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Guia de Estudos Poder Dual da Rússia 1917 SISa 2013 Página 1 PODER DUAL 1917 Gabinete do Governo Provisório da Duma e Comitê Central do Soviete de Petrogrado Guia de Estudos do Comitê DIRETORES Giovanni Manzi Gustavo Vicente Marcelo Machado Mariana Bittencourt Olivia Opipari SISa 2013

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Guia de Estudos – Poder Dual da Rússia 1917

SISa 2013 Página 1

PODER DUAL 1917 Gabinete do Governo Provisório da Duma e Comitê Central do Soviete de Petrogrado

Guia de Estudos do Comitê

DIRETORES

Giovanni Manzi

Gustavo Vicente

Marcelo Machado

Mariana Bittencourt

Olivia Opipari

SISa 2013

Guia de Estudos – Poder Dual da Rússia 1917

SISa 2013 Página 2

SUMÁRIO

1. Carta de Apresentação

2. A Dualidade de Poderes

2.1.História Geral dos Grupos Políticos

2.2. O Soviete de Petrogrado

-Partido Socialista Revolucionário

-Facção Menchevique

-Facção Bolchevique

2.3. O Governo Provisório da Duma

-A Segunda Coalizão

-Partido Constitucional-Democrático

-Partido Progressista

-Partido Popular-Socialista

3. O Que Fazer da Rússia?

3.1. A questão policial e as milícias populares

3.2.A situação no campo

3.3.A situação na Guerra e nas Forças Armadas

3.4.A situação dos operários

3.5.Territórios no Báltico, Finlândia, Polônia, Ucrânia e Cáucaso

4.Bibliografia

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1. Carta de Apresentação

Caros delegados,

Desde a queda da Dinastia Romanov, a Grande Mãe Rússia está em chamas. O futuro

da nação está nas mãos do Governo Provisório da Duma e do Soviete de Petrogrado, ou seja,

nas mãos dos senhores. Esta é, portanto, uma responsabilidade de grandes dimensões.

Sabemos que a proposta do Comitê duplo Poder Dual Russo de 1917 é extremamente

ousada. As duas salas de debate serão inundadas com problemas a serem resolvidos, dos mais

diversos tipos, que necessitam de uma solução rápida e viável. No entanto, também será

cobrada dos delegados a fidelidade às representações e suas facções, grupos e corrente de

pensamento. Deste modo, é importante que os senhores se unam, façam alianças, acordos,

cheguem a consensos, usem da malícia, da sensatez, da esperteza, traiam, mintam, tramem,

conspirem, e o mais importante, usufruam da natureza desafiadora do comitê e das decisões

para tentar salvar a nossa querida Pátria-Mãe Rússia da plena convulsão social.

Diante de uma Nação de cujo futuro é incerto, convulsionada por greves operárias, no

campo, nas frentes de batalha, movimentos nas fronteiras, além de todo o abalo causado pela

participação na Grande Guerra e pela divisão do poder na capital, Petrogrado, causando

radicalização política, convidamos os senhores a mergulhar na Rússia de 1917, onde “um

evento pode passar do impossível ao inevitável sem transitar pelo provável”.

Esperamos que cada um de vocês se dedique ao máximo, fazendo desta uma

experiência valiosa e para todos. Estejam preparados para os turbulentos dias que virão. O

futuro da Mãe Rússia depende somente dos senhores. Orgulhem-na.

Привет,

Diretoria Poder Dual Russo

Да здравствует матушка-Россия!

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; mas o que importa é transformá-lo”

Décima Primeira das Teses sobre Feuerbach, de Karl Marx

“A burguesia rasgou o véu de emoção e de sentimentalidade das relações familiares e reduziu-as à mera relação monetária. [...] Os

proletários não têm nada a perder, exceto seus grilhões. E têm um mundo a ganhar. Proletários do mundo, uni-vos! “

Karl Marx, Manifesto Comunista (1848)

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2. A dualidade de poderes

“Uma particularidade extremamente notável da nossa revolução consiste em que ela gerou uma dualidade de poderes. [...] Em que consiste a dualidade de poderes? Em que ao lado do Governo Provisório – o governo da burguesia – se formou outro governo, ainda fraco, embrionário, mas indubitavelmente existente de facto e em desenvolvimento: o Soviete de Trabalhadores e Soldados”.

Vladimir Lênin, Sobre a Dualidade de Poderes (1917)

“No curso da presente revolução duas autoridades governamentais têm surgido no país: o Governo Provisório, eleito pela Duma Imperial, [...] e o Soviete de Trabalhadores e Soldados, eleito pelos ope- rários e soldados de Petrogrado. As relações entre essas duas entidades estão se tornando cada vez mais tensas, a antiga cooperação entre eles está chegando ao fim, e seria criminoso da nossa parte para encobrir esse fato”.

Ióssif Stálin, O Governo Provisório (1917)

2.1. História Geral dos Grupos Políticos

Trataremos aqui das inúmeras concepções ideológicas que interagiram durante os

últimos cem anos e que vem construindo o cenário político atual, na Rússia.

No início do século XIX, surgem duas grandes tendências distintas dentro da política

russa, que tinham como principal foco de debate a aproximação da política russa das

existentes na Europa Ocidental ou seu afastamento. Aquela defendida pelos chamados

ocidentalistas, ou liberais, e esta pelos denominados "eslavófilos" que estimavam os costumes

da Rússia tradicional, coletivista e asiática.

Os ocidentalistas liberais buscavam aproximar-se com os países desenvolvidos

europeus e para isso valorizavam a quebra com as tradições e costumes russos. Almejavam

assim, com as reformas comandadas pelo Estado, de forma gradual e moderada, alcançar a

industrialização e a modernização do país.

Os eslavófilos, em contraposição, acreditavam que o capitalismo, adicionado ao

absolutismo russo resultaria na destruição das mais preciosas tradições do país. Prezavam o

modo de vida do mujique (denominação dada ao camponês russo) e ressaltavam o papel

da obshchina (comunidade rural na qual a produção era coletiva e o produto era dividido de

forma comunitária de acordo com diferentes critérios), a comuna camponesa. Nela viam uma

instituição originalmente russa que acreditavam ser capaz de superar os prejuízos trazidos pela

economia individualista e competitiva vigente na Europa ocidental.

Assim, quando as ideias socialistas foram introduzidas na Rússia, iniciou-se uma

combinação com elementos de ambas as tendências. Os novos socialistas, portanto desejavam

construir uma sociedade que superasse o capitalismo, mas que ainda mantivesse a ordem

social baseada na comunidade agrícola.

Na segunda metade do século XIX, a efervescência política crescia vertiginosamente,

devido ao tumulto social que causou a industrialização e a emancipação dos servos depois de

1862. Cresciam o número de organizações clandestinas que se reuniam para discutir literatura

considerada "subversiva" e planejar, mesmo que de forma irrealista a queda da monarquia.

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Na década de 1870 nota-se a formação de grupos bastante radicais, compostos por

jovens idealistas. Esses novos revolucionários não mais se contentam com a queda do

tsarismo. Tomando a causa do pobre povo russo, os grupos militantes passam a seguir os

ideais eslavófilos, e ambicionam criar uma Russia socialista baseada na comunidade agrícola e

na tradição campesina. Nasce assim o movimento político narodnik ou populista.

O populismo russo se construiu sobre a eterna devoção pelo mujique e o repúdio à

industrialização, por entender que essa trouxe uma série de prejuízos as classes rurais.

Consolida-se a ideia, no movimento, que é necessário realizar uma revolução de cunho

socialista que partisse, porém, da estrutura comunitária própria do campo e que carregasse o

traço nacionalista. Assim, o simples mujique foi tomado como modelo do futuro homem da

Russia.

O populismo russo era dividido em diversas tendências. Uma delas era comandada por

Georgi Plekhanov e influenciada pelo socialismo científico. Seus militantes transferiram suas

esperanças da classe camponesa para a classe operária e deram origem, à primeira

organização marxista na Rússia, intitulada Libertação do Trabalho.

A monarquia não acreditava que Marx podia ser uma ameaça ao regime, e assim, em 1872, o

primeiro volume de "O Capital" foi publicado em russo, surpreendendo ao próprio Marx com a

recepção de sua obra. Este, que já juntava um pequeno grupo de admiradores dentre

pensadores russos afirmou "Por alguma ironia do destino, são justamente os russos, que por

vinte anos eu incessantemente ataquei, que têm sempre sido meus simpatizantes”

Eram esses admiradores que em 1898 formariam, também sob a liderança de

Plekhanov, o seu primeiro partido, chamado Partido Social Democrata, também conhecido

como Partido Operário Social Democrata, o РСДРП, reunindo intelectuais que haviam aderido

ao marxismo. Por ser o primeiro partido marxista russo, contudo, a divergência de ideias entre

seus membros logo se apresentou como uma constante. As diferentes interpretações e

adaptações acabaram, com o tempo, dividindo o grupo em diversas facções hoje

irreconhecíveis e irreconciliáveis.

2.2. O soviete de Petrogrado

“O Soviete de Trabalhadores e Soldados é a organização dos operários, o embrião do governo operário, o representante dos interesses de todas as massas pobres da população, [...] que luta pela paz, pelo pão, pela liberdade”.

Vladimir Lênin, Cartas de Longe (1917)

A revolução de Fevereiro trouxe de volta os sovietes, conselhos que foram formados

em todas as cidades e grandes vilas. A notícia de abdicação do Tsar Nicolau II levou

intelectuais, profissionais liberais, trabalhadores e soldados às ruas de Petrogrado, e

possibilitou a libertação de vários prisioneiros políticos encarcerados na conhecida Fortaleza

de Pedro e Paulo.

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Ao chegarem ao Palácio de Tauride, até então sede da Duma Imperial,

aproximadamente duzentos e cinquenta manifestantes proclamaram a criação do Soviete de

Trabalhadores e Soldados de Petrogrado.

Naquele mesmo dia, foi eleito o Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado. Nikolay

“Karlo” Chkheidze, um deputado menchevique, foi eleito seu presidente e os deputados,

Matvey I. Skobelev e Alexander F. Kerensky do Partido Socialista Revolucionário, foram eleitos

vice-presidentes. O Comitê Executivo foi convidado para integrar o Governo Provisório, porém

o convite foi recusado. Foi redigida, então, uma declaração de reconhecimento e apoio à ação

da Duma. Surge, então, a dualidade de

poder.

O Soviete de Petrogrado se tornou

notável por reunir grandes líderes de todos

os partidos políticos e por estar na capital

do país. O Comitê Executivo, que era

composto apenas por membros da Facção

Menchevique e do Partido Socialista

Revolucionário, foi ganhando cada vez mais

importância, se expandindo e passou a

aceitar integrantes de outros grupos, como

os bolcheviques.

Após o primeiro congresso de Sovietes de

Toda a Rússia, o Soviete de Petrogrado

reafirmou a sua autoridade. A partir de

então, delegados de todo o país passaram

a integrar a sua assembleia, mudando o

nome para Soviete de Trabalhadores e

Soldados de Toda a Rússia. Assim como o

Comitê Executivo passou a ser chamado de

Comitê Executivo dos Sovietes de

Trabalhadores e Soldados de Toda a Rússia.

Alexander Kerensky foi vice-presidente do

Soviete de Petrogrado por alguns meses.

Mesmo com o Comitê Central tendo

decidido não integrar o Governo Provisório, Kerensky aceitou o cargo de Ministro da Justiça,

oferecido pelo príncipe Lvov. Kerensky permaneceu como membro das duas instituições, até

que teve que assumir o cargo de Ministro-Presidente. Alguns partidos que integram o Comitê

Central do Soviete de Petrogrado fazem parte também da Coalizão Governamental (apoiando

as decisões do Governo Provisório), enquanto outros não dão respaldo às decisões do Governo

Provisório.

Acima, o menchevique georgiano “Karlo” Chkheidze,

presidente do Comitê Executivo Central dos Sovietes de

Trabalhadores e Soldados de Toda a Rússia, discursa para

trabalhadores de Petrogrado.

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Partido Socialista Revolucionário

“O mundo pensa que a Revolução Russa está no fim. Não se enganem – ela está apenas no começo”. Discurso de Alexander Kerensky (1917)

Seguidor do clássico ideário populista russo, o Partido Socialista Revolucionário é o

mais conservador em seu modo subversivo. Seus discursos e ações repetem o dos primeiros

populistas russos, onde não há nenhuma ideia marxista, apropriando apenas os jargões, a

retórica, e não a estrutura teórica. Carrega consigo o um discurso revolucionário tipicamente

russo e elementos típicos das tradições rurais eslavas.

OS membros acreditam que é possível implantar o socialismo na Rússia sem ter que

passar pelo estágio capitalista. Os membros do partido acreditam que seja possível construir o

socialismo na Rússia entregando o poder ao a comunidade rural e ao pequeno agricultor.

O camponês russo por um lado é conservador, tradicionalista, apegado e terra e a

propriedade privada, porém, por outro lado, quer mais liberdade, apoia a reforma agrária e a

vida comunal. A ideia que cativa tanto essa massa,

é a de retorno às tradições. A base para essa

sociedade é de uma comuna camponesa, foi

seguindo esse discurso que os socialistas

revolucionários conquistaram o apoio da

comunidade camponesa.

O partido foi formalmente fundado em

1901, um ano depois foi criada a Organização de

Combate Socialista Revolucionária, que era o braço

armado do grupo, que foi responsável pela morte

de membros da família Romanov. Porém o partido

só conquistou destaque nacional em 1905, quando

o núcleo terrorista foi dissolvido, assim aprovando

uma série de restrições ao uso de violência.

Alexander Kerensky ficou muito conhecido naquele

ano, mesmo já tendo atuado como advogado de

prisioneiros políticos, e graças a sua grande

capacidade oratória conseguiu o apoio do povo.

Com a queda dos Romanov, o partido

foi um dos únicos a trabalhar no Gabinete do

Governo Provisório e no Comitê Central do Soviete de Petrogrado, graças à falta de coesão

interna.

Partido Socialista Revolucionário de Direita - Seu líder é Alexander Kerensky, o atual Ministro-

Presidente do Governo Provisório, que governa essa ala de uma forma mais popular. São mais

partidários de uma revolução democrática e burguesa, do que de uma dita agrária e socialista.

Tem uma característica nacionalista, onde dialogam com empresários e acreditam na

Assembleia Constituinte.

Acima, propaganda eleitoral do Partido Socialista

Revolucionário mostra a quebra dos grilhões que

separariam os camponeses e a nova sociedade.

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Após a Revolução de Fevereiro, passaram a compor a maior parte do Governo

Provisório. Em abril, Viktor Tchernov assumiu o Ministério da Agricultura, e Pavel Pereverzev, o

Ministério da Justiça. Com a renúncia do príncipe Lvov, Kerensky assumiu o cargo de Ministro-

Presidente, ocupando também o Ministério da Guerra e da Marinha. Nesse mesmo momento

Nikolai D. Avksentyev assumiu o Ministério de Assuntos Internos.

Mantiveram a Rússia na Grande Guerra. Pouca importância foi dada à coordenar a

reforma agrária, que se estabelecia por vontade do Soviete de Petrogrado. No Comitê Central

do Soviete de Petrogrado, “Babushka” e Abram Gotz, representantes deste Partido, apenas

defenderam e refenderam as políticas adotadas pelo governo.

Partido Socialista Revolucionário de Esquerda - Liderados pela senhora Maria Spirindova, é a

ala mais radical do partido. Acreditam em uma revolução armada, campesina, querem

construir um socialismo agrário puramente russo.

Seus maiores objetivos são a concretização de um

projeto de reforma agrária e o fim da Grande Guerra.

Tem o apoio da parte mais favorável do partido e

usam do terrorismo como arma política.

A divergência interna do partido, fez com que

Spirindova, Boris Kamkov e Mark Natson criassem um

outro partido, mas o grupo ainda integra o partido de

Kerensky, mesmo se negando a apoiar o Governo

Provisório. Dentre os seus militantes, há uma parte

que simpatiza com a Facção Bolchevique, porém

questões ideológicas consideráveis distanciam um

possível apoio.

Facção Menchevique

O Partido Operário Social-Democrata Russo sofreu com várias perseguições políticas e

esteve perto de seu fim quando quase todos os seus fundadores foram presos. Porém haviam

vários exilados russos em Londres, Paris e Suécia, que mesmo fora da Rússia conseguiram

juntar vários intelectuais para revitalizar o partido. O periódico Iskra foi fundado por grandes

marxistas, como Pavel Axelrod, Vera Zassulich e Alexander Potresov, além de Plekhanov,

Martov e Lênin, que também faziam parte de seu corpo editorial.

Os membros do Partido seguiam diferentes perspectivas da obra de Karl Marx, o que

fez com que, em 1903, as divergências ideológicas viessem à tona. Durante o segundo

congresso do POSDR, em Londres, Lênin propôs uma estrutura de comando centralizada,

porém quando foi proposta a redução da equipe de jornal Iskra, que visava à saída de Axelrod,

Azssulich e Potresov, que compunham a “velha guarda” do partido, para que não houvesse

mais empate nas decisões do partido, o clima ficou tenso. Lênin havia proposto a entrada de

Vladimir Lênin, à esquerda, sai de uma

reunião com Maria Spiridonova, em

destaque ao centro.

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Trotsky, porém Kerensky descartou essa possibilidade. Após esse episódio acusaram Lênin de

tentar tomar o partido para si.

Lênin busca criar um partido disciplinado, composto por participantes engajados com a

luta subterrânea. Como o papel do partido seria de ser a vanguarda da classe trabalhadora, de

guiá-la, o partido não poderia ser tão grande quanto à própria classe. Para Martov, tal

divergência seria considerada cosmética. As sugestões de Lênin foram encaradas como uma

forma de autoritarismo.

Naquele momento os dois passaram a defender suas ideias de forma hostil. Plekhanov

ficou ao lado de Lênin, enquanto Trotsky o acusava de formar uma organização fechada e

conspiradora e não um partido de classes trabalhadoras. A partir daí o partido foi divido em

dois.

O texto vencedor foi o de Martov, porém quando foi posta em votação a composição

do Iskra, a maioria ficou do lado de Lênin e foi a que o congresso seguiu. Diante desta situação,

Martov se demitiu do Iskra.

Após esse episódio Trotsky disse que, ao invés do congresso estar realizando uma obra

construtiva, estava se autodestruindo e que Lênin havia assumido o papel de desorganizador

do partido. Porém mais tarde Trotsky foi se aproximando de Lênin. Já Martov, Fyodor Dan,

Alexander Martinov e outros foram seguindo cada vez mais a corrente Menchevique, onde,

mesmo afirmando serem marxistas e revolucionários, se aproximam de ideias reformistas. Os

Menchviques foram fortemente influenciados por um alemão chamado Karl Kautsky que foi

considerado um grande intérprete de Engels e influenciou todos os marxistas rusos. Kautsky

foi revendo o sistema teórico de Marx e acabou abandonando todas as suas prescrições. Tal foi

o caminho seguido pelos Mencheviques. Os Mencheviques acreditam que é possível contruir o

socialismo através de várias reformas e não através de uma revolução.

Em 1912 o grupo largou a estrutura centralizada e se separou definitivamente. Foram

criados vários núcleos autônomos em algumas partes da Rússia.

À esquerda, alguns fundadores do РСДРП em 1898. À direita, a primeira página de uma edição do periódico Iskra, cuja

composição do corpo editorial foi o estopim para o racha dentro do partido.

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Grupo Mezhraiontsy – foi criado por um conjunto de militantes em 1913, que não se

identificavam com os Mencheviques e nem com os Bolcheviques. Desde que Trotsky voltou à

Rússia, ele tomou a frente desse grupo.

É um grupo pequeno, que tem influência sobre alguns pequenos grupos proletários de

Petrogrado, onde tem perdido espaço para os Bocheviques. Eles não possuem força o

suficiente para agirem por conta própria graças a isso, não tem triunfo no campo político.

Clamam pela centralização do poder no Soviete, apoiam a retirada das tropas da

Grande Guerra e a não participação dos socialistas no Governo Provisório . Seguem slogans

muito parecidos com os dos Bocheviques, e graças a isso Lênin os convidou a fazerem parte de

seu grupo, porém o encarceramento do Trotsky e a fuga de Lênin para a Finlândia evitaram a

concretização da fusão.

Grupo Yedinstvo - Plekhanov sempre foi um homem difícil de lidar; conquistou uma série de

desafetos e inimigos políticos, já se aproximou e se distanciou de todas as alas do POSDR. Em

1914 foi criado um grupo, que o tinha como líder.

Plekhanov esteve ao lado de Lênin em 1903, na proposta da reforma do grupo de

redatores do Iskra, que causou a divisão entre Mencheviques e Bolcheviques. Porém, no

mesmo ano, acusou Lênin de atentar contra a unidade do partido, e graças a isso, Plekhanov

ficou sem grupo político e até hoje não tem boas relações com nenhuma das duas facções,

embora simpatize um pouco mais com os Mencheviques.

O Grupo Yedinstvo – em russo, Unidade – surge em 1914 pregando a unidade

partidária. A posição oficial do grupo é a da defesa da Rússia contra os Alemães: eles apoiam a

permanência das tropas no campo de batalha e se consideram social-patriotas, adotando uma

posição tão conservadora que acaba afastando ainda mais o grupo dos pólos do POSDR.

Facção Bolchevique

“Tsereteli e Tchernov são ministros sem poder, ministros fantoches, chefes de partidos que apóiam a política dos verdugos. Esses verdugos são o poder real. [...] É o proletariado revolucionário que, depois da experiência de julho de 1917, tem de tomar em suas mãos o poder do Estado – sem isso, é impossível a vitória da revolução. O poder nas mãos do proletariado, apoiado pelo campesinato pobre e pelos semiproletários – eis a única saída.”

Vladimir Lênin, A Propósito das Palavras de Ordem (1917)

Lênin e a maior parte dos integrantes da Facção Bolchevique só puderam retornar a

Petrogrado após a Revolução de 1917. Lênin estava feliz de poder voltar à Rússia e concretizar

os seus projetos políticos, porém estava furioso com algumas atitudes dos Bolcheviques na sua

ausência. Ióssif Stálin e Vyacheslav Molotov haviam publicado artigos favoráveis ao Governo

Provisório no periódico Pravda. No dia seguinte, Lênin foi até o Palácio de Tauride e

apresentou as suas Teses de Abril.

Os Bolcheviques são marxistas revolucionários, que tem uma postura crítica em

relação à Grande Guerra, pois não vêem sentido da continuação do conflito, ganhando apoio

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de grande parte da população e dos batalhões da capital, que querem que a Rússia deixe a

guerra. Lênin acreditava em um levante socialista bem sucedido, e também que a revolução na

Rússia seria o estopim para uma revolução mundial.

O partido se propõe como um guia rumo ao revolução do proletariado. Muitos de seus

membros foram perseguidos e jogados na clandestinidade, por causa dos ocorridos durante as

Jornadas de Julho. O Pravda foi fechado por milícias mais conservadoras do Governo

Provisório. A situação estava tão crítica que Sverdlov, um dos poucos que permaneceram em

Petrogrado e não foram presos, se tornou o único capaz de falar pela organização.

As Teses de Abril são orientações gerais para o proletariado e as camadas mais pobres

do campesinato. Também servia para guiar as ações dos Bolcheviques que estavam na Rússia,

bem como os que voltaram do exílio.

De acordo com Lênin, a

Grande Guerra era uma guerra

imperialista, na qual só podia haver

potências capitalistas motivadas por

interesses do capital monopolista e

financeiro. O proletariado só poderia

consentir com o conflito se o mesmo

fosse revolucionário e tivesse o

propósito de entregar o poder aos

trabalhadores, assim rompendo com

o capitalismo. Para Lênin, a presença

da Rússia na guerra é injustificada.

Se não puserem um fim ao interesse

do modo de produção capitalista e

as batalhas continuarem a serem

travadas em nome da burguesia e

dos capitais anglo-franceses, vai ser impossível por um fim na guerra e promover uma paz

democrática.

Para Lênin a situação é a seguinte: o proletariado deu o poder ao Governo Provisório

burguês, que seria a primeira etapa da revolução e está encaminhando para a segunda etapa,

que dá o poder aos proletariados e aos camponeses. Nessa fase, o partido deve juntar um

grande número de operários e cessar a violência contra as massas.

A única forma de o Governo Revolucionário ser aceito é por meio do Soviete de

Trabalhadores e Soldados. Na República dos Sovietes de Trabalhadores e Soldados deve-se

abolir a política, o exército e o funcionalismo e a remuneração de todos os funcionários não

pode ser maior do que o salário médio de um bom operário. Deve-se realizar a reforma agrária

no país, nacionalizando todas as terras, de cujo controle seria dos Sovietes de Assalariados

Agrícolas. Todos os bancos do país deveriam ser fundidos em um banco nacional único, sob o

controle do Soviete de Trabalhadores e Soldados.

Comitê Militar dos Bolcheviques

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Em maio ocorre uma conferência onde se discutiu a modificação de seu programa,

que passou a ter considerações sobre o imperialismo e a guerra imperialista, reivindicações de

implementar na Rússia um Estado Comuna e especialmente a discussão sobre a organização

de um Estado operário.

Mesmo após todos esses acontecimentos, Lênin ainda afirma que é preciso

desenvolver condições ainda mais propícias para um levante socialista. Mesmo assim ele ainda

defende a ideia de que seja transferido imediatamente ao Soviete de Trabalhadores e

Soldados o controle de produção e da distribuição dos produtos.

2.3. O Governo Provisório da Duma

“O poder de Estado passou na Rússia para as mãos de uma nova classe, a saber: da burguesia e dos latifundiários aburguesados. Nesta medida, a revolução democrático-burguesa na Rússia está terminada”.

Vladimir Lênin, As Tarefas do Proletariado na Presente Revolução, ou Teses de Abril (1917)

“Cidadãos, o Comitê Executivo Provisório dos membros da Duma, com a ajuda e o apoio da guarnição de Petrogrado e seus habitantes, triunfou sobre as sombrias forças do Antigo Regime, de forma a permitir a organização de Poder Executivo mais estável. [...] O entusiasmo revolucionário unânime do povo – plenamente consciente da gravidade do momento – e a determinação da Duma Imperial criaram o Governo Provisório, o qual considera ser seu dever sagrado cumprir as esperanças da nação [...] e levar o país pelo brilhante caminho à liberdade”.

Manifesto de criação do Governo Provisório pela Duma Imperial (1917)

No mês de fevereiro de 1917 é anunciada a abdicação de Nicolau II, pondo fim à

monarquia dos Romanov e deixando os líderes do antigo grupo progressista como herdeiros

do poder. Estes formaram o hoje chamado Governo Provisório, que desde sua criação

representava a burguesia, os proprietários de terra, os industriais e o alto comando das Forças

Armadas. Como o próprio nome sugere, cabia a eles estar à frente do país apenas durante a

transição democrática, não cabendo nenhuma ação que fosse além da organização do

conturbado cenário interno da nação. Para tanto, o Governo Provisório tinha a intenção de

introduzir apenas reformas que considerasse necessárias, tais como as eleições democráticas,

para que se formasse uma Assembleia Constituinte ou um Parlamento. Seus membros sempre

tiveram em mente que apenas o voto popular poderia legitimar uma nova Rússia republicana,

jurando atuar apenas na solução dos problemas imediatos da pátria. Entretanto, os diversos

problemas cotidianos da Rússia revolucionária não foram solucionados no tempo esperado

originalmente.

À esquerda, membros da Duma Imperial fazem juramento durante a criação do Governo Provisório. À direita, o Ministro-

Presidente Alexander F. Kerensky posa diante de um mapa retratando o Cáucaso.

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No fim de abril, grandes parcelas do povo estavam insatisfeitas com o Governo

Provisório, criticando a continuação das tropas russas na Grande Guerra enquanto a fome se

espalhava pelo campo. O descontentamento cresce vertiginosamente e ganha expressão por

meio de grandes manifestações realizadas por toda Petrogrado.

A pressão sobre o órgão se tornou tamanha que, caso não fosse contida, ameaçava sepultar o

Governo Provisório definitivamente. Na tentativa de evitar rupturas e sobreviver às revoltas

conciliando grupos políticos e interesses, o príncipe Lvov, o então ministro- presidente, formou

a primeira coalizão, trazendo seis líderes socialistas para o governo - dentre eles, Alexander

Kerensky.

A Segunda Coalizão

As Jornadas de Julho inauguraram uma nova fase no cenário político da Rússia

revolucionária. Os bolcheviques foram culpados por sua eclosão, sendo tachados como

espiões a serviço dos alemães, acarretando na fuga de seu líder Vladimir Lênin para a Finlândia

enquanto outras figuras proeminentes do partido que se encontravam na Rússia foram presas.

Contudo, o Governo Provisório foi o mais prejudicado durante aquele conturbado mês de

Julho. Sua fragilidade era clara e a crise demonstrava explicitamente a falta de apoio popular

que recebia. Com efeito, o príncipe Lvov deixou seu cargo de Ministro-Presidente a favor de

Kerensky, que então assumiu o poder. Formou-se nesse momento a chamada Segunda

Coalizão, constituída pro oito membros do Soviete - estes sendo basicamente da ala direita dos

socialistas e sete não socialistas.

A ascensão de Kerensky deu novo fôlego ao Governo. Tendo cultivado uma reputação

muito positiva dentre as camadas populares, o jovem advogado fez o povo voltar a acreditar

que as mudanças viriam. A verdade, contudo se mostrou diferente, tendo em vista que

Kerensky, apesar de ter consigo os socialistas, que ocupavam formalmente a maior parte dos

ministérios, não pode iniciar um processo de ruptura em relação à administração de Lvov,

graças a pressão dos poderosos setores da sociedade russa - aliados a falta de iniciativa por

parte de alguns membros do governo - que fizeram com que muito pouco se alterasse. A

situação em relação à guerra e à economia se apresenta tão desastrosa que os socialistas, na

prática, não tentam adotar nenhuma medida radical temendo a forte oposição dos industriais,

donos de terra e do alto oficialato que certamente se ergueria sobre eles. Se, contudo, a

inação garante um clima harmonioso com os setores conservadores, a mesma faz desmoronar

a lustrosa imagem que Kerensky construíra ao longo dos últimos anos dentre classes menos

favorecidas.

Devido às medidas emergenciais que foram tomadas após a posse do novo Ministro-

Presidente, mas um novo golpe foi desferido contra a aprovação do Governo Provisório.

Tentando evitar um levante dos socialistas mais radicais, alguns comitês agrários foram

dissolvidos, a pena de morte - abolida nos primeiros dias da revolução - foi restaurada nas

zonas de batalha e a convocação de uma Assembléia Constituinte, prometida para o meio do

ano, foi adiada para o final de novembro.

Para coroar o enfraquecimento do Governo e da popularidade de Kerensky entre o

povo russo, ao contrário do prometido término do envolvimento da Rússia na Guerra, o novo

governo se lançou em nova ofensiva contra a Alemanha e a Áustria-Hungria em julho. A

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Ofenciva Kerensky, como ficou conhecida, foi segundo a maioria um grave erro estratégico. A

influência dos bolcheviques e a impaciência da população aumentando aos poucos passaram a

se fazer sentir mais forte e presente do que nunca no cenário político russo.

Partido Constitucional-Democrático

Conhecido popularmente como Partido Constitucional-Democrático, criado na cidade

de Moscou no mês de outubro de 1905, em plena agitação revolucionária, o Partido da

Liberdade do Povo é formado por um conjunto de liberais que devido a abreviação "KD",

provinda do nome do partido, ficaram conhecidos como cadetes.

De maneira geral, os cadetes são apoiados por profissionais autônomos e pela grande

maioria dos industriais e tem por líder desde sua fundação o renomado historiador Pavel

Nikolayevich Milyukov, grande defensor das ideias liberais.

O partido se mantém, porém, em uma posição de confortável ambiguidade diante de uma

série de questões polêmicas, ora levantando as bandeiras de um liberalismo radical, ora se

deixando levar pelo discurso liberal patriótico. Estampando diversas vezes as páginas do

jornal Rech, periódico oficial dos cadetes, discursos em que Milyukov afirma que, apesar de

contraditório, o único caminho capaz de garantir a aplicação das ideias liberais era tendo um

Estado forte, e nas mesmas paginas afirmara uma vez que “enquanto na Europa ocidental as

classes sociais criaram o Estado, na Rússia o Estado criou as classes sociais”, tendo o

liberalismo já nascido morto no país. Faz sentido por tanto dizer que seus seguidores vejam o

Estado como elemento central no construção de qualquer reforma social na Rússia.

Os cadetes, no entanto, não deixam de defender bandeiras verdadeiramente radicais.

Com o início da Grande Guerra, os cadetes se reaproximaram do nacionalismo, mas,

assim como ocorreu com o restante do povo, a euforia dos primeiros dias de conflito se

dissipou após 1915, ano que os alemães ocuparam a Polônia, parte do Báltico e Nicolau II

cometeu o erro de assumir pessoalmente o comando das Forças Armadas.

Nesse período, os cadetes, junto com os outubristas do Partido Progressista e uma parte da

facção nacionalista de Duma, formaram o chamado Bloco Progressista - um grupo de oposição

à forma como os assuntos da guerra e do governo eram conduzidos. Apesar de moderado, as

circunstâncias já não permitiam mais a Milyukov cooperar com o gabinete formado pelo Tsar

e, assim fez um pesado pronunciamento contra o governo.

O discurso, é claro, foi censurado, tendo chegado até às massas por publicações

ilegais. A ousadia de termos como "traição" atiçou o povo e, pressionado, o governo teve de

ceder, nomeando um novo Primeiro Ministro. Tratava-se, pois, da concretização das medidas

defendidas pelos cadetes. A satisfação do partido, no entanto, não era compartilhada com

outros setores da Duma Imperial que, influenciados por socialistas e radicais, já falavam em

derrubar o regime.

A Revolução de Fevereiro eclodiu em 1917, e os cadetes surgiram como os pilares do

Governo Provisório. Na ocasião, com o Príncipe Lvov à frente do governo, Milyukov passou a

ocupar o cargo de Ministro de Assuntos Estrangeiros. No poder, os cadetes aprovaram uma

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série de normas que garantiam relativa autonomia às diversas nacionalidades do país e

aboliram todas as leis que separavam os cidadãos por religião e etnia. Convencionou-se,

contudo, que as decisões mais substanciais sobre a nova Rússia republicana deveriam ser

legadas a uma Assembléia Constituinte eleita por sufrágio universal.

Uma série de incidentes, porém, tornou difícil a permanência dos constitucional-

democráticos no Governo Provisório. Enquanto chanceler, Milyukov ignorou uma série de

exigências formuladas por grupos socialistas. Ao invés de informar aos aliados que uma

importante condição para a manutenção do país na guerra era – como queriam os partidos de

esquerda – a inexistência de pretensões territoriais por parte da Rússia, o líder dos cadetes

reafirmou os interesses russos sobre os estreitos de Bósforo e Dardanelos e sobre Istambul.

Quando o telegrama sigiloso em que Milyukov dava tais informações aos britânicos vazou,

ficou comprometida a continuidade do partido no poder. No dia 2 de março, o ministro foi

forçado a renunciar.

Os demais cadetes abandonariam o governo em julho. Na ocasião, como veremos mais

tarde, ministros mencheviques e socialistas revolucionários travaram negociações frustradas

com a Rada Ucraniana, ampliando a autonomia de Kiev além do desejado pelos setores mais

conservadores. Acusando o governo proporcionar a fragmentação da Rússia, os últimos

ministros do partido renunciariam em definitivo. Diante de tal fato, os bolcheviques afirmaram

que tudo não passava de uma tática baixa dos constitucional-democráticos, que ao saírem do

governo colocavam toda a responsabilidade pelos problemas do país nas costas dos socialistas

moderados.

Partido Progressista

Fundado em 1908, o Partido Progressista é resultado da recusa do Partido Constitucional-

Democrático em aceitar grandes empresários industriais entre seus principais membros, pois,

apesar de terem interesses comuns, os cadetes não queriam que sua imagem ficasse ligada a

interesses da nova e ascendente burguesia industrial.

O Partido Progressista, desde sua criação, é dito como mais conservador que os cadetes,

porém tem se verificado nos últimos meses que ambos defendem interesses extremamente

semelhantes, como o antissocialismo, o liberalismo político e econômico e a continuidade do

Império na guerra, tendo tido divergências apenas em alguns posicionamentos.

Desde o início da década atual o Partido Progressista é bem representado na Duma Imperial,

sendo, em 1912, o terceiro maior grupo político do país. Após a queda dos Romanov o Partido

Progressista se consolidou na Duma com Vladimir Lvov e o industrial Alexander Konovalov,

porem a força que os socialistas têm ganhado e a saída de Lvov da Duma têm feito com que o

partido perca influência.

Os posicionamentos do Partido Progressista nos últimos anos foram sempre bem moderados,

sempre sendo contra o socialismo e requerendo a todo o momento as reformas liberais, mas

sem se posicionar contra a monarquia apesar de nunca terem simpatizado com o Czar.

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Alexander Konovalov, o líder da indústria têxtil, é o único membro do partido que está

presente na Duma, apesar disso o partido tem grande força devido à força de seus membros

dentro da Rússia.

Partido Popular-Socialista

Fundado pela antiga ala pacifista do Partido Socialista Revolucionário, o Partido Popular-

Socialista se formou em 1906 quando a Duma Imperial passou a condenar qualquer tipo de

terrorismo, o que gerou divergências entre as alas mais radicais e violentas do Partido

Socialista Revolucionário e os pacifistas, que eram mais moderados e apoiavam a Duma. Com

isso, a permanência desse segundo grupo dentro do partido foi colocada em xeque, os

obrigando a sair do partido.

O Partido Popular-Socialista desde sua fundação é integrado por membros de todas as classes

da sociedade russa e foi um partido que se organizou rapidamente ao longo de toda a Rússia,

porém nunca conseguiu grande apoio popular.

Dentre seus membros podemos perceber que a política do partido se baseia no

desenvolvimento pleno do ser humano, são, claramente, anti-marxistas, favoráveis a

conciliação de classes e colocam em seu discurso a força conjunta do povo para promoção do

bem-estar social. O Partido Popular-Socialista apoia o Governo Provisório e o ministro-

presidente e é representado na Duma por Alexander Sergeyevich Zarudny e Alexei Vasilievich

Peshekhontsev.

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3. O que fazer da Rússia? Problemas urgentes no campo, na cidade e na guerra

3.1. A Questão Policial e as Milícias Populares

Em 1917, a Rússia encontrava-se em uma grande desordem jurídica. Foram formadas milícias

populares para proteger as cidades, uma vez que os órgãos policiais do tzar foram desfeitas

por remeterem em demasia aos anos de repressão. Além disso, a autoridade do Estado russo

ficou fragilizada, pois o Governo Provisório (com o apoio do Soviete de Petrogrado) fechou o

Departamento de Policia de Petrogrado no inicio de 1917, reforçando o movimento

anarquista.

Essa medida foi tomada porque em fevereiro de 1917, a Rússia realizou sua primeira

revolução contra a autocracia monárquica, como já havia ocorrido de alguma forma em todos

os países da Europa. Assim, dissolveram-se as tropas reais, e o povo - grupos civis e comitês de

fábricas – for armado.

Milícias populares armadas na defesa de Petrogrado

Com a explosão da Revolução de Fevereiro, o Governo Provisório sobreviveu apenas

devido ao apoio popular e dos batalhões e soldados, justificando assim, a decisão de armar a

população e desfazer a polícia do tzar. Primeiramente a medida parecia certa, e além de tudo,

condizia com as ideias libertárias daquele momento pelo qual passava o país. Em longo prazo,

quando o Governo Provisório entrou em crise, tal medida revelou-se não muito eficiente.

Sem o apoio da maioria das forças policiais, o Príncipe Lvov perdeu o controle sobre

diversas manifestações e principalmente sobre diversas unidades armadas, que se uniam a

grupos socialistas ou reacionários. Mais adiante formou-se a Guarda Vermelha, criada por

Socialistas Revolucionários de Esquerda, Bolcheviques, Mencheviques e alguns anarquistas. Tal

Guarda foi parcialmente dissolvida por Kerénsky após as Jornadas de Julho.

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Atualmente, Petrogrado encontra-se pacifica, apesar de estar dividida; não há

exércitos nas trincheiras. As milícias fiéis a Kerénsky preocupam-se em manter a ordem; a

ordem que não sabemos até quando durará.

3.2. A situação no campo

“Os camponeses [...] não são, pois, revolucionários, mas conservadores; mais ainda, reacionários, pois pretendem fazer girar para trás a roda da história”.

Karl Marx, Manifesto Comunista (1848)

“Quem mantém a taberna e serve as bebidas? O camponês. Quem esbanja e se embriaga gastando o que pertence à comuna camponesa, à escola, à igreja? O camponês. Quem seria capaz de roubar seu vizinho, cometer um incêndio e fazer falsa denúncia por uma outra garrafa de vodka? O camponês”.

Anton Pavlovich Tchekhov, Os Camponeses (1897)

“Os camponeses, ainda ontem oprimidos e humilhados, hoje se põem de pé e erguem a cabeça. O movimento camponês, ainda ontem impotente, hoje irrompe como caudal impetuosa contra a velha ordem: afasta-te do caminho ou serás varrida! ‘Os camponeses querem receber as terras da nobreza fundiária’, ‘os camponeses querem destruir os restos do feudalismo’: eis as vozes que hoje ressoam nas aldeias insurretas e nos campos da Rússia”.

Ióssif Vissarionovich Stálin, A Questão Agrária (1906)

Os grandes latifundiários sempre foram odiados pela população rural, por motivos

relacionados às questões da servidão tardia na Rússia. Para a sociedade rural (maioria absoluta

da população russa) a grande propriedade deveria ser distribuída e colocada sob a

administração do mir, a comuna camponesa. É nesse ponto, porém, que entra a outra face da

moeda: o conservadorismo campesino.

A população rural era, em maioria, analfabeta, fiel ao regime czarista e sempre

condenou o terrorismo dos primeiros revolucionários russos. O Primeiro Ministro Pyotr

Stolypin conseguiu, através de reformas modernizadoras em 1906, ampliar o crédito e

aumentar a renda de alguns camponeses, aumentando, assim, a aprovação pelo Estado. Nessa

mesma época surgiu uma nova classe camponesa: os kulaks. Eram ricos e defendiam o czar. A

imagem idealizada da dinastia Romanov, só veio a ser destruída com Grande Guerra, o que fez

com que os camponeses passassem a apoiar o fim da monarquia.

A queda do czar representou muito bem um fim aos latifundiários. Rebeliões foram se

espalhando pela Rússia. A população rural enfurecida ia crescendo; deixavam senhores de

terras mortos, incendiavam suas casas. Um verdadeiro caos, mas que na realidade não passava

de uma reforma agrária guiada pelos camponeses.

Hoje, o apoio do povo pela revolução já não é mais o mesmo. Mesmo que Kerenky tenha sido

sempre apoiado pelo povo, seu governo só interveio devido às conquistas dos camponeses.

Membros de comitês agrários e, inclusive, agricultores foram presos em causa das rebeliões

agitadas, o que definitivamente promoveu um desgaste na imagem de Nikolai Avksentyev, o

Ministro do Interior.

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Tanto Kerensky quanto o Soviete de Petrogrado parecem não dar a devida atenção à

questão camponesa (nem, ao menos, reconhecem como legítimas as ocupações dos últimos

meses). Kerensky vem apoiando cada vez mais os latifundiários. E Petrogrado nunca, sequer,

incluiu os agricultores em suas assembleias. Como se não bastasse, a temos questão do fiasco

militar. Somados, todos esses fatores agravam a crise de abastecimento nas cidades e acabam

por piorar a situação nos campos, evidentemente – situação essa que vêm se agravando desde

a Revolução de Fevereiro.

3.3. A situação na Guerra e nas Forças Armadas

“O objetivo da guerra é a vitória; e da vitória é a conquista; e o da conquista a preservação”. Charles de Montesquieu, O Espírito das Leis (1748)

Entre os países envolvidos na Grande Guerra, a Rússia é o mais enfraquecido. Além de

encontrar-se em situação delicada devido às reivindicações populares que sacudiam o país e a

crise econômica, os soldados russos eram mal equipados, mal supridos, mal treinados e

tinham dificuldades de locomoção. Apesar do grande investimento em armamentos bélicos, as

tropas russas eram muito inferiores às outras tropas beligerantes, tendo apenas vantagens

numéricas – mais de quatorze milhões de soldados já haviam sido mandados para as linhas de

batalha. Devido a todos esses fatores, as ambições do tzar Nicolau II ao se aliar à França e

Inglaterra na Guerra – conquistar os Bálcãs, Galícia e Constantinopla - mostravam-se

quiméricas, uma vez que a Rússia sofreu sucessivas derrotas desde o final de 1914,

principalmente pelo exército alemão.

Do lado russo, acumulavam-se mortes de centenas de milhares de soldados e perda de

território em diversas regiões. A participação russa na Grande Guerra fatalmente causou

protestos e agitação social. Num primeiro momento, no início de 1914, o povo russo, cegado

por sua devoção ao tzar e pelo discurso nacionalista e patriótico, apoiou a entrada da Santa

Rússia no conflito. Logo depois dos primeiros meses de batalha, vendo um fracasso atrás do

outro, a população percebeu que, ao contrário do que se pensava, a Guerra estava sendo

desastrosa, e organizou-se em movimentos populares. Hoje, em 1917, os soldados já não

querem mais lutar, assim como as famílias não querem enviar seus filhos para os fronts e a

economia está debilitada devido aos esforços da guerra: a melhora dos armamentos para os

soldados levou a Rússia a uma situação crítica, pois o povo estava morrendo de fome.

A popularidade de Nicolau II caiu drasticamente, juntamente ao apoio popular e dos

soldados à participação russa na guerra. O tzar foi culpado pelo fracasso e pela grande crise, e

foi esse mesmo ardor de fez com que a Monarquia dos Romanov caísse. Após a Revolução de

Fevereiro, houve esperanças de que chegassem ao fim os desastres que a Grande Guerra vinha

causando; no entanto, ao reafirmar o compromisso com a Entente, o príncipe Lvov

descontentou a população aumentando a insatisfação nas fábricas e no campo. A revolução

também representou uma mudança nas frentes de batalha, que agora sem ordem ou

disciplina, sofriam grandes massacres.

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Portanto, mais do que nunca, após Fevereiro o exército russo é caracterizado por não

agir. No máximo, os soldados defendiam suas trincheiras, não tendo forças, ânimo e nem

equipamentos para realizar alguma ação ofensiva. A grande massa do exército é formada por

mujiques, camponeses russos, que anseiam pelo fim da guerra por quererem voltar para suas

casas, por não entenderem o sentido em lutar e por estarem cansados de batalhas. Os

soldados não estão interessados em lutar, não tem motivação; além disso, os comandantes

desprezam o Governo Provisório e ignoram suas ordens, ou estão cansados de suas tropas não

lhes obedecerem.

A estrutura de comando em crise –

Até antes da Revolução de Fevereiro, o Exército Imperial Russo era, como o resto dos

exércitos do mundo, um organismo hierarquizado e rígido. No entanto, o sucesso da

Revolução de Fevereiro contou com o apoio dos soldados, que se recusaram a obedecer

ordens de seus oficiais, desafiando-os. Isso, junto ao número de mortos na Guerra e a derrota

russa, cada vez mais iminente, levou ao chão as Forças Armadas, e junto a ela, o trono de

Nicolau II.

A hierarquia e estrutura de comando do exército russo estavam rompidas em todos os

seus níveis. Os soldados nos fronts da Grande Guerra não respeitavam os comandantes,

enquanto os oficiais também deixaram de apoiar o tzar. Alguns dos mais poderosos membros

do exército aconselharam Nicolau II a abdicar de seu trono. Apesar de apoiarem a Monarquia,

os oficiais de alta patente juraram fidelidade ao Governo Provisório convocado pela Duma e

aceitaram a legitimidade do gabinete do Príncipe Lvov.

À esquerda, soldados russos às vésperas de embarcarem para o front. À direita, comandantes búlgaros,

alemães e turcos observam a guerra nos Bálcãs.

O caso dos marinheiros da base naval de Kronstadt é um bom exemplo da queda da

disciplina militar. Os marinheiros, revoltados, tomaram a base, criando um ponto de agitação

socialista nas Forças Armadas. Kronstadt, hoje, não respeita qualquer ordem vinda desse

organismo.

Assim, hoje, o bloco monolítico das Forças Armadas russas está cheio de rachaduras,

paralisando todos os seus movimentos e deixando a Rússia a mercê de seus inimigos. Os

Guia de Estudos – Poder Dual da Rússia 1917

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planos de ataques russos na Guerra são impossibilitados pela falta de organização e

obediência das tropas, facilitando o avanço dos inimigos.

Como tentativa de solucionar as questões que dificultavam as ações das Forças

Armadas, o Governo Provisório nomeou o General Lavr Georgiyevich Kornilov para um dos

mais altos postos. Kornilov era um homem cheio de méritos e que tinha a admiração não só

dos populares, mas também de Kerensky, a quem prometeu incondicional apoio. Alexander

Kerénsky era Ministro da Guerra e Presidente, ocupando o cargo mais alto na cadeia de

comando das Forças Armadas.

Um dos comandantes Comandantes das Forças Armadas relatou, em 16 de abril de 1917:

“A situação nas Forças Armadas piora a cada dia: informações vindas de todos os lados

indicam que o Exército está sistematicamente se despedaçando.

Deserções continuam sem cessar: nos exércitos dos frontes Norte e Oeste, entre os sete

primeiros dias de abril, há registro de 7688 soldados desertores, [...] um número manifestada e

consideravelmente

subestimado.

A disciplina decai com cada dia que passa. Aqueles acusados de violar a ordem militar se mostram completamente indiferentes a possíveis punições, convencidos da pequena probabilidade dessas serem de fato efetivadas.

A autoridade dos

oficiais e comandantes

colapsou e não pode ser restaurada usando-se dos presentes métodos.”

A linha de batalha -

O Exército Imperial Russo trava cinco frentes de batalha, na porção ocidental do país.

Front Caucasiano:

O ocorrido no Front Caucasiano representa bem a ruptura dos vínculos hierárquicos na Guerra

e nas Forças Armadas. O Comandante dessa frente de batalha era o conservador General

Nicolai Yudenich, que se recusava a seguir as ordens do Governo Provisório e evitava qualquer

ação ofensiva, agindo de acordo com suas concepções estratégicas. Além disso, a agitação

revolucionária havia tomado conta dos soldados do Cáucaso, instaurando a balbúrdia no

Exército. Essa situação levou à dissolução da frente de combate e a dispersão de grande parte

Acima, soldados realizam demonstrações pró-bolcheviques pelas ruas da capital

Guia de Estudos – Poder Dual da Rússia 1917

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dos soldados. Até mesmo depois que Yudenich foi afastado, o próximo comandante não

obteve êxito ao tentar reagrupar e mobilizar as tropas.

Front Norte:

A criação deste front teve como objetivo reagrupar os exércitos para defender os territórios e

ilhas russas no Báltico, ameaçados pelas tropas germânicas. Devido à sua localização

geográfica, é a frente de batalha em que mais se utiliza a Marinha.

Os alemães já haviam tentado dominar territórios ao norte, porém fracassaram. Em 1917,

diante da instabilidade que a Revolução causava na Rússia, os soldados do Kaiser Wilhelm II

derrotaram os russos uma série de vezes. A perspectiva é de que os alemães tomem Rigo, a

capital da Letônia e a maior cidade do Báltico, em menos de 2 meses, fazendo com que a

dominação do Golfo torne-se bastante simples. Os russos estão planejando uma operação

para retardar o avanço do inimigo, protegendo o Báltico e suas ilhas.

Front Oeste:

As tropas no Front Oeste encontram-se desmotivadas, e recuam dia após dia, dando espaço

para os inimigos.

Atualmente, o que se faz nesta Frente é tentar frear o avanço germânico, uma vez que as

tropas do Kaiser Wilhelm II dominam o campo de batalha. Hoje e exército alemão almeja

dominar a cidade de Minsk.

Front Sudoeste:

É neste Front que se trava a batalha contra as tropas da Áustria-Hungria, fazendo com que ele

seja um dos mais estratégicos e importantes para a Rússia. Apesar disso, a situação nesta

frente é similar às demais. A linha de combate encontra-se abandonada, liderada pelo

habilidoso estrategista

General Aleksei Brusilov. Em

1916, ele infligiu a maior

derrota sofrida por alemães e

austríacos até o momento. Ao

mesmo tempo em que o

exército austríaco se viu

enfraquecido e incapaz de

organizar um ataque, o

exército russo também perdeu

muitos homens, reduzindo o

significado da vitória.

Acima, após a Revolução de Fevereiro, soldados russos do Front Sudoeste pedem a prisão do antigo Tsar Nicolau II.

Após a Revolução de Fevereiro, não houve qualquer triunfo. A trincheira via-se vazia, provando

que nem mesmo os melhores comandantes conseguiam organizar suas tropas.

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Front Romeno:

O Front Romeno também se apresenta em situação de calamidade. A Romênia entrou no

confronto ao lado da Rússia, mas apenas colheu derrotas após derrotas, perdendo territórios e

homens.

Diante da atual desordem que se abate sobre os soldados, a Frente Romena se torna

importante pois desloca os esforços adversários para áreas afastadas, liberando espaço para o

avanço dos aliados ocidentais.

3.4. A situação dos operários

A Revolução de Fevereiro não teria nem sequer começado se não fossem os

trabalhadores envolvidos nas manifestações por salário e paz. Vale lembrar que tanto em 1905

quanto em 1917, greves operárias nas fábricas de Petrogrado funcionaram como o estopim

das revoluções.

Isso mostra que, apesar da Rússia ser um dos países mais industrialmente atrasados da

Europa, com a maior parte da sua população sendo de camponeses, os trabalhadores

operários tinham grande influencia na vida política do país.

Dentre as massas laboriosas, os partidos socialistas têm grande importância,

organizando manifestações, greves e movimentos. Com a queda do tsarismo na Rússia, o

movimento operário só se fortaleceu, fazendo com que, depois de Fevereiro, os comitês das

fábricas aumentassem em número e tamanho.

Trabalhadores socialistas da fábrica de Vulkan seguram suas pistolas, rifles e metralhadoras.

Diante dessa situação, a burguesia industrial teme que a instituição da propriedade

privada não se concretize, considerando que o movimento operário, sobretudo socialista,

pudesse se espalhar. Já os militantes socialistas apóiam as atitudes dos trabalhadores.

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Após a dissolução das tropas policiais reais e o armamento da população, os

trabalhadores russos passaram a ser encarados como algum tipo de organização militar. Para

os movimentos socialistas, é importante obter o apoio popular, dos comitês de fábricas, pois

isso significa mais voz nas assembléias e sovietes, e conseqüentemente mais poder. Os grupos

socialistas passam, de certo modo, a controlar as massas populares do operariado que

aderiam às manifestações.

3.5. Territórios no Báltico, Finlândia, Polônia, Ucrânia e Cáucaso

Territórios no Báltico - Os territórios no báltico sempre foram de grande interesse por sua

importância estratégica e comercial, e principalmente pelo prestígio do mar que leva seu

nome. No século XVIII, esse território e o Ducato de Curlândia e o Grão-Ducato da Lituânia

foram anexados pelo Império Russo. Ao se tornar um centro portuário industrializado, o

Báltico fez-se essencial

para a economia russa

ate o irromper da

Grande Guerra Mundial.

Com o grande

desenvolvimento

econômico, o desejo do

Báltico de romper com

a capital do Império

começou no século XIX.

Os anseios por

autonomia na região se

tornaram frequentes,

resultando em abalos

sobre a autoridade

russa que passaram a

ser cada vez mais

constantes. No século

XX, aproveitando-se da

turbulência e

desorganização política

surgidas durante a

Revolução de 1905, as

populações dominadas

do báltico chegaram a

organizar diversas

greves e revoltas, que

foram logo contidas pelas Forcas Armadas.

Mapa da região do Báltico:

Guia de Estudos – Poder Dual da Rússia 1917

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O inicio da Grande Guerra surgiu como um novo elemento de instabilidade a ser

somado com o descontentamento e instabilidade política existente na região. O império

Alemão tem esticado suas garras sobre o leste da Europa, aproximando-se cada vez mais de

Riga, já tendo as tropas Kaiser Wilhelm II, ocupado o território da Curlândia e de grande parte

da Lituânia, que praticamente dominada deixou de existir como província russa. A revolução

de Fevereiro, por fim, acrescentou o fervor revolucionário a crise báltica.

Territórios na Finlândia - O território Finlandês sempre foi de grande importância estratégica

para a Rússia, pois seu domínio significa ter poder sobre toda a região que dá uma saída para o

mar à Petrogrado.

Em 1809, a Finlândia foi dominada pelo Tsar após diversas batalhas, e passou a viver

sob influência russa, apesar de autônoma.Foi a partir de 1860 que a autonomia finlandesa

começou a crescer gradativamente, aumentando pela população os sentimentos nacionalistas

na região, preocupando a Rússia.

Com a situação política já instável na região, a chegada da Revolução de Fevereiro

contribuiu ainda mais para essa desestabilização. A queda dos Romanov faz com que os

finlandeses declararem fim a seus vínculos com a Rússia.

O Governo Provisório toma medidas contra a autonomia da Finlândia, que rejeita tais

medidas, criando inconformidades e agitações cada vez maiores entre os finlandeses.

Em meio a Grande Guerra, os movimentos de independência da Finlândia são deixados um pouco de lado, já que existem assuntos urgentes a serem tratados como o avanço das tropas da Tríplice Aliança, assustando os finlandeses. Porém, o Governo russo precisa continuar atento às questões finlandesas, ainda mais com os partidários do bolchevismo assumindo uma postura de defesa ao direito de separação da Finlândia. O Governo Provisório continuava a ser contra a separação. Territórios na Polônia - A Polônia sempre foi alvo de ambição de impérios como a Prússia, o Império Áustria-Hungria e a Rússia Em 1772, essas três potências dividiram, de forma arbitrária, o território polonês entre si.

Apesar de a Polônia ter deixado de existir em 1795, os polacos nunca perderam a esperança de restauração da independência nos país. Houve diversas revoltas dos polacos ao longo do século XIX que foram reprimidas fortemente pelo Tsar.

Com as péssimas condições de trabalho e de existência das classes baixas polacas, houve a formação de movimentos e partidos que seguiam as ideias socialistas. Em 1905, o Partido Socialista Polaco se tornou a maior facção socialista em toda a Rússia.

Com a Grande Guerra, os territórios da Polônia se tornaram alvo de interesse das potencias, trazendo complicações para a Rússia, que perdeu grande parte do controle que tinha sobre seu antigo território polaco. Em 1917, os governos austríaco e alemão declararam a independência do Reino da Polônia do domínio russo. Os socialistas formaram exércitos para

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ajudar na batalha contra a Rússia e derrotá-la, como o primeiro passo a total independência da Polônia.

A situação ficou complicada para a Rússia e em meio à guerra. O Soviete de Petrogrado declarou, no dia 15 de março de 1917, sua posição a favor da reunificação e independência da Polônia. O mesmo foi feito pelo Governo Provisório.

Atualmente, o separatismo polaco é um assunto urgente a ser tratado pelo Estado russo. A separação vem se tornando algo inevitável, e portanto é importante manter as boas relações com os polacos, principalmente para a Rússia, que enfrenta a duras penas uma guerra de proporções gigantescas. Territórios na Ucrânia - Os domínios nos territórios na Ucrânia se deram entre o final do século XVII e no final do século XVIII, trazendo grande acréscimo a Rússia, já que os ucranianos passaram a fazer parte do exercito russo. Apesar da sensação de constante harmonia entre Rússia e Ucrânia, a população ucraniana ainda possuía fortemente o ideal separatista.

Para conter esse anseio por separação, Tsar iniciou na Ucrânia o processo severo de “russificação’’, fazendo com que houvesse o surgimento de partidos nacionalistas que defendiam a autonomia do povo.

O inicio da Revolução de Fevereiro permitiu o surgimento de grupos anarquistas, que começaram a lutar incansavelmente pelo separatismo e pela liberdade ucraniana. Esses grupos logo tomaram força entre a população nos últimos meses, aumentando o numero de seguidores e simpatizantes a essas idéias.

Os socialistas e progressistas ucranianos exigiram uma série de reformas na relação entre a Rússia e a Ucrânia, a partir de 1917, que não foram aceitas pelo Governo Provisório m dando início aos atritos entre esses dois órgãos.

Vladimir Ilitch Lênin, representando o Soviete de Petrogrado, afirmou que a atitude de Kerénsky eram autoritárias e antidemocráticas. Lênin se posicionava a favor da autonomia ucraniana e acreditava que transferir o poder aos sovietes seria a única forma de resolver as questões nacionalistas. Kerensky, por fim, prometeu à Ucrânia mais autonomia, mas ao não cumprir, sofreu ataques de grupos conservadores.

No dia 4 de agosto, o Governo Provisório emitiu um documento que estabelecia uma serie de limitações para a atuação do governo ucraniano. Essa atitude mostrou-se muito ousada, uma vez que a soberania ucraniana era a maior vontade do povo. Territórios no Cáucaso – O Cáucaso se caracteriza pela grande variedade de povos vivendo no mesmo território. Era um território de grande disputa entre as potências, principalmente entre o Império Turco-Otomano, o Império Persa e a Santa Rússia.

O objetivo de conquistar o território, para o Tsar, era aumentar a presença russa na margem do Mar Cáspio, podendo assim chegar a Índia com maior facilidade. Em 1801, inicia-se a Guerra da Cáucaso, para conquistá-lo, e em 1864 a Rússia finalmente conquista o território.

No entanto, esse domínio russo não foi bem aceito pelos povos da região. Entre os séculos XIX e XX, grupos étnicos georgianos, chechenos, armênios e outros fizeram diversas revoltas diretas e greves contra os russos. As figuras de Nikolay “Karlo” Chkheidze , georgiano que hoje ocupa a presidência do Comitê Central do Soviete de Petrogrado e de outros

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marxistas começaram a ganhar destaque entre a população. As correntes revolucionárias se formavam entre os povos caucasianos.

As tensões entre os povos locais e o governo tsarista só aumentaram, e em toda a parte do território movimentos revolucionários começavam a surgir. Durante a Grande Guerra, as tentativas do Império Turco-Otomano de conquistar o Cáucaso deram origem ao Genocídio Armênio, a perseguição e assassinato de centenas de milhares de jovens dessa etnia. Com o auxílio das tropas russas, os turcos foram expulsos dos territórios caucasianos, e um governo provisório assumiu o Cáucaso, sob influência russa.

Após a queda do tsarismo na Rússia, em fevereiro de 1917, os povos do Cáucaso, assim como todos até então sob o domínio da autocracia, viram uma possibilidade de poder finalmente se tornar autônomos. Entre março e abril, georgianos, armênios e azeris tomaram o poder em seus países, instalando “conselhos nacionais” para governar de forma independente. Porém, em março, o Governo Provisório tomou medidas para acalmar os nacionalistas e administrar as províncias, trasferindo toda a autoridade sobre o território para si. No entanto, após a Revolução de Fevereiro, as tropas russas no Cáucaso foram retiradas, deixando Armênia desprotegida contra as Forças Armadas Turco-Otomanas, tendo apenas sua população para lutar. A situação é bastante grave para a Rússia e para todos os povos caucasianos e os órgãos de poder de Petrogrado devem se manifestar o mais rápido possível.

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4. Bibliografia

Agradecimentos especiais a Thomás Zicman de Barros, por ceder material de estudo para a

confecção do Guia.

Guia de Estudos – Poder Dual 1917 – V SiEM 2010

TROTSKI, Leon, A Revolução de Outubro. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007

ŽIŽEK, Slavoj, Às Portas da Revolução, escritos de Lênin de fevereiro a outubro de 1917. São

Paulo: Boitempo Editorial, 2005

HILL, Christopher – Lênin e a Revolução russa. São Paulo: Zahar Editores, 1963

REIS FILHO, Daniel Aarão. As Revoluções Russas e o Socialismo Soviético. São Paulo: Editora UNESP, 2006