política de investigação científica para a saúde em portugal · investigação aplicada É...

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1 Política de investigação científica para a saúde em Portugal Guerreiro CS # , Hartz Z # , Sambo L # , Conceição MC # , Dussault G # , Russo G # , Viveiros M # , Ferrinho P # , # GHTM R&D Unit, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa RESUMO O debate global sobre a política de investigação científica para a saúde humana tem sido liderado pela OMS com contribuições importantes de outros stakeholders como o COHRED, o Banco Mundial e o Fórum Global para Investigação em Saúde, dominado recentemente pelas agendas temáticas de grandes financiadores globais. Existe um crescente interesse mundial em fazer melhor uso da evidência resultante da investigação científica para saúde, nas tomadas de decisão relacionadas com a definição de políticas de saúde. Na Europa verifica-se porém a existência de uma complexidade inerente à interação entre a investigação e a tomada de decisão política. Após cerca de 40 anos de democracia e 30 anos de integração europeia, Portugal superou o atraso científico estrutural. Contudo, a análise desta matéria à luz das políticas de investigação definidas a nível global e europeu mostra que há ainda um longo caminho a percorrer quando se fala em investimento global em Investigação & Desenvolvimento. A investigação para a saúde em Portugal tem tido tutela partilhada entre a FCT e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, sendo que esta matéria não tem sido uma prioridade - a realidade demonstra a não existência de um plano de investigação científica para a saúde em Portugal, o qual possa pôr em franca articulação os diferentes atores intervenientes. Na convicção de que adotar uma estratégia de incentivo à investigação em saúde consiste uma mais-valia para o sistema de saúde português, os autores propõe cinco sugestões estratégicas em matérias de investigação para a saúde em Portugal. ABSTRAT The global debate on the scientific research policy to human health has been led by WHO with important contributions from other stakeholders such as COHRED, the World Bank and the Global Forum for Health Research, recently dominated by the thematic agendas of major global financiers. There is a growing worldwide interest in making better use of evidence resulting from scientific research to health, in making

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Page 1: Política de investigação científica para a saúde em Portugal · Investigação aplicada É investigação realizada para adquirir conhecimentos úteis para fins práticos (WHO,

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PolíticadeinvestigaçãocientíficaparaasaúdeemPortugal

Guerreiro CS#, Hartz Z#, Sambo L#, Conceição MC#, Dussault G#, Russo G#, Viveiros M#, Ferrinho P#,

# GHTM R&D Unit, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa

RESUMOO debate global sobre a política de investigação científica para a saúde humana tem sido liderado pela

OMS com contribuições importantes de outros stakeholders como o COHRED, o Banco Mundial e o

Fórum Global para Investigação em Saúde, dominado recentemente pelas agendas temáticas de grandes

financiadores globais. Existe um crescente interesse mundial em fazer melhor uso da evidência resultante

da investigação científica para saúde, nas tomadas de decisão relacionadas com a definição de políticas

de saúde. Na Europa verifica-se porém a existência de uma complexidade inerente à interação entre a

investigação e a tomada de decisão política.

Após cerca de 40 anos de democracia e 30 anos de integração europeia, Portugal superou o atraso

científico estrutural. Contudo, a análise desta matéria à luz das políticas de investigação definidas a nível

global e europeu mostra que há ainda um longo caminho a percorrer quando se fala em investimento

global em Investigação & Desenvolvimento. A investigação para a saúde em Portugal tem tido tutela

partilhada entre a FCT e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, sendo que esta matéria não tem

sido uma prioridade - a realidade demonstra a não existência de um plano de investigação científica para

a saúde em Portugal, o qual possa pôr em franca articulação os diferentes atores intervenientes.

Na convicção de que adotar uma estratégia de incentivo à investigação em saúde consiste uma mais-valia

para o sistema de saúde português, os autores propõe cinco sugestões estratégicas em matérias de

investigação para a saúde em Portugal.

ABSTRATThe global debate on the scientific research policy to human health has been led by WHO with important

contributions from other stakeholders such as COHRED, the World Bank and the Global Forum for Health

Research, recently dominated by the thematic agendas of major global financiers. There is a growing

worldwide interest in making better use of evidence resulting from scientific research to health, in making

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decisions related to the definition of health policies. In Europe there is however a complexity inherent in

the interaction between research and political decision-making.

After about 40 years of democracy and 30 years of European integration, Portugal has overcome the

structural scientific backwardness. However, analysis of this matter in the light of the defined global and

European research policies shows that there is still a long way to run when it comes to overall investment

in R & D. The research for health in Portugal has had shared custody between FCT and the National

Institute of Health Dr. Ricardo Jorge, and this matter has not been a priority - the reality demonstrates the

lack of a scientific research plan for health in Portugal, which might pose a frank articulation the different

actors.

Convinced that adopting a health research incentive strategy is an asset for the Portuguese health

system, the authors address five strategic suggestions for research for health in Portugal.

PALAVRAS-CHAVEInvestigação científica, Investigação para a saúde, Estratégia, Política de investigação para a saúde,

Portugal

KEYWORDSScientific research, health research, strategy, research policy for health, Portugal

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INTRODUÇÃOO presente trabalho pretende apresentar uma visão global da política de investigação científica para a

saúde em Portugal, contextualizando-a no cenário europeu. Elabora-se uma breve resenha histórica da

experiência portuguesa em matéria de política de investigação científica e, especificamente, para a

saúde, apresentando os atores envolvidos, a qual permite uma leitura da realidade atual. Desta discorre

um conjunto de sugestões que acreditamos podem contribuir para a definição de uma política de

investigação para a saúde em Portugal.

Este artigo começa portanto com a apresentação de uma perspetiva global, seguida de uma perspetiva

europeia e da descrição da situação em Portugal nesta matéria, terminando com sugestões estratégicas.

PERSPETIVAGLOBALAs políticas de investigação científica assentam cada vez mais em princípios definidos pela UNESCO

(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sobre ciência e uso do

conhecimento científico na Conferência “Ciência para o Século XXI – Um novo compromisso” e coligidos

na Declaração de Budapeste de 1999. Nela se declara que a ciência deve ser feita para o progresso, para

a paz, para o desenvolvimento, na e para a sociedade. A(s) ciência(s) deve(m) assim estar ao serviço da

humanidade como um todo, e deve(m) contribuir para proporcionar a todos uma compreensão mais

profunda da natureza e da sociedade, uma melhor qualidade de vida e um ambiente sustentável e

saudável para as gerações presentes e futuras1.

O debate global sobre a política de investigação científica para a saúde humana tem sido liderado pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) com contribuições importantes de outros stakeholders como o

Council on Health Research for Development (COHRED), o Banco Mundial e o Fórum Global para

Investigação em Saúde, dominado recentemente pelas agendas temáticas dos grandes financiadores

globais da investigação em saúde como a Fundação Bill e Melinda Gates, Global Fund for AIDS,

Tuberculosis and Malaria, União Europeia (UE), USAID, Global Innovation Fund, Wellcome Trust e

Fundação Aga Khan.

Uma das preocupações do debate global tem sido o desenvolvimento de sistemas nacionais de

investigação para a saúde fortes e sustentáveis. Daí a recomendação que o desenvolvimento de uma

política nacional de investigação em saúde deveria ter como ponto de partida o conhecimento de como

funciona o sistema nacional de investigação em saúde (SNIS), identificando as componentes que se

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reconhecem como parte desse mesmo sistema. O COHRED identifica uma tríade que todos os países

necessitam para desenvolver o seu SNIS:

• A estrutura de governação e gestão da investigação – que decida, execute, coordene,

financie, negoceie, medeie e avalie;

• Um conjunto de prioridades que garanta o enfoque do sistema nas necessidades de saúde da

população e na contribuição nacional para a saúde global e que oriente as agendas das

instituições de investigação e das entidades financiadoras. Apesar de existirem diversas

metodologias para o estabelecimento de prioridades de investigação em saúde2-4, é mais

cauteloso reconhecer que não é possível fazê-lo de forma uniforme e sistematizada. Daí a

recomendação de um processo a que o COHRED chama de “espiral de aprendizagem” em

que se ressalva a importância de garantir “voz” a cientistas, profissionais, comunidades das

mais diversas, assegurando-se a interface entre agendas nacionais e internacionais.

• Um quadro de referência para desenvolver uma política de investigação em saúde

conducente ao reforço do sistema nacional de investigação para a saúde e à consecução das

prioridades identificadas. Esta

política deve ser geralmente

partilhada entre vários

ministérios tais como ciência,

tecnologia, ensino superior,

saúde e outros envolvidos em

atividades de investigação; e

inscrever-se nas políticas de

desenvolvimento nacional. Deve estabelecer a entidade de governação da investigação, o

equilíbrio desejado entre investigação aplicada e básica, as orientações estratégicas para

reforço de capacidades, para práticas éticas e para comunicação dos resultados. Finalmente

ela deve reconhecer o caráter internacional da investigação científica.5.

A OMS contribui para o debate sobre políticas de investigação para a saúde com dois documentos

recentes6,7, no seguimento de declarações emanadas de conferências internacionais no México (2004),

Bamako (2008), e dos I, II e III Global Symposium on Health Systems Research, organizados com a Alliance

for Health Policy and Systems Research (AHPSR) em Montreux (2010), Pequim (2012) e Cape Town

Fig.1.CondiçõesnecessáriasaodesenvolvimentodeumSistemaNacionaldeInvestigaçãoemSaúde,adaptadodeCOHRED

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(2014). A AHPSR é uma colaboração internacional organizada pela OMS, criada em 1999 com o objectivo

de promover o desenvolvimento de políticas de saúde e sistemas de investigação como um meio para

melhorar os sistemas de saúde dos países de baixa e média renda.

Na sua estratégia de investigação

para a saúde6 a OMS identifica: três

princípios orientadores - qualidadea,

impactob e inclusãoc; cinco objetivos

- organizaçãod, prioridadese,

capacidadef, padrõesg e translaçãoh;

e cinco áreas genéricas de atividade

- medir a magnitude e distribuição

dos problemas de saúde,

compreender as causas e

determinantes dos problemas

observados, desenvolver soluções ou

intervenções para prevenir ou mitigar

o problema, implementar as soluções através de políticas e programas, avaliar o impacto das soluções na

magnitude e distribuição do problema.

Alguns mecanismos identificados como importantes incluem a articulação entre entidades financiadoras,

a definição de agendas de trabalho, a gestão do conhecimento, comités de ética, normas e regulamentos

para ensaios clínicos, biossegurança laboratorial (biosafety) e segurança biológica (biosecurity),

interligação com os sistemas de informação em saúde, repositórios open-access, comunicação sobre a

investigação realizada, indicadores do desempenho dos sistemas nacionais de investigação, e promoção

de parcerias nacionais e internacionais6. Para apoiar esta estratégia discute-se a iniciativa de desenvolver

um Observatório Investigação em Saúde Global (Global Health R&D Observatory) 8.

a Investigação que é ética, apreciada por pares, eficiente, eficaz, acessível e monitorizada e avaliada. b Investigação com o maior potencial para garantir a segurança da saúde global, acelerar o desenvolvimento dependente da saúde, corrigir desigualdades em saúde e contribuir para a consecução dos ODM 2015. A investigação em saúde é considerada, no Relatório Mundial da Saúde de 2010, como um importante instrumento para contribuir para o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade (WHO, 2013 a). c Parcerias, multissetorial, com a participação das comunidades e da sociedade civil. d Reforço da cultura de investigação nas organizações de saúde. e Centradas nas necessidades de saúde consideradas prioritárias. f Contribuindo para o reforço dos sistemas nacionais de investigação em saúde. g Encorajando boas práticas. h Reforçando os laços entre a investigação em saúde e a definição de políticas e as práticas profissionais.

Fig.2.EstratégiaparaainvestigaçãoemSaúde,adaptadodeOMS,2012

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Quanto à intencionalidade da investigação a OMS recorre à terminologia de investigação básica ou

fundamental, investigação aplicada, investigação operacional ou de implementação, investigação

translacional e investigação em políticas e sistemas de saúde, conforme descrito no quadro 1.

Conceito

Investigaçãobásicaoufundamental

É investigação experimental ou teórica que tem como principal finalidadeadquirir novos conhecimentos sobre os fundamentos subjacentes aosfenómenosefactosobserváveis,semteremmentenenhumaaplicaçãofutura.Pode referir-se a fenómenos biológicos, psicológicos, socioeconómicos,químicos ou físicosmas também ametodologias emedições, e a recursos einfraestruturas(WHO,2013,a).

Investigaçãoaplicada É investigação realizadaparaadquirir conhecimentosúteispara finspráticos(WHO,2013a).

Investigaçãooperacionaloudeimplementação

É a investigação que procura melhorar o conhecimento sobre estratégias,intervençõesouinstrumentosparaaumentaraqualidadedosoucoberturadossistemasdeserviçosdesaúde(WHO,2013a).

Investigaçãotranslacional

É a Investigação quemobiliza o conhecimento da investigação básica para odesenvolvimentodeaplicaçõespráticaseúteis–dabancadaaosbeneficiários(doentes,ouindivíduosoucomunidadesemrisco)(WHO,2013a).

Investigaçãoempolíticasesistemasdesaúde

Éa investigaçãoque tentacompreendercomoéquea sociedadeseorganizapara a realização de finalidades coletivas de saúde (WHO, 2013 a). Tem umhorizontetemporalmaisalargadoqueosoutrostiposdeinvestigação,daíquetenha sido ignorado ou negligenciado nas agendas de investigação ou pelasfontesdefinanciamento(TheLancet,2008).

Quadro1.ClassificaçãodaterminologiadeInvestigaçãoquantoàsuaintencionalidade,segundoaOMS

A OMS faz ainda a diferenciação entre research for health (investigação para a saúde) e health research

(investigação em saúde)7, nomenclatura também adotada por Carvalho-Oliveira et al (2014)9. Research

for health tem um âmbito mais alargado do que health research, reconhecendo que a saúde é também

determinada por eventos externos ao sector da saúde7.

Existe um crescente interesse mundial em fazer melhor uso da evidência resultante da investigação

científica em e para saúde, nas tomadas de decisão relacionadas com a definição de políticas de saúde. A

política baseada na evidência científica é uma abordagem que assegura o fundamento da decisão sendo

caracterizada pelo acesso transparente e sistemático às bases factuais que são por sua vez avaliadas e

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introduzidas como insumos do processo de formulação de políticas10. Infelizmente, e segundo os mesmos

autores, a realidade é que muitas vezes as políticas de saúde não são bem fundamentadas na evidência,

sendo um dos motivos que pode contribuir para problemas de eficácia, eficiência e equidade dos

sistemas de saúde.

PERSPECTIVAEUROPEIAA possibilidade de uma política europeia de Investigação e Desenvolvimento (I&D) está presente desde o

tratado fundacional da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e tem vindo a ser reforçada em todos

os tratados desde então. Ganhou um forte ímpeto em 1972-73 com o desenvolvimento de uma política

comum de ciência e tecnologia e com a aposta da Estratégia de Lisboa (2000) na construção de uma

economia baseada no conhecimento. A estratégia “Europa 2020” de junho de 2010 (para um crescimento

inteligente, sustentável e inclusivo), a iniciativa emblemática “União da Inovação” e a primeira

conferência ministerial sobre “Espaço Europeus de Investigação”, consagrada ao tema “Capital Intelectual

– Impacto Criativo” em Julho de 2011, atualizam este reforço.

A ação europeia tem desempenhado um papel dinamizador do investimento em I&D, reforçando o

triângulo do conhecimento (educação, investigação, e inovação), articulando-se com os sistemas

científicos nacionais, promovendo a excelência científica e construindo uma base forte de investigação

pública que atrai o envolvimento do setor privado 11.

As iniciativas no Reino Unido (RU) têm sido influências importantes no pensamento europeu. As

prioridades para investigação em saúde foram, até 1991, estabelecidas de uma forma ad hoc entre

académicos e o setor industrial, que sugeriam às entidades financiadoras os projetos a financiar12. Com o

estabelecimento do programa do National Health System sobre I&D o peso de projetos comissionados

com base nas necessidades de saúde aumentou13. Uma nova política de investigação no início do

milénio14 passou a refletir a aposta no desenvolvimento do RU como uma economia baseada no

conhecimento15. A investigação em saúde começou a ser vista como um meio importante de produzir

riqueza e ganhos em saúde16,17, transitando de uma ciência virada para a descoberta e produção de

conhecimento académico para uma ciência cada vez mais transdisciplinar, orientada para um

conhecimento que satisfaça as necessidades do mercado e possa também ser conduzida fora de centros

universitários.

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Sistemasdeclassificaçãodeinvestigaçãoparaasaúde

São vários os sistemas de classificação da investigação para a saúde sendo que não existe ainda nenhuma

taxonomia uniforme e consensual 18. Como a OMS e outros paísesi, a European Science Foundation

recomenda o recurso à classificação adotada no RU – Health Research Classification System. Trata-se de

uma classificação bidimensional. Numa dimensão estão definidas 21 categorias de saúde que agrupam as

doenças, enfermidades ou temas de saúde a estudar. Estas 21 categorias abordam os tradicionais temas

de medicina (sangue, cancro, problemas cardiovasculares, doenças congénitas, etc. por ordem

alfabética), verificando-se que apenas a 20ª categoria (Generic Health Relevance) inclui investigação que

não seja específica de doenças ou condições individuais - em saúde pública, investigação epidemiologica

e serviços de saúde e estudos biológicos, psicossociais, económicos ou metodológicos (porém a

classificação oferece alguns outros pontos de entrada para a pesquisa em saúde pública em temas, como

o tabaco, projeto de investigação e política)18. A segunda dimensão classifica a atividade de investigação

com 48 códigos em oito categorias: básica ou fundamental; etiológica; prevenção das doenças ou

enfermidades ou promoção do bem-estar; deteção, rastreio e diagnóstico; desenvolvimento de

tratamentos ou intervenções terapêuticas; avaliação de tratamentos e intervenções terapêuticas; gestão

das doenças e enfermidades; investigação sobre políticas e sistemas de saúde19,20.

São necessários mais esforços para desenvolver e consensualizar classificações abrangentes da

investigação para a saúde, bem como para melhorar a recolha de informação e dados que permita

comparações sistemáticas e o reconhecimento da importância desta investigação, com uma melhor

precisão da “investigação em saúde pública” 18 e das novas áreas de investigação que vão emergindo.

AplicaçãodaevidêncianadefiniçãodepolíticasdesaúdenaEuropa

Os decisores políticos são confrontados diariamente com processos de tomada de decisão nem sempre

recorrendo a informação de qualidade21. Vários são os trabalhos que se debruçam sobre a questão da

aplicabilidade da evidência, resultante da investigação científica, na definição de políticas, concretamente

de saúde. Os resultados de investigação científica podem dar contributos em pelo menos três fases da

definição de políticas: definição da agenda, formulação de políticas e sua implementação17,22. Verifica-se

porém a existência de uma complexidade inerente à interação entre a investigação e a tomada de

decisão política devido à natureza da informação científica, muitas vezes abundante, de qualidade

i Canadá, Hong Kong, Irlanda, Noruega, Singapura Suécia,

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diversificada e inacessível para os decisores ou quando acessível, apresentada de uma forma inadequada

para apoiar a tomada de decisão22,23.

Um trabalho desenvolvido de 2009 a 201121, na Europa, permitiu apresentar a experiência variada de

alguns países no que concerne à aplicação do conhecimento científico na definição de políticas de

saúde21. Este conhecimento científico seria proveniente do trabalho de atores diversos desde

organizações da sociedade civil a universidades, os quais colocariam o resultado da sua investigação à

disposição dos decisores políticos. A experiência de Inglaterra21, por exemplo, salientou que neste país a

tomada de decisão ao nível da definição de políticas de saúde provém de uma interação dinâmica entre

contributos provenientes de partidos políticos, organizações da sociedade civil, organizações

independentes e universidades. Neste país, um grande número de instituições são envolvidas na

produção de conhecimento em/para a saúde, sendo para isso disponibilizados recursos e solicitados

trabalhos concretos. Dado o crescente número de atores neste domínio, é feita a sugestão de as

universidades apostarem na inovação da forma como apresentam os resultados dos seus trabalhos aos

decisores políticos e salienta-se que estas poderão ter muito a aprender sobre comunicação com

organizações não académicas a operar em investigação em Inglaterra.

Por outro lado, a experiência da Noruega lembra que, para que a investigação científica tenha impacto

nas políticas de saúde, a apresentação da evidência precisa de ser sistemática, transparente e oportuna.

Sugere ainda a importância da investigação científica em/para a saúde estar enraizada em redes

internacionais, contribuindo para o desenvolvimento de capacidades e competências, bem como recurso

a informação produzida fora do país, que possa trazer contributos importantes às políticas de saúde

nacionais21.

De referir ainda a experiência da Bélgica que sugere que as entidades que, de forma independente

produzam evidência, estejam perto do poder político e dos processos e elaboração de políticas, sem

porém perderem a sua autonomia que garanta a sua legitimidade21.

Referindo a diversidade de cenários encontrados a nível europeu, no que diz respeito à aplicação da

evidência na definição e políticas de saúde, o referido trabalho21 salienta que reconhecer a possibilidade

de envolver uma diversidade de atores na produção de conhecimento que possa contribuir para a

definição de políticas de investigação para a saúde requer nesses países uma mudança cultural e não

apenas de estrutura.

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POLÍTICAPORTUGUESADEINVESTIGAÇÃOPARAASAÚDEPara abordar a política de investigação para a saúde em Portugal, optamos por fazer uma breve resenha

histórica da política de investigação que a enquadre especificamente, relacionando-a depois com os

atores envolvidos. A cronologia dos acontecimentos encontra-se descrita na figura 3.

PolíticadeInvestigaçãoemPortugal,perspetivahistórica

Se até 1967 se verificava uma fraca manifestação de uma base científica em Portugal24, com a criação da

Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) ficou marcado o início do planeamento

científico moderno em Portugal. A revolução de 1974 vem lentamente dar ímpeto à investigação

científica em Portugal, que ganhará um ritmo mais acelerado com a adesão de Portugal à Comunidade

Económica Europeia (CEE) em 198624.

A evolução da ciência e tecnologia é caracterizada por uma dimensão e articulação consideravelmente

reduzidas até à década de 90, sendo que somente a partir de 1996 as instituições científicas começam a

ser sujeitas a avaliações independentes, o que constituiu um acontecimento chave no âmbito da efetiva

abertura da comunidade científica e da construção do sistema científico português24. Heitor (2015)

identifica seis principais períodos que caracterizaram a evolução recente do sistema português de Ciência

e Tecnologia24 (consultar figura 3, (a)).

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Segundo o ERAWATCHj desde 2000, três objectivos estratégicos regem a política científica em Portugal25:

• Trazer a ciência portuguesa para os níveis de excelência de países líderes em diferentes áreas

disciplinares;

• Promover a internacionalização da comunidade académica portuguesa;

• Criar um mecanismo de apoio ao sistema de investigação.

Na sequência do relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)26

sobre o ensino superior em Portugal, o programa de governo em 2006 identifica num “Compromisso com

a Ciência para o Futuro de Portugal – vencer o atraso científico e tecnológico” o desenvolvimento

científico e tecnológico de Portugal como prioridade nacional. Este documento marcou o ponto de

j ERAWATCH é a plataforma de informação da Comissão Europeia sobre os sistemas e as políticas europeias, nacionais e regionais de investigação e inovação.

Fig.3.EnquadramentohistóricodainvestigaçãoemPortugal:principaisacontecimentosemPortugal,noINSAeFCT,relacionandocomdespesatotalemPortugalenaEuropa

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partida para uma significativa evolução do sistema científico nacional e definiu metas e indicadores desse

desenvolvimento, assumindo cinco grandes orientações, nomeadamente apostar:

• No conhecimento e na competência científica e técnica, medidos ao mais alto nível internacional;

• Nos Recursos Humanos e na Cultura Científica e Tecnológica;

• Nas Instituições de I&D, públicas e privadas, no seu reforço, responsabilidade, organização e

infraestruturação em rede;

• Na Internacionalização, na exigência e na avaliação;

• Na valorização económica da investigação27.

Assumindo que em 2000 Portugal se encontrava ainda claramente abaixo da meta europeia de a despesa

total em I&D representar 1% do PIB, há que salientar que o final da primeira década do novo século foi

marcado pela interrupção da anterior tendência de relativa lentidão ou intermitência de investimento em

investigação, atingindo níveis de desenvolvimento inéditos até então. De facto, o orçamento público total

de I&D cresceu 11% entre 2004 e 2009, salientando-se que foi em 2007 que se alcançou o marco

histórico de cumprir a meta de 1% do PIB investido em I&D24. Este progresso não pode porém ser

confundido com garantia da maturidade científica mas visto sim como um importante passo na

recuperação de um despertar tardio e de uma trajetória lenta e intermitente24. O nível de investimento

público em investigação entre 2005 e 2010 não era porém sustentável numa época de restrições

orçamentais severas enfrentadas por Portugal desde então25.

Assim, este reforço da base científica nacional é abruptamente interrompido em 2011, quando a crise

internacional e as alterações políticas em Portugal levam a um corte significativo do apoio público a essa

base24. O foco passou a ser financiar “a excelência” e aumentar a seletividade no acesso à ciência.

De acordo com o ERAWATCH25, em 2014, o Programa do Governo inclui os seguintes objectivos para a

política de investigação:

• Prestar apoio privilegiado a atividades de I & D de excelência;

• Investir no capital humano e no desenvolvimento das capacidades individuais, sem deixar de lado

as condições institucionais;

• Garantir condições que permitam os investigadores exercer a sua atividade em Portugal, e ao

mesmo tempo atrair pesquisadores do exterior, com base na excelência;

• Promover parcerias entre organizações de investigação e empresas, a fim de levar a cabo

programas de investigação aplicada e promover o emprego.

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No entanto, a prática seguida não foi consistente com esses objetivos. Em particular, o objectivo de

investir "em capital humano e no desenvolvimento de capacidades individuais" parece ter-se invertido,

com um declínio significativo nas bolsas de doutoramento e pós-doutoramento. O foco parece ter

mudado para um reforço do apoio às organizações de investigação25. O principal desenvolvimento da

política de investigação em Portugal no final de 2013 / início de 2014 foi o animado debate público sobre

a política de recursos humanos para a ciência25. Daí que a necessidade de qualificar ainda mais recursos

humanos e aumentar a massa crítica das unidades e redes de I&D continue a ser fundamental24.

Atualmente a despesa global em I&D por habitante em Portugal atingiu cerca de 65% do valor médio da

UE, ou seja, a contribuição da população portuguesa para a ciência é ainda reduzida quando comparada

com essa contribuição noutros países europeus e da OCDE24.

Foram certamente vencidos muitos desafios importantes a nível nacional. Porém, com a Cimeira Europeia

de Lisboa - a qual definiu novos objectivos de referência para a Europa em termos de inovação e

desenvolvimento - e a Estratégia Europeia para 2010 - a qual enquadra o desafio de perenizar o esforço

em ensino e investigação, o desenvolvimento científico e tecnológico português enfrenta hoje novos

desafios para continuar a reforçar o seu papel no espaço Europeu, assim como para melhor valorizar a

dimensão Atlântica de Portugal24.

Em 2013, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) procedeu a um Diagnóstico do Sistema Nacional

de Investigação e Inovação (SNI&I) português28, com o intuito de contribuir para a definição posterior de

uma Estratégia de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente (EI&I) do país e das suas

regiões de âmbito mais geral, a qual foi definida em Novembro de 201429. Em resposta aos desafios

identificados pelo referido diagnóstico, foram definidos cinco objectivos estratégicos estruturantes e

cinco eixos temáticos que agrupam as quinze prioridades estratégicas "inteligentes" onde Portugal revela

vantagens competitivas existentes ou potenciais.R2 Saúde, Bem-estar e Território constitui um dos cinco

eixos temáticos, sendo a Saúde uma das quinze prioridades definidas.

A construção da EI&I esteve centrada sobre a contribuição dada por stakeholders, oriundos em partes

iguais da Academia e das Empresas, que refletiram sobre duas questões fundamentais: uma sobre as

capacidades que emergem para a promoção de sinergias que potenciem a criação do conhecimento, a

inovação e a progressão nas diversas cadeias de valor de cada tema, e a outra sobre as medidas e

instrumentos de política a mobilizar para uma intervenção pública eficiente.29

Uma estratégia de médio prazo para o SI&I corresponde a uma necessidade sentida por todos os atores e

stakeholders envolvidos. A estratégia identifica as grandes apostas em torno das quais o investimento

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deverá ser preferencialmente direcionado, maximizando os benefícios de uma intervenção coordenada

nos diferentes espaços com que o sistema se interliga, sejam estes o Espaço Europeu de Investigação, o

internacional, ou as grandes iniciativas de cooperação com os países de expressão oficial portuguesa, o

espaço ibero-americano, mediterrânico, entre outros. Para além da oportunidade de construir uma

estratégia alinhada temporalmente com a maioria dos grandes programas e estratégias Europeias de

2014-2020, nomeadamente a Europa 2020, cumpre-se a condicionalidade ex-ante relativa ao Acordo de

Parceria Portugal /União Europeia. 29

AInvestigaçãoparaasaúdeemPortugal

A investigação para a saúde em Portugal seguiu naturalmente a tendência nacional descrita do

subcapítulo anterior. Por exemplo, os investigadores em Portugal na área de Ciências Médicas e da Saúde

aumentaram em número absoluto de 4223 em 2000 para 13493 em 2012 (OCDE, 2014)24, sendo que a

maior amplitude de variação ocorreu até 2010. Por outro lado, relativamente a bolsas de doutoramento

atribuídas pela FCT na área das Ciências Médicas e da Saúde, verifica-se que estas eram 46 em 1998,

aumentando para 80 em 2000 e para 243 em 2007, sofrendo depois um decréscimo nos anos seguintes,

registando-se me 2012 um total de 200 bolsas atribuídas à referida área de investigação científica24.

Segundo o Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-201030, o sistema de saúde português não tem sido

tradicionalmente suportado por uma forte componente de conhecimento científico baseado no contexto

nacional.

A mesma fonte refere que os financiamentos estatais, e portanto, a coordenação da investigação em

saúde não estão maioritariamente sob o controlo do Ministério da Saúde mas sim do Ministério da

Ciência e do Ensino Superior, através de instituições como a FCT, salientando o papel fulcral das

instituições da sociedade civil na promoção de uma investigação virada para os problemas de saúde no

país. Instituições internacionais, nomeadamente, as da UE, são referidas como promotoras de projetos de

investigação em redes internacionais abordando as grandes problemáticas da saúde na UE, com

importância em termos temáticos, em termos de cultura de colaboração interinstitucionais e em termos

de desenvolvimentos metodológicos.

No início do novo milénio, foram publicados dados de 2001 pelo Observatório da Ciência e Ensino

Superior, os quais revelam que as ciências da saúde representaram apenas 10,5% da despesa nacional em

I&D, ficando em último lugar entre as diferentes áreas científicas (relativamente, por exemplo, aos 11,1%

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das ciências agrárias e veterinárias, aos 15,3% das ciências naturais ou aos 25,3% das ciências da

engenharia e tecnologias) 30,31.

Por altura da redação do PNS 2004-2010 a investigação não é contemplada como uma necessidade, nem

sequer de prioridade secundária, tendo as atividades de investigação um baixo peso nos critérios

contemplados na evolução dos profissionais de saúde nas suas carreiras30,31. Por outro lado, e segundo a

mesma fonte, verificava-se então ainda uma grande diversidade temática sem uma priorização adequada,

uma grande dispersão de recursos e um persistente subfinanciamento.

O debate sobre políticas de investigação para a saúde em Portugal tem sido inconclusivo e sobretudo

inconsequente, sendo que esta matéria carece de uma análise aprofundada que permita ler os dados

disponíveis numa perspetiva de melhoria futura.k

Embora na lei n.º56/79, que criou o Serviço Nacional de Saúde (SNS), seja referido como órgão central de

natureza instrumental o “Departamento de Ensino e Investigação”, tendo como missão “promover e

coordenar as atividades de ensino e investigação no campo da saúde” e “propor as medidas destinadas à

uniformização de objetos de idênticas atividades dependentes de outros ministérios”, a investigação para

a saúde em Portugal tem tido tutela partilhada entre a FCT e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo

Jorge.

AFCTeainvestigaçãoemsaúde

A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) é o organismo que, tutelado pelos ministérios que têm

assumido a Ciência e Tecnologia (geralmente em associação com o Ensino Superior), tem gerido a política

científica em Portugal, apoiada por quatro Conselhos Científicos (CC) com uma função consultiva,

nomeadamente das:

• Ciências Exatas e da Engenharia;

• Ciências da Vida e da Saúde (CCCVDS);

• Ciências Naturais e do Ambiente;

• Ciências Sociais e Humanidades30.

A FCT iniciou atividades em agosto de 1997 sucedendo à JNICT. Desde 1 de março de 2012, a FCT sucede

à UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento, I.P. na responsabilidade pela coordenação das

k Nos trabalhos de extensão do atual PNS até 2020, está em curso a realização de uma nova análise especializada sobre investigação para a saúde. http://pns.dgs.pt/roteiros-de-intervencao-do-plano-nacional-de-saude/

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políticas públicas para a Sociedade da Informação em Portugal. Em 1 de outubro de 2013, assumiu as

atribuições e competências da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN).

A missão da FCT é “Promover continuadamente o avanço do conhecimento científico e tecnológico em

Portugal, atingir os mais elevados padrões internacionais de qualidade e competitividade em todos os

domínios científicos e tecnológicos, e estimular a sua difusão e contribuição para a sociedade e o tecido

produtivo”. De acordo com o site institucional (acedido a 26 de outubro de 2015), a FCT prossegue a sua

missão:

a) Através da atribuição, em concursos com avaliação por pares, de bolsas e contratos a

investigadores, financiamento a projetos de investigação e desenvolvimento, apoio a centros de investigação competitivos e a infraestruturas de investigação de ponta.

b) Assegurando a participação de Portugal em organizações científicas internacionais, promove a

participação da comunidade científica nacional em projetos internacionais e estimula a transferência de conhecimento entre centros de investigação e a indústria.

c) Coordenando as políticas públicas para a Sociedade da Informação e do Conhecimento em Portugal, em estreita colaboração com organizações internacionais.

d) Assegurando o desenvolvimento dos meios nacionais de computação científica, promovendo a

instalação e utilização de meios e serviços avançados e a sua articulação em rede.

De uma posição em que a ciência serviria para aumentar o conhecimento, motivada pela curiosidade

científica, a FCT tem evoluído para uma posição mais próxima da política científica do Reino Unido, e mais

recentemente da UE, de que a ciência deveria servir para aumentar a relevância nacional e a

competitividade em termos internacionais e de que os financiamentos públicos não deveriam apoiar

investigação que não seja economicamente útil (i.e. com impacto social) ou de referência – criação de

valor através da exploração económica do conhecimento32.

Ao invés do anterior encorajamento de muitos pequenos projetos executados por pequenos grupos

espalhados por muitas unidades de investigação, com a finalidade de aumentar o número de cientistas de

base académica, a FCT tem progredido para uma política de financiamento de um menor número de

projetos e equipas de investigação de maiores dimensões, e integrando várias vertentes de investigação

em objetivos de referência comum, facilitando a mobilidade entre o tecido educativo e empresarial. Esta

abordagem levou também à redução do número de bolsas de estudo para programas de doutoramento

tradicionais, para as concentrar em novos programas de doutoramento que assegurem a aquisição de

competências comportamentais apreciadas pelo tecido empresarial, mais apropriadas para que o

Page 17: Política de investigação científica para a saúde em Portugal · Investigação aplicada É investigação realizada para adquirir conhecimentos úteis para fins práticos (WHO,

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doutorado crie a sua oportunidade de trabalho ou se integre mais facilmente no mercado de trabalho

internacional32.

Considerando que o grosso do financiamento tem sido dirigido para a atividade científica do projeto, é de

salientar que têm aparecido indícios de uma maior preocupação com o financiamento de infraestruturas

e equipamentos, bem como com a contratação de pessoal técnico (p.e. técnicos de laboratório) e

administrativo32.

A FCT financia projetos de investigação em e para a saúde e tem aberto concursos para financiamento de

projetos de investigação de dois em dois anos desde 2000 e todos os anos desde 2008. Recentemente

definiu o Portuguese Roadmap of Research Infrastructures 2014-2020 que apoia o estabelecimento de 9

infraestruturas para a investigação em ciências biológicas e médicas 33.

A participação da FCT nas atividades na área da investigação para a saúde já vem de longa data com a

criação do CCCVDS. Inicialmente esta participação incidiu no financiamento de projetos, de

infraestruturas e de bolseiros a vários níveis, para além da criação dos Laboratórios Associados, e das

Unidades de Investigação acreditadas pela FCT34.

Alguns elementos da história deste envolvimento são descritos na figura 3.

OINSAeainvestigaçãoemsaúde

INSA é uma instituição fundada em 1899. No ano de 1971, no âmbito de uma reforma global dos

Serviços de Saúde, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge recebeu a designação que atualmente

ostenta, e foi caracterizado como órgão de investigação e ensino (Dec-Lei 413/71 de 27 de Setembro).

Neste mesmo Decreto-Lei, artigo 22, lê-se que compete ao INSA coordenar, no âmbito do Ministério da

Saúde (MS), as atividades de investigação no setor da saúde; efetuar, promover e estimular a realização

de estudos e trabalhos de investigação científica relativa à saúde em colaboração com os demais serviços

do ministério. Estas responsabilidades são reconfirmadas em novas leis orgânicas em 1993, 2007 e 2011.

O Decreto-Lei n.º 125/99 de 20 de Abril veio reforçar as responsabilidades na área da investigação ao

atribuir-lhe o estatuto de Laboratório de Estadol do setor da saúde35. Enqanto organismo do MS, a sua

missão e atribuições estão descritas no quadro 1.

l Um laboratório de Estado é uma instituição pública de investigação criada e mantida com o propósito explícito de prosseguir objetivos da política científica e tecnológica adotada pelo Governo, mediante a prossecução de investigação científica e desenvolvimentos tecnológico e de outras atividades científicas e técnicas que as respetivas leis orgânicas prevejam. São formalmente consultados pelo Governo sobre a definição dos programas e instrumentos da política científica e tecnológica nacional (Carvalho-Oliveira, Calheiros e Pereira Miguel, 2014).

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Quadro2.MissãoeatribuiçõesdoInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge.

A capacidade de intervenção do INSA na indução da investigação para a saúde por instituições do Serviço

Nacional de Saúde tem sido limitada por financiamentos escassos face ao necessário, pelo que grande

número de projetos de investigação são autofinanciados pelas entidades públicas ou financiados por

fontes externas ao MS como a FCT, o Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), Fundações,

fundos europeus, indústria, entre outros9.

A FCT e o INSA têm vindo a discutir a questão da definição de áreas prioritárias na investigação para a

saúde. A FCT defende uma perspetiva “bottom-up”, i.e., que consiste em considerar que a investigação

de valor nasce da iniciativa individual e da curiosidade dos bons investigadores, muitas vezes oriundos de

quadrantes inesperados, e não sendo orientada a partir de diretrizes superiores. Esta contrasta com a

perspetiva “top-down” do INSA, em que é necessário definir áreas prioritárias de acordo com as políticas

de Saúde Pública, considerando a FCT que a perspetiva “top-down”, cujos elementos têm de ser muito

cuidadosamente definidos, não deve dominar o conjunto de atividades nesta área. Tal significa para a FCT

InstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge(INSA)

Missão Atribuições

ÉolaboratóriodoEstadoquetempormissãocontribuirparaganhosemsaúdepúblicaatravésdainvestigaçãoedesenvolvimentotecnológico,atividadelaboratorialdereferência,observaçãodasaúdeevigilânciaepidemiológica,bemcomocoordenaraavaliaçãoexternadaqualidadelaboratorial,difundiraculturacientífica,fomentaracapacitaçãoeformaçãoeaindaasseguraraprestaçãodeserviçosdiferenciados,nosreferidosdomínios.

a)Promoveredesenvolveraatividadedeinvestigaçãocientíficaorientadaparaasnecessidadesemsaúdepública,procedendoàgestãocientífica,operacionalefinanceiradosprogramasdeinvestigaçãodosectordasaúdepública,ecapacitarinvestigadoresetécnicos;b)Promover,organizarecoordenarprogramasdeavaliação,noâmbitodassuasatribuições,nomeadamentenaavaliaçãoexternadaqualidadelaboratorialecolaborarnaavaliaçãodainstalaçãoefuncionamentodoslaboratóriosprivadosqueexerçamatividadenosectordasaúde;c)Asseguraroapoiotécnico-normativoaoslaboratóriosdesaúdepública;d)Prestarassistênciadiferenciadaemgenéticamédicaparaprevençãoediagnóstico,emserviçoslaboratoriais,bemcomoplaneareexecutaroprogramanacionaldediagnósticoprecoce;e)Colaborarnarealizaçãodeatividadesdevigilânciaepidemiológicadedoenças,transmissíveisenãotransmissíveis,edesenvolverouvalidarinstrumentosdeobservaçãoemsaúde,noâmbitodesistemasdeinformação,designadamentegarantindoaproduçãoedivulgaçãodeestatísticasdesaúdepública,epromovendoosestudostécnicosnecessários,semprejuízodasatribuiçõesdaDGSedaACSS,I.P.,nestamatéria;f)Procederàmonitorizaçãodoconsumodeaditivosedaexposiçãodapopulaçãoacontaminanteseoutrassubstânciaspotencialmentenocivaspresentesnosalimentos,incluindoosingredientesalimentarescujoníveldeingestãopossacolocaremriscoasaúdedosconsumidores;g)Assegurararecolha,compilaçãoetransmissãoparaaAutoridadeEuropeiadeSegurançaAlimentardosdadosanalíticosrelativosàcomposição,incluindocontaminanteseoutrassubstânciasquímicas,dosgénerosalimentíciosealimentosparaanimais;h)Avaliaraexecuçãoeresultadosdaspolíticas,doPNSeprogramasdesaúdedoMS;i)Prestarassessoriacientíficaetécnicaaentidadespúblicaseprivadas,nassuasáreasdeatuação;j)Desenvolveraçõesdecooperaçãonacionaleinternacional,denaturezabilateraloumultilateral,noâmbitodasatribuiçõesqueprossegue.

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que as iniciativas “top-down” devem restringir-se a aspetos de carácter geral, tal como a criação de

infraestruturas científicas e de programas de formação específicos em áreas científicas consideradas

prioritárias34. As duas perspectivas porém não se excluem mutuamente, podendo completar-se, pois, a

abordagem “top-down” deveria enquadrar as iniciativas “bottom-up”.

Agendanacionaldeinvestigaçãoparaasaúde

Apesar dos propósitos e tentativas de construção de uma agenda nacional de investigação em saúde,

sobretudo associada à diretriz do PNS, segundo a qual os programas de saúde específicos deverão

explicitar as principais lacunas de conhecimento a requerer mais esforço de I&D36, a realidade é que

nunca foi finalizada uma agenda nacional de investigação e o INSA não conseguiu dinamizar as propostas

e orientações sobre investigação aprovadas no âmbito dos Planos Nacionais de Saúde.

O referido diagnóstico do SNI&I efetuado pela FCT em 2013, refere a importância do setor da saúde no

sistema científico e tecnológico nacional, tendo-se verificado um crescimento médio anual da distribuição

da despesa de I&D de 45,3% na área das Ciências Médicas e da Saúde.37

No âmbito da referida EI&I, o desafio que se coloca a Portugal no sector da saúde é o da definição de

prioridades estratégicas, de acordo com os recursos disponíveis, as áreas de excelência e os problemas de

saúde que carecem de maior enfoque pela sua prevalência e pelos custos que representam para os

indivíduos e para o Estado. Refere ainda que esta etapa é essencial para permitir, por um lado um maior

bem-estar das populações e melhoramento da saúde pública, e por outro, uma resposta sustentável às

oportunidades geradas pelos mercados, tornando o país mais competitivo no sector da saúde. 37

Outrosatoresrelevantes

As agendas de investigação para a saúde têm sido marcadas também pelos contributos da Entidade

Reguladora da Saúde (ERS), por várias entidades do Ministério da Saúde e de Universidades, Fundações e

outras Organizações da Sociedade Civil, incluindo o setor empresarial. Por exemplo, e tendo por base

apenas a Lei de Bases da Saúde de 2011, outros organismos do MS para além do INSA, com missões

muito distintas, têm nas suas atribuições atividades relacionadas com a investigação para a saúde, como

se pode ver no quadro seguinte.

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Missão AtribuiçõesrelacionadascomInvestigação

Direcção-GeraldaSaúde(DGS)Art.12º

Regulamentar,orientarecoordenarasatividadesdepromoçãodasaúdeeprevençãodadoença,definirascondiçõestécnicasparaaadequadaprestaçãodecuidadosdesaúde,planeareprogramarapolíticanacionalparaaqualidadenosistemadesaúde,bemcomoasseguraraelaboraçãoeexecuçãodoPlanoNacionaldeSaúde(PNS)e,ainda,acoordenaçãodasrelaçõesinternacionaisdoMS.

Asseguraracoordenaçãonacionaldadefiniçãoedesenvolvimentodeprogramasdesaúde,combasenumsistemaintegradodeinformação,articulandocomosdemaisserviçoseorganismosdosistemadesaúde,designadamentecomoInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge,I.P.,emmatériadeinvestigaçãocientíficaelaboratorial.

Administração

CentraldoSistema

deSaúde(ACSS)

Art.14º

AsseguraragestãodosrecursosfinanceirosehumanosdoMSedoSNS,bemcomodasinstalaçõeseequipamentosdoSNS,procederàdefiniçãoeimplementaçãodepolíticas,normalização,regulamentaçãoeplaneamentoemsaúde,nasáreasdasuaintervenção,emarticulaçãocomasadministraçõesregionaisdesaúdenodomíniodacontrataçãodaprestaçãodecuidados.

Coordenarecentralizaraproduçãodeinformaçãoeestatísticasdosprestadoresdecuidadosdesaúde,nomeadamenteprodução,desempenhoassistencial,recursosfinanceiros,humanoseoutros.

INFARMED-AutoridadeNacionaldoMedicamentoeProdutosdeSaúdeArt.15º

Regularesupervisionarossectoresdosmedicamentosdeusohumanoedosprodutosdesaúde,segundoosmaiselevadospadrõesdeproteçãodasaúdepúblicaegarantiroacessodosprofissionaisdasaúdeedoscidadãosamedicamentoseprodutosdesaúdedequalidade,eficazeseseguros

Exercer,anívelnacionaleinternacional,noquadrodosistemacomunitáriodeavaliaçãoesupervisãodemedicamentosedarededeautoridadescompetentesdaUniãoEuropeia,asfunçõesde:(…)iii)Laboratóriodereferênciaparaacomprovaçãodaqualidadedemedicamentosnocontextodaredeeuropeiadelaboratóriosoficiaisdecontrolo(OMCL).

InstitutoPortuguêsdoSangueedaTransplantação(IPST)Art.17º

Garantireregular,anívelnacional,aatividadedamedicinatransfusionaledetransplantaçãoegarantiradádiva,colheita,análise,processamento,preservação,armazenamentoedistribuiçãodesanguehumano,decomponentessanguíneos,deórgãos,tecidosecélulasdeorigemhumana.

Promovereapoiarainvestigaçãonosdomíniosdaciênciaetecnologiadasáreasdamedicinatransfusional,transplantaçãoemedicinaregenerativa,emarticulaçãocomoInstitutoNacionaldeSaúdeDoutorRicardoJorge,I.P.,eoutrasinstituiçõesnacionaiseinternacionaisconsideradasestratégicasparaosobjectivospropostos;

ServiçodeIntervençãonosComportamentosAditivosenasDependências(SICAD)Art.13º

Promoverareduçãodoconsumodesubstânciaspsicoactivas,aprevençãodoscomportamentosaditivoseadiminuiçãodasdependências.

Desenvolver,promovereestimularainvestigaçãoemanterumsistemadeinformaçãosobreofenómenodadrogaedastoxicodependências;.

Quadro3.OrganismosdoMScomatribuiçõesrelacionadascomInvestigação&Desenvolvimento,deacordocomaLeiOrgânicadoMinistériodaSaúde,DLn.º124/2011,de29deDezembro

É de salientar o papel da Comissão de Ética para a Investigação Clínica (Portaria 57/2005 de 20 de

Janeiro) bem como as Comissões de Ética nas diferentes unidades de saúde (DL 97/95 de 10 de Maio).

São ainda de realçar algumas medidas avulsas, como a criação da Comissão de Fomento da Investigação

em Cuidados de Saúde que funcionou entre 1991 e 2008. Na forma de projetos, apoio a atividades de

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formação, financiamentos ou prémios estas iniciativas não têm, até agora, sido estruturantes do debate

sobre políticas de investigação em/para a saúde, com exceção dos contributos de algumas Fundações, da

ERS e do Health Cluster Portugal (HCP).

AsFundações

As Fundações, através de bolsas, prémios, concursos gerais ou específicos – particularmente a Fundações

Calouste Gulbenkian, Luso Americana e Champalimaud – têm tido um contributo particularmente

importante para a internacionalização da investigação em saúde em Portugal11.

Recentemente, a Fundação Calouste Gulbenkian comissionou um relatório sobre “Um Futuro para a

Saúde” em Portugal38. Este relatório destaca que a investigação biomédica teve progressos notáveis em

Portugal na última década, devido a uma intervenção intensiva na educação científica, nomeadamente

através de doutoramentos internacionais e da criação dos chamados “Laboratórios Associados” do

Ministério da Ciência. No entanto, considera que a articulação entre a investigação básica e a

investigação aplicada e a promoção de uma “medicina de translação” mais eficaz ainda não se

concretizaram de forma satisfatória. O que, de certo modo, reflete o declínio generalizado do chamado

“médico�cientista”. Deveria também ser dada maior atenção ao desenvolvimento de programas de

investigação no interior das unidades de cuidados de saúde, em especial nas áreas clínicas e de saúde

pública. Há necessidade de promover investigação com uma abordagem adequada, com vista à

implementação das políticas para os cuidados de saúde. A indústria, a academia e o SNS têm capacidades

relevantes para a investigação e o desenvolvimento de novas terapias, e meios que podem beneficiar a

saúde e os cuidados de saúde. Daí que os dirigentes do SNS, da comunidade científica e da indústria

devessem colaborar para a criação de centros nacionais que, trabalhando em conjunto com os cidadãos,

promovam o desenvolvimento de novas práticas, tecnologias e serviços. O Relatório recomenda ainda o

reforço do Programa de Investigação sobre saúde e das estratégias nacionais para a saúde pública

(incluindo a promoção da saúde, a protecção da saúde e a prevenção da doença) para darem resposta

aos grandes desafios da saúde, a nível nacional e da UE. Deverão ser assegurados quer o financiamento

quer os recursos necessários para a investigação em saúde pública, incluindo a área dos serviços de saúde

(um mínimo de 25% do financiamento para investigação sobre saúde deverá ser atribuído à saúde

pública), tendo em conta a sua contribuição para o desenvolvimento económico do país38.

EntidadeReguladoradaSaúde

Através de “estudos e pareceres” e com recurso ao Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS), a

ERS tem adotado um papel de liderança no desenvolvimento da investigação avaliativa no setor da saúde,

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assumindo a investigação como um elemento essencial para conhecer o sector da saúde e os seus

problemas, para orientar corretamente as atividades de supervisão comportamental dos regulados,

desenhar intervenções regulatórias que visam moldar o comportamento dos agentes, promover a

diminuição de assimetrias de informação e apoiar a decisão política39.

HealthClusterPortugal

O HCP foi criado em 2008 como uma organização privada sem fins lucrativos com o objetivo de:

“transformar Portugal num parceiro competitivo na investigação, conceção, desenvolvimento, fabrico e

comercialização de produtos e serviços relacionados com a saúde, em mercados selecionados e em

nichos tecnológicos, tendo como referência os mercados internacionais mais exigentes e relevantes,

baseando-se no reconhecimento da sua qualidade, nível tecnológico e competência nas áreas de

inovação”. Este Cluster é composto por mais de 120 entidades, incluindo hospitais, empresas e

instituições científicas e tecnológicas. As suas atuais áreas de interesse estratégico incluem a saúde e o

envelhecimento ativo, a medicina personalizada, o turismo de saúde e a e-Saúde. O HCP sugeriu à

Comissão sobre “Um Futuro para a Saúde” 38 que se reforce a investigação em colaboração com a

indústria através da:

• Promoção da participação das universidades e dos hospitais, colaborando entre si e com

empresas, em projetos de investigação e de desenvolvimento nacionais ou transnacionais,

em áreas selecionadas de especialização.

• Promoção de iniciativas destinadas a conseguir que as infraestruturas de investigação, a

especialização e as tecnologias de universidades e hospitais sejam mais acessíveis a

investigadores externos e a empresas, incentivando-se assim a transferência de

conhecimentos/tecnologias, bem como a contratação de empresas de serviços de

investigação e de desenvolvimento de ensaios clínicos.

• Melhoria dos níveis de qualificação e formação de recursos humanos / equipas a trabalhar

em universidades e hospitais portugueses, no desenvolvimento de projetos de investigação

translacional e clínica, bem como na gestão de inovação, propriedade intelectual,

transferência de tecnologia e empreendedorismo.

AinvestigaçãoemsaúdenosPlanosNacionaisdeSaúde

Desde o fim do século XX que a preparação e elaboração de PNS tem vindo a ser coordenada pela Direção

Geral de Saúde e/ou Alto Comissariado da Saúde (organismo extinto em 2011).

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Num primeiro PNS – Saúde um Compromisso: a estratégia de saúde para o virar do século (1998-2002) –

a investigação tem direito a capítulo próprio. Estipula que “no que respeita a investigação em saúde

torna-se necessário reavaliar todos os dispositivos e projetos de investigação em curso no âmbito do

Ministério da Saúde, colaborar com os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia no seu

desenvolvimento, incentivar a investigação em reforço da Estratégia de Saúde”. Compromete o

Ministério da Saúde com o desenvolvimento de uma política nacional de investigação em saúde.

Identifica como prioritários estudos seroepidemiológicos para monitorizar o plano nacional de vacinação,

investigação epidemiológica relativa à hepatite C, investigação sobre os determinantes dos carcinomas do

trato intestinal, estudos comportamentais relativos às dependências, estudos sobre determinantes das

desigualdades em saúde no país, investigação sobre serviços de saúde. Aponta a necessidade de

desenvolver um Observatório Nacional de Saúde no INSA e de integrar a formação em investigação clínica

nos internatos das especialidades médicas40.

Em outubro de 2003, no âmbito dos trabalhos preparatórios do Plano Nacional de Saúde 2004-2010, foi

realizada uma Reunião Temática sobre Investigação em Saúde, na sequência da qual se incluíram no PNS

textos que por um lado enquadram a I&D em saúde na história do SS português e por outro lançam

importantes pistas de reflexão/ação para um futuro próximo30,31. O esquema seguinte sintetiza a análise

da atualidade feita na altura e a definição de intervenções e estratégias de futuro.

De salientar que, independentemente da decisão sobre a política de I&D em ciências da saúde a seguir, se

considerou, prioritária a realização de projetos sobre doenças crónicas e particularmente prevalentes

e/ou incapacitantes, como as doenças cardiovasculares, o cancro, a SIDA e outras doenças infecciosas,

doenças mentais (incluindo comportamentos aditivos e problemas com eles relacionados) e sobre

determinantes de saúde, como os estilos de vida ou as causas dos acidentes (de viação, trabalho e

Fig.4.SituaçãodaI&DemPortugaleorientaçõesestratégicas.AdaptadodePNS2004-2010.

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domésticos e de lazer). Foram ainda definidas outras áreas de investigação importantes nos contextos

português e europeu atuais:

• Análise estratégica e prospectiva da evolução do sistema de saúde;

• Estudos da avaliação do desempenho dos serviços de saúde (acesso, qualidade, eficiência,

resultados) em geral e dos seus recursos humanos em particular;

• Configuração e avaliação de sistemas de regulação e contratualização de saúde;

• Desenvolvimento da qualidade organizacional dos serviços de saúde;

• Análise da gestão da informação e do conhecimento em serviços de saúde;

• Estudo das percepções e da satisfação do cidadão em relação aos serviços de saúde, ao acesso à

informação, e ao desempenho dos sistemas de reclamação.

No referido documento31 ficou ainda definido, sob a responsabilidade do Departamento de

Modernização e Recursos da Saúde a operacionalização destas decisões:

• Contemplar, no percurso formativo dos profissionais de saúde, um período formal, obrigatório,

de formação em Investigação Clínica;

• Na avaliação dos serviços de saúde deverão valorizar as atividades de investigação desses

mesmos serviços.

Na preparação do PNS 2011-2016, para além do parecer solicitado à FCT e referido na figura 3, foi

realizada uma análise especializada sobre “Investigação Científica e Plano Nacional de Saúde” (Roteiro de

Intervençãom), a qual41 pouco influenciou o texto de um Plano com referências superficiais à investigação.

As principais recomendações do PNS 2012-2016 quanto à investigação são as que são especificadas no

âmbito dos programas nacionais prioritários (Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do

Tabagismo; Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável; Programa Nacional para as

Doenças Cérebro-cardiovasculares; Programa Nacional para as Doenças Oncológicas; Programa Nacional

para a Diabetes; Programa Nacional para a Saúde Mental; Programa Nacional para as Doenças

Respiratórias; Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida; Programa Nacional de Prevenção e Controlo de

Infeção e Resistência aos Antimicrobianos).

m Os Roteiros de Intervenção são estudos de Autor solicitados a peritos nacionais com o objetivo de contribuir com a melhor evidência e conhecimentos para o Plano Nacional de Saúde (PNS) 2012-2016. Este Roteiros são documentos, de Autor, que fornecem um Modelo Concetual, um Ponto de Situação e Recomendações para cada um dos temas. As informações expressas nos mesmos traduzem os conhecimentos e opiniões dos seus autores, não tendo sido alvo de qualquer alteração pela Direção-Geral da Saúde. (http://pns.dgs.pt/roteiros-de-intervencao-do-plano-nacional-de-saude/)

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CONCLUSÕESERECOMENDAÇÕESApós cerca de 40 anos de democracia e 30 anos de integração europeia, Portugal superou o atraso

científico estrutural24. Contudo, a análise deste progresso à luz das políticas de investigação definidas a

nível global e europeu mostra que há ainda um longo caminho a percorrer quando se fala em

investimento global em I&D. Segundo o ERAWATCH25, Portugal tem evidenciado uma capacidade

insuficiente para conceber e implementar, de forma participativa, uma política de investigação e ciência.

A despesa bruta em I&D em percentagem do PIB atingiu 1,55% em 2010, tendo sido alcançada a meta

europeia. O nível de investimento foi ainda relativamente reduzido quando analisado no cenário

europeu, verificando-se a sua redução nos últimos 4 anos (figura 3).

Verifica-se a não existência de acordo sobre os elementos que deveriam integrar uma política nacional e

o debate tem-se centrado nas áreas temáticas da investigação, no seu financiamento, e nas suas

aplicações, realçando a importância de parcerias entre investigadores e o setor dos serviços ou

empresarial.

As orientações estratégias do PNS 2004-2010 são as que mais se aproximam de uma política de

investigação para a saúde sem que, no entanto, as questões então abordadas tenham sido desenvolvidas

de uma forma abrangente ou à posteriori implementadas pelas instituições que têm responsabilidades

sobre a investigação científica no setor da saúde.

A investigação para a saúde não tem sido uma prioridade e o impacto desta insuficiência pode tomar

proporções consideráveis, afetando os processos de tomada de decisão, a identificação precisa dos

grupos de risco e grupos-alvo para determinadas intervenções, a abordagem às doenças e, por exemplo,

a efetividade associada a determinada intervenção30,31.

Muito poucas das reformas mais importantes, em Portugal, foram precedidas de documentos de análise,

evidenciando o conhecimento existente que fundamenta as decisões, estabelecendo resultados

esperados, de forma objetiva e quantificada, estabelecendo a forma a adoptar para avaliar o impacto

dessa reforma ou ainda beneficiaram de debate técnico e publico alargado. A ausência destas linhas de

referência compromete a monitorização e avaliação prospectiva e enfraquece a implementação42.

Importa salientar que a reflexão sobre esta matéria tem sido crescente. Ilustram-no por exemplo os já

citados documentos Diagnóstico do Sistema de Investigação e Inovação: desafios, forças e fraquezas

rumo e 2020 e Estratégia Nacional de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente EI&I

2014-202028, 29. Concretamente no domínio da saúde, a criação do Fundo para a Investigação em Saúde

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26

que atribuiu recentemente, em Novembro de 2015, os primeiros fundos destinados a investigação, como

resultado de uma cooperação profícua entre o MS e o Ministério da Educação e Ciência (através da FCT),

apresenta-se como um dos instrumentos para estimular a investigação em saúde em Portugal43. Por

outro lado, a determinação de que os hospitais do SNS tenham um serviço de Serviço de Investigação,

Epidemiologia Clínica e de Saúde Pública Hospitalar44 demonstra a consciência da necessidade de haver

uma grande intervenção do MS na promoção da investigação para a saúde em Portugal43.

Em Portugal tem vindo a crescer a tomada de consciência de que a solução para os problemas da

sustentabilidade e relevância dos sistemas de saúde requer uma melhor compreensão da relação

complexa entre determinantes da saúde, novas tecnologias em saúde e a economia, compreensão essa

que depende de um investimento racional na investigação em e para a saúde45. Essa investigação deverá

estar enquadrada num SNIS, o qual deve estar integrado na política científica do país, em particular na

política de investigação para a saúde, e cuja finalidade principal é produzir novos conhecimentos de

elevada qualidade que possam ser usados para promover, restaurar e/ou manter o estado de saúde de

indivíduos ou populações, incluindo os mecanismos para encorajar a utilização da investigação46.

A realidade demonstra a não existência de um plano de investigação científica para a saúde em Portugal,

o qual possa pôr em franca articulação os diferentes atores que intervêm nesta matéria. Por outro lado, a

ausência de uma análise aprofundada do que se tem feito em investigação científica para a saúde, de

uma avaliação do que se tem implementado ao longo dos tempos, dificulta a identificação dos aspetos

chave que podem trazer contributos fundamentais ao processo de produção de uma política de

investigação para a saúde.

Na convicção de que adoptar uma estratégia de incentivo à investigação e desenvolvimento em saúde é,

por excelência, uma mais-valia para o sistema de saúde português que poderá ter reflexos importantes

no capital de saúde da população30,31, com base nas considerações tecidas nas páginas anteriores, e

considerando as recomendações a níveis global e europeu, os autores propõe cinco sugestões

estratégicas em matérias de investigação para a saúde em Portugal:

1. Avaliação dos planos de investigação para a saúde e aplicação das evidências científicas nos

processos de decisão do Governo e instituições envolvidas na execução da política nacional de

saúde;

2. Definição de uma política nacional de investigação para a saúde com princípios orientadores e

prioridades decorrentes do contexto do país;

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3. Aplicação de uma abordagem transversal e abrangente que cubra não somente os aspectos

biomédicos e dos sistemas de saúde, mas também as determinantes ambientais, económicas e

sociais da saúde;

4. Estabelecimento de planos institucionais e programas de investigação interdisciplinares que

tenham em conta a pluralidade metodológica e que criem oportunidades para iniciativas de

investigadores de disciplinas afins;

5. Desenvolvimento de uma classificação consensual de investigação para saúde em Portugal,

inspirada nas recomendações a nível global e europeu.

Agradecimentos

Ana Cristina Garcia, Cláudio M. Soares, Henrique Silveira, Pedro Pita Barros, pela colaboração na redação

do artigo.

Rosa Ferrinho pelo apoio à pesquisa bibliográfica.

Ana Rocha pela elaboração das figuras.

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