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Políticas públicas em Educação e Cultura da Paz: evidências relacionadas ao

tratado com a ONU nos documentos oficiais de regulação da educação no

Estado de São Paulo

Débora Oliveira Diogo1

Vanda Mendes Ribeiro2

Eixo temático: Pesquisa, Políticas Públicas e Direito à Educação.

Fomento: Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

Categoria: pôster

RESUMO

Esta pesquisa tratou do levantamento documental junto à Secretaria de Estado da

Educação de São Paulo, visando verificar se esse sistema educacional regulamentou

por meio de leis, decretos e resoluções, o tratado de Cultura de Paz na educação

proposto pela Organização das Nações Unidas. Foram pesquisados documentos

disponibilizados no site oficial da SEE/SP de outubro a novembro de 2013, com os

seguintes critérios: tratamento contra a violência à criança e ao adolescente e cultura

de paz nas escolas, privilegiando a cooperação, o diálogo e a convivência. Concluiu-

se que o sistema educacional pesquisado publicou documentos reguladores com

relação ao tratado da ONU para o desenvolvimento da Cultura de Paz nas escolas

públicas do Estado de São Paulo a partir de 1999 com a Lei nº 10.312/1999, que

instituiu o programa interdisciplinar e comunitário para o combate à violência nas

escolas públicas, até a criação do Sistema de Proteção Escolar, através da Res. SE

no. 9/2010, entre outras medidas onde se estabeleceu os “espaços de convivência”

nas escolas (Decreto nº 44.166/1999) e em 2002, a criação do Conselho Parlamentar

pela Cultura de Paz na Assembleia Legislativa (Res. SE nº 829/2002).

Palavras Chaves: Cultura de Paz, Legislações e Secretaria do Estado da Educação

de São Paulo.

1 Psicóloga e pedagoga, diretora de escola pública na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo,

especialista em Psicodrama e Gestão Escolar, mestranda em Educação pela Universidade Cidade de São Paulo – UNICID, 2014, [email protected] 2Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, orientadora do Programa de Mestrado em

Educação da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID, 2014.

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A Cultura de Paz em documentos oficiais da educação no Estado de São Paulo

Introdução

Iremos discorrer sobre resultados de pesquisa que teve como propósito

verificar se o sistema educacional do Estado de São Paulo regulamentou por meio de

leis, decretos e resoluções, o tratado de Cultura de Paz nas escolas indicado pela

Organização das Nações Unidas – ONU. Para tanto, foi realizado levantamento

documental junto à Secretaria de Estado da Educação de São Paulo – SEESP. O

texto se divide na apresentação do conceito de Cultura de Paz e de Educação para a

Paz da ONU, seguido da apresentação dos documentos legais do governo do Estado

de São Paulo e da SEESP. Esses documentos foram selecionados pelo critério de

favorecerem os direitos humanos e o desenvolvimento da cultura de paz nas escolas,

privilegiando a cooperação, o diálogo e a convivência.

A Organização das Nações Unidas – ONU foi criada após a II Guerra Mundial,

em 1945. Nasceu da necessidade da comunidade mundial em encontrar uma forma

para manter a paz entre os povos, com o propósito de assegurar que os países

membros sustentem a paz e a segurança internacionais, tomando medidas de

repressão aos atos de agressão ou qualquer ruptura da paz (Carta das Nações

Unidas, 1945), sendo este seu principal objetivo. Para tanto, os países membros

devem desenvolver ações econômicas, políticas, sociais e educacionais,

compactuadas por meio da assinatura da Carta das Nações Unidas (São Francisco,

EUA, 1945). O Brasil foi um dos 50 países membros fundadores da ONU, assinou a

Carta das Nações Unidas no dia 24 de outubro de 1945. Atualmente fazem parte da

ONU 193 países membros.

Outro documento lançado pela ONU para as ações de paz é a Declaração

Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948. Esse documento

descreve e assegura os direitos humanos fundamentais que os países membros

devem garantir à sua população e entre populações vizinhas. No que diz respeito à

educação pela manutenção dos direitos humanos e da paz, o artigo XXVI trata do

direito de todo os ser humano a instrução:

1. ... a instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares

e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução

técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução

superior, está baseada em mérito.

2. A instituição será orientada no sentido do pleno

desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do

respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A

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instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre

todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as

atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

...............................................................................................................

(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos

Direitos Humanos, Resolução 217, Art. XXVI, 10/12/1948)

Com o objetivo de garantir a paz por meio da cooperação intelectual entre as

nações, foi criada pela ONU a Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura – UNESCO, em 16 de novembro de 1945. Além de desenvolver

projetos que promovam o desenvolvimento humano, auxilia na formulação de políticas

públicas que estejam em sintonia com as metas acordadas entre os países

membros da ONU3. Na educação, o principal objetivo da UNESCO é promover o

acesso e a qualidade da educação em todos os níveis e modalidades.

Conclui-se que, entre 1999 e 2013, esse sistema fez uso de resoluções e

decretos visando operacionalizar objetivos do tratado de Cultura da Paz da ONU o que

diz respeito a educação.

Cultura de Paz segundo a Organização das Nações Unidas – ONU

Apesar de parecer de simples compreensão o que seja um estado de “paz”,

não existe uma única ideia universal sobre este conceito, considerando-se diferentes

contextos históricos, sociais e culturais da humanidade. Pode-se, desta maneira,

elencar diferentes concepções acerca do termo, em se tratando de diferenças culturais

(Jares, 2002): paz como conceito negativo referente à ausência de conflito bélico ou

como estado de não-guerra; reservada ao Estado em sua manutenção da ordem

interior e defesa em face do exterior; como conceito restrito de pacto entre Estados;

como tradição popular de harmonia, serenidade ou ausência de conflitos, que reflete

uma tranquilidade pessoal interior; paz enquanto passividade, consequência de fatores

externos à ela ou paz como dedução das concepções anteriores, cuja negatividade e

passividade determinam uma dificuldade de compreensão e conceituação da palavra.

A paz como direito universal é compreendida, acima de tudo, sobre influências

multiculturais por envolver a diversidade cultural, como realidade intersubjetiva em

razão da compreensão pessoal e coletiva e também como agenda para a paz, por

implicar organização, planejamento e estratégias de segurança e bem estar sociais,

3 Grifo da autora.

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chamada por teóricos de “paz positiva”, um estado de ausência de violências

(UNESCO, 2010).

O ano de 2000 foi o Ano Internacional da Cultura de Paz (UN Resolution

A/RES/52/15), sendo o marco inicial de grande mobilização em favor da paz. Neste

período a ONU estabeleceu uma aliança entre os movimentos existentes em favor da

Cultura de Paz. Esta ação ganhou força com a proclamação da Década Internacional

para a Cultura de Paz e Não Violência para com as Crianças do Mundo (2001-2010)

(UN Resolution A/RES/53/25). A ONU definiu Cultura de Paz na Declaração e

Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, em 13 de setembro de 1999, da

seguinte maneira:

“é um conjunto de valores, atitudes, comportamentos e modos de

vida que rejeitam a violência e previnem os conflitos, atacando suas

causas para resolver os problemas através do diálogo e negociação

entre indivíduos, grupos e nações” (resoluções da ONU A/RES/52/13:

Cultura de Paz e A/RES/53/243, Declaração e Programa de Ação

sobre uma Cultura de Paz).

O 3º artigo da Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz é

relevante para este estudo, porque apresenta aspectos a quais o desenvolvimento

pleno da Cultura de Paz está integrado. Destaque aos itens relacionados à Educação:

................................................................................................................

c) À promoção da democracia, do desenvolvimento dos direitos

humanos e das liberdades fundamentais e ao seu respectivo respeito

e cumprimento;

d) À possibilidade de que todas as pessoas, em todos os níveis,

desenvolvam aptidões para o diálogo, negociação, formação de

consenso e solução pacífica de controvérsias;

e) Ao fortalecimento das instituições democráticas e a garantia à

participação plena no processo de desenvolvimento;

f) À erradicação da pobreza, do analfabetismo, e à redução das

desigualdades entre as nações e dentro delas;

................................................................................................................

i) Ao respeito, promoção e proteção dos direitos das crianças;

................................................................................................................

l) À eliminação de todas as formas de racismo, discriminação racial,

xenofobia e intolerâncias correlatas;

m) À promoção da compreensão, da tolerância e da solidariedade

entre todas as civilizações, povos e culturas, inclusive com relação às

minorias étnicas, religiosas e linguísticas;

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................................................................................................................

(resoluções da ONU A/RES/52/13: Cultura de Paz e A/RES/53/243,

Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz).

O Artigo 4º da Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, da

ONU, especifica o papel da Educação na promoção da Cultura de Paz: “A educação,

em todos os níveis, é um dos meios fundamentais para construir uma Cultura de Paz.

Neste contexto, a Educação sobre os direitos humanos é de particular relevância.”

Tendo a definição da ONU como ponto de partida, a ideia de paz está associada a

esforços dinâmicos, por vias democráticas, à superação de conflitos por meios não

violentos à ausência de guerras. De acordo com a referida concepção, estabelecer

uma Cultura de Paz não significa conviver com a ausência total de conflitos, uma vez

que esses são inerentes ao ser humano, mas apregoa a utilização de estratégias não

violentas para a resolução dos mesmos.

Educação para a paz

No que se refere à Educação, no mesmo ano de criação da ONU, 1945,

fundou-se também a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura – UNESCO, com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo

mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações. Foi em 1995 que a

UNESCO teve aprovado seu Plano de Ação Integrado de Educação para a Paz, os

Direitos Humanos e a Democracia na Conferência Geral em Paris, com base na

Declaração adotada na 44ª sessão da Conferência Internacional sobre Educação de

1994, em Genebra. Este plano traça diretrizes básicas voltadas para estratégias,

políticas e planos de ação para a educação para a paz nos âmbitos institucional e

nacional, “conforme as condições das diferentes comunidades” (UNESCO,1995). O

objetivo principal da educação para paz, apresentado neste documento, é o

desenvolvimento, em cada indivíduo, do senso de valores universais e tipos de

comportamentos sobre os quais uma cultura de paz se baseia, valores estes que

possam ser reconhecidos universalmente, apesar de contextos socioculturais

diferentes. Dos demais objetivos para a educação para a paz, destacam-se as

seguintes:

“A educação deve desenvolver a capacidade de valorizar a liberdade

e as aptidões para responder a seus desafios. Significa preparar os

cidadãos para que saibam lidar com situações difíceis e incertas e

para a autonomia e responsabilidade pessoais. Consciência de

responsabilidade pessoal deve estar articulada ao reconhecimento do

valor do compromisso cívico, da associação com os demais para

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solucionar problemas e para trabalhar uma comunidade justa,

pacífica e democrática.”

“A educação deve desenvolver a capacidade de reconhecer e aceitar

os valores que existem na diversidade dos indivíduos, dos gêneros,

das pessoas e das culturas, e desenvolver a capacidade de

comunicar, compartilhar e cooperar com os outros. ...”

“A educação deve desenvolver a capacidade de resolução de

conflitos de forma não violenta. Deve, com isso, promover também o

desenvolvimento da paz interior na mente dos estudantes, de forma

que eles possam estabelecer, de forma mais sólida as qualidades da

tolerância, da compaixão, do dividir e do cuidar.”

(UNESCO, Declaração e Plano de Ação Integrado sobre a Educação

para a paz, os direitos humanos e a democracia. Declaração da 44ª

sessão da Conferência Internacional sobre Educação, Genebra,

outubro de 1994. p.8-9)

Segundo Jares (1992), as principais características da Educação para a Paz

são: a concepção do processo educacional como atividade política, a concepção

global do mundo, a ênfase em métodos socioafetivos e na participação dos alunos em

seu processo de aprendizagem, a busca de coerência entre fins e meios, e entre a

forma de educar e a forma de viver; a relação orgânica entre a pesquisa, a ação e a

educação para a paz e a orientação à ação, baseadas nos princípios educativos:

educar para a paz é uma forma particular de educação em valores, educar para a paz

é uma educação a partir de e para a ação, educar para a paz é um processo contínuo

e permanente e educar para a paz, como dimensão transversal do currículo, afeta

todos os seus elementos e etapas educativas.

A Cultura de Paz é, por essência, uma cultura de cooperação que implica para

as escolas a exigência de uma verdadeira tomada de consciência sobre seu papel:

educativo e como meio para trocas e desenvolvimento sociais, conforme afirma Rayo

(2002). Para este autor, o diálogo sugere a tolerância e o respeito às diferenças como

chaves essenciais da prática democrática, na qual o ser humano dedica atenção ativa

através do pensamento e da ação às diferentes opiniões, crenças e valores – o que

permite o respeito e a conexão com os demais membros da escola e da comunidade,

favorecendo o ambiente escolar.

Considerando estes princípios, falar especificamente de uma educação para a

paz pode parecer redundante quando se entende que uma educação adequada e com

qualidade naturalmente promoveria uma sociedade pacífica. No entanto, a realidade

das relações humanas e entre nações deixa claro que, por exemplo, as nações

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consideradas mais “bem educadas” e “tradicionais” – como as europeias, não evitaram

atrocidades com as duas Grandes Guerras e os conflitos violentos na separação da

antiga União Soviética, na década de 1990. Portanto, objetivar a paz significa trabalhar

por ela constantemente em todas as instâncias sociais, principalmente num local

privilegiado de formação, a escola.

Documentos oficiais publicados pela Secretaria de Estado da Educação de São

Paulo – SEESP, relacionados aos objetivos do tratado da ONU pela Cultura de

Paz

Em se tratando da demanda mundial pela paz, pelo desenvolvimento de uma

Cultura de Paz, a Educação tem papel fundamental, de excelência, para vencer os

desafios do Século XXI, preparando os seres humanos para enfrentar as incertezas

dos novos tempos (MORIN,1996). Frente ao estabelecido pela ONU com relação ao

desenvolvimento da cultura de paz e da educação para a paz, privilegiando os direitos

humanos nas escolas, como a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

atendeu a esta demanda mundial e local?

O Estado de São Paulo dispõe de leis referentes ao combate a violência e à

exploração de crianças e adolescentes, inclusive nas escolas públicas, relacionadas à

garantia dos direitos humanos, decretadas a partir do ano de 1999. A Lei no. 10.312,

de 12/05/1999, instituiu o Programa Interdisciplinar e de Participação Comunitária para

Prevenção e Combate à Violência nas escolas da rede pública de ensino no Estado de

São Paulo 1999 e a Lei no. 10.429, de 2/12/1999, instituiu a Campanha Anual de

Controle à Violência e à Exploração Contra Crianças e Adolescentes, ambas

priorizando o desenvolvimento de ações educativas e de valorização à vida, voltadas

ao combate à violência na escola. O Decreto no. 44.166, de 3/08/1999, regulamenta a

Lei no. 10.312/99 e especifica o trabalho a ser desenvolvido nas escolas no combate à

violência, implantando os “espaços de convivência” para garantir a consecução dos

objetivos do Programa. Em atendimento, a SEESP publica a Resolução SE nº 41 em

18/05/2002, criando o Programa Interdisciplinar e de Participação Comunitária,

denominado “Parceiros do Futuro” onde inclui a comunidade nas atividades

desenvolvidas nos “espaços de convivência” nos finais de semana nas escolas, além

de prever ações em parceria com outras Secretarias de Estado, entidades da

sociedade civil e comunidades locais. O programa “Parceiros do Futuro” tem os

seguintes objetivos, que vão ao encontro do desenvolvimento da Cultura de Paz:

I - criar e fortalecer núcleos de convivência que atuem nos finais de

semana, no espaço físico das escolas estaduais, congregando a

comunidade local adulta, jovem e infantil, jovens alunos e não alunos,

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em atividades culturais, desportivas e artísticas, socializando

informações de diferentes naturezas;

II - estimular o desenvolvimento de uma cultura da população local

voltada à organização e ao trabalho coletivo em ações de prevenção

à violência, em perfeita sintonia com a proposta de trabalho da

unidade escolar;

III - assegurar oportunidades para reflexão e discussão de questões

comuns a jovens e adolescentes, de problemas enfrentados pela

comunidade, ampliando ações de apoio à valorização humana e ao

exercício da cidadania. (SÃO PAULO, Secretaria de Estado da

Educação, Resolução SE nº 41/2002, Artigo 2º)

A partir da experiência com a abertura das escolas como espaços de

convivência aos pais e a comunidade com o programa “Parceiros do Futuro”, de

resultados de fóruns regionais sobre violência escolar e de pesquisa com professores

e pais, além de diversos registros de esclarecimentos sobre a participação dos pais na

escola (2002 e 2003), a SEESP construiu um banco de dados que serviu para a

elaboração do Programa Escola da Família. O Decreto nº 48.781, em 7 de julho de

2004, do governo do Estado de São Paulo, instituiu o “Programa Escola da Família –

desenvolvimento de uma cultura de paz no Estado de São Paulo” e a SEESP publicou

a Resolução SE nº 18, em 05/02/2010, consolidando as diretrizes e os procedimentos

do Programa Escola da Família, justificado diante da crise das relações humanas e

dos conflitos sociais do início do século XXI, compreendendo que um dos principais

papéis da educação é:

“priorizar a compreensão entre as pessoas, o respeito à diversidade,

a cooperação e a solidariedade como valores integradores da

dignidade humana e, nessa direção, promover o desenvolvimento de

uma cultura de paz. Crianças e jovens precisam aprender de modo

responsável como construir o próprio desenvolvimento e o progresso

da sociedade em que vivem.” (IANONNI, p. 21)

Um dos objetivos do Programa Escola da Família é fundamentar políticas

públicas voltadas para o fortalecimento de atitudes e comportamentos compatíveis à

construção de uma atitude cidadã, voltada para a harmonia e a convivência social.

Pela primeira vez num documento regulador oficial da SEESP surge o termo “cultura

de paz”, nas considerações para a Resolução nº 18, 05/02/2010:

.....................................................................................

“a natureza dos resultados alcançados na implementação do

Programa Escola da Família que tem oportunizado o

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desenvolvimento de ações socioeducativas e de fortalecimento de

identidades voltadas para uma cultura de paz, articulada às

características culturais das comunidades em que se insere”;

“a importância da inclusão desse Programa no projeto pedagógico da

escola como fator de desenvolvimento de uma cultura de participação

e colaboração que expande e fortalece os vínculos da unidade

escolar com a comunidade...” (SÃO PAULO, Secretaria de Estado da

Educação, Resolução SE nº 18, 05/02/2010).

É também no início do ano de 2010 que o governo do Estado de São Paulo

estabelece o Sistema de Proteção Escolar na rede estadual de ensino, através da

Resolução SE nº 19, de 12/02/2010. Destaque para a indicação de que as escolas

devem promover modelos de convivência pacífica e democrática, bem como práticas

efetivas de resolução de conflitos, com respeito à diversidade e ao pluralismo de

ideias, conceitos estes germinados no Plano de Ação da Unesco para o

desenvolvimento da educação para a paz (UNESCO, 1995), uma forma de

atendimento à demanda social no combate à violência, por meio de ações de

prevenção, mediação e resolução de conflitos no ambiente escolar.

Art. 1º - Fica instituído o Sistema de Proteção Escolar, que

coordenará o planejamento e a execução de ações destinadas à

prevenção, mediação e resolução de conflitos no ambiente escolar,

com o objetivo de proteger a integridade física e patrimonial de

alunos, funcionários e servidores, assim como dos equipamentos e

mobiliários que integram a rede estadual de ensino, além da

divulgação do conhecimento de técnicas de Defesa Civil para

proteção da comunidade escolar. (SÃO PAULO, Secretaria de Estado

da Educação, Resolução SE nº 19, 12/02/2010).

Em se tratando papel do gestor escolar no desenvolvimento de um ambiente

favorável a Cultura de Paz, a Resolução SE nº 52 de 14/08/2013, que trata dos perfis

dos educadores da escola pública do estado de São Paulo e dá bases aos programas

de formação continuada, aponta como competências do gestor escolar:

................................................................................................................

2.1 c) Conhecer princípios e métodos para a promoção da gestão

democrática e participativa;

................................................................................................................

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2.1 c.2) Fazer uso de processos e práticas adequados ao princípio de

gestão democrática do ensino público, aplicando os princípios de

liderança, mediação e gestão de conflitos.

................................................................................................................

2.1 c.10) Exercer práticas colaborativas junto às comunidades intra e

extraescolares, por meio de diferentes instrumentos.

................................................................................................................

2.2.2 c) promover um clima organizacional que favoreça o

relacionamento interpessoal e profissional, para uma convivência

solidária e responsável.

................................................................................................................

(SÃO PAULO, Secretaria de Estado da Educação, Resolução SE nº

52 de 14/08/2013, Anexo A, II Diretor de escola, 2. Competências e

Habilidades).

Nesta evidência sobre as competências de diretor escolar pela Resolução

SEE/SP nº 52/2013, destaca-se as competências em conhecer os princípios e fazer

uso de práticas da gestão democrática do ensino público, bem como exercê-las de

forma colaborativa por meio de diferentes instrumentos, promovendo o clima

organizacional favorável a convivência solidária e responsável. Estas competências

delineadas para o gestor escolar, pela Resolução SE nº 52, demonstram os princípios

de Cultura da Paz quando se referem à gestão democrática e a ações do gestor

escolar em garantir uma convivência solidária entre os membros da comunidade

escolar.

No que tange a uma ação com foco na mediação de conflitos na escola, o que

evidencia o favorecimento da Cultura de Paz conforme o tratado com a ONU, a

Resolução SE nº 7 de 19/01/12 dispõe sobre o exercício do Professor Mediador

Escolar e Comunitário do Sistema de Proteção Escolar. O Artigo 7º dessa resolução

trata das atribuições do mesmo:

I - adotar práticas de mediação de conflitos no ambiente escolar e

apoiar o desenvolvimento de ações e programas de Justiça

Restaurativa;

II - orientar os pais ou responsáveis dos alunos sobre o papel da

família no processo educativo;

III - analisar os fatores de vulnerabilidade e de risco a que possa estar

exposto o aluno;

IV - orientar a família ou os responsáveis quanto à procura de

serviços de proteção social;

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V - identificar e sugerir atividades pedagógicas complementares, a

serem realizadas pelos alunos fora do período letivo;

VI - orientar e apoiar os alunos na prática de seus estudos. (SÃO

PAULO, Secretaria de Estado da Educação, Resolução SE nº 7,

19/01/2012).

Conclusão

O estudo conclui que a Secretaria do Estado de São Paulo – SEESP publicou

resoluções que visaram contribuir com o desenvolvimento da Cultura de Paz, e na

garantia dos direitos humanos segundo as propostas do tratado da ONU desde 1945.

As evidências que corroboraram essa afirmação são: a instituição do combate à

violência contra a criança e o adolescente, a criação de espaços de convivência nas

escolas com objetivos de garantir o exercício da cidadania e a democracia, a

convivência e o diálogo, principalmente no que tange à resolução pacífica dos conflitos

humanos. Percebeu-se, analisando a legislação publicada entre 1999 e 2013 que

SEESP fez uso de algumas estratégias com o objetivo de incentivar a Cultura de Paz:

tomando medidas para a resolução de conflitos por meio da mediação, estabelecendo

as competências do gestor escolar como executor de uma gestão democrática,

promovendo o clima organizacional favorável à convivência e a solidariedade.

Estudos posteriores poderão denotar como tais resoluções foram

implementadas, e até que ponto foram, de fato, efetivas em seus objetivos de redução

da violência e ampliação da cultura da paz.

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http://lise.edunet.sp.gov.br/paglei/notas/dec44166_99.htm, acesso em: 09 nov. 2013.

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Dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a consolidação do Programa

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http://www.educacao.sp.gov.br/escoladafamilia/wp-content/uploads/2013/08/Decreto-

n%C2%BA-48.781-Programa-Escola-da-Fam%C3%ADlia.pdf, acesso em: 09 abr.

2014.

SÃO PAULO (Secretaria de Estado da Educação). Resolução SE nº 18 de 05/02/2010.

Dispõe sobre a consolidação das diretrizes e procedimentos do Programa Escola da

Família e dá providências correlatas. Disponível em

http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/18_10.HTM?Time=3/2/2010, acesso em:

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SÃO PAULO (Secretaria de Estado da Educação). Resolução SE nº 19 de 12/02/2010.

Institui o Sistema de Proteção Escolar na rede estadual de ensino de São Paulo e dá

providências correlatas. Disponível em:

http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/19_10.HTM?Time=3/2/2010, acesso em:

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SÃO PAULO (Secretaria de Estado da Educação). Resolução SE nº 7 de 19/01/12.

Dispõe sobre o exercício das atribuições de Professor Mediador Escolar e Comunitário

do Sistema de Proteção Escolar, e dá outras providências. Disponível em

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acesso em: 13 abril. 2014.

SÃO PAULO (Secretaria de Estado da Educação). Resolução SE nº 52 de 14/08/2013.

Dispõe sobre os perfis, competências e habilidades requeridos dos Profissionais da

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que fundamentam e orientam a organização de exames, concursos e processos

seletivos. Disponível em

http://drhu.edunet.sp.gov.br/eventos/arquivos/RESOLU%C3%87%C3%83O%20SE%2

052%20de%2014-8-2013%20PERFIS%20PARA%20CONCURSO.pdf, acesso em: 06

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Webgrafia

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. Disponível em www.onu.org.br,

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