pneumocistose em doentes com infecÇÃo por mim... · – centro hospitalar lisboa norte (chln),...
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Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Disciplina de Doenças Infecciosas
PNEUMOCISTOSE EM DOENTES COM INFECÇÃO POR VIH
CASUÍSTICA DO SERVIÇO DE DOENÇAS INFECCIOSAS DO
HOSPITAL DE SANTA MARIA NO PERÍODO 2002 – 2013
Autor: Vilma Laís de Paulo Ferreira da Rocha Grilo
Orientador: Drª Aida Pereira
Responsável pela Unidade Curricular: Professora Doutora Emília
Valadas
Ano lectivo 2014/2015
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 I
RESUMO
Introdução – A pneumonia por Pneumocystis jirovecii (pneumocistose ou PPc) é das
patologias oportunísticas mais comuns em infectados por Vírus da Imunodeficiência
Humana (VIH). Em Portugal é, actualmente, a infecção definidora de sida mais reportada.
Objectivos – Analisar as características da população com PPc em infectados por VIH.
Métodos – Estudo restrospectivo, observacional, não controlado, que incluiu os doentes
internados no Serviço de Doenças Infecciosas (SDI) do Hospital de Santa Maria (HSM)
– Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), EPE, entre 1 de Janeiro de 2002 e 31 de
Dezembro de 2013, com o diagnóstico de PPc em infectados por VIH. Assim, foram
analisadas as características demográficas dos doentes, a informação sobre a infecção por
VIH, a apresentação clínica e os dados do internamento e, finalmente, o estado imunitário,
a carga vírica e a terapêutica instituída. Posteriormente, estes dados foram comparados
consoante o conhecimento da infecção por VIH, meio de diagnóstico e destino após a
alta. Variáveis analisadas por teste Qui-Quadrado e Mann-Whitney.
Resultados – Foram incluídos 107 doentes, 81,3% (n=87) eram do sexo masculino, com
média de idade de 42, 2 ± 11,0 anos, contagem de linfócitos TCD4+ de 51,93 ± 62,19
células/mm3 e carga vírica 5,45 ± 0,72 log. P. jirovecii foi identificado em 55,1% (n=59)
dos casos, a mortalidade foi de 13,1% (n=14) e 8,4% (n=9) dos doentes foram
reinternados. A terapêutica de 1ª linha mais utilizada foi TMP-SMX em 91,6% (n=98),
associado a corticóides em 75,7% (n=81) e com toxicidade em 23,4% (n=25) dos doentes.
Em 73,8% (n=79) dos doentes foi dado início à profilaxia secundária.
Conclusão – A população com PPc, neste grupo de doentes infectados por VIH, apresenta
características muito semelhantes às descritas na literatura.
PALAVRAS-CHAVE: Pneumocystis jirovecii; Pneumocistose; Pneumonia por
Pneumocystis; PPc; VIH/sida.
Vilma Laís Grilo II
ABSTRACT
Background – Pneumocystis jirovecii pneumonia (pneumocystosis or PcP) remains one
of the most common opportunistic illnesses in patients infected with the human
immunodeficiency virus (HIV). It is currently the most reported AIDS-defining infection
in Portugal.
Objectives – To analyze the characteristics of an HIV and P. jirovecii coinfected
population.
Methods – A retrospective, observational, non-controlled study was conducted. The
patients admitted to the Department of Infectious Diseases at Santa Maria’s Hospital, in
Lisbon, between the 1st of January 2002 and the 31st of December 2013, that presented
the simultaneous diagnosis of HIV infection and PcP were included. Demographic and
HIV infection data, PcP clinical presentation and progress during hospitalization, and
treatment options were studied. Patients were further divided into groups based on the
previous knowledge of the HIV infection, diagnostic method and clinical outcome. The
variables were analyzed using the Chi-Squared and Mann-Whitney tests.
Results – Data from 107 patients was analyzed; 81,3% (n=87) were male, the mean
patient age was 42,2 ± 11,0 years, the mean TCD4+ cell count was 51,93 ± 62,19
cells/mm3 and the mean viral load was 5,45 ± 0,72 log. P. jirovecii was identified in
55,1% (n=59), the in-hospital mortality was 13,1% (n=14) and 8,4% (n=9) developed a
second PcP episode. The inicial drug of choice was TMP-SMX (91,6%; n=98), and
corticosteroid adjuvant therapy was added in 75,7% (n=81). Adverse reactions were
reported in 23,4% (n=25), and 73,8% (n=79) started secondary chemoprophylaxis.
Conclusions – This population of HIV and PcP coinfected patients shows similarities
with the data from previous studies.
KEYWORDS: Pneumocystis jirovecii; Pneumocystosis; Pneumocystis pneumonia; PcP;
HIV/AIDS.
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 III
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CDC – Centers for Disease Control and Prevention
CHLN – Centro Hospitalar Lisboa Norte
DPOC – doença pulmonar obstrutiva crónica
ECDC – European Center for Disease Prevention and Control
EPE – Entidade Pública Empresarial
HSH – homens que têm relações sexuais com homens
HSM – Hospital de Santa Maria
LBA – lavado broncoalveolar
LDH – desidrogenase láctica
PPc – pneumonia por Pneumocystis jirovecii
sida – síndrome de imunodeficiência adquirida
SDI – Serviço de Doenças Infecciosas
TARV – terapêutica antirretrovírica combinada
TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol
TP – tuberculose pulmonar
UDI – utilizadores de drogas injectáveis/utilização de drogas injectáveis
VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana
Vilma Laís Grilo IV
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1. Características demográficas da população de 107 doentes
incluídos no estudo 6
TABELA 2. Vias de transmissão de VIH nos 107 doentes incluídos no
estudo 7
TABELA 3. Frequência do acompanhamento em ambulatório dos 67
doentes com conhecimento prévio da seropositividade para VIH e da
adesão à TARV 8
TABELA 4. Sintomas e sinais registados nos 107 doentes incluídos no
estudo 11
TABELA 5. Resultados da avaliação laboratorial e imagiológica nos 107
doentes incluídos no estudo 12
TABELA 6. Resultados da avaliação de 67 doentes do estudo, com
conhecimento prévio da seropositividade para VIH, sobre profilaxia anti-
PPc e episódio anterior de pneumocistose 13
TABELA 7. Motivos para alteração da terapêutica anti-PPc em 26 doentes
do estudo 15
TABELA 8. Regimes terapêuticos em substituição dos antibióticos para os
quais os doentes desenvolveram toxicidade 15
TABELA 9. Análise comparativa entre doentes em que a PPc foi a
apresentação inaugural da infecção por VIH em comparação com aqueles
que tinham conhecimento prévio de estarem infectados por VIH 17
TABELA 10. Análise comparativa entre os doentes com diagnóstico
definitivo e presuntivo 19
TABELA 11. Análise comparativa entre doentes com alta para
ambulatório e os que faleceram 21
TABELA 12. Patologias pulmonares concomitantes 37
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 V
ÍNDICE DE FIGURA E GRÁFICOS
FIGURA 1. Ciclo de vida de Pneumocystis. 2
GRÁFICO 1. Distribuição por nacionalidades dos 23 doentes estrangeiros. 7
GRÁFICO 2. Percentagem dos doentes incluídos no estudo que
conheciam ou desconheciam, previamente ao internamento, a
seropositividade para VIH. 8
GRÁFICO 3. Distribuição percentual da contagem de linfócitos TCD4+
pelos 107 doentes incluídos no estudo. 9
GRÁFICO 4. Variação anual do número de casos de PPc, no período
2002-2013. 10
GRÁFICO 5. Regimes anti-PPc adoptados em 79 dos doentes que
iniciaram quimioprofilaxia secundária. 16
GRÁFICO 6. Distribuição dos 104 doentes com nacionalidade
conhecida, no período de 2002-2013. 38
GRÁFICO 7. Distribuição dos 103 doentes por grupos etários, à data do
diagnóstico da infecção por VIH. 38
GRÁFICO 8. Variação anual dos 46 doentes com PPc cujas vias de
aquisição da infecção por VIH foram a de UDI e HSH, no período de
2002 a 2013. 39
Vilma Laís Grilo VI
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO 1
2. MATERIAIS E MÉTODOS 4
2.1. Amostra 4
2.2. Dados 4
2.3. Análise estatística 5
3. RESULTADOS 6
3.1. Características demográficas da população estudada 6
3.2. Características epidemiológicas, imunitárias e víricas da infecção
por VIH 7
3.3. Características epidemiológicas, clínicas, laboratoriais e
imagiológicas dos doentes com PPc 10
3.4. Terapêutica para PPc 14
3.5. Análise comparativa entre três grupos de situações 16
3.5.1. Comparação entre doentes em que a PPc foi a apresentação
inaugural da infecção por VIH e aqueles com conhecimento
prévio de estarem infectados por VIH 16
3.5.2. Comparação entre os doentes com diagnóstico definitivo com
aqueles com diagnóstico presuntivo 18
3.5.3. Comparação entre os doentes que tiveram alta para o
ambulatório e os que morreram 20
4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES 23
5. AGRADECIMENTOS 30
6. BIBLIOGRAFIA 31
7. ANEXOS (tabela 12, gráficos 6, 7 e 8) 37
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 1
1. INTRODUÇÃO
Pneumocystis jirovecii, anteriormente designado por Pneumocystis carinii f. sp. hominis,
é um agente oportunista de distribuição ubíqua, com especificidade para a espécie
humana. Foi identificado, pela primeira vez, no início do século XX por Carlos Chagas
e, subsequentemente, por Antonio Carini, no decurso de estudos sobre Trypanosoma, no
modelo animal [1, 20, 30, 39]. Inicialmente, foi classificado como um protozoário, devido,
principalmente, às suas características morfológicas, tendo sido reclassificado como
fungo em 1988, após os resultados obtidos em estudos de análise do genoma de P.
jirovecii e utilizando técnicas de biologia molecular. No entanto, demonstra
características atípicas em relação aos fungos, como a resposta favorável à terapêutica
com antiparasitários [20, 30, 47].
P. jirovecii apresenta tropismo para as células dos alvéolos pulmonares, de localização
extracelular, sendo responsável pelo desenvolvimento de uma pneumonia intersticial
grave, também conhecida como pneumocistose ou PPc [1,20,30,36]. Até há bem pouco
tempo admitia-se que a PPc era devida à reactivação (por declínio da imunidade, com
replicação activa de P. jirovecii) de uma infecção latente, adquirida, muito precocemente,
na infância [20, 21, 30, 47]. No entanto, dados recentes apontam para que a
pneumocistose seja adquirida de novo por inalação de quistos, através da exposição a
reservatórios ambientais ou como doença transmissível, por contacto próximo ou por via
aérea, em imunodeficientes ou imunossuprimidos, com variação sazonal [5, 15, 20, 37,
39, 47]. Na ausência de causa óbvia de imunossupressão, a pneumocistose pode ser a
primeira evidência de infecção por VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana)/síndrome
da imunodeficiência adquirida (sida) [23, 30, 38].
No pulmão, Pneumocystis encontra-se sob a forma haplóide de trofozoíto. Este pode
replicar-se por mitose (fase assexuada) ou conjugar-se com outro trofozoíto, originando
pré-quistos diplóides (fase sexuada). Estas formas quísticas apresentam três estádios de
desenvolvimento, precoce, intermediário e tardio, culminando na formação de quistos
contendo esporozoítos que são libertados, originando novos trofozoítos (Fig. 1) [20, 36,
61].
Vilma Laís Grilo 2
Figura 1. Ciclo de vida de Pneumocystis [61].
Com o início da epidemia por VIH, nos anos 80, aumentou, drasticamente, a incidência e
a relevância clínica de PPc, tornando-se na principal doença oportunista definidora de
sida, sendo importante causa de morbimortalidade [7, 29, 30, 39]. Na altura, 70 a 80%
dos infectados desenvolviam um ou mais episódios de PPc, dos quais 20 a 25% dos casos
eram mortais [1, 13, 30]. Estima-se que os valores da mortalidade por pneumocistose
oscilem entre 10-30%, tendo-se mantido constantes nos últimos anos [19, 26]. O
desenvolvimento e disponibilidade de terapêutica antirretroviral combinada (TARV), no
final dos anos 90, e o uso de quimioprofilaxia antipneumocistose levaram à diminuição
significativa no número de novos casos de PPc, sobretudo nos países desenvolvidos. No
entanto, a pneumocistose permanece a infecção oportunista sentinela mais comum em
doentes que desconhecem o seu estado de infectados por VIH ou para aqueles não
aderentes aos programas de tratamento da infecção por VIH e de prevenção das doenças
oportunistas [3, 7, 8, 13, 15, 20, 22, 26, 30, 39, 47, 50]. Dados do European Center for
Disease Prevention and Control (ECDC) e da Organização Mundial de Saúde (OMS)
apontam a PPc como a doença definidora de sida mais comum na Europa no ano de 2012,
responsável por 25% dos casos, seguida da candidose esofágica (13%) e da tuberculose
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 3
pulmonar (10%) [30]. Em Portugal, a infecção por VIH mantém-se um relevante
problema de Saúde Pública, apesar da diminuição do número de casos notificados. No
período de 1983 a 2013, a PPc surge como uma das doenças definidoras de sida mais
frequentes, sendo, apenas, ultrapassada pela tuberculose pulmonar e extra-pulmonar. No
entanto, devido a um aumento relativo do número de casos, a pneumocistose é, desde
2008, a doença definidora de sida mais reportada, totalizando 25,3% dos casos em 2013
[44].
O diagóstico presuntivo fundamenta-se na presença de sintomatologia respiratória, febre
e radiografia de tórax anormal, num doente imunocomprometido, sendo a hipoxemia e o
valor aumentado da desidrogenase láctica (LDH), que reflecte destruição do tecido
pulmonar, as anomalias laboratoriais mais frequentes. Estes dois dados laboratoriais são
úteis na avaliação da gravidade da doença em curso e na monitorização da evolução. O
diagnóstico definitivo assenta na detecção de Pneumocystis em amostra de secreções
respiratórias obtidas por expectoração induzida ou por broncoscopia com lavagem
broncoalveolar [20, 30, 47].
Na literatura são referidos como factores de risco para o desenvolvimento de
pneumocistose a imunossupressão avançada (contagem de linfócitos TCD4+ <200
células/μL), viremia elevada, episódios prévios/recorrentes de PPc e outras infecções
oportunistas, como a candidose oral e a febre [7, 10, 12, 25, 45, 47].
Na PPc, os factores de risco apontados como de pior prognóstico são a hipoxemia, o
envolvimento pulmonar bilateral, a presença de outras infecções pulmonares
concomitantes, recaída em vez de doença primária, níveis muito elevados de LDH e do
gradiente alvéolo-arterial, ausência de diagnóstico etiológico definitivo, idade avançada,
utilização de drogas injectáveis (UDI) e má adesão à terapêutica, embora os resultados
sejam, ainda, inconsistentes [4, 10, 24, 26, 42]. A utilização de corticóides melhora o
prognóstico, diminuindo a resposta inflamatória à PPc que resulta em lesão do tecido
pulmonar. Os corticóides devem ser administrados em doentes com hipoxemia (pressão
parcial de oxigénio inferior a 70 mmHg ou gradiente alvéolo-arterial superior a 35 mmHg,
em ar ambiente) [20, 34, 48].
Neste estudo analisaram-se as características de uma população de doentes infectados
simultaneamente por VIH e P. jirovecii, no período de 2002 a 2013.
Vilma Laís Grilo 4
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. AMOSTRA
Foi realizado um estudo restrospectivo, observacional, não controlado, no qual foram
incluídos todos os doentes internados no Serviço de Doenças Infecciosas (SDI) do
Hospital de Santa Maria (HSM) – Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), EPE, no
período compreendido entre 1 de Janeiro de 2002 e 31 de Dezembro de 2013, que
apresentassem, simultaneamente, o diagnóstico de infecção por VIH e PPc. Foram
considerados elegíveis os doentes com diagnóstico definitivo ou presuntivo de PPc. Para
cada doente foi registado apenas um internamento. Nos doentes em que se verificou o
reinternamento por PPc nesta instituição, durante o período em estudo, só o primeiro
episódio foi considerado.
2.2. DADOS
Os dados foram obtidos através da consulta de uma base de dados pré-existente. As
informações constantes da base de dados foram conseguidas por consulta dos processos
clínicos dos doentes. Os dados foram agrupados nas seguintes categorias: (a)
características demográficas (idade, género, nacionalidade e raça); (b) características da
infecção por VIH (idade do diagnóstico da infecção por VIH, categoria de transmissão,
seguimento e tratamento em ambulatório, tipo de vírus, contagem de linfócitos TCD4+,
carga vírica, estadiamento de acordo com a classificação do Centers for Disease Control
and Prevention (CDC) à data do internamento, PPc prévia); (c) apresentação clínica
(sintomatologia e duração do quadro clínico, exame objectivo na altura da
admissão/aquando o início de sintomatologia respiratória de novo em doentes já
internados por outras causas, avaliação imagiológica, valor da LDH e presença de
hipoxemia e de patologia concomitante definidora de sida, outras patologias, diagnóstico
e método de identificação de Pneumocystis); (d) internamento (ano e tempo de
internamento, destino após alta, reinternamento por recaída de PPc); (e) terapêutica
(tratamento de PPc, alteração de terapêutica e motivo, medicação de 2ª linha, uso de
corticóides, profilaxia secundária e TARV). Considerou-se que havia má adesão à
terapêutica anti-PPc e TARV sempre que tal era referido no processo clínico do doente.
Os dados do exame objectivo, analíticos e imagiológicos, respeitam a avaliação na altura
da admissão ou à primeira observação já no internamento. Foram considerados sintomas
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 5
constitucionais astenia, anorexia, perda ponderal e sudação noturna. Os valores absolutos
da carga vírica foram convertidos em logaritmo. Definiram-se como características
imagiológicas sugestivas de PPc a presença de infiltrado intersticial bilateral difuso,
padrão em vidro despolido, nódulos ou quistos parenquimatosos. O diagnóstico de PPc
foi considerado definitivo quando se identificou o agente em amostras biológicas –
expectoração, secreções brônquicas, lavado broncoalveolar ou biopsia brônquica. Nas
situações em que estava presente um quadro clínico compatível com PPc com resposta
favorável à terapêutica empírica para Pneumocystis, mas sem a sua identificação, foi
considerado o diagnóstico presuntivo. Valores de LDH acima de 480U/L foram
considerados aumentados, de acordo com a referência do laboratório.
2.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram analisados através do software de estatística IBM SPSS, versão 22. As
variáveis categóricas foram avaliadas usando percentagens, e as variáveis contínuas
através da média, desvio padrão, valores mínimo e máximo. Os doentes foram,
posteriormente, dividos em grupos comparativos, consoante o conhecimento prévio da
infecção por VIH, o método de diagnóstico e o destino na altura da alta. Neste último
grupo foram excluídos da análise os doentes transferidos para outras instituições ou que
requereram alta contra parecer médico. As diferenças entre variáveis foram aferidas
utilizando o teste Qui-Quadrado, para as variáveis categóricas, e o teste de Mann-
Whitney, para as variáveis contínuas. A significância estatística foi determinada para um
p-value < 0,05.
Vilma Laís Grilo 6
3. RESULTADOS
3.1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA
Dos 113 doentes que cumpriam os critérios de inclusão previamente determinados, seis
foram excluídos por não constarem da base de dados. As características demográficas
estão apresentadas na tabela 1. Dos 107 doentes remanescentes, 81,3% (n=87) eram do
sexo masculino, sendo a razão homem/mulher de 4,35. Na admissão, o valor médio da
idade correspondia a 42, 2 ± 11,0 anos (mínimo 22 e máximo 72 anos). A maioria (34,6%,
n=37) encontrava-se na faixa etária dos 30-39 anos, seguida pela dos 40-49 anos (32,7%,
n=35). Apenas 8,4% dos doentes (n=9) tinha idade superior a 60 anos. Aproximadamente
75% dos doentes (n=81) era natural de Portugal. Dos cidadãos estrangeiros, o maior grupo
era proveniente do Brasil e de Cabo Verde (5,6 e 2,8%, respectivamente), 12,2% eram
naturais de África, 6,5% da América e 2,7% da Europa (gráfico 1). Em três doentes não
foi apurada a origem geográfica. A distribuição dos 104 doentes com nacionalidade
conhecida, no período em estudo, encontra-se no gráfico 6, em anexo. Apenas 13,1%
(n=14) dos doentes eram melanodérmicos.
TABELA 1. Características demográficas da população de 107 doentes incluídos no
estudo
Frequências
N %
GÉNERO Masculino 87 81,3
Feminino 20 18,7
IDADE NA
ADMISSÃO
≤ 29 anos 11 10,3
30-39 37 34,6
40-49 35 32,7
50-59 15 14,0
>60 anos 9 8,4
ORIGEM
GEOGRÁFICA
Portuguesa 81 75,7
Africana 13 12,2
Americana 7 6,5
Outros países europeus 3 2,7
Desconhecida 3 2,7
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 7
RAÇA Leucodérmica 93 86,9
Melanodérmica 14 13,1
Gráfico 1. Distribuição por nacionalidades dos 23 doentes estrangeiros.
3.2. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS, IMUNITÁRIAS E VÍRICAS DA
INFECÇÃO POR VIH
A via heterossexual foi a mais frequente de aquisição de VIH. A UDI foi referida em
27,1% dos doentes (n=29) e 16,8% (n=18) pertenciam à categoria de homens que têm
relações sexuais com homens (HSH). Um doente apresentou, simultaneamente, história
de UDI e HSH e em 11 e sete doentes não foi apurado o tipo de contacto sexual e história
de UDI, respectivamente. A variação da via de transmissão UDI e HSH, ao longo dos
anos de estudo, encontra-se no gráfico 8, em anexo. Dos 29 UDI, 31% (n=9) mantinham
consumos activos à data do internamento, sendo os restantes ex-UDI (tabela 2).
TABELA 2. Vias de transmissão de VIH nos 107 doentes incluídos no estudo
Frequências
N %
CONTACTO SEXUAL
Heterossexual 78 72,9
HSH 18 16,8
Desconhecida 11 10,3
2
6
31
2
2
2
1
11
1 1Angola
Brasil
Cabo Verde
França
Guiné Bissau
Guiné Conacri
Moçambique
Roménia
Reino Unido
Senegal
Venezuela
Zimbabué
Vilma Laís Grilo 8
UTILIZAÇÃO DE
DROGAS INJECTÁVEIS
Sim, hábitos activos 9 8,4
Sim, ex-utilizador 20 18,7
Não 71 66,4
Hábitos desconhecidos 7 6,5
HSH – homens que têm relações sexuais com homens
A maioria dos doentes, isto é, 62,6% (n=67) já tinha conhecimento da infecção por VIH,
sendo 86,6% (n=58) do sexo masculino. Destes 67 doentes, 23,9% (n=16) eram seguidos
de forma regular em consulta, 26,9% (n=18) de forma irregular e 49,3% (n=33) não tinha
qualquer tipo de acompanhamento médico. Apenas 25,4% dos doentes (n=17) cumpriam
TARV em ambulatório, 32,8% (n=22) nunca iniciaram terapêutica e 41,8% (n=28)
suspenderam por decisão própria a TARV prescrita. Dos 29 UDI, 96,6% (n=28)
conheciam a seropositividade para VIH, mas apenas 14,3% (n=4) eram seguidos com
regularidade em consulta e 21,4% (n=6) referiam cumprir TARV.
Gráfico 2. Percentagem dos doentes incluídos no estudo que conheciam ou
desconheciam, previamente ao internamento, a seropositividade para VIH.
TABELA 3. Frequência do acompanhamento em ambulatório dos 67 doentes com
conhecimento prévio da seropositividade para VIH e da adesão à TARV
Frequências
N %
SEGUIMENTO EM
CONSULTA DE
IMUNODEPRESSÃO
Sim, regular 16 23,9
Sim, irregular 18 26,9
Sem seguimento 33 49,3
63%
37%Sim
Não
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 9
TARV
Sim 17 25,4
Não iniciou 22 32,8
Suspendeu 28 41,8
TARV – Terapêutica antirretrovírica combinada
Em média, o diagnóstico de infecção por VIH foi feito aos 38,57 ± 12,87 anos (mínimo
15 e máximo 72 anos), com mediana de 36 anos. O diagnóstico da infecção por VIH
ocorreu, na maioria dos casos, entre os 30 e os 39 anos (32%; n=33), tendo-se verificado
em idades superiores a 60 anos em 7,5% dos doentes e em quatro dos doentes a idade do
diagnóstico é desconhecida (gráfico 7, em anexo). Apenas um dos doentes estava
infecatado por VIH-2, sendo natural de um país endémico deste tipo de vírus (Guiné-
Bissau) e apresentava uma contagem de linfócitos TCD4+ de 19/mm3. À data do
internamento, todos os doentes se encontravam em estádio de sida, tendo 96,3% (n=103)
a classificação C3 do CDC e os restantes a classificação C2. A média da contagem de
linfócitos TCD4+, avaliada no internamento, foi de 51,93 ± 62,19/mm3 (mínimo 1 e
máximo 319) e 84,1% dos doentes apresentava contagem de TCD4+ ≤ 100 células/mm3
(n=90), 12,1% (n=13) entre 101 e 200/mm3 e 3,7% (n=4) superior a 200/mm3 (gráfico 3).
Em relação à carga vírica obtiveram-se 80 registos, sendo a média 5,45 ± 0,72 log, com
valores compreendidos entre 3,83 log (6 778 cópias/mL) e 8,03 log (108 000 000
cópias/mL).
Gráfico 3. Distribuição percentual da contagem de linfócitos TCD4+ pelos
107 doentes incluídos no estudo.
84%
12%
4%
≤ 100/mm3
101-200/mm3
> 200/mm3
Vilma Laís Grilo 10
3.3. CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS, CLÍNICAS, LABORATORIAIS E
IMAGIOLÓGICAS DOS DOENTES COM PPC
O ano de 2002 registou o maior número de casos de PPc (n=15), verificando-se uma
diminuição do número de doentes internados, com mínimo em 2007 (n=1), e atingindo-
se novo pico 2010 (n=12), mantendo-se desde então a tendência de descida, com cinco
doentes em 2013 (gráfico 4).
Gráfico 4. Variação anual do número de casos de PPc, no período 2002-2013.
O sintoma mais vezes descrito foi a tosse (89,7%), seguido da dispneia (72,9%), febre
(70,1%) e indicadores constitucionais (65,4%). Em 56,3% dos casos (n=54) a tosse era
não produtiva. Apenas 14% dos doentes apresentava outros sintomas respiratórios e
26,2% referia, concomitantemente, queixas de outros órgãos e sistemas (tabela 4). O
tempo médio da evolução da sintomatologia foi de 32,67 ± 35,36 dias, oscilando entre
dois e 180 dias. Ao exame objectivo, 48,6% (n=52) dos doentes apresentava fervores na
auscultação pulmonar, em 13,1% foram identificadas outras alterações auscultatórias e
em 38,3% a semiologia era normal. Por outro lado, verificou-se uma frequência cardíaca
média de 100,96 ± 18,07 batimentos por minuto. A hipoxemia foi um achado frequente,
em 84 doentes (78,5%), e o valor médio da LDH foi de 796,01 ± 365,14 U/L (mínimo
207 e máximo 2 125 U/L), tendo 82,2% (n=88) dos doentes valores aumentados desta
enzima. Do ponto de vista imagiológico 81,3% (n=87) dos doentes apresentava um
padrão compatível com PPc (infiltrados intersticiais difusos, padrão em vidro despolido,
15
13
7
9
7
1
9
8
12
11
10
5
0
2
4
6
8
10
12
14
16
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 11
nódulos ou quistos parenquimatosos), em 12,1% (n=13) identificaram-se outros achados
e em 2,8% (n=3) não havia alterações radiológicas (tabela 5). Em 95,3% (n=102) dos
doentes estavam presentes, em simultâneo, outra(s) patologia(s) não definidoras de sida,
e em 33,6% (n=36) identificaram-se outra(s) patologia(s) definidoras de sida, para além
da PPc. Em 47,1% (n=48) destes doentes, a patologia concomitante afectava o pulmão,
sendo a pneumonia (n=34) e a tuberculose pulmonar (TP) (n=7) as mais referidas (tabela
12, em anexo). A candidose orofaríngea foi apontada em 72% dos 107 indivíduos (n=77).
TABELA 4. Sintomas e sinais registados nos 107 doentes incluídos no estudo
Frequências
N %
TEMPERATURA
CORPORAL
Com febre 75 70,1
Sem febre 32 29,9
INDICADORES
CONSTITUCIONAIS
Presentes 70 65,4
Ausentes 37 34,6
TOSSE
Sim, produtiva 42 39,3
Sim, não produtiva 54 50,5
Não 11 10,3
DISPNEIA Presente 78 72,9
Ausente 29 27,1
OUTROS SINTOMAS
RESPIRATÓRIOS
Presentes 15 14,0
Ausentes 92 86,0
SINTOMAS DE
OUTROS SISTEMAS
Presentes 28 26,2
Ausentes 79 73,8
AUSCULTAÇÃO
PULMONAR
Fervores 52 48,6
Outros achados
auscultatórios 14 13,1
Sem alterações 41 38,3
Vilma Laís Grilo 12
TABELA 5. Resultados da avaliação laboratorial e imagiológica nos 107 doentes incluídos
no estudo
Frequências
N %
LDH Aumentada 88 82,2
Normal 19 17,8
HIPOXEMIA Presente 84 78,5
Ausente 23 21,5
IMAGIOLOGIA
Compatível com PPc 87 81,3
Outros achados 13 12,1
Sem alterações 3 2,8
IDENTIFICAÇÃO DE
PNEUMOCYSTIS
LBA 36 61,0
Expectoração 13 22,0
Secreções brônquicas 9 15,3
Biópsia brônquica 1 1,7
LDH – desidrogenase láctica; LBA – lavado broncoalveolar; PPc – pneumonia por Pneumocystis.
Pneumocystis foi identificado em 55,1% (n=59) dos casos. Destes, no lavado
broncoalveolar em 61% (n=36), na expectoração em 22% (n=13), nas secreções
brônquicas em 15,3% (n=9) e na biopsia brônquica em 1,7% (n=1). Nos restantes
assumiu-se o diagnóstico clínico (presuntivo). No sexo feminino obteve-se confirmação
do diagnóstico em 80% dos casos (n=16), enquanto no sexo masculino, apenas, em 49,4%
(n=43) dos doentes o diagnóstico foi definitivo.
Cerca de 75% dos doentes não realizava profilaxia para PPc (n=50) e em 10,4% dos
doentes que sabiam estar infectados por VIH esta intervenção era desconhecida. Dos 10
doentes que cumpriam profilaxia, sete faziam-no com trimetoprim-sulfametoxazol
(TMP-SMX), um com pentamidina inalatória e um com dapsona e atovaquona, por
episódios prévios de toxicidade com TMP-SMX, e em um doente desconhece-se qual
tinha sido a quimioprofilaxia utilizada. Três dos doentes tinham registo de um episódio
passado de PPc, sendo que apenas um realizava profilaxia secundária, com TMP-SMX
(tabela 6).
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 13
TABELA 6. Resultados da avaliação de 67 doentes do estudo, com conhecimento prévio
da seropositividade para VIH, sobre profilaxia anti-PPc e episódio anterior de
pneumocistose
Frequências
N %
PROFILAXIA ANTI-
PPC
Sim 10 14,9
Não 50 74,6
Desconhecido 7 10,4
PPC PRÉVIA Sim 3 4,5
Não 64 95,5
PPc – pneumonia por Pneumocystis.
O tempo médio de internamento foi de 28,32 ± 23,13 dias, sendo o mínimo de quatro e o
máximo de 180 dias. Em 28% dos casos (n=30) o internamento prolongou-se além dos
30 dias, sendo que destes 50% (n=15) desconhecia estar infectado por VIH. Dos 30
doentes com internamento superior a 30 dias de duração, em 90% dos casos (n=27)
verificou-se a existência de, pelo menos, uma patologia aguda concomitante
condicionando o tempo de internamento, em 6,7% (n=2) houve atraso na obtenção do
diagnóstico (sendo que nenhum destes doentes conhecia a sua infecção por VIH) e em
3,3% (n=1) verificou-se uma evolução lenta para a melhoria clínica.
Foi dada a alta a 83,2% (n=89) dos doentes orientados para o ambulatório, 0,9% (n=1)
foi transferido para outra unidade de saúde, 2,8% (n=3) requereu alta contra parecer
médico e 13,1% (n=14) faleceu. Os doentes que morreram eram, na maioria dos casos,
do sexo masculino (92,9%; n=13), na faixa etária dos 40 a 49 anos (35,7%; n=5), com
contacto heterossexual (85,7%; n=12) e sem história de utilização de drogas injectáveis
(71,4%; n=10), tendo estado internados menos de 30 dias (71,6%; n=10). Metade destes
doentes desconhecia estar infectado por VIH e, apenas, dois deles eram, regularmente,
seguidos em ambulatório, realizavam TARV e profilaxia anti-PPc. Os sintomas mais
vezes apontados foram os indicadores constitucionais (85,7%; n=12), a dispneia (78,6%;
n=11) e a febre (71,4%; n=10). Em 92,9% (n=13) dos casos estavam presentes outra(s)
patologia(s), sendo em 42,9% (n=6) do foro respiratório, e 42,9% (n=6) dos doentes
apresentava outra(s) doença(s) definidoras de sida. A semiologia respiratória revelou, na
maioria dos casos, fervores (64,3%; n=9), 85,7% (n=12) tinha hipoxemia, 71,4% (n=10)
Vilma Laís Grilo 14
apresentava imagiologia compatível com PPc e em 92,9% (n=13) dos doentes os valores
de LDH estavam aumentados. O diagnóstico foi presuntivo em cerca de metade dos casos.
Quase a totalidade dos doentes (92,9%, n=13) iniciou tratamento da PPc com TMP-SMX,
sendo que se verificou alteração da terapêutica para clindamicina em associação com
primaquina em dois casos, por toxicidade (um por pancitopenia e outro por toxicidade
desconhecida). A todos os doentes que faleceram foram prescritos corticóides e 35,7%
(n=5) iniciaram ou mantiveram TARV. No que toca às causas da morte dos 14 doentes,
em 71,4% dos casos (n=10) verificou-se um agravamento progressivo do quadro
respiratório, apesar da terapêutica. Dos restantes quatro doentes, um apresentou
agravamento do quadro respiratório e desenvolveu, simultaneamente, sépsis por
Pseudomonas aeruginosa, noutro documentou-se sépsis por Salmonella enteritidis e,
finalmente, um doente faleceu na sequência de agravamento neurológico, por
leucoencefalopatia multifocal progressiva.
Após a alta, 8,4% (n=9) dos doentes voltou a ser internado no SDI do HSM, por novo
episódio de PPc.
3.4. TERAPÊUTICA PARA PPC
A terapêutica para PPc mais vezes prescrita foi TMP-SMX em 91,6% (n=98) dos casos,
optando-se por clindamicina associada a primaquina em 7,5% (n=8) dos doentes e
atovaquona em 0,9% (n=1). Dos nove doentes que iniciaram regimes terapêuticos
alternativos ao TMP-SMX, sete tinham documentados episódios prévios de toxicidade a
este antibiótico. Em 75,7% (n=81) dos doentes foi associada, como terapêutica adjuvante,
corticoterapia.
Em 24,3% (n=26) dos casos foi necessário alterar a antibioterapia devido ao
desenvolvimento de toxicidade (n=25) ou por não ter havido resposta à terapêutica
instituída (n=1). O efeito adverso mais frequente foi a toxidermia (34,6%; n=9), seguido
de hipercaliemia (15,4%; n=4) e pancitopenia (11,5%; n=3) ao TMP-SMX (tabelas 7 e
8). A terapêutica de substituição instituída foi a clindamicina associada à primaquina e à
atovaquona, respectivamente em 88,5% (n=23) e 11,5% (n=3) dos casos. Dos 23 doentes
tratados com o regime de substituição com clindamicina mais primaquina, 17,4% (n=4)
desenvolveu toxicidade (três com metahemoglobinemia à primaquina e um toxidermia à
clindamicina), sendo esta associação substituída pela atovaquona. A duração da
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 15
quimioterapia foi registada em 53 doentes, que cumpriram, em média, 21,59 ± 2,94 dias
de terapêutica (mínimo 10 e máximo 34 dias). Mais de metade dos doentes (53,3%, n=57)
não realizou/iniciou TARV no internamento.
TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol
TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol
TABELA 7. Motivos para alteração da terapêutica anti-PPc em 26 doentes do estudo
CAUSAS Frequências
N %
Toxidermia (TMP-SMX) 9 34,6
Hipercaliemia (TMP-SMX) 4 15,4
Pancitopenia (TMP-SMX) 3 11,5
Toxicidade não especificada (TMP-SMX) 2 7,7
Toxidermia e toxicidade hepática (TMP-SMX) 1 3,8
Resistência (TMP-SMX) 1 3,8
Toxidermia (TMP-SMX) e metahemoglobinemia (primaquina) 2 7,7
Toxicidade não especificada (TMP-SMX) e toxidermia (clindamicina) 1 3,8
Toxidermia e toxicidade hepática (TMP-SMX) e metahemoglobinemia
(primaquina) 1 3,8
Metahemoglobinemia (primaquina) 1 3,8
Toxicidade não especificada (clindamicina) e metahemoglobinemia
(primaquina) 1 3,8
TABELA 8. Regimes terapêuticos em substituição dos antibióticos para os quais os
doentes desenvolveram toxicidade
1ª LINHA 2ª LINHA 3ª LINHA % (N)
TMP-SMX clindamicina + primaquina - 73,1 (19)
TMP-SMX clindamicina + primaquina atovaquona 11,5 (3)
TMP-SMX clindamicina + primaquina clindamicina 3,8 (1)
TMP-SMX atovaquona - 3,8 (1)
Clindamicina + primaquina atovaquona - 7,7 (2)
Vilma Laís Grilo 16
A maioria dos doentes (73,8%; n=79) iniciou profilaxia secundária após o internamento,
sendo os regimes adoptados TMP-SMX em 63,3% dos casos (n=50, dos quais quatro
haviam manifestado toxicidade à terapêutica de indução instituída), atovaquona em
15,2% (n=12), pentamidina aerossolizada em 13,9% (n=11), clindamicina em 1,3% (n=1)
e clindamicina associada a primaquina em 1,3% (n=1) (gráfico 5). Desconhece-se qual
foi o regime escolhido em 5,1% dos doentes (n=4).
Gráfico 5. Regimes anti-PPc adoptados em 79 dos doentes que iniciaram
quimioprofilaxia secundária.
3.5. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRÊS GRUPOS DE SITUAÇÕES
3.5.1. Comparação entre doentes em que a PPc foi a apresentação inaugural da
infecção por VIH e aqueles com conhecimento prévio de estarem infectados por VIH
Nos doentes em que a PPc foi a apresentação inaugural da infecção por VIH verificou-se
menor prevalência de indivíduos de nacionalidade portuguesa (65,0% vs. 82,1%,
p=0.017) e de UDIs (2,5% vs. 41,8%, p=0.000), em comparação com aqueles que tinham
conhecimento prévio de estarem infectados por VIH. Estes doentes tiveram, ainda, maior
tempo médio de internamento (32,40 ± 20,91 dias vs. 25,88 ± 24,19 dias, p=0.028) e de
desenvolvimento dos sintomas (55,11 ± 44,84 dias vs. 21,29 ± 20,77 dias, p=0.000), maior
prevalência de sintomas constitucionais (77,5% vs. 58,2%, p=0.042), de diagnóstico
definitivo de PPc (67,5% vs. 47,8%, p=0.047), de diagnóstico através do lavado
64%15%
14%
1%1% 5%
TMP-SMX
Atovaquona
Pentamidina aerossolizada
Clindamicina
Clindamicina e primaquina
Desconhecido
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 17
broncoalveolar (81,5% vs. 43,8%, p=0.022), de modificação da terapêutica de 1ª linha
(40% vs. 14,9%, p=0.003) e de instituição de TARV no internamento (60% vs. 38,8%,
p=0.034) em comparação à daqueles que já tinham conhecimento prévio do seu estado
em relação à seropositividade para VIH (tabela 9).
TABELA 9. Análise comparativa entre doentes em que a PPc foi a apresentação
inaugural da infecção por VIH em comparação com aqueles que tinham conhecimento
prévio de estarem infectados por VIH
APRESENTAÇÃO
INAUGURAL (%)
CONHECIMENTO
PRÉVIO VIH (%)
P VALUE
(<0,05)
Género masculino 72,5 86,6 0.071
Nacionalidade portuguesa 65,0 82,1 0.017
Leucodérmico 85,0 88,1 0.650
Idade na admissão (anos) 45,58 ± 12,32 40,25 ± 9,70 0.077
Tempo de internamento (dias) 32,40 ± 20,91 25,88 ± 24,19 0.028
HSH
Heterossexual
20,0 14,9 0.340
75,0 71,6
UDI 2,5 41,8 0.000
Contagem TCD4+ (<100 células/mm3) 82,5 85,1 0.141
Contagem TCD4+ (células/mm3) 41,3 ± 37,78 57,2 ± 78,87 0.462
Carga vírica (log) 5,41 ± 0,81 5,26 ± 0,57 0.393
VIH-1 100,0 98,5 0.438
CDC – C3 100,0 94 0.115
Febre 65,5 71,6 0.651
Sintomas constitucionais 77,5 58,2 0.042
Tosse não produtiva 52,5 49,3 0.948
Dispneia 75,0 71,6 0.705
Outros sintomas respiratórios 7,5 17,9 0.133
Sintomas (outros sistemas) 20,0 29,9 0.262
Tempo desde início dos sintomas 55,11 ± 44,84 21,29 ± 20,77 0.000
Semiologia respiratória normal
Fervores
52,5 29,9 0.066
37,5 55,2
Vilma Laís Grilo 18
Frequência cardíaca 103,83 ± 19,75 102,05 ± 19,28 0.899
Hipoxemia 82,5 76,1 0.437
Imagiologia sugestiva de PPc 80,0 82,1 0.710
LDH (>480U/L) 87,5 79,1 0.272
Diagnóstico definitivo de PPc 67,5 47,8 0.047
Identificação por LBA 81,5 43,8 0.022
Terapêutica com TMP-SMX 100,0 86,8 0.053
Duração da terapêutica 21,06 ± 1,06 21,62 ± 3,67 0.619
Alteração terapêutica 40,0 14,9 0.003
Terapêutica de substituição
(clindamicina e primaquina) 75,0 70 0.640
Corticóides 75,0 76,1 0.896
Início de profilaxia secundária 82,5 68,7 0.115
Profilaxia com TMP-SMX 51,5 71,7 0.284
TARV no internamento 60,0 38,8 0.034
Reinternamento por PPc 2,5 11,9 0.089
Outra patologia definidora de sida 32,5 34,3 0.846
Outra patologia 92,5 97 0.284
VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana; HSH – homens que têm relações sexuais com homens; UDI –
utilizadores de drogas injectáveis; CDC – Centers for Disease Control and Prevention; LDH –
desidrogenase láctica; LBA – lavado broncoalveolar; TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol; TARV –
terapêutica antirretrovírica combinada; PPc – pneumonia por Pneumocystis jirovecii; sida – síndrome de
imunodeficiência adquirida.
3.5.2. Comparação entre os doentes com diagnóstico definitivo com aqueles com
diagnóstico presuntivo
Comparando os doentes com diagnóstico definitivo com aqueles com diagnóstico
presuntivo, apenas dois dos parâmetros analisados apresentaram diferenças,
estatisticamente, significativas. O género masculino tem maior prevalência no grupo com
diagnóstico presuntivo (91,7% vs. 72,9%, p=0.013) e o tempo médio desde o início dos
sintomas é superior no grupo de indivíduos com diagnóstico definitivo (41,17 ± 43,48
dias vs. 30,75 ± 27,43 dias, p=0.037) (tabela 10).
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 19
TABELA 10. Análise comparativa entre os doentes com diagnóstico definitivo e
presuntivo
DIAGNÓSTICO
DEFINITIVO (%)
DIAGNÓSTICO
PRESUNTIVO (%)
P VALUE
(<0,05)
Género masculino 72,9 91,7 0.013
Nacionalidade portuguesa 72,9 79,2 0.436
Leucodérmico 89,8 83,3 0.322
Idade na admissão (anos) 42,74 ±12,21 41,31 ± 7,52 0.995
Tempo de internamento (dias) 29,48 ± 14,58 27,63 ± 19,17 0.099
HSH
Heterossexual
18,6 14,6 0.713
72,9 72,9
UDI 23,7 31,3 0.511
Contagem TCD4+ (<100 células/mm3) 83,1 85,4 0.282
Contagem TCD4+ (células/mm3) 44,61 ± 44,50 58,12 ± 83,92 0.797
Carga vírica (log) 5,36 ± 0,68 5,30 ± 0,72 0.706
Seguimento regular
Seguimento irregular
Sem seguimento
25,0 22,9
0.343 18,8 34,3
56,3 42,9
TARV ambulatório 21,9 28,6 0.190
Profilaxia prévia anti-PPc 8,5 10,4 0.940
PPc prévia 1,7 4,2 0.441
VIH-1 98,3 100,0 0.365
CDC – C3 98,3 93,8 0.217
Febre 66,1 75,0 0.317
Sintomas constitucionais 71,2 58,3 0.164
Tosse não produtiva 52,5 47,9 0.643
Dispneia 67,8 79,2 0.188
Outros sintomas respiratórios 15,3 12,5 0.683
Sintomas (outros sistemas) 22,0 31,3 0.281
Tempo desde início dos sintomas 41,17 ± 43,48 30,75 ± 27,43 0.037
Semiologia respiratória normal
Fervores
39,0 37,5 0.917
49,2 47,9
Frequência cardíaca 102,26 ± 20,28 103,75 ± 18,31 0.550
Vilma Laís Grilo 20
Hipoxemia 76,3 81,3 0.533
Imagiologia sugestiva de PPc 74,6 89,6 0.138
LDH (>480U/L) 84,7 79,2 0.453
Terapêutica com TMP-SMX 91,5 91,7 0.495
Duração da terapêutica 21,26 ± 3,17 21,50 ± 2,16 0.263
Alteração de terapêutica 25,4 22,9 0.764
Terapêutica de substituição
(clindamicina e primaquina) 80,0 63,6 0.489
Corticóides 76,3 75,0 0.879
Início de profilaxia secundária 76,3 70,8 0.524
Profilaxia com TMP-SMX 57,8 70,6 0.738
TARV no internamento 54,2 37,5 0.084
Reinternamento por PPC 8,5 8,3 0.979
Outra patologia definidora de sida 33,9 33,3 0.951
Outra patologia 93,2 97,9 0.252
VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana; HSH – homens que têm relações sexuais com homens; UDI –
utilizadores de drogas injectáveis; CDC – Centers for Disease Control and Prevention; LDH –
desidrogenase láctica; LBA – lavado broncoalveolar; TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol; TARV –
terapêutica antirretrovírica combinada; PPc – pneumonia por Pneumocystis jirovecii; sida – síndrome de
imunodeficiência adquirida.
3.5.3. Comparação entre os doentes que tiveram alta para o ambulatório e os que
morreram
Verificou-se uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos de doentes que
tiveram alta orientados para o ambulatório e os que faleceram durante o internamento
quando avaliada a imagiologia sugestiva de PPc (respectivamente 83,1% vs. 71,4%,
p=0.003), a utilização de corticóides (71,9% vs. 100%, p=0.023) e o início da profilaxia
secundária (80,9% vs. 35,7%, p=0.000). Os indivíduos falecidos tinham ainda uma idade
média na admissão superior aos doentes que tiveram alta orientadados para o ambulatório
(51,07 ± 13,99 anos vs. 40,60 ± 9,70 anos, p=0.007) (Tabela 11).
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 21
TABELA 11. Análise comparativa entre doentes com alta para ambulatório e os que
faleceram
ALTA
AMBULATÓRIO
(%)
FALECIDOS
(%)
P VALUE
(<0,05)
Género masculino 78,7 92,9 0.212
Nacionalidade portuguesa 76,1 91,7 0.223
Leucodérmico 86,5 85,7 0.935
Idade na admissão (anos) 40,60 ± 9,70 51,07 ± 13,99 0.007
Tempo de internamento (dias) 26,98 ± 18,19 40,0 ± 66,36 0.773
HSH
Heterossexual
18,0 7,1 0.558
73,0 85,7
UDI 27,0 21,4 0.908
Contagem TCD4+ (<100 células/mm3) 82,0 92,9 0.553
Contagem TCD4+ (células/mm3) 55,89 ± 66,32 29,73 ± 30,82 0.106
Carga vírico (log) 5,45 ± 0,75 5,02 ± 0,64 0.153
Conhecimento prévio da infecção por
VIH 64,0 50,0 0.314
Seguimento regular
Seguimento irregular
Sem seguimento
24,6 28,6
0.950 26,3 28,6
49,1 42,9
TARV ambulatório 26,3 28,6 0.706
Profilaxia prévia anti-PPc 9,0 14,3 0.482
PPc prévia 3,4 0,0 0.486
VIH-1 98,9 100,0 0.690
CDC – C3 95,5 100,0 0.418
Febre 73,0 71,4 0.900
Sintomas constitucionais 60,7 85,7 0.069
Tosse não produtiva 51,7 42,9 0.372
Dispneia 71,9 78,6 0.603
Outros sintomas respiratórios 14,6 7,1 0.449
Sintomas (outros sistemas) 23,6 42,9 0.128
Tempo desde início dos sintomas 34,27 ± 33,70 47,50 ± 68,06 0.55
Vilma Laís Grilo 22
Semiologia respiratória normal
Fervores
40,4 14,3 0.158
47,2 64,3
Frequência cardíaca 104,88 ± 17,65 107,0 ± 30,51 0.988
Hipoxemia 77,5 85,7 0.487
Imagiologia sugestiva de PPc 83,1 71,4 0.003
LDH (>480U/L) 82,0 92,9 0.310
Diagnóstico definitivo de PPc 55,1 50,0 0.672
Identificação por LBA 65,3 42,9 0.496
Terapêutica com TMP-SMX 91,0 92,9 0.919
Duração da terapêutica 21,85 ± 2,60 21,67 ± 1,16 0.748
Alteração de terapêutica 27,0 14,3 0.310
Terapêutica de substituição
(clindamicina e primaquina) 70,8 100,0 0.850
Corticóides 71,9 100,0 0.023
Início de profilaxia secundária 80,9 35,7 0.000
Profilaxia com TMP-SMX 62,5 60,0 0.664
TARV no internamento 48,3 35,7 0.380
Outra patologia definidora sida 31,5 42,9 0.399
Outra patologia 95,5 92,9 0.668
TUMOR PRIMITIVO. VIH – Vírus da Imunodeficiência Humana; HSH – homens que têm relações sexuais com homens; UDI –
utilizadores de drogas injectáveis; CDC – Centers for Disease Control and Prevention; LDH –
desidrogenase láctica; LBA – lavado broncoalveolar; TMP-SMX – trimetoprim-sulfametoxazol; TARV –
terapêutica antirretrovírica combinada; PPc – pneumonia por Pneumocystis jirovecii; sida – síndrome de
imunodeficiência adquirida.
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 23
4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Nesta coorte de 107 doentes com co-infecção P. jirovecii/VIH, admitidos na Unidade de
Internamento do SDI do HSM, num período de 12 anos (entre 2002 e 2013), verificou-se
que predomina o sexo masculino (81,3% dos doentes) e o diagnóstico da infecção por
VIH entre os 20 e os 39 anos (em 59,2% dos indivíduos), sendo que estas observações se
encontram em alinhamento com a maior prevalência da infecção por VIH no sexo
masculino e em grupos etários mais jovens. Dados de 2013, relativos à população
portuguesa, infectada por VIH, revelam que, no período de 1983 a 2013, a distribuição
por género foi de 72,8% para o sexo masculino, e que o grupo etário em que predominou
o diagnóstico da infecção por VIH foi o dos 30 aos 39 anos (33,6%), sendo que 63,6%
dos indivíduos estavam no grupo etário dos 20-39 anos [16, 17, 44].
Cerca de 25% dos doentes estudados são imigrantes, valor que vai ao encontro dos dados
de 2013 para a população portuguesa, que reporta, aproximadamente, 23% de infectados
por VIH provenientes de países estrangeiros, proporção que tem vindo a aumentar ao
longo da última década. A predominância de indivíduos originários de África, obtida
neste estudo (12,2% do total de doentes), é concordante com a literatura, que aponta serem
africanos 13,9% dos infectados por VIH, correspondendo a 76,4% dos casos com
naturalidade não portuguesa [16, 17, 44].
A população migrante em Portugal ascende quase a 400.000 indíviduos, dos quais mais
de 30.000 vivem em situação ilegal. Este grupo apresenta riscos de saúde acrescidos,
decorrentes das deficientes condições socio-económicas e exclusão social, das
dificuldades de acesso ao sistema de saúde (barreiras linguística, cultural e legal),
ausência de literacia em saúde e por perpetuação de mitos nestas comunidades. Estas
razões podem justificar a maior prevalência proporcional de estrangeiros, com
apresentação inaugural da infecção por VIH, relativamente aos de nacionalidade
portuguesa (86,6% vs. 72,5%). Será importante actuar na maior integração da população
migrante ao nível dos cuidados de saúde primários, por forma a prevenir comportamentos
de risco, promover o diagnóstico precoce da infecção por VIH e a sua integração no
sistema de saúde [52-55].
Vilma Laís Grilo 24
Quando se examinam os dados relativos à categoria de transmissão do VIH nesta coorte
de doentes, todos em estádio de sida, verifica-se que a principal via é a heterossexual,
seguindo-se a de UDI, referida em 27,1% doentes e a HSH, apontada em 16,8% dos casos.
Os dados que se obtiveram estão em consonância com os mais recentes, de 2013, para
Portugal, que também reportam a principal via como a heterossexual, seguida pela UDI
e HSH. No entanto, nos últimos 10 anos, tem-se verificado diminuição na proporção de
indivíduos com sida que foram infectados por VIH na sequência de UDI e aumento na
proporção de doentes com sida, com infecção por VIH associada a HSH. Esta variação
encontra-se em concordância com os padrões de transmissão de VIH, que para o mesmo
período apresentam uma marcada diminuição da categoria de UDI e aumento de HSH,
que desde 2008 passou a ser a segunda mais reportada. Este padrão de variação não foi
replicado pelo presente estudo [17, 44].
Por outro lado, quando se analisam os padrões das doenças oportunistas definidoras de
sida, de acordo com a categoria de transmissão, verifica-se que a PPc é a patologia mais
frequente nos casos de transmissão sexual (heterossexual e HSH), sendo
comparativamente uma infecção menos diagnosticada no contexto de UDI. Este último
dado não é concordante com os resultados obtidos [44].
Na análise comparativa entre grupos, constantou-se que os doentes com UDI conhecem
com maior frequência o estado de seropositividade para VIH, previamente ao
internamento, ocorrendo menos casos de PPc com apresentação inaugural da infecção por
VIH neste grupo de indivíduos, diferença esta estatisticamente significativa. Tal poderá
dever-se à implementação de programas de proximidade junto das populações com UDI,
como o Programa de Troca de Seringas e o Programa KLOTHO (Programa de
Identificação Precoce e Prevenção da Infecção VIH/Sida Direcionado a Utilizadores de
Drogas), que promovem a modificação de comportamentos de risco e o rastreio precoce
da infecção por VIH. O maior contacto com os serviços judiciais/prisionais, instituições
de solidariedade social e de saúde, na sequência da UDI, contribui, também, para o
diagnóstico mais precoce da infecção por VIH. Apesar da precocidade do diagnóstico, o
seguimento e tratamento da infecção por VIH e das suas complicações nestes doentes
apresenta dificuldades devido à má adesão, como foi confirmado neste estudo,
salientando a necessidade paralela de ações que contemplem a gestão do consumo de
drogas injectáveis [4, 56-58].
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 25
A TARV, pelos seus efeitos na melhoria imunitária e na supressão da carga vírica, e a
utilização de quimioprofilaxia anti-PPc, levaram a um decréscimo na incidência da maior
parte das doenças oportunistas. No entanto, estima-se que até 50% dos doentes em que é
diagnosticado um episódio de PPc, associado à infecção por VIH, não tenham seguimento
regular em ambulatório, nem tenham realizado terapêutica adequada, sendo os principais
motivos apontados a ausência de diagnóstico da infecçao por VIH prévio e as dificuldades
na adesão aos cuidados de saúde. Neste estudo, a maioria dos doentes já tinha
conhecimento da infecção por VIH (62,6%), no entanto não estava integrada de uma
forma sustentada em cuidados de saúde (76,2%), nem cumpria TARV ou profilaxia anti-
PPc (74,6% em ambos os casos), comprovando as limitações na adesão e retenção nos
cuidados de saúde a longo prazo. Assim, estes doentes apresentam um risco aumentado
para o desenvolvimento de PPc e de outras doenças oportunistas, como se verificou em
33,6% dos indivíduos estudados, que apresentavam concomitantemente outra(s)
patologia definidora de sida. É necessário encontrar medidas que promovam o
diagnóstico precoce, seguimento regular e de proximidade e melhor monitorização da
imunidade [3, 6, 7, 11, 15, 26, 35, 40, 43, 46, 47].
Os principais factores de risco para o desenvolvimento de PPc são contagem de células
TCD4+ ≤ 200/mm3, viremia elevada, episódios prévios/recorrentes de PPc e candidose
orofaríngea. Os resultados de diversos estudos apontam para que até 95% dos doentes
apresentem contagem de células TCD4+ <200/mm3, valor semelhante ao que se obteve
nesta coorte (96,3%). Todos os doentes revelaram uma carga vírica elevada, mesmo
aqueles que referiam cumprir TARV, apresentando um número de cópias de ARN-VIH
bastante superior a 200-500 cópias/mL, valores referidos como limite de sensibilidade
das técnicas utilizadas [3, 7, 11, 20, 25, 28, 31, 32, 46, 47, 59]. A presença de episódios
prévios/recorrentes de PPc não foi um factor de risco importante nesta coorte (apenas
4,5%), ao contrário da candidose orofaríngea, que foi apontada em 72% dos indivíduos.
A apresentação clínica é coincidente com o que está descrito na literatura, como sendo o
quadro mais comum da pneumocistose, tais como sintomas constitucionais (65,4%), febre
(70,1%), tosse não produtiva (56,3%) e dispneia (72,9%), de evolução subaguda ao longo
de semanas (tempo médio de evolução de 32,67 ± 35,36 dias). Ao exame objectivo havia
taquicardia (100,96 ± 18,07 bpm), auscultação pulmonar com fervores ou normal
(86,9%), hipoxemia (78,5%) e padrão imagiológico sugestivo de PPc (infiltrados
intersticiais difusos, em vidro despolido, nódulos ou quistos parenquimatosos) em 81,3%
Vilma Laís Grilo 26
dos casos. O intervalo de tempo decorrido entre o início dos sintomas e o diagnóstico de
PPc foi superior no grupo de indivíduos em que a PPc foi apresentação inaugural da
infecção por VIH em comparação com os doentes com conhecimento prévio do seu estado
de seropositividade para VIH, diferença que mostrou significância estatística. O recurso
mais cedo aos cuidados de saúde, por parte dos indivíduos que sabem estar infectados por
VIH, quando adoecem, e as dificuldades no diagnóstico da pneumocistose, dadas as
manifestações clínicas inespecíficas, no doente sem pré-diagnóstico prévio da infecção
por VIH e muito menos de uma situação de risco para imunossupressão, podem justificar
esta diferença [19, 20, 26, 30, 47, 60].
A hipoxemia e o valor aumentado de LDH são os indicadores complementares que
reflectem a gravidade da doença e do prognóstico. No entretanto, revelam pouca
especificidade, pouco valor discriminativo individual e a sua relevância, como marcador
de prognóstico, é discutida no contexto da terapêutica com corticóides, como adjuvantes.
Valores aumentados de LDH são comuns, reflectindo o processo inflamatório em curso
com compromisso do parênquima pulmonar, podendo estar presentes noutras doenças
respiratórias de etiologia infecciosa. Nesta amostra, a hipoxemia e a LDH aumentada
foram identificadas na maioria dos doentes (78,5% e 82,2%, respectivamente). Todavia,
não se encontrou diferença, estatisticamente significativa, para estas variáveis, quando se
compararam os doentes que melhoraram do episódio agudo com os que faleceram durante
o internamento, apesar de se verificar uma maior tendência para valores alterados na
população dos doentes que faleceram (para a hipoxemia 85,7% vs. 77,5% e para a LDH
92,9% vs. 82%). Assim, estes indicadores não traduziram pior prognóstico nestes doentes
[10, 13, 20, 24, 26, 42, 48].
O diagnóstico definitivo foi apenas conseguido em metade dos casos. Na pneumocistose,
a colheita por métodos invasivos de material biológico, a ausência de métodos de cultura
e o uso de quimioprofilaxia anti-PPc dificultam a possibilidade de identificação do
agente. Assim, estão em estudo métodos auxiliares de diagnóstico, recorrendo a técnicas
não invasivas, como a avaliação sérica de 1-3-ß-glucano, um componente da parede dos
fungos que está presente nos quistos de P. jirovecii. Contudo, este biomarcador está
aumentado noutras pneumonias de origem fúngica, não permitindo a diferenciação
etiológica. A presença de outra infecção respiratória concomitante, complicação
frequente em doentes seropositivos para VIH, verificou-se em 42 doentes, o que poderá
dificultar, ainda mais, o diagnóstico de PPc [1, 14, 15, 20, 30, 47].
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 27
Nos doentes com apresentação inaugural da infecção por VIH foi maior a probabilidade
de se conseguir o diagnóstico definitivo, através da identificação de Pneumocystis em
amostras biológicas, o que pode ser devido a um conjunto de factores, tais como a
ausência de utilização de antibióticos anti-Pneumocystis e TARV, maior carga fúngica
pulmonar, menor suspeição clínica de PPc com maior investimento no diagnóstico. Nos
doentes em que se verificam dificuldades na obtenção da amostra para identificação do
agente, ou em que o resultado do estudo da amostra foi negativo, mas em que o grau de
suspeição clínica seja elevado, decorrente do conhecimento prévio do estado de
seropositividade para VIH, de quadro clínico, imagiológico e laboratorial sugestivos, o
diagnóstico acaba por ser presuntivo, situação esta menos frequente quando a PPc é a
apresentação inaugural de VIH [3, 13, 15, 19, 20, 30, 47]. De igual forma, o maior
intervalo de tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico definitivo (com achado de
Pneumocystis) pode-se justificar pelo tempo mais longo para se obter o diagnóstico
definitivo, naqueles doentes em que a PPc foi o diagnóstico inaugural da infecção por
VIH. As mulheres têm maior percentagem de diagnóstico definitivo do que os homens, o
que poderá estar relacionado com o maior número de casos de apresentação inaugural da
doença no género feminino.
TMP-SMX é o fármaco de eleição para o tratamento e profilaxia da pneumocistose e,
assim, foi a primeira opção na maioria dos doentes desta coorte (91,6% dos indivíduos)
[7, 9, 20, 39, 48, 49]. Contudo, existem duas grandes preocupações associadas a esta
terapêutica – desenvolvimento de efeitos adversos e de resistências. Os efeitos adversos
mais comuns são toxidermia, febre, toxicidade hepática e medular e hipercaliemia, os
quais surgem em 20 a 85% dos casos. Estes efeitos adversos foram replicados no presente
estudo, verificando-se 23,5% de eventos de toxicidade associados ao TMP-SMX,
correspondentes a 88,6% do total de efeitos adversos referenciados no diário clínico dos
doentes, sendo os mais comuns a toxidermia, a hipercaliemia e a toxicidade medular.
Dado que os efeitos adversos estão relacionados com a dose, o TMP-SMX poderá ser
melhor tolerado em regimes de quimioprofilaxia, com dosagens inferiores [13, 15, 34,
46, 49]. No entanto, dos doentes em que se revelou toxicidade à terapêutica com TMP-
SMX, apenas quatro utilizaram este fármaco como profilaxia secundária, optando-se, de
preferência, por outros regimes. A utilização continuada do fármaco em profilaxia e a
colonização por Pneumocystis levantam preocupações relativamente à possibilidade de
se selecionarem mutações que contribuam para o insucesso terapêutico [7, 20, 37].
Vilma Laís Grilo 28
A TARV foi instituída numa maior percentagem de doentes em que a PPc foi o
diagnóstico inaugural da infecção por VIH. Muito embora não exista consenso quanto ao
melhor momento para o início da TARV em doentes naïve e com uma infecção
oportunista em curso, os resultados dos estudos suportam o início preococe da terapêutica
[18, 26, 48]. Apesar dos efeitos adversos associados ao TMP-SMX serem bastante
comuns, o início precoce da TARV poderá aumentar o risco de desenvolvimento da
Síndrome Inflamatória de Reconstituição Imunitária, com agravamento paradoxal do
episódio de PPc, interações farmacológicas e toxicidade medicamentosa, contribuindo
para a maior prevalência de efeitos adversos neste grupo de doentes [2, 13, 15, 20, 26, 33,
34, 46, 48].
A mortalidade neste estudo, de 13,1%, está de acordo com o descrito na literatura, que
refere valores entre os 10-30%, e que foi de 16,0% para o ano de 2011, em Portugal [16,
19, 20, 26, 27, 39]. Os doentes que faleceram apresentaram menos achados imagiológicos
sugestivos de pneumocistose. Uma vez que estes doentes se encontram em estádios de
imunossupressão avançada, é frequente que coexistam simultaneamente múltiplas
patologias respiratórias, infeciosas ou não, como a tuberculose pulmonar, sarcoma de
Kaposi ou pneumonia bacteriana, que mascaram a apresentação imagiológica e clínica, e
contribuem para o pior prognóstico. Os resultados de alguns estudos apontam para que
até 18% dos doentes com PPc apresentem concomitantemente outra patologia pulmonar,
valor bastante inferior a 44,9% observado nesta coorte [13, 20, 26, 47, 51]. No entanto,
apenas 42,9% (n=6) dos doentes que faleceram apresentava, simultaneamente, outra
patologia respiratória, sendo a mais frequente a pneumonia, diagnosticada em quatro
destes indivíduos.
Os doentes com idade mais avançada na data da admissão apresentavam maior
mortalidade, corroborando os dados da literatura, que apontam a idade mais avançada
como factor de pior prognóstico no contexto da co-infecção Pneumocystis/VIH [10, 26].
Todos os doentes que faleceram encontravam-se sob terapêutica adjuvante com
corticóides. Um dos riscos que se tem considerado com o uso de corticóides nestes
doentes é a hipótese de se desenvolverem novas patologias (oportunistas ou não),
contribuindo para o agravamento do respectivo quadro clínico. Todavia, até ao momento,
os estudos não corroboram esta hipótese. Nesta coorte estudada mais de 70% dos doentes
faleceu na sequência do agravamento do quadro respiratório causado pela PPc, não
estando em causa o desenvolvimento de novas patologias oportunistas, após a instituição
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 29
da corticoterapia [20, 24, 34, 41, 48]. O falecimento dos doentes, ainda antes de
completarem o tratamento da PPc, é responsável pela não iniciação de profilaxia
secundária.
Após a alta, nove doentes voltaram a ser internados no SDI durante o período alvo do
estudo, por novo episódio de pneumocistose. Estes internamentos subsequentes não
foram objecto de investigação no presente trabalho, sendo pertinente abordar, em estudos
futuros as causas associadas à recorrência da PPc nesta população, o tempo decorrido
entre episódios e a evolução e prognóstico dos episódios subsequentes.
Por ser um estudo observacional, restrospectivo e não controlado, apresenta como
limitações a forma de colheita de dados, condicionada pela informação disponível nos
processos clínicos e registada por diversos observadores, sujeita a variabilidade
interindividual.
Em conclusão, a população de doentes internados com infecção por VIH e pneumonia
por P. jirovecii apresenta características muito semelhantes às descritas na literatura.
Salienta-se a necessidade de maior investimento no diagnóstico precoce e no
acompanhamento regular dos infectados por VIH, o que pode resultar na redução do risco
de desenvolvimento de doenças oportunistas, como a PPc.
Vilma Laís Grilo 30
5. AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar gostaria de agradecer à minha orientadora de tese, a Dra. Aida Pereira,
por me ter facultado a base de dados que serviu de ponto de partida para o
desenvolvimento deste estudo, mas acima de tudo por se ter mostrado sempre disponível,
ao longo deste processo, para me apoiar quando tinha dúvidas, efectuar sugestões,
correcções e melhorias, e que muito contribuiu para o meu processo de aprendizagem.
Queria deixar ainda o meu agradecimento a todo o pessoal administrativo do Serviço de
Doenças Infecciosas, que me acolheu sempre de forma afável.
Gostaria também de agradecer aos meus amigos e colegas Filipe Figueiredo, Inês
Sampaio, Joana Martins, Miguel Bernardo e Sara Rosa, por todo o apoio e motivação que
me deram, ajudando-me a ultrapassar os percalços naturais que foram surgindo durante a
realização da tese, e pela ajuda estatística.
Por fim, agradeço à minha família, que me ajudou a cumprir esta meta tão relevante no
meu percurso académico. A todos os que de algum modo contribuíram para este estudo,
os meus sinceros agradecimentos.
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 31
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PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 37
7. ANEXOS
TABELA 12. Patologias pulmonares concomitantes
Frequências
N %
Pneumonia por Haemophilus influenzae 5 10,4
Pneumonia por Staphyloccocus aureus 4 8,3
Pneumonia por Streptococcus pneumoniae 3 6,3
Pneumonia por Klebsiella pneumoniae 3 6,3
Pneumonia por Klebsiella oxytoca 1 2,1
Pneumonia por Escherichia coli 1 2,1
Pneumonia por CMV 1 2,1
Pneumonia por Candida tropicalis 1 2,1
Pneumonia por Streptococcus pneumoniae e
Haemophilus influenzae 3 6,3
Pneumonia por Klebsiella pneumoniae e Salmonella spp. 1 2,1
Pneumonia sem agente isolado 6 12,5
Pneumonia por Escherichia coli e Pseudomonas
aeruginosa e Aspergillus fumigatus 1 2,1
Pneumonia por Haemophilus influenzae e asma 1 2,1
Pneumonia por Aspergillus spp. e Criptoccocus
neoformans 1 2,1
Pneumonia sem agente isolado e bronquite tabágica 1 2,1
Pneumonia por Streptococcus pneumoniae e
Haemophilus influenzae e tuberculose pulmonar 1 2,1
Tuberculose pulmonar 5 10,4
Tuberculos pulmonar e asma 1 2,1
Sarcoma de Kaposi pulmonar 1 2,1
Bronquiectasias infectadas e pneumonite intersticial
linfocitária 1 2,1
Fibrose pulmonar 1 2,1
Bronquiolite obliterativa 1 2,1
Vilma Laís Grilo 38
Hipertensão pulmonar 1 2,1
Enfisema pulmonar 1 2,1
DPOC tabágica 1 2,1
Adenocarcinoma do pulmão metastizado e candidose
brônquica 1 2,1
CMV – citomegalovírus; DPOC – doença pulmonar obstrutiva crónica.
Gráfico 6. Distribuição dos 104 doentes com nacionalidade conhecida, no período de 2002-
2013.
Gráfico 7. Distribuição dos 103 doentes por grupos etários, à data do diagnóstico da infecção
por VIH.
28
33
23
118
0
5
10
15
20
25
30
35
≤ 29 30-39 40-49 50-59 ≥ 60
Idade (anos)
0
2
4
6
8
10
12
14
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Portugueses Estrangeiros
PPc e VIH: Casuística do SDI do HSM 2002-2013 39
Gráfico 8. Variação anual dos 46 doentes com PPc cujas vias de aquisição da infecção por VIH
foram a de UDI e de HSH, no período de 2002 a 2013.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
UDI HSH