28.a sétima trombeta

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A S É T I M A T R O M B E T A Três Peças Curtas Texto de: JULIO CARRARA Escrita em 2009

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A SÉTIMA TROMBETA

Três Peças Curtas

Texto de: JULIO CARRARA

Escrita em 2009

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GRAPEFRUIT MOON

PERSONAGENS:

PAULO

VANESSA

ON THE NICKEL

PERSONAGENS:

GAROTO

HOMEM

JUST A PERFECT DAY

PERSONAGEM:

MULHER

CENÁRIOS: Descrição no texto. Sugiro que trabalhem com poucos

elementos para facilitar a troca de uma cena para a outra.

OBSERVAÇÃO: Os textos não precisam necessariamente ser encenados na

ordem que estão escritos. E podem também ser apresentados separadamente.

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GRAPEFRUIT MOON

(Uma kitchenete com poucos elementos: um criado-mudo com o abajur, um puff, um

colchão no chão ou naquelas camas de armar, um cinzeiro cheio, uma embalagem de

pizza, uma garrafa de vinho aberta e duas taças. É madrugada. Apenas a claridade da

lua ilumina a cena escura. Paulo está deitado na cama. O radio relógio marca as horas:

3:25. A porta se abre e por ela entra Vanessa, cautelosa. Acende o abajur e fica olhando

pra ele. Tira o salto e procura algo na bolsa. Faz de tudo para não acordá-lo. De repente

algum objeto cai no chão fazendo um barulhão.)

VANESSA

(Baixo.) Merda!

PAULO

Pode acender a luz.

VANESSA

Desculpa, te acordei?

PAULO

Não.

(Vanessa acende a luz.)

VANESSA

Achei que já estivesse dormindo.

PAULO

To tentando.

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VANESSA

(Muito constrangida.) Paulo, eu...

PAULO

Não precisa falar nada.

VANESSA

Eu te devo uma explicação.

PAULO

Não, não deve.

VANESSA

Me desculpa.

PAULO

Não tô a fim de falar sobre isso, Vanessa. Me deixa dormir.

VANESSA

Eu perdi a noção do tempo. A gente ficou no barzinho bebendo depois

da aula. Tava uma turma bem legal. Aí quando olhei pro relógio era quase

uma hora. Não tinha mais metrô. E só consegui chegar agora porque o Carlão

me deu uma carona. Senão tinha que esperar o metrô abrir.

PAULO

(Senta-se na cama.) E aí?

VANESSA

E aí o que?

PAULO

O Carlão.

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VANESSA

Que é que tem o Carlão?

PAULO

Ele te comeu?

VANESSA

Como é que é?

PAULO

Comeu ou não comeu?

VANESSA

Ele é meu amigo.

PAULO

Você deu pra ele, né?

VANESSA

De onde você tirou essa ideia?

PAULO

Você ta cheirando sexo.

VANESSA

Que absurdo.

PAULO

Fala de uma vez: “Paulo, eu furei com você porque tava dando pro Carlão”.

VANESSA

Você ta sendo inconveniente!

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PAULO

Assume: “Cheguei agora porque o Carlão me comeu até fazer minha buceta

inchar”.

VANESSA

Deixa de ser escroto!

PAULO

Confessa... Ele te fez gozar?

VANESSA

Você enlouqueceu.

PAULO

Fez ou não fez? Você gozou com ele como goza comigo?

VANESSA

Acho melhor você parar, senão...

PAULO

Você não disse que me devia uma explicação? Mudei de ideia. Agora eu

quero ouvir. Conta tudo. Com detalhes.

VANESSA

O Carlão só me deu uma carona.

PAULO

E como agradecimento você deu pra ele.

VANESSA

Se você não parar eu vou embora.

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PAULO

Demorou. Nem sei por que veio.

VANESSA

Seu filho da puta.

PAULO

Liga pro Carlão. Pede pra ele vir te pegar.

VANESSA

É isso mesmo que vou fazer. E quer saber? É agora que vou dar pra ele.

Vou dar muito. Muito mesmo.

PAULO

É isso aí. Vai fundo.

VANESSA

(Colocando o salto, pegando a bolsa e saindo.) Viado.

PAULO

Puta. (Voltando para a cama.) E apaga a merda da luz...

VANESSA

Vá tomar no cu...

(Vanessa sai sem apagar a luz.)

PAULO

(Gritando.) Deixa as chaves com o porteiro. E não precisa mais voltar...

(Paulo pega o vinho e despeja numa taça. Bebe em silêncio. Depois de um tempo,

Vanessa volta.)

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PAULO

(Forte.) Não ouviu o que eu disse? Vá embora!

(Vanessa puxa Paulo para perto de si e beija-o com violência.)

VANESSA

Desculpa. (Paulo permanece em silêncio, bebendo.) Você não vai falar nada?

PAULO

Acha que vai me comprar com um beijo?

VANESSA

Não foi bom?

PAULO

Médio. Você sabe fazer melhor. (Pausa. Bebe. Noutro tom.) Por que você

me machuca tanto, hein?

VANESSA

Isso não vai mais acontecer.

PAULO

To cansado de ouvir essa mesma ladainha...

VANESSA

Eu prometo.

PAULO

Não prometa o que não pode cumprir.

VANESSA

Você não confia mais em mim, né?

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PAULO

E de que jeito?

VANESSA

Eu vou mudar.

PAULO

Quando?

VANESSA

É que nunca dá certo. Sempre que você marca comigo aparecem outras

coisas pra eu fazer... Aí eu...

PAULO

...priorizo “outras coisas”... Sabe qual é o problema, Vanessa? Você

nunca me deu prioridade. E o meu problema foi dar prioridade a quem me tem

como opção.

VANESSA

Não é assim.

PAULO

É assim, sim. Hoje, por exemplo, você preferiu beber com os amigos

depois da faculdade e sequer teve a preocupação de me ligar avisando.

VANESSA

É que acabou a bateria do meu celular.

PAULO

Ligasse de um orelhão.

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VANESSA

Tava em cartão.

PAULO

Ligasse a cobrar. Mandasse sinal de fumaça, sei lá. Mas não me deixasse

esperando feito um tonto. Assim teria economizado na pizza e no vinho.

VANESSA

(Tirando dinheiro do bolso.) Não seja por isso. Quanto você gastou?

PAULO

Ah, não fode!

VANESSA

Quanto você gastou? Eu faço questão de pagar.

PAULO

Não quero seu dinheiro.

VANESSA

Então não fique jogando essas coisas na minha cara.

PAULO

Não to jogando na sua cara!... (Pausa.) Porra, a gente combinou de sair

três vezes em menos de um mês. E por três vezes você furou. Eu ligava pra

confirmar. Você dizia que tava tudo certo e quando chegava na hora, você não

aparecia. E o bobão aqui ficava te esperando. Esperando, esperando,

esperando, esperando, esperando com a esperança de que alguma hora você

aparecesse... E depois que caia a ficha, depois que entendia que você não viria

mesmo, aí eu ficava com uma sensação horrível, como se alguma coisa

houvesse quebrado dentro de mim. (Vanessa fica sem resposta.) Mas pode ficar

tranquila. Não vou te convidar pra mais nada.

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VANESSA

Para, vai. Não seja tão radical.

PAULO

(Depois de beber um grande gole de vinho.) Já percebeu que você nunca me

procura?

VANESSA

Procuro, sim.

PAULO

Só quando lhe é conveniente, quando lhe interessa, quando precisa de

alguma coisa.

VANESSA

Você tá me ofendendo.

PAULO

Alguma vez você já ligou pra me perguntar: “Oi Paulo, como você ta? To

com saudade. Vamos fazer alguma coisa? Ver uma peça, um filme, jantar num

restaurante bacana, dar um rolê no Ibirapuera?” Quando você fez isso, Vanessa?

Quando?

VANESSA

Eu...

PAULO

Você é egoísta demais.

VANESSA

Tenho que pensar em mim.

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PAULO

Sim, mas não dessa forma.

VANESSA

Que forma?

PAULO

Egocêntrica. Como se fosse o centro do universo.

VANESSA

O que você quer, afinal?

PAULO

Nem sei mais o que eu quero.

VANESSA

Eu aceitei o seu jeito vira-lata de ser. Por que não me aceita como eu

sou?

PAULO

Não to falando do seu “jeito de ser”, mas da forma como você se

comporta comigo. O que nós somos afinal?

VANESSA

Namorados.

PAULO

E o que os namorados fazem?

VANESSA

Se beijam, se abraçam, transam.

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PAULO

E...?

VANESSA

Nós não fazemos isso?

PAULO

Só isso...

VANESSA

E não é o suficiente?

PAULO

Pra mim, não.

VANESSA

Ah, Paulo. Você sabe que não tenho tempo pra nada. Trabalho o dia

todo e a noite eu vou pra faculdade. Eu não posso me dedicar a você

integralmente...

PAULO

Não te quero por tempo integral. Sabe que não curto isso. Mas quando

estiver comigo eu te quero inteira, não pela metade! É muito pedir isso?

VANESSA

(Sem ouvi-lo.) E o pouco tempo que sobra eu...

PAULO

...fico no barzinho bebendo com os amigos e deixo meu namorado

plantado me esperando.

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VANESSA

Eu já te pedi desculpas e prometi que vou mudar... E eu vim, não vim?

PAULO

Veio. (Irônico.) De carona com o Carlão...

VANESSA

Não começa.

PAULO

Sabia que ele morre de tesão por você?

VANESSA

De onde você tirou isso?

PAULO

É só reparar no jeito que ele te olha. Nunca percebeu?

VANESSA

Ele é só meu amigo...

PAULO

Você disse isso pra ele?

VANESSA

Nem é preciso dizer.

PAULO

Precisa, sim. Porque se ele te olhar mais uma vez como tava te olhando

quando fui te buscar na facul outro dia, eu mato aquele filho da puta...

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VANESSA

(Fazendo charminho.) Ah, que bonitinho... Tá com ciúme!

PAULO

Lógico!

VANESSA

Relaxa meu dotadinho. Vem cá, vem...

(Vanessa sobe em Paulo, muito excitada.)

VANESSA

Vamos fazer aquele amorzinho gostoso...

PAULO

Não quero...

VANESSA

Quer sim. Olha como o chocante tá duro. Hum! Você tá que tá, hein?

Vem!

PAULO

(Livrando-se dela.) Não.

VANESSA

(Frustrada.) O que houve? Você nunca negou fogo! O que aconteceu?

PAULO

Deixa pra lá.

VANESSA

Não. Agora fala.

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PAULO

(Longa pausa.) Eu preciso de você.

VANESSA

Eu também... Vem...

PAULO

Não desta forma. Não só dessa forma. Será que é tão difícil pra você

entender que não quero ser usado e depois jogado fora como um objeto

descartável? Não é assim que a molecada faz por aí nas baladas, onde

ninguém é de ninguém? Onde garotos e garotas pegam o primeiro que pintar

e já beijam, trepam e depois, no dia seguinte, não se conhecem mais?

VANESSA

Não imaginava que você fosse careta.

PAULO

Não sou careta. O que não curto é promiscuidade.

VANESSA

Ah, vai me dizer que nunca foi promíscuo?

PAULO

Fui não nego. Mas hoje to noutra.

VANESSA

Então por que essa discriminação?

PAULO

Não tô discriminando ninguém. Cada um é dono de si e faz o que bem

entender. Não tenho nada com isso. To falando de mim, eu, Paulo, que ainda

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acredita no amor, não nessa banalização toda que tá por aí. Tô cansado de me

sentir usado.

VANESSA

Peraí, to tentando entender. Você acha que eu to te usando?

PAULO

E não tá?

VANESSA

Não!

PAULO

Ah, não? Não tá molhadinha de tanto tesão?

VANESSA

Tô...

PAULO

Não quer que eu enfie meu pau em você e te faça gozar várias vezes?

VANESSA

Quero. Quero muito.

PAULO

E depois?

VANESSA

Depois, o que?

PAULO

O que vai fazer?

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VANESSA

Tomar um banho e voltar pra casa.

PAULO

Aí, tá vendo? Você só quer me usar.

VANESSA

Você também me usaria.

PAULO

Não usaria, não! E sabe por quê? Porque eu te amo. Amo como jamais

amei alguém na vida... Eu preciso ser amado, Vanessa. Será que você não me

entende? Não, não preciso... Eu necessito ser amado, eu necessito de você,

necessito do seu amor.

(Pausa. Ele dirige-se até a janela e fica olhando para a lua no céu.)

PAULO

Enquanto aguardava ansioso pela sua chegada, alguma coisa me trouxe

até a janela. Não sei explicar, mas algo me atraiu até aqui. Olhei pro céu e vi a

lua. Uma enorme lua cheia, alaranjada, da cor do pomelo. Grapefruit Moon,

como a canção do Tom Waits... Fiquei aqui durante horas...

VANESSA

Só olhando a lua?

PAULO

E pedindo pra que ela trouxesse você.

VANESSA

Ela me trouxe...

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PAULO

Sim.

VANESSA

E o que mais você pediu?

PAULO

Pra não te esperar nunca mais.

VANESSA

Não vai mais esperar... E o que mais?

PAULO

Que você não fosse embora me deixando sozinho no escuro.

VANESSA

Não irei... E?

PAULO

E que um dia você me amasse com a mesma intensidade que eu te

amo...

VANESSA

Eu...

PAULO

(Coloca o dedo indicador nos lábios dela.) Psiuuu...

(Ouve-se “Grapefruit Moon” na voz de Tom Waits. Vanessa puxa o puff para a

direção da janela. Ambos sentam-se. Ela abre a embalagem e começam a comer a pizza

olhando para a lua. Luz cai em resistência ficando apenas a claridade lunar. Depois de

um tempo, black-out.)

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ON THE NICKEL

(Estrada deserta. Fim de tarde. Ouve-se a música “Key to the Highway” de Little

Walter. Garoto entra com uma mochila nas costas, uma garrafa de vodka vagabunda

nas mãos e com um aparelho sonoro com um fone de ouvido [mp3, diskman ou até

mesmo um walkman dependendo da encenação]. Para, contempla a linha do horizonte,

bebe uma grande dose. Tira a mochila das costas colocando-a no chão. Em seguida

retira o fone de ouvido. A música cessa e ele fica perdido em seus pensamentos. Homem

sai da barraca em que estava, vai até uma moita e mija de costas para a plateia. Em

seguida observa o rapaz sem que ele perceba. Permanece assim por um bom tempo.)

HOMEM

Acho que tá na hora de voltar pra casa.

GAROTO

Não vou voltar.

HOMEM

Todos voltam.

GAROTO

Quem é você?

HOMEM

Que importância tem isso?

GAROTO

(Depois de uma pausa.) Pra onde vai essa estrada?

HOMEM

Siga em frente que vai saber.

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GAROTO

(Mostra a garrafa.) Quer um trago?

HOMEM

(Reticente.) A sua mãe e seu pai...

GAROTO

Que é que tem?

HOMEM

Devem tá te esperando pro jantar.

GAROTO

Que se foda!

HOMEM

Tá fugindo por quê?

GAROTO

Não tô fugindo de nada.

HOMEM

E o que faz aqui, então?

(Garoto não responde. Homem se afasta, pega um caderno e começa a escrever.)

GAROTO

Tá escrevendo?

HOMEM

(Irritado com a obviedade da pergunta.) Não, tô jogando Paciência.

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(Volta a escrever, muito concentrado.)

GAROTO

Você é escritor?

HOMEM

(Sem olhar para o garoto.) Proctologista.

GAROTO

(Irônico.) Nossa como você é engraçado! Tô rindo pra caralho... (Pausa

longa. Clima tenso.) Sobre o que você tá escrevendo?

HOMEM

Acho melhor pegar o caminho de volta. Daqui a pouco anoitece, e...

GAROTO

(Cortando) Você não tem que achar nada. Por que não vai cuidar da sua

vida, escrever suas pornografias baratas e me deixa em paz?

HOMEM

Então vaza garoto.

GAROTO

Pra onde?

HOMEM

Sei lá. Não fugiu de casa? Agora se vira. E cai fora do meu território.

GAROTO

(Debochando.) Como é que é? Meu território? Essa é boa! A rua é pública.

E eu fico aonde bem entender.

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HOMEM

Se quiser descansar um pouco, tudo bem, fique à vontade. Mas depois

dê um rumo pra sua vida. Ou segue adiante ou volta pra trás. Só que aqui

você não fica.

GAROTO

Você não é meu pai pra me dar ordens!

HOMEM

E você não é meu filho pra eu tomar conta! Agora dá o fora, garoto.

(Garoto tira uma gaita do bolso.)

HOMEM

É surdo, infeliz? On the road.

(Garoto tira uns sons desconexos da gaita só para provocar o homem.)

HOMEM

Se não parar de tocar isso vou fazer você engolir essa porra!

GAROTO

Não curte blues, velhote? (Volta a tocar.)

HOMEM

Você nem sabe o que é blues, seu playboyzinho de merda...

GAROTO

Ah, não. Então olha só... (Toca o trecho inicial de “Key to the Highway” com

grande desenvoltura.)

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HOMEM

Me dá isso aqui!

GAROTO

De jeito nenhum... (Toca.)

HOMEM

Tô perdendo a paciência...

GAROTO

Caguei pra você! (Toca.)

HOMEM

É a última vez que vou falar. Me dá essa bosta!

GAROTO

Não!

(Homem avança no Garoto para tirar-lhe a gaita. Há uma luta violenta entre ambos. O

homem consegue tirar o instrumento das mãos dele.)

GAROTO

(Furioso.) Devolve minha gaita, seu velho filho da puta!

HOMEM

Agora ela é minha! (Guardando a gaita no bolso da calça.)

GAROTO

Devolve minha gaita, senão...

HOMEM

(Zombando.) ...eu vou correndo contar pra minha mãe.

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GAROTO

Ta me tirando, seu bosta? Devolve a minha gaita ou eu...

HOMEM

Eu o que?

GAROTO

Te encho de porrada!

HOMEM

To gostando de ver!

GAROTO

Vá pro inferno!

HOMEM

Já tô nele há muito tempo.

GAROTO

Se você não me devolver essa gaita eu vou arrebentar a sua cara. E não

to blefando.

HOMEM

Tô morrendo de medo!

GAROTO

Não me provoca...

HOMEM

Cai fora, pirralho. Você já me encheu o saco!

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(Homem volta para perto da barraca e continua escrevendo deixando o Garoto mais

puto. Garoto vira o gargalo e bebe um grande gole da vodka. Respira fundo e se

aproxima do Homem.)

GAROTO

Ei.

HOMEM

Ta aqui ainda?

GAROTO

Devolve minha gaita.

HOMEM

Eu mando via sedex.

GAROTO

(Buscando palavras.) Sabe o que você é?

HOMEM

(Remedando.) Sabe o que você é? Sabe o que você é?

GAROTO

Um tremendo de um fracassado!

HOMEM

Eu sei.

GAROTO

Não tem mulher, nem amigos porque ninguém suporta um cara como

você.

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HOMEM

Tem razão.

GAROTO

Um sujeito que chegou aos 40 anos, não conseguiu nada na vida e foi

parar na lata do lixo.

HOMEM

É verdade.

GAROTO

E isso não te incomoda?

HOMEM

Nem um pouco!

(Pausa. Homem para de escrever.)

GAROTO

Há quanto tempo você tá aqui?

HOMEM

Você faz perguntas demais.

GAROTO

Só tô querendo te ajudar.

HOMEM

Eu não preciso de ajuda. Se precisasse estaria deitado num divã ao lado

de uma psiquiatra tesuda.

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GAROTO

Eu acho...

HOMEM

(Cortando.) Blábláblá, blábláblá, blábláblá, blábláblá...

(Homem volta a escrever.)

GAROTO

Que tanto você escreve aí, hein?

HOMEM

Dá pra fechar essa latrina? Preciso me concentrar.

(Garoto senta-se no acostamento e acende um cigarro. Fica calado observando a fumaça

se dissipar no ar. Homem escreve com mais rapidez.)

GAROTO

(Depois de uma pausa.) Escuta...

HOMEM

Ai minha pica... Você não consegue ficar quieto mesmo, hein?

GAROTO

Vamos fazer um trato nós dois?

HOMEM

Não costumo fazer trato com um desconhecido.

GAROTO

Mas eu não sou um desconhecido

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HOMEM

Pra mim, é.

GAROTO

Ta certo. Vamos fazer assim. Você me devolve a gaita, eu vou embora e

te deixo em paz! Tudo bem? Pode ser?

HOMEM

Mas como você é cansativo. Puta que o pariu. Já disse que não... Agora

faz um favor pra mim? Volta pra saia da mamãe...

GAROTO

Eu não sou criança.

HOMEM

(Continua.) ...que tá na hora de tomar a mamadeira.

GAROTO

Seu filho da puta!

(Irado, o Garoto avança para o Homem e começa a esmurrá-lo até derrubá-lo no chão.

O Homem não reage e o Garoto bate-lhe cada vez mais.)

GAROTO

Você é um bosta! Lixo! Lixo de gente! Vai, reage seu escroto. Porco

nojento. Reage desgraçado antes que eu te leve a nocaute...

(Garoto vai ficando impotente ao ver que o Homem apanha sem se manifestar e aos

poucos, para de bater nele. Levanta-se enquanto o Homem permanece no chão com o

nariz sangrando. Garoto senta-se do outro lado e bebe mais um pouco de vodka.)

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HOMEM

(Sentando-se.) Me passa a garrafa!

GAROTO

Pra quê?

HOMEM

Chega de perguntas e me dá logo essa porra!

(Garoto receoso entrega a garrafa para o Homem que despeja um pouco de vodka na

mão e vai limpando o sangue do rosto. Arranca a página que estava escrevendo no

caderno e se limpa.)

HOMEM

(Devolvendo a garrafa.) Toma.

GAROTO

Por que você não me bateu?

HOMEM

Eu não bato em criança!

GAROTO

Mas por que então não se defendeu?

HOMEM

Porque já to acostumado a levar porrada!

GAROTO

(Sem jeito.) Desculpa aí... Foi mal...

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HOMEM

Tudo bem.

GAROTO

(Pausa.) O que você acha?

HOMEM

Não entendi.

GAROTO

Eu to fazendo a coisa certa se seguir por essa estrada?

HOMEM

Sua cabeça é seu guia.

GAROTO

Mas me diz... o que você acha?

HOMEM

Não acho nada.

GAROTO

Eu não quero mais voltar pra casa. Mas tenho medo de seguir por essa

estrada porque não sei o que vou encontrar. Me responde, por favor. O que

vou encontrar lá na frente?

HOMEM

Só cheguei até aqui.

GAROTO

Por que não seguiu adiante?

Page 32: 28.a sétima trombeta

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HOMEM

Sei lá.

GAROTO

E não tem vontade de saber?

HOMEM

Talvez.

GAROTO

(Inseguro.) Então vem comigo. Você também precisa de alguém pra...

HOMEM

(Corta.) Eu não preciso de ninguém porque aprendi a viver sozinho. E qualquer

lugar onde eu encoste a minha cabeça, eu vou chamar de minha casa...

GAROTO

Essa frase é sua?

HOMEM

Quem me dera. É do Tom Waits. (Pausa.) Eu já tomei um rumo na vida.

E você, garoto? O que vai fazer da sua? Recuar ou avançar?

(Ouve-se a introdução de “On the Nickel” de Tom Waits. Garoto lentamente coloca a

mochila nas costas. Para no centro do palco, olha para a direção do público e depois

para o fundo do palco. Está indeciso. Depois de um tempo se decide e caminha para o

fundo.)

HOMEM

Ei, garoto.

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GAROTO

O que foi?

HOMEM

(Tirando a gaita do bolso.) Sua gaita...

(Garoto pega o instrumento e, de súbito, da um forte abraço no homem que não se

manifesta.)

GAROTO

Valeu!

(Sobe música. Garoto prossegue viagem. Homem, sem olhar para o garoto, senta-se e

volta a escrever enquanto o rapaz desaparece na linha do horizonte. Luz cai

lentamente.)

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JUST A PERFECT DAY

(Noite de natal. Chove torrencialmente. O forte clarão do raio rasga o céu revelando a

porta de um bar que está fechado. Uma mulher entra em cena toda encharcada da

chuva procurando um lugar para se esconder. Ao ver o toldo do bar corre para debaixo

dele. Está visivelmente cansada. Foco sobe em resistência sobre ela.)

MULHER

Será que essa chuva não vai parar nunca? (Tremendo.) Por que eu tô

tremendo? Não tenho nenhum motivo pra tremer. Não to com frio nem com

fome. Só com um pouco de medo... Que bobagem. Medo! Medo de quê?

(Pausa.)

Por que não tem ninguém na rua? Hoje é noite de Natal... (Alto.) Ei, tem

alguém aí? (Pausa.) Ninguém responde. Por que ninguém responde? (Alto.)

Onde vocês estão? Não me deixem sozinha. Eu tenho medo de ficar sozinha.

(Noutro tom.) Ainda mais com essa chuva...

(Cada vez mais amedrontada.)

Ninguém devia ficar sozinho debaixo de um toldo numa noite de chuva.

(Gritando.)

Por favor. Me tirem daqui. Eu preciso sair daqui... Alguém me ajude!

(Vai se acalmando.)

Isso não vai adiantar de nada. Eu preciso me acalmar...

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(Com a mão trêmula, massageia o peito.)

Nunca tive medo de chuva. Gostava de ver a água chicoteando a

vidraça, do cheiro do asfalto molhado, do barulho dos trovões... Até chegar

àquela noite... Eu devia ter uns seis anos. Estava no banco traseiro de um carro

e chovia muito lá fora. No banco da frente tinha um casal. Não lembro como

eles eram. Nem o nome deles. Só sei que discutiam. Muito. Fiquei com muito

medo e para me distrair desenhava figuras no vidro embaçado. De repente

ouvi a mulher gritar: CUIDADO. O homem perdeu a direção tentando frear,

fui lançada para frente, ouvi um forte estrondo e depois não lembro de mais

nada...

(Cai no chão quando fala da freada e se contorce de dor.)

Ai minha cabeça! Parece que vai explodir. Por que minha cabeça dói

tanto?

(Permanece assim por um tempo até se acalmar.)

Será que alguém vem me buscar?... Vou ficar aqui, quietinha, sem me

mexer. Senão eles não me encontram. E aí não vou poder cear com eles.

(Confidenciando.)

Eu gosto tanto da ceia de Natal. Daquela mesa farta de comida. Peru

com abacaxi, salpicão, farofa de frutas, bolo de nozes, rabanada, capeletti a

romanesca, arroz de champanhe, lombo, pernil, tâmaras, damascos... Uma vez

eu comi tanto, mas tanto, mas tanto até passar mal.

(Sua fala é cortada pelo som irritante de uma sirene de policia que corta as ruas da

cidade. Ela se apavora.)

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O que será que tá acontecendo? Acho melhor sair daqui senão eu posso

ser assaltada! A chuva já não tá tão forte... Eu só preciso dar alguns passos...

(Anda para a direita, depois para a esquerda e se perde.)

Mas qual é o caminho de volta? É para esse lado? Ou para esse?

(Confusa.) Que raiva! Não consigo me lembrar. E olha que não estou velha... Já

sei... Vou para esse lado. (Para a direita. Para. Pensa.) Não, acho que não é por

aqui. Melhor ir pra essa direção. (Para a esquerda. Para. Pensa.) Não. Também

acho que não deve ser por aqui... E agora? O que eu faço? (Decide.) Quer saber.

Vou ficar aqui mesmo. Mais cedo ou mais tarde eles vão me encontrar... Vou

cantar para passar o tempo.

(Canta alguma música natalina e em seguida, queda-se reflexiva.)

Não sei o motivo, mas fico muito triste na noite de Natal. Engraçado,

não é? Ficar triste no dia em que Jesus nasceu. É um dia de paz, de amor, de

reflexão. Mas parece que as pessoas esqueceram o real significado dessa data.

Acho que é isso que me entristece.

(Ansiosa.)

Mas por que eles estão demorando tanto? Já deve ser quase meia-noite.

Eu não quero passar o Natal sozinha.

(A mulher olha para a parede onde está um cartaz com sua própria foto. Lê.)

Procura-se Maria de Lourdes Toledo. Desaparecida desde o dia 21 de

dezembro de (Ano em que está.), trajando a roupa (Descreve seu figurino.) Sofre

de problemas mentais. Entrar em contato pelo telefone...

(Mulher fica intrigada.)

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Que coisa! Essa mulher não é estranha! Acho que conheço ela de algum

lugar... (Suspirando.) Ai! Que triste. Se eu pudesse fazer alguma coisa para

ajudar a família dessa pobre coitada.

(Estremece com o frio.)

Tá esfriando... Acho que eles não vêm mais. Eu vou tentar voltar pra

casa. Vou por aqui e se estiver errada eu volto por outro caminho...

(Pausa.)

Por que as ruas estão tão desertas? Hoje é dia de festa. Vamos comemorar... Mas para qualquer lugar que eu olhe estão a tristeza, o silêncio e o vazio... Vazio, vazio, vazio...

(Perdida em seus delírios.)

Medo. Angústia. Tristeza. Depressão. Vazio. O grande vazio. O Vazio

do Mundo. A Morte do Planeta. O ódio corroendo a Humanidade.

(Reflexiva)

Quanto tempo falta pro fim do mundo?

(A mulher está atravessando a rua. Nisso ouve-se buzinas de um carro e uma freada

brusca. mais nada. Luz cai rapidamente em resistência até o black-out. No escuro

ouvimos a chuva caindo no asfalto. Entra a música “Perfect Day”, de Lou Reed.

Lentamente luz vai subindo em resistência num foco recortado sobre o cartaz da

desaparecida. Um relógio dá as doze badaladas. Ao longe ouvimos vozes festivas. Foco

desce em resistência até o black-out. Música cresce.)

FIM

Dezembro/2009