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III 11111 III 111111111111111111111111111111 III 1828920044014200 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RR Processo na Origem: 1828920044014200 RELATOR(A) : DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA SIFUENTES APELANTE : NEUDO RIBEIRO CAMPOS ADVOGADO : MARCELO LUIZ AVILA DE BESSA APELADO : JUSTICA PUBLICA PROCURADOR : RODRIGO GOLIVIO PEREIRA EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 312 DO CP. PECULATO. “GAFANHOTO”. COMPET~NCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. CAPITULAÇÃO. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADAS. ART. 288 DO CP. QUADRILHA OU BANDO. ABSOLVIÇÃO. ART. 386, VII, DO CPP. DOSIMETRIA DA PENA. 1. Apelante acusado de, no cargo de Governador, ter sido o mentor de esquema de inserir na folha de pagamento do Departamento de Estradas de Rodagem de Roraima - DER/RR e da Secretaria de Administração SEAD pessoas que jamais prestaram serviços ao estado, cujos salários eram embolsados por terceiros, mediante procuração outorgada pelos fictícios servidores, estes conhecidos como “gafanhotos”. 2. Compete à Justiça Federal o processo e o julgamento de ação penal cujos delitos referem-se a desvio de recursos relativos a convênios firmados entre o estado de Roraima e a União, e sujeitos à fiscalização de órgão federal, consoante o laudo de exame econ8mico-financeiro. Precedentes da Turma e da Segunda Seção. 3. O delito de peculato (art. 312 do CP) exige do sujeito ativo a condição de servidor público (art. 327 do CP) . Contudo, nos termos do art. 30 do CP, tal qualidade transmite-se a todos que dela tenham conhecimento e utilizem-se disso para praticar a conduta criminosa. 4. Autoria e materialidade do delito previsto no art. 312 do Código Penal demonstradas, afastando a alegação de atipicidade da conduta. 5. Absolvição do apelante da imputação de prática do delito previsto no art. 288 do CP, nos termos do art. 386, VII, do CPP (não existir prova suficiente para a condenação) . Precedente da Segunda Seção desta Corte. 6. Dosimetria da pena em consonância com os arts. 59 e 60 do CP. 7. Incidência da causa de aumento prevista no art. 327, § 2°, do Código Penal. TRF 1 REGIÃO/TMP.15—02-0S Criado por TR7 14 03 C: \Users\tr79903\AppData\Local\Temp\000012289200440142003-1 - doc

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III 11111 III 111111111111111111111111111111 III1828920044014200

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

RELATOR(A) : DESEMBARGADORA FEDERAL MONICA SIFUENTESAPELANTE : NEUDO RIBEIRO CAMPOSADVOGADO : MARCELO LUIZ AVILA DE BESSAAPELADO : JUSTICA PUBLICAPROCURADOR : RODRIGO GOLIVIO PEREIRA

EMENTA

PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 312 DO CP. PECULATO. “GAFANHOTO”.COMPET~NCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. CAPITULAÇÃO. AUTORIA EMATERIALIDADE DEMONSTRADAS. ART. 288 DO CP. QUADRILHA OU BANDO.ABSOLVIÇÃO. ART. 386, VII, DO CPP. DOSIMETRIA DA PENA.

1. Apelante acusado de, no cargo de Governador, ter sido o mentorde esquema de inserir na folha de pagamento do Departamento deEstradas de Rodagem de Roraima - DER/RR e da Secretaria deAdministração — SEAD pessoas que jamais prestaram serviços aoestado, cujos salários eram embolsados por terceiros, medianteprocuração outorgada pelos fictícios servidores, estes conhecidoscomo “gafanhotos”.

2. Compete à Justiça Federal o processo e o julgamento de açãopenal cujos delitos referem-se a desvio de recursos relativos aconvênios firmados entre o estado de Roraima e a União, e sujeitosà fiscalização de órgão federal, consoante o laudo de exameecon8mico-financeiro. Precedentes da Turma e da Segunda Seção.

3. O delito de peculato (art. 312 do CP) exige do sujeito ativo acondição de servidor público (art. 327 do CP) . Contudo, nos termosdo art. 30 do CP, tal qualidade transmite-se a todos que delatenham conhecimento e utilizem-se disso para praticar a condutacriminosa.

4. Autoria e materialidade do delito previsto no art. 312 doCódigo Penal demonstradas, afastando a alegação de atipicidade daconduta.

5. Absolvição do apelante da imputação de prática do delitoprevisto no art. 288 do CP, nos termos do art. 386, VII, do CPP(não existir prova suficiente para a condenação) . Precedente daSegunda Seção desta Corte.

6. Dosimetria da pena em consonância com os arts. 59 e 60 do CP.7. Incidência da causa de aumento prevista no art. 327, § 2°, doCódigo Penal.

TRF 1 REGIÃO/TMP.15—02-0SCriado por TR7 14 03

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fi is .2/2

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

8. Aumento da pena em razão da continuidade delitiva (art. 71 doCP) calculado em 1/3 (um terço) . Precedente da Turma.

9. Apelação parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da PrimeiraRegião, por unanimidade, dar parcial provimento à apelação, nostermos do voto da Relatora.

Brasília-DF, 23 de abril de 2014 (data do julgamento)

Desembargadora Federal MÔNICA SIFUENTESRelatora

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III III 11111111111 III 11111111 (III 111111111 III1828920044014200

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Iii)PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. DESEMBARGADORA FEDERAL MÔNICA SIFUENTES(RELATORA): Trata-se de apelação criminal interposta pelo réu

NEUDO RIBEIRO CAI~IPOS contra sentença prolatada pelo Juiz FederalHelder Girão Barreto, da 10 Vara da Seção Judiciária de Roraima,que julgou procedente a pretensão punitiva do Estado para condenaro apelante pelo cometimento dos crimes tipificados nos arts. 312,caput, e 288 dc 05 arts. 69 e 71, todos do Código Penal(peculato-desvio, em continuidade delitiva e em concurso materialcom formação de quadrilha ou bando)

As penas assim foram fixadas:

art. 312, caput, do CP (peculato) : pena-base fixadaem 06 (seis) anos de reclusão e 200 (duzentos) dias-multa, à razão de 2/3 (dois terços) do saláriomínimo vigente na época do fato, devidamenteatualizada.

Aumentada da terça parte pela incidência do art.327, § 2°, do CP, resulta em 08 (oito) anos dereclusão e 266 (duzentos e sessenta e seis) dias-multa.

Caracterizada a continuidade delitiva (art. 71 doCP) , a pena foi aumentada em 1/3 (um terço) eresultou em 13 (treze) anos e 04 (quatro) meses dereclusão, e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, àrazão de 2/3 (dois terços) do salário mínimo vigentena época do fato, devidamente atualizada no momentoda execução;

art. 288 do CP (quadrilha ou bando) : pena-basefixada em 02 (dois) anos de reclusão.

Reconhecida a presença das agravantes previstas noart. 61, II, “g”, do CP (abuso de poder e violaçãoao dever inerente ao cargo) e 62, 1 e III, do CP(promover ou organizar a cooperação no crime einstigar ou determinar a cometer o delito alguémsujeito à sua autoridade) , a pena foi elevada em 1/3(um terço) , resultando em 02 (dois) anos e 08 (oito)meses de reclusão;

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PODER JuDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.2/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

art. 69 do CP (concurso material) : cumuladas aspenas resultaram em 16 (dezesseis) anos de reclusão,em regime inicialmente fechado, e 360 (trezentos esessenta) dias-multa, à razão de 2/3 (dois terços)do salário mínimo vigente na época do fato,devidamente atualizada no momento da execução (art.49, §~ 1° e 2°, do CP);

• decretada a perda de cargo, função pública oumandato eletivo eventualmente (fls. 1.622/1.691)

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia (fls.06/42) contra os réus Neudo Ribeiro Campos, Francisca Aureliana deMedeiros Lima, Francisco Alderi Medeiros, João Ricardo MedeirosNeto, Diva da Silva Bríglia e Carlos Eduardo Levischi, imputando-lhes a prática dos crimes de formação de quadrilha e peculato naforma continuada (art. 288 e 312 dc o art. 71 do CP)

O órgão ministerial pugnou também pela aplicação da causade aumento de pena prevista no § 2° do art. 327 do CP, em relaçãoaos denunciados Neudo Ribeiro Campos, Diva da Silva Bríglia eCarlos Eduardo Levischi.

Desmembramento dos autos para que na presente ação penalfigure como réu apenas o ex-governador de Roraima, Neudo RibeiroCampos (fls. 1.217/1.217v e 1.224)

Os fatos narrados na inicial acusatória destes autosinserem-se no chamado “escândalo dos gafanhotos”, e assim foramdescritos:

(...) O ex-governador NEUDO RIBEIRO CAMPOS e seusasseclas políticos desviaram, nos anos de 1998 a2002, milhões de reais dos cofres públicos, sendoque somente no ano de 2002 o desvio atingiu a cifrade aproximadamente R$ 70.000.000,00 (setentamilhões de reais), incluindo verbas federais.

O ex-governador NEUDO RIBEIRO CAMPOS foi overdadeiro mentor de todo o esquema. Sob suagestão, foi criada a idéia de se inserir, na folhade pagamento do Departamento de Estradas de Rodagemde Roraima - DER/RR e da Secretaria deAdministração — SEAD, pessoas que jamais prestaramserviços ao Estado, sendo que seus salários eramembolsados por terceiros que não os fictíciosservidores, estes conhecidos como “gafanhotos”.

Interesses políticos motivaram a constituição doesquema criminoso, vez que decorriam de autênticatroca de favores entre NEUDO RIBEIRO CAMPOS e osvários membros do Poder Legislativo e do Tribunalde Contas do Estado, com o desvio de verbasfederais oriundas de convênios, nos termos deinformação pericial que se analisará oportunamente.NEUDO estabelecia o valor das quotas de cada um dos

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fis.3/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

deputados de acordo com sua “fidelidade” a suaspropostas e interesses políticos.

Resumi damente, o esquema fraudulento funcionava daseguinte maneira:

1. Por determinação do denunciado NEUDO RIBEIROCAMPOS, o dinheiro proveniente de convêniosfederais era transferido da conta específica doconvênio para a conta única ou para a contadestinada ao pagamento de servidores públicos,inclusive “gafanhotos”.

2. Os pagamentos aos supostos trabalhadores(gafanhotos) eram efetuados pela empresa privadaNorte Serviços de Arrecadação e Pagamentos Ltda. —

NSAP, que tinha autorização para movimentar ascontas bancárias do Estado de Roraima.

3. O então Governador e ora réu NEUDO CAMPOSdistribuía quotas aos seus afilhados políticos,notadamente deputados estaduais e conselheiros doTribunal de Contas do Estado. Cada beneficiado erachamado pelo governador a uma reunião reservada, naqual era definida a sua quota. Assim, cadabeneficiado não sabia dos demais, nem quanto cadaum recebia, formando-se quadrilhas autônomas.

4. Definido o valor que cada beneficiário teriadireito, este, diretamente ou através de prepostosseus, aliciava pessoas comuns do povo, prometendo-lhes ajuda financeira, e as relacionava como falsosservidores para serem incluídos na folha depagamentos do DER/RR ou da SEAD, dentro de suaquota. Estas pessoas aliciadas que, via de regranão tinham conhecimento da fraude, ficaramconhecidas como “gafanhotos”, numa analogia aosinsetos que comem folhas (estes comiam a folha depagamento)

5. A lista era então entregue ao denunciado CARLOSEDUARDO LEVISCHI, diretor do DER/RR, ou àdenunciada DIVA DA SILVA BRIGLIA, Secretária deAdministração, que fazia o gerenciamento da fraude,a mando do governador, e encaminhavam o rol paraque a NSAP fizesse os pagamentos.

6. Para a retirada do pagamento, os “gafanhotos”passavam procurações com plenos poderes a pessoasde confiança do deputado ou conselheiro beneficiadoque evitavam aparecer diretamente comoprocuradores.

7. Os procuradores dos “gafanhotos” iam então,mensalmente, à NSAP receber o pagamento, conformecomprovam os recibos e procurações juntados aosautos.

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8. Na sequência, o procurador passava o dinheiro aodeputado ou conselheiro beneficiado. O “gafanhoto”não recebia nada e quando recebia era urna quantiairrisória.

(...) o Tribunal de Contas da União chegou a julgarirregulares diversas contas prestadas, o quemotivou a suspensão do repasse de verbas federaispara determinadas obras.

A fraude se processava, ademais, a partir domomento em que o ex-Governador NEUDO CAMPOSautorizava que as verbas oriundas de convêniosfederais, que deveriam permanecer em contasvinculadas, fossem transferidas para Conta Correnten° 12.790-6, livremente movimentada pela NorteServiços de Arrecadação e Pagamento Ltda. - NSAP, edestinada ao pagamento dos “gafanhotos”.

Como visto anteriormente, a denunciada FRANCISCAAURELINA conseguia, com o auxílio dos co-denunciados NEUDO RIBEIRO CAMPOS, DIVA DA SILVABRÍGLIA, incluir nomes na folha de pagamento doEstado de Roraima, através das folhas da TE-ASS edo DER/RR. Com o auxílio dos co-denunciadosFRANCISCO AUDERI MEDEIROS e JOÃO RICARDO MEDEIROSNETO, convencia pessoas humildes a outorgaremprocurações para eles, a fim de que recebessem osvencimentos dos supostos funcionários, junto àempresa NSAP, mediante o uso das procurações.

(...)

3. DA AUTORIA E MATERIALIDADE

(...) O denunciado NEUDO RIBEIRO CAMPOS foi omentor de todo o esquema criminoso instalado noGoverno do Estado de Roraima para rapinar os cofrespúblicos, desviando recursos oriundos de convêniosfederais em benefício de correligionários em trocade apoio político. NEUDO facilitou a formação daquadrilha encabeçada por FRANCISCA AURELINA. Este,aproveitando-se do prestígio político erelacionamento que tinha com o então governador,organizou uma quadrilha para, de forma sistemáticae continuada, apropriar-se de dinheiro públicoatravés do aliciamento de “gafanhotos”, incluídosilicitamente na folha de pagamento do Estado, sejana TE-ASS, seja no DER/RR.

Os denunciados FRANCISCO ALDERI e JOÃO RICARDOagiram a serviço de FRANCISCA AURELINA, como“testa-de-ferro”, aliciando ou recebendo os valoresque deveriam ser destinados aos “gafanhotos”, osquais eram ludibriados para lhe outorgaremprocurações que autorizavam o recebimento de

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salários. No período compreendido entre novembro de1998 e fevereiro de 2003, de forma continuada,estas denunciadas receberam os salários dos“gafanhotos” e os repassou a FRANCISCA AURELINA.

Por sua vez, os denunciados CARLOS EDUARDO LEVISCHIe DIVA DA SILVA BRÍGLIA agiam como executores,respectivamente no DER/RR e na SEAD, a mando deNEUDO RIBEIRO CAMPOS. Eles gerenciavam a quota queo governador destinava a cada beneficiário,recebiam a lista de “gafanhotos” encaminhados pelosbeneficiários e determinavam a funcionáriossubalternos que procedessem à inclusão dos nomes nafolha de pagamento (fIs. 08/29).

Denúncia recebida em 03/11/2005 (fis. 1.239/1.242)

Esta Corte, à unanimidade, em 15/03/2011 não conheceu daexceção de incompetência n. 0006301-56.2010.4.01.4200/RR e,também, à unanimidade, em 14/03/2011 julgou improcedente a exceçãode suspeição n. 0008003-37.20i0.4.01.4200/RR, ambas manejadas peloréu Neudo Ribeiro Campos (fie. 1.960 e 1.961)

A sentença penal condenatória foi prolatada em 08/07/2011(fl. 2.129) e publicada em 03/08/2011 (ti. 2.131).

O apelante Neudo Ribeiro Campos argúi, em preliminar,incompetência absoluta da Justiça Federal para processar e julgaro feito.

Argumenta que a competência da Justiça Federal éconstitucional e taxativa, não comportando qualquer tipo deampliação, acréscimo, alteração ou subtração, sob pena deinconstitucionalidade.

No presente feito, segundo o apelante, o magistradosentenciante concluiu pela competência da Justiça Federal, comsuporte na Súmula 208 do Superior Tribunal de Justiça, aofundamento de que os recursos repassados pela União, medianteconvênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres estãosujeitos à prestação de contas perante o Tribunal de Contas daUnião art. 71, VI, da CF)

Contudo, a defesa entende que a referida súmula não seaplica ao presente caso.

Relata que, com o objetivo de definir a origem dosrecursos, o Juízo encomendou perícia, a qual recebida e processadano mesmo dia foi feita pelo perito federal José Jair Wermann(informação 027/2003 — SR/RR)

De acordo com as conclusães do referido perito, dos R$226.156.714,65 (duzentos e vinte seis milhões, cento e cinquenta eseis mil, setecentos e catorze reais e sessenta e cinco centavos)movimentados na conta corrente 12.7906, R$ 644.016,07 (seiscentose quarenta e quatro mil, dezesseis reais e sete centavos) sãoprovenientes de convênios firmados com o governo federal. Taisvalores corresponderiam apenas a 0,3% (zero vírgula três por

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PODER JuDICIÁRIO

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APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200cento) do total, o que, segundo alega, afastaria a hipótese decrime federal.

As conclusões, encaminhadas pela DPF em documento juntadoaos autos (informação 037/2003-SR/RR) foram juntadas aos autos emencionadas pelo MPF na inicial acusatória. Contudo, segundo alegaa defesa, elas são genéricas, imprecisas, incompletas eequivocadas, pois trazem valores parciais, não dizem quando teriamsido utilizados e sequer identifica se os recursos desviadosteriam sido destinados ao pagamento das pessoas relacionadas aosfatos concretos narrados pela denúncia.

Traz aos autos ementa do agravo de instrumento2008.01.00.012065-5/RR, deferindo o pedido de realização deperícia contábil. Defende que a referida prova pericial éimprescindível para o julgamento do processo.

Acrescenta que, de acordo com informações prestadas pelaSecretaria de Fazenda do Estado de Roraima, as folhas de pagamentonos anos de 2000, 2001 e 2002 foram pagas com recursosprovenientes de conta única do governo do estado.

Além disso, o Tribunal de Contas do Estado de Roraima, emdecisão plenária, aponta que as despesas com pessoal referentesaos servidores estaduais lotados no Poder Executivo (AdministraçãoDireta) foram efetuadas com recursos estaduais.

Apresenta listagem de convênios com vistas a demonstrar anão utilização dos recursos federais no pagamento de pessoal daAdministração Direta do estado de Roraima e de seu Departamento deEstradas e Rodagem (DER/RR), o que também se depreenderia dasprestações de contas de todos os convênios federais firmados emseu governo e seus respectivos extratos de pagamento.

Registra que a ocorrência de prejuízo para o recorrente éevidente, na medida em que não teve garantido o direito de serprocessado e julgado pelo Juízo competente.

Pleiteia que seja declinada a competência desta Corte,com a subsequente remessa dos autos para uma das varas criminaisda circunscrição judiciária de Boa Vista/RR, sob pena de violaçãodos princípios da tutela jurisdicional, do juiz natural, da ampladefesa e do devido processo legal (art. So, caput, LIII, LIV e LVda CF)

No mérito assevera ocorrência de responsabilização penalobjetiva do réu, pois nos autos não há uma única prova(testemunhal ou documental) que aponte o ora apelante como sendo apessoa responsável pela indicação de nomes ou pela distribuição dequotas para inclusão de funcionários “fantasmas” em folha depagamentos do estado de Roraima.

Afirma que a prova produzida nos autos, nesse particular,baseia-se no depoimento de Carlos Eduardo Levischi, corréu nosdelitos imputados ao denunciado e, nessa condição, com interessede responsabilizar terceiros no caso, inclusive em troca dobenefício da delação premiada.

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APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

Também desqualifica o depoimento de Diva da Silva Erígliae das testemunhas Maria do Livramento Alves Ferro, Sônia PereiraNattrodt e Ana Ilza Silva Coelho, os quais considerainconsistentes.

Aponta que Carlos Eduardo Levischi, na época dos fatosdiretor-geral do DER/aR, era o único ordenador de despesas dareferida autarquia, conforme ele mesmo afirma, e dessa forma tinhatoda a autonomia financeira e administrativa. Além disso, casoexistisse esquema fraudulento, seria ele seu beneficiário direto,com interesse político na suposta fraude, pois inclusive lançou-secandidato ao Governo do Estado em 2002, sem apoio do apelante,exatamente após a notoriedade adquirida com as contratações dossupostos “gafanhotos”.

Assim, caso existente o esquema fraudulento, osresponsáveis por ele seriam Carlos Eduardo Levischi e os demaisenvolvidos; nunca o réu, não podendo lhe ser imputadaresponsabilidade penal apenas por ter exercido o mandato deGovernador do Estado de Roraima.

Impõe-se para a defesa que a sentença condenatória apontea forma como o réu participava da gestão direta de recursos dosórgãos supostamente envolvidos, condição sine qua rion paraimputação de responsabilidade penal ao ora apelante; contudo,segundo conclui, isso não teria ocorrido.

Aduz ainda que não estão presentes, na hipótese dosautos, os requisitos necessários à configuração do crime dequadrilha, quais sejam: a associação, permanente e habitual depessoas para a prática de número indeterminado de crimes.

Para o apelante, da mesma forma, a imputação do crimetipificado no art. 312 do Código Penal não encontra respaldo nosautos, eis que para configuração desse delito o funcionáriopúblico precisa ter a antecedente posse do bem ou valor, em razãode sua função pública, para em seguida invertê-la em seu favor,fato não comprovado nos autos. Assim, inexistindo prova suficientepara a condenação, deveria prevalecer em seu favor o princípio indubio pra reo.

A dosimetria da pena relativa ao crime do art. 312 do CP,segundo alega, deve ser revista, reduzindo-se a reprimenda aomínimo legal, pois as circunstâncias judiciais consideradas paraelevação da pena-base, na verdade, seriam elementares do própriotipo penal.

Por considerar exacerbados, também pretende a diminuiçãoda multa fixada e do aumento relativo à continuidade delitiva.

Considera nula a sentença quanto à condenação do réu pelodelito de quadrilha ante a ausência de fundamentação noparticular, com ofensa ao princípio constitucional deindividualização das penas, pois apenas foi feita referência àfundamentação utilizada para o crime de peculato. Caso entenda-se

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.8/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200de modo diverso, pugna pela redução da pena do referido delito,pelas mesmas razões expendidas para o crime de peculato.

Reduzidas as penas privativas de liberdade, pretende quesejam elas substituidas por restritivas de direitos, nos termos doart. 44 do CP.

Pretende o provimento do recurso e a reforma da sentençarecorrida, a fim de que, caso não acolhidas as preliminares, sejadecretada a absolvição do denunciado, ou reduzidas as penas aomínimo legal (fls. 2.132 e 2.195/2.263).

Contrarrazões a fls. 2.266/2.280.

O Ministério Público Federal, em parecer do ProcuradorRegional da República Guilherme Zanina Schelb, manifesta-se peloimprovimento do recurso (fls. 2.283/2.293)

É o relatório.

Ao eminente Revisor.

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PODER JupIcIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.9/23

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VOTO

A EXMA. SRA. DESEMBARGADORA FEDERAL MÔNICA SIFUENTES(RELATORA) Conforme se depreende do relatório, trata-se deapelação criminal interposta pelo réu NEUDO RIBEIRO CAMPOS contrasentença que condenou o apelante a 16 (dezesseis) anos dereclusão, em regime inicialmente fechado, e 360 (trezentos esessenta) dias-multa, à razão de 2/3 (dois terços) do saláriomínimo vigente na época do fato, devidamente atualizada no momentoda execução (art. 49, §~ l~ e 2°, do Código Penal) pelocometimento do crime tipificado nos arts. 312, caput, e 288 dc OS

arts. 69 e 71, todos do CP (peculato desvio, em continuidadedelitiva e em concurso material com formação de quadrilha oubando)

Da preliminar de incompetência da Justiça Federal

A sentença recorrida concluiu pela competência daJustiça Federal, acatando a tese da denúncia de que as verbasusadas para os pagamentos relativos à remuneração dos servidoresfictícios referiam-se a repasses federais, efetuados por força deconvênios firmados entre o estado de Roraima e a União.

O apelante insurge-se contra a informação prestada deforma preliminar pela perícia da Polícia Federal, de que já foraidentificada até aquele momento a presença, entre os valoresapropriados, de R$ 644.016,07 (seiscentos e quarenta e quatro mil,dezesseis reais e sete centavos) , oriundos de convênios federais.

Do exame da informação n. 027/2003-SR/RR, firmada porperito criminal federal (fls. 322/324), extrai-se com clarezatratar-se de conclusão preliminar, mas que satisfaz a exigência decomprovação da presença de verbas federais necessária para amanutenção das investigações no âmbito da Polícia Federal:

(.. .) Dos valores cuja origem foi identificada,constatou-se, até o momento, que R$ 644.016,07(seiscentos e quarenta e quatro mil, dezesseisreais e sete centavos), conforme demonstrado nasTabelas 01 e 02 são provenientes de convêniosfirmados com o Governo Federal (f1. 322).

Em segundo momento, a Polícia Federal elaborou o laudode exame econômico-financeiro 0459/04-SETEC/SR/DFP/RR (fis.1.180/1.187) que demonstra a presença de verbas oriundas deconvênios federais entre os recursos desviados para funcionários“fantasmas”, incluídos na folha de pagamento pelo Governo doEstado de Roraima.

No referido laudo, assim concluiu a perícia feita naconta bancária 12790-6, aberta pelo governo de Roraima, com afinalidade de a empresa Norte Serviços de Arrecadação e PagamentoLtda. - NSAP efetuar os pagamentos dos supostos funcionários:

TRF 1~ 000IÃO/ IMO .00—02-00 C: \Users\tr79900\Applata\LocaO \TeoIp\ 00 001B2 0020044004200_O. doo

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.lO/23

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(. .) Os exames realizados originaram a planilha emanexo, onde os Signatários demonstram que o Governodo Estado de Roraima transferiu valores referentesa convênios firmados com a União, depositados emcontas bancárias específicas, para a conta corrente12790-6, titulada pelo Governo do Estado de Roraimae movimentada livremente pela empresa NSAP — NorteServiços de Arrecadação e Pagamentos Ltda. O totaltransferido de contas e convênios firmados com aUnião para a conta corrente 12790-6, no períodoanalisado, foi de R$ 2.715.200,34 (dois milhões,setecentos e quinze mil, duzentos reais e trinta equatro centavos (fi. 1.182)

Não fora isso, na pianilha anexa ao citado laudo estãoregistrados os valores e a identificação dos convênios federaismalversados (fis. 1.185/1.187).

Portanto, ao contrário do alegado pelo apelante, aconclusão pericial é clara ao diagnosticar a presença de recursosfederais entre aqueles desviados.

Vê-se do supracitado material probatório que a fraude seprocessava quando as verbas oriundas de convênios federais, asquais deveriam permanecer em contas vinculadas, eram transferidaspara a conta corrente 12.790-6, esta, livremente movimentada pelaNorte Serviços de Arrecadação e Pagamento Ltda. - NSAP e destinadaao pagamento dos funcionários “fantasmas”, os chamados“gafanhotos”.

Sobre o uso de recursos federais, assim determina o art.20 da Instrução Normativa n. 01/97, da Secretaria do TesouroNacional do Ministério da Fazenda, com redação alterada pela INSTN 1/2004:

(. . .) Os recursos serão mantidos em conta bancáriaespecífica somente permitidos saques para pagamentode despesas constantes do Programa de Trabalho oupara aplicação no mercado financeiro, nas hipótesesprevistas em lei ou nesta Instrução Normativa,devendo sua movimentação realizar-se,exclusivamente, mediante cheque nominativo, ordembancária, transferência eletrônica disponível ououtra modalidade de saque autorizada pelo BancoCentral do Brasil, em que fiquem identificados suadestinação e, no caso de pagamento, o credor.

A Constituição Federal prevê a competência do Tribunalde Contas da União para “fiscalizar a aplicação de quaisquerrecursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajusteou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federalou a Município”, (art. 71, VI), não havendo dúvida, portanto, arespeito da competência da Justiça Federal, nos termos do art.109, IV, da Constituição Federal.

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PODER JUflTCt~.RTO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fis. ii/23

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Ao apelante não socorre a alegação de que os644.016,07 (seiscentos e quarenta e quatro mil, dezesseis reais esete centavos) representam uma pequena parte do total desviado,pois a presença de qualquer prejuízo à União é suficiente parajustificar a competência da Justiça Federal, em obediência aosupracitado dispositivo constitucional e à Súmula 122 do STJ.

Em outras palavras, a presença entre os valoresdesviados, de recursos, de qualquer monta, sujeitos à prestação decontas perante o Tribunal de Contas da União torna absolutamentecompetente a Justiça Federal para processar e julgar o feito.

Os documentos apresentados pelo réu para atestar que osrecursos utilizados para o pagamento de pessoal no estado deRoraima eram apenas verbas estaduais não possuem o condão deelidir as conclusões extraídas das provas produzidas nos autosquanto à origem dos recursos desviados.

o primeiro documento referido pelo apelante, umainformação firmada pelo secretário de fazenda de Roraima, apenasafirma genericamente que os recursos utilizados para pagamento dosfuncionários advinham da conta 31.800-6 do governo estadual. Dessaforma, não se mostra apto a contestar o laudo pericial.

Além disso, nas informações periciais preliminares afls. 322/324 a Polícia Federal já constatara que a referida conta(31.800-6) também apresentava aportes de contas referentes aconvênios realizados entre o governo federal e o estado deRoraima.

Corroborando o entendimento sobre a impossibilidade dainformação do secretário estadual afastar a certeza da presença derecursos federais nos valores desviados, a planilha a fls.1.185/1.187 demonstra que a referida conta (31.800-6) recebeurecursos de dez convênios federais.

Também para afastar a tese da defesa, leia-se odepoimento da testemunha Carlos Eduardo Levischi a fls. 259/262,no qual explica o esquema de pagamento de funcionários “fantasmas”no DER/RR, feito pela empresa Norte Serviços de Arrecadação ePagamentos Ltda. - NSAP:

(. . .) QUE como havia um comprometimento por partedo ex-Governador Neudo Campos em fazer ospagamentos dos funcionários “fantasmas” no DER/RR,normalmente eram desviadas verbas federais paraserem efetuados tais pagamentos; QUE o dinheiro eraretirado de contas específicas destinadas aorepasse de verbas federais, relativas a convêniosfirmados entre o Governo Federal e o Governo doEstado de Roraima, uma vez retirado destas contasespecíficas, era depositado na conta única daSecretaria da Fazenda - SEFAZ, repassando-os, destaúltima conta, para a conta única do DER/RR, pormeio da qual eram realizados os pagamentos para os

TUF 1~ ZEGlÂO/IMP iS 02 —OS C: Jsers\tr799 O3\Appoaca\Loca 1\Tomp\0000222S92 004400420 0_2 - do,

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APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

funcionários “fantasmas” do DER/RR, indicados pelasautoridades acima nominadas (El. 261)

O outro documento apresentado pela defesa, com vistas aafastar a competência federal, foi lavrado pelo Tribunal de Contasdo Estado de Roraima, árgão também investigado pelo supostoenvolvimento de seus membros no caso.

Vale observar que o próprio apelante, quando de suarenúncia ao cargo de Deputado Federal (fls. 1.838/1.845), requereuao Supremo Tribunal Federal que declinasse da competência em favorda Justiça Federal de Roraima.

Esta Turma já decidiu, em ação penal análoga, quedemonstrada a presença de verbas oriundas de convênios com a Uniãoentre aquelas desviadas confirma-se a competência da JustiçaFederal para processar e julgar o feito:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 312 DO CP. PECULATO.GAFANHOTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.CAPITULAÇÃO. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONTRADAS.CAPITULAÇÃO. DOSIMETRIA DA PENA. REPARAÇÃO DE DANO.IMPOSSIBILIDADE. IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL. 1.Compete à Justiça Federal o processo e o julgamentode ação penal cujos delitos se referem a desvio derecursos relativos a convênios, firmados entre oEstado de Roraima e a União, e sujeitos àfiscalização de órgão federal, consoante o laudo deexame econômico-financeiro, movimentados porempresa privada para pagamento de servidoresfictícios, incluídos em folha paralela devencimentos criada para esse fim, cujo recebimentose fazia mediante procuração outorgada pelossupostos servidores, com repasse total ou parcialdos recursos recebidos, à autoridade que osindicava para inclusão em folha de pagamento.Precedente da Turma. (ACR 0000389-49.2008.4. Ol.4200/RR, Rel. Desernbargadora FederalMonica Sifuentes, Terceira Turma, e-DJF1 p.4l8 de14/06/2013)

O julgado acima acompanhou entendimento da Segunda Seçãodesta Corte:

PENAL E PROCESSUAL PENAL - INQUÉRITO POLICIAL -

DENÚNCIA PELOS ARTS. 312 (PECULATO) C/C 327, § 2° E288 DO CP (FORMAÇÃO DE QUADRILHA) EM CONTINUIDADEDELITIVA (ART. 71 DO CP) E 359-G DO CP (AUMENTO DEDESPESA TOTAL COM PESSOAL NO ÚLTIMO ANO DO MANDATOOU LEGISLATURA) - “ESCÂNDALO DOS GAFANHOTOS” -

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - AUSÊNCIA DERECEBIMENTO DE DENÚNCIA EM OUTRA AÇÃO PENAL -

INOCORRÊNCIA DE LITISPENDÊNCIA - PRELIMINARESREJEITADAS - PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 41 DOCÓDIGO DE PROCESSO PENAL - INDÍCIOS SUFICIENTES DE

TRF 1 REGI~Q7IM?.IS-O2-OS C:\Users\tr~9~C3\AppData\Loca1\Temp\QDOO182S92OG44O142QD2doc

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PODER JuDICIÁRIo

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AUTORIA E MATERIALIDADE - RECEBIMENTO DE DENÚNCIAQUE SE IMPÕE. (...) II - Compete à Justiça Federalo processo e o julgamento de Ação Penal cujosdelitos referem-se a desvio de recursos relativos aconvênios, firmados entre o Estado de Roraima e aUnião - consoante destacou a denúncia -,

indevidamente transferidos para a conta corrente doGoverno do Estado de Roraima, livrementemovimentada por empresa privada, para pagamento deservidores fictícios, incluídos em folha, cujorecebimento se fazia mediante procuração outorgadapelos supostos servidores, com repasse total ouparcial dos recursos recebidos, à autoridade que osindicava para inclusão em folha de pagamento. (APN0052558-66.2009.4. 0l.0000/RR, ReI. Desernhargadora

Federal Assusete Magalhães, Rel.Conv. Juiz FederalMurilo Fernandes de Almeida (Conv.), Segunda Seção,e-DJF1 p.34 de 21/06/2012).

Dessa forma, afasto a preliminar suscitada.

DO mérito

Do delito de peculato (art. 312 do CP)

Da tipificação

O crime de peculato, previsto no art. 312 do CódigoPenal, configura-se de duas formas distintas, consoante adverteGuilherme de Souza Nucci:

a) apropriar-se, que significa tomar comopropriedade sua ou apossar-se. É o que a doutrinachama de peculato-apropriação;

b) desviar, que significa alterar o destino oudesencaminhar.

É o que a doutrina classifica como peculato-desvio”,sendo que o sujeito ativo do crime somente pode ser funcionáriopúblico, em razão do exercício do cargo.

Nos termos do art. 30 do Código Penal, a condição defuncionário público (definida no art. 327 do CP), integrante dotipo penal por expressa disposição legal, transmite-se2, inclusive,a todos os coautores do delito, desde que cientes da condiçãopessoal do autor.

1 In “código Penal comentado”, RT, 9~ edição, p. 1055.

2 ~ Ex.: se duas pessoas — uma funcionária pública, outra, estranha à

Administração - praticam a conduta de subtrair bens de uma repartição pública,cometem peculato-furto (art. 312, § 1~, cP). A condição pessoal — serfuncionário público — é elementar do delito de peculato, motivo pelo qual setransmite ao co autor, desde que verificada a ciência deste em relação àquelacondição pessoal” Cm “código Penal Comentado”, Guilherme de Souza Nucci, 9~edição, p. 302)

TRF 1 RECIÃO/I&I?1S-D2~CS C~\Us.rs\tr795fl3\~ppData\Loca1\Ternp~OOOQ1S1S92OO14O142OO2.doo

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PODER aUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÀO fJ.s.14/23

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No caso sob análise imputou-se ao denunciado a figura dopeculato-desvio. Dessa forma, a prova da materialidade e autoriadelitivas poderá ater-se unicamente à atuação do réu nodesencaminhamento, em proveito próprio ou alheio, de verbasfederais destinadas à aplicação nos objetos dos convênios firmadosentre o estado de Roraima e o governo federal.

Para a configuração do delito de peculato-desvio não hánecessidade de apossamento pessoal de bem ou valor por parte dodenunciado, conforme asseverou o apelante em seu recurso.

Da materialidade

A materialidade do delito de peculato-desvio estáamplamente demonstrada pelas provas constantes nos autos, taiscomo:

• laudo de exame econômico-financeiro 0459/04-SETEC/SR/DPF/RR (fls. 1.180/1.187), com as planilhasem anexo, bem como as informações 010/2003 —

SECRIM/SR/DPF/RR (fls. 51/56) e 027/2003 — SR/RR(fls. 322/324), todos elaborados pelo setor deperícias do Departamento de Polícia Federal, nosquais são revelados aspectos importantes sobre aprática delituosa e utilização de recursos federaispara o pagamento dos funcionários “fantasmas” ou“gafanhotos”;

• laudo de exame econômico-financeiro 074/04-SR/RR,onde se constata que João Ricardo Medeiros Netorecebeu o montante de R$ 929.899,23 (novecentos evinte e nove mil, oitocentos e noventa e nove reaise vinte e três centavos) , mediante o uso deprocurações obtidas dos chamados “gafanhotos” (fls.938/982)

• laudo de exame econômico-financeiro 075/04-SR/RR,onde se constata que Francisco Auderi Medeirosrecebeu o montante de R$ 669.689,65 (seiscentos esessenta e nove mil, seiscentos e oitenta e novereais e sessenta e cinco centavos) , mediante o usode procurações obtidas dos chamados “gafanhotos”(fls. 983/1.007)

Das referidas provas conclui-se que verbas federaisprovenientes de convênios com a União foram indevidamentetransferidas para a conta corrente 12.790-6 do estado de Roraima,sendo movimentadas pela empresa Norte Serviços de Arrecadação ePagamentos Ltda. — NSAP para pagamento de vencimentos deservidores “fantasmas”.

Tais servidores, em muitos casos, sequer tinhamconhecimento de sua condição de funcionários de órgão públicoestadual, tampouco de suas presenças na folha de pagamento doGoverno do Estado de Roraima ou do DER/RR.

TRF P REGIÃQ/ZNP .15-02-05 C: \Users\tr 70903 \Appoata\Local\Temp\000019 200200440142 00_2 doa

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Ademais, não procedem as alegações do réu de generalidadeou imprecisão da prova produzida no particular, tendo sido,inclusive, listados os convênios federais cujos créditos foramindevidamente transferidos para a conta corrente 12.790-5,conforme planilha a fls. 1.185/1.187.

Da autoria

Quanto à autoria, o denunciado alega que as únicas provasexistentes nos autos correspondem aos testemunhos dos corréus deDiva da Silva Bríglia e Carlos Eduardo Levischi, sobretudo desteúltimo, beneficiados pela delação premiada, tinham interesse naincriminação de terceiros no caso.

Contudo, é assente a validade e valor probatório dotestemunho de corréus para fundamentar um eventual decretocondenatório, desde que corroborado por outras provas constantesdos autos. Dessa forma, a prova testemunhal no presente feito deveser apreciada à luz de todo o conjunto probatório coligido nosautos.

As testemunhas ligadas ao esquema criminoso, apesar decontestadas pelo réu, narram os fatos em detalhes e em sincroniacom as outras provas produzidas nos autos e com as declarações dosdemais depoentes.

A sentença transcreveu depoimentos prestados pelatestemunha Maria do Livramento Alves Ferro, responsável pelaelaboração da folha de pagamento do DER/RR, em fase policial (fls.263/270) e em Juízo (fls. 1.518/1.522), nos quais demonstra comorecebeu ordens do então diretor-geral do referido órgão, CarlosLevischi, para - em cumprimento a determinação do ora apelante -

incluir lista de funcionários indicados por deputados.

A depoente afirma que tais pessoas não exerciam qualquerfunção laboral no DER/RR e ficavam à disposição do respectivodeputado. Quase todas recebiam seus salários pela empresa NorteServiços de Arrecadação e Pagamentos Ltda. — NSAP, e o primeiropagamento foi feito diretamente ao parlamentar que elas estavamvinculadas, em sala fechada, de modo que um não visse o quanto ooutro recebia. Nesse momento, a maioria apresentou os assessoresresponsáveis pelo recebimento do dinheiro nos próximos meses. Alémdos políticos, também participavam do esquema conselheiros doTribunal de Contas do Estado de Roraima.

Na Secretaria de Administração do Estado de Roraima —

SEAD/RR, o método de apropriação e distribuição de recursospúblicos tinha estratégia semelhante, conforme se verifica dosdepoimentos prestados pela servidora incumbida, na época, daelaboração de folhas de pagamento Sônia Pereira Nattrodt, em fasepolicial (fls.279/288) e em Juízo (fls. 1.509/1.512)

Das declarações feitas pela referida testemunha, comdetalhes precisos e citação de nomes, ressalto as seguintesinformações:

TRF 1 R~GIÃO/IMP.15-O~-Q5 C~\Users\tr799O3\AppData\Loca1\Temp\OOCO182B92OQ44D142OO2 .6°c

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PODER JUDICIÁRIO

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• enquanto os dados referentes aos servidores efetivose aos temporários eram alimentados nos terminaisinterligados ao computador de grande porte, a folhade pagamento da Tabela Especial Assessoria (TE/ASS)- criada pelo governador Neudo Ribeiro Campos paraincluir nomes funcionários “fantasmas” indicadaspor deputados e conselheiros do Tribunal de Contasdo Estado - era processada em um microcomputadorseparado; a inclusão de nomes era feita emobediência a listas encaminhadas por intermédio doora apelante à Secretaria de Administração e nasquais constava o nome do “servidor” e o doparlamentar ao qual ele estava vinculado; ospolíticos eram ligados ao então governador e oraapelante; o valor mensal da chamada “folhinha”quando a testemunha assumiu o cargo estava em tornode dois a três milhões e ao terminar era deaproximadamente cinco milhões.

No mesmo sentido, e também com riqueza e coerência dedetalhes, são os depoimentos da testemunha Ana Ilza Silva, quetambém trabalhou na elaboração da folha de pagamento na Secretariade Administração - SEAD/RR e contra a qual não há informação deação penal em andamento. A referida testemunha manteve-secoerente, tanto em fase policial (fis. 271/277) quanto em Juízo(fls. 1.513/1.517)

A seguir, pontos relevantes de seu depoimento:

(. . .) QUE a depoente se recorda da ex-deputadaMARIA LUÍZA VIEIRA CAMPOS, mais conhecida comoMalu, ter entregue, diretamente nas mãos dadepoente, uma relação contendo alguns nomes,previamente autorizados pelo então governador NEUDOCAMPOS, por meio de um manuscrito aposto na própriarelação, para a substituição de alguns nomes já

existentes na TE-ASS por outros; (...) QUE, adepoente possui uma filha HILANA SILVA COELHO quefaz faculdade em Manaus e não trabalha para oGoverno do Estado de Roraima, porém, consta dafolha de pagamento do Estado de Roraima,anteriormente pela TEASS e atualmente recadastradapelo FAT, de a autorização do Governador NEUDOCAMPOS, a título de ajuda para a depoente; (...)

QUE os bilhetinhos autorizadores da lavra do ex-Governador MEUDO CAMPOS e da ex-Secretária deAdministração DIVA BRÍGLIA para inclusão desupostos servidores no TE-ASS não passavam pelaCoordenadoria de Pessoal, sendo entreguesdiretamente à depoente (Ana lIza Silva Coelho afls. 276/277, em fase policial, confirmado em Juízoa fls. 1.513/1.517).

TRF V RECTÃO/IN? 15- 02-os C \Uoero\1r79903\Appoaca\tocal\Tecp\00001920920044014200 dcc

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(...) QUE foi trabalhar no gabinete civil a convitedo Governador Neudo Campos em abril de 1997; (...)

onde era chefe de serviços humanos, não existiafolha de pagamento similar a TEASS; (...) QUE aTEASS era gerada em um computador separado; (. -

QUE para inclusão de um nome na TEASS eraapresentado uma relação com nomes pela própria DivaBriglia à depoente; (...) QUE a deputada MariaIsuiza Vieira Campos, conhecida como Malu, chegou aentregar uma relação de nomes para a TEASSdiretamente à depoente, sendo que havia nestarelação um manuscrito de autorização do governadorNeudo Campos; (...) QUE sua filha recebia uma ajudaatravés do TEASS, sendo autorizada diretamente peloGovernador Neudo Campos; (. . .) QUE as relações denomes que continham manuscritos de Diva Briglia ede Neudo Campos para inclusão de pessoas na TEASSnão passavam pela coordenadoria de pessoal; (. .

QUE o ofício entregue diretamente pela deputadaMalu, com autorização expressa de Neudo Campos, erapra estar arquivado no sead (Ana Ilza Silva Coelho,em Juízo, a fls. 1.514/1.517).

Esses testemunhos corroboram as declarações prestadaspelo ex-diretor-geral do DER/RR, Carlos Eduardo Levischi (fls.259/262) e pela ex-secretária de administração, Diva da SilvaBríglia (fls. 549/561), quando admitem a própria atuação noesquema de desvio de verbas públicas sob a coordenação do oraapelante Neudo Ribeiro Campos.

A depoente Diva da Silva Bríglia afirma, entre outrospontos que a folha de pagamento TE/ASS foi criada pelo oraapelante Neudo Ribeiro Campos por meio de ato unilateral, semqualquer previsão legal, para abrigar nomes indicados porparlamentares, entre eles Alceste Madeira, e em algumascircunstâncias, pessoas nominadas diretamente pelo governador; osdeputados com o maior número de indicados eram aqueles maisligados ao réu destes autos ou os mais insistentes; mensalmente ainterrogada exibia ao governador os nomes e valores recebidospelos indicados e era por ele orientada a segurar ou não novasindicações; os parlamentares procuravam a declarante oudiretamente o ora apelante a fim de obter novas inclusões; apontapessoas incluídas na TE/ASS, por determinação do acusado nestaação penal, o qual apôs sua rubrica na autorização.

O depoimento de Carlos Eduardo Levischi (fls. 259/262),a quem o ora apelante busca desqualificar, também se mostracoerente com os outros testemunhos e demais provas contidas nosautos.

A referida testemunha afirma que era informado peloentão governador acerca das cotas em valores monetários destinadasa cada parlamentar ou conselheiro do Tribunal de Contas do Estadode Roraima. Alguns apresentaram pessoalmente a lista de seus

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.18/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200indicados, entre eles Maria Luíza Vieira Campos, cunhada do oraapelante.

Os dois depoentes acima citados (Diva da Silva Bríglia eCarlos Eduardo Levischi) expõem, em detalhes e harmonia com asdemais provas dos autos, o surgimento, funcionamento, cooptação econtrole das folhas TE/ASS da Secretaria de Administração eDER/RR. Além disso, afirmam que o controle mensal era feito peloapelante Neudo Ribeiro Campos, bem como a distribuição das cotasaos parlamentares aliados.

Na época dos fatos, a deputada estadual e codenunciadaFrancisca Aurelina, em seu depoimento em fase policial (fls.403/411) , afirma que as autorizações para o pagamento dos“gafanhotos” partiam do ora apelante:

(. . .) QUE perguntada se alguma vez apresentou listade funcionários às Sras. Ana Ilza Silva Coelho eDiva da Silva Bríglia, respondeu que nuncaapresentou lista as secretárias, pois as mesmas nãotinham autonomia para apresentar pessoas; QUE ospedidos de pessoal eram feitos diretamente aoGovernador Neudo Campos por meio de ofício, oulistas, contendo nome, número da Carteira deIdentidade e CPF (fl.454).

Ao contrário do afirmado pelo apelante, a condenação nãose baseou apenas nas declarações dos corréus. Tais depoimentos,ainda que se enquadrem no contexto da delação premiada, estão emharmonia e corroborados em outras provas, tanto documentais quantotestemunhais e periciais.

Portanto, comprovou-se nos autos a criação da folhaTE/ASS, sem qualquer previsão legal, pelo ex-governador NeudoCampos.

A referida folha de pagamento foi implementada pela entãosecretária de administração Diva da Silva Bríglia.

Assim, pessoas indicadas por diversas autoridades dabancada de apoio ao governo, e que nunca vieram a trabalharefetivamente junto à Administração Estadual, foram incluídas emfolha de pagamento do governo do estado com a aprovação de seusnomes pelo governador.

O apelante, por sua vez, além de autorizar a referidainclusão, supervisionava a evolução da mencionada folha, por meiodas informações prestadas periodicamente por Diva da SilvaBríglia, responsável pela operacionalização do pagamento indevido.

Da mesma forma, evidencia-se da análise dos autos que oesquema também foi implementado no âmbito do Departamento Estradasde Rodagem — DER/RR, desta feita, com a operacionalização a cargode Carlos Eduardo Levischi, seu diretor-geral, com a autorizaçãodo ora apelante.

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.19/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.00018l-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

Ora, a responsabilidade de gestão de verbas federaispertence, em primeiro plano, ao governador do estado, a quem cabeo dever legal de prestar contas da sua utilização ao TCU, nosestreitos limites da finalidade do respectivo convênio celebradocom a União.

Para a realização de uma despesa é necessária aexistência da respectiva fonte de custeio. Isso torna inverossímilque o chefe do governo estadual tenha autorizado, pessoalmente,tão expressiva despesa com funcionalismo sem ter a menor ideia deonde seriam alocados os recursos para tanto, deixando a resoluçãodo impasse a critério absoluto de seus assessores.

Portanto, a autoria delitiva imputada ao apelante NeudoRibeiro Campos está suficientemente demonstrada nos autos.

Afastada a hipótese de responsabilização penal objetivado réu, eis que demonstrado o nexo de causalidade entre suaconduta e o dano causado ao erário, assim como o dolo do agente nocaso.

Vê-se do exame do contexto probatório que, ao contráriodo alegado pela defesa, não se caracteriza hipótese deresponsabilidade penal objetiva, pois existe liame comprovadoentre o agir do acusado Neudo Ribeiro Campos e a prática delituosaa ele imputada.

Não pairam dúvidas, portanto, que o ora apelante, nocargo de Governador do Estado de Roraima, em troca de apoiopolítico contribuiu de forma decisiva para o desvio de verbaspúblicas federais, das quais tinha posse em razão do cargo eletivopor ele exercido, em favor, na hipótese destes autos, da entãodeputada estadual Francisca Aurelina de Medeiros Lima.

Dessa forma, a condenação do apelante destes autos pelaprática do delito de peculato (art. 312 do CP) é medida que seimpõe.

A continuidade delitiva está configurada, tendo em vistaque o desvio das verbas públicas ocorreu por vários mesesseguidos, conforme se verifica da análise das provas documentais etestemunhais.

Do delito de quadrilha

Contudo, a sentença merece ser reformada quanto àcondenação do apelante pelo crime de formação de quadrilha (art.288 do CP)

O contexto probatório contido nos autos não logroudemonstrar o animus associativo para o cometimento de crimes,tampouco o caráter estável e permanente da associação para finsdelituosos, mas apenas o concurso de agentes e a prática do crimede peculato em continuidade delitiva.

Para a caracterização do delito de formação de quadrilhanecessita-se que, além do concurso de mais de três pessoas, os

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.20/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000l81-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200agentes tenham se associado em caráter estável e permanente parafins criminosos.

Observe-se que, no julgamento da ação penal2005.01.00.062562-S/RR, envolvendo o mesmo esquema criminoso, a 2~Seção do TRF/la Região entendeu, por unanimidade, pelainocorrência do crime de quadrilha por não configuração do vínculoassociativo permanente e estável entre os réus, com o fim depraticar reiteradamente crimes.

Na hipótese dos autos, da mesma forma, a instruçãoprocessual não logrou provar a vontade livre e consciente doapelante de contribuir para o crime de grupo ou a existência deprévio ajuste para a prática do crime de peculato.

Dessa forma, o apelante deve ser absolvido da imputaçãode prática do delito previsto no art. 288 do CP, nos termos do art.386, VII, do CPP (não existir prova suficiente para a condenação)

Da dosimetria da pena aplicada ao delito de peculato

O magistrado sentenciante assim fixou a pena do réu:

(. . .) Quanto ao crime de peculato (art. 312, caput,do CP) a conduta do réu NEUDO RIBEIRO CAMPOSapresenta grau máximo de reprovabilidade tendo emvista que na trama criminosa engendrada pelo mesmoe por seus comparsas aproveitava-se de pessoashumildes (analfabetos, indígenas, idosos, etc) quenão tinham conhecimento de suas inclusões na folhade pagamento do Estado de Roraima e tiveram seussalários desviados. Com isso ocorreu gravíssimalesão aos cofres públicos, com o desvio de cifrasmilionárias, incluindo verbas federais.

A culpabilidade do acusado é acentuada, apresentadolo intenso, é plenamente capaz e imputável,possui formação superior e perfeita consciência dagravidade da conduta típica perpetrada. Verifica-se, pois, que dele era esperada condutaabsolutamente diversa da adotada, mormente porque 2crime foi praticado no exercício do cargo deGovernador do Estado de Roraima e com uso indevidodos poderes inerentes a este superior cargo públicoeletivo, quando deveria ter prezado pela totalmoralidade administrativa.

Os motivos, as circunstâncias e as consequências docrime são-lhe também desfavoráveis, haja vista ovolume de recursos públicos desviados em troca doapoio político e para fins eleitorais. No esquemacriminoso objeto deste processo, que envolveu o ex-Governador NEUDO RIBEIRO CAMPOS, a então DeputadaEstadual FRANCISCA AUREIJINA DE MEDEIROS LIMA e seusirmãos FRANCISCO ALDERI MEDEIROS e JOÃO RICARDOMEDEIROS NETO foram desviados mais de um milhão e

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.21/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00. 000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

quinhentos mil reais, conforme se verifica dosLaudos Periciais de fls. 932/982 e 983/1007.Evidentemente que o desvio de tão vultosa quan eiaprejudica a realização de obras e a prestação deserviços públicos tais como o de saúde, segurança,educação, entre outros.

Por isso que as consequências do delito para aAdministração foram e são extremamente danosas, emface do vulto dos recursos desviados, o que tambéminfluencia na fixação da pena-base.

Não consta dos autos informações sobre apersonalidade do acusado, nem sobre a existência decondena ção anterior ou notícia de antecedentescriminais, embora as certidões de fls. 2017/2040registrem o seu envolvimento com dezenas de outrasações penais. Inexistem, ainda, nos autos,elementos concretos, que possam macular a condutasocial do réu.

Dessa forma, sopesadas as circunstâncias judiciaisdo art. 59 do C’P, fixo-lhe a pena-base pela práticado crime de peculato previsto no art. 312, caput,do Código Penal, em 06 (seis) anos de reclusão e a200 (duzentos) dias-multa, à razão de 2/3 (doisterços) do salário-mínimo vigente à época do fato,devidamente atualizada.

Na segunda fase de aplicação da pena observo aausência de circunstâncias atenuantes.

Por outro lado, ante a natureza do crime ora emanálise e tendo em vistas as circunstânciasjudiciais acima analisadas e a causa de aumentoprevista no § 2°, do art. 327 do Código Penal, paranão incorrer em bis in idem, deixo de considerar asagravantes previstas no art. 61, II, “g” e art. 62,1 e III, ambos do Código Penal.

Na terceira fase do “Método Hungria” verifico queinexiste causa de diminuição de pena.

No entanto, incide na espécie a causa de aumento,prevista no art. 327, 2°, do Código Penal, porforça da orientação do colendo SUPREMO TRIBUNALFEDERAL, no sentido de que:

“A causa de aumento de pena do § 2° do art. 327do Código Penal se aplica aos agentesdetentores de mandato eletivo. Interpretaçãosistemática do art. 327 do Código Penal.Teleologia da norma” (Destaquei)(STF, Inq 2191/DE’, Tribunal Pleno, ReI. Mm.Carlos Britto, Pleno, maioria, DJe 084, de08/05/2009)

Portanto, com a incidência da causa de aumentoprevista no § 2°, do art. 327, do Código Penal, a

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PODER JUDICIÁRIoTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.22/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00.000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

pena deve ser aumentada da terça parte ficando em08 (oito) anos de reclusão e 266 (duzentos esessenta e seis) dias-multa.

O crime, comprovadamente, foi praticado de formareiterada. Com efeito, entre os anos de 1999 a2002, com periodicidade mensal e em nome de dezenasde pessoas, foi desviado quantia superior a ummilhão e meio de reais da folha de pagamento doEstado de Roraima, aí incluídas verbas federais,conforme atestam os Laudos Periciais de fis.932/982 e 983/1007.

Por isso, tendo em vista a caracterização dacontinuidade delitíva (art. 71, do CP) e o númerode peculatos praticados (STJ, MC n° 12386, LaTurma, Rei. Mm. Féiix Fischer, DJ de 25/9/2000), apena deve ser aumentada em 2/3 (dois terços) . Dessemodo, elevo a reprimenda ao patamar de 13 (treze)anos e 4 (quatro) meses de reclusão e ao pagamentode 360 dias-multa, à razão de 2/3 (dois terços) dosalário-mínimo vigente à época do fato, devidamenteatualizada quando da execução, pelo que a tornodefinitiva (fls. 2.122/2.126)

O cálculo da pena-base imposta ao réu não merece reforma.

O delito de peculato (art. 312 do CP) comina pena dereclusão de 02 (dois) a 12 (doze) anos e multa.

A pena-base do réu foi fixada em 06 (seis) anos, ou seja,em patamar intermediário mais próximo do mínimo cominado ao delito(02 anos) do que do máximo (12 anos)

Da mesma forma, a pena de multa fixada no primeiromomento, em 200 (duzentos) dias-multa, à razão de 2/3 (doisterços) do salário mínimo vigente na época do fato, devidamenteatualizada, mostra-se proporcional à pena-base privativa deliberdade e com a situação econômica do réu, em obediência ao art.60 do CP.

Para isso, o magistrado sentenciante analisou ascircunstâncias do crime em observância do disposto no art. 59 doCP.

Corretamente levou em consideração o auto de grau deinstrução e poder do apelante, situações que tornam maisreprovável a conduta do réu.

Observou, acertadamente, nos motivos que levaram aocometimento do crime, o uso da máquina e do erário público parafins eleitorais.

Além disso, bem observou as conseqüências do desvio dequdse meio ttiilhao de reais, em debrimento do interesse dacoletividade.

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO fls.23/23

APELAÇÃO CRIMINAL 2004.42.00. 000181-3/RRProcesso na Origem: 1828920044014200

Ao desviar recursos em proveito próprio e/ou alheio, oapelante impediu a aplicação de tais valores em obras e benefíciossociais para a população do Estado que lhe conferiu um cargoeletivo.

A boa conduta social do apelante, bons antecedentes e ofato de ser tecnicamente primário foram circunstâncias devidamenteconsideradas pelo magistrado sentenciante, pois conforme jáobservado, a pena-base, malgrado as circunstâncias negativas acimaelexacadas, rol Lixada em nível inLerrnediário (06 anos)

Correta e fundamentada a incidência da causa de aumentoprevista no art. 327, § 2°, do Código Penal, aumentando a pena naterça parte, conforme previsto no referido dispositivo, o queresulta em 8 (oito) anos de reclusão e 266 (duzentos e sessenta eseis) dias-multa.

Por outro lado, consoante já decidiu esta Turma, em03/12/2012, no julgamento da Apelação Criminal 2006.42.00.001983-3/RR, em conformidade com o Voto Revisor prolatado peloDesembargador Cândido Ribeiro, o aumento da continuidade delitivadeve ser calculado em 1/3 (um terço)

Assim, a pena para o delito de peculato (art. 312 do CP)resulta em 10 (dez) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 354(trezentos e cinquenta e quatro) dias-multa, à razão de 2/3 (doisterços) do salário mínimo vigente na época do fato.

Tal pena obedece aos parâmetros de razoabilidade eproporcionalidade, sendo atendidos, na espécie, os fins derepressão e prevenção à prática delituosa em foco.

Ademais, a despeito da absolvição do réu quanto ao delitode quadrilha (art. 288 do CP) e da redução da pena referente aocrime de peculato (art. 312 do CP), permanece incabível asubstituição da pena privativa de liberdade acima mencionada porrestritiva de direitos, eis que, ainda assim, não se adequa o casoaos requisitos do art. 44, incisos 1 e III, do Código Penal.

Da mesma forma, permanece o regime inicial fechado para ocumprimento da pena privativa de liberdade, em obediência ao art.33, § 1°, “a”, do CP.

Escorreita mostra-se, quanto aos demais pontos, asentença condenatória, pelo que não merece qualquer outra reforma.

Por todo o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO à apelação,apenas para absolver o apelante Neudo Ribeiro Campos da imputaçãode prática do delito de quadrilha (art. 288 do CP) ante ainsuficiência de provas para a condenação (art. 386, VII, do CPP)e reduzir a pena referente ao crime de peculato (art. 312 do CP)para 10 (dez) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 354 (trezentose cinquenta e quatro) dias-multa, à razão de 2/3 (dois terços) dosalário mínimo vigente na época do fato. Mantida a sentençacondenatória nos seus demais pontos, nos termos acima expostos.

É como voto.

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