poliamorismo – um novo (velho) modelo de famÍlia · poligamia é um sistema onde o homem tem...

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POLIAMORISMO – UM NOVO (VELHO) MODELO DE FAMÍLIA ELANE F. SOUZA

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POLIAMORISMO – UM NOVO (VELHO) MODELO DE FAMÍLIA ELANE F. SOUZA

Elane Ferreira de Souza é Advogada há mais de 13 anos; colou grau em Direito no ano de 2003

pela Universidade de Cuiabá – UNIC - Brasil;

No final de 2004 realizou o Exame da Ordem e obteve

aprovação; com a Carteira em mãos decidiu advogar; durante

os anos de 2005 até abril de 2007 era o que fazia na Capital

do Estado de Mato Grosso;

Meados de maio de 2007 foi viver em Lisboa, por questões

pessoais, e só retornou no ano de 2011;

De volta, não permaneceu em Cuiabá – mudou-se para

Fortaleza, capital do Ceará e lá ficou durante três anos e meio;

Em 2014, outro câmbio, desta feita para Recife, capital do Pernambuco e segue até hoje.

Quando esteve morando em Lisboa – PT, iniciou um Mestrado em Direito Empresarial pela

Lusófona; no entanto, não terminou o curso por falta de recursos financeiros; além do mais,

precisou retornar ao Brasil e assim o fez;

É apaixonada pelo Direito; mas, por não se fiar na Justiça Brasileira prefere, apenas, escrever

artigos jurídicos e não jurídicos (suas áreas de maior paixão e envolvimento são: Direitos

Humanos, Direito de Família, Direito Penal, Criminologia e Medicina Legal).

Hoje, tudo que escreve está publicado em seus Blogs

Diário de Conteúdo Jurídico https://www.diariodeconteudojuridico-porelanesouza.com/

Educação é Direito https://divulgandodireitos.com/

Cotidiano Diverso https://www.cotidianodiverso.com/

Diário de Conteúdo Jurídico no facebook

Figura 1 A autora Elane F. Souza

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POLIAMORISMO – UM NOVO (VELHO) MODELO DE FAMÍLIA ELANE F. SOUZA

A todos àqueles que acreditam na soma e multiplicação do amor, afeto, dedicação,

cuidado e, sem sombra de dúvida, na divisão desses sentimentos; na divisão das

obrigações e bens que, porventura, vierem construir ao longo de uma relação

Poliafetiva.

Aos que estiverem dispostos a viver e agir assim, apesar da inexistência de normas

regulamentadoras – dedicaremos esta pequena obra!

Elane F. Souza (A autora)

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POLIAMORISMO – UM NOVO (VELHO) MODELO DE FAMÍLIA ELANE F. SOUZA

FICHA TÉCNICA

TÍTULO

POLIAMORISMO – Um novo (velho) modelo de família

AUTOR(A)

Elane Ferreira de Souza

(Protocolizado na Biblioteca Nacional (BR) – registro em

Andamento)

REVISÃO

Elane Ferreira de Souza

DEPÓSITO LEGAL

...

ISBN

...

TIRAGEM

De acordo com a demanda

IMPRESSO EM PORTUGAL

EDITOR(A)

.......

NOTA FINAL

Esta obra foi escrita tendo como base o, não tão novo, modelo de

família denominado POLIAMORISMO; sua redação, apesar de ter

alguma fundamentação jurídica e ser de utilidade discente, também

poderá ser recomendado como manual para implementação de novas

uniões.

Bom proveito a todos!

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INTRODUÇÃO............................................................07

CAPÍTULO I

I - Surgimento do Poliamorismo...............................................08

I.I - Origem e Conceito..............................................................08

I.II - Motivos para viver, ou não, uma relação poliafetiva..........11

CAPÍTULO II

II - Há limites para a constituição de uma relação Poliafetiva?...13

II.II - Quais os princípios que fundamentam (riam) as uniões

poliafetivas?...............................................................................14

CAPÍTULO III

III - Quais os Direitos e deveres dos envolvidos?........................17

III.I - Dos Direitos......................................................................17

III.II - Dos Deveres.....................................................................18

CAPÍTULO IV

IV.I - O que diz a legislação Brasileira acerca do assunto?..........21

CAPÍTULO V

V.I - Opiniões, “CONSAGRADAS”, de autores Brasileiros - existem?

V.II - Autores que já escreveram sobre o assunto, mas ainda não

viraram clássicos.......................................................................24

V.III - Nota a ser levada em conta..............................................25

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CAPÍTULO VI

VI.I - Existem decisões nos Tribunais........................................27

CAPÍTULO VII

VII.I - Quero uma relação “poliafetiva”, o que tenho que fazer

para legaliza-la?.........................................................................29

VII.II - Relações poliafetivas no mundo em dias atuais..............29

VII.III - Relações poligâmicas baseadas na religião...................36

CONCLUSÃO................................................................37

ANOTAÇÕES FINAIS....................................................38

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I N T RO D U Ç Ã O

Nesta obra a autora procura explicar, de forma sucinta, a estrutura das

relações poliafetivas; remete os leitores às discussões geradas em torno do tema

no Supremo Tribunal Federal (STF) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ); dá

dicas e conselhos sobre a formação de uma família dessa natureza e, além disso,

cita obras e artigos publicados sobre a matéria que, apesar de conhecida ainda é

polêmica e discriminada pela sociedade – especialmente a brasileira.

Com a intensão de implementar o tema, foi mencionada, en passant,

a paternidade socioafetiva que tem tudo a ver com multiparentalidade –

interessante frisar que o assunto em questão esteve presente, justamente no

momento em que comentava sobre eventuais separações dos (as) companheiros

(as) poliafetivos.

Sendo assim, normal que surja o questionamento:

Será que os filhos gerados durante uniões desse gênero também poderiam ser

“coletivos”? De certa maneira só sairiam a ganhar – pense em uma criança com

dois ou três pais e/ou igualmente duas, três ou mais mães, para protege-lo?

Para finalizar, a autora decidiu inserir seu entendimento e crítica sobre a

poligamia (especificamente, poliginia), quando ligada à religião hoje, e outrora.

“Onde faltar egoísmo, maldade e ciúmes, sobrará AMOR para compartilhar”!

Elane Ferreira de Souza

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CAPÍTULO I

I - Surgimento do Poliamorismo

I.I - Origem e Conceito

A palavra Poliamorismo vem do radical poli (de origem grega), que

significa vários; unindo-se a palavra amor (do latim amare, amore) surgiu uma

nova – qual seja, POLIAMOR e suas derivadas (POLIAMORISMO e

POLIAMORISTA – esta última é uma designação coloquial, direcionada a quem

“pratica” ou vive relação com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mas todas

elas sabem e todas aceitam; muitas das vezes se ajudam mutuamente e podem

até viver sobre o mesmo “teto”).

Poliamorismo é uma forma de vida “conjugal” diferenciada e já vivida

em algumas partes do globo. Infelizmente, para parcela da sociedade moralista e

preconceituosa apenas mais um modelo de convivência imoral, que desvirtua o

tradicional casamento entre homem e mulher; no entanto, fecham os olhos para

a antiga e persistente forma de “poliamorismo” – pessoas casadas e seus amantes!

Muitos acreditarem que essa forma de vida, esse modelo de

convivência seja coisa da modernidade promíscua; que só nos dias de hoje

poderia se cogitar viver, como se casado fosse, sobre o mesmo teto, com várias

mulheres ou vários homens simultaneamente. Um engano que foge a nosso

entendimento.

Segundo a bíblia, livro mais verdadeiro e sagrado de todos (na visão

cristã), a poligamia, em passado milenar, era costume! No entanto, hoje, os

seguidores desse livro não toleram e demonstram isso fazendo pesadas críticas às

pessoas que escolhem viver a moderna poligamia.

Poliamorismo nada mais é que uma poligamia “repaginada”! As

poucas diferenças estão na formação atual que se dá, da seguinte forma: dois ou

mais homens com uma mulher, várias mulheres com um homem ou mista. Antes,

de acordo com a bíblia, só os homens poderiam ter várias mulheres; uma mulher

com mais homens era pecado e crime de adultério!

Afinal, por que o Deus da bíblia permitiu, no velho testamento, que o

homem pudesse ter várias mulheres, várias concubinas e até engravidar “criadas”

quando sua esposa não era fértil?

Será que um “Deus perfeito” poderia mudar de ideia? Permitir no

velho testamento e proibir no novo, isso estaria correto?

Veja alguns trechos da bíblia que comprova a poligamia:

O primeiro exemplo de poligamia / bigamia na Bíblia foi Lameque em Gênesis 4:19: “E

tomou Lameque para si duas mulheres…” além dele, Abraão, Jacó, Davi, Salomão e

muitos outros tinham várias mulheres. Em 2 Samuel 12:8, Deus, falando através do

profeta Natã, disse que se as esposas e concubinas de Davi não fossem suficientes, Ele

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teria providenciado ainda mais para Davi. Salomão tinha 700 esposas e 300

concubinas (esposas de um status inferior). FONTES BÍBLICAS, acima e abaixo.

Abraão teve três esposas (Gênesis 16:1, 16:3, 25:1)

Moisés teve duas esposas ((Êxodo 2:21, 18:1-6; Números 12:1)

Jacó teve quatro esposas (Gênesis 29:23, 29:28, 30:4, 30:9)

Davi teve pelo menos 18 esposas (1 Samuel 18:27, 25:39-44; 2 Samuel 3:3, 3:4-5, 5:13,

12:7-8, 12:24, 16:21-23)

Salomão teve 700 esposas (1 Reis 11:3).[3]

Para entendermos melhor a Poligamia vamos a alguns significados e

comentários.

Poligamia, exatamente como poliamor, vem do radical grego poli

(vários) e gamia (casamentos); todavia, tem uma pequena e quase “irrelevante”

diferença de sentido. Poligamia é um sistema onde o homem tem mais de uma

mulher ao mesmo tempo; e, menos comum, mas existente, a mulher com mais de

um marido simultaneamente; já o Poliamorismo está fundamentado no amor, no

afeto e na vontade de constituir família com vários!

Grande parcela dos países que adotam o Islamismo como crença, e o

Alcorão como livro sagrado, permitem, legalmente, a poligamia (poliginia). No

entanto, segundo consta, raros são os homens que se casam com mais de uma

mulher. Fontes relatam que isso pouco acontece por causa das responsabilidades

impostas pela lei e pela religião. O Alcorão permite mas limita:

“... podereis desposar duas, três ou quatro das que vos aprouver, entre as

mulheres. Mas, se temerdes não poder ser equitativos para com elas,

casai, então, com uma só.” (Alcorão 4:3).

Para melhor entendimento da Poligamia (poliginia – um homem,

várias mulheres) dentro do Islamismo, citaremos trecho de um texto publicado

no site islamreligion.com.

“...O Alcorão limitou em quatro o número máximo de esposas. No início do Islã

aqueles que tinham mais de quatro esposas na época de abraçar a religião

tiveram que divorciar as esposas extras. O Islã também reformou a instituição

da poligamia ao exigir tratamento igual para todas as esposas. Não é permitido ao

muçulmano diferenciar entre suas esposas em relação ao sustento e despesas, tempo

dedicado e outras obrigações dos maridos. O Islã não permite que um homem se case

com outra mulher se não for justo em seu tratamento. O Profeta Muhammad proibiu a

discriminação entre as esposas ou entre os filhos tidos com elas.

Além disso, o casamento e a poligamia no Islã são uma questão de consentimento

mútuo. Ninguém pode forçar uma mulher a casar com um homem casado. O Islã

simplesmente permite a poligamia, não a força e nem a exige. Uma mulher também

pode estipular que o seu marido não se case com outra mulher em seu contrato pré-

nupcial”.

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Maomé, após a morte de sua primeira esposa Khadija (rica e mais

velha que ele quinze anos), casou-se, segundo estudiosos do Islã, de doze a

quatorze vezes, sem falar nas concubinas e escravas sexuais que manteve. E o

pior não foi isso – a idade de uma coloca em xeque a pedofilia incrustada no

“Profeta” (Aischa, era o nome dela; consta que se casou com seis anos - alguns

historiadores dizem ter sido nove) – na época, Maomé tinha mais de cinquenta

anos; idade maior que a do pai da criança).

Consta que o casamento da menina Aischa com o Profeta tenha sido

de muito gosto para o pai Abu Bakr; amigo de Maomé e um dos primeiros

seguidores e sucessor (Califa) no Islamismo.

Aisha tem a vida retratada em um livro chamado A joia de Medina,

da autora Sherry Jones. Muitos(as) leitores(as) e até editoras consideraram a

obra “um pornô básico”, isso foi mal visto pela comunidade islâmica que ameaçou

quem publicasse tal “heresia” – apesar da recusa de algumas editoras, ela surgiu!

Felizmente foi publicada, apesar das ameaças e incêndios, a obra segue

aí nas livrarias para quem quiser adquirir! Aconselharia a todos que lessem o

livro e tomassem partido – não importa a cultura, impor a uma menina, tão

jovem, a vida de casada, com sexo e outras perversões é indigno de ver, de ler, de

saber, de imaginar!

Mesmo que ela demonstre gostar, isso é criminoso, é nojento! Não

admitimos a romantização do crime de pedofilia! Ainda bem que o livro não se

trata de um romance, apenas retrato de uma “possível” realidade passada no

Harém de Maomé!

Entretanto, as sociedades que adotam a Poligamia feminina

(Poliandria), parte das vezes é porque se desenvolvem sob condições de

extrema pobreza, onde vários homens precisam reunir seus recursos para

comprar ou sustentar uma esposa, mas talvez seja porque o infanticídio feminino

é praticado como meio de controlar o crescimento da população; assim, com esse

costume não tarda a produzir um excesso de indivíduos masculinos.

Poliandria (grego: poly- muitos, andros- homem) é a união em que

uma só mulher é ligada a dois ou mais maridos ao mesmo tempo. É crença

comum de muitos antropólogos que a forma mais comum de poliandria é aquela

em que dois ou mais irmãos desposam a mesma mulher. É notório que a

poliandria é um tipo de poligamia menos frequente na história da humanidade.

Poliginia é o oposto da Poliandria, bem mais comum e aceitável,

inclusive hoje; neste caso, um homem possui duas ou mais esposas – já

referenciado acima. (Fonte dos significados acima veio do historiador

estadunidense Edward McNall Burns [por Wikipédia ]¹.)

Com a divulgação em massa de todo tipo de notícia, essa, do

Poliamorismo, também surgiu como sendo novidade, mas não é! Não nos

enganemos, muitas pessoas vivem relações assim, inclusive no Ocidente; quando

não é sobre o mesmo teto é de conhecimento e aceitação mútua. Um neologismo

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para estabelecer e divulgar direitos – é isso que está acontecendo, é isso que se

busca pelo menos aqui no Brasil.

Pior era, e segue sendo, saber que homens casados tem amantes fixas

e até com proles constituídas. No caso da mulher talvez seja pior (mas, sem

preconceito).

Quando uma mulher casada, ou em união estável, tem um amante fixo

e o companheiro não sabe, corre o risco de ele assumir a paternidade que não é

sua – apenas, baseando-se no fator “esposo”, “marido”; entretanto, isso não é e,

nunca foi, pressuposto de paternidade.

I.II – Motivos para viver, ou não, uma relação

poliafetiva

Quem nunca ouviu falar de alguém que criou ou cria filho que não é

seu, SEM SABER?! Com a veiculação de programas como o do “Ratinho”(Brasil-

SBT), alguns “infelizes” traídos ouvem boatos e acabam decidindo pedir a

investigação de paternidade de forma gratuita, para todo mundo tomar

conhecimento (supomos que recebem $$$ algo em contrapartida – é

inconcebível que se deixam humilhar, de graça, e em rede nacional)!

“Lavam toda a roupa suja em público” só para provar de que o filho

que vem criando, há anos (talvez), não seja seu!

Em uma relação poliafetiva isso seria desnecessário. Em caso de

gravidez, nem um, nem o outro necessitariam dessa triste e humilhante discussão

que, quase sempre, afeta os filhos.

Por isso, aconselhamos aos que decidirem viver relações dessa

natureza pautarem pela honestidade em todos os quesitos, inclusive com a prole.

Visualize a mesma esposa do exemplo anterior: ela vive uma relação

de amor, aberta, com seu marido e outro homem; todavia, sem o dois tomarem

conhecimento mantém relações com um terceiro e é justamente esse terceiro que

a engravida. Dependendo do caráter dos envolvidos isso poderia gerar

“espetáculos” ainda mais grandiosos e deprimentes que os de hoje – tudo isso

para constatar a paternidade e esvair-se da obrigação dos alimentos.

No entanto, por já viver com dois companheiros fixos, eles entenderão

que o filho é de um ou do outro e estará tudo bem – exceto pela consciência da

esposa (gestante), essa nunca estará tranquila pois, apesar de viver uma relação

aberta com dois homens, ela foi infiel – “introduziu” um terceiro não autorizado

à relação!

Entendemos que aonde houver relação poliafetiva tem que haver

cumplicidade e, acima de tudo, honestidade. Não há como amar vários ou várias

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se o que mais importará, em uma eventual separação, seja o financeiro (bens,

pensões e alimentos).

Egoísmo e falta de desprendimento não devem fazer parte desse tipo

de convivência.

Independente da formação dessa nova família (se é entre um homem

e várias mulheres, ou entre uma mulher e dois ou mais homens); tudo deverá

seguir em “perfeita” ordem e sintonia, respeitando, principalmente, os filhos que

não escolheram viver assim.

A paternidade, em uma relação

poliafetiva, deve se dar de duas

formas: a biológica e a socioafetiva.

Quando os envolvidos souberem, de

fato, quem é o pai, o outro assumirá

como socioafetivo. Seria desumano

impor ao filho uma convivência sem

vínculos. O companheiro, que não

for pai biológico, deverá assumir a

responsabilidade de pai socioafetivo

em todos os sentidos. Em caso de

separação teria que seguir fazendo

parte da vida da criança – dessa

forma, os filhos só sairiam a ganhar.

Essa seria uma das “consequências” da adoção desse novo modelo de

família. Quem deseja vive-lo deve saber que arcará, também, com o “ônus” (que

são as pensões e os alimentos, em uma eventual separação)!

Transformar o poliamorismo em um meio de conseguir prazer sexual

desmedido e esquecer-se da prole, fruto dele, não é amor – é apenas mais um tipo

de perversão que ainda não foi etiquetado.

Outra coisa a ressaltar: poliamorismo não deve ser confundido com

pansexualismo. Este, apesar de ter, igualmente, um radical Grego, possui

outro significado. “PAN” (do Grego que significa “tudo” ou “todos”) + sexualismo

= pansexualismo: atração por todos os sexos – incluindo pessoas andróginas,

transexuais, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, etc); no entanto, não é

considerada uma parafilia pois esta é tida como fantasia e perversão

comportamental - forma de conseguir prazer, às vezes, doentia.

Figura 2Poliamorismo

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CAPÍTULO II

II.I - Há limites para a constituição de uma relação

Poliafetiva?

Acreditamos que não; todavia há que haver bom senso! Nada em

excesso faz bem – pode até parecer mentira, mas, inclusive, demasiado dinheiro

atrapalha!

Imagine ter que lidar com 10 homens como companheiros, ao mesmo

tempo¹.¹? “IMPRATICÁVEL”, não é? Ponto de vista que, seguramente,

compartilho com milhões de mulheres.

Agora, em se tratando de 10 mulheres para um homem, muitos

aplaudiriam; todavia, conseguir arcar com os deveres “conjugais”, de forma que

nenhuma delas fique no “limbo”, já seria pedir muito; ter que “suportá-las” no

dia-a-dia, então?!

Uma mulher com TPM já é difícil, imagine dez? Sem falar que cada

uma tem seu modo particular de agir, independentemente, de estar ou não com

TPM – somos chatas, exigentes, organizadas, detalhistas – somos mulheres!

Vês, como a vida de “Sultão” não é tão boa assim?

Melhor repensar o excesso, diminuir os aplausos para relações com

dez ou mais mulheres porque isso, certamente, não funcionaria no Ocidente. Nós

queremos prazer por inteiro; aceitar a convivência e consequentemente o

compartilhamento da energia de “nosso” homem com uma ou duas “sócias”, vá

lá – com dez seria a formação de Harém (em todos os sentidos)!

Além dos fatores relacionados anteriormente, ter muitos parceiros

“legais”, envolveria obrigações com filhos, contas, patrimônio, etc. Obrigações

essas que nem todos os poliafetivos (“poliamoristas”) gostariam de ter.

II.II - Quais os princípios que fundamentam (riam)

as uniões poliafetivas?

Em nosso entendimento os princípios seriam (e são) os mesmos da

União Estável, com algum acréscimo. A existência de mais de dois integrantes

não desvirtuaria a união; ela continuaria a ser tratada como união estável pois, a

base igualmente é o afeto e o desejo de constituir família; mas, além desses

princípios já consolidados pelo Direito de Família, serão necessários o acréscimo

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de extremado respeito e honestidade recíprocos entre TODOS os

membros da relação.

- Mas, por que nos preocupamos em supervalorizar o respeito e a

honestidade? “Extremado respeito”, não seria algo subjetivo e, portanto, difícil de

ser qualificado?

Por que, queiramos ou não, por trás de nossas atitudes sempre haverá

uma sociedade intolerante, disposta a críticas cruéis e até “matadoras” (em todos

os sentidos). Por isso, orientamos que, em caso de uniões dessa natureza, o mais

correto é seguir regras rígidas para “ter um pouco de paz”!

“Explicando o extremado respeito”: o respeito e a honestidade entre os

membros são no sentido de que, nenhum deles poderia introduzir outros

membros à relação sem o consentimento dos demais; a não ser que a nova pessoa

tenha o consentimento da maioria, mas resida em outro local; dessa forma não

incomodaria o membro que foi contrário. Por esses e por outros problemas não

recomendamos uniões muito numerosas.

Além do mais, em havendo discordâncias e brigas comuns entre casais,

as consequências poderiam ser bem mais desastrosas, e ainda colocaria em xeque

o modelo de família adotado – sem falar na sociedade contrária e parte da

imprensa (as parciais) que “cairiam matando”!

Sendo assim, seria inútil, custoso, desvantajoso e acima de tudo

insensato montar uma família com essa estrutura, se as pessoas que irão se

envolver não tiverem vocação para compartilhar e dividir TUDO! E lembrem-se,

quando mencionamos tudo, é tudo mesmo! Amor, obrigações, Direitos, bens

presentes e futuros, habitação (às vezes) e, havendo filhos, também eles serão

“compartilhados” pois, estarão juntos e a afetividade é o que mais conta!

Seguramente, já ouviram falar de paternidade socioafetiva? POIS É,

ela existe e também poderia se dar nesses casos; por isso frisamos: egoísmo e falta

de desprendimento não podem fazer parte das uniões poliafetivas.

Sobre paternidade socioafetiva veja abaixo alguns trechos de um

belíssimo artigo do Professor Ricardo Calderón (Instituto LFG), quando da

Repercussão Geral 622 do STF:

O STF aprovou uma relevante tese sobre direito de família, delineando alguns contornos

da parentalidade no atual cenário jurídico brasileiro. O tema de Repercussão Geral 622,

de relatoria do ministro Luiz Fux, envolvia a análise de uma eventual "prevalência da

paternidade socioafetiva em detrimento da paternidade biológica". Ao deliberar sobre

o mérito da questão, o STF optou por não afirmar nenhuma prevalência entre as

referidas modalidades de vínculo parental, apontando para a possibilidade de

coexistência de ambas as paternidades.

....

A tese aprovada tem o seguinte teor: "A paternidade socioafetiva, declarada ou não em

registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante

baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios". O texto foi proposto

pelo ministro Luiz Fux e aprovado por ampla maioria, restando vencidos apenas os

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ministros Dias Toffoli e Marco Aurélio, que discordavam parcialmente da redação final

sugerida.

Ela é explícita em afirmar a possibilidade de cumulação de uma paternidade

socioafetiva concomitantemente com uma paternidade biológica, mantendo-se ambas

em determinado caso concreto, admitindo, com isso, a possibilidade da existência

jurídica de dois pais.

...

A tese estabelecida na repercussão geral 622 permite destacar três aspectos

principais:

1) O reconhecimento jurídico da afetividade;

Resta consagrada a leitura jurídica da afetividade, tendo ela perfilado de forma

expressa na manifestação de diversos ministros. No julgamento da repercussão geral

622 houve ampla aceitação do reconhecimento jurídico da afetividade pelo colegiado, o

que resta patente pela paternidade socioafetiva referendada na tese final aprovada. A

afetividade inclusive foi citada expressamente como princípio na manifestação do

ministro Celso de Mello, na esteira do que defende ampla doutrina do direito de família.

Não houve objeção alguma ao reconhecimento da socioafetividade pelos ministros, o

que indica a sua tranquila assimilação naquele tribunal.

A necessidade do direito contemporâneo passar a acolher as manifestações afetivas que

se apresentam na sociedade está sendo cada vez mais destacada, inclusive no direito

comparado, como na recente obra de Stefano Rodotà, lançada em 2015, denominada

Diritto D’amore. Em suas afirmações, o professor italiano sustenta que um novo cogito

poderia ser escrito na atualidade, com o seguinte teor: "amo, ergo sum", ou seja, amo,

logo existo, tamanha a atual centralidade conferida para a dimensão afetiva nos

relacionamentos interpessoais deste início de século.

...

2) Vínculo socioafetivo e biológico em igual grau de hierarquia jurídica

O segundo aspecto que merece destaque foi o reconhecimento da presença no cenário

brasileiro de ambas as paternidades, socioafetiva e biológica, em condições de

igualdade jurídica. Ou seja, ambas as modalidades de vínculo parental foram

reconhecidas com o mesmo status, sem qualquer hierarquia apriorística.

...

Havia dissenso sobre isso, até então imperava a posição do STJ, que indicava uma

prevalência do vínculo biológico sobre o socioafetivo nos casos de pedido judicial de

reconhecimento de paternidade apresentados pelos filhos. A decisão do STF acolhe a

equiparação dentre as modalidades de vínculos, o que merece elogios. A manifestação

do ministro relator, ao julgar o caso concreto que balizou a repercussão geral, não deixa

dúvidas quanto a essa igualação: "Se o conceito de família não pode ser reduzido a

modelos padronizados, nem é lícita a hierarquização entre as diversas formas de

filiação, afigura-se necessário contemplar sob o âmbito jurídico todas as formas pelas

quais a parentalidade pode se manifestar, a saber: (i) pela presunção decorrente do

casamento ou outras hipóteses legais (como a fecundação artificial homóloga ou a

inseminação artificial heteróloga – art. 1.597, III a V do CC de 2002); (ii) pela

descendência biológica; ou (iii) pela afetividade".

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Esta equiparação prestigia o princípio da igualdade entre os filhos, previsto no art.227,

parágrafo 6º, CF, e reiterado no art. 1.596 do CC e art. 20 do ECA, mostrando-se

adequada e merecedora de elogios.

3) Possibilidade jurídica da multiparentalidade

Um dos maiores avanços alcançados com a tese aprovada pelo STF certamente foi o

acolhimento expresso da possibilidade jurídica de pluriparentalidade. Este é um dos

novos temas do direito de família, que vem sendo objeto de debate em diversos países.

Esta aceitação da possibilidade de concomitância de dois pais foi objeto de intenso

debate na sessão plenária que cuidou do tema, face uma divergência do Ministro Marco

Aurélio, mas restou aprovada por ampla maioria. Com isso, inequívoco que a tese

aprovada acolhe a possibilidade jurídica da multiparentalidade. O voto do Ministro

Luiz Fux é firme no sentido do reconhecimento da pluriparentalidade, com um amplo

estudo a partir do direito comparado.

Em um dado momento, afirma:

"Da mesma forma, nos tempos atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva

e a biológica quando o melhor interesse do descendente é o reconhecimento jurídico de

ambos os vínculos (...). Por isso, é de rigor o reconhecimento da dupla parentalidade".

Essas situações de manutenção de dois pais ou duas mães já vinham sendo objeto de

algumas decisões judiciais e estavam figurando com intensidade na doutrina. Há

inclusive um enunciado do IBDFAM aprovado sobre o assunto: enunciado 9 – "A

multiparentalidade gera efeitos jurídicos", do X Congresso Brasileiro de Direito de

Família.

O acolhimento da possibilidade dessa multiplicidade de vínculos familiares,

exclusivamente pela via de uma decisão da nossa Corte Constitucional, coloca – mais

uma vez – o STF na vanguarda do direito de família.

Projeções a partir da tese fixada

Muitas são as análises possíveis a partir da paradigmática decisão proferida nessa

repercussão geral. Nesse momento, registram-se apenas as primeiras impressões, com o

intuito de destacar os principais avanços e conquistas advindos da referida tese aprovada.

Inegável que houve significativo progresso com a referida decisão, conforme também

entendem. Não se nega que alguns pontos não restaram acolhidos, como a distinção entre

o papel de genitor e pai, bem destacado no voto divergente do Ministro Edson Fachin ao

deliberar sobre o caso concreto, mas que não teve aprovação do plenário. Esta é uma

questão que seguirá em pauta para ser melhor esclarecida, sendo que caberá a doutrina

digerir o resultado do julgamento a partir de então.

Merecem ouvidos os alertas de José Fernando Simão, a respeito do risco de se abrir a

porta para demandas frívolas, que visem puramente o patrimônio contra os pais

biológicos. Essa possibilidade deverá merecer atenção especial por parte dos operadores

do direito, mas não parece alarmante e, muito menos, intransponível (em 6 de abril de

2017, por Ricardo Calderón – LFG).

Entretanto, que tal retornarmos ao Poliamorismo que é nosso foco?

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POLIAMORISMO – UM NOVO (VELHO) MODELO DE FAMÍLIA ELANE F. SOUZA

Posteriormente citaremos os artigos que foram reservados pelo Código

Civil Brasileiro para tratar da União Estável; hoje, infelizmente, são os únicos

regramentos oficiais que se poderia utilizar em processos de uniões poliafetivas;

mesmo assim, teríamos que ajustá-los e ainda cumular com as cláusulas de uma

eventual Escritura Pública para, quiçá, “convencer juízo”!

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CAPÍTULO III

III - Quais os Direitos e deveres dos envolvidos?

Como em qualquer relação conjugal, o poliamorismo também deve

seguir regras legais ou se transformará em algo distinto; algo que não poderá ser

designado de família.

Felizmente ou infelizmente, depende do ponto de vista de cada um, a

sociedade modifica para se ajustar aos novos tempos; no entanto, leis novas, para

tratar de assuntos emergentes, só serão criadas após consolidação dessas

mudanças, e ainda não é o caso.

Sendo assim, as famílias que optarem por esse status familiar deverão

se ajustar as leis existentes, da União Estável, por exemplo! Esquivar-se delas,

como se não houvesse Estado, está fora de questão; pois, independentemente das

relações estão os regramentos, e eles são para todos!

III.I – Dos Direitos

O próprio nome Poliamorismo é autoexplicativo. Várias pessoas¹.² se

juntam para viver uma relação de amor! Todas elas sabem e todas aceitam.

Independentemente de viverem ou não sobre o mesmo teto estão cientes umas

das outras; pode, inclusive, ter membros legalmente casadas entre si.

Geralmente são os que estão casados, ou já vivem em união estável (de

forma legal), que decidem “introduzir” outros (as) indivíduos a suas relações.

Assim se forma a relação “poliafetiva” (informalmente).

No entanto, como já frisamos, é uma relação que não está reconhecida

no Brasil. Os efeitos, que proporcionaram a um único “trisal”, que foi à juízo,

estão suspensos para os demais porque, segundo Ministros do Supremo (STF)

envolveria demasiadas áreas do Direito como: Família, Sucessões, Direito

Previdenciário e direito de terceiros, impactando, inclusive, no Cível!

Apesar disso, nós, operadores do Direito, seguimos recomendando

que, qualquer união de natureza familiar deve ser lavrada uma Escritura Pública

– com mais razão a poliafetiva.

A última manifestação, que se tem notícia, a respeito das uniões

poliafetivas se deu em maio de 2016 quando o Conselho Nacional de Justiça

(CNJ), por meio da Ministra Nancy Andrighi, instaurou um pedido de

providências, sugerindo que os Cartórios, de todo o Brasil, parassem de emitir

Escrituras Públicas até que fosse concluído um estudo sobre o assunto (mais

sobre o Parecer - AQUI).

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Ela, no entanto, deixou claro que àquela manifestação não se tratava

de uma proibição – era, apenas, uma sugestão como medida de prudência.

Mas, vamos ao que entendemos ser de Direito do membro poliafetivo,

quando reconhecido.

1 - Em uma eventual separação ou morte, poderão discutir meação e até herança

(divisão de bens inter vivos ou causa mortis);

2 - Quanto aos filhos em comum, estando registrados com mais de um pai e/ou

mais de uma mãe, poderão “discutir” a guarda compartilhada entre os

sobreviventes ou separados;

3 - Pensões e alimentos seriam divididos entre os membros e filhos menores ou

portadores de deficiência sobreviventes; no caso dos membros da relação estes

devem comprovar necessidade e inexistência de outras fontes financeiras;

4 - Quando a prole tiver apenas um pai e uma mãe (sem a socioafetividade

constatada), ficariam sob a guarda do sobrevivente; por separação ou divórcio

discutiriam a guarda total ou compartilhada, como em qualquer relação conjugal.

(CC – 2012) Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada. (Redação dada

pela Lei nº 11.698, de 2008).

§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a

alguém que o substitua (art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a

responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não

vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. (Incluído

pela Lei nº 11.698, de 2008).

III.II – Dos Deveres

Em nosso entendimento, os deveres impostos a união poliafetiva

devem ser os mesmos da união estável e do casamento, quais sejam (artigo 1.566

CC-2002)

Código Civil de 2002

CAPÍTULO IX

Da Eficácia do Casamento

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de

consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.

§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.

§ 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado

propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado

qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas.

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

I - fidelidade recíproca;

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II - vida em comum, no domicílio conjugal; (a doutrina Brasileira entende que

não, a necessidade de conviver sobre o mesmo teto ficou para trás).

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido

e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.

Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz,

que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.

Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos

rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos filhos, qualquer

que seja o regime patrimonial.

Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro

podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício

de sua profissão, ou a interesses particulares relevantes.

Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido,

encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado,

episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de acidente, o outro

exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a administração dos bens.

Agora compare com o que diz a Lei 9.278/96 sobre os deveres da união

estável.

Art. 2° São direitos e deveres iguais dos conviventes:

I - respeito e consideração mútuos;

II - assistência moral e material recíproca;

III - guarda, sustento e educação dos filhos comuns.

Art. 3° (VETADO)

Praticamente os mesmos deveres, não é verdade?

Mas, em se tratando de união estável propriamente dita, como ela é

constituída, como é reconhecida em nosso Código Civil?

Para entendermos, veja o que prescreve TÍTULO III, do referido Código Civil

2002.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a

mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com

o objetivo de constituição de família.

§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não

se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de

fato ou judicialmente.

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§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união

estável.

Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de

lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às

relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos

companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar,

constituem concubinato.

Para que a união estável seja reconhecida os companheiros deverão

observar o que diz os artigos acima; da mesma forma, entendemos uniões

poliafetivas – a única diferença é que elas têm como base a existência de três ou

mais integrantes, mas que também se amam e desejam, juntos, constituir família.

Não se deve esquecer; todavia, dos impedimentos constantes do artigo

1.521 CC/2002 – eles são de verificação obrigatória para o casamento e união

estável; acreditamos, entretanto, na possibilidade de analogia desta última às

uniões poliafetivas.

Tudo que se aplicar a união estável caberá as uniões poliafetivas – esse

é nosso entendimento; para chegarmos a ele, nós nos aprofundamos na leitura

dos artigos da Lei citada anteriormente.

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CAPÍTULO IV

IV.I - O que diz a legislação Brasileira acerca do

assunto?

Juntamente com o título, Poliamorismo, decidimos acrescentar “um

novo (velho) modelo de família”, exatamente pelo fato de ele ainda não ter sido

reconhecido como meio legal de constituição familiar – entretanto, novamente

frisamos: NÃO É NOVO!

Em nosso ponto de vista, algo novo é algo inédito, praticamente não

foi citado e, caso tenha sido, “conta-se nos dedos”; já, em se tratando do poliamor

não haveria dedos suficientes!

Não é de hoje que a imprensa vem publicando notícias acerca das

relações poliafetivas, nacional e internacionalmente; divulgando, inclusive,

entrevistas com membros desses “arranjos familiares” (nome dado por alguns

juristas e operadores do Direito).

Artigos importantes sobre o assunto e publicados no Brasil:

1 - “Poliamorismo nos Tribunais” – por âmbito Jurídico

2 -“O Poliamorismo e a possibilidade de união poliafetiva” – por última

instância.uol

3 - “Reflexões Jurídicas e Sociais sobre o Poliamorismo” – por JurisWay

4 - Trecho de um arquivo publicado pelo consagrado Professor, Juiz, Autor e

Jurista Baiano Dr. Pablo Stolze, juntamente com a revista Consultor

Jurídico (CONJUR) de 05 de maio de 2005, sobre Direito de família e seus

“arranjos” - LEIAM!

O que é poliamorismo?

Trata-se da situação, estudada por alguns psicólogos, em que uma pessoa mantém,

simultaneamente, relações de afeto paralelas com dois ou mais indivíduos, todos cientes

da circunstância coexistencial, vivenciando-se, pois, uma relação sobremaneira aberta.

Mas como o Direito disciplinaria a questão?

Não havendo regra legal específica, o TJRS, em caso semelhante, observando a

afetividade existente, decidiu por equidade a divisão patrimonial, consoante vemos na

referência abaixo.

Justiça determina divisão de bens entre esposa, concubina e filhos

site: Expresso da notícia http://www.lawweb.com.br/conteudo.asp?Codigo=1562

Decisão é inédita: A 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça reconheceu que um cidadão

viveu duas uniões afetivas: com a sua esposa e com uma companheira. Assim,

decidiram repartir 50% do patrimônio imóvel, adquirido no período do concubinato,

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entre as duas. A outra metade ficará, dentro da normalidade, com os filhos. A decisão é

inédita na Justiça gaúcha e resultou da análise das especificidades do caso.

A companheira entrou na Justiça com Ação Ordinária de Partilha de Bens contra a

esposa e filho do falecido.

Alegou que manteve relacionamento público e notório com ele entre 1970 e 1998.

O relator, Desembargador Rui Portanova, concedeu apenas em parte o pedido da

autora pois “não há como retirar dos filhos o direito de herança ou totalmente da esposa

o seu direito de meação”. Assim, declarou que a companheira tem direito a 25% do

patrimônio imóvel adquirido pelo falecido durante a existência do concubinato.

A companheira vivia em Santana do Livramento e também teve um filho com o cidadão.

Já a família legalizada vivia em São Gabriel. Para o magistrado, apesar de não se

aplicar o novo Código Civil diretamente, a situação é prevista no artigo 1.727. Para ele,

o novo Código Civil não proibiu o concubinato. “Agora é possível dizer que o novo

sistema do direito de família se assenta em três institutos: um, preferencial e

longamente tratado, o casamento; outro, reconhecido e sinteticamente previsto, a união

estável; e um terceiro, residual, aberto às apreciações caso a caso, o concubinato”,

afirmou.

Para o Desembargador Portanova, “a experiência tem demonstrado que os casos de

concubinato apresentam uma série infindável de peculiaridades possíveis”. Avaliou que

se pode estar diante da situação em que o trio de concubino esteja perfeitamente de

acordo com a vida a três. No caso, houve uma relação “não eventual” contínua e pública,

que durou 28 anos, inclusive com prole, observou.

“Tal era o elo entre a companheira e o falecido que a esposa e o filho do casamento

sequer negam os fatos – pelo contrário, confirmam; é quase um concubinato

consentido.”

O Desembargador José Ataides Siqueira Trindade acompanhou as conclusões do

relator, ressaltando a singularidade do caso concreto: “Não resta a menor dúvida que

é um caso que foge completamente daqueles parâmetros de normalidade e apresenta

particularidades específicas, que deve merecer do julgador tratamento especial”.

Já o Desembargador Alfredo Guilherme Englert, que presidiu a sessão ocorrida em

27/2, acompanhou também, nas conclusões, o relator.

Na mesma linha, reconhecendo apenas direitos obrigacionais ao amante (concubino ou

concubina), confirase, na jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: Proc.

1.022398.016504-5/001 (Revista Consultor Jurídico de 05 de maio de 2005, e veja

também a mesma Revista de 11 de janeiro de 2006 –www.conjur.com.br).

5 - “Poliamor é negado no Supremo e no STJ” – por CONJUR 2012

6 - Defensoria Pública coloca em debate poliamorismo e multiparentalidade nas

famílias e suas consequências jurídicas – por Defensoria Amazonas/BR 2017

Sempre que nos referimos a esse novo modelo de família preferimos

usar as palavras poliafetividade, poliamorismo e/ou relações poliafetivas.

Arranjos familiares soa “preconceituoso”; dá a entender que o

Poliamorismo não é modelo de família, trata-se de um tipo de “arranjo” – algo

semelhante, mas esdrúxulo ao mesmo tempo. Nós, como defensores,

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simpatizantes e/ou praticantes é que pensamos que sim, são família e merecem

respeito.

No Brasil, infelizmente, ainda não existe Lei que defina o que é, e

quando poderia ser caracterizada; todavia, e aos poucos, alguns “casais liberais”

vem introduzindo em suas vidas outras pessoas que amam e desejam, como eles,

compartilhar e construir caminhos juntos!

Assim, com o tempo e aumento de “casos” na justiça a na vida real, ele

se transformará em lei.

Torcemos para que isso ocorra brevemente; não é possível viver à

margem do ordenamento jurídico uma vida toda.

Acreditamos nisso porque, além dos filhos, há demasiados interesses

em um relacionamento familiar, interesses esses que somente a lei poderia dar

conta; suponha que a justiça tenha que solucionar conflitos envolvendo três,

quatro ou mais pessoas adultas sem regras jurídicas?

Em casos assim, sem uma lei para seguir, a “judiciário enlouqueceria”

e acabaria por fazer “injustiça”!

Portanto, nosso conselho é que os interessados proponham a criação

de uma lei para regulamentar suas relações. Felizmente, aqui há essa

possibilidade! Basta que você entre no site da Câmara dos Deputados, leia o que

está lá e depois siga os passos.

Clique aqui para saber mais sobre Propostas de Lei

Mas não se esqueçam, essa é apenas uma dica! Propor uma Lei não é

cria-la; o êxito de uma proposta depende muito do empenho do proponente e da

importância do assunto para o país, além do interesse dos demais na proposta!

Por outro lado, se a pessoa mais interessada na criação for do meio

político (direta ou indiretamente), haverá maiores probabilidades de sucesso;

caso contrário, busque e ENCONTRE um “padrinho” para a causa dentro do

Parlamento porque, Iniciativa Popular é quase uma ficção jurídica (mas

impossível não é)!

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CAPÍTULO V

V.I – Opiniões, “CONSAGRADAS”, de autores

Brasileiros – existem?

Infelizmente não há obras relevantes, tampouco consagradas que trate

do assunto e possa servir de parâmetro (e fonte) para futuras decisões judiciais.

No entanto, o fato de não haver lei, de não haver autores consagrados

falando, concordando ou discordando das uniões plúrimas”, “plurais”,

“múltiplas”, “poliafetivas”, poliamoristas, não significa que elas INexistem.

Existem e é por isso que nós decidimos falar, de forma sucinta e

objetiva. Por ser assim, não classificaremos a obra em questão, como sendo

acadêmico-jurídica; do mesmo modo, não será um manual de implementação de

novas uniões – trata-se, entretanto, de uma obra mista com interesses difusos.

Diríamos que em uma livraria ou biblioteca parte do acervo poderia

ser encontrado na estante relativa ao gênero Direito de Família, a outra, na de

Filosofia de vida!

V.II - Autores que já escreveram sobre o assunto,

mas ainda não viraram clássicos

Uma das mais citadas Juristas e Autoras do Direito de Família, no

Brasil, já se manifestou favorável à essa estrutura familiar. Em artigo publicado,

após repercussão do primeiro registro público em cartório (ano de 2012) Maria

Berenice Dias, declarou, em outras palavras, o seguinte: “Temos que respeitar

a natureza privada dos relacionamentos e aprender a viver nessa sociedade

plural reconhecendo os diferentes desejos”....”o princípio da monogamia não

está na constituição, trata-se de um viés cultural. O Código Civil, por exemplo,

proíbe apenas o casamento entre pessoas casadas, o que não é o caso. Essas

pessoas trabalham, contribuem e, por isso, devem ter seus direitos reconhecidos

– a justiça não pode chancelar a INjustiça!”

Um outro autor que parece ter se manifestado favorável foi Carlos

Eduardo Silva e Souza em seu Ebook nomeado: “O Direito Privado

contemporâneo e a família Pós-Moderna”, (este, disponível para compra

em Books Google) - Não acresceremos nada relativo à obra porque não tivemos

o privilégio de ler.

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Outra obra, que acreditamos ser interessante e favorável às relações

poliafetivas é “União Poliafetiva no Direito Brasileiro” de Pedro Teobaldo

– disponível para compra na Editora Multifoco.

E, por fim, a pequena obra de Alinne Marques (publicada em 2015 pela

plataforma ISSUU.COM), denominada de “O reconhecimento das uniões

poliafetivas no Direito Brasileiro”.

Figura 3 Família - imagem grátis site pixabay, modificada por Elane Souza com aplicativo PicArt

V.III - Nota a ser levada em conta

Quando nos referimos, no primeiro subtítulo deste capítulo, sobre

obras consagradas e de relevância, não tivemos a intenção de ofender nenhum

autor e sua importância para o Direito ou literatura de modo geral. Qualquer

pessoa que toma parte do tempo, e até recursos financeiros para escrever algo

novo e publica, tem relevância, merece respeito e aplausos – infelizmente, não é

isso que se passa no meio jurídico. O costume entre nós é retirarmos o valor dos

“menores”, dos desconhecidos e elevar, sobremaneira, os autores já consagrados.

Enquanto colegas e o judiciário seguirem menosprezando escritos

novos nunca nos consagraremos como formadores de opinião em meio

acadêmico-jurídico.

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O judiciário, quase sempre faz isso quando acata argumento baseado

em citação conhecida (de autor renomado), em detrimento de uma citação

“desconhecida” sem, sequer se aprofundar na tese exposta; por outro lado,

colegas de profissão e docentes o fazem quando citam ou indicam manuais e

obras de renomados autores sem uma referência sequer, às novas.

Afinal, quem foi que disse que opiniões mais lidas são mais corretas e

por isso devem ser levadas em conta? Uma opinião conhecida é apenas uma

opinião (MAIS) divulgada e quiçá mais antiga; obrigatoriamente, NÃO significa

que seja a MELHOR!

Acreditamos que essas opiniões são consideradas “melhores” por

causa da editora, da capa, e da divulgação nas livrarias; tudo isso regado à

Champanhe, com direito à autógrafo e foto com autor contribui, e muito, para

que a opinião seja ouvida, lida e acatada.

“Uma boa “IMPRESSÃO” é a que fica”; essa, os pequenos e

desconhecidos autores não tem, quase sempre porque não podem! Quem é que

não gostaria de causar boa “IMPRESSÃO”? Às vezes, ela é tão custosa que o

Autor prefere publicar, apenas, em meio digital.

Não é a mais almejada pelos autores; todo escritor deseja ter a versão

do seu livro em papel – poder pegá-lo, acaricia-lo e até cheirá-lo, isso é algo tão

sonhado, que alguns chamam de filho!

Como podem perceber essa foi uma nota de repúdio às ideias

repetitivas e a supervalorização de autores consagrados em detrimento dos novos

e sem recursos. Posicionamentos inéditos, ideias novas e inclusive evolucionistas

deveriam ser levados em consideração, se não pela sociedade, ao menos pelo

judiciário e, urgente!

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CAPÍTULO VI

V.I - Existem decisões nos Tribunais?

Infelizmente, também não!

O que existe são recomendações. Uma delas vem do Conselho

Nacional de Justiça (CNJ) e do ano de 2016. Naquele momento a Ministra Nancy

Andrighi recomendou aos cartórios do Brasil que agissem com parcimônia

quando o assunto fosse lavrar Escritura Pública de união poliafetiva.

O receio da Corte era e segue sendo que a coisa evolua, saia de um

limite tolerável e passe a fazer parte do “cotidiano dos cartórios”. Isso, em um

futuro, poderia levar demasiadas pessoas aos tribunais em busca dos direitos

acordados nessas escrituras públicas – mais trabalho para o Judiciário, subsídio

seguiria igual; melhor mesmo é controlar o fluxo, certo?

– Para eles, talvez; mas, para a sociedade que necessita de

julgamentos mais vertiginosos é que não!

Lamentavelmente, essa é a imagem que nos passam quando

enfrentamos o judiciário e ficamos pendentes de decisões céleres. Já dizia Rui

Barbosa: “A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e

manifesta”!

Em nossa opinião a Justiça Brasileira é lenta e ineficiente. Deveriam

se manifestar mais rapidamente sobre casos corriqueiros ou novos; assim,

mesmo não havendo lei para regulamentá-los (como esse, por exemplo), haveria

os precedentes. Todos ficariam satisfeitos: a justiça, que trabalharia menos e as

partes (Recorrentes e Recorridos), que teriam seus problemas solucionados de

forma definitiva – para melhor ou pior!

- Mas, resolução de forma definitiva, para pior, não é algo ruim?

Sim, MAS é mais sensato saber que será encarcerado, ou terá direitos

materiais retirados ou partilhados, que passar décadas com a “espada de

Dâmocles” sob a cabeça. Tome como exemplo, algo que não tem muito a ver

com justiça: uma mãe que vive “órfã de filho desaparecido”, por 10 anos. Não

seria melhor ter a certeza da morte, que nunca ter certeza de nada?

Além desse exemplo podemos citar outro, desta feita, relativamente à

justiça, digo, INjustiça!

Suponha que um Senhor, muito doente, busque o direito de se

aposentar na justiça porque o órgão Previdenciário, responsável pela concessão

do benefício, decidiu que ele não teria direito. Após longos anos, a justiça,

finalmente, reconhece que sim, que deve receber pois, indiretamente teria

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contribuído; NO ENTANTO, a boa notícia, juntamente com o benefício,

chegaram tarde – o referido Senhor havia falecido.

Por esses e por outros motivos, que nem vale a pena discorrer, também

nós, acreditamos que justiça tardia não faz justiça. Infelizmente, o judiciário

brasileiro é campeão nesse tipo comportamento.

Como os exemplos citados acima, há casos de pessoas que necessitam

de tratamento médico urgente, e, como o Estado é lento e trabalha com descaso,

sem respeito à Constituição e sem piedade do ser humano; recorrem ao Judiciário

para adiantar os cuidados intensivos, inadiáveis e imprescindíveis à

sobrevivência; mas, quando a decisão chega já é tarde!

Como podem perceber, no Brasil, o Estado trabalha interligando, de

forma sistemática, os três poderes. Nenhum deles proporciona ao cidadão

prestações em tempo hábil!

Administradores políticos, Legislativo (também político) e Judiciário

trabalham juntos para “destruir” o Estado Brasileiro – a maioria dos

representantes do sistema está aí para CONSTRUIR o próprio patrimônio; tudo

isso às custas da confiança dos “desavisados” que os elegeram! Infelizmente é

assim, e não há muito que se possa fazer – (dicas de mudança política em outra

obra); aqui, seguimos com o poliamorismo.

Tudo que citamos a respeito da justiça, do descaso com as leis e com

os direitos do cidadão tem como objetivo salientar que, definitivamente, não dá

para esperar muito dos políticos que temos; pois, além de uma maioria corrupta

são moralistas – parece contraditório, mas não é! Basta lembrar do

impeachement de Dilma Roussef, onde, grande parte deles votaram contra ela e

“PELA FAMÍLIA”, (o modelo tradicional, diga-se de passagem)! Imaginem pedir,

ou simplesmente sugerir a elaboração de uma Lei que permita o poliamorismo!?

Nossos pobres “representantes” ficariam chocados!

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CAPÍTULO VII

VII.I - Quero uma relação “poliafetiva”, o que tenho

que fazer para legaliza-la?

Nós aconselhamos Escritura Pública. Independentemente do que diga

o Supremo e o CNJ, é melhor munir-se de comprovantes documentais, que

chegar a juízo de mãos a abanar, em eventual discussão.

Geralmente as uniões, todas elas (salvo raras exceções), são baseadas

em afeto, mas no momento de uma separação os membros esquecem disso e das

promessas que fizeram, e passam a digladiar pelos bens materiais que

construíram juntos e pelos que não, até o último centavo.

Por isso, afirmamos que seguir com relações afetivas, seja ela de duas

ou mais pessoas, sem a lavratura de documento que prescreva, com exatidão, os

direitos de cada um, é quase como “navegar com um barco à vela e contra o

vento” – (pode e consegue, mas é quase impossível sair do lugar; terá que se

adaptar à bolina ou cochado).

No entanto, se o Cartório mais próximo disser não – INSISTA; tente

de todas as formas, convencê-lo; mas, não havendo maneira procure outro que o

faça! Não importa que digam que a Escritura Pública não seria reconhecida no

Direito de Família, o Direito Civil, das pessoas envolvidas na relação, estaria

assegurado.

Quanto aos filhos menores e comuns, nada mudaria – seguiria sendo

o Direito de Família, responsável por “solucionar os conflitos” (guarda, alimentos

e inclusive paternidade socioafetiva – neste último caso, poderiam se valer,

também da Repercussão Geral 622 – do STF).

VII.II - Relações poliafetivas no mundo em dias

atuais

A BBC Portuguesa publicou, em meados de 2016, um artigo muito

interessante extraído da BBC Future sobre o Poliamorismo, denominado: “O que

os relacionamentos abertos têm a ensinar aos monogâmicos”?

O artigo é iniciado com alguns pormenores sobre a vida de um homem

americano chamado Franklin Veaux, e seus relacionamentos “poliamoristas”. Ele

vive com uma parceira mas tem três outros relacionamentos estáveis, com

mulheres, fora de casa, e todas sabem.

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Sua companheira, digamos, mais fixa – que vive sobre o mesmo teto,

também tem um namorado estável, de conhecimento geral.

Franklin disse, em entrevista para a BBC Future, que nunca foi e nunca

quis ser monogâmico.

A seguir, citaremos movimentos favoráveis ao poliamorismo e

depoimentos de pessoas que já vivem desta forma e são, ainda mais felizes.

Entretanto, ressaltamos que não serão exemplos de sociedades poligâmicas, estas

existem há muito tempo e são socialmente aceitas em quase 50 países do mundo,

sem falar que algumas (dez ou mais) de forma legal.

Em junho de 2017 o site G1 - RJ, postou várias declarações gravadas

em vídeo sobre Poliamorismo e relações abertas (e não são a mesma coisa); na

primeira os envolvidos tem sentimentos pelos integrantes entre si, no segundo

tipo o que “rola”, entre as pessoas do relacionamento, é apenas sexo.

A GNT-PLAY exibiu, em agosto de 2015, algumas entrevistas com

pessoas que vivem o poliamor há algum tempo. Os depoimentos dos envolvidos

são superinteressantes; vale a pena acessar o site para conhece-los um pouco

mais e é claro, suas formas de relacionar.

Com relação à primeira Escritura Pública lavrada em cartório no

Brasil, e que teve como finalidade “regulamentar” a vida de um “trisal” (mesmo

que “casal”, só que de três integrantes), foi realizada uma entrevista com a Tabeliã

Claudia Domingues, e publicada no site BBC.portuguese/notícias/2012. É

uma notícia, que, apesar de “antiga”, vale a pena ser lida.

Além das citações anteriores existem grupos específicos sobre o

assunto no facebook. Quem se interessar e quiser fazer parte (não somos

administradores de nenhum e nem fazemos parte – apenas indicamos como fonte

de conhecimento e informações com membros integrantes e, quiça´praticantes).

SÃO ELES:

https://www.facebook.com/search/top/?q=poliamor%20e%20divers

idade

https://www.facebook.com/groups/poliamorrj/

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VII.III - RELAÇÕES POLIGÂMICAS BASEADAS NA

RELIGIÃO

Interessante ressaltar que na época do homem nômade, aquele que

vivia no estado de natureza, era comum se “deitar” com várias mulheres,

exatamente como a maioria dos animais. Segundo estudos antropológicos o

homem só começou com a monogamia (e em alguns lugares) por questões

financeiras e também pela fixação, que passou a se dar num só local. Mesmo

assim, ser monogâmico não era algo dominante.

Contudo, no século 19, com os ideais românticos, a monogamia se

tornou mais popular; entretanto, só mais tarde é que a exclusividade sexual

apareceu. Vale ressaltar que, apesar da monogamia ser mais dominante no

mundo, atualmente existem sociedades que tem a poligamia como costume,

algumas, inclusive, com bases religiosas e legais.

Como já dissemos anteriormente, a bíblia relata casos de homens com

duas, três e até dezenas de mulheres. Hoje, entretanto, pastores e padres

conduzem discursos moralistas, contrariando o que diz o velho testamento e

enaltecendo o novo.

O mais intrigante é perceber que o referido velho testamento segue aí

– firme, intacto e, nenhuma das religiões que hoje pregam a monogamia teve

coragem para rasgá-lo. Isso só pode significar uma coisa: para certas ocasiões

usa-se o velho testamento, para outras, o novo – tudo dependerá da conveniência

e da forma como será visto e entendido pelo “rebanho” de seguidores - ouvintes!

Prega-se o que o povo quer e precisa ouvir!

Veja, por exemplo, o que declarou um Pastor brasileiro de nome Silas Malafaia,

em sua página oficial:

“Na civilização antiga, as famílias eram organizadas em tribos e viviam sob o regime

do patriarcado, que dava ao homem poderes sobre a família e domínio sobre a mulher.

A poligamia era livremente praticada naquela época porque ainda não haviam sido

reveladas as leis divinas que regem os relacionamentos e outros aspectos da vida. O

padrão de comportamento ético e moral da população era baseado em questões

culturais, no senso comum.

Ainda assim, a lição bíblica é clara: a poligamia causou graves problemas ao

relacionamento familiar. Vemos isso no Antigo Testamento, na história dos patriarcas

e dos reis de Israel.

Por exemplo, o nascimento de Ismael, o filho que Abraão teve com Agar, uma escrava

egípcia, provocou tanto ciúme e tanta rivalidade entre ela e Sara, a esposa legítima do

patriarca, que Agar foi expulsa de casa com o filho, e Abraão teve de separar-se de

Ismael de vez (Gênesis 16.1-9; 21.8-14).

O ciúme que as irmãs Raquel e Leia tinham do marido, Jacó, causou inúmeros

problemas familiares a elas, aos filhos e ao patriarca (Gênesis 30.1-24; 37.1-4,17-36).

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O menosprezo que Ana sofreu por parte de Penina, a outra esposa de Elcana, causou-

lhe muito sofrimento (1 Samuel 1).

Salomão, por motivos políticos, casou-se com 700 princesas e teve 300 concubinas. Por

fim, acabou adorando outros deuses, desobedecendo ao Senhor, e sofrendo funestas

consequências (1 Reis 11.1-11).

Os países muçulmanos ainda hoje adotam a poligamia, por uma questão cultural.

Porém, só a família monogâmica tem a chance de manter um relacionamento estável,

tanto na área espiritual como na emocional, porque esse foi o padrão estabelecido por

Deus para o relacionamento entre o homem e a mulher; padrão reafirmado por Jesus

em Marcos 10.7,8.

Nesse texto bíblico não é dito que o homem se unirá a suas mulheres. Está no singular:

um homem se unirá a uma mulher, especificamente à sua mulher, e não à de outrem.

Jesus enfatizou o casamento de um homem com uma só mulher, e não o de um homem

com várias mulheres, ou vice-versa. Ele condenou o adultério”.

O pastor em questão, as entidades eclesiásticas e parcela significativa

dos sacerdotes e clero são favoráveis à monogamia e tentam, de tudo, explicar os

motivos; mesmo sendo contraditória é a bíblia que utilizam para isso!

Suponha uma obra qualquer que tenha como tema “Eu amo a

natureza” e no meio dela, ou no final, o autor diga que odeia a natureza; ou fale

de uma jovem que é lésbica e adora namorar homens. Não dá, não coaduna – é

demasiada incoerência!

O argumento do pastor S. Malafaia, na citação acima, e das demais

entidades eclesiásticas sobre o assunto, é incoerente da mesma forma que é o

exemplificado no parágrafo imediatamente anterior.

Os dez mandamentos e até o nome “Eclesiástico” vêm da bíblia e estão

no ANTIGO testamento (este último se refere ou pertence ao âmbito da igreja ou

de seus sacerdotes; eclesial). Ademais, não acreditamos que eclesiástico tenha

outra serventia que não seja essa do nome – apenas uma palavra a mais, no

vocabulário, para identificar algo ou alguém; já, os Dez Mandamentos seriam de

“obediência obrigatória” pelos cristãos e, ironicamente, estão no Velho

Testamento (livros de Êxodo e Deuteronômio), juntamente com outros livros que

confirmam a poligamia (poliginía).

Com as contradições existentes entre o velho e o novo testamento,

sugerimos às “autoridades eclesiásticas” que escolha um dos livros e destrua (um

sonho nosso, mas irrealizável). Quando houver somente uma das versões bíblicas

não haverá mais problemas a serem discutidos e interpretados.

Geralmente, hoje, a poligamia se dá em países onde prevalece a cultura

mulçumana e isso, especialmente no continente Africano.

Segundo artigo publicado na página da Editora Abril.Veja, em

janeiro de 2016, pesquisadores concluíram que sociedades poligâmicas seriam

mais violentas que as monogâmicas. Para essa conclusão partiram do princípio,

inclusive, da contraditória bíblia e seu velho testamento, com Jacó e suas duas

esposas, que deram origem a doze tribos; as brigas de Sara, esposa legítima de

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Abraão, com Agár (a “pobre escrava”), que foi obrigada a se deitar com ele para

gerar descendência, mas depois rechaçada e expulsa com o filho.

Outro famoso exemplo de desavença seria as irmãs de Raquel por

ciúmes de Jacó.

Não esqueçamos, porém, de outro “livro sagrado” (o Alcorão, para o

Islamismo), que permite só até quatro esposas; mas, seu líder (o Profeta Maomé)

oficialmente teve mais de doze – “faça o que prego, mas não faça o que faço”!

Mais ou menos por aí!

Recordam-se do princípio, da imposição para se converter ao

islamismo? “Quem tiver mais de quatro esposas deve abrir mão do excesso”!

Ficamos aqui a imaginar como seria isso: “Tu vais, tu ficas”! Triste, não?

Mas, retornemos aos dias atuais.

- Sabiam que nos Estados Unidos, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos

dos Últimos Dias (Mórmons), onde foi criada e tem mais seguidores, os

dissidentes da original seita (renomeados de Mórmons Fundamentalistas)

praticam a Poligamia? Pois é! Para isso eles criaram uma “nova revelação divina”

(em 1890) que sustenta a permissão da prática da Poliginia (um homem com

várias mulheres).¹.³

Acreditamos que essa dissidência se deu assim: homens que queriam

a poligamia, insatisfeitos com a “revelação” anterior que proibia, inventaram uma

“nova revelação” que permite; com base nisso criaram nova seita.

Dissidentes e simpatizantes da poligamia se encontraram! Passaram

a seguir o novo modelo da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,

praticando “livremente” a poliginía, sem “dor na consciência”, e melhor, sem

pecar!

Os Estados Unidos da América, hoje, contam com uma parcela

significativa desses religiosos!

Ainda sobre os Mórmons, vale a pena a leitura de um artigo publicado

em janeiro de 2017 pelo site VOZESMORMONS.ORG,¹.³ lá os leitores

encontrarão detalhes sobre esses casamentos plurais e algo mais – a indicação de

uma obra da entrevistada, historidora Laurel Thatcher Ulrich em seu novo livro,

A House Full of Females: Plural Marriage and Women’s Rights in Early

Mormonism, 1835-1870 (Uma Casa Cheia de Mulheres: Casamento Plural e

Direitos das Mulheres nos Primórdios do Mormonismo, 1835-1870).

Por isso, criticamos o sistema religioso, em geral: religiões são criadas

para se adaptarem ao que o povo quer e não o contrário; “se sou poligâmica,

homofóbica, homossexual, anti-donante de órgãos e tecidos, ou possuo qualquer

característica criticada pela maioria das religiões, mas mesmo assim desejo ter

uma crença, é só procurar uma que me aceite ou criar nova que, tanto eu quanto

os demais seguidores, estaremos salvos”!

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Parece tão simples que soa inverossímil, SÓ QUE NÃO! Infelizmente

é assim que surgem novas religiões, com insignificantes diferenças e, SALVO,

raríssimas exceções!

Na antiguidade religiões eram criadas, hoje, por argumentos

convenientes, elas são transformadas!

Os líderes cristãos, em outras palavras, afirmam que o casamento

monogâmico veio trazer paz à vida familiar, por isso Deus teria “mudado de ideia”

quando da redação do novo testamento; afirmações feitas por um dos líderes

religiosos no Brasil, formador de opinião. (Pr. S. Malafaia, no trecho citado

acima).

Por outro lado, e com mesmo ponto de vista, estão pesquisadores da

Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. Eles realizaram um estudo e

publicaram na Philosophical Transactions of the Royal Society (2011). Nessa

pesquisa afirmam que a monogamia se tornou regra em quase todas as culturas

do planeta justamente para evitar problemas que se tornariam crônicos em um

sistema em que as pessoas têm mais de um cônjuge.

Abaixo, publicação de parte de uma entrevista com o Pesquisador

sobre a mudança, da poligamia, para a monogamia atual.

“Nosso objetivo foi entender a razão de o casamento monogâmico ter se tornado a regra

na maioria das nações desenvolvidas nos últimos séculos, já que historicamente a

maioria das culturas praticou a poligamia”, afirmou Joseph Henrich, professor de

antropologia cultural.

A razão, descobriu o estudo, é a estabilidade social que a monogamia traz, um

contraponto às altas taxas de crimes como estupros, sequestros, roubos e homicídios

das sociedades poligâmicas. Para os pesquisadores, grupos de homens solteiros são os

responsáveis por crimes desse tipo. “A escassez de mulheres disponíveis

aumenta a competição entre os solteiros”, afirma Henrich. Como o número

de homens e mulheres é parecido, mesmo com uma pequena maioria de

mulheres, se alguns homens casam com várias mulheres, outros ficam sem

nenhuma”.

O maior ganho evolutivo da monogamia, conforme a pesquisa, é garantir uma

distribuição igualitária de casamentos. Com a diminuição no foco da competição, as

famílias podem gastar mais tempo fazendo planos, produzindo riqueza e investindo na

educação dos filhos. Além disso, a menor competição aproxima a idade média de

maridos e esposas, o que faz com que a mulher ganhe poder de decisão no casamento.

(citação extraída da Editora Abril.Veja).

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CONCLUSÃO

Enfim, não é um tema fácil de ser analisado; especialmente quando a

pessoa que escreve não vive a situação; apenas imagina, apenas supõe, faz

conjecturas. Por outro lado, dá para fazer uma análise do ponto de vista estando

fora. Desde logo, não é algo que viveria! Apenas apoio e compreendo; na verdade,

admiro quem já fez ou fizer uma escolha assim; afinal se uma relação à dois já

difícil, com mais adultos envolvidos então...

A vida “solitária” (máximo a dois adultos), em nosso ponto de vista, é

bem mais sossegada. Quem quiser viver uma vida “POLI” tem que ter em conta a

certeza de que irá compartilhar e dividir tudo (sentimentos, bens materiais,

atenção e amor da prole, além da dos animais que adotarem). Egoísmo e

Individualismo não combinam com POLIAMORISMO – infelizmente, esses

defeitos, quase todos nós temos!

Entrementes, vale salientar que nem aqui, nem na maioria dos países

Ocidentais está legalizado o poliamorismo, a não ser que a pessoa seja “devota”

de alguma religião que pregue a poligamia e se “aproveite” disso para vivê-la.

No entanto, há diferenças básicas entre o POLIAMORISMO e a

POLIGAMIA. Geralmente, os países que permitem a poligamia, ESTADO e

RELIGIÃO se misturam (a Lei do Estado é a religião); e, sendo assim, maioria

esmagadora das vezes, só é aceita a forma poligâmica POLIGINIA– um homem,

várias mulheres. Essa talvez seja a maior diferença do POLIAMORISMO para a

POLIGAMIA. Fundamentalismo religioso, onde prevalecem Direitos para o

homem em detrimento da mulher, não combinam com POLIAMORISMO. Este é

amor, afeto, igualdade entre as partes e vontade de constituir família; àquela é

posse do homem para com as envolvidas e tem como uma das finalidades geração

de prole.

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ANOTAÇÕES FINAIS

¹ - (Burns) Edward McNall [por Wikipédia ] - historiador estadunidense

¹.¹ - Ao mesmo tempo não quer dizer (mesmo momento – concomitantemente); relações poliamoristas,

são formatos de família – 3 pessoas, ou mais, unem “suas vidas” para constituí-la; não quer dizer que

durmam e se relacionem sexualmente, todos, no mesmo instante – mas podem;

¹.² - Pessoas (elas, as pessoas); homem ou mulher

¹.³ - Sobre Mórmons e Mórmons dissidentes SUPER INTERESSANTE , mórmon.org ,

VOZESMORMONS.ORG

Artigos Citados – (alguns com trechos, outros

somente referência) (Calderón), Ricardo, (abril 2017), “Novidades no Direito de Família - STF acolhe

socioafetividade e multiparentalidade”

1 - Âmbito Jurídico, “Poliamorismo nos Tribunais”

2 - Última instância.uol, “O Poliamorismo e a possibilidade de união poliafetiva”

3 - JurisWay “Reflexões Jurídicas e Sociais sobre o Poliamorismo”

4 - Consultor Jurídico, (CONJUR), (2005), sobre Direito de família e seus “arranjos”.

Trecho de um arquivo publicado pelo sensacional Professor, Juiz, Autor e Jurista Baiano

Dr. Pablo Stolze, juntamente com a referida revista

5 -CONJUR (2012) “Poliamor é negado pelo Supremo e pelo STJ”

6 - Defensoria Amazonas/BR (2017), Defensoria Pública coloca em debate poliamorismo

e multiparentalidade nas famílias e suas consequências jurídicas

(Silas), Malafaia, Pr (2014), “Por que a poligamia é pecado e crime se na

civilização antiga era permitido”?

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Referências Bibliográficas (com trechos e ou

somente citação do nome da obra) (Dias), Maria Berenice (Autora Brasileira – consagrada pelos operadores do Direito,

Estudantes, Juristas e, de modo geral, pelo Direito de Família e IBDFAM) – citação em

site: “O afeto merece ser visto como realidade digna de tutela”

(Dias) Maria Berenice, (2012) Artigo publicado após repercussão de um “primeiro”

Registro Público de União Poliafetiva em Cartório de São Paulo

*Bíblia sagrada

*Alcorão

(Silva e Souza) Carlos Eduardo, (2015) “O Direito Privado contemporâneo e a família

Pós-Moderna”

(Teobaldo), Pedro, (“União Poliafetiva no Direito Brasileiro”

(Marques), Alinne (2015), “O reconhecimento das uniões poliafetivas no Direito

Brasileiro”

(Ulrich), Laurel Thatcher - House Full of Females: Plural Marriage and Women’s Rights

in Early Mormonism, 1835-1870 (Uma Casa Cheia de Mulheres: Casamento Plural e

Direitos das Mulheres nos Primórdios do Mormonismo, 1835-1870).