poder judiciário do estado do rio de janeiro sétima câmara

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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Sétima Câmara Criminal Correição Parcial nº 0049218-70.2015.8.19.0000 Ação Originária nº 0001848-58.2013.8.19.0035 FLS.1 Secretaria da Sétima Câmara Criminal Beco da Música, 107, 1º andar Lâmina IV Centro Rio de Janeiro/RJ CEP 20010-010 Tel.: + 55 21 3133-5007 E-mail: [email protected] Reclamante: MINISTERIO PUBLICO Reclamado: JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE NATIVIDADE Interessado: RODRIGO SILVA DOS SANTOS Relator: DES. JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO ACÓRDÃO CORREIÇÃO PARCIAL. SUPOSTA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 155 DO CÓDIGO PENAL. DEFERIMENTO DE PARTE DAS DILIGÊNCIAS REQUERIDAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO (VISANDO À BUSCA DE ENDEREÇO DO ACUSADO, PARA CITAÇÃO E INTIMAÇÃO, JUNTO AO TRE-RJ, VIVO, OI, TIM, CLARO E CEF - CADASTRO DO FGTS), AO FUNDAMENTO DE POSSUIR O ÓRGÃO MINISTERIAL PODERES E ESTRUTURA FUNCIONAL. PRESCINDIBILIDADE DE INTERVENÇÃO JUDICIAL PARA AS REQUISIÇÕES PRETENDIDAS A imprescindibilidade da obtenção do endereço do acusado para posterior citação do mesmo, como pressuposto para possibilitar a busca da verdade real dos fatos, não é de interesse comum do Estado-acusador, da Defesa e do Estado-juiz. Não existe direito de ser processado, para o réu, mas sim o direito de perseguir ampla defesa quando processado. Assim, não é interesse da defesa viabilizar a persecução criminal. Logo, a premissa de que interessa ao Judiciário garantir o início da ação penal deve ser tomada com cautela. O que existe é o dever de o Estado- juiz zelar pela observância dos princípios constitucionais do processo quando da instauração da instância penal. Nesta toada, merece destaque trecho da fundamentação trazida pela Juíza reclamada, que transcrevo: “o interesse primário de trazer o réu a Juízo para ser julgado é afeto, precipuamente, ao Ministério Público, autor da ação penal, no exercício da ´persecutio criminis in judicio´, cabendo a este a realização pessoal das diligências necessárias para tanto, que lhe são plenamente possíveis, com base na legislação em vigor (CRFB/88, Lei 8625/93, LC estadual 106/03), inclusive, no que toca à promoção da citação pessoal daquele (art. 219, § 2º do CPC c/c art. 3º do CPP), trazendo aos autos a sua qualificação completa e devidamente atualizada.” (Anexo 01 – pasta 00001 Processo nº 0001848-58.2013.8.19.0035 Juíza LEIDEJANE CHIEZA GOMES DA SILVA) É certo que a prerrogativa de requisição não impede que o Ministério Público requeira a realização de diligências junto ao Judiciário, segundo a melhor jurisprudência.

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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Sétima Câmara Criminal

Correição Parcial nº 0049218-70.2015.8.19.0000 Ação Originária nº 0001848-58.2013.8.19.0035

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Secretaria da Sétima Câmara Criminal

Beco da Música, 107, 1º andar – Lâmina IV Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-010

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Reclamante: MINISTERIO PUBLICO Reclamado: JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE NATIVIDADE Interessado: RODRIGO SILVA DOS SANTOS Relator: DES. JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO

A C Ó R D Ã O CORREIÇÃO PARCIAL. SUPOSTA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 155 DO CÓDIGO PENAL. DEFERIMENTO DE PARTE DAS DILIGÊNCIAS REQUERIDAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO (VISANDO À BUSCA DE ENDEREÇO DO ACUSADO, PARA CITAÇÃO E INTIMAÇÃO, JUNTO AO TRE-RJ, VIVO, OI, TIM, CLARO E CEF - CADASTRO DO FGTS), AO FUNDAMENTO DE POSSUIR O ÓRGÃO MINISTERIAL PODERES E ESTRUTURA FUNCIONAL. PRESCINDIBILIDADE DE INTERVENÇÃO JUDICIAL PARA AS REQUISIÇÕES PRETENDIDAS A imprescindibilidade da obtenção do endereço do acusado para posterior citação do mesmo, como pressuposto para possibilitar a busca da verdade real dos fatos, não é de interesse comum do Estado-acusador, da Defesa e do Estado-juiz. Não existe direito de ser processado, para o réu, mas sim o direito de perseguir ampla defesa quando processado. Assim, não é interesse da defesa viabilizar a persecução criminal. Logo, a premissa de que interessa ao Judiciário garantir o início da ação penal deve ser tomada com cautela. O que existe é o dever de o Estado-juiz zelar pela observância dos princípios constitucionais do processo quando da instauração da instância penal. Nesta toada, merece destaque trecho da fundamentação trazida pela Juíza reclamada, que transcrevo: “o interesse primário de trazer o réu a Juízo para ser julgado é afeto, precipuamente, ao Ministério Público, autor da ação penal, no exercício da ´persecutio criminis in judicio´, cabendo a este a realização pessoal das diligências necessárias para tanto, que lhe são plenamente possíveis, com base na legislação em vigor (CRFB/88, Lei 8625/93, LC estadual 106/03), inclusive, no que toca à promoção da citação pessoal daquele (art. 219, § 2º do CPC c/c art. 3º do CPP), trazendo aos autos a sua qualificação completa e devidamente atualizada.” (Anexo 01 – pasta 00001 – Processo nº 0001848-58.2013.8.19.0035 – Juíza LEIDEJANE CHIEZA GOMES DA SILVA) É certo que a prerrogativa de requisição não impede que o Ministério Público requeira a realização de diligências junto ao Judiciário, segundo a melhor jurisprudência.

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O Superior Tribunal de Justiça já firmou o entendimento de que a faculdade conferida ao Ministério Público de realizar as diligências que entender cabíveis, não exclui a intervenção do Juiz para determinação de providências eventualmente pleiteadas pelo Parquet, “se demonstrado que o Representante Ministerial não se encontrava devidamente aparelhado para tanto”, ou quando as diligências forem reputadas imprescindíveis à busca real (REsp 247.705/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 04/12/2001, DJ 04/02/2002, p. 459) Assim, com a cautela que a causa pede, deve se ter em mente três norteadores: 1. A diligência pode ser alcançada pelo Ministério Público dentro de seu poder requisitório? 2. O Ministério Público possui estrutura (aparelhamento) para obter a diligência? 3. A diligência é necessária à busca da verdade real (interesse não identificado como a atuação de uma das partes)? A toda evidência, vencida a primeira etapa (diligências, que por determinação legal não sejam de exclusiva requisição judicial) a diligência visando a instauração da ação penal é de interesse exclusivo da acusação, já que ao titular da ação penal cabe fornecer, por expressa determinação legal do art. 41 do CPP, a qualificação do réu, como um dos requisitos da inicial apta. Neste mesmo sentido prossegue a jurisprudência atual do STJ (AgRg no RMS 37.205/TO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 23/09/2014; AgRg no RMS 37.811/RN, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 07/04/2014; AgRg no RMS 35.398/RN, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 10/09/2013) A inversão tumultuária do processo em razão do indeferimento da requisição de diligências, passível de correição parcial, somente se caracteriza nas hipóteses em que o órgão ministerial demonstra, de pronto, a incapacidade de realização da diligência requerida por meios próprios e a real necessidade de intervenção judicial na obtenção da resposta. Bem por isso a valoração sobre os “fartos recursos financeiros, humanos e tecnológicos” do órgão acusador É PERTINENTE PARA FIXAR, NOS PRECISOS TERMOS DA LIÇÃO DO MINISTRO GILSON DIPP, A REAL NECESSIDADE DE INTERMEDIAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA OBTENÇÃO DA RESPOSTA À DILIGÊNCIA (“O poder de requisição direta de diligências conferido ao Ministério Público não exclui a intervenção do juiz para a determinação de providências eventualmente pleiteadas pelo Parquet, desde que demonstrada a real

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necessidade de sua intermediação” - REsp n. 740.660/RS, Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º/2/2006). CORREIÇÃO IMPROCEDENTE, porque não demonstrada a imprescindibilidade de intervenção do Judiciário para obtenção da diligência requerida pelo Ministério Público.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Correição Parcial nº 0049218-70.2015.8.19.0000, em que é Reclamante MINISTERIO PUBLICO, Reclamado JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE NATIVIDADE, Interessado RODRIGO SILVA DOS SANTOS, ACORDAM os Desembargadores que compõem a 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por MAIORIA de votos, em NEGAR PROVIMENTO a presente Correição Parcial, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, na data constante da assinatura digital.

Desembargador JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO

Relator

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Reclamante: MINISTERIO PUBLICO Reclamado: JUIZO DE DIREITO DA COMARCA DE NATIVIDADE Interessado: RODRIGO SILVA DOS SANTOS Relator: DES. JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Correição Parcial manejada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO

contra decisão do JUIZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE NATIVIDADE que DEFERIU parcialmente a busca de endereço, apenas para o TRE-RJ e Receita Federal, indeferindo a busca nos demais órgãos, visando à busca de endereço do acusado RODRIGO SILVA DOS SANTOS, para citação e intimação, eis que o órgão de acusação não obteve êxito em localizar o réu, em ação penal que move contra o acusado incurso nas penas do art. 155 do Código Penal.

Inconformado o representante do Parquet peticionou ao Juízo pretendendo

a reconsideração do indeferimento da diligência, que foi mantido por decisão constante em pasta eletrônica nº 01, do anexo 01, dando ensejo à impetração da presente Correição.

Sustenta o representante do MP inicialmente que o juízo a quo, na decisão

que não reconsiderou o despacho anterior, objeto desta reclamação, desceu a subjetivismos e conceituações desnecessárias para o deslinde desta questão, que é eminentemente de direito, adentrando, inclusive, em número de servidores deste órgão ministerial, taxando a fundamentação do requerimento de reconsideração de “inverídica” e ainda injusta contra a Administração Superior do Ministério Público quanto menciona a estrutura administrativa desta. Salienta que tentou, nos cadastros em que tem acesso, obter dito endereço, tendo fornecido até mesmo um deles, onde o acusado não foi encontrado, no que requereu ao juízo providências no sentido de oficiar às empresas telefônicas e ao cadastro de FGTS da Caixa Econômica Federal, cadastros estes que não tem acesso direto. Acrescenta que seus poderes requisitórios se limitam ao âmbito de seus procedimentos administrativos, à luz do artigo 129, VI, da Constituição da República e artigo 35, I, “b” da LC Estadual nº106/03. Frisa que se o juízo deve buscar a FAC do acusado porque lhe interessa para julgá-lo, muito mais interessa buscar seu endereço, para vê-lo processado e julgado. Por fim, requer conhecimento da presente reclamação, por estarem presentes seus requisitos processuais de admissibilidade, dando-lhe provimento para o fim de determinar o juízo a quo que diligencie junto a VIVO, OI, TIM, CLARO e CEF(cadastro de FGTS) para obtenção do endereço do acusado.

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Manifestação da d. Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer da lavra do Dr. Francisco Eduardo Marcondes Nabuco, no sentido de SE DAR PROVIMENTO à reclamação oferecida, para que sejam imediatamente atendidas as diligências requeridas pelo Ministério Público de piso e que foram objeto de indeferimento, na forma deste parecer (pasta 0030).

Determinei a inclusão do feito em pauta para julgamento.

V O T O

Inicialmente, devo consignar que o reclamante cita jurisprudência recente

de minha lavra (Processo nº 0025520-35.2015.8.19.0000), em processo da mesma Comarca, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, em tudo semelhante, em que votei, com a adesão de meus pares, pela procedência da correição.

A reiteração do pedido me força a reanalisar a matéria, com mais vagar, o

que me leva a rever a posição anteriormente defendida: fica claro existir falta de razoabilidade na posição das duas autoridades na Comarca, o que gera custos para a sociedade na repetição de processos inúteis.

RODRIGO SILVA DOS SANTOS foi denunciado em 02 de setembro de

2013, como incurso na pena do art. 155 do CP (anexo 1 - pasta 00013). No entanto o acusado não foi encontrado para responder a ação penal no

endereço informado na denúncia. Houve pesquisa no SIPEN, com apuração de outro endereço, onde o

acusado foi procurada, não sendo novamente encontrado (anexo 01- pasta 00027) Desta forma, o MP requereu ao Juízo de piso a busca do endereço do

acusado para citação e intimação junto ao TRE-RJ, VIVO, OI, TIM, CLARO e CEF (cadastro do FGTS).

O Magistrado por decisão, datada de 23/03/2015, deferiu em parte o

pedido, nos seguintes termos: “Fls. 85 - Diligencie-se tão somente junto aos cadastros eletrônicos da Justiça Eleitoral e da Receita Federal (INFOJUD). Qualquer outra diligência na busca da localização do acusado, além daquelas acima adotadas pelo Juízo, poderá ser providenciada diretamente pelo MP,

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parte que é, poderes (e estrutura funcional) que possui. Intime-se.” (anexo 01 – pasta 00043).

Pelo MP foi requerida a reconsideração da decisão (anexo 01 - pasta

00045), entretanto o Magistrado de piso a manteve, sob os seguintes fundamentos: “Trata-se de pedido formulado pelo Ministério Público, pelo qual pretende a reconsideração do despacho que não acolheu integralmente o requerimento de expedição de ofícios de praxe em busca do atual paradeiro do acusado, mas que determinou a realização de diligências junto aos cadastros eletrônicos da Justiça Eleitoral e da Receita Federal. PASSO A DECIDIR. Em primeiro lugar, faz-se pertinente uma breve lembrança acerca dos principais sistemas processuais penais, onde se destacam os sistemas inquisitivo e acusatório. Pelo sistema inquisitivo, típico de regimes totalitários e superados, cabe ao juiz o exercício das três funções (acusar, defender e julgar), o que, logicamente, viola a sua imparcialidade, até mesmo porque, neste caso, a ação penal era deflagrada ex offício, pelo Estado-Juiz, razão pela qual tal sistema está mais do que ultrapassado, ante a sua total incompatibilidade com o Estado Democrático de Direito e com as garantias que lhe são correlatas. Já no sistema acusatório as três funções acima referidas são exercidas por órgãos/sujeitos distintos, cabendo ao juiz a função precípua de julgar, a fim, especialmente, de preservar a sua imparcialidade, razão pela qual o Estado-Juiz deve ficar distante das funções afetas à persecução penal, somente intervindo nesta quando se tratar de matéria sujeita à reserva de jurisdição, principalmente para garantir a observância dos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos investigados/processados. Com efeito, no Brasil, é de conhecimento público que vigora o sistema acusatório, mormente após a promulgação da Carta Política de 1988, pelo qual compete privativamente ao Ministério Público a promoção da ação penal pública, cabendo-lhe, desse modo, a função de realizar a acusação (persecutio criminis in judicio), no processo penal, na forma da lei (art. 129, I, CRFB/88, CPP e legislação especial). Para tanto, assim como a consecução de outros fins, a CRFB/88 e a legislação infraconstitucional superveniente alçaram esta grandiosa instituição ao status de essencial à função jurisdicional do Estado, lhe conferindo os devidos poderes, prerrogativas e estruturação necessárias ao independente desenvolvimento das suas funções institucionais, tais como, p.e., o poder requisitório, o controle externo sob a atividade policial, a autonomia administrativa e financeira, assim como a independência funcional. Neste contexto, fixadas tais premissas, revela-se flagrantemente equivocado o argumento exposto pelo Ministério Público no sentido de que, deflagrada a ação penal, caberia ao Judiciário o suscitado poder-dever de localizar o acusado, pelo que, conforme alega, teria o Estado-juiz a obrigação de

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apurar o seu paradeiro, ex officio ou mediante o deferimento das diligências persecutórias requeridas pelo órgão acusador. Com efeito, a pretensão punitiva estatal (interesse punitivo) é deduzida e perseguida em Juízo pelo Ministério Público (Estado-acusação), que deflagra a ação penal pública, por meio do oferecimento da denúncia, pugnando pela condenação do denunciado (suposto criminoso), cabendo assim àquele, privativamente, por seus próprios meios (conferidos pela Carta Magna e pela legislação institucional), promovê-la, conforme acima salientado. Por outro lado, o Estado-juiz não tem o dever de punir o acusado, mas sim de julgá-lo, após o término da instrução, observado o contraditório e a ampla defesa, devendo, aí sim, se estiver devidamente comprovada a imputação formulada pela acusação, condená-lo, ou, do contrário, absolvê-lo, nos demais casos. Ademais, vale ressaltar que, antes do trânsito em julgado, o acusado se presume inocente (não culpado), consoante dispõe o art. 5º, LVII, da CRFB/88, cabendo à acusação o ônus de provar o contrário, razão pela qual não há que se falar em criminoso, delinquente ou infrator, durante o trâmite da ação penal, como no caso em tela, e, por consequência, no suscitado dever do Poder Judiciário de persegui-lo, investigando o seu paradeiro, em prol da sociedade e da persecução penal em Juízo, que deve ser exercida exclusivamente pelo Ministério Público. Neste passo, o interesse primário de trazer o réu a Juízo para ser julgado é afeto, precipuamente, ao Ministério Público, autor da ação penal, no exercício da ´persecutio criminis in judicio´, cabendo a este a realização pessoal das diligências necessárias para tanto, que lhe são plenamente possíveis, com base na legislação em vigor (CRFB/88, Lei 8625/93, LC estadual 106/03), inclusive, no que toca à promoção da citação pessoal daquele (art. 219, § 2º do CPC c/c art. 3º do CPP), trazendo aos autos a sua qualificação completa e devidamente atualizada. Além do mais, a diligência requerida pelo ´parquet´, em prol da persecução penal, não é relacionada à matéria afeta à reserva de jurisdição, pelo que não justifica a desnecessária intervenção do notoriamente assoberbado e sobrecarregado Poder Judiciário, havendo assim evidente ausência de interesse de agir (interesse-necessidade), por parte daquele, no que toca ao pleito ora formulado. Frise-se, ainda, que, em relação ao argumento ministerial consistente na suposta ausência de capacidade estrutural do Ministério Público, no afã de justificar a impossibilidade da mera expedição dos ofícios em questão pelo próprio órgão, além de inverídica, representa até mesmo uma injustiça com a sua própria instituição, em especial, com os seus competentes administradores, que a proveram de fartos recursos financeiros, humanos e tecnológicos nos últimos anos, sendo, portanto, de conhecimento público o fato de que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, felizmente, é um dos mais bem estruturados e

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aparelhados do Brasil, porquanto é dotado de um numeroso e capacitado quadro de Procuradores, Promotores, servidores de carreira, assessores de confiança (de fora do quadro permanente), policiais cedidos (GAP), setor de pesquisas, equipes técnicas e estagiários de Direito, contando, ainda, com instalações informatizadas e modernas, como é exemplo o caso desta Comarca, em que o Ministério Público possui sede própria. Sob este cenário, não prosperam os fundamentos tecidos pelo órgão ministerial, mostrando-se irretocável o despacho outrora prolatado por este Juízo, razão pela qual deve ser reprisado que, se o Ministério Público, para o desenvolvimento da sua privativa atividade persecutória criminal, no presente feito vislumbra a necessidade de investigar/apurar o paradeiro do acusado, colhendo informações acerca de possíveis endereços deste, eventualmente constantes da base de dados das operadoras de telefonia e outros órgãos, considerando que detém o poder/prerrogativa de requisitar, por iniciativa e meios próprios, as informações pretendidas, deve tal órgão proceder, na forma do disposto no art. 47 do CPP e na legislação correlata (Leis 8625/93 e LC 106/03). Por pertinente, convém ser destacado que a deliberação anterior deste Juízo e a presente decisão estão em plena consonância com a pacífica e assentada jurisprudência acerca do tema, conforme se infere dos recentes julgados abaixo colacionados: CORREIÇÃO PARCIAL - PROCESSO PENAL - REQUERIMENTO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO JUNTO A OPERADORAS DE TELEFONIA CELULAR PARA LOCALIZAÇÃO DO ENDEREÇO DE TESTEMUNHA - INDEFERIMENTO PELO JUIZ - 'ERROR IN PROCEDENDO' NÃO CARACTERIZADO - ATRIBUIÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL CONFERIDA AO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA REQUERER DILIGÊNCIAS JUNTOS AOS ÓRGÃOS. O Ministério Público possui a prerrogativa legal e constitucional para requisitar dados cadastrais personalizados junto aos órgãos e entidades públicos e privados, dispondo de estrutura suficiente para tanto, não sendo, assim, necessária a intervenção do Poder Judiciário para oficiar os referidos órgãos, a fim de fornecerem o endereço dos envolvidos. Correição parcial não provida. CORREIÇÃO PARCIAL OU RECLAMAÇÃO CORREICIONAL - Nº 1.0000.12.099442-1/000 - COMARCA DE BELO HORIZONTE ¿ TJ/MG - Conselho da Magistratura - RELATOR: EXMO. SR. DES. CONS. ALVIMAR DE ÁVILA . ´CONSELHO DA MAGISTRATURA - CORREIÇÃO PARCIAL - REQUISIÇÃO DE INFORMAÇÕES JUNTO À RECEITA FEDERAL - INDEFERIMENTO PELO JUIZ - POSSIBILIDADE - MINISTÉRIO PÚBLICO - MEIOS PRÓPRIOS PARA REQUERER DILIGÊNCIA DIRETAMENTE AOS ÓRGÃOS PÚBLICOS. - O poder requisitório do Ministério Público relacionado ao acesso de dados cadastrais junto a Tribunal Regional Eleitoral, no sentido de localizar o endereço da vítima, não fica condicionado à prévia autorização judicial, podendo requerer essa

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diligência, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los´ (Correição Parcial nº 1.0000.11.043882-7/000 - Relator Desembargador Edilson Fernandes - J. em 07/11/2011 - P. 18/11/2011). Contudo, não se nega e nem deve ser obstaculizado o direito (abstrato) da parte autora (Ministério Público) de interpor a anunciada reclamação/correição regularmente instruída, devendo esta, entretanto, caso pretenda exercer tal direito, proceder, adequadamente, na forma acima referida (interesse-adequação), solicitando/requerendo ao juiz da causa a adoção das diligências/providências cabíveis e necessárias para tanto, na forma do art. 221 do CODJERJ. Posto isso, MANTENHO O DESPACHO DE FL. 89 por seus próprios fundamentos e, especialmente, por todas as razões acima invocadas. No mais, atenda-se ao que foi requerido pelo ´parquet´ na parte final da promoção de fls. 93/94. Dê-se ciência ao Ministério Público.” – GRIFEI (anexo 01 – passa 00001) Como antecipei no início do voto, após análise mais detida do caso, e em

especial em razão de sua repetição, a denotar que o próprio processo assumiu para as autoridades envolvidas maior relevo do que o mérito da causa, reformulo meu posicionamento anterior.

Primeiramente, devo reconhecer que a imprescindibilidade da obtenção do

endereço do acusado para posterior citação do mesmo, como pressuposto para possibilitar a busca da verdade real dos fatos, não é de interesse comum do Estado-acusador, da Defesa e do Estado-juiz. Não existe direito de ser processado, para o réu, mas sim o direito de perseguir ampla defesa quando processado. Assim, não é interesse da defesa viabilizar a persecução criminal.

Logo, a premissa de que interessa ao Judiciário garantir o início da ação

penal deve ser tomada com cautela. O que existe é o dever de o Estado-juiz zelar pela observância dos princípios constitucionais do processo quando da instauração da instância penal.

Nesta toada, merece destaque trecho da fundamentação trazida pela Juíza

reclamada, que transcrevo: “o interesse primário de trazer o réu a Juízo para ser julgado é afeto, precipuamente, ao Ministério Público, autor da ação penal, no exercício da ´persecutio criminis in judicio´, cabendo a este a realização pessoal das diligências necessárias para tanto, que lhe são plenamente possíveis, com base na legislação em vigor (CRFB/88, Lei 8625/93, LC estadual 106/03), inclusive, no que toca à promoção da citação pessoal daquele (art. 219, § 2º do CPC c/c art. 3º do CPP), trazendo aos autos a sua qualificação completa e

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Correição Parcial nº 0049218-70.2015.8.19.0000 Ação Originária nº 0001848-58.2013.8.19.0035

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devidamente atualizada.” (Anexo 01 – pasta 00001 – Processo nº 0001848-58.2013.8.19.0035 – Juíza LEIDEJANE CHIEZA GOMES DA SILVA)

Como cediço as regras previstas nos artigos 129, VI e VIII, da CF1; art.

26, I, b, e II, da Lei nº 8.625/19932 (Lei Orgânica do Ministério Público); e arts. 13, II,3 e 47 do CPP4 justificam a iniciativa do Ministério Público quando pretende obter, por si só, dados, documentos e esclarecimentos no interesse de sua função institucional de comando da ação penal, já que também detém poder requisitório.

É certo que tal prerrogativa não impede que o Ministério Público requeira

a realização de diligências junto ao Judiciário, segundo a melhor jurisprudência. O Superior Tribunal de Justiça já firmou o entendimento de que a

faculdade conferida ao Ministério Público de realizar as diligências que entender cabíveis, não exclui a intervenção do Juiz para determinação de providências eventualmente pleiteadas pelo Parquet, “se demonstrado que o Representante Ministerial não se encontrava devidamente aparelhado para tanto”, ou quando as diligências forem reputadas imprescindíveis à busca real.

Confira-se:

CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO, CONSUMADO E TENTADO. REQUISIÇÃO DE DILIGÊNCIAS, PARA A

1 Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...) VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; (...); VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;

2 Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los: (...) b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 3 Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:

(...) II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público;

4 Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los

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LOCALIZAÇÃO DE VÍTIMAS E TESTEMUNHAS. INDEFERIMENTO. PEDIDO DE CORREIÇÃO PARCIAL NEGADO. DESCABIMENTO. RECURSO PROVIDO. I - A faculdade conferida ao Ministério Público de realizar as diligências que entender cabíveis, não exclui a intervenção do juiz para a determinação de providências eventualmente pleiteadas pelo Parquet e reputadas imprescindíveis à busca real, se demonstrado que o Representante Ministerial não se encontrava devidamente aparelhado para tanto. II – Recurso provido, para cassar a decisão recorrida e determinar a expedição, pelo Julgador da causa, dos ofícios requeridos pelo Ministério Público. (REsp 247.705/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 04/12/2001, DJ 04/02/2002, p. 459) Assim, com a cautela que a causa pede, deve se ter em mente três

norteadores: 4. A diligência pode ser alcançada pelo Ministério Público dentro de seu

poder requisitório? 5. O Ministério Público possui estrutura (aparelhamento) para obter a

diligência? 6. A diligência é necessária à busca da verdade real (interesse não

identificado como a atuação de uma das partes)? A toda evidência, vencida a primeira etapa (diligências, que por

determinação legal não sejam de exclusiva requisição judicial) a diligência visando a instauração da ação penal é de interesse exclusivo da acusação, já que ao titular da ação penal cabe fornecer, por expressa determinação legal do art. 41 do CPP5, a qualificação do réu, como um dos requisitos da inicial apta.

Embora se possa argumentar com o interesse público existente na

apuração dos crimes, o legislador constituinte soberanamente optou pelo processo de matriz acusatória, colocando com exclusividade nas mãos de uma autoridade estatal definida o poder/dever de movimentar a perseguição em juízo.

Neste mesmo sentido prossegue a jurisprudência atual do STJ: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA A QUE SE NEGOU SEGUIMENTO. REQUISIÇÃO DE DILIGÊNCIAS

5 Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do

acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

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NEGADA PELO JUIZ. JUNTADA DE CERTIDÕES DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DAS INFORMAÇÕES PELO PRÓPRIO MINISTÉRIO PÚBLICO. DESNECESSIDADE DE INTERVENÇÃO JUDICIAL. PRECEDENTES. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. É assente na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que o requerimento de diligências pelo Parquet ao Poder Judiciário só se justifica quando comprovada a real necessidade da intervenção judicial. 2. Hipótese em que não houve a demonstração da existência de efetivo obstáculo para a obtenção, pelo próprio órgão ministerial, das certidões de antecedentes criminais pretendidas. 3. Agravo regimento improvido. (AgRg no RMS 37.205/TO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 23/09/2014) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSUAL PENAL. REQUISIÇÃO DA FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. INDEFERIMENTO PELO MAGISTRADO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA IMPOSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO POR MEIOS PRÓPRIOS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. 1. Nos termos da pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, em razão do poder requisitório do Ministério Público, só se justifica a intervenção do Poder Judiciário quando demonstrada a impossibilidade de realização da diligência por meio próprio, o que não ocorreu na espécie. 2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RMS 37.811/RN, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 07/04/2014) AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE DETERMINAÇÃO DE JUNTADA DE FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. PODER REQUISITÓRIO DO PARQUET. IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DA DILIGÊNCIA. DEMONSTRAÇÃO. NECESSIDADE. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. De acordo com a jurisprudência deste Sodalício, em razão do poder requisitório conferido ao Parquet por normas constitucional e infraconstitucionais, o requerimento ao Poder Judiciário só se justifica se

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demonstrada a imprescindibilidade de utilização dessa via, o que não ocorreu na hipótese em exame, daí porque inexiste ofensa a direito líquido e certo do agravante. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no RMS 35.398/RN, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 10/09/2013)

A inversão tumultuária do processo em razão do indeferimento da

requisição de diligências, passível de correição parcial, somente se caracteriza nas hipóteses em que o órgão ministerial demonstra, de pronto, a incapacidade de realização da diligência requerida por meios próprios e a real necessidade de intervenção judicial na obtenção da resposta.

Reconheço, então, a inadequação da minha posição anterior que censurou

a posição da magistrada de piso. A valoração sobre os “fartos recursos financeiros, humanos e tecnológicos” do órgão acusador É PERTINENTE PARA FIXAR, NOS PRECISOS TERMOS DA LIÇÃO DO MINISTRO GILSON DIPP, A REAL NECESSIDADE DE INTERMEDIAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA OBTENÇÃO DA RESPOSTA À DILIGÊNCIA (“O poder de requisição direta de diligências conferido ao Ministério Público não exclui a intervenção do juiz para a determinação de providências eventualmente pleiteadas pelo Parquet, desde que demonstrada a real necessidade de sua intermediação” - REsp n. 740.660/RS, Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJe 1º/2/2006).

Até em atenção à economicidade e razoabilidade seria mais adequado que

o representante do Ministério Público tentasse a diligência por seus meios próprios em vez de movimentar a máquina judicial em segundo grau, com enormes custos para a Sociedade.

Em face do exposto, voto no sentido NEGAR PROVIMENTO a presente

Correição Parcial.

Rio de Janeiro, na data constante da assinatura digital.

Desembargador JOAQUIM DOMINGOS DE ALMEIDA NETO Relator