianças não terão mais aquela liberdade. Então a transformação social, - não é? -, a partir nesse exemplo da internet vai criar também conseqüências nas relações familiares, então acredito que o 9º plano de pastoral, 8º ano pastoral ignorou esse aspecto importante de uma avaliação mais profunda da cidade enquanto realidade sócio cultural, mas também de uma realidade que desafia a pastoral da cidade. Pe. Marcelo: O objetivo do Plano contempla em palavras, contempla em conceitos a opção preferencial pelos pobres? Mons. Tarcísio: Bom, se você perguntar com relação ao texto escrito, eu respondo que contempla, é o texto enquanto tal, o texto que está aqui. Porque você vê, por exemplo, aqui, fala em ação solidária, clamores do povo, especialmente marginalizados, excluídos do mundo do trabalho, sobre a moradia, quer dizer: é um objetivo um tanto assim, que apresenta todas as preocupações e os caminhos por onde a igreja deve caminhar. Eu diria que apesar de não aparecer a palavra pobres, o texto está na linha da opção, pelos excluídos e pelos pobres, isso não há duvidas nenhuma. Agora se isso daqui de fato tem força para desencadear uma ação transformadora e uma ação que dê respeito aos pobres, é algo a ser pesquisado com uma pesquisa de campo. A minha impressão inicial é de que é o texto que assim segue na linha dos anteriores ele não causa assim um grande impacto, porque desde Medellin e Puebla que aparece essa preocupação fundamental pelos pobres, etc. Sabendo que a opção pelos pobres, fundamental dos irmãos, é evangélica, sem dúvida nenhuma, mas enquanto um elemento fundamental de um plano de pastoral então aparece de Medellín e Puebla pra cá essa grande preocupação pelos pobres, clamores do povo, etc, etc. Então, de alguma forma posso dizer essa preocupação, essa opção está no 9º Plano de Pastoral não usando a mesma linguagem da pobreza, dos riscos, que fala claramente a opção preferencial pelos pobres. Pe. Marcelo: Em janeiro de 2001 houve uma centralização da administração econômica na Cúria Arquidiocesana de São Paulo. Esta posição da Arquidiocese modificou a caminhada pastoral na Cidade de São Paulo? Sim, não e por que? Mons. Tarcísio: Essa pergunta é uma provocação, mas de fato eu tenho a consciência de que a centralização econômica, ela é um benefício, na medida em que a coordenação, digamos assim, dos recursos da arquidiocese passam a ser destinados a todos os setores da vida da igreja na cidade. Antes dessa centralização havia regiões que tinha em caixa um depósito
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muito grande enquanto outras regiões precisavam pedir dinheiro emprestado no exterior para poder manter suas atividades pastorais. Então, a centralização cria uma consciência maior da partilha: regiões mais ricas devem ajudar os mais pobres, então uma região por exemplo como o Centro, Ipiranga, devem olhar com o maior carinho para região Brasilândia, aonde de fato ali as entradas não conseguem pagar as necessidades pastorais, então a centralização nesse sentido ela modificou, porque de fato as pessoas começaram a ver a arquidiocese não mais como pedaços de igreja mas como corpo onde um membro é chamado socorrer o outro no momento das necessidade. Então eu acho que a centralização buscou uma maior partilha etc, mas é claro que tudo isso criou um descontentamento de um lado e alegrias de outro, de fato agente é mais habituado a cuidar do próprio, do que é meu e não estamos habituados a partilhar os recursos, então a centralização teve como objetivo fundamental à partilha dos recursos, então a arquidiocese passa a ser maior força e mais capacidade de partilhar os bens em dinheiro. Pe. Marcelo: As regiões de forma especial a Belém que eu conheço mais, conseguia antes da centralização, adquirir terrenos na periferia, ampliando desta forma, a conquista do espaço, do território, marcando território, marcando espaço religioso, comprando terreno e depois as comunidades com dificuldades levantavam as paredes e ali se fazia presença. Hoje a Região Belém não consegue mais por conta da centralização. O que o senhor pensa disso, o que o senhor acha disso, o senhor sabe disso? Mons. Tarcísio: Eu sei. De fato houve aqui em São Paulo depois da centralização um pedido explícito de Dom Cláudio através de uma carta convocando todos os padres para que colaborássemos com um fundo, e esse fundo se destinava a compra de terrenos, então foi feito este pedido, e eu sei que o resultado foi muito, muito aquém do desejado, mas sei também que quando uma comunidade, grupo pede à cúria, aos seus bispos a compra de um terreno, eu mesmo quando era vigário episcopal da região Lapa participei da aprovação de muitos projetos, então houve de fato ajuda e eu sei que continua havendo e várias comunidades estão conseguindo dinheiro para compra de terrenos, ainda hoje se consegue não é alguma coisa, assim, do passado. Depois da centralização ainda acontece. Agora precisamos tomar consciência também de que a igreja de São Paulo ficou mais pobre, a população de maneira geral está mais pobre e as entradas não estão mais como existia, então a gente também tem que entender que o dinheiro já não é mais tão fácil. Mas quando eu fui reformar a cúria da Lapa, por exemplo, e carregava toda essa reforma, nós enviamos um pedido à cúria central, à procuradoria de R$ 30 mil reais para reformar, o dinheiro foi antecipado e depois fomos pagando, foi mandado este dinheiro e nós recebemos e estamos ainda pagando acho que até outubro terminamos de pagar este empréstimo assim outros trabalhos outras comunidades também têm pedido e na medida do possível tem havido resposta, agora é claro que o solo urbano deu um salto muito grande nessa última década ele se tornou muito precioso e muito caro, não é mais como a 20 anos atrás que um terreninho na periferia custava perto de R$10.000,00, hoje em dia você não compra por R$50.000,00, R$60.000,00 e R$80.000,00 e dependendo do lugar até R$100.000,00. Então com a diminuição das entradas, com a valorização do espaço urbano, é claro que com as dificuldades se tornam muito grandes para aquisição de terrenos, e é uma proposta do 9º plano pastoral a aquisição de terrenos. Então se cada paróquia conseguisse no período de quatro anos comprar um pequeno terreno, adquirir uma pequena propriedade para ali instalar uma comunidade de base ou iniciar uma comunidade, uma futura paróquia seria uma benção de Deus, mas os terrenos de fato estão muito caros, as entradas não conseguem cobrir as necessidades normais de toda uma arquidiocese, por isso tem que fazer muita economia, e talvez valorizar mais o dinheiro que a gente recebe, dar destinos mais evangélicos dentro de uma estrutura de partilha, de ajuda, então as entradas da paróquia por exemplo deveriam ser entradas para manter a vida pastoral,
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manter o sacerdote, manter o culto, renovar aquilo que é possível na paróquia, olhar para os pobres, então são tantas coisas importantes mas essa dimensão ainda é uma conquista que a gente deve fazer durante muitos anos, porque às vezes a gente se preocupa a renovar o carro e comprar coisas que nem sempre são prioritárias numa ação pastoral. Pe. Marcelo: O senhor tem alguma outra consideração sobre o 8º Plano de Pastoral? Mons. Tarcísio: Bom, eu acho que o 8º Plano de Pastoral é o plano que eu chamaria de intermediário, é um plano que de alguma forma reúne as preocupações dos planos anteriores, tantos planos belíssimos foram escritos, especialmente sobre a orientação do Monsenhor Sergio Conrado, mas esse aqui, ele é um plano assim de transição, então apresenta uma mão aos planos anteriores e uma certa abertura para o 9º Plano de Pastoral, e a grande, digamos assim, finalidade desse plano, é ser um plano de transição, senão tivéssemos este plano, acredito que o 9° Plano não seria um plano, assim, na linha missionária, do anúncio com uma preocupação muito forte com o serviço, o diálogo, o anúncio e o testemunho, na linha por exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, diretrizes, que aliás aqui não é tão explícito.
• Entrevista realizada no dia 21 de junho de 2005.
• Prof. Dr. Monsenhor Tarcísio Justino Loro e responsável pelo Secretariado Arquidiocesano de Pastoral desde Julho de 2002.
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Anexos
1. Estimativa populacional da cidade de São Paulo por distritos
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA
I - Fontes Primárias
8º PLANO DE PASTORAL DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. São Paulo: Loyola,
2001.
1. SECRETARIADO ARQUIDIOCESANO DE PASTORAL.
1.1 Atas das reuniões da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral (C.A.P.)
• 25 de julho de 2000 – tratou da assembléia de 05/08
• 01 de setembro de 2000 – C.A.P. extraordinário com D. Cláudio Hummes
• 22 de agosto de 2000– tratou da assembléia de 21/10 para elaboração do 8º Plano
• 26 de setembro de 2000 – pensou da assembléia de 21/10
• 24 de outubro de 2000 – avaliou a assembléia e propôs encaminhamentos para o 8º
Plano
• 21 de novembro de 2000 – pensou nas grandes atividades para 2001
• 06 de fevereiro de 2001
• 20 de março de 2001
• 17 de abril de 2001
• 29 de maio de 2001
• 16 de junho de 2001
• 24 de julho de 2001
• 28 de agosto de 2001
• 25 de setembro de 2001
• 16 de outubro de 2001
• 26 de fevereiro de 2002
• 12 de março de 2002
• 12 de abril de 2002
• 14 de maio de 2002 – Reorganização estrutural da Pastoral
• 11 de junho de 2002
1.2 Encontros das coordenações regionais, setoriais, movimentos, associações e pastorais
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• 05 de agosto de 2000
• 07 de março de 2002
1.3 Avaliações
• Avaliação da caminhada Pastoral de 2001 – 2003
• Instrumento de Trabalho n. 01 da CAP – 17 de agosto de 2000.
• Instrumento de Trabalho nº 02 – preparação da Assembléia para o 8º Plano.
1.4 Assembléias Arquidiocesanas
• 21 de outubro de 2000
• 01 de dezembro de 2000 – Definição do Plano: Trabalhos em grupos
• 11 de agosto de 2001 – com Pe. Libânio “As lógicas da cidade”
1.5 Estatutos
• Estatuto do C.A.P. (Conselho Arquidiocesano de Pastoral).
1.6 Cadernos da Ruth Maria (secretária do Secretariado Arquidiocesano de Pastoral)
• Janeiro de 2000 a outubro de 2000
• Novembro de 2002 a junho de 2001
• Junho de 2001 a dezembro de 2001
• Novembro de 2001 a agosto de 2002
• Agosto de 2002 a março de 2003
• Março de 2003 a dezembro 2004
1.7 Equipe de Fé e Compromisso Social (textos diversos)
• Material sobre a semana de 2000
• Material sobre a semana de 2001
• Material sobre a semana de 2002 (cancelada)
• Alca – Plebiscito (setembro de 2002)
• Curso Arquidiocesano de formação política 2003?
• Curso de formação Política (Lapa) – 2003?
• Projeto Subprefeituras
• Texto eleições 2002 CNBB
• Texto Boletim Análise de Conjuntura
• Implantação dos Conselhos de Representantes da Subprefeitura Lapa
1.8 Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo (CLASP)
• Carta do Edson Silva (presidente do Conselho) para o Presidente Lula – 21/11/02
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