polÍcia estadual: a unificaÇÃo como modelo mais adequado para a atividade de seguranÇa pÚblica

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA UNIFOR CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CCJ Curso de Direito POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA Alexsandro de Castro Lima Matr. 622431-8 Fortaleza-CE Junho, 2011

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Monografia que trata sobre a unificação das polícias militar e civil.

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Page 1: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ

Curso de Direito

POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO

MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Alexsandro de Castro Lima

Matr. 622431-8

Fortaleza-CE

Junho, 2011

Page 2: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

ALEXSANDRO DE CASTRO LIMA

POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO

MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Monografia apresentada como

exigência parcial para a obtenção

do grau de bacharel em Direito,

sob a orientação de conteúdo do

Professor José Armando da Costa

Júnior e orientação metodológica

da Professora Simone Trindade da

Cunha.

Fortaleza-Ceará

2011

Page 3: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

ALEXSANDRO DE CASTRO LIMA

POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO

MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA

PÚBLICA

Monografia apresentada à banca

examinadora e à Coordenação do

Curso de Direito do Centro de

Ciências Jurídicas da Universidade

de Fortaleza, adequada e aprovada

para suprir exigência parcial

inerente à obtenção do grau de

bacharel em Direito, em

conformidade com os normativos

do MEC, regulamentada pela Res.

nº R028/99 da Universidade de

Fortaleza.

Fortaleza (CE), 03 de junho de 2011.

José Armando da Costa Júnior, Ms.

Prof. Orientador da Universidade de Fortaleza

Liana Ximenes Mourão, Ms.

Prof.ª Examinadora da Universidade de Fortaleza

Marcelo Lopes Barroso, Ms.

Prof. Examinador da Universidade de Fortaleza

Simone Trindade da Cunha, Dra.

Prof.ª Orientadora de Metodologia

Prof.ª Núbia Maria Garcia Bastos, Ms.

Supervisora de Monografia

Coordenação do Curso de Direito

Page 4: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

Dedico a Deus, aos meus Pais e a

minha Companheira, que me

apoiaram e me incentivaram a

continuar lutando, mesmo nos

momentos difíceis da minha vida.

Page 5: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me abençoado durante essa longa jornada

acadêmica, me auxiliando nos momentos difíceis e me dando forças para vencer as

dificuldades que surgiram durante esse difícil percurso. E ainda, por me mostrar que na vida

tudo é possível, basta acreditar.

Aos meus pais Antonio Correia Lima e Maria Humbelina de Castro Lima, que apesar

das dificuldades financeiras, souberam criar os filhos, sempre lhes ensinando que a educação,

a ética, a honestidade, o amor e o trabalho são os caminhos que devem ser seguidos nessa

vida.

A minha companheira Lourdite Magalhães de Sá, que me acompanha desde o início

dessa trajetória. E que, mesmo passando por problemas de saúde, sempre me tratou com

respeito e amor.

Ao meu tio José Aldir de Castro (in memorian), pelo exemplo de luta e perseverança.

Aos meus tios José George de Castro, Gecicleida Alves de Castro, Vicente Pinheiro

Filho e Balbina de Castro Pinheiro, que sempre depositaram em mim muita confiança e me

incentivaram a crescer profissionalmente.

Ao meu irmão, tios, primos, sobrinho e afilhados pela força e incentivo que me

deram.

Aos meus verdadeiros amigos, que conquistei na Polícia Militar, na Polícia Civil, na

faculdade e aqueles amigos de infância, pois todos tiveram uma parcela de contribuição para a

realização desse feito.

Ao professor José Armando da Costa Júnior, um homem grande de coração e

iluminado por Deus, que apareceu no meu caminho em um dos momentos mais difíceis da

minha vida me ajudando e me ofertando a oportunidade de crescimento no âmbito jurídico.

À professora Simone Trindade da Cunha, pela paciência durante a construção desse

trabalho científico.

Page 6: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

Aos professores Marcelo Lopes Barroso e Liana Ximenes Mourão, que gentilmente

aceitaram o convite para participar da banca examinadora.

Aos demais professores do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza, por terem

contribuído para a minha formação acadêmica.

Aos funcionários desta instituição, por toda a presteza e profissionalismo

dispensados para a solução dos problemas extraclasse.

A todos aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a consumação

deste trabalho e formação deste acadêmico, meus sinceros agradecimentos.

Page 7: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

RESUMO

Este trabalho propõe a unificação das polícias estaduais como o modelo mais adequado para a

realidade brasileira. Abordamos desde a origem das polícias no mundo até a sua atual

estrutura no Brasil. Descrevemos o modelo policial dicotômico, tecemos algumas críticas,

buscando-se descobrir os reais motivos de sua criação. Expomos a falência do atual modelo

de segurança pública consagrado na Constituição Federal de 1988, principalmente no que se

refere aos Estados e ao Distrito Federal. Criticamos a submissão das Polícias Militares ao

Exército e a permanência do militarismo nas instituições responsáveis pelo serviço de

segurança pública. Procuramos mostrar que esse modelo policial não consegue mais suprir as

necessidades atuais da sociedade, tornando-se inócuo na guerra contra a violência.

Pretendemos criar um modelo policial que trabalhe a serviço da sociedade, buscando manter a

paz social e garantir a ordem pública, atuando com eficiência mesmo após a consumação do

crime. Diante de tanta ineficiência por parte das polícias civis e militares, propõe-se a criação

da Polícia Estadual, que atuará em ciclo completo de polícia, realizando tanto o serviço

preventivo como o repressivo. Para tanto, se faz necessária uma mudança considerável na

Carta Magna de 1988, que será realizada através de Emenda Constitucional. O tema

unificação não é um tema novo, já vem sendo discutido desde o ano de 1995, mas por conta

do descontrole da violência essa discussão voltou à tona como a esperança de um futuro

melhor no campo da segurança pública. Atualmente, existem várias Propostas de Emenda à

Constituição, algumas sugerem a extinção do atual modelo policial e outras tentam efetivar a

unificação das polícias. Procura-se, com base na PEC nº430 de 2009, elaborar um modelo

prático e eficiente, expondo uma nova estrutura organizacional baseada na hierarquia e na

disciplina, de caráter civil, estruturada em carreira e dividida em Departamentos. O modelo

proposto, além de satisfazer as necessidades da sociedade contemporânea, busca valorizar os

verdadeiros heróis que atuam nessa área tão complexa, que é a da segurança pública. Este

trabalho científico pretende difundir no campo acadêmico a problemática enfrentada

atualmente pelas organizações policiais e mostrar a solução encontrada para resolver tanto

esses problemas internos, como combater de forma eficaz o problema da violência, com ações

conjuntas entre a Polícia Estadual e os órgãos responsáveis pela promoção social.

Palavras-chave: Polícia. Estado. Unificação das Polícias. Segurança Pública. Violência.

Page 8: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

1 POLÍCIA: CONCEITO 11

1.1 Origem histórica 12

1.2 Modelos policiais adotados em outros países 13

1.3 Histórico da polícia no Brasil 17

2 O ATUAL MODELO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL 24

2.1 Polícia Federal 26

2.2 Polícia Rodoviária Federal 26

2.3 Polícia Ferroviária Federal 27

2.4 Polícias Civis 28

2.5 Polícias Militares 30

3 O PROCESSO DE UNIFICAÇÃO E A CRIAÇÃO DA POLÍCIA ESTADUAL 36

3.1 A unificação das polícias 36

3.2 Situação dos Bombeiros Militares 41

3.3 Propostas de Emenda a Constituição Relacionadas com a unificação 42

3.4 Estrutura da Polícia Estadual 43

CONCLUSÃO 51

REFERÊNCIAS 53

APÊNDICE 67

ANEXO 76

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INTRODUÇÃO

Quando se fala em segurança pública, logo vem à cabeça a insegurança, ou seja, tem-se

o pensamento direcionado para o aumento incontrolável da criminalidade. Todos os dias as

pessoas são informadas, através dos meios de comunicação, do acontecimento de uma série de

crimes, tais como: homicídios, roubos, furtos, tráfico de entorpecentes e muitos outros.

A situação de descontrole que se está passando hoje se dá por consequência da ausência

do Estado, que durante décadas não deu a devida atenção para a área da Segurança Pública, e,

agora, a população é vítima desse descaso.

A violência se origina da falta de investimentos em educação, em moradia, em

qualificação profissional e em segurança pública. Por consequência, da falta de atenção nesses

campos, o Direito Penal acabou perdendo o seu caráter preventivo, e o Estado pressionado

pela sociedade, tenta resolver o problema criado por ele mesmo, através de políticas

repressivas com o uso da força policial. E o pior, o governo continua pensando que essa é a

melhor solução para a resolução do problema, mas na verdade esse método gera apenas

efeitos paliativos, não diminuindo em nada as estatísticas da violência no Brasil, pelo

contrário, essa política só tem aumentado o número de presos nas cadeias.

Diante dessa grave situação, o tema violência tornou-se bastante discutido nas

Academias, buscando-se uma solução eficaz para o problema. Com isso, surgiram as

seguintes soluções: i) diminuição da maioridade penal; ii) adoção da pena da morte e da

prisão perpetua; iii) já a grande maioria defende uma reformulação nos meios sociais,

educacionais e no campo da segurança pública.

Concorda-se com a terceira corrente, pois entende-se que o problema da violência não é

tão simples como se parece e deve ser combatido em sua raiz, ou seja, nos fatores que dão

origem à violência.

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Com certeza, se o Estado realizasse políticas eficientes direcionadas para os campos

educacionais e sociais, certamente as desigualdades sociais existentes no país seriam

disseminadas e, dificilmente, a força policial seria utilizada com habitualidade. Como se pode

perceber, o problema da violência no Brasil só será resolvido se forem realizadas ações

conjuntas.

A polícia sempre deverá ser o terceiro setor a atuar, ou seja, ela irá apoiar os setores de

educação e de políticas sociais. Mas, para que as ações policiais sejam eficientes, essa

instituição terá que passar por uma série de mudanças estruturais.

A presente pesquisa justifica-se pela necessidade da implantação urgente de um

moderno e eficaz sistema de segurança pública, capaz de suprir as necessidades oriundas do

avanço da sociedade brasileira.

O objetivo geral é abordar as causas que têm influenciado consideravelmente no

aumento da violência no Brasil. Já os objetivos específicos buscam: i) realizar uma análise da

realidade atual do sistema de segurança pública no país; ii) identificar as mudanças que

devem ser realizadas dentro da estrutura policial e realizar sugestões; iii) gerar soluções

capazes de combater o aumento da violência no Brasil e melhorar a atuação dos órgãos

policiais estaduais.

A metodologia baseou-se num estudo descritivo-analítico, desenvolvido através de

pesquisas bibliográficas mediante explicações embasadas em trabalhos publicados sob a

forma de livros, revistas, artigos, enfim, publicações especializadas, imprensa escrita e dados

oficiais publicados na internet. Quanto à abordagem é qualitativa, buscando-se a apreciação

da atual situação da segurança pública nos Estados.

O trabalho encontra-se organizado em quatro capítulos, seu desenvolvimento buscou

detalhar aos leitores a real situação em que se encontra o setor da segurança pública no Brasil,

expondo os problemas e sugerindo as soluções.

No primeiro capítulo, descreveu-se o significado do termo polícia, o seu surgimento, o

seu desenvolvimento histórico, e por último, expomos os modelos policiais existentes no

mundo e a sua atual formação.

O segundo capítulo, relata o nascimento da organização policial no Brasil, a real

finalidade do seu surgimento, a existência de conflitos internos na instituição, a separação das

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funções judiciais e policiais, o nascimento do modelo policial denominado de dicotômico, o

surgimento da figura do delegado de polícia e as suas competências, e, ainda, a ingerência

política exercida sobre as polícias. Vale salientar o breve estudo realizado sobre o tratamento

dado às polícias pelas Constituições e por outras Leis Infraconstitucionais.

O terceiro capítulo mostra a origem do termo segurança pública, fazendo um estudo

analítico sobre o sistema de segurança interna adotada pela Constituição Federal de 1988.

Essa análise inicia-se no Preâmbulo, passando pelos Direitos Fundamentais e Sociais, até se

chegar ao Capítulo específico, mais precisamente ao artigo 144 da Carta Magna. De forma

didática, expõem-se os órgãos constitucionalmente incumbidos de realizar o serviço de

segurança pública no país. Como o nosso tema está ligado diretamente à unificação das

Polícias Civis e Militares dos Estados e do Distrito Federal, realizar-se-á um estudo mais

apurado dessas duas instituições, expondo as suas origens, competências e as suas formas de

atuação. Se expôs para a sociedade os constantes conflitos existentes entre os membros das

duas instituições estaduais, como também critica-se de forma excessiva a manutenção do

militarismo nas Polícias Militares e a sua submissão ao Exército.

Finalmente, o quarto e último capítulo traz ao conhecimento do público o que será a

unificação das polícias, desde o seu conceito até a implantação da Polícia Estadual no Brasil.

Destaca-se o sucesso desse modelo policial de ciclo completo em outros países, e, ainda,

descreve-se os benefícios da sua implantação no Brasil. Traz-se a tona o fracasso da tentativa

de implantação do modelo denominado de “integração”. Relatam-se os malefícios causados

pela existência de duas polícias com atuação num mesmo espaço geográfico. Constrói-se,

também, com base em Propostas de Emenda à Constituição e na experiência de oito anos

desenvolvendo atividades tanto na Polícia Militar como na Polícia Civil do Estado do Ceará,

uma estrutura policial nova, dinâmica e adequada, tratando sobre os novos cargos, o período

das promoções, a formação dos membros, as competências e a criação dos Departamentos.

Todas essas propostas apresentadas nessa pesquisa irão agradar tanto aos profissionais da

segurança pública como os membros da sociedade.

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1 POLÍCIA

O termo polícia é de origem grega, politéia, que significa “governo de uma cidade,

administração, forma de governo”, e passou para o latim, polítia, com o mesmo sentido.

Portanto, polícia na noção grego-latina tem o significado de “governo civil, governo de uma

cidade ou governo da pólis”. (LEAL, 1942, p. 80 apud ROCHA, 1991, p. 2)

Para Moraes (1986, p. 09-10 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 12), o termo polícia

representa o “conjunto de leis ou regras impostas ao cidadão, com o fim de assegurar a moral,

a ordem e a segurança pública”, ou seja, aquelas regras objetivando “fazer reinar a ordem, a

tranquilidade e a segurança do grupo social”.

Atualmente, quando se fala em polícia, se leva a pensar em crimes, prisões, fiscalização,

órgãos pertencentes ao Estado, segurança pública e uma série de outros significados.

Realmente, o termo polícia está relacionado a todos esses pensamentos, pois, ela é o órgão

utilizado pelo ente estatal para garantir a ordem pública e os bons costumes, visando o bem-

estar coletivo e individual e buscando garantir a propriedade e os direitos dos cidadãos. Em

uma visão mais crítica, também, é o meio utilizado pelo poder público para tentar corrigir os

seus próprios erros e controlar o povo.

Está-se passando por um período de desenvolvimento e mudanças, a sociedade percebeu

que um dos elementos que faz parte do Estado é o povo e descobriu o poder que tem, com

isso, começaram a cobrar do Poder Público o cumprimento das suas obrigações e uma

melhoria na prestação dos serviços públicos essenciais (saúde, educação e segurança).

Diante da grave situação em que se encontra o setor da segurança pública, se faz

necessário a reestruturação e modernização dos órgãos responsáveis pela manutenção da

ordem pública e pela paz social. Pensando nisso e percebendo a necessidade de mudanças na

atual estrutura da segurança pública no Brasil, demonstrar-se-á um modelo eficiente e

moderno, que será o resultado da fusão das Polícias Civis e Militares, sendo denominada de

Polícia Estadual.

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1.1 Origem histórica

Historicamente, nos grandes impérios como Pérsia, Babilônia, Egito e Roma as leis

eram ditadas pelos que detinham o poder, sendo impostas à força por alguns estrangeiros que

serviam por dinheiro (mercenários), sendo eles responsáveis pela realização das prisões e pela

imposição dos castigos às pessoas do povo tidas como infratores. Conforme o

desenvolvimento natural das civilizações, a justiça, a segurança e a ordem passaram a ser

administradas pelo Estado, tendo a polícia se tornado uma subdivisão do Poder Público.

(HARRISON, 1955, p. 11 apud ROCHA, 1991, p. 3)

As primeiras medidas policiais adotadas em lei foram realizadas pelos Egípcios e pelos

Hebreus. Já a primeira organização policial que se tem notícia foi criada em Roma pelo

Imperador Augusto, no ano 63 a.C. (ROCHA, 1991, p. 3)

Com relação ao surgimento da polícia, afirma o jurista e doutrinador Fernando Costa

Tourinho Filho (2007, p. 192 apud LIMA, 2010, p. 12):

A Polícia, com o sentido que hoje se lhe empresta – órgão do Estado incumbido de

manter a ordem e a tranquilidade públicas -, surgiu, ao que parece, na Velha Roma.

À noite os larápios, aproveitando a falta de iluminação, assaltam a velha urbes, e

seus crimes ficavam impunes, porque não eram descobertos. Para evitar essa

situação, criaram os romanos um corpo de soldados que, além das funções de

bombeiros, exerciam as de vigilantes noturnos, impedindo, assim, a consumação dos

crimes.

A Teoria da polícia era, “O homem vivo, ativo e produtivo é cuidado pela polícia”, pois

”o homem é o verdadeiro objeto da polícia; a polícia permite aos homens sobreviver, viver e

melhorar”. (BERGES, 1988, p. 324 apud SANTOS, 1997, p. 155-167)

Na idade média, as guardas eram mantidas e organizadas pelos Reis nas cidades e pelos

Senhores Feudais nas zonas rurais.

Durante os séculos XVIII e XIX o vocábulo polícia era usado para designar a

administração interna do Estado; com o passar do tempo foi adquirindo um sentido particular

e passou a figurar a ação do governo no exercício da sua missão de proteção da ordem

jurídica, assegurando a paz pública e a proteção da sociedade contra as transgressões e

prejuízos. (ANDRADE, 1958, p. 48 apud ROCHA, 1991, p. 2)

Em 1327, Paris formou uma força policial com a finalidade de manter a ordem social

interior. No século XVIII, o monarca absolutista Luiz XIV de Bourbon, instituiu como

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funções da polícia assegurar a segurança da cidade, lutar contra a delinquência e a

criminalidade, proteger a população contra os acidentes e as epidemias e cuidar da

subsistência da cidade. Existem notícias que ele dispunha de algumas pessoas denominadas de

inspetores e agentes que tinham como função lhe repassar informações sobre a conduta das

pessoas. Somente em 1720, Paris conseguiu organizar uma força policial, sendo a primeira

cidade europeia a realizar esse feito, os integrantes desse órgão eram conhecidos como

Gerdames, sendo essa nomenclatura conservada até os dias atuais. (ROCHA, 1991, p. 3)

Observa-se num primeiro momento que, a polícia surgiu da necessidade de proteção dos

bens das pessoas, pois, com o aumento da população e com o desenvolvimento das

civilizações, foram sendo geradas riquezas que despertavam os interesses dos ladrões. Mas,

esse não era o único motivo para a criação de uma força policial, como se verá mais adiante,

existiam, também, interesses políticos envolvidos.

1.2 Modelos policiais adotados em outros países

Na França, a polícia tornou-se uma organização que tinha como finalidade obrigar o

cumprimento da lei, prevenir e reprimir as infrações penais cometidas, buscando a garantia da

ordem pública e a paz coletiva. No ano de 1796 foram instituídos o Ministério da Polícia

Geral da República e a Chefia da Polícia Judiciária. Atualmente, existem duas forças

policiais: a Polícia Nacional (organizada em 1966 e formada por elementos da Prefeitura da

Polícia de Paris e da Sûreté Nacionale, fundidas em um só órgão) e a Guarda Nacional ou

Gendarmerie Nationale (corporação fardada). Possui um contingente total de

aproximadamente 220.000 (duzentos e vinte mil) agentes subordinados diretamente ao Poder

Executivo. A Polícia Nacional é uma organização policial de estatuto civil ligada diretamente ao

Ministério do Interior encarregada do ciclo completo de polícia nas zonas urbanas e nas comunas

com população superior a 10.000 (dez mil) habitantes. Já a Guarda Nacional é uma instituição de

caráter militar, ligada ao Ministério da Defesa, possui em seus quadros 90.000 (noventa mil)

gerdames, diferentemente da Polícia Nacional, realiza o policiamento nas zonas rurais e

periurbanas. A Guarda Nacional tem um caráter polivalente, atua tanto no policiamento ostensivo

com realiza os trabalhos de polícia judiciária. (RONDON FILHO, 2003, p. 39, on line)

A Inglaterra possui 43 forças policiais, que desempenham suas atividades nas

províncias, sendo dirigidas por um Chief Constable ou Sheriff, indicado por um conselho

local de administração e nomeado pelo Ministério do Interior. Em Londres o patrulhamento é

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realizado pela Polícia Metropolitana denominada Scotland Yard, que foi criada em 1829 e o

seu chefe é nomeado pela Coroa. O sistema é descentralizado e as polícias não possuem

nenhuma vinculação hierárquica com o poder central, sendo cada autoridade local responsável

por uma unidade especializada de investigadores chamada de Criminal Investigation

Departament. Aqui também se realiza o chamado ciclo completo de polícia. (MONET, 2001

apud RONDON FILHO, 2003, p. 43, on line)

A Itália conta com uma Polícia Federal militarizada e responsável por realizar o

policiamento ostensivo, as atividades de polícia judiciária e controlar os distúrbios civis. A

divisão se dá da seguinte forma: Polícia Civil (composta por bacharéis em Direito e com os

cargos de comissários, questores, inspetores-chefes e chefe de polícia); Guardia de Pubblica

Sicurezza; Corpo dei Carabinieri e Guardia de Finanza. (ROCHA, 1991, p. 4 e RONDON

FILHO, 2003, p. 44, on line)

Na Alemanha, a polícia tem a seguinte organização: länder (força provincial);

Bundeskriminalamt (Bureau Federal de Polícia Criminal); Bundesgrenznschutz (Força

Nacional de Polícia de Fronteira); e a Bereitschafts polizei (Polícia de Emergência).

Na Holanda, cada município tem a sua força de segurança que desempenha tanto as

atividades de polícia ostensiva, como também as de polícia judiciária ou criminal. São

dirigidas pelo Burgomestre.

Na Noruega, Dinamarca e Finlândia as polícias são nacionais e mantêm o serviço

policial centralizado. Nesses países, as polícias desempenham o ciclo completo de polícia,

sendo responsáveis pelo policiamento ostensivo e pelo judiciário. (RONDON FILHO, 2003,

p. 44, on line)

Nos Estados Unidos, existem os órgãos policiais locais exercidos pelos Sheriffs, que

atuam nas zonas rurais, e as forças policiais de cada cidade grande, que são dirigidas pelos

Chefes de Polícia (subordinados aos prefeitos). Na esfera federal, existe o Departamento de

Justiça (Department of Justice), que é o órgão superior responsável pela segurança nacional

contra ameaças externas e internas, tendo sido criado em 1870. É composto pelas seguintes

instituições: Agência de controle de álcool, tabaco e explosivos; Agência de assistência

judiciária; Bureau de Investigação Federal (FBI); Bureau Federal de Prisões (BOP); Divisão

Antitruste; Divisão civil; Divisão de direitos humanos; Divisão criminal; Gabinete do

Procurador-Geral; Gabinete de desenvolvimento da capacidade comunitária; INTERPOL;

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Programa de recuperação de ativos; Polícia de Combate às Drogas (DEA); Serviços de

orientação da comunidade; U.S. Attorneys; US Marshals; U.S. Secret Service, entre outros.

(ROCHA, 1991, p. 6)

O sistema policial espanhol é composto por duas forças policiais a nível nacional,

ambas sendo subordinadas ao Ministério do Interior, chefiadas por uma Direção Geral de

Polícia e Guarda Civil. O Corpo Nacional de Polícia é uma tropa armada de natureza civil que

exerce sua atividade nas capitais de provinciais, nos municípios e em outros núcleos urbanos

determinados pelo Governo e com uma população não inferior a 30 mil habitantes. Já a

Guarda Civil é uma instituição armada de natureza militar e tem competência no resto do

território espanhol e no seu mar territorial; atua conforme determinação do Ministro do

Interior, exercendo funções policiais ou realizando missões de caráter militar voltada contra

ameaças externas. As Unidades de Polícia Judiciária Espanhola são compostas por integrantes do

Corpo Nacional de Polícia e da Guarda Civil que investigam os delitos, visando à identificação

dos autores e suas prisões, atuando em ciclo completo de polícia. (GOBIERNO DE LA

ESPAÑA, on line e RONDON FILHO, 2003, p. 42, on line)

Em Portugal, existiam os Quadrilheiros, que eram policiais responsáveis pela

manutenção da ordem nas quadras; em 1780 mudou seu nome para Intendência Geral de

Polícia da Corte. Mas, em 1867 passou a se chamar Polícia Civil, sendo reorganizada em

1922 e se subdividiu-se em Polícia de Segurança Pública (corpo fardado, ostensivo e de

natureza civil) e Polícia Judiciária (também de natureza civil, mas, encarregada pela formação

da culpa e apuração dos delitos).

No Japão, desde 1954, existe um único efetivo policial subordinado à Comissão

Nacional de Segurança (CNS), a qual é formada por cinco membros do gabinete do primeiro

ministro. Sua força policial é uma das mais bem equipadas do mundo. (LIMA, 2010, p. 30)

Na Bélgica existiam três tipos policiais distintos em todos os aspectos. Eram eles: a

Gendameire Nationale (subordinada aos Ministérios da Justiça, da Defesa e do Interior. Após

1992 tornou-se uma força policial de natureza civil e de caráter federal); a Polícia Judiciária

(de âmbito nacional e dependente do Ministério Público); e os Corpos de Polícias Comunais

(atuavam nas áreas das comunas e subordinavam-se as autoridades comunais). Em 1996,

verificou-se que na atividade policial belga existia uma aspecto negativo, que era a rivalidade

existente entre os diferentes órgãos policiais, trazendo prejuízos as atividades de segurança

Page 17: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

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pública. Dois anos depois, iniciou-se a criação de um Sistema de Polícia Integrado, sendo

estruturado em níveis Federal e Local, atuando de forma integrada. A Polícia Local, formada

por um efetivo de aproximadamente 33.000 (trinta e três mil) policiais, exercendo as funções

de polícia administrativa e judiciária, podendo, ainda, participar em operações de caráter

federal. Já a Polícia Federal, composta por aproximadamente 10.000 (dez mil) integrantes,

tem atuação restrita, de acordo como os princípios da especialidade e da subsidiariedade,

dando apoio às Polícias Locais quando requisitada e fornecendo estrutura e meios especiais de

acordo com a gravidade da operação. Essa mudança acabou com o antigo modelo, que

permitia a atuação de diversas polícias em um mesmo espaço geográfico.

Percebe-se que, nos países mais desenvolvidos, as funções de polícia judiciária e de

polícia ostensiva são atribuídas a um só órgão. Isso ocorreu porque os especialistas e os

profissionais da área da segurança perceberam que a atuação de duas polícias em um mesmo

espaço geográfico causa rivalidade entre os membros das corporações, dificulta a elucidação

de crimes e contribui de forma negativa nas atividades de policiamento ostensivo,

consequentemente, causando enormes prejuízos à sociedade.

Sobre o modelo policial em que há uma divisão de competências, modelo esse adotado

pelo Brasil, Costa (2003 apud RONDON FILHO, 2003, p. 44, on line), afirma que:

[...] essa divisão de funções tem sido apontada como um dos principais problemas

para melhorar o controle social e proteger o cidadão. Nem sempre as duas polícias se

comunicam, trocam informações e são comuns os conflitos de competências entre

elas nas suas respectivas áreas de jurisdição. Em países como a Inglaterra, Estados

Unidos, Suécia, Japão, Itália, Espanha, Portugal, Argentina, Uruguai, as duas

funções são executadas pela mesma polícia dentro de um determinado espaço

geográfico.

Percebe-se que mesmo em países que adotam os modelos dual ou pluralista, em que

mais de uma polícia ocupa uma determinada circunscrição, é exercido o ciclo completo, ou

seja, as forças policiais realizam desde a prevenção até a identificação do autor do crime.

Existem também países que adotam o modelo monista, em que apenas uma polícia atua

em um determinado espaço geográfico. Sobre esse modelo, descreve Monet (2001, p. 95 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 57):

Os modelos policiais monistas, ou seja, aqueles em que somente uma força policial

cobre todo o território, não são raros de serem encontrados, como exemplo podem

ser citados: o Siri Lanka, Cingapura, Israel, Hungria, Polônia, Dinamarca, Grécia,

Suécia, Islândia, Noruega, Finlândia. Vários fatores contribuem para que exista uma

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17

polícia única, tais como: nível de criminalidade reduzido, tamanho do território,

população pouco numerosa.

Nesses países, por adotarem um modelo policial único, a polícia desempenha o já citado

ciclo completo.

Importante frisarmos que, mesmo em sistemas policiais diferentes, a adoção do ciclo

completo de polícia trouxe ótimos resultados no campo da Segurança Pública, mas, o ideal

para o Brasil seria a criação de uma única Polícia Estadual, pois se tornaria bem mais fácil a

implantação e a execução desse modelo completo.

Com a criação de uma única polícia no âmbito estadual, acabariam os conflitos

existentes entre os agentes de segurança pública, haveria uma continuidade na apuração dos

crimes, ocorreria uma troca de informações mais eficiente, dentre outros benefícios.

Com a implantação da unificação, continuariam existindo a Polícia Federal, a

Rodoviária Federal e a Ferroviária Federal. Mas surgiria a Polícia Estadual, que seria fruto da

união das Polícias Civis e Militares.

Portanto, já está mais do que na hora da criação de um modelo policial eficiente, que

trabalhe desde a prevenção do crime até a sua elucidação. A sociedade está em constante

desenvolvimento, devendo os serviços públicos acompanhar essas mudanças para se adequar

às novas necessidades.

1.3 Histórico da polícia no Brasil

A polícia brasileira nasceu baseada no modelo português, não diferente dos outros

países. Aqui no Brasil, a polícia também surgiu com a finalidade principal de garantir a

manutenção do poder político, buscando controlar as revoltas e protestos dos escravos e das

classes perigosas (classes populares), somente em segundo plano ela servia para manter a paz,

a ordem e garantir a propriedade dos cidadãos. A polícia funcionava como uma barreira física

entre os ditos “bons” e “maus” da sociedade. (BENGOCHEIA e outros, 2004, p. 122)

No período colonial, a principal função realizada pela polícia era proteger as terras

recém-conquistadas, através do patrulhamento marítimo. Em 1533, houve a necessidade de se

estender o patrulhamento até as capitanias hereditárias, por conta das ameaças internas e

externas. (COSTA, 2003, p. 100 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 25)

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18

Em 1549, o Governador-Geral Tomé de Souza, que tinha competência sobre os poderes

Legislativo e Judiciário, criou o cargo de Ouvidor Geral, que era ligado a este último poder, e

ainda tentou por diversas vezes se criar uma polícia iniciante. Já em 1565, com a fundação da

cidade se São Sebastião do Rio de Janeiro, Estácio de Sá criou uma polícia rudimentar com a

função de garantir os interesses de uma minoria (oligarquia). Somente em 1626, nessa mesma

cidade, importou-se de Portugal o modelo de polícia denominado “quadrilheiros”, para

realizar o policiamento da cidade, essa foi a primeira organização com feições policiais, sendo

o seu contingente formado, inicialmente, por dezesseis homens. Eles exerciam desde a

emissão de passaportes até a fiscalização de embarcações e veículos. Eles eram auxiliados por

um alcaide, um praticante, dez meirinhos e um escrivão. Além desses, eram arrolados pelos

juízes e vereadores, grupos de vinte cidadãos para servirem durante um período de três anos

em quadrilha. Para garantir o controle social, esse modelo policial agia com técnicas

rudimentares e bastante arbitrárias. (GIULIAN, 2002, p. 38 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 25)

Com a vinda da família real no ano de 1808, D. João VI criou a Intendência Geral de

Polícia da Corte e do Estado do Brasil, visando criar uma polícia eficiente, mas também com

o intuito de se preservar contra agitadores franceses e espiões, tratava-se na verdade de um

corpo policial político com a finalidade de amparar a corte e repassar informações sobre o

povo. A Intendência tinha amplos poderes, ela era responsável pelo abastecimento da cidade e

pelo andamento das obras públicas. Como polícia, esse órgão tinha uma função judiciária e

comandava todos os órgãos policiais do Brasil. (COSTA, 2005, p. 98 apud FIGUEIREDO,

2009, p. 26)

Sobre a origem histórica dos Códigos e das suas contribuições para a origem das

polícias urbanas no Brasil, Pinho (1957, p. 3 apud ROCHA, 1991, p. 34) afirma que:

No início vigoraram as Ordenações Afonsinas e Manuelinas. Em 1603 iniciou-se a

vigência das Ordenações Filipinas, prolongando-se por mais de três séculos. O Livro

V dessas Ordenações enumerava os crimes e as penas e dispunha sobre a forma do

processo de apuração. Essas leis tiveram importância extraordinária para a vida

jurídica do Brasil, sendo interessante observar-se que Portugal foi o primeiro país da

Europa a possuir um Código completo dispondo sobre quase todas as matérias de

administração de um Estado: as Ordenações Afonsinas.

As Ordenações Filipinas deram os primeiros passos para a criação e

desenvolvimento de polícias urbanas no Brasil ao disporem sobre o serviço gratuito

de polícia, exercido pelos moradores organizados por quadras ou quarteirões e

controlados primeiro pelos alcaides e depois pelos juízes.

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O Intendente Geral executava as funções de justiça, de governo e de administração

interna. Ele criou e organizou a Guarda Real da Polícia da Corte, que era uma força policial

que atuava em tempo integral e tinha uma formação militar. Era subordinada à Intendência

Geral, devendo manter a ordem pública e ir à busca de criminosos. (FREITAS, 2008, p. 33-34

apud FIGUEIREDO, 2009, p. 27)

Mesmo com a Proclamação da Independência no ano de 1822, ainda não existia uma

definição quanto à competência da polícia, pois se confundia segurança pública com

segurança do país.

Em agosto de 1831, foi criada a Guarda Nacional, que era uma força paramilitar, tendo

como finalidades defender a Constituição, a liberdade, a Independência e a integridade do

Império; ela foi considerada a principal força policial. Destinava-se tanto ao combate militar

propriamente dito, como também ao controle de distúrbios internos. Era composta por

cidadãos eleitores com renda anual superior a 200 mil réis, nas grandes cidades, e 100 mil réis

nas demais regiões, estando esses requisitos expressos na Constituição de 1824.

(DANNEMANN, on line)

A Guarda Nacional tinha um efetivo inicial de aproximadamente 30 mil homens. Ao

passar dos anos, teve o seu efetivo reduzido para 10 mil homens, isso se deu por conta de uma

série de descontentamentos e crises internas. (MARIANO, 2004, p. 19-20 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 27)

Percebe-se que o descontentamento por parte dos integrantes das próprias instituições

policiais não é um fato atual, mas, sim, existente desde o início da polícia no Brasil; essa

revolta interna quase levou a antiga Guarda Nacional à falência.

A Carta Magna de 1824 também, criou a figura do Juiz de Paz, só sendo regulamentado

por lei em 1827. Foi instituído um Juiz de Paz, tendo competências Jurisdicionais e policiais

em cada distrito, cabendo a ele solucionar as lides cíveis existentes entre os moradores,

efetuar ações com o fim de evitar aglomerações desordeiras, prender criminosos e outras

funções necessárias para a manutenção da ordem. Determinava, ainda, a condução dos autores

de delitos até a sua presença para proceder ao interrogatório, realizava a formação do corpo de

delito e no caso da confirmação da autoria delitiva ordenava a prisão do autor e o seu

encaminhamento até o Juiz Criminal. Para facilitar a atuação dos Juízes de Paz e assegurar a

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efetivação de suas ordens, as cidades foram divididas em quarteirões, sendo designado para

cada um desses locais um oficial de quarteirão. (FREITAS, 2008, p. 35)

Com a promulgação do Código de Processo Criminal de Primeira Instância em 29 de

novembro de 1831, foi realizada a organização do judiciário e a feição do processo. A justiça

tinha um caráter municipalista, em cada distrito havia um Juiz de Paz, que era auxiliado por

oficiais de justiça e inspetores de quarteirão, existiam ainda um Juiz Municipal e um Juiz de

Direito, sendo este último o chefe da polícia. Os juízes municipais eram nomeados pelo

Presidente da Província e tinham competências policiais dentro de sua jurisdição. Já os Juízes

de Direito (bacharéis em Direito com prática forense) eram nomeados pelo Imperador. No

campo processual, os Juízes de Paz deveriam proceder à formação da culpa mediante a

materialidade e autoria do delito, feito por meio de um procedimento denominado sumário de

culpa. (FREITAS, 2008, p. 36-39)

Várias revoltas ocorridas entre 1830 e 1840, acompanhadas de fortes inquietações

políticas, colocaram em xeque a eficácia do sistema municipalista. Diante dessa situação, foi

promulgada a Lei 261, de 3 de dezembro de 1841, e o Decreto 120, de 31 de janeiro de 1842,

consequências de uma reação monárquico-conservadora. Essas leis ocasionaram uma grande

reforma no Código de Processo Criminal. A polícia foi modificada criando-se a figura do

Delegado de Polícia e lhe foi repassada as funções antes realizadas pelo Juiz de Paz. Houve,

também, a transferência da justiça das Câmaras Municipais para o Poder Central. (FREITAS,

2008, p. 40-41).

O Decreto 120, também conhecido como Regulamento 120, dispôs sobre as funções e

as competências das Polícias, dividindo-as em administrativa e judiciária. (MORAES, 2000,

p. 6 apud PINHEIRO, 2003, p. 216)

À Polícia Judiciária caberia a expedição de mandados de busca e apreensão, o

julgamento de crimes, a realização do exame de corpo de delito e a efetuação da prisão dos

denunciados. O sumário de culpa foi substituído pela pronúncia, sendo este ato presidido pelo

Delegado de Polícia, que era obrigado a remeter o processo ao Juiz Municipal para a análise

da manutenção ou não da decisão. (FREITAS, 2008, p. 42)

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21

A Lei 2.033/71, regulada pelo Decreto nº 4.824/71, instituiu o Inquérito Policial e

transferiu dos Delegados para os Juízes Municipais e de Direito a competência para a

formação da culpa. Separou-se justiça de polícia. (FREITAS, 2008, p. 43)

Por conta dos conflitos internos e externos existentes no Brasil durante o Período

Imperial, a força policial exercia tanto a defesa interna com a externa, atuando em conjunto

com o Exército Brasileiro. (MARCINEIRO e PACHECO, 2005, p. 29 apud FIGUEIREDO,

2009, p. 30)

O policiamento ostensivo era feito por instituições militares, tendo as suas bases

denominadas de quartéis, estruturada conforme as regras das Forças Armadas e tendo como

Princípios basilares a hierarquia e a disciplina. (MARIANO, 2004, p. 22 apud FIGUEIREDO,

2009, p. 31)

Com a Abolição da Escravatura em 13 de maio de1888, foi inserida na sociedade uma

grande quantidade de escravos sem nenhuma perspectiva social ou econômica. Com o

acúmulo de muitas pessoas nas cidades gerou-se uma situação de desconforto e insegurança.

Diante da grande variedade de problemas gerados pelo choque de diferentes culturas, a única

solução para diminuir os inúmeros conflitos foi a atuação das forças policiais, que em muitos

casos apenas mediavam os embates. (SALEM, 2007, p. 105-106 apud FIGUEIREDO, 2009,

p. 31)

Com a Proclamação da República, estabelecida pelo Decreto nº 1 de 15 de novembro de

1889, foi repassado aos governos estaduais o dever de manter a segurança pública e garantir

os direitos dos cidadãos. (MARCINEIRO e PACHECO, 2005, p. 29 apud FIGUEIREDO,

2009, p. 31)

Acredita-se que as obrigações expressas no Decreto nº 1 tinham apenas uma função

simbólica, pois a polícia visava realizar apenas à proteção de uma pequena classe dominante.

Sobre a criação da polícia no Brasil e a sua forma de atuação, afirmam BENGOCHEA e

outros (2004, p. 121):

A polícia representa o resultado da correlação de forças políticas existente na própria

sociedade. No Brasil, a polícia foi criada no século XVIII, para atender a um modelo

de sociedade extremamente autocrático, autoritário e dirigido por uma pequena

classe dominante. A polícia foi desenvolvida para proteger essa pequena classe

dominante, da grande classe de excluídos, sendo que foi nessa perspectiva seu

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desenvolvimento histórico. Uma polícia para servir de barreira física entre os ditos

„bons‟ e „maus‟ da sociedade. Uma polícia que precisava somente de vigor físico e

da coragem inconsequente; uma polícia que atuava com grande influência de

estigmas e de preconceitos.

No Período Republicano, as pessoas ingressavam na polícia com a pretensão de seguir

ou manter uma carreira política, isso se dava por conta dos poderes que eram conferidos à

polícia.

Os Juízes de Direito passaram a exercer as funções de Chefes de Polícia, os bacharéis

exerciam as funções de Delegados, já os cabos eleitorais executavam as funções de inspetores

e agentes de segurança pública, havendo uma busca incessante pelo poder através de meios

arbitrários.

Os quadros policiais eram politizados, isso dificultava a execução de projetos voltados à

melhoria da instituição. O que se percebe através da análise histórica é que desde o seu início

a polícia sofre ingerência política.

A Constituição de 1891 atribuiu aos estados-membros a competência para legislar em

matéria processual, sendo esse sistema denominado de pluralista; com isso, eles criaram os

seus próprios Códigos de Processo Penal. Nem todos os estados-membros usufruíram dessa

autonomia, alguns continuaram adotando o Código de Processo Criminal de Primeira

Instância. Somente em 1934 foi reestabelecida a unidade processual, sendo a União o único

ente competente para legislar em matéria processual. (FREITAS, 2008, p. 44-45 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 32)

O sistema policial existente no Período Imperial deixou várias características no sistema

de segurança pública atual, como por exemplo, o modelo dual ou de ciclo incompleto, em que

duas polícias atuam no mesmo espaço geográfico, uma depende do trabalho da outra.

Em 1941, entrou em vigência o Decreto-lei 3.689 (Código de Processo Penal), que

manteve a apuração prévia das infrações por parte da polícia judiciária através do Inquérito

Policial.

As instituições policiais começaram a atuar de uma forma mais profissional utilizando-

se das Teorias de Lombroso sobre o estudo da criminalidade. Foram criados o Instituto

Médico Legal, o Instituto de Identificação e Estatística, a Polícia Marítima e a Guarda Civil.

(SALEM, 2007, p. 95 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 32)

Page 24: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

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Aqui se pode perceber o avanço dado pela polícia, pois ela começou a realizar os seus

trabalhos baseando-se em técnicas científicas. Mesmo assim, a polícia da República Velha

continuou sendo subserviente as elites.

Com o nascimento da Carta Magna de 1988, foi instituído o Estado Democrático de

Direito, que passou a tratar todos os cidadãos de forma igualitária, assegurando-lhes uma

gama de direitos e lhes garantindo o Contraditório e a Ampla Defesa. Surgiram vários

mecanismos que possibilitaram a fiscalização e o controle da atividade policial por meio de

outros órgãos e segmentos da sociedade, tais como: o Ministério Público, a Ordem dos

Advogados do Brasil, as sociedades de Direitos Humanos, dentre outros. (SALEM, 2007, p.

95 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 32)

A Constituição de 1988 atribuiu a competência privativa da União para legislar sobre

direito processual, adotou o sistema policial descentralizado, erigindo em órgãos

constitucionais à Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal,

Polícias Civis, Polícias Militares e Corpo de Bombeiros e ainda permitiu aos municípios

constituírem as suas próprias guardas municipais.

Page 25: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

2 O ATUAL MODELO DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

O campo da segurança pública é um dos mais importantes de um Estado Democrático

de Direito. O Poder Constituinte preocupou-se tanto com o tema que no Preâmbulo da

Constituição Federal de 1988 lhe atribuiu o status de valor supremo de uma sociedade. Se não

vejamos:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício

dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o

desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade

fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,

na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,

promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (grifo nosso)

Estando, também, expresso nos artigos 5º e 6º da CF/88, que tratam, respectivamente,

dos Direitos Fundamentais e dos Direitos Sociais, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (grifo nosso)

Com relação ao tratamento dado pela Carta Maior ao campo da segurança, Souza (2008,

p. 10 apud LIMA, 2010, p. 23) cita em sua obra o entendimento de Valter Foleto Santim,

acerca do tema segurança pública:

O termo „segurança‟ constante do preâmbulo e dos arts. 5º, caput, e 6º da

Constituição Federal, deve ser interpretado como relativo à segurança pública,

predominantemente de caráter difuso, que visa tutelar a manutenção da ordem

pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (art. 144), componente

importante para a proteção da dignidade da pessoa humana.

A respeito da origem e do significado dos adjetivos público e seguro, descreve Ferreira

(1986, p. 1414 e 1563 apud LIMA, 2010, p. 22):

[...] a origem e o significado dos adjetivos „público‟ e „seguro‟. A saber: „O adjetivo

„público‟ provém do latim publicu, significando pertencente, relativo ou destinado

ao povo. O segundo, „provém do latim securu, que significa livre de perigo, livre de

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25

risco, protegido, acautelado, garantido, dando origem ao substantivo segurança que

denota o estado, a qualidade ou a condição de seguro.‟

A Secretaria Nacional de Segurança Pública, órgão pertencente ao Ministério da Justiça,

define segurança pública como:

Uma atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo,

realizada com o fito de proteger a cidadania, prevenindo e controlando

manifestações da criminalidade e da violência, efetivas ou potenciais, garantindo o

exercício pleno da cidadania nos limites da lei. (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, on

line)

Maria Helena Diniz (1998, p. 278 apud LIMA, 2010, p. 22), através de uma visão

jurídica, conceitua segurança, como: “[...] segurança também significa a situação do que se

acha seguro, protegido ou o que torna algo livre de perigo.”

Já José Afonso da Silva (1997, p. 709 apud LIMA, 2010, p. 22) entende que: “[...] o

substantivo segurança, considerando o adjetivo que o qualifica (jurídica, social, nacional e

pública), pode ter diferentes significados, mas assume o sentido geral de garantia, proteção e

estabilidade de situação ou pessoa.”

A Constituição Federal de 1988 descreveu a estrutura da segurança pública no Capítulo

III, art. 144 e incisos. Vejamos o que dispõe o artigo:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

A Carta Magna, além, de listar os órgãos responsáveis pelo exercício da segurança

interna do país, deixou bem claro que a segurança pública é uma obrigação pertinente ao

Estado e um direito que deve ser garantido ao povo.

Santin (2004, p. 99 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 42), ao analisar de uma forma mais

apurada o artigo 144 da Constituição Federal de 1988, afirma o seguinte: “[...] nota-se que as

funções policiais de segurança pública são de prevenção, de repressão, de investigação, de

fronteiras e de polícia judiciária”.

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Concorda-se com o posicionamento de Santin, mas defende-se que uma só instituição é

capaz de realizar as atividades preventivas, repressivas e investigativas, pois, a atuação de

mais de uma organização policial em um determinado espaço geográfico causa inúmeros

problemas que afetam diretamente ao campo da segurança pública.

Como o nosso objetivo neste trabalho é a unificação das polícias civis e militares,

faremos apenas uma breve explanação acerca das outras forças policiais.

2.1 Polícia Federal

A Polícia Federal foi originada da transformação da Polícia Civil do Distrito Federal em

Departamento da Polícia Federal, através do Decreto nº 6.378/44, e posteriormente, teve a sua

competência alterada pelo Decreto nº 9.353/46. A Lei nº 4.483/64 reorganizou o antigo

Departamento Federal de Segurança Pública e conferiu-lhe a característica de órgão policial

federal. (ROCHA, 1991, p. 12)

O Grupo Policial Federal, constituído de servidores policiais que optaram pela

mudança, passou a funcionar subordinado ao Ministério da Justiça.

A Constituição de 1967 atribuiu como competência da União organizar e manter a

Polícia Federal.

O §1, incisos I a V do artigo 144 da CF/88, instituiu a Polícia Federal como órgão

permanente, estruturado em carreira, sendo competente para: a) apurar infrações penais contra

a ordem política e social em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas

entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha

repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo a lei; b)

prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o

descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas

áreas de competência; c) exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras; e d)

exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

2.2 Polícia Rodoviária Federal

Foi criada em 1928 pelo Decreto 18.323, com a denominação de Polícia das Estradas de

Rodagem, tinha as funções de garantir a segurança do trânsito e realizar a sinalização nas

rodovias existentes no território nacional. A corporação só foi organizada em 1935, mas após

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o ano de 1939 mudou a sua nomenclatura de Polícia das Estradas para Polícia de Tráfego.

(ROCHA, 1991, p. 23)

O primeiro posto policial foi instalado em 1943 no Paraná, com a finalidade de

fiscalizar as rodovias que estavam em construção. Com a ampliação das obras de construção

das rodovias, foram instalados novos postos em outras regiões do país. Em 1945, através do

Decreto 8.463, ocorreu novamente uma mudança na denominação do órgão que passou a se

chamar Polícia Rodoviária Federal. Em 1986, tentaram desvincular do DNER a Polícia

Rodoviária Federal, que era subordinada ao Ministério dos Transportes, devendo ela fazer

parte do Ministério da Justiça, mas isso não se efetivou. Somente com a Promulgação da

Carta Magna de 1988, a Polícia Rodoviária Federal adquiriu o mesmo status dos demais

órgãos integrantes do sistema de segurança pública, estando disciplinada no §2º do artigo 144.

Já no ano seguinte, o Decreto 18.323/28 criou o Departamento de Polícia Rodoviária Federal,

definindo a sua natureza, finalidade e competências, dispondo também sobre a organização, o

regime jurídico e outras providências. (ROCHA, 1991, p. 25)

À Polícia Rodoviária Federal compete o policiamento ostensivo e a fiscalização das

rodovias federais. Devendo zelar pelo Patrimônio Público, a seguranças dos usuários e o livre

trânsito.

2.3 Polícia Ferroviária Federal

Em 1835, o governo autorizou a construção e exploração dos caminhos de ferro no

Brasil. Mas a primeira ferrovia só foi inaugurada em 1854, sendo denominada Estrada de

Ferro Petrópolis, a partir desse momento, começou-se a expansão das estradas de ferro no

país. (ROCHA, 1991, p. 30)

A Polícia Ferroviária Federal é uma corporação fardada e armada, foi organizada para

realizar o policiamento interno das estradas de ferro e de suas dependências. Foi a primeira

polícia especializada do país, originada pelo Decreto nº 641 de 26 de junho de 1852, assinado

pelo imperador Dom Pedro II, e inicialmente foi denominada de Polícia dos Caminhos de

Ferro. (WIKIPÉDIA)

Segundo Rocha (1991, p. 30-31), em 1922 o extinto Ministério da Guerra e Comissão

Militar de Rede ficou responsável pela organização e orientação dos corpos policiais dentro

das estradas de ferro.

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28

A Lei Maior de 1988 em seu artigo 144, §3º, erigiu a Polícia Ferroviária Federal em

órgão permanente, estruturado em carreira e destinado, na forma da lei, ao patrulhamento

ostensivo das ferrovias federais.

A Lei 8.028, de 12 de abril de 1990, vinculou a Polícia Ferroviária Federal ao

Ministério da Justiça. Conforme dicção do artigo 19:

Art. 19. Os assuntos que constituem área de competência de cada Ministério Civil

são os seguintes:

I - Ministério da Justiça:

[...]

b) segurança pública, Polícia Federal, Rodoviária e Ferroviária Federal e do Distrito

Federal;

Atualmente, a Polícia Ferroviária encontra-se sucateada e com um efetivo de

aproximadamente 1.200 homens, que são responsáveis pela fiscalização de 26 mil

quilômetros de malha ferroviária.

Com os investimentos que serão aplicados nos meios de transporte público por conta

dos eventos esportivos que se iniciarão nos próximos anos, principalmente na construção e

reestruturação dos metrôs, esperamos que haja investimentos voltados para a melhoria e

ampliação dos quadros da Polícia Ferroviária Federal.

2.4 Polícias Civis

Em capítulos anteriores falamos da origem histórica das polícias no Brasil, portanto,

trataremos da Polícia Civil após a vigência da atual Carta Política de 1988.

A Constituição Federal de 1988 dispõe que, às polícias civis, dirigidas por Delegados de

polícia de carreira, incubem as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,

ressalvadas as competências da União e as das autoridades militares. Vejamos o §4º do artigo

144:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

[...]

§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,

ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de

infrações penais, exceto as militares.

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A Polícia Judiciária de cada Unidade da Federação, baseada na hierarquia e na

disciplina, incube assim exercer em todo o seu território o policiamento civil, as atribuições

de polícia judiciária e as atividades técnico-científicas e administrativas conexas. Ela atua de

forma repressiva, agindo após o cometimento do crime. Importante ressaltar que, em alguns

Estados da Federação, os institutos de Criminalística e de Medicina Legal (conhecidos como

polícia científica) foram desvinculados da Polícia Civil, sendo transformados em instituições

independentes, mas continuam subordinados as Secretarias de Segurança Pública dos Estados.

Os Estados e o Distrito Federal são responsáveis pela organização e o funcionamento

das polícias civis e militares, através de leis específicas de cada órgão. Por disposição do

artigo 21, XIV da Constituição Federal, compete à União: “Organizar e manter a polícia civil,

a polícia militar e o corpo de bombeiros do Distrito Federal, bem como prestar assistência

financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo

próprio.” (LIMA, 2010, p. 25)

A Polícia Civil é responsável pela realização das investigações e elucidação dos crimes,

através do Inquérito Policial, dando subsídios para que o Estado possa exercer o jus puniendi.

Ressalvadas as infrações penais militares.

Sobre o Inquérito Policial, a Lei nº 2.033/71 (regulamentada pelo Decreto nº 4.824/71),

em seu artigo 42, dispõe: “O Inquérito Policial consiste em todas as diligências necessárias

para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e

cúmplices, devendo ser reduzido a instrumento escrito”.

Com relação à competência para a realização do Inquérito Policial, assim ordena o

artigo 4º do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal): “A

polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas

circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. (Redação dada

pela Lei nº 9.043, de 9.5.1995)”.

Podemos entender como Autoridade Policial a figura do Delegado, já as circunscrições

são chamadas de Distritos ou Delegacias. Em alguns Estados, existem Delegacias

especializadas que atuam na apuração de infrações penais específicas, geralmente apuram

crimes de maior vulto, como homicídios, tráfico de drogas, sequestros, roubos de veículos e

cargas, estelionato, violência doméstica e outros. (MELIN JUNIOR, 2002, p. 83)

Page 31: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

30

Atualmente, as Polícias Civis são subordinadas aos Governadores e estão vinculadas às

Secretarias de Segurança Pública dos Estados-membros. Ela é dirigida por um Delegado de

Carreira, nomeado pelo representante do Poder Executivo Estadual. Adotam um estatuto

semelhante ao dos Servidores Públicos Estaduais, sendo garantido aos policiais civis o direito

de greve e a sindicalização.

Um fato interessante e que merece destaque é que as polícias civis estão subordinadas

administrativamente ao Poder Executivo, mas seus serviços são realizados e direcionados ao

Poder Judiciário. Diante dessa situação, não sabemos os motivos alegados pelo Estado para

não reconhecer a atividade desempenhada pelos policiais civis, como atividades de carreira

jurídica.

Mesmo com o passar dos anos e com as mudanças ocorridas na sociedade atual, a

Polícia Civil continua com a mesma estrutura e características dos períodos Imperial e

Republicano. A única mudança significativa foi o ingresso através de concurso público.

2.5 Polícias Militares

Com relação à origem da Polícia Militar, descrevem Marcineiro e Pacheco (2005, p. 27

apud FIGUEIREDO, 2009, p. 34), que: “O embrião da Polícia Militar no Brasil se deu com a

vinda da família real em 1808 [...]”

A partir de 1920, os governos estaduais passaram a serem responsáveis pelas Forças

Públicas (Polícias Militares), aos poucos vão se adotando regulamentos baseados na

legislação aplicada ao Exército. De acordo com Marcineiro e Pacheco (2005, p. 30 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 34), essa semelhança das forças de segurança interna com a força de

guerra, se deu por conta: “dos constantes apoios que a Polícia Militar prestava à Força

Armada contra os levantes internos e externos”.

Durante o Período Republicano, foram firmados vários acordos entre a União e os

Estados, colocando as Forças Públicas como força reserva do Exército. Esse apoio dado ao

órgão federal acabava confundindo as competências dos órgãos estatais, pois as Forças

Públicas passaram a realizar a defesa territorial durante o período dos conflitos e só exerciam

a atividade de segurança pública nos intervalos das guerras. Nesse período o que realmente

existiam eram exércitos estaduais.

Page 32: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

31

Em 1934, a Constituição declara as Forças Pública como forças auxiliares do Exército.

Conforme dispunha o art.5º, XIX, a União tinha competência privativa para legislar sobre a

organização, instrução, justiça, convocação e garantia das forças policiais dos Estados. Essa

subordinação das forças estaduais ao Exército tinha a finalidade de manter o controle do

poderio bélico e impedir que os Estados se revoltassem contra o Poder Central.

(MARCINEIRO e PACHECO, 2005, p. 31 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 35)

Percebe-se que o motivo dessa vinculação era, tão somente, a manutenção do poder

político; em momento algum, visou-se garantir a segurança da população.

Com a Constituição de 1946, as Forças Públicas passaram a se chamar Polícias

Militares, mas foi mantido o seu status de força auxiliar do Exército.

Durante o Período Militar, por conta da agitação política e social, as Polícias foram

utilizadas para controlar e combater os revolucionários. Nessa época, as forças policiais eram

comandadas por oficiais do Exército, havendo um controle das forças estaduais pela União, e

consequentemente, restringia-se o poder dos governadores. (FIGUEIREDO, 2009, p. 36)

Podemos observar que a implantação da militarização em um órgão responsável pela

atividade de segurança interna só tinha como finalidade a manutenção do controle dos Estados

por parte da União, o interesse era somente esse.

Com a Constituição Federal de 1988, ocorreu uma melhor organização e distribuição de

competências dos órgãos responsáveis pela segurança pública. Dentre as instituições

expressas no art.144, está a Polícia Militar. Vejamos o que dispõe o art.144, V, §§ 5º e 6º:

Art.144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

[...]

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

[...]

§ 5.º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem

pública;

[...]

§ 6.º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e

reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos

Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

A Polícia Militar (polícia ostensiva) ficou responsável pelo “antes” e pelo “durante”, ou

seja, mostra-se presente para evitar a prática de infrações e garantir a ordem pública.

Page 33: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

32

Os policiais militares se enquadram na categoria de militares estaduais, sendo pautados

na hierarquia e na disciplina, podendo ser ocupante de um Posto ou de uma Graduação.

O Posto é o grau hierárquico dos oficiais, concedido pelo Governador do Estado. Já a

Graduação é o grau hierárquico das Praças, concedido pelo Comandante Geral da Polícia

Militar.

Com relação aos níveis hierárquicos na instituição militar, Giulian (2002, p. 44 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 45) cita na seguinte sequência: “Soldado, Cabo, 3º Sargento, 2º

Sargento, 1º Sargento, Subtenente, Aspirante a Oficial, 2º Tenente, 1º Tenente, Capitão,

Major, Tenente- Coronel e Coronel de Polícia Militar”. No entanto, alguns Estados não

possuem essa mesma sequência, pois existem graduações que podem ter sido abolidas, temos

como exemplo a Polícia Militar do Ceará que em seu estatuto aboliu as graduações de 3º e 2º

Sargento. Mas essas diferenças não influenciam de forma alguma no objeto de estudo do

presente trabalho.

A forma de atuação se dá através dos Batalhões, que se subdividem em Companhias,

que são responsáveis pelo policiamento em determinado espaço territorial. Mais uma vez,

podemos observar que, essa estrutura é a mesma adotada pelo Exército. (MELIN JUNIOR,

2002, p. 88)

O ingresso na instituição se dá por meio de concurso público. As Polícias Militares

estão subordinadas diretamente às Secretarias de Segurança Pública dos Estados, sendo

comandadas pelo Comandante Geral, nomeado pelo Governador e, ocupante do posto de

Coronel.

Ainda, realizando uma análise mais apurada do art. 144, percebemos que o §6º, as

Polícias Militares ainda continuam subordinadas ao Exército. Senão vejamos:

§ 6.º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e

reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos

Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (grifo nosso)

A colocação das Polícias Militares estaduais como forças auxiliares e reserva do

Exército não tem nenhuma importância para a atividade de segurança pública. Esse trecho foi

totalmente copiado da Constituição de 1934. Na prática a militarização das forças policiais

não influencia de forma alguma na melhoria da prestação do serviço de segurança pública.

Isso foi apenas um meio que a União achou para exercer o controle sobre os Estados.

Page 34: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

33

Essa submissão da PM ao Exército fere, totalmente, a autonomia dos Estados e o

Princípio da não intervenção da União nos Estados disposto no art. 34 da Constituição

Federal. Pois ao mesmo tempo em que se subordinam as Polícias Militares aos Governadores,

também ocorre uma submissão delas a um órgão da União, ou seja, há uma interferência da

União no Estado.

A única hipótese autorizativa de intervenção da União nos Estados, com relação ao

campo da Segurança Pública, será no caso de grave comprometimento da ordem pública.

Conforme disposição do art. 34, III da nossa Carta Maior:

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

[...]

III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;

Na verdade existe uma contradição expressa na própria Constituição Federal de 1988,

esperamos que os legisladores possam consertar esse erro que talvez tenha sido cometido por

pressão dos militares que não se conformavam com a queda do regime ditatorial.

Essa subserviência é alvo de inúmeras críticas, principalmente porque cabe à polícia

proteger os cidadãos; já a força federal cabe a proteção da soberania e o combate as ameaças

externas. Como se vê, são funções totalmente distintas. Sobre o assunto, opina Bicudo (2000

apud FIGUEIREDO, 2009, p. 60):

O artigo 144, §§ 4º, 5º e 6º da Constituição Federal institucionalizou o modelo

imposto pelo decreto 1.072, de 30 de dezembro de 1969, que extinguiu as guardas

civis em todo o país, anexando-as às força militares estaduais existentes, então

chamadas genericamente de „Forças Públicas‟.

A partir daí, criadas as Polícias Militares, sujeitas em sua organização,

planejamento, armamento e comando à Inspetoria das Polícias Militares, órgão do

Estado Maior do Exército, atuaram decididamente na luta contra quantos,

pessoalmente ou participando de organizações extralegais, se opunham à ditadura

militar e almejavam uma opção democrática para o Brasil. A Polícia Militar,

treinada e organizada para o combate a essas pessoas ou grupos, constituía uma

polícia do Estado, na defesa da chamada segurança nacional, segundo a concepção

imposta pelos embates entre EUA e União Soviética às ditaduras que se foram

instituindo na América Latina sob inspiração norte-americana, qualificada pela

oposição Leste/Oeste. À medida que o país foi democratizando-se, as Polícias

Militares guardaram, contudo, sua qualificação estritamente militar. E o Congresso

Constitucional, eleito em 1986, não soube inovar e institucionalizou as corporações

militares dos estados como um dos organismos responsáveis pelo policiamento

preventivo; e fez mais, pois manteve um sistema judiciário corporativo, responsável,

em larga medida, pela impunidade que ainda acoroçoa a violência que deles emana

na sua atuação enquanto polícia ostensiva.

Sob esse aspecto, os constituintes de 1986 não quiseram ou, provavelmente, não

puderam enfrentar o desafio de desmontar por inteiro os fundamentos de uma

ditadura que então se desfazia. Ao invés, consolidaram a existência de uma Polícia

Militar autoritária e arbitrária, cuja atuação contava com a complacência de uma

justiça corporativa que tornava impunes as violações das normas de direitos

Page 35: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

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humanos contempladas, explicitamente, no pórtico da Constituição promulgada em

1988, como o fundamento mesmo do Estado Democrático de Direito.

Com uma análise superficial do texto, observa-se que houve, por parte do Poder

Constituinte, certo receio em realizar o desmonte total das estruturas existentes no período

ditatorial.

Já Figueiredo (2009, p. 60) ao analisar o texto de Hélio Bicudo, percebe que a função da

Polícia Militar era garantir a manutenção do regime vigente:

[...] percebe-se que durante o período militar a Polícia Militar teve como função

principal garantir a segurança nacional, coibindo qualquer manifestação que fosse de

encontro ao regime vigente. Porém, atualmente se está num período democrático,

não justificando mais a permanência de uma Polícia Militar nos moldes do antigo

regime.

Concorda-se plenamente com o posicionamento de Bicudo, mas existe uma grande

resistência quanto ao processo de desmilitarização, principalmente por parte de alguns oficiais

da Polícia Militar, alegando que, caso a militarização seja extirpada das forças policias, o caos

irá prosperar, mas de forma alguma isso irá ocorrer. Nenhum caos irá surgir, pois a hierarquia

e a disciplina continuarão como alicerces fundamentais das polícias. Como se observa, não

existe nenhuma justificativa plausível para a manutenção do militarismo nos órgãos que

desempenham a atividade de segurança pública.

A resistência dos oficiais ao processo de modernização da polícia se dá porque alguns

usam do „poder‟ ou do „status‟ para garantirem interesses particulares, e caso se efetive a

desmilitarização, eles não mais poderão obrigar os seus subordinados a realizarem atividades

alheias à função policial.

Importante destacar que a estrutura e os regulamentos aplicados nas PM‟s, são os

mesmos aplicados ao Exército. Existe uma série de normas que atualmente não se adequam

mais a atividade de segurança pública, nem tampouco ao Regime Democrático.

Não sabemos os motivos dessa imitação, mas defendemos que não mais é cabível que

uma instituição responsável pelo exercício da segurança pública use a mesma estrutura de

uma organização que tem como especialidade o combate em tempos de guerra.

A polícia deve ser treinada para prender e manter a ordem interna através de métodos

não letais, já o Exército é treinado para matar.

Page 36: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

35

Vale destacar que um fato que revolta a maioria dos integrantes das PM‟s, é a forma

desigual como são tratados os militares estaduais, que não dispõe dos mesmos direitos

assegurados aos demais servidores civis dos Estados. Como exemplo tem-se a proibição à

greve e à sindicalização.

Estamos convictos que a militarização das polícias não deve mais prosperar, estando

esse modelo totalmente ultrapassado. As polícias não mais servem ao Exército, e, ainda, os

Estados dispõem de autonomia perante a União.

Page 37: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

3 O PROCESSO DE UNIFICAÇÃO E A CRIAÇÃO DA POLÍCIA

ESTADUAL

Ao se realizar uma breve explanação histórica e estrutural dos modelos policiais

adotados no Brasil e no mundo, busca-se demonstrar a real finalidade da criação das Polícias

Civis e Militares, bem como mostrar a atual situação em que se encontram essas forças

estaduais, responsáveis pelo exercício da atividade de segurança pública nos Estados. Ao

longo desse capítulo, será apresentado como se realizará o processo de unificação, como

ficará a estrutura da Polícia Estadual e, também, de forma sucinta como ficarão os Bombeiros

Militares.

Como se trata de um tema novo há uma escassez de obras literárias e jurídicas que

tratam especificamente sobre o assunto. Diante desse obstáculo, o presente trabalho, em sua

grande parte, buscou amparo em artigos científicos, na interpretação de Leis, em propostas de

Emenda a Constituição, e, principalmente, na visão do autor que é policial militar e atua há

mais de oito anos na atividade de segurança pública.

3.1 A unificação das polícias

Segundo Ferreira (2004, p. 801), a palavra unificar significa “tornar-se um ou uno;

reunir-se em um só todo”, já o termo unificação, significa “ato ou efeito de unificar”.

A unificação policial será a fusão das Polícias Civis e Militares, dando origem à Polícia

Estadual, essa mudança ocorrerá somente no âmbito dos Estados e no Distrito Federal, não

interferindo na atual estrutura das polícias da União.

Como já afirmamos anteriormente, o atual modelo policial no Brasil não mais tem

surtido efeito, existindo, atualmente, uma disputa nociva entre os integrantes das duas

instituições estaduais, tem-se uma imensa distância organizacional gerando ineficiência e

causando uma série de prejuízos à sociedade. Com relação aos malefícios gerados pelo

sistema dicotômico, descreve Melim Junior (2002, p. 212):

Page 38: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

37

[...] dicotomia, no qual as polícias são totalmente dissociadas, constituindo

corporações totalmente distintas, com missões distintas, formações distintas e

objetivos distintos, com o mesmo objeto porém, dentro do mesmo campo de

execuções que é a manutenção da ordem pública, num mesmo nível de governo, sem

trocas de informações, dados, ou meios, com grande probabilidade de conflitos de

atribuições geradas por competições entre seus membros para tentar alcançar o

objeto em comum.

Esses conflitos são gerados pelo atravessamento de funções quando do cumprimento

das atribuições do ciclo de polícia, que é dividido entre as duas polícias.

As atividades das polícias militar e civil não são tão diferentes e nem tão distantes que

necessitem de organizações diferentes, mesmo assim, o Brasil adota o modelo dicotômico,

não se sabendo por qual motivo.

A manutenção de duas polícias num mesmo território, além de causar problemas

operacionais e estruturais, aumenta consideravelmente o custo do Estado com a manutenção

do serviço de Segurança Pública. Com relação aos custos desembolsados pelo Estado para

manter as duas instituições, entende Silva Filho (1998 apud FIGUEIREDO, 2009, p. 62), que:

A duplicidade de instituições policiais demanda gastos extraordinários com custeios

e investimentos também duplicados com equipamentos, instalações, estruturas

administrativas e operacionais, o que certamente compromete o já limitado

orçamento da segurança, bem como a possibilidade de haver o pagamento de um

salário mais digno aos policiais.

Já está mais do que provado que a centralização das funções ostensivas e investigativas,

adotadas nas polícias modernas, tem sido exitosa gerando uma diminuição considerável nos

gastos com a segurança pública.

A realização do ciclo completo de polícia não é algo estranho para o Brasil, pois a

Polícia Federal realiza tanto o trabalho ostensivo como o repressivo. Com relação ao assunto,

Rondon Filho (2003, p. 50, grifo do autor), faz uma excelente observação:

Interessante que apesar do Código de Processo Penal, anterior à Constituição, não

fazer distinção entre as polícias judiciárias dos Estados e da União, pois não existe

diferença entre as funções, a Magna Carta descreveu como sendo de competência da

Polícia Federal a apuração de „infrações penais contra a ordem política e social ou

em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades

autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha

repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se

dispuser em lei‟, „prevenir e reprimir, em todo o território nacional, o tráfico ilícito

de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho‟, „exercer a polícia

marítima, aérea e de fronteiras‟, e ainda, „exercer, com exclusividade, as funções de

polícia judiciária da União‟ (Art. 144 §1º, I a IV ). Vejam que a Polícia Judiciária da

União ou Polícia Federal está legalmente autorizada a realizar o ciclo completo de

polícia, dentro de sua esfera de atribuições, deixando nosso Constituinte a distorção

do seccionamento para as polícias estaduais.

Page 39: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

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Veja que a criação de uma única polícia no âmbito estadual não seria algo tão distante

assim, pois a Polícia Federal já atua realizando o ciclo completo de polícia. Na verdade, o que

realmente ocorre é falta de vontade política.

Para tentar adiar o processo de unificação, os opositores desse modelo criaram um

mecanismo denominado de „integração‟, na qual se buscou realizar uma aproximação entre as

Polícias Civis e Militares, isso se deu porque as autoridades já haviam percebido que existia

um distanciamento entre as duas forças estaduais.

Mas, como já era previsto, a integração não conseguiu atingir os seus objetivos e esse

modelo não prosperou, apenas causou efeitos contrários, pois aumentaram as disputas entre as

duas polícias.

Sobre o processo de integração, Rondon Filho (2003, p. 59), cita em seu trabalho o

posicionamento adotado por várias autoridades policiais no Congresso Nacional de Delegados

de Polícia Civil e Federal realizado em setembro de 2001 no Estado de Goiás:

„A criação de uma polícia única, de natureza civil, seria a solução preconizada para

sanear os problemas inerentes a segurança pública nos Estados, com a conseqüente

racionalização do custo do aparelho policial e uma maior eficiência dos serviços

prestados a sociedade. A integração pretendida atualmente implicaria na manutenção

da duplicidade de comando e de gastos, em prejuízo da necessária racionalizações de

custos e da eficiência dos serviços prestados à comunidade, apresentando-se

incompatível com os preceitos constitucionais.‟

Como se pode perceber, os próprios Delegados chegaram à conclusão que a integração

não seria o meio adequado para resolver os problemas de origem interna existentes na

segurança pública dos Estados. O processo de integração apresentava inúmeros defeitos,

sendo totalmente inadequado para a realidade brasileira. Esse modelo recebeu inúmeras

críticas, desde o seu início, pelos profissionais atuantes na área. Passados dez anos da

implantação do processo de integração, percebe-se que não ocorreu nenhuma melhoria no

sistema de segurança pública do país.

Portanto, defende-se a implantação da unificação, que será uma mudança mais profunda

e, certamente, trará bons resultados no campo da segurança interna. Para que possamos

implantar a unificação das polícias estaduais, o primeiro passo será realizar a desmilitarização

das Polícias Militares, pois este é um dos principais óbices na implantação do novo modelo

Page 40: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

39

policial. Sobre a desmilitarização nas forças estaduais, destaca Gouveia (2000 apud

FIGUEIREDO, 2009, p. 60):

Outrossim, desmilitarizar as PM do Brasil não se resume em apenas e tão-só

desuniformizá-las, não. É preciso renovar seus quadros, mormente dos que detêm

postos de comando, substituindo por aqueles que têm formação acadêmica, técnica,

profissional, doutrinária e jurídica dentro dos parâmetros e doutrina fundada nos

Direitos Humanos.

A despeito de ser totalmente favorável à desmilitarização das PM do Brasil -

entendendo-se esta como a desvinculação permanente da condição de força auxiliar

e reserva do Exército Brasileiro e, também, desgarrando-as da subordinação e dos

moldes das forças armadas e, principalmente, de sua formação doutrinária e

estrutura – para torná-la mais comunitária, humana e cidadã.

Nada contra as Forças Armadas, mas, é mister ressaltar que, a formação doutrinária

de emprego, preparação, adestramento e aperfeiçoamento de seus homens é no

sentido de combater, para vencer, destruir e matar ao inimigo – tendo sido esta a

doutrina empregada na PM. Desse modo, urge uma mudança fundamental na

doutrina de emprego e preparação das PM, enquanto reciclagem dos currículos e na

preparação, formação e aperfeiçoamento dos policiais militares, pois que esta há de

ser no sentido preservar e manter à ordem e segurança, tranqüilidade e incolumidade

públicas e dos cidadãos, nunca de combater ou eliminá-los, sem prejuízo da

repressão imediata ao incontinente ato delitual dentro da irrestrita legalidade, o uso

legal da força necessária.

Ou seja, urge redirecionar sua doutrina de emprego buscando, efetivamente, sempre

a serviço da sociedade, pela sociedade e com a sociedade e não só em defesa do

patrimônio e das instituições, mas principalmente em defesa do bem maior de

qualquer cidadão: a vida e a liberdade.

Desmilitarizada sim, mas devendo permanecer devidamente fardadas, uniformizadas

e regidas pelos perenes preceitos da hierarquia e disciplina, renovando-as,

modernizando-as e adequando-as aos princípios retores do Estado Democrático de

Direito, i.e., fundadas nos Direitos Humanos, como difusoras e protagonizadoras

destes, tornando-as forças defensoras e guardiãs do povo, pela sociedade e com a

comunidade, na preservação da ordem, segurança e incolumidade de todos os

cidadãos, e não só do patrimônio, das instituições e poderes constituídos, como

ainda o são.

Portanto, uma polícia deve e pode muito bem ser fardada, uniformizada e regida pela

hierarquia e disciplina e, necessariamente, não ser militar! É até mesmo

imprescindível que possua uniforme face à atividade de polícia ostensiva de

segurança e da ordem públicas, para ser identificada facilmente e de imediato pelo

cidadão, a quem deve proteger e garantir seus direitos.

Como se percebe, tem-se que, primeiramente, acabar com o militarismo existente no

âmbito da segurança pública, mas é importante manter os alicerces fundamentais de toda e

qualquer polícia que são a hierarquia e a disciplina.

Outro ponto abordado por Gouveia foi a continuidade do uso do fardamento. Concorda-

se plenamente com o seu raciocínio, pois com a unificação, o policiamento ostensivo

continuará existindo e deverá ser realizado por policiais fardados e com viaturas

caracterizadas.

Page 41: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

40

Deve-se destacar ainda que a adaptação ao novo modelo policial será muito difícil,

gerando inúmeros conflitos internos. Diante desse problema, Melim Junior (2002, p. 212),

entende que:

[...] Há probabilidades de conflitos iniciais entre os membros oriundos das duas

polícias anteriores, cuja duração dependerá de um processo de união bem

estruturado administrativa e operacionalmente respeitando os direitos adquiridos dos

policiais e cuidando para que não se beneficie preferencialmente os policiais de

nenhuma das polícias iniciais, nas atribuições das novas funções.

Entende-se que, a solução mais eficaz para eliminar esses conflitos será a realização de

políticas direcionadas à remuneração dos policiais, dando a oportunidade de escolha para eles

optarem em permanecer nos cargos atuais e respeitando os direitos adquiridos, contudo, não

lhes serão repassados as vantagens salariais referentes aos novos cargos. Por outro lado, além

da implantação dos subsídios devem-se premiar os policiais que optarem pelo novo modelo

policial. Importante salientar que o sucesso dessa técnica só será possível se o aumento

salarial for bastante atrativo.

O diferencial na nova Polícia Estadual será a qualificação do agente de segurança

pública e a sua alocação em funções compatíveis com o seu conhecimento técnico,

diferentemente do que acontece nos dias atuais na Polícia Militar, que coloca o policial para

atuar em qualquer área, não se importando com o seu nível de qualificação. Atualmente, as

transferências são realizadas como forma de punição (para locais considerados ruins ou

distantes) ou por influências políticas (para locais considerados bons e com cargos

gratificados).

Os órgãos policiais devem se adequar ao sistema democrático vigente, mas isso só

ocorrerá quando extirparmos os velhos costumes ditatoriais, principalmente aqueles

entranhados nas forças repressoras do Estado. Sobre o assunto, José Afonso da Silva (1997, p.

711) entende que:

[...] é preciso adequar a polícia às condições e exigências de uma sociedade

democrática, aperfeiçoando a formação profissional e orientando-a para a obediência

aos preceitos legais de respeito aos direitos do cidadão, independentemente, de sua

condição social.

Além de unificar as polícias, deve-se qualificar e remunerar melhor os agentes de

segurança, para que eles possam realizar um serviço de boa qualidade para a sociedade e

dentro dos ditames legais.

Page 42: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

41

Tem-se a plena convicção que se o Governo realizar somente ações voltadas para a

melhoria dos órgãos responsáveis pelo exercício da atividade de segurança pública, não irá

resolver por definitivo o problema da violência. Deve-se buscar, também, a integração dos

órgãos segurança com os campos sociais, ou seja, o governo deve aproximar a polícia da

sociedade através de programas sociais e educacionais, gerando oportunidades de qualificação

e emprego para os jovens brasileiros. Caso isso não ocorra, dificilmente conseguiremos

vencer o câncer disseminado no Brasil, conhecido como violência.

3.2 Situação dos Bombeiros Militares

Essa instituição, que é de fundamental importância para o Estado e para a sociedade,

não poderá ficar desamparada. Deve-se, através de estudos internos realizados por

profissionais da área e por estudiosos, buscar uma melhor estrutura para ser aplicada aos

Bombeiros estaduais. Espera-se também, que essa instituição deverá ter caráter civil, com a

criação de novos cargos e estruturado em carreira.

Melim Junior (2002, p. 217) entende que, além dos Bombeiros Estaduais, os municípios

devem criar seus próprios Corpos de Bombeiros, isso tornará ágil o atendimento das

ocorrências e diminuirá os gastos dos Estados, que não mais terão que manter uma unidade do

Corpo de Bombeiros em cada município. Sobre o assunto, o referido autor cita o art. 12 da

Proposta 151-A/95, de autoria do Deputado Federal Gonzaga Patriota, que cria o inciso XII

no art. 30 da Constituição Federal:

XII- criar e manter os Corpos de Bombeiros Municipais, destinados a colaborar

com os Corpos de Bombeiros Estaduais, mediante convênio, sob a coordenação,

ensino e fiscalização destes, na área de sua competência.

Concordamos com a criação de Corpos de Bombeiros Municipais, que atuariam em

conjunto com os Bombeiros Estaduais, diminuindo a demora no atendimento das ocorrências,

principalmente nos municípios mais afastados das capitais.

A PEC 432/09, de autoria do Deputado Federal Marcelo Itagiba e outros, em uma das

suas alterações na Constituição de 1988, cria o §10º no art. 144, dispondo sobre as

competências dos Bombeiros:

§10. O Corpo de Bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,

instituição permanente, de natureza civil, estruturada em carreiras, organizado com

base na hierarquia e na disciplina, dirigido por autoridade de bombeiro, escolhido

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pelo respectivo Governador, para um mandato de dois anos, permitida recondução,

destina-se à:

I - execução de atividades de defesa civil.

II – prevenção e a extinção de incêndios;

III - ações de busca e salvamento, decorrentes de sinistros;

IV - serviços de atendimento ao trauma e emergências pré-hospitalares;

V – execução das perícias de incêndio, após a perícia criminal.

Com certeza, essas competências devem ser aplicadas aos novos Corpos de Bombeiros,

que deverão ser vinculados às Secretarias de Defesa Civil dos Estados.

Como o nosso tema é específico da atividade policial, apresentamos apenas esses breves

comentários a cerca das mudanças que poderão ser implementadas nos Corpos de Bombeiros.

3.3 Propostas de Emenda a Constituição relacionadas com a unificação

O tema unificação não é tão recente quanto se parece, pois busca-se a reorganização do

modelo de segurança pública desde o início da década, conforme relata Lima (2010, p. 34):

Desde o início da década, a Comissão Mista de Segurança do Congresso Nacional,

acolheu proposta da Deputada Federal Zulaiê Cobra Ribeiro, dispondo sobre uma

unificação policial e separação dos Corpos de Bombeiros a ser executado em oito

anos com a extinção das Polícias Militares.

Apesar de antigas discussões sobre o tema, as propostas de unificação somente

ganharam força no Congresso Nacional, após um aumento alarmante dos índices de violência

constatados nos últimos anos. Sobre esse fato, explica Lima (2010, p.34):

A organização da Segurança Pública é discutida desde o ano de 1988, disciplinando-

se o parágrafo sétimo do artigo cento e quarenta e quatro da Constituição Federal,

porém o assunto se arrastou no Congresso, ganhando força, novamente, com o

aumento da criminalidade na última década.

Existem várias Propostas de Emenda a Constituição (PEC), algumas propõem a

unificação das polícias e outras a extinção dos atuais modelos policiais existentes e a criação

de uma nova estrutura policial. Pode-se citar como exemplos: a) PEC 151/1995; b) PEC

181/2003; c) PEC 143/2007; d) PEC 430/2009; e) PEC 432/2009.

Tem-se como bases para o desenvolvimento do presente estudo a Proposta de Emenda

Constitucional de nº 430/2009, de autoria do Deputado Celso Russomano, que tem como

apenso a Proposta de Emenda Constitucional de nº 432/2009, de autoria do Deputado Marcelo

Itajiba e outros.

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3.4 Estrutura da Polícia Estadual

Sabe-se que o nascimento de uma nova polícia nos Estados e no Distrito Federal e

Territórios não é tão simples como se parece, sendo necessário um processo legislativo que

exige a aprovação de três quinto dos Estados da Federação. Sobre o processo legislativo,

Lima (2010, p. 36) explica que:

Contudo, para que a unificação se concretize, é necessária uma Emenda

Constitucional com novas estruturações, funções, composições e, principalmente,

com uma nova instituição que surgirá para compor os demais órgãos da Segurança

Pública.

A Lei que disciplinará essa transição deverá abranger desde a estrutura da nova polícia

até o prazo de adaptação para os agentes e para a sociedade. Diante desse desafio, Magalhães

(2004, p.179), afirma que:

A nova organização policial terá que adquirir personalidade e características

próprias e, isto só será possível com o passar dos anos. Será difícil no início, a

convivência entre os componentes das extintas polícias. Os pontos de choque são

inúmeros de demorada e difícil conciliação. Talvez, só se consiga realmente uma

nova polícia quando os quadros das remanescentes tiverem se extinguido pela

aposentadoria.

Com relação à estrutura e o modo de funcionamento da nova Polícia Estadual, Bicudo

(2000, p. 97, on line apud LIMA, 2010, p. 36) entende o seguinte:

A nova polícia deverá ser hierarquizada e terá disciplina, aliás como acontece com o

funcionamento em geral. Terá um ramo uniformizado para as tarefas de

policiamento ostensivo e preventivo e outro, em trajes civis, para os trabalhos de

investigação criminal. Terá um grupo treinado para, sem apelar para a violência,

atuar como força de dissuasão de distúrbios ocorrentes. Será uma polícia que,

ademais, deverá conhecer as pessoas às quais atende e ser por elas reconhecida.

Enfim, uma polícia democrática, voltada para os reais interesses do povo no que

respeita á segurança, para que esse povo tão sofrido possa trabalhar e ter lazer, ir à

escola, reunir-se e participar politicamente do processo de seu aperfeiçoamento.

Também, defende-se uma polícia com as características descritas por Bicudo, devendo

ela ter um caráter eminentemente civil e atuando de forma ostensiva e investigativa, destinada

a garantir a paz e o bom convívio social, trabalhando de forma eficiente e dentro dos ditames

constitucionais. Sobre o assunto dispõe o art. 1º da PEC 430/09, que altera o art. 144, §4º da

CF/88:

§ 4º. A Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, instituída por lei

como órgão único em cada ente federativo, permanente, essencial à Justiça, de

atividade integrada de prevenção e repressão à infração penal, de natureza civil,

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organizada com base na hierarquia e disciplina e estruturada em carreiras, destina-se,

privativamente, ressalvada a competência da União, à:

I – preservação da ordem pública;

II – exercer a atividade de polícia ostensiva e preventiva;

III – exercer a atividade de investigação criminal e de polícia judiciária, ressalvada a

competência da União e as exceções previstas em lei.

O posicionamento é totalmente favorável a esse dispositivo, que consagra como pilares

da nova instituição policial a hierarquia e a disciplina. Verifica-se nos incisos que a nova

polícia irá realizar o ciclo completo no desenvolvimento da atividade policial, sendo esse

modelo o mais adequado para a realidade brasileira.

O art. 2º da PEC 430/09 disciplina a mudança dos nomes das Polícias Civil e Militar

dos Estados e as do Distrito Federal, para Polícia do Estado e Polícia do Distrito Federal e

Territórios. O mesmo artigo descreve, também como irá ocorrer essa transição, in verbis:

Art. 2º. As Polícias Civil e Militar dos Estados e as do Distrito Federal passam a ser

denominadas Polícia do Estado e Polícia do Distrito Federal e Territórios.

§ 1º. A Direção Geral da Polícia dos Estados e a do Distrito Federal e Territórios

será exercida, pelo período de dois anos, alternadamente, por Delegado de Polícia e

Oficial da Polícia Militar remanescentes das extintas instituições, de cargo de nível

hierárquico mais elevado, até que um Delegado de Polícia formado pelo novo

sistema previsto nesta emenda, reúna condições para assumir e exercer a direção da

entidade no biênio estabelecido, obedecida, alternadamente, a sistemática disposta

neste artigo.

§ 2º. Ocupado o cargo de Delegado Geral de Polícia por integrante oriundo da

extinta Policia Civil, o cargo de Delegado Geral Adjunto de Polícia será ocupado

por Oficial oriundo da extinta Polícia Militar, revezamento que será observado na

alternância prevista.

Art. 3º. Garantida a irredutibilidade de vencimentos ou subsídios, lei disporá sobre

as transformações dos cargos das polícias civis, militares e dos corpos de bombeiros

militares dos Estados e do Distrito Federal, mantida, na nova situação, a

correspondência entre ativos, inativos e pensionistas.

Parágrafo único. Na composição da Polícia dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios é assegurado o direito de opção de permanecer no quadro em extinção,

garantida a irredutibilidade de vencimentos ou subsídios.

Também, concorda-se com a implantação dessas regras que serão adotadas durante o

período de transição das extintas Polícias Civis e Militares para a nova Polícia Estadual.

Como já se afirmou em capítulos pretéritos, para que se efetive o disposto no Parágrafo único

do art. 3º da PEC 430/09, deve-se implantar um aumento salarial bastante atrativo como

forma de incentivo para que os policiais aceitem a transferência para a nova instituição.

O art. 5º da PEC 430/2009 trata sobre a estrutura da nova polícia, descrevendo os cargos

e as funções, in verbis:

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Art. 5º. A estrutura funcional básica das Polícias dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios será constituída pelas carreiras de Delegado de Polícia, Perito de Polícia,

Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia e de Policial, cujos ingressos dependem

de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos

Advogados do Brasil.

Discorda-se desse modelo adotado, devendo a nova estrutura funcionar apenas com os

cargos de Delegado de Polícia ou de Perícia, Agentes de Polícia e Peritos de Polícia. Defende-

se a exclusão do cargo de Escrivão porque se entende que essa função poderá ser facilmente

realizada por um Agente de Polícia, bastando treiná-lo para exercer essa função. Outro fator

negativo da existência do cargo de Escrivão é que esse policial somente poderá atuar

exercendo aquela função específica, não podendo realizar as funções de policiamento

ostensivo ou investigativo, com isso a sociedade será prejudicada com a falta de policiais nas

ruas.

Defende-se também que os cargos de Delegado de Polícia ou Delegado de Perícia,

somente poderão ser ocupados por Agente Policial ou Perito, respectivamente. Os concursos

somente seriam internos, não havendo a possibilidade de ingresso diretamente para o cargo de

Delegado, essa mudança teria como finalidade qualificar melhor a pessoa do Delegado que

conheceria o funcionamento da atividade policial desde a sua base. Essa realização de

concurso interno para Delegado traria boas perspectivas na instituição, pois motivaria os

Agentes e Peritos a se qualificaram e terem esperanças de ascensão profissional.

A carreira de Delegado seguiria a mesma forma estabelecida no §1º do art.6º da PEC

430/09:

Art. 6º. Lei disporá sobre a estrutura funcional das Polícias dos Estados e do Distrito

Federal e Territórios, observada a sua constituição básica prevista nesta emenda.

§ 1º. A Carreira de Delegado de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso

público, exigido diploma de curso superior de bacharel em direito, é composta dos

seguintes cargos:

I – Delegado de Polícia de Entrância Especial;

II – Delegado de Polícia de Segunda Entrância;

III – Delegado de Polícia de Primeira Entrância;

IV – Delegado de Polícia Substituto.

A única divergência existente entre esse trabalho científico e o modelo estrutural

apresentado no §1º do art.6º da Proposta de Emenda a Constituição nº 430/09, seria a criação

do cargo de Delegado de Perícia, devendo ele seguir a mesma carreira do Delegado de

Polícia.

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As carreiras de Agente de Polícia e de Perito devem seguir a mesma forma elencada no

§3º do art.6º da Proposta 430/2009, nestes termos:

§ 3º. A Carreira de Investigador de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante

concurso público, na forma da Lei, é composta dos seguintes cargos:

I – Investigador de Polícia de Classe Especial;

II – Investigador de Polícia de Primeira Classe;

III – Investigador de Polícia de Segunda Classe;

IV – Investigador de Polícia de Terceira Classe.

Neste artigo, discorda-se apenas da nomenclatura utilizada, pois, entendemos que o

cargo de Investigador de Polícia deve ser substituído por Agente de Polícia, devendo também,

e ser acrescido o cargo de Perito de Polícia.

O tempo máximo para promoção dos policiais será de cinco anos, não devendo esse

lapso temporal ser desrespeitado pela administração. Dessa forma, os policiais irão

desempenhar as suas funções motivados.

A Proposta de Emenda Constitucional nº 430/2009, em seu art.6º e parágrafos, cria

vários cargos na estrutura policial, dentre eles: Delegado de Polícia; Investigador de Polícia;

Escrivão de Polícia; e Policial. Acha-se inviável esse grande número de cargos existentes na

nova polícia, isso acarreta um gasto maior, dificulta o controle do efetivo, e ainda irá

prejudicar o sistema de promoção funcional dos policiais. Deve-se existir tão somente os

cargos de Delegado de Polícia ou de Perícia, Agente Policial e Perito.

Para que o Agente ou Perito chegue a galgar as funções de Delegado de Polícia ou

Delegado de Perícia, respectivamente, deve ter no mínimo três anos no exercício da atividade

policial ou pericial, devendo, ainda, ser bacharel em Direito e ser aprovado em concurso

interno de provas e títulos, que será realizado com a participação da Ordem dos Advogados

do Brasil (OAB). O cargo de Delegado deve ser reconhecido como carreira jurídica.

Esse modelo aplicado na estruturação dos cargos da Polícia Estadual tem como

finalidades fazer com que o Delegado, que já foi Agente, tenha conhecimento do

funcionamento da atividade policial desde a sua base. Isso também faria com que o policial

permanecesse na instituição.

O §1º do art.5º da PEC 430/09 determina que as atividades policiais sejam formalizadas

através do Inquérito Policial, in verbis:

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§ 1º. As atividades de investigação criminal e de polícia judiciária serão

formalizadas por meio de inquérito policial, presidido pelo Delegado de Polícia,

auxiliado pelo Escrivão de Polícia e pelo Investigador de Polícia.

Nesse parágrafo, discorda-se apenas das atividades executadas pelo Escrivão, conforme

os motivos já apresentados. Portanto, o Inquérito Policial continuará como peça informativa

ao Ministério Público e será presidido pelo Delegado de Polícia.

Já com relação às atividades periciais, estas serão executadas pelos Peritos Policiais,

sobre as funções atribuídas ao cargo, dispõe o § 3º do mesmo artigo: “§ 3º. A atividade de

perícias integra a Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, com autonomia

técnico-funcional, subordinada ao Delegado de Polícia.”

A única observação constante nesse parágrafo, seria a subordinação dos Peritos ao

Delegado de Perícia.

Deve-se criar a figura do Delegado de Perícia, pois ele irá exercer atividades de gestão

nos órgãos periciais, como também deverá presidir o laudo pericial, inclusive, comparecendo,

quando necessário, aos locais de crimes violentos e coordenando o serviço praticado pelo

Perito. Defende-se a criação desse novo cargo, porque se percebeu, ao longo do nosso

exercício na atividade policial, que alguns Peritos agem de forma irresponsável não

comparecendo aos locais de crime, e quando aparecem já se tem passado várias horas do

cometimento do crime. Esse tipo de comportamento causa enormes prejuízos na execução das

atividades policias e ainda gera indignação aos parentes das vítimas, que presenciam o corpo

do seu ente querido passar várias horas para ser recolhido ao IML. Isso somente acontece

porque os Peritos, na maioria dos Estados, são coordenados por outro Perito que não

desempenha corretamente as funções de chefia.

Conforme disposição do §4º do mesmo artigo, as Polícias serão acompanhas pelo

Ministério da Justiça, mas serão subordinadas aos Governadores dos Estados.

Com relação à Direção Geral das polícias, serão exercidas por um Delegado Geral de

última classe e com mais de trinta e cinco anos, que será escolhido pelo Governador de cada

Estado e do Distrito Federal e Territórios. Conforme disciplina o §5º do art.5º da PEC 430/09,

in verbis:

§ 5º. Observado o disposto no art. 2º, o Delegado Geral da Polícia dos Estados e do

Distrito Federal e Territórios será escolhido pelo respectivo Governador, na forma

da lei, dentre os integrantes da última classe da carreira de Delegado de Polícia, com

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mais de trinta e cinco anos de idade, após a aprovação do seu nome pela maioria

absoluta dos membros da respectiva Assembléia ou Câmara Legislativa, para

mandato de dois anos, admitida recondução.

Como já se tem alguma experiência no campo policial, propõe-se que a Polícia Estadual

seja dividida em Departamentos com atribuições ostensivas e investigativas, funcionando da

seguinte forma: Departamento de Polícia de Trânsito, Departamento de Investigação,

Departamento de Polícia Especializada e de Choque, Departamento de Policiamento

Ostensivo e Comunitário, Departamento de Polícia de Fronteiras, Departamento de Proteção

Ambiental, Departamento de Crimes Especiais, Departamento de Polícia Técnico-Científica,

Departamento de Comunicação e Controle e o Departamento de Operações Aéreas. Devem

existir, também, alguns Departamentos com funções de caráter administrativo, como: o

Departamento de Administração e o Departamento de Formação e Qualificação Policial,

podendo ser criado mais algum outro Departamento de acordo com as necessidades que irão

surgir.

O Departamento de Polícia de Trânsito abrigaria tanto o policiamento ostensivo de

fiscalização e patrulhamento das rodovias estaduais, como também a Delegacia de Roubos e

Furtos de Veículos e Cargas, este último setor trabalharia tanto de forma caracterizada como

descaracterizada.

O Departamento de Investigação iria abrigar as Delegacias de Homicídios, de

Narcóticos, de Crimes Virtuais, de Defraudações e Falsificação, de Levantamento de

Informações, de Combate a Sequestros, de Roubos e Furtos e a de Investigação Interna.

O Departamento de Polícia Especializada e de Choque seria composto por órgãos

especializados, como por exemplo: o GATE; o RAIO; o COTAM; a Cavalaria; o Canil; e o

Policiamento Interno de Estádios e de Eventos.

O Departamento de Policiamento Ostensivo e Comunitário seria o responsável pelo

patrulhamento nos bairros, nas favelas e nas escolas, interagindo com a comunidade e

desenvolvendo atividades sociais e culturais. Esse Departamento deveria funcionar com

núcleos de mediação de conflitos, de acompanhamento psicológico e social, de qualificação

profissional, de atenção ao idoso, de práticas esportivas e de recuperação de viciados. Os

policiais que iriam trabalhar aqui, além de passarem por um treinamento adequado, deveriam

ter formação acadêmica nas áreas de ciências sociais ou jurídicas.

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Já o Departamento de Polícia de Fronteiras, realizaria o policiamento ostensivo

montando barreiras de fiscalização, como também atuaria de forma descaracterizada

investigando a entrada de criminosos, de mercadorias ilícitas, de armas e de drogas nas

divisas dos Estados. Esse Departamento iria agir de forma integrada com a Polícia Federal, a

Polícia Rodoviária Federal, a Receita Federal e com as Secretarias Fazendárias dos Estados.

O Departamento de Proteção Ambiental iria atuar de forma caracterizada, realizando a

proteção ao meio-ambiente, prevenindo a prática de crimes ambientais e realizando operações

de forma conjunta com o IBAMA e com as Secretarias Estaduais e Municipais responsáveis

pela fiscalização ambiental. Podendo também, realizar investigações com um setor

descaracterizado.

O Departamento de Crimes Especiais seria composto pelas Delegacias de Defesa da

Mulher, de Defesa do Idoso, de Proteção a Criança e ao Adolescente, de Exploração Sexual e

Tráfico de Pessoas, de Proteção ao Turista e a de Promoção dos Direitos Humanos. Aqui,

preferencialmente, haveria uma atuação investigativa e descaracterizada, podendo existir

equipes ostensivas.

O Departamento de Polícia Técnico-Científica teria como função auxiliar todos os

outros Departamentos, ajudando na elucidação dos crimes e fornecendo provas de métodos

científicos. Ele seria composto por Delegados de Perícia e por Peritos de Polícia.

No Departamento de Controle e Comunicação, seriam realizadas as mesmas ações já

desenvolvidas por várias secretarias de segurança no Brasil através dos órgãos denominados

CIOPS ou COPOM, ou seja, são as centrais de emergência 190. Esse Departamento abrigaria

vários órgãos como: o SAMU; os Bombeiros Civis; as Guardas Municipais; as Secretarias

Estaduais e Municipais de Trânsito; e a Polícia Rodoviária Federal. Esse trabalho em conjunto

se efetivaria mediante convênio entre os Poderes Federal, Estaduais e Municipais. Esse

Departamento, também, seria responsável pelo serviço de Relações Públicas da Polícia e

pelos estudos estatísticos relacionados à violência.

O Departamento de Operações Aéreas que realizaria o policiamento ostensivo em

helicópteros, como também, realizaria ações voltadas ao resgate de vítimas.

O Departamento de Administração seria responsável pelo controle dos quadros e das

atribuições financeiras da Polícia Estadual. Defende-se que as atividades administrativas

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(atividades meio) não sejam realizadas por policiais, mas sim por funcionários públicos das

Secretarias de Administração dos Estados ou por funcionários terceirizados.

E finalmente, o Departamento de Formação e Qualificação que será responsável pela

capacitação e atualização dos policiais estaduais. Será o órgão responsável pela direção das

Academias Estaduais de Polícia.

Todos esses Departamentos serão dirigidos por Delegados e compostos por Agentes de

Polícia, somente o Departamento de Polícia Técnico-Científica será Dirigido por Delegado de

Perícia e composto por Peritos de Polícia.

Com isso, após uma profunda análise ao tema proposto, finaliza-se a presente

monografia na esperança da implantação do processo de unificação das Polícias Civis e

Militares o mais breve possível. Espera-se que a nossa contribuição tenha sido de grande valia

para os leitores e profissionais da área de segurança pública.

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CONCLUSÃO

O presente estudo buscou demonstrar aos leitores que, o atual sistema de segurança

encontra-se em crise, tendo isso contribuído de forma significativa no aumento da violência

no Brasil.

Reconheceu-se também, que o problema da violência não é tão simples como muitos

pensam, na realidade ela é consequência da junção de vários fatores sociais e culturais.

Diante da atual situação, resolveu-se expor um novo modelo policial com a finalidade

de fazer com que os órgãos competentes pelo exercício da segurança pública acompanhem às

necessidades da sociedade moderna, atuando de forma completa, realizando tanto as

atividades preventivas como as investigativas.

Além de inúmeros benefícios, a unificação acabará com as disputas existentes entre os

membros das duas polícias, fazendo com que haja uma continuidade na apuração dos crimes.

Isso irá melhorar a qualidade do serviço público prestado.

Apesar de já existirem Propostas de Emenda a Constituição que tratam sobre o assunto,

sabe-se que essa mudança não está tão próxima, pois além da lentidão no processo legislativo

existe muita resistência por parte de membros de ambas as instituições policiais estaduais.

Conclui-se que, para que ocorra a eliminação total da violência no Brasil, além de

mudanças na atual estrutura do sistema de segurança pública no Brasil, deve-se adotar

também medidas que incentivem a melhoria da educação e proporcionem o desenvolvimento

social. Caso isso não ocorra, qualquer medida adotada terá apenas efeitos paliativos.

Espera-se que este trabalho venha tornar público os problemas internos existentes nas

organizações policiais e possa contribuir de alguma forma no processo de melhoria do modelo

de segurança pública no Brasil, tornando o serviço policial mais eficiente e simplificado.

Page 53: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

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Finaliza-se com a expectativa de que esse trabalho acadêmico possa contribuir de

alguma forma no processo de enfrentamento à violência, através das sugestões apresentadas.

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Page 58: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

APÊNDICE

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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ

Curso de Direito

POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO

MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA

PÚBLICA

ALEXSANDRO DE CASTRO LIMA

Matr. 0622431-8

ORIENTADORES: José Armando da Costa Júnior (de conteúdo)

Ivanilda Sousa da Silva (de metodologia)

Fortaleza-CE

Novembro, 2010

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1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Quando falamos em segurança, somos levados a pensar no aumento alarmante de uma

série de crimes, tais como: homicídios, roubos, furtos, tráfico de entorpecentes e mais alguns

outros crimes que se fortaleceram por conta da ausência do Estado, que durante décadas não

deu a devida atenção para a área da Segurança Pública e, agora, sofremos as consequências

desse descaso.

Os atos criminalizados na norma penal, geralmente, têm origens na realidade social do

país. A violência se origina pela falta de investimentos na educação, a falta de condições

dignas de moradia, a má qualificação de mão-de-obra e o alto índice de desemprego, outros

fatores que contribuem para o descontrole na área da segurança pública são, a carência de

policiais, a falta de condições de trabalho, a má remuneração paga aos agentes de segurança

pública e, ainda, um sistema prisional que não consegue recuperar aqueles indivíduos que não

se intimidaram com a função preventiva do Direito Criminal.

O aumento da violência é bastante discutido nas Academias na ânsia de se buscar uma

solução para o problema. Muitos defendem que a solução está na diminuição da maioridade

penal, outros afirmam que deveríamos adotar a pena de morte e a grande maioria defende uma

reformulação nos meios sociais, educacionais e melhores condições de trabalho para os

policiais e para os servidores integrantes do Poder Judiciário.

Enquanto não conseguimos chegar a uma solução eficaz, o Estado fica tratando o

problema com meios paliativos, principalmente, com o uso da força policial. Mas, nem de

forma genérica, esse método tem surtido eficácia, pois, os modelos de polícia utilizados na

contemporaneidade estão ultrapassados, não se consegue mais evitar os crimes e quando eles

ocorrem os responsáveis não são identificados.

Além de investimentos nas áreas sociais, será necessário se mudar a forma de atuação

das forças policiais, pois, não se admite que a Constituição de 1988, em seu Art.144

contemple uma série de instituições que devam zelar pela ordem pública, a incolumidade das

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pessoas e fornecer elementos para que a justiça possa punir os infratores, mas que, na

realidade essas funções apenas estão estampadas no papel e na prática não surtem nenhum

efeito, pois, o atual modelo adotado na Constituição não se adéqua mais a realidade em que

vivemos, conforme será exposto ao longo do projeto.

Polícia é um vocábulo de origem grega politeia, e passou para o latim politia, com o

sentido de governo de uma cidade, administração ou forma de governo. No entanto, com o

passar do tempo, assumiu um sentido particular, passando a representar uma ação de exercício

da tutela da ordem jurídica, realizada pelo governo e com o fim de assegurar a proteção da

sociedade contra atos ilegais e contrários a ordem pública.

Inicialmente, a atividade policial se confundia com a atividade judicial, isso se dava

porque os magistrados executavam as próprias decisões que exaravam. Somente em 1667, na

França começou-se a ser adotada uma divisão de funções.

Com a Revolução Francesa e, posteriormente, com a Lei de 3 do Brumário, os

princípios norteadores da normas policiais atuais vêm a lume, houve a separação em

atividades de polícia e atividades de justiça, sendo acentuada as características administrativa

e judiciária, respectivamente.

Os modelos policiais adotados nos Estados brasileiros em que existem duas polícias no

mesmo espaço geográfico são os mesmos adotados na época do Império, em que existiam

constantes disputas por autoridade política, entre a elite da política nacional e as elites locais.

Somente com o as províncias se estabeleceu um equilíbrio, pois, foram organizadas as

eleições, a tributação e as principais forças policiais e competências judiciais.

As decisões ficariam a cargo dos presidentes de província (poder central), com

influência dos proprietários rurais (poderes locais), mas, desde que organizados no plano

provincial, o que foi possível por meio da formação das clientelas. Na estrutura clientelista,

faz todo sentido a transferência de poderes locais oficiais a chefes políticos privados. O

controle das Polícias Civis pelos “coronéis” locais serviria para a formação das clientelas.

Entretanto, devido à situação de disputa entre centro e periferia, a capacidade de usar de força

não poderia implicar a de insubordinação política.

A força policial paramilitar (Guarda Nacional) subordinava-se sob os auspícios do

Poder Central e se destinava ao combate militar propriamente dito, e não apenas ao controle

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de distúrbios civis. As Polícias Militares eram uma imitação das forças de guerra, pois,

tinham a mesma organização e muitos dos Comandantes das Polícias Militares eram

recrutados do Exército.

Em 1841 foi editada a Lei nº261, que criou os Chefes de Polícia no Rio de Janeiro em

cada Província. Houve uma reforma processual penal, que atribuiu várias competências aos

Delegados, tais como a realização de investigação, prisão, formação de culpa e outras funções

que, anteriormente, eram realizadas pelos Juízes de Paz. Este era escolhido pelo Poder

Municipal, já o Delegado passou a ser nomeado pelo Poder Central com a finalidade principal

de obrigar os senhores locais a compactuarem com as suas idéias.

Em 31 de janeiro de 1842, o Regulamento 120 definiu as competências das Polícias,

atribuía à Polícia Administrativa exercer a atividade preventiva, inibindo a prática de delitos e

mantendo a paz pública. Já à Polícia Judiciária, cabia realizar o corpo de delito, prender os

culpados, expedir mandando de busca e apreensão e, até mesmo, julgar determinados crimes

cuja a pena não ultrapassasse a prisão, degredo e desterro de até seis meses. Ambas as

Polícias eram subordinadas ao Ministro da Justiça.

Em 20 de setembro de 1871, com a Lei n.º 2033, regulamentada pelo Decreto n.º 4824,

de 22 de novembro do mesmo ano, realizou a reforma processual penal que retirou dos

delegados as atribuições judiciais, mas manteve a Polícia Civil ligada ao processo penal, por

meio do mecanismo do inquérito policial. Esse mecanismo funcionou como um filtro e

impediu que certas situações chegassem ao Judiciário.

Em 1934, a Constituição declara as Polícias Militares como forças auxiliares do

Exército, mas, essa subordinação tinha a finalidade de controlar o poderio bélico das forças

públicas, impondo um controle coercitivo por parte do próprio Exército Nacional.

Atualmente, ainda, adotamos no Brasil um sistema policial dicotômico: duas polícias de

ciclo incompleto. Dividiu as etapas da atividade policial em dois ramos, estabelecendo duas

(meio) polícias da seguinte forma: a Polícia Militar (polícia ostensiva) ficou responsável pelo

“antes” e pelo “durante”, ou seja, mostra-se presente para evitar a prática de infrações e

garantir a ordem pública e à Polícia Civil (polícia judiciária) coube competência sobre o

“depois”, atuando quando ocorreu a infração que não pôde ser evitada, apurando-lhe a autoria

e coletando elementos necessário para a aplicação da sanção penal.

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Como se vê, o modelo ainda adotado por nós é bem antigo e com características que

atendiam às necessidades da época. Temos como consequência desse modelo ultrapassado,

uma segurança pública ineficiente, que nem previne a ação delituosa, como também, não

consegue identificar os autores dos crimes perpetrados.

Necessário se faz, portanto, que alguma mudança seja feita o mais breve possível,

primeiro por uma necessidade, pois, o índice de violência no país está alarmante, e também,

porque o Brasil irá sediar eventos internacionais como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de

2016.

Face ao exposto, buscar-se-á desenvolver pesquisa monográfica que responda aos

seguintes questionamentos:

1 O que deve ser feito para realizar o controle da violência?

2 Quais mudanças devem ser implementadas nas polícias estaduais?

3 Quais serão os benefícios da mudança do atual modelo policial brasileiro?

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2 JUSTIFICATIVA

Este trabalho irá abordar a unificação das polícias estaduais brasileiras, civis e

militares, mostrando que, juntamente, com ações voltadas no âmbito social, poderemos

minimizar o aumento da violência e fazer com que o trabalho policial seja eficaz.

Vivemos numa sociedade em que a vida foi banalizada, as drogas invadiram os lares

das pessoas e os bons costumes foram esquecidos, a família que é a base do Estado está

desagregada. O crime organizado tomou o lugar do Poder Público, ocupou os locais

esquecidos, recrutou os jovens para prestarem os serviços ilícitos. Em certos locais, os

aparelhos sociais e repressores do Estado não têm acesso, pois, esses locais são dominados

pelos criminosos, e tudo isso é agravado pelo aumento desordenado da população.

Estudos realizados não só pela ONU mas, também, por outras entidades mostram

claramente que o atual sistema de segurança pública no Brasil não consegue conter o aumento

da violência. Dentre 84 países, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial da

violência, com a média de 27 homicídios por 100.000 habitantes. Essas taxas são 30 ou 40

vezes superiores às de países considerados desenvolvidos. No Brasil ocorrem cerca de 100

mortes diárias por armas de fogo.

Essa guerra civil tem como pilares o alto índice de desigualdades social e econômica,

o descontrolado aumento da população, o grande volume de armas ilegais e a ineficiência por

parte das forças policiais. As maiores médias nacionais estão concentradas nos estados do Rio

de Janeiro e de São Paulo. Isso demonstra a falência do atual sistema de segurança, em que a

criminalidade vence a maioria dos combates, causando o descrédito da sociedade nas

instituições públicas.

O Governo Federal preocupado com a atual situação criou uma Força Nacional de

Segurança e o lançou o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci),

mas eles apenas criaram um efeito midiático e ainda não conseguiram reverter o sentimento

de insegurança da maioria da população brasileira.

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De uma forma mais específica, procuraremos expressar os problemas existentes entre

as duas instituições imbuídas em realizar o serviço de segurança pública nos Estados da

Federação, as suas consequências e qual a solução para a eliminação desse conflito diário

existente entre as polícias, que é silencioso e que se restringe aos ambientes internos dos

quartéis e das delegacias, mas, que causam um enorme prejuízo à sociedade. Iremos também,

tentar solidarizar as autoridades com relação às condições de trabalho e de vida daqueles que

zelam pela segurança de um dos elementos do Estado que é o povo.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

O tema é bastante atual e acabou surgindo por conta da ineficácia do atual modelo

policial adotado. Por se tratar de um tema novo, há uma escassez de obras que tratam do

assunto, estando esse projeto baseado em experiências profissionais e artigos científicos.

O Ministério da Justiça preocupado com o descontrole da violência, criou a pouco mais

de três anos o Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (PRONASCI), que tem

como finalidades realizar a promoção dos direitos humanos, intensificando uma cultura de

paz, de apoio ao desarmamento e de combate sistemático aos preconceitos de gênero, étnico,

racial, geracional, de orientação sexual e de diversidade cultural. Sem sombra de dúvidas, este

é um excelente programa, pois, engloba tanto ações voltadas para a repressão, como também,

atividades que buscam resolver os problemas sociais.

Como se vê esse projeto ataca a criminalidade em seus dois extremos, tanto na

prevenção como na repressão, no primeiro há um trabalho social com os projetos voltados

para o desenvolvimento e a valorização de comunidades consideradas violentas baseando-se

numa cultura de paz, mas também, atua com ações enérgicas e com investimentos em

equipamentos que combatam as atividades criminosas.

A União percebeu que as ações voltadas para a área da segurança pública, não devem

ser criadas somente por um órgão central, devendo haver a participação tanto da sociedade

civil, como também, dos profissionais que atuam na área. Conforme afirmou Regina Miki

(2009, on line), coordenadora geral da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública: “é um

marco histórico que vai transformar as propostas de toda a sociedade em uma política de

Estado e não mais de governo”.

Durante o ano de 2008, o governo federal em parceria com os governos estaduais e

municipais, realizaram várias conferências com o fim de buscarem informações para a

implantação de um projeto de segurança pública moderno e eficiente. Esse processo durou

nove meses sendo realizadas 1.140 conferências livres em 514 cidades, 266 conferências

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municipais e 27 estaduais, sendo gerado um documento que reuniu 26 princípios e 364

diretrizes considerados prioritários nas etapas preparatórias realizadas em todo o país. A

discussão envolveu mais de meio milhão de brasileiros.

No dia 30 de agosto de 2008, foi finalizado esse ciclo de debates e estudos com a

realização do 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg), que uniu as propostas

sugeridas pelos estados e municípios, e traçou 10 princípios e 40 diretrizes, que servirão de

base para a definição de políticas públicas na área da segurança. Dentre as mais votadas estão:

4. 2.6 A - Estruturar os órgãos policiais federais e estaduais para que atuem em ciclo

completo de polícia, delimitando competências para cada instituição de acordo com

a gravidade do delito sem prejuízo de suas atribuições específicas. (868 votos)

12.2.19 A – Realizar a transição da segurança pública para atividade eminentemente

civil; desmilitarizar as polícias; desvincular a polícia e corpos de bombeiros das

forças armadas; rever regulamentos e procedimentos disciplinares; garantir livre

associação sindical, direito de greve e filiação político-partidária; criar código de

ética único, respeitando a hierarquia, a disciplina e os direitos humanos; submeter

irregularidades dos profissionais militares à justiça comum. (508 votos)

Tantos os profissionais que atuam na área como a sociedade, perceberam que a atuação

da polícia em ciclo completo e a reformulação do modelo policial adotado atualmente, são

essenciais para a melhoria da segurança pública.

Atualmente, a Constituição Federal elenca uma série de instituições que tem o fim de

exercerem a atividade de segurança pública no Brasil, vejamos o que preceitua o artigo 144:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,

é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Sendo as três primeiras instituições ligadas a União, já as três últimas atuam como

forças estaduais. No mesmo artigo, em seus parágrafos 4º e 5º, a Carta Magna, descreve as

competências das Polícias Civil e Militar, a primeira realiza a investigação dos delitos

ocorridos, tarefa de polícia judiciária, pois atua, repressivamente, após o cometimento do

delito, devendo desvendar a autoria delitiva e sua materialidade. Já a PM exerce o

policiamento ostensivo com o fim de garantir a incolumidade das pessoas e a ordem pública,

ela atua de forma preventiva, buscando evitar à prática de crimes.

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A CF/88 em seu parágrafo 6º do artigo 144, de forma equivocada, repetiu o texto da

Constituição de 1934 e vinculou a Polícia Militar e os Bombeiros ao Exército, colocando-os

como forças auxiliares. Com isso, alguns que interpretam esse parágrafo de forma gramatical,

afirmam haver subordinação dos órgãos responsáveis pela segurança pública as forças

militares nacionais. Mas, essa interpretação é totalmente equivocada, pois, como vimos na

parte histórica da criação das polícias, essa inserção no texto da Constituição de 1934, tinha a

finalidade de fazer com que a União controlasse o poderio bélico das forças públicas.

Essa vinculação não tem mais nenhum sentido, pois, o controle de armas no Brasil

atualmente é realizado pelo próprio Exército através do SIGMA (Sistema de Gerenciamento

Militar de Armas) e pela Polícia Federal através do SINARM (Sistema Nacional de Armas).

Esse auxílio da Polícia Militar ao Exército, imposto pela Carta Magna, não deve mais

prosperar, pois, a primeira é capacitada para resolver os problemas internos gerados pela

urbanização e exerce uma atividade de caráter civil, já os militares nacionais são treinados

para o combate de ameaças externas. Sem falar que não existe uma explicação plausível dos

Bombeiros, que exercem uma atividade eminentemente civil, serem subordinados ao Exército.

Essa vinculação é um atentado à ordem democrática, pois, como as polícias são

subordinadas aos governadores, a vinculação á um órgão pertencente a união, dá margem para

que o Exército interfira de forma paralela nos órgãos imbuídos em realizarem as atribuições

de segurança pública.

Expurgando o militarismo da atividade de segurança pública, deve-se iniciar o processo

de unificação, em que, somente uma instituição ficará responsável pela prevenção e apuração

dos ilícitos penais.

O modelo atual, só alimenta antagonismo entre as duas polícias e, isso, sempre ocorreu,

não apenas nesta ou naquela unidade da federação, mas em todas, sem exceção. O ambiente

anti-sistêmico estabeleceu uma concorrência altamente nociva entre as instituições, capaz

acirrar ânimos e de transformar amigos em adversários pelo simples fato de pertencerem a

instituições diferentes e atuarem no combate dos mesmos crimes.

Essa disputa que envolve ódio e ciúme entre as duas polícias, tem grande parcela de

contribuição para a prestação de um serviço de má qualidade para a população, sem falar que,

contribui consideravelmente para o aumento da criminalidade e da impunidade.

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Atualmente, não existe um trabalho conjunto entre as duas polícias, o que ocorre é que

alguns membros de ambas as instituições, para dar uma satisfação à sociedade, afirmam que

existe uma integração entre a Polícia Administrativa (PM) e a Polícia Judiciária (PC), mas,

todos os profissionais da segurança sabem que a realidade é outra completamente diferente,

uma instituição atrapalha o trabalho da outra, ou seja, uma delas sempre que estar a frente e

dar solução a tudo, para tentar obter méritos perante o Secretário de Segurança e o Chefe do

Executivo Estadual.

A questão é estrutural e, por isso, reproduz sempre o mesmo modelo de desacerto e

desarmonia, levando as organizações policiais a se perderem em seus próprios fins,

permitindo que os interesses pessoais se sobreponham aos interesses da sociedade. Eis a

origem das intermináveis demandas e disputas (silenciosas ou retumbantes), sustentadas por

detalhes técnicos ou legais, que não são mais do que formas disfarçadas de garantir evidência

midiática e reserva de poder.

Claro que existem alguns profissionais de segurança que são contrários a essa inovação

e discordam totalmente desse modelo de ciclo completo de polícia, sob a alegativa de que não

haverá um controle sobre a tropa, afirmam que no momento em que ocorrer a desmilitarização

da polícia, os seus pilares denominados hierarquia e disciplina irão desmoronar. Esse grupo é

formado em sua maioria por oficiais superiores da Polícia Militar, que são oriundos do

Exército e tem uma formação arcaica, tal postura se dá porque eles estão acomodados com o

“status” que ocupam e com algumas regalias militares colocadas em lei, mas que, não tem

nenhum efeito prático no combate da violência. Mas, aos poucos, essa resistência está

perdendo força, pois, a nova safra de oficiais, que apresentam uma melhor qualificação e

demonstram terem uma visão ampla e são favoráveis em inovação na área da segurança

pública.

Já do lado dos policiais civis, a resistência é bem menor, o único temor deles é a

implantação do militarismo em seu regimento. Mas, isso é praticamente impossível pois, caso

ocorra a unificação, o modelo militar será extinto, sendo criado um modelo de polícia que seja

direcionado para a realidade atual.

Sobre a unificação, Osmar Patti Magalhães (2004, p. 179), que é Delegado de Polícia e

Mestre em Direito Público, demonstra o seguinte pensamento:

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[...] será difícil no início, a convivência entre os componentes das extintas polícias.

Os pontos de choque são inúmeros e de demorada e difícil conciliação. Talvez só se

consiga realmente uma nova polícia quando os quadros remanescentes tiverem se

extinguido pela aposentadoria.

O autor visualiza que haverá uma grande resistência em ambas as instituições, mas, fica

claro que isso só ocorrerá enquanto os integrantes mais antigos permanecerem, pois, os mais

novos são favoráveis a mudança do atual modelo de polícia.

Já Mateus Afonso de Medeiros (2004, p. 276), ao realizar um estudo sobre o assunto,

denominado de Aspectos Institucionais da Unificação das Polícias no Brasil, preleciona que:

“[...] a proposta de unificação pode ser vista como democrática, independentemente de

critérios técnicos e relaciona-se à noção de que Polícia, Justiça e Forças Armadas são

organizações distintas. [...]”.

Nota-se que, a unificação trará uma série de benefícios, tanto para os cidadãos, como

também, para os cofres públicos, conforme expõe Magalhães (2004, p. 177):

Além do que acabaria com os diversos números de atendimento à população,

unificando, por assim, o atendimento de todos os órgãos no mesmo número de

telefones de emergência. Somaria os efetivos, equipamentos, armamentos, prédios e

viaturas.

Deixaria, também, de haver várias centrais de inteligência, vários centros de pessoal,

vários órgãos de ensino. Um só centro de atendimento à saúde, um só centro de

controle e aquisição de material, uma só central de controle financeiro e orçamentário

e, carecer-se-ia, de reformar as regras da previdência.

Já está mais do que na hora de colocarmos esse modelo em prática, pois só iremos saber

se será viável ou não a partir da implantação da unificação. O certo é que necessitamos

rapidamente de uma grande mudança no campo da segurança pública.

Com relação à formação dos agentes de segurança, deve ser realizada em um centro

único, devendo fazer parte do currículo disciplinas comuns às duas instituições, que serão

extintas. Como consequência, o curso se tornará mais longo e preparará melhor o policial.

Sobre a formação dos agentes de segurança, Rosa (2000, on line apud PINHEIRO, 2003,

p.219), observa que:

As escolas de formação policial (civil e militar) devem ser unificadas. O soldado

como o investigador de polícia, o delegado como o oficial, e os demais agentes

policiais, devem freqüentar a mesma escola de formação, para uma maior

integração, que permitirá o desenvolvimento de atividades conjuntas.

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A formação realizada em um centro único, minimizará os conflitos que irão existir com

a unificação das polícias, como também, disponibilizará um profissional mais qualificado para

servir a sociedade e preparado para enfrentar a criminalidade.

É importante destacar também que, devemos mudar a atual forma de alocação dos

agentes de segurança, pois, atualmente, eles são destacados para exercerem determinadas

funções se tiverem alguma influência política, ou quando, essa transferência possa lhe

acarretar algum prejuízo, sendo este último ato utilizado como forma de punição.

Dificilmente, o policial é designado para uma função por ser qualificado ou por ter algum

conhecimento técnico na área. Diante desses fatos, a sociedade sai prejudicada, pois, terá a

prestação de um serviço deficiente ou de má qualidade.

Um dos estados da federação que está saindo na frente e seguindo essa filosofia é o

Ceará, que atualmente, está construindo uma Academia de Polícia, onde serão formados os

membros dos Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Civil e Perícia Forense. Esse é o primeiro

passo para a implantação da unificação.

Por último cumpre destacar que, sobre a forma de atuação, essa nova instituição será

dividida em policiamento fardado e do policiamento discreto, o primeiro realizando o

policiamento ostensivo e este último realizando as missões investigativas.

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4 OBJETIVOS

Geral:

Abordar as causas que têm influenciado consideravelmente para o aumento da violência e

mostrar o que o processo de unificação das polícias vai contribuir para uma melhoria na prestação do

serviço de segurança pública.

Específicos:

1. Analisar a realidade do atual Sistema de Segurança Pública;

2. Identificar as mudanças que devem ser realizadas dentro da estrutura policial, sugerindo: a

criação de novos cargos; celeridade na promoção dos agentes de segurança; melhores

condições de trabalho; e a defesa da igualdade de salários entre os policiais estaduais e os

policiais federais;

3. Gerar soluções que possam ser capazes de combater o aumento da violência no Brasil e

melhorar a atuação dos órgãos policiais estaduais.

Page 73: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

5 HIPÓTESES

1. Sabemos que o problema da violência não está ligado somente ao campo da Segurança

Pública, mas, também, tem uma relação muito estreita com o campo social, pois, o indivíduo quando

vislumbra que não tem nenhuma possibilidade de ascensão social, acaba sendo impulsionado a

ingressar no crime. Primeiramente, deve-se investir maciçamente em uma educação integral de

qualidade que além de educar o jovem possa qualificá-lo para a atuação profissional, pois, com o

crescente desenvolvimento do país e a realização de eventos importantes as empresas que aqui virão,

irão necessitar de mão-de-obra qualificada. Alinhado a esse pensamento, deve-se investir na

qualificação, modernização, reestruturação e ampliação do contingente policial, pois, com

profissionais capacitados e motivados, teremos Segurança Pública de qualidade.

2. Verificamos que se faz necessário a implantação de um modelo moderno de polícia, que atue

de forma completa, agindo desde a prevenção (policiamento ostensivo), até a resolução (policiamento

investigativo) de crimes, fornecendo provas contundentes para que o Poder Judiciário possa aplicar o

poder sancionador do Estado aos infratores. É inconcebível a existência duas polícias atuando no

mesmo espaço geográfico e trabalhando de forma incompleta, pois, além de contribuir para o

surgimento de conflitos internos, causa um enorme prejuízo à sociedade. Diante desses problemas,

propomos a criação da Polícia Estadual, que atuará em ciclo completo de polícia atuando da prevenção

até a elucidação dos crimes. Essa nova instituição deverá composta por agentes capacitados e com

nível superior de escolaridade, devendo dividir-se em Departamentos (de trânsito, de choque, de

investigação, de fronteiras, de policiamento comunitário ostensivo e outros) com competências

definidas em lei. Essa mudança estrutural da polícia ocorrerá somente no âmbito estadual, nada

interferindo nas polícias da União (Federal, Rodoviária Federal e Ferroviária Federal). Há também, a

necessidade da implantação do subsídio aos policiais, que há muito tempo têm esse direito consagrado

na Carta Maior em seu Art.144, §9º.

3. Acreditamos que, com a implantação de um modelo único de polícia estadual, os policiais

serão mais valorizados, haverá a eliminação total das diferenças existentes entres os membros das

extintas Polícias Militares e Civis. A consequência dessa mudança será uma atuação harmônica

cominando na eficiência dos trabalhos realizados. Certamente, essas mudanças no campo policial irão

contribuir de forma eficaz para a diminuição dos índices de violência, mas, deixamos bem claro que

essas políticas deverão ser implantadas em conjunto com os campos da educação e sociais.

Page 74: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

73

Em conjunto com a unificação das polícias, deve-se implantar políticas de valorização dos

profissionais, remunerando-lhes com um salário digno e lhes disponibilizando garantias atinentes ao

risco da profissão. O nível de escolaridade inicial exigido para ingresso na Polícia deve ser o nível

superior, os cargos devem ser de carreira, ou seja, o policial que irá ingressar na instituição começará

pelo menor cargo sendo as promoções realizadas de acordo com o tempo de serviço e comportamento.

Com a implementação dessas mudanças, em conjunto, com políticas sociais, o índice de violência irá

deprimir, com isso, a realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 serão um sucesso.

Page 75: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

6 ASPECTOS METODOLÓGICOS

A metodologia a ser utilizada basear-se-á em um estudo descritivo-analítico, desenvolvido

através de pesquisa:

I. Quanto ao tipo:

Bibliográfica: mediante explicações embasadas em trabalhos publicados sob a forma de livros,

revistas, artigos, enfim, publicações especializadas, imprensa escrita e dados oficiais publicados na

Internet ou em outros meios que abordem direta ou indiretamente o tema em análise.

II. Quanto à utilização e abordagem dos resultados:

Pura, à medida que terá como único fim a ampliação dos conhecimentos.

Qualitativa, buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento jurídico pátrio.

III. Quanto aos objetivos:

Descritiva, posto que buscará descrever, explicar, classificar, esclarecer o problema

apresentado.

Exploratória, objetivando aprimorar a idéias através de informações sobre o tema em foco.

Page 76: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

REFERÊNCIAS

BAYLEY. D. H. Padrões de policiamento: uma análise internacional comparativa. Tradução

de Renê Alexandre Belmont. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2001.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília,

DF, Senado, 1988.

MAGALHÃES, Osmar Patti. Perspectivas para a unificação das polícias estaduais. Revista

Jurídica da Universidade de Franca. v. 7 n. 12, p.169-183. São Paulo; UNIFRAN, 2004.

MEDEIROS, Mateus Afonso. Aspectos Institucionais da Unificação das Polícias no Brasil.

DADOS Revista de Ciências Sociais. v. 47 n. 2, p.271-296. Rio de Janeiro: IUPERJ, 2004.

MONET, J. C. Polícias e sociedades na Europa. Tradução de Mary Amazonas Leite de

Barros. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2001.

PINHEIRO, Cristiano de Oliveira. Segurança Pública: a integração como etapa necessária à

unificação das polícias. Revista LATU & SENSO. v. 4 n. 2, p.214-222. Belém: UNAMA,

2003.

SHOLNICK, J. H. Nova Polícia: inovações na polícia de seis cidades norte-americanas.

Tradução de Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2001.

VIEIRA, Enio. À procura da eficiência. Revista Indústria brasileira. v. 7 n. 76, p.18-23. São

Paulo: CNI, 2007.

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ANEXO

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

PROPOSTA DE EMENDA À

CONSTITUIÇÃO N.º 430, DE 2009

(Do Sr. Celso Russomanno e outros)

Altera a Constituição Federal para dispor sobre a Polícia e Corpos de Bombeiros dos Estados

e do Distrito Federal e Territórios, confere atribuições às Guardas Municipais e dá outras

providências.

DESPACHO: APENSE-SE À(AO) PEC-184/2007.

APRECIAÇÃO: Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário

PUBLICAÇÃO INICIAL

Art. 137, caput - RICD

Page 79: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

78

O Congresso Nacional decreta:

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do §

3º, do art. 60, da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Art. 1º Os artigos 21; 22; 24; 32; 61 e 144, da Constituição Federal passam a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 21.......................................................................

...................................................................................

XIV – organizar e manter a Polícia e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e

Territórios, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a

execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;

Art. 22 ........................................................................

....................................................................................

XXI – normas gerais sobre armamento e mobilização das polícias e corpos de

bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios;

......................................................................................

XXX – organização, funcionamentos, garantias, direitos e deveres da Polícia e do

Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e Territórios

Art. 24 ..........................................................................

......................................................................................

XVI – organização, funcionamento, garantias, direitos e deveres das polícias e corpos

de bombeiros dos Estados.

......................................................................................

Art. 32 ..........................................................................

......................................................................................

§ 1º. Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos

Estados e Municípios, bem como sobre a organização das unidades administrativas da

Polícia e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e Territórios.

...................................................................................

§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, da

polícia e do corpo de bombeiros.

....................................................................................

Art. 61. .......................................................................

....................................................................................

Page 80: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

79

§ 1º. ............................................................................

II - ................................................................................

g) policiais e bombeiros do Distrito Federal e Territórios, seu regime jurídico,

provimento de cargos, promoção, estabilidade, remuneração e aposentadoria.

Art. 144 .......................................................................

.....................................................................................

IV – Polícia e Corpo de Bombeiros dos Estados;

V – Polícia e Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e Territórios, mantidos pela

União.

.....................................................................................

§ 4º. A Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, instituída por lei como

órgão único em cada ente federativo, permanente, essencial à Justiça, de atividade

integrada de prevenção e repressão à infração penal, de natureza civil, organizada com

base na hierarquia e disciplina e estruturada em carreiras, destina-se, privativamente,

ressalvada a competência da União, à:

I – preservação da ordem pública;

II – exercer a atividade de polícia ostensiva e preventiva;

III – exercer a atividade de investigação criminal e de polícia judiciária, ressalvada a

competência da União e as exceções previstas em lei.

§ 5º. O Corpo de Bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,

instituição regular e permanente, de natureza civil, estruturada em carreiras,

organizado com base na hierarquia e na disciplina, dirigido por integrante do último

posto, escolhido pelo respectivo Governador, para um mandato de dois anos,

permitida recondução, destina-se à:

I - execução de atividades de defesa civil.

II - prevenção e a extinção de incêndios;

III - ações de busca e salvamento, decorrentes de sinistros;

IV - serviços de atendimento ao trauma e emergências pré-hospitalares;

........................................................................................

§ 8º. Os Municípios, conforme dispuser a lei, poderão constituir guardas municipais

destinadas à proteção de seus bens, serviços, instalações e à atividade complementar

Page 81: POLÍCIA ESTADUAL: A UNIFICAÇÃO COMO MODELO MAIS ADEQUADO PARA A ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA

80

de vigilância ostensiva da comunidade, sendo esta última, mediante convênio, sob a

coordenação do Delegado de Polícia.

.........................................................................................

Art. 2º. As Polícias Civil e Militar dos Estados e as do Distrito Federal passam a ser

denominadas Polícia do Estado e Polícia do Distrito Federal e Territórios.

§ 1º. A Direção Geral da Polícia dos Estados e a do Distrito Federal e Territórios será

exercida, pelo período de dois anos, alternadamente, por Delegado de Polícia e Oficial da

Polícia Militar remanescentes das extintas instituições, de cargo de nível hierárquico mais

elevado, até que um Delegado de Polícia formado pelo novo sistema previsto nesta emenda,

reúna condições para assumir e exercer a direção da entidade no biênio estabelecido,

obedecida, alternadamente, a sistemática disposta neste artigo.

§ 2º. Ocupado o cargo de Delegado Geral de Polícia por integrante oriundo da extinta Policia

Civil, o cargo de Delegado Geral Adjunto de Polícia será ocupado por Oficial oriundo da

extinta Polícia Militar, revezamento que será observado na alternância prevista.

Art. 3º. Garantida a irredutibilidade de vencimentos ou subsídios, lei disporá sobre as

transformações dos cargos das polícias civis, militares e dos corpos de bombeiros militares

dos Estados e do Distrito Federal, mantida, na nova situação, a correspondência entre ativos,

inativos e pensionistas.

Parágrafo único. Na composição da Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios é

assegurado o direito de opção de permanecer no quadro em extinção, garantida a

irredutibilidade de vencimentos ou subsídios.

Art. 4º. Lei disporá sobre os requisitos para o exercício integrado das atividades de polícia

pelos delegados de polícia oriundos da carreira de Delegado de Polícia Civil e do Oficialato

das polícias militares dos Estados e Distrito Federal, exigido o curso superior de bacharel em

direito para o desempenho da atividade de investigação criminal e de polícia judiciária, e

curso de capacitação específico para o desempenho da atividade de polícia ostensiva e

preservação da ordem pública.

§ 1º. Na constituição da nova polícia, até a realização de curso de capacitação e adaptação, os

Delegados de Polícia oriundos do Oficialato das polícias militares dos Estados e do Distrito

Federal exercerão a atividade de polícia ostensiva e preservação da ordem pública, e os

Delegados de Polícia oriundos da carreira de Delegado de Polícia Civil dos Estados e do

Distrito Federal exercerão a atividade de investigação criminal e de polícia judiciária.

§ 2º. O exercício da atividade integrada de polícia pelos delegados de polícia oriundos da

carreira de Delegado de Polícia civil e do Oficialato das polícias militares dos Estados e

Distrito Federal, depende da realização de curso de capacitação e adaptação, com duração

mínima de seis meses, ministrado pela academia de polícia.

Art. 5º. A estrutura funcional básica das Polícias dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios será constituída pelas carreiras de Delegado de Polícia, Perito de Polícia,

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Investigador de Polícia, Escrivão de Polícia e de Policial, cujos ingressos dependem de

concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil.

§ 1º. As atividades de investigação criminal e de polícia judiciária serão formalizadas por

meio de inquérito policial, presidido pelo Delegado de Polícia, auxiliado pelo Escrivão de

Polícia e pelo Investigador de Polícia.

§ 2º. As atividades de preservação da ordem pública, de polícia ostensiva e preventiva são

exercidas por Policial, subordinado ao Delegado de Polícia.

§ 3º. A atividade de perícias integra a Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios,

com autonomia técnico-funcional, subordinada ao Delegado de Polícia.

§ 4º. A Polícia dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, com efetivo e armamento

acompanhados pelo Ministério da Justiça, subordina-se diretamente aos respectivos

Governadores.

§ 5º. Observado o disposto no art. 2º, o Delegado Geral da Polícia dos Estados e do Distrito

Federal e Territórios será escolhido pelo respectivo Governador, na forma da lei, dentre os

integrantes da última classe da carreira de Delegado de Polícia, com mais de trinta e cinco

anos de idade, após a aprovação do seu nome pela maioria absoluta dos membros da

respectiva Assembléia ou Câmara Legislativa, para mandato de dois anos, admitida

recondução.

Art. 6º. Lei disporá sobre a estrutura funcional das Polícias dos Estados e do Distrito Federal

e Territórios, observada a sua constituição básica prevista nesta emenda.

§ 1º. A Carreira de Delegado de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso público,

exigido diploma de curso superior de bacharel em direito, é composta dos seguintes cargos:

I – Delegado de Polícia de Entrância Especial;

II – Delegado de Polícia de Segunda Entrância;

III – Delegado de Polícia de Primeira Entrância;

IV – Delegado de Polícia Substituto.

§ 2º. A Carreira de Perito de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso público,

exigido diploma de curso superior, na forma da Lei, é composta dos seguintes cargos:

I – Perito de Polícia de Classe Especial;

II – Perito de Polícia de Primeira Classe;

III – Perito de Polícia de Segunda Classe;

IV – Perito de Polícia de Terceira Classe.

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§ 3º. A Carreira de Investigador de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso público,

na forma da Lei, é composta dos seguintes cargos:

I – Investigador de Polícia de Classe Especial;

II – Investigador de Polícia de Primeira Classe;

III – Investigador de Polícia de Segunda Classe;

IV – Investigador de Polícia de Terceira Classe.

§ 4º. A Carreira de Escrivão de Polícia, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso público, na

forma da Lei, é composta dos seguintes cargos:

I – Escrivão de Polícia de Classe Especial;

II – Escrivão de Polícia de Primeira Classe;

III – Escrivão de Polícia de Segunda Classe;

IV – Escrivão de Polícia de Terceira Classe.

§ 5º. A Carreira de Policial, ramo uniformizado, cujo ingresso dar-se-á mediante concurso

público, é composta dos seguintes cargos:

I – Policial de Classe Especial;

II – Policial de Primeira Classe;

III – Policial de Segunda Classe;

IV – Policial de Terceira Classe.

§ 6º. Nos concursos públicos para o provimento dos cargos da Polícia dos Estados e do

Distrito Federal e Territórios, preenchidos os requisitos exigidos por lei, reservar-se-ão 50%

(cinqüenta por cento) das vagas para os integrantes das demais carreiras da respectiva

instituição.

Art. 7º. Lei disporá sobre a organização da polícia dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios, observada a seguinte estrutura administrativa básica:

I – Direção Geral, cujo cargo de Delegado Geral será exercido por Delegado de Polícia, com

mais de trinta e cinco anos de idade, de entrância especial;

II – Corregedoria, cujo cargo de Corregedor será exercido por Delegado de Polícia, com mais

de trinta e cinco anos de idade, de entrância especial;

III – Academia de Polícia, cuja direção será exercida por Delegado de Polícia de entrância

especial.

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IV – Departamento de Polícia Circunscricional, cuja direção será exercida por Delegado de

Polícia de entrância especial;

V – Departamento de Polícia Especializada, cuja direção será exercida por Delegado de

Polícia de entrância especial;

VI – Divisão de Perícia, cuja direção será exercida por Perito de Polícia de classe especial.

Parágrafo único. Para o provimento dos cargos de que tratam os incisos I a V deste artigo,

observar-se-á o disposto no art. 2º, no que couber.

Art. 8º. Os Corpos de Bombeiros Militar do Estado e do Distrito Federal passam a ser

denominados, respectivamente, Corpo de Bombeiros do Estado e Corpo de Bombeiros do

Distrito Federal e Territórios.

§ 1º. Lei de competência da União disporá sobre a estrutura funcional básica dos Corpos de

Bombeiros do Estado e do Distrito Federal e Territórios.

§ 2º. Na composição dos Corpos de Bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios

é assegurado o direito de opção de permanecer no quadro em extinção, garantida a

irredutibilidade de vencimentos ou subsídios.

Art. 9º. O controle da atividade funcional, administrativa e financeira dos órgãos

relacionados no artigo 144 da Constituição Federal é exercido pelo Conselho Nacional de

Segurança Pública, composto de vinte membros nomeados pelo Presidente da República,

depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para mandato de dois

anos, admitida uma recondução, sendo:

I – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, que o preside ou por um ministro indicado

por ele;

II – um Delegado de Polícia Federal, integrante da última classe da respectiva carreira,

indicado por seu dirigente;

III - um Policial Rodoviário Federal, integrante da última classe da respectiva carreira,

indicado por seu dirigente;

IV – um delegado da Polícia do Distrito Federal e Territórios, integrante da última entrância

da respectiva carreira, indicado por seu dirigente;

V – seis delegados da Polícia dos Estados, integrantes da última classe das respectivas

carreiras, indicados pelos respectivos Chefes de Polícia;

VI – dois membros dos Corpos de Bombeiros dos Estados e do Distrito Federal e Territórios;

VII – um magistrado indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VIII – um membro do Ministério Público indicados pelo Procurador-Geral da República;

IX – um Juiz Federal membro do Tribunal Regional Federal;

X – Um Desembargador Estadual;

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XI – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

XII – dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicado um pela Câmara

dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

§ 1º. Observado o disposto no caput, compete ao Conselho Nacional de Segurança Pública:

I - zelar pela autonomia funcional dos membros das referidas instituições, podendo expedir

atos regulamentares, observados a legislação vigente, no âmbito de sua competência, ou

recomendar providências;

II - zelar pela observância do art. 37 da Constituição Federal, e apreciar, de ofício ou mediante

provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados pelos integrantes dos membros

das referidas instituições, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se

adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da

competência dos Tribunais de Contas;

III - receber e conhecer das reclamações contra integrantes dos membros das referidas

instituições, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar

das suas Corregedorias, podendo avocar processos disciplinares em curso e aplicar as

penalidades administrativas previstas no estatuto repressivo da Instituição.

IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares dos membros das

referidas instituições, julgados há menos de um ano;

V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação

das referidas instituições e das atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem

prevista no art. 84, XI;

VI - exercer o controle externo da atividade policial e dos corpos de bombeiros;

VII – julgar, em última instância, os recursos contra decisões administrativas adotadas no

âmbito das referidas instituições.

§ 2º. O Conselho, em votação secreta, escolherá para mandato de dois anos um Corregedor

Nacional, bacharel em direito, com mais de trinta e cinco anos de idade e posicionado na

última classe ou entrância da respectiva carreira, dentre os integrantes indicados pelos

dirigentes das referidas instituições que o compõem, vedada a recondução, competindo-lhe,

além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes:

I - receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos integrantes das

referidas instituições e dos seus serviços auxiliares;

II - exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;

III - requisitar e designar integrantes das polícias e corpos de bombeiros do país, delegando-

lhes atribuições.

§ 3º. O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao

Conselho.

§ 4º. Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias das polícias e dos corpos de bombeiros,

competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra seus

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integrantes, inclusive contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho

Nacional de Segurança Pública.

Art. 10. O regime previdenciário dos integrantes das dos órgãos relacionados no artigo 144

da Constituição Federal obedece ao disposto no § 4º, do art. 40, garantida a integralidade e a

paridade entre ativos e inativos, bem como as alterações e os benefícios ou vantagens

posteriormente concedidos, a qualquer título, aos ativos, se estenderão aos inativos e aos seus

pensionistas.

Art. 11. Lei Complementar instituirá o fundo nacional, estadual e municipal de segurança

pública, devendo a União, os Estados e os Municípios destinarem percentual da sua

arrecadação, além de outras receitas que a lei dispuser.

Art. 12. A União e os Estados implementarão as medidas constantes desta Emenda no prazo

de 1 (um) ano, a contar da data de sua promulgação.

Art. 13. Ficam revogados o art. 42; os §§ 3º, 4º e 5º, do art. 125; § 6º, do art. 144; e o inciso

VII, do art. 129; todos da Constituição Federal.

Art. 14. Esta Emenda entra em vigor cento e oitenta dias subseqüentes ao da sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO

A população do nosso País vem sofrendo com a crescente criminalidade e com a

organização dos criminosos. A intensificação dos delitos e a organização dos criminosos,

diante do falido sistema de segurança pública vigente, encontram a necessária guarida para

continuar assolando as pessoas de bem que vivem nesta Nação.

Nos deparamos, em praticamente todos os Estados, com polícias mal remuneradas,

desequipadas e desvalorizadas, que agonizam com a absoluta falta de condições para o efetivo

combate à criminalidade. Somado a esses fatores, ainda verificamos a sobreposição de

atuação, duplicidade de estrutura física e uma verdadeira desorganização no que concerne ao

emprego da força de cada uma das instituições, em face de comandos distintos que, muitas

das vezes, ao invés do trabalho integrado, acabam por disputarem espaço.

Sendo assim, com a presente proposta, pretendemos o nascimento de uma nova polícia

organizada em uma única força, com todos os seguimentos e estrutura necessários ao acertado

enfrentamento do crime. Não se trata de unificação das polícias, mas do nascimento de uma

nova polícia.

Para tanto, primeiramente, desconstituiremos as polícias civis e militares dos Estados e

do Distrito Federal, para constituir uma nova polícia, desmilitarizada e condizente ao trato

para como cidadão brasileiro, cujo comando será único em cada ente federativo, subordinado

diretamente ao seu governador, que nomeará o seu dirigente, dentre seus próprios membros,

para mandato de dois anos, após a aprovação pela respectiva Câmara ou Assembléia

Legislativa.

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Visando a correta composição da nova polícia, estabelecemos a possibilidade de

transposição dos cargos hoje existentes para os novos cargos, cuja estrutura básica também

disciplinamos, de forma a atender às principais nuances do exercício da segurança pública.

Disciplinamos que o novo Delegado de Polícia figurará como dirigente, auxiliado pelos

Investigadores, Escrivães, Policiais e Peritos, estes últimos com autonomia técnico-funcional.

Na busca por uma polícia hígida e motivada, também estabelecemos a reserva para os

demais integrantes, de cinqüenta por cento das vagas para provimento dos cargos superiores,

permitindo-lhes a progressão dentro da instituição, porém submetidos ao mesmo certame

externo e mantida a oxigenação da instituição pelos demais cinqüenta por cento das vagas

voltadas ao provimento externo.

Neste diapasão, vislumbramos o nascimento de uma polícia forte e atuante e, para tanto,

se faz necessário acurado controle, fator que entendemos suprido pela criação de um conselho

poderozo e multifacetário, com corregedoria nacional e ouvidorias espalhadas por todos os

entes federativos.

Pretendemos criar, ainda, estrutura administrativa básica, com o intuito de

uniformização, fator que facilita a gestão e implementação de políticas nacionais de segurança

pública.

De outra sorte, também no âmbito de segurança pública, pretendemos desmilitarizar os

corpos de bombeiros, alguns ainda integrantes das polícias militares dos Estados, como fator

impulsionador desse importante segmento, haja vista a desnecessidade do trato militar em

uma atividade eminentemente civil.

Por outro lado, sabedores do fato de que o crime de menor monta e o de oportunidade

também são fatores que muito incomodam a população, pretendemos entregar às guardas

municipais a competência para atuarem na prevenção ao delito, com a coordenação do novo

delegado de polícia, de maneira a elevar a segurança preventiva da população, na busca pela

desmotivação do possível infrator.

Cabe ressaltar que nenhum dos integrantes das atuais polícias civis ou militares ou

corpos de bombeiros militares, sofrerão qualquer tipo de prejuízo remuneratório ou funcional.

Muito pelo contrário, garantida a irredutibilidade de vencimentos ou subsídios, com o

enxugamento das estruturas vigentes, possibilitará ao Estado a necessária revisão

remuneratória a maior.

Aliado a esse fato, a revisão remuneratória estará garantida pela também previsão da

criação de fundo nacional, estadual e municipal de segurança pública, onde a União, os

Estados e os Municípios destinarão percentual da sua arrecadação para esse fim.

Desta sorte, acreditamos que, com esta proposta de emenda constitucional,

enfrentaremos as principais mazelas que assolam as nossas atuais instituições policiais.

A primeira e mais grave é dissonância das polícias na execução de ações que, por falta

de comunicação, planejamento e comando único, acabam por se sobreporem, se anularem,

despenderem esforços duplicados ou, o que é pior, rivalizarem-se;

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A segunda é a duplicidade das estruturas físicas e de equipamentos, fatores que

demandam custeio e investimento dobrados, se refletindo em verdadeiro desperdício de

dinheiro público, em especial em uma área tão carente de recursos que é a segurança pública.

A terceira, por fim, se reflete nos constantes conflitos entre as polícias, seja de ordem

laboral, onde uma invade a área de atuação da outra e nenhuma das duas acaba por atuar de

forma eficiente; ou relativa ao constantes conflitos externos, até mesmo no interior desta

Casa, onde interesses corporativistas impedem o avanço da legislação necessária à melhoria

dos instrumentos de atuação do Estado contra o crime.

Portanto, a modificação proposta nos parece se revelar em um modelo voltado para

eficiência dos organismos responsáveis pele segurança pública, necessário à resposta ao

clamor da sociedade brasileira por um País com menos crimes e livre de impunidade.

À vista do exposto, peço o apoio dos meus ilustres Pares à presente Proposta de Emenda

à Constituição.

Sala das Sessões, em 05 de novembro de 2009.

DEPUTADO CELSO RUSSOMANNO