pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo ......7 abstract the aim of the present essay is to...

173
1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP ROSELI GOUVÊA A PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL SÃO PAULO 2007

Upload: others

Post on 07-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ROSELI GOUVÊA

A PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

SÃO PAULO

2007

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

ROSELI GOUVÊA

A PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em Psicologia Social, sob a orientação do

Prof. Doutor Salvador Antonio Mireles Sandoval.

SÃO PAULO

2007

3

À minha família

4

AGRADECIMENTOS

Para que a realização deste trabalho fosse possível, diferentes pessoas

disponibilizaram seu tempo, atenção, apoio e conhecimento. A todos que participaram na

construção desta dissertação, o meu agradecimento.

Agradeço ao Prof. Doutor Salvador Antonio Mireles Sandoval pela confiança,

orientação, questionamentos e memoráveis aulas.

Aos Psicólogos que colaboraram com esta pesquisa, meu especial agradecimento,

sem os quais este trabalho não seria possível. Agradeço a lição de humildade, confiança e

maturidade ao exporem suas práticas profissionais.

Ao Prof. Doutor Alvino Augusto de Sá e ao Prof. Doutor Antonio da Costa Ciampa

agradeço as preciosas considerações e contribuições.

A Mauro Rogério Bittencourt, Diretor Técnico de Departamento de Reintegração

Social Penitenciário da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo e a

Andréa Paula Piva, psicóloga, Diretora Técnica de Divisão de Saúde do Departamento de

Reintegração Social Penitenciário, agradeço pelo apoio, abertura e colaboração à pesquisa.

A Arlindo da Silva Lourenço, Diretor do Sindicato dos Psicólogos agradeço pelo

apoio à pesquisa.

Agradeço a Adriana Eiko Matsumoto, Conselheira e Coordenadora do Grupo de

Trabalho do Sistema Prisional do Conselho Regional de Psicologia - 6ª Região - SP e a

Valdirene Daufemback, Comissão de Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional do Conselho

Federal de Psicologia, pelo apoio à pesquisa e a disponibilização de dados, informações e

registros.

Nas pessoas da Profª. Doutora Mary Jane Spink e Marlene Camargo, agradeço ao

Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social.

5

Na pessoa do Dreyf de Assis Carvalho agradeço aos caros colegas que conheci no

Programa, os quais possibilitaram o partilhar de conhecimentos e dúvidas.

Agradeço a Márcia Barros de Toledo Rosolia pela motivação inicial e o apoio

durante a trajetória.

A Adilson Fernandes de Souza, Lúcia Patrocínio da Silva, Márcia Trezza, Marisa

Fortunato, Maria da Conceição Santim Capello e Mônica Moreira de Oliveira Braga

Cuckierkorn, agradeço a motivação, o apoio e o partilhamento de experiências profissionais,

que me possibilitaram crescer.

Pela atenciosa e pronta ajuda na organização da pesquisa, execução e finalização

deste trabalho, agradeço a Amanda de Moraes Gouvêa, a Dumara Shirosa Mendes, a Luisa

Crema, ao Marcos Brunini, Rafaela de Moraes Gouvêa e a Roslaine Gouvêa.

Agradeço a minha família, especialmente Luzia Scarpinelli, minha mãe.

6

RESUMO

O objetivo deste trabalho é conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional do

Estado de São Paulo, pesquisa de caráter exploratório, visto a diminuta referência de estudos

sobre o referido tema nos últimos dezessete anos.

Para tanto, orientamos nossa pesquisa por meio de diferentes métodos, os quais

possibilitaram a busca, o complemento e o cruzamento de dados provenientes de diversas

fontes, a saber: 1) pesquisa e análise de documentos legais e oficiais, caracterizando o sistema

prisional nacional e estadual, bem como as atribuições do psicólogo no sistema prisional nos

termos da legislação vigente; 2) pesquisa da literatura científica, acompanhamento de

encontros regionais, estaduais e nacional, promovidos pelo sistema conselhos da classe de

psicólogos, e interlocução com instituições afins; 3) questionários e entrevistas individuais

com os próprios profissionais, psicólogos e psicólogas, que atuam no sistema prisional do

Estado de São Paulo, considerando os diferentes regimes (provisório, fechado e semi-aberto)

e respectivas unidades prisionais.

Como resultado, constatamos a construção paulatina, contínua e desafiadora da

prática do psicólogo no sistema prisional paulista, influenciada e protagonizada por diversos

atores envolvidos na elaboração e referência das atribuições profissionais. Essa prática

profissional é traduzida por diversas atribuições, objetivos e diferentes sujeitos de atenção do

psicólogo no sistema prisional e judiciário.

Conhecer a prática profissional do psicólogo e os questionamentos atuais sobre essa

prática, nos possibilita desvelar e refletir sobre a contribuição da Psicologia, num contexto

social e econômico desigual e excludente, marcado por um sistema seletivo de segurança,

justiça e punição.

Palavras-chave: Psicologia e prisão; Psicologia Social e sistema prisional; sistema prisional;

a prática do psicólogo; exclusão.

7

ABSTRACT

The aim of the present essay is to know more about psychologists’ professional

practice developed in São Paulo State prison system, an explorative research, given the very

little amount of studies concerning the subject-matter published throughout the last seventeen

years.

We conducted our research using different methods, which provided the search,

complement and data and information’s crossing from the following sources: 1) legal and

official documents’ research and analysis , distinguishing Brazilian national, and São Paulo’s

prison system, and psychologists’ functions in the system according to current legislation; 2)

review of scientific literature, keeping up with professionals’ regional meetings promoted by

psychological societies and contacting related institutions; 3) questionnaires and personal

interviews involving psychologists themselves, both male and female, working in São Paulo’s

prison system, considering those environments sentences are carried out - including

residential and non residential settings combined, and residential model only, as well as

provisory detention -, and their prison unities respectively.

As a finding, we note a gradual, continuous and defiant professional practice

construction regarding psychologists in São Paulo’s prison system, being influenced and

leaded by several actors involved with the construction itself and like references for

psychology’s application in this particular field. This practice shows itself through its

functions, aims and attention psychologists pay to different persons on justice and prison

systems. Knowing psychologists’ professional practice and their actual questions about it,

point us a chance to reflect and unveil Psychology’s contribution, considering an inequable

social and economic context that excludes, marked by a selective system of security, justice

and punishment.

Key-words: Psychology and prison; Social Psychology and prison system; prison system;

psychologist’s practice; exclusion.

8

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................10

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

2. PRISÃO - CONSTITUIÇÃO SOCIAL, POLÍTICA E HISTÓRICA..................................17

2.1 Política da Ilegalidade ....................................................................................................25

2.2 No Brasil.........................................................................................................................28

2.3 Exclusão .........................................................................................................................31

3. CRIMINOLOGIA ................................................................................................................38

3.1 Do conceito.....................................................................................................................38

3.2 Do objeto e respectivos conceitos ..................................................................................42

3.2.1 Do delito ............................................................................................................................................. 42

3.2.2 Do criminoso....................................................................................................................................... 43

3.2.3 Da vítima............................................................................................................................................. 44

3.2.4 Do controle social do delito................................................................................................................ 45

3.3 Teoria Crítica..................................................................................................................46

4. SISTEMA PRISIONAL .......................................................................................................57

4.1 Prisão, instituição total ...................................................................................................57

4.2 Bases conceituais para um sistema prisional..................................................................61

5. METODOLOGIA.................................................................................................................64

6. SISTEMA PRISIONAL DO BRASIL E A CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES

DO PSICÓLOGO SEGUNDO A LEGISLAÇÃO VIGENTE ................................................72

6.1 Sistema Prisional do Brasil.............................................................................................72

6.2 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional segundo a legislação

nacional vigente....................................................................................................................77

7. SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO..................................................83

8. INSERÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NO

SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO......................................................93

9

8.1 Inserção do psicólogo .....................................................................................................93

8.2 Caracterização das atribuições do psicólogo no sistema prisional do Estado de São

Paulo .....................................................................................................................................97

8.2.1 Caracterização das atribuições do psicólogo no sistema prisional segundo a legislação estadual... 97

8.2.2 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São Paulo segundo o Manual de Projetos de Reintegração Social.................................................................................. 109

8.2.3 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São Paulo segundo registros do Conselho Regional de Psicologia - 6ª região - São Paulo......................................... 112

9. CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NO SISTEMA

PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO SEGUNDO OS PRÓPRIOS PROFISSIONAIS

…………………………………………………………………………………….. ………121

9.1 Identificação dos profissionais .....................................................................................121

9.2 Identificação da prática profissional.............................................................................122

9.2.1 A prática profissional por unidade e respectivo regime prisional.................................................... 125

9.2.2 - Sistematização em relação à freqüência da execução das atividades ............................................ 127

9.2.3 Atividades desenvolvidas e técnicas empregadas ............................................................................. 128

9.2.4 As atividades e seus respectivos objetivos ........................................................................................ 130

10. CONCLUSÃO..................................................................................................................139

11. EPÍLOGO .........................................................................................................................143

12. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..................................................................................148

13. ANEXOS..........................................................................................................................150

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - População Prisional na América Latina - Ano de 2003 ..........................................72

Tabela 2 - População Prisional no Brasil .................................................................................73

Tabela 3 - População Prisional por Estados – Ano 2004 .........................................................74

Tabela 4 - População Prisional do Estado de São Paulo ..........................................................84

Tabela 5 - População Prisional do Estado de São Paulo -Tipo de Regime - Gênero ..............88

Tabela 6 - Distribuição Quantitativa de Estabelecimentos Prisionais no Estado de São Paulo

por Coordenadorias Regionais……………………………………………….….....................89

Tabela 7 - Estabelecimentos Prisionais e Respectivas Estruturas ............................................91

Tabela 8 - Psicólogos no Sistema Prisional Paulista ................................................................95

Tabela 9 - Estabelecimentos Prisionais e Estruturas de Composição da Equipe Técnica........97

Tabela 10 - Atribuições do Centro de Reabilitação com Núcleo Interdisciplinar de

Reabilitação e do Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde .......................................100

Tabela 11 - Atribuições do Psicólogo no Centro de Reabilitação e Núcleo Interdisciplinar de

Reabilitação e no Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde com Núcleo de

Atendimento à Saúde..............................................................................................................104

Tabela 12 - Atribuições do Psicólogo no Núcleo de Atendimento Multidisciplinar..............108

Tabela 13 - Manual de Projetos de Reintegração Social – Eixos e Temas ............................110

Tabela 14 - Teses elaboradas no I Encontro Estadual da Atuação do Psicólogo no Sistema

Prisional ..................................................................................................................................116

Tabela 15 – Prática profissional, unidade e respectivo regime prisional ...............................125

Tabela 16 – As práticas profissionais, respectivos objetivos e sujeitos de atenção ...............135

11

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo, de caráter exploratório, é derivado dos questionamentos e

reflexões oriundas da experiência pessoal e profissional de atuação na área da Psicologia

Social, experiência essa iniciada em 1990 no trabalho com crianças e adolescentes

abandonados, em situação de risco pessoal e social; em seguida, com comunidades em favelas

em programas de habitação; e posteriormente, junto à população carcerária do Estado de São

Paulo, em programas de educação e trabalho.

Nessa trajetória profissional, estiveram sempre presentes o questionamento e a

reflexão quanto à prática do psicólogo num contexto social marcado pela desigualdade

socioeconômica, onde o fenômeno de exclusão, constituído por um processo de

vulnerabilização, precarização e degradação das relações entre o sujeito e a sociedade,

encerra-se em fatores estrutural e histórico.

Ante a amplitude dessa realidade, os sujeitos envolvidos e a recorrente reflexão

quanto à prática profissional, consideramos delimitar o foco de nossa atenção e buscar

conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional do Estado de São Paulo, objeto do estudo

desta dissertação.

O objetivo desta pesquisa é um recorte que visa compreender, na perspectiva da

Psicologia Social, a intervenção profissional do psicólogo voltada a uma significativa parcela

da população, que traz em sua história, a vivência de um processo de exclusão, e encontra-se

num estágio crítico desse processo, a segregação e a possível aniquilação social.

Assim, por meio do diálogo com a Sociologia e a Criminologia, numa perspectiva

crítica de compreensão e de transformação, buscamos conhecer algumas referências teóricas

para a compreensão dos problemas sociais, e a prática profissional do psicólogo no sistema

prisional.

12

Para conhecer a referida prática, enveredamos nossos estudos, inicialmente, para o

local de trabalho desse profissional, a prisão - sua constituição histórica, social, política e

econômica no final do século XVIII e início do século XIX, período marcado por

significativas transformações socioeconômicas e, pela transição da forma de punir, da

vingança pública - o suplício, para o período denominado humanitário, caracterizado pela

reforma do direito penal e a instituição da pena de privação de liberdade, analisadas por

Foucault (1977), como a instituição da nova economia da política do poder de punir.

Considerando os objetivos da execução da pena de privação de liberdade, segundo a

legislação nacional1, buscamos ainda ampliar a reflexão quanto ao fenômeno de exclusão,

entendendo-o, conforme apontado por Castel (1997), como o “desfecho de procedimentos

oficiais [...] que repousa sobre julgamentos e passa por procedimentos cuja legitimidade é

atestada e reconhecida” 2 e, complementa Sawaia (2001), compreendendo-o, como um

processo dialético de exclusão e inclusão que se constituem numa relação dinâmica e

perversa, “condição da ordem social desigual” 3.

.

[...] processo complexo e multifacetado, uma configuração de

dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas [...] processo sutil e

dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela

[...] é um processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os

outros. Não tem uma única forma e não é uma falha no sistema, devendo ser

combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ele é

produto do funcionamento do sistema. (Sawaia, 2001, p. 9)

1 Lei de Execução Penal, nº. 7210, de 11 de julho de 1984. Art. 1º - A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.2 Castel, R. Wanderley, L. E. W. Wanderley, M. B. Desigualdade e a questão social. São Paulo: EDUC. 1997, p. 39 e 40. 3 Sawaia. Bader. As artimanhas da exclusão : Análise psicossocial e ética da desigualdade social, 2001, p. 8.

13

A ponderação, quanto à execução da pena de privação de liberdade estar imbricada

com um processo de exclusão, nos remete à necessidade de buscarmos compreender o

fenômeno da criminalidade e “a criação de diferentes modelos explicativos dela” 4. Para tanto,

no capítulo três, buscamos o diálogo com a Criminologia, observando a amplitude de atenção

do objeto dessa ciência: o crime, a pessoa autora do crime, a vítima e o controle social do

delito5.

Dentre os diferentes modelos explicativos da criminalidade, destacamos a

perspectiva da teoria crítica, a qual considera que “o fundamento mais geral do ato desviado

deve ser investigado junto às bases estruturais econômicas e sociais que caracterizam a

sociedade na qual vive o autor do delito.” 6

No capítulo quatro, iniciamos nossa análise sobre o sistema prisional sob dois

enfoques de estrutura e organização da prisão: o enfoque sociológico, referente às

características de funcionamento da prisão, considerando-a como uma instituição total e suas

conseqüências prejudiciais à pessoa presa, segundo Goffman (2003) 7. E o segundo enfoque,

sob a organização e administração de um sistema prisional, apresentando “um esboço de

bases conceituais” 8 e sua importância para um alinhamento conceitual e operacional, numa

perspectiva “que torne menos dolorosa e danosa a vida na prisão” 9.

No capítulo posterior, realizamos a caracterização do sistema prisional e das

atribuições do psicólogo segundo a lei vigente, em âmbito nacional e estadual.

4 Shecaira. S. S. Criminologia, São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004. p. 76. 5 Shecaira. S. S. Criminologia, São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2004. 6 Ibid., 2004. p. 367. 7 Segundo, Goffman, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2003. 8 Segundo, Sá. Alvino Augusto. Sugestão de um Esboço de Bases Conceituais para um Sistema Penitenciário. In Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo. Departamento de Reintegração Social Penitenciário. Manual de Projetos de Reintegração Social. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. p. 13. 9 Baratta, A. Por un concepto critico de reintegración social del condenado. In Oliveira, e (Coor.), Criminologia Crítica. Fórum Internacional de Criminologia Crítica: Belém, CEJUP, 1990, p. 141-147.

14

Esta caracterização indica-nos que o sistema prisional nacional possui 339.580

pessoas presas, distribuídas em 1051 estabelecimentos prisionais, com um déficit de 103.432

vagas10, considerando ainda, a estimativa de 42.000 pessoas adentrarem no sistema por ano,

segundo cômputo do Ministério da Justiça - Departamento Penitenciário Nacional (Depen) 11.

A população carcerária do Estado de São Paulo representa 38% do universo nacional,

ou seja, 130.29012 pessoas presas, distribuídas em 144 unidades prisionais, com um déficit de

56.287 vagas13, população e estrutura administradas por um grupo de funcionários, regidos

pela legislação penal, constituindo-se no sistema prisional do Estado de São Paulo, sob

responsabilidade da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, a qual possui 329

psicólogos14 em seu quadro funcional.

A caracterização da atribuição do psicólogo para atuação no contexto prisional

descrito, se dá pela legislação nacional15, sendo o psicólogo, um dos profissionais que

compõem a Comissão Técnica de Classificação16, a qual tem por função a classificação do

condenado ou internado, segundo os seus antecedentes e personalidade, objetivando: 1)

parecer técnico para orientação jurídica à progressão, regressão ou conversão de regime; 2)

orientar a individualização da execução penal.

10 Segundo dados do Ministério da Justiça – Departamento Penitenciário Nacional (Depen), referente a dezembro de 2006, o sistema prisional nacional possui: Total de Estabelecimentos: 1.051; População do Sistema Penitenciário: 339.580; Vagas do Sistema; Penitenciário: 236.148; Secretaria de Segurança Pública: 61.656; População Prisional do Estado: 401.236; Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/depen/sistema/consolidado%202007.pdf >. Acesso em: jul.2007.11 Cf. Ministério da Justiça –Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Sistema Penitenciário no Brasil –Diagnóstico e Propostas. 2005.12 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em :<http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: nov.2006.13 Segundo dados do Ministério da Justiça – Departamento Penitenciário Nacional - Depen,. Sistema Penitenciário no Brasil – Diagnósticos e propostas, 2005. 14 Referência, maio de 2006, Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo., maio de 2006.15 Lei de Execução Penal, nº. 7210, de 11 de julho de 1984. Artigos 5º, 6º, 7º 8º e 9º. 16 Segundo a Lei de Execução Penal, Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade.

15

A partir, da legislação de âmbito estadual17, as atribuições do psicólogo são

esmiuçadas, sendo este profissional parte integrante das estruturas de comissões, centros ou

núcleos, guardando essas estruturas a semelhança das atribuições dos profissionais que as

compõem.

A dimensão dos números em escala estadual e a restrita referência de pesquisa

desenvolvida18 sobre o tema proposto, fazem desta dissertação um estudo exploratório da

prática do psicólogo no sistema prisional paulista.

Para tanto, orientamos nossa pesquisa por meio de diferentes métodos, os quais

possibilitaram a busca, o complemento e o cruzamento de dados e de informações de diversas

fontes, das quais destacamos a participação ou monitoramento de encontros regionais,

estaduais e nacional, dos profissionais que atuam no sistema prisional paulista, promovidos

pelo sistema conselhos de Psicologia.

Esses encontros possibilitou-nos conhecer e dividir os questionamentos e reflexões

quanto à prática e os desafios profissionais no sistema prisional paulista; o papel da psicologia

nas prisões; referências para formação; ética profissional; entre outros temas, de relevância e

interesse do sistema de conselhos, psicólogos e psicólogas que atuam no sistema prisional

paulista.

Constatamos através deste trabalho a construção paulatina, contínua e desafiadora da

prática do psicólogo no sistema prisional, influenciada e protagonizada pelos diversos atores

envolvidos na construção e referência das atribuições profissionais.

Conhecer a prática profissional em questão e os questionamentos atuais sobre essa

prática, nos possibilita desvelar e refletir sobre a contribuição da Psicologia no processo de

17 Decretos de Lei que dispõem sobre a instituição e organização de estabelecimentos prisionais.18 Martins. Lígia Márcia. A natureza do trabalho do psicólogo em estabelecimentos penais. Dissertação de Mestrado, PUC-SP, 1989.

16

resgate das relações, sujeito e sociedade, do restabelecimento do diálogo, visando à

reintegração social19 da pessoa presa.

Cabe a Psicologia Social buscar compreender e intervir no restabelecimento e na

qualidade das relações sujeito e sociedade, promovendo a reflexão sobre o seu papel e

responsabilidade frente a execução e construção de políticas públicas, orientadas a realidade

de um contexto social e econômico desigual e excludente, marcado por um sistema seletivo de

segurança, justiça e punição.

19 “[...] o entendimento da reintegração social requer a abertura de um processo de comunicação e interação entre a prisão e a sociedade, no qual os cidadãos reclusos se reconheçam na sociedade e esta, por sua vez, se reconheça na prisão.” (Baratta, 1990, p.145)

17

2. PRISÃO - CONSTITUIÇÃO SOCIAL, POLÍTICA E HISTÓRICA

No século XVIII e início do século XIX na Europa e nos Estados Unidos acontecem

transformações sociais, econômicas e políticas que influenciaram, reorientaram e mudaram as

relações na sociedade. Dentre essas transformações, encadeadas e entrelaçadas, que

promoveram tantas outras, podemos destacar a urbanização, caracterizada pela formação das

grandes cidades, concentração de pessoas e pelo crescente adensamento populacional; o novo

sistema de produção, transformando as relações de trabalho; a medição do tempo, passando

das estações do ano que orientavam o plantio e a colheita para o dia composto de vinte e

quatro horas que orientavam o funcionamento da cidade urbanizada e da produção; a

proletarização; a industrialização; a multiplicação e concentração da riqueza concomitante à

multiplicação da pobreza; o avanço tecnológico representado pelas máquinas industriais; a

evolução da ciência; etc.

A constituição de grandes cidades no século XIX, como Paris e Londres, será palco

da junção das referidas transformações, sendo a urbanização e a industrialização

impulsionadas pela expansão e abertura comercial entre os países, inaugurando o sistema

capitalista industrial.

A cidade de Londres pode ser usada, como exemplo, para retratar as condições

socioeconômicas desencadeadas pela industrialização e a urbanização nesse período. Em

detrimento das outras regiões da Inglaterra, que se desenvolvem com o estabelecimento de

indústrias, Londres torna-se a cidade de concentração de uma população sobrante, composta

pelos não ingressos nas cidades-modelos e industrializadas, população essa desempregada ou

com ocupação ocasional, vivendo em regiões segregadas (bairros operários), em espaços e

condições precárias de sobrevivência.

18

A sociedade londrina constitui-se por classes hierarquizadas e apresenta uma escala

de valores morais associada ao exercício do trabalho, sendo os ricos considerados

trabalhadores honestos; os desempregados ocasionais passíveis de serem resgatados pelo

mundo do trabalho; e os desocupados considerados uma ameaça à sociedade.

Londres vai se tornando, dessa maneira, o outro lado da moeda, o

símbolo das más conseqüências da vida urbana e da industrialização. Nela

podem se acomodar os dissolutos, os preguiçosos, os mendigos, os

turbulentos e os esbanjadores de dinheiro. Vê-se, portanto, reputada como o

grande desaguadouro daqueles despidos das qualidades necessárias para

integrar as fileiras do operariado fabril [...] a alternativa do emprego casual

ou de formas menos honestas de sobrevivência, fazem da cidade de Londres

o símbolo do resíduo social, aqueles homens que se encontram fora da

sociedade [...] pessoas que não pautam suas existências pelos valores

constitutivos da vida social - o trabalho, a propriedade e a razão [...]

(Bresciani, 1982, p. 42 e 44).

Os pertencentes ao grupo denominado “resíduo social”, composto por uma

população de mendigos, vagabundos, miseráveis, desempregados e trabalhadores ocasionais,

expressam suas insatisfações e revoltas quanto às situações indignas através de manifestações

nas ruas.

A organização dos pobres e miseráveis, em manifestações reivindicatórias é

identificada na Inglaterra como “contágio moral” 20, em referência à influência negativa que a

“classe residual” poderia exercer sobre os trabalhadores, através da identificação e

reivindicação de interesses comuns de melhoria da qualidade de vida. Motivos pelos quais, a

sociedade cobra políticas, ações de repressão e normas reguladoras.

A cidade de Paris não difere das condições de exploração e miséria que vive o

trabalhador e o desempregado em Londres: “para o francês da época, praticamente inexiste

20 Bresciani, 1982, p.54.

19

diferença entre homem trabalhador, pobre e criminoso. Na verdade, constituem níveis de uma

mesma degradada condição humana, a do trabalhador dos grandes centros urbanos.” 21

Na França, a ameaça de movimentos reivindicatórios era considerada ameaça

política, pois, além da reivindicação de melhoria da qualidade de vida, também era

reivindicada a representação política e, portanto, a mudança de regime político.

A associação entre o pobre, o vagabundo, a miséria e o crime é colocada como uma

ameaça política e social, pois os que não se encaixam no mundo disciplinador e civilizatório

do trabalho, temorizam “uma sociedade inquieta, com medo e orgulhosa de seu progresso” 22,

sendo essa classe seguida e intimidada.

E isso porque identificam na miséria (tipo degradado da pobreza)

um subproduto, uma criatura, da sociedade do trabalho; um dejeto, sobra

sem lugar no social e, portanto, ameaça sempre presente na forma

inquietante do crime, mas também na forma mais perigosa da revolução.

(Bresciani, 1982, p.58).

A preocupação mediante a ameaça de uma massa crescente de miseráveis, impõe a

aplicação de orientação moral e legal para a disciplina e obrigação do trabalho através de

normas reguladoras, como por exemplo, A Nova Lei dos Pobres de 1834, em vigor em toda a

Inglaterra em 1840, que mantinha assistência aos sem-trabalho, mediante a obrigatoriedade de

freqüência regular nas Casas de Trabalho (workhouses), supervisionadas por um conselho

eleito por contribuintes.

Essas Casas, chamadas pelo homem pobre de Bastilha,

configuravam uma verdadeira prisão. Seus altos muros e a disciplina

carcerária, que previa a separação dos membros da família, trabalho pesado

para os homens, refeições magras e em silêncio, a proibição de fumar, as

visitas raras sob observação e pouquíssimo conforto, contribuíram para

21 Ibid., p. 51. 22 Ibid., p. 51.

20

formar essa imagem. Se alguma dúvida perdurava quanto a uma nítida

separação entre pobres no trabalho e pobres fora do trabalho, a Nova Lei dos

Pobres cuidou de eliminar. (Bresciani, 1982, p. 101).

A sociedade que não podia conviver com a miséria fabricada, apresenta propostas de

controle do “resíduo social”, como por exemplo:

[...] leis severas de controle da superpopulação e medidas no

sentido de exportar o resíduo para as colônias; outros [...] propõem colônias

de trabalho que reúnam tanto o resíduo como os desempregados em geral;

[...] antigos membros da liberal COS chegam a formular a hipótese de

colônias de trabalho, organizadas pelo governo, para recolher a pobreza

residual; [...] adeptos de uma solução imperial, que consideram necessária,

para além de medidas assistenciais do Estado, a solução radical de colônias

de trabalho capazes de transformar o resíduo em trabalhadores que seriam

alocados através do vasto Império Britânico. (Bresciani, 1982, p.107).

Concomitantemente em Paris, o temor da revolução, no século XIX, desencadeia

ações para inibir e impedir manifestações “das classes perigosas” 23:

A tarefa de demolir uma revolução, na Paris do século XIX, foi

entregue a equipe de técnicos que formulavam soluções pontuais permitindo

devassar toda a vida das classes pobres. As portas de suas casas foram

abertas, seus interiores vasculhados, sua conduta avaliada, seus valores

morais aquilatados. O arsenal de informações colhidas e sistematizadas

fornece as bases sobre as quais a família do pobre se transforma numa

realidade social passível de ser estudada cientificamente.

(Bresciani, 1982, p.120).

23 Bresciani, 1982, p.120.

21

Nesse contexto social, econômico, político e cultural, influenciado pelo movimento

filosófico Iluminista, caracterizado pelas contestações dos ideais absolutistas e o culto à razão

como expressão e conquista da liberdade social e política24, ocorrerá a reforma das leis e da

administração da justiça.

Na segunda metade do século XVIII e início do século XIX, identificamos a

evolução histórica do direito penal25, caracterizada pela transição do período da vingança -

fase da vingança pública26 para o período humanitário, sendo Cesare Bonesana, Marquês de

Beccaria, (1738-1794), reconhecido como o porta voz dos anseios e ideais do referido período

e, considerado ainda, o primeiro pensador da chamada Criminologia.

Em sua obra, “Dos delitos e das penas” (1764), o Marquês de Beccaria evoca a

humanização e razão na legislação penal27, manifestando-se contra a tradição jurídica, contra

os processos e julgamentos secretos, o juramento imposto aos acusados, a tortura, a

confiscação, a desigualdade dos castigos segundo as pessoas e classe social oriunda, a

atrocidade dos suplícios; estabelece limites entre a justiça divina e a justiça humana, entre os

pecados e os delitos; condena o direito de vingança e toma por base do direito de punir a

utilidade social; declara a pena de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas aos

delitos, assim como a separação do poder judiciário e do poder legislativo28.

Esse movimento de transição entre o período de vingança (fase pública - o suplício)

para o período humanitário é considerado por Foucault (1977), como o período em que “foi

redistribuída, na Europa e nos Estados Unidos, toda a economia de castigo. Época de grandes

24 A “Filosofia da Ilustração foi decisiva para as idéias da Revolução Francesa de 1789”. Chauí, Marilena. Convite à Filosofia, 2003: Ática, p. 49. 25 Duarte, Maércio Falcão. Evolução histórica do direito penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 34, ago. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=932>. Acesso em: 09 jun. 2007.26 O período da vingança é constituído por três fases históricas: fase da vingança privada, fase da vingança divina e fase da vingança pública. Conforme nota anterior.27 “Beccaria transportou essas aspirações e esses princípios filosóficos (Iluminismo) ao campo do direito penal, e veio marcar o pensamento científico dessa ciência, mas também da criminologia.” (Shecaira, 2004, p.91) 28 Cf. Beccaria. Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Paulo M. Oliveira. 13ª edição. Rio de Janeiro. Ediouro. 1999. p. 9.

22

‘escândalos’ para a justiça tradicional, época dos inúmeros projetos de reformas: nova teoria

da lei e do crime, nova justificação moral ou política do direito de punir; abolição das antigas

ordenanças, supressão dos costumes; projeto ou redação de códigos modernos [...] Para a

justiça penal, uma era nova.” 29

Foucault (1977) apresenta e analisa a transição da técnica de punir: dos bárbaros

suplícios30, nos quais o objeto de punição é o corpo, para a prisão, onde o objeto de punição

se desloca para a alma31, visando-a “privar o indivíduo de sua liberdade considerada ao

mesmo tempo como um direito e um bem” 32.

A reforma do direito penal, nos séculos XVIII e XIX, discutida, idealizada e

concretizada por inúmeros atores, entre eles magistrados, filósofos e legistas dá-se num

contexto de diversos interesses, de pressão e insatisfação popular e numa onda de

transformações sociais, econômicas e políticas, a saber:

- protestos populares contra os suplícios;

- a crítica e indignação de uma população quanto às práticas da (in) justiça penal,

principalmente quanto à diferenciação da pena em função da classe social oriunda;

- protestos “contra as penas excessivamente pesadas para os delitos freqüentes e

considerados pouco graves [...] ou contra castigos que punem certas infrações

ligadas a condições sociais, como o furto doméstico” 33;

29 Foucault, 1977, p.13. 30 “O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma ´produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação do poder que pune: não é absolutamente a exasperação de uma justiça que, esquecendo seus princípios, perdesse todo o controle. Nos ‘excessos dos suplícios, se investe toda a economia do poder.” (Foucault, 1977, p. 35). 31 “Que o castigo, se assim posso exprimir, fira mais a alma do que o corpo”. G. de Mably. De la législation, Oeuvres complètes. 1789.t. IX p.326. (apud Foucault, 1977, p. 21). 32 Foucault, 1977, p. 16. 33 Ibid., p.56.

23

- a multiplicação das riquezas e das propriedades (imobiliária, comercial e

industrial);

- a necessidade de segurança e garantia dos bens;

- a valorização moral e jurídica das relações de propriedade;

- a transição dos crimes contra o direito para os crimes contra a propriedade;

- intolerância aos delitos;

- a justiça e seus textos (códigos) tornam-se mais severos, principalmente quanto ao

delito roubo;

- a ampliação do aparato policial;

- a crença generalizada do aumento da criminalidade;

- mecanismos de poder ajustados ao controle e observação social;

- a crítica à justiça penal não sistematizada e unificada, orientada pelas diferenças

de costumes e de procedimentos;

- a proposta de reforma do poder judiciário, que busca suprir a corrupção, abuso de

poder, os privilégios por interesses particulares de orientação política e ou

econômica e a definição de papéis entre a formulação e aplicação das leis;

- a autonomia do judiciário em relação à monarquia;

A reforma penal ocorre num contexto híbrido de atores e interesses, numa conjuntura

caracterizada pelos privilégios, a arbitrariedade e o abuso do poder; o poder excessivo das

jurisdições; o poder e superioridade monárquica; uma orientação racional e política em

relação à ilegalidade; a sistematização, unificação, regularidade e eficácia do poder de punir.

24

De acordo com Foucault (1977), a reforma penal constitui-se a partir da crítica à “má

economia do poder e não tanto [...] à crueldade” 34 dos suplícios. Tendo como interesse

principal, a diminuição do custo econômico e político das punições e o controle social.

O verdadeiro objetivo da reforma, e isso desde suas formulações

mais gerais, não é tanto fundar um novo direito de punir a partir de

princípios mais eqüitativos: mas estabelecer uma nova ‘economia’ do poder

de castigar, assegurar uma melhor distribuição dele, fazer com que não fique

concentrado demais em alguns pontos privilegiados, nem partilhado demais

entre instâncias que se opõem; que seja repartido em circuitos homogêneos

que possam ser exercidos em toda a parte, de maneira contínua e até o mais

fino grão do corpo social. A reforma do direito criminal deve ser lida como

uma estratégia para o remanejamento do poder de punir, de acordo com

modalidades que o tornam mais regular, mais eficaz, mais constante e mais

bem detalhado em seus efeitos; enfim que aumente os efeitos diminuindo o

custo econômico [...] e seu custo político. A nova teoria jurídica da

penalidade engloba na realidade uma nova ‘economia política’ do poder de

punir [...] fazer da punição e da repressão das ilegalidades uma função

regular, coextensiva à sociedade; não punir menos, mas punir melhor; punir

talvez com uma severidade atenuada, mas para punir com mais

universalidade e necessidade; inserir mais profundamente no corpo social o

poder de punir. (Foucault, 1977, p. 75-76).

Configurando-se a transformação da técnica de punir, justificada por princípios

humanizadores na aplicação e execução da pena imposta, a transição do suplício para o

encarceramento, deu-se de forma irregular e gradual na Europa e nos Estados Unidos sendo,

até os dias atuais, a privação de liberdade associada às sanções ao corpo, como trabalho

forçado, alimentação inadequada, insalubridade dos espaços físicos e outras condições que

causam sofrimento físico.

34 Foucault, 1977, p.74.

25

Cabe destacar que a punição através do suplício só foi eliminada no início do século

XIX, sendo a Inglaterra um dos países mais resistentes ao término do suplício como aplicação

de pena, sendo essa resistência uma alternativa de repressão e controle social, mediante o

quadro de vulnerabilidade social e política que se encontrava nesse período.

2.1 Política da Ilegalidade

“A conjuntura que viu nascer a reforma não é portanto a de uma nova sensibilidade;

mas a de outra política em relação à ilegalidade” 35. Essa política, desencadeada na reforma

penal, analisada por Foucault (1977), apresenta a codificação e penalidade criminal de

determinadas práticas ilegais, toleradas pela sociedade como ilegalidades de bens e de

direitos.

Antes da reforma penal, no Antigo Regime, os diferentes estratos sociais contavam

com a tolerância a determinadas práticas ilegais, as quais pertenciam ao funcionamento

político e econômico da sociedade. Essas ilegalidades traduziam-se: em privilégios

individuais ou coletivos concedidos às camadas mais favorecidas; em margens de tolerância à

inobservância à lei como expressão geral; em “consentimento mudo do poder, de uma

negligência ou simplesmente da impossibilidade efetiva de impor a lei e reprimir os

infratores” 36. Tais práticas ilegais ou privilégios eram tão incrustadas no funcionamento de

cada estrato social que as tentativas para reduzí-las ou reprimí-las geravam manifestações do

respectivo estrato: de populares, da nobreza, do clero e da burguesia37.

35 Foucault, 1977, p.76. 36 Ibid., p. 76.37 Ressaltamos que as ilegalidades correspondentes aos respectivos estratos sociais, não apresentavam “convergência[... ]nem oposição fundamental[...]tinham uma com as outras relações que eram ao mesmo tempo de rivalidade, de concorrência, de conflitos de interesse[...]Em suma, o jogo recíproco das ilegalidades fazia parte da vida política e econômica da sociedade.” ( Foucault, 1977, p.78).

26

Essa ilegalidade necessária, tolerada e exercida por diferentes estratos sociais

apresenta uma série de “paradoxos” 38 relacionados à ambigüidade da ilegalidade dos bens e

dos direitos39, dificultando a distinção jurídica e moral.

Assim, “a criminalidade se fundamentava numa ilegalidade mais vasta, à qual as

camadas populares estavam ligadas como a condição de existência; e inversamente, essa

ilegalidade era um fator perpétuo de aumento da criminalidade” 40, tal ambigüidade era

retratada nas atitudes populares através da aceitação ou reprovação, conforme a especificidade

de determinado ato.

Na segunda metade do século XVIII, num contexto de aumento da riqueza e

propriedades (principalmente comerciais e industriais), associado ao crescimento

demográfico, a ilegalidade popular muda o foco dos direitos para os bens: “a pilhagem , o

roubo, tendem a substituir o contrabando e a luta armada contra os agentes do fisco” 41. A

pressão sobre a ilegalidade popular, durante a Revolução Francesa e durante todo o século

XIX, se traduz numa repressão rigorosa, buscando a codificação e punição das ilegalidades,

submetendo a ilegalidade popular a um regime de maior controle:

Com as novas formas de acumulação de capital, de relações de

produção e de estatuto jurídico da propriedade, todas as práticas populares

que se classificavam, seja numa forma silenciosa, cotidiana, tolerada, seja

numa forma violenta, na ilegalidade dos direitos, são desviadas a força para

a ilegalidade dos bens [...] a economia das ilegalidades se reestruturou com o

desenvolvimento da sociedade capitalista. A ilegalidade dos bens foi

separada da ilegalidade dos direitos. Divisão que corresponde a uma

oposição de classes, pois, de um lado, a ilegalidade mais acessível às classes

38 Foucault, 1977, p. 76.39 “[...] da ilegalidade fiscal à ilegalidade aduaneira, ao contrabando, ao saque, à luta armada contra os agentes do fisco depois contra os soldados, à revolta enfim, havia uma continuidade onde as fronteiras eram difíceis de marcar; ou ainda a vadiagem[...]” (Foucault, 1977, p. 77).40 Foucault, 1977, p.77. 41 Ibid., p.78

27

populares será a dos bens - transferência violenta das propriedades; que de

outro a burguesia, então, se reservará à ilegalidade dos direitos: a

possibilidade de desviar seus próprios regulamentos e suas próprias leis; de

fazer funcionar todo um imenso setor da circulação econômica por um jogo

que se desenrola nas margens da legislação – margens previstas por seus

silêncios, ou liberadas por uma tolerância de fato. E essa grande

redistribuição das ilegalidades se traduzirá até por uma especialização dos

circuitos judiciários: para as ilegalidades de bens [...] os tribunais ordinários

e os castigos; para as ilegalidades de direitos [...] jurisdições especiais com

transações, acomodações, multas atenuadas, etc. [...] (Foucault, 1977, p. 80)

Assim, de acordo com Foucault (1977), a reforma penal busca o aperfeiçoamento das

estratégias e técnicas de punição que se traduzirá na legislação criminal e penal, as quais

tinham como objetivos: a racionalização e humanização das penas; a codificação clara dos

delitos; a diminuição da arbitrariedade; o consenso e legalidade do poder de punir; e a

alteração, controle e coerção das ilegalidades não mais toleradas. “Em resumo, constituir uma

nova economia e uma nova tecnologia do poder de punir: tais são sem dúvida as razões de ser

essenciais da reforma penal no século XVIII.” 42

Através de um pacto social, legitimam-se e instituem-se os princípios da reforma,

onde o cidadão que romper com as leis da sociedade está contra essa sociedade, sendo

passível de punição, desta feita, “o direito de punir deslocou-se da vingança do soberano à

defesa da sociedade” 43.

Essa defesa caracteriza-se pelo direito e poder de punir e é pautada pelo exercício

crescente de mensuração e ajustamento da pena, a qual deve ter a função de reparar à

sociedade o prejuízo perpetrado, bem como a função exemplar de impedir, inibir e prevenir -

sob as odes da humanização busca-se uma racionalidade técnica.

42 Foucault, 1977, p. 82.43 Ibid., p. 83.

28

O dilema para os reformistas foi encontrar uma pena alternativa para o suplício, um

castigo que não fosse arbitrário; que possibilitasse sua atenuação a partir dos efeitos positivos

que produzisse; que possibilitasse ao delinqüente associar a idéia de crime à pena, e a esta o

reparo à sociedade. Assim, institui-se a prisão, abaixo da pena de morte, como possibilidade

da mudança do comportamento e da alma.

[...] em menos de vinte anos, o princípio tão claramente

formulado na Constituinte, de penas específicas, ajustadas, eficazes, que

formassem, em cada caso, lição para todos, tornou-se a lei de detenção para

qualquer infração [...] a diversidade, tão solenemente prometida, reduz-se

finalmente a essa penalidade uniforme e melancólica [...] grande aparelho

uniforme das prisões, rede de imensos edifícios se estenderá por toda França

e Europa [...] teoria, característica do século XVI, de uma transformação

pedagógica e espiritual dos indivíduos por um exercício contínuo, e as

técnicas penitenciárias imaginadas na segunda metade do século XVIII.

(Foucault. 1977, p. 104 e 108).

2.2 No Brasil

No Brasil, séculos XVIII e XIX, transição de Colônia para Império e deste para

República, podemos destacar manifestações emancipatórias contrárias à condição de colônia e

império, manifestações essas aquecidas pelo anseio de constituição de uma República. As

lutas e acordos emancipatórios promoveram a independência política, mas a orientação

socioeconômica de uma sociedade de manutenção de privilégios aristocráticos permanecerá,

através da manutenção da escravatura, monocultura e latifúndios, e posteriormente a

industrialização.

29

No período de 1512 a 1830, imperam no país as Ordenações de acordo com os

preceitos legais e a administração da justiça da monarquia.

Aos contrários à ordem estabelecida destina-se arbitrariamente, a pena e a atrocidade

do suplício, sendo a transição para a pena de prisão, a partir do século XIX, longa e similar às

transformações ocorridas na Europa.

Em 1830 é sancionado o Código Criminal do Império do Brasil, o qual tinha como

base o código francês de 1810 e o napolitano de 181944:

Fixava-se na nova lei um esboço de individualização da pena,

previa-se a existência de atenuantes e agravantes, e estabelecia-se um

julgamento especial para os menores de 14 anos. A pena de morte, a ser

executada pela força, só foi aceita após acalorados debates entre liberais e

conservadores no congresso e visava coibir a prática de crimes pelos

escravos [...] Apesar de suas inegáveis qualidades [...] apresentava defeitos

que eram comuns à época: não definira a culpa, aludindo apenas ao dolo,

havia desigualdade no tratamento das pessoas, mormente os escravos.

(Duarte, 2007, p.10).

Posteriormente, em 1890, é editado o Código Criminal da República, o qual sofre

inúmeras críticas e alterações, e “apesar de ter sido mal sistematizado, dentre outros defeitos,

o Código Criminal da República, constituiu um avanço na legislação penal da época, uma vez

que, além de abolir a pena de morte, instalou o regime penitenciário de caráter correcional” 45.

Em 1942, entra em vigor no país o Código Penal de 1940, referência vigente, o qual

se caracteriza pela “conciliação entre os postulados das escolas clássica e positiva,

44 Duarte, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 34, ago. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=932>. Acesso em: 09 jun. 2007.45 Conforme nota anterior.

30

aproveitando o que de melhor havia nas legislações modernas de orientação liberal, em

especial nos códigos italiano e suíço” 46.

Em 1984, através da Lei 7.209 de 11/07/1984, a Parte Geral do referido Código é

alterada e instituída a Lei de Execução Penal, Lei nº. 7.210 de 11/07/1984, a qual será foco de

nossa atenção em capítulo posterior.

A instituição do sistema penal no nosso país não difere e abarca os objetivos da

reforma penal ocorrida na Europa, conforme destacado anteriormente.

Ao cárcere serão encaminhados os criminosos, doentes mentais, grupos de expressão

contrária à ordem política estabelecida, os mendigos e os vagabundos. Imperativo destacar

que, com a abolição dos escravos e o advento de imigrantes ao Brasil, uma população negra,

oriunda de uma condição de escravidão e servidão, colocada à margem, será atenção de

controle social.

A explanação social, política, econômica, cultural e histórica realizada até aqui, é

uma tentativa de buscar compreender a punição como uma função social complexa, e ainda,

entender a associação de uma das facetas dessa função a um contínuo e crescente processo de

exclusão. Para essa reflexão buscaremos, no próximo tópico, conhecer o fenômeno da

exclusão.

46 Conforme nota anterior.

31

2.3 Exclusão

Segundo o dicionário da língua portuguesa, exclusão significa “eliminar; pôr fora;

expulsar; retirar” 47, significados estes que identificam a realidade e a condição de setores da

população no Brasil, que traduzem a extrema desigualdade social, econômica, política, de

justiça, de direito e de poder.

Crítico do uso indiscriminado do conceito exclusão, Castel (1997), propõe sua

substituição por uma noção mais apropriada para nomear e analisar “os riscos e as fraturas

sociais atuais” 48 e, destaca o autor, o conceito de exclusão abarca um número imenso de

situações diferentes, encobrindo a especificidade de cada uma, pois “falar em termos de

exclusão é rotular com uma qualificação puramente negativa que designa a falta, sem dizer no

que ela consiste nem de onde provém” 49.

O autor supracitado propõe a substituição do conceito exclusão por desafiliação “cuja

trajetória é feita de uma série de rupturas em relação a estados de equilíbrio anteriores mais ou

menos estáveis, ou instáveis” 50, o que nos possibilita compreender o fenômeno da exclusão

como um processo que pressupõe a vulnerabilização, precarização e degradação das relações

do sujeito e a sociedade, em decorrência do encadeamento e sobreposição de faltas em relação

ao trabalho, à renda, à moradia, à educação, à saúde, à cultura, à política, ao poder, etc., sendo

o ponto extremado deste processo, a exclusão, traduzida por meio do rompimento das relações

do sujeito com todas as esferas da vida social.

Para o enfrentamento da questão, Castel (1997) propõe que devemos analisar as

circunstâncias em que as ausências são construídas no processo de exclusão, precisamos

47 Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI: O minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 48 Castel, 1997, p.16.49 Ibid., p. 19. 50 Ibid., p.22.

32

atentar e interrogar-nos sobre as dinâmicas globais, sobre os princípios e mecanismos da

sociedade que são responsáveis pelos desequilíbrios desencadeadores dos processos que

geram os estados de falta e ausência, pois as “políticas ditas de inserção” 51, destinadas ao

enfrentamento da exclusão, atuam de forma pontual e reparativa nas situações em curso ou já

degradadas52.

De acordo com Castel (1997), podemos identificar na nossa realidade social que, a

atenção à exclusão se traduz em ações tradicionais de ajuda social à população alvo para o

atendimento focado ao déficit específico, desconsiderando, o “perfil próprio desses novos

públicos e sua diferença irredutível em relação àquela da clientela clássica da ação social” 53.

Assim, não podemos tratar a questão como desqualificação da competência coletiva, pois, as

populações “se tornaram inválidas pela conjuntura: é a transformação recente das regras do

jogo social e econômico que as marginalizou. Não é o caso de tratá-las com uma intervenção

especializada para reparar ou cuidar de uma incapacidade pessoal”.

A busca pela compreensão e intervenção do processo de exclusão deve eleger ações

de prevenção, o que exige um tratamento econômico e político, pois sugere questionar a

lógica econômica e social. No entanto, sabemos e indentificamos as ações e políticas voltadas

ao efeito, políticas públicas essas que naturalizam o processo54.

Considerando a exclusão por padrão como característica da sociedade, Castel (1997)

classifica a heterogeneidade de práticas de exclusão em três “subconjuntos” 55:

51 Ibid., p.24.52 Exemplos de ações: Programa renda mínima e Programa frente de trabalho, encerrado em julho de 2007, pelo Governo do Estado de São Paulo. 53 Castel, 1997, p.28.54 A análise não é uma crítica às políticas de inserção enquanto tais. “Estas apresentam o mérito de não se resignar ao abandono definitivo de novas populações colocadas pela crise em situação de inutilidade social”. (Castel, 1997, p. 24 e 25) 55 Ibid., 1997, p. 36-38.

33

- O primeiro subgrupo denominado erradicação total e caracterizado pela supressão

completa da comunidade: 1) sob a forma de expulsão, por exemplo, a expulsão

dos judeus espanhóis (1592) e mouros espanhóis (1606) da Espanha; 2) sob a

forma de pena de morte ou banimento de diferentes categorias (heréticos,

criminosos, vagabundos e sediciosos); 3) sob a forma de genocídio.

- A segunda modalidade é a construção de espaços fechados e isolados da

comunidade no seio mesmo da comunidade, como por exemplo, leprosários,

guetos, prisões e manicômios;

- O terceiro subconjunto, a atribuição de um status especial (de caráter negativo) a

certas categorias da população, que lhes permita coexistir na comunidade, mas

com a privação da participação em certas atividades sociais e privação de certos

direitos, como por exemplo, colonização, escravidão, apartheid, discriminação de

gênero.

Castel (1997) assinala que, para além da diversidade de modalidades e níveis de

radicalismo, a exclusão apresenta aspectos em comum.

Ela impõe uma condição específica que repousa sobre regras,

mobiliza aparelhos especializados e se completa por meio de rituais [...]

Assim, a exclusão não é nem arbitrária e nem acidental. Emana de uma

ordem de razões proclamadas [...] a exclusão, no sentido próprio da palavra,

é sempre o desfecho de procedimentos oficiais e representa um verdadeiro

status. É uma forma de discriminação negativa que obedece a regras estritas

de construção. (Castel, 1997, p. 38-40)

Considerando a exclusão como o desfecho de procedimentos oficiais, o autor destaca

que os “processos de marginalização podem resultar em exclusão propriamente dita, ou seja,

34

num tratamento explicitamente discriminatório dessas populações” 56, e que as “políticas ditas

de inserção” podem corroborar e oficializar a exclusão.

A análise referente às práticas de exclusão, esboçada anteriormente em três

subconjuntos, nos auxilia a entender e refletir sobre os riscos da transmutação das “políticas

ditas de inserção” para discriminação oficial da exclusão, na atualidade, a saber:

1. A erradicação total, “parece impossível, exceto pela degradação absoluta da

situação política e social. Porém, é difícil que uma sociedade que tenha guardado

um mínimo de referências democráticas possa suprimir pura e simplesmente seus

“inúteis ao mundo” ou seus indesejáveis, como era o caso em outros tempos” 57.

2. A segregação em espaços especiais, “parece muito menos improvável” 58, damos

como exemplo a segregação sócio-espacial caracterizando a constituição de

guetos. A resposta ao déficit da moradia traduz-se na construção conjuntos

habitacionais localizados em bairros periféricos, por vezes, denominados cidades

dormitórios, em referência ao isolamento e distância do centro urbano. Outro

exemplo próximo ao nosso estudo é a prisão;

3. A “exclusão por atribuição de um status especial a certas categorias da população

é, sem dúvida, a ameaça principal na conjuntura atual. Relaciona-se à

ambigüidade profunda das políticas de discriminação positiva. Podem-se assim

chamar as tentativas de compensar as desvantagens sofridas por algumas

categorias sociais em matéria de acesso ao trabalho, à moradia, à educação, à

cultura, etc. [...] vê-se que a margem é estreita entre as medidas específicas que

visam a ajudar públicos em dificuldade e sua instalação em sistemas de

56 Castel, 1997, p. 41. 57 Castel, 1997, p. 41 e 42. 58 Ibid., p. 42.

35

categorização que lhes atribuem um status de cidadão de segunda classe.” 59, que

lhes permitam coexistir na comunidade, mas com a privação de certos direitos e a

privação da participação em certas atividades sociais.

De acordo com as conclusões de Castel (1997), a atenção à exclusão deve: distinguir

fatores, processos e fenômenos; cuidar para que as medidas de discriminação positiva, que são

sem dúvida indispensáveis, não se degradem em status de exceção; e a atenção deve ser

preventiva, esforçando-se para intervir nos fatores a saber: processos de produção e

distribuição das riquezas sociais.

Em complemento à reflexão exposta até aqui, e com a finalidade de ampliarmos

nosso conhecimento em relação ao tema exposto, trazemos as colaborações de Bader Sawaia

(2001), a qual considera a ambigüidade “inerente” ao conceito exclusão e propõe que ao invés

de “rechaçar” o conceito devemos “aprimorá-lo” explicitando suas ambigüidades, pois elas

revelam a complexidade e contraditoriedade do processo de exclusão, principalmente a sua

transmutação em inclusão social.

Sawaia (2001), propõe “abordar a exclusão social sob a perspectiva ético-

psicossociólogica para analisá-la como processo complexo, que não é em si subjetivo nem

objetivo, individual nem coletivo, racional nem emocional” 60, considerando a exclusão social

como processo sócio-histórico.

Para subsidiar nossa compreensão quanto à concepção de exclusão social, nos

baseamos na proposta da autora supracitada, a qual considera três dimensões para análise da

exclusão:

59 Ibid., p. 44 e 45. 60 Sawaia, 2001, p.8

36

1. a dimensão objetiva da desigualdade social;

2. a dimensão ética da injustiça social;

3. a dimensão subjetiva do sofrimento.

Sawaia (2001) destaca, ainda, a contrariedade do processo de exclusão e chama

atenção para o entendimento do conceito de exclusão como um processo “dialético de

exclusão/inclusão social” 61, sendo esses termos interligados e indissociáveis, que se

constituem numa relação dinâmica e perversa, condição da ordem social desigual. A dinâmica

entre as duas categorias, inclusão e exclusão, “demonstra a capacidade de uma sociedade

existir como um sistema. Essa linha de raciocínio permite concluir, parafraseando Castel

(1998), que a dialética exclusão/inclusão é a aporia fundamental sobre a qual nossa sociedade

experimenta o enigma de sua coesão e tenta conjurar os riscos de sua fratura” 62.

Nesta concepção Sawaia (2001) propõe ampliar a análise do processo de exclusão,

ora entendido como a “dialética exclusão/inclusão”, para além da dimensão objetiva,

econômica e social; introduz a ética da injustiça social e a subjetividade na análise sociológica

da desigualdade. “Dessa forma, exclusão passa a ser entendida como descompromisso político

com o sofrimento do outro” 63.

Na análise psicológica, Sawaia (2001) apresenta o sofrimento ético-político como

categoria de análise da dialética exclusão/inclusão, e na mesma obra64 organizada pela autora

supracitada, Jodelet (2001) apresenta os processos psicossociais da exclusão, destacando

61 Sawaia, 2001, p.8 62 Ibid., 2001. p.10863Ibid., 2001, p.8 64 Sawaia, Bader B. (org.). As Artimanhas da Exclusão – Análise psicossocial e ética da desigualdade social. 3ª ed. Rio de Janeiro. Editora Vozes. 2001.

37

preconceitos e estereótipos65 e Guareschi (2001) apresenta os pressupostos psicossociais da

exclusão: a competitividade e a culpabilização66.

Conceito polissêmico e multidimensional, a exclusão nos possibilita uma amplitude

de interessantes e importantes análises, mas visto o tempo e o objetivo dado a este trabalho –

conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional paulista, buscamos entender e refletir

sobre o fenômeno e o processo dialético de exclusão/inclusão social, sua estreita relação com

a condição de segregação social da pessoa presa e o objetivo oficial da pena de privação de

liberdade: efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições

para a harmônica integração social do condenado e do internado67.

65 Ibid., p. 53.66 Ibid., p. 141. 67 Brasil. Lei de Execução Penal. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.

38

3. CRIMINOLOGIA

Considerando 1) as atribuições do psicólogo segundo a legislação nacional68,

conforme apresentado no capítulo anterior; 2) o artigo 8º da Lei de Execução Penal, o qual

aponta que o condenado no cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado,

será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma

adequada classificação com vistas à individualização da execução da pena69; 3) o objeto de

estudo deste trabalho dando a conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional paulista;

buscamos neste capítulo o diálogo com a Criminologia, por identificarmos ser a área de

conhecimento que pode auxiliar-nos a ampliar a reflexão e compreensão sobre o fenômeno da

criminalidade, posto que, a Criminologia é a ciência que se propõe a investigar e conhecer

sobre o crime, a pessoa autora do crime, a vítima e o controle social do crime.

3.1 Do conceito

Para falarmos sobre a Criminologia nos apoiaremos na obra de Sérgio Salomão

Shecaira (2004), de título homônimo ao da área de conhecimento em questão, Criminologia,

onde o autor destaca a relação dessa ciência com o direito penal e a política criminal. O autor

em questão pondera e apresenta as distinções e interdependências recíprocas entre as citadas

68 Brasil. Lei de Execução Penal. Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984. Artigos 5º ao 9º.69 Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984. Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.

39

áreas, bem como, as escolas sociológicas da criminalidade que influenciaram a legislação

penal70 e, mais recentemente, as políticas de prevenção criminal.

O nascimento da criminologia tem seu marco histórico no século XVIII, quando da

evolução histórica do direito penal e de sua transição do período da vingança (privada, divina

e pública) para o período humanitário71, sendo Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria, por

meio de sua obra “Dos delitos e das penas” (1764), considerado o primeiro pensador da

chamada criminologia.72

Em busca do entendimento sobre o crime e o criminoso diferentes pensadores se

inspiraram nas diversas áreas da ciência e verdades da época, no decorrer dos séculos XVIII

ao XX73, destacando-se “duas correntes do pensamento filosófico-jurídico em matéria penal e

em criminologia: a escola clássica e a positivista” 74. A escola clássica busca compreender o

fenômeno da criminalidade privilegiando como objeto de atenção o crime. A escola

positivista elege como objeto de atenção o criminoso, considerando o delito como um

fenômeno determinado biológica e socialmente.

Shecaira (2004) propõe conhecer as teorias criminológicas a partir da perspectiva

macrocriminológica, considerando e valorizando o imbricamento das diferentes perspectivas

existentes nas ciências humanas, e considera:

[...] examinar as diferentes visões justificadoras do delito,

explicativas ou críticas, não tendo por escopo examinar a interação entre

indivíduos e pequenos grupos, mas sim fazer uma abordagem da sociedade

como um todo, do seu complexo sistema de funcionamento, de seus

70Destacamos a importância dessas influências, (in)diretamente, na atribuição do psicólogo no sistema prisional, conforme legislação nacional, Lei de Execução Penal, nº. 7210/84, objeto de estudo e atenção deste trabalho no capítulo 5, item 5.2, Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional segundo a legislação nacional vigente. 71 Duarte, Maércio Falcão. Evolução histórica do Direito Penal. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 34, ago. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=932>. Acesso em: 09 jun. 2007. 72 Shecaira, 2004, p. 75.73 Sobre o nascimento da criminologia, cf. Shecaira, 2004, p. 74 et.seq, 74 Ibid., p.90.

40

conflitos e crises, de modo a obter, mediante o estudo do fenômeno

delituoso, as diferentes respostas explicativas da criminalidade [...]

(Shecaira, 2004, p. 133)

O autor supracitado destaca duas visões principais da macrossociologia que

influenciaram o pensamento criminológico, sendo agrupadas e denominadas em:

1. teorias do consenso, dentro das quais o autor apresenta a escola de Chicago; a

teoria da associação diferencial; a teoria da anomia; e a teoria da subcultura

delinqüente;

2. teorias do conflito, dentro das quais o autor destaca a teoria do labelling approach

(interacionista ou da rotulação social) e a teoria crítica.

As teorias do consenso, apresentam a concepção funcionalista de sociedade, sendo a

sociedade uma estrutura de funcionamento integrada e harmônica, pois “a finalidade da

sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento das suas instituições de forma que

os indivíduos compartilham os objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras

vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes” 75.

As teorias do conflito partem de uma concepção conflitiva da realidade, pois “a

coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e

sujeição de outros; ignora-se a existência de acordos em torno de valores de que depende o

próprio estabelecimento da força.” 76.

75 Shecaira, 2004, p.13476 Ibid., p. 134

41

Considerando diferentes perspectivas e abordagens teórico-metodológicas para

compreensão e explicação da natureza e da realidade social77, e especificamente a

compreensão e explicação do fenômeno da criminalidade a partir de dada concepção,

elegemos explorar o tema proposto sob a perspectiva da teoria crítica. Porém, antes

definiremos, Criminologia e respectivo objeto de estudo, base essencial para adentrarmos na

teoria crítica da análise criminológica.

Shecaira (2004) aponta os dados necessários para a conceituação da Criminologia

realizando a comparação dessa ciência com o direito penal e a política criminal78. Apresenta a

criminologia a “partir do pensamento crítico da realidade fenomênica” 79, área integrante das

ciências humanas, sendo seu “método empírico de análise a observação da realidade” 80,

ciência dada a conhecer e explicar a realidade, compreender o problema criminal e

transformá-lo.

Assim o autor em questão define Criminologia como:

Estabelecidos os conceitos que constituem a base do pensamento

criminológico, trata-se agora de definir criminologia. Seguindo o

pensamento de Antonio García-Pablos de Molina, é a criminologia “uma

ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da

pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo,

e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a

gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplando este como

problema individual e como problema social –, assim como sobre os

programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva

77 Cf. Burrel, G. and Morgan, G. Sociological Paradigms and Organizational Analysis. London: Heinemann, 1979. 78 Cf. Shecaira, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 36-42. 79 Shecaira, 2004, p. 37-38. 80 Ibid., p. 37

42

no homem delinqüente”. 81 Outras não são as principais definições, mais ou

menos na mesma linha que exposta acima82. (Shecaira, 2004, p. 40)

3.2 Do objeto e respectivos conceitos

Conforme a definição de Criminologia anteriormente apresentada consideramos o

objeto desta ciência: o “crime, a pessoa do infrator, a vítima e o controle social do

comportamento delitivo” e para acompanharmos os termos designados por Shecaira (2004),

autor de nossa referência, consideraremos objeto desta ciência: o delito, o criminoso, a vítima

e o controle social do delito.

3.2.1 Do delito

Considerando a visão do direito penal sobre o delito, Shecaira (2004) apresenta que

para “o direito penal o crime é a ação típica, ilícita e culpável [...] uma visão centrada no

comportamento do indivíduo.” 83, prescindindo dessa visão, o autor apresenta a visão ampla

da criminologia, considerando o delito “como um fenômeno comunitário e como um

problema social” 84.

Shecaira (2004) acrescenta a reflexão quanto à criminalização de determinada

conduta em determinado contexto histórico e pressupõe quatro elementos constitutivos do

conceito criminológico do delito85, a saber:

81 Morillas Cueva, LORENZO. Metodologia y ciência penal.Granada: Universidade de Granada, l990, p. 316 apud Shecaira, 2004, p. 40. 82 Cf. Shecaira, 2004, p.40.83 Shecaira, 2004, p.43. 84 Ibid., p. 43. 85 Para maiores detalhes conferir Shecaira, 2004, p. 44 a 47, onde o autor utiliza a sociedade e a legislação brasileira como exemplo.

43

1. a incidência massiva na população;

2. a incidência aflitiva do fato praticado;

3. a persistência espaço-temporal do fato que se quer imputar de delituoso;

4. o inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e de quais técnicas de

intervenção seriam mais eficazes para o seu combate;

3.2.2 Do criminoso

Para a apresentação do conceito - criminoso, Shecaira (2004) passeia pela construção

histórica e teórica do referido conceito, e suas diversas concepções, desde a visão clássica,

que considera o criminoso um pecador; à visão positivista, considerando o determinismo

biológico e social; à visão correcionalista, considerando o criminoso um ser inferior e incapaz

devendo, portanto, ser tutelado pelo Estado; à visão marxista, destacando o determinismo

social e econômico; para chegar à sua definição:

[...] entende-se que o criminoso é um ser histórico, real, complexo

e enigmático. Embora seja, na maioria das vezes, um ser absolutamente

normal, pode estar sujeito às influências do meio (não a determinismos). Se

for verdade que é condicionado, tem vontade e uma assombrosa capacidade

de transcender, de superar o legado que recebeu e construir seu próprio

futuro. Está sujeito a um consciente coletivo, como todos estamos, mas

também tem a capacidade ímpar de conservar sua própria opinião e superar-

se, transformando e transformando-se. Por isso, as diferentes perspectivas

não se excluem; antes, completam-se e permitem um grande mosaico sobre

o qual se assenta o direito penal atual. (Shecaira, 2004, p. 49 e 50)

44

3.2.3 Da vítima

Shecaira (2004) destaca na literatura “três grandes momentos, no que concerne ao

protagonismo das vítimas nos estudos penais: a ‘idade de ouro’ da vítima; a neutralização do

poder da vítima (com a adoção do processo penal inquisitivo); e a revalorização do papel” 86

da vítima com os estudos criminológicos.

O estudo da vítima passa a ser objeto de atenção e abordagem sistemática pela

Criminologia no século XX, em decorrência da atenção às atrocidades ocorridas na 2ª Guerra

Mundial, principalmente em relação aos judeus, vítimas do nazismo.

Buscando uma classificação, o autor supracitado, aponta a diferença entre vitimização

primária, secundária e terciária, segundo o parâmetro adotado na literatura específica, a saber:

Considera-se haver vítima primária quando um sujeito é

diretamente atingido pela prática de ato delituoso. A vítima secundária é um

derivativo das relações existentes entre as vítimas primárias e o Estado em

face do aparato repressivo (polícia, burocratização do sistema, falta de

sensibilidade dos operadores do direito envolvidos com alguns processos

bastante delicados etc.). Já a vítima terciária é aquela que, mesmo possuindo

um envolvimento com o fato delituoso, tem um sofrimento excessivo, além

daquele determinado pela lei do país. É o caso do acusado do delito que

sofre sevícias, torturas ou outros tipos de violência (às vezes dos próprios

presos), ou que responde a processos que evidentemente não lhe deveriam

ser imputados [...] (Shecaira, 2004, p. 55).

86 Shecaira, 2004, p.50

45

3.2.4 Do controle social do delito

Shecaira (2004) contextualiza que toda sociedade ou grupos sociais constroem suas

regras para orientar a conduta humana e balizar a convivência comunitária. Para tanto,

necessitam e criam “mecanismos disciplinadores” que têm como objetivo garantir a coesão

social. Nesse sentido, o autor supracitado, define controle social como sendo:

[...] o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem

submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários. Para tanto, as

organizações sociais lançam mão de dois sistemas articulados entre si. De

um lado tem-se o controle social e informal, que passa pela instância da

sociedade civil: família, escola, profissão, opinião pública, grupos de

pressão, clubes de serviço etc. Outra instância é a do controle social formal,

identificada com a atuação do aparelho político do Estado. São controles

realizados por intermédio da Polícia, da Justiça, do Exército, do Ministério

Público, da Administração Penitenciária e de todos os consectários de tais

agências, como controle legal, penal etc. (Shecaira, 2004, p. 56).

Nessa definição o autor chama nossa atenção para o funcionamento articulado entre

os sistemas de controles formal e informal, pois o controle formal é acionado em decorrência

das falhas das instâncias de controle informal. Nessa perspectiva as agências de controle

formais atuam de forma coercitiva, seletiva e discriminatória, “pois o status prima sobre o

merecimento” 87 , sendo sua efetividade questionável.

Conforme definição de controle social apresentada, o autor supracitado inclui o

direito penal como instrumento de controle social formal, o qual apresenta o princípio da

legalidade e atua em consonância com um “sistema de controle social e de seleção de maior

87 Shecaira, 2004, p. 56.

46

amplitude dentro do Estado” 88. Traduzindo-se a pena de privação de liberdade na

manifestação extremada do controle penal, sendo a mesma “mais do que um controle: é a

expressão absoluta de seu caráter repressivo” 89, bem como do poder legítimo e da

manutenção do Estado.90

3.3 Teoria Crítica

Também denominada de teoria radical e “nova criminologia”, a Teoria Crítica da

criminalidade tem sua origem na década de 70 nos Estados Unidos e na Inglaterra

espalhando-se depois na Europa, a partir de três movimentos distintos e respectivos autores

representativos91.

Segundo Shecaira (2004) o foco de atenção e crítica eram as teorias criminológicas

de consenso, que eram “incapazes de compreender a totalidade do fenômeno criminal” 92 ,

sendo até mesmo, alvo de crítica, a teoria do labelling approach (rotulação social),

considerada como uma proposta de reforma liberal e de melhoria das instâncias de controle,

respeitando com limites o pluralismo cultural e moral.

A teoria crítica “propõe uma ampla reflexão do próprio conceito de crime”

considerando que sua redefinição está aliada a “uma ampla reflexão crítica sobre a realidade,

de modo a enfrentar a questão de um sistema legal baseado no poder e no privilégio” 93.

88 Shecaira, 2004, p. 59.89 Ibid., p. 60.90 Shecaira, apresenta a distinção entre controle social primário ( controle formal através de sanções) e o controle social secundário (controle informal através da internalização de normas e modelos), remetendo-nos ao “[...] pensamento dual de Estado, compreendendo sociedade civil e sociedade política, que foi consagrado por Antonio Gramsci [...] Dessa concepção dual surge o conceito de Estado, com novas determinações, comportando duas formas de dominação: uma representada pela hegemonia (sociedade civil) e outra pelo poder coercitivo (sociedade política).” (Shecaira, 2004, p. 58-60)91 Shecaira, 2004, p.327 et. seq. 92 Ibid., p.33293 Ibid., p. 334.

47

Os movimentos da década de 70 tornaram-se o berço do desenvolvimento de “três

distintas tendências no interior da criminologia moderna: o neo-realismo de esquerda94, a

teoria do direito penal mínimo e o pensamento abolicionista.” 95, que passamos a descrever

conforme apresentado por Shecaira (2004) 96:

1. A corrente neo-realista de esquerda

- defende o “regresso ao estudo da etiologia do delito, com prioridade aos estudos

vitimológicos” pois acreditam que, “as chamadas ‘causas do delito’ devem ser

denunciadas, a fim de que a injustiça estrutural seja identificada com sua gênese”.

Critica outras correntes, cujo foco de atenção prende-se às razões econômicas e

políticas e “que enveredam para a teoria de Estado”;

- entende “que além da pobreza, outros fatores concorrem para a perpetração do

crime, devendo ser reconhecidos [...] o individualismo, a competição desenfreada,

a busca incessante de bens materiais, as discriminações sexuais e o racismo”;

- sobre a vítima propõe a atenção às “pessoas que mais sofrem com a criminalidade,

os desprovidos [...] o delito como problema real é, de fato, um fenômeno

intraclassista e não interclassista, sendo assim, tal fenômeno produz uma divisão

dentro das classes menos favorecidas e faz esquecer o inimigo real: a sociedade

capitalista” 97;

94 “Denomina-se de esquerda pra diferenciar-se do movimento realista de direita, que tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, no começo dos anos 80, exigia mais repressão contra a criminalidade de massa e contra as minorias étnicas”. Martinez Sanches, Mauricio (apud Shecaira, 2004, p.335).95 Shecaira, 2004, p. 335 et. seq.96 Ibid., p. 335 et. seq.97 Em relação a essa questão, observamos: “Ao ser considerada intolerável pelo conjunto da sociedade, a pobreza assume um status social desvalorizado. Os pobres são obrigados a viver numa situação de isolamento, procurando dissimular a inferioridade de seu status no meio em que vivem e mantendo relações distantes com todos os que se encontram na mesma situação. A humilhação os impede de aprofundar, desse modo, qualquer sentimento de pertinência a uma classe social”. (Serge Paugam, 2001, p. 69).

48

- sobre a política criminal propõe “uma nova relação entre polícia e sociedade,

assim como uma ‘organização democrática na comunidade’ com a finalidade de

contribuir para uma luta comum contra o delito”; “uma linha reducionista na

política criminal, descriminalizando certos comportamentos e criminalizando

outros. Assim entende que as novas demandas sociais exigem a tipificação de

‘novos’ crimes, ainda que se reconheça a necessidade da diminuição da ‘velha’

criminalidade”; “Adotam [...] a idéia da prevenção geral positiva, em grande parte

sustentada pelos chamados funcionalistas, mas muito criticada pelos primeiros

pensadores críticos”; sugere “especial atenção às instituições, comunidade e

polícia, para traçar uma política criminal setorial que trate de representar os

interesses da localidade, do bairro, independentemente da estratificação social” 98;

- sobre o controle social propõe a “redução do controle penal e extensão a outras

esferas. Isto é [...] que a criminologia se preocupe com certos fatos que atingem

mais diretamente a classe trabalhadora”, por exemplo, “roubos, violências sexuais,

abusos contra crianças e adolescentes, violências com motivações raciais,

violências nos locais de trabalho, delitos cometidos por governos e grandes

empresas”;

- sobre a pena considera a importância da reinserção dos delinqüentes, “no lugar de

marginalizar e excluir os autores dos delitos, devem-se buscar alternativas à

reclusão para que adquiram uma espécie de compromisso ético com a

comunidade, na prestação de serviços e na reparação dos danos às vítimas”; a

manutenção da prisão “ainda que somente em circunstâncias extremas, pois

algumas pessoas, em liberdade, seriam perigosas à sociedade”, e entendem, “que a

busca de alternativas à prisão é, definitivamente, uma manifestação de idealismo.

98 Shecaira, 2004, p.338.

49

Com isso, em grande medida acabam relegitimando a idéia do cárcere, pois

aceitam ser situações em que a classe trabalhadora e os setores marginalizados

viriam a se educar”.99

Shecaira (2004) adjetiva como interessantes muitos aspectos das perspectivas

apresentadas pelos neo-realistas de esquerda, pois consideram as mudanças econômicas,

sociais, políticas e culturais da última década e buscam a conexão com a crescente

criminalidade e vitimização. O autor pondera “que tudo isso deve transformar a prioridade da

agenda dos criminólogos” 100.

Segundo Shecaira (2004) a corrente neo-realista de esquerda afirma que “algumas

forças fundamentais lançaram novos paradigmas criminológicos [...] ponto de partida da visão

revisionista” 101, a saber: “o aumento das taxas de criminalidade, que transformou não só o

perfil das exigências sociais, mas também a própria intervenção punitiva” o que “decorre

fundamentalmente do fenômeno de desemprego estrutural”; “a revelação de vítimas até então

invisíveis”; “a problematização da criminalidade [...] em vez da distinção clara entre

crime/não crime, é mais fácil percebê-la como um continuum entre comportamento tolerado e

comportamento criminalizado, em que ponto de corte varia com o tempo e entre grupos

sociais diferentes”; “universalidade do crime e a seletividade da justiça”; “problematização da

punição e da culpabilidade [...] Em vez de a polícia suspeitar de certos indivíduos, passou a

suspeitar de categorias sociais [...] a noção categórica de culpabilidade é matizada por outros

fatores externos à avaliação pessoal e que são sempre relevantes nas decisões dos

tribunais.”102

99 Shecaira, 2004, p. 338. Cf. ainda a dialética da exclusão e inclusão (perversa), cap. 2, deste trabalho.100 Shecaira, 2004, p.338. 101 Ibid., p. 339-341.102 Ibid., p. 339-341.

50

2. A corrente minimalista

- propõe como ponto principal o direito penal mínimo, daí a origem do nome da

corrente;

- entende que o crime existe por definição legal, portanto, o estudo das “suas

causas” significa um regresso numa perspectiva criminológica positivista. Assim,

rechaça a crítica dos neo-realistas de esquerda, quando estes criticam os

minimalistas por se debruçarem sobre as razões econômicas e políticas;

- considera “a criminologia como resultado de um processo de definição, cuja

finalidade está em ocultar situações negativas e sofrimentos reais das classes

menos favorecidas” 103;

- Propõe “superar o idealismo da teoria da rotulação social” 104, e ainda, a

redefinição crítica do próprio conceito de delito. “Aceitar sua definição na

sociedade atual é ignorar que o direito regula uma sociedade desigual e que,

portanto, estaria atuando de forma a não conservar qualquer neutralidade” 105;

“deixar de atribuir relevo aos pensamentos tradicionais da criminalidade de massa

ou criminalidade de rua [...] para pensar uma ‘criminalidade dos oprimidos’:

racismo, discriminação sexual, criminalidade de colarinho-branco, crimes

ecológicos, belecismo etc.” 106 ;

- sobre a pena, seus pensadores “são céticos relativamente à eficácia do instrumento

penal para combater a criminalidade organizada ou para dar resposta aos conflitos

103 Shecaira, 2004, p. 342.104 Segundo Shecaira, a “teoria da rotulação social [...] (seus pensadores) defendem uma ‘prudente não intervenção’ em face de alguns delitos cometidos, por entenderem que qualquer radical aplicação de pena pode produzir conseqüências mais gravosas quanto aos benefícios que pode trazer”. (Shecaira, 2004, p. 342). 105 Ibid., p.342.106 Ibid., p.343

51

cujos autores não são individualizados, mas que correspondem a modalidades,

organizações e sistema complexos de ações” 107;

- sobre a política criminal propõe “radicais transformações sociais e institucionais

para o desenvolvimento da igualdade e democracia”; diminuição “do sistema

penal em certas áreas e expansão de outras” concomitante à “descriminalização de

certos comportamentos, como delitos contra a moralidade pública, delitos

cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, são defendidas intervenções

mais agudas nas áreas em que se trabalha com interesses coletivos, tais como

saúde e segurança do trabalho, revendo a hierarquia dos bens jurídicos tutelados

pelo Estado”; “defesa de um novo direito penal, em curto prazo, mediante a

consagração de certos princípios com os quais seriam assegurados os direitos

humanos fundamentais” 108.

Segundo Shecaira (2004) os minimalistas consideram que “o ‘programa’ de direito

penal mínimo deve ser acompanhado de uma ação de mobilização política e cultural que faça

da questão criminal uma questão política crucial interpretada à luz dos conflitos que

caracterizam a sociedade em geral” 109.

107 Shecaira, 2004, p. 344.108 Ibid., p. 343-344. 109 Ibid., p. 344.

52

3. A Corrente Abolicionista

Esta corrente representa a crítica ferrenha ao sistema punitivo. Os abolicionistas

“afirmam que o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as desigualdades e

injustiças sociais. O direito penal é considerado uma instância seletiva e elitista.” 110, por isso

alegam ser necessário desmistificar o papel das instituições penais.

O abolicionismo apresenta três matrizes ideológicas, a anarquista, a marxista e a

liberal/cristã, as quais passamos a especificar:

1. a anarquista entende que “a principal preocupação está na perda da liberdade e

autonomia do indivíduo por obra do Estado” 111, e aponta que o sistema penal coloniza

o mundo da vida, assim todas as classes estariam submetidas a tal condição. Propõe

que o caminho seria a “libertação em relação ao papel desempenhado pelo Estado [...]

permeia essa visão a defesa de que a sociedade pode ser mais fraterna e solidária e que

esta seria o cimento das posturas que autorizariam prescindir do sistema punitivo.” 112

2. a marxista entende “o sistema penal como instrumento repressor e como modo de

ocultar os conflitos sociais. Parte da visão consagrada na ‘ideologia alemã’ quanto ao

conceito de alienação, que conduz classes antitéticas a terem um pensamento

conducente a uma idéia de colaboração entre elas” 113. Aspira à mudança dessa

situação, o socialismo, conduzindo a uma justiça social, liberdade, decisões coletivas e

conseqüentemente menos atuação do controle social sobre a maioria.

110 Ibid., p.344. 111 Ibid., p.346112 Ibid., p.346.113 Ibid., p.347.

53

3. a liberal/cristã: tendo como base o “conceito de solidariedade orgânica” 114, sendo

a solidariedade o instrumento principal para solução das “situações problemas”, sendo

essa expressão cunhada para referir-se aos conflitos entre as pessoas.

Os abolicionistas afirmam “que o delito é uma realidade construída. Os fatos que são

considerados crimes resultam de uma decisão humana modificável” 115 , portanto, apontam

para uma desconstrução e argumentam suas razões que justificam a abolição do sistema

penal, a saber:

1. A sociedade já vive sem o direito penal, para tal afirmação consideram o alto

índice da cifra negra (crimes não denunciados) e o alto índice de situações

resolvidas fora da justiça criminal;

2. o sistema é anômico, assim consideram que o sistema e normas não cumprem sua

funções esperadas de proteção, prevenção e inibição do crime;

3. o sistema punitivo é seletivo e estigmatizante;

4. o sistema é burocrata, “cada instituição tem sua estrutura compartimentalizada

em estrutura independente, voltada para si [...] desenvolvem critérios próprios de

ação, ideologias, culturas e subculturas [...] Nessas compartimentalizações

diluem-se as responsabilidades e ninguém acaba se preocupando [...] com o

acusado e com a vítima” 116;

5. o sistema concebe o homem como um inimigo de guerra;

114 Ibid., p.347.115 Ibid., p. 348116 Ibid., p. 350

54

6. o sistema penal117, opõe-se à estrutura geral da sociedade civil;

7. a vítima não interessa ao sistema penal;

8. o sistema penal é considerado como uma máquina para produzir dor inutilmente;

9. a pena de privação de liberdade é ilegítima, as finalidades apresentadas em

função da prisão não se cumprem.

Da apresentação das diversas correntes e respectivas visões, e para além de

divergências e polêmicas, buscaremos agora, com o apoio do autor que até aqui nos

acompanhou, Shecaira (2004) identificar as principais contribuições da teoria da criminologia

crítica e examinar como essa teoria se propõe a conhecer e explicar a realidade, compreender

o problema criminal e a transformá-lo.

Expressão de crítica obstinada à criminologia tradicional e às instâncias de controle

punitivo, a criminologia crítica, apesar de seus pontos divergentes expressados através de suas

diversas correntes e matizes ideológicos, apresenta a confluência de seus pensadores

expressada pela busca da “transformação da sociedade e do próprio direito penal, traçando

caminhos humanistas de tratamento aos criminosos” 118.

Dentre suas principais contribuições podemos destacar:

- Em relação ao objeto delito: o fundamento deste “deve ser investigado junto às

bases estruturais econômicas e sociais, que caracterizam a sociedade na qual vive o

autor do delito [...] a perfeita compreensão do fato delituoso não está no fato em si,

117 “[...]estrutura burocrática na sociedade moderna, com a profissionalização do sistema persecutório, gerou um mecanismo em que as sanções são impostas por uma autoridade estranha e vertical, no estilo militar. As normas são conhecidas somente pelos operadores do sistema[...]” (Shecaira, 2004, p. 351).

118 Ibid., p. 366-367.

55

mas deve ser buscada na sociedade em cujas entranhas podem ser encontradas as

causas últimas da criminalidade” 119;

- Em relação à pessoa que comete o delito: “o fundamento imediato do ato desviado

é a ocasião, a experiência ou o desenvolvimento estrutural que fazem precipitar esse

ato não em um sentido determinista, mas no sentido de eleger, com plena

consciência, o caminho da desviação como solução dos problemas impostos pelo fato

de viver em uma sociedade caracterizada por contradições” 120;

- em relação à vítima e ao controle social do delito: os teóricos críticos buscam por

meio das modificações do direito penal, “mudar o paradigma das criminalizações”

objetivando “reduzir as desigualdades de classes e sociais” 121.

Essa visão faz repensar toda a política criminalizadora do Estado

[...] o Estado deve assumir uma criminalização e penalização da

criminalidade das classes sociais dominantes, como a criminalidade

econômica e política, práticas anti-sociais na área de segurança do trabalho,

da saúde pública, do meio ambiente, da economia popular, do patrimônio

coletivo estatal e contra o crime organizado, com uma maximização da

intervenção punitiva; de outro lado, há de se fazer uma minimização da

intervenção de pequenos delitos, crimes patrimoniais (cometidos sem

violência ou grave ameaça a pessoas), delitos que envolvem questões morais

e uso de entorpecentes. (Shecaira, 2004, p. 358 e 367)

O autor supracitado traz ainda a reflexão quanto ao papel da teoria crítica na

construção e transformação da realidade e ressalta dois momentos significativos:

119 Ibid., p. 357.120 Ibid. p.357.121 Ibid., p.357.

56

1. Na primeira geração de criminólogos críticos a contribuição estava na

apresentação dos problemas para discussão;

2. Considerada uma segunda fase, a partir da década de 80, caracterizada pela

tomada de consciência sobre a responsabilidade do conhecimento avançando,

assim, na efetivação de mudanças no direito penal122 e de propostas de política

criminal, como destacado anteriormente sobre a revisão da política de

criminalização e penalização do Estado.

As considerações apresentadas até aqui, capítulos dois e três, expressam nossos

parâmetros e referenciais teóricos na busca de compreendermos a constituição histórica,

social, política e econômica da prisão, considerada como expressão de poder e controle social.

Buscamos compreender ainda, a íntima relação da prisão com o fenômeno de

exclusão, compreendendo a prisão como uma das formas de expressão do processo de

exclusão, caracterizada pela segregação e a aniquilação social.

Nesse sentido, consideramos a pena de privação de liberdade e o seu objetivo, o

“desfecho de procedimento oficial” 123 do processo de exclusão, denunciando-se o “processo

dialético de exclusão/inclusão” 124 perversa, num contexto permeado pela desigualdade social

e econômica.

122 Cf. Shecaira, 2004, p. 358-361. 123 Castel, 1997, p.40.124 Sawaia, 2001, p.8.

57

4. SISTEMA PRISIONAL

Considerando o sistema prisional como o contexto de atuação da prática profissional

a ser pesquisada, propomos compreender esse sistema sob duas perspectivas: a primeira, sob o

enfoque sociológico referente às características de funcionamento da prisão, sua organização

formal e informal e, para tanto, nos basearemos em Goffman (2003) 125; a segunda, sob o

enfoque da administração e organização do sistema prisional, o alinhamento conceitual e

operacional, por meio de “um esboço de bases conceituais” e, para tanto, nos basearemos em

Sá (2005) 126.

4.1 Prisão, instituição total

Considerando as características de uma prisão, marcada pelo isolamento do mundo

externo, onde o atendimento às necessidades humanas é realizado e conduzido em grupo,

controlado racional e burocraticamente, Goffman (2003), utilizará o termo “instituição total”

para designar a prisão127.

[...] instituição total pode ser definida como um local de residência e trabalho

onde um grande número de indivíduos em situação semelhante, separados da

sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida

fechada e formalmente administrada [...] (Goffman, 2003, p. 11)

125 Goffman, E. Manicômios, prisões e Conventos, 2003. 126 Sá, Alvino Augusto. Sugestão de um esboço de bases conceituais para um sistema penitenciário. In Manual de Projetos de Reintegração Social, 2005. 127 Usaremos o termo instituição total especificamente para nos referirmos à prisão, mas ressaltamos que o autor, especifica “cinco agrupamentos” para conceituar instituições totais, a saber: abrigos, manicômios, prisões, oficiais e refúgios religiosos. (Goffman, 2003, p.16)

58

O aspecto central de uma instituição total, será o controle hierarquizado e

administrativo de todos os aspectos da vida diária da pessoa presa e de suas necessidades

mínimas, sendo suas atividades desenvolvidas obrigatoriamente em grupo e sob um sistema

de organização rígida, orientado por regras e horários formalmente estabelecidos, sendo o

desenvolvimento de trabalho e administração dessa instituição, baseado num “plano racional

único, supostamente planejado para atender aos objetivos oficiais da instituição.” 128 .

Dessa forma de organização decorrem conseqüências que recaem sobre os indivíduos

que estão sob os cuidados da “instituição total” e sob as ordens dos funcionários que atuam na

mesma. E tais conseqüências influenciam o sistema de funcionamento da organização,

conseqüências essas que apresentaremos no decorrer deste tópico.

Uma instituição total, especificamente uma prisão, além das suas especificidades

arquitetônicas para isolamento social, contenção e vigilância, é constituída por dois grandes

grupos de atuação, os quais denominaremos funcionários e pessoas presas.

O grupo de funcionários, é composto e estruturado em diretorias, agentes

penitenciários de segurança, equipe técnica e de saúde, aos quais a pessoa presa estará

subordinada através de um “sistema de autoridade escalonada” 129 .

A relação travada entre estes dois grupos, funcionários e pessoas presas, é marcada

por uma divisão “equipe dirigente - internado” 130, caracterizada pelo controle da

comunicação e de informações, e “cada agrupamento tende a conceber o outro através de

estereótipos limitados e hostis” 131.

Ao adentrar numa instituição total, a pessoa presa passará por um processo que

Goffman (2003) denominará de “mortificação do eu” e “mortificação dos sentimentos”,

128 Goffman, 2003, p. 18. 129 Ibid, p.45. 130 Goffman considera essa divisão uma das conseqüências básicas da direção burocrática e de grande número de pessoas. (Goffman, 2003, p. 18). 131 Ibid. p.20

59

caracterizado pelo contínuo aviltamento e violação à pessoa, desde o processo de admissão,

inserção e socialização na instituição, onde a pessoa presa é marcada, principalmente, pelo

isolamento do mundo externo; pelo despojamento de papéis desempenhados anteriormente;

pela perda do nome e instituição de um código numérico, que se refere à matrícula e entrada

no sistema prisional; despojamento de bens pessoais; perda do sentido de segurança pessoal;

desfiguração da aparência e apresentação pessoal usual; “enquadramento” e manutenção de

comportamentos e falas exigidas em detrimento dos comportamentos e falas usuais.

Outras formas que contribuem para a “mortificação do eu” serão as inúmeras

ocorrências a que a pessoa presa está sujeita e exposta, que Goffman (2003), irá denominar de

“exposição contaminadora” 132, caracterizada pela ausência de delimitação entre o mundo

institucional e o universo pessoal e íntimo, ocorrendo assim à invasão e o aviltamento das

dimensões psicológicas e físicas, sendo destacada a reserva de informações sobre o próprio

eu; exposição física da condição humilhante; alimentação inadequada; atendimento médico

inadequado; contato interpessoal e relação social impostos através da convivência obrigatória

em grupo, principalmente pela superlotação do sistema prisional e pela diversidade dos seus

componentes (etária, étnica, racial, etc.), e especificidade do histórico e do número de

ocorrências do delito.

Esse processo de “mortificação do eu” apresenta justificativas racionalizadas e

fundamentadas pela instituição total, através de seus objetivos e ideais, onde são considerado,

a segurança, a disciplina, o controle e a reintegração de um número grande de pessoas, em

espaços restritos, com diminutos recursos materiais e humanos.

Paralelo ao processo de “mortificação do eu”, as instituições totais são caracterizadas

por uma organização formal e informal, sendo a organização formal distinguida através de um

132 Goffman, 2003, p. 31.

60

“sistema de privilégios” 133, o qual possui três elementos básicos: 1) as “regras da casa”; 2)

prêmios e privilégios, em função da obediência; 3) e castigos em função da desobediência.

Esse esquema de castigos e privilégios é tão peculiar à realidade e organização das

prisões, que possibilita à pessoa presa a orientação para a reorganização do seu eu,

traduzindo-se diretamente em benefícios para sua liberdade futura, possibilitando o controle e

adequação da pessoa presa pela instituição, através da oferta de prêmios ou castigos.

A organização informal, evidencia um “sistema de ajustamento secundário” 134,

desenvolvido pelos próprios apenados, com o objetivo de satisfação de necessidades que a

instituição não atende.

Esse esquema possibilita ao grupo de encarcerados checar sua autonomia,

desenvolver esquemas de códigos, controle e hierarquia de poder informal. Nesse ambiente,

as relações pessoais desenvolvidas são pautadas pelo assédio, intimidação e apoio, dando base

a uma comunhão, cumplicidade e lealdade restrita e partilhada entre as pessoas presas,

caracterizando-se muita vezes numa administração invisível, a qual será uma organização

paralela ou, às vezes, imbricada com a administração dirigente oficial. “A prisão [...] favorece

a organização de um meio de delinqüentes, solidários entre si, hierarquizados, prontos para

todas as cumplicidades futuras” 135.

O híbrido da organização formal e informal na prisão, traduz sua real contradição e

ineficácia pois, para além dos objetivos declarados oficialmente136, “muitas instituições totais

parecem funcionar apenas como depósitos de internados” 137, sendo este “o contexto básico da

atividade diária” 138 dos funcionários.

133 Goffman. 2003, p. 49134 Ibid., p.160.135 Foucault, 1997:222.136 Segundo a Lei de Execução Penal, Título I, Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal. Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.137 Goffman, 2003, p. 69.138 Ibid., p. 70.

61

Segundo Goffman (2003), o controle da pessoa presa “é geralmente racionalizado,

através de funções ou objetivos e ideais do estabelecimento, e isso exige serviços técnicos

humanitários [...] os especialistas [...] tendem a ficar insatisfeitos, pois não podem exercer

corretamente sua profissão, e são usados como ‘cativos’ para dar sanção de especialistas ao

sistema de privilégios.” 139

Até aqui buscamos nos aproximar da realidade interna da prisão, suas características

e considerações, explicitando o dilema da punição e da reintegração social, representado

através da contradição das ações desenvolvidas no sistema prisional, dilema esse presente na

prática do psicólogo que é referência de discussão deste trabalho.

4.2 Bases conceituais para um sistema prisional

Com o apoio de Sá (2005), por meio de seu artigo intitulado – “Sugestão de um

esboço de bases conceituais para um sistema prisional”, buscaremos compreender a proposta

de organização e funcionamento de um sistema prisional destinado à execução da pena

privativa de liberdade e reintegração social.

Partimos da definição de sistema apresentado pelo autor supracitado, a saber:

[...] um sistema na medida em que se constituir numa rede

integrada de instituições, órgãos, comandos e ações. Uma rede que seja

internamente consistente e que tenha uma coerência de comandos e ações,

tanto vertical (em toda a sua estrutura e sua dinâmica, num recorte de

tempo), como horizontal (ao longo do tempo) [...] deva ter diretrizes

fundamentais, previamente definidas, dentro de uma estrita coerência teórica

e metodológica, que perpasse todas as ações e seus respectivos protagonistas

[...] um sistema deve ter bases conceituais bem definidas, coerentes e

139 Goffman, 2003, p .83.

62

explícitas, bem como a consciência de que toda base conceitual tem seu viés

ideológico e de que o que se deve evitar, a todo custo, são as contradições

ideológicas, tanto nas concepções, como na metodologia de trabalho. (Sá,

2005, p.13).

O referido autor propõe que, para que um sistema prisional seja considerado como

tal, ele deve apresentar em toda a sua estrutura e organização a coerência e unificação

conceitual explicitada através da rotina de trabalho de cada unidade prisional, por todo o

corpo de funcionários, concorrendo para uma integralidade de ações e trabalho, desde a

“definição de bases conceituais e ideológicas que permeiam o questionamento da própria

existência do sistema prisional”.140

Sá (2005) elabora cinco bases conceituais, as quais destacamos a seguir:

1. A motivação criminal e o conceito de Criminologia Clínica: sendo considerado

que a concepção que se tem sobre a motivação criminal, orienta os mais diferentes

posicionamentos científicos e ideológicos sobre o crime, criminalidade e a pessoa

considerada criminosa141. O referido autor apresenta 1) a concepção causalista em

motivação criminal e o conceito tradicional de Criminologia Clínica; 2) a concepção

multifatorial em motivação criminal e o conceito moderno de Criminologia Clínica;

3) e o posicionamento da Criminologia Crítica acerca da motivação criminal e a

proposta de um conceito crítico de Criminologia Clínica.

2. A pena de prisão e o cárcere: sendo considerados alguns aspectos, sob a ótica

psicológica da degradação da pessoa do preso, decorrente da pena de prisão e da

vida carcerária (efeitos de prisionização).

140 Sá, 2005, p. 13.141 Figueiredo Dias e Costa Andrade, 1997 e Pablo de Molina e Gomes, 1997 (Apud Sá, in Manual de Projetos de Reintegração Social, 2005, p.14)

63

3. A reintegração social: sendo considerada como a superação de uma “relação

antagônica” e excludente entre a pessoa presa e a sociedade, e a superação desse

conflito envolvendo um processo de aproximação e diálogo entre ambos;

4. A interdisciplinaridade, que o autor considera:

[...]uma visão global dos fenômenos, dos fatos, em suas diferentes

interfaces. Não é só um modo de conhecer, mas, também, um modo de agir

consciente, disciplinado, que se desenvolve numa relação dialética entre elas

e o mundo. É uma compreensão do mundo conquistada através de

conhecimentos interdependentes, dentro de um projeto consciente de

descobertas, as quais sempre se abrem a novos questionamentos, a novas

descobertas [...] (Sá, 2005, p. 19).

5. A arquitetura carcerária: sendo considerada a importância desta área do

conhecimento de utilizar suas técnicas e saberes na edificação de espaços que

equilibrem a segurança e a humanização.

O autor supracitado considera que:

Tais bases conceituais servirão para se definir as metas relativas

aos grandes pilares de um sistema prisional: o perfil dos profissionais que se

pretende contratar, o processo de seleção dos mesmos e de seu treinamento,

a complexa questão da gestão prisional, a definição das funções e dos

objetivos de cada categoria profissional e a própria arquitetura carcerária.

(Sá, 2005, p.13).

64

5. METODOLOGIA

Este estudo de caráter exploratório propõe-se a conhecer e refletir sobre a prática dos

psicólogos que integram o quadro funcional do sistema prisional do Estado de São Paulo,

público alvo desta pesquisa.

Segundo dados da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária, maio de

2005, seu quadro funcional na área da saúde é composto por 1.463 profissionais. Desse total

285 são psicólogos, sendo 233 psicólogas e 52 psicólogos, distribuídos nas cinco principais

regiões do Estado de São Paulo, conforme Tabela 8 – Psicólogos no sistema prisional

paulista142, a qual demonstra a concentração de 50% dos (as) psicólogos (as) nas regiões oeste

e da capital do Estado.

Do total parcial de 285 psicólogos, acrescemos 44 profissionais da mesma área,

oriundos dos Centros de Ressocialização, conforme especificidades destacadas anteriormente,

perfazendo um total geral de 329 profissionais143.

O estudo da prática profissional do psicólogo no sistema prisional paulista foi

dividido em quatro fases, e em cada etapa lançamos mão de uma metodologia para

possibilitar-nos o conhecimento e análise desse estudo.

As fases caracterizadas pela utilização de cada método são consideradas e

desenvolvidas conforme a necessidade do complemento de dados durante a realização do

trabalho, ou por vezes funcionando como elo entre a fase anterior e posterior, sendo os

métodos utilizados: pesquisa documental, pesquisa da literatura científica, aplicação de

questionário e entrevistas individuais.

142 Capítulo, 8, subitem 8.1 deste trabalho. 143 Conforme nota anterior.

65

1. Pesquisa documental

Partindo da necessidade de caracterizar a prática profissional do psicólogo no sistema

prisional do Estado de São Paulo e a caracterização do próprio sistema, orientamos nosso

estudo por meio da pesquisa de documentos legais e oficiais na busca de dados e informações

sobre: o sistema prisional nacional; o sistema prisional do Estado de São Paulo; relatórios;

manuais; legislação referente à execução da pena de privação de liberdade e à atribuição do

psicólogo no sistema prisional.

Os dados e informações resultantes da pesquisa documental foram analisados

segundo as finalidades acima expostas, sendo categorizados, sistematizados e destacados por

meio de tabelas, registros e análises que foram apresentados durante a construção deste

trabalho.

2. Pesquisa da literatura científica

A revisão da bibliografia sobre o tema deste estudo, resultou na identificação de uma

produção específica sobre a prática profissional do psicólogo no sistema prisional paulista,

sendo identificada a pesquisa de Lígia Márcia Martins (1989), a qual estudou – “A natureza

do trabalho do psicólogo em estabelecimentos penais”, pesquisa realizada junto aos

psicólogos do sistema prisional paulista, adotada como referência inicial do nosso trabalho.

Foi identificada ainda, a pesquisa de âmbito nacional realizada pelo Conselho

Federal de Psicologia (1988), intitulada - Quem é o psicólogo brasileiro? - literatura que

utilizamos como referência para a elaboração e análise do instrumental de coleta de dados

utilizado nesta pesquisa, o questionário, o qual será foco de nossa atenção no próximo tópico.

Consideramos ainda, um terceiro grupo de referência de pesquisa da literatura

científica sobre a prática do psicólogo no sistema prisional do Estado de São Paulo, produzida

66

pelos Conselhos Federal e Regional 6ª Região/SP, relatório de projeto144, relatórios

elaborados pelo GT Sistema Prisional - CRP/SP, teses e relatórios de encontros regionais e

estaduais, sob coordenação e elaboração dos Conselhos Federal e Regional de Psicologia - 6ª

Região- São Paulo.

3. Instrumental de coleta de dados – questionário e entrevista individual

O questionário apresentou-se como instrumental adequado para operacionalizar a

pesquisa em escala estadual, buscando a participação dos (as) 329 psicólogos (as) que atuam

no sistema prisional do Estado de São Paulo.

Para a elaboração do instrumental de coleta - o questionário 145 - baseamo-nos: na

pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia, no período de 1985 a 1988, de

abrangência nacional, sobre a formação e atuação do psicólogo brasileiro que contou com a

participação e apoio dos Conselhos Regionais de Psicologia e professores de diversas

instituições de ensino do país146; nos trabalhos desenvolvidos por Antonio Virgílio B.

Bastos147, coordenador da pesquisa - A ocupação do psicólogo: um exame à luz das categorias

da Psicologia Organizacional do Trabalho; e Jairo Eduardo Borges-Andrade148, o qual

pesquisa sobre a Aprendizagem no trabalho e dinâmica da carreira: exame de uma ocupação -

descrição detalhada.

144 Cf. Conselho Regional de Psicologia. Banco Social de Serviços em Psicologia. Relatório Final do Projeto Apoio aos familiares e egressos do sistema penitenciário. CFP. 2005. 145 Questionário 1 -Anexo 2. 146 Conselho Federal de Psicologia. Quem é o psicólogo Brasileiro? São Paulo: Edicon, 1988. 147 Bastos, Antonio Virgilio Bittencourt. Coordenador. A Ocupação do Psicólogo: Um Exame à Luz das Categorias da Psicologia Organizacional e do Trabalho. Programa de pesquisa em desenvolvimento sob responsabilidade do Grupo de Trabalho (GT-POT) pertencente à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), 2006, (em fase de elaboração). 148 Borges-Andrade, Jairo Eduardo. Aprendizagem no Trabalho e Dinâmica da Carreira: Exame de Uma Ocupação - Descrição Detalhada. Programa de pesquisa em desenvolvimento sob responsabilidade do Grupo de Trabalho – Psicologia Organizacional e do Trabalho (GT-POT) pertencente à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), 2006, (em fase de elaboração).

67

A proposta do referido GT articula uma rede de pesquisadores

afins localizados em diversos pontos do país e que adotam diferentes

categorias teóricas de análise para, em conjunto, investigarem a ocupação do

psicólogo brasileiro no cenário atual e caracterizar as transformações de

nossa profissão [...] O projeto de pesquisa [...] contém uma parte comum e

uma parte específica. A parte comum consiste do módulo básico com

questões sobre a formação e atuação do psicólogo; a ele anexam-se os

módulos complementares, gerando diferentes instrumentos que serão

aplicados a amostras específicas. (Bastos, 2006, p.4)

O referido questionário do módulo básico, o qual apresenta questões referentes à

formação e atuação do psicólogo, é utilizado como referência e material de subsídio para

elaboração do nosso instrumental.

O módulo básico contém um conjunto amplo de itens que levanta

informações, entre outras, das seguintes variáveis principais: formação

acadêmica, inserção no mercado profissional, trajetória da carreira, trabalhos

atuais (contexto, atividades, usuários, condições de trabalho, remuneração),

dados demográficos, escolha da profissão, perspectivas futuras quanto ao

exercício profissional. O questionário referente ao módulo básico,

construído coletivamente, foi testado em uma pequena amostra. (Bastos,

2006, p. 5)

O instrumental elaborado e utilizado nesta pesquisa149 é dividido em oito partes, cada

qual apresenta em seu título o escopo do estudo, conforme denominação e número de

questões (fechadas e abertas), a saber:

149 Anexo 2 – Questionário 1.

68

- Identificação - 05 questões fechadas;

- Formação - 07 questões, fechadas e abertas;

- Inserção no campo da psicologia e no sistema prisional - 08 questões fechadas;

- Renda - 02 questões fechadas;

- A prática do psicólogo no sistema prisional - 16 questões, fechadas e abertas;

- A psicologia no sistema prisional - 10 questões, fechadas e abertas;

- Escolhas e significados da profissão - 03 questões fechadas;

- Considerações, questão aberta.

Os temas apresentados e respectivas questões são encadeados de forma a possibilitar

o resgate histórico profissional, a prática e realidade da profissão no presente e perspectivas

futuras, buscando identificar a participação e articulação do grupo de profissionais nos

encaminhamentos políticos, administrativos e legais da profissão no sistema prisional, bem

como, junto às entidades representativas da profissão, conselhos e sindicato.

Objetivando a coleta de dados, o primeiro contato com os psicólogos do sistema

prisional paulista foi iniciado em junho de 2006, com o apoio da Diretoria de Reintegração

Social Penitenciária da Secretaria da Administração Penitenciária do Governo do Estado de

São Paulo, por meio de mensagem eletrônica150, destinada ao endereço eletrônico oficial da

unidade prisional de referência de trabalho, em atenção do diretor técnico com o pedido de

divulgação e repasse aos respectivos psicólogos. Esta forma de abordagem se configurou

como a possibilidade de operacionalização da distribuição do questionário a todos (as)

psicólogos (as) do sistema prisional paulista, uma vez que, contávamos com o apoio da

referida instituição para encaminhamento do questionário em escala estadual e imediata

(eletrônica).

150 Anexo 1 – Mensagem.

69

Tal operação foi novamente realizada em julho de 2006151, sendo que até o mês de

agosto de 2006, com o apoio de alguns psicólogos, registramos a recepção de 10 questionários

respondidos.

Considerando o universo de 329 psicólogos (as) no Estado de São Paulo e um

número reduzido de apoio à pesquisa, 3% do total, avaliou-se a estratégia de abordagem e

comunicação, em função de supostas ocorrências: não interesse em apoiar ou responder a

pesquisa; não divulgação ou repasse das informações; a mensagem e questionário foram

enviados pelo correio eletrônico oficial da Secretaria da Administração Penitenciária de

Estado, o que pode ter desencadeado a desconfiança quanto ao sigilo e tratamento dos dados.

Assim, reiteramos a comunicação a todos (as) psicólogos (as) por correspondência152

individual e personalizada, por meio do correio, endereçadas às respectivas unidades

prisionais de trabalho, resultando em: 21 cartas devolvidas, 02 respostas negativas, 07

contatos e 01 questionário respondido.

Para avaliação e proposta de nova abordagem do sujeito e de re-elaboração do

instrumental, além dos pontos apresentados na primeira análise, consideramos: o possível não

interesse de apoio ou participação à pesquisa proposta, e a complexidade do instrumental

podendo gerar a desmotivação na colaboração. Análise e possíveis fatores que desencadearam

a re-elaboração do instrumental, questionário (2) 153, com redução do número de questões e

objetividade nas perguntas, com foco no escopo desta pesquisa, sendo o questionário dividido

em 05 partes, a saber:

- Identificação - 03 questões fechadas;

- Formação - 02 questões fechadas;

151 Anexo 3 – Mensagem. 152 Anexo 4 – Carta. 153 Anexo 5 – Questionário 2.

70

- Inserção do profissional no sistema prisional - 05 questões fechadas;

- Renda - 02 questões fechadas;

- A prática do psicólogo no sistema prisional - 14 questões, fechadas e abertas;

- Considerações, questão aberta.

Com novo instrumental buscamos nova estratégia de abordagem do sujeito por meio

de contato telefônico e pessoal, considerando a indicação de nome e apresentação prévia,

buscando atingir o seguinte critério para a participação: representação de no mínimo dois

profissionais por especificidade da unidade prisional (centro de detenção provisória,

penitenciária, centro de progressão penitenciária, centro de ressocialização e hospital de

custódia e tratamento psiquiátrico).

Como resultado da nova abordagem e instrumental, obtivemos mais cinco

questionários respondidos e efetuamos duas entrevistas individuais com questões abertas. A

seguir, apresentamos o número total de participantes, unidade e respectivo regime prisional, a

saber:

- centro de detenção provisória, regime fechado provisório, 02 questionários;

- penitenciária, regime fechado, 06 questionários e 01 entrevista;

- centro de progressão penitenciária, regime semi-aberto, 01 questionário e 01

entrevista;

- centro de ressocialização, regimes fechado provisório, fechado e semi-aberto, 02

questionários;

- hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, 05 questionários;

71

Devido à alteração do instrumental no decorrer da pesquisa (questionários 1 e 2) e

para garantir o padrão e validade da pesquisa, focamos a análise dos questionários em dois

pontos comuns aos questionários: perfil e a prática profissional.

A entrevista individual e semi-dirigida apresentou-se como alternativa da forma de

abordagem de dois profissionais, sexos masculino e feminino, colaboradores desta pesquisa e,

como recurso último utilizado estrategicamente para complemento às dúvidas em referência à

prática profissional, ao funcionamento do sistema prisional e às alternâncias da prática

profissional em relação às mudanças da legislação, tratadas em capítulo anterior.

As entrevistas individuais possibilitaram a proximidade com o profissional da área,

bem como a humanização da relação pesquisador e pesquisando, como possibilidade de

explicitação da motivação e interesse da pesquisa, confiabilidade e colaboração na

explicitação da realidade profissional, avanços e perspectivas de desafios.

72

6. SISTEMA PRISIONAL DO BRASIL E A CARACTERIZAÇÃO DAS

ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO SEGUNDO A LEGISLAÇÃO VIGENTE

6.1 Sistema Prisional do Brasil

O Brasil possui e administra o maior sistema prisional da América Latina. No

entanto, se considerarmos o número de presos em relação ao número de habitantes, ocupa o

sétimo lugar em comparação aos outros países, com uma taxa aproximada de 162 pessoas

presas por 100.000 habitantes154. Na Tabela 1 apresentamos os dados referentes aos países da

América Latina.

Tabela 1 - População Prisional na América Latina - Ano de 2003

Países População População PrisionalPessoas Presas por

100.000 hab.Argentina 37.812.817 60.000 159Brasil 178.985.306 290.000 162Chile 15.498.930 37.000 239Colômbia 41.008.227 58.000 141Costa Rica 3.834.934 8.000 209El Salvador 6.353.681 11.400 179Equador 12.411.232* 8.520* 179Guatemala 13.314.079 8.600 65Haiti 7.796.499* 4.152* 53*Honduras 6.560.608 480 160México 103.400.165 5.000 171Nicarágua 5.023.818 5.000 100Panamá 2.882.329 10.650 369Paraguai 5.884.491 5.000 85Peru 27.949.639 29.000 104Rep. Dominicana 10.084.245 14.188* 194Uruguai 3.256.632 * 4.012* 123*Venezuela 23.706.711* 23.147* 98*

Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Sistema Penitenciário no Brasil - Diagnóstico e Propostas, 2005. (*) números referentes ao ano de 1999.

154 Dados referentes ao ano de 2003. Ministério da Justiça - Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Sistema Penitenciário no Brasil – Diagnóstico e Propostas. 2005.

73

Considerando o ano de 2007, o Brasil tem uma população carcerária de 339.580

pessoas presas, distribuídas em 1051 estabelecimentos prisionais, com um déficit de 103.432

vagas155, sendo diagnosticado um crescimento vertiginoso da população encarcerada no

período de 1992 a 2004. A tabela 2, apresenta-nos o crescimento anual, de 1992 a 2007, da

população prisional do país:

Tabela 2 - População Prisional no Brasil

Ano População Prisional1992 114.3771993 126.1521994 129.1691995 148.7601996 -1997 170.6021998 -1999 194.0742003 308.3042004 350.000*2005 392.000*2006 434.000*2007 476.000*

(*) Estimativa da população prisional, segundo o referido Ministério.Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional (Depen). SistemaPenitenciário no Brasil, Diagnóstico e Propostas, 2005.

Na tabela apresentada observamos, a partir do ano de 2003, uma média mensal de

entrada de 9.391 pessoas no sistema prisional e, conforme dados do Depen, uma média

mensal de saída de 5.897 pessoas, o que nos aponta um saldo médio mensal de 3.494 pessoas

presas por mês no sistema prisional nacional, equação que desafia as administrações públicas

para a questão da superlotação carcerária.

Cabe destacar e observar que no período de 1995 a 2003, o número da população

prisional duplica e que, no período de 1992 a 2004, a população do país passou de

155 Segundo dados do Ministério da Justiça - Depen, referente a dezembro de 2006, o sistema prisional nacional possui: Total de Estabelecimentos: 1.051; População do Sistema Penitenciário: 339.580; Vagas do Sistema Penitenciário: 236.148; Secretaria de Segurança Pública: 61.656; População Prisional do Estado: 401.236; Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/depen/sistema/consolidado%202007.pdf >. Acesso em: jul.2007.

74

153.824.424 para 181.986.030 habitantes, indicando um crescimento aproximado de 20%, e,

no mesmo espaço de tempo, o número de pessoas presas por 100.000 habitantes oscilou de 74

para aproximadamente 180 pessoas.

Na tabela a seguir, apresentamos a distribuição da população carcerária por Estados:

Tabela 3 - População Prisional por Estados – Ano 2004

Unidade Federativa

PopulaçãoPrisional

Número de Vagas

Acre 1.935 1.123Alagoas 2.069 1.527Amapá 1.180 549Amazonas 2.350 1.841Bahia 10.279 4.658Ceará 9.178 5.903Distrito Federal 6.978 4.391Espírito Santo 6.336 3.276Goiás 8.774 1.831Maranhão 4.113 815Mato Grosso 7.826 3.832Mato Grosso do Sul 8.818 2.666Minas Gerais 24.335 6.183Pará 6.385 4.099Paraíba 5.698 3.805Paraná 14.296 7.295Pernambuco 13.651 8.760Piauí 2.145 1.895Rio de Janeiro 25.011 19.529Rio Grande do Norte 3.105 2.142Rio grande do Sul 19.344 15.665Rondônia 3.758 1.874Roraima 620 309Santa Catarina 7.854 1.856São Paulo 129.098 72.811Sergipe 2.262 1.103Tocantis 1.378 1.166Fonte: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Sistema Penitenciário no Brasil - Diagnóstico e Propostas, 2005.

A tabela possibilita-nos a comparação estadual da população carcerária, e identificar

o déficit de vagas apresentado em cada Estado, sendo constatado um déficit de 56.287 vagas

no sistema prisional do Estado de São Paulo.

75

No Brasil, cada Estado possui a autonomia da gestão do seu respectivo sistema

prisional, sendo cada governo estadual responsável pela administração do conjunto dos

estabelecimentos prisionais de determinado Estado, refletindo essa independência na

diversidade das estruturas organizacionais, bem como, no planejamento e implantação de

políticas de execução da pena privativa de liberdade, tendo todos os Estados a obrigatoriedade

do cumprimento da Lei de Execução Penal (LEP), Lei nº. 7210, de 11 de julho de 1984, a

qual regulamenta a execução da pena privativa de liberdade no país.

Segundo a legislação nacional, Código Penal, Lei nº. 2.848 de 09 de dezembro de

1940 e a Lei de Execução Penal, as penas privativas de liberdade são executadas em forma

progressiva, sendo o cumprimento da pena estruturado em estágios progressivos, onde a

pessoa pode ser transferida, segundo as referidas leis, de um regime mais rigoroso,

denominado regime fechado, para regimes menos rigorosos, denominados semi-aberto e

aberto, considerando ainda, neste modelo progressivo, a individualização na execução da pena

privativa de liberdade.

Conforme apresenta a redação do Código Penal, Lei nº. 2.848, de 09/12/40:

Título V

Das Penas

Capítulo I

Das Espécies de Pena

............................

Seção I

Das Penas Privativas de Liberdade

Reclusão e detenção

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-

aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo

necessidade de transferência a regime fechado.

§ 1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em

estabelecimento de segurança máxima ou média; b) regime semi-aberto a

execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;

76

c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou

estabelecimento adequado.

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma

progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes

critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso.

E conforme apresenta a redação da Lei de Execução Penal, Lei nº. 7210/84:

Título V

Da Execução das Penas em Espécie

Capítulo I

Das Penas Privativas de Liberdade

.......................................................

SEÇÃO II

Dos Regimes

Art. 110. O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado

iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade, observado o disposto

no artigo 33 e seus parágrafos do Código Penal.

........................................................

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma

progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a ser

determinada pelo Juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um

sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão.

Parágrafo único. A decisão será motivada e precedida de parecer da

Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico, quando

necessário.

...............................................................

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva

com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,

quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime

anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor

do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

(Redação dada pela Lei nº. 10.792, de 1º.12.2003)

§ 1º A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do

Ministério Público e do defensor. (Redação dada pela Lei nº. 10.792, de

1º.12.2003)

77

§ 2º Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento

condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos

nas normas vigentes. (Incluído pela Lei nº. 10.792, de 1º.12.2003)

A fiscalização sistematizada dos estabelecimentos e serviços prisionais, bem como o

cumprimento da Lei de Execução Penal (LEP) em todo território nacional é de

responsabilidade do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão vinculado ao

Ministério da Justiça, sendo o Depen regulamentado e suas atribuições estabelecidas pelos

artigos 71 e 72 da LEP, que o define como órgão executivo da política penitenciária nacional,

de apoio administrativo e financeiro ao Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária (CNPCP). O Depen é considerado órgão superior de controle, destinado a

acompanhar e zelar pelo cumprimento da LEP e das políticas estabelecidas pelo referido

Conselho, sendo ainda órgão gestor do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen).

No tocante à estrutura de administração pelo Poder Executivo estadual, é indicado na

Lei de Execução Penal que a administração prisional seja realizada por uma secretaria

específica, como é o caso dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde a Secretaria

responsável pela execução da pena e gestão do sistema prisional é a Secretaria da

Administração Penitenciária. Nos outros Estados, a organização administrativa e política é

realizada pela Secretaria da Segurança Pública e, por vezes, pela Secretaria da Justiça.

6.2 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional segundo a legislação

nacional vigente

Ao analisarmos a legislação que faz referência direta ou indiretamente à prática do

profissional da área de Psicologia no sistema prisional, encontraremos o Código Penal, Lei nº.

78

2.848, de 09/12/40, a Legislação de São Paulo, Decreto 13.412, de 13/03/79 e a Lei de

Execução Penal – LEP, Lei nº. 7.210, de 11/07/84.

No Código Penal, Lei nº. 2.848, de 09/12/40, destacamos:

Título V

Das Penas

Capítulo I

Seção I

Das Penas Privativas de Liberdade

Regras do regime fechado

Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a

exame criminológico de classificação para individualização da execução.

Regras do regime semi-aberto

Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado

que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto.

Na Legislação de São Paulo, Decreto 13.412 de 13/03/79, destacamos a instituição, a

partir de 13/03/79, dos Grupos de Reabilitação e de Valorização Humana nas unidades

prisionais, os quais pressupõem a formação de equipes multidisciplinares, tendo como

competência proporcionar o desenvolvimento social e humano da pessoa presa, através da

execução de atividades de reabilitação, sendo suas atribuições comuns especificadas nos

artigos 126, 127 e 128.

Cabe ressaltar que os referidos artigos não apresentam denominação quanto aos

profissionais que integram o referido Grupo tão pouco especificação da competência, sendo

os profissionais, indiscriminadamente, denominados Equipe Interdisciplinar, tendo esta

Equipe, muitas vezes, um funcionamento precário em decorrência do número reduzido de

profissionais ou até mesmo inexistente.

79

Na Lei de Execução Penal (LEP), Lei nº. 7210/84, destacamos:

Título I

Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de

sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica

integração social do condenado e do internado.

........................................

Título II

Do Condenado e do Internado

Capítulo I

Da Classificação

Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e

personalidade, para orientar a individualização da execução penal.

Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que

elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade

adequada ao condenado ou preso provisório. (Redação dada pela

Lei nº. 10.792, de 1º/12/2003).

Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada

estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por

2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra,1 (um) psicólogo e 1 (um)

assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de

liberdade.

Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da

Execução e será integrada por fiscais do serviço social.

Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em

regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos

elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à

individualização da execução.

Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o

condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-

aberto.

Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da

personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes

peças ou informações do processo, poderá:

I -entrevistar pessoas;

80

II -requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e

informações a respeito do condenado;

III -realizar outras diligências e exames necessários.

.......................................

Seção III

Da Direção e do Pessoal dos Estabelecimentos Penais

Art. 75. O ocupante do cargo de diretor de estabelecimento deverá satisfazer

os seguintes requisitos:

I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou Psicologia, ou

Ciências Sociais, ou Pedagogia, ou Serviços Sociais

.....................................................

Título V

Da Execução das Penas em Espécie

Capítulo I

Das Penas Privativas de Liberdade

Seção II

Dos Regimes

Art. 112 A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva

com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,

quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime

anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor

do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

§ 1º A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do

Ministério Público e do defensor.

§ 2º Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento

condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos

nas normas vigentes.

Abaixo destacamos o texto dos artigos 6º e 112, da Lei nº. 7210, de 11/07/1984, Lei

de Execução Penal - LEP, antes de ser alterada pela Lei 10.792, de 1º /12/2003 para efeito de

comparação:

“Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação

que elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das

penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à

81

autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como

as conversões.”

“Art. 112 A pena privativa de liberdade será executada em forma

progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a ser

determinada pelo Juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 1/6 (um

sexto) da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão.

Parágrafo único. A decisão será motivada e precedida de parecer da

Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico, quando

necessário.”

Segundo análise da legislação apresentada, observamos em dois momentos

distintos, anterior e posterior a Lei 10.792/03, as diferentes referências às atribuições do

psicólogo no sistema prisional.

Anterior à Lei nº. 10.792/03, o psicólogo, profissional integrante da Comissão

Técnica de Classificação - CTC, tem como co-responsabilidade a classificação do condenado

para elaboração e acompanhamento do programa de individualização da execução da pena

privativa de liberdade, e ainda, propor ao Sistema Judiciário, o mérito (requisito subjetivo) do

condenado para a progressão , regressão ou conversão de regime penal, sendo o psicólogo, um

dos profissionais habilitado156 para a realização do exame criminológico, emissão de laudos e

pareceres psicológicos.

Posterior à Lei nº. 10.792/03, o psicólogo, profissional integrante da Comissão

Técnica de Classificação - CTC, tem como co-responsabilidade a classificação do condenado

para elaboração do programa de individualização da execução da pena privativa de liberdade.

Por determinação da Lei 10.792/03, os Estados, e portanto, as Comissões Técnica de

Classificação, são legalmente destituídos da responsabilidade do atendimento às solicitações

efetuadas pelo Poder Judiciário para elaboração de pareceres propondo a progressão,

156 Integrando a equipe multidisciplinar, composta pelo psicólogo, psiquiatra e o assistente social.

82

regressão ou conversão do regime penal. Assim, no sistema prisional paulista, no período de

dezembro de 2003 a maio de 2006157, a Secretaria da Administração Penitenciária procede

segundo a legislação apresentada, devendo a Comissão Técnica de Classificação, a partir de

julho de 2006158, atender às solicitações do Poder Judiciário.

A Lei 10.792/03 apresenta controvérsias quanto à sua (in) constitucionalidade, sendo

alvo de atenção dois pontos: a dispensa do exame criminológico (requisito subjetivo) para a

progressão, regressão ou conversão do regime penal e a instituição legal do regime disciplinar

diferenciado159 , sendo julgado em 2006, pelo Supremo Tribunal Federal, a

inconstitucionalidade de alguns artigos da referida Lei, conforme o texto apresentado, a

seguir:

Os presos de São Paulo passarão por exame criminológico para progredir de

pena se o juiz assim determinar. O entendimento é do Órgão Especial do

Tribunal de Justiça de São Paulo, que julgou inconstitucional os artigos 6º,

112 e parágrafos da Lei 10.792/03, que alterou a Lei de Execução Penal.

Com a decisão do tribunal [...] a progressão penal só pode acontecer depois

de parecer da Comissão Técnica de Classificação.

O entendimento dos desembargadores é o de que a lei de 2003 contraria os

incisos XLVI (individualização da pena) e LV (contraditório) do artigo 5º da

Constituição Federal [...]

A decisão se baseia em dois votos do Supremo Tribunal Federal, do ano

passado. Um do ministro Celso de Mello e outro do ministro Ricardo

Lewandowski. Em ambos, o Supremo entendeu pelo direito dos juízes de

solicitar o exame do preso para conceder a progressão. (Daniel Roncaglia,

2007) 160.

157 Observamos que no período de 1999 à 26/05/2006, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária foi representada pelo Secretário Nagashi Furukawa.158 Observamos que a partir de 31/05/2006, a Secretaria da Administração Penitenciária, passou a ser representada pelo Secretário Antônio Ferreira Pinto. 159 Denominado RDD, regime de segurança máxima, que prevê a sanção disciplinar com características rigorosas de isolamento da pessoa presa. 160 Revista Consultor Jurídico. Disponível em: http://conjur.estadao.com.br/static/text/34358,1. Acesso em: 06.abr.2007.

83

7. SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A história do sistema penitenciário paulista começa em 1º/03/1892, quando

o Decreto nº. 28 criou a Secretaria da Justiça.

Até o início de 1979, os estabelecimentos destinados ao cumprimento de

penas privativas de liberdade, no Estado de São Paulo, estavam

subordinados ao Departamento dos Institutos Penais do Estado - DIPE,

órgão pertencente à Secretaria da Justiça.

Com a edição do Decreto nº. 13.412, 13/03/1979, o DIPE foi transformado

em Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado -

COESPE, à época com 15 unidades prisionais.

Até março de 1991, as unidades prisionais ficaram sob a responsabilidade da

Secretaria da Justiça. Em seguida, a responsabilidade foi para a segurança

pública e com ela ficou até dezembro de 1992161.

Primeira no Brasil a tratar com exclusividade da execução penal, a Secretaria da

Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, instituída e organizada através do

Decreto nº. 36.463, de 26/01/1993, tem sob sua responsabilidade a administração de 131.458

pessoas presas distribuídas nos 144 estabelecimentos prisionais no Estado162.

A Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP) apresenta

como missão: a aplicação da Lei de Execução Penal, de acordo com a sentença judicial,

visando à ressocialização dos sentenciados; e, como atribuições: a execução da política

estadual de assuntos penitenciários; a organização, administração, coordenação, inspeção e

fiscalização dos estabelecimentos que a integram; a classificação dos condenados; o

acompanhamento e fiscalização do cumprimento de penas privativas de liberdade em regime

de prisão albergue; a formação profissional dos sentenciados e o oferecimento de trabalho

161 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em: <http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: 20. abr.2007. 162 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em :<http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: 02.fev.2007.

84

remunerado; a supervisão dos patronatos e a assistência aos egressos; a emissão de pareceres

sobre livramento condicional, indulto e comutação de penas; a realização de pesquisas

criminológicas; a assistência às famílias dos sentenciados163.

A seguir, apresentamos o número crescente da população prisional do Estado de São

Paulo, no período compreendido entre os anos de 2000 a 2007, período em que a população

carcerária duplica, bem como, podemos observar o número de pessoas que entraram e saíram

no sistema prisional paulista, nesse mesmo período, a saber:

Tabela 4 - População Prisional do Estado de São Paulo

Ano População Prisional Entrada164 Saída165

2000 59.867 27.550 22.1352001 67.624 33.805 25.3862002 83.033 48.266 33.3602003 99.026 59.038 42.6822004 105.341 62.247 49.5112005 120.887 61.391 516672007 131.458 - -

Fonte: Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo.

Segundo a legislação nacional, conceituação e classificação apresentada pelo

Ministério da Justiça, Departamento Penitenciário Nacional (Depen), os estabelecimentos

prisionais são todos aqueles utilizados pela Justiça com a finalidade de alojar pessoas presas,

quer em caráter provisório ou condenadas, em regimes prisionais fechado, semi-aberto e

aberto, ou ainda, aqueles que estejam submetidos à medida de segurança, sendo os

estabelecimentos prisionais classificados em:

163 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em :<http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: 22.jul.2007. 164 A palavra utilizada pela Secretaria de Administração Penitenciária é inclusão, e foi alterada para evitarmos enganos, uma vez que a palavra inclusão poderia sugerir o dúbio entendimento, quanto ao processo de inclusão social.165 Aqui a palavra utilizada pela Secretaria de Administração Penitenciária é exclusão e foi trocada pelo mesmo motivo registrado em nota anterior.

85

- estabelecimento para idosos: estabelecimentos prisionais próprios, ou seções ou

módulos autônomos, incorporados ou anexos a estabelecimentos para adultos,

destinados a abrigar pessoas presas que tenham no mínimo 60 anos de idade ao

ingressarem ou os que completem essa idade durante o tempo de privação de

liberdade;

- penitenciárias: estabelecimentos prisionais destinados ao recolhimento de pessoas

presas com condenação à pena privativa de liberdade em regime fechado;

- penitenciárias de segurança máxima especial: estabelecimentos prisionais

destinados a abrigar pessoas presas com condenação em regime fechado, dotados

exclusivamente de celas individuais;

- penitenciárias de segurança média ou máxima: estabelecimentos prisionais

destinados a abrigar pessoas presas com condenação em regime fechado, dotados

de celas individuais e coletivas;

- colônias agrícolas, industriais ou similares: estabelecimentos prisionais destinados

a abrigar pessoas presas que cumprem pena em regime semi-aberto;

- casas do albergado: estabelecimentos prisionais destinados a abrigar pessoas

presas que cumprem pena privativa de liberdade em regime aberto, ou pena de

limitação de fins de semana;

- centros de observação criminológica: estabelecimentos prisionais de regime

fechado e de segurança máxima onde devem ser realizados os exames gerais e

criminológico, cujos resultados serão encaminhados às Comissões Técnicas de

Classificação, as quais indicarão o tipo de estabelecimento e o tratamento

adequado para cada pessoa presa;

- hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico: estabelecimentos destinados ao

cumprimento do tratamento de internos/pacientes inimputáveis, portadores de

86

patologias clínicas associadas à doença mental, destinados às pessoas submetidas à

medida de segurança.

- cadeias públicas: estabelecimentos prisionais destinados ao recolhimento de

pessoas presas em caráter provisório, sempre de segurança máxima.

Os 144 estabelecimentos prisionais do Estado de São Paulo são em sua maioria

denominados conforme a especificidade do regime de cumprimento de pena privativa de

liberdade, sendo denominados provisório, fechado, semi-aberto e de tratamento psiquiátrico,

sendo distribuídos e classificados166 em:

- 03 Unidades de Segurança Máxima (RDD ou RDE), estabelecimentos prisionais

destinados ao cumprimento da pena em regime fechado;

- 74 Penitenciárias, estabelecimentos prisionais de segurança máxima, destinados ao

cumprimento de penas privativas de liberdade em regime fechado. Dentre as quais

19 penitenciárias possuem Ala de Progressão, sendo essas Alas prédios

construídos próximos às penitenciárias e destinadas ao cumprimento de penas

privativas de liberdade em regime de semi-liberdade.167

- 32 Centros de Detenção Provisória (CDP’s), estabelecimentos prisionais de

segurança máxima, destinados à custódia de presos provisórios do sexo masculino.

Dentre os quais, 03 Centros possuem Ala de Progressão;

166 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em :<http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: 02.fev.2007. 167 O referido número contempla as penitenciárias (especiais) destinadas ao cumprimento de pena privativa de liberdade por condenados que possam sofrer violência física e psicológica por parte da população carcerária, em decorrência da função desempenhada anteriormente (ex: serviço de segurança pública), ou ainda, pela reprovação de algum comportamento (ex: delação) ou natureza do crime cometido (ex: estupro).

87

- 07 Centros de Progressão Penitenciária (CPP’s), estabelecimentos prisionais

destinados ao cumprimento de penas privativas de liberdade em regime semi-

aberto;

- 02 Institutos Prisional Agrícola (IPA’s), estabelecimentos prisionais destinados ao

cumprimento de penas privativas de liberdade em regime fechado;

- 05 Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), estabelecimentos

prisionais destinados ao cumprimento do tratamento de internos/pacientes

inimputáveis ou semi-imputáveis, dos sexos masculino e feminino, portadores de

patologias clínicas associadas à doença mental;

- 22 Centros de Ressocialização (CR’s), estabelecimentos prisionais destinados ao

cumprimento de penas privativas de liberdade nos regimes fechado, semi-aberto e

à custódia de pessoas presas em caráter provisório.

Os Centros de Ressocialização possuem peculiaridades que os diferenciam dos

outros estabelecimentos prisionais, conforme destacamos, a seguir:

- administração compartilhada do Estado em parceria com organizações não

governamentais, sem fins lucrativos, com patrimônio e personalidade jurídica

próprios. Sendo a entidade responsável pela prestação de serviços de assistência

material, jurídica, educacional, social, religiosa, psicológica, de saúde e de

trabalho e o Estado responsável pela segurança e disciplina;

- são estabelecimentos localizados em municípios para atendimento da população

prisional do próprio município ou região próxima, buscando promover a

proximidade com a família e o envolvimento da comunidade na execução da pena

de privação de liberdade;

88

- realizam o atendimento concomitantemente, num mesmo espaço, às pessoas presas

em regimes fechado, semi-aberto e custódia provisória;

- a população carcerária de cada CR é de aproximadamente 230 pessoas presas,

sendo este um diferencial significativo em comparação com outros

estabelecimentos prisionais que apresentam o quadro de superlotação carcerária.

- os psicólogos que prestam serviço nos CR’s não são servidores estatutários (a

exemplo de todos os outros psicólogos que atuam no sistema prisional); não

prestam concurso para ingresso e atuação profissional e são contratados em regime

celetista168 pelas entidades que assumem a administração compartilhada com o

Estado.

Na tabela a seguir apresentamos a população carcerária do Estado de São Paulo

conforme a especificidade de gênero e tipo de regime de cumprimento de pena privativa de

liberdade, a saber:

Tabela 5 - População Prisional do Estado de São Paulo -Tipo de Regime - Gênero

Feminino Masculino Tipo de Regime Nº. de

unidadesPopulação

Nº. de Unidades

População

Total GeralPopulação Carcerária

Provisório 00 - 26 33.182 33.182Fechado 12 3.448 72 62.538 65.986Semi-aberto 05 458 44 11.904 12.362Tratamento Psiquiátrico 03 98 04 816 914Tratamento de Saúde 02 43 02 238 281Total 22 4047 152 108.678 112.725Fonte: Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, abril de 2005.

O sistema prisional paulista, composto por 144 unidades prisionais, conforme

regimes especificados na tabela anterior, está distribuído em cinco grandes áreas, definidas

por limites geográficos no Estado de São Paulo, denominadas coordenadorias, e estas

168 Em referência à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

89

respondem diretamente ao Secretário de Estado da Administração Penitenciária. A seguir a

relação das referidas coordenadorias:

Tabela 6 - Distribuição Quantitativa de Estabelecimentos Prisionais no

Estado de São Paulo por Coordenadorias Regionais

Coordenadorias Regionais Estabelecimentos Prisionais169

Capital e Grande São Paulo 26Central 18Noroeste 24Oeste 33Vale do Paraíba e Litoral 18Fonte: Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, maio de 2006.

Apresentamos ainda, a Coordenadoria de Saúde de atuação em âmbito estadual e de

referência às Coordenadorias Regionais.

Cada unidade prisional é administrada por um diretor, denominado Diretor Técnico

de Divisão, o qual tem sob sua responsabilidade a equipe de trabalho e a população carcerária

e responde hierarquicamente ao coordenador regional.

Cada unidade prisional que integra a estrutura de específica coordenadoria regional,

é instituída, organizada ou reorganizada através de decreto, assinado pelo governador do

Estado de São Paulo, decreto esse composto de aproximadamente dez capítulos/seções, os

quais resolvem sobre:

- as disposições preliminares referentes à subordinação da unidade a determinada

coordenadoria regional, nome da unidade, endereço, regime de cumprimento de

penas privativas de liberdade e outras disposições do estabelecimento prisional;

- a estrutura: referente à composição das equipes;

169 Observamos que estes números não consideram as Alas de Progressão (prédios próximos às penitenciárias e centros de detenção provisória), os quais são estabelecimentos destinados ao cumprimento de pena em regime semi- aberto.

90

- os níveis hierárquicos;

- os órgãos dos sistemas de administração geral;

- as atribuições;

- as competências;

- o “pro labore”;

- a gratificação por comando de unidade prisional;

- as disposições finais.

A estrutura referente à composição das equipes diferencia-se a partir da

especificidade de cada estabelecimento prisional, conforme classificação e conceituação

apresentada anteriormente: penitenciárias, centros de detenção provisória (CDP’s), centros de

progressão penitenciária (CPP’s), institutos prisionais agrícolas (IPA’s), centros de

ressocialização (CR’s) e hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (HCTP),

respectivamente, destinados ao cumprimento de penas privativas de liberdade em regimes

fechado, semi-aberto, de custódia provisória ou tratamento psiquiátrico.

Conforme análise dos decretos de instituição e organização de estabelecimentos

prisionais170, podemos conhecer uma orientação mínima de estrutura de composição de

equipes, conforme indicado na tabela a seguir:

170 São Paulo. Decretos de Lei que dispõem sobre a instituição e organização de estabelecimentos prisionais, nº. 46.046 de 23/08/01; nº. 46.277 de 19/11/01; nº. 49.984 de 06/09/05; n º 50.225 de 09/11/05 e nº. 50.412 de 2712/05.

91

Tabela 7 - Estabelecimentos Prisionais e Respectivas Estruturas

PenitenciáriaCentro de Progressão

Penitenciária

Centro de Detenção Provisória

Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

Centro de Ressocialização

Assistência Técnica; Assistência Técnica; Assistência Técnica; Assistência Técnica; Gestão ONGNúcleo de Prontuários Penitenciários;

Comissão de Revisão de Prontuários;

Equipe de Controle de Prontuários;

Comissão Técnica de Classificação;

Comissão Técnica de Classificação;

Comissão Técnica de Classificação

Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde, com Núcleo de Atendimento à Saúde;

Centro de Reabilitação, com: a) Núcleo Interdisciplinar de Reabilitação; b) Núcleo de Educação; c) Equipe de Atividades Gerais;

Núcleo de Atendimento Multidisciplinar

Centro de Atendimento de Saúde;

Núcleo de Atendimento à Saúde;

Núcleo de Atendimento à Saúde, com: a) Equipe de Nutrição e Dietética; b) Equipe de Enfermagem;Comissão de Controle de Infecção Hospitalar; Comissão de Ética Médica;

Centro de Trabalho e Educação, com Núcleo de Trabalho;

Centro de Qualificação Profissional e Produção, com: a) Núcleo de Oficinas; b) Equipe de Conservação; c) Equipe de Aprovisionamento;

Gestão ONG

Centro Integrado de Movimentações e Informações Carcerárias

Centro Integrado de Movimentações e Informações Carcerárias;

Centro de Segurança e Disciplina, com Núcleo de Segurança; **

Centro de Segurança e Disciplina*, com: a) Equipe de Vigilância;b) Equipe de Portaria;c) Equipe Auxiliar de Segurança;d) Equipe de Controle;

Centro de Segurança e Disciplina, com Núcleo de Segurança;

Núcleo de Segurança e Disciplina, com: a) Equipe de Controle; b) Equipe de Vigilância; c) Equipe de Portaria; d) Equipe Auxiliar de Segurança;

Núcleo de Segurança e Disciplina, com Equipe de Segurança e Disciplina;

Centro Administrativo, com: a) Núcleo de Finanças e Suprimentos; b) Núcleo de Pessoal; c) Núcleo de Infra-Estrutura e Conservação

- Centro Administrativo, com: a) Núcleo de Finanças e Suprimentos; b) Núcleo de Pessoal; c) Núcleo de Infra-Estrutura; d) Equipe de Contas Bancárias dos Presos;

Centro Administrativo, com Núcleo de Pessoal

Núcleo Administrativo, com: a) Equipe de Conservação e Manutenção; b) Equipe de Contas Bancárias dos Presos; c) Equipe de Lavanderia

Núcleo Administrativo;

92

Núcleo de Pessoal. - Núcleo de Escolta e Vigilância Penitenciária, com Equipe de Escolta e Vigilância.

Núcleo de Escolta e Vigilância Penitenciária, com Equipe de Escolta e Vigilância.

Núcleo de Escolta e Vigilância Penitenciária, com Equipe de Escolta e Vigilância.

Equipe de Escolta e Vigilância.

Núcleo de Perícias, com: a) Equipe de Informações Médicas e Judiciais; b) Equipe de Prontuários;

Fonte: São Paulo. Decretos nº.s: 46.046 de 23/08/01; 46.277 de 19/11/01; 49.984 de 06/09/05; 50.225 de 09/11/05 e 50.412 de 2712/05.

Destacamos que tanto nas penitenciárias quanto nos centros de progressão

penitenciária (CPP’s) pode existir a estrutura do Centro de Reabilitação, composto pelo

Núcleo Interdisciplinar de Reabilitação, Núcleo de Educação e Equipe de Atividades Gerais;

ou, o Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde, com Núcleo de Atendimento à Saúde.

A diferença está no novo desenho de estrutura implementado a partir do ano de 2004, que

visa substituir a estrutura dos Centros de Reabilitação pela dos Centros de Reintegração nas

unidades, ambos na área de atuação da equipe técnica, além das Comissões Técnicas de

Classificação, Núcleo de Atendimento à Saúde e Núcleo de Atendimento Multidisciplinar, os

quais serão foco de caracterização no próximo capítulo.

93

8. INSERÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO

NO SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

8.1 Inserção do psicólogo

Referenciando um marco histórico e político da inserção da Psicologia no sistema

prisional, o faremos em relação às mudanças na filosofia penal e política do século XX,

filosofia essa influenciada por considerações humanitárias pós Segunda Guerra Mundial e

suas atrocidades.

Um dos aspectos das mudanças da filosofia penal e política se traduzirá na iniciativa

de países em promoverem e organizarem significativos avanços nas discussões internacionais,

através da instituição da Organização das Nações Unidas – ONU em 1945, da promulgação da

Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 e das Regras Mínimas para Tratamento

de Prisioneiros, em 1955.

Essas reorientações quanto ao trato de prisioneiros trazem no seu âmbito, “o

reconhecimento da cidadania do prisioneiro” 171, paradigma que impacta em duas importantes

mudanças no regime prisional, sendo a primeira a inserção de psicólogos e assistentes sociais

no atendimento ao sentenciado e, a segunda, a mudança na forma de tratamento da população

carcerária.

[...] a introdução de especialistas em serviços humanos [...]

reconhecimento dos prisioneiros como seres humanos individuais [...]

conceituação do processo de controle nas prisões como uma gerência de

homens [...] afasta-se do foco na subjugação em favor do gerenciamento de

prisioneiros cidadãos. (King, 2001, p. 2)

171 King, Sue. Prisão: uma resposta nova ou renovada ao crime? 2001. Documento apresentado no 4º Simpósio Nacional de Perspectivas Sobre o Crime na Austrália – Novos Crimes ou Novas Respostas. Convocado pelo Australian Institute of Criminology. Junho/2001. Disponível em http://www.aic.gov.au/conferences/outlook4/King.html. Acesso em novembro de 2006.

94

No sistema prisional brasileiro constata-se a inclusão de profissionais do campo da

Psicologia a partir de 1970172, conforme registro a seguir:

De 1970 a 1997, período de 27 anos, 72 psicólogos (21,6%) foram

contratados e permanecem no sistema. No período de 1998 a 2005173, sete

anos, 262 psicólogos (78,4%) foram contratados e permanecem no sistema.

Ou seja, a maioria dos psicólogos é recém-contratada ou contratada nos

últimos oito anos. (Ministério da Justiça - Depen e Conselho Federal de

Psicologia. Seminário Nacional, Relatório, 2006)

Sendo indicada ainda, a presença média de dois psicólogos na maioria das unidades

do sistema prisional do Brasil, sendo que esses profissionais “possuem menos de 08 anos de

trabalho na unidade” 174.

No Estado de São Paulo, segundo dados da Secretaria da Administração

Penitenciária, em maio de 2005 o quadro funcional da área da saúde é composto por 1.463

profissionais. Desse total aproximadamente 20% são psicólogos (as), sendo 233 psicólogas e

52 psicólogos distribuídos em cinco principais regiões do Estado de São Paulo, conforme

Tabela 8 - Psicólogos no Sistema Prisional Paulista, a qual demonstra a concentração de 50%

dos (as) psicólogos (as) nas regiões oeste e capital do Estado, a saber:

172 Ministério da Justiça - Depen e Conselho Federal de Psicologia. Seminário Nacional – Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional , Brasília 10 e 11 de 2005. Relatório, 2006. 173 Cabe ressaltar que no período de 1995 a 2005 o número da população carcerária nacional duplicou conforme dados apresentados na Tabela 2 - População Prisional no Brasil.174 Ministério da Justiça - Depen e Conselho Federal de Psicologia. Seminário Nacional – Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional , Brasília 10 e 11 de 2005. Relatório, 2006.

95

Tabela 8 - Psicólogos no Sistema Prisional Paulista

Coordenadorias Regionais Número de Unidades Número de PsicólogosCapital e Grande São Paulo 26 66Central 18 47Noroeste 24 44Oeste 33 87Vale do Paraíba e Litoral 18 41

Total 119175 285Fonte: Secretaria da Administração Penitenciária , maio de 2006.

O número total de 285 profissionais refere-se aos psicólogos que estão vinculados

diretamente à Secretaria da Administração Penitenciária, contratados através de concurso, sob

regime estatutário. Considerando os psicólogos que atuam nos 22 Centros de Ressocialização,

contratados pela respectiva organização não governamental, sob regime celetista, podemos

estimar mais 44 psicólogos, perfazendo um total aproximado de 329 profissionais da área de

Psicologia.

Os números indicam a média de dois psicólogos por unidade prisional, dado que

traduz a realidade do sistema prisional nacional, conforme indicado anteriormente com

referência ao estudo efetuado pelo Ministério da Justiça – Depen e o Conselho Federal de

Psicologia.

Considerando a população prisional do Estado de São Paulo de 131.458176 pessoas,

estimamos a média de 400 pessoas presas por psicólogo para atendimento. Cabe destacarmos

que se trata de uma estimativa, análise da média em relação aos números apresentados, pois

no decorrer deste estudo identificamos diferentes realidades, marcadas por especificidades.

Tais diferenças decorrem da equação entre o número de psicólogos lotados e

presentes em determinada unidade prisional, o número correspondente à capacidade de

atendimento de pessoas presas por unidade prisional e o número real da população prisional

175 Observamos que estes números não consideram as Ala de Progressão (anexos às penitenciárias e CDP’s) os quais são estabelecimentos destinados ao cumprimento de pena em regime semi-abeto.176 Secretaria da Administração Penitenciária. Disponível em :<http://www.sap.sp.gov.br>. Acesso em: 02.fev.2007.

96

atendida, como por exemplo: um CR atende um número aproximado de 230 pessoas presas e

possui em média 02 psicólogos , ao passo que, outros estabelecimentos prisionais atendem em

média 900 pessoas presas e possuem em média 02 psicólogos para atendimento.

Cabe registrar que a Portaria Interministerial nº. 1.777/03177, Artigo 8º, estabelece

que:

[...] a atenção básica de saúde, a ser desenvolvida no âmbito das

unidades penitenciárias, será realizada por equipe mínima, integrada por

médico, enfermeiro, odontólogo, assistente social, psicólogo, auxiliar de

enfermagem e auxiliar de consultório dentário, cujos profissionais terão uma

carga horária de 20 horas semanais, tendo em conta as características deste

atendimento.

§ 1º Cada equipe de saúde será responsável por até 500 presos.

§ 2º Nos estabelecimentos prisionais com até 100 pessoas, o

atendimento será realizado no próprio estabelecimento por profissionais da

Secretaria Municipal de Saúde, respeitando a composição de equipe citada

anteriormente, e com carga horária mínima de 04 horas semanais.

§ 3º Os Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico serão

beneficiados pelas ações previstas nesta Portaria e, em função de sua

especificidade, serão objeto de norma própria [...]

177 Brasil. Portaria Interministerial Ministérios da Saúde e Ministério da Justiça, nº. 1777, de 09 de setembro de 2003, a qual aprova o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, consoante com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS.

97

8.2 Caracterização das atribuições do psicólogo no sistema prisional do Estado de São

Paulo

8.2.1 Caracterização das atribuições do psicólogo no sistema prisional segundo a

legislação estadual

Considerando a legislação apresentada no capítulo anterior e os decretos de

instituição e organização das unidades prisionais do Estado de São Paulo, retomamos o item

da estrutura da composição das equipes (Tabela 07), especificamente a estrutura que integra a

equipe técnica e, portanto, o profissional da área de Psicologia, conforme tabela a seguir:

Tabela 9 - Estabelecimentos Prisionais e Estruturas de Composição da Equipe

Técnica

PenitenciáriaCentro de Progressão

Penitenciária

Centro de Detenção Provisória

Hospitais de Custódia e

Tratamento Psiquiátrico

Centro de Ressocialização

Comissão Técnica de Classificação;

Comissão Técnica de Classificação;

Comissão Técnica de Classificação

Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde , com Núcleo de Atendimento à Saúde;

Centro de Reabilitação, com: a) Núcleo Interdisciplinar de Reabilitação; b) Núcleo de Educação; c) Equipe de Atividades Gerais;

Núcleo de Atendimento à Saúde;

Núcleo de Atendimento Multidisciplinar

Fonte: São Paulo-SP.Decretos nº.s: 46.046 de 23/08/01; 46.277 de 19/11/01; 49.984 de 06/09/05; 50.225 de 09/11/05 e 50.412 de 2712/05, os quais dispõem sobre a instituição e organização das unidades prisionais.

A descrição das atribuições da equipe técnica é indicada no decreto de criação de

cada unidade, o qual apresenta a descrição das atribuições das Comissões, Centros, Núcleos e

respectivos profissionais, conforme passamos a detalhar.

98

Comissão Técnica de Classificação: composição conforme a LEP, artigos 6º e 7º, e

decretos estaduais de instituição e organização de estabelecimentos prisionais destinados ao

cumprimento de pena privativa de liberdade em regime fechado e semi-aberto, tendo como

atribuições:

- acompanhar a execução das penas privativas de liberdade;

- efetuar a classificação dos sentenciados, quando de sua inclusão no

estabelecimento penal;

- incluir, depois de classificados, os sentenciados em programas individualizadores

da execução da pena;

- elaborar, acompanhar e avaliar os programas individualizadores da execução da

pena privativa de liberdade adequada ao sentenciado;

- acompanhar o desenvolvimento dos sentenciados inclusos nos programas

individualizadores da execução da pena;

- avaliar os sentenciados inclusos nos programas individualizadores da execução da

pena, emitindo, ao final, pareceres;

- requisitar, sempre que necessário informações sobre os sentenciados;

- propor, às autoridades competentes, as progressões e regressões dos regimes, bem

como as conversões de penas e regimes;

- proceder, quando julgar conveniente, diligências e exames;

Segundo análise dos itens descritos, podemos observar a amplitude da

responsabilidade e atribuições da Comissão Técnica de Classificação, a qual classifica,

elabora, executa e insere a pessoa presa num programa de individualização da execução da

99

pena privativa de liberdade178, sendo responsável ainda, pelo acompanhamento e avaliação do

citado programa e pela avaliação do desenvolvimento da pessoa presa, podendo propor a

progressão, regressão de regime, bem como, a conversão de pena e regime.179

Assim, podemos considerar as atribuições específicas do psicólogo nessa Comissão

como perito, o qual tem sob sua responsabilidade os diagnósticos, prognósticos, laudos e

pareceres psicológicos realizados por meio de instrumentais técnicos da profissão.

Centro de Reabilitação com Núcleo Interdisciplinar de Reabilitação e Centro de

Reintegração e Atendimento à Saúde com Núcleo de Atendimento à Saúde, conforme

indicado anteriormente, a alteração do nome de Centro de Reabilitação com Núcleo

Interdisciplinar de Reabilitação para Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde com

Núcleo de Atendimento à Saúde, ocorre a partir do ano de 2004, ano posterior ao

sancionamento da Lei 10.792/03, e traz em seu escopo a reestruturação da organização dos

departamentos nas unidades prisionais, a composição e atribuições das respectivas equipes.

Desde o ano de 2004 até 2007, nas unidades do sistema prisional paulista,

especificamente penitenciárias (regime fechado), e centros de progressão penitenciária

(regime semi-aberto), funcionam concomitantemente as estruturas dos centros apresentados,

sendo que, as unidades prisionais (penitenciárias e centros de progressão penitenciária) que

apresentam em sua organização o Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde com Núcleo

de Atendimento à Saúde, são identificadas como unidades reestruturadas.

178 Segundo a Constituição Federal, artigo 5º, inciso XLVI, princípios da igualdade e individualização. 179 Observamos que os decretos de instituição e organização de estabelecimentos prisionais analisados datam dos anos 2001 e 2005, anos anteriores e posteriores à Lei 10.792/03, a qual altera a Lei de Execução Penal e a atribuição da Comissão Técnica de Classificação. No entanto, destacamos que, as alterações propostas pela referida lei não figuram nos referidos decretos, pois os mesmos determinam que a Comissão Técnica de Classificação deva propor, às autoridades competentes, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões de penas e regimes.

100

Na tabela a seguir, apresentamos a composição e atribuições dos referidos Centros, a

saber:

Tabela 10 - Atribuições do Centro de Reabilitação com Núcleo Interdisciplinar de

Reabilitação e do Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde

Centro de Reabilitação comNúcleo Interdisciplinar de Reabilitação

Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde com Núcleo de Atendimento à Saúde

Os Núcleos Interdisciplinares de Reabilitaçãoserão compostos de pessoal com formação universitária, em especial de Médico Psiquiatra, Assistente Social, Terapeuta Ocupacional, Psicólogo e Pedagogo, de preferência com especialização ou experiência nas áreas penitenciária e criminológica.

Os Centros de Reintegração e Atendimento à Saúde serão compostos de: pessoal com formação universitária, em especial de médico psiquiatra, assistente social, terapeuta ocupacional, psicólogo e pedagogo, de preferência com especialização ou experiência nas áreas penitenciária e criminológica;pessoal multidisciplinar, para exercício no Núcleo de Atendimento à Saúde, em especial com formação de médico, cirurgião-dentista, enfermeiro, farmacêutico e auxiliar de enfermagem.

Os Centros de Reabilitação têm por atribuição proporcionar o desenvolvimento social e humano dos presos, visando a reintegração na sociedade em liberdade.

Os Centros de Reintegração e Atendimento à Saúde têm por atribuição proporcionar assistência à saúde e psicossocial ao preso, têm as seguintes atribuições proporcionar o desenvolvimento social e humano dos presos, visando à reinserção na sociedade quando colocados em liberdade;

Núcleo Interdisciplinar de Reabilitação▼

Centro de Reintegração▼

elaborar diagnósticos dos aspectos sócio-econômicos dos presos;avaliar, psicologicamente, os presos nas áreas de desenvolvimento geral, intelectual e emocional;

proceder ao diagnóstico dos presos e recomendar indicações psicológicas, psicofísicas e psicossociais, a partir da avaliação inicial;

opinar sobre a designação ou o remanejamento dos presos nos pavilhões e nas unidades do Estabelecimento;

registrar informações relacionadas com os presos, de forma a compor o seu prontuário criminológico;

executar programas de preparação para a liberdade;propiciar aos presos conhecimentos e habilidades necessárias à sua integração na comunidade;

organizar cursos regulares ou intensivos de comportamento social;proporcionar meios de integração entre os presos e a comunidade em geral;

desenvolver programas de valorização humana;estudar e propor soluções para problemas da terapêutica penitenciária;

planejar e organizar projetos de trabalho para presos com problemas especiais, supervisionando ou ensinando-lhes, diretamente se for o caso, atividades prescritas para seu tratamento;

prestar orientação religiosa aos presos;colaborar, se for o caso, na elaboração das perícias criminológicas;

colaborar na seleção de livros e filmes destinados aos presos;manter intercâmbio de informações e experiências com a unidade de Reabilitação Social

Penitenciário, propondo as medidas necessárias à aproximação entre os presos e suas famílias;participar da programação das atividades de atendimento aos presos;

verificar a “inadequabilidade” de comportamento dos servidores que tratam diretamente com os presos, propondo as medidas que julgar necessárias;

identificar as necessidades de treinamento para os servidores do Estabelecimento que tratam diretamente com os presos;

apresentar recomendações a respeito da atuação das demais unidades de atendimento aos presos,

101

em relação a casos específicos ou a problemas de caráter geral;acompanhar, permanentemente, o comportamento e as atividades dos presos, prestando-lhes

assistência na solução de seus problemas;opinar sobre promoções ao terceiro

estágio da penaorganizar e manter atualizados os

prontuários criminológicos dos presos, de maneira a permitir o acompanhamento da evolução do

tratamento;juntar aos prontuários documentos que

lhes forem encaminhados para esse fim;providenciar a preparação de carteiras de

identidade e de trabalho, bem como de outros documentos necessários aos presos, por ocasião da

liberdade.Fonte: São Paulo – SP. Decretos nº.s 46.046 de 23/08/01; 46.277 de 19/11/01; 49.984 de 06/09/05; 50.225 de 09/11/05 e 50.412 de 2712/05, que dispõem sobre a instituição e organização das unidades prisionais.

Núcleo de Atendimento à Saúde, composição descrita na tabela anterior, tendo as

seguintes atribuições:

- prestar assistência ambulatorial aos presos;

- elaborar diagnósticos e efetuar exames clínicos, prescrevendo e acompanhando o

tratamento;

- realizar consulta médica, odontológica, psicossocial e de enfermagem para o preso,

quando de sua inclusão no estabelecimento penal;

- elaborar diagnósticos clínicos, de enfermagem e odontológicos, dos presos;

- encaminhar para complementação diagnóstica todos os casos que necessitarem;

- acompanhar o tratamento indicado de acordo com os protocolos de atendimento

elaborados pela Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário;

- promover a notificação compulsória de doença, de acordo com fluxo estabelecido

pela Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário;

- notificar surtos e outros eventos, tanto dos presos como dos servidores da unidade;

- informar os óbitos para a Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário, bem

como para os familiares do falecido;

102

- executar programas de atenção à saúde do preso e dos servidores;

- registrar as ocorrências e intercorrências no prontuário único de saúde,

procedendo, conforme exigência do Sistema Único de Saúde - SUS/SP, à

alimentação do banco de dados;

- controlar, solicitar e dispensar os medicamentos entregues, da lista padronizada,

pela Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário e pelas demais instâncias

do Sistema Único de Saúde - SUS/SP;

- implementar programas de prevenção e realizar atividades de saúde mental

propostos pela Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário;

- prescrever a vacinação dos servidores e dos presos;

- planejar e executar programas de apoio social aos presos e seus familiares;

- encaminhar os presos e seus familiares à rede de assistência, de acordo com as

necessidades diagnosticadas;

- prestar atendimento psicológico aos presos com patologias;

- documentar no prontuário único de saúde do preso todo o atendimento realizado.

Conforme análise das Tabelas 9 e 10 e decretos estaduais de instituição e

organização de unidades prisionais, observamos que a reestruturação dos Centros de

Reabilitação para Centros de Reintegração e Atendimento à Saúde, propõe mudanças

significativas na reestruturação da organização dos departamentos nas unidades prisionais,

alterando o organograma funcional bem como as atribuições dos referidos Centros, e

ampliando as atribuições das respectivas equipes.

Com relação às alterações e ampliação das atribuições das equipes que compõem os

referidos Centros observamos:

103

- No Centro de Reabilitação, a exclusão de duas atribuições – 1) opinar sobre a

designação ou o remanejamento dos presos nos pavilhões e nas unidades do

Estabelecimento; 2) opinar sobre promoções ao terceiro estágio da pena.

- No Centro de Reintegração, a inclusão de mais três atribuições – 1) organizar e

manter atualizados os prontuários criminológicos dos presos, de maneira a permitir

o acompanhamento da evolução do tratamento; 2) juntar aos prontuários

documentos que lhes forem encaminhados para esse fim; 3) providenciar a

preparação de carteiras de identidade e de trabalho, bem como de outros

documentos necessários aos presos, por ocasião da liberdade.

- No Núcleo de Atendimento à Saúde, observa-se a ampliação das atribuições da

equipe e a especificação da atribuição do psicólogo na área de saúde mental.

Reorientação significativa das atribuições do psicólogo, posterior a Lei 10.792/03.

Quanto às atribuições do psicólogo, enquanto membro integrante dos respectivos

Centros, podemos inferir que suas atribuições se dividem entre duas categorias: 1) as que são

privativas e específicas da profissão do Psicólogo e 2) as atribuições que não são exclusivas

da área da Psicologia e pressupõem uma equipe multiprofissional e intervenção

interdisciplinar.

Nas mencionadas categorias procedemos ao agrupamento das atribuições em quatro

áreas afins, as quais identificamos como: área de perícia, área de atendimento à saúde mental,

área social e área institucional.

Para efeito didático e ilustrativo, na tabela a seguir, apresentamos a análise exposta, a

saber:

104

Tabela 11 - Atribuições do Psicólogo no Centro de Reabilitação e Núcleo

Interdisciplinar de Reabilitação e no Centro de Reintegração e Atendimento à Saúde

com Núcleo de Atendimento à Saúde

Atribuições exclusivas da área de Psicologia

Atribuições que pressupõem a equipe multiprofissional e a interdisciplinaridade

Áreas Afins

avaliar, psicologicamente, os presos nas áreas de desenvolvimento geral, intelectual e emocional;

opinar sobre promoções ao terceiro estágio da pena e opinar sobre a designação ou o remanejamento dos presos nos pavilhões e nas unidades do Estabelecimento;*

proceder ao diagnóstico dos presos e recomendar indicações psicológicas, psicofísicas e psicossociais, a partir da avaliação inicial;

colaborar, se for o caso, na elaboração das perícias criminológicas;registrar informações relacionadas com os presos, de forma a compor o seu prontuário criminológico;organizar e manter atualizados os prontuários criminológicos dos presos, de maneira a permitir o acompanhamento da evolução do tratamento;**

Área de Perícia

realizar consulta psicossocial para o preso, quando de sua inclusão no estabelecimento penal;

participar da programação das atividades de atendimento aos presos;

prestar atendimento psicológico aos presos com patologias;

acompanhar, permanentemente, o comportamento e as atividades dos presos, prestando-lhes assistência na solução de seus problemas

documentar no prontuário único de saúde do preso todo o atendimento realizado.

implementar programas de prevenção e realizar atividades de saúde mental propostos pela Coordenadoria de Saúde do Sistema Penitenciário;

planejar e organizar projetos de trabalho para presos com problemas especiais, supervisionando ou ensinando-lhes, diretamente se for o caso, atividades prescritas para seu tratamento;

Área de Atendimento

e Saúde Mental

executar programas de preparação para a liberdade;organizar cursos regulares ou intensivos de comportamento social;desenvolver programas de valorização humana; propiciar aos presos conhecimentos e habilidades necessárias à sua integração na comunidade;proporcionar meios de integração entre os presos e a comunidade em geral;manter intercâmbio de informações e experiências com a unidade de Reabilitação Social Penitenciário, propondo as medidas necessárias à aproximação entre os presos e suas famílias;planejar e executar programas de apoio social aos presos e seus familiares;encaminhar os presos e seus familiares à rede de assistência, de acordo com as necessidades diagnosticadas;

Área Social

estudar e propor soluções para problemas da terapêutica penitenciária;apresentar recomendações a respeito da atuação das demais unidades de atendimento aos presos, em relação a casos específicos ou a problemas de caráter geral;

Área Institucional

105

verificar a inadequabilidade de comportamento dos servidores que tratam diretamente com os presos, propondo as medidas que julgar necessárias;identificar as necessidades de treinamento para os servidores do Estabelecimento que tratam diretamente com os presos;elaborar diagnósticos dos aspectos socioeconômicos dos presos;colaborar na seleção de livros e filmes destinados aos presos; juntar aos prontuários documentos que lhes forem encaminhados para esse fim;** providenciar a preparação de carteiras de identidade e de trabalho, bem como de outros documentos necessários aos presos, por ocasião da liberdade.**

*Atribuições que figuram somente no Centro de Reabilitação; **Atribuições que figuram somente no Centro de Reintegração.

Em relação ao Núcleo de Atendimento Multidisciplinar, na análise dos citados

decretos estaduais, não encontramos referência aos profissionais que compõem a equipe do

Núcleo de Atendimento Multidisciplinar nos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico,

destinados ao atendimento de internos/pacientes inimputáveis ou semi-imputáveis. A seguir,

destacamos as atribuições do referido Núcleo:

- avaliar a evolução de cada paciente/preso, desenvolvendo ações para a melhoria de

seu processo de evolução, visando à sua desinternação;

- observar e registrar a reação dos pacientes/presos aos programas em execução;

- atuar em parceria com as outras áreas do estabelecimento, visando o tratamento

integrado aos pacientes/presos;

- anotar nos prontuários de evolução dos pacientes/presos, observações que

contribuam para uma melhor compreensão de cada caso;

- participar na aplicação de programas de medicina preventiva e educação sanitária;

- registrar dados e manter arquivo sobre suas atividades;

- prestar orientação e acompanhamento aos pacientes/presos, seus familiares e

servidores envolvidos com o tratamento;

106

- recepcionar o paciente/preso e situá-lo na instituição através de entrevista de

inclusão;

- participar das reuniões técnicas multidisciplinares para discussão de casos,

avaliação da dinâmica institucional e elaboração das normas de funcionamento

internas;

- acompanhar, semanalmente, o grupo de pacientes/presos que lhe for designado,

avaliando-os para as saídas da instituição e para a desinternação progressiva

domiciliar;

- supervisionar as atividades desenvolvidas por aprimorados e estagiários em

Psicologia, Assistência Social, Terapia Ocupacional e Educação Física;

- efetuar avaliação psicológica dos pacientes/presos para compor os pareceres de

verificação da cessação de periculosidade;

- planejar e executar programas de intervenção psicológica aos pacientes/presos e

seus familiares, visando a desinternação;

- elaborar relatório social dos pacientes/presos para compor os pareceres de

verificação da cessação de periculosidade;

- planejar e executar programas de intervenção social aos pacientes/presos e seus

familiares, efetuando as visitas domiciliares necessárias, visando a desinternação;

- orientar os pacientes/presos e seus familiares sobre os procedimentos de

desinternação definitiva, alvará de soltura, continuação do tratamento de saúde e

seguridade social, segundo a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei Federal nº.

8.742, de 7 de dezembro de 1993);

- pesquisar elementos para subsidiar o diagnóstico;

- orientar e subsidiar os pacientes/presos para providenciar seus documentos

pessoais;

107

- manter contatos com instituições congêneres e de saúde;

- incentivar a realização de parcerias com a sociedade civil organizada com o intuito

de colocar os pacientes trabalhando;

- elaborar relatório ocupacional dos pacientes para compor o parecer de verificação

da cessação da periculosidade;

- prestar orientação e acompanhamento ocupacional aos pacientes/presos, seus

familiares e servidores envolvidos no tratamento;

- planejar e executar programa de terapia ocupacional aos pacientes/presos, visando

a sua desinternação;

- elaborar relatório de atividades dos pacientes/presos para compor o parecer de

verificação da cessação da periculosidade;

- elaborar e executar programas esportivos e de recreação para a recuperação e o

desenvolvimento das condições físicas dos pacientes, visando a sua desinternação;

- planejar e executar programas de festividades comemorativas de caráter cívico e

cultural, de competições esportivas, visitas, passeios, excursões e apresentações

artísticas, esportivas, culturais e educacionais;

- articular, junto às instituições de ensino público e particular da região, a inclusão

dos pacientes/presos em seus programas de ensino fundamental, médio, supletivo e

profissionalizante.

Para análise das atribuições do psicólogo do Núcleo acima descrito, procederemos

conforme os critérios de análise efetuada anteriormente, onde selecionamos as possíveis

atribuições desempenhadas pelos psicólogos e as dividimos em duas categorias, que

subdividimos em áreas afins, conforme tabela a seguir:

108

Tabela 12 - Atribuições do Psicólogo no Núcleo de Atendimento Multidisciplinar

Atribuições exclusivas da área de Psicologia

Atribuições que pressupõem a equipe multiprofissional e a interdisciplinaridade

Áreas Afins

efetuar avaliação psicológica dos pacientes/presos para compor os pareceres de verificação da cessação de periculosidade;

recepcionar o paciente/preso e situá-lo na instituição através de entrevista de inclusão; Área de

Perícia

planejar e executar programas de intervenção psicológica aos pacientes/presos e seus familiares, visando a desinternação;

Avaliar a evolução de cada paciente/preso, desenvolvendo ações para a melhoria de seu processo de evolução, visando a sua desinternação;

pesquisar elementos para subsidiar o diagnóstico;

acompanhar, semanalmente, o grupo de pacientes/presos que lhe for designado, avaliando-os para as saídas da instituição e para a desinternação progressiva domiciliar; observar e registrar a reação dos pacientes/presos aos programas em execução;atuar em parceria com as outras áreas do estabelecimento, visando o tratamento integrado aos pacientes/presos;prestar orientação e acompanhamento aos pacientes/presos, seus familiares e servidores envolvidos com o tratamento; participar das reuniões técnicas multidisciplinares para discussão de casos, avaliação da dinâmica institucional e elaboração das normas de funcionamento internas; manter contatos com instituições congêneres e de saúde;

Área de Atendimento

e Saúde Mental

incentivar a realização de parcerias com a sociedade civil organizada com o intuito de colocar os pacientes trabalhando;planejar e executar programas de festividades comemorativas de caráter cívico e cultural, de competições esportivas, visitas, passeios, excursões e apresentações artísticas, esportivas, culturais e educacionais;

Área Social

supervisionar as atividades desenvolvidas por aprimorados e estagiários em Psicologia;

anotar nos prontuários de evolução dos pacientes/presos, observações que contribuam para uma melhor compreensão de cada caso;registrar dados e manter arquivo sobre suas atividades;

Fonte: São Paulo. Decreto Lei nº. 46.046, de 23/08/2001,o qual cria e organiza o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico II de Franco da Rocha .

109

8.2.2 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São

Paulo segundo o Manual de Projetos de Reintegração Social

O Manual de Projetos de Reintegração Social180 - trata-se de um documento

promovido e organizado pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), por meio do

Departamento de Reintegração Social Penitenciário (DRSP) e a Escola da Administração

Penitenciária (EAP), construído pelos profissionais que atuam no sistema prisional paulista,

em sua maioria assistentes sociais e psicólogos, que integram as equipes das Comissões

Técnicas de Classificação, Centros e Núcleos, anteriormente apresentados.

Os trabalhos que orientaram a construção do Manual em questão iniciaram-se em

agosto de 2002, e nesse mesmo ano o Departamento de Reintegração Social Penitenciário e a

Escola da Administração Penitenciária (SAP), realizaram “reuniões com diretores de

segurança e de reabilitação [...] a fim de discutir e buscar uma conscientização acerca da

necessidade de integrar essas áreas no processo reintegração social do preso” 181.

A partir daí, segue-se uma agenda de trabalho integrado e aberta à participação de

todos os funcionários de todas as unidades prisionais do Estado de São Paulo, culminado com

a elaboração do Manual supracitado, em fevereiro de 2005.

Para a elaboração do Manual de Projetos de Reintegração Social foram apresentados

170 projetos à Escola da Administração Penitenciária - SAP, sendo:

- 64 projetos incluídos no Manual;

- 09 projetos encaminhados à área da saúde;

- 13 projetos não foram reencaminhados à EAP, com as modificações solicitadas;

- 84 projetos foram considerados não satisfatórios para inclusão no Manual.

180 Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo. Departamento de Reintegração Social Penitenciário. Manual de Projetos de Reintegração Social. São Paulo-SP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. 181 Ibid., p. 22.

110

Os 64 Projetos incluídos no Manual são divididos em seis eixos norteadores, sendo

esses eixos compostos por temas que orientam objetivos específicos, a saber:

Tabela 13 - Manual de Projetos de Reintegração Social – Eixos e Temas

Eixos

Número de

projetos propostospor eixo

Temas

Número de projetos

propostos por tema

Unidades prisionais proponentes182

O Indivíduo11 projetos

Valores ético - morais, auto-estima e crescimento pessoal

11Penitenciária (08)CPP (01)IPA (01) e CR (01)

Presos sem visitas 02 IPA (01) e CR (01)

Convivência social 06Penitenciária (05)CPP (01)

A Família e as Relações Sociais

10 projetosFamília e vínculos familiares

02Penitenciária (02)

Regressão de pena, perda de benefício, falta disciplinar, cumprimento de pena no seguro183 e reincidência criminal

05Penitenciária (05)

Indeferimento de benefício 01Penitenciária

Presos provisórios 01 CR Preparação para regime semi-aberto

09Penitenciária (08)IPA

Preparação para a liberdade 15Penitenciária (12)IPA, CR e FUNAP

A Pena36 projetos

Preparação para a saída temporária

05Penitenciária (05)

Educação e saúde 02 Penitenciária FUNAPEducação, Trabalho e

Saúde

08 projetosTrabalho e geração de renda 06

Penitenciária (05)FUNAP

Funcionários 01 projeto Funcionários 01 Penitenciária A mulher

Presa01 projeto A mulher presa 01 CR

Fonte: Secretaria da Administração Penitenciária. Manual de Projetos de Reintegração Social. 2005

182 Neste quadro utilizaremos as siglas para referenciar as diversas unidades prisionais: CPP – Centro de Progressão Penitenciária; IPA – Instituto Penitenciário Agrícola; CR – Centro de Ressocialização; FUNAP –Fundação de Amparo ao Preso, instituição vinculada à Secretaria da Administração Penitenciária, que atua nas unidades prisionais do Estado de São Paulo. 183 A palavra seguro, refere-se a um local específico destinado à segurança das pessoas presas que devem permanecer isoladas e afastadas da população carcerária em determinada unidade prisional, pois a proximidade colocaria em risco a integridade física dos que devem permanecer em um local seguro.

111

Quanto aos funcionários propositores dos 64 projetos aprovados, em 49 deles

figuram o psicólogo como o único ou um dos proponentes do projeto, sendo a proposição em

parceria, na sua maioria, com o assistente social.

Os projetos apresentados no Manual de Projetos de Reintegração Social, propõem

metodologicamente o desenvolvimento do trabalho em grupos com 12 participantes em

média, com encontros periódicos, semanais ou quinzenais, totalizando a média de 05

encontros por projeto, com duração de 1 a 2 horas cada encontro.

Destacamos que dentre os 64 projetos apresentados no Manual, 56% estão orientados

para o eixo denominado Pena e, 81% dos projetos desse eixo, são destinados a trabalhar a

preparação da pessoa presa para a progressão para o regime semi-aberto ou liberdade.

Acreditamos que a construção do Manual de Projetos de Reintegração Social foi a

tradução significativa da sistematização e partilhamento de uma prática incipiente e orientada

à reintegração social, prática essa possivelmente ampliada no ano de 2004, ano da

implantação da Lei nº. 10.792/03 que altera a atribuição do psicólogo no sistema prisional

paulista, conforme apresentado no capítulo anterior.

Cabe destacar que em maio de 2004, o então Secretário da Administração

Penitenciária, Nagashi Furukawa, expressa que o psicólogo passa a “dedicar seu tempo em

projetos de reintegração social e em atividades de individualização da execução” 184 da pena

de privação da liberdade.

184 Jornal O Estado de São Paulo, de 10.05.2004.

112

8.2.3 Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São

Paulo segundo registros do Conselho Regional de Psicologia - 6ª região - São Paulo

Em 2004, o Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional

(Depen), iniciou o diálogo com os Estados e conselhos de classes profissionais, buscando

discutir a “formação dos profissionais que atuam no sistema prisional, com o objetivo de

construir uma proposta nacional” 185.

Esse diálogo, levou o Conselho Federal de Psicologia, considerando as deliberações

do V Congresso Nacional de Psicologia, a promover a discussão junto à categoria sobre “o

papel da Psicologia nas prisões, a atuação dos profissionais e as demandas de formação

existentes” 186.

Observa-se que a Psicologia no sistema prisional é foco de atenção, discussão e

reflexão dos Conselhos Federal e Regional de Psicologia187 e, do Ministério da Justiça -

Departamento Penitenciário (Depen), através de ações conjuntas iniciadas a partir de 2004 e

desenvolvidas no decorrer de 2005. Como os eventos realizados nas oito subsedes do

Conselho Regional do Estado de São Paulo (CRP) e a Oficina - “A Psicologia no Sistema

Prisional: reflexões sobre a atuação profissional” 188, eventos preparatórios para a realização

do Seminário Nacional – “Atuação da Psicologia no Sistema Prisional” 189.

Focalizaremos os resultados apresentados na oficina acima mencionada190, trata-se

de oficina de âmbito estadual, que foi desenvolvida com o objetivo de “mapear a situação

185 Conselho Federal de Psicologia. Relatório do Seminário- Atuação da Psicologia no Sistema Prisional. 2006.186 Ibid. 187 Conselho Regional de Psicologia - da 6ª Região - São Paulo, região correspondente à área geográfica limite de estudo a que se propõe este trabalho. 188 Oficina Estadual, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia -6ª Região – São Paulo, realizada em 01/10/2005.189 Realizado em Brasília nos dias 10 e 11 de novembro de 2005. 190 Oficina Estadual, promovida pelo Conselho Regional de Psicologia -6ª Região – São Paulo, realizada em 01/10/2005.

113

atual da atuação dos psicólogos que trabalham no sistema prisional no Estado de São Paulo e

de construir referências para a atuação profissional qualificada, com vistas à integração social

e não à segregação” 191, propósito que vem ao encontro do objetivo deste estudo, dando a

conhecer a prática do psicólogo no sistema prisional, tendo o Estado de São Paulo como

limite geográfico e referência para análise.

A citada Oficina, de âmbito estadual, promoveu a socialização e compilação das

discussões e reflexões realizadas nas subsedes do CRP 6ª Região - SP, nos meses de agosto e

setembro de 2005, buscando aprofundar e construir propostas encaminhadas ao Seminário

Nacional - Atuação da Psicologia no Sistema Prisional. Construção que contou com a

participação e colaboração de psicólogos que atuam no sistema prisional paulista, divididos

em três Grupos de Trabalho, denominados: Gestão da Prisão, Atuação do Psicólogo,

Formação Profissional e Formação Continuada, sendo os apontamentos indicados,

sistematizados, consolidados e apresentados em relatório192. Abaixo destacamos, na íntegra,

os apontamentos apresentados no GT – Atuação do Psicólogo, a saber:

Atuação do Psicólogo a partir das alterações da LEP193

- Quanto às entrevistas padronizadas para todo o Estado

(entrevistas de inclusão) cujos dados são lançados em formulários

informatizados, intranet, há falhas nas perguntas e nas colocações, que

podem ser melhoradas e utilizadas como ferramentas adaptadas a cada

unidade;

- Acesso às informações pertinentes sobre tais dados das

entrevistas, pois os técnicos não têm acesso aos dados estatísticos da unidade

em que trabalham, mas somente aos dados individuais, o que dificulta a

elaboração de um perfil geral da população atendida;

191 Conselho Regional da 6ª Região – SP, Relatório Oficina – A psicologia no Sistema Prisional: Reflexões Sobre a Atuação Profissional. 2006.192 Conselho Regional da 6ª Região – SP, Relatório Oficina – A psicologia no Sistema Prisional: Reflexões Sobre a Atuação Profissional. 2006. 193 Alterações realizadas a partir da Lei 10.792/03.

114

- Condições básicas, materiais e técnicas dos psicólogos; falta

de local apropriado para o atendimento psicológico, inclusive

comprometendo a qualidade e a ética do mesmo;

- Falta de acesso a cursos (Escola da Administração

Penitenciária privilegia cursos para Agentes de Segurança Penitenciária -

ASP). Não há política de formação permanente;

- Penas alternativas e intervenção junto aos egressos: há falta de

informação e falta de projetos que promovam a inserção social de egressos;

- Faz-se necessária a divulgação dos trabalhos dentro do

sistema prisional (tanto para internos quanto para egressos), junto ao

judiciário, profissionais e população a fim de desmistificar o estigma da

“delinqüência” e proporcionar melhores condições de inserção social;

- A importância de criar uma associação específica dos técnicos

que atuam no sistema prisional;

- Criar rede de informação on-line de divulgação de eventos,

cursos, mobilizações, projetos, entre outros.

- Tem-se percebido certa revitalização da equipe

multidisciplinar, o que aponta para a importância da integração dos

profissionais dentro das unidades;

- Quanto à Individualização da Pena, faz-se necessária a

implantação de novos projetos;

- Suporte técnico (supervisão / convênios) para o psicólogo do

sistema prisional;

- A importância da sensibilização da família / sentenciado /

funcionário, em benefício da reintegração.

Observamos que os dados apresentados fazem referências pontuais às atribuições do

psicólogo no sistema prisional paulista, sendo apontadas as críticas referentes às condições de

trabalho, identificado ou proposto ainda, ações na perspectiva de melhorias das condições

desse trabalho.

Conforme referências às práticas profissionais citadas, registramos:

- “entrevista de inclusão”;

- “atendimento psicológico”;

115

- “inserção social” (projetos);

- “sensibilização da família, da pessoa presa e do funcionário, em benefício da

reintegração”;

- atuação junto à Central de Penas Alternativas e a egressos do sistema prisional na

promoção da inserção social.194

Dando continuidade aos trabalhos, nos anos de 2006 e 2007, o Conselho Regional de

Psicologia 6ª Região – SP, realiza o levantamento da realidade dos psicólogos no sistema

prisional paulista a partir das reuniões que acontecem nas subsedes do CRP - SP em 2006.

Levantamento esse relativo à formação; às atribuições; às condições de trabalho; à saúde no

sistema prisional; às críticas ao sistema prisional; à parceria-público-privado; sobre o “Portal

da Administração Penitenciária” (prontuário da pessoa presa informatizado); sobre a

avaliação psicológica (exame criminológico) e sobre os projetos de reintegração social, sendo

os apontamentos dessas reuniões encaminhados ao I Encontro Estadual da Atuação do

Psicólogo no Sistema Prisional – I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional195,

sendo os trabalhos do referido Encontro organizado pelos eixos temáticos, a saber:

- Atribuições do psicólogo no sistema prisional;

- Formação do psicólogo para atuar no sistema prisional;

- A ética profissional e os Direitos Humanos no sistema prisional;

- Saúde mental do trabalhador das unidades prisionais;

- Trabalho com egressos do sistema prisional.

194 A Central de Penas Alternativas e o Núcleo de Atendimento ao Egresso, ambos vinculados à Secretaria de Administração Penitenciária – Departamento de Reintegração Social Penitenciário. 195 Organizado pelo Grupo de Trabalho Sistema Prisional- CRP SP e realizado em 10/03/2007 na Subsede do Grande ABC – Santo André – SP.

116

Os apontamentos/teses elaborados, no I Encontro Estadual, foram encaminhados ao

VI Congresso Regional de Psicologia da 6ª Região196 e o resultado dos trabalhos desse,

posteriormente encaminhado ao VI Congresso Nacional de Psicologia – Do discurso do

compromisso social à produção de referências para a prática: construindo o projeto coletivo

da produção197, com o objetivo de aprovar as diretrizes básicas para a ação dos Conselhos de

Psicologia.

A seguir apresentamos as teses elaboradas no I Encontro Estadual e encaminhadas ao

VI Congresso Regional sendo que a sistematização do trabalho organizado e desenvolvido,

deu-se a partir dos três eixos de orientação dos trabalhos nos Congressos Regional e Nacional,

ou seja: Aperfeiçoamento democrático do sistema de conselhos; Diálogos para construção dos

projetos coletivos da profissão; e intervenção dos psicólogos nos sistemas institucionais, a

saber:

Tabela 14 - Teses elaboradas no I Encontro Estadual da Atuação do Psicólogo no

Sistema Prisional

VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região - VI CNP Eixos

Aperfeiçoamento Democrático do Sistema Conselhos

Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão

Intervenção dos psicólogos nos sistemas institucionais

Tema das TesesCampanha contra o encarceramento

Visitas orientadas e/ou fiscalizaçãoàs unidades prisionais

Avaliação Psicológica (exame criminológico)

Condições de trabalho dos psicólogos

Atuação profissional

Atribuição profissional Ações relacionadas à saúde no sistema prisional

Portal - prontuário informatizadoProjetos de Reintegração SocialExame criminológico

Atuação da Comissão de Orientação e Fiscalização e da Comissão de Direitos Humanos do CRP

Intervenção psicológica junto aos trabalhadores do sistema prisional – saúde do trabalhador

Formação/qualificação profissional

196 Realizado em São Paulo-SP, no período de 04 a 06/05/07. 197 Realizado em Brasília-DF, no período de 14 a 17/06/07.

117

Atuação para a prática preventiva em situações de risco – saúde do trabalhadorSupervisão da atuação dos técnicos do sistema prisional – saúde do trabalhadorQualificação profissionalMapeamento no sistema prisional (Redes parcerias)Críticas ao Sistema Prisional

Criação de canais de interlocução Fonte: Conselho Regional de Psicologia – 6ª Região – São Paulo, 2007.

Na análise da tabela 17198 identificamos cinco referências às atribuições do psicólogo

no sistema prisional paulista, as quais descrevemos: prontuário informatizado, exame

criminológico, projetos de reintegração social, intervenção psicológica junto aos trabalhadores

do sistema prisional e ações relacionadas à saúde no sistema prisional. Indicado ainda, as

dificuldades e desafios a serem superados quanto ao desenvolvimento destas atribuições,

conforme descrito a seguir:

1. Prontuário Informatizado, denominado também prontuário virtual, faz referência

direta a uma das atribuições do psicólogo no sistema prisional paulista, a entrevista

de inclusão. Essa entrevista deve ser realizada com a pessoa presa quando de sua

entrada na unidade prisional; trata-se de uma investigação psicossocial, buscando

conhecer o período da infância e da vida adulta (educação formal, trabalho e

família) da pessoa e os motivos da prisão, entre outros199.

As entrevistas de inclusão são lançadas num prontuário virtual, o qual integra o

programa informatizado de banco de dados da Secretaria de Administração

198 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.199 Instrumental padronizado conforme a especificidade do regime (provisório e fechado), composto por 80 itens, dos quais 67 são questões (28 específicas da área de Psicologia e 39 específicas da área de Serviço Social) e os 13 itens restantes referem-se à análise e considerações técnicas.

118

Penitenciária (denominado Gerenciamento Penitenciário – Gepen), sendo o

instrumental e a de digitalização das entrevistas “alvo de críticas pelos psicólogos,

tanto em relação às questões inconsistentes quanto à falta de acesso às informações

gerais (estatística da unidade); os psicólogos desconhecem o objetivo de tal

atividade e procuram romper com a característica “mecânica” e “restrita” dessas

entrevistas.” 200

2. O exame criminológico, conforme destacado em capítulo anterior, realizado pela

Comissão Técnica de Classificação com o objetivo de obter dados indicativos

referentes à pessoa presa para classificação e individualização da execução da

pena, bem como, e de propor à autoridade judicial a mudança de regime penal,

cabendo ao psicólogo o exame da personalidade e o diagnóstico psicológico.

Em relação ao exame criminológico, destacamos o apontamento realizado pelo

Grupo de Trabalho do Encontro Estadual em questão, o qual destaca a “ausência

de qualidade na realização de exame criminológico, esbarrando em questões éticas

que incompatibilizam um mesmo profissional de realizar diferentes procedimentos

dentro da unidade com os mesmos sujeitos”.201

Como diretriz para encaminhamento dessa questão é sugerida a criação de centros

de referência para avaliação criminológica e “preparo profissional”.

200 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.201 Ibid.

119

3. Projetos de Reintegração Social, os apontamentos indicam a falta de condições

para realização ou continuidade dos referidos projetos, desde os recursos materiais

até a dinâmica institucional.

4. Intervenção psicológica junto aos trabalhadores que atuam no sistema prisional -

saúde do trabalhador. Cabe destacar, que em outra tese, denominada “Atuação

para a prática preventiva em situações de risco - saúde do trabalhador”, há

referência ao grupo de acolhimento, o qual realiza atendimento psicológico (em

caráter emergencial) aos funcionários que passam por situações de risco (rebeliões,

ameaças, etc.).

5. No tema da tese, ações relacionadas à saúde no sistema prisional, destacamos o

atendimento psicológico como atribuição do psicólogo, considerando que os

apontamentos indicam a “falta de assistência à saúde dos presos/detentos”, tanto

na parte clínica quanto na saúde mental” 202, fazendo referência, ao número

defasado de psicólogos no sistema prisional.

6. Encontramos uma referência direta ao atendimento psicológico como atribuição do

psicólogo no sistema prisional, na tese “Condições de trabalho dos psicólogos”,

quando há indicação no que diz respeito à falta de salas para atendimento.

202 I Encontro Estadual Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no Sistema Prisional, Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região SP, São Paulo, 2007, Teses Elaboradas para o VI Congresso Regional da Psicologia da 6ª Região- VI CNP.

120

Com referência ao tema da tese “Condições de trabalho dos psicólogos”, citada

anteriormente, há apontamentos que indicam “a falta de condições para o trabalho”, numa

alusão à falta de recursos humanos e materiais, e à ausência de espaços físicos adequados para

atendimento individual ou grupal.

Quanto às teses elaboradas em relação ao eixo – “Aperfeiçoamento democrático do

sistema conselhos”, destacamos a indicação da importância da articulação, interlocução e

atuação do sistema conselhos junto aos órgãos federais e estaduais, principalmente a

Secretaria da Administração Penitenciária, entidades afins, Sindicato dos Psicólogos e

sociedade.

121

9. CARACTERIZAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO NO SISTEMA

PRISIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO SEGUNDO OS PRÓPRIOS

PROFISSIONAIS

Com base nos dados indicados pelos profissionais que participaram desta pesquisa, os

quais representam aproximadamente 5,5% do universo total dos psicólogos que integram o

quadro funcional da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo,

apresentamos neste capítulo, a identificação do grupo participante e respectivas atividades

profissionais.

As práticas indicadas pelos referidos profissionais foram: mapeadas por unidade

prisional e respectivo regime; classificadas em oito categorias, e em ordem numérica

crescente em conformidade com a prioridade indicada pelos psicólogos; sistematizadas em

relação à freqüência da execução das atividades; técnicas empregadas e objetivo da prática

profissional.

9.1 Identificação dos profissionais

Do universo de 329 psicólogos, 18 profissionais participaram desta pesquisa,

representando 5,5 % do universo total, destes 14 são psicólogas e 04 psicólogos.

Considerando a situação conjugal dos referidos profissionais, 61,1% são casados ou

mantém união estável e 27,8% são solteiros. A idade informada pelos profissionais varia de

29 a 52 anos, com maior concentração de profissionais na faixa etária de 35 e 45 anos.

Considerando o ano de ingresso, como psicólogo, no sistema prisional do Estado de

São Paulo, a maior incidência é identificada no período de 1985 a 1995, tendo estes

profissionais no mínimo quatro anos de atuação no sistema prisional e no máximo 21 anos, os

122

quais apresentam como forma de admissão o concurso público, sendo servidores estatutários.

Excetuam-se os profissionais que atuam nos Centros de Ressocialização, conforme

especificado anteriormente.

Constatamos a carga horária média de trinta horas semanais, pelas quais os

profissionais percebem um salário médio bruto de R$1.400,00 (hum mil e quatrocentos reais).

Em relação à formação declarada podemos identificar a atenção aos temas ou áreas, a

saber:

- Especialização (360h): psicopedagogia; clínica; cinesiologia psicológica e

integração psicofísica; psicologia corporal neo-reichiana; psicanálise; educação;

hospitalar; técnicas de ludoterapia; sociologia (violência doméstica); área da

saúde, dinâmicas corporais em expressões terapêuticas;

- Stricto sensu (mestrado): educação;

- Stricto sensu (doutorado): psicologia escolar e do desenvolvimento humano;

psicologia social .

9.2 Identificação da prática profissional

As atividades indicadas pelos referidos profissionais apresentam significativa

variação em relação à denominação de determinada atividade e ao sujeito destinatário de

atenção. Portanto, as atividades foram agrupadas e classificadas em oito categorias, sendo a

denominação de cada categoria relacionada pela similaridade das atividades agrupadas e o

sujeito da atenção profissional, categorias essas destacadas a seguir, juntamente com os

apontamentos apresentados pelos s profissionais que colaboraram com este estudo, a saber:

123

1. Atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa, esta categoria de

atividades agrupa as seguintes indicações: “acompanhamento de pessoas presas que,

em função do aprisionamento, propõe-se a refletir” (Marcos Vinícius); “atendimento a

portadores de HIV/AIDS” (Rafaela); “atendimento psicológico” (Maria Clara);

“atendimento psicológico de apoio em momento de crise” (João Victor); “atendimento

aos pacientes presos” (Maria Eduarda); “acompanhamento psicológico dos pacientes

internados” e “atendimento emergencial dos pacientes em estado grave ou terminal”

(Maria Fernanda); “acompanhamento psicológico” (Pedro Paulo); “atendimento aos

reeducandos com crise existencial” e “atendimento a reeducandos que solicitam

acompanhamento para deixar a dependência química” (Gabriel); e ainda, o

atendimento aos que o solicitam via “bilhetes” e “cartinhas”, “atendimento a detentos

que solicitam através de bilhete” (Amanda e Rafaela); “atendimento às suas

solicitações em geral, através de cartinhas” (Gabriel).

2. Entrevista de inclusão, esta categoria de atividades destina-se à pessoa presa e

agrupa as seguintes indicações: “entrevista de inclusão” (Marcos Vinícius e Maria

Clara); “inclusão de detentos” (Rafaela); “entrevista de ‘inclusão’ (anamnese)” (João

Victor); “entrevista inicial aos pacientes recém-internados” (Maria Fernanda);

“entrevista inicial” (Pedro Paulo); “entrevista psicológica” (Ana Maria); “inclusão

psicológica, incluir o reeducando no sistema penitenciário” (Gabriel).

3. Atendimento e ações voltadas ao funcionário, esta categoria de atividades

agrupa as seguintes indicações: “atendimento de apoio aos funcionários” (Júlio César);

“atendimento aos funcionários” (Maria Fernanda); “atendimento, orientação, terapia a

funcionários com problemas relacionados ao trabalho” (Ana Maria); “atendimento

124

psicoterápico” (João Paulo); “projeto de saúde para servidores penitenciários” (João

Pedro).

4. Avaliação psicológica, esta categoria de atividades destina-se à pessoa presa ou

atendimento à solicitação judicial, e agrupa as seguintes indicações: “avaliação

psicológica de presos” (Marcos Vinícius e Maria Clara); “elaboração de laudos

psicológicos” (João Victor); “relatório psicossocial” (Gabriel); “psicodiagnóstico”

(Iago).

5. Projetos sociais e trabalhos em grupos, esta categoria de atividades destina-se à

pessoa presa e agrupa as seguintes indicações: “grupos com reeducandos que estão em

liberdade condicional e semi-liberdade ganhos” (Gabriel); “preparação para saída

temporária”, “inclusão grupal” e “motivação para o trabalho” (Iago); “avaliação e

desenvolvimento de projetos psicossociais, junto aos egressos” (João Pedro); “grupos

operativos em parceria com o serviço social” (Ana Carolina).

6. Atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa , essa categoria de

atividades agrupa as seguintes indicações: “acompanhamento e orientação a familiares

de presos” (Marcos Vinícius); “atendimento aos familiares dos pacientes”; (Maria

Fernanda); “atendimento aos familiares” (Pedro Paulo).

7. Discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar, esta categoria de

atividades agrupa as seguintes indicações: “discussão de casos” (Júlio César);

“reuniões de equipe interdisciplinar” (Maria Paula e Ana Carolina).

8. Inserção de dados no sistema de gestão penitenciária203, esta categoria de

atividades agrupa as seguintes indicações: “inserção dos dados no Portal Gestão

Penitenciária” (Rafaela); “alimentação do portal” (Maria Clara); “digitação das

203 Sistema de gerenciamento de dados da Secretaria de Administração Penitenciária, denominado Portal de Gestão Penitenciária (Gepen).

125

entrevistas de inclusão” (Júlio César); “lançamento de entrevistas de inclusão no

portal” (Maria Luiza).

9.2.1 A prática profissional por unidade e respectivo regime prisional

Consideramos que as atividades dos profissionais da área de psicologia pouco diferem

em especificidade e ordem de prioridade de execução quando analisadas em relação à unidade

prisional e respectivo regime204.

Examinando os apontamentos apresentados pelos profissionais que participaram

desta pesquisa, quanto à prioridade das atividades desenvolvidas, podemos observar,

conforme a Tabela 15, a predominância do acompanhamento psicológico à pessoa presa em

relação às outras atividades, seguido pela entrevista de inclusão; e na terceira posição, inicia-

se a diferenciação da prioridade das atividades, conforme a unidade prisional, a saber:

Tabela 15 – Prática profissional, unidade e respectivo regime prisional

Ordem de

prioridade

C D Pfechado

provisório

Penitenciária Fechado

C P P semi-aberto H C T P

C R provisóriofechado e

semi-aberto

1Atendimentopsicológico à pessoa presa

Atendimento psicológico à pessoa presa

Atendimento psicológico à pessoa presa

Atendimentopsicológico à pessoa presa

Entrevista de

inclusão

2Entrevista

de inclusão

Entrevista de

inclusão

Entrevista de

inclusão

Entrevista de

inclusão

Projetos sociais e

trabalhos em grupos

3Atendimento e ações voltadasao funcionário

AvaliaçãoPsicológica

Atendimento e ações voltadasao funcionário

Atendimentoà família da pessoa presa

Atendimentopsicológico à pessoa presa

4Avaliação

Psicológica

Atendimento e ações voltadasao funcionário

Avaliação Psicológica

Atendimento e ações

voltadas ao funcionário

Discussão de caso e reunião

equipeinterdisciplinar

204 A saber: centro de detenção provisória (CDP), regime fechado provisório; penitenciária, regime fechado; centro de progressão penitenciária (CPP), regime semi-aberto; centros de ressocialização, o qual atende os três regimes especificados; e hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (HCTP).

126

5Atendimento

família da pessoa presa

Discussão de casos e

reunião de equipe

interdisciplinar

Atendimento à família da

pessoa presa

6

Discussão de casos e reunião

de equipe interdisciplinar

7Projetos sociais e trabalhos em

grupos

8Inserção de

dados - GepenFonte: Pesquisa realizada, no período de 2006 a 2007, junto aos psicólogos que atuam nos sistema prisional paulista.

Podemos observar que as atividades diferenciam-se a partir da posição três da ordem

de prioridade, conforme apresentado na tabela anterior, mantendo outras três atividades

oscilantes entre o terceiro, quarto e quinto lugar, quais sejam: atendimento e ações voltadas

ao funcionário do sistema prisional, avaliação psicológica e atendimento e acompanhamento

à família da pessoa presa. Diferenciando-se as atividades desenvolvidas no CR, que agrupa

em uma única unidade os três regimes citados anteriormente, e o hospital de custódia e

tratamento psiquiátrico, por guardarem suas especificidades. 205

Considerando o número de vezes de determinada atividade ser referenciada pelos

psicólogos que participaram deste estudo, e os dados apresentados no capítulo 7, sub-título

7.2.3206, podemos constatar que a prática profissional do psicólogo no sistema prisional se dá

através das atividades relacionadas a seguir, segundo a ordem de classificação de prioridade, a

saber:

1. Atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa;

2. Entrevista de inclusão; 205 Cf. Sistema prisional do Estado de São Paulo. Cap.7, deste trabalho. 206 Cf. Caracterização das atribuições do psicólogo do sistema prisional do Estado de São Paulo segundo registros do Conselho Regional de Psicologia – 6ª Região, São Paulo.

127

3. Atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional;

4. Avaliação psicológica;

5. Atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa;

6. Discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar;

7. Projetos sociais e trabalhos em grupos;

8. Inserção de dados no sistema de gestão penitenciária;

9.2.2 - Sistematização em relação à freqüência da execução das atividades

Tomando como referência as atividades apresentadas, analisamos a seguir a

freqüência das respectivas ações, conforme descrito:

1. Atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa, atividade

prioritária, desenvolvida diariamente, em atendimentos individuais, sistematizados

em períodos semanais (preponderante), quinzenais e mensais, podendo ainda,

caracterizar-se num único atendimento e sem continuidade.

2. Entrevista de inclusão, atividade realizada individualmente e diariamente, com

exceção da indicação de um profissional que a realiza semanalmente.

3. Atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional, atividade

desenvolvida individualmente (preponderante) e em grupo, sistematizadas em

períodos semanal e quinzenal;

4. Avaliação psicológica, atividade realizada individualmente e mensalmente;

5. Atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa, atividade

desenvolvida individualmente e em grupo, sistematizada em período semanal;

128

6. Discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar, atividade realizada

semanalmente;

7. Projetos sociais e trabalhos em grupos, atividade desenvolvida em grupo,

sistematizadas em períodos semanal, quinzenal e mensal;

8. Inserção de dados no sistema de gestão penitenciária, atividade realizada

semanalmente;

Destacamos que não observamos diferença na freqüência das atividades

desenvolvidas em relação às unidades prisionais e respectivos regimes.

9.2.3 Atividades desenvolvidas e técnicas empregadas

As técnicas empregadas para o desenvolvimento das atividades não foram

amplamente apontadas, porém observamos que, apesar do número reduzido de indicações, as

técnicas se repetem demonstrando diminuta variação, conforme destacamos a seguir, por meio

das manifestações dos psicólogos que contribuíram com este estudo.

1. Atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa: “atendimento

individual” (Rafaela); “entrevista aberta, rapport e escuta” (Maria Clara);

“abordagem existencial humanista e analítica, normalmente a técnica da

confrontação (João Victor); “metodologia psicanalítica e/ou acolhimento” (Maria

Fernanda); “terapia breve e focal” (Maria Fernanda); “aconselhamento psicológico

e psicoterapia breve” (Gabriel); “terapia de base psicanalítica” (Iago);

129

2. Entrevista de inclusão: “atendimento individual” (Rafaela); “entrevista dirigida”

(Maria Clara, Júlio César e Gabriel); “entrevista fechada, sistematizada”.

(questionário) (João Victor); “entrevista semi-dirigida” (Maria Fernanda);

“técnicas de entrevista” (Iago);

3. Atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional:

“embasamento teórico da técnica psicanalítica” (Júlio César);

4. Avaliação psicológica: “entrevista aberta” (Maria Clara) e (João Victor);

“técnicas de psicodiagnóstico” (Iago); “entrevistas e testes” (Ian);

5. Atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa: entrevistas e

atendimento individual;

6. Discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar: “discussão do caso em

equipe” (Júlio César);

7. Projetos sociais e trabalhos em grupos: “grupos operativos, psicodrama, estórias

e dinâmica” (Gabriel); “dinâmicas de grupo, leitura de textos, exposição oral e

discussões sobre o tema” (Iago);

8. Inserção de dados no sistema de gestão penitenciária: “inclusão de dados

através da internet” (Rafaela); “digitar as informações que constam na entrevista”

(Júlio César);

Quanto às orientações teórico-metodológicas na prática profissional, foram

indicadas: “sócio-histórica” (Marcos Vinícius); “psicologia transpessoal” (Rafaela e Ian);

“psicodinâmica e eventualmente trabalho corporal” (Maria Clara); “existencialista e

psicanalítica” (João Victor); “psicanalítica” (Júlio César e Ana Maria); “psicodinâmica e

psicanalítica” (Maria Fernanda); “experimental e cognitivista” (João Paulo); “existencialista e

psicodrama” (Gabriel); “psicodrama e psicanalítica” (Iago).

130

9.2.4 As atividades e seus respectivos objetivos

A exemplo do tratamento dado às atividades apresentadas, os objetivos indicados

foram agrupados e relacionados à respectiva categoria de atividade profissional, conforme

destacamos a seguir, por meio das indicações apresentadas pelos psicólogos que participaram

deste estudo.

1. Atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa: “orientar sobre o

uso correto da medicação, cuidados com a saúde, e esclarecer dúvidas sobre o

vírus, a doença e tratamento (HIV/DST). Apoio emocional durante sua

permanência nesta instituição” e “atender aqueles que necessitem de apoio

emocional. Esclarecer dúvidas e encaminhar para as áreas competentes”

(Rafaela); “dar suporte e acolhimento quando solicitado pelo reeducando. Fazer

encaminhamento e orientações” (Maria Clara); “suporte psicológico, diminuição

da ansiedade, valorização da vida” (João Victor); “observar e intervir na

dinâmica emocional do paciente frente à situação de hospitalização” e “dar

suporte emocional aos pacientes em estado grave ou terminal” (Maria Fernanda);

“atendimento a reeducandos com situações de crise emergencial (ansiedade,

depressão, tentativa de suicídio, dependência com drogas, dívidas, ameaça de

morte)” e “reflexão sobre suas escolhas, vícios e comportamento e incutir

consciência sobre o cerceamento da liberdade e as possíveis perdas como

conseqüência” (Gabriel); “atendimentos focais e aconselhamento psicológico”

(Ana Carolina); “tratamento psicoterápico para transtornos mentais, leves,

médios e graves” (Iago);

131

2. Entrevista de inclusão: “acolher e orientar a pessoa presa que chega à unidade”

(Marcos Vinícius); “conhecer melhor o reeducando e dar-lhe orientações gerais”

(Maria Clara); “conhecer alguns pontos básicos da história de vida do indivíduo

até sua chegada no sistema penitenciário, individualização da pena” (João

Victor); “avaliar o perfil psicológico e levantar informações sobre o histórico de

vida” (Júlio César); “levantamento de informações sobre o paciente, histórico

pessoal, delituoso e situação atual” (Maria Fernanda); “colher dados e conhecer”

(João Paulo); “conhecer a pessoa, seu desenvolvimento e vida criminal”

(Gabriel); “conhecer a história pessoal do reeducando, avaliar a necessidade de

encaminhamentos individuais, conforme a individuação da pena proposta na

LEP” (Iago); “avaliar o perfil do reeducando e identificar suas necessidades para

encaminha-lo aos projetos” (Ana Carolina);

3. Atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional: “dar

suporte e acolhimento quando solicitado pelo funcionário. Fazer encaminhamento

e orientações” (Maria Clara); “escutar as queixas pessoais e/ou profissionais e

orientar sobre as mesmas” (Júlio César); “acompanhamento psicológico aos

funcionários vítimas de stress desencadeado pela atividade” (Maria Fernanda);

“algumas demandas de emergência e, esporadicamente, alguns casos individuais

na área de saúde mental do trabalhador” (Maria Luiza);

4. Avaliação psicológica: “realizada quando necessária para encaminhamento a

outro tipo de regime prisional, por juiz ou outras autoridades” (Marcos Vinícius);

“levantamento das condições psicológicas globais” “dar suporte e acolhimento

quando solicitado pelo reeducando. Fazer encaminhamento e orientações” (Maria

Clara); “solicitar transferência de unidade prisional, bem como para embasar

decisão judicial na concessão de benefício” e “apresentar o indivíduo em suas

132

características observáveis naquele dado momento para uma pessoa e/ou

instituição que não o conhece” (João Victor); “para transferência de unidade por

aproximação familiar ou para centro de ressocialização [...] fortalecer vínculos

afetivos familiares [...] adequar o perfil do sentenciado à estrutura da unidade,

que o preparará melhor para sua liberdade à sociedade” (Gabriel);

“encaminhamento para tratamento em unidades especializadas casos de

transtornos mentais graves ou crônicos” (Iago); “realizado [...] para transferência

de unidade [...] e quando solicitado pelo poder judiciário” (Ana Carolina);

5. Atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa: “orientação e

reflexão sobre motivos/causas ou características ambientais e individuais que

propiciaram atos de delinqüência” (Marcos Vinícius); “orientação e suporte aos

familiares quanto à angústia” (Maria Fernanda); “orientação e acompanhamento

de suas necessidade físicas e psíquicas” (Ana Maria);

6. Discussão de casos e reunião de equipe interdisciplinar: “intervenção de caso

da equipe interdisciplinar [...] para possíveis encaminhamentos e orientações”

(Júlio César); “Discutir os casos que chegaram à Unidade; Direcionar as

atividades ressocializadoras que forem adequadas ao interno. Esclarecer, durante

entrevista devolutiva ao interno , a necessidade de participar ativamente do seu

processo de reintegração social, estando presente às atividades ressocializadoras

para as quais foi encaminhado.A reunião é um espaço de reflexão e troca entre os

profissionais, buscando o crescimento e maior qualidade nos projetos.” (Ana

Carolina e Maria Paula);

7. Projetos sociais e trabalhos em grupos: “conscientizar e preparar os

reeducandos para um outro regime beneficiado, mas ainda com restrições”

(Gabriel); “informações gerais sobre a saída temporária e propor um espaço de

133

acolhimento no retorno da saída temporária” e “Informá-los sobre o

funcionamento do trabalho externo, na cidade” (Iago); “projeto com interface

entre o cárcere e a sociedade, aproximando delinqüentes e vítimas (João Pedro);

“Temos usado bastante o manual do Departamento de Reintegração Social. Hoje

temos desenvolvido grupos com os seguintes temas: Primários, Provisórios,

Reincidentes, Sem visita, Grupo de Pais, Refletindo a música, Integração

Disciplinar, Assembléia Geral de Recepção aos internos. Reuniões de saída

temporária. Entendemos os grupos como estrutura básica de interação, assim,

criamos um espaço para reproduzir as relações cotidianas e os vínculos, pondo

em jogo os modelos internos, discutindo e pensando em novas formas, mais

adequadas e saudáveis de pensar e agir.” (Ana Carolina e Maria Paula).

8. Inserção de dados no sistema de gestão penitenciária: “segundo a Diretoria de

Reintegração Social, o objetivo seria levantar dados para verificar qual a

demanda dos detentos, para a criação de novos projetos” (Rafaela); “alimentar o

sistema de informação geral” (Maria Clara); “registro das inclusões no Gepen [...]

digitar as informações que consta na entrevista” (Júlio César);

Conforme análise dos dados, constatamos a similaridade entre os objetivos indicados

nas atividades de atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa, à família dessa

pessoa e, o atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional, atividades que

concentram os objetivos voltados ao suporte, apoio, acolhimento, acompanhamento,

tratamento e orientação psicológica, caracterizando assim a preponderância da prática

profissional do psicólogo no sistema prisional voltada à área de saúde/clínica da psicologia.

A entrevista de inclusão é apresentada como um instrumento e procedimento de

recepção e identificação, podendo tratar-se de um primeiro contato com a pessoa presa, tendo

134

como objetivo dado conhecer, colher dados, orientar e subsidiar a individualização da pena,

sendo as informações levantadas e inseridas no sistema informatizado de gestão penitenciária.

Cabe lembrar as críticas apresentadas pelos profissionais da área de Psicologia ao

instrumental e ao acesso aos dados, conforme indicado anteriormente207.

A avaliação psicológica, atribuição definida legalmente, tendo o psicólogo a

responsabilidade de colaborar com a Comissão Técnica de Classificação (CTC) na

elaboração do parecer técnico para subsidiar análise e encaminhamento processual para

progressão, regressão ou mudança de regime, bem como, parecer técnico objetivando a

classificação do condenado ou preso provisório para elaboração do programa

individualizador da pena privativa de liberdade.

As atividades agrupadas na categoria projetos sociais e trabalhos em grupos,

apresentam como objetivo a informação e orientação quanto ao cumprimento da pena

privativa em liberdade focando a progressão do regime, saída temporária e a liberdade.

Portanto, podemos constatar que, segundo análise do Manual de Reintegração Social, o foco

prioritário de atenção é o eixo - A Pena, projetos destinados à adaptação da pessoa presa ao

regime em que se encontra; a preparação para o regime seguinte; o retorno a regime anterior;

saída temporária com retorno e a preparação para a liberdade condicional.

Cabe destacar, na categoria de atividades, projetos sociais e trabalhos em grupo, uma

indicação de “projeto com interface entre o cárcere e a sociedade, aproximando delinqüentes

e vítimas” (João Pedro).

Como alternativa para elucidação e objetividade do exposto anteriormente,

destacamos a Tabela a seguir:

207 Cf. Capítulo 08, subtítulo 8.2.3, deste trabalho.

135

Tabela 16 – As práticas profissionais, respectivos objetivos e sujeitos de atenção

Práticas Sujeitos de atenção ObjetivosAtendimento e

acompanhamento psicológico

Pessoa presa;Funcionário do sistema prisional;

Familiares da pessoas presa;

Suporte, apoio, acolhimento tratamento e orientação psicológica;

Pessoa presa;Recepção; conhecimento, orientação à pessoa presa; orientação à individualização da pena de privação de liberdade;

Entrevista de inclusão

Sistema prisional; Identificação; classificação;

Sistema Judicial;Exame, classificação e avaliação psicológica, e elaboração de laudo/parecer psicológico;

Sistema Prisional;Exame, classificação e avaliação psicológica, e elaboração de laudo/parecer psicológico;

Avaliação psicológica

Pessoa Presa;Orientação à individualização da pena de privação de liberdade;

Projetos sociais e trabalhos em grupo;

Pessoa Presa; Sistema prisional;

- Reintegração social;- Interação e estabelecimento de vínculos;- Grupos voltados ao tema - a pena: recepção, adaptação, preparação à progressão de regime e liberdade;- Grupos voltados a outros temas: visitas, pais, música, etc.

Discussão de Casos e reunião de equipe

interdisciplinar

Funcionário;Pessoa presa;

Reflexão; troca; intervenção; crescimento profissional e de qualidade do trabalho;

Fonte: Pesquisa realizada, no período de 2006 a 2007, junto aos psicólogos que atuam nos sistema prisional paulista.

Em complemento aos dados apresentados e segundo revisão bibliográfica referente à

prática do psicólogo no sistema prisional paulista, destacamos a pesquisa realizada por Lígia

Márcia Martins (1989), a qual estudou “A natureza do trabalho do psicólogo em

estabelecimentos penais”, pesquisa essa realizada junto aos psicólogos do sistema prisional

paulista. Nesse trabalho Martins constata:

[...] a perícia criminológica como função institucionalmente

definida enquanto prioritária. Paralelamente [...] os atendimentos

psicoterápicos necessariamente individuais em algumas instituições, e com

possibilidade de serem grupais em outras. Entretanto pudemos verificar que

136

no seu entendimento o papel do psicólogo poderia ou mesmo deveria ser

muito mais abrangente, compreendendo inúmeras outras possibilidades, que

poder-se-iam resumir na reabilitação do homem detido [...] assim sendo,

tanto a função de perito, quanto de psicoterapeuta, assumiriam outras

dimensões [...] (Martins, 1989, p.73 e 74).

Cabe ressaltar que a referida autora analisa a diferença do papel do psicólogo em

função do regime de cumprimento da pena de privação de liberdade, regimes fechado ou

semi-aberto, sendo apontado que no regime fechado “a prática do psicólogo diz respeito

exclusivamente à perícia ”208, enquanto que no regime semi-aberto, “encontramos além da

perícia, a possibilidade de psicoterapia breve, ou atendimentos de orientação psicológica” 209.

Do exposto e considerando a contratação dos primeiros psicólogos no sistema

prisional do Estado de São Paulo nos anos de 1977 e 1978, as referências legais de 1979 e

1984210, a pesquisa de Martins (1989), a alteração da LEP dada pela Lei nº. 10.792 em 2003 e

os dados apresentados nesta pesquisa, definimos que a prática do psicólogo no sistema

prisional paulista é influenciada e redefinida em três momentos significativos e distintos de

orientação às atribuições desse profissional.

Podemos identificar o primeiro momento anterior a Lei nº. 10.792/03 e, o segundo

momento, de reorientação das atribuições, posterior à referida lei, conforme relata-nos

Amanda, psicóloga que atua no sistema prisional paulista há mais de quinze anos:

[...] dois momentos: um antes de 2004, quando o Congresso

Nacional aprovou uma lei211, alterando alguns artigos da LEP, um dos

artigos diz respeito ao exame criminológico que era uma atribuição do

208 Martins, 1989, p. 74.209 Ibid., p. 75.210 Lei de Execução Penal, Lei nº. 7210/84 e Decretos Lei de São Paulo. 211 Referência à Lei 10.792/03.

137

psicólogo, mais assistente social, mais psiquiatra dentro das prisões até 2004

[...] atividade preponderante do psicólogo em presídio era o exame

criminológico [...] eu conversei com muitos psicólogos [...] nessa minha

vivência em presídios [...] raramente um psicólogo dizia que fazia algo além

do exame criminológico, atividade preponderante até 2004 [...] então foi

sancionada essa lei e os laudos, os exames psicológicos e pareceres da

Comissão Técnica se tornaram facultativos [...] o exame criminológico

acabou deixando de existir, deixando de ser solicitado e deixando de ser

feito; com esse fim do exame criminológico o psicólogo, eu diria, ficou um

tanto quanto perdido com relação ao que fazer dentro prisão [...] qual era a

idéia, saúde mental dentro da prisão, saúde mental dos sentenciados,

eventualmente dos familiares e saúde mental dos funcionários. Eu acho que

a grande pergunta era como fazer isso [...] dentro da prisão [...] esquema de

rotina, segurança e vigilância [...] (Amanda, 2007)

O psicólogo, sendo membro integrante da Comissão Técnica de Classificação - CTC,

tem sua função de perito oficial destituída legalmente, quando é facultado ao Estado o

atendimento às solicitações judiciais referente à elaboração de parecer técnico pela CTC para

avaliar e propor a progressão, regressão ou mudança de regime.

No vácuo da legislação apresentada, período de 2003 a junho de 2006, entendemos a

liberação do psicólogo para a reorientação de suas atribuições, além da classificação do

condenado ou preso provisório para elaboração do programa individualizador da pena

privativa de liberdade.

Dentre as atribuições definidas legalmente, pudemos constatar, mediante a

temporária alteração da Lei de Execução Penal, no período supra citado, um ensaio de

experimentação de outras práticas alheias à função de perito oficial. Nesse ensaio,

138

identificamos práticas ou iniciativas que alternam o público alvo, bem como, os objetivos do

trabalho. Porém, a predominância da atuação do psicólogo é na área clínica/saúde, fato que

reitera a idealização da profissão do psicólogo numa construção histórica e hegemônica da

profissão voltada à área clínica e atendimento individualizado.

O terceiro momento de orientação da sua atribuição é caracterizado pela retomada da

orientação legal da atribuição do psicólogo junto a CTC, quando a Secretaria da

Administração Penitenciária do Estado de São Paulo retoma a obrigatoriedade da elaboração

de pareceres técnicos em atendimento às solicitações judiciais. Lembrando ainda que, nesse

mesmo ano é julgada a inconstitucionalidade da Lei nº. 10.792/03, relativa à alteração dos

artigos 6º e 112, da Lei de Execução Penal. Assim o psicólogo retoma sua atribuição oficial,

como aponta Amanda em 2007, psicóloga do sistema prisional paulista:

[...] o secretário adjunto [...] ele diz [...] ser admirador dos

trabalhos técnicos [...] e o exame criminológico tem que ser peça

fundamental no processo. Então o que a gente tem hoje, duas pessoas no

comando da secretaria que acreditam que o exame tem que voltar, deve ser

feito novamente. O que está acontecendo?

Os presídios estão recebendo pedidos dos juízes da varas criminais locais

para fazer exames [...] então o exame criminológico é algo que está

voltando, algo que está retornando. (Amanda, 2007)

139

10. CONCLUSÃO

Durante o curto espaço de tempo dedicado a esta pesquisa, período de 2005 a 2007,

pudemos conhecer e compartilhar com diferentes profissionais e instituições afins, os diversos

questionamentos e reflexões que permeiam a prática do psicólogo no sistema prisional.

Indagações e reflexões essas em relação às atribuições profissionais, o papel da

psicologia nas prisões, a formação do psicólogo para atuar no sistema prisional, a ética

profissional, entre outras, na busca de referências profissionais para superar os desafios que se

colocam frente à realidade do nosso sistema prisional.

Neste trilho, constatamos a construção paulatina, contínua e desafiadora da prática do

psicólogo no sistema prisional, influenciada e protagonizada pelos diversos atores envolvidos

na construção e referência das atribuições profissionais.

Com base nos dados apresentados, podemos concluir que a prática do psicólogo no

sistema prisional do Estado de São Paulo é traduzida por diversas atribuições, objetivos e

diferentes sujeitos de atenção por parte dele, psicólogo, no sistema prisional e judiciário, a

saber: atendimento e acompanhamento psicológico à pessoa presa; entrevista de inclusão ao

sistema prisional; atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema prisional; avaliação

psicológica (perícia oficial); atendimento e acompanhamento à família da pessoa presa;

desenvolvimento de projetos voltados à reintegração social e trabalhos em grupos; discussão

de casos e reunião de equipe interdisciplinar; e a inserção (digitalização) de dados em

prontuário virtual.

Observando o exposto e a conclusão deste trabalho, apresentamos as considerações, a

seguir:

140

1. Excetuando-se o atendimento e ações voltadas ao funcionário do sistema

prisional, as atribuições do psicólogo no sistema prisional são estruturadas em

atendimento aos diferentes momentos do cumprimento da pena de privação de

liberdade (entrada, permanência, progressão de regime e saída), desencadeando a

atenção pontual sobre os problemas cruciais e específicos de cada fase, conforme as

atribuições supracitadas. Não observamos o desenvolvimento de ações encadeadas,

contínuas e progressiva, características de um programa de intervenção e

individualização da pena;

2. Em suas diferentes atribuições, os psicólogos têm como alvo de atenção

diversos sujeitos, “esbarrando em questões éticas que incompatibilizam um mesmo

profissional de realizar diferentes procedimentos dentro da unidade com os mesmos

sujeitos” 212, o que pressupõe a necessidade de priorizar ações, objetivos e sujeitos;

3. Consideramos oportuna a crítica apresentada à “falta de acesso às informações

gerais (estatística da unidade)” 213 em relação ao banco de dados informatizado do

sistema prisional. Os dados e estatísticas podem e devem subsidiar a equipe de

trabalho na construção coletiva de um plano de intervenção, possibilitando o

alinhamento conceitual e operacional, tendo como parâmetro as bases conceituais

apresentadas por Sá (2005) 214, das quais destacamos a interdisciplinaridade;

4. Em diversas oportunidades e registros, foram apontadas pelos profissionais, as

difíceis condições do desenvolvimento do trabalho frente: a uma instituição orientada

à segregação, controle e segurança; a realidade da superlotação prisional; aos

212 Tese elaborada no I Encontro Estadual Atuação do psicólogo no sistema prisional. Eixo: Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão. Tema da tese: exame criminológico. 213 Tese elaborada no I Encontro Estadual Atuação do psicólogo no sistema prisional. Eixo: Diálogos para construção dos projetos coletivos da profissão. Tema da tese: Portal – prontuário informatizado. Assunto tratado no Capítulo 8, subtítulo 8.2.3, deste trabalho. 214 Capítulo 4, subtítulo 4.2, Bases conceituais para um sistema prisional, deste trabalho.

141

limitados recursos materiais e humanos, sendo este último em todas as áreas,

comprometendo a formação e atuação de uma equipe interdisciplinar;

5. Durante a pesquisa não identificamos referências quanto à participação dos

psicólogos e sistema conselhos de classe na discussão e construção de referências

legais às atribuições profissionais. Destacamos como exemplo: os períodos anterior e

posterior à aprovação da Lei 10.792/03; o período de vigência da referida lei, 2003 a

2006; e o julgamento, em 2006, da inconstitucionalidade das alterações dos artigos 6º

e 112 da LEP215;

6. Registramos a dificuldade de realização desta pesquisa em função da exígua

participação dos psicólogos que atuam no sistema prisional. Desta feita, ponderamos

que tal dificuldade seja devida à peculiaridade e contexto institucional onde esses

profissionais estão inseridos, uma instituição total216. Ponderação análoga cabe em

relação a todos os profissionais de diferentes áreas do conhecimento, departamentos

e setores, que atuam em instituições totais. Assim, presumimos ser este trabalho uma

considerável experiência para registrar a dificuldade de pesquisa junto aos

profissionais que trabalham em instituições totais e, quem sabe, para promover

também, a reflexão quanto às possibilidades de acesso e métodos possíveis;

Conhecermos a prática profissional do psicólogo no sistema prisional e os

questionamentos atuais sobre esta prática, nos possibilita desvelar e refletir sobre a

contribuição da Psicologia, na construção e execução de políticas públicas destinadas à pessoa

215 Destacamos a iniciativa, em abril de 2007, do Conselho Regional de Psicologia São Paulo/6ª Região, Subsede de Ribeirão Preto, Comissão Gestora, para a composição de um Grupo de Trabalho para o acompanhamento de projetos de lei em andamento que podem ter reflexos na atuação do psicólogo no sistema prisional. 216 Tema abordado no Capítulo 4, subtítulo 4.1, Prisão - instituição total, deste trabalho.

142

presa, num contexto social e econômico desigual e excludente, marcado por um sistema

seletivo de segurança, justiça e punição.

Considerando o referencial teórico deste trabalho, podemos considerar que a prática

profissional no sistema prisional são políticas pontuais e reparativas de intervenção no efeito,

buscando restabelecer a relação da pessoa presa para a sociedade, portanto, acreditamos, que a

Psicologia deve se debruçar e buscar construir referências profissionais de intervenção

políticas nos fatores e no processo.

Para tanto, exigi-se pensar o envolvimento da sociedade com a questão prisional

numa perspectiva de ampliarmos, com o apoio da Psicologia Social, a investigação e

compreensão da inter-relação entre o “funcionamento psicológico humano e os processos e

acontecimentos sociais em larga escala, que influenciam este funcionamento e são

influenciados por ele”.217

[...] não creio que as ‘explicações’ dos conflitos e injustiças sociais

se encontrem, principal ou fundamentalmente, a nível psicológico. Ao

mesmo tempo, considero possível uma modesta contribuição [...] e de que é

possível e necessário, por outro lado, na nossa função de psicólogos sociais,

tentar compreender a integração das interacções individuais nos seus

contextos sociais globais. (Tajfel, 1982, p. 17 e 18)

Numa perspectiva eleita por nós, dentre inúmeras possíveis, esta pesquisa joga luz

sobre um tema pouco explorado nos últimos dezessete anos, e nos traz mais indagações do

que respostas para a compreensão da prática profissional em questão, portanto, esperamos que

ampliem-se os estudos voltadas à compreensão dessa temática.

217 Tajfel, 1982, p.17.

143

11. EPÍLOGO

Este tem como finalidade registrar as considerações apresentadas pela banca

examinadora durante análise deste trabalho, trazendo-nos duas questões: 1) o número

reduzido de profissionais que apoiaram a pesquisa; 2) a análise da prática do psicólogo numa

perspectiva teórica.

Em relação a primeira questão apresentada, cabe ressaltar, a observação da banca

examinadora quanto a subdivisão dos participantes conforme a especificidade da unidade e

respectivo regime prisional,218 comprometendo o número reduzido da amostra e a

generalização dos resultados. Observado ainda que, para a análise dos dados, devemos

considerar a variável da fragamentação da administração no sistema prisional, caracterizada

pelas diretrizes personalistas de cada dirigente na respectiva unidade prisional, apesar da

prescrição organizacional de âmbito regional, estadual e nacional, .

A prática profissional apresentada na Tabela 15, resulta da análise das respostas

dadas pelos profissionais que apoiaram a pesquisa, porém não exclusivamente, pois nos

baseamos nas legislações vigentes, bibliografias de referência e nos encontros de

profissionais da área, promovidos pelo sistema conselhos da classe. Encontros estes,

acompanhados pessoalmente e/ou através dos registros das discussões realizadas sobre a

prática do psicólogo no sistema prisional nacional e do Estado de São Paulo, no período de

2004 a 2007.

As questões anteriormente destacadas e as dificuldades encontradas durante a

pesquisa, levaram-nos a refletir sobre os possíveis motivos que orientaram a não participação

do psicólogo na pesquisa desenvolvida, silêncio este, para o qual, apresentamos as

seguintes considerações:

218 Cf. Capítulo 5, Metodologia, p. 71, deste trabalho.

144

1. Desinteresse pela proposta da pesquisa e pela discussão;

2. Forma de abordagem do público alvo, que buscamos aperfeiçoar, durante o

desenvolvimento da pesquisa e mediante a ausência de resposta;

3. Questionário complexo e abrangente, o qual foi reduzido buscando manter o

foco e a objetividade da questão em estudo. Contudo, excetuando-se cinco

casos, não registramos outras manifestações de crítica à pesquisa, negativa ou

promessa de apoio, fatos que indicam-nos a opção pelo silêncio;

4. O difícil acesso e a indisponibilidade de participação dos profissionais que

atuam em instituições totais, conforme apontado no capítulo dez, item seis;

5. As difíceis condições de trabalho frente a realidade do sistema prisional,

conforme apontado no capítulo anterior, item quatro;

6. O desprestígio da função de psicólogo do sistema prisional pela legislação,

desencadeando o abalo da imagem profissional;

7. A ausência de objetividade e clareza da função do psicólogo apontado pela

legislação de referência;

8. O enfrentamento do preconceito social à questão prisional;

9. O enfrentamento do preconceito à profissão, por vezes, “o preconceito do

próprio colega da área” 219 de Psicologia;

10. Invisibilidade profissional em função do desprestígio da função ;

11. Descrédito e descrença na profissão pelo próprio profissional;

Podemos levantar inúmeras considerações referentes ao silêncio expresso dos

profissionais em questão, considerações que nos auxiliariam na compreensão e análise deste

219 Psicóloga do sistema prisional paulista, 2007.

145

trabalho. Porém, acreditamos que estas questões devam ser discutidas e validadas junto ao

público alvo deste trabalho, o que demanda a continuidade dos estudos e a redefinição do

escopo da pesquisa.

Conforme apontado pela banca examinadora, poderíamos considerar a prática

profissional em estudo, como um fenômeno ilusório, o qual não se deixa medir e desvelar,

traduzindo-se numa prática fragmentada e circunstancial. Ponderação que vem ao encontro e

complementa o apresentado no capítulo conclusivo, item três, com referência as diferentes

atribuições do psicólogo, respectivos objetivos e diversos sujeitos, o que pressupõe a

necessidade de priorizar ações, objetivos e sujeitos, conforme interesses e possibilidades do

prórpio psicólogo e outros profissionais que atuam no sistema prisional.

Cabe-nos registrar, que no período de elaboração deste Epílogo, tomamos

conhecimento dos resultados sobre a investigação preliminar sobre a atuação do psicólogo

brasileiro no sistema prisional, pesquisa de âmbito nacional, realizada pelo Conselho Federal

de Psicologia e o Ministério da Justiça – Departamento Penitenciário Nacional (Depen),

iniciada em 2004, e citada anteriormente neste trabalho.

Os resultados apresentados pelo relatório intitulado - Diretrizes para atuação e

formação dos psicólogos do sistema prisional brasileiro220, tem como base a análise de 408

questionários respondidos221 pelos estados das cinco regiões do país. Dentre estes estados

destacamos a elevada participação de São Paulo, com ocorrência de 106 questionários

respondidos, dentre o universo de 146 unidades que compõem o sistema prisional paulista.

Os resultados apresentados pela referida pesquisa aproximam-se, significativamente,

dos resultados apresentados neste trabalho, conforme indicamos, a seguir:

220 Ministério da Justiça – Departamento Penitenciário Nacional e Conselho Federal de Psicologia. Diretrizes para atuação e formação dos psicólogos do sistema prisional brasileiro, Brasília, 2007. 221 Número que equivale a 58,3% do universo total.

146

É possível observar atividades comuns em cada grupo, como

atendimento individual, atendimento em grupo, palestras, orientações e

acompanhamento psicológico para os funcionários do sistema prisional,

suporte aos recém-chegados na unidade e apoio à família, dentre outros.

As atividades relatadas são trabalhos de contato direto com os

encarcerados e funcionários que com eles trabalham, para dar suporte

psicológico às demandas do cotidiano, usando a Psicologia clínica como

referência para a atuação profissional [...]

O suporte às demandas jurídicas, uma das atividades relatadas, é

caracterizado pela emissão de laudos/pareceres psicológicos pautados em

entrevistas, aplicação de testes psicológicos e observação comportamental

dos presos para dar diagnóstico e prognóstico da sua situação, visando a

subsidiar decisão judicial.

O que se pode concluir é que o psicólogo atuante no sistema

prisional tenta adaptar o que aprendera em sua formação para esse contexto

e, como conseqüência da falta de diretrizes, tem dificuldades para intervir de

forma qualificada em toda a amplitude do seu campo de trabalho [...]

O segundo ponto investigado diz respeito aos projetos trabalhados

nas unidades, tanto os que são típicos de atuação dos psicólogos quanto os

que são compostos por equipe multidisciplinar.

As respostas que mais apareceram e que são atividades típicas dos

psicólogos foram projetos referentes a atendimento psicoterápico, triagem,

aplicação de testes psicológicos, desenvolvimento de habilidades sociais,

acompanhamento às famílias dos presos e suporte aos filhos menores de

idade dos detentos das penitenciárias femininas.

Os projetos relacionados às atividades multidisciplinares englobam

trabalhos de orientação sobre doenças sexualmente transmissíveis, questões

de dependência com relação ao álcool e às drogas, trabalhos de

especialização e desenvolvimento de atividades profissionais, alfabetização,

ressocialização, qualidade de vida, oficinas de arte, atividades religiosas e

estudos de casos. (MJ - Depen e CFP, p. 92 e 93, 2007) 222

222 Ibid.

147

Cabe destacar, que na pesquisa realizada pelo MJ – Depen e CFP, “os respondentes

não foram, necessariamente, psicólogos, o que pode ter ocasionado distorções no conjunto de

respostas, [...] Essas ressalvas não interferem decididamente nos resultados, e podemos

considerar a pesquisa válida para uma investigação preliminar sobre a atuação do psicólogo

brasileiro no sistema prisional” 223.

À segunda questão apresentada pela banca examinadora - a análise da prática do

psicólogo numa perspectiva teórica, destacamos a análise e sistematização dos dados,

conforme apresentado na Tabela 16, onde identificamos os objetivos de determinadas práticas

e respectivos sujeitos de atenção.

Acreditamos que a análise da prática profissional em questão, medinate as

referências teóricas que embasaram este trabalho, deva ser realizada e subsidiada pelo exame

criterioso e imprescindível, de cada ação do psicólogo, respectivo objetivo e sujeito de

atenção. Indicamos assim, a ciência e importância da necessidade de continuidade de estudo

do tema proposto, sendo limitado por hora, visto o escopo e o tempo dado à esta pesquisa.

Cremos que esta pesquisa, dada a conhecer a prática do psicólogo no sistema

prisional do Estado de São Paulo, não esgota-se nas considerações e resultados apresentados

até aqui, sendo necessária a contínua discussão desta prática pelos profissionais, pela

academia e instituições afins, na superação dos desafios que se apresentam pelos estudos

elaborados, principlamente no tocante a metodologia.

Cientes dos limites de generalização dos dados apresentados, acreditamos que este

estudo, de caráter exploratório, cumpriu seu objetivo original, quando apresenta ao leitor,

com o apoio de diversas fontes, a prática do psicólogo no sistema prisional do Estado de São

Paulo, pesquisa esta que traz luz a um tema, ainda, pouco explorado.

223 Ibid., p. 74. 2007.

148

12. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARATTA, Alessandro. Por un concepto critico de reintegración social del condenado. In

Oliveira, e (Coor.), Criminologia Crítica. Fórum Internacional de Criminologia

Crítica: Belém: CEJUP, 1990, p. 141-147.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Traduzido por Paulo M. Oliveira. 13ª edição.

Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

BRESCIANI, Maria Stella M. Londres e Paris no Século XIX: O espetáculo da pobreza. São

Paulo: Brasiliense, 1984.

CASTEL, Robert. WANDERLEY, Luiz Eduardo W. WANDERLEY, Mariangela Belfiori.

Desigualdade e a Questão Social. São Paulo: EDUC, 1997.

CÓDIGO PENAL. Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. 18ª ed. São

Paulo: Saraiva, 2003.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo:

Edicon, Educ e Editora da UFPR, 1988.

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 6ª REGIÃO. Relatório da Oficina - A

Psicologia no Sistema Prisional: reflexões sobre a atuação profissional. São Paulo,

2006.

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 6ª REGIÃO. Teses do I Encontro Estadual

Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional e I Mostra de Práticas de Psicologia no

Sistema Prisional. São Paulo, 2007.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Lígia M. Pondé

Vassallo. Petrópolis: Vozes, 1977.

149

GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2003.

KING, Sue. Prisão – Uma Resposta Nova ou Renovada ao Crime? Documento apresentado

no 4º Simpósio Nacional de Perspectivas Sobre o Crime na Austrália – Novos Crimes

ou Novas Respostas. Convocado pelo Australian Institute of Criminology.

Junho/2001. Traduzido para o português por Marcos Brunini. 2006. Disponível em

http://www.aic.gov.au/conferences/outlook4/King.html. Acesso em novembro de

2006.

MARTINS. L. M. A natureza do trabalho do psicólogo em estabelecimentos penais.

Dissertação de Mestrado. PUC de São Paulo, 1989.

SÁ. Alvino Augusto. Sugestão de um Esboço de Bases Conceituais para um Sistema

Penitenciário. In Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo.

Departamento de Reintegração Social Penitenciário. Manual de Projetos de

Reintegração Social. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.

SAWAIA, Bader B. (org.) As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da

desigualdade social. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

TAJFEL, Henri. Grupos Humanos e Categorias Sociais – Estudos em Psicologia Social.

Volume I. Tradução Lígia Amâncio. Portugal, Livros Horizonte, 1982.

SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO ESTADO DE SÃO

PAULO. Departamento de Reintegração Social Penitenciário. Manual de Projetos de

Reintegração Social. São Paulo-SP: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.

THOMPSON, Augusto. Quem são os criminosos? Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.

150

13. ANEXOS

Anexo A – Mensagem 1

O Psicólogo no Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo

Práticas e Caminhos da Profissão

Prezado (a) Colega,

Convidamos você a apoiar e participar de uma ampla pesquisa para juntos

conhecermos a prática do psicólogo no sistema penitenciário do Estado de São Paulo e

refletirmos sobre os caminhos da nossa profissão.

A presente pesquisa é foco de estudo de dissertação de Mestrado do Programa de Pós

Graduação em Psicologia Social - Núcleo de Psicologia Política e Movimentos Sociais da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, e foi planejada com o objetivo de

possibilitar o nosso conhecimento e reflexão sobre as práticas e caminhos dos profissionais no

campo da Psicologia, especificamente no sistema penitenciário do Estado de São Paulo.

Contando com a sua colaboração, apoio do Conselho Regional de Psicologia - SP e

da Secretaria da Administração Penitenciária, a qual possibilitou o contato e envio deste

questionário, poderemos produzir um “raio-X” desse grupo de profissionais, sua formação,

suas práticas e realidades profissionais, limites e avanços da profissão na construção de

políticas públicas.

A sua participação e cuidado na prestação das informações será a base para o

conhecimento e reflexão da realidade profissional atual do psicólogo no sistema penitenciário.

Contamos com a sua inestimável e imprescindível colaboração para a Psicologia.

151

O questionário respondido deverá ser enviado para Roseli Gouvêa, pesquisadora

responsável, no endereço eletrônico, [email protected]

Caso deseje obter maiores informações e manifestar considerações referentes à

pesquisa entre em contato pelo endereço eletrônico [email protected]

Anexo B – Questionário 1

I – Identificação

1. Sexo:

( ) Feminino

( ) Masculino

2. Idade: ___________ anos

3. Situação conjugal:

( ) solteiro (a)

( ) casado (a) / união estável

( ) divorciado(a) / separado (a)

( ) viúvo (a)

( ) outros especificar: ________________________________________________________

4. Mediante cadastramento para obtenção do título de especialista conferido pelo Conselho

Regional de Psicologia, você se cadastrou?

( ) sim - Ano de obtenção do(s) título(s): __________________

( ) não

5. Quais foram (se você respondeu sim) ou seriam (caso você respondeu não) as áreas de

especialidades, considerando a possibilidade de serem duas. Indique em ordem de prioridade

do cadastramento, indicando o nº. 1 para a primeira opção, e o nº. 2 para a segunda opção:

( ) clínica

152

( ) organizacional

( ) educacional

( ) social

( ) outras – especificar________________________________________________________

II – Formação

1. Forneça as informações sobre a sua formação em Psicologia:

Curso InstituiçãoAno de

conclusão

Graduação Psicologia

Especialização Área

Mestrado Área

Doutorado Área

Outros

2. Outros Cursos:

Curso InstituiçãoAno de

conclusão

Graduação Área

Especialização Área

Pós-graduação Área

Doutorado Área

Outros

3. Qual(is) o(s) motivo(s) para a busca da sua formação:

( ) aperfeiçoamento técnico para atuação no sistema penitenciário.

( ) aperfeiçoamento técnico para atuação em outra área de atuação.

Qual?___________________________

153

( ) aperfeiçoamento técnico para atuação em outra profissão.

Qual?___________________________

( ) outros - especificar: _______________________________________________________

4. A formação universitária recebida para atuação no sistema prisional lhe foi:

( ) totalmente insuficiente

( ) insuficiente

( ) em dúvida (se suficiente ou insuficiente)

( ) suficiente

( ) totalmente suficiente

5. Sua instituição tem proporcionado cursos de capacitação profissional?

( ) sim

( ) não

Nome do curso: ______________________________________________________________

Horas: _________________________Ano: _________________

Nome do curso: ______________________________________________________________

Horas: _________________________Ano: _________________

Nome do curso: ______________________________________________________________

Horas: _________________________Ano: _________________

6. Indique possíveis temas ou tópicos em Psicologia que você necessitaria aprender para um

melhor desempenho profissional no sistema penitenciário (até cinco temas prioritários).

1º_________________________________________________________________________

2º_________________________________________________________________________

3º_________________________________________________________________________

4º_________________________________________________________________________

5º_________________________________________________________________________

7. Você tem sob sua responsabilidade ou acompanha estagiário(a) de psicologia?

( ) sim

( ) não

154

Se responder sim, especificar sua principal atenção ou preocupação na formação deste

profissional? ________________________________________________________________

III – Inserção no campo da psicologia e o psicólogo no sistema prisional

1. Exercia atividades profissionais no campo da Psicologia antes de trabalhar no sistema

penitenciário?

( ) sim

( ) não

Se responder sim, especificar em ordem cronológica decrescente:

1º - Área de atuação: __________________________________________________________

____________________anos _________meses

2º - Área de atuação: __________________________________________________________

____________________anos _________meses

2. Forma de admissão no sistema penitenciário:

( ) seleção

( ) concurso público

( ) indicação

( ) outros – especificar: _______________________________________________________

3. Relação do trabalho no sistema penitenciário:

( ) empregado CLT

( ) servidor estatutário

( ) autônomo

( ) voluntário

( ) outros – especificar: _______________________________________________________

4. Ano de ingresso, como psicólogo, no sistema penitenciário do Estado de São Paulo:

5. Carga horária semanal: _________horas

155

6. Especifique em ordem cronológica crescente, através de 1 ao 8, a(s) unidade(s)

prisional(ais) na(s) qual(is) você atuou na sua trajetória no sistema penitenciário, indicando

ainda, o tempo de permanência em cada uma:

( ) centro de detenção provisório - _______anos _______meses

( ) penitenciária - _______anos _______meses

( ) centro de progressão penitenciária - _______anos _______meses

( ) instituto penitenciário agrícola - _______anos _______meses

( ) centro de ressocialização - _______anos _______meses

( ) regimes disciplinares - diferenciado e especial -_______anos _______meses

( ) hospital de custódia e tratamento psiquiátrico - _______anos _______meses

( ) central de penas alternativas - _______anos _______meses

( ) centro de atendimento a egressos - _______anos _______meses

( ) outros – especificar_________________________________________anos ______meses

7. Exerce outra(s) atividade(s) profissionais em Psicologia, além daquela no sistema

penitenciário?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, especifique:

Qual: ______________________________________________________________________

Qual: ______________________________________________________________________

8. Exerce outra(s) atividade(s) remunerada(s) não relacionada(s) à Psicologia?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, especifique:

Qual: ______________________________________________________________________

IV – Renda

1. Salário bruto, enquanto psicólogo no sistema penitenciário: R$ ____________________

156

2. Identifique percentualmente quanto que o seu salário (percebido enquanto Psicólogo no

sistema prisional) representa na sua renda mensal?______________%.

V – Prática do psicólogo no sistema penitenciário

1. Escreva as seis principais atividades que você desenvolve na prática cotidiana do seu

trabalho, assinalando a especificidade dessas intervenções e indicando, ainda, o(s)

respectivo(s) objetivo(s) e técnica(s):

Indicar na ordem numérica crescente, conforme a prioridade e freqüência das ocorrências das

atividades:

1ª Atividade: _______________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): _________________________________________________________________

2ª Atividade: ________________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): __________________________________________________________________

3ª Atividade: ________________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

157

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): __________________________________________________________________

4ª Atividade: ________________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): __________________________________________________________________

5ª Atividade: ________________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): __________________________________________________________________

6ª Atividade: ________________________________________________________________

( ) pontual ( ) diária ( ) individual

( ) contínua ( ) semanal ( ) coletiva

( ) sistematizada ( ) quinzenal ( )

( ) ( ) mensal ( )

Objetivo(s): _________________________________________________________________

Técnica(s): __________________________________________________________________

2. Qual(is) a(s) orientação(ões) teórico/metodológica(s) utilizada(s) na sua prática

profissional:

( ) experimental

( ) cognitivista

( ) psicodinâmica

( ) existencialista

158

( ) psicanalítica

( ) trilogia analítica

( ) behaviorista

( ) psicodrama

( ) eclética

( ) outra(s) especificar: ______________________________________________________

3. Cite os cinco principais aspectos facilitadores encontrados no exercício profissional.

a.( ) ______________________________________________________________________

b.( ) ______________________________________________________________________

c.( ) ______________________________________________________________________

d.( ) ______________________________________________________________________

e.( ) ______________________________________________________________________

Destes, indique, dentro dos parênteses, a ordem de importância (considerando 01 mais

importante até 05 menos importante):

4. Cite os cinco principais aspectos dificultadores encontrados no exercício profissional.

a.( ) ______________________________________________________________________

b.( ) ______________________________________________________________________

c.( ) ______________________________________________________________________

d.( ) ______________________________________________________________________

e.( ) ______________________________________________________________________

Destes, indique, dentro dos parênteses, a ordem de importância (considerando 01 mais

importante até 05 menos importante)

5. Qual(is) a(s) formas de trabalho institucional?

( ) individual

( ) equipe de psicólogos

( ) equipe multidisciplinar – especificar os profissionais envolvidos: ___________________

( ) equipe interdisciplinar – especificar os profissionais envolvidos: ___________________

( ) outra(s) - especificar: ______________________________________________________

159

6. Em relação ao item 3, o quanto você acredita que esta forma de exercer as atividades

contribui para:

6.1 Melhorar as relações interpessoais no trabalho:

( ) nada ( ) pouco ( ) mais ou menos ( ) bastante ( ) muito

6.2 Atingir os resultados esperados:

( ) nada ( ) pouco ( ) mais ou menos ( )bastante ( ) muito

6.3 Em quais momentos ou situações, ocorre troca de informações entre os integrantes da

equipe? Como isso ocorre? _____________________________________________________

7. Você participou no desenvolvimento (propôs/encaminhou) algum projeto para integrar o

Manual de Projetos de Reintegração Social?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim:

Qual o Eixo/Tema proposto?____________________________________________________

Seu projeto foi classificado e incluído no referido Manual? Por quê?____________________

8. Utiliza o Manual de Projetos de Reintegração Social como referência e apoio ao trabalho

desenvolvido?

( ) Sim

( ) Não

Por quê? ____________________________________________________________________

Se responder sim, especifique os mais utilizados:

Eixo(s): ____________________________________________________________________

Projeto(s):___________________________________________________________________

8.1 Quais as condições reais de realização do(s) referido(s) projeto(s)? _________________

9. Os projetos propostos no Manual de Projetos de Reintegração Social apresentam

pertinência com a realidade específica da unidade prisional em que você atua?

( ) Sim

( ) Não

Por quê? ____________________________________________________________________

160

10. Quais são os 05 dos principais pontos positivos do Manual de Projetos de Reintegração

Social?

a.( ) ______________________________________________________________________

b.( ) ______________________________________________________________________

c.( ) ______________________________________________________________________

d.( ) ______________________________________________________________________

e.( ) ______________________________________________________________________

Destes, indique dentro dos parênteses, a ordem de importância (considerando 01 mais

importante até 05 menos importante):

11. Quais são os 05 dos principais pontos negativos do Manual de Projetos de Reintegração

Social?

a.( ) ______________________________________________________________________

b.( ) ______________________________________________________________________

c.( ) ______________________________________________________________________

d.( ) ______________________________________________________________________

e.( ) ______________________________________________________________________

Destes, indique, dentro dos parênteses, a ordem de importância (considerando 01 mais

importante até 05 menos importante)

12. Com a implementação do prontuário informatizado da pessoa presa, apresente as suas

considerações, quanto:

Desempenho da sua prática: ____________________________________________________

Sigilo profissional: ___________________________________________________________

Utilização racional e compartilhada das informações: ________________________________

Outros: _____________________________________________________________________

13. Costuma ser solicitado(a) para atuar em outra função na unidade prisional ou no sistema

prisional?

( ) sempre

( ) sim, freqüentemente

( ) sim, eventualmente

( ) nunca

161

Se responder sim, descreva qual(is) a(s) função(ões) desempenhada(s), motivos de tais

solicitações, e ainda, qual(is) profissional(is) ou setor(es) costuma(m) fazer a(s)

solicitação(ões)?______________________________________________________________

14. Já exerceu outro(s) cargo(s) no sistema penitenciário?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, qual(is) o(s) cargo(s) que exerceu? Especificar:

a. Cargo:____________________________________________________________________

Tempo de atuação no cargo: ____________anos__________meses

b. Cargo:____________________________________________________________________

Tempo de atuação no cargo: ____________anos__________meses

c. Cargo:____________________________________________________________________

Tempo de atuação no cargo: ____________anos__________meses

d. Cargo:____________________________________________________________________

Tempo de atuação no cargo: ____________anos__________meses

15. Como você percebe as oportunidades para seu crescimento profissional como psicólogo

neste trabalho:

( ) Nenhuma oportunidade

( ) Poucas oportunidades

( ) Algumas oportunidades

( ) Muitas oportunidades

16.Indique, dentro dos parênteses, o seu nível de satisfação quanto ao exercício da função

de psicólogo no sistema penitenciário com relação aos itens apresentados, considerando:

(1 ) muito insatisfeito ( 3 ) mais ou menos insatisfeito ( 4 ) pouco satisfeito

(2 ) pouco insatisfeito ( 5 ) muito satisfeito

( ) Salário

( ) Condições de trabalho

( ) Formação

( ) Satisfação pessoal/ profissional

162

VI – A psicologia no sistema penitenciário

1. Em sua opinião, como a pessoa presa identifica o papel do psicólogo no sistema

penitenciário?________________________________________________________________

2.Considerando-se a Lei de Execuções Penais (LEP), quais atribuições você considera ser do

Psicólogo?__________________________________________________________________

3. Qual a mudança no papel do psicólogo no sistema penitenciário com a destituição das

Comissões Técnicas de Classificação, após a Lei nº. 10.792/03 ter sido

sancionada?224_______________________________________________________________

4. Com referência a apresentação da proposta de mudanças da Lei de Execução Penal

apresentada pelo Governo de São Paulo – Secretaria da Administração Penitenciária ao

Congresso Nacional, que resultou na aprovação da Lei 10.792/03, você?

( ) acompanhou todo o processo desde a elaboração da proposta, sua aprovação e sanção;

( ) acompanhou parte do processo, a elaboração;

( ) acompanhou parte do processo, a aprovação;

( ) acompanhou parte do processo, a sanção;

( ) acompanhou parte do processo, a elaboração;

( ) não acompanhou nenhuma das etapas, e ficou sabendo da destituição225 da Comissão

Técnica Administrativa através _________________________________________________

( ) outros – especificar: _______________________________________________________

5. Indique, dentro dos parênteses, o nível de representação dos interesses dos psicólogos que

atuam no sistema penitenciário efetuado pelas entidades profissionais apresentadas,

considerando:

(1 ) não representativo ( 3 ) mais ou menos representativo ( 4 ) pouco representativo

(2 ) pouco representativo ( 5 ) muito representativo

224 Errata: Segundo orientação realizada no exame de qualificação (dezembro de 2006), a referida Lei não destitui a Comissão Técnica de Classificação, apenas desobriga-a da atribuição de classificação da pessoa presa e elaboração de parecer técnico para progressão, regressão ou mudança de regime. 225 Errata: Cf. nota anterior.

163

( ) Conselho Regional de Psicologia

( ) Conselho Federal de Psicologia

( ) Sindicato dos Psicólogos

( ) Outro(s) – especificar: _____________________________________________________

Considerando a representação, especifique qual(is) o(s) interesse(s) da classe de psicólogos

atuantes no sistema prisional foi (foram) ou estão sendo representados: _________________

6. Você é filiado(a) ao Sindicato dos Psicólogos?

( ) Sim. Desde__________________________

( ) Não

7. Você participou da Oficina sobre Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional promovida

pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, qual foi sua forma de contribuição?________________________________

Se responder não, por que não participou? _________________________________________

8. Você “acompanhou” o Encontro Nacional sobre Atuação do Psicólogo no Sistema

Prisional realizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em parceria com o

Departamento Penitenciário Nacional (Depen)?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, qual foi sua forma de contribuição? _______________________________

Se responder não, por que não participou?_________________________________________

9. Você “acompanha” a Campanha Nacional de Direitos Humanos, denominada O que é feito

para excluir não pode incluir, desenvolvida pelo Conselho Federal de Psicologia?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim, qual é a sua participação e forma de contribuição?____________________

Se responder não, por que não participou? _________________________________________

164

10. Você “acompanhou” os encaminhamentos do Fórum Mundial Social, onde o Sistema

Conselhos de Psicologia apresentou o tema-proposta referente ao fim dos presídios e

manicômios, ou seja, discutir “soluções substitutas para o encarceramento”?

( ) Sim

( ) Não

Comente a proposta: __________________________________________________________

VII - Identidade do psicólogo no sistema penitenciário, escolha e significado da profissão

1. A seguir você encontrará uma série de sentenças que procuram descrever o processo de

escolha da psicologia como profissão e, nesta, da sua área principal de atuação. Utilize a

escala abaixo, para avaliar sua concordância com os itens, registrando nas colunas específicas

ao lado:

1 = Não / nada 5 = fortemente

2 = muito pouco 4 = moderadamente 6 = muito fortemente

3 = pouco 7 = Sim / totalmente

Em que nível você avalia que a escolha...em relação

à profissão

em relação à atuação no

sistema penitenciário

Foi livremente tomada (sem interferência de expectativas e pressão de outras pessoas)Foi influenciada por pessoas importantes para você (por exemplo, pais, profissionais)Interesses, habilidades e vocação pessoal

Realização pessoal

Crença no papel do psicólogo como agente transformador

Oportunidade de diversificação e aplicação da Psicologia

Realidade do mercado de trabalho (oportunidades de trabalho)

Concurso público/ estabilidade empregatícia

Falta de outra opção

Possibilidade de desenvolvimento da carreira

Desenvolver experiências para outros desafios profissionais

Status, o valor social da profissão ou área de atuação

165

Remuneração obtida pelos profissionais da área

Outro: ____________________

2. Como você percebe o valor social, nível de reconhecimento e dificuldades que a profissão

de psicólogo no sistema prisional possui hoje? Indique o quanto você concorda com as

afirmativas abaixo relacionadas, utilizando a seguinte escala:

1Discordo

totalmente

2Discordo

3Nem concordonem discordo

4Concordo

5Concordo totalmente

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário possui credibilidade

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é desrespeitada

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário possui prestígio

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é reconhecida

O trabalho do psicólogo é reconhecido pelas outras equipes

Existem níveis de autoridade diferenciada entre os profissionais que atuam em uma unidade prisional, em função da formação profissional de cada um, e o psicólogo é considerado uma autoridade. O psicólogo tem um status inferior quando trabalha em equipes multiprofissionais

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é mal remunerada

3. Como você vê sua atuação profissional daqui a um ano:

simmuito

simum pouco

não

Gostaria de mudar de emprego mantendo a mesma área de atuação sistema penitenciárioGostaria de mudar de área de atuação dentro da Psicologia

Gostaria de mudar de profissão

Você gostaria de fazer algum comentário ou disponibilizar alguma informação que possa ser

útil para essa pesquisa? ________________________________________________________

166

Anexo C – Mensagem 2

O Psicólogo no Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo

Práticas e Caminhos da Profissão

Prezado (a) Colega,

Convidamos você a apoiar e participar de uma ampla pesquisa para juntos

conhecermos a prática do psicólogo no sistema penitenciário do Estado de São Paulo e

refletirmos sobre os caminhos da nossa profissão.

A presente pesquisa é foco de estudo de dissertação de Mestrado do Programa de Pós

Graduação em Psicologia Social - Núcleo de Psicologia Política e Movimentos Sociais da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, e foi planejada com o objetivo de

possibilitar o nosso conhecimento e reflexão sobre as práticas e caminhos dos profissionais

no campo da Psicologia , especificamente no sistema penitenciário do Estado de São Paulo.

Contando com a sua colaboração, apoio do Conselho Regional de Psicologia- SP e

da Secretaria da Administração Penitenciária, a qual possibilitou o contato e envio deste

questionário, poderemos produzir um “raio-X” desse grupo de profissionais, sua

formação, suas práticas e realidades profissionais, limites e avanços da profissão na

construção de políticas públicas.

A sua participação e cuidado na prestação das informações será a base para o

conhecimento e reflexão da realidade profissional atual do psicólogo no sistema penitenciário.

Contamos com a sua inestimável e imprescindível colaboração para a Psicologia.

O questionário respondido deverá ser enviado para Roseli Gouvêa, pesquisadora

responsável, no endereço eletrônico, [email protected]

167

Caso deseje obter maiores informações e manifestar considerações referentes à

pesquisa entre em contato pelo endereço eletrônico [email protected]

Anexo D – Carta

Prezado (a) Psicólogo(a)

Em meados de julho/06 foram enviados para você um questionário e uma carta, via

mensagem eletrônica, endereço eletrônico da unidade prisional, convidando-o(a) a apoiar e

participar de uma ampla pesquisa para conhecermos a prática do psicólogo no sistema

prisional do Estado de São Paulo e refletirmos sobre os caminhos da profissão.

O interesse da pesquisa surgiu da minha experiência profissional na Fundação Dr.

Manoel Pedro Pimentel – Fundação de Amparo ao Preso (Funap), Diretoria de Atendimento

e Promoção Humana, onde exerci a função de Gerente Regional (Campinas, Grande São

Paulo e Litoral) no período de março/04 a setembro/06, e a partir de setembro/06, na Escola

para Formação e Capacitação Profissional da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor do

Estado de São Paulo (Febem-SP) onde exerço a função de coordenadora do Centro de

Extensão e Aperfeiçoamento.

A presente pesquisa é foco de estudo de dissertação de Mestrado do Programa de Pós

Graduação em Psicologia Social - Núcleo de Psicologia Política e Movimentos Sociais da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, e foi planejada com o objetivo de

possibilitar o nosso conhecimento e reflexão sobre as práticas e caminhos dos profissionais no

campo da Psicologia, especificamente no sistema prisional do Estado de São Paulo.

Contando com a sua inestimável colaboração, apoio do Conselho Regional de

Psicologia -SP e da Secretaria da Administração Penitenciária – Diretoria de Reintegração,

168

poderemos produzir um “raio-X” do grupo de profissionais, sua formação, suas práticas e

realidades profissionais, limites e avanços da profissão na construção de políticas públicas.

Caso você tenha recebido a referida mensagem e respondeu a pesquisa, agradeço a

colaboração, e na ocorrência de outras hipóteses (recebeu o questionário e não quis ou não

pode responder; não recebeu e gostaria de recebê-lo para análise e possível resposta) peço sua

imprescindível e inestimável colaboração.

Sua manifestação (nem que o seja através de uma ou poucas palavras) se faz

necessária para subsidiar os passos tomados quanto à metodologia e base científica com

referência a garantia de que todos(as) os(as) psicólogos(as) foram contatados(as), garantindo

assim a totalidade, referência desta pesquisa.

A sua participação e cuidado na prestação das informações será a base para o

conhecimento e reflexão da realidade profissional atual do psicólogo no sistema prisional.

Por uma questão de organização metodológica da pesquisa peço:

- Caso tenha respondido – obrigada;

- Caso queira responder e não tenha o questionário – favor solicitar por meio de

[email protected] e enviar o questionário respondido até 04/12/2006;

-Caso contate outro psicólogo que atue no sistema prisional paulista, o qual não

tenha recebido esta correspondência por favor repasse esta;

-Caso não tenha recebido e não queira responder – favor enviar mensagem indicando

negativa para [email protected] até 30/11/2006;

-Caso deseje obter mais informações e manifestar considerações referentes à

pesquisa não hesite em contatar-me pelo endereço eletrônico

[email protected] ou telefone celular (11) 9911.8669.

Contamos com a sua inestimável e imprescindível colaboração para a Psicologia.

169

Anexo E – Questionário 2

A prática do psicólogo no sistema prisional do Estado de São Paulo

I – Identificação

1. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

2. Mês e Ano de nascimento: _____________/______________

3. Situação conjugal:

( ) solteiro (a)

( ) casado (a) / união estável

( ) divorciado(a) / separado (a)

( ) viúvo (a)

( ) outros - especificar:

II – Formação

1. Forneça as informações sobre a sua formação em Psicologia:

Curso InstituiçãoAno de

conclusão

Graduação Psicologia

Especialização Área

Mestrado Área

Doutorado Área

Outros

2. Apenas responder caso tenha realizado outros cursos em outras áreas de conhecimento,

além e diversa da área de Psicologia:

170

Curso InstituiçãoAno de

conclusão

Graduação Área

Especialização Área

Pós-graduação Área

Doutorado Área

Outros

III – Inserção do profissional no sistema prisional

1. Forma de admissão no sistema prisional:

( ) seleção

( ) concurso público

( ) indicação

( ) outros – especificar:_______________________________________________________

2. Relação do trabalho no sistema prisional:

( ) empregado CLT

( ) servidor estatutário

( ) autônomo

( ) voluntário

( ) outros especificar: ________________________________________________________

3. Ano de ingresso, como psicólogo, no sistema prisional do Estado de São Paulo: ________

4. Carga horária semanal:_________horas

5. Especifique a(s) unidade(s) prisional(is) na(s) qual(is) você atuou na sua trajetória no

sistema prisional:

( ) centro de detenção provisório

( ) penitenciária

( ) centro de progressão penitenciária

( ) instituto penitenciário agrícola

171

( ) centro de ressocialização

( ) regimes disciplinares - diferenciado e especial

( ) hospital de custódia e tratamento psiquiátrico

( ) central de penas alternativas

( ) centro de atendimento a egressos

( )Outros – especificar:_______________________________________________________

IV – Renda

1. Salário bruto, enquanto psicólogo no sistema prisional: R$_____ ____________________.

2. Identifique percentualmente quanto que o seu salário (percebido enquanto Psicólogo no

sistema prisional) representa na sua renda mensal? ________%.

V – A prática do psicólogo no sistema prisional

1. Quais as atividades que você desenvolve no seu trabalho?

2. Cite os principais aspectos facilitadores encontrados no exercício profissional:

3. Cite os principais aspectos dificultadores encontradas no exercício profissional:

4. Quais atividades profissionais que você gostaria de realizar e não realiza? Por quê?

5. Qual(is) a(s) formas de trabalho institucional?

( ) individual

( ) equipe de psicólogos

( ) equipe multidisciplinar – especificar os profissionais envolvidos:

( ) equipe interdisciplinar – especificar os profissionais envolvidos:

( ) outra(s) - especificar:

172

6. Você participou no desenvolvimento (propôs/encaminhou) algum Projeto para integrar o

Manual de Projetos de Reintegração Social?

( ) Sim

( ) Não

Se responder sim:

Qual o Eixo/Tema proposto?

Seu projeto foi classificado e incluído no referido Manual? Por quê?

7. Você utiliza o Manual de Projetos de Reintegração Social como referência e apoio ao

trabalho desenvolvido?

( ) Sim

( ) Não

Por quê?

Se responder sim, especifique os Eixos e Projetos mais utilizados:

8. Quais as condições reais de realização do(s) referido(s) projeto(s)?

9. Os Projetos propostos no Manual de Projetos de Reintegração Social apresentam

pertinência com a realidade específica da unidade prisional em que você atua?

( ) Sim

( ) Não

Por quê?

10. Quais são os principais pontos positivos do Manual de Projetos de Reintegração Social?

11. Quais são os principais pontos negativos do Manual de Projetos de Reintegração Social?

12.Indique, dentro dos parênteses, o seu nível de satisfação quanto ao exercício da função

de psicólogo no sistema penitenciário com relação aos itens apresentados, considerando:

(1 ) muito insatisfeito ( 3 ) mais ou menos insatisfeito ( 4 ) pouco satisfeito

(2 ) pouco insatisfeito ( 5 ) muito satisfeito

173

( ) Salário

( ) Condições de trabalho

( ) Formação

( ) Satisfação pessoal/ profissional

13. Como você percebe o valor social, nível de reconhecimento e dificuldades que a profissão

de psicólogo no sistema prisional possui hoje? Indique o quanto você concorda com as

afirmativas abaixo relacionadas, utilizando a seguinte escala:

1Discordo

totalmente

2Discordo

3Nem concordonem discordo

4Concordo

5Concordo totalmente

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário possui credibilidade

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é desrespeitada

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário possui prestígio

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é reconhecida

O trabalho do psicólogo é reconhecido pelas outras equipes

Existem níveis de autoridade diferenciada entre os profissionais que atuam em uma unidade prisional, em função da formação profissional de cada um, e o psicólogo é considerado uma autoridade. O psicólogo tem um status inferior quando trabalha em equipes multiprofissionais

A profissão de psicólogo no sistema penitenciário é mal remunerada

14. Como você vê sua atuação profissional daqui a um ano:

simmuito

simum pouco

não

Gostaria de mudar de emprego mantendo a mesma área de atuação sistema penitenciárioGostaria de mudar de área de atuação dentro da Psicologia

Gostaria de mudar de profissão

Você gostaria de fazer algum comentário ou disponibilizar alguma informação que possa ser

útil para essa pesquisa? _______________________________________________________