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Mala Direta Básica 29.983.269/0001-17 Comunidade Emanuel A REVISTA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA – ANO 41 – EDIÇÃO 484 – NOVEMBRO 2018 – WWW.DOMCIPRIANO.ORG. BR PODEMOS VIVER SEM PERDOAR? R$13,90 Se queremos ser felizes, saudáveis e crescer em relacionamentos com outros, o perdão não é uma opção, é uma necessidade

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Mala DiretaBásica

29.983.269/0001-17Comunidade Emanuel

A REVISTA DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA – ANO 41 – EDIÇÃO 484 – NOVEMBRO 2018 – WWW.DOMCIPRIANO.ORG. BR

PODEMOS VIVER SEMPERDOAR?

R$1

3,90

Se queremos ser felizes, saudáveis e crescer em relacionamentos com outros,

o perdão não é uma opção, é uma necessidade

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 1

Oração Inicial

Dom Cipriano Chagas, OSB

Oração de arrependimento e perdão

S enhor Jesus, eu creio que vós sois o Filho de Deus. Vós sois o Salvador, vindo na carne para destruir as obras

do diabo. Vós morrestes na cruz por meus pecados e ressuscitastes dos mortos. Eu agora confesso todos os meus pecados, conhecidos e desconhecidos e me arrependo de cada um. Peço-vos para me perdoar e me purificar com o vosso Sangue. Eu realmente creio que o vosso Sangue me purifica agora de todo pecado. Muito obrigado por me redimir, purificar e me santificar em vosso Sangue.

Senhor Jesus, vós estais aqui e sois um Deus de misericórdia e de amor. Estendei sobre mim a vossa mão que cura. Perdoai-me pelas muitas vezes que julguei os outros, pe-las vezes em que os feri, pelas vezes em que os critiquei. Vossa Mãe Santíssima estava de pé no Calvário e não criticou, nem condenou

quem vos crucificou. Ajudai-me, Jesus, a ser igual a ela. Que meu coração seja inundado de amor, que eu esteja cheio de perdão como vós estivestes. Concedei-me, Senhor, hoje o poder de perdoar aquela pessoa que levo em meu coração e que olho com amargura, que talvez eu mantenha presa porque não a per-doei. Peço-vos que cureis aqueles que magoei. Muito obrigado, Senhor. Tocai, Senhor, minha vida, curai minhas lembranças e recordações.

Jesus, muito obrigado por estardes me libertando agora de toda a falta de perdão. Que o vosso Espírito Santo me encha de luz, e que cada área de minha vida e do meu ser, sejam totalmente iluminada Pelo Vosso Espí-rito, conforme Vós quereis. Vós sois o nosso Deus. Muito obrigado, Senhor. Glória a Vós Senhor. Amém.

2 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Carta ao Leitor POR MAURO MOITNHO MALTA

NÃO SE DEVE FALAR DE PERDÃO LEVIANAMENTE, “SEM PERCEBER O QUE ESTÁ

SENDO PEDIDO À PESSOA OFENDIDA QUANDO LHE É DITO PARA PERDOAR

R ecordamos o Papa Francisco quando visitou o Paraguai (2015). Durante seu discurso

aos representantes da sociedade civil afirmou que a promoção dos pobres não serve a uma visão ideológica. O Pontífice declarou que as ideologias “acabam por usar os pobres ao ser-viço de outros interesses políticos ou pessoais” e “têm uma relação incom-pleta, enferma ou ruim com o povo. As ideologias não assumem o povo”. E pediu para que refletissem em como terminaram as ideologias no século passado: “Em ditaduras, sempre.” De-clarou o Papa. E completou: “Pensam pelo povo, não deixam o povo pensar. ‘Sim, tudo pelo povo, mas nada com o povo’, como dizia um crítico sagaz da ideologia”. Francisco disse que “os pobres têm muito para nos ensinar em humanidade, bondade, sacrifício, em solidariedade. Nós, cristãos, além do mais, temos outro motivo, e maior, para amar e servir os pobres, pois ne-les, vemos o rosto e carne de Cristo, que “Se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” (cf. 2Cor 8,9). “Os pobres são a carne de Cristo.”

Em relação às colonizações ideo-lógicas, Francisco afirmou: “eliminam as tradições, e o povo começa a viver de modo diverso. (…) As coloniza-ções ideológicas e culturais olham só para o presente, renegam o passado e não olham para o futuro: vivem no momento, não no tempo, e por isso nada nos podem prometer”. E “com este comportamento de tornar todos iguais e cancelar as diferenças, come-tem o pecado horrendo de blasfêmia contra Deus criador”. Portanto, recor-dou Francisco, “todas as vezes que aceitamos uma colonização cultural e ideológica pecamos contra Deus criador porque se pretende mudar a criação que Ele fez”.

Francisco ainda lembrou a figura de Eleazar, do Livro dos Macabeus que lutou contra este tipo de movi-mento ideológico em sua época, disse: Continuando afirmou: “contra este fato que aconteceu muitas vezes ao longo da história, há um só remédio: o testemunho, isto é o martírio”. Há alguns, como Eleazar que pagou com o martírio o preço da fidelidade à Deus.

Em seu artigo o Pe. Raniero Can-talamessa nos convida a refletirmos sobre obedecer a Jesus, quando nos mandou perdoar quem nos ofendeu.

E relembra a passagem do perdão 70 vezes 7. O pregador da Casa Pontifícia, disse que não se deve falar de perdão levianamente, “sem perceber o que está sendo pedido à pessoa ofendida quando lhe é dito para perdoar”. Cita o Apóstolo Paulo: “Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós” (Col 3,13). Cantalamessa sublinhou as palavras de Jesus quando diz que o critério não é mais a lei de talião (“Olho por olho, dente por dente”), mas a lei do amor trazida por Jesus, diz Cantalamessa: “Jesus não limitou, portanto, ao mandar-nos perdoar; ele

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 3

MAURO MOITINHO MALTA

Mauro Moitinho Malta Membro do conselho da Co-munidade Emanuel, autor do livro “Perdão, o caminho da felicidade”.

NÃO SE PODE CONFUNDIR A NOÇÃO DE PERDOAR ALGUÉM COM A DE TRANQUILIZAR, DAR SEGURANÇA, LIBERAR ALGUÉM

DE SEUS SENTIMENTOS DE CULPA, ABAFAR UM REMORSO

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A revista “JESUS VIVE E É SENHOR” é uma publicação mensal da Co-munidade Emanuel, entidade sem fins lucrativos, declarada de Utilidade Pública pelo Decreto 8.969 de 13/05/86. A COMUNIDADE EMANUEL tem entre seus Ministérios a Evangelização através da Palavra escrita, servindo à Renovação Carismática da Igreja. Sua espiritualidade é centrada em Jesus Cristo, guiada pelo Espírito Santo de Deus, incentivando os seus leitores à vida sacramental, à oração pessoal e ao uso comunitário dos Dons e Carismas.Orientação da COMUNIDADE EMANUEL. Uma Associação Particular de Fiéis Leigos, assim reconhecida por Decreto, pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Revista com Aprovação Eclesiástica.® Copyright 1996 – Direitos ReservadosCOMUNIDADE EMANUEL CNPJ 29.983.269/0001-17 - ISSN:0103-8133- Rua Cortines Laxe, nº 2 Centro - CEP 20090-020 - Caixa Postal 941 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Brasil - Tel.: 0+XX+21 2263-3725 Fax: 0+XX+21+2233-7596.

Órgão Fundador da Associação Latino-americana de Revistas de Renova-ção no Espírito Santo.

• Fundador: DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB.

• Diretor-Presidente: Dom Cipriano Chagas, OSB• Diretor Responsável: Mauro Moitinho Malta• Conselho de Redação: Dom Cipriano Chagas, Maria Teresa Malta, Anna Gabriela Malta, Alexandre Honorato D. Ferreira• Redator Responsável: Jeannine Leal• Revisor Teológico: Pe. Jorge André Pimentel• Coordenador de Edição: Comunidade Emanuel• Projeto Gráfico e Diagramação: Alexandre Honorato• Revisão e Tradução: Comunidade EmanuelOs artigos publicados nesta revista são de responsabilidade dos autores. Todo material para a revista, sendo publicado ou não, não será devolvido.“A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos testemunhas. Portanto, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou, e é isto o que vedes e ouvis” (At 2,32-33).

“Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, a este Jesus a quem vós crucificas-tes” (At 2,36).

Impressão:JRB GRÁFICA E EDITORA LTDA

o fez primeiro. Quando o pregaram na cruz, ele orou dizendo: ‘Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem’ (Lc 23,34). É o que distingue a fé cristã de qualquer outra religião”.

Mas Raniero diz que existe um risco no perdão. “O perigo de crer-se sempre credores de perdão, jamais devedores”. E pede que reflitamos sobre essa ótica: “Se refletirmos bem, muitas vezes, quando estamos a ponto de dizer: ‘Eu te perdoo!’, mudarmos de atitude e palavras e diríamos à pessoa que está diante de nós: ‘Me perdoa!’. Ainda mais importante que perdoar é pedir perdão.”

Dom Cipriano amplia as explica-ções sobre o perdão afirmando: “Per-doar (absolver, reconciliar-se) não é a mesma coisa que inocentar, desculpar, fechar os olhos. Pois isto significa não ver certos fatos, ignorar a culpabi-lidade real, esquecê-la, justificá-la. Desta forma, atenua-se ou se nega a responsabilidade e declara-se o cul-pado parcial ou totalmente inocente, isto não é justo. Perdoar não significa também compreender. As medidas de clemência e de anistia não coincidem inteiramente com o perdão autêntico.

Conceder uma anistia é o fato daquele que dispensa uma emenda ou uma pena já impostas. Não se pode confun-dir a noção de perdoar alguém com a de tranquilizar, dar segurança, liberar alguém de seus sentimentos de culpa, abafar um remorso.

Em suma, o perdão é totalmente diferente da legitimação social duma prática contestada ou a regularização duma disputa. É a palavra que lança a luz da verdade sobre o pecado e que transforma uma vida, restituindo-lhe a liberdade de amar. É na luz do Cristo Ressuscitado que compreenderemos a li-berdade do amor que emerge do perdão.

E termina seu artigo enfatizando: “Na verdade, ter pecado não é peca-do, se se tem pesar de o ter feito. Por nada do que pode acontecer no tempo ou na eternidade, o homem não deve querer cometer o pecado, por leve que seja. Mas aquele que é tal como deve ser para com Deus, deve sempre considerar que Deus, fiel e amoroso, levou o homem de uma vida culpada a uma vida divina, fez de seu inimigo, seu amigo – o que é mais do que criar uma nova terra.

E finaliza: “O perdão, introduzido na totalidade da obra da salvação, é, ao mesmo tempo, libertação do peca-do e restauração da vitória do amor. Muitos imaginam o perdão divino como a solução de facilidade. Deus seria bastante grande para não se deter diante de qualquer fraqueza dos homens. Receber o perdão se reduziria a se saber coberto pela autorização de continuar a sua vida sem mudanças. Na verdade, a aceitação efetiva do perdão exige do homem que reconheça seu pecado, que nele veja o orgulho, o fracasso e a ilusão, sem, porém, perder o ânimo. Ora, pode sempre surgir uma razão última de recusar o perdão, que é considerar seu pecado maior do que a misericórdia divina, e este é o pecado irremissível contra o Espírito Santo” (Mt 12,32; Mc 3,29; Lc 12,10).

Meus irmãos e irmãs, reflitamos sobre nosso comportamento pecador e peçamos a Jesus forças para ultra-passar os obstáculos que nos impedem de pedir perdão a quem ofendemos.

4 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Vida e conhecimentoAMANDO O “MENOR” DE NOSSOS IRMÃOS E IRMÃS Jeff Smith

Entre o Céu e a terraVENCENDO A LUTA CONTRA A COBIÇA Por Charles Swindoll

Conteúdo on line para assinantes

EnsinoO QUE É PERDOAR? Por Dom Cipriano Chagas, osb

3 Carta ao leitor Por Mauro Moitinho Malta

1 Oração Inicial ORAÇÃO DE ARREPENDIMENTO E PERDÃOPor Dom Cipriano Chagas, osb

6 Alma FemininaO PRIMEIRO A GENTE NUNCA ESQUECE!Por Anna Gabriela Malta

36 Curso – Nossa Aliança com Deus – aula 9RECEBEREIS O ESPÍRITO SANTO – PARTE 2Por Dom Cipriano Chagas, osb

Seções

5 Reflexão | Frases

41 Agenda

HomiliaEDIFICAR NOSSA VIDA COM A PALAVRA DE DEUSPor Cardeal Julio Terrazas Sandoval, CSsR

22

MAS QUANDO PERDOAR?Por Frei Raniero Cantalamessa, ofmcap

24

Nossa SenhoraMARIA, PROJETO DE IGREJA RENOVADA Por Pe. Angel L. Strada

34

JV Informa•CARREATA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

32

26EnsinoO CONHECIMENTO DO PECADO À LUZ DA MISERICÓRDIAPapa Francisco

10 Comunhão EclesialNÃO ÀS COLONIZAÇÕES IDEOLÓGICASPapa Francisco

18 PARÁBOLAS – OS DOIS DEVEDORESDom Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Vida e Conhecimento14 A VERDADEIRA BOA NOVA

Por Pe. Diego Jaramillo

28 Podemos viver sem perdoar?Por Dom Cipriano Chagas, osb

Pecado e falta de perdão não são saídas felizes para se pensar e muito significativamente muitos de nós evitam lidar com isso se podemos escapar. O perdão é o antídoto para o pecado. Ele nos reúne com Deus, traz-nos à unidade uns com os outros e restaura a integridade de nosso ser interior.

Colunistas

Capa

38 SantoSANTOS ANJOS Por Jeannine Leal

8 Em PautaAS AÇÕES SILENCIOSAS DA VERDADEIRA VOCAÇÃO SACERDOTALPor Pe. Martin Lasarte, sdb

8 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Em pauta

POR PE. MARTIN LASARTE, SDB

Carta de um padre católico ao New York Times

As ações silenciosas da verdadeira vocação sacerdotal

O sacerdote uruguaio, missionário há 30 anos na Angola, Pe. Martín Lasarte, sdb, declara em carta aberta ao jornal norte-americano, as inúmeras ações pastorais, humanitárias e o

martírio dos sacerdotes que a imprensa não publica.

Querido Irmão Jornalista: Sou um simples padre católico. Sinto-me feliz e orgulhoso de minha voca-ção. Faz 20 anos que vim para Angola, como missionário.

Vejo em muitos meios de comunica-ção, sobretudo no seu jornal, o exagero de importância dado ao tema dos padres pedófilos. Faz-se isso de uma maneira mórbida, procurando, na vida desses padres, em detalhes, os erros de sua vida passada.

Fala-se de um caso acontecido nos anos 70, num lugarejo dos Estados Uni-dos; de outro na Austrália, nos anos 80; e assim por diante, até chegar a casos mais recentes… Todos, com certeza, condenáveis!

Há textos jornalísticos ponderados e equilibrados. Outros são exagerados, cheios de prejulgamentos e até de ódio.

Eu próprio sinto uma grande dor pelo mal imenso causado por pessoas que deveriam ser sinal do amor de Deus, mas são, ao contrário, uma tortura na vida de seres inocentes. Não existem palavras para justificar tais atos.

Não há dúvida de que a Igreja não pode estar senão ao lado dos fracos, dos mais desamparados. Por esse motivo, to-das as medidas que podem ser tomadas para a prevenção e para a proteção da dignidade das crianças sempre serão de prioridade absoluta.

Curioso é, porém, ver a quase inexis-tência de notícias e a falta de interesse

pelos milhares de padres que sacrificam sua vida e a consomem inteira, a serviço de milhões de crianças, de adolescentes e dos mais desfavorecidos, nos quatro cantos do mundo.

Eu penso que para o seu jornal, não há o menor interesse pelo fato de eu ter sido obrigado, devido à guerra, em 2002, a transportar um número enorme de crianças famélicas, por estradas minadas, de Cangumbe a Lwena (Angola), porque nem ao governo era permitido fazer isso, nem as ONGs estavam autorizadas a tanto.

Não interessa a seu jornal que eu tenha sido obrigado a enterrar, às deze-nas, crianças mortas pelas mudanças de local da guerra.

Não importa que nós tenhamos salvo a vida de milhares de pessoas no México, por meio de um único centro de saúde existente em uma região de 90.000 km2, com a distribuição de alimentos e de sementes.

Não importa que ali tenhamos con-seguido dar educação e escola, durante esses últimos dez anos, para mais de 110.000 crianças.

Não há interesse em saber que, junto com outros padres, nós tenhamos socorrido mais de 15.000 pessoas nos acampamentos da guerrilha, antes da deposição das armas, porque os alimen-tos do governo e da ONU não chegavam.

Não é notícia que interesse, o fato de um padre de 75 anos, de nome Roberto, percorrer a cidade de Luanda cuidando de crianças de rua, levando-as a um abrigo, para que se desintoxiquem da gasolina que aspiram porque têm de ganhar a vida como frentistas de postos.

Também não é notícia a alfabetiza-ção de centenas de prisioneiros.

Não é notícia que outros padres, como o Pe. Stéphane, organizem casas de acolhimento temporário para que jo-vens maltratados, machucados e mesmo violentados, ali encontrem abrigo.

Padre Martín Lasarte numa aldeia da Angola

10 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Não às colonizações ideológicas

PAPA FRANCISCO

Comunhão Eclesial

O cristão deve dar o seu testemu-nho diante das “colonizações ideológicas e culturais” que

soam como verdadeiras “blasfêmias” e suscitam “perseguições” furiosas. Introduzindo más “novidades”, che-gando até a considerar normal “matar as crianças” ou perpetrar “genocídios” para “anular as diferenças”, procurando fazer “tábula rasa” de Deus com a ideia de ser “modernos” e ao passo com os tempos. Como exemplo concreto para responder às “colonizações culturais e espirituais que nos são propostas”, o Papa apresentou o testemunho de Eleazar, sugerido pela liturgia.

“Na primeira leitura – com efeito, observou imediatamente o Pontífice, referindo-se ao trecho tirado do se-gundo livro dos Macabeus (6,18-31) – ouvimos o martírio de um homem que foi condenado à morte por fidelidade a Deus, à lei, numa perseguição: há muitos motivos de uma perseguição mas podemos citar os três principais”.

Antes de mais, há “uma persegui-ção apenas religiosa: vou contra a tua fé porque a minha fé diz não e com o poder que tenho exerço a perseguição” explicou Francisco. “Outra persegui-ção, outro motivo pode ser religioso, cultural, histórico, político, religioso/político, quando se mistura o religioso com o político”, acrescentou, exortando a pensar “na guerra dos trinta anos, na noite de São Bartolomeu: guerras religiosas ou políticas”. “Outro motivo de perseguição – disse o Papa – é pura-mente cultural: chega uma nova cultura que quer fazer tudo novo e faz tábula rasa das tradições, da história, inclusive da religião de um povo: o que acontece na leitura de hoje, o martírio de Eleazar é típico deste estilo cultural”.

“Ontem teve início a narração desta perseguição cultural” explicou Francisco, referindo-se aos excertos bíblicos propostos pela liturgia. “Alguns – continuou – vendo o poder e também a beleza magnífica de Antíoco Epifânio, e a cultura que vinha daquela parte, dis-seram: “Vamos e façamos aliança com as nações que estão ao nosso redor, são

modernas, elas têm uma modernidade maior, são atuais; nós continuamos com as nossas tradições, que não servem para nada”.

A tal propósito, o Pontífice quis repetir precisamente as palavras da Escritura: “Pareceu bom aos seus olhos este raciocínio e alguns do povo tomaram a iniciativa, foram ter com o rei que lhes ofereceu a faculdade de introduzir as

instituições pagãs das nações”. E assim, acrescentou Francisco, não pediram para “introduzir as ideias ou os deu-ses, não: as instituições, isto é, este povo que nascera, crescera sob a lei do Senhor, sob o amor do Senhor, através dos seus dirigentes, faz entrar novas instituições, nova cultura que fazem tábula rasa de tudo: cultura, religião, lei, tudo. Tudo é novo”.

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 11

É PRECISO DISCERNIR AS NOVIDADES. ESTA NOVIDADE É DO SENHOR, VEM DO ESPÍRITO SANTO, DA RAIZ DE DEUS

OU VEM DE UMA RAIZ PERVERSA?

“A modernidade” é uma verdadeira colonização cultural, uma autêntica co-lonização ideológica”, afirmou o Papa. E “deste modo quer impor ao povo de Israel este hábito único, tudo se faz assim, não há liberdade para outras coisas”. Mas alguns aceitaram porque parecia algo bom: “Não, é verdade, devemos ser como os outros”. E essas pessoas “que chegavam às novas insti-tuições – afirmou Francisco – manda embora este, elimina as tradições e o povo começa a viver de modo diverso”.

Eis que “para defender a história, a fidelidade do povo, para defender as tradições verdadeiras, as boas tradições do povo, fazem-se algumas resistên-cias”. A primeira leitura de hoje, expli-cou o Pontífice, narra-nos que “Eleazar não quer. Era um homem digno, muito respeitado e não aceita aquilo”. E como ele “muitos outros, no livro dos Maca-beus são narradas as histórias destes mártires, destes heróis”.

“Assim vai em frente sempre – pros-seguiu – uma perseguição nascida de uma colonização cultural, ideológica, que destrói, torna tudo igual, não é capaz de tolerar as diferenças”. Em parti-cular, afirmou Francisco há uma palavra-chave na leitura de ontem – tirada do primeiro livro dos Macabeus – quando começa esta narração: “Naqueles dias brotou uma raiz perversa”, isto é “Antío-co Epifânio”. Portanto, insistiu o Papa, “arranca-se a raiz do povo de Israel, que é substituída por esta raiz, qualificada como perversa porque fará crescer no povo de Deus certos hábitos novos, pa-gãos, mundanos e crescer com o poder, com o domínio”. Este é “o caminho das colonizações culturais que acabam por perseguir também os crentes”.

De resto, afirmou o Pontífice, “não é preciso ir muito longe para ver alguns exemplos: pensemos nos genocídios do século passado, que eram culturais, novos: ‘Todos iguais quem não tem o sangue puro, fora... Todos iguais, não há lugar para as diferenças, não há lugar para os outros nem para Deus’”.

Eis a “raiz perversa”, disse o Papa. “Diante destas colonizações culturais que escondem a perversidade de uma

raiz ideológica – observou – Eleazar, ele mesmo, faz-se raiz: é interessante, Eleazar morre pensando nos jovens”. De fato, disse Francisco, “por três vezes, no final da narração de hoje, fala-se dos jovens”. Eleazar afirma: “Portanto, abandonando agora como forte esta vida, mostrar-me-ei digno da minha idade e deixarei aos jovens um exem-plo nobre para que saibam enfrentar a morte com prontidão e nobreza”. E “outras duas vezes fala dos jovens”. Resumindo, “Eleazar, o mártir, aquele que dá a vida, por amor a Deus e à lei, faz-se raiz para o futuro: isto é, dá vida, faz crescer o povo e diante daquela raiz perversa que nasceu e provocou esta colonização ideológica e cultural, há esta outra raiz que dá a própria vida para fazer crescer o futuro”.

“É verdade, aquilo que chegou do reino de Antíoco era uma novidade”, acrescentou o Papa, convidando a questionarmo-nos se “as novidades são todas más, todas”. A resposta é “não”. De resto “o Evangelho é uma novidade, Jesus é uma novidade, é a novidade de Deus”. Por conseguinte, “é preciso discernir as novidades. Esta novidade é do Senhor, vem do Espíri-to Santo, da raiz de Deus ou vem de

Continuação

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 13

14 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Vida e conhecimento

E vangelho significa “boa nova”. É a notícia mais importante e alvissareira. Uma notícia tal

que interessa a todos os homens, que merece ser publicada na imprensa com caracteres grandes e em oito colunas; que merece ser propagada em todas as emissoras de rádio e televisão, ainda que interrompendo todos os programas e repetindo-a incansavelmente.

Na vida existem muitas notícias agradáveis, muitos “evangelhos”. Porém, com frequência, se trata de anúncios publicitários, que apenas falam de coisas fúteis. Nós cristãos, no entanto, afirmamos que nada pode equiparar-se com a extraordinária notícia de que fomos ”salvos por Jesus Cristo” (cf. Jo 3,17). Todos os outros “evangelhos”, em comparação a este, resultam medíocres, limitados, e, frequentemente, ou total-mente, equivocados.

O Evangelho de Jesus, o que Paulo pregou por onde andou (1Cor 9,12) é o único que merece nossa atenção. Os demais são mapas enganosos que não conduzem ao tesouro, são pistas erradas. Por isto, o apóstolo dos gentios escreve aos gálatas que se alguém chegasse a pregar-lhes um Evangelho diferente ao que ele próprio havia pregado, não cressem, ainda que fosse um anjo do céu (Gl 1,6-9).

Esse anúncio equivocado nos está chegando, com insistência, pelos meios de comunicação social. São as boas novas do mundo. Esse falso evangelho, está centrado em que tudo se fabrica e se vende em nome dos valores do ter, do poder e do prazer como se fossem sinônimos da felicidade humana.

O EVANGELHO DO MUNDOO pronome “eu”

As metas que o critério do mundo traz aos homens: o êxito na vida, a fama, o reconhecimento de méritos próprios pelos demais, a colheita de aplausos, o poder. Para o mundo, vale mais o inteligente, o mais intrigante, o mais astuto. Esse chega a ser o manda chuva, o patrão, o gerente, o rei.

O mundo julga que o importante é mandar e o degradante, servir; que o nobre é emergir. Por isso fala con-tinuamente da classe emergente, por isso pergunta: quem manda? quem é o cabeça? “Em mim ninguém manda”. “Eu faço o que me dá na cabeça”. “Acima de mim não existe ninguém”.

O evangelho do mundo faz com que tudo gire em volta do “eu”. Pois me faz crer que eu sou o mais inteli-gente, o melhor, o de melhor família;

O Evangelho de Jesus, o que Paulo pregou por onde andou (1Cor 9,12) é o único que merece nossa atenção. Os demais são mapas enganosos que não conduzem ao

tesouro, são pistas erradas.

que sou o primeiro, o ás, o campeão. O mundo inventa os motivos mais fúteis para que me pavoneie. O evangelho do mundo me ensina a pronunciar sonoramente o pronome “eu”, a viver egoisticamente, a converter-me num ególatra. O importante, me diz, é que sejas elevado. Tudo pode servir-te de escada: a ciência, a política. Não im-porta que, para subir mais alto, tenhas que pisotear os demais. Não escutes o clamor dos oprimidos, o importante é que tu mandes, ainda que seja sobre uma manada de ovelhas, como diz o Quixote, e que te obedeçam, temam. Ainda que muitos povos peçam liber-tação. Porém, esse mesmo mundo que assim te acolhe, amanhã te volta as costas.

O evangelho de Jesus optará por caminhos totalmente distintos: quem deseja o primeiro lugar, deve ocupar o último (cf. Lc 14,10-11); quem deseja

A verdadeira Boa NovaPOR PE. DIEGO JARAMILLO

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 17

18 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Os dois devedoresPARÁBOLAS

DOM ANSELMO CHAGAS DE PAIVA, OSB

Vida e conhecimento

A parábola dos dois devedores tem o seu foco no perdão, uma das exigências apresentadas

por Jesus para termos acesso ao Reino dos céus. Ressalta que as nossas rela-ções com os irmãos devem ser marca-das por sentimentos de perdão e de mi-sericórdia. É dessa forma que o homem construirá a sua felicidade no decorrer da sua vida terrena. O ódio para com as pessoas é ruptura com Deus. O autor conclui sua reflexão aconselhando a pensar nos mandamentos e aprender a ser misericordioso, imitando, assim, o Senhor que é rico na bondade e na misericórdia.

A parábola sequencia este mesmo tema, a partir de uma pergunta feita por Pedro a Jesus: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (v. 21). Jesus responde: “Não lhe digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (v. 22). Com esta resposta, Jesus ensina que não existe limite para o perdão; só perdoando o outro é que se pode eliminar a indiferença, o ódio e a vingança, que geraram uma sociedade brutal e ambígua.

UMA PARÁBOLA, TRÊS MOMENTOSEm seguida, Jesus conta uma pa-

rábola com três momentos sucessivos, bem ligados entre si. Na primeira parte (vv. 23-27) aparece a figura de um rei que resolve acertar as contas com seus empregados. Provavelmente, trata-se de impostos recebidos e nunca entre-gues. Isso nos faz recordar que um dia todos nós teremos de prestar contas a Deus. A parábola apresenta inicialmen-te um empregado que devia dez mil ta-lentos. O texto não diz quanto os outros empregados estariam devendo. É sinal de que cada pessoa deverá perguntar-se: Quanto deve ser a minha dívida para com Deus? No seu conjunto, a parábola dá a entender que esse devedor poderia ser cada um de nós.

Ora, o empregado tem uma dí-vida de dez mil talentos. O texto

deixa entender que é uma soma que dificilmente alguém conseguiria pagar: “Ele não tinha com que pagar” (v. 25). A primeira reação do rei mostra como fun-ciona uma sociedade baseada na justiça dos doutores da Lei e dos fariseus: “O patrão mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher e os filhos e tudo o que possuía, para que pagasse a dívida” (v. 25). O empregado, diante do fato, suplica ao seu patrão: “Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo!” O pedido é feito de joelhos (v. 26). Vem então a reação inesperada do rei, e é justamente aí que descobrimos por trás dele, o rosto

de Deus: “Diante disso, o patrão teve compaixão, mandou soltar o empregado e perdoou-lhe a dívida” (v. 27). O valor exagerado da dívida, sublinhado no tex-to, quer colocar em relevo a misericórdia infinita do Senhor.

A segunda parte da parábola (vv. 28-31) põe o empregado, que experi-mentou a misericórdia do seu senhor, recebendo o perdão de toda a sua dívi-da, frente a um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia de cem de-nários; ou seja, cem moedas de prata, pouco mais de três salários mínimos.

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 19

TODO PERDÃO, À SEMELHANÇA DO AMOR, DO QUAL É UMA EXPRESSÃO PARTICULAR, TEM ORIGEM EM DEUS,

QUE NOS AMOU E PERDOOU PRIMEIRO

SE NOS RECUSARMOS A PERDOAR AO PRÓXIMO, NÃO MAIS IREMOS EXPERIMENTAR O PERDÃO DIVINO

Continuação

Era uma quantia insignificante para um funcionário do rei. A reação do outro companheiro é descrita com sucintos pormenores: “Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Pague o que me deve’” (v. 28). O companheiro que devia cem moedas de prata reage de uma forma semelhante ao seu ges-to, como primeiro devedor: “O compa-nheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um prazo, e eu te pagarei!’” (v. 29). A pretensão deste último deve-dor não é inconcebível, pois, de fato, ele tem condições de pagar. A reação do empregado é marcada pela impaciên-cia e agressão: “Ele não quis saber disso; saiu e mandou colocá-lo na prisão, até que pagasse o que devia” (v. 30). O fato de ter colocado este último devedor na pri-são, o impossibilitou de pagar a dívida.

E além de não perdoar, impediu que o outro tivesse liberdade.

Finalmente, na terceira parte (vv. 31-34) retornam os personagens da primeira cena. E o patrão mostra-se se-vero e exigente: “Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me suplicaste. Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’” (vv. 32-33). Podemos notar que só se fala de perdão na relação patrão e servo. Com isso chegamos a esta constatação: o primeiro e talvez único perdão é o que Deus nos concede gratuitamente. O restante é simplesmente misericórdia e gratuidade nas relações entre pessoas perdoadas. Não havendo misericór-dia, também não haverá perdão por parte de Deus: “O patrão indignou-se e mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida” (v. 34). Estando este empregado na prisão, sabemos que essa dívida não pode ser paga. A con-clusão da parábola mostra o desfecho da cena: “É assim que o meu Pai que está no céu fará com cada um de vós, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.

AO PERDOAR SOMOS PERDOADOSA parábola nos exorta a imitar o

Senhor que nos perdoa, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. Precisamente, como dizemos na ora-ção do Pai Nosso: “Perdoai-nos as nos-sas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6,12). Deus é sempre paciente e misericor-

dioso conosco. E nós, somos sempre pecadores e muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. Todavia, Deus não se cansa de nos oferecer o seu perdão, sempre que pedimos. Ele tem piedade de nós e não cessa jamais de nos amar. Como o patrão da parábola, o perdão de Deus não tem limites.Esta parábola parece indicar-nos que as ofensas que temos a perdoar a nossos irmãos não se comparam, em relação à dívida que temos com o Senhor. O primeiro devedor foi perdoado em 10 mil talentos, e se recusou a perdoar os 100 denários de seu companheiro, que corresponde a uma quantia mínima.

Só o Espírito Santo, que é “nossa vida” (Gl 5,25), pode fazer “nossos” os mesmos sentimentos, que existiram em Jesus Cristo. Então, a unidade do perdão torna-se possível, “perdoando-nos mutuamente como Deus nos perdoa em Cristo” (Ef 4,32).

Todo perdão, à semelhança do amor, do qual é uma expressão particular, tem origem em Deus, que nos amou e per-doou primeiro (cf. 1Jo 4,7.21; Lc 7,47; Mt 18,23-35). Quando amamos (e per-doamos) ao próximo, o Amor de Deus (e seu perdão) torna-se perfeito em nós. Ou seja, intensifica-se a nossa experiên-cia do amor clemente de Deus, e a nossa capacidade de amar e perdoar cresce ainda mais. Se nos recusarmos a perdoar ao próximo, não mais iremos experimen-tar o perdão divino não porque Deus possa cessar de amar ou perdoar (não pode, por ser amor de clemência), mas porque o nosso fracasso em responder ao seu perdão, perdoando ao próximo, fecha-nos a seu amor e a seu perdão. O sol brilha sempre, pois só pode brilhar. Nós, porém, podemos esconder-nos a seus cálidos raios ou, então, fechar os olhos ao brilho de sua luz.

Perdoar ao próximo, como ade-quada resposta à nossa experiência

24 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Homilia

O PERDÃO CRISTÃO NÃO EXCLUI QUE POSSAS TAMBÉM, EM CERTOS CASOS, DENUNCIAR A PESSOA E LEVÁ-LA DIANTE DO TRIBUNAL,

SOBRETUDO QUANDO ESTÃO EM JOGO, INTERESSES E O BEM

MAS QUANDO PERDOAR?

P erdoar é algo sério, humana-mente difícil, se não impossível. Não se deve falar de perdão

levianamente, sem perceber o que está sendo pedido à pessoa ofendida quando lhe é dito para perdoar. Junto ao mandato de perdoar, há que se proporcionar ao homem também um motivo para fazê-lo. É o que Jesus faz com a parábola do rei e dos servos. Na parábola está claro porque se deve perdoar: porque Deus, antes, nos per-doou e nos perdoa! Perdoa-nos uma dívida infinitamente maior do que qualquer outra que um semelhante possa ter conosco. A diferença entre a dívida com o rei (dez mil talentos) e a do colega (cem denários) corresponde atualmente à soma de três milhões de euros e uns poucos centavos.

São Paulo já pode dizer: “Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós” (Col 3,13). Está superada a lei de talião: “Olho por olho, dente por dente”. O critério já não é: “O que o outro fez a você, faça a ele”, mas “O que Deus faz a você, faça você ao outro”. Jesus não limitou, portanto, ao mandar-nos perdoar; ele o fez primei-ro. Quando o pregaram na cruz, ele orou dizendo: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

É o que distingue a fé cristã de qual-quer outra religião.

Buda também deixou aos seus a máxima: “Não é com o ressentimento que se aplaca o ressentimento; é com o não ressentimento que se mitiga o ressentimento”. Porém, Cristo não se limita a sinalizar o caminho da per-feição; dá a força para percorrê-lo. Não nos manda só fazer; outrossim faz conosco. Nisto consiste a graça. O perdão cristão vai muito além da não violência ou do não ressentimento.

Alguém poderia objetar: perdoar setenta vezes sete não representa encorajar a injustiça e dar sinal verde à prepotência? Não. O perdão cristão não exclui que possas também, em certos casos, denunciar a pessoa e levá-la diante do tribunal, sobretudo quando estão em jogo, interesses e o bem, inclusive, de outras pessoas. O perdão cristão não tem impedido, por exemplo, um exemplo próximo a nós, as viúvas de algumas vítimas do terror ou da máfia buscarem com tenacidade a verdade e a justiça pela morte de seus maridos.

Mas não há só grandes perdões; existem também os perdões de cada dia: na vida a dois, no trabalho, en-tre parentes, entre amigos, colegas e conhecidos. O que fazer quando descubro que tenho sido traído pela minha própria cônjuge? Perdoar ou separar? É uma questão demasiado

delicada; não se pode impor nenhuma lei externa. A pessoa deve descobrir em si mesmo o que fazer.

Contudo, posso dizer uma coi-sa. Conheço casos nos quais a parte ofendida encontrou, em seu amor pelo outro e no auxílio da oração, a força de perdoar ao cônjuge que havia errado, mas que estava sinceramente arrependido. O matrimônio renasceu das cinzas; houve uma espécie de um novo começo. Certo: ninguém pode pretender que isto possa ocorrer, para um cônjuge, “setenta vezes sete”.

Devemos estar atentos para não cair em uma armadilha. Existe um risco no perdão. Consiste em formar-se a mentalidade de que crê ter sempre algo que perdoar os demais. O perigo de crer-se sempre credores de perdão, jamais devedores. Se refletirmos bem, muitas vezes, quando estamos a ponto de dizer: “Eu te perdoo!”, mudarmos de atitude e palavras e diríamos à pessoa que está diante de nós: “Me perdoa!”. Não daríamos conta de que também nós temos algo que fizemos a ela. Ainda mais importante que per-doar é pedir perdão.

24º domingo do Tempo Comum – ANO A

Mateus (18,21-35)

Mas quando perdoar?POR FREI RANIERO CANTALAMESSA, OFMCAP

“Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Por isso o Reino dos Céus é semelhante a um rei que quis ajustar contas com seus servos. Ao começar a ajus-tá-las, foi-lhe apresento um que devia dez mil talentos. Como não tinha com o que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, sua mulher e seus filhos e tudo quanto tinha, e que se lhe pagasse.”

Frei Raniero Cantalamessa, ofmcap, fran-ciscano Capuchinho, Doutor em teologia e em literatura. Em 1977 deixou o ensino acadêmico para dedicar-se inteiramente ao serviço da Palavra de Deus. Em 1980 foi nomeado Pregador da Casa Pontifícia.

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 25

26 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Ensino

O conhecimento do pecado à luz da misericórdia

POR COM CIPRIANO CHAGAS, OSB

S omente a revelação da miseri-córdia divina pode dar-nos o conhecimento de nosso pecado,

um conhecimento verdadeiro que con-duza à vida e ao amor. Nosso sentido do pecado corresponde inteiramente à percepção que temos do amor de Deus por nós. É, pois, o Espírito Santo, como Espírito de verdade, que nos revela nosso pecado, fazendo-nos experimen-tar a misericórdia infinita que o Pai nos testemunha, entregando por nós o seu Filho. Vamos desenvolver essa intuição simples, haurida em cada página do Evangelho, o conhecimento de nós mesmos à luz de Deus, percorrendo quatro pontos:

• a perda do sentido do pecado;

• o papel do Espírito Santo no des-cobrimento do pecado;

• o conhecimento que Maria teve do pecado;

• o conhecimento do pecado em nossa experiência de oração.

a) a perda do sentido do pecado

Numa fórmula que teve grande repercussão, Pio XII deplorou a perda do sentido do pecado no mundo mo-derno. Sua afirmação, que toma relevo maior ainda duas gerações depois, é de resto mais matizada do que se diz comumente:

“Talvez o maior pecado no mundo de hoje é que os homens começa-ram a perder o sentido do pecado” (Radiomensagem ao VIII Congresso Eucarístico Nacional dos Estados Unidos, em Boston, 26.10.46. D.C. 43,979,8.12.46).

Por complexo que seja esse fenô-meno que nos envolve e atravessa de todos os lados, três razões pelo menos podem ser apontadas para a perda do sentido do pecado:

• a recusa da cruz;• o medo do isolamento dos fiéis;• a dificuldade de criar laços de

Aliança.

ESSAS TRÊS RAZÕES SE MISTURAMA recusa da cruz encobre a fuga

diante da renúncia e da paciência, da obediência e da fidelidade à palavra dada. O medo que reaviva a dificuldade inerente à renúncia sob todas as suas formas é bastante tributário da menta-lidade dominante que os cristãos interio-rizam como uma minoria social que se identifica a seus perseguidores e se des-qualifica. Ser diferente dos outros parece significar perder o sentido. O choque seria insuportável se não houvesse hoje uma dificuldade extrema em se manter relações personalizadas, apoiando-se em esteios institucionais (normas, papéis,

projeto coletivo).Privados esses apoios, os laços de afinidade e de escolha traem depressa sua fragilidade e sua gritante instabilidade.

Estes são sintomas de uma socie-dade detonada, que não sabe se dotar de representações do futuro, críveis e atraentes. Por falta de consenso e de um sentido de viver juntos, os parâmetros éticos recebidos da tradição cristã es-vaziam-se de seu conteúdo. A violência endêmica indica a procura desajeitada duma identidade social que se tornou imprecisa e decepcionante. O que não impede que, sob essa crise cultural aparente, jaza uma crise mais pessoal e mais profunda que é propriamente uma crise de fé. Ora, na vida do crente, o mistério da fé provoca ordinariamente escândalo quando o chamado da cruz parece barrar a busca da felicidade. A confissão arriscada da fé supõe encon-trarem-se comunidades de crentes bas-tante livres para prestar contas diante de todos, da esperança que há neles (1Pd 3,15). O apelo a um apoio comunitário indispensável e vivificante nos autoriza aqui, a tentar dizer realidades espirituais

28 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Ensino

Podemos viver sem perdoar?POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB

ue significado pode ter nossa vida, se não aprendemos im-portantes lições de nossos er-

ros, e não descobrimos como impedir erros repetitivos que nos acorrentam a maneiras de agir infelizes e improdu-tivas? Somos um microcosmos da ma-neira como todo mundo se comporta. Simplesmente escolhemos pecar uns contra os outros e depois viver sem perdoar.

A LEI DA SEMEADURA E DA COLHEITAPecado e falta de perdão não são

saídas felizes para se pensar e muito significativamente muitos de nós evi-tam lidar com isso se podemos escapar. O ego e o orgulho estão presentes quando somos feridos por alguém – e, aos olhos do mundo, parece natural que alguém que foi ferido procure vingar-se. Mas nosso pecado e falta de perdão têm um certo modo de re-dundar e manter-nos continuamente com problemas. O pecado é o que nos isola de Deus, uns dos outros e de nós mesmos. A falta de perdão preserva e endurece o isolamento e nos impede de procurar a reconciliação e recuperar a saúde.

O perdão é o antídoto para o peca-do. Ele nos reúne com Deus, traz-nos à unidade uns com os outros e restaura a integridade de nosso ser interior. Por isso o perdão é central em todos os aspectos da vida. Se queremos ser felizes, saudáveis e crescer em relacio-namentos com outros, o perdão não é uma opção, é uma necessidade.

O perdão é a mensagem mais importante e mais jubilosa que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nos traz.

Deus nos dá a capacidade de fazer escolhas, mas precisamos viver com os resultados delas. Podemos ficar atolados para sempre com a falta de perdão e ser acabrunhados e tristes, ou podemos escolher perdoar e gozar dos benefícios da liberdade que isso nos traz. Se temos sempre pensado que perdoar ou não perdoar era apenas questão de escolha pessoal, dependendo da intensidade de nossos sentimentos, precisamos considerar como a Sagrada Escritura nos manda perdoar:

“Porque, se perdoardes os homens quando pecarem contra vós, vosso Pai celestial também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens os seus pecados, vosso Pai não perdoará vossos pecados”(Mt 6,14-15).

Por que Jesus diz isto de maneira tão forte e tão absoluta? Deus criou um universo ordenado, baseado em leis ou princípios naturais. Assim como

sabemos que certas leis de física são inalteravelmente verdadeiras e predi-zíveis, assim deveríamos compreender que Deus tem leis espirituais que são verdadeiras e predizíveis.

Suponhamos que a Câmara dos Deputados votasse pela extinção da lei da gravidade. Iria fazer alguma diferença? Eles continuariam presos na superfície da terra, em vez de ser lançados no espaço pela força centrí-fuga da rotação da terra.

A realidade de um nível paralelo de leis espirituais imutáveis é rejeitado por muitos hoje, que prefeririam ba-sear o comportamento ético em valores relativos deixados à interpretação de cada um. Entretanto, a história nos de-monstra que as pedras fundamentais do comportamento humano são prin-cípios como os que Deus deu a Moisés nos Dez Mandamentos. É impossível que quebremos a lei de Deus: podemos apenas quebrar-nos contra a ela.

32 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

JV Informa

No dia 29 de setembro a Comunidade Emanuel e a Paróquia de São Miguel Arcanjo (Magalhões Bastos), realizaram a carreata de São Miguel Arcanjo. Estiveram presentes na Comunidade O Pe. William Bernardo, Dom Anselmo Chagas de Paiva, osb para uma bênção ao evento, o deputado Márcio Pacheco e o vereador Cláudio Castro animaram a saída dos carros.

O cortejo saiu da Comunidade Emanuel (16h) com a imagem de São Miguel, carro de som e devotos que percor-reram do Centro à Magalhães Bastos (38 Km) atravessando

a cidade do Rio de Janeiro pela Avenida Brasil. Encontra-ram outro grupo de carros em Realengo e seguiram pela Estrada da Água Branca até a Paróquia.

Na paróquia houve missa solene da festa dos Santos Arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel. Durante os agradeci-mentos o padre William agradeceu a todos os paroquianos, o apoio da Comunidade Emanuel e presenteou a gestora da Escola Dom, Anna Gabriela Malta com uma imagem de São Miguel Arcanjo.

CARREATA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

2018 • edição 484 • Jesus Vive e é o Senhor 33

34 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

MARIA É GARANTIA DE SEGURANÇA E DE VITÓRIA, PORQUE ELA,

TENDO PEREGRINADO COMO NÓS, JÁ ATINGIU A META FINAL

Maria, projeto de Igreja renovadaPOR PE. ANGEL L. STRADA

Nossa Senhora

A Igreja não existe fora da Histó-ria. É chamada a encarnar-se em cada época, respondendo

aos impulsos do Espírito, mediante os sinais dos tempos. Tampouco Maria é uma figura a-histórica. Cada época acentua facetas de sua pessoa e de sua missão, capta-a a partir de uma deter-minada perspectiva de valores. Como mãe e modelo da Igreja, Maria suscita nela determinados valores que são a expressão mais fiel do Evangelho e a resposta mais conveniente às necessi-dades do mundo. Essa é a perspectiva do Concílio Vaticano II, chamado vigo-roso à renovação, cujo impulso quer alcançar a todos e abranger todas as dimensões da Igreja em nosso tempo.1

TRAÇOS DE UMA RENOVAÇÃO ECLESIAL

A Santíssima Virgem não deve ser apenas uma presença notável na marcha para uma autêntica renova-ção eclesial. Mas sua pessoa significa um verdadeiro programa e assinala fases fundamentais na difícil tarefa empreendida. Maria é todo um projeto de Igreja renovada, é um desafio e, ao mesmo tempo, uma ajuda poderosa para sua concreta plasmação. As ca-racterísticas centrais da renovação da Igreja podem ser assim definidas:

• Em relação a Deus: Igreja profun-damente sobrenatural;

• diante da História: Igreja pere-grina;

• em si mesma: Igreja familiar, pobre e humilde;

• em relação ao mundo: Igreja, alma da cultura e servidora dos homens.

Uma análise completa dessas características excede ao objetivo que nos propusemos, mas alguns apontamentos em torno de cada uma delas, nos mostrarão sua importância e sentido.

DEUS É SUA ROCHA

Igreja sobrenatural: A Igreja acha-se plenamente entregue à influência do Espírito Santo e considera missão sua essencial, comunicar aos homens a vida da graça. Isso poderá parecer evidente, mas exige uma rejeição categórica de toda tentativa que vise a transformar a Igreja em um poder econômico ou político, prendê-la aos ditames das correntes ideológicas em voga, reduzi-la a uma sociedade de beneficência ou a um fator de pres-são social. Uma Igreja, em um poder

econômico ou político, prendê-la aos ditames das correntes ideológicas em voga, reduzi-la a uma sociedade de beneficência ou a um fator de pressão social. Uma Igreja profundamente mariana deverá ser uma comunidade comprometida radicalmente com o Senhor, em quem deposita toda sua segurança. Porque toda grandeza e força de Maria fincam raízes na ação de Deus nela. Sua vida é confiança ple-na no amor providente do Pai, que lhe determina os rumos. A Igreja, também, se perguntar continuamente pelos desejos de Deus e concentrar todo o seu esforço na missão de anúncio e instauração de seu Reino. “Nela se manifesta, de modo visível, o que Deus está realizando, silenciosamente, no mundo interior. É o lugar onde se con-centra, ao máximo, a ação do Pai que, na força do Espírito de Amor, busca,

36 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

Em Lucas 11,9-13, Jesus nos disse para pedirmos ao Pai, o Espírito Santo e Ele nos dará: “Pedis e

recebereis, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-a, pois todo que pede, recebe; o que busca, acha; ao que bate abrir-se-vos-a. Qual de vós é o pai, que se o filho pede um peixe, lhe dá uma serpente ou se pede um ovo, lhe dá um escorpião? Se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos; quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”.

Vejam, por essas palavras de Jesus:

1. Somos convidados a pedir e nos é dada a promessa de que todo que pede, recebe. Jesus nos dá a pro-messa de que tudo que pedirmos, receberemos.

2. Deus jamais nos dará alguma coisa prejudicial. Se nenhum pai da terra dá uma serpente ou um escorpião ao seu filho que pede um alimento, muito menos o Pai celestial. O Pai jamais dará alguma coisa prejudicial a você. Ele quer nos abençoar e nos dar a vida. Ele quer se dar a nós. Ele não nos quer destruir.

3. Os pais da terra sabem como tratar bem seus filhos e como lhes dar boas coisas. As coisas de que necessitam, as coisas que querem.

Quando se trata de nosso Pai celes-tial, Ele nos dará o que é bom para nós. Os pais da terra têm, no seu coração, uma fagulha do amor paterno de Deus. Eles são um pequeno reflexo do amor paterno de Deus. Não há comparação. Deus é Pai numa infinitude que não podemos imaginar; portanto, o que Ele quer nos dá, sempre é uma coisa muito boa. Ele nos dá sempre o melhor. E o que é o melhor que Ele quer nos dar? Ele mesmo. Ele nos dá as coisas materiais, mas o que Ele quer nos dar realmente é Ele mesmo. Ele nos dá o seu Espírito. Deus quer dar o Espírito Santo àqueles que lhes pedem, diz Jesus.

Na Carta aos Gálatas capítulo 3, versículo 2, São Paulo pergunta: “Recebestes o Espírito por obra da Lei ou por ouvirem a mensagem da fé?” Quer dizer: procurar obedecer os man-damentos de Deus não resulta em ser plenificado do poder, tentar agradar a Deus com os nossos esforços não nos dá o direito de sermos plenificados pelo Espírito Santo de Deus.

O Espírito Santo de Deus é pro-messa do Pai, segundo Jesus. Você recebe o Espírito Santo, o dom do Pai ouvindo essa promessa para você, vindo a Jesus, lhe pedindo que encha com o Espírito Santo, para que esses rios de água viva sejam libertados na sua vida.

Ouvimos a promessa, pede ao Se-nhor e Ele nos dá. Não é pelos nossos esforços, é pela bondade e pela pro-messa de Deus. Deus lhe dá o Espírito Santo, porque prometeu fazer precisa-mente isto. ele prometeu dar o Espírito Santo e Ele é fiel no cumprimento das suas promessas.

COMO É QUE NÓS PODEMOS RECEBER O ESPÍRITO SANTO DE DEUS?

1. Procure não ter nenhuma ideia pre-concebida do que seja estar pleno do Espírito Santo. Muitos são pre-judicados, porque ficam olhando os outros e ficam achando que de-vem se comportar como os outros. As experiências dos outros são ex-periências dos outros, são ilustrati-vas, mas não são obrigatoriamente aquilo que você vai experimentar; de forma que você não deve pro-curar ser igual aos outros, porque Deus fará uma obra única e irrepe-tível, pessoal na sua vida, que será exatamente adequada a você. Deus criou você segundo um propósito dele e vai fazer de você, um filho bem amado dele, conforme, segun-do esse propósito que Ele tem.

2. Jesus não diz que você precisa de algum dom ou de alguma manifestação especial do Espírito para provar que o recebeu. Muita gente, especialmente nossos irmãos protestantes, dizem que se não têm o dom de línguas, não recebeu o Espírito Santo. Jesus não diz isso, ele simplesmente promete: “Pedi e recebereis”! E diz ainda: “Todo aquele que pede, recebe!” Ele não diz: “Todos, menos você!” Ele diz: “Todo aquele que pede!”.

3. Muita gente atrapalha a ação do Espírito Santo, porque fica esperan-do sentir coisas. Não fica esperando servir coisas. Algumas pessoas têm uma experiência interior, outras pessoas não têm essa experiência interior.

Recebereis o Espírito SantoEm aliança com Deus

Aula 9

Parte 2POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB

A nona aula sobre a Aliança com Deus é a parte final sobre a obra do Espírito Santo em nós mediante da fé.

Curso

38 Jesus Vive e é o Senhor • edição 484 • 2018

“Não sei se a Igreja subiu ou se o Céu desceu, só sei que está cheio de anjos de Deus porque o próprio Deus está aqui”…

D iz a música Anjos de Deus. E nós, católicos sempre acredi-tamos nos anjos. Eles tem até

dia dedicado: dois de outubro, data universalizada pelo Papa Paulo V. Mas quem são eles?

Em Latim, a palavra significa mensageiro. Então, os anjos são mensageiros de Deus, executores da Sua palavra. Criaturas puramente espirituais, dotadas de inteligência e vontade, pessoais e imortais,superan-do em perfeição, a todas as criaturas visíveis (o Papa Pio XII, na Encíclica Humani Generis, de 12.08.1950, deixa claro que os anjos são seres pessoais; a mesma afirmação fez o Papa Paulo VI na sua Profissão de Fé, no Credo do Povo de Deus, em 30.06.1968.).

A existência dos anjos é dogma, isto é, verdade de fé da Igreja. Trata-se de verdade contida na Sagrada Escri-tura, proclamada nos Concílios Ecu-mênicos, afirmada pela unanimidade dos Santos Padres, e ensinada por todos os Teólogos fiéis ao magistério da Igreja. A definição dogmática, deu-se no IV Concílio de Latrão realizado no ano 1215. Antes desse Concílio, a existência dos Anjos, fora afirmada e formulada no Concílio Ecumênico de Niceia I (ano 325), sob o pontificado do Papa São Silvestre, cujo decreto D.54 explica claramente: “Creio em um só Deus, Pai Todo Poderoso, Cria-dor do Céu e da Terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis”.

Todas as referências aos Anjos são feitas considerando-os como seres reais e não como símbolos, abstra-

ções, puras mensagens de Deus, ou personificações literárias dos atributos divinos. A existência dos Anjos, como também dos demônios é uma verdade que faz parte da doutrina católica.

Estão presentes na história da hu-manidade desde a criação do mundo (cf. Jó 38,7). São eles que fecham o pa-raíso terrestre (Gn 3, 24); protegem Lot (Gn 19); salvam Agar e seu filho (Gn 21,17), seguram a mão de Abraão para não imolar Isaac (Gn 22,11).A Lei é co-municada a Moisés e ao povo por minis-tério deles (At 7,53). São eles que con-duzem o povo de Deus (Ex 23, 20-23), anunciam nascimentos célebres (Jz 13), indicam vocações importantes (Jz 6,11-24; Is 6,6). São eles que assistem aos profetas (1Rs 19,5). Foi um anjo que

anunciou a Gedeão que devia salvar o seu povo; e um anjo anunciou o nascimento de Sansão (Jz 13). O anjo Gabriel instruiu a Daniel (8,16), ainda que nesse trecho bíblico não seja chamado de anjo, mas “o homem Gabriel” (9,21). Este mesmo espírito celestial anunciou o nascimento de São João Batista e a encarnação de Jesus. Assim como anunciaram a mensagem aos pastores (Lc 2,9), e a missão mais gloriosa de todas: a de fortalecer o Rei dos Anjos em sua Agonia no Horto das Oliveiras (cf. Lc 22,43).

Nos Evangelhos, eles também são citados diversas vezes, como na infân-cia de Jesus, nas tentações do deserto, na consolação do Getsêmani. Também são testemunhas da Ressurreição do

Santos Anjos

A luta entre Jacó e o anjo de Deus (Gn 32,24-25).

POR JEANNINE LEAL

Santo

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Casa de Maria e JoséSede da Comunidade Emanuel

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ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTOcom hora marcada | 13h às 16h

TERÇO DE CURA | ON LINE – FACEBOOK12h30 às 13h

ORAÇÃO PELO PAPA FRANCISCONa capela | 15h às 16h

GRUPO DE ORAÇÃO EMANUEL19h às 20h30O grupo emanuel é um dos primeiros grupos da de oracão do rio de janeiro

GRUPO DE ORAÇÃO DE SÃO PADRE PIONa capela | 14h às 16h30Toda terceira quarta-feira do mês

MISSAS ÀS 12HCONFIRA A PROGRAMAÇÃO ABAIXO

ORELHÃO ESPIRITUALNa capela | 14h às 16hATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO – por ordem de chegada

GRUPO DE ORAÇÃO ALMOÇO COM JESUSNa capela | 12h30 às 13h30TODAS ÀS QUINTAS, EXCETO FERIADOS

MISSA COM ORAÇÃO DE CURACelebrante Pe. Marco Túliotransmissão ao vivo pela internet – www.comunidadeemanuel.org.br12h

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