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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Ediana Barp História da Ciência e Ensino: um estudo sobre contribuições para a formação continuada de professores de Ciências DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA SÃO PAULO 2017

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Ediana Barp

História da Ciência e Ensino: um estudo sobre contribuições para a formação

continuada de professores de Ciências

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

SÃO PAULO

2017

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Ediana Barp

História da Ciência e Ensino: um estudo sobre contribuições para a formação

continuada de professores de Ciências

DOUTORADO EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial

para obtenção do título de Doutor em História da Ciência sob

a orientação da Profa. Dra. Maria Helena Roxo Beltran.

SÃO PAULO

2017

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Banca Examinadora

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou

parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.

Ass.: ___________________________________________

Local e data: _______________________________________

Ediana Barp

[email protected]

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Ao meu amado filho Fabrício por preencher a minha vida de alegrias.

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Agradecimentos

Aos meus pais, Loira Ecker e Romeu Barp (i.m.) por terem me apoiado desde

o início da minha vida acadêmica, não somente dando a ajuda financeira, mas

cobrando o empenho e dedicação aos estudos, pelo amor e confiança depositada

em mim.

Ao meu amado Luciano Lima pela amizade e companheirismo nos momentos

de dificuldade que me fizeram não esmorecer.

A todos os professores do Programa que muito contribuíram para minha

formação e a realização desse trabalho, em especial à minha orientadora Profa. Dra.

Maria Helena Roxo Beltran, que soube conduzir este trabalho com muita leveza, me

parabenizando pelos acertos, mas acima de tudo, me ajudando com erros, seu

apoio durante a minha gravidez e durante todo o meu percurso no Programa foram

essenciais para a conclusão desta tese. Agradeço a confiança depositada em mim e

a excelente parceria que firmamos nesses quatro anos.

Agradeço ao Prof. Dr Fumikazu Saito e a Profa. Dra. Laís dos Santos Pinto

Trindade pelas valorosas contribuições no exame de qualificação que corroboraram

para os ajustes necessários à conclusão desta tese.

Agradeço a colega de curso Fabiana Dias Klautau pela ajuda com o moodle e

a secretária do Programa Camila pela presteza.

Agradeço ao Diego (o gato) pela companhia durante a escrita.

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Agradeço o apoio da Capes ao Projeto "História da Ciência e Ensino:

abordagens interdisciplinares no Ensino Superior (diagnóstico, formação continuada

e especializada do professor)" - Capes/Obeduc processo nº 23038,002603/2013-47.

À Pró Reitoria de Educação Continuada da PUC-SP pela viabilização do

curso na plataforma moodle para os professores da rede pública estadual.

À SEESP que por intermédio do programa bolsa mestrado/doutorado

financiou parte dos estudos do doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados

em História da Ciência da PUCSP.

A Deus pela realização de mais um sonho.

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Resumo

Este trabalho buscou investigar concepções de Ciência e de História da Ciência

entre professores da rede pública estadual antes e após a participação em um curso

de formação continuada em História da Ciência e Ensino. A pesquisa teve caráter

qualitativo e utilizou instrumento de mineração de textos e metodologia baseada na

análise do discurso. Pôde-se identificar mudanças nas concepções dos professores

após contato com visões atualizadas dos estudos em História da Ciência. Os

critérios foram pautados em perspectivas historiográficas atuais em História da

Ciência, as quais procuram desmistificar o gênio, os precursores ou pais da ciência

moderna, a evolução da ciência no sentido do progresso, a visão do passado com

os olhos do presente.

Palavras chave: história da ciência, história da ciência e ensino, formação de

professores.

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Abstract

This work intends to investigate conceptions of Science and History of Science

among state public school teachers before and after participating in a continuing

education course in History of Science and Teaching. It involves a qualitative

research, employing an instrument of text mining and a methodology based on

analysis of discourse. It was possible to identify changes in the conceptions of the

teachers after contact with updated visions of the studies in History of Science. The

criteria were based on current historiographic perspectives in the History of Science,

which seek to demystify the genius, the precursors or fathers of modern science, the

progressive evolution of science, the vision of the past with the eyes of the present.

Key words: history of science, history of science and education, teacher training.

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Sumário

Introdução ............................................................................................................................................................................ 1

Capítulo 1- História da Ciência e Ensino: Interfaces com base na perspectiva historiográfica 5

1.1. Contribuições da História da Ciência para o Ensino ................................................................... 9

1.2. Tendências pedagógicas Brasileiras ............................................................................................... 11

1.3. Abordagens em História da Ciência ................................................................................................. 18

1.4. Abordagem em História da Ciência sob as três esferas de análise ................................. 23

Capítulo 2 – Metodologia ......................................................................................................................................... 25

1.1. O Curso: Descrição do curso e do projeto em que está inserido ...................................... 27

1.2. Ferramentas de Análise e Mineração de Textos ....................................................................... 31

1.3. Análise do Discurso .................................................................................................................................. 37

1.4. Análise de Conteúdo versus Análise do Discurso versus Análise textual Discursiva:

Justificando a Nossa Escolha ............................................................................................................................ 40

Capítulo 3 – Análise dos Dados do Curso ........................................................................................................ 43

Considerações Finais .................................................................................................................................................. 75

Bibliografia ........................................................................................................................................................................ 78

Anexos ................................................................................................................................................................................ 88

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Índice de ilustrações

Gráfico 1-Percentual de Disciplinas de História da Ciência por Área na Região Sudeste ......... 6 Gráfico 2-Frequencia dos termos no Sobek, representação gráfica e sentenças dos termos

destacados........................................................................................................................................................................ 35 Gráfico 3-Gráfico das Relações Obtido no Sobek sobre "O que é História da Ciência"-(Antes

Do Curso) .......................................................................................................................................................................... 51 Gráfico 4-Gráfico das Relações Obtido no Sobek sobre "O que é História da Ciência"-

(Depois Do Curso) ........................................................................................................................................................ 52 Gráfico 5-Relações estabelecidas com o termo ciência (Antes do Curso) ...................................... 53 Gráfico 6-Relações estabelecidas com o termo ciência (Depois do Curso) ................................... 54 Gráfico 7-Relações estabelecidas com o termo História da Ciência (Antes do Curso) ............ 59 Gráfico 8-Relações estabelecidas com o termo História da Ciência (Depois do Curso) .......... 60 Gráfico 9-Relações com o termo cultura (Depois do Curso) .................................................................. 65 Gráfico 10-Relações estabelecidas com o termo desenvolvimento(Antes do Curso) ............... 66 Gráfico 11-Relações estabelecidas com o termo transformação (Depois do Curso)................. 67 Gráfico 12-O que mudou na sua percepção sobre História da Ciência? ......................................... 70 Gráfico 13-Qual a sua sugestão para o nosso curso? ............................................................................... 71

Figura 1-Quadro Síntese da Aprendizagem - Tendências Pedagógicas Liberais ................. 13

Figura 2-Quadro Síntese da Aprendizagem - Tendências Pedagógicas Progressistas ....... 14

Figura 3-As três esferas de análise ...................................................................................... 23

Figura 4-Frequência dos termos no Textalyser .................................................................... 33

Figura 5- Frequência dos termos no Wordcounter ............................................................... 34

Figura 6-Frequencia dos termos no Tagcrowd e representação gráfica ............................... 34

Tabela 1-Histórico dos cursos a distância realizados no Projeto OBEDUC ................................... 29 Tabela 2-Análise comparativa de mineradores.............................................................................................. 33 Tabela 3-Dados sobre a oferta e concluintes do curso ............................................................................. 43 Tabela 4-Distribuição de Professores por disciplinas que ministram atualmente ........................ 44 Tabela 5-Perspectiva Historiográfica (Antes do Curso) ............................................................................. 56 Tabela 6-Perspectiva Historiográfica (Depois do Curso) .......................................................................... 57 Tabela 7-Perspectiva Historiográfica Antes do Curso para o termo História da Ciência ......... 61 Tabela 8-Perspectiva Historiográfica Depois do Curso para o Termo História Ciência ............ 62

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Introdução

A História da Ciência tem fornecido inúmeras contribuições para o Ensino de

Ciências, seja no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. Nestes casos, além de,

contextualizar o conhecimento científico, abordagens históricas podem fornecer aos

estudantes oportunidades de questionar e melhor compreender as interações da

ciência com processos sociais, econômicos e culturais passados e

contemporâneos.1

A formação dos professores de Ciências2 muitas vezes é falha no que diz

respeito à História da Ciência e isso só contribui para acentuar as visões distorcidas

que os professores têm sobre a ciência3. Os próprios professores do nível superior,

muito frequentemente, não têm uma formação específica em História da Ciência,

desse modo acabam por não fornecer uma formação adequada aos futuros

professores de Ciências.

Tanto nos PCN quanto no currículo oficial do Estado de São Paulo é citada a

importância da História da Ciência como auxiliar na compreensão de conceitos em

ciências. Porém, introduzir a História da Ciência nos currículos escolares não é uma

tarefa fácil para professores tanto do Ensino Médio quanto do Ensino Fundamental.

Os professores têm dificuldade em selecionar os conteúdos a serem

abordados, além de muitos não saberem quais elementos da História da Ciência

valem a pena fazer parte do seu programa de ensino, além do mais, esta

abordagem geralmente é por eles considerada mais trabalhosa que a abordagem

tradicional.

1 Brasil, PCN+ Ensino Médio, 16

2 Entendemos como professores de Ciências, aqueles que ministram a disciplina Ciências no ensino

fundamental e também aqueles que ministram as disciplinas Química, Física e Biologia no ensino médio. Para padronizar e facilitar o entendimento, a disciplina Ciências será sempre expressa em letra inicial maiúscula, bem como a área de História da Ciência também será apresentada em letras iniciais maiúsculas. 3 Sobre o assunto vide: Cachapuz et al., orgs., A Necessária Renovação do Ensino de Ciências; e

Praia, Cachapuz, & Gil-Pérez, “Problema, Teoria e Observação em Ciência”.

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A História da Ciência pode auxiliar o processo de ensino aprendizagem de

várias formas. Além disso, atualmente pode-se falar que existem publicações de

qualidade disponíveis aos professores, tais como as produzidas pelo grupo de

historiadores ligados ao CESIMA. Entretanto, observam-se dificuldades para que os

professores construam critérios para analisar materiais e recursos didáticos

relacionados à História da Ciência.

São inúmeras as contribuições da História da Ciência para o Ensino de

Ciências e por acreditarmos que essa contribuição está para além de elemento

motivador, pelos anos de atuação como professora de Ciências e Química e pelo

mestrado em História da Ciência; pelos anos de profissão e experiência em

educação e pela realização de mais um curso de especialização para docentes de

Química, a vontade em voltar a escrever sobre a interface História da Ciência e

Ensino veio à tona. Além disto, a experiência profissional com a formação

continuada dos professores de Ciências em uma Diretoria Estadual de Ensino da

zona norte de São Paulo, nos permitiu acreditar que poderíamos de alguma forma

intervir nesta realidade. Realidade esta que trata da formação dos professores de

Ciências e que a nosso ver, muitas vezes é falha no que diz respeito à História da

Ciência, contribuindo para acentuar as visões distorcidas que os professores têm

sobre a Ciência e sobre a própria História da Ciência.

Considerando tal situação, o presente trabalho buscou investigar as

concepções de Ciência e de História da Ciência presentes entre professores da

Rede Pública Estadual antes e após a conclusão de um curso de formação

continuada em História da Ciência e Ensino, utilizando critérios pautados em

perspectivas historiográficas da História da Ciência mais atualizadas,

particularmente naquela desenvolvida pelas pesquisadoras do CESIMA4. Estas

perspectivas atuais procuram desmistificar o gênio, o herói solitário, a evolução da

4 Alfonso-Goldfarb, “Documentos, Métodos e Identidade da História da Ciência”.

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ciência que caminha no sentido do progresso, a visão do passado com os olhos do

presente.5

Como forma de contribuição à formação continuada do professor,

promovemos um curso a distância sobre História da Ciência para que os

participantes deste pudessem desenvolver reflexões em relação a visões comuns de

ciência e de História da Ciência, entendendo essa forma de conhecimento como

construção social e contextualizada. Para tal, utilizamos recursos como: fóruns de

discussão, atividades de discussão de textos, tarefas, questionários, entre outras,

buscando discutir e refletir sobre a construção de interfaces entre História da Ciência

e ensino, bem como apresentar critérios para analisar materiais e recursos didáticos

relacionados à História da Ciência. Buscamos verificar se com essa proposta de

formação houve ou não uma mudança com relação a suas concepções de ciência e

História da Ciência.

No curso EaD, foram expostas e discutidas as principais tendências na

construção de interfaces de História da Ciência e Ensino. Os participantes puderam

entrar em contato com as tendências pedagógicas no ensino de Ciências e também

com as vertentes historiográficas na pesquisa em História da Ciência incluindo a

abordagem mais atual que envolve três esferas de análise: epistemológica,

historiográfica e contextual. Assim, o participante pôde conhecer e analisar

propostas de abordagens históricas de conteúdos específicos, com base em textos

mídias e experimentos para, em seguida, desenvolver uma proposta para sua sala

de aula utilizando os mesmos recursos selecionados.

A pesquisa em questão é de caráter qualitativo e, para realizar este estudo,

optamos por aplicação de questionários abertos e semiabertos, com o propósito de

obter informações sobre conhecimentos, interesses e expectativas dos sujeitos

pesquisados6.

Consideramos a presente pesquisa como Pesquisa Participante, onde, o

pesquisador, não só compartilha do ambiente investigado, mas possibilita que o 5 Santos, "Lavoisier nos livros didáticos", 11.

6 Gil, Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, 121.

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investigado participe do processo de realização da pesquisa e que os resultados se

revertam em benefício do próprio grupo pesquisado, tendo em vista a perspectiva de

intervenção na realidade social. 7

A análise preliminar dos dados foi realizada com a utilização de uma

ferramenta de mineração de textos (Sobek), indicando modificações na visão dos

participantes especialmente quanto às relações entre História da Ciência e Ensino,

favorecidas por uma perspectiva historiográfica atual da História da Ciência.

Entretanto, o software não nos traz análises mais profundas, estas foram realizadas

por metodologia baseada na Análise do Discurso.

No primeiro capítulo abordaremos as tendências pedagógicas brasileiras e as

abordagens para o ensino de Ciências, incluindo as diferentes possibilidades de se

abordar a História da Ciência no ensino.

No segundo capítulo apresentaremos os instrumentos, o método e a

metodologia de análise baseada na Análise do Discurso de linha francesa e em

perspectiva historiográfica atual em História da Ciência.

No terceiro capítulo apresentaremos os dados, reunindo as condições de

produção dos discursos e o levantamento de dados sobre formação em História da

Ciência dos professores e a partir disto apresentaremos as modificações ocorridas

nos discursos dos professores, após a intervenção com o curso de formação

continuada em História da Ciência.

7 Sobre o assunto vide: Demo, Metodologia do Conhecimento Científico; e Freire, “Criando Métodos

de Pesquisa Alternativa”.

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Capítulo 1- História da Ciência e Ensino: Interfaces com base na

perspectiva historiográfica

falta de formação específica em História da Ciência do professor

universitário reflete na formação dos futuros professores da educação

básica. De fato, os formadores de professores (professores do nível

superior) muitas vezes não têm uma formação específica em História da Ciência,

geralmente são professores que acabam por realizar algum estudo sobre a história

da disciplina que lecionam. Isso pode contribuir para uma formação incompleta dos

professores e acabar por reforçar visões distorcidas sobre a ciência8. Isso pode, em

parte, ser explicado levando-se em conta o pequeno número de programas de pós-

graduação especificamente voltados a História da Ciência.

Além disso, o professor em geral não observa que a utilização da História da

Ciência em suas aulas não é algo a mais e sim uma abordagem que leva em

consideração o contexto histórico de determinado conhecimento científico para

ensinar o mesmo conteúdo que ele já ministra.

Em estudo anterior, analisando algumas grades horárias, ementas dos cursos

e projetos pedagógicos de universidades públicas de São Paulo, dos cursos de

licenciatura em Química, pudemos constatar que nem todas as Universidades

públicas têm disciplinas relacionadas à História da Ciência como parte obrigatória do

currículo da Licenciatura, apesar de constar na legislação.9

É interessante comparar esses dados com os obtidos em diagnóstico sobre a

formação em História da Ciência oferecida em cursos de licenciaturas e bacharelado

das regiões sul e sudeste de nosso país. Para esse diagnóstico foram analisadas

informações sobre cursos superiores em Ciência e Matemática disponíveis nas

bases do INEP, bem como outros dados colhidos junto às próprias instituições.10

8 Cachapuz et al., orgs., A Necessária Renovação do Ensino de Ciências.

9 Barp,”A História da Ciência na Formação de Professores de Ciências”.

10 O levantamento desses dados foi realizado por integrantes do Projeto OBEDUC e envolveu

professores, mestrandos, doutorandos e estudantes de graduação, bem como professores do Ensino

Básico de escolas públicas e particulares.

A

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6

Esse levantamento mostrou que, na região sudeste, são os cursos superiores

de química que mais oferecem disciplinas ligadas a História da Ciência em suas

grades, como mostra o gráfico11 a seguir:

GRÁFICO 1-PERCENTUAL DE DISCIPLINAS DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA

POR ÁREA NA REGIÃO SUDESTE

Foi possível relacionar a marcante presença dessas disciplinas nos cursos de

química, as características históricas da institucionalização da área, desde a criação

da Universidade de São Paulo no início do século XX.. Além disso, desde 1986 a

Proposta Curricular do Estado de São Paulo já considerava a História da Ciência

como um dos três pilares do ensino de química, sendo os outros dois a

experimentação e o cotidiano.12

Outros dados sobre os professores que vem participando das atividades de

formação continuada desenvolvidas no âmbito do mesmo projeto indicam um

número maior de professores de química que se envolvem tanto nos cursos EaD

quanto nos presenciais, voltados a professores do Ensino Superior.13

Um dado interessante relacionado com a procura por cursos em EaD é que

no momento em que oferecemos o curso, o qual será melhor detalhado nos

capítulos seguintes, a procura foi muito grande quando comparada ao número de

11

Beltran, “História da Ciência nos Cursos Superiores de Química,” 3 12

São Paulo, Proposta Curricular para o Ensino de Química. 13

Beltran, “História da Ciência nos Cursos Superiores de Química,” 3.

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vagas ofertadas, o que certamente mostra o interesse dos professores pelo tema.

Mas, isso também pode sugerir que os professores ou não tiveram formação inicial

em História da Ciência em suas graduações ou julgam que foi insuficiente. Outro

fator influente foi a gratuidade do curso em foco.

Definimos aqui dois problemas, o primeiro está relacionado à abordagem em

História da Ciência: quando disciplinas de cunho histórico fazem parte da grade

curricular de formação de professores, que tipo de abordagem em História da

Ciência os formadores de formadores oferecem aos licenciandos?

Partindo da premissa que a maior parte dos professores do Ensino Superior

não possui formação especializada em História da Ciência, que tipo de abordagem

de História da Ciência ensinariam aos seus alunos, futuros professores? Que tipo de

abordagem esses licenciandos mais tarde vão desenvolver com os alunos da

Educação Básica?

O segundo problema é o como inserir a História da Ciência nos programas de

ensino. O "como fazer" é bastante citado por professores como dificuldade

apresentada para abordagem histórica no ensino de conteúdos de Ciências.

Não é nossa pretensão responder aqui a esses dois questionamentos. Mas

pretendemos contribuir para isso analisando os conceitos de ciência e de História da

Ciência presentes nos discursos de professores de ciências da rede pública estadual

de São Paulo que participaram da formação continuada por nós oferecida.

Entretanto, esses dois problemas citados acima permeiam o histórico de formação

em História da Ciência desses docentes, público alvo desta tese, além de fazerem

parte da temática do curso de formação oferecido de forma gratuita e em ambiente

virtual de aprendizagem.

Pudemos verificar que muitos dos professores que atuam na educação

básica, envolvidos em levantamento que será trabalhado mais detalhadamente no

capítulo 3, acreditam na contextualização histórica da produção de Ciência.

Pensamos que isto possa ser fruto do conteúdo dos documentos oficiais, nos quais

existe o apelo para a abordagem histórica. Assim, por exemplo, no documento do

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Conselho Nacional de Educação que trata do perfil dos formandos dos cursos de

química, destaca-se a necessidade de compreensão dos aspectos históricos

referentes à disciplina que os futuros formandos irão lecionar.14

O mesmo apelo pode ser visto também, em outros documentos do MEC, mais

especificamente nos PCNs. Nesses documentos, a História da Ciência é incluída

como proposta de ensino, como podemos ver no PCN de Ciências para o terceiro e

quarto ciclos (5ª a 8ª séries ou atualmente do 6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental:

“pois o conhecimento das teorias do passado pode ajudar a compreender as

concepções dos estudantes do presente, além de também constituir conteúdo

relevante do aprendizado”.15

Também, no documento do Currículo Oficial do Estado de São Paulo,

comparecem no conjunto de habilidades associadas às ciências, itens como por

exemplo, analisar o papel da ciência e da tecnologia no presente e ao longo da

história.16

Ainda na resolução da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo que

dispõe sobre os perfis, competências e habilidades requeridas dos Profissionais da

Educação da rede estadual de ensino, aparecem como competências do professor:

“Reconhecer a Química como parte da cultura humana, portanto de caráter histórico,

que influencia outras áreas do saber, e é influenciada por elas.”17

Contudo, a problemática em questão é que os professores têm dificuldade em

inserir a História da Ciência nos seus programas de ensino. Às vezes o único

contato que o professor de educação básica tem com a área da História da Ciência

são os livros didáticos e textos da internet. Sendo assim, eles podem estar

oferecendo aos alunos uma abordagem em História da Ciência que não seja

adequada aos dias atuais e nem coerente com os documentos oficiais.

14

Brasil, Parecer CNE/CES 1.303/2001. 15

Brasil, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais, 21 16

São Paulo, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, 29. 17

São Paulo, Resolução SE 52, de 14-8-2013, 61.

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9

No curso em EaD oferecido aos professores e parte integrante desta tese,

mais de 3/4 dos cursistas afirmaram que abordam a História da Ciência em suas

aulas. Entretanto, os professores podem apresentar aos seus alunos uma

abordagem da História da Ciência, onde o desenvolvimento do contexto científico é

considerado, mas é apresentado como adorno para ensinar os conteúdos sem levar

em conta os debates científicos do período ou a própria complexidade da ciência

que estava em construção.

Esse tipo de abordagem, embora se oponha aparentemente a abordagem

tradicional da História da Ciência, não contempla a tendência historiográfica mais

atual que leva em consideração não só as questões epistemológicas, que dizem

respeito à análise interna das ciências em diferentes períodos, mas também

considera os fatores sociais e econômicos, externos; além disto, aponta não só as

rupturas ocorridas nos caminhos da ciência, mas também suas continuidades e

permanências.18

É sobre esta perspectiva historiográfica mais atualizada que desenvolvemos o

curso em EaD para professores da rede pública estadual, visando obter uma

mudança em seus discursos quanto às suas concepções sobre ciência e sobre a

História da Ciência com vistas a auxiliá-los a incluir a História da Ciência em seus

programas de ensino.

1.1. CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA PARA O ENSINO

Muitas são as contribuições da História da Ciência para o Ensino e, Michael

Matthews é frequentemente citado por defender a inserção da História e Filosofia da

Ciência nos programas de formação de professores de Ciências e também nos

currículos escolares de Ciências. O autor nos fornece no livro “Science teaching: the

role of history and philosophy of science” uma lista das contribuições da História e

Filosofia da Ciência para o Ensino de Ciências conforme segue:

“1- A história promove melhor compreensão dos conceitos e métodos científicos.

18

Saito, Trindade, & Beltran, “História da Ciência e Ensino: Ações e Reflexões”.

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2- Abordagens históricas conectam o desenvolvimento do pensamento individual com o desenvolvimento das ideias científicas. 3- A História da Ciência é intrinsecamente valiosa. Episódios importantes da História da Ciência e Cultura – a revolução científica, o darwinismo, a descoberta da penicilina, etc – deveriam ser familiares a todo estudante. 4- A História da Ciência é necessária para se entender a Natureza da Ciência (NdC). 5- A história neutraliza o cientificismo e dogmatismo que são encontrados frequentemente nos manuais de Ensino de Ciências e nas aulas. 6- A história, pelo exame da vida e da época dos pesquisadores individuais, humaniza a matéria científica, tornando-a menos abstrata e mais interessante aos alunos. 7- A história favorece conexões a serem feitas dentro de tópicos e disciplinas científicas, assim como com outras disciplinas acadêmicas; a história expõe a natureza integrativa e interdependente das aquisições humanas”19

O fato de ser um educador preocupado com estas questões fez com que ele

seja ainda muito citado em trabalhos que pretendem envolver a História e Filosofia

da Ciência (HFC) e o Ensino. Além disso, Matthews é fundador e editor de periódico

dedicado à HFC e também por muitos anos exerceu a diretoria do Comitê

Interdivisional de Ensino da IUHPS (International Union of History and Philosphy of

Science).

Entretanto, a abordagem HFC coloca a História e Filosofia da Ciência em

situação de equivalência com a História da Ciência, como se apresentassem o

mesmo significado. Estudaremos os desdobramentos desta proposição mais

adiante.

De fato, Matthews é grande incentivador da inserção da Historia da Ciência

no Ensino de Ciências, entretanto, o debate atual não é mais sobre a importância de

se inserir a História da Ciência no Ensino de Ciências, mas sim em como fazê-la.

Assim, os documentos oficiais que tratam do Ensino de Ciências, seja os que

regulam o Ensino Superior ou os que regulam a Educação Básica (tanto no nível

19

Matthews, Science Teaching, 50.

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11

médio como nos anos finais do nível fundamental) já consideram a História da

Ciência como uma abordagem possível para o Ensino de Ciências. Esses

documentos também apresentam diferentes abordagens da História da Ciência

sobre as quais nos debruçaremos a seguir.

Porém, quando tratamos de "como" inserir a História da Ciência nos

programas de ensino dos professores temos que levar em consideração as

diferentes tendências pedagógicas da educação brasileira, as diferentes abordagens

para o ensino de ciências incluindo as diferentes abordagens em História da Ciência.

Por esse motivo o trabalho na interface História da Ciência e Ensino é tão complexo,

pois trata de estabelecer interfaces entre campos interdisciplinares. É na concepção

de conhecimento como objeto comum ao Ensino de Ciências e à pesquisa em

História da Ciência que podemos estabelecer interfaces entre essas duas áreas:

"De fato, é na concepção de conhecimento que se encontram as semelhanças e as diferenças entre as várias tendências pedagógicas no ensino de química e também entre as vertentes historiográficas na pesquisa em história da ciência. Considerando a concepção de conhecimento como objeto comum à pesquisa em ensino e em história da química, podem-se analisar as possíveis interfaces entre esses dois campos a partir da identificação de tal conceito em diferentes tendências pedagógicas e propostas historiográficas (BELTRAN, 2009; BELTRAN et al., 2010)"20

Levando isso em consideração, a seguir apresentaremos as principais

tendências pedagógicas da educação brasileira, as diferentes abordagens para o

ensino de ciências e as diferentes abordagens em História da Ciência, por

considerar possibilidades de interação entre elas.

1.2. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS

As tendências pedagógicas são de extrema relevância para a prática docente,

pois elas objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o a responder a

questões sobre as quais deve se estruturar todo o processo de ensino, como por

20

Beltran, “História da Química e Ensino,” 73.

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exemplo: o que ensinar em Ciências? Para quem? Como ensinar? Para quê? Por

que ensinar Ciências?

Segundo José Carlos Libâneo21, podemos dividir a principais Tendências em

Liberais e Progressistas. A primeira está ligada ao como ensinar (o foco estava no

ensino e não na aprendizagem do aluno, a aprendizagem era receptiva e mecânica),

já a segunda se preocupa com o aprender (o foco passa a ser a aprendizagem,

como o aluno aprende), daí a expressão "aprender a aprender" bastante citada no

currículo oficial de São Paulo.22

As licenciaturas trabalham essas tendências pedagógicas. Entretanto, nem

sempre se têm conseguido que os egressos atuem de acordo com as tendências

mais recentes onde o foco é a aprendizagem do aluno. O que vemos na maioria das

vezes é um professor que, apesar de conhecer as novas tendências, busca

referências no modo como seus professores atuavam e praticam em sala de aula

uma educação pautada nas tendências mais tradicionais.23 Os cursos de pedagogia

e as licenciaturas têm trabalhado com a questão da memória do professor. Neste

sentido, "as concepções sobre ensino e aprendizagem, sobre o papel da escola, do

professor e do aluno, entre outras, podem ser questionadas através da retomada da

história de vida de cada um dos professores".24

Tendo por base o mencionado estudo de Libâneo, elaboramos os dois

quadros seguintes, apresentando resumidamente como se dava a aprendizagem em

cada uma das diferentes tendências pedagógicas, quem eram seus expoentes e os

períodos nos quais essas tendências se manifestaram com maior intensidade.

21

Libâneo, Democratização da Escola Pública. 22

São Paulo, Ciências da Natureza e suas Tecnologias. 23

Quadros et al, “Os Professores que Tivemos,” 10. 24

Ibid.

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FIGURA 1-QUADRO SÍNTESE DA APRENDIZAGEM - TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS

Tendências Liberais

Tradicional (1759-1930)

A aprendizagem é receptiva e mecânica, sem se considerar as características próprias de

cada idade.

Herbat J.A. Comenio Kiekegaard

Renovadora Progressista (1930)

A aprendizagem é baseada na motivação e na estimulação de problemas. O aluno aprende fazendo.

Montessory,Decroly, Dewey, Piaget, Cousinet, Lauro

de Oliveira Lima.

Renovadora não Diretiva (1940-1960)

Aprender é modificar as percepções da realidade.

Carl Rogers, "Sumerhill", escola de A. Neill.

Tecnicista (1960-1980)

Aprendizagem baseada no desempenho

Skinner, Gagné, Bloon, Mager. Leis 5.540/68 e 5.692/71.

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FIGURA 2-QUADRO SÍNTESE DA APRENDIZAGEM - TENDÊNCIAS

PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS

Tendências Progressistas

Libertadora (1970-1980)

Valorização da experiência vivida como base da relação educativa. Codificação-decodificação. Resolução da situação

problema.

Paulo Freire.

Libertária (1970-1990)

Aprendizagem prima pela valorização da vivência cotidiana. Aprendizagem informal via grupo.

Lobrot, C. Freinet, Miguel

Gonzales, Vasquez, Oury,

Maurício Tragtenberg, Ferrer y Guardia.

Crítico Social dos Conteúdos ou Histórico Crítica (1980-2000)

Aprendizagem baseadas nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos.

Papel do aluno como participante e do professor como mediador entre o saber e o aluno.

Makarenko, B. Charlot, Suchodolski, Manacorda, G. Snyders Demerval

Saviani.

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Na tendência pedagógica tradicional o conhecimento é tido como pronto e

acabado e o aluno é mero receptor de informações, assim o conhecimento é

acumulativo e de desenvolvimento no sentido de aprimoramento progressivo. Essas

características são muito semelhantes à historiografia tradicional, onde a história da

ciência é considerada linear e progressiva, buscando no passado as teorias que

permaneceram no presente, enfatizando os "erros" e "acertos" dos feitos do

passado, os precursores ou pais da ciência moderna.25

Na Tendência Pedagógica Renovada a História da Ciência não foi

considerada, assim como na tendência Tecnicista, nem com o movimento de

renovação do ensino de ciências na década de 60 houve valorização, a História da

Ciência no ensino só voltou a ser valorizada na década de 80.26

Sendo assim, não podemos deixar de nos ater a duas tendências que

permeiam os documentos oficiais, como por exemplo os PCN para o ensino de

Ciências.

A primeira é uma corrente pedagógica que costumeiramente aparece quando

falamos em teorias educacionais, o construtivismo. Podemos dizer que o

construtivismo se preocupa como se dá a aquisição de conhecimento, toma a

aprendizagem como resultado da construção do conhecimento pelo aluno, processo

em que se respeitam as ideias prévias dos alunos ao processo de aprendizagem.

Jean Piaget, Henri Wallon, L.S. Vigotsky, A. N. Leontiev, A. R. Luria e Emília

Ferreiro, são teóricos do construtivismo.27

Porém, a partir de ideias de Piaget viria a ser proposta a existência de

paralelismo entre o desenvolvimento das ciências e o desenvolvimento psicológico

da criança, ou ainda, existiria uma analogia entre as concepções históricas, já

ultrapassadas, e as ideias dos alunos. Essas ideias partiram da obra de Piaget com

o físico Rolando Garcia, intitulada "Psicogénese e História das Ciências". Partindo

da noção piagetiana de mecanismos de passagem, onde existiriam etapas

25

Beltran, Saito, &Trindade, História da Ciência para Formação de Professores, 106. 26

Ibid., 109. 27

Brasil, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, 48.

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sequenciais e hierárquicas no processo de construção do conhecimento,

considerou-se que a crescente complexidade dos conceitos assimilados pelas

crianças podia ser comparada à crescente complexidade da ciência ao longo da

história, ou seja, a passagem de um período histórico ao seguinte, seria análoga ao

da passagem de um estádio genético aos seus sucessores. Nessa obra os autores

utilizam Aristóteles como exemplo, comparando a evolução da Física aristotélica aos

quatro estádios de desenvolvimento da criança (as etapas da psicogénese), desse

modo as explicações dadas pelas crianças sobre o movimento seriam semelhantes

às da época de Aristóteles. 28 Essa ideia foi bem aceita por educadores, entretanto

sabemos que o pensamento de uma criança não pode ser comparado ao complexo

pensamento de um cientista.

Os conceitos de "obstáculos epistemológicos" de G. Bachelard e "Revolução

Científica" de T. Kuhn são muito utilizados por educadores para expressar a ideia de

descontinuidade do conhecimento científico, rompendo com a ideia de linearidade.

Entretanto esse tipo de perspectiva historiográfica julgava o passado com os olhos

do presente, apresentando assim uma abordagem tradicional da Historia da Ciência

não compatível com uma abordagem mais atual e que será melhor detalhada mais

adiante.29

Na atualidade, continuam sendo desenvolvidas propostas de ensino

baseadas nas ideias construtivistas, como por exemplo os estudos sobre as

concepções prévias dos alunos, propondo que os alunos substituam suas ideias

prévias pelas concepções científicas. Na teoria construtivista os conceitos seriam

assim reconstruídos:

"É importante registrar que o sujeito não vai refazer o caminho da ciência, “re-descobrir”, “re-inventar” os conteúdos dos saberes, mas apreendê-los da maneira correta e adequada que pode ser entendida como uma “re-construção” do conhecimento, de modo que ele venha a constituir parte de si próprio e não como algo justaposto, aceito sem apreensão." 30

28

Piaget & García, Psicogênese e História das Ciências. 29

Saito, “Continuidade e Descontinuidade”; e Saito, Trindade, & Beltran, “História da Ciência e Ensino: Ações e Reflexões”. 30

Werneck, Sobre o Processo de Construção do Conhecimento, 180.

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A reconstrução dos conceitos se daria então pelo contato com diferentes

pontos de vistas, provocando o conflito cognitivo e rompendo assim com

conhecimento anterior.

A segunda tendência é a Histórico Crítica, proposta por Dermeval Saviani. A

base da teoria é o materialismo histórico e procurava compreender a Educação no

contexto da sociedade humana, articulando uma proposta pedagógica com o

compromisso da transformação da sociedade. Essa proposta é bem coerente com

uma abordagem para o ensino de ciências muito comum na atualidade, a CTS

(Ciência Tecnologia e Sociedade), no entanto, essa abordagem foca no

conhecimento tecnológico atual, portanto, a História da Ciência acaba tendo pouco

espaço no processo de ensino/aprendizagem.

As abordagens mais comuns no ensino de ciências são: o Movimento das

Mudanças Conceituais, o Movimento CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), a

Alfabetização Científica e o ensino por Investigação (inquiry), dentre outras.31 É

conhecendo, discutindo e refletindo sobre as principais abordagens para o Ensino de

Ciências que os professores ainda em formação terão condições de analisar os

potenciais e limitações de cada uma das diferentes abordagens.

É importante lembrar que a concepção de ciência é diferente em cada uma

dessas tendências pedagógicas e abordagens no ensino de ciências, assim como,

as concepções de educação e dos processos de ensino e aprendizagem. Sendo

assim, pose-se dizer que os professores carregam consigo uma concepção sobre

ciência coerente com as tendências pedagógicas que os formaram, pois como já

mencionado, as discussões sobre as tendências nos cursos de licenciaturas, muitas

vezes não são suficientes para afetar a prática deste futuro professor.32

A construção de uma identidade profissional é um processo longo e complexo

que necessita acomodar inovações, assimilar mudanças, refletir sobre a prática

pedagógica e sobre o que se faz, como se faz e por que faz em sala de aula, com os

31

Sobre o assunto vide: Teixeira, “A Educação Científica”; Sasseron & Carvalho, “Alfabetização Científica”; e Zômpero & Laburú, “Atividades Investigativas no Ensino de Ciências”. 32

Quadros et al., “Os Professores que Tivemos,” 10.

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saberes (seus e de seus alunos).33 Dessa forma, acreditamos que as licenciaturas

precisam rever seus programas de ensino de modo a conduzir a um aprendizado em

Ciências e sobre o Ensino de Ciências que levem o futuro professor a compor uma

concepção de ciência que seja compatível com as tendências pedagógicas mais

atuais e atue sob uma perspectiva historiográfica da História da Ciência também

mais atualizada.

Neste sentido, espera-se que a ciência seja entendida como forma de

conhecimento construído socialmente (ela não é neutra e nem produz verdades

absolutas) e contextualizado sob uma perspectiva historiográfica que procura

desmistificar o gênio, o herói, a evolução da ciência que caminha no sentido do

progresso, a visão do passado com os olhos do presente.

É importante que o professor em formação reflita e discuta sobre as diferentes

tendências pedagógicas e as diferentes abordagens no ensino de Ciências,

entretanto se as universidades não propiciarem esses momentos de reflexão em

seus currículos (disciplinas ligadas a estágios e prática docente), o professor não

terá a possibilidade de lidar efetivamente com isso em sua atividade docente e

dificilmente o fará após sua formação, fazendo com que o professor tenha uma visão

distorcida da ciência e da própria História da Ciência.

1.3. ABORDAGENS EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA

Nos cursos de formação de professores, as disciplinas ligadas ao Ensino de

Ciências preconizam na formação do professor o domínio dos conteúdos a serem

ensinados em Ciências e frequentemente pautam o Ensino de Ciências de acordo

com as propostas presentes nos PCN, todavia, se os PCN admitem diferentes

correntes pedagógicas, o mesmo não acontece com as diferentes abordagens em

História da Ciência, pois é ínfima a presença de trabalhos em História da Ciência na

bibliografia dos PCN.

33

Ibid.

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Assim, a seguir apresentaremos as possíveis abordagens em História da

Ciência no Ensino de Ciências:

❖ História Cultural da Ciência:

Nesta abordagem, a História Cultural das Ciências encontra-se alicerçada na

História Cultural.

"Não se trata de fazer uma História do Pensamento ou de uma História Intelectual, ou ainda mesmo de pensar uma história da Cultura nos velhos moldes, e estudar as grandes correntes de idéias e seus nomes mais expressivos. Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo."34

Propõe-se um diálogo entre a corrente historiográfica associada à história

cultural das ciências e à educação em ciências buscando a formação de um cidadão

reflexivo e crítico, sendo assim, a ciência é compreendida como um produto

sociocultural.35

O foco desta abordagem estaria na análise histórica sobre aspectos culturais

e materiais do desenvolvimento de modelos e teorias científicas, não deixando de

contar com todos que participaram da construção do conhecimento científico.36

O problema deste tipo de abordagem se dá justamente no conceito de cultura.

Na atualidade, o termo Cultura apresenta vários sentidos. São diversas definições

que se desdobram e promovem análises variadas; sendo assim, as diferentes

definições do termo refletem embasamentos teóricos distintos. Para o historiador

inglês, Peter Burke: "Não há concordância sobre o que constitui história cultural,

menos ainda sobre o que constitui cultura."37

Neste sentido a História Cultural pode envolver "estudo das Práticas"

(religiosas, por exemplo), "estudos das Representações" (da natureza, da nação, do

outro sobre a mesma realidade), "História da Memória" (memórias podem ser

distorcidas e contaminadas pela cultura, por grupos diferentes, por momentos

diferentes), "estudo da cultura material" (alimentos, vestuários, habitação, como 34

Pesavento, História e História Cultural, 15. 35

Reis, Guerra, & Braga, Ciência e Arte. 36

Moura & Guerra, “História Cultural da Ciência”. 37

Burke, Variedades de História Cultural, 11.

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formas de identificação cultural, posição social e representação dos grupos em dado

tempo), "história do corpo" (a carga simbólica dos gestos, higiene, história de

gênero, da dicotomia mente e corpo).38

Contudo, no caso da abordagem da História Cultural, a dimensão contextual

(relações entre ciência e sociedade) é bastante explorada, mas deixa de lado as

outras duas dimensões, a epistemológica e a historiográfica que dão identidade a

área da História da Ciência, como será visto mais adiante.39

❖ História e Filosofia da Ciência:

Vamos começar aqui diferenciando a História da Ciência da Filosofia da

Ciência, pois tanto a História da Ciência como a Filosofia da Ciência tratam de

temas comuns, entretanto não podem ser confundidas. Este tipo de abordagem,

coloca a História e Filosofia da Ciência (HFC) em par de igualdade com a História da

Ciência, como se apresentassem o mesmo significado. A Filosofia da Ciência se

ocupa em utilizar categorias gerais e universais para analisar o passado, já a

História da Ciência busca o singular, procurando contextualizar os conceitos

científicos sem retirá-los do seu contexto histórico.40

Mathews é um defensor dessa abordagem História e Filosofia da Ciência

(HFC)41 ou History Philosophy Science (HPS) no ensino, esta por sua vez, está mais

voltada ao fazer interno, à "natureza da ciência"42 ou (natture of science – NOS). As

ideias de Matthews têm sido revistas e ampliadas e, atualmente, a natureza da

ciência pode ser entendida como "um arcabouço de saberes, metodologias,

pressupostos epistemológicos, sociológicos e filosóficos da Ciência"43, ou ainda

pode ser entendido como "um conjunto de elementos que tratam da construção,

estabelecimento e organização do conhecimento científico"44.

Esse tipo de abordagem propõe características que estão mais ligadas a

Filosofia da Ciência, assim os estudos em filosofia da ciência dão ênfase à

38

Burke, O Que é História Cultural?. 39

Alfonso-Goldfarb, “Documentos, Métodos e Identidade da História da Ciência,” 8. 40

Beltran, Saito, & Trindade, História da Ciência para Formação de Professores. 41

Para conhecer mais sobre a abordagem HFC vide: Matthews, “Historia, Filosofia e Ensino de Ciências”. 42

Sobre o assunto vide: Moura, “O Que é Natureza da Ciência”; Martins, “Natureza da Ciência”. 43

Moura, “O Que é Natureza da Ciência,” 34. 44

Ibid., 32.

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reconstrução racional da história, o filósofo da ciência procura não só reconstruir o

percurso evolutivo da ciência, como também assentar a ciência atual em bases

firmes e sólidas.45

Se considerarmos que uma abordagem mais atual a História da Ciência teria

a construção de seu objeto na interface entre a epistemologia, a história e a

sociologia, a abordagem em (HFC) privilegia aspectos internos ou epistemológicos

(reconstrução do percurso evolutivo da ciência), assim a contextualização da

construção do conhecimento não é levada em conta e esse tipo de abordagem

acaba não sendo compatível com as perspectivas historiográficas em História da

Ciência mais atuais, ou seja, que englobe as três esferas de análise.

Recentemente Matthews, reviu o conceito de “natureza da ciência” ao qual

acrescentou "questões sócio-científicas e de valores, matematização, tecnologia,

explicação, visões de mundo e religião, escolha teórica e racionalidade, feminismo,

realismo e construtivismo"46, passando assim a denominá-lo de “feições da ciência”

(features of science – FOS). Mesmo com essa mudança a base dessa noção está

na filosofia e não na história da ciência.

❖ Experimentos Históricos:

Há também um tipo de abordagem que visa reproduzir experimentos

históricos onde "qualquer experiência histórica pode ser uma ocasião para aprender

mais sobre ciência e a natureza da Ciência."47

Assim a reprodução de experimentos históricos (replicação histórica)48, ou

"clássicos" segundo Allchin49, possibilitariam ao aluno conhecer os diferentes

métodos científicos, permitindo construir atitudes mais adequadas do trabalho

científico, entendendo que os experimentos também são e fazem parte das

pesquisas, agindo como problematizadores, criando situações desafiadoras e

fomentando o pensamento crítico do aluno.50

45

Beltran & Saito, “Revisitando a Noção de Natureza da Ciência”. 46

Ibid., 2. 47

Allchin, “Appreciating Classic Experiments”. 48

Vide: Medeiros & Monteiro Jr., Reconstrução de Experimentos; e Cavicchi, “Historical Experiments”. 49

Allchin, “Appreciating Classic Experiments”. 50

Klepka & Corazza, “O Papel Motivador e Problematizador”.

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Neste tipo de abordagem, experimentos históricos são mais comumente

usados no ensino de física, entretanto no ensino de química podem apresentar

algumas dificuldades:

"Como é bem sabido entre os químicos de hoje, as impurezas presentes nos reagentes podem interferir de maneira significativa no andamento e nos produtos de reações químicas. Isso limita a possibilidade da replicação histórica de antigas práticas de laboratório químico. A mesma limitação também se apresenta no caso de tentativas de reprodução de práticas laboratoriais alquímicas, constituindo uma dificuldade bem maior do que a interpretação dos estranhos nomes dos materiais, esses já decodificados há muito por historiadores da química."51

Além do problema do padrão de pureza dos reagentes temos também de

levar em conta que "as idéias sobre a composição da matéria em outras época e

culturas eram diferentes das atuais."52 Isto dificulta ainda mais uma tentativa de

replicação do experimento histórico.

De fato, a experimentação no ensino de ciências é importante, e ela foi

considerada em várias tendências pedagógicas, cada uma com um papel diferente

para a experimentação. Na tendência pedagógica tradicional eram comuns

experimentos por demonstração, pois o aluno era mero receptor do conhecimento;

na tendência renovada, o aluno era levado a pensar como cientista e tinha papel

ativo realizando a experimentação através do método científico; na tendência

tecnicista o método científico continuava vigorando e ciência era sinônimo de

progresso e o ensino pautado em propostas profissionalizantes; na tendência

construtivista os experimentos eram propostos a partir de uma abordagem

investigativa. Dessa forma, compreendemos que é um grande desafio fomentar

propostas bem fundamentadas em tendências pedagógicas e perspectivas

historiográficas, as quais conduzem à construção de visões de ciência diferentes da

tão criticada concepção empírico-indutivista.53

51

Beltran, “História da Ciência e Ensino no Laboratório,” 6. 52

Ibid., 6. 53

Ibid., 7; e Beltran & Saito, “História da Ciência, Epistemologia e Ensino”.

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1.4. ABORDAGEM EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA SOB AS TRÊS ESFERAS DE ANÁLISE

Os estudos em História da Ciência nessa nova abordagem proposta pelas

pesquisadoras do CESIMA envolvem três esferas de análise: epistemológica ou

interna, historiográfica (análise crítica dos estudos desenvolvidos sobre o tema

selecionado) e contextual (relações entre ciência e sociedade) 54, conforme esquema

a seguir:

FIGURA 3-AS TRÊS ESFERAS DE ANÁLISE

Se pautarmos nosso objeto de estudo somente na epistemologia, estaríamos

centrando nosso estudo na elaboração e comparação entre conceitos relacionados,

assim como acontece na perspectiva historiográfica tradicional e naquelas

chamadas internalistas. Se por outro lado pautarmos nosso objeto de estudo

somente nas relações entre ciência e sociedade, estaríamos privilegiando estudos

em perspectiva historiográfica externalista onde são considerados os conhecimentos

elaborados ao longo do tempo, ou seja, em diferentes épocas.55

Contudo, o que queremos dizer é que isoladas, essas esferas de análise não

esgotam as possibilidades do trabalho em História da Ciência e segundo Alfonso-

Goldfarb:

"Porque são interligadas, os excessos ou as faltas em qualquer uma delas contaminam as demais. Por outro lado, a natureza

54

Alfonso-Goldfarb, “Documentos, Métodos e Identidade da História da Ciência,” 8. 55

Beltran & Saito, “Revisitando a Noção de Natureza da Ciência”.

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distinta de cada uma delas obriga a operações dignas de um polímata renascentista, mas que vive, contraditoriamente, em plena época de super especialização dos conhecimentos e de excesso de ruído informacional. Em todo caso, sempre e quando essa complexíssima interligação é deixada de lado, perde-se, freqüentemente, a identidade do trabalho com a história da ciência."56

O diferencial das pesquisas oriundas do Projeto Observatório da Educação

ligadas ao Programa de Estudos Pós Graduados da PUC-SP e do Centro Simão

Matias de Estudos em História da Ciência (CESIMA), é o trabalho com recortes

temáticos, buscando mapear e contextualizar os conhecimentos do passado, tendo

em vista não só as continuidades, mas também as descontinuidades57 perfazendo

assim novas leituras em História da Ciência.

Assim, trabalhar dentro do objetivo de inserir a História da Ciência nos

currículos escolares implica que o professor conheça as diferentes abordagens

(História Cultural da Ciência, História e Filosofia da Ciência, Replicação de

Experimentos Históricos e a nova abordagem sob as três esferas de análise),

conheça as tendências pedagógicas no ensino e também as diferentes abordagens

do ensino de Ciências, pois é na concepção de conhecimento como objeto comum à

pesquisa em Ensino de Ciências e em História Ciência onde podem-se desenvolver

as interfaces entre esses dois campos. É conhecendo, discutindo e refletindo sobre

as diferentes abordagens em História da Ciência e tendências pedagógicas no

Ensino de Ciências que os professores ainda em formação terão condições de

analisar os potenciais e limitações de cada uma das diferentes abordagens, visando

construir em seus alunos uma concepção de ciência e de História da Ciência mais

adequadas aos dias atuais.

56

Alfonso-Goldfarb, “Documentos, Métodos e Identidade da História da Ciência,” 7-8. 57

Beltran, Saito, & Trindade, História da Ciência para Formação de Professores, 46.

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25

Capítulo 2 – Metodologia

sta pesquisa é qualitativa e para realizar o presente estudo optamos por

aplicação de questionários abertos e semiabertos, com o propósito de obter

informações sobre interesses e expectativas de professores quanto a

abordagens históricas no ensino de ciências58. Consideramos a presente pesquisa

como Pesquisa Participante, onde, o pesquisador, não só compartilha do ambiente

investigado, mas possibilita que o investigado participe do processo de realização da

pesquisa e que os resultados se revertam em benefício do próprio grupo

pesquisado, sendo assim, tem em vista a perspectiva de intervenção na realidade

social dos sujeitos pesquisados.

Os questionários59 foram utilizados para identificar as concepções de ciência

e da própria História da Ciência entre professores da rede pública estadual de São

Paulo antes e após a participação em curso de formação continuada sobre História

da Ciência, além de nos fornecer dados relativos à formação em História da Ciência

dos professores de Ciências, dado importante quando se utiliza a análise do

discurso na interpretação dos dados.

A análise preliminar dos dados foi realizada com a utilização de uma

ferramenta de mineração de textos (Sobek), indicando modificações na visão dos

participantes especialmente quanto às relações entre História da Ciência e ensino,

favorecidas por uma perspectiva historiográfica atual da História da Ciência, essa

nova abordagem é proposta pelas pesquisadoras do CESIMA e envolve três esferas

de análise: epistemológica, historiográfica e contextual. .

Entretanto, o software não nos traz análises mais profundas, estas serão

realizadas posteriormente por meio de Análise do Discurso de linha francesa de

58

Gil, Métodos e Técnicas de Pesquisa Social, 121. 59

Os questionário foram totalmente anônimos, sem possibilidade de identificação dos envolvidos. As respostas foram reunidas num único texto para análise pelo instrumento de mineração de textos e pela metodologia proposta.

E

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M. Pêcheux contando com as contribuições da pesquisadora E. Orlandi responsável

pela difusão desta linha aqui no Brasil60 .

Para este estudo, a fim de recolher os dados necessários para realização

desta tese, foram aplicados questionários com perguntas abertas e fechadas aos

professores público alvo do curso ministrado no moodle (professores em atuação na

rede Estadual de São Paulo). Ao todo foram elaborados 3 instrumentos de análise.

O primeiro deles, um questionário denominado Visita ao CESIMA, foi aplicado

antes do início do curso, onde foi oferecida uma aula presencial, tida como aula

inaugural do curso, de caráter obrigatório. A aula versou sobre o ofício do historiador

da ciência e foi feita uma visita técnica no CESIMA.

Durante esse encontro foram recolhidos no questionário, impressões dos

cursistas sobre diversos assuntos na área de História da Ciência e, ao final do curso,

o mesmo questionário foi aplicado a fim de obtermos indícios de mudanças nas

percepções dos professores sobre as concepções de ciência e História da Ciência.

No primeiro semestre de 2015 foi realizada uma visita ao CESIMA com alunos

de graduação em Química da universidade Federal de Uberlândia. Essa visita

culminou com o trabalho de Samuel Divino Brito, "Visita técnica ao Centro Simão

Mathias de Estudos de História da Ciência: contribuição para a formação inicial de

professores de Química" , sob orientação do Prof. Dr. Deividi Marcio Marques.61 O

referido autor produziu um questionário e o mesmo foi utilizado por nós compondo

parte dos instrumentos de análise.62

Além deste questionário foi aplicado um outro questionário específico para

levantar dados sobre a formação em História da Ciência dos professores

participantes e, para finalizar o curso foi aplicado mais um questionário com duas

60

Sobre o Ensino de Ciências e a Análise do Discurso vide: Almeida, “Leituras de História e Filosofia da Ciência”; e Almeida, “Historicidade e Interdiscurso”. 61

Disponível em: http://hcensino.net.br/arquivos/acervo/Samuel%20Divino%20Brito.pdf. 62

Aproveitamos para esclarecer que os professores, público alvo desta tese, realizaram a mesma visita técnica ao CESIMA sobre o ofício do historiador. Por esta razão, aplicamos o mesmo questionário referente a visita técnica, contudo, os objetivos de nossa análise diferem dos abordados no trabalho acima citado.

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questões abertas que tratavam de uma possível mudança de percepção da História

da Ciência após a realização do curso e sugestões de melhoria para o curso.

1.1. O CURSO: DESCRIÇÃO DO CURSO E DO PROJETO EM QUE ESTÁ INSERIDO

O projeto História da Ciência e Ensino: Abordagens Interdisciplinares no

Ensino Superior, ao qual se liga a presente pesquisa, propõe-se a pesquisar o

estabelecimento de interfaces entre História da Ciência e Educação em Ciências.

Esse projeto estrutura-se nos seguintes eixos de desenvolvimento:

1) Pesquisa sobre os cursos de História da Ciência e disciplinas afins

oferecidos no ensino superior, a partir de dados disponíveis em bases organizadas

pelo INEP e de outras informações fornecidas por instituições selecionadas.

2) Formação de pessoal especializado para atuar em ensino e pesquisa na

interface entre História da Ciência e ensino, envolvendo cursos a distância, oficinas

e cursos intensivos.

3) Desenvolvimento de materiais instrucionais de História da Ciência para

formação superior e para ensino básico.

No intuído de proporcionar formação continuada aos professores, em especial

aos que atuam em nível superior, foram desenvolvidos e oferecidos pelo integrantes

do Pojeto OBEDUC, ao longo dos 4 anos de vigência desse projeto, cursos à

distância, duas Escolas de Verão de História da Ciência e Ensino e Jornadas de

História da Ciência e Ensino.

O primeiro curso foi oferecido no primeiro semestre de 2015, composto por 10

tópicos, tendo duração total de 36 horas. Foram oferecidas 40 vagas, para as quais

se inscreveram 150 candidatos. O curso visava apresentar propostas que pudessem

permitir a construção de interfaces entre a História da Ciência e o ensino, buscando

estreitar o diálogo entre os educadores e historiadores da ciência, estimulando e

aprofundando reflexões e discussões a fim de elaborar novas propostas para a sala

de aula.

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Após a aplicação dessa primeira edição do curso à distância, observou-se a

necessidade de um aprofundamento em tópicos mais específicos, como a

Historiografia, a Epistemologia e a História da Ciência em sala de aula. Desse modo,

o curso foi reformulado e divido em três módulos independentes, sendo os dois

primeiros compostos por 04 tópicos, com duração total de 20 horas cada módulo, e

o terceiro e último módulo constituído por 06 tópicos e duração total de 22 horas.

O primeiro módulo independente foi aplicado no segundo semestre de 2015 e

focava na historiografia da História da Ciência. Para esse curso foram oferecidas 20

vagas, para as quais se inscreveram 24 candidatos. O número pequeno de

inscrições é justificado pela oferta do curso somente aos professores que realizaram

o curso completo em 2015.

O segundo módulo independente foi oferecido no primeiro semestre de 2016,

contou com 20 vagas disponibilizadas e foram recebidas 159 inscrições. O foco de

trabalho foi a Epistemologia da Ciência.

O terceiro módulo, oferecido no segundo semestre de 2016, também

disponibilizou 20 vagas para as quais se inscreveram 148 candidatos. Este curso

propiciou reflexões sobre o uso da História da Ciência em sala de aula através de

textos, experimentos e mídias.

Paralelamente à realização do terceiro módulo independente do curso à

distância, foi aplicada uma formação com professores da rede de ensino do Estado

de São Paulo, nos moldes do curso completo, elaborado no ano de 2015 e que nos

forneceu os dados analisados na presente tese. Nesse curso de extensão

universitária foram abordadas atividades de aplicação da História da Ciência em sala

de aula, com a utilização de mídias, textos e experiências que abordaram temas de

História da Ciência. As aulas foram organizadas em 09 tópicos, com carga horária

de 36 horas e teve início em 05 de outubro de 2016 e término em 07 de dezembro

de 2016. A seguir apresentaremos um quadro resumo com os cursos realizados no

âmbito do Projeto OBEDUC:

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Nome do curso a distância Período

em que foi ofertado

Número de

vagas

Número de

inscritos

Público Alvo

"História da Ciência e Ensino: Mídias e textos de história da ciência em sala de aula"

Primeiro Semestre de 2015

40 150 Professores do Ensino Superior

“Introdução aos fundamentos da História da Ciência”

Segundo Semestre de 2015

20 24 Professores do Ensino Superior

“Possíveis interfaces entre História da Ciência e Ensino – Epistemologia”,

Primeiro Semestre de 2016

20

159 Professores do Ensino Superior

“Possíveis interfaces entre História da Ciência e Ensino – História da Ciência em sala em aula”

Segundo Semestre de 2016

20 148 Professores do Ensino Superior

“História da Ciência e Ensino: textos, experimentos e mídias em sala de aula”

Segundo Semestre de 2016

40 157

Professores da Educação Básica

TABELA 1-HISTÓRICO DOS CURSOS A DISTÂNCIA REALIZADOS NO PROJETO OBEDUC

Como forma de contribuição à formação continuada do professor da rede

pública estadual, este último curso do Projeto OBEDUC ao qual esta pesquisa se

vincula, buscou discutir e refletir sobre a construção de interfaces entre História da

Ciência e Ensino, bem como apresentar critérios para analisar materiais e recursos

didáticos relacionados à História da Ciência. O diferencial deste curso foi uma aula

presencial, tida como aula inaugural do curso, de caráter obrigatório, na qual foram

abordados temas relativos ofício do Historiador da Ciência. Durante esse encontro

foram recolhidos dados dos cursistas sobre sua visão da área de História da Ciência

e, ao final do curso, o mesmo questionário foi aplicado a fim de obtermos indícios de

mudanças nas percepções dos professores sobre a ciência e a História da Ciência.

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Pensando na interação com os professores, além dos cursos à distância, o

Projeto OBEDUC realizou ações presenciais como a Escola de Verão História da

Ciência e Ensino em 2015 e 2016, sempre realizada em janeiro e contando com 3

dias de evento; e as edições da IV e V da Jornada em História da Ciência e Ensino,

evento bienal, que teve seu início em 2007, mas que contou na IV e V edição com

apoio do projeto OBEDUC. 63

Para realização de todos esses cursos e eventos contamos com uma equipe,

da qual fiz parte apenas nos últimos dois anos do projeto, que envolveu, alunos, ex-

alunos, professores e colaboradores. Sobre os profissionais que atuaram no Projeto

OBEDUC: o corpo docente foi constituído pela coordenadora do projeto (Profa. Dra.

Maria Helena Roxo Beltran) e pelo vice-coordenador (Prof. Dr. Fumikazu Saito) e por

pesquisadores associados, bem como por estudantes de mestrado ou doutorado do

Programa em História da Ciência que, com essas atividades (tutoria dos cursos,

elaboração de material didático, organização dos eventos) completam seus créditos

de atividades programadas e estágios docência e também por professores da rede

pública que recebem bolsas ligadas a este projeto de pesquisa.

O projeto contou com a publicação de livros e o primeiro livro publicado foi

História da Ciência para formação de professores, que apresenta os fundamentos da

área e apresenta possibilidades de interface entre História da Ciência e Ensino.

Foram publicados também volumes temáticos: As experiências relativas ao vazio de

Blaise Pascal64, Louis Pasteur da Química à microbiologia65, Percursos da História

da Química66, Práticas e estratégias femininas: histórias de mulheres nas ciências

da matéria.67

O projeto também contou com a produção de materiais de apoio como

exemplo as videoaulas que compuseram o material didático dos cursos realizados

63

Desses diálogos com os professores nas jornadas surgiu a revista eletrônica História da Ciência e Ensino: Construindo Interfaces, ISSN 2178-2911, publicada regularmente desde 2010, contando com dois volumes por ano. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/hcensino/index. 64

Saito, As Experiências Relativas ao Vazio. 65

Rodrigues, Louis Pasteur. 66

Alfonso-Goldfarb et al., Percursos de História da Química. 67

Trindade, Beltran, & Tonetto, Práticas e Estratégias Femininas.

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no âmbito do Projeto. As sequências didáticas foram desenvolvidas por estudantes

de mestrado e doutorado do Programa e filmadas para compor o material didático

que subsidiou os cursos a distância.68

O projeto detalhado do curso ao qual esta pesquisa se vincula, contendo os

materiais de apoio, as videoaulas e a descrição completa das atividades realizadas

no ambiente virtual pode ser consultado na íntegra nos anexos desta tese. A seguir,

apresentaremos a ferramenta de análise usada no tratamento dos dados obtidos

com o curso no moodle.

1.2. FERRAMENTAS DE ANÁLISE E MINERAÇÃO DE TEXTOS

Primeiramente precisamos definir do que se trata a mineração de textos: A

mineração de textos pode ser definida como um método de extração de informações

relevantes em bases de dados não estruturadas, ou semi-estruturadas.69. Visa

extrair regularidades, padrões ou tendências de textos em linguagem natural

utilizando sistemas de computação dedicados à análise textual de documentos.

Após a realização do curso, os dados coletados através das questões abertas

precisam desconstruídos para uma análise posterior:

"... a “desconstrução” dos textos visando a compreensão de seu processo de produção torna-se um importante mecanismo de análise discursiva, na medida em que permite localizar as inconsistências dos textos, os pontos em que transgride os limites dentro dos quais foi construído. Composto por contradições, um texto não é restrito a uma única, harmoniosa leitura. Pelo contrário, torna-se plural, aberto a re-leituras, não mais um objeto para consumo passivo, mas um objeto a ser trabalhado pelo leitor para produzir sentido (BELSEY, 1980)."70

A desconstrução não significa destruição completa, mas sim desmontagem,

decomposição dos elementos da escrita. A desconstrução serve nomeadamente

para localizar as inconsistências do texto, as contradições, pois é possível obtermos

68

Para saber mais sobre as videoaulas e sobre as atividades produzidas especialmente para o curso a distância, vide o programa do curso em documentos anexos. 69

Klemann, Reategui, & Rapkiewicz, “Análise de Ferramentas de Mineração de Textos,” 1100. 70

Shiroma, Campos & Garcia, “Decifrar Textos,” 433,

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diferentes sentidos para um mesmo texto.71 A ferramenta de mineração de textos

Sobek foi escolhida para esta tarefa de desconstrução do texto.

O Sobek foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Informática na

Educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esse software

livre tem sido usado em vários contextos educativos, dando suporte a aplicações

pedagógicas no ensino fundamental, ensino médio, ensino superior e ensino à

distância. Cabe ressaltar que em outubro de 2016 tivemos a oportunidade de nos

encontrar com Prof. Dr. Eliseo Reategui, um dos idealizadores da ferramenta, em um

dos seminários do Programa de Estudos Pós Graduandos em História da Ciência.

Neste seminário, o professor proferiu a palestra intitulada "Documentos

Digitais e Mineração de Conceitos" esclarecendo os conceitos de mineração de

textos e seus possíveis usos. Aproveitando a visita do professor, tivemos um outro

encontro em que o pesquisador abordou conosco detalhes fundamentais que

auxiliaram na escolha desta ferramenta e que veremos mais adiante.

Entretanto, o Sobek não é a única ferramenta de mineração de textos

disponível, existem diferentes ferramentas de análise e mineração de textos como:

TextAlyser, Wordcounter e TagCrowd. 72 A seguir apresentamos uma tabela73

comparativa dessas ferramentas:

71

Sobre o assunto, vide Derrida, A Escritura e a Diferença. 72

Selecionamos essas três ferramentas, pois elas vão de encontro com a nossa necessidade, entretanto, para saber mais sobre o assunto e sobre outras ferramentas como o ALA-Reader e PCKNOT, por exemplo, vide: Costa, “Emprego de um Software”. 73

Tabela extraída de : Klemann, Reategui, & Rapkiewicz, “Análise de Ferramentas de Mineração de Textos,” 1102.

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TABELA 2-ANÁLISE COMPARATIVA DE MINERADORES

Essas ferramentas fazem em sua grande maioria a contagem de termos

(permite estabelecer limites de palavras, por exemplo) e frequência dos termos

(refere-se à ocorrência de um termo no texto).

A seguir apresentaremos imagens dos dados obtidos com as três ferramentas

(TextAlyser, Wordcounter e TagCrowd) a um mesmo texto, neste caso, utilizaremos

as repostas dos cursistas a questão “De acordo com seus conhecimentos o que é

História da Ciência? ” antes do curso de formação continuada.

FIGURA 4-FREQUÊNCIA DOS TERMOS NO TEXTALYSER

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FIGURA 5- FREQUÊNCIA DOS TERMOS NO WORDCOUNTER

FIGURA 6-FREQUENCIA DOS TERMOS NO TAGCROWD E REPRESENTAÇÃO GRÁFICA

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GRÁFICO 2-FREQUENCIA DOS TERMOS NO SOBEK, REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E SENTENÇAS DOS TERMOS DESTACADOS

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A ferramenta TagCrowd foi a única além do Sobek que apresentou os dados

em gráfico, entretanto, o gráfico não estabelece as relações entre os termos, mas é

possível verificar ao lado de cada termo a frequência que ele aparece.

A ferramenta Sobek foi capaz de nos ajudar na identificação dos pontos

chave do texto e na identificação das relações estabelecidas entre esses termos,

este foi um diferencial das outras ferramentas:

A técnica de mineração de textos utilizando grafos descobre as palavras com maior ocorrência no texto, e identifica se elas estão próximas. O grafo obtido a partir da mineração apresenta em seus nós as palavras que mais ocorreram. As associações entre os nós do grafo indicam a proximidade entre as palavras."74

Além disto, a ferramenta ajudou também a verificar a frequência com que os

termos aparecem no texto além de nos fornecer uma visualização gráfica dos termos

e como eles se relacionam, recurso que nenhuma das ferramentas citadas ofereceu:

"Os tamanhos dos grafos obedecem a perfis de configuração, uma vez que os mesmos contêm os parâmetros utilizados na mineração dos textos. Tais parâmetros definem, por exemplo, o número mínimo de ocorrências que um termo deve ter para integrar-se ao grafo."75

Outra vantagem é:

“...a capacidade de mostrar ao usuário o número de ocorrências de cada conceito e as frases do texto onde este conceito aparece. Esta característica tem por objetivo permitir que o usuário compreenda melhor as informações referentes a conceitos específicos, tais como frases relacionadas a esse conceito, seu significado, qual seu papel no texto e quão relevante é frente aos demais conceitos apresentados. ”76

Essa capacidade de mostrar ao usuário o número de ocorrências de cada

conceito e as frases do texto onde este conceito aparece, pode ser verificada nas

tabelas 5 e 6 situadas mais adiante no Capítulo 3.

74

Azevedo, Behar, & Reategui, “Análise Temática,” 48. 75

Macedo, Behar, & Reategui, “Acompanhamento da Interação,” 37. 76

Epstein & Reategui, “Uso de Mineração de Textos,” 6.

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Assim, escolhemos a ferramenta Sobek, pois ela apresentou algumas

características mais vantajosas em relação às outras três ferramentas citadas,

dentre elas destaco aqui a mais importante no nosso trabalho que é a visualização

gráfica dos termos e as relações que eles estabelecem.

1.3. ANÁLISE DO DISCURSO

Começaremos aqui a definir em linhas gerais o que trata a Análise do

Discurso, sendo assim, lembramos aqui que a Análise do Discurso não é uma

metodologia, é uma disciplina de interpretação fundada pela intersecção de

epistemologias distintas, pertencentes a áreas da linguística, do materialismo

histórico e da psicanálise77.

Em se tratando da análise do discurso, podem existir diferentes abordagens,

uma delas é a anglo-saxã e a outra é a francesa. A primeira apresenta uma

perspectiva mais pragmática (tendência de uma declinação linguística-pragmática

(empiricista) e a segunda diz respeito a uma perspectiva ideológica a tendência

(materialista) que desterritorializa a noção de língua e de sujeito (afetado pelo

inconsciente e constituído pela ideologia). Nos Estados Unidos, por exemplo, a

análise do discurso é marcada pela antropologia e na França é marcada pela

linguística e pela psicanálise.

A análise do discurso de linha francesa do fundador M. Pecheux caracteriza-

se por uma ruptura de toda uma conjuntura política e epistemológica e pela

necessidade de articulação a outras áreas das ciências humanas, como a

linguística, a psicanálise e o materialismo histórico.

No Brasil a consolidação e difusão da área se deve em grande parte a

Professora e pesquisadora Eni Orlandi, assim, as razões que fizeram florescer a

analise do discurso na França são diferentes do que aconteceu no Brasil. Na

França, a Análise do Discurso aparecia em contraposição "... à tendência dominante

nas ciências sociais – o conteudismo , a análise de conteúdo – como também à

77

Caregnato & Mutti, “Pesquisa Qualitativa,” 680.

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entrada com força da corrente formalista-logicista...". No Brasil "...o embate se deu

com a Lingüística, sendo a Análise do Discurso acusada de não dar importância à

língua, fixando-se exclusivamente no político."78

A Análise do Discurso vai se ocupar da análise do texto e do discurso na

produção de sentidos ao longo de uma história:

“ Podemos então concluir que a análise do discurso não está

interessada no texto em si como objeto final de sua explicação,

mas como unidade que lhe permite ter acesso ao discurso. O

trabalho do analista é percorrer a via pela qual a ordem do

discurso se materializa na estruturação do texto (e a da língua

na ideologia). Isso corresponde a saber como o discurso se

textualiza. ” 79

A análise do discurso trabalha com o sentido e não com o conteúdo de um

texto, um sentido que não é traduzido, mas produzido dentro de contextos histórico-

sociais e determinados ideologicamente:

" Se, como tenho afirmado, sujeito e sentido se constituem ao mesmo tempo, não há sentido sem interpretação pois a língua se inscreve na história para significar e é aí que proponho apreender a questão da ideologia, do sujeito, da interpretação. Estão então ligados - pela noção de interpretação tal como proponho - sujeito, sentido, língua, história, ideologia."80

A análise do discurso preocupa-se como está sendo usado determinado

conteúdo e quais as consequências deste uso, visa a compreensão de como um

objeto simbólico produz sentidos, como o texto organiza os gestos de interpretação

que relacionam sujeito e sentido.81 Assume-se a não transparência da linguagem: "E

aceitar que a linguagem não é transparente é reconhecer que falar, ler e escrever

são ações que supõem a interpretação."82

A análise do discurso envolve algo mais do que saber o que se fala, envolve

saber quem fala, para quem fala, como fala e para que fala, pois, o discurso pode ter

78

Ferreira, “O Quadro Atual da Análise de Discurso,” 42. 79

Orlandi, Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos, 72. 80

Ibid., 31. 81

Ibid., 26-27. 82

Almeida & Sorpreso, "Memória e Formação Discursivas,” 3.

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inúmeras funções e significados. É neste sentido que levantamos dados referentes à

formação em História da Ciência do professor, pois para que possamos analisar a

mudança nos discursos é importante saber não só o que esses professores falam,

mas quem fala, assim para a Análise do Discurso, as condições de produção desses

discurso, são responsáveis pelos sentidos construídos, pois o inserem em um

espaço histórico-social e ideológico. Cada texto, terá seu sentido determinado pelas

condições de produção de sua escritura.

"... proponho pensar a noção de funcionamento para o “texto”, em sua relação com a exterioridade. Nem, de um lado, só a língua, nem de outro só a situação-lá, o fora. Observando a materialidade do texto, não abandono o exterior específico (o real da história) mas o considero atravessado pelo exterior constitutivo (o interdiscurso)."83

Para Orlandi, não há método de análise pronto a ser seguido, há a construção

dele e de seu dispositivo teórico para interpretação e é o analista quem cria o

dispositivo de análise. Dessa forma, criamos nosso próprio dispositivo de análise,

sendo assim, esta tese obedeceu as seguintes etapas, baseadas na Análise do

Discurso:

1ª Etapa: definimos o tema e o problema da pesquisa, fizemos uma revisão

da literatura que trata do problema.

2ª Etapa: selecionamos os textos pesquisados (no nosso caso foram

elaborados três questionários que nos forneceram os textos (respostas dos

professores) antes e após a intervenção com a formação continuada (curso

no moodle)). Os textos são objetos simbólicos, segundo a análise do discurso,

3ª Etapa: Realizamos a leitura dos textos, identificamos as ideias principais do

texto, os pontos-chaves (no nosso caso, neste momento utilizamos o Sobek

para destacar os pontos chave),

83

Orlandi, “A Análise de Discurso em Suas Diferentes Tradições Intelectuais,” 4.

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4ª Etapa: identificamos padrões entre os pontos-chaves e como eles se

relacionam (isto chamamos de pista), descrevemos minuciosamente os

elementos identificados (identificando os diferentes sentidos),

5ª Etapa: voltamos ao problema de investigação para verificar se os

resultados obtidos confirmam ou não as teorias revisadas ( Dispositivos

Teóricos) e que deram suporte à investigação, finalizamos com uma

conclusão e elaboramos a redação final apresentando a pesquisa que foi

realizada.

Essas etapas apresentam coerência com a nossa opção metodológica e com

a Análise do Discurso, pois é esperado que o analista não trabalhe numa posição de

neutralidade, ele deve assumir que a linguagem não é transparente e o sentido não

é literal, assim ele pode teorizar e descrever os efeitos da interpretação, assim como

foi descrito nas etapas acima e que caracterizam o método utilizado na presente

tese.

Ainda com relação ao papel do analista: ele não trabalha com a hermenêutica,

não atribui sentidos ao texto, contudo visa problematizar a relação com o texto,

explicitando os processos de significação, desse modo: " Ele não se coloca em uma

posição deslocada que lhe permite contemplar o processo de produção dos sentidos

em suas condições." 84

Feita a análise, o analista interpretará os resultados de acordo com os

instrumentos teóricos dos campos disciplinares de que partiu, no nosso caso a

História da Ciência.

1.4. ANÁLISE DE CONTEÚDO VERSUS ANÁLISE DO DISCURSO VERSUS ANÁLISE TEXTUAL

DISCURSIVA: JUSTIFICANDO A NOSSA ESCOLHA

São muitas as possibilidades de análise (análise de conteúdo, análise

discursiva, análise textual discursiva) conhecer todas as possibilidades e definir qual

o melhor método de análise nos exigiu um volume de pesquisa e leitura não muito

84

Orlandi, Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos, 61.

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extenso, mas de entendimento complexo. Para podermos justificar a escolha de uma

metodologia baseada na Análise do Discurso começaremos por definir cada uma

delas:

A Análise de Conteúdo de Laurence Bardin85 objetiva alcançar uma pretensa

significação profunda, um sentido estável, conferido pelo locutor no próprio ato de

produção do texto86.

A Analise do Discurso propõe o entendimento de um plano discursivo que

articula linguagem e sociedade, entremeadas pelo contexto ideológico87.

Já a Análise Textual Discursiva corresponde a uma metodologia de análise de

dados e informações de natureza qualitativa com a finalidade de produzir novas

compreensões sobre os fenômenos e discursos.88 Esta tem sido utilizada em

pesquisas que necessitam de encaminhamentos que se localizam entre soluções

propostas pela análise de conteúdo e a análise de discurso.

A Análise de Conteúdo pauta-se na “neutralidade” do método e no seu rigor,

buscando um sentido verdadeiro por trás do texto, nada de novo é produzido; na

Análise Textual Discursiva, a unitarização e a categorização se constituem como

etapas para que novas compreensões possam ser produzidas.

Contudo, preferimos trabalhar com a Análise do Discurso proposta por M.

Pêcheux e difundida aqui no Brasil por Orlandi, pois o analista não descobre

nenhuma “dimensão oculta” do real, mas participa de uma intervenção sobre o

social.

Entendemos que na Análise do Discurso o tipo de análise feita é compatível

com perspectivas historiográficas em História da Ciência mais atuais, pois assim

como na História da Ciência o contexto tem um papel importante na Análise do

Discurso como podemos ver no excerto a seguir:

85

Bardin, Análise de Conteúdo. 86

Rocha & Deusdará, “Análise de Conteúdo e Análise do Discurso,” 307. 87

Ibid., 308. 88

Moraes & Galiazzi, “Análise Textual,” 7.

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"Assim, uma certa tradição que recusa o entendimento do contexto como mero adereço, como moldura da qual se poderia prescindir nas investigações lingüísticas, consolidou-se, a partir da década de 1960, na chamada corrente francesa da Análise do Discurso. Na conformação de um aparato teórico-conceitual, ela retirou da marginalidade dos estudos lingüísticos o discursivo, entendendo-o como espaço de articulação entre linguagem e sociedade."89

Nessa perspectiva a História da Ciência se aproxima da Análise do Discurso,

pois o discurso é a construção linguística junto ao contexto social onde o texto se

desenvolve, assim, as ideologias de um discurso são construídas e

influenciadas pelo contexto político-social em que o seu autor está inserido, isto

implica em compreender que a linguagem não pode ser estudada fora de seu

contexto sócio-histórico, porque traz consigo os valores e a história social de

diferentes grupos.

A Análise do Discurso, assim como a História da Ciência, exige o diálogo

com outras disciplinas, contudo para Orlandi a Análise do Discurso se configura

como uma disciplina de entremeio, pois sua constituição ocorre às margens das

chamadas ciências humanas, “não é mera aplicação da linguística sobre as ciências

sociais e vice-versa”90, assim a análise de discurso é pensada a partir de espaços

relacionais entre disciplinas.

Não pretendemos aqui mostrar qual abordagem é melhor, entendemos que

para cada tipo de pesquisa se faz necessário uma abordagem diferente, mas que

seja compatível com os dados a serem analisados e os objetivos da pesquisa, sendo

assim, conhecer as diferentes possibilidades de análise nos permitiu fazer uma

escolha mais consciente do referencial teórico-analítico.

89

Rocha & Deusdará, “Análise de Conteúdo e Análise do Discurso,” 319. 90

Orlandi, Interpretação, 24.

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Capítulo 3 – Análise dos Dados do Curso

curso foi destinado a um público alvo específico, professores de Ciências

da rede pública estadual de São Paulo, desta forma nem todos os inscritos

satisfaziam esta exigência e por esse motivo apenas 30 professores

tiveram suas matrículas efetivadas.

A procura pelo curso foi muito grande quando comparada ao pequeno número

de vagas ofertadas, o que pode indicar que os professores ou não tiveram formação

inicial em História da Ciência em suas graduações ou julgaram que foi insuficiente.

A participação na aula presencial foi exigência para a participação no curso.

Assim, dos 30 professores inicialmente inscritos, 22 iniciaram efetivamente o curso e

18 o finalizaram, conforme podemos observar na tabela a seguir:

Inscritos

Número de

vagas

ofertadas

Matriculados

(Inscritos que satisfaziam

o publico alvo:

professores da rede

pública estadual)

Compareceram a

aula Presencial

Finalizaram

o curso

157 40 30 22 18

TABELA 3-DADOS SOBRE A OFERTA E CONCLUINTES DO CURSO

Quase a totalidade dos cursistas afirmaram ter participado de alguma

atividade de formação continuada (atualização, treinamento, capacitação) nos

últimos dois anos, entretanto, assim mais da metade dos cursistas responderam que

o curso “História da Ciência e Ensino: textos, experimentos e mídias em sala de

aula” foi o seu primeiro contato com o conteúdo de História da Ciência. Isto significa

que a História da Ciência não está sendo trabalhada nos cursos de formação

O

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continuada, pelo menos não está presente nos cursos oferecidos pela EFAP91 que

são responsáveis pela formação em serviço do professor da Rede Pública Estadual,

ou seja, o tema não foi alvo de nenhum curso para professores de Ciências desde a

criação da Escola de Formação até o momento92. O tema também não foi alvo de

formação centralizada nas ações de formação da SEESP, sendo assim, os

professores muitas vezes buscam a formação fora do ambiente de trabalho em

encontros oferecidos por instituições de Ensino Superior como USP e Unesp e

também nas Escolas de Verão, evento tradicionalmente organizado em janeiro pelo

Programa de Estudos Pós Graduados em História da Ciência da PUC-SP.

Perguntamos aos professores que frequentaram o curso quais disciplinas

ministravam atualmente, lembrando que um professor pode ministrar mais de uma

disciplina, obtivemos a seguinte distribuição93:

Disciplinas Número de Professores

Biologia 8

Ciências 8

Física 4

Matemática 2

Química 7

TABELA 4-DISTRIBUIÇÃO DE PROFESSORES POR DISCIPLINAS QUE MINISTRAM ATUALMENTE

91

A Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores "Paulo Renato Costa Souza" (EFAP) foi criada em 2009 e tem como objetivo o desenvolvimento profissional dos servidores da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. 92

Dados obtidos no site:Secretaria da Educação do Estado de São Paulo: Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores, Ações de Formação. http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Default.aspx?tabid=2971. 93

No total, 18 professores finalizaram o curso, entretanto, os dados apresentados nesta tabela somam mais do que o total de professores, pois um professor que fez o curso de Ciências, com Habilitação em Química por exemplo, pode ministrar as duas disciplinas, Ciências e Química. O mesmo é válido para as habilitações em Biologia, Física e Matemática.

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A maior parte dos cursistas fez o curso superior em instituição privada e

quando foram questionados se durante o seu Curso de Graduação eles tiveram

disciplinas com ênfase em História da Ciência, as respostas foram bem vagas:

apenas dois cursistas conseguiram relatar os nomes das disciplinas de cunho

histórico que tiveram na graduação Dentre os cursistas, uma boa parte obtiveram a

graduação entre 8 e 14 anos passados, ou seja, cursaram a graduação entre os

anos de 2002 e 2008 e outros obtiveram a graduação entre 15 e 20 anos atrás,

sendo assim, mais da metade dos cursistas se formou no começo dos anos 2000.

Podemos concluir então que esses cursistas em sua maioria (os cursistas que

obtiveram a graduação entre 8 e 14 anos passados, ou seja, cursaram a graduação

entre os anos de 2002 e 2008) deveriam ter recebido formação histórica segundo os

pareceres do Conselho Nacional de Educação que estabelecem as Diretrizes

Curriculares Nacionais para os Cursos de Química, Física e Ciências Biológicas94,

pois os pareceres foram aprovados no ano de 2001.

Nestes pareceres do ano de 2001 é reconhecida a importância da

reformulação dos currículos para atender a uma formação mais geral do estudante,

com a inclusão, nos currículos institucionais, de temas que propiciem a reflexão

sobre caráter, ética, solidariedade, responsabilidade e cidadania. Assim, a História

da Ciência passa a ser incorporada nestas novas diretrizes curriculares, conforme

podemos ver na Diretriz para os cursos de Química, nas competências e habilidades

dos bacharéis e dos licenciados relacionadas ao conteúdo de Química: "Reconhecer

a Química como uma construção humana e compreendendo os aspectos históricos

de sua produção e suas relações com os contextos culturais, socioeconômico e

político".95 E também com relação à formação pessoal do licenciado em Química:

"Ter uma visão crítica com relação ao papel social da Ciência e à sua natureza

epistemológica, compreendendo o processo histórico-social de sua construção".96

94

Brasil, Parecer CNE/CES 1.303/2001; Brasil, Parecer CNE/CES 1.304/2001; e Brasil, Parecer CNE/CES 1.301/2001. 95

Brasil, Parecer CNE/CES 1.303/2001, 5. 96

Ibid., 6.

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Ou ainda, a História da Ciência poderia ser inserida como conteúdo complementar,

para a escolha dos estudantes.

Nas Diretrizes para o curso de Física são competências essenciais:

"desenvolver uma ética de atuação profissional e a conseqüente responsabilidade

social, compreendendo a Ciência como conhecimento histórico, desenvolvido em

diferentes contextos sócio-políticos, culturais e econômicos."97 A História da Ciência

também faria parte de um grupo de disciplinas complementares para ampliar a

educação do formando.

Nas Diretrizes para o Curso de Ciências Biológicas também aparece como

competência e habilidade: "Entender o processo histórico de produção do

conhecimento das ciências biológicas"98 e também nos conhecimentos básicos de:

"História, Filosofia e Metodologia da Ciência, Sociologia e Antropologia, para dar

suporte à sua atuação profissional na sociedade, com a consciência de seu papel na

formação de cidadãos."99

Contudo o que percebemos é que os professores em atuação na rede pública

estadual de São Paulo e que fizeram parte de nosso curso não obtiveram a

formação, indicando que as universidades (principalmente as privadas) não

cumpriram com as Diretrizes estabelecidas nestes pareceres no que se refere à

formação em História da Ciência.

Os cursistas foram questionados sobre o seu tempo de atuação no

magistério, uma parte dos professores tem entre 11 e 15 anos de atuação na rede

pública estadual, outra parte tem entre 6 e 10 anos, ou seja, mais da metade dos

cursistas provavelmente acompanhou a inserção primeiramente da proposta

curricular em 2008 e posteriormente em 2009 a consolidação do currículo oficial de

São Paulo nas escolas estaduais. Os mesmos foram questionados como

consideravam a abordagem em História da Ciência no caderno do aluno e do

97

Brasil, Parecer CNE/CES 1.304/2001, 4. 98

Brasil, Parecer CNE/CES 1.301/2001, 4. 99

Ibid., 6.

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professor utilizados por eles nas disciplinas que ministram e metade dos cursistas

acreditam que a abordagem com relação a História Ciência é ruim e uma pequena

parcela que ela sequer foi incluída no material fornecido aos professores e

estudantes da rede pública estadual.

Mais de 3/4 dos cursistas afirmam que abordam a História da Ciência em

suas aulas, entretanto quando questionados sobre a bibliografia utilizada e se a

consideravam satisfatória, as respostas, em sua maior parte, indicaram que os

mesmos buscavam como referências para suas aulas, textos da internet, livros

didáticos e paradidáticos. Lembrando que a historiografia tradicional permeia a maior

parte desta bibliografia, podemos inferir que os professores tem muita dificuldade na

escolha dos critérios para selecionar uma boa bibliografia em História da Ciência e

este aspecto foi bastante trabalhado no nosso curso de formação visando auxiliar

os professores nesta tarefa.

Cerca de 18 professores matriculados finalizaram o curso e obtivemos uma

alta taxa de satisfação.

Sabemos que em uma pesquisa qualitativa os números não tomam grandes

proporções nas análises e não é pretensão nossa que não seja assim , entretanto,

gostaríamos de justificar aqui o uso desses poucos dados numéricos apresentados

até este ponto.

Esses dados nos falam um pouco da formação do professor em atuação na

rede pública estadual de São Paulo desde a sua graduação até uma possível

formação em História da Ciência.

Neste momento, estamos definindo aqui, segundo a Análise do Discurso, as

condições de produção dos diferentes sentidos sobre ciência e História da Ciência

(ou as diferentes concepções sobre esses dois termos) antes e após a intervenção

com um curso de formação continuada. Assim, “compreender um discurso é buscar

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explicações para como ele produz sentidos, ou seja, determinar as condições de

produção desses sentidos”100.

“Em síntese, segundo Almeida e Sorpreso (2011, p. 94) há uma relação de dependência entre a produção de significados e Interdiscursos associados a determinadas formações discursivas, ao contexto sócio-histórico e à história de vida dos indivíduos.”101

Para verificar a ocorrência de mudanças nas percepções dos professores

sobre ciência e História da Ciência após a realização do curso, foram comparadas

as respostas a um questionário aplicado na aula presencial e no final do curso on

line. Neste momento, trataremos da pergunta inicial do questionário: “De acordo

com seus conhecimentos o que é História da Ciência?”.

Analisamos as respostas com a utilização do Sobek, Um texto reunindo todas

as respostas dadas a essa questão inicial foi processado no referido software e

obtivemos alguns gráficos que serão apresentados a seguir.

O software utilizado procura por termos frequentes e suas relações em um

texto, dessa forma pode auxiliar de modo positivo em nossa análise sobre as

relações que os professores estabelecem com os conceitos de ciência e de História

da Ciência.

Segundo Marilena Chauí as principais concepções de ciência são: o

racionalista, cujo modelo de objetividade é a matemática; o empirista, que toma o

modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII; e o

construtivista, cujo modelo de objetividade advém da idéia de razão como

conhecimento aproximativo. A concepção racionalista seria hipotético-dedutiva e a

concepção empirista seria hipotético-indutiva.102

Visões empíricoindutivistas da ciência não correspondem à forma como se

constroem os conhecimentos científicos. Elas destacam o papel “neutro” da

100

Nardi & Almeida, “Investigação em Ensino de Ciências no Brasil,” 218. 101

Almeida, “Leituras de História e Filosofia da Ciência,” 30. 102

Chaui, Convite à Filosofia.

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observação e da experimentação, esquecendo o papel das hipóteses e das teorias,

que orientam todo o processo.103

"O que transparece muitas vezes nos currículos de ciências são concepções incoerentes e desajustadas, nomeadamente, de natureza empirista e indutivista que se afastam claramente das que a literatura contemporânea considera fundamentais a propósito da produção científica e do que significa hoje a ideia de ciência."104

O ensino universitário deveria proporcionar uma visão coerente da ciência

(conhecimento historicamente produzido), contudo o que temos visto de seus

egressos são profissionais que reproduzem para seus alunos visões

empíricoindutivistas da ciência. Assim, precisamos compreender que a concepção

de História da Ciência que os professores carregam consigo apresenta uma relação

íntima com a concepção de ciência e em contrapartida a concepção de ciência por

parte dos professores interfere na produção de visões, muitas vezes distorcidas, em

seus alunos.

Em uma perspectiva historiográfica tradicional, a História da Ciência é

considerada de desenvolvimento linear e progressivo, buscando no passado as

teorias que permaneceram no presente, enfatizando os "erros" e "acertos" do feitos

do passado, os precursores ou pais da ciência moderna. Essa forma de ver a

História da Ciência pode se relacionar com a concepção de ciência que o professor

carrega consigo. Dessa forma, a ciência atual seria constituída de verdades

absolutas, o conhecimento já estaria pronto e acabado e o papel da experimentação

no ensino, por exemplo, seria o de comprovar teorias já conhecidas através do

infalível "método científico". Assim, a ciência seria uma interpretação dos fatos

baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções sobre

suas propriedades e suas leis de funcionamento.

O conhecimento científico seria constituído pelo acúmulo de conhecimentos

passados até os dias atuais, onde são desconsideradas as teorias concorrentes e

que "não deram certo", desse modo a ciência é separada de seu contexto sócio- 103

Gil-Pérez et al., Para uma Imagem não Deformada”. 104

Cachapuz et al., orgs., A Necessária Renovação do Ensino de Ciências, 74.

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histórico. Todavia, uma concepção empíricoindutivista da ciência é compatível com

uma concepção tradicionalista da História da Ciência, conforme veremos nos

gráficos a seguir obtidos no Sobek em respostas a pergunta "De acordo com seus

conhecimentos, o que é História da Ciência?". Começaremos analisando o termo

ciência e suas relações:

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Comparando os gráficos 3 e 4, um dos termos que aparece com grande

frequência no gráfico 3, no questionário antes da intervenção do curso, é a palavra

Ciência. Quando selecionamos apenas o termo ciência no gráfico 5 (antes do curso),

o termo aparece relacionado com os termos: Estudo, longo do tempo, Modo,

Contexto, Processo.105

Quando selecionamos apenas o termo ciência no gráfico 6 (depois do curso),

o termo aparece relacionado apenas com o termo Estudo.

Nos gráficos, os grandes nodos representam os termos mais frequentes e as

conexões representam as relações entre eles. Também é possível obter, clicando

em cima dos nodos, o número de vezes que o termo correspondente aparece no

texto e as sentenças em que aparecem, conforme podemos ver nas tabelas 5 e 6

mais adiante.

Analisando o termo ciência antes do curso, percebemos através das

sentenças destacadas pelo programa que o termo está relacionado ao sentido de

“caminho percorrido pela Ciência”, “desenvolvimento da ciência”, quando

compararmos com o gráfico 4 depois do curso, a palavra Ciência também aparece,

entretanto com significado de “ciência como atividade humana”, “ciência como uma

construção coletiva”, conforme é possível verificar nas tabelas 5 e 6 a seguir:

105

Em nossa análise desconsideramos o termo “bem”, pois relaciona-se com a expressão "bem

como".

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58

Quando selecionamos apenas o termo História da Ciência no gráfico 7 (antes

do curso), o termo aparece relacionado com outros dois termos, estudo e

acontecimentos.

Neste caso, a História da Ciência apresentaria o sentido de "estudos dos

acontecimentos científicos". Temos que lembrar que esses termos aparecem em

resposta à questão proposta sobre o que é História da Ciência, dessa forma,

podemos inferir que uma das ideias iniciais dos cursistas sobre o que é História da

Ciência seria a de relacionar a História da Ciência como sendo o "estudos dos

acontecimentos científicos", carregando uma ideia de linearidade.

Quando selecionamos apenas o termo História da Ciência no gráfico 8

(depois do curso), o termo aparece relacionado com os termos estudo e

“conhecimentos”. Neste caso, a História da Ciência apresentaria o sentido de "o

estudo do processo de construção do conhecimento" ou ainda apresentaria o

sentido de "ciência como atividade humana e conhecimento social", conforme

podemos ver na resposta de um cursista: A História da Ciência "deve conduzir

reflexões sobre a ciência como atividade humana e conhecimento social. Pois a

produção do conhecimento científico não é linear. Uma abordagem histórica da

ciência deveria centrar-se nas rupturas epistemológicas". Neste trecho, além de

entender a ciência como construção humana e social, rompe com a visão de

linearidade quando admite rupturas nesse processo. Embora no excerto só trate das

rupturas e desconsidere as continuidades dentro do processo de construção do

conhecimento científico, consideramos um avanço se comparada à perspectiva

historiográfica tradicional assumida pelos professores antes do curso.

Após o curso, a ideia sobre o que é a História da Ciência relaciona-se a uma

historiografia mais atual, de acordo com a qual ciência é considerada fruto de

construção humana, portanto, quebra com a visão de genialidade dos homens de

ciência e de verdade absoluta, admitindo o caráter dinâmico da ciência. Estas

respostas, após a interferência do curso, vêm ao encontro da formação fornecida e

aos temas trabalhados no curso.

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62

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63

Entre outros termos que aparecem nos dois gráficos, antes e depois do curso,

encontra-se a palavra contexto. No gráfico 3, a palavra aparece nas respostas sobre

o que é a História da Ciência por 3 vezes, já no gráfico 4 a palavra aparece 6 vezes.

O valor dado ao “contexto” no curso de formação fica dessa forma evidenciado, além

do que, a produção de sentido do termo contexto antes e depois também é diferente.

Antes do curso, no gráfico 3 o termo contexto aparece como “contexto em que a

ciência surgiu”, o que pode nos dar indícios de uma perspectiva historiografia

tradicional sobre a História da Ciência, buscando no passado a origem das ideias ou

conceitos atuais.106

Já depois da formação, no gráfico 4, o termo contexto aparece relacionado ao

termo época, “conhecimento de uma época dentro do seu próprio contexto”,

indicando relação mais próxima da historiografia atual da História da Ciência e

esperada após a realização do curso.

Antes do curso, no gráfico 3 o termo conhecimento aparece com sentido de

“busca do conhecimento pela humanidade através dos tempos”, “construção do

conhecimento científico ao longo do tempo”, já depois da formação, no gráfico 4, o

termo conhecimento aparece como “construção do conhecimento dentro de uma

determinada época”, assim podemos perceber a mudança nos sentidos; antes do

curso, o termo é associado a uma ideia de acumulação do conhecimento, já depois

do curso o sentido muda para conhecimento construído socialmente. Neste caso, a

mudança no discurso é facilmente verificada, o discurso parte de uma ideia de

linearidade e de progresso da ciência, já após a intervenção na formação, a ideia

muda e o conhecimento passa a ser relacionado com a palavra época, ou seja, o

contexto de época se torna muito importante, bem como a ideia de construção do

conhecimento.

No gráfico 4 (depois do curso) o termo cultura aparece, entretanto o termo

não apareceu no gráfico 3 (antes do curso). Acreditamos que depois do curso,

conforme mostra o gráfico 9, o valor dado pelos cursistas ao contexto histórico

106

Alfonso-Goldfarb, Ferraz, & Beltran, “A Historiografia Contemporânea”.

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP … · 2018. 3. 22. · importância da História da Ciência como auxiliar na compreensão de conceitos em ciências. Porém,

64

mudou, ou seja, isso tem implicações no termo cultura, não só contexto histórico é

importante , mas também contexto cultural ganha importância após o curso.

É importante notar, não só os termos que aparecem maiores, portanto de

maior relevância como fizemos anteriormente, mas também os termos menores

como: humanidade, sociedade e formação presentes no gráfico 3 (antes do curso).

Neste mesmo sentido, os termos de menor relevância apresentados no gráfico 4

(depois do curso) são: sociedades, transformação, natureza, técnicas.

O termo desenvolvimento aparece no gráfico 3 (antes do curso), mas não

aparece no gráfico 4 (depois do curso). No gráfico 10 (antes do curso) o termo

desenvolvimento apresenta o sentido de "desenvolvimento da ciência" ou

"desenvolvimento do conhecimento científico".

Entendemos que o termo desenvolvimento não aparece no gráfico 4 depois

do curso, pois o conceito de desenvolvimento foi suplantado pelo termo

transformação conforme podemos observar no gráfico 11. Este apresenta o sentido

de "transformação de conceitos científicos", sendo assim podemos compreender que

houve uma mudança na concepção de ciência, os conhecimentos científicos não

são mais "desenvolvidos", num sentido de progresso da ciência, assim o

conhecimento científico é entendido agora como passível de transformação.

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68

Todas essas mudanças de sentidos dos diferentes termos nos gráficos 3 e 4

se complementam, assim foi possível indicar modificações nas concepções de

ciência e de História da Ciência dos professores cursistas antes e após interferência

na formação continuada desses profissionais.

Primeiramente, os cursistas admitiam uma ideia de que o conhecimento

científico se dava por acumulação e a ciência estaria em constante evolução, assim

a concepção de ciência estaria ancorada em uma perspectiva historiográfica

tradicional.

Após a formação, a concepção de ciência se modifica e a ciência passa a ser

considerada como atividade humana, ou ainda como uma construção coletiva, inclui

o contexto do período como algo relevante, não comporta a linearidade, faz menção

a rupturas e continuidades.

Nem todos os cursistas mudaram completamente sua concepção de ciência,

mas o que pudemos observar é que ao menos passaram para uma perspectiva

historiográfica que considera as relações entre ciência e sociedade, assim,

passaram a considerar o contexto histórico-social, admitem rupturas no processo,

mas ainda não conseguem perceber que no processo de construção do

conhecimento pode haver rupturas, mas também continuidades. Mesmo assim,

consideramos um avanço.

A concepção de História da Ciência também se modificou, afinal, as

concepções de ciência e de História da Ciência estão intimamente ligadas, sendo

assim, a concepção de História da Ciência antes do curso apresentaria o sentido de

estudo dos acontecimentos científicos, carregando uma ideia de linearidade,

portanto também ancorada em perspectiva historiográfica tradicional.

Após o curso, o termo História da Ciência teria o sentido de estudo do

processo de construção do conhecimento ou conhecimento socialmente construído,

relacionando-se a uma historiografia mais atual, de acordo com a qual ciência é

considerada fruto de construção humana, portanto, quebra com a visão de

genialidade dos homens de ciência e de verdade absoluta, admitindo o caráter

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP … · 2018. 3. 22. · importância da História da Ciência como auxiliar na compreensão de conceitos em ciências. Porém,

69

dinâmico da ciência. Estas respostas, após o curso, vêm ao encontro com a

formação fornecida, dos temas trabalhados no curso e era esperada por nós.

Dando continuidade às análises, trabalhamos também com outras duas

questões abertas: O que mudou na sua percepção sobre História da Ciência após o

curso? e Qual a sugestão para o nosso curso?

Essas duas questões podem nos oferecer indícios das dificuldades dos

professores no trabalho com a História da Ciência no Ensino de Ciências, e também

podem evidenciar tanto opiniões relativas ao conteúdo do curso quanto trazer mais

indícios das mudanças de concepções de ciência e História da Ciência.

Apresentamos a seguir os dois gráficos obtidos no Sobek sobre essas duas

questões:

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72

Começaremos pela análise da pergunta "O que mudou na sua percepção

sobre a História da Ciência?". É interessante podermos verificar no gráfico 12 que o

termo contexto volta a aparecer reforçando o valor dado ao contexto histórico no

curso. Todavia, o termo contextualização pode assumir diferentes significados no

Ensino de Ciências, o mais comum é entender a contextualização como

aproximação entre o conhecimento científico ao cotidiano do aluno, entretanto,

muitos outros significados para contextualização podem ser vistos nos documentos

oficiais, como nas DCNEM e nos PCNEM. Assim, o termo contextualização também

pode significar:

"(a) uma forma de enquadrar o conteúdo específico ao todo organizado de sua área de origem; (b) uma forma de adaptar seu discurso ao seu público, os alunos, ou seja, ao contexto sóciocultural do receptor da informação; (c) uma aproximação dos conteúdos científicos à realidade vivenciada pelo aluno, seu cotidiano; (d) inserir os conteúdos científicos em temas transversais, forma pela qual se atinge a interdisciplinaridade; (e) ou ainda a utilização da relação das ciências e tecnologias como o todo para trabalhar o conteúdo escolar promovendo uma postura mais ativa e participativa de quem aprende."107

Pode-se, portanto, entender que o termo contexto pode-se referir a uma

aproximação entre o conhecimento científico e o cotidiano do aluno, entretanto, o

gráfico 12 reforça que o termo contexto refere-se a trazer o contexto histórico, assim

como foi trabalhado no curso e como vimos anteriormente na análise do gráfico 4.

Os professores por vezes têm a percepção ingênua de que basta juntar

"História+ciência " e assim estarão ensinando Ciências a partir de uma abordagem

Histórica, entretanto, sabemos que essa junção não resulta em História da

Ciência.108 Neste sentido, o termo História da Ciência no gráfico 12 também ganha

outro significado, compatível com uma abordagem mais atual em História da

Ciência.

107

Kato & Kawasaki, “O Significado Pedagógico da Contextualização,” 7. 108

Alfonso-Goldfarb, O que é História da Ciência?

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73

Os termos: ensino, Ciências, alunos e sala de aula no gráfico 12 nos

remetem a uma possível transposição do que foi apreendido no curso para a sala de

aula, completando os dados obtidos no questionário de perfil de formação dos

professores, pois cerca de 3/4 dos cursistas afirmaram que vão utilizar mais de dos

planos de ensino produzidos no curso em suas aulas. O mesmo fenômeno

acontece no gráfico 13 que trata da segunda pergunta aberta sobre possíveis

sugestões para o curso, os termos: professores, ensino, aula, alunos, plano de aula,

fazem menção a uma possível transposição do que foi apreendido no curso para a

sala de aula.

Podermos observar que os cursistas perceberam outras formas de abordar

historicamente os conceitos científicos, assim, após o curso obtiveram

fundamentação teórica básica para poder futuramente utilizar em suas aulas uma

abordagem em História da Ciência mais atual.

Com relação às sugestões para o curso, gráfico 13, percebemos que a visita

técnica ao CESIMA teve papel fundamental no incentivo ao curso on-line e aos

temas apresentados nele, apesar da facilidade de ser um curso a distância, ao

mesmo tempo que muitos registraram este contentamento, também sugeriram a

inserção de mais aulas presenciais.Os cursistas conseguiram perceber que a leitura

e a análise de originais em História da Ciência exige um preparo específico que faz

parte da formação do historiador da ciência. Por ser uma área interdisciplinar, exige

formação que envolve tanto estudos epistemológicos como históricos, sociológicos,

e, dependendo do tema, domínio de línguas clássicas e técnicas de leitura e análise

de originais. Assim, os termos aprender e aula no gráfico 13 se referem a sugestão

para o curso de mais aulas presenciais e reforçam a importância da formação do

historiador da ciência.

No gráfico 13 temos o termo plano de aula, este termo aparece, pois algumas

atividades pediam que o aluno montasse um plano de aula para trabalhar o tema

abordado naquela atividade. É interessante observar que nesse exercício de tentar

inserir a História da Ciência no seu programa de ensino, através da elaboração dos

planos de aulas, os professores apresentaram bastante dificuldade, pois o "como

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fazer" exigia que o professor colocasse em prática tudo que ele tinha visto no curso,

ou seja, a História da Ciência deveria agora ser apresentada de acordo com

perspectivas historiográficas atuais, mostrando a ele que aquela ideia ingênua de

que unindo história e ciência estaríamos fazendo história da ciência não poderia

mais ser sustentada.

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Considerações Finais

A partir dos dados coletados e analisados acreditamos que atingimos o nosso

objetivo com relação à intervenção na formação continuada de professores de

Ciências. Com esta intervenção na formação, promovemos uma mudança dentre os

professores, com relação às concepções de ciência e História da Ciência, dessa

forma, pudemos promover mudanças nas práticas discursivas, contribuindo com

soluções ou caminhos para que o professor trate as questões relativas à História da

Ciência no Ensino de Ciências, pudemos assim, compor uma concepção de ciência

e de História da Ciência compatíveis com as tendências pedagógicas mais atuais e

sob uma perspectiva historiográfica da História da Ciência também mais atualizada.

A presente tese indica como ponto fundamental de virada nesse quadro (falta

de formação em História da Ciência) a necessidade das universidades propiciarem

espaços adequados em seus currículos para que o professor reflita sobre como lidar

com o conteúdo histórico em sala de aula, através de disciplinas ligadas a estágios e

prática docente, fazendo assim com que os futuros docentes durante sua formação,

reflitam sobre esta abordagem e as possíveis estratégias que poderão ser utilizadas

em sua atuação como professor, assim a possibilidade deste profissional apresentar

visões distorcidas da ciência e da própria História da Ciência seria minimizada.

Neste sentido, a tese contribuiu também indicando a necessidade de

investimento na formação continuada desses professores no que tange a formação

em História da Ciência, visto que o perfil de formação dos professores cursistas e

que são atuantes na rede pública estadual aponta para a falta de formação em

História da Ciência provenientes de falha nos currículos de graduação nos cursos

de licenciatura e também da falta de cursos de formação continuada fornecidos pela

SEESP que tenham como tema a abordagem Histórica.

Aproveitamos para lembrar que a principal via de formação dos professores

público alvo desta tese (professores de Ciências do Ensino fundamental e Médio-

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representados pelas disciplinas Física Química e Biologia) foi a rede privada, desta

forma, as universidades em questão não estão cumprindo as Diretrizes Curriculares

para os cursos de licenciatura desta área onde é listado no perfil dos formandos nos

cursos na área de Ciências da Natureza a necessidade de compreensão dos

aspectos históricos. Não podemos afirmar, mas temos indícios que esta situação

ocorra pela falta de profissional especializado.

A escolha de ferramenta de mineração de texto e de metodologia baseada na

Análise do Discurso nos permitiu ter uma relação menos ingênua com a linguagem e

com os textos analisados, podendo assim questionar os diferentes sentidos de um

texto. A busca pelas condições de produção do texto permitiu uma análise mais

aprofundada fundamentando as interpretações para os diferentes sentidos sobre as

concepções de ciência e de História da Ciência objetos de análise desta tese.

Inicialmente os cursistas admitiam uma ideia de que o conhecimento científico

se dava por acumulação e a ciência estaria em constante evolução. A concepção de

História da Ciência antes do curso apresentou o sentido de estudo dos

acontecimentos científicos, carregando uma ideia de linearidade, portanto, ambas as

concepções de ciência e de História da Ciência estão ancoradas em perspectiva

historiográfica tradicional.

Após a formação, a concepção de ciência se modifica e a ciência passa a ser

considerada como atividade humana, ou ainda como uma construção coletiva, inclui

o contexto do período como algo relevante, não comporta a linearidade, faz menção

a rupturas e continuidades, assim como a concepção de História da Ciência teria o

sentido de estudo do processo de construção do conhecimento ou ainda

apresentaria o sentido de conhecimento socialmente construído relacionando-se a

uma historiografia mais atual.

Essa perspectiva historiográfica atualizada contemplando as três esferas de

análise (epistemológica, historiográfica e contextual), encara que a ciência é

considerada fruto de construção humana, portanto, quebra com a visão de

genialidade dos homens de ciência e de verdade absoluta, admitindo o caráter

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dinâmico da ciência. As análises realizadas, após a interferência do curso vêm ao

encontro da formação fornecida, dos temas trabalhados no curso e de certa forma,

era esperada por nós.

Mostrou-se que os professores após o curso obtiveram fundamentação

teórica suficiente para poder futuramente utilizar em suas aulas uma abordagem em

História da Ciência mais atualizada.

O curso de formação continuada não previa a formação do professor para

exercer o ofício do historiador, ou seja, não previa a formação de mestres ou

doutores em História da Ciência, o que pretendíamos era uma formação que

capacitasse o professor para trabalhar com a abordagem em História da Ciência no

ensino de Ciências e que o auxiliasse no desenvolvimento de práticas didáticas

envolvendo a interação entre História da Ciência e Ensino, além de contribuir para o

desenvolvimento de critérios de análise de recursos paradidáticos e de materiais

instrucionais (textos, mídias e experimentos) relacionados à História da Ciência.

Dessa maneira, o curso on-line foi capaz de apresentar os conceitos básicos para

uma abordagem em História da Ciência e construiu possibilidades de interface com

o ensino.

Não pretendemos esgotar o assunto com esta pesquisa e ela nem se

configura como ponto final na questão das possibilidades de utilização de

abordagem histórica no Ensino de Ciências, assim a tese em questão reforça a

possibilidade da construção de interfaces entre a História da Ciência e o Ensino de

Ciências.

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_____. Resolução SE 52, de 14-8-2013: Dispõe sobre os Perfis, Competências e

Habilidades Requeridos dos Profissionais da Educação da Rede Estadual de

Ensino, os Referenciais Bibliográficos e de Legislação, que Fundamentam e

Orientam a Organização de Exames, Concursos e Processos Seletivos, e Dá

Providências Correlatas. Disponível em http://www.educacao.sp.gov.br/cgrh/

wp-content/uploads/2014/06/RESOLU%C3%87%C3%83O-SE-52-de-14-8-

2013-PERFIS-PARA-CONCURSO.pdf. Acessado em 26 de novembro de

2015.

Sasseron, Lúcia H. & Anna M. P. de Carvalho. “Alfabetização Científica: Uma

Revisão Bibliográfica.” Investigações em Ensino de Ciências 16, nº 1 (2016):

59-77.

Shiroma, Eneida O., Roselane F. Campos, & Rosalba M. C. Garcia. “Decifrar Textos

para Compreender a Política: Subsídios Teórico-Metodológicos para Análise

de Documentos.” Perspectiva 23, nº 2 (2005): 427-446.

Teixeira, Paulo M. M. “A Educação Científica sob a Perspectiva da Pedagogia

Histórico-Crítica e do Movimento CTS no Ensino de Ciências.” Ciência &

Educação 9, nº 2 (2003): 177-190.

Trindade, Ana P. P. “Análise de Artigos na Interface entre História da Química e

Ensino (1994- 2014): Alguns Aspectos Historiográficos.” Dissertação de

mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015.

Trindade, Laís dos S. P., Maria Helena R. Beltran, & Sonia R. Tonetto. Práticas e

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_____, Sabrina P. Rodrigues, Fumikazu Saito, & Maria Helena R. Beltran, “História

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CAPES; Livraria da Física, 2010.

Werneck, Vera R., “Sobre o Processo de Construção do Conhecimento: O Papel do

Ensino e da Pesquisa.” Ensaio: aval. pol. públ., Educ. 14, nº51 (abr.-jun.

2006): 173-196.

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Zômpero, Andreia F. & Carlos E. Laburú. “Atividades Investigativas no Ensino de

Ciências: Aspectos Históricos e Diferentes Abordagens.” Revista Ensaio 13,

nº 3 (set.-dez. 2011): 67-80.

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Anexos

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Questionário Formação

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Questionário Visita Técnica CESIMA

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Questionário Encerramento do Curso

1- O que mudou na sua percepção de História da Ciência após a realização do

curso?

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2- Quais seriam suas sugestões para o nosso curso?

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Projeto do Curso

Nesse curso de extensão universitária foram abordadas atividades de

aplicação da História da Ciência em sala de aula, com a utilização de mídias, textos

e experiências que abordaram temas de História da Ciência. O curso foi dividido em

09 tópicos, com carga horária de 36 horas e teve início em 05 de outubro de 2016 e

término em 07 de dezembro de 2016.

Ao início do curso, foi oferecida uma aula presencial, tida como aula inaugural

do curso, de caráter obrigatório. A aula versou sobre o ofício do historiador da

ciência. Durante esse encontro foram recolhidos dados, impressões dos cursistas

sobre diversos assuntos na área de História da Ciência e, ao final do curso, o

mesmo questionário foi aplicado a fim de obtermos indícios de mudanças nas

percepções dos professores sobre as especificidades da pesquisa em História da

Ciência e de suas interfaces com o ensino.

Ao longo curso EaD, foram expostas e discutidas as principais abordagens na

construção de interfaces de História da Ciência e Ensino, levando em consideração

perspectivas historiográficas em História da Ciência e tendências pedagógicas.

Este curso faz parte do Projeto História da Ciência e Ensino: abordagens

interdisciplinares no Ensino Superior (diagnóstico, formação continuada e

especializada de professores) (projeto no. 23038.002603/2013-47) no âmbito do

Programa Observatório da Educação (Obeduc-Capes/Inep)

Um dos eixos de desenvolvimento do Projeto dirige-se à formação continuada

de professores e envolve tanto cursos de extensão a distância quanto curso

intensivo presencial (imersão).

❖ Objetivos do curso de extensão:

● Propiciar reflexões e desenvolvimento de práticas didáticas envolvendo a

interação entre História da Ciência e Ensino.

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● Desenvolver critérios de análise de recursos paradidáticos e de materiais

instrucionais (textos, mídias e experimentos) relacionados à História da

Ciência.

● Elaborar planos de ensino para aplicação de História da Ciência em sala

de aula.

❖ Público-alvo:

Professores de Ciências, Física, Química e Biologia.

Carga horária: 36 horas (09 aulas com duração de 09 semanas).

Número de vagas: 40

❖ Conteúdo

O curso é a distância, conta com apenas uma oficina presencial ministrada no

CESIMA, conforme a metodologia apontada mais adiante, abordando atividades de

aplicação da História da Ciência em sala de aula, com a utilização de textos, mídias

e experimentos.

Numa primeira etapa, busca-se discutir e refletir sobre a construção de

interfaces entre História da Ciência e Ensino, bem como apresentar critérios para

analisar materiais e recursos didáticos relacionados à História da Ciência. Além da

apresentação do curso e do ambiente moodle, serão expostas e discutidas as

principais tendências na construção de interfaces de História da Ciência e Ensino.

Numa segunda etapa, o participante entra em contato com propostas de

abordagens históricas de conteúdos específicos, com base em textos, mídias e

experimentos para, em seguida, desenvolver uma proposta para sua sala de aula

utilizando os mesmos recursos selecionados.

Ao final do curso, o participante seleciona um tema sobre o qual elaborará um

plano de ensino envolvendo a interação entre História da Ciência e Ensino para

aplicação em sala de aula.

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❖ Metodologia:

O curso foi desenvolvido no ambiente moodle, utilizando-se recursos tais

como: fóruns de discussão, atividades de discussão de textos, tarefas,

questionários, entre outras. Cada semana foi aberta e fechada, impreterivelmente,

às terças-feiras. Para cada semana, o aluno teve um material de apoio – vídeo,

texto, apostila didática – e uma proposta de atividade para ser cumprida. Ao final de

cada semana, o aluno teve o feedback e a validação de sua atividade.

❖ Cronograma:

● 1ª Aula: 09 horas (05/10/16 a 11/10/16)

Os participantes deveriam assistir as videoaulas de 01 a 07109 . Os vídeos

tratavam da apresentação do curso, tópicos de História da Ciência e Ensino e,

Perspectivas Historiográficas. A seguir, os participantes deveriam fazer a leitura dos

textos "História da Ciência e Ensino: em busca de diálogo entre historiadores e

educadores" e "História da Ciência e Ensino: alguns desafios".110 Também foram

convidados a participar de um Fórum dirigido.

● Visita ao CESIMA: 03 horas (08/10/16) Oficina Ofício do Historiador

Os participantes foram convidados a preencher o questionário, o qual

chamaremos de Visita ao CESIMA, onde foram recolhidos parte dos dados que

compõem o corpus documental desta tese.111 Logo após, os participantes assistiram

a uma palestra com a Profa. Dra. Maria Helena Roxo Beltran sobre o ofício do

Historiador da Ciência e conheceram o centro de documentação CESIMA.

109

Videoaula 01, https://www.youtube.com/watch?v=1P8K1yY1dqI&feature=youtu.be. Videoaula 02, https://www.youtube.com/watch?v=_9KsGfSQJ6c&feature=youtu.be. Videoaula 03, https://www.youtube.com/watch?v=dxhjXTLFko0&feature=youtu.be. Videoaula 04, https://www.youtube.com/watch?v=Ut-W_wul-Xw&feature=youtu.be. Videoaula 05, https://www.youtube.com/watch?v=uJhn-zeYgf0&feature=youtu.be. Videoaula 06, https://www.youtube.com/watch?v=5Icg6wILYmk&feature=youtu.be. Videoaula 07, https://www.youtube.com/watch?v=Vf4gmZAxTlM&feature=youtu.be. 110

Textos de apoio a 1ª aula: Trindade, Saito, & Beltran, “História da Ciência e Ensino: Alguns Desafios”; Saito, “História da Ciência e Ensino: Em Busca de Diálogo”; e Beltran, “História da Ciência e Ensino: Algumas Considerações”. 111

O questionário completo Visita ao CESIMA pode ser encontrado nos documentos anexos a esta tese.

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● 2ª Aula: 03 horas (12/10/16 a 18/10/16)

Nesta aula foi tratado mais especificamente das rupturas e continuidades

dentro de um texto, através de um exercício dirigido. Para isso, os participantes

deveriam, primeiramente, assistir a videoaula 08112. Depois, escolher dentro da

pasta "Banco de textos"113 um dos textos, divididos por disciplina, de sua preferência

para realizar a tarefa da semana. Após a leitura do texto, deveriam acessar a "Tarefa

Tópico 2" e responder as questões propostas.

1. Aponte dois aspectos positivos deste texto sob o ponto de vista

historiográfico. Justifique.

2. Aponte dois aspectos negativos deste texto sob o ponto de vista

historiográfico. Justifique.

3. Que tipo de abordagem historiográfica apresenta o texto (rupturas,

linearidade, continuidade)? Justifique apresentando trechos do texto. (obs: coloque

os trechos entre aspas e indique a página).

4. O texto privilegia uma visão presentista de história? Justifique.

5. O texto apresenta uma visão contextualizada de história? Justifique.

6. Faça um breve comentário a respeito da bibliografia do artigo.

● 3ª Aula: 03 horas (18/10/16 a 25/10/16)

Nesta aula o participante deveria escolher um dos textos pré-selecionados,

divididos por disciplinas, para refletir sobre como ele poderia ser utilizado em sala de

aula. Para isso, os participantes deveriam tecer um comentário crítico sobre o texto

escolhido e depois escrever de maneira sucinta sua proposta de utilização.

112

Videoaula 08, https://www.youtube.com/watch?v=yJ_zEO-uaSE&feature=youtu.be. 113

Neste banco de textos havia 12 arquivos em pdf sobre episódios históricos das diferentes disciplinas: Ciências, Física Química e Biologia. A intenção era que o participante do curso escolhesse um tema relacionado à disciplina que ministra. A título de ilustração, os temas contidos nos textos tratavam: do movimento do sangue no corpo humano, do trabalho de Mendel, de Dalton e a teoria atômica, do caso da óptica newtoniana, etc.

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● 4ª Aula 03: horas (25/10/16 a 02/11/16)

Nesta aula, depois que trabalhamos com textos, os participantes deram início

aos exercícios envolvendo mídias comuns, encontradas facilmente em canais

disponíveis na internet, como por exemplo, o youtube. Neste tópico, encontraram

alguns exemplos de mídia que serviram como ferramenta pedagógica na construção

da interface entre História da Ciência e Ensino. Para realizar a tarefa da semana, os

participantes deveriam escolher uma mídia (vídeos) de sua preferência; após assistir

a mídia, deveriam tecer um texto crítico sobre as ideias apresentadas na mídia

escolhida, acrescentando uma proposta de uso dessa mídia em sala de aula.

● 5ª Aula: 03 horas (02/11/16 a 08/11/16)

Nesta aula disponibilizamos propostas de utilização de textos e mídias

prontas, elaboradas por profissionais que atuam na interface da História da Ciência

e Ensino. Como tarefa dessa semana, o participante deveria realizar a leitura de

uma dessas propostas e postar no fórum um breve comentário, fazendo uma

comparação entre as duas propostas: a dele e a apresentada pelo curso.

● 6ª Aula: 03 horas. (08/11/16 a 15/11/16)

Nesta aula demos início à discussão sobre o uso de experimentos em sala de

aula, que privilegiam a interface entre a História da Ciência e o ensino. Para tanto,

os participantes assistiram a vídeos que contemplam exemplos de experimentos nas

diferentes áreas. Como tarefa dessa semana, o participante deveria escolher um dos

vídeos e fazer uma proposta para utilização do experimento selecionado.

● 7ª Aula: 03 horas (15/11/16 a 22/11/16)

Nesta aula continuamos a discussão sobre o uso de experimentos para

abordar a interface entre História da Ciência e Ensino. Selecionamos alguns vídeos

disponíveis na internet. Os participantes deveriam escolher um deles e fazer uma

proposta de utilização em sala de aula, identificando pontos a serem discutidos com

os alunos de modo a conduzir a reflexões sobre a ciência como atividade humana e

conhecimento social e historicamente construído.

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● 8ª Aula: 03 horas (22/11/16 a 29/11/16)

Neste momento do curso, os participantes já obtiveram várias sugestões para

trabalhar a História da Ciência em sala de aula, sendo assim os participantes

deveriam escolher uma mídia, um texto ou um experimento disponíveis no ambiente

ou procurar na web ou em outros meios de sua preferência e elaborar um Plano de

Ensino que abordasse algum tema da História da Ciência. No plano deveria constar:

Público Alvo, Conteúdo a ser abordado, Objetivo, Justificativa, Quantidade de aulas,

Metodologia e Bibliografia.

● 9ª Aula: 03 horas (29/11/16 a 06/12/16)

Na última semana do curso de extensão à distância "História da Ciência e

Ensino: textos, experimentos e mídias em sala de aula", como última tarefa os

participantes deveriam responder a Tarefa 9 que trouxe duas questões sobre o

curso.114 Além da Tarefa 9, os participantes deveriam responder novamente ao

questionário apresentado na aula presencial Oficina do Historiador115 e também a

um outro formulário sobre a sua formação116.

❖ Avaliação: Foi avaliada a participação nas atividades a distância (envio

de tarefas e participação nos fóruns). Ao final do curso o professor apresentou um

plano de atividade envolvendo interações entre História da Ciência e Ensino. O

professor deveria ter cumprido, no mínimo, 80% das atividades propostas dentro do

prazo estabelecido para ser certificado. O controle do cumprimento das tarefas foi

feito através das validações das propostas concluídas.

114

Questionário de encerramento do curso, vide anexos. 115

Questionário Visita ao CESIMA, vide anexos. 116

Questionário Perfil do Professor, vide anexos. Esses questionários são de extrema importância para o aprimoramento do curso e para nossas pesquisas em torno da interface História da Ciência e Ensino; e o seu preenchimento foi obrigatório para finalização do curso e obtenção do certificado.