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Políticas culturais internacionais do Brasil e Ibero-América Antonio Albino Canelas Rubim* Durante muito tempo a inserção internacional do Brasil no mundo se deu de modo subordinado, seja pela condição de colônia de Portugal (1500-1822), seja pela posição de país dependente de potências mundiais (Inglaterra e França e depois Estados Unidos da América). Só a partir dos anos 30 do século XX, o país começou a vislumbrar uma política externa mais independente e alicerçada em seus próprios interesses, quando Getúlio Vargas (1930-1945) utilizou a política externa para barganhar projetos de interesse nacional (VIZENTINI, 2005, p.17-18). Desde então, o país vive um zigue-zague nas suas relações exteriores, oscilando entre momentos mais independentes e outros de submissão aos desígnios norte-americanos. As políticas externas de subordinação às potências dominantes, ao definir a visão de mundo, interditaram um olhar mais atento aos países da América do Sul, da América Latina e da Ibero-América. Neste último contexto, a situação se agravava pela convivência história muitas vezes complexa entre ex-colônias e antigas metrópoles. Eduardo Lourenço, por exemplo, traça reflexões instigantes sobre o mito da comunidade luso-brasileira, seus distanciamentos e os desencontros das concepções de brasileiros e portugueses acerca da relação entre as duas nações (LOURENÇO, 2015). Com avanços e recuos, aos lampejos iniciais se somaram construções mais elaboradas de políticas externas, como as esboçadas pelos presidentes Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964). O ministro das Relações Exteriores San Tiago Dantas (1961-1962) deu consistência às formulações e práticas da política externa independente inaugurada no governo anterior (VIZENTINI, 2005, p.26). Como princípios da política externa independente podiam ser elencados, conforme Paulo Vizentini (p.23): exportações brasileiras para todos países, inclusive socialistas; defesa do direito internacional, da

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Políticas culturais internacionais do Brasil e Ibero-América

Antonio Albino Canelas Rubim*

Durante muito tempo a inserção internacional do Brasil no mundo se deu de modo

subordinado, seja pela condição de colônia de Portugal (1500-1822), seja pela posição de

país dependente de potências mundiais (Inglaterra e França e depois Estados Unidos da

América). Só a partir dos anos 30 do século XX, o país começou a vislumbrar uma política

externa mais independente e alicerçada em seus próprios interesses, quando Getúlio

Vargas (1930-1945) utilizou a política externa para barganhar projetos de interesse

nacional (VIZENTINI, 2005, p.17-18). Desde então, o país vive um zigue-zague nas suas

relações exteriores, oscilando entre momentos mais independentes e outros de submissão

aos desígnios norte-americanos.

As políticas externas de subordinação às potências dominantes, ao definir a visão de

mundo, interditaram um olhar mais atento aos países da América do Sul, da América

Latina e da Ibero-América. Neste último contexto, a situação se agravava pela

convivência história muitas vezes complexa entre ex-colônias e antigas metrópoles.

Eduardo Lourenço, por exemplo, traça reflexões instigantes sobre o mito da comunidade

luso-brasileira, seus distanciamentos e os desencontros das concepções de brasileiros e

portugueses acerca da relação entre as duas nações (LOURENÇO, 2015).

Com avanços e recuos, aos lampejos iniciais se somaram construções mais elaboradas de

políticas externas, como as esboçadas pelos presidentes Jânio Quadros (1961) e João

Goulart (1961-1964). O ministro das Relações Exteriores San Tiago Dantas (1961-1962)

deu consistência às formulações e práticas da política externa independente inaugurada

no governo anterior (VIZENTINI, 2005, p.26). Como princípios da política externa

independente podiam ser elencados, conforme Paulo Vizentini (p.23): exportações

brasileiras para todos países, inclusive socialistas; defesa do direito internacional, da

autonomia e autodeterminação dos povos; política de paz, desarmamento e coexistência

pacífica; apoio à descolonização e formulação autônoma de planos nacionais de

desenvolvimento.

A Ditadura Militar (1964-1985) impõe, de início, uma política alinhada aos interesses

norte-americanos, depois abandonada em prol de relações exteriores mais independentes.

Esta atitude permite uma aproximação, ainda tênue, dos países vizinhos, geográfica ou

historicamente. Emblemático a ditadura militar brasileira ter sido o primeiro país a

reconhecer a independência de Angola, protagonizada e governada pelo Movimento

Popular de Libertação de Angola (MPLA), assumidamente de esquerda.

A tessitura da política externa independente, após mais de um século da independência,

permitiu ao Brasil se inscrever no mundo a partir de outros olhares, nos quais os países

vizinhos ganharam atenção. Ela se acentua, com idas e vindas, nos governos democráticos

pós-ditadura (MIYAMOTO, 2000): José Sarney (1985-1990), Fernando Collor de Melo

(1990-1993), Itamar Franco (1993-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A

“convergência perversa”, no dizer de Evelina Dagnino (2005), entre o processo de

democratização em andamento e a presença do neoliberalismo no plano internacional e

sua penetração no país, provocou, em maior ou menor graus, tensões e ambiguidades

advindas desta convivência conflituosa. De tudo modo, as contradições não conseguiram

obscurecer a atenção para as regiões vizinhas, em horizontes geográficos ou históricos. A

constituição do Mercado Comum do Sul (Mercosul) entre 1991 / 1994 apareceu como

marco da nova circunstância de integração regional (RECONDO, 1997). A fundação da

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996, expressou igualmente

esta atitude nas relações exteriores (NOVAIS, 2013, p.163). A inédita Reunião dos

Presidentes da América do Sul, acontecida em Brasília, em 2000, reforça a busca de

cooperação e integração, mesmo privilegiando projetos de conexão física (LAFER, 2004,

p.56).

A política externa independente, com suas renovadas visões de mundo, se aprofundou no

governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e se manteve no governo Dilma

Rousseff (2011-2016). Sem desconsiderar as relações com a Europa e os Estados Unidos

da América, tradicionais polos das relações internacionais do Brasil, a política externa

independente buscou a diversidade de parcerias em uma visão multipolar do mundo. Ela

destinou atenção especial à América do Sul, à América Latina e Caribe, aos grandes

países em desenvolvimento, à África e aos países árabes. Nada casual, a constituição

nesses anos de organismos como: União das Nações Sul-Americanas (UNASUL);

Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e articulações

como a que envolveram Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), além da

atenção com o Mercosul, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e outros

parceiros internacionais (GUIMARÃES, 2015). O processo de integração da América

Latina e Caribe foi tratado com detalhes por Nils Castro (2015).

Cultura e relações internacionais

O panorama das relações internacionais se alterou bastante depois da Segunda Guerra

Mundial. O número de países independentes, desde então, cresceu continuamente: de 50

em 1945, eles passaram para 120 em 1964, 170 em 1989 e 196 países em 2011 (RIBEIRO,

2011, p.21). Os organismos multilaterais proliferaram. Mudanças, na economia, nos

transportes e nas comunicações resignificaram o mundo. As relações internacionais se

tornaram cada vez mais vitais no admirável mundo novo.

O contexto das políticas de relações exteriores também se alterou com mudanças advindas

do campo cultural. Após 1945 surgem diversos organismos multilaterais dedicadas à

cultura, a exemplo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura (UNESCO), em 1946, e da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI),

em 1949, e aparecem os primeiros estudos dedicados à cultura nas relações internacionais.

Em 1947, McMurry e Lee afirmam a dimensão cultural como parte constitutiva da

política externa dos estados (MCMURRY; LEE, 1947). Os temas culturais passam a

frequentar com mais constância a agenda política nacional e internacional. A criação do

Ministério dos Assuntos Culturais na França, em 1959, inventou as políticas culturais

nacionais (URFALINO, 2004). A UNESCO teve papel destacado na internacionalização

e na ocupação cultural do cenário mundial (RUBIM, 2009). Seus debates, encontros,

estudos e legislações colocaram em cena temáticas como: identidades culturais nacionais,

patrimônio cultural, políticas culturais, cultura e desenvolvimento e diversidade cultural

(BOLÁN, 2006, p.77-109). Entre 1971 e 2005, por exemplo, ela gerou por volta de 10

convenções e declarações sobre assuntos culturais (MONTIEL, 2005, p.102). A

diversidade cultural mobilizou ampla discussão supranacional e resultou na Declaração

Universal sobre a Diversidade Cultural (2001) e na Convenção sobre a Proteção e a

Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005).

Outros fatores contribuíram para a presença mais ampla da cultura no ambiente e nas

relações internacionais. O desenvolvimento da economia da cultura, que emergiu no

século XIX e se intensificou no século XX, colocou a cultura como relevante ativo, sendo

uma das áreas econômicas mais dinâmicas e promissoras na atualidade. A economia

criativa, que ganhou visibilidade nos anos 90 do século XX, inicialmente na Austrália e

na Grã-Bretanha, amplificou mais ainda o lugar da cultura na economia contemporânea.

A globalização, que caracterizou o final do século XX e inícios do século atual,

potencializou a inscrição da cultura na agenda internacional, dado que ela incitou ampla

discussão sobre seus impactos, agendando debates sobre mundialização, homogeneização

e diversidade culturais. (LESSA, 2012). A velocidade da circulação das informações e a

ampliação potencial de troca de ideias redefinem o lugar ocupado pela cultura no mundo

atual (RIBEIRO, 2011, p.23). O global e o local passaram a ser arenas de intensas

disputas, inclusive culturais, como ocorreu na Convenção sobre a Proteção e a Promoção

da Diversidade das Expressões Culturais.

Na contemporaneidade, moldada por mudanças econômicas, políticas, sociais, culturais,

comunicacionais e tecnológicas, floresceu a diplomacia cultural. Definida como

“...utilização específica da relação cultural para consecução dos objetivos nacionais, de

natureza não apenas cultural, mas também política, comercial e econômica” (RIBEIRO,

2011, p.33) ou, de modo quase similar, como “...utilização das questões e/ou fatores

culturais para o alcance de objetivos relativos à política externa...” (LESSA, 2012, p.170),

a diplomacia cultural tem seu embrião na atitude pioneira da França de criar, a partir de

1910, uma divisão no Ministério dos Negócios Estrangeiros para tratar da difusão da

língua e da cultura francesas no exterior (RIBEIRO, 2011, p.70). Bruno Podestá

considerou que a definição de Willy Brandt da cultura como terceiro pilar da política

exterior, junto com a política e a economia, viabilizou a vigência do termo diplomacia

cultural (PODESTÁ, 2004, p. 54). Monica Lessa, que adere ao uso do termo diplomacia

cultural, entretanto, fala da cultura como quarta dimensão das relações internacionais

(LESSA, 2012, p.170). Edgard Telles Ribeiro e Bruno Podestá, dentre outros autores,

acreditam que a diplomacia cultural expresse a política cultural externa de um país. No

ano de 2000 aconteceu a Primeira Conferência da Casa Branca sobre Cultura e

Diplomacia, em uma evidente demonstração, da importância que a temática passou a

despertar na contemporaneidade.

Outra noção, mais recente, tem sido crescentemente acionada para inscrever a cultura nas

relações internacionais. Trata-se do termo “soft power”, imaginado por seu criador,

Joseph Nye (2004), como capacidade de um estado obter mudanças de comportamento

de outro em seu proveito, através do poder de atração da sua cultura e das suas ideias.

Para ele o desafio do “soft power” consiste em fazer com que tais elementos de atração

se traduzam em poder a favor de suas posições nos assuntos mais diversos. O “soft power”

pode ser traduzido por poder brando ou poder de convencimento. Edgar Montiel fala em

“poder intangível” ou “poder versátil”, pois considera que, na sua acepção inglesa, a

expressão parece forçada ao associar duas palavras com sentidos contraditórios: força e

leveza (MONTIEL, 2010, p.88). Para além das discussões conceituais, importa ressaltar

a presença crescente da cultura na diplomacia e nas relações internacionais.

Políticas culturais nacionais e internacionais do Brasil

As transformações da sociabilidade contemporânea conformam o ambiente da ascensão

de Lula à presidência do Brasil (2003-2010). Este governo se caracterizou por ampla

aliança política de classes, visando superar mazelas nacionais - fome, desigualdades

sociais, regionais e educacionais - através de um desenvolvimento nacional, democrático,

inclusivo e soberano. Políticas sociais, diversidade social, democratização do estado e

política externa independente afloraram como algumas das marcas diferenciais do

governo.

A diplomacia cultural brasileira envolveu, pelo menos, os ministérios das Relações

Exteriores; Cultura; Educação; Ciência e Tecnologia; Esporte; Turismo e Indústria,

Desenvolvimento e Comércio Exterior, conforme Bruno Novais (2013, p.76). O seu

estudo abrangeu, especificamente, a diplomacia cultural empreendida pelos ministérios

das Relações Exteriores, Cultura e Educação. Eles, através do Ajuste Tripartite assinado

em 1987, elaboraram documento inaugurador, intitulado Política Cultural Brasileira no

Exterior, que afirmava a conexão desta política com o desenvolvimento nacional

(RIBEIRO, 2011, p.95) e colocava as áreas prioritárias de atuação na seguinte ordem:

América Latina, África, Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e Ásia (RIBEIRO, 2011,

p.49).

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) já possuía experiência na difusão

internacional da cultura, em especial, através de Departamento Cultural (DC) e suas

atividades no exterior. Com a redemocratização, na segunda fase dos anos 80, os

primórdios da construção da política cultural externa se conformam. Em 1987, no

Instituto Rio Branco, Edgard Ribeiro defendeu tese pioneira, denominada Difusão

cultural: uma alternativa a serviço da política exterior brasileira, que ampliada se

transformou em livro no ano de 1989. Em 1988, o Instituto de Pesquisas de Relações

Internacionais do MRE promoveu o seminário Cultura e relações internacionais. Todas

as iniciativas apontam o interesse nascente e crescente com a questão da cultura nas

relações internacionais no âmbito do MRE.

O Ministério da Cultura atuou em sintonia com diretrizes do governo Lula. Gilberto Gil,

ministro entre 2003 e 2008, chegou a afirmar que: “...o governo Lula e o Ministério da

Cultura vêm deslocando as políticas culturais para o centro do debate do desenvolvimento

nacional e das relações de intercâmbio do Brasil com outros países” (GIL apud NOVAIS,

2010, p.220). Notável a convergência, deliberada ou não, entre a promoção da diversidade

social, realizada pelo presidente, e a política de diversidade cultural, empreendida pelo

ministério. Ambas buscavam superar o tratamento desigual das pessoas no Brasil a

depender da sua origem e caracteres sociais. As políticas culturais desenvolvidas pelo

ministério assumiram um conceito ampliado de cultura; a construção de política públicas,

discutidas e definidas por meio de variados canais de participação; a criação de programas

culturais abrangentes e inclusivos, a exemplo do Cultura Viva; a atuação nacional do

ministério; a democratização da formulações e ações do estado nacional na área cultural;

a busca de políticas culturais mais estáveis, a exemplo do Plano Nacional de Cultura e do

Sistema Nacional de Cultura e o alargando da base social do ministério, para além de

artistas e profissionais de patrimônio. A persistência de problemas, alguns deles graves,

a exemplo das modalidades de financiamento e da dimensão do ministério, não impediu

que tais políticas colocassem a cultura em outro patamar no país (RUBIM, 2011).

Afinado com a política de maior presença internacional do Brasil, o Ministério da Cultura

atuou, associado com o Ministério das Relações Exteriores, na expansão do trabalho

cultural fora do país. A convergência de esforços ocorreu na delicada construção da

convenção da diversidade cultural, na qual os dois ministérios realizaram uma competente

ação conjunta, reconhecida por ambos e por estudiosos (KAUARK, 2009; KAUARK,

2010; NOVAIS, 2010). Vários projetos comuns aconteceram, a exemplo do ano da

França no Brasil e do Brasil na França, em 2005, e da Copa da Cultura na Alemanha, em

2006. O Fórum Internacional de Economia Criativa, realizado em Salvador, no ano de

2005, com a participação de cerca de 20 países, sintonizado com a discussão internacional

sobre o assunto, pode ser lembrado como outro momento de convergência da atuação das

duas instituições.

O Ministério da Cultura esteve sempre articulado com o Departamento Cultural (DC) do

Ministério das Relações Exteriores, órgão institucional já existente com larga experiência

de atuação na área da cooperação cultural internacional. O DC, na época, possuía cinco

divisões destinadas à: promoção da língua portuguesa; difusão cultural; assuntos e

acordos multilaterais; temas educacionais e divulgação. Em 2007, o DC criou a Divisão

do Audiovisual (DAV) para tratar das políticas de audiovisual no exterior, em cooperação

com a Secretaria do Audiovisual e com a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), ambas

ligadas ao MINC (NOVAIS, 2013, p.82). A estrutura e as principais atividades do DC

estão descritas nos estudos de Bruno Novais (2013) e Mariana Souza (2009).

A amplitude do trabalho colaborativo demandou a transformação da Assessoria

Internacional, criada em 2003 pelo ministro Gilberto Gil, em um Comissariado da Cultura

Brasileira no Mundo, em 2007, com participantes dos dois ministérios. Um ano depois,

em 2008, o Ministério da Cultura inaugurou a Diretoria de Relações Internacionais (DRI),

vinculada à Secretaria Executiva do ministério (NOVAIS, 2010, p.234). Cabe ressaltar

que o segundo dirigente da DRI foi um diplomata oriundo do Ministério das Relações

Exteriores, que atuou na construção conjunta da convenção da UNESCO. Tais iniciativas

demonstraram a preocupação com a constituição de melhores condições institucionais,

bem como indicaram o crescimento do investimento da cultura brasileira no cenário

internacional.

Cultura no cenário internacional

O Ministério da Cultura assumiu a prioridade dada à América do Sul e América Latina

nas relações externas brasileiras, em sintonia com as definições do MRE de privilegiar as

relações sul-sul. O ministério se dedicou à construção dos espaços culturais sul-americano

e latino-americano. O Mercosul Cultural ganhou atenção. No campo do audiovisual, por

exemplo, instituiu-se na estrutura do Mercosul a Reunião Especializada de Autoridades

Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul e Estados Associados (RECAM), em

dezembro de 2003, visando promover a complementariedade e integração do cinema e

audiovisual da região, envolvendo Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Venezuela,

Bolívia e Chile. A RECAM, em 2005, organizou o Observatório do Mercosul

Audiovisual; em 2006, aprovou o Certificado de Obra Cinematográfica do Mercosul e,

em 2007, organizou o Foro de Competividade para o Setor Cinematográfico e

Audiovisual do Mercosul. A RECAM atua, dentre outras, nas áreas da produção,

circulação e estudos sobre cinema e audiovisual do Mercosul. Em 2014, os ministros da

cultura, reunidos em Buenos Aires, aprovaram o Fundo Mercosul Cultural.

Ainda no campo do audiovisual, o Ministério da Cultural replicou na América Latina e

na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) o programa DOC-TV, que

obteve boa repercussão na sua versão brasileira. O DOC-TV América Latina, acontece a

cada dois anos realizado pela Secretaria de Audiovisual do ministério, em conjunto com

a Conferência das Autoridades Cinematográficas da Ibero-América e a Fundação do

Novo Cinema Latino-americano. Em 2015, a quinta edição do DOC-TV América Latina

reuniu 17 países: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala,

Equador, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, República Dominicana,

Uruguai, Paraguai e Venezuela.

Para além da área audiovisual, a cooperação cultural na América Latina ocorreu em

diversos campos culturais, a exemplo da: construção de informações e indicadores

culturais; das reuniões de bibliotecas e museus; de seminários de políticas e gestão

culturais; do intercâmbio entre as culturas afro-latinas; de projetos envolvendo culturas

indígenas, como os guaranis, presentes em diferentes países sul-americanos; dos eventos

de culturas populares, como o I Encontro Sul-Americano de Culturas Populares, realizado

em Brasília no ano de 2006. O Brasil também atuou na Organização dos Estados

Americanos (OEA) na Comissão Interamericana de Cultura, inclusive dirigindo este

órgão, e no Observatório Interamericano de Políticas Culturas (PODESTÁ, 2008, p.92).

Cabe destaque para a repercussão latino-americana do Programa Cultura Viva, que

inspirou a realização de programa similares em diversas nações e propiciou a criação do

Cultura Viva Comunitária. Este movimento já realizou duas edições do Congresso

Latino-Americano da Cultura Viva Comunitária na Bolívia (2013) e em El Salvador

(2015). Hoje ele mobiliza milhares de ativistas culturais e está presente em mais de dez

países latino-americanos (TURINO, 2015; VILUTIS, 2015). Em maio de 2014, o VI

Congresso Ibero-Americano, organizado pela Secretaria Geral Ibero-Americana

(SEGIB), teve a Cultura Viva Comunitária como tema e uma de suas resoluções foi a

criação do Fundo Ibercultura Viva para apoiar comunidades culturais e seu intercâmbio

(TURINO, 2015, p.72). Como pode ser observado, as fronteiras de atuação entre ibero e

latino-américa não parecem rígidas. Em inúmeros pontos elas se conectam, entrecruzam

e até se diluem.

Brasil e Ibero-América

A Ibero-América não apareceu entre as prioridades dos governos Lula e Dilma, apesar da

história comum do Brasil com Portugal e da presença recente de muitas empresas e

capitais espanhóis no país. Neste caso específico, o Ministério da Cultura assumiu posição

dissonante do governo e do Ministério das Relações Exteriores. Nem as críticas de Nils

Castro aos “modestos resultados práticos” da Cúpulas Ibero-Americanas, apesar de tratar

de assuntos “conceitualmente interessantes para a cooperação política, econômica e

cultural entre os países”, puderam afetar esta atitude proativa (CASTRO, 2015, p.158).

Assim, o Ministério da Cultura protagonizou relações diferenciadas e intensas com a

Ibero-América e seus organismos multilaterais, em especial a SEGIB e a OEI.

O Brasil participou de todas os congressos de autoridades ibero-americanas, organizados

pelas SEGIB, inclusive sediando a III Cimeira de Chefes de Estado e de Governo,

realizada em Salvador-Bahia, em 1993. O desenvolvimento, em especial em sua

dimensão social, esteve na pauta principal do encontro (DROMI, 2002, p.209).

A presença do secretário-geral da OEI como única autoridade estrangeira na mesa de

abertura da I Conferência Nacional de Cultura, em 2005, expressou este relacionamento.

Diversas vezes, Gilberto Gil e Francisco Pinón, então dirigente da OEI, enfatizaram as

convergências e o trabalho comum realizado pelas instituições, a exemplo de Pinón na

abertura da conferência. Ele afirmou: “Nossa organização vem trabalhando muito

próxima do Ministério da Cultura” (PINÓN, 2005/2006b, p.156). A implantação da sede

brasileira da OEI, tendo à frente Daniel Gonzalez naqueles anos, contou com a

colaboração do Ministério da Cultura. A OEI, o Ministério da Cultura e o Centro de

Estudos Multidisciplinares da Cultura (CULT) da Universidade Federal da Bahia (UFBA)

estiveram juntos na organização do IV Campus Euro-Americano de Cooperação Cultural,

acontecido em Salvador-Bahia, em 2005, que reuniu mais de 200 participantes,

provenientes de 27 países (OEI; MINC, 2005). Nada estranho que anos depois, no

primeiro governo Dilma, o então ex-Ministro Juca Ferreira fosse dirigir projetos na

SEGIB e que ex-reitor Paulo Speller se tornasse o primeiro brasileiro a assumir o cargo

de secretário-geral da OEI, em 2015.

Não cabe no texto listar todas as iniciativas culturais que associaram o Brasil à Ibero-

América. Algumas, no entanto, devem ser lembradas. A Carta Cultural Ibero-Americano,

documento precioso de compromisso com a diversidade cultural, aprovada na XVI

Cimeira Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, ocorrida em Montevidéu,

em 2006, com participação ativa do Brasil (SEGIB; OEI, 2006). O I Encontro Ibero-

Americano de Museus desenrolado em Salvador - Bahia, em 2007, com repercussões

relevantes. Não parece casual que o ano seguinte seja declarado Ano Ibero-Americano de

Museus e mais de 900 eventos tenham acontecido na região (NOVAIS, 20013, p.110). O

recém-criado Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) tornou-se ativo participante do

Programa IBERMUSEUS.

O Brasil, além do IBERMUSEUS, passou a atuar em diversos programas dos organismos

ibero-americanos, tais como: Programa de Desenvolvimento Audiovisual em Apoio à

Construção do Espaço Visual Ibero-Americano (IBER-MEDIA), Programa da

Associação de Estados Ibero-Americanos para o Desenvolvimento das Bibliotecas

Nacionais dos Países Ibero-Americanos (ABINIA), Repertório Integrado de Livros em

Venda em Ibero-América (RILVI), Rede Ibero-Americana de Teatros e Salas de Concerto

(IBERES-CENA) e Programa do Fórum Ibero-Americano de Responsáveis Nacionais de

Bibliotecas Públicas.

Também em 2007, divulga-se o resultado do I Programa de Fomento à Produção e

Teledifusão do Documentário Ibero-Americano (DOCTV IB), um desdobramento do

DOCTV Brasil. O DOCTV-IB, programa da Conferencia de Autoridades Audiovisuais e

Cinematográficas de Ibero-América (CAACI), reuniu autoridades audiovisuais nacionais,

televisões públicas e associações de produtores independentes de 15 países ibero-

americanos, sob a coordenação executiva do Ministério da Cultura, Secretaria Executiva

da Cinematografia Ibero-Americana e Fundação do Novo Cine Latino-Americano. Em

2010, o Brasil sediou o Colóquio Ibero-Americano de Paisagem Cultural na cidade de

Brasília (NOVAIS, 2013, p.134).

A listagem pode acolher ainda outras iniciativas. A Cátedra Andrés Bello implantada nos

anos de 2005 e 2006, em Salvador - Bahia, através da parceria entre o Convênio Andrés

Bello, que reunia diversos países ibero-americanos, e CULT-UFBA, com apoio do

Ministério da Cultura. As duas versões da Cátedra, que conjugaram curso e pesquisa,

tiveram como tema: Políticas e redes de cooperação em cultura no âmbito ibero-

americano (RUBIM; RUBIM; VIEIRA, 2005 e RUBIM; RUBIM; VIEIRA, 2006).

Livros sobre o tema da cultura na Ibero-América têm sido publicados no Brasil, a exemplo

de Culturas da Ibero-América. Diagnósticos e propostas para seu desenvolvimento,

organizado por Néstor García Canclini e editado com o apoio da OEI (CANCLINI, 2003)

e Políticas culturais na Ibero-América, lançado no Brasil (RUBIM; BAYARDO, 2008)

e na Colômbia (RUBIM; BAYARDO, 2009). Outro livro sobre o Panorama da Gestão

Cultural na Ibero-América foi publicado em 2016 (RUBIM; YANEZ; BAYARDO,

2016). Eles demonstram o interesse crescente de estudiosos e do público leitor em temas

ibero-americanos.

Todas estas informações e análises comprovam a hipótese de trabalho do presente texto.

Apesar da Ibero-América não estar incluída no conjunto das prioridades das relações

internacionais do Brasil, definidas pelo governo e Ministério da Relações Exteriores, o

Ministério da Cultura, por sua atuação precípua, transformou a Ibero-América, muitas

vezes associada e confundida à América Latina ou à América do Sul, em uma das

prioridades das relações culturais internacionais do Brasil até 2016.

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*Pesquisador do CNPq e do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT).

Professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Pós-

Cultura) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).