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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Márcia Teresa Campos Necyk SENTIMENTOS DE PROFESSORES E DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO PAULO MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO São Paulo 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Márcia Teresa Campos Necyk

SENTIMENTOS DE PROFESSORES E DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

São Paulo 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Márcia Teresa Campos Necyk

SENTIMENTOS DE PROFESSORES E DE ALUNOS DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE TEMPO INTEGRAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Educação: Psicologia da Educação, sob a orientação da Profa. Doutora Laurinda Ramalho de Almeida

São Paulo 2012

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Banca Examinadora

_____________________________________

Profa. Dra. Laurinda Ramalho de Almeida Presidente e Orientadora

PUC/SP

_____________________________________

Profa. Dra. Mitsuko Aparecida Makino Antunes Examinadora titular

PUC/SP

_____________________________________

Profa. Dra. Marília Claret Geraes Duran

Examinadora titular Universidade Metodista de São Paulo

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DEDICATÓRIA

Aos amados,

George Anthony Necyk; meu esposo;

Nicholas Campos Necyk e

Lucas Campos Necyk, meus filhos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado saúde e energia para realizar esse trabalho.

Aos meus pais Aurélio e Lurdinha pelo exemplo, dedicação e amor que foram

fundamentais na minha vida.

Ao meu marido e filhos, cujo carinho e compreensão para com o tempo que me

exigiram os estudos, mantiveram meu ânimo e determinação ao longo de todo o tempo.

Aos meus sogros Jerry (in memoriam) e Vilma pelo apoio, carinho e ajuda com os meus

filhos.

À minha irmã Cristina e sua família, que mesmo estando distante, torceram pelo meu

sucesso na realização desta pesquisa.

Às minhas cunhadas Barbara e Patrícia e suas respectivas famílias que sempre me

incentivaram na busca de novos caminhos.

À Professora Doutora Laurinda Ramalho de Almeida, minha orientadora por ter me

afetado com o seu acolhimento, entusiasmo, competência profissional, confiança e

valiosas contribuições para o desenvolvimento desta pesquisa.

As Professoras Doutoras Mitsuko Aparecida Makino Antunes e Marília Claret Geraes

Duran por fazerem parte da minha banca examinadora e pelas importantes sugestões

realizadas na qualificação do mestrado.

Ao Professor Doutor Antônio Carlos Ronca responsável pela disciplina Dimensão

Subjetiva da Desigualdade, cuja competência e entusiasmo me incentivaram a estudar

políticas públicas voltadas à educação integral.

Aos Professores do curso de Psicologia da Educação da PUC-SP, pelas valiosas aulas.

Às amigas Fátima Bissoto, Glaucia Medrado e Andrea Mollica, pelo apoio e incentivo

durante todo o trabalho.

A todos os colegas por compartilharem ideais, momentos alegres e de angústia no

decorrer dos dois anos de mestrado.

Ao Edson Aguiar, secretário do Programa, por ser atencioso e estar disposto a ajudar.

Aos professores entrevistados, pela disponibilidade em participar da pesquisa.

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Aos professores, alunos e equipe escolar das escolas pesquisadas pela receptividade e

abertura para partilharem seus sentimentos na vivência do dia inteiro na escola.

À CAPES, pelo apoio e financiamento do curso.

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NECYK, Márcia Teresa Campos. Sentimentos de Professores e de Alunos de duas

Escolas Públicas de Tempo Integral no Estado de São Paulo

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo compreender como se manifesta a dimensão

afetiva nas escolas nas quais as crianças permanecem em tempo integral, investigando

os sentimentos e suas situações indutoras. Para isso, fizemos observações em salas de

aula de duas escolas públicas participantes do Projeto Escola de Tempo Integral do

Estado de São Paulo. Realizamos também entrevistas com os professores dessas escolas

e analisamos os documentos oficiais do Projeto. A identificação dos sentimentos desses

professores e alunos revelou ser um instrumento valioso, pois propiciou desvelar as

necessidades dos participantes da pesquisa em relação ao ambiente escolar e ao

processo de ensino-aprendizagem. Por ter como prioridade a dimensão afetiva, o

referencial teórico escolhido foi a teoria de desenvolvimento de Henri Wallon.

Identificamos nos professores sentimentos, tais como: orgulho em relação à profissão,

confiança e respeito pelos alunos e sentimentos contraditórios em relação à escola,

como satisfação/frustração e felicidade/desânimo. Os alunos revelaram situações nas

quais se sentem interessados e as que os fazem se sentir desmotivados. Como resultado

da investigação empreendida, percebemos uma grande distância entre o que foi proposto

pelas Diretrizes Curriculares do Projeto e o que é vivenciado nas escolas. As entrevistas

e as observações sugerem a necessidade de mudanças no Projeto, como: melhoria nas

instalações, formação continuada para os professores, dedicação exclusiva destes à

escola, melhorias na alimentação, valorização da relação professor-aluno, incentivo à

realização de trabalhos em grupos, realização de atividades que, promovam o

desenvolvimento de todas as dimensões humanas e integração das atividades do

currículo básico com as oficinas. Constatamos também que, apesar das dificuldades

encontradas, os professores entrevistados continuam esperançosos na melhoria do

Projeto e esperam que as escolas de tempo integral possam efetivamente oferecer para

as crianças participantes do Projeto uma educação de qualidade.

Palavras- chave: afetividade, escola de tempo integral, Henri Wallon.

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NECYK, Márcia Teresa Campos. Teacher’s and Student’s Feelings in Two Full-Time

Public Schools in the State of São Paulo.

ABSTRACT

This research’s objective is to understand how the emotional dimension manifests itself

in schools where children stay full time, by investigating feelings and their inducing

situations. For this, we made observations in school classes of two public institutions

that participate in the Full-Time School Project of the State of São Paulo. Identifying

teacher’s and student’s feelings has proved to be a valuable instrument, since it has

made possible reveal the research participant’s needs in relation to the school

environment and to the learning-teaching process. Given that the emotional dimension

has been prioritized, the chosen theoretical reference was the development theory of

Henri Wallon. In teachers we have identified feelings such as: pride for their profession,

trust and respect for the students and contradictory feelings towards the school, like

satisfaction/frustration and happiness/discouragement. Students revealed situations in

which they feel interested and those that make them feel unmotivated. As result of the

investigation, we have perceived a significant gap between what had been proposed by

the Project’s Curricular Policy and what is actually experienced in the schools.

Interviews and observations suggest the need for changes in the Project, like: upgrading

of school installations, teachers continuous learning, teachers exclusive dedication to

the school, improvement in meals, teacher-student relationship enhancement, incentive

to working in group, carrying out activities that promote the development of all human

dimensions and basic curriculum activities integration with workshops. We have also

found that, in spite of the present difficulties, the interviewed teachers keep hopeful that

the Project will be improved and are looking forward to full-time schools being able to

effectively provide a high quality education to the participant children.

Key-words: affectivity, full-time school, Henri Wallon.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Escola de Tempo Integral – Matriz Curricular – Ensino Fundamental –

Ciclo I, p. 32.

Quadro 2 – Cronograma das observações em sala de aula, p. 64.

Quadro 3 – Sentimentos dos professores apreendidos pelo pesquisador, p. 105.

Quadro 4 – Sentimentos dos alunos apreendidos pelo pesquisador, p. 108.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ETI Escola de Tempo Integral

CAPES Coordenadora de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEI Coordenadoria de Ensino do Interior

CENP Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

CIAC Centro Integrado de Apoio à Criança

CIEP Centro Integrado de Educação Pública

COGSP Coordenadoria da Grande São Paulo

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

HTPC Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

NEEPHI Núcleo de Estudos de Escolas Públicas de Horário Integral

PCOP Professor Coordenador Pedagógico

PROFIC Programa de Formação Integral da Criança

SARESP Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

SEB Secretaria de Educação Básica

SECAD Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

SEE Secretaria do Estado de Educação

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SUMÁRIO

Introdução ......................................................................................................................... 1

1 Escola pública de Tempo Integral ............................................................................ 8

1.1 Escola Pública de Tempo Integral em uma perspectiva de educação integral .. 8

1.2 Concepções de educação integral ...................................................................... 8

1.3 Experiências marcantes de escolas públicas de tempo integral numa concepção

de educação integral .................................................................................................... 13

1.3.1 Centro Educacional Carneiro Ribeiro....................................................... 13

1.3.2 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS) ................................... 15

1.4 Experiências de ampliação do tempo escolar em andamento .......................... 17

1.4.1 Programa Mais Educação ......................................................................... 19

1.5 O que dizem as pesquisas sobre escola pública de tempo integral .................. 21

1.6 Projeto Escola de Tempo Integral: uma experiência vivenciada no Estado de

São Paulo .................................................................................................................... 28

2 Referencial teórico: a teoria psicogenética de Henri Wallon ................................. 39

2.1 Por que escolhemos a teoria de Henri Wallon como referencial teórico? ....... 39

2.2 Principais conceitos ......................................................................................... 41

2.2.1 Integração organismo-meio ...................................................................... 41

2.2.2 Estágios do desenvolvimento humano ..................................................... 44

2.2.3 Integração afetivo-cognitivo-motora ........................................................ 48

2.3 Plano Langevin-Wallon ................................................................................... 52

2.4 Afetividade na escola, o que dizem as pesquisas ............................................. 55

3 Percurso metodológico ........................................................................................... 59

3.1 Produção de informações ................................................................................. 60

3.1.1 1º Procedimento: Observações em sala de aula ........................................ 61

3.1.2 2º Procedimento: Entrevista com os professores ...................................... 65

3.1.3 3º Procedimento: análise dos documentos ................................................ 66

3.2 Procedimento para análise dos dados .............................................................. 67

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xi

4 Análise e discussão das informações ...................................................................... 70

4.1 1º eixo: Afetividade e espaço ........................................................................... 70

4.2 2º eixo: Afetividade e relações interpessoais ................................................... 78

4.3 3º eixo: Afetividade, tempo e aprendizagem ................................................... 89

4.4 4º eixo: Sentimentos de professores e de alunos na Escola de Tempo Integral

104

Considerações finais ..................................................................................................... 111

Referências bibliográficas ............................................................................................ 117

Apêndices ..................................................................................................................... 128

Apêndice I – Entrevista Professor João .................................................................... 129

Apêndice II – Entrevista Professora Rosa ................................................................ 133

Apêndice III – Entrevista Professora Lurdes ............................................................ 139

Apêndice IV – Episódio 1 ......................................................................................... 146

Apêndice V – Episódio 2 .......................................................................................... 148

Apêndice VI – Episódio 3 ......................................................................................... 150

Apêndice VII – Episódio 4 ....................................................................................... 156

Apêndice VIII – Caracterização da escola A ............................................................ 163

Apêndice IX – Caracterização da escola B ............................................................... 164

Apêndice X – Roteiro da Entrevista ......................................................................... 165

Anexos .......................................................................................................................... 166

Anexo I – Resolução SE 89 de 09/12/2005 .............................................................. 167

Anexo II – Resolução SE 07 de 18/01/2006 ............................................................. 168

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Para ser grande, sê inteiro:

nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

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INTRODUÇÃO

A afetividade é considerada por vários estudiosos como fundamental no processo de

ensino-aprendizagem, que deve ser compreendido como uma unidade, na qual a relação

professor-aluno é primordial (MAHONEY; ALMEIDA, 2005; LEITE, 2008;

TASSONI; LEITE, 2010). Na concepção de Wallon (1899/1962), que será adotada

neste trabalho, professores e alunos são compreendidos como seres humanos concretos,

históricos e sociais, em permanente desenvolvimento, nos quais a afetividade, a

cognição e a motricidade – integram a pessoa completa, em suas inúmeras

possibilidades (MAHONEY; ALMEIDA, 2004).

A presente pesquisa tem por objetivo compreender como se manifesta a dimensão

afetiva nas escolas nas quais as crianças permanecem em tempo integral, investigando

os sentimentos e suas situações indutoras. Pretende-se desvelar necessidades

subjacentes que, ao serem atendidas, podem proporcionar melhorias no processo

ensino-aprendizagem. Para isso, selecionei duas escolas públicas estaduais, localizadas

na cidade de São Paulo, participantes do Projeto Escola de Tempo Integral implantado

em dezembro de 2005 através da Resolução 89 (SP/SEE, 2005.

Vale ressaltar que mesmo sendo a afetividade o foco central da pesquisa, durante o

desenvolvimento do trabalho, as dimensões cognição e ato motor permaneceram

integradas, pois é impossível dissociá-las. Na pesquisa em questão, a ênfase na

afetividade tem como objetivo proporcionar uma melhor compreensão do fenômeno

estudado.

Wallon (1899/1962) com sua psicologia genética, utilizando os pressupostos do

materialismo dialético, fornece uma teoria que permite compreender a gênese e as

transformações, que marcam o desenvolvimento da pessoa e sua relação constante com

o meio.

Para Wallon, a afetividade é constitutiva do ser humano e está relacionada às funções

responsáveis pela emoção, pelos sentimentos e pela paixão, os sinalizadores de como o

ser humano é afetado pelo mundo interno e externo, e provocam sensações de

tonalidades agradáveis ou desagradáveis (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Na escola,

constatamos que professores e alunos, alunos e alunos, professores e professores se

afetam mutuamente.

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Na teoria walloniana a afetividade, assim como as outras dimensões humanas, estão em

constante evolução, por isso é importante para o professor conhecer esse processo de

desenvolvimento para que possa compreender e atender às necessidades dos alunos,

favorecendo o processo de ensino-aprendizagem.

A escolha por investigar os sentimentos dos professores e alunos na escola de tempo

integral aconteceu em decorrência da história de vida da pesquisadora.

Sou formada em Psicologia e sempre tive interesse em compreender como a afetividade

influencia nossas percepções, escolhas, comportamentos e aprendizagens. Na atuação

como psicóloga no consultório, constatei como os sentimentos e emoções estimulavam

ou paralisavam as pessoas no enfrentamento de determinadas situações e, na escola,

observei como a presença ou ausência de afetividade entre professores e alunos

propiciava ou inviabilizava o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem. Esta

constatação sempre me mobilizou a estudar o assunto. Fiz especialização em

psicopedagogia no Sedes/SP, participei de vários seminários e congressos sobre o

assunto e, após trabalhar como professora de Psicologia em uma universidade em São

Paulo, decidi fazer Mestrado em Psicologia da Educação na PUC/SP. Decidida sobre o

tema a pesquisar no Mestrado, senti-me instigada a investigar a afetividade em escolas

de tempo integral devido a vários motivos.

O primeiro se deve ao fato de ter trabalhado durante vários anos como psicopedagoga e

depois, coordenadora pedagógica, na formação de educadores em uma organização não

governamental que atendia crianças e jovens no contraturno da escola pública. Nesse

período, procurei estabelecer parcerias com os professores das escolas frequentadas por

esses educandos e constatei a dificuldade e complexidade na realização de um

trabalhado integrado (ONG e escola). Nesse momento, não havia nenhuma integração

formal entre a ONG e as escolas, diferentemente do que tem sido proposto por algumas

experiências atuais de ampliação do tempo escolar, conforme será mencionado no

trabalho.

Além dessa constatação, essa experiência me proporcionou a vivência com alunos das

camadas populares, principalmente aqueles com alta vulnerabilidade social, para os

quais participarem do projeto (ONG) possibilitava a inserção em um espaço de

aprendizagem democrático no qual afeto, cognição e motricidade eram trabalhados

conjuntamente. Com essas crianças e jovens percebi o quanto a aprendizagem de outros

conhecimentos, além do currículo básico, pode contribuir para sua formação integral.

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No entanto, é fundamental uma integração com a escola, pois é importante que esse

trabalho educativo esteja atrelado às aprendizagens desenvolvidas na escola a fim de

evitar fragmentação de conhecimentos.

Outro motivo responsável pela escolha do tema em questão refere-se ao fato de ter sido

aluna do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que na

época era um colégio público de tempo integral, situado na cidade do Rio de Janeiro, do

Fundamental II ao final do ensino médio. Essa experiência foi importante na minha

formação pessoal e profissional. Tive muitas oportunidades de aprendizagens: línguas

(português, inglês e francês), matemática, artes, teatro, esportes, entre outras atividades.

Não havia lição de casa, os exercícios eram realizados em sala de aula com apoio dos

professores e colegas. Não havia mesas individuais, pois a organização era em grupo.

Hoje, percebo como o fato de ter estudado em uma escola de qualidade me possibilitou

continuar os estudos em uma universidade pública e me despertou o interesse em

estudar e compreender como a educação pode contribuir na melhoria da qualidade de

vida das pessoas e na redução das desigualdades sociais.

Nesse espaço escolar, o horário das aulas era ampliado, possibilitando aos professores e

aos alunos maior tempo para o ensino e para a aprendizagem dos conteúdos e vivências.

Na quinta série trabalhamos durante todo o ano com poesias, lemos e escrevemos muito.

Meu professor era também um poeta, jovem, moderno, que conversava de igual para

igual com os alunos. A gramática só começou a ser sistematizada na sétima série, até

então os conteúdos específicos de gramática eram aprendidos nos nossos escritos.

Realizávamos debates sobre livros e autores. A Matemática era um desafio, superado

em sala de aula com os exercícios e apoio dos professores e colegas. Gostava muito de

História e Geografia. Os professores eram apaixonados pelo que ensinavam e por causa

deles quase me tornei professora de História. Ainda hoje, tenho interesse por biografias,

que relatam a vida de grandes personagens da História.

Nessa escola também havia música, apesar de os recursos serem escassos. Aprendia-se

flauta e outros instrumentos, como pandeiro, agogô. Frequentava também o coral e

participava de apresentações na escola e fora dela. Havia também olímpíadas esportivas,

das quais participava na organização e na torcida, já que sempre tive muita dificuldade

no aprendizado de esportes.

As instalações eram simples, mas a escola possuía quadras esportivas, banheiros com

chuveiros, refeitório, cantina, biblioteca, sala do Serviço de Orientação Educacional e

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laboratórios. Após a sétima série era permitido almoçar fora da escola. Para uma

adolescente, isso era uma conquista.

O fato de permanecer muitas horas na escola fez com que formasse um grupo de amigos

muito unidos, amizade que permanece até os dias de hoje. Mantenho contato, inclusive,

com alguns professores. Foi também nesse espaço escolar e nesse tempo que aprendi a

estudar e a me interessar pela investigação e pelo estudo. A escola possuía uma boa

biblioteca e alguns laboratórios.

Não lembro se os professores tinham dedicação exclusiva, muitos trabalhavam na

universidade, mas uma vez por semana à tarde não havia aula, pois era dia de reunião de

todos os professores. Nas salas de aula era frequente a presença de alunos mestres, que

assistiam às aulas e ministravam algumas atividades.

Procurei apontar algumas características da escola de tempo integral que frequentei, no

intuito de utilizá-la como referência para o estudo em questão, identificando pontos

semelhantes e diferentes nessa experiência e na que será estudada.

A vivência nessa escola e o estudo que empreendi sobre o assunto me direcionaram a

acreditar que a ampliação do tempo escolar pode proporcionar um enriquecimento

educativo significativo, principalmente para os alunos sem condições financeiras para

custear atividades complementares ao currículo básico. Além disso, compartilho com a

opinião das pesquisadoras Cavalière (2009), Coelho (2009) e Coelho e Hora (2011) de

que a escola é um espaço importante na centralização dessas atividades, pois possibilita

a integração dessas atividades ao currículo básico, proporcionando uma educação

integral, que considera o ser humano em suas múltiplas possibilidades de produzir

conhecimento, nos planos cognitivo, afetivo, físico, estético e ético, cultural e social.

Nesta pesquisa, além de investigar os sentimentos, pretendo apresentar e discutir

experiências históricas e contemporâneas relacionadas à ampliação do tempo escolar,

assim como o Projeto Escola de Tempo Integral do Governo do Estado de São Paulo,

pois para Wallon não é possível estudar a pessoa sem considerar o meio onde está

inserida.

Para refletir sobre a escola de tempo integral, utilizarei como referencial teórico as

pesquisas e artigos de Brandão (2009) Cavalière (2002 a; 2002 b; 2002 c; 2007; 2009;

2011), Coelho (2002; 2003, 2004 a; 2004 b; 2004 c; 2007; 2009; 2011), Guará (2009),

Gonçalves (2006), Maurício (2001; 2003; 2004, 2009), Monteiro (2009), Moll (2012),

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Nunes (2009), Paro (1988), pesquisadores atuantes na área e com vasta e atual produção

sobre o assunto.

A educação de tempo integral tem sido objeto de debate no campo das políticas públicas

e tema presente nas duas últimas décadas nas pesquisas, como aponta o estado da arte

descrito por Maurício (2001) e atualizado por Maurício e Ribeiro (2009). Esse estudo

indica uma revitalização do tema, provavelmente em decorrência de ações recentes na

política educacional brasileira.

Para entender essas ações, é importante ressaltar os marcos legais que respaldam a

criação e expansão das escolas de tempo integral. As condições para esse avanço vêm

desde a Constituição Federal (BRASIL, 1988), que fortaleceu a percepção da educação

como um direito social fundamental e estabeleceu uma ampla rede de proteção à criança

e ao adolescente, regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL,

1990). A seguir, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL,

1996) que indicou o aumento progressivo da jornada escolar para sete horas diárias

como horizonte da política pública educacional e o Plano Nacional da Educação – PNE

(BRASIL, 2001), que apontou a ampliação da jornada escolar como um avanço

significativo para diminuir as desigualdades sociais e ampliar oportunidades de

aprendizagem.

Além desses marcos legais, outros avanços educacionais foram alcançados, como: quase

universalização do acesso ao ensino fundamental para a população de sete a 14 anos,

ampliação do tempo de escolaridade do ensino fundamental de oito para nove anos

(BRASIL, 2006), aumento de recursos para o atendimento do ensino básico (FUNDEB)

(BRASIL, 2007 a) e ampliação da obrigatoriedade da educação para faixa etária de

quatro a 17 anos (BRASIL, 2009).

Em relação ao FUNDEB, Coelho e Menezes (2007) afirmam que o Fundo constitui-se

em um marco histórico do movimento legal em prol da conquista do direito do ensino

fundamental em tempo integral, pois diferencia os coeficientes de remuneração das

matrículas, não apenas por modalidade e etapa da educação básica, mas também pela

ampliação da jornada escolar, ou seja, o fundo distribui mais recursos para as escolas,

que ampliem o número de matrículas de alunos com mais de sete horas de permanência

sob a sua responsabilidade, conforme limites estipulados pela lei (BRASIL, 2007 a).

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Outro marco voltado para implementação de ações direcionadas para a educação em

tempo integral e que compõe as metas do Plano Nacional da Educação constitui-se no

Programa Mais Educação, criado através da Portaria Normativa Interministerial número

17 de 2007 (BRASIL/MEC, 2007 b), que tem por objetivo “fomentar a educação

integral de crianças, adolescentes e jovens, por meio de atividades socioeducativas, no

contraturno escolar, articuladas ao projeto de ensino desenvolvido pela escola”

(BRASIL/MEC/SECAD, 2009 a, p. 24).

Vale mencionar que atualmente encontra-se no Congresso para aprovação o novo Plano

Nacional da Educação (2011-2021), no qual incialmente havia a intenção de se ampliar

a educação integral em 50%. No entanto, há quase um ano esse plano se encontra no

Congresso, sem previsão ainda para aprovação, sendo a grande questão a definição da

porcentagem do PIB para a educação1.

Como podemos verificar, a presença do tema em questão tem sido constante na

legislação brasileira. No entanto, como ressaltam Coelho e Menezes (2007), há um

longo caminho a percorrer para transformar o legal em real.

Em relação à realidade educacional brasileira, os resultados nos índices educacionais

ainda apontam vários desafios. Segundo análise realizada pelo IPEA sobre os resultados

do PNAD 2009 (BRASIL/IPEA, 2010), os desafios do ensino fundamental são a

melhoria do nível de qualidade de ensino e a regularização do fluxo escolar, ou seja, é

preciso atingir a universalização na conclusão e não só no acesso.

Outro desafio refere-se à redução da desigualdade escolar, conforme dados do

PNAD/IBGE, 2009 (apud BRASIL/IPEA, 2010), referentes à média de anos de estudo

da população de 15 anos ou mais de idade, os 20% mais pobres apresentam em média

5,5 anos de estudo enquanto os 20% mais ricos, 10,7 anos. As categorias cor e

localização são também marcadas pelas desigualdades. No entanto, a renda é

determinante para qualquer categoria de análise.

Nesse quadro educacional, a escola de tempo integral passa a ser uma iniciativa para

reduzir a diferença entre os sistemas de prestígio e os sistemas desprestigiados, entre os

alunos com forte capital cultural e os provenientes de famílias com baixo capital

cultural (CAVALIÈRE, 2007).

1O plano prevê as metas para essa década na educação. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf> Acesso em

jun. 2011.)

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Esta pesquisa justifica-se pela possibilidade de trazer uma nova contribuição a

compreensão do fenômeno afetividade, pois será realizada na escola de tempo integral,

tema ainda pouco estudado sob esse ponto vista na literatura brasileira. Além disso,

poderá favorecer a reflexão sobre outra temática importante na educação: a ampliação

do tempo escolar, em uma concepção de educação integral, nas escolas públicas.

Organizou-se a presente pesquisa nos seguintes capítulos:

Capítulo 1 Escola Pública de Tempo Integral - Primeiramente, apresento o conceito

adotado no trabalho sobre escola de tempo integral e faço uma retrospectiva histórica

das concepções relacionadas à educação integral. Apresento também as experiências

históricas mais marcantes e as contemporâneas de ampliação do tempo escolar. Reflito

sobre o Projeto Escola de Tempo Integral na rede estadual do Estado de São Paulo e por

ultimo, analiso os resultados das pesquisas recentes sobre a temática em questão.

Capítulo 2 Referencial Teórico – Nesse capítulo, explico o porquê da escolha do

referencial walloniano e apresento os principais conceitos dessa teoria, destacando os

conceitos que ajudaram no enriquecimento do trabalho, tais como: integração

organismo-meio, estágios do desenvolvimento e integração dos conjuntos. Apresento

também as principais ideias do Projeto Langevin-Wallon, referente a uma proposta de

reforma para o ensino francês, após a Segunda Guerra Mundial. Por último, faço uma

revisão bibliográfica sobre as pesquisas relacionadas à afetividade.

Capítulo 3 Procedimentos Metodológicos – Explico os procedimentos adotados para

escolha dos sujeitos, das fontes de coletas de informações, assim como os

procedimentos metodológicos adotados na produção e análise dos dados.

Capítulo 4 Análise dos Dados – Nesse capítulo, discuto os dados identificados na

pesquisa categorizados em quatro eixos: afetividade e espaço, afetividade e relações

interpessoais, afetividade, tempo e aprendizagem e sentimentos de professores e de

alunos na Escola de Tempo Integral.

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1 ESCOLA PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL

1.1 Escola Pública de Tempo Integral em uma perspectiva de educação integral

Nesse trabalho, partimos do pressuposto de que não é possível pensar em Escola

Publica de Tempo Integral considerando-se apenas a variável tempo. Partilhamos da

opinião dos pesquisadores Brandão (2009), Cavalière (2009), Coelho (2009), Maurício

(2009) e Gonçalves (2006) de que a ampliação do tempo escolar precisa ser

acompanhada de uma concepção de educação integral, conforme explica Coelho:

Uma escola que funcione em tempo integral não pode ser apenas uma escola de dupla

jornada, com repetição de tarefas e metodologias. Se assim o for, estaremos decretando

a falência dessa concepção de ensino. Ao defendermos o tempo integral, fazemo-lo a

partir também de uma concepção de educação que se fundamenta na formação integral

do ser humano onde todas as dimensões sejam enaltecidas, que se alicerça em atividades

variadas, incluindo esportes, cultura, trabalho, artes em geral; que experencia

metodologias diversas, e ocupa todos os espaços existentes no ambiente escolar (2002,

p.143).

Surge, então, a questão: o que se entende por formação/educação integral? Coelho

(2002) na citação acima apresenta sua compreensão sobre o assunto e, em 2009, escreve

um artigo esclarecedor sobre as diferentes concepções de educação integral na história

da educação.

Segundo essa autora (2009), o conceito de educação integral está atrelado à concepção

que orienta a sua prática, baseando-se nas diferentes visões de mundo e de Homem que

se pretende formar. Além disso, cada concepção está relacionada a um determinado

momento histórico, no qual foi concebida, fundamentando-se em princípios político-

filosóficos diferentes, acarretando com isso práticas igualmente diversas. Nesse sentido,

faremos uma revisão histórica das diferentes concepções relacionadas a esse conceito a

fim de possibilitar sua melhor compreensão.

1.2 Concepções de educação integral

Para Coelho (2009), o conceito de educação integral, entendido como uma formação

mais completa do homem, faz-se presente desde a Antiguidade. A autora comenta que a

concepção de educação dos gregos, voltada à formação do corpo e do espírito, continha

o germe do que chamamos, atualmente, de educação integral.

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Apresentando dois trechos da obra de Jaeger (2001), Coelho (2009, p.85), discute como

a ideia de educação grega pressupunha uma concepção de formação ampliada, como

podemos constatar no texto desse autor:

Ao lado da formação meramente formal do entendimento, existiu igualmente nos

sofistas uma educação formal no mais alto sentido da palavra, a qual não consistia já

numa estruturação do entendimento e da linguagem, mais partia da totalidade das forças

espirituais. É Protágoras quem a representa. A poesia e a música eram para ele as

principais forças modeladoras da alma, ao lado da gramática, da retórica e da dialética.

É na politica e na ética que mergulham as raízes desta terceira forma de educação

sofística. Distingue-se da formal e da enciclopédica, porque não considera o homem

abstratamente, mas como membro da sociedade. É desta maneira que coloca a educação

em sólida ligação com o mundo dos valores e insere a formação espiritual na totalidade

da Arete humana. O espírito não é considerado através do ponto de vista puramente

intelectual, formal ou de conteúdo, mas sim em relação com as suas condições sociais

(apud COELHO, 2009, p. 85)

Segundo estudo empreendido por Coelho (2009), o conceito de educação integral

reaparece no século XVIII, mais precisamente com a Revolução Francesa e a

constituição da escola pública, desta vez sob a perspectiva dos jacobinos. Para eles

educação integral “significava abarcar o ser físico, o ser moral e o ser intelectual de

cada aluno”(apud COELHO, 2009, p. 86).

Após a Revolução Francesa, institui-se uma sociedade burguesa e uma classe de

trabalhadores dispostos a lutar por educação para os seus filhos, criticando a educação

burguesa e propondo a realização de uma educação renovadora e até mesmo

revolucionária (GALLO, 2002).

Surge, assim, o pensamento anarquista, representado por pensadores como Bakunin e

Proudhon, que partindo de uma concepção de sociedade igualitária, lutavam por uma

educação para todos. No entanto, coube a Paul Robin, Ferrer y Guàrdia e Sebastien

Faure experimentarem a adoção dessa concepção de educação realizada nas instituições

que dirigiam.

Conforme Gallo (2002), a educação integral na perspectiva anarquista enfatizava três

eixos primordiais:

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• A Educação Intelectual – acesso ao patrimônio cultural humano, que é coletivo,

produzido socialmente e, portanto, nada mais justo do que ser disseminado a

todos os indivíduos;

• A Educação Física – recreativa e esportiva (socialização através de jogos

coletivos voltados para a solidariedade); manual (refinamento sensório-motor);

profissional (formação do futuro trabalhador);

• A Educação Moral – vivência cotidiana da comunidade escolar através da

solidariedade e da liberdade, como forma de organizar uma nova prática social.

Coelho (2009) acrescenta que essa concepção também se preocupava com a saúde física

dos alunos. A autora ressalta que essa concepção libertária de educação seguia uma

orientação político emancipatória, o que lhe dava cunho político: “ É assim que essa

concepção se faz concomitantemente sensitiva, intelectual, artística, esportiva,

filosófica, profissional e, obviamente, política” (p. 87-88).

Sobre as atividades relacionadas a essa concepção de educação, Coelho esclarece:

(...) constituir a pedagogia da pergunta, a solidariedade nas tarefas manuais, o espirito

coletivo, por meio das atividades esportivas e dos jogos, as atividades mescladas, sem

hierarquizações. Esse fato político evidencia-se no cunho dado às atividades realizadas.

Ao procurar que demonstrassem o predomínio de uma sobre as outras, constituía-se o

cidadão emancipado, questionador e construtor de uma história coletiva. (COELHO,

2009, p. 88)

No Brasil, as ideias de educação integral surgiram por meio do desenvolvimento do

movimento operário, marcado pela ideologia socialista, presente nas duas primeiras

décadas do século XX pelos anarquistas (libertários), concepção apresentada

anteriormente.

Segundo Saviani (2010), os anarquistas no Brasil estudavam os autores libertários,

extraindo conceitos como o da educação integral de Robin e ensino racionalista de

Ferrer e aplicaram esses conceitos na criação de universidades populares, centro de

estudos sociais e escolas. Muitas dessas escolas foram alvo de perseguição e a última

delas foi fechada em 1919.

Após os anos da década de 1920, com o desenvolvimento do movimento soviético, o

movimento operário transferiu-se dos libertários para os comunistas, concretizado com

a fundação em 1922, do Partido Comunista Brasileiro, que, apesar de ter permanecido

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na ilegalidade, continuou a divulgar experiências soviéticas. Na educação, segundo

Saviani (2010), esse movimento defendia quatro pontos básicos: ajuda econômica às

crianças pobres, fornecendo meios para frequentarem as escolas, abertura de escolas

profissionais em continuidade às escolas primárias, melhoria da situação do magistério

primário e subvenção de bibliotecas populares. No entanto, segundo esse autor, não

chegaram a explicitar sua concepção pedagógica.

Retomando a concepção de educação integral, a literatura especializada aponta que no

período de 1930 a 1960, ocorreram significativas experiências nessa área, mas com

matrizes ideológicas muito diversificadas, como o pensamento integralista e o

pensamento liberal-progressista liderado pelo educador Anísio Teixeira.

O movimento integralista, que tinha como chefe nacional Plínio Salgado, acreditava na

educação integral como possibilidade de formação completa do homem.

A concepção de Educação Integral defendida nas ideias dos integralistas era

fundamentada em três pilares: Deus, Família e Pátria. Em relação à formação

educacional davam ênfase à espiritualidade, ao nacionalismo cívico, à disciplina, ou

seja, à fundamentação político-conservadora (COELHO, 2004 a). Essa autora constatou

que o movimento integralista implantou vários núcleos educativos e escolas.

Contrapondo-se à visão doutrinária de educação presente no integralismo, o Movimento

Liberal, tendo como principal expoente no Brasil o educador Anísio Teixeira, promovia

reformas educacionais, buscando uma renovação no sistema escolar. Segundo Saviani

(2010), Anísio Teixeira elegeu a educação como questão central do processo de

inovação e modernização da sociedade, considerando-a elemento-chave no processo

revolucionário.

Anísio Teixeira foi personagem importante na luta por uma escola pública brasileira.

Foi um dos integrantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 19322, no qual

foi apresentado um programa contendo as coordenadas para um sistema nacional de

educação.

Segundo Coelho (2004 c), pode-se afirmar que a concepção curricular proposta por

Anísio Teixeira é baseada na educação integral, pois propunha à criança dos anos

2O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, datado de 1932, consolidava a visão de um segmento da elite intelectual brasileira,

que embora com diferentes posições ideológicas, vislumbravam a possibilidade de intervir na educação. Foi redigido por Fernando de Azevedo e contou com a participação de 26 intelectuais, entre eles: Anísio Teixeira e Lourenço Filho. O documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país.

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iniciais do ensino fundamental uma formação completa, baseada em atividades

intelectuais, artísticas, profissionais, físicas, de saúde e filosóficas (formação de hábitos,

atitudes e cultivo de aspirações). Esse ideário calcava-se também na concepção politica,

que, para Coelho (2009), pode ser caracterizada como desenvolvimentista.

Coelho (2009) afirma que, no Brasil, foi com Anísio Teixeira, na década de 50, na

implantação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, na Bahia, que se iniciaram as

primeiras tentativas efetivas de implantação de um sistema público de escola em tempo

integral, buscando-se uma formação completa do aluno. Mais adiante, apresentaremos

detalhes dessa experiência.

Nesse resgate das concepções de educação integral presentes nos movimentos

anarquista, integralista e liberalista, concordamos com a opinião de Coelho (2004 c)

quando afirma que esses três movimentos “ mantêm naturezas semelhantes, em termos

de atividades educativas”, mas “ fundamentam-se em princípios político-ideológicos

diversos”.

Antes de finalizarmos, essa revisão histórica das concepções de educação integral que

marcaram o cenário educacional, vale mencionar que o movimento liberal se fez

presente em várias experiências por todo o país até por volta da década de 60, contando

com Anísio Teixeira e outros jovens intelectuais como Fernando de Azevedo, Lourenço

Filho, Francisco Campos, entre outros, que promoveram reformas educacionais

inspiradas nos princípios da Pedagogia Nova, contribuindo para a difusão do

escolanovismo no Brasil. No entanto, a maior parte dessas experiências foi dirigida às

classes privilegiadas.

Saviani (2010) considera que esse movimento deslocou o pensamento de uma escola

como instrumento de participação política para o âmbito técnico pedagógico, relativo ao

interior da escola, recompondo, dessa forma, a hegemonia da classe dominante.

Paro (1988) também critica esse movimento ao afirmar que com ele a escola passou a

ser vista como instância transformadora da sociedade, com capacidade de diminuir os

conflitos sociais.

Cavalière (2002 a), reconhecendo os questionamentos apontados por esses autores e as

inúmeras contradições dentro do próprio movimento escolanovista, salienta que é

preciso compreendê-lo ”como uma tentativa de resposta à necessidade de reformulação

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da escola para que a mesma pudesse realizar a tarefa democrática de acolher, em

condições de igualdade, crianças com experiências sociais e culturais diversas” (p.253).

Buscando uma síntese do que foi apresentado até o momento, recorremos a Coelho

(2009, p.90) que afirma que “a educação integral se caracteriza pela busca de uma

formação a mais completa possível”, mas que “não existe hegemonia quanto aos

pressupostos teóricos e abordagens metodológicas que constituirão essa formação

completa”, pois em cada concepção perpassa uma visão social específica de mundo e de

Homem, conforme comentamos no início do texto.

Defende a mesma autora (COELHO, 2009) que é importante refletir sobre essas

diferentes concepções para que possamos construir novas proposições de educação

integral em instituições públicas alicerçadas na sociedade em que estamos inseridos e

nos horizontes que pretendemos construir.

1.3 Experiências marcantes de escolas públicas de tempo integral numa concepção de educação integral

Optamos por apresentar a experiência do Centro Educacional Carneiro Ribeiro

implementada por Anísio Teixeira, por ter sido uma iniciativa pioneira no que se refere

à implantação de um sistema público de escola de tempo integral e a experiência de

Darcy Ribeiro com a criação dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), no

Rio de Janeiro, em função da amplitude desse projeto. Ambas as experiências podem

ser consideradas como Escolas de Tempo Integral numa concepção de educação

integral.

Posteriormente, ocorreram outras experiências de ampliação do tempo escolar, como o

PROFIC (Programa de Formação Integral da Criança), no Estado de São Paulo, e os

CIACs (Centros Integrados de Atenção à Criança), de iniciativa do governo Federal.

1.3.1 Centro Educacional Carneiro Ribeiro

O Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi inaugurado em 21 de outubro de 1950, pelo

então secretário da Educação Estadual, Anísio Teixeira, na gestão do governador Otávio

Mangabeira (1947-1951)

No discurso de inauguração, Teixeira descreveu como seria o funcionamento do Centro

Educacional:

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A escola primária seria dividida em dois setores, o da instrução, propriamente dita, ou

seja, da antiga escola de letras, e o da educação, propriamente dita, ou seja, da escola

ativa. No setor instrução, manter-se-ia o trabalho convencional da classe, o ensino de

leitura, escrita e aritmética e mais ciências físicas e sociais, e no setor educação – as

atividades socializantes, a educação artística, o trabalho manual, as artes industriais e a

educação física (TEIXEIRA, 1968, p. 145).

A filosofia de Anísio Teixeira fundamentava-se nas ideias de John Dewey, em que a

criticidade e a liberdade de expressão transformariam a realidade, baseando-se no

pressuposto de que não deveria existir separação entre a vida e a educação. Segundo

Éboli (1969), os objetivos gerais do Centro Educacional Carneiro Ribeiro eram:

1. Dar aos alunos a oportunidade de maior integração na comunidade escolar, ao

realizar atividades que levam à comunicação com todos os colegas ou com a

maioria deles;

2. Torná-los conscientes de seus direitos e deveres preparando-os para atuar como

simples cidadãos ou líderes, mas sempre como agentes do progresso social e

econômico;

3. Desenvolver nos alunos a autonomia, a iniciativa, a responsabilidade, a

cooperação, a honestidade, o respeito a si mesmo e aos outros. (ÉBOLI, 1969,

p.20)

Anísio Teixeira acreditava que a escola brasileira era para poucos, caracterizando-se por

ser uma escola cujo rendimento e qualidade dependiam, sobretudo, do aluno e não

apenas do programa, do método, e do professor. O método de apurar a eficiência era o

da reprovação, quanto mais reprovados mais eficiente ele era considerado (TEIXEIRA,

1968).

A ideia de aproximação da escola à vida faz-se presente nessa passagem escrita por

Teixeira (1968), pois para esse educador a escola tinha como função não só reproduzir a

comunidade humana, mas erguê-la a nível superior ao existente no país. Explica

Teixeira:

A escola tem, pois de ser fazer, verdadeiramente, uma comunidade socialmente

integrada. A criança aí irá encontrar as atividades de estudo, pelas quais se prepare nas

artes propriamente escolares, (escola-classe), às atividades de trabalho e de ação

organizatória e prática, visando a resultados exteriores e utilitários, estimuladores da

iniciativa e da responsabilidade, e rico exercício de vida. Deste modo, praticará na

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comunidade escolar tudo que na comunidade adulta de amanhã ter de ser: o estudioso, o

operário, o artista, o esportista, o cidadão, enfim, útil, inteligente, responsável, e feliz.

Tal escola não é um suplemento à vida que já leva a criança, mas a experiência da vida

que vai levar a criança em uma sociedade em acelerado processo de mudança

(TEIXEIRA, 1968, p. 131).

O projeto inicial de Anísio Teixeira previa a construção de nove centros distribuídos na

cidade de Salvador, mas em 1950 foram inauguradas três escolas-classes que

funcionavam em três prédios amplos.

A fundamentação teórica do Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi inspiradora para a

construção de escolas-parque também no Distrito Federal. No entanto, das 28 escolas

planejadas, somente cinco foram construídas, funcionando precariamente e distantes dos

objetivos principais.

Na Bahia, a situação também não foi diferente. As instalações do Centro Educacional

Carneiro Ribeiro foram degradadas. Segundo Dib (2010), na gestão do Governador da

Bahia em 2000 ocorreram reformas físicas.

1.3.2 Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS)

Nas décadas de 80 e 90, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) foram

idealizados e implantados por Darcy Ribeiro nas duas gestões do governador Lionel

Brizola, no Rio de Janeiro, por meio do Programa Especial de Educação (PEE) durante

suas duas gestões. O Programa tinha o objetivo de implantar um sistema de educação

pública em tempo integral, conforme explica Ribeiro:

Criar escolas de dia completo para alunos e professores, sobretudo nas áreas

metropolitanas onde se concentra a maior massa de crianças condenadas à

marginalidade porque sua escola efetiva é o lixo e o crime. O que chamamos de

menor abandonado e delinquente é tão somente uma criança desescolarizada ou

que só conta com uma escola de turnos (apud BRANDÃO, 2009, p. 37).

A criação dos CIEPs é considerada uma das experiências mais abrangentes da época,

pois contou com a construção de 506 unidades, sendo o projeto arquitetônico elaborado

por Oscar Niemayer. Os seus idealizadores pretendiam que os CIEPs se apresentassem

como um modelo a ser generalizado a médio e longo prazo, de modo que as outras

escolas da rede pública seguissem esse padrão.

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Para Cavaliere e Maurício (2011), Darcy Ribeiro foi fortemente influenciado pelas

ideias de Anísio Teixeira. Darcy Ribeiro (1986) considerava que a incapacidade

brasileira para educar sua população devia-se ao caráter perverso de nossa sociedade,

pois a classe dominante considerava o povo mera força de trabalho a ser explorado. Para

Ribeiro (1986), o tempo exíguo do aluno na escola era considerado um fator

determinante do baixo rendimento da população, que penalizava principalmente a

criança pobre.

A proposta pedagógica do CIEP se dava em torno da articulação educação, saúde e

cultura. Segundo Ribeiro, os CIEPS teriam que atender a três requisitos essenciais de

uma escola popular eficaz: espaço, tempo e capacitação do magistério (RIBEIRO, 1995,

apud CAVALIÈRE; MAURÍCIO, 2011).

Segundo Paro (1988), os CIEPs eram localizados preferencialmente em regiões de

concentração de população de baixa renda, oferecendo-se aulas do currículo básico

complementadas com sessões de estudo dirigido e “atividades como esportes e

participação em eventos culturais, numa ação integrada que objetiva elevar o

rendimento global de cada aluno”(RIBEIRO, 1986). Além disso, os alunos recebiam

também assistência médico-odontológica e quatro refeições diárias.

Maurício (2003) aponta em seu artigo que alguns teóricos mencionam como aspectos

positivos: a satisfação dos pais (PARO, 1988), o horário integral dos professores que

permitia momentos para o planejamento, a elaboração de materiais e formação

continuada (PARO, 1988; BRANDÃO, 2009)

Na literatura especializada, constatamos que a experiência dos CIEPs tem sido

amplamente estudada, inclusive criou-se um grupo de pesquisadores, chamado Núcleo

de Pesquisa - NEEPHI (Núcleo de Estudos Escola Pública de Horário Integral, sediado

na Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO), voltado para a investigação dos

problemas específicos da escola de tempo integral, reunindo três universidades públicas

do Rio de Janeiro (UFRJ, UNIRIO e UERJ).

Com estigma de Escola de Pobre e Brizolão, os CIEPs foram desativados em 1995 pelo

governador Marcelo Alencar, sucessor do Governador Brizola, fato que gerou muita

discussão.

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Segundo Cavalière (2007), o programa dos CIEPS atravessou inúmeras dificuldades e

diferentes governos, porém o horário integral sobreviveu em parte das escolas, embora o

projeto original em seu conjunto tenha se perdido ao longo dos eventos políticos.

Na capital do Rio de Janeiro, o ensino fundamental foi inteiramente municipalizado,

sendo que o horário integral foi mantido na maior parte abrangendo principalmente a

Educação Infantil e o ciclo de alfabetização.

1.4 Experiências de ampliação do tempo escolar em andamento

Atualmente, existem diferentes experiências de ampliação do tempo escolar, em níveis

municipal, estadual e federal, que podem ser analisadas segundo duas vertentes, como

propõe Cavalière (2009): a escola de tempo integral, que tende a investir em mudanças

no interior das unidades escolares, e outra, o aluno de tempo integral, que prioriza a

articulação com instituições e projetos da sociedade que ofereçam atividades aos alunos

no período alternativo às aulas, não necessariamente no espaço escolar, mas também

fora dele.

Optamos por apresentar um breve panorama dessas experiências por acreditarmos que

conhecê-las permitirá ao leitor deste trabalho compreender melhor a situação atual e as

tendências da ampliação do tempo escolar no Brasil. Para isso, utilizamos como

referência a pesquisa sobre experiências com jornada ampliada patrocinada pelo MEC

(BRASIL/MEC, 2009), o mapeamento realizado por Santos na sua dissertação em 2009

e os livros organizados por Coelho (2009) e por Moll (2012). Para maiores informações

sobre o tema, sugerimos a leitura desses trabalhos. Segundo a pesquisa nacional

realizada pelo MEC em 2009, existem atualmente quinhentos municípios brasileiros

que, de alguma forma, apresentam uma jornada escolar ampliada. Responderam a

pesquisa 2112 cidades brasileiras.

De acordo com essa pesquisa, os estados com maior número de municípios com

experiências de jornada ampliada são: Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais, Santa

Catarina, São Paulo e Pernambuco. Por outro lado, Amazonas, Pará, Tocantins e

Sergipe foram os que apresentaram menor quantidade.

A pesquisa (BRASIL/MEC, 2009) aponta também que 1,1 milhão de alunos em todo o

país estão em jornada ampliada, o que significa cerca de 2 % do total dos alunos da

educação básica. Em relação à carga horária, 55,5% das experiências ocorrem em

períodos de sete horas diárias ou mais, o mínimo estabelecido por lei. A grande maioria

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das experiências está sendo realizada no turno contrário ao reservado para o currículo

regular (ensino básico). Somente em 10,9% dos casos as aulas eram mescladas com as

aulas regulares (BRASIL/MEC, 2009).

A pesquisa (BRASIL/MEC, 2009) também investigou quais atividades estavam sendo

desenvolvidas durante o período de jornada ampliada. As duas principais modalidades

estão relacionadas à prática de esporte (65%) e às aulas de reforço (61%).

Santos (2009), em seu mapeamento sobre as experiências de ampliação de jornada em

andamento, constatou que os projetos municipais são mais recentes que os das redes

estaduais, implantados a partir de 2005, e que apresentam uma particularidade em

relação às redes estaduais: grande parte dos projetos utiliza outros ambientes (fora da

escola) para disposição das atividades complementares, envolvendo outros espaços,

outras instituições e outros profissionais. Segundo a autora, isso ocorre com Belo

Horizonte/MG, Recife/PE, Porto Alegre/RS, São Paulo/SP e Vitória/ES.

Em São Paulo, essa concepção se faz presente através do projeto “São Paulo é uma

escola”. As Diretorias Regionais de Educação firmam convênios com entidades sem

fins lucrativos para oferecer oficinas. Os alunos também participam de atividades

externas, que têm como objetivo a apropriação dos espaços públicos e o enriquecimento

cultural. A partir dessa integração entre os vários setores da sociedade, São Paulo

tornou-se uma cidade educadora (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo,

2008, apud Santos, 2009).

O movimento das cidades educadoras foi inspirado em um documento central – Carta

de Barcelona – que considera que a educação não é responsabilidade somente da escola

(GADOTTI, 2009). Nesse sentido, diluem-se as barreiras entre educação formal e não

formal e incorpora-se o entorno da escola como espaço educativo.

Concordamos com Santos (2009) ao comentar que tanto nas propostas estaduais como

nas municipais há uma tendência para menor responsabilidade dos Estados frente às

questões educacionais. Os convênios com instituições privadas e com as comunidades

para oferecimento de oficinas fora da escola são elementos dessa tendência.

Para compreendermos melhor esses projetos, é preciso conhecer o programa do governo

federal voltado para ampliação da jornada escolar, o Programa Mais Educação, que

oferece recursos financeiros para manutenção dos projetos atuais de ampliação da

jornada escolar.

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19

.

1.4.1 Programa Mais Educação

O Programa Mais Educação foi criado em abril de 2007, através de Portaria Normativa

Interministerial (BRASIL, 2007 b), envolvendo os ministérios da Educação, da Cultura,

do Esporte, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente, do Desenvolvimento e

Combate à fome e a Secretaria Nacional da Juventude da Presidência da República.

Como resultado dessa articulação, criou-se o Fórum Interministerial Mais Educação, de

caráter normativo, deliberativo, articulador e resolutivo.

De acordo com essa Portaria, o Programa se concretiza no apoio à realização em escolas

e em outros espaços de “ações socioeducativas no contraturno escolar”: Segundo esse

documento, o objetivo central do Programa é:

Contribuir para a formação integral das crianças, adolescentes e jovens, por meio da

articulação de ações, de projetos e de programas do Governo Federal e suas

contribuições às propostas, visões e práticas curriculares das redes públicas de ensino e

das escolas, alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes, métodos,

processos e conteúdos educativos. (BRASIL, 2007 b).

As finalidades do Programa são:

• Apoiar a ampliação do tempo e do espaço educativo e a extensão do ambiente

escolar nas redes públicas de educação básica de Estados, Distrito Federal e

Municípios, mediante a realização de atividades no contraturno escolar,

articulando ações desenvolvidas pelos Ministérios integrantes do Programa;

• Contribuir para redução da evasão escolar, da reprovação e da distorção

idade/série;

• Oferecer atendimento educacional especializado às crianças, adolescentes e

jovens com necessidades educacionais especiais;

• Prevenir e combater o trabalho infantil;

• Promover a formação da sensibilidade, da percepção e da expressão nas

linguagens artísticas, literárias e estéticas;

• Estimular uma interação efetiva em torno de práticas esportivas educacionais;

• Promover a aproximação entre a escola, as famílias e as comunidades;

• Prestar assistência técnica e conceitual aos entes federados de modo a estimular

novas tecnologias.

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O Programa está situado no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),

do Plano de Ações Articuladas (PAR), e é coordenado pela Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), em parceira com a Secretaria

da Educação Básica (SEB/MEC) e com as Secretarias Estaduais e Municipais de

Educação. Sua operacionalização é feita por meio do Programa Dinheiro Direto na

Escola (PDDE) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A área inicial de atendimento, em caráter prioritário, são as escolas que apresentam

baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), situadas em capitais e

regiões metropolitanas. Percebe-se, assim, uma preocupação com a população em

situação de vulnerabilidade social. No entanto, em função disso, como aponta Cavalière

e Maurício (2011), o Programa não atende a todas as escolas e nem a todos os alunos,

que são definidos pelos critérios mencionados anteriormente. Segundo essas autoras, a

destinação do Programa somente para alguns alunos pode gerar estigmatização de

indivíduos e grupos.

São características do Programa a ideia de intersetorialidade e a noção de

territorialidade, visto que as atividades devem ser estabelecidas em parcerias com as

diferentes secretarias ou com órgãos da iniciativa privada. Essas atividades podem ser

realizadas na escola ou em outros espaços da comunidade, sendo geralmente

ministradas por diferentes agentes educativos, como monitores da comunidade ou

estagiários, trazendo uma nova configuração e novas questões para o ambiente escolar,

como apontam Coelho e Hora (2011):

Situados do outro lado (o da educação integral radical) e cientes da realidade de

ampliação da jornada escolar, vimos que o gestor, como nós pesquisadores, se vê imerso

em um contexto de conflitos de interesses individuais e de grupos; entre os dilemas de

atendimento às concepções e princípios norteadores de educação de qualidade e as

condições materiais concretas de sua realização, necessitando gerir os projetos com os

profissionais que se encontram em desigualdade de salários, de papéis e de funções,

mesmo admitindo “a necessidade seja professor no turno ou no contraturno”. (Secretaria

Municipal de Educação de Olímpia/SP, apud COELHO; HORA, 2011, p. 12).

Segundo o Portal do MEC, em 2008, o Programa contou com a participação de 1380

escolas, em 55 municípios e nos 27 estados para beneficiar 386 mil estudantes. Em

2009, houve a ampliação para cinco mil escolas, em 126 municípios, de todos os

estados e no Distrito Federal, com o atendimento previsto a 1,5 milhão de estudantes.

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Em 2010, a meta era de atender a 10 mil escolas e beneficiar três milhões de estudantes.

No site do MEC não há informação se essa meta foi atingida3.

Segundo Santos (2009), com a consolidação do Programa Mais Educação em todo o

país, os projetos de ampliação de jornada em andamento nas redes estaduais e

municipais tendem a ser modificados e incorporados ao Programa. Essa tendência se

explica pela possibilidade de as escolas que já funcionam em tempo integral poderem

receber as verbas destinadas a esse Programa.

No Estado de São Paulo, por exemplo, essa tendência pode ser constatada através da

publicação de um documento elaborado pela CENP (SP/SEE/CENP, 2011)), em

setembro de 2011, intitulado Educação Integral – Escola de Tempo Integral/Aluno de

Tempo Integral, que revela essa tendência.

Segundo esse documento: “o Projeto Escola de Tempo Integral vive um momento

delicado, sendo necessário passar por uma reorganização, pois se observa a existência

de duas escolas: a regular (currículo básico) e a de jornada ampliada (oficinas

curriculares)” (SP/SEE/CENP, 2011, p.7). Nesse sentido, o documento propõe a

existência de duas estruturas organizacionais possíveis: a escola de tempo integral e o

aluno de tempo integral. A ideia, segundo o documento, não é abolir o modelo

existente, mas oferecer mais um modelo com o objetivo de contemplar a demanda de

cada escola.

Finalizando esse percurso do histórico ao contemporâneo, constatamos as influências e

os novos caminhos que estão surgindo para a ampliação do tempo escolar, caminhos

esses que devem ser trilhados com muita cautela para que essas experiências possam

realmente contribuir para a melhoria da educação brasileira, ampliando efetivamente o

tempo de permanência do aluno na escola, através de uma perspectiva de educação

integral, que possibilite a formação da criança nas diferentes dimensões humanas.

1.5 O que dizem as pesquisas sobre escola pública de tempo integral

Neste tópico temos o objetivo de apresentar uma síntese das principais questões que

debatidas pelos pesquisadores da temática em questão.

No levantamento bibliográfico sobre escola pública de tempo integral, identificamos

vários artigos, nos quais constatamos a presença frequente de pesquisadores, como

3 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16689&Itemid=1115. Acesso em dez. 2011.

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Cavalière (2002 a; 2002 b; 2002 c, 2007; 2009; 2011), Coelho (2002, 2003, 2004 a;

2004 b; 2004 c; 2007; 2009; 2011), Maurício (2001; 2003; 2004, 2009), Monteiro

(2009) pertencentes ao NEEPHI – UNIRIO, que nos forneceram importantes elementos

para compreensão dessa temática, desde o entendimento dos conceitos de educação

integral e de escola de tempo integral, passando pelo percurso histórico à análise das

experiências contemporâneas, que são elementos importantes para o entendimento do

Projeto Escola de Tempo Integral. Ressaltamos que grande parte desses artigos foram

apresentados nas reuniões da ANPEd e da ANPAE.

Utilizamos também o Banco de Teses e Dissertações da CAPES, no período de 2006 a

2010 e o levantamento bibliográfico realizado por Maurício e Ribeiro (2009) sobre duas

décadas (1989 a 2009) de educação de tempo integral.

Nossa pesquisa nas fontes mencionadas anteriormente confirmam os resultados de

Maurício e Ribeiro (2009), que afirmam que a literatura reflete a descontinuidade que

caracteriza o histórico da implantação da educação em tempo integral, mas evidencia

também que essa concepção de escola persiste tanto em artigos de revistas de prestígio

acadêmico como na produção de dissertações e teses em várias universidades

brasileiras.

Maurício e Ribeiro (2009) apontam também a revitalização do tema, tanto pela

continuidade de produção a respeito como pelo crescimento do número de monografias,

dissertações, artigos e comunicações.

O interesse pelo tema também se faz presente em livros publicados por Coelho (Org.)

em 2009 e por Moll (Org.) em 2012, que apresentam artigos sobre essa temática e

relatam as experiências que estão sendo realizadas em todo o Brasil.

Nessa revisão bibliográfica, apresentaremos os artigos mais recentes publicados após a

revisão de bibliografia realizada por Maurício e Ribeiro (2009)

O artigo de Cavalière (2009) contribuiu para a compreensão do panorama atual desse

tema na educação brasileira. A autora apresenta os formatos organizacionais pelos quais

vem se dando, no Brasil, a ampliação do tempo escolar, entendendo-o como período em

que as crianças e os adolescentes ficam sob responsabilidade da escola, dentro ou fora

de suas dependências.

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Segundo a autora, as experiências existentes no país podem ser sintetizadas em duas

vertentes. A primeira vertente a autora nomeou de escola de tempo integral, e a segundo

aluno em tempo integral.

Cavalière (2009) menciona que a escolha por um ou outro modelo depende das

possibilidades políticas e de infraestrutura, mas também pode representar correntes de

pensamento divergentes em relação ao papel do Estado e das instituições da sociedade.

Cavalière (2009) defende o fortalecimento da instituição escolar. Considera importante

a troca com outras instituições sociais e a incorporação de outros agentes educacionais

na escola, mas acredita que as alternativas de ampliação do tempo escolar que não têm a

escola como centro podem gerar fragmentação e perda de direção, principalmente,

tratando-se de um programa a ser desenvolvido em alta escala. Em função disso,

acrescenta a autora, há riscos de que essas ações, ao invés de contribuírem para

melhoria da qualidade, aprofundem ainda mais a precariedade da educação.

Em 2011, Cavalière e Maurício em uma comunicação realizada na ANPEd, procuraram

articular os resultados da pesquisa realizada em âmbito nacional (BRASIL/MEC, 2009

d) com as características das experiências de ampliação de jornada. Segundo as autoras,

os resultados dessa pesquisa mostram as limitações das experiências em ampliação de

jornada frente às condições reais de cada região, cada rede escolar e cada organização

urbana. Uma das constatações da pesquisa é que, apesar da perspectiva atual incentivar

a busca de espaços alternativos para realização das atividades extracurriculares, os

resultados demonstram que a escola continua sendo o espaço utilizado para a maioria

das atividades realizadas.

Cavalière e Maurício (2011) afirmam que tanto o confinamento por longas horas em

uma escola pequena e mal equipada quanto a pulverização inconsequente das atividades

em espaços desconectados podem servir à desvalorização das atividades educativas,

transformando a escola em um depósito de crianças, aspecto bastante criticado pelos

professores.

Nessa reunião da ANPEd, Coelho (2011), utilizando os dados da pesquisa citada

anteriormente e considerando os depoimentos dos alunos do ensino fundamental dos

anos iniciais, discute as vertentes apontadas por Cavalière (2009), pois as falas

encontradas aparecem permeadas por essas duas posições. A autora defende, como

Cavalière (2009), a centralidade da escola na proposição de uma educação integral.

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Aponta que é preciso refletir criticamente para que a escola não passe a exercer outras

funções transitórias e de curto alcance em detrimento ao ensino (ALGEBAILE, 2009,

apud COELHO, 2011).

Outro artigo recente relevante na discussão dessa temática, que também utiliza os dados

da pesquisa mencionada anteriormente é o trabalho de Coelho e Hora apresentado na

ANPAE em 2011. Nesse artigo, as autoras refletem sobre a qualificação profissional

dos sujeitos (diretores, professores e monitores voluntários ou não) envolvidos nas

experiências de ampliação de jornada e as possíveis interfaces com a política e a gestão

dessas práticas. As autoras constataram uma relação de desconfiança e ao mesmo tempo

de expectativas nas instituições pesquisadas.

Em relação às dissertações e teses identificadas no Banco de Teses e Dissertações da

CAPES, optamos por apresentar as que mais contribuíram para a construção desta

pesquisa, seja na metodologia, seja na compreensão do Projeto Escola de Tempo

Integral em São Paulo e em outros estados.

Um dos trabalhos que contribuiu foi o de Germani (2006), que faz um levantamento

histórico das propostas de ampliação do tempo escolar em Curitiba de 1986 a 1994,

através da análise de documentos oficiais e de depoimentos de professores que

participaram desses projetos. A autora constatou que todas as propostas sofreram

modificações ao se tornarem realidade na comunidade em que foram implantadas. Essas

modificações foram necessárias em função do distanciamento do projeto proposto em

relação à realidade concreta.

A autora identificou que as propostas implantadas em Curitiba foram inspiradas em

Anísio Teixeira, mas adotam como base teórica outras teorias educacionais conforme se

faziam presentes no panorama educacional.

Germani (2006), em relação à formação dos professores, constatou que as escolas de

Curitiba que ampliaram o tempo escolar foram acompanhadas de programas de

preparação de professores, mas que esses programas não foram totalmente eficazes, pois

as dificuldades encontradas no dia a dia afastavam os professores dessas escolas. O

rodízio constante de professores impossibilitava o aprofundamento das problemáticas

ligadas à educação em tempo integral.

Mota (2008) realizou uma pesquisa em uma escola de tempo integral do Governo

Estadual de São Paulo, situada em Santos. A pesquisa focou a prática dos professores

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junto às oficinas curriculares. A pesquisadora identificou a influência do movimento

liberal reformador da Escola Nova, proposta no Brasil por Anísio Teixeira, baseada nos

conceitos de John Dewey.

Mota (2008) apontou que a falta de tempo para um trabalho coletivo entre os

professores do regular (currículo básico) e os professores das oficinas, assim como a

falta de formação e capacitação adequada são fatores que prejudicam a qualidade do

trabalho docente. Identificou também que as capacitações, quando ocorrem, são

pontuais e pouco articuladas com as vivências de sala de aula. Em relação às oficinas, a

autora verificou que, por falta de preparo, as oficinas acabam reforçando os conteúdos

já trabalhados no currículo básico, utilizando as mesmas estratégicas pedagógicas.

Mota (2008) também identificou nos professores entrevistados queixas em relação aos

alunos. Para esses professores muitos alunos se recusam a participar das atividades,

ficando ociosos durante todo o período. Mota acrescenta que, além disso, tanto

professores, quanto alunos demonstram dificuldades para compreender e desenvolver a

proposta das oficinas, ocasionando problemas de relacionamento entre eles. A autora

sugere cursos de formação, tanto inicial como de formação continuada que favoreçam a

articulação entre teoria e prática.

Santos (2009) investigou a organização do tempo em uma escola municipal de Tempo

Integral em Goiânia e constatou que a organização e as práticas pedagógicas realizadas

nessa escola eram marcadas pela improvisação. Segundo a autora, a pesquisa em

questão indica a necessidade de aprofundamento em algumas questões, que poderão ser

realizadas em outras pesquisas, como: a necessidade de realizar uma discussão

conceitual sobre a questão do tempo escolar e as finalidades da escola pública na

contemporaneidade. A autora acredita ser essencial discutir também as relações entre as

políticas e propostas que fundamentam a ideia de escola integral.

Na sua dissertação, Santos (2009) apresenta uma análise de como a ampliação do tempo

escolar tem sido concebida em diferentes propostas em andamento. Segundo a autora,

os resultados indicam: certa desresponsabilização do Estado pela educação pública,

ainda que a ampliação do tempo de permanência na escola produza a aparente

percepção de que o Estado está aumentando sua atuação. Além disso, a autora

identificou nas propostas ênfase na questão de risco social, passando para a escola a

função da assistência social, com a ideia de educação integral, que extrapola o ambiente

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escolar e a busca por um novo modelo de escola para atender às novas exigências

sociais.

Gomes (2009) pesquisou a concepção de educação apresentada nas Diretrizes para a

Escola de Tempo Integral no Estado de São Paulo e o que pensam os professores que

atuam no projeto, na perspectiva da formação continuada concebida durante o espaço

destinado a esse fim, ou seja, a HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) .

Segundo a autora, em relação à concepção do Projeto percebem-se interesses sociais e

políticos fundamentados no ideal liberal proposto por Anísio Teixeira. De acordo com

ela, nas Diretrizes para Escola de Tempo Integral (SP/SEE/CENP, 2006), apreende-se o

cunho assistencialista, no qual se privilegia uma determinada classe social para esse

atendimento, com o discurso versando sobre a busca da qualidade para o ensino. Em

relação aos professores, há consenso relativo em torno da necessidade de construção

coletiva da concepção de educação que possibilite novas práticas pedagógicas.

Nesse sentido, afirma a autora, as HTPCs, espaços destinados à formação continuada

dos professores, mostram-se insuficientes diante das necessidades pedagógicas e dos

problemas inerentes e consequentes da demanda social transferida para o campo

educacional.

Gomes (2009) também constatou que concepções, sentimentos e contradições

vivenciadas pelos professores se materializam nas práticas pedagógicas. Segundo a

autora, aparece no discurso dos professores o problema da falta do esforço e apatia do

aluno. Para lidar com essa dificuldade, comenta que os professores se relacionam de

forma afetiva, na tentativa de compensar o desconhecimento pedagógico de como lidar

com essas situações.

Em relação às oficinas curriculares, a mesma constatou que ainda não existe uma

identidade, o que faz com que as oficinas fiquem à mercê das necessidades dos

professores do currículo básico, ora como complementar ao que é oferecido ora como

espaço de reforço. Nas duas escolas pesquisadas por ela, foi constatado que os

professores buscam ocupar o tempo e o espaço de forma qualitativa, mas a falta de

formação adequada faz com que ofereçam em dobro o que sabem e dominam.

Sobre a formação, acrescenta que os professores apontam a ineficiência das poucas

orientações recebidas. Nesse sentido, Gomes (2009) afirma a necessidade de cursos de

formação que viabilizem momentos de estudo e discussão do cotidiano dessas escolas.

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Gomes (2009) também aponta a necessidade de investimentos na estrutura física das

escolas e organização nas escolas de um espaço para informar aos professores os

acontecimentos, preservando a HTPC para formação.

Dib (2010) em sua tese de doutorado investigou o Programa Escola de Tempo Integral

na Região de Assis, interior do Estado de São Paulo. O objetivo do seu trabalho era

analisar o projeto e identificar os efeitos e impactos em nove escolas da região de Assis,

a partir de 2006, utilizando os resultados no SARESP.

Segundo Dib (2010), as análises comparativas das médias resultantes do rendimento

escolar dos alunos dos dois grupos selecionados apontam uma diferença no desempenho

dos alunos das escolas que aderiram ao programa. Na disciplina de Matemática, o grupo

ETI (Escolas de Tempo Integral) avançou 38, 5% em relação ao ETP (Escolas de

Tempo Parcial) e em Português o grupo ETI avançou 17,4% em relação ao outro grupo.

No entanto, a autora ressalta que não é possível afirmar que a ampliação do horário seja

o único fator responsável pela diferença de desempenho.

Para a maioria dos entrevistados pela pesquisadora (DIB, 2010), os fatores que mais

evidenciam esses resultados diferenciados entre as escolas são os seguintes: articulação

na HTPC dos professores do currículo básico com os das oficinas, estudo individual e

coletivo realizado pelos professores, capacitações em serviço, apoio dos supervisores e

dedicação e envolvimento de toda a equipe.

Ao finalizar o trabalho, Dib (2010) comenta dos descaminhos que ocorreram em 2010,

em relação ao Projeto em questão em Assis, período posterior ao pesquisado. Somente

quatro escolas se mantiveram oferecendo tempo escolar ampliado aos alunos, apesar do

resultado alcançado.

Para o supervisor responsável por essas escolas, isto ocorreu em função de não ter sido

mantido o apoio pedagógico dos órgãos centrais, como ocorreu nos primeiros anos do

Projeto. Mantiveram-se apenas as escolas localizadas na periferia. Nesse sentido, Dib

(2010) questiona a qualidade desse atendimento e tem esperança de que um dia as

políticas sejam de Estado, não ficando sujeitas a mudanças constantes de governos. Essa

é também a grande expectativa de todos nós que trabalhamos com educação e que

acreditamos em uma escola pública forte, justa e de qualidade para todos os cidadãos

brasileiros.

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Em síntese, as pesquisas mencionadas anteriormente apresentam projetos de escolas em

tempo integral com concepção teórica baseada nos princípios liberais propagados por

Anísio Teixeira, tendo a escola como centro da ampliação do tempo escolar, apesar de

ocorrerem em diferentes estados ou municípios: Germani (2006), em Curitiba; Mota

(2008), em Santos (Projeto do Estado de São Paulo); Santos (2009), em Goiânia; Gomes

(2009), interior de São Paulo (Projeto do Estado de São Paulo) e Dib (2010), Assis

(Projeto do Estado de São Paulo).

As pesquisas trazem diferentes contribuições para a temática em questão, mas são

unânimes ao apontar como principais fragilidades do Projeto: a falta de estrutura física

adequada à ampliação, necessidade de integração entre os professores e entre as

atividades do currículo básico e as oficinas e uma formação para os professores

adequada às questões de uma escola de tempo integral, possibilitando a reflexão da

prática e com isso melhorando a qualidade do ensino. (GERMANI, 2006; MOTA, 2008;

SANTOS, 2009; GOMES, 2009; DIB, 2010). Apesar dessas fragilidades, as pesquisas

apontam resultados positivos, como foi o caso da experiência de Assis nos primeiros

anos de ampliação (DIB, 2010)

1.6 Projeto Escola de Tempo Integral: uma experiência vivenciada no Estado de São Paulo

O Projeto Escola de Tempo Integral foi implantado em 2005, em 508 escolas estaduais

em todo o Estado de São Paulo, através da Resolução 89 de 9 de dezembro de 2005

(SP/SEE, 2005).

Para entendermos a concepção desse projeto, é importante relembrarmos a influência do

educador Anísio Teixeira na implantação das escolas públicas de tempo integral, no

Brasil, conforme já mencionado neste trabalho. Vale lembrar também que o projeto de

Anísio Teixeira tem por fundamento as ideias de John Dewey, para o qual não deveria

existir separação entre a vida e a educação.

Dewey (1978), representante da Escola Nova, trouxe importantes contribuições para a

educação, que serão retomadas na concepção desse Projeto, como é o caso do conceito

de ensino ativo. Para Dewey, ensino ativo é aquele que busca incentivar a pensar e a

analisar ao invés de começar com conceitos e definições já elaborados. No pensamento

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desse autor, um ensino ativo deve compreender as necessidades e capacidades dos

indivíduos que estão aprendendo, valorizando condições externas (objetivas) e internas.

Inspirada no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola de Tempo Integral do

Projeto em questão foi organizada em dois turnos: pela manhã, o currículo básico e à

tarde, as oficinas, com atividades práticas.

Nas diretrizes do Projeto constantes na Resolução 7 de 18 de janeiro de 2006 (SP/SEE,

2006 b), as oficinas foram instituídas para a vivência de “atividades de natureza prática,

inovadora, integrada e relacionada a conhecimentos previamente selecionados, a ser

realizada por todos os alunos, (...)” (SP/SEE/CENP, 2006, p.14).

Em relação à legislação, o Projeto Escola de Tempo Integral tem como base vários

documentos oficiais, elaborados no âmbito federal, conforme apresentado na introdução

do trabalho, que implicaram na elaboração de diretrizes específicas sobre o assunto no

Estado de São Paulo, como as duas resoluções apresentadas anteriormente.

Considerando a prerrogativa desses documentos, o governo do Estado de São Paulo

decidiu implantar, em 2005, o Projeto Escola de Tempo Integral, com a adesão de 508

escolas, distribuídas entre as noventa e uma Diretorias de Ensino do Estado, ampliando

o horário nessas escolas de cinco para nove horas.

Segundo Cavalière (2007), São Paulo, em relação à organização de turnos de mais de

cinco horas, em 2006, teve um crescimento de 31, 3% de matriculas de educação

fundamental, contra 5,8% em 2004. As autoras acrescentam que essa tendência se fez

presente em todo o Brasil.

Antes de descrevermos o processo de implantação do Projeto, vale mencionar o

discurso do Secretário de Educação Gabriel Chalita (2005), pois através dele

percebemos a concepção de escola de tempo integral presente nesse projeto,

fundamentada em alguns conceitos de projetos anteriores, comentados anteriormente:

Estamos investindo no que é essencial que é o ser humano. Ao estender o tempo de

permanência na escola, tirando a criança da rua ou da frente da televisão, mostrando a

ela a escola acolhedora, colocando-a em contato com outras possibilidades de

conhecimento, de integração e do empreendedorismo social. Sem habilidade social, não

é possível ao aluno desenvolver sua própria história, não é possível criar uma vida

educada. Por isso, a gente não prepara só para um processo cognitivo, porque esse

conteúdo sozinho não desenvolve o estudante na sua potencialidade. Assim como

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também não há educação sem emoção, um sentimento que perpassa o diretor, o

professor e o aluno, uma emoção que é estimulada pelo que se aprende com a arte, com

o esporte, com a cultura. Acreditamos que o aluno não tem uma inteligência só e

ninguém pode ser excluído por não ser bom em alguma área. Quando bem integrado, ele

tem toda chance de desenvolver sua autoestima (VIDEOTECA REDE DO SABER.

www.rededosaber.sp.gov.br . Acesso em jun. 2011)

A primeira ideia presente nesse discurso refere-se à preocupação com a proteção

integral da criança, presente no ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), “tirar as

crianças da rua”, preocupação de cunho assistencialista. Constatam-se, também,

conceitos presentes na Pedagogia do Amor, defendida pelo Secretário, ao falar em

escola acolhedora e no fato de que não há aprendizagem sem emoção, que difere da

nossa compreensão de afetividade, como mencionaremos mais adiante.

A resolução de 89 de dezembro de 2005 (SP/SEE, 2005) apresentava os objetivos do

Projeto:

• Promover a permanência do educando na escola, assistindo-o integralmente em

suas necessidades básicas e educacionais, reforçando o aproveitamento escolar,

a auto estima, e o sentimento de pertencimento;

• Intensificar as oportunidades de socialização na escola;

• Proporcionar aos alunos alternativas de ação no campo social, cultural, esportivo

e tecnológico;

• Incentivar a participação na comunidade por meio do engajamento no processo

educacional, implementando a construção da cidadania;

• Adequar às atividades educacionais à realidade de cada região, desenvolvendo o

espírito empreendedor (SP/SEE, 2005).

Para adesão ao Programa, as escolas deveriam ter um espaço físico compatível com o

número de alunos e salas de aula para funcionamento em período integral, assim como

ter a intenção expressa da comunidade escolar em aderir ao Projeto, com participação

do Conselho Escolar. Além disso, as escolas deveriam estar inseridas,

preferencialmente, em regiões de baixo IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.

A escola funcionaria em dois turnos – manhã e tarde – com uma jornada de nove horas

diárias. Sendo um turno com o currículo básico e o outros com oficinas curriculares.

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Após esse período de implantação, as escolas deveriam elaborar seus projetos políticos

pedagógicos e encaminharem os professores para as capacitações, que ocorreriam

concomitantemente à implantação do projeto, causando vários problemas, como a

ausência de professores em um momento crítico como é o de implantação de um

projeto. No entanto, como aponta Dib (2010), essa prática não é nova na educação, pois

já ocorreu na implantação de outros projetos, como: Ciclo Básico (1995), Escola Padrão

(1998), Escola da Família (2006), entre outros.

Em relação às oficinas, segundo o Projeto elas deveriam estar mais voltadas às

atividades práticas e deveriam ser organizadas conforme a Matriz Curricular

(SP/SEE/CENP, 2006). Além da Matriz Curricular, esse documento menciona os

objetivos gerais das oficinas, assim como de cada oficina específica, sugere estratégias e

bibliografia para o estudo e preparação do professor.

As oficinas do Ciclo I seriam compostas de cinco eixos temáticos: Orientação para

estudo e pesquisa, Atividades de linguagem e matemática, Atividades artísticas,

Atividades esportivas e motoras e Atividades de participação social. Eram previstas 25

aulas para o currículo básico e 20 aulas para as oficinas, perfazendo um total de 45 aulas

(Quadro 1).

Os objetivos das oficinas, nesse documento, foram os seguintes:

• Educar e cuidar da construção da imagem positiva do aluno;

• Atender às diferentes necessidades de aprendizagem;

• Promover o sentimento de pertinência;

• Desenvolver atitudes de compromisso e responsabilidade para com a escola e

com a comunidade, instrumentalizando-o com as competências e habilidades

necessárias ao desempenho do protagonismo juvenil e à participação social;

• Promover a cultura da paz pelo desenvolvimento de atitudes do autorrespeito,

respeito mútuo, solidariedade, justiça e diálogo.

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• Quadro 1 – Escola de Tempo Integral – Matriz Curricular – • Ensino Fundamental – Ciclo I ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL

MATRIZ CURRICULAR ENSINO FUNDAMENTAL – CICLO I

Componentes Curriculares Séries/aulas 1ª 2ª 3ª 4ª

Currículo Básico

Base Nacional

Comum e

Parte Diversificada

Língua Portuguesa 7 7 7 7 Educação Artística 2 2 2 2 Educação Física 2 2 2 2 História 2 2 2 2 Geografia 2 2 2 2 Matemática 7 7 7 7 Ciências Físicas e Biológicas 3 3 3 3

Total 25 25 25 25

Oficinas Curriculares

Orientação para estudo e pesquisa 2 2 2 2 Atividades de Linguagem e

de Matemática

Hora da Leitura 3 3 3 3 Experiências Matemáticas 3 3 3 3 Língua Estrangeira Moderna - Inglês 1 1 1 1 Informática Educacional 2 2 2 2

Atividades Artísticas

Teatro 3

3

3

3 Artes Visuais

Música Dança

Atividades Esportivas e Motoras

Esporte 3

3

3

3 Ginástica

Jogo Atividades de Participação Social

Saúde e Qualidade de Vida 3

3

3

3 Filosofia

Empreendedorismo Social Total 20 20 20 20

Total 45 45 45 45 Fonte: SÃO PAULO. SEE. Resolução SE 07 de 18/01/2006

Com esses objetivos, a SEE/SP pretendia possibilitar a cada aluno o desenvolvimento

físico, mental, social, afetivo e social de forma sadia, em condições de liberdade e

dignidade.

O documento sugeria que os professores deveriam desenvolver as oficinas curriculares

práticas, que enriquecessem as aulas do currículo básico, utilizando como estratégia

atividades vivenciais, realizadas em diferentes espaços da escola, como a biblioteca, a

sala de leitura e o laboratório.

Com relação à avaliação dos alunos da ETI, o documento destacava a ideia de avaliação

como indicador para mudanças e reformulações pedagógicas, exigindo do educador um

olhar atento para novas informações que poderiam ser descobertas acerca do aluno e, a

partir daí, ampliar o que o aluno era capaz de fazer para ajudá-lo.

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Nesse sentido, constata-se a concepção de avaliação como um processo contínuo,

propiciando ao professor indicações sobre o seu trabalho pedagógico e possibilitando

também levantar informações sobre o processo de escolarização do aluno.

Considerando que na ETI o currículo básico era complementado pelas oficinas

curriculares, depreende-se que era necessário que a avalição escolar compreendesse

também os aspectos de socialização e de atitudes, ou seja, que o aluno fosse avaliado

em todas as suas potencialidades.

Como estratégia e formas de registro para acompanhar o desenvolvimento dos alunos

nas oficinas, as diretrizes sugeriam a observação por parte do professor, a autoavaliação

do aluno, a avaliação em grupo ou individual.. Recomendavam também a construção de

um portfólio, com os trabalhos realizados pelos alunos, apontando as dificuldades e

avanços na aprendizagem. Os registros do percurso dos alunos deveriam ser

organizados em fichas de observação individual.

A seguir apresentaremos os objetivos de cada oficina, segundo o documento de 2006,

para que o leitor possa compreender melhor o funcionamento proposto para escolas

participantes desse Projeto.

Atividades de Linguagem e Matemática

Trata-se de um eixo temático que compreende as seguintes oficinas: Hora da Leitura,

Experiências Matemáticas, Língua Estrangeira Moderna e Informática.

A oficina Hora da Leitura visa estimular a leitura de diversos gêneros, tendo como

princípio norteador a formação de leitores, desenvolvendo o gosto pela leitura. Para que

isso ocorra, o documento recomenda que os professores façam uma seleção cuidadosa

de textos, promovam atividades individuais e compartilhadas. Para trabalhar nessas

oficinas, as Diretrizes propõem um perfil de professor que goste de ler e tenha o prazer

de compartilhar com os alunos a magia, a fantasia, as ideias que os autores querem

revelar para seus leitores, além de uma boa formação acadêmica.

As atividades a serem desenvolvidas na Oficina de Experiências Matemáticas, segundo

o documento, devem envolver contextos e situações que possibilitem aos alunos

reverem ou aprofundarem conceitos e procedimentos matemáticos estudados, por meio

de metodologias diferenciadas e inovadoras como a resolução de problemas, história da

matemática, materiais concretos, jogos, novas tecnologias e projetos.

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Em relação à Oficina de Língua Estrangeira Moderna, as Diretrizes apontam que

deverão ser utilizadas metodologias que favoreçam o aspecto oral, com introdução

gradual e contínua à escrita. As habilidades de comunicação deverão ser desenvolvidas

através da interação, negociação e colaboração, num ambiente de investigação e estudo.

Para o documento, a língua adotada na ETI deverá ser o espanhol.

Na Oficina de Informática Educacional as atividades realizadas visam propiciar aos

alunos o acesso às diversas tecnologias, integrando o conhecimento das outras áreas e

projetos com o uso da tecnologia.

O documento oficial recomenda a existência de um laboratório de multimídia com no

mínimo 20 computadores, lousa branca, TV, vídeo ou DVD, filmadora, software e

internet. O professor deverá ter domínio dos conhecimentos básicos de informática e ser

um incentivador da busca de caminhos para resolução de problemas.

Atividades Artísticas

Esse eixo compreende as atividades práticas relacionadas ao teatro, às artes visuais, à

música e à dança. O principal objetivo é proporcionar aos alunos a criação de formas

artísticas, representação de ideias, emoções e sensações por meio de poéticas nas

diferentes linguagens da arte e como representação de pensamentos e sentimentos. O

documento sugere que os professores interessados em ministrar essas aulas, tenham

disponibilidade de tempo para capacitações e interesse em desenvolver oficinas

diferenciadas nas linguagens da arte.

Atividades Esportivas e Motoras

As atividades relacionadas a esse eixo estão atreladas ao esporte, ginástica, jogo. Tem

por objetivo orientar os alunos a fim de que sejam capazes de participar de atividades

variadas, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros,

reconhecendo e respeitando os próprios limites e os dos demais membros da sociedade.

Orientação para Estudo e Pesquisa

A oficina de orientação para Estudo e Pesquisa deverá possibilitar ao aluno, ampliar o

repertório cultural e científico, estabelecendo vínculo com o mundo da pesquisa.

Segundo as diretrizes, a oficina tem a função de oportunizar ao aluno o

desenvolvimento de pesquisas em suas diversas etapas: elaboração do tema, observação,

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coleta de dados, discussão em grupo, painéis, elaboração de textos e relatórios finais. O

documento ressalta também a importância da discussão com os alunos sobre as

diferentes fontes de informação, as metodologias de pesquisa, o método científico, a

reflexão e as normas para o uso e a citação de fontes bibliográficas pertinentes e

confiáveis.

Atividades de Participação Social

Fazem parte desse eixo as oficinas de Saúde e Qualidade de Vida, Empreendedorismo

Social e Filosofia.

A Oficina de Saúde e Qualidade de Vida, segundo o documento oficial, tem por

objetivo aprofundar conhecimentos e desenvolver boas práticas para o alcance da

promoção e manutenção da saúde humana e da sustentabilidade da vida. Além disso,

objetiva que o aluno compreenda a concepção de saúde como produto da interação entre

os aspectos físicos, psíquicos, socioculturais e ambientais determinantes da qualidade de

vida.

O Empreendedorismo Social está relacionado ao desenvolvimento de projetos e ações

conjuntas que buscam ajudar o aluno a construir e mobilizar conhecimentos, visando ao

seu futuro em uma sociedade em constantes mudanças.

Para desenvolvimento dessas oficinas, foi realizada uma parceria com o Instituto Ayrton

Senna, tendo o projeto como foco o protagonismo juvenil, a educação para valores, a

cultura da trabalhabilidade e a metodologia de projetos.

A oficina de Filosofia oferece aos alunos a oportunidade para refletirem sobre questões

colocadas na sociedade, sendo o ato de refletir e criticar importante para o

desenvolvimento de todas as disciplinas.

Desenvolvimento do Projeto – alguns momentos

Em relação à implantação do Projeto, como mencionamos, esta ocorreu através da

Resolução 89 (SP/SEE, 2005), que apresentou os objetivos do Projeto e os critérios para

adesão. Segundo estudos e depoimentos, antes da implantação do Projeto não houve

nenhuma discussão coletiva entre os educadores. O depoimento de um dirigente da

Diretoria de Ensino de Assis, apresentado por Dib (2010) em sua pesquisa, confirma

essa situação:

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(O programa) foi proposto às diretorias de Ensino, em reunião ocorrida na primeira

semana do mês de dezembro de 2005, entre o secretário estadual da educação, Gabriel

Chalita, e os noventa e um dirigentes regionais de ensino da Coordenadoria do Interior e

Coordenadoria do Ensino da Região Metropolitana e Grande São Paulo. A partir de

então, cada dirigente regional de ensino deveria chegar em suas diretorias de ensino

com o propósito de divulgar o programa às suas escolas jurisdicionadas, à equipe de

supervisão de PCOPS, lembrando sempre que se trata de um novo programa, mas que

sua adesão ou não ao mesmo tempo era prerrogativa das equipes escolares (apud DIB,

2010, p 72-73).

O depoimento apresentado por Gomes (2009) na sua dissertação, que nesse período de

implantação atuava como supervisora de ensino na Diretoria de Capivari e teve a função

de visitar as escolas, buscando adesão ao programa, também esclarece como foi esse

momento de implantação:

Foi de difícil empreitada, uma vez que as escolas estavam entrando em recesso e, na

oposição maciça à implantação do projeto, a dirigente regional de ensino solicitou que

todas apresentassem cópia da ata da reunião do Conselho de escola deliberando sobre o

assunto. Houve muito descontentamento por parte dos diretores que, às pressas,

reuniram os membros do Conselho para viabilizar a solicitação (GOMES, 2009, p. 78).

Os depoimentos acima mostram como foi conturbada a implantação do projeto por parte

dos proponentes, desconsiderando a participação efetiva das equipes escolares e

apresentando o programa através de documentos oficiais.

Após a implantação do projeto em 2006, período no qual ocorreram algumas reuniões

de capacitação, organizou-se um grande encontro em Lindoia com os profissionais

técnicos das oficinas pedagógicas e os supervisores de ensino responsáveis pela

formação das equipes das ETIs.

No ano seguinte, foi promovido outro evento proporcionado pela SEE/SP, o Congresso

Internacional sobre escola de tempo integral. Nesse encontro, foram apresentadas

experiências de outros países, como: Inglaterra, Chile e Portugal. Durante esse evento,

conforme Dib (2010), alguns educadores se pronunciaram a favor ou contra a ampliação

de tempo escolar. O pronunciamento de Guiomar Namo de Mello, ao falar que “estamos

oferecendo em dobro o que já era ruim”, causou indignação na equipe envolvida e

empenhada no Projeto.

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Em função dessa situação, organizou-se um grupo de estudos para identificar e propor

ações de melhoria. Dib (2010) cita algumas dessas ações:

• A criação e divulgação de parâmetros de qualidade para Escola de Tempo

Integral, o que culminou com a elaboração do documento: Escola de Tempo

Integral – Tempo e qualidade – Construção de uma Proposta Ciclos I e II;

• A criação de um site oficial para agilizar a comunicação entre os órgãos gestores

e a escola;

• O envolvimento dos Supervisores e os PCOP (Professor Coordenador) no

acompanhamento das oficinas;

• A reserva de um tempo para reforço das atividades de Português e matemática

aos alunos com problemas de aprendizagem;

• A redução no número das oficinas curriculares;

• A mudança na atribuição dos professores segundo critérios de perfil e não de

pontos.

Algumas dessas propostas foram viabilizadas oficialmente por meio de resoluções.

Conforme aponta Dib (2010), um problema apresentado pela maioria dos profissionais

das 86 diretorias que participaram do grupo de estudo, um dos maiores dificultadores

para implantação do programa ETI foi a necessidade de otimização de espaços

específicos, como por exemplo: sala para as oficinas de artes, espaço para repouso no

horário do almoço e refeitório adequado. Infelizmente, essas questões ainda se

encontram presentes conforme dados obtidos na presente pesquisa, trazendo um

prejuízo significativo para aprendizagem e para relações afetivas nessas escolas.

Considerando o depoimento dos professores entrevistados em nossa pesquisa, nos

últimos anos, alguns ajustes foram realizados, sem nenhuma alteração na questão-chave,

referente ao espaço escolar.

Em função dos problemas enfrentados, algumas escolas optaram pelo encerramento do

projeto, principalmente as escolas do Ciclo II. Em 2010, os dados da Secretaria da

Educação contabilizavam a existência de 320 escolas participantes do Projeto Escola de

Tempo Integral. Considerando esse quadro, a Secretaria da Educação, por meio das

Equipes Técnicas da CENP, Coordenadoria de Ensino do Interior (CEI) e

Coordenadoria de Ensino da Grande São Paulo (COGSP), propõe a reformulação do

projeto, que, conforme esse documento utilizou como referência estudos sobre as

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fragilidades e dificuldades encontradas, assim como a diversidade de práticas existentes

na Rede (SP/SEE/CENP, 2011)

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2 REFERENCIAL TEÓRICO: A TEORIA PSICOGENÉTICA DE HENRI WALLON

2.1 Por que escolhemos a teoria de Henri Wallon como referencial teórico?

Henri Wallon nasceu no século XIX em Paris, onde residiu por toda a vida. Vivenciou

um período conturbado da história, com duas guerras mundiais entre outros

acontecimentos. Professor, pesquisador, criticou a psicologia da época, tendo um

posicionamento diferenciado dos profissionais deste período. Os aspectos sociais e

políticos permearam sua produção teórica. Dantas (1983) apresenta tais aspectos na

biografia que escreveu sobre Wallon, com respeito e admiração.

Um dos motivos para a escolha desse referencial se refere ao fato de Wallon propor uma

teoria do desenvolvimento como um processo integrado das dimensões afetiva,

cognitiva e motora, rompendo com a separação presente na psicologia tradicional entre

razão e emoção e contribuindo para a compreensão de um ser completo e concreto, com

suas diferentes manifestações, presentes em todo o seu processo evolutivo: a pessoa.

Outra contribuição importante da sua teoria está na valorização que Wallon concede a

integração organismo-meio. Para Wallon ([1946] 1986, p.165), o indivíduo é

“geneticamente social”. Coerente com essa definição, realiza seus estudos sobre a

criança, considerando as circunstâncias em que está inserida e dando-lhe possibilidades

de transformações e escolhas.

Levando em conta que a afetividade é o tema da pesquisa, a escolha pelo referencial

walloniano ocorreu também pelo fato de a afetividade ocupar lugar central nessa teoria,

seja do ponto de vista da construção da pessoa como na construção do conhecimento.

Para Wallon, a afetividade evolui em três momentos: emoção, sentimento e paixão.

Na teoria walloniana, a emoção é o recurso que mobiliza o outro atender às suas

necessidades, funcionando como um amálgama entre o orgânico e o social, permitindo

inicialmente a sobrevivência humana. Wallon ([1941] 2007) afirma que as emoções

tendem a se realizar, por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma fusão de

sensibilidade entre o indivíduo e os que o cercam.

Outro motivo para utilização desse referencial é decorrente da importância das

contribuições do autor na área da educação, o que possibilita ao pesquisador um

referencial teórico explicativo para os fenômenos que se dão no ambiente escolar.

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Wallon não propõe nenhuma teoria pedagógica, mas escreve vários artigos direcionados

aos professores. Acredita que a pedagogia e a psicologia se complementam. Em uma

das suas palestras aos professores, o autor comenta:

Quase todos vós deveis ser principalmente pedagogos e eu sou principalmente um

psicólogo. Mas penso que a ligação das duas disciplinas é indispensável. Julgo que é

sobretudo indispensável para o psicólogo, porque a psicologia só se alimentaria de

abstracções e de simples verbalismo se não encontrasse campos de aplicação dos seus

princípios, campos de controlo, campos de observação ([1952] 1975, p. 201).

Além disso, Almeida (2009) afirma que o estudo das obras de Wallon permite apreender

dois tipos de leitura pedagógica: uma pedagogia explícita, nos textos que tratam da

análise da Educação Nova e da educação em geral e uma pedagogia implícita, obtida

por inferências de sua teoria psicogenética e da sua atuação como professor.

Não é possível deixar de mencionar nesta justificativa a concepção desse autor sobre

Homem e sociedade presente no Plano Langevin-Wallon, uma proposta de reforma para

o ensino francês, elaborada por uma comissão presidida, primeiro, por Langevin, e

depois, por Wallon. A diretriz norteadora do Plano era construir uma educação mais

justa para uma sociedade mais justa, tendo como princípios: justiça, dignidade,

orientação e cultura geral.

A nossa escolha por Wallon também aconteceu por acreditarmos que o método utilizado

pelo autor favorece a compreensão do fenômeno investigado nesta pesquisa, rompendo

com uma visão mecanicista da realidade. Segundo Almeida (2010 b, p.22), Wallon

acreditava que esse método era “o único capaz de abarcar a diversidade e as

contradições da realidade, bem como considerar numa mesma unidade a pessoa e seu

meio, particularmente o social, em suas integrações recíprocas”. Conforme menciona

Almeida (2010 b), a opção de Wallon por esse método foi coerente com a postura que

adotou em toda a sua vida, participando ativamente de movimentos sociais e

educacionais da sua época.

O método walloniano se caracterizou como: a análise genético-comparativa

multidimensional, que consistia em fazer comparações em relação à patologia, as outras

civilizações e aos animais para esclarecer o processo de desenvolvimento. Nessas

comparações, Wallon analisava o fenômeno em suas várias determinações orgânicas e

sociais e as relações entre esses fatores. Sua psicologia genética buscava compreender o

fenômeno na sua origem e nas suas transformações, conservando sempre sua unidade.

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Em relação ao estudo da criança, Wallon afirma: “Para a criança, só é possível viver sua

infância. Conhecê-la compete ao adulto” ([1941] 2007, p. 9). Como instrumento para

conhecê-la, valoriza a observação, mas alerta: “Rigorosamente falando, não existe

observação que seja um decalque exato e completo da realidade” (1941/2007, p.17). Por

isso, ressalta a importância de um referencial teórico que apoie a observação.

Uma observação só pode ser assim denominada se puder ser incluída num conjunto do

qual receba seu sentido e até sua formulação. Trata-se de uma necessidade tão

fundamental que obriga a repensar a chamada observação pura e examinar por meio de

que mecanismo e em que condições ela pode se tornar um método de conhecimento

(WALLON, [1941] 2007, p. 17).

Sobre a observação, Wallon ([1941] 2007, p.18) acrescenta: “Portanto, é de primeira

importância definir claramente, para todo objeto de observação, qual é o quadro de

referência que corresponde à finalidade do estudo”.

Considerando a amplitude teórica de H. Wallon, priorizaremos apresentar alguns

conceitos, mais relacionados à temática desta pesquisa, e que possibilitam uma melhor

análise do fenômeno a ser estudado. São eles: integração organismo-meio, integração

dos conjuntos funcionais (afetivo, cognitivo, motor e pessoa), priorizando a dimensão

afetiva e os estágios do desenvolvimento, com ênfase no estágio categorial.

Complementando o referencial teórico, apresentaremos o Plano Langevin-Wallon.

2.2 Principais conceitos

2.2.1 Integração organismo-meio

Para Wallon, como já mencionamos anteriormente, o desenvolvimento da pessoa se faz

a partir da interação do potencial genético com os fatores ambientais. O organismo

funciona como suporte, que, na interação com o meio, oferece à criança possibilidades

de desenvolvimento. Comentam Mahoney e Almeida (2005) que o foco da teoria é a

interação da criança com o meio, uma relação entre os fatores orgânicos e

socioculturais. Sobre essa interação, afirma Wallon:

Nunca pude dissociar o biológico do social, não porque os julgue redutíveis um ao

outro, mas porque me parecem tão estritamente complementares desde o nascimento,

que é impossível encarar a vida psíquica sem ser sob a forma de suas relações

recíprocas. (WALLON, [1941] 1995, apud ZAZZO, 1995, p.14)

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Nessa interação organismo-meio, muitos efeitos decorrentes dos fatores biológicos

podem ser transformados, seja por condições sociais ou até mesmo por inovações

tecnológicas, como a descoberta de novos medicamentos e tratamentos, modificando

determinadas limitações biológicas, como comenta Wallon:

Não é menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios,

novas necessidades e novos recursos que aumentam suas possiblidades de evolução e

diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não será a

única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados

pelas circunstâncias sociais de sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de

escolha pessoal (WALLON [1954] 1986, p.169).

Wallon considera que ao nascer recebemos nosso plano de desenvolvimento (genótipo),

mas a realização desse plano poderá ser modificada em função das circunstâncias da

vida, que constituem o seu fenótipo, que se refere à forma que o organismo assume a

partir da integração de seu genótipo ao meio.

Constata-se, assim, a importância que Wallon concebe ao meio social. Na espécie

humana, o meio social se sobrepõe ao meio físico. Afirma Wallon ([1946] 1986) que o

homem é geneticamente social. O recém-nascido precisa do outro não só para a

sobrevivência física, mas para a sobrevivência cultural. Ao nascer o bebê, em função da

sua incapacidade física, depende totalmente do outro. Inicialmente, os recursos de que

dispõe para expressar suas necessidades são o grito, o choro e os movimentos

desordenados. Desse modo, “as funções de expressão precedem de longe as de

realização” (WALLON, [1941] 2007, p.41).

Para Wallon, meio é “um conjunto mais ou menos estável de circunstâncias nas quais se

desenvolvem existências individuais” ([1954] 1986, p.170). São estruturas fechadas que

se relacionam entre si. Para esse autor, o meio não só influencia, mas também define as

possibilidades e limitações do ser humano. O meio e o ser vivo são partes integrantes de

um só conjunto. Wallon considera a existência de um meio físico-químico (o primeiro e

o mais básico), um meio biológico (em que várias espécies convivem e exercem ações

recíprocas) e um meio social (constituído de construções simbólicas e culturais). Esses

diversos meios se inter-relacionam e se transformam mutuamente.

As pessoas participam de vários meios, que podem se sobrepor para um mesmo

indivíduo e até entrar em conflito. A família é considerada um meio fundamental no

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desenvolvimento da criança, pois os meios das quais depende são os que dirigem as

suas escolhas. Segundo Wallon:

Os meios em que vive e aqueles com os quais sonha são a forma que deixa nela sua

marca. Não se trata de uma marca recebida passivamente. Com certeza, os meios dos

quais a criança depende começam por comandar muitas de suas condutas, e o hábito

precede à escolha. Mas, a escolha pode se impor, seja para resolver desacordos, seja

para comparar seus próprios meios a outros. (WALLON, [1954] 1986, 169)

Para Wallon meios e grupos são conceitos distintos, mas por vezes podem coincidir,

como é o caso da família. Já a escola não é um grupo propriamente dito, mas um meio

em que é possível constituírem-se grupos de tendências variadas, os quais podem estar

em harmonia ou em oposição aos seus objetivos (WALLON, [1954] 1986). É na escola

que a criança terá contato de forma mais sistematizada com a cultura geral e poderá

conviver com grupos de diferentes meios sociais, podendo, assim, enriquecer o seu

aprendizado.

Considerando a importância do meio social, Wallon afirma que não se pode analisar o

homem sem considerar suas relações e mútuas influências com o meio, pois esta relação

é parte constitutiva da pessoa humana. Explica Gulassa:

O meio, com toda a sua complexidade, com os seus grupos e redes de relações, é

interiorizado pelo sujeito, constituindo o socius. O socius faz parte da consciência

individual. Portanto, o meio é parte constitutiva da pessoa humana, fazendo do homem

um ser datado e contextualizado (GULASSA, 2004, p. 100).

Segundo Wallon: “o socius ou o outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica. É

normalmente reduzido, inaparente, contido e como que negado pela vontade de

dominação e de integridade completa que acompanha o eu” (WALLON [1946] 1986,

165). Comenta Wallon que nos momentos de indecisão, geralmente estabelecemos um

diálogo íntimo com esse outro, presente na nossa consciência. Para o autor, esses

diálogos são considerados normais, mas podem se tornar patológicos.

A observação de uma criança pequena que dialoga consigo própria é o testemunho da

existência dessa instância: o socius. A partir dos três anos, quando a criança começa a

afirmar-se, esses diálogos tendem a desaparecer. No entanto, ressalta o autor que esse

desaparecimento não se dá por completo, mas por redução, passando a ter um papel de

segunda ordem na nossa consciência. Esse processo está atrelado ao desenvolvimento

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normal da consciência e nos faz, como afirma Wallon ([1946] 1986, p. 167), “um ser

íntimo e essencialmente social”.

2.2.2 Estágios do desenvolvimento humano

Para melhor descrever o desenvolvimento, Wallon propõe a existência de estágios ou

períodos, marcados por características e conflitos específicos, que dependem da relação

entre os fatores orgânicos e sociais, ou seja, entre a relação organismo-meio, conforme

apresentamos no tópico anterior. Explica Wallon:

A psicogênese encontra-se estreitamente ligada aos modos sucessivos das relações com

o meio: meio humano e meio físico. Estas relações assentam nos meios de que dispõe

cada idade, e têm como consequência os estádios sucessivos da personalidade (

WALLON [1956] 1979, p. 60).

A solução do conflito é que propicia a passagem para um novo estágio do

desenvolvimento. Essa mudança de estágio parece ocorrer de modo descontínuo,

gerando uma crise que pode afetar visivelmente a conduta da criança. Afirma Wallon

que alguns desses conflitos são característicos da espécie e são superados pelo próprio

desenvolvimento, outros dependem da solução encontrada por cada indivíduo e deixam

em cada um a sua marca.

Sobre a psicogênese da criança, Wallon esclarece:

De etapas em etapas a psicogênese da criança mostra, pela complexidade dos fatores e

das funções, pela diversidade e oposição das crises que a pontuam, uma espécie de

unidade solidária, tanto dentro de cada uma como entre todas elas. É contrário à

natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela é um todo indissociável

e original. Na sucessão de suas idades, é um só e mesmo ser sujeito a metamorfoses.

Feita de contrastes e de conflitos, sua unidade é por isso mesmo mais suscetível de

ampliações e novidades (WALLON [1941] 2007, p.198).

O processo de desenvolvimento é uma construção progressiva, regulada pelas seguintes

leis:

• Lei da alternância funcional – indica a alternância de direções opostas entre os

estágios: o movimento predominante poderá ser para fora, ou seja, para o

conhecimento do mundo ou para dentro, voltado para o conhecimento de si;

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• Lei da predominância funcional – está relacionada ao predomínio em cada

estágio de cada conjunto funcional (afetivo, motor e cognitivo);

• Lei da integração funcional – o desenvolvimento se inicia com atividades mais

simples, que vão sendo integradas às mais complexas dos estágios posteriores,

conforme as possibilidades do sistema nervoso e do meio ambiente.

Wallon, através da análise de suas observações, comparando as diferenças e

semelhanças no desenvolvimento de crianças normais e patológicas, entre crianças e

adultos, extraiu os processos reguladores do desenvolvimento, identificando vários

estágios.

O primeiro estágio é o impulsivo emocional, que compreende o período do nascimento

ao primeiro ano de vida. É marcado pela total dependência do bebê ao outro e pelo

predomínio das emoções. Os movimentos do bebê são inicialmente desordenados, mas

através do contato com o outro, vão sendo selecionados a fim de garantir o atendimento

das suas necessidades. Comenta Wallon:

É-lhe (a criança) indispensável uma assistência de todos os instantes. Ele é um ser cujas

reações precisam de ser completadas, compensadas, interpretadas. Ele próprio incapaz

de fazer qualquer coisa, é manipulado pelos outros, e atitudes vão tomar forma

(WALLON, [1946] 1986, p. 161).

No início, os movimentos são desordenados, mas gradualmente em função dos efeitos

que causam nos outros passam a ser intencionais. São esses primeiros movimentos

intencionais que marcam os primeiros sinais de cognição e estão relacionados à

afetividade. Nesse período, na interação com os cuidadores mais próximos, a criança

iniciará a construção da sua identidade, por Wallon chamada de personalidade.

Em oposição ao estágio anterior, o estágio sensório-motor e projetivo é caracterizado

pela investigação e exploração da realidade exterior, assim como pela aquisição da

atividade simbólica e início da representação. Esse estágio ocorre no período do

primeiro ao terceiro ano. Há predomínio das relações cognitivas com o meio, marcadas

pela aquisição da linguagem. O reconhecimento da imagem diferenciada do seu corpo

também ocorre nesse estágio.

No estágio do personalismo, que compreende o período dos três aos seis anos, a tarefa

central é o processo de formação da personalidade. A consciência corporal, que já

ocorreu no estágio anterior é condição fundamental para tomada da consciência de si,

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para o processo de diferenciação eu-outro, que agora vai ocorrer de forma completa. Há

um retorno do predomínio da afetividade, pois a consciência de si se dá nas relações

com os outros, dos quais procurará se diferenciar, através de atividades de oposição, de

sedução e de imitação.

Estágio categorial se inicia por volta dos seis anos. A consolidação da função

simbólica e da diferenciação entre o eu e o outro permite novos avanços. Nesse período

a criança dirige seu interesse para as coisas, para o conhecimento e para as conquistas

do mundo exterior.

Apresentaremos este estágio mais detalhadamente, pois a presente pesquisa foi realizada

em classes de 4a série, com crianças de nove a 10 anos, que se encontram

predominantemente nesse estágio.

Wallon explica que, apesar do predomínio das atividades cognitivas, a criança continua

a se desenvolver também no plano afetivo e motor, pois o desenvolvimento é um

processo integrado. Nesse período, a criança aprende a se conhecer como pessoa e

amplia as suas relações com diversos grupos. É geralmente o período de ingresso

escolar, conforme comenta Wallon:

Vem então a idade escolar, a idade em que as relações da criança com o meio podem se

tornar mais diversas, mais facultativas, mais abertas, em que ela pode entrar em grupos

de composição mais variável, em que o seu lugar nestes grupos depende mais dela, das

suas preferências ou dos seus méritos, e não é irrevogável. Adquire gradualmente o

sentimento de que sua personalidade é polivalente, por conseguinte, mais livre

(WALLON [1956] 1979, p.65).

Organiza-se uma nova estrutura mental, podendo o período categorial ser compreendido

por duas etapas. A primeira vai até por volta dos nove anos, caracterizada pelo

pensamento pré-categorial, pensamento ainda marcado pelo sincretismo, no qual os

conceitos ainda se encontram confusos. Na segunda fase, que ocorre entre nove/10 anos,

o pensamento passa a se organizar através de categorias utilizadas para ordenar a

realidade, possibilitando também à criança uma compreensão mais nítida de si mesma.

Esse pensamento é característico da inteligência discursiva, que inicialmente é marcada

pelo sincretismo infantil. Conforme descreveu Wallon a partir de pesquisas que

empreendeu com crianças, o pensamento no início dessa fase tem uma estrutura binária,

ou seja, é caracterizado por pares de ideias, como explica Wallon:

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O pensamento existe apenas pelas estruturas que introduz nas coisas. Inicialmente há

estruturas muito elementares. O que é possível constatar desde o início é a existência de

elementos que estão sempre aos pares. O elemento de pensamento é essa estrutura

binária, não os elementos que o constituem (WALLON, [1945] 1989, p.30).

Wallon nessa pesquisa descobriu que o vínculo entre os pares ocorria de diferentes

modos: analogia, complementaridade, combinação circular etc. A dupla é uma estrutura

fechada, um terceiro termo pode desfazer a dupla.

Segundo Amaral (2009), no pensamento pré-categorial as crianças não conseguem

pensar exclusivamente uma unidade por vez, um objeto, um fato ou uma situação. Eles

só podem existir em seu pensamento em relação a outro que lhe dê identidade. O

pensamento por pares se caracteriza por uma percepção global na qual a criança não

consegue estabelecer relações, as imagens que a criança vai apreendendo dos objetos,

coisas, pessoas ou acontecimentos ligam-se umas às outras por justaposição, sem

nenhum nexo lógico que estabeleça uma unidade.

Aos poucos, o pensamento sincrético dá lugar ao pensamento categorial, o que permite

à criança a identificação, a análise, a definição e a classificação dos objetos e das

situações. Essa capacidade possibilita novas conquistas: a noção de tempo, de espaço e

de causa.

Durante esse estágio, Wallon menciona também outra aquisição importante para o

ambiente escolar: a autodisciplina mental, conhecida comumente como atenção,

decorrente da maturação biológica. Essa capacidade torna possível à criança permanecer

atenta mais tempo em uma mesma atividade.

No plano motor, explica Amaral (2009), os gestos vão se tornando mais precisos e

localizados, de modo que a criança já consegue selecionar o gesto adequado para o que

pretende realizar. Pode também planejar mentalmente o movimento e prever etapas e

consequências do deslocamento, o que garante uma desenvoltura maior na exploração

do ambiente e nas atividades de conquista do mundo objetivo.

Vale ressaltar que para Wallon todas as aquisições ocorrem de modo integrado; uma

nova aquisição motora proporcionará transformações na afetividade, no conhecimento,

na pessoa, que será influenciada pelo seu desenvolvimento biológico e pelas condições

sociais presentes naquele momento histórico-cultural.

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Mahoney e Almeida (2005) alertam que esse desenvolvimento é um processo longo e

constante, sendo importante o professor considerar o que o aluno já sabe para poder

avançar no conhecimento, propondo exercícios necessários e formas de avaliação mais

adequadas ao desempenho, pois isso afetará os alunos, favorecendo ou não sua

descoberta do mundo.

Outro ponto que essas autoras apontam, é saber aceitar que todo conhecimento novo,

não familiar implica, na sua aprendizagem, um período de imperícia, resultado de um

sincretismo inicial. À medida que evolui, a imperícia poderá se transformar em

competência.

Estágio da puberdade e adolescência é uma fase predominantemente afetiva, voltada

a si mesmo, direcionada à construção de uma identidade autônoma, através de atividades

de confronto, autoafirmação e questionamentos. Há domínio de categorias cognitivas de

maior nível de abstração.

2.2.3 Integração afetivo-cognitivo-motora

Para Wallon, o desenvolvimento da pessoa se dá na relação entre os fatores orgânicos e

sociais e na relação entre os conjuntos funcionais, afetivo, cognitivo, motor e um quarto

conjunto, a pessoa, que expressa essa integração. É um processo em aberto, no qual a

existência social e individual está em constante transformação, marcada pela situação

histórica concreta em que acontece.

Wallon salienta que a divisão em conjuntos é um artifício que tem por objetivo facilitar

a compreensão do fenômeno, a construção da pessoa.

As exigências da descrição obrigam a tratar de forma distinta alguns grandes conjuntos

funcionais, o que certamente não pode ser feito sem certa artificialidade, sobretudo no

ponto de partida, quando as atividades, ainda são pouco diferenciadas (WALLON

[1941] 2007, p.113).

Sobre a integração dos grandes conjuntos, Mahoney (2009) explica de forma clara:

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha

identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte

constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do

processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade

humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias

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afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas;

toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas elas têm um impacto

no quarto conjunto: a pessoa, que, ao mesmo tempo em que garante essa integração, é

resultante dela (MAHONEY, 2009, p. 15).

O conjunto ou domínio motor está relacionado à possibilidade de deslocamento do

corpo no tempo e espaço, as reações posturais que garantem o equilíbrio corporal, bem

como o apoio tônico para as emoções e sentimentos se expressarem (MAHONEY;

ALMEIDA, 2005). É considerado por Wallon um importante recurso de sociabilidade,

pois possibilita a expressão da emoção, que permite o contato com os outros e a própria

sobrevivência humana. Além disso, o ato motor é também um recurso privilegiado para

o desenvolvimento cognitivo, pois as percepções são retidas somente quando a criança é

capaz de reproduzi-las por meio de gestos. Wallon esclarece essa relação entre

motricidade e cognição:

Como os mecanismos da ação são ativados antes dos da reflexão, quando quer imaginar

uma situação não consegue fazê-lo se antes não se envolver de alguma forma com ela

por meio de seus gestos. O gesto precede a palavra, (...). A criança mostra, depois conta,

antes de conseguir explicar. Não imagina nada sem encenação. Ainda não cindiu dela

mesma o espaço que a rodeia. É o campo necessário, não só de seus movimentos, mas

de seus relatos (WALLON [1941] 2007, p. 157-158).

O conjunto ou domínio cognitivo oferece um conjunto de funções que possibilitam a

aquisição e a manutenção do conhecimento através de imagens, ideias e representações.

Como já mencionamos, o desenvolvimento cognitivo está atrelado ao desenvolvimento

motor e ao afetivo. No primeiro ano de vida, a atividade cognitiva se encontra latente e

ainda indiferenciada da atividade afetiva, mas seu desenvolvimento possibilitará à

criança, por volta dos dois anos, novas conquistas, que permitirão o desenvolvimento da

inteligência prática, característica do estágio sensório-motor e projetivo. Quase que

simultaneamente, a função simbólica e a aquisição da linguagem se apresentam como

aquisições fundamentais para o desenvolvimento do pensamento e da inteligência, que

parte do sincretismo ao pensamento categorial, que permitirão à criança uma nova

compreensão do mundo e de si mesma.

Desse modo, como afirma Mahoney (2004) o conjunto cognitivo “permite a criança

fixar e analisar o presente, registrar, rever, re-elaborar o passado e projetar futuros

possíveis e imaginários” (p. 18).

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Em função do objetivo da nossa pesquisa, daremos maior destaque ao conjunto ou

domínio afetivo, que está relacionado às funções responsáveis pelas emoções, pelos

sentimentos e pela paixão. Considera Wallon que as manifestações fisiológicas da

emoção constituem o ponto de partida do psiquismo.

Para Wallon, a afetividade é constitutiva do ser humano e é um dos conjuntos

funcionais que integram a pessoa estando presente desde o nascimento. Como conjunto

funcional, predomina nas fases de desenvolvimento nas quais a pessoa se encontra mais

voltada para si, como na fase impulsiva emocional, no personalismo e na puberdade e

na adolescência.

Segundo ele, a afetividade apresenta três momentos de evolução: emoção, sentimentos e

paixão. Dér explica como se dá essa evolução:

A afetividade é um conceito amplo que, além de envolver um componente orgânico,

corporal, motor e plástico, que é a emoção, apresenta também um componente

cognitivo, representacional que são os sentimentos e a paixão. O primeiro componente a

se diferenciar é a emoção, que assume o comando do desenvolvimento logo nos

primeiros meses de vida; posteriormente, diferenciam-se os sentimentos e, logo a seguir,

a paixão (DÉR, 2004, p.61).

Segundo Wallon, as emoções são manifestações de estados subjetivos, mas com

componentes orgânicos. Durante os três primeiros meses de vida é a emoção que

permite ao ser humano a sobrevivência, em função da sua característica de contágio e

expressão.

A emoção também se faz presente durante as diferentes fases do desenvolvimento,

expressando-se pelo corpo por meio dos movimentos do tônus muscular. Possibilita

respostas a situações que causam medo, alegria, vergonha, etc.

É através da afetividade que o indivíduo acessa o mundo simbólico, originando a

atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço. A emoção e a atividade intelectual

caminham juntas na evolução da pessoa, mas há uma relação de antagonismo entre elas.

Quanto maior a compreensão cognitiva da situação vivenciada, maior possibilidade da

pessoa controlar as reações emocionais. Sobre isso, Dantas (1990) afirma: “ a razão

nasce da emoção e vive da sua morte.”

Em relação ao sentimento, Wallon o considera como a expressão representacional da

emoção. Pode ser expresso pela mímica ou pela linguagem. Segundo Mahoney e

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Almeida (2005), o adulto tem maiores recursos de expressão de sentimentos: observa,

reflete antes de agir, sabe onde e quando expressá-los, traduz intelectualmente seus

motivos e circunstâncias.

No ambiente escolar cabe ao professor, adulto da relação, canalizar a afetividade para

produzir conhecimento. Segundo Almeida (2004), a mediação do professor será mais

eficaz à medida que ofereça diferentes linguagens, possibilitando à criança canalizar

seus sentimentos e emoções em favor do pensamento.

A paixão revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação, tentando

para isso silenciar a emoção. Caracteriza-se por ciúmes, exigências e exclusividade. Não

aparece antes do estágio do personalismo, explica Wallon:

A paixão pode ser intensa e profunda na criança. Mas com ela aparece a capacidade de

tornar a emoção silenciosa. Portanto, para se desenvolver pressupõe o autocontrole da

pessoa e não pode vir antes da oposição claramente sentida entre si mesmo e o outro,

cuja consciência não se dá antes dos 3 anos (WALLON, [1941] 2007, p. 126).

Sintetizando a conceituação de afetividade, ressaltamos a contribuição de Mahoney e

Almeida (2005), a afetividade “refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de

ser afetado pelo mundo externo e interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis

e desagradáveis” (p.19).

O conjunto pessoa é o quarto conjunto funcional, expressa a integração da pessoa em

todas as suas possiblidades. Wallon ([1941] 2007) ressalta que a pessoa se forma

durante todo o desenvolvimento humano da criança e suas transformações têm

importância e ritmos acentuados, sendo que a origem dessa evolução ocorre nos

primórdios da vida psíquica, período predominantemente afetivo. Durante todo o

desenvolvimento da criança, que ocorre de forma contínua, novas aquisições

contribuem para a formação da pessoa.

Mahoney (2004) comenta:

A pessoa é a unidade do ser. Cada indivíduo tem uma forma própria e única, que

caracteriza sua personalidade em movimento contínuo que vai desde a pessoa orgânica

(...) até a pessoa moral (adolescência – predomínio do afetivo), passando pelo sensório-

motor e categorial. Existem, então, infinitas possibilidades de personalidades, só

limitadas pela cultura (MAHONEY, 2004, p. 19).

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2.3 Plano Langevin-Wallon

O Plano Langevin-Wallon foi elaborado no período de 1945 a 1947, após o término da

Segunda Guerra Mundial, por uma Comissão nomeada pelo Ministério da Educação

Nacional da França, com o objetivo de reformar o sistema de ensino francês.

Inicialmente, Paul Langevin presidiu essa comissão. Com sua morte em 1946, Wallon

foi designado a exercer essa função.

Para justificar a reforma, o plano aponta a necessidade da escola estar mais próxima à

vida real, considerando o progresso científico, adaptando-se às mudanças sociais, ou

seja, mostrando-se mais permeável às experiências do mundo e, com isso, oferecendo a

todos uma educação cívica, social e humana. A reforma defendia o direito de todos a

um desenvolvimento completo. A concepção de ensino proposta pela reforma teve forte

influência do movimento da Escola Nova.

A diretriz norteadora do Plano é construir uma educação mais justa para uma sociedade

mais justa. As ações propostas se baseiam em quatro princípios:

• Justiça – Todas as crianças, independente das suas origens familiares, sociais

e étnicas, têm igual direito ao desenvolvimento máximo. A única limitação

deve ser as suas próprias aptidões;

• Dignidade igual para todas as ocupações – Todas as ocupações são dignas de

igual valor, ou seja, o trabalho manual, a inteligência prática não pode ser

subestimada;

• Orientação – O desenvolvimento das aptidões requer primeiro a orientação

escolar e depois a orientação profissional. A orientação deve ser baseada

simultaneamente nas aptidões individuais e nas necessidades sociais.

• Cultura Geral – Todos deverão ter a oportunidade de um conhecimento

amplo do que existe no mundo, “compreender o interesse e apreciar o

resultado de outras atividades que não sejam as suas (...)” (PLANO

LANGEVIN-WALLON [1947] 1977, p. 180). A especialização não deve ser

um obstáculo para a compreensão mais ampla, a cultura liberta o homem.

Nesse sentido, o Plano concede um importante papel à escola, como centro de difusão

da cultura, atuando ao mesmo tempo como agente ativo do progresso e elemento de

coesão entre o passado e o futuro. A escola deve considerar o aluno e a sociedade como

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uma unidade, permanecendo aberta a esta, pois o objetivo da educação é a vida social.

Sobre essa relação, o Plano é explícito:

A escola é uma verdadeira empresa de cultura, da qual o individuo só se aproveita

plenamente se for conduzido e apoiado pelo meio escolar. A escola faz realizar à

criança aprendizagem da vida social, e particularmente, da vida democrática (PLANO

LANGEVIN-WALLON [1947] 1977, p.214).

Além disso, a reforma prevê uma organização do ensino que permite o aperfeiçoamento

contínuo do cidadão e do trabalhador.

Para atender a esses princípios, a proposta organiza o sistema em dois níveis, sendo o

primeiro dividido em três ciclos, tornando-o obrigatório e gratuito para as crianças dos

três aos 18 anos, sendo 6 anos a idade obrigatória. Dos três aos seis anos, as crianças

podem frequentar a escola maternal, que deve ter professores-educadores. Os ciclos são

os seguintes:

• No primeiro ciclo, que corresponde à idade dos sete aos 11 anos, pretende-

se oferecer condições para a criança compreender e fazer-se compreendida.

Sugere o Plano: “As aptidões das crianças serão aí desenvolvidas livremente

e sem programa, por meio de métodos activos” (PLANO LANGEVIN-

WALLON [1947] 1977, p. 186);

• No segundo ciclo, dos 11 aos 15 anos, deve ser um período de orientação,

que possibilita a aquisição de uma base comum e a realização de diversas

atividades para que a criança possa descobrir as suas diferentes aptidões.

Devem ser oferecidas às crianças diferentes opções;

• O terceiro ciclo, que ocorre dos 15 aos 18 anos, é o período de determinação,

consagrado à formação do cidadão e do trabalhador. O jovem tem uma base

comum e outra opcional, escolhida conforme seus interesses e aptidões em

uma das seguintes seções: seção de estudos teóricos (humanidades clássicas,

humanidades modernas, ciências puras), seção de estudos profissionais

(comerciais, industriais, agrícolas, artísticas) e seção de estudos práticos

(trabalhos manuais).

O ensino do 2º grau compreende dois níveis: ensino propedêutico ou pré-universitário e

ensino superior.

Sobre a concepção de escola e de professores presente nesse Plano, acrescenta Almeida:

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O projeto é, ainda, o indicador do profundo respeito que Wallon e Langevin tiveram

pela instituição escolar e consequentemente pelo professor que atua nessa instituição: a

escola é um meio indispensável à formação do ser humano, e o professor deve ter uma

formação adequada para atuar nesse meio e o reconhecimento de sua atuação

(ALMEIDA, 2009, p. 76-77).

O Plano também apresenta orientações referentes aos programas, horários, métodos,

avaliações, entre outros pontos. Em relação a isso, apresentaremos apenas as

considerações do Plano que dizem respeito à faixa etária da pesquisa em questão.

Segundo o Plano, os programas devem indicar o que será ensinado de uma forma ampla

e flexível para que possa impulsionar a curiosidade do aluno, pois considera este um

objetivo essencial da educação. Em relação aos conteúdos do primeiro ciclo (seis aos 11

anos), orienta o Plano:

O conteúdo do ensino comum será, no decurso do primeiro ciclo (6-11 anos), o que

corresponde aos instrumentos indispensáveis do conhecimento (leitura, escrita, cálculo),

o que enriquece os meios de expressão (desenho, linguagem) e todas as atividades que

possam desenvolver as aptidões de observação. Por ser esta idade particularmente

propicia ao estudo das linguagens, convirá, na medida do possível, ensinar as crianças,

uma língua estrangeira, de uso corrente pelo método direto (PLANO LANGEVIN-

WALLON [1947] 1977, p. 204).

Em relação aos horários, o projeto recomenda para a faixa de nove a 11 anos, o período

de estudo dirigido de três horas por dia, levando em consideração as possibilidades

fisiológicas e as necessidades psicológicas dessas crianças. Fora do horário de aula, a

criança pode escolher as atividades: jogos, leituras, etc.

Os métodos recomendados são os ativos: ”aqueles que se esforçam por acorrer para

cada conhecimento ou disciplina às iniciativas das próprias crianças, alternando o

trabalho individual do trabalho em grupo” (PLANO LANGEVIN-WALLON, [1947]

1977, p 206).

O Plano propõe também que não sejam realizados exames até o final dos anos da

escolaridade obrigatória. O agrupamento no segundo ciclo dependerá das atividades

realizadas pelas crianças nos anos anteriores e da decisão do conselho de professores

(orientação). Além disso, o projeto prevê atendimento individualizado para as crianças

que apresentem dificuldades no aprendizado.

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2.4 Afetividade na escola, o que dizem as pesquisas

Como base para esse levantamento bibliográfico, utilizamos o Banco de Teses e

Dissertações da CAPES, no período de 2006 a 2010, definindo os seguintes descritores

para seleção dos estudos: afetividade na escola, afetividade e aprendizagem, afetividade

na escola de tempo integral. Além disso, utilizamos algumas pesquisas realizadas no

PED (Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação –

PUC/SP), nos últimos cinco anos, que privilegiaram a investigação da dimensão afetiva

no contexto escolar.

Pesquisamos, também, as comunicações realizadas nas reuniões da ANPEd, de 2007 a

2011, nos grupos de trabalhos referentes à Educação Fundamental e Psicologia da

Educação.

A escolha pelo período mencionado anteriormente ocorreu por se tratar de uma

produção atual sobre a temática, possibilitando uma análise mais contemporânea das

pesquisas sobre a afetividade no ambiente escolar.

Constatou-se um número significativo de produções sobre a temática da afetividade. No

entanto, não se encontrou nenhum estudo realizado em uma escola de tempo integral, o

que pode evidenciar a contribuição desse tipo de pesquisa.

A maior parte dos estudos pesquisados aborda a afetividade relacionada à apropriação

da escrita ou a afetividade relacionada a uma disciplina específica, como arte,

matemática, educação física, filosofia e ensino religioso.

Em relação aos níveis de ensino, encontramos estudos nos diferentes níveis. No entanto,

poucos trabalhos foram realizados com professores e alunos da 4ª série (5º ano), período

que será abordado nesta pesquisa. Em função disso, selecionamos para a revisão

bibliográfica alguns estudos mais próximos à temática da afetividade no Ensino

Fundamental I, que efetivamente contribuíram para organização e discussão deste

trabalho.

Vale ressaltar que a maior parte dos estudos pesquisados sobre afetividade, utilizando

como referencial teórico a psicogenética walloniana, foi realizado no PED-PUC/SP, sob

a orientação das professoras Abigail Mahoney e Laurinda Ramalho de Almeida. Além

desses estudos, encontramos trabalhos sobre a temática na UNICAMP, sob a orientação

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do professor Sérgio Leite, e no Centro Universitário Moura Lacerda, orientados pela

professora Marlene Fagundes Gonçalves.

Iniciamos o nosso levantamento no PED-PUC/SP, utilizando como fonte para pesquisa

o estudo realizado pelo grupo de pesquisa coordenado pela professora Laurinda

Ramalho de Almeida, do qual participamos. O grupo procedeu ao mapeamento de teses

e dissertações sobre afetividade no contexto escolar no PED/PUC-SP, realizadas no

período de 1969 a 2009.

Tratou-se de um estado do conhecimento, conforme definição de Romanowski e Ens

(2006), no qual foram identificadas 71 pesquisas sobre a temática, categorizadas em

estudos teóricos e empíricos, sendo estes subcategorizados pelos sujeitos participantes

das pesquisas. Constatou-se que 42% das pesquisas priorizavam os alunos como

participantes; 21%, os professores, e 14 %, os alunos e os professores. A pesquisa foi

publicada na revista Psicologia da Educação, número 31, ago./2010, edição

comemorativa dos quarenta anos do Programa.

Os principais resultados desse estudo ressaltam a importância de se estudar a afetividade

na escola:

• A maneira de expressar a afetividade pelo professor repercute diretamente no

aluno, influenciando a forma de esse aluno se relacionar com os conteúdos e

com a própria escola;

• A existência de um clima favorável à expressão dos sentimentos e

aprimoramento das relações interpessoais proporciona avanços no

desenvolvimento dos profissionais e alunos, enriquecendo a aprendizagem.

• O conhecimento da evolução da afetividade pelo professor possibilita o

melhor atendimento das necessidades dos alunos e com isso favorece o

aprendizado e o desenvolvimento.

Consultamos também os trabalhos de Almeida e Mahoney (2007), que apresentam

várias pesquisas sobre afetividade realizadas na PUC/SP, e apontam que conhecer os

sentimentos e suas situações indutoras possibilita o desvelamento das necessidades de

professores e alunos para que sejam atendidas, melhorando as relações e a própria

aprendizagem. Além disso, essas pesquisas fornecem importantes elementos para o

professor refletir sobre sua prática, considerando a dimensão afetiva.

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No Banco de Teses e Dissertações da CAPES, selecionamos o trabalho de Tassoni e

Leite (2010), que teve por objetivo identificar a afetividade na dinâmica interativa na

sala de aula. Nesse trabalho, Tassoni apresenta sua pesquisa de doutorado, sob

orientação do professor. Sergio Leite, que foi realizada com 51 alunos de seis, 10, 14 e

17 anos, utilizando como referencial teórico Vigotski e Wallon. Os resultados

confirmam os estudos de Almeida et al.(2010 a), demonstrando a interdependência e

influência entre a dimensão afetiva e cognitiva, assim como a importância dos

professores conhecerem a evolução da afetividade nos diferentes estágios de

desenvolvimento, podendo compreender melhor as necessidades do aluno e melhorar o

processo ensino-aprendizagem. Tassoni e Leite (2010) verificou também o poder do

contágio nas salas de aulas contribuindo ou não para aprendizagem.

Outro trabalho encontrado no Banco de Teses e Dissertações da CAPES foi realizado

em uma escola do interior de São Paulo, com uma professora e 35 alunos da 2ª série do

ensino Fundamental I por Nunes (2007). Esse estudo utilizou como referencial teórico

Vigostki. Os resultados indicam que a relação e interação entre professor-aluno facilita

o processo ensino-aprendizagem e pode diminuir a incidência do fracasso escolar.

Esses resultados corroboram também com os resultados de pesquisas mencionadas

anteriormente (ALMEIDA et al. 2010; TASSONI; LEITE, 2010).

Nas comunicações realizadas na ANPEd, no período de 2008 a 2011, encontramos

alguns trabalhos sobre a afetividade no contexto escolar. No entanto, selecionamos os

seguintes trabalhos, que se aproximavam mais da questão da presente pesquisa: Tassoni

e Leite (2010), referente à pesquisa de doutorado já apresentada anteriormente, e

Tassoni (2011).

A comunicação de Tassoni (2011), refere-se a um estudo em andamento em uma escola

pública do Ensino Fundamental I, com alunos do 1º ano à 4ª série. Esse artigo tem por

objetivo investigar que sentimentos perpassam a relação dos alunos, dos anos iniciais do

Ensino Fundamental, com as práticas de leitura e escrita. A metodologia utilizada foi a

observação em sala de aula e as entrevistas com os alunos. Segundo a autora:

A utilização da observação em sala de aula mostrou-se adequada para focalizar

professores e alunos enquanto constituintes de uma mesma dinâmica interativa, uma vez

que o objeto de estudo se concretiza nas interações concretas entre ambos (TASSONI,

2011, p.6).

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As entrevistas foram realizadas individualmente com os alunos interessados em

participar após autorização por escrito dos pais. Posteriormente, os dados foram

organizados em três categorias, tendo como eixo orientador os elementos que

influenciam a relação dos alunos com a escrita. Foram eles: as estratégias de ensino, a

professora e a relação com a leitura e escrita.

Identificaram-se também os sentimentos dos alunos em relação às práticas de leitura e

escrita e as respectivas situações indutoras desses sentimentos. Essa análise foi baseada

em Almeida e Mahoney (2007). Os sentimentos encontrados nos alunos de 3ª e 4ª

séries foram: alegria, tranquilidade, orgulho, entusiasmo, empenho, vergonha,

tristeza/constrangimento, medo, receio, nervosismo/ansiedade, dor física e cansaço.

Os resultados coletados nas entrevistas com os alunos apontam que o gostar de ler e/ou

escrever estão relacionados às situações de aprendizagem com sucesso. Elogios da

professora ou da família a respeito dos textos produzidos pelos alunos os motivam a

escrever, assim como tirar uma boa nota. A correção da professora é apontada pelos

alunos como uma ação que os ajuda a aprender.

Os dados dessa pesquisa confirmam a importância da afetividade no ambiente escolar,

demonstrando quais sentimentos se fazem presentes no processo de ensino-

aprendizagem, sendo assim importante para o professor reconhecê-los.

Finalizando esse levantamento, ressaltamos que os estudos presentes nessa revisão

contribuíram para a investigação, seja em relação à ampliação da compreensão da

temática afetividade, seja como orientador na escolha dos procedimentos metodológicos

adotados.

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3 PERCURSO METODOLÓGICO

Com objetivo de compreender como se manifesta a dimensão afetiva, mais

especificamente, os sentimentos, em escolas nas quais as crianças permanecem em

tempo integral, realizamos este estudo em duas escolas públicas participantes do

Projeto Escola de Tempo Integral da rede estadual de São Paulo.

A questão norteadora da pesquisa foi investigar os sentimentos manifestados por

professores e alunos na Escola de Tempo Integral e que situações são indutoras desses

sentimentos, desvelando as necessidades subjacentes a esses. O conhecimento dessas

necessidades possibilitará a realização de ações para que essas sejam atendidas e a

aprendizagem de alunos e de professores aprimorada.

Partimos dos seguintes pressupostos: os alunos e professores são pessoas completas,

integradas, inseridas em um meio social e histórico; as interações que ocorrem na escola

são marcadas pela afetividade e é da integração afetividade-cognição que se desenvolve

o processo ensino-aprendizagem.

Nesse sentido, acreditamos que o estudo dos sentimentos de professores e de alunos de

escolas do Projeto Escola de Tempo Integral poderá revelar as necessidades de seus

participantes.

Segundo Bogdan e Biklen (1982, apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986), uma abordagem

qualitativa deve atender aos seguintes critérios: realização da pesquisa em um ambiente

natural como fonte direta de dados, pesquisador como seu principal instrumento, dados

predominantemente descritivos, preocupação maior com o processo do que com o

produto, foco especial no significado que as pessoas dão às coisas e a análise voltada a

um processo mais indutivo, tendo um referencial teórico como base.

Considerando os objetivos da nossa pesquisa e os critérios apontados pelos autores

mencionados, optamos pela abordagem qualitativa, pois nos pareceu mais adequada

para a investigação em questão.

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3.1 Produção de informações

Para a produção de informação, realizamos observações nas salas de aula, entrevistas

com professores das escolas participantes e análise de documentos oficiais do Projeto

Escola Tempo Integrais do Governo do Estado de São Paulo e documentos das escolas.

O Projeto Escola de Tempo Integral foi criado em 2005 através da Resolução 89 de 9 de

dezembro de 2005 (SP/SEE, 2005), conforme apresentamos no tópico sobre o Projeto.

A escolha desse Projeto ocorreu em função do interesse em investigar a afetividade em

uma escola na qual as crianças permanecem o dia inteiro. Optamos por investigar

escolas nas quais a ampliação do horário ocorre dentro da própria escola e com a

participação de professores contratados pelo governo estadual. Nossa ideia inicial

incluía a escolha de escolas nas quais os professores também atuassem em tempo

integral. No entanto, não encontramos esse quadro, pois a própria legislação não

permite a ampliação da carga horária no Ensino Fundamental I.

Outro motivo relevante para essa escolha foi o significativo número de escolas

participantes. No início do Projeto eram 508 escolas. Hoje ainda participam dele 300

escolas, número considerado ainda relevante, sendo que a maior parte está localizada no

interior do Estado de São Paulo.

Para escolha das escolas participantes, realizamos um primeiro levantamento via

internet, no qual verificamos que muitas escolas na cidade de São Paulo não estavam

participando mais do Projeto Escola de Tempo Integral. Conversamos com uma colega,

supervisora de ensino da Diretoria Centro-Oeste, que nos forneceu uma lista com o

nome das escolas dessa região. Identificamos três escolas do Ensino Fundamental I e

realizamos as visitas. As duas primeiras escolas visitadas aceitaram prontamente o

convite para participação na pesquisa, o que nos fez desistir de visitar a terceira escola.

Além disso, achamos interessante o perfil das duas: uma em região nobre da cidade de

São Paulo e outra mais próxima da periferia.

A descrição detalhada das escolas se encontra nos Apêndices VIII e IX.

A escolha de alunos da 4ª série ocorreu por ser a última série do Ciclo I, pois, são

alunos com maior probabilidade de terem sido influenciados pela vivência da ampliação

de horário, em função da maioria frequentar a escola desde a 1ª série.

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Vale mencionar que no Estado de São Paulo, as classes ainda estão organizadas em

série. A previsão é de que 2013 seja o último ano da adequação série/ano. O interesse

em investigar o Ciclo I foi devido ao fato de existir no currículo básico uma professora

regente da turma, o que nos proporcionaria um contraponto interessante com as oficinas,

nas quais existem vários professores.

Em relação à escolha das turmas a serem observadas nas duas escolas, o critério foi

definido pelas coordenadoras, que solicitaram que realizássemos as observações em

turmas com perfil bem diferenciado: uma considerada mais problemática e outra, mais

tranquila.

Para seleção dos professores entrevistados, utilizamos o critério referente à função que

ocupavam no Projeto. Entrevistamos um professor do currículo básico, um professor

das oficinas (que eventualmente substitui professores do currículo básico pela manhã) e

um vice-diretor.

Como procedimentos para a produção das informações, utilizamos: observação em sala

de aula, entrevista e análise documental.

3.1.1 1º Procedimento: Observações em sala de aula

As observações em sala de aula foram recursos fundamentais para o levantamento das

informações desta pesquisa, pois nos possibilitou conhecer efetivamente a dinâmica no

relacionamento entre professores e alunos, fornecendo indicadores para a compreensão

do nosso objeto de estudo: a afetividade na escola de tempo integral.

A experiência direta é o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado

fenômeno afirmam Lüdke e André (1986). Ezpeleta e Rockwell (apud TASSONI, 2011)

explicam que pela observação é possível selecionar do contexto analisado o que há de

significativo e coerente em relação à base teórica construída.

Moroz e Gianfaldoni (2006) também reconhecem a observação como um instrumento

rico para levantamento de informações, mas alertam sobre a necessidade de que essa

observação seja devidamente planejada a fim de que sejam identificadas as informações

relevantes na compreensão do fenômeno pesquisado, conforme comentam as autoras:

O planejamento da observação, portanto, é essencial: só à medida que se tem claro o

que deve ser observado é que se tem maior probabilidade de evitar irrelevâncias ou de

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identificar aspectos que, embora não previstos, deveriam ser considerados (MOROZ e

GIANFALDONI, 2006, p. 78).

Vale ressaltar que durante todo o processo de observação utilizamos como norteador de

nossa compreensão o referencial walloniano. Para Wallon [1941] 2007), a observação é

o melhor instrumento para se conhecer a criança, mas alerta também para a importância

de se ter um referencial objetivo, que substitua a referência instintiva, pois segundo ele é

muito difícil observar a criança sem lhe atribuir algo de nossos sentimentos ou de

nossas intenções.

Para Wallon “não existe observação que seja um decalque exato e completo da

realidade”. O autor acrescenta: “(...) Portanto, é de primeira importância definir

claramente, para todo objeto de observação, qual é o quadro de referências que

corresponde à finalidade do estudo” (WALLON, [1941] 2007, p. 17).

Nesse sentido, para que pudéssemos planejar adequadamente as observações,

realizamos uma primeira semana de observações em cada uma das escolas, que

ocorreram em dias alternados em duas turmas diferentes das 4as séries. Nosso objetivo

era observar a dinâmica entre os professores, alunos, funcionários e as respectivas

rotinas e horários. Durante esse período, procuramos realizar as anotações somente após

a saída do campo, conforme sugestão de Vianna (2007), a fim de minimizar os efeitos

da presença do observador/pesquisador, possibilitando que os participantes se

acostumassem com a nossa presença e pudessem agir com mais naturalidade durante o

processo de realização da observação.

Tanto na escola A como na escola B, os professores e os alunos foram receptivos.

Percebemos que, à medida que os professores e alunos acostumaram com a nossa

presença na sala de aula, puderam se sentir mais à vontade, solicitando ao pesquisador

opiniões e sugestões sobre fatos ocorridos na sala de aula. O sentimento de empatia por

parte do pesquisador pode ter contribuído para um melhor levantamento das

informações.

Para organizar nossos registros, seguimos as orientações propostas por Bogdan e Biklen

(1994), que sugerem a organização de um diário de campo com dois tipos de registro:

um descritivo e outro reflexivo. A parte descritiva consiste no registro detalhado do que

ocorreu em campo e a parte reflexiva inclui as observações pessoais do pesquisador, que

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foram registradas nos relatos, como C.O., comentários do observador, que nos

auxiliaram na análise do material.

Durante as observações em sala de aula, procuramos anotar o maior número de

informações, mas algumas vezes a dinâmica do trabalho não possibilitou essas

anotações. Para minimizar essa dificuldade, realizamos as anotações logo após a saída

do trabalho de campo. Posteriormente a esse procedimento, transformamos as

anotações, pois algumas se tratavam de diálogos, em material descritivo, o que nos

exigiu um trabalho cuidadoso e intenso. Ao desenvolvermos esse trabalho, constatamos

o quanto a observação é uma técnica rica, mas extremamente trabalhosa, como ressalta

Vianna:

A observação é considerada a mais disponível das técnicas de coleta de dados, mas

provavelmente, segundo Crabtree & Miller (1999), é a que demanda, com certeza, mais

tempo, além de exigir maior envolvimento pessoal do observador. A observação como

técnica científica pressupõe a realização de uma pesquisa com objetivos criteriosamente

formulados, planejamento adequado, registro sistemático dos dados, verificação da

validade de todo o desenrolar do seu processo e da confiabilidade dos resultados (2007,

p.14).

Após a primeira semana de observação, conversamos novamente com as coordenadoras

e combinamos o seguinte cronograma, que foi realizado conforme o planejado (Quadro

2).

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Quadro 2 – Cronograma das observações em sala de aula.

1ª semana Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Manhã Escola B -

4ª A

Escola A- 4ª

B

Escola B – 4ª

C

Escola A – 4ª

C

Tarde Escola B- 4ª

A

Escola A - 4ª

B

Escola B – 4ª

C

Escola A -

4ª C

2ª semana

Manhã Escola B –

4ª A

Escola A- 4ª

B

Escola B –

4ª C

Escola A – 4ª

C

Tarde Escola B - 4ª

A

Escola A –

4ª B

Escola B -4ª

C

Escola A –

4ª C

3ª semana

Manhã Escola A – 4ª

C

Escola A –

4ª B

Escola B –

4ª A

Tarde Escola A –

4ª C

Escola A –

4ª B

Escola B – 4ª

A

4ª semana

Manhã Escola A –

4ª C

Escola B – 4ª

A

Tarde Escola B –

4ª A

Vale mencionar que as observações ocorreram no período de agosto a setembro de 2011

e que se procedeu à interrupção de uma semana após a segundo semana de observação,

para estudo e replanejamento das próximas observações. Esse afastamento para uma

pré-análise redirecionou o nosso olhar e até mesmo os registros para um melhor

levantamento das informações.

Na maior parte das vezes, realizamos as observações no horário das 8 às 15 h30.

Somente em alguns dias determinados realizamos as observações desde o momento de

entrada que era às 7 horas para Escola A e 7h30 para Escola B, até o horário de saída

que era às 16h10 na Escola A e às 16h30 na Escola B.

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3.1.2 2º Procedimento: Entrevista com os professores

A entrevista com os professores foi realizada com objetivo de complementar as

informações obtidas nas observações. Segundo Moroz e Gianfaldoni (2006) a entrevista

tem a vantagem de envolver uma relação pessoal entre pesquisador/sujeito.

A respeito da entrevista, Lüdke e André (1986, p.34) afirmam:

A grande vantagem da entrevista sobre as outras técnicas é que ela permite a captação

imediata e corrente da informação desejada. Pode permitir o aprofundamento de pontos

levantados por outras técnicas de coleta e permite correções, esclarecimentos e

adaptações que a tornam sobre maneira eficaz na obtenção das informações desejadas.

Para essas autoras, existem diferentes tipos de entrevista, que devem ser escolhidos

conforme os objetivos do entrevistador: estruturada ou padronizada, não estruturada ou

não padronizada e semi-estruturada.

Nossa escolha foi pela entrevista semi-estruturada, para a qual preparamos um roteiro

com perguntas norteadoras, conforme Apêndice X. Procuramos utilizar perguntas

abertas, que propiciassem uma comunicação mais livre entre entrevistador e

entrevistado, em função de nosso objetivo na entrevista ser investigar os sentimentos

dos professores na escola de tempo integral. Não foi possível seguir em todas as

entrevistas a sequência proposta pelo roteiro, devido à singularidade dos participantes e

da própria relação estabelecida entre estes e o pesquisador no momento da entrevista.

Sobre a questão da singularidade da entrevista, Almeida e Szymanski (2010, p.87)

comentam: “Afetar e ser afetado é condição inerente às interações humanas e a situação

de entrevista não escapa dessa condição.” No entanto, as autoras nos alertam em relação

aos cuidados na utilização de uma entrevista semi-estruturada: “ Se estes [objetivos da

pesquisa] pedem uma estrutura semi-estruturada, não se pode perder de vista o foco do

estudo e o tipo de informação de que se necessita” (2010, p. 93)

A seguir, relacionamos os participantes das entrevistas, mencionando os nomes

fictícios, suas respectivas funções e o código utilizado para identificação na pesquisa. A

utilização de nomes fictícios objetiva preservar a sua identidade. Quanto ao código,

informamos que: P – significa Professor. D – direção, A – escola A, B – escola B, 1 –

Professor do currículo básico e 2 – Professor das Oficinas. São eles.

• Professora Rosa - Escola A – Professora das Oficinas – Código PA2

• Professor João- Escola B – Professor do Currículo Básico – Código PB1

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• Professora Lurdes – Escola B – ex-Professora do Currículoo Básico e

atualmente vice-diretora – Código PDB1

Após o contato inicial com os participantes, agendamos local e data da entrevista.

Iniciamos o encontro com o aquecimento, fazendo uma breve exposição da nossa

trajetória profissional e da pesquisa, assim como realizamos perguntas de apresentação

do entrevistado. Todos esses passos ajudaram os participantes a se sentirem mais à

vontade durante a entrevista.

As entrevistas foram realizadas em setembro e outubro de 2011. Foram gravadas e

transcritas pelo pesquisador. Posteriormente, elaboramos um quadro com os

significados e sentimentos dos participantes, conforme explicaremos nos procedimentos

de análise.

Em dezembro, marcamos uma nova entrevista com os professores, na qual

apresentamos para cada um o quadro mencionado anteriormente, com a nossa pré-

análise e fizemos a leitura do material para verificar se os participantes concordavam ou

não com o que foi apreendido pelo pesquisador. Essas entrevistas foram realizadas com

o objetivo de ampliar e confirmar as informações relatadas pelos entrevistados.

Ao realizarmos esse procedimento, constatamos que os professores se sentiram mais

tranquilos e confiantes ao falarem com a pesquisadora. Além disso, comentaram que se

sentiram respeitados com o cuidado que estava sendo dado ao depoimento. Vale

ressaltar que o fato de a segunda rodada de entrevistas ter sido realizada em dezembro,

no final do período letivo, dificultou o agendamento e prejudicou o andamento durante

as entrevistas, pois ocorreram várias interrupções.

3.1.3 3º Procedimento: análise dos documentos

Os documentos foram nossa primeira fonte de conhecimento sobre o Projeto de Escola

Integral, pois esse projeto foi criado e modificado sempre através de Resoluções

Oficiais e Diretrizes elaboradas pela Coordenadoria de Estudos Pedagógicos do Estado

de São Paulo (CENP).

Segundo Lüdke e André (1986), “os documentos constituem uma fonte poderosa de

onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do

pesquisador” (p.39).

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Ressaltamos que a maior parte desses documentos se encontram disponíveis em sites

dos órgãos oficiais, como os da SEE e do Ministério da Educação e Cultura. No entanto,

precisamos ir à Secretaria de Educação para levantarmos alguns documentos que ainda

não estão digitalizados.

Além desses documentos oficiais, tivemos acesso nas escolas ao projeto político-

pedagógico e ao planejamento anual. Os documentos foram importantes para nossa

pesquisa, no sentido de nos ajudar a compreender a distância entre o que é planejado e o

que é efetivamente realizado pelas pessoas envolvidas no Projeto.

3.2 Procedimento para análise dos dados

As informações obtidas nas entrevistas e nas observações foram organizadas para

possibilitar a análise.

Em relação às observações, transformamos todo o material em um texto descritivo,

organizado por datas das observações, e numeramos todas as páginas em ordem

cronológica, da primeira à última observação, separando-o por escola e por classe.

Posteriormente, selecionamos alguns episódios que descreviam situações que

possibilitavam uma melhor compreensão da temática investigada. Procuramos analisar

cada um desses episódios, apreendendo os sentimentos dos personagens envolvidos na

situação em questão.

Em relação às entrevistas, seguimos as orientações propostas por Szymanski, Almeida e

Prandini (2010). Iniciamos fazendo a transcrição de cada entrevista, considerando

simultaneamente as anotações (indicadores) realizadas durante a entrevista, o que nos

auxiliou na identificação dos sentimentos e das respectivas situações indutoras. Os

procedimentos acima foram realizados pelo próprio pesquisador, segundo

recomendação das autoras:

O processo de transcrição de entrevista é também um momento de análise, quando

realizado pelo próprio pesquisador. Ao transcrever, revive-se a cena da entrevista, e

aspectos da interação são relembrados. Cada reencontro com a fala do entrevistado é um

novo momento de reviver e refletir (SZYMANSKI; ALMEIDA; PRANDINI, 2010, p.

74).

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Em seguida, para realizarmos a análise das entrevistas e das observações, nos

inspiramos nos procedimentos sugeridos por Almeida (1992), encontrados em

Szymanski, Almeida e Prandini (2010). Procedemos da seguinte forma:

1. Fizemos a leitura dos depoimentos e das descrições para nos familiarizarmos

com o texto que descrevia a experiência. Lemos esse material várias vezes para

apreendermos a essência do que foi escrito;

2. Uma vez que o sentido do todo foi apreendido e como foi impossível analisar

um texto inteiro simultaneamente, dividimos o todo em partes, voltando ao

começo do texto uma vez mais e pondo em evidência os significados. Esses

significados foram respostas para as nossas interrogações; assim procedendo,

obtivemos unidades de significado; estas se relacionavam umas às outras,

indicando momentos distinguíveis na totalidade da descrição;

3. As unidades de significado foram explicitadas na linguagem do pesquisador.

Para facilitar a discussão posterior, elaboramos quadros para cada entrevista, que se

encontram nos Apêndices I, II e III, com as seguintes colunas:

• Depoimento;

• Explicitação dos significados (apreendidos pelo pesquisador);

• Sentimentos apreendidos pelo pesquisador;

• Situações indutoras desses sentimentos;

• Indicadores utilizados pelo pesquisador para relacioná-los.

Em relação às observações em sala de aula, dado o volume de informações, optamos por

selecionar um dia de aula em cada escola e alguns episódios para procedermos à análise.

Para cada uma dessas situações, elaboramos um quadro com as seguintes informações:

• Sentimentos do professor apreendidos pelo pesquisador;

• Situações indutoras desses sentimentos;

• Sentimentos dos alunos apreendidos pelo pesquisador;

• Situações indutoras desses sentimentos.

O material referente a esses episódios se encontra nos Apêndices IV, V, VI e VII deste

relatório.

O trabalho de sistematização das informações levou-nos a quatro temas: afetividade e

espaço, afetividade e relações interpessoais, afetividade, tempo e aprendizagem e

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sentimentos de professores e de alunos, que serviram de eixos orientadores da nossa

discussão, tema do próximo capítulo deste trabalho.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES

Neste capítulo discutiremos os dados da pesquisa, segundo os eixos identificados. No

entanto, é importante ressaltar que esses eixos não foram definidos a priori, foram

decorrentes das observações feitas pelo pesquisador e das falas dos depoentes.

Por outro lado, compreender como se manifesta a dimensão afetiva nas escolas, nas

quais as crianças permanecem em tempo integral, investigando os seus sentimentos e

suas situações indutoras, não foi uma tarefa fácil. Nem sempre os sentimentos foram

diretamente expostos pelos depoentes, e mesmo uma observação cuidadosa do

pesquisador não foi suficiente para apreender a dinâmica, sempre mutante, do cotidiano

escolar. O estudo da temática em questão, apoiado em pesquisadores, e com o respaldo

teórico da teoria walloniana nos ajudaram nessa desafiante e instigante tarefa.

Para a discussão, optamos por relacionar os dados referentes aos episódios e as

entrevistas. A leitura e releitura desse material nos permitiram distribuir os dados para

discussão em quatro eixos:

• 1º eixo: Afetividade e Espaço

• 2º eixo: Afetividade e Relações Interpessoais

• 3º eixo: Afetividade, Tempo e Aprendizagem

• 4º eixo: Sentimentos de Professores e de Alunos

Esperamos que a nossa análise contribua para a reflexão sobre o Projeto Escola de

Tempo Integral e, sobretudo, para o reconhecimento da importância de considerarmos a

dimensão afetiva no ambiente escolar, principalmente, quando a escola, em função da

extensão do tempo de permanência, passa a ser o espaço privilegiado de convivência da

criança com o meio cultural.

4.1 1º eixo: Afetividade e espaço

O conceito de meio, como já comentamos anteriormente, é fundamental na teoria

walloniana. Nessa perspectiva, o meio é o conjunto mais ou menos duradouro das

circunstâncias nas quais se desenvolvem as pessoas, incluindo condições físicas e

sociais, é meio ambiente e meio instrumento da cultura (ALMEIDA, 2010 b).

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Nesse eixo analisaremos como o espaço escolar, entendido como um meio de ação, no

qual a criança aplica as condutas de que dispõe e, ao mesmo tempo, retira os recursos

para ação, pode contribuir para o desenvolvimento do aluno.

Depreende-se dessa ideia que o espaço escolar precisa ser organizado, considerando-se

o seu potencial de desenvolvimento em cada fase evolutiva da criança e favorecendo o

desenvolvimento das diferentes dimensões humanas. Em cada etapa do

desenvolvimento, a criança estabelece uma relação particular com seu ambiente, o que

segundo Galvão (1996), implica dizer que a cada idade é diferente o meio da criança.

No depoimento dos professores e nas observações realizadas, o espaço, mais

especificamente a estrutura física das escolas, é apontado como um dos maiores

problemas. No projeto Escola de Tempo Integral, diferentemente das Escolas-Parque de

Anísio Teixeira e dos CIEPs de Darcy Ribeiro, as escolas em questão não foram

projetadas para a permanência das crianças em tempo integral. Com isso, os refeitórios,

os pátios, as salas não atendem às necessidades dos alunos e professores. Há uma

distância muito grande entre o que os professores imaginam para o Projeto e o que

ocorre na realidade, conforme depoimentos dos professores, acarretando sentimentos de

preocupação e frustração:

Acho que o ambiente da escola deveria ser diferente de lá de fora, que as crianças

gostassem de ficar, sentissem prazer, com coisas voltadas para a qualidade de vida.

Acho importante ter uma atividade física diferenciada e um espaço para descanso, para

leitura, que fosse diferenciado, uma luz diferenciada para que essa criança se acalmasse.

Aí eu acho que a ETI estaria melhor. (...) O espaço ajuda a organizar, acalmar as

crianças. (PDB1)

A escola deveria ter uma piscina. Ter um esporte diferenciado, como: dança e balé. Na

realidade a criança que pode pagar, estuda de manhã e à tarde faz natação, inglês, não é

uma aula de inglês. Tem de ter uma equipe especializada e até a merenda deve ser

diferenciada. (PB1)

Primeira coisa seria cuidar da estrutura física. No CEFAM4 tínhamos uma

superestrutura. Não é só uma questão de espaço, depende da quantidade de alunos.

(PA2)

4

O CEFAM foi um projeto delineado pela Coordenadoria do Ensino Regular de 2º grau do Ministério da Educação, com a

finalidade de apoiar pedagógica e financeiramente as unidades de federação que manifestassem interesse em desenvolver ações na

área do magistério. Em São Paulo, os CEFAMs foram criados pelo Decreto no 28.089, em janeiro de 1988. Os alunos eram

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72

A necessidade de um espaço para descanso e de colchonetes também foi apontada pela

professora Rosa (PA2) ao comparar a estrutura que tinha no CEFAM e que tem na

escola em que trabalha. Essa professora tem mais facilidade de compreender as

dificuldades dos alunos em permanecer o dia inteiro na escola, pois estudou em uma

escola de tempo integral, na época em que cursou o magistério no CEFAM.

Existiam alguns colchonetes que a gente podia descansar, não eram suficientes para

todos, mas fazíamos revezamento. (...) Podíamos sair no horário do almoço. O que não

acontece com as nossas crianças (...). (PA2)

A professora Lurdes (PDB1) também aponta a necessidade de colchonetes e de um

espaço para descansar:

O ideal era que nos tivéssemos também um espaço para que as crianças pudessem

descansar após o almoço, como no início do projeto, com colchonetes. Tudo

organizado, limpinho. Até na hora da leitura, que pudessem ouvir a história e até

dormir, um espaço organizado, acho que daria mais calma. (PDB1)

Nas nossas observações também percebemos essa necessidade, principalmente para as

crianças do primeiro ano. Várias crianças adormecem durante as aulas, pois na

Educação Infantil estavam acostumadas com a rotina de descanso após o almoço.

Quando chegam à escola Fundamental, questionam os professores sobre os colchonetes.

Já as crianças da 4ª série, geralmente, após o almoço, estão muito agitadas, sendo

necessário um tempo para relaxamento antes das aulas serem iniciadas, fato nem sempre

percebido pelos professores.

Outro ponto importante abordado no depoimento da professora Lurdes é de que o

espaço organizado ajuda a acalmar as crianças. Dantas (1994), com base no referencial

walloniano, confirma o depoimento da professora ao abordar a necessidade de o

professor organizar o espaço na sala de aula a fim de obter um espaço mais tranquilo e

harmonioso, que permita o desenvolvimento e aprendizagem da criança.

Segundo essa autora, a sucessão psicogenética revela que os movimentos vão do

impulsivo ao expressivo e depois ao práxico, mas que toda evolução é marcada por

selecionados pelo interesse na profissão e recebiam mensalmente uma bolsa de estudos no valor de um salário mínimo e assumiam o

compromisso de frequência à escola, em período integral e total dedicação aos estudos. (SAMPAIO apud ALMEIDA, 2010 d,

p.31).

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regressões, que nesse caso do movimento pode ser provocada pela omissão do adulto

em preparar o ambiente escolar para a ação práxica. Acrescenta Dantas:

Objetos são indutores de ação, objetos adequados induzem à ação adequada. Quando se

povoa o espaço escolar com jogos e material pedagógico em geral está se criando

indutores para a atividade organizada. Quando isto não é feito, a natural exuberância da

movimentação infantil, privada de objeto e objetivo, tende a se deteriorar e a

transformar-se em mera descarga impulsiva. Os espaços vazios das nossas salas de aula

obrigam os adultos a conterem permanentemente a turbulência sempre iminente.

Quando são levadas para lugares preenchidos com objetos adequados às suas

possibilidades, como ludoteca, a atividade das crianças tende a se organizar por si

mesmo e assumir um aspecto tranquilo e harmonioso. Esta questão requer exame

cuidadoso, uma vez que afeta toda a concepção de escola, do ponto de vista espacial,

arquitetônico, de mobilidade (DANTAS, 1994, p.19).

Outro aspecto observado nas salas de aula, refere-se à constatação de que, apesar de as

crianças permanecerem o dia inteiro na mesma sala de aula, não existiam murais que

revelassem as características de cada classe. Na escola B, as salas são pequenas para o

número de crianças, não havendo espaço para movimentação dos professores e das

crianças. No final do dia, geralmente, a sala se encontra desorganizada e suja, o que

colabora para agitação das crianças.

Na escola A, as salas são amplas e a movimentação ocorre com mais facilidade. Apesar

de ter bastante espaço para isso, não há murais temáticos, apenas alguns desenhos das

crianças se encontram na parede.

A presença de livros de literatura na sala de aula só foi observada na escola B, apesar de

ter sido informada da existência desses livros nas salas da escola A. Nas duas escolas

havia revistas Recreio disponíveis para leitura das crianças. Já o material didático ficava

trancado no armário do professor. Observamos a utilização desse material tanto na

escola A, como na escola B. Constatamos também uma grande quantidade de material

didático nas duas escolas, como livros do Projeto Ler e Escrever e livros didáticos da 4ª

série e do 5º ano de História e Geografia, Ciências, Matemática e Português. Durante

nossas observações, presenciamos a utilização do material do Projeto Ler e Escrever e

do livro de História e Geografia.

Em relação a outros espaços, as duas escolas possuem sala de informática, sendo que a

escola B está sem acesso à internet, o que impossibilita o uso desse recurso para

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pesquisa, sendo o espaço utilizado para a prática de alguns jogos pedagógicos e de

digitação de textos. Na escola A, a sala é ampla e possui acesso à internet. Algumas

vezes é utilizada para pesquisa e outras, para digitação. Vale mencionar que algumas

aulas de informática ocorrem na própria sala de aula, devido ao laboratório estar sendo

utilizado por outro professor.

Nas duas escolas existiam também bibliotecas, mas não havia nenhum profissional

responsável pela organização dos livros, ficando aberta à visitação e cuidados dos

professores e da turma que utilizam esse espaço. Durante o período observado nessas

escolas, não presenciamos nenhuma ida a esse espaço. Segundo os professores, o fato

de não ter um profissional responsável pelo acervo e os livros serem antigos não

estimula a visitação, por isso a escola B optou por distribuir o acervo mais recente pelas

salas de aula.

Em relação à sala de artes, somente a escola A possui um espaço adequado. No entanto,

essa sala é utilizada somente no período da manhã, pois é considerada um espaço amplo

e barulhento (próximo ao pátio), de fácil dispersão das crianças. Na escola B, havia uma

sala com mesas apropriadas para atividades de artes, mas não existiam armários e pias

para utilização de tintas. No período de observação, essa sala estava sendo utilizada por

uma classe de alunos do 1º ano devido à professora estar com problemas de locomoção,

não podendo trabalhar no piso superior.

A permanência na sala de aula contradiz o que é proposto por Cavalière (2002 b), em

relação à organização dos espaços, tempos e recursos. Segundo essa autora, as

atividades e os deslocamentos devem ser diversificados. É necessário também tempo

livre que propicie um clima favorável à aprendizagem. Sobre o assunto, em outro artigo,

a autora acrescenta:

A permanência por tão longo período num mesmo ambiente obriga o enfretamento de

problemas que, nas escolas de tempo parcial, são muitas vezes resolvidos, simplesmente

com a “hora da saída” (CAVALIÈRE, 2002 c, p.101).

Além desses problemas relacionados à utilização dos espaços no horário de aula,

constatamos que o pátio e o refeitório são dois espaços que precisam ser revistos pelos

implementadores do Projeto Escola de Tempo Integral.

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Em relação ao pátio, apreendemos nas crianças os sentimentos de alegria, de confusão e

de liberdade, pois se sentem soltas para brincar e correr, mas mencionam que isso às

vezes gera brigas e confusão.

O pátio na escola A é um espaço amplo com diferentes ambientes: uma pequena quadra

coberta, onde geralmente ocorrem as aulas de educação física; um espaço coberto com

um palco e caixas de som, onde algumas vezes é colocada música infantil e as crianças

ficam dançando ou correndo e um espaço descoberto com bancos de cimento e algumas

árvores. Na escola B, o pátio é utilizado como estacionamento, pois a escola fica

localizada em uma região íngreme, tornando o espaço perigoso para as brincadeiras das

crianças. A professora Lurdes (PDB1) comenta a dificuldade que estão encontrando

para construir um parquinho, por isso no intervalo e na hora do almoço as crianças

permanecem na quadra coberta. Essa dificuldade tem deixado muito frustrada:

Nós aqui estamos tentando conseguir uma área de lazer, tipo um parquinho com

brinquedos para as crianças, mas devido ao muro não estamos conseguindo. A escola

tem muitas ladeiras. (PDB1)

Independente do espaço existente no pátio, o problema enfrentado por essas duas

escolas está relacionado ao número significativo de crianças que permanecem no pátio

nos intervalos e na hora do almoço, e também ao número pequeno de funcionários

disponíveis para acompanhar esse horário, conforme é relatado no Episódio 2 -

Apêndice V.

Como pudemos constatar, a escola A tem 320 crianças, que ficam no pátio por quase

uma hora sob o acompanhamento de três inspetoras. Nesse episódio, é descrita uma

manifestação realizada em função do ingresso de uma nova diretora, que, ao iniciar na

escola, mostrou-se preocupada com a situação que observou e optou por proibir que as

crianças corressem na hora do almoço. As crianças, sem saber o porquê da decisão,

resolveram fazer uma manifestação, correndo em grupo pelo pátio por todo o horário de

almoço e gritando: “Somos crianças, queremos correr.”

Segundo o depoimento da professora Rosa (PA2), nesse horário é preciso uma atividade

diferenciada realizada por profissionais especializados:

(...) colocar 400 crianças para três inspetoras, não dá, precisava de uma atividade

diferenciada com profissional especializado. Tem sempre um que se machuca, outro que

briga. (PA2)

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Para atenuar esses problemas, a escola A decidiu separar os intervalos. Os 1os e 2os anos

têm horário diferenciado das 3as e 4as séries, o mesmo acontecendo no horário da tarde.

Na hora do almoço, em função do refeitório ser também muito pequeno, os 1os e 2os

anos almoçam mais cedo, reduzindo, com isso, o tempo na sala de aula do curso

regular(currículo básico). Essa redução ocorreu também em função da necessidade de os

professores acompanharem por um período o almoço das crianças, pois a coordenação

recebeu muitas queixas dos pais, que mencionavam que as crianças não estavam

comendo, indo direto para o pátio brincar. Colocando o almoço mais cedo, a

coordenadora acredita que atenuou essa questão. Em seguida, as 3as e 4as séries são

liberadas para o almoço. Segundo a professora Rosa (PA2), esse revezamento nos

intervalos e no refeitório foi positivo para escola e para as crianças.

Uma coisa positiva nessa escola que não tinha na outra é o intervalo separado e o

revezamento no refeitório na hora do almoço. A separação nos intervalos dá uma

diferença muito grande. No almoço, as primeiras séries começam o almoço mais cedo.

Depois ficam todos juntos. (PA2)

A escola B adotou outra estratégia para atenuar os problemas enfrentados no horário do

intervalo e do almoço. A escola optou por fazer um revezamento no horário do regular

(currículo básico) e das oficinas. As crianças das 3as e 4as séries frequentam as

disciplinas do currículo básico pela manhã e as oficinas à tarde, e os 1os e 2os anos têm

um horário inverso. Apesar de alguns professores dos 1os anos comentarem que

percebem as crianças muito cansadas à tarde, a maior parte dos professores consideram

que essa mudança foi positiva. O horário do almoço também foi modificado, com isso

fica um menor número de crianças na quadra. No entanto, por meia hora o horário

coincide, mas enquanto os pequenos estão na quadra, as merendeiras acompanham as

3as e 4as séries no refeitório, espaço que as crianças não podem ocupar até os pequenos

irem para as salas de aula. A professora Lurdes (PDB1) comenta sobre a mudança,

expressando seu sentimento de satisfação:

Agora está diferenciado, por conta da “mesclagem”, não sei se posso dizer isso. Não

sabíamos o que estávamos fazendo. Acho que melhorou bastante. (PDB1)

O refeitório, como já mencionamos, é outro espaço que precisa ser revisto no Projeto. O

episódio 1 (Apêndice IV) retrata essa situação. Nesse espaço, os sentimentos das

crianças revelam insatisfação em relação à comida, desconforto e confusão.

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Na escola A, na qual ocorreu esse episódio, apesar de a escola ser grande, o refeitório é

pequeno para o número de crianças, mesmo com o revezamento. O número de

funcionários não é suficiente para supervisionar as crianças e ao mesmo tempo manter o

local limpo. Quando os alunos das 3as e 4as séries chegam para o almoço muitos bancos

e mesas se encontram sujos. Há muito barulho e filas para as crianças pegarem a mistura

e a salada. O arroz e feijão ou macarrão ficam disponíveis para as próprias crianças se

servirem.

Nas 3as e 4as séries pelo menos duas vezes por semana, as professoras acompanham as

crianças ao refeitório por um período de 15 minutos, horário negociado com a

coordenadora, disponível para a HTPC, mas que se tornou necessário em função da

solicitação de vários pais. No entanto, o desinteresse das crianças pela comida ocorre

em função da falta de qualidade da alimentação, pois são alimentos enlatados (pré-

cozidos e não frescos). Provamos a alimentação e verificamos que realmente o sabor

não é agradável.

Com isso, grande parte das crianças traz lanche de casa, como biscoitos, sanduíches e

salgadinhos. Observamos que alguns comem o lanche no primeiro intervalo, passando o

restante do período sem se alimentar, utilizando o tempo livre para correr e brincar.

Vale mencionar que, nas duas escolas, nos intervalos, geralmente as crianças recebem

bolachas, frutas ou bolos prontos, que comem no pátio ou na sala de aula, antes de

saírem para o intervalo.

Uma situação semelhante ocorre na escola B. A diferença é que nessa escola, durante o

intervalo, são vendidos balas e salgadinhos, sendo esse dinheiro utilizado para compra

de materiais para a escola. Além disso, as crianças permanecem meia hora no refeitório,

tempo necessário para a quadra ser liberada pelos dois primeiros anos.

Percebemos nos depoimentos dos professores o sentimento de insatisfação e frustração

induzido pela contradição entre o que trabalham na sala de aula e a situação vivenciada

no refeitório em relação à qualidade da alimentação, higiene e saúde. O depoimento da

professora Lurdes (PDB1) revela essa preocupação:

O problema é que as crianças não se alimentam direito. A escola deveria incentivar as

crianças a comerem a comida da escola, frutas, legumes, mostrar o gosto pela

alimentação saudável. Incentivar mesmo. Mostrar esse gosto. (PDB1)

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Faz-se necessária uma revisão em relação à questão da alimentação por parte dos

gestores do Projeto, juntamente com os professores, para que o refeitório e o horário do

almoço se transformem em um espaço educativo, fundamental para o desenvolvimento

integral da criança.

Em função das questões apontadas, é importante que a estrutura física seja revista, pois

os espaços por si só educam. Organizados e planejados para fim educativo, poderão

ampliar em muito as perspectivas de educação nessas escolas. Nesse sentido, todos os

professores entrevistados apresentam sentimentos de esperança em relação a melhorias

no Projeto.

4.2 2º eixo: Afetividade e relações interpessoais

Neste eixo, discutiremos como a afetividade constitui a pessoa e permeia as relações

entre alunos, professores, equipe escolar e pais, principalmente em uma escola, na qual

os alunos permanecem entre oito a nove horas diariamente.

Para Wallon ([1946] 1986), o processo de formação da personalidade se dá através da

relação eu-outro, que permite ao ser humano se diferenciar. É um processo longo que

ocorre durante todo o desenvolvimento e está atrelado a duas espécies de condições:

uma orgânica, que depende das condições biológicas, e outra relativa ao meio do qual a

criança recebe os motivos das suas reações, seja este físico ou humano (social).

Em relação a esse processo, Wallon explica que, inicialmente, não há uma diferenciação

eu-outro. O autor compara esse primeiro estágio de consciência a uma nebulosa, em que

ações sensitivo-motoras de origem exógena ou endógena se difundem sem delimitação

(WALLON, [1946] 1986). Sendo assim, a criança necessita do outro para sobreviver e

se constituir como pessoa, pois é através das interações sociais que ocorre

progressivamente a distinção entre o eu e o outro, marcada por características diferentes

em cada fase/estágio do desenvolvimento.

Wallon elucida o papel das pessoas nesse processo de diferenciação/individualização:

As pessoas do meio nada mais são, em suma, do que ocasiões ou motivos para o sujeito

exprimir-se e realizar-se. Mas, se ele pode dar-lhes vida e consistência fora de si, é

porque realizou, em si, a distinção de seu eu e do que lhe é complemento indispensável:

este estranho essencial que é o outro (WALLON, [1946]1986, p.164).

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Para Wallon, essa relação eu-outro é uma relação ao mesmo tempo de acolhimento e de

oposição, que no processo de desenvolvimento é incorporada e internalizada, sendo

constitutiva do mundo psíquico. Esse outro interiorizado é chamado por Wallon de

socius, que contém e sintetiza o contexto cultural e simbólico presente no meio.

Gullassa (2004) explica que para Wallon, apesar de o socius ser um eterno parceiro, o

eu conquista sua individuação e sua autonomia quando consegue transcendê-lo, tendo

como limite e possibilidade a constituição biológica do sujeito e a construção cultural

do meio.

Nesse processo de constituição do indivíduo, Wallon atribui um importante papel

inicialmente à família e depois à escola, concebida como um meio funcional,

responsável pela expansão da cultura e um espaço de relações, no qual afetividade e

conhecimento estão totalmente atrelados.

No entrelaçamento entre afetividade e cognição, as conquistas do plano afetivo são

utilizadas no plano cognitivo e vice-versa. Wallon ([1942]1978, apud TASSONI, 2011)

defende que a afetividade é a fonte do conhecimento, pois afirma que a criança acessa o

mundo simbólico por meio das manifestações afetivas que permeiam a relação entre ela

e os adultos.

Nesse sentido, é fundamental compreendermos e cuidarmos das relações no meio

escolar, para que a aprendizagem efetivamente ocorra e contribua para o

desenvolvimento dos alunos e professores. Na análise desse eixo, discutiremos os

seguintes pontos: relação professor-aluno, relação entre os alunos e relação pais-escola.

Relação professor-aluno:

Na teoria walloniana, o professor desempenha um papel ativo na constituição da pessoa

do aluno. Segundo Almeida (2009), o professor desempenha para o aluno o papel de

mediador entre ele e o conhecimento e essa mediação é tanto afetiva como cognitiva.

Nesse sentido, essa autora afirma que a sala de aula tem de ser uma oficina de

convivência, e o professor, um profissional das relações. Além disso, ele queira ou não,

é um modelo para o aluno e como tal será imitado em suas atividades, em suas

convicções e em seu entusiasmo.

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Nos depoimentos dos professores, podemos observar a compreensão que possuem sobre

esse papel e a relação que existe entre afeto (sentimento) e cognição, como menciona a

professora Rosa (PA2):

Na escola de tempo integral você conhece melhor o aluno. Quando ele entra pela porta

você já sabe o que aconteceu. O aluno passa a ter confiança muito grande em você.

Você passa a estabelecer um vínculo maior. A gente participa do dente que caiu às

vezes mais do que a família. (PA2)

Não adianta trabalhar o cidadão crítico, sem trabalhar o lado sentimental. Hoje tem

muita violência. Hoje tem briga de meninas, aluno com aluno. Hoje você vê menino

mais cuidado do que as meninas. As coisas mudaram, é a modernidade. Inverteram-se

os papéis. Como passam um tempo maior na escola, os vínculos que criam com os

professores são importantes no desenvolvimento dos alunos, não pode ser deixado de

lado. Ontem peguei uma aluninha chorando, tinha brigado com a colega, não sabia por

que a amiga não estava disposta a falar com ela. Fui conversar com a colega, que

também não sabia por que ela não queria falar com ela. Eu acho que ficar o dia todo faz

com que percebam mais o lado sentimental. (PA2)

No depoimento da professora Rosa (PA2), constatamos que o fato de o aluno

permanecer mais tempo na escola possibilita ao professor estabelecer um vínculo maior

com aluno e amplia a sua atuação, pois o professor acaba participando de situações

específicas do desenvolvimento de cada criança às vezes mais do que a própria família.

A professora Rosa identifica nos alunos o sentimento de confiança que se estabelece

entre professores e alunos, e esse sentimento, segundo ela, é intensificado por eles

permanecerem um tempo maior na escola.

Desse depoimento, depreende-se também a importância que deve ser dada à

compreensão e ao conhecimento dos alunos pelos professores, principalmente aqueles

que trabalham em uma escola de tempo integral.

Sobre a necessidade do adulto, professor, conhecer o aluno, levando em conta a

fase/estágio do desenvolvimento em que este se encontra e também o meio em que vive,

comenta Wallon: “Sua atuação (como professor) torna-se psicológica a partir do

momento que pretende adaptar-se ao espírito e à natureza da criança” (WALLON,

[1938] 1975, p. 356).

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O depoimento da professora Rosa ressalta o reconhecimento da importância de se

trabalhar o lado sentimental do aluno, ou seja, a afetividade, principalmente em um

mundo com tantas mudanças, segundo sua afirmação. Para ela, o vínculo com o

professor possibilita a realização desse trabalho.

Na segunda entrevista realizada com essa professora, ela comenta que o sucesso que

obteve com a 4ª série foi devido ao vínculo afetivo construído com esses alunos.

Ressaltamos que acreditamos que esse vínculo com o professor é fundamental, mas que

é preciso ir além. Partilhamos da opinião de Leite (2008) que afirma que as decisões

sobre as condições de ensino, assumida pelo professor, apresentam inúmeras

implicações afetivas para os alunos, que vão além das demonstrações de carinho.

Ao observarmos as várias aulas, constatamos que trabalhar com as diferentes dimensões

dos alunos exige do professor conhecimento sobre concepção e sobre o

desenvolvimento humano. Além disso, requer também do professor reflexão sobre sua

própria constituição humana e sobre sua prática. Para que isso ocorra, é necessário que

os professores recebam formação adequada, pois, em geral, foram formados em escolas

tradicionais, nas quais a dimensão importante era a cognitiva, e o individuo era

concebido como cindido, no qual conhecimento e afeto eram separados.

Em relação à importância do papel que o professor exerce na aprendizagem do aluno, a

professora Lurdes (PDB1) revela o sentimento de tristeza, ao perceber que muitos

professores não valorizam o potencial do aluno. Comenta:

Eu fico triste, que eu vejo que muitas vezes o aluno tem o potencial, mas é podado pelo

professor. Eu peguei classes bem difíceis. Já peguei aluno que colocava o dedo no meu

rosto e com o trabalho na classe ele se tornou outro aluno. (PDB1)

A professora Lurdes (PDB1), atualmente em um cargo de gestão, é responsável por

conversar com os alunos que são encaminhados à Direção por problemas de

comportamento, com isso ela percebe as diferenças que ocorrem nas manifestações dos

alunos em relação aos professores.

Menciona ter tido classes difíceis e ter conseguido com trabalho em classe modificar

positivamente essa situação. Também vivenciou essa situação quando dava aula

particular em casa e teve um aluno que não conseguia aprender. Com as aulas de

reforço, o aluno superou sua dificuldade, o que a fez se sentir realizada, mas também

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decepcionada pelo professor da escola não ter reconhecido o esforço desse aluno,

conforme depoimento da professora:

Tinha um aluno da sétima série, que era chamado de burro pelo professor, ele se tornou

o melhor aluno da turma. O professor ainda perguntou o que tinha acontecido e que ele,

apesar de estar acertando, estava fazendo as questões do jeito mais difícil. O aluno

comentou com o professor que pelo menos desse jeito ele estava entendendo a matéria.

(PDB1)

Para a professora Lurdes (PDB1) “permanecer o dia todo na escola influencia as

relações entre os professores e os alunos.” A professora comenta que a falta de

integração entre os professores do regular (currículo básico) e os das oficinas repercute

no comportamento do aluno. Acredita que o professor do currículo básico tem um papel

importante, pois, ao permanecer um maior tempo com o aluno, pode estabelecer um

vínculo maior e desenvolver um trabalho em classe que favoreça a participação nas

oficinas. Lamenta que muitos colegas não percebam a importância dessa contribuição

para o trabalho desenvolvido à tarde:

Como professora do regular (currículo básico) eu sentia o reflexo da falta de integração

entre os professores das oficinas e do regular. Percebia que eles (os alunos ) ficavam

mais violentos, havia falhas na comunicação. O aluno era suspenso e o professor da

manhã não sabia. Eu acho que o professor do regular/currículo básico tem um papel

muito importante para contribuir para tarde, porque geralmente ele tem um vínculo

maior com o aluno do que os professores das oficinas. (PDB1)

Em outro trecho do seu depoimento, a professora Rosa aponta novamente mudanças no

comportamento dos alunos, mostrando-se preocupada ao ressaltar a importância de se

trabalhar o lado emocional do aluno. Para ela, o aluno hoje fala de igual para igual com

o professor, conforme comenta:

O comportamento mudou. A clientela mudou. O aluno fala de igual para o professor. As

primeiras e segundas séries você ainda controla. A garotada não respeita os mais velhos.

Não vejo tanto problema como os outros professores. (PA2)

Segundo Wallon, cabe ao professor, como adulto mais experiente dessa relação manter

a temperatura emocional. Para isso, sugere Galvão (1996, p. 105): “o professor deve

tomar a iniciativa de encontrar meios para reduzi-la, invertendo a direção de forças que

usualmente se configura”. Acrescenta Galvão:

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Com apoio de informações teóricas sobre as características do comportamento

emocional e usando sua capacidade de análise reflexiva, o professor deve buscar

identificar, nos fatores implicados em cada situação, aqueles que agem como

“combustíveis” para o agravamento da crise. Sabemos que em geral não é possível que

essa reflexão seja feita simultaneamente à crise. É somente depois de tê-la vivido, já

fora do “calor” do momento, que se torna possível à reflexão, em relação à questão da

razão como contraponto a emoção (GALVÃO, 1996, p. 105).

Wallon ressalta as características da emoção. Uma delas é o poder de contágio, que

muitas vezes mobiliza o outro para atender às nossas necessidades. Outro aspecto, alerta

Wallon, que mesmo no adulto, em situações em que prevaleçam atitudes afetivas

marcadas fortemente pela emoção correspondente, a imagem se obscurece e o individuo

passa a agir conforme a emoção ([1941] 2007). Almeida afirma que, para lidar com a

emoção, o professor pode utilizar diferentes recursos, a fim de promover a

aprendizagem, conforme menciona Almeida (2004):

Os recursos de literatura, da dramatização, da música são possibilidades que servem

para canalizar as emoções em favor do pensar, bem como para ampliar a cultura (...)

Wallon insiste que se pode confiar na atividade da criança, em sua criatividade e em

sua espontaneidade para investigar , mas que ela precisa de um mestre, exatamente para

ajudá-la a utilizar seus próprios recursos. O professor, por conhecer o processo de

desenvolvimento e aprendizagem, está capacitado para reconhecer e atender às

necessidades e possibilidades dos alunos (ALMEIDA, 2004, p. 127).

A situação descrita no Episódio 2 (Apêndice V), no pátio, revela o poder de contágio da

emoção. Os alunos se sentiram injustiçados em não poder correr mais no pátio. Em

função disso, se juntaram e organizaram uma passeata, rapidamente a um pequeno

grupo de crianças se juntaram outras e mais outras, que corriam no pátio, gritando:

“Somos crianças, queremos correr”. As inspetoras apenas observaram as crianças. A

direção não se manifestou e os professores estavam em horário de almoço. Na sala que

observamos no período da tarde, o assunto não foi comentado pelos professores e pelos

alunos, com isso perdeu-se uma oportunidade de transformar a situação emotiva em um

aprendizado para a vida.

Relação entre os alunos

Wallon ([1956] 1979) aponta a idade do período escolar como um momento no qual as

relações das crianças com o meio se tornam mais diversas e abertas, permitindo a estas

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entrarem em grupos de composição variável, nos quais o seu lugar dependerá mais da

própria criança, das suas preferências ou de seus méritos. Desse modo, ela adquire o

sentimento de que a sua personalidade é polivalente e, por conseguinte, mais livre.

Wallon considera essa etapa fundamental para o desenvolvimento das capacidades

intelectuais e sociais, ressaltando a ligação que existe entre a personalidade da criança e

o seu desenvolvimento intelectual, sendo útil o professor propiciar ligação entre as

operações intelectuais de que a criança é capaz às relações sociais, fato que, segundo o

autor, é negligenciado pela educação demasiado intelectualista (WALLON,

[1952]1975).

O professor João ressalta que, por permanecerem mais tempo na escola, as crianças são

mais unidas, apontando pontos positivos como a proteção entre eles e a convivência

fora da escola, e negativos, como a dificuldade de aceitar um novo aluno.

Segundo o professor João (PB1), as turmas deveriam ser modificadas todo ano a fim de

favorecer o relacionamento entre os alunos de todas as turmas e minimizar problemas

em determinados grupos, como o que estava acontecendo em uma das quartas séries da

escola. Segundo ele, o que ocorre é que nessa turma há uma grande concentração de

crianças com necessidades especiais, que desde o inicio da escolarização permaneceram

na mesma turma. Agora na quarta série, provavelmente, em função de estarem na

puberdade e pelo nível de exigência dos conteúdos, alguns problemas se agravaram,

ficando difícil para um professor trabalhar o grupo. Em função disso, está ocorrendo

rodízio constante de professores, o que tem piorado ainda mais o desenvolvimento desse

grupo. Para o professor entrevistado, o resultado poderia ter sido diferente se a escola

tivesse promovido uma alteração nas classes.

A convivência entre os alunos de uma ETI é diferente. Eles passam muito tempo juntos.

A minha sala é muito unida, estão juntos desde a 1ª série. São todos muito unidos,

formam gangues, mexeu com um deles, todos o defendem. Em minha opinião, deveriam

mexer (misturar as salas), principalmente como é o caso da 4ª C que o problema veio

desde o início. Conviver é positivo, a convivência aqui é maior. Eles se encontram no

final de semana, fazem tudo juntos. Passeiam, vão ao cinema, festas. Eu acho muito

positivo. No entanto, são resistentes para incluir os novos. A sala é realmente muito

resistente. (PB1)

A professora Lurdes (PDB1) compartilha da opinião do professor João (PB1), mas ela

percebe que permanecer mais tempo na escola tem dois lados: uns alunos se apegam aos

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amigos que ficam com medo de perdê-los, e outros se sentem aliviados quando

terminam a 4ª série e saem da escola, pois não suportam mais essa convivência. No

entanto, ressalta que os pais influenciam na relação da criança com os amigos e com a

escola:

Nas relações entre os alunos também tem os dois lados. Tem aqueles que terminam a 4ª

série ficam com medo de mudar e perder os amigos e tem outros que acham que um é

alivio. Todos os anos brigando. Depende muito da criança e por trás disso os pais. A

participação da família é muito importante. (PDB1)

Os depoimentos dos professores demonstram como é importante trabalhar as relações

dentro do ambiente escolar e com isso possibilitar às crianças lidar melhor com os

sentimentos e a respeitar as diferenças entre os colegas. Atividades em grupo, reflexões

sobre determinadas situações, leitura de textos que estimulem a expressão das crianças

são estratégias que podem ser utilizadas pelos professores para que o ambiente da escola

seja adequado ao desenvolvimento de todos.

Wallon alerta os professores sobre a importância de não se considerar somente o

processo individual do aluno, pois as crianças se encontram numa intensa interlocução

com os seus grupos, fundamentais como espaço de aprendizagem. Para este autor, o

trabalho em equipe é importante para desenvolver o espírito de iniciativa e de

cooperação. Nesse sentido, a Escola de Tempo Integral é um espaço privilegiado para

contribuir para esse espírito. Cabe ao professor atuar nesse processo de socialização

que se processa nos grupos, conforme comenta Wallon:

Assiste-se aqui a uma forma de socialização extremamente nítida: socialização que se

traduz pela cooperação, que se traduz igualmente pela exclusão, que se traduz pela

rivalidade e que se faz acompanhar duma individualização correlativa. A estas diversas

manifestações é preciso saber dar uma boa orientação (WALLON, [1952]1975, p. 215).

Acrescenta o autor:

É aqui que o professor pode intervir. Como sabeis, a nossa escola tradicional tem dado

atenção, sobretudo, aos indivíduos. E mesmo a própria escola acreditou que o seu papel

era o de dissociar os indivíduos entre si, de só tomar em consideração cada aluno em

particular e de fazer com que na aula só existissem relações entre o professor e cada

aluno. A escola considerou muitas vezes como um logro a cooperação que se podia

estabelecer entre os alunos. (...) Mas o trabalho em equipe, que se pode apresentar

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grandes vantagens para desenvolver simultaneamente o espírito de iniciativa e o espírito

de cooperação, ainda não é suficiente (WALLON, [1952]1975, p. 217).

Nas observações em sala de aula, constatamos a ênfase no trabalho individual. Somente

em algumas oficinas ocorreram atividades em grupo, os quais geralmente são definidos

pelos professores e visam ao cumprimento de tarefas. Não há uma preocupação em

trabalhar o coletivo como processo, a preocupação permanece centrada na realização de

tarefas.

O interesse dos alunos somente pelo cumprimento das tarefas faz com que cada aluno

procure realizar somente as atividades que tem mais facilidade para desenvolver, não

favorecendo o aprendizado de novas habilidades.

Gulassa (2004), ao estudar a questão dos grupos utilizando o referencial walloniano,

constatou que um grupo de crianças pode colocar seus parceiros em papéis favoráveis

ou desfavoráveis ao seu desenvolvimento, podendo às vezes serem muito solidárias ou

cruéis. Cabe ao professor ficar atento e dar significado a essas situações, trazendo

valores para tais atos e levando as crianças a desenvolver a consciência de suas relações.

A autora ressalta a necessidade de o professor ficar atento ao processo de acolhimento

ou de exclusão de alunos, procurando estimular a inclusão e a participação.

Estimular o trabalho em equipe, favorecendo a cooperação entre os alunos, é um

diferencial que não pode ser deixado de lado em uma Escola de Tempo Integral. Utilizar

o que a convivência traz de positivo, como a união, poderá trazer para as crianças o

desenvolvimento de capacidades sociais, fundamentais para o mundo de mudanças

apontado pela professora Rose (PA2).

Relação pais, alunos e escola

Para Wallon a família tem uma importância significativa no desenvolvimento da

criança, pois é o primeiro meio funcional do qual a criança participa. Ele permite a

criança a própria sobrevivência, assim como possibilita a aquisição das primeiras

condutas sociais. Explica Wallon:

Pode-se, também, considerar o meio familiar como um meio funcional, em que a

criança começa por encontrar recursos para satisfazer todas as necessidades em formas

que podem ser próprias à sua família e em que ela adquire suas primeiras condutas

sociais. Mas a unidade e a coesão locais, das quais resulta o lar, são igualmente

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necessárias ao bom funcionamento da família. Esta apresenta, além disso, uma estrutura

que faz dela um grupo. (WALLON, [1954]1986, p.170)

Para este autor, a família pode ser um meio funcional e também um grupo, pois se

baseia na reunião de indivíduos que mantêm entre si relações que determinam o papel

ou o lugar de cada um no conjunto (WALLON, [1954]1986).

A frustração e insatisfação são sentimentos que foram apreendidos nos depoimentos dos

professores em relação aos pais dos alunos. Eles acreditam que os pais são importantes

no relacionamento do aluno com a escola e com a aprendizagem. Apontam a ausência

dos pais como um dos problemas significativos na escola, conforme menciona a

professora Lurdes:

Depende também dos pais darem importância, mas são poucos o que fazem isso. Se os

pais dessem mais importância, os filhos iriam melhor. Para os pais é cômodo. A maioria

não pergunta o que está sendo feito. Para os pais é uma segurança, pois as crianças

chegam em casa, inclusive alimentadas. (PDB1)

Eu trabalhei na reunião de pais sobre o que eles pensam que é uma ETI. Eles ainda têm

a visão que aqui é uma creche. Tem comida, isso basta. (PB1)

Eu acho que (na ETI) eles se sentem seguros, se sentem acolhidos, mas vou ser sincera

depende dos responsáveis. (PA2)

Nos depoimentos os professores sentem falta da participação dos pais. Na proposta

pedagógica da escola A, é mencionado que para buscar uma aproximação maior dos

pais são organizadas festividades com envolvimento da criança e da família. Os

professores acham que para os pais é cômodo deixar as crianças o dia inteiro na escola,

independente da atividade que estão realizando. Segundo os professores, para os pais o

importante é a segurança que a escola oferece enquanto estão trabalhando.

Outro ponto abordado pela professora Rosa, que trabalha nas oficinas, refere-se à

diferença na percepção dos pais em relação aos professores das oficinas e em relação

aos professores do currículo básico. Segundo ela, quando os pais perguntam nas

reuniões sobre o aprendizado do filho, procuram a professora do ensino básico, pois o

que interessa para eles é o que os filhos estão aprendendo pela manhã, não considerando

importante as atividades das oficinas. Explica a professora:

Nas reuniões de pais, o que vale é a professora da manhã, não é tão importante o

professor da tarde. Acho que precisariam trabalhar isso melhor. (PA2)

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O professor João (PB1) tem procurado desenvolver com os pais uma sensibilização para

que compreendam melhor o que é uma escola de tempo integral. Acredita que esse

trabalho deva ser realizado desde o ingresso da criança na escola:

Eu trabalhei na reunião de pais sobre o que eles pensam que é uma ETI. Eles ainda têm

a visão que aqui é uma creche. Tem comida, isso basta. Eu falei com os pais e eles

fizeram cara feia. Os pais que estão chegando devem ser trabalhados. Da terceira e

quarta séries ainda entendem a escola como depósito. Eu acho que se deve fazer um

trabalho de conscientização com os pais desde a 1ª série. (PB1)

Consideramos esse trabalho com os pais importante não só para que incentivem e

valorizem o aprendizado e a escola dos filhos, assim como para que os professores

possam conhecer o grupo familiar dos seus alunos, e com isso desmistificar algumas

concepções sobre os pais que nem sempre são verdadeiras.

Maurício (2009) menciona uma pesquisa que realizou em quatro CIEPS do Rio de

Janeiro em 2001, com 312 alunos, 60 pais, 142 professores e 54 funcionários que

investigou a representação social desses sujeitos referente à dimensão subjetiva dos pais

em relação a essa escola. Os resultados apontam a existência de duas representações

diversas. A primeira, centrada na necessidade/carência do aluno para justificar a

existência dessa escola, partilhadas pelos professores. A outra representação é a dos

pais, partilhada pelos alunos, centrada na satisfação, prazer, sem desprezar a

necessidade, compreendendo que a função da escola é estudar e que é necessário ter

bons professores para que se tenha aprendizagem. Os depoimentos dos professores

entrevistados na nossa pesquisa revelam também essas representações apontadas na

pesquisa de Maurício (2009).

Maurício (2009) comenta que as duas representações diferentes a respeito da escola são

decorrentes de culturas diferentes, em função de vários fatores, como por exemplo, o

posicionamento de classe diferenciado. Segundo esta autora, a questão revela a

importância de se discutir dois temas: a integração da escola à comunidade e o

reconhecimento de que existe uma cultura local que é condição para que o processo de

educação se desenvolva. Para isso, sugere Maurício:

(...) faz-se necessário desenvolver a interação entre escola e comunidade, instâncias de

participação e decisão dos pais, e todos os espaços cotidianos que favoreçam a inclusão

da expectativa dos pais, no projeto político-pedagógico da escola (MAURÍCIO, 2009, p.

24).

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Sobre isso, acrescenta Gonçalves (2006) que as relações no ambiente escolar devem ser

repensadas ou reformuladas, o que compreende não apenas a execução dos dispositivos

institucionais existentes, embora, por vezes, pouco desenvolvidos – como conselhos,

grêmios, as reuniões de planejamento e reuniões com os pais, como também repensar e

reformular as relações no ambiente escolar, o que implica esforço e desejo coletivo,

principalmente daqueles que detêm posições de poder na instituição.

4.3 3º eixo: Afetividade, tempo e aprendizagem

Neste eixo de análise, refletiremos sobre a questão da ampliação do tempo escolar e sua

relação com a afetividade. Além disso, analisaremos como essa relação repercute na

aprendizagem dos alunos, na formação dos professores e no Projeto.

Segundo Cavalière (2002 b), a organização social do tempo é um elemento que

simultaneamente reflete e constitui as formas organizacionais mais amplas de uma

sociedade. Entre essas formas, destaca-se o tempo escolar, sendo a mais importante

referência para a vida das crianças e dos adolescentes, servindo como um pilar para a

organização da vida em família e na sociedade, no mundo contemporâneo.

Segundo essa autora, no decorrer do século XX, no Brasil, o tempo de escola foi

sofrendo lentas mudanças de modo a ser compatibilizado com um novo tempo social

baseado na cultura urbana. Acrescenta que, em sua configuração concreta, o tempo de

escola é determinado por demandas que podem estar diretamente relacionadas ao bem--

-estar da criança, ou às necessidades do Estado e da sociedade, ou ainda, à rotina e ao

conforto dos adultos, sejam eles pais ou professores. Cavalière (2007) alerta que essa

característica constitutiva complexa é o que faz do tempo escolar uma dimensão

cultural, impedindo-nos de lidar com ele de forma meramente administrativa ou

organizacional.

Para Cavalière (2007), em parte significativa da literatura especializada, o aumento do

tempo escolar tem sido analisado na perspectiva do efeito escola, ou seja, os resultados

de desempenho escolar estão atrelados a elementos internos à vida escolar,

desconsiderando a origem sociocultural dos alunos.

Segundo pesquisas sobre efeito escola, não existe uma associação automática positiva

ou negativa entre tempo em suas diferentes dimensões e desempenho (GOMES, 2005;

NÓVOA, 1995; SOARES, 2002, apud Cavalière, 2007). No entanto, há

particularidades no que se refere à maior duração do tempo letivo, pois, em relação a

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essa dimensão, as pesquisas apontam alta incidência positiva entre o tempo e o

rendimento.

Outra dimensão do tempo escolar, que deve ser considerada, como aponta o Plano

Langevin-Wallon, refere-se às possibilidades fisiológicas e psicológicas das crianças.

Segundo orientações desse plano, para as crianças de nove a 11 anos é recomendado

que o trabalho dirigido não excedesse três horas por dia. Fora desse horário, a criança

poderá entregar-se as atividades de sua escolha: jogos, leituras, etc (PLANO

LANGEVIN-WALLON, [1947]1977). Para que o professor possa considerar as

condições fisiológicas e psicológicas dos alunos, é necessário que essas questões façam

parte da sua formação.

Vale ressaltar que essa recomendação foi proposta no início do século passado. É

preciso analisar dados mais recentes sobre o assunto. No entanto, a relevância do plano

está no fato de considerar as características das crianças ao pensar em um projeto dessa

amplitude, fato muitas vezes não considerado na implantação de políticas e programas

para as crianças no Brasil.

O plano Langevin-Wallon também menciona que o emprego do tempo tem três

utilidades: divisão equitativa dos dias escolares por todas as disciplinas, articulação

exata dos ensinos, principalmente quando são distribuídos entre professores diferentes e

controle da sua correta execução. (PLANO LANGEVIN-WALLON, [1947]1977).

Além disso, o projeto alerta que o horário deve ser flexível para não cansar ou distrair a

atenção das crianças.

Cavalière (2002 b) também defende a ideia de flexibilização do tempo, o que exige uma

organização ainda mais desenvolvida, envolvendo todo o corpo de funcionários da

escola a fim de evitar uma rotina conturbada e fragmentada como ocorreu, por exemplo,

em uma experiência realizada nos CIEPS do Rio de Janeiro em 1991.

Para essa autora, um tempo de escola organizado de forma convencional e duplicado em

horas é desnecessário. O tempo ampliado só faz sentido ser for qualitativamente

transformado. (CAVALIÈRE, 2002 b)

Gonçalves (2006) reafirma a opinião de Cavalière. Para aquele autor, a ampliação da

jornada escolar, ou seja, a implantação de escolas de tempo integral, deve considerar

uma concepção de educação integral com a perspectiva de que o horário expandido,

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represente uma ampliação de oportunidades e situações que promovam aprendizagens

significativas e emancipadoras.

Partilhamos da opinião de Gonçalves (2006) e Cavalière (2002 b). A ampliação do

horário só poderá contribuir para a transformação social se significar a possibilidade de

uma educação que favoreça a formação integral do aluno, considerando-o como uma

pessoa concreta, contextualizada no seu tempo histórico–cultural, como a concebe

Wallon.

Tendo em vista a relevância desse tema, dividimos a análise em dois subtemas: tempo

de aprender e tempo de formação.

Tempo de aprender (aluno)

Considerando a perspectiva de uma extensão qualitativa do tempo escolar, discutiremos

neste tópico como afetividade, tempo e aprendizagem se relacionam no

desenvolvimento dos alunos, nas escolas pesquisadas.

Em nossas observações e entrevistas constatamos que a utilização adequada do tempo é

um dos pontos de fragilidade encontrado nessas escolas. Nas turmas que observamos,

notamos que há dias em que as estratégias de ensino utilizadas pela manhã se repetem à

tarde, como podemos verificar no Episódio 3 (Apêndice VI), no qual vários professores

utilizaram o desenho como estratégia de aprendizagem ou por acharem que os alunos

estavam cansados para desenvolver novas aprendizagens.

Em alguns momentos, a inadequada utilização do tempo provoca nos alunos agitação,

confusão, cansaço, desinteresse e indisciplina, exigindo dos professores um esforço

considerável para manter a atenção e a disciplina dos alunos, acarretando sentimentos

de desânimo, insatisfação e nervosismo nesses profissionais.

Observamos que muitas vezes a repetição de atividades ocorre por falta de comunicação

entre os professores dos dois turnos. Segundo a professora Rosa (PA2) a falta de

entrosamento entre os professores, está presente até na forma como o professor das

oficinas é visto pelos colegas do currículo básico, pais e alunos, conforme seu

depoimento:

Acho, como eu posso falar que por ”ser” projeto, as pessoas, professores, a direção, as

mães também, estou incluindo todos não veem como professor o professor da tarde, não

veem como aluno o aluno da tarde. Eles não veem o projeto como aula. Aula se tem de

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manhã no regular, a tarde é só projeto. É difícil, tem pais que enxergam desse modo,

inclusive colegas de trabalho que enxergam desse jeito. Não estou criticando nenhum

lugar, nem o outro. As pessoas não veem como professor o profissional da tarde. Tem

mãe que vem buscar o filho à tarde, porque ele tem outras atividades, pois com o projeto

ela não se preocupa, é projeto, ele já veio ao regular. Se ele não tem responsabilidade

pela manhã, ele não terá também responsabilidade à tarde, Inclusive tem pais, e colegas

que enxergam assim. (PA2)

A professora também comenta que as crianças, os pais, a coordenação e a direção têm

dificuldade de entender o objetivo das oficinas, achando que é só brincadeira. O

depoimento da professora atesta essa dificuldade.

Às vezes você quer dar uma aula diferenciada e o aluno pergunta que horas realmente a

aula vai começar. Obrigatoriamente tem que ter lousa e caderno. Tem turma que é

difícil aceitar. Mesmo com as quartas séries, eles questionaram muito, queriam saber

por que eles tinham que estudar a mitologia. Você antes tem que fazer uma

conscientização. Não, só os coordenadores e diretores. O papel da direção é

fundamental, é complicado, quando há resistência do diretor, o que não encontro aqui.

Tem diretor que não concorda, mas abraça a causa, isso facilita o trabalho. (PA2)

A própria nomenclatura adotada no Projeto que compreende pela manhã a realização de

aulas e pela tarde as oficinas, acarreta essa compreensão pelas crianças. Desse modo, a

organização do tempo favorece essa diferenciação. Os alunos captam o que a disposição

do tempo expressa, dando maior importância para um tipo de conhecimento em

detrimento do outro.

Ao conversarmos no pátio com as crianças, é comum comentarem que à tarde é mais

brincadeira. Há alunos que comentam que só prestam atenção no período da manhã.

Para que haja aprendizagem é preciso realizar um trabalho de reflexão sobre a proposta

do Projeto e sobre o processo de aprendizagem que se espera obter com todos os

envolvidos: alunos, equipe escolar e pais.

Registramos também uma situação em sala de aula, citada no Episódio 4 (Apêndice

VII), na qual o professor fez uma brincadeira, dizendo que em seguida seria a parte boa

da aula, no caso a escrita de uma carta. O aluno então perguntou para o professor se ele

iria escrever na lousa, mostrando que para o aluno a parte boa é quando o professor

utiliza a lousa. Esse episódio reforça a necessidade de realização do trabalho sugerido

anteriormente.

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Nas entrevistas com os professores, ao falar da extensão do tempo, geralmente eles

mencionam sentimentos de insatisfação e cansaço dos alunos, em função do número de

significativo de horas na escola, do excesso de lições, da falta de diversificação das

atividades e de um espaço para descanso:

Se eu disser que é fácil, não é. É cansativo. É bem cansativo. O dia todo no mesmo

lugar é complicado. É muito difícil, se não tiver uma atividade diversificada, se não

tiver um tempo para descansar é difícil. Das 7 às 17 horas. Porque nós já éramos

adultas, se quiséssemos dar uma volta era permitido. Tínhamos liberdade de sair da

escola, podíamos almoçar na casa de um amigo, fazer um almoço comunitário. (PA2)

Nesse depoimento, a professora Rosa (PA2) faz uma comparação com a experiência que

teve no CEFAM, que funcionava em horário integral. Comenta que no CEFAM, em

função da idade, tinha a liberdade de sair no horário do almoço, o que não ocorre com

as crianças na escola em que trabalha. Desse depoimento, depreendemos a necessidade

de um espaço, já apontado anteriormente, mas também de um tempo planejado e

previsto para esse descanso.

O professor João (PB1) também percebe o sentimento de cansaço das crianças,

principalmente dos pequenos:

Estudar o dia todo, eu penso que é cansativo, mas observo que os alunos das 4ª série

tem energia. A gente que pensa. Para os pequenos é mais difícil. (PB1)

Nas observações realizadas nas 4ª séries, constatamos que os alunos dessa série chegam

ao final do dia ainda com energia, mas cansados de permanecer um grande tempo

sentados na sala de aula. Além disso, o nível de concentração baixa significativamente.

Percebemos que o cansaço muitas vezes é decorrente da falta de atividades

diversificadas e do número excessivo de lições. Essa situação influencia na afetividade,

pois as crianças ficam menos tolerantes com os professores e colegas, gerando

indisciplina e desentendimento entre os alunos. A dificuldade de atenção e o cansaço

prejudicam também o aprendizado.

A professora Rosa (PA2) comenta que outro motivo para o cansaço é o fato de os

alunos saírem cedo de casa, pois a escola A fica em um bairro nobre da cidade, local

onde geralmente os pais trabalham, obrigando as crianças a acordarem cedo para os

acompanhar. Segundo essa professora, na outra escola de tempo integral em que

trabalhou isso era ainda mais frequente. Explica a professora:

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Ai vai de o aluno querer aprender ou não, por outro lado o interesse existe de alguns,

mas há o cansaço, porque saí muito cedo de casa. (PA2)

Sobre a aprendizagem dos alunos, considerando a ampliação do tempo escolar comenta

a professora Rosa:

Ah, é difícil falar se aprendem mais ou não. Se for ver, na parte da manhã é o regular,

que é igual ao das outras escolas. Muda à tarde, que tem o projeto, que é algo a mais,

diferenciado. (PA2)

Para essa professora a extensão do tempo significa aquisição de novas aprendizagens.

As oficinas são vistas como algo a mais e diferenciado, mas não integrado ao currículo

básico. Sobre a aprendizagem na ETI acrescenta:

Eu entendo que de manhã ou à tarde, independente de se a aula é regular ou é projeto, é

processo de aprendizagem. Eles fazem as disciplinas específicas pela manhã e à tarde,

projeto. É bom, mas acho que tem que parar e pensar na estrutura. As turmas são

diferentes, nem sempre conseguem acompanhar o projeto. Tem turma que precisa de

reforço. Às vezes dão ênfase em realizar o projeto, mas será que é isso que o aluno

precisa. Tem aluno que precisa de reforço. Em minha opinião, a prioridade deve ser a

aprendizagem do aluno. Às vezes há necessidade de reforço. No período da tarde, seria

o período para isso, não é excluir o aluno, não é isso, mas pensar na necessidade

daquele aluno. Os professores da tarde poderiam montar uma turma de reforço, uma

turma que precisa de outra atenção. Às vezes, há necessidade. Com a passagem do

aluno sem repetição, tem aluno que precisa ser retido, ele vai para aquela turma, mas

precisará de um trabalho para poder recuperar o conteúdo do ano anterior. O professor

da tarde poderia ajudá-lo. Será necessário separá-lo talvez, mas poderia ajudar esse

aluno. Em minha opinião ele fica mais cansado e desinteressado porque não acompanha

a turma. Seria fundamental, em minha opinião. Na sala esse atendimento não é possível,

pois ele tem que fazer as mesmas atividades que os colegas, senão você está excluindo e

passa a não acompanhar, porque não está no mesmo nível dos colegas (...). (PA2)

A professora Rosa (PA2) considera o período da manhã e o da tarde como momentos de

aprendizagem, mas apresenta uma questão que também foi mencionada pelos

professores do currículo básico durante as nossas observações, a necessidade de

algumas crianças participarem de reforço escolar. A falta de um momento reservado

para o atendimento das necessidades especiais desses alunos foi apontada como um

motivo de preocupação e frustração para os professores e alunos.

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Para amenizar esse problema, as professoras do ensino básico mantêm na sala aula

alguns alunos que deixam de frequentar as aulas de artes e de educação física para

realizar atividades de reforço, que, segundo nossas observações, são geralmente

exercícios de cópias, tabuadas e resolução de contas. Observamos também que alguns

professores passam exercícios para serem realizados em casa no final de semana, que

devem ser resolvidos, assinados pelos pais e devolvidos para a professora na segunda-

feira.

Gomes (2009) menciona que a questão do reforço sempre foi polêmica no Projeto, pois

não foi contemplada na legislação, uma vez que havia o entendimento por parte da SEE

que, se a criança permanece nove horas na escola, teria tempo suficiente para dar conta

das lacunas existentes. Nesse sentido, a autora afirma que o problema não está em mais

tempo na escola, mas em uma organização pedagógica que se responsabilize pelo

processo, garantindo a aprendizagem efetiva dos alunos.

Verificamos que nas Diretrizes Curriculares do Projeto (SP/SEE/CENP, 2006) a

organização para o atendimento das necessidades especiais dos alunos é

responsabilidade da escola, mas o documento não esclarece como viabilizar esse

atendimento.

No Plano Langevin-Wallon, o atendimento às necessidades específicas dos alunos

pressupõe a realização de sessões particulares para essas crianças, sem que sofram

atraso na sua progressão de classe para classe. Alertam, no entanto, que sempre que seja

possível, a criança voltará da seção de recuperação para uma classe normal (PLANO

LANGEVIN-WALLON, [1947]1977).

O Plano Langevin-Wallon, em relação aos métodos a serem adotados, recomenda a

utilização de métodos ativos, que promovam o conhecimento através das iniciativas

próprias das crianças, alternando o trabalho individual com o trabalho em grupo de

modo que estimulem a criança a colocar em ação seus próprios recursos, conforme

explica o Plano:

Os métodos a empregar são os métodos activos, ou seja aqueles que se esforçam por

acorrer para cada conhecimento ou disciplina às iniciativas das próprias crianças.

Alternando o trabalho individual com o trabalho em grupo, sendo um e outro

susceptível de pôr em ação as diferentes aptidões da criança, quer fazendo-a enfrentar

com os recursos que lhes são próprios as dificuldades do estudo, quer fazendo-a

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escolher um papel particular e uma responsabilidade pessoal na obra coletiva (PLANO

LANGEVIN-WALLON, [1947]1977, 206).

O Plano Lagevin-Wallon ([1947] 1977) também concebe um espaço importante à

espontaneidade da criança: “Desta maneira, revelar-se-ão as suas capacidades

intelectuais e sociais, e o lugar deixado à sua espontaneidade fará do ensino recebido

um ensino adequado a elas” (p. 206).

Consideramos importante que os professores dessas escolas retomem o estudo dos

métodos ativos, revendo as concepções de Dewey e Decroly, pois os estudos desses

autores ajudarão a compreender melhor a proposta das oficinas, tal como foi idealizada

por Anísio Teixeira, utilizando como estratégia atividades vivenciais e práticas,

realizadas em diferentes espaços da escola, como a biblioteca, a videoteca e o

laboratório.

Ao refletir sobre as oficinas, a professora Rosa (PA2) aponta dificuldade de desenvolvê-

las sem a cobrança de notas para os alunos. Como mencionamos, ao apresentarmos o

Projeto Escola de Tempo Integral, nos documentos oficiais a avaliação é entendida

como um processo contínuo e tem como uma das suas funções servir de diagnóstico

sobre o trabalho pedagógico e o desenvolvimento do aluno (SP/SEE/CENP, 2006). Com

isso, percebemos uma grande distância entre o que é proposto pelos documentos e o é

que realizado, como se depreende do depoimento da professora:

Outra coisa que deveria ser mudada é a questão da nota. No período da tarde não tem

nota, tanto que os meus alunos não sabem que não tem nota. Eu fiz uma combinação

com a professora da manhã. Na outra escola não deixávamos isso transparecer,

querendo ou não, a nota é uma maneira de direcionar. O aluno sente a responsabilidade,

fica esperto, é uma maneira de responsabilizar. (PA2)

Em nossas observações em salas de aula, não encontramos nenhum outro tipo de

avaliação a não ser provas e tarefas para nota. A sugestão dos documentos de estratégias

como registros decorrentes de observações, autoavaliação e portfólio não foram

observadas durante esse período. Na escola A encontramos alguns trabalhos que são

selecionados para uma amostra no final do ano, diferentemente da proposta de

construção de um portfólio, que envolve a seleção de trabalhos realizados no ano por

cada aluno para que seja possível observar o seu próprio desenvolvimento.

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A utilização de notas para as atividades realizadas nas oficinas faz com que

potencialidades dos alunos que poderiam ser valorizadas, como iniciativa, autonomia e

cooperação, sejam desconsideradas. Por exemplo, observamos uma situação em sala de

aula, descrita no Episódio 4 (Apêndice VII), na qual a professora de uma das oficinas

recolheu um desenho das crianças e devolveu na aula que assistíamos, atribuindo uma

nota. Ao entregar para uma criança que havia recebido nota seis, a aluna ficou revoltada

e parou de realizar a tarefa que estava fazendo. Essa aluna apresenta várias dificuldades

no processo ensino-aprendizagem que não estão sendo trabalhadas. São situações como

esta que devem ser refletidas pelos professores.

Ressaltamos que a avaliação é um aspecto importante do trabalho pedagógico, que

implica em situações que envolvem significativamente a dimensão afetiva e podem

favorecer ou prejudicar a aprendizagem dos alunos. Considerando essa importância, há

necessidade de que os professores sejam capacitados nessas questões.

Sobre o Projeto, a professora Lurdes (PDB1) acredita que favoreça a aprendizagem.

Para essa professora, a extensão do tempo também significa a ampliação de novas

aprendizagens:

Eu entendo que a escola de tempo integral, se for bem trabalhada, vai beneficiar o

aluno, pois tem informática, inglês, hora da leitura, fora do currículo básico. O aluno só

tem a ganhar. A escola de tempo integral, se bem trabalhada, é um projeto muito bom.

Este ano está melhor. Passamos por períodos muito difíceis. (...) Eu acho que há

diferença entre o aprendizado das crianças que ficam aqui e das que estudam em um só

período regular, principalmente, esse ano. Estou participando de algumas

apresentações. Vi que houve envolvimento (da professora e dos alunos). Tenho certeza

de que nessas salas que ela trabalhou, o resultado será diferente. Ali eles colocaram em

prática o que aprenderam. (PDB1)

Para o professor João (PB1), o projeto é bom, mas o tempo estendido deveria ser

utilizado para que as crianças pudessem ter um desenvolvimento mais integral,

trabalhando com arte, cultura e esporte.

A ideia que eu tenho sobre ETI não tem nada a ver com o que temos aqui. O projeto é

bom, mas tem que contemplar outras áreas, que não são contempladas pelo ensino

regular. A escola de tempo integral tem que ter o ensino regular normalmente e a parte

de complementação, essa parte integral da criança deve estar garantida em outras áreas.

(...) Como sugestão em relação ao projeto eu acho que o tema da tarde deveria ser

cultura, arte e esporte. O reforço deveria ocorrer duas vezes e o restante deveria ser arte,

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dança, que seja muito diferenciado para cativar os alunos. Esse é o auge. A gente

precisa disso. (PB1)

Outro ponto importante a ser abordado, ao falarmos sobre extensão do tempo escolar,

refere-se ao fato de não termos observado em nenhuma das escolas um trabalho voltado

à questão dos valores e da consciência como cidadão, tão valorizada na proposta do

Projeto (SP/SEE/CENP, 2006).

Segundo Wallon, a meta da escola é formar o homem cidadão e para isso a vida na

escola é um meio privilegiado para a formação: “ A escola faz realizar à criança a

aprendizagem da vida social, e particularmente, da vida democrática...” (PLANO

LANGEVIN-WALLON, [1947]1977, p. 214).

O desenvolvimento dessa aprendizagem, para Wallon, não seria obtido através de

cursos ou discursos, mas por métodos baseados na atividade e na experiência pessoal.

No maternal e no começo do primeiro ciclo, a finalidade principal seria a formação de

hábitos físicos e sociais, que desenvolveriam a consciência da existência de outras

crianças e o respeito aos seus direitos. Salienta que nessa idade a afetividade dirige a

ação, devendo-se nela apoiar a educação.

Wallon propõe várias maneiras de propiciar o desenvolvimento de valores, de

responsabilidade, de cooperação e de solidariedade. Entre essas atividades sugere: a

participação na comunidade e em serviços sociais, formação de cooperativas,

organização de eventos e responsabilidade pela maioria dos serviços escolares. Ressalta

que o nível de participação dependerá do nível de desenvolvimento da criança. Ao

professor caberá o papel de criar condições e atmosfera favoráveis, além de orientar

quanto à liberdade progressiva nessas atividades.

Nesse sentido, a Escola de Tempo Integral se torna um espaço e um tempo privilegiado

para se efetivar essas aprendizagens, e como dizia Anísio Teixeira, que a escola não

prepare para a vida, mas que ela seja a própria vida (TEIXERA, 1971).

Tempo para formar o professor

A formação inicial e continuada dos professores tem sido tema constante de pesquisas

na área de educação, ressaltando a importância do tema na atualidade, em função das

transformações e dos novos desafios sociais, políticos e econômicos.

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Nas escolas de tempo integral, essa necessidade também se faz presente, principalmente

por se tratar de um projeto que se propõe inovador, segundo as diretrizes para a ETI, e

que apresenta princípios para “a formação humana por meio de um currículo básico

articulado às oficinas curriculares”, sendo as oficinas instituídas para a vivência de

atividades de natureza “prática, inovadora, integradas às temáticas, conhecimentos e

saberes já interiorizados ou não pelos alunos.” (SP/SEE/CENP, 2006)

Ao discutirmos sobre formação dos professores, um ponto importante que influencia

diretamente na prática pedagógica é a concepção que esses professores possuem sobre

os alunos e sobre o Projeto.

Nas falas dos professores entrevistados predomina uma concepção assistencialista no

que se refere ao papel da escola de tempo integral. Geralmente, relacionam a

permanência de um maior tempo na escola mais à proteção integral e ao acolhimento da

criança do que efetivamente a uma maior possibilidade de aprendizagem, conforme

observamos nos depoimentos:

Ficar o dia inteiro [na escola] é pesado, mas não é ruim, porque eles poderiam estar na

rua, estão dentro da escola. (PA2)

O projeto é bom, tira a criança da rua, dá uma garantia para os pais que trabalham,

erradica um monte de questões, mas ao mesmo tempo constrói outras questões

negativas. Primeiro uma aprendizagem que era para ter aqui muitas vezes não ocorre.

(...) eu acho que o projeto é bom, mas deveria ser modificado. A escola deveria ter um

esporte diferenciado, com professores especializados. (PB1)

Para os pais é uma segurança, pois as crianças chegam em casa até mesmo

alimentadas.(PDB1)

Para os professores Rosa (PA2) e João (PB1) o projeto é bom porque tira as crianças da

rua, pois na escola se encontram mais seguros. O professor João em sua fala também

apresenta um viés assistencialista, mas amplia sua concepção, mencionando sua

preocupação também com a aprendizagem, que, segundo ele, não está ocorrendo como

deveria acontecer. A professora Lurdes (PDB1) aponta a preocupação dos pais com a

segurança, ressaltando que as crianças saem das escolas alimentadas, o que é muito bom

para os pais e para as crianças. Essa concepção se fez presente, inclusive, no discurso de

inauguração do Projeto, proferido pelo Governador do Estado de São Paulo, como já

mencionamos anteriormente.

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O próprio critério mencionado na resolução que institui o Projeto, de que,

preferencialmente, o atendimento será nas escolas inseridas em regiões de baixo IDH –

Índice de Desenvolvimento Humano- e nas periferias urbanas, induz a uma ideia de

causa-efeito, conforme menciona Dib (2010), que, segundo Paro et al. (1988) envolve a

pobreza, a marginalização e a violência.

Paro et al. (1988) acrescentam que a lógica das escolas de tempo integral parece ter

caminhado no sentido de reintegrar à sociedade as crianças provenientes das camadas

menos favorecidas da população, papel que as instituições e entidades sociais não têm

conseguido realizar com êxito, levando ao equívoco de julgar como de caráter

pedagógico, ou passíveis de solução, através da escola, os problemas sociais cujas

causas e soluções transcendem o âmbito escolar.

Em nossas observações, percebemos como a concepção assistencialista perpassa a

prática dos professores, distanciando-a do que foi proposto pelas Diretrizes Curriculares

(SP/SEE/CENP, 2006). Por isso, sugerimos que qualquer proposta de formação para

esse profissionais retome, primeiramente, a concepção do Projeto, discutindo sobre as

experiências anteriores que embasam essa experiência e sobre o aluno que se pretende

formar, considerando o momento histórico que vivemos e a sociedade em que estamos

inseridos e a que pretendemos construir.

Em relação à formação na implantação do Projeto, os depoimentos apresentados nas

pesquisas de Dib (2010), Mota (2008) e Gomes (2009), assim como o depoimento da

professora Lurdes (PDB1), mencionam que na implantação do programa ocorreram

algumas capacitações. No entanto, foram pontuais, não estimulando a reflexão dos

professores sobre as suas práticas. Além disso, em função da rotatividade de professores

nessas escolas, a maior parte dos profissionais que trabalham atualmente não participou

dessas capacitações. Essas pesquisadoras apontam em seus trabalhos a necessidade de

que a formação inicial e continuada dos professores favoreça a articulação entre teoria e

prática, buscando no contexto escolar elementos para estudo.

Atualmente, segundo a professora Lurdes (PDB1), há possibilidade de o professor se

inscrever em cursos oferecidos pela SEE por conta própria, fora do horário de trabalho,

mas isso inviabiliza a participação de muitos professores, que trabalham em mais de

uma escola. Segundo ela, esses cursos são pontuas e não estimulam a reflexão da prática

pedagógica. Explica a professora:

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Em relação às capacitações especificas sobre ETI, no primeiro ano, 2006, aconteceram

várias OTs (orientação técnicas). Eu participei de algumas, depois acho que não

ocorreram mais. Atualmente, você pode se inscrever em algumas capacitações

oferecidas pela Secretaria de Educação, mas elas só podem ser realizadas fora do

período de aula, o que dificulta a participação do professor que trabalha em mais de uma

escola. (PB1)

Gomes (2009), apoiando-se nas colocações de Saviani (2008/2010), questiona as

capacitações que visam apenas à resolução de questões práticas do cotidiano:

Nessa perspectiva de implantação e transformações rápidas de concepções e prática

educativas, tem-se a impressão de que a validade está na formação rápida do professor,

esperando que ele seja ágil, flexível, com custo mínimo e que sua atuação deverá se

ampliar (GOMES, 2009, p 68).

O professor João (PB1) em seu depoimento mencionou que, além das capacitações, a

troca de experiências com os colegas tem contribuído para a sua formação:

No início eu me sentia confuso e angustiado, pois tinha pouco tempo de experiência

como professor e nunca tinha trabalhado em uma ETI, mas a troca de experiência com

os outros professores e a oportunidade de conhecer o trabalho nas oficinas ajudou

bastante no meu trabalho. (PB1)

A professora Rosa (PA2) também considera importante a troca entre os professores,

mas relata que não existe um tempo previsto para que esta ocorra, sendo esse um dos

motivos que dificulta a integração entre o currículo básico e as oficinas. Na tentativa de

aproximação com as colegas, a professora Rose utiliza um caderno de recados ou

telefonemas, conforme descreve no seu depoimento:

A integração só ocorre no planejamento ou no replanejamento. Faz falta, mas eu tenho

contato com as professoras da manhã. Com as professoras das terceira eu tenho um

caderno de comunicação e com as das quartas às vezes a gente conversa pelo telefone.

A intermediação ocorre também através da coordenadora, mas vendo os outros colegas

não tem ligação. São duas escolas. Eles esquecem que é uma escola de dia inteiro. Duas

escolas numa só. Eu digo que eu sou professora de uma escola de tempo integral. (PA2)

Para que essas trocas aconteçam é necessário que a escola reserve tempo, evitando que

esses momentos importantes aconteçam nos corredores, como presenciamos nas nossas

observações ou através de cadernos com recados deixados na sala de professores, como

constatamos na escola A.

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Sabemos que a HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico) é um espaço reservado para esse

fim, pois foi instituída, segundo Gomes (2009), na concepção de um tempo e de um

espaço remunerado, com objetivo de propiciar um momento de estudo, troca e

integração de todas as atividades que acontecem na escola. No entanto a necessidade

constante de repassar aos professores informações que vêm da Secretaria de Educação

transforma esse tempo em um momento apenas de informação, no qual a troca de

experiência e o estudo não ocorrem.

Em relação à HTPC, as observações de Gomes (2009) também confirmam as nossas

constatações:

Uma conquista (HTPC) que se mostra hoje longe de seu objetivo inicial, uma vez que o

tempo destinado é exíguo, não abarcando o coletivo da escola, em que a realidade

escolar tem mostrado que a construção de novos conhecimentos e saberes são

substituídos por recados e tarefas para cumprimento de solicitações burocráticas e

mecânicas (GOMES, 2009, p. 41).

Outro problema enfrentado ocorre em função das diferenças nos horários dos

professores, o que impossibilita reunir toda a equipe no mesmo horário. Essa

dificuldade foi constatada nas duas escolas pesquisadas.

No Projeto ETI a responsabilidade pela organização desse espaço é do Coordenador

Pedagógico, que tem um papel fundamental na formação dos professores. No entanto,

com tantas atribuições, sua atuação na formação dos professores fica prejudicada,

gerando insatisfação e frustração em toda a equipe.

Em relação à troca de experiências, a professora Rosa (PA2) comenta que gostaria de

participar de encontros com outras escolas que também vivenciam a experiência do

tempo integral:

Outra coisa que deveria ser divulgada: encontro entre os professores de ETIs para

trocarem experiências. Por mais que esteja aqui porque precisa, ele está porque gosta.

(PA2)

Em nossas conversas informais com os professores, percebemos que a organização de

um tempo específico para a sua formação, além de propiciar novos conhecimentos,

contribui para que surjam sentimentos de confiança, prestígio e envolvimento por parte

desses profissionais. Almeida (2004, p. 138) ressalta que “é preciso lembrar que o

professor é também uma pessoa completa, com afeto, cognição e movimento, afetado

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pelo aluno com quem se relaciona”. Um espaço e um tempo para a formação do

professor é imprescindível para melhoria na qualidade da aprendizagem dos alunos e

professores.

É preciso que a HTPC seja realmente o momento para essa formação e que os avisos

sejam realizados em outros momentos ou de outras formas. Na escola de tempo integral,

em função da dinâmica intensa do dia a dia, é fundamental que esse tempo e espaço

sejam preservados.

O depoimento da professora Lurdes (PDB1) demonstra como a falta de comunicação e

entrosamento repercute no desenvolvimento dos alunos:

Como professora do regular eu sentia o reflexo da falta de integração entre as oficinas e

o regular. Percebia que eles (os alunos) ficavam mais violentos, havia falhas na

comunicação. O aluno era suspenso e o professor da manhã não sabia. (PDB1)

Brandão (2009) considera que um ensino de qualidade pressupõe, além dos alunos, os

professores em tempo integral, com salários e condições de trabalho compatíveis com o

regime de dedicação exclusiva em uma instituição.

Maurício (2009) acredita que a escola de tempo integral deva ser um laboratório de

soluções, para isso o horário integral deve ser para alunos e professores. Acrescenta a

autora: “Só nesta convivência longa e diária serão formuladas as condições coletivas

que tornem produtivo o convívio de necessidades e culturas diversas” (p.27).

Cavalière (2009) e Coelho (2009) também defendem a necessidade de tempo integral

para os alunos e para os professores, como acontecia nos CIEPs de Darcy Ribeiro e no

Centro Educacional Carneiro Ribeiro de Anísio Teixeira.

Monteiro (2009) comenta que nos CIEPs, os professores tinham tempo para reuniões de

planejamento, para estudo e para desenvolvimento de práticas reflexivas. Nesse projeto

havia uma ênfase na formação de professores em serviço como um instrumento

fundamental para o desenvolvimento do projeto pedagógico. Essa formação ia além das

atividades de estudo, mas incorporava o trabalho docente em suas três dimensões

principais: planejamento, ensino e avaliação.

Ao analisarmos a trajetória histórica do magistério, constatamos que solicitação por

mais tempo para que possam dar conta dos três eixos de sua formação é frequente há

muito tempo. Estamos cientes de que a conquista do tempo remunerado previsto pela

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HTPC já é uma vitória, mas compartilhamos da opinião de Cavalière (2009), Coelho

(2009), Brandão (2009) e Monteiro (2009) de que em uma escola de tempo integral é

preciso que professores e alunos permaneçam o dia inteiro na escola.

Wallon ([1938] 1975) afirma que a formação dos professores não pode ficar limitada

aos livros. Deve ter uma referência perpétua nas experiências pedagógicas que eles

próprios podem pessoalmente realizar. Para que isso aconteça, é necessário que existam

políticas sociais que sustentem e valorizem o professor na tarefa de formar o cidadão

como explica Almeida (2004):

Mas, para se ter uma adequada formação psicológica (realizada em processos de

formação inicial e continuada) e condições para executar as próprias experiências

pedagógicas (elaborando e investigando a própria prática), é importante que haja

políticas sociais que sustentem a valorização do professor como profissional da

educação, com a responsabilidade (compartilhada com outras instâncias públicas) pela

mais importante das aprendizagens – a aprendizagem de ser homem-cidadão.

(ALMEIDA, 2004, p. 139).

4.4 4º eixo: Sentimentos de professores e de alunos na Escola de Tempo Integral

Neste eixo, discutiremos sobre o desenvolvimento da dimensão afetiva e analisaremos

os sentimentos dos professores e alunos apreendidos pelo pesquisador e suas situações

indutoras, conforme metodologia proposta por Almeida e Mahoney (2007).

Ressaltamos que muitos desses sentimentos já foram citados nos outros eixos de análise,

mas, ao organizá-los nesses quadros, pretendemos realizar uma análise mais integrada,

demonstrando como o estudo da dimensão afetiva pode fornecer indicadores

importantes para a compreensão do ambiente escolar.

Vale mencionar que os dados apresentados a seguir foram apreendidos pelo pesquisador

nas entrevistas com os professores e/ou identificados nas observações em sala de aula.

Nossa análise parte da perspectiva integradora postulada por Wallon. Nessa teoria de

desenvolvimento, a dimensão afetiva, assim como as outras dimensões da pessoa, estão

em constantes transformações. Desse modo, a afetividade vai incorporando novas

construções da inteligência, tendendo a se racionalizar e com isso ampliando suas

formas de manifestação. Segundo Dantas (1992), o desenvolvimento da afetividade é

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marcado por “três grandes momentos: afetividade emocional ou tônica; afetividade

simbólica e afetividade categorial” (p.91), que caracterizam o desenvolvimento

qualitativo conquistado pela inteligência em cada etapa.

A afetividade emocional ou tônica corresponde ao momento inicial do desenvolvimento

e se restringe a trocas epidérmicas, dependendo inteiramente do outro para se

desenvolver. O domínio afetivo vai se constituindo a partir de uma sensibilidade

orgânica, que, através dos processos perceptivos oriundos dessa sensibilidade,

possibilita o surgimento da vida racional, transformando com isso as manifestações

afetivas.

Já a afetividade simbólica, segundo Dantas (1992), é caracterizada pela aquisição da

capacidade de representação, conquistada com o desenvolvimento da linguagem, que

propicia novos avanços cognitivos, afetivos e motores.

Em relação à afetividade categorial, a autora afirma que a incorporação da função

categorial traz novas exigências racionais às relações afetivas: “exigências de respeito

recíproco, justiça, igualdade de direitos, etc.” (p. 91).

Conhecer o desenvolvimento da afetividade permite ao professor compreender melhor

os sentimentos dos alunos e suas necessidades, para que o ambiente de sala seja um

espaço de efetiva aprendizagem tanto para o aluno como para o professor.

Acreditamos, como afirma Almeida (2009), que a escola é uma oficina de convivência e

o professor um profissional das relações, por isso é importante fornecermos

instrumentos para que os professores possam desenvolver esse importante trabalho

juntos aos alunos. Ao identificarmos os sentimentos e as situações indutoras, estaremos

desvelando necessidades de professores e alunos.

Sentimentos de Professores

Quadro 3 – Sentimentos de professores apreendidos pelo pesquisador. Sentimentos Situações Indutoras

Ciúmes • Por achar que o professor do currículo básico é mais valorizado do que o professor das oficinas

Orgulho/satisfação • Por ter escolhido a profissão de professor

• Por participar do Projeto desde a implantação

Proximidade e confiança • Por permanecer o dia todo na escola

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Respeito • Pelos sentimentos dos alunos e entre os alunos na sala de aula

Sentem-se confusos • Por ser professor das oficinas e eventualmente do ensino básico

Sentem-se contentes/felizes • Ao falar que as crianças gostam da escola

• Por acreditar que a convivência maior é positiva para os alunos

• Por perceber que na ETI existe menos preconceito entre as crianças

Sentem-se desafiados • Por trabalhar em uma ETI

Sentem-se desanimados • Por constatar que há professores que não acreditam no Projeto

Sentem-se entusiasmados • Com o progresso das turmas no anterior

Sentem-se esperançosos • Ao falar das sugestões de melhoria do Projeto e do desejo de mudanças

Sentem-se frustrados • Pela alimentação inadequada que o programa oferece (enlatados)

• Pela falta de interesse dos pais • Por não ocorrerem capacitações no

horário de trabalho • Por não terem conseguido construir

um parquinho para as crianças • Pelo Projeto não conseguir atender às

necessidades específicas dos alunos • Pelo desprestígio do professor do

currículo básico em relação aos professores das oficinas

• Por terem colocado os alunos com dificuldades em uma única sala

• Por perceber que os alunos só realizam as atividades quando recebem notas

• Pela dificuldade que os alunos têm de aceitar uma aula diferenciada

• Por não haver integração entre as oficinas e o ensino básico

• Pelo fato de a escola ser diferente da que acredita

• Por acreditar que o projeto é bom, mas precisa ser modificado

• Por terem ocorrido situações decorrentes da falta de comunicação entre os professores dos dois turnos

• Por perceber que as oficinas não propõem boas situações de aprendizagem

• Pelos pais acharem que a escola é uma creche

Sentem-se preocupados • Ao falar das dificuldades de permanecer o dia inteiro na escola

• Pela responsabilidade que tem o professor do currículo básico

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• Pela falta de um espaço adequado para as crianças descansarem, principalmente os pequenos

• Ao falar da importância de se trabalhar o lado emocional do aluno

• Por não ser professor efetivo e ter que fazer prova todo o ano

• Com o número excessivo de lições que as crianças realizam todos os dias

Sentem-se satisfeitos • Por perceber que a escola está com bons professores, o que repercute positivamente no aprendizado dos alunos

• Com as mudanças que realizaram nos turnos e nos intervalos

Empatia • Por ter vivenciado dificuldade na aprendizagem e ter superado

Tristeza • Pelo fato de alguns professores não aproveitarem o potencial do aluno

Os sentimentos apreendidos durante a entrevista com os professores apontam

sentimentos agradáveis e desagradáveis em relação à escola e aos alunos.

Em relação aos sentimentos agradáveis, identificamos o orgulho e a satisfação que os

professores entrevistados sentem em relação à profissão, como podemos observar nos

depoimentos:

“Tinha certeza que queria ser professor.” “Desde os 14 anos, trabalho como professor

voluntário.” “Quando era criança, montei uma biblioteca em casa.” (PB1)

“(...) Foi assim que comecei a pegar gosto pela profissão.” (PA2)

“Gosto muito do que realizo, principalmente quando estou na sala de aula.” (PDB1)

Na relação com os alunos, apreendemos sentimentos de respeito, confiança e

proximidade e, em relação à Escola de Tempo Integral, os sentimentos são

contraditórios. Em alguns momentos, percebemos que os professores se sentem

confusos e frustrados pelo não atendimento às necessidades apontadas, mas em outros

se mostram entusiasmados, desafiados e esperançosos de que ocorram melhorias no

Projeto. Situações como o número excessivo de lições que as crianças realizam na

escola, a falta de um trabalho que considere o lado emocional dos alunos, a falta de

integração entre os dois turnos, o desprestígio e a insegurança em relação à estabilidade

profissional são situações que causam preocupação, insatisfação e frustração.

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Sentimentos dos Alunos

Os sentimentos dos alunos e as situações indutoras relacionados no Quadro 4 foram

apreendidos pelo pesquisador durante as observações realizadas nas salas de aulas,

refeitório e pátio.

Quadro 4 – Sentimentos de alunos apreendidos pelo pesquisador. Sentimentos Situação Indutora

Sentem-se confusos • Por terem que enfrentar filas e muito barulho no refeitório

• Falta de direcionamento na solicitação de uma tarefa/falta de compreensão da tarefa

Sentem-se insatisfeitos • Com a qualidade da comida • Pelo espaço pequeno do refeitório • Pelo refeitório estar sujo e

desorganizado • Por ter que permanecer o dia todo na

escola • Por perceberem que à tarde ter muita

bagunça e por isso não aprenderem muito

Alegria • Poder correr livremente no pátio • Ter visitante na sala de aula • Em sair da sala de aula e ir para o

pátio • Tirar uma nota alta • Situação lúdica e interessante

Injustiça • Por terem proibido os alunos de correrem no pátio

Sentem-se desinteressados • Interrupções durante as aulas • Falta de compreensão quanto ao

objetivo da tarefa • Tarefa complexa, faltando repertório

para realizá-la • Pelo tema trabalhado na oficina • Por realizarem um numero grande de

lições e tarefas Sentem-se interessados • Professor faz perguntas que permitam

expressar opinião • Professor mobiliza o grupo e escreve

o texto coletivamente • Professor associa o conceito a ser

aprendido a situações da vida real • Uso da calculadora para trabalhar

com os números decimais • Situações que estimulam a

curiosidade e a descoberta • Ao receberem elogio da professora • Pela escola

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Sentem-se agitados • Volta do intervalo e do almoço • Ao se organizarem em grupo • Ao utilizarem vários recursos para

realizarem uma tarefa • Organização do espaço • Situação de ensino inadequado

Frustração • Tirar uma nota baixa • Não ser respeitado pelo professor

Respeito • Pela direção da escola • Por alguns professores

Sentem-se incapazes • Dificuldade de concentração que não é trabalhada pelo professor

• Realizarem atividades que exijam autonomia

Ciúmes • Disputa pela atenção da professora

Nas nossas observações, identificamos nos alunos sentimentos diferentes em relação à

escola: alguns gostam e se sentem bem nela, enquanto outros não entendem por que

precisam permanecer o dia todo e acham que, principalmente à tarde, aprendem pouco,

por causa da bagunça ou por estarem cansados.

Percebemos que a maior parte dos alunos se mostra interessados quando: o professor

permite que expressem suas opiniões, o professor aproxima o conteúdo da vida real e

em situações que estimulam a curiosidade e a descoberta. Outra situação que incentiva

os alunos é a de receber elogios dos professores.

Revelam desinteresse quando não compreendem o objetivo da tarefa, quando a tarefa é

muito difícil e quando realizam muitas lições.

Ficam agitados e/ou confusos quando retornam do almoço e dos intervalos, quando o

espaço na sala está desorganizado ou quando a situação não é devidamente planejada

pelo professor.

Foram apreendidos também sentimentos de ciúmes em relação à atenção dos

professores, injustiça por não terem permitido correr no pátio, respeito por alguns

professores, frustração ao tirarem nota baixa e não serem respeitados pelos professores.

Vale mencionar, também, a necessidade de se trabalhar a dificuldade de concentração e

de autonomia dos alunos.

Esperamos que esse levantamento seja um recurso a ser utilizado na reflexão dos

professores e da equipe gestora do Projeto, para que as necessidades apontadas sejam

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atendidas, propiciando a professores e alunos sentimentos agradáveis em relação à

escola e a aprendizagem, possibilitando um desenvolvimento favorável para todos.

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Vale ressaltar que, além da teoria walloniana, os estudos de pesquisadores como

Brandão, Cavalière, Coelho, Gonçalves, Guará, Maurício, Menezes e Moll foram

fundamentais para que eu pudesse compreender o meio no qual pesquisei o fenômeno,

pois, segundo Wallon, não é possível estudar a afetividade sem considerar as condições

físicas e humanas em que está inserida.

Outra etapa importante na construção do trabalho foi a pesquisa bibliográfica, que

indicou a relevância deste estudo, pois, apesar de ter encontrado pesquisas sobre a

temática da afetividade e da escola de tempo integral, não identifiquei nenhum trabalho

sobre a afetividade nas escolas de tempo integral.

A pesquisa bibliográfica também colaborou para a formulação dos procedimentos

metodológicos. A utilização da análise documental, das observações e das entrevistas

foi recurso útil e enriquecedor para a produção das informações apresentadas neste

trabalho. Na realização desta pesquisa, foi possível constatar que os sentimentos de

professores e de alunos e suas situações indutoras revelam suas necessidades. Atendê-

las é um passo importante para a melhoria do ambiente escolar e, consequentemente,

para o processo ensino-aprendizagem.

Na expectativa de que este trabalho possa contribuir para a melhoria das escolas, retomo

alguns pontos já discutidos, apontando os resultados encontrados na pesquisa. Muitos

desses resultados revelam contradições entre o planejado pelos idealizadores do Projeto

Escola de Tempo Integral através das Diretrizes Curriculares (SP/SEE/CENP, 2006) e a

realidade vivenciada pelas escolas.

No eixo espaço e afetividade, discuti a importância da organização do espaço escolar

como um instrumento educativo, promotor de desenvolvimento e de aprendizagem, pois

Wallon entende que o meio é fundamental ao desenvolvimento da criança. No entanto,

o que encontrei nas escolas foi um espaço que não favorece o desenvolvimento, a

começar pela estrutura física do refeitório nas duas escolas. Há problemas também em

outros espaços. Na escola B, não há pátio para as crianças e as salas são pequenas para o

número de alunos. Já a escola A tem um espaço mais privilegiado, tanto internamente

como em seu entorno, pois fica localizada em uma região nobre, cercada por vários

serviços, como: posto de saúde, bibliotecas públicas, transporte e lojas. Nas duas

escolas, falta um espaço para descanso, com colchonetes, principalmente para as

crianças pequenas. Faltam também funcionários para o acompanhamento das crianças

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no horário de almoço. Atualmente, no espaço dessas escolas, alunos e funcionários se

sentem confusos, frustrados e insatisfeitos.

A alternativa de revezamento adotada pelas escolas A e B sugere ser uma estratégia

interessante para atenuar os problemas nos intervalos e no horário de almoço, mas não

elimina a necessidade de se reorganizar o espaço do refeitório e do pátio para que sejam

espaços realmente educativos.

A necessidade de alimentação adequada é também motivo de insatisfação dos

professores e dos alunos, bem como a falta de acompanhamento das crianças, o que

dificulta a aquisição de novos hábitos alimentares e a socialização quanto às normas no

refeitório.

Outra situação observada refere-se à permanência constante dos alunos na sala de aula,

fato que não atende às necessidades fisiológicas e psicológicas das crianças. Nas duas

escolas, há espaços alternativos, como biblioteca, sala de informática, videoteca, sala de

artes, que deveriam ser mais utilizados pelos professores dos dois turnos. Além disso, a

organização da própria sala de aula poderia favorecer a criação de um ambiente mais

agradável para os alunos. Uma alternativa interessante seria a montagem de murais

temáticos por professores e alunos, estimulados pela direção e coordenação da escola.

Vale mencionar que a desorganização do ambiente escolar propicia agitação e

indisciplina, o que não favorece a aprendizagem, gera conflitos entre professores e

alunos, causando tensão e frustração.

No eixo afetividade e relações interpessoais, constatei a importância da relação

professor-aluno e de como a extensão do horário faz com que os alunos estabeleçam um

vínculo maior com alguns professores e entre os próprios alunos. Ao analisar os

sentimentos e suas situações indutoras, verifiquei que os professores percebem a

importância da afetividade no processo ensino-aprendizagem, mas a concebem numa

perspectiva do senso comum. Depreende-se disso a necessidade de os professores serem

capacitados para lidar com seus alunos, considerando-os em todas as suas dimensões

humanas: afetividade, cognição e ato motor, pois em cada fase do desenvolvimento,

essas dimensões se caracterizam por aquisições de novos recursos, que podem ser

aproveitados pela escola.

Em sala de aula, observei também alguns conflitos, nos quais a emoção como

contraponto da razão contagiou professores e alunos. São dinâmicas turbulentas, como

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aponta Galvão (1996), marcadas pela elevada incidência de condutas de dispersão,

agitação e impulsividade motora que só fazem consumir energia, desgastando

professores e alunos. Geralmente, essas dinâmicas turbulentas são causadas por uma

permanência da criança sentada na sala de aula por um tempo maior do que o possível

para sua idade, por situações inadequadas de ensino ou outros motivos, que devem ser

observados pelos professores, a fim de evitá-los.

Nas escolas observadas, a presença dessas dinâmicas turbulentas é constante, pois os

alunos permanecem um tempo muito grande nas salas de aula e realizam muitas tarefas

repetitivas, que não estimulam a curiosidade e o interesse. Faz-se necessário que os

professores reflitam sobre os seus métodos de ensino e proponham atividades mais

práticas e criativas, aproximando a educação à vida das crianças, como propunha Anísio

Teixeira.

As observações em sala de aula identificaram também algumas situações que favorecem

os alunos se sentirem interessados ou desmotivados. Os alunos se sentem interessados

quando o professor: permite que se expressem, incentiva a escrita coletiva, ajuda a

associar o conceito à vida real, estimula a curiosidade e a descoberta e dá elogios.

Sentem-se desmotivados quando: ocorrem muitas interrupções nas aulas, não conhecem

os objetivos das tarefas, a tarefa é complexa, o tema não é interessante e realizam

muitas tarefas e lições. É importante que os professores considerem, no planejamento de

suas aulas, essas necessidades apontadas, favorecendo a aprendizagem.

Outro ponto observado refere-se à ênfase que é dada ao trabalho individual. Uma escola

na qual os alunos permanecem o dia inteiro deveria incentivar o trabalho em grupo,

possibilitando o desenvolvimento de determinadas habilidades sociais, como a

cooperação e a solidariedade. Como afirma Wallon, atrelar o trabalho intelectual ao

desenvolvimento de capacidades sociais é um campo educativo que não pode ser

negligenciado em nenhuma escola (PLANO LANGEVIN-WALLON, [1947] 1977).

Além disso, não observei nas duas escolas a existência de projetos voltados a trabalhar

valores, questão importante, principalmente nos dias de hoje. Segundo Almeida (2009),

a escola é uma oficina de convivência e o professor, um profissional das relações entre

as pessoas. Nesse sentido, é interessante que tanto esse espaço, quanto esse tempo sejam

utilizados para vivenciar e refletir sobre atitudes, valores, crenças e sentimentos que

envolvem a convivência humana.

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A relação da escola com os pais é também um aspecto que merece reflexão. Há queixas

constantes dos professores em relação ao desinteresse dos pais pelas atividades que as

crianças realizam na escola. Nesse sentido, faz-se necessária a realização de um trabalho

que incentive a aproximação dos pais à escola desde o ingresso da criança na vida

escolar. É importante que os pais conheçam a concepção da escola de tempo integral e

suas práticas educativas para que compreendam, acompanhem e estimulem o

desenvolvimento dos filhos.

No eixo afetividade, tempo e aprendizagem discuti sobre como a questão do tempo é

complexa e tem forte influência cultural, sendo o tempo escolar a mais importante

referência para a vida das crianças. Segundo essa autora, só faz sentido ampliar o tempo

de escola se este for qualitativamente transformado (CAVALIÈRE, 2002 b, 2007).

Nas duas escolas observadas, apesar do esforço de alguns professores, a maior parte das

situações de aprendizagem não favorece essa transformação. As aulas do currículo

básico seguem um modelo tradicional e as oficinas ainda carecem de uma identidade,

atendendo muitas vezes às necessidades do currículo básico e seguindo o mesmo

modelo de ensino. Em outros momentos, a percepção é de que os dois turnos funcionam

como duas escolas.

A dificuldade de entendimento da articulação entre as oficinas e o currículo básico gera

também problemas de relacionamento entre os professores. Surgem ainda conflitos pela

falta de comunicação entre eles. Para que essas situações sejam superadas, é preciso que

haja momentos para trocas entre os professores, e tempo para trabalhar as relações com

toda a equipe escolar.

Nas observações e entrevistas, os professores explicitaram sua preocupação e frustração

por não terem tempo para essas trocas de experiências com os colegas e por não

participarem de capacitações. Em relação ao tempo previsto por lei para esse fim -

HTPC (Hora de trabalho pedagógico coletivo) – esse tempo tem sido utilizado para

passar informações e comunicados. Esforços devem ser feitos para que ele seja

realmente utilizado no estudo e na troca de experiências entre os professores.

Em relação às capacitações, é importante garantir uma formação continuada a esses

professores que permita, a partir da reflexão e do pensamento crítico, trazer das

abstrações elementos para a prática cotidiana. Além disso, faz-se necessário a realização

de formações específicas para os professores das oficinas, para que possam propor

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situações mais inovadoras, criativas e integradas ao currículo básico, conforme proposto

pelas Diretrizes Curriculares do Projeto (SP/SEE/CENP, 2006).

Outra questão que poderia contribuir significativamente para a qualidade do processo de

ensino-aprendizagem nessas escolas é a necessidade de que os professores tenham

dedicação exclusiva. Segundo Maurício (2009), somente nessa convivência longa e

diária é que serão formuladas as condições que tornem produtivo o convívio de

necessidades e culturas. O tempo ampliado para o professor poderia contribuir para

melhor planejamento das aulas, acompanhamento de projetos e dos alunos, entre outras

atividades.

Em relação ao eixo dos sentimentos dos alunos e professores, a partir deles identifiquei

várias necessidades, já apontadas. A identificação desses sentimentos revelou ser um

instrumento de pesquisa valioso para as discussões que apresentei anteriormente,

podendo servir de subsídios para futuras pesquisas na área.

Com intuito de finalizar este trabalho, ressalto que, apesar da distância revelada nesta

pesquisa entre o que foi proposto pelas Diretrizes para a Escola de Tempo Integral e o

que está acontecendo nas escolas pesquisadas, professores e alunos continuam

esperançosos de que um dia essas escolas se transformem em espaços nos quais

professores e alunos permaneçam o dia inteiro em um ambiente agradável e de efetivo

desenvolvimento, promovendo um ensino de qualidade que garanta melhores condições

de vida para todas as crianças participantes do Projeto.

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APÊNDICES

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abal

ho

que

dese

nvol

veu

desd

e os

14

anos

. Pe

lo

apre

ndiz

ado

adqu

irid

o na

ON

G.

Por

ter

tido

es

sa

expe

riên

cia.

Po

r te

r co

nseg

uido

al

fabe

tiza

r es

sas

cria

nças

. Po

r te

r vi

venc

iado

um

a si

tuaç

ão d

e pr

econ

ceito

. C

om o

que

pre

senc

iou

na

crec

he.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão/s

orri

so

. Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão/e

ntus

iasm

o/so

rris

o.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão/s

orri

so.

Exp

ress

ão

faci

al

de

real

izaç

ão

e al

tera

ção

no

tom

de

vo

z de

mon

stra

ndo

entu

sias

mo.

E

xpre

ssão

fa

cial

de

de

cepç

ão

(“C

erto

, é

isso

m

esm

o.”)

Pa

lavr

as

do

próp

rio

rela

to d

o en

trev

ista

do.

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130

nece

ssid

ade

de f

alta

r pa

ra p

artic

ipar

do

proc

esso

de

atri

buiç

ão n

a es

cola

.

Vim

tra

balh

ar a

qui

com

o pr

ofes

sor

even

tual

. Com

ecei

em

mar

ço. C

omo

no d

ia

da a

trib

uiçã

o nã

o ve

io n

ingu

ém,

eu f

ique

i no

lug

ar d

a L

urde

s, q

ue é

a ú

nica

pr

ofes

sora

efe

tiva

da

esco

la,

que

assu

miu

a v

ice-

dire

tori

a. F

oi u

m a

lívio

, po

is

cons

egui

o e

mpr

ego.

Ini

cial

men

te m

e se

nti i

nseg

uro,

mas

o p

esso

al m

e aj

udou

. N

o fi

nal

do a

no e

u fa

ço a

pro

va n

ovam

ente

. E

u e

todo

s os

pro

fess

ores

daq

ui,

porq

ue s

ó a

Lur

des

é ef

etiv

a, p

rim

eiro

esc

olhe

m o

s pr

ofes

sore

s m

ais

velh

os q

ue

têm

est

abili

dade

. N

unca

sob

ra s

ala

livre

, sa

i su

bstit

uiçã

o, l

icen

ça,

a ge

nte

fica

an

dari

lho,

até

sai

r um

con

curs

o. V

ou e

sper

ar a

té s

urgi

r um

con

curs

o. P

reci

sa d

e co

ncur

so,

aqui

é a

pro

va d

isso

. A

no q

ue v

em,

eu e

stou

pen

sand

o em

tra

balh

ar

na o

fici

na d

e m

atem

átic

a, p

ois

fiz

um c

urso

sob

re o

ass

unto

. Pre

tend

o tr

abal

har

de m

anei

ra d

ifer

enci

ada,

com

jogo

s e

outr

os r

ecur

sos.

Con

tou

que

inic

iou

na

esco

la

com

o pr

ofes

sor

even

tual

e a

ssum

iu a

cla

sse

devi

do à

saí

da d

a L

urde

s, q

ue é

a ú

nica

pr

ofes

sora

efe

tiva

da

esco

la, p

ara

a vi

ce-

dire

tora

. C

omen

tou

sobr

e a

difi

culd

ade

que

é se

r pr

ofes

sor

even

tual

, di

z fi

car

com

o um

an

dari

lho.

A

no q

ue v

em f

ará

nova

men

te a

pro

va.

Est

á pe

nsan

do e

m t

raba

lhar

na

ofic

ina

de m

atem

átic

a, e

nqua

nto

não

surg

e um

co

ncur

so.

Sent

iu-s

e al

ivia

do e

de

pois

inse

guro

. Se

ntiu

-se

frus

trad

o.

Sent

e-se

pr

eocu

pado

.

Por

ter

cons

egui

do

o em

preg

o,

mas

in

segu

ro

por

não

ter

mui

ta

expe

riên

cia.

Pe

la

inse

gura

nça

prof

issi

onal

, co

mo

prof

esso

r ev

entu

al.

Por

ter

que

faze

r pr

ova

nova

men

te.

(“T

odos

ano

s”).

Pala

vras

do

pr

ópri

o re

lato

do

entr

evis

tado

. E

xpre

ssão

fa

cial

de

in

satis

façã

o/pa

lavr

as

do r

elat

o.

Mov

imen

taçã

o co

rpor

al.

Eu

gost

ava

de e

nsin

ar a

min

ha i

rmã

a fa

zer

as l

etra

s, q

uand

o a

gent

e pe

rceb

eu,

ela

já e

stav

a al

fabe

tizad

a.

Ela

foi

par

a um

a es

cola

fra

ca. E

u fu

i cr

iand

o go

sto

e no

fin

al d

e se

man

a a

casa

fi

cava

che

ia d

e cr

ianç

as p

ara

brin

car

de e

scol

inha

. A

s m

ães

man

dava

m p

orqu

e er

a um

ref

orço

de

graç

a, u

ma

brin

cade

ira

que

ajud

ava.

Mon

tei

uma

bibl

iote

ca

com

unitá

ria,

meu

pai

fez

um

pap

elzi

nho

com

os

nom

es d

os l

ivro

s. O

meu

pai

er

a ch

efe

de s

egur

ança

e a

min

ha m

ãe, d

ona

de c

asa.

Sua

prim

eira

ex

peri

ênci

a co

mo

prof

esso

r fo

i na

alfa

beti

zaçã

o da

irm

ã.

Bri

ncav

a de

da

r au

las

e em

pres

tava

liv

ros,

com

iss

o a

casa

fic

ava

repl

eta

de

cria

nças

.

Sent

e-se

fel

iz.

Sent

e-se

fel

iz.

Por

ter

cons

egui

do

alfa

beti

zar

a ir

mã.

Po

r re

aliz

ar

uma

brin

cade

ira

que

gost

ava

e aj

udav

a as

ou

tras

cr

ianç

as.

Ris

o,

expr

essã

o co

rpor

al d

e al

egri

a.

Ris

o,

expr

essã

o co

rpor

al d

e al

egri

a.

Eu

acho

que

com

ecei

a m

e in

tere

ssar

dev

ido

à di

ficu

ldad

e qu

e eu

tive

na

esco

la.

Em

mai

o a

prof

esso

ra c

ham

ou a

min

ha m

ãe,

porq

ue e

u nã

o qu

eria

nad

a, e

u fi

cava

olh

ando

pel

a ja

nela

pro

cura

ndo

o pa

rqui

nho,

tot

alm

ente

per

dido

. T

ípic

o do

pri

mei

ro a

no, n

ão é

mes

mo?

Dis

se q

ue e

u nã

o fa

zia

nada

, nad

a. S

empr

e ti

ve

difi

culd

ade,

até

no

cole

gial

. E

u en

sina

va,

quan

do c

hega

va n

a pr

ova,

eu

não

cons

egui

a fa

zer.

Eu

cons

egui

a en

sina

r, m

as n

ão c

onse

guia

faz

er..

Até

hoj

e a

min

ha m

ãe ti

ra s

arro

dis

so.

Eu

tinha

cer

teza

que

que

ria

faze

r m

agis

téri

o. Q

uand

o ch

egue

i na

séri

e, s

e fo

rmou

a ú

ltim

a tu

rma

do m

agis

téri

o, r

esto

u es

pera

r um

pou

co.

fui

para

a

facu

ldad

e de

ped

agog

ia.

Não

tinh

a dú

vida

. D

esde

peq

ueno

, qu

eria

me

agra

dar

era

dar

uma

caix

a de

láp

is d

e co

r e

um

cade

rno.

Tem

pro

fess

ora

que

diz

sai d

essa

vid

a en

quan

to v

ocê

é no

vo, m

as n

ão

tem

jeit

o. N

ão s

ei n

em p

endu

rar

um q

uadr

o na

par

ede.

Ach

a qu

e o

seu

inte

ress

e pe

la p

rofi

ssão

su

rgiu

de

vido

à

difi

culd

ade

que

teve

pa

ra a

pren

der.

C

onse

guia

ex

plic

ar

a m

atér

ia p

ara

os

cole

gas,

m

as

tinha

di

ficu

ldad

es

nas

prov

as.

Tin

ha

cert

eza

de

que

quer

ia

ser

prof

esso

r.

Qui

s fa

zer

mag

isté

rio

no

ensi

no

méd

io,

mas

co

mo

os

curs

os

term

inar

am, r

esol

veu

faze

r pe

dago

gia.

T

em p

rofe

ssor

a qu

e di

z pa

ra e

le d

esis

tir

enqu

anto

ele

é n

ovo,

mas

ele

diz

que

o te

m je

ito,

é o

que

sab

e fa

zer.

(R

iu b

asta

nte

ao o

uvir

a s

ua f

ala.

)

Sent

e-se

fel

iz.

Sent

e-se

in

com

odad

o.

Sent

e-se

seg

uro.

Se

nte-

se

feliz

e

segu

ro.

Por

ter

supe

rado

a

sua

difi

culd

ade

de a

pren

der.

Pe

la s

itua

ção

vive

ncia

da.

Por

não

ter

dúvi

das

em

rela

ção

a su

a es

colh

a pr

ofis

sion

al.

Por

ter

feit

o a

opçã

o pe

lo

mag

isté

rio

desd

e ce

do.

Por

sabe

r qu

e é

o qu

e go

sta

e sa

be f

azer

.

Pala

vras

do

pr

ópri

o re

lato

. E

xpre

ssão

fa

cial

de

vida

. T

om

de

voz

firm

e e

aleg

re.

Rel

ato

e po

stur

a co

rpor

al

indi

cand

o al

egri

a/sa

tisfa

ção.

A i

deia

que

eu

tenh

o so

bre

ET

I, n

ão t

em n

ada

a ve

r co

m q

ue t

emos

aqu

i. O

pr

ojet

o é

bom

, mas

tem

que

con

tem

plar

out

ras

área

s, q

ue n

ão s

ão c

onte

mpl

adas

A

es

cola

de

te

mpo

in

tegr

al

que

ele

acre

dita

é m

uito

dif

eren

te d

a qu

e el

e Se

nte-

se f

rust

rado

.

Pelo

fat

o da

esc

ola

em

que

trab

alha

ser

dif

eren

te

Exp

ress

ão

faci

al

e ge

stos

de

insa

tisfa

ção

Page 144: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

131

pelo

ens

ino

regu

lar.

A e

scol

a de

tem

po i

nteg

ral

tem

que

ter

o e

nsin

o re

gula

r no

rmal

men

te e

a p

arte

de

com

plem

enta

ção,

ess

a pa

rte

inte

gral

da

cria

nça

deve

es

tar

gara

ntid

a em

out

ras

área

s.

O p

roje

to é

bom

, tir

a a

cria

nça

da r

ua,

dá u

ma

gara

ntia

par

a os

pai

s qu

e tr

abal

ham

, er

radi

ca u

m m

onte

de

ques

tões

, m

as a

o m

esm

o te

mpo

con

stró

i ou

tras

que

stõe

s ne

gati

vas.

Pr

imei

ro u

ma

apre

ndiz

agem

que

era

par

a te

r aq

ui

mui

tas

veze

s nã

o oc

orre

. A

cri

ança

pas

sa o

ito

hora

s aq

ui d

entr

o, v

ocê

imag

ina

que

deve

riam

ser

mai

s de

senv

olvi

das,

mas

se

você

col

oca

lá f

ora,

voc

ê fa

z um

a co

mpa

raçã

o nã

o es

tão

tão

dese

nvol

vida

s co

mo

deve

riam

est

ar.

O n

ível

do

estr

esse

, can

saço

, é g

rand

e, h

á di

stor

ção

de a

lgum

as c

oisa

s. E

u ac

ho

que

o pr

ojet

o de

ve c

onti

nuar

, mas

dev

eria

ser

mod

ific

ado.

A e

scol

a de

veri

a te

r um

a pi

scin

a. T

er u

m e

spor

te d

ifer

enci

ado,

com

o da

nça

e ba

lé.

Na

real

idad

e a

cria

nça

que

pode

pag

ar,

estu

da d

e m

anhã

e à

tar

de f

az n

ataç

ão,

ingl

ês, n

ão é

um

a au

la d

e in

glês

. T

em q

ue te

r um

a eq

uipe

esp

ecia

lizad

a e

até

a m

eren

da d

eve

ser

dife

renc

iada

.

trab

alha

. Pa

ra

o en

trev

ista

do

a es

cola

tir

a as

cr

ianç

as d

a ru

a e

dá g

aran

tia p

ara

os p

ais

que

trab

alha

m,

mas

co

nstr

ói

outr

as

ques

tões

neg

ativ

as.

A a

mpl

iaçã

o do

hor

ário

não

ben

efic

ia a

ap

rend

izag

em.

Ess

e m

odel

o ge

ra

cans

aço

e es

tres

se

O

proj

eto

deve

ria

ser

mod

ific

ado.

D

ever

ia

ofer

ecer

at

ivid

ades

di

fere

ncia

das,

igua

is a

que

m p

ode

paga

r,

com

pr

ofes

sore

s es

peci

aliz

ados

, co

mo

balé

e m

úsic

a. A

ssim

com

o o

espa

ço e

a

alim

enta

ção

deve

riam

se

r di

fere

ntes

. Po

deri

a te

r um

a pi

scin

a. (

Com

ento

u qu

e er

a m

uito

ilus

ória

ess

a su

a fa

la.)

Sent

e-se

fru

stra

do.

Sent

e-se

fru

stra

do.

da q

ue a

cred

ita.

Por

trab

alha

r em

um

m

odel

o de

es

cola

qu

e nã

o fa

vore

ce

a ap

rend

izag

em.

Por

acre

dita

r qu

e o

proj

eto

é bo

m,

mas

pr

ecis

a se

r m

odif

icad

o.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

E

xpre

ssão

fa

cial

de

in

satis

façã

o.

É d

ifer

ente

ser

pro

fess

or d

e um

a E

TI.

No

iníc

io f

oi m

uito

con

fuso

, pr

imei

ro o

ho

rári

o é

dife

renc

iado

, eu

me

atra

palh

ava

com

o s

inal

. Dep

ois

eu m

e ac

ostu

mei

, ac

ho q

ue s

e eu

con

tinua

sse,

ser

ia s

osse

gado

, qu

e eu

vi

com

o fu

ncio

nava

m a

s of

icin

as e

pas

sei a

est

rutu

rar

a m

inha

aul

a de

um

jeito

dif

eren

te.

É d

ifer

ente

ser

pro

fess

or d

e um

a E

TI.

In

icia

lmen

te,

sent

iu-s

e co

nfus

o.

Con

hece

r o

trab

alho

das

ofi

cina

s aj

udou

a

plan

ejar

as

aula

s.

Inic

ialm

ente

, se

ntiu

-se

con

fuso

.

Por

não

ter

expe

riên

cia

em E

TI.

Pa

lavr

as

do

próp

rio

rela

to.

O tr

abal

ho d

o Pa

tron

o fo

i um

dos

trab

alho

s m

ais

mar

cant

es q

ue r

ealiz

amos

ess

e an

o, p

ois

cons

egui

mos

faz

er u

ma

ligaç

ão e

ntre

o q

ue e

ra f

eito

no

regu

lar

e na

s of

icin

as.

Soou

mui

to b

em.

A p

rofe

ssor

a V

ânia

e a

pro

fess

ora

Joan

a é

que

orga

niza

ram

o t

raba

lho.

A f

esta

jun

ina

tam

bém

. Se

fos

se u

ma

esco

la r

egul

ar a

ge

nte

não

teri

a co

nseg

uido

rea

lizar

ess

e tr

abal

ho. F

oi m

uito

pro

dutiv

o.

Tra

balh

os r

ealiz

ados

em

con

junt

o co

m

as o

fici

nas

dão

bons

res

ulta

dos.

Se

nte-

se

entu

sias

mad

o.

Pelo

trab

alho

rea

lizad

o.

Mov

imen

taçã

o co

rpor

al/g

esto

s de

em

polg

ação

.

Eu

acho

que

dife

renç

a no

apr

endi

zado

do

regu

lar

e da

s of

icin

as. E

u pe

rceb

o qu

e as

aul

as d

a m

anhã

(cu

rríc

ulo

bási

co)

são

mai

s lú

dica

s do

que

as

da t

arde

. L

údic

a nã

o qu

er d

izer

alg

azar

ra, b

agun

ça.

Mui

to r

etor

cido

, di

zem

que

as

cria

nças

est

ão c

ansa

das,

por

iss

o vã

o pa

ra a

qu

adra

ou

entã

o as

sist

em v

ídeo

. A

cho

que

em f

unçã

o do

can

saço

dev

eria

m

plan

ejar

bo

as

situ

açõe

s de

ap

rend

izag

em

para

qu

e el

es

(os

alun

os)

se

envo

lves

sem

. E

u go

sto

de

Vig

otsk

i, po

rque

a

gent

e tr

abal

ha

na

zona

de

de

senv

olvi

men

to

prox

imal

e

na

real

idad

e aq

ui

nós

esta

mos

na

zo

na

de

dese

nvol

vim

ento

dis

tanc

ial.

Eu

acho

bom

que

cur

rícu

lo b

ásic

o se

r pe

la m

anhã

.

Ach

a qu

e as

aul

as d

a m

anhã

são

mai

s lú

dica

s do

que

as

da ta

rde.

O

tra

balh

o à

tard

e es

tá d

isto

rcid

o. A

s pr

ofes

sore

rec

lam

am q

ue o

s al

unos

est

ão

cans

ados

e v

ão p

ara

quad

ra e

par

a sa

la

de v

ídeo

. D

iz q

ue a

esc

ola

está

atu

ando

na

zona

de

dese

nvol

vim

ento

dis

tanc

ial.

(Riu

ao

ouvi

r a

sua

fala

.)

Sent

e-se

sat

isfe

ito.

Se

nte-

se f

rust

rado

. Se

nte-

se f

rust

rado

.

Por

suas

au

las

sere

m

mai

s l

údic

as d

o qu

e as

da

tard

e.

Pelo

fat

o da

s au

las

das

ofic

inas

o pr

opor

em

boas

si

tuaç

ões

de

apre

ndiz

agem

. Pe

la s

itua

ção

vive

ncia

da

Sorr

iso

de s

atis

façã

o.

Mov

imen

taçã

o co

rpor

al

indi

cand

o ce

rto

incô

mod

o.

Mov

imen

taçã

o co

rpor

al

indi

cand

o ce

rto

incô

mod

o.

E

stud

ar o

dia

todo

, eu

pens

o qu

e é

cans

ativ

o, m

as o

bser

vo q

ue o

s al

unos

das

4as

A

s cr

ianç

as d

a 4ª

sér

ie t

em e

nerg

ia p

ara

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132

séri

es t

êm e

nerg

ia.

A g

ente

que

pen

sa.

Ele

s nã

o de

slig

am T

eve

um d

ia q

ue

fiqu

ei à

tar

de p

ara

subs

titui

r a

prof

esso

ra V

ânia

. Eu

tive

que

ser

linha

dur

a pa

ra

cons

egui

r ac

alm

á-lo

s. E

les

têm

mai

s pi

que.

Os

prim

eiro

s an

os é

que

não

ag

uent

am,

dorm

em.

No

iníc

io,

eles

aba

ixam

a c

abeç

a e

dorm

em.

Os

prim

eiro

s re

clam

am q

ue n

ão t

em e

scor

rega

, pa

rqui

nho.

A e

scol

a de

veri

a se

r pr

epar

ada

para

rec

eber

ess

as c

rian

ças.

Tem

que

ada

ptar

a e

scol

a pa

ra e

les.

A m

atur

ação

ai

nda

não

esta

con

solid

ada.

Se

quis

erm

os q

ue a

apr

endi

zage

m a

cont

eça,

tem

r qu

e ad

apta

r a

esco

la.

fica

r o

dia

inte

iro.

Fi

cou

à ta

rde

subs

titui

ndo

uma

prof

esso

ra

e te

ve

difi

culd

ade

de tr

abal

har

com

a tu

rma.

O

s pr

imei

ros

anos

en

fren

tam

m

uita

di

ficu

ldad

e em

fun

ção

do c

ansa

ço.

Ach

a qu

e a

esco

la n

ão e

stá

prep

arad

a pa

ra r

eceb

er o

s pe

quen

os d

e se

is a

nos.

Eu

acho

que

as

cria

nças

gos

tam

da

esco

la.

Tem

alg

uns

que

recl

amam

. Tem

um

que

rec

lam

a qu

e te

m q

ue a

lmoç

ar a

qui.

Diz

qu

e nã

o go

sta

de f

icar

aqu

i, m

as é

que

ele

que

ria

ir d

uas

veze

s po

r se

man

a pa

ra

o fu

tebo

l, co

mo

o di

reto

r nã

o ac

eito

u, e

le v

ive

dize

ndo

que

quer

sai

r da

esc

ola.

A

mai

oria

se

acos

tum

ou c

om a

situ

ação

. Alg

uns,

qua

ndo

vêm

de

outr

a es

cola

, as

cri

ança

s fi

cam

con

fusa

s. A

mai

oria

rec

lam

a m

uito

é d

o nú

mer

o de

liçõ

es q

ue

faz.

Ach

a qu

e as

cri

ança

s go

stam

da

esco

la,

apes

ar

de

algu

ns

recl

amar

em,

pois

go

star

iam

de

faze

r ou

tras

ati

vida

des

fora

da

esc

ola.

A

s cr

ianç

as r

ecla

mam

mui

to d

o nú

mer

o de

liçõ

es q

ue r

ealiz

am n

a es

cola

.

Sent

e-se

con

tent

e.

Sent

e-se

pr

eocu

pado

.

Ao

fala

r qu

e as

cri

ança

s go

stam

da

esco

la.

O n

úmer

o ex

cess

ivo

de

liçõe

s qu

e as

cr

ianç

as

real

izam

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

aleg

ria/

sorr

iso.

Fr

anzi

u a

test

a

Eu

trab

alhe

i na

reu

nião

de

pais

sob

re o

que

ele

s pe

nsam

que

é u

ma

ET

I. E

les

aind

a tê

m a

vis

ão q

ue a

qui

é um

a cr

eche

. Tem

com

ida,

iss

o ba

sta.

Eu

fale

i com

os

pai

s e

eles

fiz

eram

car

a fe

ia.

Os

pais

que

est

ão c

hega

ndo

deve

m s

er

trab

alha

dos.

Da

terc

eira

e q

uart

a sé

ries

ain

da e

nten

dem

a e

scol

a co

mo

depó

sito

. E

u ac

ho q

ue s

e de

ve f

azer

um

tra

balh

o de

con

scie

ntiz

ação

com

os

pais

des

de a

sér

ie.

O p

rofe

ssor

trab

alho

u na

reu

nião

de

pais

so

bre

a co

ncep

ção

que

eles

têm

sob

re

uma

ET

I. Pa

ra

esse

s pa

is

a es

cola

é

ente

ndid

a co

mo

uma

crec

he, d

epós

ito.

O

trab

alho

com

os

pais

tem

que

ser

fei

to

desd

e a

1ª s

érie

.

Sent

e-se

fru

stra

do.

Pelo

fa

to

dos

pais

ac

hare

m q

ue a

esc

ola

é um

a cr

eche

, dep

ósit

o.

Exp

ress

ão

faci

al

de

indi

gnaç

ão.

A c

onvi

vênc

ia e

ntre

os

alun

os d

e um

a E

TI

é di

fere

nte.

Ele

s pa

ssam

mui

to

tem

po ju

ntos

. A

min

ha s

ala

é m

uito

uni

da,

estã

o ju

ntos

des

de a

séri

e. S

ão t

odos

mui

to

unid

os,

form

am g

angu

es,

mex

eu c

om u

m d

eles

, to

dos

o de

fend

em.

Em

min

ha

opin

ião,

dev

eria

m m

exer

(m

istu

rar

as s

alas

), p

rinc

ipal

men

te e

m c

asos

, com

o da

C q

ue o

pro

blem

a ve

io d

esde

o in

ício

. C

onvi

ver

é po

siti

vo, a

con

vivê

ncia

aqu

i é

mai

or. E

les

se e

ncon

tram

no

fina

l de

se

man

a, f

azem

tud

o ju

ntos

. Pa

ssei

am,

vão

ao c

inem

a, f

esta

s. E

u ac

ho m

uito

po

sitiv

o. N

o en

tant

o, s

ão r

esis

tent

es p

ara

incl

uir

os n

ovos

. A

sal

a é

real

men

te

mui

to r

esis

tent

e. N

ão i

nclu

íram

o Y

uri,

que

fico

u co

m o

s no

vos.

Ah,

mas

eu

acho

que

ele

s fi

cam

tan

to t

empo

jun

tos,

que

um

a ho

ra e

les

acab

am s

endo

in

cluí

dos.

Qua

ndo

entr

a al

guém

nov

o, e

les

com

enta

m q

ue n

uma

ET

I nã

o po

de

ter

mui

to a

luno

na

clas

se. A

té is

so e

les

sabe

m.

A s

ala

é m

uito

uni

da,

isso

é b

om,

mas

di

ficu

lta o

ingr

esso

de

um a

luno

nov

o.

Ach

a qu

e de

veri

am m

istu

rar

as t

urm

as,

para

evi

tar

o qu

e ac

onte

ceu

com

a 4

ª sé

rie

C.

A c

onvi

vênc

ia n

a E

TI

é m

aior

, fo

rmam

um

vín

culo

mai

or,

tem

dif

icul

dade

de

rece

ber

os n

ovos

.

Sent

e-se

pr

eocu

pado

. Se

nte-

se

preo

cupa

do.

Sent

e-se

con

tent

e.

Pela

di

ficu

ldad

e de

in

clui

r um

alu

no n

ovo.

Po

r nã

o te

rem

mis

tura

do

as tu

rmas

. Po

r ac

redi

tar

que

a co

nviv

ênci

a é

posi

tiva.

Exp

ress

ão

faci

al

/Fra

nziu

a te

sta.

E

xpre

ssão

fa

cial

/F

ranz

iu a

test

a.

Exp

ress

ão

faci

al

de

aleg

ria/

sorr

iso.

Com

o su

gest

ão e

m r

elaç

ão a

o pr

ojet

o eu

ach

o qu

e o

te

ma

da ta

rde

deve

ria

ser

cultu

ra, a

rte

e es

port

e. O

ref

orço

dev

eria

oco

rrer

dua

s ve

zes

e o

rest

ante

dev

eria

ser

art

e, d

ança

, qu

e se

ja m

uito

dif

eren

ciad

o pa

ra

cativ

ar o

s al

unos

. Ess

e é

o au

ge. A

gen

te p

reci

sa d

isso

.

Ach

a qu

e a

tard

e o

trab

alho

dev

eria

ser

co

m a

rte,

cul

tura

e e

spor

te.

Dev

eria

ter

tam

bém

ref

orço

dua

s ve

zes

por

sem

ana.

(“E

stou

de

acor

do c

om

a en

trev

ista

. A

cho

que

é is

so

mes

mo.

E

stou

co

m

espe

ranç

a de

tr

abal

har

ano

que

vem

aq

ui n

a es

cola

.”)

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133

Apê

ndic

e II

– E

ntre

vist

a P

rofe

ssor

a R

osa

Ent

revi

stad

a: P

rofa

. Ros

a (P

A2)

- P

rofe

ssor

a da

s O

fici

nas

(Hor

a da

Lei

tura

, Ori

enta

ção

para

o E

stud

o, E

xper

iênc

ias

Mat

emát

ica

e Sa

úde

e Q

ualid

ade

de V

ida)

E

scol

a: A

T

empo

de

expe

riên

cia:

For

mad

a há

11

anos

. Já

tra

balh

ou n

o Pr

ojet

o E

scol

a da

Fam

ília

e em

out

ra e

scol

a de

tem

po i

nteg

ral.

Atu

alm

ente

, es

tá c

omo

prof

esso

ra d

as o

fici

nas

e su

bstit

ui p

rofe

ssor

es d

o cu

rríc

ulo

bási

co n

o ca

so d

e fa

ltas

e lic

ença

s.

Obs

.: A

s in

form

açõe

s en

tre

parê

ntes

es f

oram

obt

idas

na

segu

nda

entr

evis

ta.

Dep

oim

ento

E

xplic

itaçã

o do

s si

gnif

icad

os

Sent

imen

tos

apre

endi

dos

pelo

pe

squi

sado

r no

m

omen

to

da

entr

evis

ta

Situ

açõe

s in

duto

ras

Indi

cado

res

utili

zado

s pe

lo

pesq

uisa

dor

para

re

laci

oná-

los

Foi

assi

m, e

u nã

o tin

ha i

deia

do

que

faze

r, q

uand

o eu

me

form

ei n

a 8ª

sér

ie, a

s ou

tras

col

egas

iam

par

a ou

tra

esco

la,

tinha

que

pre

star

ves

tibu

linh

o pa

ra a

s

esco

las

do e

stad

o. A

min

ha m

ãe q

ueri

a qu

e eu

fos

se f

azer

CE

FAM

... A

s m

inha

s co

lega

s ia

m p

ara

outr

a es

cola

e m

inha

mãe

que

ria

que

eu f

izes

se C

EFA

M.

Ach

ava

que

eu t

inha

que

faz

er a

lgum

cur

so t

écni

co,

mas

eu

não

quer

ia p

orqu

e m

inha

s am

igas

não

pre

tend

iam

est

udar

nes

sa e

scol

a.

Con

clus

ão,

eu f

ui u

mas

da

s pr

imei

ras

a pa

ssar

na

outr

a es

cola

e u

ma

das

últi

mas

a p

assa

r no

CE

FAM

, m

as s

ó qu

e na

quel

e an

o ab

riu

mai

s um

a tu

rma.

eu t

ive

que

entr

ar.

A m

inha

m

ãe c

ance

lou

a m

inha

mat

rícu

la n

a ou

tra

esco

la e

eu

tive

que

entr

ar e

foi

aí q

ue

com

ecei

a p

egar

gos

to p

ela

prof

issã

o.

A e

scol

ha p

rofi

ssio

nal,

inic

ialm

ente

, não

fo

i pes

soal

, foi

da

mãe

. R

elut

ou e

m e

stud

ar n

o C

EFA

M,

pois

as

cole

gas

fora

m p

ara

outr

as e

scol

as.

No

curs

o co

meç

ou a

peg

ar g

osto

pel

a pr

ofis

são.

Inic

ialm

ente

, se

ntiu

-se

inse

gura

. O

rgul

ho.

Fala

r co

mo

foi

a su

a es

colh

a.

Por

ter

esco

lhid

o a

prof

issã

o de

pr

ofes

sora

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

ince

rtez

a qu

anto

ao

fa

lar

de c

omo

foi a

sua

es

colh

a/pa

lavr

as

do

rela

to.

Exp

ress

ão

faci

al

e br

ilho

nos

olho

s.

Se e

u di

sser

que

é f

ácil,

não

é.

É c

ansa

tivo

. É

bem

can

sati

vo.

O d

ia t

odo

no

mes

mo

luga

r é

com

plic

ado.

É

m

uito

di

fíci

l, se

o tiv

er

uma

ativ

idad

e di

vers

ific

ada,

se

não

tive

r um

tem

po p

ara

desc

ansa

r é

difí

cil.

Das

7 à

s 17

hor

as.

Porq

ue n

ós j

á ér

amos

adu

ltas,

se

quis

ésse

mos

dar

um

a vo

lta e

ra p

erm

itid

o.

Tín

ham

os l

iber

dade

de

sair

da

esco

la, p

odía

mos

alm

oçar

na

casa

de

um a

mig

o,

faze

r um

alm

oço

com

unitá

rio.

Hav

ia c

olch

onet

es q

ue a

gen

te p

oder

ia u

tiliz

ar

para

des

cans

ar, n

ão e

ram

suf

icie

ntes

par

a to

dos,

mas

nós

rev

ezáv

amos

. N

o ca

so d

os n

osso

s al

unos

, ele

s nã

o tê

m e

ssa

liber

dade

, ob

riga

tori

amen

te e

les

têm

que

per

man

ecer

aqu

i no

int

erva

lo...

Fic

ar o

dia

inte

iro

é pe

sado

, mas

não

é

ruim

, por

que

enqu

anto

ele

s po

deri

am e

star

na

rua,

est

ão d

entr

o da

esc

ola.

Não

é

ruim

, mas

tem

que

ter

uma

estr

utur

a.

Ao

fala

r do

C

EFA

M,

sua

prim

eira

ex

peri

ênci

a de

esc

ola

inte

gral

, rel

atou

as

difi

culd

ades

. É

pre

ciso

ter

ati

vida

des

dive

rsif

icad

as e

te

mpo

par

a o

desc

anso

. T

inha

lib

erda

de

para

sa

ir,

o qu

e nã

o ac

onte

ce c

om a

s cr

ianç

as, p

ois

prec

isam

pe

rman

ecer

dur

ante

o p

erío

do d

e al

moç

o na

esc

ola.

Fi

car

o di

a to

do n

a es

cola

pod

e nã

o se

r ru

im,

depe

nde

da e

stru

tura

. Pe

rman

ecer

na

esc

ola

é m

elho

r do

que

fic

ar n

a ru

a.

Sent

e-se

pre

ocup

ada.

Po

r en

tend

er

as

difi

culd

ades

do

s al

unos

em

per

man

ecer

o

dia

inte

iro

na e

scol

a,

pois

vi

venc

iou

essa

si

tuaç

ão n

o C

EFA

M.

Tom

de

vo

z m

ovim

ento

u a

cabe

ça,

conf

irm

ando

o

seu

rela

to.

Pala

vras

do

re

lato

ref

orça

m a

ide

ia

de d

ific

ulda

de.

Eu

ente

ndo

que

de m

anhã

ou

à ta

rde,

ind

epen

dent

e de

se

a au

la é

reg

ular

ou

é pr

ojet

o, é

pro

cess

o de

apr

endi

zage

m. E

les

faze

m a

s di

scip

linas

esp

ecíf

icas

pel

a m

anhã

e a

tar

de p

roje

to.

É b

om,

mas

ach

o qu

e te

m q

ue p

arar

e p

ensa

r na

es

trut

ura.

As

turm

as s

ão d

ifer

ente

s, n

em s

empr

e co

nseg

uem

aco

mpa

nhar

o

proj

eto.

Tem

tur

ma

que

prec

isa

de r

efor

ço.

Às

veze

s dã

o ên

fase

em

rea

liza

r o

proj

eto,

mas

ser

á qu

e é

isso

que

o a

luno

pre

cisa

. T

em a

luno

que

pre

cisa

de

refo

rço.

Em

min

ha o

pini

ão, a

pri

orid

ade

deve

ser

a a

pren

diza

gem

do

alun

o. À

s ve

zes

há n

eces

sida

de d

e re

forç

o. N

o pe

ríod

o da

tard

e, s

eria

o p

erío

do p

ara

isso

,

Reg

ular

ou

pr

ojet

o é

proc

esso

de

ap

rend

izag

em

O

proj

eto

não

cons

egue

at

ende

r as

ne

cess

idad

es

espe

cífi

cas

de

algu

mas

cr

ianç

as.

Tem

cr

ianç

a qu

e pr

ecis

a de

re

forç

o.

A p

rior

idad

e de

ve s

er o

apr

endi

zado

do

alun

o.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Pelo

fa

to

de

mui

tas

veze

s o

proj

eto

não

aten

der

às

nece

ssid

ades

de

todo

s os

alu

nos

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

Page 147: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

134

não

é ex

clui

r o

alun

o, n

ão é

iss

o, m

as p

ensa

r na

nec

essi

dade

daq

uele

alu

no. O

s pr

ofes

sore

s da

tar

de p

oder

iam

mon

tar

uma

turm

a de

ref

orço

, um

a tu

rma

que

prec

isa

de o

utra

ate

nção

. À

s ve

zes,

nece

ssid

ade.

Com

a p

assa

gem

do

alun

o se

m r

epet

ição

, tem

alu

no q

ue p

reci

sa s

er r

etid

o, e

le v

ai p

ara

aque

la t

urm

a, m

as

prec

isar

á de

um

tra

balh

o, p

ara

pode

r re

cupe

rar

o co

nteú

do d

o an

o an

teri

or.

O

prof

esso

r da

ta

rde

pode

ria

ajud

á-lo

. Se

rá n

eces

sári

o se

pará

-lo

talv

ez,

mas

po

deri

a aj

udar

es

se

alun

o.

Em

m

inha

op

iniã

o el

e fi

ca

mai

s ca

nsad

o e

desi

nter

essa

do p

orqu

e nã

o ac

ompa

nha

a tu

rma.

Ser

ia f

unda

men

tal,

em m

inha

op

iniã

o. N

a sa

la e

sse

aten

dim

ento

não

é p

ossí

vel,

pois

ele

tem

que

faz

er a

s m

esm

as a

tivi

dade

s qu

e os

col

egas

, se

não

voc

ê es

tá e

xclu

indo

e p

assa

a n

ão

acom

panh

ar,

porq

ue n

ão e

stá

no m

esm

o ní

vel

dos

cole

gas,

mas

a c

ulpa

é d

o ou

tro

prof

esso

r, n

ão.

A c

ulpa

não

é d

o pr

ofes

sor.

Eu

acho

que

iss

o se

ria

fund

amen

tal.

À t

arde

ser

ia u

m b

om m

omen

to p

ara

aten

der

às

nece

ssid

ades

es

pecí

fica

s de

sses

al

unos

, is

so

não

sign

ific

a ex

clus

ão,

mas

si

m

pens

ar

na

nece

ssid

ade

do a

luno

. M

uita

s ve

zes

o ca

nsaç

o e

o de

sint

eres

se

ocor

rem

pel

o al

uno

não

acom

panh

ar a

s at

ivid

ades

. N

a sa

la

do

regu

lar

todo

s os

al

unos

de

vem

rea

lizar

as

mes

mas

tar

efas

par

a qu

e nã

o se

sin

tam

exc

luíd

os.

A

culp

a do

al

uno

não

acom

panh

ar

a tu

rma

não

é do

pro

fess

or.

(“A

cho

que

não

foi

bem

iss

o qu

e eu

qui

s di

zer.

Eu

quis

di

zer

que

às

veze

s nã

o ad

iant

a “p

uxar

” pe

lo

alun

o se

el

e nã

o te

m

inte

ress

e”.)

Eu

acho

ass

im,

das

esco

las

de t

empo

int

egra

l qu

e eu

con

heço

não

mui

ta

dife

renç

a en

tre

elas

. E

las

são

pare

cida

s, u

ma

tem

um

a co

isa

e ou

tra

não

tem

ou

tra,

aca

ba e

quili

bran

do,

mas

na

esco

la r

egul

ar(c

urrí

culo

bás

ico)

pas

sa a

ser

di

fere

nte,

a c

rian

ça v

ai e

mbo

ra,

o pr

ofes

sor

vai

embo

ra,

vem

out

ra t

urm

a à

tard

e. J

á na

int

egra

l a

turm

a es

tá o

tem

po t

odo

ali.

Ach

o, c

omo

eu p

osso

fal

ar

que

por

ser

proj

eto,

as

pess

oas,

não

é s

ó a

dire

ção,

as

mãe

s ta

mbé

m,

esto

u in

clui

ndo

todo

s nã

o ve

em c

omo

prof

esso

r o

prof

esso

r da

tar

de, n

ão v

eem

com

o al

uno

o al

uno

da t

arde

. E

les

não

veem

o p

roje

to c

omo

aula

. A

ula

se t

em d

e m

anhã

no

regu

lar,

a t

arde

é s

ó pr

ojet

o. É

dif

ícil,

têm

pai

s qu

e en

xerg

am d

esse

m

odo,

inc

lusi

ve c

oleg

as d

e tr

abal

ho q

ue e

nxer

gam

des

se j

eito

. N

ão e

stou

cr

itica

ndo

ning

uém

. A

s pe

ssoa

s nã

o ve

em c

omo

prof

esso

r o

prof

issi

onal

da

tard

e.

Tem

m

ãe

que

vem

bu

scar

o

filh

o à

tard

e,

porq

ue

ele

tem

ou

tras

at

ivid

ades

, po

is c

om o

pro

jeto

ela

não

se

preo

cupa

, é

proj

eto,

ele

veio

ao

regu

lar

(ens

ino

bási

co).

Se

ele

não

tem

res

pons

abili

dade

pel

a m

anhã

, el

e nã

o te

tam

bém

re

spon

sabi

lidad

e à

tard

e.

Incl

usiv

e te

m

pais

e

cole

gas

que

enxe

rgam

ass

im.

Tem

com

entá

rios

que

iss

o um

dia

vai

aca

bar.

Fal

ta e

stru

tura

, eu

con

cord

o, m

as f

alta

o o

lhar

das

pes

soas

. Se

exi

ste

é po

rque

tem

um

a ne

cess

idad

e.

Fize

ram

es

tudo

s.

São

os

mes

mos

al

unos

, os

pr

ofes

sore

s sã

o fo

rmad

os e

est

ão t

rans

miti

ndo

cont

eúdo

s, o

s al

unos

tam

bém

est

ão t

rans

miti

ndo

conh

ecim

ento

s. P

ara

nós

prof

esso

res,

é u

ma

troc

a. O

pro

jeto

pas

sa a

dei

xar

de

ser

impo

rtan

te p

or c

ausa

dis

so.

Nas

reu

niõe

s de

pai

s, o

que

val

e é

a pr

ofes

sora

da

man

hã.

Pare

ce q

ue

não

é tã

o im

port

ante

o p

rofe

ssor

da

tard

e. A

cho

que

prec

isar

iam

trab

alha

r is

so m

elho

r.

Não

mui

ta d

ifer

ença

ent

re a

s E

TIs

, m

as

perc

ebe

a di

fere

nça

entr

e um

a es

cola

reg

ular

e u

ma

ET

I.

Prof

esso

r da

tard

e nã

o é

val

oriz

ado

pela

es

cola

, pa

is e

alu

nos,

o q

ue i

mpo

rta

é o

regu

lar.

A

pren

diza

gem

oc

orre

no

en

sino

sico

/reg

ular

e n

o pr

ojet

o, t

odos

são

pr

ofes

sore

s e

os a

luno

s sã

o os

mes

mos

. N

as r

euni

ões

os p

ais

proc

uram

ape

nas

o pr

ofes

sor

do e

nsin

o bá

sico

/reg

ular

, nã

o tê

m i

nter

esse

em

sab

er o

que

as

cria

nças

fa

zem

à ta

rde.

T

em c

rian

ça q

ue n

ão p

artic

ipa

todo

s os

di

as d

as o

fici

nas

da ta

rde.

E

ssas

que

stõe

s de

sval

oriz

am o

pro

jeto

. T

em p

rofe

ssor

es q

ue n

ão a

cred

itam

no

proj

eto,

mas

ela

ach

a qu

e se

o p

roje

to

exis

te é

por

que

fize

ram

est

udos

, e

ele

é ne

cess

ário

. A

cha

que

esse

ol

har

desp

rest

igia

do

sobr

e o

prof

esso

r do

pr

ojet

o pr

ecis

a m

udar

.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Ciú

mes

. Se

nte-

se f

rust

rada

.

O

prof

esso

r da

ta

rde

não

é va

lori

zado

pel

os

pais

e p

ela

esco

la.

Por

ter

prof

esso

res

que

não

acre

dita

m

no

proj

eto,

e

pelo

de

spre

stig

io

com

o

prof

esso

r do

pro

jeto

.

Tom

de

vo

z e

expr

essã

o fa

cial

de

in

satis

façã

o e

dece

pção

. T

om

de

voz

e ex

pres

são

faci

al

de

insa

tisfa

ção

e de

cepç

ão.

Ah,

tiv

e ba

stan

te.

Tem

pro

fess

or q

ue c

onsi

dera

que

o a

luno

é a

luno

, e

o pr

ofes

sor

é pr

ofes

sor.

Eu

não

cons

igo

ver

dess

a m

anei

ra,

prin

cipa

lmen

te n

a E

TI,

a m

esm

a co

isa

que

eu v

iven

ciei

no

CE

FAM

, on

de v

ocê

pass

a a

mai

or

part

e do

dia

, pas

sa a

ser

um

a fa

míli

a. E

u pr

ocur

o pa

ssar

iss

o pa

ra e

les,

por

que

Fica

r o

dia

todo

na

es

cola

ge

ra

um

vínc

ulo

mai

or

entr

e o

prof

esso

r e

o al

uno,

mai

s pr

oxim

idad

e e

conf

ianç

a.

O

prof

esso

r ac

aba

vive

ncia

ndo

com

Prox

imid

ade

e co

nfia

nça.

Perm

anec

er o

dia

tod

o na

es

cola

es

tabe

lece

um

ncul

o m

aior

en

tre

alun

o e

Tom

de

vo

z em

ocio

nado

.

Page 148: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

135

eu v

iven

ciei

iss

o. S

e vo

cê t

em q

ue c

hora

r, v

ai c

hora

r na

esc

ola,

se

você

vai

rir

va

i ri

r na

esc

ola.

Não

tem

com

o fi

car

de c

ara

fech

ada

sem

o o

utro

per

cebe

r.

Voc

ê pa

ssa

a co

nhec

er m

elho

r o

alun

o. Q

uand

o el

e en

tra

pela

por

ta v

ocê

já s

abe

o qu

e ac

onte

ceu.

O a

luno

pas

sa a

ter

um

a co

nfia

nça

mui

to g

rand

e em

voc

ê.

Voc

ê pa

ssa

a es

tabe

lece

r um

vín

culo

mai

or.

A g

ente

par

ticip

a do

den

te q

ue

caiu

, às

vez

es m

ais

do q

ue a

fam

ília,

por

que

para

mui

tos

pais

não

int

eres

sa

perg

unta

r, é

rar

o o

caso

de

resp

onsá

veis

que

per

gunt

am c

omo

foi

o di

a. E

u ti

ve

uma

cria

nça

que

viu

a m

ãe s

e m

atar

, que

m c

uido

u fo

i a

mad

rinh

a, q

ue p

ara

ela

já e

ra c

omo

uma

mãe

, po

is s

empr

e cu

idou

del

a. P

ara

uma

cria

nça

de 7

ano

s,

isso

é c

ompl

icad

o. N

ão t

em c

omo

não

esta

bele

cer

um v

íncu

lo. A

cri

ança

con

ta

tudo

par

a vo

cê p

edin

do c

olo,

dep

ois

te d

á um

bilh

ete

no d

ia d

as m

ães

porq

ue

fica

a m

aior

par

te c

om v

ocê.

alun

o si

tuaç

ões

que

gera

lmen

te s

eria

m

vive

ncia

das

pelo

s pa

is.

A

prof

esso

ra

cons

ider

a qu

e a

mai

or

part

e do

s pa

is n

ão d

emon

stra

int

eres

se

em s

aber

com

o fo

i o d

ia n

a es

cola

.

Sent

e-se

fru

stra

da.

prof

esso

r.

Fala

r qu

e a

mai

oria

do

s pa

is

não

se

inte

ress

a em

sab

er d

a cr

ianç

a.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção/

dece

pção

.

Em

m

inha

op

iniã

o,

isso

ac

onte

ce

quan

do

não

é tr

abal

hado

. N

ão

adia

nta

trab

alha

r o

cida

dão

críti

co,

sem

tra

balh

ar o

lad

o se

ntim

enta

l. H

oje

tem

mui

ta

viol

ênci

a. H

oje

tem

bri

ga d

e m

enin

as,

alun

o co

m a

luno

, ho

je v

ocê

vê m

enin

o m

ais

cuid

ado

do q

ue a

s m

enin

as.

As

cois

as m

udam

, m

oder

nida

de.

Inve

rter

am-

se o

s pa

péis

. Ess

e ví

ncul

o qu

e cr

ia é

impo

rtan

te.

Ont

em p

egue

i um

a al

unin

ha c

hora

ndo,

tin

ha b

riga

do c

om a

col

ega,

não

sab

ia

por

que

ela

não

quer

ia m

ais

fala

r co

m e

la,

mas

ela

est

ava

disp

osta

a f

alar

com

am

iga.

Fui

con

vers

ar c

om a

col

ega,

que

tam

bém

não

sab

ia p

or q

ue n

ão q

ueri

a fa

lar

com

ela

. Tem

um

lado

sen

timen

tal q

ue p

erce

bem

mai

s.

Ace

itam

um

a in

clus

ão

mai

s fa

cilm

ente

do

qu

e na

es

cola

re

gula

r.

Tiv

e ex

peri

ênci

a na

inc

lusã

o de

dua

s cr

ianç

as n

a ou

tra

esco

la.

Pela

man

hã e

les

freq

uent

avam

a a

ula

espe

cial

e à

tard

e pa

rtic

ipav

am d

o pr

ojet

o. E

ra m

uito

ric

o o

trab

alho

, os

alu

nos

acei

tava

m,

não

tinha

m e

xclu

são,

inc

lusi

ve e

m r

elaç

ão a

o pr

econ

ceit

o de

raç

a.

É m

uito

dif

ícil

prec

once

ito

na e

scol

a de

tem

po i

nteg

ral,

mui

to d

ifíc

il, t

alve

z no

pr

imei

ro a

no,

depo

is e

les

acab

am s

endo

mai

s to

lera

ntes

. D

epoi

s, n

ão t

em

japo

nês,

neg

ro, é

tudo

igua

l.

É i

mpo

rtan

te t

raba

lhar

o l

ado

emoc

iona

l do

alu

no.

A

mod

erni

dade

tr

ouxe

m

udan

ças

nas

rela

ções

e n

os p

apéi

s. H

oje

os a

luno

s fa

lam

de

ig

ual

para

ig

ual

com

o

prof

esso

r.

Acr

edit

a qu

e é

impo

rtan

te

o ví

ncul

o en

tre

o al

uno

e o

prof

esso

r.

Acr

edit

a qu

e na

ET

I os

alu

nos

perc

ebem

m

elho

r o

lado

se

ntim

enta

l, ac

eita

m

mel

hor

os a

luno

s de

inc

lusã

o e

não

prec

once

ito

de

raça

, se

ndo

mai

s to

lera

ntes

. Q

uest

ione

i qu

e na

ou

tra

esco

la,

a op

iniã

o fo

i di

fere

nte.

(

Ela

di

sse

que

ness

a es

cola

e n

a ou

tra

em q

ue

trab

alho

u as

cr

ianç

as

são

mui

to

rece

ptiv

as a

os n

ovos

. Con

tou

incl

usiv

e o

caso

de

uma

alun

a, q

ue i

ngre

ssou

na

séri

e er

rada

e f

oi m

uito

bem

rec

ebid

a pe

las

turm

as.

Ach

a qu

e de

pend

e ta

mbé

m d

e co

mo

o pr

ofes

sor

trab

alha

o

grup

o de

alu

nos.

)

Sent

e-se

pre

ocup

ada.

Se

nte-

se c

onte

nte.

Ao

fala

r da

im

port

ânci

a de

se

tr

abal

har

o em

ocio

nal

do

alun

o e

com

as

m

udan

ças

que

estã

o oc

orre

ndo

no m

undo

. A

o m

enci

onar

que

na

ET

I as

cr

ianç

as

acei

tam

m

elho

r os

al

unos

de

in

clus

ão

e sã

o m

enos

pr

econ

ceitu

osos

.

Fran

ziu

a te

sta,

ex

pres

são

faci

al

indi

cand

o es

tar

pens

ativ

a.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão/s

orri

so.

Tem

os

prob

lem

as

na

estr

utur

a.

Na

séri

e C

, dá

pa

ra p

erce

ber

que

não

mis

tura

ram

os

alun

os,

ali

colo

cara

m a

s cr

ianç

as c

om d

ific

ulda

des.

Em

min

ha

opin

ião,

dev

eria

m t

er s

epar

ado.

E

xist

ia u

ma

3ª C

, m

as o

s al

unos

que

est

avam

co

m d

ific

ulda

de f

oram

tod

os c

oloc

ados

nes

sa s

ala.

Voc

ê pr

esen

ciou

o t

raba

lho

nas

quar

tas

séri

es, v

ocê

viu,

não

é m

esm

o? L

á co

loca

ram

dis

léxi

cos,

rep

eten

tes,

se

tiv

esse

m m

istu

rado

s o

trab

alho

ser

ia m

elho

r. A

pan

ela

com

eça

a cr

iar

uma

resi

stên

cia,

o q

ue d

ific

ulta

o tr

abal

ho.

prob

lem

as n

a sa

la C

, po

r te

r si

do

uma

sala

mon

tada

, na

qua

l co

loca

ram

al

uno

repe

tent

e, d

islé

xico

s, e

ntre

out

ros.

Sent

e-se

fr

ustr

ada.

(D

isse

“h

oje

esto

u m

uito

or

gulh

osa

pelo

de

senv

olvi

men

to

que

eles

tive

ram

”.)

Ao

men

cion

ar

que

colo

cara

m

todo

s os

al

unos

co

m

difi

culd

ades

na

mes

ma

sala

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

indi

gnaç

ão.

Ah,

é d

ifíc

il fa

lar

se a

pren

dem

mai

s ou

não

. Se

for

ver

, na

par

te d

a m

anhã

é o

en

sino

bás

ico,

que

é i

gual

ao

das

outr

as e

scol

as.

Mud

a à

tard

e, q

ue t

em o

A

dif

eren

ça n

a ap

rend

izag

em é

que

na

ET

I te

m o

pro

jeto

que

é a

lgo

a m

ais,

Page 149: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

136

proj

eto,

que

é a

lgo

a m

ais,

dif

eren

ciad

o. E

u, p

or e

xem

plo,

nas

qua

rtas

sér

ies,

es

tou

trab

alha

ndo

com

a m

itol

ogia

, é a

lgo

dife

renc

iado

. Em

min

ha o

pini

ão, n

ão

porq

ue à

tard

e é

mai

s lig

ht.

Ai

vai

de o

alu

no q

uere

r ap

rend

er o

u nã

o, p

or o

utro

lad

o o

inte

ress

e ex

iste

de

algu

ns,

mas

o ca

nsaç

o, p

orqu

e sa

i m

uito

ced

o de

cas

a. A

inda

que

nes

sa

esco

la e

u nã

o ac

ho q

ue e

les

saem

tão

ced

o, d

ifer

ente

da

outr

a es

cola

. H

á di

fere

nça

na c

lient

ela

dess

a es

cola

e d

a ou

tra

em q

ue e

u tr

abal

hei.

Com

para

ndo

a cl

ient

ela,

aqu

i te

m m

uita

s pe

ruas

esc

olar

es,

na o

utra

não

hav

ia.

As

cria

nças

vi

nham

de

luga

res

mui

to d

ista

ntes

. Q

uand

o er

am t

rês

hora

s da

tar

de,

eles

es

tava

m c

ansa

dos,

a ú

ltim

a au

la n

ão r

endi

a, e

ra m

elho

r le

r um

livr

o, f

azer

rod

a.

As

cria

nças

saí

am m

uito

ced

o de

cas

a. T

em t

urm

a qu

e é

mel

hor

dar

uma

rela

xada

apó

s o

alm

oço,

aba

ixar

os

ânim

os. T

em g

ente

que

ach

a qu

e um

a ho

ra

de a

lmoç

o é

mui

ta c

oisa

, nã

o se

ria

se t

ives

sem

um

a at

ivid

ade

adeq

uada

par

a el

es f

azer

em, m

as c

oloc

ar 4

00 c

rian

ças

para

três

insp

etor

as n

ão d

á, p

reci

sava

de

uma

ativ

idad

e di

fere

ncia

da c

om p

rofi

ssio

nal e

spec

ializ

ado.

Tem

sem

pre

um q

ue

se m

achu

ca, o

utro

que

bri

ga. E

m m

atér

ia d

e ap

rend

izag

em é

dif

eren

te à

tard

e.

dife

renc

iado

. A

ap

rend

izag

em

depe

nde

tam

bém

do

al

uno

quer

er.

O c

ansa

ço p

reju

dica

a a

pren

diza

gem

. T

em

alun

o qu

e m

ora

long

e e

acor

da

cedo

. É

pre

ciso

org

aniz

ar a

tivi

dade

s di

fere

ntes

co

nfor

me

o gr

upo

e o

horá

rio.

N

ão a

cha

uma

hora

mui

to t

empo

par

a o

alm

oço,

o

que

falta

é

uma

ativ

idad

e ad

equa

da.

Hoj

e sã

o tr

ês i

nspe

tora

s pa

ra

400

cria

nças

.

Em

min

ha o

pini

ão, á

tar

de é

mai

s lig

ht .

Á t

arde

não

se

trab

alha

, por

exe

mpl

o,

com

os

cont

eúdo

s do

SA

RE

SP.

Se b

em q

ue n

a ou

tra

esco

la,

nós

fize

mos

um

co

mbi

nado

ent

re o

s pr

ofes

sore

s co

m a

s tu

rmas

da

terc

eira

e q

uart

a sé

rie.

Eu

por

exem

plo,

tra

balh

ava

com

as

cria

nças

que

pre

cisa

vam

de

refo

rço

de p

ortu

guês

, tin

ha u

m c

oleg

a qu

e tr

abal

hava

com

a j

orna

da d

e m

atem

átic

a, e

tin

ham

os

prof

esso

res

de a

rtes

e e

duca

ção

físi

ca. E

ra u

m tr

abal

ho e

spec

ific

o, p

ara

ajud

ar o

al

uno.

O í

ndic

e de

ssa

esco

lha

mel

horo

u m

uito

. É

mel

hor

tam

bém

par

a o

prof

esso

r, f

ica

mai

s le

ve.

Eu,

por

exe

mpl

o, t

enho

aqu

i qu

atro

dis

cipl

inas

par

a ca

da t

urm

a, d

uas

turm

as.

Voc

ê tr

abal

ha c

om a

int

erdi

scip

linar

idad

e, m

as h

á m

omen

tos

que

você

tem

que

foc

ar. O

ren

dim

ento

do

próp

rio

prof

esso

r m

elho

ra

mui

to q

uand

o há

ess

a se

para

ção.

Na

outr

a es

cola

, fi

zera

m u

m c

ombi

nado

en

tre

os

prof

esso

res.

C

ada

um

fico

u re

spon

sáve

l po

r um

pro

jeto

(re

forç

o de

po

rtug

uês,

jo

rnad

a de

m

atem

átic

a)

Tin

ham

ta

mbé

m

os

prof

esso

res

espe

cífi

cos

de a

rtes

e e

duca

ção

físi

ca. O

re

sulta

do f

oi m

elho

r.

A e

ntre

vist

ada

tem

qua

tro

disc

iplin

as e

du

as t

urm

as,

proc

ura

trab

alha

r co

m a

in

terd

isci

plin

arid

ade,

m

as

as

veze

s pr

ecis

a fo

car.

Sent

e-se

pre

ocup

ada.

Po

r na

out

ra e

scol

a te

r um

a di

reçã

o es

pecí

fica

e

ness

a te

r qu

e da

r co

nta

de

vári

as

disc

iplin

as.

Mov

imen

taçã

o co

rpor

al

indi

cand

o ce

rto

incô

mod

o.

É b

em d

ifer

ente

ser

pro

fess

ora

em u

ma

ET

I. A

qui

esto

u há

um

ano

. Vou

fal

ar

da e

xper

iênc

ia d

a ou

tra

esco

la, n

a qu

al a

com

panh

ei u

ma

turm

a de

sde

o se

gund

o an

o. E

ra u

ma

turm

a te

rrív

el,

era

um d

esaf

io.

Não

que

ria

pega

r es

sa t

urm

a no

ou

tro

ano,

mas

não

tev

e je

ito,

aca

bei

pega

ndo.

Ele

s m

elho

rara

m m

uito

. N

a fo

rmat

ura

foi

a qu

e m

ais

chor

ei.

Um

a tu

rma

que

evol

uiu

dem

ais.

Foi

um

tr

abal

ho

que

a ge

nte

se

orgu

lha.

T

raba

lham

os

cida

dani

a,

trab

alha

mos

co

nteú

dos.

Ele

s se

tra

nsfo

rmar

am e

m c

idad

ãos

críti

cos,

não

ten

ho p

reoc

upaç

ão

com

ele

s na

qui

nta

séri

e. M

esm

a co

isa

da 4

ª C

mai

s tr

abal

ho,

a tu

rma

é di

fere

ncia

da a

té n

o ap

rend

izad

o, m

as h

oje

eu te

nho

orgu

lho.

Tem

gen

te q

ue n

ão

vê i

sso.

Hoj

e te

nho

alun

os s

enta

dos,

que

dão

bom

dia

, no

com

port

amen

to.

No

cont

eúdo

não

. Tal

vez

isso

sej

a po

uco

para

alg

uns,

mas

par

a m

im é

bas

tant

e. E

ra

uma

turm

a qu

e fa

zia

ques

tão

de p

irra

çar

os c

oleg

as.

Tal

vez

se a

lgun

s ti

vess

em

sido

sep

arad

os, s

eria

dif

eren

te.

É d

ifer

ente

ser

pro

fess

or d

e um

a E

TI.

N

a ou

tra

esco

la a

com

panh

ou u

ma

turm

a po

r tr

ês a

nos,

con

segu

iu ju

ntam

ente

com

ou

tros

pro

fess

ores

que

ess

es a

luno

s se

to

rnas

sem

cid

adão

s cr

ítico

s.

Fica

org

ulho

sa c

om o

pro

gres

so q

ue a

C j

á te

ve,

não

em c

onte

údo,

mas

em

co

mpo

rtam

ento

. A

gora

ta

mbé

m

está

or

gulh

osa

em

rela

ção

ao

apre

ndiz

ado

do

cont

eúdo

. (“

No

SA

RE

SP e

les

se m

ostr

aram

mui

to

com

prom

etid

os”.

Dis

se ta

mbé

m q

ue e

stá

conf

iant

e no

res

ulta

do.)

Sent

e-se

des

afia

da.

Sent

e-se

org

ulho

sa.

Por

trab

alha

r em

um

a E

TI.

Pe

lo

trab

alho

qu

e re

aliz

ou

na

outr

a es

cola

e p

elo

trab

alho

qu

e te

m f

eito

com

a 4

ª sé

rie

C.

Exp

ress

ão

faci

al

de

empo

lgaç

ão.

Exp

ress

ão

faci

al

de

orgu

lho.

Prim

eira

coi

sa s

eria

cui

dar

da e

stru

tura

fís

ica.

No

CE

FAM

tín

ham

os u

ma

supe

rest

rutu

ra.

Não

é s

ó um

a qu

estã

o de

esp

aço,

dep

ende

da

quan

tidad

e de

al

unos

. U

ma

cois

a po

siti

va n

essa

esc

ola

que

não

tinha

na

outr

a é

o in

terv

alo

sepa

rado

e o

rev

ezam

ento

no

refe

itór

io n

a ho

ra d

o al

moç

o. A

sep

araç

ão n

os

Suge

stõe

s pa

ra

mel

hori

a do

pr

ojet

o:

mel

hora

r a

estr

utur

a fí

sica

, m

ante

r o

inte

rval

o se

para

do,

real

izar

en

cont

ros

entr

e os

pr

ofes

sore

s da

s E

TIS

,

Sent

e-se

esp

eran

çosa

. A

o fa

lar

das

suas

su

gest

ões

de m

elho

rias

pa

ra o

pro

jeto

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

expe

ctat

iva

e em

polg

ação

.

Page 150: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

137

inte

rval

os d

á um

a di

fere

nça

mui

to g

rand

e. N

o al

moç

o, a

s pr

imei

ras

séri

es

com

eçam

o a

lmoç

o m

ais

cedo

. Dep

ois

fica

m to

dos

junt

os.

Out

ra s

uges

tão

é a

real

izaç

ão d

e um

enc

ontr

o co

m p

rofe

ssor

es d

e ou

tras

ET

Is.

Se v

ocê

larg

a o

proj

eto

você

tem

um

ade

ndo

na s

ua f

icha

, no

out

ro a

no v

ocê

está

res

trit

a. S

ó po

de t

roca

r pa

ra o

utra

esc

ola

de t

empo

int

egra

l, is

so d

ific

ulta

um

pou

co.

reor

gani

zar

o ho

rári

o do

alm

oço

(esp

aço

e at

ivid

ades

).

É d

ifíc

il sa

ir d

o pr

ojet

o pa

ra o

reg

ular

, po

is

é fe

ito

um

aden

do

na

fich

a do

pr

ofes

sor.

Out

ra c

oisa

que

dev

eria

ser

mud

ada

é a

ques

tão

da n

ota.

No

perí

odo

da t

arde

o te

m n

ota,

tan

to q

ue o

s m

eus

alun

os n

ão s

abem

que

não

tem

not

a. E

u fi

z um

a co

mbi

naçã

o co

m a

pro

fess

ora

da m

anhã

.

Na

outr

a es

cola

não

dei

xáva

mos

iss

o tr

ansp

arec

er,

quer

endo

ou

não

a no

ta é

um

a m

anei

ra d

e di

reci

onar

. O a

luno

sen

te a

res

pons

abili

dade

, fic

a es

pert

o.

Às

veze

s vo

cê q

uer

dar

uma

aula

dif

eren

ciad

a e

o al

uno

perg

unta

que

hor

as

real

men

te a

aul

a va

i com

eçar

. Obr

igat

oria

men

te te

m q

ue te

r lo

usa

e ca

dern

o.

Tem

tu

rma

que

é di

fíci

l ac

eita

r. M

esm

o co

m

as

quar

tas

séri

es,

eles

qu

estio

nara

m m

uito

,,que

riam

sab

er p

or q

ue e

les

tinh

am q

ue e

stud

ar a

mito

logi

a.

Voc

ê an

tes

tem

que

faz

er u

ma

cons

cien

tizaç

ão.

Não

, só

os

coor

dena

dore

s e

dire

tore

s.

O p

apel

da

dire

ção

é fu

ndam

enta

l, é

com

plic

ado,

qua

ndo

há r

esis

tênc

ia d

o di

reto

r, o

que

não

enc

ontr

o aq

ui.

Tem

dir

etor

que

não

con

cord

a, m

as a

braç

a a

caus

a, is

so f

acili

ta o

trab

alho

.

Os

alun

os n

ão s

abem

que

as

ofic

inas

não

m

nota

s.

É

prec

iso

que

seja

m

atri

buíd

as n

otas

aos

alu

nos

para

que

ele

s fi

quem

esp

erto

s e

resp

onsá

veis

. Pa

ra o

s al

unos

, a a

ula

prec

isa

de l

ousa

e

cade

rno.

A

pres

enta

m

difi

culd

ade

de

acei

tar

uma

aula

di

fere

ncia

da.

Para

tr

abal

har

com

m

itol

ogia

, te

ve

que

co

nsci

entiz

ar o

s al

unos

. Q

uand

o o

dire

tor

abra

ça a

cau

sa, f

acili

ta

o tr

abal

ho d

o pr

ofes

sor.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Ao

men

cion

ar q

ue o

s al

unos

pr

ecis

am

rece

ber

nota

s pa

ra s

e se

ntir

em

resp

onsá

veis

e

de

que

eles

m

difi

culd

ade

para

ac

eita

r um

a au

la

dife

renc

iada

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

Eu

acho

que

as

cria

nças

se

sent

em b

em a

qui n

a es

cola

. Não

con

sigo

fic

ar lo

nge

dos

alun

os.

Tem

um

a lig

ação

. N

ão v

ejo

tant

os p

robl

emas

. T

em c

oleg

as d

o Fu

ndam

enta

l II

que

con

tam

mui

tos

prob

lem

as.

Para

os

men

ores

, nã

o ve

jo

prob

lem

a. E

u ac

ho q

ue e

les

se s

ente

m s

egur

os,

se s

ente

m a

colh

idos

, m

as v

ou

ser

sinc

era

depe

nde

dos

resp

onsá

veis

.

Ach

a qu

e os

alu

nos

se s

ente

m b

em n

a es

cola

. Pa

ra

os

men

ores

, a

esco

la

repr

esen

ta

segu

ranç

a e

acol

him

ento

A

cred

ita

que

a re

laçã

o do

s al

unos

com

a

esco

la d

epen

de d

o in

cent

ivo

dos

pais

.

Sent

e-se

fel

iz

Ao

com

enta

r co

mo

os

alun

os

se

sent

em

na

esco

la.

Exp

ress

ão

faci

al

de

aleg

ria/

sorr

iso.

A i

nteg

raçã

o só

oco

rre

no p

lane

jam

ento

ou

no r

epla

neja

men

to.

Faz

falta

, m

as

eu t

enho

con

tato

com

as

prof

esso

ras

da m

anhã

. Com

as

prof

esso

ras

das

terc

eira

eu

ten

ho u

m c

ader

no d

e co

mun

icaç

ão e

com

as

das

quar

tas,

às

veze

s a

gent

e co

nver

sa

pelo

te

lefo

ne.

A

inte

rmed

iaçã

o oc

orre

ta

mbé

m

atra

vés

da

coor

dena

dora

, m

as v

ejo

pelo

s m

eus

cole

gas,

o te

m l

igaç

ão n

enhu

ma.

São

du

as e

scol

as.

Ele

s es

quec

em q

ue é

um

a es

cola

de

dia

inte

iro.

Dua

s es

cola

s nu

ma

só.

Eu

digo

que

eu

sou

prof

esso

ra d

e um

a es

cola

de

tem

po i

nteg

ral,

mas

qu

e tr

abal

ho à

tard

e.

A i

nteg

raçã

o en

tre

o re

gula

r e

o pr

ojet

o só

oco

rre

no in

ício

do

ano

no p

erío

do d

e pl

anej

amen

to.

A

coor

dena

dora

at

ua

com

o in

term

edia

dora

dos

doi

s tu

rnos

. Q

uand

o ne

cess

ário

a p

rofe

ssor

a co

ntat

a di

reta

men

te

as

prof

esso

ras

do

ensi

no

bási

co/r

egul

ar.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Pelo

fa

to

de

a in

tegr

ação

en

tre

o en

sino

bás

ico/

regu

lar

e a

ofic

ina

acon

tece

r só

no

in

ício

do

an

o,

ou

seja

, no

plan

ejam

ento

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

Para

os

prof

esso

res

tam

bém

é c

ompl

icad

o.

O c

ompo

rtam

ento

mud

ou.

A

clie

ntel

a m

udou

. O

alu

no

fala

de

igu

al p

ara

o pr

ofes

sor.

A

s pr

imei

ras

e se

gund

as s

érie

s vo

cê a

inda

con

trol

a. A

gar

otad

a nã

o re

spei

ta o

s m

ais

velh

os.

Não

vej

o ta

nto

prob

lem

a co

mo

os o

utro

s pr

ofes

sore

s. T

odos

nós

tra

balh

amos

po

rque

pre

cisa

mos

, m

as a

par

tir q

ue v

ocê

assu

me

isso

com

o tr

abal

ho,

tem

que

ab

raça

r. T

em m

uito

pro

fess

or q

ue n

ão a

cred

ita.

A p

arti

r qu

e es

tá t

raba

lhan

do,

você

abr

aça

a ca

usa.

A

cred

ito

que

o pr

ofes

sor

que

vive

ncia

o d

ia t

odo,

pas

sa a

ser

dif

eren

te,

a ag

ir

Tem

mui

to p

rofe

ssor

que

não

acr

edita

no

pr

ojet

o,

mas

, se

es

trab

alha

ndo

prec

isa

abra

çar

a ca

usa.

A

cha

impo

rtan

te o

pro

fess

or v

iven

ciar

o

horá

rio

inte

gral

, ac

redi

ta

que

isso

po

deri

a m

udar

a

post

ura

dos

prof

esso

res.

Sent

e-se

des

anim

ada.

Por

com

enta

r qu

e te

m

prof

esso

r qu

e nã

o ac

redi

ta n

o pr

ojet

o.

Exp

ress

ão

faci

al

e m

udan

ça

no

tom

da

vo

z.

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138

dife

rent

e. N

o C

EFA

M o

s pr

ofes

sore

s tr

abal

hava

m e

m t

empo

int

egra

l, é

outr

a co

isa,

faz

dif

eren

ça.

O p

rofe

ssor

viv

enci

ar f

az d

ifer

ença

. M

uito

pro

fess

or i

ria

mud

ar d

e op

iniã

o, d

e po

stur

a se

viv

enci

asse

o d

ia t

odo.

Eu

tenh

o es

sa v

ivên

cia

porq

ue e

u fa

ço s

ubst

ituiç

ão p

ela

man

hã. À

s ve

zes

eu p

enso

que

eu

pela

man

eu s

ou d

o re

gula

r (c

urrí

culo

bás

ico)

e à

tar

de d

o pr

ojet

o, m

as p

or q

ue n

ão

trab

alha

r co

m e

ssa

inte

rdis

cipl

inar

idad

e pe

la m

anhã

? E

u ac

ho q

ue o

pro

fess

or

deve

ria

vive

ncia

r is

so p

ara

ele

sabe

r.

Com

o tr

abal

ha e

vent

ualm

ente

nos

doi

s tu

rnos

, às

vez

es s

ente

-se

conf

usa

e se

pe

rgun

ta p

or q

ue n

ão t

raba

lhar

com

a

inte

rdis

cipl

inar

idad

e ta

mbé

m

ensi

no

bási

co/r

egul

ar.

Sent

iu-s

e co

nfus

a.

Tra

balh

ar

nos

dois

tu

rnos

/Ser

pr

ofes

sora

do

pr

ojet

o e

tam

bém

do

reg

ular

.

Pala

vras

do

rela

to d

a en

trev

ista

da.

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139

Apê

ndic

e II

I –

Ent

revi

sta

Pro

fess

ora

Lur

des

Ent

revi

stad

a: P

rofe

ssor

a L

urde

s (P

DB

1) -

Vic

e-di

reto

ra, 4

5 an

os.

Esc

ola:

B

Tem

po d

e ex

peri

ênci

a: s

eis

anos

com

o pr

ofes

sora

do

esta

do (

curr

ícul

o bá

sico

) na

ET

I e s

ete

mes

es n

a fu

nção

atu

al

Obs

.: O

s da

dos

entr

e pa

rênt

eses

for

am f

orne

cido

s du

rant

e a

segu

nda

entr

evis

ta.

Dep

oim

ento

E

xplic

itaç

ão d

os S

igni

fica

dos

Sent

imen

tos

apre

endi

dos

pelo

pe

squi

sado

r no

m

omen

to

da

entr

evis

ta

Situ

ação

indu

tora

In

dica

dore

s ut

iliza

dos

pelo

pe

squi

sado

r pa

ra

rela

cion

á-lo

s

Ten

ho

45

anos

e

esto

u há

se

is

anos

co

mo

prof

esso

ra.

Ant

es t

raba

lhav

a em

out

ras

cois

as.

Sou

form

ada

em p

edag

ogia

e a

inda

não

ten

ho

pós.

A v

ice-

dire

tora

rel

atou

sua

for

maç

ão e

m P

edag

ogia

e q

ue e

stá

seis

ano

s co

mo

prof

esso

ra. N

ão m

enci

onou

sua

atu

al f

unçã

o.

Sent

e-se

in

com

odad

a co

m a

atu

al f

unçã

o.

Pref

ere

ser

prof

esso

ra.

Não

m

enci

ona

sua

atua

l fu

nção

(S

egun

da

entr

evis

ta:

“Nos

sa n

ão p

erce

bi i

sso.

É

verd

ade.

Eu

gost

o m

esm

o é

da

ativ

idad

e pe

dagó

gica

. E

u nã

o go

sto

da

part

e bu

rocr

átic

a.

Eu

gost

o de

tr

abal

har

ajud

ando

pes

soas

, re

solv

endo

pr

oble

mas

, na

da

volta

do

para

o

com

puta

dor

e pa

pela

da.

Ess

a pa

pela

da

me

ansi

edad

e. N

a sa

la d

e au

la

não

me

sint

o as

sim

”.)

Gos

to

mui

to

da

funç

ão

que

real

izo,

pr

inci

palm

ente

den

tro

da s

ala

de a

ula.

Gos

to d

e no

vida

de

todo

s os

di

as.

Ach

o qu

e es

tava

no

sa

ngue

. Não

gos

to d

e ro

tina.

Gos

ta d

o qu

e re

aliz

a, p

rinc

ipal

men

te q

uand

o es

tá e

m s

ala

de

aula

. Gos

ta d

e no

vida

de. C

onsi

dera

o m

agis

téri

o um

dom

(in

ato)

. Se

nte

gost

o pe

la s

ala

de a

ula.

Sa

la

de

aula

te

m

mai

s no

vida

des.

Dis

curs

o da

ent

revi

stad

a.

Os

outr

os s

ervi

ços

eram

maç

ante

s. G

oste

i de

um

se

rviç

o de

at

endi

men

to

na

TE

LE

SP,

po

is

me

sent

ia a

juda

ndo

aos

outr

os.

Fiqu

ei u

m t

empo

lá.

G

oste

i ta

mbé

m

quan

do

trab

alhe

i na

M

elho

ram

ento

s co

mo

tem

porá

ria,

o fi

quei

po

rque

não

que

ria

ser

aux

iliar

, fa

lei

para

o m

eu

chef

e qu

e eu

fic

aria

se

foss

e na

seç

ão d

e ca

rtas

ao

leit

or,

mas

ele

dis

se q

ue p

ara

trab

alha

r al

i tin

ha

que

ter

expe

riên

cia.

Rel

ata

os o

utro

s se

rviç

os q

ue te

ve.

Eu

tenh

o qu

e es

quec

er q

ue e

stá

grav

ando

.

Dis

se q

ue p

reci

sa e

sque

cer

o gr

avad

or.

Sent

e-se

ans

iosa

. Po

r sa

ber

que

o qu

e di

z es

tá s

endo

gra

vado

. O

lhou

vár

ias

veze

s pa

ra o

gr

avad

or.

Apó

s o

grav

ador

se

r de

slig

ado

com

ento

u

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140

algu

ns p

robl

emas

que

est

á en

fren

tand

o na

es

cola

co

mo

vice

-dir

etor

a.

Fui

proc

urar

ou

tra

cois

a,

foi

depo

is

do

meu

m

arid

o fa

lece

r, f

ique

i com

um

a fi

lha

pequ

ena.

Pe

rdeu

o m

arid

o qu

ando

a f

ilha

era

pequ

ena.

Se

nte-

se tr

iste

. Po

r re

vive

r um

a si

tuaç

ão

dolo

rosa

E

xpre

ssão

fac

ial d

e tr

iste

za

Ado

rei,

pass

ei u

ns 1

0 an

os d

ando

ref

orço

em

ca

sa.

Eu

tenh

o pa

ciên

cia.

T

ive

mui

tos

alun

os

adul

tos,

por

cau

sa d

e co

ncur

so. T

inha

uns

alu

nos

que

eram

m

ais

velh

os.

Inic

ialm

ente

, fi

cava

m

retr

aído

s.

Deu

aul

a de

ref

orço

em

cas

a po

r vo

lta

de d

ez a

nos,

com

mui

ta

paci

ênci

a.

Sent

e-se

sat

isfe

ita.

Por

reco

rdar

qu

e co

labo

rou

com

al

unos

m

ais

velh

os.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão.

Eu

cont

ava

sobr

e m

inha

dif

icul

dade

, po

is t

ive

mui

ta d

ific

ulda

de, p

rinc

ipal

men

te e

m m

atem

átic

a po

r ca

usa

de

prof

esso

res.

Q

uand

o co

mec

ei

a es

tuda

r so

zinh

a, e

u m

elho

rei

mui

to.

No

ensi

no

méd

io,

reso

lvi

estu

dar

sozi

nha

e co

mec

ei

a en

tend

er.

Eu

acha

va i

ncrí

vel,

pois

eu

com

ecei

a

ter

uma

fluê

ncia

no

assu

nto,

qua

nto

mai

s di

fíci

l er

a, m

elho

r eu

me

saía

. T

odo

mun

do a

chav

a qu

e eu

era

for

mad

a em

mat

emát

ica.

Para

aju

dar

os a

luno

s, c

onta

sob

re a

sua

dif

icul

dade

. T

eve

mui

ta d

ific

ulda

de e

m m

atem

átic

a, c

ulpa

os

prof

esso

res.

A

pesa

r do

s pr

ofes

sore

s,

supe

rou

suas

di

ficu

ldad

es

quan

do

reso

lveu

est

udar

soz

inha

.

Sent

ia e

mpa

tia.

Sent

e-se

m

agoa

da

(Ach

a qu

e é

mai

s de

cepc

iona

da.)

Se

nte-

se v

itor

iosa

.

Por

ter

enfr

enta

do

tam

bém

m

uita

di

ficu

ldad

e na

ap

rend

izag

em.

Por

acre

dita

r qu

e os

pr

ofes

sore

s fo

ram

os

ca

usad

ores

de

ssa

difi

culd

ade.

Po

r te

r su

pera

do

essa

di

ficu

ldad

e.

Col

ocou

-se

no

luga

r do

ou

tro.

R

elat

o em

ocio

nado

da

si

tuaç

ão v

ivid

a.

Olh

os b

rilh

ante

s ao

con

tar

o fa

to.

. Fu

i go

stan

do,

tinha

mui

ta p

aciê

ncia

, eu

fico

com

a

pess

oa a

té q

ue e

la a

pren

da. T

inha

um

rap

az q

ue

eu g

osta

va m

uito

. E

le f

icav

a m

uito

ner

voso

. E

le

dizi

a qu

e at

é o

rato

da

casa

dev

ia s

aber

mai

s m

atem

átic

a do

que

ele

, aí

eu

cont

ei a

min

ha

hist

ória

e

ele

fico

u m

ais

conf

iant

e.

Se

eu

cons

egui

ap

rend

er,

ele

tam

bém

po

deri

a.

Ger

alm

ente

que

m p

edia

ref

orço

est

ava

com

bai

xa

esti

ma.

Pass

ou

a go

star

de

en

sina

r,

fica

va

junt

o do

al

uno

até

ele

apre

nder

. T

raba

lhou

com

alu

nos

com

mui

tas

difi

culd

ades

, pa

ra o

s qu

ais

cont

ava

sua

hist

ória

, m

ostr

ando

qu

e el

es

tam

bém

po

deri

am

cons

egui

r.

Con

side

ra q

ue g

eral

men

te o

alu

no q

ue p

ede

refo

rço

tem

bai

xa

auto

esti

ma.

Sent

e-se

sat

isfe

ita.

Sent

ia e

mpa

tia.

Por

ter

pass

ado

por

situ

ação

sem

elha

nte.

Col

ocou

-se

no

luga

r do

ou

tro.

Tin

ha u

m a

luno

da

séti

ma

séri

e, q

ue e

ra c

ham

ado

de b

urro

pel

o pr

ofes

sor,

ele

se

torn

ou o

mel

hor

da t

urm

a. O

pro

fess

or a

inda

per

gunt

ou o

que

tin

ha

acon

teci

do

e qu

e el

e,

apes

ar

de

esta

r ac

erta

ndo,

est

ava

faze

ndo

as q

uest

ões

do j

eito

m

ais

difí

cil.

O a

luno

com

ento

u co

m o

pro

fess

or

que

pelo

men

os d

esse

jeit

o el

e es

tava

ent

ende

ndo

a m

atér

ia.

Con

ta a

his

tóri

a de

um

alu

no d

o re

forç

o qu

e er

a ch

amad

o de

bu

rro

pelo

pro

fess

or e

que

pas

sou

a se

r o

mel

hor

da t

urm

a, m

as

que

mes

mo

assi

m o

pro

fess

or d

izia

que

ele

faz

ia a

s qu

estõ

es d

o m

odo

mai

s di

fíci

l.

Sent

e-se

de

cepc

iona

da.

Pelo

pro

fess

or c

ham

ar o

al

uno

de

burr

o e

não

reco

nhec

er o

seu

esf

orço

de

sup

eraç

ão.

(“E

sse

prof

esso

r er

a re

alm

ente

m

uito

m

aldo

so.”

)

Alte

raçã

o na

ton

alid

ade

da

voz

e ge

stos

de

indi

gnaç

ão

com

a

atitu

de

dess

e pr

ofes

sor.

Prim

eiro

eu

trab

alha

va a

pos

sibi

lidad

e de

ele

s ac

redi

tare

m

que

eram

ca

paze

s.

Env

olvi

a o

psic

ológ

ico.

Ele

s di

ziam

que

eu

não

tinha

Tra

balh

ava

com

os

alun

os p

ara

que

eles

acr

edita

ssem

que

tinh

am

capa

cida

de p

ara

apre

nder

.

Sent

e-se

gr

atif

icad

a pe

lo q

ue r

ealiz

ou.

Por

seu

trab

alho

te

r aj

udad

o se

us a

luno

s.

Rel

ato

de u

ma

situ

ação

de

suce

sso.

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141

ajud

ado

em

mat

emát

ica,

m

as

tinha

aj

udad

o ta

mbé

m n

o em

ocio

nal.

Já p

asse

i po

r m

uita

s di

ficu

ldad

es n

a vi

da.

Tem

ho

ras

que

eu e

stou

no

fund

o do

poç

o. J

á sa

i lá

de

baix

o e

me

reer

gui

vári

as

veze

s.

Fui

supe

rand

o.

Com

ento

u qu

e já

pa

ssou

po

r m

uita

s di

ficu

ldad

es,

mas

qu

e se

mpr

e co

nseg

uiu

se e

rgue

r.

Sent

e-se

vit

orio

sa.

Situ

açõe

s di

fíce

is

que

ocor

rera

m n

a su

a vi

da e

fo

ram

sup

erad

as.

Rel

ato

emoc

iona

do

da

situ

ação

que

viv

enci

ou.

O q

ue e

u fa

ço e

m s

ala

é qu

e se

o a

luno

tem

di

ficu

ldad

e, e

u fa

ço o

pos

síve

l pa

ra a

judá

-lo.

Eu

não

deix

ava

ning

uém

se

m

ajud

a.

Pedi

a pa

ra

pens

ar e

faz

er p

ergu

ntas

. Po

de p

ergu

ntar

, to

da

perg

unta

tin

ha

o se

u po

r qu

ê.

Não

de

ixav

a ni

ngué

m r

ir d

o co

lega

.

Na

sala

de

aula

, faz

ia o

pos

síve

l par

a aj

udar

o a

luno

. E

stá

disp

onív

el p

ara

resp

onde

r às

per

gunt

as d

os a

luno

s.

Não

dei

xa n

enhu

m a

luno

rir

dos

col

egas

.

Sent

ia e

mpa

tia.

Res

peit

o.

Por

com

pree

nder

as

ne

cess

idad

es

do

alun

o co

m d

ific

ulda

de.

Por

esta

bele

cer

um

ambi

ente

de

resp

eito

na

sala

de

aula

.

Col

ocou

-se

no

luga

r do

ou

tro.

R

elat

o da

situ

ação

viv

ida

Eu

dava

o q

ue n

ão t

ive

na m

inha

pró

pria

fam

ília.

E

u nu

nca

rece

bi

essa

at

ençã

o em

ca

sa.

Nos

m

omen

tos

mai

s ne

cess

ário

s eu

o ti

ve

essa

aj

uda.

Isso

me

mag

oa m

uito

. Tan

tos

que

não

têm

, e

às v

ezes

os

que

têm

não

apr

ovei

tam

. R

eceb

o m

uito

s el

ogio

s fo

ra d

e ca

sa,

mas

em

cas

a is

so

não

acon

tece

.

Tem

mág

oa d

a fa

míli

a qu

e nã

o lh

e de

u a

aten

ção

que

prec

isav

a.

Nun

ca r

eceb

eu e

logi

o po

r pa

rte

da f

amíli

a.

Mág

oa. (

“Iss

o é

mag

oa

mes

mo.

”)

Por

não

ter

tido

a a

juda

da

fam

ília.

C

abis

baix

a/A

en

trev

ista

da

men

cion

ou

o se

u se

ntim

ento

de

mág

oa.

Para

o

alun

o co

m

difi

culd

ade,

eu

do

u um

a at

ençã

o es

peci

al.

Com

o fo

i o

caso

de

uma

alun

a es

peci

al,

ela

não

cons

egui

a fa

zer

nada

. E

u ti

ve

que

repr

ová-

la.

Não

pa

reci

a te

r pr

oble

mas

, ap

aren

tem

ente

. Era

um

a m

enin

a m

uito

bon

ita. N

a sa

la d

e au

la n

ão f

alav

a na

da.

Con

segu

iu t

er u

m

dese

nvol

vim

ento

no

mei

o do

ano

pas

sado

.

aten

ção

espe

cial

ao

alun

o co

m d

ific

ulda

de C

onse

guiu

aju

dar

uma

alun

a qu

e tin

ha m

uita

dif

icul

dade

. Se

nte-

se r

eali

zada

. Po

r es

sa

alun

a te

r su

pera

do

sua

difi

culd

ade,

ap

esar

da

re

prov

ação

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

real

izaç

ão

pelo

fa

to

vive

ncia

do.

Eu

fico

tri

ste

quan

do v

ejo

que

mui

tas

veze

s o

alun

o te

m

pote

ncia

l, m

as

é po

dado

pe

lo

prof

esso

r.

Eu

pegu

ei

clas

ses

bem

di

fíce

is.

pegu

ei a

luno

que

col

ocav

a o

dedo

no

meu

ros

to e

co

m o

tra

balh

o na

cla

sse

ele

se t

orno

u ou

tro

alun

o.

Fica

tris

te q

uand

o o

prof

esso

r nã

o va

lori

za o

pot

enci

al d

o al

uno.

tr

abal

hou

com

al

unos

qu

e ap

rese

ntav

am

prob

lem

as

de

com

port

amen

to e

con

segu

iu q

ue o

s al

unos

mel

hora

ssem

.

Tri

stez

a.

Sent

e-se

rea

liza

da.

O

fato

de

al

guns

pr

ofes

sore

s nã

o ap

rove

itar

em o

pot

enci

al

do a

luno

. Po

r te

r co

nseg

uido

qu

e al

unos

co

m

com

port

amen

to

difí

ceis

m

elho

rass

em.

A e

ntre

vist

ada

men

cion

ou

o se

ntim

ento

de

tris

teza

em

re

laçã

o a

essa

situ

ação

. E

xpre

ssão

fa

cial

de

sa

tisf

ação

/sor

riso

/rel

ato

da

expe

riên

cia.

Prim

eiro

tra

balh

ei n

o SE

SI,

fiqu

ei n

ove

mes

es e

de

pois

fu

i ch

amad

a no

es

tado

. N

ão

cons

egui

co

ncili

ar c

om o

SE

SI.

Pegu

ei u

ma

clas

se e

m

anda

men

to.

Des

ligue

i de

e

vim

pa

ra

cá,

quan

do p

asse

i no

con

curs

o. D

evid

o ao

hor

ário

o co

nseg

ui c

onci

liar.

Tra

balh

ou n

o SE

SI a

ntes

de

pass

ar n

o es

tado

. E

stá

ness

a es

cola

de

sde

o in

ício

do

proj

eto.

Se

nte-

se f

eliz

.

Por

ter

trab

alho

no

SES

I e

por

esta

r na

esc

ola

seis

ano

s.

Sorr

iso.

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142

Eu

ente

ndo

que

a es

cola

de

tem

po in

tegr

al, s

e fo

r be

m t

raba

lhad

a, v

ai b

enef

icia

r o

alun

o, p

ois

tem

in

form

átic

a,

ingl

ês,

hora

da

le

itura

, fo

ra

do

curr

ícul

o bá

sico

. O

alu

no s

ó te

m a

gan

har.

A

esco

la d

e te

mpo

int

egra

l, se

bem

tra

balh

ada,

é

um p

roje

to m

uito

bom

. E

ste

ano

está

mel

hor.

Pa

ssam

os p

or p

erío

dos

mui

to d

ifíc

eis.

A p

rofe

ssor

a ac

redi

ta q

ue a

ET

I be

nefi

cia

o al

uno,

poi

s of

erec

e ou

tros

con

teúd

os, m

as d

epen

de d

e se

r be

m tr

abal

hada

. A

cha

que

esse

ano

o p

roje

to m

elho

rou,

que

pass

aram

por

m

omen

tos

difí

ceis

.

Sent

e-se

org

ulho

sa.

Sent

e-se

con

tent

e.

Por

esta

r ac

ompa

nhan

do

o pr

ojet

o de

sde

a su

a im

plan

taçã

o.

Por

fala

r da

s m

elho

rias

qu

e oc

orre

ram

nes

se a

no.

Ges

to d

e en

tusi

asm

o.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão.

Para

os

pais

é u

ma

segu

ranç

a, p

ois

as c

rian

ças

cheg

am

em

casa

, in

clus

ive,

al

imen

tada

s.

O

prob

lem

a é

que

as c

rian

ças

não

se a

limen

tam

di

reit

o.

A

esco

la

deve

ria

ince

ntiv

ar

as

cria

nças

a

com

erem

a c

omid

a da

esc

ola,

fru

tas,

leg

umes

, m

ostr

ar

o go

sto

pela

al

imen

taçã

o sa

udáv

el.

Ince

ntiv

ar

mes

mo.

M

ostr

ar

esse

go

sto,

o

prob

lem

a é

que

a pr

ópri

a al

imen

taçã

o da

esc

ola

não

favo

rece

ess

e tr

abal

ho.

Ach

a qu

e pa

ra o

s pa

is é

um

a se

gura

nça,

poi

s as

cri

ança

s ch

egam

em

cas

a at

é al

imen

tada

s.

Acr

edit

a qu

e a

esco

la

deve

ria

ince

ntiv

ar

uma

alim

enta

ção

saud

ável

.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Pela

es

cola

o in

cent

ivar

a a

limen

taçã

o sa

udáv

el.

(“A

ge

nte

rece

be

do

depa

rtam

ento

de

su

prim

ento

s m

uita

co

mid

a en

lata

da,

as

cria

nças

não

gos

tam

. Só

co

mem

o

que

é fr

esqu

inho

, com

o o

arro

z e

a sa

lada

. O q

ue a

gen

te

ensi

na

é be

m

dife

rent

e do

que

aco

ntec

e. T

emos

ta

mbé

m

o pr

oble

ma

da

cant

ina,

qu

e re

colh

e re

curs

os p

ara

o no

sso

dia

a di

a.”)

Alte

raçã

o na

vo

z,

fala

o

assu

nto

em u

m t

om m

ais

baix

o.

Com

o pr

ofes

sora

do

regu

lar,

eu

sent

ia o

ref

lexo

da

fa

lta

de

inte

graç

ão

entr

e as

of

icin

as

e o

regu

lar.

Per

cebi

a qu

e el

es (

os a

luno

s) f

icav

am

mai

s vi

olen

tos,

hav

ia f

alha

s na

com

unic

ação

. O

al

uno

era

susp

enso

e o

pro

fess

or d

a m

anhã

não

sa

bia.

Ago

ra e

stam

os c

om u

m g

rupo

bom

de

prof

esso

res.

O o

bjet

ivo

da e

scol

a in

tegr

al é

mui

to

bom

.

Hav

ia p

robl

emas

de

co

mun

icaç

ão,

o al

uno

era

expu

lso

e o

prof

esso

r nã

o sa

bia.

M

enci

onou

que

a e

scol

a ag

ora

está

com

um

gru

po b

om d

e pr

ofes

sore

s.

Acr

edit

a qu

e o

obje

tivo

da

esco

la d

e te

mpo

inte

gral

é b

om.

Sent

iu-s

e fr

ustr

ada.

Se

nte-

se s

atis

feita

.

Situ

açõe

s de

corr

ente

s da

fa

lta

de

com

unic

ação

en

tre

os p

rofi

ssio

nais

dos

do

is tu

rnos

. Po

r m

enci

onar

qu

e a

esco

la

atua

lmen

te

tem

bo

ns

prof

esso

res

e o

proj

eto

ser

bom

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

E

xpre

ssão

fa

cial

de

sa

tisf

ação

/ sor

riso

. E

u ac

ho q

ue h

á di

fere

nça

entr

e o

apre

ndiz

ado

das

cria

nças

que

fic

am a

qui

e da

s qu

e es

tuda

m e

m

um s

ó pe

ríod

o re

gula

r, p

rinc

ipal

men

te,

esse

ano

. E

stou

pa

rtic

ipan

do

de

algu

mas

ap

rese

ntaç

ões,

co

mo

a da

pro

fess

ora

de O

EP.

Ont

em e

u as

sist

i o

trab

alho

da

prof

esso

ra C

arla

um

tra

balh

o m

uito

bo

m.

Vi

que

houv

e en

volv

imen

to.

Ten

ho c

erte

za

Perc

ebe

dife

renç

a, p

rinc

ipal

men

te e

sse

ano,

no

apre

ndiz

ado

de

uma

cria

nça

de u

ma

ET

I, po

is e

les

têm

opo

rtun

idad

e de

col

ocar

em

pr

átic

a o

que

apre

ndem

pe

la

man

hã.

Acr

edit

a qu

e es

se

apre

ndiz

ado

depe

nde

prin

cipa

lmen

te

do

prof

esso

r.

Tem

pa

rtic

ipad

o de

apr

esen

taçõ

es d

e tr

abal

hos

de b

ons

prof

esso

res.

Sent

e-se

sat

isfe

ita.

Por

perc

eber

a d

ifer

ença

no

ap

rend

izad

o da

s cr

ianç

as

e o

bom

tr

abal

ho

de

algu

ns

prof

esso

res.

Sorr

iso/

Exp

ress

ão f

acia

l de

sa

tisf

ação

.

Page 156: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

143

de

qu

e ne

ssas

sa

las

que

ela

trab

alho

u,

o re

sulta

do s

erá

dife

rent

e. A

li el

es c

oloc

aram

em

pr

átic

a. F

alar

am d

o m

eio

ambi

ente

. Q

uand

o é

bem

tra

balh

ado.

Dep

endo

de

com

o o

prof

esso

r de

senv

olve

o t

raba

lho,

com

o le

va a

situ

ação

, os

al

unos

. Pr

inci

palm

ente

, se

o

alun

o pe

rceb

e o

envo

lvim

ento

do

prof

esso

r, e

le c

olab

ora.

Voc

ê vê

es

sas

dife

renç

as, p

or c

onta

dis

so.

Por

exem

plo,

a

prof

esso

ra J

oana

que

pas

sa t

odo

entu

sias

mo

na

leit

ura,

el

es

gost

am.

Gos

tam

ta

mbé

m

de

educ

ação

fís

ica.

T

em a

luno

que

não

se

adap

ta à

esc

ola

de t

empo

in

tegr

al

desd

e pe

quen

inin

ho

com

to

da

essa

m

ovim

enta

ção,

mas

a m

aior

ia q

ue e

u ve

jo n

ão

tem

pro

blem

a.

O

alun

o qu

erer

é

tam

bém

im

port

ante

. A

cred

ita

que

a co

labo

raçã

o do

alu

no d

epen

de d

o en

volv

imen

to d

o pr

ofes

sor.

T

em a

luno

que

não

se

adap

ta à

mov

imen

taçã

o qu

e oc

orre

na

ET

I, m

as n

ão é

a m

aior

ia.

Sent

e-se

con

tent

e, m

as

tam

bém

pre

ocup

ada.

Por

perc

eber

qu

e o

envo

lvim

ento

do

s pr

ofes

sore

s fu

ndam

enta

l e

que

isso

o oc

orre

co

m

todo

s os

pr

ofes

sore

s.

Exp

ress

ão f

acia

l/Fra

nziu

a

test

a.

Dep

ende

tam

bém

dos

pai

s da

rem

im

port

ânci

a,

mas

são

pou

cos

o qu

e fa

zem

iss

o. S

e os

pai

s de

ssem

mai

s im

port

ânci

a, o

s fi

lhos

iria

m m

elho

r.

Para

os

pais

é c

ômod

o. A

mai

oria

não

per

gunt

a o

que

está

sen

do f

eito

.

Os

pais

são

impo

rtan

tes.

A a

dapt

ação

e o

apr

endi

zado

dep

ende

m

da i

mpo

rtân

cia

que

os p

ais

dão

à es

cola

. Par

a os

pai

s é

côm

odo.

A

mai

oria

nem

per

gunt

a o

que

está

sen

do f

eito

.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Ao

men

cion

ar a

fal

ta d

e in

tere

sse

da m

aior

ia d

os

pais

em

rel

ação

ao

que

as

cria

nças

fa

zem

na

es

cola

.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

Ago

ra

está

di

fere

ncia

do,

por

cont

a da

m

escl

agem

, nã

o se

i se

po

sso

dize

r is

so.

Não

sa

bíam

os o

que

est

ávam

os f

azen

do.

Ach

o qu

e m

elho

rou

bast

ante

.

Falo

u qu

e al

tern

ânci

a en

tre

os t

urno

s co

nfor

me

o an

o/sé

rie-

para

o

prim

eiro

e s

egun

do a

no a

s of

icin

as f

unci

onam

pel

a m

anhã

, pa

ra a

3ª e

func

iona

m à

tar

de-

trou

xe m

elho

rias

par

a a

esco

la,

para

os

alun

os e

par

a os

pro

fess

ores

.

Sent

e-se

sat

isfe

ita.

As

mud

ança

s qu

e re

aliz

aram

no

ho

rári

o do

s tu

rnos

na

esco

la.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão/s

orri

so.

Perm

anec

er o

dia

tod

o na

esc

ola

infl

uenc

ia a

s re

laçõ

es e

ntre

os

prof

esso

res

e os

alu

nos.

M

uda,

mud

a ba

stan

te. S

e nã

o fo

r tr

abal

hado

, fic

a ca

nsat

ivo.

Po

rque

é

um

ambi

ente

no

qu

al

a cr

ianç

a pa

ssa

o di

a in

teir

o, g

era

brig

as.

Tod

os

nós

não

esta

mos

fal

ando

a m

esm

a lín

gua.

Tem

pr

ofes

sor

mai

s en

volv

ido

e ou

tros

, nã

o.

Tem

pr

ofes

sor

que

ajud

a na

dis

cipl

ina

e ou

tros

que

o es

tão

nem

. O

pr

ofes

sor

do

regu

lar

é im

port

ante

par

a co

ntri

buir

par

a à

tard

e. E

u es

tou

vend

o qu

e m

uita

coi

sa d

epen

de d

o pr

ofes

sor

do

regu

lar.

Para

a e

ntre

vist

ada

perm

anec

er o

dia

tod

o na

esc

ola

repe

rcut

e m

uito

nas

rel

açõe

s en

tre

os p

rofe

ssor

es e

os

alun

os,

além

de

ser

cans

ativ

o, m

as o

pro

fess

or p

ode

cont

ribu

ir p

ara

mel

hora

r es

sas

ques

tões

. O

pro

fess

or d

o re

gula

r (e

nsin

o bá

sico

) te

m u

m p

apel

im

port

ante

na

dis

cipl

ina

do a

luno

.

Sent

e-se

pre

ocup

ada.

Se

nte-

se p

reoc

upad

a.

Fala

r da

s di

ficu

ldad

es d

e pe

rman

ecer

o d

ia i

ntei

ro

na e

scol

a.

Pela

re

spon

sabi

lidad

e qu

e te

m o

pro

fess

or d

o re

gula

r (e

nsin

o bá

sico

).

Ênf

ase

em

algu

mas

pa

lavr

as d

o re

lato

. Fr

anzi

u a

test

a.

Nas

rel

açõe

s en

tre

os a

luno

s ta

mbé

m t

em o

s do

is

lado

s.

Tem

aq

uele

s qu

e te

rmin

am

a 4ª

rie,

fi

cam

com

med

o de

mud

ar e

per

der

os a

mig

os,

mas

tem

out

ros

que

acha

m q

ue

alív

io.

Tod

os o

s an

os b

riga

ndo.

Dep

ende

mui

to d

a cr

ianç

a e

por

trás

dis

so o

s pa

is.

A p

artic

ipaç

ão d

a fa

míli

a é

Tem

alu

no q

ue te

m r

ecei

o de

per

der

os a

mig

os, o

utro

s nã

o.

Os

pais

tem

um

a in

fluê

ncia

im

port

ante

nes

se

inte

ress

e pe

la

esco

la.

Res

peit

o

Ao

fala

r so

bre

os

sent

imen

tos

dos

alun

os

Exp

ress

ão

faci

al

de

tran

quili

dade

.

Page 157: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

144

mui

to im

port

ante

. Não

pre

cisa

ser

o p

ai o

u a

mãe

, po

de s

er o

res

pons

ável

que

cui

da d

a cr

ianç

a, a

por

exem

plo.

Eu

tinha

um

a al

una

que

era

cria

da

por

uma

conh

ecid

a, p

orqu

e pe

rdeu

toda

a f

amíli

a.

Ach

o qu

e de

pend

e ta

mbé

m

da

capa

cida

de

de

supe

raçã

o da

cri

ança

, ach

o qu

e é

gené

tico

.

Acr

edit

a qu

e a

capa

cida

de d

e su

pera

ção

do a

luno

é g

enét

ica.

(“

Será

qu

e é

isso

m

esm

o?

Eu

acho

qu

e at

é ce

rto

pont

o é

gené

tico

.”).

Sent

e-se

impo

tent

e.

Ao

fala

r qu

e há

co

mpo

rtam

ento

s qu

e na

scem

co

m

os

alun

os,

não

send

o po

ssív

el

tran

sfor

má-

los.

Mos

trou

-se

pens

ativ

a,

refl

etin

do s

obre

o a

ssun

to.

Eu

poss

o di

zer

por

expe

riên

cia

próp

ria,

ac

ompa

nhei

um

a tu

rma

que

fico

u co

mig

o po

r tr

ês

anos

. Fi

quei

afa

stad

a de

ssa

turm

a po

r um

ano

, qu

ando

eu

reto

rnei

, fo

i m

uito

leg

al.

Not

ei q

ue

mui

tos

fica

ram

fe

lizes

, ou

tros

o go

star

am,

porq

ue

eu

era

uma

prof

esso

ra

que

exig

ia

disc

iplin

a.

Eu

note

i um

a di

fere

nça

enor

me,

qu

ando

re

torn

ei.

D

uran

te

o an

o qu

e fi

quei

af

asta

da

dess

a tu

rma,

el

es

adqu

irir

am

cert

os

hábi

tos,

que

eu

leve

i do

is m

eses

par

a co

ntor

nar

essa

situ

ação

.

Ach

a qu

e pe

rman

ecer

um

tem

po m

aior

com

a t

urm

a fa

vore

ce o

ap

rend

izad

o do

alu

no e

o tr

abal

ho d

o pr

ofes

sor.

Sent

e-se

con

tent

e.

Pelo

re

sulta

do

que

obte

ve c

om a

turm

a.

Exp

ress

ão

faci

al

de

sati

sfaç

ão.

Em

re

laçã

o às

ca

paci

taçõ

es

espe

cifi

cas

sobr

e E

TI,

no

prim

eiro

ano

, 20

06,

acon

tece

ram

vár

ias

OT

s (o

rien

taçã

o té

cnic

a).

Eu

part

icip

ei

de

algu

mas

, de

pois

ach

o qu

e nã

o oc

orre

ram

mai

s.

Que

m

part

icip

a de

ca

paci

taçõ

es

é a

coor

dena

dora

, âs

sext

as-f

eira

s, m

as a

cho

que

não

é es

pecí

fica

pa

ra

ET

I. T

alve

z el

a te

nha

essa

in

form

ação

. Po

de s

er,

mas

não

che

ga a

o no

sso

conh

ecim

ento

. A c

oord

enad

ora

deve

est

ar a

par

.

Oco

rrer

am a

lgum

as c

apac

itaçõ

es n

o in

icio

do

proj

eto,

mas

hoj

e em

di

a nã

o te

m

conh

ecim

ento

qu

e el

as

exis

tam

. Fa

lta

com

unic

ação

ent

re a

coo

rden

ação

e a

ges

tão.

.

Sent

e-se

fr

ustr

ada.

(“

Hoj

e ex

iste

m c

urso

s di

spon

ívei

s,

em

que

você

po

de

se

insc

reve

r, m

as s

ão f

ora

do h

orár

io d

e tr

abal

ho.

Hoj

e te

m

capa

cita

ção

do

Ler

e

Apr

ende

r,

mas

co

mo

trab

alha

r co

m

isso

na

s of

icin

as.”

)

Por

atua

lmen

te

não

ocor

rere

m c

apac

itaçõ

es.

Alte

raçã

o no

to

m

de

voz/

expr

essã

o fa

cial

de

in

satis

façã

o.

Um

a da

s co

isas

que

eu

acho

que

um

a E

TI d

ever

ia

ter

é um

par

quin

ho p

ara

as c

rian

ças.

N

ós a

qui

esta

mos

ten

tand

o co

nseg

uir

uma

área

de

laze

r, t

ipo

um p

arqu

inho

com

bri

nque

dos

para

as

cri

ança

s, m

as d

evid

o ao

mur

o nã

o es

tam

os

cons

egui

ndo.

O

id

eal

era

que

a ge

nte

tive

sse

tam

bém

, co

mo

em

2006

, um

es

paço

qu

e as

cr

ianç

as p

udes

sem

des

cans

ar,

com

col

chon

etes

, de

pois

do

alm

oço.

Tud

o or

gani

zado

, lim

pinh

o.

Até

na

hora

da

leit

ura,

que

pud

esse

m o

uvir

a

hist

ória

e a

té d

orm

ir, u

m e

spaç

o or

gani

zado

, ach

o qu

e da

ria

mai

s ca

lma.

O

es

paço

aj

uda

a or

gani

zar,

ac

alm

ar

as

cria

nças

. E

les

têm

ed

ucaç

ão

físi

ca

com

o

regu

lar,

e

a ta

rde

o pr

ofes

sor

aula

de

ed

ucaç

ão

mot

ora,

el

e po

deri

a te

r um

a or

ient

ação

a m

ais

para

apl

icar

Nec

essi

dade

de

um e

spaç

o pa

ra la

zer

das

cria

nças

(pa

rqui

nho)

. N

eces

sida

de d

e um

esp

aço

para

des

cans

ar.

A

orga

niza

ção

do

espa

ço

é im

port

ante

pa

ra

as

cria

nças

se

ac

alm

arem

. Pe

rceb

e a

nece

ssid

ade

de a

tivid

ades

que

bus

quem

a

calm

a e

o eq

uilíb

rio,

poi

s ac

redi

ta q

ue i

sto

repe

rcut

e na

sal

a de

au

la

Para

a e

ntre

vist

a da

esc

ola

deve

ria

ter:

Sent

e-se

fru

stra

da.

Sent

e-se

pre

ocup

ada.

Se

nte-

se e

sper

anço

sa.

Por

aind

a nã

o te

r co

nseg

uido

co

nstr

uir

esse

esp

aço

na e

scol

a.

Por

enfr

enta

r di

aria

men

te

esse

pr

oble

ma,

pr

inci

palm

ente

co

m

os

pequ

enos

. Pe

lo

dese

jo

que

ocor

ress

em

essa

s m

udan

ças.

Exp

ress

ão

faci

al

de

insa

tisfa

ção.

E

xpre

ssão

fa

cial

de

pr

eocu

paçã

o/

Fran

ziu

a te

sta.

G

esto

s ex

pres

sivo

s/br

ilho

nos

olho

s.

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145

yoga

,Tai

chi

n, c

oisa

s qu

e le

vari

am a

aca

lmar

, po

rque

voc

ê sa

be, e

ssa

gera

ção

é im

edia

tista

, que

aj

udas

sem

a v

er e

sse

lado

, es

se i

ndiv

idua

lism

o,

isso

ter

ia r

esul

tado

em

sal

a de

aul

a. Q

ue n

a au

la

de le

itur

a ti

vess

em s

om, o

uvir

um

a m

úsic

a.

Ach

o qu

e o

ambi

ente

da

es

cola

de

veri

a se

r di

fere

nte

de lá

de

fora

, que

as

cria

nças

gos

tass

em

de f

icar

, se

ntis

sem

pra

zer,

com

coi

sas

volta

das

para

a q

ualid

ade

de v

ida.

Ata

cari

a ne

sse

pont

o,

ativ

idad

e fí

sica

dif

eren

ciad

a, e

um

esp

aço

para

de

scan

so,

para

lei

tura

, qu

e fo

sse

dife

renc

iado

, um

a lu

z di

fere

ncia

da p

ara

que

essa

cri

ança

se

acal

mas

se. A

í eu

acho

que

a E

TI e

star

ia m

elho

r.

Mus

ica

adeq

uada

par

a as

cri

ança

s ou

vire

m h

istó

rias

. U

m a

mbi

ente

dif

eren

ciad

o, n

o qu

al a

s cr

ianç

as s

enti

ssem

pra

zer

em p

erm

anec

er (

luz,

som

, des

cans

o e

alim

enta

ção

saud

ável

) A

cred

ita

que

os p

onto

s m

ais

impo

rtan

tes

de m

elho

ra s

eria

m:

uma

ativ

idad

e fí

sica

dif

eren

ciad

a, e

spaç

o pa

ra d

esca

nso

e le

itur

a.

Tem

pro

fess

ores

que

acr

edita

m n

o pr

ojet

o, o

utro

s nã

o, a

cho

que

talv

ez p

ela

falta

de

apoi

o. A

cho

que

se o

pro

fess

or r

eceb

esse

mai

s ap

oio,

as

aula

s da

s of

icin

as p

oder

iam

ser

mai

s cr

iati

vas

A

bi

blio

teca

é

um

espa

ço

que

não

exis

te,

é co

nsid

erad

a sa

la d

e au

la.

Os

prof

esso

res

é qu

e ac

abam

indo

e o

rgan

izan

do a

bib

liote

ca.

Tem

pro

fess

ores

que

acr

edita

m n

o pr

ojet

o e

outr

os n

ão.

Os

prof

esso

res

deve

riam

rec

eber

apo

io (

capa

cita

ção)

par

a qu

e as

of

icin

as o

corr

esse

m d

e fo

rma

mai

s cr

iati

va.

O e

spaç

o da

bib

liote

ca e

stá

func

iona

ndo

com

o sa

la d

e au

la.

Sent

e-se

fru

stra

da.

Por

nem

to

dos

acre

dita

rem

no

proj

eto

e po

r sa

ber

que

não

é is

so

que

ocor

re n

a es

cola

. Pe

lo

espa

ço

não

esta

r se

ndo

utili

zado

co

mo

deve

ria.

Inqu

ieta

ção/

mov

imen

to

corp

oral

de

insa

tisf

ação

.

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146

Apê

ndic

e IV

– E

pisó

dio

1

Esc

ola:

A

Dat

a: 1

6/08

/201

1 P

arti

cipa

ntes

: A

luno

s da

3ª 4

ª sér

ies

Situ

ação

obs

erva

da: h

orár

io d

e al

moç

o no

ref

eitó

rio

Hor

ário

da

obse

rvaç

ão: 1

1h00

às

11h2

0 T

ítul

o: Q

ue c

omid

a!

Obs

erva

ção:

CO

ref

ere-

se a

os c

omen

tári

os d

o ob

serv

ador

. D

escr

ição

da

situ

ação

E

xplic

itaç

ão d

os s

igni

fica

dos

Sent

imen

tos

apre

endi

dos

pela

pe

squi

sado

ra e

m r

elaç

ão a

os a

luno

s Si

tuaç

ões

indu

tora

s

Toc

ou o

sin

al,

os a

luno

s sa

íram

em

fila

pa

ra

o re

feit

ório

, ac

ompa

nhad

os

da

prof

esso

ra d

a cl

asse

. Os

men

inos

est

avam

se

para

dos

das

men

inas

. A

s pr

ofes

sora

s da

s cl

asse

s se

mpr

e ac

ompa

nham

a t

urm

a,

algu

mas

per

man

ecem

por

um

per

íodo

no

refe

itór

io,

ince

ntiv

ando

as

cr

ianç

as

a co

mer

em.

As

guar

niçõ

es

com

o ar

roz

e fe

ijão

ou

m

acar

rão

fica

vam

em

um

ca

rrin

ho

espe

cífi

co

para

as

cr

ianç

as

se

serv

irem

à v

onta

de. J

á as

mis

tura

s (c

arne

) e

a sa

lada

er

am

serv

idas

pe

las

mer

ende

iras

, m

as p

ara

isso

exi

stia

um

a fi

la. Q

uand

o as

cri

ança

s da

s 3as

e 4

as s

érie

s ch

egar

am

ao

refe

itór

io,

aind

a ha

via

cria

nças

dos

1os

e 2

os a

nos.

(C

O:

As

fila

s er

am g

rand

es.

O r

efei

tóri

o er

a pe

quen

o pa

ra

o nú

mer

o de

cr

ianç

as.

Mui

tas

cria

nças

lev

avam

seu

pró

prio

alm

oço

ou

lanc

he.

Não

era

per

miti

do e

sque

ntar

as

mar

mita

s.

Não

ha

via

nenh

um

adul

to

supe

rvis

iona

ndo.

A

lmoç

avam

to

dos

os

alun

os d

as t

erce

iras

e q

uart

as s

érie

s. A

s m

esas

e c

adei

ras

esta

vam

suj

as,

pois

os

men

ores

tinha

m a

lmoç

ado

e nã

o ha

via

ning

uém

pa

ra

limpa

r at

é o

térm

ino

do

alm

oço.

Ess

e é

o ho

rári

o m

ais

trab

alho

so

para

a

esco

la,

pois

o há

pr

ofes

sore

s di

spon

ívei

s e

as i

nspe

tora

s e

mer

ende

iras

es

tão

ocup

adas

. O

s pr

ofes

sore

s da

s cl

asse

s ac

ompa

nhav

am

até

o re

feit

ório

, po

is

algu

ns

pais

re

clam

aram

qu

e as

cr

ianç

as

não

esta

vam

co

men

do,

É

nece

ssár

io

fila

pa

ra

irem

pa

ra

o re

feit

ório

. M

enin

os e

men

inas

fic

am e

m

fila

s di

fere

ntes

. E

m

algu

ns

mom

ento

s,

as

cria

nças

se

se

rvem

e

alm

oçam

so

zinh

as.

- A

uton

omia

ou

falta

de

supe

rvis

ão?

O

am

bien

te d

o re

feit

ório

é p

eque

no, s

ujo

e as

cri

ança

s nã

o go

stam

da

com

ida.

D

izem

que

é e

nlat

ada.

O

s pr

ofes

sore

s pe

rman

ecem

15

min

utos

da

HT

PC p

ara

acom

panh

ar a

s cr

ianç

as

no a

lmoç

o.

Pais

re

clam

am

que

as

cria

nças

o co

mem

. O

per

íodo

de

perm

anên

cia

no r

efei

tóri

o é

pequ

eno

e co

nfus

o.

As

cria

nças

co

mem

rap

idam

ente

e v

ão p

ara

o pá

tio.

As

cria

nças

di

zem

qu

e a

com

ida

é en

lata

da,

com

iss

o tr

azem

seu

pró

prio

la

nche

. O

s pr

ofes

sore

s ta

mbé

m n

ão g

osta

m d

a co

mid

a.

Tra

zem

se

u al

moç

o e

não

com

em n

o re

feit

ório

. C

rian

ças

com

em l

anch

e e

mui

tas

fica

m

sem

com

er.

Sent

em-s

e co

nfus

os.

Sent

em-s

e in

sati

sfei

tos.

Se

ntem

-se

insa

tisf

eito

s.

Por

tere

m q

ue e

nfre

ntar

fila

e p

ela

falta

de

supe

rvis

ão

de

um

adul

to

na

cond

ução

de

sse

horá

rio.

Pe

lo

espa

ço

ser

pequ

eno,

es

tar

sujo

e

deso

rgan

izad

o.

Pela

com

ida

ser

enla

tada

e n

ão t

er u

m

bom

sab

or.

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147

prin

cipa

lmen

te o

s pa

is d

os p

eque

nos.

A

s pr

ofes

sora

s da

s 4as

ries

de

ixam

as

cr

ianç

as m

ais

solta

s. (

CO

: Pa

rece

que

a

coor

dena

dora

teve

que

neg

ocia

r um

tem

po

de 1

5 m

inut

os n

o m

áxim

o no

hor

ário

da

HT

PC

dos

prof

esso

res

para

qu

e el

es

acom

panh

asse

m a

s cr

ianç

as n

o al

moç

o..

O a

mbi

ente

não

é a

grad

ável

, as

cri

ança

s co

mem

e s

aem

rap

idam

ente

par

a o

páti

o.

A c

omid

a re

alm

ente

não

era

gos

tosa

e n

ão

dava

von

tade

de

perm

anec

er n

esse

loc

al.

Os

prof

esso

res

não

com

em a

com

ida

da

esco

la e

nem

usa

m o

ref

eitó

rio.

Tra

zem

m

arm

ita

e co

mem

na

sa

la

dos

prof

esso

res)

. A

s cr

ianç

as

com

eram

ra

pida

men

te

e fo

ram

par

a o

páti

o. M

uita

s cr

ianç

as n

ão

com

eram

. Pe

rceb

i qu

e tr

azem

la

nche

e

com

em

tudo

no

pr

imei

ro

inte

rval

o e

depo

is f

icam

sem

com

er.

(CO

: A

s cr

ianç

as

com

enta

ram

que

o go

stav

am d

a co

mid

a po

rque

era

enl

atad

a.)

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148

Apê

ndic

e V

– E

pisó

dio

2

Esc

ola:

A

Dat

a: 1

6/08

/201

1 P

arti

cipa

ntes

: A

luno

s da

esc

ola

e in

spet

oras

Si

tuaç

ão o

bser

vada

: Int

erva

lo d

o al

moç

o –

cria

nças

no

pátio

H

orár

io d

a ob

serv

ação

: 11h

20 à

s 12

h00

Tít

ulo:

A m

anif

esta

ção

no p

átio

. Que

cor

reri

a!

Des

criç

ão d

a si

tuaç

ão

Exp

licit

ação

dos

sig

nifi

cado

s Se

ntim

ento

s ap

reen

dido

s pe

la

pesq

uisa

dora

em

rel

ação

aos

alu

nos

Situ

açõe

s in

duto

ras

O p

átio

do

colé

gio

era

gran

de,

com

um

a qu

adra

cob

erta

, qu

e da

va p

ara

fren

te d

o co

légi

o e

que

não

podi

a se

r ut

iliza

da n

o al

moç

o (p

arec

e qu

e um

a in

spet

ora

esta

va

orga

niza

ndo

um c

ampe

onat

o).

Próx

imo

à qu

adra

, ha

via

uma

cest

a de

min

ibas

quet

e T

inha

tam

bém

um

a ár

ea c

ober

ta,

com

um

pa

lco,

ond

e ac

onte

ce o

has

team

ento

da

band

eira

to

das

as

quar

tas-

feir

as.

Nes

se

espa

ço h

á ca

ixas

de

som

, e

às v

ezes

, é

colo

cado

m

úsic

a in

fant

il e

as

cria

nças

fi

cam

dan

çand

o ou

bri

ncan

do,

mas

nes

se

dia

o so

m n

ão e

stav

a lig

ado.

Por

tod

o o

páti

o ex

iste

m b

anco

s de

cim

ento

, se

ndo

que

algu

ns f

icam

ao

redo

r de

árv

ores

, com

so

mbr

a.

As

sala

s da

di

reçã

o,

dos

func

ioná

rios

ad

min

istr

ativ

os

e do

s pr

ofes

sore

s tê

m j

anel

as e

por

tas

volta

das

para

o p

átio

. N

o ho

rári

o de

alm

oço,

per

man

ecem

no

páti

o m

ais

ou

men

os

quat

roce

ntas

cr

ianç

as,

que

fica

m e

spal

hada

s po

r to

do

esse

es

paço

e

três

in

spet

oras

qu

e as

ac

ompa

nham

. A

s in

spet

oras

dem

onst

ram

ca

rinh

o e

aten

ção,

br

inca

ndo

ou

conv

ersa

ndo

com

as

cria

nças

, mas

a m

aior

pa

rte

do t

empo

ela

s cu

idam

daq

uela

s qu

e se

mac

huca

m o

u en

tão

utili

zam

seu

tem

po

reso

lven

do c

onfl

itos

. N

esse

di

a,

após

as

cr

ianç

as

tere

m

term

inad

o de

com

er u

m g

rupo

se

junt

ou e

co

meç

ou a

gri

tar

e co

rrer

. A

ess

e gr

upo,

ou

tras

cri

ança

s se

jun

tara

m. A

s in

spet

oras

Páti

o gr

ande

, com

mui

tas

cria

nças

e t

rês

insp

etor

as.

Alu

nos

orga

niza

ram

m

anif

esta

ção

em

funç

ão d

a di

reto

ra n

ão p

erm

itir

corr

er.

Sent

em-s

e co

nfus

as.

Sent

iram

-se

inju

stiç

ados

com

a d

ecis

ão

da d

iret

ora.

Esp

aço

gran

de c

om m

uita

s cr

ianç

as s

em

uma

ativ

idad

e di

reci

onad

a.

Pelo

fat

o da

nov

a di

reto

ra te

r pr

oibi

do a

s cr

ianç

as d

e co

rrer

em n

o pá

tio.

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149

apen

as o

lhav

am.

Perg

unte

i às

cri

ança

s o

que

esta

va

acon

tece

ndo.

E

las

me

cont

aram

qu

e es

tava

m

faze

ndo

uma

man

ifes

taçã

o,

pois

na

se

man

a an

teri

or

havi

a co

meç

ado

uma

nova

dir

etor

a qu

e nã

o qu

eria

per

miti

r qu

e el

es c

orre

ssem

no

páti

o, p

or i

sso

deci

dira

m f

icar

o i

nter

valo

co

rren

do, p

ara

cham

ar a

tenç

ão d

a di

reçã

o.

Ten

tara

m f

alar

com

a d

iret

ora

e gr

itav

am:

“Som

os

cria

nças

, qu

erem

os

corr

er.”

A

di

reto

ra f

icou

na

sala

e n

ão a

pare

ceu

para

fa

lar

com

as

cr

ianç

as.

Não

ap

arec

eu

nenh

um

prof

esso

r ou

co

orde

nado

r pa

ra

fala

r co

m a

s cr

ianç

as.

Dur

ante

o a

lmoç

o,

conv

erse

i co

m

algu

mas

cr

ianç

as,

que

perg

unta

ram

o

que

eu

fazi

a na

es

cola

. Q

uand

o so

uber

am

que

eu

fazi

a um

a pe

squi

sa s

obre

esc

ola

de t

empo

int

egra

l, a

mai

or

part

e fa

lou

que

não

gost

ava

da

esco

la.

Alg

umas

dis

sera

m q

ue a

pren

dem

m

ais,

out

ras

não.

Alg

umas

cri

ança

s nã

o sa

bem

o p

orqu

ê de

per

man

ecer

em o

dia

to

do n

a es

cola

. C

omen

tara

m q

ue à

tar

de

era

mui

ta b

agun

ça e

que

não

apr

endi

am

mui

to.

Dir

eção

e

prof

esso

res

não

se

man

ifes

tara

m e

m r

elaç

ão a

o m

ovim

ento

do

s al

unos

. A

lgum

as

cria

nças

co

men

tara

m

que

gost

am

da

esco

la

e ou

tras

o.

Men

cion

aram

qu

e à

tard

e é

mui

ta

bagu

nça

e qu

e nã

o ap

rend

em m

uito

.

Sent

iram

-se

inco

mpr

eend

idos

/inju

stiç

ados

. Se

ntim

ento

s de

sa

tisf

ação

e

de

insa

tisfa

ção

de a

lgun

s al

unos

em

rel

ação

à

esco

la.

Por

não

tere

m

tido

uma

resp

osta

da

di

reçã

o na

quel

e m

omen

to.

Ter

qu

e pe

rman

ecer

o

dia

inte

iro

na

esco

la.

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150

Apê

ndic

e V

I –

Epi

sódi

o 3

Esc

ola:

A

Dat

a: 2

6/08

/201

1 P

arti

cipa

ntes

: Pr

ofes

sora

s M

árci

a (e

nsin

o re

gula

r/cu

rríc

ulo

bási

co),

Mile

na (

prof

esso

ra d

e ar

tes/

curr

ícul

o bá

sico

),

Mar

ta (

prof

esso

ra/o

fici

na d

e ar

tes)

, Jo

sé (

prof

esso

r/of

icin

a de

edu

caçã

o fí

sica

) e

uma

turm

a da

séri

e do

E

nsin

o Fu

ndam

enta

l I)

Situ

ação

obs

erva

da: u

m d

ia d

e au

la n

a es

cola

de

tem

po in

tegr

al

Hor

ário

da

obse

rvaç

ão: a

par

tir d

as 9

h30,

apó

s o

inte

rval

o da

man

hã, a

té 1

4h30

. T

ítul

o: H

aja

dese

nho!

O

bser

vaçã

o: O

s no

mes

dos

pro

fess

ores

e d

os a

luno

s sã

o fi

ctíc

ios

com

obj

etiv

o de

pre

serv

ar a

iden

tidad

e do

s pa

rtic

ipan

tes/

CO

se

refe

re a

os c

omen

tári

os d

o ob

serv

ador

D

escr

ição

da

situ

ação

E

xplic

itaç

ão d

os s

igni

fica

dos

Sent

imen

tos

apre

endi

dos

pela

P

esqu

isad

ora

em r

elaç

ão a

os

prof

esso

res

Situ

ação

indu

tora

Se

ntim

ento

s ap

reen

dido

s

pela

Pes

quis

ador

a em

rel

ação

ao

s al

unos

Situ

ação

indu

tora

Ao

reto

rnar

do

in

terv

alo

da

man

hã,

as

cria

nças

se

ntar

am

nos

seus

re

spec

tivo

s lu

gare

s. A

pro

fess

ora

com

ento

u qu

e ir

iam

tr

abal

har

Port

uguê

s co

m

o liv

ro

Ler

e

Esc

reve

r. A

pro

fess

ora

com

ento

u co

mig

o qu

e as

cri

ança

s ia

m f

azer

exp

erim

ento

s co

m e

sses

tem

as e

apr

esen

tá-l

os n

a m

ostr

a cu

ltura

l.

Ela

com

eçou

ped

indo

par

a fa

zere

m u

ma

leit

ura

sile

ncio

sa

sobr

e o

tem

a de

sert

ific

ação

. Era

um

text

o de

dez

linh

as,

mas

ach

ou q

ue n

ão d

aria

cer

to,

pois

não

fi

cava

m e

m s

ilênc

io.

(CO

: E

scol

her

algu

ém p

ara

ler

tam

bém

ir

ia d

ar b

riga

, en

tão

reso

lveu

ela

mes

ma

ler

o te

xto.

) D

iscu

tiu o

ass

unto

com

os

alun

os

dand

o op

ortu

nida

de

para

el

es

colo

care

m s

uas

idei

as, m

as f

alto

u m

ater

ial

para

ilu

stra

r o

tem

a, q

ue a

cabo

u se

ndo

mui

to a

bstr

ato

para

as

cria

nças

.

Apó

s a

leit

ura,

pe

diu

para

os

al

unos

fa

zere

m u

m D

ESE

NH

O s

obre

o t

ema.

Ela

m

e ex

plic

ou q

ue e

ra p

reci

so m

escl

ar a

s at

ivid

ades

pa

ra

a au

la

não

fica

r m

uito

ca

nsat

iva.

Fic

aram

uns

40

min

utos

nes

sa

ativ

idad

e.

(CO

: N

o en

tant

o,

os

alun

os

rapi

dam

ente

fi

zera

m

um

dese

nho.

A

m

aior

ia d

esen

hou

cact

os.)

C

omo

vári

os

alun

os

term

inar

am

rapi

dam

ente

a

tare

fa,

acab

aram

se

di

sper

sand

o e

faze

ndo

bagu

nça.

Pa

ra

Prof

esso

ra

trab

alho

u o

livro

L

er

e E

scre

ver

e in

form

ou à

pes

quis

ador

a qu

e ir

ão

apre

sent

ar

na

mos

tra

cultu

ral

expe

rim

ento

s so

bre

o m

eio

ambi

ente

. A

luno

s nã

o co

nseg

uem

fa

zer

leit

ura

sile

ncio

sa.

A p

rofe

ssor

a te

m d

ific

ulda

de

de e

scol

her

ajud

ante

dev

ido

a ci

úmes

en

tre

os a

luno

s.

Prof

esso

ra

perm

itiu

qu

e os

al

unos

se

ex

pres

sass

em s

obre

o a

ssun

to.

Falto

u m

ater

ial p

ara

ampl

iar

o re

pert

ório

do

s al

unos

, o

dese

nho

retr

atou

es

sa

situ

ação

. O t

empo

foi

mui

to g

rand

e pa

ra

a at

ivid

ade

prop

osta

o

que

caus

ou

agit

ação

e d

ispe

rsão

na

clas

se.

Dua

s al

unas

são

enc

amin

hada

s pa

ra a

di

reto

ra,

por

tere

m u

m c

ompo

rtam

ento

in

adeq

uado

. A

luno

s pe

dem

a a

tenç

ão c

onst

ante

da

prof

esso

ra

Prof

esso

ra

com

ento

u so

bre

as

difi

culd

ades

do

s al

unos

e

desa

bafo

u,

dize

ndo

que

culp

am o

pro

fess

or,

mas

fa

lta m

ater

ial d

e ap

oio

e ap

oio

dos

pais

.

Sent

iu-s

e in

satis

feit

a.

Sent

iu-s

e in

satis

feit

a.

Ten

são/

nerv

osis

mo.

Se

ntiu

-se

ansi

osa

e pr

eocu

pada

.

Pela

dif

icul

dade

de

os a

luno

s em

se

conc

entr

arem

. A

luno

s di

sput

avam

a

aten

ção

da p

rofe

ssor

a e

não

sabi

am o

qu

e fa

zer.

A

luno

s di

sper

sos,

ba

gunç

a na

sa

la

e co

mpo

rtam

ento

s in

adeq

uado

s.

Por

ter

mui

tos

alun

os

com

ne

cess

idad

es e

spec

iais

na

turm

a

Sent

iram

-se

inca

paze

s.

Ciú

mes

. Se

ntir

am-s

e co

nfus

os

e ag

itad

os.

Por

tere

m

difi

culd

ade

de

conc

entr

ação

de

conc

entr

ação

. N

eces

sida

de d

e te

r a

aten

ção

da

prof

esso

ra.

Por

tere

m t

erm

inad

o rá

pido

a

tare

fa.

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151

evit

ar m

ais

bagu

nça,

a p

rofe

ssor

a su

geri

u qu

e le

ssem

um

a re

vist

a.

Dua

s al

unas

qu

e es

tava

m

na

fren

te

com

eçar

am a

faz

er b

rinc

adei

ras,

com

iss

o a

prof

esso

ra

reso

lveu

le

vá-l

as

para

a

dire

tori

a. P

arec

e qu

e es

sas

duas

alu

nas

tinha

m c

ausa

do p

robl

emas

no

iníc

io d

o di

a.

A

turm

a es

tava

m

uito

ag

itada

. Fa

lava

m a

lto,

mex

iam

nos

arm

ário

s e

se

mov

imen

tava

m p

ela

sala

. (C

O:

A

prof

esso

ra

com

ento

u qu

e te

m

algu

ns a

luno

s co

m p

robl

ema.

Tem

doi

s re

pete

ntes

e o

utro

s ca

sos;

um

alu

no t

em

diag

nóst

ico

de

proc

essa

men

to

audi

tivo

ce

ntra

l; ou

tra

de d

éfic

it de

ate

nção

; um

m

enin

o qu

e di

min

uiu

mui

to o

ren

dim

ento

de

sde

que

os p

ais

se s

epar

aram

; ou

tro

que

é m

ais

rela

xado

e u

ns q

uatr

o co

m m

uita

di

ficu

ldad

e de

ap

rend

izag

em

que

prov

avel

men

te s

erão

ret

idos

. C

omen

tou

a pr

ofes

sora

: “O

qu

e eu

po

sso

faze

r?

Dep

ois

a cu

lpa

é do

pro

fess

or, m

as f

alta

m

recu

rsos

, pe

ssoa

l de

ap

oio,

os

pa

is

tam

bém

o aj

udam

. A

no

pass

ado

trab

alhe

i em

ou

tra

esco

la

com

um

a 3ª

rie

exce

lent

e, m

as e

ssa

turm

a re

alm

ente

dei

xand

o na

s m

ãos

de D

eus”

. T

ocou

o s

inal

e a

s cr

ianç

as f

oram

par

a a

sala

de

arte

. A

pro

fess

ora

pedi

u pa

ra a

pr

ofes

sora

de

ar

tes

se

pode

ria

man

ter

algu

ns

alun

os

na

sala

, po

is

prec

isav

a pa

ssar

alg

uns

exer

cíci

os d

e re

forç

o pa

ra

eles

fa

zere

m

no

fina

l de

se

man

a.

A

prof

esso

ra c

onco

rdou

. N

a sa

la

de

arte

s,

os

alun

os

inic

iara

m

faze

ndo

um

jogo

co

m

copo

s pa

ra

trab

alha

r a

aten

ção

e a

coor

dena

ção

mot

ora.

Fi

zera

m

essa

at

ivid

ade

por

10

min

utos

. A p

rofe

ssor

a re

solv

eu a

juda

r um

gr

upin

ho

que

esta

va

com

m

ais

difi

culd

ade,

enq

uant

o is

so o

res

tant

e do

s al

unos

com

eçar

am a

bri

ncar

com

o c

opo.

R

apid

amen

te a

sal

a fi

cou

deso

rgan

izad

a,

tinha

alu

no n

o ch

ão, a

luno

gri

tand

o co

m o

ou

tro

e a

prof

esso

ra c

ontin

uou

ajud

ando

o

grup

o e

deix

ando

o r

esta

nte

à vo

ntad

e.

Prof

esso

ra c

onto

u qu

e já

obt

eve

suce

sso

com

um

a tu

rma

de 3

ª sé

rie,

mas

que

co

m e

ssa

turm

a el

a na

da p

oder

ia f

azer

, de

ixan

do n

as m

ãos

de D

eus.

A

pro

fess

ora

deu

refo

rço

para

os

alun

os

dura

nte

a au

la d

e ar

tes.

A

pro

fess

ora

inic

iou

a au

la c

om u

ma

ativ

idad

e lú

dica

de

coor

dena

ção

mot

ora.

A

pr

ofes

sora

de

u at

ençã

o ao

s al

unos

co

m d

ific

ulda

de, e

nqua

nto

isso

os

outr

os

alun

os c

omeç

aram

a b

rinc

ar.

A p

rofe

ssor

a tr

abal

hou

com

os

alun

os a

cnic

a da

esc

rita

inv

ertid

a e

conv

erso

u ob

re L

eona

rdo

da V

inci

.

Org

ulho

. Se

ntiu

-se

preo

cupa

da.

. Sent

iu-s

e sa

tisfe

ita.

. Se

ntiu

-se

preo

cupa

da.

. Sent

iu-s

e sa

tisfe

ita.

.

Rel

ato

de

uma

situ

ação

de

su

cess

o H

á al

unos

qu

e nã

o ac

ompa

nham

a t

urm

a. A

lgun

s sã

o lib

erad

os d

a au

la d

e ar

tes

para

faz

er r

efor

ço.

Alu

nos

inte

ress

ados

pe

la

ativ

idad

e.

Em

at

ende

r os

al

unos

co

m

difi

culd

ades

. A

luno

s in

tere

ssad

os

pela

at

ivid

ade.

Ale

gria

. Se

ntir

am-s

e di

sper

sos.

Se

ntir

am-s

e in

tere

ssad

os.

Ati

vida

de lú

dica

e in

tere

ssan

te.

Alu

nos

não

cons

egue

m

trab

alha

r se

m a

coo

rden

ação

da

prof

esso

ra.

Ati

vida

de d

e de

scob

erta

.

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152

Dep

ois

fez

baru

lho

com

o c

opo

e pe

diu

para

qu

e to

dos

a ac

ompa

nhas

sem

. Po

ster

iorm

ente

, di

stri

buiu

un

s C

Ds

e tr

abal

hou

com

a e

scri

ta i

nver

tida

, o

CD

fu

ncio

nou

com

o es

pelh

o.

A

prof

esso

ra

expl

icou

o c

uida

do q

ue d

ever

iam

ter

com

o

CD

. A

s cr

ianç

as g

osta

ram

da

ativ

idad

e,

fica

ram

po

r al

gum

te

mpo

es

crev

endo

in

vert

ido

o no

me

dos

cole

gas.

A

pr

ofes

sora

exp

licou

que

da

Vin

ci e

scre

via

inve

rtid

o e

perg

unto

u se

ele

s ti

nham

ide

ia

do

por

quê.

U

m

alun

o re

spon

deu

corr

etam

ente

, os

ou

tros

es

tava

m

conv

ersa

ndo.

E

nqua

nto

as

cria

nças

re

aliz

avam

a

ativ

idad

e co

m

a es

crita

in

vert

ida,

ela

pre

paro

u tin

ta p

ara

próx

ima

ativ

idad

e.

Pedi

u qu

e D

ESE

NH

ASS

EM

um

a m

anda

la e

que

a p

inta

ssem

util

izan

do u

m

pinc

el f

ino

com

pon

tinho

s. A

s cr

ianç

as

sent

aram

e

real

izar

am

a at

ivid

ade.

A

m

aior

pa

rte

não

cons

egui

u fa

zer

pont

inho

s. A

pro

fess

ora

teve

que

sep

arar

rios

al

unos

qu

e es

tava

m

brin

cand

o e

atra

palh

ando

os

co

lega

s.

A

ntes

de

co

meç

ar e

ssa

ativ

idad

e, a

pro

fess

ora

fez

um

pequ

eno

rela

xam

ento

. A

s cr

ianç

as

fica

ram

tr

anqu

ilas

enqu

anto

es

tava

m

prod

uzin

do,

mas

de

pois

, en

quan

to

a pr

ofes

sora

ped

ia p

ara

algu

ns l

avar

em a

s m

ãos

e os

pi

ncéi

s,

a sa

la

viro

u um

a ba

gunç

a. U

ma

men

ina

pint

ou a

unh

a co

m

a tin

ta,

outr

a pi

ntou

a m

ão,

os m

enin

os

com

eçar

am a

mis

tura

r to

da a

tin

ta q

ue

sobr

ou.

(CO

: Q

uand

o a

prof

esso

ra d

eu c

onta

da

situ

ação

, a

sala

es

tava

to

talm

ente

de

sorg

aniz

ada.

A p

rofe

ssor

a fi

cou

mui

to

chat

eada

, po

is a

aul

a at

é aq

uele

mom

ento

tin

ha s

ido

boa.

)

A

prof

esso

ra

diss

e qu

e nu

nca

mai

s ir

á tr

abal

har

com

tin

ta c

om e

ssa

turm

a, q

ue

nem

a

segu

nda

séri

e ag

ia

dess

e je

ito.

M

ando

u or

gani

zar

uma

fila

par

a la

var

as

mão

s e

não

suja

rem

as

pare

des.

Nis

so a

pr

ofes

sora

da

turm

a ch

egou

e a

de

arte

s

Enq

uant

o os

al

unos

fa

ziam

a

escr

ita

inve

rtid

a, a

pro

fess

ora

prep

arou

pot

es d

e tin

ta p

ara

os a

luno

s ut

iliza

rem

faz

endo

po

ntin

hos

dent

ro d

e um

a m

anda

la.

A p

rofe

ssor

a tr

ocou

alu

nos

de lu

gar.

E

nqua

nto

a pr

ofes

sora

ac

ompa

nhav

a al

guns

alu

nos

que

esta

vam

lav

ando

as

mão

s, o

s ou

tros

bag

unça

vam

a s

ala

com

a

tinta

. A

pr

ofes

sora

fi

cou

frus

trad

a co

m

a si

tuaç

ão e

dis

se n

ão s

aber

mai

s o

que

faze

r co

m a

turm

a

S Sent

iu-s

e sa

tisfe

ita.

Se

ntiu

-se

preo

cupa

da.

Sent

iu-s

e de

sani

mad

a.

Frus

traç

ão/d

esân

imo.

O

inte

ress

e do

s al

unos

pe

la

ativ

idad

e.

Alu

nos

com

di

ficu

ldad

e de

co

ncen

traç

ão.

Por

ter

plan

ejad

o a

aula

e n

o fi

nal

os

alun

os

tere

m

bagu

nçad

o a

sala

e o

mat

eria

l. Po

r nã

o sa

ber

com

o tr

abal

har

com

ess

a tu

rma.

Sent

iram

-se

inte

ress

ados

. D

ific

ulda

de d

e co

ncen

traç

ão.

Sent

iram

-se

disp

erso

s e

conf

usos

.

Ati

vida

de in

tere

ssan

te.

Alu

nos

não

cons

egue

m

perm

anec

er

um

tem

po

na

ativ

idad

e.

Dif

icul

dade

de

conc

entr

ação

.

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153

expl

icou

a s

ituaç

ão. B

ateu

o s

inal

e o

s qu

e já

tinh

am la

vado

as

mão

s fo

ram

libe

rado

s.

Alg

uns

alun

os q

uise

ram

fic

ar n

a sa

la p

ara

ajud

ar n

a ar

rum

ação

. A

pro

fess

ora

diss

e qu

e nã

o sa

be o

que

faz

er c

om e

ssa

turm

a.

(CO

: A

pro

fess

ora

esta

va d

esol

ada,

tri

ste

porq

ue a

aul

a es

tava

cam

inha

ndo

bem

e

acab

ou

term

inan

do

dess

e je

ito.

Pe

rceb

i qu

e du

rant

e to

da

a au

la,

quan

do

ela

conc

entr

ava

o fo

co e

m a

lgun

s al

unos

, o

rest

ante

se

de

sorg

aniz

ava.

E

sses

al

unos

ne

cess

itam

de

uma

aten

ção

cons

tant

e, o

qu

e ac

onte

ce?

E

a pr

ofes

sora

qu

ando

fo

caliz

a em

alg

o, n

ão p

erce

be o

que

est

á ac

onte

cend

o ao

red

or?)

D

epoi

s do

al

moç

o,

a pr

imei

ra

aula

ta

mbé

m

foi

de

arte

s,

mas

co

m

outr

a pr

ofes

sora

e n

a pr

ópri

a sa

la d

e au

la.

Os

alun

os e

ntra

ram

em

fila

na

sala

e s

enta

ram

no

mes

mo

luga

r qu

e es

tava

m p

ela

man

hã.

(CO

: o m

esm

o di

a co

m m

uita

ativ

idad

e de

ar

tes.

A

pr

ofes

sora

er

a um

a se

nhor

a si

mpá

tica,

fir

me

e tr

anqu

ila.)

A

pro

fess

ora

levo

u un

s 20

min

utos

par

a co

nseg

uir

expl

icar

a a

tivid

ade.

Tro

cou

as

cria

nças

de

lu

gar.

N

o en

tant

o,

um

grup

inho

de

qua

tro

men

inas

deu

mui

to

trab

alho

. D

eboc

hava

m e

fic

avam

rin

do o

te

mpo

todo

. A

pr

ofes

sora

re

solv

eu

man

dar

duas

m

enin

as p

ara

dire

tori

a qu

e já

tin

ham

sid

o en

cam

inha

das

pela

pro

fess

ora

da m

anhã

. A

sal

a fi

cou

um p

ouco

mai

s tr

anqu

ila.

Est

ava

usan

do

pape

l qu

adri

cula

do

de

tam

anho

s di

fere

ntes

. Pe

diu

para

ca

lcul

arem

a d

ifer

ença

. Os

alun

os t

iver

am

mui

ta d

ific

ulda

de d

e co

mpr

eens

ão.

Dis

se

que

iria

tra

balh

ar g

eom

etri

a. P

ediu

par

a fa

zere

m u

ma

reta

de

quat

ro c

m, d

epoi

s de

oi

to

e de

pois

de

12

. C

omen

tou

que

a pr

ofes

sora

da

clas

se d

isse

que

ele

s nã

o sa

biam

us

ar

régu

a.

Tiv

eram

m

uita

di

ficu

ldad

e em

en

tend

er

a co

man

da.

A

prof

esso

ra

ia

de

cart

eira

em

ca

rtei

ra,

fala

ndo

com

ca

da

alun

o.

Tev

e m

uito

Apó

s o

alm

oço,

no

vam

ente

au

la

de

arte

s.

A

prof

esso

ra

teve

di

ficu

ldad

e de

co

meç

ar a

aul

a, t

roco

u al

unos

de

luga

r e

enca

min

hou

alun

os

para

a

Dir

etor

ia

(alg

umas

al

unas

tin

ham

id

o pa

ra

dire

tori

a pe

la m

anhã

).

Prof

esso

ra d

e ar

tes

trab

alho

u co

nteú

do

de

geom

etri

a po

r so

licit

ação

da

pr

ofes

sora

da

m

anhã

e

as

cria

nças

ap

rese

ntar

am m

uita

dif

icul

dade

.

Sent

iu-s

e an

sios

a e

preo

cupa

da.

Sent

iu-s

e pr

eocu

pada

e

frus

trad

a.

Dif

icul

dade

de

inic

iar

a au

la.

Pela

dif

icul

dade

dos

alu

nos

na

com

pree

nsão

do

s co

ncei

tos

bási

cos

de g

eom

etri

a.

Agi

taçã

o.

Sent

iram

-se

conf

usos

. .

Ret

orno

do

alm

oço.

Po

r nã

o co

mpr

eend

erem

o

cont

eúdo

.

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154

trab

alho

pa

ra

adm

inis

trar

a

sala

e

os

alun

os.

Dis

se

que

iria

de

ixar

a

port

a ab

erta

e

cham

ar

a di

reto

ra.

Perg

unto

u pa

ra

um

alun

o qu

e fe

z a

ativ

idad

e di

fere

nte

do

solic

itad

o.

“Est

á di

fíci

l co

mpr

eend

er

a pr

ofes

sora

ou

você

com

pree

nder

voc

ê?”

Mar

cos

esta

va

mex

endo

na

ca

ixa

e pe

gand

o fo

lha.

(C

O: E

le d

esen

ha b

em.)

Se

ntou

com

mai

s do

is a

luno

s e

cons

egui

u fa

zer

a at

ivid

ade.

A p

rofe

ssor

a el

ogio

u o

trio

. O

utro

alu

no c

omen

tou

com

a p

rofe

ssor

a qu

e el

a tin

ha d

ito

que

não

podi

a el

ogia

r.

Dep

ois,

a p

rofe

ssor

a pe

diu

para

faz

erem

um

qua

drad

o e

um t

riân

gulo

e t

raça

rem

al

gum

as

reta

s.

Os

alun

os

nova

men

te

apre

sent

aram

m

uita

di

ficu

ldad

e de

co

mpr

eens

ão.

Dep

ois

a pr

ofes

sora

dis

se

para

pi

ntar

em

os

quad

radi

nhos

co

mo

fize

ram

na

aula

pas

sada

(ba

rrad

os).

Fa

ltand

o 15

min

utos

par

a te

rmin

ar a

aul

a el

a fe

z a

cham

ada

e os

alu

nos

com

eçar

am

a te

rmin

ar

a at

ivid

ade,

in

do

até

a pr

ofes

sora

pa

ra

que

viss

e e

elog

iass

e.

Alg

umas

fal

as d

a pr

ofes

sora

: “M

uito

bem

. Pa

rabé

ns.

Est

á m

uito

bon

ito.

Ach

o qu

e ac

onte

ceu

algu

ma

cois

a ne

ssa

reta

, vo

não

quer

m

edir

de

no

vo?

Est

ou

mui

to

tris

te c

om v

ocês

qua

tro.

Gab

i, qu

e se

mpr

e fo

i bo

a al

una,

dep

ois

das

féri

as,

não

sei

o qu

e ac

onte

ceu”

. D

epoi

s,

um

alun

o pe

diu

para

ir

ao

ba

nhei

ro.

Um

a m

enin

a co

men

tou

que

o vi

u co

rren

do

fora

. R

uan

reba

teu

dize

ndo

que

tinha

ido

ao

banh

eiro

e q

ue

ela

era

men

tiro

sa.

A p

rofe

ssor

a di

sse

que

acre

dita

va

nele

e

pedi

u pa

ra

cada

um

cu

idar

da

sua

vida

e a

cres

cent

ou:

“Voc

ês

estã

o se

mpr

e pr

eocu

pado

s co

m a

vid

a do

co

lega

”.

Dep

ois

pedi

u pa

ra o

s al

unos

gua

rdar

em o

ca

dern

o.

Bat

eu o

sin

al e

a p

rofe

ssor

a sa

iu d

a sa

la

ante

s da

out

ra p

rofe

ssor

a ch

egar

.

Prof

esso

ra f

irm

e, m

as a

tenc

iosa

com

os

alun

os,

elog

iou

e in

cent

ivou

. A

pesa

r da

di

ficu

ldad

e in

icia

l pa

ra c

omeç

ar a

aul

a,

os a

luno

s ac

abar

am p

rodu

zind

o.

Sent

iu-s

e tr

anqu

ila.

Por

ter

expe

riên

cia

em li

dar.

Sent

iram

-se

mot

ivad

os

e ac

olhi

dos

pela

pro

fess

ora.

Por

tere

m s

ido

ince

ntiv

ados

e

elog

iado

s pe

la p

rofe

ssor

a.

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155

Dep

ois

os a

luno

s te

riam

mai

s du

as a

ulas

de

edu

caçã

o fí

sica

e n

o m

eio

dess

as a

ulas

se

ria

o in

terv

alo.

N

esse

di

a os

al

unos

ir

iam

tr

eina

r pa

ra

desf

ile

de

sete

de

se

tem

bro.

Não

ass

isti

a e

ssa

aula

. A

ssis

ti so

men

te o

iníc

io d

o tr

eino

.

Page 169: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

156

Apê

ndic

e V

II –

Epi

sódi

o 4

Esc

ola:

B

Dat

a: 1

3/09

/201

1 P

arti

cipa

ntes

: Pr

ofes

sore

s Jo

ão (

ensi

no r

egul

ar/c

urrí

culo

bás

ico)

, Fá

bio

(pro

fess

or d

e ed

ucaç

ão f

ísic

a),

Mar

ina

(ofi

cina

de

saúd

e e

qual

idad

e de

vid

a),

Van

ia (

ofic

ina

de o

rien

taçã

o ao

est

udo

e pe

squi

sa)

e Jo

ana

(ofi

cina

ex

peri

ênci

as e

m m

atem

átic

a) e

um

a tu

rma

com

alu

nos

da 4

ª sér

ie d

o E

nsin

o Fu

ndam

enta

l I

Situ

ação

obs

erva

da: u

m d

ia d

e au

la n

a es

cola

de

tem

po in

tegr

al

Hor

ário

: das

8 h

às

15 h

(nã

o fo

i pos

síve

l obs

erva

r o

dia

inte

iro,

em

fun

ção

de a

pes

quis

ador

a te

r ou

tros

com

prom

isso

s).

Tít

ulo:

Haj

a liç

ão!

O

bser

vaçã

o: O

s no

mes

dos

pro

fess

ores

e d

os a

luno

s sã

o fi

ctíc

ios

com

obj

etiv

o de

pre

serv

ar a

iden

tidad

e do

s pa

rtic

ipan

tes

da p

esqu

isa.

D

escr

ição

da

situ

ação

E

xplic

itaç

ão d

os s

igni

fica

dos

Sent

imen

tos

apre

endi

dos

pelo

P

esqu

isad

or e

m

Rel

ação

ao

prof

esso

r

Situ

ação

indu

tora

Se

ntim

ento

s ap

reen

dido

s pe

lo

Pes

quis

ador

em

R

elaç

ão a

mai

oria

dos

A

luno

s

Situ

ação

indu

tora

Che

guei

às

8 ho

ras

e fu

i pa

ra a

sal

a do

pro

fess

or J

oão.

A p

orta

est

ava

aber

ta. P

edi l

icen

ça e

ent

rei n

a sa

la, q

ue e

stav

a lo

tada

, som

ente

um

alu

no

havi

a fa

ltado

. O

pro

fess

or f

oi b

usca

r um

a ca

deir

a pa

ra m

im.

Hav

ia u

ma

esta

giár

ia d

e ob

serv

ador

a, f

oi a

pri

mei

ra v

ez q

ue a

vi n

a es

cola

. A

s ca

rtei

ras

esta

vam

dis

post

as e

m f

ileir

as e

em

dup

las,

esc

olhi

das

pelo

pr

ofes

sor.

Port

a da

sa

la

aber

ta,

com

m

uito

s al

unos

em

sal

a. P

rofe

ssor

e a

luno

s fo

ram

rec

epti

vos.

Rec

epti

vida

de.

V

isita

da

pe

squi

sado

ra,

que

já e

ra c

onhe

cida

pel

o pr

ofes

sor

e pe

los

alun

os.

Ale

gria

.

Vis

ita

da

pesq

uisa

dora

, qu

e já

era

con

heci

da p

elo

prof

esso

r e

pelo

s al

unos

.

Os

alun

os e

stav

am c

om d

uas

folh

as e

spec

ífic

as c

om a

tivid

ades

. N

a pr

imei

ra f

olha

hav

ia u

m t

exto

da

Rev

ista

CH

C e

na

segu

nda

uma

pequ

ena

cart

a de

um

leit

or a

ess

a re

vist

a, n

essa

fol

ha h

avia

tam

bém

um

a ilu

stra

ção.

Q

uand

o eu

che

guei

os

alun

os e

stav

am l

endo

a c

arta

em

con

junt

o co

m o

pr

ofes

sor,

qu

e fa

zia

algu

mas

pe

rgun

tas

para

os

al

unos

: “Q

uem

es

crev

eu?”

Os

alun

os d

isse

ram

: L

uiza

. “P

or q

ue L

uiza

est

á co

m l

etra

m

aiús

cula

?” O

s al

unos

res

pond

eram

: po

r se

r no

me

próp

rio.

Per

gunt

ou

tam

bém

: “Q

uem

é o

rem

eten

te?

De

que

luga

r?”

Os

alun

os d

isse

ram

: Pi

raci

caba

/São

Pau

lo.

“Com

que

int

uito

Lui

za e

scre

veu

essa

car

ta?”

Su

gest

ão e

elo

gio.

Est

avam

tra

balh

ando

um

a at

ivid

ade

em f

olha

s av

ulsa

s: t

exto

e d

epoi

s ca

rta

ao le

itor

da

Rev

ista

CH

C.

O p

rofe

ssor

leu

o p

rim

eiro

tex

to e

de

pois

fe

z pe

rgun

tas

aos

alun

os,

prop

icia

ndo

bast

ante

int

eraç

ão c

om

eles

.

Em

penh

o.

Inte

ress

e pe

lo

apre

ndiz

ado

dos

alun

os e

pe

lo b

om r

esul

tado

dos

al

unos

no

SAR

ESP

.

Sent

iram

-se

mot

ivad

os.

Ati

vida

de p

ropo

sta.

A p

rofe

ssor

a da

out

ra s

ala

bate

u na

por

ta e

os

dois

pro

fess

ores

fic

aram

co

nver

sand

o na

por

ta p

or a

lgun

s m

inut

os.

(CO

: O

s do

is p

rofe

ssor

es p

arec

em t

roca

r ba

stan

te i

deia

s. A

pro

fess

ora

está

sem

pre

visi

tand

o es

se p

rofe

ssor

.)

Os

prof

esso

res

da

séri

e co

mpa

rtilh

am

suas

ex

peri

ênci

as/a

tivid

ades

, m

as

falta

te

mpo

par

a es

se c

ompa

rtilh

amen

to,

faze

ndo

com

qu

e es

sas

troc

as

ocor

ram

no

corr

edor

. Pe

rceb

endo

a c

onve

rsa,

o p

rofe

ssor

re

tom

ou a

ati

vida

de.

Coo

pera

ção.

N

eces

sida

de

de

co

mpa

rtilh

ar

o pl

anej

amen

to.

Sent

iram

-se

conf

usos

. Pr

ofes

sor

não

deix

ou

uma

tare

fa

enqu

anto

co

nver

sava

m.

Os

alun

os

tam

bém

co

nver

sava

m

e fa

ziam

bag

unça

.

Log

o de

pois

, no

vam

ente

bat

eram

na

port

a. E

ra o

dir

etor

com

um

a no

va

A a

ula

foi

nova

men

te i

nter

rom

pida

, R

ecep

tivi

dade

. R

eceb

er

uma

nova

R

espe

ito.

Fo

ram

or

ient

ados

pe

lo

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157

prof

esso

ra p

ara

4ª s

érie

C.

A t

urm

a se

lev

anto

u pa

ra d

ar b

om d

ia a

o di

reto

r e

à pr

ofes

sora

.

agor

a pe

lo

dire

tor,

qu

e qu

eria

ap

rese

ntar

um

a no

va p

rofe

ssor

a.

cole

ga.

dire

tor

a le

vant

ar e

dar

bo

m d

ia.

O p

rofe

ssor

e o

s al

unos

con

tinua

ram

com

a l

eitu

ra.

Os

alun

os q

ueri

am

pint

ar o

des

enho

. U

ma

cria

nça

com

ento

u qu

e o

dese

nho

pare

cia

do

Pinó

quio

. O p

rofe

ssor

fal

ou: “

Voc

ês já

vão

ent

ende

r po

r qu

e o

nari

z de

le

é tã

o gr

ande

. O

pro

fess

or l

eu a

car

ta p

ara

os a

luno

s e

pedi

u pa

ra p

rest

arem

ate

nção

, ac

ompa

nhan

do a

lei

tura

. E

acr

esce

ntou

: “C

alm

a, n

ão p

edi

para

pin

tar

o de

senh

o.”

As

cria

nças

fic

aram

ate

ntas

à le

itura

do

prof

esso

r.

O

prof

esso

r fe

z al

gum

as

perg

unta

s:

‘Que

m

se

lem

bra

de

quan

do

estu

dam

os o

sis

tem

a di

gest

ório

?

E s

obre

o c

hicl

ete?

” O

pro

fess

or

rele

mbr

ou a

os a

luno

s co

mo

func

iona

va o

apa

relh

o di

gest

ório

. E

dis

se:

“Pre

stem

ate

nção

. Tem

os o

s ci

nco

sent

idos

...”

O p

rofe

ssor

tro

cou

o C

aio

de l

ugar

com

a H

elen

a e

com

ento

u qu

e nã

o da

va c

erto

o d

ois

fica

rem

jun

tos.

Um

alu

no c

omen

tou

que

onte

m o

Cai

o tin

ha f

eito

mui

ta b

agun

ça n

a sa

la d

e in

form

átic

a. O

pro

fess

or e

xplic

ou

com

o fu

ncio

nava

o e

stôm

ago.

Um

alu

no c

omen

tou

que

a ba

rrig

a de

le

esta

va r

onca

ndo

e o

prof

esso

r di

sse

que

aind

a nã

o es

tava

na

hora

do

recr

eio.

O

prof

esso

r co

ntin

uou

com

a

leit

ura,

m

as

os

alun

os

esta

vam

in

tere

ssad

os e

m p

inta

r o

dese

nho.

A

pós

a le

itur

a,

o pr

ofes

sor

fez

vári

as

perg

unta

s so

bre

o te

xto

e re

lem

brou

con

teúd

os já

trab

alha

dos.

O

pr

ofes

sor

sepa

rou

alun

os

que

esta

vam

con

vers

ando

.

Em

penh

o.

Mob

iliza

r o

inte

ress

e do

s al

unos

pel

a at

ivid

ade.

Se

ntir

am-s

e de

smot

ivad

os.

As

inte

rrup

ções

qu

ebra

ram

o

ritm

o da

au

la,

os a

luno

s es

tava

m

mai

s in

tere

ssad

os

em

pint

ar o

des

enho

.

Ter

min

ada

a le

itur

a, o

pro

fess

or p

ediu

par

a um

alu

no d

istr

ibui

r ou

tra

folh

a e

falo

u qu

e ag

ora

vinh

a a

part

e bo

a.

Um

alu

no c

omen

tou:

“O

sen

hor

vai

escr

ever

na

lous

a.”

O p

rofe

ssou

di

sse:

“Q

uer

dize

r qu

e a

part

e bo

a é

qua

ndo

trab

alha

mos

com

a lo

usa?

É

bom

sab

er d

isso

.” O

pro

fess

or f

ez o

com

entá

rio

brin

cand

o co

m o

alu

no.

Os

alun

os

rece

bera

m

outr

a fo

lha

com

ativ

idad

e.

Um

al

uno

com

ento

u qu

e go

stav

a qu

ando

o p

rofe

ssor

tra

balh

ava

com

a

lous

a, m

ostr

ando

que

rec

onhe

ce

com

o au

la

quan

do

é ut

iliza

da

a lo

usa.

Em

penh

o.

Nec

essi

dade

de

mot

ivar

os

al

unos

/pre

para

ção

para

o S

AR

ESP

.

Sent

iram

-se

desm

otiv

ados

. M

uita

s fo

lhas

de

ex

ercí

cio,

os

alun

os n

ão

ente

ndia

m o

obj

etiv

o da

at

ivid

ade.

O

s al

unos

co

nver

sava

m b

asta

nte.

O p

rofe

ssor

dis

trib

uiu

uma

nova

fol

ha, e

nqua

nto

isso

os

alun

os s

enta

dos,

co

nver

sava

m c

om o

s co

lega

s.

O p

rofe

ssor

ped

iu a

tenç

ão, p

ois

iria

exp

licar

a a

tivi

dade

. Com

ento

u co

m

os a

luno

s qu

e el

es j

á tin

ham

lido

vár

ias

notíc

ias

e co

nver

sado

sob

re e

las,

qu

e is

so i

ria

ajud

á-lo

s. C

omen

tou

que

hoje

pre

cisa

vam

esc

reve

r um

a ca

rta

com

opi

nião

. Par

a is

so, c

omeç

ou a

faz

er a

lgum

as p

ergu

ntas

par

a os

al

unos

: Ful

ano,

qua

l o f

ilme

mai

s in

tere

ssan

te q

ue v

ocê

viu

esse

ano

? Po

r qu

e vo

cê g

osto

u de

sse

film

e?

Dep

ois,

con

vers

ou c

om o

s al

unos

sob

re a

dif

eren

ça e

ntre

sug

estã

o e

opin

ião.

D

isse

qu

e nã

o qu

eria

na

da

diss

o:

Gos

tei

porq

ue

é le

gal,

inte

ress

ante

, bon

ito.

O

prof

esso

r fa

lou

para

os

al

unos

qu

e el

es

tinh

am

lido

vári

as

notíc

ias

e qu

e is

so

ajud

aria

a

escr

ever

em

uma

cart

a de

op

iniã

o/su

gest

ão: c

arta

ao

leit

or.

Para

iss

o, o

pro

fess

or f

ez t

ambé

m

perg

unta

s ao

s al

unos

com

obj

etiv

o de

tr

abal

har

a di

fere

nça

entr

e su

gest

ão e

opi

nião

.

Em

penh

o.

Nec

essi

dade

de

mot

ivar

os

al

unos

pa

ra

a re

aliz

ação

da

tare

fa.

Sent

iram

-se

mot

ivad

os.

Solic

itaç

ão d

o pr

ofes

sor

para

qu

e pu

dess

em

real

izar

a a

tivid

ade.

G

osta

m

quan

do

o pr

ofes

sor

faz

perg

unta

.

Falo

u pa

ra a

tur

ma:

“V

amos

lá.

Ago

ra é

pre

ciso

silê

ncio

. N

ingu

ém

escr

eve

com

bar

ulho

. H

oje

com

o a

sala

est

á co

mpl

eta,

irie

i le

r de

qu

em e

stiv

er s

enta

do, n

ão a

dian

ta v

ir a

qui n

a fr

ente

.”

Os

alun

os c

onve

rsav

am e

não

com

eçav

am a

ati

vida

de.

O p

rofe

ssor

ch

amou

ate

nção

em

rel

ação

ao

baru

lho.

Ped

iu p

ara

Nád

ia t

roca

r de

luga

r

Prof

esso

r pe

diu

silê

ncio

par

a qu

e os

al

unos

pud

esse

m e

scre

ver,

mas

ele

s co

ntin

uara

m

a co

nver

sar.

N

ão

sabi

am c

omo

com

eçar

a e

scre

ver,

ap

esar

das

inst

ruçõ

es a

nter

iore

s.

Sent

iu-s

e pr

eocu

pado

.

Se

os

alun

os

dari

am

cont

a de

fa

zer

as

ativ

idad

es s

ozin

hos.

Sent

iram

-se

desi

nter

essa

dos.

A f

alta

de

repe

rtór

io e

o

grau

de

di

ficu

ldad

e da

ta

refa

par

a os

alu

nos.

Page 171: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

158

e ch

amou

a a

tenç

ão d

o Pa

ulo.

O

pro

fess

or d

isse

: N

a ca

rta

tem

que

ter

tít

ulo,

que

não

pre

cisa

ser

o d

a m

atér

ia d

a re

vist

a.

Os

men

inos

que

ao

meu

lado

pas

sava

m a

bor

rach

a vá

rias

vez

es. A

lgum

as

cria

nças

com

eçar

am a

esc

reve

r. O

pro

fess

or f

oi à

s m

esas

e p

erce

beu

a di

ficu

ldad

e da

mai

oria

dos

alu

nos.

E

m f

unçã

o de

ssa

difi

culd

ade,

os

alun

os c

omeç

aram

ai s

e di

sper

sar.

O p

rofe

ssor

res

olve

u es

crev

er a

car

ta

cole

tiva

men

te

na

lous

a.

Para

is

so,

pedi

u ao

s al

unos

qu

e ol

hass

em

aten

tam

ente

par

a a

lous

a. P

ergu

ntou

par

a as

cri

ança

s se

era

cum

prim

ento

ou

com

prim

ento

e s

e o

m e

n a

ntes

de

p e

b. D

isse

que

era

par

a qu

em

esta

va f

azen

do p

arar

e ta

mbé

m p

rest

ar a

tenç

ão.

Perg

unto

u pa

ra o

s al

unos

com

o po

diam

com

eçar

a c

arta

. E

scre

vera

m:

Olá

tur

ma

da C

HC

. N

ós s

omos

da

4ª s

érie

A d

a E

scol

a A

ugus

to d

e M

aced

o C

osta

...

Bat

eram

na

port

a. E

ra u

ma

moç

a da

sec

reta

ria

que

pedi

u pa

ra e

ntre

gar

algu

mas

car

teir

inha

s pa

ra a

lgun

s al

unos

. Ela

sai

u e

o pr

ofes

sor

dist

ribu

iu

as c

arte

irin

has.

Os

alun

os s

e ag

itara

m,

quer

endo

sab

er p

or q

ue a

lgun

s nã

o re

cebe

ram

. O

pr

ofes

sor

diss

e pa

ra

eles

de

pois

pe

rgun

tare

m

na

secr

etar

ia e

con

tinuo

u co

m a

aul

a.

Con

tinua

ram

com

a c

arta

: N

ós g

osta

mos

mui

to d

a m

atér

ia s

obre

a

barr

iga

que

ronc

a. O

pro

fess

or p

ergu

ntou

: “P

or q

uê?”

Ped

ro r

espo

ndeu

: “p

orqu

e ex

plic

ou a

fun

ção

do e

stôm

ago.

” (C

O:

O p

rofe

ssor

nov

amen

te t

ento

u am

plia

r o

repe

rtór

io d

os a

luno

s de

m

odo

que

eles

pud

esse

m c

oloc

ar a

s su

as o

pini

ões.

) O

pro

fess

or p

ergu

ntou

par

a o

Mar

cos

sobr

e um

a m

úsic

a d

e qu

e el

e nã

o go

stav

a. O

alu

no d

emor

ou a

res

pond

er,

pass

ando

a p

alav

ra p

ara

o Jo

ão

que

falo

u qu

e nã

o go

stav

a do

Jus

tin B

. O

pro

fess

or p

ergu

ntou

por

que

e

ele

diss

e qu

e er

a po

rque

era

mús

ica

de b

icha

. O p

rofe

ssor

com

ento

u qu

e ce

rtas

pal

avra

s nã

o de

vem

ser

uti

lizad

as. U

ma

men

ina

com

ento

u qu

e nã

o go

stav

a po

rque

ele

usa

rou

pas

cafo

nas.

A tu

rma

esta

va b

asta

nte

agita

da.

Prof

esso

r pe

rceb

eu a

dif

icul

dade

e

reso

lveu

ir

de m

esa

em m

esa.

Em

fu

nção

das

dif

icul

dade

s do

s al

unos

, co

meç

ou

a tr

abal

har

a es

crita

co

leti

vam

ente

. O

corr

eu

uma

nova

in

terr

upçã

o.

Um

a fu

ncio

nári

a en

trou

na

sala

par

a en

treg

ar

algu

mas

ca

rtei

rinh

as.

Prof

esso

r re

tom

ou a

aul

a.

Em

patia

. Se

ntiu

-se

conf

uso.

O p

rofe

ssor

con

segu

iu s

e co

loca

r no

lu

gar

do

alun

o e

perc

eber

su

as

difi

culd

ades

. O

pr

ofes

sor

deci

diu

dist

ribu

ir a

s ca

rtei

rinh

as.

Sent

iram

-se

Inte

ress

ados

. Se

ntir

am-s

e co

nfus

os.

Mob

iliza

ção

do

do

pr

ofes

sor

para

a e

scri

ta

cole

tiva

. Pr

ofes

sor

dist

ribu

iu

as

cart

eiri

nhas

no

m

omen

to d

a co

nstr

ução

do

text

o co

leti

vo.

Toc

ou o

sin

al e

che

gou

o pr

ofes

sor

de e

duca

ção

físi

ca.

As

cria

nças

fi

cara

m e

ufór

icas

, gr

itar

am,

leva

ntar

am,

bate

ram

pal

mas

. O

pro

fess

or

espe

rou

a tu

rma

se a

calm

ar e

per

gunt

ou s

e al

guém

tin

ha b

ola,

poi

s já

so

licit

ou

com

pra

de

bola

s,

mas

a

esco

la

aind

a nã

o co

nseg

uiu

prov

iden

ciar

. A

s cr

ianç

as n

ão t

roux

eram

bol

as.

O p

rofe

ssor

dis

se q

ue

iria

m im

prov

isar

alg

uma

cois

a na

qua

dra.

(C

O: N

ão a

ssis

ti à

aula

, poi

s fi

quei

con

vers

ando

com

o p

rofe

ssor

. Ele

me

cont

ou s

obre

a s

aída

da

prof

esso

ra,

da s

ua e

ntra

da n

a es

cola

e d

a di

ficu

ldad

e de

dar

con

ta d

o co

nteú

do p

ara

o SA

RE

SP)

Apó

s a

educ

ação

fís

ica,

os

alun

os f

oram

par

a o

inte

rval

o.

Os

alun

os

dem

onst

rara

m

aleg

ria

com

a

cheg

ada

do

prof

esso

r de

ed

ucaç

ão f

ísic

a.

Não

hav

ia m

ater

ial

disp

onív

el p

ara

a au

la.

O p

rofe

ssor

dis

se q

ue i

ria

impr

ovis

ar

algu

ma

ativ

idad

e na

qu

adra

.

Sent

iu-s

e fr

ustr

ado.

Fa

lta

de

mat

eria

l pa

ra

aula

. A

legr

ia.

Por

pode

r fa

zer

uma

ativ

idad

e fo

ra d

a sa

la d

e au

la,

mes

mo

sem

m

ater

ial a

dequ

ado.

Os

alun

os r

etor

nara

m d

o au

la

e do

int

erva

lo b

asta

nte

agit

ados

. O

pr

ofes

sor

auto

rizo

u qu

e pi

ntas

sem

o d

esen

ho d

a at

ivid

ade

até

ele

se

orga

niza

r. C

om i

sso,

os

alun

os f

oram

tam

bém

se

acal

man

do.

Dep

ois

reco

lheu

as

ativ

idad

es, p

ara

term

iná-

la o

utro

dia

.

Prof

esso

r au

tori

zou

as

cria

nças

a

pint

arem

os

de

senh

os,

para

se

ac

alm

arem

apó

s o

recr

eio,

enq

uant

o el

e se

org

aniz

ava

para

con

tinua

r a

Sent

iu-s

e co

nfus

o.

Agi

taçã

o da

s cr

ianç

as e

ne

cess

idad

e de

org

aniz

ar

a pr

óxim

a at

ivid

ade

a se

r re

aliz

ada.

Agi

taçã

o.

Ret

orno

apó

s a

aula

de

educ

ação

sica

e

inte

rval

o.

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159

Pedi

u pa

ra o

s al

unos

peg

arem

o c

ader

no d

e m

atem

átic

a e

diss

e qu

e nã

o qu

eria

mai

s es

cuta

r co

nver

sa.

Dis

se t

ambé

m:

“Joa

quim

, se

nta

e nã

o le

vant

a m

ais.

” D

uas

alun

as c

hega

ram

atr

asad

as e

fal

aram

que

a S

olan

ge

foi p

ara

a D

iret

oria

, poi

s br

igou

no

inte

rval

o.

O p

rofe

ssor

dis

se:

“Che

ga.

Eu

quer

o si

lênc

io a

gora

.” A

tur

ma

fico

u em

si

lênc

io e

nqua

nto

o pr

ofes

sor

com

eçou

a e

scre

ver

na lo

usa.

aula

. Po

ster

iorm

ente

, pe

diu

silê

ncio

en

quan

to e

scre

via

a liç

ão n

a lo

usa.

O p

rofe

ssor

ped

iu p

ara

os a

luno

s fo

rmar

em g

rupo

s, p

ois

iria

m t

raba

lhar

co

m o

mat

eria

l dou

rado

. (C

O:

Obs

erve

i qu

e um

gru

po d

e m

enin

os e

stav

a co

nver

sand

o so

bre

a es

tagi

ária

) O

pro

fess

or d

isse

: “V

amos

lá.

Olh

em p

ara

mim

um

pou

quin

ho.

Voc

ês

lem

bram

qua

ndo

trab

alha

mos

com

a p

izza

par

a en

tend

erm

os o

con

ceit

o de

fr

ação

. H

oje

vam

os

trab

alha

r co

m

os

núm

eros

de

cim

ais,

qu

e é

tam

bém

um

jeito

de

repr

esen

tar

part

es ig

uais

.”

O

prof

esso

r fa

lou:

“N

atas

ha,

fica

qu

ieta

. D

epoi

s vo

chili

que,

di

zend

o qu

e nã

o en

tend

eu n

ada.

Pre

sta

aten

ção.

” O

pro

fess

or r

elem

brou

al

guns

con

ceito

s de

fra

ções

.

Nov

a ag

itaç

ão,

os

alun

os

fora

m

solic

itad

os

a se

ntar

em

em

grup

o pa

ra

trab

alha

r co

m

mat

eria

l do

urad

o.

Agi

taçã

o.

Prof

esso

r so

licit

ou

aten

ção

para

re

tom

ar

algu

ns

conc

eito

s de

fr

ação

.

Agi

taçã

o.

Nec

essi

dade

de

se

or

gani

zar

em g

rupo

.

Dep

ois,

res

olve

u di

stri

buir

o l

ivro

Ler

e E

scre

ver

e pe

diu

para

os

alun

os

abri

rem

em

um

a de

term

inad

a pá

gina

. Ped

iu p

ara

o G

usta

vo d

istr

ibui

r as

ca

lcul

ador

as.

O p

rofe

ssor

per

cebe

u qu

e o

Luc

as e

stav

a br

inca

ndo

com

fig

urin

has,

foi

at

é o

men

ino

, pe

gou

as f

igur

as e

gua

rdou

com

ele

. D

epoi

s, c

ontin

uou

com

a e

xplic

ação

. R

epre

sent

ou o

s nú

mer

os c

om a

s fr

açõe

s e

com

os

deci

mai

s.

Alg

umas

cr

ianç

as

não

pres

tava

m

aten

ção,

po

is

esta

vam

br

inca

ndo

com

a c

alcu

lado

ra.

(CO

: Os

alun

os e

stav

am p

erdi

dos

com

tant

o m

ater

ial a

o m

esm

o te

mpo

, o

que

difi

culta

va a

con

cent

raçã

o na

exp

licaç

ão d

o pr

ofes

sor)

O

pr

ofes

sor

pedi

u pa

ra

pega

rem

a

barr

inha

do

m

ater

ial

dour

ado

e co

meç

ou a

rep

rese

ntar

no

quad

ro a

bar

rinh

a e

a fr

ação

cor

resp

onde

nte.

O

prof

esso

r fa

lou

para

o E

dson

: “E

sper

o qu

e vo

cê e

stej

a fa

land

o so

bre

isso

. C

hega

Eds

on. P

rest

a at

ençã

o. É

o q

ue v

ai f

azer

dif

eren

ça.”

A

lgum

as c

rian

ças

brin

cava

m c

om a

bar

rinh

a. O

utra

s ba

tiam

com

a

barr

inha

na

mes

a. O

pro

fess

or p

egou

a b

arri

nha

e fa

lou:

“É

com

o se

eu

foss

e di

vidi

r o

choc

olat

e em

10

unid

ades

, eu

rep

rese

ntar

ia c

ada

peda

ço

em d

ecim

al p

or 0

,1.”

Acr

esce

ntou

: “O

lhem

a r

égua

. Se

som

ar d

ez v

ezes

0,

1 é

igua

l a

1,0.

” O

pro

fess

or t

roco

u a

Cát

ia d

e lu

gar

e co

ntin

uou:

“A

gora

peg

uem

a p

laca

. E

la r

epre

sent

a a

cent

ena.

Se

eu d

ivid

ir e

m 1

00

peda

ços,

qua

l o v

alor

de

um p

edaç

o? C

omo

esto

u de

reg

ime,

se

eu c

omer

um

ped

aço,

com

o po

sso

repr

esen

tá-l

o em

dec

imal

?” A

tur

ma

resp

onde

u 0,

01. “

E s

e eu

com

esse

doi

s de

100

?” O

s al

unos

res

pond

eram

: 0,0

2.

Prof

esso

r tr

abal

hou

com

o

livro

“L

er

e E

scre

ver”

, as

cr

ianç

as

cont

inua

m a

gita

das.

D

epoi

s pe

diu

para

um

al

uno

dist

ribu

ir a

s ca

lcul

ador

as.

As

cria

nças

fi

cara

m

agita

das

e co

nfus

as c

om ta

nto

mat

eria

l. O

pr

ofes

sor

fez

uma

brin

cade

ira,

as

soci

ando

a

barr

inha

a

um

choc

olat

e e

falo

u qu

e es

tava

de

re

gim

e.

As

cria

nças

go

star

am

da

brin

cade

ira.

Sent

iu-s

e co

nfus

o.

Em

penh

o.

Prof

esso

r te

ntou

co

ntro

lar

agita

ção

das

cria

nças

, m

as

utili

zou

vári

os

recu

rsos

ao

m

esm

o te

mpo

, ge

rand

o m

ais

agita

ção.

Pe

rceb

e a

agit

ação

da

tu

rma

e tr

az o

con

ceit

o pa

ra u

ma

situ

ação

re

al,

mas

eng

raça

da.

Agi

taçã

o

Sent

iram

-se

inte

ress

ados

.

Nov

a or

gani

zaçã

o da

sa

la,

mui

tos

mat

eria

is

sobr

e a

mes

a,

difi

culd

ade

de

conc

entr

ação

. A

ana

logi

a do

pro

fess

or

desp

erto

u o

inte

ress

e do

s al

unos

.

E o

pro

fess

or c

ontin

uou:

“A

com

panh

em a

gora

no

livro

. Faç

am a

s co

ntas

ut

iliza

ndo

a ca

lcul

ador

a.”

Os

alun

os

fize

ram

as

co

ntas

ut

iliza

ndo

a ca

lcul

ador

a: 1

divi

dido

0,1

,2,3

,4,5

,6,7

,8,9

,10.

Enc

ontr

aram

díz

imas

. O

O

prof

esso

r fe

z o

exer

cíci

o em

co

njun

to

com

os

al

unos

. E

m

um

dete

rmin

ado

mom

ento

, de

cidi

u

Sent

iu-s

e co

nfus

o.

Dem

onst

rou

cert

a di

ficu

ldad

e em

ex

plic

ar

os c

once

itos.

Sent

iram

-se

inte

ress

ados

.

Exe

rcíc

io

real

izad

o em

co

njun

to

com

o

prof

esso

r,

utili

zand

o a

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160

prof

esso

r co

rrig

iu a

s co

ntas

na

lous

a. D

epoi

s o

exer

cíci

o so

licit

ava

para

co

loca

r os

res

ulta

dos

do m

aior

par

a o

men

or.

O p

rofe

ssor

com

eçou

a

expl

icar

com

o re

aliz

ar o

exe

rcíc

io, m

as d

ecid

iu p

arar

a e

xplic

ação

. Pe

diu

para

os

alun

os g

uard

arem

o m

ater

ial,

o qu

e ge

rou

mui

ta c

onfu

são.

D

epoi

s, p

ediu

par

a os

alu

nos

rela

xare

m,

abai

xand

o a

cabe

ça a

té t

ocar

o

sina

l. (O

bser

vei

que

o fa

to d

e nã

o te

r um

aju

dant

e pa

ra r

ecol

her

o m

ater

ial

gero

u m

uita

con

fusã

o, p

ois

a sa

la e

ra m

uito

peq

uena

e t

odos

for

am a

té o

ar

már

io p

ara

guar

dar

os l

ivro

s. O

pro

fess

ou e

sque

ceu

de r

ecol

her

as

barr

inha

s. D

eixo

u o

mat

eria

l dou

rado

for

a do

arm

ário

.)

Os

alun

os p

erm

anec

eram

de

cabe

ça a

baix

ada

por

pouc

os m

inut

os,

pois

lo

go t

ocou

o s

inal

. O

pro

fess

or a

com

panh

ou o

s al

unos

até

o r

efei

tóri

o.

Nes

se c

amin

ho, t

rês

alun

os b

riga

ram

e f

oram

leva

dos

para

a d

iret

oria

.

faze

r ou

tra

ativ

idad

e.

Não

fi

cou

clar

o o

que

acon

tece

u.

Prof

esso

r pe

diu

para

os

al

unos

gu

arda

rem

o m

ater

ial

e ab

aixa

rem

a

cabe

ça a

té to

car

o si

nal.

Falto

u um

aju

dant

e pa

ra a

juda

r a

reco

lher

o m

ater

ial,

a si

tuaç

ão f

oi

bast

ante

tum

ultu

ada.

Sent

iu-s

e co

nfus

o e

cans

ado.

Enc

erra

men

to d

a au

la.

Agi

taçã

o.

calc

ulad

ora.

Sa

la

pequ

ena,

m

uito

s m

ater

iais

sob

re a

mes

a.

.Hor

ário

da

Tar

de –

Iní

cio

das

obse

rvaç

ões:

12h

35 O

fici

na s

aúde

e

qual

idad

e de

vid

a A

pro

fess

ora

abri

u a

sala

par

a os

alu

nos

entr

arem

. E

stav

am b

asta

nte

agit

ados

, co

men

tava

m s

obre

os

cole

gas

que

fora

m p

ara

a di

reto

ria.

A

prof

esso

ra f

echo

u a

port

a e

tent

ou f

alar

com

os

alun

os.

Os

alun

os

cont

inua

vam

bri

ncan

do e

cor

rend

o pe

la s

ala.

Alg

uns

bati

am f

igur

inha

s e

outr

os j

ogav

am b

olin

ha.

Tin

ha a

luno

no

chão

. A

pro

fess

ora

reso

lveu

es

crev

er s

obre

a a

tivi

dade

na

lous

a: C

arti

lha

dos

Pri

mei

ros

Soco

rros

. A

pro

fess

ora

reco

lheu

as

figu

rinh

as e

ped

iu p

ara

os a

luno

s se

ntar

em.

Dis

se q

ue e

ssa

ativ

idad

e ia

par

a ex

posi

ção.

Aos

pou

cos,

alg

uns

alun

os

fora

m s

enta

ndo.

A

pro

fess

ora

diss

e: “

Hoj

e nó

s va

mos

faz

er a

cap

a da

car

tilh

a, a

teor

ia e

u ex

plic

arei

out

ro d

ia.”

A p

rofe

ssor

a di

stri

buiu

um

a fo

lha

em b

ranc

o pa

ra

os a

luno

s.

Um

alu

no f

alou

bem

alto

: “E

u nã

o qu

ero

faze

r ca

pa.

Eu

vou

dese

nhar

ou

tra

cois

a.”

A p

rofe

ssor

a em

voz

alt

a di

sse:

“É

par

a fa

zer

a ca

pa, s

im. A

B f

ez d

esen

hos

lindo

s. V

ocês

tam

bém

pod

em f

azer

.”

Aos

pou

cos

as c

rian

ças

fora

m s

e ac

alm

ando

e c

omeç

aram

a d

esen

har,

mas

um

gru

pinh

o de

men

inos

con

tinuo

u jo

gand

o ca

rtas

. U

ma

alun

a ch

amou

a p

rofe

ssor

a, p

ois

pega

ram

a f

olha

del

a qu

e es

tava

na

mes

a. A

pro

fess

ora

deu

uma

nova

fol

ha.

A p

rofe

ssor

a fe

z a

cham

ada.

Um

as m

enin

as q

ue e

stav

am p

róxi

mas

à

prof

esso

ra,

grit

aram

. A

pro

fess

ora

perg

unto

u qu

e gr

itos

era

m a

quel

es e

co

ntin

uou

com

a c

ham

ada.

Doi

s m

enin

os c

ontin

uara

m s

enta

dos

no c

hão

joga

ndo.

A

s m

enin

as e

stav

am q

uase

tod

as n

a m

esa

da Y

ara,

que

est

ava

faze

ndo

o de

senh

o pa

ra v

ária

s m

enin

as.

Enq

uant

o is

so,

a pr

ofes

sora

dis

trib

uiu

o de

senh

o de

um

a fi

gura

que

pin

tara

m n

a au

la p

assa

da. A

trás

do

dese

nho,

a

prof

esso

ra c

oloc

ou u

ma

nota

. A

lgum

as c

rian

ças

fica

ram

fel

izes

, ou

tras

fi

cara

m m

uito

bra

vas.

Adr

iana

foi

um

a de

las,

que

, co

mo

tiro

u se

is,

rasg

ou o

des

enho

. Os

men

inos

que

est

avam

na

dire

tori

a re

torn

aram

. U

ma

cria

nça

grit

ou,

a pr

ofes

sora

inf

orm

ou q

ue j

á tin

ha a

nota

do t

rês

A p

rofe

ssor

a te

ve m

uita

dif

icul

dade

pa

ra

com

eçar

a

aula

. O

s al

unos

es

tava

m

agita

dos,

br

inca

vam

e

corr

iam

den

tro

da s

ala

de a

ula.

A

prof

esso

ra

reso

lveu

es

crev

er

a at

ivid

ade

na l

ousa

, qu

e er

a a

capa

pa

ra

uma

cart

ilha

de

Prim

eiro

s So

corr

os.

Ape

sar

da

resi

stên

cia

de

algu

ns

alun

os, a

mai

oria

cum

priu

a ta

refa

. Pr

ofes

sora

di

stri

buiu

um

de

senh

o fe

ito

na a

ula

pass

ada,

par

a o

qual

at

ribu

iu n

ota.

Os

alun

os q

ue t

irar

am

nota

bai

xa n

ão g

osta

ram

. U

ma

das

alun

as f

icou

rev

olta

da e

par

ou d

e fa

zer

a at

ivid

ade.

Frus

traç

ão.

Sent

iu-s

e su

rpre

sa.

Alu

nos

agita

dos,

o ou

viam

a

prop

osta

da

pr

ofes

sora

. R

eaçã

o do

s al

unos

.

Agi

taçã

o.

Para

al

guns

al

unos

, al

egri

a e

para

ou

tros

, de

cepç

ão.

Vol

ta

do

alm

oço

e de

sint

eres

se p

ela

ofic

ina.

N

ota

na

ativ

idad

e an

teri

or.

Page 174: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · 2017-02-22 · pontifÍcia universidade catÓlica de sÃo paulo puc-sp márcia teresa campos necyk sentimentos de professores e

161

alun

os.

Toc

ou o

sin

al e

a p

rofe

ssor

a pe

diu

para

um

alu

no r

ecol

her

os

dese

nhos

. 3ª

aul

a –

Ofi

cina

de

orie

ntaç

ão p

ara

o es

tudo

O

s al

unos

se

tr

ansf

orm

aram

. T

odos

fi

cara

m

sent

ados

e

quie

tos.

A

pr

ofes

sora

ped

iu p

ara

todo

s pe

gare

m o

cad

erno

da

disc

iplin

a e

para

Jo

aqui

m i

r at

é a

bibl

iote

ca p

ara

pedi

r pa

ra o

pro

fess

or J

oão

as c

arta

s ao

le

itor

. A

pro

fess

ora

escr

eveu

a d

ata

na l

ousa

e c

omen

tou

que

iria

ler

as

cart

as

que

eles

dig

itar

am n

a sa

la d

e in

form

átic

a. Q

ue s

omen

te ir

ia le

r se

m f

azer

co

men

tári

os,

pois

fa

ria

isto

po

ster

iorm

ente

. O

Jo

aqui

m

trou

xe

uma

Rev

ista

CH

C.

(CO

: Pe

rceb

i qu

e a

prof

esso

ra n

ão e

stav

a co

m a

aul

a pl

anej

ada.

Par

ece

que

houv

e um

a re

uniã

o no

hor

ário

do

alm

oço

e o

prof

esso

r da

man

solic

itou

aju

da d

ela

e da

pro

fess

ora

da O

fici

na d

a ho

ra d

a le

itura

par

a aj

udar

na

prep

araç

ão p

ara

o SA

RE

SP.)

A

pro

fess

ora

diss

e qu

e ir

ia l

er u

ma

hist

ória

des

sa r

evis

ta, d

a se

ssão

Baú

da

H

istó

ria.

A

pr

ofes

sora

co

meç

ou

a le

r a

hist

ória

. In

terr

ompe

u,

perg

unta

ndo

para

o L

uís

e pa

ra o

Gus

tavo

se

havi

a al

gum

pro

blem

a. E

co

men

tou:

“Se

eu

perc

eber

que

tem

alu

no d

esin

tere

ssad

o, e

u po

nho

para

fo

ra. V

ocês

sab

em q

ue n

ão c

ostu

mo

faze

r is

so, p

or i

sso

quan

do e

u fa

lo é

po

rque

col

ocar

ei m

esm

o. O

pro

fess

or J

oão

me

pedi

u aj

uda.

Eu

ente

ndo

que

você

s es

teja

m c

ansa

dos,

mas

eu

tam

bém

est

ou.

Vou

com

eçar

a

hist

ória

do

Dou

tor

Rat

ão e

que

ro s

ilênc

io.”

A

s cr

ianç

as f

icar

am q

uiet

as,

pres

tand

o at

ençã

o na

his

tóri

a. N

o fi

nal

perg

unto

u pa

ra o

s al

unos

o q

ue e

nten

dera

m.

Fez

vár

ias

perg

unta

s so

bre

a hi

stór

ia e

as

cria

nças

for

am r

espo

nden

do.

A m

aior

par

te p

artic

ipou

da

disc

ussã

o. A

pro

fess

ora

cham

ou a

ate

nção

de

um a

luno

e r

esol

veu

troc

á-lo

de

luga

r.

Dep

ois

diss

o, i

nfor

mou

aos

alu

nos

que

eles

pre

cisa

vam

esc

reve

r um

a ca

rta

para

a r

evis

ta.

A p

rofe

ssor

a le

u al

guns

exe

mpl

os q

ue h

avia

na

revi

sta.

Dis

se q

ue a

car

ta p

oder

ia s

er d

e cr

ític

a ou

de

elog

io.

Perg

unto

u pa

ra o

s al

unos

se

sabi

am o

que

era

um

a cr

ítica

e q

ue e

la p

oder

ia s

er

posi

tiva

ou n

egat

iva.

Pos

teri

orm

ente

, di

sse

que

iria

m e

scre

ver

o te

xto

cole

tiva

men

te.e

per

gunt

ou c

omo

pode

riam

inic

iar

a ca

rta.

A

car

ta f

icou

ass

im:

CH

C M

eu n

ome

é Fe

lipe.

Ten

ho n

ove

anos

, es

tou

na 4

ª sér

ie A

, na

Esc

ola

B. A

doro

ler

as h

istó

rias

do

Baú

de

His

tóri

a, p

ois

elas

são

mui

to i

nter

essa

ntes

, aj

udam

na

imag

inaç

ão.

Até

a p

róxi

ma

ediç

ão. F

elip

e –

SP/S

P –

13/0

9/20

11.

(CO

: As

suge

stõe

s fo

ram

dos

alu

nos

com

a m

edia

ção

da p

rofe

ssor

a)

A p

rofe

ssor

a pe

diu

para

que

cop

iass

em a

car

ta n

o ca

dern

o. O

sin

al t

ocou

e

entr

ou o

utra

pro

fess

ora.

Os

alun

os

fica

ram

to

talm

ente

qu

ieto

s qu

ando

a p

rofe

ssor

a en

trou

na

sal

a. C

omen

tou

que

após

um

a re

uniã

o so

licita

ram

que

ela

aju

dass

e na

pre

para

ção

para

o S

AR

ESP

. T

raba

lhou

o

mes

mo

cont

eúdo

da

m

anhã

: ca

rta

ao l

eito

r. A

pro

fess

ora

o te

ve

tem

po p

ara

se

prep

arar

pa

ra

aula

. E

scre

veu

a ca

rta

cole

tiva

men

te c

om o

s al

unos

.

Sent

iu-s

e se

gura

. E

xper

iênc

ia

com

a

turm

a.

Res

peit

o.

Rel

ação

que

a p

rofe

ssor

a es

tabe

lece

co

m

os

alun

os.

4ª a

ula

- O

fici

na h

ora

da le

itur

a Fa

lou

a pr

ofes

sora

: “B

oa t

arde

. H

oje

a Pr

o va

i da

r um

sup

orte

em

m

atem

átic

a pa

ra a

turm

a de

vido

ao

pedi

do d

o pr

ofes

sor

João

.” O

s al

unos

Prof

esso

ra p

asso

u ou

tra

lição

par

a os

al

unos

: ta

buad

a In

form

ou

que

solic

itar

am s

ua a

juda

na

prep

araç

ão

Sent

iu-s

e se

gura

Po

r te

r ex

peri

ênci

a e

ser

resp

eita

da p

elos

alu

nos.

R

espe

ito/

Med

o ?

Rel

ação

que

a p

rofe

ssor

a es

tabe

lece

co

m

os

alun

os.

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162

esta

vam

tod

os s

enta

dos,

cop

iand

o a

lição

ant

erio

r.

A p

rofe

ssor

a di

sse

que

dari

a um

te

mpo

pa

ra

eles

co

piar

em.

Enq

uant

o is

so,

ela

foi

arru

man

do a

sal

a. A

briu

mai

s as

jan

elas

e a

s co

rtin

as.

Var

reu

o ch

ão e

or

gani

zou

as c

arte

iras

. A

pro

fess

ora

ante

s de

com

eçar

dis

se p

ara

os a

luno

s: “

É im

port

ante

som

ar

vitó

rias

. V

ocês

são

alu

nos

sabi

dos.

Que

ro e

mpe

nho.

” A

tur

ma

esta

va

tota

lmen

te e

m s

ilênc

io, c

opia

ndo

a liç

ão.

A p

rofe

ssor

a fa

lou:

“Pr

imei

ro t

raba

lho

Com

o vo

cês

estã

o em

con

ta?

Qua

ntos

de

você

s sa

bem

de

cor

a ta

buad

a do

um

ao

12?”

Uns

três

alu

nos

leva

ntar

am

o de

do.

Pedi

u pa

ra

os

alun

os

pega

rem

o

cade

rno

e ac

resc

ento

u: “

Para

eu

dar

esse

sup

orte

, o

silê

ncio

é o

uro.

Não

com

o en

sina

r m

atem

átic

a co

m b

arul

ho.

Em

mat

emát

ica

todo

s os

exe

rcíc

ios

deve

m s

er r

ealiz

ados

a lá

pis.

O

alun

o Jo

aqui

m

fez

algo

.(C

O:

Não

pe

rceb

i o

que

acon

tece

u).

A

prof

esso

ra d

isse

: “Jo

aqui

m s

e fi

zer

nova

men

te, e

u vo

u lig

ar p

ara

sua

casa

e

te d

ou z

ero.

Voc

ê es

cuto

u a

prof

esso

ra?”

U

ma

cria

nça

com

ento

u qu

e es

tava

sem

cad

erno

. A p

rofe

ssor

a fa

lou

que

o pr

oble

ma

de m

ater

ial n

ão e

ra d

ela

e si

m d

o al

uno.

A

ntes

de

com

eçar

a a

ula,

exp

licou

que

ass

istiu

a u

ma

aula

na

esco

la d

a fi

lha

que

é um

a da

s m

elho

res

esco

las

da r

egiã

o, e

o p

rofe

ssor

del

a co

men

tou

que

a m

emór

ia

era

impo

rtan

te,

por

isso

ac

redi

tava

se

r im

port

ante

ele

s sa

bere

m a

tabu

ada

de c

or.

A p

rofe

ssor

a es

crev

eu a

dat

a na

lous

a e

a pa

uta:

Apo

io à

s O

lim

píad

as d

e M

atem

átic

a. A

tivi

dade

: “Fa

çam

a ta

buad

a de

um

a 1

2.”

Com

ento

u qu

e o

zero

era

mul

tiplic

ador

de

todo

s os

núm

eros

e o

um

div

isor

de

todo

s os

mer

os. I

nfor

mou

aos

alu

nos

que

eles

ter

iam

alg

uns

min

utos

par

a fa

zer

esse

exe

rcíc

io.

Um

alu

no p

ediu

o l

ápis

par

a a

prof

esso

ra e

out

ro,

o ap

onta

dor.

A

prof

esso

ra d

isse

que

iri

a em

pres

tar,

mas

não

era

par

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Apêndice VIII – Caracterização da escola A

Localização e Características do Bairro

Descrição Física População escolar

A escola está localizada em um bairro nobre da cidade de São Paulo, é cercada por prédios e casas de alto padrão. Há praças e arvores ao redor da escola. Possui fácil acesso a serviços como bibliotecas públicas, posto médico e uma grande livraria particular. O acesso de ônibus é fácil.

A inauguração ocorreu em 1950, e passou por reformas em 1993. Trata-se de um prédio com detalhes de construção moderna, amplo e com instalações que podem servir de modelo a outras unidades escolares, como é o caso do pátio e do palco. A escola possui 12 salas de aula, sendo que dez delas ficam no piso superior, juntamente com as salas de vídeo, informática, biblioteca, banheiro masculino e feminino adaptados. No piso inferior, ficam duas salas de aula, uma sala de artes, um banheiro masculino, um banheiro feminino e um elevador. Na área externa, possui na frente um pequeno jardim, uma quadra coberta, um pátio coberto, onde fica o palco, e um pátio descoberto. No piso inferior também estão situados a sala dos professores, a sala da coordenação pedagógica, secretaria, sala da direção, banheiros para os funcionários e sala de computadores dos administrativos. Na sala da coordenação fica um computador com impressora e mesa e cadeiras para reunião. Essa sala também serve para o trabalho coletivo dos professores. As salas de aula são amplas, cada uma com mesas e cadeiras para os alunos e com uma mesa maior e cadeira para o professor, quadro-negro, quadro mural, armário e ventilador. A sala de informática é também ampla e possui 20 computadores. A escola possui também uma biblioteca com livros paradidáticos para os alunos e professores. Não há uma pessoa responsável pela biblioteca. Os livros mais recentes ficam distribuídos nas salas de aula. A sala de artes é ampla, sendo necessário, às vezes, a professora utilizar o microfone, pois a sala fica bem próxima ao pátio, dificultando o trabalho da professora nos horários de intervalo. A sala é bem equipada, tem uma pia, armários, tintas, pincéis, e recentemente, receberam instrumentos de fanfarra. A escola possui também cozinha e refeitório, que é pequeno para o número de crianças. Possui três mesas grandes com bancos e um carrinho para colocar a comida.

A escola possui atualmente 320 alunos. A clientela é composta de classe média, média baixa e baixa. Moram em locais distantes, como: Embu, Taboão da Serra, entre outras regiões. São filhos de trabalhadores da região onde a escola fica situada e que trazem os seus filhos pela manhã, quando vêm trabalhar, como babás, empregadas domésticas, cozinheiras, porteiros, seguranças, entre outros. A participação dos pais na escola é pequena. Para incentivar a participação, a escola promove festas. A escola enfrenta um problema, pois, quando os pais perdem o emprego, são obrigados a transferir os alunos para próximo das suas residências, voltando para escola, quando retomam o emprego na região.

Breve Histórico da Instituição Recursos Materiais A escola foi criada em 1933 em um endereço diferente ao que está atualmente. A mudança para o endereço atual ocorreu em 1950, chamado Grupo Escolar A. Em 1975, passa a ser denominada Escola Estadual de Primeiro Grau A, sendo que, em 1998, teve nova alteração na denominação que passou para Escola Estadual A. A escola possui o nome do patrono, que foi um personagem importante na política e educação do estado de São Paulo. Tornou-se Escola de Tempo Integral em 2006.

Material tecnológico: quatro televisões, três aparelhos de DVD, um vídeo cassete, seis aparelhos de som, 20 computadores na sala de informática, duas impressoras, uma antena parabólica e um fax. Material esportivo: bolas, elásticos e arcos. Material de escritório: papel, lápis, borracha, cartolina, caneta, tintas e pincéis, giz. Material pedagógico: material dourado, jogos, tangran, entre outros.

Recursos Humanos

A escola tem 40 funcionários, sendo 12 professores no ensino regular/currículo básico - no horário da manhã), seis professoras pedagogas nas oficinas (período da tarde), 3 professores de arte, dois professores de informática, dois professores de inglês e dois professores adaptados. Além dos professores, a escola possui uma diretora, uma vice-diretora, uma coordenadora pedagógica e 10 funcionários administrativos e operacionais.

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Apêndice IX – Caracterização da escola B

Localização e Características do Bairro

Descrição Física População Escolar

A escola fica localizada em um bairro de classe média da zona norte da cidade de São Paulo. A maioria da população mora em pequenas casas, não há muitos prédios na região e nem áreas verdes disponíveis para uso da comunidade. A comunidade local conta com uma infraestrutura para atender às necessidades locais. Na área de saúde a região possui um hospital municipal e postos de saúde. Uma paróquia realiza trabalhos religiosos, inclusive, com a realização de cultos religiosos na capela que pertence à escola. Na região há também duas bibliotecas públicas.

A escola conta com: doze salas de aulas, uma quadra poliesportiva coberta, uma sala de vídeo, uma biblioteca, uma sala de jogos/brinquedoteca, uma sala de informática, área livre, horta e um pátio coberto onde são feitas as refeições.

A biblioteca é utilizada também como sala ambiente para trabalhos e consultas dos alunos, em horário de aula, e dos professores, em HTPCs ou fora de seu horário. Não há funcionário responsável pelo acervo, que fica sob a responsabilidade de cada professor que utiliza o espaço.

Com relação à sala de vídeo e áudio, a escola possui um televisor de 29”, um retro- projetor, aparelho de dvd, videocassete, aparelho de som três em um, aparelhos de som portáteis, fitas de vídeo, dvds e cds de músicas, pedagógicos e de desenhos animados.

A escola possui também uma sala de informática equipada com 15 computadores para uso dos alunos e um kit tecnológico na sala dos professores para auxílio pedagógico e teleconferências.

São alunos de classe média baixa, que em sua maioria residem nas proximidades. No entanto, nos últimos anos vem crescendo a demanda por matrículas de alunos residentes em bairros periféricos, relativamente distantes da escola, os quais utilizam o transporte (Vans) escolar particular para chegarem à escola. São originários de famílias, cujos pais geralmente trabalham fora e por esta razão tem dificuldades no acompanhamento sistemático dos estudos de seus filhos.

Com relação ao lazer e recursos culturais, há pouquíssimas opções nas imediações, o que leva as crianças, os adolescentes e adultos, população deste estabelecimento, a se distraírem com brincadeiras de rua, futebol em terrenos baldios e, frequentemente, utilizando a quadra poliesportiva da escola nos fins de semana.

Os alunos matriculados, apesar de dificuldades, em sua maioria, demonstram interesse, esforçando-se para obter maior volume de conhecimento. Por outro lado, uma parte desses alunos, frequenta a escola para garantir três refeições diárias diferenciadas durante a semana, já que possuem muita dificuldade financeira na família.

Em relação à participação dos pais, houve melhoras. A escola tem organizado mais convites para participação de eventos realizados nos finais de semana, reuniões de pais e convocações para colocar os pais a par do que está acontecendo com seu filho durante o período em que ele está na escola.

Breve Histórico da Instituição Recursos Humanos Recursos Materiais Foi criada em 1947 e passou por várias alterações na denominação Apesar disso, desde 1962, o nome do patrono da escola se fez presente. A homenagem ocorreu pelo fato de ter ocupado vários cargos públicos no estado de São Paulo e depois ter se dedicado a agricultura e à pecuária, comprando, em 1925, uma gleba na região, onde instalou sua indústria leiteira, trazendo desenvolvimento para esse local. Parte dessa área foi destinada pelo governador do Estado a instalação de um grupo escolar, que recebeu o seu nome.

A escola possui 11 classes, em período integral, atendendo um total de 380 alunos, no horário das 7h30 às 16h30. Conta com 36 professores, além da equipe gestora composta por um diretor, uma vice-diretora e uma coordenadora pedagógica, e mais 10 funcionários que trabalham na secretaria, na merenda e na limpeza.

Recursos tecnológicos: A escola possui um televisor de 29”, um retroprojetor, um aparelho de dvd, videocassete, aparelho de som três em um, aparelhos de som portáteis, fitas de vídeo, dvds e cds de músicas, pedagógicos e de desenhos animados. Na sala de informática tem 15 computadores, mas não há internet. Na sala dos professores tem um computador e uma impressora para uso dos professores.

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Apêndice X – Roteiro da Entrevista

Dados Pessoais: nome, idade, função e tempo de experiência como professor.

Como você se tornou professor?

Quanto tempo de experiência você tem como professor de ETI?

O que você entende por escola de tempo integral?

Como você se sente como professor de uma ETI?

Que fatos e acontecimentos foram marcantes na sua experiência em uma ETI?

Em relação ao ensino-aprendizagem, como ele se dá em uma ETI? Há diferenças no

período da manhã e da tarde?

Em sua opinião, como as crianças se sentem em uma ETI? Como é o relacionamento

delas com o professor? E com os colegas?

E os pais? Como é o relacionamento dos pais com a escola?

Como é realizado o planejamento das atividades? Existe um período de troca entre os

professores?

Qual é o papel da coordenação e da direção na escola?

Você participou de formação específica para trabalhar em uma ETI?

Em sua opinião, como deveria ser o funcionamento de uma ETI?

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ANEXOS

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Anexo I – Resolução SE 89 de 09/12/2005

Dispõe sobre o Projeto Escola de Tempo Integral O Secretário de Estado da Educação, considerando: * a educação como presença fundamental no dia a dia de crianças e jovens, por desempenhar papel relevante na dinâmica das sociedades;

* a importância de se oferecer aos estudantes do Ensino Fundamental a oportunidade de

estender o tempo de participação na escola em atividades que ampliem suas possibilidades de aprender; * a necessidade de atender às expectativas da comunidade intra e extra-escolar e

desenvolver ações que integram a política de inclusão, resolve:

Artigo 1º - Fica instituído o Projeto Escola de Tempo Integral com o objetivo de prolongar a permanência dos alunos de ensino fundamental na escola pública estadual, de modo a ampliar as possibilidades de aprendizagem, com o enriquecimento do currículo básico, a exploração de temas transversais e a vivência de situações que favoreçam o aprimoramento pessoal, social e cultural.

Artigo 2º - O Projeto Escola de Tempo Integral tem como objetivos: I - promover a permanência do educando na escola, assistindo-o integralmente em suas

necessidades básicas e educacionais, reforçando o aproveitamento escolar, a auto estima e o sentimento de pertencimento;

II - intensificar as oportunidades de socialização na escola; III - proporcionar aos alunos alternativas de ação no campo social, cultural, esportivo e

tecnológico; IV - incentivar a participação da comunidade por meio do engajamento no processo

educacional implementando a construção da cidadania; V - adequar as atividades educacionais à realidade de cada região, desenvolvendo o

espírito empreendedor. Artigo 3º - O Projeto Escola de Tempo Integral prevê o atendimento inicial de escolas

da rede pública estadual de ensino fundamental que atendam aos critérios de adesão, que estejam distribuídas pelas 90 Diretorias de Ensino, inseridas, preferencialmente, em regiões de baixo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - e nas periferias urbanas.

Parágrafo único - São critérios para adesão ao Projeto: 1 - espaço físico compatível com o número de alunos e salas de aula para

funcionamento em período integral e 2 - intenção expressa da comunidade escolar em aderir ao Projeto, ouvido o Conselho

de Escola. Artigo 4º - A Escola de Tempo Integral funcionará em dois turnos - manhã e tarde, com

uma jornada de 9 horas diárias e carga horária semanal de 45 aulas. Artigo 5º - A organização curricular da Escola de Tempo Integral inclui o currículo

básico do ensino fundamental e ações curriculares direcionadas para: I - orientação de estudos; II - atividades Artísticas e Culturais; III - atividades Desportivas; IV - atividades de Integração Social; V - atividades de Enriquecimento Curricular. Artigo 6º - Caberá à Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas expedir

instruções complementares à presente resolução. Artigo 7º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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Anexo II – Resolução SE 07 de 18/01/2006

Dispõe sobre a organização e o funcionamento da Escola de Tempo Integral

O Secretário de Estado da Educação, à vista:

dos objetivos definidos para a implementação da Escola de Tempo Integral, que

assegura a alunos dos ciclos I e II do ensino fundamental a ampliação da vivência de

atividades escolares e de participação sócio-cultural e tecnológica;

da necessidade de se firmar diretrizes que permitam aos educadores

implementarem o processo educacional proposto para a Escola de Tempo Integral,

Resolve:

Artigo 1º - a Escola de Tempo Integral destina-se a alunos dos ciclos I e II do

ensino fundamental de escolas da rede pública estadual que tenham atendido aos

critérios de que trata o artigo 3º da Res. nº 89 de 09/12/2005.

Artigo 2º - A organização curricular dos Ciclos I e II em período integral

compreenderá o currículo básico do ensino fundamental e um conjunto de oficinas de

enriquecimento curricular.

§ 1º - Entenda-se por oficina de enriquecimento curricular a ação

docente/discente concebida pela equipe escolar em sua proposta pedagógica como uma

atividade de natureza prática, inovadora, integrada e relacionada a conhecimentos

previamente selecionados, a ser realizada por todos os alunos, em espaço adequado, na

própria unidade escolar ou fora dela, desenvolvida por meio de metodologias,

estratégias e recursos didático-tecnológicos coerentes com as atividades propostas para

a oficina.

§ 2º - Os componentes curriculares, que integram o currículo básico do ensino

fundamental, e os eixos temáticos das oficinas curriculares constam dos anexos I e II

que fazem parte da presente resolução.

Artigo 3º - na organização da Escola de Tempo Integral, observar-se-á:

I – regime de estudos para cada classe dos ciclos I e II, em período integral:

manhã e tarde;

II – carga choraria semanal de 45 aulas;

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III – total de aulas diárias: 09 aulas;

IV – jornada diária discente: 09 horas, com intervalos de uma hora para almoço

e vinte minutos, em cada turno, para recreio.

§ 1º - no Ciclo I, o turno da manhã destinar-se-á ao desenvolvimento das

disciplinas do currículo básico, com duração de 05 (cinco) aulas diárias, ficando o turno

da tarde com uma carga horária de 04 (quatro) aulas diárias destinadas às oficinas

curriculares.

§ 2º - no ciclo II:

I – o turno da manhã compreenderá 06 (seis) aulas diárias, destinadas ao

desenvolvimento das disciplinas do currículo básico e das seguintes oficinas: Hora da

Leitura e Orientação para Estudos e Pesquisa e

II – o turno da tarde, com 03 (três) aulas diárias, destinar-se-á, exclusivamente,

ao desenvolvimento das demais oficinas curriculares.

§ 3º - Para fins de definição de pessoal na Escola de Tempo Integral, com base

nas disposições do Decreto nº 37.185 de 05/08/1993, e da Resolução SE nº 35 de

07/04/2000, será considerado em dobro o número de classes em funcionamento nos

termos do “caput” deste artigo.

Artigo 4º - a atribuição das classes e das aulas da Escola de Tempo Integral far-

se-á aos docentes inscritos no processo regular de atribuição de classes/aulas, a partir de

sua etapa inicial, pelo Diretor de Escola, podendo haver também, se necessário,

atribuição as referidas classes e aulas em nível de Diretoria de Ensino.

§ 1º - As aulas das disciplinas do currículo básico do Ciclo II do Ensino

Fundamental deverão ser atribuídas com observância à ordem de prioridade das faixas

de habilitação/qualificação de docentes, estabelecida no artigo 12 da Resolução SE-

90/2005.

§ 2º - com relação às aulas das Oficinas Curriculares, a atribuição deverá ser na

seguinte conformidade:

I – no Ciclo I, a portadores de diploma de licenciatura plena em Pedagogia ou

curso de nível superior equivalente, com habilitação em Magistério das Matérias

Pedagógicas do Ensino Médio ou em Magistério das Séries Iniciais do Ensino

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Fundamental, nesta ordem de prioridade de habilitações, exceto para as oficinas de

Língua Estrangeira Moderna – Inglês, Atividades Artísticas e Atividades Esportivas e

Motoras, cujas aulas serão atribuídas a portadores de licenciatura plena em Letras com

habilitação em Inglês, Educação Artística/Arte e Educação Física, respectivamente.

II – no Ciclo II, a atribuição contemplará as seguintes habilitações/qualificações

docentes para cada oficina/conjunto de atividades:

a) Orientação para Estudo e Pesquisa: licenciatura plena em Pedagogia ou curso de nível superior equivalente, com as habilitações previstas para as oficinas do Ciclo I, na mesma ordem de prioridade;

b) Hora da Leitura: licenciatura plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, preferencialmente, ou licenciatura plena em qualquer componente curricular;

c) Informática Educacional: licenciatura plena com formação e conhecimento na área, preferentemente com curso de capacitação desenvolvido pelos NRTEs, desde que devidamente comprovado;

d) Experiências Matemáticas: licenciatura plena em Matemática, ou licenciatura plena em Física, ou em Química ou ainda licenciatura em Ciências plenificada com qualquer habilitação;

e) Língua Estrangeira Moderna – Espanhol: licenciatura plena em Letras, com habilitação no idioma ou com comprovada proficiência adquirida em cursos especializados;

f) Atividades Esportivas e Motoras: licenciatura plena em Educação Física; g) Atividades Artísticas: licenciatura plena em Educação Artística/Arte; h) Saúde e Qualidade de Vida: licenciatura em Ciências plenificada em

Biologia, ou Química, ou Física ou em Matemática, ou licenciatura plena em Ciências Biológicas ou ainda licenciatura plena em História Natural;

i) Filosofia: licenciatura plena em Filosofia; j) Empreendedorismo Social: licenciatura plena em Ciências Sócias. § 3º - na ausência de docentes com as habilitações previstas para as aulas de

Atividades Artísticas do Ciclo I e para as atividades do Ciclo II constantes das alíneas “d” e “j”, as aulas poderão ser atribuídas com observância à ordem de prioridade das faixas de qualificação estabelecidas pelo artigo 12 da Resolução SE-90/2005, respeitadas as demais disposições de seus parágrafos.

§ 4º - As aulas das Oficinas Curriculares poderão ser atribuídas a docentes titulares de cargo, apenas, como carga suplementar de trabalho ou para composição de jornada, exceto as aulas das Atividades Artísticas e Atividades Esportivas e Motoras que poderão ser atribuídas, também, para constituição de jornada dos respectivos titulares de cargo.

Artigo 5º - As Coordenadorias de Ensino e de Estudos e Normas Pedagógica, respeitadas as respectivas áreas de competência, poderão expedir instruções complementares à presente resolução e, quando necessário, decidir sobre situações cujas especifidades exijam análise casuística.

Artigo 6º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

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Anexo I ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL

MATRIZ CURRICULAR ENSINO FUNDAMENTAL – CICLO I

Componentes Curriculares Séries/aulas 1ª 2ª 3ª 4ª

Currículo Básico

Base Nacional

Comum e

Parte Diversificada

Língua Portuguesa 7 7 7 7 Educação Artística 2 2 2 2 Educação Física 2 2 2 2 História 2 2 2 2 Geografia 2 2 2 2 Matemática 7 7 7 7 Ciências Físicas e Biológicas 3 3 3 3

Total 25 25 25 25

Oficinas Curriculares

Orientação para estudo e pesquisa 2 2 2 2 Atividades de Linguagem e

de Matemática

Hora da Leitura 3 3 3 3 Experiências Matemáticas 3 3 3 3 Língua Estrangeira Moderna - Inglês 1 1 1 1 Informática Educacional 2 2 2 2

Atividades Artísticas

Teatro 3

3

3

3 Artes Visuais

Música Dança

Atividades Esportivas e Motoras

Esporte 3

3

3

3 Ginástica

Jogo Atividades de Participação Social

Saúde e Qualidade de Vida 3

3

3

3 Filosofia

Empreendedorismo Social Total 20 20 20 20

Total 45 45 45 45