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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO KAREN CRISTINA MORON BETTI MENDES CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA São Paulo 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO

KAREN CRISTINA MORON BETTI MENDES

CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA

São Paulo 2014

KAREN CRISTINA MORON BETTI MENDES

CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA

Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, para obtenção do Título de Mestre em Direito Civil, sob orientação do Professor Doutor Francisco José Cahali.

São Paulo 2014

KAREN CRISTINA MORON BETTI MENDES

CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA

Dissertação apresentada à banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, para obtenção do Título de Mestre em Direito Civil, sob orientação do Professor Doutor Francisco José Cahali.

Aprovado em:____/____/____

BANCA EXAMINADORA

São Paulo 2014

Dedico este trabalho principalmente ao meu filho, Luiz

Theodoro, meu companheiro inseparável nesta

jornada;

Ao meu marido com amor, Dr. Luiz Theodoro

Mendes, pelo apoio incondicional em mais uma etapa

da vida;

Aos meus queridos pais, Antonio Jorge e Cristina

Luiza meus eternos professores, pelo apoio, pela

ajuda, pelo exemplo e pelas orações.

Aos meus amados irmãos, Antonio Jorge Junior e

Ana Claudia, companheiros de todas as horas, pela

amizade e infinito amor;

Aos meus amigos, em especial às minhas queridas

amigas Ana Paula e Lisiane, pela paciência, ajuda e

disponibilidade para as inúmeras discussões jurídicas

que muito contribuíram para este trabalho;

In memoriam, dedico este trabalho aos meus avós,

Francisco e Adelina; Jorge e Diva em especial ao

meu avô, Dr. Jorge Moysés Betti Filho, um grande

exemplo de sabedoria, cuja ética, conhecimentos

jurídicos e amor ao Direito me conduziram a seguir

esta profissão e que me inspira na carreira jurídica e

na vida pessoal.

AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que acreditaram, que compreenderam e que pacientemente

aguardaram a finalização deste trabalho, contribuindo para que eu pudesse alcançar

este título tão desejado, meu carinho e gratidão.

Ao querido Mestre, Professor Doutor Francisco José Cahali, pelos

ensinamentos transmitidos, pela compreensão, sabedoria, simplicidade e dedicação

que lhe são inerentes, e pelo apoio e estímulo na execução deste trabalho.

RESUMO

O objetivo do presente estudo é apresentar a arbitragem institucional como uma

alternativa dinâmica e harmônica para a solução de controvérsias nas relações

negociais relativas aos contratos de franquias.

Justifica-se este trabalho com lastro em que, dada a dinâmica das relações no

mundo dos negócios, a internacionalização do comércio, a agilidade e a velocidade

com que se dão tais relações, notadamente no segmento de franquias, há pelo

menos três premissas identificáveis de plano que precisam ser preservadas em se

tratando de solucionar lides na franchising: a especialização do julgador na matéria,

a rapidez na solução do conflito e a manutenção da boa relação comercial depois de

solucionado o conflito, o que se obtém em linha de identidade, ao se aplicar a

arbitragem como método eficaz nesse intento.

Para tanto, serão aqui analisados ambos os institutos, tanto da arbitragem quanto da

franquia, primeiro em separado e, após, em seus pontos de confluência, bem como

trazendo à tona os aspectos polêmicos que poderão surgir nessa relação de

mutualismo, os quais são dissolvidos no decorrer do estudo, por meio de chaves de

segurança apresentadas para que se obtenham a eficácia e a validade da aplicação

do método não estatal, devidamente harmonizado à franquia, e, por fim, sugerindo

alteração legislativa à Lei de Franquia para garantia da utilização eficaz e válida da

arbitragem no segmento de franquias.

Palavras-Chave: Arbitragem. Cláusula Compromissória Institucional. Franquia.

ABSTRACT

The object of study of this work is to present the institutional arbitration as a dynamic and

harmonic alternative for the settlement of disputes in dealings relating to contracts of

franchises.

Justifying this work, with ballast in that, given the dynamics of the relationship in the business

world, the internationalization of trade, the agility and speed with which such relations are

given, especially in the segment of franchising, there are at least three identifiable

assumptions plan, that need to be preserved in the case of solving work in franchising: the

expertise of the judge in the matter; the rapid solution of the conflict and the maintenance of

good business relationship after the conflict solved, what you get in line of identity, to apply

the arbitration as an effective method in this intention.

By the way, will be analyzed in this work both institutes, first separately, and after, in their

points of confluence, as well as bringing to the fore the controversial aspects that may arise

in this relationship of mutualism, which in the course of the study are dissolved, through

security keys presented to get the effectiveness and validity of the application of the method

do not state, duly harmonized to the franchise, and, finally, suggesting legislative amendment

to the law of franchises to guarantee the effective use and valid arbitration in the segment of

franchises.

Keywords: ARBITRATION. INSTITUTIONAL ARBITRATION CLAUSE. FRANCHISE.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................ 12

2. FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ........................................................... 18

2.1. Autotutela ........................................................................................................ 18

2.2. Autocomposição .............................................................................................. 20

2.3. Heterocomposição .......................................................................................... 20

2.4. Mediação ........................................................................................................ 21

2.5. Conciliação ..................................................................................................... 22

2.6. Arbitragem ...................................................................................................... 25

3. ASPECTOS GERAIS DA ARBITRAGEM NO BRASIL .......................................... 30

3.1. Brevíssimo histórico da arbitragem no cenário brasileiro ................................ 33

3.2. Características e natureza jurídica da arbitragem ........................................... 35

3.3. Princípios norteadores da arbitragem ............................................................. 40

3.4. Arbitrabilidade ................................................................................................. 44

3.5. Espécies de arbitragem – ad hoc e institucional ............................................. 47

4. CONVENÇÃO ARBITRAL ..................................................................................... 53

4.1. Compromisso arbitral ...................................................................................... 56

4.2. Cláusula compromissória ................................................................................ 56

4.3. Tipos de cláusula compromissória .................................................................. 59

4.4. A cláusula compromissória institucional .......................................................... 66

4.5. Cláusula compromissória e contrato de adesão ............................................. 67

5. ASPECTOS GERAIS SOBRE A FRANQUIA E OS CONTRATOS DE FRANQUIA

.................................................................................................................................. 73

5.1. Conceito de franquia ....................................................................................... 75

5.2. Contrato de franquia ....................................................................................... 77

5.3. A circular de oferta e as relações negociais entre franqueador e franqueado 84

5.4. O papel da Associação Brasileira de Franchising – ABF ................................ 88

6. CONTRATOS DE FRANQUIA E ARBITRAGEM .................................................. 92

6.1. Vantagens da arbitragem e da cláusula institucional nos contratos de franquia

............................................................................................................................... 93

6.2 A adesividade do contrato de franquia e a arbitragem ................................... 104

7. A “CHAVE DE SEGURANÇA” PARA INSERÇÃO DA CLÁUSULA

COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA:

ASPECTOS POLÊMICOS DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL

EM CONTRATOS DE FRANQUIA .......................................................................... 111

8. SUGESTÃO PARA ALTERAÇÃO LEGISLATIVA DA LEI DE FRANQUIA COMO

“CHAVE DE SEGURANÇA” PARA UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM

INSTITUCIONAL ..................................................................................................... 131

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 136

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 138

ANEXO I – LEI DE ARBITRAGEM BRASILEIRA .................................................... 146

ANEXO II – LEI DE FRANQUIA BRASILEIRA ........................................................ 157

ANEXO III – LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA PORTUGUESA ...................... 161

10

INTRODUÇÃO

O perfil das relações contratuais insertas nos contratos de franquia, ao

mesmo tempo em que seja dinâmica e interativa com o universo comercial (inclusive

internacional), poderá apresentar, obviamente, em sua trajetória negocial,

controvérsias inter-relacionais entre as partes envolvidas.

Diante disso, surge a necessidade de que se utilize um método de solução de

conflitos que se harmonize ao perfil dos contratos de franquia, de modo que se

obtenha a necessária agilidade na resolução conflitual, o que permitiria que os

negócios evoluíssem em medida idêntica com que acontecem, e, ainda, com a

possibilidade de as partes interagirem quanto ao procedimento a ser adotado.

Fatores como a especialidade do árbitro, a agilidade na solução, possibilidade

de escolha do julgador, dão à arbitragem credenciais suficientes para que seja o

método eleito no segmento de franquias, já que a jurisdição estatal não agasalha

tais expectativas.

Nesse pensar, em princípio a harmonização dos institutos da franquia e da

arbitragem pode parecer mansa, mas, com o aprofundar do entendimento e

compreensão de ambos, individualmente, aparecem questões que necessitam ser

dirimidas para que se possa utilizar a arbitragem como método de solução de

conflitos para questões que tenham por objeto as relações entre franqueados e

franqueadores.

Assim, nos primeiros capítulos, procuramos expor, de uma forma geral, os

métodos de solução de conflitos existentes, em desuso ou utilizados ao longo dos

tempos nas relações interpessoais, e, a partir daí, com base na premissa de

evolução desses métodos dentro das expectativas sociais e negociais,

desenvolvemos a análise da arbitragem como método eficaz para tanto.

Nesse cenário, aprofundamos o tema, oferecendo subsídios para

entendimento da convenção de arbitragem e direcionamos o estudo especificamente

para a cláusula arbitral institucional, seus requisitos, características e aplicação,

como via de eleição da arbitragem que melhor se insere no contexto da finalidade da

pesquisa.

A seguir, abordamos os aspectos gerais do contrato de franquia e o instituto

em sí, como forma de explanar, em seguida, o tema efetivamente proposto neste

trabalho.

11

Diante dessa plataforma, quando então enfrentamos a questão da inserção

da cláusula compromissória institucional nos contratos de franquia, congregamos

ambos os institutos, no capítulo 7, com o intuito de, uma vez formada a convicção

acerca da melhor adequação da arbitragem nessa seara, passarmos a dissecar as

polêmicas que envolvem a temática em pesquisa, para, a seguir, encontrarmos

dissolvidas as questões controvertidas que ensejam a aplicação conjunta desses

segmentos, apresentarmos chaves de segurança para inserção da cláusula arbitral

institucional em contratos de franquia, de modo que se permita sem embargos a

plena eficácia e validade do método de solução de conflitos apresentado neste

estudo, para obtenção da presteza e agilidade esperadas na solução de lides ao

instituto de franquias.

Registro que não foi objeto deste trabalho aprofundarmos análise relativa a

todos os aspectos da arbitragem, limitando o estudo à aplicação da cláusula de

arbitragem institucional nos contratos de franquias, demonstrando como melhor

indicativo em atenção à finalidade proposta.

12

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O significativo aumento no faturamento do setor, nos últimos dez anos,

favoreceu o aquecimento da economia no Brasil, segundo matéria publicada na

Revista Exame em 2012, intitulada “Setor de franquias supera expectativas e fatura

R$ 88 Bi”1.

A globalização econômica provocou, sem dúvidas, mudanças na economia

mundial e, consequentemente, no Brasil, exigindo, assim, uma postura criativa do

empresariado ante o aumento da competividade nos negócios.

E no mercado competitivo, cuja dinâmica da comunicação moderna se

estabelece com considerável rapidez em um ambiente propício à troca de

informações e ao conhecimento, inaugura-se um cenário de desenvolvimento de

novas técnicas e estratégias, que constituirão o diferencial, necessário ao êxito2.

Dentro desse cenário de negociações, obviamente, surge um maior número

de questões controvertidas, que devem ser resolvidas em tempo hábil e, ainda, com

a possibilidade de, após solucionado o impasse, as partes manterem uma relação

saudável e menos litigante.

Nesse contexto, o tráfego contratual do mundo globalizado e pós-moderno e

suas consequentes transformações sociais repercutem no sistema jurídico, pois não

acompanha a velocidade das inovações, havendo, portanto, a necessidade de

adaptações constantes.

Inegável, portanto, que, nos dias atuais, os conflitos entre partes são

crescentes, afinal a globalização trouxe consigo a multiplicidade de relações

interpessoais e econômicas, a diminuição das distâncias, o avanço tecnológico,

atribuiu valores comerciais a produtos dentro dessa nova cultura, ou seja, ao mesmo

passo que propiciou o crescimento das relações comerciais, aumentaram-se os

conflitos derivados dessas interações.

1 Disponível em: <exame.abril.com.br/pme/noticias/setor-de-franquias-supera-expectativas-e-fatura-r-

88-bi>. Acesso em: 2 fev. 2014. 2 A questão da rapidez das transformações tecnológicas do mundo globalizado foi tratada pelo

sociólogo italiano Domenico De Masi, quando faz um resumo das características e dos valores novos que fundamentam a pós-modernidade: “Antes de mais nada a globalização. É sabido que, quando se atira uma pedra em um lago, se obtém uma série de ondas concêntricas que se propagam, de forma contínua, por toda a superfície aquática. Do mesmo modo, graças ao progresso tecnológico, o nosso planeta tornou-se hoje como um pequeno lago, onde cada onda atinge e envolve rapidamente até os cantos mais remotos” (DE MASI, Domenico. O ócio criativo: entrevista a Maria Serena Parlieri. Tradução de Léa Manzi. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 140).

13

No processo de transformação e de novas tecnologias se sucedendo, a

conexão nas relações interpessoais é otimizada no tempo, possibilitando a

transferência desses inventos e conhecimentos adquiridos, de forma célere e eficaz.

Por via de consequência, com o aquecimento dos negócios, a celeridade para

a solução dos conflitos deve seguir velocidade compatível. Assim, a utilização da

arbitragem para solução de conflitos destaca-se nesse cenário atual, por ser mais

compatível com o perfil da sociedade moderna, atendendo com efetividade a

composição de questões controvertidas entre partes de uma forma mais adequada

às suas necessidades temporais.

É que enfrentamos uma crise da jurisdição estatal, tanto proporcionada pelo

volume de questões controvertidas que se instalam nas relações, quanto pelos

próprios sistemas procedimentais e legais dos ordenamentos jurídicos, sendo no

Brasil, incontestavelmente, entoada pela possibilidade de rediscussão de matérias e

as estratégias permitidas pelo ordenamento processual pátrio, que implicam o

desaceleramento do processo judicial3.

E é nesse contexto que o instituto da arbitragem se insere, possibilitando à

sociedade escolher entre o ingresso no Judiciário ou na esfera privada, para solução

de conflitos relativos à direitos patrimoniais disponíveis.

Reformulada no Brasil, com o advento da Lei n. 9.307/96, e seguindo os

padrões do modelo da UNCITRAL, a arbitragem vem favorecer o processo de

desjudicialização, ao lado de outros mecanismos de solução, como a mediação,

negociação e conciliação.

3 Parêntese para mencionar que, se por um lado, a Lei de Arbitragem autoriza a anulação de

sentença arbitral, maculada por eventual vício arrolado em seu art. 32, através de ação de nulidade, no prazo decadencial de 90 dias após a notificação da sentença arbitral, ou de embargos do devedor, consoante o § 3º do citado dispositivo, a qual necessariamente deverá ser proposta perante o Judiciário, o que se deve ter presente é que mesmo assim o procedimento arbitral, ao contrário dos procedimentos judiciais, não prevê a vasta gama recursal prevista no ordenamento processual vigente, tornando-se um procedimento mais dinâmico. Ainda, prevista como um dos meios de impugnação da sentença arbitral, a ação de nulidade da sentença arbitral, prevista no art. 33 da Lei de Arbitragem como um sucedâneo recursal, ocasião em que o juiz determinará ao árbitro profira nova sentença, uma vez que são situações passíveis de nulidade. Trata-se de um meio específico para impugnação da sentença arbitral, que visa à decretação judicial da sua nulidade, ou a devolução da questão controvertida ao árbitro para que profira outra sentença, sanando a nulidade então decretada judicialmente. Dessa análise, pode-se tecer que a própria evolução legislativa no Brasil tem propiciado a cultura da arbitragem, já que os princípios da celeridade e economia processual ficam nítidos na medida em que, limitados que são, os recursos e impugnações no âmbito da arbitragem, uma vez que eventual procedência de ação anulatória determinará a modificação parcial ou total da sentença arbitral, obrigando o juiz togado a devolver o processo ao árbitro ou órgão arbitral, uma vez reconhecido o vício material.

14

Nesse sentido, retrata Silva Santos4:

No Brasil, em virtude da ineficácia das instâncias jurisdicionais oficiais do Estado, se procurou envidar o esforço necessário para implementar um sistema constituído pelos Juizados informais de conciliação e arbitragem. Tal medida apresentou como características essenciais, a flexibilidade, a plasticidade, a informalização, e a agilidade dos seus procedimentos práticos, propiciando condições melhores de garantir a operacionalização de formas extrajudiciais de resolução de conflitos e de acesso à Justiça pelos setores menos privilegiados, enfim, das grandes parcelas da população. Nesse sentido, pode-se dizer que existem outros níveis de instâncias legislativas e jurisdicionais que, embora não estatais, podem ser consideradas autênticas e justas.

A importância de que se inaugure uma cultura que seja compatível com essa

mesma velocidade, quando se trata de solução de conflitos, visto que a jurisdição

estatal não acompanhou essas mudanças e seus reflexos, ao menos na rubrica da

celeridade, é fator verificado já nas culturas mundiais, ante a fomentação do instituto

da arbitragem para solução de conflitos.

Todavia, se, em parte, o fortalecimento da utilização da arbitragem se atribui à

crise jurisdicional estatal, não se pode sublimar que se trata apenas de um dos

fatores que influenciaram a utilização dessa cultura.

Na verdade, a arbitragem não tem por exclusivo escopo desassoberbar o

Poder Judiciário, embora a sobrecarga deste, obviamente, seja ao longo do tempo

minimizada, uma vez que se instale a cultura da sua utilização para a solução de

conflitos.

E nessa premissa, a bem da verdade, é comum que se estabeleça um

paradoxo relativamente ao custo da arbitragem e o custo de um processo judicial,

este bem menor, o que à primeira vista levaria a concluir que a arbitragem, por conta

disso, não conseguiria desafogar o Judiciário, pois estaria voltada apenas para

pessoas ou empresas de determinado padrão financeiro que pudessem arcar com

tais custos.

No entanto, a par do tema, que mais adiante será abordado em capítulo

próprio, desde já se pode delinear que a análise traçada no mencionado paradoxo

considera apenas o fator de valor, em exclusividade, e desconsidera o fator temporal

4 SILVA SANTOS, Valdoir da. O multiculturalismo, o pluralismo jurídico e os novos sujeitos coletivos

no Brasil. Dissertação de Mestrado (Direito). UFSC, Florianópolis, 2006. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/88574/230469.pdf?sequence=1>. Acesso em: 10 dez. 2013.

15

à solução do conflito, o que no mais das vezes pode representar vantagem

pecuniária.

Em primeiro lugar, registre-se que a utilização da arbitragem, em maior ou

menor escala, contribui ao desassoberbamento do Judiciário, sem que isso implique

a ela a responsabilidade exclusiva para solução da crise estatal, embora, uma vez

difundida e implementada sua utilização, consequentemente, com o passar dos

anos, em maior escala, estará sim auxiliando na solução desse problema.

Diante disso, constata-se, com segurança, que o binômio custo/beneficio

recomenda a utilização da arbitragem.

Obviamente, há casos em que, embora recomendada a utilização da

arbitragem, a parte interessada esteja desprovida de recursos para tanto, e como

forma de tornar ainda mais eficaz a utilização dessa cultura à solução de conflitos,

mister que se busque uma solução contratual ou mesmo legal, para que se efetive

essa utilização.

Nesse particular, importa tecer que a utilização do instituto tem lastro em

possibilitar um mecanismo opcional eficaz para a solução de questões

controvertidas tanto de natureza nacional quanto internacional, inaugurando um

cenário de formalização de quebra do monopólio jurisdicional pelo Estado.

O sistema processual brasileiro, pautado no princípio do devido processo

legal, do contraditório e da ampla defesa, molas mestras da proteção jurídica na

tutela dos interesses das pessoas, dada a previsão contida no art. 5º, XXXV, da

Constituição Federal, assegura a todos, como forma do exercício dessa tutela, a

garantia fundamental de acesso ao Judiciário.

Não obstante, permite ao titular do direito renunciar ao exercício dessa tutela

jurisdicional para que se dê por intermédio da arbitragem.

Segundo Joel Dias Figueira Junior5:

Essa nova forma de prestar a jurisdição – desta feita privada – significa antes de tudo um avanço legislativo que vem refletir uma nova mentalidade que, por sua vez, procura se adequar às tendências do processo civil contemporâneo na busca de formas alternativas de solução dos conflitos de interesses.

Sobretudo, de se observar que mais do que um avanço legislativo, a

arbitragem vem inaugurar a necessidade de uma nova visão do processo em seu 5 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. 2. ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1999, p. 109.

16

todo. De assim dizer, e muito além do acesso à tutela estatal, o momento exige que

se visualize a justiça como resultado de solução de conflitos e não apenas como

instrumento de acesso.

O mesmo autor, Joel Dias Figueira Junior6, canaliza a ideia:

O direito processual civil precisa retomar a sua dimensão social, adequando-se historicamente às realidades e necessidades dos novos tempos, a começar pelo rompimento do mito do monopólio estatal da jurisdição, e, como diz Carmona, exorcizando o terror da imposição da cláusula arbitral em todo e qualquer contrato, sem que isso importe em enfraquecimento do Judiciário ou na inafastabilidade do controle jurisdicional.

Nesse mesmo pensar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, citando Miguel Reale,

defende que7:

A realidade social pujante em que vivemos não se contenta mais com o modelo individualista das soluções judiciais antanho. Desde o final do século passado, vem-se construindo um novo perfil, alicerçado na prevalência do interesse social sobre o individual. Daí exigir-se um Judiciário mais participativo e ativista, na busca de uma sociedade mais justa, humana e solidária, contando com isso com instrumentos processuais mais eficientes [...] Mecanismos hábeis, eficazes que suplementem a atividade estatal, priorizando o social. Se assim é, não há porque excluir desses mecanismos a arbitragem, em atenção aos interesses de importantes segmentos sociais, aos quais a Justiça oficial não tem dado abrigo satisfatório.

E, se o que motiva eventuais contratantes optarem pelo juízo arbitral

(arbitragem) em detrimento da jurisdição estatal para dirimir questões controversas

que inauguram entre si seriam: a celeridade, a economia, a especialidade dos

árbitros e o sigilo, fica assim, portanto, impressa a ideia de que a arbitragem não tem

por escopo eliminar, combater ou desestabilizar a jurisdição estatal. Pelo contrário,

tem o condão de caminhar lado a lado com ela, possibilitando à jurisdição estatal

conter sua sobrecarga, permitir o acesso à tutela de direitos de forma mais

adequada à dinâmica exigida no mundo globalizado e proporcionar um instrumento

de jurisdição vantajoso aos interesses dos tutelados.

No caso dos contratos de franquia, a aplicação da arbitragem ainda mais se

justifica quando, por meio da eleição da cláusula compromissória, soma-se a eleição

6 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias. Op. cit., p. 110.

7 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais.

Disponível em: <http://200.198.41.151:8081/tribunal_contas/1997/02/02/2002_11 _11_0001.2xt/-versao_impressao?ed=02&folder=2 –artigo da , - www.tce.mg.gov.br/revista>. Acesso em: 21 nov. 2013.

17

de um expert no assunto para a solução de conflitos que eventualmente possam

surgir da relação contratual ao fato de que, na arbitragem, o ambiente amistoso

permite que a solução do conflito possa ocorrer sem o rompimento da relação de

parceria e cooperação entre o franqueador e o franqueado como forma de manter o

relacionamento entre as partes, preservando-se a contratação.

E, pela complexidade dos contratos que envolvem o sistema de franquias, a

arbitragem tem sido amplamente utilizada à medida que, por ser da sua essência a

celeridade da solução conflitual, aliada ao conhecimento técnico dos julgadores,

acrescentada de princípios da privacidade e sigilo que envolvam as questões

arbitrais, oferece maior segurança aos envolvidos8.

Ocorre que, pelas características específicas dispostas no contrato de

franquia, apesar de já amplamente utilizada essa forma de solução de conflitos,

ainda é matéria que gera discussão e que será tratada a seguir.

8 Como explica Giovanni Ettore Nanni: “[...] uma parcela cada vez maior e importante dos contratos empresariais de hoje apresenta, no mínimo, duas características: a complexidade e a atipicidade” (NANNI, Giovanni Ettore. Interpretação de contratos e arbitragem. Valor Econômico. Disponível em: <http://gearbpucminas.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html>. Acesso em: 29 maio 2014.

18

2. FORMAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

O homem precisa viver em sociedade pois depende dela para sobreviver,

quer por uma dependência física, ante sua fragilidade biológica, quer por questões

culturais.

A ocorrência de conflitos na sociedade entre indivíduos, grupos e Estado é

inevitável e na sociedade tais conflitos têm sido mais frequentes e complexos9.

Assim, a interação entre os seres humanos, quer por cooperação, quer por

competição, quer por conflito, sugere que temos uma necessidade em agruparmo-

nos para suprir necessidades, e aqui, parafraseando Carnelutti10, assim não fosse,

significaria que poderíamos viver isoladamente dos demais, atendendo

individualmente essas necessidades. Mas não é o que ocorre, pois o homem é, em

sua excelência, um ser social.

E desde que o homem deparou-se com situações que lhe exigiam a escolha

entre cenários que poderiam ser considerados incompatíveis e lhe exigiam a tomada

de decisões pessoais ou de grupo, desenvolveram-se técnicas para solucionar tais

conflitos.

Portanto, conflitos sempre existiram e sempre existirão, mas a forma de

solução passou por alterações ao longo da história11.

2.1. Autotutela

Inicialmente, o homem, na defesa dos bens necessários à sua sobrevivência,

utilizava-se do exercício da autotutela, onde impera a prevalência do mais forte

sobre o mais frágil.

A tal respeito, Sergio Pinto Martins retrata que a autotutela seria a forma de

solução de conflitos mais antiga, representada pela técnica em que cada um

“defende seus próprios interesses, por seus próprios meios”12.

9 SILVA, Paulo Eduardo Alves da; SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marco Antônio Garcia

Lopes (Coord.). Negociação, mediação e arbitragem: curso básico para programas de graduação em direito. Rio Janeiro: Forense/São Paulo: Método, 2012. 10

CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil: introdução e função do processo civil. Tradução de Hiltomar Martins de Oliveira. São Paulo: Classic Book, 2000, p. 57. 11

CAHALI, Francisco José. Curso de arbitragem. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 28.

19

Em que pese em primeira vista e, muito provavelmente, nos primórdios da

humanidade, revelar-se a autotutela uma forma a se considerar de pouca diplomacia

ou até mesmo de certa brutalidade, já que se dava pela imposição da vontade do

mais forte, como observa Francisco José Cahali13, em outra feição, encontramos no

evoluir da sociedade civilizada tal forma de solução de conflitos legitimada, como,

por exemplo, na legítima defesa e em lide que envolva a posse, ambas autorizadas

pela lei a fim de evitar, obviamente, a inviabilidade do exercício de um direito caso

sua solução seja postergada e, assim, tardio e ineficaz seu exercício.

Contudo, excepcionalmente e porquanto o Estado nem sempre possui o

imediatismo necessário para resguardar os interesses do tutelado, no exato

momento da ameaça desse direito, a autotutela é excepcionalmente admitida em

nossa legislação pátria, mas apenas para defender direitos que estejam sendo

violados e enumerados na lei – Constituição da República, Código Civil, Código

Penal, Código Penal Militar e jurisprudência do Supremo Tribunal Federal –, caso

contrário, constitui crime e está sujeita a sanção legal14.

Cabe mencionar, aqui, que o exercício da autotutela, em casos não

permitidos em lei, constitui crime previsto no art. 345 do Código Penal, pois se

entende que configurará o exercicio arbitrário das próprias razões15.

De dizer, ainda no que respeita ao crime do exercício arbitrário das próprias

razões, para efeitos de se reconhecer a autotutela legítima, exige-se que o fato

obedeça aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, o que vale dizer, não

pode ser cometido com excessos.

Do que se vê, somente quando a lei permite poderá ser utilizada a autotutela;

ao contrário, estará inserta em tipo penal ou nos parâmetros legais do ilícito.

12

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2008, p. 38. 13

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 37. 14

Como formas de exceção, donde se tem a possibilidade de legitimar o exercício da autotutela, podem-se citar alguns exemplos: a) o art. 9º da Constituição Federal; b) o art. 188 do Código Civil; c) o art. 1.210 do Código Civil; d) o art. 1.467 do Código Civil; e) os arts. 1.469 e 1.470 do Código Civil. No Código Penal, incluído o Militar, há exclusão da ilicitude ou exclusão de crime, observadas nos seguintes diplomas: arts. 23 do CP e 42 do CPM; o estado de necessidade (art. 23, I, c/c o art. 24 do CP e art. 42, I, do CPM); a legítima defesa (art. 23, II, c/c o art. 25 do CP, e art. 42, II, do CPM); o estrito cumprimento do dever legal (arts. 23, III, 1ª parte, do CP e 42, III, do CPM) e o exercício regular do direito (arts. 23, III, in fine, do CP e 42, IV, do CPM). 15

Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

20

2.2. Autocomposição

Outra forma de solução de conflitos é a autocomposição, ou seja, aquela que

ocorre por comum acordo entre as partes, quer pela renúncia integral ou parcial de

uma ou ambas envolvidas no conflito, para que se resolva o litígio16.

Pode-se ousar em dizer que a autocomposição, na verdade, ao refletir

solução em que os próprios conflitantes resolvem a controvérsia de modo negocial,

é considerada o legítimo meio alternativo de pacificação social para se resolver uma

questão controvertida.

Vislumbra-se a autocomposição em duas situações: por transação (quando

houver concessões recíprocas entre as partes) ou por submissão (quando uma parte

renuncia a coisa ou o bem).

Em linhas gerais, em nossa legislação, a autocomposição é admitida sempre

que não se trate de direitos ligados aos direitos de personalidade (honra, liberdade,

intimidade, vida), nos termos do que dispõe o artigo 1.035 do Código Civil17.

Todavia, há casos em que as partes não chegam à solução negociada do

conflito entre si e convocam um terceiro para auxiliá-las nesse intento.

Segundo Fernanda Levy18, nesses casos, que se denominam

autocomposição indireta, um terceiro estruturará um processo de construção de

acordo baseado em seus parâmetros e filosofia.

2.3. Heterocomposição

A heterocomposição é uma forma de solução de conflitos por meio da

intervenção de um terceiro na relação conflituosa, ou seja, as partes submetem a

terceiro seu conflito, em busca de solução a ser por ele firmada ou, pelo menos, por

ele instigada ou favorecida19.

Como modalidades de forma heterocompositiva de solução de conflitos temos

a jurisdição estatal, a arbitragem, a mediação e a conciliação.

16

MARTINS, Sérgio Pinto. Op. cit., p. 39. 17

TARGA, Maria Inês Corrêa de Cerqueira César. Mediação em juízo. São Paulo: LTr, 2004, p. 66. 18

LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Cláusulas escalonadas: a mediação comercial no contexto da arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 54-55. 19

DELGADO, Mauricio Godinho. Arbitragem, mediação e comissão de conciliação prévia no direito do trabalho brasileiro. LTr, São Paulo, v. 66, n. 6, p. 663, jun. 2002.

21

2.4. Mediação

A mediação, heterocompositiva que é, contará com o auxílio de um terceiro

não envolvido no conflito, na verdade, o mediador, que, neutro e imparcial, apenas

auxilia as partes na solução do conflito, decodificando as linguagens, sem sugerir ou

impor a solução do impasse.

Assim, a mediação é uma forma extrajudicial de solução de controvérsias em

que um terceiro, mediador20, tem a função de aproximar as partes para que elas

ajustem diretamente a solução desejada.

Elucida Francisco José Cahali21 que o mediador seria o terceiro que “faz a

terapia do vínculo conflitivo”, entendimento que permite referir como sendo a

mediação um instituto de solução de conflitos, em que um terceiro decodificador da

linguagem entre as partes proporciona uma técnica para que se dê a convergência

de interesses entre as partes em conflito, sem, contudo, sugerir uma solução,

limitando-se a provocar um amadurecimento dos mediados, no panorama do conflito

havido entre elas, contribuindo, dessa forma, para dirimir o impasse.

Sobre o tema, a abordagem de Maria Inês Targa22 merece ser colacionada:

[...] mediador é aquele que facilita o processo de entendimento, controlando a conversa e auxiliando as partes a vislumbrar pontos de intersecção em seus interesses, que podem ser importantes para a elaboração de um acordo e, principalmente, para a efetivação de um futuro relacionamento, mais agradável [...] é aquele que emprega a técnica para fazer com que as partes, cuja comunicação está desgastada pela existência do conflito, consigam superar, ao menos inicialmente, essa barreira [...]

Portanto, na mediação, a autonomia das decisões das partes, como retratam

Taylor e Folberg23, caracteriza esse procedimento, juntamente com a privacidade,

economia de tempo e financeira, informalidade, oralidade e reequilíbrio relacional

entre pares.

A aplicação da mediação ao caso concreto é técnica que pode ser utilizada

tanto no âmbito profissional como no não profissional; extrajudicial ou mesmo

judicial.

20

Ou mediadores, podendo ser mais de um. 21

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 341. 22

TARGA, Maria Inês Corrêa de Cerqueira César. Op. cit., p. 131. 23

FOLBERG, Jay; TAYLOR, Alison. Mediación: resolución de conflitos sin litigio. Tradução de Beatriz E. Bianca Mendoza. Revisão de Chávez Asencio. México: Limusa Noriega, 1996, p. 27-28.

22

Conforme Maria Nazareth Serpa24, na Argentina a aplicação da mediação

prévia, em certas lides, é obrigatória antes do julgamento da ação judicial, e

segundo Barona Vilar25, por sua vez, tem demonstrado eficácia na solução de

conflitos, considerando-se que em 1998, no Fórum Cível de Buenos Aires, das

139.984 ações, 33.663 foram submetidas à mediação, tendo resultado apenas 5.785

casos infrutíferos e, assim, encaminhados à sentença.

Célia Gonzalez26, igualmente, refere que no Canadá as disputas trabalhistas,

bem como de família, devem ser previamente submetidas à mediação, instituto em

corrente ascensão naquele país.

Não demais lembrar que, no âmbito extrajudicial, observa-se e assim pode-se

distinguir a aplicação da mediação não profissional e da mediação profissional.

A mediação não profissional é aquela que se dá quer no seio familiar, quer no

comunitário, quer no social (entre pais e filhos, religiosos), pressupondo

essencialmente que as partes confiem a alguém tal encargo e deste obtenham

auxílio para construírem uma solução consensual à questão controvertida.

Quanto à mediação profissional, ainda Maria Inês Targa27 faz referência

àquela aplicada em consultórios de psicologia, advocacia, câmaras arbitrais, que,

mediante a paga ou não por tais serviços, desenvolve-se através da eleição de um

terceiro neutro no conflito, o qual, em reuniões com as partes em lide, facilita a

conversação e até solver o conflito, não tendo, no entanto, poder de dizer a solução

do impasse, limitando-se a orientar as partes.

2.5. Conciliação

Pode ser que as partes, ainda, necessitem de um terceiro que haja de forma

mais incisiva a que se instale o consenso. Assim, como forma eficaz de solução de

conflitos, a utilização da conciliação pode ser mais recomendada para a solução de

um caso concreto, em que as partes em conflito necessitem que o terceiro, aqui

24

SERPA, Maria de Nazareth. Mediação de família. Belo Horizonte: Del Rey, 1998, p. 74. 25

BARONA VILAR, Silvia. Solución extrajurisdiccional de conflitos: alternative dispute resolutions y derecho procesal. Valencia: Tirant lo blanch, 1999, p. 151-152. 26

GONZÁLEZ-CAPITEL MARTINEZ, Célia. Manual de mediación. Barcelona: Associacón Catalana de Foemnt a la Mediación Multiportes, 1999. 27

TARGA, Maria Inês Corrêa de Cerqueira César. Op. cit., p. 133.

23

chamado “conciliador”, tenha uma atuação mais pontual na solução da questão

controvertida.

Para Célia Regina Zaparolli28:

A conciliação, genericamente, é uma forma de resolução pacífica de disputas e de lides administrada por um terceiro investido de autoridade decisória na questão posta ou delegado por quem a tenha, judicial ou extrajudicialmente, a quem compete aproximar as partes, gerenciando e controlando as negociações, aparando arestas, sugerindo ou formulando propostas, no sentido de apontar vantagens e desvantagens, sempre visando um acordo. Caso as partes não cheguem a esse acordo, na hipótese de frustração da conciliação, a autoridade proferirá sua decisão.

Pode-se dizer, então, que a conciliação é uma técnica de solução de conflitos,

na qual o papel do conciliador é mais contundente que o do mediador, mas sem a

força de “dizer o direito” que se obtém na utilização da arbitragem e jurisdição

estatal, atuando o conciliador de forma persuasiva e efetiva, tendo como foco a

solução do conflito, independentemente da questão meritória nele presente.

Nesse rumo, o conciliador não só aproxima as partes como ainda realiza

atividades de controle das negociações, formula propostas e aponta as vantagens

ou desvantagens, buscando sempre facilitar o alcance de uma solução satisfatória

para as partes, utilizando técnicas imparciais e equilibradas.

Nesse sentido, Francisco José Cahali29 destaca proveitoso na figura do

conciliador que seja um terceiro no conflito e com talentos de modo a criar um

ambiente propício às confluências, utilizando a criatividade na condução de seu

trabalho, para uma plena eficácia da solução por tal via.

E, na conciliação, o bem imediato alcançado importa na transação, ou, como

se queira denominar, no acordo entre as partes.

De observar nesse contexto, inclusive, que o conciliador, em verdade, não

buscará adentrar em discussão meritória da questão posta e, sim, atentar em

auxiliar as partes a resolver suas questões controvertidas, sob forma de acordo.

Destarte, em que pese então podermos atribuir à mediação e à conciliação,

em primeira vista, característica de solução heterocompositiva, sob o ponto de vista

28

ZAPAROLLI, Célia Regina. In: SILVA, Paulo Eduardo Alves da; SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes (Coord.). Negociação, mediação e arbitragem: curso básico para programas de graduação em direito. Rio de Janeiro: Forense/São Paulo: Método, 2012. 29

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 340.

24

de que há a atuação ainda que discreta de um terceiro à solução do conflito, por

outro lado, não se pode sublimar que deixe de ser autocompositiva, vistas da

atuação limitativa que se atribui ao terceiro, em verdade, colaborador das partes em

lide.

Francisco José Cahali, nesse particular, refere30 que:

O foco na mediação é o conflito e não a solução. Na conciliação percebe-se o contrário: o foco é a solução, e não o conflito. E com tratamento às partes, pretende-se na mediação o restabelecimento de uma convivência, em equilíbrio de posições, independentemente de se chegar a uma composição, embora esta seja naturalmente desejada.

Em que pese ainda haja alguma confusão conceitual sobre mediação e

conciliação, como assevera Fernanda Levy31, sendo por vezes, inclusive, a

mediação considerada gênero da espécie conciliação, ou então entendidas como

expressões sinônimas, como por exemplo, na Itália, em que a utilização do termo

“conciliazione”, para designar tanto um quanto outro instituto, precisou ser objeto de

legislação conceitual para distingui-los, em verdade, ambos são meios consensuais,

e o que os diferencia é o modo de atuação do mediador e do conciliador e a relação

existente entre os conflitantes.

O conciliador, por seu turno, embora não tenha autoridade para imposição de

decisão às partes, o desempenho de suas atribuições consiste em conduzi-las a

realizarem um acordo, resolvendo-se a questão controvertida.

Tanto as conciliações institucionais quanto as conciliações judiciais têm a

mesma característica, que é a voluntariedade, ou seja, não têm por escopo gerar

qualquer tipo de imposição, podendo o conciliador fazer sugestões ou mesmo propor

soluções para o conflito, mas prevalecerá sempre a liberdade das partes para

aceitar ou não as propostas, pois somente a elas caberá a solução do referido

conflito conciliável.

No sistema jurídico processual brasileiro, o conciliador judicial poderá ser o

juiz em causa ou mesmo um auxiliar, conforme preceitos do CPC, art. 277, parágrafo

único.

Ainda, a forma conciliada está disposta em nosso Código de Processo Civil,

nos arts. 125, IV, 331 e 447, constituindo dever do juiz “tentar, a qualquer tempo,

30

Id., ibid., p. 41. 31

LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Op. cit., p. 56-57.

25

conciliar as partes”, sendo, inclusive, fundamento do juizado especial (Lei n.

9.099/95), já que todas as causas nele postas iniciam pela conciliação.

Conforme Célia Regina Zapparolli32,

[...] o conciliador tem a prerrogativa técnica de intervir e sugerir um possível acordo após uma criteriosa avaliação das vantagens e desvantagens que sua proposição traria às partes – o que se distingue diametralmente da atuação do mediador, que, tecnicamente, não deve sugerir saídas para o acordo [...]

Seja, portanto, judicial, seja extrajudicial, a conciliação é, sem dúvida, a forma

considerada mais justa entre as próprias partes para a solução conflitual, na medida

em que são as próprias partes quem, conciliadas com auxílio de um terceiro

imparcial, encontram a solução da questão até então controvertida.

2.6. Arbitragem

Não obstante todo o exposto, há ainda casos em que as partes, mesmo com

o auxílio de um terceiro imparcial, não conseguem pôr termo ao conflito então

instado entre elas ou, mesmo, não têm interesse em submetê-lo à apreciação

judicial ou a uma prévia tentativa conciliatória, ou, o tendo submetido, não lograram

êxito em seu intento. Daí pretendem que a questão em lide seja analisada e julgada

por um terceiro imparcial, com poder de dizer o direito.

Para casos tais, a utilização da arbitragem, como forma de solução de

conflitos, surge como técnica exitosa, já que é aplicada à solução do conflito por

meio de um terceiro, eleito pelas partes em disputa e a quem compete, por eleição

delas, “dizer-lhes o direito”.

Da mesma forma, e conforme retrata Francisco José Cahali33 relativamente à

arbitragem, “a solução do conflito foi entregue a terceiro, aparecendo daí a figura de

um julgador, que poderá integrar a estrutura estatal (Poder Judiciário) ou ser

independente do Estado – o árbitro”.

32

ZAPPAROLLI, Célia Regina. Op. cit., p. 38. 33

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 28-29.

26

Lauro Gomes Correa34 refere que a arbitragem “[...] é o procedimento de

submeter os assuntos em disputa ou de natureza contenciosa a juízo de

determinada pessoa ou pessoas sem recorrer aos Tribunais de Justiça”.

Vale dizer, portanto, que a arbitragem constitui uma forma ou técnica

extrajudicial de resolução de conflitos, em nível de equivalente jurisdicional, ou seja,

sem a interferência do Judiciário, em que um terceiro imparcial eleito pelas partes

litigantes de comum acordo e vontade e através de instrumento próprio (cláusula ou

compromisso arbitral) decide a questão controvertida (heterocomposição) por meio

de uma sentença arbitral escrita e que possui a mesma eficácia de uma sentença

judicial, podendo, inclusive, ser executada judicialmente, caso a parte vencida não a

cumpra de forma voluntária e, daí, através do Judiciário.

Com a assinatura da cláusula compromissória ou do compromisso arbitral, a

arbitragem assume o caráter obrigatório e a sentença tem força judicial. A decisão

arbitral é dada pelo árbitro, em caráter definitivo, uma vez que não cabe recurso

neste sistema de resolução de controvérsias.

Registre-se, aqui, que, embora a decisão arbitral seja impositiva às partes,

caso não seja espontaneamente cumprida, no sistema processual brasileiro sua

execução forçada se fará perante o Judiciário, em ação própria (Lei n. 9.307/96, arts.

31 e 475-N, IV, do CPC), aqui elevada à categoria de título executivo judicial.

Como vantagem da utilização da arbitragem em detrimento da solução estatal

ao conflito, Francisco José Cahali35 menciona que a liberdade de escolha do

julgador, o lastro de confiabilidade depositada pelas partes no terceiro, aliada à

eleição de conhecimento específico da matéria em lide dentre outros fatores,

somado ao consenso entre as partes a essa eleição, tornam a arbitragem eficaz.

Em síntese, pode-se afirmar que na arbitragem é conferida às partes uma

liberdade maior que a submissão da solução da lide à esfera estatal, afinal, tem

estas a liberalidade de escolha da lei aplicável, a escolha de quem irá decidir a

questão, e até mesmo a formatação do procedimento a ser observado na solução da

lide.

No Brasil, desde que promulgada a Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/96), o

instituto vem sendo aplicado exponencialmente, e, conforme artigo de Arnoldo Wald

34

CORREA, Lauro Gomes. Multiplicadores de um sonho: arbitragem no Mercosul – panorama de um sonho de justiça. Porto Alegre: CRA-RS/Evangraf, 2008, p. 95. 35

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 85.

27

e Ana Gerdau de Borja36, “[...] o avanço da arbitragem colocou o Brasil nos holofotes

internacionais em 2013, colocando-se entre os cinco primeiros no ranking mundial

[...]”.

A utilização do instituto da solução pacífica de conflitos coaduna-se ao nosso

próprio pensar constitucional, afinal, nossos constituintes, ao preambularem nossa

Carta Magna, já norteavam os ideais nacionais a esse respeito, senão vejamos:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e

comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus,

a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL37.

E, como leciona Alexandre de Moraes38, em um preâmbulo constitucional, no

qual se vê definida a proclamação de princípios, justificativas, objetivos e finalidades,

pautando as intenções constituintes de uma nação:

[...] Apesar de não fazer parte do texto constitucional propriamente dito e, consequentemente, não conter normas constitucionais de valor jurídico autônomo, o preâmbulo não é juridicamente irrelevante, uma vez que deve ser observado como elemento de interpretação dos diversos artigos que lhe seguem [...] O preâmbulo, portanto, por não ser norma constitucional, não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal, e tampouco poderá ser paradigma comparativo para declaração de inconstitucionalidade, porém, por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, será uma de suas linhas mestras interpretativas.

Sem dúvida que, com o advento da Lei de Arbitragem no Brasil, em 1996, o

instituto ganhou força, mas foi sedimentado quando, em julgamento de recurso em

processo de homologação de sentença estrangeira (SE 5.206) por sete votos a

quatro, os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram em 12-12-2001 que os

mecanismos da Lei de Arbitragem (9.307/96) eram constitucionais.

36

WALD, Arnoldo; BORJA, Ana Gerdau de. Avanço da arbitragem colocou o Brasil sob os holofotes. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-dez-28/retrospectiva-2013-avanco-arbitragem-colocou-brasil-holofotes>. Acesso em: 31 mar. 2014. 37

BRASIL. Constituição da República Federativa. Preâmbulo, promulgada em 05/10/1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 maio 2014. 38

MORAES, Alexandre. Direito constitucional. São Paulo: Atlas Jurídica, 2003, p. 48.

28

A saber, o recurso em questão foi julgado em ação movida a partir de 1995,

quando empresa, de origem estrangeira, pretendia homologar um laudo de sentença

arbitral proferida na Espanha, para que tivesse efeitos no Brasil. Em princípio, o

pedido havia sido indeferido, mas em 1996, com a promulgação da Lei n. 9.307/96,

e, assim, no julgamento do recurso, o ministro Moreira Alves levantou a questão da

constitucionalidade da Lei de Arbitragem brasileira.

E assim, embora não tenha sido unânime a decisão, por maioria vencedora, a

par da constitucionalidade da Lei de Arbitragem brasileira, esta lei é constitucional e,

por via de consequência, não afronta o art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.

É que porquanto o objeto da arbitragem deve incidir somente sobre direitos

disponíveis, as partes, ao convencionarem a arbitragem, não estariam renunciando

ao seu direito de ação e ao juiz togado, e sim deslocando a jurisdição por órgão

estatal para um destinatário privado.

Não demais lembrar que a Lei de Arbitragem brasileira não veda o acesso ao

Poder Judiciário, porquanto no Brasil a arbitragem não é obrigatória, e, assim, ao

permitir às partes a escolha entre o juízo estatal e o arbitral para solucionar a lide

existente entre elas, não se pode dizer que esteja ferindo o antes mencionado

dispositivo constitucional.

Do ponto de vista normativo, a confiança, digamos assim, na utilização do

instituto para a solução de conflitos resultou alicerçada e garantida, de certa forma,

através da festejada decisão, ganhando força com as alterações introduzidas no

Código de Processo Civil, notadamente atribuindo força de título executivo judicial às

decisões proferidas por árbitros.

Nesse pensar, se a jurisdição estatal como forma de solução de conflitos se

dá por meio do Estado, que deve dizer o direito impondo a solução do conflito, a

arbitragem, na mesma linha, em paralelos, constitui um meio privado e alternativo à

solução judicial de conflitos, preservadas as normatizações legais advindas ao

instituto.

Como refere Marco Antonio Garcia Lopes Lorencini39, ao discorrer sobre o

“sistema multiportas”, na obra Negociação, mediação e arbitragem, na arbitragem,

em que pese situada no outro extremo da mediação, na prática, no mais das vezes,

39

LORENCINI, Marco Antonio Garcia Lopes. Negociação, mediação e arbitragem. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marco Antonio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da (Coord.). Curso básico para programas de graduação em direito. Rio de Janeiro: Forense/São Paulo: Método, 2012, p. 62-68.

29

a solução de questão controvertida trazida pelas partes à esfera extrajudicial, em

sua plena eficácia, dar-se-á através da adoção de mais de uma técnica de solução

conflitual ao caso concreto.

30

3. ASPECTOS GERAIS DA ARBITRAGEM NO BRASIL

A arbitragem, em linhas gerais, nada mais é senão a manifestação de

vontade emanada de duas ou mais pessoas, que conferem a terceiro poderes para

que solucione determinada questão controvertida entre partes, em ânimo definitivo,

concordando os outorgantes que se submeterão a tal solução, ficando a esta

obrigados.

A Lei de Arbitragem brasileira (Lei n. 9.307/96) seguiu o exemplo das

legislações de países nos quais o instituto já era utilizado com frequência, e teve

como modelo a Lei sobre Arbitragem Comercial da UNCITRAL – United Nations

Commission on International Trade Law.

De acordo com Francisco José Cahali40:

Comparada com legislações avançadas, como a da Espanha e a de outros países da Europa, para a nossa realidade, a lei não deixa a desejar, principalmente porque naquele continente a cultura da arbitragem já estava incorporada ao direito.

A arbitragem vem ganhando força e reconhecimento também no cenário

nacional na medida em que o Poder Judiciário brasileiro aceita e determina o

cumprimento de decisões proferidas por árbitros particulares, em reconhecimento à

jurisdição arbitral e à força da sentença arbitral, através dos mecanismos

processuais, notadamente previstos no Código de Processo Civil, no art. 475-N,

quando institui a sentença arbitral como sendo um título executivo judicial e, assim,

seu não cumprimento espontâneo pela parte sucumbente enseja ação própria

através do Judiciário, prevista nos arts. 475-J e seguintes do CPC.

Inegavelmente que este evoluir legislativo se deu a partir do reconhecimento,

em sede nacional, da constitucionalidade da Lei de Arbitragem, através de decisão

exarada em análise incidental, pelo STF, em julgamento de caso concreto.

No entanto, cabe aqui mencionar que o STF, ao enfrentar a questão da

constitucionalidade da Lei de Arbitragem, incidentalmente, estabeleceu um paralelo

entre a garantia constitucional do direito de ampla defesa e do juízo arbitral,

entendendo que a eleição pela utilização da arbitragem não se trata de ferir

40

CAHALI, Francisco José. Curso de arbitragem. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 78.

31

dispositivo constitucional, que garante o acesso ao Judiciário nos casos previstos

pela lei.

E esse posicionamento do Judiciário à frente da arbitragem foi fundamental,

pois como bem assevera Adriana Braghetta41, tratando da arbitragem internacional:

Mediante a adoção de leis ou tratados é que se tornou possível a utilização da arbitragem de forma segura. Mas só um bom enquadramento jurídico não é suficiente. O desenvolvimento da arbitragem depende da difusão do instituto e apoio dos tribunais locais que, afinal, irão interpretar e definir os limites do tema. Fechando o círculo, a doutrina servirá de instrumento de apoio e fomento.

Nesse passo, vieram as modificações inseridas no Código de Processo Civil,

quanto às questões relativas à sentença arbitral, no que pertine à execução das

decisões arbitrais terminativas, embora ainda gerem dúvidas na prática processual

em razão da inovação, não só quanto à terminologia, já que anteriormente

denominada no Brasil laudo arbitral, mas quanto à desnecessidade de homologação

e principalmente da agilidade como se dá a sua execução, atualmente denominada

cumprimento por força da Lei n. 11.232/2005, colaboraram ao andar do instituto no

Brasil, afinal, passou a ser retratada expressamente no art. 475-N, IV, do CPC a

conjugação da força executiva desse julgado arbitral por meio do Judiciário.

Assim, o Brasil, contando com uma lei moderna e atual, com juristas

altamente qualificados contribuindo com estudos e doutrinas especializadas nos

mais variados aspectos das arbitragens, dependia apenas do apoio judicial para

contribuir com o avanço e fortalecimento da arbitragem, o que hoje já é realidade.

O sistema arbitral atual e vigente no Brasil tem como característica sua

facultatividade, pois pressupõe uma justiça privada aceita e escolhida pelas partes

nos contratos que assinam, ou quando assim se orientam, e exclui a apreciação e a

participação do Poder Judiciário nas questões relativas ao mérito da demanda, a

exceção da necessidade de executar medidas cautelares interpostas; executar a

sentença arbitral; anular sentença arbitral defeituosa; participar incidentalmente, ao

instalar o procedimento arbitral, quando presente cláusula arbitral vazia e uma das

partes a ela se negar a submissão; ou para intimação de testemunha que se recuse

a comparecer à audiência.

41

BRAGHETTA, Adriana. A importância da sede da arbitragem: visão a partir do Brasil. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p. 4.

32

Não demais lembrar, no entanto, que as partes, pela convenção arbitral,

transferem do poder jurisdicional estatal aos árbitros aqueles mesmos poderes que

eram conferidos ao juiz togado, no que respeita à solução da controvérsia, mas não

o poder coercitivo estatal.

Deve-se, portanto, divisar que, no que se refere às medidas cautelares, à

questão da concessão e da execução delas, o árbitro as concede, mas sua força

executória se dará através do Judiciário.

Todavia, não se pode sublimar que eventual medida coercitiva só poderá

incidir na esfera daqueles que se submeteram à cláusula arbitral, afinal, a utilização

da arbitragem pressupõe relação jurisdicional entre as partes que a

convencionaram.

A par da voluntariedade, as partes possuem a iniciativa de resolver seus

conflitos de interesse pela via arbitral em detrimento do processo judicial, e, a partir

daí, uma vez eleita, o árbitro profere uma decisão, quer com lastro nas regras do

direito positivo, quer, se autorizado e da vontade das partes, baseado na equidade.

Outra característica da Lei de Arbitragem brasileira é de somente se aplicar a

solução de litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, com anuência das

partes, seja ela por meio de cláusula compromissória, seja por compromisso arbitral,

que, uma vez convencionado pelos litigantes, afasta da apreciação da justiça

comum a competência de decidir a lide.

A Lei de Arbitragem, portanto, veio revolucionar o instituto, dado o caráter

voluntário e opcional da contratação, e alterar substancialmente a questão

relacional, na medida em que as partes manifestam de forma expressa a vontade de

resolver determinado conflito por essa via, prevalecendo a partir de então a

vinculação e obrigatoriedade de sua utilização.

Uma vez eleita a arbitragem por meio de uma convenção, as partes ficarão

vinculadas à decisão do árbitro, que julgará o conflito proferindo uma sentença, a

qual sendo condenatória valerá como título executivo judicial, independentemente de

homologação perante o Poder Judiciário42.

42

Para Eduardo Arruda Alvim e Daniel Willian Granado: “A adoção, entre nós, de maneira ampla, da arbitragem, tal como prevista na Lei 9.307/96, ou seja, com regras que conferem efetividade ao procedimento arbitral, sem necessidade de homologação judicial, representa grande inovação e, em nosso sentir, ostenta diversas vantagens que se sobrepõem a qualquer possível inconveniente desse sistema” (Mecanismos alternativos de solução de conflitos: arbitragem, mediação e conciliação e o Projeto do novo CPC. Disponível em: <http://www.arrudaalvimadvogados.com.br/visualizar-

33

Na verdade, a arbitragem, ao lado de outras formas extrajudiciais de solução

de conflitos, como a mediação, conciliação e negociação, é um novo e amplo campo

de trabalho para os profissionais da área do direito.

Desse contexto se extrai que a justiça privada não veio para competir com o

Poder Judiciário, mas, sim, para caminharem juntos, auxiliando-o, justamente, em

um momento em que, assoberbado, atravessa uma crise.

Em linhas gerais, a arbitragem pode ser entendida como a manifestação de

vontade emanada de duas ou mais pessoas, que conferem a um terceiro poderes

para que este solva determinada questão controvertida entre essas partes, em

ânimo definitivo, concordando os outorgantes, que se submeterão a tal solução e

ficarão a esta obrigada.

Essa forma de solução, por meio de terceiro, isento, escolhido pelas partes, é

um caminho certo para a pacificação de conflitos, pelo fato de este terceiro gozar da

confiança dos que o elegeram.

3.1. Brevíssimo histórico da arbitragem no cenário brasileiro

Ao nos depararmos com o contexto histórico nacional, ainda que em breve

vistas, podemos observar que em face das diferentes formatações que ele assumia,

naturalmente reflexas do contexto evolutivo de nossa sociedade e em nosso

ordenamento, nem sempre o instituto da arbitragem adquiriu a mesma feição.

Cronologicamente mencionando, o Tratado de Tordesilhas, em 1498, como

referência à história do Brasil, é exemplo de resultado de decisão arbitral, bem como

as Ordenações do Reino de 160343.

O Brasil seguiu servindo-se da arbitragem na época da colonização

portuguesa, quando a Constituição do Império de 1824 estabeleceu a possibilidade

às partes de solucionar seus conflitos cíveis através da nomeação de árbitros-juízes,

artigo.php?artigo=15&data=22/06/2011&titulo=mecanismos-alternativos-de-solucao-de-conflitos-arbitragem-mediacao-e-conciliacao-e-o-projeto-do-novo-cpc>. Acesso em: 7 mar. 2014. 43

LEMES, Selma Maria Ferreira. Advogado deve abandonar processo civil na arbitragem. Entrevista concedida ao CONJUR e publicada na revista Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-mai-12/entrevista-selma-lemes-advogada-professora-especialista-arbitragem>. Acesso em: 1º mar. 2014.

34

e, ainda, se as partes assim convencionassem, a decisão dos árbitros seriam

executadas sem recurso.

A partir de então foi continuamente reiterada em todas as constituições que

se seguiram, com maior ou menor amplitude, ganhando inclusive espaço no Código

Comercial de 1850, que previa a utilização da arbitragem particularmente para

atender às controvérsias mercantis44.

E, após diversas previsões legais, muito embora expressamente tratada pela

Constituição Federal de 1988, em seu art. 114, §§ 1º e 2º, no Brasil, a arbitragem

somente ganhou força com o advento da Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 199645.

A promulgação dessa lei, também chamada Lei Marco Maciel, alterou

profundamente a história do instituto em nosso país, quanto ao procedimento arbitral

e sua eficácia, não obstante derivando ao Poder Judiciário, o poder coercitivo, pois o

legislador pátrio não o outorgou ao árbitro ou às instituições arbitrais.

Em 2001 a arbitragem ganhou força ainda maior no ordenamento jurídico do

País, com o advento da declaração de sua constitucionalidade pelo Supremo

Tribunal Federal, fortalecendo-se ainda mais em 2002, quando o Brasil aderiu à

Convenção de Nova York de 1958, sobre Reconhecimento e Execução de Laudos

Arbitrais.

Do que se vê, infelizmente, em nível nacional, a arbitragem encontrou, em

princípio, dada a própria cultura paternalista do Estado, certa resistência, muito

provavelmente pela ausência de conhecimento das partes relativamente aos

benefícios da arbitragem e a intervenção estatal nos acordos de vontades, uma vez

que, inicialmente, as decisões arbitrais deveriam submeter-se à homologação do

Judiciário.

E, com a mudança desse tom, dada a acepção do estado moderno, em que

há mais liberdade para as partes, preservando-se a autonomia das vontades, o que

passou a ser um ponto positivo nesse segmento, aliada às alterações introduzidas

pela Lei de Arbitragem, dispensada a homologação da sentença arbitral, um novo

cenário passou a integrar a arbitragem e os investimentos e relações comerciais.

44

DELGADO, José Augusto. Arbitragem no Brasil: evolução histórica e cultural. São Paulo: Quartier Latin, 2008, p. 228-229. 45

PINCER, Pedro. Arbitragem traz economia e rapidez à justiça. Disponível em: <http://www12. senado.gov.br/jornal/edicoes/2013/06/11/nova-lei-de-arbitragem-pretende-agilizar-a-justica>. Acesso em: 24 fev. 2014.

35

Como uma das inovações da Lei de Arbitragem merecem destaque a

sentença arbitral e a sua equiparação à sentença proferida pelos órgãos do Poder

Judiciário, bem como a possibilidade de execução dessa decisão quando não

cumprida pelas partes.

Com o advento dessa lei (Lei n. 9.307/96), a decisão arbitral passou então a

produzir entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença proferida

pelos órgãos do Poder Judiciário, destacando-se em particular sua força executiva,

conforme o seu art. 31.

Adriana Braghetta46 explica que a legislação brasileira, inspirando-se na

legislação portuguesa de 1986 e na espanhola de 1988 quanto ao laudo arbitral

nacional, mostra-se mais moderna que legislações tidas como avançadas, como a

da França, por exemplo, que depende de homologação perante o Judiciário para ser

executada.

E, dentre as inovações trazidas pela Lei de Arbitragem, a equiparação da

sentença arbitral, até então denominada laudo arbitral, à sentença proferida pelos

órgãos do Poder Judiciário é determinante como um dos pontos relevantes para o

crescimento da utilização da arbitragem no Brasil, embora o poder coercitivo ao seu

cumprimento dependa de ser efetivado pelo Judiciário, nos moldes antes vistos.

3.2. Características e natureza jurídica da arbitragem

Assim como a jurisdição estatal, a arbitragem representa uma forma

heterocompositiva de solução de conflitos47, através da qual a decisão é imposta por

um terceiro independente e imparcial, diferindo-se tais jurisdições no que diz

respeito às regras instrumentais.

Segundo Carlos Alberto Carmona48, a arbitragem é um

meio alternativo de solução de controvérsias através da intervenção de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nela, sem intervenção estatal, sendo a decisão destinada a assumir a mesma eficácia da sentença judicial – é colocada à disposição de quem quer que seja,

46

BRAGHETTA, Adriana. Op. cit., p. 253. 47

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 85. 48

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei nº 9.307/96. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 51,

36

para solução de conflitos relativos a direitos patrimoniais acerca dos quais os litigantes possam dispor.

E, para Joel Dias Figueira Júnior49,

este instituto apresenta-se como forma alternativa e facultativa de solução dos conflitos de interesses qualificados por pretensões resistidas. Trata-se de um mecanismo reconhecido internacionalmente pelos povos cultos e internamente sistematizado por norma específica, que viabiliza a transformação de lides sociológicas em lides jurídicas, as quais serão levadas ao conhecimento e decisão de mérito de particulares investidos de autoridade decisória e poder jurisdicional, que lhes é outorgado pelas próprias partes envolvidas em determinados conflitos de interesse.

Pode-se, assim, concluir que a arbitragem é o instituto pelo qual, sem a

intervenção estatal, pessoas capazes de contratar elegem, de comum acordo, uma

terceira pessoa, que por sua vez pode ser uma instituição de arbitragem ou uma

pessoa física, e a quem confiam o papel de resolver-lhes uma questão controvertida.

Decidida a questão, pelo árbitro ou pelos árbitros, quando for o caso, as

partes estarão a ela vinculadas, na medida em que a decisão do árbitro impõe-se às

partes e, portanto, a decisão é adjudicada e não consensual50.

Doutrinariamente, debate-se a par da natureza desse instituto, no que

respeita se teria natureza pública e processual ou natureza privada e contratual.

Em primeiro, de destacar que a arbitragem institui-se a partir da vontade das

partes, que estabelecem pela convenção, a qual poderá ser instituída por

compromisso arbitral ou cláusula compromissória inserta em um contrato; tal meio,

como forma de dirimir conflitos decorrentes de certa relação, baseia-se na premissa

de que a relação triangular que se estabelece entre árbitro e partes não teria força

alguma, além de um acordo de vontades, sem caráter jurisdicional.

Há de se observar, igualmente, a existência do caráter jurisdicional, quando a

lei atribui à decisão arbitral os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos

do Poder Judiciário e caráter de título executivo judicial à condenatória. É o que

parece ter-se baseado a legislação pátria, quando, por meio da Lei n. 9.307/96, em

seu art. 31, estabelece:

49

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Arbitragem, jurisdição e execução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 38. 50

CAHALI, Francisco José. Op. cit., p. 85.

37

A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.

Em se tratando de natureza jurídica51 da arbitragem, observamos,

doutrinariamente, sua divisão em três principais correntes.

A corrente contratual ou privatista defende que a arbitragem tem natureza

contratual privada, uma vez que necessariamente se estabelece a partir da

instituição expressa entre as partes de uma manifestação de vontade nesse sentido

e que tal condição se dá na via não estatal.

E, porquanto exerça o árbitro plena função de sua jurisdição, limitada que fica

ao campo da cognição, visto que não detém o poder de executar suas próprias

decisões, a natureza jurídica da arbitragem teria um caráter privatista no que

respeita à sua origem e à qualidade dos árbitros, que administram sua jurisdição em

decorrência da vontade das partes.

Como adepto dessa corrente doutrinária, podemos citar Marinone52, que,

inclusive, faz expressa referência de que a jurisdição só pode ser exercida por juiz

de direito, dada a forma legal prevista para sua investidura, não podendo ser

delegada de outra forma se não por meio de concurso público, pena de

subvertermos a ordem constitucional espelhada e, assim, não se vislumbraria

caráter jurisdicional investido ao árbitro pela vontade das partes, senão um contrato

em sua efetividade.

Há ainda a corrente doutrinária denominada corrente jurisdicional ou

publicista, que atribui função judicante ao árbitro, identidade àquela exercitada por

juiz togado, e, por isso, o exercício da arbitragem que se revela como autêntica

contribuição privada na administração da justiça teria caráter publicista.

Os defensores dessa corrente visualizam a jurisdição de uma forma mais

atual, ampliando seu conceito, e, daí, entenderem que o árbitro estaria autorizado

51

Nesse sentido, Alexandre Freitas Câmara: "[...] a natureza jurídica deve refletir a verdadeira expressão ontológica da matéria em estudo, levando-se em consideração os seus elementos constitutivos; qualquer esboço classificatório dependerá sempre da prévia e antecedente fixação da natureza jurídica do fenômeno, instituto ou instituição jurídica analisada”

(FREITAS CÂMARA,

Alexandre. Arbitragem: Lei 9.307/96. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 10). 52

MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, v. 1, p. 153.

38

pelo Estado ao exercício de sua jurisdição, teoria de Caivano, segundo José Luiz

Bolzan de Morais53:

[...] não há razão lógica em se considerar que uma mesma função possa variar sua natureza só porque variou a qualidade da pessoa que a desempenha. Os árbitros se revestem da qualidade de verdadeiros juízes, sua missão é essencialmente igual, seu laudo não possui substanciais diferenças da sentença magistral, tendo

inclusive a mesma força executiva. Possuem o mesmo status

jurídico, não havendo motivos inarredáveis para que se designe aos mesmos natureza jurídica diversa [...]

De mencionar, nesse sentido, que árbitros sujeitam-se, quando no exercício

de suas atividades, àqueles mesmos motivadores legais previstos aos juízes de

direito, no que pertine ao impedimento, suspeição ou responsabilidades, devendo

conciliar a prática aos princípios da confidencialidade, competência, imparcialidade,

conforme advertência legal contida na própria Lei de Arbitragem.

Na doutrina de Didier Junior54 há o entendimento de que, se o árbitro é eleito

pelas partes por pacto negocial e normativo, que é a convenção arbitral, o que lhe

confere independência e imparcialidade, delimitada, portanto, e, assim, garantida a

efetividade do princípio do juiz natural.

Em outras palavras, pode-se imprimir, dentro dessa doutrina, que o fato de o

árbitro não ter o poder de execução não significaria que não estivesse no exercício

de uma função jurisdicional, carecedor, apenas, de competência funcional.

E, como uma justaposição dessas duas doutrinas anteriormente abordadas,

surge uma terceira, eclética, chamada de corrente mista ou híbrida, que acredita que

a arbitragem, além de seu aspecto contratual, pois para se consubstanciar necessita

de uma convenção pelas partes, alia uma função judicante, a partir do momento em

que a lei confere ao árbitro o poder de dizer o direito, tal qual confere ao juiz de

direito.

De tudo quanto se expôs, realmente, após o advento da Lei n. 9.307/96, no

Brasil, uma vez instituído o procedimento arbitral, a tese contratualista da natureza

jurídica arbitral deixa de fazer sentido de forma isolada, uma vez que a sentença

53

CAIVANO,1992. Apud BOLZAN DE MORAIS, José Luis; SPENGLER, F. M. Mediação e arbitragem: alternativas à jurisdição. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 186. 54

DIDIER Jr., Fredie. Curso de direito processual civil. 14. ed. Salvador: JusPodivm, 2012, v.1., p. 113.

39

arbitral foi equiparada pela lei brasileira à decisão judicial, dispensada a sua

homologação estatal.

Visto que a Lei de Arbitragem permite que se desloquem à jurisdição privada,

nos limites de sua ingerência, atos até então privativos de órgãos estatais,

adotaremos para este estudo o entendimento de que a natureza jurídica da

arbitragem tem feições híbridas, ou seja, assume contornos da tese contratualista e

da tese jurisdicional.

Contratual na fonte, mas jurisdicional no objeto, conforme entende Selma

Lemes55, a natureza jurídica mista da arbitragem assim se revela porquanto tenha

origem na vontade das partes e, portanto, de nuanças contratuais; e se desenvolve

em bases jurisdicionais, não muito diferente daquilo que se processa nos tribunais.

Nessa linha, seja o juiz, seja o árbitro, incumbem-se de vincular as partes

afeitas a essa decisão e de decidir aquilo que deverá ser ou deixar de ser feito.

Assim, ambos (juiz ou árbitro) atuam de forma similar nesse contexto, analisando e

perquirindo os fatos em pauta e dando solução justa ao caso.

Não que isso implique colocar-se a justiça estatal e a privada no mesmo

patamar; afinal, apresentam características diferentes em sua essência, como, por

exemplo, enquanto a primeira decorre do estatuído no diploma constitucional, a

segunda decorre de uma manifestação válida e eficaz da vontade das partes.

Mas, intrinsecamente, pode-se dizer que ambas têm o poder de resolver um

litígio que lhes seja posto pelas partes.

Inegável, todavia, que a solução arbitral tem caráter de definitividade

condicionado à atuação lícita do árbitro, que será objeto de avaliação, caso seja

arguido pelo Poder Judiciário, em que pese o festejado princípio da competência-

competência do árbitro seja relativizado caso constatada eventual extrapolação dos

poderes conferidos a ele56.

Assim, consequentemente, se o caráter jurisdicional da arbitragem vem

fortalecer o instituto, contribuindo para uma nova percepção da cultura jurídica, não

menos importante seria reconhecer a relação de direito privado advinda de sua

convenção, claramente representada na própria constitucionalidade do juízo arbitral,

55

LEMES, Selma Ferreira. Arbitragem na administração pública: fundamentos jurídicos e eficiência econômica. São Paulo: Quartier Latin, 2007, p. 60-61.

56 FICHTNER, Jose Antonio; MONTEIRO, Andre Luis. Temas de arbitragem. Rio de Janeiro: Renovar,

2010, p. 120-121.

40

que em síntese, deriva da renunciabilidade do exercício do direito de ação

relativamente a uma pretensão material dos direitos disponíveis.

3.3. Princípios norteadores da arbitragem

Quando se aborda a expressão “princípios norteadores da arbitragem”, logo

vem a ideia de conjunto de condutas explícitas ou implícitas, norteadoras do

instituto.

Para Celso Antonio Bandeira de Mello57, princípio é, por definição,

mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição

fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e

servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente porque

define a lógica e racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe

dá sentido harmônico.

E é na própria Lei de Arbitragem nacional que vemos diversos princípios

jurídicos inseridos e que alicerçam o instituto em nível nacional, devendo ser

seguidos, caso contrário, afastariam o seu propósito.

Na Lei de Arbitragem, bem como em sua doutrina, os expoentes da

arbitragem seriam: a autonomia da vontade das partes, da boa-fé, da imparcialidade

do árbitro, do contraditório e igualdade das partes, da livre convicção do árbitro, da

obrigatoriedade da convenção, do devido processo legal e da Kompetenz-

Kompetenz.

Sobre a autonomia da vontade da parte, pode-se dizer que constitui a própria

essência dela, visto que o instituto baseia-se essencialmente nessa premissa.

A par do princípio, Giovanni Nanni refere que

a autonomia privada está ligada à capacidade negocial, pois é a possibilidade de o autor regrar-se, reconhecida pelo direito, criando normas individuais dentro de sua capacidade [...] não se fala mais na vontade ilimitada do indivíduo para firmar um negócio, mas na relação da vontade privada que encontra espaço ou autonomia no ordenamento jurídico com a vontade de outrem para firmar-se uma relação jurídica obrigacional. Não prevalece mais a vontade interna do sujeito, mas a vontade observada externa e objetivamente, diante

57

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Eficácia das normas constitucionais sobre justiça social, RDP, v. 57/58, p. 247, 1981.

41

do ordenamento jurídico, em consonância à autonomia da vontade

para a autonomia privada58

.

O entendimento, do que se observa, baseia-se na visão moderna e de acordo

com a nova redação do instituto em nosso diploma civil, em detrimento daquele

antes centrado no individualismo que se registrava na redação anterior.

E, assim, o princípio da autonomia da vontade respalda-se na voluntariedade,

calcada na liberdade de escolha adstrita às partes para submeterem a lide à justiça

arbitral, como refere, inclusive, Renan Lotufo59, atribuindo à autonomia privada

caráter potestativo.

Portanto, nesses dizeres, a autonomia da vontade das partes, em sede de

arbitragem, fica limitada a que atendam aos critérios da arbitrabilidade objetiva e

subjetiva determinados pela lei.

A par do princípio do contraditório, de se destacar que, como elemento

constitucional fundamental, não poderia ser relegado em sede de arbitragem, visto

que tem o condão de equilibrar o procedimento e sua dinâmica.

A questão importa na obviedade; afinal, é preciso antes de qualquer coisa

oportunizar a manifestação das razões de cada uma das partes envolvidas para que

se possa decidir a questão controvertida.

Em verdade, o princípio do contraditório equivale ao da igualdade das partes,

uma vez que por meio do contraditório oportuniza-se a outra parte, vale dizer, são

dadas a elas as mesmas oportunidades para se manifestarem no procedimento

arbitral, ficando ambos os princípios associados de certa forma.

A igualdade das partes, por sua via, é princípio que encontra respaldo nas

regras do processo civil, quando trata da paridade de tratamento60.

Consiste, por sua vez, em respaldar as partes equidade de tratamento

perante o direito e os bens em tutela.

No que pertine ao princípio da boa-fé, contemplado expressamente no Código

Civil, pode-se dizer que é a essência da arbitragem e deve estar presente em todos

os momentos do procedimento, e tal qual menciona Maria Helena Diniz61:

58

NANNI, Giovanni Ettore. A evolução do direito civil obrigacional: a concepção do direito constitucional e a transição da autonomia da vontade privada. In: LOTUFO, Renan (Coord.). Cadernos de autonomia privada. Curitiba: Juruá, 2001, Caderno 2, p. 169-172. 59

LOTUFO, Renan. Questões relativas à clausula penal contratual. Revista do Advogado. São Paulo, ano 32, n. 116, p. 161-167, jul. 2012. 60

Art. 125, I do Código de Processo Civil.

42

[...] o sentido literal da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida da declaração de vontade das partes – mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, honestidade, honradez, denodo e confiança recíprocas, isto é, proceder com boa-fé, esclarecendo fatos e o conteúdo das cláusulas, procurando o equilíbrio nas prestações, evitando o enriquecimento indevido, não divulgando informações sigilosas etc.

Sem dúvida, a boa-fé seria substancial à própria eficácia e validade do

instituto, dele não podendo ser afastada dentro da ideia do que a arbitragem se

propõe.

O princípio da boa-fé, em termos de Lei de Arbitragem, decorre também da

obrigação contratual assumida entre as partes de solver a questão controvertida

apresentada no curso pactual por arbitragem. Não pode uma das partes, após ter

firmado o contrato e eleito a arbitragem, deixar de honrar o compromisso assumido

nesse sentido, caso contrário, não se pode dizer que estivesse agindo de boa-fé.

Quanto ao norteador da imparcialidade do árbitro, de destacar que não difere

das regras do processo em geral e sua imparcialidade constitui uma garantia às

partes, que poderão arguir questões prejudiciais, como suspeição e impedimento,

tendo este apenas interesse na solução da controvérsia.

Ainda sobre o princípio da imparcialidade do árbitro, constitui, em verdade,

um pressuposto à instauração válida do procedimento arbitral, garantindo um

julgamento válido e ético.

Ressalto nesse particular que, seja por ocasião de disposição legal ou por

previsão regulamentar de instituições arbitrais, os árbitros têm o dever de revelar

qualquer fato que implique dúvida quanto à sua independência e imparcialidade,

pena de corromper a eficácia do seu julgado.

Ao árbitro, e por força de disposição legal da própria Lei de Arbitragem,

cuidou o legislador de respaldar suas decisões no princípio do livre convencimento,

que significa a liberdade, limitada as regras jurídicas, do entendimento livre do

terceiro que irá julgar o caso em arbitragem, e desde que tenha suporte em fatos

aos quais se funda o conflito e suas provas.

Com respaldo nesse princípio, portanto, ao árbitro é permitido o poder de

formar sua livre convicção quanto aquilo que lhe é submetido à analise e decisão no

61

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006, v. 1, p. 86.

43

procedimento arbitral, apreciando com liberdade de entendimento as provas

produzidas, os argumentos trazidos pelas partes relativos aos fatos, e tudo o que se

some para firmar a sua convicção a respeito da lide.

Nesse sentido, assim como o juiz, o árbitro formará seu convencimento e por

meio da sentença arbitral decidirá a questão posta, fundamentando-a, naturalmente,

inclusive em casos em que autorizado a julgar por equidade.

No que pertine à obrigatoriedade da convenção arbitral, como princípio

norteador da arbitragem, além de constituir, em tese, um apêndice ao princípio antes

abordado, da boa-fé, e que não se pode dissociar, convém mencionar que tal

norteadora consiste na independência, conferida pela própria lei, da cláusula

compromissória em relação às demais estipulações previstas no contrato, de modo

que a nulidade de um contrato não seja alegação para que se sublime ou afaste a

utilização da arbitragem para solver a questão controvertida apresentada e

decorrente dos limites impressos no clausulado.

Ainda, como princípio norteador da arbitragem, podemos mencionar a

garantia do devido processo legal e da Kompetenz-Kompetenz.

Quanto a este último, resulta na premissa de que os árbitros têm competência

para dizer da sua própria competência, apreciando, de oficio ou a requerimento das

partes, o seu âmbito de atuação, inclusive no que diz respeito às exceções relativas

à existência e validade do acordo de arbitragem, conforme preleciona Fernanda

Levy62.

E de Cahali obtém-se ainda que essa regra é fundamento do instituto, ao

passo que, se coubesse ao Judiciário a análise da competência do árbitro, em

primeiro plano, estaríamos possibilitando o intuito protelatório de alguma das partes,

que submeteria a questão ao moroso Judiciário, ou mesmo postergado o

seguimento do procedimento arbitral, o que não é compatível ao instituto63.

Norteada pelo princípio do devido processo legal, que se insere

hierarquicamente em nossa Constituição Federal (art. 5º, LIV e LV), e do qual não se

pode afastar, a arbitragem dá provisão deste, quando na Lei n. 9.307/96, em seu art.

21, determina que:

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às

62

LEVY, Fernanda. Op. cit., p. 72. 63

CAHALI, Francisco José. Op cit., 2013, p. 114-115.

44

regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento.

O dispositivo legal aponta, sem dúvidas, que a observância do princípio

norteador do devido processo legal, em sede de arbitragem, respalda-se no

cumprimento das formalidades e exigências previstas, quer por construção

regulamentar pelas partes, quer por instituídas institucionalmente, o que assegurara

a segurança jurídica, devendo as partes estrita observância desses normativos.

Nelson Nery Junior64, ao abordar o princípio constitucional mencionado,

ensina que o devido processo legal é o princípio fundamental do processo civil,

servindo de base de sustentação a todos os demais princípios. E resume seu

conteúdo na "possibilidade efetiva de a parte ter acesso à justiça, deduzindo

pretensão e defendendo-se do modo mais amplo possível [...]".

O procedimento arbitral, portanto, deverá nortear-se pelos princípios vistos,

tecidos pela própria Lei de Arbitragem, ainda que sua operacionabilidade seja

disposta pelas partes, ou regulamentadas por instituições arbitrais, suporte no

princípio da autonomia da vontade e suas limitações legais. E, sendo tal lei

composta de elementos basilares, vão conferir eficácia e validade aos atos

praticados em seu âmbito, para que se dê a solução de conflitos.

3.4. Arbitrabilidade

A dinâmica do direito enseja uma infinidade de pretensões resistidas, as quais

podem e devem ser objeto de solução não estatal, por via de procedimento arbitral,

como recomendam tratados, convenções, protocolos e legislações mundiais

(nacionais ou internacionais), de modo a bem acompanhar a velocidade das

relações que se estabelecem na contemporaneidade.

Não obstante, nem todas as pessoas e nem todas as matérias são passíveis

de se submeterem a arbitragem e, nesse tom, refere Beat Walter Rechsteiner65:

“uma lide deve ser suscetível à arbitragem, ou seja, capaz de ser objeto de um

64

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1996, p. 72. 65

RECHSTEINER, Beat Walter. Arbitragem privada internacional no Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 51.

45

procedimento arbitral. Eis o requisito básico para a validade de uma convenção de

arbitragem”.

Espelha-se, portanto, que não basta se convencione a utilização da

arbitragem – muito mais do que isso, impera que se observe se o objeto do conflito é

arbitrável, como leciona Francisco José Cahali, sendo essa condição essencial na

condição de “filtro dos litígios” que poderão ser submetidos ao instituto66.

Nessa linha, no Brasil, os direitos pessoais ficam excluídos da possibilidade

de solução de controvérsias pelo instituto, bem como da utilização do instituto por

pessoas incapazes.

A análise, portanto, da arbitrabilidade é tema de considerável importância,

pois dimensionará a condição de objeto arbitrável e seu alcance, questões

determinantes da aplicação do instituto ao caso.

Cláudio Finkelstein67 aborda a arbitrabilidade como sendo “uma condição

distinta e mais ampla do que a questão de validade do pacto arbitral”.

Para efeitos de análise, podemos dividir a arbitrabilidade em subjetiva e

objetiva, pois a primeira se refere a questões ligadas à capacidade para se poder

submeter à arbitragem e a segunda ao objeto da matéria a ser submetida à

arbitragem, limitando às questões referentes a direitos patrimoniais disponíveis68.

Para a viabilidade processual, mister o preenchimento de alguns elementos

basilares, para que se dê em sua plenitude a instauração do juízo arbitral.

Assim, para que se utilize a arbitragem, em princípio existem três questões

nucleares para efeitos de sua admissibilidade: a capacidade das partes, a

disponibilidade do direito, além da manifestação de vontade delas.

De acordo com o art. 1º da Lei de Arbitragem nacional: “As pessoas capazes

de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos

patrimoniais disponíveis”.

Em primeiro lugar, observa-se que uma dessas condições de admissibilidade

do juízo arbitral brasileiro segue princípio de direito e diz respeito à capacidade das

partes.

66

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 101.

67 FINKELSTEIN, Cláudio. A questão da arbitrabilidade. Revista Brasileira de Arbitragem, n. 13, p. 24,

jan./fev./mar. 2007. 68

O art. 1º da Lei de Arbitragem brasileira sinaliza a questão da arbitrabilidade subjetiva, ou seja, dimensiona a abrangência da pessoa passível de contratar a cláusula compromissória arbitral, em detrimento ao Judiciário.

46

É que, como antes já visto, se a exigência basilar para a opção, pelas partes,

da jurisdição privada em detrimento da estatal descreve a formalização por meio de

um acordo de vontades, consequentemente, tal vontade deve ser expressa por

pessoas capazes para a prática dos atos da vida civil.

Assim, para que seja válida a convenção arbitral, é preciso que a capacidade

de estar no juízo arbitral se configure dentro dos parâmetros exigidos pelo direito

material.

Se a exigência quanto à formalização dessa expressão da vontade das partes

deve dar-se por pessoas capazes legalmente para tanto, e desde que no universo

dos direitos disponíveis, a convenção de arbitragem é em si o elemento de

admissibilidade do juízo arbitral.

Nesse diapasão, exigência legal inafastável da admissibilidade à instituição

arbitral é a questão relativa à capacidade das partes, o que não se confunde com

legitimidade processual, sendo esta atrelada às condições da ação e não ao

exercício da tutela arbitral em si.

Trazemos, por oportuno, à baila questão que pode ser facilmente confundida

nessa seara: a capacidade ao exercício do direito e a sua titularidade retratada por

Francisco José Cahali69 e aqui colacionada:

[...] Mas a titularidade do direito difere de seu exercício. Para o exercício dos direitos, a lei estabelece restrições, em razão da idade, da falta de discernimento por problemas mentais ou vícios, e ainda da prodigalidade, conforme previsão nos arts. 3º e 4º do CC/2002. Nessa hipótese de incapacidade relativa ou absoluta, o exercício do direito estará condicionado à assistência ou representação, conforme o caso, dos pais, tutores e curadores [...]

Destarte, em casos tais há de se observar que a arbitrabilidade, embora

fosse, em tese, preservada pela capacidade de convencionar, ainda que os

incapazes possam contratar quer assistidos, quer representados, há de se perquirir,

ainda, se os direitos em questão seriam disponíveis, surgindo às vezes o óbice à

utilização da arbitragem, como alerta Francisco José Cahali70, “em razão da

necessária participação do Ministério Público no processo”, a teor do art. 82, I, do

Código de Processo Civil, o que em sede de arbitragem não se coaduna.

69

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 101-102. 70

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 102.

47

Diante disso, e no que se refere à arbitrabilidade objetiva, devemos observar

a possibilidade de essas pessoas capazes disporem de seus direitos, os quais

submetem à arbitragem.

É que a arbitragem tem como âmbito de atuação dissolver questões

controvertidas relativas aos direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, excluídas

questões de ordem familiar, de estado de pessoas, de ordem fiscal, tributária, de

falência, de concordata ou de coisas que estão fora do comércio ou determinem a

participação do Ministério Público.

Nessa rubrica, a exigência é da patrimonialidade e da disponibilidade desse

direito – ausente um ou outro elemento, sob o ponto de vista da arbitrabilidade

objetiva, ficaria prejudicada a utilização da arbitragem.

Questão que igualmente merece atenção neste trabalho diz respeito à

arbitrabilidade em relações empresariais.

Em se tratando de direito empresarial, uma vez caracterizada a convenção de

arbitragem em seus moldes legais, não há que inadmitir a utilização do instituto.

Por fim, observados os elementos acima, a eles soma-se a possibilidade das

partes de convencionarem a arbitragem, de forma expressa como exige a lei, e,

assim, estariam reunidos os componentes de admissibilidade do juízo arbitral.

3.5. Espécies de arbitragem – ad hoc e institucional

Em que pesem as regras de arbitragem serem fixadas pelas partes, pelos

órgãos arbitrais e pelos árbitros, soante disposição legal, existem duas formas de

procedimento arbitral que se podem adotar no Brasil, com vistas à lei nacional, à

arbitragem institucional ou ad hoc.

O art. 5º da Lei n. 9.307/96 inserido no Capítulo II – Da Convenção de

Arbitragem e seus efeitos – trata das espécies de arbitragem e estabelece que:

Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.

48

O procedimento arbitral, em si, admite que as regras procedimentais sejam

determinadas pelos participantes desde que se respeitem as normas gerais

previstas na Lei de Arbitragem.

Tanto a origem, quanto os requisitos, princípios, características e atribuições

dos árbitros para julgar o conflito não diferem em uma ou em outra espécie. O que

difere entre as espécies é a forma de condução da arbitragem71.

O art. 21, § 1º, da Lei de Arbitragem brasileira enuncia que: “Não havendo

estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal arbitral

discipliná-lo”.

Observa-se daí que o suprimento de lacunas do procedimento e a definição

deste é competência dos árbitros, nos casos em que não exista qualquer disposição

sobre o procedimento, notadamente em arbitragens, que se denomina ad hoc,

também conhecida como arbitragem “avulsa”, isto é, eleita especificamente para

aquele caso determinado.

Nessa situação específica é feita a nomeação de árbitros particulares, não

pertencentes a uma instituição, e as próprias partes estabelecem regras

procedimentais a serem seguidas ou delegam essa tarefa aos árbitros eleitos. Nesse

caso as partes não optam pela administração do conflito por instituição arbitral.

No que pertine à arbitragem denominada na doutrina ad hoc, em que pese

nossa legislação não fazer expressa referência ao termo, mas sabendo-se que a

expressão latina, uma vez traduzida, significa “para esta finalidade” ou “para isso”72,

fica evidenciado na análise da Lei de Arbitragem o sentido e alcance da leitura do

art. 5º.

Nas arbitragens ad hoc, a estipulação da forma e dos valores de honorários é

livre, igualmente, mesmo porque o ad hoc constitui figura exclusiva que irá

administrar o procedimento, bem como exercer a jurisdição.

Obviamente, poderá o árbitro, na arbitragem ad hoc, estabelecer as regras do

procedimento arbitral, desde que, admitido pelas partes, observe aquilo tudo quanto

estipularam na convenção da arbitral, nos termos do que preconiza a Lei de

Arbitragem em seus arts. 5º, 11 e 21.

71

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p.111. 72

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ad_hoc>. Acesso em: 12 mar. 2014.

49

A ideia da utilização da arbitragem ad hoc, segundo Cahali73, dentre outras,

condiz com a provável redução de custos, mas, para que se dê com a eficácia

esperada, é conveniente que a eleição do árbitro ou árbitros, já que a arbitragem ad

hoc admite também a figura do colegiado arbitral, que os profissionais eleitos pelas

partes para tal atribuição sejam aqueles de suas respectivas confiança, reunindo

características de aptidão e experiência.

Existem algumas desvantagens na arbitragem ad hoc, em vista da ausência

de eleição de órgão especializado na administração de conflitos, já que as partes

terão de prever na convenção de arbitragem todo o procedimento arbitral ou delegar

essa função aos árbitros, e ainda deverão estipular questões como custas, árbitros

suplentes, entre outras.

Nessa espécie de arbitragem, as regras são determinadas pelas partes ou

pelos árbitros para determinado objeto arbitral, o que exige, obviamente, uma maior

sintonia entre as partes que dela façam uso, tendo em vista que ditarão as regras

aplicáveis e, com mais rigor, a elas se submeterão, pena de eivar de nulidade a

própria decisão arbitral caso não seguidas a contendo74.

Os árbitros eleitos são igualmente independentes, mas desvinculados de

qualquer instituição, sendo responsáveis pela administração do procedimento

arbitral, além das outras funções que lhe são inerentes.

Nesse particular, Beat Walter Rechsteiner75 aduz que:

[...] A liberdade de decisão, aqui, costuma ser ampla, tão só restrita por normas cogentes ou imperativas, relacionadas ao procedimento arbitral, advindos do ordenamento jurídico do país em que tem sede o tribunal arbitral. A fim de facilitar a arbitragem, as partes devem enunciar com precisão o número, a forma de escolha e nomeação, o critério para a eventual substituição dos árbitros [...]

Por outro lado, podem as partes, ao firmarem uma convenção de arbitragem,

optar pela indicação de uma instituição arbitral, que cuidará da administração de

todo o procedimento de acordo com seu regulamento interno, o qual trará regras de

procedimento respeitando os princípios estabelecidos na Lei de Arbitragem.

73

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p.115-116. 74

E não se trata de anulabilidade, visto que a própria Lei de Arbitragem brasileira identifica, em seu art. 32, a nulidade da decisão arbitral, contida em numerus clausus no referido dispositivo, cuja análise gramatical, porquanto emerge da lei citada, não nos permite, em tese, afastar. 75

RECHSTEINER, Beat Walter. Op. cit., p. 20.

50

Já a arbitragem institucional pode ser definida como aquela cuja

administração procedimental é incumbência de uma instituição arbitral, que possui

regulamento próprio, a qual as partes elegem como regras procedimentais.

Como o próprio nome sugere, a arbitragem institucional utiliza uma plataforma

de anuência, pelas partes, às regras preestabelecidas por uma instituição arbitral,

responsável pela administração do procedimento.

Tais regras, por sua vez, já são existentes, visto que integram os normativos e

regulamentos da instituição, e devem ter sido analisadas e escolhidas pelas partes

na época da elaboração da convenção arbitral, embora a lei assim não exija, mas

parte-se da premissa de que, para anuir a determinada forma procedimental, mister

que dela se conheça, ou corre-se o risco derivado da omissão da parte, nesse

sentido, em aceitar aquilo a que, embora não conhecesse mas lhe fosse

oportunizado conhecer, submeteu-se.

A administração do procedimento, que é feita pela instituição nos moldes de

seu regulamento interno, bem como o zelo legal são tarefas da instituição eleita

pelas partes, a fim de garantir que a sentença arbitral tenha todos os requisitos

necessários para ser executada e que o procedimento arbitral em si não tenha vícios

passíveis de serem suscitados eivados de nulidade.

Do que se espelha, na dicção da lei, as expressões “entidade especializada”

ou “órgão arbitral institucional” nada mais são senão organizações privadas, com ou

sem fins lucrativos, cujo objeto social é voltado à atividade de administração

procedimental arbitral.

Na realidade, não importa qual a sua denominação – instituto, câmara ou

centro – , pois a atividade a ser desenvolvida será aquela voltada apenas à

administração e jamais o julgamento do conflito.

Nessa linha, uma vez constituída e registrada na forma da lei de registro

público, a instituição arbitral surge como pessoa jurídica de direito privado, visto que

não há qualquer disposição legislativa específica sobre a atuação dessas

instituições ou mesmo da atividade de árbitro, além daquelas previstas na Lei n.

9.307/96.

Importante trazer à baila, nessa rubrica, uma questão relevante: uma vez que

a Lei de Arbitragem não desceu a minúcias, em relação à formação dos órgãos

institucionais arbitrais questiona-se, nesse âmbito, se entidades autônomas,

constituídas a partir de associações, entidades de classe, órgãos de

51

representatividade profissional ou econômica poderiam, dentre outras atividades,

projetar-se como órgãos arbitrais institucionais, criando câmaras de mediação,

conciliação e arbitragem, ainda que por meio de uma nova pessoa jurídica, mas no

corpo da própria entidade ou em seus domínios administrativos.

Preocupa e de certa forma exige redobrada atenção esse mister.

É que fica muito evidente que a origem da associação ou entidade em cena

representa determinada categoria ou interesses de um grupo específico, ao exercer

atividade de administração procedimental em arbitragens, sem que se verifique um

vício de origem relativo à administração e deliberação do procedimento arbitral, o

que poderia por si só sublimar os princípios da imparcialidade e isenção inerentes ao

instituto da arbitragem.

E, não obstante o fato de que a entidade arbitral não exercerá, por si, o poder

de dizer o direito, senão o árbitro eleito, nomeado e aceito pelas partes, afeto, por

sua via, aos termos do que dispõe o art. 18 da Lei de Arbitragem76, não demais

lembrar que, ainda assim, a própria condução dessa administração arbitral por

instituição com algum tipo de vínculo profissional ou comercial ou econômico entre

as partes ou entre uma das partes poderá parecer em análise superficial que

atingiria frontalmente princípios basilares da arbitragem.

É que, em que pese ser a instituição arbitral mera administradora dos

procedimentos arbitrais que lhe são confiados, e, assim, não exercer poder

jurisdicional, atua diretamente nas questões administrativas procedimentais que lhe

são confiadas.

Nesse particular, não demais lembrar que a uma as regras procedimentais

dela emanam; a duas, de alguma forma se verificaria um vínculo da instituição que

teria, inclusive, o poder regimental de indicar árbitros, caso a possibilidade estivesse

assente em seu regimento interno, o que pesaria desconfortável na relação.

Em se tratando de arbitragens institucionais, existem regras predefinidas

pelas câmaras arbitrais, as quais dispõem sobre as normas e os procedimentos da

arbitragem, as tabelas de custas, as taxas de administração e os valores dos

honorários arbitrais, que podem ser cobrados por hora de trabalho do árbitro ou

como um percentual sobre o montante total envolvido na disputa.

76

Art.18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.

52

Todavia, em pensamento mais alinhado aos princípios adotados pela

arbitragem, não há risco que se possa atribuir ao rompimento à imparcialidade

dessas instituições por estarem vinculadas a determinados setores.

É que, à medida que as partes têm a opção de escolher os árbitros que

atuarão no caso concreto, estes devem respeitar o dever da imparcialidade e da

idoneidade, pena de terem suas decisões questionadas ou invalidadas.

Outro fato importante de se destacar é que as partes, ao elegerem uma

instituição para administrar o procedimento arbitral, fazem-no em comunhão de

vontades.

Portanto, as câmaras arbitrais, mesmo que vinculadas a entidades de classe

ou a determinados setores da sociedade, certamente atuantes no segmento,

possuem independência e regulamento próprio.

Na realidade, inegável que, em se tratando de órgão arbitral vinculado a

entidades de classe ou categorias especializadas, certamente a prestação da

arbitragem será igualmente mais direcionada, podendo servir como ponto referencial

à excelência de tal prestação.

53

4. CONVENÇÃO ARBITRAL

Da leitura da Lei de Arbitragem e de seus dispositivos nota-se que o

legislador tratou de forma conjunta da cláusula compromissória e do compromisso

arbitral, ambos espécies do gênero convenção de arbitragem.

O art. 3º da lei em comento estabelece que:

As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

Do que se vê, prevê a lei que as partes podem estipular que a solução de

eventual conflito seja dirimido por meio da arbitragem. Daí, fundamentalmente,

concorrerá a vontade dessas partes, que deverão, através de uma cláusula

compromissória ou compromisso arbitral, optar por esse meio extrajudicial de

composição.

A diferença basilar entre a cláusula e o compromisso arbitral é que, na

primeira, integra um contrato ou adendo a ele, em que as partes preveem a

utilização do instituto antes que ocorra um conflito; e no caso da segunda, ou seja,

de não terem as partes previsto, mediante cláusula compromissória, tal eleição, só

poderão dirimir seus litígios por meio da arbitragem, firmando, uma vez instalado o

conflito, um documento que se denomina compromisso arbitral.

Em qualquer caso, não obstante a forma com que instituam a arbitragem, esta

deverá ser sempre em comum acordo, livre e voluntariamente.

O legislador deu idêntico peso ao compromisso arbitral e à cláusula

compromissória, para fins de afastar-se a jurisdição estatal e trazer à jurisdição

privada a apreciação do conflito.

Nesse esteio, independentemente de em qual forma a convenção de

arbitragem foi firmada pelas partes dentre as que a lei autoriza, a verdade é que,

uma vez instituída entre estas, obriga-as e afasta o juiz, transferindo ao árbitro a

competência para julgamento de um conflito.

O caráter contratual da arbitragem exige a assinatura de convenção de

arbitragem, para que a declaração de manifestação de vontade das partes

envolvidas possa ser verificada.

54

É que, pautada no princípio da autonomia da vontade das partes, a

arbitragem prescinde de manifestação expressa da vontade dos envolvidos.

Para Carlos Alberto Carmona77:

A convenção arbitral, que produz efeitos contundentes, tem como contrapartida que demonstrar cabal, clara e inequívoca vontade dos contratantes de entregar a solução do litígio (atual ou futuro, não importa) à solução dos árbitros. O efeito severo de afastar a jurisdição do estado não pode ser deduzido, imaginado, intuído ou estendido. O consentimento dos interessados é essencial.

O legislador pátrio preocupou-se, obviamente, em proteger a vontade das

partes plasmada em documento que afasta a jurisdição estatal e avoca a jurisdição

privada.

Do que se percebe, o consentimento para arbitrar vai muito além da simples

aposição de assinatura pelas partes em documento que convencione a arbitragem:

em verdade, a vontade das partes, a sua conduta e a manifestação livre e clara

dessa vontade é que determinam a validade da eleição.

E, dentre os efeitos da convenção de arbitragem, pode-se notar que não

caberá ao juízo estatal, em primeiro plano, firmar considerações e decisões sobre a

existência, validade ou eficácia da convenção arbitral, uma vez que a própria

arbitragem tem como princípio legal conhecer de sua própria competência, poder

este que é legalmente conferido ao árbitro.

Observe-se a Lei de Arbitragem nacional:

Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória. Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Ainda, na mesma lei:

Art. 20. A parte que pretender arguir questões relativas à competência, suspeição ou impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem.

77

CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 83.

55

§ 1º Acolhida a arguição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos termos do art. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa.

Portanto, em segundo plano, caberá ao Judiciário solver eventual impasse

relativo à convenção arbitral.

No Brasil, conforme frisa Carlos Alberto Carmona78, no procedimento arbitral

brasileiro a competência não é exclusivamente do árbitro, para todo e qualquer

impasse relativo à convenção arbitral ou mesmo resultado da arbitragem, destarte a

esteira enunciada pelo art. 7º da Lei de Arbitragem.

Tal solução não é utilizada apenas no Brasil, mas também na França,

Inglaterra e Estados Unidos79.

Desta feita, se uma das partes ajuíza ação no Judiciário cujo objeto em lide

derive daquilo que haviam convencionado submeter à arbitragem e o autor assim o

faça e o réu não alegue em preliminar a existência dessa convenção, a ação

prosseguirá na esfera judiciária porquanto não compete ao juiz estatal conhecer de

oficio da eleição em cena e, nesse particular, fica certo que as partes renunciaram

àquela eleição – pois já vimos previamente que a convenção de arbitragem em

verdade firma-se em sua análise, precipuamente, através do elemento “vontade das

partes” em submeter-se a ela.

Ao se convencionar a arbitragem, deve-se ter presente que ela será

autônoma perante a relação jurídica à qual se vincula, implicando, inclusive, a que a

nulidade desta não conduzirá à nulidade da convenção.

Uma vez constituída entre as partes, fica certo que renunciaram a jurisdição

estatal ao deslinde de questão controvertida, afastando o Judiciário de intervir no

mérito da demanda.

Dada a regra geral, mister análise, ainda que sumária, do compromisso

arbitral e da cláusula compromissória arbitral.

78

CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 176. 79

BORN, Gary. Internacional commercial arbitration. Boston: Kluwer Law International, 2009, v. 1, p. 854.

56

4.1. Compromisso arbitral

O compromisso arbitral é um termo firmado entre as partes quando o conflito

já existe, manifestando sua concordância em submetê-lo à arbitragem, podendo ser

judicial ou extrajudicial.

Poderá ser feito em juízo ou fora dele. O compromisso judicial é válido para

aqueles processos que já tramitam no Poder Judiciário, que ainda não tiveram

sentença e cuja matéria verse sobre direito disponível, sendo celebrado por termo

nos autos perante o juízo em que tramita a demanda.

Por outro lado, o extrajudicial é celebrado por instrumento particular, assinado

por duas testemunhas, ou por instrumento público, fora do Poder Judiciário.

Na Lei de Arbitragem o compromisso arbitral vem definido no art. 9º80. No

entanto, este estudo, ocupando-se da análise das arbitragens eleitas por meio de

cláusulas compromissórias institucionais inseridas nos contratos de franquia, não

ampliará a matéria quanto ao compromisso arbitral, ficando, portanto, assim, apenas

entoadas suas nuanças.

Não nos aprofundaremos no tema do compromisso arbitral, visto que este

trabalho coaduna-se à cláusula compromissória institucional.

4.2. Cláusula compromissória

Ao contrário do compromisso arbitral, a cláusula compromissória é inserida

em contrato ou em termo apartado antes de surgido o conflito, o que faz com que

seja chamada de preventiva, ou seja, será utilizada apenas se daquele contrato

surgir alguma controvérsia, caso contrário não terá utilidade.

A definição de cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei de

Arbitragem: “A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em

um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a

80

“Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.

§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.”

57

surgir, relativamente a tal contrato".

Segundo Selma Lemes81:

A cláusula compromissória, ou cláusula arbitral é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se em submeter à arbitragem os litígios que dele decorrerem. Não existe ainda a controvérsia, mas surgindo, no futuro, será submetida à arbitragem (art. 4º).

Quando surgem os conflitos, os ânimos dos contratantes já estão bastante

alterados, fazendo com que qualquer questão anexa seja motivo para novos

conflitos.

Surte daí a importância da análise da cláusula compromissória para que, na

eminência de um conflito, esteja apta a dar início ao procedimento arbitral da forma

convencionada, evitando-se, assim, qualquer procedimento judicial nesse sentido.

Segundo José Emilio Nunes Pinto:

Não resta a menor dúvida de que será sempre mais fácil para as partes acordarem quanto à forma de instituição da arbitragem e de seu processamento quando da negociação do instrumento contratual que regule as suas relações. Surgida a controvérsia, as circunstâncias em que a mesma venha a surgir podem servir de empecilho para que se chegue ao consenso que, no limite, obrigariam as partes a recorrer ao Judiciário, com flagrante desvantagem para a continuidade de suas relações e celeridade na

solução pretendida82

.

Isso porque, no momento em que é inserida a cláusula compromissória em

um contrato, o conflito é potencial e, portanto, sua aplicabilidade surgirá com os

conflitos instados, o que não acontece com o compromisso arbitral, já que neste as

partes fazem opção pela solução arbitral após o surgimento do conflito, estando

todas as questões então trazidas já resolvidas.

É importante lembrar que o § 1º do art. 4º da Lei de Arbitragem define que

citada cláusula pode estar inserida no bojo do mesmo contrato ou em documento à

parte. Portanto, o compromisso de contratar a arbitragem pode, todavia, ser anterior,

simultâneo ou posterior ao contrato principal.

81

LEMES, Selma Maria Ferreira. Arbitragem em propriedade intelectual. Disponível em: <http://www.selmalemes.com.br/artigos/artigo_juri34.pdf>. Acesso em: 9 dez. 2012. 82

Pinto, José Emilio Nunes. As vantagens da cláusula compromissória clara e precisa para a condução da arbitragem. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link= revista_artigos_leitura&artigo_id=3978>. Acesso em: 10 mar. 2014.

58

É mister fazer referência a uma das principais características da cláusula

compromissória, a sua autonomia, ou seja, ela é autônoma em relação ao contrato

em que estiver inserta, de tal forma que a nulidade deste não implica, fatalmente, a

própria nulidade da cláusula compromissória.

Exigência legal é de que seja estipulada por escrito, com vistas justamente

em afastar qualquer dúvida relativamente à vontade das partes em instituí-la.

O Brasil adotou sistemática que permite a instituição do juízo arbitral com a

contratação de cláusula compromissória arbitral, não havendo a necessidade de

compromisso arbitral. Importante esclarecer que para o procedimento arbitral é

indispensável que a cláusula arbitral tenha sido estabelecida como cláusula cheia,

podendo ser institucional ou ad hoc.

É possível a eleição da arbitragem através de cláusula compromissória vazia,

todavia não é uma condição ideal, uma vez que normalmente tais problemas de

construção clausular são vistos no momento em que as partes utilizam-se (ou

pretendem utilizar-se) dela – e obviamente não seria um momento favorável para

sua reconstrução sob forma de cláusula cheia e perfeita, dadas as condições

desfavoráveis do momento.

Para Francisco José Cahali83:

Firmar compromisso, por certo, não é imprescindível à instituição da arbitragem, porém, este foi o meio pelo qual encontrou a lei para, diante da cláusula vazia, sistematizar as providências tendentes a efetivar submissão do conflito ao juízo arbitral.

Em verdade, ao celebrarem a cláusula compromissória, outro não seria o

intuito das partes senão, em agindo em colaboração, criarem um mecanismo que

possam aplicar para solverem de suas controvérsias futuras e nos limites daquilo

que convencionaram.

Sendo assim, indubitável que se alinham as partes, para a conclusão da

cláusula, na direção da boa-fé, com identidade de propósitos nesse sentido, e em

referencial posto pela Lei de Arbitragem, como no Código Civil brasileiro,

notadamente no art. 422, quando trata da execução dos contratos.

Diante dessas considerações, importante ponderar que as cláusulas

compromissórias podem conter todos os elementos legais que identifiquem, com

segurança, as regras as quais se submetem as partes ao instituírem-na, o que, sem

83

CAHALI. Francisco José. Op. cit., 2011, p. 116.

59

maiores embargos, torna imediata a instauração da arbitragem, por provocação de

uma dessas partes, ou, em caso de existência de cláusula vazia e inexistindo acordo

entre elas quanto à forma de se instituir a arbitragem, será sempre necessário a

propositura da ação prevista no art. 7º da Lei n. 9.307/96.

E, muito embora ainda exista posicionamento contrário, segundo o qual é

necessária a existência de compromisso arbitral mesmo na presença de cláusula

arbitral cheia, a questão já é pacificada no Brasil84.

Nesse sentido Carlos Alberto Carmona85:

[...] a lei de arbitragem deixou absolutamente clara a sua intenção de dar por instituída a arbitragem tão logo o árbitro (ou os árbitros) aceite o encargo (art. 19), e tal aceitação pode ocorrer tanto por força da cláusula como do compromisso. Exigir cláusula e compromisso

parece-me, portanto, um verdadeiro bis in idem.

Assim sendo, com a cláusula cheia, a arbitragem poderá ter seu início sem a

intervenção do Poder Judiciário.

Registre-se que depois da Lei de Arbitragem a cláusula compromissória

deixou de ter caráter de pré-contrato e passou a ter efeitos próprios.

Nos termos do que estabelece o sistema arbitral brasileiro, não se admite

cláusula arbitral tácita, sendo sempre necessária e indispensável a manifestação de

vontade de forma expressa para que a arbitragem seja considerada válida.

É expressa a determinação constante do art. 4º da Lei de Arbitragem quando

estabelece no § 1º: “A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito,

podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se

refira”.

4.3. Tipos de cláusula compromissória

Quanto aos tipos de cláusula compromissória pode-se, para efeitos de bem

analisá-las, dividi-las em: cheias, vazias, patológicas ou escalonadas, combinadas

(ou fracionadas).

84

A posição contrária é defendida em sua maioria por processualistas como José Carlos Barbosa Moreira, Humberto Theodoro Júnior, Alexandre Freitas (CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 78). 85

CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 78.

60

Diz-se cláusula cheia aquela que “se constitui no padrão pretendido e que

permite a instauração de plano do procedimento arbitral”86.

A cláusula compromissória será cheia na medida em que for suficiente para

que se instaure o procedimento arbitral. Poderá em seu texto fazer menção à

arbitragem institucional ou ad hoc desde que verse sobre todos os pontos

indispensáveis para abertura do procedimento.

A cláusula cheia, por conter todos os requisitos que a lei determina mínimos

para a instituição da arbitragem eficaz, deve ser acordada contemplando o número

de árbitros (sempre ímpar); a sede da arbitragem; a lei aplicável; o idioma (previsão

normalmente quando houver partes estrangeiras); as regras para a arbitragem (se

reportar às regras de algum órgão arbitral institucional ou uma entidade

especializada ou mesmo delegar ao árbitro ou tribunal que regulem o procedimento);

os limites da arbitragem; a autorização ou não para o julgamento por equidade; a

responsabilidade pelo pagamento de honorários e despesas com a arbitragem.

Ainda assim o são, pois que redigidas com clareza suficiente a que as partes

signatárias evitem que a instituição dela, já de per si, estabeleça controvérsias.

Pode-se, além daquelas que a lei considera mínimas para a eficaz instituição

da arbitragem, descer a minúcias, como, por exemplo, indicar o nome do árbitro que

irá atuar quando ocorrida a questão controvertida.

Segundo José Emilio Nunes Pinto87,

[...] a cláusula compromissória bem redigida, com clareza e precisão do escopo e termos, há de agregar inúmeras vantagens a todo o procedimento arbitral, lembrando-se sempre de seu efeito vinculativo para as partes, seus sucessores e cessionários a qualquer título.

Sem dúvida, a forma segura de convencionar a cláusula arbitral cheia dá-se

mediante as regras de uma instituição arbitral, visto que as partes se vinculam ao

procedimento regimental da entidade eleita, reportando-se às cláusulas do

regulamento interno da instituição.

86

PINTO, José Emilio Nunes. Cláusulas arbitrais patológicas – esse mal tem cura. Disponível em: < .mundojuridico.adv.br cgi-bin upload texto82 .rtf >. Acesso em: 10 mar. 2013. 87

PINTO, José Emilio Nunes. As vantagens da cláusula compromissória clara e precisa para a condução da arbitragem. Disponível em: <http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em: 10 mar. 2014.

61

Destarte, a cláusula cheia por si só, é suficiente para que o árbitro assuma

sua função e dê início ao processo arbitral, sem que haja necessidade de qualquer

outra providência.

Por outro lado, na cláusula vazia, também denominada cláusula em branco,

não há condições de ser iniciado o procedimento arbitral, pois ausentes as

informações mínimas necessárias a tanto. Estas podem ser definidas como a

“versão em negativo das cláusulas cheias”88.

Assevera, nesse sentido, inclusive, Francisco José Cahali89, que tais

cláusulas, na própria acepção do termo, seriam aquelas em que a previsão de

arbitragem traz uma lacuna quanto à forma de instauração do procedimento arbitral,

que deverá ser suprida.

Nesses tipos de cláusula, por exemplo, não consta forma de nomeação de

árbitros, como se dará o chamamento da parte adversa para o início do

procedimento, forma de remuneração dos árbitros entre outros pontos

indispensáveis a possibilitar o início do procedimento. Em verdade, apenas

discorrem sobre a eleição de dirimir qualquer eventual problema resultante daquele

pacto pela arbitragem.

O cuidado com relação à inserção de cláusula, para que não se constitua

vazia, é de rigor, pois uma vez surgido o conflito a impossibilidade de instauração do

procedimento arbitral trará consequência às partes.

José Emilio Nunes Pinto90 assevera que:

[...] não sendo possível instaurar-se de plano a arbitragem, o desequilíbrio da equação é agravado. Desequilíbrio decorrente da controvérsia que é potencializado pela impossibilidade de se instaurar a arbitragem como pretendido.

Em assim ocorrendo, a questão pode ser dirimida pelas partes com a

confecção de um compromisso arbitral, que estabelecerá as normas a serem

utilizadas no procedimento.

88

PINTO, José Emilio Nunes. Cláusulas arbitrais patológicas – esse mal tem cura. Disponível em: .mundojuridico.adv.br cgi-bin upload texto82 .rtf . Acesso em: 10 mar. 1013. 89

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 126. 90

PINTO, José Emilio Nunes. Cláusulas arbitrais patológicas – esse mal tem cura. Disponível em: .mundojuridico.adv.br . Acesso em: 10 mar. 2013.

62

Mas nem sempre no momento em que se instala um conflito as partes

preservam a mesma conexão inicial que tiveram ao firmarem o negócio a que se

atrela a cláusula arbitral.

Diante disso, surge um problema, que é a resistência de uma das partes em

assinar o termo, admitindo a lei, em casos tais, que, conforme o art. 7º da Lei

Arbitral, a parte proponha a ação perante o Poder Judiciário, para firmar ou não a

competência da arbitragem para julgar e processar aquela demanda ou mesmo por

disposição das partes, através de um termo de compromisso arbitral.

Diferentemente, se a cláusula vazia pode ser corrigida sem intervenção

estatal, a cláusula patológica não dá margem a essa possibilidade. É que a cláusula

patológica, porquanto seja aquela de conteúdo dúbio, incompleto ou impreciso,

sublimando em sua essência a real intenção das partes quando de sua origem

redacional, e, assim denominadas pois “padecem de um mal crônico que as

acometeu quando de sua criação”91.

Como exemplo de cláusula patológica, José Emilio Nunes Pinto92 sugere um

caso em que a cláusula prevê as regras da Câmara de Comércio Internacional de

Paris – CCI para serem aplicadas por uma instituição brasileira, pois tais regras

foram desenvolvidas para a estrutura daquela instituição e, portanto, incompatíveis

com a estrutura das instituições brasileiras.

Consequentemente, a inviabilidade da utilização da cláusula patológica acaba

por derivando na impossibilidade de se instaurar a arbitragem ante a ausência de

consenso entre as partes a tal ponto que a parte somente conseguirá dar início ao

procedimento arbitral se contar com a boa vontade da outra ou socorrer-se do Poder

Judiciário, dados os elementos omissos da cláusula patológica.

Dessarte, uma cláusula pode ser considerada patológica quando não cumpre

ao menos quatro funções: não produz efeito obrigatório entre as partes; não dá aos

árbitros o poder de resolver o litígio, permite a intervenção da jurisdição estatal para

solver o conflito; não permite a organização do procedimento de modo que conduza

a uma sentença arbitral93.

91

PINTO, José Emilio Nunes. Cláusulas arbitrais patológicas – esse mal tem cura. Disponível em: <www.mundojuridico.adv.br . Acesso em: 10 mar. 2013 92

PINTO, José Emilio Nunes. Cláusulas arbitrais patológicas – esse mal tem cura. Disponível em: .mundojuridico.adv.br . Acesso em: 10 mar. 2013 93

DERAINS, Yves. El contrato de arbitraje: cláusulas compromissórias patológicas y conbinadas. Legis: Universidad del Rosario, 2005, p. 191.

63

É que a cláusula arbitral tem o intuito de possibilitar a instauração,

organização e desenvolvimento da arbitragem, agregando valores. Todavia, uma

vez confusa, ambígua, contraditória, dentre outros atributos do gênero que possam

retirar-lhe a eficácia para a utilização vinculativa da arbitragem, torna-se inoperante.

Pela cláusula arbitral patológica, pode-se afirmar, no mais das vezes, que, em

verdade, a intenção das partes foi efetivamente utilizar-se do instituto para

solucionar eventuais questões controvertidas previstas no instrumento firmado entre

elas, sem que se possa dimensionar, efetivamente, elemento substancial dessa via

eleita – e, em algumas situações, pode ser que a própria opção das partes à

utilização da arbitral, pesem dúvidas, como exemplifica Francisco Cahali94:

[...] indicação do regulamento de uma instituição, porém para ser administrada por entidade diversa, com regras contrárias àquelas previstas ou até mesmo para ser desenvolvida por árbitro único, impossibilitando a utilização de algumas previsões; [...] as partes elegem o foro da Comarca de São Paulo para as questões decorrentes de contrato a serem dirimidas por arbitragem judicial, ou, ainda, os conflitos serão resolvidos por arbitragem dos juizados especiais de pequenas causas.

Importa, em análise da validade da instituição arbitral em casos tais, que a

vontade das partes, quando nos deparamos com cláusulas vazias, esteja

suficientemente clara, o que preservaria um mínimo de eficácia na utilização do

instituto.

Caso contrário, recomenda Francisco José Cahali95 sejam invalidadas ou

interpretadas inexistentes sob ótica restritiva e de rigor extremo, sob pena de, uma

vez instado o conflito, ensejarem a exposição sentencial a invalidação final pelo

Judiciário.

Não obstante, caso a vontade das partes em utilizarem-se da arbitragem

esteja suficientemente cristalina, embora a cláusula esteja defeituosa, pode-se

instaurar procedimento arbitral, adaptando-se a vontade das partes e utilizando-se

dos princípios da cláusula arbitral antes vistos, de forma a preservar-se seu efeito.

A par da questão da vinculação da cláusula, quando ainda de inviável acesso,

será dirimida nos termos com que refere a Lei de Arbitragem, através de seu art. 7º,

em que a parte interessada busca, através do Judiciário, o compromisso arbitral da

parte adversa.

94

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 134. 95

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 135.

64

Quanto à cláusula escalonada, pode-se dizer daquelas em que se utiliza a

arbitragem híbrida, ou seja, estipula-se a utilização da mediação ou conciliação

previamente à arbitragem.

Normalmente, tal formato é utilizado em instituições arbitrais para comporem

a solução de questões controvertidas, submetendo às partes em lide, previamente

ou durante o próprio procedimento arbitral, as técnicas compositivas não

contenciosas.

Fernanda Levy96 retrata que

Esse escalonamento pode ocorrer de duas maneiras: pela previsão inicial de mediação e caso ela reste infrutífera no sentido de obtenção do acordo, continua-se a gestão do conflito com a

arbitragem (cláusula arbitral escalonada med-arb) ou no sentido

inverso, iniciado o procedimento arbitral, ele é suspenso para que a mediação se desenvolva, para em seguida ser retomado para a homologação do acordo ou continuidade do procedimento arbitral

(cláusula arb-med).

Sem dúvidas, o resultado positivo na utilização desse formato de solução

conflitual geralmente coaduna-se aos feitios de contratos em que as partes mantêm

relações comerciais, de forma continuada e no advento do conflito, parte dessa

relação interessa a continuidade, possibilitando em fase prévia da arbitragem,

apararem as arestas e obterem um consenso, solvendo o conflito e submetendo o

entendimento delas e acertamento, à homologação por um árbitro.

Não demais lembrar que, uma vez que tenham as partes disposto a instituição

da arbitragem através de cláusula escalonada, outro não poderia ser o entendimento

senão a aplicação de todos os métodos eleitos, uma vez que não se trata de opção

por um ou outro, mas em escala como o próprio nome conceitual remete.

A forma híbrida mais conhecida seria a utilização da med-arb, modalidade

normalmente prevista em cláusula contratual em que, de forma escalonada, as

partes se dispõem a solucionar a questão controvertida apresentada, inicialmente,

através de mediação que, caso inexitosa, passa a ser objeto da arbitragem.

Nessa modalidade, normalmente também o mediador atuará como árbitro,

situação que, se, por um lado, possa dar a entender que haveria certa distorção na

figura do mediador quando ocupasse posição de árbitro, já que ambas as formas

pressupõem ambientes e técnicas diferentes, por outro lado pode-se entender

96

LEVY, Fernanda Rocha Lourenço. Cláusulas escalonadas: a mediação comercial no contexto da arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 200.

65

proveitoso em razão de que o antes exercido papel de mediador tornaria o árbitro

mais a par do cenário do conflito e suas nuanças. De dizer que não se encontra

proibição legal alguma para que o árbitro atue como mediador ou mesmo

conciliador.

No med-arb, assim como em todos os métodos híbridos, ao se utilizar as

vantagens da mediação e da arbitragem para a solução eficaz de um conflito,

inicialmente a audiência inaugural serve para facilitar a mediação, enquanto no

med/arb a mediação vem primeiro e, se mal sucedida, submete-se o caso à

arbitragem.

Destarte, as formas híbridas podem combinar-se entre si, na utilização de

duas ou mais formas alternativas para solução de conflitos e, considerando-se,

inclusive, no caso concreto, variadas etapas para o objetivo de solver a controvérsia

instaurada, é possível justapor-se esses diferentes métodos.

Conforme Richard Hill97, cada método cumpre determinados fins, da mesma

forma como na medicina há diversos medicamentos para curar diversos graus de

uma mesma enfermidade.

O método a ser aplicado dependerá sempre daquilo que as partes

convencionarem, mas deve-se para tanto considerar, sendo o intuito óbvio solver

controvérsias, que aquele eleito à aplicação seja adequado a determinado caso

concreto.

De qualquer forma, a solução conflitual, quer pela mediação, quer pela

conciliação, quer pela arbitragem ou seus meios híbridos, fica cada vez mais

sedimentada em nível nacional.

Por derradeiro, de registrar que há outra forma de cláusula arbitral, pouco

utilizada ainda, mas que vem firmando espaço no terreno da arbitragem, como

indica Selma Ferreira Lemes98:

[...] Cada vez mais se verifica a necessidade de moldar as formas extrajudiciais de solução de controvérsias às especificidades de contratos complexos [...] Por todas essas razões, a indicação da arbitragem e a eleição de foro num mesmo contrato podem ser válidas e eficazes [...]

97

HILL, Richard. The theoretical basis of mediation and other forms of ADR: why they work. Arbitration International, LCIA, v.14, n. 2, 1998. 98

LEMES, Selma Ferreira. Cláusulas combinadas ou fracionadas. Revista do Advogado, AASP, ano 33, n. 19, p. 153-154, abr. 2013.

66

Nesse pensar, vislumbram-se as chamadas cláusulas arbitrais combinadas ou

fracionadas, ou seja, sincronizadas, que permitem às partes, no âmbito de suas

vontades, fracionarem um contrato e elegerem, por exemplo, leis diferentes para

reger cada matéria nele contida ou mesmo, nesse fracionamento, a eleição da

justiça estatal e da arbitral para cada questão delimitada na cláusula.

Tal modalidade permite ainda que questões contratuais versadas em direitos

indisponíveis sejam submetidas à jurisdição estatal e as relativas aos direitos

disponíveis pactuados sejam dirimidas por meio da arbitragem.

Nessa via, a cláusula fracionada permitiria que se preservasse a utilização da

arbitragem em determinados e delimitados contextos do contrato a que ela se

coaduna, e que se remetesse ao Judiciário aqueles que sejam de competência

exclusiva deste ou mesmo que tenham assim estipulado as partes.

Da doutrina de Carlos Alberto Carmona99, acrescenta-se:

[...] enganam-se portanto aqueles que veem alguma patologia por conta da inserção, num mesmo contrato, das duas cláusulas: a convivência de ambas é pacífica, não havendo necessidade de conceber artifícios interpretativos, muito menos de investigar eventuais intenções das partes para excluir uma ou outra avença.

No entanto, especial atenção merece a redação dessas cláusulas, tendo em

vista que devem guardar sintonia entre si, não podendo dar previsão contraditória,

de modo que uma negue a aplicação da outra, sob pena de, consequentemente,

encaminhar a cláusula a sua invalidade ou inoperância.

4.4. A cláusula compromissória institucional

Da redação do art. 5º da Lei n. 9.307/96 nota-se a possibilidade de o

procedimento arbitral seguir as regras contidas e preestabelecidas pelo regulamento

de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, desde que eleita pelas

partes.

Nesse particular, estariam as partes concordes em aderir às regras do

procedimento regimental institucional, para dirimirem seus conflitos, inserindo na

convenção arbitral, que a estas se submetem.

99

CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 122.

67

As partes, ao elegerem uma câmara arbitral, por meio de uma cláusula

compromissória institucional, certamente contam com um fator primordial: a fluidez

do procedimento.

É que não se pode arredar que tais regulamentos internos, que regerão o

procedimento arbitral institucional, em razão da especialidade na administração do

processo arbitral e sua condução, expressam soluções consistentes para problemas

comuns que surgem rotineiramente em procedimentos arbitrais.

Destaque-se ainda que, uma vez eleita pelas partes a instituição arbitral, a

cláusula compromissória, porquanto tem força coercitiva, terá em caso de eventual

rejeição por uma das partes, uma vez instalado o conflito, seu prosseguimento, de

acordo com as regras da instituição.

Caso contrário, e aí reside a vantagem de as partes firmarem cláusula

compromissória institucional, o conflito relativo à eleição da justiça privada ao

deslinde da controvérsia será levado ao Judiciário, que decidirá sua instituição,

jamais o mérito da causa.

Nesse sentido orientação de Marco Dewiggi100:

É imprescindível se destacar, porém, a importância da correta redação de

uma cláusula arbitral. Cláusulas mal redigidas e incompletas podem impedir a

instauração e desenvolvimento do procedimento arbitral. Nesse sentido, nossa

sugestão é que a cláusula arbitral a ser pactuada seja sempre cheia, reportando-se

às regras de uma câmara arbitral reconhecida e idônea.

Assim, na cláusula compromissória institucional nem sequer torna-se

elemento imprescindível a eleição do árbitro, senão, na maioria das vezes, da

própria instituição, que administrará o procedimento.

4.5. Cláusula compromissória e contrato de adesão

No cenário atual, visualiza-se uma crescente preocupação com o direito sob o

ponto de vista da tutela dos interesses sociais.

Assim, por via de consequência, as limitações à vontade das partes

encontram-se policiadas em decorrência da massificação pactual, resultado da

100

DEWIGGI, Marco. Franquia x arbitragem: vantagens no momento da solução do litígio. Jornal do Comércio, A15, 11 ago. 2010.

68

fomentação do mundo comercial que, para acompanhar as exigências e velocidades

negociais modernas, fez quase que desaparecer as contratações individuais,

aflorando com mais volume e intensidade os instrumentos contratuais de massa, ou

seja, derivados de um mesmo produto posto no mercado, têm suas cláusulas e

condições predispostas em um instrumento.

Esse tipo contratual, obviamente, no mais das vezes, favorece os interesses

do contratante que disponibiliza o produto ou o serviço, não admitindo à outra parte

liberdade de manifestar com uma plenitude sua vontade pactual, senão em

submeter-se às regras impostas em negócios similares.

São os chamados contratos de adesão, que reconhecidamente legais pela

legislação pátria, devem preencher alguns requisitos para que possam ser

considerados válidos e eficazes.

A experiência, no entanto, permite-nos afirmar que o aderente mais

interessado no produto ou serviço adquirido nem sequer lê o que está assinando e

daí a preocupação em proteger aquele que aderiu.

E não se trata de dar agasalho àquele que por ato de sua própria desídia

deixou de observar, antes da contratação adesiva firmada, pleno e prévio

conhecimento daquilo que contratava; mas, pelo contrário, de proteger aquele cuja

vontade própria viu ser subjugada pela vontade do outro, que ditou as próprias

regras, não tendo o aderente mais que duas opções, senão firmar ou não firmar o

instrumento.

No que pertine à arbitragem, os §§ 1º e 2º do art. 4º da Lei de Arbitragem

mencionam os elementos que devem conter na cláusula compromissória.

Nesse caso, importa destacar o mencionado no § 2º:

Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o

aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente,

com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito,

com a assinatura ou visto especialmente para esta cláusula.

Conforme Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery101:

[...] Como medida protetiva ao aderente, a norma dispõe que, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória pode ter eficácia, desde que seja de iniciativa do aderente. Sendo de iniciativa do

101

NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade; Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 7. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 1432.

69

estipulante, deve vir expressa em caracteres destacados (negrito), em contrato escrito. A cláusula compromissória de iniciativa do estipulante deve ser pactuada em documento anexo e não no próprio formulário do contrato de adesão. Isto para não deixar dúvidas de que o aderente concordou expressamente com a cláusula compromissória [...]

Ainda, da mesma doutrina, tem-se que o regime jurídico da Lei de Arbitragem

aplica-se a todo e qualquer contrato de adesão, seja de relação civil, comercial ou

de consumo102.

Pois bem, do que se depreende relativamente à adesividade pactual, e daí

independe se na seara das relações consumeristas ou não, que o Lei de Arbitragem

brasileira tratou de solver o impasse, quando determinou condições aos contratos de

adesão, e, notadamente, no que se refere à inserção compulsória de cláusula

compromissória cuja legislação, deixa certo que, para que a cláusula

compromissória tenha validade e eficácia, o aderente deverá ter a iniciativa de

instituir a arbitragem, e só terá validade se for instituída de forma "expressa", onde o

aderente concorda com a sua instituição, devendo ser estabelecida em documento

apartado (anexo), ou feito em negrito, com assinatura ou visto do aderente

especialmente para essa cláusula. Caso não sejam respeitados esses requisitos, a

cláusula compromissória não terá validade nem eficácia nos contratos de adesão e

em relações consumeristas.

E aqui, fique suficientemente claro, repisamos que a letra legal não abrange

apenas a relação de consumo, senão de qualquer relação adesiva, primando-se

que, ao anuir a cláusula compromissória em contratos de adesão, o aderente tenha

pleno conhecimento da eleição da jurisdição selecionada, já que consequências

jurídicas importantes são advindas dessa eleição.

É que, com lastro na vontade das partes, em muito se dissociam a ideia da

contratação adesiva e a eleição da jurisdição arbitral nesse tipo de contrato, afinal,

característica da adesividade é justamente a existência de uma sobreposição da

vontade de um em detrimento da do outro, o que impediria, em verdade, que se

pudesse verificar, no caso da eleição da arbitragem nesses contratos, a livre

manifestação de vontade por ambas, caracterizada, então, a possível

compulsoriedade da arbitragem.

102

Regulamentado no Código de Defesa do Consumidor, art. 54.

70

Nessa esteira, constata-se pertinente a inserção de cláusula compromissória

em contratos adesivos. O art. 4º, § 2º, da Lei n. 9.307/96 permite-nos ao menos

duas vias para efetivar a arbitragem, ou seja, a uma, ao estabelecer que a cláusula

só terá eficácia se o aderente permitir e der início ao procedimento ou, ao prever a

arbitragem, esta seja previamente levada a conhecimento e aceite expresso pelo

aderente, ocasião em que firmam as partes o contrato e a eleição da arbitragem no

mesmo documento ou em anexo a ele, desde que a cláusula arbitral esteja em

negrito e com visto exclusivo para a cláusula.

Relativamente ao primeiro modo citado, de certa forma fica a arbitragem sem

efeito vinculante em relação ao aderente, afinal dele é o “poder de manus”; em

relação à segunda opção legal, não há questionamentos do efeito vinculativo da

cláusula compromissória inserta nos contratos de adesão, de tudo quanto se

observa.

Limitado, portanto, de certa forma, o limite de predisposição relativamente à

arbitragem, em contratos adesivos, em detrimento dos contratos livremente

negociados.

Nesse sentido, importante mencionar, a título exemplificativo, notícia

publicada pelo Comitê Brasileiro de Arbitragem – CBAr a respeito de decisão do

TJSP relativamente à cláusula compromissória inserta em contrato empresarial

adesivo e cuja redação clausular não se coadunava às exigências legais, verbis103:

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) julgou ser nula a cláusula que estabelece o uso de arbitragem em um contrato de adesão firmado por um microempresário com a Ambev. Após analisar o processo a 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do tribunal levou em consideração o fato de a cláusula não estar redigida de acordo com os requisitos previstos na Lei nº 9.307, de 1996, que trata da arbitragem. A ação foi proposta por um empresário que firmou dois contratos com a Ambev para abrir quiosques em supermercados no Estado do Rio de Janeiro que venderiam produtos da cervejaria. De acordo com o advogado do autor do processo, Carlos Alberto da Silva, os estabelecimentos seriam instalados em hipermercados em São Gonçalo e Niterói (RJ). Posteriormente, entretanto, o autor da ação foi informado de que os locais não permitiam sublocação, e o negócio não poderia ser continuado. Silva estima, entretanto, que seu cliente tenha gasto em torno de R$ 15 mil com a abertura das empresas, despesas com contador, uniformes e capas para proteger os quiosques. O contrato previa que eventuais

103

CBAr. Valor econômico – Cláusula de adesão é nula em questões empresariais. Disponível em: <http://cbar.org.br/site/blog/noticias/valor-economico-clausula-de-adesao-e-nula-em-questoes-empresariais>. Acesso em: 22 abr. 2014.

71

problemas deveriam ser resolvidos por meio de arbitragem. Pleiteando a anulação da cláusula e danos morais e materiais o empresário procurou a Justiça. “As custas com o tribunal arbitral seriam cerca de R$ 60 mil a R$ 70 mil, e meu cliente não possui esse dinheiro”, afirma o advogado. O relator do caso no TJ-SP, desembargador Tasso Duarte de Melo, considerou que a redação da cláusula de arbitragem no contrato não estava de acordo com o disposto no parágrafo nº 4 da Lei 9.307. A norma estipula que em contratos de adesão a cláusula é nula se não for escrita em um documento anexo ou em negrito. Melo também considerou que a norma que rege a arbitragem não estipula que cabe apenas ao árbitro decidir sobre a nulidade da cláusula e, portanto, se o tribunal arbitral não estiver formado, o Judiciário pode se pronunciar sobre ela. “Exigir que o apelante leve a sua demanda ao árbitro é incongruente com a própria posição defendida por ele, de não concordar com a arbitragem, por entender que a cláusula compromissória é nula”.

Se, por um lado, como referido na mencionada notícia, tal decisão teria

“enfraquecido a arbitragem no Brasil”, segundo o advogado Marcos Fioravanti, pois

que, para ele, “A Lei determina que o tribunal arbitral deve dizer se tem competência

ou não para analisar um assunto. Se ele disser que a cláusula é nula, abre espaço

para o Judiciário”104, na visão de Thereza Arruda Alvim105, a decisão está coadunada

à lei, já que a cláusula posta teria infringido dispositivo legal e, nesse esteio, não se

haveria de negar vigência ao dispositivo que afasta a cláusula.

Fica premente, dessa forma, que não se deve descuidar de algumas questões

que poderiam ensejar dúvidas, notadamente aquelas relativas à cláusula

compromissória em contratos de aceitação de regras em bloco106.

104

FIORAVANTI, Marcos. <http://cbar.org.br/site/blog/noticias/valor-economico-clausula-de-adesao-e-nula-em-questoes-empresariais>. 105

ALVIM, Thereza Arruda. <http://cbar.org.br/site/blog/noticias/valor-economico-clausula-de-adesao-e-nula-em-questoes-empresariais>. 106

Relativamente à questão de suposta hipossuficiência do empresariado, no validar da cláusula compromissória em cena, cabe retratar decisão do TJSP, de 2012, na Apelação n. 0183377-82.2011.8.26.0100 (número de origem: 583.00.2011.183377-9/000000-000), Comarca de São Paulo / Foro Central Cível / 5ª Vara Cível, tendo como relator Tasso Duarte de Melo, em decisão proferida em 18 de dezembro de 2012, julgou ser nula a cláusula que estabeleceu a arbitragem em um contrato de franquia firmado entre um microempresário e uma fabricante de bebidas, por não terem observado a forma determinada na lei. “VOTO Nº 8368 Trata-se de recurso de apelação (fls. 417/434) interposto por Alex Cesar Rodrigues Alves contra sentença proferida pelo MM. Juiz da 5ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da Capital, Dr. Marcos Roberto de Souza Bernicchi (fls. 407), que extinguiu sem resolução do mérito a ação declaratória de rescisão contratual c.c. reparação de danos ajuizada pelo Apelante em face da Apelada. O Apelante relata as razões de fato e de direito que embasam a sua pretensão de rescisão do contrato de franquia firmado entre as partes, por culpa da Apelada. Sustenta a nulidade da cláusula arbitral inserida neste contrato e a impossibilidade de se afastar a jurisdição estatal, na espécie. Subsidiariamente, pugna pela redução dos honorários advocatícios. Contrarrazões às fls. 442/459, em que alega que a competência para dirimir quaisquer dúvidas a respeito da validade da

72

Dessarte, a questão da hipossuficiência, a nosso ver, bem analisada na

decisão em comento e que agrega valor à arbitragem, com vistas a que, a uma, a

questão da adesividade contratual fica, no caso, vulnerável, ante as negociações

prévias havidas entre as partes para o fechamento do negócio, em que pese o

contrato ter característica, em primeira análise, de adesivo, e, a duas, no sentido de

que as mesmas negociações prévias havidas deram conta de que a relação

empresarial estabelecida não era de hipossuficiência, mas sim paritária.

Assim, ao se optar pela inclusão de uma cláusula compromissória em um

contrato, notadamente de adesão, a escolha do método de solução de conflitos

deverá ser decorrente da vontade das partes contratantes, obedecendo-se ao

clausulado dessa eleição, no sentido de estar adequado às exigências legais a

tanto, bem como que fique, sempre, muito clara a intenção das partes nesse sentido,

para evitar questionamentos futuros.

cláusula compromissória seria do árbitro, pela aplicação do princípio da competência-competência e, por isso, o Poder Judiciário só poderia se manifestar após o árbitro. Aduz a validade da cláusula compromissória, pois o contrato de franquia teria sido negociado, não sendo de adesão, e porque o Apelante teria consentido com a arbitragem. No mais, trata do mérito da causa, pugnando pela improcedência do pedido inicial. Cita doutrina e jurisprudência. É o relatório. À revisão. São Paulo, 21 de novembro de 2012. Tasso Duarte de Melo, Relator... DECISÂO:DECLARATÓRIA DE RESCISÃO CONTRATUAL C.C REPARAÇÃO DE DANOS. FRANQUIA. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. Previsão no de franquia cuja rescisão é pleiteada. Princípio da competência-competência. Exegese. Ação ajuizada Apelante perante o Judiciário. Ausência de qualquer ato para dar início à arbitragem. Inexistência de óbice legal ao Judiciário declarar a validade ou invalidade da compromissória antes do árbitro. Artigos 8º e 20 da Lei 9.307/96. Ausência de fixação de impedimento para a análise judicial prévia da validade da cláusula compromissória. Interpretação do princípio da competência- competência à luz das doutrinas alemã, suíça, americana, mexicana. Doutrina francesa que se mostra restritiva. Violação à garantia constitucional da duração razoável do processo e ao princípio da economia processual. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. Nulidade. Contrato de franquia que caracteriza contrato de adesão. Artigo 54 do CDC. Cláusula compromissória em contrato de adesão que deve estar em negrito ou em documento anexo, com a assinatura específica. Artigo 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96. Descumprimento. Retorno dos autos à vara de origem dilação probatória. Recurso provido”

73

5. ASPECTOS GERAIS SOBRE A FRANQUIA E OS CONTRATOS DE FRANQUIA

O termo “franquia” existe desde o tempo da Idade Média, na França, quando,

nas cidades francas, pessoas e bens tinham livre circulação e eram isentos de

pagamento de taxas e impostos ao poder central e/ou à igreja107.

Conforme Milman108, o termo “franquia” foi identificado já na Idade Média, na

França, com a expressão Franc, que significava a transferência de um direito,

concessão de um privilégio ou permissão exclusiva.

Essa outorga de direitos e privilégios, de certa forma, poderia ser considerada

como um sistema rudimentar de franquia.

Ocorre que o sistema de franquia como vemos hoje teve sua origem em

meados do século XIX, nos Estados Unidos, no ano de 1862, quando a companhia I.

M. Singer&Co, dedicada à fabricação de máquinas de costura, começou a utilizar

essa fórmula empresarial para o mercado absorver os seus produtos109.

Segundo José Cretella Neto110, o contrato de franchising começou a ser

utilizado nos Estados Unidos da América, após o término da Guerra Civil (1865),

quando a Singer Sewing Machine Company estabeleceu uma rede nacional de

revendedores, com a sua marca, a fim de escoar a fabricação de seus produtos.

Com a necessidade de as empresas norte-americanas do norte do país

expandirem o seu mercado industrial após a guerra civil, através da colaboração dos

comerciantes locais, iniciou-se, então, o verdadeiro sistema de franquia: a

colaboração entre empresários independentes para a obtenção de um fim comum.

Segundo Roberto Cintra Leite111, o sistema de franchising teve seu auge logo

após a Segunda Guerra Mundial, quando muitas companhias começaram a adotar

esse conceito para negociar os seus produtos em concessionárias e distribuidores

oficiais. Esse foi o caso de vários fabricantes de automóveis, como a Ford ou

General Motors, e de algumas companhias mais importantes de refrigerantes, como

107

DAHAB, S. Entendendo franchising. Salvador: Casa da Qualidade, 1996. 108

MILMAN, Fábio. Franchising. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996, p. 31. 109

CHERTO, M. R. Franchising: revolução no marketing. São Paulo: McGraw-Hill, 1988. CHERTO, M. R.; RIZZO, M. 100 franquias internacionais inéditas no Brasil. São Paulo, 1994. 110

CRETELLA NETO, José. Curso de arbitragem: arbitragem comercial, arbitragem internacional, lei brasileira de arbitragem, direito privado brasileiro aplicável à arbitragem, instituições internacionais de arbitragem, convenções internacionais sobre arbitragem. 2. ed. Campinas-SP: Millenium, 2009, p. 312. 111

LEITE, Roberto Cintra. Franchising na criação de novos negócios. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

74

a Seven Up ou a Coca-Cola, a qual aceitou expandir-se, em número de países, com

um sistema e formato equivalentes.

No ano 1929, a General Motors recorreu a um contrato que, mediante o

associativismo entre a central e os seus distribuidores, favoreceu a colaboração

entre as partes, ao mesmo tempo em que ambas mantinham níveis razoáveis de

independência112.

Por conta das leis antitrusts, tendentes a evitar a integração vertical de

distribuidores e produtores, ocorreram a facilitação e o desenvolvimento efetivo do

sistema de franquias113.

Enquanto as empresas nos Estados Unidos percebiam as vantagens do

sistema de franquia, na Europa esse sistema de distribuição vinha despontando,

principalmente na França, através do mercado de lãs. A Lainiere de Roubaix

assegurava a comercialização de seus produtos através da criação da empresa

Pingoin, que formalizando parcerias com diversos retalhistas em forma de

exclusividade assegurava à empresa a distribuição dos seus produtos em diversas

zonas geográficas da França114.

Mas esse canal de distribuição teve a sua consagração com a criação de

várias redes de fast-foods como McDonald`s, Burger King, Kentuchy Fried

Chicken115.

No Brasil, as escolas de inglês Yazigy e CCAA foram os grandes

responsáveis pela introdução do sistema de franquia, no início dos anos 60. A partir

daí, o sistema de franchising evoluiu bastante, com a fundação da Associação

Brasileira de Franchising – ABF, em meados dos anos 80, e a entrada em vigor da

lei da franquia n. 8.955, em 15 de dezembro de 1994.116

112

BARROSO, Luiz Felizardo. Franchising & direito: contrato, circular de oferta, manuais operacionais, comentários à Lei nº 8.955/94, comentários aos Projetos de Lei ns. 2.921-A/2000 (do Deputado Alberto Mourão, do PMDB/SP, que modifica a lei vigente) e 273/2001 (do Senador Carlos Bezerra, do PMDB/MT, que veda a sublocação de imóveis pelo franqueador, por valor superior ao da locação), arbitragem e franchising: 2. ed. ver. e atual. em consonância com o novo Código Civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. 113

GONÇALVES, Priscila Brolio. A obrigatoriedade de contratar como sanção no direito concorrencial brasileiro. Tese (Doutorado), Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2008. 114

MARINHO, Ana Cecília Pereira. Marketing de franquia no Brasil. Tese (Pós-Gradução), Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2013. 115

BARROSO, Luiz Felizardo. Op. cit. 116

COELHO, Larissa. Indenização de clientela no regime de franquia: um olhar sob o sistema do Brasil e de Portugal. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br>.

75

Segundo Melitha117, na década de 90 iniciou-se um processo de

amadurecimento do sistema, em razão da promulgação da Lei n. 8.955/94, o que,

com certeza, significou uma chave para a segurança na relação de franquias,

impondo-se a obrigatoriedade da COF – circular de oferta de franquia e sua entrega

ao franqueado, como forma de deixar cristalina a relação nesse sistema.

Impulsionado também pelo crescimento acelerado do mercado comercial,

com o aval do governo federal na implementação de projetos (SEBRAE, acordos de

cooperação), nos últimos 30 anos o Brasil vem aprimorando e aperfeiçoando a

gestão de franquias, cujos números hoje falam por si: somos o 3° país do mundo em

número de empresas e o 6º em número de unidades118.

De acordo com Melitha119, o crescimento médio do sistema de franquias foi de

16% nos últimos anos, e tem sido fomentado por alguns fatores verticalizados do

crescimento do poder aquisitivo brasileiro, da economia. Com a criação de sistemas

de microfranquias, destinadas a pequenos investidores, franquias virtuais, e,

inegavelmente, porque o Brasil foi eleito para sediar a Copa do Mundo de 2014,

houve um aquecimento do mercado brasileiro como um todo, principalmente no

segmento de franquias de hotelaria e turismo.

Observa-se nesse pensar que o franchising é um mercado que está sempre

em evolução e crescimento continuados, adaptando-se e acompanhando os

momentos históricos, políticos, econômicos e culturais por que passa o cenário

mundial.

5.1. Conceito de franquia

Em termos conceituais, o franchising é o sistema no qual alguém

(franqueador) autoriza terceiro (franqueado) a explorar os direitos de uso da marca,

os direitos de distribuição de produtos e/ou serviços em um mercado definido, além

de utilizar um sistema de operação e de gestão de um negócio de sucesso.

117

PRADO, Melitha Novoa. Franchising na real. Agbook, p. 57. 118

Id., Ibid., p. 239 e s. 119

Id., Ibid., p. 234.

76

Boroian e Boroian120 definem o franchising como uma forma de replicar o

sucesso.

É um canal de distribuição, agregado à licença de uso de uma marca

conjuntamente com uma prestação de serviços e oferecimento de know-how, esses

realizados pelo franqueador, para a devida operação do negócio pelo franqueado.

A IFA – International Franchising Association121 define o franchising:

Franchising is a method of distributing products or services. At least two levels of people are involved in a franchise system: (1) the franchisor, who lends his trademark or trade name and a business system; and (2) the franchisee, who pays a royalty and often an initial fee for the right to do business under the franchisor's name and system. Technically, the contract binding the two parties is the “franchise”, but that term is often used to mean the actual business that the franchisee operates.

Tales Andreassi e Pedro Lucas de Resende Melo122 definem franchising

numa relação contratual referente a uma franquia que é desenvolvida entre duas

partes: o franqueado e o franqueador.

S. Shane123 afirma que o franchising é uma alternativa à diversificação que

pode ser considerada uma estratégia cooperativa que as firmas adotam para

dispersar os riscos e compartilhar competências.

Walter Douglas Stuber e Maria Cecília Semionato124 estabelecem o

franchising como sendo um sistema de comercialização de produtos e/ou serviços

e/ou tecnologia, baseado em estreita e contínua colaboração entre empresas

jurídica e financeiramente distintas e independentes, por meio do qual o contratante

(franchisor) concede o direito e impõe a obrigação aos seus contratados

(franchisees) de explorar uma empresa de acordo com o seu conceito.

120

BOROIAN, D. D.; BOROIAN, P. J. The franchise advantage: il prism creative group. Chicago, 1992. Apud: TOLEDO, Geraldo Luciano; PROENÇA, Cristina. Fatores críticos de sucesso da franquia – uma análise sob a óptica de ex-franqueados no Município de São Paulo. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 43-53, jan./mar. 2005. 121

IFA – INTERNATIONAL FRANCHISE ASSOCIATION. Frequently asked questions about franchising: answers to the 19 most commonly asked questions about franchising. 122

ANDREASSI, Tales. RESENDE, Pedro Lucas de Melo. Publicação científica nacional e internacional sobre franchising: levantamento e análise do período 1998-2007-2010. Disponível em: < http://www.anpad.org.br/rac>. 123

SHANE, S. From ice cream to the internet: using franchising to drive the growth and profits of your company. Upper Saddler River, NJ Prentice Hall, 2005. Apud: ANDREASSI, Tales; RESENDE, Pedro Lucas de Melo. Publicação científica nacional e internacional sobre franchising: levantamento e análise do período 1998-2007-2010. <http://www.anpad.org.br/rac>. 124

STUBER, Walter Douglas; SEMIONATO, Maria Cecília. Franchising e licenciamento. RT, ano 4, n. 16, fls. 292, jul./set. 1996.

77

A relação de franquia pressupõe várias relações jurídicas advindas de um

único sistema padronizado e, dentre elas, o direito de uso da marca, elemento que

identifica comercialmente o negócio125.

O art. 2º da Lei de Franquia (8.955/94) define franquia empresarial como:

[...] o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

Assim, franquia consiste em uma autorização para o uso de nome e de

marca, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos

e/ou serviços ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de

negócio ou sistema operacional, desenvolvidos ou detidos pelo Franqueador126.

Sebastião José Roque127 estabelece que, pelo ponto de vista jurídico, a

franquia é geralmente um complexo de contratos, sendo um principal e os outros

acessórios ou dependentes.

Pode-se dizer, então, que a franquia é um sistema pelo qual uma empresa

(franqueador) que detém uma marca e know-how de produção de um produto e/ou

serviço resolve ceder a outro empresário (franqueado) a licença para utilizar desse

seu invento de forma autônoma, com exclusividade em determinada região,

prestando toda a assistência ao franqueado (da abertura ao funcionamento do

negócio), mediante uma remuneração.

5.2. Contrato de franquia

O contrato de franquia compreende vários contratos interligados e, portanto, é

o documento jurídico pelo qual o franqueador transfere ao franqueado, mediante

remuneração, o segredo de seu negócio.

125

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit. 126

BARROSO, Luiz Felizardo Op. cit. 127

ROQUE, Sebastião José. Do contrato de franquia empresarial. São Paulo: Ícone, 2012, fls. 15 (Col. Elementos de direito).

78

A importância do contrato de franquia é ressaltada por Melitha128:

Ele versa sobre questões de suma importância, como o território de abrangência da unidade franqueada (que pode ser um shopping, uma rua, uma cidade, um Estado); as taxas que serão pagas, seus percentuais e sobre que base serão cobradas; o prazo para as partes que não cumprirem suas obrigações; formas de suporte pela Franqueadora; cláusula de não concorrência (quando termina a relação de Franquia, o contrato precisa estipular as restrições ao Franqueado para continuar no mesmo segmento de mercado).

Sendo, portanto, um sistema complexo de vários contratos interligados,

destacam-se dentre os contratos a cessão de uso da marca ou patente; a

distribuição exclusiva, ou semiexclusiva, de produtos ou serviços; a transferência de

tecnologia de implementação e administração de negócio, o know-how (segredo de

negócio) e o treinamento do franqueado e seus empregados.

Fran Martins129 define o contrato de franquia como sendo o documento que

liga uma pessoa a uma empresa para que esta, mediante condições especiais,

conceda à primeira o direito de comercializar marcas ou produtos de sua

propriedade, sem que, contudo, a esta esteja ligada por vínculo de subordinação.

Nelson Abrão130 observa que o contrato de franquia é o documento pelo qual

o titular de uma marca de indústria, comércio ou serviço (franqueador) concede seu

uso a outro empresário (franqueado), posicionando-se quanto à distribuição,

prestando-lhe assistência no que concerne aos meios e método para viabilizar a

exploração dessa concessão, mediante o pagamento de uma entrada e um

percentual sobre o volume dos negócios pelo franqueado.

Waldirio Bulgarelli131 define o contrato de franquia como sendo a operação

pela qual um comerciante titular de uma marca comum cede seu uso, num setor

geográfico definido, a outro comerciante. O beneficiário da operação assume

integralmente o financiamento de sua atividade e remunera o seu cocontratante com

uma percentagem calculada sobre o volume dos negócios. Repousa sobre a

cláusula da exclusividade, garantindo ao beneficiário, em relação aos concorrentes,

o monopólio da atividade.

128

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit. 129

MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 486. 130

ABRÃO, Nelson. A Lei de Franquia empresarial (n. 8.955, de 15/12/1994). RT, São Paulo. 131

BULGARELLI, Waldirio. Contratos mercantis. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1995, p. 520.

79

Fábio Ulhoa132 estabelece que o contrato de franquia se desenvolve na

plenitude de dois outros contratos, o de licenciamento de uso de marca e o de

organização empresarial. De um lado, o franqueador, titular de uma marca já

conhecida dos consumidores e que deseja ampliar a oferta de seus produtos e/ou

serviços, sem, contudo, querer despender valores e sofrer os riscos da implantação

de filiais, e, de outro lado, o franqueado, que dispõe de recursos, interesse em abrir

o seu próprio negócio, mas sem conhecimento técnico e de administração e

economia, fatores geralmente necessários ao sucesso do empreendimento que se

pretende possuir.

Jorge Lobo133 assevera que a natureza jurídica do contrato de franquia se

estabelece em uma nova técnica de cooperação entre empresas independentes,

com vistas a maximizar os resultados operacionais de ambas.

Guilherme Carvalho Monteiro de Andrade134 classifica o contrato de franquia

como sendo consensual, bilateral, oneroso, de execução continuada e típico.

Apesar de muitos autores entenderem o contrato de franquia como típico por

estar estabelecido na Lei n. 8.955/94, compactuamos com o entendimento de que se

trata de um contrato atípico, já que a Lei de Franquia não define a forma como deve

ser formalizado, mas apenas que deve ser formalizado de forma escrita.

Fábio Ulhoa Coelho afirma que o contrato de franquia é atípico porque a Lei

n. 8.955/94, embora discipline determinados aspectos da franquia, não tornou a

modalidade do contrato típico, já que as relações entre franqueador e franqueado

regem-se exclusivamente pelas cláusulas contratuais pactuadas.

Apesar de a Lei n. 8.955/94 (lei de franquia) estabelecer em seu art. 1º que os

contratos de franquia estão disciplinados por ela, fato é que o que o legislador visou

proteger o princípio da transparência entre as partes no que tange à parte pré-

contratual e não só o contrato em si, pois com relação ao contrato de franquia no

que se refere aos direitos e obrigações entre os franqueadores e os franqueados

pouco se fala, existindo apenas uma exigência, a de que o contrato de franquia seja

formalizado na forma escrita.

132

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 426-427. 133

LOBO, Jorge. Contrato de franchising. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 34. 134

ANDRADE, Guilherme Coelho Monteiro de. Algumas considerações sobre o contrato de franquia, sob a ótica da interpretação econômica. Disponível em: <http://www.madadvogados.com.br/ docs/Franquia25.06.07.pdf>.

80

O franchising possui uma lei pátria que o regula, mas é certo que, em razão

de constituir-se em um sistema, incide nesse tipo de negócio, já que abrange

diversos institutos jurídicos em razão da diversidade de modalidades contratuais

dele advindas, além da lei específica, outras legislações, sendo

[...] regido, tanto pelo código civil como pelo código comercial e por um número razoável de leis extravagantes aplicáveis, direta ou indiretamente, à espécie, como a lei antitruste, a lei que trata dos crimes contra a ordem econômica, propriedade industrial [...]135.

De suma importância em sua aplicação, porquanto a franquia encerra uma

relação contratual, é a aplicação da legislação civil.

Assim, os princípios contratuais presentes no Código Civil vigente,

notadamente a boa-fé objetiva, a função social do contrato, a transparência e

lealdade entre os contratantes, note-se, dão a base e estabilidade aos contratos de

franquia.

Isso fica muito nítido quando se observa a preocupação do legislador, dada a

exigência legal contida na Lei de Franquia, a respeito da circular de oferta de

franquia – COF, atribuindo como responsabilidade do franqueador em expor,

previamente ao franqueado, pleno conhecimento daquilo que estará contratando.

A premissa é obtida da legislação ordinária civil pátria, onde se extrai os

princípios que vão alinhados na franquia de modo a reger a relação negocial, bem

como alicerçar o caráter vinculativo do negócio entre as partes, caso o contrato de

franquia se aperfeiçoe.

Nesse particular, observe que o Código Civil de 2002 refere, já de início, em

seu art. 113, que “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé

e os usos do lugar de sua celebração”.

Mais adiante, alinha: “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um

direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim

econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.

E segue: “Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na

conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

O novo Código Civil respeita o princípio da boa-fé objetiva, agregando como

questão basilar a ser observada nos contratos um dever de conduta entre as partes.

135

BARROSO, Luiz Felizardo. Op. cit., p. 92.

81

De tudo quanto se estampa, o princípio da boa-fé pesa inafastável aos

contratos em geral e, consequentemente, ao contrato de franquia e vai além, na

acepção do Código Civil, quando delineia a conduta das partes.

Esse princípio rege os contratos de franquia, por via de consequência é que

elementarmente obtém através da circular de oferta de franquia – COF sua

fundamental expressão.

E em desfecho aos princípios basilares, o princípio estampado no art. 421 do

Código Civil, ao referir que a liberdade de contratar deve ser exercida em razão e

nos limites da função social do contrato, é que consequentemente atingem os

contratos de franquia.

Assim, somado ao princípio da boa-fé objetiva, a função social do contrato

embasa e dá corpo ao direito contratual, considerando-se, portanto, norma de ordem

pública, alheia à sublimação pelas partes.

Todavia, a função social do contrato não deve ser interpretada como objeto

do contrato, e sim na via da limitação da autonomia privada.

Nesses dizeres o entendimento de Teresa Ancona Lopez136:

Hoje, com a consagração do princípio da função social do contrato, vemos não mais ser possível o contrato só ter eficácia em relação às partes, não podendo nem prejudicar nem beneficiar terceiros (res inter alios acta, allis nec podest nec nocet). Sem dúvida, o contrato tem relevância como “fato social”, não existe isolado na sociedade. Em consequência, todo acordo de vontade repercute também nos interesses alheios. É como uma pedra jogada em um lago que vai formando círculos infinitos.

Na mesma linha são os dizeres de Cláudia Lima Marques137:

a nova concepção do contrato é uma concepção social deste instrumento jurídico, para a qual não só o momento da manifestação da vontade (consenso) importa, mas em que também e principalmente os efeitos do contrato na sociedade serão levados em conta e em que a condição social e econômica das pessoas nele envolvidas ganha em importância.

E não poderia ser diferente dado seu próprio conceito, conforme o jurista

português Antônio Pinto Monteiro138:

136

LOPEZ, Teresa Ancona. Princípios contratuais. In: FERNANDES, Wanderley (Coord.). Fundamentos e princípios dos contratos empresariais: série GVLaw. 1. ed., 2. tir. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 20. 137

MARQUES, Cláudia Lima. A chamada nova crise do contrato e o modelo de direito privado brasileiro: crise de confiança ou de crescimento do contrato? In: MARQUES, Cláudia Lima (Coord.). A nova crise do contrato: estudos sobre a nova teoria contratual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 27-28.

82

[...] através do contrato de franquia, se define e executa a política comercial do fabricante e se procede à integração do revendedor na sua rede de distribuição selectiva [...] representa a mais estreita forma de cooperação entre empresas independentes e o mais elevado grau de integração do distribuidor na rede outra parte, em termos de gerar no público a convicção de ser o fabricante ou uma sua filial, a encarregar-se da distribuição.

Assim, o contrato de franquia pode ser definido como um documento atípico,

de natureza bilateral, consensual, oneroso, de trato sucessivo e por adesão.

Paulo Antônio Begalli139 estabelece que os contratos atípicos são aqueles que

se regem pelas normas da teoria geral das obrigações, dos contratos e por analogia

às normas de contratos similares, não possuindo tipificação na lei, como ocorre com

o contrato de franquia.

Bilateral (sinalagmático), porque do contrato de franquia surgem direitos e

obrigações para franqueador e franqueado, por conta da obrigação do repasse de

know-how daquele a este e da obrigação de o franqueado respeitar regras e

padrões do sistema de franquia no qual está inserido.

Paulo Antônio Begalli140 define contratos bilaterais como sendo aqueles que

produzem direitos e obrigações para ambas as partes, que são credoras e

devedoras entre si.

Maria Helena Diniz141 estabelece que os contratos bilaterais em seus efeitos

causam direitos e deveres recíprocos entre os contraentes, que são reciprocamente

credor e devedor do outro, portanto sinalagmáticos.

Sebastião José Roque142 afirma que a bilateralidade desse contrato se

manifesta sob diversas formas, a começar pela definição positiva de duas partes,

franqueador e franqueado, pelas obrigações mútuas existentes entre esses dois

entes em decorrência de seu próprio consenso, e o não cumprimento das

obrigações por uma delas pode ensejar o apelo ao princípio exceptio adimpli

contractus ou ainda à rescisão do próprio contrato.

138

MONTEIRO, António Pinto. Contrato de agência. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2004; e Contratos de distribuição comercial: direito comercial. 2. reimpr. Coimbra: Almedina, 2004, p. 114 e 117. 139

BEGALLI, Paulo Antônio. Direito contratual no novo Código Civil. Leme-SP: Editora de Direito, 2003, p. 100. 140

Id., ibid. 141

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, v. 1, p. 113. 142

ROQUE, Sebastião José. Op. cit., fls. 15.

83

Consensual, porque se aperfeiçoa constantemente pela aceitação das partes,

sem qualquer forma solene, uma vez que, pela característica do sistema de franquia

no que tange à velocidade e rapidez, sua evolução e suas características, pautados

na constante modificação do mercado globalizado, se os contratos de franquia

tiverem formas solenes para serem pactuados, a forma jurídica emperrará a

engrenagem da evolução mercadológica, o que para o sistema seria um desacerto.

Paulo Antônio Begalli143 define contratos consensuais como sendo aqueles

em que as partes formalizam de comum acordo e se aperfeiçoam pelo mero

consentimento. Para Maria Helena Diniz144, os contratos consensuais, quanto à sua

forma, são aqueles que se perfazem pela simples anuência da parte.

Oneroso, porque a atribuição patrimonial efetuada por cada um dos

contraentes tem por correlação a compensação ou equivalente à atribuição da

mesma natureza proveniente do outro; para alcançar ou manter a atribuição

patrimonial da contraparte, cada contraente tem de realizar uma contraprestação.

Assim, para que o contrato seja oneroso é preciso que cada uma das partes tenha

simultaneamente uma vantagem de natureza patrimonial e um sacrifício do mesmo

tipo, como no caso do sistema de franquia, em que o franqueador tem como

vantagem patrimonial o recebimento dos royalties e o prestígio da marca pela

pulverização dos franqueados em todos os territórios, já o franqueado tem por

vantagem patrimonial a economia de escala na aquisição de produtos e/ou serviços,

além de basear o seu negócio em marca renomada e reconhecida pelo público

consumidor.

Os contratos onerosos trazem vantagens e sacrifícios patrimoniais para os

contratantes145 e, quanto à sua forma, são aqueles que se perfazem pela simples

anuência da parte146.

O contrato de franquia é de trato sucessivo, porque, mesmo após a sua

rescisão, algumas obrigações dele advindas perduram, como, por exemplo, a não

utilização de marca ou de negócios semelhantes pelo ex-franqueado em

determinado tempo e local em que estava instalado quando inserido em

determinado sistema de franquia, entre outras obrigações que surgem e perduram

mesmo após a rescisão do contrato.

143

BEGALLI, Paulo Antônio. Op. cit., p. 104. 144

DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p.120. 145

BEGALLI, Paulo Antônio. Op. cit., p. 101. 146

DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p.120.

84

Os contratos de trato sucessivo são aqueles em que sua satisfação não

ocorre em um só momento, enquadrando-se no conceito de prestações periódicas,

que não se extingue pelo simples descumprimento de uma conduta, mas que

perpetua pelo princípio da continuidade147.

Maria Helena Diniz148 define que os contratos de execução continuada são os

que se prorrogam no tempo pela prática ou abstenção de atos reiterados.

Por adesão, porque como a principal característica do sistema de franquia é a

padronização, diferente não é a sua característica quanto à sua formação contratual;

a adesividade no contrato de franquia é de suma importância, uma vez que não

pode haver tratamentos diferentes e condições diferenciadas em um mesmo sistema

de franquia entre os entes que dele participam, conforme se verá de forma mais

detalhada adiante.

Maria Helena Diniz149 reitera que os contratos por adesão (Standard

verträgen) são aqueles que impedem a liberdade de convenção, visto que impedem

que as partes transijam sobre qualquer parte, limitando a uma delas aceitar ou não

as cláusulas e condições previamente redigidas e impressas pela outra parte.

5.3. A circular de oferta e as relações negociais entre franqueador e

franqueado

Um dos mais importantes princípios que norteiam o sistema de franquia é o

da transparência, que fica evidenciado no art. 3º da Lei de Franquia, no qual

estabelece:

Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito, e em linguagem clara e acessível.

Eduardo Rodrigues Gomes e Alberto José do Patrocínio150 defendem que:

147

BEGALLI, Paulo Antônio. Op. cit., p. 101. 148

DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p.126. 149

Id., ibid. 150

Disponível em: <http://www.excelenciaemgestao.org/Portals/2/documents/cneg9/anais/T13_0574 _3828.pdf>. Acesso em: 24 fev. 2014.

85

A transparência nos negócios permite aos atores envolvidos a adoção de medidas que, mesmo não sendo necessariamente a base do planejamento estratégico, sirvam como ferramental preventivo às limitações ao desenvolvimento do negócio. A necessidade desta atitude significa que existe um longo caminho a ser percorrido para que as relações entre franqueadores e franqueados produzam modelos que levem à conclusão de negócios de longa duração. Consequentemente, para bom desenvolvimento da franquia os contratos devem ser equilibrados e definir claramente os direitos e responsabilidades das partes envolvidas, ou em outras palavras, deve ter transparência entre todos os interessados na relação de franquia. Este é um novo tema da RSE, devendo ser incorporado como diferencial pelas franquias, ainda que resulte numa diversidade de conceitos que, por vezes, têm definições totalmente diferentes.

A lei brasileira nada mais fez do que estabelecer o princípio do disclosure

norte-americano para as relações entre franqueadores e os interessados a

franqueados. A preocupação do legislador foi preservar o patrimônio desses

interessados, uma vez que a maioria dos sistemas de franquia exige um aporte de

grandes vultos financeiros para sua participação, pelos interessados.

Geralmente os interessados a franqueados são pessoas que empenham em

um negócio valores economizados uma vida toda e, com o sonho de montar o seu

próprio negócio com o mínimo de risco possível, veem no sistema de franquia a

possibilidade da realização desse sonho. Então, como forma de proteger esses

investidores de “primeira viagem” o legislador trouxe para a legislação brasileira o

princípio do disclosure.

Disclosure, na tradução livre da palavra, significa a “divulgação pelas

companhias de toda informação, positiva ou negativa, que poderia subsidiar uma

decisão de investimento [...]”151.

Barroso152 afirma que no mercado de capitais brasileiro temos o prospecto

como instrumento do disclosure; já no mercado de franquias, é a circular de oferta

de franquia que serve de meio de divulgação sincera, ampla e total dos dados

empresariais.

E continua:

Chama-se disclosure o princípio da revelação total e sincera dos

dados empresariais no mercado de capitais e no de franquias empresariais, sendo que o princípio da revelação total e sincera dos dados empresariais ao público investidor é conhecido pelas

151

DICTIONARY OF FINANCE AND INVESTMENT TERMS. Barron´s Educational Series. 152

BARROSO, Luiz Felizardo. Op. cit.

86

expressões advindas do direito anglo-saxônico: disclosure, full disclosure, ou full and fair disclosure.

Assim, a circular de oferta de franquia é um documento legal que visa

apresentar todas as informações pertinentes ao sistema de franquia que o

franqueador visa formatar, a qual estabelece desde a história do franqueador, seus

balanços e demonstrações financeiras, até o modelo do contrato a ser formalizado

com os pretensos franqueados.

Conforme define Melitha153:

Circular de Oferta de Franquia (COF) – é um compêndio de informações preparado pelo franqueador e no qual constam as características do negócio. A circular é tão importante no processo de venda e compra de uma franquia que é exigida pelos artigos 3º e

4º da Lei nº 8955/94, que rege o sistema de franchising no Brasil [...]

Nesse contexto, a circular de oferta de franquia é documento jurídico basilar à

realização do negócio de franquia, cuja existência e exibição pelo franqueador ao

franqueado advêm de determinação legal, sob pena de ser passível de discussão e

sujeitando o franqueador às sanções legais previstas na Lei de Franquia.

Outro elemento estrutural do contrato de franquia, também no contexto da

transparência, é o pré-contrato de franquia, o qual implica a capacitação do

franqueado na instalação do negócio.

Por meio dele, embora não decorra de exigência legal, mas da boa prática e

experiência do franqueador, capaz, inclusive, de evitar futuros conflitos, tal

instrumento é o que dará guarida aos direitos e deveres das partes no período em

que inicia a instalação do negócio.

Nesse período, já que pré-operacional, recomenda-se que manifestem

documentalmente, através do pré-contrato, as bases do sistema contratado, de

forma clara e objetiva, quase que como uma minuta do contrato de franquias, que

deverá ser formalizado, atribuindo-se, por cautela, inclusive, uma data de expiração

desse pré-contrato154.

Consequentemente, o ingresso efetivo do franqueado no sistema consolidado

pelo franqueador dar-se-á através do elemento estrutural denominado contrato de

franquia155. É por meio dele que as partes sacramentarão aquilo tanto quanto foi

153

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., 14. 154

Id., ibid., p. 15. 155

Id., ibid., p.16.

87

preestabelecido entre si, no passo do sistema moldado pelo franqueador, e aqui já

experimentado pelo franqueado na fase de ajuste prévio.

É da lei que decorre sua obrigatoriedade de formalização por escrito,

contendo as características exigidas para que se valide.

A Lei de Franquia é clara ao exigir que aqueles empresários interessados em

enveredar no sistema de franquias como franqueadores deverão apresentar aos

pretensos franqueados a circular de oferta de franquia, a qual deverá conter todas

as exigências do art. 3º dessa lei156.

156

“Art. 3º Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações:

I - histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do franqueador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os respectivos nomes de fantasia e endereços;

II - balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos dois últimos exercícios;

III - indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes e direitos autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando especificamente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a impossibilitar o funcionamento da franquia;

IV - descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades que serão desempenhadas pelo franqueado;

V - perfil do franqueado ideal no que se refere à experiência anterior, nível de escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente;

VI - requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na administração do negócio;

VII - especificações quanto ao: a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implantação e entrada em

operação da franquia; b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas condições de

pagamento; VIII - informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos pelo

franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as respectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam, indicando, especificamente, o seguinte:

a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos serviços efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties);

b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial; c) taxa de publicidade ou semelhante; d) seguro mínimo; e e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam ligados; IX - relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueadores da rede,

bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome, endereço e telefone; X - em relação ao território, deve ser especificado o seguinte: a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado território de

atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu território ou

realizar exportações; XI - informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir quaisquer

bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou administração de sua franquia,

88

Como forma de proteger os valores dados pelos pretensos franqueados por

ocasião do ingresso no sistema de franquia, a lei também estabeleceu que qualquer

valor pago pelo franqueado ao franqueador deverá ser realizado após dez dias da

entrega da Circular de Oferta de Franquia – COF, visto que o franqueador que não

respeitar o estabelecido na lei poderá responder pelas sanções nela contidas, que

podem ser a devolução das quantias pagas ao franqueado, perdas e danos, além da

anulabilidade do próprio contrato.

5.4. O papel da Associação Brasileira de Franchising – ABF

A Associação Brasileira de Franchising é uma entidade sem fins lucrativos,

criada em julho de 1987, que tem como missão divulgar, defender e promover o

desenvolvimento técnico e institucional desse moderno sistema de negócios,

congregando todas as partes envolvidas no franchising – franqueadores,

franqueados, consultores e prestadores de serviços –, com o ideal comum de

fortalecer o sistema de franquia157.

Sebastião José Roque afirma que não se pode compreender o

desenvolvimento e a divulgação da franquia no Brasil sem ligá-la ao organismo que

se dedica à sua implantação, visto que se trata de uma entidade particular formada

apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo franqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses fornecedores;

XII - indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no que se refere a:

a) supervisão de rede; b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado; c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos; d) treinamento dos funcionários do franqueado; e) manuais de franquia; f) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado; XIII - situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) das marcas ou

patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador; XIV - situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em relação a: a) know how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função da franquia; e b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador; XV - modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão de franquia

adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respectivos anexos e prazo de validade.” 157

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FRANCHISING – ABF. Disponível em: <http://www.portaldofranchising.com.br/sobre-a-abf/atuacao-da-associacao-brasileira-de-franchising>. Acesso em: 08 mar. 2014.

89

por franqueadores, franqueados, fornecedores, advogados especializados e

pessoas interessadas no tema.

Apesar de não ter poder de fiscalização ou mesmo sanção, certo é que os

franqueadores que pretendem utilizar o sistema de franquia como canal de

distribuição veem na ABF uma oportunidade de transmitir seriedade ao seu sistema,

além de segurança aos interessados em se tornarem franqueados, já que para filiar-

se à ABF os franqueadores devem respeitar, além da Lei de Franquia, o seu Código

de Ética e de Autorregulamentação.

Como já mencionado, a ABF não tem poder de aplicar qualquer tipo de

sanção aos franqueadores, mas trabalha com ações de premiação àqueles que se

destacam e a ela são filiados, entregando, por exemplo, todo ano, o selo de

qualidade da ABF.

Assim, como forma de regulamentar os contratos de franquia, a Associação

Brasileira de Franchising – ABF criou um Código de Autorregulamentação do

franchising, no qual fixou as regras gerais para pautar a relação entre franqueadores

e franqueados de forma salutar, evitando, assim, distorções de natureza jurídica e

comercial.

O Código de Autorregulamentação do franchising estabelece os preceitos

gerais de ética, moral e boa-fé que deverão pautar a conduta de franqueadores,

franqueados e prestadores de serviços do sistema de franquia.

Estabelece, ainda, que franqueadores, franqueados e prestadores de serviços

do sistema de franquia deverão conduzir suas atividades observando as disposições

do Código de Autorregulamentação, bem como as obrigações impostas pela

legislação vigente.

Partindo dessa premissa inicial, o Código estabelece quais seriam as

obrigações gerais entre franqueadores158 e franqueados159 quando adentrados ao

158

“OBRIGAÇÕES DO FRANQUEADOR 4. - O Franqueador deverá adotar as seguintes práticas comerciais

4.1. - Observar e manter com os seus Franqueados, relações honestas, éticas, pautadas pela transparência, boa-fé e respeito mútuo, seguindo as exigências legais estabelecidas para o ‘Franchising’ e cumprindo as obrigações assumidas no contrato. 4.2. - Oferecer aos potenciais Franqueados, de forma completa e correta, todas as informações exigidas por lei, além de outras que sejam relevantes para a avaliação do negócio, as quais vincularão o Franqueador. 4.3. - Responsabilizar-se pelo uso dos direitos de propriedade intelectual concedidos ao Franqueado. 4.4. - Garantir ao Franqueado o uso da marca e do Sistema de Franquia, salvo disposição expressa em contrário das partes.

90

sistema de franquia, como forma de pautar as regras inseridas nos contratos de

franquia formalizados entre as partes.

Além de fixar em linhas gerais quais seriam essas obrigações, o Código

também fixou em linhas gerais as regras para a formalização do contrato de

franquia, dando um norte a seguir aos entes participantes dessa relação.

O Código define o contrato de franquia como o instrumento que rege a

relação jurídica estabelecida entre franqueador e franqueado, estabelece os termos

e condições que deverão ser obedecidos para a exploração do sistema de franquia

pelo franqueado e as situações inerentes ao relacionamento franqueador-

franqueado.

Determina, também, que o contrato de franquia deverá dispor sobre o objeto

da franquia; concessão de direitos de propriedade industrial e intelectual; território de

4.5. - Zelar pelo aperfeiçoamento e desenvolvimento do seu Sistema de Franquia, visando que os franqueados da rede possam atender as necessidades apresentadas pelo mercado consumidor. 4.6. - Fornecer aos Franqueados toda a informação e suporte necessários para o funcionamento e desenvolvimento do negócio objeto da Franquia, a fim de permitir uma gestão uniforme da rede de Franquias. 4.7. - Manter uma comunicação eficiente com os Franqueados, promovendo discussões e intercâmbio de ideias, para melhorar a capacidade produtiva da rede, buscando solucionar as questões ou controvérsias que surgirem no relacionamento entre as partes. 4.8. - Tratar com isonomia seus franqueados.”

159

“OBRIGAÇÕES DO FRANQUEADO 6. - O Franqueado deverá adotar as seguintes condutas e práticas comerciais.

6.1. - Observar e manter com o seu Franqueador, relações honestas, éticas, de boa-fé e respeito mútuo, cumprindo sempre as obrigações assumidas no contrato de franquia e as normas legais. 6.2. - Dedicar seus maiores e melhores esforços para o desenvolvimento de sua Franquia e para a conservação da identidade e reputação do Sistema de Franquia. 6.3. - Fornecer ao Franqueador todos os dados referentes ao negócio franqueado, a fim de possibilitar ao Franqueador um controle eficaz do desenvolvimento da rede. 6.4. - Manter a estrita confidencialidade sobre os métodos, processos, técnicas, segredos de negócio, de fabricação ou comercialização, que lhe forem transmitidos pelo Franqueador. 6.5. - Utilizar a Marca sempre observando a legislação vigente, assim como as normas, padrões e orientações definidas pelo Franqueador, a fim de resguardar a identidade, prestígio e valor da Marca no mercado. 6.6. - Cumprir rigorosamente as normas, especificações, procedimentos e obrigações definidas pelo Franqueador com relação à operação da Franquia e utilização da Marca, estejam elas designadas em contrato, nos manuais ou em quaisquer outras orientações escritas prestadas pelo Franqueador. 6.7. - Assegurar que seus sócios, funcionários, auxiliares ou prepostos sejam capacitados para as atividades que exercerão, tanto durante quanto após o treinamento oferecido pelo Franqueador, a fim de desempenharem as atividades do negócio franqueado de forma eficaz, segundo as técnicas do Sistema de Franquia. 6.8. - Empreender esforços no sentido de manter comunicação eficaz com o Franqueador, promovendo discussões e intercâmbio de idéias, buscando melhorar a capacidade produtiva da rede e a solução das questões surgidas durante a operação do negócio, sobretudo aquelas que possam prejudicar o bom relacionamento entre as partes. 6.9. - Efetuar pontualmente os pagamentos das taxas previstas no contrato de franquia.”

91

atuação do franqueado; obrigações pecuniárias das partes; prazo da concessão da

franquia; direitos e obrigações do franqueador e do franqueado; causas e

consequências da rescisão; sucessão das partes; hipóteses e consequências da

cessão ou transferência da franquia; confidencialidade e não concorrência; cláusula

arbitral, preferencialmente indicando a Câmara de Mediação e Arbitragem da ABF –

Associação Brasileira de Franchising como órgão responsável pela condução da

mediação ou arbitragem.

Quanto à cláusula de mediação e arbitragem, apesar de o Código estabelecer

como uma das regras preferenciais a eleição da Câmara de Mediação e Arbitragem

da ABF nos contratos de franquia, fato é que, apesar de todos os esforços, referida

Câmara não saiu do papel, o que decerto referida nomeação torna inócua a cláusula

no contrato.

Ainda sugere que o contrato de franquia esteja redigido de forma clara e

precisa, usando linguagem acessível, em coerência com os termos e condições

expostos pelo franqueador na circular de oferta de franquia, bem como com as

demais informações divulgadas pelo franqueador ao mercado com respeito ao seu

sistema de franquia; que tal contrato seja sempre formal, escrito, firmado na

presença de duas testemunhas, e que sua eficácia independa de registro em

cartório de registro de títulos e documentos ou em qualquer outro órgão.

Concluindo-se, apesar de o Código de Autorregulamentação do franchising

não ter poder vinculativo aos participantes do sistema de franquia, fato é que

aqueles que desejam participar desse sistema devem ter a chancela da Associação

Brasileira de Franchising, porque a partir daí se estabelece a seriedade daquele

sistema de franquia no qual as partes estão inseridas.

Também é papel da ABF promover regularmente cursos sobre franquia,

seminários, simpósios, encontros e discussões, visando ao aprimoramento técnico e

profissional daqueles interessados no sistema de franquia.

Por fim, a ABF também tem como papel a divulgação do franchising no Brasil

por meio da publicação anual do Guia Oficial de Franquias, com tiragem de 100 mil

exemplares, além da Organização da Maior Feira de Franquia da América Latina,

que ocorre todos os anos na cidade de São Paulo.

92

6. CONTRATOS DE FRANQUIA E ARBITRAGEM

Tanto os contratos de franquia quanto o instituto da arbitragem vêm em

crescente utilização no cenário nacional, e, coincidentemente, ambos resultaram

legislados no Brasil em períodos próximos. Desde então, com a criação de

ferramentas jurídicas ao sistema de franquia, a partir da edição da Lei n. 8.955/94,

bem como à arbitragem, com a Lei n. 9.307/196, a evolução jurídica de tais modelos

vem sedimentando-se nas relações entre empresários, dentro do contexto de

iniciativas privadas.

Segundo reflexão de Melitha Novoa Prado, a morosidade do sistema judiciário

e o custo do processo representam perdas financeiras às partes que poderiam ter

sido evitadas se a franquia continuasse em operação, defendendo, assim, a

utilização de adoção de métodos alternativos para resolução de conflitos, que seria

cada vez mais eficiente160.

Reconhece Melitha, todavia, que antes de tudo é necessário ampliar a ideia

da relação de franquia para além daquela adstrita ao contrato e às partes, tendo em

vista que as razões de foro íntimo, e de “prevalência de interesses e sentimentos”,

afetariam o êxito do processo de gestão de conflitos, visto que eventuais questões

controvertidas entre partes baseiam-se em três dinâmicas: causa, tempo e efeito161.

Em relação ao fator “tempo”, Melitha ressalta que “é um valor precioso, que

não deve ser desperdiçado com bobagens e sofrimentos (inevitáveis) que se

prolongam”162 e que competiria ao franqueador uma atitude pró-ativa nessa gestão,

quando aspectos que circundam a relação possam interferir nesse fator, cabendo a

este a simplificação fundamental, já que o fator tempo, quando se fala em conflito, é

de tal importância.

A inclusão de cláusula compromissória em contrato de franquia já foi objeto

de discussão em passado recente. Nos dias atuais está sedimentado o

entendimento quanto à possibilidade da eleição da via arbitral e referidos contratos.

Ainda que se entenda que o contrato de franquia é contrato de adesão, desde

que sejam respeitados os termos do § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96, a cláusula

compromissória será perfeitamente válida.

160

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., 129. 161

Id., ibid., p. 130. 162

Id., ibid., p. 132.

93

Importante esclarecer que o contrato de franquia não caracteriza relação de

consumo. Nem a existência de um contrato de adesão e de uma possível

hipossuficiência poderia ensejar o entendimento de submissão do contrato de

franquia ao Código de Defesa do Consumidor.

6.1. Vantagens da arbitragem e da cláusula institucional nos contratos de

franquia

Ao observarmos um sistema de franquias e as mais diversas relações que se

estabelecem nesse tipo negocial, como antes visto, a existência de um conflito pode

ter dimensões gigantescas, afinal, pode envolver, além da relação entre franqueador

e franqueado (forma individual), toda a rede de franquia em si.

Nesses casos, usualmente, as partes utilizam-se da forma adversarial para

solver tais controvérsias, ou seja, através do Poder Judiciário.

Todavia, para os contratos de franquia, a solução de conflitos nesse meio não

é a mais indicada, como adiante se verá, razão por que os meios não adversariais

vêm ganhando espaço como ferramenta de sucesso na gestão de conflito.

É que as vantagens da utilização do instituto da arbitragem ao franqueador e

ao franqueado em caso de um litígio decorrente do contrato de franquia podem

diminuir os custos de transação das partes contratantes, aumentando seus lucros e

minimizando suas perdas, já que ambos os institutos jurídicos têm extrema afinidade

de princípios, como já se abordou.

Assim, a utilização da arbitragem na solução de conflitos decorrentes desse

contrato contribui para a fomentação da utilização do instituto no Brasil.

As vantagens da utilização da arbitragem em tais contratos não diferem

daquelas inerentes ao próprio instituto da arbitragem, e, pelo contrário, encaixam-se

perfeitamente no sistema um do outro.

Para que se tenha a exata dimensão de tudo quanto se aduz, merece

destaque, por ocasião da análise dos temas em conjunto, a observação de algumas

características que se agregam, dentre elas: a celeridade do procedimento arbitral, a

possibilidade de escolha do julgador e sua capacidade técnica, a privacidade e sigilo

do procedimento arbitral, a preservação da relação entre as partes e a possibilidade

de escolha das partes quanto à lei aplicável ao caso.

94

A celeridade é um diferencial positivo introduzido pela Lei de Arbitragem,

considerando-se a morosidade do Judiciário, cujo sistema processual permite

caminhos mais longos para o encerramento de uma questão controvertida.

Pelo fato de a Lei de Arbitragem prever o prazo de seis meses para a

prolação da sentença arbitral, caso as partes não tenham estipulado nada em

contrário, a solução de um conflito contratual é mais rápida do que seria caso

resolvido perante o Poder Judiciário.

A bem de observar, nesse aspecto, que uma decisão terminativa e vinculativa

às partes no Judiciário pode demorar até dez anos para ser solvida, considerando-

se que o procedimento judicial conta com pelo menos três graus de jurisdição e a

possibilidade de uma gama de recursos. Na arbitragem, por sua vez, considerada a

lei que versa sobre a matéria procedimental, levaria em média de seis a dezoito

meses para ser concluída163.

Nesse pensar, se a longa duração de um processo judicial é causa, por si só,

de expandir conflitos, notadamente, no âmbito de contratos de prestação

continuada, como é o caso dos contratos de franquia, cujo principal fator de ajuste é

precipuamente a boa relação das partes, a manutenção de uma lide por tempo

indeterminável, no mais das vezes, sem dúvida, agrava e inviabiliza a manutenção

dessa relação, ao menos até que uma decisão finalize o embate.

E, no mundo negocial, fica óbvio que, nesse interregno, desde a instauração

do conflito até sua solução vinculativa final, ou seja, enquanto as partes em conflito

aguardam uma decisão definitiva, deve-se considerar até mesmo que, em alguns

casos, o ponto nuclear do conflito derive de privação às partes de seus bens e/ou

direitos, fato que gera alto custo dentro do negócio, por via de consequência,

prejuízo, o que pode ser facilmente contornado optando-se por decidir o litígio por

arbitragem, minimizando, assim, que incidam os riscos do tempo no negócio como

um todo, notadamente, na relação afeta.

Dessarte, se, justamente na essência da franchising, uma das ferramentas

eficazes é o atendimento à dinâmica negocial dentro do universo da conectividade e

mobilidade, estruturadas no conceito atual de mercado, em mais se justifica a

celeridade na solução dos conflitos intercorrentes no contrato de franquias e, assim,

a utilização da arbitragem como ferramenta eficaz no segmento.

163

Aqui em referência segundo a lei e a experiência como advogada atuante nesse segmento.

95

A inexistência de recursos ou procedimentos de caráter infringente em sede

de arbitragem também é fator de contribuição para a celeridade do procedimento

arbitral na medida em que o objeto do conflito será decidido em instância única,

cabíveis, no mais das vezes, embargos de declaração da sentença proferida, nos

limites com que autorizado pela lei e pelo regulamento interno da instituição ou

estipulado entre as partes, caso de arbitragem ad-hoc.

E, nessa rubrica, há de se salientar em rápida abordagem, já que não se

insere no tema proposto, que o quanto se aduz nesse sentido deriva do que

usualmente se observa quando da utilização da arbitragem, afinal, permitir que se

agregue ao procedimento arbitral a vasta gama de instâncias que se observa

permissivo no processo civil, por exemplo, corresponderia afastar da própria

sistemática do instituto aquilo quanto ele se baseia, razão por que a tendência de

instância única da arbitragem deve ser preservada.

Outro fator que contribui para a celeridade do procedimento arbitral é o

ambiente amistoso que propicia uma aproximação das partes e como consequência

a possibilidade de acordos no decorrer do procedimento.

A necessidade de agilidade na solução de um conflito mostra-se presente em

todas as relações atuais, especialmente nas empresariais, em que o tempo aparece

como grande vilão.

No contrato de franquia não é diferente, pois o franqueado depende do

conhecimento do franqueador para que o seu negócio tenha o desenvolvimento

almejado, e o tempo que pode demorar uma solução judicial é fator de sucesso ou

fracasso do negócio, visto que a demora na solução do conflito pode resultar na

perda do objeto e interesse das partes no negócio.

Outra vantagem inquestionável para que busque resolver questões ligadas

aos contratos de franquia por meio da arbitragem é a possibilidade de escolha do

árbitro que será responsável pelo julgamento dos conflitos em função de sua

capacidade técnica.

Eleger um julgador ou um colegiado com compreensão técnica para examinar

todos os aspectos da demanda permite que o conflito seja analisado de uma forma

menos generalista, como seria caso fosse resolvido no Judiciário.

96

A figura do julgador especialista, presente na arbitragem, é retratada por

Valéria Maria Sant’Anna164:

Cabe observar que é distinto julgar uma demanda tendo em mãos laudos técnicos e depoimentos sobre um tema que não se domina e decidir sobre um tema sobre o qual se tem o domínio. Essa a grande chave dos contratantes [...] Ao nosso entender, o juízo arbitral, mesmo podendo sair até mais oneroso para as partes, deve ser mais confiável tendo em vista a possibilidade de se ter peritos decidindo a contenda [...] o problema estará sendo solucionado por pessoas de capacidade e entendimento no tema, podendo chegar a uma conclusão inédita, inclusive porque, se as partes assim o permitirem, poderão utilizarem-se tão somente da equidade [...]

A especialização do árbitro eleito para dirimir o conflito diminui o risco de

decisões equivocadas ou dissonantes à área.

Melitha165 encoraja a utilização da mediação e arbitragem em conflitos

relativos ao sistema de franchising, referindo que há anos seus clientes vêm

adotando tais métodos e estariam bastante satisfeitos, tanto em relação à

especialização do julgador, possibilidade vista na arbitragem, como pelo fato de que

vislumbra decisões mais justas e equilibradas nesse segmento que possibilita,

inclusive, a prévia mediação, etapa que constitui um diferencial positivo em relação

àqueles conflitos que têm sido solucionados, através da justiça estatal, por

julgadores não especializados.

Como sustentou Francisco Müssnich166, em debate realizado e reproduzido

na Revista Getúlio, da FGV:

Os grandes conflitos societários, as questões do mercado de capitais

ou as operações financeiras exigem expertise. Seria injusto

pretender que um juiz possa saber tudo sobre processo civil, direito criminal, execução, locação, usufruto e ainda dar conta desses casos.

Nesse particular, fica óbvio que, se na arbitragem os árbitros são indicados

pelas partes e daí poderem ser eleitos essencialmente em razão da afinidade,

conhecimentos e capacitações técnicas relativos à natureza do litígio, sua utilização

na área de franquias é, sem dúvidas, uma vantagem insofismável, afinal a

164

SANT’ANNA, Valeria Maria. Arbitragem. Edipro, 1997, p. 22-23. 165

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., p. 135. 166

MÜSSNICH, Francisco. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/ 10438/7015/Ed.%2013%20-%20Debate%20(site).pdf?sequence=1>.

97

especialização diminui o risco de análise equivocada nas decisões, já que quem vai

arbitrar tem conhecimento da matéria.

E tanto é verdade que, sob o título “Juiz sem especialização atrasa ações,

dizem advogados”, matéria publicada no CONJUR, de autoria de Pedro Canário167,

revela uma preocupação de advogados especialistas em determinada área,

atribuindo também à questão da morosidade do Judiciário a falta de conhecimentos

técnicos dos juízes, o que propiciaria julgamentos equivocados e, daí, a interposição

dos recursos processuais cabíveis.

E tanto é verdade que a criação de câmaras ou varas especializadas, pelo

país, plasma que até mesmo o Judiciário se coadune com a assertiva e tente, dessa

forma, minimizar a questão, dentro da gestão administrativa possível para a melhor

formatação da justiça.

No entanto, os problemas empresariais não podem ficar à mercê de soluções

judiciárias, visto que, a uma, são demoradas ante a própria instrumentalização

processual prevista, e, a duas, quanto ao notório fato de que o Judiciário está por

demais assoberbado, afinal, é necessário que a vida empresarial não fique

estanque, já que prejudicaria seu desenvolvimento e, pior, pode ser que o conflito

enseje o engessamento das próprias atividades administrativas ou empresariais de

produção.

Tem-se, portanto, que a formatação da arbitragem, por sua vez, já se

coaduna, em sua essência procedimental, em atender de forma dinâmica e eficaz

seus usuários, e isso, no âmbito da franquia, vem de ser fundamental.

Essencialmente, no que diz respeito à confidencialidade, em detrimento da

publicidade do processo judicial, a arbitragem permite que as partes envolvidas,

empresas que são e que têm interesse em manter o sigilo tanto relativo aos conflitos

que atravessem, quanto no que diz respeito às relações que mantêm no mundo

negocial, vislumbrem aspecto positivo, principalmente em se tratando de contratos

de franquia, pois que isso evita tornar público, inclusive, segredos de negócios,

valores envolvidos, know-how, clientela, projetos, entre outros.

Nas relações de franquia, a questão da preservação da confidencialidade

exerce papel preponderante, dada a própria sistemática negocial estabelecida e que

167

CANÁRIO, Pedro. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2012-mar-27/falta-especializacao-juizes-atrasa-acoes-propriedade-intelectual>. Acesso em: 7 maio 2014.

98

tem como núcleo aspectos de extremo sigilo, como, por exemplo, a transferência de

know-how, dentre outros.

Nesse sentido, menciona Adir Ribeiro168, na obra Gestão estratégica da

franchising, ao mencionar aspecto preponderante de se considerar nos documentos

de franquia:

Outro aspecto importante é a confidencialidade das informações dos manuais. É importante que esteja claro para a rede que as informações têm um caráter confidencial e que não podem ser passadas para outras pessoas que não pertencem ao sistema de Franquia da rede.

O sigilo da arbitragem permite, ainda, que a decisão arbitral não se torne um

padrão ou possa ser alegada por uma das partes como um precedente para os

demais casos a serem julgados, afinal, dado o sigilo do procedimento arbitral e, aqui

registro, não decorrente da lei, mas da tradição do procedimento arbitral, nenhuma

decisão pretérita, implica servir de base para o julgamento de outra análoga – e

aqui, portanto, não se verifica ocorrência de dissídio jurisprudencial a ponto de que

uma das partes se beneficie do norteador de uma decisão de caso análogo. E, sob

esse aspecto, é positivo, afinal, da arbitragem obtêm-se decisões personalizadas,

podendo-se afirmar que “cada caso é um caso” em se tratando de justiça privada.

E ressalte-se como um ponto positivo, já que, não necessariamente uma

decisão de caso análogo, supondo-se equivocada em algum aspecto, seja lastro

para outro caso em análise.

A arbitragem, portanto, traduziria o ambiente ideal para que os conflitos

derivados de relações negociais que se dão nuclearmente, em caráter confidencial

entre franqueadora e franqueado, sejam solucionados através de procedimento ideal

para refletir em linha de continuidade pactual, preservada a confidencialidade,

princípio que não se pode obter por meio da justiça estatal, já que impera naquele

setor o princípio publicista dos atos processuais.

Além disso, a preservação da relação entre as partes é a tônica da

arbitragem, que se realiza, normalmente, através de um sistema híbrido de

mediação ou conciliação prévia, e, sendo uma opção feita pelas próprias partes,

acaba no mais das vezes em atos de mútua cooperação.

168

RIBEIRO, Adir et al. Gestão estratégica do franchising: como construir redes de franquias de sucesso. São Paulo: DVS, 2011, p. 86.

99

Nessa mesma linha, e agora sob o enfoque das relações de franquia, ressalta

Adir Ribeiro169, a par do “lado humano da franchising”, que a construção de bases

relacionais sólidas entre as pessoas envolvidas nas relações de franquia evitaria

problemas que constantemente surgem nas trajetórias empresariais e daí a

integração entre CPFs em vez de somente CNPJs, como refere em expressão

figurativa para configurar que atrás de um CNPJ (de uma pessoa jurídica) sempre

existe uma pessoa física (CPF) – propiciaria relações mais maduras e responsáveis,

que consequentemente se refletiriam no comportamento e nas relações das pessoas

jurídicas relacionadas, citando o autor, ainda, que a franchising seria justamente

uma relação de forte interdependência entre as pessoas, minada de sentimentos,

expectativas, emoções, motivações, núcleo das relações de franquias.

Base nisso, a arbitragem, quando aplicada para solucionar conflitos instalados

em relação de franquia, seria capaz de aparar arestas de tal modo que resultasse

preservada a relação entre as partes – e isso porque a arbitragem se dá em

ambiente cuja pauta, ao contrário das lides dirimidas pelo Judiciário, não se

estabelece dentro da cultura litigante, senão em ambiente que promove justamente

a pacificação de conflitos.

Diante disso, ocorre, por via de consequência, adesão das partes aos ditames

traçados na sentença arbitral, ou seja, uma menor resistência aos comandos dela,

os quais, caso não cumprida, têm imediata via satisfativa, através de ação de

cumprimento prevista no Código de Processo Civil.

Nos contratos em cena, muitas vezes há o envolvimento de interesses

comerciais entre investidores de países diversificados, cujas normas jurídicas e

costumes têm diferentes contornos.

Nesse aspecto, justamente, reside uma das vantagens da utilização da

arbitragem nos contratos de franquia que possibilita a escolha livre pelas partes da

lei aplicável ao caso, podendo elas, inclusive, optar pelo julgamento do conflito com

fundamento na equidade, usos e costumes e regras de comércio internacional170.

Nesse sentido, Carlos Alberto Carmona171:

169

Id., ibid., p. 24-25. 170

“Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes. § 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública. § 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.” 171

CARMONA, Carlos Alberto. Op. cit., p. 15.

100

Segundo a Lei de Arbitragem, as partes têm liberdade de escolher o direito – material e processual – aplicável à solução da controvérsia, podendo optar pela decisão por equidade ou ainda fazer decidir o litígio com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

Abre-se um parêntese para tratar da questão da escolha da lei aplicável nas

arbitragens que envolvam os contratos de franquia.

Como paradigma, importa mencionar a decisão da 7ª Câmara do 1º Tribunal

de Alçada Civil de São Paulo – 1º TACSP, no julgamento do Agravo de Instrumento

– AI n. 1.111.630-0, que inaugurou precedente jurisprudencial a par da questão da

escolha, pelas partes em arbitramento, da lei que seria aplicável no julgamento da

lide, tendo em vista que a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB

prevê que a lei aplicável ao contrato seria a do local em que foi firmado e, no

contexto, não poderiam as partes estabelecer, em princípio, uma lei aplicável ao

caso concreto que não fosse da mesma territorialidade do pacto.

A saber, tratava-se de conflito entre partes de nacionalidade diferente que

haviam atribuído, na cláusula arbitral, a aplicação da lei francesa ao deslinde do

conflito, por arbitragem. A questão resultou solvida, merecendo seja colacionado

trecho do voto do juiz relator Waldir de Souza José:

[...] não há invocar-se a Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro [atual Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro – LINDB], que só tem aplicação quando houver omissão ou controvérsia a respeito do direito aplicável à hipótese. Como a lei nº 9.307/96, em seu art. 2º, permite que as partes possam livremente escolher as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, não se verifica o desconforto entre a lei de arbitragem, que preserva em seu art. 9º, tal direito às partes, em detrimento as regras da CCI [...] 172

No mencionado julgamento, resultou declarada a validade da cláusula arbitral

e garantida a escolha da lei aplicável eleita pelas partes, ainda que não guardasse a

mesma territorialidade. A respeito da lei aplicável, o Tribunal entendeu que não era

correto pautar-se no regramento da Lei de Introdução às normas do Direito

Brasileiro, visto que o art. 2º, § 1º, da Lei de Arbitragem permite às partes que optem

livremente pelas regras aplicáveis à solução do litígio, e, por fim, que não havia

172

LEMES, Selma. A ESCOLHA DA LEI APLICÁVEL NA ARBITRAGEM. IMPORTANTE

PRECEDENTE JURISPRUDENCIAL. http://www.selmalemes.com.br/artigos/artigo_juri08.pdf - Acesso em 16.02.2014.

101

invalidade pelo fato de a questão envolver representação comercial, regulada em lei

especial, já que se trata de direitos disponíveis e transigíveis.

Em termos de contrato de franquia, sem dúvida, a eleição pelas partes da lei

aplicável ao julgamento de eventual conflito, principalmente considerando-se a

internacionalização desse tipo de contrato, é característica que interessa nesse meio

negocial, tendo em vista que, tanto a possibilidade da eleição da lei aplicável à

matéria em conflito, no caso de julgamento por arbitragem, quanto à possibilidade da

aplicação da equidade, resulta em ponto de convergência entre ambos os institutos,

de franquias e arbitragem, como forma inquestionavelmente benéfica.

Dessarte, tanto as partes podem escolher a lei a ser aplicada no caso

concreto, como também poderão fazer a opção pelo idioma a ser utilizado, bem

como eleger árbitros de outros países sem interferir na nacionalidade da decisão,

principalmente porquanto, nesse aspecto, o Brasil adotou o critério da territorialidade

da decisão, segundo o qual a decisão será nacional ou estrangeira de acordo com o

local em que foi preferida.

A par dessas reflexões e experiências, pode-se dizer que fica de certa forma

pasmada a ideia de que a utilização da arbitragem no segmento da franquia é

solução ideal, coadunada aos princípios cujos fatores “tempo, causa e efeito”,

primordiais nas relações de franquias, são igualmente fatores intrínsecos da

arbitragem e retratados nos princípios da celeridade, especialidade, sigilo,

previamente solucionável por técnicas de mediação e despida que é da visão

paternalista que ainda se agrega ao Judiciário, no sentido de que este se veste da

cultura de solução de lides através da figura austera do Estado, em detrimento da

firme, porém branda ideia de solução por composição e diálogo advinda da

arbitragem, quase que um processo cooperativo entre partes, traduzido na dinâmica

da arbitragem173.

As vantagens que regem a arbitragem, por si só, formam uma sincronia

perfeita com o objeto do contrato de franquia, e, por essa razão, vem sendo utilizada

cada vez mais nesse segmento.

Quanto ao tema, na leitura de Sebastião Jose Roque174, obtém-se:

Não há um poder judiciário internacional, a justiça pública universal. O foro competente para julgar questões internacionais, com

173

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., p.132. 174

ROQUE, Sebastião José. Op. cit., p. 162-163.

102

predominância na área contratual é estabelecido pelas próprias partes na cláusula de eleição de foro. No plano nacional há certas limitações à eleição de foro pelas partes, pois o Código de Processo Civil impõe normas sobre o foro competente [...] nessas condições, empresas de países diferentes poderão celebrar contrato coma eleição de foro competente para dirimir quaisquer controvérsias entre elas, perante a justiça de um dos países a que pertença alguma delas ou, então, no foro de qualquer dos países [...] Entretanto, não seria apenas a escolha do foro a preocupação das empresas contratantes, mas também o direito a ser aplicado [...] as vias costumeiras de solução têm apresentado sensível inadequação para o exame de divergências entre empresas engajadas num contrato. Por estas razões as normas internacionais penetram no Brasil, transformando-se em direito nacional, como foi o caso da arbitragem [...]

Pode-se, portanto, afirmar que a arbitragem, uma vez utilizada como meio de

solução de conflitos derivados de contratos de franquia, não seria apenas

conveniente, como de inquestionável vantagem, já que os institutos em apreço

acham-se sincronizados tanto quanto em relação ao binômio formatação/princípios

de regência quanto em vista das vantagens de sua aplicação a tais contratos.

Mister se registre, por derradeiro, que a instituição da arbitragem em contratos

de franquia resulta mais bem enquadrada através de eleição por cláusula

institucional, em detrimento das demais formatações possíveis.

E, nesse particular, uma vez que na arbitragem institucionalizada as regras do

formato processual a adotar são as que vigoram na instituição escolhida pelas

partes, nos limites da lei arbitral, desde já se consagra como um facilitador.

Nesse ponto, interessa notar que, se antes do conflito, as partes, ao

instituírem a cláusula compromissória e, assim, elegerem a arbitragem para

solucionar os conflitos decorrentes da contratação em cena, não ditarem as regras

procedimentais uma a uma, a serem adotadas na ocasião do conflito, muito menos

condições terão de fazê-lo quando instalado o conflito, afinal, pressupõe-se que, no

curso do quadro controvertido entre elas, a tendência é que não haja convergência

nesse aspecto, podendo, assim, gerar-se um conflito além daquele conflito de

essência, o que seria um aspecto negativo na relação.

Dessarte, uma vez estabelecida pelas partes a arbitragem institucional, sua

administração ocorrerá pela instituição eleita, que, por sua vez, possui regulamento

próprio e tem disciplinada a forma de eleição de árbitros, o que dá ensejo à

segurança jurídica a tal ponto que nem sequer se instalaria entorno a eventual

103

aplicação do art. 7º da Lei de Arbitragem175, podendo a parte que desejar dar início

à arbitragem dirigir-se à referida instituição.

Ainda, a definição, guarda dos documentos e o local de realização das

reuniões ou audiências já é questão que deixa de ficar ao encargo de as partes

resolverem ou mesmo responsabilizarem-se, já que a própria instituição arbitral é

quem zelará pelo cumprimento de tais questões.

Portanto, a arbitragem tende a ser o melhor método de solução de disputas

para um contrato de franquia, e a cláusula arbitral institucional nesses contratos

tende a fomentar o lucro e reduzir a perda, notadamente.

Relativamente à cláusula institucional aplicada aos contratos de franquia, é de

se perceber que a agilidade e confidencialidade que se vê convergentes na

arbitragem ao instituto negocial em tela estariam mais bem preservadas se ficassem

restritas ao âmbito arbitral institucional.

Nesse particular, cabe tecer que em caso de eventual inadimplência por

resistência do adverso em submeter-se à cláusula arbitral ou em não havendo

acordo prévio entre as partes sobre a forma de instituir a arbitragem, o que jamais

ocorreria fosse instituída através de cláusula compromissória institucional, as partes,

ao utilizarem-se do direito conferido no art. 7º da Lei de Arbitragem, e, assim,

levando à apreciação da justiça estatal o conflito nesse sentido, de alguma forma

estariam afetando princípios básicos a par da confidencialidade, já que em sede de

estatal não se aplica o sigilo em casos tais, bem como, caso procedente a ação,

obtendo da justiça estatal o suprimento dessa vontade, nasceria a partir de uma

sentença judicial o juízo arbitral.

Tal sistemática de certa forma prejudicaria os interesses das partes no

contrato de franquia, uma vez que contraria os princípios que convergem entre a

arbitragem e a franquia, e, segundo a exegese do citado artigo legal, o conflito

instado a par da eleição da arbitragem, sendo solvido em sede de processo judicial,

frustraria, de certa forma, a agilidade esperada do juízo arbitral antes eleito.

Ainda, dar curso ao procedimento arbitral através de uma sentença judicial

que supra a vontade da parte relativamente à eleição da justiça privada é

reconhecer de certa forma que a parte recalcitrante não estaria utilizando-se da mais

estrita boa-fé, já que se esquiva da utilização do instituto por um mecanismo judicial

175

A saber, o art. 7 º da lei outorga eficácia positiva à cláusula compromissória, diante da resistência da parte em instituir a arbitragem que livremente pactuou.

104

que admite, inclusive, recurso em caráter infringente e, nesse pensar, o decurso do

tempo prejudicaria a plena e ágil solução do conflito.

Dessarte, a cláusula compromissória institucional é recomendação nas

relações negociais e especificamente nos contratos de franquia, quando a dinâmica

por si só pressupõe uma preservação da relação e rapidez na solução de conflitos

que poderiam pôr em risco toda a atividade do negócio.

6.2 A adesividade do contrato de franquia e a arbitragem

Normalmente utilizado em relações de consumo de massa, o contrato de

adesão nada mais é senão aquele cujas cláusulas são pré-impressas e estipuladas

por uma das partes, sujeitando a outra parte signatária às regras preestabelecidas

no negócio jurídico.

Na doutrina de Orlando Gomes176 temos que o contrato de adesão é aquele

em que uma das partes tem que aceitar, em bloco, as cláusulas estabelecidas pela

outra, aderindo uma situação contratual que encontra definida em todos os seus

termos.

Relativamente ao contrato de adesão, interessante abordagem observa-se

em Fran Martins177:

[...] cedo se desenvolveram em larga escala e hoje são grandemente usados nos negócios comerciais. Significam uma restrição ao princípio da autonomia da vontade, consagrado pelo Código Civil Francês, já que a vontade de uma das partes não pode manifestar-se livremente na estruturação do contrato [...]

De dizer, portanto, que, em relação à definição do contrato de adesão, este

não difere em muito na doutrina, que pesa uníssona relativamente à construção

desse tipo de contrato, vislumbrando-se a ideia de manifestação de vontade das

partes, expressa pela edição das regras do negócio jurídico por uma delas e pela

adesão dessas regras pela outra parte, quando então surge o vínculo jurídico entre

elas relativamente ao contrato.

176

GOMES, Orlando. Contratos. 18. ed. atual. e anotada por Humberto Theodoro Júnior. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 109 e 119. 177

MARTINS, Fran. Op. cit.,, 8. ed. 1958, p. 99.

105

Em verdade, os contratos de adesão representariam uma espécie de

evolução necessária aos instrumentos contratuais na atual conjuntura do mundo

jurídico dos negócios, já que caracterizado por um novo conceito em pró da

otimização e velocidade com que se realizam os negócios.

Para melhor entendimento, interessa-nos retratar, em linhas gerais, que,

nessa evolução histórica do contrato, os princípios lex inter pars e pacta sunt

servanda, reportando o pensamento jurídico advindo do liberalismo econômico do

século XIX, influenciaram o CCB de 1916, e que de sua via passou por uma

adaptação à nova realidade social inaugurada com a era capitalista, até caminhar às

concepções atuais do Código Civil de 2002.

Nessa trajetória, note-se que, partindo do Código editado sob influência do

liberalismo, havia menos intervenção do Estado na vida negocial, atribuindo-se às

partes essa responsabilidade de estipularem suas regras, as quais se tornariam “lei

entre elas”, competindo-lhes o devido policiamento178.

No entanto, com o advento do capitalismo, o pensamento liberalista teve que

ser, de certa forma, adaptado a essa realidade introduzida pela sociedade, que

passou a caracterizar-se como de consumo.

Em verdade, observa-se que os contratos de adesão são uma técnica

contratual inerente à sociedade industrial, capitalista, globalizada e massificada,

como meio de dar maior velocidade à contratação de produtos e/ou serviços, bem

como visando ao custo e ao lucro empresariais.

O conceito legal do contrato de adesão está na Lei n. 8.078/90, em seu art.

54, que pode ser invocada por analogia às demais áreas do direito civil, não

somente para as relações de consumo:

Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Cláudia Lima Marques179, a par do contrato de adesão, retrata que o aderente

“[...] (muitas vezes sem sequer ler completamente) as cláusulas [...]”, aceita em

bloco o clausulado pelo contratante e daí as regras da relação porquanto unilateriais

e pré-elaboradas por uma das partes, outorgaria ao aderente “um papel de simples

178

ZANARDO, Maria Antonieta. Proteção ao consumidor – conceito e extensão. RT, 1993, p. 15. 179

MARQUES, Cláudia Lima. Op. cit., p. 31.

106

aderente à vontade manifestada pela empresa no instrumento contratual

massificado".

No contexto, segundo o conceito de Orlando Gomes180 para os contratos de

caráter adesivo: "No contrato de adesão uma das partes tem que aceitar, em bloco,

as cláusulas estabelecidas pela outra, aderindo uma situação contratual que

encontra definida em todos os seus termos".

Assim, dada a natureza dos contratos adesivos, duas são as possibilidades:

ou o aderente aceita as cláusulas pré-redigidas ou não firma o contrato, ou seja,

dentro da sua manifestação de vontade, anui ou não ao clausulado.

Lastro nesses padrões doutrinários, para Melitha181:

Ao contrário do que se pensa, o contrato de franquia não é um contrato de adesão, mas sim “por adesão”, chamado de contrato padrão. Os contratos de adesão são aqueles nos quais o contratado não possui chance alguma de requerer alguma alteração ou modificar alguma cláusula, como são, por exemplo, aqueles assinados com as concessionárias [...] Diferentemente, o contrato de Franquia, apesar de ser padrão para o sistema formatado pelo franqueador, pode sofrer alguns ajustes de forma a esclarecer alguns pontos nebulosos e até mesmo se adaptar às condições acordadas com o franqueador. Isso não significa que o franqueador terá várias minutas diferentes do seu contrato de franquia. Na realidade, para que o franqueador pratique gestão participativa da sua rede, o padrão contratual deve ser único [...]

E, portanto, relativamente à classificação do negócio como adesivo, como

bem observa Nelson Nery Junior182, existem duas figuras, a saber: o contrato por

adesão e o contrato de adesão.

Nesse sentido, não demais lembrar que a própria Lei de Franquia remete para

a existência de um padrão, uma formatação única do sistema de franquias, de modo

que se possa estabelecer, dentro desse sistema, uma homogeneidade comercial.

E tudo isso porque, ante a própria natureza do contrato de franquia, pode-se

verificar que, uma vez estruturado o sistema de franquias, as contratações dele

derivadas seguirão um mesmo padrão, capazes de atender às condições do próprio

negócio, razão por que, uma vez formado o sistema, não tem espaço ao

franqueador excetuá-las em favor de um ou outro franqueado.

180

GOMES, Orlando. Op. cit., p. 109 e 119. 181

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., p. 141-142. 182

NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 551.

107

A imposição dessa contratação por meio de instrumentos pré-redigidos pelo

franqueador dá ao contrato de franquia, já de princípio, ares de adesividade, visto

que ao candidato a franqueado não é permitido discutir as cláusulas, mas apenas

pequenos ajustes.

Inegável que dentro de um sistema de franquias, estruturado que deve ser, os

contratos dele derivados obedecerão a um padrão de cláusulas e condições

elaboradas pelo franqueador e será celebrado por mera aceitação das condições

impostas, com pouca possibilidade de negociação pelo franqueado, principalmente

porquanto não se pode pensar em inovar cláusulas em um contrato que, em sua

essência, tem a função de ratificar entre as partes tudo quanto se espelha desse

sistema – sistema este construído pelo franqueador.

Nesse sentido, mister ter em mente que a franquia é um microssistema que

exige um olhar diferenciado e mais cuidadoso relativamente aos seus conceitos e

características, devido a suas peculiaridades. Por isso, a importância de estudar a

cláusula compromissória nos contratos de franquia e não nos contratos de adesão

em geral faz-se presente neste trabalho.

Inegável que o contrato de franquia é um contrato bilateral, uma vez que

produz direitos e obrigações entre as partes. Também não há discussão quanto à

sua onerosidade, pois prevê ganhos e perdas entre as partes.

E, por se tratar de contrato de execução continuada, uma vez que indica

sucessivas prestações, tem como premissa o sucesso do negócio, que dependerá

da continuidade saudável dessa contratação.

Assim, como já mencionado, quanto às características acima descritas há

pouca discussão, e no que diz da sua tipicidade ou atipicidade, embora se perceba

alguma divergência doutrinária afinal, a lei delineia seu conteúdo, mas não impõe

uma disciplina singular, não é discussão relevante neste, razão pela qual não nos

ateremos ao tema.

Interessa-nos, para efeito deste estudo, em verdade, outro aspecto que tem

ditado essa seara pactual e que diz respeito à classificação do contrato de franquia

quanto à sua adesividade, interessando observar que a Lei de Franchising brasileira,

dentre outras questões que cercam o cenário, enumera em seu art. 3º a exigência

do franqueador antes de firmar qualquer contrato com o franqueado, para que

exponha, dentro do prazo legal de dez dias que o antecede, através de documento

que o legislador denominou circular de oferta de franquia, os elementos e

108

informações pertinentes ao negócio de forma ampla, com todos os esclarecimentos

necessários ao desenvolvimento deste, ensejando entre as partes análise e

discussão antes da formalização do contrato.

E aí justamente reside a questão: porquanto a franchising se dá dentro de um

sistema que envolve uma gama de negócios jurídicos, e que esses negócios

jurídicos devem ser paritários em relação aos demais franqueados, e, por isso, a

franquia ocorre dentro de um único formato, fica difícil imaginar que se possa

contratar exceções a um ou outro, dentro de um mesmo sistema, até porque os bens

ou serviços são produzidos ou distribuídos de modo uniforme, e igualmente também

são reguladas de maneira uniforme as relações contratuais insertas nesse sistema.

Nesse particular, Eduardo Silva da Silva183, ao discorrer sobre contratos

adesivos, refere que:

A impossibilidade fática de ambas as partes discutirem os termos do negócio ou contrato, conhecendo detalhadamente cada minúcia técnica, é substituída pela cognoscibilidade, ou seja, pelo fato de o formulador das condições gerais do contrato garantir ao contratante hipossuficiente a faculdade de examinar e conhecer as condições do contrato. A escusa de não ter tido ciência expressa das nuanças contratuais não serve para fazer com que o contratante mais fraco se desobrigue em relação a algumas disposições porque o formulador destas deve ter garantido o seu amplo acesso a todas as informações possíveis [...]

Nesse pensar, e porquanto a Lei de Franquia, em sede nacional, exige que o

franqueador, por meio de um pré-contrato denominado COF, exponha ao

franqueado fidedigno conhecimento do negócio antes de efetivamente contratar,

ficaria resolvida tanto a questão da ampla cognição negocial, entre as partes, quanto

a vinculação entre elas, no que pertine à solução de conflitos por arbitragem,

independentemente da classificação doutrinária que se dê ao contrato de franquia:

de adesão ou por adesão.

Da leitura da Lei n. 8.955, de 15 de dezembro de 1994 – Lei de Franchising,

também chamada de Lei de Magalhães, verificamos, em seu art. 4º, in verbis:

Art. 4º A circular de oferta de franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no mínimo 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ou pessoa ligada a este.

183

SILVA, Eduardo Silva. Arbitragem e direto da empresa: da arbitragem e direito da empresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 87.

109

Relativamente à aplicação da arbitragem nos conflitos que envolvam franquia,

colaciono entendimento do TJSP, a título exemplificativo:

TJ-SP – Apelação APL 9072852592006826 SP 9072852-59.2006.8.26.0000 (TJ-SP) Data de publicação: 14/12/2011 Ementa: JUÍZO ARBITRAL - Cláusula compromissória de arbitragem, inseria em contrato de franquia - A decisão que extingue o feito por reconhecer a existência de prévio pacto de arbitragem (art. 267, VII, CPC) é sentença, não interlocutória (art. 162, § 1º, CPC); logo, o recurso a ser contra ela manejado é a apelação (art. 513, CPC) - Não se vislumbra nulidade de cláusula compromissória arbitral em

contrato de franchising ao só argumento de que a avença é de

adesão - De resto, o direito consumerista não incide à espécie, porque ambos os polos contratantes se amoldam à figura legal de "empresário" (art. 966, CC) - Demanda com vistas à desconstituição dos contratos, por supostos vícios de consentimento (erro e estado de necessidade) - Estão em xeque apenas direitos patrimoniais disponíveis: os autores argumentam que lhes foi exposto, pela ré,

panorama do negócio que se evidenciou, a posteriori, divergente da

realidade, daí sua bancarrota, e reflexa pretensão indenizatória material e moral aqui vertida - Os vícios da vontade não induzem nulidade absoluta, mas anulabilidade, apta a convalescer caso não exercido tempestivamente o direito potestativo à desconstituição (arts. 169 e 172, CC ) - Consequente impossibilidade de apreciação da controvérsia pela Jurisdição Estatal - Admissível, quando muito, o processamento da ação prescrita pelos arts. 7º e seguintes da Lei de Arbitragem (9.307/96) - Sentença de extinção sem resolução de mérito mantida - Apelo não provido.

Do aresto acima, observa-se que o entendimento coaduna-se com a lei, que,

na sua exegese, não nega a validade e eficácia aos contratos de adesão, pelo

contrário, provê sua eficácia e validade desde que respeitadas na relação, como

cuidou o legislador estabelecer, aquelas premissas relativas ao conhecimento

efetivo do aderente.

Não obstante isso, a franquia, por se tratar de um sistema único, e cuja

contratação entre as partes será determinada através de incontestável e prévio

conhecimento do franqueado de todas as peculiaridades do negócio, tem sua

eficácia e validade indiscutíveis, e, consequentemente, vinculativas as normas

estipuladas para o negócio.

Relativamente à cláusula compromissória institucional, inserta em contrato de

adesão ou por adesão, qualquer que seja o entendimento doutrinário que se tenha a

par do contrato de franquias, resultaria de uma obrigação de fazer, ou seja, afastaria

o Poder Judiciário, para solver os conflitos decorrentes do seu objeto, e, aqui, o

110

legislador preservou tal condição, ao prever que, assumindo a redação da cláusula

compromissória, aqueles requisitos que a lei entende indispensáveis a sua validade

e eficácia, uma vez atendidos, não faria prevalecer o discurso de que a cláusula

compromissória não tem validade.

Refere Eduardo Montenegro Dota184 que:

[...] devidamente cumprido o ritual destinado a validação da convenção arbitral para os pactos de adesão, não poderá a parte aderente sustentar o desconhecimento, o descontentamento ou, mesmo, que fora levada a erro ao concordar com a cláusula arbitral, sob pena de atentar contra a boa-fé que deve presidir as relações contratuais legalmente estabelecidas [...]

Nesse andar, reitero: considere-se adesivo ou por adesão o contrato de

franquia. Em verdade, uma vez cumpridas as formalidades legais para sua

validação, não há que questionar a cláusula arbitral, na acepção do disposto no art.

4º, § 2º, da Lei de Arbitragem.

E isso porquanto, em sede de franquia, no sistema que constitui o referido

negócio, obtêm-se contratos-tipo, cujas cláusulas são padronizadas para toda a rede

de franqueados, os quais raramente poderão ser alteradas, em virtude da

necessária padronização que opera de forma positiva ao desenvolvimento da

atividade econômica avençada, e que somente através desse tipo de contratação é

que se possibilita o sucesso das transações afeitas, como inclusive reporta Eduardo

Montenegro Dota185.

184

DOTA, Eduardo Montenegro. Aspectos da arbitragem institucional Op. cit., p. 79 – capítulo aplicabilidade nos contratos de adesão – sistema financeiro – da obra 185

Id., ibid., p. 80.

111

7. A “CHAVE DE SEGURANÇA” PARA INSERÇÃO DA CLÁUSULA

COMPROMISSÓRIA INSTITUCIONAL NOS CONTRATOS DE FRANQUIA:

ASPECTOS POLÊMICOS DA CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA

INSTITUCIONAL EM CONTRATOS DE FRANQUIA

Atentos à classificação doutrinária, pode-se afirmar que o contrato de franquia

preserva características complexas, uma vez que estão insertas em um sistema e

envolvem múltiplas relações negociais, e, assim, por vezes, visto como contrato de

adesão pura e simplesmente, outras como contrato por adesão, conforme

referências antes mencionadas.

Em verdade, no que diz respeito à aplicação da arbitragem como aliada para

solução de conflitos derivados dos contratos de franquia, a matéria é de certo modo

pacífica, não guardando muitos temas em divergência.

No entanto, algumas características merecem um olhar mais atento, conforme

veremos adiante, para que tal relação de mutualismo possa dar-se de forma plena e

eficaz.

A par das características perfeitamente identificáveis na Lei de Franquia pátria

e na Lei de Arbitragem nacional, observamos duas premissas que devem ser

debatidas e dissolvidas, pois que constituem elementos de grande importância para

segurança dessa relação:

a) o caráter adesivo do contrato de franquia e o princípio da autonomia da

vontade para a validade e eficácia da cláusula compromissória institucional;

b) o custo da arbitragem e o exercício do direito diante de eventual

hipossuficiência financeira de uma das partes e notadamente para custear um

procedimento arbitral.

A primeira premissa parte do princípio de que, porquanto o contrato de

franquia tenha caráter de adesividade, a eleição, pelas partes contratantes, da

jurisdição arbitral em detrimento da estatal, para a solução de controvérsias dele

decorrentes, consequentemente deverá observar, em face da Lei de Arbitragem

nacional, o tratamento especial nela contido para esse tipo de contratação.

Tomada essa medida, evitam-se, assim, controvérsias futuras em relação à

utilização da arbitragem, sob pena de que, em ocorrendo conflito proveniente do

contrato de franquias, outro ainda se instaure, inaugurando-se discussão a par da

eleição da via arbitral, antes de dissolver o conflito que originou a demanda.

112

E justamente este é um ponto nodal que devemos cuidadosamente observar,

uma vez que se pretende aliar a utilização da arbitragem institucional como via

jurisdicional aos contratos de franquia, afinal, de tudo quanto aqui se viu, não existe

arbitragem desassociada do princípio da autonomia da vontade, que, no caso,

deverá ficar moldada aos ditames determinados pela lei.

Igualmente, o sistema de franquia, desnecessário dizer, é um e único para

todos os franqueados e, assim, não se pode conceber que haja uma forma híbrida

dentro desse sistema para uns e outros franqueados.

Todavia, uma vez preservado o sistema, pode-se admitir, em poucas

adaptações, seja pactuado entre as partes, por exemplo, que a arbitragem não

tenha escopo nessa relação ou mesmo que tenha. E daí, porque surge

entendimento que o contrato de franquia é “por adesão” e não “de adesão”, afinal,

não ficaria de todo engessado, sem possibilidade de alteração de pactuado, desde

que não interfira ou modifique o sistema de franquia.

Não obstante, se o sistema de franquia estabelece em seu universo que os

conflitos dele decorrentes serão dirimidos através da arbitragem, é certo que, do

ingresso do franqueado nessa cadeia, uma vez tenha sido ciente e consciente a par

dessa eleição sugerida pelo franqueador, e aí reside a importância de que constem

na circular de oferta de franquia de forma pormenorizada, inclusive, questões a par

da arbitragem institucional, essencialmente a estimativa de custos a ela atrelados,

não se pode dizer que se tenha sublimado o aspecto da vontade da parte na eleição

da forma e sistemática de solução de controvérsias entre as partes.

E isso se dá porque a exigência legal é, justamente, no sentido de que se dê

à outra parte, em contratos previamente redigidos, pleno conhecimento da cláusula

arbitral, que deverá estar negritada e vistada especialmente para tal fim, de sorte

que, como já se abordou neste trabalho, trata-se de um contrato apêndice, por vezes

inserto dentro de outro contrato e no qual, embora não dependa da eficácia e

validade deste, tem seu berço.

E aqui registro que este trabalho tem por enfoque a utilização da arbitragem

institucional em pactos tais, de sorte que entendemos esta a mais segura e,

portanto, eficaz sistemática, como já se abordou, para que se dê a plena relação

mutual entre os institutos; não demais lembrar, desde que as partes estipulem a

arbitragem por cláusula cheia, indicando na cláusula a câmara eleita, o que se

repisa.

113

Todavia, importante lembrar que a Lei de Arbitragem vigente foi inaugurada

no País em 1996, sob a égide do Código Civil de 1916.

Com o advento do Código Civil de 2002, donde se observou nítida a evolução

social decorrente da inserção de princípios constitucionais civilistas pautados pela

Constituição Federal de 1988, e, consequentemente, do direito e comportamentos

entre partes, precipuamente reflexos no mundo negocial, observa-se uma

necessidade de readequar a relação arbitral ao panorama contemporâneo, bem

como preencher eventuais lacunas que ao longo de sua existência vêm sendo

supridas por decisões judiciais ou arbitrais nesse âmbito.

Nesse enfoque, inegável que, em razão disso, a Lei de Arbitragem projetada,

nesse particular, contém elemento reflexo e necessário, em alinho ao que dispõe o

Código Civil186.

E isso se vê nítido ao analisarmos os dispositivos legais referentes à cláusula

compromissória nos contratos de adesão187, donde se conclui que a preocupação do

legislador pátrio foi afastar a possibilidade de instituição de uma arbitragem

compulsória, e, por isso, exigiu fosse cumprida a forma determinada para outorgar-

lhe a devida eficácia.

Observe-se que no projeto de Lei de Arbitragem, não obstante persista a

tônica da arbitragem voluntária, de sua via, essa preocupação vem mais abrandada

em sua forma, quando, note-se, desaparece do dispositivo a expressão “vistada”,

exigindo apenas, o legislador, seja cumprido aspecto redacional na cláusula: Art. 4º,

§ 2º: “Nos contratos de adesão a cláusula compromissória só terá eficácia se for

redigida em negrito ou em documento apartado”.

Parece claro que, ao abrandar a exigência prevista para a eficácia da cláusula

compromissória na lei projetada, o legislador tratou de distinguir os tratamentos para

186

CCB 2002: “Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Art. 424. Nos contatos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”. 187

Lei de Arbitragem vigente: “Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato. § 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira. § 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula”.

114

os “contratos adesivos” e “contratos adesivos em relações de consumo”,

regramentos estes que serão observados dentro dos respectivos sistemas.

Em verdade, foi, sem dúvida, um grande avanço, afinal, em se tratando de

contrato de adesão sem relação de consumo, a eficácia da cláusula fica

condicionada apenas a dois requisitos não cumulativos: redação em negrito ou em

documento apartado.

E em que pese a lei projetada ter feito expressa referência à clausula

compromissória, nesse particular, a mesma sorte seguirá eventual compromisso

arbitral firmado entre partes e que envolva o contrato de adesão sem relação de

consumo, afinal, ao autorizar o seja em documento apartado, também não indica o

tempo em que a eleição da via arbitral deva ocorrer entre as partes, sugerindo

apenas que antes da existência do conflito, mas jamais impedindo sua eleição após

ele instaurado.

O que fica impresso, portanto, como vontade do legislador, é que as partes

que desejarem solver questões controvertidas oriundas de contrato de adesão sem

enfoque consumerista, ao firmarem a cláusula compromissória nele inserta, estariam

naquele momento cientes da utilização da via arbitral ao deslinde de eventuais

questões dele decorrentes, manifestando sua vontade ao assinarem a convenção de

arbitragem.

A arbitragem institucional, portanto, estruturada que é a partir da vontade das

partes, encontra um tratamento peculiar quando instituída através de uma cláusula

compromissória inserta em contratos de adesão e, aqui, porque não dizer, leia-se:

“em contratos de franquia”, para efeitos de análise do tema neste debate.

Isso porque, considerando-se a cláusula de eleição da arbitragem inserta na

relação de franquia (e aqui sob o ponto de vista macro e, portanto, focada a relação

negocial como um contrato de adesão), a prevalência da vontade de uma das partes

no âmbito do negócio contratado vem sim predeterminada, o que poderia conduzir

ao entendimento precipitado de que isso reduziria a outra parte, o franqueado, sua

expressão de vontade, que se resumiria ao mero aceite daquelas cláusulas.

Contudo, tal assertiva, sob uma análise precipitada, induz-nos ao equívoco de

que, consequentemente, tal inserção implica o reconhecimento da limitação da

vontade do franqueado na época da eleição do sistema de solução de controvérsias

daquele contrato, o que não é verdade.

115

Da leitura atenta da lei vigente e da lei projetada de arbitragem e sob o ponto

de vista técnico, ao contrário do que em análise precípua se possa estabelecer em

falsa premissa, em verdade, pelo legislador pátrio resultou diferenciado na lei

projetada o âmbito da relação entre empresários e entre consumidores, e, portanto,

a eficácia clausular fica condicionada a que se obedeça a determinadas regras,

devendo ser redigida e destacada em negrito e na lei em vigor, vistada como prova

de que a parte aderente teve conhecimento daquela eleição jurisdicional, podendo

ser essa forma substituída por pacto redigido em instrumento separado do contrato.

Obviamente, porquanto o franqueador seja o detentor do conhecimento

peculiar do negócio, em princípio, pode-se dizer que estaria em posição diferenciada

em face do franqueado.

Em se tratando de contratos de franquia, e daí notadamente atendendo a

requisito legal inserto na legislação pátria a tais contratos, mais uma vez sente-se

presente e imprescindível o atendimento do conhecimento prévio ao franqueado,

igualmente, no que respeita à inserção de eleição arbitral no pactuado.

Dessa forma, através da circular de oferta de franquia pelo franqueador ao

franqueado (e aqui entendemos), é o momento em que deverá ser incluída a

questão da arbitragem vertida ao contrato de franquia.

E isso, porquanto seja um documento prévio legalmente exigido para que se

estabeleça com segurança o negócio de franquia e que possibilita um equilíbrio

contratual pleno entre as partes contratantes, que comprovará, indefectivelmente,

que ao franqueado foi dado a conhecer com mais acuidade, do negócio que está

contratando em todas as suas faces, notadamente a eleição da arbitragem.

Isso se justifica, afinal, se a Lei de Arbitragem brasileira previu mecanismo

coibitivo de eventual abuso no tocante à inserção de cláusula arbitral nos contratos

de adesão, o que se infere da exegese ao art. 3º, § 2º, supondo-se que, em

determinado caso, o franqueado alegue abusividade da cláusula, caberá ao

franqueador comprovar que a cláusula arbitral não foi firmada compulsoriamente, em

detrimento do aderente ou em razão de uma situação menos vantajosa para este.

O que jamais poderá ocorrer, sob pena de contribuirmos para a insegurança

da utilização da arbitragem na relação de franquia, é que a franqueadora, no curso

da contratação, decida alterar o sistema, incluindo a arbitragem como forma de

solução de conflitos entre as partes, sem que anteceda ciência e aceite dessa

116

eleição pela parte franqueada e vice-versa, e isso por questões óbvias: ninguém se

obriga àquilo que não convencionou.

Nesse passo, uma vez seja assim disposto entre as partes, a concordância

expressa do franqueado na instituição de cláusula compromissória arbitral, bem

como de que tal cláusula constante no contrato em cena apresenta-se em negrito no

corpo do contrato ou firmada em anexo, fica cristalino que as partes tinham entre si

avençado, sem embargos, tal eleição jurisdicional.

Nesse sentido, por via de consequência, ocorrerá a autorização expressa a

que o contratante, interessado na resolução de eventual litígio, tome a iniciativa de

instauração da arbitragem, ficando o adverso, uma vez formalizado o pedido,

obrigado em aceitá-la sem nenhuma possibilidade de optar, unilateralmente, pela

jurisdição estatal.

Diante disso, e se muito se discutiu sobre a validade da arbitragem nas

relações de franquia, hoje resulta suficientemente firme que a eleição da arbitragem

é válida, sim, ainda que se trate de franquia, e mesmo que, na pior das hipóteses,

entenda-se que o contrato de franquia é um contrato de adesão. E tudo isso desde

que sejam respeitados os termos do § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96.

Nesse cenário, importa frisar que, embora a questão da utilização da

arbitragem em contratos de franquia seja, atualmente, não apenas via de acesso

cada vez mais frequente para solver controvérsias dele advindas, mas cada vez

mais sagrada e consagrada pelos Tribunais de Justiça do País, na questão da

vinculação, como já se observou alhures em decisões colacionadas neste trabalho,

mister que não se perca a “chave de segurança” para que a eficácia e validade

plena da instauração da arbitragem ocorra sem embargo.

E aqui repiso: para que o franqueado não seja visto como a parte mais fraca

da relação e, ainda, sem intelecção suficiente para analisar o foro eleito, afinal, na

maioria das vezes, essa não é a realidade, é importante que o franqueador se

resguarde de provas da inexistência da hipossuficiência e falta de intelecção por

parte do franqueado, o que é facilmente dirimido a partir da redação da circular de

oferta de franquia.

Todavia, entendemos que na circular não deverá apenas reportar a que a

arbitragem será a via utilizada para dirimir os conflitos entre as partes, mas, sim,

oportunidade em que o franqueador exporá as questões relativas à arbitragem e a

cláusula arbitral institucional a ser inserta no contrato de franquias, bem como os

117

custos estimados caso seja acionada, com a possibilidade de anexar a ela o

regulamento interno da instituição eleita, encerrando, assim, a possibilidade de

insegurança ou debate prévio sobre o cumprimento da cláusula arbitral quando

ocorra um conflito.

Em segunda premissa, e não menos importante, outro aspecto polêmico deve

ser dissolvido, conforme proposta deste trabalho, e que diz respeito à questão da

hipossuficiência financeira de uma das partes (franqueador ou franqueado), de modo

que impossibilite a utilização da arbitragem quando instado o conflito.

É que não se pode sublimar nesse segmento empresarial que a relação

pasmada jaz entre empresários, e, portanto, ainda que detentor da marca, do nome,

do know-how, o franqueador nem sempre será – e daí o perigo de se generalizar – a

parte mais forte dessa relação no que pertine à condição financeira do negócio.

Será, entretanto, aquele que detém a técnica e o conhecimento e quem permite que

terceiro a utilize mediante paga.

O risco do negócio, de sua via, ainda que previamente contido na circular de

oferta de franquia, decorrerá, obviamente, de ato administrativo do franqueado

relativamente à condução de seus negócios como empresa, bem como de eventual

instabilidade econômica apresentada no cenário do País.

A utilização, portanto, da arbitragem institucional, tema que nos interessa

dirimir, no cenário da franquia, constitui meio eficaz para a solução de eventuais

questões controvertidas entre as partes inclusive nesse sentido.

Interessa-nos enfocar, contudo, que, uma vez instalado o conflito entre as

partes, tanto por meio da arbitragem quanto mediante procedimentos judiciais, as

partes incorrem em custos de transação, os quais derivam da prestação jurisdicional

(pública e privada).

E, nesse panorama, a arbitragem permite minimização desses custos, em

razão da celeridade que proporciona no procedimento que lhe é confiado, bem como

agilidade, especialização dos árbitros e sua imparcialidade – princípios esses que

tornam recomendável a arbitragem empresarial, afinal, no mundo dos negócios não

existe, no mais das vezes, a possibilidade de que se desacelere ou mesmo se

estanque um negócio para que se solva um conflito, cuja indefinição do tempo que

irá levar para que seja solvido porá em risco todo o negócio.

Todavia, a custa de eventual desequilíbrio do contrato de franquia impõe

análise, justamente aquela em que, derivando em desequilíbrio financeiro, ponha em

118

risco a utilização da arbitragem institucional aqui aplicada, quando esse desequilíbrio

financeiro for a tal ponto que o franqueado ou o franqueador estejam

impossibilitados de arcar com o custo do procedimento arbitral, afinal, na jurisdição

estatal faz-se presente a possibilidade de aplicação do instituto da gratuidade

judiciária, que é inaplicável na justiça privada, ante seus próprios tons.

Portanto, os benefícios da Lei n. 1.060/50 não podem ser invocadas no

âmbito da arbitragem, em que pese a citada lei não ter definido seu alcance, mas

deixa claro que se trata de tema que outorga isenção de taxas, custas e

emolumentos judiciais na esfera estatal (grifei).

As instituições arbitrais, por sua vez, são empresas privadas e, como tal, não

há o que as obrigue efetuar descontos, planos de pagamentos diferenciados ou

mesmo isenções em suas custas e honorários arbitrais, os quais, normalmente, são

cobrados antecipadamente.

Todavia, é certo que a Constituição estabelece em seu art 5º, LXXIV, o dever

do estado em prestar assistência jurídica gratuita aos que comprovadamente não

tiverem recursos a tanto, o que se dará em nível institucional e não afeto à

instituição arbitral, senão em nível de defensoria pública e órgãos de prestação de

assistência judiciária gratuita, ficando ao encargo da parte usuária tal providência.

Um dos fatores que levam as partes a elegerem a instituição arbitral, além da

qualidade do trabalho, é, também, o custo188.

188

Parêntese para colacionar os dizeres de Adriana Braghetta sobre o tema: “... Em termos globais, três instituições se destacam no cenário internacional: a Corte de Arbitragem da CCI – Câmara de Comércio Internacional; o braço internacional da AAA – American Arbitration Association; a ICDR – International Center for Dispute Resolution; e a LCIA – London Court of International Arbitration. As três renomadas instituições têm experiência com arbitragens envolvendo empresas brasileiras e com sede no Brasil. Porém a experiência mostra que a comunidade arbitral brasileira tem preferido escolher a CCI. Outras câmaras começam a ser mais conhecidas perante os profissionais da área no Brasil: Câmara de Estocolmo; Câmara de Milão; SIAC – Singapure International Arbitration Center; HKIAC – Hong Kong International Arbitration Center; e a câmara sob os auspícios da CIETAC – China International Economic and Trade Arbitration Commission...No Brasil, há 5 instituições muito conhecidas e utilizadas: CAM-CCBC, Fiesp/Ciesp, Amcham, Camarb e FGV. Essas 5 instituições se destacam por concentrar o maior volume de casos e os mais complexos. A professora Selma Ferreira Lemes realiza uma pesquisa anual, desde 2005, dos casos levados a essas câmaras arbitrais. De 2005 a 2011, foram contabilizadas 532 arbitragens nas referidas instituições. A média de casos novos dos últimos 3 anos é de 126 casos. As câmaras CAM-CCBC e Fiesp/Ciesp se lançaram no mercado internacional. Ambos os regulamentos foram atualizados e adequados para arbitragens nacionais e internacionais, foram incorporados grandes nomes estrangeiros às listas sugestivas de árbitro e ambas já estão preparando os seus respectivos staffs para lidar com os casos envolvendo partes de outras jurisdições. A experiência mostra que as partes e os advogados escolhem a instituição arbitral, ainda na fase de negociação do contrato, com base na análise da qualidade do seu trabalho e dos custos (tanto da própria instituição, quanto dos árbitros). Nos grandes casos, a discussão do custo fica minimizada e realmente o grande diferencial é a excelência do serviço da instituição” (BRAGUETTA, Adriana. Qualidade norteia escolha de

119

E esse é o entendimento de Francisco José Cahali189, a fim de embasar a

assertiva relacionada ao custo:

O segundo benefício provável deste método é econômico-financeiro. Em um primeiro momento, os valores para se instaurar um procedimento arbitral poderiam desencorajar o uso do instituto, mas o resultado final, medido a partir do custo-benefício (por exemplo, a própria confidencialidade, tecnicidade do árbitro ou a insegurança das decisões judiciais), bem como, e especialmente, a celeridade na obtenção do resultado, podem levar a outra conclusão quando comparado a um processo na justiça estatal [...]

Dessarte, a especialização do árbitro, em sua essência, traduzida em ato de

jurisdição privada, representa benefício ao usuário, mas não conta com subsidio de

aporte legal, e, portanto, nessa via, não contaria com concessão de benefícios de

gratuidade em custas e honorários arbitrais, na forma com que é possibilitado na

justiça estatal.

Assim, a utilização da arbitragem institucional deve ser tida como a melhor

solução para contratos de franquia, mas, antes, precisa ser solvida a questão de

eventual impossibilidade de a parte interessada acionar a arbitragem, em razão de

seu custo.

A par dos custos praticados pelas instituições arbitrais, Olívia Alonso e Marina

Gazzoni190 referem que:

[...] Diferente da Justiça, que é mantida pelo Estado, as câmaras de arbitragem funcionam com recursos pagos pelas empresas que as procuram. Estes custos incluem taxas de administração e o honorário dos árbitros, entre outras despesas. Para um processo no valor de R$ 100 mil julgado por um único árbitro, por exemplo, o custo não seria menor que R$ 17 mil nas principais câmaras de São Paulo, segundo estimativas do escritório Rayes, Fagundes & Oliveira Ramos (RFOR). No Centro de Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), o mais antigo em operação no Brasil, desde 1979, o custo de um caso com três árbitros e duração de seis meses é de, no mínimo, R$ 147 mil, sendo R$ 2 mil uma mensalidade paga ao centro e R$ 45 mil para cada julgador, afirma o presidente da entidade, Frederico Straube. O pagamento é realizado por hora, mas há um mínimo de 100. Para compensar essas despesas, a disputa

instituição arbitral. Revista Consultor Jurídico, 12 abr. 2013. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-abr-12/adriana-braghetta-qualidade-norteia-escolha-instituicao-arbitral>. Acesso em: 13 dez. 2013). 189

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 87. 190

ALONSO, Olívia; GAZZONI, Marina. Velocidade é maior na arbitragem mas custo também. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/velocidade-e-maior-na-arbitragem-mas-custo-tambem/n1237598998423.html>. Acesso em: 16 dez. 2013.

120

deve envolver pelo menos R$ 1 milhão, na opinião de advogados. Em média, os processos da CCBC têm valor de R$ 38 milhões [...]

Em primeiro pensamento, poder-se-ia cogitar da inversão do ônus financeiro

da arbitragem à parte que apresente condição para arcar com tal consectário e,

nesse particular, quando as partes acordassem nesse sentido, não restariam

dúvidas, mesmo que determinado regulamento arbitral (institucional) previsse outra

forma, modo e tempo para que se desse o pagamento de tais encargos. Mas, para

tanto, desde que as partes dispusessem explicitamente que, no caso em que

houvesse hipossuficiência financeira de uma delas que impedisse o acesso da

discussão do conflito em via arbitral em razão disso, independentemente do que

previsse a normatizadora da câmara arbitral eleita no que pertine à responsabilidade

do pagamento de tais encargos em relação a essa instituição, a parte adversa

efetuaria o pagamento ou reembolso (conforme dispusessem entre elas).

No entanto, cabe discussão quando não houver acordo preestabelecido entre

as partes para tal fim, e, portanto, ficaria a dúvida de se o árbitro teria poder para

determinar pagamento das custas pela parte contrária, no caso em que uma delas

arguisse insuficiência de recursos para custeio de tais encargos.

Na acepção de Francisco José Cahali191, os custos estimados da arbitragem

variam de acordo com tabela própria das instituições, visto que cada câmara arbitral

tem autonomia nesse sentido, mas que usualmente o custo estará atrelado ao valor

em causa. No regulamento interno de cada instituição arbitral haverá previsão,

inclusive, a par da responsabilidade do pagamento desse custo, forma e tempo de

seus vencimentos, e, ainda, da verba honorária do árbitro, embora sejam

consectários arbitrais que não se confundem.

Tais encargos, todavia, em se tratando de arbitragem institucional, têm seus

valores e peculiaridades próprios, dada a autonomia empresarial dessas instituições,

prevalecendo o que estatuído em seus regulamentos internos ou convencionado

com estas, para “quem se encomendou a arbitragem”192, podendo, inclusive, ser

detectada se permitida pela instituição ou assim convencionada, da mesma forma,

pelo próprio árbitro na sentença proferida.

Nesse pensar, em se tratando de arbitragem institucional, não se pode

estabelecer, dada a autonomia da instituição e do árbitro eleito por ela ou pelas

191

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 114. 192

Expressão utilizada pelo Professor Francisco Cahali (id., ibid., p. 237).

121

partes em lide (conforme seja a estipulação nesse particular) o momento exato e o

quantum que incidirá como custo de arbitragem – e, aqui, parêntese para remeter

que nos referimos a todo o custo do procedimento arbitral e honorários arbitrais –,

uma vez que difere a cada instituição eleita.

Em verdade, as partes, ao nomearem, por cláusula arbitral institucional, a

câmara arbitral eleita, possivelmente terão prévio conhecimento dos valores do

investimento nesse sentido, e, portanto, não se pode dizer que ficariam impedidas

de provisionar uma reserva para tanto.

Na mesma ótica, há de se pensar que a utilização do financiamento da

arbitragem por terceiros também resolveria o problema do custo da arbitragem, tema

esse que não será aprofundado nesta oportunidade, já que remete a uma questão

apaziguadora, sem maiores contextos a este trabalho. E aqui, quando se faz

referência a terceiros, não implica “patrocínio” para a causa, o que deve ficar

suficientemente claro, pena de que se ponha em risco até mesmo a imparcialidade

dos sistemas em voga. Trata-se, em verdade, de associação ou entidade de classe

comercial, que subsidia as custas em causa.

Contudo, interessa-nos apresentar a “chave de segurança” para a validade e

eficácia da arbitragem institucional em sede de contrato de franquia em caso de

hipossuficiência financeira de curso de contrato, em que as partes não tenham

estipulado a quem pertença tais encargos em casos tais.

E isso porque se observa que os regulamentos das instituições arbitrais, por

via de regra, fixam valores a serem recolhidos pela parte que ingressa com o pleito

arbitral, já de início, conforme é, inclusive, a sistemática adotada pela própria

jurisdição estatal.

Nesse pensar, observe-se de tudo quanto aqui exposto que, na esfera da

empresa privada, que é a instituição arbitral, e, em se considerando que as partes

elegeram cláusula arbitral em contrato de franquia e no decorrer da contratação,

ocorrido o evento controverso, incida circunstância que torne impossível, em razão

do custo, que a parte interessada ingresse com procedimento arbitral; melhor

solução tem de ser analisada para que não se agasalhe uma prejudicial ao exercício

de um direito por alguma motivadora financeira entoando um desequilíbrio entre

essas partes. Em outras palavras, a previsão de um benefício não pode vir de se

tornar um pesadelo.

122

Em primeiro lugar, de ter presente que o árbitro e a instituição não são partes

no processo e, nesse andar, exigir-lhes concedam isenção nos custos do

procedimento arbitral ou em procedimento que vise justamente discutir essa questão

(ausência de recursos), pesa inviável, visto que tal incidente demandaria a prestação

de um serviço jurisdicional privado e, como tal, que deverá ser remunerado.

Assim, trabalhando-se na possibilidade de que franqueador e franqueado

estejam financeiramente saudáveis na época da contratação e, assim, sem

embargos, tenham eleito a via arbitral como jurisdição do contrato, mas que, no

momento do surgimento do conflito, haja alteração da situação financeira de uma

das partes, de modo que se inviabilize a utilização da arbitragem em razão dos

custos, há de indagar, nesse caso, a questão a par da renúncia à jurisdição estatal

havida na eleição da cláusula compromissória institucional e a solução objetiva ao

impasse, já que, como se viu, impera a inaplicabilidade da Lei n. 1.060/50 no âmbito

da justiça privada.

Certo é que não se pode pretender que as partes, quaisquer que sejam,

vejam negado seu acesso à justiça, em função da norma constitucional, a qual

ampara o direito de acesso àqueles que não têm meios de suportar os custos e, em

se tratando de arbitragem, não abrange remunerações dela advindas, até porque o

Estado está constitucionalmente obrigado a fornecer, gratuitamente, o aparelho

judiciário, o que não inclui o custo da justiça privada.

Cabe questionar, portanto, no caso em que denunciada a convenção de

arbitragem, afinal, a quem recairia a competência de decidir tal impasse e qual seria

a solução mais adequada.

No direito português, a questão se resolve com a aplicação simplista do

disposto no art. 20, n. 1, da Constituição portuguesa193:

Artigo 20º Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva 1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.

Segundo a Carta Magna portuguesa, o acesso à justiça não será negado ao

hipossuficiente financeiro, o que permite concluir que ficaria afastada a eficácia da

jurisdição privada em caso de impossibilidade de pagamento de seus custos.

193

Disponível em: <http://www.parlamento.pt/Legislacao/Paginas/ConstituicaoRepublicaPortuguesa. aspx>. Acesso em: 18 dez. 2013.

123

Nesse sentido, o entendimento do STJ português194:

[...] Se o Autor caiu em situação de insuficiencia econômica após a celebração da convenção de arbitragem, ficando impossibilitado de suportar as despesas com ela, não tinha de reunir com a outra parte para chegar a acordo naqueles pontos necessários para o bom funcionamento do tribunal arbitral. A insuficiencia econômica a verificar-se nos termos referidos, constituindo uma alteração das circunstancias em que contratou a convenção arbitral, possibilita-lhe, só por si, recorrer ao tribunal comum [...]

De tudo quanto se viu até aqui, pretendeu-se demonstrar que a inclusão da

cláusula compromissória institucional em contrato de franquia é possível e vem

sendo utilizada cada vez mais pelas inúmeras vantagens.

No entanto, não se podem negar algumas dificuldades enfrentadas na prática

em situações que dificultam o início e desenvolvimento do procedimento arbitral.

Situações estas que, em realidade, podem estar relacionadas principalmente

com a questão do pagamento das custas, já que no caso de a demanda ser

proposta pelo franqueado, este deverá arcar com o pagamento inicial como pré-

requisito para instauração do procedimento devido à natureza particular da

arbitragem, na mesma medida a que estaria afeito o franqueador, em idêntica

situação.

Indaga-se, nesse caso, pois, como se resolveria a questão caso o franqueado

não pudesse arcar com o pagamento das custas arbitrais?

Esse é um tema que ainda não está solucionado no Brasil e requer

amadurecimento dos contratantes quando optam pela arbitragem institucional, visto

que devem estar atentos à indicação dos órgãos arbitrais para ficarem cientes,

inclusive, dos custos por eles praticados e, assim, poderem, como já se abordou,

tratar o assunto entre si, previamente à contratação da franquia, estipulando as

responsabilidades entre si nesse sentido, independentemente daquelas a que

afeitos em face da instituição eleita.

Na acepção de Melitha195 fica claro que a adoção da arbitragem na área de

franquias é método que requer maturidade:

Da mesma forma, a Arbitragem não é para todos os Franqueadores. É necessário haver uma filosofia interna de gestão de conflitos, que

194

Disponível em: <www..dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/321408c5637f978>. Acesso em: 17 dez. 2013. 195

PRADO, Melitha Novoa. Op. cit., p. 140.

124

contemple os métodos não adversários como ferramentas importantes para a sustentabilidade do sistema de franquia.

Atualmente, a Arbitragem no setor de franchising, apesar de tão

cabível e viável, tendo em vista a notoriedade de conhecimento do árbitro, ainda sofre muita resistência, tanto de corpos jurídicos como pelos seus custos que devem ser suportados num prazo máximo de 6 a 8 meses, enquanto na Justiça comum, isso é diluído entre 6 a 10 anos. Apesar de possuir custos inferiores, a Arbitragem, conforme a Câmara escolhida, possui regras para sua instituição, inclusive no que se refere aos honorários de árbitros, etc. Importante analisar sempre e detalhadamente as regras e particularidades do regulamento da Câmara Arbitral, para que tenhamos um foro de discussão viável para ambas as partes.

Assim visto, e ante essa análise, para os casos em que a parte

hipossuficiente financeiramente na relação de arbitragem prevista no contrato de

franquia possa, em sua plenitude, exercitar seu direito de jurisdição privada com

segurança, necessário solvermos as seguintes indagações:

a) qual meio poderia ser utilizado pela parte a fim de viabilizar a utilização da

arbitragem?

b) qual mecanismo deveria ser manejado com o fim de viabilizar o acesso à

jurisdição arbitral sem impedir o acesso à justiça?

Quanto à primeira rubrica, considere-se que, para o ingresso do procedimento

arbitral, a parte requerente deverá desembolsar, em princípio, as custas iniciais do

procedimento arbitral, tal qual ocorre no Judiciário. Em se tratando de arbitragem

institucional, com certeza, essa verba não poderá ser relegada ao final processo, a

menos que a instituição ou o árbitro assim o consintam.

Assim, feito o requerimento inicial ao árbitro e havendo autorização do

pagamento à parte sucumbente ao final do processo, a questão estaria resolvida e

não se vislumbra maiores questionamentos.

Em meios-termos, de questionar, igualmente, da possibilidade de o árbitro

determinar, em casos tais, que a parte contrária, e desde que não seja

hipossuficiente financeiramente, seja instada a tal pagamento.

Na prática, seria submeter ao árbitro a análise de uma questão controvertida

decorrente da utilização da própria cláusula compromissória, antes que as partes

tragam à discussão a matéria objeto do contrato e sobre a qual estão em conflito.

Obviamente que a discussão implica reconhecimento de uma controvérsia a

ser solvida antes de analisar o conflito que decorre de análise de aplicação e

distribuição excepcional às regras de arbitragem anteriormente previstas, sem que

125

haja o respectivo pagamento pelo serviço no tempo e forma convencionados em

regulamento interno institucional.

Nesse pensar, claro que podemos admitir, como exceção, que a instituição ou

o árbitro entendam de relegar ao final do procedimento o pagamento do custo

arbitral e, assim, também a questão não seria um óbice, afinal, a discussão referente

às custas ocorreria no âmbito arbitral, pois, uma vez decidida pelo árbitro, óbvio que

instaurado procedimento a tanto, seria finalizada por meio de uma sentença arbitral

que, descumprida, ensejaria o ingresso com ação de cumprimento perante o Poder

Judiciário.

Nesse esteio, e uma vez que os citados dispositivos legais, de fato, remetem

a solução do impasse à arbitragem em questões relacionadas ao procedimento

arbitral e seu custo, competiria ao Judiciário a análise da matéria relativa a eventual

hipossuficiência financeira da parte para utilizar a arbitragem como convencionado.

É que, assim se supondo ou, ainda, em casos em que nem a parte

interessada tenha condições financeiras para arcar com os custos arbitrais, nem a

instituição arbitral autorize o pagamento desse custo ao final procedimento, outra

não parece ser a solução, embora, talvez, não a mais célere, que a discussão a par

do custo da arbitragem seja dirimida perante o Poder Judiciário.

Nesse particular, a medida deverá ser proposta entre partes ou entre a parte

hipossuficiente e o Estado como antes se aventou e nunca contra os árbitros e a

instituição, afinal, inegável que estes não participaram da relação clausular arbitral

havida entre as partes que, pelo contrário, ainda que a ela tenham feito expressa

referência, no imprimir da cláusula arbitral cheia, automaticamente submeteram-se

às regras procedimentais e de custos – que em verdade não são o cerne da questão

controvertida e, sim, a impossibilidade financeira de uma das partes em dela valer-

se.

Residindo, portanto, a discordância das partes no que se relaciona ao custo

da via jurisdicional eleita, e porquanto o pano de fundo do conflito, nessa etapa,

converge a cláusula arbitral em si, o que não se pode afastar em sua essência, cabe

ao órgão judicial, a teor da amplitude de aplicação que aqui se deve dar ao art. 7º da

Lei de Arbitragem, remeter a questão às vistas do Judiciário, a fim de que a cláusula

compromissória institucional, ainda que cheia e redigida de forma perfeita a viabilizar

a instauração da arbitragem, fosse adequada de forma a permitir a fluidez do

procedimento arbitral.

126

Ora, aqui a resistência apontada deriva da ausência de recursos – que

embora não seja vertida diretamente à cláusula em si, dela constitui um apêndice,

uma resistência ainda que parcial, mas que não se pode de outra forma denominar,

afinal a indisponibilidade de recursos de uma parte não poderá trazer prejuízos ao

seu exercício pleno de direitos.

Apesar de ter ficado sedimentado pela doutrina que o manejo da ação

prevista no art. 7º da Lei de Arbitragem só seria necessário na hipótese de cláusula

vazia ou em branco, nesse caso seria utilizada tanto como um facilitador, quanto

pelo fato de que o acesso à justiça não pode ser denegado por carência de recursos

econômicos, o que seria notadamente inconstitucional e, por isso, o apoio do

Judiciário, nesse ponto, seria fundamental.

Isso não somente porque a arbitragem e o Judiciário devem caminhar lado a

lado em total apoio um ao outro, mas pela própria questão de fundo: o que se

discute não é em sua essência o regimento interno de custos de arbitragem e, sim, a

impossibilidade da plenitude contratual no quesito arbitragem convencionada por

insuficiência de recursos de uma de as partes implementar o custo desse movimento

procedimental.

Observa-se que o art. 7º da Lei de Arbitragem estabelece um procedimento

específico a tanto:

Lei nº 9.307 de 23 de Setembro de 1996 Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim. § 1º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento que contiver a cláusula compromissória. § 2º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral. § 3º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, desta Lei. § 4º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.

127

§ 5º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito. § 6º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único. § 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.

No intuito da lei em cena, há de se admitir, mutatis mutandis, que a cláusula

arbitral institucional cheia, quando trouxer à tona, no momento em que dela se

necessite utilizar, situação comprovadamente de desequilíbrio entre as partes que, a

tal ponto, fique prejudicada sua aplicação, no momento da própria instauração do

pedido arbitral, outro não poderá ser o entendimento, senão relegá-la como cláusula

circunstancialmente inoperante (grifei).

Nessa via, uma vez admitida com tal enfoque, não teria por que o Judiciário

não conhecer da questão do rumo estatal, afinal a convenção arbitral nesse dado

momento estaria prejudicada. Em que pese, no entanto, a Lei de Arbitragem prever,

no citado artigo legal, a possibilidade da ação no intuito de submeter a parte

recalcitrante à arbitragem, não se poderia afastar da realidade econômica a

circunstância em pauta.

O entendimento nesse sentido amolda-se ao caso em que, por circunstância

que impossibilite acionamento da cláusula arbitral, esta não se poderia considerar

válida e eficaz em sua amplitude em razão do fator financeiro, e, portanto,

merecedora a tutela judicial para que a questão da arbitragem possível se instaure,

uma vez seja vontade manifesta entre as partes a dissolução do conflito por meio da

via arbitral.

Assim, seja suprindo por declaração, a inversão antecipada ao ônus do

pagamento das custas procedimentais à parte que demonstrar melhores condições

em arcar com tais consectários, reportando ao final da demanda a obrigação de

reembolso se for o caso, ou, na pior das hipóteses e tendo em vista a adesividade

do contrato de franquias, instar ao franqueador a tal ônus, a solução prévia do

conflito entendo, deverá ser dirimida na via estatal.

Dessarte, fica claro nesse particular que seria conveniente às partes

contratantes no sistema de franquias a criação de incentivos no bojo contratual,

mediante os quais incluam cláusulas capazes de maximizar os benefícios da

inserção da cláusula arbitral institucional e prover um fundo para que, na execução

128

do contrato, não seja prescindível submeter ao Judiciário questões de aporte, o que

possibilitaria que, de plano, e através de recursos em reserva prévia prevista pelas

partes, a cláusula arbitral institucional tenha imediata aplicação ao conflito em si.

Portanto, a criação de um fundo entre a franqueadora e os franqueados, para

custeio das despesas arbitrais, seria elemento de extrema valia, desde que, claro,

tais valores não fossem lançados dentre as obrigações de retenção pelas partes

contratantes, aleatoriamente, mas em consonância à realidade dos números

financeiros expressos nos respectivos contratos e os valores praticados pela

instituição de arbitragem eleita.

Não obsta, ainda, que a matéria em apreço seja conhecida pelo Judiciário,

através de medida cautelar autossatisfativa, afinal, inclusive como reporta Francisco

José Cahali196:

Como próprio da arbitragem institucional, tudo depende, ainda, do regulamento da instituição encomendada para administrar a arbitragem. Assim, além da costumeira previsão conformando a possibilidade de se requerer medidas cautelares antecedentes perante o Judiciário sem que tal providência signifique renúncia à arbitragem, pode, ainda, e por certo excepcionalmente, exigir regramento específico para um “procedimento cautelar pré-arbitral”, destinado a resolver questões urgentes, anteriores à instituição do juízo arbitral, como ocorre na Corte Internacional de arbitragem da CCI, inclusive com regulamento próprio para estas medidas sendo que, neste caso, indispensável, também, que as partes tenham convencionado a adoção deste expediente. Nesta situação, então, as tutelas urgentes já serão submetidas à instituição para processamento em modelo criado para esta finalidade.

Sugere-se, portanto, convencionem as partes, na eleição da arbitragem, que

excepcionalmente, para casos de conflitos lastreados em tutelas urgentes, ficaria

admitida a apreciação pelo juízo estatal, em detrimento do juízo privado,

comprometendo-se a parte que dele se utilizar a ingressar com o procedimento

arbitral a posteriori, se for o caso, noticiando, naqueles autos, a decisão prévia

obtida da via estatal.

E, nesse sentido, em acordão do STJ, a Ministra Nancy Andrighi manifesta:

[...] Nessa situação, superadas as circunstâncias temporárias que justificam a intervenção contigencial do Poder Judiciário e, considerando-se que a celebração do compromisso arbitral implica, como regra, a derrogação da jurisdição estatal, é razoável que os autos prontamente encaminhados ao juízo arbitral, para que esse

196

CAHALI, Francisco José. Op. cit., 2013, p. 252.

129

assuma o processamento da ação, e, se for o caso, reaprecie a tutela conferida, mantendo, alterando ou revogando a respectiva

decisão (RESP nº 1297.974/RJ, j. 12.06.2012)197

.

Em suma, com relação às cláusulas compromissórias em contratos de

franquia firmados no Brasil, fica assinalado que três questões na construção

clausular sejam observadas:

a) convém espelhar a eleição da justiça arbitral na circular de oferta de

franquia, em todos os seus detalhamentos possíveis, notadamente em relação ao

custo da arbitragem;

b) que a cláusula arbitral seja destacada em negrito, ou inserida em

documento anexo, e que os franqueados aponham suas assinaturas ou rubricas ao

lado, demonstrando concordância de opinião.

É que, ainda que se trate de sistemática legal a ser entoada em contratos de

adesão, conforme dispõe o § 2º do art. 4º da Lei n. 9.307/96, entendemos que o

cumprimento dessas disposições, haja vista que o posicionamento dos juízes não é

pleno nesse sentido, no que diz respeito aos contratos de franquia o cumprimento do

caráter previsto da medida visaria afastar eventual alegação de invalidade ou

ausência de eficácia da cláusula compromissória;

c) que as partes, na medida do possível, prevejam em contrato, antes

submetido à circular de oferta de franquia, questões a par do fundo de reserva com

finalidade específica para utilização de instauração de arbitragem, em caso de

hipossuficiência financeira de curso contratual, instituindo regras dessa utilização,

ou, ainda, que prevejam, independentemente do regulamento da instituição arbitral

eleita, a quem caberia tal responsabilidade de custeio no segmento do contrato

havido entre elas, ou mesmo que estabeleçam, na omissão desse aspecto, que

medidas urgentes poderão ser submetidas à justiça estatal, dentre elas as que

tenham por objeto questões sobre a insuficiência de recursos financeiros que

venham a ser experimentados no curso da contratação por uma das partes e que

dificultem o acesso ao juízo estatal.

Solvidas as questões polêmicas supra-apontadas, através das mencionadas

“chaves de segurança” a que ambos os institutos plenamente possam harmonizar-se

com a segurança pretendida pelas partes, ressentem-se, ainda, diante do que

claramente se observa no andar deste estudo, que tanto a Lei de Arbitragem quanto

197

CAHALI., Francisco José. Op. cit., 2013, p. 251.

130

a Lei de Franquia, em nível nacional, experimentam lacunas que têm sido supridas

pelos doutrinadores, em nível de utilização do direito comparado, bem como pelo

próprio Poder Judiciário, que, a cada dia, reconhece e reafirma a utilização conjunta

desses institutos.

Obviamente, o Poder Judiciário é imprescindível, visto que, através dele, a

arbitragem vem ganhando espaço e sendo desvencilhada a ideia de que a justiça

estatal e a privada andam por caminhos antagônicos; pelo contrário, andam juntas,

passo a passo, contribuindo uma com a outra, para a aplicação do direito e da

justiça, nas relações entre partes.

131

8. SUGESTÃO PARA ALTERAÇÃO LEGISLATIVA DA LEI DE FRANQUIA COMO

“CHAVE DE SEGURANÇA” PARA UTILIZAÇÃO DA ARBITRAGEM

INSTITUCIONAL

A arbitragem, de tudo quanto se viu, sob a ótica do mercado econômico-

contemporâneo, é, sem dúvida, fomentada em razão da concepção de que o

empresário resolva seus conflitos sem morosidade, dando fluência rápida aos seus

negócios.

E, porquanto prestação jurisdicional privada, como já vimos, implica custos,

afinal, pelas atividades exercidas na condução e decisão da controvérsia, os árbitros

e a instituição arbitral exercem seu ofício na mesma medida em que o faz o Poder

Judiciário.

No entanto, se na esfera da solução de conflitos estatal entre partes o

legislador tratou de resolver a questão do custo processual àquele que

demonstrasse hipossuficiência financeira, através dos institutos da assistência

judiciária gratuita e da gratuidade judiciária, permitindo, assim, o exercício do direito

fundamental de acesso à via judicial, na arbitragem essa solução não obtém alcance

e, portanto, merece ser resolvida na esfera empresarial.

É que na mesma velocidade com que os negócios e consequentemente as

empresas se desenvolvem e expandem, reflexivamente podem ser atingidos por

crises, dada a instantaneidade dessas relações, interações e conflitos.

Nesse pensar, é plausível que as empresas financeiramente saudáveis no

momento de firmarem um contrato optem pela arbitragem como sistema para dirimir

eventuais controvérsias.

Não obstante, no momento em que surgem os conflitos a serem objeto dessa

arbitragem, a situação econômico-financeira das empresas pode não ser a mesma,

a tal ponto de não conseguirem arcar com os custos de uma arbitragem.

No caso em tema, tal quadro não seria difícil detectar em relação empresarial

que se desenvolve no âmbito da franquia, cujo crescente mercado, em nível

nacional, divisa perfis peculiares no mundo empresarial.

Diante disso, e considerando-se o aqui exposto, pretende-se com este

modesto estudo sugerir alterações legislativas na Lei de Franquia com o intuito de

obtenção de resposta rápida e eficaz para solução dos conflitos desse segmento,

132

notadamente através da arbitragem institucional, cujos princípios em muito se

coadunam entre si.

Pois bem, em sede de arbitragem, em que pese não existirem regras legais

determinando quem é responsável pelo pagamento desse custo, cabe às partes

decidirem a par do assunto quando da redação da cláusula compromissória ou na

assinatura do compromisso arbitral.

Assim, podem decidir, por exemplo, que as despesas decorrentes da

arbitragem serão divididas entre si ou que a parte sucumbente pagará os honorários

dos árbitros e custas da instituição arbitral.

E, para assegurar o efetivo exercício da arbitragem, garantindo, assim, a

esperada celeridade e todos os demais princípios arbitrais que se coaduam às

práticas no segmento da franquia, torna-se importante que conste expressamente na

circular de oferta de franquia que dentre as despesas previstas estejam as custas e

despesas com eventuais arbitragens.

Mas essa menção deve ser expressa, não bastando a obrigação prevista no

art. 3º, VIII, e), por ser genérica e não deixar claro que em caso de conflitos o

franqueado poderá ter que arcar com os custos de eventual arbitragem.

Assim, sugere-se a inclusão da alínea f ao art. 3º, VIII, para que conste: “f)

despesas com arbitragens, incluindo custas e estimativa de honorários arbitrais, de

acordo com tabela de custas da instituição eleita em contrato”.

Com isso estaria resolvida a questão quanto ao amplo conhecimento do

franqueado por ocasião do recebimento da circular de oferta de franquia no que diz

respeito aos custos com eventual arbitragem que possa ser necessária ante o

surgimento de conflito no decorrer do contrato.

Contudo, para efeito de segurança maior às partes, a questão não estaria

totalmente resolvida, sendo necessário, ante o princípio da transparência que rege

as relações entre franqueados e franqueadores, dar ao franqueado o conhecimento

dos regulamentos da instituição arbitral eleita.

Para solução da questão, sugere-se, ainda, a inclusão de uma alínea ao

inciso XV do art. 3º da Lei de Franquia com a seguinte redação: “a) Ao contrato

padrão deverão ser anexados os regulamentos da instituição arbitral, quando eleita,

inclusive o que tratar de custas, despesas e honorários arbitrais”.

E, para que não haja mais dúvidas relativamente à matéria, por fim, sugere-se

uma última alteração na Lei de Franquia, de modo que seja incluído artigo que

133

estabeleça a possibilidade de a parte contrária, na demanda arbitral, arcar com o

pagamento das custas arbitrais caso uma das partes alegue impossibilidade de

pagamento das custas.

Nesse caso, a parte impossibilitada de arcar com o pagamento das custas

arbitrais iniciais deverá requerer à instituição arbitral eleita que comunique a parte

contrária sobre o interesse no pagamento das custas, a fim de viabilizar o início do

procedimento arbitral.

Caso não haja interesse no pagamento das custas, a instituição arbitral não

iniciaria ou caso já iniciado encerraria o procedimento arbitral, o que possibilitaria à

parte hipossuficiente ingressar com a demanda no Judiciário, sob pena, não fosse

este o entendimento, de se impedir o acesso à justiça.

Sistema semelhante ao sugerido é praticado em Portugal,198 que dita

procedimento específico para pagamento de custas, possibilitando a comunicação

da parte contrária na demanda a fim de que pague as custas e viabilize a abertura

do procedimento arbitral199.

198

Lei n. 63, de 14-11-2011 – Lei de Arbitragem Voluntária 199

“Art. 17º Honorários e despesas dos árbitros 1 - Se as partes não tiverem regulado tal matéria na convenção de arbitragem, os honorários dos árbitros, o modo de reembolso das suas despesas e a forma de pagamento pelas partes de preparos por conta desses honorários e despesas devem ser objecto de acordo escrito entre as partes e os árbitros, concluído antes da aceitação do último dos árbitros a ser designado. 2 - Caso a matéria não haja sido regulada na convenção de arbitragem, nem sobre ela haja sido concluído um acordo entre as partes e os árbitros, cabe aos árbitros, tendo em conta a complexidade das questões decididas, o valor da causa e o tempo despendido ou a despender com o processo arbitral até à conclusão deste, fixar o montante dos seus honorários e despesas, bem como determinar o pagamento pelas partes de preparos por conta daqueles, mediante uma ou várias decisões separadas das que se pronunciem sobre questões processuais ou sobre o fundo da causa. 3 - No caso previsto no número anterior do presente artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente a redução dos montantes dos honorários ou das despesas e respectivos preparos fixados pelos árbitros, podendo esse tribunal, depois de ouvir sobre a matéria os membros do tribunal arbitral, fixar os montantes que considere adequados. 4 - No caso de falta de pagamento de preparos para honorários e despesas que hajam sido previamente acordados ou fixados pelo tribunal arbitral ou estadual, os árbitros podem suspender ou dar por concluído o processo arbitral, após ter decorrido um prazo adicional razoável que concedam para o efeito à parte ou partes faltosas, sem prejuízo do disposto no número seguinte do presente artigo. 5 - Se, dentro do prazo fixado de acordo com o número anterior, alguma das partes não tiver pago o seu preparo, os árbitros, antes de decidirem suspender ou pôr termo ao processo arbitral, comunicam-no às demais partes para que estas possam, se o desejarem, suprir a falta de pagamento daquele preparo no prazo que lhes for fixado para o efeito.”

134

O regulamento do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio

Brasil-Canadá200, no capítulo III – das custas e despesas, art. 12, também prevê a

possibilidade de pagamento das custas pela parte contrária201.

Ainda nesse sentido é a previsão da tabela de despesas dessa instituição no

item VI202.

200

Disponível em: <http://www.ccbc.org.br/default.asp?categoria=2&subcategoria=Regulamento 2012#12>. Acesso em: 6 mar. 2014. 201

12.9. Todas as despesas que incidirem ou forem incorridas durante a arbitragem serão antecipadas pela parte que requereu a providência, ou pelas partes, igualmente, se decorrentes de providências requeridas pelo Tribunal Arbitral. 12.10. Na hipótese do não pagamento das Taxas de Administração, honorários de árbitro e peritos ou quaisquer despesas da arbitragem, será facultado a uma das partes efetuar o pagamento por conta da outra, em prazo a ser fixado pela Secretaria do CAM/CCBC. 12.10.1. Caso o pagamento seja efetuado pela outra parte, a Secretaria do CAM/CCBC dará ciência às partes e ao Tribunal Arbitral, hipótese em que este considerará retirados os pleitos da parte inadimplente, se existentes. 12.10.2. Caso nenhuma das partes se disponha a efetuar o pagamento, o procedimento será suspenso. 12.11. Decorrido o prazo de 30 (trinta) dias de suspensão por falta de pagamento, sem que qualquer das partes efetue a provisão de fundos, o processo poderá ser extinto, sem prejuízo do direito das partes de apresentarem requerimento para instituição de novo procedimento arbitral visando solução da controvérsia, desde que recolhidos os valores pendentes. 12.12. Independente do disposto nos artigos 12.10 e 12.11 do Regulamento, o CAM/CCBC pode exigir judicial ou extrajudicialmente o pagamento das Taxas de Administração, honorários dos árbitros ou despesas, que serão considerados valores líquidos e certos, e poderão vir a ser cobrados através de processo de execução, acrescidos de juros e correção monetária, conforme disposto na Tabela de Despesas. 12.12.1. Os trabalhos periciais não se iniciarão antes do depósito integral de seus honorários, ainda que o pagamento aos peritos seja efetivado de forma diversa. 12.13. O Comitê Especial previsto no artigo 5.4 do Regulamento, somente será constituído mediante o pagamento dos valores estipulados na Tabela de Despesas. Salvo disposição expressa e específica em contrário, os honorários deverão ser recolhidos pela parte que suscitou o incidente. 12.14. O Presidente do CAM/CCBC poderá determinar o ressarcimento de valores que a instituição tiver adiantado ou de despesas que tiver suportado, assim como o pagamento de todas as taxas ou encargos devidos e não recolhidos por qualquer das partes. 202

Disponível em: <http://www.ccbc.org.br/default.asp?categoria=2&subcategoria=tabela de custos>. Acesso em: 6 mar. 2014. “VI) Inadimplemento Como garantia no pagamento tempestivo das despesas descritas acima, o Novo Regulamento do CAM/CCBC possui as seguintes disposições: [...] 12.10. Na hipótese do não pagamento das Taxas de Administração, honorários de árbitro e peritos ou quaisquer despesas da arbitragem, será facultado a uma das partes efetuar o pagamento por conta da outra, em prazo a ser fixado pela Secretaria do CAM/CCBC. 12.10.1. Caso o pagamento seja efetuado pela outra parte, a Secretaria do CAM/CCBC dará ciência às partes e ao Tribunal Arbitral, hipótese em que este considerará retirados os pleitos da parte inadimplente, se existentes. 12.10.2. Caso nenhuma das partes se disponha a efetuar o pagamento, o procedimento será suspenso. 12.11. Decorrido o prazo de 30 (trinta) dias de suspensão por falta de pagamento, sem que qualquer das partes efetue a provisão de fundos, o processo poderá ser extinto, sem prejuízo do direito das partes de apresentarem requerimento para instituição de novo procedimento arbitral visando solução da controvérsia, desde que recolhidos os valores pendentes. 12.12. Independente do disposto nos artigos 12.10 e 12.11 do Regulamento, o CAM/CCBC pode exigir judicial ou extrajudicialmente o pagamento das Taxas de Administração, honorários dos árbitros

135

Nesse espectro, no aventar da questão em enfoque, a parte que pretender

instaurar o procedimento arbitral, mas que no curso da relação contratual, quando

então se instaurar o conflito, não possuir condições financeiras para buscar a

solução de um direito em conflito, não ficaria impedida de seu exercício e, pelo

contrário, o equilíbrio contratual nesse sentido ficaria de pronto restabelecido, sem a

necessidade previa de socorrer-se ao Judiciário para solver questão relativa à

utilização da cláusula arbitral institucional.

E isso, forte no fato de que não se pode olvidar o acesso à justiça, já que

constitui garantia constitucional da suprema relevância.

Nesse pensar, se a eleição da arbitragem, pelas partes, representara uma

vontade e nela ocorrera uma renúncia à jurisdição estatal, não se pode conceber

que alguma das partes seja impedida de ter um direito seu avaliado pelo sistema

procedimental eleito, dentro de um contexto contratual.

Além disso, não se concebe em medida de igualdade, nessa hipótese, que a

parte adversa no contrato resida em situação confortável, em face de que a parte

prejudicada não teria condições de dar início ao mecanismo previsto entre elas para

solucionar a controvérsia.

Diante disso, a sugestão legislativa aposta, certamente, evitaria que dentro de

um cenário contratual que envolvesse um sistema de franquias e sua intrínseca

complexidade, alguma das partes ficasse impedida de obter as benesses da solução

de determinada questão controvertida através da arbitragem institucional, como

previamente manifestaram e expressamente pactuaram.

O tema se justifica ao passo que a ausência de norma legal, aliada à

amplitude que caracteriza a arbitragem e seu procedimento, entendemos que deve

ser objeto de consideração pelo legislador e, enquanto não for, pelas partes que

integram o sistema de franquias, de forma preventiva ao conflito.

ou despesas, que serão considerados valores líquidos e certos, e poderão vir a ser cobrados através de processo de execução, acrescidos de juros e correção monetária, conforme disposto na Tabela de Despesas.”

136

CONCLUSÃO

Todo conhecimento adquirido no âmbito empresarial e comercial pode ser

considerado um bem imaterial e detentor de valores socioeconômicos, sendo objeto

de negócios jurídicos complexos, como acontece no contrato de franquia.

Dessarte, o segredo dos negócios e a transferência de know-how constituem

o fundamento da franquia e daí percebe-se desde já a necessidade de que conflitos

advindos desse tipo de relação comercial não sejam levados a conhecimento

público, afinal, consequentemente, o núcleo do negócio pautado entre as partes

inevitavelmente poderia vir à tona.

Nesse pensar, a utilização da justiça estatal, de per si, não seria a melhor

seara para que as partes que integram a relação comercial de franquia resolvessem

suas lides.

É que a franquia, tendo como fator mestre para sua manutenção e

competitividade os segredos dos negócios do franqueador, tem na arbitragem uma

grande aliada, visto que esta se norteia justamente pelo princípio da

confidencialidade e sigilo.

Nessa medida, as disputas surgidas nos negócios de franquia estão, cada vez

mais, sendo solucionadas por meio da arbitragem, cujas decisões garantem

segurança jurídica às partes, até porque proferidas possivelmente por um árbitro

especializado na matéria em pauta e com a celeridade indispensável a todo o

negócio.

E, de tudo quanto se viu neste trabalho, a arbitragem vem ganhando força e

se estabelecendo como forma eficaz de solução de controvérsia na área de

franquias, harmônicos que são os institutos em cena.

De registrar, todavia, que, mesmo ao se utilizar o instituto da arbitragem nos

contratos de franquia, não se pode estabelecer o afastamento integral do Poder

Judiciário quanto ao procedimento arbitral, tanto porque a decisão arbitral somente

ganhará força executiva na seara judicial, como pelo fato de que há questões que

ainda pedem a análise do referido órgão.

Contudo, há um caminhar lado a lado entre a justiça arbitral e o Judiciário,

possibilitando-se às partes litigantes o equilíbrio de suas relações controvertidas.

Nesse sentido, a cooperação do Poder Judiciário tem sido fundamental e

indispensável para o desenvolvimento das arbitragens domésticas institucionais,

137

pois é mister para que a arbitragem ganhe força no cenário nacional, ainda

culturalmente litigante, inaugurando-se uma política menos invasiva e mais

pacificadora para a solução de questões controvertidas.

Notadamente, a par da efetividade do exercício do direito por meio da

arbitragem, em detrimento da eventual impossibilidade que se instale no curso

contratual, questão que respeite a hipossuficiência financeira de uma das partes,

como solvido tem o Judiciário nesse particular, as “chaves de segurança” estão

explanadas neste trabalho, de modo a perfectibilizar a aplicação do instituto da

arbitragem aos contratos de franquia, em sua excelência.

Ainda, cuidou-se de dirimir problemática eventualmente instalada no

entendimento da adesividade do contrato de franquias, em virtude da divisão

doutrinária que se apresenta nesse particular nessa sede, vindo de ser objeto de

análise e solução neste trabalho.

Nesse pensar, podemos dizer que ao adotarmos a arbitragem institucional no

segmento da franquia, estaríamos buscando a efetividade e celeridade processual e

sempre no intuito da pacificação social.

Para tanto, como se abordou, algumas medidas prévias urgem atenção para

que a arbitragem possa ser efetivamente aplicada aos contratos de franquia e, daí,

de forma menos dependente de análise pelo Poder Judiciário, em questões

anteriores ao conflito em si e que se instalem pela utilização desse instituto,

permitindo-se, pelos meios apresentados, a solução dentro de seu próprio terreno de

competências, que é a própria arbitragem em sua excelência.

138

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ANEXO I – LEI DE ARBITRAGEM BRASILEIRA

LEI Nº 9.307, DE 23 DE SETEMBRO DE 1996.

Dispõe sobre a arbitragem.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.

§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

§ 2º Poderão, também, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comércio.

Capítulo II

Da Convenção de Arbitragem e seus Efeitos

Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso arbitral.

Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou em documento apartado que a ele se refira.

§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.

Art. 5º Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será

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instituída e processada de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecer na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.

Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia, hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.

Parágrafo único. Não comparecendo a parte convocada ou, comparecendo, recusar-se a firmar o compromisso arbitral, poderá a outra parte propor a demanda de que trata o art. 7º desta Lei, perante o órgão do Poder Judiciário a que, originariamente, tocaria o julgamento da causa.

Art. 7º Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial para tal fim.

§ 1º O autor indicará, com precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento que contiver a cláusula compromissória.

§ 2º Comparecendo as partes à audiência, o juiz tentará, previamente, a conciliação acerca do litígio. Não obtendo sucesso, tentará o juiz conduzir as partes à celebração, de comum acordo, do compromisso arbitral.

§ 3º Não concordando as partes sobre os termos do compromisso, decidirá o juiz, após ouvir o réu, sobre seu conteúdo, na própria audiência ou no prazo de dez dias, respeitadas as disposições da cláusula compromissória e atendendo ao disposto nos arts. 10 e 21, § 2º, desta Lei.

§ 4º Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito, podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.

§ 5º A ausência do autor, sem justo motivo, à audiência designada para a lavratura do compromisso arbitral, importará a extinção do processo sem julgamento de mérito.

§ 6º Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido o autor, estatuir a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.

§ 7º A sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral.

Art. 8º A cláusula compromissória é autônoma em relação ao contrato em que estiver inserta, de tal sorte que a nulidade deste não implica, necessariamente, a nulidade da cláusula compromissória.

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Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.

§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.

§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.

Art. 10. Constará, obrigatoriamente, do compromisso arbitral:

I - o nome, profissão, estado civil e domicílio das partes;

II - o nome, profissão e domicílio do árbitro, ou dos árbitros, ou, se for o caso, a identificação da entidade à qual as partes delegaram a indicação de árbitros;

III - a matéria que será objeto da arbitragem; e

IV - o lugar em que será proferida a sentença arbitral.

Art. 11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter:

I - local, ou locais, onde se desenvolverá a arbitragem;

II - a autorização para que o árbitro ou os árbitros julguem por eqüidade, se assim for convencionado pelas partes;

III - o prazo para apresentação da sentença arbitral;

IV - a indicação da lei nacional ou das regras corporativas aplicáveis à arbitragem, quando assim convencionarem as partes;

V - a declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários e das despesas com a arbitragem; e

VI - a fixação dos honorários do árbitro, ou dos árbitros.

Parágrafo único. Fixando as partes os honorários do árbitro, ou dos árbitros, no compromisso arbitral, este constituirá título executivo extrajudicial; não havendo tal estipulação, o árbitro requererá ao órgão do Poder Judiciário que seria competente para julgar, originariamente, a causa que os fixe por sentença.

Art. 12. Extingue-se o compromisso arbitral:

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I - escusando-se qualquer dos árbitros, antes de aceitar a nomeação, desde que as partes tenham declarado, expressamente, não aceitar substituto;

II - falecendo ou ficando impossibilitado de dar seu voto algum dos árbitros, desde que as partes declarem, expressamente, não aceitar substituto; e

III - tendo expirado o prazo a que se refere o art. 11, inciso III, desde que a parte interessada tenha notificado o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, concedendo-lhe o prazo de dez dias para a prolação e apresentação da sentença arbitral.

Capítulo III

Dos Árbitros

Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.

§ 1º As partes nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também, os respectivos suplentes.

§ 2º Quando as partes nomearem árbitros em número par, estes estão autorizados, desde logo, a nomear mais um árbitro. Não havendo acordo, requererão as partes ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o procedimento previsto no art. 7º desta Lei.

§ 3º As partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos árbitros, ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.

§ 4º Sendo nomeados vários árbitros, estes, por maioria, elegerão o presidente do tribunal arbitral. Não havendo consenso, será designado presidente o mais idoso.

§ 5º O árbitro ou o presidente do tribunal designará, se julgar conveniente, um secretário, que poderá ser um dos árbitros.

§ 6º No desempenho de sua função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição.

§ 7º Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral determinar às partes o adiantamento de verbas para despesas e diligências que julgar necessárias.

Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-lhes, no que couber, os mesmos deveres e responsabilidades, conforme previsto no Código de Processo Civil.

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§ 1º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e independência.

§ 2º O árbitro somente poderá ser recusado por motivo ocorrido após sua nomeação. Poderá, entretanto, ser recusado por motivo anterior à sua nomeação, quando:

a) não for nomeado, diretamente, pela parte; ou

b) o motivo para a recusa do árbitro for conhecido posteriormente à sua nomeação.

Art. 15. A parte interessada em argüir a recusa do árbitro apresentará, nos termos do art. 20, a respectiva exceção, diretamente ao árbitro ou ao presidente do tribunal arbitral, deduzindo suas razões e apresentando as provas pertinentes.

Parágrafo único. Acolhida a exceção, será afastado o árbitro suspeito ou impedido, que será substituído, na forma do art. 16 desta Lei.

Art. 16. Se o árbitro escusar-se antes da aceitação da nomeação, ou, após a aceitação, vier a falecer, tornar-se impossibilitado para o exercício da função, ou for recusado, assumirá seu lugar o substituto indicado no compromisso, se houver.

§ 1º Não havendo substituto indicado para o árbitro, aplicar-se-ão as regras do órgão arbitral institucional ou entidade especializada, se as partes as tiverem invocado na convenção de arbitragem.

§ 2º Nada dispondo a convenção de arbitragem e não chegando as partes a um acordo sobre a nomeação do árbitro a ser substituído, procederá a parte interessada da forma prevista no art. 7º desta Lei, a menos que as partes tenham declarado, expressamente, na convenção de arbitragem, não aceitar substituto.

Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.

Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.

Capítulo IV

Do Procedimento Arbitral

Art. 19. Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo árbitro, se for único, ou por todos, se forem vários.

Parágrafo único. Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há necessidade de explicitar alguma questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente com as partes, um adendo, firmado por todos, que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem.

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Art. 20. A parte que pretender argüir questões relativas à competência, suspeição ou impedimento do árbitro ou dos árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da arbitragem.

§ 1º Acolhida a argüição de suspeição ou impedimento, será o árbitro substituído nos termos do art. 16 desta Lei, reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão do Poder Judiciário competente para julgar a causa.

§ 2º Não sendo acolhida a argüição, terá normal prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário competente, quando da eventual propositura da demanda de que trata o art. 33 desta Lei.

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento.

§ 1º Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao árbitro ou ao tribunal arbitral discipliná-lo.

§ 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento.

§ 3º As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre, a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral.

§ 4º Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar a conciliação das partes, aplicando-se, no que couber, o art. 28 desta Lei.

Art. 22. Poderá o árbitro ou o tribunal arbitral tomar o depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias ou outras provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou de ofício.

§ 1º O depoimento das partes e das testemunhas será tomado em local, dia e hora previamente comunicados, por escrito, e reduzido a termo, assinado pelo depoente, ou a seu rogo, e pelos árbitros.

§ 2º Em caso de desatendimento, sem justa causa, da convocação para prestar depoimento pessoal, o árbitro ou o tribunal arbitral levará em consideração o comportamento da parte faltosa, ao proferir sua sentença; se a ausência for de testemunha, nas mesmas circunstâncias, poderá o árbitro ou o presidente do tribunal arbitral requerer à autoridade judiciária que conduza a testemunha renitente, comprovando a existência da convenção de arbitragem.

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§ 3º A revelia da parte não impedirá que seja proferida a sentença arbitral.

§ 4º Ressalvado o disposto no § 2º, havendo necessidade de medidas coercitivas ou cautelares, os árbitros poderão solicitá-las ao órgão do Poder Judiciário que seria, originariamente, competente para julgar a causa.

§ 5º Se, durante o procedimento arbitral, um árbitro vier a ser substituído fica a critério do substituto repetir as provas já produzidas.

Capítulo V

Da Sentença Arbitral

Art. 23. A sentença arbitral será proferida no prazo estipulado pelas partes. Nada tendo sido convencionado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro.

Parágrafo único. As partes e os árbitros, de comum acordo, poderão prorrogar o prazo estipulado.

Art. 24. A decisão do árbitro ou dos árbitros será expressa em documento escrito.

§ 1º Quando forem vários os árbitros, a decisão será tomada por maioria. Se não houver acordo majoritário, prevalecerá o voto do presidente do tribunal arbitral.

§ 2º O árbitro que divergir da maioria poderá, querendo, declarar seu voto em separado.

Art. 25. Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o procedimento arbitral.

Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial e juntada aos autos a sentença ou acórdão transitados em julgado, terá normal seguimento a arbitragem.

Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio;

II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade;

III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e

IV - a data e o lugar em que foi proferida.

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Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.

Art. 27. A sentença arbitral decidirá sobre a responsabilidade das partes acerca das custas e despesas com a arbitragem, bem como sobre verba decorrente de litigância de má-fé, se for o caso, respeitadas as disposições da convenção de arbitragem, se houver.

Art. 28. Se, no decurso da arbitragem, as partes chegarem a acordo quanto ao litígio, o árbitro ou o tribunal arbitral poderá, a pedido das partes, declarar tal fato mediante sentença arbitral, que conterá os requisitos do art. 26 desta Lei.

Art. 29. Proferida a sentença arbitral, dá-se por finda a arbitragem, devendo o árbitro, ou o presidente do tribunal arbitral, enviar cópia da decisão às partes, por via postal ou por outro meio qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, ou, ainda, entregando-a diretamente às partes, mediante recibo.

Art. 30. No prazo de cinco dias, a contar do recebimento da notificação ou da ciência pessoal da sentença arbitral, a parte interessada, mediante comunicação à outra parte, poderá solicitar ao árbitro ou ao tribunal arbitral que:

I - corrija qualquer erro material da sentença arbitral;

II - esclareça alguma obscuridade, dúvida ou contradição da sentença arbitral, ou se pronuncie sobre ponto omitido a respeito do qual devia manifestar-se a decisão.

Parágrafo único. O árbitro ou o tribunal arbitral decidirá, no prazo de dez dias, aditando a sentença arbitral e notificando as partes na forma do art. 29.

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:

I - for nulo o compromisso;

II - emanou de quem não podia ser árbitro;

III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;

IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;

V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem;

VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;

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VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e

VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.

Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.

§ 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.

§ 2º A sentença que julgar procedente o pedido:

I - decretará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e VIII;

II - determinará que o árbitro ou o tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais hipóteses.

§ 3º A decretação da nulidade da sentença arbitral também poderá ser argüida mediante ação de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Código de Processo Civil, se houver execução judicial.

Capítulo VI

Do Reconhecimento e Execução de Sentenças

Arbitrais Estrangeiras

Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.

Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.

Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.

Art. 36. Aplica-se à homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, no que couber, o disposto nos arts. 483 e 484 do Código de Processo Civil.

Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o art. 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:

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I - o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial;

II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial.

Art. 38. Somente poderá ser negada a homologação para o reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira, quando o réu demonstrar que:

I - as partes na convenção de arbitragem eram incapazes;

II - a convenção de arbitragem não era válida segundo a lei à qual as partes a submeteram, ou, na falta de indicação, em virtude da lei do país onde a sentença arbitral foi proferida;

III - não foi notificado da designação do árbitro ou do procedimento de arbitragem, ou tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando a ampla defesa;

IV - a sentença arbitral foi proferida fora dos limites da convenção de arbitragem, e não foi possível separar a parte excedente daquela submetida à arbitragem;

V - a instituição da arbitragem não está de acordo com o compromisso arbitral ou cláusula compromissória;

VI - a sentença arbitral não se tenha, ainda, tornado obrigatória para as partes, tenha sido anulada, ou, ainda, tenha sido suspensa por órgão judicial do país onde a sentença arbitral for prolatada.

Art. 39. Também será denegada a homologação para o reconhecimento ou execução da sentença arbitral estrangeira, se o Supremo Tribunal Federal constatar que:

I - segundo a lei brasileira, o objeto do litígio não é suscetível de ser resolvido por arbitragem;

II - a decisão ofende a ordem pública nacional.

Parágrafo único. Não será considerada ofensa à ordem pública nacional a efetivação da citação da parte residente ou domiciliada no Brasil, nos moldes da convenção de arbitragem ou da lei processual do país onde se realizou a arbitragem, admitindo-se, inclusive, a citação postal com prova inequívoca de recebimento, desde que assegure à parte brasileira tempo hábil para o exercício do direito de defesa.

Art. 40. A denegação da homologação para reconhecimento ou execução de sentença arbitral estrangeira por vícios formais, não obsta que a parte interessada renove o pedido, uma vez sanados os vícios apresentados.

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Capítulo VII

Disposições Finais

Art. 41. Os arts. 267, inciso VII; 301, inciso IX; e 584, inciso III, do Código de Processo Civil passam a ter a seguinte redação:

"Art. 267.........................................................................

VII - pela convenção de arbitragem;"

"Art. 301.........................................................................

IX - convenção de arbitragem;"

"Art. 584...........................................................................

III - a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conciliação;"

Art. 42. O art. 520 do Código de Processo Civil passa a ter mais um inciso, com a seguinte redação:

"Art. 520...........................................................................

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem."

Art. 43. Esta Lei entrará em vigor sessenta dias após a data de sua publicação.

Art. 44. Ficam revogados os arts. 1.037 a 1.048 da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, Código Civil Brasileiro; os arts. 101 e 1.072 a 1.102 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil; e demais disposições em contrário.

Brasília, 23 de setembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Nelson A. Jobim

Este texto não substitui o publicado no DOU de 24.9.1996

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ANEXO II – LEI DE FRANQUIA BRASILEIRA

LEI No. 8.955, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1994.

Dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising) e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Os contratos de franquia empresarial são disciplinados por esta lei.

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

Art. 3º Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as seguintes informações:

I - histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do franqueador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os respectivos nomes de fantasia e endereços;

II - balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos dois últimos exercícios;

III - indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes e direitos autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando especificamente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a impossibilitar o funcionamento da franquia;

IV - descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades que serão desempenhadas pelo franqueado;

V - perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior, nível de escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente;

VI - requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na administração do negócio;

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VII - especificações quanto ao:

a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implantação e entrada em operação da franquia;

b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e

c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas condições de pagamento;

VIII - informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as respectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se destinam, indicando, especificamente, o seguinte:

a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos serviços efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties);

b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial;

c) taxa de publicidade ou semelhante;

d) seguro mínimo; e

e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam ligados;

IX - relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueadores da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome, endereço e telefone;

X - em relação ao território, deve ser especificado o seguinte:

a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e

b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu território ou realizar exportações;

XI - informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou administração de sua franquia, apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo franqueador, oferecendo ao franqueado relação completa desses fornecedores;

XII - indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no que se refere a:

a) supervisão de rede;

b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado;

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c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos;

d) treinamento dos funcionários do franqueado;

e) manuais de franquia;

f) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e

g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado;

XIII - situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - (INPI) das marcas ou patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador;

XIV - situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em relação a:

a) know how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função da franquia; e

b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador;

XV - modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão de franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respectivos anexos e prazo de validade.

Art. 4º A circular oferta de franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no mínimo 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ou pessoa ligada a este.

Parágrafo único. Na hipótese do não cumprimento do disposto no caput deste artigo, o franqueado poderá argüir a anulabilidade do contrato e exigir devolução de todas as quantias que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele indicados, a título de taxa de filiação e royalties, devidamente corrigidas, pela variação da remuneração básica dos depósitos de poupança mais perdas e danos.

Art. 5º (VETADO).

Art. 6º O contrato de franquia deve ser sempre escrito e assinado na presença de 2 (duas) testemunhas e terá validade independentemente de ser levado a registro perante cartório ou órgão público.

Art. 7º A sanção prevista no parágrafo único do art. 4º desta lei aplica-se, também, ao franqueador que veicular informações falsas na sua circular de oferta de franquia, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.

Art. 8º O disposto nesta lei aplica-se aos sistemas de franquia instalados e operados no território nacional.

160

Art. 9º Para os fins desta lei, o termo franqueador, quando utilizado em qualquer de seus dispositivos, serve também para designar o subfranqueador, da mesma forma que as disposições que se refiram ao franqueado aplicam-se ao subfranqueado.

Art. 10. Esta lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após sua publicação.

Art. 11. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 15 de dezembro de 1994; 173º da Independência e 106º da República.

ITAMAR FRANCO Ciro Ferreira Gomes

Este texto não substitui o publicado no DOU de 16.12.1994

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ANEXO III – LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA PORTUGUESA

Lei n.º 63/2011 de 14 de Dezembro Aprova a Lei da Arbitragem Voluntária A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte: Artigo 1.º Objecto 1 — É aprovada a Lei da Arbitragem Voluntária, que se publica em anexo à presente lei e que dela faz parte integrante. 2 — É alterado o Código de Processo Civil, em conformidade com a nova Lei da Arbitragem Voluntária. Artigo 2.º Alteração ao Código de Processo Civil Os artigos 812.º -D, 815.º, 1094.º e 1527.º do Código de Processo Civil passam a ter a seguinte redacção: «Artigo 812.º -D [...] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . b) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . d) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . e) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . f) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . g) Se, pedida a execução de sentença arbitral, o agente de execução duvidar de que o litígio pudesse ser cometido à decisão por árbitros, quer por estar submetido, por lei especial, exclusivamente a tribunal judicial ou a arbitragem necessária, quer por o direito controvertido não ter carácter patrimonial e não poder ser objecto de transacção. Artigo 815.º [...] São fundamentos de oposição à execução baseada em sentença arbitral não apenas os previstos no artigo anterior mas também aqueles em que pode basear -se a anulação judicial da mesma decisão, sem prejuízo do disposto nos n.os 1 e 2 do artigo 48.º da Lei da Arbitragem Voluntária. Artigo 1094.º

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[...] 1 — Sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções, regulamentos da União Europeia e leis especiais, nenhuma decisão sobre direitos privados, proferida por tribunal estrangeiro, tem eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes, sem estar revista e confirmada. 2 — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Artigo 1527.º [...] 1 — Se em relação a algum dos árbitros se verificarqualquer das circunstâncias previstas nos artigos 13.º a 15.º da Lei da Arbitragem Voluntária, procede -se à nomeação de outro, nos termos do artigo 16.º daquela lei, cabendo a nomeação a quem tiver nomeado o árbitro anterior, quando possível. 2 — . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . » Artigo 3.º Remissões Todas as remissões feitas em diplomas legais ou regulamentares para as disposições da Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto –Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, devem considerar -se como feitas para as disposições correspondentes na nova Lei da Arbitragem Voluntária. Artigo 4.º Disposição transitória 1 — Salvo o disposto nos números seguintes, ficam sujeitos ao novo regime da Lei da Arbitragem Voluntária os processos arbitrais que, nos termos do n.º 1 do artigo 33.º da referida lei, se iniciem após a sua entrada em vigor. 2 — O novo regime é aplicável aos processos arbitrais iniciados antes da sua entrada em vigor, desde que ambas as partes nisso acordem ou se uma delas formular proposta nesse sentido e a outra a tal não se opuser no prazo de 15 dias a contar da respectiva recepção. 3 — As partes que tenham celebrado convenções de arbitragem antes da entrada em vigor do novo regime mantêm o direito aos recursos que caberiam da sentença arbitral, nos termos do artigo 29.º da Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto -Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, caso o processo arbitral houvesse decorrido ao abrigo deste diploma. 4 — A submissão a arbitragem de litígios emergentes de ou relativos a contratos de trabalho é regulada por lei especial, sendo aplicável, até à entrada em vigor desta o novo regime aprovado pela presente lei, e, com as devidas adaptações, o n.º 1 do artigo 1.º da Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto –Lei n.º 38/2003, de 8 de Março. Artigo 5.º Norma revogatória 1 — É revogada a Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto, com a redacção que lhe foi dada pelo Decreto -Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, com excepção do disposto no n.º 1 do artigo 1.º, que se mantém em vigor para a arbitragem de litígios emergentes de ou relativos a contratos de trabalho. 2 — São revogados o n.º 2 do artigo 181.º e o artigo 186.º do Código de Processo nos Tribunais Administrativos. 3 — É revogado o artigo 1097.º do Código de Processo Civil. Entrada em vigor A presente lei entra em vigor três meses após a data da sua publicação.

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Aprovada em 4 de Novembro de 2011. A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção A. Esteves. Promulgada em 29 de Novembro de 2011. Publique -se. O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA. Referendada em 30 de Novembro de 2011. O Primeiro -Ministro, Pedro Passos Coelho. ANEXO Lei da Arbitragem Voluntária CAPÍTULO I Da convenção de arbitragem Artigo 1.º Convenção de arbitragem 1 — Desde que por lei especial não esteja submetido exclusivamente aos tribunais do Estado ou a arbitragem necessária, qualquer litígio respeitante a interesses de natureza patrimonial pode ser cometido pelas partes, mediante convenção de arbitragem, à decisão de árbitros. 2 — É também válida uma convenção de arbitragem relativa a litígios que não envolvam interesses de natureza patrimonial, desde que as partes possam celebrar transacção sobre o direito controvertido. 3 — A convenção de arbitragem pode ter por objeto um litígio actual, ainda que afecto a um tribunal do Estado (compromisso arbitral), ou litígios eventuais emergentes de determinada relação jurídica contratual ou extracontratual (cláusula compromissória). 4 — As partes podem acordar em submeter a arbitragem, para além das questões de natureza contenciosa em sentido estrito, quaisquer outras que requeiram a intervenção de um decisor imparcial, designadamente as relacionadas com a necessidade de precisar, completar e adaptar contratos de prestações duradouras a novas circunstâncias. 5 — O Estado e outras pessoas colectivas de direito público podem celebrar convenções de arbitragem, na medida em que para tanto estejam autorizados por lei ou se tais convenções tiverem por objecto litígios de direito privado. Artigo 2.º Requisitos da convenção de arbitragem; sua revogação 1 — A convenção de arbitragem deve adoptar forma escrita. 2 — A exigência de forma escrita tem -se por satisfeita quando a convenção conste de documento escrito assinado pelas partes, troca de cartas, telegramas, telefaxes ou outros meios de telecomunicação de que fique prova escrita, incluindo meios electrónicos de comunicação. 3 — Considera -se que a exigência de forma escrita da convenção de arbitragem está satisfeita quando esta conste de suporte electrónico, magnético, óptico, ou de outro tipo, que ofereça as mesmas garantias de fidedignidade, inteligibilidade e conservação. 4 — Sem prejuízo do regime jurídico das cláusulas contratuais gerais, vale como convenção de arbitragem a remissão feita num contrato para documento que contenha uma cláusula compromissória, desde que tal contrato revista a forma

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escrita e a remissão seja feita de modo a fazer dessa cláusula parte integrante do mesmo. 5 — Considera -se também cumprido o requisito da forma escrita da convenção de arbitragem quando exista troca de uma petição e uma contestação em processo arbitral, em que a existência de tal convenção seja alegada por uma parte e não seja negada pela outra. 6 — O compromisso arbitral deve determinar o objeto do litígio; a cláusula compromissória deve especificar a relação jurídica a que os litígios respeitem. Artigo 3.º Nulidade da convenção de arbitragem É nula a convenção de arbitragem celebrada em violação do disposto nos artigos 1.º e 2.º Artigo 4.º Modificação, revogação e caducidade da convenção 1 — A convenção de arbitragem pode ser modificada pelas partes até à aceitação do primeiro árbitro ou, com o acordo de todos os árbitros, até à prolação da sentença arbitral. 2 — A convenção de arbitragem pode ser revogada pelas partes, até à prolação da sentença arbitral. 3 — O acordo das partes previsto nos números anteriores deve revestir a forma escrita, observando -se o disposto no artigo 2.º 4 — Salvo convenção em contrário, a morte ou extinção das partes não faz caducar a convenção de arbitragem nem extingue a instância arbitral. Artigo 5.º Efeito negativo da convenção de arbitragem 1 — O tribunal estadual no qual seja proposta acção relativa a uma questão abrangida por uma convenção de arbitragem deve, a requerimento do réu deduzido até ao momento em que este apresentar o seu primeiro articulado sobre o fundo da causa, absolvê -lo da instância, a menos que verifique que, manifestamente, a convenção de arbitragem é nula, é ou se tornou ineficaz ou é inexequível. 2 — No caso previsto no número anterior, o processo arbitral pode ser iniciado ou prosseguir, e pode ser neleproferida uma sentença, enquanto a questão estiver pendente no tribunal estadual. 3 — O processo arbitral cessa e a sentença nele proferida deixa de produzir efeitos, logo que um tribunal estadual considere, mediante decisão transitada em julgado, que o tribunal arbitral é incompetente para julgar o litígio que lhe foi submetido, quer tal decisão seja proferida na acção referida no n.º 1 do presente artigo, quer seja proferida ao abrigo do disposto no n.º 9 do artigo 18.º, e nas subalíneas i) e iii) da alínea a) do n.º 3 do artigo 46.º 4 — As questões da nulidade, ineficácia e inexequibilidade de uma convenção de arbitragem não podem ser discutidas autonomamente em acção de simples apreciação proposta em tribunal estadual nem em procedimento cautelar instaurado perante o mesmo tribunal, que tenha como finalidade impedir a constituição ou o funcionamento de um tribunal arbitral. Artigo 6.º Remissão para regulamentos de arbitragem

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Todas as referências feitas na presente lei ao estipulado na convenção de arbitragem ou ao acordo entre as partes abrangem não apenas o que as partes aí regulem directamente, mas também o disposto em regulamentos de arbitragem para os quais as partes hajam remetido. Artigo 7.º Convenção de arbitragem e providências cautelares decretadas por tribunal estadual Não é incompatível com uma convenção de arbitragem o requerimento de providências cautelares apresentado a um tribunal estadual, antes ou durante o processo arbitral, nem o decretamento de tais providências por aquele tribunal. CAPÍTULO II Dos árbitros e do tribunal arbitral Artigo 8.º Número de árbitros 1 — O tribunal arbitral pode ser constituído por um único árbitro ou por vários, em número ímpar. 2 — Se as partes não tiverem acordado no número de membros do tribunal arbitral, é este composto por três árbitros. Artigo 9.º Requisitos dos árbitros 1 — Os árbitros devem ser pessoas singulares e plenamente capazes. 2 — Ninguém pode ser preterido, na sua designação como árbitro, em razão da nacionalidade, sem prejuízo do disposto no n.º 6 do artigo 10.º e da liberdade de escolha das partes. 3 — Os árbitros devem ser independentes e imparciais. 4 — Os árbitros não podem ser responsabilizados por danos decorrentes das decisões por eles proferidas, salvo nos casos em que os magistrados judiciais o possam ser. 5 — A responsabilidade dos árbitros prevista no número anterior só tem lugar perante as partes. Artigo 10.º Designação dos árbitros 1 — As partes podem, na convenção de arbitragem ou em escrito posterior por elas assinado, designar o árbitro ou os árbitros que constituem o tribunal arbitral ou fixar o modo pelo qual estes são escolhidos, nomeadamente, cometendo a designação de todos ou de alguns dos árbitros a um terceiro. 2 — Caso o tribunal arbitral deva ser constituído por um único árbitro e não haja acordo entre as partes quanto a essa designação, tal árbitro é escolhido, a pedido de qualquer das partes, pelo tribunal estadual. 3 — No caso de o tribunal arbitral ser composto por três ou mais árbitros, cada parte deve designar igual número de árbitros e os árbitros assim designados devem escolher outro árbitro, que actua como presidente do tribunal arbitral. 4 — Salvo estipulação em contrário, se, no prazo de 30 dias a contar da recepção do pedido que a outra parte lhe faça nesse sentido, uma parte não designar o árbitro

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ou árbitros que lhe cabe escolher ou se os árbitros designados pelas partes não acordarem na escolha do árbitro presidente no prazo de 30 dias a contar da designação do último deles, a designação do árbitro ou árbitros em falta é feita, a pedido de qualquer das partes, pelo tribunal estadual competente. 5 — Salvo estipulação em contrário, aplica -se o disposto no número anterior se as partes tiverem cometido a designação de todos ou de alguns dos árbitros a um terceiro e este não a tiver efectuado no prazo de 30 dias a contar da solicitação que lhe tenha sido dirigida nesse sentido. 6 — Quando nomear um árbitro, o tribunal estadual competente tem em conta as qualificações exigidas pelo acordo das partes para o árbitro ou os árbitros a designar e tudo o que for relevante para garantir a nomeação de um árbitro independente e imparcial; tratando -se de arbitragem internacional, ao nomear um árbitro único ou um terceiro árbitro, o tribunal tem também em consideração a possível conveniência da nomeação de um árbitro de nacionalidade diferente da das partes. 7 — Não cabe recurso das decisões proferidas pelo tribunal estadual competente ao abrigo dos números anteriores do presente artigo. Artigo 11.º Pluralidade de demandantes ou de demandados 1 — Em caso de pluralidade de demandantes ou de demandados, e devendo o tribunal arbitral ser composto por três árbitros, os primeiros designam conjuntamente um árbitro e os segundos designam conjuntamente outro. 2 — Se os demandantes ou os demandados não chegarem a acordo sobre o árbitro que lhes cabe designar, cabe ao tribunal estadual competente, a pedido de qualquer das partes, fazer a designação do árbitro em falta. 3 — No caso previsto no número anterior, pode o tribunal estadual, se se demonstrar que as partes que não conseguiram nomear conjuntamente um árbitro têm interesses conflituantes relativamente ao fundo da causa, nomear a totalidade dos árbitros e designar de entre eles quem é o presidente, ficando nesse caso sem efeito a designação do árbitro que uma das partes tiver entretanto efectuado. 4 — O disposto no presente artigo entende -se sem prejuízo do que haja sido estipulado na convenção de arbitragem para o caso de arbitragem com pluralidade de partes. Artigo 12.º Aceitação do encargo 1 — Ninguém pode ser obrigado a actuar como árbitro; mas se o encargo tiver sido aceite, só é legítima a escusa fundada em causa superveniente que impossibilite o designado de exercer tal função ou na não conclusão do acordo a que se refere o n.º 1 do artigo 17.º 2 — A menos que as partes tenham acordado de outro modo, cada árbitro designado deve, no prazo de 15 dias a contar da comunicação da sua designação, declarar por escrito a aceitação do encargo a quem o designou; se em tal prazo não declarar a sua aceitação nem por outra forma revelar a intenção de agir como árbitro, entende -se que não aceita a designação. 3 — O árbitro que, tendo aceitado o encargo, se escusar injustificadamente ao exercício da sua função responde pelos danos a que der causa. Artigo 13.º Fundamentos de recusa

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1 — Quem for convidado para exercer funções de árbitro deve revelar todas as circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade e independência. 2 — O árbitro deve, durante todo o processo arbitral, revelar, sem demora, às partes e aos demais árbitros as circunstâncias referidas no número anterior que sejam supervenientes ou de que só tenha tomado conhecimento depois de aceitar o encargo. 3 — Um árbitro só pode ser recusado se existirem circunstâncias que possam suscitar fundadas dúvidas sobre a sua imparcialidade ou independência ou se não possuir as qualificações que as partes convencionaram. Uma parte só pode recusar um árbitro que haja designado ou em cuja designação haja participado com fundamento numa causa de que só tenha tido conhecimento após essa designação. Artigo 14.º Processo de recusa 1 — Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do presente artigo, as partes podem livremente acordar sobre o processo de recusa de árbitro. 2 — Na falta de acordo, a parte que pretenda recusar um árbitro deve expor por escrito os motivos da recusa ao tribunal arbitral, no prazo de 15 dias a contar da data em que teve conhecimento da constituição daquele ou da data em que teve conhecimento das circunstâncias referidas no artigo 13.º Se o árbitro recusado não renunciar à função que lhe foi confiada e a parte que o designou insistir em mantê -lo, o tribunal arbitral, com participação do árbitro visado, decide sobre a recusa. 3 — Se a destituição do árbitro recusado não puder ser obtida segundo o processo convencionado pelas partes ou nos termos do disposto no n.º 2 do presente artigo, a parte que recusa o árbitro pode, no prazo de 15 dias após lhe ter sido comunicada a decisão que rejeita a recusa, pedir ao tribunal estadual competente que tome uma decisão sobre a recusa, sendo aquela insusceptível de recurso. Na pendência desse pedido, o tribunal arbitral, incluindo o árbitro recusado, pode prosseguir o processo arbitral e proferir sentença. Artigo 15.º Incapacitação ou inacção de um árbitro 1 — Cessam as funções do árbitro que fique incapacitado, de direito ou de facto, para exercê -las, se o mesmo a elas renunciar ou as partes de comum acordo lhes puserem termo com esse fundamento. 2 — Se um árbitro, por qualquer outra razão, não se desincumbir, em tempo razoável, das funções que lhe foram cometidas, as partes podem, de comum acordo, fazê-las cessar, sem prejuízo da eventual responsabilidade do árbitro em causa. 3 — No caso de as partes não chegarem a acordo quanto ao afastamento do árbitro afectado por uma das situações referidas nos números anteriores do presente artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente que, com fundamento na situação em causa, o destitua, sendo esta decisão insusceptível de recurso. 4 — Se, nos termos dos números anteriores do presente artigo ou do n.º 2 do artigo 14.º, um árbitro renunciar à sua função ou as partes aceitarem que cesse a função de um árbitro que alegadamente se encontre numa das situações aí previstas, tal não implica o reconhecimento da procedência dos motivos de destituição mencionados nas disposições acima referidas.

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Artigo 16.º Nomeação de um árbitro substituto 1 — Em todos os casos em que, por qualquer razão, cessem as funções de um árbitro, é nomeado um árbitro substituto, de acordo com as regras aplicadas à designação do árbitro substituído, sem prejuízo de as partes poderem acordar em que a substituição do árbitro se faça de outro modo ou prescindirem da sua substituição. 2 — O tribunal arbitral decide, tendo em conta o estado do processo, se algum acto processual deve ser repetido face à nova composição do tribunal. Artigo 17.º Honorários e despesas dos árbitros 1 — Se as partes não tiverem regulado tal matéria na convenção de arbitragem, os honorários dos árbitros, o modo de reembolso das suas despesas e a forma de pagamento pelas partes de preparos por conta desses honorários e despesas devem ser objecto de acordo escrito entre as partes e os árbitros, concluído antes da aceitação do último dos árbitros a ser designado. 2 — Caso a matéria não haja sido regulada na convenção de arbitragem, nem sobre ela haja sido concluído um acordo entre as partes e os árbitros, cabe aos árbitros, tendo em conta a complexidade das questões decididas, o valor da causa e o tempo despendido ou a despender com o processo arbitral até à conclusão deste, fixar o montante dos seus honorários e despesas, bem como determinar o pagamento pelas partes de preparos por conta daqueles, mediante uma ou várias decisões separadas das que se pronunciem sobre questões processuais ou sobre o fundo da causa. 3 — No caso previsto no número anterior do presente artigo, qualquer das partes pode requerer ao tribunal estadual competente a redução dos montantes dos honorários ou das despesas e respectivos preparos fixados pelos árbitros, podendo esse tribunal, depois de ouvir sobre a matéria os membros do tribunal arbitral, fixar os montantes que considere adequados. 4 — No caso de falta de pagamento de preparos para honorários e despesas que hajam sido previamente acordados ou fixados pelo tribunal arbitral ou estadual, os árbitros podem suspender ou dar por concluído o processo arbitral, após ter decorrido um prazo adicional razoável que concedam para o efeito à parte ou partes faltosas, sem prejuízo do disposto no número seguinte do presente artigo. 5 — Se, dentro do prazo fixado de acordo com o número anterior, alguma das partes não tiver pago o seu preparo, os árbitros, antes de decidirem suspender ou pôr termo ao processo arbitral, comunicam -no às demais partes para que estas possam, se o desejarem, suprir a falta de pagamento daquele preparo no prazo que lhes for fixado para o efeito. CAPÍTULO III Da competência do tribunal arbitral Artigo 18.º Competência do tribunal arbitral para se pronunciar sobre a sua competência 1 — O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua própria competência, mesmo que para esse fim seja necessário apreciar a existência, a validade ou a eficácia da

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convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira, ou a aplicabilidade da referida convenção. 2 — Para os efeitos do disposto no número anterior, uma cláusula compromissória que faça parte de um contrato é considerada como um acordo independente das demais cláusulas do mesmo. 3 — A decisão do tribunal arbitral que considere nulo o contrato não implica, só por si, a nulidade da cláusula compromissória. 4 — A incompetência do tribunal arbitral para conhecer da totalidade ou de parte do litígio que lhe foi submetido só pode ser arguida até à apresentação da defesa quanto ao fundo da causa, ou juntamente com esta. 5 — O facto de uma parte ter designado um árbitro ou ter participado na sua designação não a priva do direito de arguir a incompetência do tribunal arbitral para conhecer do litígio que lhe haja sido submetido. 6 — A arguição de que, no decurso do processo arbitral, o tribunal arbitral excedeu ou pode exceder a sua competência deve ser deduzida imediatamente após se suscitar a questão que alegadamente exceda essa competência. 7 — O tribunal arbitral pode, nos casos previstos nos n.os 4 e 6 do presente artigo, admitir as excepções que, com os fundamentos neles referidos, sejam arguidas após os limites temporais aí estabelecidos, se considerar justificado o não cumprimento destes. 8 — O tribunal arbitral pode decidir sobre a sua competência quer mediante uma decisão interlocutória quer na sentença sobre o fundo da causa. 9 — A decisão interlocutória pela qual o tribunal arbitral declare que tem competência pode, no prazo de 30 dias após a sua notificação às partes, ser impugnada por qualquer destas perante o tribunal estadual competente, ao abrigo das subalíneas i) e iii) da alínea a) do n.º 3 do artigo 46.º, e da alínea f) do n.º 1 do artigo 59.º 10 — Enquanto a impugnação referida no número anterior do presente artigo estiver pendente no tribunal estadual competente, o tribunal arbitral pode prosseguir o processo arbitral e proferir sentença sobre o fundo da causa, sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 5.º Artigo 19.º Extensão da intervenção dos tribunais estaduais Nas matérias reguladas pela presente lei, os tribunais estaduais só podem intervir nos casos em que esta o prevê. CAPÍTULO IV Das providências cautelares e ordens preliminares SECÇÃO I Providências cautelares Artigo 20.º Providências cautelares decretadas pelo tribunal arbitral 1 — Salvo estipulação em contrário, o tribunal arbitral pode, a pedido de uma parte e ouvida a parte contrária, decretar as providências cautelares que considere necessárias em relação ao objecto do litígio. 2 — Para os efeitos da presente lei, uma providência cautelar é uma medida de carácter temporário, decretada por sentença ou decisão com outra forma, pela qual,

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em qualquer altura antes de proferir a sentença que venha a dirimir o litígio, o tribunal arbitral ordena a uma parte que: a) Mantenha ou restaure a situação anteriormente existente enquanto o litígio não for dirimido; b) Pratique actos que previnam ou se abstenha de praticar actos que provavelmente causem dano ou prejuízo relativamente ao processo arbitral; c) Assegure a preservação de bens sobre os quais uma sentença subsequente possa ser executada; d) Preserve meios de prova que possam ser relevantes e importantes para a resolução do litígio. Artigo 21.º Requisitos para o decretamento de providências cautelares 1 — Uma providência cautelar requerida ao abrigo das alíneas a), b) e c) do n.º 2 do artigo 20.º é decretada pelo tribunal arbitral, desde que: a) Haja probabilidade séria da existência do direito invocado pelo requerente e se mostre suficientemente fundado o receio da sua lesão; e b) O prejuízo resultante para o requerido do decretamento da providência não exceda consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende evitar. 2 — O juízo do tribunal arbitral relativo à probabilidade referida na alínea a) do n.º 1 do presente artigo não afecta a liberdade de decisão do tribunal arbitral quando, posteriormente, tiver de se pronunciar sobre qualquer matéria. 3 — Relativamente ao pedido de uma providência cautelar feito ao abrigo da alínea d) do n.º 2 do artigo 20.º, os requisitos estabelecidos nas alíneas a) e b) do n.º 1 do presente artigo aplicam -se apenas na medida que o tribunal arbitral considerar adequada. SECÇÃO II Ordens preliminares Artigo 22.º Requerimento de ordens preliminares; requisitos 1 — Salvo havendo acordo em sentido diferente, qualquer das partes pode pedir que seja decretada uma providência cautelar e, simultaneamente, requerer que seja dirigida à outra parte uma ordem preliminar, sem prévia audiência dela, para que não seja frustrada a finalidade da providência cautelar solicitada. 2 — O tribunal arbitral pode emitir a ordem preliminar requerida, desde que considere que a prévia revelação do pedido de providência cautelar à parte contra a qual ela se dirige cria o risco de a finalidade daquela providência ser frustrada. 3 — Os requisitos estabelecidos no artigo 21.º são aplicáveis a qualquer ordem preliminar, considerando -se que o dano a equacionar ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 21.º é, neste caso, o que pode resultar de a ordem preliminar ser ou não emitida. Artigo 23.º Regime específico das ordens preliminares 1 — Imediatamente depois de o tribunal arbitral se ter pronunciado sobre um requerimento de ordem preliminar, deve informar todas as partes sobre o pedido de providência cautelar, o requerimento de ordem preliminar, a ordem preliminar, se

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esta tiver sido emitida, e todas as outras comunicações, incluindo comunicações orais, havidas entre qualquer parte e o tribunal arbitral a tal respeito. 2 — Simultaneamente, o tribunal arbitral deve dar oportunidade à parte contra a qual a ordem preliminar haja sido decretada para apresentar a sua posição sobre aquela, no mais curto prazo que for praticável e que o tribunal fixa. 3 — O tribunal arbitral deve decidir prontamente sobre qualquer objecção deduzida contra a ordem preliminar. 4 — A ordem preliminar caduca 20 dias após a data em que tenha sido emitida pelo tribunal arbitral. O tribunal pode, contudo, após a parte contra a qual se dirija a ordem preliminar ter sido dela notificada e ter tido oportunidade para sobre ela apresentar a sua posição, decretar uma providência cautelar, adoptando ou modificando o conteúdo da ordem preliminar. 5 — A ordem preliminar é obrigatória para as partes, mas não é passível de execução coerciva por um tribunal estadual. SECÇÃO III Regras comuns às providências cautelares e às ordens preliminares Artigo 24.º Modificação, suspensão e revogação; prestação de caução 1 — O tribunal arbitral pode modificar, suspender ou revogar uma providência cautelar ou uma ordem preliminar que haja sido decretada ou emitida, a pedido de qualquer das partes ou, em circunstâncias excepcionais e após ouvi-las, por iniciativa do próprio tribunal. 2 — O tribunal arbitral pode exigir à parte que solicita o decretamento de uma providência cautelar a prestação de caução adequada. 3 — O tribunal arbitral deve exigir à parte que requeira a emissão de uma ordem preliminar a prestação de caução adequada, a menos que considere inadequado ou desnecessário fazê -lo. Artigo 25.º Dever de revelação 1 — As partes devem revelar prontamente qualquer alteração significativa das circunstâncias com fundamento nas quais a providência cautelar foi solicitada ou decretada. 2 — A parte que requeira uma ordem preliminar deve revelar ao tribunal arbitral todas as circunstâncias que possam ser relevantes para a decisão sobre a sua emissão ou manutenção e tal dever continua em vigor até que a parte contra a qual haja sido dirigida tenha tido oportunidade de apresentar a sua posição, após o que se aplica o disposto no n.º 1 do presente artigo. Artigo 26.º Responsabilidade do requerente A parte que solicite o decretamento de uma providência cautelar ou requeira a emissão de uma ordem preliminar é responsável por quaisquer custos ou prejuízos causados à outra parte por tal providência ou ordem, caso o tribunal arbitral venha mais tarde a decidir que, nas circunstâncias anteriormente existentes, a providência ou a ordem preliminar não deveria ter sido decretada ou ordenada. O tribunal arbitral pode, neste último caso, condenar a parte requerente no pagamento da correspondente indemnização em qualquer estado do processo.

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SECÇÃO IV Reconhecimento ou execução coerciva de providências cautelares Artigo 27.º Reconhecimento ou execução coerciva 1 — Uma providência cautelar decretada por um tribunal arbitral é obrigatória para as partes e, a menos que o tribunal arbitral tenha decidido de outro modo, pode ser coercivamente executada mediante pedido dirigido ao tribunal estadual competente, independentemente de a arbitragem em que aquela foi decretada ter lugar no estrangeiro, sem prejuízo do disposto no artigo 28.º 2 — A parte que peça ou já tenha obtido o reconhecimento ou a execução coerciva de uma providência cautelar deve informar prontamente o tribunal estadual da eventual revogação, suspensão ou modificação dessa providência pelo tribunal arbitral que a haja decretado. 3 — O tribunal estadual ao qual for pedido o reconhecimento ou a execução coerciva da providência pode, se o considerar conveniente, ordenar à parte requerente que preste caução adequada, se o tribunal arbitral não tiver já tomado uma decisão sobre essa matéria ou se tal decisão for necessária para proteger os interesses de terceiros. 4 — A sentença do tribunal arbitral que decidir sobre uma ordem preliminar ou providência cautelar e a sentença do tribunal estadual que decidir sobre o reconhecimento ou execução coerciva de uma providência cautelar de um tribunal arbitral não são susceptíveis de recurso. Artigo 28.º Fundamentos de recusa do reconhecimento ou da execução coerciva 1 — O reconhecimento ou a execução coerciva de uma providência cautelar só podem ser recusados por um tribunal estadual: a) A pedido da parte contra a qual a providência seja invocada, se este tribunal considerar que: i) Tal recusa é justificada com fundamento nos motivos previstos nas subalíneas i), ii), iii) ou iv) da alínea a) do n.º 1 do artigo 56.º; ou ii) A decisão do tribunal arbitral respeitante à prestação de caução relacionada com a providência cautelar decretada não foi cumprida; ou iii) A providência cautelar foi revogada ou suspensa pelo tribunal arbitral ou, se para isso for competente, por um tribunal estadual do país estrangeiro em que arbitragem tem lugar ou ao abrigo de cuja lei a providência tiver sido decretada; ou b) Se o tribunal estadual considerar que: i) A providência cautelar é incompatível com os poderes conferidos ao tribunal estadual pela lei que o rege, salvo se este decidir reformular a providência cautelar na medida necessária para a adaptar à sua própria competência e regime processual, em ordem a fazer executar coercivamente a providência cautelar, sem alterar a sua essência; ou ii) Alguns dos fundamentos de recusa de reconhecimento previstos nas subalíneas i) ou ii) da alínea b) do n.º 1 do artigo 56.º se verificam relativamente ao reconhecimento ou à execução coerciva da providência cautelar. 2 — Qualquer decisão tomada pelo tribunal estadual ao abrigo do n.º 1 do presente artigo tem eficácia restrita ao pedido de reconhecimento ou de execução coerciva de

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providência cautelar decretada pelo tribunal arbitral. O tribunal estadual ao qual seja pedido o reconhecimento ou a execução de providência cautelar, ao pronunciar –se sobre esse pedido, não deve fazer uma revisão do mérito da providência cautelar. Artigo 29.º Providências cautelares decretadas por um tribunal estadual 1 — Os tribunais estaduais têm poder para decretar providências cautelares na dependência de processos arbitrais, independentemente do lugar em que estes decorram, nos mesmos termos em que o podem fazer relativamente aos processos que corram perante os tribunais estaduais. 2 — Os tribunais estaduais devem exercer esse poder de acordo com o regime processual que lhes é aplicável, tendo em consideração, se for o caso, as características específicas da arbitragem internacional. CAPÍTULO V Da condução do processo arbitral Artigo 30.º Princípios e regras do processo arbitral 1 — O processo arbitral deve sempre respeitar os seguintes princípios fundamentais: a) O demandado é citado para se defender; b) As partes são tratadas com igualdade e deve ser –lhes dada uma oportunidade razoável de fazerem valer os seus direitos, por escrito ou oralmente, antes de ser proferida a sentença final; c) Em todas as fases do processo é garantida a observância do princípio do contraditório, salvas as excepções previstas na presente lei. 2 — As partes podem, até à aceitação do primeiro árbitro, acordar sobre as regras do processo a observar na arbitragem, com respeito pelos princípios fundamentais consignados no número anterior do presente artigo e pelas demais normas imperativas constantes desta lei. 3 — Não existindo tal acordo das partes e na falta de disposições aplicáveis na presente lei, o tribunal arbitral pode conduzir a arbitragem do modo que considerar apropriado, definindo as regras processuais que entender adequadas, devendo, se for esse o caso, explicitar que considera subsidiariamente aplicável o disposto na lei que rege o processo perante o tribunal estadual competente. 4 — Os poderes conferidos ao tribunal arbitral compreendem o de determinar a admissibilidade, pertinência e valor de qualquer prova produzida ou a produzir. 5 — Os árbitros, as partes e, se for o caso, as entidades que promovam, com carácter institucionalizado, a realização de arbitragens voluntárias, têm o dever de guardar sigilo sobre todas as informações que obtenham e documentos de que tomem conhecimento através do processo arbitral, sem prejuízo do direito de as partes tornarem públicos os actos processuais necessários à defesa dos seus direitos e do dever de comunicação ou revelação de actos do processo às autoridades competentes, que seja imposto por lei. 6 — O disposto no número anterior não impede a publicação de sentenças e outras decisões do tribunal arbitral, expurgadas de elementos de identificação das partes, salvo se qualquer destas a isso se opuser.

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Artigo 31.º Lugar da arbitragem 1 — As partes podem livremente fixar o lugar da arbitragem. Na falta de acordo das partes, este lugar é fixado pelo tribunal arbitral, tendo em conta as circunstâncias do caso, incluindo a conveniência das partes. 2 — Não obstante o disposto no n.º 1 do presente artigo, o tribunal arbitral pode, salvo convenção das partes em contrário, reunir em qualquer local que julgue apropriado para se realizar uma ou mais audiências, permitir a realização de qualquer diligência probatória ou tomar quaisquer deliberações. Artigo 32.º Língua do processo 1 — As partes podem, por acordo, escolher livremente a língua ou línguas a utilizar no processo arbitral. Na falta desse acordo, o tribunal arbitral determina a língua ou línguas a utilizar no processo. 2 — O tribunal arbitral pode ordenar que qualquer documento seja acompanhado de uma tradução na língua ou línguas convencionadas pelas partes ou escolhidas pelo tribunal arbitral. Artigo 33.º Início do processo; petição e contestação 1 — Salvo convenção das partes em contrário, o processo arbitral relativo a determinado litígio tem início na data em que o pedido de submissão desse litígio a arbitragem é recebido pelo demandado. 2 — Nos prazos convencionados pelas partes ou fixados pelo tribunal arbitral, o demandante apresenta a sua petição, em que enuncia o seu pedido e os factos em que este se baseia, e o demandado apresenta a sua contestação, em que explana a sua defesa relativamente àqueles, salvo se tiver sido outra a convenção das partes quanto aos elementos a figurar naquelas peças escritas. As partes podem fazer acompanhar as referidas peças escritas de quaisquer documentos que julguem pertinentes e mencionar nelas documentos ou outros meios de prova que venham a apresentar. 3 — Salvo convenção das partes em contrário, qualquer delas pode, no decurso do processo arbitral, modificar ou completar a sua petição ou a sua contestação, a menos que o tribunal arbitral entenda não dever admitir tal alteração em razão do atraso com que é formulada, sem que para este haja justificação bastante. 4 — O demandado pode deduzir reconvenção, desde que o seu objecto seja abrangido pela convenção de arbitragem. Artigo 34.º Audiências e processo escrito 1 — Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal decide se serão realizadas audiências para a produção de prova ou se o processo é apenas conduzido com base em documentos e outros elementos de prova. O tribunal deve, porém, realizar uma ou mais audiências para a produção de prova sempre que uma das partes o requeira, a menos que as partes hajam previamente prescindido delas. 2 — As partes devem ser notificadas, com antecedência suficiente, de quaisquer audiências e de outras reuniões convocadas pelo tribunal arbitral para fins de produção de prova.

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3 — Todas as peças escritas, documentos ou informações que uma das partes forneça ao tribunal arbitral devem ser comunicadas à outra parte. Deve igualmente ser comunicado às partes qualquer relatório pericial ou elemento de prova documental que possa servir de base à decisão do tribunal. Artigo 35.º Omissões e faltas de qualquer das partes 1 — Se o demandante não apresentar a sua petição em conformidade com o n.º 2 do artigo 33.º, o tribunal arbitral põe termo ao processo arbitral. 2 — Se o demandado não apresentar a sua contestação, em conformidade com o n.º 2 do artigo 33.º, o tribunal arbitral prossegue o processo arbitral, sem considerar esta omissão, em si mesma, como uma aceitação das alegações do demandante. 3 — Se uma das partes deixar de comparecer a uma audiência ou de produzir prova documental no prazo fixado, o tribunal arbitral pode prosseguir o processo e proferir sentença com base na prova apresentada. 4 — O tribunal arbitral pode, porém, caso considere a omissão justificada, permitir a uma parte a prática do acto omitido. 5 — O disposto nos números anteriores deste artigo entende -se sem prejuízo do que as partes possam ter acordado sobre as consequências das suas omissões. Artigo 36.º Intervenção de terceiros 1 — Só podem ser admitidos a intervir num processo arbitral em curso terceiros vinculados pela convenção de arbitragem em que aquele se baseia, quer o estejam desde a respectiva conclusão, quer tenham aderido a ela subsequentemente. Esta adesão carece do consentimento de todas as partes na convenção de arbitragem e pode ser feita só para os efeitos da arbitragem em causa. 2 — Encontrando -se o tribunal arbitral constituído, só pode ser admitida ou provocada a intervenção de terceiro que declare aceitar a composição actual do tribunal; em caso de intervenção espontânea, presume -se essa aceitação. 3 — A admissão da intervenção depende sempre de decisão do tribunal arbitral, após ouvir as partes iniciais na arbitragem e o terceiro em causa. O tribunal arbitral só deve admitir a intervenção se esta não perturbar indevidamente o normal andamento do processo arbitral e se houver razões de relevo que a justifiquem, considerando -se como tais, em particular, aquelas situações em que, não havendo manifesta inviabilidade do pedido: a) O terceiro tenha em relação ao objecto da causa um interesse igual ao do demandante ou do demandado, que inicialmente permitisse o litisconsórcio voluntário ou impusesse o litisconsórcio necessário entre uma das partes na arbitragem e o terceiro; ou b) O terceiro queira formular, contra o demandado, um pedido com o mesmo objecto que o do demandante, mas incompatível com o deste; ou c) O demandado, contra quem seja invocado crédito que possa, prima facie, ser caracterizado como solidário, pretenda que os demais possíveis credores solidários fiquem vinculados pela decisão final proferida na arbitragem; ou d) O demandado pretenda que sejam chamados terceiros, contra os quais o demandado possa ter direito de regresso em consequência da procedência, total ou parcial, de pedido do demandante.

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4 — O que ficou estabelecido nos números anteriores para demandante e demandado vale, com as necessárias adaptações, respectivamente para demandado e demandante, se estiver em causa reconvenção. 5 — Admitida a intervenção, aplica -se, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo 33.º 6 — Sem prejuízo do disposto no número seguinte, a intervenção de terceiros anteriormente à constituição do tribunal arbitral só pode ter lugar em arbitragem institucionalizada e desde que o regulamento de arbitragem aplicável assegure a observância do princípio da igualdade de participação de todas as partes, incluindo os membros de partes plurais, na escolha dos árbitros. 7 — A convenção de arbitragem pode regular a intervenção de terceiros em arbitragens em curso de modo diferente do estabelecido nos números anteriores, quer directamente, com observância do princípio da igualdade de participação de todas as partes na escolha dos árbitros, quer mediante remissão para um regulamento de arbitragem institucionalizada que admita essa intervenção. Artigo 37.º Perito nomeado pelo tribunal arbitral 1 — Salvo convenção das partes em contrário, o tribunal arbitral, por sua iniciativa ou a pedido das partes, pode nomear um ou mais peritos para elaborarem um relatório, escrito ou oral, sobre pontos específicos a determinar pelo tribunal arbitral. 2 — No caso previsto no número anterior, o tribunal arbitral pode pedir a qualquer das partes que forneça ao perito qualquer informação relevante ou que apresente ou faculte acesso a quaisquer documentos ou outros objectos relevantes para serem inspeccionados. 3 — Salvo convenção das partes em contrário, se uma destas o solicitar ou se o tribunal arbitral o julgar necessário, o perito, após a apresentação do seu relatório, participa numa audiência em que o tribunal arbitral e as partes têm a oportunidade de o interrogar. 4 — O preceituado no artigo 13.º e nos n.os 2 e 3 do artigo 14.º, aplica -se, com as necessárias adaptações, aos peritos designados pelo tribunal arbitral. Artigo 38.º Solicitação aos tribunais estaduais na obtenção de provas 1 — Quando a prova a produzir dependa da vontade de uma das partes ou de terceiros e estes recusem a sua colaboração, uma parte, com a prévia autorização do tribunal arbitral, pode solicitar ao tribunal estadual competente que a prova seja produzida perante ele, sendo os seus resultados remetidos ao tribunal arbitral. 2 — O disposto no número anterior é aplicável às solicitações de produção de prova que sejam dirigidas a um tribunal estadual português, no âmbito de arbitragens localizadas no estrangeiro. CAPÍTULO VI Da sentença arbitral e encerramento do processo Artigo 39.º Direito aplicável, recurso à equidade; irrecorribilidade da decisão 1 — Os árbitros julgam segundo o direito constituído, a menos que as partes determinem, por acordo, que julguem segundo a equidade.

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2 — Se o acordo das partes quanto ao julgamento segundo a equidade for posterior à aceitação do primeiro árbitro, a sua eficácia depende de aceitação por parte do tribunal arbitral. 3 — No caso de as partes lhe terem confiado essa missão, o tribunal pode decidir o litígio por apelo à composição das partes na base do equilíbrio dos interesses em jogo. 4 — A sentença que se pronuncie sobre o fundo da causa ou que, sem conhecer deste, ponha termo ao processo arbitral, só é susceptível de recurso para o tribunal estadual competente no caso de as partes terem expressamente previsto tal possibilidade na convenção de arbitragem e desde que a causa não haja sido decidida segundo a equidade ou mediante composição amigável. Artigo 40.º Decisão tomada por vários árbitros 1 — Num processo arbitral com mais de um árbitro, qualquer decisão do tribunal arbitral é tomada pela maioria dos seus membros. Se não puder formar -se maioria, a sentença é proferida pelo presidente do tribunal. 2 — Se um árbitro se recusar a tomar parte na votação da decisão, os outros árbitros podem proferir sentença sem ele, a menos que as partes tenham convencionado de modo diferente. As partes são subsequentemente informadas da recusa de participação desse árbitro na votação. 3 — As questões respeitantes à ordenação, à tramitação ou ao impulso processual poderão ser decididas apenas pelo árbitro presidente, se as partes ou os outros membros do tribunal arbitral lhe tiverem dado autorização para o efeito. Artigo 41.º Transacção 1 — Se, no decurso do processo arbitral, as partes terminarem o litígio mediante transacção, o tribunal arbitral deve pôr fim ao processo e, se as partes lho solicitarem, dá a tal transacção a forma de sentença proferida nos termos acordados pelas partes, a menos que o conteúdo de tal transacção infrinja algum princípio de ordem pública. 2 — Uma sentença proferida nos termos acordados pelas partes deve ser elaborada em conformidade com o disposto no artigo 42.º e mencionar o facto de ter a natureza de sentença, tendo os mesmos efeitos que qualquer outra sentença proferida sobre o fundo da causa. Artigo 42.º Forma, conteúdo e eficácia da sentença 1 — A sentença deve ser reduzida a escrito e assinada pelo árbitro ou árbitros. Em processo arbitral com mais de um árbitro, são suficientes as assinaturas da maioria dos membros do tribunal arbitral ou só a do presidente, caso por este deva ser proferida a sentença, desde que seja mencionada na sentença a razão da omissão das restantes assinaturas. 2 — Salvo convenção das partes em contrário, os árbitros podem decidir o fundo da causa através de uma única sentença ou de tantas sentenças parciais quantas entendam necessárias. 3 — A sentença deve ser fundamentada, salvo se as partes tiverem dispensado tal exigência ou se trate de sentença proferida com base em acordo das partes, nos termos do artigo 41.º

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4 — A sentença deve mencionar a data em que foi proferida, bem como o lugar da arbitragem, determinado em conformidade com o n.º 1 do artigo 31.º, considerando -se, para todos os efeitos, que a sentença foi proferida nesse lugar. 5 — A menos que as partes hajam convencionado de outro modo, da sentença deve constar a repartição pelas partes dos encargos directamente resultantes do processo arbitral. Os árbitros podem ainda decidir na sentença, se o entenderem justo e adequado, que uma ou algumas das partes compense a outra ou outras pela totalidade ou parte dos custos e despesas razoáveis que demonstrem ter suportado por causa da sua intervenção na arbitragem. 6 — Proferida a sentença, a mesma é imediatamente notificada através do envio a cada uma das partes de um exemplar assinado pelo árbitro ou árbitros, nos termos do disposto n.º 1 do presente artigo, produzindo efeitos na data dessa notificação, sem prejuízo do disposto no n.º 7. 7 — A sentença arbitral de que não caiba recurso e que já não seja susceptível de alteração no termos do artigo 45.º tem o mesmo carácter obrigatório entre as partes que a sentença de um tribunal estadual transitada em julgado e a mesma força executiva que a sentença de um tribunal estadual. Artigo 43.º Prazo para proferir sentença 1 — Salvo se as partes, até à aceitação do primeiro árbitro, tiverem acordado prazo diferente, os árbitros devem notificar às partes a sentença final proferida sobre o litígio que por elas lhes foi submetido dentro do prazo de 12 meses a contar da data de aceitação do último árbitro. 2 — Os prazos definidos de acordo com o n.º 1 podem ser livremente prorrogados por acordo das partes ou, em alternativa, por decisão do tribunal arbitral, por uma ou mais vezes, por sucessivos períodos de 12 meses, devendo tais prorrogações ser devidamente fundamentadas. Fica, porém, ressalvada a possibilidade de as partes, de comum acordo, se oporem à prorrogação. 3 — A falta de notificação da sentença final dentro do prazo máximo determinado de acordo com os números anteriores do presente artigo, põe automaticamente termo ao processo arbitral, fazendo também extinguir a competência dos árbitros para julgarem o litígio que lhes fora submetido, sem prejuízo de a convenção de arbitragem manter a sua eficácia, nomeadamente para efeito de com base nela ser constituído novo tribunal arbitral e ter início nova arbitragem. 4 — Os árbitros que injustificadamente obstarem a que a decisão seja proferida dentro do prazo fixado respondem pelos danos causados. Artigo 44.º Encerramento do processo 1 — O processo arbitral termina quando for proferida a sentença final ou quando for ordenado o encerramento do processo pelo tribunal arbitral, nos termos do n.º 2 do presente artigo. 2 — O tribunal arbitral ordena o encerramento do processo arbitral quando: a) O demandante desista do seu pedido, a menos que o demandado a tal se oponha e o tribunal arbitral reconheça que este tem um interesse legítimo em que o litígio seja definitivamente resolvido; b) As partes concordem em encerrar o processo; c) O tribunal arbitral verifique que a prossecução do processo se tornou, por qualquer outra razão, inútil ou impossível.

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3 — As funções do tribunal arbitral cessam com o encerramento do processo arbitral, sem prejuízo do disposto no artigo 45.º e no n.º 8 do artigo 46.º 4 — Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, o presidente do tribunal arbitral deve conservar o original do processo arbitral durante um prazo mínimo de dois anos e o original da sentença arbitral durante um prazo mínimo de cinco anos. Artigo 45.º Rectificação e esclarecimento da sentença; sentença adicional 1 — A menos que as partes tenham convencionado outro prazo para este efeito, nos 30 dias seguintes à recepção da notificação da sentença arbitral, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral, que rectifique, no texto daquela, qualquer erro de cálculo, erro material ou tipográfico ou qualquer erro de natureza idêntica. 2 — No prazo referido no número anterior, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral que esclareça alguma obscuridade ou ambiguidade da sentença ou dos seus fundamentos. 3 — Se o tribunal arbitral considerar o requerimento justificado, faz a rectificação ou o esclarecimento nos 30 dias seguintes à recepção daquele. O esclarecimento faz parte integrante da sentença. 4 — O tribunal arbitral pode também, por sua iniciativa,nos 30 dias seguintes à data da notificação da sentença, rectificar qualquer erro do tipo referido no n.º 1 do presente artigo. 5 — Salvo convenção das partes em contrário, qualquer das partes pode, notificando disso a outra, requerer ao tribunal arbitral, nos 30 dias seguintes à data em que recebeu a notificação da sentença, que profira uma sentença adicional sobre partes do pedido ou dos pedidos apresentados no decurso do processo arbitral, que não hajam sido decididas na sentença. Se julgar justificado tal requerimento, o tribunal profere a sentença adicional nos 60 dias seguintes à sua apresentação. 6 — O tribunal arbitral pode prolongar, se necessário, o prazo de que dispõe para rectificar, esclarecer ou completar a sentença, nos termos dos n.os 1, 2 ou 5 do presente artigo, sem prejuízo da observância do prazo máximo fixado de acordo com o artigo 43.º 7 — O disposto no artigo 42.º aplica -se à rectificação e ao esclarecimento da sentença bem como à sentença adicional. CAPÍTULO VII Da impugnação da sentença arbitral Artigo 46.º Pedido de anulação 1 — Salvo se as partes tiverem acordado em sentido diferente, ao abrigo do n.º 4 do artigo 39.º, a impugnação de uma sentença arbitral perante um tribunal estadual só pode revestir a forma de pedido de anulação, nos termos do disposto no presente artigo. 2 — O pedido de anulação da sentença arbitral, que deve ser acompanhado de uma cópia certificada da mesma e, se estiver redigida em língua estrangeira, de uma tradução para português, é apresentado no tribunal estadual competente, observando -se as seguintes regras, sem prejuízo do disposto nos demais números do presente artigo:

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a) A prova é oferecida com o requerimento; b) É citada a parte requerida para se opor ao pedido e oferecer prova; c) É admitido um articulado de resposta do requerente às eventuais excepções; d) É em seguida produzida a prova a que houver lugar; e) Segue -se a tramitação do recurso de apelação, com as necessárias adaptações; f) A acção de anulação entra, para efeitos de distribuição, na 5.ª espécie. 3 — A sentença arbitral só pode ser anulada pelo tribunal estadual competente se: a) A parte que faz o pedido demonstrar que: i) Uma das partes da convenção de arbitragem estava afectada por uma incapacidade; ou que essa convenção não é válida nos termos da lei a que as partes a sujeitaram ou, na falta de qualquer indicação a este respeito, nos termos da presente lei; ou ii) Houve no processo violação de alguns dos princípios fundamentais referidos no n.º 1 do artigo 30.º com influência decisiva na resolução do litígio; ou iii) A sentença se pronunciou sobre um litígio não abrangido pela convenção de arbitragem ou contém decisões que ultrapassam o âmbito desta; ou iv) A composição do tribunal arbitral ou o processo arbitral não foram conformes com a convenção das partes, a menos que esta convenção contrarie uma disposição da presente lei que as partes não possam derrogar ou, na falta de uma tal convenção, que não foram conformes com a presente lei e, em qualquer dos casos, que essa desconformidade teve influência decisiva na resolução do litígio; ou v) O tribunal arbitral condenou em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido, conheceu de questões de que não podia tomar conhecimento ou deixou de pronunciar -se sobre questões que devia apreciar; ou vi) A sentença foi proferida com violação dos requisitos estabelecidos nos n.os 1 e 3 do artigo 42.º; ou vii) A sentença foi notificada às partes depois de decorrido o prazo máximo para o efeito fixado de acordo com ao artigo 43.º ; ou b) O tribunal verificar que: i) O objecto do litígio não é susceptível de ser decidido por arbitragem nos termos do direito português; ii) O conteúdo da sentença ofende os princípios da ordem pública internacional do Estado português. 4 — Se uma parte, sabendo que não foi respeitada uma das disposições da presente lei que as partes podem derrogar ou uma qualquer condição enunciada na convenção de arbitragem, prosseguir apesar disso a arbitragem sem deduzir oposição de imediato ou, se houver prazo para este efeito, nesse prazo, considera -se que renunciou ao direito de impugnar, com tal fundamento, a sentença arbitral. 5 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, o direito de requerer a anulação da sentença arbitral é irrenunciável. 6 — O pedido de anulação só pode ser apresentado no prazo de 60 dias a contar da data em que a parte que pretenda essa anulação recebeu a notificação da sentença ou, se tiver sido feito um requerimento no termos do artigo 45.º, a partir da data em que o tribunal arbitral tomou uma decisão sobre esse requerimento. 7 — Se a parte da sentença relativamente à qual se verifique existir qualquer dos fundamentos de anulação referidos no n.º 3 do presente artigo puder ser dissociada do resto da mesma, é unicamente anulada a parte da sentença atingida por esse fundamento de anulação. 8 — Quando lhe for pedido que anule uma sentença arbitral, o tribunal estadual competente pode, se o considerar adequado e a pedido de uma das partes,

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suspender o processo de anulação durante o período de tempo que determinar, em ordem a dar ao tribunal arbitral a possibilidade de retomar o processo arbitral ou de tomar qualquer outra medida que o tribunal arbitral julgue susceptível de eliminar os fundamentos da anulação. 9 — O tribunal estadual que anule a sentença arbitral não pode conhecer do mérito da questão ou questões por aquela decididas, devendo tais questões, se alguma das partes o pretender, ser submetidas a outro tribunal arbitral para serem por este decididas. 10 — Salvo se as partes tiverem acordado de modo diferente, com a anulação da sentença a convenção de arbitragem volta a produzir efeitos relativamente ao objeto do litígio. CAPÍTULO VIII Da execução da sentença arbitral Artigo 47.º Execução da sentença arbitral 1 — A parte que pedir a execução da sentença ao tribunal estadual competente deve fornecer o original daquela ou uma cópia certificada conforme e, se a mesma não estiver redigida em língua portuguesa, uma tradução certificada nesta língua. 2 — No caso de o tribunal arbitral ter proferido sentença de condenação genérica, a sua liquidação faz -se nos termos do n.º 4 do artigo 805.º do Código de Processo Civil, podendo no entanto ser requerida a liquidação ao tribunal arbitral nos termos do n.º 5 do artigo 45.º, caso em que o tribunal arbitral, ouvida a outra parte, e produzida prova, profere decisão complementar, julgando equitativamente dentro dos limites que tiver por provados. 3 — A sentença arbitral pode servir de base à execução ainda que haja sido impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o artigo 46.º, mas o impugnante pode requerer que tal impugnação tenha efeito suspensivo da execução desde que se ofereça para prestar caução, ficando a atribuição desse efeito condicionada à efectiva prestação de caução no prazo fixado pelo tribunal. Aplica -se neste caso o disposto no n.º 3 do artigo 818.º do Código de Processo Civil. 4 — Para efeito do disposto no número anterior, aplica--se com as necessárias adaptações o disposto nos artigos 692.º -A e 693.º -A do Código de Processo Civil. Artigo 48.º Fundamentos de oposição à execução 1 — À execução de sentença arbitral pode o executado opor -se com qualquer dos fundamentos de anulação da sentença previstos no n.º 3 do artigo 46.º, desde que, na data em que a oposição for deduzida, um pedido de anulação da sentença arbitral apresentado com esse mesmo fundamento não tenha já sido rejeitado por sentença transitada em julgado. 2 — Não pode ser invocado pelo executado na oposição à execução de sentença arbitral nenhum dos fundamentos previstos na alínea a) do n.º 3 do artigo 46.º, se já tiver decorrido o prazo fixado no n.º 6 do mesmo artigo para a apresentação do pedido de anulação da sentença, sem que nenhuma das partes haja pedido tal anulação. 3 — Não obstante ter decorrido o prazo previsto no n.º 6 do artigo 46.º, o juiz pode conhecer oficiosamente, nos termos do disposto do artigo 820.º do Código de

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Processo Civil, da causa de anulação prevista na alínea b) do n.º 3 do artigo 46.º da presente lei, devendo, se verificar que a sentença exequenda é inválida por essa causa, rejeitar a execução com tal fundamento. 4 — O disposto no n.º 2 do presente artigo não prejudica a possibilidade de serem deduzidos, na oposição à execução de sentença arbitral, quaisquer dos demais fundamentos previstos para esse efeito na lei de processo aplicável, nos termos e prazos aí previstos. CAPÍTULO IX Da arbitragem internacional Artigo 49.º Conceito e regime da arbitragem internacional 1 — Entende -se por arbitragem internacional a que põe em jogo interesses do comércio internacional. 2 — Salvo o disposto no presente capítulo, são aplicáveis à arbitragem internacional, com as devidas adaptações, as disposições da presente lei relativas à arbitragem interna. Artigo 50.º Inoponibilidade de excepções baseadas no direito interno de uma parte Quando a arbitragem seja internacional e uma das partes na convenção de arbitragem seja um Estado, uma organização controlada por um Estado ou uma sociedade por este dominada, essa parte não pode invocar o seu direito interno para contestar a arbitrabilidade do litígio ou a sua capacidade para ser parte na arbitragem, nem para de qualquer outro modo se subtrair às suas obrigações decorrentes daquela convenção. Artigo 51.º Validade substancial da convenção de arbitragem 1 — Tratando -se de arbitragem internacional, entende-se que a convenção de arbitragem é válida quanto à substância e que o litígio a que ele respeita é susceptível de ser submetido a arbitragem se se cumprirem os requisitos estabelecidos a tal respeito ou pelo direito escolhido pelas partes para reger a convenção de arbitragem ou pelo direito aplicável ao fundo da causa ou pelo direito português. 2 — O tribunal estadual ao qual haja sido pedida a anulaçãode uma sentença proferida em arbitragem internacional localizada em Portugal, com o fundamento previsto na alínea b) do n.º 3 do artigo 46.º, da presente lei, deve ter em consideração o disposto no número anterior do presente artigo. Artigo 52.º Regras de direito aplicáveis ao fundo da causa 1 — As partes podem designar as regras de direito a aplicar pelos árbitros, se os não tiverem autorizado a julgar segundo a equidade. Qualquer designação da lei ou do sistema jurídico de determinado Estado é considerada, salvo estipulação expressa em contrário, como designando directamente o direito material deste Estado e não as suas normas de conflitos de leis. 2 — Na falta de designação pelas partes, o tribunal arbitral aplica o direito do Estado com o qual o objecto do litígio apresente uma conexão mais estreita.

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3 — Em ambos os casos referidos nos números anteriores, o tribunal arbitral deve tomar em consideração as estipulações contratuais das partes e os usos comerciais relevantes. Artigo 53.º Irrecorribilidade da sentença Tratando -se de arbitragem internacional, a sentença do tribunal arbitral é irrecorrível, a menos que as partes tenham expressamente acordado a possibilidade de recurso para outro tribunal arbitral e regulado os seus termos. Artigo 54.º Ordem pública internacional A sentença proferida em Portugal, numa arbitragem internacional em que haja sido aplicado direito não português ao fundo da causa pode ser anulada com os fundamentos previstos no artigo 46.º e ainda, caso deva ser executada ou produzir outros efeitos em território nacional, se tal conduzir a um resultado manifestamente incompatível com os princípios da ordem pública internacional. CAPÍTULO X Do reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras Artigo 55.º Necessidade do reconhecimento Sem prejuízo do que é imperativamente preceituado pela Convenção de Nova Iorque de 1958, sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras, bem como por outros tratados ou convenções que vinculem o Estado português, as sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro só têm eficácia em Portugal, seja qual for a nacionalidade das partes, se forem reconhecidas pelo tribunal estadual português competente, nos termos do disposto no presente capítulo desta lei. Artigo 56.º Fundamentos de recusa do reconhecimento e execução 1 — O reconhecimento e a execução de uma sentença arbitral proferida numa arbitragem localizada no estrangeiro só podem ser recusados: a) A pedido da parte contra a qual a sentença for invocada, se essa parte fornecer ao tribunal competente ao qual é pedido o reconhecimento ou a execução a prova de que: i) Uma das partes da convenção de arbitragem estava afectada por uma incapacidade, ou essa convenção não é válida nos termos da lei a que as partes a sujeitaram ou, na falta de indicação a este respeito, nos termos da lei do país em que a sentença foi proferida; ou ii) A parte contra a qual a sentença é invocada não foi devidamente informada da designação de um árbitro ou do processo arbitral, ou que, por outro motivo, não lhe foi dada oportunidade de fazer valer os seus direitos; ou iii) A sentença se pronuncia sobre um litígio não abrangido pela convenção de arbitragem ou contém decisões que ultrapassam os termos desta; contudo, se as disposições da sentença relativas a questões submetidas à arbitragem puderem ser dissociadas das que não tinham sido submetidas à arbitragem, podem reconhecer -se e executar –se unicamente as primeiras; ou

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iv) A constituição do tribunal ou o processo arbitral não foram conformes à convenção das partes ou, na falta de tal convenção, à lei do país onde a arbitragem teve lugar; ou v) A sentença ainda não se tornou obrigatória para as partes ou foi anulada ou suspensa por um tribunal do país no qual, ou ao abrigo da lei do qual, a sentença foi proferida; ou b) Se o tribunal verificar que: i) O objecto do litígio não é susceptível de ser decidido mediante arbitragem, de acordo com o direito português; ou ii) O reconhecimento ou a execução da sentença conduza um resultado manifestamente incompatível com a ordem pública internacional do Estado português. 2 — Se um pedido de anulação ou de suspensão de uma sentença tiver sido apresentado num tribunal do país referido na subalínea v) da alínea a) do n.º 1 do presente artigo, o tribunal estadual português ao qual foi pedido o seu reconhecimento e execução pode, se o julgar apropriado, suspender a instância, podendo ainda, a requerimento da parte que pediu esse reconhecimento e execução, ordenar à outra parte que preste caução adequada. Artigo 57.º Trâmites do processo de reconhecimento 1 — A parte que pretenda o reconhecimento de sentença arbitral estrangeira, nomeadamente para que esta venha a ser executada em Portugal, deve fornecer o original da sentença devidamente autenticado ou uma cópia devidamente certificada da mesma, bem como o original da convenção de arbitragem ou uma cópia devidamente autenticada da mesma. Se a sentença ou a convenção não estiverem redigidas em português, a parte requerente fornece uma tradução devidamente certificada nesta língua. 2 — Apresentada a petição de reconhecimento, acompanhada dos documentos referidos no número anterior, é a parte contrária citada para, dentro de 15 dias, deduzir a sua oposição. 3 — Findos os articulados e realizadas as diligências que o relator tenha por indispensáveis, é facultado o exame do processo, para alegações, às partes e ao Ministério Público,pelo prazo de 15 dias. 4 — O julgamento faz -se segundo as regras próprias da apelação. Artigo 58.º Sentenças estrangeiras sobre litígios de direito administrativo No reconhecimento da sentença arbitral proferida em arbitragem localizada no estrangeiro e relativa a litígio que, segundo o direito português, esteja compreendido na esfera de jurisdição dos tribunais administrativos, deve observar--se, com as necessárias adaptações ao regime processual específico destes tribunais, o disposto nos artigos 56.º, 57.ºe no n.º 2 do artigo 59.º da presente lei. CAPÍTULO XI Dos tribunais estaduais competentes Artigo 59.º Dos tribunais estaduais competentes

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1 — Relativamente a litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais judiciais, o Tribunal da Relação em cujo distrito se situe o lugar da arbitragem ou, no caso da decisão referida na alínea h) do n.º 1 do presente artigo, o domicílio da pessoa contra quem se pretenda fazer valer a sentença, é competente para decidir sobre: a) A nomeação de árbitros que não tenham sido nomeados pelas partes ou por terceiros a que aquelas hajam cometido esse encargo, de acordo com o previsto nos n.os 3, 4 e 5 do artigo 10.º e no n.º 1 do artigo 11.º;b) A recusa que haja sido deduzida, ao abrigo do n.º 2 do artigo 14.º, contra um árbitro que a não tenha aceitado, no caso de considerar justificada a recusa; c) A destituição de um árbitro, requerida ao abrigo do n.º 1 do artigo 15.º; d) A redução do montante dos honorários ou despesas fixadas pelos árbitros, ao abrigo do n.º 3 do artigo 17.º; e) O recurso da sentença arbitral, quando este tenha sido convencionado ao abrigo do n.º 4 do artigo 39.º; f) A impugnação da decisão interlocutória proferida pelo tribunal arbitral sobre a sua própria competência, de acordo com o n.º 9 do artigo 18.º;g) A impugnação da sentença final proferida pelo tribunal arbitral, de acordo com o artigo 46.º;h) O reconhecimento de sentença arbitral proferida em arbitragem localizada no estrangeiro. 2 — Relativamente a litígios que, segundo o direito português, estejam compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais administrativos, a competência para decidir sobre matérias referidas nalguma das alíneas do n.º 1 do presente artigo, pertence ao Tribunal Central Administrativo em cuja circunscrição se situe o local da arbitragem ou, no caso da decisão referida na alínea h) do n.º 1, o domicílio da pessoa contra quem se pretende fazer valer a sentença. 3 — A nomeação de árbitros referida na alínea a) do n.º 1 do presente artigo cabe, consoante a natureza do litígio, ao presidente do Tribunal da Relação ou ao presidente do tribunal central administrativo que for territorialmente competente. 4 — Para quaisquer questões ou matérias não abrangidas pelos n.os 1, 2 e 3 do presente artigo e relativamenteàs quais a presente lei confira competência a um tribunal estadual, são competentes o tribunal judicial de 1.ª instância ou o tribunal administrativo de círculo em cuja circunscrição se situe o local da arbitragem, consoante se trate, respectivamente, de litígios compreendidos na esfera de jurisdição dos tribunais judiciais ou na dos tribunais administrativos. 5 — Relativamente a litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais judiciais, é competente para prestar assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro,ao abrigo do artigo 29.º e do n.º 2 do artigo 38.º da presente lei, o tribunal judicial de 1.ª instância em cuja circunscrição deva ser decretada a providência cautelar, segundo as regras de competência territorial contidas no artigo 83.º do Código de Processo Civil, ou em que deva ter lugar a produção de prova solicitada ao abrigo do n.º 2 do artigo 38.º da presente lei. 6 — Tratando -se de litígios compreendidos na esfera da jurisdição dos tribunais administrativos, a assistência a arbitragens localizadas no estrangeiro é prestada pelo tribunal administrativo de círculo territorialmente competente de acordo com o disposto no n.º 5 do presente artigo, aplicado com as adaptações necessárias ao regime dos tribunais administrativos. 7 — Nos processos conducentes às decisões referidas no n.º 1 do presente artigo, o tribunal competente deve observar o disposto nos artigos 46.º, 56.º, 57.º, 58.º e 60.º da presente lei. 8 — Salvo quando na presente lei se preceitue que a decisão do tribunal estadual competente é insusceptível de recurso, das decisões proferidas pelos tribunais referidos nos números anteriores deste artigo, de acordo com o que neles se dispõe,

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cabe recurso para o tribunal ou tribunais hierarquicamente superiores, sempre que tal recurso seja admissível segundo as normas aplicáveis à recorribilidade das decisões em causa. 9 — A execução da sentença arbitral proferida em Portugal corre no tribunal estadual de 1.ª instância competente, nos termos da lei de processo aplicável. 10 — Para a acção tendente a efectivar a responsabilidade civil de um árbitro, são competentes os tribunais judiciais de 1.ª instância em cuja circunscrição se situe o domicílio do réu ou do lugar da arbitragem, à escolha do autor. 11 — Se num processo arbitral o litígio for reconhecido por um tribunal judicial ou administrativo, ou pelo respectivo presidente, como da respectiva competência material, para efeitos de aplicação do presente artigo, tal decisão não é, nessa parte, recorrível e deve ser acatada pelos demais tribunais que vierem a ser chamados a exercer no mesmo processo qualquer das competências aqui previstas. Artigo 60.º Processo aplicável 1 — Nos casos em que se pretenda que o tribunal estadual competente profira uma decisão ao abrigo de qualquer das alíneas a) a d) do n.º 1 do artigo 59.º, deve o interessado indicar no seu requerimento os factos que justificam o seu pedido, nele incluindo a informação que considere relevante para o efeito. 2 — Recebido o requerimento previsto no número anterior, são notificadas as demais partes na arbitragem e, se for caso disso, o tribunal arbitral para, no prazo de 10 dias, dizerem o que se lhes ofereça sobre o conteúdo do mesmo. 3 — Antes de proferir decisão, o tribunal pode, se entender necessário, colher ou solicitar as informações convenientes para a prolação da sua decisão. 4 — Os processos previstos nos números anteriores do presente artigo revestem sempre carácter urgente, precedendo os respectivos actos qualquer outro serviço judicial não urgente. CAPÍTULO XII Disposições finais Artigo 61.º Âmbito de aplicação no espaço A presente lei é aplicável a todas as arbitragens que tenham lugar em território português, bem como ao reconhecimento e à execução em Portugal de sentenças proferidas em arbitragens localizadas no estrangeiro. Artigo 62.º Centros de arbitragem institucionalizada 1 — A criação em Portugal de centros de arbitragem institucionalizada está sujeita a autorização do Ministro da Justiça, nos termos do disposto em legislação especial. 2 — Considera -se feita para o presente artigo a remissão constante do Decreto -Lei n.º 425/86, de 27 de Dezembro, para o artigo 38.º da Lei n.º 31/86, de 29 de Agosto.